Inteligencia e Pesquisa de Mercado
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forma que é proibida a reprodução no todo ou em parte, sem a devida autorização.
INTRODUÇÃO
No cenário organizacional atual, as empresas estão tomando
decisões de maneira mais rápida e, para tanto, precisam deter um
profundo conhecimento a respeito dos processos de planejamento,
obtenção, análise e aplicação de toda a informação relacionada aos
negócios. O consumidor, por sua vez, vem sendo caracterizado por um
contínuo e crescente empoderamento, o que traz novos desafios aos
gestores e profissionais de marketing no que se refere à pesquisa e ao
processo de segmentação de mercado.
Considerando esse contexto, a apostila Inteligência e pesquisa de
mercado tem como objetivo proporcionar o desenvolvimento das
competências necessárias à aplicação de pesquisas de mercado na
contemporaneidade e o conhecimento das ferramentas utilizadas no
processo de segmentação de um mercado altamente competitivo e
ultrafragmentado. Para tanto, ao longo do conteúdo, não só
apresentaremos os conceitos fundamentais de pesquisa de mercado mas
também os aplicaremos, de forma a entendermos como se concebe uma
pesquisa, como um problema a ser averiguado pode ser definido
precisamente, como são escolhidos os métodos mais apropriados para
explorar tal problema e como podemos apresentar soluções de acordo com
os critérios de escolha do consumidor, os segmentos que apresentam maior
aderência à empresa e a proposição de ofertas para esses segmentos. Sob
esse foco, esta apostila foi estruturada em quatro módulos.
No módulo I, estudaremos os principais aspectos teóricos
relacionados à pesquisa de mercado. Para tanto, apresentaremos desde
os conceitos fundamentais até as etapas que a compõem, além de
destacarmos a sua importância para o processo que leva à tomada de
decisão em marketing. Veremos ainda os aspectos práticos do Sistema
de Informações de Marketing (SIM) e os critérios essenciais para se
realizar uma pesquisa de mercado de maneira eficiente.
No módulo II, analisaremos os aspectos inerentes ao planejamento, uma vez que as
empresas, de fato, necessitam dessa elaboração prévia para executar as suas tarefas. Como parte
desse processo, destacaremos o papel do briefing como uma espécie de roteiro bem articulado que
visa dar maior consistência às ações voltadas para a comunicação dos objetivos de pesquisa. Além
disso, apresentaremos uma reflexão pormenorizada a respeito da pesquisa qualitativa, destacando
as vantagens desse tipo de pesquisa, as suas possíveis aplicações e a importância de adotar
metodologias adequadas quando da sua realização.
No módulo III, iniciaremos esclarecendo as diferenças entre as pesquisas de cunho
qualitativo e quantitativo e, em seguida, verificaremos todos os procedimentos necessários à
realização de uma análise quantitativa. Para tanto, estudaremos aspectos relacionados à elaboração
de hipóteses, à escolha de variáveis para determinada pesquisa, à população e à amostra, e ao papel
dos métodos experimentais.
Por fim, no módulo IV, apresentaremos os conceitos relacionados à segmentação de
mercado e demonstraremos a sua importância para o ajuste de ofertas de produtos e serviços que
proporcionem melhores resultados para as empresas. Veremos também como são aplicadas as
ferramentas de segmentação e como se apresentam as especificidades dos mercados de
consumidores finais e organizacionais, além de discutirmos outras questões relacionadas ao tema,
como a decisão pelos segmentos e a definição do posicionamento.
SUMÁRIO
MÓDULO I – TRANSFORMAÇÃO DIGITAL E MODELOS DE NEGÓCIO DIGITAL ............................... 9
PLANEJAMENTO................................................................................................................................29
Importância do planejamento: marketing de relacionamento e CRM .............................29
Briefing e projeto de pesquisa ...............................................................................................30
Fontes de dados primários e secundários ...........................................................................32
Dados secundários externos ............................................................................................32
Dados secundários internos .............................................................................................33
Vantagens e desvantagens do uso de dados primários e secundários ......................34
PESQUISA QUALITATIVA ..................................................................................................................34
Conceito ....................................................................................................................................35
Procedimentos de análise na pesquisa qualitativa .............................................................36
Papel do pesquisador..............................................................................................................38
Análise indutiva...................................................................................................................38
Relação com os participantes do estudo ........................................................................38
MÉTODOS QUALITATIVOS...............................................................................................................39
Desk research ...........................................................................................................................39
Revisão de literatura................................................................................................................40
Estágios da revisão de literatura ......................................................................................40
Taxinomia de Cooper .........................................................................................................41
Observação ...............................................................................................................................43
Cuidados a serem tomados em observações ................................................................43
Cliente oculto ......................................................................................................................44
Entrevista em profundidade...................................................................................................44
Protocolo a ser seguido em entrevistas de profundidade ...........................................44
Focus group ou discussão em grupo ....................................................................................45
Como promover uma discussão em grupo de sucesso ................................................45
Peculiaridades dos dados provenientes de grupos focais ...........................................47
Etnografia ..................................................................................................................................48
Vantagens da etnografia....................................................................................................48
Netnografia ...............................................................................................................................49
Preparação de uma pesquisa netnográfica ....................................................................50
Participação do pesquisador ............................................................................................51
Triangulação dos dados e verificação com os participantes ........................................51
SEGMENTAÇÃO ................................................................................................................................77
Elementos de segmentação ...................................................................................................78
Aplicações da segmentação ...................................................................................................79
Critérios de segmentação para mercados: consumidores finais e organizacionais ......81
DEFINIÇÃO DE GRUPOS COESOS ...................................................................................................82
Formação de segmentos ........................................................................................................82
Requisitos de segmentação....................................................................................................83
Storytelling ................................................................................................................................84
ESCOLHA DO SEGMENTO ...............................................................................................................85
Targeting ...................................................................................................................................85
Definição do targeting .......................................................................................................85
Definição do segmento para abordagem de negócios emergentes ................................87
Economia colaborativa ou de compartilhamento..........................................................87
Inovação de produtos para acessibilidade de deficientes físicos ou portadores de
necessidades especiais ......................................................................................................88
Exemplo de segmento: veganos ............................................................................................89
COMO FAZER UMA OFERTA ............................................................................................................90
Posicionamento........................................................................................................................90
Papel do posicionamento .......................................................................................................91
Diferenciação............................................................................................................................92
Diferenciação baseada nos funcionários ou colaboradores ........................................92
Diferenciação baseada no canal.......................................................................................92
Diferenciação baseada na imagem ..................................................................................93
Diferenciação baseada na imagem ..................................................................................93
BIBLIOGRAFIA ................................................................................................................................ 94
PROFESSOR-AUTOR ....................................................................................................................... 96
MÓDULO I – TRANSFORMAÇÃO DIGITAL E
MODELOS DE NEGÓCIO DIGITAL
Além disso, é necessário que realizem uma análise circunstanciada das variáveis que
impactam, positiva ou negativamente, o marketing da organização. Tudo isso envolve a pesquisa
de mercado, atividade que, segundo o código de autorregulamentação da Associação Brasileira de
Empresas de Pesquisa (Abep), pode ser definida da seguinte forma:
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No esquema a seguir, apresentamos os elementos do sistema de marketing da empresa e as
variáveis ambientais internas e externas que o impactam.
11
Como podemos notar, os autores buscaram ampliar, de certa maneira, o leque de variáveis
externas. Essa ampliação é bastante pertinente, pois reflete o desdobramento das complexidades
existentes no ambiente de negócios. Tomemos como exemplo a variável ecológica/física/natural.
Tendo em vista o aumento da preocupação com questões relacionadas à preservação do meio-
ambiente por parte de diversos setores da sociedade e a disseminação de informações sobre esse
tema, as organizações passaram a ter de levar em conta os impactos dessa variável. Essa
preocupação envolve não só evitar possíveis ameaças e conflitos gerados pelo baixo entendimento
da dinâmica desse setor, mas também desfrutar de oportunidades geradas por essa nova
perspectiva. O mesmo se aplica à separação entre as variáveis sociológica, cultural e psicológica,
pois as sociedades também se tornaram mais complexas quanto a essas características. Daí a
necessidade de se estabelecer uma fronteira entre algo que é intrínseco à sociedade – ou seja, à sua
cultura – e algo de ordem psicológica (no nível tanto individual quanto coletivo).
No esquema, também podemos observar a distinção entre as variáveis legal, política e
governamental, o que demonstra a separação entre aquilo que é proveniente:
de influências políticas (resultantes de determinada vertente adotada pelo estado,
munícipio ou país);
da legislação em si e
de fatores institucionais do governo vigente.
Mais adiante, ao tratarmos da segmentação de mercado, veremos como todas essas variáveis
influenciam o trabalho do marketing. Agora, é importante compreendermos que a pesquisa de
mercado deve ser pensada como parte integrante desse universo de variáveis e como o principal
ponto de contato entre a empresa e os diversos stakeholders inseridos no ambiente de negócios.
Dessa forma, uma pesquisa de mercado eficiente deve ter como objetivo não só a obtenção de
dados, mas também o seu gerenciamento e a sua utilização apropriada, de modo a gerar
ferramentas que auxiliem as organizações no processo de tomada de decisões.
12
Kotler e Keller (2019) descrevem o SIM como um sistema composto de pessoas,
equipamentos e procedimentos voltados à coleta, classificação e análise de informações para que
estas sejam propagadas aos profissionais que elaboram e executam decisões em determinada
empresa. Além disso, ao buscarem complementar o SIM, Kotler e Keller (2019) propõem o
chamado “Sistema de Inteligência de Marketing”, descrevendo-o da seguinte forma:
Retomando a definição da American Marketing Association (AMA), Hair Jr. et al. (2023)
afirmam que a pesquisa de marketing tem a função de ligar uma organização ao mercado no
processo em que se obtêm as informações necessárias. Tais informações viabilizam a identificação
de oportunidades e problemas no mercado, assim como o desenvolvimento e a avaliação de ações
específicas na área de marketing da empresa.
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Dessa forma, podemos concluir que, como repositório central de informações, o SIM dá
suporte a todos os processos de pesquisa de mercado, que têm como tarefa a criação de métodos
para obter informações, selecionar as mais relevantes, analisar e interpretar os resultados, além de
organizar todas essas descobertas antes de apresentá-las aos tomadores de decisão.
14
Uma das primeiras empresas a utilizar o Big Data Analytics foi a Amazon. Para tornar a
divulgação, a venda e a entrega da sua ampla gama de produtos mais eficiente, a empresa quis
aproveitar ao máximo o cruzamento das diversas informações dos seus clientes. Não por acaso, a
Amazon se tornou uma das maiores corporações no ramo do e-commerce. No Brasil, a Americanas
S.A., mesmo passando por um momento de recuperação, utiliza uma vasta quantidade de
informação não só dos seus clientes, mas de toda a cadeia de fornecimento para ajustar as suas
ofertas às necessidades e aos desejos dos seus consumidores.
Problema gerencial
O primeiro passo para o desenvolvimento de uma pesquisa de mercado é a definição de um
problema de marketing (ou problema gerencial).
Apesar de ser um conceito fácil e intuitivo (o problema mais saliente que a empresa enfrenta
e que queremos resolver), a escolha do problema “certo” é complexa e difícil. Isso acontece
porque, em face das múltiplas iniciativas e dos múltiplos problemas que cercam os executivos de
uma empresa, sintomas (redução da base de clientes, redução do nível de satisfação, redução de
market share, etc.) e oportunidades (novos segmentos, novos mercados, etc.) se confundem.
15
Sabemos que o dia a dia dos executivos é repleto de problemas que envolvem diversos
assuntos, mas alguns deles são mais salientes e, por isso, devem ser escolhidos como problemas
gerenciais. A formulação do problema de marketing deve, portanto, ter relação com questões
profundas, como:
Quais os motivos para a redução na base de clientes?
Quais os motivos para o baixo nível de satisfação dos nossos clientes?
Por que os novos produtos não decolam?
Problema de pesquisa
Uma vez estabelecido o problema de marketing, a empresa pode focar, de maneira
integrada, as variáveis e os contextos que estão ligados aos sintomas detectados, ou seja, pode
partir para a identificação do problema de pesquisa.
Geralmente, um problema de pesquisa envolve duas (ou mais) variáveis e uma relação entre
elas. Por exemplo, se uma empresa tem um produto de determinada marca que, no seu histórico,
apresenta uma trajetória de sucesso, mas, a partir de certo momento, tem as suas vendas
estagnadas, isso indica uma possível rejeição por parte dos consumidores ou canais de
distribuição. Nesse caso, os executivos da empresa devem avaliar o porquê dessa rejeição. Se essa
mudança de comportamento ocorrer também em relação aos produtos de marcas concorrentes, a
questão a ser analisada será a rejeição do consumidor à categoria do próprio produto. Se, pelo
contrário, essa rejeição não for detectada em relação a outras marcas, a análise deverá seguir outro
caminho. Como podemos notar, não se trata de algo simples e, por isso, as empresas tendem a
recorrer a profissionais especializados em pesquisa, que, a partir de informações obtidas com
tomadores de decisão, realizam as seguintes atividades:
delineamento do propósito da pesquisa e escopo do que precisa ser investigado;
captação da dimensão completa do problema;
estabelecimento dos procedimentos para mensuração dos sintomas;
seleção das unidades de análise e
indicação das variáveis do estudo.
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Hair et al. (2023) afirmam que as ideias de pesquisa que não fluem imediatamente de um
problema de negócios podem, muitas vezes, ser esclarecidas por meio do questionamento a outros
pesquisadores mais experientes, executivos e tomadores de decisão que estão envolvidos com o
problema. Além disso, podem-se examinar pesquisas publicadas em áreas de interesse ou projetos
de pesquisa anteriores. Os autores destacam que pesquisas empíricas, de natureza tanto
profissional quanto acadêmica, realizadas na área são uma rica fonte de ideias.
Repenning, Kieffer e Astor (2017) afirmam que poucas habilidades gerenciais são mais
importantes e poderosas do que a de articular, com clareza, os problemas mais relevantes de uma
corporação. Apesar disso, e de maneira inusitada, essa habilidade não é facilmente encontrada ou
desenvolvida entre os executivos, pois a orientação pela ação imediata fala mais alto no seu DNA.
Nesse caso, os autores sugerem atuar na construção do problema de maneira sistemática e
consciente, utilizando o processamento lógico e construindo uma ligação entre o que causa o
problema e as suas possíveis soluções. Além disso, afirmam ser necessário evitar associações
anteriores e padrões mentais já utilizados, o que dará à solução do problema um viés inovador.
A partir daí, constrói-se a pergunta de pesquisa, que vai variar de acordo com a sua
abrangência, podendo ser:
ampla – por exemplo, “Como funciona o sistema de incentivo a profissionais de trade
marketing?” ou
estreita – por exemplo, “No mercado de produtos de consumo, qual é a relação da
remuneração do diretor de marketing com o desempenho financeiro das ações
de marketing?
17
Como podemos notar, a segunda pergunta foca um tema central (incentivos financeiros
do diretor de marketing em empresas de bens de consumo) e estabelece uma relação clara entre
duas variáveis (remuneração do profissional e desempenho financeiro das ações de marketing).
O grande desafio, no entanto, é chegar a um meio termo, ou seja, não investigar nem a relação
entre perguntas de pesquisa muito fáceis, que podem ser respondidas com dados descritivos,
nem entre perguntas de pesquisa muito complexas, cujos custo total e tempo de
desenvolvimento seriam proibitivos.
A formulação de problemas gerenciais relevantes é uma habilidade passível de aprendizado.
No entanto, requer prática e, por isso, deve ser executada constantemente. O processo todo se
torna mais fácil quando o material obtido nas investigações iniciais é rico e quando as ações são
realizadas em equipe, pois a visão conjunta facilita o enquadramento do problema gerencial nos
cinco elementos listados por Repenning, Kieffer e Astor (2017).
a) Exploratória:
A pesquisa exploratória tem como foco a busca de dados primários ou secundários, e recorre
a procedimentos informais para realizar a sua interpretação.
Os principais métodos de pesquisa exploratória aplicadas ao comportamento do
consumidor, na maior parte das vezes, incluem revisões de literatura e abordagens qualitativas
(observação, grupos de foco e entrevistas em profundidade).
Pesquisas quantitativas também podem ser de ordem exploratória e ocorrem quando pouco se
sabe sobre o tópico em questão. A construção de escalas de medida para conceitos abstratos (como
um instrumento de coleta de dados sobre a satisfação de clientes ou o engajamento da marca)
também é um exemplo de pesquisa exploratória realizada por meio de um método quantitativo.
b) Descritiva:
A pesquisa descritiva toma por base a busca de dados numéricos para responder às questões
de pesquisa. Esses dados numéricos podem relacionar-se a informações sobre concorrência,
mercado e variáveis ambientais.
Hair Jr. et al. (2023) afirmam que a pesquisa qualitativa também pode ser descritiva, pois,
muitas vezes, resulta em descrições textuais vívidas e detalhadas de consumidores, contextos de
consumo e cultura.
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c) Causal:
A pesquisa causal consiste em encontrar relações de causa e efeito entre duas ou mais
variáveis. Por exemplo, há situações em que é preciso compreender como a propaganda pode
interferir no ritmo de vendas ou no grau de satisfação do consumidor.
No quadro a seguir, apresentamos exemplos de variáveis de pesquisas voltadas para a
área de marketing.
variável descrição
consciência
Porcentagem de respondentes que já ouviram falar de determinada
(awareness) de
marca. Nesse caso, a consciência pode ser auxiliada ou não.
marca
importância dos Até que ponto atributos específicos influenciam a escolha de compra de
atributos uma pessoa.
Ainda sobre o tipo de pesquisa, Kotler e Keller (2019) destacam que, no processo de
determinação do tipo de pesquisa, é preciso ter em mente também o tipo de fonte dos dados, a
metodologia de pesquisa, os instrumentos a serem adotados, o plano de amostragem e os métodos
de contato.
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Fonte dos dados
Quanto à fonte, os dados podem ser:
primários – dados coletados para uma finalidade específica ou para um projeto de
pesquisa, ou
secundários – relatórios setoriais, artigos e publicações científicas sobre o assunto, censos
e plataformas com dados sobre tendências de consumo, tecnologia e inovação, etc.
A coleta de dados primários pode ser realizada por meio de diferentes abordagens, como
pesquisa por observação, grupos de foco, survey, dados comportamentais e experimentação. Esses
processos serão detalhados mais adiante.
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Hair et al. (2023) nos fornecem o seguinte exemplo para que possamos entender melhor o
processo de transformação de dados em conhecimento:
Exemplo
Uma grande rede hoteleira pretendia reduzir os seus custos e acreditava poder fazer isso
reduzindo a qualidade das toalhas e da roupa de cama. No entanto, antes de tomar essa
decisão, o presidente solicitou ao departamento de marketing que realizasse uma pesquisa
com os clientes a fim de identificar os critérios mais importantes antes de escolher um hotel.
21
Inicia-se então a seleção do tipo de pesquisa e das fontes de dados. Nesse momento, o
pesquisador deve levar em consideração os tipos de dado, o método de coleta
(levantamento/survey, observação, entrevista em profundidade, etc.), o método de amostragem, as
atividades e o orçamento (HAIR et al., 2023, p. 36).
Como vimos, há três grandes categorias de pesquisa: exploratória, descritiva e causal. A
seguir, vamos rever cada uma dessas categorias com mais detalhes.
Pesquisa exploratória
O objetivo da pesquisa exploratória é explorar, de maneira estruturada e lógica, um
problema ou uma situação. Para Sarstedt e Mooi (2019, p. 15), a pesquisa exploratória tem sido
extensivamente utilizada na solução de problemas cuja abordagem não parece ser única ou que se
mostram complexos, duvidosos e inexatos, pois o processo pode ajudar o pesquisador a formulá-
los de maneira mais precisa. Em outras palavras, por meio da pesquisa exploratória, podem ser
identificados artifícios e oportunidades que ajudem a determinar ou aprimorar o problema de
pesquisa. Essa pesquisa inicial também ajuda a estabelecer prioridades quanto ao processo de
pesquisa, às variáveis a serem abordadas e às abordagens que trarão mais rapidez no entendimento
do maior número possível de informações.
Também é função da pesquisa exploratória focar nos aspectos principais e de maior relevância
para a pesquisa. Como exemplo, podemos citar a identificação das motivações do
microempreendedor brasileiro, entendendo quais são as diversas vertentes daqueles que decidem
empreender. A entrevista de atuais e potenciais empreendedores pode ajudar entidades de fomento
como o Sebrae a atenderem os anseios desse segmento. Para essas entidades, é crucial discutir essa
informação com os seus clientes, garantindo assim que as suas descobertas sejam úteis.
22
Sarstedt e Mooi (2019, p. 15) destacam que por meio da pesquisa exploratória, é possível
ainda desenvolver instrumentos (escalas) para medir conceitos abstratos ou intangíveis. Isso é
importante para definir quais perguntas funcionam melhor no nosso contexto de pesquisa e como
os consumidores entendem a redação das questões. No processo de desenvolvimento dessa escala,
podemos utilizar a avaliação de outros pesquisadores (o que ajuda a criar questões mais precisas), a
avaliação de gestores interessados no tema “engajamento de marca” e até mesmo um pré-teste
com consumidores reais, garantindo assim que a medida seja válida e confiável.
Pesquisa descritiva
Como destacam Sarstedt e Mooi (2019, p. 17), a principal função da pesquisa descritiva é
descrever certos fenômenos, características ou funções, sendo que podemos nos concentrar em
uma variável (por exemplo, rentabilidade) ou em duas ou mais variáveis ao mesmo tempo (“Qual
a relação entre lealdade do consumidor e rentabilidade?” ou “Como a utilização de um aplicativo
no celular afeta a percepção de promoções de uma empresa de varejo?”).
As pesquisas descritivas baseiam-se, geralmente, em pesquisas exploratórias anteriores.
Afinal, para descrever algo, devemos ter uma boa ideia do que precisamos medir e de como
devemos medir. Principais formas pelas quais a pesquisa descritiva pode nos ajudar a descrever
clientes, concorrentes, segmentos de mercado e medir o desempenho.
Os pesquisadores de mercado realizam pesquisas descritivas com vários propósitos. Por
exemplo, retomando o exemplo do microempreendedor, poderíamos pensar nas seguintes
perguntas de pesquisa:
Qual é o tamanho da parcela da população que é microempreendedora neste momento?
Quais são as características dessa população, o faturamento médio e a dispersão
geográfica entre os estados e municípios?
Qual é o gênero, o nível educacional, os aspectos étnicos e a religião de quem mais
empreende?
23
Finalmente, um tema especialmente importante da pesquisa descritiva é a avaliação do
desempenho das ações de marketing. Comumente chamada de “métricas de marketing”, essa ação
visa acompanhar, regularmente, as vendas de categorias específicas de produtos para analisar o
desempenho desses produtos no mercado e também o desempenho dos funcionários e gerentes
envolvidos no processo de atendimento ao mercado. Nesse caso, os pesquisadores medem o
desempenho usando medidas bastante específicas para o marketing, como:
wallet share ou share of requirements – relação entre o gasto de determinados
consumidores de uma marca e os gastos totais na categoria do produto;
market share baseado em valor – divisão do mercado baseada no desembolso do
consumidor, e não somente nas unidades consumidas e
índice de taxa de uso do consumidor ou heavy user index – entendimento da taxa de uso
de um produto nos diferentes segmentos da população.
Pesquisa causal
Sarstedt e Mooi (2019, p. 18) alegam que a pesquisa causal é menos frequente na área de
marketing, e é usada para entender como mudanças em uma variável afetam outra variável. Por
exemplo, como possíveis alterações na variável “execução de campanha promocional” podem
afetar a variável “retorno do investimento na campanha”? Os autores alegam que o principal
objetivo da pesquisa causal é, portanto, descobrir a relação de causalidade entre as variáveis, o que
vai muito além da pura análise dos efeitos daquilo que é observado como fenômeno.
A relação temporal é extremamente importante nesse caso. Isso quer dizer que o segundo
fenômeno deve ser uma consequência do primeiro e, dessa forma, ser observado posteriormente.
No exemplo que acabamos de ver, o retorno do investimento feito na campanha de marketing
acontecerá após a execução da campanha. Esse exemplo reflete um grande desafio do pesquisador
que utiliza a pesquisa causal: isolar as variáveis que possam gerar aumento nas vendas para poder
demonstrar a relação esperada.
Além de estabelecer a relação de causalidade claramente, é necessário evitar que outros
fatores não sejam os responsáveis pelo efeito observado. Por exemplo, em uma investigação sobre
nível de preço e volume de vendas, se aumentarmos o preço, as vendas podem subir porque os
concorrentes aumentaram ainda mais os seus preços. Nesse caso, todos os preços estão
24
aumentando e, mesmo elevando-se o preço, observamos aumento das vendas, pois o aumento foi
menor do que o dos outros players. Controlar esses fatores externos é difícil e exige alta destreza do
pesquisador.
Quanto aos métodos utilizados em pesquisas causais, o experimento é um dos mais
frequentes. Em um experimento, o pesquisador realiza procedimentos de coleta de dados
meticulosamente desenhados, manipula uma variável independente que acredita ser causa do
fenômeno a ser investigado e mede o efeito que é acarretado em uma variável dependente
(variável resposta). Além disso, o pesquisador precisa controlar todas as demais variáveis
influenciadoras ou “confundidoras” (confounding). Muitas vezes, o conhecimento profundo das
variáveis influenciadoras e “confundidoras” vem de etapas anteriores do projeto de pesquisa.
Os projetos de pesquisas exploratórias e descritivas, normalmente, não possuem o
mecanismo de controle dos projetos causais/experimentais, mas levantam os temas que podem
encaixar-se em uma ou outra categorização. Nos projetos de pesquisas exploratórias e descritivas,
as questões iniciais de pesquisa são, tipicamente, abordadas de maneira ampla e genérica, e as
hipóteses se concentram no tamanho do efeito ou na direção da associação, e não na causalidade.
Quanto à forma, os experimentos se dividem em:
d) Laboratoriais:
Os experimentos laboratoriais ocorrem em um ambiente controlado, como um laboratório
ou uma loja, onde a configuração é simulada e o efeito de (quase) todas as variáveis externas é
minimizado. Dessa forma, busca-se entender como as mudanças em uma variável (chamada
“estímulo”) causam alterações em outra variável.
e) De campo:
Os experimentos de campo ocorrem em um local onde a configuração é natural, semelhante
ao contexto do estudo. Nesse caso, uma ou mais variáveis independentes são manipuladas em
condições relativamente controladas, com a mesma configuração que o consumidor encontra na
prática. Em outras palavras, um estímulo, que pode ser um novo produto, uma mudança na
publicidade, uma alteração na luz ou nos odores presentes no ambiente de compra, é fornecido
para que se possa analisar como ele afeta as vendas.
As experiências de campo não são realizadas em ambientes perfeitamente controlados, o
que, para alguns pesquisadores, diminui a força da relação de causalidade. Para Botelho e De Luca
(2017), no entanto, o uso de essências e aromas no ambiente de varejo (conhecido como
marketing olfativo) apresenta relações claras de causalidade, pois as marcas varejistas que
perfumam o ambiente com uma fragrância adequada conseguem aumentar a percepção de
qualidade do produto, melhorar a avaliação da loja e estimular os sentimentos positivos pela
empresa, criando fortes vínculos emocionais com a marca.
25
De qualquer forma, o realismo das experiências de campo as torna atraentes para fins de
pesquisa de mercado.
Atenção!
É muito importante não confundirmos correlação com causalidade. Só porque existe algum tipo
de relação entre as variáveis, isso não significa que essa relação seja de causalidade.
Para ilustrar essas correlações, chamadas de espúrias, Tyler Vigen lançou um site em que
correlaciona dados factuais. Como podemos ver no gráfico a seguir, umas das mais altas taxas
de correlação encontradas por Vigen foi entre o número de divórcios no estado do Maine (EUA)
e o consumo per capita de margarina entre os americanos. No entanto, obviamente, o consumo
de margarina não é a causa dos divórcios.
Fonte: Spurious Correlation. Disponível em: <http://www.tylervigen.com/spurious-correlations>. Acesso em: agosto 2023.
Resultados
Apresentação dos resultados
A apresentação dos resultados de pesquisa deve levar em conta diversos componentes, uma vez
que o processo de análise pressupõe não só a preparação das informações obtidas mas também a
reflexão acerca dessas informações. Em outras palavras, nos resultados, devemos demonstrar o que as
informações encontradas efetivamente representam, os avanços obtidos, as limitações observadas, as
perspectivas futuras de retomada da pesquisa e os novos caminhos a serem seguidos.
26
Estudos futuros
Creswell e Creswell (2022) afirma que a pesquisa é um processo contínuo cuja escrita deve
ser reflexiva e refletir a consistência do estudo realizado.
27
Respondentes também podem assumir posturas antiéticas. Isso ocorre quando fornecem
respostas deliberadamente erradas ou não condizentes com a situação – por exemplo, dizem
pertencer a uma faixa de renda muito superior ou muito inferior àquela em que se encontram
verdadeiramente – ou quando respondem a um questionário, via internet, no lugar de outra pessoa.
Em virtude dos diversos problemas envolvendo questões éticas e a veracidade das
informações obtidas, atualmente, as pesquisas de mercado têm procurado aprimorar os métodos
de coleta de dados secundários, utilizar práticas mais sofisticadas no gerenciamento de recursos
tecnológicos e bases de dados, além de incrementar a análise das informações e a sua
disponibilização.
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MÓDULO II – PLANEJAMENTO E PESQUISA
QUALITATIVA
Planejamento
Importância do planejamento: marketing de relacionamento e CRM
Hair Jr. et al. (2023) afirmam que o objetivo central do marketing consiste em planejar e
executar um conjunto de tarefas relacionadas às atividades do composto mercadológico, de modo
a gerar transações que satisfaçam tanto as organizações quanto os consumidores ou clientes. O
composto mercadológico é constituído pelas atividades de preço, praça, produto e promoção.
Os autores também ressaltam que o sucesso de um programa de marketing depende muito
do estreitamento de relacionamentos duradouros e eficazes com os clientes e outros stakeholders. A
preocupação com esses relacionamentos leva a um conjunto de ações direcionadas a uma
abordagem específica, chamada marketing de relacionamento. O marketing de relacionamento
envolve o conhecimento do mercado, dos clientes e, em casos como o da pesquisa de mercado, a
obtenção de informações de várias fontes e tipos diferentes, tais como dados demográficos,
psicográficos, histórico de compras e de atendimento, além de informações sobre a comunicação
dos clientes com a empresa.
Paralelamente ao marketing de relacionamento, ocorre a gestão do relacionamento com o
cliente. Conhecida pela sigla CRM (customer relationship management), a gestão do
relacionamento com o cliente é um processo por meio do qual se coletam dados mercadológicos
para conhecer, cada vez mais, os desejos e as necessidades do público-alvo, de modo que os
produtos e serviços sejam desenvolvidos para atender plenamente às suas expectativas.
Nesse processo, em que se amplia o conhecimento do mercado e do cliente, é preciso que
haja uma base de dados capaz de integrar as informações vindas de fontes diversas, as quais devem
ser selecionadas e compartilhadas com as diferentes áreas departamentais da empresa.
A definição de quais serão os estudos desenvolvidos a partir da base de dados do CRM é
um processo estratégico para a corporação. Dessa forma, o entendimento do briefing da
pesquisa e dos tipos de dados a serem utilizados são muito relevantes para a melhor utilização
dos recursos da empresa.
30
Apresentação do perfil (geográfico, demográfico, psicográfico) e dos
aspectos inerentes ao comportamento de compra (hábitos, atitudes e
fatores que influenciam a decisão de compra) do público-alvo, além da
4 público-alvo
indicação de todos os demais públicos envolvidos na transação, como
intermediários, influenciadores e o próprio público interno (funcionários
ou colaboradores – ações de endomarketing).
Desenvolver um briefing bem alinhado viabiliza uma maior consistência das ações de
marketing, principalmente daquelas que pressupõem integração de atividades e comunicação.
Além disso, permite a avaliação dessas ações durante todo o seu percurso, possibilitando que
revisões e alterações sejam realizadas sempre que necessário.
O acompanhamento e a avaliação do briefing permitem ainda aumentar o valor e a
produtividade da comunicação integrada de marketing. Isso acontece porque os profissionais
envolvidos têm a possibilidade de demonstrar a sua motivação e criatividade, tendendo a um
maior comprometimento e, consequentemente, maior conhecimento do produto, do conceito
que o rege e do público-alvo.
31
Paralelamente, por meio do briefing, é possível evitar erros que levariam ao desgaste e à
percepção negativa da empresa ou do produto. A expressão criativa, por exemplo, não pode ser
apenas provocativa ou inusitada. Ela deve acompanhar tendências sociais e comportamentais do
segmento-alvo, de modo a não haver conflito com questões étnicas, religiosas ou outras tantas que
possam gerar uma reação negativa por parte dos consumidores.
32
rotação de domicílios. Isso significa que cada domicílio selecionado será
entrevistado cinco vezes, uma vez a cada trimestre, durante cinco
trimestres consecutivos” (IBGE, n.d.).
1
Para mais informações, acesse: <http://www.dados.gov.br>.
33
Uma grande fonte de dados internos é o CRM (customer relationship management), já visto
anteriormente. Esse tipo de sistema de gerenciamento de banco de dados inclui, geralmente,
informações como comportamento de compra, dados de venda georeferenciados, dados
demográficos e características de produtos e serviços fornecidos aos consumidores. Essas
informações são compiladas e distribuídas para que os profissionais de marketing possam criar as
campanhas de marketing, saber o tipo de produto com melhor desempenho e entender os
critérios de decisão do consumidor. Geralmente, as empresas usam sistemas de CRM para:
identificar tendências dos clientes;
calcular a lucratividade por cliente e o seu valor por todo o seu ciclo de vida (customer
lifetime value – CLV) ou
identificar oportunidades para vender produtos novos ou inovadores.
Pesquisa qualitativa
Antes de tratarmos da pesquisa qualitativa especificamente, é importante realizarmos uma
pequena reflexão. Muitas vezes, profissionais das áreas de Administração e Marketing afirmam
que há uma grande distância entre a teoria e a prática, como se fossem atividades opostas. No
entanto, é importante ressaltarmos que teorias não resultam do lado “imaginativo ou criativo” de
acadêmicos. Ao contrário, as teorias surgem de uma forte análise do mercado e do uso de
procedimentos científicos. Só a partir daí, novas teorias são propostas ou teorias existentes são
revistas e substituídas por outras. Isso quer dizer que há uma forte ligação entre teoria e prática,
como se uma não existisse sem a outra.
No que se refere à pesquisa qualitativa, Hair et al. (2023) destacam que, devido às suas
peculiaridades, durante muitos anos, estudiosos debruçaram-se sobre as suas características com o
intuito de convencer os acadêmicos e demais públicos da sua legitimidade.
34
Conceito
Pesquisas qualitativas concentram-se na análise de textos e imagens, não envolvendo dados
numéricos necessariamente. Nesse sentido, Hair et al. (2023) comentam que alguns pesquisadores
costumam pensar na análise de dados como algo que envolve números e, por isso, criticam a
pesquisa qualitativa. Pelo fato de não trazer valores numéricos, segundo esses pesquisadores, a
pesquisa qualitativa seria mais “subjetiva” e “fraca”. Entretanto, vale lembrarmos que a existência
de mensuração e análise estatística não significa, necessariamente, que a pesquisa seja útil ou
precisa. Uma pesquisa pode ser considerada boa quando demonstra uma abordagem cuidadosa,
bem engendrada e articulada, independentemente da adoção de métodos qualitativos,
quantitativos ou combinados.
Para Hair et al. (2023), as abordagens qualitativas exigem interpretação. Por exemplo, se
um entrevistado afirmar que uma roupa é “legal”, parece-nos óbvio que ele gostou da roupa,
certo? Mas, e se ele disser que a roupa é “descolada” ou “confortável”? Isso indica maior ou menor
propensão à compra? Esses termos são ambíguos e podem confundir o pesquisador que está lendo
a transcrição da entrevista. “Confortável”, por exemplo, pode significar um ajuste mais largo, que
permite a liberdade de movimento, ou pode significar que a roupa faz com que o consumidor se
sinta mais satisfeito com o visual da peça no seu corpo. Nesse caso, o julgamento informado do
pesquisador e o questionamento detalhado devem ser usados para resolver a ambiguidade.
35
Hair Jr. et al. (2023) destacam que a opção pela pesquisa qualitativa ocorre, com maior
frequência, quando o pesquisador deseja, por exemplo, testar perguntas em um levantamento, a
fim de verificar a sua efetividade antes de formalizar um estudo de maior porte. Outros objetivos
da pesquisa qualitativa são:
realizar previsões mais consistentes sobre relações entre comportamentos e fatores
de mercado;
descobrir fatos novos sobre essas relações;
validar relações e testes de hipóteses.
36
Quadro 3– Questões para verificação dos procedimentos qualitativos
sim (S) ou
questões
não (N)
O pesquisador fez a revisão dos dados de uma forma geral para obter o sentido
das informações?
37
Papel do pesquisador
Segundo Creswell e Creswell (2022), a pesquisa qualitativa pode ser realizada por diferentes
meios, em diversos contextos e sob distintas formas. Pode ser conduzida in loco, por exemplo,
quando os pesquisadores vão a campo para a coleta de dados. Nesse caso, as informações são
obtidas diretamente das pessoas, pela observação do seu comportamento no contexto maior das
características da pesquisa qualitativa. Na pesquisa in loco, portanto, os pesquisadores interagem o
tempo todo com os participantes.
Outra forma de condução da pesquisa qualitativa, em que o pesquisador é um elemento-
chave, consiste na coleta de dados por meio da seleção, escolha e observação de documentos e
comportamentos ou por meio de entrevistas com os participantes. A diferença está no fato de que,
nesse caso, apesar de até poderem usar algum tipo de protocolo para a coleta de dados, em geral,
os pesquisadores reúnem as informações sem utilizar questionários preestabelecidos ou outro tipo
de procedimento. Também é comum que recorram a fontes variadas, como entrevistas,
observações, fotos, vídeos e documentos, para que não corram o risco de, confiando em um único
tipo de fonte, basearem-se em dados infiéis. Depois de reunir todos os dados, os pesquisadores
fazem a revisão e a organização de tudo o que foi coletado e, só então, realizam comparações.
Análise indutiva
Uma importante característica da pesquisa qualitativa é o uso da análise indutiva. Nesse
tipo de análise, os pesquisadores constroem os seus modelos, categorias e temáticas para
organização dos dados com construções cada vez mais abstratas de unidades de informação.
O processo indutivo se revela pela constante retomada dos assuntos pertinentes ao tema,
junto à análise da base de dados que os próprios pesquisadores elaboraram para construir a temática.
38
Além disso, o autor afirma que descrever as etapas de acesso, contato e obtenção da
permissão dos entrevistados é essencial para obter acesso à pesquisa e aprovação de comitês de
ética. Só assim as informações podem ser utilizadas e publicadas.
Assim como faz com os procedimentos de coleta de dados, o pesquisador deve identificar a
adequação dos indivíduos que irão participar do estudo, garantindo que forneçam contribuições
expressivas para o problema da pesquisa. Isso significa que o pesquisador não deve realizar,
simplesmente, uma seleção randômica de indivíduos para obter um grande número de participantes.
Métodos qualitativos
Desk research
A literatura publicada anteriormente é uma das fontes mais importantes de um projeto de
pesquisa, podendo ser usada para justificar diferentes aspectos de um problema e para mostrar que
novas abordagens são merecedoras de atenção. Esse tipo de pesquisa, que tem como objetivo reunir
informações de diversas fontes, é conhecida como desk research (ou pesquisa de dados secundários).
Por meio de uma desk research, procuramos ter um contato inicial com a situação a ser
pesquisada, resumindo os seus principais aspectos. Mais especificamente, identificamos a
literatura relevante e realizamos uma análise crítica daquilo que já foi pesquisado sobre o tema,
buscando entender como se relaciona com o novo projeto de pesquisa.
Se o tema a ser explorado for inovador e recente, a literatura gerada para o público
corporativo pode ser a melhor fonte de informação. No entanto, se esse tema for uma extensão ou
uma nova aplicação de um problema bastante conhecido ou já explorado no passado, a literatura
acadêmica pode ser mais útil, pois trará abordagens diferenciadas do problema e aspectos não
pensados anteriormente.
Hair et al. (2023) afirmam que uma boa estratégia inicial para a coleta de dados secundários
consiste em examinar e coletar informações em quase todas as fontes relacionadas ao tema. À
medida que o processo se desenrola, deve-se então decidir quais são os materiais mais importantes
e o que pode ser deixado de fora. O resultado final dessa abordagem será um resumo das teorias,
das descobertas e dos argumentos já apresentados na literatura corporativa e acadêmica. Além
disso, durante esse processo, é útil identificar as lacunas de pesquisas anteriores, pois esses gaps
podem sugerir direções para o novo trabalho de pesquisa.
39
O resultado final de uma desk research deve ser, portanto, um documento que identifique o
que foi e o que não foi realizado quanto à análise do assunto abordado e que demonstre como a
nova pesquisa se enquadra nesse corpo de conhecimento.
Revisão de literatura
Hair et al. (2023) apontam que, frequentemente, estudantes de Administração perguntam
por que é necessário realizar uma revisão de literatura. Para respondermos a essa questão, é
necessário entendermos o que é uma revisão de literatura e como ela pode ajudar o pesquisador
nas suas pesquisas.
40
b) Levantamento das questões de pesquisa:
Na segunda etapa da revisão de literatura, o pesquisador deve levantar as questões relevantes.
Além disso, podem ser específicas ou amplas. As questões de pesquisa específicas são, no
entanto, mais úteis para o desenvolvimento de ideias relacionadas a questões gerenciais. As
questões de pesquisa são reformulações desses assuntos ou temas relevantes de uma maneira
estruturada para que sejam pesquisáveis (HAIR et al., 2023, p. 65).
Taxinomia de Cooper
Como vimos, as revisões de literatura são conduzidas academicamente com o objetivo
de apresentar relatos sobre pesquisas anteriores, incluindo os principais achados, métodos,
teorias a aplicações práticas. Em outras palavras, aparecem em artigos como uma descrição de
pesquisas já realizadas, de forma a introduzir o estudo que se propõe apresentar. A partir daí,
é possível demonstrar um avanço em uma teoria existente ou realizar propor a continuação de
estudos anteriores.
41
As principais características da revisão de literatura foram resumidas na chamada taxonomia
das revisões de literatura, proposta por Cooper et al. (2019), e estão dispostas no quadro a seguir.
característica categorias
achados de pesquisa;
métodos de pesquisa;
foco
teorias ou
práticas ou aplicações.
representação neutra ou
perspectiva
exposição e defesa de uma posição ou argumento.
exaustiva;
exaustiva com seleção de algumas citações;
cobertura
representativa ou
central.
histórica;
organização conceitual ou
metodológica.
42
Observação
Quando um pesquisador faz anotações acerca do comportamento dos indivíduos durante a
pesquisa de campo, ele está realizando uma pesquisa por observação. Essas anotações são
registradas pelo pesquisador de maneira não estruturada ou semiestruturada (utilizando um
questionário-piloto sobre assuntos que o pesquisador quer averiguar).
Uma característica importante dos estudos observacionais é o fato de eles exigirem que um
observador monitore e interprete o comportamento dos participantes. Por exemplo, alguém pode
querer analisar como os consumidores gastam o seu tempo nas lojas ou como atravessam os
corredores de um supermercado. Esses estudos exigem a presença de uma pessoa, de uma câmera
ou de outros dispositivos de rastreamento, como chips de radiofrequência, para que se possam
monitorar e registrar tais comportamentos.
Além disso, durante a observação, os pesquisadores podem assumir diferentes papéis, que
variam de não participante a totalmente participante. Quando não é um participante, o
pesquisador apenas observa o processo. Já quando é um participante, o pesquisador participa do
processo, ocultando-se o fato de que está ali com a intenção de analisá-lo. Em outras palavras, no
primeiro caso, o pesquisador se limita a registrar o que ocorre e, no segundo, há a vantagem de
ele, efetivamente, experienciar o processo.
43
Cliente oculto
Um exemplo prático de técnica utilizada na pesquisa por observação é o chamado “cliente
oculto”. Quanto utilizam essa técnica, os pesquisadores não se identificam como tais e realizam
compras com o intuito de avaliar o prestador de serviços.
Por meio desse tipo de pesquisa, é possível analisar a qualidade dos produtos oferecidos, as
instalações, as formas de atendimento, as características da promoção de produtos de
determinadas marcas e os preços aplicados.
Yaoyuneyong et al. (2018) utilizaram a técnica do cliente oculto para avaliar os principais
elementos que compõem a percepção da qualidade em serviços, obtendo resultados
surpreendentes na consistência de serviço apresentada por funcionários. Os autores avaliaram
hotéis e resorts, fazendo-se passar por clientes comuns. Foi possível observar que nem sempre os
hotéis e resorts de categoria superior são aqueles que apresentam o melhor nível de serviços.
Entrevista em profundidade
As entrevistas em profundidade são conduzidas pelo pesquisador diretamente com os
entrevistados seja por telefone ou pessoalmente. Essas entrevistas não são estruturadas e, em geral,
apresentam algumas poucas perguntas exploratórias, uma vez que a intenção é destacar os pontos
de vista e opiniões dos próprios participantes.
Uma das vantagens das entrevistas em profundidade é o fato de os participantes fornecerem
informações do seu próprio histórico e experiência. Além disso, o fato de não haver um questionário
com perguntas fechadas viabiliza um maior controle por parte do pesquisador, que pode fazer
algumas perguntas adicionais com o intuito de obter respostas mais detalhadas dos entrevistados.
Por outro lado, uma das limitações das entrevistas em profundidade é o fato de a
informação ser filtrada pela perspectiva dos entrevistados. Há ainda situações em que a presença
do pesquisador pode gerar respostas enviesadas. Além disso, nem todas as pessoas apresentam
percepções detalhadas e relatam, de maneira articulada e coerente, as suas observações.
44
em torno de quatro ou cinco perguntas dentro do planejamento da entrevista;
apresentação de quatro ou cinco perguntas para que os participantes descrevam as suas
ideais mais elaboradas ou opiniões sobre determinado assunto e
encerramento com uma frase de agradecimento ao entrevistado pelas informações
fornecidas e pelo tempo dedicado à entrevista.
45
a) Características dos participantes:
Em primeiro lugar, deve ser dada atenção à relação entre as características dos participantes
e o tema que está sendo discutido. Isso quer dizer que o todo o esforço possível deve ser
direcionado às fontes e estratégias de recrutamento.
b) Quantidade de participantes:
Quanto à quantidade de participantes, o tamanho ideal de um grupo depende das
características desses participantes e do tópico em discussão. Grupos pequenos são utilizados com
sucesso em estudos de comportamento considerados sensíveis, como hábitos de consumo ligados
à intimidade (como absorvente interno) ou que deixem o participante desconfortável (como
produtos pirateados). Já grupos maiores são utilizados quando existem subgrupos que possam
contribuir para o estudo. Na indústria automotiva, um grupo de foco de consumidores de uma
categoria de automóveis (como Sedan) pode conter subgrupos com diferentes frequências na troca
de veículos (entre dois e três anos em um grupo e mais de cinco anos em outro grupo) ou
diferentes países de origem da marca do veículo atual (proprietários de Sedans de marcas
japonesas, francesas, americanas ou europeias). No entanto, em geral, grupos muito grandes
podem tornar-se difíceis de moderar.
Em geral, quanto maior for a segmentação (por exemplo, por idade, gênero, sexualidade),
maior será a necessidade de aumentar o número de grupos.
c) Ambiente:
A discussão em grupo deve ocorrer em um ambiente onde seja possível realizar o registro
audiovisual da sessão.
46
Geralmente, para produtos de pequenas proporções (bens de consumo em geral), costuma-
se usar uma sala com espelho falso. Dessa forma, os pesquisadores podem observar e registrar as
informações necessárias. Além disso, a identidade das pessoas (e da empresa/produto) fica
preservada. O ponto eletrônico também é comumente utilizado nesses casos, estabelecendo a
comunicação entre o pesquisador e o mediador do grupo, que guiará a interação entre os
participantes e voltará a tópicos que pareçam de maior relevância.
Já para produtos de grandes proporções, como carros, a discussão costuma ocorrer em um
local reservado, como um hotel ou uma área de eventos. Nesse caso, diversas câmeras são
utilizadas para registrar a sessão.
47
Uma inovação recente na técnica de discussão em grupo é a adoção do meio digital para
reunir grupos. Os chamados virtual focus groups são realizados em salas de webconferência onde
todos os participantes se veem. Essa técnica é capaz de simular o efeito do encontro físico e gerar
resultados equivalentes. Durante a pandemia do Covid-19 houve uma rápida expansão da
utilização de ferramentas de webconferência, em plataformas como o Zoom, o Meet do Google
ou o Teams da Microsoft, facilitando ainda mais o uso desta técnica.
Etnografia
Hair et al. (2023) afirmam que grande parte dos métodos qualitativos não possibilita que os
pesquisadores vejam os consumidores no seu “ambiente natural”. A etnografia surge, portanto,
com o intuito de resolver essa lacuna, buscando compreender possíveis tendências culturais que
venham a influenciar as escolhas e decisões de compra dos consumidores.
Vantagens da etnografia
Para Cayla et al. (2014), a etnografia foi, durante muito tempo, retratada como uma técnica
de observação à distância, em que os antropólogos espreitavam as casas das pessoas para observar a
sua vida no ambiente real de consumo. No entanto, os autores argumentam que essa descrição já
não faz justiça à forma como a etnografia realmente funciona no mundo corporativo nem ao
papel, cada vez mais importante, da etnografia na formulação de estratégias de negócio.
A fim de levar a uma compreensão mais profunda de como as empresas usam a etnografia
para obter vantagens, os autores realizaram extensas entrevistas com executivos de várias indústrias
em todo o mundo. Os resultados sugerem que a narrativa etnográfica, ou seja, o relato das
histórias que ocorrem durante a imersão de um etnógrafo em campo, pode ser indispensável não
só para pesquisar hábitos dos consumidores, mas também para direcionar mudanças na estratégia
da empresa.
48
Enquanto, em outras pesquisas, a análise de dados fornece
achados instantâneos, na etnografia, os dados contribuem
para uma compreensão empática e profunda de como os
consumidores vivem e trabalham, o que leva a descrições
detalhadas dos produtos e contextos de consumo avaliados.
Netnografia
Os critérios adotados na netnografia são os mesmos da etnografia. A diferença está no fato
de os dados serem provenientes da internet, especificamente de comunidades on-line que se
formam a partir de um interesse comum. Por exemplo, há comunidades nas redes sociais voltadas
para determinados tipos de alimentação, religião, gosto musical, etc.
Segundo Kozinets (2019), como método, a netnografia é mais rápida, mais simples e menos
dispendiosa que a etnografia tradicional, além de ser mais naturalista e discreta que grupos de
discussão ou entrevistas em profundidade.
Na netnografia, os pesquisadores devem ter acesso à comunidade on-line para fazer a coleta
e a análise dos dados. Dessa forma, poderão realizar análises bem estruturadas e consistentes, e dar
o follow-up (explicações posteriores) aos membros da comunidade sobre os resultados da pesquisa.
Os estudos implicam, normalmente, a avaliação de blogs, grupos de discussão, listservs e
mídias sociais, mas com alguma participação ou intervenção por parte do(s) pesquisador(es). O
pesquisador não é, portanto, passivo. Em vez disso, intervém, aberta ou secretamente, nas
publicações e discussões em curso na internet.
49
A técnica fornece aos pesquisadores de marketing a oportunidade de observar
comportamentos que ocorrem naturalmente, como pesquisas de informação e difusão “boca a
boca” de produtos entre os consumidores. Isso acontece porque ela é realizada no ambiente
natural em que os fenômenos ocorrem e tem como característica ser discreta. Kozinets (2019)
destaca que essa combinação de atributos é única, não podendo ser encontrada em nenhum outro
método de pesquisa em marketing. Assim sendo a netnografia
a) Entrée:
A etapa inicial do método netnográfico é chamada de entrée e corresponde ao processo de
entrada na comunidade a ser investigada e aceitação por parte dos seus integrantes.
50
Participação do pesquisador
Kozinets (2019) propõe um continuum de participação do pesquisador na comunidade on-
line. Esse continuum vai do observador sem interação com o grupo, passa pelo observador-
participante e chega ao pesquisador que tem grande participação na comunidade, técnica
chamada de autonetnografia, como podemos ver a seguir:
51
MÓDULO III – PESQUISA QUANTITATIVA
A maioria das pessoas que tem contato superficial com a pesquisa de mercado considera que
a diferença entre as pesquisas quantitativa e qualitativa está no fato de a primeira avaliar números
e a segunda avaliar palavras, ou seja, a pesquisa quantitativa focaria a manipulação de dados
matemáticos, e a pesquisa qualitativa focaria a análise de dados textuais. Essa distinção não é,
contudo, precisa. Para Hair et al. (2023), dados quantitativos referem-se a medidas em que são
usados números para representar as características de algo. Como essas características são
apresentadas diretamente por meio de números, elas se prestam à análise estatística.
A pesquisa quantitativa, ao contrário da qualitativa, prioriza a utilização de perguntas
formais e a estruturação de respostas a partir de opções predeterminadas. Essa objetividade
possibilita que, após a coleta de dados, as hipóteses formuladas pelos pesquisadores sejam testadas
por meio da aplicação de critérios estatísticos às medidas de interesse. Isso quer dizer que, embora
a opinião do pesquisador influencie, claramente, o design das questões do estudo, ela não afeta o
teste de hipóteses, uma vez que são os entrevistados que fornecem os números.
Recorre-se a esse tipo de pesquisa quando é necessário entender por que determinado
fenômeno é similar ou diferente de outros fenômenos e qual é o tamanho do efeito das relações
entre as variáveis utilizadas na formulação do problema de pesquisa.
Modelo conceitual
Segundo Hair et al. (2023), em um projeto de pesquisa, um resultado importante da
revisão de literatura é o desenvolvimento de um modelo conceitual. Preparar um modelo
conceitual no início do processo de pesquisa permite ao pesquisador organizar os seus
pensamentos e considerar, visualmente, as relações entre as variáveis de interesse.
O processo de desenvolvimento de um modelo é chamado de conceituação e envolve
três tarefas:
identificação das variáveis e dos conceitos utilizados na pesquisa;
especificação das hipóteses e relações entre as variáveis, e
preparação em si do modelo conceitual.
54
Hair et al. (2023) alertam que há uma grande diferença entre uma variável e um constructo:
as variáveis são medidas diretamente, e os constructos só podem ser medidos indiretamente, pelas
diversas variáveis formadas por indicadores (questões), muitas vezes, usando questionários de
pesquisa. Os autores dão como exemplos de constructos usados em negócios a qualidade
percebida de serviço, a atitude da marca, o comprometimento organizacional, a probabilidade de
procurar um novo emprego, a confiança dos consumidores, a satisfação, a liderança e assim por
diante. Cada um desses constructos é medido de maneira indireta.
O conceito de engajamento de marca também é um constructo, sendo medido,
indiretamente, a partir de três dimensões:
cognitiva;
emocional e
comportamental.
No quadro a seguir, podemos observar 12 questões que, de acordo com Lourenço et al.
(2022) representam o constructo “engajamento de marca”. Vejamos:
dimensão questões
55
Especificação das hipóteses e relações entre as variáveis
Como vimos, o modelo conceitual é um diagrama geral que mostra como variáveis e
construções estão relacionados entre si (HAIR et al., 2023). Baseia-se, portanto, em observações e
na lógica que exibem as hipóteses a serem testadas.
Os pesquisadores têm, geralmente, algumas ideias preliminares sobre relações de dados com
base nos objetivos da pesquisa. Essas ideias são derivadas de pesquisas anteriores, da teoria ou da
situação atual do negócio e, normalmente, são chamadas hipóteses.
Uma das maneiras de se formular uma hipótese consiste em, após montar um diagrama que
identifique as variáveis independentes e dependentes, explorar possíveis relações entre essas variáveis.
A seguir, trabalharemos, com mais detalhes, a questão da formulação de hipóteses.
Formulação de hipóteses
Hair et al. (2023) destacam que, estatisticamente, uma hipótese é uma suposição ou
proposição não comprovada que explica, com certo grau de incerteza, determinado fato ou
fenômeno. Uma hipótese também pode ser pensada como uma suposição acerca da natureza de
uma situação particular.
Pesquisadores da área de negócios testam hipóteses para verificar se qualquer
relacionamento que se pensa existir entre as variáveis estudadas é devido a relações verdadeiras, e
não a relações espúrias.
Alguns exemplos de hipóteses passíveis de teste por pesquisadores da área de negócios são:
os consumidores adolescentes utilizarão mais minutos do plano de dados se for oferecido
um serviço de música gratuito;
os preços das ações são afetados, positivamente, por anúncios de desempenho favoráveis;
a lealdade do consumidor no varejo está relacionada com a percepção de qualidade dos
produtos, a precificação, os serviços ao cliente e a conveniência de compra.
56
Os testes de hipóteses são procedimentos sistemáticos a
serem seguidos para que possamos aceitar ou rejeitar
hipóteses sobre certos padrões ou relacionamentos e, dessa
forma, concluirmos se são ou não verdadeiros.
É vital conhecermos a escala em que algo pode ser medido, pois essa escala determinará
quais técnicas de análise poderemos ou não usar. Por exemplo, não faz sentido calcularmos a
média de uma variável que indica o gênero do entrevistado.
A seguir, veremos as características de cada uma das escalas passíveis de uso em pesquisas
quantitativas.
57
Escala nominal
A escala nominal é o nível mais básico de medição existente (SARSTEDT; MOOI; 2019,
p. 33) e, essencialmente, quando usamos uma escala nominal, substituímos uma palavra por um
identificador (valor numérico).
É importante ressaltarmos que essa classificação não está relacionada com a natureza da
variável. Por exemplo, no Rio de Janeiro, o CEP da Fundação Getulio Vargas é 22250-900. Já em
Brasília, o CEP da mesma fundação é 70830-051. Apesar de essas informações numéricas serem
referentes a mesma instituição, não é possível realizarmos nenhum tipo de comparação entre elas.
Isso acontece porque essas variáveis são nominais, ou seja, não representam nada além de um rótulo.
Escala ordinal
Sarsted and Mooi, (2019, p. 33) destacam que a escala ordinal fornece mais informações
que a nominal. Ao medirmos uma variável por meio desse tipo de escala, sabemos que
qualquer alteração no valor dessa variável será um sinal de mudança importante, que nos trará
informações significativas.
Por exemplo, suponhamos que tenhamos solicitado a um grupo de consumidores para
indicar o nível de consumo mensal de achocolatado no seu domicílio. Podemos classificar esses
consumidores entre aqueles que consomem menos de 500g por mês, entre 500g e 1 kg por mês e
acima de 1 kg por mês. Fica fácil perceber a diferencia entre a taxa de consumo de achocolatado
entre as diversas família, e a hierarquia entre consumidores de alta assiduidade (heavy users) e os de
baixa assiduidade (light users). Dessa forma, algo medido por meio de uma escala ordinal fornece
informações sobre a ordem das nossas observações. No entanto, não podemos saber se essas
diferenças estão igualmente espaçadas.
Escala intervalar
Quando medimos algo por meio de uma escala intervalar, temos informações precisas a
respeito da sua ordem de classificação e, além disso, podemos interpretar a magnitude das
diferenças entre os valores diretamente (Sarstedt e Mooi, 2019, p. 33). Os autores dão um
exemplo ligado à temperatura.
Por exemplo, se o termômetro de determinado bairro está marcado de 25 °C pela manhã e,
depois de duas horas, passar a marcar 20 °C, sabemos que a diferença entre essas temperaturas é
de, exatamente, 5 °C. E se a temperatura inicial não baixar, mas sim aumentar para 30 °C? A
diferença será a mesma: 5 °C. Esse "espaçamento" exato é chamado equidistância.
O que a escala de intervalo não nos dá é um ponto zero absoluto – no nosso exemplo, qual
o verdadeiro significado se a temperatura for de 0 °C? O que essa medida difere de zero graus na
escala Fahrenheit? Escalas de temperatura são convenções e não há um significado específico para
o valor zero.
58
Escala de razão
Para Sarsted e Mooi, (2019, 33), a escala de razão fornece o maior volume de informações
possíveis de uma variável, sendo que nela o valor zero significa que a variável particular não está
presente. Em outras palavras, o ponto zero ou a origem da variável é igual a zero, um zero verdadeiro.
Por exemplo, se um cliente não comprar nenhum produto, ele realmente não teve
desembolso com produtos ou, se não gastarmos dinheiro em publicidade de um novo produto,
realmente não gastamos dinheiro. Diferentemente do exemplo sobre temperatura, o zero é
verdadeiro e representa a ausência da variável.
Ao contrário dos estudos transversais, os estudos longitudinais exigem a coleta de dados das
mesmas unidades de amostra (respondentes) em várias ocasiões, ou seja, os dados representam
uma série temporal de observações.
Estudos longitudinais usam, eventualmente, um painel de consumidor para coletar dados.
O painel de consumidor é uma amostra fixa de respondentes estabelecida com o objetivo de
coletar dados ao longo do tempo. Nas pesquisas de painel, são, portanto, coletados dados de um
mesmo grupo de entrevistados durante determinado período. Para tanto, um grande grupo de
membros do painel é recrutado e grava as suas respostas em um diário. As informações sobre os
membros do painel, como as características demográficas e domésticas, são coletadas e usadas para
determinar os indivíduos que serão usados em uma pesquisa específica.
59
Os painéis podem representar desde grupos de consumidores até grupos empresariais,
incluindo médicos, advogados, CEOs, etc.
População
Uma população é um grupo sobre o qual queremos fazer julgamentos e, esses grupos
podem ser compostos de indivíduos, clientes, empresas, produtos e, praticamente, qualquer outro
assunto em que a pesquisa de mercado esteja focada (SARSTEDT; MOOI, 2019, p. 38).
As populações podem ser definidas de forma muito ampla. Por exemplo, todas as pessoas
que vivem na cidade de São Paulo podem ser consideradas uma população ou, de modo mais
restrito, os diretores de marketing de multinacionais com sede na cidade de São Paulo podem ser
considerados uma população.
Tipos de amostragem
A amostragem é um processo por meio do qual selecionamos casos (amostras) de uma
população. Para Sarstedt e Mooi (2019, p. 38), quando desenvolvemos uma estratégia de
amostragem, podemos escolher entre:
o censo;
a amostragem probabilística e
a amostragem não probabilística.
60
Os diferentes tipos de amostragem são catalogados a partir do método utilizado para
selecionar as unidades a serem estudadas. Vejamos (SARSTED; MOOI 2019):
a) Amostragem simples:
A amostragem aleatória simples é alcançada por meio da seleção aleatória do número de
casos necessários.
Esse método é de fácil implementação e funciona bem para quadros amostrais homogêneos.
b) Amostragem sistemática:
Sarstedt e Mooi (2019, p. 41) argumentam que, a amostragem sistemática, enumeram-se
todas as unidades e, posteriormente, selecionam-se os respondentes necessários. Por exemplo,
suponhamos que, em determinado estudo, o nosso quadro de amostral tenha 1.000 indivíduos e
que queiramos selecionar apenas 100 deles para participar da pesquisa. Nesse caso, devemos
selecionar a 1ª observação, a 11º, a 21º, e assim sucessivamente, até chegarmos ao final do quadro
amostral com as 100 observações necessárias ao estudo.
c) Amostragem estratificada:
Na amostragem estratificada, dividimos a população em vários grupos homogêneos,
chamados de estratos. Depois de dividirmos a população em estratos, devemos desenhar um
número aleatório de observações de cada estrato (SARSTED; MOOI 2019).
Os estratos baseiam-se em características-chave da amostra, sendo mutuamente exclusivos e
exaustivos, de modo que cada elemento da população pertença a um único estrato. São exemplos:
a área em que determinados consumidores vivem, o número de funcionários de diferentes
empresas ou o seu faturamento anual.
Embora a amostragem estratificada seja mais complexa e requeira conhecimento do quadro
de amostragem e da população, ela nos ajuda a garantir que as características do quadro de
amostragem sejam semelhantes às da amostra. Ela também é muito útil quando a questão de
pesquisa de mercado requer a comparação de diferentes estratos da população.
61
Vários desses grupos podem ser criados com base em características-chave que sejam
representativas da população, como renda, preferência política ou composição familiar. Em
seguida, podemos selecionar um ou mais desses grupos representativos e usar a amostragem
aleatória para selecionar as observações.
62
amostra, acessando esses outros membros diretamente. O pesquisador também pode enviar a
alguns consumidores um link para um questionário on-line e pedir que o encaminhem para, pelo
menos, outras cinco pessoas.
Tamanho da amostra
Sarstedr e Mooi (2019, p. 43) propõem que, depois de determinar o procedimento de
amostragem, temos de determinar o tamanho da amostra. Amostras maiores aumentam a precisão
da pesquisa, mas são muito mais caras. O poder da amostra vem, na verdade, da sua seleção
precisa, e não do seu tamanho. Além disso, o tamanho da amostra requerida tem muito pouca
relação com o tamanho da população.
Se quisermos comparar diferentes grupos, precisamos multiplicar a amostra necessária pelo
número de grupos incluídos. Por exemplo, em um projeto de amostra estratificada, se 150
observações forem suficientes para medir a quantidade de pessoas que gastam com alimentos
orgânicos, precisaremos multiplicar 150 por dois, pois compararemos as despesas individuais e
casuais com alimentos orgânicos de dois grupos: o grupo das pessoas que gasta e o grupo de
pessoas que não gasta com esse tipo de alimento.
Survey
Os questionários são muito importantes na pesquisa de mercado. Uma pesquisa do tipo
survey é uma forma de coleta planejada de dados com o propósito de descrever ou prever, como
um guia de ação, as relações entre certas variáveis.
Essas pesquisas são, geralmente, conduzidas com um grande número de respondentes, em
contraste com os experimentos de laboratório, que tendem a ser mais intensivos, mas em menor
escala. Para coletar os dados, os pesquisadores de marketing podem usar questionários tanto
autoaplicados quanto aplicados por terceiros.
63
Creswell e Creswell (2022) afirma que uma pesquisa na modalidade survey gera uma
descrição quantitativa ou numérica de determinadas tendências, atitudes ou opiniões de
indivíduos pelo estudo da população, ou seja, a partir dos resultados da amostra, o pesquisador
consegue fazer generalizações a esse respeito.
Neste ponto, o modelo conceitual é de vital importância, pois nele já teremos apresentado
as variáveis, os constructos e as possíveis relações entre esses elementos. O questionário deve então
refletir os instrumentos de medida das variáveis e dos constructos, para que possamos verificar a
viabilidade dessas relações.
Em linhas gerais, o desenho de uma survey segue um formato padrão. Primeiramente, é
preciso identificar a sua proposta, que deve generalizar a partir de uma amostra para uma
população, de modo que as inferências possam ser sobre características, atitudes ou comportamentos
dessa população. Também é preciso explicar por que a survey foi escolhida como tipo de
procedimento para coleta de dados. Uma das possíveis justificativas é a vantagem de podemos
identificar atributos de uma grande população a partir de um pequeno grupo de indivíduos.
No quadro a seguir, apresentamos um conjunto de questões de verificação (checklist) para
adoção em um método survey.
6 Quantas pessoas farão parte da amostra? Como se chegou a essa definição de tamanho?
7 Qual será o procedimento para lidar com a amostra (randômica, não randômica)?
64
13 Como essas variáveis se relacionam com as questões de pesquisa e itens da survey?
Como podemos observar, ao realizarmos esse tipo de checklist, é fundamental que não só
identifiquemos a população a ser estudada, mas também o seu tamanho e a significância dos seus
indivíduos. É igualmente importante identificarmos se a população da amostra é única ou por
agrupamento (cluster).
Além disso, não podemos ignorar o processo de seleção dos indivíduos participantes do
estudo. Creswell e Creswell (2022) recomenda que esse processo seja aleatório, por uso de amostra
probabilística, conforme vimos anteriormente.
Quanto à segmentação da população, podemos separar os grupos de indivíduos a partir de
um conjunto de características afins, como gênero, idade, grau de escolaridade, etc.
a) Entrevistas presenciais:
Para Sarstedt e Mooi (2019, p. 62), as entrevistas presenciais, também chamadas de
entrevistas pessoais ou face a face, podem levar a altas taxas de resposta, uma vez que o
envolvimento com os entrevistados é maximizado. Além disso, proporcionam a obtenção de
informações que vão além da resposta em si, como expressões visuais e gestos. Também é possível
a coleta de questões abertas com maior facilidade. Outra vantagem advém do fato de as pessoas
acharem difícil se afastar da entrevista, o que possibilita ao pesquisador coletar respostas para um
conjunto razoavelmente longo de perguntas.
65
b) Entrevistas por telefone:
A entrevista por telefone permite ao pesquisador coletar dados rapidamente e também
suporta respostas abertas, embora não tão bem quanto as entrevistas presenciais (SARSTEDT;
MOOI, 2019, p. 62). No entanto, há apenas um controle moderado do viés do entrevistador, já
que os entrevistadores seguem protocolos predeterminados e um script de apresentação com baixo
grau de flexibilidade.
Além disso, a tendência de redução das linhas fixas fez com que o acesso aos respondentes
passasse a ser mais complexo. Dada a penetração não uniforme na população, o celular não é um
substituto direto das entrevistas por telefone assistidas por computador (Cati).
2
Para conhecer o Toluna, acesse: <http://br.toluna.com>.
3
Para conhecer o Meseems, acesse: <https://meseems.com.br>.
66
Ao concebermos as perguntas da nossa pesquisa, como uma primeira regra, devemo-nos
questionar se todos os entrevistados serão capazes de respondê-las. Também devemos verificar se
serão capazes de estabelecer uma resposta coerente ao recuperar dados na sua memória, pois, se
precisarmos de detalhes que, eventualmente, ocorreram há muito tempo, a precisão da pesquisa
pode ficar comprometida. Além disso, devemos avaliar se os respondentes estarão dispostos a
preencher todas as perguntas. Se as questões forem consideradas sensíveis, envolvendo
informações como hábitos pessoais ou renda, eles podem deixar o questionário.
Outra decisão a ser tomada envolve a escolha entre o uso de perguntas abertas e fechadas.
As perguntas abertas (também chamadas de itens verbais no mundo da pesquisa de mercado) são
flexíveis e permitem uma explicação, mas têm como desvantagem o fato de os entrevistados
poderem relutar em fornecer essas informações detalhadas. Além disso, a sua interpretação requer
codificação substancial, um processo muito demorado, subjetivo e difícil. As perguntas fechadas,
por outro lado, fornecem algumas opções ao entrevistado, que deverá escolher a mais apropriada
entre elas (SARSTEDT; MOOI, 2019, p. 62).
Tipos de escala
O escalonamento resulta dos esforços empreendidos pelas áreas da Psicologia e da Educação
ao buscarem medir constructos incomensuráveis, impossíveis de aferir por medida direta, como
satisfação de clientes e lealdade.
4
Para conhecer a Qualtrics, acesse: <www.qualtrics.com>.
5
Para conhecer a Typeform, acesse: <https://www.typeform.com/>.
6
Para conhecer a Alchemer, acesse: <https://www.alchemer.com/>.
7
Para conhecer a SurveyMonkey, acesse: <https://pt.surveymonkey.com/>.
67
A técnica consiste na atribuição de valores numéricos a um objeto para que, dessa forma,
possa ser criada uma escala. Nesse caso, são preestabelecidas regras de associação entre dimensões
qualitativas (atitude, opinião ou sentimento) e unidades métricas quantitativas.
A seguir, trataremos dos escalonamentos:
não comparativos:
Likert e
diferencial semântico;
comparativos:
ordem de classificação e
índice de soma constante.
Likert
Sarstedt e Mooi (2019, p. 69) salientam que o primeiro passo a ser seguido, não só no
método Likert mas em todos os métodos de escala, consiste definir os itens que queremos medir.
Depois de defini-los, devemos classificá-los em uma escala de resposta que medirá o grau de
concordância dos respondentes. Essa escala pode ir de um a cinco ou de um a sete. Por exemplo,
em uma escala de um a cinco, a representatividade dos números poderia ser:
1 = discordo plenamente;
2 = discordo;
3 = estou indeciso;
4 = concordo e
5 = concordo plenamente.
Diferencial semântico
Com base na escala de diferencial semântico, o pesquisador apresenta um par de palavras com
significados opostos (jovem-velho, masculino-feminino, tradicional-avançado) para que o
entrevistado indique até que ponto concorda com cada palavra (SARSTEDT; MOOI, 2019, p. 69).
68
Como nas escalas de Likert, é comum serem usadas cinco ou sete categorias de resposta.
Esse tipo de escala é amplamente utilizado por pesquisadores de mercado.
Ordem de classificação
As escalas de ordem de classificação (rank order) são um tipo único de escala, pois forçam os
entrevistados a compararem opções (SARSTEDT; MOOI, 2019, p. 69). Basicamente, quando o
pesquisador utiliza uma escala de ordem de classificação, ele solicita aos respondentes que
coloquem as opções em ordem de importância. Dessa forma, em vez de, simplesmente, afirmarem
que tudo é importante, eles precisarão equilibrar as suas respostas.
Importância do teste
Antes de enviarmos o instrumento de coleta aos respondentes, devemos testá-lo. Para tanto,
podemos:
pedir a alguns especialistas que leiam, preencham e comentem a pesquisa, apontando
problemas como os de fluidez ou
selecionar um pequeno grupo de respondentes para aplicar o questionário, avaliando os
dados obtidos.
Só assim asseguraremos a clareza do nosso instrumento de coleta, além de garantirmos a sua
aceitação por parte dos respondentes.
Métodos experimentais
O que é um experimento?
Em uma outra modalidade de pesquisa, o experimento, os pesquisadores também
vislumbram a oportunidade de identificar uma amostra e fazer generalizações a respeito da
população. Entretanto, o princípio básico do experimento é testar o impacto de um tratamento
ou intervenção em um resultado, controlando os fatores que possam influenciá-lo. O
procedimento de controle consiste em designar indivíduos para participar de grupos cujo
tratamento será diferente.
69
Experimentos tentam mostrar como a mudança em uma
variável afeta determinado resultado.
Desenho experimental
O design (desenho) experimental se refere à estrutura da experiência a ser conduzida.
Existem vários tipos de desenho experimental. O mais simples deles, que nos permite fazer
inferências causais – dentro de certos limites –, é a avaliação antes e depois para um mesmo
grupo. Por meio dele, podemos medir as respostas dadas pelos respondentes antes e depois de
uma manipulação. Por exemplo, podemos usar esse tipo de design para determinar se os
respondentes acham que uma afirmação a respeito da qualidade de determinado produto é crível
antes e depois de mostrar-lhes um anúncio desse produto.
Outra abordagem comumente utilizada para entender esses efeitos causais consiste em usar
dois grupos diferentes na experiência. Nesse caso, o fato de os participantes serem designados para
os dois grupos de forma aleatória ajuda a chegar a conclusões mais relevantes. Isso significa que
cada participante tem a mesma probabilidade de ser escolhido para qualquer um dos dois grupos,
o que garante que participantes com características diferentes sejam distribuídos igualmente entre
o(s) tratamento(s), neutralizando os efeitos das variáveis estranhas.
Os experimentos também divergem quanto à exposição dos respondentes à manipulação.
São eles:
desenho entre sujeitos – ocorre quando expomos cada sujeito a apenas um tratamento
experimental e comparamos as medidas entre os sujeitos expostos a diferentes tratamentos;
desenho dentre sujeitos – ocorre quando expomos cada sujeito a todos os tratamentos
experimentais e comparamos as medidas dentre os sujeitos antes e depois do tratamento e
misto – ocorre quando misturamos as duas opções anteriores, expondo os sujeitos a
diferentes tratamentos de um ou mais fatores e a todos os tratamentos de outro(s) fator(es).
70
Ao buscarem verificar a influência da forma de apresentação de um alimento e do tipo de
alimento sobre a percepção de sabor das pessoas, Poor, Duhachek e Krishnan (2013) utilizaram
um desenho experimental entre sujeitos. Nesse caso, os sujeitos foram expostos a imagens de
alimentos saudáveis (amêndoas) ou não saudáveis (batatas fritas) em duas situações diferentes:
sozinhos ou em uma situação de consumo. Havia, portanto, quatro situações possíveis, e cada
sujeito foi exposto a somente uma delas.
Os desenhos experimentais dentre sujeitos, embora menos utilizados que os desenhos entre
sujeitos, são mais empregados em estudos em que se deseja eliminar o viés de resposta dos
sujeitos, uma vez que tratamentos diferentes não são aplicados a sujeitos diferentes.
Tipos de experimento
Estudos experimentais
Os estudos experimentais pressupõem o uso da atribuição aleatória dos sujeitos aos
tratamentos. Esses estudos reduzem a possibilidade de existirem explicações alternativas para os
resultados encontrados, uma vez que vieses de atribuição dos sujeitos às condições experimentais
são eliminados pela aleatoriedade.
Diferentemente dos estudos experimentais, os quase-experimentais não envolvem a
distribuição aleatória dos sujeitos aos tratamentos. Eles, geralmente, são utilizados quando o
pesquisador não tem controle sobre o processo de aleatoriedade ou quando os estudos são
realizados em campo, não permitindo distribuição aleatória.
Os estudos experimentais podem ser realizados em um ambiente real (experimento de
campo) ou artificial (experimento de laboratório). É importante ressaltarmos que, fora do seu
ambiente natural, um fenômeno pode apresentar distorções. Dessa forma, nos experimentos
realizados em laboratório, é necessário termos um maior controle sobre as variáveis externas para
que possamos chegar a melhores resultados.
Pesquisa multimétodos (quali/quanti)
Frequentemente, estudantes de graduação e pós-graduação em Administração ou
Marketing deparam-se com a seguinte dúvida a respeito do tipo de pesquisa a ser adotada: afinal,
a pesquisa qualitativa é melhor ou pior que a quantitativa? Como vimos, na verdade, tudo
depende do que se pretende com a pesquisa. Tanto as pesquisas qualitativas quanto as
quantitativas têm a sua importância e, dependendo da situação, será necessário combinar ambos
os métodos (qualitativo e quantitativo).
Para Creswell e Creswell (2022), métodos mistos (mixed methods) são aqueles que
combinam métodos de pesquisa qualitativa (que responde à pergunta “por quê?”) e quantitativa
(que responde à pergunta “o que?”), explorando o que há de melhor em cada. Os autores
argumentam que tal desenho de pesquisa pode assumir diversas formas, sendo que,
tradicionalmente, técnicas qualitativas exploratórias precedem as técnicas quantitativas.
71
Qualidade da pesquisa quantitativa
Validade
Para Sarstedt e Mooi (2019, p. 71), boas medidas são aquelas que apresentam resultados
consistentes a respeito daquilo que está sendo verificado. Por exemplo, em uma pesquisa de
mercado, se estamos interessados em saber se os clientes vão gostar de uma nova propaganda a
ser veiculada no rádio, podemos mostrar a propaganda a um grupo de consumidores e, em
seguida, fazer perguntas como “Você gostou de ouvir o comercial?” e “O comercial forneceu as
informações necessárias para a sua decisão de compra?”. No entanto, o grande desafio é saber se
essas perguntas medem, realmente, a opinião dos consumidores e se são capazes de discriminar
entre aqueles que gostaram muito e gostaram pouco do comercial. Se essas medidas se
relacionam perfeitamente, a medida verdadeira é igual à que conseguimos capturar com o
instrumento e, dessa forma, não temos erro de medição. Por outro lado, se elas não se
relacionam perfeitamente – como ocorre, usualmente, na prática –, temos um erro de medição.
Um erro de medição pode ser classificado como:
erro sistemático – erro que ocorre quando medimos mais ou menos do que realmente
queremos medir, podendo ter muitas fontes e
aleatório – erro que causa uma variação não intencional entre o que realmente medimos
e o que conseguimos medir com o instrumento.
72
Figura 4– Validade e confiabilidade
Tipos de validade
Para algumas variáveis, como comprimento ou renda, podemos verificar, objetivamente, se
os nossos resultados são verdadeiros, mas para os constructos, que descrevem fenômenos não
observáveis e medidos indiretamente, como satisfação, fidelidade ou confiança de marca, isso é
praticamente impossível.
Dessa forma, como não existe uma maneira direta de saber o que medimos, existem
diversos aspectos de validade, incluindo de face, de conteúdo, de construção e preditiva. Esses
tipos de validade nos ajudam a entender a associação entre o que devemos medir e o que
realmente medimos.
Validade de constructo é um termo geral que inclui esses diferentes tipos de validade,
melhor discutidos a seguir. Vejamos:
73
a) Validade de face:
A validade de face é um requisito mínimo absoluto para que uma variável seja válida e
refere-se a uma variável que reflete o que queremos medir. Essencialmente, a validade de face
existe se uma medida parece ter sentido para diferentes experts.
b) Validade de conteúdo:
Para avaliar a validade do conteúdo, os pesquisadores precisam, primeiramente, definir o
que querem medir e, em seguida, discutir o que está e o que não está incluído nessa definição. Por
exemplo, a confiança entre as empresas é, geralmente, definida como a medida em que uma
empresa acredita que o seu parceiro de troca é honesto ou benevolente. Depois de definirem o
que querem medir, os pesquisadores devem desenvolver as questões que se relacionam
intimamente com essa definição (SARSTEDT; MOOI, 2019, p. 35).
Como podemos notar, a validade do conteúdo é alcançada antes da medição real.
c) Validade de construção:
A validade de construção pode ser convergente ou discriminante. Temos validade
convergente quando há uma alta correlação (convergência) entre o que medimos e outros
elementos que queremos medir. De modo oposto, um teste tem validade discriminante se não
houver nenhuma correlação entre o que medimos e outros elementos que queremos medir.
Para medirmos, por exemplo, a satisfação e a lealdade com alto grau de validade
convergente e discriminante, é necessário que os itens que representam satisfação tenham alta
similaridade entre si e baixa similaridade com os itens que representam lealdade.
d) Validade preditiva:
Na validade preditiva, avaliamos a capacidade de a operacionalização prever algo que,
teoricamente, poderia prever.
a) Validade interna:
A validade interna se refere ao fato de os efeitos observados em um estudo serem resultantes
da manipulação da variável independente, e não de algum outro fator. Em outras palavras, deve
haver uma relação causal entre a variável independente e dependente.
74
b) Validade externa:
A validade externa se refere ao quanto os resultados de um estudo podem ser generalizados
para outras configurações (validade ecológica), outras pessoas (validade da população) e ao longo
do tempo (validade histórica).
Confiabilidade
A confiabilidade depende do quanto a pesquisa é livre de erros aleatórios. É importante
lembrarmos, no entanto, que erros aleatórios estão fora do controle do pesquisador. Por exemplo,
ao mostrarmos determinado comercial a um grupo de clientes, alguns deles podem ter tido uma
forte gripe e, por isso, podem não gostar do comercial.
Na figura 4, o grau de confiabilidade é representado pela dispersão entre os pontos. Quando
todos os pontos estão próximos, a medida é confiável, mesmo que não estejam perto do centro.
Uma medida não confiável nunca poderá ser válida, pois, nesse caso, não existe nenhuma
maneira de distinguirmos entre um erro sistemático e um erro aleatório. Se, por exemplo, repetirmos
a medida mais cinco vezes, o erro aleatório, provavelmente, deslocaria a cruz para uma posição
diferente. A confiabilidade é, portanto, uma condição necessária para a validade. Dessa forma, um
cenário não confiável e válido (alta dispersão na caixa superior direita) não faz muito sentido.
a) Estabilidade interna:
A estabilidade interna se refere ao quanto uma medida é consistente e estável quando
comparada aos seus diversos itens (SARSTEDT; MOOI, 2019, p. 38).
Para calcular a confiabilidade interna, podemos dividir, aleatoriamente, as respostas do
banco de dados em duas partes e, em seguida, comparar os resultados obtidos para cada uma das
partes. Essa técnica é conhecida por split-half.
A consistência interna é, de longe, a maneira mais comum de avaliar a confiabilidade, exigindo
que os pesquisadores utilizem, simultaneamente, muitas variáveis para medir a mesma coisa.
b) Estabilidade externa:
Para Sarstedt e Mooi, a estabilidade externa se refere ao quanto uma medida varia de uma
aplicação para outra. Nesse caso, os pesquisadores administram o mesmo teste a uma mesma
amostra, mas em duas ocasiões diferentes. Em seguida, avaliam o quão fortemente as medidas
estão relacionadas.
75
Para calcular a confiabilidade externa, podemos usar o chamado teste-reteste, que utiliza
medidas de estabilidade ao longo do tempo. Nesse caso, é comum submeter um questionário ao
mesmo grupo de respondentes em situações diferentes.
76
MÓDULO IV– SEGMENTAÇÃO DE
MERCADO
Segmentação
Uma das funções mais significativas da pesquisa de
mercado é a de ajustar as ofertas de produtos e serviços de
modo que as empresas tenham o melhor resultado possível.
Elementos de segmentação
No quadro a seguir, apresentamos as principais características analisadas pelos diferentes
tipos de segmentação de mercado.
78
que, costumeiramente, eram designados como “de menino” ou “de menina”. Crítica semelhante
foi enfrentada pela empresa brasileira de cosméticos O Boticário, que elaborou uma campanha
para o Dia dos Namorados em que apresentava a temática do relacionamento do ponto de vista
não só heterossexual, mas também homoafetivo. Esses exemplos indicam que a sociedade
brasileira ainda se mostra muito conservadora quando se trata de questões relacionadas à
orientação sexual ou à identidade de gênero.
Ainda quanto à segmentação demográfica, características como idade, renda e classe social
são bastante utilizadas para a criação de produtos e serviços. Isso pode ser observado, claramente,
no setor de telefonia celular do Brasil, onde os smartphones e pacotes de telefonia móvel são
desenvolvidos para atrair indivíduos com idades e renda distintas.
Outra abordagem em alta na segmentação demográfica é a que leva em consideração
aspectos multiculturais ou étnicos. A indústria da moda tem dedicado especial atenção a esses
aspectos ao, por exemplo, buscar inspiração em tecidos com padrão de cores, motivos e design
provenientes das culturas africana e asiática. A área de cosméticos também tem demonstrado essa
preocupação e vem desenvolvendo, cada vez mais, produtos cosméticos que atendem às
expectativas de diferentes etnias.
Aplicações da segmentação
Quando se propõe a desenvolver produtos e serviços com base em diferentes segmentos de
mercado, a empresa deve levar em consideração a atratividade do segmento e os recursos de que
dispõe para realizar abordagens segmentadas. Segundo Kotler e Keller (2019), isso quer dizer que
a empresa precisa considerar cinco critérios relativos à utilidade da segmentação:
tamanho;
nível de crescimento;
lucratividade;
economias de escala e
baixo risco.
79
Quadro 8– Etapas da segmentação
rentabilidade do
Avaliar a rentabilidade do segmento.
segmento
estratégia de
Ampliar a estratégia de posicionamento de segmento para incluir
composto
todos os aspectos do composto mercadológico.
mercadológico
É importante destacarmos que nem toda segmentação é útil. Por exemplo, características
étnicas, como cor da pele e tipo de cabelo, não são relevantes se estivermos considerando o
segmento-alvo de um produto como o sal rosa do Himalaia por exemplo. Nesse caso, devemos
focar o nível de renda, a escolaridade, os hábitos de consumo relacionados a produtos alimentares,
o fato de o consumidor gostar ou não de produtos exóticos, naturais, mais saudáveis, etc.
Outros critérios a serem levados em consideração durante a segmentação são:
poder mensurar o tamanho, o poder de compra e as características dos segmentos;
garantir que os segmentos sejam grandes e rentáveis o suficiente para serem atendidos
(consistência);
conseguir atender, efetivamente, o segmento (acessibilidade);
garantir que os segmentos sejam diferenciáveis para responder a cada programa do
composto de marketing e
desenvolver programas para atrair e atender os segmentos.
80
Critérios de segmentação para mercados: consumidores finais e
organizacionais
Kotler e Keller (2019, p. 270) afirmam que o mercado organizacional compreende todas as
organizações que produzem bens e serviços utilizados na produção de outros bens e serviços
direcionados à venda, ao aluguel ou ao fornecimento a terceiros. Isso significa que, diferentemente
do que ocorre no mercado consumidor, as compras efetuadas por empresas envolvem uma maior
quantidade de dinheiro e demandam maior volume de produtos.
81
Além disso, os autores mencionam as principais características que tornam os mercados
organizacionais muito distintos do mercado consumidor, conforme podemos observar a seguir:
número restrito de compradores, porém de grande porte;
forte relacionamento entre fornecedor e cliente;
critério de compra extremamente profissional;
diversas pessoas influenciam a decisão das compras organizacionais;
necessidade de efetuar vários contatos de venda;
demanda derivada da demanda por bens de consumo;
demanda inelástica;
demanda oscilante;
tendência a ocorrer concentração geográfica de compradores e
tendência a comprar diretamente dos fabricantes, e não dos intermediários.
Las Casas (2019) argumenta que, devido a diversos fatores, os mercados organizacionais
apresentam diferenças primordiais em relação aos mercados de consumo. Clientes recebem
influências tanto pessoais quanto organizacionais, e isso, por si só, já configura uma situação
peculiar em termos de formação de segmentos. Além disso, vale lembrar que as empresas atuam
em mercados determinados e, por isso, precisam adaptar-se às especificidades culturais de
determinadas regiões. Como exemplo, podemos mencionar, novamente, as características do
mercado de telefonia celular no Brasil. Dados os aspectos referentes a preço e pacotes disponíveis,
muitas pessoas não se encaixam no segmento “pós-pago”, mas sim no “pré-pago”. Nesse caso,
consumidores com menor renda tendem a ter chips de diferentes operadoras para otimizar o
sistema. Com base nessa realidade, foram criados aparelhos celulares em que é possível inserir até
quatro chips, dando ao consumidor a possibilidade de obter planos pré-pagos das quatro
principais operadoras de telefonia celular do Brasil.
82
Independentemente do método utilizado para selecionar o mercado, as empresas devem
seguir alguns passos. O primeiro deles consiste em definir mercado em que a organização já atua.
Uma empresa que fabrique calçados femininos para o público adulto, provavelmente, pensará em
uma faixa etária de 18 a 45 anos de idade se a linha de produtos for, por exemplo, de sapatos
sociais, com salto alto e para mulheres executivas.
A etapa seguinte consiste em fazer uma lista com as necessidades que os clientes em
potencial possam vir a ter, ou seja, os benefícios procurados pelos consumidores. Prosseguindo
com o exemplo da empresa que fabrica sapatos sociais femininos, podem ser propostas perguntas
como: que benefício as mulheres buscam em sapatos de salto alto? Conforto, design, percepção de
qualidade, cores, material, acabamento, segurança?
O próximo passo é a análise de possíveis grupos para essa situação. Uma das opções, no caso
do nosso exemplo, é analisar o que diferentes mulheres procuram em sapatos sociais. Dependendo
da idade, do nível de escolaridade e da atuação profissional, itens como qualidade, segurança
(mulheres não gostam de sapatos cujos saltos descolem ou que deformem com facilidade) e design
(mais arrojado, convencional, moderno, sofisticado) podem ser grandes diferenciais. Nesse caso,
como podemos notar, a segmentação se apoia em dados demográficos e também psicográficos.
Requisitos de segmentação
O mercado deve ser segmentado após uma análise que vise demonstrar os segmentos mais
interessantes para a empresa. Em seguida, deve ser avaliada a capacidade de a empresa atender,
plenamente, esses segmentos. Por exemplo, uma empresa que tenha um posicionamento
associado à tradição e à sofisticação dos seus calçados pode não ter a capacidade de atender um
público que gosta de ousar no design ou em materiais não convencionais. Além disso, por não
explorar tendências do mercado de luxo, pode não ter a capacidade de investimento para
enfrentar a concorrência de marcas nacionais e internacionais do setor.
Las Casas (2019, p. 412) propõe a seguinte estrutura para a segmentação:
83
Quadro 9– Estrutura da segmentação
Storytelling
Kotler e Keller (2019, p. 318) ressaltam algumas abordagens para a marca que viabilizam
levar a associações favoráveis na mente do consumidor. Uma dessas abordagens é chamada de
branding por narrativa ou storytelling. Nesse caso, em vez de comunicar atributos ou benefícios
específicos, a descrição do posicionamento da marca ocorre por meio de uma narrativa ou
história.
Para descrever o histórico da marca, a empresa deve utilizar os seguintes recursos:
cenário – momento, lugar e contexto;
elenco – papel da marca na vida do consumidor, a sua trajetória e como foi criada;
roteiro – estruturação da própria narrativa, incluindo tempo, ações, experiências e
acontecimentos marcantes, e
linguagem – uso de expressões, metáforas, símbolos e tudo o mais que leve à
autenticidade do que está sendo relatado.
84
Escolha do segmento
Agora, é o momento de avaliarmos como devemos proceder para sair na frente da
concorrência e obter vantagem competitiva ao escolheremos segmentos de mercado. A seguir,
veremos então os principais aspectos que envolvem a definição do público-alvo (targeting), ou
seja, o segmento de consumidores que se pretende atingir com a definição de determinados
portfólios de produtos.
Targeting
O termo targeting se refere à proposta de criar abordagens específicas para o mercado-alvo
de uma empresa, ou seja, aquele mercado que a empresa considera viável e financeiramente
vantajoso para direcionar os seus produtos ou serviços.
A análise do mercado-alvo auxilia a administração da empresa a estabelecer a maneira mais
eficaz de relacionar-se com o seu público de interesse. É preciso, no entanto, estar atento às
oportunidades que surgem no ambiente de negócios e, a partir daí, verificar outras questões
relativas ao comportamento e à atitude dos consumidores.
Levando em conta as dimensões de segmentação já vistas, podemos afirmar que,
considerando o targeting, mais do que propriamente os aspectos demográficos, precisamos avaliar
cuidadosamente os elementos de ordem psicográfica e comportamental em toda a estratégia de
desenvolvimento, posicionamento ou reposicionamento do produto.
De acordo com Kotler e Keller (2019), quando uma empresa se predispõe a avaliar o
mercado, é preciso que ela tenha em mente dois fatores cruciais: a atratividade global do segmento
e os seus objetivos e recursos. Também é preciso verificar se:
o segmento em questão é suficientemente atrativo – considerando o seu tamanho, grau
de crescimento, lucratividade, economias de escala e baixo risco;
o investimento está de acordo com os objetivos a serem alcançados e
há competências suficientes.
Definição do targeting
Em termos de definição do targeting, as empresas podem optar por atuar:
no mercado de massa – em que há cobertura total do mercado;
em segmentos múltiplos – por meio da especialização seletiva ou da especialização
por mercado;
em um segmento único ou
no marketing individual – quando chega a um processo bem refinado de customização
em que tem indivíduos como segmentos.
85
Vejamos cada uma dessas formas de atuação com mais detalhes:
a) Mercado de massa:
Trata-se da situação em que a empresa se organiza para atender todos os grupos de
consumidores ou clientes com os produtos que desejam ou necessitam. É o que acontece com
empresas de grande porte como a Unilever, a P&G, a Coca-Cola, a Microsoft e a General Motors.
A Unilever e a P&G, por exemplo, oferecem sabão para lavagem de roupas nas versões em
pó e líquida, e, embora apresentem versões do portfólio de marcas que detêm (por exemplo,
OMO e Ariel), tais produtos não são fabricados pensando-se em atingir consumidores específicos;
ao contrário, busca-se atingir o mercado com somente uma oferta.
Nesse caso, o processo é seguinte: a empresa desenvolve o plano de marketing para
determinado produto com uma imagem superior, de modo que ele consiga ser comercializado para
o maior número de consumidores possível por meio de uma distribuição eficiente e uma
comunicação massificada. Por meio desse processo, a empresa consegue reduzir custos, pois não são
necessários grandes investimentos em pesquisa e desenvolvimento, produção, estoque e propaganda.
c) Segmento único:
Situação em que a empresa se estrutura para atender um segmento específico. Trata-se de uma
abordagem de nicho, ou seja, a empresa foca um grupo de clientes definido de maneira bem clara,
buscando uma abordagem diferenciada que venha a gerar um leque de benefícios para esse segmento.
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Tomando como exemplo a tendência global de preocupação com a sustentabilidade, nos
setores de higiene pessoal e cosméticos, surgem empresas com propostas de desenvolvimento de
produtos 100% naturais, como a marca Tom’s of Maine.
d) Marketing individual:
Também conhecido como marketing one-to-one, nesse caso, são os consumidores ou
clientes que tomam a inciativa e determinam o que vão comprar e como. Para tanto, eles se
conectam à internet e buscam diversas informações sobre o produto, como avaliações e resenhas.
Em seguida, estabelecem contato com fornecedores, usuários e críticos para projetar o produto
exatamente como desejam.
A personalização, ou customização, pode ser uma abordagem muito difícil em função da
complexidade de determinados produtos. No entanto, em alguns casos, ela assume um papel
importante. Há, por exemplo, empresas que desenvolvem produtos para deficientes físicos e,
nesse caso, a abordagem individualizada é primordial para gerar o conforto e o bem-estar
necessários ao consumidor.
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Mas o que essa ideia de colaboração ou compartilhamento pressupõe? Como o próprio
termo indica, em vez de, por exemplo, comprar um carro, o indivíduo opta por utilizar o
transporte coletivo (principalmente, o metrô, em cidades onde há uma malha metroviária que
atende todo o perímetro urbano) ou a bicicleta (próprias ou alugadas).
Um dos exemplos típicos de economia de compartilhamento é o caso da empresa de
transporte privado Uber. Nesse caso, pessoas que dirigem cadastram-se na rede para trabalhar como
motoristas sem, no entanto, necessitarem de uma licença de condução especial, como ocorre com
motoristas de táxi. Muitas pessoas, como as que estão desempregadas ou precisam completar a
renda, interessam-se por esse tipo de trabalho informal. Entre os consumidores dos serviços da
plataforma do Uber, encontramos muitos dos que já eram adeptos do uso de táxis, mas,
considerando que os serviços dessa modalidade de negócio oferecem tarifas competitivas em relação
às dos táxis e diferenciais de serviço, optaram por migrar para essa nova modalidade de transporte.
Em relação ao uso da bicicleta como meio próprio de mobilidade, essa atitude já tem ampla
adesão em países como a Holanda, mas também tem surgido como tendência em outras grandes
metrópoles como Nova York e em algumas capitais brasileiras. Em São Paulo, por exemplo, em
regiões em que se concentram grandes edifícios corporativos, como na região do bairro de Vila
Olímpia, já há edifícios com adaptações, como banheiros com chuveiro e locais para guardar a
bicicleta de jovens executivos que vão ao trabalho usando esse meio de transporte.
Outra modalidade de negócios que emergiu no cenário do compartilhamento é a
abordagem da empresa AirBnB, em que pessoas cadastram as próprias residências como opções de
hospedagem para turistas. Novamente, são pessoas interessadas em ampliar a própria renda que
observaram a oportunidade de oferecer quartos e moradias até então “inativas”. Esse tipo de
prática tem sido cada vez mais utilizado pelos turistas, que a consideram mais interessante e viável
financeiramente do que estadias em hotéis, além de sentirem-se mais bem recepcionados pelo
anfitrião do que quando recebem o habitual serviço de hotéis e hospedagens.
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Figura 5 – Cão destrava a porta da máquina de lavar com a pata
Para abrir a porta, o cão pressiona um botão localizado no canto inferior direito da
máquina e, em seguida, puxa uma pequena corda. Depois de carregar a máquina com as roupas as
serem lavadas e fechar a porta com o focinho, ele só precisa latir para ligar a lavadora. A máquina
adiciona, automaticamente, o sabão conforme o peso da roupa que está para ser lavada.
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e veganos. Vegetarianos são indivíduos que não consomem nada que envolva sacrifício de vidas
animais, ou seja, não comem carne ou derivados, embora possam optar por consumir laticínios e
ovos (PEREIRA, 2022). Veganos, por sua vez, não consomem quaisquer produtos de origem
animal – não só alimentos, mas também quaisquer produtos que decorram do uso de animais ou
dos seus derivados. Isso quer dizer que os adeptos dos veganismo não adquirem produtos à base
de couro nem utilizam cosméticos de empresas que realizam testes em animais.
O veganismo pressupõe um estilo de vida ético em que se exclui todo e qualquer produto
cuja produção envolva o uso de alguma fonte animal ou a realização de experimentos científicos
com animais. Além da alimentação e dos cosméticos, há também o interesse pela moda vegana.
Nesse caso, as peças devem vir com um selo vegano que garanta ao consumidor que não houve
qualquer uso de animais para fabricá-las. Levando-se em consideração a moda em geral, muitos
animais são utilizados como fonte de matéria-prima na indústria do vestuário. Como exemplos,
podemos citar a lhama, a alpaca, a vicunha, a cabra cashmere, a cabra angorá e o carneiro.
Além da oportunidade de desenvolvimento de produtos a partir do conceito vegano, a
disseminação desse estilo de vida vem se propagando com muita intensidade nas redes sociais. Em
uma rápida varredura em redes como o Facebook, há em torno de 80 comunidades ou grupos de
discussão sobre veganismo, o que aumenta a comunicação livre entre os adeptos e a divulgação de
eventos ligados ao tema.
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Nesse sentido, é necessário que os profissionais de marketing estabeleçam os pontos de
paridade (semelhança) e de diferença entre a sua marca e a dos concorrentes. Isso pressupõe:
a criação de uma estrutura de referência que identifique o mercado-alvo e os principais
concorrentes;
a avaliação das associações ideais com a marca e
a criação de uma espécie de “mantra” que sintetize o posicionamento da marca e a
sua essência.
Papel do posicionamento
Kostelijk e Alsem (2020) afirmam que o posicionamento é essencial para fortalecer a atual
posição de um produto e acompanhar, continuamente, o que os consumidores desejam, até que
eles percebam que o produto atende às suas expectativas plenamente.
Em função das características dinâmicas dos mercados atuais e do grande acesso às
informações via internet, empresas que não ficam atentas às principais tendências do mercado
perdem espaço para os seus concorrentes facilmente. Uma empresa que seja reconhecida pela sua
excelência em atendimento, por exemplo, precisa investir constantemente nessa área para não
perder posição no mercado.
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Kostelijk e Alsem (2020) destacam que uma empresa que
fortalece a sua posição atual é reconhecida como uma
empresa capaz de atender aos anseios do consumidor.
Há, no entanto, situações em que é preciso rever o posicionamento. Isso ocorre quando
há queda na participação de mercado, indicando que os consumidores perderam o interesse
pelo produto.
O reposicionamento pode envolver uma mudança drástica no composto de marketing, de
maneira a alinhar o produto a outro segmento de consumidores. As Havaianas, por exemplo,
geraram um novo conceito ligado à marca no início dos anos 2000, ampliando as linhas do
produto, sofisticando alguns deles, divulgando a marca nos EUA e na Europa; enfim, passou por
um processo de ampla transformação.
Diferenciação
Vale lembrarmos que o posicionamento pressupõe a criação de um diferencial no produto,
algo que faça com que o consumidor sinta, verdadeiramente, que pode distingui-lo dos outros,
não só pelo preço, mas pelos seus atributos e pela sua eficiência.
Para criar diferenciações realmente atraentes aos consumidores, devemos associar ao
produto atributos que chamem a sua atenção. Tais atributos podem estar relacionados não só a
elementos como cor, textura e design, mas também ao atendimento de funcionários e
colaboradores, à eficiência dos canais de distribuição, à imagem da marca e ao serviço por ela
oferecido. A seguir, veremos cada um desses elementos detalhadamente.
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Diferenciação baseada na imagem
Organizações podem criar imagens mais atraentes para atender às necessidades sociais dos
consumidores. Como exemplo, podemos citar a empresa Natura e toda a imagem da organização
relativa não apenas à qualidade dos seus produtos cosméticos, mas também à necessidade de gerar
uma sensação de bem-estar em aspectos como a qualidade de vida dos seus funcionários e
consumidores, o que envolve um dos seus principais slogans: “Bem estar bem”.
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PROFESSOR-AUTOR
Carlos Eduardo Lourenço é doutor em Administração de Empresas pela FGV-Eaesp,
mestre em Administração de Empresas pela Universidade Presbiteriana Mackenzie e graduado em
Engenharia de Materiais pela Universidade Federal de São Carlos. Atualmente é professor da
Graduação, pertencendo ao Núcleo Docente Permanente (NDP) do Mestrado Profissional em
Gestão para Competitividade (MPGC) e do Mestrado Profissional em Gestão Internacional
(MPGI) da FGV-EAESP. Atua também em programas executivos. Foi coordenador do Programa
de Presidentes YPO/FGV entre 2016 e 2022. Seus interesses de pesquisa concentram-se nas
articulações da interação entre corporações e consumidores para a criação de valor, especialmente
em tópicos relacionados ao domínio do Marketing como Engajamento do Consumidor,
Branding, Customer Success & CRM, Business Analytics, Gestão de Vendas e Canais, Marketing
de Serviços e Varejo. Coautor do livro Gestão e Desenvolvimento de Produtos e Marcas da FGV
Management. Publicou em periódicos como Journal of Retailing and Consumer Services,
Sustainable Production and Consumption, Qualitative Marketing Research e Marketing
Intelligence and Planning.
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