Lendo o Livro de Lamentações: Solidariedade e ternura em meio à tragédia
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Lendo o Livro de Lamentações - Luiz Alexandre Solano Rossi
Súmario
INTRODUÇÃO
Um pouco de história
Olhando os acontecimentos por dentro: uma dor em dois atos
Estilo literário e estrutura
Capítulo 1
O GEMIDO QUE VEM DA CIDADE : DOR
Capítulo 2
O GEMIDO QUE VEM DO TEMPLO: AUSÊNCIA
Capítulo 3
O GEMIDO QUE VEM DA PESSOA: SOCORRO
Capítulo 4
UMA DOR QUE PARECE INFINDÁVEL DIANTE DA JUSTIÇA DE JAVÉ
Capítulo 5
NÃO TENHO ESPERANÇAS, MESMO ASSIM VOU CONFIAR
Landmarks
Cover
Half Title Page
Table of Contents
Prologue
Chapter
Chapter
Chapter
Chapter
Chapter
Chapter
Chapter
Chapter
Volume
Copyright Page
INTRODUÇÃO
O livro das Lamentações traz para o leitor um virulento conflito entre fé e realidade histórica. Até onde se possa olhar, o cotidiano parece desmoronar-se. Todos os fundamentos da fé foram reduzidos a cinza assim como a própria cidade de Jerusalém. Pensar em Lamentações leva necessariamente a refletir sobre reconstrução. Todavia, não simplesmente a reconstrução de muralhas, paredes, casas, templo etc. A mais necessária das reconstruções seria a reconstrução do ser humano, que experimentava o rebaixamento de sua vida à totalidade da miséria.
O mundo é feito também de dores. No léxico do povo de Deus que encontramos em Lamentações, a existência de homens, mulheres, idosos e crianças é marcada por conflitos psicológicos, religiosos, físicos, sociais e políticos. Para aqueles que conseguiram sobreviver, os sentimentos mais contraditórios deveriam povoar a vida: solidão, abandono, fome, separação, dores, lamentações. Restava apenas uma opção para cada um dos sobreviventes: cultivar a esperança, ou aceitar o desespero como projeto de vida.
A leitura de Lamentações leva o leitor a concluir que não existe sofrimento estranho. Por isso, em cada linha, encontramos uma combinação entre esperança e dor. São duas experiências da vida que não se autoexcluem. Não é possível viver sem os dois. A história de todas as pessoas é marcada por elas. Esperança e dor não são coisas contraditórias. Ajudam a perceber que, em meio à tragédia que pode nos atingir, a ternura de Deus é imperecível. A ternura de Deus superabunda em meio à tragédia.
O sofrimento e o clamor dele resultante jamais podem ser pensados como algo privatizado. Necessariamente, eles alcançam a todos, mesmo quando, e por isso mesmo, atingem alguém diferente de nós; são públicos, ou seja, todos podem escutar a voz dos que sofrem e agir. Porém, é excessivamente forte a tentação de evitarmos o sofrimento. Soa até mesmo natural fechar os olhos ao depararmos com outros olhos e olhares que demonstram sofrimento. Deus é maior do que nosso sofrimento; mas será que as pessoas que nos acompanham são pelo menos solidárias em meio à nossa dor?
Possivelmente, é dessa insensibilidade natural
que morrem as pessoas. Todavia, seria possível humanizar a dor? Talvez sim. Mas, para isso, deveríamos considerar seriamente o conselho de Simenon: Para entender a aflição de outras pessoas, provavelmente se faz necessário colocar-se, pelo menos durante alguns minutos, uma vez na vida, no lugar de cada uma delas
. Numa sociedade que estimula o individualismo e potencializa o narcisismo, não é de se estranhar que a dessensibilização do humano também se faça presente. Somos naturalmente insensíveis à dor, desde que não seja nossa própria dor.
Não existe sofrimento estranho. Nos lugares onde não se pode fazer nada, se faz necessário compartilhar o sofrimento. Assim, a prática da solidariedade torna-se tanto uma fonte de desejo quanto de esperança, abastecidos pela fraternidade, que presumidamente existe em todo ser humano. Assim, onde quer que exista o sofrimento, mesmo que distante, cada um de nós está relacionado com ele. Os que sofrem estão umbilicalmente relacionados com os que não sofrem. Um e outro são inseparáveis, pois a dor não escolhe entre amigos e inimigos.
Não existe sofrimento estranho porque ele afeta a todos. Somos copartícipes dele. E, por isso, somos continuamente interrogados sobre o que fazemos com nossa vida. Onde nos encontramos diante do sofrimento, que atinge com fortes ondas a muitos? Sofremos junto com as vítimas, ou nos posicionamos ao lado dos causadores de sofrimento? Um fato parece fora de dúvida: o sofrimento não admite neutralidade. Arriscaria dizer que vicariamente sofremos pelos outros. Quando isso ocorre, há um sofrimento que nos liberta, ao libertar nossos próximos das dores sofridas.
As condições sociais determinantes do sofrimento podem ser alteradas a partir das ações de cada um. Possuímos a capacidade de mudar e de aprender com o sofrimento, em vez de nos tornarmos piores. No entanto, algumas barreiras precisam ser ultrapassadas, haja vista que elas não são intransponíveis. Penso em duas barreiras predominantes: a primeira delas é o embrutecimento do ser humano; a segunda é a dessensibilização. Assim, a única maneira de vencer as barreiras que se apresentam seria a de compartilhar a dor dos que sofrem, não abandoná-los à própria sorte e, além disso, fazer com que o clamor de cada um deles encontre eco.
Ler o livro das Lamentações é um exercício de nos colocarmos no lugar do outro!
Um pouco de história
Assim lemos em 2Rs 25,8-12:
No dia sete do quinto mês, correspondendo ao ano dezenove de Nabucodonosor, rei da Babilônia, Nabuzardã, chefe da guarda e oficial do rei da Babilônia, chegou a Jerusalém. Ele pôs fogo no templo de Javé, no palácio real e em todas as casas de Jerusalém, e incendiou todas as mansões. Ao mesmo tempo, o exército caldeu, que acompanhava Nabuzardã, chefe da guarda, destruiu as muralhas que rodeavam Jerusalém. Nabuzardã exilou o resto do povo que tinha ficado na cidade, os desertores que tinham passado para o lado do rei da Babilônia e o resto da população. O chefe da guarda deixou uma parte do povo pobre da terra para trabalhar nas vinhas e nos campos.
Dessa forma, o livro dos Reis descreve o começo do fim da queda de Jerusalém. É também o contexto para refletir a