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1. |
Dores Laborais
04:02
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Digo adeus ao meu bar,
aos meus amigos,
ao meu par,
digo adeus ao que este burro fez.
No final do mês,
vou deixar esta espelunca de vez,
Em mais de 12 anos,
meia dúzia de planos,
trabalho aqui desde 2010.
Adeus ó freguês,
e entornei-lhe em cima um copo de três.
Aqui o meu talento
transformou-se em trampa.
O meu dom, cá, transformou-se
em maldição.
Veio falar comigo no final do meu turno,
até o sorriso tinha um ar soturno,
pôs-me assim a mão,
condescendente como só um patrão.
Dores laborais,
Mesmo que no corpo não doam,
dores laborais,
quando as sirenes ecoam,
são iguais às tradicionais,
destroem casais
e, se algum dia te vais,
não aguento mais
dores laborais.
Mudei cada barril,
sempre alegre e servil,
não fiz as contas,
hão-de ser mais de mil.
Amor e ardil
p’ra salvar o nosso humilde covil.
Mas fecha a Disco Tinto
e eu não sei o que sinto,
sou tipo um bêbado num labirinto.
Sem emprego nem absinto,
se eu disser que ‘tou só triste, minto.
Ali, havia alívio pela barafunda,
alívio não tratou da dor mais funda.
Trabalhar das 9 às 5
e ter a vida num brinco,
aos trinta ainda ser um indigente,
missa de corpo presente,
o meu sonho morto à minha frente.
Dores laborais,
Mesmo que no corpo não doam,
dores laborais,
quando as sirenes ecoam,
são iguais
às tradicionais,
destroem casais
e, se algum dia te vais,
não aguento mais
dores laborais.
são iguais
às tradicionais,
destroem casais
e, se algum dia te vais,
não aguento mais
dores laborais.
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2. |
Disco Tinto
02:47
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Oh não,
estou aqui outra vez
e tinha dito “nunca mais me vês,
nunca mais me vês.”
“Perdão”,
pede o bar ao freguês
que pede um copo de prosecco
e dizem, “cá só temos Mateus Rosé.
Só temos Murganheira e não Moët,
olhei bem para a carteira e disse “logo se vê.”
Na Disco Tinto
só paga quem quiser.
Se eu não quiser,
fico a dever.
Na Disco Tinto
Água das Pedras com limão
à descrição,
na canalização,
P’ra quem diz que o tinto é carrascão.
No chão,
Os destroços de um serão
em que os shots foram mais que três,
muito mais que três.
Então, uma só recordação,
um senhor que diz que Adão
se chama assim porque é o primeiro português.
O quê?
Conspiração que Pedro é irmão de Inês
e o D. Sebastião regressa ao fim de cada mês.
Na Disco Tinto
só paga quem quiser.
Se eu não quiser,
fico a dever.
Na Disco Tinto
Água das Pedras com limão
à descrição,
na canalização,
P’ra quem diz que o tinto é carrascão.
Os dias que eu não via ninguém
sabiam-me bem.
Sexta-feira, fazes o quê?
Café e T.V.
e autodiagnosticar-me
a ver sintomas na net.
Onde é que já não vai o charme
dos meus 27?
Na Disco Tinto
só paga quem quiser.
Se eu não quiser,
fico a dever.
Na Disco Tinto
Água das Pedras com limão
à descrição,
na canalização,
P’ra quem diz que o tinto é carrascão.
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3. |
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Fosco brinca na areia,
a areia manda na casa,
hoje ninguém me chateia,
trago o grão na asa.
Culpa cristã ou ateia,
normalmente p’ra mim não tem fim,
nem me passou pela ideia,
desde o terceiro gin.
Ponha na conta,
eu pago no fim.
Se eu não tiver,
alguém paga por mim.
Onde é que foi toda a gente?
Até a cerveja ficou quente.
Tenho o cobrador à perna
e estou sozinho mas contente.
O meu corpo está doente,
pergunta-me:
Onde é que foi toda a gente?(x2)
O estranho odor do colega,
a impaciência da chefe,
cago no prazo de entrega,
bebo CRF.
Trabalho, ninguém deseja,
sem isso não há milagres.
Quero ser sommelier de cerveja:
Super é igual a Sagres.
Ponha na conta,
eu pago no fim.
Se eu não tiver,
alguém paga por mim.
Onde é que foi toda a gente?
Até a cerveja ficou quente.
Tenho o cobrador à perna
e estou sozinho mas contente.
O meu corpo está doente,
pergunta-me:
Onde é que foi toda a gente?(x2)
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4. |
Branco Maduro
02:08
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Dói-me o peito e a cabeça lateja,
não bebo mais nada por muito leve que seja.
Tapo manchas de vinho, talvez Deus não as veja,
só me visto a preceito p’ró domingo de igreja.
Queria ser um monge,
ver o que é mundano longe.
Ter um grande vício é quase igual a ter fé,
um é um tiro no escuro, o outro é um tiro no pé.
Ter um grande vício é quase igual a ter fé,
se o motivo é obscuro, diz-se é assim porque é.
Branco maduro ao balcão escuro do café.
Branco maduro, já não bebo mas aturo
Hemingways abaixo uns furos,
maus augúrios futuros.
Diz que não é desta que eu me curo
e que não vais ter o teu tal furo.
Se não existe o que procuro,
entrego tudo ao Branco Maduro.
Ter um grande vício é quase igual a ter fé,
um é um tiro no escuro, o outro é um tiro no pé.
Ter um grande vício é quase igual a ter fé,
se o motivo é obscuro, diz-se é assim porque é.
Branco maduro ao balcão escuro do café.
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5. |
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Bem vindo ao jazigo
da estrela passé.
O meu guia amigo,
aqui, quase não vê,
o vício antigo
e ele todo NPC.
Cá em baixo, o castigo
é mais álcool, mais sede.
Por cima há um abrigo
e aqui é o degredo.
Quero falar contigo
e tenho um pauzinho de rede.
Chama, chama, chama,
chama e não atende.
Chama, estás na cama,
pijaminha quente.
Chama acende,
transcendente.
E eu pequenino
em frente à T.V.
De bem com o destino
sem “mas” nem “porquê”.
Adeus, peregrino,
caminha e não crê.
Sem ti, ai que perigo,
conchinha à mercê
do vento de Vigo,
ao sabor da maré.
Se não vens comigo,
então vim cá p’ra quê.
Chama, chama, chama,
chama intermitente.
Chama acende a vela,
moedinha dentro,
apagou-se, foi do vento.
Dou graças a quem
por te ter conhecido?
Dou graças a quem
p’lo cãozinho mais querido?
Há-de haver alguém
a quem estar agradecido.
Dou graças também
p’la família e amigos
e obrigado, Mãe,
nada mal ter nascido.
Dou graças à vida,
dou graças ao caminho.
Chama, chama, chama,
finalmente atende,
Chama é quem me ama
e quem me compreende.
Chama acende novamente.
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6. |
O Actor
04:31
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Uma pequena nota
na secção cultural
de um jornal regional
dizia que tinha morrido
alguém especial.
Pelos vistos,
era um cota
que tinha sido
fundamental
para a renovação
do teatro em
certa tarde,
na cinemateca,
um homem veio-nos abordar.
Disse à Jules
que adorava Pega
Tinha-lhe sido a filha a mostrar.
Noutra tarde,
no Estádio, à espera
do Lou, da Sophie e do Sar,
veio-se sentar,
cravou-me uma média,
achei seca mas deixei-me estar.
Dizia que tinha cantado
com o Zeca, Zé Mário e Fausto,
há mar, há ir e vir,
e talvez não voltar.
Eu disse a gozar,
“o senhor mente”,
e ele cantou p’ra toda a gente,
e eu passei por idiota
porque a música era excelente.
E ele a cantar,
todo contente,
o momento foi comovente.
Cantou à boca cheia,
mesmo sem um outro dente,
o Zé Lopes não mente!
Eu era um rato na roda
dos sítios da moda
e da noite em geral,
ele p’ra desconto sénior
até era jovial.
Eu era tipo uma anedota
sobre um idiota
que se acha especial,
e aquele velhinho tão querido,
tinha vivido tão
cheio de culpa,
fui à procura
do sítio do funeral dele.
Fui porque vi que ele vivia na rua
e a filha deixou um apelo.
Cheguei lá, e aquela luz branca,
no Centro Ideal
há uma igual,
foi a luz que serviu de alavanca,
e se isto não é um portal?
Morrer é igual
ao que fizeste na vida
de bem e de mal,
então deixa-te estar na luz,
não penses mais no final.
Que entre ser quase
e nunca ter sido,
o caminho é igualzinho,
quando se anda tão sozinho,
não se vê bem o destino,
e ele a cantar,
todo contente,
o momento foi comovente,
e eu passei por idiota,
porque a música era excelente,
Zé Lopes não mente.
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7. |
Fã nº2
02:56
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Figo p’ra lá de maduro
já ninguém engole,
é duro ser mole.
És um bocado inseguro
e perdeste o controle,
é duro ser mole,
perdeste o controle.
És o colesterol
que matou o rock’n’roll,
é duro ser mole.
Perdeste o controle.
Há quem bata
e há quem bombe
e há quem venha depois.
Há sempre um fã nº1
para o fã nº2.
Se há embate
ou hecatombe,
ponham-me fora,
ora pois.
Eu sou o fã nº1
do meu fã nº2.
Do meu fã nº2
Ando a ver se me curo
com funcho e mentol,
é duro ser mole.
Brinco já não tem furo
e nem pus etanol,
é duro ser mole,
nem pus etanol.
Quando tu é um Éme
e a loja só tem small,
é duro ser mole.
Nem pus etanol.
Há quem bata
e há quem bombe
e há quem venha depois.
Há sempre um fã nº1
para o fã nº2.
Se há embate
ou hecatombe,
ponham-me fora,
ora pois.
Eu sou o fã nº1
do meu fã nº2.
Do meu fã nº2.
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8. |
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O Filho Mais Velho do Embaixador
O filho mais velho do embaixador,
tal qual o pai era um estupor,
o filho mais novo ainda era pior,
desse eu tinha pavor.
O único cinema ao pé de Alvor,
só tinha um filme e era de terror,
fui com os miúdos e com o diplomata,
nata da nata da nata,
nata da nata da nata.
Dá-me pesadelos,
eriça-me os pêlos,
pensar no pai deles,
pensar no pai deles.
O filme nem era assustador,
era um misto de sci-fi com um bocado de humor,
tinha mais medo da cruz de prata
no peito do aristocrata,
no peito do aristocrata,
Ou da minha camisola azul barata,
com manchas de molho do Conchanata,
em contraste com a atada à omoplata,
quando disse: “Pai, não me bata,
Pai, por favor não me bata.”
Dá-me pesadelos,
eriça-me os pêlos,
pensar no pai deles,
pensar no pai deles.
Quando acordei na discoteca,
olhei para a frente e ele estava lá,
cara igualzinha, já careca:
o filho do papá.
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9. |
Ratitos
02:40
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Vou voltar ao lugar em que deixei
a carteira e o caderno, ontem à noite.
Vinha cá dar um gig, mas ninguém veio,
havia bar aberto e desfrutei-o.
No tal bar, um rapaz, ar de opus-dei,
veio a correr para mim com um ar afoito.
Pergountou: “Perdeste algo?”, e eu disse: “Oi?
Carteira e caderno e mais não sei.”
E enquanto dois poetas malditos
discutem cada estrofe ao balcão,
por baixo há uns quantos ratitos
que apanham o que eles deitam ao chão.
Por cima há um grupo de eruditos,
tipo com um ar de erudição.
Vaidosos, não por serem bonitos,
mas por poderem pertencer à multidão
—
Conhecia-os de algures, só não sei
se é das tours ou dos bares em que andei,
sei é que tal qual o mestre ou o sensei,
parece que ao falar é só para nós.
Um, diz que ouvi lá do fundo a minha voz.
Dois, que do que ouviu a tristeza era atroz.
Três, que o falhado mais forte e feroz
é o que nem falha, desiste antes.
E enquanto dois poetas malditos
discutem cada estrofe ao balcão,
por baixo há uns quantos ratitos
que apanham o que eles deitam ao chão.
Por cima há um grupo de eruditos,
tipo com um ar de erudição.
Vaidosos, não por serem bonitos,
mas por poderem pertencer à multidão
E lembrei-me de onde é que sabia
da cara do tipo com ar opus dei.
Era o filho de amigos
de férias com a minha mãe.
Ai, acho que ainda era aparentado do Rei,
na cave do bar, o Rei é um Zé Ninguém.
Corrigiu-me, sei lá, para aí 100 vezes,
antes de passar a explicar:
viu a minha carteira,
deu ao gajo do bar.
E enquanto dois poetas malditos
discutem cada estrofe ao balcão,
por baixo há uns quantos ratitos
que apanham o que eles deitam ao chão.
Refrão
E enquanto dois poetas malditos
discutem cada estrofe ao balcão,
por baixo há uns quantos ratitos
que apanham o que eles deitam ao chão.
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10. |
Purgatório
03:09
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Purgatório lá em cima,
daqui vê-se o interior,
tem ambientador de clima,
chá e águas com sabor.
Quando a noite se aproxima,
sobe um fumo e um fedor.
Chapa ganha aqui em cima,
gasto em baixo igual valor.
Tenho o caderno no inferno,
tenho a carteira numa caveira,
tenho escritório no Purgatório,
no andar de cima do bar.
Um senhor de barba branca
tomava conta do balcão,
quis-me vir mostrar a planta
que era a sua criação.
Como eu queria era a carteira
e o caderno, disse “não”,
então, de uma prateleira,
atrás do balcão, sacou de um bastão.
Tenho o caderno no inferno,
tenho a carteira numa caveira,
tenho escritório no Purgatório,
no andar de cima do bar.
O bastão era um ponteiro
e havia um mapa lá atrás,
Hades era o bar inteiro
e aquele barista era Satanás.
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CAFETRA RECORDS Lisboa, Portugal
Cafetra Records is a portuguese record label based in Lisbon and founded in 2008 by a group of friends who wanted to make and produce music together. Since 2011 and until today, it has released several records, in as many different formats as in various genres, always sharing a common identity. ... more
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