Pedagogia do oprimido
De Paulo Freire
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Avaliações de Pedagogia do oprimido
393 avaliações16 avaliações
- Nota: 5 de 5 estrelas5/5Leitura imprescindível para quem quer entender mais sobre a Educação no Brasil.
- Nota: 4 de 5 estrelas4/5This book by Paolo Freire is interesting. However, each takes what he/she wants from the book.
The education chapter stood out for me and is one that people must read carefully.
This is not an easy book to read, especially the last chapter, in which he kept repeating the word, 'praxis.'
However, I suggest that a reader read once, and then return to the book again, at leisure. - Nota: 1 de 5 estrelas1/5Texto sofrível que tem acaba com a educação no Brasil e aonde tenha sido aplicado
1 pessoa achou esta opinião útil
- Nota: 4 de 5 estrelas4/5This is not compulsively readable but still full of such important ideas it's hard to put down. There are so many ways to oppress and to be oppressed, and even in trying to help those you see as oppressed you may be contributing to their oppression. It's impact over intent. Oppressors cannot be fully human while trying to revoke the humanity of another. I think this would be a good book to come back to regularly.
- Nota: 1 de 5 estrelas1/5The resurrection of a kinda Communist mummy called Paulo Freire has been observed on the campuses of increasingly sterile colleges. What indeed is te so-called "Freire Method," as commended by leftists who storm the classrooms of Brazilian universities? Let's read what the historian Paul Johnson wrote about such bait of pure Marxist ideology: " Freire found out that an illiterate adult can learn in forty hours how to decipher political significance. Only the mobilization of an entire population can lead to popular culture. Schools are counterproductive. The Freire Method is based on the use of words and expressions consciously used in a dubious, questionable manner in order to 'liberate education.' In leftist jargon, it means there's a structural mismatch between the interests of the ruling class and the Truth. Truth is on the side of the oppressed, Truth is revolutionary, it should not be sought, it should be produced'" (Paul Johnson's "Inimigos da Sociedade")Freire actually plagiarized an American missionary, Frank Laubach Charles, who in 1943 had introduced a literacy program for poor families. In the Philippines, in 30 years, the Laubach Method managed to alphabetize 60% of its targeted population. In Brazil, the Laubach method was unduly distorted and replaced by the Freire method. In 2012, Freire, the plagiarist, was finally declared by law the Patron of Brazilian Education. There is no better phrase to explain the degree of mediocrity in current Brazilian schools and universities, especially those involved with the educational area.
2 pessoas acharam essa opinião útil
- Nota: 5 de 5 estrelas5/5Whether you want to know how to be an effective teacher / professor or you want to know how to start a revolution, this is the book for you. This modern day "Robin Hood Manifesto" is profound in depth, with aims clear and concise. I'm certain a plethora of reviews, opinions, and college papers have been written about the book, so I'll keep mine to a minimum and let the book speak for itself:
“People confuse freedom with maintenance of the status quo. Threaten the status quo, and the status quo will determine that as a threat to freedom itself.”
“The oppressed, having internalized the image of the oppressor and adopted his guidelines, are fearful of freedom. Freedom would require them to eject this image and replace it with autonomy and responsibility. Freedom is acquired by conquest, not by gift. It must be pursued constantly and responsibly. Freedom is not an ideal located outside of man; nor is it an idea which becomes myth. It is rather the indispensable condition for the quest for human completion.”
“In their unrestrained eagerness to possess, the oppressors develop the conviction that it is possible for them to transform everything into objects of their purchasing power; hence their strictly materialistic concept of existence. Money is the measure of all things, and profit the primary goal. For the oppressors, what is worthwhile is to have more—always more—even at the cost of the oppressed having less or having nothing. For them, to be is to have and to be the class of the ‘haves.’”
Just a few gems there. Read the book and find 180+ pages of them.1 pessoa achou esta opinião útil
- Nota: 4 de 5 estrelas4/5Freire wrote about teaching illiterate peasants (and, God love him, fomenting revolution at the same time) but his book nevertheless serves as a philosophical guide to turning traditional college education on its head. I've revamped my entire course based on his work.
- Nota: 2 de 5 estrelas2/5I encountered Freire's ideas of critical pedagogy in a curriculum theory course and excitedly picked this up hoping to gain more practical insight. I did not realize this work is almost exclusively theoretical, with only the third chapter providing limited descriptions of educational "decodification and recodification" sessions. These, to me, were the most enlightening passages, especially the quoted dialogues from "consciousness classes". Where theory is concerned, I did not find the book nearly as approachable as many other reviewers. I found the writing style to be repetitive and overly-reliant on specific philosophical terminology when simpler language would have sufficed. In fact, I think many of the reviews here do more justice to the ideas than Freire's own writing! One example - Freire spends 5 pages discussing the fact that humans differ from animals due the human ability to self-reflect. What I just summarized in about 10 words comes from p. 97 of the work - "...man is the only one to treat not only his actions but his very self as the objects of his reflection; this capacity distinguishes him from the animals, which are unable to separate themselves from their activity and thus are unable to reflect upon it".
It was also hard for me not to read Friere's admiring quoting of Lenin, Marx, Mao Tse Dong, Guevara, et al. without thinking of the dark shadow history has cast on many of these thinkers. The "re-education" efforts of China and many other Communist countries relied on much of the same theoretical framework as the first two chapters of this work.
While there are many positive ideas in the work as quoted by some other reviewers, I also found many troubling passages, such as:
"Proposing as a problem, to a European peasant, the fact that he or she is a person might strike them as strange. This is not true of Latin-American peasants, whose world usually ends at the boundaries of the latifundium, whose gestures to some extent simulate those of the animal and the trees, and who often consider themselves equal to the latter" (p 174).
Overall, I rate this book "probably good for you but not enjoyable". - Nota: 5 de 5 estrelas5/5I note that one reviewer had a difficult time reading this -- read a bit, went away for six months, came back and read a bit, then went away again . . . then labels the book disjointed, rather than his scatter-brained -- disjointed -- approach to it being the problem.
It is actually a straightforward text, so easily read and digested in much less than a week. It should also be mandatory reading for, especially, would-be teachers, but also such "scientists" as economists and sociologists. And by those who rail against "liberation theology" without having the least clue as to what it actually is.
It should be read, that is, by everyone who can read, without regard to preexisting ideological predisposition -- it actually is possible to see beyond such distorting lenses. And if during the reading you don't begin critically evaluating the education you "received," then you haven't suspended your idiological warp beforehand.
Yes: the FOX-ian paranoids will hate it, as instructed by FOX, and call it names, as they are given them by FOX. But there's nothing new about the ineducable rejecting anything that smacks of the risk of learning and knowing more than they already know, which is less and less as they reject more and more of fact and reality. But those who are thoughtful will find that this book is seminal, foundational, not only as a method of pedagogy but also as a clarifying method of criticially evaluating their context and situation, and reality.
In two words: must reading. - Nota: 5 de 5 estrelas5/5This is a foundational text for many progressives (progressive educators in particular, though it does not delve into methods). Either way it is a nice meaty chunk of lefty philosophy that feels well rooted in reality and many common human experiences. I've been told that I should read earlier works by Friere for books that put the onice for change more squarely on the working class, and give liberals a more secondary role. I'll get back to you on that one.
- Nota: 5 de 5 estrelas5/5Great book!!!! Paulo Freire takes concepts of education and links them to social change relative to observations of occurrences throughout history and present realities. An insightful perspective that calls people to awareness of themselves through understanding of love, unity and diversity in order to create a better world.
- Nota: 4 de 5 estrelas4/5Every educator should be made to read this book. I can't believe I went through Peace Corps and the Fellowship program at Columbia without running across this pivotal book on pedagogy.
This is a must read for any working within the bounds of the educational sphere. Finally a compassionate manifesto guiding us towards the end of human suffering and oppression through love and dialogue. - Nota: 4 de 5 estrelas4/5I ended up reading this over a period of about six months, just getting through a bit of it and then moving on to read something else and coming back to it much later. It was all so disjointed that I didn't get much out of it other than the basic points.
I remember the part about "praxis", for example - he said that action without thought and thought without action are both pointless; what is needed is "praxis", which he defined as a combination of action and reflection.
Then the stuff for which the book is well known, about how teaching should be a collaborative project between teacher and learners rather than a hierarchical "banking" approach where the all-knowing teacher deposits knowledge into the "vessels" of learners. - Nota: 4 de 5 estrelas4/5Freire stresses the importance of dialogue in the act of teaching. Diaglogue, he argues, is not separated from actions which make the world better, especially for the oppressed. Scholars of all fields, epecially educators, should read this book. It is very informative.
- Nota: 5 de 5 estrelas5/5good book to read to see what can be done to awaken populations
- Nota: 4 de 5 estrelas4/5a MUST READ for understanding how class rules in education
Pré-visualização do livro
Pedagogia do oprimido - Paulo Freire
– PAULO FREIRE
PEDAGOGIA DO OPRIMIDO
PAZ E TERRA
Copyright © Herdeiros Paulo Freire
Direitos de edição da obra em língua portuguesa adquiridos pela Editora Paz e Terra. Todos os direitos reservados. Nenhuma parte desta obra pode ser apropriada e estocada em sistema de banco de dados ou processo similar, em qualquer forma ou meio, seja eletrônico, de fotocópia, gravação etc., sem a permissão do detentor do copirraite.
EDITORA PAZ E TERRA LTDA
Rua do Triunfo, 177 — Sta Ifigênia — São Paulo
Tel: (011) 3337-8399 — Fax: (011) 3223-6290
http://www.pazeterra.com.br
Texto revisto pelo novo Acordo Ortográfico da Língua Portuguesa.
CIP-BRASIL. CATALOGAÇÃO NA FONTE
SINDICATO NACIONAL DOS EDITORES DE LIVROS, RJ
Índices para catálogo sistemático:
1. Freire, Paulo : Pedagogia do oprimido:
Educação 370.1
AOS ESFARRAPADOS DO MUNDO E AOS QUE NELES SE DESCOBREM E, ASSIM DESCOBRINDO-SE, COM ELES SOFREM, MAS, SOBRETUDO, COM ELES LUTAM.
Sumário
PREFÁCIO: APRENDER A DIZER A SUA PALAVRA
PROFESSOR ERNANI MARIA FIORI
PRIMEIRAS PALAVRAS
1 Justificativa da pedagogia do oprimido
A contradição opressores-oprimidos. Sua superação
A situação concreta de opressão e os opressores
A situação concreta de opressão e os oprimidos
Ninguém liberta ninguém, ninguém se liberta sozinho: os homens se libertam em comunhão
2 A concepção bancária
da educação como instrumento da opressão. Seus pressupostos, sua crítica
A concepção problematizadora e libertadora da educação. Seus pressupostos
A concepção bancária
e a contradição educador-educando
Ninguém educa ninguém, ninguém educa a si mesmo, os homens se educam entre si, mediatizados pelo mundo
O homem como um ser inconcluso, consciente de sua inconclusão, e seu permanente movimento de busca do ser mais
3 A dialogicidade: essência da educação como prática da liberdade
Educação dialógica e diálogo
O diálogo começa na busca do conteúdo programático
As relações homens-mundo, os temas geradores e o conteúdo programático desta educação
A investigação dos temas geradores e sua metodologia
A significação conscientizadora da investigação dos temas geradores. Os vários momentos da investigação
4 A teoria da ação antidialógica
A teoria da ação antidialógica e suas características: a conquista, dividir para manter a opressão, a manipulação e a invasão cultural
A teoria da ação dialógica e suas características: a co-laboração, a união, a organização e a síntese cultural
Prefácio
APRENDER A DIZER A SUA PALAVRA
PAULO FREIRE É UM PENSADOR comprometido com a vida: não pensa ideias, pensa a existência. É também educador: existencia seu pensamento numa pedagogia em que o esforço totalizador da práxis humana busca, na interioridade desta, retotalizar-se como prática da liberdade
. Em sociedades cuja dinâmica estrutural conduz à dominação de consciências, a pedagogia dominante é a pedagogia das classes dominantes
. Os métodos da opressão não podem, contraditoriamente, servir à libertação do oprimido. Nessas sociedades, governadas pelos interesses de grupos, classes e nações dominantes, a educação como prática da liberdade
postula, necessariamente, uma pedagogia do oprimido
. Não pedagogia para ele, mas dele. Os caminhos da liberação são os do oprimido que se libera: ele não é coisa que se resgata, é sujeito que se deve autoconfigurar responsavelmente. A educação liberadora é incompatível com uma pedagogia que, de maneira consciente ou mistificada, tem sido prática de dominação. A prática da liberdade só encontrará adequada expressão numa pedagogia em que o oprimido tenha condições de, reflexivamente, descobrir-se e conquistar-se como sujeito de sua própria destinação histórica. Uma cultura tecida com a trama da dominação, por mais generosos que sejam os propósitos de seus educadores, é barreira cerrada às possibilidades educacionais dos que se situam nas subculturas dos proletários e marginais. Ao contrário, uma nova pedagogia enraizada na vida dessas subculturas, a partir delas e com elas, será um contínuo retomar reflexivo de seus próprios caminhos de liberação; não será simples reflexo, senão reflexiva criação e recriação, um ir adiante nesses caminhos: método
, prática de liberdade
que, por ser tal, está intrinsecamente incapacitada para o exercício da dominação. A pedagogia do oprimido é, pois, liberadora de ambos, do oprimido e do opressor. Hegelianamente, diríamos: a verdade do opressor reside na consciência do oprimido.
Assim apreendemos a ideia-fonte de dois livros¹ em que Paulo Freire traduz, em forma de lúcido saber sociopedagógico, sua grande e apaixonante experiência de educador. Experiência e saber que se dialetam, densificando-se, alongando-se e dando, com nitidez cada vez maior, o contorno e o relevo de sua profunda intuição central: a do educador de vocação humanista que, ao inventar suas técnicas pedagógicas, redescobre através delas o processo histórico em que e por que se constitui a consciência humana. Ou, aproveitando uma sugestão de Ortega, o processo em que a vida como biologia passa a ser vida como biografia.
Talvez seja este o sentido mais exato da alfabetização: aprender a escrever a sua vida como autor e como testemunha de sua história, isto é, biografar-se, existenciar-se, historicizar-se. Por isto, a pedagogia de Paulo Freire, sendo método de alfabetização, tem como ideia animadora toda a amplitude humana da educação como prática da liberdade
, o que, em regime de dominação, só se pode produzir e desenvolver na dinâmica de uma pedagogia do oprimido
.
As técnicas do referido método acabam por ser a estilização pedagógica do processo em que o homem constitui e conquista, historicamente, sua própria forma: a pedagogia faz-se antropologia. Esta conquista não se pode comparar com o crescimento espontâneo dos vegetais: participa da ambiguidade da condição humana e dialetiza-se nas contradições da aventura histórica, projeta-se na contínua recriação de um mundo que, ao mesmo tempo, obstaculiza e provoca o esforço de superação liberadora da consciência humana. A antropologia acaba por exigir e comandar uma política.
É o que pretendemos insinuar em três relances. Primeiro: o movimento interno que unifica os elementos do método e os excede em amplitude de humanismo pedagógico. Segundo: esse movimento reproduz e manifesta o processo histórico em que o homem se reconhece. Terceiro: os rumos possíveis desse processo são possíveis projetos e, por conseguinte, a conscientização não é apenas conhecimento ou reconhecimento, mas opção, decisão, compromisso.
As técnicas do método de alfabetização de Paulo Freire, embora em si valiosas, tomadas isoladamente não dizem nada do método. Também não se ajuntaram ecleticamente segundo um critério de simples eficiência técnico-pedagógica. Inventadas ou reinventadas numa só direção de pensamento, resultam da unidade que transparece na linha axial do método e assinala o sentido e o alcance de seu humanismo: alfabetizar é conscientizar.
Um mínimo de palavras, com a máxima polivalência fonêmica, é o ponto de partida para a conquista do universo vocabular. Essas palavras, oriundas do próprio universo vocabular do alfabetizando, uma vez transfiguradas pela crítica, a ele retornam em ação transformadora do mundo. Como saem de seu universo e como a ele voltam?
Uma pesquisa prévia investiga o universo das palavras faladas, no meio cultural do alfabetizando. Daí são extraídos os vocábulos de mais ricas possibilidades fonêmicas e de maior carga semântica — os que não só permitem rápido domínio do universo da palavra escrita como, também, o mais eficaz engajamento de quem a pronuncia, com a força pragmática que instaura e transforma o mundo humano.
Estas palavras são chamadas geradoras porque, através da combinação de seus elementos básicos, propiciam a formação de outras. Como palavras do universo vocabular do alfabetizando, são significações constituídas ou reconstituídas em comportamentos seus, que configuram situações existenciais ou, dentro delas, se configuram. Tais significações são plasticamente codificadas em quadros, slides, filminas etc., representativos das respectivas situações, que, da experiência vivida do alfabetizando, passam para o mundo dos objetos. O alfabetizando ganha distância para ver sua experiência: admirar
. Nesse instante, começa a descodificar.
A descodificação é análise e consequente reconstituição da situação vivida: reflexo, reflexão e abertura de possibilidades concretas de ultrapassagem. Mediada pela objetivação, a imediatez da experiência lucidifica-se, interiormente, em reflexão de si mesma e crítica animadora de novos projetos existenciais. O que antes era fechamento, pouco a pouco se vai abrindo; a consciência passa a escutar os apelos que a convocam sempre mais além de seus limites: faz-se crítica.
Ao objetivar seu mundo, o alfabetizando nele reencontra-se com os outros e nos outros, companheiros de seu pequeno círculo de cultura
. Encontram-se e reencontram-se todos no mesmo mundo comum e, da coincidência das intenções que o objetivam, ex-surge a comunicação, o diálogo que criticiza e promove os participantes do círculo. Assim, juntos, re-criam criticamente o seu mundo: o que antes os absorvia, agora podem ver ao revés. No círculo de cultura, a rigor, não se ensina, aprende-se em reciprocidade de consciências
; não há professor, há um coordenador, que tem por função dar as informações solicitadas pelos respectivos participantes e propiciar condições favoráveis à dinâmica do grupo, reduzindo ao mínimo sua intervenção direta no curso do diálogo.
A codificação
e a descodificação
permitem ao alfabetizando integrar a significação das respectivas palavras geradoras em seu contexto existencial — ele a redescobre num mundo expressado em seu comportamento. Conscientiza a palavra como significação que se constitui em sua intenção significante, coincidente com intenções de outros que significam o mesmo mundo. Este — o fundo — é o lugar do encontro de cada um consigo mesmo e os demais.
A essa altura do processo, a respectiva palavra geradora pode ser, ela mesma, objetivada como combinação de fonemas suscetíveis de representação gráfica. O alfabetizando já sabe que a língua também é cultura, que o homem é sujeito: sente-se desafiado a desvelar os segredos de sua constituição, a partir da construção de suas palavras — também construção de seu mundo. Para esse efeito, como também para a descodificação das situações significadas pelas palavras geradoras, a que nos referimos, é de particular interesse a etapa preliminar do método, que não havíamos ainda mencionado. Nessa etapa, são descodificadas pelo grupo várias unidades básicas, codificações simples e sugestivas, que, dialogicamente descodificadas, vão redescobrindo o homem como sujeito de todo o processo histórico da cultura e, obviamente, também da cultura letrada. O que o homem fala e escreve e como fala e escreve, tudo é expressão objetiva de seu espírito. Por isto, pode o espírito refazer o feito, neste redescobrindo o processo que o faz e refaz.
Assim, ao objetivar uma palavra geradora — íntegra, primeiro, e depois decomposta em seus elementos silábicos —, o alfabetizando já está motivado para não só buscar o mecanismo de sua recomposição e da composição de novas palavras, mas também para escrever seu pensamento. A palavra geradora, ainda que objetivada em sua condição de simples vocábulo escrito, não pode mais libertar-se de seu dinamismo semântico e de sua força pragmática, de que o alfabetizando já se fizera consciente na repetida descodificação crítica.
Não se deixara, pois, aprisionar nos mecanismos de composição vocabular. E buscará novas palavras, não para colecioná-las na memória, mas para dizer e escrever o seu mundo, o seu pensamento, para contar sua história. Pensar o mundo é julgá-lo; e a experiência dos círculos de cultura mostra que o alfabetizando, ao começar a escrever livremente, não copia palavras, mas expressa juízos. Estes, de certa maneira, tentam reproduzir o movimento de sua própria experiência; o alfabetizando, ao dar-lhes forma escrita, vai assumindo, gradualmente, a consciência de testemunha de uma história de que se sabe autor. Na medida em que se apercebe como testemunha de sua história, sua consciência se faz reflexivamente mais responsável dessa história.
O método Paulo Freire não ensina a repetir palavras, não se restringe a desenvolver a capacidade de pensá-las segundo as exigências lógicas do discurso abstrato; simplesmente coloca o alfabetizando em condições de poder re-existenciar criticamente as palavras de seu mundo, para, na oportunidade devida, saber e poder dizer a sua palavra.
Eis por que, em uma cultura letrada, aprende a ler e escrever, mas a intenção última com que o faz vai além da alfabetização. Atravessa e anima toda a empresa educativa, que não é senão aprendizagem permanente desse esforço de totalização — jamais acabada — através do qual o homem tenta abraçar-se inteiramente na plenitude de sua forma. É a própria dialética em que se existencia o homem. Mas, para isto, para assumir responsavelmente sua missão de homem, há de aprender a dizer a sua palavra, pois, com ela, constitui a si mesmo e a comunhão humana em que se constitui; instaura o mundo em que se humaniza, humanizando-o.
Com a palavra, o homem se faz homem. Ao dizer a sua palavra, pois, o homem assume conscientemente sua essencial condição humana. E o método que lhe propicia essa aprendizagem comensura-se ao homem todo, e seus princípios fundam toda pedagogia, desde a alfabetização até os mais altos níveis do labor universitário.
A educação reproduz, assim, em seu plano próprio, a estrutura dinâmica e o movimento dialético do processo histórico de produção do homem. Para o homem, produzir-se é conquistar-se, conquistar sua forma humana. A pedagogia é antropologia.
Tudo foi resumido por uma mulher simples do povo, num círculo de cultura, diante de uma situação representada em quadro: Gosto de discutir sobre isto porque vivo assim. Enquanto vivo, porém, não vejo. Agora sim, observo como vivo.
A consciência é essa misteriosa e contraditória capacidade que tem o homem de distanciar-se das coisas para fazê-las presentes, imediatamente presentes. É a presença que tem o poder de presentificar: não é representação, mas condição de apresentação. É um comportar-se do homem frente ao meio que o envolve, transformando-o em mundo humano. Absorvido pelo meio natural, responde a estímulos; e o êxito de suas respostas mede-se por sua maior ou menor adaptação: naturaliza-se. Despegado de seu meio vital, por virtude da consciência, enfrenta as coisas objetivando-as, e enfrenta-se com elas, que deixam de ser simples estímulos, para se tornarem desafios. O meio envolvente não o fecha, limita-o — o que supõe a consciência do além-limite. Por isto, porque se projeta intencionalmente além do limite que tenta encerrá-la, pode a consciência desprender-se dele, liberar-se e objetivar, transubstanciando o meio físico em mundo humano.
A hominização
não é adaptação: o homem não se naturaliza, humaniza o mundo. A hominização
não é só processo biológico, mas também história.
A intencionalidade da consciência humana não morre na espessura de um envoltório sem reverso. Ela tem dimensão sempre maior do que os horizontes que a circundam. Perpassa além das coisas que alcança e, porque as sobrepassa, pode enfrentá-las como objetos.
A objetividade dos objetos é constituída na intencionalidade da consciência, mas, paradoxalmente, esta atinge, no objetivado, o que ainda não se objetivou: o objetimável. Portanto, o objeto não é só objeto, é, ao mesmo tempo, problema: o que está em frente, como obstáculo e interrogação. Na dialética constituinte da consciência, em que esta se perfaz na medida em que faz o mundo, a interrogação nunca é pergunta exclusivamente especulativa: no processo de totalização da consciência é sempre provocação que a incita a totalizar-se. O mundo é espetáculo, mas sobretudo convocação. E, como a consciência se constitui necessariamente como consciência do mundo, ela é, pois, simultânea e implicadamente, apresentação e elaboração do mundo.
A intencionalidade transcendental da consciência permite-lhe recuar indefinidamente seus horizontes e, dentro deles, ultrapassar os momentos e as situações, que tentam retê-la e enclausurá-la. Liberta pela força de seu impulso transcendentalizante, pode volver reflexivamente sobre tais situações e momentos, para julgá-los e julgar-se. Por isto é capaz de crítica. A reflexividade é a raiz da objetivação. Se a consciência se distancia do mundo e o objetiva, é porque sua intencionalidade transcendental a faz reflexiva. Desde o primeiro momento de sua constituição, ao objetivar seu mundo originário, já é virtualmente reflexiva. É presença e distância do mundo: a distância é a condição da presença. Ao distanciar-se do mundo, constituindo-se na objetividade, surpreende-se, ela, em sua subjetividade. Nessa linha do entendimento, reflexão e mundo, subjetividade e objetividade não se separam: opõem-se, implicando-se dialeticamente. A verdadeira reflexão crítica origina-se e dialetiza-se na interioridade da práxis
constitutiva do mundo humano — é também práxis
.
Distanciando-se de seu mundo vivido, problematizando-o, descodificando-o
criticamente, no mesmo movimento da consciência o homem se redescobre como sujeito instaurador desse mundo de sua experiência. Testemunhando objetivamente sua história, mesmo a consciência ingênua acaba por despertar criticamente, para identificar-se como personagem que se ignorava e é chamada a assumir seu papel. A consciência do mundo e a consciência de si crescem juntas e em razão direta; uma é a luz interior da outra, uma comprometida com a outra. Evidencia-se a intrínseca correlação entre conquistar-se, fazer-se mais si mesmo, e conquistar o mundo, fazê-lo mais humano. Paulo Freire não inventou o homem; apenas pensa e pratica um método pedagógico que procura dar ao homem a oportunidade de re-descobrir-se através da retomada reflexiva do próprio processo em que vai ele se descobrindo, manifestando e configurando — método de conscientização
.
Mas ninguém se conscientiza separadamente dos demais. A consciência se constitui como consciência do mundo. Se cada consciência tivesse o seu mundo, as consciências se desencontrariam em mundos diferentes e separados — seriam mônadas incomunicáveis. As consciências não se encontram no vazio de si mesmas, pois a consciência é sempre, radicalmente, consciência do mundo. Seu lugar de encontro necessário é o mundo, que, se não for originariamente comum, não permitirá mais a comunicação. Cada um terá seus próprios caminhos de entrada nesse mundo comum, mas a convergência das intenções, que o significam, é a condição de possibilidade das divergências dos que, nele, se comunicam. A não ser assim, os caminhos seriam paralelos e intransponíveis. As consciências não são comunicantes porque se comunicam; mas comunicam-se porque comunicantes. A intersubjetivação das consciências é tão originária quanto sua mundanidade ou sua subjetividade. Radicalizando, poderíamos dizer, em linguagem não mais fenomenológica, que a intersubjetivação das consciências é a progressiva conscientização, no homem, do parentesco ontológico
dos seres no ser. É o mesmo mistério que nos invade e nos envolve, encobrindo-se e descobrindo-se na ambiguidade do nosso corpo consciente.
Na constituição da consciência, mundo e consciência se põem como consciência do mundo ou mundo consciente e, ao mesmo tempo, se opõem como consciência de si e consciência do mundo. Na intersubjetivação, as consciências também se põem como consciências de um certo mundo comum e, nesse mundo, se opõem como consciência de si e consciência do outro. Comunicamo-nos na oposição, que é a única via de encontro para consciências que se constituem na mundanidade e na intersubjetividade.
O monólogo, enquanto isolamento, é a negação do homem; é fechamento da consciência, uma vez que