A casa de vidro
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Avaliações de A casa de vidro
2 avaliações2 avaliações
- Nota: 3 de 5 estrelas3/5Achei a ideia interessante, mas confesso que o primeiro salto no tempo me confundiu bastante narrativamente. Tive que ler algumas vezes até entender, mas até que a partir do segundo me acostumei com a construção.
Em geral achei bem intrigante e misterioso. Lerei os próximos para tentar entender melhor a construção de mundo. - Nota: 3 de 5 estrelas3/5Achei a história bem interessante, porém a escrita é um pouco confusa, fiquei sem entender algumas partes. Talvez pudesse ser melhor desenvolvida em mais páginas também, acho que ficou muito "resumido". Mas no geral a história é muito legal.
Pré-visualização do livro
A casa de vidro - Anna Fagundes Martino
Copyright © 2016, Dame Blanche, Anna Fagundes Martino
CAPA
Marina Avila
REVISÃO
Ana Cristina Rodrigues
DIAGRAMAÇÃO
Samuel Cardeal
André Caniato
Dados Internacionais de Catalogação na Publicação (CIP)
(Câmara Brasileira do Livro, SP, Brasil)
Martino, Anna Fagundes
A casa de vidro [livro eletrônico] / Anna Fagundes Martino. -- 1. ed. -- São Paulo : Editora Dame Blanche, 2020. -- (As estações ; 1)
Kb; ePub.
ISBN: 978-65-87759-02-9
1. Ficção brasileira I. Título. II. Série.
CDD B869.3
20-37734
Índices para catálogo sistemático:
1. Ficção : Literatura brasileira B869.3
Iolanda Rodrigues Biode - Bibliotecária - CRB-8/10014
Todos os direitos reservados
Sumário
I. 1910
II. 1868
III. A nevasca
IV. O herdeiro
V. A partida
VI. O que resta
VII. A noite
VIII. A véspera
IX. A fronteira
X. O dossel
XI. 1919
Sobre a autora
Leia Um berço de heras
Prólogo
Capítulo I
I. 1910
—
A SENHORITA
queria me ver?
Eleanor olhou para a figura no meio da estufa abandonada, imóvel contra a luz que vinha dos vidros barrados de sujeira, mofo, musgo, teias de aranha e excrementos de pássaros. Há quanto tempo não abriam as portas daquele lugar? Ela sequer se lembrava se ainda havia uma chave. Tudo tinha sido trancado quando seu pai morrera e ela se casara. Quase quatro décadas depois, no entanto, nenhum vidro havia rachado; a estrutura de metal ainda estava intacta, a tinta verde descascando, mas nenhum sinal de ferrugem nos arcos que se cruzavam em cúpulas que imitavam as fortalezas dos marajás. O aparentemente frágil castelo de vidro que seu pai tinha erguido por capricho — que ele nunca soube administrar sozinho e que o marido de Eleanor nunca tivera o menor talento para manter- iria sobreviver a todos os seus descendentes por séculos e séculos.
Por entre plantas há muito reduzidas a pó, em meio ao cheiro de poeira e vegetação decrépita, a imagem daquela moça de costas para Eleanor, usando um vestido azulado sujo de terra nas barras bordadas, parecia uma miragem. Uma miragem muito arrumada, o cabelo castanho escuro preso em uma trança que lhe batia na cintura, as mãos pequenas entrelaçadas no alto do peito. Era uma visitante inesperada, vinda logo de manhã cedo, junto com o frio que rasgava os campos com toda a força possível em um fim de inverno.
Eleanor estranhou, de qualquer forma, que alguém fosse vê-la. As visitas, quando vinham, era para o filho, nunca para a dona da casa: quando o marido morrera, também ela deixara de existir diante dos olhos do mundo. E quem faria tanta questão de ser recebida em meio a ruínas?
— Me perdoe se isso lhe assusta — a visitante disse, cada palavra claramente pronunciada devagar, como se estivesse aprendendo o idioma. — Eu também estou assustada.
A jovem estendeu a mão para tocar um caule enegrecido que ainda insistia em manter-se apesar das décadas. Os dedos percorriam os espinhos com cuidado, acariciando-os, deixando que as pontas afiadas lhe atravessassem a pele acobreada. Eleanor levou as mãos à boca, mordendo os nós dos dedos, engasgada com lágrimas ao ver como o chão embaixo de seus pés se cobria subitamente de grama cor das esmeraldas, como as rosas se multiplicavam pelo caule que a garota tinha em mãos, como do nada as glicínias se erguiam púrpuras e perfumadas pelos arcos das janelas, cobrindo metade da estrutura em questão de segundos: um teto vivo da cor preferida de Eleanor.
Aquela gargalhada quase infantil, ecoando por toda a estufa, aquele entusiasmo de quem não acredita no próprio truque, de quem ainda se surpreende com a cor das plantas daquele lado do mundo: aquele som morava dentro do peito de Eleanor há décadas. Era o que lhe consolara e lhe dera forças nos piores dias.