O Solilóquio De Venâncio
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O Solilóquio De Venâncio - Rosa Rosileia
Rosa Rosileia
O solilóquio de
Venâncio
O solilóquio de Venâncio
.
2
Rosa Rosileia
Agradecimentos
Aos meus amigos, amigas e família que gostam de comprar meus livros.
3
O solilóquio de Venâncio Dedicatória
Dedico este monólogo a Leia, Mac e Dodó, meus irmãos, que certamente recordarão velho passado.
4
Rosa Rosileia
Aprestou sua rede.
Deitou-se.
Sorriu sisudo às gramas do jardim.
Depois de longo, levantou-se.
Caminhou até uma escrivaninha.
Pegou um conjunto de folhas e um grafite.
Voltou para a fiação.
Firmou o lápis.
Escreveu:
Meu nome é Venâncio, tenho 55 anos, abichei meu ideal.
Tenho marcas que as existências me enfiaram.
Elas melindram.
Eu as abriguei para não sucumbir.
Não lhes posso cirurgiar.
São eternas em mim.
Algumas, eu me acometi. Por não me 5
O solilóquio de Venâncio conhecer. Por não me compreender. Por não ter quem me direcionasse. Por não ter nascido sabedor de minha biografia.
E, outras, pela ignorância de seres que não as puderam deixar de fazer.
Enquanto, eu durar, sei que mais haveremos de me arranjar.
Cubro-as com unguentos.
Convivemos em paz.
Com elas aprendi que nem tudo passa, guarda-se no nosso confessionário.
A história da gente continua enquanto pestanejarmos.
Deve-se compreender e aceitar.
Viver a realidade.
E, eu não permito deixar de me alegrar com minhas conquistas.
Tenho a vida que planeei e pelejei para concretizar.
Ah, como lutei!
Deus bem sabe.
Somente
Ele
conhece
cada
passo
cambaleante que dei. Cada horror que escutei. Cada taca que levei.
Olhando esse jardim que cuido com carinho e vendo um beija-flor sugando o néctar das flores de minha nova goiabeira que em breve dará frutos suculentos, resolvi pôr no papel minha luta.
Vai desculpando se me esquecer de algum momento. Foram tantos que posso não consegui puxá-los pela memória...
Nem bem chegamos do roçado mamãe na 6
Rosa Rosileia
soleira da porta, gritou: arrume tudo que pudé, vamo pra capitá.
Vamos para onde? Perguntei em silêncio.
Deu-me um solavanco no peito e as pernas bambearam.
O que íamos fazer na capital? Por que isso agora? Calaram em mim.
Olhei timidamente para a goiabeira, enquanto meus irmãos feitos pipira a se lambuzar em mamão, corriam de um lado para outro botando tudo que podiam dentro de uns sacos.
Corri para encher meus bolsos de goiabas primeiro. Alguma coisa me dizia, que falta elas fariam.
Fiz minha bagagem, ou melhor, minha trouxa e pedi ao Senhor que me ajudasse a partir sem sofrimento.
Quando a última noite que dormiria em minha grande casa chegou, não preguei os olhos.
A tal manhã abordou demoradamente para mim, com um sol lindo, quente, deixando a estrada ziguezagueando.
Levantamo-nos e não havia café passado, porque minha mãe tinha guardado todos os seus pertences inclusive o saco de coar.
Pomos nossas tralhas no lombo do jumento que um vizinho cedera e rumamos para a estrada com o intuito de pegar transporte.
Que dia! Nunca há de se apagar.
Quanto mais me distanciava da minha velha residência mais meu coração apertado dizia: sofrimento à vista.
Um pau de arara parou. Mamãe pedira com 7
O solilóquio de Venâncio a mão. Pôs tudo dentro da carroceria inclusive os filhos.
Eu a ajudei. Sei que ajudei. Direito não me lembro. Parecia que eu flutuava ou que me carregavam.
Sentei-me e decidi aproveitar o passeio.
As fruteiras foram ficando longe. Minha favorita para trás quase enchendo meus olhos d’água.
A estrada de terra esburacada fazia com que meu traseiro nem sentasse direito na tábua.
Olhava para o chão e imaginava meus pés desnudos a correr com pipa. Saudade?!
Os solavancos que quase pendia a cabeça nas