Você já ouviu falar do Caw-Blade?
Há pouco mais de uma década, o Standard foi totalmente devastado por um arquétipo que misturava elementos de Control com uma das mais poderosas jogadas de Tempo disponíveis na época, com uma base extremamente consistente que levava um piloto habilidoso a obter ótimos resultados nos torneios da época, e criando um Metagame baseado no melhor deck contra o resto que tentava vencer o melhor deck — onde esse arquétipo, o Caw-Blade, emergia vitorioso.
O que tornava do Caw-Blade tão poderoso era a sua base que combinava o melhor Planeswalker lançado na época com efeitos de Shuffle que mitigavam o “drawback” da sua melhor habilidade e o potencial de tornar meras criaturas 1/1 em ameaças.
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Basicamente, juntar o Brainstorm de Jace, the Mind Sculptor com Squadron Hawk possibilitava remover peças inúteis da sua mão e reembaralhar o deck, comprando novas cartas no turno seguinte enquanto isso, virtualmente, lhe dava acesso à maioria das peças na sua lista — essa combinação também era possibilitada por Stoneforge Mystic.
Falando nisso, as peças buscadas por um dos mais poderosos 2-drops brancos da história do jogo, em especial Sword of Feast and Famine, tornavam dos Squadron Hawks e qualquer outra pequena criatura voadora (como Inkmoth Nexus) uma verdadeira ameaça, já que os efeitos “on-hit” das Espadas de Mirrodin se acumulavam rapidamente e ainda permitiam algumas jogadas de Tempo absurdas, como ativar sua Celestial Colonnade, atacar com ambas as criaturas e desvirar seus terrenos em seguida, dentre outras possibilidades que colocavam o Caw-Blade muito à frente dos demais arquétipos, levando ao fatídico banimento de Jace, the Mind Sculptor e Stoneforge Mystic numa época em que intervenções no Standard ainda eram um tabu.
E por que estamos falando de Caw-Blade num artigo de Pauper?
Porque Brainstorm com efeitos de Shuffle ainda é um dos mais poderosos métodos de card selection da história (tanto que, no Pauper, Evolving Wilds e Ash Barrens são utilizados amplamente com Brainstorm), e por uma década, jogadores tentaram criar suas próprias versões de “Caw Blade” com Bonesplitter, Trinket Mage, dentre outras opções que nunca fizeram muito sucesso porque você está usando cartas ruins para tornar de outras cartas boas — um método de deckbuilding que tende a proporcionar resultados desastrosos.
O que tornava do Caw-Blade realmente bom era que todas as suas peças se justificavam por conta própria enquanto interagiam perfeitamente umas com as outras, e até mesmo Squadron Hawk, potencialmente a pior peça do deck por conta própria, tinha seu valor amplificado porque qualquer equipamento buscado por Stoneforge Mystic na época era infinitamente superior a uma Bonesplitter ou algo parecido.
Nesse sentido, poderíamos até mesmo afirmar que os equipamentos eram a pior peça do Caw-Blade porque não faziam nada por conta própria e isso era mitigado por não necessitar de mais do que uma cópia de cada espada, além de poder livrar-se delas com Jace, the Mind Sculptor quando necessário.
No Pauper, nós não temos Sword of Feast and Famine. Logo, para recorrer a um equipamento com Squadron Hawk, você precisa abrir concessões demais para essa estratégia funcionar com equipamentos. Mas e se, ao invés de gastarmos slots de mágicas, tivermos o nosso “payoff” acoplado a algo que você naturalmente já quer na sua lista, como terrenos?
Foi o que o jogador Zoohn procurou estabelecer com o que podemos denominar de Caw-Gate.
A Decklist
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Devo admitir que, quando escrevi a minha análise de Commander Legends: Battle for Baldur’s Gate, subestimei o potencial interativo que os novos Portões possuem entre si, mencionando-os apenas como “versões alternativas das Thriving Lands que interagem positivamente com o ciclo de Gatekeepers de Dragon’s Maze” — E errei severamente ao desconsiderar o potencial de um pump recorrente na forma de land.
Diferente do que eu esperava, Basilisk Gate não precisa de muito para ser impactante: três Gates (incluindo ele mesmo) no campo de batalha é o suficiente para torná-lo um Giant Growth por três manas que, (in)felizmente, só pode ser ativado em Sorcery-Speed.
No entanto, ao lado de criaturas voadoras, com Lifelink ou, pior, imbloquiáveis e/ou com alguma auto-proteção embutida, o payoff para os Portões se torna uma wincondition e o suporte ideal para tornar do “Caw Blade” uma possibilidade no Pauper.
Maindeck
Apesar de nomear esse arquétipo como um “Caw Blade do Pauper construído do jeito certo”, a verdade é que estamos falando de um deck de The Modern Age e sim, estou basicamente dizendo que a saga azul de Neon Dynasty é o Jace, the Mind Sculptor que temos em casa.
Tal como o Boros Bully faz com Faithless Looting, quando conjuramos The Modern Age, nós queremos aproveitar suas habilidades para gerar card advantage e não apenas para filtrar nossa mão. Para isso, recorremos a mágicas que podemos conjurar do nosso cemitério como Sacred Cat, Prismatic Strands e Deep Analysis para tornar do encantamento um pseudo “draw 2” antes de se tornar uma ameaça.
Para aprimorar a nossa filtragem de mão, também contamos com a poderosa combinação de Squadron Hawk e Brainstorm — além de Ash Barrens, nos dando um total de seis efeitos de shuffle — e com Preordain como uma cantrip de custo baixo que nos ajuda a encontrar exatamente o que precisamos quando precisamos.
Além disso, também contamos com duas cópias de Guardian of the Guildpact, que em muitas partidas não será facilmente removido, não pode ser bloqueado e se torna um monstro ao lado de uma ou duas cópias de Basilisk Gate no campo de batalha.
Contamos com o pacote clássico de interações na combinação Azorius, com Journey to Nowhere funcionando como uma remoção incondicional em Sorcery-Speed, sendo muito útil para lidar com a maioria das criaturas que queremos resolver no médio prazo sem muitas condições, apesar de ser uma resposta ruim contra Faeries e Ephemerate, além de Counterspell como a resposta padrão de qualquer Blue-Based de duas cores e/ou com uma manabase flexível e, apesar de existirem momentos onde você talvez não consiga o conjurar no turno 2 por conta de um Basilisk Gate, ela nunca perde sua utilidade independente de quantos turnos se passaram.
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Com um alto número de cantrips, shuffle e The Modern Age, os slots finais do Caw-Gate são extremamente ajustáveis e podem contar com uma determinada quantia de One-ofs para situações ocasionais.
No caso da lista acima, as escolhas foram Gift of Orzhova para dar Lifelink às suas criaturas e Flying para Guardian of the Guildpact, que faz muita diferença caso você esteja enfrentando Affinity ou outro arquétipo com muitas ameaças incolores.
Além do encantamento, temos também Spell Pierce para lidar com mágicas de não-criatura no Early-Game e Suffocating Fumes para lidar com Faeries e outras criaturas pequenas sem perder sua utilidade com o Cycling, caso você não tenha como gerar mana preta.
No entanto, gerar manas de outras cores não é um problema recorrente aqui por conta da flexibilidade que os Gates possibilitam caso os requerimentos sejam para um splash, como tende a ser o caso com essa lista e algo que observamos se estender para o sideboard.
Sideboard
Como mencionado, o splash é um elemento comum com a manabase de Gates, e a maior quantidade deles se encontra no vermelho porque é onde as melhores respostas para o formato estão atualmente.
Red Elemental Blast é a melhor opção contra os diversos Blue-Based existentes no Pauper e também funciona como uma proteção adicional contra Counterspells e outras mágicas que poderiam atrapalhar seus planos.
Flaring Pain como one-of é um elemento útil para lidar com possíveis Fog-Locks e Prismatic Strands, enquanto o singleton de Gorilla Shaman chama a minha atenção porque não é a melhor escolha disponível para o atual Metagame, já que Dust to Dust é provavelmente mais impactante nas partidas onde artefatos importam.
Arms of Hadar é o sweeper extra escolhido para lidar com criaturas pequenas, uma decisão boa se considerarmos que a lista possui muitas criaturas pequenas que morrem para Breath Weapon ou Fiery Cannonade.
Na combinação Azorius, contamos com um total de cinco peças de hate contra decks vermelhos com Hydroblast e Blue Elemental Blast, provavelmente na expectativa de um aumento dos Red-Based Aggro por conta do downshift de Monastery Swiftspear, mas que também funcionam incrivelmente bem para lidar com várias mágicas problemáticas hoje como Makeshift Munitions ou Experimental Synthesizer.
Patrician’s Scorn é a resposta padrão contra Bogles, que provavelmente traz severas dificuldades caso consiga construir uma criatura com Trample e Lifelink.
Por fim, a última peça do Sideboard e card que suponho merecer uma atenção especial são as duas cópias de Blighted Agent para lidar com estratégias menos interativas e que não recorrem a removals e/ou que ganham absurdos de vida como Elves.
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No entanto, acredito que a combinação de Blighted Agent com Basilisk Gate mereça uma atenção especial porque comporta uma base eficiente para um “combo” de kill gradual sem necessitar gastar qualquer slot em mágicas para aumentar o poder das suas criaturas. Ou seja, você tem o resto do maindeck para construir sua lista como quiser — o elemento-chave para os híbridos de combo em Magic: The Gathering.
Seria isso o suficiente para trazer um novo combo ao formato? Não tenho certeza, mas o potencial em ter Blighted Agent como wincondition e ser recompensado com a segunda peça do “combo” por meramente jogar uma partida normal de Magic é exatamente a fórmula que costuma trazer alguns dos mais poderosos decks do jogo.
Análise da Lista
Uma das piores partes do novo Commander Legends não estar presente no Magic Online é a baixa acessibilidade dos seus cards na plataforma, já que a única maneira de os adquirir é através de Treasure Chests — limitando absurdamente a quantidade de cópias disponíveis desses cards nos programas de aluguel — portanto, não pude testar essa lista na plataforma digital, jogando-a exclusivamente no Cockatrice por falta de opções.
A primeira coisa que percebi é que, apesar de muito interativa e eficiente, essa lista não parece estar no ápice da sua perfeição e provavelmente deve ser aprimorada nas próximas semanas: algumas peças como Sacred Cat são ótimos payoffs para The Modern Age e provavelmente são importantes num momento onde todos estão procurando a melhor maneira de construir um deck com Monastery Swiftspear, mas considero que ele faz muito pouco em várias partidas para justificar seu uso numa lista que possui apenas um meio de aumentar seu poder e demorará muito para aumentá-lo ao ponto dele sobreviver numa troca com as mais diversas criaturas presentes no atual Metagame.
Outro ponto que notei é que, apesar de você não precisar de muita mana para fazer um splash para outras cores, essa opção de adicionar uma terceira e quarta cor no Sideboard é ocasionalmente punida pela falta de um ou outro Gate, e podemos mitigar isso adicionando uma Snow-Covered Mountain, ou uma cópia adicional de Heap Gate ou até mesmo um Cliffgate para melhorar nosso acesso ao vermelho.
E falando em acesso de mana, a exclusão de Dust to Dust e apenas uma cópia de Gorilla Shaman não parecem a opção certa. Quer dizer, não vimos tantas listas de Affinity no Top 8 dos Challenges dessa semana e isso é um bom sinal — mas ainda temos a necessidade de respeitar o arquétipo e numa lista majoritariamente Azorius, não sei se compreendo o motivo de não recorrer à Dust to Dust e apostar, ao invés disso, em uma resposta ainda mais linear.
Por outro lado, a quantia de interações do arquétipo e as suas winconditions são muito poderosas e não é difícil soterrarmos o oponente em card advantage para, em seguida, encerrarmos a partida com apenas alguns ataques e, tal como diversos arquétipos do Pauper atualmente, essa lista conta com diversos mecanismos de valor para vencer o jogo.
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E não posso esquecer de mencionar: jogar com Basilisk Gate e Squadron Hawk numa shell concisa e eficiente é extremamente divertido, e adorarei pilotar essa lista e suas evoluções futuras no Magic Online quando a disponibilidade de seus cards for ampliada — algo que espero que a Wizards of the Coast resolva em breve — e possibilitará, também, considerar outras opções como Aarakocra Sneak, que oferece outro poderoso mecanismo de card advantage e mais uma ameaça voadora.
Guia de Sideboard
Como já mencionei, não pude testar essa lista extensivamente em Ligas por conta da baixa disponibilidade dos cards de Baldur’s Gate no Magic Online, limitando-me apenas a testar alguns jogos em plataformas alternativas para entender como o arquétipo se comporta.
Meu guia de Sideboard, portanto, é muito teórico em muitos casos e conta com como eu esperaria fazer meu side-in e side-out, mas pode servir como um ponto inicial para quem quiser experimentar esse arquétipo futuramente.
Affinity
IN:
OUT:
Boros Bully
IN:
OUT:
Izzet Faeries
IN:
OUT:
Dimir Faeries
IN:
OUT:
Mono Red Burn & Mono Red Blitz
IN:
OUT:
Burn
Mono Red Blitz
Bogles
IN:
OUT:
Conclusão
Sempre é muito empolgante ver novos decks surgindo e fazendo bons resultados nos grandes eventos, Basilisk Gate pode, secretamente, ser uma das cartas mais relevantes de Commander Legends: Battle for Baldur’s Gate para o Pauper, e o Caw-Gate pode ser o primeiro passo para explorar seu potencial no formato.
O tempo dirá até onde ele chegará no cenário competitivo e quais adaptações poderão ocorrer para mantê-lo no Metagame, mas é provável que demore um pouco enquanto a disponibilidade de Basilisk Gate e outros cards da nova edição continuarem com uma baixa oferta no Magic Online.
Obrigado pela leitura!
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