Educação e Direitos Humanos
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Educação e Direitos Humanos - Dalimar de Matos Ribeiro da Silva
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CAPÍTULO I - INTRODUÇÃO
Esta investigação parte do pressuposto que as práticas educativas devem contribuir para a transformação pessoal e social, formando alunos que sejam colaborantes entre si, socialmente responsáveis e criticamente conscientes para além dos ambientes educativos. Assim, a missão da escola ultrapassa a esfera do conhecimento teórico, subjazendo a necessidade de articular o ensinoaprendizagem à formação de valores, potencializar as competências dos alunos e as mudanças das mazelas sociais num contexto mais alargado do que o local.
Tendo em conta que sem educação não pode haver paz, justiça e estabilidade efetivas na sociedade, e que o espaço escolar possui grande responsabilidade no processo de formação de consciências a respeito dos direitos e deveres de cada cidadão é preciso capacitar os professores para promoverem uma educação voltada para os Direitos Humanos (Vieira 2010, Alarcão & Canha 2013, Candau & Sacavino 2013 entre outros).
Neste capítulo, apresenta-se o tema em que o estudo se insere e a sua pertinência, apontando as principais razões que o tornam significativo, as questões orientadoras e a estrutura organizativa deste trabalho.
1.1 Problema da Investigação
Considerando-se que hoje, mais do que nunca, vivemos num mundo competitivo e desigual, considerando-se que somos cidadãos globais e os problemas sociais possuem dimensões globais, o desafio que se coloca à educação é criar um projeto educativo para uma cidadania cosmopolita que interiorize direitos e deveres, que permita a construção de uma sociedade democrática.
Face ao exposto, desenvolve-se o presente estudo que pretende compreender como é que a formação reflexiva de professores e o trabalho colaborativo podem contribuir para o desenvolvimento profissional dos professores, bem como ajudar as escolas no processo de promoção dos Direitos Humanos.
1.2 Questões de investigação
Para orientar o estudo enunciaram-se as seguintes questões:
1. A escola é um local adequado para tratar de temas da Cidadania Global e dos Direitos Humanos? As escolas estão familiarizadas com essas temáticas?
2. Os professores e os alunos demonstram interesse nessas temáticas? Existem constrangimentos ou fatores limitadores para a sua implementação em contexto escolar?
3. De que modo a formação contínua e o trabalho colaborativo contribuem para o desenvolvimento profissional dos professores e para a promoção da Educação para os Direitos Humanos?
1.3 Pertinência e Objetivos do Estudo
A pertinência desta investigação prende-se com a aceleração das mudanças sociais surgidas com a complexidade do conceito de cidadania, afetado pelo processo da globalização, que exige uma estratégia de educação para a Cidadania e para os Direitos Humanos, que contemple a formação de uma sociedade consciente de seus direitos e deveres, para que, de uma forma crítica, construa soluções para as crescentes problemáticas sociais. A escola, por ser uma instituição social de caráter formativo, deve promover uma abordagem educativa que integre essa visão de educação comprometida com o desenvolvimento e cidadania global.
Assim, o objetivo geral desta investigação é analisar os contributos que a formação reflexiva e o trabalho colaborativo têm no desenvolvimento profissional dos professores, no âmbito da educação para os Direitos Humanos em contexto escolar. No tocante aos objetivos específicos deste trabalho, busca-se:
• Identificar o interesse e motivação dos participantes no curso de formação contínua Educação para a Cidadania Global-Contextualização e Propostas de Ação
, integrada no Projeto Global Schools – aprender a con(viver)
, bem como dos alunos participantes nas atividades desenvolvidas no âmbito escolar;
• Pesquisar o tipo de envolvimento das escolas com as temáticas da Cidadania global e Direitos Humanos;
• Relacionar a influência da formação reflexiva e do trabalho colaborativo nas atividades desenvolvidas em contexto escolar, por uma das equipas de professores participantes.
1.4 Organização do Estudo
Este trabalho está organizado em cinco capítulos. Após este primeiro capítulo, Introdução, em que se faz uma breve reflexão sobre o tema em estudo e a sua pertinência, colocando um conjunto de questões orientadoras da investigação, seguem-se mais quatro capítulos.
O capítulo dois, destinado à Revisão de Literatura, abrange oito subtemas considerados centrais para a fundamentação do estudo: 2.1. Supervisão Pedagógica: conceito em transição; 2.2. A supervisão e a formação reflexiva de professores: um caminho para a transformação e autonomia; 2.3. A Supervisão e as Práticas Colaborativas; 2.4. As vantagens da aprendizagem colaborativa e suas caraterísticas essenciais; 2.5. A relação da educação, consciencialização e a Declaração Universal dos Direitos Humanos (DUDH); 2.6. A Educação para a Cidadania e Direitos Humanos no currículo escolar de Portugal; 2.7. Educação para o Desenvolvimento (ED) e Cidadania Global: evolução, conceito e caraterísticas principais; 2.8. A abordagem intercultural da educação, os Direitos Humanos e o enfrentamento das problemáticas sociais.
O capítulo três é dedicado à Metodologia, onde se abordam as opções metodológicas e descrevem os procedimentos adotados no presente estudo.
O capítulo quatro descreve a Apresentação e Discussão dos resultados dos dados recolhidos, sendo que foram discutidos por temas a fim de facilitar a compreensão do leitor, bem como relacionar os resultados com as questões levantadas e estabelecer relações entre os dados obtidos pelos diferentes instrumentos utilizados na recolha. Os temas abrangidos foram divididos em duas partes: (01) A experiência da formação contínua; (2) As atividades promovidas na escola acerca dos Direitos Humanos.
O capítulo cinco, destina-se às Considerações Finais, Conclusões e
Possíveis implicações do estudo, limitações e sugestões para futuras investigações Na parte final, incluem-se as Referências Bibliográficas e os Anexos.
CAPÍTULO II - REVISÃO DE LITERATURA
Neste capítulo, pretende-se traçar uma breve análise do conceito de supervisão pedagógica no contexto de formação de professores em Portugal, a fim de o situar na construção de uma prática pedagógica reflexiva e colaborativa.
Destaca-se a mudança de paradigma supervisivo, na qual se migrou de uma ideia de supervisão como algo fiscalizador e autoritário, circunscrita à formação inicial, com formandos a cumprirem o estágio pedagógico, para um conceito mais alargado de supervisão, que tem levado cada vez mais professores a buscarem aprofundamento na sua formação, com fins de aplicarem os novos conhecimentos à sua prática pedagógica, e a busca de novas dinâmicas de ensinar-aprender, como é o caso das práticas colaborativas. Por isso, interessa analisar a evolução desse conceito de supervisão face ao desenvolvimento profissional dos professores.
2.1 Supervisão Pedagógica: conceito em transição
A tarefa da supervisão pedagógica está longe de ser algo simples, pois é tarefa complexa e dilemática
, mas essencial à construção de uma educação transformadora, que evita processos redutores que simplificam a realidade ou que de maneira tecnicista aplicam soluções pré-definidas aos problemas encontrados (Vieira, 2010, p.41).
Preliminarmente vale ressaltar que os contextos supervisivos da prática pedagógica têm sofrido uma constante evolução. O termo supervisão em Portugal herdou a conotação de dirigismo e controlo, e só a partir da década de 60 houve uma mudança de rumos, introduzida inicialmente pelo movimento de desenvolvimento do modelo de supervisão clínica nos Estados Unidos da América (EUA),o qual foi introduzido em Portugal por Alarcão em 1980
(Vieira, 2009, p.199).
Alarcão e Tavares (2010) realçam que até 1987, em Portugal, as funções da supervisão estavam mais limitadas ao acompanhamento dos estágios na formação inicial de professores, e que a partir dos anos 80 e 90 houve um desenvolvimento conceptual, sobretudo nos anos 90, passando-se para uma ideia de supervisão com o acompanhamento do processo formativo. Foram vários fatores que contribuíram para essa evolução, mas somente em 1997 a legislação sobre formação especializada incluiu a área de Supervisão Pedagógica e Formação de Formadores entre as necessidades de qualificação dos professores com vista à construção de uma escola de qualidade, democrática e autônoma. Estas são algumas das caraterísticas da escola que se pretende na atualidade, a conquista da prática educacional que por ser consciente e reflexiva ocasione um contexto democrático e autônomo tanto para os educadores, tanto quanto para os educandos.
Numa perspetiva da supervisão pedagógica no âmbito da formação inicial de professores, a supervisão pode ser definida (Alarcão & Tavares, 2010) como sendo um processo em que um professor mais experiente orienta outro
(p.16), objetivando o seu desenvolvimento profissional, ou também orientação da prática pedagógica.
Por necessidade de sistematização, os referidos autores propõem nove cenários supervisivos e alertam que os mesmos não devem ser observados de forma isolada, ou que se excluem, pois muitas vezes coexistem entre si:
1. imitação artesanal: consiste em apresentar aos futuros professores um modelo, aquele que sabia e deveria por isso ser imitado;
2. a aprendizagem pela descoberta guiada: assentava na ideia de que os professores deveriam conhecer os modelos teóricos de ensino, supondo-se que esse domínio de técnicas e conhecimentos determinariam o sucesso profissional;
3. behaviorista: também denominada micro ensino, nesse programa de