Caso Helena
Caso Helena
Helena tem 27 anos, é veterinária há 5 anos. Ela buscou por atendimento psicológico,
após ter sido diagnosticada com transtorno Bipolar tipo I em uma consulta com o
psiquiatra. Disse que buscou o primeiro atendimento por insistência do noivo. Em sua
primeira sessão, Helena estava expansiva, seu tom de voz era alto e gesticulava com as
mãos enquanto falava. Seu humor estava visivelmente agitado e ela foi bem-educada na
sessão, embora a psicóloga tivesse que cortar algumas de suas falas, pois ela estava
verborrágica, respondendo além do que era questionado. Ela estava vestindo uma roupa
florida e usava maquiagem forte – olhos coloridos e batom vermelho.
Apesar de estar cooperativa, Helena não dizia que não estava certa de que tinha vontade
de estar ali, mas como seu noivo insistiu muito e agendou a sessão para ela, então foi. Ela
relatou que estava passando por dificuldades no trabalho. Helena trabalhava em uma
clínica veterinária de grande ported qual gostava muito. “Eu gosto muito de minha
profissão, sabe? Me dava muito bem com todos, mas de uns tempos para cá tenho batido
muita boca com meus colegas de trabalho... me sinto irritada quando vejo algo que não
concordo, tenho estopim curto e, quando vejo, já falei besteira! Até filmei um colega
fazendo uns procedimento de uma forma que não era a ideal, pensei em processá-lo e foi
uma confusão! Minha chefe me deu um ultimato na semana passada... disse que ou eu
controlo meu jeito ou estou na rua. Mas quer saber? Se eu fo para a rua eu não ligo. Tenho
pensado em abrir um restaurante vegano... acredito que posso fazer algo grandioso para
mim e para o munod- salvar muitas vidas! Pode ser minha missão! Eu gosto de ser
veterinária, mas muitas vezes trabalho em plantões noturnosAmo cachorro e gato, mas o
que eu quero fazer agora é genial, já pensei em tudo. Inclusive, eu estou me sentindo tão
preparada, que é até difícil acompanhar o tanto de ideia que me vem na mente”.
A cliente relatou que, durante a ultima semana, dormiu muito pouco, pois queria montar
os novos planos de negócio – embora não tenha conseguido tirar nada do papel, pois as
ideias fogem. “Eu pensei em abondonar a clínica e me tornar blogueira animal. Fazer
denuncias de crimes contra animais e tal. Poderia ser uma blogueira famosa! Outra
questão que pensei seria ser blogueira de comida vegana! Sinto que tenho potencial...e eu
sei que vai dar certo, meu noivo fala que é loucura, mas eu penso que esse é o melhor
momento para eu fazer isso, tenho tudo o que preciso para conseguir ganhar muito
dinheiro e não preciso dele e nem de ninguém. Sempre tive sono ruim devido aos plantões,
neste momento, ao menos, estou mais desperta por um motivo que sei tem
potencialEmbora Helena diz ter grandes planos, ela relata que, efetivamente, ainda não
conseguiu sentar-se para planejá-los. “Sempre que eu começo a escrever, colocar as ideias
no papel, lembro que preciso fazer alguma coisa. Acredita que, esses dias, eu tinha
esquecido de lavar roupa? Aí parei para colocar tudo na máquina, era 3h30 da madrugada,
meu noivo acordou bravo com o barulho”.
Sobre a consulta com o psiquiatra, Helena reportou que pesquisou um pouco sobre o
diagnóstico, mas tudo aquilo que havia lido não fazia sentido, pois ela até se sentia “para
baixo” em alguns momentos, mas que não chegava a ser bipolar, que o médico havia
errado o diagnóstico, ou caso tivesse acertado, ela acreditava que tinha um tipo “leve” de
bipolaridade. “Acho que o médico exagerou, me sinto ótima, ele, inclusive, prescreveu
remédios que não quero tomar mais, eles me deixam muito lenta e não gosto de como
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fico quando estou sob medicação... isso me atrapalha a vida! É um saco remédio! Acho
que sou bipolar 2, 1 não... por isso acho que não preciso de medicamento!
Tudo começou quando tive um surto em uma viagem. Eu estava na Austrália com minha
mãe, viajando... sempre bebi muito. Neste dia estava me sentindo super bem, enchi a cara
de vinho, deixei minha mãe sozinha num ao meio que sem pensar e fui para a rua. Entrei
na primeira balada que achei... eu estava bem! Estava feliz! Comecei a olhar para um
cara, o seduzi, ele me levou para um hotel ali perto e tivemos relações sexuais – nem
usamos preservativos. Foi um ato bem impulsivo e sem pensar... eu estava muito bêbada!
Minha mãe chegou a chamar a polícia, quando voltei para o hotel onde estávamos no dia
seguinte foi um caos. Aí, fui ficando mais agitada... de alegria eu fui ficando irritada
também. No aeroporto, na nossa volta, achava que estava todo mundo me encarando...
logo que voltamos, o jet lag acabou comigo! Aí, eu não dormia mais mesmo! Dormia
umas 2h por noite... perdi o apetite, comecei a faltar de todas as aulas na faculdade, fui
ficando mais agitada... então, levada no psiquiatra que deu o diagnóstico
Sobre o seu relacionamento, Helena diz que ama o seu noivo e que tem se sentido muito
mais atraída por ele, mas que isso gera conflitos. “Eu realmente não sei por que ele me
mandou para cá. Nossa vida sexual está ótima, mudou muito, porque quando vem a bad
eu não consigo ter libido nenhuma. Apesar das brigas, toda vez que eu chego perto dele,
já vem uma excitação e eu quero sexo. É o sonho de todo homem, não? Mas ele anda
meio implicante e isso me deixa muito incomodada.”. Ela conta que o noivo é a pessoa
que sempre cuidou dela. Eles estão juntos há 3 anos, ele é muito atencioso e carinhoso
com ela, por isso ela não recusou a ideia de procurar por psicólogo, pois se ele falou, está
querendo o seu bem. “Após a consulta com o psiquiatra, ele pediu que eu viesse. Também
aceitei, pois o psiquiatra me prescreveu medicamentos que não me fazem bem, eles me
deixam para baixo”. “E veja estou bem, acredito que agora estou mais estável e eu quero
parar de tomar os medicamentos, acredito que vou ficar bem! Mas eu sou impulsiva,
muitas vezes falo coisas sem pensar, brigo com ele à toa... ele me pede para controlar o
cigarro, café e álcool... eu já surtei com ele por isso... se alguém fala algo da minha cerveja
eu fico muito brava. Já parti para cima dele, por isso!”
Helena conta que não tem uma rotina muito bem estabelecida, pois é plantonista e precisa
estar a postos sempre que precisassem dela. Não tem dia fixo para os plantões e por isso,
possui a rotina desorganizada. Acorda tarde, dorme tarde, não faz exercícios físicos, não
tem horários pré- definidos para fazer suas alimentações – que também é desregrada. Ela
gosta de tomar bebida alcoólica todo final de semana, mas essa semana, disse ter sentido
vontade de tomar mais. Além da alteração no sono, a paciente também relatou uso
excessivo de cafeína devido aos plantões.
Sobre sua família, Helena conta que sua mãe a ajuda financeiramente, pois nunca
conseguiu parar em nenhum emprego desde que se formou. Sua mãe sempre foi
depressiva: “Minha mãe passava a maior parte do tempo deitada, é isso que me lembro
da infância. ela sempre tomou antidepressivo... Era só eu e ela na família, meu pai nos
abandonou, eu nem me lembro dele. Na verdade, minha mãe nunca se recuperou disso,
foi depois que ele foi embora que ela ficou assim. Recentemente, eu encontrei uma tia,
irmã dele. Ela começou a me contar sobre a família, mas eu nem me interessei. Parece
que eu tenho uma outra tia, por parte de pai, que é Bipolar, mas eu não quis saber
detalhes”.
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“Eu sempre tive muito medo de ser como a minha mãe. De ficar deitada em uma cama,
sem levantar-se nem para fazer higiene básica. Fico feliz em dizer que nunca tive isso.
Teve uma época, antes do meu noivo, que eu comecei a ter pensamentos mais negativos,
eu comecei a me sentir muito sozinha. Mas como eu dividia o apartamento com amigas,
elas me ajudaram, conversavam bastante comigo, não me deixavam ficar isolada –
embora fosse a minha vontade. Ah, nessa época eu procurei um psiquiatra também. “Só
que os medicamentos de agora eu não quero, eles me deixam lenta e eu não gosto disto,
lembro-me da minha mãe”.
Helena não gosta de sair muito de casa, ela e o noivo sempre encontram algo para se
divertir entre eles, mas que ele tem reclamado que ela bebe demais. Gostam de receber
outros casais de amigos para jantar em sua casa e que acaba exagerando na bebida, mas
faz tempo que isso não acontece, pois, as brigas com o noivo têm sido constantes. “Eu sei
que ele gosta muito de mim e que me quer bem, mas às vezes ele é muito chato, a gente
tem brigado muito”. No seu trabalho, Helena disse ter algumas amigas, mas não fala mais
com elas. “Uns dois meses atrás, eu recebi um aumento, mas há algumas semanas comecei
a notar que as pessoas estavam olhando torto para mim, eu tenho certeza de que estão
com inveja. Fiquei irritada com isso, acabei brigando com algumas colegas, sendo ríspida
e passei a me isolar e me comunicar menos com elas”.
Quando não estou me sentindo assim, eu me sinto bem mal a meu respeito (mas estou
certa de que agora vai ficar tudo bem! Estou “curada”, estável).. Me achava feia,
abandonada pelo pai, sem valor. Não suporto este diagnóstico. Odeio isso! É admitir que
sou louca, uma maluca! O fato de não ter estabilidade no emprego também me deixava
mal... eu sei que posso contar com meu noivo e minha mãe, mas me sentia um lixo, sem
valor – isso só passa quando não estou nesta fase que chamam de mania (que, na verdade,
me faz muito bem!). Eu não me via como um ser humano digno, normal – tanto pelo
diagnóstico quanto pela instabilidade. Uma vez, na faculdade uma amiga soltou para a
outra que ela parecia bipolar... eu fiquei bem mal! Foi bem perjoativo... vi como ser
bipolar é desprezível!
Para finalizar, a paciente disse que tem faltado ultimamente. Ela sente uma agitação e
inquietação dentro dela, mas acredita que é por essa vontade de mudança de trabalho e
pelas coisas novas que estão por vir. “Eu acredito muito que pode dar certo, queria ter
mais apoio, mas no fundo sei que não preciso. Das minhas amigas terem se afastado, eu
nem ligo. Essa semana saí para vários lugares, conheci pessoas novas no shopping, no
café aqui perto, no cabelereiro, foi bem legal, fico bem sozinha, ao contrário do que meu
noivo diz, estou muito bem, olha como estou evoluindo em todos os aspectos”.
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