Modernização Conservadora, Conceito

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Documentos Tcnico-Cientficos

O Termo Modernizao Conservadora: Sua Origem e Utilizao no Brasil

Resumo
Tem por finalidade compreender o termo modernizao conservadora e como este foi utilizado pelos analistas brasileiros. Utiliza os recursos tcnicos da pesquisa bibliogrfica e o mtodo analtico descritivo. Os resultados encontrados demonstram, em linhas gerais, que o termo modernizao conservadora foi elaborado por Barrington Moore Junior para retratar o caso especfico de desenvolvimento capitalista na Alemanha e no Japo, os quais realizaram revolues burguesas vindas de cima. Assim, o processo de modernizao de sua sociedade alicerou-se sobre um processo de industrializao condicionado pelo pacto poltico tecido entre a burguesia e os terratenentes. Os pensadores nacionais, utilizam o termo modernizao conservadora sem as devidas mediaes histricas e crticas, mas tiveram uma importncia primordial, pois mostraram que houve a penetrao das foras produtivas tipicamente capitalistas na agropecuria nacional. Entretanto, estes autores chamam a ateno para o fato de que a estrutura fundiria, ao longo dos sculos, manteve-se concentrada, mormente nas grandes unidades de explorao agropecuria.

Murilo Jos de Souza Pires Doutor pelo Instituto de Economia da Universidade Estadual de Campinas (Unicamp); Pesquisador do Instituto de Pesquisa Econmica Aplicada (IPEA) Distrito Federal.

Pedro Ramos Doutor e Professor do Instituto de Economia da Unicamp.

Palavras-chave:
Modernizao Conservadora. Estrutura Fundiria. Desenvolvimento Rural.

1 INTRODUO
O objetivo geral desta investigao compreender o termo modernizao conservadora e como este foi utilizado pelos analistas brasileiros. Deste modo, a raiz do fenmeno proposto para investigao uma manifestao sociopoltica com implicaes econmicas, uma vez que expressa o pacto poltico conservador tecido entre a burguesia nascente e os oligarcas terratenentes, fenmeno poltico que aconteceu originalmente na Alemanha e Japo para edificarem uma sociedade capitalista, mas totalitria e autocrtica. Logo, a via de desenvolvimento capitalista determinada pelo processo de modernizao conservadora difere daquelas vias objetivadas na Inglaterra, Frana e Estados Unidos da Amrica, tendo em vista que as revolues burguesas que se cristalizaram nestes ltimos Estados nacionais determinaram violentas rupturas com o Ancien Regime, constituindo, assim, uma base econmica e social independente que desembocou em sociedades capitalistas e democrticas. J no caso brasileiro, este pacto poltico entre a burguesia nascente e os terratenentes condicionou a formao de uma burguesia dependente, que no conseguiu apresentar um projeto de poder autnomo e hegemnico para a nao, conduzindo-a, portanto, para os trilhos de uma economia dependente da dinmica dos pases centrais: subdesenvolvida em termos estruturais e autocrtica. Entretanto, isto no implicou uma ausncia absoluta de uma revoluo burguesa no pas, uma vez que [...] se admitir que a revoluo burguesa significa um certo estado de tenso, pelo qual a economia capitalista se diferencia e se reintegra, ento todo sistema econmico capitalista comporta uma revoluo burguesa. (FERNANDES, 2008, p. 87). Neste sentido, este pacto poltico construdo intestinamente no Estado foi o responsvel por criar obstculos ao acesso democrtico terra por parte das classes sociais inferiores, concentrando-se, assim, ao longo da formao e da evoluo econmica brasileira, nas mos de mdios e grandes proprietrios rurais.

A presente investigao foi estruturada em trs partes objetivando compreender o significado do termo modernizao conservadora e como este foi utilizado pelos analistas brasileiros e tambm verificar como est configurada a estrutura fundiria nacional. Esta discusso justificou-se porque os analistas nacionais utilizaram o conceito de Moore Junior (1975) para referenciar o que aconteceu no Brasil entre 1965 e 1985 quanto s mudanas nas atividades agropecurias, que aconteceram sem transformaes na estrutura fundiria. Para a realizao destes objetivos foi efetuada uma pesquisa bibliogrfica. Logo, os textos utilizados na reviso bibliogrfica foram: Alberto Passos Guimares (1977); Azevdo (1982); Moore Junior (1975); Caio Prado Jnior (1992); Florestan Fernandes (1987, 1991); Rangel (2000, 2005); Lnin (1982, 2002); Martine e Garcia (1987); Polantzas (1986); Bendix (1996); Sorj (1980) e outros.

2 ORIGENS DO TERMO MODERNIZAO CONSERVADORA


O termo modernizao conservadora foi cunhado primeiramente por Moore Junior (1975) para analisar as revolues burguesas que aconteceram na Alemanha e no Japo na passagem das economias pr-industriais para as economias capitalistas e industriais. Neste sentido, o eixo central do processo desencadeado pela modernizao conservadora entender como o pacto poltico tecido entre as elites dominantes condicionou o desenvolvimento capitalista nestes pases, conduzindo-os para regimes polticos autocrticos e totalitrios. Deste modo, as revolues burguesas na Alemanha e no Japo no seguiram a verso clssica, como no caso da Inglaterra, da Frana e dos Estados Unidos, pois foram revolues burguesas parciais, visto que no destruram efetivamente as estruturas sociais, polticas e econmicas do antigo regime. Assim, o pacto poltico orquestrado no interior do Estado nacional alemo e japons aprofundou os laos polticos entre os terratenentes e a burguesia, excluindo os proletariados e os camponeses do direito pleno democracia e cidadania.

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Neste sentido, Bendix (1996, p. 37) afirmou que as [...] sociedades ocidentais progrediram firmemente para uma condio na qual os direitos de cidadania so universais. Onde os direitos ainda so negados, o conflito evidente e muitas vezes violento. Para Bendix (1996), os principais direitos cidadania so: direitos civis, como liberdade pessoal, de palavra, de associao, de reunio, de pensamento, de f, de propriedade, de acesso justia, de realizar contratos etc., como tambm direitos polticos, como de votar e ser votado, direito ao voto secreto e direito ao acesso a cargo pblico. Por fim, os direitos sociais, que vo ao direito de bem-estar econmico, como, por exemplo, educao, direito a segurana, direito de participar na herana social e de viver a vida de um ser civilizado de acordo com os padres da sociedade civilizada. Por sua vez, Moore Junior (1975, p. 13) salientou que existiram [...] trs caminhos histricos principais, desde o mundo pr-industrial ao contemporneo. O primeiro caminho levou construo de sociedades capitalistas e democrticas na Inglaterra, Frana e Estados Unidos. J O segundo caminho tambm era capitalista, mas na ausncia de um forte surto revolucionrio, passou atravs de formas polticas reacionrias at culminar com o fascismo. (MOORE JUNIOR, 1975, p. 14). E, por fim, o terceiro caminho foi o comunismo, que se desenvolveu na Rssia e na China. No caso das sociedades capitalistas e democrticas houve o desenvolvimento de um [...] grupo na sociedade com uma base econmica independente, o qual ataca os obstculos a uma verso democrtica do capitalismo herdado do passado. (MOORE JUNIOR, 1975, p. 14). Neste sentido, as revolues burguesas que aconteceram nestes pases se manifestaram como alteraes violentas que determinaram uma ruptura com a estrutura poltica e econmica do antigo regime, retirando, assim, os proprietrios rurais do centro do poder poltico, dado que esses eram os principais responsveis pelas decises polticas no perodo da sociedade pr-industrial. No caso dos pases que se lanaram no segundo caminho de construo de uma sociedade capitalista, como foi o caso da Alemanha e do Japo, o estmulo

revolucionrio no foi o mesmo da revoluo burguesa Inglesa, Francesa e Americana, visto que [...] o impulso burgus era muito mais fraco. Se chegou a tomar forma revolucionria, a revoluo foi derrotada. (MOORE JUNIOR, 1975, p. 14). Neste sentido, estas revolues foram a [...] alternativa mais importante da modernizao conservadora, atravs de uma revoluo vinda de cima. (MOORE JUNIOR, 1975, p. 503), dado que as elites pr-industriais no foram varridas plenamente do centro de deciso poltica do Estado nacional. O que aconteceu na Alemanha e no Japo foi uma nova rearticulao dos terratenentes com a burguesia para instituir um novo contrato poltico e econmico, em que
[...] algumas seces de uma classe comercial e industrial relativamente fraca apoiaram-se em elementos dissidentes das classes antigas e dominantes, principalmente recrutados do campo, para levarem a cabo as alteraes polticas e econmicas necessrias para a sociedade industrial moderna [...]. (MOORE JUNIOR, 1975, p. 14).

Poulantzas (1986), ao analisar o caso da Alemanha durante sua passagem de uma economia feudal para uma economia industrial, corroborou essas ideias desenvolvidas por Moore Junior (1975) sobre as revolues vindas de cima. (POULANTZAS, 1986). Para Poulantzas (1986, p. 176), o caso alemo foi
[...] uma importante viragem no processo de transformao das relaes de produo, e no mudaram em nada a superestrutura do Estado e os detentores do poder poltico. A nobreza fundiria continua ainda a deter o poder poltico e o Estado prussiano [...] de fato esse Estado, sob Bismarck, que levar a burguesia a alcanar a dominao poltica, o que Marx e Engels caracterizaram precisamente como a revoluo a partir de cima.

Logo, os proprietrios da terra no perderam sua fonte de poder e continuaram conduzindo de forma compartilhada com a burguesia nascente os destinos do Estado Nacional graas ausncia de capacidade poltica, pela sua constituio de classe, da burguesia conduzir o bom termo, numa ao aberta, a sua prpria revoluo. (POLANTZAS, 1986, p. 178). Por tudo isto, as revolues vindas de cima determinaram padres de desenvolvimento capitalista

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diferenciados, posto que o processo de modernizao da Alemanha e do Japo no teve foras suficientes para destruir os elementos tradicionais provenientes da antiga sociedade pr-industrial.1 Neste sentido, Bendix (1996) afirma que, conforme Joseph Schumpeter, todo desenvolvimento parcial, uma vez que
As estruturas sociais, os tipos e as atitudes so moedas que no fundem prontamente. Uma vez formados, eles persistem, possivelmente durante sculos, e uma vez que estruturas e tipos diferentes oferecem diferentes graus de habilidade para sobreviver, ns quase sempre achamos que o grupo atual e o comportamento nacional mais ou menos se desviam daquilo que devemos esperar que sejam se tentamos inferi-los das formas dominantes do processo produtivo. (BENDIX, 1996, p. 43).

Nesta perspectiva de desenvolvimento parcial, as mudanas sociais determinadas pela industrializao foram condicionadas pela forma em que foram tecidas as relaes polticas no seio do Estado nacional, visto que os interesses entre o moderno e o tradicional permaneceram arraigados, com maior ou menor intensidade, no centro de deciso poltica do Estado. Por sua vez, Moore Junior (1975, p. 495) destacou alguns indicadores para compreender a estrutura social, econmica e poltica daquelas sociedades que seguiram o caminho do capitalismo democrtico. 1. Desenvolvimento de um equilbrio para evitar uma coroa demasiado forte e uma aristocracia proprietria demasiado independente; 2. O movimento no sentido de uma forma adequada de agricultura comercial; 3. O enfraquecimento da aristocracia proprietria; 4. O impedimento da coligao aristocrtico-burguesa contra os camponeses e os operrios; 5. Uma ruptura revolucionria com o passado. Dentre esses cinco determinantes para a construo de uma sociedade democrtica e capitalista, observase que, em termos de classes sociais, os terratenentes deveriam apresentar reduzida fora na passagem da sociedade pr-industrial para a sociedade industrial e moderna, haja vista que, quanto maior seu poder poltico e econmico, menor era a fora da burguesia para construir uma sociedade democrtica e capitalista. Portanto, a Modernizao Conservadora, e as Revolues Vindas de Cima, tiveram como caracterstica o fato de a burguesia nascida da revoluo capitalista no ter foras suficientes para romper com a classe dos proprietrios rurais, resultando em um pacto poltico entre a classe dos terratenentes e a burguesia. Tal pacto se deu com o objetivo de manter um projeto conjunto de construo de uma sociedade capitalista, contudo arraigada em uma estrutura de dominao, em cujo centro de deciso poltica do Estado, os interesses da classe dos proprietrios rurais se mantivessem enraizados. Em linhas gerais, Moore Junior (1975);

Para tanto, Bendix (1996, p. 39) define o desenvolvimento social e poltico ou a modernizao como [...] mudanas sociais e polticas que acompanharam a industrializao em muitos pases da civilizao ocidental. Desta feita, o eixo dessa modernizao a industrializao, definida como [...] as mudanas econmicas produzidas por uma tecnologia baseada em fontes de autoridade inanimadas, bem como o desenvolvimento contnuo da pesquisa cientfica aplicada. (BENDIX, 1996, p. 39). Portanto, o desenvolvimento decorre de mudanas que acontecem na esfera econmica, poltica e social, nas quais os grupos dirigentes tiveram um papel predominante:
Uma vez que a iniciativa poltica importante nos pases que so retardatrios industriais, apropriado dar especial ateno aos grupos sociais que eram politicamente proeminentes na estrutura social tradicional. Quer esses grupos tenham ou no tido um papel condutor na modernizao do pas, claro que sua influncia social penetrante. Se quisermos compreender tipos de desenvolvimento parcial, devemos dar ateno especial linha base de tradio em relao qual essas mudanas devem ser aferidas. Para isto, um conhecimento dos grupos dirigentes tradicionais indispensvel [...]. (BENDIX, 1996, p. 215).

1 Para tanto, Bendix (1996, p. 42) afirma que [...] a sociedade industrial no o simples conceito que algumas vezes se supe que seja; a industrializao das sociedades economicamente atrasadas uma questo aberta, a ideia de que tradio e modernidade como mutuamente excludente falsa. A experincia mais genrica de que as sociedades industriais modernas mantm suas vrias tradies divergentes. , portanto, apropriado considerar o fenmeno do desenvolvimento parcial.

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Poulantzas (1986) e Bendix (1996) apresentaram em seus trabalhos uma caracterstica comum para a interpretao das revolues vindas de cima. Para esses autores, as revolues burguesas que aconteceram no Japo e na Alemanha varreram da estrutura do poder poltico as classes dos camponeses e dos trabalhadores para institucionalizarem o pacto poltico entre os terratenentes e a burguesia industrial. O processo de modernizao conservadora conduziu, ento, estes pases para a formao de uma sociedade industrial moderna, mas com uma estrutura poltica conservadora, fato que as conduziu ao nazi-fascismo. Em relao fora dos proprietrios rurais, esta se manteve forte, criando, assim, um processo de modernizao impulsionando o avano destas economias no capitalismo industrial, entretanto aferradas em uma sociedade poltica marcada profundamente pelos interesses dos grandes proprietrios rurais, os quais criaram obstculos ao acesso democrtico das demais classes sociais ao mercado de terras. No caso especfico da transformao capitalista da agropecuria, os trabalhos de Lnin (1982) apontaram como o pacto poltico tecido no interior do Estado nacional na passagem de uma economia prindustrial para uma economia industrial determinou, predominantemente, duas vias de desenvolvimento capitalista na agricultura condicionadas pela configurao da estrutura fundiria desses pases. Neste sentido, Lnin (2002) destacou, ao analisar o Programa Agrrio da Social Democracia da Primeira Revoluo Russa de 1905 1907, que o desenvolvimento do capitalismo na Rssia poderia seguir duas vias que [...] chamaramos de caminho tipicamente prussiano e caminho do tipo norteamericano. (LNIN, 2002, p. 29). No caso do desenvolvimento capitalista na agricultura, o autor destaca que, na primeira via, a [...] explorao feudal do latifndio transformase lentamente numa explorao burguesa-junker [...]. No segundo caso, ou no existem domnios latifundirios ou so liquidados pela revoluo, que confisca e fragmenta as propriedades feudais. (LNIN, 2002, p. 29).

Em seu estudo sobre o desenvolvimento capitalista na Rssia, Lnin (1982) deixou mais claro estas vias de desenvolvimento capitalista da agricultura quando mostrou que, na via prussiana, [...] conservam-se a massa principal da grande propriedade fundiria e os pilares da antiga superestrutura, nessa hiptese, o papel dirigente caber burguesia e ao latifundirio liberal-monrquicos [...]. (LNIN, 1982, p. 10). J no caso do caminho norte-americano,
[...] a grande propriedade fundiria e todos os pilares da antiga superestrutura que lhe correspondem so destrudos; o papel dirigente desempenhado pelo proletariado e pela massa camponesa [...] assegurando o desenvolvimento mais rpido e livre das foras produtivas sobre uma base capitalista [...]. (GUIMARES, 1977, p. 11).

Por tudo isto, Rangel (2000) destaca que a via prussiana foi marcada pela transformao capitalista da grande propriedade rural sem que haja uma fragmentao da estrutura fundiria. Deste modo, o campons que no conseguiu adotar um padro tipicamente capitalista com o uso de tecnologias e de tcnicas modernas, foi desapropriado e lanado, pela concorrncia intercapital, para fora de sua unidade de explorao agrcola, no mais como proprietrio dos meios de produo, mas como proprietrio da fora de trabalho, constituindo, assim, relaes de trabalho tipicamente capitalistas. J no caso da via norte-americana, a transformao capitalista determinou uma fragmentao da estrutura fundiria, em que as propriedades rurais nascidas deste padro tipicamente capitalista estavam arraigadas em pequenas unidades de explorao agrcola que mantiveram relaes de trabalho predominantemente familiares. Neste sentido, o avano do capitalismo no campo aconteceu sobre uma agricultura capitalista familiar. Por sua vez, o prximo item desta investigao tem por objetivo entender como o termo modernizao conservadora foi adotado pelos pensadores econmicos e sociais nacionais. No obstante, importante destacar que este termo foi cunhado para refletir as bases objetivas histricas, sociais e estruturais especficas das economias da Alemanha e do Japo que, desde a II Guerra Mundial, so considerados pases desenvolvidos.

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Desta maneira, h de se fazerem as mediaes histricas e tericas necessrias para compreender as especificidades dos pases subdesenvolvidos como o caso do Brasil, uma vez que a formao econmica e social nacional diferente daquela encontrada nos pases da Europa Ocidental, Japo e Alemanha. Isto se deu porque o progresso tcnico penetrou a estrutura econmica brasileira de forma diferenciada, constituindo, assim, uma sociedade crivada pela existncia, no mesmo espao e tempo, de uma economia moderna e uma economia arcaica. Deste modo, Furtado (1965, p. 184) destacou que [...] o subdesenvolvimento no constitui uma etapa necessria do processo de formao das economias capitalistas modernas. em si, um processo particular, resultante da penetrao de empresas capitalistas modernas em estruturas arcaicas. Destarte, as estruturas econmicas e sociais dos pases desenvolvidos apresentam menor grau de heterogeneidade, quando comparadas s dos pases subdesenvolvidos, dado que as elites dominantes dos pases centrais construram um projeto de nao que incorporou ao sistema econmico capitalista os estratos inferiores da estrutura social. No caso do Brasil, a elite dominante criou empecilhos ao acesso cidadania e democracia, visto que as classes inferiores foram e continuam sendo alijadas das vantagens proporcionadas pela modernizao.2

Portanto, a argumentao de Alberto Passos Guimares construda levando-se em considerao apenas o elemento econmico do processo de modernizao conservadora, uma vez que o autor caracteriza o processo como a penetrao do progresso tcnico na unidade de explorao agrcola sem que houvesse qualquer fragmentao na estrutura fundiria nacional. Deste modo, Guimares (1977), ao transpor para a realidade nacional o termo cunhado por Barrington Moore Junior, no teve o cuidado de realizar as devidas mediaes histricas e tericas necessrias compreenso das especificidades do caso brasileiro, diferente daquele encontrado no modelo de desenvolvimento capitalista da Alemanha e do Japo. Assim, seu foco central de anlise reduziu-se vertente econmica, dado que analisou somente como o progresso tcnico penetrou nas grandes unidades de explorao agrcola. Por tudo isto, Graziano da Silva (2000 apud RANGEL, 2000); no refletiu sobre o pacto poltico conservador urdido entre a burguesia nacional e os terratenentes no interior do Estado que determinou o rumo e o ritmo do desenvolvimento capitalista da sociedade nacional. Neste sentido, este terico no conseguiu perceber que o pacto tecido pela elite dominante criou fortes obstculos para o acesso democrtico das demais classes sociais aos mercados de terras, de capital, de trabalho e democracia e cidadania. Para equacionar a lacuna deixada por Guimares (1977), o trabalho sociolgico desenvolvido por Azevdo (1982) preocupou-se com o aspecto histrico e poltico do processo de modernizao conservadora. Para Azevdo (1982, p. 24),
[...] dependendo das circunstncias histricas e nacionais, a burguesia pode desempenhar um papel reacionrio ou revolucionrio, aliarse s velhas classes dominantes e promover uma modernizao conservadora, atravs da revoluo passiva, de carter elitista e autoritrio, promovendo transformaes pelo alto.

3 O USO DO TERMO MODERNIZAO CONSERVADORA PELOS ANALISTAS BRASILEIROS


Entre os pensadores nacionais, o trabalho inaugural que apresentou o conceito de modernizao conservadora de autoria de Alberto Passos Guimares. Para Guimares (1977, p. 3),
[...] a estratgia de modernizao conservadora, assim chamada, porque, diferentemente da reforma agrria, tem por objetivo o crescimento da produo agropecuria mediante a renovao tecnolgica, sem que seja tocada ou grandemente alterada a estrutura agrria.
2 No objetivo desta discusso aprofundar este debate, uma vez que se trata de uma temtica sociolgica e foge ao escopo principal desta investigao demandando, assim, outros trabalhos de pesquisa.

Dessa maneira, este autor remete a questo da modernizao conservadora para a esfera poltica, indicando que no interior do Estado que so

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tecidos os compromissos entre a nova e a velha elite dominante, a fim de se manterem no poder e, com isto, criam-se empecilhos de acesso das classes sociais ao centro de deciso do Estado. Neste sentido, Azevdo (1982) aponta que a relao poltica e econmica entre os terratenentes (representantes da velha elite dominante) e a burguesia nacional (nascida da revoluo burguesa) no determinou uma metamorfose profunda nas relaes de poder poltico do Estado nacional porque [...] no implicam um antagonismo entre a nova e a velha classe social dominante, at mesmo porque esta ltima, mantendo o monoplio da terra, cobrar parte da maisvalia apropriada pelo capital investido no campo, a ttulo de renda fundiria. (AZEVDO, 1982, p. 26). Assim, as elites dominantes permaneceram arraigadas na estrutura do poder poltico nacional, determinando os caminhos do desenvolvimento capitalista nacional, que, em sua vertente agrria, se objetivou
[...] na manuteno do monoplio da terra e dos privilgios polticos da oligarquia rural, que asseguram uma modernizao conservadora, s custas da excluso poltica dos setores subalternos do campo, da expropriao do campesinato e da sua proletarizao irremedivel. (AZEVDO, 1982, p. 28).

Por sua vez, entre os pensadores econmicos nacionais, outro estudo que merece considerao especial o de Igncio Rangel, que, mesmo no utilizando explicitamente o termo modernizao conservadora, uma vez que o seu referencial era a obra de Lnin (2002), destacou que
[...] uma classe to pouco fora caracterizada e consciente de si mesma nunca poderia ter conduzido a sociedade brasileira pelos tortuosos caminhos da industrializao, no fora a sua aliana, embora na condio de scio menor, com outra classe social, muito mais amadurecida e segura de si, muito mais politicamente organizada, como era o latifndio brasileiro da poca. (RANGEL, 2005b, p. 84).

Ao discutir a viabilidade poltica e social de uma revoluo burguesa no Brasil, o autor enfatiza:
Ora, no h no interior da sociedade brasileira coisa alguma que faa prever tal revoluo, de resto sem precedentes em nossa histria, cuja evoluo se opera pelo processo de mudanas de atitude do grupo dirigente da sociedade, sem ruptura formal de identidade do grupo dirigente. (RANGEL, 2005b, p. 61).

Entretanto, o trabalho de Azevdo (1982) no detalhou a discusso dos impactos determinados pelo processo de modernizao conservadora na questo demogrfica, dado que a transformao capitalista da unidade de explorao agrcola no aconteceu de forma homognea entre os produtores rurais, causando, assim, uma forte expulso do homem do campo para os principais centros urbanos nacionais. Para aprofundar neste debate, o trabalho sociolgico de Martine e Garcia (1987) centrou-se no debate que mostrou como o processo de modernizao conservadora foi um dos principais vetores para a expanso e a acelerao do xodo rural na economia brasileira. Para os autores, o
[...] modelo de modernizao conservadora do regime militar, atendendo aos interesses que promoviam o pacote tecnolgico da revoluo verde, em meados da dcada de 60, que se acentuou o significado da migrao rural-urbana e da concentrao em cidades cada vez maiores. (MARTINE; GARCIA, 1987, p. 61).

Logo, a argumentao de Igncio Rangel fundamenta-se na ideia de que as relaes polticas conservadoras tecidas entre a burguesia nacional e os terratenentes foram fortes a ponto de criarem dificuldades para quaisquer tentativas democrticas de acesso ao poder poltico por parte das demais classes sociais. Deste modo, a viso de Igncio Rangel corroborada pelas argumentaes de Moore Junior (1975), quando este destacou que o impulso revolucionrio das burguesias alems e japonesas no foi suficientemente forte para deslocar do centro do poder poltico do Estado as classes dos terratenentes ou, ento, as observaes de Polantzas (1986) sobre a ausncia de capacidade poltica da burguesia nacional de fazer sua prpria revoluo. Para reforar esta argumentao, Draibe (1985, p. 43) explicou que a autonomia do Estado
[...] no era nem plena nem absoluta: enraizava-se numa multiplicidade de foras polticas heterogneas, mas que tinham um sentido social e expressavam relaes definidas na luta poltica. Assim, se a heterogeneidade e a incapacidade hegemnica das classes sociais fundaram a autonomia do Estado, as correlaes instveis de fora definidas

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no campo da luta poltica demarcaram no apenas os limites em que se exercia esta ao autnoma como o sentido que ela haveria de ter.

Por tudo isto, Fernandes (1991) explica que a obliquidade da burguesia nacional se constituiu porque a revoluo burguesa no Brasil, nos anos 30 do sculo XX, conduziu o pas pelos caminhos de um capitalismo dependente cujos traos centrais estruturaram-se em uma dominao burguesa que apresenta
[...] dois plos: um interno, representado por classes dominantes que se beneficiam da extrema concentrao da riqueza, do prestgio social e do poder, bem como do estilo poltico que ela comporta, no qual exterioridades patriticas e democrticas ocultam o mais completo particularismo e uma autocracia sem limites; outro externo, representado pelos setores das naes capitalistas hegemnicas que intervm organizada, direta e continuamente na conquista ou preservao de fronteiras externas, bem como pela forma de articulao atingida, sob o capitalismo monopolista, entre os governos dessas naes e a chamada comunidade internacional de negcios. (FERNANDES, 1991, p. 144).

de setores [...] de pequenos e mdios produtores altamente capitalizados (SORJ, 1980, p. 145), que contriburam para a constituio de uma agricultura familiar capitalista. Para Sorj (1980), o processo de modernizao da agricultura nacional constituiu trs setores caractersticos: a) Um setor de empresas fundadas nas relaes de produo capitalistas e tecnologia moderna; b) Um setor de empresas familiares altamente capitalizadas, fundadas no trabalho familiar com pouca ou nenhuma utilizao de trabalho assalariado; c) Um setor de produo tradicional, baseado na pequena propriedade familiar ou arrendamento e parcerias tradicionais e na explorao pecuria extensiva. Por tudo isto, o processo de modernizao da grande propriedade rural foi responsvel por liberar mo-de-obra e terras para o processo de produo agropecurio, uma vez que o avano do progresso tcnico proporcionou um incremento na produtividade do trabalho, que refletiu na expanso da produo agropecuria. Por sua vez, o processo de modernizao da grande unidade de explorao agrcola aconteceu como se [...] a mo-de-obra fosse escassa e cara e o capital abundante e barato. (RANGEL, 2005b, p. 101). Neste sentido, Igncio Rangel mostrou que a questo agrria nacional no estava presa ao fracionamento da grande propriedade rural, pois a concentrao fundiria no era um obstculo para a expanso da industrializao nacional.4 Esta industrializao poderia acontecer mesmo em um ambiente de concentrao fundiria, porque a grande unidade de explorao agropecuria tradicional, ao ser penetrada pelas foras produtivas capitalistas, expandiu o produto do trabalho sem demandar maiores reas agricultveis.5
4 Segundo Paim (1998), Rangel ficou margem de toda atividade poltica. Continuou aprofundando a tese sobre a industrializao sem reforma agrria e sob a gide do Estado. (PAIM, 1998, p. 59). Opinio tambm expressa por Mamigonian (1998): Alm de elaborar a idia da desnecessidade de reforma agrria para o avano da industrializao, idia de fundamental importncia [...]. (MAMIGONIAN, 1998, p. 132). 5 Entretanto, importante registrar que Igncio Rangel no foi contrrio ao fracionamento da grande explorao agrcola, dado que, para

Ento, a modernizao econmica do Brasil foi condicionada pelos interesses da burguesia nacional, internacional e os terratenentes que acabaram determinando um padro de capitalismo dependente, que amarrou ainda mais os interesses conservadores lgica da [...] permissividade com os movimentos especulativos, a obliqidade patrimonialista [...]. (LESSA; DAIN, 1998, p. 260). Logo, a modernizao da grande explorao agrcola foi retratada como [...] a implementao da via prussiana no Brasil [a qual] foi por diversos autores denominada de modernizao conservadora da agropecuria brasileira. (RAMOS, 2007, p. 35). De acordo com Ramos (2007), o padro agrcola nacional seguiu os caminhos da modernizao da grande propriedade agrcola sem que houvesse qualquer fragmentao da estrutura fundiria nacional.3 Mesmo que o padro agrcola nacional tenha percorrido os caminhos da via prussiana, ainda assim importante destacar que existiram formaes
3 Esse comentrio corroborado pelas observaes de Delgado (2005, p. 34) importante ter em conta que a chamada modernizao conservadora da agricultura nasceu com a derrota do movimento pela reforma agrria.

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Alm disto, o uso de insumos industriais nas unidades de explorao agropecuria retirava da terra aqueles proprietrios rurais que no conseguiam modernizar-se, lanando-os como mo-de-obra livre aos mercados de trabalho capitalistas. Desta feita, a fora de trabalho e a terra tornaram-se abundantes no pas e no criaram obstculos ao desenvolvimento industrial, uma vez que a agropecuria exerceu suas funes no modelo de substituio de importaes.6 De acordo Rangel (2000, p. 144), o cerne da questo agrria nacional era decorrente do hiato estrutural determinado pelo descompasso entre a penetrao das foras produtivas capitalistas na agropecuria nacional e a absoro dos trabalhadores expulsos por esta modernizao agropecuria nos mercados de trabalho capitalistas (urbano e industrial). Como descrito por Igncio Rangel, a questo agrria
[...] um descompasso entre os dois processos de liberao de mo-de-obra pelo complexo rural ou autarcia familiar e de integrao dessa mesma mode-obra no quadro da economia social (de mercado ou socialista) precisamente o trao dominante do fenmeno estudado como crise agrria.

cara, e no pelos motivos convencionais [...] mas sim pelo que propus que batizssemos de quarta renda, isto , da expectativa de valorizao.

Por tudo isto, o processo de modernizao conservadora da agropecuria nacional foi marcado por uma excluso autoritria das classes sociais do acesso aos mercados de dinheiro, trabalho e terras. No caso especfico do mercado de dinheiro, Szmrecsnyi e Ramos (2002, p. 245)8 argumentam que
[...] o prprio Banco do Brasil, principal agente executor da poltica em questo, acabou por privilegiar, luz da lgica bancria adotada, as transaes de maior porte, que so feitas, evidentemente, por grandes produtores e/ou intermedirios e beneficiadores.

Desse modo, cada vez mais havia a penetrao do progresso tcnico nas grandes unidades de explorao agropecurias nacionais e mais terras eram libertas pelo capital, que, adicionadas s reas de expanso da fronteira agrcola, ampliaram muito o estoque de terras disponveis para fins mercantis. Logo, o problema de acesso terra no era mais jurdico,7 mas, sim, econmico. No dizer de Rangel (2005b, 146),
[...] a questo da terra, no Brasil e no presente estgio do seu desenvolvimento, emergiu essencialmente como uma questo financeira. Por outras palavras, a terra no se redistribui, subdivide-se, porque se tornou proibitivamente
o autor, [...] a realizao ou no de uma reforma agrria no Pas era um problema da correlao de foras polticas que presidiam o nosso desenvolvimento (como ele gostava de dizer), e no uma condio para o desenvolvimento do capitalismo na agricultura brasileira. (GRAZIANO DA SILVA, 2000 apud RANGEL, 2000). 6 Szmrecsnyi e Ramos (2002, p. 233), [...] um dos pressupostos bsicos das polticas agrcolas ento em vigor residia justamente na crena de que a estrutura agrria concentrada no representava qualquer empecilho ao aumento da produo e da produtividade setoriais. 7 Constituio de um arcabouo de leis, normas e instituies fiscalizadoras para o pleno exerccio da propriedade privada.

Ento, constata-se que aqueles produtores rurais que tiveram acesso ao mercado de dinheiro conseguiram incorporar em suas funes de produo as inovaes tecnolgicas desenvolvidas, principalmente pelas multinacionais dos setores voltados para a agricultura. Por sua vez, a interveno do Estado brasileiro no mercado de dinheiro criou as condies objetivas para [...] uma integrao das grandes propriedades rurais com as agroindstrias. (GOODMAN; SORJ; WILKINSON, 1985, p. 53). Foi neste sentido que se materializou o processo de modernizao conservadora na agropecuria nacional, pois estimulou os produtores rurais a demandarem produtos industriais, aglutinando-os aos elos das cadeias produtivas dos vrios complexos agroindustriais nacionais. Por tudo isto, aqueles produtores rurais que se integraram s cadeias produtivas dos complexos agroindustriais tiveram condies objetivas para garantir a reproduo ampliada do seu capital e, com isto, se manterem nos mercados agropecurios. Portanto, no interior deste novo padro agrcola, alicerado nos complexos agroindustriais, que as foras produtivas capitalistas penetraram o espao econmico do setor agropecurio, transformando-o em capitalista e empresarial. Mas importante registrar que este processo aconteceu em sua forma parcial porque contemplou somente parte dos produtores agropecurios.
8 A argumentao sobre a concentrao do crdito rural nas mos dos grandes proprietrios rurais encontrada tambm em Sorj (1980); Sayad (1984) e Leite (2001).

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Aquela alquota de produtores rurais que no conseguiram romper o invlucro da agropecuria tradicional permaneceu como
[...] parte da superpopulao relativa no campo, como membros no-remunerados da fora de trabalho familiar nas pequenas exploraes ou so lanados nas zonas urbanas ao rebotalho da sociedade o lumpesinato , constitudo pelos trombadinhas, prostitutas, mendigos e ladres. (GRAZIANO DA SILVA, 1999, p. 103).

para baixo o preo de oferta da fora de trabalho urbana e, consequentemente, os salrios reais.

O acesso ao mercado de trabalho no aconteceu de forma democrtica entre as classes sociais, pois aqueles produtores rurais que perderam suas terras foram lanados ao meio rural como mo-de-obra livre. Como no conseguiram arrumar nenhum tipo de colocao, isto , como colonos, agregados e moradores, foram para os principais centros urbanos e industriais do pas em busca de novos postos de trabalho. Entretanto, o ncleo capitalista (industrial e urbano), em decorrncia das crises econmicas vivenciadas pela economia brasileira, especialmente a partir dos anos 80 do sculo XX, no absorveu todo o excedente de trabalhadores expulsos da terra. A questo agrria tornou-se ento mais grave, haja vista que o descompasso entre a expulso de mo-de-obra livre do setor rural foi mais forte vis--vis absoro destes trabalhadores pelos ncleos capitalistas. Por sua vez, estes estoques de trabalhadores rurais livres tiveram um papel fundamental para o processo de acumulao de capital, principalmente em uma economia crivada pela heterogeneidade estrutural como a brasileira, porque rebaixou mais o poder de compra dos trabalhadores. Como destacou Oliveira (2003, p. 46), a funo desta heterogeneidade estrutural da agropecuria nacional foi fornecer
[...] os excedentes alimentcios cujo preo era determinado pelo custo de reproduo da fora de trabalho rural, combinaram esse elemento com o prprio volume da oferta de fora de trabalho urbana, para rebaixar o preo desta. Em outras palavras, o preo de oferta da fora de trabalho urbana se compunha basicamente de dois elementos: custo da alimentao determinado este pelo custo de reproduo da fora de trabalho rural e custo de bens e servios propriamente urbanos; nesses, ponderava fortemente uma estranha forma de economia de subsistncia urbana [...] tudo forando

Em sntese, o processo de modernizao da agricultura reforou a heterogeneidade da agricultura nacional, pois ampliou os hiatos existentes entre os produtores rurais demandadores de inovaes mecnicas, fsico-qumicas e biolgicas e os produtores de subsistncia. No caso dos produtores tecnificados, sua articulao aconteceu no interior dos elos das cadeias produtivas dos vrios complexos agroindustriais. Contudo, estes produtores tecnificados tiveram um forte estmulo das polticas agrcolas e tecnolgicas proporcionadas pelo Estado para demandarem cada vez mais os produtos das multinacionais, determinando, por conseguinte, a modernizao das grandes unidades de explorao agrcola, que aconteceu preservando-se a estrutura fundiria.

4 OBSERVAES FINAIS
O objetivo central deste trabalho foi compreender o termo modernizao conservadora e como este foi utilizado pelos analistas brasileiros. Em linhas gerais, o termo modernizao conservadora foi elaborado por Moore Junior (1975) para retratar o caso especfico de desenvolvimento capitalista na Alemanha e no Japo, os quais realizaram revolues burguesas vindas de cima. Assim, o processo de modernizao de sua sociedade alicerou-se sobre um processo de industrializao condicionado pelo pacto poltico tecido entre a burguesia e os terratenentes. No obstante, o elemento que diferencia o processo de modernizao conservadora no Brasil vis--vis ao caso alemo e japons deve-se ao fato de que a elite dominante nacional no teve a preocupao em expandir a cidadania para parcelas significativas da populao, ao contrrio do caso alemo e japons, que incorporou as classes inferiores sociedade, como destacou Bendix (1996) em seu trabalho sobre a construo nacional e a cidadania. Logo, a revoluo burguesa que aconteceu no Brasil no teve foras suficientes para romper com o antigo regime e instituir no pas um capitalismo democrtico como aquele verificado na Inglaterra, na Frana e nos

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Estados Unidos da Amrica. Da, que foi igual ao que aconteceu na Alemanha e Japo, at porque foi feito sob a ditadura militar. Entretanto, importante registrar que, mesmo utilizando um termo cunhado por Barrington Moore Junior para compreender o processo de modernizao das sociedades alem e japonesa, pases considerados desenvolvidos desde o fim da II Guerra Mundial, os autores nacionais destacaram como trao marcante no caso brasileiro a preservao, ao longo dos sculos, de uma estrutura fundiria que deitou razes, predominantemente, nas mdias e grandes unidades de explorao agrcolas. Assim, a estrutura fundiria nacional enraizouse predominantemente em unidades de exploraes agrcolas que se modernizaram seguindo o caminho da via prussiana, isto , transformando as unidades de explorao agrcola em capitalistas sem que houvesse o fracionamento da estrutura fundiria nacional.

similarity in the process of conservative modernization occurred in Germany, Japan and Brazil was due to the maintenance of land structure rooted in the vast agricultural exploration.

Key words:
Conservative Modernization. Land Structure. Rural Development.

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Abstract
The purpose of this research is to understand the term conservative modernization and how it was used by Brazilian analysts. To achieve the goal proposed in the research, were used technical resources of bibliographic search and adopted the descriptive analytical method. The results found show, in general, that the term conservative modernization was elaborated by Barrington Moore Junior to portray the specific case of capitalist development in Germany and Japan, which held bourgeois revolutions from above. Thus, the modernization process of its society was built on a process of industrialization conditioned by the political pact created between the bourgeoisie and the landowners. The national authors did not use the conservative modernization term with all the historical and critical mediation that was intended to, but it had primary importance because showed that there was penetration of the productive forces typically capitalist in the national agriculture. However, these authors drew attention to the fact that the land structure, over the centuries, remained concentrated, especially in large-scale agricultural exploration. So, Alberto Passos Guimares and the other authors emphasized that the

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Recebido para publicao em: 22.07.2008

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