Alfabetização: caminhos para a aprendizagem
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(Ficha catalográfica elaborada por Hermenérico Siqueira de Morais Netto — CRB 7370)
Alfabetização: caminhos para a aprendizagem/ Organização Afonso Ligório et al. — Engenheiro Coelho: Unaspress, 2021.
Epub.
ISBN 978-65-89185-59-8
1. Alfabetização. 2. Leitura e escrita. I Título.
CDD 372.4
OP 00228
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Sumário
apresentação
prefácio
parte 1 – leitura e escrita: práticas para aquisição
leitura e escrita: estratégias autorregulatórias, modelos de aquisição e novas tecnologias na educação
alfabetizar letrando: uma possibilidade de aprendizagem ativa
metodologias ativas em contextos de aprendizagem
habilidades metalinguísticas, práticas de ensino e alfabetização
parte 2 – a alfabetização ao longo dos anos escolares
letramentos e alfabetização: revisitando os escritos da autora Ellen G. White
a construção da leitura e da escrita sob o enfoque vygotskyano
alfabetização e aquisição de linguagem: reflexões para a formação de professores
a influência da literatura infantojuvenil no processo de letramento
problematização no ensino de matemática: educação infantil e anos iniciais do fundamental
sobre os autores e organizadores
Dominar de forma competente a linguagem escrita é um dos princípios fundamentais para o exercício da cidadania e para o pleno desenvolvimento cognitivo, acadêmico e profissional. Entretanto, no Brasil, os índices de alunos com desempenho aquém do esperado em leitura e escrita ainda é grande.
Nesse contexto, apresentamos a presente obra intitulada Alfabetização: caminhos para a aprendizagem. O livro se apresenta em duas partes. Na primeira, são abordados os processos de aquisição e escrita. Os quatro capítulos dessa parte abordam as contribuições da psicologia cognitiva e outros referenciais teóricos para a formação de professores.
Na segunda parte do livro, são discutidas questões relacionadas às práticas de ensino ao longo dos anos escolares e ao desenvolvimento de habilidades necessárias para a leitura e a escrita competentes. São apresentados conceitos como a aprendizagem ativa e metodologias ativas, modelos de aquisição da linguagem escrita, habilidades metalinguísticas, estratégias de autorregulação e tecnologias na educação.
Dessa forma, a obra atende a uma demanda importante dos profissionais da educação e áreas afins ao abordar conceitos teóricos e práticos, relevantes para a alfabetização de nossos alunos e para a aprendizagem eficaz.
Esperamos que você tenha uma excelente leitura.
A alfabetização e a leitura são duas condições importantes na formação de todo cidadão; como duas faces da mesma moeda, precisam ser significativas para o aprendiz na construção de sentidos do mundo que o cerca. A sociedade contemporânea está carregada de fala, escrita de letras, números e símbolos. Há pouco mais de um século, era impossível ouvir a mesma voz duas vezes, a não ser que o emissor falasse de novo. A tecnologia do presente século permitiu que a gravação da fala e da escrita some às novas falas e escritas de modo infinito. Pela primeira vez na história humana, texto e fala são elaborados e postos em circulação quase que instantânea e simultaneamente. E já não se apagam.
Como a sociedade se torna cada vez mais urbana, sua rotina exige que o cidadão, simples ou sofisticado, tenha competências para ler, escrever, digitar, digitalizar, fotografar, filmar e falar constantemente. A todo momento, a pessoa é convocada a ler placas, rótulos, mensagens e a escrever e falar em seu telefone, por exemplo. Não é exagero afirmar que estamos no futuro há muito anunciado no século passado. O indivíduo precisa decodificar os signos que circulam desde o interior de sua moradia até as feiras livres e a internet para sobreviver.
Os iletrados sempre são penalizados mais do que os alfabetizados. A pandemia trouxe à tona os invisíveis, aqueles que estavam desprovidos até de registros civis, analfabetos que, por isso mesmo, ficaram impossibilitados, num primeiro momento, de receber ajuda emergencial do poder público; os iletrados sofreram para receber os benefícios. O acesso ao conhecimento e aos bens de consumo na contemporaneidade está estreitamente relacionado à alfabetização e à leitura. Esse aprendizado precisa ser significativo a fim de que a transposição do som para a representação gráfica faça sentido desde a primeira letra, quando a criança inicia o caminho da alfabetização, até o momento em que o leitor necessite interpretar o mundo para além da decodificação das primeiras palavras, frases e texto.
Os métodos de alfabetização e letramento precisam ser atualizados, consistentes e suportados teoricamente. Quando destacamos a palavra métodos
no plural, entendemos que a complexidade da mente da criança exige que o professor conheça mais de um método de alfabetização, ainda que seja para descartar um e adotar outro, de modo a favorecer a consciência fonêmica do aluno.
Nesse sentido, este livro começa com os fundamentos da aquisição de leitura e escrita. As letras e a leitura constituem também a identidade da pessoa. Os sons das letras e os sentidos dos textos são entendidos pelo iniciante no letramento à medida que a abstração dos fonemas e das palavras se relacionam com a realidade do aprendiz. O método de letramento para crianças a partir da oralidade é um desafio, mas o resultado é promissor, como demonstra esta primeira parte do livro.
Os capítulos da segunda parte do livro se ocupam das práticas de ensino e desenvolvimento de habilidades ao longo dos anos escolares. Os autores mostram a relevância da metodologia ativa na alfabetização e no letramento, tendo o aluno como protagonista. O que significa e como fazer para adotar a metodologia ativa na faixa etária infantil? Existem boas estratégias que garantem a apreensão dos saberes pelos alunos, bem como estratégias de constatação a fim de acompanhar a qualidade do domínio dos alunos no processo, como demonstram os autores. O alunado, geralmente, ainda que tímido, chega à escola com algum grau de protagonismo em casa e nas atividades da família. As atividades de leitura e escrita em sala de aula devem canalizar tal protagonismo ao aprendizado e corresponder às necessidades das práticas sociais por meio de estratégias de aprendizagem.
Esta segunda seção do livro também traz a ideia de que a inserção das cognições desenvolve no estudante sua autoconsciência e a sua autorregulação, tornando-o capaz de monitorar os próprios comportamentos, pensamentos, processo de codificação, memorização e resgate das informações recebidas. Como o estudante se torna ativo sem orientação para dominar a técnica do próprio aprendizado? Os autores demonstram ser indispensável, no processo de aprendizagem da leitura e da escrita, a criança manipular diretamente as unidades linguísticas (palavras, sílabas, fonemas), segmentando palavras, passando pelas sílabas até chegar ao nível dos fonemas e, progressivamente, à leitura do texto. No que diz respeito ao processo de alfabetização, essas estratégias se referem à própria tarefa de aprender a ler e a escrever. É importante destacar que a prática da metodologia ativa passa pelas teorias e abordagens pedagógicas que a fundamenta, por isso elas são apresentadas nesta parte do livro a fim de que o professor dê passos seguros no uso dessa importante metodologia.
O livro aborda duas experiências que se somam à do capítulo 2: literatura e matemática. A literatura é a arte da palavra. Se a palavra traz em si a aura simbólica para o aprendiz, para a criança que ingressa no processo de alfabetização, a literatura avança em grau maior no simbólico. O desafio aumenta na formação do leitor de literatura, mas o resultado é prazeroso, pois o aluno amplia sua capacidade de interpretar o texto, a si mesmo e o mundo. E a matemática, que parece ser inerrante, vem no final do livro como uma advertência ao esquecimento que adotamos quando analisamos a alfabetização e o letramento. No entanto, basta observar quanto de interpretação é necessária na leitura e solução de uma situação-problema. O leitor terá uma experiência enriquecedora com a matemática apresentada ao final do livro.
O que estamos querendo destacar neste prefácio é o equilíbrio que os autores apresentam entre a alfabetização ou letramento e o significado para a criança no momento de seu aprendizado. Nós falamos, escrevemos e lemos por necessidade, mas também para termos prazer e sentido na vida. Ainda que a escola trabalhe com a técnica, sendo, portanto, artificial no conhecimento que ensina (por exemplo, uma carta feita na aula de português e um cálculo na de matemática são exercícios, e não a realidade), é possível alfabetizar com significado, como demonstram os autores desta obra. Eles apresentam caminhos para uma alfabetização eficaz.
Pesquisas realizadas por psicólogos cognitivistas a partir da década de 1980 demonstraram que o processo de ensino e aprendizagem não pode ser compreendido como resultado exclusivo da estimulação do meio externo, mas como consequência, também, dos processos e das estratégias usadas pelo próprio aprendiz para responder a essas estimulações. Esses estudos romperam com os moldes tradicionais ao defenderem a ideia de que a inserção das cognições como mediadoras do comportamento desenvolve no estudante sua autoconsciência e a sua autorregulação, tornando-o capaz de monitorar seus próprios comportamentos e pensamentos.
Ser um aprendiz estratégico implica em dominar as técnicas necessárias ao empreendimento das estratégias, as quais se referem não somente ao comportamento, mas também aos pensamentos desenvolvidos pelo aprendiz durante seu processo de codificação, memorização, processamento e resgate das informações recebidas. As estratégias de aprendizagem são fundamentais ao processamento da informação, já que são as ferramentas utilizadas pelo educando para lidar com as informações visando a melhor forma de processá-las, armazená-las e recuperá-las quando necessário. Vários estudos têm demonstrado sua relevância e a necessidade do papel ativo do estudante (GAGNÉ, 1985; MAYER, 1985; DEMBO, 1991; BORUCHOVITCH, 2007; BORUCHOVITCH; MERCURI, 1999; POZO; MONEREO; CASTELLÓ, 2004; PERRAUDEAU, 2009). No que diz respeito ao processo de alfabetização, essas estratégias se referem à própria tarefa de aprender a ler e a escrever.
A leitura é uma habilidade complexa que envolve capacidade de reconhecimento de palavras, habilidade de fluência e compreensão de um código de linguagem. No sistema de ensino formal, a proficiência em leitura exige conexão entre diversas habilidades cognitivas, como atenção voluntária, memória de curto prazo, utilização de conhecimentos prévios, associação e comparação de ideias e acontecimentos dos textos, distinção entre realidade e ficção, construção de inferências, compreensão de pressupostos, controle de velocidade, entre outros (AARON et al., 2008; JOSHI; AARON, 2012; OAKHILL et al., 2017).
A avaliação dos problemas relativos à aquisição e ao aperfeiçoamento dessas habilidades é uma tarefa diária e complexa para os educadores; por isso mesmo, observam-se, nos últimos anos, programas e ações voltadas à educação básica com a finalidade de melhorar a qualidade da alfabetização no Brasil (BRASIL, 2019) e pesquisas interventivas indicando a necessidade de novas propostas de intervenção por conta do surgimento de novos ambientes educacionais.
Assim, neste capítulo, propõe-se uma discussão inicialmente acerca dos processos de autorregulação e estratégias autorregulatórias; em seguida, é apresentado o conceito de leitura e é proposta uma discussão sobre instruções de alfabetização; e, finalmente, é feita uma relação com a integração e a mediação das tecnologias na educação, suas representações, seus significados e seus ressignificados antes, durante e, possivelmente, pós-crise causada pela covid-19, apontando possibilidades de intervenções em diferentes ambientes virtuais de aprendizagem (AVAs) e possíveis integrações das tecnologias aos diversos componentes da alfabetização. Tal tema é essencial e atual, visto que a crise do coronavírus proporcionou uma reflexão acerca das vantagens pedagógicas de plataformas digitais, redes socais, aplicativos de videoconferência etc., além de acelerar as discussões acerca da integração dos elementos hardware, software, aluno, professor e conteúdo.
estratégias autorregulatórias de aprendizagem
Como cita Santrock (2010), o interesse crescente no modelo de ensino e planejamento de aulas mais centrados no estudante resultou em um conjunto de diretrizes chamadas de princípios psicológicos centrados no aluno: uma estruturação para a reforma e a reestruturação da escola (os documentos originais são: Presidential Task Force on Psychology and in Education, 1992; Work Group of the American Psychological Association Board of Education Affairs, 1995, 1997).
Esses princípios psicológicos estão sendo cada vez mais adotados no contexto escolar, considerando que o foco do ensino precisa estar centrado também e, principalmente, no estudante. São descritos 14 princípios que podem ser classificados em termos de quatro fatores: cognitivos e metacognitivos; motivacionais e emocionais, desenvolvimentais e sociais e diferenças individuais
(SANTROCK, 2010, p. 423).
No que diz respeito aos fatores cognitivos e metacognitivos, discutem-se as possibilidades de se criar, no ambiente acadêmico, intervenções em estratégias de aprendizagem para mobilizar os estudantes a serem agentes da própria aprendizagem, tais como: estabelecimento de metas, gerenciamento do tempo, busca de informações e autoavaliação. Zimmerman e Schunk (2001) nomeiam essas propostas de intervenção como estratégias autorregulatórias de aprendizagem. A aprendizagem autorreguladora incide na autoavaliação e no automonitoramento a fim de atingir determinado objetivo. Esses objetivos podem ser acadêmicos, tais como: melhorar a interpretação em leitura, escrever de maneira mais organizada, fazer perguntas relevantes, entre outras, ou podem ser socioemocionais, por exemplo: controlar a raiva, relacionar-se melhor com os colegas, entre outras (SANTROCK, 2010).
Estratégias de aprendizagem são sequências de procedimentos ou atividades que os indivíduos usam para adquirir, armazenar e utilizar a informação (DEMBO, 1994; POZO, 1996; BORUCHOVITCH; MERCURI, 1999). As estratégias de aprendizagem podem ser classificadas como cognitivas, metacognitivas, primárias ou de apoio. As cognitivas ou primárias estão mais direcionadas a ajudar o estudante a organizar, elaborar e integrar a informação. Já as metacognitivas ou de apoio estão mais orientadas para o planejamento, monitoramento, regulação do próprio pensamento e manutenção de um estado interno satisfatório à aprendizagem do indivíduo (BORUCHOVITCH, 2001).
De acordo com Silva e Sá (1997), os estudos relacionados às estratégias de aprendizagem foram ampliados com o surgimento do conceito de metacognição. O termo metacognição foi empregado pela primeira vez por Flavell (1976) e se refere à consciência e ao controle dos próprios processos de pensamento (McCOMBS, 1993). Para Pozo (1996), o conhecimento metacognitivo é necessário para a regulação do pensamento e da aprendizagem. As habilidades metacognitivas básicas envolvem o planejamento, o monitoramento, a avaliação e a regulação das próprias atividades de aprendizagem e do processamento da informação.
Randi e Corno (2000) propõem algumas estratégias aos professores para orientar os estudantes a se envolverem em aprendizagem de autorregulação: 1) orientar os estudantes gradualmente sobre como autorregular seu aprendizado; 2) tornar a experiência de aprendizagem desafiadora e interessante para os estudantes; 3) dar dicas sobre pensamentos e ações que ajudarão os estudantes a praticar a autorregulação; 4) definir os objetivos dos conteúdos de cada aula e apresentar aos alunos; planejar, com os