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As matriarcas da avenida: Quatro grandes escolas que revolucionaram o maior show da Terra
As matriarcas da avenida: Quatro grandes escolas que revolucionaram o maior show da Terra
As matriarcas da avenida: Quatro grandes escolas que revolucionaram o maior show da Terra
E-book362 páginas5 horas

As matriarcas da avenida: Quatro grandes escolas que revolucionaram o maior show da Terra

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Sobre este e-book

Conta as histórias das escolas de samba Mangueira, Portela, Salgueiro e Império Serrano
"As Matriarcas da Avenida: quatro grandes escolas que revolucionaram o maior show da Terra" (Editora NovaTerra) é o quarto livro da série "Família do Carnaval".  A obra conta em 40 crônicas as histórias das escolas que serviram de base para a atual configuração do carnaval carioca: Acadêmicos do Salgueiro, Estação Primeira de Mangueira, Portela, Salgueiro e Império Serrano. Os autores são Fábio Fabato (organizador da coleção), Gustavo Gasparani, João Gustavo Melo, Luis Carlos Magalhães e Luiz Antonio Simas.
O título é a continuação da série que se iniciou em 2012 com As Três Irmãs: como um trio de penetras "arrombou a festa", a carnavalização da ascensão de Beija-Flor de Nilópolis, Imperatriz Leopoldinense e Mocidade Independente de Padre Miguel no cenário das grandes escolas. O segundo livro, As Titias da Folia – O brilho maduro de escolas de samba de alta idade, vencedor do Prêmio Edison Carneiro de melhor livro de não ficção sobre carnaval (lançado em 2014), trouxe as memórias de Unidos da Tijuca, Vila Isabel, Viradouro e Estácio.   
No terceiro, As Primas Sapecas – Alegria, crítica e irreverência na avenida, as homenageadas foram Caprichosos de Pilares, União da Ilha e São Clemente, agremiações que, sem muito dinheiro, utilizaram as armas da simplicidade, originalidade e ousadia em seus desfiles. Agora, com "AsMatriarcas", a coleção volta ao começo da fase atual da festa, homenageando as escolas de samba que, a partir de 1960, se revezaram por quinze anos no alto do pódio.
"Depois dos enfeites, castiçais e adereços, chegou a vez dos pés que sustentam a 'mesa farta' da folia", compara o jornalista e escritor Fábio Fabato, que assina os capítulos da Mangueira ao lado do ator e diretor Gustavo Gasparani.
O prefácio do livro é assinado por Rosa Magalhães, única carnavalesca que liderou apresentações das quatro bandeiras. Na capa, as escolas são representadas por desenhos inspirados em personagens importantes das agremiações. São elas a cantora e compositora Dona Ivone Lara, a porta-bandeira Vilma Nascimento (considerada o "Cisne da Passarela"), a destaque salgueirense Isabel Valença, e Dona Zica, eterna figura representativa da Verde-e-Rosa. Todas as ilustrações do livro são de autoria do carnavalesco e artista plástico Leonardo Bora.
Diretor cultural da Portela, Luis Carlos Magalhães assina os capítulos da Águia de Madureira. João Gustavo Melo, diretor cultural do Salgueiro, conta as memórias da escola do coração. Já o Império Serrano apresenta seus causos na carona da inspirada caneta do historiador Luiz Antonio Simas.
Preparem seus corações: vai começar o desfile das Matriarcas da avenida!
IdiomaPortuguês
EditoraNovaterra
Data de lançamento15 de jan. de 2019
ISBN9788561893866
As matriarcas da avenida: Quatro grandes escolas que revolucionaram o maior show da Terra

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    As matriarcas da avenida - Fábio Fabato

    Copyright © 2016 Fábio Fabato, Gustavo Gasparani, João Gustavo Melo,

    Luis Carlos Magalhães e Luiz Antonio Simas.

    Copyright © 2016 Novaterra Editora e Distribuidora Ltda.

    Dados Internacionais de Catalogação na Publicação (CIP)

    M433 As matriarcas da avenida : quatro grandes escolas que revolucionaram o maior show da Terra / Fábio Fabato … [et al.]. – Rio de Janeiro, RJ : Novaterra, 2016.

    266 p. : il. ; 21 cm.

    ISBN 978-85-61893-86-6

    1. Escolas de samba - Rio de Janeiro (RJ) - História. 2. Carnaval - Brasil. I. Fabato, Fábio. II. Gasparini, Gustavo. III. Melo, João Gustavo. IV. Magalhães, Luis Carlos. V. Simas, Luiz Antonio.

    CDU 394.25(815.3)(091)

    CDD 394.25098153

    Índice para catálogo sistemático:

    1. Escolas de samba : Rio de Janeiro (RJ) : História 394.25(815.3)(091)

    (Bibliotecária responsável: Sabrina Leal Araujo – CRB 10/1507

    Nenhuma parte deste livro poderá ser reproduzida ou armazenada eletronicamente sem a autorização prévia e por escrito da Novaterra Editora e Distribuidora Ltda.

    Os conceitos emitidos neste livro são de inteira responsabilidade do autor.

    Apesar de toda a atenção, erros de digitação e/ou de impressão não são descartados. Em caso de alguma dúvida, entre em contato conosco pelo e-mail [email protected] para que possamos ajudá-lo.

    A Novaterra Editora e Distribuidora Ltda. e os autores Fábio Fabato, Gustavo Gasparani, João Gustavo Melo, Luis Carlos Magalhães e Luiz Antonio Simas excluem-se de quaisquer responsabilidades por eventuais perdas ou danos a pessoas ou bens por uso deste livro.

    Novaterra Editora e Distribuidora Ltda.

    Rua Visconde de Santa Isabel, 20 • Sala 308

    Vila Isabel • Rio de Janeiro • RJ • CEP 20560-121

    Tel.: (21) 2218-5314 • (21) 2218-4714

    [email protected]

    www.editoranovaterra.com.br

    Créditos

    Conselho Editorial

    Alberto Oliveira, Dauton Janota, Fábio

    Fabato, Gabriel Torres, George Leal Jamil,

    Jefferson Melo, Luiz Fernando Baggio,

    Rui Rossi dos Santos e Yuri Diógenes.

    FÁBIO FABATO é jornalista e escritor, com cinco livros publicados. Comentarista de carnaval da rádio Tupi, também comentou a folia carioca pela TV Bandeirantes. Ex-diretor cultural da Mocidade é, ainda, o idealizador e curador da série Família do Carnaval, biografia das maiores escolas de samba do Rio (Editora Nova Terra).

    GUSTAVO GASPARANI é ator, diretor e dramaturgo. Criou os espetáculos Otelo da Mangueira e SamBRA - 100 anos de samba. Foi, por 23 anos, passista da Mangueira. Dirige a entrega do Prêmio Estandarte de Ouro, do Jornal O Globo, e o projeto Carnaval Histórico, do Extra.

    JOÃO GUSTAVO MELO é formado em Comunicação Social pela Universidade Federal do Ceará (UFC) e mestrando em Artes pela Universidade do Estado do Rio de Janeiro (UERJ). Desde 1999, é integrante da Diretoria Cultural dos Acadêmicos do Salgueiro.

    LUIS CARLOS MAGALHÃES é advogado, colunista do site CARNAVALESCO, da equipe de carnaval da rádio Tupi, titular do quadro Papo de Baluartes da rádio MEC-AM, professor de pós-graduação da Universidade Veiga de Almeida (UVA) e diretor cultural da Portela.

    LUIZ ANTONIO SIMAS é historiador. Tem nove livros e mais de uma centena de textos publicados em jornais e revistas sobre o Rio de Janeiro.

    Este livro é dedicado aos fundadores e a todos que já se permitiram um instante de contato com a poesia que envolve o universo das matriarcas. E a ele, ao pai de todos, o inspirador do enredo literário Família do Carnaval, Fernando Pamplona

    Sumário

    Pede-passagem

    Prefácio

    As lições do Oyó tijucano ou a tábua dos mandamentos

    no Monte Sinai carioca

    Dos Carroceiros do Imperador ao Palácio do Samba

    Serrinha, um terreiro de fundamento

    Um portelense rejeitado

    Um enredo para chamar de seu

    Uma Mangueira que dá Jamelão!

    Heróis da Liberdade

    Portela dividida

    Candaces: o desfile que não terminou

    Riscando o chão de poesia

    Jongueiros Cumbas

    O Beija-Flor de Oswaldo Cruz

    O dia em que a princesa do Sião invadiu o templo do Rei Salomão

    Um Celeiro de bambas

    O samba de mil anos

    Lendas da Portela

    O discreto charme dos tempos críticos

    A nossa Maria não é brincadeira

    O Imperador

    Tantas páginas

    Politicamente polêmico

    Julinho da Mangueira, o artista sem estrela na testa

    e gás néon no chapéu

    A maior epopeia do samba

    Empáfia portelense

    Tecer 50 anos, quanta glória!

    O ménage celestial de Mangueira, Pinto e Olímpia

    Abra meu livro, pois tu sabes ler

    O General Lino e os carnavais de guerra

    Concentração: Deus e o Diabo nos bastidores do samba

    Estação Primeira impressão é a que fica

    A força feminina

    O enigma da águia

    A Academia Brasileira de Carnaval

    Senzala verde e rosa nas franjas da Casa-Grande imperial

    Ode ao herói desconhecido

    Delírio de um portelense

    Salgueiro é uma raiz que nasce forte em qualquer lugar

    De onde nasce a paixão?

    Silas de Oliveira que estás no céu…

    A primeira vez que vi Candeia

    Uma bastava, mas são tantas…

    Informações Básicas

    Grêmio Recreativo Escola de Samba

    Acadêmicos do Salgueiro

    Fundação: 05/03/1953

    Endereço: Rua Silva Teles, 104 – Andaraí – Rio de Janeiro – RJ

    Cores: vermelho e branco

    Grêmio Recreativo Escola de Samba

    Estação Primeira de Mangueira

    Fundação: 28/04/1928 (alguns consideram 1929)

    Endereço: Rua Visconde de Niterói, 1.072 – Mangueira – Rio de Janeiro – RJ

    Cores: verde e rosa

    Grêmio Recreativo Escola de Samba

    Império Serrano

    Fundação: 23/03/1947

    Endereço: Avenida Ministro Edgar Romero, 114 – Madureira – Rio de Janeiro – RJ

    Cores: verde e branco

    Grêmio Recreativo Escola de Samba Portela

    Fundação: 11/04/1923 (alguns consideram 1926)

    Endereço: Rua Clara Nunes, 81 – Madureira – Rio de Janeiro – RJ

    Cores: azul e branco

    Pede-passagem

    Fábio Fabato

    A"Família do Carnaval" é o que chamo de enredo literário iniciado em 2012, no restaurante La Fiorentina, espécie de bunker da classe artística e do que restou de esquerda em tempos direitinhos e direitões demais. Sentados diante do marzão azul do Leme, num daqueles dias de sol em que o Rio de Janeiro está insuportavelmente besta de tão lindo, Alan Diniz, Alexandre Medeiros e eu inventamos um livro que unia Beija-Flor, Imperatriz Leopoldinense e a minha Mocidade Independente. As Três Irmãs: Como um trio de penetras arrombou a festa assim foi batizada a obra seminal, com vinho e água não benta – deu o pontapé da peleja e d’uma coleção bonita toda vida, cuja missão, sem delongas quaisquer, era a seguinte: contar os causos de bar da formação das principais agremiações cariocas numa linguagem acessível, em forma de crônica. O tiro tinha por alvo os apaixonados incorrigíveis pelo carnaval carioca, alguns deles das próprias comunidades, e que pouco ou nunca haviam sentido o gostinho da literatura. Bingo!

    Com esta edição aqui – louvação ao que chamei, mui respeitosamente, de As Matriarcas da Avenida (Acadêmicos do Salgueiro, Estação Primeira de Mangueira, Império Serrano e Portela) – completamos a marca de 14 escolas homenageadas. Também já passaram pela pista literária o premiado As Titias da Folia (Estácio de Sá, Unidos da Tijuca, Unidos de Vila Isabel e Unidos do Viradouro) e As Primas Sapecas (Caprichosos de Pilares, São Clemente e União da Ilha do Governador). A coleção rasgou o asfalto num desfile revelador de personagens nunca dantes celebrados, histórias até então restritas às cercanias das quadras de ensaios e que, penduradas nas canetas apaixonadas dos autores envolvidos, ganharam, sem tintas de exagero, ares transfronteiriços.

    Localizado nas franjas da velha Lapa de tantas guerras, boêmia e democrática, o Bar Ernesto, reduto que bota abaixo qualquer muro entre Brasil e Alemanha, foi o palco desde o comecinho para lançamentos muito diferentes das tradicionais noites de autógrafo. Houve baterias, um trio elétrico que quase invadiu o espaço, cantores consagrados, houve até mesmo mulher quase pelada – e não estamos falando de qualquer moçoila, mas de Enoli Lara, patente da genitália desnudada, que quase repetiu o feito do nu frontal da Festa Profana da União da Ilha (1989). Os marmanjos voltaram, ouriçados de tudo, 25 anos no tempo. Aqui, pois, cabem os agradecimentos ao querido Flávio Mehler, dono do Ernesto, tão sócio proprietário desta empreitada quanto o time da Novaterra, a editora que, lá atrás, comprou o barulho e ousadia após tantas portas batidas no rosto deste escriba que abre o livro.

    Sobre as Matriarcas, você, leitor, terá uma obra inteira para se deliciar nas páginas seguintes. Haja memória! E haja coração, como grita o locutor histérico quando o placar da partida é adverso. Neste sentido, tranquilizo-os, não queimarei a largada. Fico apenas com a definição perfeita que apanhei dia desses com um gaiato boa praça: saíram, primeiramente, os livros acerca dos adereços da mesa do carnaval: pratos, talheres, cinzeiros, castiçais… Agora vai ser publicada a obra sobre a mesa e seus quatro pés de sustentação. Na mosca! Dez, nota dez.

    Por fim, as reverências, agradecimentos e o chacoalhar dos instrumentos para todos os autores da coleção: os já citados Alan e Alexandre, além de… Anderson Baltar, Eugênio Leal, Gustavo Gasparani, João Gustavo Melo, Julio Cesar Farias, Luis Carlos Magalhães, Luiz Antonio Simas, Marcelo Camões, Vicente Dattoli e Vinícius Natal. Minha amizade e admiração por todos os senhores. Agradeço também ao amigo do peito Leonardo Bora, ilustrador de todas as edições, figura talentosa e de generosidade alegórica. Metade do sucesso desta coleção reside nos traços sempre inspirados deste grande artista.

    Para as escolas retratadas – as irmãs, titias, primas, matriarcas e todas mais –, deixo meu coração escancarado. Fizemos história ao lado de vocês, minhas meninas!

    Selo com um beijo, nada mais.

    Fábio Fabato, jornalista, é o curador da

    série de livros "Família do Carnaval"

    Prefácio

    FILHA DAS QUATRO MÃES

    Rosa Magalhães

    Apublicação de mais um livro sobre escolas de samba me deixa bastante satisfeita. Mais um lugar em que se poderá pesquisar e obter informações precisas sobre um assunto que até pouco tempo atrás era praticamente desconhecido pelos leitores.

    Falo de carteirinha, pois já fiz várias pesquisas, sempre com muita dificuldade de conseguir informações. Às vezes, acontecia por intermédio de alguém que se lembrava, ora porque algum parente havia contado, ou porque o próprio narrador se lembrava do acontecido. Também usávamos revistas e jornais, nem sempre disponíveis ao público em geral.

    Este livro aborda as escolas de samba do Rio de Janeiro consideradas grandes por muito tempo. Por incrível que pareça, trabalhei em cada uma delas.

    Comecei no carnaval por acaso. Era aluna da Escola de Belas Artes, localizada no centro da cidade, entre a Biblioteca Nacional e o Theatro Municipal, dois lugares preciosos na Cinelândia. Os professores, atuantes nas artes, costumavam encontrar entre seus alunos novos assistentes. Estes iam, de certa forma, seguir os passos de tais artistas – os mestres da escola.

    Salgueiro

    Assim aconteceu com várias gerações de alunos e professores, e se sucedeu comigo também. Estudante em fim de curso, fui chamada para desenhar figurinos, o que jamais havia feito. Aceitei e, ao lado de Maria Augusta Rodrigues, começamos a riscar fantasias. O meu espanto foi enorme ao ver que existiam livros especializados em figurinos. Foi então que tratei de começar uma coleção, que hoje ocupa um cômodo inteiro da minha casa.

    E assim fomos desenhando, com nanquim (a caneta muitas vezes falhava), guache importado holandês e papel razoavelmente bom. Era o que havia de melhor no mercado à época. Cópias reprográficas ou enviar pelo computador, nem pensar. Se precisasse fazer uma duplicação, ou era fotográfica ou no papel manteiga, com a figura devidamente decalcada. Também não existia um grande facilitador – o protótipo – inventado pela Beija-Flor e, depois, copiado por todos.

    Feitos os desenhos, devidamente pintados, estes eram entregues aos presidentes de alas que, meticulosamente, enrolavam o papel bem enroladinho e colocavam debaixo do braço, agradecendo bastante pelo risco. Por isso, é tão difícil se resgatar um trabalho desta época…

    E foi assim que desenhei os figurinos do Salgueiro, ao lado de Maria Augusta, para o carnaval do Salgueiro de 1971. Depois, fui produzir as alegorias com o João Trinta no jardim de uma casa em Botafogo. Total dos envolvidos na montagem: seis pessoas. João, um chapeleiro chamado Moacyr, dois rapazes ajudantes do João, Lícia Lacerda e eu. Não fui à quadra nenhuma vez e nem escolhi samba, nem via a porta-bandeira e o mestre-sala dançando. O carnaval ainda me parecia uma coisa um tanto misteriosa. Para Paula, passista mais elegante do Salgueiro (retratada na contracapa deste livro) ensinei a fazer flores de papel crepom. Fizemos uma quantidade enorme. Algumas delas vi cair pelas ruas de Botafogo, à medida que o caminhão que as transportava ia embora (rumo ao Pavilhão de São Cristóvão) para a montagem dos carros alegóricos. O trabalho nas alegorias não demorava mais que uma semana. Finalmente, tudo ficou pronto.

    No dia do desfile, vesti uma camisa enorme, que mais parecia um vestido, e fui para a concentração, atrás da igreja da Candelária. Ia começar a festa e corri pela Presidente Vargas até a arquibancada de tubos metálicos. Vi assim, pela primeira vez, o que era essa história de escola de samba. Fui, vi e gostei. Tanto que estou até hoje envolvida com o carnaval. Acho que é um vírus…

    Voltei para o Salgueiro muitos anos depois e fiz dois carnavais – em 1990 e 1991. O primeiro sobre a influência dos personagens medievais no folclore e na literatura brasileira. Já o segundo… sobre a Rua do Ouvidor. O barracão era um luxo-velho, porém um luxo – tinha almoxarifado, banheiro, um local para escultura e pintura de arte. Os carros, embora ainda fossem empurrados, possuíam chassis robustos e reaproveitáveis, aceitando um peso enorme. Muito confortável até certo ponto, já que chovia lá dentro, o que nos obrigava a marcar com tinta branca o chão: era uma advertência de perigo!

    Portela

    Lícia e eu fomos para a Portela fazer figurinos no fim dos anos 1970. O enredo era da comissão de carnaval, comandada pelo Hiram de Araújo. As alegorias ficaram por conta de outro artista que também acumulava a função de escultor. O barracão residia em um espaço abandonado, mas alugado – sujo que só Deus sabe. Não fizemos protótipos, mas as fantasias foram bem executadas.

    No ano seguinte, a mesma comissão fez o enredo e Lícia e eu produzimos os carros e as fantasias. O desfile, porém, foi o caos completo. Caiu uma chuvarada e alagou tudo. Não sei por qual motivo trocou-se a direção do desfile. O cortejo saía do cemitério do Catumbi em direção à Avenida Presidente Vargas. O largo do cemitério inundou, algumas pessoas tentaram salvar as alegorias, colocando-as na rua, na saída do túnel. Foi pior: com a ventania, os carros se jogavam lá embaixo. Um boi lindo da Mocidade ficou todo esborrachado lá embaixo.

    Império Serrano

    O primeiro campeonato mesmo veio no Império Serrano, em 1982. A escola estava em último lugar. O presidente Jamil convidou Fernando Pamplona para assumir a escola, mas, como salgueirense obstinado, o mestre dos mestres declinou. Indicou a mim e Lícia para fazermos o carnaval daquele ano. O enredo foi tirado de um livro da Marília Barboza, aliás, de uma folha do livro, em que ela fazia um balanço das três fases das escolas de samba: na Praça Onze, na Candelária e na Sapucaí. Dei o titulo de Bum bum paticumbum prugurundum, que, num artigo, Drummond disse ser uma maravilhosa onomatopeia.

    As roupas… fizemos numa sala da quadra. Já as alegorias, num galpão da Comlurb, à Rua Republica do Líbano. Tínhamos o melhor escultor da época: Yarema Ostrog. Fizemos o que foi possível dentro do espaço reduzido e de um orçamento muito contido. A música estourou nas rádios, a escola desfilou ao meio-dia, sol escaldante, e a plateia jogava água e gelo para minorar o sofrimento dos desfilantes. Ganhou! Ganhamos!

    Mangueira

    A Mangueira sempre foi um mito entre as escolas de samba. E foi lá que aportei em 2014. O enredo era da direção artística da agremiação, sobre festas brasileiras. Muito tempo se passou entre o Salgueiro de 1971 e a Mangueira de 2014. Não consegui dar o tão esperado título para a verde e rosa, mas, de certa forma, meu pai ajudou a entregar o primeiro campeonato para ela, pois foi um dos jurados do primeiro concurso oficial. A Manga foi a campeã na ocasião e se tornou a potência popular de hoje.

    E eis que…

    Em meados dos anos 2000, a Cidade do Samba foi construída, cada escola com seu galpão de nove mil metros quadrados, salas com ar refrigerado, banheiros em todos os andares! Luz, água, instalações dignas para os operários e artesãos. E não é só isso: os carros motorizados – chassis de ônibus ou caminhões adaptados – hoje são usados por todas as escolas. Falta ainda muita coisa a ser alcançada, mas acredito que cada vez mais elementos de segurança e mecânicos serão acrescentados.

    O carnaval vai evoluindo em todos os sentidos. Só não pode perder a emoção, a dedicação, o tal… Bum bum paticumbum prugurundum. E não pode perder, claro, coleções e abnegados para nos contarem as histórias, como o idealizador Fabato e este time bacana da Família do Carnaval.

    Rosa Magalhães é carnavalesca heptacampeã da folia

    do Rio e já atuou nas quatro Matriarcas da Avenida

    AS LIÇÕES DO OYÓ TIJUCANO OU A TÁBUA DOS MANDAMENTOS NO MONTE SINAI CARIOCA

    João Gustavo Melo

    Tem tu um par de pés, um mínimo de coordenação motora ou um potente veículo motorizado e alcançarás o reino dos céus. Não, não é promessa de pastor charlatão querendo extrair tostões dos fiéis. É a garantia de que, se seguires ali pela General Roca na altura da Praça Saens Peña, em direção à cadeia montanhosa que se avista logo mais à frente, estarás diante da Canaã do sambista: o morro do Salgueiro.

    A cada ladeira, cada degrau, cada portinha entreaberta de um barraco, estarás como que diante de uma orquestra de sabiás a trinar melodias extraídas da flauta de Geraldo Babão. De lá flutuam notas improvavelmente harmônicas no suave e doce instrumento de sopro, assim como os míticos faunos teciam sons mágicos, segundo a tradição grega. Sentirás o interminável vaivém das cabrochas que sacolejam os quadris como a inesquecível Paula do Salgueiro e a sensual Narcisa. Ouvirás num cantinho salpicado de rubra paixão a voz de Noel Rosa de Oliveira entoando clássicos, como Xica da Silva e Quilombo dos Palmares.

    Tu te sentirás transmutado ao mítico reino de Oyó, espelhado a oeste do oceano Atlântico após a separação da grande massa de terra que formava um só bloco continental há milhões de anos. Na África ancestral, Oyó era o reino de Xangô, orixá do fogo e da justiça, rei das pedreiras. E é sobre uma pedreira que está construído o Oyó tijucano. As semelhanças topográficas irmanam duas terras em dois continentes separados por um oceano de histórias. Mas o elo entre os dois povos resiste. Vive no modo como essas populações lidam com a dureza da vida sobre a pedra e a indecifrável magia de saber rolar macio os desafios do cotidiano, tal como as águas que descem do paredão montanhoso que abraça a Tijuca.

    Para viver ali, é preciso conhecer alguns códigos. Ensinamentos que não se encontram em nenhuma enciclopédia, mas no bê-a-bá do dia a dia. A vida no morro compila na prática alguns mandamentos, como os que Moisés encontrou no Monte Sinai. Mas nada imperativo. Tudo negociado. Entre os mandamentos sugestionados está: Não passarás por otário no reino da malandragem.

    Quem ensina é Joaquim Casemiro, o primeiro de uma dinastia de lideranças no morro: a dos Calça Larga, cujo

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