A Suspensão da CNH e o Direito Fundamental de Locomoção: o acesso à justiça pela conciliação nas ações de trânsito
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A Suspensão da CNH e o Direito Fundamental de Locomoção - Marcos Alcará
Bibliografia
CAPÍTULO 1 - INTRODUÇÃO
A SISTEMÁTICA PROCESSUAL DE TRÂNSITO
utilizada no país, constante no Código de Trânsito Brasileiro, por vezes tem punido proprietários e condutores de veículos automotores de forma indevida, em especial quando os Órgãos de Trânsito registram infrações e cadastram penalidades em seus prontuários de forma presumida, nos casos em que não há a imediata identificação do infrator, punindo sumariamente aqueles que não sejam efetivamente os responsáveis pelo injusto tipificado, dificultando a livre locomoção dos condutores.
Visando permitir o acesso à justiça, a Carta Magna de 1988 assegurou, por meio do art. 5º, inciso XXXV, que o Poder Judiciário irá apreciar toda lesão ou ameaça a direito. Na busca pela correção de eventuais distorções quando da aplicação de penalidades sumárias à Carteira Nacional de Habilitação dos proprietários e condutores, o Poder Judiciário apreciará pedidos de proprietários ou condutores de veículos, objetivando a correção do cadastro de pontos decorrentes de autuações de trânsito cadastradas sumariamente na CNH do proprietário, quando não tenha ocorrido a identificação do condutor no momento da autuação, possibilitando a readequação da situação ao real condutor.
Em tais ações, os Órgãos de Trânsito podem ser demandados, acerca de pedidos de transferência de pontos de multas de trânsito ao real condutor, visto que controlam o sistema de pontuação dos condutores; podendo contestar, ou de imediato anuir, conciliando diante da pretensão do condutor requerente, visando solucionar o caso posto a julgamento, corrigindo eventual distorção no processo administrativo de trânsito de suspensão da CNH.
Com o avanço do Constitucionalismo, o acesso à justiça, além de ser exercido pelas partes ao acessarem ao Poder Judiciário, passa a reclamar pelo necessário debate sobre uma maior brevidade quanto à resposta do Estado Julgador, em relação ao bem pretendido pela prestação jurisdicional, almejando pela resposta enquanto ainda seja útil, em especial no caso de aplicação de penalidades restritivas de direitos que recaiam sobre o direito de conduzir veículos, que limitem o direito fundamental à locomoção do cidadão.
Para contribuir com a discussão, a presente tese perpassa num primeiro momento pela evolução histórica do transitar da humanidade ocorrida na antiguidade, na idade média e moderna, chegando ao trânsito na atualidade, sob o enfoque do deslocamento de pessoas e coisas pelas vias de circulação que foram surgindo e modificando-se a cada época; bem como sobre a legislação que permite a livre locomoção dos condutores, enquanto direito fundamental contido na Constituição Federal de 1988 em face do previsto na legislação de trânsito vigente.
No terceiro capítulo é abordado o sistema processual do Código de Trânsito Brasileiro e o acesso à justiça nele inserido, momento em que são apresentadas algumas distorções na aplicação da legislação de trânsito, momento em que é enaltecido que o cidadão, enquanto usuário do trânsito, pode insurgir-se contra tais desvirtuamentos, em face da garantia do acesso à justiça que lhe é assegurado.
Na sequência, é tratado no quarto capítulo sobre a persecução das penalidades previstas na Lei de Trânsito aplicadas aos condutores e proprietários de veículos, no âmbito administrativo e judicial.
Por fim, pondera-se sobre a possibilidade de conciliação com o Ente Público diante da penalidade de suspensão da CNH aplicada aos condutores e proprietários de veículos de forma sumária, por infrações de trânsito sem abordagem do condutor; sob a ótica de que a conciliação representa a instrumentalização do acesso à justiça, propondo o envolvimento de todos os litigantes para a solução da lide, com direção ao efetivo acesso à justiça e garantia do direito fundamental de locomoção.
A solução de conflitos por meio da conciliação nas demandas que envolvam a penalidade de suspensão da CNH deve contar com a efetiva participação do condutor ou proprietário do veículo em que houve o registro indevido da punição, do real infrator e do ente público, para que, de fato, haja a prestação jurisdicional em tempo ao condutor enquanto cidadão, garantindo-lhe o direito à liberdade de locomoção.
A efetiva punição dos condutores, consoante disposições do Código de Trânsito Brasileiro, deve ser feita observando as normas previstas na Constituição Federal de 1988, que garantem a todos o acesso à justiça, que será firmado com o intento da ação judicial cabível e com o desfecho destas de forma mais célere, com a participação dos integrantes do processo, mediante a atuação mais dinâmica, buscando a conciliação pelas partes, incluindo o Poder Público, nos casos em que houver autorização para tanto.
Na consecução do trabalho, foi utilizado o método de pesquisa bibliográfica e análise de julgados do Superior Tribunal de Justiça, com a análise de julgados exarados pelos Tribunais Superiores, quando do enfrentamento da tese aqui desenvolvida, demonstrando a atualidade e relevância do tema e a existência da celeuma entre o previsto na CF/88 e algumas das disposições do Código de Trânsito Brasileiro, justificando o debate.
A pesquisa desenvolvida procura demonstrar que o sistema processual-punitivo do atual Código de Trânsito Brasileiro, apesar de já prever o acesso à justiça ao jurisdicionado na área de trânsito, pode violar o direito fundamental à locomoção, se não for permitido ao condutor prejudicado indicar o real infrator da imputação que lhe pesa, ao serem aplicadas apenas as disposições do CTB, sem observar os direitos fundamentais do cidadão previstos na CF/88.
Assim, ao ser confrontada à violação ou não do direito fundamental à locomoção, em especial quanto à persecução pura e simples da penalidade de suspensão da CNH, surge a discussão em comento, onde são apresentadas críticas e argumentos que demonstram a necessidade de se alinhar o debate ao contido na Carta Régia, e ao chamamento dos Órgãos Públicos de Trânsito, para que possam conciliar quando permitido.
CAPÍTULO 2 - EVOLUÇÃO HISTÓRICA SOBRE O TRANSITAR DA HUMANIDADE
O SER HUMANO DESLOCA-SE
, por necessidade, por curiosidade, para defender-se, para alimentar-se, para buscar novos lugares, dentre tantas outras situações, conquistando o que as descobertas e os locais explorados lhe oportunizam. Sendo que, com o desenvolvimento dos grupos sociais, houve a necessidade de pacificação e a ordenação social dos conflitos que surgiram advindos da vida em comunidade e quando do deslocamento dos transeuntes.
Nos clãs e grupos formados, nas cidades e nos Estados constituídos, seja no velho mundo ou nos locais além-mar, explorados e denominados de novo mundo, ocorreu o processo de organização da vida em sociedade, passando a constar com órgãos julgadores, para pacificar a vida social, resolvendo os conflitos que surgissem.
Neste processo de organização estrutural de cada um dos Estados modernos, em dado momento de suas histórias, aparecem as Constituições escritas, com o propósito de estabelecer regras a serem seguidas pelas instituições e seus governantes, dando valia à limitação de poder aos órgãos constituídos¹.
Assim, passa-se a falar em constitucionalismo, como uma doutrina política que elevou o conceito jurídico de Constituição, relacionando esta, à institucionalização do Estado moderno na condição de lei suprema a ser seguida pelo administrador público, passando o cidadão a ter a segurança do estado democrático de direito².
Neste seguir, será abordada a evolução na legislação de trânsito ocorrida em alguns Estados, passando pela antiguidade até os tempos atuais, abordando a internacionalização do trânsito, o trânsito na região do Mercosul e as legislações que vigeram no Brasil, permitindo um panorama do vivenciado em relação a tal temática.
2.1 O TRÂNSITO NA ANTIGUIDADE
O deslocar de pessoas e coisas entre as mais diversas regiões remete à própria origem do homem, sendo que o aglomerado de pessoas e a necessidade destas transportarem o necessário para sua sobrevivência e a exploração e instalação em novos locais ocorreu durante toda a antiguidade, vez que não se limitavam às fronteiras existentes³.
Observa-se que as regras costumeiras ou legisladas para o uso das vias de deslocamento foram surgindo entre os povoados existentes (urbanas e rurais), as quais serviam para a locomoção de alimentos, vestimentas, soldados, meios de defesa, além dos que utilizavam das vias, como pedestres ou veículos movidos a tração humana ou animal.
No Egito, há cerca de 4000 a.C., já havia a preocupação por parte dos faraós, em face das grandes distâncias entre os diversos povoados, considerando que a precariedade dos caminhos e estradas dificultava a comunicação e o deslocamento das pessoas entre as diversas regiões.
Neste sentido:
A centralização faraônica era enfraquecida pelas distâncias, agravadas pela falta de estradas e de meios rápidos de comunicação. As inundações anuais do rio Nilo impediam a construção de vias e o cavalo foi sempre animal de luxo. Restavam os mensageiros, pedestres e a navegação por rio e canais⁴.
Na antiguidade, um dos maiores avanços no transporte terrestre ocorreu com a invenção da roda, oriunda do rolete utilizado pelo povo que viveu na Mesopotâmia por volta de 3.000 a.C., cujos primeiros carros possuíam rodas sólidas e pesadas, ocorrendo seu aperfeiçoamento com a introdução de eixo e raias permitindo maior velocidade às carruagens existentes⁵.
Há relatos, ainda, que os fenícios, vindos da Mesopotâmia, teriam atingido o Mediterrâneo desde 2.400 a.C., sendo que as estradas existentes faziam a comunicação com o Oriente próximo, por onde deslocavam escravos, metais preciosos, marfim, especiarias, perfumes e púrpura⁶.
As viagens de negócios e o transporte de mercadorias já eram previstas no §2º do Código de Hamurabi, que reinou entre 1792 a 1750 a.C., onde haviam diversas cidades-reinos, com estradas precárias que ligavam os povoados existentes⁷.
Observa-se, assim, que a criação e o desenvolvimento do trânsito advieram da necessidade do deslocamento de pessoas e objetos, que se dava a pé, ou por meio de protótipos da atual carroça movida por animais ou pessoas, enquanto o regramento referente aos condutores dos veículos de propulsão animal ou humana ocorreu com o uso das vias de trânsito e, posteriormente, com o advento do automóvel, já na idade contemporânea.
Entretanto, na Grécia, desde o período arcaico (século VIII a.C. até 480 a.C.) havia punição ao que era considerada transgressão cível ou penal, em especial pelo fato que a punição inibia os que pretendiam transgredir, mantendo a paz social, sendo que as punições de regra, recaiam sobre a pessoa ou o patrimônio.
Acerca do enunciado, José Reinaldo de Lima Lopes:
O medo da impunidade era enorme. Uma pequena ofensa não punida poderia desarranjar toda a cidade, gerando vingança etc. assim, as penas eram muitas vezes desproporcionais aos crimes, para os nossos padrões. As penas eram em geral: castigos, multas, feridas, mutilações, morte e exílio⁸.
No direito romano, cujo Império iniciou-se em 753 a.C. e estendeu-se até 565 da era Cristã, haviam regras sobre servidões rústicas, destinadas a passagens e o transporte de pessoas e animais de um local a outro, entre elas: a passagem, que servia para o deslocamento a pé, com cavalos ou liteiras; era previsto também o caminho, o qual propiciava o deslocamento em propriedades alheias, conduzindo rebanhos ou liteiras; bem como, previa a existência de estradas, que ligavam uma localidade a outra, abrangendo a passagem e o caminho⁹.
A legislação Romana foi pioneira em estabelecer regras de deslocamento num sentido geral, contendo normas e regras jurídicas que vigoraram e foram sendo mudadas durante um período de 12 séculos, desde a fundação da cidade, em 753 a.C, até a morte do imperador Justiniano, em 565 depois de Cristo ou para outros, com o final em 1453, com a queda do Império Bizantino, depois que os turcos invadiram e tomaram Constantinopla¹⁰.
Destaca-se, ainda, que no Império Romano, a engenharia existente criou um sistema de estradas com cerca de cem mil quilômetros de extensão, o qual era utilizado para o deslocamento das tropas e ligação com as diversas regiões de contato do referido Império¹¹.
Anote-se também, que no período romano, em relação aos crimes, a Lei das XII Tábuas disciplinava as penas ao que era considerado crime, cujas reprimendas recaiam sobre as pessoas (penas cruéis), em especial, eram aplicadas aos plebeus, e que serviram como fonte ao direito que se seguiu aos diversos países¹².
Pela abordagem histórica relatada, permite-se entender que o trânsito vivenciado em outras épocas se desenvolveu entre as civilizações de acordo com suas necessidades de deslocamento de pessoas, objetos, animais, defesas de territórios, entre outros anseios, permitindo o surgimento de regras e punições aplicadas aos que não se adequavam aos meios de deslocamento então vividos.
2.2 O TRÂNSITO NA IDADE MÉDIA E MODERNA
Com o declínio do Império Romano do Ocidente e o advento da Idade Média, consequentemente, houve a deterioração das vias de deslocamento existentes na Europa que, durante o Império Romano, foram criadas e recebiam cuidados constantes, para a manutenção e segurança dos que por ela se deslocavam¹³.
É certo que o agrupamento de pessoas, durante as sociedades arcaicas e feudais, na Europa nos séculos XI e XII, formando cidades, contribuíram para a existência de um sistema rudimentar de trânsito entre estes povoados, pois havia a necessidade de se transportarem gêneros alimentícios abundantes de uma região para outra, forçando a existência de vias de deslocamento nos povoados e caminhos rurais que ligavam as vilas¹⁴.
O direito romano-germânico difundiu-se por boa parte do mundo, ultrapassando as fronteiras do antigo Império Romano, exercendo influência sobre toda a América Latina, uma boa parte da África, países do Oriente próximo, Japão e Indonésia; o que ocorreu em face da colonização ocorrida; que direcionaram aos povos colonizados à técnica da codificação utilizada pelos romanos, no século XIX¹⁵.
Essas codificações eram direcionadas às áreas cível, comercial e penal, que foram sendo implantadas nos diversos países em formação, contendo regras de conduta nas cidades existentes, em especial, quanto à estruturação das vias de deslocamento, criadas inicialmente pelos reis, aos comerciantes e aos que utilizavam dos espaços públicos para se deslocarem e que, posteriormente, foram sedimentadas por meio das legislações editadas que passaram a serem utilizadas doravante.
Neste sentido:
Mesmo as grandes cidades fizeram leis. Sem, no entanto, gozarem de uma completa autonomia, numerosas cidades foram suficientemente independentes e possantes para adquirir o direito de impor aos seus habitantes normas de direito por via autoritária.
É em cerca de 1150-1200 que aparecem as ordonannances¹⁶ reais, senhoriais e urbanas. Encontram-se, por vezes, sinais de uma certa atividade legislativa no decurso dos séculos anteriores, em pleno período feudal¹⁷.
O advento do direito canônico influenciou tanto as instituições e a cultura jurídica, em especial quanto ao procedimento inquisitorial e conceito de jurisdição, sendo aquela, utilizada pelos Estados até hoje, também na área de trânsito, quanto à perseguição e punição por parte do Ente Público aos que descumpriam as regras impostas naquela época¹⁸.
Durante a Idade Média, o trânsito europeu perdeu de certa forma, sua importância, pois o comércio terrestre ficara diminuto em face das explorações marítimas a outras partes do mundo; sendo que cada vilarejo ou cidade cuidava de seus interesses, não dependendo do transporte de mercadorias pelas vias terrestres, diminuindo a relevância das estradas e caminhos.
Este momento histórico fica evidente, nas palavras de Candice Goucher e Linda Walton:
Um importante desenvolvimento na história das migrações foi a globalização do trabalho forçado após 1500 d.C. O comércio de criminosos e escravos seguiu a maioria das rotas mundiais de longa distância conhecidas pela história, já que a maioria dos outros bens podia ser convertida no valor de prisioneiros, de escravos ou de seu trabalho, que viajavam por terras interiores e rotas de comércio nas Américas e África¹⁹.
No final do século XVII, a rede viária
da Europa se resumia em trilhos abandonados. Os mercadores carregavam suas mercadorias em burrinhos, os nobres viajavam a cavalo, os velhos e as mulheres iam de palanquim, sustentados por mãos humanas ou por animais²⁰.
Posteriormente, foi criada na França em 1747, a École Nationale des Ponts et Chaussées (Escola Nacional de Pontes e Estradas), que passou a formar engenheiros que contribuíram para a retomada do desenvolvimento das estradas pavimentadas, drenagem de solo e pontes por toda a região²¹.
Em 1863, o primeiro metrô passou a funcionar em Londres, auxiliando o transporte de pessoas e mercadorias, diminuindo o fluxo de pessoas nas vias públicas, o qual era bastante assemelhado ao trem.
Observa-se que as regras de conduta aplicáveis aos usuários do trânsito e eventuais punições aos que transgredissem as normas de conduta, destinavam-se em especial aos pedestres, cavaleiros e condutores de veículos de propulsão animal (carruagens), para que não obstruíssem sua livre circulação nas vias de trânsito existentes.
Assim, a ideia da imposição à coletividade de regras sociais de convívio, perpassa por outras épocas, abrangendo o convívio no trânsito, sendo que tal sistemática continua em pleno vigor, para que possa a coletividade conviver pacificamente de acordo com as convenções ou legislações estabelecidas pelos dirigentes,²² inclusive na área de trânsito, para que haja um equilíbrio por parte de seus usuários, permitindo o uso racional das vias públicas e o comportar-se adequado por parte dos condutores.
2.3 O TRÂNSITO NA ATUALIDADE
O direito das pessoas de ir, vir e estar, na busca por novos espaços em locais e regiões, deve ser feito com respeito aos demais cidadãos que queiram se deslocar para outras direções, o que denota o significado da palavra trânsito na atualidade, o qual ultrapassou as relações homem versus deslocamento em uma dada localidade, necessitando de regras de condutas e sanções advindas do poder público, que contemplem soluções às eventuais transgressões normativas instituídas.
Na passagem da idade moderna para a contemporânea, o trânsito deixou de ser abordado somente como algo do antigo continente, pois, com as grandes navegações iniciadas no século XIV, a busca de novos mundos conduziu o homem a deslocar-se por novas veredas, inserindo nelas sua cultura e conhecimentos trazidos dos países colonizadores que influenciaram também o trânsito nos novos locais.
Sobre o tema, colaciona-se os dizeres de Juciara Rodrigues:
Neste sentido, pensar o trânsito como um fenômeno dos tempos modernos ou, ainda, associá-lo unicamente a problemas da atualidade – congestionamentos, acidentes, estresse – é um ledo engano. Este enfoque reducionista ignora e esvazia toda a história de pessoas que desafiaram o desconhecido, venceram distâncias, trilharam caminhos, conquistaram espaços: transitando sempre, incansavelmente²³.
Na transição de eras ocorrida, destacam-se como preponderantes para o desenvolvimento da área do trânsito: a Revolução Industrial, ocorrida entre 1760 e 1830; a Revolução Francesa, ocorrida em 1789; as transformações dos meios de transporte terrestres, com advento do trem, a criação do motor à combustão, a criação do automóvel; a industrialização; o desenvolvimento do comércio internacional; o crescimento demográfico; a melhoria das vias rodoviárias; e o implemento de legislações de trânsito em diversos países, o que ocorreu, pois o gênero humano pereceria, se não modificasse sua maneira de ser²⁴.
Assim, ao falar em trânsito na atualidade, deve-se ter a visão do trânsito como um todo, destacando-se, o terrestre, vez que o homem ultrapassou as rudimentares formas de deslocamento e transporte (que ocorria a pé ou por veículos de propulsão animal ou humana) passando a ser feito por ferrovias com o advento da máquina a vapor e por rodovias pavimentadas, em especial com o advento dos automóveis com a chegada do motor à combustão.
A indústria automobilística do século XX massificou a produção do automóvel, permitindo o deslocamento mais rápido de pessoas e mercadorias mundo afora, trazendo consigo diversos reflexos desta evolução, como os acidentes de trânsito, com mortos e enfermos com sequelas, condutores infratores, entre outros, e fazendo-se necessário que a legislação de trânsito se adaptasse às novas realidades que surgiam do uso dos novos meios de transporte e das transgressões que foram se verificando.
De acordo com Wilson Melo da Silva:
E quanto mais o tempo passa, mais se multiplicam os veículos automotores, notadamente os diferentes tipos de automóveis, numa progressão indefinida, a cada dia que flui, pelos aprimoramentos da técnica e do desenvolvimento econômico que lhe seguem parelhos.
De estranhar-se não é, por isso mesmo, que um direito novo