MORAES, Maria Lygia Quartim De. Marxismo, Psicanálise e o Feminismo Brasileiro PDF
MORAES, Maria Lygia Quartim De. Marxismo, Psicanálise e o Feminismo Brasileiro PDF
MORAES, Maria Lygia Quartim De. Marxismo, Psicanálise e o Feminismo Brasileiro PDF
Marxismo, psicanálise
e o feminismo brasileiro:
tomo I
ISBN: 978-85-86572-62-3
Ficha catalográfica
Universidade Estadual de Campinas
Biblioteca do Instituto de Filosofia e Ciências Humanas
Cecília Maria Jorge Nicolau – CRB 8/3387
M791m Moraes, Maria Lygia Quartim de, 1943-
Marxismo, psicanálise e o feminismo brasileiro. /Maria Lygia
Quartim de Moraes. -- Campinas, SP : UNICAMP/IFCH,
2017.
2 v. (Coleção Trajetória, 9)
Direção do IFCH
TOMO I
SUMÁRIO
AUTOBIOGRAFIA INTELECTUAL1
Introdução
1
Apresentada como parte do memorial para concurso de professor titular
UNICAMP – 2002. O concurso foi realizado em abril de 2005.
12 Autobiografia Intelectual
França (1970-1971)
Doutorado em Nanterre
4 – O retorno ao Brasil
Transição
UNICAMP (1993-2004)
uma mulher que não quer ter filhos não deve ser a isso obrigada por
ela mesma e por sua prole.
A proposta de inverter as prioridades e, principalmente,
de considerar a importância da maternidade assistida nos dois
primeiros anos de vida, me foram muito criticadas por minhas
companheiras de feminismo. A socialização precoce, através
das creches, é defendida pela psicóloga e pesquisadora Fulvia
Rosemberg, enquanto defendo o ponto de vista que a idade ideal
para a socialização é a partir de dois anos e meio.
Por outro lado, nas condições concretas do Brasil, poucas mães
podem exercer sua maternidade em tempo integral e, nesse caso,
as creches constituem uma solução. No artigo Infância e Cidadania,
publicado em 1994, desenvolvo esses argumentos. Costumo pensar
que aquilo que eu considero o melhor para minhas netas também
vale para todas as crianças. Outra evidência que qualquer pediatra
sensível pode confirmar é que as crianças somatizam suas angústias
de maneira que o serviço de saúde infantil, junto com as creches,
constituem duas esferas determinantes no tocante às políticas sociais
para a infância.
A entrada de Cynthia Sarti (minha parceira no projeto Imprensa
Feminista em 1978) como professora na Escola Paulista de Medicina
ajudou a alavancar os projetos Rede de dados e pesquisas sobre a infância
e Avaliação de políticas sociais aplicadas a criança (Projeto Integrado, 1995
– 1999).
tinham sido descobertos sob falso nome, por exemplo. Uma vez
aprovada, a lei tratava do julgamento de cada caso por uma comissão
mista. A importância de divulgar a questão em suas múltiplas
dimensões levou à idéia de organizarmos na Unicamp um evento
de dimensões internacionais com o titulo de A Revolução Possível:
homenagem aos mortos e desaparecidos políticos.
Em março de 1996, como forma de pressionar o Estado
a acelerar a criação da Comissão Especial de Justiça, realizamos um
amplo seminário na Unicamp, com a presença do secretário de Justiça
do Estado de São Paulo, Belisário dos Santos Jr., dos então deputados
José Genoíno e Luiza Erundina, representantes de organismos
internacionais de defesa dos Direitos Humanos, entre outros.
A importância de documentos guardados no Arquivo Edgard
Leuenroth – do Instituto de Filosofia e Ciências Humanas da
UNICAMP – revelou-se, neste episódio, decisivo para a formulação
do projeto em curso.
O grande interesse despertado nos alunos do IFCH levou à
formação de um grupo de pesquisa sobre o tema, com alunos da
graduação e da pós. Aos poucos, foi se delineando um projeto
de registro da memória política e de organização dos processos
de acusação na justiça militar. O importantíssimo arquivo do
projeto Tortura Nunca Mais se encontra no AEL, o que facilitava
enormemente e tarefa proposta de organizar as informações sobre
os denunciados pela Justiça Militar.
Quais as perspectivas?
Questões em pauta
2
Tradução minha: “Nenhuma classe consegue deter o poder de Estado de forma
duradoura sem exercer ao mesmo tempo sua hegemonia sobre e dentro dos
Aparelhos Ideológicos de Estado”.
Maria Lygia Quartim de Moraes 45
Sobre a ideologia
3
Tradução minha: “Na ideologia o que é representado não é o sistema das relações
reais que governam a existência dos indivíduos mas a relação imaginária desses
indivíduos com respeito às relações reais sob as quais vivem”.
Maria Lygia Quartim de Moraes 47
O conceito de prática
4
Tradução minha: “Toda prática é concreta. Não existe prática que não esteja
inserida nas formações (formações sociais, formações teórico-científicas,
ideológicas). Não existe prática a não ser nas categorias que definem as formações
em questão (tal sociedade, tal ‘ciência”, etc.) logo nas categorias combinadas na
‘existência ‘ concreta de tais formações (modos de produção sociais, modos de
produção técnico-científicos, etc.)”.
5
Tradução minha: “um processo não tem um ‘objetivo’; uma prática tem um
‘objetivo’”.
Maria Lygia Quartim de Moraes 49
6
Tradução minha: “o ponto de vista de Althusser, não obstante sua utilidade,
permanece implicitamente limitado pela noção de um aparelho de estado
centralizado”.
7
Tradução minha: “Implica num conjunto de condições que precedem o sujeito,
afetando e subordinando o sujeito a partir do exterior”.
8
Tradução minha: “O Poder não somente atua sobre o sujeito mas, num sentido
transitivo, permite o sujeito ser.
Maria Lygia Quartim de Moraes 51
Afinidades inesperadas
9
Tradução minha: “aquilo que é pensado como antecedendo a cultura em relação a
ela mesma no tornar-se humano do pequeno ser biológico, encontra-se na verdade
no interior da própria cultura. Dito de outra maneira, a precessão da cultura em
relação ela mesma , que se situa ao nível cultural na prática psicanalítica.”
52 Autobiografia Intelectual
Extraindo as conseqüências
10
Tradução minha: “O materialismo do encontro, logo do aleatório e do
contingente”.
11
Tradução minha: “A sociedade nasce, o estado de natureza nasce, também
a guerra, e com eles se desenvolve um processo de acumulação e mudança que
literamente criam a natureza humana socializada”.
Maria Lygia Quartim de Moraes 57
12
Tradução minha: “a contingência da necessidade como efeito da necessidade da
contingência”.
13
Tradução minha: “criar as condições de um desvio e de um encontro”.
58 Autobiografia Intelectual
Bibliografia
A QUESTÃO FEMININA1
1
Publicada inicialmente na revista Estudos CEPRAB n. 16, abril/junho 1976,
p. 155-168.
60 Autobiografia Intelectual
Introdução
II – “Família” ou “Famílias”?
Introdução
3 – Mulher e Trabalho
Quadro A
Distribuição da população economicamente ativa Feminina
por algumas ocupações específicas no Brasil, 1970
Fonte: IBGE, Censo Demográfico-Brasil, 1970. Apud Saffioti, o trabalho Fe-minino Sob o Capitalismo
Dependente, Associação Brasileira de Estudos Populacionais, 1978.
Quadro B
Percentagem de Mulheres em relação ao numero total de trabalhadores,
por faixa de remuneração em relação ao Salário Mínimo
Regiões Total Até 1/4 1/4/1/2 1/2/1 1/2 2/5 5/10 10/20 +20
I 29,5 75,3 70,1 43,1 29,5 17,8 17,7 13,2 5,3
II 29,2 60,6 66,0 49,7 33,8 19,2 15,6 9,0 4,4
III 30,9 57,6 60,4 35,6 38,7 14,0 10,6 8,1 4,2
IV 24,7 75,3 53,5 25,8 19,1 12,0 9,6 6,7 3,8
V 28,2 74,0 47,0 48,0 13,1 12,8 14,7 11,6 3,8
Quadro C
Salário das Mulheres em relação ao Salário dos Homens, por nível de
instrução, segundo as Regiões (Salário dos Homens igual a 1) Brasil – 1970
MÉDIO MÉDIO
REGIÕES/ESTADOS TOTAL ANALFABETO ELEMENTAR SUPERIOR
1º CICLO 2º CICLO
Minas Gerais e
0,85 0,93 0,77 0,79 0,58 0,58
Espirito Santo
Quadro D
Taxa de participação econômica feminina EUA
NÚMEROS
ANO PORCENTAGEM
ABSOLUTOS
1978 42 300 000 50,4
1970 31 300 000 43,2
1960 23 000 000 37,4
1950 17 900 000 33,0
1940 13 800 000 28,9
A família trabalhadora
ela não possa se realizar para todos pois a sociedade esta dividida em
classes. Basta recordar, neste sentido, a formação da família operária.
A família operária nasce, historicamente, sob o signo da
contradição. Naqueles países em que o capitalismo industrial
desenvolveu-se primeiramente, como a Inglaterra, a formação
do operariado implicou na destruição da economia familiar de
amplas camadas da população expulsas de campo, no processo de
separação entre o produtor e os meios de produção. Ademais, dada
a dependência da sobrevivência familiar ao trabalho assalariado e a
introdução da maquinaria, o emprego de mulheres e crianças foi uma
primeira consequência do capitalismo industrial. Assim, “não cabe
dúvida, que nesta primeira fase do capitalismo industrial, a família
proletária foi seriamente minada pela grande extensão do trabalho
feminino e do trabalho infantil, a ponto de impossibilitar serviços
domésticos essenciais à reprodução do trabalhador” (SINGER,
1976, p. 32):
A formação do proletariado fabril implicou, na verdade,
na destruição da economia familiar do trabalhador.
Atraídos à cidade, os operários eram obrigados a
abandonar não apenas a aldeia e a ligação com a terra,
mas também a possibilidade de combinar a atividade de
todos os membros da família tanto na produção social
quanto na de subsistência. Todos eles - homens, mulheres,
crianças - foram obrigados a se dedicar à produção para o
capital e por jornadas tão longas que quase não sobrava
tempo para qualquer atividade doméstica, isto é, para
auto-consumo (SINGER, 1976, p. 27).
Bibliografia
ARIES, Phi1ippe. L’enfant e la vie familiale sous L’ancien regime. Paris, Seuil,
1973.
COSTA, Jurandir Freire. Ordem médica e norma familiar. Rio de Janeiro, Graal,
1979.
COULSON, Margaret et alli. The housewife and her labour under capitalism, a
critique. New Left Review; Londres, (89) 1975.
___________. Sur les sociétes pré capitalistes. Paris, C.E.R.M. Editions Sociales,
1970.
MARX, Karl. Critique de léconomie politique. In: Oeuvres II. Paris, Gallimard,
1968.
SECCOMBE, Wally. Housework under capitalism. New left Review, (83) 1973.
Introdução
1 – As Origens
Quadro A
A imprensa feminina Norte-Americana
DADOS DE 1968
REVISTAS Tiragem
(Mil) PERIODICIDADE DATA DA FUNDAÇÃO
McCall’s 8567 mensal 1870
Ladies Home Journal 6805 mensal 1883
Woman’s Day 6562 mensal 1937
Good Housekeeping 5519 mensal 1885
Vogue 442 quinzenal 1892
Harper’s Bazaar 425 mensal 1867
Mademoiselle 664 mensal 1935
Glamour 1244 mensal 1939
Parent’s Magazine 2032 mensal 1926
Family Circle 7051 mensal 1932
Quadro B
A imprensa feminina na França
TIRAGEM
DATA DE
TÍTULOS (média setem- PERIODICIDADE
FUNDAÇÃO
bro 67)
Mode de Paris 1541 semanal 1948
Fammes
980 mensal 1933
d’aujourdhui
Jours de France 780 mensal 1955
Quadro C
Grupos Econômicos na imprensa nos Estados Unidos
OUTROS MAGAZINES
TÍTULOS GRUPOS ECONÔMICOS DE PROPRIEDADE DO
GRUPO
McCall’s McCall’s Corporation Redbook
Saturday Evening Post, Ame-
Ladies Home Journal Curtis Publishing Co.
rican Home, Holiday
Woman’s Day FaWcette Publishing Co.
Harper’s Bazaar,
Good HouseKeeping Hearst Magazine Comopolitan Popular Mecha-
nics Mademoiselle, Glamour
Vogue Conde Nast Publications
Family Circle Inc.
Family Circle
Publishers
Quadro D
Os Grupos Econômicos na imprensa Feminina na Inglaterra
Quadro E
Grupos econômicos e a imprensa Feminina na França
OUTRAS PUBLICA-
TÍTULOS GRUPOS
ÇÕES DO GRUPO
Mon Ouvrage Madame,
L’Echo de la Mode Editions Montsouris
Rustica, Lisette, Pierrot
France-Soir, Paris-Presse,
France-Dimanche, Journal
Elle France Editions et Publications du Dimanche, Fammes
Pratique, Tricots de Fem-
mes d’Aujourd’hui
Editions du Hennin à Bruxeles,
Femme d’Aujourd’hui
liées au grupe Hachette
Sociéte de Presse
Jours de France
(filial do grupo Dassult)
Paris-Match, Télé 7 jours,
Figaro (50%), Parisien Li-
béré, Courrier de l’Quest,
Marie-Claire Editions du groupe Provost
Point de vue-Images du
Monde, Carrefour,
l’Equipe
Marie-France Editions du group Amaury
Quadro F
Fotonovelas no Brasil
Claudia
Carícia
O “modelo” Carícia
NOVA
5 – O Perfil da Leitora
Quadro G
Classificação Socioeconômica – Critério ABA
Quadro H
Comparação: Itens de Conforto e Posse
Donas de Casa
Mulheres Classes AB1
Classes AB1
Idade: 20/24
Idade: 20/24
Leitoras Não Leitoras Leitoras Não Leitoras
% % % %
Televisão 84 79 82 79
Geladeira com freezer 21 15 19 15
Maquina de lavar roupa 74 64 71 61
Radio AM/FM 75 61 73 58
Empregada doméstica 45 37 46 37
Casa de campo ou praia 26 15 21 14
Ações 15 9 17 10
Conta bancaria 66 55 70 58
Carro próprio e manutenção 25 16 23 16
Viagem ao exterior 18 11 17 10
Prod. hidratidante para a pele 53 38 52 36
viver melhor no seu lar, com seu marido, seus filhos e consigo mesma,
sempre com lições de vida”. Afirma a diretora da redação.
Quadro I
Composição Socioeconômica das 7 Primeiras Capitais Brasileiras
De fato, é para esta mulher sem rosto que os 350 mil exemplares
da revista se dirigem. Esta mulher casada, com filhos, dona-de-casa
tradicional cuja forma privilegiada de atualização e o consumo da
moda, quer seja ela roupa, terapia, almofada para se fazer com retalhos
ou strognoff. O importante é consumir o moderno; é tentar garantir
na aparência visível (a aparência “moderna”) aquilo que na essência
é rígido e muito velho.
E Claudia permite também um consumo ideologicamente
muito importante: a crença na onipotência do individualismo que
transforma o mundo em nossa mera representação, pois tudo
depende de mim. “Eu faço Claudia, explica Maria Cristina Duarte,
porque acredito que todas as tarefas de uma dona-de-casa podem
ser tão criativas como as de uma jornalista. O que faz uma tarefa
criativa, gratificante (e não massacrante e repetitiva) é o modo como
196 As revistas femininas da Editora Abril e seus modelos de mulher
Quadro J
Total Trimestral de Páginas de Publicidade Vendidas por Claudia
pretende fazê-lo “só que ela não está morrendo de pressa, com medo
de ficar para titia, pois tem bastante atividade própria para se sentir
satisfeita. Ela sabe que o amor e uma vida afetiva satisfatória são as
coisas mais importantes do mundo. Mas ela quer um marido com
quem compartilhar a sua vida e não um marido para construir a sua
vida”. Entre outras características de sua leitora, Fatima Ali acentua o
fato de que “ela quer viver bem” pois “sabe que tem direito a viajar, de
passar fins de semana gostosos, de ir a restaurantes, festas, discotecas.
Ela gosta de receber amigos para um whisky e um papo gostoso,
gosta de convidar de vez em quando para um jantar caprichado, bem
sofisticado e diferente, mas que não seja muito complicado”.
O lazer, o mais convencional – pois reduzido a festas,
restaurantes e discotecas – mas sempre apresentado, nas páginas da
revista, de forma glamurosa, com a mulher vestida de forma sexy,
sempre sugerindo um erotismo consumista (pois preso às roupas e
ao “décor”). E o maior consumo que a leitora de NOVA faz é do
seu próprio corpo. E alguém que “se preocupa com sua aparência:
a mulher NOVA quer ser atraente. Ela sabe que isso ó importante
não somente para atrair um homem, como também é importante
para que ela tenha uma presença marcante no seu trabalho
e socialmente. Ela quer ficar mais bonita e faz tudo para isso”.
NOVA é das revistas mais paulistas da Editora Abril, como se
nota pelos dados do Instituto de Circulação (IVC), 39 trimestre de
1978: 31% de seus 220 mil exemplares são vendidos na capital e 13%
no interior de São Paulo, ou seja um total de 44% da edição circula
neste Estado. A esmagadora maioria de suas leitoras são jovens, com
72% na faixa etária de 15 a 29 anos, sendo que 40% situam-se na
faixa dos 20/29 anos. Mais da metade das leitoras situa-se nas classes
mais altas de renda (39%) na classe A; 17% na classe BI e 31% na
classe B2. E, agregando dados de idade e renda temos que 62% das
leitoras estão na classe AB, dentro da faixa etária dos 15 aos 29 anos.
Além disso, a porcentagem das leitoras NOVA que trabalham como
efetivas é relativamente alta: 35%.
198 As revistas femininas da Editora Abril e seus modelos de mulher
ousada, mais voltada para uma mulher com outra visão, hoje já
não existe mais este problema”. Comparando NOVA com Claudia,
ele concorda que esta última revista é de longe a predileta dos
anunciantes, não só porque “é para a dona de casa” mas também
porque “ela hoje procura atender a toda a família; ela tem uma
política de prestar serviços, de forma atuante”. Mas NOVA vende
propaganda “em função de comportamento, de aparência, de beleza
e de praticidade pois NOVA é a mulher que apesar de trabalhar é
casada e tem filhos e precisa de coisas mais práticas; é uma mulher
mais ágil, mais dinâmica.”
Carícia é a mais “nacional” das revistas femininas em estudo, se
levarmos em conta que a concentração de sua circulação no Estado
de São Paulo é menor do que a de NOVA ou Claudia (32%; 44% e
42%, respectivamente), assim como o fato de que, conjuntamente
com Capricho, tem 40% de sua circulação nas cidades do interior do
país, em comparação aos 27% de NOVA. Outra característica, muito
sua, concerne à juventude dos leitores. De fato, 54% deles estão
na faixa dos 15/19 anos e 31%, na dos 20 a 29 anos. Este é um
dos motivos de orgulho de Yara Rodrigues Martins, redatora chefe,
pois, como bem acentua, “enquanto Claudia é revista de mulheres de
mais de 30 anos, com a cabeça já formada, nossa leitora é jovem, em
formação”.
200 As revistas femininas da Editora Abril e seus modelos de mulher
Quadro K
Difusão das Revistas femininas na Capital e no Interior
Claudia 347 67 33
Caricia 311 60 40
Capricho 282 60 40
NOVA 220 72 27
Quadro L
Tabela de Preços do Espaço em Revistas Femininas na Editora Abril
(Em vigor em 01/07/1979)
6 – As Condições de Trabalho
1
Vide, em anexo ao capítulo, entrevistas com jornalistas de Carícia, Claudia, Nova
e Capricho.
Maria Lygia Quartim de Moraes 207
8 – A Solidão Rompida
mas um belo dia, isto depois de quase dois meses, ao termos relação,
eu senti um estrondo tão grande em minha cabeça que parecia que
ela havia partido em pedaços e então senti o orgasmo. Minha reação
foi chorar muito. Mas foi um choro de alívio e alegria, pois sentia
que havia me libertado de algo que me reprimia e não deixava me
realizar. Daí em diante tudo ficou normal”. A ânsia de realmente se
abrir aparece na segunda carta, escrita alguns dias depois, em que
o mesmo momento é assim descrito: “Realmente depois de 2 meses
eu senti e quando alcancei o orgasmo a impressão que tive foi que
minha cabeça havia estourado e se partido em mil pedaços; neste
momento três pessoas vieram a meu pensamento: papai, meu médico
e outro que eu havia ido pela primeira vez ao hotel”.
Outras leitoras, como Lilian, escrevem cartas para a redatora de
NOVA, Fátima Ali, tratando-a como uma amiga próxima (a relação
profissional sempre é encoberta pelo intimismo que se despreende
da grande maioria das matérias e artigos, como se tudo não passasse
de um bate-papo entre íntimos) a quem dizem: “NOVA para mim
é gente, uma mulher, não uma revista. É uma pessoa carinhosa,
sensível, amiga, inteligente. Brava, às vezes. NOVA me anima, me dá
a cada mês, vontade de fazer coisas novas, reformular meus objetivos,
repensar a vida, buscar mais e mais fundo, questionar, de ser melhor.
NOVA dá amor, compreende, encoraja. NOVA às vezes tem o
seu rosto, às vezes o da Marina ou da Marcia ou tantos outros, tão
íntimos (às vezes até um rosto masculino) NOVA imagem da gente
mesma, novos planos, novos sonhos, tudo isto vocês tem me trazido
há muitos meses. Por isso – e talvez por razões que eu não perceba
agora e que você talvez possa perceber – eu te escrevo, ao invés de
escrever a uma outra pessoa”.
Esta leitora, cuja carta revela ser uma mulher inteligente, culta
e sensível percebe por detrás da revista os rostos das redatoras.
Mesmo porque individualizar o corpo redacional faz par te do estilo
jornalístico de NOVA. Mas, via de regra, é para NOVA, mito que
transforma uma revista em pessoa (em uma mulher que poderia se
214 As revistas femininas da Editora Abril e seus modelos de mulher
2
Entrevista com Carmen da Silva , colaboradora permanente de Claudia
A experiência pessoal
2
Entrevista realizada em 7/2/78, no Rio de Janeiro, por Maria Lygia Q. de
Moraes.
216 As revistas femininas da Editora Abril e seus modelos de mulher
O perfil da leitora
3
Entrevista com Marilda Varejão , diretora de Capricho
3
Entrevista realizada por Cynthia Sarti e Maria Lygia Quartim de Moraes.
220 As revistas femininas da Editora Abril e seus modelos de mulher
18. Aqui temos uma lista dos assuntos que costumam aparecer em
Capricho (marque com um x, no espaço em branco, os cinco assuntos
mais importantes na revista).
222 As revistas femininas da Editora Abril e seus modelos de mulher
37. “Cada mulher deve ter o seu jeito de se pentear, de se pintar, sem
ligar para a moda”.
sim (64,6%) não (32,2%)
A orientação profissional
Capricho transforma-se
4
Entrevista com Eda Romio – Editora executiva da NOVA
A experiência pessoal
4
Entrevista realizada por Cynthia Sarti em 27/12/78, em São Paulo.
230 As revistas femininas da Editora Abril e seus modelos de mulher
passa de 20%. A Fátima tem uma frase muito boa, ela diz: quando
vocês sentam para escrever uma matéria, o melhor jeito para que essa
matéria saia bem é vocês pensarem, primeiro, que estão escrevendo
para vocês mesmas, porque vocês são leitoras de NOVA, segundo
que vocês estão diante de uma única mulher sentada à sua frente. Não
é mais aquela massa disforme. Então a NOVA tem isso. Para mim
pessoalmente ela ensinou objetividade, ela me fez ver a diferença
entre textos elegantes e textos densos. As duas coisas devem existir
juntas, mas se a gente tem que optar, hoje, eu prefiro a densidade e
não a elegância. Mas a gente caminha para tentar conseguir as duas
coisas. Essa é, mais ou menos, a grande diferença que eu sinto entre
as duas”.
Ela deu certo assim, ela explodiu, vendeu bem. Começou vendendo
acho que 150 mil revistas por mês. Era um número alto. Ela, depois,
ficou mais ou menos parada e ai ela conheceu um período de queda,
que foi provavelmente uma época em que ela se estagnou. Não
cresceu em linguagem, se atrapalhou nos conceitos que ela queria
veicular. E finalmente há um ano e meio atrás ela começou, acordou
de novo para esse país onde ela é feita.
A equipe toda mudou. Quem fazia a revista mudou, menos a
Fátima. A Fátima teve sempre na cabeça esta NOVA de agora. Eu
diria que ela tem a NOVA de daqui a um ano também na cabeça, que
ainda não é esta. É uma revista caminhando. Ela tinha uma revista na
cabeça, mas ela não conseguia executá-la. A revista se perdia no fazer,
o resultado acabava não sendo o sonho, ou a ideia primeira e isso
levou a revista para um decréscimo de venda. Não era acentuado, mas
era alarmante, na medida em que toda a publicação quando conhece
um pequeno ocaso de vendas, é sinal de que as coisas não vão bem, às
vezes não vão irrecuperavelmente bem. Tem outro detalhe, a NOVA
é uma revista inspirada numa revista americana chamada Cosmopolitan
que é a formula editorial de maior sucesso no mundo todo, incluindo
todas as revistas. Vende por mês 3 milhões de revistas”.
para coisas que não eram tão importantes e resolvi dar a volta por
cima. Então a gente acha que está no caminho certo”.
“Eu diria que nesse país tem um único divisor de águas, que
é o poder aquisitivo. E divisor de águas para tudo: para você ter
acesso a informação, à educação, a um bom casamento, a um bom
trabalho, sei lá. Tirando as exceções, as pessoas que se destacam, os
gênios, os brilhantismos, falando em termos de média, você fala em
poder aquisitivo. A revista NOVA custa Cr$30,00. Eu acho que isso
define o público. Não é uma revista que uma pessoa que ganha um
salário mínimo possa comprar. Ela pode é ser lida por essa pessoa em
4? 3? mãos. Isso acontece muito. Agora o público consumidor dela,
é quem pode pagar Cr$30,00 uma revista e isso é caro. É o preço da
Cosmopolitan nos EUA. Se você faz a conta de que lá a renda per capita
é infinitamente maior do que aqui, você vê que isso limita bastante.
Quem é a leitora que pode pagar Cr$ 30,00: ela se concentra em
cidades grandes, basicamente Rio e São Paulo. Não tenho os dados
certos, mas acho que ela deve ser vendida 70% nessas cidades. Ela é
comprada por mulheres que trabalham; 60% de mulheres que tem
uma atividade própria. Elas não são independentes economicamente.
A maioria e solteira (uns 80%); moram com pai e mãe (a maioria);
têm trabalhos intermediários. E uma leitora jovem, basicamente dos
17 aos 30 anos de idade. Ela está em começo de carreira. Profissões
médias e estudantes, fazendo estágios. Esse rótulo: leitora de NOVA-
secretária é muito comum, mas ele é irreal; não há tantas secretárias
assim nesse país a ponto de compor o universo das leitoras de NOVA.
Mas nesse nível de profissão existem muitas. E pessoas que estão
estudando e fazendo coisas encaminhadas para a profissão. Profissão
é um item na NOVA muito importante. Através de matérias sobre
mulheres bem sucedidas nas mais diversas profissões, a gente tenta
Maria Lygia Quartim de Moraes 237
A NOVA tenta ser cada vez mais o que a gente chama de uma
revista de comportamento. Ela não é uma revista didática, não é uma
revista de informação. Nos temos todo mês: uma matéria de sexo, é
um assunto que nós fazemos questão de falar; uma matéria que fala
de emoção, tipo timidez e insegurança: uma matéria didática sobre
a vida afetiva. Uma matéria que trate de relacionamento amoroso.
Perfis de pessoas famosas, o critério é o de fama e uma pessoa que
tenha alguma coisa a ver com a NOVA. Neste número tem Sidnei
Magal que é um cantor que leva multidões ao delírio, as mulheres
acham ele maravilhoso, ele requebra, as pessoas dizem que ele é sexy,
então tem a ver com um tipo. E a Shirley MacLaine, que é uma mulher
ativa, dinâmica, brigadora, que procura caminhos sempre novos para
ela: uma mulher NOVA. Temos, além disso, matérias de saúde todo
mês, matérias sobre carreiras, os serviços: moda, beleza, decoração,
culinária até, que é o lado tradicional da mulher, a preocupação
tradicional da mulher e que nós achamos que está certo. Uma mulher
de hoje também se preocupa com isso. O teste, que é o passatempo,
como outras revistas tem palavras cruzadas, nos temos o teste e o
horóscopo.
Ademais temos a ficção: sempre um autor muito célebre,
conhecido. Ou best-seller, ou um clássico. Nos sabemos que o
brasileiro e a brasileira (bote a nisso) lê muito pouco. Um best-seller
no Brasil é uma tiragem de 3 mil exemplares. Você calcula como se
lê pouco neste país. E a mulher lê muito menos. Pelas cartas que
a gente recebe, ela demonstra uma vontade muito grande de conhecer
coisas, em tudo, principalmente em literatura. Elas querem conhecer
os clássicos que elas ouvem falar e querem saber quem é. A nossa
ficção se divide em: medalhões e mulheres que escrevem. o nosso
desejo e ter todo mês um conto de alguém famoso e um conto de
uma mulher que escrevesse, famosa, também. Depois as seções fixas:
cinema, discos, livros, o Divã do Analista.
240 As revistas femininas da Editora Abril e seus modelos de mulher
A Censura prévia
“Estou em Caricia faz dois anos é acho que ela mudou desde o
momento que entrei pois foi o mesmo tempo em que entrou Yara,
a redatora-chefe. A gente veio com um tipo de estilo e de ideia muito
semelhantes. Minha impressão é que antes a revista era mais aberta,
abrangendo um leque mais amplo de assuntos o que, aparentemente,
dava uma maior riqueza para ela. Por exemplo, em um dos últimos
números antes das modificações ela tinha uma matéria sobre uma
viagem ao rio São Francisco. Ora, esta é uma matéria que acho válida,
mas um pouco distante do padrão de vida que supomos que a leitora
tenha. A leitora de Carícia não parece ser alguém que já está pondo
o pé na estrada, fazendo uma viagem pelo São Francisco. Ela é uma
leitora mais para dentro, ela não é uma garota Pop, nem NOVA; ela
esta começando a sair de dentro dela, ainda não atravessou a porta.
Assim diminuímos o leque de assuntos. Eu me lembro bem que
quando entrei em Carícia estava vindo de jornal, da Editora Três,
com uma visão ainda na base de artigos no estilo “como descolar seu
primeiro emprego’’; “como andar de bicicleta’’, enfim matérias mais
de modo de vida do que emocionais. E, agora, o forte da revista é a
linha emocional. Eu pensava também em introduzir artigos de cunho
político-social. Alguém na redação me alertou, e estou de acordo, que
antes de você ser um ser social, um ser político, você precisa estar
bem consigo mesma. Especialmente no caso da leitora de Carícia que
é uma adolescente que precisa entrar dentro de si mesma, se conhecer,
se entender, saber transar um relacionamento mais próximo... Acho
que é prematuro. Pra uma leitora adolescente você entrar numa área
Maria Lygia Quartim de Moraes 245
maior do que ela com o namorado dela; ela com os pais, com os
colegas da escola, enfim, ela mais num mundinho pequeno. Você
vê revistas estrangeiras que estão mais na linha de colocar posições
políticas. Coisas no gênero da ligação entre sexo e político, como
vi no Nouvel Observateur. Mas nós não temos público para isto e o
leitor de Carícia no caso, está longe de chegar nisso. Por isto, fomos
fechando o leque de assuntos.”
Tiragem: 414.915
Assinaturas: 287.787
Avulsas: 58.797
Circulação Líquida: 346.584
Fonte: IVC Dez/2014
Total de Leitores: 1.298.359
Fonte: Projeção Brasil de Leitores consolidado 2014
O que mudou
Tiragem: 216.831
Assinaturas: 127.934
Avulsas: 42.899
258 Uma releitura das revistas femininas
1 – Rememorando
tão distante da vida real que não deixa ambiguidades sobre o caráter
fictício do enredo. Constitui – expressa e explicitamente – uma leitura
de evasão.
E o velho circuito se refaz: dada a inflação, três mulheres da
família compram um dos títulos que compõem a coleção das “mais
belas histórias de amor” da Editora Abril: Sabrina, Júlia e a recém
lançada Bianca. Se outros títulos surgirem tratarão de colocar uma
parente a mais em nosso circuito pois, como bem esclarece Pier
Luigi Bracco, diretor/editor destas revistas, “quem lê uma, lê todas”.
(entrevista realizada na Editora Abril no dia 19/6/79).
Zélia Gattai, descrevendo os serões de sua infância, na cidade
de São Paulo de fins da Primeira República, conta da reação paterna
frente às reuniões femininas que Angelina, sua mãe, presidia, às tardes,
com mulheres da vizinhança que faziam crochê ou tricô, enquanto
escutavam a leitura de romances de folhetim.
Papai não entendia e ficava intrigado com as contradições
intelectuais da mulher. Como podia ela, pessoa de
bom gosto literário, que ficava até altas horas da noite
– para poder concentrar-se no silêncio – lendo livros
de Victor Hugo, de Zola, de Kropotkin, de Eça de
Queiroz, versos de Guerra Junqueira –, gostar também
dos romances em fascículos? (GATTAI, 1979, p. 110).
3 – As leis do Amor
Assim, tola foi ela de não ceder desde o início: deveria ter se
casado e achado ótimo. Afinal, Andreas a amava. E como, sabendo
-se amada, e não apenas “desejada” (sic) poderia ela se negar a este
amor? Ainda mais que Andreas lhe explica que a amara à primeira
vista, tal como o pai de Shani a sua mulher. Tal explicação parece,
à escritora, suficiente. Não parece perceber o absurdo da proposição:
o herói amado a heroína tem de ser, necessariamente, correspondido...
Eis a regra amorosa na ordem falocrática. Nas linhas finais, Shani
propõe ao marido (“espiando para ele por baixo das pestanas”) uma
lua de mel. E, pasmem, fica extremamente grata a ele (que é médico)
pela resposta:
– Não vai haver lua-de-mel antes que seu médico
permita. Ela engoliu em seco. Como podia ter imaginado
que o único interesse dela tinha sido o desejo? (...)
Olhos cheios de amor fitavam o rosto do marido.
Sorrindo, ele pegou sua mão e levou-a aos lábios. FIM
(p. 124).
Estas são algumas das lições que Rom, o cigano, ensina para a
jovem Marielle, em A noiva comprada. Além disso, exalta o sentimento
de posse masculino, quando declara que:
Nada pode proporcionar a um homem maior satisfação
do que domar os impulsos de quem se opõe a ele, seja
um veado selvagem ou uma mulher obstinada – ambos
tornam a caçada mais excitante (p. 75).
280 A magia dos contos de amor
Anexo
Principais Características dos Heróis; Heroínas; Heroínas e Circunstâncias do
seu Encontro Amoroso em 25 Números de Sabrina
“Labirinto
Paixões” Terese Clara, sem maiores
25 Enfermeira Australiana Solteira
(Avenging (orfã) atrativos
32 Austrália
Angel)
Helen Moreno, corpo
Manuel 34 Diretor Espanhol Solteiro
Bianchin avantajado
“O Barco Tracy
das Ilusões 25 Médica Inglesa Solteira Bonita
(Orfã) Viagem ao
Perdidas”
33
(Not Wanted Comandante Alto, forte, olhos Polo Sul
on Voyage) Derek 36 Inglês
de Navio azuis
Kay Thorpe
“A Lei Leigh 24 Secretária Inglesa Noiva Ruiva, olhos azuis
do Mais
Forte”(Dark Inglaterra e
35 Diretor de
Star) Ruiz 35 Mexicano Solteiro Moreno, alto, forte México
Empresa
Nenda
Helliard
Executiva de Cabelo mel, olhos
“Nas Suzane 24 Inglesa Solteira
Hotel castanhos
Garras do Veneza e
Moreno, alto, olhos
Falcão”(The 37 interior da
verdes, cicatriz no
Medici Lover) Mazzaro 40 Conde Italiano Casado cidade
rosto, defeito nas
Anne Mather
costas
“Vida de Toni
24 Bailarina Inglesa Solteira Morena, elegante
Bailarina”(The (orfã)
Whispering Ilha de
41
Grove) Adm. de Magro, bronzeado, Salamandra
Justin 36 Inglês Viúvo
Mergery Fazenda grisalho
Hilton
“Uma luz nas Melina Bonita, mas cega por
22 Pintora Americana Solteira São
trevas”(The (orfã) causa de acidente
43 Francisco,
Ivory Cane) Bonito, alto, ombros
Bay 38 Milionário Americano Solteiro Califórnia
Janet Dailey largos
Julie Esbelta, loira
18 Nobre Inglesa Solteira
“Incerto (orfã) mediana
44 Ilha Grega
Amanhã” Pescador Moreno, atlético,
Doneus 29 Grego Solteiro
(nobre) cicatriz no rosto
“O Castelo Halcyon Alta, morena, olhos
Jovem Escritora Inglesa Solteira
das Ilusões” (orfã) verdes. magra, bonita Interior
(Crow of da França
45
Willow) + Olhos cor de âmbar, – Vale do
Raoul Nobre Falido Francês Noivo
Elizabeth Velho alto, forte, magro Loire
Ashton
284 A magia dos contos de amor
Rosto comum,
“O Sol por Coley Interior
19 Garçonete Americana Solteira cabelos mals
Testemunha” 57 (órfã) do
cuidados
(Sauvage Land) Texas
Jason 32 Capataz Americano Solteiro Moreno, alto
“Herança Rosalie Elegante
22 Estudante Inglesa Solteira
Maldita” (órfã) castanha brilh.
(The Willing Nova
58
Hostage) + Nobre Moreno, traços Castela
Rafael Espanhol Solteiro
Elizabeth Velho Arruinado selvagens
Ashton
“O Oásis do Sara Olhos verdes,
21 Aventureira Inglesa Solteira Navio de
Amor” (órfã) cabelos cobre
luxo indo
(Bride of the 59
+ Grande e para
Rife) Felipe Nobre-rico Espanhol Solteiro
Velho moreno Tanger
Margaret Rome
“O Preço da Cabelos, cast.,
Maria 17 Estudante Irlandesa Solteira
Felicidade” olhos âmbar
(Living at 60 Londres
+ de Esbelto, olhos
Adam) Adam Médico Inglês Solteiro
30 cinza profundo
Anne Mather
7
1
A nova moral sexual das revistas femininas in Sexo e Poder (Ed. Guido Mantega).
São Paulo, Editora Brasiliense, 1979, pp. 67-83.
290 A “nova” moral sexual das Revistas Femininas
Mas é apenas uma das perspectivas através das quais NOVA discute
a questão sexual: as outras terminarão por reduzir bastante o alcance
pretensamente inovador de sua proposta editorial. Pois a mulher
NOVA é “realista”, procurando o orgasmo ao mesmo tempo em
que é aconselhada a levar em conta “quando se troca um marido
por outro homem” em alguns “detalhes importantes”, como, por
exemplo, “trocar um homem rico por outro homem não tão rico
pode ser um desastre fatal”, pois “todo um estilo de vida não se muda
de uma hora para outra” (NOVA, n. 59).
A leitora de NOVAé levada a acreditar, ademais, que todos os
problemas podem ser resolvidos desde que se tenha a receita certa.
Assim, é instruída em “como deixar de amá-lo quando o caso não
tem mesmo esperança” (NOVA, n. 67); de como “qualquer mulher
(mesmo a mais feinha) pode ter um incrível poder sexual sobre os
homens” (NOVA, n. 66); de “como passar por essas fases em que
tudo vai mal o trabalho chato, o amor sem esperança, a vida sem
graça: saia dessa fossa!” (NOVA, n. 66) e o que fazer “quando você
descobre que o homem que você adora (e em quem tanto confia)
está tendo um caso” (NOVA, n. 53). Em poucas palavras, todos os
problemas de uma mulher terminam por se reduzirem a questiúnculas
ou banalidades que podem ser resolvidas com algumas fórmulas
mágicas.
Circunscrever a vida real das mulheres nos limites estreitos de
figuras biônicas (as manequins que ilustram a revista parecem mais
bonecas do que mulheres) que tudo conseguem resolver, que sempre
são belas, jovens e vitoriosas, constitui a tônica editorial de NOVA
e similares. Revistas em que as condições de existência de uma
minoria privilegiada terminam por serem apresentadas como “a”
forma “natural” de viver: revistas em que a inflação, o desemprego,
e os inúmeros problemas que os cidadãos e as cidadãs enfrentam
cotidianamente não merecem nenhuma referência.
E esta absoluta descaracterização das próprias condições
sociais em que homens e mulheres relacionam-se sexualmente, esta
300 A “nova” moral sexual das Revistas Femininas
Concluindo
MARXISMO E FEMINISMO
Introdução
1
Tradução minha: “No final dos anos 1960 e começo dos anos 1970, mulheres
participantes do movimento estudantil e militantes de organizações de esquerda
começaram a reunir-se em pequenos grupos para discutir textos do feminismo
marxista europeu e norte americano”.
Maria Lygia Quartim de Moraes 307
2
Nascida em Paris, em 1908, formou-se em filosofia em 1929 e foi professora até
1943, quando publicou seu primeiro romance, A Convidada. A partir de então
dedicou-se exclusivamente a divulgar suas ideias políticas – fortemente influenciada
pelo existencialismo – viajando por várias partes do mundo e escrevendo, entre
outros, o romance Todos os homens são mortais e vários tomos de memórias (Memórias
de uma moça bem comportada; Na força da idade e Sob o signo da História). Companheira e
mulher do filósofo Jean Paul Sartre, estiveram juntos até que a morte os separasse,
dando o exemplo de uma relação duradoura.
Maria Lygia Quartim de Moraes 321
3
Defendo, em oposição, uma certa “imanência” do corpo feminino, concebendo
a maternidade como um momento altamente positivo na vivência do “ser mulher”.
Neste sentido, só posso rejeitar uma libertação que desconhece a profunda
imbricação do biológico no social. A “humanização” da mulher não pode supor a
negação de seu corpo biológico.
328 Marxismo e Feminismo
4
O livro não foi traduzido para o português: traduzi os trechos citados da edição
inglesa de 1971. Os trechos originais aparecem em notas de rodapé.
5
No original: It is not just that the media gives Women’s Liberation publicity, it is that,
in concept and organization, it is the most public revolutionary movement ever to have
existed. Able, too, to make the most revolucionary statements in public without anyone
seeming bothered.
Maria Lygia Quartim de Moraes 331
6
No original: Where are we going? Quite simply, is the movement, which
claims to be revolutionary in intention moving towards the formation of itself
as a revolutionary organization? What would this mean in terms of its internal
structure and external alliances? Is the feminist concept of women as the most
fundamentally oppressed people and hence potentially the most revolutionary to
be counterposed to he Marxist position of the working class as the revolutionary
class under capitalism? If so, with what consequences? What is the relationship
between class-struggle ad the struggles of the oppressed? What are the politics
of oppression?
332 Marxismo e Feminismo
7
No original: that women’s oppression manifests itself in economic and cultural
deprivation, that oppressed women are found in all exploited minorities, in all
Maria Lygia Quartim de Moraes 333
social classes, in all radical movements. That on the issues of the position of
women, friends are foes. It is with the realizations that the theory and practice
of the movement has to contend.
8
No original: The separatist politics of Women’s Liberation may have come out
of one of the chief manifestation of women’s oppression: their diffidence: but
it certainly debauches straight into its center theory - that is women as a group
that are oppressed, and that, though all oppressed groupshould work to a point
of solidarity with each other, their own understanding of their own station comes
from their own analysis.
334 Marxismo e Feminismo
9
No original: The situation of woman is different from that of any other oppressed
social group: they are half of the human species. In some ways they are exploited
and oppressed like, and along with, other exploited classes or oppressed groups –
the working class, Blacks, etc.. But women are offered a universe of their own: the
family. Women are exploited at work, and relegated to the home: the two positions
compound their oppression.
Maria Lygia Quartim de Moraes 337
10
No original: In a complex totality each independent sector has its own autonomous
reality though each is ultimately, but only ultimately, determined by the economy
factor. This complex totality means that no contradiction is ever simple. As each
sector can move ta different pace, the synthesis of the different time-scales is the
total structure menas that sometimes contradictions cancel each other out. Because
the unity of woman’s condition at any time is in this way the product of several
structures, moving at different paces, it is always ‘overdetermined”.
11
No original: Psychoanalysis, exploring the unconscious and the constructs of
mental life, works on the terrain of wich the dominant pehomenal forms is the
338 Marxismo e Feminismo
Bibliografia
PSICANÁLISE E FEMINISMO
1
Devo a João Gabriel Teixeira, sociólogo da UNB, a reflexão sobre a “proscrição”
de Freud com respeito aos currículos universitários brasileiros.
344 Psicanálise e Feminismo
A lei materna
A lei paterna
Sigmund Freud
Jacques Lacan
mas, enfim, nós dois somos um só. É daí que parte a ideia do amor.
É verdadeiramente a maneira mais grosseira de dar à relação sexual,
a esse termo que manifestamente escapa, ao seu significado (LACAN,
1988, p. 56).
Nossa sociedade manietou a relação sexual na ilusão de que o
amor é “nós dois somos um só”, vale dizer, uma enorme empulhação,
pois cada um de nós continuará sendo só. A imagem da fusão de dois
em um é portanto o significante (que não reflete qualquer imanência)
da relação sexual.
O começo da sabedoria deveria ser começar a perceber
que é nisso que o velho pai Freud rompeu caminhos.
Foi daí que parti, pois isto, a mim mesmo, me tocou um
pouquinho. Aliás, poderia tocar qualquer um, né?, ao
perceber que o amor, se é verdade que ele tem relação
com o Um, não faz ninguém sair de si mesmo. Se é isto, só
isto, nada mais do que isto, que Freud disse ao introduzir
a função do amor narcísico, todo mundo sente, sentiu,
que o problema é de como é que pode haver um amor
por um outro (LACAN, 1988, p. 64-5).
podem centrar sua vida num projeto que viabilize a maior felicidade
possível. Pois aqui reside um aspecto fundamental na discussão das
possibilidades. Como disse Simone de Beauvoir, facilitar ao máximo
a vida dos seres humanos não significa ter a ilusão de que não haverá
sofrimento e dor. Significa, apenas, não colocar obstáculos adicionais
na vida dos indivíduos.
Ora, a natureza da repressão sexual sofrida pela mulher nas
sociedades que conhecemos corresponde exatamente a uma destes
“obstáculos” que, colocados insidiosamente no começo da corrida,
derrubam as corredoras logo de saída. As mulheres têm uma dívida
de gratidão com Freud por ele ter mostrado os estragos internos
causados pela moral sexual burguesa. Em um dos ensaios que
justificam a inclusão do freudismo nas teorias sociológicas mais
importante no nosso século, A moral sexual e a neurose moderna
(1908), Freud diz:
A conduta sexual de uma pessoa constitui o “protótipo”
de todas suas demais reações. Supomos que os homens
que conquistam energicamente seu objeto sexual
utilizarão a mesma energia para perseguir outros fins. Em
compensação, aqueles que em nome de toda uma série
de considerações renunciam a satisfazer seus poderosos
impulsos sexuais deverão ser, em outras ocasiões,
mais resignados do que ativos. Nas mulheres, pode-se
comprovar facilmente um caso especial deste princípio
na condição prototípica da vida sexual com respeito ao
desempenho das demais funções. A educação lhes proíbe
toda a elaboração intelectual dos problemas sexuais que
sempre inspiram máxima curiosidade, e as amedronta
com a afirmação de que tal curiosidade é pouco feminina
e denota uma disposição viciosa. Esta intimidação corta
sua atividade intelectual e rebaixa, em seu ânimo, o valor
de todo o conhecimento, pois a proibição de pensar se
estende para além da esfera sexual (...) Não creio que a
antítese biológica entre trabalho intelectual e atividade
sexual explique a “debilidade mental fisiológica” da
mulher, como pretende Moebius, em sua discutida obra.
Em compensação, opino que a indubitável inferioridade
358 Psicanálise e Feminismo
Bibliografia
GALLOP, Jane. The daughters’s seduction: feminism and psychoanalysis. New York,
Cornell University Press, 1982.
LACAN, J. Livro 20: Mais, ainda. O seminário. Rio de Janeiro, Zahar Editor,
1982.
__________. Psycoanalysis and feminism. New York, Allen Lane and Pantheon
Books, 1974.
__________. Feminine sexuality: Jacques Lacan and the École Freudienne. New
York, Pantheon Books, 1985.
1
Artigo publicado na revista Perspectivas, São Paulo, 1985, p. 143-152.
362 Família e Feminismo: o encontro...
Antecedentes
Realidades de hoje
O espaço do desejo
Bibliografia
FUKUI, L. Mulher e família. In: Bibliografia anotada sobre a mulher. São Paulo,
Brasiliense, 1979. p. 148-85.