O prefeito da cidade de Springfield, no estado de Ohio, disse nesta terça-feira (17) à revista americana Newsweek que nem o candidato republicano, Donald Trump, nem sua adversária democrata, Kamala Harris, são capazes de resolver o problema de imigração dos Estados Unidos.
Rob Rue, do Partido Republicano, também criticou o vice da chapa de Trump, o senador por Ohio J.D. Vance. Vance e Trump espalharam a notícia falsa de que imigrantes haitianos em Springfield estariam comendo animais de estimação de vizinhos —o ex-presidente repetiu a fake news durante o debate contra Kamala no último dia 10.
"Toda essa atenção nacional tirou o nosso foco de coisas que precisamos resolver, porque agora temos que explicar ao mundo quem realmente somos, e não quem dizem que somos", afirmou Rue. "Somos uma comunidade que precisa de ajuda, não de ódio daqueles que falam de nós a nível nacional."
Rue também criticou Kamala, dizendo que não acredita que ela tem soluções para o problema. "Ou vamos construir um muro ou vamos ter uma fronteira sul completamente porosa, não há nenhum meio termo", disse o prefeito.
Os ataques e notícias falsas colocaram Springfield no centro das atenções nos EUA e inflamaram o debate anti-imigração no país. A cidade precisou esvaziar o prédio da Prefeitura depois que recebeu uma ameaça de bomba supostamente realizada por um morador revoltado com a imigração —entretanto, nesta terça, Rue disse que a maioria das ameaças foi feita por robôs e veio do exterior, e que nenhuma delas foi considerada crível.
Ainda assim, a Prefeitura precisou ser esvaziada como medida de precaução, e o município cancelou um festival que celebraria a cultura e a diversidade da cidade de cerca de 60 mil habitantes e aconteceria entre os dias 27 e 28 de setembro.
Quase um quarto da população de Springfield vem do Haiti —cerca de 15 mil cidadãos do país caribenho se mudaram para o município nos últimos anos graças à oferta de emprego de empresas como montadoras de carros e fabricantes de chips. A imensa maioria tem autorização para viver e trabalhar nos EUA e não está em situação irregular.
O governador de Ohio, o também republicano Mike DeWine, defendeu os imigrantes haitianos do estado em uma entrevista no domingo (15), dizendo que eles estão ali para trabalhar e que contribuem para a economia da região.
"As empresas os elogiam, dizem que são ótimos trabalhadores", afirmou o governador. "Tem muita porcaria circulando na internet, e essa história [sobre haitianos comendo animais de estimação] é uma mentira, não há nenhuma prova disso."
DeWine reconheceu que o rápido aumento populacional de Springfield criou problemas, como déficit habitacional e mais demanda nos sistemas de educação e saúde, mas afirmou que os governos municipal e estadual trabalham para resolvê-los.
Nesta terça, o prefeito de Springfield agradeceu ao governador e criticou Vance. "O nosso senador, que vem dizendo coisas sobre [a cidade], eu queria que ele tomasse o governador DeWine como inspiração e acreditasse nas coisas que estamos dizendo", afirmou Rue.
"Nossa cidade é linda. Não é uma cidade horrível, não é uma cidade caindo aos pedaços. Temos questões e estamos tentando resolvê-las, mas essa atenção toda que foi direcionada a Springfield não nos ajuda em nada."
Vance também é responsável por ataques considerados racistas contra os imigrantes de Springfield, como quando disse, sem provas, que a presença dos haitianos na cidade aumentou o risco de doenças como tuberculose e Aids.
No domingo, o candidato a vice da chapa de Trump defendeu suas falas que espalharam a notícia falsa. "Se eu tiver que inventar histórias para que a imprensa preste atenção no sofrimento do povo americano, então é isso que eu vou fazer", disse em entrevista à emissora CNN. Mais tarde, Vance afirmou que, por inventar, ele quis dizer fazer com que a mídia olhe para reclamações que recebe de eleitores.
A candidata democrata, Kamala Harris, comentou o caso nesta terça. Em conversa com a Associação Nacional de Jornalistas Negros, a vice-presidente chamou as declarações de Trump e Vance de "uma retórica do ódio" que teria o objetivo de "dividir este país."
"É exaustivo, é danoso, é odioso e é baseado em coisas que não deveríamos tolerar. Isso tem que acabar", afirmou Kamala.
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