Direito Notarial e Registral - Volume 02: Questões atuais e controvertidas
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Sobre este e-book
Notarial e Registral: questões atuais e controvertidas, produzido pelos alunos dos
Grupos de Pesquisa Científica da ENNOR – Escola Nacional dos Notários e
Registradores! Neste livro, o leitor encontrará reflexões úteis, interessantes e
vanguardistas sobre vários temas que envolvem os serviços notariais e de registro no
Brasil.
Assunto bastante relevante que perpassa os diversos artigos diz respeito à
contribuição dos serviços extrajudiciais nos arranjos institucionais de políticas
públicas para a simplificação de procedimentos que não envolvam conflito de
interesses. Em tais casos, a promoção da desjudicialização é tendência que vem sendo
prestigiada, cada vez mais, pelo legislador, como opção ao cidadão para o célere e
adequado acesso à Justiça.
Com efeito, para situações em que não haja lide, podem ser chamados notários
e registradores (profissionais do direito, altamente qualificados, dotados de fé pública)
para a estabilização do meio de prova e a cristalização de acordos livremente
pactuados, garantindo segurança jurídica e paz.
Com fortes argumentos, artigos sustentam a validade e a eficácia de, por
escritura pública (sem a necessidade de autorização ou homologação judicial!), serem
promovidos inventários e partilhas de bens mesmo envolvendo menores e incapazes,
bem como ser instrumentalizada a alteração de regime de bens em casamentos e
uniões estáveis.
(...)
Aos autores dos artigos, aos coordenadores dos grupos de pesquisa e aos
organizadores da presente obra, expresso veementes congratulações pela excelência
dos trabalhos, pelo engajamento acadêmico e pela generosa contribuição ao
desenvolvimento do Direito Notarial e Registral brasileiro! Aos felizardos leitores,
parabenizo pela aquisição deste brilhante livro, desejando profícuos estudos e
agradáveis momentos de reflexão!"
Trecho da apresentação de Hercules Alexandre da Costa Benício
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Direito Notarial e Registral - Volume 02 - Ana Carolina Rinco
Dados Internacionais de Catalogação na Publicação (CIP) de acordo com ISBD
D598
Direito notarial e registral [recurso eletrônico] : questões atuais e controvertidas / Ana Carolina Rinco ... [et al.] ; organizado por Fernanda de Almeida Abud Castro, Ariádina dos Santos de Souza ; coordenado por Carlos Fernando Brasil Chaves ... [et al.]. - Indaiatuba, SP : Editora Foco, 2023.
304 p. ; ePUB. – (v.2)
Inclui bibliografia e índice.
ISBN: 978-65-5515-812-0 (Ebook)
1. Direito. 2. Direito notarial e registral. I. Rinco, Ana Carolina. II. Cirilo, Anderson Garcia. III. Paula, Andréa Cristina Sapi de. IV. Scheid, Cintia Maria. V. Dutra, Elder Gomes. VI. Coimbra, Ingrid Rufino. VII. Paulino, João Henrique. VIII. Cavalcanti, João Victor De Almeida. IX. Arruda, Larissa Aguida Vilela Pereira de. X. Peres, Lucas da Silva. XI. Martha, Luciana Vila. XII. Souza, Mariane Paes Gonçalves de. XIII. Toledo, Renan Franco de. XIV. Teixeira, Ricardo Santiago. XV. Martins, Robson. XVI. Viana, Rui Gustavo Camargo. XVII. Castro, Fernanda de Almeida Abud. XVIII. Souza, Ariádina dos Santos de. XIX. Chaves, Carlos Fernando Brasil. XX. Cassettari, Christiano. XXI. Santos, Reinaldo Velloso dos. XXII. Jacopetti, Ivan. XXIII. Título.
2023-1749
CDD 341.411
CDU 347.961
Elaborado por Vagner Rodolfo da Silva - CRB-8/9410
Índices para Catálogo Sistemático:
1. Direito notarial e registral 341.411
2. Direito notarial e registral 347.961
rosto2022 © Editora Foco
Coordenadores: Carlos Brasil, Christiano Cassettari, Ivan Jacopetti e Reinaldo Velloso
Organizadoras: Fernanda de Almeida Abud Castro e Ariádina dos Santos de Souza
Autores: Ana Carolina Rinco, Anderson Garcia Cirilo, Andréa Cristina Sapi de Paula, Cintia Maria Scheid, Elder Gomes Dutra, Ingrid Rufino Coimbra, João Henrique Paulino, João Victor De Almeida Cavalcanti, Larissa Aguida Vilela Pereira de Arruda, Lucas da Silva Peres, Luciana Vila Martha, Mariane Paes Gonçalves de Souza, Renan Franco de Toledo, Ricardo Santiago Teixeira, Robson Martins e Rui Gustavo Camargo Viana
Diretor Acadêmico: Leonardo Pereira
Editor: Roberta Densa
Assistente Editorial: Paula Morishita
Revisora Sênior: Georgia Renata Dias
Capa Criação: Leonardo Hermano
Diagramação: Ladislau Lima e Aparecida Lima
Produção ePub: Booknando
DIREITOS AUTORAIS: É proibida a reprodução parcial ou total desta publicação, por qualquer forma ou meio, sem a prévia autorização da Editora FOCO, com exceção do teor das questões de concursos públicos que, por serem atos oficiais, não são protegidas como Direitos Autorais, na forma do Artigo 8º, IV, da Lei 9.610/1998. Referida vedação se estende às características gráficas da obra e sua editoração. A punição para a violação dos Direitos Autorais é crime previsto no Artigo 184 do Código Penal e as sanções civis às violações dos Direitos Autorais estão previstas nos Artigos 101 a 110 da Lei 9.610/1998. Os comentários das questões são de responsabilidade dos autores.
NOTAS DA EDITORA:
Atualizações e erratas: A presente obra é vendida como está, atualizada até a data do seu fechamento, informação que consta na página II do livro. Havendo a publicação de legislação de suma relevância, a editora, de forma discricionária, se empenhará em disponibilizar atualização futura.
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Data de Fechamento (07.2023)
2022
Todos os direitos reservados à
Editora Foco Jurídico Ltda.
Avenida Itororó, 348 – Sala 05 – Cidade Nova
CEP 13334-050 – Indaiatuba – SP
E-mail: [email protected]
www.editorafoco.com.br
Sumário
Capa
Ficha catalográfica
Folha de rosto
Créditos
PREFÁCIO
Alberto Gentil de Almeida Pedroso
APRESENTAÇÃO
Hercules Alexandre da Costa Benício
INTRODUÇÃO
Fernanda de Almeida Abud Castro
PALAVRAS DO PRESIDENTE
Fernanda de Almeida Abud Castro
TABELIONATO DE NOTAS
A DESJUDICIALIZAÇÃO E A PARTICIPAÇÃO DOS CARTÓRIOS EXTRAJUDICIAIS NOS ARRANJOS INSTITUCIONAIS
Andréa Cristina Sapi de Paula
O PREENCHIMENTO QUALITATIVO DA LEGÍTIMA: O USO DO TESTAMENTO E DA PARTILHA EM VIDA COMO INSTRUMENTOS NOTARIAIS DE PLANEJAMENTO SUCESSÓRIO
Elder Gomes Dutra
O ACESSO PELOS ESTRANGEIROS E BRASILEIROS RESIDENTES FORA DO PAÍS AO E-NOTARIADO E AS REGRAS DE COMPETÊNCIA
Ingrid Rufino Coimbra
O INVENTÁRIO E PARTILHA DE BENS ENVOLVENDO MENORES E INCAPAZES PELA VIA EXTRAJUDICIAL
João Henrique Paulino
ALTERAÇÃO DO REGIME DE BENS DIRETAMENTE NO TABELIONATO DE NOTAS E A PRESCINDIBILIDADE DE AUTORIZAÇÃO JUDICIAL
Renan Franco de Toledo
O TABELIÃO DE NOTAS E O REGISTRO CÉLERE DA REURB AOS IDOSOS: DIREITO FUNDAMENTAL DE RESGATE DA DIGNIDADE DA PESSOA HUMANA
Robson Martins
REGISTRO CIVIL DE PESSOAS NATURAIS
A ESCOLHA DO PRENOME DAS PESSOAS TRANSGÊNERAS
Ana Carolina Rinco
O IMPACTO DA CAPACIDADE CIVIL DO DECLARANTE DO ÓBITO PARA A REALIZAÇÃO DO REGISTRO
João Victor de Almeida Cavalcanti
A NATUREZA JURÍDICA DO ÓBITO E SUA REPERCUSSÃO NO TABELIONATO DE NOTAS E NO REGISTRO DE IMÓVEIS
Larissa Aguida Vilela Pereira de Arruda
POSSIBILIDADE DO REGISTRO DE ÓBITO TARDIO DIRETAMENTE NO REGISTRO CIVIL DAS PESSOAS NATURAIS
Luciana Vila Martha
A FORMALIZAÇÃO DA MORTE PRESUMIDA: SUA INSTRUMENTALIZAÇÃO E INGRESSO NO REGISTRO CIVIL DAS PESSOAS NATURAIS
Mariane Paes Gonçalves de Souza
AS HIPÓTESES DE RETIFICAÇÃO EXTRAJUDICIAL DO REGISTRO DE ÓBITO E SEUS IMPACTOS
Ricardo Santiago Teixeira
REGISTRO DE IMÓVEIS
ALIENAÇÃO DA POSSE AD USUCAPIONEM JÁ CONSUMADA, PORÉM NÃO DECLARADA: ACESSÃO DA POSSE COMO PROBLEMA NO PROCEDIMENTO EXTRAJUDICIAL PARA RECONHECIMENTO DA USUCAPIÃO
Lucas da Silva Peres
TABELIONATO DE PROTESTO
REFLEXÕES SOBRE O PROCEDIMENTO DE SOLUÇÃO NEGOCIAL PRÉVIA
Anderson Garcia Cirilo
O PROTESTO DE TÍTULOS E DOCUMENTOS DE DÍVIDA E A PRÉVIA SOLUÇÃO NEGOCIAL NO CONTEXTO DA POLÍTICA PÚBLICA DE ACESSO À JUSTIÇA
Cintia Maria Scheid
PROTESTO NOTARIAL E SUPERENDIVIDAMENTO: CENPROT ENQUANTO VALIOSO INSTRUMENTO PARA A RECUPERAÇÃO ECONÔMICA DO CONSUMIDOR SUPERENDIVIDADO
Lucas da Silva Peres
PELO DIREITO DE FALIR – CONSIDERAÇÕES ACERCA DA NECESSIDADE DE UM PROCEDIMENTO EXTRAJUDICIAL DE FALÊNCIA DA PESSOA FÍSICA NO BRASIL
Rui Gustavo Camargo Viana
Pontos de referência
Capa
Sumário
Prefácio
Recebi com profunda alegria e grande responsabilidade o convite para feitura do prefácio do Livro dos Alunos da Escola Notarial e de Registro – ENNOR, volume II – Direito Notarial e Registral: Questões Atuais e Controvertidas.
A obra é repleta de nomes conhecidos da atividade extrajudicial, autores com profundo domínio sobre os temas propostos, tanto na seara registral como notarial.
O trabalho é digno de festejo, pois mescla com equilíbrio e conectividade a relevância dos delegatários dos serviços extrajudiciais para tutela e legitimação de direitos dos cidadãos, iluminando temas atuais e importantes para vida cotidiana dos usuários dos serviços delegados.
O enfrentamento de temas relacionados ao notas, protesto, registro civil das pessoas naturais e registro de imóveis por artigos jurídicos pontuais, com abordagem verticalizada sobre – a desjudicialização, o planejamento sucessório, acessibilidade do e-notariado, a escritura de inventário e partilha com a participação de menores no extrajudicial, alteração de regime de bens no tabelionato, Reurb, o impacto da capacidade civil do declarante do óbito para realização do registro, bem como a natureza jurídica do óbito e sua repercussão nas demais especialidades (notas e imóveis), registro de óbito tardio, formalização da morte presumida, retificação extrajudicial do registro de óbito e a escolha do prenome das pessoas transgêneras, a alienação da posse ad usucapionem consumada sem declaração, além de reflexões relevantíssimas sobre o procedimento de solução negocial no protesto, o direito de falir e o protesto notarial e o superendividamento – são fascinantes, atendendo a todos os estudiosos da área, notários, registradores, advogados, juízes, promotores e todos os apaixonados pelos registros públicos!
A evolução do Direito clama pela reflexão qualificada, pelo estudo aprofundado das teses e teorias jurídicas construídas no passado em contraponto com os novos anseios sociais, realidades aflitivas que merecem enfrentamento responsável na busca da melhor acomodação técnica.
Desejo ao leitor uma agradável e produtiva leitura, certo de que muito se aprenderá com os temas tratados!
São Paulo, junho de 2023.
Alberto Gentil de Almeida Pedroso
Juiz de Direito Titular da 8ª Vara Cível da Comarca de Santo André/SP. Juiz Assessor da Corregedoria Geral da Justiça do Estado de São Paulo de 2012-2021. Professor da Escola Paulista da Magistratura. Autor de diversas obras jurídicas especializadas em Registros Públicos. Instagram: @prof_gentil
Apresentação
É com grande alegria que apresento o segundo volume da obra Direito Notarial e Registral: questões atuais e controvertidas, produzido pelos alunos dos Grupos de Pesquisa Científica da ENNOR – Escola Nacional dos Notários e Registradores! Neste livro, o leitor encontrará reflexões úteis, interessantes e vanguardistas sobre vários temas que envolvem os serviços notariais e de registro no Brasil.
Assunto bastante relevante que perpassa os diversos artigos diz respeito à contribuição dos serviços extrajudiciais nos arranjos institucionais de políticas públicas para a simplificação de procedimentos que não envolvam conflito de interesses. Em tais casos, a promoção da desjudicialização é tendência que vem sendo prestigiada, cada vez mais, pelo legislador, como opção ao cidadão para o célere e adequado acesso à Justiça.
Com efeito, para situações em que não haja lide, podem ser chamados notários e registradores (profissionais do direito, altamente qualificados, dotados de fé pública) para a estabilização do meio de prova e a cristalização de acordos livremente pactuados, garantindo segurança jurídica e paz.
Com fortes argumentos, artigos sustentam a validade e a eficácia de, por escritura pública (sem a necessidade de autorização ou homologação judicial!), serem promovidos inventários e partilhas de bens mesmo envolvendo menores e incapazes, bem como ser instrumentalizada a alteração de regime de bens em casamentos e uniões estáveis.
Interessante análise é empreendida quanto à competência de tabeliães brasileiros para a lavratura de escrituras públicas eletrônicas a pessoas localizadas em solo estrangeiro. Com a intermediação da tecnologia (certificados digitais e videoconferências), as vantagens da contribuição do notariado para os consulados brasileiros são evidentes: cônsules poderão se desonerar de uma atividade que, à luz da vocação consular, lhes é absolutamente secundária. Como sabido, nossos consulados destinam-se primordialmente a dar suporte humanitário a brasileiros, fomentar o desenvolvimento das relações comerciais com o Estado Receptor e a intermediar relações de particulares estrangeiros com o Estado Brasileiro, mas não propriamente a lavrar atos notariais.
Ademais, o leitor encontrará admiráveis reflexões sobre a importância da figura dos serviços extrajudiciais em processos de exercício da cidadania (como o direito à moradia!), relacionando o procedimento de REURB a favor de público idoso com a necessidade de assegurar celeridade do registro em tais circunstâncias; e sobre o uso do testamento e da partilha em vida como instrumentos de planejamento sucessório.
No que tange ao registro civil das pessoas naturais, predominam artigos que tratam da importância do registro do óbito como estabilização da prova do término da existência da pessoa natural (nos termos do art. 6º do Código Civil). As reflexões dos autores incentivam ações que contribuam para o adequado registro do evento morte, analisando seus desdobramentos nos tabelionatos de notas e nos ofícios de registro imobiliário. É também realizado percuciente estudo sobre o impacto da capacidade civil do declarante do óbito, a fim de dar maior clareza e segurança ao ato, evitando erros e eventual necessidade de averbação retificatória.
Com o advento da Lei 14.382/2022, a Lei de Registros Públicos passou a prever várias hipóteses de alteração extrajudicial de prenomes e sobrenomes. Por exemplo, toda pessoa registrada no Brasil pode, após atingir a maioridade civil, requerer pessoalmente e imotivadamente a alteração de seu prenome, independentemente de decisão judicial. O fato é que, para pessoa transgênero, o Provimento CNJ 73/2018 já gozava da prerrogativa de alterar o prenome e o gênero nos assentos de nascimento e casamento. Nessa linha de entendimento, a partir de abordagem constitucional e de considerações à Lei Geral de Proteção de Dados Pessoais (Lei nº 13.709/2018), é empreendida relevante análise sobre a mudança de prenome por pessoa transgênero.
Quanto ao registro imobiliário, o leitor é convidado a refletir sobre o ato decisório exarado pelo oficial de registro de imóveis, quanto ao cômputo do tempo de posse, no caso de cessão de direitos possessórios. Com densidade argumentativa e perspicácia, são analisadas as hipóteses em que a satisfação do tempo de posse ad usucapionem já tenha sido consumada pelo cedente, porém a prescrição aquisitiva não tenha sido declarada antes da transmissão de direitos ao cessionário.
Com relação aos tabelionatos de protesto, os trabalhos tratam de solução negocial de dívida, do estímulo ao protesto como política pública de acesso à justiça e do uso do CENPROT – Central Nacional de Serviços Eletrônicos Compartilhados do Tabeliães de Protesto, para a prevenção e o tratamento do superendividamento. São apresentadas, também, considerações sobre a falência da pessoa física, apontando, comparativamente, a legislação norte-americana sobre esse interessante tema.
Aos autores dos artigos, aos coordenadores dos grupos de pesquisa e aos organizadores da presente obra, expresso veementes congratulações pela excelência dos trabalhos, pelo engajamento acadêmico e pela generosa contribuição ao desenvolvimento do Direito Notarial e Registral brasileiro!
Aos felizardos leitores, parabenizo pela aquisição deste brilhante livro, desejando profícuos estudos e agradáveis momentos de reflexão!
Brasília, junho de 2023.
Hercules Alexandre da Costa Benício
Doutor e Mestre em Direito pela Universidade de Brasília. Tabelião titular do Cartório do 1º Ofício do Núcleo Bandeirante/DF. Presidente do Colégio Notarial do Brasil – Seção do Distrito Federal e acadêmico ocupante da Cadeira nº 12 da Academia Notarial Brasileira. Foi Procurador da Fazenda Nacional com atuação no Distrito Federal.
INTRODUÇÃO
Há milênios se lavram atos notariais e se registram fatos públicos e privados de toda humanidade. A disciplina notarial e registral, desde a descoberta do Brasil, dá longos passos para registrar a história do país.
Confiar o exercício dessa multissecular atividade estatal a profissionais selecionados por mérito em concurso de provas e títulos, a cargo do Poder Judiciário, submetido à gestão conforme os princípios da iniciativa privada, permitiu nítido avanço ao sistema.
Ao optar pela delegação da fé pública, o Estado Brasileiro referendou essa importante profissão, garantidora da tão almejada segurança jurídica na espera dos registros públicos e notariais. A tradição consolidada no contínuo aprimoramento dos serviços prestados, gerou um sistema renovado, flexível, digital e moderno.
Com propósito de incentivar os estudos dessa matéria imprescindível, foi constituída a Escola Nacional de Notários e Registradores, e com ela grupos de pesquisas acadêmicas com renomados profissionais da área jurídica. Assim, surgiu a ideia desta coletânea de artigos, em sua segunda edição, com a colaboração dos alunos que se dedicaram para apresentar trabalhos inovadores de alta qualidade, essenciais para o avanço da atividade.
O livro está dividido em temas que abordam o exercício do Tabelião de Notas e de Protesto de Títulos, de Registro Civil das Pessoas Naturais e de Registro de imóveis. Assim, o leitor terá em mãos uma obra que proporciona uma análise integral da matéria, com olhar teórico e dogmático, mas também prático e usual para ser interpretado de forma a concretizar a vontade das partes.
Os artigos abordam o importante tema da desjudicialização, quando enfatiza o inventário e divórcio extrajudicial, sem a presença do juiz, ou alterações do regime de bens em que visa facilitar a vida do cidadão. Traz, ainda, meios de se constituir o direito à moradia, em que assegura muito mais celeridade ao processo, além de demonstrar as centrais que integram o sistema notarial para agilizar o acesso de qualquer pessoa que necessite utilizar do sistema, ainda que resida em outro país.
Com foco também no registro civil, os artigos demonstram a ênfase em cidadania, abordam desde o sub-registro e as ações que propiciam políticas públicas, por meio de campanhas capazes de ajudar a população a conseguir o documento básico de cidadania. Reforça o impacto da capacidade civil para o registro de óbito, além de abordar a temática dos nomes e o direito de alterá-los diretamente no serviço registral para as pessoas transgêneras.
Por outro lado, referenda e justifica os atos de alienação e a importância do registro imobiliário, da posse e do direito real de propriedade em um contexto dos eixos impulsionador da economia, com preocupação focada na defesa do direito pessoal e da manifestação da vontade dos usuários frente ao Poder Estatal.
Com a mesma importância, os artigos ainda tratam de temas de solução negocial, de acesso à justiça, do superendividamento, da falência da pessoa física e as contrapartidas da legislação americana. O resultado é surpreendedor na comparação entre sistemas que auxiliam as pessoas a tomarem decisões sobre melhores formas de defender seus negócios.
Nota-se, nessa perspectiva, a complexidade de assuntos e a profundidade do debate jurídico com todos atores do direito contemporâneo, frutos das discussões dos grupos de pesquisas científicas da ENNOR, que floresceram pelas mãos dos coordenadores.
Parabenizo, ainda, toda equipe da ENNOR, que somente com seu apoio administrativo conseguimos que saísse essa nova publicação.
Desejamos uma proveitosa leitura!
Brasília, junho de 2023.
Fernanda de Almeida Abud Castro
Doutora e Mestre em Direito Constitucional pelo Instituto Brasiliense de Direito Público – IDP. É também bacharel em Administração de Empresas pela UFTM-MG, com MBA em estratégia empresarial pela FGV. Foi advogada em Brasília, é atualmente registradora civil e tabeliã em Minas Gerais.
PALAVRAS DO PRESIDENTE
II Livro do Grupo de Pesquisa Acadêmica do Alunos da ENNOR
Como presidente da Associação dos Notários e Registradores do Brasil – Anoreg-BR e da Confederação de Notários e Registradores do Brasil – CNR, constituímos em 2012 a Escola Nacional de Notários e Registradores – ENNOR, com o intuito de capacitar e atualizar titulares, substitutivos e colaboradores.
A pretensão é de expandir atualização e qualificação de conhecimento por todo o território nacional, atendendo não só a atividade, mas também a instituições particulares e órgãos públicos, por meio de reiteradas parcerias acadêmicas.
É preciso que novos conhecimentos sejam repensados diuturnamente, tendo em vista a dinâmica das normativas que tratam das matérias notariais e de registro. E para isso, é preciso que seja colocado à disposição vários cursos e treinamentos, de modo a trazer benefícios aos interessados.
Nos artigos que seguem, temas importantes são abordados com muita sutileza, desde o registro civil das pessoas naturais, o registro de títulos e documentos e pessoas jurídicas, ou os registros públicos em geral, além de notas e de protesto de títulos.
Abordam assuntos que partem da análise das atividades exercidas pelos notários e registradores, com a intenção de ampliar suas competências, no desígnio de exercer e desburocratizar a atividade, amplificando o rol de suas atribuições. Busca enfatizar a celeridade da atividade, apontando sua função social no acesso e promoção da justiça, o que possibilita a melhoria dos serviços prestados à sociedade.
A obra discute temas relevantes para o desenvolvimento da sociedade e da história humana. O registro da vida, desde o seu nascimento, casamento, mudanças ao decorrer, e a morte que também deve ser registrada, apontando a necessidade de informação, conscientização e participação da população por meio de políticas públicas, campanhas e ações que contribuam e incentivem a prática. Visam estudar o impacto, seja ele positivo ou negativo, da capacidade civil do declarante, a fim de dar maior clareza e segurança no ato, evitando assim erros substanciais nesse registro, e caso haja informações a serem retificadas, entender como isso pode ser avaliado e feito com base na CF/88 e com a LGPD, em vigência.
São reflexões e considerações inevitáveis na atualidade, por isso, mais do que recomendar a leitura, indico esse livro como realmente necessário para ampliar conhecimentos, para buscar respostas diante da realidade que se instaura, já que lidamos no dia a dia dos nossos serviços com autonomia a vontade das partes.
Desejo a todos excelentes momentos de reflexão!
Rogério Portugal Bacellar
Presidente da Confederação Nacional de Notários e Registradores – CNR e do Conselho Superior da Escola Nacional de Notários e Registradores – ENNOR. Presidente da Associação dos Notários e Registradores do Brasil – Anoreg-BR. Tabelião do 6º Ofício de Protesto de Curitiba/PR.
TABELIONATO DE NOTAS
A DESJUDICIALIZAÇÃO E A PARTICIPAÇÃO DOS CARTÓRIOS EXTRAJUDICIAIS NOS ARRANJOS INSTITUCIONAIS
Andréa Cristina Sapi de Paula
Mestranda em Direito pela FDSM (Faculdade de Direito do Sul de Minas). Tabeliã / notária no 2º Ofício de Notas de Paraguaçu/MG. Lattes: http://lattes.cnpq.br/1387559747427401. E-mail: [email protected].
Resumo: Este artigo aborda os serviços notariais e registrais como mecanismos importantes de segurança jurídica e econômica, com relevo para as características de celeridade e prevenção de litígios nos arranjos institucionais. Em linhas gerais a proposta do presente trabalho é mostrar os benefícios da inserção dos cartórios no processo de desjudicialização apontando a sua função social e visando garantir maior possibilidade de acesso e promoção de justiça para os cidadãos. A análise foi norteada por pesquisas bibliográficas e documentais. Para alcançar os objetivos desejados aplicou-se o método hipotético-dedutivo. A pesquisa é do tipo aplicada, qualitativa, jurídico-exploratória e bibliográfica.
Sumário: 1. Introdução – 2. Desjudicialização – 3. Função pública e social exercida pela atividade notarial e registral – 4. Arranjos institucionais de políticas públicas – 5. Considerações finais – 6. Referências.
1. INTRODUÇÃO
Este artigo trata da desjudicialização/extrajudicialização e a participação dos cartórios extrajudiciais nos arranjos institucionais.¹ É uma tendência moderna em nosso ordenamento jurídico, tratando-se de um mecanismo de grande valia para a desobstrução do aparelho judiciário brasileiro.
Com o advento da Carta Magna de 88, que pôs fim a longo período de ditadura, houve incremento da consciência política e por sua vez da judicialização dos conflitos entre os cidadãos. Segundo Relatório-Justiça 2020² informado pelo Conselho Nacional de Justiça o judiciário brasileiro é um dos mais eficazes do mundo, todavia o número de processos cresce desproporcionalmente a cada dia.
Elena³ afirma que a quantidade de dados judiciais disponíveis tem sido mais resultado de políticas para aumentar a transparência do que para melhorar a qualidade da prestação jurisdicional ou a accountability.
Pode-se dizer que o legislador ordinário, verificando todos esses problemas, resolveu adotar medidas legislativas para fortalecer o combate a morosidade. Uma das grandes inovações envolvendo a extrajudicialização no tocante aos serviços extrajudiciais foi o advento da lei 11.441/2007, que entregou o encargo da resolução de algumas demandas aos tabeliães de notas, que por meio de escrituras públicas, passam a consolidar o consenso das partes sobre inventário, partilha, separação e divórcio.
Pauta prioritária do CNJ (Conselho Nacional de Justiça), a prevenção e a desjudicialização de litígios, como diretrizes estratégicas da incorporação dos Objetivos de Desenvolvimento Sustentável (ODS) e da Agenda 2030 da Organização das Nações Unidas (ONU) é uma das metas do Poder Judiciário brasileiro.
A realização e a proteção dos direitos podem ser alcançados através de arranjos institucionais apresentados em programas de ação governamental complexos, levando-se em conta o aparato do Estado e os recursos a seu dispor. Os cartórios extrajudiciais estão dentre as instituições à disposição do Estado para alcançar seu desiderato de propiciar aos jurisdicionados procedimentos mais céleres e de acesso democratizado.
O texto busca contribuir para o conhecimento e aperfeiçoamento dos atuais mecanismos de acesso do cidadão à promoção de direitos, com a inserção dos cartórios em arranjos institucionais e formulação de novas ações.
2. DESJUDICIALIZAÇÃO
Existem inúmeras explicações para a ocorrência do fenômeno a que se chama de judicialização e, com certeza, não seria possível analisá-las todas neste espaço, até porque com o tempo haveria acréscimo de outras. Uma das alusões científicas é a do aumento de complexidade da sociedade, que demanda soluções, inclusive do sistema jurídico.
Outra alusão científica vem do filósofo e sociólogo Jürgen Habermas⁴ quando tratou da colonização sistêmica do mundo da vida e expôs que a sociedade em sua essência, tem sido colonizada sistemicamente impedindo a emancipação do indivíduo; ou seja, no âmbito do sistema jurídico há demanda por soluções cada vez mais intensas na família, na saúde, na economia, na política e na educação. A transformação da sociedade exige soluções do sistema jurídico.
Habermas (2001) concebe o mundo da vida como a dimensão na qual impera a razão comunicativa, o espaço das sensações, dos sentimentos, da comunicação, da cultura e do entendimento entre os sujeitos. Araújo e Cinalli (2005, p. 7),⁵ baseados em Habermas, nos dizem que o mundo da vida é o ambiente cotidiano onde as pessoas agem e se defrontam com suas ações e reações, relações sociais, interpessoais e subjetivas
; em contraponto a esse mundo, o mundo sistêmico é a esfera do trabalho e do mercado, orienta-se pelas ações estratégicas e instrumentais, a razão instrumental é imperativa no mundo sistêmico.
A toda evidência Ribeiro⁶ aduz que a judicialização também decorre do que se chamou de neoconstitucionalismo ou de pós-positivismo. Essa conclusão é estabelecida em especial no Brasil, que tem uma Constituição dirigente.⁷ A repercussão de uma Constituição analítica recente na sociedade é intensa. Observa-se no mundo inteiro a presença dos direitos humanos e fundamentais, direitos dos cidadãos – estes que, adquirindo a consciência desse contexto, em uma sociedade de massa e de consumo e de excesso de informação, efetivamente passam a ostentar e a defender seus direitos.
Assim, a desjudicialização, tem como causa, especialmente, a insuficiência do Judiciário, em descompasso com a velocidade das transformações sociais. Estas, a par de contribuírem para a judicialização, também servem à desjudicialização. Num momento impõem a judicialização; noutro momento a desjudicialização. No primeiro, evidenciam a deficiência do Legislativo e então fazem com que a demanda seja solucionada jurisdicionalmente. No outro instante, promovem a desjudicialização porque o Estado-juiz não consegue apresentar uma solução eficaz.
A Agenda 2030 é a pauta sobre Direitos Humanos das Nações Unidas, aprovada em Assembleia Geral das Nações Unidas em 2018, nos termos da 279, adotada por 193 Países, inclusive o Brasil, que incorporou os 8 (oito) Objetivos de Desenvolvimento do Milênio (Agenda 2015 – período 2000/2015), ampliando-os para os 17 Objetivos de Desenvolvimento Sustentável (Agenda 2030 – período 2016/2030).
Apresenta temas de alta complexidade social, econômica, ambiental, institucional e de parcerias e que interessam e impactam todos os povos e nações, em maior ou menor intensidade, segundo dados informados pelo Conselho Nacional de Justiça.
Em 2020 o Poder Judiciário brasileiro, por ocasião do Encontro Nacional do Poder Judiciário, pelo voto dos Presidentes dos Tribunais, aprovou a Meta 9, que é meta nacional qualitativa, que não visa medir a quantidade de decisões prolatadas, mas promover a desjudicialização de assuntos mais demandados ou definir estratégia para prevenir novas litigâncias.
Essa diretriz tem relação com a adoção de soluções alternativas de conflito e aumento da efetividade das decisões judiciais ao permitir desafogar o Poder Judiciário em todo o território nacional.⁸
Segundo Uille Gomes e Ferreira Dodge,⁹ as soluções extrajudiciais dos litígios promoverá a conciliação nas ações já ajuizadas e ampliará o grau de resolutividade do Poder Judiciário, que sentenciará apenas as demandas nas quais a conciliação não for realmente possível e nas causas penais. A conciliação favorecerá, em grande medida, a solução dos mais graves problemas atuais, fomentando confiança e segurança jurídica.
3. FUNÇÃO PÚBLICA E SOCIAL EXERCIDA PELA ATIVIDADE NOTARIAL E REGISTRAL
Falar da função e da carreira do notário e do registrador é, antes de tudo, fazer uma viagem ao passado, uma expedição histórica às raízes da evolução do notariado, tanto no mundo, quanto no Brasil, já que a evolução da atividade está totalmente atrelada à evolução da própria sociedade, que sempre teve a necessidade de registrar, transferir, perpetuar suas origens, propriedades, posses e bens. Isso foi feito com a ajuda dos notários e registradores, em suas diversas modalidades.
Segundo Rodrigues e Ferreira,¹⁰ a necessidade de documentar e registrar certos fatos da vida, das relações e dos negócios deve ter propiciado o surgimento de pessoas que detinham a confiança dos seus pares para redigir os negócios. Surgia assim o notário.
Nos dizeres de Maria Cristina Costa Salles,¹¹ foram (...) três os marcos das conquistas europeias: a espada do conquistador, a cruz da religião e a pena do Tabelião sendo a atividade notarial até mesmo atividade pré-jurídica,¹² já que coexiste com a necessidade de regulamentação da vida em sociedade.
A atividade notarial não é uma criação acadêmica nem legislativa, é uma criação social, nascida no seio da sociedade, a fim de atender às necessidades desta diante do andar do desenvolvimento voluntário das normas jurídicas. O embrião da atividade notarial nasceu do clamor social para que, num mundo, num primeiro momento, iletrado, houvesse um agente confiável que pudesse instrumentalizar e redigir o que fosse manifestado pelas partes contratantes, a fim de perpetuar o negócio jurídico, tornando menos penosa a sua prova, uma vez que as palavras voam ao vento, afirmando Brandelli que é na civilização egípcia que se encontra o mais antigo antepassado do notário, o escriba.¹³
As serventias extrajudiciais, vulgarmente chamadas de cartórios, exercem grande função social no tocante à desburocratização. A agenda prioritária é o local adequado para a promoção da desjudicialização/extrajudicialização, além de também auxiliar ao combate à corrupção, à lavagem de dinheiro, a fiscalização e arrecadação de tributos inerentes à atividade.
O exercício da atividade notarial é função pública exercida por delegação em caráter privado, nos termos do art. 236 da Constituição Federal, que deixa claro que os serviços notariais e de registro não são exercidos diretamente pelo Estado, e sim por particulares, em caráter privado, depois de aprovação prévia em concurso de provas e títulos. O professor Walter Ceneviva¹⁴ enfatiza: a atividade registrária, embora exercida em caráter privado, tem característicos típicos de serviço público.
Inegável é que a atividade notarial e registral tem relevante caráter social, já que está presente ao longo da vida dos cidadãos, desde o seu nascimento, por ocasião da realização de quaisquer negócios jurídicos até a sua morte.
O processo de evolução da atividade notarial e registral, associado à crescente evolução e democratização da informação, tornou a atividade cada dia mais imprescindível para o funcionamento regular da vida em sociedade. Ela pode ser compreendida como instrumento pelo qual as partes procuram alcançar o resultado pretendido, com segurança jurídica e eficiência.
Notários e registradores com seus trabalhos ampliam a noção de função social dos cartórios, pois continuamente prestam importantes serviços à sociedade e atendem a muitas das demandas que surgem pelas faces da multidimensionalidade da vida do cidadão contemporâneo.¹⁵
São os cartórios os grandes responsáveis pela atribuição da segurança jurídica nos negócios e nos atos jurídicos da população. A aquisição de direitos e deveres se dá por meio dos registros realizados nos cartórios. Um exemplo simples e prático é o registro de imóveis que garante a um comprador que o imóvel negociado por ele realmente pode ser comercializado. Tal relevância social merece o mais alto nível de seriedade na hora da execução e nesse trabalho o Brasil já encontrou a excelência. O funcionamento dos cartórios no país serve de referência para vários outros por causa do grau de organização que o nosso sistema alcançou. O reconhecimento internacional é extenso. O modelo brasileiro de registro de imóveis, por exemplo, é considerado modelo de segurança jurídica na América Latina, Europa e países asiáticos.¹⁶
A segurança jurídica é uma das expressões da função social das serventias. Especialmente, devido a ampliação real que os serviços notariais e de registro têm experimentado em suas atividades, no tocante à prestação de novos serviços para a sociedade civil.
Segundo Campilongo,¹⁷ a partir de 2007, por exemplo, tornou-se possível a efetivação de inventários, partilhas, divórcios e dissoluções consensuais de matrimônios ou uniões estáveis, por meio de escrituras públicas lavradas em cartórios, desde que atendam aos requisitos previstos em lei, o que tornou tais procedimentos mais céleres e menos custosos do que pela via judicial.
Ao prevenir litígios, notários e registradores, no fiel cumprimento da legislação vigente atuam de forma insistente com o objetivo de minimizar as desigualdades, mitigando e prevenindo disputas, quer nas transações públicas quer nos negócios privados.
Quando da formalização jurídica das vontades, as consequências daquele ato e que são inerentes ao tipo de instrumento escolhido, torna uma espécie de justiça preventiva e um fomento à paz social.
Em suma, notários e registradores no desempenho de suas funções como agentes públicos, devem atender a todos os que necessitam de orientação e dos serviços por eles prestados, promovendo a segurança jurídica das relações e ampliando a noção de função social dos entes extrajudiciais da sociedade.
4. ARRANJOS INSTITUCIONAIS DE POLÍTICAS PÚBLICAS
Segundo Lotta e Favareto,¹⁸ a análise dos arranjos institucionais nos permite observar variáveis centrais para entender a definição dos atores envolvidos, como se efetiva a governança, os processos decisórios e os graus de autonomia.
A construção das políticas públicas envolve a participação dos diversos poderes e órgãos de governo, sendo compostas por programas de ação governamental articulados entre si.
Quanto à desjudicialização, aqui a política se revela na tomada de decisões, por vezes conflituosas, entre as diversas esferas do governo. Entram em cena tensões entre política e políticas públicas que levam à análise macro institucional, onde as políticas públicas consistem em quadros de ação governamental, arranjos institucionais que expressam o Estado em movimento.
Nesse contexto, compete à Administração Pública efetivar os comandos gerais contidos na ordem jurídica e, para isso, cabe-lhe implementar ações e programas dos mais diferentes tipos e garantir a prestação de determinados serviços.¹⁹ As ações estatais capazes de realizar os direitos fundamentais em questão envolvem decisões acerca do dispêndio de recursos públicos.
É fácil perceber que apenas por meio das políticas públicas o Estado poderá, de forma sistemática e abrangente, realizar os fins previstos na Constituição (e muitas vezes detalhados pelo legislador), sobretudo no que diz respeito aos direitos fundamentais que dependam de ações para sua promoção.
Segundo Klaus Frey,²⁰ sociedades instáveis que se encontram em um processo de transformação, em geral, são caracterizadas por tensões entre os padrões individuais de comportamento e aqueles que transcendem as ações individuais. Esse fenômeno se torna mais evidente no caso de alguns: surgem atores que institucionalizam novos estilos de comportamento mediante novos procedimentos e arranjos.
Sabatier²¹ sustenta que a sociedade e o próprio Estado têm que prestar atenção a como se formulam, implementam e avaliam as políticas públicas. O papel da análise de política é uma empreitada multidisciplinar. Consiste em identificar as variáveis que afetam a consecução dos objetivos legais no curso do processo. Baseia-se em encontrar problemas onde soluções podem ser tentadas. O analista deve ser capaz de redefinir problemas de uma forma que torne possível alguma melhoria.
As políticas públicas mobilizam todos aqueles envolvidos com a administração pública integrando o planejamento racional e neutro realizado pelo Estado (policy) e a resultante de ações dos atores políticos visando à defesa dos seus interesses e valores (politcs).
Aduzem Couto e Lima²² que, de uma forma ou de outra, as constituições contemporâneas incidem cada vez mais sobre as ações dos governos, frequentemente demandando ou restringindo a formulação de políticas públicas, influenciando diretamente os produtos do jogo político.
Sabatier continua:
(...) embora ampla, a estrutura é específica em identificar variáveis básicas que influenciam o programa: a) a tratabilidade do problema que consiste no grau de lidar com a diversidade do comportamento ou com a complexidade do serviço prescrito; b) a capacidade dos dispositivos legais da política para estruturar favoravelmente o processo de implementação, que significa a definição clara dos objetivos pela seleção das instituições implementadoras, pela previsão de recursos financeiros, pelo direcionamento das orientações políticas dos agentes públicos, pela regulação dos critérios, das oportunidades, dos mecanismos e dos canais de participação dos atores não públicos; c) necessidade de apoio político ao efeito de mudanças das condições tecnológicas e socioeconômicas sobre o público em geral e aos grupos de interesse.²³
Vê-se que a realização de direitos pode ser alcançada por arranjos institucionais apresentados em programas de ação governamental complexos, levando-se em conta o aparato do Estado e os recursos a seu dispor. Os cartórios extrajudiciais estão dentre as instituições à disposição do Estado para alcançar seu desiderato de propiciar aos jurisdicionados procedimentos mais céleres e de acesso democratizado.
Os cartórios são estruturas burocráticas no sentido weberiano, com a especialização e vinculação ao princípio da legalidade, próprios da Administração Pública e necessárias à previsibilidade nos serviços públicos, mas com a dinâmica de organização e tomada de decisões da iniciativa privada.
É incomensurável o número de variáveis possíveis de se analisar quando se retira um procedimento do escopo do Judiciário e o transfere para outros atores, em especial para particulares, como notários e registradores.
Assim, se o Poder Judiciário sofre com o acúmulo de pedidos de prestação jurisdicional, cartórios deverão se adaptar, não somente para oferecer serviços dentro da mais absoluta legalidade, mas, também, para não se perderem em disfunções da burocracia às quais, em sentido comum, recebem o próprio nome de burocracia.²⁴ Seria o retorno aos motivos que orientaram os movimentos de desjudicialização.
5. CONSIDERAÇÕES FINAIS
É possível enunciar que a judicialização decorre especialmente da velocidade das transformações sociais e as mudanças operadas no direito, em especial, no direito constitucional nas últimas décadas, que trouxeram novas noções de aplicação da Constituição decorrentes do seu poder normativo.
Por outro lado, a desjudicialização tem como causa a insuficiência do judiciário em descompasso com a velocidade das transformações sociais.
Chegou-se o momento no qual não se resolverão as crescentes demandas ao Poder Judiciário somente com o aumento de recursos materiais ou humanos, até mesmo por que limitados na razão de sua expressão financeira para a Administração Pública.
Uma alternativa crescente que se mostra eficiente é o afastamento dos processos judiciais de questões que não são tipicamente afetas ao Judiciário, em especial, como se demonstrou, com a participação de cartórios extrajudiciais nos arranjos institucionais das políticas públicas de desjudicialização.
Tabeliães e registradores são profissionais do Direito submetidos à observância dos princípios da Administração Pública, com independência no exercício de suas atribuições (art. 28 da Lei 8.935/1994) e estreita proximidade com as atividades judiciais. São particulares em colaboração com o Estado, à disposição de políticas públicas de desjudicialização e de seus arranjos institucionais.
6. REFERÊNCIAS
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