749221-I Congresso ISKO Espanha e Portugal XI Congreso ISKO Espa A

Fernanda Ribeiro e Maria Elisa Cerveira, org.
I Congresso ISKO
Espanha e Portugal

XI Congreso ISKO Espaa

7 a 9 de novembro de 2013

Informao e/ou Conhecimento:
as duas faces de Jano

Atas

Faculdade de Letras da Universidade do Porto
CETAC.MEDIA
ISKO

Fernanda Ribeiro e Maria Elisa Cerveira, org.

I Congresso ISKO
Espanha e Portugal

XI Congreso ISKO Espaa

7 a 9 de novembro

Informao e/ou Conhecimento:
as duas faces de Jano

Atas

Porto
Faculdade de Letras da Universidade do Porto
CETAC.MEDIA
2013

Ficha tcnica:
Ttulo: Informao e/ou Conhecimento: as duas faces de Jano
Autor: I Congresso ISKO Espanha e Portugal / XI Congreso ISKO Espaa
Organizao: Fernanda Ribeiro e Maria Elisa Cerveira
Edio: Faculdade de Letras da Universidade do Porto - CETAC.MEDIA
ISBN: 978-989-8648-10-5
Design e formatao: Ana Sofia Ramos
Apoios: Universidade do Porto / webQDA (Esfera Crtica Unip., Ld
a
)

5

SUMRIO

Programa geral do Congresso ........................................................................................................................... 8

Apresentao ..................................................................................................................................................... 15

Keynotes speakers | Textos .............................................................................................................................. 17

Filosofia da mente e cincia da informao
Sofia Miguens ...................................................................................................................................... 19

As cincias da comunicao e informao e a gesto da informao / conhecimento
Armando Malheiro da Silva ............................................................................................................... 31

TEMA 1
Fundamentos, modelos e mtodos para a organizao e representao da informao ........ 33

TEMA 2
Organizao da informao para gesto do conhecimento ....................................................... 699

TEMA 3
Normalizao e interoperabilidade para o acesso informao ............................................... 927

TEMA 4
Partilhar informao e construir conhecimento nas comunidades virtuais ......................... 1107

TEMA 5
Informao local e organizao global: interaco e estratgias ............................................ 1317

TEMA 6
Igualdade e diversidade em organizao do conhecimento .................................................... 1379

ndice de autores ........................................................................................................................................... 1427

ndice de ttulos ............................................................................................................................................. 1431

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I Congresso ISKO Espanha e Portugal / XI Congreso ISKO Espaa
Informao e/ou Conhecimento: as duas faces de Jano
Porto, 7 a 9 de novembro de 2013

Organizao: CETAC.MEDIA Centro de Estudos das Tecnologias e Cincias da Comunicao
Local: Faculdade de Letras da Universidade do Porto

Coordenao geral:
Fernanda Ribeiro (Universidade do Porto Faculdade de Letras /CETAC.MEDIA, Portugal)
Rosa San Segundo (Universidad Carlos III de Madrid)

Comisso Organizadora:
Armando Malheiro da Silva (Universidade do Porto Faculdade de Letras/CETAC.MEDIA)
Fernanda Ribeiro (Universidade do Porto Faculdade de Letras /CETAC.MEDIA)
Jos Antnio Frias (Universidad de Salamanca)
Olvia Pestana (CETAC.MEDIA)
Maria Elisa Cerveira (Universidade do Porto Faculdade de Letras /CETAC.MEDIA)
Maria Fernanda Martins (Universidade do Porto Faculdade de Letras /CETAC.MEDIA)
scar Mealha (Universidade de Aveiro/CETAC.MEDIA)
Rosa San Segundo (Universidad Carlos III de Madrid)

Comisso Cientfica:

Emlia Currs (Membro de Honra)
lvaro Figueira Faculdade de Cincias da Universidade do Porto, Portugal
Ana Extremeo Placer Universidad de Alcal, Espanha

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Ana Lcia Terra Instituto Politcnico do Porto, Escola Superior de Estudos Industriais e de Gesto
/ CETAC.MEDIA, Portugal
Blanca Rodrguez Bravo Universidad de Lon, Espanha
Crspulo Travieso Rodrguez Universidad de Salamanca, Espanha
Fernando Ramos Universidade de Aveiro / CETAC.MEDIA, Portugal
Gabriel David Universidade do Porto - Faculdade de Engenharia / INESC, Portugal
Ins Cordeiro Biblioteca Nacional de Portugal, Portugal
Jos Augusto Chaves Guimares Universidade Estadual Paulista "Jlio Mesquita Filho" - Marlia,
Brasil
Ldia Oliveira Universidade de Aveiro / CETAC.MEDIA, Portugal
Mara del Carmen Agustn Lacruz Universidad de Zaragoza, Espanha
Maria del Carmen Prez Pais Universidade de A Corua, Espanha
Maria Cristina Ribeiro Universidade do Porto, Faculdade de Engenharia / INESC, Portugal
Maria da Graa Melo Simes Faculdade de Letras da Universidade de Coimbra, Portugal
Maria Luisa Alvite Dez Universidad de Lon, Espanha
Maria Luiza Almeida Campos Universidade Federal Fluminense, Brasil
Maria Manuel Borges Universidade de Coimbra, Faculdade de Letras / CETAC.MEDIA, Portugal
Maria del Pilar Ortego de Lorenzo-Cceres Universidad de Extremadura, Espanha
Montserrat Sebasti i Salat Universitat de Barcelona, Espanha
Nuria Lloret Romero Universidad Politcnica de Valencia, Espanha
Rosa Ins Novais Cordeiro Universidade Federal Fluminense, Brasil

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I Congresso ISKO Espanha e Portugal / XI Congresso ISKO Espanha
7 a 9 novembro 2013
Informao e/ou Conhecimento: as duas faces de Jano
Programa Geral

Tema 1 - Fundamentos, modelos e mtodos para a
organizao e representao da informao

Tema 4 - Partilhar informao e construir conhecimento nas
comunidades virtuais

Tema 2 - Organizao da informao para a gesto do
conhecimento

Tema 5 - Informao local e organizao global: interao e
estratgias
Tema 3 - Normalizao e interoperabilidade para o acesso
informao
Tema 6 - Igualdade e diversidade em organizao do
conhecimento

7 de novembro

8:30h 9:30h Entrega de documentao

9:30h Sesso de abertura

10:00h Conferncia inaugural
Filosofia da mente e Cincia da Informao

Sofia Miguens (Universidade do Porto. Faculdade de Letras)

11:30h 13:00h Sesses simultneas

Anfiteatro Nobre - Tema 1
Moderador: Rosa San Segundo
Sala de Reunies - Tema 2
Moderador: Olvia Pestana
Knowledge Organization and ISKO: some considerations
for its development
Peter Ohly
Representao da informao em Arquivstica: busca por uma
consolidao terminolgica
Dulce Amlia de Brito Neves, Maria Isabel de Jesus Sousa Barreira,
Julianne Teixeira e Silva, Rosa Zuleide Lima da Silva, Rosale de Mattos
Souza
Filosofia da Linguagem e Organizao do Conhecimento
nos anos 1930: a pragmtica em Wittgenstein e em
Ranganathan
Os Arquivos de instituies de sade: informao para gesto do
conhecimento?
Pablo Soledade, Zeny Duarte

9

Gustavo Silva Saldanha
Diretrizes para anlise conceitual: as perspectivas de
Hjorland, Dahlberg e Lakoff
Rafael Aparecido Moron Semido, Carlos Cndido de Almeida,
Walter Moreira

Subjetividade, informao e tomada de deciso organizacional:
uso das dimenses simblicas e afetivas na compreenso da
dinmica decisria
Eliane Pawlowski de Oliveira Araujo, Cludio Paixo Anastcio de
Paula
13:00h - 14:30h - Almoo Livre

14:30 16:30 Sesses simultneas 7 de novembro

Moderador: Jos Augusto Guimares
Moderador: Fernando Ramos
Sala 201 - Tema 6
Moderador: Armando Malheiro da
Silva

Colecciones audiovisuales on line en
Espaa y Portugal: fuentes para el film
research
Jorge Caldera-Serrano

Organizao e disseminao da
informao numa dimenso cognitiva
Aida Varela Varela, Marilene Lobo Abreu
Barbosa

Garanta cultural y sesgo positivo:
aproximacin terico-metodolgica
Mario Barit, Stephanie Colombo
A Representao da imagem digital: os
metadados descritivos
Ana Carolina Simionato, Plcida
Leopoldina Ventura Amorim da Costa
Santos
Catlogos de nueva generacin en las
bibliotecas universitarias espaolas: una
primera exploracin
Blanca Rodrguez Bravo, Crspulo Travieso
Rodrguez
Interaes comunicacionais e
aprendizagem nas organizaes
complexas: reflexes a partir da Teoria do
Agir Comunicativo
Jaqueline Santos Barradas, Solange Francisca
Mazzaroto, Clvis Ricardo Montenegro de Lima

Notas sobre os conceitos semiticos
fundamentais organizao do
conhecimento
Carlos Cndido de Almeida
La Descripcin de material audiovisual
en el Instituto Britnico del Cine
Maria-Jose De Esteban
Contribuies da semitica da cultura
para a organizao do conhecimento
Mona Cleide Quirino da Silva Farias, Carlos
Cndido de Almeida

Abordagem terica conceitual de
representao de fotografias em
bancos de imagens, para uso na
publicidade
Jice Cleide Cardoso Ennes de Souza, Rosali
Fernandez de Souza
Indizar, clasificar y organizar las
colecciones de las bibliotecas escolares:
herramientas en lengua espaola y
portuguesa
Mara del Carmen Agustn Lacruz,
Mariangela Spotti Lopes Fujita, Ana Lcia
Terra

A Interpretao de conceitos no
processo de indexao: aspectos e
reflexes semiticas
Paula Regina Dal' Evedove, Carlos Cndido
de Almeida, Maringela Spotti Lopes Fujita

La Descripcin de imagen en
movimiento para televisin en el nuevo
contexto digital
Jorge Caldera-Serrano

Coffee Break

10


7 de novembro
Moderador: Maria Luiza Almeida Campos
Sala 201 - Tema 3
Moderador: Cristina Ribeiro

A Teoria do campo semntico no desenvolvimento de
vocabulrios estruturados para a web semntica
Vnia Mara Alves Lima, Cibele Arajo Camargo Marques dos Santos,
Michely Jabala Mamede Vogel

Organizao do Conhecimento nas artes digitais
Gabriela Previdello Orth, Marilda Lopes Ginez de Lara
A Avaliao dos outcomes dos sistemas de organizao e
representao da informao
Maria Beatriz Marques
Representacin del vocabulario de indizacin en
Humanidades con un gestor de tesauros: la experiencia del
lxico de las bases de datos ISOC en TemaTres
Jos Ignacio Vidal Liy, Luis Rodrguez Yunta, Rosario Andrs Verd

Investigao da regularidade e produtividade de
nominalizaes deverbais em cartas cientficas em lngua
portuguesa
Vnia Lisba da Silveira Guedes, Maria de Ftima Sousa de Oliveira
Barbosa, Maria Jos Veloso da Costa Santos

Theory and practice of concordance between different
editions of UDC
Agnes Hajdu Barat
Glosario de innovacin: una perspectiva terminolgica
Carlai Zapata Rincn, Lilia M.Ferrer Morillo
UNESKOS: publicacin como Linked Open Data de la
Nomenclatura Internacional de Ciencia y Tecnologa y del
Tesauro UNESCO
Juan Antonio Pastor-Snchez, Francisco Javier Martnez-Mndez,
Rosana Lpez Carreo, Jos Vicente Rodrguez-Muoz

Interferncias dos contextos de produo e de uso na anlise
documentria de charge
Thulio Pereira Dias Gomes, Vnia Lisba da Silveira Guedes, Maria
Jos Veloso da Costa Santos
Vocabularios estructurados en la Web: visualizacin e
integracin con las aplicaciones
Carmen Caro-Castro, Paula Snchez-Garca, Ana Beln Ros-Hilario

El Acceso a vocabularios controlados en la elaboracin de
especificaciones tcnicas de ingeniera: compartir y
reutilizar conocimiento
Ricardo Eito-Brun

7 de novembro 17:00h Assembleia do Captulo Ibrico da ISKO (Sala Orlando Ribeiro)

8 de novembro

09:00h 10:45h Sesses Simultneas

Moderador: Ana Lcia Terra
Moderador: Maria Elisa Cerveira
Sala 201 - Tema 4
Moderador: Gabriel David

Elaboracin de ndices para libros:
perspectivas de actuacin y formacin
profesional en Espaa y Brasil
Isidoro Gil-Leiva, Maringela Spotti Lopes
Fujita, Pedro Daz-Ortuo

La Edicin en instituciones acadmicas:
normalizacin e interoperabilidad para
favorecer el acceso y la visibilidad de la
informacin publicada en revistas
cientficas
Cecilia Rozemblum, Carolina Unzurrunzaga

O Uso das ferramentas web 2.0 nas
instituies arquivsticas nacionais de
tradio ibrica: uma reflexo sobre a
cultura participativa
Louise Anunciao Fonseca de Oliveira, Maria
Teresa Navarro de Britto Matos

11

Competencias para el anlisis, la
representacin, la organizacin y la
recuperacin de la informacin en los
grados de informacin y
documentacin en Espaa
Mara del Carmen Agustn Lacruz, Raquel
Gmez Daz, Jos Antonio Salvador Olivn

Usabilidade em bibliotecas digitais:
abordagem emprica e analtica
Fernanda Pereira, Gercina ngela Borm
Lima

Disseminao da informao nos websites
das instituies de patrimnio cultural:
um enfoque em Arquivos Permanentes
Paula Regina Ventura Amorim Gonalez,
Maria Jose Vicentini Jorente
Consideraes sobre a abrangncia
disciplinar da Cincia da Informao
Gilberto L. Fernandes, Mamede Lima-
Marques
Organizao e controle da informao:
descrio bibliogrfica padronizada para
os folhetos de cordel no Brasil
Maria Cleide Rodrigues Bernardino,
Francisca Pereira dos Santos, Ria Lemaire

Polticas informacionais e culturais: um
caminho em busca do livre acesso aos
recursos e contedos informacionais,
cientficos e culturais na internet
Andr Pequeno dos Santos, Marco Antnio
Almeida

O Ensino de Arquitetura da
Informao e
organizao/representao da
informao digital: uma anlise
curricular dos cursos de
Biblioteconomia do Brasil
Henry Poncio Cruz de Oliveira, Silvana
Aparecida Borsetti Gregrio Vidotti

Knowledge Organization is an essential
part of KM lifecycle related to Open
Access Repositories
Agnes Hajdu Barat

Funcionalidades de clasificacin en
sistemas de gestin de contenidos:
evaluacin de prestaciones
Jess Tramullas, Ana Snchez Casabn, Piedad
Garrido Picazo
Coffee Break

11:15h 13:00h Sesses Simultneas

8 de novembro

Moderador: Maria Manuel Borges
Moderador: Fernanda Ribeiro
Sala 201 - Tema 4
Moderador: Ldia Oliveira e Silva

Prticas discursivas: Organizao do
Conhecimento em Otlet, Bliss e ISKO
Eduardo Ismael Murguia, Rodrigo de Sales

O Tratamento do documento
arquivstico digital
Gracielle Mendona Rodrigues Gomes,
Wellington Maral de Carvalho

A Influncia do Open Access nas
comunidades acadmicas da rea de
biblioteconomia no nordeste do Brasil
Virgnia Brbara Aguiar Alves
Abordagem da linguagem na produo
cientfica do campo da organizao do
conhecimento (KO)
Elaine de Oliveira Lucas, Marilda Lopes Ginez
Lara, Jos Antnio Moreiro Gonzalez
Normalizacin de modelos para el
acceso a la informacin enfocados
al usuario y a las webs de archivos
Cristina Faba-Prez, Laura Caballero-
Corts, Isabel Sanz-Caballero
Projeto de uma biblioteca digital conjunta
entre o Mxico e Portugal: uma ponte para
apoiar a investigao e o ensino em
biblzoteconomia e reas afins
Ana Lcia Terra, Georgina Araceli Torres Vargas

O Campo da Organizao da Informao e
do Conhecimento: anlise da produo
intelectual publicada em anais e
peridicos brasileiros de Cincia da
informao (2000-2010)
Nair Yumiko Kobashi

A Normalizao da descrio
arquivstica e a organizao do
conhecimento
Eliezer Pires da Silva, Evelyn
Goyannes Dill Orrico.

Ejercicios de gobernanza en comunidades
acadmicas virtuales: indagaciones
conceptuales sobre las dinmicas digitales de
socializacin del conocimiento
Esther-Juliana Vargas Arbelez
Sistematizao de contedos em
organizao e representao do
conhecimento: um estudo nos peridicos
de Cincia da Informao no Brasil
Gracy Kelli Martins Gracy, Joo Batista
Ernesto de Moraes

Uma Viso geral sobre fontes de
informao em sade
Jacqueline Pawlowski Oliveira,
Mauricio Barcellos Almeida, Erika
Leite Quintela

A Informao acadmica em edublogs: tenso
dialgica e (multi)literacia
Eliete Correia dos Santos, Francinete Fernandes de
Sousa

12

Aportaciones de la netnografa para el
anlisis de la comunicacin cientfica
informal en entornos virtuales
Jos Antnio Frias Montoya

13:00h 14:30h Almoo livre


8 de novembro
Moderador: Maria da Graa Simes
Moderador: Blanca Rodrguez
Bravo
Sala 201 - Tema 4
Moderador: Maria Fernanda Martins

Anlise de domnio em Agricultura: o uso
conjunto da garantia literria (A
Lavoura) e do consenso entre
especialistas (Esquema de Classificao
AGRIS/CARIS) como princpios para a
Organizao do Conhecimento
Leandra Pereira de Oliveira, Vera Lucia Doyle
Louzada de Mattos Dodebei

A Origem do mtodo diplomtico
como subsdio organizao da
informao arquivstica: uma
discusso a partir das obras de
Diplomtica
Natlia Bolfarini Tognoli

Sharing information in a virtual community
of crowdfunding: the case of Kickstarter
Nuno Moutinho, Pedro Leite
Ontologia de Fundamentao como um
modelo terico para a representao de
domnios: desafios para a formao de
profissionais de informao
Maria Luiza Almeida Campos

Documento: suas relaes com
informao e conhecimento
Carlos Henrique Marcondes
Sociabilidade online e os participantes
seniores
Snia Almeida Ferreira, Ana Isabel Veloso, scar
Mealha
Modelagem conceitual: os princpios de
Ranganathan aplicados na interface de
busca de uma biblioteca digital de
documentos acadmicos
Benildes Coura Moreira dos Santos Maculan,
Gercina Angela Borm de Oliveira Lima

O Uso da classificao nos
arquivos como instrumento de
organizao, representao e
recuperao da informao
Fernanda Ribeiro
Construo de comunidades online de partilha
para utilizadores seniores
Clia Soares, Ana Isabel Veloso, scar Mealha

Julius Otto Kaiser na Organizao da
Informao: contribuies para
classificao, catalogao e indexao de
assuntos
Rodrigo de Sales, Jos Augusto Chaves
Guimares
O Padro SNOMED-CT como
linguagem para a organizao e
representao da informao em
pronturios do paciente
Virgnia Bentes Pinto, Camila Regina
de Oliveira Rabelo, Igor Peixoto Torres
Giro

Bibliotecas escolares dinamizadas pelo uso
das tecnologias de informao e comunicao
Lucirene Andra Catini Lanzi, Silvana Aparecida
Borsetti Gregorio Vidotti, Edberto Ferneda
Formaes discursivas emergentes,
folksonomia e espaos sociais de
informao semntica (SSIS): as
contribuies da teoria dos nveis
integrativos nos estudos do Classification
Research Group (CRG)
Maria Aparecida Moura

Perspectivas de renovao em
classificao arquivstica
Thiago Barros
A Biblioteca virtual como instrumento de
educao mdica
Jacqueline Pawlowski Oliveira, Edison Jos Corra,
Maria Rizoneide Negreiros Arajo
A Aplicao do Sistema de Classificao
Decimal de Dewey para obras literrias
Cibele Arajo Camargo Marques dos Santos,
Ana Paula da Silva
Classificao e fotografia:
abordagem conceitual como
princpio norteador para um
estudo em arquivos, bibliotecas e
museus
Ana Cristina de Albuquerque, Telma
Campanha de Carvalho Madio

Compartilhamento de vdeos sobre
informao em sade: anlise da
representatividade da dengue no YouTube
Ronaldo Ferreira de Araujo, Bruno Felipe Melo
Silva, Francisca Rosaline L. Mota

13

Fundamentos y continuidad de modelos
de clasificaciones alternativas a la
Clasificacin Decimal de Dewey para la
organizacin de la informacin en
bibliotecas
Daniel Martnez-vila, Rosa San Segundo,
Jos Augusto Guimares

Organizao da Informao e
arquivos: diferentes perspectivas
informacionais em torno do
documento de arquivo
Clarissa Moreira Schmidt, Johanna
Smit

Databib: an online catalog of Research Data
Repositories
Cristina Ribeiro, Javier Hernndez San Miguel

20:00h- Jantar do Congresso 8 de novembro

9 de novembro

Moderador: Carmn Agustn Lacruz
Moderador: Nuria Lloret Romero
Sala 201 - Tema 5
Moderador: Jos Antnio Frias

Aspectos culturais na representao
descritiva da autoria: anlise
normativa
Naira Christofoletti Silveira, Maria de
Ftima Gonalves Moreira Tlamo

A Aplicao de novos conhecimentos
para a sustentabilidade com base na
informao de patentes
Srgio Paulo Maravilhas-Lopes

A Organizao do conhecimento para o
acesso universal: as contribuies de Otlet,
Bradford, Ranganathan, Dahlberg e Lancaster
Henriette Gomes Ferreira; Aida Varela Varela

O Mundo o assunto: epistemologia da
indexao no sculo XIX
Laffayete de Souza Alvares Jr, Gustavo da
Silva Saldanha
Centralizar documentos digitais na
histria regional do caf
Slvia Maria Esprito Santo
O Mundaneum no Brasil: o Servio de
Bibliografia e Documentao da Biblioteca
Nacional e seu papel na implementao de
uma rede de informaes cientficas
Carlos Henrique Juvncio da Silva, Georgete
Medleg Rodrigues

Estudio comparativo sobre la
visualizacin de redes de co-words a
travs de los descriptores del Science
Citation Index y de Medline
Gisela Cantos Mateos, Maria ngeles
Zulueta, Benjamin Vargas-Quesada, Zaida
Chinchilla-Rodrguez
Contribuies oferecidas pela
investigao das dimenses
simblicas e afetivas do uso da
informao para os estudos de
usurios e para a gesto do
conhecimento: uma anlise das
comunicaes entre professores de
uma instituio de ensino superior
pblica brasileira
Cludio Paixo Anastcio de Paula

Construo social de um territrio local de
atuao para a biblioteca pblica: estratgias
e polticas
Maria Cleide Rodrigues Bernardino, Emir Jos
Suaiden, Aurora Cuevas-Cerver
Visualizacin y anlisis de la
estructura de la base de datos Scopus
Antonio Jess Gmez-Nez, Benjamn
Vargas-Quesada, Teresa Muoz-cija,
Flix de Moya Anegn

Knowledge Organization and
organizational learning: the case of
Project-Based Organizations
Maria Vaz Almeida, Antnio Lucas
Soares
Cultura, globalizao e tecnologia: a
mediao nos currculos dos cursos de
Cincias da Informao no Brasil e na Ibero-
Amrica
Marielle Barros de Moraes, Marco Antnio de
Almeida
Propuesta de actualizacin de macro-
tesauros a partir de noticias de
divulgacin cientfico-tecnolgica
Mara Jos Baos-Moreno, Juan Antonio
Pastor-Snchez, Rodrigo Martnez Bjar
O Resumo como recurso privilegiado
na divulgao da produo
cientfica: origem e evoluo do
resumo estruturado
Maria Manuel Borges, Maria da Graa M.
Simes, M. Cristina V. de Freitas, Carla
Ferreira

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Anlise documental de contedo de
artigo cientfico: a utilizao do
percurso gerativo de sentido para
identificao da temtica
Joo Batista Ernesto de Moraes, Gilberto
Gomes Cndido

Revisitando o mapeamento de
competncias: o caso das instituies
acadmicas
Marisa Pereira Aldeias, Antnio Lucas
Soares

Bases tericas da anlise documental:
uma anlise de domnio a partir das
percepes das comunidades
cientficas do Brasil e da Espanha
Jos Augusto Chaves Guimares, Daniela
Matos, Jssica Lopes, Juan Carlos
Fernndez Molina

Gesto do conhecimento,
criatividade e tica no acesso e uso
da informao
Brasilina Passarelli, Francisco Carlos
Paletta, Alan Angelucci, Antnio Hlio
Junqueira

12:00h Conferncia de Encerramento

As Cincias da Comunicao e Informao e a Gesto da Informao/Conhecimento
Armando Malheiro da Silva (Universidade do Porto Faculdade de Letras)

12:45h Sesso de Encerramento

9 de novembro 15:00h 17:00h
Visitas cidade do Porto (sujeitas a inscrio):
- Visita Linha 22 em carro eltrico (mnimo 20 e mximo 28 pessoas 7)
- Visita Porto passeio a p (mnimo 10 e mximo 35 pessoas 4)

15

Apresentao

Fundada em 1989, a International Society for Knowledge Organization (ISKO) a mais
importante associao internacional para a organizao do conhecimento. A ISKO tem um mbito
alargado e interdisciplinar e a sua misso fazer progredir o trabalho concetual em organizao do
conhecimento para todos os fins e sob todo o tipo de formas, tais como, bibliotecas, bases de dados,
dicionrios e a Web.
Como sociedade interdisciplinar, a ISKO agrega profissionais de campos muito diferentes,
contando com mais de 400 membros de todo o mundo, de reas como a Cincia da Informao, a
Filosofia, a Lingustica, as Cincias da Computao, e tambm domnios especiais como a
informtica mdica.
Para cumprir a sua misso e os seus objetivos, a ISKO trabalha para: a) promover a
investigao, o desenvolvimento e as aplicaes em sistemas de organizao do conhecimento, que
promovem abordagens filosficas, psicolgicas e semnticas para ordenar o prprio conhecimento;
b) fornecer aos seus membros meios de comunicao e redes em organizao do conhecimento; c)
funcionar como um elo de ligao entre todas as instituies e as sociedades nacionais, trabalhando
com problemas relacionados com a organizao concetual e o processamento do conhecimento.
De um ponto de vista orgnico, a ISKO funciona com base numa estrutura de captulos,
nacionais ou regionais. O Captulo Espanhol da ISKO foi criado em 1991 e organizou, at agora, dez
congressos, sendo um dos mais ativos captulos desta sociedade internacional. Desde h alguns
anos a esta parte, passou a integrar diversos membros portugueses, razo pela qual se desencadeou
um processo de mudana da sua denominao para ISKO IBRICO, que foi aprovada na assembleia
de membros realizada em 3 de dezembro de 2013. Contudo, aquando do incio da preparao deste
congresso, a alterao de nome no se havia ainda efetivado e, por isso, o evento surgiu como I
Congresso ISKO Espanha e Portugal / XI Congreso ISKO Espaa e no como I Congresso ISKO
Ibrico.
O I Congresso ISKO Espanha e Portugal, subordinado ao tema Informao e/ou Conhecimento: as
duas faces de Jano realiza-se nos dias 7, 8 e 9 de novembro de 2013, na Faculdade de Letras da de
Estudos das Tecnologias e Cincias da Comunicao). A temtica geral escolhida, bem como os seis
subtemas em torno dos quais se estruturam as vrias sesses simultneas, tiveram a melhor
aceitao junto da comunidade cientfica e profissional, que respondeu de forma muito intensa
call for papers. Foram submetidas a avaliao 166 propostas de comunicao, das quais a Comisso
Cientfica aprovou 111, o que denota um critrio de exigncia rigoroso e uma preocupao com a
qualidade dos trabalhos. Das comunicaes aprovadas, quase uma centena foi entregue para
publicao e d corpo a este volume de atas, que agora temos o gosto de colocar sob os olhos dos
leitores. Esperamos que a sua leitura suscite novos interesses de estudo e abra perspetivas
inovadoras de investigao, especialmente no espao iberoamericano, de onde provem a
esmagadora maioria dos participantes neste encontro cientfico.
A todos os que tornaram possvel a realizao do I Congresso ISKO Espanha e Portugal / XI
Congreso ISKO Espaa keynote speakers, autores das comunicaes, membros das comisses
organizadora e cientfica, moderadores das sesses, patrocinadores, secretariado uma palavra
final de sentido agradecimento pelo empenho e pelo apoio demonstrados.
As Organizadoras

Fernanda Ribeiro
Maria Elisa Cerveira

Keynote Speakers | textos

19

FILOSOFIA DA MENTE E CINCIA DA INFORMAO

SOFIA MIGUENS
Universidade do Porto - Faculdade de Letras / Instituto de Filosofia
[email protected]

Resumo De forma a explorar as relaes entre a cincia da informao e a filosofia da mente, comeo
por apresentar uma caracterizao dos problemas da filosofia da mente (o problema central e alguns
problemas especficos relativos a representao, conscincia, aco e pessoalidade). Em seguida
analiso uma resposta de referncia aos ditos problemas, a Teoria Representacional-Computacional da
Mente (TRCM) (Fodor 1975) bem como alguns marcos do desenvolvimento da disciplina desde os
anos 50 do sculo XX, nomeadamente o Teste de Turing (Turing 1950) e o Quarto Chins (Searle
1980). Termino discutindo de forma breve (a partir de Chalmers 1996) o desafio que a informao
representa para o problema central da filosofia da mente, o problema das relaes entre a mente
(consciente) e o mundo (fsico).

Palavras-chave problemas da filosofia da mente. marcos histricos da filosofia da mente. informao
como desafio.

Abstract In order to explore the relations between science of information and philosophy of mind, I
start by identifying the problems of philosophy of mind (the core problem and a number of specific
problems, concerning the natures of representation, consciousness, action and personhood). I then
analyse a mainstream answer to such problems, RCTM (the representational-computational theory
of mind) (Fodor 1975) and go through some historical landmarks in the development of the discipline
since the 1950s, in particular thought experiments such as the Turing Test (Turing 1950) and the
Chinese Room (Searle 1980). Finally, referring to the work of David Chalmers (Chalmers 1996), I end
by briefly discussing the challenge posed by information where it concerns the core problem of
philosophy of mind, the problem of the relations between (concious) mind and (physical) world.

Keywords Problems in philosophy of mind. historical landmarks of philosophy of mind. information
as challenge.

Is information primary, or is it really the physical
and the phenomenal that are primary,
with information merely providing a useful link?
(David Chalmers, The Conscious Mind)

Mentes e informao

Porque a informao parece ter uma relao directa com o facto de (alguns) sistemas
cognitivos fsicos como eu ou cada um dos leitores deste texto serem mentais, a cincia
da informao e a filosofia da mente tocam-se inevitavelmente. no entanto sempre
arriscado agregar ou justapor vocabulrios tericos e agendas de investigao; por isso
mesmo, naquilo que se segue eu vou quase sempre manter-me no meu territrio, a filosofia
da mente extrair a relevncia do que for dito ficar em grande medida a cargo da
audincia. Tenho, apesar de tudo, uma justificao histrica para proceder assim:

20

aproximadamente desde os anos 50 do sculo xx a tradio das cincias cognitivas1 apoia-se
largamente no conceito de informao, mesmo que nem sempre filosoficamente ou
matematicamente explicitado, e muita (no toda) a filosofia da mente actual ,
precisamente, filosofia das cincias cognitivas. No , por outro lado, difcil propr uma
chave geral para a extrao da dita relevncia: se a cincia da informao lida sobretudo
com a informao do ponto de vista do utilizador, em termos de gesto e organizao2, e
desse ponto de vista, ns, humanos, aparecemos (j) como os gestores e organizadores de
informao, a filosofia da mente visa precisamente compreender a forma como a existncia,
o armazenamento e o processamento de informao em ns faz de ns o tipo de ser que
somos, i.e. humanos, mentais, racionais, conscientes, representando o mundo de vrias
maneiras. disso que vou falar. Como muitas das pessoas presentes nunca tero ouvido
falar de filosofia da mente, vou comear por identific-la atravs do seu problema central e
de alguns problemas especficos3. Analisarei em seguida uma resposta de referncia a esses
problemas, a chamada Teoria Representacional-Computacional da mente. Passarei em
seguida a descrever um pouco da histria da disciplina nos ltimos sessenta anos, situando
a marcos histricos fundamentais, que ainda hoje constituem algo como bancadas
experimentais para os filsofos da mente esse o caso, por exemplo, do Teste de Turing
(Turing 1950) ou do Quarto Chins de John Searle (Searle 1980). Trata-se em ambos os casos
de experincias mentais
4
que encenam muito do que est em causa quando pensamos sobre
pensamento, inteligncia e conscincia e que, por essa razo, so ainda hoje convocadas
quando se trata de situar as discusses. Finalmente, procurarei articular de forma breve e
nos termos do problema central da filosofia da mente o desafio filosfico representado pela
informao. Se o pensamento, a inteligncia e a conscincia so uma questo de
informao, isso coloca um desafio. Nos termos de David Chalmers (Chalmers 1996), esse
desafio relaciona-se com a forma como pensamos sobre a natureza bsica da realidade,
podendo a informao constituir uma alternativa aos candidatos usuais (matria-energia e
espao-tempo).
Passo ento a seguir este guio.

O problema central e os problemas especficos da filosofia da mente

A filosofia da mente uma disciplina da filosofia cujo problema central o problema
das relaes entre pensamento e matria. Se quisermos ter um pouco mais de impacto sobre

1
costume datar de 1956 a origem do campo a que chama cincia cognitiva (cognitive science). Para dados acerca
da escolha desta data, cf. Gardner (2002).
2
Cf. Malheiro & Ribeiro (2012: 171) para uma definio que pode sustentar esta ideia: The definition we propose
is as follows: Information: Structured set of codified mental and emotional representations (signs and symbols),
modelled with / by social interaction, and capable of being recorded on any material medium and, therefore,
communicated in an asynchronous and multidirectional way.
3
Falando aqui sobretudo de mente, deixarei de fora o conhecimento tal como os filsofos o consideram em
epistemologia (i.e. como uma questo que envolve crenas, justificao e verdade). A verdade no entanto que
seria muito interessante, dessa perspectiva, analisar as condies para a informao ser conhecimento, e assim,
por exemplo, a diferena entre informao armazenada num suporte magntico e um teorema matemtico que
acabou de ser demonstrado por um matemtico humano. A minha justificao para comear pelas mentes que
sem os estados e processos destas no chegaramos a ter aquilo que merece o epteto de conhecimento (que
para os epistemlogos um termo associado a contextos de alta exigncia epistmica tais como fazer cincia
ou defender um caso num tribunal. Contextos de alta exigncia epistmica so portanto contextos em que so
avanadas razes explcitas para manter determinadas crenas. Obviamente em mentes como as nossas nem
tudo assim; muito nas mentes tem, possivelmente, j a ver com informao (por exemplo operaes cognitivas
elementares tais como sentir, raciocinar, ver, decidir) e nada ainda com exigncia epistmica. Dois
epistemlogos que exploraram de forma desafiadora as relaes entre informao e conhecimento so Fred
Dretske e Alvin Goldman.
4
Embora existam tambm concursos de programao cuja finalidade explcita desenvolver dispositivos
capazes de passar o Teste de Turing.

21

a nossa imaginao, podemos formul-lo assim: Como possvel que os meus pensamentos e os
neurnios no meu crebro faam parte do mesmo mundo? Como possvel que estas clulas
eletricamente excitveis feitas de protenas tenham alguma coisa a ver com a ocorrncia de
crenas aritmticas como 2+2=4 ou crenas histricas como D. Afonso Henriques foi o
primeiro Rei de Portugal? Como que matria biolgica encerrada dentro do crneo pode
representar formas de as coisas serem c fora no mundo?

2+2 = 4
D. Afonso Henriques foi o primeiro Rei de
Portugal
Aquela parede vermelha
Estamos no Porto

Fig. 1 Neurnios e pensamentos
Na formulao Como possvel que os meus pensamentos e os neurnios no meu crebro
faam parte do mesmo mundo (do filsofo americano Daniel Dennett, cf. Dennett 1991), h j
uma suposio, que que os meus pensamentos e os neurnios no meu crebro fazem de
facto parte de um mundo que o mesmo mundo. Dizer isso ser de alguma forma
materialista ou fisicalista, e importante notar que quase todos os filsofos
contemporneos que trabalham em filosofia da mente (eis aqui alguns deles) so
materialistas ou fisicalistas.

Fig. 2 Filsofos da mente (respectivamente: John Searle, Daniel Dennett, Jerry Fodor, David
Chalmers, Donald Davidson, Hilary Putnam)

22

Pelo menos, partem da seguinte ideia: Temos uma concepo de ns prprios a partir de
dentro, em 1 pessoa, de acordo com a qual somos seres conscientes, racionais e livres / Temos uma
concepo em 3 pessoa da nossa arquitectura cognitiva e do funcionamento dos nossos crebros /
Deve ser possvel conjugar essas perspectivas de 1 e 3 pessoa numa mesma concepo metafsica do
mundo. Esse mundo um, inclui matria e pensamento, e necessrio desenvolver uma
metafsica, uma teoria geral da natureza ltima da realidade, que permita conceber tal
facto. A filosofia da mente no visa apenas este problema metafsico, tem por exemplo
fortes relaes com a epistemologia e com tica (pense-se apenas no seguinte: se algum ser
mental (senciente, consciente), isso ter dever ter implicaes na forma como o
tratamos). No entanto este ponto central.
Passo aos problemas especficos. Mas antes quero fazer uma observao breve
acerca de mtodo. Na filosofia da mente contempornea, os problemas so
caracteristicamente abordados de forma naturalista. Em termos prticos isso significa que a
investigao acerca do mental feita levando em conta aquilo que vai sendo conhecido
acerca do suporte fsico (neuronal ou outro) da cognio. De que forma? Pensemos num
agente cognitivo como cada um de ns. matria a partir da qual trabalham os filsofos da
mente podemos chamar nvel pessoal ou fenomenolgico. Chama-se nvel pessoal ou
fenomenolgico ao como ser a partir de dentro, sentir-se ser e pensar, isso a que temos
acesso quando descrevemos a nossa vida mental. A referncia dos cientistas cognitivos por
seu lado (sejam psiclogos, neurocientistas, etc) o nvel sub-pessoal, i.e. aquilo que se passa
nos nossos crebros, algo a que no temos acesso directo mas que causalmente
responsvel pelo que somos enquanto mentais (por exemplo o que se passa numa rea
determinada do nosso cortex visual quando vemos uma rvore nossa frente). Devido
postura metodolgica naturalista, grande parte da filosofia da mente hoje filosofia da
cincia cognitiva e muitos dos problemas especficos que vou identificar so tratados em
dilogo com a cincia cognitiva.

Reparemos que coisas muito inesperadas ocorrem num mundo que se presume ser
fundamentalmente fsico (i.e que se pensa consistir fundamentalmente em matria,
energia, partculas, foras), nomeadamente:
1. Intencionalidade. A intencionalidade representao mental, o ser acerca de
(aboutness): quando temos a crena esta parede amarela representamos
mentalmente que esta parede amarela.
2. Conscincia. Podemos definir conscincia como o sentir-se ser, sentir-se
sentir e pensar, o what-it-is-like-to-be5, ou como qualia (estados qualitativos,
sentidos, da mentalidade). Podemos tambm v-la como consistindo em
estados mentais acerca de outros estados mentais (sei que sinto, sei que
quero, sei que penso, etc)
3. Aco. A intuio fundamental que pensar causa coisas. Pensem num
humano e nos seus movimentos intencionados e com propsito: ir daqui
para ali para ir buscar um livro, atirar um vaso da janela de forma a acertar
na cabea da pessoa que passa. O que que o distingue de um rob sem
interior, ou de um sonmbulo, que por hiptese executasse exactamente os
mesmos movimentos fsicos? Parece que algo de mental causa e d sentido
aos movimentos corporais. Se no h crenas, representaes mentais no
sistema e para o prprio sistema, no podemos propriamente falar de aco,
apenas de eventos fsicos e de movimentos. Alm disso, o que distingue o
humano com os seus movimentos significativos e intencionais de um rob
sem interior um apercebimento, que no acontece por observao, mas
como se fosse a partir de dentro, dos movimentos desse corpo fsico, que o

5
Esta uma expresso tornada clebre pelo filsofo americano Thomas Nagel (Nagel 1974).

23

seu prprio corpo. -lhe assim possvel dar as razes dos movimentos do
corpo (i.e. dizer porqu faz o que faz). H um corpo que se move, este, o
meu, eu sei por que se move - so as minhas razes que causam os
movimentos. a isso que chamamos aco, esse auto-intencionar-se de uma
forma que envolve entidades mentais (crenas, desejos, propsitos). So
estas coisas mentais que aparentemente causam, e portanto podero
tambm explicar, os movimentos de um corpo fsico. Esta ideia de que o
pensamento causa no de todo indiferente para a nossa auto-imagem
como humanos: sem isso no seria possvel por exemplo algum ser livre,
isso que propicia o contraste entre o que eventualmente chamaremos
liberdade e os movimentos no impedidos, at mesmo aparentemente
propositados, de um corpo.
4. Pessoas. J o filsofo ingls John Locke, no sculo XVII, no seu bem
conhecido Essay Concerning Human Understanding (1690) dizia que no
bastava existir o corpo de um indivduo de espcie humana para termos a
uma pessoa. E embora ele fosse religioso e no estivesse a afastar a
possibilidade de existirem almas afirmou tambm que pessoa e alma no
so a mesma coisa, e avanou critrios para a distino. Falamos de
Pessoas quando h o seres que se apercebem a si mesmos como um e o
mesmo ser, um ser uno, nico e unificado ao longo do tempo (isso que
referimos com a palavra eu), e que apercebem de forma mentalista os
movimentos do corpo prprio, podendo dar razes das suas aces. Locke
disse tambm que pessoa era um termo forense: na ausncia de seres deste
tipo no teria sentido termos moral, direito ou poltica. Sem aces e razes
de pessoas no haveria no mundo normatividade, diramos ns hoje
apenas acontecimentos fsicos. Repare-se, e por isso que este problema
tem tanta relevncia prtica, que nada nos obriga a pensar que apenas os
humanos so pessoas, ou que todo e qualquer humano sempre, em todas
as circunstncias, uma pessoa. claro que tambm nada nos impede de
aceitar a ideia de que no mundo no h, em ltima anlise, qualquer normatividade,
aceitando assim qque apenas h acontecimentos fsicos, cegos ao que quer que seja
de humano.
5. Racionalidade. Ns vemos no mundo seres (animais, humanos) agindo de
uma forma que recruta meios adequados prossecuo de fins (por
exemplo um macaco que vai buscar um pequeno banco para trepar at ao
cimo do armrio onde encontra guloseimas), e seres que escolhem, quando
postos perante um conjunto de opes com determinadas utilidades
(desejabilidade) e probabilidades de obteno, de forma a maximizar a
utilidade esperada. Estas so duas definies de racionalidade
(racionalidade instrumental, maximizao da utilidade esperada)
totalmente independentes da filosofia e de que parecemos precisar para
conceber comportamentos de agentes no mundo. A questo para a filosofia
se tais comportamentos seriam (em princpio) possveis sem a existncia
de representaes (crenas, desejos, intenes).
Poder-se-ia enumerar ainda outros problemas especficos, tais como emoes,
raciocnio e deciso, auto-conhecimento, atribuio de interior mental a outras coisas no mundo
(mindreading), etc. A enumerao acima uma enumerao minha, informal, de alguns
daqueles a que chamo os problemas especficos da filosofia da mente. Eis onde pretendo
chegar: os filsofos da mente procuram compreender como que todas estas coisas so
possveis num mundo concebido como basicamente (i.e. em ltima anlise,
fundamentalmente) fsico. E desenvolvem respostas especficas. Vou agora dar a palavra
quele que para muitas pessoas o autor central da filosofia da mente, um filsofo
americano, Jerry Fodor.

24

Uma soluo de referncia: a Teoria Representacional-Computacional da
Mente

Na obra de Fodor encontramos uma soluo para os problemas da filosofia da mente
que tem constitudo referncia, nas ltimas dcadas. Trata-se da Teoria Representacional
Computacional da Mente (TRCM). A TRCM pode ser resumida por um slogan: no
representations, no computations, no computations, no mind.
Basicamente Fodor defende que o mundo fsico implementa o mental pela
ocorrncia de smbolos em agentes cognitivos ao nvel sub-pessoal (implementar ou
realizar no identificar-se com por isso que a teoria de Fodor num certo sentido
no noutros anti-reducionista). Noutras palavras, h a coisas que so representaes
dentro das nossas cabeas, por isso que somos mentais, somos capazes de fazer e ser as
coisas acima enumeradas (representar, ser consciente, agir, decidir, etc). A ideia-chave a
chamada Hiptese da Linguagem do Pensamento ela o ncleo da Teoria
Representacional Computacional da Mente. De acordo com a Teoria Representational-
Computacional da Mente, Descartes tinha razo quando falava do pensamento em termos
de ideias: sim, h ideias, i.e. h representaes, representaes reais, nas nossas mentes, s
que no so ideias imateriais numa res cogitans imaterial mas sim smbolos, smbolos da
Linguagem do Pensamento, cuja sintaxe ainda no compreendemos mas que os nossos
crebros implementam. No entanto para haver pensamento tem de haver algo mais do que
representaes, tem de haver processos. I.e. pensar no limitarmo-nos a representar o
estado de coisas A, o estado de coisas B, inertemente: ns movemo-nos em pensamento, i.e.
inferimos, de forma que preserva a verdade. Por exemplo pensamos: Todos os homens so
mortais, Scrates homem, Scrates mortal. Como que ns conseguimos fazer isso? Que
processos so esses? Qual a diferena entre este seguir-se de (a que costume chamar-se
lgico) e o seguir-se de um evento a outro evento, como os instantes t1, t2, tn que se
sucedem na queda de uma pedra? Segundo Fodor, foi Alan Turing quem trouxe para a
anlise da mente uma ideia genial acerca da natureza do primeiro processo: sugeriu que ele
consiste em computaes, i.e. em transformao de representaes movida apenas pela
pura forma (sintaxe), sem consideraes de significado. E sem quaisquer obrigaes quanto
natureza fsica que implementa tais processos. Ter sugerido isto fez de Alan Turing, uma
complexssima figura da histria da cincia do sculo XX (Hodges 1983, 1997), um dos
heris da filosofia da mente.
Podemos ento dizer que a tarefa da filosofia da mente consiste, pelo menos em
parte, em explicitar de um ponto de vista epistemolgico, semntico e metafsico, aquilo
com que o estudo cientfico da cognio em termos informacionais e computacionais nos
compromete.

25

Alguns marcos na histria da filosofia da mente

Fig. 3 Alan Turing

Alan Turing de facto muito importante na histria recente da filosofia da mente, se
olharmos para o perodo que vai desde os anos 50 do sculo 20 at aos nossos dias; so suas
algumas das ideias que foram fundamentais na definio de uma certa ortodoxia de
discusso na disciplina (com ortodoxia quero apenas dizer um patrimnio a partir do qual
a polmica possvel). Foi ele que teve, nas palavras de Fodor, a ideia mais importante da
histria acerca da natureza dos processos mentais, a ideia que referi acima, a nica ideia
que nos permite pensar no mental como no sendo apenas representao mas processo: a
ideia de computao.
O seu trabalho como lgico e matemtico conduziu criao dos conceitos de
Mquina de Turing e Mquina de Turing Universal e devido a esse trabalho que
considerado um dos pais do computador. Gostemos disso ou no, essas ideias so desde
ento fundamentais para pensar sobre o pensamento. Mas Turing fez mais: ele relevante
na histria da filosofia da mente tambm como autor do artigo Computing Machinery and
Intelligence, publicado na revista Mind em 1950 (Turing 1950); foi a que foi proposto o
clebre Teste de Turing, que est sempre na mente de todos os filsofos da mente. A
pergunta inicial do artigo : podem as mquinas pensar? Cada passagem desse artigo
importante, sobretudo por aquilo que representa quanto forma de colocar questes para
investigar a natureza do mental. A primeira coisa que Turing faz recusar um certo tipo de
discusso: uma discusso conceptual acerca de o que mquina? O que pensar? seria
interminvel. Em vez disso, prope, prefervel fazer um teste. O Teste de Turing uma das
experincias de pensamento standard da filosofia da mente e proposto como uma forma
prtica de substituir discusses aprioristas sem sada acerca da definio de inteligncia. O
teste um jogo de imitao.

26

Fig 4 Teste de Turing

Na situao original h um interrogador e dois interactores, cuja natureza de homem
ou mulher o interrogador desconhece. O objectivo dos jogadores enganar o interrogador
acerca do seu estatuto. S pode haver interaco verbal e tudo o que pode ser feito para
descobrir essa natureza formular questes. Na situao que nos interessa no h um
homem e uma mulher mas um homem e uma mquina. De novo, existe apenas interaco
verbal, i.e. apenas se pode fazer perguntas. O objectivo continua a ser enganar o
interrogador. Claro que tm aqui estatuto diferentes questes relativas a clculo
matemtico, interpretao de um poema, de uma observao irnica ou de uma metfora.
Passar no teste de Turing ser considerado humano pelo interrogador. O desafio se
alguma vez uma mquina passa o Teste de Turing. O ponto de Turing com o Teste pensar
no pensamento de uma forma neutra e despida de preconceitos. O que interessa os filsofos
da mente facto de o teste assumir que o que se comporta como inteligente inteligente e a
sugesto implcita (holista e pragmtica) de que inteligncia comportamento inteligente e
no uma especial matria (por exemplo necessariamente biolgica, ou neuronal) ou um
ingrediente a mais (por exemplo uma alma).
Aps apresentar o seu teste, Turing passa o resto do artigo a responder a objeces
contra a possibilidade da Inteligncia Artificial. Trata-se de objeces com as quais nos
podemos deparar ainda hoje; ele chama-lhes a objeco teolgica (a inteligncia estaria
ligada a uma alma, que s os humanos possuem), a objeco cabeas na areia (espere-se
que no venha a existir Inteligncia Artificial ou seria terrvel), a objeco matemtica,
evocando o teorema de Gdel (segundo a qual os humanos tm capacidades mentais que
transcendem o que computvel), as objeces ligadas ao sentimento e conscincia (de
acordo com as quais uma mquina no poderia ter estados como depresso, amor, emoo,
etc), a objeco ligada s incapacidades (de acordo com a qual uma mquina nunca seria
capaz de humor, aprendizagem, moralidade, paixo), o argumento a mquina s faz o que
lhe mandamos, no origina o novo, o argumento da continuidade do sistema nervoso etc.
Turing analisa-as uma a uma e continua a propor o seu teste contra qualquer veredicto
apriorista acerca do que pensar e acerca das entidades que podem pensar.
Resumindo, pelo menos duas coisas muito importantes na histria recente da
filosofia da mente vieram de Alan Turing: uma ideia acerca da natureza do pensamento
como processo, e uma postura anti-apriorista quanto definio de inteligncia, um
descolamento da ideia de inteligncia relativamente a substractos materiais especficos, e
portanto a ideia segundo a qual o mental no tem que ter necessariamente hardware
biolgico. Foi tambm sob o ttulo de Turing-machine functionalism, funcionalismo das
Mquinas de Turing, que nasceu uma clebre oposio ao materialismo cru da teoria da

27

identidade mente-crebro, protagonizada pelo filsofo americano Hilary Putnam (Putnam
1975 a, b, c, d, e) . A teoria da mente de Fodor que vimos atrs, , embora eu no tenha
enfatizado esse aspecto, uma teoria funcionalista (Fodor , de resto, um aluno e discpulo de
Putnam). O funcionalismo uma forma de nos ajudar a pensar por que que a mente no
idntica ao crebro, i.e. por que que no faz sentido dizer, sem mais, que os estados
mentais so simplesmente idnticos a estados cerebrais. A ideia bsica que os estados
mentais no so (ao contrrio do que prope o materialismo simplista da Teoria da
Identidade desenvolvida nos anos 50 por filsofos australianos como J. J. C. Smart e U. T.
Place) estados cerebrais, mas sim estados funcionais realizados por estados cerebrais (mas
poderiam s-lo por outro hardware - a ideia de realizabilidade mltipla acompanha o
funcionalismo). O que Putnam prope portanto os estados mentais de seres como ns
esto para os estados neurofisiolgicos da mesma forma que os estados lgicos de uma
mquina esto para os estados fsicos dessa mquina (A mente est para o crebro como o
software para o hardware a conhecida metfora). Com esta posio Putnam pretendia
dissolver o problema mente-corpo, mostrar que este tem uma natureza meramente lgico-
lingustica, e que se coloca em relao a ns humanos como se colocaria relativamente a
qualquer sistema cognitivo capaz de se auto-monitorizar e de produzir auto-descries, se
nesse sistema existisse, como existe em ns, uma assimetria entre o acesso ao nvel lgico, o
nvel do programa (relativamente ao qual o sistema incorrigvel por exemplo eu sei que
vejo vermelho, eu sei que penso que estou aqui e ningum pode vir dizer-me que no penso
o que penso) e o acesso ao nvel fsico (cada um de ns tem que aprender quanto ao seu
crebro, por exemplo em aulas de neuroanatomia: no o facto de o nosso crebro ser
causalmente responsvel pela nossa mente que faz de ns automaticamente
neurocientistas).
O computacionalismo de Turing e o funcionalismo de Putnam, conjuntamente com
a ideia segundo a qual o nvel dos estados funcionais um nvel simblico,
representacional-computacional autnomo, so os precedentes sobre os quais Jerry Fodor
construiu a sua teoria da mente em termos de Linguagem do Pensamento. Podemos
sintetiz-la agora, de novo, com a ideia No representations, no computations, no computations, no
mind. Este o chamado modelo cognitivista do mental, e . ainda hoj,e um muito forte
paradigma de investigao, que incorpora muito de Turing talvez o prprio Turing tenha
sido mais subtil e mais cheio de dvidas, mas a verdade que deixou essa herana (entre
muitas outras).
No quero no entanto deixar de introduzir aqui algumas das razes por que, desde h
pelo menos trs dcadas, esse paradigma tem estado sujeito a ataques dentro da prpria
filosofia da mente.
A clebre experincia mental do Quarto Chins (Searle 1980) aqui uma referncia
incontornvel. Com ela o filsofo americano John Searle pretendeu no apenas contestar o
cognitivismo mas argumentar que a IA Forte impossvel (a IA Forte a ideia segundo a
qual em Inteligncia Artifical no se trata apenas de simulao de processos cognitivos mas
eventualmente da coisa mesma: um sistema que implemente o programa correcto ser
realmente mental).
A experincia mental do Quarto Chins foi o primeiro grande ataque lanado por
Searle contra o cognitivismo. O artigo Minds, Brains and Programs, onde o Argumento do
Quarto Chins defendido, apareceu na revista Behavioral and Brain Sciences (1980), uma
revista muito importante nestas reas.

28

Fig 5. O Quarto Chins

A experincia mental consiste no seguinte: algum, que no fala chins, est fechado
dentro de um quarto onde h smbolos chineses em caixas. Tem um livro de instrues em
ingls, que explica como combinar os smbolos chineses e como enviar sequncias de
smbolos chineses para fora do quarto, quando so introduzidos no quarto outros smbolos
chineses, atravs de uma pequena janela. A pessoa que est dentro do quarto no sabe nada
acerca disso, mas as pessoas que esto fora do quarto chamam aos smbolos que introduzem
perguntas e aos smbolos que saem respostas. O sistema fala portanto chins, na
perspectiva das pessoas que esto fora (logo passa o Teste de Turing), embora a pessoa l
dentro saiba que no percebe uma palavra de chins. Searle afirma que a experincia
mental do Quarto Chins mostra claramente que possvel existir intencionalidade
atribuda sem intencionalidade intrnseca.
No fcil saber exactamente o que que o argumento de Searle prova. Antes de
mais, preciso ver que o Quarto Chins no exactamente um argumento, mais
propriamente uma parbola. Posto sob a forma de argumento ele seria basicamente a
tentativa de obter a partir das premissas Os programas so sintcticos, A sintaxe no suficiente
para a semntica e As mentes tm semntica as concluses Implementar um programa insuficiente
para haver mente e A IA forte uma pretenso injustificada. O Quarto Chins mostraria ento que
a mente no um programa e que por isso nunca uma programao apropriada poderia dar
mente a um sistema, j que as propriedades formais no constituiriam intencionalidade
genuna. Searle sublinhou sempre que o seu argumento no tem nada a ver com um estdio
evolutivo particular da tecnologia, dizendo antes respeito a princpios conceptuais. O erro
do cognitivismo seria considerar que propriedades formais so suficientes para a
mentalidade (sendo que esta posio essencial defesa da IA forte). Para Searle, pelo
contrrio, a essncia da mente conscincia e isso que falta aqui.
Ser a conscincia fundamental para a mente? Mais do que a inteligncia? Sero
conscincia e inteligncia duas coisas fundamentalmente diferentes, como pensam alguns
filsofos da mente (cf. por exemplo Chalmers 1996)? Entre o teste de Turing e o Quarto
Chins como ficam as relaes entre o interior e o exterior, a fenomenologia e a
manifestao, quando se trata de pensar sobre o mental? Deixo em suspenso estas questes:
trata-se de questes abertas na filosofia da mente e na cincia cognitiva. O meu objectivo
principal at aqui foi introduzir alguns dos instrumentos conceptuais que fazem parte da
caixa de instrumentos dos filsofos da mente, e apresentar algumas das pessoas (tais como
Turing, Fodor, Putnam ou Searle) que contriburam para os formular e difundir.

29

A forma do desafio

Queria ento terminar com uma breve aluso (a partir de Chalmers 1996) ao desafio
que a informao representa para aquele a que chamei o problema central da filosofia da
mente, e que caracterizei como o problema das relaes entre a mente (consciente) e o
mundo (fsico).
Mas antes disso, uma sugesto. Algo que a (rapidssima e portanto necessariamente
superficial) incurso pelos problemas e marcos histricos da filosofia da mente por que
passmos nos permite pensar o seguinte: ns pensamos, somos inteligentes e conscientes,
somos mentais mas isso no quer dizer de forma alguma que saibamos do ponto de vista
cientfico e filosfico o que a mente, da mesma forma que no por sermos feitos de
materiais genticos que somos especialistas em gentica. Por isso no devemos ser
aprioristas na nossa abordagem cientfica e filosfica mente e inteligncia. I.e. ao
contrrio do que pensava algum como Descartes, no devemos pensar que sabemos o que
isso de ser mental, s porque somos conscientes da nossa prpria mente, antes de investigar
e experimentar. Nomeadamente devemos ter ser presente que a nossa intuio sobre ns
prprios no um guia infalvel para pensar na natureza do mental; apenas o ponto de
partida. Assim sendo, o trabalho cientfico um exemplo no que vimos acima foi o trabalho
de Turing sobre computao tem uma palavra decisiva quando se trata de pensarmos
sobre a nossa prpria natureza mental, por mais ntima, privada, inviolvel e incorrigvel
que esta possa parecer-nos. Isto significa por exemplo estar pronto a admitir que uma
disciplina inesperada para aqueles que tm uma concepo mais literria e cultural da
filosofia, a Inteligncia Artificial, pode ser filosoficamente muito importante; pelo menos o
que Turing dela retirou foi muito importante para nos libertar de certos preconceitos na
nossa forma de pensar sobre o mental.
Mas se Turing deu expresso aos desafios filosficos trazidos pela Inteligncia
Artificial, a verdade que os desafios filosficos trazidos pela Inteligncia Artificial so
apenas uma verso para o nosso tempo da preocupao que vem dos primrdios da filosofia:
trata-se de pensar sobre o pensamento, pensar sobre as relaes pensamento-mundo. De
forma aplicada realidade humana, isso significa pensar sobre mente e corpo. Ora o que
parece verificar-se a que as coisas so mais complicadas do que parecem - simplesmente
opr dualismo espiritualista (i.e. dizer que h matria e h esprito, e que portanto ns
somos duas coisas, corpo e esprito) a um materialismo monista (de acordo com qual tudo
matria) uma simplificao crua e muito pouco interessante quando queremos falar da
forma como o pensamento est no mundo. Ora precisamente aqui que a informao ocupa
um lugar decisivo: ela est hoje em pleno centro da discusso acerca da natureza ltima
(fsica? no fsica?) do mundo. esse o desafio metafsico representado pela informao. Se
a informao metafisicamente bsica no nosso mundo isso subverte as tradicionais
alternativas que so o dualismo e o monismo. E uma questo maior que se coloca
imediatamente a seguinte: se a nossa natureza mental de facto um aspecto da nossa
natureza informacional e computacional, at que ponto ser ela destacvel, separvel,
independente, de implementaes locais em particulares suportes fsicos, antes de mais dos
nossos corpos orgnicos?

30

Referncias

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University Press.

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SEARLE, J. (1980). Minds, Brains and Programs. Behavioral and Brain Sciences 3 (3), 417-424.

TURING, A. (1950). Computing Machinery and Intelligence. Mind 59, 433-460.

31

AS CINCIAS DA COMUNICAO E INFORMAO E A GESTO DA INFORMAO /
CONHECIMENTO

ARMANDO MALHEIRO DA SILVA
Universidade do Porto Faculdade de Letras / CETAC.MEDIA
[email protected]

Resumo Pretende-se refletir uma preocupao epistemolgica, em curso em Portugal, que, em parte,
visa responder proposta acadmico-institucional das Cincias da Informao e Comunicao, h
muito surgida e consagrada em Frana, e que se impe, cada vez mais, como uma necessidade
estratgica. Com efeito, importante que investigadores da Cincia da Informao e das Cincias da
Comunicao descubram, finalmente, que podem ter uma agenda de pesquisa interdisciplinar slida
e estreita e que nessa agenda possvel e desejvel incluir o trinmio informao-conhecimento-
comunicao. Um trinmio que se sugere possa fazer parte do escopo investigativo e analtico de
prximos ISKOs completando-se, assim, um lema que tem andado manifestamente truncado de um
tema complementar e indispensvel: que sentido faz organizar a informao/o conhecimento se no
for para efetivar processos de interao/comunicao no seio das Organizaes?

Palavras-chave Cincias da Comunicao e Informao. Gesto da Informao.

Abstract It is intended to reflect an epistemological concern, underway in Portugal, which, in part,
aims to respond to the proposed academic-institutional Information and Communication Sciences,
emerged and postulated in France long time ago, and that imposes itself increasingly as a strategic
necessity. Indeed, it is important that researchers of Information Science and Communication
Sciences discover, finally, that can have a strong interdisciplinary and narrow research agenda and
that in this agenda it is possible and desirable to include the trinomial information-knowledge-
communication. A trinomial that is suggested might be part of the scope of investigative and
analytical next ISKO's completing, thus, a motto that has been grossly truncated from a
complementary and essential topic: what sense does organize information / knowledge if not to
carry interaction / communication processes within the organizations?

Keywords Information and Communication Sciences. Information management.

TEMA 1
Fundamentos, modelos e mtodos para a
organizao e representao da informao

35
COMPETENCIAS PARA EL ANLISIS, LA REPRESENTACIN, LA ORGANIZACIN Y LA RECUPERACIN
DE LA INFORMACIN EN LOS GRADOS DE INFORMACIN Y DOCUMENTACIN EN ESPAA

MARA DEL CARMEN AGUSTN LACRUZ
Universidad de Zaragoza
[email protected]

RAQUEL GMEZ DAZ
Universidad de Salamanca
[email protected]

JOS ANTONIO SALVADOR OLIVN
[email protected]

Resumen El grado de Informacin y Documentacin forma a profesionales capacitados para trabajar en un
amplio conjunto de servicios relacionados con la organizacin de la informacin y la documentacin, tanto en
administraciones e instituciones pblicas, como en empresas privadas. El programa formativo bsico de la
titulacin est orientado hacia el conocimiento de la naturaleza de la informacin y los documentos, sus
diversos modos de produccin y sus ciclos de gestin, uso y transferencia, as como hacia el manejo de los
mtodos, tcnicas, herramientas e instrumentos adecuados a cada contexto.
Los primeros grados de Informacin y Documentacin se pusieron en marcha en el curso 2008-2009 en las
universidades Carlos III de Madrid, Salamanca y Zaragoza y sus antecedentes fueron la Diplomatura en
Biblioteconoma y Documentacin (aos ochenta del siglo pasado) y la Licenciatura en Documentacin
(dcada de los noventa, respectivamente).
Con la intencin de revisar con cierta perspectiva el proceso desarrollado en un momento en el que los
estudiantes egresados de las primeras promociones han salido ya de las aulas este trabajo se plantea como
objetivo principal estudiar la forma en que se aborda en los planes de estudio de la titulacin las competencias
especficas de la titulacin denominadas anlisis y representacin de la informacin, organizacin y
almacenamiento de la informacin y bsqueda y recuperacin de la informacin, tal y como se recogen en
el Libro Blanco Ttulo de Grado en Informacin y Documentacin.
El anlisis efectuado considera tanto la complejidad del contexto legal y formativo en el que ha tenido lugar el
proceso de puesta en marcha de los estudios como el breve intervalo de tiempo disponible. Se abordan tres
ejes distintos: a) Los textos programticos que han servido de base para la elaboracin de los planes de estudio
-Euroreferencial de la European Council of International Associations y Libro Blanco de la titulacin de ANECA-;
b) Las competencias asociadas a las materias seleccionadas y c) La concrecin curricular en mdulos y
asignaturas que estas materias ha experimentado en cada uno de los grados de Informacin y Documentacin
implantados en las diferentes universidades espaolas.

Palabras-clave Representacin de la informacin. Organizacin de la informacin. Recuperacin de la
informacin.

Abstract The degree of Information and Documentation as trained professionals to work in a wide range of
services related to the organization of information and documentation, both in government and public
institutions, and private companies. The basic training program is oriented degree understanding of the
nature of the information and documents, its various modes of production and management cycles, use and
transfer, as well as to the management of the methods, techniques, tools and instruments appropriate to each
context.
The first Information and Documentation degrees were launched in 2008-2009 in universities Carlos III of
Madrid, Salamanca and Zaragoza and background were the Diploma in Library and Information Science
(eighties of the last century) and the Bachelor of Documentation (nineties, respectively).

36
In order to check in perspective the process developed-at a time when students of the first graduating
graduates have already left the classroom, this work has as main objective to study how addressed in plans
titration study of the specific skills of the degree called "analysis and representation of information",
"organization and storage of information" and "search and retrieval of information", as set out in the White
Paper the Degree in Information.
The analysis considers both the complexity of the legal and educational context in which took place the
process of implementation of the studies as the short time available. It addresses three distinct axes: a) The
programmatic texts that formed the basis for the development of curricula-Euroreferencial of the European
Council of International Associations and White Paper ANECA-titration b) The skills associated with Selected
materials c) The curricular modules and subjects these materials has experienced in each of the grades of
Information and Documentation implanted in different Spanish universities.

Keywords Information Representation. Information Organization. InfomationRetrieval.

Introduccin

El grado de Informacin y Documentacin es una titulacin orientada a la formacin a
profesionales capacitados para trabajar en un amplio conjunto de servicios relacionados con la
organizacin de la informacin y la documentacin, tanto en administraciones e instituciones
pblicas, como en empresas privadas. El programa formativo bsico de la titulacin est orientado
hacia el conocimiento de la naturaleza de la informacin y los documentos, sus diversos modos de
produccin y sus ciclos de gestin, uso y transferencia, as como hacia el manejo de los mtodos,
tcnicas, herramientas e instrumentos adecuados a cada contexto.
Las primeras universidades en implantar el Grado en Informacin y Documentacin fueron
Carlos III de Madrid, Salamanca y Zaragoza en septiembre de 2008. Con posterioridad se han ido
sumando otras universidades hasta completar un plantel de doce que lo ofertan en la actualidad.
Los antecedentes de este Grado fueron la Diplomatura de Biblioteconoma y Documentacin (puesta
en marcha en los aos ochenta del siglo pasado) y la Licenciatura en Documentacin (en la dcada
de los noventa).
Con la intencin de revisar con cierta perspectiva el proceso desarrollado en un momento
en el que los estudiantes egresados de las primeras promociones han salido ya de las aulas este
trabajo se plantea estudiar la forma en que se abordan en los planes de estudio de la titulacin las
competencias especficas denominadas en el Ttulo de Grado en Informacin y Documentacin: (en
adelante Libro Blanco) de la titulacin anlisis y representacin de la informacin, organizacin y
almacenamiento de la informacin y bsqueda y recuperacin de la informacin.

1 Objetivos y metodologa

El objetivo de este trabajo es estudiar cmo se implementan, en los planes de estudio del
Grado en Informacin y Documentacin de las universidades espaolas, las competencias
especficas denominadas anlisis y representacin de la informacin, organizacin y
almacenamiento de la informacin y bsqueda y recuperacin de la informacin en el Libro
Blanco Ttulo de Grado en Informacin y Documentacin.
El anlisis considera tanto la complejidad del contexto legal y acadmico en el que ha tenido
lugar el proceso de puesta en marcha de los estudios como el breve intervalo de tiempo disponible.
Se abordan tres ejes distintos:

37
a) Los textos programticos que han servido de base para la elaboracin de los planes
de estudio -Euroreferencial de la European Council of International Associations y Libro
Blanco de la titulacin de ANECA;
b) Las competencias asociadas a las materias seleccionadas;
c) La concrecin curricular en mdulos y asignaturas que estas materias ha
experimentado en cada uno de los grados de Informacin y Documentacin implantados en
las diferentes universidades espaolas. Se consideran los planes de estudio verificados e
impartidos. Se excluyen del anlisis los cursos de adaptacin para la obtencin del grado.

2 Marco conceptual

En la actualidad, las universidades estn acabando de completar el proceso de implantacin
de los planes de estudio segn el modelo del Espacio Europeo de Educacin Superior (EEES),
unificando numerosos planteamientos curriculares y tambin aspectos metodolgicos y didcticos.
Rebasada la barrera del ao 2010, fijada por los ministros europeos como fecha lmite para
completar los cambios requeridos en los sistemas universitarios de los estados participantes, la
mayora de ellos han reordenado sus enseanzas y modificado la organizacin de las titulaciones,
persiguiendo modelos ms flexibles y comparables, para favorecer la movilidad e incrementar las
oportunidades laborales de estudiantes y titulados europeos.
El modelo del EEES se propone hacer compatibles y transparentes los diferentes sistemas
universitarios, sin homogeneizarlos. Esto significa que los planes de estudios de una misma
titulacin -o de titulaciones similares- no siendo necesariamente iguales, s pueden ser objeto de
reconocimiento mutuo.
Para favorecer dicho reconocimiento as como la comprensin sobre las competencias
adquiridas en una determinada titulacin, los ttulos se acompaan del Suplemento Europeo al
Ttulo (SET), que facilita que las materias y asignaturas cursadas sean interpretables y reconocidas
por los estados que participan del EEES. Este documento recoge informacin detallada sobre las
asignaturas, crditos cursados, competencias adquiridas, resultados acadmicos y cualificacin
profesional obtenida por el estudiante, con su nombre y apellidos. Es un documento especfico con
un formato comn que otorga validez comunitaria al currculum acadmico desarrollado con el
objetivo de hacer posible el reconocimiento de crditos entre las diferentes titulaciones del EEES y
acreditar las capacidades profesionales adquiridas por ante posibles empleadores.
El EEES ha sido concebido como una herramienta conceptual y metodolgica para construir la
Sociedad del Conocimiento europea, cuyo objetivo es incrementar el empleo ligado a la denominada
economa del conocimiento y convertir a nuestro continente en un foco de atraccin para
estudiantes, profesores y empleadores, poniendo freno a la fuga de cerebros hacia otras zonas del
planeta.
Implica un conjunto de acciones pautadas en el tiempo que suponen cambios significativos en
los sistemas universitarios de los estados participantes, que han sido decididas por los responsables
polticos de la educacin superior de los pases participante desde 1999. Estas decisiones y acuerdos
se han dado a conocer en forma de Declaraciones y Comunicados y posteriormente se han ido
transponiendo a la legalidad propia de cada estado, constituyendo el marco legal en el que se
desenvuelven las actividades desarrolladas por las universidades.
El elevado nmero de estados participantes en el proceso de convergencia europea, as como
las diferencias educativas, socio-culturales, polticas y econmicas entre ellos provoca notables
diferencias en su desarrollo. Estas se explican en parte, porque el proceso de armonizacin
acadmica se caracteriza por un fuerte compromiso poltico asumido por los estados participantes,

38
y simultneamente, por la carencia de un marco normativo jurdico vinculante de Derecho
Internacional o Comunitario europeo.
El lado positivo de esta situacin es que existe una gran flexibilidad en las propuestas y en los
modelos que cada estado participante adopta. Por el contrario, el lado negativo pone de manifiesto
la carencia de precisin conceptual, procedimental y temporal del proceso, lo que ha dado lugar a
cierta dosis de inseguridad y confusin en los agentes de la implantacin, as como al surgimiento
de movimientos reactivos a su implantacin.
En el cambio de modelo hacia el EEES se han producido modificaciones conceptuales que se
reflejan en la terminologa utilizada. Los antiguos planes de estudios se publicaban a travs de
rdenes Ministeriales o Decretos y recogan las relaciones de asignaturas, los descriptores con el
contenido de las mismas y las adscripciones a las reas de conocimiento con capacidad para
impartirlas.
En la actualidad la estructura curricular es ms flexible y las titulaciones se organizan en
torno a conceptos como competencia, materia, mdulo, asignatura y plan de estudios.

3 El grado en informacin y documentacin en Espaa

El grado en Informacin y Documentacin adscrito a la rama de conocimiento de Ciencias
Sociales y Jurdicas ha seguido muy de cerca las lneas maestras, en cuanto a objetivos formativos y
competencias, establecidas en el Libro blanco de la titulacin denominado Ttulo de Grado en
Informacin y Documentacin, que se gest a lo largo del ao 2003 y se public en 2004, recogiendo los
consensos alcanzados por las universidades que participaron en su elaboracin (ANECA, 2004: 10-
12).
En Espaa estos estudios comenzaron a impartirse, como titulacin universitaria oficial, en
los aos 80. Los primeros aos los estudios se articulaban en la Diplomatura en Biblioteconoma y
Documentacin, posteriormente algunas universidades implantaron un segundo ciclo que o bien
completaba la formacin de los Diplomados en Biblioteconoma y Documentacin o especializada a
los egresados procedentes de otras titulaciones. Asimismo se fueron desarrollando titulaciones de
posgrado (doctorados y mster) completando de esta manera el ciclo formativo.
El proceso de transformacin de las antiguas diplomaturas y licenciaturas en grados ha
supuesto, para el caso del Grado en Informacin y Documentacin una oportunidad para mejorar la
articulacin de los estudios, a diferencia de otras titulaciones.
Las competencias que el futuro egresado debe adquirir a lo largo del programa curricular del
Grado estn pensadas para formar profesionales polivalentes, que puedan desempear trabajos
relacionados con todos los aspectos relativos a la organizacin y recuperacin de la informacin y la
documentacin en diferentes soportes, as como con la planificacin, organizacin y gestin de todo
tipo de bibliotecas, archivos y centros de documentacin.
Estas mismas competencias se mantienen en distintos informes que analizan la situacin del
mercado laboral en el mbito de la informacin y la documentacin en Espaa (FESABID, 2011;
Perfiles, 2012; Tejada, 2013).
Los principales mbitos de estudio del Grado estn orientados hacia el desarrollo de
competencias relacionadas con: Documentos, Unidades y Sistemas de Informacin, Planificacin,
Organizacin y Evaluacin de Unidades de Informacin, Representacin y Recuperacin de la
Informacin, Gestin Tcnica de Unidades de Informacin, Tecnologas de la Informacin,
Bibliografa y Fuentes de la Informacin, Fondo Antiguo en las bibliotecas y Fundamentos y
Metodologas de Investigacin.
El contenido del Plan de estudios suma 240 crditos ECTS, distribuidos en:

39

Asignaturas de formacin bsica (60 crditos);
Asignaturas obligatorias (102 crditos);
Asignaturas optativas (60 crditos);
Practicum (12 crditos);
Trabajo de fin de Grado (6 crditos).

El Plan de estudios se estructura en 4 aos. Los 240 crditos ECTS se distribuyen
equitativamente, correspondindole a cada curso 60 crditos. Aunque la mayor parte de las
asignaturas son de 6 crditos, en la propuesta concreta de cada universidad hay variaciones en
cuanto a la duracin de algunas de ellas y la concrecin de los ttulos concretos de las asignaturas.
La propuesta comn de plan de estudios se ha adaptado en cada universidad, no obstante, las
concreciones resultan distintas porque tambin se reflejan las peculiaridades de cada contexto
acadmico y la trayectoria de los planes de estudios anteriores.

4 Las competencias de anlisis, representacin, organizacin y recuperacin de
la informacin en la materia representacin y recuperacin de la
informacin

La evolucin disciplinar de las Ciencias de la Informacin y la Documentacin ha
experimentado en las ltimas dcadas un cambio en el objeto de estudio, trasladndose el centro de
atencin desde el soporte (documento) al contenido (informacin). Esta situacin ha supuesto
cambios importantes en los perfiles profesionales, as como que la recuperacin de informacin -y
todo lo que la hace posible; el anlisis, representacin y organizacin- adquiera mayor relevancia.
A lo largo de su recorrido histrico, desde los primeros planes de estudio de las Diplomaturas
en Biblioteconoma y Documentacin hasta los Grados en Informacin y Documentacin, pasando
en algunos casos tambin por las Licenciaturas en Documentacin se constata que bajo distintas
denominaciones o incluida en otras materias, la presencia de los contenidos curriculares
relacionados con la representacin y recuperacin de la informacin ha aumentado de forma
constante.
En los actuales planes de estudios, la competencia Representacin y Recuperacin de la
informacin trata de dar respuesta a los distintos objetivos de la titulacin. Su transversalidad se
muestra en la importancia que tiene esta competencia en el desarrollo de todos los perfiles
profesionales para los que el Grado en Informacin y Documentacin capacita profesionalmente
para los perfiles relacionados con la organizacin y recuperacin de informacin y documentacin
en diferentes soportes, as como la planificacin, organizacin y gestin de todo tipo de bibliotecas,
archivos y centros de documentacin.
En la propuesta de distribucin de los contenidos comunes y obligatorios que propone el
Libro Blanco, la materia representacin y recuperacin de la informacin es la que recibe una
mayor asignacin de crditos, 36 crditos sobre 240 crditos totales obligatorios y optativos. Esto
supone el 15 % de los contenidos tericos y prcticos totales de la titulacin, y casi el 22 % de los
contenidos comunes obligatorios (Aneca, 2004: 96). Por tanto esta es la materia ms representativa
del Grado de Informacin y Documentacin y sobre la que descansan de forma transversal los
diferentes perfiles profesionales.

40

PROPUESTA DE CONTENIDOS COMUNES OBLIGATORIOS (TRONCALIDAD)
DEL TTULO DE GRADO EN INFORMACIN Y DOCUMENTACIN

4. Representacin y recuperacin de la informacin. 36 crditos
Catalogacin descriptiva. Indizacin. Clasificacin. Resumen, Desarrollo,
mantenimiento y evaluacin de instrumentos de organizacin, control y acceso.
Elaboracin, mantenimiento y uso de lenguajes documentales. Tcnicas de
recuperacin de informacin. Evaluacin de recuperacin de informacin.
Competencias:
Anlisis y representacin de la informacin (nivel 2)
Organizacin y almacenamiento de la informacin (nivel 2)
Bsqueda y recuperacin de la informacin (nivel 2)
Elaboracin y difusin de la informacin (nivel 2)
Tecnologas de la informacin: Informtica (nivel 2)
Tcnicas de diagnstico y evaluacin (nivel 2)

Fig. 1. Materia Representacin y recuperacin de la informacin en el Libro Blanco (ANECA,
2004: 96)

La distribucin de los 36 crditos asignados a esta materia se concreta en las distintas
asignaturas de cada plan de estudios. El seguimiento de las mismas debe garantizar que los alumnos
adquieran un nivel 2 en la adquisicin de las competencias marcadas, es decir, conocimiento de las
prcticas segn la propuesta del Euroreferencial (2004: v. II, 13).
La materia Representacin y Recuperacin de la informacin se ocupa de que los alumnos
del Grado alcancen los siguientes objetivos formativos de diferente ndole:

1. Conocimientos tericos:
1.2. Conocer los principios tericos y metodolgicos para la planificacin,
organizacin y evaluacin de sistemas, unidades y servicios de informacin;
1.3. Conocer los principios tericos y metodolgicos para la reunin, seleccin,
organizacin, representacin, preservacin, recuperacin, acceso, difusin e
intercambio de la informacin.
2. conocimientos tcnicos:
2.1. Adquirir la capacidad de aplicar y valorar las tcnicas de planificacin,
2.2. Adquirir la capacidad de usar y aplicar las tcnicas, las normativas y otros
instrumentos utilizados en la reunin, seleccin, organizacin, representacin,
preservacin, recuperacin, acceso, difusin e intercambio de la informacin.
3. conocimientos aplicados:
3.1. Comprender y aplicar los principios y las tcnicas para la planificacin,
3.2. Comprender y aplicar los principios y las tcnicas para la reunin, seleccin,
organizacin, representacin, preservacin, recuperacin, acceso, difusin e
intercambio de la informacin.

41
La propuesta concreta que sobre esta materia realiza el Libro Blanco del ttulo de Grado en
Informacin y Documentacin recoge, con gran detalle, los contenidos comunes obligatorios, los
crditos asignados, los descriptores que sintetizan los contenidos y las competencias que han de
desarrollarse, junto con el nivel de competencia previsto (Fig. siguiente).

MATERIA

REPRESENTACIN Y RECUPERACIN DE LA INFORMACIN

Crditos 36 crditos

Descriptores

Catalogacin descriptiva
Indizacin
Clasificacin
Resumen
Desarrollo, mantenimiento y evaluacin de instrumentos de
organizacin, control y acceso
Elaboracin, mantenimiento y uso de lenguajes documentales
Tcnicas de recuperacin de informacin
Sistemas avanzados de recuperacin de informacin
Evaluacin de la recuperacin de informacin

Competencias

Anlisis y representacin de la informacin (nivel 2)
Organizacin y almacenamiento de la informacin (nivel 2)
Bsqueda y recuperacin de la informacin (nivel 2)
Elaboracin y difusin de la informacin (nivel 2)
Tecnologas de la informacin: Informtica (nivel 2)
Tcnicas de diagnstico y evaluacin (nivel 2)

Fig. 2. Descripcin detallada de la materia Representacin y recuperacin de la informacin

Esta materia, como todas las comprendidas en la Propuesta de contenidos comunes obligatorios
(troncalidad) incluye tanto la formacin disciplinar, como las tcnicas especficas y los contenidos
instrumentales que se consideran imprescindibles.
Sus contenidos estn directamente relacionados con adquisicin de las competencias E07
Anlisis y representacin de la informacin; E08Organizacin y almacenamiento de la informacin;
E09 Bsqueda y recuperacin de la informacin; E010 Elaboracin y difusin de la informacin; E011
Tecnologas de la informacin: informtica, y E021 Tcnicas de diagnstico y evaluacin,
respectivamente.
El alcance de cada una de ellas se detalla en la figura siguiente.

42
E07 ANLISIS Y REPRESENTACIN DE LA INFORMACIN
Identificar y representar en el lenguaje documental adoptado o en otro sistema simblico
el contenido semntico de un documento o de una coleccin de documento o de un fondo
de archivos
E08 ORGANIZACIN Y ALMACENAMIENTO DE LA INFORMACIN
Organizar y estructurar los datos relativos a la descripcin de documentos y colecciones
de documentos en cualquier soporte: crear y explotar las herramientas de acceso a los
datos, documentos y referencias.
E09 BSQUEDA Y RECUPERACIN DE LA INFORMACIN
Buscar y recuperar la informacin por mtodos que permitan dar respuesta a las
expectativas de los demandantes y en condiciones ptimas de coste y tiempo
E10 ELABORACIN Y DIFUSIN DE LA INFORMACIN
Hacer disponibles y explotables las informaciones tratadas y facilitar su uso mediante el
suministro de productos y servicios documentales
E11 TECNOLOGAS DE LA INFORMACIN: INFORMTICA
Utilizar y poner en prctica mtodos, tcnicas y herramientas informticas (hardware y
software) para la implantacin, desarrollo y explotacin de sistemas de informacin
E21 TCNICAS DE DIAGNSTICO Y EVALUACIN
Identificar los puntos fuertes y dbiles de la organizacin, de un producto o de un servicio,
establecer y utilizar indicadores, elaborar soluciones para mejorar la calidad

Fig. 3. Competencias involucradas en la materia Representacin y recuperacin de la informacin,
segn el Libro Blanco

4.1 El euroreferencial y las competencias

La redaccin de las competencias que aparece recogida en el Ttulo de Grado en Informacin y
Documentacin fue el resultado de una revisin y ampliacin realizada por los responsables de
elaborar el Libro Blanco (2004), que llevaron a cabo tomando como punto de partida el
Euroreferencial de la ECIA.
En particular, los contenidos de la materia Representacin y recuperacin de la
informacin estn recogidos en la propuesta elaborada por la ECIA, en el campo de competencias
del Grupo I: Informacin, concretamente en la competencia I06 Anlisis y representacin de la
informacin: Identificar y describir el contenido de un recurso documental para facilitar la bsqueda, por la
indizacin y la elaboracin de resmenes documentales (Fig. siguiente).

El Grupo I: Informacin es el ms importante de todo el listado de
campos Grupo I: Informacin; Grupo T: Tecnologas; Grupo C:
Comunicacin; Grupo G. Gestin y Grupo S: Otros Saberes ya que l solo
rene doce campos de competencia que componen lo que se considera el
ncleo de la ocupacin. Es decir, que cualquier profesional de la
informacin debe reunir, a un nivel ms o menos alto y en las diferentes
condiciones de trabajo, todas estas competencias, ya sea auxiliar
bibliotecario o encargado de la bsqueda estratgica de informacin de un
laboratorio farmacutico.

43
A la vez, en este mismo grupo, se encuentran las competencias
necesarias en el tratamiento de la informacin y las que se aplican a los
soportes informativos; pues, en la realidad laboral de los profesionales,
estos dos polos tradicionalmente distintos comienzan a acercarse (ECIA,
2004: 19-20).

La competencia I06 est relacionada con las competencias I01: Relaciones con los usuarios y
los clientes; C01: Comunicacin oral; C02: Comunicacin escrita y C03: Comunicacin audiovisual.
Su desarrollo, como se recoge en la siguiente figura, se puede estratificar en cuatro niveles
escalonados:
Sensibilizacin (nivel 1);
Conocimiento de las prcticas (nivel 2);
Dominio de las herramientas (nivel 3);
Dominio metodolgico (nivel 4).

ANLISIS Y REPRESENTACIN DE LA INFORMACIN I06
Identificar y describir el contenido de un recurso documental para facilitar la bsqueda, por la
indizacin y la elaboracin de resmenes documentales.
EJEMPLOS DE NIVEL 1
1. Clasificar los documentos segn un plan de organizacin temtico.
2. Comprender y conocer la definicin de trminos como: ndice, organizacin,
clasificacin, punto de acceso, palabra clave, materia, descriptor, tesauro, listado de
autoridades, hoja de toma de datos, resumen, sntesis documental, etc.
EJEMPLOS DE NIVEL 2
1. Caracterizar el tema principal o los conceptos principales de un documento.
2. Proceder a la catalogacin por materias de un conjunto de documentos.
3. Elaborar un ndice.
4. Traducir en un lenguaje documental los conceptos principales de un
documento; saber utilizar un sistema de clasificacin, un fichero o un listado de
autoridades, un tesauro; proponer unos posibles descriptores.
5. Distinguir los tres tipos de relaciones en un tesauro: equivalencia, jerarqua
y asociacin.
6. Redactar un resumen descriptivo o selectivo (segn las necesidades de los
usuarios).
7. Analizar y referenciar sitios web para un directorio.
8. Indizar las preguntas de los usuarios en un contexto de bsqueda para
recuperar la informacin pertinente.
EJEMPLOS DE NIVEL 3
1. Redactar un resumen analtico o un comentario crtico.
2. Controlar la coherencia y la pertinencia de un listado de autoridades.
3. Elaborar un lenguaje documental: vocabulario controlado, tesauro, sistema
de clasificacin temtico o de funciones; garantizar la coherencia y la
actualizacin; redactar manuales de indizacin.

44
4. Conocer la oferta del mercado en herramientas de anlisis y resumen
automatizados y seguir su evolucin.
5. Crear perfiles y estrategias de bsqueda o demandas, en el marco de una
difusin selectiva de la informacin (DSI).
6. Explotar una herramienta de textmining (minera de datos).
EJEMPLOS DE NIVEL 4
1. Definir la poltica de anlisis e indizacin del servicio de documentacin.
2. Elegir la (las) herramienta(s) de acceso (sistema de clasificacin, tesauro,
vocabulario, etc.) ms adecuada (s) a los usuarios, estableciendo comparaciones
entre ellas.
3. Definir el mtodo de elaboracin de un lenguaje documental.
4. Elegir y poner en prctica un mdulo tesauro en un programa informtico
documental.
5. Elegir y poner en prctica una herramienta de indizacin y resumen
automatizados.

Vase tambin:
I01 Relaciones con los usuarios y los clientes
C01 Comunicacin oral
C02 Comunicacin escrita
C03 Comunicacin audiovisual

Fig. 4.Competencia I06 Anlisis y representacin de la informacin segn el Euroreferencial

4.2 El libro blanco y las competencias

Por su parte, la propuesta recogida en el Libro Blanco visualiza grficamente tanto la relacin
existente entre las competencias y el contenido troncal que corresponde a Representacin y
recuperacin de la informacin con los niveles de cualificacin que se deben alcanzar en cada
competencia.

MATERIAS

C
O
M
P
E
T
E
N
C
I
A
S

Documentos
unidades y
sistemas de inf.
Planificacin
organiz.y
evaluacin
Fuentes de
inf.
Repres. Y
recuperacin de
la inf.
E07 Anlisis y
representacin de la
informacin

2
E08 Organizacin y
almacenamiento de
la informacin

2
E09 Bsqueda y
recuperacin de la
informacin

2
E10 Elaboracin y 2 2

45
difusin de la
informacin

E11 Tecnologas de la
informacin:
informtica

2 2
E21 Tcnicas de
diagnstico y
evaluacin
2 2 2

Fig. 5.Relacin entre materias, competencias y niveles de cualificacin segn el Libro Blanco (Adaptado)

4.3 La materia, las competencias y las asignaturas en los planes de estudio de la
universidad espaola

Dado que Representacin y Recuperacin de la informacin es una materia bsica, todos los
planes de estudio del Grado de Informacin y Documentacin impartidos en la universidad espaola
recogen contenidos curriculares relacionados con sta.
Las denominaciones de las asignaturas son diversas: en general incluyen referencia a los
procesos documentales (catalogacin, indizacin, clasificacin, resumen, recuperacin, etc.), a las
herramientas (lenguajes documentales) e incluso a los productos (catlogos). Predominan las
asignaturas de carcter obligatorio, aunque tambin se incluyen asignaturas de tipo optativo. En
realidad la oferta de asignaturas optativas de esta materia es mayor, pues los respectivos Planes de
Estudios publicados en el Boletn Oficial del Estado comprenden un elenco mayor de asignaturas
optativas potencialmente ofertables.
La siguiente tabla recoge la relacin las estas asignaturas incluidas en esta materia. Aunque
no indica el curso en el que se imparten stas pertenecen generalmente al tercer y cuarto curso.

GRADO EN INFORMACIN Y DOCUMENTACIN
M
A
T
E
R
I
A

R
E
P
R
E
S
E
N
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I
N
F
O
R
M
A
C
I
N

Denominacin de la asignatura Carcter Crditos Universidad
Catalogacin automatizada OB 6 Universidad Carlos III
de Madrid Catalogacin avanzada OB 6
Sistemas de clasificacin del conocimiento OB 6
Indizacin y resumen OB 6
Bsqueda y Recuperacin de la informacin OB 6
Catalogacin de materiales especiales OP 6
Catalogacin descriptiva OB 6 Universidad
Complutense de Madrid Lenguajes documentales I OB 6
Catalogacin automatizada OB 6
Lenguajes documentales II OB 6
Bsqueda y recuperacin de informacin OB 6
Anlisis y lenguajes documentales especiales OP 6
Sistemas de recuperacin en internet OP 6
Anlisis documental OB 6 Universidade da Corua
Anlisis documental de contenido OB 6
Catalogacin descriptiva de documentos
especiales
OB 6
Catalogacin formal de documentos
electrnicos
OB 6
Lenguajes de indizacin terminolgicos OB 6
Lenguajes de clasificacin alfanumricos OB 6

46

Recuperacin y evaluacin de la informacin
electrnica
OP 6
Anlisis de contenidos OB 6 Universidad de Granada
Catalogacin descriptiva OB 6
Sistemas de organizacin del conocimiento I OB 6
Sistemas de organizacin del conocimiento II OB 6
Organizacin de colecciones OB 6
Sistemas de representacin y procesamiento
de la informacin
OB 6
Catalogacin de materiales especiales OB 6
Tcnicas de recuperacin de informacin OB 6
Catalogacin automatizada OP 6
Tcnicas avanzadas de Recuperacin y
representacin de la informacin
OP 6
Catalogacin en Bibliotecas y Centros de
Documentacin
OB 6 Universidad de Len
Control de autoridades OB 6
Representacin del contenido documental OB 6
Catalogacin en archivos OB 6
Sistemas de representacin normalizada del
contenido
OB 6
Bsqueda y recuperacin de la informacin OB 6
Sistemas de almacenamiento y acceso a la
informacin
OB 12 Universidad de Murcia
Catalogacin OB 12
Lenguajes y resumen documentales OB 12
Recuperacin de la informacin OB 12
Anlisis documental OB 6 Universidad de
Extremadura Catalogacin descriptiva OB 6
Lenguajes documentales OB 6
Catalogacin automatizada OB 6
Recuperacin de la informacin OB 6
Procesamiento avanzado de la informacin OB 6
Clasificacin documental en bibliotecas OP 6
Introduccin al anlisis documental OB 6 Universidad de
Salamanca Descripcin y acceso de recursos
Bibliogrficos
OB 6
Tcnicas de indizacin y recuperacin de la
informacin
OB 6
Representacin y organizacin de contenidos
documentales
OB 6
Recuperacin automatizada de la
informacin
OB 6
Descripcin y acceso de materiales especiales OP 6
Indizacin y recuperacin de documentos
audiovisuales
OP 6
Fundamentos de indizacin OB 6 Universidad de
Zaragoza Fundamentos de recuperacin de la
informacin
OB 6
Catalogacin OB 9
Indizacin precoordinada y clasificacin
bibliogrfica
OB 9
Catalogacin i indexacin OB 12 Universitat da
Barcelona Recuperacin de informacin OB 6
Anlisis documental I OB 6 Universitat Oberta de

47

Anlisis documental II OP 6 Catalunya
Bsqueda y recuperacin de informacin OB 6
Lenguajes documentales I OB 6
Lenguajes documentales II OP 6
Representacin y visualizacin de la
informacin
OP 6
Catalogacin automatizada OB 6 Universitat da Valencia
Catalogacin general OB 6
Sistemas de representacin de la informacin
y conocimiento
OB 6
Lenguajes documentales OB 6
Tcnicas de indizacin y resumen OB 6
Catalogacin de recursos electrnicos OB 6

Fig. 6. Asignaturas que desarrollan la materia Representacin y Recuperacin de la Informacin en las
universidades espaolas en un eje sincrnico en el curso 2012-2013.

Es pertinente para cada una de las universidades elaborar un eje diacrnico especfico, de
manera que se pueda analizar la presencia de la materia a lo largo de sucesivos planes de estudio y
observar cmo ha ido variando la denominacin de las asignaturas. Este trabajo implica tener
acceso a las distintas fuentes legales (Boletines oficiales donde aparece publicado el plan de
estudios) e institucionales (Memorias de Verificacin y los distintos documentos que garantizan la
calidad de las titulaciones).

Discusin

La materia Representacin y Recuperacin de la informacin est recogida de manera
importante tanto en nmero de crditos como de asignaturas en los planes de estudio de grado en
Informacin y Documentacin en las universidades espaolas. La mayora de las universidades
ofertan entre 36 y 42 crditos de esta materia, lo que supone un mnimo de 6-7 asignaturas
obligatorias y optativas en cada una de las titulaciones.
Asimismo las denominaciones de las asignaturas evidencian cierta uniformidad y son
frecuentes en todos los planes de estudio las asignaturas contienen trminos como catalogacin,
bsqueda, recuperacin de informacin, anlisis documental, lenguajes documentales e indizacin.
En el Libro Blanco Ttulo de Grado en Informacin y Documentacin los trminos materia usados
para designar a la Representacin y Recuperacin de la Informacin y competencia, referido a
Anlisis y Representacin de la Informacin, Organizacin y almacenamiento de la informacin
y Bsqueda y recuperacin de la informacin adolecen de la precisin conceptual requerida en un
documento de esta naturaleza.
Por otra parte, la expresin Representacin y Recuperacin de la informacin se utiliza de
forma polismica tanto para designar una materia como algunos de los descriptores que la conforman
y algunas de las competencias, lo que lo que provoca confusin.

48
Referencias

ANECA (2004). Ttulo de Grado en Informacin y Documentacin. Madrid, Aneca, Disponible en
http://www.aneca.es/media/150424/libroblanco_jun05_documentacion.pdf.

European Council of Information Associations (ECIA). (2004). Euroreferencial en Informacin y
Documentacin. V 1: Competencias y aptitudes de los profesionales europeos de la informacin
y documentacin. Madrid: SEDIC, 19-20. Disponible en http://www.certidoc.net/es1/euref1-
espanol.pdf.

FESABID (2011). Estudio FESABID sobre los profesionales de la Informacin: prospectiva de una profesin en
constante evolucin. Madrid: FESABID; Fundacin Germn Snchez Ruiprez; Swets, Disponible
en http://eprints.rclis.org/18057/1/FESABID_Prospectiva.pdf.

MOSCOSO CASTRO, P. (2010). Informacin y Documentacin: Fundamentacin terica y coyuntura
acadmica. Revista General de Documentacin Cientfica. Vol 20 (2010) pp. 25-43. Disponible en
http://revistas.ucm.es/index.php/RGID/article/view/RGID1010110025A/8957.

PERFILES Profesionales ms demandados en el mbito de los Contenidos Digitales en Espaa 20122017.
Profesionales TIC 2011. (2012). Madrid: FTI AMETIC, Disponible en
http://www.fti.es/sites/default/files/pafet_vii_perfiles_profesionales_cd_fti-rooter_1.pdf.

TEJADA ARTIGAS, C. M.; MARTNEZ GONZLEZ, B. (2013). Perfiles profesionales del Sistema Bibliotecario
Espaol: fichas de caracterizacin. Madrid: Ministerio de Educacin Cultura y Deporte.

49
CLASSIFICAO E FOTOGRAFIA
Abordagem conceitual como princpio norteador para um estudo em arquivos, bibliotecas e
museus

ANA CRISTINA DE ALBUQUERQUE
Universidade Estadual de Londrina - Departamento de Cincia da Informao
[email protected]

TELMA CAMPANHA DE CARVALHO MADIO
Universidade Estadual de Londrina - Departamento de Cincia da Informao
[email protected]

Resumo Este trabalho apresenta uma investigao conceitual do termo classificao, partindo da questo de
como os fundamentos tericos em um arquivo, biblioteca ou museu, so utilizados no sentido de contribuir
com a organizao das informaes presentes em documentos fotogrficos, respeitando cada campo e suas
devidas especificidades. Com base bibliogrfica, buscou-se uma literatura especfica dos assuntos tratados
como alicerce fundamental para o entendimento das classificaes e de seu desenvolvimento. Posteriormente,
realizamos uma pesquisa com observao em acervos fotogrficos representantes dos trs campos estudados:
Arquivo Pblico do Estado de So Paulo, SP; Biblioteca Pblica Municipal Mrio de Andrade, SP e Museu
Paulista, SP. Junto ao levantamento do histrico de cada uma das instituies, assim como as referncias que
utilizam para compor o tratamento de sua documentao, foi possvel perceber os objetivos comuns, as
diferenas e como a classificao est nas prticas, mas tambm na histria que remete aos objetivos iniciais
de arquivos, bibliotecas e museus que so instituies com grandes semelhanas em sua estrutura funcional
mas com especificidades constitudas por literatura e atuao prprias. Tendo em vista seus acervos, ambos
trabalham com colees, documentos, catlogos, conservao e classificao. Nas trs instituies o
documento fotogrfico se faz presente trazendo suas peculiaridades referentes a seu suporte, origem, funo
e tratamento. Desta forma, contribumos com o campo dos estudos tericos e conceituais em relao
classificao da informao e de seu desenvolvimento e da anlise do documento fotogrfico. Cada acervo traz
consigo problemas genricos e especficos a cada um dos campos a que se filia e nesse contexto que
discusses de cunho conceitual resultam no entendimento e na consolidao de bases tericas referentes
problemtica da classificao em relao ao documento fotogrfico.

Palavras-chave Classificao arquivstica. Classificao bibliogrfica. Classificao museolgica.

Abstract This work presents a conceptual investigation of the term classification, starting from the question
of how the theoretical foundations in an archive, library or museum, are used to contribute to the
organization of the information present in photographic documents, respecting each field and their
respective specificities. Having the bibliographic research as a starting point, we sought a specific literature
of the matters described as an essential foundation, in order to achieve a better understanding of the
classifications and their development. Subsequently, we conducted a research that featured observation of
photographic collections that represented the three fields studied: the Public Archives of the State of So
Paulo, SP; Municipal Public Library Mrio de Andrade, SP; and Paulista Museum, SP. Along the information
gathering about the historic background of each one of the institutions, as well as the references that are used
to compose the processing of their documentation, it was possible to perceive the common goals, the
differences and how the classification plays its role in practice, but also in the history that refers to the initial
goals of archives, libraries and museums, which are institutions with huge similarities in their functional
structure, but with specificities consisting of distinct literature and operations. Given their collections, both
work with collections, documents, catalogs, conservation and classification. In all three institutions, the
photographic document is present by bringing its peculiarities regarding its support, origin, function and
treatment. Therefore, we contribute to the field of theoretical and conceptual studies regarding the
classification of information and its development and analysis of the photographic document. Each collection
brings with it both generic and specific problems to each of the fields to which it is affiliated and it is within

50
this context that discussions of conceptual nature result in understanding and consolidation of theoretical
basis concerning the issues that surround classification regarding photographic documents.

Keywords Archival classification. Bibliographic classification. Museological classification.

Introduo

Entender como uma sociedade se estrutura tentar perceber como, ao longo do tempo, foram
deixadas marcas de decises que fizeram que esta seguisse caminhos que iriam ter influncias
determinantes, no ambiente local e geral. No cotidiano, prticas e modos de fazer so construdos
constantemente, refletindo o pensamento e disposio de uma determinada poca, comunidade ou
cultura. A documentao produzida, de diferentes tipos, tem o papel no s de comprovar, lembrar,
testemunhar fatos, mas tambm de, atravs de estruturas complexas, refletir universos especficos,
condensados em caractersticas e contradies que iro apresentar uma identidade prpria, escrita
por seus detentores que, ao conferir sua documentao, ou coleo, uma disposio particular,
apresentar os modos e relaes com o mundo e com pessoas da poca. Acumular e guardar
tesouros para oferecer ao olhar, mesmo que sua funo til seja uma questo que fique em segundo
plano, uma prtica que atravessa sculos.
Colees de registros de qualquer natureza mostram o prazer em guardar, o vnculo
profissional ou afetivo, trazem a confirmao de conhecimentos adquiridos sobre determinados
assuntos, lugares e objetos, enfim, exibem a teia de acontecimentos que o detentor quer que seja
visto e reconhecido. Possuir e preservar aquilo que se deseja, que se valoriza e se acredita que no
deve ser esquecido descobre sentido no ato de colecionar (Marques;Silveira, 2005) e, com o ato de
selecionar objetos, estabelece-se tambm um significado em relao a eles. Esses objetos, coletados
e diferenciados trazem a possibilidade de formar uma classificao que, por sua vez, deve ser
explicada e entendida de acordo com seu contexto histrico. Uma coleo mostra a relao
existente entre as coisas colecionadas, o colecionador e seu contexto. Um colecionador conserva,
divulga e transmite o que h de precioso. Uma unidade informacional institucionaliza, classifica,
descreve, e disponibiliza.
Coletar, organizar, identificar, catalogar e classificar qualquer tipo de suporte so atividades
que norteiam a montagem de um acervo e fazem de arquivos, bibliotecas e museus instituies onde
ficam depositadas colees ou fundos que fizeram parte da histria de diferentes culturas pessoais
ou institucionais.
O tratamento de acervos nasce juntamente com o desenvolvimento das cincias e com a
necessidade de dar a uma determinada coleo, dentro de um ambiente prprio, o acesso s suas
informaes. As atividades que so executadas nessas instituies vm da capacidade de colecionar
e armazenar e esto ligadas a todo desenvolvimento das classificaes do conhecimento, dos seres e
dos saberes, ou seja, antes das prticas legitimadas pelas instituies est a coleo. (Lara Filho,
2006, p.13).
Organizar o volume de informaes que esto disponveis um desafio. A organizao da
informao no pode ser ao acaso: o resultado de todas as transformaes e influncias sociais,
econmicas e culturais que se do no ambiente em que circula. A ordem, dada por seus produtores
ou detentores, enquanto objetos de uso fora de um arquivo, biblioteca ou museu reflete o sentido de
uma poca, de uma cultura.
Neste contexto, esta pesquisa props uma reflexo sobre o conceito de classificao em
arquivos, bibliotecas e museus e como esta aplicada em relao a documentos fotogrficos, estes,
frutos muitas vezes das colees particulares, de registros institucionais, documentao pessoal,
etc. Em qualquer aspecto que se encontrem, a partir do momento em que esto em uma instituio,
necessitam de mtodos e tratamentos que faam refletir, da forma mais objetiva possvel, as
informaes, por vezes claras e facilmente perceptveis, por vezes, devido a sua contextualizao e
produo, de difcil acesso aos profissionais envolvidos em seu tratamento.

51
No mbito de nossa pesquisa, abordamos a fotografia como um documento repleto de
peculiaridades que acompanhou as mudanas sociais e consolidou inmeros usos dentro desta. As
colees de fotografias acumuladas durante a vida de uma pessoa ou de uma instituio se
transformaram posteriormente em documentos acumulados em instituies que tambm estavam
sofrendo modificaes e influncias sociais. Os valores de prova e de realidade, vistas a partir das
argumentaes de Tagg (1998) se do no sentido de que esto ligados diretamente s novas
instituies que surgem no bojo daquela sociedade, assim como prticas de observao necessrias
para manter um estado sob controle.
Graas aos registros constantes e experincias fotogrficas, grande parte do que conhecemos
hoje de pequenos e breves momentos passados cidades, povos, ou seja, tudo o que foi registrado a
partir do aparecimento da fotografia so, alm de recordaes, documentos histricos que nos
mostram, aliados a outras formas de expresso, importantes momentos que devem ser conhecidos
para a construo de uma determinada memria.
A organizao e classificao dadas s colees de fotografias que vo se formando, sejam
estas colees de natureza institucional ou pessoal, refletem o pensamento de uma poca.
As formas de organizar e classificar documentos devem ser mantidas e respeitadas pelas
instituies que os recolhem, a fim de no apagar os traos da sua organicidade, traduzida no modo
como ela foi acumulada, reunida e, ainda, naquilo que foi intercambivel nessa reunio
(Gonalves;Marcondes, 2005, p. 263). Tarefa difcil e que exige um trabalho de pesquisa dos
profissionais envolvidos no processo de tratamento das instituies que possuem acervos
fotogrficos, pois, quanto mais uma classificao se adaptar a uma determinada poca, menos
adequada ser para outra (Vickery, 1980, p. 187).
Sendo assim, parte-se da questo de que, apesar do nmero significativo de trabalhos e
discusses apresentadas rea de Cincia da Informao sobre o tratamento do documento
fotogrfico em unidades de informao, este ainda impe desafios aos profissionais que atuam junto
a bibliotecas, arquivos e museus e questionamentos que, se devidamente levantados, podero
contribuir para melhorar e elucidar dvidas tanto como estabelecer um maior aprofundamento na
questo tcnica e intelectual desse documento. Outro problema observado, no caso especfico do
assunto classificao de documentos fotogrficos, a escassa bibliografia acadmica dos campos da
arquivologia, biblioteconomia e museologia que no contemplam discusses nem tratam
profundamente este tema. A classificao, nestes campos, muito discutida a respeito de sua teoria,
suas formas de execuo, seus sistemas, no entanto, quando passamos ao estudo de documentos
especficos, como em nosso caso, a literatura no d base suficiente para que possam ser
considerados os processos que documentos diferentes dos escritos tm de passar.
A fotografia um meio tecnolgico de criao e reproduo de imagens em srie. Pelo fato de
ser determinada por essas condies materiais de produo, ela desenvolve consequentemente, sua
prpria linguagem expressiva isto , forma e contedo se imbricam de maneira inseparvel. Por
esses motivos, a fotografia, por um lado, apresenta condies nicas que determinaro seu
tratamento em unidades de informao. De maneira que, seja em um arquivo, em uma biblioteca ou
em um museu ela sempre apresentar os mesmos traos constitutivos sendo diferentes as funes
que sero dadas s suas informaes nesses acervos (Albuquerque, 2006). Dependendo dessa funo,
sua classificao tem um papel essencial tanto para o profissional quanto para o usurio
pesquisador.

52
1 Sobre a classificao em arquivos, bibliotecas e museus

Um conceito, de acordo com Comte-Sponville (2003), em verbete do Dicionrio Filosfico, uma
ideia abstrata de algo, mas que definida e construda com preciso, pois o resultado de uma
prtica e o elemento de uma teoria, seja esse conceito filosfico ou cientfico. Desta forma, estudar
um determinado conceito torna-se tarefa interessante no momento em que percebemos que este
passou por uma rica elaborao para se firmar durante o desenvolvimento social. Um conceito
como um instrumento em que, mentalmente, possvel definir diversas realidades, assim, pode-se
compreender algo a partir do conjunto de propriedades que se elabora atravs dele. Portanto, os
desenvolvimentos sociais so tambm fruto da elaborao de conceitos pelas pessoas, para melhor
apreender e compreender o meio em que vivem e poder ter significados coerentes com suas
aspiraes.
Tendo sua raiz etimolgica no latim conceptus, do verbo concipere, conceito significa conter
completamente e formar dentro de si. uma ideia que mentalmente se concebe e se pode
entender, ou seja, uma representao de uma realidade, mas abstrata e geral. Abbagnano (2000, p.
164) define conceito como:

[...] todo processo que torne possvel a descrio, a classificao e a
previso dos objetos cognoscveis. Assim entendido, este termo tem
significado generalssimo e pode incluir qualquer espcie de sinal ou
procedimento semntico, seja qual for o objeto a que se refere, abstrato ou
concreto, prximo ou distante, universal ou individual etc.

Assim, o autor mostra que conceitos so universais, pois, por serem gerais, podem ser
aplicados a diferentes reas ou coisas.
Uma caracterstica que um conceito tem uma histria prpria, pois ao mesmo tempo em
que pode ser expresso por muitos nomes e significar a mesma coisa, ele um emaranhado que se
monta a partir de outros conceitos, uma multiplicidade porque construdo constantemente.
De acordo com Shera (1957), um conceito uma rede de associaes, inferncias,
relacionamentos que se do atravs do ato de categorizao, pois, para o autor, se visto pelo ngulo
da teoria do pensar, um aspecto do processo do pensamento humano, ou seja, ao formar um
conceito, determinada pessoa no o separa das funes inerentes do pensamento, pois essa
atividade est ligada ao processo de organizao da memria e outras funes mentais que
acontecem naturalmente. Segundo Shera (1957):

A conceituao, a formao de conceitos de classe, comeou
indubitavelmente com o mundo fsico imediato e com a ordenao dos
objetos nele, e pode ter-se movido na direo da tendncia primitiva do
homem de atribuir animismo ao inanimado.

Desta forma, a memria cria referncias em que um padro de relacionamentos designado,
fazendo com que a formao de conceitos se perpetue a partir dessas determinaes mentais. Para o
autor, conceitos so a matria de que o padronizar, isto , a classificao feita. (Shera,1957) ou
seja, um conceito a representao mental de um objeto, elaborado a partir do processo inerente de
nomear, classificar e categorizar para compreender o mundo, sendo mltiplo em sua formulao e
dependendo de sua poca.

53
Os conceitos esto ligados classificao pela maneira como dividimos e juntamos
mentalmente objetos, pessoas, fatos, com isso dando caractersticas a cada um e montando, como
um quebra-cabea de significados, vrios nveis e divises de termos e palavras que se estendem at
nossas aes cotidianas.
Como conceito, o termo classificao se caracteriza pelo processo de agrupar e dividir o
conhecimento por suas semelhanas, dispor as informaes de modo que suas relaes de analogia
se sobressaiam, para que as cincias, o saber ou documentos possam ser apreendidos de forma
precisa. A classificao um fenmeno social e nela cada fato impulsiona a criao de novas formas
de classificao entre os seres e os saberes. Dessa forma, as aes apresentadas no domnio das
relaes sociais so atos classificatrios.
O conceito de classificao definido por muitos autores como um processo que possibilita
dispor conjuntos de elementos de forma que possam estar ordenados para fins pragmticos, como
organizao, disponibilizao, posterior recuperao e tambm para entender e conhecer melhor
um determinado objeto ou pessoa. Classificar, na acepo mais simples do termo, reunir coisas ou
idias que sejam semelhantes entre si, e separar as que apresentam diferenas (Vickery, 1980, p.
23). Atravs da classificao possvel escolher dentro de diversas entidades que, de acordo com
Vickery (1980), so seres concretos e conceituais as caractersticas que melhor tm relao com a
entidade que foi determinada anteriormente.
Na perspectiva de Pea (2003, p. 30):

Es el acto de organizar el universo del conocimiento en algn orden
sistemtico. Ha sido considerada la actividad ms fundamental de la mente
humana. El acto de clasificar consiste en el dicotmico proceso de
distinguir cosas u objetos que poseen cierta caracterstica de aquellos que
no la tienen, y agrupar en una clase cosas u objetos que tienen la
propiedad o caracterstica en comn.

Assim, pode-se inicialmente colocar duas dimenses para este conceito: como processo
mental, realizado consciente e inconscientemente pelas pessoas, com o objetivo de direcionar e
organizar seu ambiente, sua rotina, seu trabalho, seus conhecimentos sobre o mundo; e a
classificao com fins a organizar objetos, documentos, espaos, o conhecimento, as informaes,
para que estes no se percam e possam ser recuperados e mais facilmente tratados. Segundo Arajo
(2006, p. 177), a definio do termo em questo pode variar um pouco, no entanto:

[...] traz o elemento essencial que caracteriza um processo de
classificao: a formao metdica e sistemtica de grupos, a ao
organizante de ordenar um determinado conjunto de seres ou coisas em
agrupamentos menores, a partir de caractersticas semelhantes
partilhadas por alguns (que os incluem dentro de determinado grupo) e
no compartilhada pelos demais (que no pertencem a esse grupo). Nesse
processo elege-se um critrio de diviso, promovem-se definies e
aproximaes, estatutos e avaliaes.

Com as classificaes, tem-se a pretenso de organizar o universo do conhecimento em uma
ordem sistemtica, pois se agrupa no s o conhecimento, mas tambm objetos em uma classe
comum. Para entender o conceito e o processo da classificao, preciso percorrer sua histria, que
cheia de diferentes manifestaes, tanto como parte da vida do homem como fator do
desenvolvimento das cincias, quanto como elemento utilitrio para organizar a imensido de
documentos e informaes que circulam de forma intensa em nossas reas do conhecimento.

54
Fundamentada em semelhanas e contrastes, a classificao pode reunir a sntese e a anlise, pois
o meio mais simples de, simultaneamente, discriminar os elementos de um conjunto e agrup-los
em subconjuntos isto , de analisar e sintetiz-lo (Bunge apud Gil, 2001. p. 91). Dessa forma,
percebe-se tambm a relao com o desenvolvimento do conhecimento, pois, com a organizao
deste em classes, sua funo se estende de unificar e sistematizar os fatos e dados, com espaos
que permitem crescer a partir do exterior, ou seja, nvel a nvel, de acordo com a hierarquia.
Baseados em Diemer, citado por Pombo (2002), a classificao se identifica com quatro
grandes orientaes. A primeira delas a orientao ontolgica, ou seja, a classificao dos seres,
tomando ontologia como a cincia que considera o ser em si mesmo, independente do modo em que
se manifesta. Podemos identificar aqui o importante papel do incio das classificaes que, segundo
a autora:

[...] corresponde o problema da classificao nas cincias o qual, desde
Aristteles at os nossos dias, interessa fundamentalmente aos lgicos e
aos cientistas ligados a domnios em que a classificao tem um papel
importante, tais como a biologia, a geologia, a cosmologia, a antropologia
ou a tipologia psicolgica (Pombo, 2002, p. 2).

Sendo assim, as classificaes esto, para Gil (2001), numa posio que antecede o
conhecimento, pois a organizao de objetos em classes , segundo o autor, uma fase anterior
classificao; separa-se primeiro, depois se classifica. A determinao conceitual do termo
classificao se faz de forma difcil, pois esta est entre [...] o unvoco e o equvoco, renem anlise
e sntese. (Gil, 2001, p. 91).
O autor se refere a M Bunge para definir classificao:

[...] a classificao o meio mais simples de, simultaneamente,
discriminar os elementos de um conjunto e agrup-los em subconjuntos
isto , de analisar e de sintetizar (M. Bunge apud Gil, 2001, p. 91).

A classificao seria colocada entre a descrio, destacando caractersticas dos elementos
classificados, e a explicao, a partir dessas caractersticas, pois assim seria possvel entender o que
ou onde se situa aquele elemento. O autor explica que, tambm, as classificaes so uma [...]
manifestao directa do pensamento [...], (Gil, 2001, p. 91), e que:

No sentido mais preciso, as noes de entidade, de qualidade, de
relao e de quantidade intervm de modo imediato nas classificaes
classificam-se populaes de objectos, segundo as suas propriedades e as
suas interaes com outros objectos. As classificaes representam uma
actualizao no menos directa do par identidade diferena, do mesmo e
do outro, e estabelecem-se sobre uma relao de precedncia (de cada
nvel relativamente ao seguinte), isto , sobre uma modalidade do par
anterior posterior [...] (Gil, 2001, p. 91).

55
De acordo com o autor, em Aristteles j era recomendado que a classificao fosse por
opostos. Aristteles tem enorme contribuio no entendimento do conceito de classificao
1
, pois,
de acordo com San Segundo Manuel (1996), o filsofo responde pela reflexo mais completa e mais
bem elaborada sobre a classificao do conhecimento e com ele que os primeiros indcios de uma
classificao sistemtica em relao s cincias aparecem. As cincias investigam causas e princpios
que esto envolvidos com a natureza dos seres, por isso ela s se concretiza quando h
conhecimento dessas causas, sejam elas observadas em seres ou objetos de estudo de qualquer rea
do conhecimento. Com esse pensamento, o filsofo contribui para as bases das investigaes
cientficas ocidentais, tendo como fundamentos de sua obra a pretenso de buscar uma articulao
entre os diferentes saberes e procurar, atravs de unidades, as estruturas que sustentam os ramos
dos conhecimentos mltiplos existentes.
O conceito de classificao entendido pelos campos da arquivologia, biblioteconomia e
museologia vm ao encontro das concepes filosficas quando pretendem, cada um ligado a sua
especificidade, dar bases tericas a uma atividade que poderia ser considerada apenas de carter
prtico.
O conceito de classificao arquivstica tem em seu cerne e concepo os princpios da
provenincia e de respeito ordem original. O princpio da provenincia ou respeito aos fundos se
refere aos interesses externos, ou seja, demanda que os profissionais se atentem ao organismo
produtor, englobando suas funes, fato que determinar o porqu da criao daquele documento,
seu contedo e seu posterior uso como documento histrico. J o princpio de ordem original incide
no fato de resguardar os documentos com sua ordem original nos fundos e evitar que esses sejam
tratados luz de classificaes por temas ou matrias, o que dificulta e mesmo acaba com as
verdadeiras origens dos documentos.
Dessa forma, com os relacionamentos entre documentos e seu produtor e os documentos
entre si, os arquivos tm assegurado seu carter orgnico que, atravs desses princpios,
demonstram a importncia das relaes de natureza administrativa que vo se desdobrar em
algumas caractersticas que fazem com que o documento se mostre como arquivstico.
Classificar realizar uma srie de atividades que dividem ou juntam elementos diferentes e
semelhantes, com o intuito de conhecer, entender e dispor esses elementos de forma que possam
ser encontrados, mas tambm compreendidos dentro de determinado perodo ou esquema.
Abordando a teoria da classificao, Sousa (2006, p. 251) a define como:

[...] distribuir indivduos em grupos distintos, de acordo com
caracteres comuns e caracteres diferenciadores. Pode-se fazer essa
distribuio observando-se caractersticas superficiais e mutveis ou ento
tendo-se em vista caracteres essenciais e permanentes. No primeiro caso, a
classificao elaborada a partir de um princpio de diviso ou
classificao artificial. No segundo caso, o princpio ser natural.

O autor ressalta que, nos casos em que a classificao feita de forma artificial, acontece a
diviso pelas caractersticas de objetos, classificao esta que pode ser mudada e utilizada de
diferentes maneiras, pois no incide na essncia dos objetos e sim em sua diviso e organizao. Nos
casos em que a classificao feita de forma natural, esta traduz toda a ordem que seguida no
meio em que esses objetos esto. Portanto, de forma emprica, observa-se como esses elementos e

1
O uso do termo cincia para denotar o estudo do mundo material, inorgnico, relativamente recente. O termo
clssico para o estudo da natureza physica, a traduo latina do ttulo de uma obra de Aristteles. Embora ele no
apresentasse uma classificao formal do conhecimento, o significado de physica pode ser derivado de um estudo de suas
obras (Vickery, 1980, p. 188).

56
objetos esto inseridos em seu meio, como se do suas semelhanas e diferenas, e parte-se para a
diviso, permanecendo juntos os semelhantes (Sousa, 2006).
A perspectiva da Arquivstica Integrada, que defende a idia de realizar concomitantemente
as atividades de classificao, avaliao e descrio, parte de algumas fases para contemplar o
resultado. Para Lopes (1996, p.89) a classificao arquivstica entendida como:

[...] a ordenao intelectual e fsica de acervos baseada numa proposta
de hierarquizao das informaes referentes aos mesmos. Esta hierarquia
se consubstancia em planos ou quadros de classificao e em normas
gerais de procedimento derivadas do conhecimento da fonte produtora,
das informaes acumuladas e dos aspectos materiais e intelectuais do
acervo.

Para o autor h etapas de pesquisa que levaro elaborao da classificao mais adequada ao
acervo e dos procedimentos que resultaro na recuperao das informaes. Lopes (1996) escreve
que defendida uma classificao que possa gerar dossis dos documentos que devem ser unidos
efetivamente sob o ponto de vista intelectual (Lopes, 1996, p. 99), pois podem estar separados
fisicamente por conta de seus suportes, mas tm de refletir a estrutura da organizao.
Assim, entende-se a classificao como uma atividade mpar, que ser a ponte entre o
produtor e o usurio, a atividade que preservar a ligao entre a cadeia hierrquica da instituio
para maior facilidade de recuperao das informaes, e demonstrar como aqueles documentos se
constituam dentro de cada rgo produtor. Ela no se resume a atribuir nmeros, cdigos e
subdivises a atividades e documentos, e sim um processo de organizao intelectual em que as
caractersticas, as informaes e o contexto de cada documento tratado refletem, com maior ou
menor grau de complexidade, as funes e atividades desenvolvidas por uma instituio, a vida de
uma pessoa ou os fatos de uma cidade ou pas. A principal funo de um documento de arquivo a
informao a respeito de determinado fato.
As classificaes bibliogrficas, como as conhecemos atualmente, so fruto do final do sculo
XIX, quando foram elaboradas tabelas sistemticas que pretendiam dividir o conhecimento de
forma a ser funcional para encontrar informaes e documentos. Aqui se pode perceber o terceiro e
quarto nvel da problemtica das classificaes discutido por Pombo (2002). A classificao dos
livros e das informaes representa, para a autora, um novo domnio no mundo das cincias, j que
se prope a especificamente tratar dos sistemas de classificao para organizao de documentos.

[...] o objecto de anlise ento o conceito de classificao na sua
idealidade e abstraco mxima; o objectivo, a constituio de uma teoria
da classificao que estude a totalidade dos possveis sistemas de
classificao e determine os meios da sua realizao (Pombo, 2002, p.3).

A autora faz uma observao em relao a Diemer que considera que mesmo que a
classificao tenha fins utilitaristas necessrio, para sua elaborao, a ajuda dos filsofos, pois
tratam de problemas clssicos da teoria do conhecimento.
Com a finalidade de estabelecer as relaes devidas entre os documentos, mantendo as
caractersticas intelectuais de sistemas de pensamento que foram desenvolvidos at o momento, os
sistemas de classificao se tornaram instrumentos imprescindveis para as funes dentro de uma
unidade informacional. Desta forma, a classificao bibliogrfica pode ser definida como:

57
[...] la agrupacin u orden de libros y outro tipo de documentos segn
su contenido, formando grupos dentro de los campos de conocimiento
humanos en que estos campos resultan ser compartimentos conceptuales
(San Segundo Manuel, 1996, p.69).

O ordenamento de documentos de acordo com o assunto de que tratam e sua separao ou
juno que leva em considerao as semelhanas e diferenas a base das classificaes
bibliogrficas, pois, Na verdade, quando nos referimos classificao bibliogrfica, subentendemos
uma classificao que tem por base os assuntos tratados nos documentos. (Piedade, 1983, p.65).
Mesmo sendo bibliogrficas, Piedade (1983), explica que uma classificao pode ter base filosfica
ou no, e as que no tem so denominadas classificaes utilitrias. A autora cita uma srie de
estudiosos
2
que concordam ou no que as classificaes bibliogrficas sejam acrescidas de elementos
das classificaes filosficas e descreve algumas caractersticas necessrias para tratar os
documentos:
1. uma classe que rena as obras sobre todos os assuntos, subdividida pela forma do
documento;
2. subdivises de forma, aplicveis aos vrios assuntos;
3. uma notao, isto , um conjunto de smbolos para representarem os assuntos e
permitir a ordenao lgica dos documentos;
4. um ndice, para facilitar a consulta (Piedade, 1983, p.66).

Em relao ao conceito de classificao bibliogrfica, San Segundo Manuel (1996, p. 70)
escreve que estas:

[...] se basan prioritariamente en las clasificaciones del conocimiento,
pero aaden a stas distintas caractersticas que las conforman como tales.
En las clasificaciones documentales las consideraciones de orden prctico
priman sobre los fundamentos filosficos, aunque stos sean la base de su
estructura, adems estas clasificaciones son aplicadas indistintamente a
bibliografas y bibliotecas. As la practicidad de las clasificaciones
documentales conlleva caractersticas o criterios que determinan la
adecuacin y utilidad del sistema.

A autora explica que as classificaes bibliogrficas tm o objetivo de ordenar os grupos
temticos de uma determinada unidade documental e elaborar catlogos e bibliografias sistemticas
que sejam teis recuperao das informaes, sendo que toda a documentao seria regida por
uma ordem que se interrelaciona (San Segundo Manuel, 1996). Nesta direo, Tlamo et al (1995),
escrevem que o acesso informao sempre realizado atravs de intermediaes, ou seja, sempre
ter um meio para ser transmitida, sendo assim, as intermediaes, em uma biblioteca, se
materializam nas figuras dos catlogos e bibliografias onde as informaes podem se relacionar de
forma a dar acesso a documentos que estariam eventualmente dispersos. Tlamo et al (1995, p.53),
explicam que:

Para entender essa organizao preciso considerar, inicialmente, os
sistemas que lhe servem de base. Pode-se afirmar, sem erro, que tais
sistemas so de natureza classificatria, isto , partem do princpio de que
as informaes podem ser organizadas em um nmero infinito de classes.

2
Ver Piedade (1983, p.65-66).

58

Como outros autores, San Segundo Manuel (1996), tambm aponta algumas caractersticas e
requisitos para que uma boa classificao seja realizada sendo que em primeiro lugar necessrio
envolver de forma geral os diversos assuntos, em toda a sua extenso, para que sejam contemplados
os diferentes ramos do conhecimento e deve ser expansiva, tendo espao para novos assuntos e
conceitos; deve ser lgica e compreensvel e ter um esquema de facetas, para conseguir chegar a
todos os assuntos mesmo os menos especficos; deve incluir aspectos como divises que se remetem
a forma, lugar e tempo para a classificao se tornar mais completa; deve conter uma notao
adequada organizao e representao dos assuntos; deve ter o cuidado de relacionar e combinar
conceitos a partir do desenvolvimento de smbolos documentais, onde possvel expressar por
exemplo, pontos de vista sobre um assunto; o ndice alfabtico deve ser claro e funcional para
localizao mais rpida de assuntos e por ltimo deve explicar de forma clara como o instrumento
pode ser utilizado (San Segundo Manuel, 1996).
Em museus a principal atividade que alimenta e conduz sua existncia so as colees. O
colecionismo tem um papel fundamental na formao e na conduo de um museu, alis, para
manter estas colees preservadas e organizadas com o objetivo de mostrar ao pblico, necessrio
um lugar onde, alm do espao fsico, seja possvel o tratamento destes objetos. Meneses (1994)
explica que estamos num universo onde a cultura material indispensvel para nossa
sobrevivncia, seja ela biolgica, social ou psquica e que esta participa da [...] produo e
reproduo social [...] (Meneses, 1994, p.12), sendo que pode-se no perceber totalmente os
mecanismos que esta produo e reproduo se do, contudo estas esto refletidas nas apropriaes
sociais que se fazem da natureza fsica das coisas. O autor escreve que:

No museu, nos defrontamos com objetos enquanto objetos, em suas
mltiplas significaes e funes ao contrrio, por exemplo, do que
ocorre num supermercado. Objetos de nosso cotidiano (mas fora desse
contexto e, portanto, capazes de atrair a observao) ou estranhos vida
corrente (capazes, por isso, de incorporar minha as experincias alheias).
Doutra parte, a funo documental do museu (por via de um acervo,
completado por bancos de dados) que garante no s a democratizao da
experincia e do conhecimento humanos e da fruio diferencial de bens,
como, ainda, a possibilidade de fazer com que a mudana atributo capital
de toda realidade humana deixe de ser um salto do escuro para o vazio e
passe a ser inteligvel (Meneses, 1994, p.12).

Para Meneses (1994), existem os documentos de nascena, ou seja, em algumas sociedades
primitivas ou complexas possvel que certos objetos sejam criados com a funo de documentar, j
que o homem um ser documentado, mas qualquer objeto pode ter sua funo atribuda a
documento, pois so de natureza retrica e isto d ao historiador a possibilidade de falar sobre o
objeto e a explicitao de seus critrios e procedimento fundamental para definir o alcance de
sua fala. (Meneses, 1994, p.21). Neste mbito, Barbuy (2008), reitera este entendimento quando
escreve que no h dvidas que um artefato seja um portador de informaes diversas sobre a
histria, o passado um lugar. Os objetos levam a recordar ou conhecer menos um fragmento, se
contextualizado, da realidade que passou. Desta forma se configuram como integrantes de um
sistema de cultura especfico, mesmo quando observados individualmente, e materializam a cultura
(Barbuy, 2008).
Os objetos de museus so retirados de seu habitat natural onde tm um significado e esto
inseridos em um contexto e so transferidos para um lugar artificial, criado para abrig-los com o
desafio de preservar sua histria. Essa passagem do natural para o artificial faz com que o objeto
seja considerado, em um museu, um documento, uma fonte para pesquisadores e para exposies.
Portanto, na museologia, Otlet (Lara Filho, 2006) identifica muitas semelhanas entre uma biblioteca

59
e um museu, que se caracterizam por seus acervos e prticas e defende uma classificao das peas
seguindo critrios diversos como cronolgicos, geogrficos ou outros, que vo depender das
caractersticas e propsitos que tem o museu. A classificao museolgica tem o objetivo de
estabelecer categorias em relao s colees e inserir os objetos cada um em sua categoria
correspondente. A classificao vai determinar a identificao de forma correta dos objetos assim
como possibilitar uma anlise dos nveis de informao que este possui. O termo classificao
definido pelos Cadernos de Diretrizes Museolgicas (2006, p.148) como:

[...] sequncia de operaes realizadas em um museu que visam a
distribuir os objetos/documentos em diferentes categorias agrupando-os
de acordo com suas analogias e caractersticas comuns. O sistema de
classificao varia de acordo com a estrutura, funes, atividades e
objetivos das instituies produtoras. Exemplo: no Museu Mineiro, o
conjunto de objetos classificados na categoria comunicao, embora
apresentem diferenas entre si, quanto morfologia, material, tcnica,
dimenso e uso, compartilham da caracterstica de prestarem-se como
suporte material s atividades de comunicao, ou seja, de transmisso de
informaes ao homem, seja na forma escrita, sonora, visual, etc.

Portanto, em um museu a classificao feita a partir das caractersticas dos objetos de
acordo com o contexto e funo a que se presta a instituio, ou seja, seguem o tipo de museu e
provavelmente suas linhas de atuao.
Respeitando as tradies e fazeres de cada campo, o conceito de classificao se mostra por
vezes diverso, quando pensado apenas pela tica da diversidade de acervo e guarda de documentos
em cada instituio, mas tambm se mostra prximo quando visto sob a tica da organizao das
informaes em cada um destes campos.

2 Classificao e fotografias: observando as instituies

Para um melhor entendimento de como o documento fotogrfico classificado e suas
informaes tratadas em arquivos, bibliotecas e museus, foram realizadas visitas tcnicas com o
objetivo de observao in loco que forneceram subsdios para compor consideraes em relao ao
tema. As visitas permitiram um maior contato com os profissionais que realizam os trabalhos acerca
dos documentos fotogrficos das instituies, a observao de seus fazeres e a explicao por meio
de quem realmente est no dia a dia do servio de documentao.
No Arquivo Pblico do Estado de So Paulo, SP, os documentos fotogrficos esto no Centro
de Acervo Iconogrfico e Cartogrfico que tem descritas as seguintes atribuies, de acordo com o
site oficial do Arquivo Pblico:

I. assegurar a preservao e o acesso aos documentos iconogrficos, cartogrficos e
audiovisuais de guarda permanente;
II. gerir:
a) os documentos iconogrficos, cartogrficos e audiovisuais de guarda
permanente;
b) a movimentao dos documentos sob sua guarda;
c) em ambiente especfico, o atendimento ao pblico.

60

O Centro dividido no Ncleo de Acervo Cartogrfico onde so tratados mapas e plantas e o
Ncleo de Acervo Iconogrfico, que tem a funo de identificar, organizar, classificar, catalogar e
descrever os documentos iconogrficos, assim como implantar e gerenciar um programa de
converso digital do acervo.
De acordo com Santos (1999), h cerca de 1 milho de imagens reunidas no Ncleo que so
organizadas de acordo com o fundo a que pertencem podendo ser da administrao ou dos Arquivos
Privados. Para que a consulta possa ser realizada, o Arquivo Pblico elaborou guias onde possvel
ter acesso documentao que se encontra disponvel no site oficial do arquivo. A autora enumera
algumas colees fotogrficas de importante valor histrico como a Coleo Guilherme Gaensly, que
retratam marcos arquivsticos da cidade de So Paulo; o lbum de Photografia da Escola Normal e
Anexas de So Paulo de 1908, que contm imagens da escola que tinha o objetivo de formar
professores; lbum de Retratos, formada por retratos pessoais de origem desconhecida do final do
sculo XIX; Coleo de Cartes Postais, que retratam diferentes cidades brasileiras e europias (Santos,
1999).
A grande maioria dos documentos fotogrficos que se encontram no Arquivo Pblico do
Jornal ltima Hora que foi fundado pelo jornalista Samuel Wainer em 1951 e circulou at 1971. O
Fundo ltima Hora ficava armazenado no arquivo do prprio jornal e foi adquirido por compra pelo
Arquivo Pblico do Estado de So Paulo por conta de seu valor histrico em 1989. Desde ento, vem
sendo realizado, atravs do trabalho da equipe e de projetos, o tratamento do fundo que est
disponvel no site oficial do Arquivo dividido em trs segmentos: ilustraes, fotografias e jornais.
As atividades de tratamento das fotografias do fundo ltima Hora tiveram incio no ano de
2006. O projeto, de acordo com informaes do site oficial e da observao realizada na instituio,
tem o objetivo de organizar, conservar, realizar o tratamento das imagens, produzir instrumentos
de pesquisa e disponibilizar os documentos digitalizados na internet. At o momento, de acordo
com informaes na visita tcnica instituio, h 90.000 imagens disponveis no site.
Primeiramente as fotografias tiveram o tratamento arquivstico referente a todo o Fundo. A
organizao do Fundo e consequentemente das fotografias respeitaram a organizao original, ou
seja, foi respeitado o princpio da provenincia. As fotografias do ltima Hora so resultados das
misses fotogrficas, trabalho que era desenvolvido por fotgrafos quando estes iam a campo
para fazer a cobertura de notcias. As fotografias ento produzidas por estes fotgrafos originam
uma srie. Desta forma, o ttulo de cada misso que geralmente se refere ao assunto da
reportagem - descrito nos envelopes recebidos pelo Arquivo Pblico foi mantido e transcrito para o
site.
Assim, podemos inferir que o tratamento dado s fotografias do Fundo ltima Hora no
Arquivo Pblico foi feito a partir do momento de sua entrada e que foi respeitado o princpio da
provenincia e feito um arranjo conforme o fundo. O arranjo uma atividade consagrada na
literatura brasileira que se refere a organizao da documentao de carter permanente. Do ponto
de vista de Gonalves (1998, p.12) sobre a questo da denominao das atividades de classificao ou
arranjo, a autora explica que em qualquer um dos casos o objetivo final [...] definir as grandes
classes abstratas que correspondam, de forma coerente e articulada, s funes e atividades do
organismo em questo [...], e questiona se necessrio que denominaes diferentes possam ser
dadas a este tipo de tratamento, mesmo que seja feito conforme cada caso em particular.
Entendemos a denominao de arranjo nos arquivos permanentes e respeitamos a literatura
corrente, no entanto, fica claro na situao que dado um lugar de acordo com a organizao
original aos documentos, determinados grupos, subgrupos e sries em carter hierrquico, o que
nos remete classificao destes documentos.
No se pode deixar de considerar a perspectiva da gesto da informao em arquivos e da
arquivstica integrada. De acordo com Lopes (1996, p. 85), necessrio que a gesto da informao

61
seja prtica essencial nas instituies
3
e que a gesto arquivstica tenha por base o conhecimento
terico e prtico sobre a informao e sobre os parmetros referentes organizao de acervos [...]
, desta forma, o autor explica que a gesto de documentos o que pode acarretar a gesto de
informaes e para que isto ocorra preciso delimitar e consolidar conceitos que fazem parte do
tratamento destes documentos que dever ser realizado com o aprofundamento terico e prtico das
atividades que Lopes (1996, p.86), chama de corao arquivstico: a classificao, a avaliao e a
descrio.
Quanto ao tratamento especfico da imagem, nas formas de sua recuperao e descrio
arquivstica, at o momento, no Arquivo Pblico do Estado de So Paulo, esto em desenvolvimento,
inclusive est sendo elaborado um vocabulrio controlado que proporcionar uma melhor
recuperao destas imagens e que, de acordo com Heredia Herrera (1993), instrumento
fundamental para a melhor recuperao de documentos desta natureza.
Na Biblioteca Pblica Municipal Mrio de Andrade, SP atravs da visita tcnica e da
bibliografia consultada, foi possvel identificar as duas formas em que este documento se encontra
na instituio.
O trabalho de organizao e tratamento das fotografias produzidas pela Biblioteca, ou seja,
documentos que contam a histria da instituio e de seus fazeres, bem recente e elaborado por
bibliotecrios. As fotografias so produzidas, na maior parte dos casos, pela Superviso de Ao
Cultural. Estas fotografias vo para o banco de dados que est sendo construdo para abrig-las e
tem circulao interna. Os interesses internos versam sobre os eventos realizados na Biblioteca, a
ao cultural, a disponibilizao de informaes de palestras, cursos na mdia social.
Tambm so disponibilizadas a pesquisadores com incidncia maior de jornalistas que tm o
objetivo de preparar matrias especficas sobre a biblioteca ou arquitetos que verificam as
transformaes do prdio e dos espaos da Biblioteca.
O trabalho feito pelos bibliotecrios da instituio inclui, alm do desenvolvimento de um
banco de dados para abrigar estes documentos, a elaborao de um vocabulrio controlado que, a
partir das necessidades dos usurios tanto externos como dos prprios profissionais, ir facilitar a
recuperao das informaes destes documentos. A importncia desta documentao est na
preservao e acesso das fotografias utilizadas como resultado das aes realizadas, assim fazem o
papel do documento produzido pela instituio que servir para preservao da memria,
divulgao e pesquisas acerca da prpria instituio. Portanto, os documentos fotogrficos com
estas caractersticas na Biblioteca Mrio de Andrade, vo ser tratados de acordo com sua funo e
departamento que a produziu.
A outra questo dos documentos fotogrficos na instituio seu armazenamento na Seo
de Obras Raras. As fotografias so mantidas pelo seu valor histrico e importncia para a sociedade
de modo geral, saindo um pouco do carter regional.

O conjunto de lbuns inclui no s documentao relativa cidade de
So Paulo, mas diversos exemplares sobre o Brasil no sculo XIX, como os
editados por Marc Ferrez (1843-1923), a exemplo do soberbo ensaio sobre a
Estrada de Ferro do Paran ou o dedicado ao sistema de abastecimento de
gua da cidade do Rio de Janeiro. Meno deve ser feita ao lbum
intitulado Provncia de S. Paulo, datado de aproximadamente 1870,
organizado pelo Baro Homem de Mello, importante colecionador do
sculo XIX (Biblioteca Mrio De Andrade, Site Oficial).

3
Para maior aprofundamento sobre a gesto da informao e seus parmetros na arquivstica ver LOPES, Luis Carlos. A
informao e os arquivos: teorias e prticas. Niteri: EDUFF; So Carlos: EDUFSCAR, 1996.

62
A equipe da Seo de Obras Raras (s.d.), explica que o pesquisador tem a oportunidade de
conhecer lbuns fotogrficos editados por Milito Augusto de Azevedo (1887) ou uma srie
organizada por Washington Lus, durante sua administrao municipal entre 1914 e 1919. Os livros
ilustrados so outro destaque da coleo que demonstram desenhos feitos a partir de originais
fotogrficos, como o caso da edio Brasil Pitoresco, de 1859, que tem estampas litogrficas feitas a
partir de imagens registradas por Victor Frond.
Para a disponibilizao de parte deste acervo via internet, foi feito um trabalho conjunto da
Biblioteca Mrio de Andrade com o Instituto Embratel. Em Tesouros da Cidade, possvel consultar
vinte lbuns fotogrficos dos sculos XIX e XX, alm de livros e estampas raras. O projeto permitiu
que fossem digitalizados os lbuns de forma a ter uma viso completa.
No ano 2000 a equipe da seo de Obras Raras definiu junto a empresa que realizou todo o
processo de digitalizao os campos que seriam utilizados para busca assim como alguns
descritores. A equipe se baseou em publicaes como as Normas mnimas recomendadas para
catalogao e classificao, da FUNARTE publicado em 1982, Manual para catalogao de
documentos fotogrficos, Cassia Maria Mello Silva, tambm uma publicao da FUNARTE de 1996,
no Manual para indexao de documentos fotogrficos, da Biblioteca Nacional, entre outras.
Quanto a classificao pode-se inferir que no caso destes documentos, foi designado Seo
que o abriga, considerados seu valor histrico, mas se limita apenas s informaes que o
documento possui, que por vezes no so suficientes para uma pesquisa. Os descritores e a parte de
indexao dos documentos no foram contemplados.
No Museu Paulista, SP so definidas como Documentao Iconogrfica as imagens
bidimensionais que a instituio possui como pinturas, desenhos, gravuras, impressos, fotografias,
negativos, mapas (Barbuy et al, 2001). Na dcada de 1990 houve uma reestruturao do acervo do
Museu fazendo com que o acervo e a documentao fossem reorganizados no sentido de dar o
carter histrico universitrio e delimitando de forma efetiva suas linhas de pesquisa e de sua rea
de atuao, a cultura material (Barbuy et al, 2001). Desta forma, a curadoria passou a se basear na
integrao de todos os processos que envolvem tanto o acervo quanto a pesquisa proporcionando a
produo de conhecimentos cientficos assim como a disseminao das informaes produzidas e de
seu acervo (Barbuy et al, 2001). Comeou-se assim, um tratamento geral quanto aos documentos nas
questes da prpria organizao fsica e da necessidade dos processos de catalogao para estes
documentos.
Em artigo sobre a curadoria em museus tratando da documentao iconogrfica Lima e
Carvalho (2005, p.53) relatam como se desenvolveu no Museu os estudos em relao linha
curatorial que seria seguida. As autoras explicam que:

No que diz respeito aos acervos fotogrficos, houve mudanas nos
procedimentos de aquisio de colees, que se direcionaram para
conjuntos significativos tanto na sua quantidade como na qualidade de
informaes preservadas.

O fator importncia que se d fotografia a partir da dcada de 1990 tratado por Carvalho
e Lima (2000), que contextualizam a poca explicando que a produo acadmica e as preocupaes
com a preservao destes documentos vm permeadas pelo conhecimento de instituies no pas
que tm importantes colees em seus acervos. As preocupaes de profissionais da informao que
lidam diretamente com as fotografias vieram expressas, de acordo com as autoras, na quantidade de
material que era produzido, na demanda social em relao queles documentos e pela
informatizao que deu cara nova organizao e disponibilizao das informaes. esta
perspectiva que se assiste, [...], ao desenvolvimento e proposio de projetos de catlogos
eletrnicos que vm facilitando a busca e a recuperao da informao visual. (Carvalho;Lima,
2000, p.27).

63
Neste sentido, a implantao de um sistema documental se fez extremamente necessrio e os
pesquisadores do Museu Paulista idealizaram um sistema que pudesse conter todos os tipos de
dados da instituio. Nas palavras dos autores, as opes feitas geraram um sistema complexo
(Barbuy et al, 2002, p.16), onde se pudesse saber a histria, contextualizao e ligao dos
documentos com todos os outros excluindo a escolha de um sistema que apenas servisse para
localizar e disponibilizar informaes.
A entrada da documentao fotogrfica feita por doao ou compra e em todos os casos, os
docentes pesquisadores selecionam os materiais de acordo com as linhas de pesquisa do Museu. A
instituio tambm conta com a documentao produzida a partir da gesto de Taunay que Makino
et al (20022003), relatam que, por conta da reorganizao dos acervos, os profissionais tiveram a
possibilidade de contabilizar estes documentos e perceber a riqueza do acervo que estava
armazenado no Museu. Com o intuito de continuar a coletar fotografias que fizessem parte de
colees significativas para a pesquisa, houve o enriquecimento ao longo do tempo com lbuns de
famlia, retratos, paisagens que tm relao com a histria do Estado de So Paulo
4
.
Para que os dados dos documentos pudessem ser dispostos no sistema de documentao,
Makino et al (20022003) explicam que um vocabulrio controlado e tesauro foi criado, baseado na
literatura vigente e em outros instrumentos com igual objetivos no s brasileiros como
internacionais, para facilitar o trabalho de incluso de dados (Barbuy et al, 2001). Pela observao
realizada in loco foi possvel perceber que estes instrumentos possibilitaram melhor entendimento
do que deveria ser disponibilizado no sistema pelos prprios profissionais envolvidos com a
alimentao do sistema.
Pela documentao consultada e a pesquisa de observao in loco realizada, obteve-se a
informao de que os documentos iconogrficos no museu sofrem um tratamento unitrio e o
nmero de localizao no acervo sequencial.
A escolha das instituies se deu principalmente por oferecem um rico acervo iconogrfico,
tratados por profissionais experientes e integrados com o processo de modernizao dos acervos e
suas mudanas.

Consideraes

O que podemos averiguar com a investigao realizada que as problemticas sociais
repercutem no modo como estas instituies vo tratar e organizar seus documentos. A sociedade
muda, os usurios mudam, os acervos mudam, as prticas de classificar esta documentao tm de
acompanhar estes desafios. Para contemplar as nuances que os documentos fotogrficos trazem, a
classificao nestes campos se torna uma atividade complexa, realizada com parmetros especficos
a cada um, mas com olhares interdisciplinares, que tentam considerar aspectos essenciais para que
os documentos sejam recuperados e utilizados de forma ideal.
Qualquer sistema de classificao fechado, que tenha a pretenso de ser uniforme, ir se
tornar obsoleto por conta da dinamicidade das relaes que influenciam a maneira destes campos
tratarem seus documentos. A arquivologia, biblioteconomia e museologia so compostos pela
dinamicidade das relaes sociais. As prticas que refletiro como as informaes que sero
oferecidas so necessidades das prprias sociedades, moldando um desenvolvimento cclico entre
sociedade, desenvolvimento terico e prticas consolidadas nas instituies.

4
As explicaes detalhadas sobre o acervo iconogrfico do Museu Paulista podem ser encontradas em Makino et al (2002-
2003), Lima e Carvalho (2005), Lima e Carvalho (2004) e em publicaes essenciais para a compreenso dos processos de
mudana e desenvolvimento que o Museu Paulista passa como os Anais do Museu Paulista.

64
Por outro lado, a utilizao de sistemas de classificao para a organizao de informaes
revela uma necessidade, por mais que estes sejam apenas um recorte da realidade. Sua utilizao
deve ser a favor dos objetivos determinados.
Cabe ressaltar que esses fazeres tradicionais materializados, em nosso caso os sistemas de
classificao, obedecem a reflexes e teorias de entendimento do que seja um documento para essas
instituies. Cada sociedade classifica segundo seus conhecimentos. Cada uma prope e desenvolve
formas de organizar seu meio de acordo com suas necessidades e expectativas. Assim, como cada
sociedade classifica de uma forma, cada instituio tem suas especificidades que por vezes se
aproximam e outras se distanciam, mas tentam delimitar um campo apenas seu. Porm, o
documento fotogrfico est presente nas trs instituies.
A arquivologia, biblioteconomia e museologia so atividades profissionais que, apesar de
serem parte da mesma base, a Cincia da Informao, so distintas em funes e em objetivos. A
referncia das atividades reunidas lado a lado, servindo para os profissionais de cada rea conhecer
mais um pouco sobre elas uma das contribuies deste trabalho que pretende favorecer uma
reflexo sobre os sistemas de classificao para servir de subsdio a novas discusses sobre o
tratamento dos documentos fotogrficos.

Referncias

ABBAGNANO, Nicola. (2000). Dicionrio de filosofia. So Paulo: Martins Fontes.

ALBUQUERQUE, Ana Cristina de. (2006). Catalogao e descrio de documentos fotogrficos:
uma aproximao comparativa das normas AACR2 e ISAD (G). 197 f. Dissertao (Mestrado).
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Revista Eletrnica de Biblioteconomia e Cincia da Informao, Florianpolis, n.22, 2 semestre,
2006. p.117-140.

ALVES, M.C.; VALERIO, S.A. (1996). Manual de indexao de documentos fotogrficos: verso preliminar.
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NOTAS SOBRE OS CONCEITOS SEMITICOS FUNDAMENTAIS ORGANIZAO DO CONHECIMENTO

CARLOS CNDIDO DE ALMEIDA
Universidade Estadual Paulista Jlio Mesquita Filho
[email protected]

Resumo Considera-se que a organizao do conhecimento um campo indispensvel para as teorias
filosficas, lingusticas e psicolgicas que contribuem para a explicao e aperfeioamento dos sistemas de
organizao e recuperao da informao. Contudo, nem todos os campos conseguiram entrar em contato
direto com as abordagens da organizao do conhecimento. As disciplinas no estabelecidas tendem a no
manifestar poder de influncia to relevante. Historicamente, o campo da organizao do conhecimento
esteve comprometido a responder questes ligadas ao tratamento da linguagem que impacta os sistemas de
informao, em especial, as referentes representao do contedo temtico da informao, sob diversas
perspectivas, por exemplo, da anlise documental indexao. Concorrem para explicar essa questo as
teorias dos signos. A teoria semitica tem razes europeias e norte-americanas. Ressaltando os estudos da
semitica estadunidense de Charles Peirce, parte-se para a investigao que explora a presena desta
abordagem no campo da Cincia da Informao. Sendo assim, este trabalho recobre a esfera da organizao do
conhecimento, procurando relacionar algumas notas introdutrias sobre os conceitos semiticos que nessa
etapa da pesquisa revelaram-se indispensveis para a organizao do conhecimento. A proposta deste
trabalho bibliogrfica e procura dialogar com os tericos de modo a expor de maneira sinttica os conceitos
centrais encontrados na literatura semitica de extrao peirceana teis organizao do conhecimento.
Como resultado da anlise, pode-se apontar os seguintes conceitos fundamentais: signo, smbolo, classes de
signo, semiose, interpretante e hbito. Encontram-se tais conceitos em abordagens especficas da teoria da
organizao do conhecimento. Esse movimento disciplinar revela uma integrao mais fecunda entre
Semitica e Organizao do Conhecimento.

Palavras-chave Semitica. Organizao do Conhecimento. Interdisciplinaridade.

Abstract It is considered that the knowledge organization is an indispensable field to the philosophical,
linguistic and psychological theories that contribute for the explanation and improvement of the
organization systems and the recovery of the information. However, not all the fields got to keep in touch
directly to the approaches of the knowledge organization. The not established subjects tend not to reveal so
relevant influence power. Historically, the field of the knowledge organization was committed to answer
questions connected to the treatment of the language that impacts the information systems, specially, the
ones referred to the representation of the thematic content of the information, under several perspectives,
for instance, from the documental analysis to the indexation. The sign theories compete to explain this
question. The semiotics theory has European and North American origin. Pointing out the North American
Semiotic studies of Charles Peirce, it starts from the investigation that explores the presence of this approach
in the field of the Information Science. In this case, this essay recovers a position of the knowledge
organization, looking for relating some introductory notes about the semiotics concepts that in this stage of
the research they were revealed necessary for the knowledge organization. The purpose of this essay is
bibliographic and looks for talking to the theoretician to expose in a concise way the central concepts found
in the semiotics literature of the Peirce extraction useful to the knowledge organization. As a result of the
analysis, it can be pointed out the following fundamental concepts: sign, symbol, classes of signs, semiosis,
interpretative and habit. These concepts are found in specific approaches of the theory of the knowledge
organization. This disciplinary movement reveals an integration more developed between the semiotics and
the knowledge organization.

Keywords Semiotics. Knowledge Organization. Interdisciplinarity.

69
O real aquilo que no e que eventualmente
pensamos dele, mas no afetado por aquilo
que possamos pensar dele. (Peirce, 2000, p. 319).

Introduo

Consideramos que a Organizao do Conhecimento um campo de reflexo e aplicao
indispensvel para as teorias filosficas, lingusticas, sociolgicas e psicolgicas que contribuem
para o aperfeioamento dos sistemas de organizao e recuperao da informao. Para organizar o
conhecimento uma das tarefas do especialista definir os conceitos de um campo ocupacional,
cientfico ou comunidade de discurso.
Uma das primeiras referncias Organizao do Conhecimento foi o trabalho de evelyn bliss,
ainda na dcada de 1930, cujo ttulo do trabalho era The organizational of knowledge in libraries
(Dahlberg, 1993, p. 10). Aps esse perodo, citamos como etapas fundamentais de nosso contexto de
discusso a defesa da tese de Dahlberg, em 1973, sob o ttulo Foundations of universal organization
of knowledge e a publicao da revista International Classification, em 1974. O momento
determinante ocorreu no final da dcada de 1980, com a criao da International Society for
Knowledge Organization, em 1989 e a substituio da International Classification pela revista
Knowledge Organization, em 1993 (Dahlberg, 1993; 2006).
Contudo, inicialmente, acreditamos que a preocupao dos especialistas era voltada aos
procedimentos da classificao e s recentemente voltou-se ao trabalho terico no sentido de
compreender as dimenses envolvidas na organizao dos conceitos como unidades de
conhecimento em geral.
Entendemos que para organizar o conhecimento necessrio definir conhecimento. O
conhecimento, nesse contexto, considerado tanto um fenmeno social quanto fenmeno
individual, tanto seus registros quanto as ideias que o materializam, embora o aspecto social seja
determinante. No campo da Organizao do Conhecimento o elemento conhecimento ser sempre
um produto social disponvel material, lingustico e semioticamente para que as pessoas tenham
condies de acess-lo.
Para Dahlberg (1993, p. 10; 2006, p. 12), o Conhecimento a certeza bem fundamentada de
algum, subjetivamente e objetivamente, sobre a existncia de um fato ou um assunto. Este
conhecimento no transfervel, mas pode apenas ser elaborado pela prpria reflexo pessoal. em
conformidade com a sustentao da autora, no podemos garantir a certeza do conhecimento de
algum, muito menos organiz-lo, mas podemos trabalhar com as unidades de conhecimento
socializveis, desde que possam ser manifestadas e representadas.
Essa concepo de conhecimento e de sua formao em unidades, os conceitos, pode ser
entendida como elementos de um grande paradigma que subordina s discusses da Organizao do
Conhecimento. Todo desdobramento e relacionamento disciplinar deve vincular-se a este
paradigma, sob pena de no contribuir para o campo. Esse critrio tem seus problemas. Uma vez
reconhecido o aspecto funcional das unidades de conhecimento e do conhecimento socializado,
distanciamos das reflexes mais profundas e no aplicadas das noes de conhecimento,
pensamento, linguagem e conceito.
Nesse sentido, a organizao individual do conhecimento no seria objeto de anlise, assim
como para F. Saussure a fala no seria um objeto legtimo da Lingustica, mas a lngua enquanto
instituio social. Essa diviso epistemolgica, assim como fez Saussure, denota o interesse da
Cincia da Informao pelas questes sociais e coletivas que envolvem a organizao de contedo e
das ideias. Contudo, esta assuno social e coletiva do conhecimento no pode ser entendida no
mesmo nvel que a lngua na Lingustica de Saussure, pois na Organizao do Conhecimento no
procuramos coletivizar ao extremo, e gerar formas de organizar o conhecimento para todos os
falantes de uma mesma lngua, como o portugus. Em outras palavras, os adjetivos social e coletivo

70
referem-se a uma comunidade, dentre tantas inseridas no mesmo contexto lingustico regional de
um pas.
Posto isto, entendemos que a Organizao do Conhecimento uma atividade que requer o
contato com outras disciplinas, seja para a execuo de seus produtos, seja para compreender e
explicar os processos e os fenmenos a que se dedica: representao, indexao, classificao,
definio de conceitos, elaborao de terminologias, modelagem do conhecimento etc. Empregamos
a palavra fenmeno pois acreditamos que a Organizao do Conhecimento no estuda temas ou
assuntos, mas objetos existentes que impactam diretamente a vida de cientistas, das pessoas e das
comunidades envolvidas. Nenhuma comunidade cientfica se preocuparia tanto com os conceitos se
eles no explicitassem uma relao representacional com a realidade. Portanto, conceitos tambm
so reais, embora de uma realidade de natureza simblica.
As disciplinas que se entrelaam reticularmente na tentativa de contribuir para se explicar os
fenmenos da Organizao do Conhecimento, alm de auxiliar na aplicao e desenvolvimento de
novas formas de esquematizao de mundo, so muitas em nmero, diversas pela natureza
epistemolgica e s vezes opostas, segundo os objetivos que pretendem alcanar. Poderamos tentar
enumerar, mas sempre no passaria de uma relao de disciplinas pouco explicativa quanto a
natureza da contribuio disciplinar. o caso quando citamos as disciplinas: Documentao,
Filosofia, Lingustica, Sociologia, Antropologia, Psicologia, Matemtica, Estatstica, Educao,
Histria etc. Dahlberg (2006) relacionar as reas Conceitologia, Matemtica, Teoria dos Sistemas,
Psicologia s discusses de Organizao do Conhecimento em seu sistema de classificao da
literatura da organizao do conhecimento, na classe 1 que trata dos fundamentos tericos e
problemas gerais da rea.
As bases conceituais fornecidas pelas disciplinas mencionadas anteriormente devem passar
por uma anlise criteriosa, que examine cada caso, pois as relaes disciplinares ocorrem em nveis
diferentes. Portanto, seriam vrios os nveis destas relaes disciplinares e heterogneos. Inseridas
em um movimento contemporneo de reorganizao das divises da cincia moderna, o qual busca
a complementao contnua dos conhecimentos para responder aos desafios gerados pela
complexidade dos fenmenos, as cincias tm como premissa solucionadora a aproximao e
colaborao com outras disciplinas. No entanto, esses movimentos de troca e de intercmbio nem
sempre so generosos com as partes concedentes de conceitos e teorias. Em um nvel ideal, um
contato com outros campos deveria repercutir em uma troca conceitual, terica ou de viso
filosfica efetiva, com intercmbio mtuo, e no um consumo ipsis litteris de conceitos e teorias.
Sendo assim, possvel que nossas solues para organizar o conhecimento de outros campos
disciplinares e saberes no demonstrem o potencial explicativo das teorias da organizao do
conhecimento. Presumimos que essas teorias da Organizao do Conhecimento ressaltam apenas
nossa forma habitual de resolver problemas prticos de gerenciamento e disponibilizao da
informao, contando com estudos e abordagens tericas como meio e no como fim. Aludimos
para a necessidade de pensarmos em explicaes tericas como fins da ao interdisciplinar e no
apenas como meio para se chegar a solues prticas que, embora reconhecidos em seu valor, no
elevam conceitualmente a compreenso dos fenmenos.
Entendemos que o processo de interdisciplinaridade - definido como a atividade que pe em
contato disciplinas por meio de trocas, do uso e da combinao conceitual, terica e de perspectivas
- um fenmeno irregular por natureza, seja devido ao progresso na produo do conhecimento
que no deixa estabelecer margens fixas entre disciplinas, seja por razes prticas, as quais, em
alguns casos, so agenciadas por ditames econmicos e polticos. provvel que disciplinas no
estabelecidas ou consolidadas socialmente tendem a no manifestar poder de influncia relevante
nos nveis superiores de combinao terica e conceitual.
Considerando a abordagem de Pombo (2004, p. 5), a interdisciplinaridade deve ser vista como
um movimento geral das interaes entre disciplinas. Para tanto, devemos fazer aluso a um
continuum que vai da pluridisciplinaridade, passando pela interdisciplinaridade at a
transdisciplinaridade. Guardamos desta concepo o entendimento de que a interdisciplinaridade

71
tem como pressuposto a combinao e a convergncia entre disciplinas. Essa relao, outrossim,
"Algo que, quando se ultrapassa essa dimenso do paralelismo do pr em conjunto de forma
coordenada, e se avana no sentido de uma combinao, de uma convergncia, de uma
complementaridade, nos coloca no terreno intermdio da interdisciplinaridade." (Pombo, 2004, p.
5).
O paralelismo revelado na multidisciplinaridade enquanto instncia comparativa de duas
teorias ou conceitos sem um envolvimento das cincias nos projetos alheios. Segundo Pombo (2004),
esse fenmeno no quer dizer ainda uma unificao das cincias, mas representa uma superao das
barreiras polticas e epistmicas dos campos envolvidos com o objetivo, entendemos, de tirar o
maior proveito da relao disciplinar.
Presumimos que esse emparelhamento de teorias e conceitos de disciplinas que encontramos
na multidisciplinaridade muito mais apropriado organizao do conhecimento que o rtulo da
interdisciplinaridade. Ainda que isso merea uma anlise com mais propriedade em outra
oportunidade, fundamental estabelecer nveis ou graus em que esse fenmeno ocorre para
subsidiar um exame da presena - ou ausncia - de influncias disciplinares no campo da
Organizao do Conhecimento.
Nesse sentido, apoiamo-nos nas reflexes de Pombo, Guimares e Levy (1993) e Pombo (2004;
2005), que sustentam que os relacionamentos disciplinares vinculam-se superao de barreiras
disciplinares atravs de estratgias conscientes de combinao, convergncia e integrao. Essa
integrao no pode ser entendida como unificao dos saberes, mas alinhamentos de agendas de
pesquisa e reunio de conceitos operativos.
Na esteira desse entendimento, outros tericos aparecem como importantes nesta anlise, os
quais tm seus argumentos convergindo para uma mesma direo. Japiass e Marcondes (1996, p.
145) defendem que no processo de interdisciplinaridade encontram-se nveis de contribuio.
Nicolescu (2000, p. 11), por sua vez, registra que a interdisciplinaridade diz respeito ao processo de
transferncia de mtodos de uma disciplina a outra em graus especficos, a saber: nvel de aplicao,
nvel epistemolgico e nvel de gerao de novas disciplinas. Somente neste ltimo nvel que seria
possvel um projeto de uma nova disciplina.
Nesse sentido, a luz desses tericos, adotamos a noo de nveis de interdisciplinaridade,
mesmo que esta represente um risco poltico a ser enfrentado quando da consequente
hierarquizao das contribuies tericas. Os nveis mais frequentes seriam: nvel elementar quando
da comunicao e da aplicao de conceitos, teorias e mtodos em via nica; nvel intermedirio,
constatando-se a combinao e a convergncia de conceitos, teorias e mtodos e nvel avanado que
se subsume aos processos de gerao de novos conceitos, teorias e mtodos, e qui, o surgimento
de um novo campo de pesquisa. Caso no se considere a graduao das contribuies disciplinares, o
campo da Organizao do Conhecimento no ser capaz de reconhecer seus principais
interlocutores e como eles introduzem elementos tericos para a rea.
Um exame preliminar permite-nos supor que a contribuio da Documentao Lingustica
, seno insuficiente, praticamente nula, contudo a recproca no verdadeira. A Lingustica e a
Filosofia oferecem uma rede conceitual em um nvel superior ao que recebem da Organizao do
Conhecimento.
Historicamente, o campo da Organizao do Conhecimento esteve comprometido em
responder perguntas ligadas ao tratamento da linguagem que impacta nos sistemas de informao,
em especial, as referentes representao do contedo temtico da informao, sob diversas
perspectivas, por exemplo, da anlise documental indexao. No obstante, os campos que
conseguiram estabelecer relaes disciplinares diretas com as abordagens gerais da Organizao do
Conhecimento no foram muitos. destacada a influncia da Lingustica nas diversas esferas de
anlise porque representava o principal contributo para o entendimento da linguagem humana em
suas diversas manifestaes. Talvez, por essa razo, outras teorias da linguagem no se fizeram
presentes na Organizao do Conhecimento e que concorrem para explicar a questo da linguagem,
isto , um sistema de signos.

72
Acreditamos que o ponto central da discusso da interdisciplinaridade na Organizao do
Conhecimento est nos problemas da linguagem reunidos nos seguintes temas: definio da
linguagem, tratamento e formas de anlise, organizao dos conceitos, relaes entre pensamento e
conceito, formulao de modelos representacionais da disposio do conhecimento em uma rea,
linguagem e conhecimento, classificao de assuntos, assunto como representao lingustica das
ideias etc. Uma anlise da dimenso epistemolgica da Organizao do Conhecimento deve primeiro
dar passagem ao escrutnio interdisciplinar e este, especificamente, deve tratar da tenso entre as
teorias da linguagem disponveis.
Para tanto, procuramos conceder algumas notas sobre os conceitos semiticos que mais
caracterizam o problema da linguagem no contexto da Organizao do Conhecimento. Um exame
dos conceitos semiticos pode esclarecer como se comporta a Organizao do Conhecimento na
aproximao com a Semitica para explicar - mais que aplicar -, os conceitos envoltos linguagem.
Este trabalho tem origem em pesquisa que objetiva a teorizao dos fundamentos semiticos
nos campos da Organizao do Conhecimento e da Mediao da Informao no contexto da Cincia
da Informao. Embora sejam processos relacionados, possvel encontrarmos mais influncias
semiticas na Organizao do Conhecimento atravs de alguns conceitos. Sendo assim, este trabalho
recobre a esfera da Organizao do Conhecimento, procurando relacionar algumas notas
introdutrias sobre os conceitos semiticos que nesta etapa da pesquisa revelaram-se
indispensveis para a Organizao do Conhecimento.
O percurso escolhido foi bibliogrfico e procurou dialogar com alguns tericos e
comentadores da Semitica de modo a expor de maneira sinttica conceitos centrais encontrados
na literatura ligada obra de Charles Peirce (1839-1914) teis Organizao do Conhecimento.
Depois disso, procuramos apontar o nvel interdisciplinar entre as reas como forma de sugerir
novas bases conceituais.

1 Teoria dos signos

A teoria semitica tem como principais razes as escolas europeia e norte-americana, mas
tambm encontramos estudos no campo da Semitica no leste europeu. Valendo-nos do risco em se
resumir Semitica, o mesmo que fez Merrell (2012, p. 13), definimos Semitica como estudo da
semiose, isto , estudo da ao dos signos na cultura e na natureza. Mas esta definio no reflete o
contributo semitico da abordagem lingustica. Em alguns casos, as teses semiolgicas e semiticas
so contraditrias, bem como o recorte epistmico estabelecido para elas. O objetivo desta seo
expor a concepo da teoria dos signos, em especial, a de origem peirceana pois esta engendra
conceitos centrais sobre a problemtica da linguagem, nesse sentido, pode oferecer subsdios ao
estudo dos conceitos intercambiados com a Organizao do Conhecimento.
Contudo, necessrio rever algumas posies semiticas estabelecidas, em especial, a linha
estruturalista. A Lingustica de Saussure institui uma malha de conceitos dificilmente repudiados
em um pensamento didico. As dicotomias, lngua e fala, significante e significado, sincronia e
diacronia, paradigma e sintagma, alm dos conceitos de valor lingustico, to caro a Semntica
Estrutural, fundamentaram a perspectiva estruturalista para alm da Lingustica e inserindo-se nas
cincias humanas e sociais. A prpria forma de perceber a cultura se deve, em parte, s anlise das
instituies frente as aes individuais, ecoando a dicotomia entre lngua e fala.
O que subjaz ao pensamento semiolgico o conceito de sistema enquanto um cdigo sgnico
que contempla um repertrio de opes de signos juntamente com suas regras de utilizao. O
principal exemplo reside no conceito de lngua. A lngua um sistema de signos ou uma estrutura
articulada composta de signos com normas de utilizao e emprego das palavras nos sintagmas.
Esse sistema enfatiza as relaes entre os elementos muito mais do que os prprios elementos. No
sem razo que Saussure enfatizou o papel da lngua.

73
A Semiologia preconiza uma dualidade nos fenmenos (ambos mentais). Em sua verso mais
genrica, A Semiologia, de acordo com sua definio mais ampla, iria incorporar todos os modos de
comunicao encontrados nas sociedades humanas, incluindo tanto expresses lingusticas e
mecanismos no verbais tais como gestos e sinais bem como veculos no lingusticos. (Merrell,
2012, p. 29).
A perspectiva de Saussure tornou-se presente em seu projeto semiolgico, assim como
acentua Noth (2005, p. 17), considerado projeto porque no correspondia a um avano nos estudos
efetivos dos signos produzidos pelo homem na cultura, mas era uma inteno de investigao
somente materializada nos trabalhos de Barthes sobre a Semiologia do discurso publicitrio e de
Greimas sobre a Semitica discursiva.
Em muitos casos, a literatura especializada expe que a concepo de Semitica tradicional
a estruturalista e a vertente alternativa a peirceana. Conforme ressalta Merrell (2012) [...] na
Europa, Amrica Latina, frica, Austrlia e sia e mesmo em muitas reas do saber nos Estados
Unidos, quando o tpico dos signos evocado, frequentemente o primeiro nome nos lbios de todos
os observadores o de Saussure e no o de Peirce. (p. 28).
Como o entendimento de Semitica compreende todos os estudos dos signos, seja da linha
estruturalista ou no, muitas correntes assumem a Semitica como um campo de estudos guarda-
chuva que compreende muitas teorias e correntes. Nesse sentido, inclumos tambm as teorias da
linguagem de Hjelmslev, Jakobson, Eco e Morris. A despeito de a disparidade, as teorias desses
autores inserem-se confortavelmente sob a rubrica teoria dos signos.
A Semitica nasce de uma profunda discusso de Peirce com os filsofos anteriores, como
Descartes e Kant, relaciona-se com as categorias fenomenolgicas primeiridade, secundidade e
terceiridade. Tais categorias tambm chamadas da conscincia, procuram tratar das aparncias dos
fenmenos determinando as linhas mais tnues que as caracterizam. Outro aspecto da Semitica
seu vnculo estreito com a proposta de esclarecer as ideias com o Pragmatismo.
Segundo Peirce (2000), Em seu sentido geral, a lgica , como acredito ter mostrado, apenas
um outro nome para semitica [], a quase-necessria, ou formal, doutrina dos signos(p. 45).
Quase-necessria porque observamos as caractersticas gerais dos signos, e somos levados a
afirmaes, a respeito de como devem ser todos os signos, porm afirmaes falveis e por isso no
necessrias.
De acordo com Liszka (1996),

Semeiotic, as a branch of philosophy, is a formal, normative science
the is specifically concerned with the question of truth as it can be
expressed and known through the medium of signs, and serves to establish
leading principles for any other science which is concerned with signs in
some capacity (p. 14).

A Semitica seria esta cincia capaz de estabelecer princpios gerais a outras cincias e no
conjunto das cincias de Peirce, estaria agrupada como um ramo da Filosofia. Como cincia
filosfica, recebe as diretrizes gerais dos fenmenos da Fenomenologia, a cincia das aparncias, de
como os fenmenos aparecem em uma mente. A Fenomenologia estabelece as categorias gerais do
pensamento e da experincia de modo a tornar o mundo inteligvel. A Semitica estuda os
fenmenos sgnicos e suas aes, ou semiose. Assim como registra Silveira (2007),

Semitica que Peirce nesse momento se prope elaborar,
preocupam os caracteres comuns de todos os signos, determinando os
traos gerais da conduta dos seres inteligentes que so capazes de

74
aprender com a experincia. Seu objeto ser, portanto, como deve ser toda
semiose e esta comear a se esclarecer em suas caractersticas na ltima
parte desta unidade (p. 22).

Em sntese, a Semitica de Peirce, estuda a semiose no seu sentido mais geral, registrando os
elementos mnimos que determinam os signos, as formas utilizadas pelo signo para que ele seja
capaz de se transformar em outros signos e como uma mente pode atingir a verdade, mesmo que
aproximativa, na representao do objeto.
Para tanto, a Semitica de Peirce est dividida em trs campos. O primeiro deles, a Gramtica
Especulativa, uma cincia que estabelece as tonalidades e caracteres mnimos do relacionamento
dos signos com eles mesmos, alm de estabelecer uma taxionomia geral dos signos. O segundo ramo
a Lgica, ou Lgica pura, que estuda os tipos de argumentos enquanto complexos de signos
diagnosticados unitariamente na Gramtica Especulativa. Em terceiro, a Retrica Especulativa, ou a
cincia que estuda a relao do signo com o interpretante e como eles se originam. Seu objetivo o
de determinar as leis pelas quais, em toda inteligncia cientfica, um signo d origem a outro signo
e, especialmente, um pensamento acarreta outro. (Peirce, 2000, p. 46).
notrio que as principais explicaes da Semitica no campo da Organizao do
Conhecimento no descrevem essas distines, o que causa um estranhamento e desconhecimento
ainda maior com as teorias semiticas. A anlise da diviso da Semitica de Peirce aponta para a
Gramtica Especulativa como a seara que mais recobre os temas do campo da organizao do
conhecimento. As diversas camadas de signos dispostas triadicamente relacionam os tipos de signos
(qualisigno, sinsigno, legisigno, cone, ndice, smbolo, rema, dicente e argumento, embora hajam
outros mais) e as classes de signos (qualisigno, sinsigno icnico, sinsigno indicial, sinsigno dicente,
legisigno icnico, legisigno indicial, legisigno dicente, smbolo icnico, smbolo dicente e
argumento).
Partimos, agora, para a anlise da presena desses conceitos no campo da Organizao do
Conhecimento.

2 Notas sobre os conceitos semiticos na organizao do conhecimento

Entendemos aqui por nota uma advertncia para se acrescentar compreenso de um
conceito ou tema. Uma nota deve ser feita para compreendermos os conceitos extrados da
Semitica, qual seja: a vinculao da Semitica com a Filosofia de Peirce. mencionado as vezes sem
a devida compreenso da natureza csmica da Filosofia de Peirce. De acordo com Ibri (1994), A
filosofia de Peirce prope o desafio de relocar o homem no mundo, uma vez que a nusea do
estranhamento sujeito-objeto se dissolve na conaturalidade eidtica.(p. 6). Esse ponto crucial
para entender a dimenso do conceito de signo e semiose. O pensamento que subjaz os conceitos de
signo e semiose est relacionado continuidade do processo de interpretao na natureza,
compreendendo a dada sujeito-objeto como uma forma pouco semitica de explicar a
representao. No se conhece uma realidade separando-se dela, pois estamos unidos
umbilicalmente com o mundo. A representao no nasce fora dessa relao vivida e prtica.
Se o homem no o centro da cognio, o que ? Para Peirce, o sujeito cognitivo est no
processo sgnico, pois no controlamos totalmente o processos representacional. Outra nota que
deve elaborar como advertncia, a da continuidade. A processualidade do significado volta-se para
o futuro. O significado no uma ideia j pronta que temos que sempre mobilizamos para entender
uma palavras ou signo, mas relaciona-se com as possveis aes futuras que poderamos, em uma
situao limite, executar. No sem razo que Peirce afirma que o significado de um signo est em
outro signo, e deste em um terceiro e assim ad infinitum.

75
Sendo assim, podemos apontar os seguintes conceitos fundamentais Organizao do
Conhecimento que precisam ser compreendidos neste universo sgnico: contnuo e in futuro.
Podemos elencar os seguintes: signo, smbolo, semiose, classes de signos, interpretante e hbito.
Esses conceitos j operam no campo da Organizao do Conhecimento no sentido de explicar
fenmenos comum.
o caso, por exemplo, do conceito de signo. s vezes encontramos na literatura que o
conceito comunicado por entidades lingusticas, em outros casos, a teoria do signo utilizada para
compreender o que conceito, como o caso da teoria triangular do conceito que sugere uma
equivalncia entre o signo de Ogden e Richards e o signo de Peirce.
A trade conceitual que apresenta referente, caractersticas e forma verbal no equivale ao
signo peirceano, pois o conceito seria um tipo especial de signo, no caso, um conceito cientfico.
Diferentemente da proposta de Dahlberg (1978a, 1978b), o signo geral, pois a Semitica uma
cincia normativa e formal, o conceito seria uma ocorrncia deste.
Santaella (2005, p. 43) explica alguns pontos da noo de signo, a saber: o signo determinado
pelo objeto, o signo representa o objeto, signo representa algo, mas determinado por aqui que
representa, o signo representa o objeto parcialmente, pode representar o objeto falsamente, signo
est apto para afetar uma mente, o efeito produzido o interpretante, o objeto tambm causa o
interpretante pela mediao do signo, o interpretante determinado imediatamente pelo signo e
mediatamente pelo objeto, signo uma mediao entre objeto e interpretante e o interpretante
uma mediao entre o signo presente e um futuro signo.
Nesse sentido, no existe signo sem objeto. Caso o signo tenha uma fico como o objeto,
ainda assim ter o objeto imediato como determinao do signo. Outro ponto, respeita o conceito de
semiose ou a ao do signo in futuro. A significao para a Semitica de Peirce, fundada no
Pragmatismo, um pode ser no futuro. Em outras palavras, um termo cientfico no tem um
significado no passado, determinado pelas discriminaes conhecidas, caractersticas enunciadas,
prescritas e dicionariadas, mas depende das disposies mentais ou hbitos, que o termo cientfico
gera em uma hipottica situao futura. O significado compreende os efeitos do signo produzidos
em uma mente no futuro, pois o entendimento que temos de um signo, conceito, palavras, termo ou
ideia est condicionado s aes e condutas que elas envolvem em uma situao experimental
determinada.
Parecer uma definio comum aquela que descreve que o signo aquilo que, sob certo
aspecto ou modo, representa algo para algum. Dirige-se a algum, isto , cria, na mente dessa
pessoa, um signo equivalente, ou talvez um signo mais desenvolvido. (Peirce, 2000, p. 46), porm
no pode ser compreendida de maneira categrica. Em complemento, devemos ressaltar que:

O pensamento no est necessariamente ligado a um Crebro. [] No
apenas o pensamento est no mundo orgnico, como tambm ali se
desenvolve. Mas assim como no pode haver Geral sem Casos que o
corporifiquem, da mesmo forma no pode haver Pensamento sem Signos.
Devemos aqui, atribuir Signo um sentido muito amplo, sem dvida, mas
no um sentido to amplo que venha a cair em nossa definio. (Peirce,
2000, p. 190).

Nesse sentido, o signo como manifestao do pensamento no est condicionado presena
humana, ns manifestamos um caso dos signos no universo. Essa viso pan-semitica de Peirce
lana-nos a uma compreenso holstica e csmica do signo e no est de acordo com a subjetividade
que comum compreenso de signo. A mente que recebe o signo um tipo geral de movimento
intelectual que persegue a generalidade e a continuidade da representao e da interpretao dos
signos. Sem essa observao, desmoronaria toda a tentativa de alinhar a teoria de Peirce
Organizao do Conhecimento, pois signo e mente no exclusividade humana.

76
Nessa mesma direo, no custa-nos acreditar que o objeto determina o signo. Em uma
plataforma pragmtica, aceitamos que sempre nossos pensamentos vo em direo dos objetos
dinmicos, sendo assim, procuramos represent-los da melhor forma possvel. Esse argumento no
entra em contradio com o pressuposto da Organizao do Conhecimento, o qual sustenta que os
signos lingusticos e a linguagem de modo geral, constroem a realidade, e em cada contexto e grupo
teramos uma forma especfica de compreender a realidade que no uma entidade a priori, mas
passa a existir com a linguagem.
Nada mais grosseiro e anti-semitico que tal compreenso na medida em que no formamos o
mundo em nossa volta. Os conceitos, mesmo na verso apresentada por Dahlberg (1978a; 1978b;
1993; 2006), procuram dar abertura aos objetos da realidade que determinam as caractersticas e os
anunciados. Tanto a teoria de Dahlberg quanto a de Peirce estariam de acordo em uma coisa: no
construmos nossa realidade literalmente via linguagem e conceitos, mas representamos tal
realidade pari passu com a linguagem e os conceitos. Sem isso, o procedimento de predicao e de
teste dos enunciados dos conceitos seriam destitudos de utilidade para a anlise dos conceitos.
Com essa breve nota, encerramos a anlise do conceito de signo, fundamental Organizao
do Conhecimento porque relaciona-se aos fundamentos do paradigma vigente no campo. Mas in
natura, o signo no to importante quanto uma de suas espcies: o smbolo.
O smbolo, na taxionomia de Peirce, o signo que representa seu objeto por um conjunto de
ideias associadas e imputadas a ele por uma mente que forada por conveno a reconhecer
aqueles qualificativos do objeto. o que comumente, de maneira seno equivocada, porm um tanto
arriscada, chamamos de signo lingustico. H uma nota associada comparao do signo lingustico
com o smbolo e que causa certa estranheza de imediato. Primeiro, a teoria do signo lingustico
destitui o smbolo de sua relao com objeto. Segundo, o signo lingustico originado arbitrariamente
no compreende a indicao e a significao como dependentes de signos anteriores e menos
complexos; j o smbolo sim, pois depende do ndice e do cone. Em outras palavras, o smbolo nasce
como uma inclinao para a conveno que requer capacidades anteriores de referncia e
corporificao do significado atravs do ndice e do cone. Nesse sentido, uma face do smbolo
conveno arbitrria no sentido do signo lingustico, mas ao mostrar essa face o smbolo faz isso
com o recurso do ndice para fazer referncia a um conjunto de coisas e qualifica uma ideia com
uma imagem, adjetivando o ndice e o explicando com o auxlio do cone. Nesse sentido, no seria
possvel convergir smbolo em signo lingustico do ponto de vista terico; o que se erige em
circunstncias especficas de aproximao no mais que uma adaptao.
Ao lado da no equivalncia do conceito de smbolo podemos apontar o carter evolutivo ao
lado da necessidade prtica de fixao do significado. A posio de equilbrio deste pndulo talvez
seja o grande desafio para operacionalizar a organizao e a comunicao de smbolos. O melhor
exemplo de smbolo o conceito cientfico. Em sua gnese semitica h que reconhecer a trade
envolvida no smbolo, o que o distancia ainda mais de seu congnere lingustico.
Um trecho de Peirce pode elucidar essa necessidade psicolgica e lgica pela manuteno de
significados unvocos ao lado de sinais individualizantes dos conceitos cientficos. Segundo Peirce
(2000),

Quanto ao ideal a ser alcanado, em primeiro lugar, desejvel que
qualquer ramo da cincia tenha um vocabulrio que fornea uma famlia
de palavras cognatas para cada conceito cientfico, e que cada palavra tenha
um nico e exato significado, a menos que seus diferentes significados se
refiram a objetos de diferentes categorias que nunca podero ser
confundidas umas com as outras. Por certo, esse requisito poderia ser
entendido num sentido que o tornaria absolutamente impossvel, pois
todo smbolo uma coisa viva, num sentido muito estrito que no apenas
figura de retrica. O corpo de um smbolo transforma-se lentamente, mas
seu significado cresce inevitavelmente, incorpora novos elementos e livra-

77
se de elementos velhos. Mas todos deveriam esforar-se por manter
imutvel e exata a essncia de cada termo cientfico, embora uma exatido
absoluta no chegue a ser concebvel (p. 40).

A primeira parte desta citao como uma descrio de uma clssica teoria do conceito que
pactua uma teleologia, a qual enaltece o universo esttico, incluindo a o universo das ideias. A
orientao Semitica, cujo conceito central refletivo semiose, condiz com a segunda parte da
citao, pois os conceitos so coisas vivas, o que, em que pese a fixao por fixao de
significados, denota uma teoria s recentemente descoberta. No que respeita a teoria de Peirce, o
conceito enquanto exemplo de smbolo deve ser observado objetivamente sob o espectro do
evolucionismo (csmico e intelectual), do realismo e do pragmatismo peirceanos.
O smbolo um exemplar dos tipos de signos e como todos os demais formam por uma regra
de validao as classes de signo. As classes de signos esto entre um dos problemas de entendimento
da teoria de Peirce. Seu nmero pouco compreendido, e a formao das classes nem sempre
explicada. Compete a ns destacar que a classe de signo permite identificar as formas dos signos
segundo um pressuposto lgico, isto , o tipo de pensamento ou padro de significncia. Para a
Organizao do Conhecimento, as classes explicam os processos de tratamento da informao, tal
como fez Mai (1997a; 1997b; 2000, 2001) em seus estudos. O processo de indexao de assunto opera
por inferncia e em cada momento do processo gera um tipo de signo (Argumento, Smbolo Dicente,
Legisigno Indicial Dicente e Legisigno Indicial Remtico).
No obstante as classes de signos surgirem de trs tricotomias, as mais conhecidas so as que
tratam da relao o signo com ele mesmo, do signo com o objeto dinmico e do signo com o
interpretante. Contudo, por volta de 1908, Peirce em uma carta a Lady Welby, apresenta dez
tricotomias, com tipos de signos ainda pouco estudados. Como registra Silveira (2007, p. 62),
considerando a estimativa de Peirce, teramos 59.049 classes de signos, mas descartando as classes
logicamente invlidas, o nmero seria reduzido para 66 classes. As dez classes de signos vlidas mais
conhecidas surgem de um total de 27 classes, mas nem todas as combinaes so vlidas. A regra
que permite a validao destes signos complexa, e precisa ser examinada com mais detalhe.
O importante considerar que as classes no so tipos fixos de signos, os quais servem para
enquadrar ou no um fenmeno simblico. As classes de signos so formas lgicas utilizadas para
compreender os signos que uma mente pode produzir. O uso das classes como formas rgidas ou
auto-exclusivas, no seria recomendvel. As classes so utilizadas na Organizao do Conhecimento
para compreender os vrios estgios da indexao de assunto, contudo, podem ser aplicadas para
reconhecer a natureza de gneros textuais e esquemas indiciais que permitem a recuperao da
informao.
Outro conceito que merece nota, o de semiose. A semiose seria a ao dos signos no mundo
da vida. Todo signo tem uma tendncia natural para a continuidade e considerando a semiose,
temos que o significado de um signo est no futuro, est na semiose ainda por vir. A semiose talvez
seja o conceito central na Semitica de Peirce porque representa o poder da ao, do movimento e
da vida na produo do sentido.
Segundo Pinto (1995) Por semiose entende-se, estritamente, a produo de sentido, processo
infinito pelo qual, atravs de sua relao com o objeto [...], o signo [] produz um interpretante que,
por sua vez, um signo que produz um interpretante e assim por diante.(p. 49). A semiose trata de
um processo que supe uma relao ad infinitum. Esse processo tlico tem como inteno bsica
alcanar uma representao unida ao objeto, mas sabemos que nunca chegar. Para a Organizao
do Conhecimento, a semiose um dispositivo conceitual que explica a incapacidade dos conceitos e
interpretaes de representarem totalmente seus objetos. A semiose implica um dos principais
problemas da rea, que lidar com a evoluo dos significados diante das tentativas de solidificao
terminolgica e conceitual.

78
Por fim, temos que registrar o conceito de interpretante que no est sendo utilizado pela
Organizao do Conhecimento e que traz muitas contribuies para a compreenso dos nveis de
significado dos conceitos cientficos e de nossas formas de atribuio de sentido.
O interpretante considerado o efeito interpretativo, isto , o resultado do signo em uma
relao tridica em que o signo envolve representamen, objeto e o interpretante. A despeito de seu
pouco emprego pela rea, justamente nestas divises do interpretante que se encontram o
entendimento do significado. O interpretante sofre uma diviso tripartida em imediato, dinmico e
final. De acordo com Peirce (2000, p. 168), o interpretante imediato est diretamente expresso no
signo, isto , trata daquela ideia, representao ou conceito presente no primeiro instante do signo.
O interpretante dinmico sugere um efeito real e prtico do signo sobre uma mente, a experincia
concreta sobre um intrprete. O interpretante final ou ltimo, retoma o mesmo carter tlico da
semiose, pois confere significao um atributo teleolgico, na medida em que o fim do processo
chegar a uma representao ltima e perfeita, mesmo que praticamente irrealizvel. Com isso, uma
ideia significa apenas uma resposta parcial para compreender o universo e ganha extenso quando
associada a outras mais. Uma resposta disciplinar sempre parcial, mas quando agregada s
respostas acumuladas pelas cincias, moral e outros saberes sobre o objeto tendem, apesar de no
alcanar para o interpretante final, o motor que impulsiona todo o processo de significao.
O interpretante, assim definido, bem como a semiose, vincula-se com a formao de hbitos
na mente. O objetivo neste processo contnuo em que a nica lei vigente a da disposio de todas
as coisas para a formao de tendncias, formar hbitos mentais para se conhecer e com isso
regular a conduta inteligente. O hbito e a crena a ele associada de ser [...] algo de que estamos
cientes; segundo, aplaca a irritao da dvida; e, terceiro, envolve o surgimento, em nossa natureza,
de uma regra de ao, ou, digamos com brevidade, o surgimento de um hbito. (Peirce, 1972, p. 56).
Os hbitos podem ser considerados as disposies de uma mente no sentido de antecipar um
acontecimento futuro. A previso seria uma das formas pelas quais o hbito est presente em nossas
vidas. Assim, o significado de um conceito estaria associado aos hbitos mentais envolvidos em um
futuro antecipado. Em outras palavras, o significado de uma expresso est na conduta mental
envolvida em uma futura ocorrncia. Significar crer que os atributos de um conceito ou ideias
aparecero novamente no futuro, quando isso no ocorre, no alcanamos um significado
pragmtico. A descoberta dos hbitos de indexadores poderia auxiliar a compreenso do processo
que os levam a atribuir significado, pois a definio dos termos e palavras no uma operao
implicada apenas a dicionrios ou ao lxico, mesmo que o de uso corrente, contudo, uma operao
que requer as condutas mentais associadas ao significado.
Para a Organizao do Conhecimento, tais conceitos semiticos so fundamentais para
ultrapassarmos o estgio intermedirio de interdisciplinaridade relativamente Semitica em que
nos encontramos.

guisa de concluso

Esse quadro conceitual pode ser explorado com a anlise dos trabalhos dos tericos
Thellefsen (2002; 2003; 2004), Mai (1997a; 1997b; 2000; 2001), Izquierdo Arroyo (1990; 1992; 1993),
Thellefsen e Thellefsen (2004), Friedman e Thellefsen (2011), entre outros. Na avaliao deste
trabalho, julgamos que a Organizao do Conhecimento est direcionando seus interesses nos
ltimos anos Semitica, especialmente a de extrao peirceana.
No obstante, nos encontramos em um nvel intermedirio de relaes disciplinares, pois
ainda no proporcionamos efetivamente uma teoria semitica para a Organizao do
Conhecimento, nem mesmo esta linha um campo privilegiado; bem ao contrrio do que ocorre
com a Lingustica Documental. A despeito de o interesse da Organizao do Conhecimento pela
Semitica, ainda no constitumos uma abordagem prpria. Acreditamos que o propsito final

79
destes contatos deveria ser instituir uma instncia de interlocuo entre Semitica e Organizao
do Conhecimento.
digna de uma ltima nota que, embora os conceitos centrais elencados sejam reduzidos em
nmero, a partir deles ser possvel gerar novas combinaes conceituais, como foi o caso das
snteses: signo fundamental, efeito significncia e semiose documental. Esse movimento
interdisciplinar ruma integrao mais fecunda entre Semitica e Cincia da Informao de
maneira geral.

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82
O MUNDO O ASSUNTO
epistemologia da indexao no sculo XIX

LAFFAYETE ALVARES JNIOR
Universidade Federal do Estado do Rio de Janeiro
[email protected]

GUSTAVO SILVA SALDANHA
Universidade Federal do Estado do Rio de Janeiro / Instituto Brasileiro Informao em Cincia e
Tecnologia
[email protected]

Resumo Compreendendo o desenvolvimento de uma epistemologia da organizao do conhecimento no
sculo XIX, no contexto anglfono, o estudo procura posicionar, no tempo poltico, tcnico, social e terico, os
elementos conceituais que definem a construo disciplinar da representao temtica no contexto histrico.
Discute-se, neste sentido, os focos histricos da Antiguidade e do Medievo que permitem recontar a prtica do
indexador, como tambm os desdobramentos contextuais do mundo moderno, como inveno da prensa,
revoluo cientfica e democracia que redimensionam o papel dos saberes orientados para organizao,
representao e apropriao do conhecimento e eclodem no oitocentos. O objetivo geral reconstituir a
epistemologia histrica dos estudos de representao temtica no mbito da epistemologia da organizao do
conhecimento, tendo como foco central de anlise os acontecimentos do sculo XIX, seus antecedentes e suas
perspectivas abertas. Como objetivos especficos, prope-se questionar as origens de uma teoria da
indexao; problematizar as transformaes polticas, sociais e filosficas do oitocentos como potenciais
elementos para mutao da organizao do conhecimento; reconhecer a relevncia contextual das ideias e das
publicaes oitocentistas sobre representao temtica. O mtodo empregado responde pelo estudo
bibliogrfico e pela anlise epistemolgica. Busca-se, a partir da identificao de publicaes que tomam a
indexao como teoria e prtica no sculo XIX, compreender a construo terica da disciplina em questo.
Como populao investigvel inicial, propomos o reconhecimento dos primeiros nmeros do Library Journal e
o livro Public Libraries in the United States of America, ambos os documentos surgidos em 1876. Como principais
resultados, aponta-se a confluncia entre abordagens sociais e polticas, bem como tcnicas, e a emergncia
da indexao no sculo XIX. Como concluses, registra-se a urgncia de investigaes que permitam uma
anlise complexa que envolva histria e filosofia, epistemologia e sociologia, do saber produzido no mbito da
organizao do conhecimento.

Palavras-chave Epistemologia da organizao do conhecimento. Histria. Teoria da Indexao.

Abstract Comprehending the development of an epistemology of knowledge organization in the 19
th
Century
in the anglophone context, this paper focuses on putting conceptual elements defining the disciplinary
construction of thematic representation in the historical context into a political, technical, social and
theoretical perspective. It discusses, in this sense, the historical focuses of the Ancient and Medieval eras
which allow us to retell the indexers practice, as well as the contextual developments of the modern world,
such as the invention of the press, the scientific revolution and democracy, which reshape the role of an
orientation towards the organization, representation and appropriation of knowledge, and emerge in the
1800s. The general objective is to rebuild the historical epistemology of the thematic representation studies
in the scope of knowledge organization epistemology, focusing centrally in the analysis of the events of the
19
th
century, their antecedents and open perspectives. As specific objectives it proposes to question the
origins of a theory of indexing; it examines the political, social and philosophical changes in the 1800s as
potential elements to produce a mutation in knowledge organization; it recognizes the contextual relevance
of the ideas and the publications of the 1800s about thematic representation. The method used was the
bibliographical study and the epistemological analysis. Starting from the identification of publications that

83
take indexing as theory and practice in the 19th century, it attempts to understand the theoretical
construction of the discipline in focus. As an initial population analysis it proposes the recognition of the first
numbers of Library Journal and the book Public Libraries in the United States of America, both documents from
1876. As principal results it points the confluence of social and political approaches as well as technics and the
emergence of indexing in the 19
th
century. As conclusions, it marks the urgent need for investigation on the
knowledge produced in the scope of knowledge organization which permits a complex analysis exploring
aspects of history and philosophy, epistemology and sociology.

Keywords Knowledge organization epistemology. History. Theory of Indexing.

Introduo

Compreendendo o desenvolvimento de uma epistemologia da organizao do
conhecimento no sculo XIX, no contexto anglfono, o presente estudo procura posicionar, no
tempo poltico, tcnico, social e terico, os elementos conceituais que definem a construo
disciplinar da representao temtica no contexto histrico. Discute-se, neste sentido, os focos
histricos da Antiguidade e do Medievo que permitem recontar a prtica do indexador, como
tambm os desdobramentos contextuais do mundo moderno, como inveno da prensa, revoluo
cientfica e democracia que redimensionam o papel dos saberes orientados para organizao,
representao e apropriao do conhecimento e eclodem no oitocentos.
O objetivo geral reconstituir a epistemologia histrica dos estudos de representao
temtica no mbito da epistemologia da organizao do conhecimento, tendo como foco central
de anlise os acontecimentos do sculo XIX, seus antecedentes e suas perspectivas abertas. Como
objetivos especficos, prope-se questionar as origens de uma teoria da indexao; problematizar as
transformaes polticas, sociais e filosficas do oitocentos como potenciais elementos para
mutao da organizao do conhecimento; reconhecer a relevncia contextual das ideias e das
publicaes oitocentistas sobre representao temtica.
O mtodo empregado responde pelo estudo bibliogrfico e pela anlise epistemolgica.
Busca-se, a partir da identificao de publicaes que tomam a indexao como teoria e prtica no
sculo XIX, compreender a construo terica da disciplina em questo. Como populao
investigvel inicial, propomos o reconhecimento dos primeiros nmeros do Library Journal da
American Library Association e o livro Public Libraries in the United States of America, ambos os
documentos surgidos em 1876. Como principais resultados, aponta-se a confluncia entre
abordagens sociais e polticas, bem como tcnicas, e a emergncia da indexao no sculo XIX.
Como concluses, registra-se a urgncia de investigaes que permitam uma anlise complexa que
envolva histria e filosofia, epistemologia e sociologia, do saber produzido no mbito da

1 Marco histrico-filosfico e perspectivas iniciais do estudo

It is clearly the duty of a librarian so to conduct his library that
everything it contains shall be accessible to every reader, and that with
as little inconvenience as possible.
Otis H. Robinson (1876)

As transformaes filosficas decorrentes do final da Idade Mdia demarcam uma relao
distinta entre pensamento e mundo. As filosofias da conscincia retiram o lugar de centralidade de
uma realidade extrassensvel e posicionam o homem como elemento integrador da realidade fsica.
Esse movimento decididamente marcado pela chegada dos trabalhos de Aristteles atravs de

84
tradues rabes na virada do primeiro milnio da era comum, resultando na apropriao de um
modo de conhecer que se realiza em coparticipao com as entidades fsicas. Os documentos e seus
contedos esto na fronteira desta viragem no pensamento ocidental. No chegamos aos mil anos
seguintes, ou seja, no sculo XIX, com uma necessidade emergente de desenvolvimento de teorias
da representao temtica sem esta inclinao filosfica.
No apenas a natureza, mas tambm os artefatos, aquilo que o homem produziu e capaz de
produzir, tornam-se objeto de ateno da reflexo filosfica e de saberes que se desenvolvem
rapidamente. O resultado do processo que vai do Renascimento Cultural, anterior ao Renascimento
Artstico italiano, quando presenciamos o aparecimento do clssico de bibliofilia de Richard de
Bury, em 1345, at o sculo XVIII, identificado como aquele que guarda a consolidao da chamada
revoluo cientfica, a transfigurao de conceitos como prticas tcnico-cientficas,
posteriormente chamadas de disciplinas cientficas.
Nesse contexto do incio da chamada Modernidade emerge tanto uma nova viso sobre o
mundo, como um novo modo de fazer conhecimento sobre o ele, pautado pelo uso de artefatos
bibliogrficos. Documentos, cartas, livros, deixam de ocupar um lugar relevante na tarefa do ensino,
da aprendizagem, da memria e da reflexo, para se estabelecerem como objetos e smbolos
sedimentados de uma cultura do saber, agora predicada como cientfica. Esses recursos materiais
adquirem, mais do que isto, o estatuto de objeto cientfico, principalmente a partir do oitocentos. O
mundo e o livro do mundo representam camadas distintas de abstrao que iro se transversalizar,
atingindo, por vezes, na transparncia das construes simblicas do homem moderno, uma s
imagem.
Fruto destas transformaes, o sculo XIX reflete o resultado imediato da revoluo tcnico-
cientfica e do reposicionamento do papel dos artefatos bibliogrficos na histria. O oitocentos no
apenas pode ser representado pelo aflorar das especializaes cientficas, como o sculo da
Bibliologia, inaugurado em 1802 com o dicionrio de Gabriel Peignot. Em outras palavras, o
livro, como objeto de estudo da cincia, responde tambm por uma especialidade cientfica, a
cincia bibliolgica ou o conjunto de cincias bibliolgicas (como aparecem em Paul Otlet). , pois,
tambm o sculo da Library Science e o perodo que consagra a Bibliografia como cincia a partir de
Paul Otlet domnio de saber este tratado, em seu conceito geral, como sinnimo de Documentao.
O conjunto de mudanas no mbito filosfico, econmico e poltico interfere nas prticas
ocidentais da organizao do conhecimento e rapidamente se espalha, seguindo da Europa para as
Amricas, e se alimentando mutuamente com as experincias que circulavam a partir de livros e dos
primeiros peridicos dedicados ao estudo dos livros e dos documentos. No Brasil, aps a presena
inicial de jesutas, beneditinos e franciscanos no incio da colonizao, no sculo XVI, no oitocentos
percebe-se a chegada da Famlia Real Portuguesa e o princpio da imprensa, com presena de
profissionais do livro, o que demarca a circulao de ideias em torno das prticas da organizao
do conhecimento.
No final do sculo XIX, o olhar brasileiro sobre tais prticas se altera rapidamente com a
passagem de grandes bibliotecrios pela Biblioteca Nacional, que intensificam a troca de ideias e
apropriao dos novos saberes dentro do domnio. o exemplo de Ramiz Galvo (Doutor pela
Faculdade Nacional de Medicina do Rio de Janeiro) e a procura pela construo de um ideal europeu
de prtica biblioteconmica no pas. , no entanto, no comeo do sculo XX, com Manuel Ccero
Peregrino da Silva, que acompanhamos a intensificao destas trocas terico-prticas. Seja com a
correspondncia com Paul Otlet, seja com a incorporao de novas abordagens europeias, a
Biblioteca Nacional receber influncia do desenvolvimento da Bibliografia como cincia e mtodo
e iniciar a primeira formao de profissionais dedicados organizao do conhecimento, a partir
de 1915.
Chegamos ao primeiro horizonte do presente esforo terico. Fruto do desenvolvimento do
grupo de pesquisa EcceLiber, iniciado em 2011 na Escola de Biblioteconomia da Universidade
Federal do Estado do Rio de Janeiro (Unirio Brasil), integrada ao projeto de preservao e
apropriao epistemolgica da Coleo Memria da Biblioteconomia da Biblioteca Central da Unirio,

85
a proposta de investigao aqui apresentada resultado de uma tentativa de compreenso da
epistemologia da organizao do conhecimento a partir de seus diferentes domnios, como
Catalogao, Classificao e Indexao.
A Coleo rene os documentos utilizados para o incio das prticas de ensino e de
aprendizagem em organizao do conhecimento no Brasil, e guardam, neste sentido, um vasto
campo de questionamentos sobre nossas primeiras evidncias epistmicas, tanto no sentido local,
como no mbito internacional. Tendo como fonte inicial de questionamento este acervo, o grupo
objetivou investigar quais elementos histrico-tericos presentes nos primeiros manuais, tratados e
documentos didticos permitem recompreender a cincia que se estabelece dedicada
organizao do conhecimento na Amrica Latina, com olhar especial sobre o Brasil.
A investigao terminou por expandir o ponto de vista inicial, levando o grupo a pensar o
sculo XIX como um dos marcos epistemolgicos para esta proposta. Questes de ordem filosfica
se apresentaram imediatamente, como: o que podemos chamar de representao na virada do
sculo XIX para o XX, como podemos significar organizao e conhecimento no oitocentos, qual o
local e qual o tempo permitiriam a separao clara entre teoria e tcnica na prtica e no
pensamento do bibliotecrio ao longo dos ltimos duzentos anos...?
Para o momento, a Indexao, tomada inicialmente como saber dedicado aos estudos e
prtica da representao temtica, foi selecionada como objeto de estudo. Dentre outras questes,
justifica-se esta deciso exatamente pelo desafio implcito pela teoria da representao de
contedo, em geral determinada apenas como fruto de uma construo novecentista. A proposta
elaborar, a partir deste primeiro dilogo reflexivo, um conjunto de anlises que procura questionar
a epistemologia da representao temtica, tendo marcos institucionais como a Index Society e a
American Library Association e exerccios torico-tcnicos, como o ndice Poole e as publicaes sobre
o domnio disponvel no Library Journal, alm de livros como Public Libraries in the United States of
America. A opo momentnea tambm est relacionada tradio anglfona, por um interesse
especial na transformao poltico-social das bibliotecas pblicas dos Estados Unidos e a relao
entre indexao e democracia.

2 Indexao: os caminhos tradicionais

O processo de indexao , com frequncia, abordado como algo relativamente novo dentro
do escopo de abordagens que resultaram da demanda por parte da Cincia, consolidada em fins do
sculo XIX, pela representao temtica de peridicos. popular a histria de uma Biblioteconomia
avessa ao tratamento de peridicos e de outros formatos que no o livro, dando lugar a uma nova
Cincia, a Documentao ou Documentologia, que uma leitura mais atenta de um de seus maiores
idealizadores, Paul Otlet, em seu Tratado de Documentao, vai revelar que com frequncia alterna
como se mesma coisa o fosse Documentao com o termo Bibliologia (Otlet, 1934).
Silva e Fujita (2004, p. 138), em reviso da Histria da Indexao, afirmam, com Collinson
(1971) que o primeiro tipo de indexao existente era baseado na memria. Textos clebres, como
as grandes epopeias, por exemplo, eram transmitidos oralmente. As autoras indicam que aps esse
momento, os primeiros ndices seriam arranjados pelas primeiras frases de cada pargrafo dos
textos. no sculo V, em obra apcrifa, que situa o mais prximo do ndice alfabtico de assuntos.
Trata-se de Apothegmata, e consistia em uma listagem de provrbios de tpicos teolgicos gregos.
Nesse momento as obras j eram divididas em captulos e sees numeradas, podendo-se facilmente
localizar suas partes.
No sculo XIV, com a elaborao de inventrios de livros em mosteiros, alguns mtodos se
tornam permanentes, como os cabealhos de captulos, a presena de sumrio ou tbuas de matria;
a insero de cabealhos nas margens, citando obras como Short History of English Literature de
Saintsbury e History of Greece de Bury; a impresso de um cabealho descritivo no alto de cada pgina
ou a repetio do ttulo do livro ou do captulo. Concluem que a noo de ndice nessa poca

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significou uma lista de contedo, lista de resumos ou vrias notas e muito raramente essas listas
representavam o que se conhece de ndice atualmente. (p. 139). As autoras percebem nessa prtica
de aditar palavras ou frases explicativas sobre trechos do texto s suas margens um indicativo de
uma variao da qualidade, pois eram realizados pelo grau de entendimento de cada copista.

Temos, aqui, a primeira afirmao de que a indexao realizada em
pocas diversas e por pessoas diferentes diferia, tambm, quanto
qualidade (Silva; Fujitta, 2004 P. 139).

Outro momento histrico da construo da representao temtica visualizado por Collinson
(1971) est na necessidade de elaborao de ndices no contexto de surgimento da Bblia Inglesa, em
grande escala em 1737, com a compilao da primeira concordncia completa da Bblia por
Alexandre Cruden. Tratava-se dos ndices que relacionavam citaes com sua localizao no texto.

O sculo XVII foi, portanto, o incio da grande poca do ndice
facilitada pela Reforma Protestante que possibilitou a traduo da Bblia e,
portanto, franqueada ao pblico em geral (Silva; Fujitta, 2004 P. 139).

As autoras afirmam que foi atribudo a Cruden e a Jonson, [que indexou a lngua inglesa no
sculo XVIII] o estabelecimento de verdadeiros padres de clareza e consistncia para a indexao
entre os sculos XVII e XVIII. Foi na Alemanha, a partir dos processos de indexao, que surgiu a
ideia de palavra-chave (schlagwort) na representao de um item.
As autoras localizam nos sculos XVIII e XIX o crescimento com mais intensidade de
peridicos referenciais e que podem ter derivado do que Kobashi (1994 apud Silva; Fujitta, 2004 P.
139) entende como a origem da Documentao como praticada hoje. Essa origem estaria no
aparecimento do Journal des Savans, em 1665, que trazia resumos dos trabalhos cientficos,
filosficos e artsticos.
At o surgimento da Imprensa as listas de registros de livros chamadas de ndices eram as
nicas formas de acesso aos livros nos mosteiros. Depois disso houve um impulso maior para o
aparecimento de vrias listas com diversas finalidades. O ndice alfabtico de assuntos Pandectarum
sive partitionum unversalium, libri XXI foi publicado posteriormente ao que se referia, ou seja, o
Bibliotheca Universalis de Konrad von Gesner, a primeira bibliografia de ttulos europeus de carter
geral. (Figueiredo; Cunha, 1967. P. 21). Seu contedo era justamente os livros compilados por Gesner
reorganizados por assuntos.
O desenvolvimento das prticas de representao temtica ganha, a partir da virada do sculo
XIX para o XX, uma crtica epistemolgica e um discurso profissional. Biblioteconomia, Bibliografia
e Documentao so construes conceituais que refletem as principais disputas tericas e tcnicas
na viso cientfica do processo de indexao. Coblans (1954. P. 20) afirma que a separao entre a
Documentao e a Biblioteconomia ortodoxa comea no sculo XIX e que, por ambas serem
sinnimas, essa diviso no foi compreendida em sua poca. A histria da documentao desde
aqule perodo , na verdade, a histria da bibliografia por assunto aplicada principalmente ao
controle da literatura em peridicos cientficos e tcnicos. Para o cientista, o catlogo por assunto
se tornara insuficiente e junto ao despertar para a necessidade de se organizar internacionalmente
a bibliografia nacional, no fim do sculo que isso se traduz em ao efetiva.
Neste sentido, foram as sociedades cientficas, com pouco conhecimento sobre tcnicas de
catalogao, que iniciaram esse processo de trabalho bibliogrfico. Coblans aponta esse fato como
um dos motivos para a histria quase trgica do fracasso que chegou at ns (p. 20). Embora a
organizao internacional da bibliografia universal seja necessidade vital para a continuao da

87
civilizao como a conhecemos sua complexidade se torna extremamente difcil num mundo de
estados soberanos, com culturas diferentes e uma variedade de lnguas importantes.
Outra questo de ordem epistemolgica, importante no contexto da passagem dos sculos
anteriores, distinguir os conceitos estruturais dos processos de metarrepresentao, como
catalogao, catalogao por assunto, classificao e indexao. No cerne dessas duas ltimas,
Langridge (1977. P. 105) ensina aos alunos de Biblioteconomia relaes que se identificam a partir de
trs usos principais do termo indexao: a) sinnimo de organizao do conhecimento em
bibliotecas; b) ato de registrar o contedo de uma coleo; c) provendo uma chave alfabtica a uma
ordem sistemtica. Com isso o terico coloca a polissemia para problematizar o uso restrito que se
d classificao como tcnica para enderear livros s estantes sem levar em conta que a anlise
de assunto e a prpria classificao so a chave para uma boa indexao e vice-versa, como na
concepo c.
Para Langridge (1977) a menos que iniciemos com uma anlise de assuntos correta
absolutamente impossvel estabelecer um nmero de classe ou entrada de ndice corretos. (1977, p.
106). com Ranganathan que Langridge (1977, p. 108) prope que a classificao a base de todas as
linguagens de indexao e o controle de vocabulrio a garantia de classificao e indexao
adequadas. Na filosofia da classificao de Ranganathan, por exemplo, h o plano da ideia, onde
ocorre a anlise de assunto, o plano verbal, onde os cabealhos de assunto ou descritores so
selecionados e o plano notacional, este ltimo utilizado nos esquemas de classificao para o
endereamento de posies fsicas de documentos, por exemplo.
No caminho apontado por Langridge (1977), Classificao mais que endereos, nmeros e
ndices, uma forma de compreender o mundo e os assuntos so chaves de um arquivo maior que
a nossa prpria compreenso da realidade. Ele cita, entre psiclogos e estudos sobre a classificao
na mente humana, o filsofo americano John Dewey para dizer conhecimento classificao
(Langridge, 1977, p. 11), demonstrando a importncia que adquire a mesma no papel que exerce.
Afirma tambm que o fato de que a maioria das pessoas no percebe o quanto classifica
meramente um indcio da natureza fundamental do processo de classificao. (Langridge, 1977, p.
11). Alvares Jr. (2008) explora, em artigo, a natureza aparentemente transparente ou invisvel das
infraestruturas de informao e como elas no so notadas, por mais que sejam necessrias e
utilizadas, at que de alguma forma elas parem de funcionar. Classificao e Indexao so mtodos
de mapear o mundo e essa cartografia nos leva a colher os assuntos e escolher os que nos so
pertinentes, os que so secundrios, ou os que, momentaneamente ou definitivamente, no so
relevantes.

3 Livro da natureza, natureza do livro: os saberes e o conhecimento diante da
organizao na epistemologia biblioteconmica

O primeiro questionamento a se fazer na tradio central dos estudos hoje predicados como
da informao perceber que se faz, no campo, um uso da noo de conhecimento que se ora se
estabelece distante, ora dentro da realidade continental dos artefatos tratados genericamente por
documentos. Quando os sistemas bibliogrficos apontam para classificao dos mltiplos saberes,
tratamos de organizao do conhecimento. Esta noo ampla e nos coloca diante, em linhas
gerais, do panorama geral dos estudos da informao na atualidade.
Este conhecimento , portanto, no uma ideia de cunho metafsico ou uma problemtica da
conscincia humana, mas, antes, uma relao entre as novas cincias da Modernidade, seus
conceitos e suas formas de materializao e legitimao em documentos, onde tais conceitos
so registrados e ganham o mundo. Para Hjorland (2008), a expresso organizao do
conhecimento tem um ponto de nascimento determinvel.

88
The term KO originated in the library field. It seems to have been
established around 1900 by people like Charles A. Cutter and Ernest
Cushington Richardson and stabilized by W. C. Berwick Sayers and Henry
Bliss. Bliss book (1929) The organization of knowledge and the system of the
sciences represents one of the main intellectual contributions in the field.
All of these authors argued that book classification is based on knowledge
organization as it appears in science and scholarship. The best way to
organize books in libraries (and document representations in
bibliographies) was to make the library classification reflect a scientific
classification which, in turn, was supposed to reflect the nature of reality
(Hjorland, 2008, p. 97, grifo nosso).

no sculo XIX que o conhecimento se confunde de vez com a noo de cincia emprica,
ponto de vista comum entre os modernos. Deixamos de organizar saberes, para organizar aquilo
que se produz na cincia. Os trabalhos anglfonos significados pela Library Science so sintomticos
neste sentido. necessria uma teoria para pensar a dinmica da cincia. O peridico cientfico ali
colocado como um dos elementos fundamentais para este desenvolvimento, tanto para a teoria
biblioteconmica norte-americana, como para a teoria bibliolgica de Peignot e a posterior teoria
bibliolgica e o pensamento bibliogrfico de Paul Otlet.
Neste sentido, o livro da natureza, metfora para a compreenso da virada da metafsica
para a fsica na passagem Medievo-Modernidade, se confunde com o desenvolvimento de um corpo
de saberes sobre a natureza do livro. Estes saberes se renem sobre o conceito de Bibliologia. E
no cenrio do desenvolvimento dos saberes bibliolgicos, como elaborao cientfica, que
identificamos o rpido desenvolvimento de uma teorizao sobre a representao temtica.
Estamos exatamente no contexto do oitocentos.
O sculo XIX reconhecido palco de transformaes sensveis na sociedade ocidental. No
mbito poltico, o sculo se apropria das mutaes dos setecentos, como revoluo industrial,
revoluo cientfica e revoluo francesa. Estas mutaes tero influncia direta nas recm-
independentes colnias norte-americanas, que rpido absorvero os elementos tcnicos, tericos e
polticos, respectivamente, das mutaes citadas.
No mbito filosfico-cientfico, podemos identificar uma ampla gama de acontecimentos que
interferem no modo de pensar e nas prticas cotidianas dos indivduos. As mutaes poltico-
cientficas percebidas no sculo XIX levam consolidao das bibliotecas pblicas e ao
aparecimento e desenvolvimento das bibliotecas especializadas, que expandiro a noo dos
recursos trabalhados por bibliotecrios, indo alm dos artefatos bibliogrficos. Essas bibliotecas
tero vnculo com indstrias e institutos de pesquisa pura e aplicada, com foco em contedos
atualizados para o desenvolvimento destas organizaes (Serrai, 1975).
Peignot j abria o sculo apontando para as transformaes cientficas que se apresentavam e
para o papel da Bibliologia neste contexto. no sculo XIX que as cincias se especializam e
tambm ali que as especialidades da organizao do conhecimento ganham cores distintas. A
catalogao, a referncia, a classificao, a legislao bibliolgica, a administrao e a indexao so
prticas j emergentes como conceitos que se candidatam a saberes disciplinares.
em 1877 que a Indexao como prtica ganhar The Index Society, na Inglaterra, sob a direo
de Henry Benjamin Wheatley, bibligrafo e indexador, que escreveu o primeiro livro-texto em
indexao: How to make an index, E Stock, 1902. What is an Index foi a primeira publicao da
entidade, em 1878, que j contava com 170 membros pagando uma taxa de 1 guinu ao ano. (Bell,
1997, p. 164). Percebe-se que a indexao ter papel direto na construo de uma ideia de sociedade
e de uma ideia de cincia que transformar significativamente as noes vigentes. Miss Nancie Baily
afirma:

89
The need for a good index is universally recognized, but the difficulty
of getting one made in time by a person who has studied indexing as an art
is often insuperable' (apud Bell, 1997. P.161).
A natureza do livro aqui questionada. Desde o sculo anterior, como lembra Machado
(1994), a Enciclopdia de Diderot e DAlembert alterava a forma de pensar e de se fazer o livro.
Com Mallarm e Otlet, a desconstruo do conceito de livro, ento fechado e pautado na unidade,
rpida e filosoficamente transformadora. Se para a cincia importa agora o livro da natureza, o
livro, em sua natureza, no mais o smbolo da ideia metafsica em sua forma e em seu contedo.
Ele agora tambm considerado como fruto da multiplicidade, reflexo da especializao dos saberes
e da expanso dos microlxicos cientficos.

4 O mundo o assunto, o mundo est na pele efmera do livro: a emergncia
da indexao como teoria da epistemologia biblioteconmica e como resposta
especializao cientfica

Das transformaes identificadas, destacam-se trs questes demarcadas na Modernidade que
atestam a ecloso de uma teorizao mais profunda sobre a representao temtica no oitocentos
anglfono. A primeira, j anunciada, diz respeito ao posicionamento epistemolgico: uma teoria do
conhecimento que se pauta na realidade fsica coloca o mundo, a natureza, como objeto de anlise
privilegiado. Esta demarcao est clarificada nas Meditaes de Renn Descartes. As outras duas
questes esto vinculadas ao novo conceito de tempo. De um lado, a relao entre tempo e
registro do conhecimento, j transformada drasticamente com a inveno da prensa, ganha no
oitocentos um vulto ainda mais profundo. Por sua vez, a relao entre tempo e atualidade se
aproxima das mutaes recentes, vivenciadas nos fins do sculo XX. O conhecimento no mais
apenas o saber em si, mas se estabelece a partir de duas frentes claras: o conhecimento como aquilo
que est documentado; o conhecimento como aquilo que est atualizado.
Alfredo Serrai (1975) procura resumir a cadeia ontolgica de aparecimento das prticas da
organizao do conhecimento a partir das passagens da escrita para o documento, do documento
para sua reunio, desta para sua organizao. No mbito da ltima etapa, desdobra-se um exerccio
epistemolgico no tempo, aberto em duas direes operacionais-reflexivas: construir vias que
permitam o encontro dos documentos; indicar em quais documentos se encontram as referncias e
os dados procurados.
Tais direes esto dispostas, em diferentes margens, profundidades e sob o uso de diferentes
tcnicas e suportes da Antiguidade aos dias atuais. No mbito da construo de uma teoria voltada
para a representao temtica, sabe-se que os primeiros modelos de prtica de identificao de
recursos pelo assunto esto presentes no Pinakes de Calmaco, na Biblioteca de Alexandria, por
volta do sculo II a.C. Sabe-se, ainda, que no se pode identificar apenas, ali, a prtica da
catalogao de matrias ou de assuntos como limite para uma histria da indexao, mas a
prtica exegtica de tessitura de cpias e comentrios j produziria um conjunto de elementos de
representao temtica que marca a histria da indexao, cobrindo tambm a Idade Mdia.
Aps a inveno da imprensa, a mudana nas prticas pr-cientficas de organizao do
conhecimento ocorre tanto nos aspectos terico quanto prtico. No s abordagens distintas se
desenvolvem, mas tambm o prprio mobilirio transformado para suportar as demandas fsicas e
os novos modos de se pensar a prtica.

As bibliotecas crescem agora rapidamente: os sistemas medievais de
conservao dos livros em armrios, arcas, estantes de tampo inclinado,
no so mais compatveis com o nmero de livros impressos. Adotam-se
prateleiras encostadas ou embutidas nas paredes, e, com o passar do

90
tempo, a uma parte inferior acrescenta-se outra (galeria) qual se atinge
por meio de rampas ou escadas fixas (Serrai, 1975, p. 149).

Substitui-se aqui, na passagem do Medievo para a Modernidade, a ordem topogrfica para a
ordem sistemtica. A chegada de Aristteles ao ocidente definitivamente transforma as maneiras
de classificar e de pensar a ordem das estruturas extrassensveis e sensveis da realidade. O sistema
filosfico-bibliogrfico de Konrad von Gesner se insere diretamente neste contexto, como tambm o
posicionamento de Leibniz diante do conceito moderno de biblioteca.

4.1 O mundo o assunto: Gesner, Leibniz e a racionalidade bibliogrfica

Gesner contribui decisivamente, na viso de Serrai (1975), para o desenvolvimento da
indexao, a partir de sua Bibliotheca Universalis (elaborada entre 1545 e 1555). Ali as obras
aparecem sob o autor ou o assunto. Apresenta-se um ndice por nome e outro por sobrenome e
remissivas variantes dos nomes. Divididos em 21 classes, os assuntos se subdividem em sees e
subsees, formando uma rede de termos ampla.
Outra presena vinculada ao contexto filosfico est em Gottfried Wilhelm Leibniz, atuando
como bibliotecrio em Hanover em 1676. A viso de publicizao do saber conduz o filsofo a uma
procura pela organizao do conhecimento pautada no acesso aos documentos, o que o faz
diretamente envolvido com a prtica da indexao.

O conhecimento para Leibniz pode progredir somente quando cada
indivduo tem a possibilidade de informar-me sobre o que j foi escrito
sobre um certo assunto, da a funo essencial e insubstituvel das
bibliotecas no progresso das cincias e na pesquisa em geral (Serrai, 1975,
p. 152).

A necessidade de um catlogo por assunto vista como estrutural para uma biblioteca
moderna no pensamento leibniziano. Suas ideias esto relacionadas a um projeto de enciclopdia
universal, baseada na fuso dos catlogos de assunto das principais bibliotecas. este o foco de suas
cartas a Luiz XV, da Frana, solicitando o patrocnio de todas as publicaes cientficas e eruditas.
Essas se tornam cada vez mais fragmentadas, especializadas e provisrias, trazendo cena da
organizao e da representao do conhecimento a questo da efemeridade.

4.2 Efmeros: os documentos passageiros e a indexao como velocidade

Outra questo que nos remete ao aparecimento da indexao como disciplina distinta no
sculo XIX o carter efmero dos novos livros, ou documentos de distinta natureza, que se
apresentam em multiplicidade, principalmente aps a segunda metade do oitocentos. Um novo
conceito de livro pressupe fragmentos, como pginas, reconhecidas como panfletos; como
microtextos, reconhecidos como folhetos.
Esta discusso est presente em diferentes discursos, principalmente aqueles que tomam a
Documentao como territrio profcuo de desenvolvimento de uma episteme para a representao
temtica. Trata-se de questionar como se pode organizar o conhecimento que se acha portado em
documentos com uma condio limitada em termos de preservao, durabilidade, seja tendo em
vista seu contedo, seja tendo em vista seu suporte.

91
No entanto, como anteriormente destacado, a prpria construo histrica de tais prticas
indica que a indexao se desenvolve sob fatores scio-epistemolgicos coincidentes na Histria.
Eles esto, em geral, vinculados aos desafios que so causa e consequncia das mutaes
tecnolgicas e polticas. Como exemplo, temos a inveno da prensa como resposta aos processos de
cpia e de resumo nas primeiras universidades (causa) e a prpria presena de Gesner, ps inveno
da prensa, procurando organizar tematicamente o conhecimento disposto em documentos
impressos em escala geomtrica (consequncia).
O novo conceito de livro do oitocentos convoca a construo de uma teorizao capaz de
pensar classificao, catalogao e indexao de qualquer tipo de artefato bibliogrfico,
principalmente aqueles que so parte da desintegrao do conceito de unidade presente no livro
antigo e medieval. Seja pela matria que o leva, seja pelo contedo que leva, a natureza do livro,
assim como natureza objetificada pela epistemologia do sculo XIX, passvel de corrupo e
desaparecimento. Uma teoria da organizao do conhecimento, a partir dali, conduzida a pensar
que a efemeridade uma caracterstica do prprio saber; logo, dos suportes e dos registros do saber.
A teorizao sobre a representao temtica oitocentista est, deste modo, diretamente
envolvida com a necessidade de uma resposta rpida ao conhecimento que se estabelece sob outro
ritmo. Dinmica, a indexao se constri como espao epistemolgico da Library Science anglfona
do sculo XIX diretamente vinculada s mudanas nos modos de sentir e de fazer o tempo de
produo intelectual.

4.3 A indexao e os dias: uma episteme para um outro conceito de tempo

Por fim, encontramos a mutao do livro relacionada ao oitocentos e a necessidade de uma
resposta terico-tcnica para tal transformao conceitual e ferramental dada pela teoria da
representao temtica. A literatura peridica e a literatura de miscelneas (que compila variedades
temporariamente) estabelecem um outro ritmo de construo e de percepo do conhecimento.
Seria necessrio rever o conceito de tempo e as formas de se conviver com a passagem das
horas no sculo XIX para compreender os limites de uma teorizao para a indexao neste sculo.
Est aqui um dos pontos nucleares para estabelecer uma distino com as prticas de identificao e
de anlise de assunto anteriores e posteriores ao oitocentos.
Podemos, de qualquer modo, pontuar que as mquinas mimticas trazidas pela revoluo
industrial e a urbanizao mudam radicalmente as formas de medir e de distribuir a vida entre as
fraes de horas. A tarefa do indivduo de perceber como ele se desenvolve biolgica e socialmente
distinta aps o sculo XVIII. O mundo da cidade e suas indstrias estabelecem uma nova forma de
intenso e de extenso da vida.
Essas mudanas de percepo, no mbito da construo da cincia, funcionam de maneira
radical, do mesmo modo. Reconhecendo o ideal de uma linguagem oral para a transmisso da
palavra filosfica, desde Plato ao correr do neoplatonismo do Medievo, e o rpido processo de
apropriao da palavra morta (segundo a viso do filsofo da Academia), ps inveno das
universidades, como elemento crucial para transmisso filosfica, percebe-se a profundidade de tais
mudanas. O conhecimento se traveste na palavra escrita e a Bibliologia se desenvolve de maneira
dinmica a partir do sculo XIII.
A demanda por uma revoluo tecnolgica conduz adaptao da prensa da ourivesaria, o
que pode ser compreendido, no mundo bibliolgico, como o verdadeiro incio da revoluo
industrial, ponto de inflexo que pode ser encontrado em alguns historiadores. preciso pontuar
que a indexao, responde, deste modo, por um novo ritmo, uma nova velocidade, ou, at mesmo,
por uma nova medida, no mbito do oitocentos.
Os mltiplos e singulares saberes se espalham e os novos modos de conceituar o biblin, como
a literatura peridica, estabelecem a demanda por uma teoria que acompanhe este movimento. A

92
noo de tempo do conhecimento imposta na cincia do oitocentos convoca uma teoria da
organizao do conhecimento voltada para este ritmo. A indexao, neste sentido, est ligada
resposta a um saber se pauta na atualizao constante e nas novas descobertas tcnico-cientficas,
que tomam o conhecimento como documentado.

5 A indexao no oitocentos: o conhecimento e as cascas de nozes lanadas no
tempo

How many books have you ? or,
Have you a fund for the purchase ot books?
Would it not be equally pertinent to ask,
What means have you adopted to make your books most useful ?
Until this question is answered the working
power of no library can be correctly estimated.
Otis H. Robinson, 1876

Constatadas as questes pertinentes s transformaes pr-sculo XIX e aquelas que
desembocam na segunda metade do perodo demarcado, buscamos aqui elementos para uma
epistemologia da indexao presentes nas publicaes do oitocentos. No momento, nos
concentramos na obra Public Libraries in the United States of America e em alguns trabalhos
semelhantes presentes nos primeiros nmeros do Library Journal.
Delimitamos nossa anlise, para o momento, no trabalho de Robinson (1976), On indexing
periodical and miscellaneous literature, pelo olhar objetivo voltado para a indexao. Publicado como
captulo da obra Public Libraries in the United States of America, o contedo do documento est
discutido em suas questes centrais nos primeiros nmeros do Library Journal. Procuramos
demarcar o debate sobre a indexao no oitocentos a partir da viso de Otis H. Robinson (1876),
bibliotecrio e professor da Universidade de Rochester, recuperando as discusses previamente
analisadas e desenvolvendo alguns aspectos identificados pelo terico da segunda metade do sculo
XIX.
No mesmo contexto, Dewey (1876) demonstra a relevncia da prtica convergente entre
diferentes profissionais na construo de catlogos e de ndices. Percebe-se ainda a questo da
demarcao ainda inexata de vocabulrios, apresentando-se termos como catalogao de
assuntos, ndices, ndices de assunto. Em Robinson (1876), a preocupao com a indexao est
relacionada objetivamente com a profuso de uma literatura peridica e de miscelneas que
identificam um desafio cada vez mais amplo para os pesquisadores, professores e alunos no que diz
respeito ao acesso aos documentos.

The tendency, I think, is to make the regular course cover all that is
new by lectures supplementary to the old. This makes an extraordinary
demand upon the time and strength of student as well as teacher. It is
desirable that a student be as good a linguist and mathematician today as
was the college student one hundred years ago, and at the same time that
he acquires a fair knowledge of chemistry, and geology, and zoology, etc.,
of which such student never dreamed (Robinson, 1976, p. 664, grifo nosso).

Mais do que a literatura cientfica, a literatura tcnico-industrial tambm preocupao no
contexto. Em Samuel S. Een (1876) verifica-se a relevncia da relao entre bibliotecrios e
pesquisadores e profissionais interessados em patentes. Em foco, est determinada ali a importncia
do bibliotecrio como figura que pode encurtar as etapas que levam ao acesso do documento,

93
reduzidas atravs de sistemas concentrados no assunto, como o caso dos ndices. Em linhas gerais,
o trabalho de Robinson (1876), visualizado ao lado de outros, como Dewey e Een, pode ser
identificado a partir das seguintes constataes conceituais, que evidenciam o desenvolvimento da
indexao no oitocentos.

5.1 A literatura peridica um outro livro para um outro tempo do conhecimento...

O bibliotecrio norte-americano pontua claramente, na abertura de seu trabalho, a diferena
entre os livros tradicionais e a nova forma do livro, dinmica, pautada na atualizao, a literatura
peridica. Esta carece de processos distintos e de uma nova forma de indexao.

And, besides, he must be up to date in the ever increasing practical
applications of what is learned in theory. In short, the field of study is
rapidly widening, while the period allotted to student life remains nearly
the same. What is demanded, therefore, is knowledge in nut shells.
There is no time to waste. The classical student needs the mature essays
of Arnold and Hadley to settle forever the questions which arise in his
reading and help him in forming a correct classical taste ; the student of
science cannot do without the lectures and fragments of Helmholtz and
Herschel, and Tyndall; and both must have the reviews, and magazines,
and reports of learned societies without stint. I would say nothing to
disparage extended courses of general reading, but this work of
supplementing a college course during the period of student life must be
largely done by the use of monographs (Robinson, 1876, p. 664, grifo
nosso).

Tanto a questo conceitual de abertura da ideia de livro como a transformao da noo
tempo-conhecimento identificada no pensamento do autor. A metfora da casca de nozes
exemplifica claramente a preocupao com a especializao cientfica e a demanda por atualizao,
nova caracterstica do conhecimento. Na viso robinsoniana, no h tempo a perder e esta
demanda est diretamente ligada ao reconhecimento dos novos livros e ao desenvolvimento da
indexao como teoria avanada dos estudos biblioteconmicos, direcionada aos documentos
efmeros e peridicos.

5.2 Quando a descrio no encontra o mundo

Robinson (1876) destaca a impossibilidade psquica de busca de contedos em um contexto
marcado pela profuso de novas obras que tratam de recentes reas cientficas. O autor aponta a
experincia do ndice Poole tambm mencionado futuramente por Paul Otlet -, exerccio histrico
de prtica oitocentista na indexao. As prticas de descrio propiciadas por outros ramos
disciplinares da organizao do conhecimento no responderem por esta demanda especfica, de
cunho temtico.

But the practical value of books depends largely upon the facility with
which they may be used. I have said that when the titles of books do
not clearly suggest their contents, a general catalogue is of little use
in finding what they contain on a given subject. Suppose that in a
library of 20,000 volumes there are 2,000 of this class, and that they

94
contain, on an average, five valuable essays to a volume, you have then
10,001) essays, or half as many as there are volumes in the library, whose
value is far above the average of the library. Every reader knows that these
2,000 volumes, or 10,000 essays, contain something on nearly every subject
he wishes to investigate, but how shall he make them give down what
they contain on any particular subject? I remember, when a college
student, spending many a leisure hour looking through the tables of
contents of these books, volume by volume, and noting the volume and
page of such as came within the range of my study (Robinson, 1876, p. 665,
grifo nosso).

Colocando em pauta a relao epistmica entre Catalogao e Indexao, o autor demarca seu
esclarecimento na relao de dependncia, mas tambm de limite entre tais saberes e as
possibilidades de acesso ao conhecimento. A representao descritiva apresentada em suas
limitaes diante da profuso de contedos de cunho tradicional, efmero e\ou peridico.
Descrever, atividade elementar, carece de uma ampliao de ordem temtica: a indexao
fundamental para o conhecimento das coisas a partir de seus assuntos particulares.

5.3 Da mquina bibliolgica indstria da indexao e economia do assunto

tambm pontual no pensamento de Robinson (1876) a necessidade de construo de uma
economia do assunto: um amplo esforo terico-tcnico de transformao das possibilidades de
acesso aos contedos cientficos e industriais como resposta a uma indstria bibliolgica em marcha
acelerada.

Every library needs, and needs very much, an index to its own books
of the class described, but the libraries are too few, and the wants of nearly
all too far below the maximum to warrant publishers in keeping a general
index up to date. Moreover, should be done, the annuals would soon
become so numerous as to make their consultation inconvenient, to say
the least (Robinson, 1876, p. 666).
[]
Next to a continuous catalogue, every library needs a continuous
index. Where printing immediately is not contemplated, the card system is
rapidly coming into use for the catalogue. After quite the extensive
correspondence on the subject, I think no single plan has been generally
adopted for the index. The general expectation among librarians seems to
be that somebody will publish a general index (Robinson, 1876, p. 666).

A reposta de Robinson (1876) para a questo est tanto em uma angstia relacionada com a
demanda urgente de transformao das prticas de representao temtica, como na necessidade
de desenvolvimento de solues terico-tcnicas (como a seguir problematizamos). Em linhas
gerais, pode ser percebido, no discurso do autor, a emergncia de uma indstria da indexao,
pautada, por exemplo, na elaborao de ndices, como resposta indstria bibliolgica em larga
escala. Tratar-se-ia de uma espcie de economia biblioteconmica pautada no assunto presente
nos artefatos de natureza mltipla produzidos pelo homem moderno.

95
5.4 Das tecnologias da indexao: um tipo de artefato flexvel para suportar a
flexibilidade das entradas de assunto do mundo cientfico...

Outro destaque para a indexao no oitocentos encontrado em Robinson (1876) a
necessidade de desenvolvimento de uma tecnologia especfica para a prtica da representao
temtica de documentos seriados. Seu relato pormenorizado sobre a prtica e o desenvolvimento
tecnolgico que acompanha a construo desta o reflexo da preocupao do bibliotecrio com a
urgncia de inovao no terreno da tcnica.

The plan I have adopted is designed to meet both the requisitions [],
provision being made however, for the insertion of new references, not
from day to day, but only once or twice a year. My plan was matured and
my old index copied and put into working order in the new form in
the summer vacation of 1873. It then contained not far from ten
thousand references. It proved so convenient and useful the following
year, both to students and other readers, that, when the vacation of 1874
came, I inserted in it the titles of the articles of every valuable book of the
class mentioned in the library. It now contains little less than fifteen
thousand references, or more than the number of volumes in the entire
library. The facility with which it can now be kept up to date will
appear below (Robinson, 1876, p. 666, grifo nosso).

Aps a apresentao inicial de seu relato, Robinson (1876) procura, pontualmente, descrever
e ilustrar (conforme apresentamos na figura abaixo), a teoria e a tcnica da indexao em sua
experincia.

Figura 1. Ilustrao da tcnica e tecnologia da indexao em Robinson (1876)
As imagens so resultado do processo de adaptao dos formatos de registro e metarregistros
de contedos, bem como do mobilirio para o acesso aos documentos atravs do assunto. No sendo
o foco do presente trabalho, deixamos de apresentar os detalhes desta descrio, apenas
identificando, com a FIGURA 1, a relevncia e a sistematizao dada pelo bibliotecrio ao processo
da representao temtica. Destaca-se, para alm da tcnica descrita e da prtica narrada, a viso de
Robinson (1876) da necessidade de uma alternativa dinmica para facilitar a recuperao de dados a
partir do assunto.

96
5.5 A pena do indexador: um profissional subjetivo no cenrio da organizao do
conhecimento

Naturalmente, h que se ter um profissional focado na anlise de contedos no mbito da
prtica da organizao do conhecimento. Encontramos, ao longo do trabalho de Robinson (1876),
mas principalmente nos pargrafos finais, o destaque ao desenvolvimento de um ator especfico na
prxis do domnio central da Biblioteconomia, o indexador.

Think of a valuable historical article on steam navigation, written for
one of the British quarterlies at the time the Great Kastern was launched,
as indexed under its fancy title, Triton (The) and the Minnows; or, of a
long article in the North American Review at the close to the war,
reviewing the Rebellion Record, as indexed Scotch the Snake or Kill It, or
Snake, Scotch or Kill it. Some writer have fancy for such taking titles, and
the indexer must be able to reject them promptly, and substitute whatever
his own judgment dictates (Robinson, 1876, p. 671, grifo nosso).

Em suas reflexes finais, Robinson (1876) atenta a comunidade de tericos e de profissionais
do campo da organizao do conhecimento para o papel estratgico e emergente do indexador.
Importante em sua identificao a forma clara como percebe a distino deste para outros
artfices da prtica biblioteconmica. Neste sentido, ganha destaque uma das questes cientficas
mais delicadas para a histria e para o desenvolvimento da representao temtica, a questo da
subjetividade. Narrando processos tpicos do fazer da indexao, o bibliotecrio pontua com
segurana o papel subjetivo, e, ao mesmo tempo, a necessidade da subjetividade, da prtica do
indexador diante do desafio de ultrapassar a descrio na busca pela ampliao dos potenciais de
qualidade de um sistema bibliogrfico.

Consideraes finais

Da passagem do sculo XIX para o sculo XX, observamos mutaes mais rpidas que aquelas
vislumbradas anteriormente. O destaque central o trabalho de Paul Otlet, sua identificao das
cincias bibliolgicas e a demarcao da revoluo bibliogrfica permitida pelos projetos
internacionais e por distintas teorias no mbito da organizao do conhecimento. O filsofo
bibliolgico est, por sua vez, no corao da teorizao de uma episteme para a representao
temtica. Evidenciamos a emergncia de investigaes histricas e filosficas, que partem do olhar
aqum da revoluo otletiana, e que procuram perceber os aspectos socioculturais de
sedimentao dos conceitos da organizao do conhecimento.
preciso reconhecer, pois, dois movimentos: em primeiro lugar, a expresso do
desenvolvimento anglfono na organizao do conhecimento no sculo XIX; em segundo lugar, o
reconhecimento de Paul Otlet nas cartas trocadas com Melvil Dewey, buscando a expresso do
conhecimento. Serrai (1975), ao pensar o conceito de biblioteca no tempo, destaca que no oitocentos
a histria das bibliotecas a histria do pensamento biblioteconmico produzido em lngua inglesa.
preciso, ainda, pensar que a indexao, como outros conceitos candidatos a uma
cientifizao no seio da organizao do conhecimento, um elemento importante para a
democracia, integrando um discurso anglfono de publicizao do conhecimento. Ela ocupa, uma
vez identificada no oitocentos, um lugar fundamental na construo tanto poltica quanto cientfica
da sociedade contempornea quele contexto.
Identifica-se, por fim, neste estudo, que a prpria questo da organizao do conhecimento,
como disciplina, domnio e\ou ncleo central dos estudos hoje predicados como da informao,

97
colocada em pauta crtica quando olhamos para o oitocentos. Afloram aqui questes como: qual o
conhecimento que se organiza, que noo de conhecimento aqui se impe e que noo de
ordem aqui se aplica? Estas questes so fundamentais para o reconhecimento histrico-
epistemolgico do atual campo em construo.

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98

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SERRAI, A. (1975). Histria da biblioteca como evoluo de uma ideia e de um sistema. R. Esc.
Bibliotecon. UFMG, 4, 2, 141-161.

99
PROPUESTA DE ACTUALIZACIN DE MACRO-TESAUROS A PARTIR DE NOTICIAS DE DIVULGACIN
CIENTFICO-TECNOLGICA
Updating proposal of macro-thesauri from popular science news

MARA-JOS BAOS-MORENO
Universidad de Murcia
[email protected]

JUAN-ANTONIO PASTOR-SNCHEZ
[email protected]

RODRIGO MARTNEZ-BJAR
[email protected]

Resumen Los tesauros son herramientas de organizacin del conocimiento necesarias para el control de la
informacin, ms an en el mundo de la informacin digital. Sin embargo, muchos de ellos adolecen de una
falta de actualizacin que reduce considerablemente su utilidad. Este trabajo tiene precisamente como
objetivo analizar el grado de actualizacin de dos de los tesauros ms importante, el de la UNESCO y el de la
Unin Europea (Eurovoc). As, para la descripcin de artculos de prensa, se procedi a la extraccin de
trminos descriptivos de contenido a partir de titulares de artculos de divulgacin cientfico-tecnolgica
publicados en prensa digital. A continuacin mediante tcnicas de Recuperacin de Informacin se buscaron
equivalencias con los tesauros mencionados anteriormente. Los resultados obtenidos muestran un nivel de
equivalencia exacta o cercana que ronda el 50%. Este porcentaje se aproxima al 75% considerando
equivalencias jerrquicas y asociativas. Este dato permite confirmar que ambos macro-tesauros pueden ser la
base para elaborar otros vocabularios. En el caso concreto de su aplicacin para la indizacin de noticias de
divulgacin cientfico-tecnolgica, Eurovoc es ligeramente mejor que el Tesauro de la UNESCO, puesto que los
trminos y relaciones estn ms actualizados. El nivel de equivalencia exacta o cercana indica que las noticias
de divulgacin cientfico-tecnolgica constituyen una fuente adecuada para la actualizacin de tesauros bien
para la inclusin de nuevos trminos o para la redefinicin de las relaciones entre estos.

Palabras-clave Tesauro de la UNESCO. EUROVOC. Noticias de divulgacin cientfica. Actualizacin de
tesauros. Apache Solr.

Abstract Thesauri are knowledge organization instruments, necessary for the information control, especially
in the digital information world. But many of them suffer a lack of update that reduces its usefulness. This
work analyzes the updating level of two important thesauri: the UNESCO thesaurus and the European Union
thesaurus (Eurovoc) to describe newspaper articles. We proceeded to the extraction of descriptive terms from
popular science articles headlines published in digital press. Using Information Retrieval techniques
equivalences were searched in both thesauri. Results show an exact equivalence level around 50%.
Considering hierarchical and associative equivalences this percentage is close to 75%. This data confirms that
both macro-thesauri can be the basis for developing other vocabularies. In case of their application for
indexing popular science news, Eurovoc is slightly better than the UNESCO thesaurus, since terms and
relationships are more updated. The exact or close equivalence level shows that popular science news are a
proper source for updating thesauri for inclusion of new terms or to redefine the relationships between these.

Keywords UNESCO Thesaurus. EUROVOC Thesaurus. Popular scientific news. Updating thesaurus. Apache
Solr.

100
Introduccin

Con la generalizacin de Internet, buena parte de la actividad humana se ha desarrollado en
la web, provocando un crecimiento exponencial de datos e informacin en la Red. El abaratamiento
y desarrollo de las tecnologas de la informacin, la aparicin de nuevas formas de conectividad y la
ampliacin de los espacios de almacenamiento (Sweeney, L. et al. 2001) no han hecho ms que
incidir en este aumento, generando cantidades enormes de recursos desorganizados, duplicados o
desactualizados, entre los que encontrar la informacin buscada termina resultando un trabajo
arduo (Pastor-Snchez, J.A. 2009).
En este contexto, el control del vocabulario se revela como un procedimiento esencial (Soler-
Monreal, C. y Gil-Leiva, I., 2011) que se materializa en el desarrollo de mecanismos para evitar la
dispersin informativa y facilitar la localizacin de datos de manera rpida, precisa y relevante,
aplicando herramientas como el tesauro (Observatorio Estatal de la Discapacidad, 2009). Este
producto de organizacin del conocimiento (Smiraglia, R.P., 2012) es definido por la norma ISO
24964-1 (2011) como un vocabulario estructurado y controlado en el que los conceptos son
representados mediante trminos, facilitando as la representacin unvoca del contenido de
documentos y consultas (Slype, G. van, 1991: 24).
El uso de un tesauro es prcticamente imposible sin una adaptacin previa a la realidad de
cada coleccin u organizacin en que se utiliza. Habitualmente se construye un tesauro ad hoc y
desde cero, previo anlisis de las necesidades especficas de descripcin y recuperacin de
informacin del sistema, y mediante la incorporacin de trminos y relaciones obtenidos a partir de
la indizacin de documentos del sistema (mtodo deductivo) y/o de herramientas ya elaboradas,
como diccionarios, enciclopedias, ontologas, manuales y tesauros (mtodo inductivo).
Para ese proceso de induccin, dos de los macro-tesauros
1
ms empleados son el de Unesco y
el de Unin Europea o Eurovoc (en adelante TUNESCO y TEUROVOC). Una muestra de este uso
concreto lo encontramos en Garrod, P. (2000), Garca Jimnez, A. (2002), del Valle Gastaminza, F. y
Garca Jimnez, A. (2002), Shiri, A. et al. (2004), Kolar, M., et al. (2005), Castillo Blasco, L. (2006),
Orenga-Gaya, L. y Giralt, O. (2011) y Fernndez-Quijada, D. (2012), entre otros.
TUNESCO fue publicado por primera vez en 1977 por y para la propia organizacin, y se
centra en los campos de educacin cultura, comunicacin e informacin, ciencias naturales, sociales
y humanas (UNESCO, 1995). Desde entonces, ha sido actualizado varias veces (la ltima en 2008),
traducido a mltiples idiomas (Ewketu, M. 2011; Fernndez-Quijada D., 2012) y publicado en la web
utilizando SKOS
2
. Se trata de un tesauro multidisciplinar, multilinge y monojerrquico.
Por su parte, TEUROVOC fue creado en el seno de la Unin Europea para gestionar con
eficacia sus fondos [] y permitir a los usuarios efectuar bsquedas documentales utilizando un
lenguaje controlado. Ha sido actualizado en varias ocasiones (la ltima en 2012), traducido a todos
los idiomas de la Unin y adaptado a la norma ISO 25964-1, a partir del primer borrador de la
misma, publicado en 2009 (UNIN EUROPEA, 2012). Es multidisciplinar (aunque con un carcter
poltico europesta), multilinge y polijerrquico.
Pero, para que un tesauro sea til, es necesaria una actualizacin frecuente, con la revisin de
trminos y conceptos, y la redefinicin de sus relaciones. Segn Prez Agera, J.R. (2004) el objetivo
no es otro que incorporar la terminologa derivada del desarrollo de la ciencia o materia a la que se
dedica (), cubrir lagunas o fallos detectados durante su utilizacin, as como adaptarlo a las
necesidades de recuperacin manifestadas por los usuarios. El mismo autor apunta precisamente
que la falta de actualizacin es un problema habitual en estas herramientas, y lo es tanto desde un
punto de vista conceptual (nuevos significados sin representacin por uno o ms significantes)

1 Un macro-tesauro, a diferencia de un tesauro, est integrado por amplias reas del conocimiento de las que cualquiera
de ellas podran dar lugar a un tesauro especfico [denominado micro-tesauro] bien diferenciado. Por ejemplo, Lpez
Alonso, M.A. (2003), define cita el Macro-tesauro conceptual para los centros espaoles de informacin juvenil.
2 Disponible en: http://skos.um.es/unescothes/?l=es

101
como lxico (nuevos sinnimos significantes- no recogidos en la herramienta), lo que da lugar a
tesauros desfasados y con una utilidad relativa, ya que son incapaces de representar adecuadamente
el contenido de los documentos del sistema.
Este trabajo tiene como objetivos analizar el grado de actualizacin de TUNESCO y
TEUROVOC y determinar su aplicacin para describir artculos de prensa. Tambin se plantea la
posibilidad de renovar ambas herramientas a partir de palabras clave extradas de textos
periodsticos.
Para ello, tal como se describe en el apartado de metodologa, se han indizado titulares de
artculos divulgacin cientfico-tecnolgica de peridicos de los pases ms representativos en estas
reas. Posteriormente se detalla el proceso por el que Apache Solr ha buscado equivalencias entre
los trminos extrados y los de ambos tesauros. A continuacin se discute acerca de los resultados
obtenidos en relacin a determinados aspectos positivos y negativos de los macro-tesauros en
cuanto al nivel de actualizacin de sus trminos y relaciones. Finalmente, se presenta una serie de
conclusiones y sugerencias a partir de los resultados obtenidos.

1 Metodologa

Para la actualizacin de tesauros, como hemos visto, podemos emplear un mtodo deductivo,
extrayendo trminos y relaciones de documentos internos del sistema. En este caso, por el
contrario, hemos recurrido a elementos externos, esto es, titulares de noticias publicadas en diarios
internacionales, como fuente para esa extraccin, ya que:

1) Se trabaja sobre un corpus de menor tamao. Las noticias tienen una extensin
menor, en general, que cualquier informe o documento de trabajo integrado en un
sistema documental como el de la UNESCO u EUROVOC, por ejemplo, lo que agiliza el
anlisis de contenido;

2) La informacin periodstica posee unas cualidades que la convierten en una fuente de
enorme potencial para la renovacin de muchos tesauros, sean de mbito general o
especializado. Concretamente, en el caso de TUNESCO y TEUROVOC, destacan las
siguientes:

o Actualidad: Buena parte de lo que ocurre en el mundo se refleja y transmite al
pblico a travs de la informacin periodstica (sea por medios convencionales o
no). Esto nos asegura que el tesauro incorporar los trminos ms utilizados y/o
novedosos;
o Inmediatez, especialmente a travs de Internet. El tiempo que transcurre entre un
acontecimiento y su publicacin en prensa es reducido (y cada vez ms);
o Cobertura geogrfica y temporal: Un asunto con carcter noticioso es analizado por
medios locales e internacionales a cuya informacin se puede acceder va web en
cualquier momento y lugar;
o Contrastacin de la informacin antes de su publicacin. As, las noticias estn
avaladas por la poltica de trabajo del medio. Adems, la cobertura simultnea de
un mismo hecho facilita un conocimiento ms completo de lo acontecido;

102
o Normalizacin. A travs de las guas de estilo de cada diario se establece, entre
otros, cmo se transcribirn determinados neologismos, palabras en otros
idiomas, etc;
o Generalidad y especializacin. Los diarios recogen noticias de mbito general y
especializadas. En este ltimo caso suelen ser redactadas por periodistas que,
habitualmente, tienen una formacin en el rea o, directamente, especialistas
cuya actividad profesional se circunscribe en la misma.

3) La seccin de divulgacin cientfico-tecnolgica poseen adems otras condiciones
propias de su especificidad:

o Inters divulgativo. La informacin periodstica informa, forma y entretiene,
cumpliendo un papel fundamental en la divulgacin de los principales
descubrimientos del siglo XX y XXI (Fernndez Muerza, A., 2005a y 2005b);
o Empleo de fuentes acreditadas: Las noticias de divulgacin se nutren de revistas
cientficas para sus publicaciones, con informacin estable y sometida a una
potente revisin y, por tanto menos susceptible a modas, tendencias y recursos
lingsticos;
o Uso y adaptacin de lenguajes tcnicos (Castillo Blasco, L. 2006) para
recontextualizar aspectos del conocimiento o de la prctica cientfica (Alcbar
Cuello, M., 2004).

Teniendo en cuenta lo anterior se procedi a disear una muestra seleccionando
sucesivamente pases, peridicos y titulares de noticias. En primer lugar se estableci un ranking de
pases punteros en ciencia y tecnologa, a partir de cinco parmetros previamente definidos, que
miden el desarrollo cientfico-tecnolgico, seleccionando aquellas naciones que se situaban en los
primeros puestos de, al menos, tres de estos cinco parmetros:

o Gasto Interior Bruto en I+D+i (2008).
o Valor bruto (en dlares) de exportaciones de alta tecnologa (2008).
o Valor bruto (en dlares) recibidos por cada pas, en concepto de royaltys, cnones y
otros por uso de patentes (2008).
o N de artculos publicados por pas (2008).
3

o Total de premios recibidos, por pas, ms relevantes en Ciencia y Tecnologa.
4

Posteriormente, a partir de los datos ofrecidos por 4International Media & Newspaper
5
, se
seleccion el peridico de informacin general de mbito nacional ms popular en cada pas. Esto
es, el diario ms ledo teniendo en cuenta datos de lectura y acceso a la edicin digital e impresa
(dos en el caso de Estados Unidos y China). Las noticias se seleccionaron de las secciones de Ciencia

3 Los datos de estos cuatro primeros parmetros proceden de Banco Mundial (2012) del ao 2008.
4 Premios analizados: Premio Nobel, Medalla Internacional para Descubrimientos Sobresalientes en Matemticas, Premios
Prncipe de Asturias, Premio Abel, Premios Albert-Einstein, Medalla Wollaston, Premio Mundial de Tecnologa, Premio
Turing y Premio Kyoto.
5 Disponible en: http://www.4imn.com

103
y/o Tecnologa de cada medio y fueron recogidas, durante cuatro meses, comprendidos entre el 9 de
marzo y 9 de julio de 2012.
A continuacin se realiz una indizacin asistida por ordenador y en lenguaje natural,
mediante la que se extrajeron entre 1 y 6 palabras clave de los titulares de noticias y se tradujeron a
tres idiomas: Espaol, Francs e Ingls con el fin de determinar la correspondencia terminolgica
entre los conceptos a los que se hacan referencia en los titulares. Esta decisin se tom para
disponer de un mecanismo que permitiera el uso cruzado de dichos idiomas como lenguajes pivote
para desambiguar los casos de homonimia (Areas da Luz Fontes et. al, 2010; Degani & Tokowicz,
2010; Liang, 2001). Para ello se utilizaron herramientas de uso comn, como Word Reference, Linguee,
Google Translator y Wikipedia.
Desde el punto de vista metodolgico se estructur el proceso considerando los siguientes
factores que, segn Nakurawa, M.C. (2009) influyen en la indizacin:

o Qu se indiza. Titulares de noticias de divulgacin cientfica publicadas en diarios de
informacin general. Cuando el titular no es suficientemente descriptivo, la noticia se
descarta, salvo que haya sido cubierta por otro diario ya analizado (y por tanto,
conocida);
o Quin indiza. La formacin, la experiencia en indizacin, el conocimiento del asunto
y el dominio de la herramienta de indizacin son factores clave. En este caso, ya se
haba trabajado previamente con ambos macro-tesauros;
o En qu contexto se analiza. Poltica de indizacin: como norma general, siguiendo a
Currs, E. (1991), se utiliza la forma singular; salvo en ciertos casos, donde es ms
prctico elegir la forma plural para dar mayor sentido a los trminos y evitar
ambigedades y confusiones; necesidades de los usuarios; carga de trabajo; tiempo
dedicado. En este caso se decidi decida entre 2 y 3 minutos a la extraccin de
palabras clave por noticia.

Ms adelante se procedi a realizar una bsqueda de equivalencias de los trminos extrados
con respecto a ambos tesauros. Para ello se construyeron sendas colecciones de documentos a partir
de la terminologa de ambos herramientas, que fueron indizadas en el sistema de recuperacin de
informacin Apache Solr. De esta forma en un nico documento se agruparon (en campos
separados) tanto los descriptores como los no-descriptores de cada concepto en Espaol, Ingls y
Francs. Despus se buscaron automticamente las equivalencias entre los trminos extrados de los
titulares de prensa y los trminos de ambos tesauros. Finalmente se procedi a evaluar los
resultados obtenidos, determinando el grado de equivalencia entre los conjuntos anteriores.

2 Resultados

Siguiendo los criterios indicados en la metodologa, se conform un corpus de 1599 noticias,
de las que para este trabajo se seleccionaron 320 titulares (20%), tal y como se indica en la tabla 1:

104
Pas Medio Secciones CyT N artculos
Alemania Sddeutsche Zeitung Wissen 19
Canad The Global and Mail Technology 21
China
China Daily Sci-Tech 13
The China Post (Taiwn)
Life
Health
21
Repblica de Corea The Korea Times
Science
Technology
22
Espaa El Mundo Ciencia 19
Estados Unidos
The New York Times Science 41
The Washington Post
Energy & Environment
Health & Science
Innovations
38
Francia Le Monde
Plante
Technologies
41
Italia La Reppublica
Scienze
Tecnologia
Ambiente
5
Japn Yomiuri Shimbun Science & Nature 40
Reino Unido The Daily Telegraph
Science
Tecnology
11
Rusia Pravda Science 29
Total artculos 320

Tabla 1. Diarios seleccionados para la extraccin de noticias
Tras la indizacin, se obtuvieron 1018 palabras clave, que se redujeron a 599 al eliminar las
duplicaciones. A continuacin, se tradujeron a castellano, ingls y francs (ver ejemplo en Tabla 2),
obteniendo as un corpus de 1.797 trminos.

CASTELLANO INGLS FRANCS
Acuicultura Aquaculture Aquaculture
Brecha digital Digital divide Foss numrique
Consumo de agua Water consumption Consommation d'eau
Economa verde Green economy conomy verte
Periodismo participativo Participative Journalism Journalisme participatif
Prevencin del crimen Crime prevention Prvention du crime
Tecnologa inalmbrica Wireless technology Technologie sans fil
Vandalismo Vandalism Vandalisme
Tabla 2. Muestra de trminos extrados en castellano, ingls y francs
Despus se construyeron sendas colecciones a partir de los trminos de cada tesauro, sobre
las que se efectan las interrogaciones a partir de los trminos extrados. La estructura para el
almacenamiento de cada concepto fue la siguiente:

105
NOMBRE DEL CAMPO DESCRIPCIN
id Identificador del concepto
type Tesauro del concepto (eurovoc unesco)
des_es Trmino descriptor en Espaol
des_fr Trmino descriptor en Francs
des_en Trmino descriptor en Ingls
nd_es Trmino no-descriptor en Espaol
nd_fr Trmino no-descriptor en Francs
nd_en Trmino no-descriptor en Ingls
Tabla 3. Estructura de campos de los conceptos para su indizacin como documentos en Apache Solr
Despus se buscaron automticamente las equivalencias entre los trminos extrados de
titulares de prensa y los trminos de ambos tesauros. Se realizaron una serie de bsquedas para
cada trmino e idioma. Tras diversos ensayos se obtuvo un procedimiento en el que se realizaban
siete bsquedas (por trmino e idioma):

Bsqueda por palabras en ndice general (Q1).
Bsqueda literal en el campo descriptor (Q2).
Bsqueda literal en el campo no-descriptor (Q3).
Bsqueda lematizada de expresin en el campo descriptor (Q4).
Bsqueda lematizada de expresin en el campo no-descriptor (Q5).
Bsqueda lematizada por palabras en campo descriptor (Q6).
Bsqueda lematizada por palabras en campo no-descriptor (Q7).

Apache Solr proporciona un medida de similitud o score
6
de la consulta con cada uno
de los documentos del sistema. Resulta evidente que las equivalencias literales exactas de
los trminos de los titulares con descriptores y no descriptores permiten determinar una
identificacin de conceptos exacta o muy cercana. Por este motivo a los resultados
obtenidos en las consultas Q2 y Q3 se les ha aplicado un factor de potenciacin de la
medida de similitud o boost de 5 y 3 respectivamente. Experimentalmente tambin se
comprob la necesidad de potenciar los resultados de las bsquedas por palabras en el
ndice general (consulta Q1), aplicando en este caso un boost de 2,5.
Los primeros datos obtenidos al aplicar esta tcnica aconsejaron establecer para la
bsqueda general y las lematizadas un umbral mnimo de score debajo del cual deban
desecharse dichos resultados.
Los resultados alcanzados se analizaron para determinar el tipo de equivalencia
existente entre los trminos de los titulares y los recogidos en los tesauros y se clasificaron
de la siguiente forma:

Trmino correcto (TC): Los trminos de los titulares y del tesauro coinciden tanto en
significante como en significado. Por ejemplo el trmino estudiante extrado de un titular
tiene una equivalencia TC con el trmino estudiante de un tesauro;

6
Esta medida est basada en el mtodo TF-IDF. Ms informacin en:
https://lucene.apache.org/core/4_0_0/core/org/apache/lucene/search/similarities/TFIDFSimilarity.html

106
Trmino sinnimo (TS): Los significantes de titulares y tesauro son diferentes pero hacen
referencia al mismo significado. Es el caso de acuerdo empresarial que tiene una
equivalencia TS de acuerdo interempresarial;
Trmino especfico (TE): El trmino del titular representa un concepto ms especfico que
el del trmino en el tesauro. Ejemplo: clula solar es TE de colector solar;
Trmino genrico (TG): El significante del titular representa un significado ms genrico
que el recogido por el tesauro. Incluye relaciones de clase y partitivas. Las relaciones
enumerativas, a excepcin de las de algunos organismos internacionales y geogrficas, se
reemplazaron por un trmino genrico. Por ejemplo, estudio tiene una equivalencia TG
de estudio de impacto;
Trmino relacionado (TR): Los significados representados por los significantes extrados y
los recogidos en el tesauro mantienen cierta relacin semntica entre s: ladrn de bancos
es TR de banco;
Trmino nuevo (TN): No se encuentra relacin entre significante extrado y significantes
en tesauros. Ejemplo: smartphone es un TN, no recogido en TEUROVOC;
Trmino con falsa equivalencia (TFE): El trmino del titular no mantiene relacin con el
devuelto por Apache Solr, constituyendo, por tanto, una relacin de falsa equivalencia como
ocurre con agujero negro es TNM de mar negro.

No todos los tipos de equivalencia tienen el mismo nivel de relevancia. Por este motivo es
posible afirmar que siempre es preferible una equivalencia exacta (TC) a una de sinonimia (TS).
Tambin es posible que es preferible una equivalencia de TE a una TG, puesto que en el caso de una
equivalencia especfica el significado del trmino de un titular es cubierto por el del tesauro, lo que
no sucede al contrario.
TEUROVOC TUNESCO
Total de equivalencias
Porcentaje de
equivalencias Total de equivalencias
Porcentaje de
equivalencias
TC 290 48,41% 264 44,07%
TS 10 1,67% 14 2,34%
TG 43 7,18% 25 4,17%
TE 42 7,01% 69 11,52%
TR 70 11,69% 75 12,52%
TFE 83 13,86% 69 11,52%
TN 61 10,18% 83 13,86%

Tabla 4. Resultados obtenidos con Solr para los trminos de los tesauros

Respecto a las equivalencias con TEUROVOC, destaca lo siguiente: para casi la mitad de los
trminos (48,41%) se encontr una equivalencia exacta en el tesauro. Ms de un 14% de los trminos
extrados guardan una relacin de jerarqua con los trminos del tesauro y casi un 12% mantienen
una relacin asociativa. Para algo ms de un 24% (144 trminos) no se hall ningn tipo de relacin
o fue una falsa equivalencia, por lo que fueron excluidos del anlisis.
Referente a TUNESCO: Poco ms del 44% de los trminos tenan una equivalencia exacta en el
tesauro. Casi un 16% de las palabras clave obtenidas mantienen una relacin de jerarqua con los
trminos del tesauro. Poco ms de un 12% de los trminos guardan una relacin de tipo asociativo.

107
Adems, se identificaron ms de un 25% de trminos extrados para los que Apache Solr no hall
relacin o era falsa, por lo que, como en el caso de TEUROVOC se excluyeron del anlisis.
A partir de los datos anteriores y para evaluar la eficacia del procedimiento seguido, se
calcul la precisin P de la bsqueda efectuada en cada macro-tesauro [(Cleverdon, C.W. et al.
(1966), Tolosa, G.H. y Bordignon, F. (2008) y Hage, W.R. van et al. (2010)]. Considerando TR
REL
y TR
TOT

como trminos relevantes recuperados y total de trminos recuperados, respectivamente, se
tendra la siguiente ecuacin:

Precisin(P)=
TR
REL
TR
TOT

Es posible realizar varios clculos de precisin: la precisin exacta P
EXACT
considerara como
relevantes nicamente los trminos correctos; la precisin cercana P
CLOSE
tambin tendra en cuenta
los trminos sinnimos; la precisin total P
TOTAL
incluira cualquier tipo de relacin. De este modo se
obtendra los siguientes valores de precisin:

TEUROVOC TUNESCO
P
EX
0,4841 0,4407
P
CLOSE
0,5008 0,4641
P
TOT
0,7595 0,7462
Tabla 5 Resultados de precisin exacta, cercana y total obtenidos con Solr

3 Discusin

Alrededor de 3/4 de las palabras clave extradas guardan algn tipo de relacin tanto con los
trminos de TEUROVOC (75,96%) como con los de TUNESCO (74,62%), lo que da lugar a una precisin
relativa P
TOTAL
alta en ambos casos, situada en torno al 0,75. Esto indica que Solr es capaz de detectar
la existencia de relaciones entre palabras clave extradas de los titulares y trminos presentes en
ambos macro-tesauros, an cuando stas no estn recogidas como tal en los vocabularios. De estas
equivalencias ms de un 25% son de tipo jerrquico o asociativo. Es decir, una bsqueda eventual
por dichas palabras clave no aportar el resultado ms adecuado, produciendo silencio o ruido,
dependiendo del caso.
En este sentido, ambos tesauros revelan cierta falta de revisin de sus trminos y relaciones,
al menos en los mbitos que nos ocupan. Quiz la especificidad de las reas analizadas, Ciencia y
Tecnologa, provoca un incremento en los porcentajes de relaciones jerrquicas y asociativas,
aunque bien es cierto que TEUROVOC incluye una amplia terminologa tecnolgica, derivada de la
profusa normativa desarrollada al efecto en la Unin Europea. Por otro lado, TUNESCO recoge
expresiones ms propias del mbito de la Ciencia y la Educacin, lo que puede dar lugar a lagunas en
la parte tecnolgica que puede que hayan motivado estos datos.
Sin embargo, aproximadamente la mitad de los trminos extrados, clasificados como TN y
TS, de acuerdo a la bsqueda efectuada por Apache Solr, son recogidos por los dos tesauros. Por esta
razn, las precisiones exacta y cercana, (P
EXACT
y P
CLOSE
) son bastante ms pequeas que la precisin
total. De esta forma, al indizar noticias de divulgacin cientfico-tecnolgica, ms de la mitad de los
trminos empleados, en ambos casos, encuentran una equivalencia exacta o cuasi-exacta en ambos

108
tesauros. Ello nos indicara que, pese a lo sealado en el prrafo anterior, existe cierta preocupacin
en ambas instituciones por actualizar estos vocabularios.
Por otro lado, para casi un 25% de los trminos extrados no se encontr ningn trmino con
el que relacionar en ambos vocabularios. En unos casos, se produce ruido, cuando Apache Solr
muestra trminos con los que, en realidad, no existe relacin (falsos equivalentes). En otros, se
genera silencio, cuando el programa no es capaz de encontrar ninguna relacin satisfactoria con los
trminos recogidos en los macro-tesauros. Aqu se encuentra el autntico filn para la actualizacin
de estos vocabularios, pues que una cuarta parte de los trminos extrados no aparezcan
representados debe llevar, cuando menos, a plantearse la utilidad de las noticias de secciones
especializadas para dicha actividad, ms an si tenemos en cuenta las caractersticas de las noticias
de divulgacin cientfico-tecnolgico sealadas anteriormente. En determinados casos, se podra
plantear la inadecuacin de los trminos extrados de las noticias teniendo en cuenta la finalidad y
caractersticas de cada macro-tesauro. As macho alfa podra ser recogido en TUNESCO, por estar
ms enfocado a Ciencia, pero no en TEUROVOC.

Conclusiones y lneas futuras

Los datos obtenidos permiten confirmar que ambos macro-tesauros pueden utilizarse como
base para la elaboracin de otras herramientas de gestin del conocimiento, siendo necesaria una
adaptacin a las necesidades de sus usuarios. En el caso concreto de indizacin de noticias de
divulgacin cientfico-tecnolgica con estos vocabularios o con herramientas creadas a partir de los
mismos, podra decirse que TEUROVOC es ligeramente ms adecuado: aunque TUNESCO tiene un
carcter ms enciclopdico y universal, la frecuencia de revisin de TEUROVOC es mayor, haciendo
que los trminos y relaciones estn ms actualizados.
Las noticias de divulgacin cientfico-tecnolgica son una fuente adecuada para la
actualizacin de tesauros ya que, como se ha visto, cerca de la mitad de las palabras clave extradas
de las noticias son recogidas por los macro-tesauros pero el resto, no, aunque buena parte de stos
s guardan una estrecha relacin de jerarqua o asociacin con los de los vocabularios. De esta
forma, este tipo de informacin puede utilizarse bien para la inclusin de nuevos trminos no
contemplados hasta ahora en los vocabularios o para la redefinicin de las relaciones entre los ya
recogidos.
La especificidad de la temtica de los artculos periodsticos utilizados, procedentes de las
secciones de Ciencia y Tecnologa o similares facilita la renovacin de micro-tesauros concretos de
estas reas. La actualizacin de otros tesauros especializados y/o micro-tesauros podra llevarse a
cabo tambin utilizando noticias de prensa de otras secciones, por ejemplo, economa o cultura.
Para ello, se debe calcular previamente la precisin de los trminos recogidos en los tesauros con
respecto de los extrados mediante la indizacin de las noticias de estas secciones.
Asimismo, las noticias de prensa podran utilizarse para desarrollar y/o actualizar otro tipo
de herramientas de gestin del conocimiento, ms all de los tesauros. Tal sera el caso de las
ontologas, donde las relaciones entre conceptos son mucho ms complejas y definidas.

109
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113
PERSPECTIVAS DE RENOVAO EM CLASSIFICAO ARQUIVISTICA
novos olhares velhos mtodos
1

THIAGO HENRIQUE BRAGATO BARROS
[email protected]

Resumo A classificao Arquivstica uma das atividades mais fundamentais e mais difceis de serem
executadas na prtica medida que a rea no possui parmetros claros para sua execuo. Existem
parmetros no que se relaciona, a classificao de records como a ISO-TR 15489-2 e outras normas relacionadas
a realidade corrente da produo documental. Contudo, mesmo neste universo, na prtica sempre esteve
atrelada, de algum modo, aos princpios de provenincia e ordem original, seja em uma classificao na
instncia administrativa ou nas normas de descrio no universo dos documentos permanentes, estando
relacionadas a um conceito restritivo e funcional de providncia. Durante seu percurso terico, foi atrelada
inicialmente a uma perspectiva neutra e calcada majoritariamente numa perspectiva relacionada a descrio
por catlogos. Anos mais tarde, inicia-se o longo processo de refutao e redefinio desta perspectiva, com a
criao dos planos de classificao estrutural e funcional, buscando aproxim-la da realidade administrativa
das instituies e, na atualidade, as classificaes baseadas no sistema de srie e o vislumbre terico de uma
classificao por item a medida em que a descrio e o conceito de providncia amplia-se. Neste sentido,
busca-se neste artigo traar o percurso histrico e conceitual da classificao Arquivstica por meio da anlise
dos principais marcos tericos do passado e da atualidade, especialmente os autores responsveis pela
enunciao e cristalizao das noes de classificao na realidade Australiana e Canadense. Buscando ainda,
a construo de um panorama terico dos autores dessas correntes (i.e. Brien Brothman, Chris Hurley, David
Berman e Peter Scott) que tem por objetivo redefinir e rearranjar teoricamente os conceitos e prticas
relacionados a esta atividade na atualidade. Sinalizando no horizonte terico-prtico da disciplina as novas
abordagens em classificao, no universo terico e prtico da realidade Brasileira e Latino americana.

Palavras-chave Classificao. Anlise Funcional. Sistema de srie.

Abstract The Archival classification is rated as one of the most fundamental and most difficult activities to
achieve in practice, since the area has no clear parameters for its execution. There are standards which
relates to the records classification as the ISO-TR 15489-2 and other related standards to the records
management. Always been linked, in some way, to the principles of provenance and original order. During its
theoretical development, was initially linked to a naturalistic perspective and related to biological
classification of the nineteenth century. Years later, it begins a long process of redefining and refutation of
this view, with the creation of classification schemes, by structural and functional perspectives with a
relation with the institution administration, and at the present time, the classifications based in the series
system and in a glimpse of a item-level classification. In this sense, this article seeks to trace the historical and
conceptual framework of archival classification, through the analysis of the main theoretical frameworks of
the past and present, especially the authors responsible for enunciation and crystallization of the concepts of
classification in Australian and Canadian reality. Searching further, building a theoretical background of the
authors of these currents (ie Brothman Brien, Chris Hurley, David Berman and Peter Scott) that aims to
redefine and rearrange theoretical concepts and practices related to this activity at present time. Signaling in
the theoretical and practical horizon new approaches to classification in Brazilian and Latin American reality.

Keywords Classification. Functional Analysi. Series System.

1
Gostaria de agradecer a Tom Nesmith e Greg Bak, pelo auxilio e apoio durante a elaborao deste artigo e outros
trabalhos durante o perodo que fiquei como research scholar no programa de Archival Studies da University of Manitoba
e CAPES processo 0807-12-5 PDSE, pelo apoio financeiro.

114
Introduo

A classificao arquivstica uma atividade limite e fundamental para a organizao dos
acervos custodiados em arquivos e esteve atrelada, durante seu estgio inicial, organizao dos
arquivos em fundos que refletiam de modo rudimentar a estrutura do rgo produtor de
documentos.
A problemtica que acompanha esta concepo desenvolveu-se durante o sculo XIX at a
metade do sculo XX, e confirma-se com a anlise de textos do perodo tradicionalmente
referenciados como textos fundadores da teoria Arquivstica, como o Manual dos Arquivistas
Holandeses, e o manual de Hillary Jenkinson, de 1922, podendo ser considerado uma atualizao e
uma reconsiderao a respeito do livro de Feith, Muller e Furin. Agregam-se a este arcabouo
conceitual alguns dos artigos de Jenkinson posteriores das dcadas de 1930 e 1940.
A compreenso e o uso das noes atreladas classificao arquivstica, at este momento,
sempre estiveram relacionadas a uma busca por sistemas "perfeitos" e "naturais" na medida em que
a organizao, produo e custdia dos documentos esto relacionadas a uma necessidade "natural"
das organizaes de produzirem documentos, possuindo uma relao direta com o desenvolvimento
das classificaes biolgicas do sculo XIX
2
.
evidente que esta assertiva encontra-se equivocada na medida em que no existe um
sistema de classificao natural, todos os sistemas, inclusive aqueles que se predispem como
naturais, foram estabelecidos pela percepo e compreenso humana, ou seja, no existe um
sistema de classificao a priori, todas as classificaes so fruto de um percurso construdo
socialmente, debatido e refutado nas esferas institucionais que se relacionam, quer sejam
estruturais, funcionais, por assunto ou codificados.
Contudo, esta perspectiva, majoritariamente positiva e naturalista, comea a se modificar
com a publicao do artigo European Archival Practices in Arranging Records, publicado em 1939 por
Theodore R. Schellenberg. No referido texto, o autor busca fazer uma reviso do que foi pensando
at ento na Europa a respeito do tema, buscando os possveis reflexos desta atividade na prtica
americana.
A classificao comea um longo processo de amadurecimento e reconfigurao baseando-se
nas funes organizacionais, provenincia e avaliao documental.
Contudo, comeam a surgir nos ltimos 20 anos algumas respostas possveis ao fenmeno
classificatrio do documento digital e das novas relaes entre as pessoas e os documentos. Trata-se
da descrio, avaliao e classificao no nvel do item documental e tambm os esquemas de
classificao baseados em sries.
Neste sentido, busca-se neste artigo traar o percurso histrico e conceitual da classificao
arquivstica por meio da anlise de marcos tericos do passado e da contemporaneidade,
especialmente dos autores responsveis pela enunciao e cristalizao da noo de classificao, e
os princpios atrelados concepo de classificaes, ou seja, a provenincia e ordem original.
Busca-se, tambm, a construo de um panorama terico dos autores que na atualidade
buscam redefinir e rearranjar teoricamente os conceitos e prticas relacionados a esta atividade.
Portanto, este trabalho fixa-se no aporte conceitual da classificao, uma vez que a rea da
Arquivologia carece de sistematizaes a respeito de sua histria e teoria.
Assim, discusses de ordem terica so fundamentais para o amadurecimento da disciplina,
visando a suprir lacunas histricas e epistemolgicas j que, na realidade terica brasileira, estudos
como esse so fundamentais para o amadurecimento da teoria e da prtica no pas.

2
Para maiores informaes ver em: BROTHMAN, B. Archives, life cycles, and death wishes: a helical model of record
formation, Archivaria 61.spring, 2006. p.235-269.

115
necessrio destacar que atualmente a rea passa por profunda transformao em seu campo
terico, devido a publicaes de uma srie de autores das correntes anglo-saxnicas que aproximam
a Arquivstica dos mtodos de compreenso e estudo prprio das cincias humanas, como Terry
Cook, Brien Brothman e Tom Nesmith; os que buscam circunscrever o campo de atuao da
disciplina, como Carol Couture e Jean-Yves Rousseau; relacionados com o que pode-se ser chamado
de "funcionalizao da arquivologia" parafraseando, Bak (2012) tm-se os trabalhos de Laura Millar
e Chris Hurley; e autores que estabelecem um contraponto com a anlise funcional e buscam
ampliar o frame em direo classificao por item e multifacetada, como Greg Bak.
Portanto, pretende-se com este artigo alm do apresentar um percurso histrico da noo de
classificao e seus princpios relacionados, discutir os caminhos desta funo na teoria arquivstica
at aqui.

1 Fundamentos histricos da classificao: primeiros passos

A classificao-arranjo enquanto atividade ir iniciar seu percurso a partir do princpio de
respect des fonds, estabelecido em 1841, nos Arquivos Nacionais Franceses modificando a estrutura de
organizao dos documentos arquivsticos por completo, sobrepondo s caractersticas
administrativas estruturais da instituio produtora de documentos a uma classificao temtica
que, para os arquivistas deste perodo, traria problemas organizao devido quantidade e s
caractersticas constituintes dos documentos medievais e do regime anterior revoluo francesa.
Esta percepo, ainda que calcada em uma classificao biolgica e "natural" dos arquivos, foi
fundamental para a racionalizao dos documentos produzidos no perodo napolenico na Frana.
Soma-se ao modelo francs, no de maneira tranquila, os procedimentos administrativos da
Prssia que reuniam:

"[...]todos os papeis, independente do seu estado de transmisso,
forma ou valor, relacionado ao mesmo assunto, ou a uma atividade ou
procedimento sero colocados em unidades lgicas dossis ou processos
que sero reunidos organicamente ou em sua homogeneidade"
(FOSCARINI, 2006, p. 189, traduo nossa).

Apesar de estabelecer uma ordem original de maneira 'artificial', em oposio naturalidade
do fundo, caracterizava-se como uma medida complementar.
No inicio do sculo XX, a classificao d um pequeno salto com as reconsideraes a respeito
do tema publicadas por Hillary Jenkinson em 1922. Para o autor, a classificao divida em duas
partes "a primeira estuda a Administrao da instituio, sua histria e organizao; o segundo
divide os Arquivos em classes e suas subdivises (JENKINSON, 1922, p.81, traduo nossa)".
Esta acepo apresenta um salto em relao ao estabelecido no manual de Muller, Faith e
Fruin que arranja os documentos apenas por fundo. Jenkinson o primeiro a estabelecer a
classificao como uma atividade dividida em fases e que o estudo do contexto dos documentos
fundamental para a construo de um esquema classificatrio.
Para o autor, no que diz respeito primeira fase, a partir do estudo do rgo produtor dos
documentos, possvel estabelecer o contexto com a leitura e estudo dos prprios documentos e, na
segunda fase, perceber a relao que existe entre eles visando construo da ordem original.
Portanto, como no livro de Feith, Muller e Fruin, a ordem original e a provenincia so base
constituinte do processo classificatrio:

116
Se pela histria e evoluo da transmisso dos arquivos fomos capazes
de compreender qualquer coisa, ns devemos deixar claro que a nica
base correta para o arranjo a exposio dos objetos administrativos que
o arquivo originalmente serviu; (JENKINSON, 1922, p.80, traduo e grifo
nossos).

Assim, a perspectiva em classificao bastante restritiva, estabelecendo e definindo os
arquivos nos seguintes termos: Eles [os arquivos] vieram juntos e alcanaram seu arranjo final, por
um processo natural: um crescimento, como de um organismo ou como uma rvore ou um animal.
(JENKINSON, 1980, p.238, traduo nossa).
A maneira pela qual o autor compreendia a classificao est bastante relacionada quela
promulgada no manual holands, uma vez que, teve contato com a traduo francesa do livro.
O autor d a mesma importncia para os conceitos de ordem original e respeito aos fundos,
mas com a diferena do emprego do termo provenincia para significar a mesma coisa.

"O fundo o chefe da Unidade de Arquivo no sistema Continental, a
base de todas as regras de classificao. O mais importante de todos os
princpios da Organizao de Arquivos nomeado como le respect pour les
fonds (JENKINSON 1922, p. 82, traduo nossa).

Jenkinson cria uma nova designao (e uma nova confuso terminolgica)
3
para o conjunto
dos documentos de Arquivo. Estabelecendo um contraponto em relao ao conceito de fundo
estabelecido pelos arquivistas franceses, trata-se do grupo de arquivo.

"O grupo de arquivo definido como os Arquivos resultantes do
trabalho de uma administrao que foi um todo orgnico, completo em
si mesmo, capaz de ser lidado independentemente" (JENKINSON, 1922,
p. 85, traduo e grifo nosso).

Conforme o exposto a respeito da noo de grupo"grupo" ela ora pode ser entendida como
equivalente ao fundo, ora entendida com uma subclasse relacionada a um determinado fundo, que
devido a sua quantidade de documentos e relaes departamentos, ir possuir agncias, sees, etc.
que baseado no critrio do arquivista, pode cham-las de grupo no de um fundo separando,
mantendo a sim sua provenincia inicial.
O grupo acaba por desvincular ou relacionar de maneira errada uma determinada srie
dentro de um sistema de classificao, por exemplo, um processo de compra de materiais de
consumo.
Inicialmente este processo era responsabilidade de uma seo de finanas, por conta do
crescimento da instituio e uma necessidade cada vez maior de compra de materiais, a
administrao resolve criar uma seo especfica s para desenvolver esta atividade.
Se pensarmos sob a tica classificatria de Jenkinson, iremos desvincular esse conjunto
documental e dividi-lo em dois grupos distintos, uma vez que, um novo grupo dever ser formado.
Eliminando toda ordem original relacionada a esta srie, na medida em que no foi a atividade que
se modificou, mas a estrutura administrativa.

3
Ver em :SCOTT, P. The record group concept: a case for abandonment. American Archivist, 29, n. 4, p. 493-504, 1966.

117
Outro ponto fundamental a ser destacado que, a partir da obra de Jenkinson, inicia-se um
longo processo de "naturalizao" da classificao arquivstica, a funo a partir de sua concepo
compreendida como mecnica e natural relacionada prpria dinmica da criao de documentos.
A classificao, enquanto teoria, desenvolve-se de maneira plena a partir da dcada de 1950-
1960 com as publicaes de Theodore R. Schellenberg, Oliver W. Holmes, Ernest Posner, Petter
Scott, dentre outros arquivistas e pesquisadores dos Arquivos Nacionais dos Estados Unidos e da
Austrlia.
Ao mesmo tempo em que a disciplina avana de maneira profunda, a partir da dcada de
1950, ocorre uma ruptura que ir perpetuar-se ao longo das dcadas at a atualidade.
Trata-se da separao de certas atividades e conceitos determinados pela fase em que os
documentos se encontram.
Uma das instituies responsveis por esse acontecimento o Arquivo Nacional Americano,
centralizado na figura de Theodore R Schellenberg que difundiu e popularizou seus mtodos,
separando a classificao como uma atividade tpica de arquivos ativos o arranjo aos arquivos
permanentes, dando incio de uma ruptura sistemtica na disciplina.
Observe-se que anteriormente no existia uma diferena entre estas funes, e o uso mais
corrente era do termo arranjo para designar coisas que, para a arquivstica americana depois de
dcada de 1950, so diferentes.
Eastwood faz uma ponderao fundamental a respeito deste problema terminolgico-
conceitual:

A escolha da palavra arranjo como nome deste processo infeliz. Denota
colocar coisas de um modo aceitvel, uma ordem conveniente, e como arranjar
livros em uma prateleira. A palavra classificao no mais satisfatria, neste caso
denota o arranjo ou a ordenao de coisas por classes e um termo melhor
reservado na Arquivstica para o processo de organizar documentos ativos
(EASTWOOD, 2000, p. 93, traduo nossa).

A partir desta citao possvel perceber a quantidade de problemas terminolgicos e
conceituais que foram criados a partir da dcada de 1950.
Contudo, na atualidade, possvel encontrar autores que colocam o arranjo e a classificao
como sinnimos ou como coisas diferentes dependendo da tradio de atuao acadmica e
profissional.
Esta separao acontece porque se inicia um processo de diviso entre as funes tpicas dos
arquivos administrativos contemporneos e os arquivos histrico-culturais, principalmente nos
Estados Unidos. A classificao estaria, para Schellenberg, relacionada com os arquivos
administrativos e o arranjo, com os arquivos histricos.
Dentre outras mudanas ocorridas pela especializao e diviso dos arquivos em fases, houve
a criao de planos de classificao funcionais. Assim, a classificao dever refletir o conjunto de
atividades e no mais apenas a estrutura do rgo, como se pode perceber na seguinte acepo:

Na criao de um esquema de classificao para documentos oficiais, ento, a
funo, tomada no sentido anteriormente definido, deve ser levada em
considerao, dividindo-se os documentos sucessivamente em classes e subclasses.
As maiores classes ou classes principais podem ser criadas tomando-se por base as
maiores funes do rgo; as classes secundrias, as atividades e as classes mais
detalhadas compreendem uma ou mais unidades de arquivamento, criadas em

118
funo de atos relativos a pessoas, entidades, lugares ou assuntos (SCHELLENBERG,
2003, p. 58, traduo nossa).

A classificao, moldada nestes parmetros, utilizada at a atualidade, por refletir as
caractersticas que muitas vezes no podem ser encontradas nos estudos da estrutura de uma
instituio, dando ao plano de classificao uma caracterstica gerencial no s para as funes de
organizao e acesso aos arquivos, mas prpria instituio criadora dos documentos.
Schellenberg (2003) esclarece que, neste momento, a produo de documentos e a
complexidade das instituies to grande que s possvel o uso de um esquema de classificao
unicamente estrutural se a administrao for estvel, caso contrrio, o esquema de classificao no
iria representar a prtica administrativa, dificultado a avaliao e destinao dos documentos, bem
como sua organizao.
A ciso conceitual e profissional que se inicia na dcada de 1950 gera uma srie de
dificuldades para separar a classificao e o arranjo.
Para Schellenberg so aes distintas, uma relacionada com uma nica agncia
governamental e funcionando como um parmetro de organizao gerencial visando a auxiliar a
administrao a classificao. J o arranjo uma funo relacionada com os arquivos semi-ativos e
inativos, que provm de uma serie de agncias formando grandes grupos de arquivos e regido
pelos princpios da provenincia e ordem original.

O arquivista no est apenas preocupado como o arranjo de documentos de
uma agncia articular, como um record officer. Ele est preocupado em arranjar
todos os documentos sob sua custdia, que podem pertencer a muitas agncias,
muitas subdivises administrativas, e muita documentao pessoal. Ele arranja
seus documentos para uso corrente e no corrente; e ele os arranja com certos
princpios bsicos, no de acordo com princpios de classificao predeterminados
ou formulrios (SCHELLENBERG, 2003, p. 169, traduo nossa).

possvel, ento, perceber a diferena entre a classificao e o arranjo na obra de
Schellenberg: a classificao gerencial e localizada, j o arranjo geral e seu objeto final o uso
social e seu princpio norteador no so as atividades e funes administrativas, mas a relao que
os documentos possuem entre si.
Sobre as classes utilizadas no plano de classificao, foram definidas trs classes bsicas:
fundo, grupo e srie.
At meados da dcada de 1960, o desenvolvimento da classificao e da Arquivstica fruto
em menor ou maior grau deste conjunto de autores e suas respectivas reflexes; baseando-se
neste arcabouo que ser (ou no) construdo uma corrente de pensamento.
A rea passa partir da dcada de 1960 por mudanas e ramificaes de suas teorias das mais
variadas formas e em uma srie de pases.
Neste sentido, buscou-se tipificar o desenvolvimento da classificao especialmente no
Canad e na Austrlia que so, na atualidade, os pases responsveis no s pelas frentes de pesquisa
em classificao, mas tambm pela aplicao destas novas metodologias em seus arquivos, como
avaliao, descrio por srie e a anlise funcional. Estas duas tradies vm, desde a dcada de
1960, buscando novos rumos e maneiras de compreender e aplicar os princpios arquivsticos,
devido em grande parte s condies financeiras favorveis de seus arquivos e do ensino e
institucionalizao da teoria arquivstica nas universidades.

119
2 A classificao arquivstica baseada nas funes: a panaceia arquivstica

A classificao por funes hoje, ao mesmo tempo, o trunfo e o simulacro da Arquivstica,
no sentido de que para alguns autores por esse olhar que se define a atividade como, por exemplo,
para Shepherd and Yeo (2003, traduo nossa): "Esquemas de classificao so baseados na anlise
das funes, processos e atividades"
4
. Esta citao apoia a afirmao anterior, uma vez que, o
processo de construo do plano de classificao est atrelado anlise das funes, ou seja, na
literatura de records management, quando se diz classificao, subentende-se a decomposio das
funes por meio de uma anlise. Tambm encontramos o mesmo tipo de definio na norma ISO
15489-1 (2001, traduo nossa), que estabelece parmetros gerais para a gesto de documentos, e
define: "Sistemas de classificao refletem as atividades da organizao de que so derivados e
normalmente so baseados na anlise das atividades do negcio".
A classificao por funes foi parte de um movimento muito profundo de mudana na teoria
arquivstica devido s padronizaes administrativas e o desenvolvimento da burocracia moderna, a
partir do final de Segunda Guerra Mundial, levando a uma racionalizao e ao mesmo tempo, a um
aumento exponencial da complexidade de produo e uso dos documentos jurdico-administrativos.
A classificao funcional foi, a partir da dcada de 1960, uma das respostas da disciplina para
as mudanas ocorridas na administrao contempornea.
Essa observao baseia-se no estudo da prpria biografia dos grandes responsveis por seu
aparecimento. No Canad, o arquivista, bibliotecrio e historiador W. K. Lamb, nos Estados Unidos, o
historiador e arquivista Ernest Posner e Theodore R. Schellenberg, iro, em algum momento de suas
carreiras, buscar aproximar seus estudos das teorias e prticas criadas pela administrao,
relacionadas gesto e administrao de modo geral, que serviro de base para anlise funcional.
Paul Sabourin, foi durante nos anos 1990 um dos grandes defensores da classificao
funcional, na seguinte conformidade:

A funo (1) qualquer propsito de alto nvel, responsabilidade, tarefa ou
atividade que endereada a uma agenda de planejamento de uma instituio por
legislao, poltica ou comit; (2) tipicamente funes comuns administrativas ou
operacionais relacionadas ao desenvolvimento de programas ou entrega de bens e
servios (3) um conjunto de sries de atividades (de maneira geral, um processo de
negcio) que, ocorre de acordo com uma sequncia descrita, que resulta em uma
instituio ou individuo produzindo o resultado esperado em bens ou servios no
que foi planejado ou delegado a fazer (SABOURIN, 2001, p.144, traduo nossa).

O termo funo para o autor pode ser compreendido baseando-se em uma relao entre os
trs ou apenas um, de acordo com o propsito em que ele usado. Contudo, no a definio que
foi utilizada na prtica na elaborao do BASCS (Business Activity Structure Classification System)
sistema de classificao utilizado pelo governo Canadense, que acaba descrevendo as funes como
um processo e cada processo como uma frmula mecnica e sequencial que pode ser fixada passo a
passo.
Contudo, na realidade, a classificao por funes um dos tipos possveis de classificao
entre muitos outros. No passado, e ainda no presente da disciplina, possvel encontrar sistemas de
classificao por assunto ou por estrutura: muitos dos sistemas que se dizem estabelecidos como
funcionais em uma anlise mais profunda so apenas um reflexo da estrutura interna de um rgo.

4
O mesmo tipo de percepo a respeito da classificao pode ser encontrado, por exemplo, em: HEREDIA, A. H. Archivstica
General: teora y prctica. 7ed. Sevilla: Servicio de Publicaciones de la Diputacin de Sevilla, 1995. DURANTI, L. at all.
Preservation of the integrity of electronic records. Boston: Kluwer Academic Publishers, 2002.

120
O que ocorre muitas vezes um descompasso entre o que fundamentado na teoria e
realizado na prtica, existe um embate latente entre elas, e necessria uma inter-relao entre
ambas que so totalmente complementares. De tal modo que, nos pases responsveis pela
enunciao
5
da classificao funcional, durante as dcadas de 1960-1970 s iro comear
efetivamente a implant-la partir da dcada de 1980, enquanto uma poltica bem desenvolvida.
Neste sentido, possvel dizer que o consenso na rea sobre os procedimentos de anlise
funcional a falta de uma metodologia definida, por exemplo, ORR (2005, p.111, traduo nossa)
observa: "No existe um modelo comum de classificao baseada nas funes, quer seja no nmero
de elementos ou nos nveis ou na nomeao das classes". Outros autores como Cris Hurley, um dos
grandes pesquisadores em classificao na atualidade acrescenta que: "Ainda pouco foi escrito sobre
a cincia e metodologia da anlise funcional" (1993, p. 112, traduo nossa).
Existe uma problemtica fundamental na classificao funcional, relacionada ao
entendimento atual da arquivstica enquanto abordagem metodolgica organizao de
documentos. A anlise por funo colocada como uma maneira fundamental para a compreenso
e organizao de documentos arquivsticos, ou seja, no s a classificao est calcada nela, mas a
prpria descrio e avaliao baseiam-se na decomposio da administrao em funes e
atividades.
Na medida em que autores como Eastwood (1994) e Duranti (1997) defendem que s os
documentos em conjunto so registros e provas das atividades exercidas por uma instituio, ou
seja, qualquer documento que no estiver organizado por sua funo estabelecendo uma relao
com sua provenincia e sua ordem original no pode ser compreendido como documento de
arquivo, restringindo no s a teoria, mas as implicaes prticas da arquivstica como um todo.
O que no se pode negar que a classificao por funes apresenta-se como um avano em
relao quela estabelecida por estruturas, mas seu grande desafio enquanto mtodo estabelecer-
se como tal, o que na verdade, o desafio das reas relacionadas Cincia da Informao e
Documentao.
A dificuldade de estabelecer um mtodo claro corre devido no s complexidade, mas
maneira pela qual as pessoas se relacionam com os documentos de modo geral, muitas vezes tendo
pouca ou nenhuma relao com a sua decomposio por funes.
Neste sentido, a contribuio de Schellenberg para a classificao funcional-estrutural,
pragmtica em sua essncia, torna-se mais fundamental e esclarece seu papel na teoria arquivstica.
De modo que o autor no busca tipificar ou esquematizar o que pode ser compreendido como
documentos de Arquivo ou da necessidade de um fundo ser orgnico em si mesmo, mas que a
classificao funcional facilita o acesso e a avaliao dos documentos.
Este o papel fundamental da classificao arquivstica, facilitar o acesso e contribuir para a
difcil atividade de avaliao.
A compreenso fundamentalmente pragmtica da classificao de Schellenberg auxiliou a
criao da teoria de macroavaliao
6
, sendo hoje aplicada em uma srie de pases na Amrica do
Norte e Europa.
A macroavaliao ajuda a compreender as grandes deficincias de um sistema de classificao
por funes, especialmente quando se busca estabelecer parmetros de avaliao por funes em
uma massa documental que foi organizada por assuntos em tempos anteriores anlise funcional.

5
A saber: Estados Unidos, Canad e Austrlia
6
De acordo com (COOK, 2001, p. 30, traduo nossa): O modelo de macroavaliao foi desenvolvido primeiramente para
avaliar os documentos do governo Canadense, por exemplo, encontrar sanes para determinar o valor do que pode ser
destrudo e o que permanece, no em como configura o estado, como tradicionalmente feito, ou em seguir as ultimas
tendncias da pesquisa histrica, como mais recentemente, mas buscar refletir valores da sociedade atravs da anlise
funcional das interaes entre o Estado e o cidado.

121
Catherine Bailey (1997) e Greg Bak (2012) descrevem os problemas que foram encontrados
durante o inicio do processo de Avaliao na Library and Archives Canada (LAC) que, assim como na
realidade americana, muitos documentos estavam e ainda esto, organizados por assuntos,
dificultando o uso de um mtodo de avaliao fundamentado no estudo das funes, o trabalho de
decomposio dos "assuntos", e a reinveno funcional provou-se no s trabalhosa, mas
esterilizante da aplicao do mtodo preconizado pela macroavaliao.
No mesmo perodo de aplicao da macroavaliao nos Arquivos Nacionais Canadenses, em
meados da dcada de 1990, devido s dificuldades encontradas na realizao da avaliao, a
instituio buscou esquematizar metodologicamente como os departamentos deveriam utilizar a
classificao funcional em seus documentos, com a criao do sistema BASCS. possvel encontrar a
listagem dos seguintes benefcios com a aplicao do sistema:
Os benefcios da classificao funcional para a gesto da informao, administradores, especialistas em
informao e usurios:
permite que a instituio demonstre as relaes entre as atividades empresariais e as provas dessas
atividades de forma aberta e responsvel;
estabelece ligaes entre registros individuais que se combinam para proporcionar um registro
contnuo da atividade institucional;
permite a identificao de registros ao longo do tempo, garantindo registros que so mapeados de
forma consistente para atividades institucionais;
Auxilia os usurios a navegar partir de termos no-preferenciais termos de busca preferenciais;
faz recuperao de informao de modo mais eficaz;
determina proteo e nveis de acesso, ou permisses para utlizao, apropriados para conjuntos
especficos de documentos,
auxilia no gerenciamento de perodos de reteno e atividades de disposio de documentos.
transforma a informao em ativos reais, fornecendo a infraestrutura adequada para as pessoas
encontrarem informaes que os ajude a fazer o seu trabalho;
permite melhores desies do dia a dia em cada departamento, fornecendo sistemas aperfeioados de
gesto da informao;
reduz os custos relacionados com a duplicao desnecessria e armazenamento de registros
elimina a necessidade de redesenhar sistemas de classificao que so baseados em estruturas de
organizao, introduzindo uma abordagem mais estvel o BASCS;
torna mais fcil decidir quanto tempo para manter ou destruir documentos;
capacidade de encontrar informaes teis para apoiar o seu trabalho;
torna mais fcil a classificar os registros no ponto de criao, contribuindo para o bem da instituio
informao de base;
Recuperao de informaes de maneira mais eficiente;
facilitar o compartilhamento de informaes dentro de grupos de trabalho e atravs do Governo do
Canad;
facilita o acesso a ferramentas, modelos e melhores prticas de outros especialistas dentro de suas
comunidades funcionais;
melhor controle sobre os seus documentos;
permite aos usurios manter registros apenas enquanto eles so obrigados a partir de um negcio ou
ponto de vista legal,

122
permite que cada funcionrio a ser contratado no gerenciamento de registros atravs de seu ciclo de
vida. (adaptado de Library and Archives Canada, 2012, traduo nossa).

A classificao por funes apresentada como um grande avano na racionalizao e
organizao dos acervos arquivsticos, contudo, caso se considere em como as agncias se
relacionam e as mudanas que ocorreram nas administraes pblicas e privadas a partir do
aparecimento da produo eletrnica de documentos, o uso da classificao funcional provoca um
gasto humano e de recursos elevado, medida que necessria a decomposio das competncias
administrativas em funes, provando-se muitas vezes uma tarefa difcil e desnecessria, uma vez
que as pessoas no se relacionam com os documentos de modo "funcional".
Neste sentido, Foscarini, (2009, p. 42, traduo nossa) pondera:
[...] em um ambiente real de trabalho, nem todas as transaes
administrativas necessariamente geram um processo, como assumido na BASCS.
Alguns escritrios podem achar conveniente devido aos seus negcios, por exemplo,
manter todos os documentos originados de um processo, ou at mesmo uma funo
completa, unidos em uma mesma pasta. [...] Nos locais onde o fluxo de trabalho
objetivo principal para o design da classificao, ao invs da anlise dos fluxos
documentais ou das necessidades dos usurios, o nveis mais baixos do esquema
tendem a tornar-se muito detalhados e causar uma fragmentao excessiva e como
consequncia, usurios podem achar a classificao complicada e os arquivistas
podem achar difcil mant-la atualizada.

A classificao por funes foi uma resposta importante realidade administrativa das
dcadas de 1970-1990, entretanto, a partir do aumento da produo de documentos em meio
eletrnico e, mais ainda, devido ao desenvolvimento das tecnologias de comunicao, modificou-se
a forma como as pessoas se relacionam com os documentos, e houve mudanas na estrutura
administrativa das instituies.
A classificao por funes apresenta elementos fundamentais que permeiam todas as
atividades arquivsticas, mas necessrio, na atualidade, complement-la e redefini-la, uma das
respostas possveis para tal, a classificao por sries e a classificao pelo item documental.

3 A classificao por sries e por itens: novas possiblidades

Paralelamente ao desenvolvimento da classificao funcional, em meados da dcada de 1960,
inicia-se na Austrlia o que mais tarde ficaria conhecido como o sistema de srie ou o sistema
australiano de classificao.
O artigo inicial deste movimento, publicado em 1966 intitulado The record group concept: a case
for abandonment contra-argumentava o uso do conceito Jenkinsoniano de grupo nos arquivos
australianos e identificava como "alguns problemas australianos", o que na verdade, tem sido parte
dos problemas centrais em classificao arquivstica desde da dcada de 1950.
Scott (1966), basicamente, percebe que o uso do conceito de grupo no auxiliava na
identificao da provenincia e ordem original dos documentos e acaba por distorc-la, uma vez
que identifica a estrutura do rgo como mais importante que a relao entre os documentos. Scott
cria uma nova perspectiva para a classificao e arranjo dos documentos, tendo por base o estudo
do contexto, ou seja, a inter-relao entre os documentos mais importante do que a estrutura.

123
claro que Scott permanece atrelado aos inventrios e planos de classificao desenvolvidos
para os documentos em papel, contudo, sua perspectiva to revolucionria quanto a crtica feita
por Terry Cook na dcada de 1990 ao conceito de fundo.
A partir desta publicao, ir desenvolver-se na Austrlia sistematicamente uma abordagem
em classificao que coloca a srie como o fundamento principal para a atividade. Primeiramente,
na dcada de 1980, ainda nos documentos em papel e, a partir da segunda metade da dcada de
1990, para a web, que mais tarde ir ser utilizada internacionalmente especialmente nos pases
falantes de ingls.
Com o mesmo esprito inovador de sua poca, necessrio hoje rever-se como se constroem
os planos de classificao e como se compreende estes conceitos.
Uma das respostas possveis tem relao com o sistema de srie, uma vez que este simplifica a
abordagem e o arquivista passa a dar mais importncia ao conjunto de documentos e suas relaes
administrativas, e no estrutura ou decomposio da atividade administrativa em processos ou
funes.
Assim, como o movimento de Scott foi/ fundamental para a renovao em classificao,
necessria na atualidade a reinveno da rea para o trabalho com os documentos digitais, j que
os princpios nucleares da arquivstica sero preservados somente descartando muitas de suas
interpretaes tradicionais e implementaes prticas" (COOK, 1997, p.42, traduo nossa).
Neste sentido, a classificao por item pode ser uma das respostas para a realidade
documental dos arquivos na atualidade, buscando criar metadados, ou seja, classes" que
contenham um conjunto de informaes vlidas para o usurio. Os sistemas de classificao
passariam a ser centrados nos documentos e centrados nas relaes que se estabelecem entre o
documento e seus usurios, e o arquivista seria o responsvel por formular e reformular essa
relao, a partir da criao dos metadados relacionados quele documento e, mais ainda, neste
cenrio a contribuio dos usurios quer sejam eles da administrao ou usurios gerais, seria
fundamental para a construo destas classificaes.
Alguns pesquisadores como Yekel (2011) refutam a possibilidade de relacionar metadados
criados por usurios nos sistemas desenvolvidos pelos arquivistas, mas na perspectiva de Bak (2012)
tais informaes devem ser levadas em considerao, uma vez que essa cooperao o ingrediente
bsico para enriquecer o valor dos metadados construdos pelos arquivistas.
Tais informaes so, na verdade, parte de uma possvel reconfigurao da providncia e
ordem original, j que, alm do apoio e tcnicas existentes na classificao por srie, por exemplo, o
arquivista passa a complementar o sistema de classificao com contedos que pode ser amigveis
aos usurios facilitando no s o acesso, mas tambm, auxiliando de modo mais contundente a
administrao que os produziu.
A gesto por meio do item pode produzir ferramentas mais analticas no s para a
classificao, mas tambm para a descrio dos documentos, possibilitando o uso das ferramentas
existentes na web na atualidade, liking, tagging, blogs, relacionados a esta srie ou a um determinado
processo.
bvio que este processo encontra-se ainda em construo, e ainda muito cedo para dizer
exatamente como ir funcionar, mas no podemos perder de vista que se busca uma reconfigurao
da rea, no um abandono de conceitos fundamentais para a configurao dos arquivos e das inter-
relaes entre os documentos.
Como pondera Nesmith (2002) os documentos so continuamente moldados e remoldados
pelos sistemas de gesto no qual se encontram, a discusso ainda encontra-se no inicio, mas
preciso alertar que no se pode adequar a sociedade s teorias, mas as teorias tm que se adequar
sociedade, uma vez que a arquivstica faz parte de um universo cientfico que deve responder a
necessidades prticas, no dos arquivistas, mas da sociedade.

124
Fica claro que os problemas da atualidade na esfera prtica e terica da arquivstica no esto
sujeitos s a suas relaes internas. Respeitando-se as especificidades de cada rea, chegado o
momento de uma maior relao prtica e terica entre as bibliotecas os arquivos e museus, e menos
institucional.

Consideraes finais

Buscou-se com este artigo discutir aspectos histricos e tericos da criao e percurso da
classificao arquivstica enquanto teoria e prtica, medida que ela uma das atividades
fundamentais para a organizao de arquivos.
A fim de condensar e representar graficamente o percurso da classificao na arquivstica
elaborou-se o seguinte quadro:

Autor Noo de Classificao Classes
Muller, Feith e
Fruin (1898)
Ser baseado na
organizao original do
arquivo, a qual, na sua
essncia, corresponde
organizao do rgo
administrativo que o
produziu. (MULLER,
FEITH e FRUIN, 1973, p.44)
Fundo
FOSCARINI,
2006 (Referente
a prtica
Prussiana do
incio do sculo
XX.)
"[...]todos os papeis,
independente do seu
estado de transmisso,
forma ou valor,
relacionado ao mesmo
assunto, ou a uma
atividade ou procedimento
sero colocados em
unidades lgicas dossis
ou processos que sero
reunidos organicamente
ou em sua
homogeneidade"
(FOSCARINI, 2006, p. 189,
traduo nossa).
Fundo
Processos
JENKINSON,
1922
"O grupo de arquivo
definido como os Arquivos
resultantes do trabalho de
uma administrao que foi
um todo orgnico,
completo em si mesmo,
capaz de ser lidado
independentemente"
(JENKINSON, 1922, p. 85,
traduo nossa).
Fundo
Grupo de
Arquivo
SCHELLENBERG,
2003 (Dcadas
Separa-se em funes
tpicas de documentos em
fase ativa e fase semiativa
Fundo
Grupo de

125
de 1960-1970) e inativo (classificao
para ativo/arranjo para os
demais)
Arquivo
Srie
SABOURIN,
2001
A funo (1) qualquer
propsito de alto nvel,
responsabilidade, tarefa
ou atividade que
endereada a uma agenda
de planejamento de uma
instituio por legislao,
poltica ou comit; (2)
tipicamente funes
comuns administrativas
ou operacionais
relacionadas ao
desenvolvimento de
programas ou entrega de
bens e servios (3) um
conjunto de sries de
atividades (de maneira
geral, um processo de
negcio) que, ocorre de
acordo com uma
sequencia descrita, que
resulta em uma instituio
ou individuo produzindo o
resultado esperado em
bens ou servios no que foi
planejado ou delegado a
fazer
Fundo
Grupo
Subgrupo
Srie
Subsrie
Processos
e/ou dossis

Quadro 1 - Percurso da noo de Classificao
7

A prtica brasileira, se comparada com a que foi apresentada neste artigo, encontra-se
distante do que tem sido discutido e pensado internacionalmente, uma vez que os planos de
classificao brasileiros pouco refletem a realidade dos arquivos para os quais foram desenvolvidos
e muitas vezes esterilizam a organizao e dificultam a avaliao dos documentos.
A classificao uma atividade gerencial e de planejamento no s para os arquivos, mas para
as administraes que geraram os documentos. Assim, a construo do plano de classificao deve
contemplar as relaes entre os documentos, mas no s estas, tambm, as relaes entre os
documentos e as pessoas, assim, o sistema de classificao se tornaria uma ferramenta til e
facilitadora da descrio e avaliao dos documentos.
Discutiu-se de maneira panormica as abordagens existentes nas teorias e prticas de
classificao aplicadas no Canad e Austrlia, porque atualmente estes dois pases so responsveis
pela renovao terica na disciplina, no s na classificao, mas tambm na descrio e avaliao.
Deve-se aprender com os erros destes pases para no comet-los no Brasil j que, no s a
quantidade de arquivistas, mas o interesse dos rgos pblicos e privados na atuao destes
profissionais tem aumentado no pas.
necessrio iniciar a discusso de novos princpios e parmetros de atuao e reviso das
noes e conceitos utilizados na classificao arquivstica, j que a realidade documental e
administrativa da atualidade j no mais aquela do funcionalismo da dcada de 1990 ou da

7
Fonte: Elaborado pelo autor

126
revoluo do uso de desktops em ambientes administrativos, passa-se hoje por um novo momento na
produo de documentos com o uso massivo e irreversvel das tecnologias multimdia e de
cooperao virtual por meio de redes sociais, blogs e uma gama diversa de ambientes e plataformas.

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129
COLECCIONES AUDIOVISUALES ON LINE EN ESPAA Y PORTUGAL
Fuentes para el film research

JORGE CALDERA-SERRANO
Universidad de Extremadura
[email protected]

Resumen Se desglosan y describen las principales colecciones audiovisuales tanto de Portugal como de
Espaa con la finalidad de que dicho anlisis sirva para la determinacin de su pertinencia para el desarrollo
de la labor documental del Film Research. En dicho anlisis slo se facilitarn las fuentes en lnea, sealando
tanto la cobertura temtica como alcance y disponibilidad de los mismos para su uso. Este listado servir a los
profesionales en gestin de informacin audiovisual, especialmente para los relacionados con la televisin,
para conocer las fuentes de informacin y conocer as qu tipologa de fondos y la utilidad para la creacin y
produccin de nuevos productos audiovisuales.

Palabras-clave Colecciones audiovisuales. Film Research. Espaa. Portugal. Fuentes de Informacin en lnea.
Anlisis y evaluacin.

Abstract They break down and describe the main audiovisual collections of both Portugal and Spain in order
to serve such an analysis to determine their relevance to the development of documentary film work
Research. This analysis should be provided only online sources, noting both the scope and subject coverage as
their availability for use. This list will serve professionals in visual information management, especially for
television related to the sources of information and thus know what type of funds and the utility for the
creation and production of new audiovisual products.

Keywords Audio-visual collections. Film Research. Spain. Portugal. On line Information Source. evaluation
and analysis.

Introduccin

Lo audiovisual siempre nos ha fascinado. Desde los primeros intentos de los hermanos
Lumiere hasta hoy la Humanidad ha quedado prendado por lo atractivo de lo audiovisual. Adems,
se ha mostrado como una de las menores herramientas para el ocio, para la informacin, para el
entretenimiento, para la educacin, en definitiva, para llegar de forma ms rpida y directa a
nuestros sentidos. La vista y el odo estn alerta para captar los mensajes generados por los
mensajes audiovisuales, lo que ha potenciado igualmente el hecho de ser una plataforma
propagandstica excelente. Todos los mbitos, todas las ideologas, todas las formas de expresin y
comunicacin, han utilizado en cierta manera lo audiovisual como frmula de expresin.
De este valor y potenciacin que ha contado lo audiovisual a lo largo del siglo XX y lo que
llevamos de ste, han surgido muchas empresas que han trabajado para y por el audiovisual,
generndose una gran industria audiovisual compuesta por muchas aristas, tales como son el cine,
televisin, productoras audiovisuales, agencias de informacin, distribuidoras de audiovisual, etc.,
generando para ello cada vez ms un aumento en el nmero de productos que han generado una
amplia diversidad de colecciones audiovisuales.
Aunque no es importante el nmero de colecciones audiovisuales existentes, s que son
importantes y amplias desde el punto de vista de la cobertura temtica y horas de grabacin. Cabe
destacar las colecciones asociadas a las cadenas de televisin, tanto pblicas como privadas, como
las asociadas a la industria cinematogrfica, especialmente recogidas y catalogadas en las filmotecas
pblicas. No han de desdearse las colecciones privadas de productoras, distribuidoras, agencias,

130
etc., aunque realmente lo complicado del acceso a dicha informacin y su opacidad -y dispersin en
muchos casos- hacen de stas un elemento complicado de acceso.
Estas colecciones deben ser conocidas, analizadas y tenidas en cuenta por los profesionales
que trabajan con la informacin audiovisual, ya que del conocimiento de las estas colecciones de su
facilidad de acceso, determinar la calidad y vala de los productos audiovisuales futuros en el
campo en el cual trabajen estos profesionales. No slo es necesario conocer perfectamente el fondo
y la coleccin con la cual se trabaja de forma permanente - especialmente para producciones y
trabajadores del cine y la televisin - sino que ser necesario el conocimiento y acceso a otras
colecciones con el fin de adquirirlas y utilizarlas en futuras producciones.

Objetivo y metodologa
Identificar y describir las principales colecciones audiovisuales tanto en Espaa y Portugal
partiendo de su utilidad para el Film Research ser el objetivo fundamental del presente trabajo.
Este perfil profesional es el encargado de buscar informacin en los diferentes archivos
audiovisuales del mundo con el fin de encontrar las imgenes ms correctas para la creacin y
produccin de productos audiovisuales. Especialmente ha sido utilizado en el mbito de la
televisin, para la produccin de programas con necesidades retrospectivas de material audiovisual.
La metodologa empleada se ha implementado por medio de fases. La primera fase se ha
consultado las principales obras bibliogrficas sobre la materia: Footage. The Worldwide Moving
Image Sourcebook (1997); Film and Television Collections in Europe: the MAP-TV Guide (1995),
trabajo realizado por la iniciativa de la Unin Europea MEDIA Programme. Posteriormente, y como
segunda fase se ha rastreado la web buscando colecciones no incluidas en estos catlogos as como
se han buscados las descritas en la bibliografa para determinar su disposicin por medio de la red.
En tercer lugar, se ha creado una herramienta de valoracin de estas colecciones en las que se
incluye su denominacin, alcance, contenidos, costos, derechos de autor, etc., y en cuarto lugar se
ha plasmado en la redaccin del trabajo.

1 Film Research

La figura del Film Research aparece por la necesidad de las producciones audiovisuales tanto
de cine como de televisin para conseguir recursos audiovisuales para los nuevos productos. En
televisin, tradicionalmente, se han utilizado los propios recursos para los nuevos productos,
mientras que en la actualidad y para la produccin de documentales especialmente, se han de
utilizar materiales de los cuales no se cuentan en la propia empresa, por lo que es necesario el
acceso y compra de material audiovisual en otras colecciones. Para cine, sin embargo, no es normal
contar con grandes fondos documentales que sirven de base para nuevos productos, por lo que la
figura del Film Research tradicionalmente ha sido utilizado en esta industria.
Ahora bien, en la actualidad es tan utilizado tanto para cine como para televisin, en
producciones de ficcin o para documentales. Adems, la figura del Film Research se ha
profesionalizado tanto que son personas o empresas externas a organizaciones televisivas o
cinematogrficas y se encargan de la bsqueda y adquisicin de material, adems de llevar a cabo
labores que tradicionalmente han realizado los gestores de informacin: bsqueda de informacin
factual, informacin para ambientacin, informacin de contextualizacin, biografas, etc.
Lpez de Solis (2009) otorga al researcher las siguientes labores, las cuales seala, depender
del tipo de proyecto en el que se encuentre inmerso:
Localizacin de material audiovisual para incluirlo en la produccin o como informacin para
diferentes integrantes del equipo.

131
Gestin de derechos audiovisuales.
Gestin de derechos .
Asesoramiento para la elaboracin del guin.
Localizacin de material fotogrfico y sonoro.
Realizacin de informes.
Por definicin, el Film Researcher debe buscar y controlar la informacin de las diferentes
colecciones audiovisuales, controlando el acceso, contenidos, pagos, y control de derechos sobre
dicha informacin. Las labores otorgadas por Solis no son extrapolables siempre al Film Research -
tal y como la autora seala- y s para la figura del Research (de la cual el Film Research es una parte
ms).

2 Colecciones audiovisuales en Espaa y Portugal

Las fuentes de informacin en el mbito audiovisual son diversas y dispares (Caldera &
Zapico, 2005) y han sido poco tratadas para el mbito cinematogrfico. Es destacable los esfuerzos
realizados por el grupo Multidoc, liderado por el catedrtico Alfonso Lpez Yepes, en el mbito del
material cinematogrfico.

2.1 Espaa

Destacamos en primer lugar las colecciones cinematogrficas pblicas, inscritas en el mbito
de las filmotecas.

Denominacin: Filmoteca Espaola
Url: www.mcu.es/cine/MC/FE/index.html
Breve descripcin: La Filmoteca Espaola es el archivo histrico que
custodia el patrimonio flmico espaol. Su misin
es recuperar, investigar y conservar el
patrimonio cinematogrfico y promover su
conocimiento.
Cobertura temtica: La Filmoteca Espaola a unos 35.000 ttulos. De
estos, 14.500 son de produccin espaola, y el
resto extranjeros. Este material se corresponde a
75.000 materiales, tanto en soporte cine como en
soporte electrnico. Igualmente se conservan
66.000 rollos de pelcula que pertenecen a cerca
de 6.500 documentos audiovisuales del archivo
NO-DO. La Filmoteca Espaola facilita el acceso a
los fondos flmicos a investigadores,
profesionales, empresas audiovisuales,
productoras de cine y de televisin, cadenas
televisivas, etctera, permitiendo la consulta y

132
visionado (consulta de tarifas) de documentos
cinematogrficos y la adquisicin de derechos de
uso (consulta de tarifas) de materiales propios
para su utilizacin en proyectos audiovisuales.
Acceso a contenidos: La Filmoteca Espaola no facilita directamente el
acceso a los contenidos aunque s existe la
opcin de consultar sus fundos y ver algunos
documentos importantes de la Filmoteca. Sin
lugar a dudas es la filmoteca ms relevante
aunque existe igualmente filmotecas
autonmicas con importantes colecciones
cinematogrficas de cada una de estas
comunidades.

Denominacin: Archivo NO-DO
Url: www.rtve.es/filmoteca/no-do/
Breve descripcin: No-Do (Noticiarios y Documentales) es creado el
29 de septiembre de 1942 por el Dictador Franco,
como servicio de difusin y propaganda de
reportajes en todos los cines espaoles, de forma
obligatoria. Su primera proyeccin es del 4 de
enero de 1943 y su ltima proyeccin obligatoria
en el ao 1975. Desde el ao 2012 la Filmoteca
Espaola junto con Televisin Espaola ponen a
disposicin de todos la coleccin del archivo de
No-Do.
Cobertura temtica: El material de nodo est compuesto por material
flmico, registros sonoros de los documentos
audiovisuales y documentos textuales.
Las ediciones realizadas por No-Do, tal y como
reflejan en su web RTVE, fueron: No-Do para
Espaa (4.016 nmeros); No-Do para Amrica
Hispana (1.504 nmeros); No-Do para Portugal
(1.500 nmeros); No-Do para Brasil (566
nmeros); No-Do para IBERIA (179 nmeros); No-
Do cultural (42 nmeros); Revista Imgenes
(1.219 nmeros); Documentales en b/n (216
nmeros); Documentales en color (498 nmeros.)
Acceso a contenidos: Desde dicha web se podr acceder a todos y cada
uno de los documentos de No-Do, tanto por
medio de un buscador como por medio de
clasificaciones cronogrficas.

133
Sin lugar a dudas, el colectivo ms relevante en lo que se refiere a las colecciones
audiovisuales son las empresas audiovisuales televisivas. Entre ellas se est llevando a cabo una
fusin constante de empresas que hacen aglutinar colecciones y recursos humanos.

Denominacin: Televisin Espaola
Url: www.rtve.es/archivo
Breve descripcin: Televisin Espaola es la cadena televisiva ms
antigua en Espaa, comenzando sus emisiones
en 1956. Sus depsitos audiovisuales cuentan con
una gran cantidad de informacin divididos
fsicamente en un archivo para los Servicios
Informativos y otro para Programacin.
Cobertura temtica: Emisiones de la propia cadena as como material
conservado procedente de agencias de
informacin y otras compaas audiovisuales con
las que la cadena pueda tener convenios por
acuerdos contractuales.
Acceso a contenidos: La web de Televisin Espaola cuenta con dos
formatos de acceso: a la carta y archivo. En el
acceso de televisin a la carta se encuentran las
emisiones propias de las ltimas semanas as
como el acceso en directo al material que se est
emitiendo. Pero lo realmente importante es el
acceso al archivo donde podr consultar parte
del archivo por medio de un buscador as como
por items destacados (series, personajes ilustres,
anuncios, etc.)

Denominacin: Tele Cinco
Url: www.telecinco.es/alacarta/
Breve descripcin: TeleCinco-Gestavisin es una fuerte compaa
audiovisual que ha absorvido recientemente a
otra gran compaa audiovisual, como es la
Cadena Cuatro, perteneciente al Grupo Prisa, uno
de los grandes colosos de la comunicacin en
Espaa y latinoamrica. Aunque estas dos
cadenas siguen contando con marcas
independientes, preferimos marcar sta como
prioritaria ya que los planes son de unificar
dichos servicios en un nico paquete
audiovisual, especialmente desde el punto de
vista de la gestin interna y disponibilidad por la

134
red.
Cobertura temtica: Series y otros programas de cadena, tanto de
actualidad como de carcter retrospectivo.
Acceso a contenidos: Se puede visualizar los contenidos en lnea por
medio del acceso al enlace indicado. Se podr
acceder a los documentos por medio de epgrafes
de Series y otro para Programas de la cadena. Las
series son las de produccin propia, mientras
que los programas es el histrico de los emitidos.
Igualmente se puede acceder a los ltimos
informativos y a las noticias concretas.

Denominacin: Antena 3 TV
Url: www.antena3.com/videos/
Breve descripcin: Antena 3 Televisin es una empresa que, al igual
que la anterior, surge al principio de la dcada de
los 90. Cadena que ha ido superando las
diferentes dificultades econmicas que ha
conseguido comprar la popular cadena espaola
La Sexta. De esta manera el Grupo Antena 3 ha
conseguido ser un referente en Espaa. La
absorcin de La Sexta, as como su historia, hace
de su depsito documental uno de los ms
importantes de Espaa.
Cobertura temtica: La cobertura temtica es del material propio de
la cadena, tanto de Antena 3 TV como de La
Sexta -dicha absorcin se ha traducido en una
unificacin de acceso a sus web-.
Acceso a contenidos: Se facilita el acceso a la informacin por: Series,
noticias, programas, infantil. Igualmente se
puede saltar a la informacin audiovisual
facilitada en La Sexta, contando con la misma
estructura que en la anterior. Adems cuentan
con la opcin de acceso PREMIUM, el cual facilita
el acceso a todo el material y sin cortes
publicitarios, as como la posibilidad de acceder a
preestrenos, tanto de pelculas como de series.

Y en ltimo lugar, para el anlisis de colecciones audiovisuales espaolas deseamos mostrar
una agencia nacional de informacin, referente para muchos tanto en el mbito espaol, ibrico
como latinoamericano.

135
Denominacin: Agencia EFE
Url: www.efe.com
Breve descripcin: La primera agencia de noticias en espaol y la
cuarta del mundo, con ms de setenta aos de
trayectoria que avalan su imparcialidad, su potencia,
su credibilidad y su inmediatez. As se define la
propia agencia en su web, una agencia con
servicios de informacin textual, sonora,
fotoperiodstica y audiovisual.
Cobertura temtica: La cobertura con la que cuenta la Agencia EFE es
eminentemente informativa y de actualidad. Su
larga trayectoria hace de su colecciones
audiovisual una de las ms destacadas e
importante, tanto en su cobertura temtica
como geogrfica. La videoteca de EFE contiene
15.000 cintas de vdeo que almacenan imgenes y
programas desde 1989. EFE dispone de un servicio
diario de actualidad que incluye contenidos con lo ms
relevante del da sobre poltica, sociedad, sucesos,
deportes, cultura, entretenimiento, curiosidades, etc.
Difundidas a travs de los diferentes sistemas de
transmisin y multisoporte: TV convencional: Vsat,
fibra ptica, Internet: web y broadcast, telefona mvil
y pantallas informativas.
Acceso a contenidos: El acceso a sus contenidos, como agencia de
informacin, es claramente de pago. No existe
una clara libertad de acceso a los contenidos ni
textuales, ni sonoros ni audiovisuales aunque es
de remarcar la disponibilidad de los mismos por
medio de la web, tanto a sus suscriptores como a
aquellos que determinan una compra
determinada en momentos puntuales.

2.2 Portugal

En el mbito cinematogrfico, y con valor potencial para las bsquedas que pudiera realizar el
Film Research, se encuentra sin lugar a dudas la Cinemateca Portuguesa. Hemos de recordar que de
este listado se han eliminado aquellas colecciones que puedan carecer de valor por su contenido
para el Film Research, de ah que no estn todas las colecciones existentes. Otras colecciones no
estn aqu representadas al no contar con presencia en la web, tales como la coleccin audiovisual
del Arquivo 25 de abril o la Filmoteca do Exrcito, los cuales cuentan con material potencialmente
til.

136
Denominacin: Cinemateca Portuguesa Museo do Cinema
Url: http://www.cinemateca.pt/
Breve descripcin: La Cinemateca Portuguesa est controlada por la
Secretara de Estado de Cultura por lo que es un
organismo plenamente pblico. Cuenta con la
misin de la salvaguarda y difusin del
patrimonio cinematogrfico portugus.
Cinemateca con amplia trayectoria creada en la
dcada de los 50.
Cobertura temtica: Tal y como seala en su web esta institucin, la
coleccin de imgenes en movimiento que
custodia la Cinemateca cuenta tanto con
material analgico como digital. El nmero de
ttulos aproximado que conserva la cinemtica
es de 33.000, lo que supone unos 70.000 items
conservados. Aproximadamente 50.000 son en
soporte cinematogrfico en sus diferentes
formatos, mientras que el resto de material es
videogrfico, tanto analgico como digital.
Ms de 21.000 ttulos son producciones
portuguesas, donde aproximadamente unos mil
de ellos son largometrajes y el resto es material
de menor duracin y de temtica variada
(ficcin, cultura, documentales, antropolgico,
etc.
Acceso a contenidos: El material de la Cinemateca Portuguesa pueden
ser visionadas de manera gratuita en las
instalaciones de la institucin. Dicho acceso est
garantizado para investigaciones del mbito
universitario o aquellas que estn debidamente
avaladas. No existe la opcin de acceso a los
contenidos desde la web.

Mucho ms til pueden ser las colecciones de las principales cadenas de televisin
portuguesas que se exponen a continuacin ya que algunas de ellas cuentan con informacin
audiovisual desde 1957, identificando una empresa pblica (con dos cadenas) y dos empresas
privadas.

Denominacin: Rdio e Televisao de Portugal
Url: http://www.rtp.pt/homepage/
Breve descripcin: Rdio e Televisao de Portugal (TRP) nace en el
ao 1935 como empresa radiofnica,
comenzando su actividad televisiva en 1957. La
Televisin pblica portuguesa est sufriendo

137
gravemente por la crisis econmica, insinuando
la opcin de venta de alguno de los canales del
grupo, aunque al final se ha reestructurado RTP
con el fin de no privatizar ninguno de sus
servicios. Actualmente cuenta con dos cadenas
pblicas de carcter audiovisual.
Cobertura temtica: La cobertura temtica de RTP es la de un medio
televisivo de carcter pblico y nacional:
informacin, entrenemiento, cultura, sociedad,
etc.
Acceso a contenidos: RTP cuenta con la opcin de poder consultar y
acceder a informacin audiovisual producida y
ya emitida por la cadena. Por ello, adems de
ofrecer los vdeos ms recientes y los ms
solicitados, cuenta con la opcin de recuperar
informacin por medio de un sistema de
clasificacin tradicional en los medios de
comunicacin (correspondera con las
secciones). En primer lugar ofrece la posibilidad
de acceso a la informacin por medio del acceso
a cada una de las cadenas: RTP1 y TRP2.
Adems nos facilita otros accesos, como por RTP
Informaao, RTP Internacional, TRP Memria,
RTP Mobile, RTP Madeira, RTP Aores, RTP
frica, Academia RTP, Zig Zag,Originais RTP Play.
Mientras que para la seccin de Informativos
cuenta con la siguiente estructura: cultura,
humor, msica, desporto, infantis e juvenis,
institucionais, outros. Adems cuenta con
apartados para: ficao, entretenimento, ciencia e
natureza, entrevista-opiniao, gastronomia, artes,
religiosos e refelxao, sade, especiai.

Denominacin: TVI (Televisao Independiente)
Url: http://www.tvi.iol.pt/
Breve descripcin: TVI comienza sus emisiones en 1993 con la
liberacin del mercado audiovisual portugus.
Nace como cuarta cadena tras las dos pblicas y
SIC. Actualmente es la cadena lder de audiencia.
Aunque ha sufrido modificaciones en su
accionariado, actualmente pertenece a Media
Capital, unin de empresas del Grupo PRISA.
Inicialmente estuvo claramente influenciada por
la Iglesia Catlica quin formaba parte del
accionariado (hasta 1999). Rpidamente el canal

138
apost por ser una alternativa tanto a Canal1
como a SIC con una oferta generalista y familiar.
Pero no ser hasta el 2000 cuando se apueste por
cambio en la programacin que le lleve a
conseguir mejores cuotas de pantalla.
Cobertura temtica: La cobertura temtica es amplia y universal, as
como la filosofa de la cadena que quiere ser una
televisin familiar que pueda ser vista por todos.
De ah que existan programas para todas las
edades aunque su apuesta vaya claramente
marcada en los ltimos aos por la produccin
propia sobre todo en el mbito de las
telenovelas.
Acceso a contenidos: En la pgina principal de TVI pueden observarse
vdeos destacados por la propia empresa. En ella
pueden visualizarse tanto fragmentos de
programas como noticias de los informativos,
destacadas en opinin de la empresa.
Adems cuenta con una seccin de VIDEO que
facilita la opcin de consulta sobre Programas
TVI, TVI24, Bastidores e Informativos. Entrando
en estos enlaces podremos realizar la bsqueda
por medio de palabras claves o entrando
directamente en los programas de la cadena.

Denominacin: SIC (Sociedade Independente de Comunicaao)
Url: http://sic.sapo.pt/
Breve descripcin: SIC comienza su emisin en el ao 1992, siendo la
primera cadena privada de Portugal. El
accionariado del canal est controlado por el
grupo Impresa en un 75%. Esta cadena fue lder
de audiencia prcticamente desde su creacin
hasta el ao 2004, fecha en la que asumi dicho
liderazgo una cadena competidora (TVI).
El canal comenz con el apoyo de Rede Globo,
quien aportaba contenidos.
SIC ha creado cadenas de televisin temticas
por cable (SIC Noticias y SIC Radical, entre
otros), adems de contar con SIC Internacional
para inmigrantes.
Cobertura temtica: La cobertura temtica viene determina por el
tipo de cadena de televisin y, por lo tanto, de su
programacin. Es una televisin generalista
orientada a todo tipo de pblico, por lo que en su

139
coleccin audiovisual se pueden localizar
material vlido sobre todas las edades.
Acceso a contenidos: La web de la Sociedade Independente de
Comunicaao (SIC) cuenta con el acceso a los
contenidos digitalizados por medio de un
buscador sencillo, que no aporta la opcin de
bsquedas complejas. En este buscador se
indicar el trmino de consulta, apareciendo
aquellos vdeos que estn indizados con dicho
trmino.
Adems cuenta con la opcin de consulta por
programas concretos.
Las consultas podrn ser ordenadas por los
siguientes factores: los ltimos, los ms vistos,
los ms populares.

Conclusiones

Las principales colecciones que aqu se han analizado son aquellas que, en primer lugar,
cuentan con presencia en la web de manera ms activa o con menor posibilidad de acceso a los
contenidos, pero que al menos parte del mismo es accesible para su consulta. Adems se ha
teniendo presente que sean vlidas para un perfil profesional concreto como es el del Film
Research, el cual centra la bsqueda de informacin audiovisual en la produccin de nuevas obras
para el mbito cinematogrfico y para el audiovisual televisivo. De ah que se hayan descartado
colecciones que podran ser importantes y que potencialmente contaran con un corpus audiovisual
representativo.
Como puede apreciarse las colecciones analizadas se organizan en torno a dos ejes: material
cinematogrfico y televisivo. En el primer mbito cabe destacar las filmotecas nacionales de ambos
pases que, adems, cuentan con filmotecas territoriales algunas de ellas con gran importancia por
la coleccin cinematogrfica que albergan. Pero sin lugar a dudas, donde mayor cantidad de
informacin audiovisual se conserva son en las colecciones audiovisuales de las cadenas televisivas,
especialmente en las dos cadenas pblicas nacidas al final de la dcada del 50 del siglo pasado. stas
cuentan con amplias colecciones ya que desde la dcada de los 70 especialmente se ha sistematizado
el almacenamiento y conservacin de este material el cual es Patrimonio Nacional Audiovisual de
un pueblo.

Reconocimientos

Este trabajo ha sido financiado por la Junta de Extremadura (Consejera de Educacin, Ciencia
y Tecnologa) y el Fondo Social Europeo dentro del plan de apoyo a las actuaciones de los Grupos de
Investigacin inscritos en el catlogo de la Junta de Extremadura. GR10019.

140
Referencias

CALDERA-SERRANO, Jorge; ZAPICO ALONSO, Felipe (2005). Fuentes de informacin en lnea para el
estudio de los archivos de televisin. Scire: representacin y organizacin del conocimiento. Vol.
11, nm. 2, pp. 165-175.

Film and Televisin collections in Europe: the MAP-TV Guide (2005). Londos [et. Al]: Blueprint. Pg. 671.
ISBN 1857130154

FOOTAGE. The Worldwide Moving Imagen Sourcebook (1997). Nueva York: Second Line Search. Pg.
1098. ISBN 9781890979249

LPEZ DE SOLIS, Iris (2007). Nuevos perfiles profesionales en el mundo de la documentacin
audiovisual : el researcher. En IX Jornadas de gestin de la informacin , Madrid 22-23 Noviembre,
SEDIC, pp. 139-151.

LPEZ DE SOLIS, Iris (2009). El perfil del researcher. Archivamos, nm 74 (4 trimestre), pp. 34-40.

141
ONTOLOGIA DE FUNDAMENTAO COMO UM MODELO TERICO PARA A REPRESENTAO DE
DOMNIOS
Desafios para a formao de profissionais de informao

MARIA LUIZA DE ALMEIDA CAMPOS
Universidade Federal Fluminense
[email protected]

Resumo O objetivo do presente trabalho colocar em discusso a necessidade de estudos mais aprofundados
de teorias e mtodos relativos elaborao de estruturas classificatrias para a representao e recuperao
de conhecimento/informao, para o contexto da Web Semntica. Dessa forma, pretende-se contribuir para a
formao de classificacionista/modelizadores que possam desenvolver estratgias e abordagens para a
construo de modelos, independente de problemas especficos de domnios atravs de ferramentas
representacionais como as Ontologias de Fundamentao. Como fundamentao terico metodolgica,
apresentamos estudos no mbito de uma investigao interdisciplinar, com a Cincia da Computao e com a
Inteligncia Artificial, com foco em Ontologias de Fundamentao e nos saberes que ali se inserem e que se
fazem importantes para o profissional da informao no contexto da Web Semntica. A partir da, no contexto
da fundamentao terica apresentada, esperamos evidenciar a necessidade de um corpus de conhecimento
til para que os novos classificacionistas/modelizadores/ontologistas possam trabalhar com ferramentas
intelectuais passveis de serem usadas no novo cenrio informacional da Web Semntica. Para finalizar,
apresentamos uma ilustrao de modelo de uma ontologia formal.

Palavras-chave Ontologia de Fundamentao. Modelo terico de representao de conhecimento.
competncias de Profissionais de Informao.

Abstract This work aims at proposing a discussion on the need of developing research on theory and
methods to develop classificatory structures to knowledge representation and recovery within the Semantic
Web context. So we intend to contribute the training of classificationists/modelers capable of developing
strategies and approaches to model building independently of idiosyncrasies of specific domains using tools
as foundational ontologies. As a methodological and theoretical foundation we propose an interdisciplinary
approach with disciplines such as Computer Science and Artificial Intelligence, with focus on foundational
ontologies and on increasingly important expertises as those related to Semantic Web. Within the
methodological and theoretical foundation proposed we hope to show the need of a body of knowledge to the
enable the new classificationists/modelers/ontologists to work with intellectual tools applicable within the
Semantic Web information scenario. As a conclusion we present a formal ontology model.

Keywords Foundational ontologies. Theoretical model of knowledge representation. Expertise of information
professionals.

Introduo

Nos ltimos anos estamos presenciando o avano de iniciativas ligadas Web Semntica. Esse
novo cenrio apresenta novas necessidades informacionais, que trazem consigo desafios para o
profissional da informao no que tange representao do conhecimento. Neste sentido, este
trabalho pretende colocar em discusso a necessidade de estudos mais aprofundados de teorias e
mtodos relativos elaborao de estruturas classificatrias para a representao e recuperao de
conhecimento/informao, para o contexto da Web Semntica.

142
Com a pesquisa
1
que estamos desenvolvendo pretendemos contribuir para a formao de
classificacionista/modelizadores que possam desenvolver estratgias e abordagens para a
construo de modelos, independente de problemas especficos de domnios atravs de ferramentas
representacionais como as Ontologias de Fundamentao. Ontologia de Fundamentao tem por
objetivo identificar categorias gerais de certos aspectos da realidade que no so especficos de um
campo cientfico, descrevendo conhecimento independentemente de linguagem, de um estado
particular de coisas ou ainda do estado de agentes.
Durante todo o perodo de nossas atividades como docente que se iniciaram em 1991,
consubstanciadas por atividades de extenso e de pesquisa, uma questo sempre esteve presente ,
ou seja, a necessidade de estudos mais aprofundados de teorias e mtodos relativos criao de
estruturas classificatrias para a representao e recuperao de conhecimento/informao.
Pretendamos a partir destes estudos desenvolver abordagens para a construo de modelos
independente de problemas especficos de domnios.
Na busca desta compreenso e nos estudos que foram desenvolvidos at ento, nos
deparamos com um novo tipo de ferramenta, criada a partir dos caminhos traados pela Web
semntica, que se denominou de Ontologias. Nos projetos anteriores, acreditamos ter deixado em
evidncia o aspecto que nos interessou nos estudos de ontologias, relacionado aos problemas
inerentes modelagem conceitual e de interoperabilidade semntica entre ontologias de domnios,
pois estes possibilitavam discusso sobre bases tericas e metodolgicas e reuniam sempre dois
aspectos de nosso interesse de pesquisa, quais sejam: a questo representacional e a questo
relacionada ao mtodo de raciocnio para apoiar atividades de ensino. Alm disto, desde os estudos
de mestrado, passando pelo de doutorado, estivemos interessados nas bases classificatrias
utilizadas na elaborao de instrumentos de tratamento e recuperao de informao, em que a
questo dos modelos conceituais sempre estiveram presentes. No percurso deste caminho, nos
deparamos frequentemente com questes relacionadas representao de domnios que possuam
aspectos epistemolgicos e aspectos ontolgicos de natureza diversa, e quando considervamos que
um dado modelo conceitual poderia ser considerado o modelo, a aplicao nos mostrava que este
no era o caminho. Era necessrio ampliar a representao para um espao de investigao onde
estas questes possam ser discutidas como uma teoria vlida que possa estar independente de um
dado domnio. E neste caminho de interesse de investigao, no mbito tambm, de uma
investigao interdisciplinar, com a Cincia da Computao e com a Inteligncia Artificial,
identificamos os estudos sobre Ontologias de Fundamentao.
As Ontologias de Fundamentao detm forte fundamentao da Filosofia permitindo que a
estrutura real de um domnio, seu compromisso ontolgico, seja representada de forma fiel, clara e
consistente. Assim, ao diferenciar os tipos de elementos que compem um domnio e permitir sua
representao, a ontologia de fundamentao explicita conceitos a partir de sua tipologia,
estabelecendo sua posio em uma cadeia de elementos. Isto permite, a partir da noo de cada tipo
de elemento, que a estruturao do domnio seja construda de forma a evitar proposies errneas,
aferindo qualidade modelagem conceitual realizada.
A seguir discutiremos as bases tericas onde esses estudos se apiam.

1
Este estudo parte das discusses que travamos no mbito do Projeto de Pesquisa Investigao sobre as bases
epistemolgicas e ontolgicas da representao de domnios de conhecimento: a questo do compromisso ontolgico em
ontologias de fundamentao, financiado pelo Conselho Nacional de Pesquisa CNPq Brasil, sob nossa coordenao. Esta
inserida tambm no Grupo de Pesquisa Ontologia e Taxonomia: aspectos tericos e metodolgicos , site do grupo:
http://www.ontotaxo.uff.br/.

143
1 Campo Terico

A investigao de bases epistemolgicas e ontolgicas em modelos de representao para a
organizao de conhecimento um estudo que requer uma definio sobre o que se entende por
tais em uma aplicao para estudos de domnios. Esta definio que, a nosso ver, auxilia o
entendimento das estratgias de pesquisa que estamos traando em nossa estudo.
Por bases epistemolgicas, consideramos discutir a possibilidade de representao em
domnios diferenciados, ou seja, discutir a prpria natureza dos saberes consubstanciados nos
modelos de representao. Estabelecer assim, um dilogo com a possibilidade de diviso dos
saberes apresentados nestes modelos. Uma forma de proposta classificatria que vem sendo
trabalhada h muito, por exemplo, no mbito do CRG foi a Teoria dos nveis integrativos
(FLEIBLEMANN, 1954) em contraposio as propostas disciplinares apresentadas at ento. Por
outro lado, em uma perspectiva estratgica, estes estudos no mbito do ensino, pretendem colocar
tais questes em uma perspectiva representacional e no somente como mtodo cientfico. Isto
significa discutir a possibilidade de representao de domnios em Cincias, Tecnologia e
Humanidades enfatizando princpios lgicos para identificar consistncia lgica e coeso da
representao.
Por bases ontolgicas, consideramos discutir quais elementos so passveis de serem
identificados em domnios tendo em vista a modelizao com fins classificatrios, ou, dito de outra
forma: Quais seriam as categorias formais que deveriam ter os campos diferenciados em Cincia e
Humanidades? Que relaes semnticas so passveis de representao em tais campos?
Como apresentado anteriormente, nossos estudos, nos ltimos anos, vm se apoiando na
investigao de instrumentos de representao, mais especificamente em Ontologias na perspectiva
da Cincia da Informao. Estudos semelhantes vem sendo desenvolvidos na comunidade de
Modelagem Conceitual em Inteligncia Artificial, atravs de pesquisas relacionadas com as
chamadas Ontologias de Fundamentao.
Ontologias de Fundamentao so sistemas de categorias filosoficamente bem fundamentadas
e independentes de domnio que possam ser usadas para enunciar modelos de realidade especficos
de domnios, que acreditamos que possa melhorar a qualidade de modelos conceituais.
Acreditamos que os princpios que regem a elaborao de tais modelos possam ser investigados para
o desenvolvimento de modelos de representao, no mbito da Cincia da Informao (como
tesauros, taxonomias entre outros).
No que tange a Biblioteconomia e Cincia da Informao, verificamos que no mbito dos
estudos de organizao do conhecimento, nos ltimos anos, este campo vem presenciando alguns
debates sobre as abordagens epistemolgicas e ontolgicas para a classificao de domnios de
conhecimento ( por exemplo, Gnoli 2004, 2008, Hjorland, 2003, Gnoli & Hjorland 2009). Embora
possamos verificar que tanto Gnoli como Hjorland concordam que ambas as abordagens esto
presentes quando se trata de identificar modelos de organizao de conhecimento, discordam
quanto escolha de tais abordagens. Por outro lado, estas questes vm sendo endereadas
tambm, considerando que tais abordagens, mesmo que no identificadas como tais, esto
presentes em modelos de representao desde os primeiros estudos de E. C. Richardson
(Richardson, 1901), atravs de seu livro Classification: theoretical and practical, que pode ser
considerado como um dos primeiros trabalhos que formularam uma teoria sistemtica de
classificao e que veio a exercer uma influncia considervel nas atuais teorias de classificao. (
DOUSA, 2010).
Entretanto, at onde pudemos verificar, so poucas as referncias explcitas sobre o vis
epistemolgico ou ontolgico adotado em propostas de esquemas classificatrios de alto nvel,
como, por exemplo, os apresentados por Ranganathan na Teoria da Classificao Facetada
(RANGANATHAN, 1967), Bliss (1929) e Dahlberg na Teoria do Conceito (DAHLBERG, 1978a, 1978b).

144
Neste sentido, como uma primeira abordagem da questo, e com a finalidade de explicitar
mais claramente o objeto de nosso estudo, apontamos para bases tericas que esta pesquisa
preliminarmente se apoia. E apresentamos uma pequena sntese sobre questes que envolvem:
Ontologia de fundamentao e seu potencial semntico;
Compromisso ontolgico e sua importncia na formao de uma conceitualizao.

1.1 Ontologia de fundamentao e seu potencial semntico

O termo ontologia tem origem no incio sculo XVII, mais especificamente nos anos de 1606 e
1613, quando Jacob Lorhard escreve o Ogdoas Scholastica e Rudolf Gckel o Lexicon philosophicum. No
entanto, ganha popularidade no mbito da Filosofia atravs de Christian Wolff, com a publicao de
Philosophia prima sive Ontologia (GUIZZARDI, 2005).
Em Inteligncia artificial o termo empregado nos estudos que iniciam em 1990, objetivando
permitir a elaborao de uma teoria sobre o domnio que possibilite testar e validar um dado
modelo conceitual. Neste mbito, ontologias podem ser definidas como representaes de um
domnio ou parte dele, inteligveis por humanos e interpretveis por mquinas. Ontologias possuem
termos e suas definies, e permite a padronizao de uma terminologia em uma comunidade,
possibilitando recuperar os principais conceitos e as suas relaes de uma forma que possa ser
interpretvel por mquina. Alm disso, sob um ponto de vista operacional, as Ontologias podem
incluir dados atravs de instncias, criando assim bases de conhecimento, e uma vez sendo
implementadas como parte de um sistema de informao, permitem responder a consultas e
recuperar o conhecimento do domnio.
As ontologias possibilitam mecanismos para que a comunicao possa se d entre humanos e
mquinas, diferentemente dos tesauros, por exemplo. Uma ontologia , segundo Guarino (1998),

uma teoria lgica correspondente ao significado pretendido de um
vocabulrio formal, ou seja, seu compromisso ontolgico com uma
conceitualizao particular de mundo. Os modelos pretendidos de uma
linguagem lgica usada como vocabulrio so restritos pelo seu
compromisso ontolgico. Uma ontologia indiretamente reflete esse
compromisso (e a conceitualizao subjacente) pela aproximao desses
modelos pretendidos. (traduo nossa).

Segundo Ramalho (2010), uma ontologia composta por: Classes e subclasses: agrupam um
conjunto de elementos, coisas, do mundo real, que so representadas e categorizadas; Propriedades:
descrevem as caractersticas e/ou qualidades das classes; Relacionamentos: ligaes entre classes,
descrevendo e rotulando os tipos de relaes existentes no domnio representado; Regras e
axiomas: enunciados lgicos que possibilitam impor condies e possibilitam a realizao de
inferncias automticas a partir de informaes que no necessariamente foram explicitadas no
domnio; Instncias: indicam os valores das classes e subclasses, constituindo uma representao de
objetos ou indivduos pertencentes ao domnio modelado, de acordo com as caractersticas das
classes, relacionamentos e restries definidas; Valores: atribuem valores concretos s
propriedades, indicando os formatos e tipos de valores aceitos em cada classe. Tal organizao,
como consta acima, permite que determinado domnio de conhecimento seja representado e que,
por se constituir em um artefato tecnolgico que realiza inferncias com base em seu contedo,
informaes sejam recuperadas de forma mais eficaz.

145
A literatura vem mostrando diversas classificaes sobre tipos de Ontologias, o nosso
interesse incide sobre a ontologia de domnio, a qual busca descrever formalmente classes de
conceitos e os relacionamentos de determinada rea com o objetivo de compartilhar um consenso
terminolgico, e sobre ontologia formal, a qual representa, formaliza o conhecimento existente,
permitindo que seja acessado e compartilhado atravs de conceitos e categorias que satisfaam a
compreenso de um domnio. Deste modo, entendemos que uma ontologia formal est baseada em
elementos como categorias e axiomas, demonstrando relaes e propriedades dos conceitos e
permitindo que a interpretao sobre dado conceito seja restrita, tomada atravs de um vocabulrio
controlado definido, delimitando o significado de um vocabulrio e permitindo maior controle
sobre o domnio que est sendo mapeado, assegurando qualidade s inferncias realizadas.
Baseada na ontologia formal, a ontologia de fundamentao, por sua vez, tem por objetivo
identificar categorias gerais de certos aspectos da realidade que no so especficos a um campo
cientfico, descrevendo conhecimento independentemente de linguagem, de um estado particular
das coisas ou ainda do estado de agentes (GUIZZARDI, 2005). Borgo e Masolo (2008) definem
ontologias de fundamentao a partir de quatro itens: (i) tm grande alcance; (ii) podem ser
altamente reutilizveis em cenrios de modelagem diferentes; (iii) so filosfica e conceitualmente
bem fundamentadas; e (iv) so semanticamente transparentes e, portanto, ricamente
axiomatizadas.
Com efeito, nota-se a importncia das ontologias de fundamentao no que tange a seus
princpios filosficos bem fundamentados para modelagem domnios. Esta importncia
explicitada por Guizzardi (2005) e Guizzardi e outros (2008) ao relatarem que a ontologia de
fundamentao permite a explicitao dos compromissos ontolgicos da ontologia que representa
um domnio, agregando fidelidade, consistncia e clareza na representao.
Percebemos apoiados nos trabalhos de Guizzardi (2005), a principal contribuio das
ontologias de fundamentao como sendo a busca pela caracterizao fiel de uma conceituao,
indo ao encontro do seu compromisso ontolgico, permitindo que haja uma representao do
domnio em que a ontologia empregada. Assim, fornecendo semntica baseada no mundo real e
restringindo interpretaes sobre seus conceitos com base em um vocabulrio prprio. Isto nos
permite interpretar as ontologias de fundamentao como fornecedoras de uma estrutura
ontolgica, as quais criam um corpus capaz de testar e validar o modelo conceitual gerado.
Desta forma, o potencial semntico de uma dada ontologia medido pelo modelo conceitual,
e este est fundamentalmente relacionado com o compromisso ontolgico passvel de ser
representado por este modelo, onde aspectos epistemolgicos e ontolgicos convivem. Nesta
perspectiva, a abordagem epistemolgica nos coloca diante de questes que visam responder sobre
a natureza do conhecimento de um dado domnio, colocando o foco na discusso da relao entre
conhecedor e o que pode ser conhecido. J a abordagem ontolgica pretende identificar qual a
forma e a natureza da realidade e, portanto, o que que se pode saber sobre ela. Ambas as
abordagens so temas de discusso desde os estudos filosficos na Antiguidade Clssica, e tambm,
como a literatura da Cincia da Informao tem evidenciado, estas questes j vem sendo tema de
pesquisa de diversos estudiosos na atualidade (DOUSA, 2010; GNOLI, C. & POLI, R., 2004).
Assim, a perspectiva epistemolgica diz respeito natureza do conhecimento, ou seja, a
maneira como a realidade percebida, medida e compreendida. Ela fornece bases tericas para as
ontologias, em especial as de fundamentao, e influenciam as escolhas que se encontram
representadas nos conceitos nelas presentes :

Ontologia no epistemologia, mas tem uma relao complexa com a
epistemologia. Ontologia versa primariamente sobre as entidades, relaes
e propriedades do mundo, as categorias de coisas. Epistemologia versa
sobre as entidades percebidas do mundo e as que se acreditam existir, suas
relaes e propriedades, i.e., maneiras de conhecer ou verificar coisas.
(POLI & OBRST, 2009, p. 3 Traduo nossa)

146

Dessa forma, a perspectiva epistemolgica apoiada por crenas sobre a natureza da
realidade e da verdade, que podem ser adotadas a partir de um acordo em um dado domnio de
seu compromisso ontolgico, a partir de pressupostos ontolgicos, ou seja, diferente da perspectiva
epistemolgica a perspectiva ontolgica permitiria estabelecer quais classes de conceitos seriam
admissveis, suas relaes e sua modelagem em relao a aspectos tais como existncia no espao e
tempo.

1.2 Compromisso ontolgico e sua importncia na formao de uma conceituao

Compromisso ontolgico, neste contexto, pode ser definido como um acordo firmado por
uma comunidade sobre o significado que esta estabelece e expressa em uma ontologia, tanto do
ponto de vista da compreenso pelo homem quanto do tratamento pela mquina, atravs dos
agentes de software. Isso implica em definir o vocabulrio de uma forma que venha a minimizar
ambigidades, de modo que seu uso possa ser partilhado para representar e recuperar
conhecimento entre comunidades afins, que se proponham a estar comprometidas com o acordo
adotado. (NODINE; FOWLER, 2002).
Dessa forma, o estabelecimento de compromisso ontolgico revela uma tomada de posio
em relao aos objetos que se reconhecem como fundamentais em uma viso de mundo e que
possibilitam o dilogo sobre esse mundo, e ainda em relao maneira pela qual esses objetos so
caracterizados. Vale ressaltar que existem diversos modos possveis de um acordo sobre esta viso
de mundo, e deve-se ter em mente, entretanto, que nas ontologias, principalmente nas chamadas
ontologias de fundamentao, devido s restries dos mecanismos de representao do
conhecimento para as mquinas, a representao dos conceitos e de suas relaes que constituem o
seu modelo conceitual sempre limitada e, portanto, aproximada.
Guarino e Giareta (1995) situa o papel do compromisso ontolgico como o de um elemento
fomentador da preciso entre a conceituao e a representao de uma viso de mundo, esta ltima
um modelo desse mundo, impreciso em algum grau em relao ao significado pretendido pelo homem.
Essa impreciso se d devido ao fato de que as conceituaes so entidades abstratas, que existem
na mente de pessoas ou grupo de pessoas de uma comunidade (GUIZZARDI, 2007). Naturalmente,
para que uma conceituao possa ser comunicada entre pessoas, esta deve ser expressa em termos
de um artefato concreto que deve ser representado em uma linguagem, a qual no consegue ser
suficientemente expressiva para representar a riqueza semntica da conceituao presente na
mente humana.

Uma representao de conhecimento um mecanismo usado para se
raciocinar sobre o mundo, em vez de agir diretamente sobre ele. Nesse
sentido, ela , fundamentalmente, um substituto para aquilo que
representa. (...). Deve haver alguma forma de correspondncia especificada
entre o substituto e seu referente planejado no mundo. Esta
correspondncia a semntica da representao. (...). Fidelidade perfeita ,
em geral, impossvel, tanto na prtica quanto em princpio. A nica
representao completamente precisa de um objeto o objeto em si.
Qualquer outra representao imprecisa e, inevitavelmente, contm
simplificaes. (CAMPOS, 2004, p.24).

O compromisso ontolgico surge ento para preencher a lacuna semntica entre o que o
homem identifica nas suas conceituaes de um mundo e o que possvel representar em uma
ontologia atravs de uma linguagem. O compromisso se desdobra em dois: as coisas cuja existncia

147
se admite e o seu significado pretendido. As ontologias so uma forma de especificar para a mquina
esse compromisso, atravs do uso de relaes intensionais.
Desta forma, o compromisso ontolgico vem ocupar o espao de mediao entre a
conceituao, que est no plano da semntica do entendimento humano e a ontologia, que est no
plano do processamento pela mquina. formado por um conjunto de regras que objetiva
minimizar ambigidades ou entendimentos errneos dos conceitos do mundo sendo representado
de acordo com a conceituao do homem, e embora seja voltado para o entendimento humano,
adequado para a converso formal em uma linguagem que possa ser entendida pela mquina. Sendo
assim, embora possa ser definido atravs de uma linguagem textual ou grfica, o uso de uma
linguagem formal auxilia na sua passagem para a linguagem que pode ser tratada
computacionalmente.
A conceituao, ao contrrio da ontologia, independe da linguagem utilizada e de um estado
de coisas particular, existente ou no. Desse modo, possvel haver diferentes situaes envolvendo
os mesmos objetos, e sendo descritas por linguagens diferentes, porm envolvendo a mesma
conceituao.
As relaes entre conceituao, compromisso ontolgico, linguagem, modelos e ontologia so
ilustradas na Figura 1.

Figura 1 - Os modelos pretendidos de uma linguagem lgica e seu compromisso com uma conceituao.
Adaptado de (GUARINO, 1998) Fonte (CAMPOS et all, 2011).

Assim, quanto maior o compromisso ontolgico, ou seja, quanto mais estivermos restringindo
as possibilidades de interpretao, maior a aproximao do modelo pretendido, por outro lado, menor
a possibilidade de esse modelo se encaixar em outras vises de mundo, e, portanto, menor a
compatibilidade com esses outros modelos. Alm disso, maior a complexidade de sua atualizao e
maior o custo de seu tratamento computacional. Por outro lado, se um compromisso ontolgico de
alto nvel puder ser definido, a compatibilidade pode ser aumentada, na medida em que se passa a
poder caracterizar de forma mais precisa a natureza dos elementos de um mundo:

(...) se ns queremos capturar a estrutura a priori dos indivduos ns
precisamos de um nvel de detalhe suficiente para poder falar sobre a sua
constituio interna, enquanto que para capturar a natureza dos
indivduos e suas relaes ns tambm precisamos de categorias
primitivas adequadas. (GUARINO, CARRARA, GIARETTA, 1994, pp. 2).
Conceituao C
Compromisso K = < C, >
Linguagem L
Ontologia
Modelos M ( L )
Modelos pretendidos I
K
( L )

148
O compromisso ontolgico pode ser representado atravs de modelos conceituais, voltados
para o entendimento humano, que refletem um mtodo de raciocnio ou forma de pensar sobre uma
dada realidade, o qual se observa nos diferentes tipos de ontologia de domnios.
Esses modelos conceituais, so expressos atravs de modelos formais, e esto apoiados em
diversos mecanismos de representao.
A seguir vamos descrever um Modelo de Formal proposto por Guarino.

2 Um exemplo de Modelo Formal para Ontologias

Guarino (1998) prope o estabelecimento dos princpios que se seguem, na perspectiva de
defender a construo de ontologias em qualquer que seja a abrangncia do domnio que se quer
representar do uso de uma "criatividade ad-hoc e ingnua". Assim, independente da ontologia ser
de alto nvel, de domnio/tarefa ou de aplicao, necessrio princpios que possam auxiliar na
determinao dos objetos e, na forma como esses objetos se relacionam em um dado domnio. Esses
princpios formam o que Guarino ir denominar de ferramentas tericas da ontologia formal.
As ontologias formais ligadas ao conceito de modelagem de conhecimento podem ser
consideradas um mecanismo de representao, como um meio prprio de observao do
conhecimento de um dado domnio O objetivo da modelagem de conhecimento elaborar uma
conceituao da poro do mundo em estudo.
Na prtica, a Ontologia Formal pode ser entendida como a teoria das distines a priori sobre:
as entidades do mundo (objetos fsicos, eventos, regies, quantidades de matria); as categorias de
meta-nvel para modelar o mundo (conceitos , propriedades, qualidades, estados, papis e partes).
(GUARINO, 1998a).

2.1 Ontologia de Particulares

As ferramentas tericas da chamada ontologia formal possuem uma base que est ligada
pesquisa em lgica filosfica (SMITH apud GUARINO, 1998). As entidades do mundo so analisadas
teoricamente e compem o que se define por uma ontologia de particulares , com a qual pretende-
se determinar os objetos de um dado domnio.

Figura 2 - Espinha dorsal da ontologia de particulares
2

2
Fonte: GUARINO et al, 1994
Ontologia de Particulares

Local
Espao (uma regio espacial)
Tempo (uma regio temporal)

Objeto

Objeto Concreto
Continuo (continuant) (uma ma)
Ocorrente (occurrent) (a queda de uma
ma)
Objeto Abstrato (Teorema de Pitgoras)

149
Observa-se que a proposta divide os entes do mundo em objeto e local. Local definido como
uma regio do espao ou um intervalo de tempo. Objeto s definido em Guarino (1998) de forma
extensional, ou seja, evidenciando os tipos de objetos. Assim, objetos so definidos como sendo
concretos e abstratos. Os objetos concretos podem ser de duas espcies: continuo e ocorrente e,
correspondem ao que usualmente se denomina de objetos e eventos respectivamente. Os objetos
concretos contnuos possuem um local no espao, mas este local varia com o tempo. Eles sempre
possuem outros contnuos como parte. Os objetos concretos ocorrentes conduzem-se no espao.
Exemplos de objetos ocorrentes a mudana de localizao de um corpo, mas tambm a
permanncia de um corpo em uma dada localizao por um dado tempo (um estado de ocorrncia).
Ocorrncias sempre possuem outras ocorrncias como parte. Sowa (SOWA, 2000, p.73) apresenta
uma explicao para o que vem sendo denominado de contnuo e ocorrente na literatura, que
parece-nos bastante esclarecedora : "...objeto na atualidade considerado como contnuo,...
processo na atualidade considerado como ocorrente". Objetos abstratos no possuem um local no
espao e no tempo. Freqentemente as entidades que so classificadas como objetos abstratos so
consideradas universais, como veremos adiante.

2.2 Ontologia dos Universais

Quanto estruturao de um domnio, Guarino (GUARINO, CARRARA & GIARETTA, 1994)
apresenta categorias de meta-nvel que denomina de uma ontologia mnima de universais, visando
munir o profissional de mecanismo de pensar a organizao de conceitos (particulares) e suas
relaes em um dado domnio de conhecimento.
Uma ontologia mnima de universais apresentada na Fig.3. A primeira distino que nos
apresentada a distino entre propriedade e relao. Mas, para discutir cada um destes
primitivos, necessrio primeiro entender distines que Guarino ir chamar de meta-
propriedades como a noo de identidade, rigidez e dependncia. Identidade a propriedade que
determina o objeto, ou dito de outra forma, define o que a "coisa ". Para entender o que significa
rigidez e dependncia, tomemos uma dada propriedade P. Pode-se dizer que ela rgida se e
somente se P for verdadeira em qualquer mundo possvel. Por exemplo: Pessoas e Localizao so
rgidos, enquanto Estudante e Alto no . A noo de dependncia se coloca quando uma
propriedade P dependente de outra propriedade. Por exemplo: Pai dependente, Pessoa no .

I=Identidade, R=Rigidez, D=Dependncia.

Figura 3 - Espinha dorsal bsica da ontologia de universais.
3

Um Tipo uma propriedade que rgida e possui uma identidade. Tipos fazem o mais
importante papel organizacional em uma taxonomia - formam rvores. Uma categoria uma

3
Fonte: GUARINO et al, 1994
Ontologias de Universais
Propriedade
Tipo (pessoa) (+I+R)
Categoria (localizao, objeto) (-I+R)
Papel
Papel Material (estudante) (+I)
Papel formal (cliente, parte) (-I)
Atributo (vermelho, de composio) (-I-R-D)
Relao (parte-de)

150
propriedade que tambm rgida mas no carrega uma identidade especfica. Categorias aparecem
no nvel mais alto da taxionomia. Sua funo possibilitar uma classificao geral do domnio em
questo. Um Papel uma propriedade que no rgida e sempre dependente. Atributo uma
propriedade que no rgida, no dependente e no carrega nenhum critrio de identidade. O
Atributo "propriedade de um objeto continuo... ele inclui entidades como cor, forma, tamanho e
medida"(SOWA, p. 89, 2000).
Definidas as entidades e as categorias de meta-nvel de um domnio, apresentam-se as teorias
que podem contribuir para anlise ontolgica dos objetos.

2.3 Teorias que contribuem para a anlise dos objetos e de suas relaes

Quatro teorias bsicas formam a espinha dorsal da base terica da Ontologia Formal: Teoria
das Partes; Teoria do Todo; Teoria da Identidade e Teoria da Dependncia. (GUARINO, 1998). A
Teoria das Partes est na base de alguma forma de anlise ontolgica. As questes relevantes que
podem ser apresentadas so: - o que conta como uma parte de uma dada entidade?; o que so as
propriedades da relao parte-todo?; h diferentes espcies de partes? A Teoria do Todo (ou teoria
da integridade) estuda o caminho de conexo entre diferentes partes para formar um todo.
Questes relevantes podem ser listadas: - o que consta como um todo? O que faz ele um todo?; em
que sentido so as partes de um todo conectadas?; o que so as propriedades de modo que uma
relao se conecte?; - qual o papel das partes com o respectivo todo? A Teoria da Identidade uma
construo acima da teoria das partes e da teoria do todo, estudando as condies anteriores
antes que as duas entidades exibam diferentes propriedades e podem ser consideradas como as
mesmas. A Teoria da Dependncia estuda as vrias formas da dependncia existencial que envolve
indivduos especficos que pertencem a diferentes classes. Questes relevantes podem ser
apresentadas: a existncia atual de um indivduo necessariamente implica na existncia atual de
outro indivduo especfico? (dependncia rgida); a existncia atual de um indivduo
necessariamente implica na existncia atual de alguns indivduos pertencendo a uma classe
especfica? (dependncia genrica); o fato de um indivduo pertencer a uma classe particular
necessariamente implica a existncia diferente pertencendo a outra classe? (classe dependente)
(GUARINO, 1998).
As teorias tm a funo de auxiliar o movimento do pensar sobre as entidades do mundo e de
suas relaes.
A Teoria da Identidade possibilita mecanismos para que se possa identificar o objeto como
uma entidade no mundo, ou seja o que ele . Por exemplo: Ns podemos considerar o vaso e o barro
de que ele feito como dois indivduos separados, ou como dois diferentes pontos de vista sobre o
mesmo indivduo? A resposta pode ser difcil, mas uma anlise cuidadosa mostra que as duas
verses implicam em diferentes critrios de identidade: quando o vaso espatifa no cho, deixa de
existir e perde sua identidade, o barro ainda est l. O vaso necessita de um arranjo particular de
suas partes dentro de uma ordem para ser vaso, o barro um elemento externo, assim chamado de
critrio extensional de identidade. Assim, ns estamos na presena de dois indivduos diferentes.
A Teoria da Identidade introduz mecanismos que possibilitam estudar as diferentes
propriedades dos objetos. Os objetos do mundo fenomenal podem ser definidos a partir de sua
extenso ou intenso conceitual. A extenso de um conceito diz respeito ao nmero de elementos
que podem formar uma classe do conceito em questo, por exemplo a extenso do conceito rvore
frutfera pode ser definida a partir dos elementos que compem a sua classe, ou seja, Macieira,
Laranjeira.... Por sua vez a intenso do conceito diz respeito ao nmero de propriedades que pode
ser determinada para o conceito, por exemplo: a intenso do conceito rvore frutfera
determinada a partir das seguintes propriedades: ser vegetal rvore, que em determinada poca do
ano produz frutos.... A partir do conceito de extenso e intenso possvel caracterizar a
identidade do objeto.

151
No exemplo apresentado de vaso de barro, o barro, como foi dito, no representa uma
propriedade intensional do objeto vaso, pois ao definir vaso o que o caracteriza como tal a sua
forma, esta sim seria uma propriedade intensional, e no o material de que ele feito, que neste
caso, pode ser considerado como um critrio extensional de identidade pois no faz parte da
natureza do objeto.
A Teoria das Partes e a Teoria do Todo, quando reunidas so chamadas de
"mereotopologia (mereotopology) (VARZI, 1996; GUARINO, 1998; SOWA, 2000). Isto implica
considerar que um objeto formado por elementos constitutivos (partes), que podem tambm ser
apresentadas independentemente, e que essas partes reunidas formam o todo (objeto). No caso, o
barro uma parte constitutiva do objeto vaso. um tipo de relao partitiva denominada de
Objeto/ Matria.
As relaes partitivas so de diversos tipos. Elas so de grande interesse na base dos estudos
lingsticos e cognitivos como apresentam Winston, Chaffin e Herrmann (WINSTON et al, 1987):
Objeto Integral/Componente - se caracteriza por ter uma estrutura onde os componentes so
separveis e possuem uma funcionalidade especfica. Por exemplo: roda uma parte do carro;
Membro/Coleo - recupera a noo de membro de uma coleo. Neste caso, os membros de
uma coleo no possuem nenhum papel funcional em relao ao todo, eles so parte do todo mas
podem ser individualizados. Por exemplo: uma rvore parte de uma floresta, mas mantm uma
identidade prpria;
Massa/ Poro: o todo considerado como um agregado homognio e sua parte/poro
similar (homeomerous) e separvel. Por exemplo: o pedao de uma torta;
Objeto/Matria: representa o elemento constitutivo, ou feito de. Esta relao expressa a
parte/matria na qual a coisa feita, sendo que esta parte no pode ser separada do objeto, pois no
tem nenhuma funo em separado do objeto. Por exemplo: a bicicleta tem como parte o material
que ela feita, no caso, o ao;
Carter/Atividade: designa uma fase de uma atividade. Uma fase, como um componente, tem
um papel funcional mas no separvel. Por exemplo: Catalogao faz parte da fase de tratamento
de documentos;
rea/Lugar - uma relao espacial entre uma regio ocupada por diferentes objetos. Como
a relao massa/poro, a relao rea/lugar homemera, por exemplo: ns podemos dizer que
um osis faz parte de um deserto, mas ele no separvel do deserto.
Outros autores (GERSTL & PRIBBENOW, 1995; IRIS et al, 1988), vem apresentando outras
classificaes para a relao Todo/Parte. Entretanto, consideramos a taxonomia de Winston
(WINSTON et al, 1987) mais abrangente e melhor definida, pois ela est estruturada a partir de trs
critrios de anlise das partes de um objeto: funcionalidade, homeomericidade
4
(homeomericity
5
),
separabilidade.

"... as partes de funcionalidade so restritivas, por sua funo, sua
localizao espacial ou temporal. Por exemplo, a asa de uma xcara s
pode ser colocada num nmero limitado de posies para funcionar como
asa. As partes homemeras so da mesma espcie da coisa como seu todo,
por exemplo, 'fatia - torta', enquanto as partes no-homemeras so
diferentes de seu todo, por exemplo, 'arvore-floresta'. As partes
separveis podem, em princpio, ser separadas de seu todo, por exemplo,
'asa - xcara', enquanto as partes inseparveis no podem, por exemplo,
'ao - bicicleta' "

4
Homeomericidade - propriedade que tem uma parte da mesma coisa.
5
Homo- radical combinatrio (grego) 'mesmo', Mero - radical combinatrio (grego) 'parte' 'frao'

152

A Teoria da Dependncia determina no as partes e os elementos constitutivos de um
objeto, mas a relao existencial deste objeto com outros objetos. Desta forma, ela estuda as vrias
formas de dependncia existencial envolvendo indivduos especficos pertencentes a classes
diferentes. A teoria da dependncia identifica trs formas de dependncia entre os objetos:
Dependncia Rgida, Dependncia Genrica e Dependncia de Classe. Um exemplo de dependncia
rgida pode ser o relacionamento entre uma pessoa e seu crebro, enquanto o relacionamento entre
uma pessoa e seu corao um exemplo de dependncia genrica (porque o corao pode ser
substitudo por outro corao, e a identidade da pessoa no muda). Finalmente, um exemplo de
dependncia de classe o relacionamento existente entre a classe "Pai" e a classe "Filho".
(GUARINO, 1997).
Verifica-se que a base terica da ontologia formal est pautada em trs questes: quais
entidades existem em um dado universo, como essas entidades podem ser classificadas em um dado
universo, e como elas podem ser sistematizadas entre si, ou seja como elas se relacionam.
Para pensar os tipos de entidades introduzem-se as ontologias dos particulares; para pensar a
classificao dessas entidades em um dado universo, a ontologia dos universais inserida e, para
pensar o relacionamento entre essas entidades em um dado universo, as quatro teorias acima so
apresentadas.
Observa-se que a perspectiva de organizao das entidades em um universo parte sempre do
particular. A ontologia dos universais nos leva a enquadrar a entidade numa posio em que ela
tem no universal e no em classific-la dentro de um corte apresentado a priori do prprio
universo. Por exemplo: a entidade 'parreira' possui propriedades e relaes em um universo, ela
tem um tipo, ou seja ' uma rvore frutfera' , que se encontra classificada na categoria de 'vegetal',
que possui um papel material "ser uma rvore com frutos comestveis" e um papel formal 'ter como
parte o fruto uva', que pode ter uma relao com a 'indstria de bebidas no alcolicas'. A relao
sempre do particular para pensar em suas categorias universais e no pensar o universal e
organizar os particulares. O objeto est no centro da anlise.
Uma outra relao que no tem mais ligao com um plano formal entre os conceitos mas
com o plano da lngua a relao entre sinnimos, denominada em outras teorias como relao de
equivalncia.
Apesar de Guarino em seus princpios tericos da ontologia formal no citar este tipo de
relao, verifica-se em muitas ontologias estudadas a existncia desta relao, que fundamental
para uma atividade bastante desenvolvida no escopo da ontologia que o processo de reuso e
compatibilizao entre diferentes ontologias que pertencem a vrios sistemas
6
.

3 O espao do profissional de informao

No espao da Biblioteconomia e Cincia da informao, tericos como Ranganathan ( 1967) ,
Bliss (1929), Fleiblemann (1954), Vickery(1997)
7
e o prprio CRG (WILSON, 1972), construram
teorias com a finalidade de representao de domnios, visando a organizao de documentos, mas

6
O artigo "The State of Art in Ontology Design" de Natalya Fridman Noy e Carole D. Hafner (FRIDMAN, N. & HAFNER, C.
1997) apresenta uma reviso de um grande nmero de ontologias construdas e seus requisitos bsicos. possvel
observar que na prtica o uso de relaes de equivalncia fundamental para a construo terica das ontologias, pois
como ela lida com a lngua como um instrumento comunicacional necessrio padronizar as vrias formas de
denominao de um conceito em um universo de discurso, para permitir comunicaes mais precisas entre um grupo de
falantes e como o caso entre um sistema e um sujeito.
7
necessrio esclarecer que aqui no estamos esquecendo autores como: Dewey, Brown, Cutter. que elaboraram
estruturas classificatrias para guarda de documentos, mas que citamos aqueles autores que apresentam uma discusso
mais consubstanciado por aspectos tericos e metodolgicos voltados para a representao de domnios e no somente
para a organizao fsica de documentos.

153
que de alguma forma, apresentavam princpios que possibilitavam a representao independente de
domnios.
Tais princpios, com advento da Web semntica e de ferramentas semnticas como as
ontologias so de valor inestimvel para a elaborao de modelos conceituais consistentes e
tambm para a formao de classificacionistas, como denominava Ranganthan, ou dito de outra
forma, de modelizadores/ontologistas, que so aqueles que elaboram classificaes e no somente
as usam.
Ontologias de Formais/Fundamentao tm sido usadas para apoiar a modelagem de
conceitos para fins diversos. Estes vo desde a compreenso de requisitos em um modelo de negcio
que apoiado por um sistema informatizado at a representao do recorte de um domnio para
fins de descrio e recuperao de informao em contextos diversos, como, por exemplo, em sites
de jornalismo (CAROLO; BURLAMAQUI, 2011). Tais iniciativas, que envolvem o uso de ontologias,
tm tido um grande crescimento nos ltimos anos (GUIZZARDI; FALBO; GUIZZARDI, 2008).
O que essas iniciativas tm em comum a necessidade de minimizar entendimentos
ambguos e fornecer uma semntica e entendimento mais precisos no s dos conceitos
representados, como tambm de suas naturezas e relaes. Essa necessidade difere daquela das
linguagens documentrias tais como os vocabulrios controlados ou os tesauros, onde o foco na
recuperao de informao para pessoas, e onde a inferncia de conhecimento no considerada
como requisito.
Nesse sentido, importante que o Profissional da Informao se aproprie dos novos mtodos e
conhecimentos necessrios para atender s novas demandas que se fazem presentes, e que
envolvem as noes filosficas e epistemolgicas contidas em ontologias formais/fundamentao.
O entendimento dessas noes e as notaes adotadas para a sua modelagem so complexos, mas
oferecem um campo vasto de aplicao, do qual o Profissional da Informao no pode se omitir,
sob pena de diminuir o papel da rea em um cenrio dinmico que avana rapidamente.

Concluso

A necessidade de disponibilizar informaes, muitas vezes de natureza complexa e variada,
tem levado as instituies a valorizarem seus ativos informacionais, buscando organiz-los de forma
mais eficiente, representando-os e articulando-os de forma mais precisa.
Nesse cenrio, nos ltimos anos, o uso de ontologias tem se intensificado, como apoio a
iniciativas que demandam o uso de modelos de representao mais precisos e formais, de modo que
minimize ambiguidades de entendimento e, ainda, que possua uma representao que permita ser
tratada computacionalmente.
At os ltimos anos, antes do potencial de tratamento informacional imposto por este novo
cenrio, um dos papis exercido pelo profissional de informao se restringia ao desenvolvimento
de ferramentas semnticas capazes de representar um dado domnio de conhecimento (atravs de
linguagens documentrias como tesauros, taxonomia e esquemas de classificao), possibilitando
uma certa preciso e compatibilidade entre a linguagem utilizada para o tratamento informacional
e a linguagem utilizada pelo usurio para a recuperao da informao.
No novo cenrio, onde as ontologias formais se inserem, j possvel, de algum modo, no s
a representao do conhecimento de um dado domnio, mas a derivao do conhecimento sobre
este domnio, atravs de uma semntica expressa em linguagens formais, possvel de ser explorada
computacionalmente para fins de inferncia.
Desta forma, novas estratgias de conhecimento esto sendo requeridas, onde contedos
diferenciados dos at agora estudados e pesquisados na rea precisam de uma atualizao sobre
novos horizontes tericos e metodolgicos, sob pena de no ocuparmos o espao neste novo cenrio
informacional.

154
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ANLISE DOCUMENTAL DE CONTEDO DE ARTIGO CIENTFICO
A utilizao do percurso gerativo de sentido para identificao da temtica

GILBERTO GOMES CNDIDO
[email protected]

JOO BATISTA ERNESTO DE MORAES
[email protected]

Resumo A noo terica do Percurso Gerativo de Sentido emerge dos estudos de A. J. GREIMAS, cujo intuito
explicar a estrutura do texto por meio do sentido coesivo utilizado na sua elaborao. Ao se realizar um
estudo exploratrio na literatura da Cincia da Informao, averiguou-se que o Percurso Gerativo de Sentido
j se faz utilizado por alguns autores, tais como: MORAES, 2008, 2011 e 2012; MORAES; GUIMARES; GUARIDO,
2007; MORAES; DAMAZO; LARA, 2008; MORAES; GUIMARES, 2008; GUARIDO; MORAES, 2009; MORAES; ALVES,
2009; GARCIA-MARCO; MORAES; GARCIA-MARCO; GUIMARES, 2010. O foco destas pesquisas est centrado na
anlise da estrutura do Texto narrativo de fico, e, pelo demonstrado, proporcionou a identificao da temtica
principal, proporcionando uma convivncia simbitica com Anlise Documental, de modo a se
complementarem. A proposta de aplicao desta metodologia no Artigo Cientfico seguiu a mesma base aplicada
na Anlise Estrutural do Texto de Fico apresentada pelos autores supracitados em Cincia da Informao. O
Percurso Gerativo de Sentido serviu em dois nveis, sendo eles o da narrativa (estrutura cannica) e a
discursiva (concretizao de temas e figuras), para a Anlise Documental, e foi um grande auxiliar na
identificao e representao do contedo temtico, sendo que utilizao do Percurso Gerativo de Sentido se
deu, por meio da etapa analtica, que possibilita, com a leitura tcnica, reconhecer a estrutura textual e
identificar a temtica do texto. Sendo assim, o enfoque desta pesquisa reside em aproveitar o mesmo mtodo
utilizado na anlise de texto de fico e analisar como esse pode ser utilizado no artigo cientfico de modo a
contribuir com a identificao da temtica. A preocupao com a Anlise Documental de Contedo do artigo
cientifica surge devido s ambiguidades temticas muitas vezes associadas a ele, que se reflete em ndices de
impreciso no processo de recuperao. Como resultado obtido, pode apontar que o Percurso Gerativo de
Sentido atende s expectativas apresentadas neste trabalho, constata se tambm, que os artigos cientficos
trazem consigo resqucios de discursos narrativos, que de certo modo, auxiliam na aplicao desta
metodologia na identificao temtica.

Palavras-chave Artigo Cientfico. Anlise de Contedo. Percurso Gerativo de Sentido.

Abstract The theoretical notion of Generative Sense Course emerges from studies of A. J. GREIMAS, whose
aim is to explain the structure of the text through cohesive sense used in its preparation. When conducting
an exploratory study in the literature of information science, it was found that the Generative Route Sense is
already being used by some authors, such as: MORAES, 2008, 2011 and 2012; MORAES; GUIMARES; GUARIDO,
2007; MORAES; DAMAZO; LARA, 2008; MORAES; GUIMARES, 2008; GUARIDO; MORAES, 2009; MORAES; ALVES,
2009; GARCIA-MARCO; MORAES; GARCIA-MARCO; GUIMARES, 2010. The focus of this research is focused on
the analysis of the structure of the text narrative fiction, and the demonstrated, provided the identification of
the main theme, providing a symbiotic coexistence with Document Analysis in order to complement each
other. The proposed application of this methodology in scientific papers followed the same basis applied in
Structural Analysis Text Fiction presented by these authors in Information Science. The Generative Sense
Course served on two levels, namely the narrative (canonical structure) and discursive (embodiment of
themes and figures) for Document Analysis and was a great help in the identification and representation of
thematic content, and used Generative Sense Course was through the analytical phase, which allows, with
technical reading, recognizing the textual structure and identify the theme of the text. Thus, the focus of this
research lies in harnessing the same method used in text analysis of fiction and examines how this can be
used in scientific paper to contribute to the identification of the subject. Concern for Document Analysis

158
Content Article scientific issues arises due to the ambiguities often associated with it, which is reflected in
rates of inaccuracy in the recovery process. As a result, they can point the Generative Sense Course meets
expectations presented in this paper, there is also scientific articles that bring remnants of narrative
discourse, which in a way, help in applying this methodology in identifying themes.

Keywords Article Scientific. Content Analysis. Generative Sense Course.

Introduo

Como base terica para este estudo tem-se o Percurso Gerativo de Sentido, extrado dos estudos
relacionados Semitica Narrativa e Discursiva realizados por A. J. Greimas (1971 - 1992). Tal
metodologia permite fazer a anlise da estrutura textual interagindo com a Anlise Documental de
Contedo.
A partir de estudo de reviso de literatura na rea da Cincia da Informao, averiguou-se que
esse mtodo de aplicao conjunta entre Percurso gerativo de sentido e a Anlise documental, j se fazia
utilizado por alguns autores, tais como: MORAES, 2008, 2011 e 2012; MORAES; GUIMARES;
GUARIDO, 2007; MORAES; DAMAZO; LARA, 2008; MORAES; GUIMARES, 2008; GUARIDO; MORAES,
2009; MORAES; ALVES, 2009; MORAES; GARCIA-MARCO; GUIMARES, 2010, todos focados na anlise
da estrutura do texto narrativo de fico.
Tal tcnica se reflete ainda, na elaborao de descritores para indexao, nos quais os termos
extrados se pautaram em abranger a temtica exposta no documento, atendendo, assim, s
necessidades do usurio na utilizao de sistemas de busca.
Nota-se tambm que esta convivncia simbitica entre as metodologias: Percurso Gerativo de
Sentido e a Anlise Documental de Contedo eleva a confiana na extrao da temtica do documento.
A Anlise Documental de Contedo se faz usualmente aplicada em textos tcnicos ou
cientficos, de modo a proporcionar a identificao e a representao do contedo temtico, tendo
como desgnio proporcionar acesso informao. No entanto, com essa nova vertente de pesquisa,
se presencia a utilizao desta metodologia em outros tipos textuais, como a narrativa de fico.
Deste modo, ao se ter tal interlocuo metodolgica como ponto de partida, buscou aplic-la
ao gnero textual do artigo cientfico, objetivando que, por meio do Percurso Gerativo de Sentido,
possa se contribuir para a anlise da estrutura textual por meio do embasamento em dois nveis,
sendo eles: o da narrativa (estrutura cannica) e a discursiva (concretizao de temas e figuras),
trazendo como aporte terico a Anlise Documental de Contedo, mais precisamente, a etapa analtica
de anlise documental de contedo, que possibilita com leitura tcnica reconhecer a estrutura
textual e identificar a temtica do texto.
Destarte, o intuito deste trabalho consistiu em demonstrar que os mtodos utilizados na
anlise estrutural de textos narrativo de fico podem ser aplicados estrutura textual do artigo
cientfico, buscando, assim, obter uma maior preciso na anlise da estrutura deste tipo de texto.
Convm mencionar, que o artigo eleito para aplicao da anlise da estrutura pertence rea
da Sade, e se encontra indexado na base de dados online http://www.scielo.br.
A escolha se deu, por uma temtica aleatria de lista de assunto, que resultou na escolha da
Revista Brasileira de Ginecologia e Obstetrcia - que contm 163 volumes. O assunto escolhido foi
sobre o cncer, sendo esse o termo inicial selecionado. Nesta revista se optou pelo primeiro artigo
1
,
para que se pudesse aplicar a metodologia em questo.

1
KONDO, W. et al. Associao entre endometrioma ovariano e endometriose profunda infiltrativa. Rev. Bras. Ginecol.
Obstet. vol.34 n. 9 Rio de Janeiro set. 2012.

159
Com o resultado alcanado, pode-se apontar que o percurso gerativo de sentido atende s
expectativas apresentadas neste trabalho, constata-se tambm, que os artigos cientficos trazem
consigo resqucios de discursos narrativos, que auxiliam na aplicao desta metodologia na extrao
de termos para representao da informao. Esses se fazem bem mais concisos com o corpo do
contedo do texto, ou seja, com a temtica apresenta, atendendo, assim, recuperao precisa da
informao.

1 Gnero do artigo cientfico

Em um primeiro momento, se faz necessrio pontuar o que um artigo cientfico, qual a
contribuio terica para a rea a que se destina, e a relevncia que esse proporciona sociedade
cientfica em geral.
Os textos produzidos em mbito acadmico so denominados de textos cientficos, e se
subdividem em alguns gneros, tais como: monografias, dissertaes e teses, e sendo um desses o
artigo cientfico.
O terico Swales define o artigo cientfico como:

A written text (although often containing non-verbal elements),
usually limited to a few thousand words, that reports on some
investigation carried out by its author or authors. In addition, the RA
[research article] will usually relate the findings within it to those of
others, and may also examine issues of theory and/or methodology. It is to
appear or has appeared in a research journal or, less typically, in an edited
booklength collection of papers (SWALES 1990, P.93).

Segundo o autor, o artigo cientfico se caracteriza por ser curto, e o seu tamanho reduzido se
faz em virtude de ser publicado em peridicos. Sua estrutura textual apresenta elementos como:
resultados, anlise terica e metodolgica.
Na viso de Lakatos e Marconi (1991, p. 259) os artigos cientficos so pequenos estudos,
porm completos, que tratam de uma questo verdadeiramente cientfica, mas que no se
constituem em matria de um livro".
Subentende-se, assim, que os artigos cientficos so pesquisas completas, que trazem
respostas significativas para comunidade cientfica em um curto espao de tempo, contribudo para
a formao terica para a rea que se destinam.
Marcantnio et al. (1993, p.71) coadunam do entendimento de Lakatos e Marconi (1991, p.
259):

Os artigos cientficos so resultados de estudos completos de um dado
objeto de pesquisa. No chegam a constituir-se em matria para
dissertaes, teses ou livros. Apresentam as pesquisas realizadas e so
publicados em revistas ou peridicos especializados.

O artigo cientfico se distingue dos demais tipos de trabalhos cientficos principalmente pela
sua reduzida dimenso e contedo. No entanto, todos os textos cientficos tm como propsito
comunicar os resultados de pesquisas, ideias e debates de forma clara e concisa.

160
De acordo com Cruz et al. (2003, p. 7) os Artigos Cientficos funcionam como um dos principais
canais de divulgao de estudos e pesquisas, transferindo informaes com rapidez requerida pela
evoluo de cada uma das reas constituintes do conhecimento humano.
No que se refere s anlises de gneros textuais, vale destacar a pesquisa do terico John M.
Swales sobre Genre analysis: English in academic and research settings, de 1990, no qual o autor retoma o
percurso histrico relativo a esse gnero textual, e a suas modificaes no decorrer dos sculos
(SWALES, 1990).
De acordo com Swales (1990, p.110), o primeiro Artigo Cientfico surgiu de forma rudimentar
no sculo XVII, quase que na mesma poca da abertura do primeiro peridico cientfico, a revista
The Philosophical Transactions of the Royal Society, em 1665. Bazerman (1983) completa enfatizando que
o gnero do artigo cientfico, se deu a partir de cartas informativas que os cientistas trocavam entre
si.
Observa-se que, nesta poca, os artigos cientficos foram escritos em primeira pessoa como
nas cartas, e alguns traziam consigo at saudaes. Todavia, com a abertura de outras revistas,
comearam a assumir e a prover um ambiente regular para discusses tericas e prticas, isso fez
com que se elaborasse um novo gnero distinto das cartas, denominado de Artigo Cientifico
(BAZERMAN 1983).
Ainda segundo Swales (1990), no incio os artigos cientficos se constituam de narrativas
extensas que relatavam as experincias cientficas, e eram escritas em primeira pessoa do singular e
do plural, sendo isso um resqucio da origem histrica de relatos pessoais por permuta de cartas.
Entretanto, de acordo com Bazerman (1983, p.110), a difuso do peridico "The Philosophical
Transactions of the Royal Society, no sculo XVII, contribuiu para reconfigurar a estrutura textual do
artigo cientifico, no qual:

As phenomena began to be treated as more problematic, articles
began to take on a different organization, opening with an introduction to
the problematic phenomenon, often substantiated with the story of an
experiment that did not go as expected. With the problem established, the
article would chronologically describe a series of experiments aimed at
getting to the bottom of the mystery. Transitions between each two
experiments would draw conclusions from the previous experiment and
point to the rationale or need for the subsequent one. In the highly
developed continuity we see the experimenter gradually come to an
adequate understanding of the phenomenon, which would then be pulled
together in a concluding synthesis or explanation of the phenomenon, as
in Hewson's investigations into the nature of blood (BAZERMAN APUD
SWALES 1990, P. 114).

Presume-se, deste modo, com Bazerman (1983), que a difuso dos peridicos, provocou nos
artigos cientficos um aprofundamento maior, e que se fundamentasse sobre alguns fenmenos,
sendo eles observados ou vivenciados, tendo como intuito resolver determinada problemtica
existente na sociedade.
Esses fatos permitiram que o artigo cientfico tivesse uma linha do tempo evolutiva, a qual
alimenta e serve de base terica para uma srie de novas experincias distintas, e que de certa
maneira como o autor coloca, contribuiria para se "Getting to the bottom of the mystery" (BAZERMAN,
1993, P. 114).
Ainda na concepo do autor, no que se refere precedncia dessas experincias,
desencadeariam a necessidade da elaborao de justificativas, com o intuito de evidenciar os relatos
anteriores sobre alguns fenmenos, do qual esses poderiam ser revistos novamente, de forma que

161
fossem questionados e enfatizassem outras propostas. Como por exemplo, a investigao Hewson
sobre a natureza do sangue, deste modo os trabalhos subsequente a este sobre a mesma temtica,
deveriam apresentar uma justificativa do porqu da pesquisa (BAZERMAN, 1993).
Diante disso, os artigos cientficos so elaborados e sustentados nos fenmenos do cotidiano,
servindo comunicao e intercmbio de ideias entre os cientistas da rea para qual fora elaborado,
trazendo consigo, resultados ou hipteses que possam contribuir em benfeitorias a uma teoria ou na
elaborao de uma nova, que possa ser indita.

1.1 A Modalidade discursiva do artigo cientfico

Os textos trazem consigo caractersticas prprias como estrutura e estilo. Segundo Coracini
(1991) a peculiaridade do discurso no artigo cientfico que, quando redigido, tem como propsito
atingir um grupo de especialistas da rea para qual foi elaborado, pressupondo que quem o ler,
ter um conhecimento prvio sobre a temtica abordada.
De acordo com Santos, ao se:

Levantar uma manifestao textual (oral ou escrita) como um gnero,
ento, consiste em levantar as caractersticas socioculturais e lingusticas
que regulam a forma, o contedo e as escolhas lxico-gramaticais, que o
compem e que so desempenhadas por uma comunidade discursiva
especfica, identificada e descrita (SANTOS, 1996, p.18).

Bakhtin (1997) coaduna da viso exposta por Santos (1996), e ressalta que os enunciados dos
discursos esto relacionados aos diferentes tipos, esfera e interaes sociais, das quais as condies
de produo do discurso se moldam existncia dos gneros, de acordo com as funes que este
exercer, como:

Uma dada funo (cientfica, tcnica, ideolgica, oficial, cotidiana) e
dadas condies especficas para cada esfera de comunicao verbal geram
um dado gnero, ou seja, um dado tipo de enunciado, relativamente
estvel do ponto de vista temtico, composicional e estilstico. O
enunciado reflete as condies especficas e as finalidades de cada uma
dessas esferas, no s por seu contedo (temtico) e por seu estilo verbal,
ou seja, seleo operada nos recursos da lngua recursos lexicais,
fraseolgicos e gramaticais -, mas tambm e, sobretudo, por sua
construo composicional (BAKHTIN, 1997, p. 279).

Presume-se, ento que o discurso elaborado de acordo com a interao social, neste caso, a
comunidade cientfica. O artigo cientfico ao ser redigido seguir uma estrutura baseada em normas
e um lxico que o caracteriza como um discurso cientfico.
A norma cientfica confere ao discurso uma forma passiva de escrita, que se fundamenta na
terceira pessoa do singular, fazendo com que o interlocutor se esconda ou aparea no discurso, em
sntese amenizar o egocentrismo do autor, no entanto, a escrita ser constituda de acordo com
gnero textual cientfico redigido pelo interlocutor (LEIBRUDER, 2002).
Segundo Taschetto (2002, p. 109), dessa maneira o sujeito atenua a sua presena agindo de
acordo com a norma que rege o discurso ingls acadmico, isto , privilegiando uma linguagem
objetiva de afastamento ou iseno do objeto em estudo.

162
De acordo com Marcuschi (2002) a expresso discursiva tambm designa uma:

[...] espcie de construo terica definida pela natureza lingustica de
sua composio (aspectos lexicais, sintticos, tempos verbais, relaes
lgicas). Em geral, os tipos textuais abrangem cerca de meia dzia de
categorias conhecidas como: narrao, argumentao, exposio,
descrio, injuno (MARCUSCHI 2002, p. 22).

Essas modalidades discursivas na concepo do autor, se [...] constituem de sequncias
lingusticas ou sequncias de enunciados e no so textos empricos (MARCUSCHI, 2002 P. 23).
Deste modo, o texto, em geral, contm segmentos variados de modalidades discursivas, no
qual um determinado gnero pode conter uma ou mais modalidades discursivas em sua estrutura.
A ttulo de exemplo e objeto de pesquisa, o artigo cientfico apresenta em sua estrutura
textual elementos narrativos e descritivos (que so evidenciados na metodologia da pesquisa, ao
narrar os passos realizados no decorrer da pesquisa). Outro elemento que pode ser observado o
argumentativo (que demonstra o porqu da pesquisa, e qual a sua importncia e relevncia para
comunidade cientfica); e o ltimo elemento expositivo se apresenta na problemtica da pesquisa
(quando se passa as informaes sobre o objeto a ser pesquisado).
Aponta-se, assim, a modalidade discursiva do artigo cientfico, contribui para identificao do
percurso gerativo de sentido, auxiliando na identificao da estrutura textual.

2 Anlise documental

Nesta parte do texto, buscou-se pontuar a anlise documental e exibir as suas caractersticas,
ressaltando-se que este estudo se focar somente na etapa analtica, para que seja atingindo
objetivo da pesquisa, como o relatado na introduo deste artigo.
A anlise documental, segundo Guimares (1994), exerce sua funo por meio da leitura
tcnica do documento, que visa a identificar a estrutura textual das partes mais relevantes do texto,
para que se possa chegar ao seu contedo temtico.
Alguns autores tm como aporte terico, a definio de anlise documental exposta por
Gardin (1981 apud GUIMARES, 1994; SILVA e FUJITA, 2004), em que o autor a define, como um
conjunto de procedimentos realizados que expressa o contedo dos documentos, de modo a
repercutir na recuperao, nos quais:

Los niveles de anlisis estn en relacin directa con los elementos
dicotmicos que integran el documento: contenido (mensaje) y forma
(soporte), distinguindose pues entre anlisis documental de la forma (ADF) y
anlisis documental de contenido (ADC), ambos con sus campos tericos e
mbitos de accin propios. El primero se efecta sobre el continente,
envase o soporte documental, y el segundo se refiere al mensaje del
documento (PINTO MOLINA 1993, P. 99).

Compartilhando da definio, Guimares (2003) ressalta que a anlise documental apresenta
essas duas peculiaridades, em que, a anlise formal (descrio bibliogrfica) se faz por meio da
catalogao, e a anlise de contedo (temtica) tendo como finalidade a recuperao da informao.

163
De acordo com Guimares (1994), a anlise documental de contedo segue alguns
procedimentos, tais como: a etapa analtica, que se inicia com a leitura tcnica do documento
identificando a sua estrutura textual, da qual sobressaem as partes mais importantes que exibem
seu contedo temtico, utilizando para isso, as estratgias metacognitivas, que tm como objetivo
construir enunciados de assuntos.
A outra etapa, denominada de sinttica, se constitui por meio da seleo de conceitos: em que os
enunciados de assunto so categorizados e ordenados de forma lgica, perante os parmetros
estruturais, funcionais e uso; a condensao documentria corresponde reduo do documento por
meio de sntese; e a representao documentria, consiste na traduo do contedo temtico.
Contudo, para que ocorra a compreenso da estrutura textual do documento, bem como o
entendimento das partes mais relevantes, devem ser levadas em conta as estratgias metacognitivas
de leituras e tcnicas para a identificao da temtica.
As estratgias metacognitivas so elaboradas por meio do conhecimento adquirido ou
vivenciado no desenvolvimento de uma determinada tarefa, de modo a possibilitar outra vez a sua
execuo, isso possibilita se resguardar durante a atividade de leitura documentria, com o
propsito de evitar erros e incompreenses (SILVA & FUJITA, 2004, p. 148).
As estratgias cognitivas e metacognitivas esto relacionadas, alm disso, com os objetivos
que sero refletidos no decorrer da leitura documentria, dos quais seus aspectos so abordados por
Pinto Molina (1993, p. 162-163), quando enfatiza que:

Pero las estrategias desarrolladas durante el perodo de la lectura
dependen no slo del lector y del texto, sino tambin de los objetivos
documentales. Concebidas como acciones mentales estructuradas, se
pueden agrupar en dos categoras: cognitivas, que comprenden
comportamientos automticos e inconscientes de interpretacin; y
metacognitivas, que suponen actividades desautomatizadas en las que el
lector tiene consciencia de cmo est leyendo. La legibilidad de un texto
exigir una aplicacin equilibrada de ambos tipos de estrategias.

As estratgias de leituras seguem atribuies conceituais lingusticas e cognitivas, que se
desenvolvem por meio da aplicao contnua e do processamento de informao, os chamados
bottom-up e topdown, que so considerados como procedentes da psicologia cognitiva, conforme
Pinto Molina (1993) demostra:

a) Ascendentes/ guiados por los datos/ botton-up/ inductivos/, en los que la lectura es
de tipo lineal, yendo de las partes al todo textual, es decir partiendo exclusivamente del
estmulo visual;
b) Descendentes/ orientados conceptualmente/ top-down/ deductivos / en los que se
camina a la inversa, del todo a las partes, aprovechando los conocimientos previos o
esquemas del lector. La experiencia nos dice que la comprensin/interpretacin de
un pasaje escrito implica la continua insercin de una gran dosis de conocimiento
extralingustico convencional (conocimiento previo). Por conseguinte, el lector no
necesita utilizar todos los datos textuales, pues el proceso se inicia aprovechando dicha
informacin extratextual para plantear hiptesis o predicciones que facilitam la
comprensin/interpretacin. Cualquier autor asume que sus lectores disponen del
oportuno nivel de dichos conocimientos previos (PINTO MOLINA, 1993, p. 161).

164
Considera-se, de acordo com a autora, que os mtodos de leitura so dinmicos e ocorrentes
de interpretaes, e do qual sua compreenso se estabelece pelo processo de significao, de modo a
se adequar a anlise semntica e anlise de contedo.
Ressalte-se, ainda que, nesta pesquisa, se focar apenas anlise de contedo, e que buscar
por meio dela, reunir os elementos que se sobressaem durante a condensao e a representao
documentria.
Deste modo, para que se obtenha a recuperao da informao pelo contedo do documento,
se faz necessrio seguir alguns procedimentos de anlise documental de contedo, no qual, em um
primeiro momento, se identifica o tema para que, em seguida, se possa representar o contedo
documental em sistema que vise recuperao da informao.
Complementando a anlise documental de contedo, na seo subsequente se demonstrar a
semitica greimasiana, que apresenta procedncia para o Percurso Gerativo de Sentido, que visa a
estabelecer o conhecimento prvio imprescindvel sobre a estrutura textual, e que ser utilizado na
estratgia metacognitiva de leitura do artigo cientfico, demonstrando a compatibilidade entre as
metodologias.

3 A semitica na semntica estrutural gremasiana

Nesta fase da pesquisa, se apresentar sucintamente a semitica na lingustica e sua
compreenso de texto.
A Semitica Greimasiana leva esse nome devido contribuio de Greimas para com o modelo
de semitica da lingustica (FIORIN, 1999).
Essa metodologia se encontra em desenvolvimento, deste modo, a todo "momento, est
repensando-se, modificando-se, refazendo-se, corrigindo-se. (FIORIN, 1999, p. 1). Greimas teve
como influncias tericas os conceitos apresentado por Saussure (1857 - 1913) e Hjelmslev (1889 -
1965).
Na concepo de Saussure, o signo lingustico " [...] o fenmeno lingustico que apresenta
perpetuamente duas faces, que se correspondem e das quais uma no vale seno pela outra
(SAUSSURE, 1986, p. 15) a essas faces, se atribui o nome de significante e significado; o significante
seria a apresentao fsica do signo sonora ou imagtica e o significado, o conceito que permite a
formao da imagem em uma mente, de acordo com Saussure, os signos, embora sendo
inicialmente psquicos no sejam abstraes; antes associaes ratificadas pelo consentimento
coletivo e cujo conjunto constitui a lngua (SAUSSURE, 1986, p. 23).
Observa-se que, a teoria de Saussure se representa por nome/significado ligado a alguma
coisa/significante, sua semitica se respaldava neste modelo bilateral, por meio do signo, significado
e significante.
Hjelmslev bebe da fonte de Saussure, entretanto, ele apresenta outra vertente semitica,
exibindo quatros elementos ao invs de trs como Saussure apresenta. Em seus estudos Hjelmslev
rev o modelo sgnico de Saussure de duas faces, o desdobrando em quatro: forma de contedo,
forma de expresso, substncia de contedo e substncia de expresso.
Para Hjelmslev (1975), o signo a funo entre duas formas, a forma de contedo e a forma de
expresso, sendo esse o ponto de partida do autor para anlise lingustica. No entanto, cada signo
assume uma funo, manifestada tambm por duas substncias: a substncia de contedo e
substncia de expresso.
A substncia de contedo se d pela manifestao psicolgica e conceitual do signo. A
substncia expresso se faz pela substncia material em que um signo manifestado. Esta
substncia pode ser slida, o que ocorre com as maiorias dos idiomas conhecidos, mas tambm pode

165
ser quaisquer materiais de apoio, como por exemplo, o movimento das mos como ocorre nas
lnguas de sinais (HJELMSLEV, 1975, p.53 - 54).
De acordo com Hjelmslev, o signo se "define por sua funo, em que se ope a um no-signo",
funcionando com um signo que indica e que significa, sendo este, um signo portador de uma
significao (HJELMSLEV, 1975, p. 49). Em sua teoria Hjelmslev considerou na lngua, a existncia
dos no-signos e os nomeou de figuras, esclareceu ainda, que estas figuras entram na composio
dos signos (HJELMSLEV, 1975).
Para se elucidar a ideia da significao proposta por Hjelmslev, buscou-se na lngua
portuguesa um termo polissmico, para que, se pudesse observar um signo dentro e fora de um
contexto. Utilizando como exemplo o termo BRAO, nota-se que nem sempre possvel relaciona-lo
a uma significao, ficando deste modo vago. Porm, o termo BRAO na lngua portuguesa dentro de
um contexto apresenta um significado, em outro apresentar um significado distinto, como por
exemplo: "Meu brao est quebrado", aqui o termo brao se remete ao um membro do corpo
humano, bem diferente da frase "No se apoie no brao do sof!", sendo esse brao, uma das laterais
do sof (SOUZA, 2004).
Sendo assim, na viso de Hjelmslev o signo ao ser:

Considerado isoladamente, signo algum tem significao. Toda
significao de signo nasce de um contexto, quer entendamos por isso um
contexto de situao ou um contexto explcito, [...]. necessrio, assim
abster-se de acreditar que um substantivo est mais carregado de sentido
do que uma preposio, ou que uma palavra est mais carregada de
significao do que um sufixo de derivao ou uma terminao flexional
(HJELMSLEV, 1975, p. 50).

Deste modo, para o autor, o signo sem o seu contexto no tem como representar ou
apresentar um significado.
Tendo como aporte terico os dois pensadores, Greimas (1976), ao focar seus estudos na
estrutura do discurso, traz consigo a ideia de que uma estrutura narrativa se manifesta em
quaisquer tipos de texto. De acordo com o autor, seu modelo gerativo de semitica textual tem
como objetivo elucidar a elaborao do discurso em quaisquer sistemas semitico.
Alm disso, Greimas (1976), no decorrer de seu estudo, demonstra que as estruturas textuais
discursivas so organizadas seguindo uma estrutura lgica de manifestao, denominada Percurso
Gerativo de Sentido que ser discutido em seguida.

3.1 O Percurso gerativo de sentindo

O Percurso Gerativo de Sentido emerge dos estudos de Greimas (1976), e formada por trs
nveis: fundamental, narrativo e discursivo. Todos so distintos em suas formas de anlise, no
entanto, h uma interdependncia entre eles, para que ocorra o pleno entendimento do texto, indo
da anlise simples mais complexa.
Barros (2005. p.11) demonstra que A semitica tem como objeto o texto, ou melhor, procura
descrever e explicar o que o texto diz e como ele faz para dizer o que diz.
Segundo Floch (2001, p. 15), o Percurso Gerativo uma representao dinmica da produo
do sentido:

166
[...] a disposio ordenada das etapas sucessivas pelas quais passa a
significao para se enriquecer e, de simples e abstrata, tornar-se
complexa e concreta. Compreende-se a escolha do termo percurso. Mas
por que gerativo? Porque todo objeto significante, para a semitica,
pode e deve ser definido segundo seu modo de produo, e no
segundo a histria de sua criao: gerativo se ope assim a gentico.

Fiorin (1999) enfatiza que o percurso gerativo de sentido se constitui de trs nveis:

O percurso gerativo constitudo de trs patamares: as estruturas
fundamentais, as estruturas narrativas e as estruturas discursivas. Vale
relembrar que estamos no domnio do contedo. As estruturas discursivas
sero manifestadas como texto, quando se unirem a um plano de
expresso no nvel da manifestao. Cada um dos nveis do percurso tem
uma sintaxe e uma semntica (FIORIN 1999, p.17).

O percurso gerativo de sentido vai do mais simples ao de complexidade maior, o fundamental
(ou profundo), o narrativo e o discursivo, so nveis composto de uma sintaxe e de uma semntica
como apresentado pelo autor.
De acordo com Fiorin (1999, p. 14), a semitica se atenta para o percurso gerativo de sentido
como [...] um simulacro metodolgico, para explicar o processo de entendimento, em que o leitor
precisa fazer abstraes, a partir da superfcie do texto, para poder entend-lo. Deste modo,
entende as estruturas profunda ou fundamental (como categorias semnticas), narrativa (como
estrutura cannica) e discursiva (com concretizao de temas e figuras) (FIORIN, 1999).
Para melhor compreender a estrutura do percurso gerativo de sentido se faz necessrio
descrever sua abordagem em trs nveis:

1. O Nvel Fundamental ou Profundo: se estabelece por uma relao de contrariedades,
de acordo com Fiorin (1999, p. 10) o texto composto pelo nvel Fundamental/Profundo
[...] compreende a(s) categoria(s) semntica(s) que ordena(m), de maneira mais
geral, os diferentes contedos do texto. Uma categoria semntica uma oposio tal
que a vs b. Por exemplo, vida vs morte ou liberdade vs opresso. Nesse nvel se
encontra a base estrutural do texto, em que anlise dos traos simples e abstratos,
proporciona a identificao das oposies semnticas na construo do sentido do
texto (FIORIN, 1999);
2. O Nvel Narrativo:est descrito na estrutura em que se conta o fato/histria, no qual
seus atuantes por meio dos papis que representam se relacionam com identificao
de um sujeito e objeto, em que o sujeito mantm relao com o objeto. Segundo Fiorin
(2008, p. 27), [...] preciso fazer uma distino entre narratividade e narrao.
Aquela componente de todos os textos, enquanto esta concerne a uma determinada
classe de textos. A narratividade uma transformao situada entre dois estados
sucessivos e diferentes. Essas transformaes acorrem por meio de quatro fases.
Sendo a primeira a manipulao, que atribui ao destinatrio-sujeito um querer ou
dever. A segunda fase, a competncia, em que um sujeito concede ao outro um saber
ou poder fazer. A terceira fase a da performance, h a transformao central da
narrativa, ocasionada por uma mudana de um estado a outro. A ltima fase a
sano, nesta se apresenta a verificao de que a performance foi realizada,
evidenciando as consequncias e a importncia do sujeito que fez a transformao
(FIORIN, 1999 e 2008);

167
3. O Nvel Discursivo: neste se apresenta os elementos concretos do texto por meio das
palavras que se remete aos temas e figuras. A figura representa o mundo natural e
tem carter descritivo, como [...] rvore, vagalume, sol, correr, brincar, vermelho,
quente, etc. Assim, a figura todo contedo de qualquer lngua natural ou de
qualquer sistema de representao que tem um correspondente perceptvel no
mundo natural (FIORIN, 2008, p. 91). J os temas possuem caracterstica predicativa e
interpretativa, que consiste em um [...] investimento semntico, de natureza
puramente conceptual, que no remete ao mundo natural. Temas so categorias que
organizam, categorizam, ordenam os elementos do mundo natural: elegncia,
vergonha, raciocinar, calculista, orgulhoso, etc. (FIORIN, 2008, p. 91).

No entanto, para a construo dos percursos temtico e figurativo, se faz necessria a
utilizao da isotopia, que segundo Greimas e Courts (1986 apud MORAES; GUIMARES, 2006), [...]
constitui um crivo de leitura que torna homognea a superfcie do texto, uma vez que ela permite
elidir ambiguidades. De acordo com os autores, ao se levantar as isotopias se identificam as
continuidades semnticas que tornam o texto num conjunto coerente (MORAES; GUIMARES, 2006,
p.07).
Ainda na concepo de Moraes e Guimares (2006, p.07), na etapa das "estruturas discursivas, os
resultados obtidos nesta fase devem remeter etapa inicial, ou seja, s estruturas fundamentais", isto
, no percurso lgico da construo do texto coerente.
Na sequncia, ser feita a verificao de um percurso gerativo de sentido, por meio do
percurso temtico e figurativo aplicado ao artigo cientfico, para que se possa afirmar ou no, se os
resultados obtidos com esta aplicao so satisfatrios, como o mesmo aplicado em textos
narrativos de fico.

3.2 Aplicao do percurso gerativo de sentido na estrutural textual do artigo
cientfico

O artigo selecionado para aplicao do percurso gerativo de sentindo para a anlise estrutural
da rea da Sade, que se encontra indexado na base de dados online http://www.scielo.br, e sua
escolha se deu por tema, de forma aleatria na lista de assunto, que resultou na escolha da Revista
Brasileira de Ginecologia e Obstetrcia, que contm 163 volumes. O assunto escolhido foi cncer, sendo
esse o primeiro termo que se teve em mente. Nesta revista, se optou pelo primeiro artigo: Kondo, W.
et al. Associao entre endometrioma ovariano e endometriose profunda infiltrava. Rev. Bras. Ginecol.
Obstet.vol.34 no.9 Rio de Janeiro set. 2012
2
, para que pudesse ser aplicada a metodologia.
Como apresenta as exemplificaes expostas nos Quadros:

2
Disponvel em: http://www.scielo.br/scielo.php?script=sci_arttext&pid=S0100-72032012000900006&lng=pt&nrm=iso.
Acesso 04 de Nov de 2012.

168

Quadro 1- Manipulao Elemento da Estrutura Cannica
3

TEMAS FIGURAS
Doena Plvica Endometrioma ovariano
Tratamento Cirrgico Paciente
Investigao Equipe
Cirurgio

Quadro 2- Percurso Figurativo e Percurso Temtico
4

Quadro 3 - Competncia Elemento da Estrutura Cannica

TEMAS FIGURAS
Cirurgia Mulheres
Tratamento Ginecologista
Doena Paciente
Cirurgia Laparoscpica
Ps-operatrios

Quadro 4- Percurso Figurativo e Percurso Temtico

3
Fonte: Elaborado com base na concatenao bibliogrfica deste artigo.
4
Quadro 2, 3, 4 e 5: Fonte: Elaborado com base na concatenao bibliogrfica deste artigo
M
a
n
i
p
u
l
a
o

Existe uma forte associao entre o endometrioma ovariano e a presena de doena plvica
extensa, EPI e comprometimento intestinal1. Dada a complexidade do tratamento cirrgico da
EPI12-14 e a taxa considervel de potenciais complicaes ps-operatrias 2, 15, sensato e
necessrio que se identifiquem na investigao pr-operatria marcadores de severidade da
doena para o aconselhamento adequado da paciente e para o planejamento cirrgico
apropriado10. Na ausncia de equipe especializada para o tratamento das formas avanadas de
endometriose, a identificao de tais marcadores pode alertar o cirurgio para a possibilidade
de presena de EPI, levando-o a referenciar a paciente a um centro especializado no
tratamento da doena (Kondo, W. et al, 2012, p.02).

C
O
M
P
E
T

N
C
I
A
"Foi realizada uma anlise retrospectiva incluindo mulheres portadoras de endometriose
operadas por um nico ginecologista em um servio privado no Sul do Brasil, durante o perodo
compreendido entre janeiro de 2010 e junho de 2012. O trabalho foi aprovado pelo Comit de
tica do Hospital Vita Batel e o termo de consentimento livre e esclarecido foi obtido de todas as
pacientes no momento da indicao do procedimento cirrgico.
Todas as mulheres submetidas cirurgia laparoscpica para investigao e tratamento de
dor plvica crnica com endometriose comprovada histologicamente foram includas no estudo.
O procedimento cirrgico foi realizado com o intuito de remover completamente a doena. Os
achados intra e ps-operatrios foram coletados prospectivamente e armazenados em um banco
de dados" (Kondo, W. et al, 2012, p.02).

169

Quadro 5 - Performance Elemento da Estrutura Cannica

TEMAS FIGURAS
Tratamento Pacientes
Cirrgico Laparoscpico de endometriose

Quadro 6 - Percurso Figurativo e Percurso Temtico
5

Quadro 7 - Sano Elemento da Estrutura Cannica

TEMAS FIGURAS
Estudo Endometrioma ovariano
Identificao Ginecologistas
Leses de endometriose
Exame de imagem

Quadro 8 - Percurso Figurativo e Percurso Temtico

No processo de classificao de temas e figuras, obteve-se como resultado a construo do
percurso temtico e do percurso figurativo para o levantamento de temas.
Notou-se que as figuras e os temas individualmente no possuem representatividade, mas no
momento em que se faz a ligao entre todos eles, se verifica como funcionam e a construo do

5
Quadro 6, 7 e 8: Fonte: Elaborado com base na concatenao bibliogrfica deste artigo.
P
E
R
F
O
R
M
A
N
C
E

Durante o perodo de estudo, 201 pacientes foram submetidas a tratamento cirrgico
laparoscpico de endometriose. A mdia de idade da amostra estudada foi de 357,3 anos e o IMC
mediano foi de 24 kg/m2 (18- 35,5 kg/m2). Cinquenta e seis pacientes (27,9%) eram portadoras de
endometrioma ovariano e 180 pacientes (89,5%) apresentaram EPI confirmada
histologicamente"(Kondo, W. et al, 2012, p.03).
S
A
N

O
"Neste estudo retrospectivo demonstramos que na presena de endometrioma ovariano,
independentemente do seu tamanho, observa-se alta incidncia de leses de EPI associadas. Tais
achados confirmam resultados achados de estudos previamente publicado9-11 e novamente
chamam a ateno dos ginecologistas para o fato de que a identificao de um endometrioma
ovariano em um exame de imagem implica necessariamente em uma investigao para
identificao de outras leses de endometriose" (Kondo, W. et al, 2012, p.03)

170
texto com base na questo da isotopia como elemento "amalgamador de sentidos" (MORAES;
GUIMARES, 2006, p.07) deixando o texto coerente.
Percebe-se que no texto o trao smico - cncer - tende a se repetir por meio da isotopia.
Tendo como condio o estudo do cncer no personagem principal, por mais que esta no esteja
explcita, mas est contida implcita no momento em que relaciona os tratamentos e a regio do
corpo em que este se manifesta e seus sintomas, deixando em evidncia que o paciente somente a
do gnero feminino, no texto essa doena se apresenta apenas com nome cientifico, evitando a
expresso por um termo geral.
Sendo assim, por meio dos percursos temtico e figurativo, se tem como tema do texto:
Cncer em Mulheres confirmado pela estrutura fundamental do texto, ou elementos mais abstrato
doena.

Consideraes finais

Ao tecer os pontos que nortearam esta pesquisa, pode-se apontar de forma satisfatria a
aplicao do Percurso Gerativo de Sentido agindo em conjunto com Anlise Documental de
Contedo, ao cumprir com a mesma preciso que este fez na Anlise da Estrutura do Texto de
Fico, dando base para a consecuo do objetivo geral desta pesquisa.
Assim, a metodologia utilizada apresenta resultados que correspondem expectativa lanada,
proporcionado a exposio da coerncia lgica utilizada pelos autores na elaborao do artigo
cientfico, que em regra contm uma repartio na sua estrutura textual, representada pelos
termos; Resumo, Introduo, Desenvolvimento, Metodologia e Consideraes Finais, nestes podem
ser encontrados elementos textuais; Descritivos, Argumentativos e Expositivos.
Esses elementos permitiram chegar ao percurso gerativo de sentido, por meio da aplicao
deste em dois nveis, sendo eles: Narrativo e Discursivo. O primeiro nvel possibilita a identificao
de um sujeito e objeto, demonstrando uma relao entre ambos. O segundo nvel apresenta
elementos concretos do texto por meio de palavras que remetem a temas e figuras, este mtodo em
conjunto com a Anlise documental por meio da etapa analtica colaborou na identificao dos
trechos principais do texto, por meio da leitura tcnica que proporcionou rapidez e eficincia na
identificao do percurso gerativo de sentido, ao demonstrar os elementos narrativos e discursivos.
Deste modo, os objetivos foram atingidos, ao se chegar ao tema principal do texto e
demonstrar sua estrutura coesiva na elaborao.
Pode-se apontar tambm que os resultados obtidos contribuem para uma melhor indexao
da temtica, quando o gnero for o Artigo Cientfico, ficando comprovado que, a metodologia
aplicada se faz de extrema relevncia ao fazer a extrao de termo correntes e correspondente ao
documento, possibilitando assim, a diminuio de impreciso e revocao, ao se recuperar a
informao.

171
Referncias

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Catlica.

173
ESTUDIO COMPARATIVO SOBRE LA VISUALIZACIN DE REDES DE CO-WORDS A TRAVS DE LOS
DESCRIPTORES DEL SCIENCE CITATION INDEX Y DE MEDLINE

G. CANTOS MATEOS
Consejo Superior de Investigaciones Cientficas - Instituto de Polticas y Bienes Pblicos / SCImago
Research Group
[email protected]

M. A. ZULUETA
Universidad de Alcal / SCImago Research Group
[email protected]

BENJAMN VARGAS-QUESADA
Universidad de Granada / Consejo Superior de Investigaciones Cientficas - Unidad Asociada Grupo
Scimago
[email protected]

Z. CHINCHILLA-RODRGUEZ
Consejo Superior de Investigaciones Cientficas - Instituto de Polticas y Bienes Pblicos / SCImago
Research Group
[email protected]

Resumen
Objetivos: El presente estudio se centra en la investigacin desarrollada en Espaa sobre clulas madre
comprendida entre los aos 1997 y 2010. El objetivo fundamental consiste en la comparacin de las lneas de
investigacin que ofrece el anlisis de distintos tipos de descriptores, segn su naturaleza documental, a
partir de su aparicin conjunta en los documentos.
Material y Mtodos: Las fuentes utilizadas han sido las bases de datos del Science Citation Index Expanded
(SCI-E) y Medline, empleando para el estudio el mismo conjunto documental. El anlisis aplicado ha consistido
en la representacin y visualizacin de las relaciones que se establecen entre los trminos de indizacin. De
un lado, se han empleado los descriptores utilizados por el SCI para indizar sus documentos: KeywordsPlus
(KW+) y Keywords Author (KWA) y de otro, los descriptores MeSH utilizados por Medline. Las herramientas
utilizadas para la visualizacin han sido el software Pajek, en combinacin con el algoritmo
PathfinderNetwork (PfNET) para la simplificacin de las relaciones y el software VOSviewer.
Resultados y Discusin: se han recuperado 3.078 documentos. A partir de ellos, en funcin del tipo de
descriptor seleccionado, se han obtenido distintas imgenes sobre la investigacin espaola en clulas madre
entre 1997 y 2010. La visualizacin ms clara y completa es la que ofrecen los descriptores KW+, permitiendo
detectar hasta un total de seis lneas de investigacin. La visualizacin de los KWA, por su parte, ofrece una
imagen ms diluida de las lneas de investigacin, reflejando, sobre todo, la investigacin de carcter ms
bsico. Finalmente, la representacin de las relaciones de los descriptores MeSH tambin se aproxima, sobre
todo, a los estudios de carcter ms bsico.
Conclusin: la comparacin de las visualizaciones ha permitido determinar que los descriptores KW+ son la
unidad de anlisis ms adecuada a la hora de realizar un anlisis temtico sobre un domino cientfico.

Palabras-clave Anlisis de Co-words. Clulas Madre. Visualizacin de la Informacin.

174

Abstract
Objectives: The present study is focused on the research conducted on stem cells in Spain between 1997 and
2010. Its main objective is the comparison of the main lines of research that provides the analysis of different
types of descriptors through their co-ocurrence in the documents.
Material and Methods: We used Science Citation Index Expanded (SCI-E) and Medline in order to study the
same set of documents. Applied analysis involved the representation and visualization of relationships
established between indexing terms of the study documents. On the one hand, we have employed the
descriptors used by the SCI-E to index the documents: KeywordsPlus (KW+) and Keywords Author (KWA), on
the other hand, MeSH descriptors used by Medline. The softwares handled for visualization are Pajek, in
combination with the algorithm PathfinderNetwork (PfNET), and Vosviewer.
Results and Discussion: 3,078 documents were recovered. On the basis of them, depending on the type of
descriptor selected, different visualizations were obtained from the Spanish stem cell research between 1997
and 2010. The better display is that offered by KW+ descriptors, allowing detection up to a total of six lines of
research. The visualization of the KWA, meanwhile, is more diffuse, showing an overview of the more basic
research. Finally, the representation of relations using MeSH descriptors also approaches especially the more
basic studies.
Conclusion: The comparison of the displays has revealed that KW+ descriptors are the most appropriate units
to analyse a scientific domain.

Keywords Co-words Analysis. Stem Cell. Information Visualization.

Introduccin

La investigacin espaola con clulas madre es un tema biomdico de gran importancia y
repercusin cientfica por las expectativas que genera. Desde que en 1949, el cientfico J. Hammond
(1949) descubriese el mtodo para mantener los embriones de ratn en cultivo in vitro, la
investigacin con clulas madre se ha desarrollado gradualmente ofreciendo en los ltimos aos
perspectivas muy esperanzadoras para el tratamiento de enfermedades, hasta ahora, incurables.
Actualmente, la direccin de la investigacin est orientada, fundamentalmente, al desarrollo de
nuevas terapias para enfermedades hematolgicas, cardiovasculares, neurodegenerativas,
genticas, cncer, diabetes, etc. (Martnez Serrano y Bjorklund 1996; Bishop et al. 2002; Cao et al.
2002; Di Giorgio et al. 2007). Por su naturaleza, la investigacin con clulas madre trasciende
inevitablemente a otros campos de carcter tan diverso como el poltico, tico, cultural, jurdico,
etc., situndose en el escenario de la controversia social.
Resulta cada vez ms evidente, la utilidad que tienen los estudios bibliomtricos para reflejar
el estado en el que se encuentra la investigacin en un momento determinado y facilitar la toma de
decisiones en materia de poltica cientfica. Esto impulsa el desarrollo y perfeccionamiento de
nuevas tcnicas y herramientas bibliomtricas que tratan de mejorar la comprensin y anlisis de
los dominios cientficos. Una muestra es la incorporacin de las redes sociales (Wasserman y Faust
1998) como tcnica de anlisis y visualizacin de dominios cientficos (Boyack et al. 2009;
Leydesdorff y Rafols 2009; Vargas-Quesada et al. 2010; Rafols et al. 2010).
Existe una gran diversidad de mtodos y tcnicas a la hora de delimitar y visualizar un campo
cientfico con el fin de detectar subcampos, reas o lneas de investigacin. Hay estudios que
utilizan la cocitacin de autores (ACA) (White y Griffith, 1981; White y McCain, 1998; Small and
Upham, 2009; Chen et al., 2010; Zhao y Strotmann, 2011), el anlisis de emparejamiento bibliogrfico
(Kessler, 1963; Boyack y Klavans, 2010; Chen et al., 2011; Glnzel y Thijs, 2011), estudios de co-words
(Callon et al., 1983; Rip y Courtial, 1984, Cambrosio et al., 1993; Van Raan y Tijsen, 1993; Ding et al.,
2001; Lee, 2008; Leydesdorff y Welbers, 2011; Zulueta et al., 2011) o los estudios hbridos en los que
se combinan tanto ACA como co-words (Zitt y Bassecoulard, 1996; Zitt et al., 2011). Sin embargo,
otros autores han demostrado que los resultados del anlisis estructural y la evaluacin de los

175
resultados de investigacin de un campo determinado pueden ser enriquecidos mediante la
combinacin de ambos elementos en un anlisis integrado (Noyons et al, 1999; Cobo et al, 2011). En
vista de las ventajas e inconvenientes que condicionan la eleccin de una metodologa sobre otra,
para el presente estudio se ha optado por el anlisis de co-word. (Zitt et al., 2011). Segn Michel Zitt
y colaboradores (Zitt et al., 2011), las palabras, a diferencia de las citas, parecen adaptarse mejor a la
"ciencia viva" porque son universales. Para estos autores, las unidades lingsticas tienen la
capacidad de reflejar mejor la incidencia de los contextos cientficos, sociales y polticos, propios de
los dominios ms controvertidos y reas emergentes. Adems, el anlisis de co-words es
considerado como una tcnica de anlisis de contenido muy eficaz en el mapeo de la fuerza de
asociacin entre los tems procedentes de datos textuales (Cobo et al., 2011).
En un estudio anterior (Cantos-Mateos et al., 2012), se analiz la produccin cientfica sobre la
investigacin espaola con clulas madre desarrollada entre 1997 y 2007. En l, se analizaba
mediante indicadores bibliomtricos la produccin cientfica relativa al dominio y se gener una
representacin topogrfica de los descriptores KeyWords Plus ms frecuentes. Este trabajo puede
considerarse un estudio preliminar a este ya que se realiz una delimitacin temtica a travs de
una tipologa concreta de descriptor.
En este caso, el objetivo fundamental de este trabajo consistir en la comparacin de las
visualizaciones que ofrece el anlisis de tres tipos distintos de descriptores, segn su naturaleza
documental, a partir de su aparicin conjunta en los documentos, con el fin de detectar lneas o
reas de investigacin en cada caso.
Existen otros trabajos en los que se han comparado descriptores como el de Quin (2000) desde
la perspectiva del anlisis de las similitudes semnticas entre los descriptores KW+ y MeSH.
Tambin hay muestras de estudios que han mapeado un dominio cientfico a travs de los
descriptores de los autores (Su y Lee, 2010). As como trabajos en los que se ha realizado un anlisis
temtico sobre la produccin cientfica con clulas madre aplicando otro tipo de anlisis como el de
co-citacin de autores (Zhao y Strotmann 2011).

1 Material y Mtodos

1.1 Fuentes

Se han utilizado como fuentes de informacin las bases de datos bibliogrficas del Science
Citation Index Expanded (SCI-E) y Medline, ambas accesibles a travs de la Web of Science.
Estas bases de datos se diferencian en muchos aspectos, uno de ellos es el tipo de indizacin
que utilizan. El SCI-E indiza los documentos mediante el empleo de dos tipos de descriptores. Por un
lado, los Keywords de Autor (KWA), que son las palabras clave que los propios autores utilizan para
definir el contenido de sus documentos. Y por otro, los KeyWords Plus (KW+), que son las palabras
clave extradas de manera automatizada de los ttulos de las referencias contenidas en los
documentos (Garfield, 1990; Garfield and Sher, 1993). Por su parte, Medline emplea una indizacin
manual basada en el uso de los Medical Subject Headings (MeSH). Se trata de un vocabulario
controlado especializado en trminos mdicos proporcionado por la National Library of Medicine
(NLM).
Con el empleo de estas bases de datos se obtendran los trminos procedentes de tres
sistemas de indizacin distintos. Uno de carcter automatizado a travs de los KW+ del SCI y otros
dos de carcter manual, uno de tipo libre mediante los KWA del SCI y otro de tipo controlado a
travs de los descriptores MeSH utilizados por Medline.

176
1.2 Recuperacin y tratamiento de la informacin

En primer lugar, se inici la bsqueda documental en el SCI-E porque esta base de datos, a
diferencia de Medline, normaliza el nombre de todos los pases a travs del campo Address. Esto es
una caracterstica fundamental para estudios como este que pretenden centrarse en un dominio
geogrfico determinado.
De este modo, la estrategia de bsqueda empleada para la recuperacin de los documentos en
el SCI fue utilizando los trminos stem* cell* en el campo Topic, Spain en el campo Address y limitada
al periodo temporal de 1997-2010.
Una vez recuperados los documentos se extrajeron los KWA y los KW+ y se buscaron los
mismos documentos en la base de datos Medline. Al tratarse de la misma coleccin documental es
posible comparar con mayor precisin la imagen que ofrece la visualizacin de las relaciones que se
establecen entre los documentos a travs de los descriptores.
Finalmente, fueron extrados los descriptores MeSH pasando por un proceso posterior de
normalizacin. Se seleccionaron nicamente los trminos Major. stos aluden nicamente a los
conceptos ms importantes de los documentos. Descartndose as, los trminos Minor que, aunque
identifican conceptos que tambin se han discutido en el documento, no aluden a la temtica
principal.

1.3 Anlisis y visualizacin de los datos

El anlisis aplicado a cada tipo de descriptor ha consistido en calcular las relaciones que se
producen entre ellos a partir de su aparicin conjunta en los documentos, lo que se conoce como Co-
words Analysis. Este anlisis consiste, en generar una matriz cuadrada de N x N elementos, donde N
es el tipo de descriptor a representar, a partir de las veces que ocurren los descriptores en los
documentos. El resultado es una matriz de co-ocurrencias que refleja el nmero de veces que un par
de descriptores aparecen conjuntamente en dos documentos.
Para la visualizacin de dichas relaciones, se han utilizado dos software libres especializados
en la generacin de redes, que permiten representar la estructura relacional de cada tipo de
descriptor. Por un lado, Pajek (Batagelj and Mrvar, 2010) y en concreto, el algoritmo de tipo spring
embedders como es Kamada-Kawai, (Kamada y Kawai, 1989). Aunque Pajek permite representar
grandes redes, se decidi simplificarlas con el fin de que las visualizaciones fueran los ms claras
posibles. Por un lado, se decidi representar nicamente los descriptores ms frecuentes. Tras
varios ensayos donde se probaron distintos umbrales de frecuencias para la generacin de los
mapas, se observ que los resultados ms claros, en cuanto a criterios de visualizacin se refiere,
eran aquellas redes compuestas entre 100 y 150 nodos. Adems, para la reduccin del espacio
dimensional se aplic el algoritmo de poda Pathfinder (Moya-Anegn et al., 2007a, b). Este algoritmo
est basado en el principio de desigualdad del tringulo bajo los parmetros r = y q = n 1. ste
ayuda a preservar y poner de relieve las relaciones ms destacadas entre los descriptores (White,
2003; Vargas-Quesada et al., 2008; Moya-Anegn et al., 2009).
Por otro lado, tambin se utiliz el software WOSviewer v. 1.5.4 (Van Eck y Waltman, 2010). Es
otro ejemplo reciente de software libre para la representacin y anlisis de la informacin. Se
presenta como una alternativa a las tcnicas tradicionales de representacin multidimensional y
visualizacin de redes. VOSviewer combina tcnicas de visualizacin y clustering, lo que favorece el
anlisis. De los cuatro tipos de representaciones que ofrece, se opt por utilizar los mapas
etiquetados con nombres, donde cada descriptor est representado por una etiqueta y cuyo tamao
es proporcional a su peso, junto con los denominados mapas de calor (o mapas de densidad).
Estos ltimos se caracterizan porque cada nodo en el mapa es representado con un color que va del
rojo al azul, reflejando la densidad de las relaciones entre los descritores. Cuanto mayor es la

177
densidad, es decir, la co-ocurrencia entre los descriptores, ms se aproximarn a la tonalidad roja,
en cambio si se aproximn ms al color azul, esto indica una mayor dispersin y por lo tanto, menos
co-ocurrencia.
Para la distribucin espacial de la informacin, VOSviewer se puede considerar como una
especie de escalamiento multidimensional ponderado, por lo que las posiciones de los descriptores,
aunque no los frentes de investigacin, pueden diferir de los detectados mediante Pajek y el
algoritmo de layout con fines estticos, como es Kamada-Kawai.

2 Resultados y discusin

El nmero de documentos recuperados en la base de datos del SCI-E ascendi a 4.148. De estos
documentos, se localizaron y recuperaron en Medline 3.078 Los 1.070 documentos restantes no se
recuperaron porque correspondan, en su mayor parte, a la tipologa documental de Meeting Abstract
o porque pertenecan a revistas que no estn indexadas en Medline, y que estn relacionadas,
generalmente, con el mbito de la Zoologa y de la Botnica.
De los 3.078 documentos recuperados en ambas bases de datos (tabla 1), el 98,34% estn
indizados con KW+, el 99,22% con descriptores MeSH y tan, slo el 65,82% de los documentos
contienen KWA. Esta escasa representatividad de los KWA ha de tenerse en cuenta a la hora de
interpretar los resultados, ya que, puede afectar a la visualizacin temtica del dominio.

(N=3.078 docs.)
SCI Medline
N docs. con KW+ N de docs. con KWA N de docs. con MeSH
Total % Total % Total %
3.027 98,34 2.026 65,82 3.054 99,22

Tabla 1. N de documentos indizados segn el tipo de vocabulario utilizado por las bases de datos

La representacin en forma de mapa de las relaciones que se producen entre los descriptores
ms frecuentes segn cada sistema de indizacin ofrece diferencias importantes entre las temticas.
Para su anlisis se han generado un total de 9 mapas (tabla 2) a partir del uso de los dos software de
visualizacin de redes indicados en la metodologa.

Software de visualizacin
Pajek VOSviewer
N de desc. KW+ 153 desc. ms frec. 1.186 (Fuerza de Asociacin = 30)
N de desc.
KWA
103 desc. ms frec. 492 (Fuerza de Asociacin = 15)
N de desc.
MeSH
151 desc. ms frec. 760 (Fuerza de Asociacin = 10)

Tabla 2. Descriptores representados

178
2.1 Descriptores KeyWords Plus (KW+)

En el caso de los KW+, es posible distinguir claramente la estructura temtica del dominio a
partir de los 153 trminos ms frecuentes (Fig. 1). Las dos zonas que se diferencian a primera vista
en el mapa, se corresponden con las dos grandes tendencias de la investigacin: la relacionada con
la investigacin clnica que estara representada por los descriptores agrupados bajo Bone-Marrow-
Transplantation y por otra parte, la investigacin bsica representada por el resto de agrupaciones.
Ambas zonas quedan conectadas gracias a la presencia de dos KW+ que actan a modo de puentes,
como son Tumor-Suppressor y Colony-Stimulating Factor. Esta distincin resulta an ms clara en la
Fig. 3, donde se distinguen claramente estos dos focos de la investigacin.
En particular, los descriptores que conectan con Bone-Marrow-Transplantation (Fig. 1 y 3) estn
relacionados con los estudios ligados al uso teraputico de las clulas madre en enfermedades
hematolgicas. Concretamente, muchos de los descriptores estn relacionados con el tratamiento
de los procesos oncolgicos como la Leucemia (Chronic Lymphocytic-Leukemia, Acute Myeloid-Leukemia;
Leukemia, etc.) a partir de trasplantes de progenitores hematopoyticos (Marrow-Transplantation;
Stem-Cell Transplantation).
En cuanto a la investigacin bsica representada por los KW+, se detectaron en los resultados
hasta cuatro agrupaciones. En primer lugar, los descriptores vinculados con Stem Cells que estn
relacionados con los estudios encaminados a la investigacin de clulas madre hematopoyticas, es
decir, las clulas madre procedentes de la mdula sea. Estos KW+ conectan claramente con la
investigacin clnica y con aquellos descriptores que forman parte de la siguiente lnea de
investigacin, como es la relacionada con el estudio de las clulas madre embrionarias. En realidad,
esta lnea de investigacin se encuentra desagregada en tres agrupaciones. Por un lado, en torno al
descriptor In-Vitro se pueden localizar descriptores relacionados con los procesos y las
biotecnologas necesarias para localizar, producir, crecer y sobre todo, analizar in-vitro las clulas
madre embrionarias. Por otro lado, este grupo conecta con los descriptores relacionados con los
procesos de diferenciacin (Differentiation) y expresin celular (Expression). En el caso de la
diferenciacin se pueden localizar estudios relacionados con las clulas madre pluripotentes,
aquellas que tienen la cualidad de poder diferenciarse en cualquier tipo de clula, ya sea, a partir de
clulas madre embrionarias o inducidas. Estos estudios estaran muy relacionados con la Biologa
Molecular aplicada al interior de la clula encargada de regular la pluripotencia celular
(Pluripotency; Induction) y con la diferenciacin de las clulas madre pluripotentes en clulas madre
tisulares (Regeneration; Tissue). Finalmente, la ltima agrupacin de KW+ estara relacionada con la
investigacin con clulas madre neurales (Central-Nervous-System). Estos descriptores estn muy
relacionados con los estudios centrados en el desarrollo e identificacin de las clulas madre
neuronales que se diferencian activamente en el tejido cerebral.

179
Fig. 1 Visualizacin con Pajek de las relaciones de co-ocurrencia de los 153 KW+ ms frecuentes

VOSviewer (fig. 2), identifican el mismo nmero de agrupaciones (6) y adems se puede
apreciar el peso que tiene cada descriptor dentro de la red por la dimensin del nodo que lo
representa.

Fig. 2 Visualizacin con VOSviewer de 1.186 KW+ con fuerza de asociacin = 30

En cuanto a las zonas con mayor densidad de la red (fig. 3), es posible distinguir claramente,
dos zonas que concentran una importante actividad de relaciones. Una en torno al KW+ Stem-Cells y
otra en torno al descriptor Bone-Marrow-Trasplantation. En menor medida, con una intensidad ms
moderada, tambin destacan los KW+ relacionados con Central-Nervous-System.

180

Fig. 3 Visualizacin con VOSviewer de la densidad de los 1.186 KW+ con fuerza de asociacin = 30

2.2 Descriptores Key Words de Autor (KWA)

Tanto la fig. 4 como la fig. 5 ponen de manifiesto que no existe una delimitacin temtica
clara y comprensiva del dominio que permita detectar lneas de investigacin. Lo que se observa es
que la presencia de los descriptores relacionados con la investigacin de carcter clnico es mucho
ms reducida que en el caso de los KW+. Las visualizaciones de los KWA, por tanto, proporcionan
una imagen de la investigacin de carcter ms bsico y muy poco definida.
El resultado es una red en la que, a partir del nodo central Stem Cell, se desarrollan una serie
de relaciones entretejidas donde es muy difcil identificar algn tipo de conexin temtica. Por
destacar algunas formaciones, aunque no se manifiesten de manera evidente, se podra sealar la
localizada en la parte superior izquierda del mapa en torno al KWA Neurognesis. Tambin, en la
parte superior derecha, se podra destacar la agrupacin vinculada al descriptor Multiple Myeloma o
la que se genera a partir del descriptor Transplantation, situada en la parte inferior izquierda del
mapa.

181

Fig. 4 Visualizacin con Pajek de las relaciones de co-ocurrencia de los 103 KWA ms frecuentes

De igual modo, ocurre en la visualizacin que ofrece VOSviewer (fig. 5) que dibuja 15
agrupaciones, lo que significa que la identificacin de temticas se produce de una manera ms
diluida donde es ms difcil identificar la vinculacin de unos descriptores con otros.
Tan slo se podran destacar algunos clster que parecen ser ms predominantes y que
coinciden a grandes rasgos, con los identificados por Pajek. Es el caso del clster de color rojo que
agrupa a los descriptores relacionados con Multiple Myloma, el clster de color azul oscuro donde
destaca el KWA Neurogenesis y el clster de color rosa al que pertenece el nodo ms importante de la
red: Stem Cells.

Fig. 5 Visualizacin con VOSviewer de 492 KWA con fuerza de asociacin = 15

182

As mismo, esta descripcin de los clster coincide con la imagen que ofrece la fig. 6. Las
zonas con mayor densidad son las mismas que los clster que mejor se identifican en la fig. 5.

Fig. 6 Visualizacin con VOSviewer la densidad de los 492 KWA con fuerza de asociacin = 15

2.3 Descriptores MeSH

La primera impresin al visualizar las relaciones entre descriptores MeSH, es una gran
interrelacin entre ellos. Las agrupaciones se conectan por la presencia de numerosos nodos-
puente que dificultan considerablemente la identificacin de la estructura general. Aun as, se
pueden identificar 6 agrupaciones de trminos que guardan una cierta vinculacin temtica. En la
parte superior izquierda, se localiza la ms amplia, cuyos elementos estn vinculados al descriptor
Hematopoietic Stem Cell Transplantation ms representativa de la investigacin clnica que de la bsica.
Otra formacin ms pequea se sita en la parte superior derecha en torno al descriptor Stem Cells.
En la zona central izquierda se ubica la investigacin relacionada con las clulas madre
hematopoyticas a partir de un conjunto de descriptores relacionados con Hematopoietic Stem Cells
(Figs. 7 y 8). En la parte inferior del mapa se localiza un grupo vinculado con el descriptor Neurons. Y
un poco ms a la derecha otro relacionado mediante el descriptor Mesenchymal Stem Cells.
Finalmente, es posible detectar un pequeo grupo generado a partir de Embryonic Stem Cells.
Lo que s se detecta claramente es una mejor representacin de la investigacin clnica que de
la bsica, esto se aprecia muy claramente en la fig. 9 donde el foco de la investigacin bsica aparece
ms disperso que el de la clnica.

183

Fig. 7 Visualizacin con Pajek de las relaciones de co-ocurrencia de los 151 MeSH ms frecuentes.

Todas esas agrupaciones pueden ser identificadas tambin en la fig. 8. A excepcin de los
descriptores Haematopoietic Stem Cells y Embriyonic Stem Cells que no aparecen en el mapa. Esto se
debe a los parmetros de visualizacin. A travs de ellos se trata de evitar que se produzca un
posible solapamiento de los nombres de los nodos cuando estos estn muy prximos unos de otros.
A pesar de que se pueden identificar algunos clster con claridad, el alto nmero de stos
(VOSviewer ha detectado 19 clster), indica que hay muchas agrupaciones integradas con un escaso
nmero de nodos que fraccionan excesivamente las relaciones temticas del dominio.

Fig. 8 Visualizacin con VOSviewer de 760 MeSH con fuerza de asociacin = 10
En cuanto a localizacin de las zonas con mayor densidad (fig. 9), se aprecia que coinciden
con los grupos identificados en los dos mapas anteriores. Adems, esta representacin indica que
dichas zonas ocupan un gran tamao y estn muy prximas entre s.

184

Fig. 9 Visualizacin con VOSviewer de la densidad de los 760 MeSH con fuerza de asociacin = 10

Conclusiones

Los resultados de este estudio ofrecen una sucesin de datos e imgenes que, desde una
perspectiva general, caracterizan temticamente la investigacin espaola con clulas madre entre
1997 y 2010. La eleccin de un periodo de 14 aos, parece ser lo suficientemente amplio como para
detectar aquellas lneas de investigacin que tienen un carcter ms consolidado. Esto facilita la
comparacin de los resultados en cuanto a la representacin temtica que ofrece cada tipo de
descriptor. Por otra parte, la seleccin del mismo conjunto documental, ha hecho posible comparar
las visualizaciones que se establecen entre los distintos sistemas de indizacin que utilizan las bases
de datos SCI-E y Medline, cuyas coberturas temticas son distintas. El estudio de diferentes tipos de
descriptores, que sintetizan el contenido de un mismo conjunto documental, facilita el anlisis
comparativo del comportamiento que desarrolla cada descriptor y su capacidad de expresar los
aspectos fundamentales que componen los principales temas de una investigacin.
La visualizacin ms clara y completa ha correspondido a los descriptores KW+, detectando
hasta un total de seis lneas de investigacin. Los KWA han ofrecido una imagen ms diluida de las
lneas de investigacin, reflejando, sobre todo, la investigacin de carcter ms bsico. Y la
representacin de las relaciones de los descriptores MeSH tambin se ha aproximado, sobre todo, a
los estudios de carcter ms bsico. Luego podemos decir los KW+ son las unidades de anlisis ms
adecuadas de las tres tipologas de descriptores, segn la metodologa aplicada, mostrando una
estructura temtica ms definida donde las lneas de investigacin se localizan claramente y
expresan mayor informacin sobre el campo.
La explicacin de estas diferencias temticas puede verse afectada por la propia naturaleza
documental de cada tipo de descriptor. Por definicin, los KW+ tienen la ventaja de incorporar con
mayor inmediatez los trminos nuevos que van surgiendo en el desarrollo de las investigaciones de
un determinado dominio cientfico. Al tratarse de un sistema de indizacin automatizado basado en
la extraccin de trminos del lenguaje natural, la incorporacin de trminos que van configurando
el discurso cientfico se incorporan de una manera ms inmediata. Del mismo modo, ocurre con los
KWA, ya que son los propios autores los que seleccionan los trminos que consideran ms precisos
para definir su investigacin. En cambio, este proceso de incorporacin de trminos nuevos es ms

185
lento en el caso de los descriptores MeSH. Al tratarse de un vocabulario controlado, existe un
margen de tiempo hasta que cada trmino se considera que forma parte del lxico cientfico y tiene
que ser adaptado a los criterios conceptuales y documentales que rigen dicho vocabulario
controlado.
Esta caracterstica afecta a la representacin de los descriptores, especialmente las
visualizaciones obtenidas a travs de Pajek. Estructuralmente la representacin ms clara es la de
los descriptores KW+. En el caso de los MeSH, es posible que la excesiva interrelacin de los grupos
formados, a travs de numerosos descriptores puente y el elevado nmero de clster detectados,
se deba a la rigidez de los descriptores y a la ausencia de trminos nuevos que fomentaran la
definicin de los grupos y disminuira la interrelacin de los mismos. En cambio, en el caso de los
KWA, la definicin de los grupos es an ms compleja. Existe una excesiva interrelacin entre los
descriptores que impide detectar claramente las agrupaciones y la estructura temtica del dominio.
Quiz la baja representatividad de documentos indizados con KWA influya a la hora de visualizar el
dominio.
En cuanto a los programas de visualizacin utilizados, el estudio ha mostrado que tanto las
visualizaciones en Pajek como en VOSviewer, coinciden tanto en las lneas de investigacin como en
la localizacin de los descriptores ms influyentes de la red. Pero adems de coincidir, se
complementan muy bien, ya que Pajek permite detectar de manera ms clara la estructura
relacional, mientras que VosViewer posibilita la deteccin de los grupos y los focos de investigacin
de una manera ms plstica.
De cara a trabajos futuros, una vez detectadas las lneas de investigacin ms consolidadas en
el periodo sera interesante detectar, mediante un anlisis temporal evolutivo, las lneas de carcter
temporal que reflejen los cambios en los focos de la investigacin, as como, una imagen ms
dinmica del dominio.

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190
A INTERPRETAO DE CONCEITOS NO PROCESSO DE INDEXAO
Aspectos e reflexes semiticas

PAULA REGINA DAL' EVEDOVE
Ministrio da Educao do Brasil / Fundao CAPES
[email protected]

[email protected]

MARINGELA SPOTTI LOPES FUJITA
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Resumo Compreender a essncia cientfica da Cincia da Informao por um nico ponto de vista excluir a
potencialidade de suas fronteiras e todas as suas possveis variaes, pois a superao dos limites do
conhecimento cientfico uma caracterstica necessria, para a qual nenhuma cincia pode refutar-se.
Portanto, explorar os processos de natureza semitica na Cincia da Informao significa debater, com maior
delimitao, as problemticas que cercam o ncleo investigativo da rea e realizar ponderaes sobre os
passos necessrios representao da informao. Dentro do espectro da integrao, do dilogo e do
compartilhamento de conhecimentos entre a Semitica e a Cincia da Informao, sem excluir os nveis
diferenciados de contribuio, realiza-se uma anlise semitica dos processos informacionais, estratificado
aqui pela indexao enquanto processo interpretativo por excelncia. Para tanto, evidencia-se a vinculao de
alguns princpios orientadores da teoria semitica de Charles Peirce ao processo de indexao,
especificamente a relao com temas subjacentes interpretao de conceitos: hbitos, experincia colateral
na representao de assunto e o processo de indexao de assunto pela tica da cincia geral dos signos. As
reflexes empreendidas neste estudo reforam a necessidade de se atrelar as investigaes em Cincia da
Informao aos fundamentos tericos e noes essenciais advindos da teoria peirceana. Tal dilogo abre as
barreiras relativamente estticas da Cincia da Informao e prima por uma adaptao conceitual para a
realidade fenomenolgica e discursiva da informao na qualidade de signo fundamental. Ademais, por um
lado, a Semitica considera o conhecimento e a informao como entidades vivas e passiva de modificaes e
evolues, por outro lado, a Cincia da Informao respeita a ao dos sujeitos/intrpretes e suas
representaes sobre o conhecimento gerado, assegurando a compreenso deste em um contexto social
especfico. Acredita-se que o dilogo com a Semitica e Filosofia peirceanas uma necessidade emergente nas
pesquisas que se propunham a trabalhar com os fenmenos informacionais da ordem da linguagem e da
representao, ao passo que ressalta o carter dinmico do conhecimento. Em sntese, conclui-se que a
origem sgnica do processo de indexao, sob a luz da teoria peirceana, um recorte conceitual fundamental
ampliao do horizonte investigativo em Cincia da Informao.

Palavras-chave Organizao da Informao. Filosofia Peirceana. Indexao de Assunto.

Abstract Understanding the scientific essence of information science by a single point of view is to exclude
the capability of its borders and all its possible variations, because the limits of scientific knowledge is a
necessary feature for which no science can refute up. So exploring the processes of semiotic nature in
Information Science means discussing, with greater delimitation, the problems surrounding the core area and
analyze necessary steps to the representation of information. Within the spectrum of integration, dialogue
and knowledge shared between semiotics and information science, without excluding different levels of
contribution, it is conducted a semiotic analysis of information processes, here stratified by the indexation
while an interpretive process par excellence. Therefore, it is evident to link some guiding principles of

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Charles Peirce's semiotic theory to the indexing process, specifically the relation between the subjacent
themes and the interpretation of concepts: habits, collateral experience in the subject representing and the
process of the subject indexing by the optical of the general science of signs. The reflections undertaken in
this study reinforce the need to join investigations in Information Science to the theoretical and essential
notions coming from Peirce's theory. Such dialogue opens the barriers relatively static of the information
science, and excel at a conceptual adaptation to the phenomenological and discursive reality of the
information as a fundamental sign. Moreover, on one hand, Semiotics considers knowledge and information
as living entities and passive of changes and developments, on the other hand, information science respects
the action of the subjects / performers and their representations of the knowledge generated, ensuring this
understanding in a specific social context. It is believed that the dialogue between the Semiotics and Peirces
Philosophy is an emerging need in the researches that they intended to work with informational phenomena
of the language and representation order, while it highlights the dynamic nature of knowledge. In summary,
it is concluded that the origin of the semiotic process of indexing, under Peirce's theory, is a fundamental
conceptual framework to expand the investigative horizon in Information Science.

Keywords Information Organization. Peirce's Philosophy. Subject indexing.

Introduo

A Cincia da Informao atua como um emaranhado de possibilidades investigativas
percebido, s vezes, como um campo de pesquisa fluido. Este aspecto refora a necessidade da
Cincia da Informao em no se limitar nas pesquisas sobre os fundamentos e, empreender um
caminho mais palpvel e fecundo em meio floresta de oportunidades tericas advindas o dilogo
cientfico.
Sabe-se que a Cincia da Informao dispe de um conjunto expressivo de teorias, modelos e
conceitos que sustenta os discursos, conhecimentos e aplicaes que registram o seu
desenvolvimento cientfico. Para avanar com base slida e satisfatria, alguns aspectos que se
interpem na produo, tratamento e transferncia da informao devem ser explorados e
compreendidos por meio de teorias filosficas. Este um posicionamento necessrio para a sua
sobrevivncia enquanto cincia. Hjrland (2000, p. 527) tratando da organizao do conhecimento
no campo da Cincia da Informao, afirma a mais profunda compreenso do campo fornecida
pelo estudo das pressuposies filosficas subjacentes.
Sob esta perspectiva e dentro do espectro da integrao do dilogo entre a Semitica, cincia
dos signos humanos e no humanos e a Cincia da Informao, realizamos uma anlise semitica do
processo informacional denominado indexao, considerado como processo semitico por
excelncia que interpreta conceitos. Para tanto, devemos evidenciar a vinculao de alguns
conceitos orientadores da teoria semitica peirceana subjacentes ao processo de indexao,
especificamente: conceito cientfico, hbito, experincia colateral, interpretao de conceitos e
classes de signos na indexao de assunto.
Assim como a Semitica, a Filosofia de C.S. Peirce (1839-1914) deve ser consultada para uma
aproximao conceitual com a Cincia da Informao. Contudo, no campo da Cincia da Informao
desejvel a aplicao de teorias com conotao prtica, o que nem sempre tarefa fcil quando
pretendemos articular uma aproximao com teorias filosficas. Nesse sentido, entendemos que
tratar da origem sgnica do processo de indexao, sob a luz da teoria peirceana, um recorte
conceitual necessrio para a ampliao de nosso horizonte investigativo. Mesmo que este recorte
no proporcione resultado operacional sobre os procedimentos de indexao, ele nos til em um
nvel explicativo.
Nossa contribuio procura oferecer uma contextualizao geral sobre a indexao de
assunto recorrendo a conceitos paralelos semiticos nem sempre to simples de serem traduzidos
para os nossos problemas. Um inconveniente que se impe que, dada a amplitude e a
complexidade das concepes de Peirce [...] em poucas pginas seria impossvel rever seu sistema
filosfico. Assim como seria temerrio em curto espao analisar profundamente os conceitos

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semiticos por ele propostos (Almeida, 2009, p. 184). Cientes de nossas limitaes, procuramos
expor os aspectos gerais de conceitos semiticos necessrios ao argumento que sustenta que a
indexao, um dos processos fundamentais organizao da informao, indiscutivelmente
estruturado semioticamente.

1 A teoria semitica de Peirce

Antes de tudo, temos que reconhecer que na gnese conceitual de Peirce, Pragmatismo e
Semitica esto juntos. Desse modo, as contribuies da teoria dos signos peirceana no terreno da
Cincia da Informao devem pressupor esta relao. Sabemos de antemo que refletir sobre a
vinculao da teoria peirceana em Cincia da Informao no tarefa fcil, considerando-se a
dificuldade em se trabalhar com problemas filosficos que Peirce procurava responder. Esta seo
procura expor os conceitos centrais da Semitica, enfatizando sua interlocuo com as noes de
conceito cientfico, signo fundamental e hbito interpretativo essencial para compreender o
processo de interpretao dos conceitos.
Para Santaella (2006, p. 13), a Semitica, na condio de cincia geral dos signos, tem como
objeto de investigao [...] o exame dos modos de constituio de todo e qualquer fenmeno como
fenmeno de produo de significao e de sentido. Para a autora, a Fenomenologia ou doutrina
das categorias comea pela abertura para o mundo, sem qualquer julgamento ou pressuposto de
qualquer espcie, tendo por primazia,

[...] desenredar a emaranhada meada daquilo que, em qualquer
sentido, aparece, ou seja, fazer a anlise de todas as experincias a
primeira tarefa a que a filosofia tem de se submeter. Ela a mais difcil de
suas tarefas, exigindo poderes de pensamento muito peculiares, a
habilidade de agarrar nuvens, vastas e intangveis, organiz-las em
disposio ordenada, recoloc-las em processo (Santaella, 2006, p. 33).

Uma das atribuies da Fenomenologia a elaborao de categorias universais dos
fenmenos, essenciais para a compreenso da taxonomia dos tipos de signos. Segundo Peirce (2000),
as categorias correspondem primeiridade (firstness), a secundidade (secondness) e a terceiridade
(thirdness). A primeira categoria de anlise compreende as ideias relacionadas ao acaso, caos,
incerteza. Na segunda categoria so encontradas as ideias de ao e reao, ou seja, na secundidade
ocorre os fenmenos da experincia direta, conscincia dupla. A terceira categoria da experincia
rene os fenmenos das outras categorias numa sntese. A terceiridade entendida como sendo a
mediao entre as ideias, inaugura a generalizao dos fenmenos ao nvel da razo, constituindo o
pensamento em signos.
Em termos gerais, signo corresponde a tudo aquilo que permeia o imaginrio ou passvel de
observao, de deve cumprir os seguintes requisitos:

a) ele um signo para (to) algum pensamento que o interpreta; b) ele
um signo de (for) algum objeto do qual ele equivalente naquele
pensamento; c) ele um signo em algum aspecto ou qualidade, o que pe
em conexo com seu objeto (Santaella, 2004, p. 51).

Sem essa relao lgica entre os elementos do signo, a noo tridica perde o efeito. A ao do
signo atuar como um signo de outro e para o outro signo, resultando no processo conhecido como
semiose. Mas a semiose no deve ser encarado como um produto da mente humana, pois esta tica
limitada e no corresponde natureza semitica da vida dos signos.

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Na viso peirceana, a constituio de um signo versa a correlao de trs elementos, cuja
relao tridica que constitui o signo perfeito, coexistindo com as trs entidades: objeto, signo e
interpretante. Silveira (2007, p. 62) expe que as relaes tridicas consistem [...] nas relaes do
signo para consigo mesmo, ou relaes de representamen; as relaes do signo para com seu objeto
dinmico e as relaes do signo com seu interpretante final, em que cada signo se diferencia em
razo da relao entre os elementos que o compe e de sua ao especfica.
Entendido como algo que substitui as coisas, isto , existentes, o signo possui como
caracterstica bsica o poder de representar as coisas ou objetos. Mas para que algo possa ser um
signo, esse algo deve representar, como costumamos dizer, alguma outra coisa (Blikstein, 1995, p.
20). Um equvoco constante compreender que signo o elemento que representa o objeto do
signo. Na realidade, o signo a unio inseparvel das trs entidades: objeto, signo e interpretante,
sendo que tal relao tridica que constitui o signo desejvel.
A juno dos elementos que compem o signo formam tricotomias de signos que, quando
combinadas segundo o critrio de validao, proporcionam uma diviso dos signos em dez classes,
das quais numerosas subdivises tm de ser consideradas (Peirce, 2000, p. 55). Na primeira
tricotomia, quando um signo dirige-se a si mesmo, ou seja, sua relao com ele mesmo, um signo
pode ser classificado em: qualissigno (qualidade do signo), sin-signo (envolve um ou mais quali-signo,
pois se restringe em algo ou evento existente e real) ou legi-signo (considerado como uma lei ou
conveno geral). Na segunda tricotomia, relao do signo com seu objeto dinmico, isto , como o
signo o representa, classifica o signo em: cone (representa seus objetos por semelhana), ndice
(mantm uma ligao de causalidade ou relao referencial com seus objetos) e smbolo (representa
seus objetos por mediao). Por fim, a terceira tricotomia do signo, quanto da relao deste com seu
interpretante (na condio de interpretante do texto/pensamento que se produz na mente do
receptor), temos a seguinte classificao: rema, dicente e argumento, sendo oriundos do momento da
mediao do smbolo em seu interpretante, produzindo uma possibilidade, uma proposio ou
signos como argumentao.
Segundo Monteiro (2006, p. 49-50) [...] a relao tridica em Peirce perpassa a classificao
dos signos, pois algo que esteja na secundidade possui tambm a primeiridade (o inverso no
verdadeiro), e a terceiridade detm ambas. Portanto, a ao de qualquer espcie de signo
condicionada pela realidade, visto que o signo seria algo que substitui objetos imaginrios ou reais.
Isto porque a Semitica de Peirce, de vertente pragmtica e realista, alimenta-se de uma filosofia
transcendentalista que vai procurar nos efeitos prticos, presentes ou futuros, o significado de uma
proposio, ao invs de ir procur-lo num jogo de relaes internas do discurso (Coelho Neto, 1990,
p. 55). Em outras palavras, no basta apenas relacionar os signos em uma situao de uso da
linguagem, mas com as coisas que tm referncia.
A representao das coisas na segunda tricotomia dos signos gera o tipo de signo conhecido
como smbolo, o qual se relaciona com o problema da noo de conceito cientfico. Em termos
semiticos, o conceito cientfico um tipo de smbolo (associaes de ideias imputadas a um objeto)
e sua interpretao moldada pela realidade construda socialmente e pela a estrutura fenomnica
da realidade que compe a realidade objetiva. Por esta razo, um conceito cientfico uma unidade
de conhecimento, pois une os atributos extrados dos objetos da realidade reconhecidos
linguisticamente em um contexto. O conceito cientfico deve ser compreendido de acordo com o
domnio de conhecimento (disciplina, comunidade discursiva, rea ocupacional), que subsume a
interpretao humana manifestada em um dado contexto social. O homem busca tornar inteligvel a
realidade que o cerca, em virtude cria signos, significados e elabora conceitos. O conceito uma
etapa semitica dessa tentativa humana de compreender o mundo. Em um trabalho de anlise e
reflexo [...] o homem gera o espao da subjetividade por intermdio do qual capta e compreende o
mundo. Desta forma, ele enquadra e captura seus objetos de anlise e, a partir de sua prpria
perspectiva, realiza sua interpretao, construindo seu prprio conhecimento (Gomes, 2000, p. 61).
Um conceito o resultado de processos sgnicos de regulao da interpretao, pois tal como
o smbolo, h um processo de construo de paradigma semntico. Como o conceito est
condicionado s diretrizes contextuais de um campo cientfico sua interpretao e significado

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devem obedecer as disposies da comunidade discursiva. Seguindo a concepo fenomenolgica de
Peirce (1972), podemos supor que a interpretao dos conceitos em um domnio de conhecimento
parte de uma vaga e aleatria hiptese (primeiridade); em seguida, uma ideia inicial relaciona-se a
vrias outras ideias (secundidade) em um processo dual, cuja associao desencadeia uma
regularidade das ideias correlatas que representam um conjunto de fenmenos a serem
interpretados pelos intrpretes; e esta regularidade conduz a formao de hbitos (terceiridade) ou
constituio do pensamento em signos.
O signo, segundo a viso peirceana, de carter geral e no pode ser reduzido a um produto
da mente humana, uma vez que:

[...] um objeto que, de uma parte, est em relao com seu objeto e,
de outra parte, com um interpretante, de maneira tal a colocar o
interpretante para com o objeto numa relao que corresponde sua
prpria relao com o objeto (Peirce, 1972, p. 143).

O relacionamento do signo com o objeto deve considerar dois aspectos. Primeiro, o signo s
pode ser afetado pelo objeto imediato, objeto como representado pelo signo. Segundo, tem-se o
objeto dinmico o objeto como ele ontologicamente, que sofre a ao de outros objetos
dinmicos em interao.
Na condio de signo simblico, o conceito cientfico passa a ser aceito pelo domnio de
conhecimento, tornando-se um signo fundamental nas palavras de Thellefsen (2002). Este autor
aponta que, enquanto conceito terico estruturado sob os alicerces da Semitica de Peirce, o signo
fundamental a estrutura subjacente do domnio de conhecimento. ele quem fornece o maior
potencial informativo (efeito significncia) relevante no domnio, ou seja, define o principal conceito
cientfico para a existncia e evoluo de uma determinada rea. Contudo, o nvel de conhecimento
do sujeito/intrprete e seu contexto social influencia a aceitao dos significados do signo.
Conforme argumenta Almeida (2009, p. 300).

Um aspecto essencial da definio de conhecimento no mbito do
domnio que este resulta de processos de signos que levam formao de
hbitos, sem os quais no seria possvel comunicar informao e
desenvolver novos conhecimentos. A concepo de conhecimento
subentende a existncia objetiva de mundo, isto , manifesta um tipo de
realismo.

Por sua vez, o signo fundamental de um domnio de conhecimento dotado de um efeito de
significado mais elevado e catalisador. A concepo desses efeitos explica como determinados
signos possuem alta capacidade de relacionar outros signos e formar uma cadeia interpretativa,
pressionando conceitos a produzir significados vinculados ao signo fundamental.
Sob esta perspectiva, podemos supor que informao um conceito aglutinador de
conceitos correlatos Cincia da Informao e, por esta razo, carrega um significado superior
frente aos demais conceitos cientficos que permeiam a rea e so derivados deste. Neste processo, a
informao, apesar de situar-se na terceiridade devido a seu carter simblico possui proeminncia
relativa na secundidade, pois pode ser tomada como uma ao que provoca reao e que poder
levar ou no construo de um conhecimento. O conceito de ao refere-se operao de um
agente, encarada em seu desenrolar, em seu resultado. Assim, a ao pode ser entendida como
sendo um [...] sistema de movimentos espontneos ou intencionais, uma desestabilizao do
organismo, um emprego determinado de suas foras vivas, com vistas a um prazer ou a um
interesse, sob a influncia de uma necessidade, de uma idia ou de um sonho (Blondel, 1993, p. 23).

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Enquanto processo resultante de fatores de ordens diversas, a informao , justamente com
o espao, o tempo e o movimento, outra forma fundamental de existncia da matria a qualidade
de evoluo, a capacidade de atingir qualidades superiores (Zeman, 1970, p. 157). Mas entendemos
que as perspectivas peirceanas, apesar de no antropocntricas, acentuam a premissa de que o
sujeito da representao (o signo) no deve ser posto em segundo plano. Pelo contrrio, os signos e
seus produtores, e no a tcnica deve prevalecer na definio de informao.
A informao para a Cincia da Informao um fenmeno humano (cognio humana) de
ordem social (contexto/cultura) com dispositivos comunicacionais. Um argumento fortemente
difundido nos debates em Cincia da Informao refere-se dimenso espacial que a informao
assume; caracterstica esta que a torna extremamente dinmica. Como consequncia, a informao
pode ser acessada e utilizada fora do seu contexto de criao, o que implica em sua
recontextualizao processo constante e complexo. Tal processo, ainda que peculiar, imprime
certas particularidades no universo da Cincia da Informao.
O conceito informao relativo e prende-se a outros conceitos de igual complexidade.
Diante de tal fato, contextualizar a informao enquanto fenmeno mostra-nos o ponto central dos
esforos contemporneos. Sendo assim, conduzir a Cincia da Informao para a chamada
integrao de saberes incide na aproximao de questes que permeiam a informao.
Na concepo de Azevedo Neto (2002, p. 11), a informao,

aquele fenmeno em que h no s a produo de um bem
simblico, mas tambm sua disseminao e consumo, que implica na sua
prpria reproduo, j que a dimenso espacial extremamente dinmica,
dentro da sua recontextualizao. Vendo a uma questo de identidade, j
que a informao implica em significao [...].

Esta perspectiva evoca, com grande naturalidade, a vinculao do conceito informao s
teorias peirceanas, pois em um processo semitico, o homem utiliza a informao para realizar
generalizaes e previses do meio que o cerca. Ademais, enquanto campo representativo de uma
ao coletiva, a Cincia da Informao possui fenmenos informacionais que tem como contexto
precedente a complexidade, elemento passvel de variaes.
No nossa inteno rediscutir o conceito de informao, mas assumir que seu papel
estruturante para os conceitos dependentes, assim como um signo fundamental para a Cincia da
Informao. A despeito da aplicao do conceito de signo e cognio ao contexto humano, devemos
salientar que a abordagem peirceana um sistema filosfico no antropocntrico. No entanto,
devemos ter em mente que a abordagem semitica no deve ser encarada como uma panaceia para
todos os problemas decorrentes da interpretao e evoluo dos conceitos, mas nos d diretrizes
para entender como os conceitos funcionam em um sistema terico, seja na Fsica ou na Cincia da
Informao.
A interpretao de conceitos na Semitica de Peirce possibilita-nos refletir a respeito da
natureza da relao signo/mundo e como esse processo semitico promove a cognio. Ao construir
a trade das categorias fenomenolgicas: primeiridade, secundidade e terceiridade, Peirce acentua
momentos importantes da construo do conhecimento, sendo este processo de significao
composto pela interpretao do sentimento, da volio e da cognio.
Antes de ser um conceito, o signo passa por estgios de significao. A interpretao do
sentimento constitui a percepo imediata (primeiridade), a qual est ligada ao sentimento. Por sua
vez, a volio mobiliza a ao interativa que inaugura o processo de diferenciao (secundidade).
Este processo se intensifica na comunicao e, como consequncia, acarreta na construo de
representaes do mundo (terceiridade) ou conhecimentos adquiridos. Neste contexto, a cognio
decorre do intermdio dos signos e, por esta razo, passa a ser considerada como um processo de
interpretao, indicando a natureza semitica destes processos.

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Temos, ento, a necessidade de um reposicionamento da maneira de tratar o problema da
representao da informao e perguntar: que processos esto implicados na ao do profissional
que representa a informao para outros sujeitos? Esses processos envolvem a formao de hbitos
nos profissionais e implicam conhecer [...] as variveis associadas ao processo de interpretao do
especialista responsvel pela anlise documental de contedo em sistemas de informao e
documentao (Almeida, 2010, p. 19).
Sabemos que a concepo de conhecimento na teoria peirceana est subordinada a um tipo
de realismo. Tanto o conhecimento quanto os demais objetos dinmicos so existentes e reais,
apesar da natureza simblica do primeiro e da natureza fsica do segundo. Sendo assim, devemos
supor que um domnio de conhecimento deriva de processos semiticos que levam a formao de
hbitos, e estas disposies so indispensveis para se comunicar a informao e gerar novos
conhecimentos.
A formao de hbitos est relacionada ao compartilhamento de metas comuns entre atores
de um dado domnio de conhecimento (Thellefsen, 2002). Nesta direo, ao assumir a concepo de
hbito e seus dispositivos naturais torna-se possvel ampliar compreenso dos fatores culturais e
sociais que determinam os comportamentos mentais de seus profissionais, considerando que o
nvel de conhecimento do intrprete e seu contexto social influencia a aceitao do efeito
significncia do signo (Almeida, 2009, p. 301).
De modo geral, as variaes de interpretao de um conceito em um domnio de
conhecimento tendem a ser reduzidas pela ao do hbito empregado pela mente. Na condio de
condicionante do processo semitico, o hbito geral e o hbito do profissional da informao no
campo da Cincia da Informao so considerados mecanismos fundamentais da mente guiada pela
experincia. A este respeito, Silveira (2007, p. 26) advoga que no se precisa saber como devem ser
todos os signos a que recorre uma inteligncia capaz de aprender atravs da experincia, para que
essa inteligncia assim proceda e aprenda a sua tarefa de pensar.
Os hbitos ou tendncias adquiridas decorrem envolverem disposies ligadas mente tais
como o raciocnio, o conhecimento e a interpretao. Para Peirce (1972, p. 73) o objetivo do
raciocnio descobrir, a partir da considerao dos conhecimentos adquiridos, algo que no
sabemos, isto , o raciocnio ser procedente se for levado a efeito de tal forma que nos conduza de
premissas verdadeiras concluso verdadeira, afastadas outras possibilidades. Esta verdade est
ligada a uma tendncia relacionada posio assumida pelo sujeito que assim declara ser
verdadeira. Ocorre que, a partir deste movimento mental, o sujeito constri suas crenas, as quais,
segundo o autor, orientam os desejos e do contorno as aes. Temos, assim, o estabelecimento de
uma contnua relao entre desejos, crenas e aes. Os hbitos regulam as aes e formam crenas
institudas, representando o que h de mais especial na inteligncia, posto que onde quer que haja
tendncia para aprender, processos autocorretivos, mudanas de hbitos, onde quer que haja ao
guiada por um propsito, a haver inteligncia (Santaella, 1992, p. 79).
Esta premissa defendida pela teoria peirceana evidencia a ligao entre o pensamento e a
ao. Em acordo com Polaniy (1966) o conhecimento o resultado da relao entre o homem e a
realidade que se coloca a sua volta. Considerando-se que a experincia sofrida pelo homem a fonte
de seu saber, a interao entre sujeito e mundo externo possibilita uma atividade cognitiva que
pode resultar em conhecimento. Neste contexto, o hbito permeia toda e qualquer atividade
humana e congrega atos sociais, sendo considerado tendncias adquiridas para comportar-se de
forma similar sob as circunstncias similares no futuro (Farias, 1999, p. 12). Essa tendncia est na
forma de disposies que ocultamente balizam o processo de representao da informao no
contexto da organizao da informao.
Enquanto cadeia interpretativa, o hbito condiciona a ao do ser humano e faz com que o
mesmo [...] mantenha velhas crenas, mesmo depois de adquirir condio de perceber que elas so
desprovidas de base slida. A reflexo permitir, entretanto, domnio sobre esses hbitos e o
homem deve conceder reflexo o seu peso total (Peirce, 1975, p. 88). A este respeito, vale destacar
que a conscincia, entendida aqui como a capacidade de reflexo, possui um grande nmero de

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formas e variedades. Todavia, os aspectos essenciais da conscincia so sua natureza interior,
qualitativa e subjetiva, sendo que, qualquer tentativa de descrever a conscincia mostra-se
inadequada, pois [...] a conscincia no apenas um aspecto importante da realidade. Em certo
sentido, ela o aspecto mais importante da realidade, porque todas as outras coisas s tm valor,
importncia ou mrito em relao conscincia (Searle, 2000, p. 82). Acrescentamos que a
perspectiva semitica define a conscincia em seu confronto contnuo com a realidade e pode ser
representada pelas categorias fenomenolgicas.
Embora nem todos os estados conscientes sejam intencionais e nem todos os estados
intencionais sejam conscientes, Searle (2000, p. 67) adverte que [...] existe uma ligao essencial: s
compreendemos a intencionalidade em termos de conscincia. Para o autor, a intencionalidade
corresponde aquela [...] caracterstica da mente graas qual os estados mentais so dirigidos a, ou
falam de, ou se referem a, ou apontam para estudos de coisas no mundo. Ento, a intencionalidade
uma caracterstica peculiar da mente, cujo objetivo no necessariamente precisa existir para ser
representado pelo estado intencional do sujeito. Assim, a intencionalidade da mente refere-se
capacidade que a mesma tem, por meio de certas habilidades prprias, de representar a realidade.
Mediante o exposto, vlido afirmar que a autocorreo das tendncias e hbitos na
conscincia deve ser um dos aspectos observados nos estudos dedicados Cincia da Informao,
tomando-se como base s contribuies da Semitica de Peirce.

2 A interpretao de conceitos no processo de indexao

Interpretar os conceitos de um documento uma tarefa da indexao de assunto. Mas
explicar o que ocorre nesse processo seria incumbncia da Semitica. Nesse sentido, esta seo
procura demonstrar a potencialidade dos conceitos semiticas mencionados anteriormente
categorias, signo, smbolo, hbito e classes de signos, bem como signo fundamental e efeito de
significncia para explicar o processo de interpretao da indexao.
Historicamente, a indexao originou-se na Idade Antiga por meio da construo de ndices,
os quais foram elaborados com o propsito de organizar a informao, ou seja, ordenar os registros
de modo a torn-los acessveis. Tais preocupaes intensificaram-se a partir do sculo XIX em
virtude da exploso das publicaes peridicas (Silva & Fujita, 2004). Basicamente, a indexao
consiste na ao profissional de descrever o contedo intelectual expresso em um documento com o
auxlio de instrumentos que contenham padres e conceitos descritores (Unesco, 1975). Podemos
afirmar que uma operao mental que visa a identificar os conceitos que melhor reflitam a
informao documental expressa inicialmente pelo autor no momento de sua produo, com fins de
armazenamento e recuperao da informao.
O processo de indexao realizado mediante etapas bem delineadas. Contudo, os signos
criados pelo indexador para indexar o documento so pouco explorados. Mai (1997a, 1997b, 2000),
principal representante que investigou as classes de signos, sustenta que o processo de indexao
de assunto deve ser analisado a partir das concepes da Semitica peirceana. O ponto central das
discusses empreendidas baseia-se no pensamento peirceana quanto natureza dos signos. Para
Mai (1997b), os elementos que compem o processo de indexao de assunto so signos, a saber: a)
documento fsico em anlise - primeira representao em contato com o indexador; b) assunto -
capacidade de interpretao; c) descrio formal do assunto - criao de produtos documentais e; d)
entrada de assunto - representao documental a partir da elaborao do pensamento. Por esta
razo, so necessrias etapas para fazer a conexo entre os elementos representando a ao dos
signos (semiose) na anlise documental. Neste sentido, torna-se possvel associar as etapas da
indexao de assunto interpretao.
Mesmo no havendo um posicionamento consensual na Cincia da Informao quanto s
etapas que compem o processo de indexao de assunto, o fundamental para ns ter em mente
que as etapas representam a interpretao dos conceitos de forma esquemtica e operacional, alm

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de possuir uma interface com as classes de signos. Alm do entendimento de Mai (1997b) que
relaciona quatro elementos pertencentes indexao de assunto, alguns autores defendem que o
processo resulta em duas etapas: anlise conceitual e traduo de conceitos (Taylor, 1999 &
Lancaster, 2004); outros, porm, destacam trs etapas: leitura documental, identificao e seleo de
conceitos (Hovi, 1989; Sauperl, 2002; Fujita, 2003; Dias & Naves, 2007).
A semiose no processo geral da indexao, explicada por Mai (2001) expe os tipos de signos
gerados que agrupam os quatro elementos, a saber: Documento ( um Argumento - representa um
conjunto de ideias e conhecimentos que correspondem a convenes dispostas em um contexto
social e cultural de atividade; todo documento uma argumentao, uma vez que seus resultados
tm relao direta com o raciocnio); Assunto (Smbolo Discente - associa-se com ideias reais,
passveis de interpretao; ordem da existncia); Descrio formal do assunto (Legissigno Indical
Dicente - traz consigo algum tipo de informao concreta sobre o objeto; resulta na elaborao de
um pensamento ou interpretao da informao a partir dos elementos caractersticos de um
determinado assunto); Entrada de assunto (Legissigno Indical Remtico - produto oriundo a partir de
uma elaborao do pensamento).
Podemos notar que a interpretao do conceito depende de um tipo de signo que funciona
como piv do processo, o Argumento na forma de documento, contudo, mais bem representado
quando se produz o Smbolo Dicente (assunto), porque o aspecto convencional e a associao de
ideias que veiculam informao sobre o objeto devem ser elementos distintivos do conceito
cientfico a ser extrado do documento. No queremos dizer com isso que o conceito a mesma
coisa de assunto, contudo, apenas entendemos que eles tm uma natureza semitica parecida, a
simblica.
Observamos que muitos so os elementos de origem sgnica que envolvem a indexao de
assunto e condicionam o seu produto. Todavia, a aceitao da semiose como ponto de anlise para o
fenmeno da indexao exige, como ponto de partida, a adoo do conceito tridico do signo, visto
que o objeto do signo, o representamen e o interpretante esto intrinsecamente ligados. Ento, no
processo de indexao de assunto: o objeto o processo de descrio do assunto, sendo considerado
como um signo; o representamen a descrio desse objeto; e o interpretante a entrada de
assunto no sistema de informao. Assim, os objetos dos processos so o conjunto de ideias e
significados associados, isto , assunto e descrio do assunto, respectivamente (Mai, 1997b).
O ato de representar o contedo do documento com fins de recuperao futura nos sistemas
de informao e documentao o que torna a indexao uma atividade complexa e de contnua
reparao. Mai (1997b) advoga que a indexao de assunto pode ser relacionada como um processo
interpretativo gerador de novos signos a partir de signos iniciais, pois os elementos subsequentes ao
processo so baseados em interpretaes, especificamente em se tratando do primeiro elemento
anlise ou leitura documental. O referido autor adverte que a atividade de indexao vai muito alm
de simplesmente referenciar conceitos de um determinado documento; caracteriza-se como sendo
uma atividade de alta subjetividade, aspecto que exige um bojo de habilidades por parte do
indexador na condio de profissional semitico, em virtude de construir representaes
documentais.
Trazendo a noo de representao da Semitica para o processo de indexao de assunto,
cabe destacar que o signo figura-se como sendo a ligao entre duas ideias: a que representa e a do
objeto representado (Noth, 2005). Diante da natureza evolutiva dos signos, notamos que a fixao da
interpretao do assunto e o controle conceitual ficam cada vez mais distantes. Ademais, para
determinar o que um conceito significa necessrio examinar suas possveis consequncias futuras,
o que Peirce chamou de consequncias prticas no mbito do pragmatismo.
Na indexao de assunto, a semiose decorre do entendimento de que a produo de novos
signos requer a interpretao do primeiro em um novo signo. Em outras palavras, assim como na
semiose, a indexao de assunto com vistas representao documental passvel de inmeras
representaes e de vastas possibilidades interpretativas, em que [...] o profissional indexador est
submetido a foras reais que delimitam as disposies das interpretaes futuras (Almeida, 2010, p.

199
19). Assim, o processo de interpretao dos conceitos na indexao, segundo a perspectiva da
semiose, nunca cessa, apenas estabiliza-se, aspecto que abre precedentes para a compreenso das
razes pelas quais,

[...] depois de passar por todas as etapas de anlise e traduo, os
termos de um documento no conseguem assegurar a univocidade na
interpretao empreendida pelo usurio. s vezes, nem mesmo assegura
que outro profissional dotado da mesma competncia e experincia
reproduza a mesma interpretao (Almeida, 2010, p. 18).

Em termos semiticos, o motivo pelo qual o indexador no consegue assegurar uma completa
neutralidade nas decises que envolvem a representao documental decorre do processo
interpretativo individual, o qual permeado por questes de natureza cognitiva, moral e social. Os
processos de representao da informao, num contnuo de tratamento e representao simblica
da informao, surgem como processos interpretativos de conceitos. Tal entendimento advm do
prprio ato de representar na perspectiva da Cincia da Informao, o qual significa elucidar
materialmente um determinado elemento de modo que as caractersticas do representado sejam
expressas e tornadas compreensveis num todo coerente e distinto, de natureza referencial. A
finalidade dessa representao viabilizar [...] a comunicao e o relacionamento social: o
relacionamento entre as pessoas, o meio e os objetos representados (Job, 2008, p. 376).
Em ateno a este aspecto, salientamos que a ao do profissional indexador, nos moldes de
sua prtica cotidiana, fora-o a construir hbitos sobre a dinmica do conhecimento e sua
aplicabilidade na realidade prpria de cada contexto informacional. Ademais, a representao de
assunto ou representao final de um documento decorre de processos de interpretao; atos
subjetivos e tendenciosos por parte do profissional da informao.
A quebra, a ruptura e a mudana de hbito fator essencial para interpretao dos conceitos
para se chegar ao assunto e primar pela garantia e preservao da qualidade da indexao de
qualquer sistema de informao com fins de recuperao futura. Em decorrncia disso, o
profissional da informao que atua no processo de indexao deve desassociar hbitos adquiridos
ao longo dos anos e buscar a quebra e a autocorreo das tendncias advindas no cotidiano da
profisso caso no sejam teis representao da informao -, de modo a condicionar sua prtica
na interpretao dos conceitos. Isto porque, no processo de indexao hbitos mal construdos que
no faam referncia ao assunto atual e aos usurios podem acarretar o uso do bom senso por parte
do profissional e gerar uma ao tendenciosa que culmina em falhas e omisses nos resultados dos
produtos representacionais gerados.
Dentre os aspectos que tambm condicionam a interpretao do indexador no momento da
representao documental est experincia colateral. Entendida como fator corretivo ao
pensamento (Peirce, 1975), a experincia colateral identifica-se com a experincia direta com o
objeto dinmico. Ibri (1992, p. 28) esclarece que a experincia na proposta peirceana conduz [...]
tarefa de reunir a multiplicidade na unidade, sintetizando sob um mesmo modo de ser as
individualidades do sujeito e do objeto.
Considerando que a criao de signos ocorre por meio da experincia, podemos aludir que no
processo de indexao de assunto a prxis dos profissionais estabelecida no decorrer dos anos que
modelam a cognio e geram a significao de mundo em hbitos. Contudo, oportunizando
momentos de discusso dos hbitos que se revela o papel da experincia enquanto instncia
corretiva. Este fator amplia a interlocuo das teorias peirceanas indexao de assunto e acarreta
a necessidade do indexador, enquanto sujeito do pensamento, possuir uma experincia colateral
dos referentes que compem a rea de conhecimento da qual realiza o processo, tornando-se um
profissional especialista. Ademais, o processo de evoluo dos signos decorre de sucessivas
interpretaes. Paralelamente, os processos que compem a indexao de assunto so permeados
de inferncias.

200
Mediante as reflexes ora expostas, percebemos a qualidade da proposta explicativa ensejada
pela teoria peirceana ao entendimento da interpretao dos conceitos no processo de indexao.
Alm disso, sugerimos incorporar ao ensino de indexao a compreenso da noo de semiose na
interpretao dos conceitos, para [...] o entendimento do carter dinmico do conhecimento em
sua interface humana (Moura, Silva & Amorim, 2002, p. 18).

Algumas consideraes

Neste trabalho examinamos a natureza semitica de um processo pertinente Cincia da
Informao, a interpretao dos conceitos com o objetivo de melhor executar a indexao de
assunto. A interpretao um processo que envolve hbitos, uma contnua produo de signos,
classes de signos que funcionam como etapas e categorias do entendimento (fenomenolgicas) que
explicam como as ideias surgem e se aproximam. O conceito a ser interpretado no processo de
indexao um smbolo que, em parte, assemelha-se a um argumento e, em outra, a um smbolo
dicente. Portanto, qualquer interpretao do conceito, mesmo na indexao de assunto, deve
pressupor esse pano de fundo semitico. Em decorrncia disso, podemos compreender que a
estrutura cientfica da Cincia da Informao no pode valer-se de um nico ponto de vista sobre a
questo e excluir a potencialidade dos estudos de fronteira e os limites do conhecimento disciplinar.
Ao considerar o conhecimento e a informao como algo vivo e passivo de modificaes,
imersos no contnuo da semiose, a Cincia da Informao precisa respeitar a ao dos
sujeitos/intrpretes na criao do conhecimento, e compreender os ditames que interferem na vida
cognitiva dos profissionais que produzem representaes mediadoras. Por esta razo, acredita-se
que o dilogo com a Semitica e Filosofia peirceanas uma necessidade emergente nas pesquisas
em Cincia da Informao, em especial, no campo da organizao da informao.
As reflexes empreendidas inicialmente em torno do processo de indexao reforaram a
necessidade de se avanar nas anlises sobre os fundamentos tericos advindos da teoria peirceana.
Tal dilogo poderia suplantar barreiras impostas pela Cincia da Informao em no considerar
teorias que no tenham aplicabilidade, alm de chegarmos a futuras adaptaes conceituais, como
o caso de signo fundamental. Considerando os muitos princpios orientadores para o processo de
indexao sob a perspectiva da teoria peirceana, julgamos oportuno proceder a discusses que
abordem a indexao de assunto e os aspectos semiticos, as quais permeiam o fazer do profissional
indexador.

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204
ORGANIZAO E REPRESENTAO DA INFORMAO EM DOCUMENTOS DE PRESERVAO DA
MEMRIA SOCIAL
O acervo do Museo de la Memoria y Derechos Humanos do Chile

LAILA FIGUEIREDO DI PIETRO
Universidade de Braslia - Faculdade de Cincia da Informao
[email protected]

Resumo A preservao da memria de um povo, alm de um direito humano, uma obrigao da prpria
sociedade, que deve se estruturar para organizar e conservar os acervos documentais que garantem esse
processo. A organizao, o tratamento e a preservao destes acervos visam o acesso cidadania e memria
social, evidenciando os laos identidrios. O processamento do documento por meio de conceitos
arquivsticos e bibliotecrios prope uma abordagem de estruturao de sistemas de informao, que permite
ao centro de informao a manuteno de suas caractersticas fundamentais. O armazenamento do
documento de acordo com suas informaes reflete uma postura voltada principalmente para os princpios
utilizados por bibliotecrios, os quais valorizam o contedo presente nos itens de seu acervo, que ser
utilizado por usurios que buscam a funo de insumo nos livros, peridicos, imagens, entre outros. No
entanto, imprescindvel que, quando exista relao orgnica entre o documento e a instituio que o produz
ou o mesmo possua particularidades de arquivo, seu contexto e caractersticas formais sejam considerados na
organizao do acervo. Para a pesquisa, foi adotado o acervo geral do Museo de la Memoria y Derechos Humanos,
do Chile, que trabalha com o intuito de difundir a informao armazenada, que retrata os anos de represso
sofridos no Chile e as experincias daqueles que foram vtimas dos centros de deteno no perodo. Analisou-
se a organizao utilizada pelo museu a partir de entrevistas coordenadas, visita ao museu e atravs das
informaes disponibilizadas na web, identificando os princpios e tcnicas empregados para garantir a
recuperao dos documentos como, por exemplo, a tipologia documental e a classificao. Defende-se que a
articulao de tais tcnicas, aplicadas a documentos que possuem grande valor histrico e social, contribuem
para o exerccio da cidadania e para a construo da memria coletiva e individual.

Palavras-chave Arquivologia. Biblioteconomia. Memria Social.

Abstract The preservation of the memory of the people, more than a human right, it is an obligation of the
society itself, which should be structured to organize and preserve the documentary collections that
guarantee this process. The organization, processing and preservation of these collections seek access to
citizenship and social memory, showing the social links. The document processing through archival concepts
and librarians proposes an approach for structuring information systems, which allows the information
center to maintain its fundamental characteristics. The storage of the document according to its information
reflects a posture mainly focused on the principles used by librarians, who value the contents of each items in
this collection, which will be used by users who want the input function in books, newspapers, pictures,
among others. However, it is essential that where there is an organic relationship between the document and
the institution that produces or possesses the same file particularities, its context and formal characteristics
are considered in the organization of the collection. For research, we adopted the general documentary
collection of the Museo de la Memoria y Derechos Humanos, Chile, who works with the aim of spreading the
information stored, which portrays the years of repression suffered in Chile and the experiences of those who
were victims on the centers of detention on that period. We analyzed the organization used by the museum
from interviews coordinates to the museum, and through the information available on the web, identifying
the principles and techniques used to ensure the recovery of documents, for example, the documentary
typology and classification. It is argued that the articulation of such techniques, applied to documents that
have great historical and social, contribute to the exercise of citizenship and the construction of individual
and collective memory.

Keywords Archival Science. Librarian Science. Social Memory.

205
Introduo

A conservao de acervos que retratam a histria de um povo responsabilidade social e,
muitas vezes, garantida a partir de organizaes governamentais ou independentes que armazenam
e organizam materiais relevantes sobre um perodo ou tema especfico. O acesso a esses materiais
visa a construo da memria coletiva e individual e evidencia seus laos identidrios.
Os documentos de um acervo, sejam bibliogrficos, arquivsticos ou museolgicos, possuem
caractersticas que devem ser observadas e consideradas em seu processamento tcnico, garantindo
a preservao de suas especificidades e seus valores como documento ou informao verdica. Em
muitos casos encontra-se uma postura voltada organizao informacional de um acervo,
independente de sua provenincia e contexto de produo, priorizando os princpios advindos da
Biblioteconomia que, em conjunto, possibilitam a descrio temtica aprofundada de acervos e
permitem seu conhecimento informativo. Tal atitude imprescindvel no acesso aos documentos,
porm no assegura a manuteno dos vnculos ou caractersticas arquivsticas que um documento
pode carregar consigo, mesmo aps sua concesso de uso outra instituio ou arquivo.
Defende-se que a articulao de tcnicas originadas de princpios bibliotecrios ou
arquivsticos viabiliza a conservao da maior parte das caractersticas fundamentais de um
documento e pode atestar a genuidade de suas informaes de referncias atribudas. Para a
pesquisa, foi adotado o acervo geral do Museo de la Memoria y Derechos Humanos do Chile e suas
informaes foram analisadas atravs de visita ao museu, entrevistas coordenadas e dos elementos
disponveis na web.

1 Documentos de arquivo e a preservao da memria social

Os documentos de arquivos referentes a perodos de violao dos direitos humanos so
importantes instrumentos para que um povo possa reconstruir os acontecimentos buscando a
verdade, e garantir esse direito. A transparncia destes documentos possibilita diversas aes por
parte de vtimas dos momentos de represso, ou qualquer cidado que interesse-se em conhecer a
histria de seu povo, desde a procura por paradeiros de entes desaparecidos, cobrana de direitos
conquistados, conhecimento, julgamento ou anistia de envolvidos, at formao de conscincia
poltica e social.
A memria registrada e devidamente contextualizada carrega a responsabilidade de
preservar os acontecimentos. Segundo Szlejcher (2011) [traduo livre], os arquivos que formaram
parte dos processos repressivos se convertem, com a chegada das liberdades forjadas a partir da
Declarao Universal dos Direitos Humanos, em um instrumento social insubstituvel para criar as
novas relaes sociais. A constituio de uma sociedade a partir do conhecimento de seu passado
sugere uma formao consciente e ativa na inteno proteger-se de novos acontecimentos que
infrinjam seus direitos. Para Felizardo e Samain (2007),

Toda memria fundamentalmente (re)criao do passado: uma
reconstruo engajada do passado e que desempenha um papel
fundamental na maneira como os grupos sociais mais heterogneos
apreendem o mundo presente e reconstroem sua identidade, inserindo-se
assim nas estratgias de reivindicao por um complexo direito ao
reconhecimento.(p. 214)

Os lugares de memria e seus acervos podem ser utilizados pela sociedade na garantia de seus
direitos e pelos organismos de poder de um Estado para construo de uma identidade social, por
exemplo. A constituio de uma memria coletiva, seja ela advinda de experincias pessoais

206
compartilhadas ou contato com a histria de um povo atravs de seus arquivos, estabelece um
poderoso instrumento social para o crescimento de uma nao.

2 Organizao de acervos informacionais

A organizao da informao, que definimos como o conjunto de dados que permite extrair
algum significado, podendo favorecer a obteno do conhecimento (Lima & Alvares, 2012, p. 24),
atua como o principal instrumento para que o processo seja cumprido e que o acesso e recuperao
da informao seja otimizado atravs dos sistemas de representao dessa informao nas suas
variadas formas.
O conhecimento gerado atravs do contato do individuo com os diversos tipos de informao
disponveis e fruto de sua percepo das informaes a partir de seu repertrio pessoal, ou seja,
suas experincias e valores construdos durante toda sua existncia, proporciona a criao de novas
informaes que, por sua vez, alteram o conhecimento e, consequentemente, o repertrio pessoal
do mesmo ou outro indivduo.
A Cincia da Informao atua como a principal rea de estudo sobre as questes que
envolvem os conceitos de informao e conhecimento e suas estruturas de organizao, as quais so
aplicadas em diferentes meios como bibliotecas, arquivos e museus. A organizao da informao, a
partir das definies de Fogl (1979 como citado em Brascher & Caf, 2008, p. 5), tem como objetivo
principal o acesso. Taylor (2004 como citado em Brascher & Caf, 2008, p. 5) e Svenonius (2000 como
citado em Brascher & Caf, 2008, p. 5) concordam ao escrever que a informao para ser organizada
deve estar registrada e descrita. Esse processo se d atravs da utilizao de sistemas de organizao
da informao, conceito que agrupa diversos princpios e tcnicas de reas da Cincia da
Informao ou relacionadas. Como exemplo, o tesauro e a classificao so utilizados pela
Biblioteconomia com intuito de descrever para representar o contedo informativo e localizar e
recuperar um objeto informacional, respectivamente. Segundo Caf e Sales (2010, p. 117),
organizamos um acervo para compreend-lo melhor e assim podermos recuperar objetos
informacionais, isto , informaes registradas nos mais variados suportes (textos, imagens,
registros sonoros, representaes cartogrficas e pginas da web).
Lima e Alvares (2012, p. 21) afirmam que representar o ato de utilizar elementos simblicos
(...) para substituir um objeto, uma ideia ou um fato. Para atingir seus objetivos, os sistemas de
organizao da informao devem descrever cada objeto informacional adequadamente refletindo
as necessidades de informao da comunidade para qual esto destinados (Caf & Sales 2010, p.
117), envolvendo a elaborao de linguagens documentrias, a indexao, catalogao, classificao,
elaborao de ndices, resumos, entre outros. Como modelo prtico da organizao da informao,
esto os conhecidos procedimentos tcnicos da atual Biblioteconomia, aplicado em livros. O
documento em questo armazenado e suas informaes descritas em sistemas informatizados de
catalogao, classificados e indexados seguindo normas, regras e formatos, como, por exemplo, a
AACR2 (Anglo-american Cataloguing Rules 2. ed.), o MARC (Machine Readable Cataloguing, a CDD
(Classificao Decimal de Dewey) e CDU (Classificao Decimal Universal).
Segundo Caf e Sales (2010, p. 127), sabemos que a informao s tem sentido se for
transmitida e socializada. No entanto, para que isso ocorra necessrio que ela circule e, para tanto,
ela deve ser tratada nos seus aspectos formais e temticos de forma adequada.
Quando se pensa em documentos com vnculo arquivsticos explcitos, que mantenham uma
relao orgnica com seu produtor, diferentes princpios devem ser considerados para que a
organizao dessa informao no atribua perda de valor probatrio ao documento e para que o
acervo esteja reunido em sua forma natural.
Os arquivos foram concebidos na inteno de reunir documentos que, posteriormente, so
insumos para diversas aes do homem, seja contestar suas posses ou recordar o passado. No
momento em que so criados, tornam-se responsveis por manter os documentos que se relacionam

207
com as funes de sua pessoa fsica ou jurdica de guarda. Seu valor probatrio imprescindvel
para a tomada de decises e prestaes de contas, por exemplo. Aps seu perodo de utilizao
corrente, os arquivos mantm suas caractersticas, apresentando-se assim como instrumentos legais
para um processo comercial, pagamento de taxas ou at mesmo cobrana de direitos, como so os
casos das indenizaes recebidas aps guerras ou perodos ditatoriais.
Disciplinas como a Diplomtica e Tipologia documental, que analisam aspectos formais do
documento e suas relaes dentro de um conjunto documental, contribuem para a manuteno das
caractersticas de um acervo que possua valor arquivstico. Lopez (2012, pp. 28-29) conclui que a
Tipologia Documental responsvel pela articulao orgnica de diferentes documentos de um
arquivo com suas funes, constituindo a ligao do documento diplomtico com a funo do titular
arquivstico.

3 Museo de la Memoria y Derechos Humanos

O Museo de la Memoria y Derechos Humanos do Chile foi idealizado com intuito de estimular a
discusso e exposio das violaes cometidas pelo Estado do Chile entre 1973 e 1990, para que tais
atitudes no voltem a se repetir. Seu projeto foi produzido em 2007, e no ano seguinte foi
determinada a doao das colees da Casa de la Memoria, iniciando o acervo do museu. No final do
ano de 2009, a construo destinada ao museu foi entregue e a organizao de sua mostra
museogrfica iniciada. Sua inaugurao foi realizada no incio de 2010, pela presidente Michelle
Bachelet.
O museu define seus valores como: respeito, tolerncia e transparncia. Valores esses que
garantem o trabalho desse espao de memria de acordo com sua viso: ser um espao que
contribua para que a cultura dos direitos humanos e dos valores democrticos se convertam no
fundamento tico compartilhado
1
.
As colees do Museo de la Memoria so compostas de materiais em variados suportes e so
divididas em objetos e arquivos documentais. Os objetos so representados por materiais que
comemoram as vtimas da represso, representam lugares de tortura e outros lugares de memria,
mostram as manifestaes ocorridas durante e aps o perodo, exibem a participao de organismos
de defesa dos Direitos Humanos.
J os documentos de arquivos esto divididos em: arquivos de memria, reunindo fundos de
organizaes sociais e pessoais que apresentam cartas, testemunhos, denncias, pastas de processos
mdicos e jurdicos, cartilhas, entre outros; documentos oficiais relacionados com s restries
coletivas e pessoais como decretos e normas; publicaes produzidas no Chile ou no exterior tais
como reportagens, narrativas, investigaes, textos cientficos, a respeito dos acontecimentos
ocorridos entre 1973 e 1990; publicaes ou informes de organismos internacionais; processos
judiciais relacionados conselhos de guerra, recursos de amparo e processos representativos;
arquivos de imprensa; arquivos sonoros; arquivos fotogrficos, referentes s vtimas, lugares de
tortura, atividades do perodo, comemoraes, etc.; documentos grficos, cartazes e panfletos;
arquivos audiovisuais produzidos em qualquer poca, que retratem ou falem sobre assuntos
relacionados represso; e coleo de entrevistas com relatos de experincias.
O acervo constitudo de doaes de instituies ou pessoas, que so categorizadas e
possuem regulamentao que garantem direitos e responsabilidades das partes envolvidas por meio
de um convnio firmado. Os acervos ou documentos podem ser entregues ao museu por:
- doao: entrega perpetuidade de patrimnio em vida;
- comodato: doao temporria em vida;
- legado: doao estabelecida em testamento;

1
Traduo da autora de frase retirada do site do Museo de la Memoria y Derechos Humanos do Chile.

208
- cmbio: intercmbio de materiais com instituies afins;
- achados: frutos de trabalhos de campo.
O acervo do Museo de la Memria constitudo a partir das doaes, assim como suas
exposies. No h exigncia do museu sobre o que deve estar presente em seu acervo, sendo ele
adaptvel aos materiais que so entregues por vontade das pessoas ou instituies doadoras. O
museu conta ainda com equipe e laboratrio para conservao e restaurao dos objetos e
documentos adquiridos, preocupando-se com as condies de guarda e uso dos mesmos.
O arquivo depende da rea de Colecciones e Investigacin do museu, onde situa-se o Centro de
Documentacin (CEDOC), que um dos instrumentos operacionais que permite a consulta de suas
colees, materiais bibliogrficos organizados em biblioteca, objetos e documentos de arquivo. Para
suportar a grande diversidade de materiais armazenados pelo museu, foi desenvolvida uma
tipologia semelhante s sries documentais de um arquivo tradicional. So realizadas entrevistas
com os doadores ou responsveis no momento da entrega dos materiais e os arquivistas ou
investigadores atribuem a nova coleo um fundo, que leva o nome do doador e um nmero de
identificao. Aps esse procedimento, realizado o inventrio da coleo e sua classificao de
acordo com a Classificao de Colecciones do museu, exibida a seguir.

I. DOCUMENTOS

- Coleccin Correspondencia: cartas manuscritas e impresas que tengan o no un emisor y
receptor, memorndum
- Coleccin Certificados: certificados del Registro Civil, Certificados de instituciones,
organismos de DDHH, certificados de instituciones, organismos o centros de detencin.
Certificados mdicos, autorizaciones de visita, pasaportes, diplomas
- Coleccin Actas: actas, acuerdos, resoluciones
- Coleccin Oficios: oficios y circulares
- Coleccin Recursos de amparo
- Coleccin Consejos de Guerra
- Coleccin Tribunales Militares
- Coleccin Procesos Judiciales (Procesos Completos)
- Coleccin Expedientes Judiciales: querellas, denuncias, recursos de proteccin, recursos de
queja, Recursos de inaplicabilidad, sentencias
- Coleccin Informes: informes y textos informativos
- Coleccin Informes Mdicos
- Coleccin Manuscritos: diarios de vida testimoniales, de prisin, de huelgas de hambre
- Coleccin Casos: informes de hechos y personas pueden incluir archivos de prensa y otros tipos
de documentos
- Coleccin Documentos Legales: Bandos, Decretos, Leyes, Declaraciones Juradas
Salvoconductos, Constancias, notificaciones, autorizaciones y permisos, citaciones judiciales
- Coleccin Comunicados y declaraciones pblicas
- Coleccin Folletera: folletos, dpticos y trpticos
- Coleccin Discursos: discursos e intervenciones
- Coleccin Entrevistas
- Coleccin Fichas: ficha de atencin social, ficha de atencin jurdica, formularios
- Coleccin Nminas y Listados
- Coleccin Sumarios Administrativos
- Coleccin Invitaciones: esquelas
- Coleccin Fichas Policiales
- Coleccin Testimonios y relatos: relatos, narraciones y testimonios sobre situacin de
prisin poltica, violacin a los derechos humanos
- Coleccin Textos Literarios: relatos, narraciones, cuentos, poemas, ensayos, canciones, obras de
teatro, reseas biogrficas, Reseas histricas
- Coleccin Solicitudes: solicitudes, requerimientos, peticiones
- Coleccin Documentos de Gestin: proyectos, planificacin estratgica, planificacin anual,
presupuestos, balances, auditoras, memoria institucional, organigramas, estadsticas,
documentos oficina de Personal y Recursos Humanos
- Coleccin Congresos y Seminarios: ponencias y/o trabajos presentados en congresos,
seminarios, mesas de trabajo, mesas redondas, jornadas
II. OBJETOS
- Coleccin Objetos Personales (Biogrfico)
- Coleccin Vestigios: restos de algn objeto o lugar de carcter histrico
- Coleccin Arpilleras
- Coleccin Artesanas Carcelarias: elaboradas en hueso, madera, metal, lana, cuero, miga de pan,

209
entre otros
- Coleccin Artesanas: Hechas en otros contextos
- Coleccin Objeto Histrico: objetos en general. Objetos que dan cuenta de situaciones de
violaciones y de defensa y proteccin de los DDHH. Venda, galvano de organismos
III. ICONOGRAFICA:
Constituida por
material de carcter
informativo, de
denuncia y difusin
- Coleccin Afiches
- Coleccin Panfletos
- Coleccin Tarjetas
- Coleccin Postales
- Coleccin Autoadhesivos
- Coleccin Mapas: (planos, documentos cartogrficos)

IV. DIBUJOS Y OTROS

- Coleccin Dibujos
- Coleccin Acuarelas
- Coleccin Croquis (Incluye otras expresiones plsticas)
- Coleccin Grabados: xilografa, litografas
- Coleccin Pinturas
- Tcnicas Mixtas: trabajos y obras de tcnicas mixtas, collages
V. PUBLICACIONES

- Coleccin Recortes de Prensa: recortes de diarios, artculos de revistas con y sin fuente
- Coleccin Publicaciones Seriadas: revistas, diarios, semanarios recursos continuos esto es
revistas impresas y digitales, cancioneros con numeracin
- Coleccin Libros: libros, monografas, tesis, artculos o captulos de libros
- Coleccin Prensa Histrica: prensa del da del Golpe o das posteriores, y o que marque hechos
relevantes
- Coleccin Maqueta de Publicacin
VI. FOTOGRAFICA

- Coleccin Fotografas en positivo
- Coleccin Negativos
- Coleccin Diapositivas
VII. AUDIOVISUALES

Incluye documentales, ficcin, testimonios, reportajes de prensa, programa de televisin,
video arte, animacin, videos personales, recitales, programa de nios, video musical, triler.
Sinopsis, registro

VIII. AUDIOS - Coleccin Sonora
IX.COLECCIONES
PERSONALIZADAS
Incluye colecciones en las que el donante ha establecido el orden u organizacin previamente y
ha declarado su intencin de que se mantenga esa unidad

Tabela 1 - Clasificacin para las colecciones: tipologa documental

O museu tambm possui classificao desenvolvida por Emilia Beniscelli e Mara Luiza Ortiz
para materiais bibliogrficos relacionados aos direitos humanos. Essa classificao apenas
utilizada pelo Museo de la Memoria y Derechos Humanos em seu acervo tradicional, que est disponvel
nas estantes do CEDOC e aberto pesquisa. A seguir, observa-se a classificao utilizada e seus
campos de abrangncia:

1.0. Derechos Civiles

1.1. Derecho a la vida
1.2. Integridad personal
1.3. Esclavitud
1.4. Libertad personal
1.5. Seguridad personal
1.6. Libre determinacin de las personas
1.7. Desarrollo igualitario y libre de las personas
1.8. Derecho humanitario
2.0. Derechos Polticos

2.1. Personalidad jurdica
2.2. Nacionalidad
2.3. Residencia
2.4. Participacin ciudadana
3.0. Derechos econmicos,
sociales y culturales

3.1. Condiciones Sociales y Econmicas
3.2. Condiciones de Educacin y Cultura
4.0. Derechos de los Pueblos

4.1. Ejercicio de la soberana y libre determinacin
4.2. Derecho al desarrollo
4.3. Derecho a la Paz
4.4. Derecho a un Medio Ambiente sano

210
5.0. Sujetos especficos de
Derechos

5.1. Derechos de la Mujer
5.2. Derechos de los Nios y las Nias
5.3. Derechos de las Minoras o Grupos Vulnerables
6.0. Proteccin de los Derechos
Humanos

6.1. Mecanismos de Proteccin de los Derechos Humanos
6.2. Instrumentos Internacionales de Proteccin de los Derechos Humanos
6.3. Organismos de Proteccin de los Derechos Humanos
7.0. Promocin y Difusin de los
Derechos Humanos
7.1. Educacin para los Derechos Humanos
7.2. Campaas de promocin y difusin de los Derechos Humanos
8.0. Teora de los Derechos
Humanos

0.0. Generalia
0.1. Jurisprudencia
0.2. Legislacin Nacional
0.3. Legislacin Internacional
0.4. Testimonios
0.0.1. Bibliografas
0.0.2. Obras de Consulta
0.0.3. Manuales
0.0.4. Conferencias, Congresos, etc.
0.0.5. Nminas, Listados y otros
0.0.6. Informes

Tabela 2 - Esquema de clasificacin para informacin documental sobre derechos humanos

Os termos de referencia e descries de documentos em geral englobam informaes sobre
seu ttulo, doador do arquivo ou documento, vtima relacionada, centro de deteno relacionado e
regio de ao repressora, data, relao com o momento abordado e temas observados.
No intuito de suportar a diversidade de materiais, suportes e informaes que o museu
armazena, detectou-se a necessidade de softwares adequados para cada tipo de documento e que
permitam sua personalizao s particularidades desse acervo. vista disso, o museu utiliza
diversas bases para armazenamento de metadados ou informaes e acesso.
Utiliza-se o software OpenBiblio para materiais tradicionais (livros, peridicos, artigos) e
consulta local. Para consulta online o museu dispe do software ICA-ATOM
2
, no qual so
disponibilizadas informaes e imagens sobre objetos e textos de seu acervo geral e ainda, atravs
do Greenstone
3
, software para repositrios digitais, a visualizao da exposio do museu, com
documentos textuais, audiovisuais e imagticos.
A organizao do Museo de la Memoria y Derechos Humanos visa o acesso de todo e qualquer
interessado em conhecer a histria do pas e os acontecimentos do perodo de represso militar que
violou diversos direitos humanos. A ideia promover a discusso e reflexo sobre os atos e suas
repercusses, na inteno de proteger sua nao de novas aes que afetem sua dignidade.

4 Anlise e discusso

Anna Szlejcher (2011) afirma que o conhecimento da histria de um povo seu patrimnio e
carece ser conservado, uma vez que os arquivos so instrumentos importantes para o exerccio de
sua cidadania. O desaparecimento de documentos ou arquivos inteiros, seja acidental ou
intencional, pode acarretar danos aos valores de prova desse material e mudanas na memria
construda e do rumo da sociedade envolvida. Por esses motivos, os profissionais dedicados
organizao da informao devem compreender sua responsabilidade no momento de armazenar,
conservar e propiciar o acesso a acervos histricos e avaliar as maneiras mais adequadas de
conservao de cada documento envolvido e suas informaes.
A Cincia da Informao agrega a seus processos diferentes formas de interpretao de
informaes que permitem a definio de teorias e tcnicas que auxiliam a organizao de sistemas

2
Disponvel em: http://www.archivomuseodelamemoria.cl:8080/index.php .
3
Diponvel em: http://www.bibliotecamuseodelamemoria.cl

211
de informao para fins diversos. A interdisciplinaridade inserida no mbito da Cincia da
Informao proporciona a utilizao de mtodos advindos das reas como a Biblioteconomia e
Arquivologia para a representao do conhecimento presente em um documento com o intuito de
organizar e disponibilizar ao usurio informaes e dados referentes a esses documentos.
Primeiramente, deve-se atentar para as particularidades de cada documento ou acervo. No
caso do Museo de la Memoria y Derechos Humanos, o acervo disponvel consiste na compilao de
diferentes arquivos e bibliotecas doadas ao museu por diferentes meios, para um mesmo fim.
A utilizao da tipologia desenvolvida pela instituio demonstra a preocupao em manter
as caractersticas que, em algum momento, transformaram um conjunto de documentos em um
arquivo pessoal ou institucional. Um arquivo mdico do perodo de represso, por exemplo,
sustenta a veracidade de suas informaes no momento em que sua organizao inicial mantida,
independente da utilizao durante a exposio museogrfica, e pode, neste caso, exibir
informaes relevantes num processo indenizatrio, comprovando tortura ou morte no perodo. A
utilizao da Diplomtica e Tipologia Documental na anlise de documentos no convencionais vem
sido discutida com a finalidade de valer-se de modelos adaptados das anlises de documentos
tradicionais para a identificao dos dados necessrios para sua organizao arquivstica.
As descries acerca dos contedos informacionais revela a utilizao dos princpios
biblioteconmicos atravs de tcnicas de classificao temtica e indexao. No acervo pesquisado,
alm da tabela de classificao empregada no acervo bibliogrfico tradicional do CEDOC, observa-se
a unio de documentos a diversas reas de contedos relacionados violao dos Direitos Humanos
e aes repressoras.

Consideraes finais

A organizao de acervos de relevncia histrica deve ser cuidadosamente analisada e
constituda para que as caractersticas e especificidades de cada documento ou conjunto
documental sejam preservadas. A importncia social de acervos referentes a perodos de violao de
direitos e dignidade humana justifica a existncia de diferentes rgos e instituies que se ocupam
da conservao da memria coletiva e seus esforos para construir tcnicas que compreendam a
complexidade e diversidade destes acervos.
O Museo de la Memoria y Derechos Humanos do Chile destaca-se por ser um espao de
homenagem s vtimas das violaes cometidas pelo Estado do Chile entre 1973 a 1990, com o
propsito de proteger sua e todas as naes da repetio de tais atos. A organizao de seu acervo
demonstra o respeito com os acontecimentos e interpretaes por parte daqueles que unem seus
documentos a essa iniciativa e os princpios biblioteconmicos ou arquivsticos utilizados
proporcionam essa relao entre acervo, instituio e usurio.

212
Referncias

BRASCHER, M.; Caf, L. M. A. (2008). Organizao da informao ou organizao do conhecimento?.
Comunicao apresentada no 8 Encontro Nacional de Pesquisadores em Cincia da Informao. So
Paulo: ENANCIB.

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fotogrficos, v. 3, n. 3., 205-220.

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Marques, A. J.; Stampa, I. T. (Orgs.). Arquivos do mundo dos trabalhadores: coletnea do 2 Seminrio
Internacional (pp.15-31). So Paulo & Rio de Janeiro: CUT & Arquivo Nacional.

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<http://www.museodelamemoria.cl/>.

ROJAS, M. L. O.; BENISCELLI, E. (n. d.) Esquema de clasificacin para informacin documental sobre
Derechos Humanos (ECIDH). Santiago: Museo de la Memoria y Derechos Humanos.

SZLEJCHER, A. (2011). Interdependencia entre derechos humanos, investigacin, memoria y
archivos en Argentina. Dilogos entre saberes: encuentros y desencuentros v. 1, n. 1. (Trabalho
apresentado no VII Encuentro Interdisciplinario de Ciencias Sociales. Crdoba). Artigo
recuperado em 12 de maio de 2013, de
<http://publicaciones.ffyh.unc.edu.ar/index.php/7encuentro/article/view/451>.

213
CONSIDERAES SOBRE A ABRANGNCIA DISCIPLINAR DA CINCIA DA INFORMAO
Fundamentos, modelos e mtodos para a organizao e representao da informao

GILBERTO L. FERNANDES
Universidade de Braslia - Centro de Pesquisas em Arquitetura da Informao
[email protected]

MAMEDE LIMA-MARQUES
Universidade de Braslia - Centro de Pesquisas em Arquitetura da Informao
[email protected]

Resumo Neste artigo defendida uma abrangncia ampla e transdisciplinar para a Cincia da Informao. A
partir de uma breve retrospectiva histrica e consideraes sobre a polissemia dos principais termos
empregados na rea, este trabalho analisa o processo de ramificao e integrao com diversas reas do
conhecimento pelo qual a Cincia da Informao vem passando desde o seu surgimento e pretende oferecer
fundamentos para a proposta de uma rea mais abrangente e transdisciplinar para a Cincia da Informao.
Como exemplo motivador, considerou-se as dificuldades enfrentadas por diversos pesquisadores para a
construo de uma teoria unificada, ou Teoria Geral da Informao.

Palavras-chave Cincia da Informao. Abrangncia. Transdiciplinariedade. Terminologia.

Abstract In this paper it is defended a broad and transdisciplinary coverage for Information Science. From a
brief historical review and considerations on the multiple meanings of the key terms used in the area, this
paper analyzes the process of branching and integration with different areas of knowledge in which the
Information Science has been undergoing since its emergence and intends to provide foundation for the
proposal of a more comprehensive and transdisciplinary area for the Information Science. As a motivating
example, we considered the difficulties faced by many researchers to construct a unified theory or a General
Theory of Information.

Keywords Information Science. Science of Information. Comprehensiveness. Transdisciplinarity.
Terminology.

A espantosa realidade das cousas
a minha descoberta de todos os dias.
Cada cousa o que ,
E difcil explicar a algum quanto isso me alegra,
E quanto isso me basta.
(PESSOA, 2005a)

[...] E o que vejo a cada momento
aquilo que nunca antes eu tinha visto,
E eu sei dar por isso muito bem...
Sei ter o pasmo essencial
Que tem uma criana se, ao nascer,
Reparasse que nascera deveras...
Sinto-me nascido a cada momento
Para a eterna novidade do Mundo...
(PESSOA, 2005a)

214
Introduo

A partir de uma breve retrospectiva histrica e consideraes sobre a polissemia dos
principais termos empregados na rea, este artigo analisa e defende uma abrangncia ampla e
transdisciplinar para a Cincia da Informao - CI. Como exemplo motivador, considerou-se as
dificuldades enfrentadas por diversos pesquisadores para a construo de uma teoria unificada, ou
Teoria Geral da Informao.
Utiliza-se como referencial epistemolgico no desenvolvimento deste texto o modelo
ontolgico dos trs mundos de Karl Popper (1902 - 1994) o mundo fsico e objetivo, o mundo do
conhecimento, resultado da apreenso pelos seres humanos das propriedades e caractersticas do
mundo objetivo, e o mundo dos registros, produzidos pelos seres humanos em todas as suas formas
de expresso (POPPER; ECCLES, 1977).
Este trabalho pretende analisar o processo de ramificao e/ou integrao entre a Cincia da
Informao e diversas reas do conhecimento, que vem ocorrendo desde o seu surgimento, e
fundamentar a proposta deste trabalho para uma relevante vertente da Cincia da Informao mais
abrangente e transdisciplinar.
Em funo das necessidades para enfrentar alguns dos desafios prprios rea da Cincia da
Informao, como por exemplo a construo de uma Teoria Geral da Informao, prope-se atribuir
Cincia da Informao a condio de metadisciplina, permitindo a utilizao de um pluralismo
metodolgico para o estudo da natureza da informao, objeto primordial de estudo da rea.
A disciplina da Cincia da Informao tem sido historicamente marcada por conflitos e falta
de consenso sobre suas origens, objetivos, terminologia e abrangncia, conforme ser analisado em
seguida. Este artigo aborda estes temas, com nfase na questo da abrangncia disciplinar,
apoiando-se principalmente nas obras de trs autores: Jaime Robredo (2003), Mamede Lima-
Marques (2011) e Andr Siqueira (2012a, 2012b), que possuem contribuies relevantes e
apresentam uma abordagem diferenciada para a questo central deste artigo. Finalmente, o
presente trabalho faz uma reflexo sobre a rea de atuao da Cincia da Informao, frente aos
desafios do presente e do futuro prximo.

1 Origens e estgio atual da Cincia da Informao

Alguns autores remontam as origens da Cincia da Informao ao apogeu da antiga Biblioteca
de Alexandria (SHERA; CLEVELAND, 1977), enquanto outros situam o seu surgimento no final da
Segunda Guerra Mundial (WERSIG; NEVELING, 1975; SARACEVIC, 1991; CAPURRO, 2003), associado
ao desenvolvimento dos primeiros computadores digitais. Capurro e Hjrland (2003), reconhecendo
as diversas contribuies para o surgimento da disciplina, destacam as origens da Cincia da
Informao tanto na Biblioteconomia clssica como na Cincia da Computao.
Apesar das divergncias mencionadas acima, a relao entre Biblioteconomia, Documentao
e Cincia da Informao explcita na literatura que fundamenta a rea da Cincia da Informao,
conforme ressalta Siqueira (2012a, p. 92): mesmo aqueles que afirmam serem diferentes a Cincia da
Informao e a Biblioteconomia no deixam de reconhecer que h fortes similaridades entre o objeto e os
mtodos empregados em seus respectivos campos de investigao.
Entretanto, os objetivos e a abrangncia da Cincia da Informao e sua relao com a
Biblioteconomia e a Documentao tm sido, desde a dcada de 1970, constantemente revistos em
funo dos desafios cientficos que se apresentam e medida que os horizontes do conhecimento se
expandem, como ser detalhado a seguir. Cada poca tem suas prprias ideias e crenas, que
influenciam o modo como se desenvolve a cincia. O cientista social sofre mltiplas influncias no

215
desenvolvimento de suas pesquisas, destacando-se os paradigmas e interesses do grupo ao qual
pertence e ao contexto no qual se insere o seu trabalho, como observado em (TOMANIK, 2004, p. 11).
Brookes (1980) defendeu a ideia de uma rea de conhecimento especfica para a Cincia da
Informao e no a simples extenso de outras disciplinas, como a Biblioteconomia. Bates (1999)
acusou a ausncia de uma definio paradigmtica explcita para a Cincia da Informao, o que a
levou a considerar o enquadramento desta disciplina como uma meta-cincia, responsvel pela
pesquisa e desenvolvimento terico para outras disciplinas e atividades relacionadas. Esta viso est
de acordo com o pensamento de Thomas Kuhn (2009), para quem uma cincia definida por um
conjunto determinado de obras que fundamentam esta cincia e que so aceitas e representam as
ideias desta comunidade cientfica, constituindo assim seu modelo paradigmtico.
Segundo Siqueira (2012a, pp. 93), esta discusso deve envolver avaliao sobre o objeto de
estudo, metodologias e referenciais epistemolgicos:

Existem essencialmente trs vertentes para o encaminhamento desta
relao entre a Cincia da Informao, Documentao e Biblioteconomia: a
primeira advoga a inexistncia de distino entre elas; a segunda
caracteriza uma distino de natureza metodolgica, segundo a qual a
Documentao seria uma especializao da Biblioteconomia e a Cincia da
Informao seria o estudo terico da rea; e a terceira vertente que advoga
ser a Cincia da Informao uma rea mais abrangente e, segundo tal
proposta, a Biblioteconomia e a Documentao tornam-se algumas de suas
sub-reas (SIQUEIRA, 2012a, p. 94).

Atualmente, persiste a ausncia de consenso sobre os objetivos, abrangncia, fundamentos e
mtodos de investigao da Cincia da Informao, alm de grande disperso dos autores
considerados relevantes para a rea. Esta situao, como apontaram Bates (1999) e Siqueira (2012a,
p. 94), caracteriza uma cincia em seu estgio pr-paradigmtico, propiciando a convivncia de
diferentes escolas de pensamento, cada uma com seus prprios modelos e teorias.

2 Sobre o carter transdisciplinar da Cincia da Informao

Abordagens com espectro disciplinar mais amplo (multi, inter ou transdisciplinar)
1
propiciam
o dilogo entre diferentes cincias e a convergncia do conhecimento e da investigao sobre
problemas similares, oferecendo uma compreenso mais abrangente sobre esses problemas do que
quando tratados de forma isolada em cada rea do conhecimento (JAPIASSU, 1976; PINHEIRO, 2004;
KLEIN, 2004; LACERDA, 2005a; LACERDA, 2005b).
A natureza multidisciplinar, interdisciplinar ou transdisciplinar da Cincia da Informao
apresenta-se como um dos poucos pontos onde aproxima-se de um consenso, sendo proposta por
diversos autores, como Saracevic (1996, p. 42), que destaca o vis cognitivo e o vis social da Cincia
da Informao, por Matheus (2005, p. 159), que ressalta a necessidade de uma colaborao
interdisciplinar para a prtica da disciplina da Cincia da Informao, e por Goffman (1970), que
estende a rea de atuao da Cincia da Informao a todos os processos informacionais e destaca a

1
Em 1998, a OCDE (Organization for Economic Co-operation and Development) estabeleceu definies para distinguir os
tipos de relaes entre disciplinas, segundo o nvel de interao entre elas: a pesquisa multidisciplinar aborda o objeto de
estudo a partir de diferentes perspectivas disciplinares, sem que haja integrao completa; na pesquisa interdisciplinar
ocorre integrao terica, conceitual e metodolgica; enquanto a transdiciplinariedade advoga uma maior convergncia
entre as disciplinas com a integrao de suas epistemologias (OCDE, 1997; ABOELELA, et. al., 2007; LACERDA, 2005a, p. 58
59). Nesse texto sero empregadas estas definies.

216
necessidade de se estabelecer modelos e teorias uniformes para as diversas correntes de
pensamento, sumarizando seu pensamento da seguinte forma:

O objetivo da disciplina CI deve ser o de estabelecer um enfoque
cientfico homogneo para estudo dos vrios fenmenos que cercam a
noo de informao, sejam eles encontrados nos processos biolgicos, na
existncia humana ou nas mquinas... (GOFFMAN, 1970).

No entanto, uma abordagem interdisciplinar ou transdisciplinar, com o envolvimento de
disciplinas classificadas tanto no mbito das cincias naturais como das cincias sociais, torna-se
tambm necessria a adoo de um pluralismo metodolgico, capaz de atender de modo integral
aos fundamentos epistemolgicos destas diferentes reas do conhecimento (HIRSCHHEIM, 1985).
O filsofo norte-americano Alexander Rosenberg (1946 - ) afirma que a interao entre a
cincia e a filosofia, especialmente o modo como as teorias e descobertas cientficas impactam a
filosofia, demonstram como uma indispensvel compreenso da outra. Rosenberg estabelece
uma definio funcional da filosofia, separando-a em dois grupos, de acordo com as questes que
tratam: no primeiro grupo estariam as questes a que a cincia fsica, biolgica, social e comportamental
no pode responder agora e talvez nunca seja capaz de responder; no segundo grupo estariam as
questes sobre o motivo pelo qual as cincias no conseguem responder primeira srie de questes
(ROSENBERG, 2009, p. 17). Certamente, as tentativas de definies gerais sobre o conceito de
informao, as exaustivas discusses sobre o tema, assim como os esforos para a construo de
uma teoria unificada da informao (HOFKIRCHNER, 1999), se encaixam na categoria de problemas
que a Cincia da Informao no tem conseguido responder e que, sem um relacionamento estreito
com a Filosofia, talvez nunca consiga. Rosenberg acrescenta ainda que de forma alguma est claro que
existe uma real distino entre as questes cientficas mais gerais e as questes filosficas, especialmente
aquelas levantadas nas fronteiras mveis das cincias e que podemos esperar importantes contribuies
cientficas para questes perenemente filosficas (ROSENBERG, 2009, p. 18).
A aceitao de um carter interdisciplinar ou transdisciplinar para a Cincia da Informao,
defendida por grande parte dos autores da rea, leva-nos a uma natural reflexo sobre sua
abrangncia e seu relacionamento com a Biblioteconomia e com a Documentao. Nesse sentido,
temos a contribuio de Borko, apresentada ainda em 1968, e transcrita a seguir:

Trata-se de uma cincia interdisciplinar [...] Tem tanto um
componente de cincia pura, que indaga o assunto sem ter em conta a sua
aplicao, como um componente de cincia aplicada, que desenvolve
servios e produtos. [] a biblioteconomia e a documentao so aspectos
aplicados da cincia da informao (BORKO, 1968, p.4).

Deste modo, seguindo as premissas de um pluralismo metodolgico, conforme preconizado
por Hirschheim (1985), e de uma estreita colaborao entre a cincia e a filosofia, como proposto
por Rosenberg (2009), defende-se, neste artigo, a ideia de uma abordagem metodolgica
transdisciplinar para a investigao da informao, objeto principal de estudo da Cincia da
Informao, baseada na Filosofia, na Lgica e em conceitos e resultados experimentais da Fsica e da
Neurofisiologia (FERNANDES; LIMA-MARQUES, 2012). A discusso sobre a natureza da informao, e
o posicionamento epistemolgico sobre esta questo defendido neste artigo, sero retomados nas
sees 5 e 6.

217
3 Sobre a terminologia utilizada na Cincia da Informao

Capurro e Hjrland (2007, p. 48) expressam a importncia da definio dos termos
fundamentais de qualquer cincia para o seu adequado desenvolvimento, ressaltando a necessidade
de um melhor esclarecimento sobre o conceito de informao para a Cincia da Informao.
Consultando-se tanto a literatura especializada da Cincia da Informao (ROBREDO, 2003),
assim como publicaes disponveis sobre outras reas do conhecimento, possvel uma fcil
constatao de que os termos dado, informao, conhecimento e registro, devido a uma notvel
polissemia e ausncia de um consenso conceitual entre os diversos autores desta rea de
investigao, tm sido empregados com diferentes significados, inclusive dentro de uma mesma
rea do conhecimento, disciplina ou contexto (SCHRADER, 1983). Dependendo do contexto ou do
referencial utilizado em sua definio, estes termos apresentam-se a cada momento em domnios
epistemolgicos distintos.
Percebe-se tambm que o termo informao, talvez o mais polmico deles devido a sua
extrema polissemia, tem sido usado indiscriminadamente na literatura especializada com distintos
significados e intercambialidade, assumindo conotaes de mensagem, de dado, de conhecimento,
de representao, de registro, de comunicao, de controle, de forma, de instruo, de significado,
de estmulo mental ou de padro, dentre outras. Quanto sua natureza, a informao assume ora a
categoria de coisa, significando a forma fsica usada para representar, descrever ou expressar seu
contedo intelectual (BUCKLAND, 1991, p. 351), ou ainda um carter estritamente ontolgico,
representando neste ltimo caso as caractersticas essenciais dos objetos fsicos do mundo real, com
existncia independente da presena ou de ser percebida ou no por um observador (STONIER,
1990). A polissemia e os vrios domnios empregados no uso do termo de informao so um
indicativo da dificuldade de caracterizao deste conceito.
Sobre o uso do termo informao, desassociado de um compromisso epistemolgico
conforme exposto acima, o ilustre Prof. Robredo (1927 2011), da Universidade de Braslia, aps
uma minuciosa e madura reviso da literatura disponvel sobre a Cincia da Informao, concluiu o
seguinte:
Como se pode ver, a comparao das definies propostas pelos
diversos autores citados uma amostragem mnima do universo de
pesquisadores e estudiosos que trataram a questo , deixa a impresso de
que tudo e seu contrrio pode, de alguma forma, se relacionar com a
informao (ROBREDO, 2003, p. 5).

As dificuldades encontradas para a construo de uma definio consensual que possa ser
entendida como geral (transdisciplinar) para o conceito de informao, apesar dos diferentes
pontos de vista e abordagens empregadas sobre esta questo, levam alguns autores a questionarem
a factibilidade de tal tarefa (CAPURRO e HJRLAND, 2007, p. 160). Uma possvel conciliao para este
desencontro terminolgico, que vem sendo perpetuado ao longo do tempo, necessita de uma
reflexo conceitual mais aprofundada e que seja fortemente atrelada a uma epistemologia sobre a
natureza da informao. Prope-se neste artigo, que este deva ser o primeiro passo em direo a um
corpo de conhecimento paradigmtico para a Cincia da Informao.

4 Sobre a natureza da Informao

Apesar da falta de consenso entre os pesquisadores da Cincia da Informao e de outras
reas do conhecimento, crescem as evidncias e partidrios da ideia de que a informao tenha uma
realidade fsica, no sendo um constructo da mente humana (STONIER, 1990; LANDAUER, 1996;

218
BATES, 2006). Este posicionamento conceitual, referendado por praticantes de outras reas do
conhecimento, ressaltando-se a Fsica, adotado neste trabalho.
2

A seguir, ser apresentado o modo de pensar de alguns dos mais destacados cientistas da
informao, que concebem a informao como algo no domnio da realidade fsica. Este tema,
certamente merecedor de um aprofundamento, ser melhor explorado em artigo complementar.
3

Segundo o bilogo e terico da informao alemo Tom Stonier (1927 - 1999), The structure of
the universe consists of at least three components: matter, energy, and information; information is as intrinsic
a part of the universe as are matter and energy (STONIER, 1990, p. 107).
4

Para o especialista em fsica da informao, tambm alemo, Rolf W. Landauer (1927 - 1999),

Information is not a disembodied abstract entity; it is always tied to a
physical representation. It is represented by engraving on a stone tablet, a
spin, a charge, a hole in a punched card, a mark on paper, or some other
equivalent. This ties the handling of information to all the possibilities and
restrictions of our real physical word, its laws of physics and its
storehouse of available parts (LANDAUER, 1996, p. 188).
5

E, para Marcia J. Bates (1942 - ), professora norte-americana da Universidade da Califrnia,
Information is the pattern of organization of matter and energy (BATES, 2006, p. 104).

6

H cerca de 10 anos, o Prof. Jaime Robredo (2003), j chamava a ateno para a necessidade da
Cincia da Informao ocupar-se da investigao sobre a natureza da informao, e no apenas de
sua coleta, organizao, armazenamento, recuperao e uso. Robredo (2003), ao analisar a natureza
da informao, tambm cita Stonier (1998) em vrios trechos de sua obra, alguns destes transcritos
a seguir (STONIER, 1998 apud ROBREDO, 2003, p. 97-98):

A aparente contradio ao definir informao de vrias formas o
reflexo de nossa insistncia (em pensar) que a informao deve ser uma
coisa de um nico tipo. Isto , uma definio que abrange tudo. [] Quando
tratamos de definir a informao, quase sempre a situamos em algum tipo
de sistema (por exemplo, DNA, Computador, Linguagem humana, etc.).
Cada um dos exemplos [] implica veculos completamente diferentes
para a transmisso e armazenagem da informao, e para interpretar os
sinais. [] deveramos entender que nos encontramos no fim do sculo XX,
mais ou menos onde os fsicos se encontravam no fim do sculo XVIII,
quando se engalfinhavam discutindo o conceito de ENERGIA. Ns estamos
agora comeando somente a estabelecer o fundamento da Cincia da
Informao e pouco conhecemos da interconvertibilidade de uma forma
de informao em outra (transduo da informao), mas, pelo menos,

2
Sobre as contribuies da Fsica para a investigao da natureza da informao, Stonier (1990, p. 112) props a criao de
um campo especfico, denominado de Fsica da Informao.
3
O artigo Sobre a natureza da Informao, dado e conhecimento (FERNANDES; LIMA-MARQUES, 2013), no qual a natureza
fsica da informao explorada mais profundamente, foi previamente aceito para ser apresentado no VI Encontro Ibrico
2013 da EDICIC (Associao de Educao e Investigao em Cincia da Informao de Iberoamrica e do Caribe), a ser
realizado em novembro de 2013, em conjunto com o I Congresso ISKO Espanha e Portugal.
4
A estrutura do universo consiste de pelo menos trs componentes: matria, energia e informao; a informao uma
parte do universo to intrnseca como o so a matria e a energia. traduo livre.
5
A informao no uma entidade abstrata sem presena fsica; ela est sempre atrelada a uma representao fsica. Ela
representada pela gravao em uma tabuleta de pedra, um spin, uma carga, um furo em um carto perfurado, uma marca
no papel, ou alguma outra coisa equivalente. Isto vincula o tratamento da informao todas as possibilidades e restries
do nosso mundo fsico real, s suas leis da fsica e de seu conjunto de partes disponveis. traduo livre.
6
Informao o padro de organizao da matria e da energia. traduo livre.

219
temos desenvolvido alguma quantificao da converso da informao em
energia e vice versa.
[] existe um paralelismo entre informao e energia. Lembremos
que o conceito de energia nasceu h s alguns sculos, e que somente em
meados do sculo XIX os cientistas foram capazes de entender que uma
forma de energia podia se transformar em outra e de formular a equao
dessa converso.
[] O primeiro e mais importante fato entender que a Informao
uma propriedade fundamental do universo e que, como a energia, possui
uma realidade prpria.
[] isso nos leva a um entendimento muito mais claro da transmisso
e da transduo nos sistemas fsicos de informao. Esse conceito [] de
entropia pode ser [] descrito mais simplesmente considerando que o
aumento de entropia reflete a diminuio da organizao, isto , da
informao. [] possvel calcular a perda de organizao em funo dos
bits perdidos.
[] um sistema organizado pode se tornar mais organizado como
resultado da introduo de mais informao nele.

As ideias apresentadas nesta seo apontam para o conceito de informao como uma
propriedade bsica do universo, e portanto de natureza ontolgica. Este posicionamento tambm
assumido neste trabalho.

5 Adequao com a perspectiva dos trs mundos de Popper

A tese dos trs mundos proposta por Karl Popper (1975; 1977) uma teoria metafsica sobre a
composio da realidade, na qual cada um dos mundos espelha instncias dessa realidade:

O Mundo 1 representa o mundo fsico e objetivo, formado pelos objetos e seus estados
fsicos, sejam corpos animados ou inanimados. Nessa instncia, encontram-se a
matria, a energia, todos os seres vivos e artefatos construdos pelo ser humano
(edificaes, estradas, mquinas, obras de arte, livros, etc.);
O Mundo 2 constitudo pelas experincias da percepo sensorial, pelos estados
mentais subjetivos, emoes, crenas, pelo conhecimento inato e pelo conhecimento
apreendido a partir das propriedades e caractersticas dos elementos existentes no
Mundo 1;
O Mundo 3 uma criao do ser humano, constitudo pela materializao dos
produtos da mente humana. No Mundo 3 reside toda a cultura e so depositados os
registros produzidos pelos seres humanos em todas as suas formas de expresso.

Popper menciona a teoria dos trs mundos em vrias de suas obras (1975; 1977; 2006). Em seu
livro Em busca de um mundo melhor (POPPER, 2006), Popper resume seu pensamento do seguinte
modo:

220
Nossa realidade consiste, portanto, de acordo com essa terminologia,
em trs mundos interconectados e que, de algum modo, se
interinfluenciam e tambm se sobrepem. (A palavra mundo significa
aqui, evidentemente, no o universo ou cosmos, mas parte dele.) Esses trs
mundos so: o mundo 1, fsico, dos corpos e dos estados, eventos e foras
fsicas; o mundo 2, psquico, das vivncias e dos eventos psquicos
inconscientes; e o mundo 3, dos produtos espirituais (POPPER, 2006, p. 21).
O mundo 3, o mundo dos produtos do esprito humano, contm coisas
tais como livros, sinfonias, esculturas, sapatos, avies, computadores; e
tambm, sem dvida, coisas materiais que ao mesmo tempo pertencem ao
mundo 1 [...] (POPPER, 2006, p. 20).

Os trs mundos Popperianos seguem um ordenamento cronolgico no qual o Mundo 2
emerge do Mundo 1, e o Mundo 3 emerge do Mundo 2. Alm da hierarquia cronolgica, o Mundo 3
difere do Mundo 1 por no ter existncia anterior ao dos seus criadores (POPPER, 1977; 2006).

A sequncia dos mundos 1, 2 e 3 corresponde idade deles. Pelo
estado atual de nosso saber conjectural, a parte inanimada do mundo 1 ,
de longe, a mais velha; em seguida vem a parte animada do mundo 1 e, ao
mesmo tempo ou um pouco mais tarde, vem o mundo 2, o mundo das
vivncias; e, como o mundo dos seres humanos, vem o mundo 3, o mundo
dos produtos do esprito; isto , o mundo que os antroplogos chamam de
cultura (POPPER, 2006, p. 21 - 22).

A partir da ideia dos trs mundos de Popper (1977), possvel caracterizar os domnios
epistemolgicos de informao, dado e conhecimento.
A natureza ontolgica da informao, como destacada na seo anterior, caracteriza-a no
domnio do Mundo 1, da matria e da energia.
Quanto ao dado, h ainda uma dificuldade adicional para seu entendimento, decorrente de
alteraes ao longo do tempo de seu significado. Segundo Hirschheim (1985), a prpria cincia, e,
por conseguinte o conhecimento gerado pela cincia, na medida em que representem uma
conveno social, deixam de ter um carter de infalibilidade e assumem um carter condicional,
relativo ao tempo e lugar. Assim, mudanas no tempo e de lugar podem provocar correspondentes
alteraes de significado em termos cientficos, ocasionando dificuldades adicionais para a
construo de definies para os conceitos fundamentais de qualquer cincia.
A tradio filosfica, representada por pensadores como Locke, Hume, Kant, Dilthey, Husserl,
entre outros, empregava o termo dado para significar aquilo que oferecido percepo, aquilo da
realidade que se apresenta ao sujeito (FERNANDES; LIMA-MARQUES, 2012). Desse modo, o termo
dado, em um sentido kantiano, tem a sua origem histrica associada expresso inglesa given, e
no a data, como corriqueiramente usado na atualidade. Tem-se observado na literatura
especializada, com preocupante frequncia, a partir do final da dcada de 70, quando foi introduzida
a hierarquia dado-informao-conhecimento, ou modelo DIK (ZELENY, 1987), uma conotao para
dado que difere da tradio filosfica e carece de fundamentos que lhe d sustentao (SIQUEIRA,
2012a, p. 206 208).
Mantendo-se uma fidelidade ao seu significado original, neste trabalho opta-se pelo conceito
de dado como sendo aquilo que dado ao sujeito perceber em presena de um fenmeno, para
formar sua representao subjetiva do mundo, ou conhecimento. Este conceito de dado caracteriza
a sua existncia na mediao da interao entre os Mundos 1 e 2 de Popper (FERNANDES; LIMA-
MARQUES, 2012).

221
Sobre o conhecimento, sendo este um constructo da mente humana, tem o seu domnio situado
no Mundo 2. Popper considerava que todo conhecimento pode ser traduzido como a modificao de
algum conhecimento anterior, antecedendo esse processo at os conhecimentos inatos, com os
quais o ser humano nasce. Deste modo, todo conhecimento resultante das apreenses vindas do
Mundo 1, continuamente confrontadas com conhecimentos anteriores, crenas, estados psquicos e
emoes (POPPER, 1987).
Complementando a caracterizao de domnios, segundo a ideia dos trs mundos
Popperianos, todo o processo cognitivo humano e o resultante conhecimento enquadra-se sob o
domnio do Mundo 2, enquanto os registros deste conhecimento, ou produtos intelectuais, situam-
se no domnio do Mundo 3.
A distino de domnios baseada nos trs mundos de Popper (2007), descrita anteriormente,
fundamenta um modelo hierrquico diferente do DIK (ZELENY, 1987), no qual a informao passa a
preceder o dado: informao dado conhecimento registro. Esta hierarquia, representada
na figura 1, atende ao pressuposto de um domnio ontolgico da informao e implica que o dado
seja uma manifestao derivada da informao ontolgica, e no o contrrio (SIQUEIRA, 2012a, p.
206 207).

Figura 1. Os trs mundos de Popper
7

Esta forma de pensar sobre informao, dado, conhecimento e registro, ainda que no esteja
esgotado ou seja conclusivo, traz profundas implicaes sobre os mtodos de investigao sobre a
natureza e uso da informao, assim como sobre a prpria abrangncia disciplinar da Cincia da
Informao, tornando-os mais amplos e transdisciplinares, como apresentado na prxima seo.

6 Sobre a abrangncia da Cincia da Informao

A viso da Cincia da Informao como uma rea de pesquisa abrangente, porm concentrada
na investigao da natureza, de suas transformaes e do uso da informao, conforme proposto
por Saracevic (1999) e por Stonier (1990), talvez possa apresentar-se como uma proposta
conciliadora, abarcando em um corpo de conhecimentos mais robusto algumas das escolas de
pensamento existentes atualmente.
Adicionalmente falta de consenso entre os autores e pesquisadores da rea, como
comentado anteriormente, no idioma portugus o termo Cincia da Informao possui um

7
Fonte: Produzido pelo autor.

222
significado ambivalente, oriundo de tradues idnticas de Information Science, que historicamente
se refere a um campo avanado da Biblioteconomia e da Arquivologia, e Science of Information, termo
oficializado em Paris, em julho de 2005, por ocasio da 3. Conferncia da Foundations of Information
Science (FIS), comunidade cientfica criada no incio da dcada de 1990 para discutir o conceito de
informao sob uma perspectiva transdisciplinar (DOUCETTE et al., 2007, p. 201).
A Information Science, como defendido por vrios autores citados na seo de Introduo deste
texto, tem as suas origens histricas associadas Teoria Matemtica da Comunicao de Claude
Shannon (1916 2001), Ciberntica de Norbert Wiener (1894 1964) e arquitetura computacional
concebida por John von Neumann (1903 1957) e Alan Turing (1912 1954). Ao adotar este
referencial terico, a Biblioteconomia, a Documentao e a Arquivologia integraram-se em torno de
uma nova disciplina, que ao longo do tempo tem assumido a denominao de Cincia da
Informao.
J a segunda rea de pesquisa, denominada Science of Information, apesar de possuir suas
origens e objetos de estudo em comum com a rea de pesquisa original da Cincia da Informao,
evoluiu ao longo do tempo para uma rea expandida de pesquisa, com um ncleo especfico de
interesses e que tem por objetivo o estudo da informao sob a perspectiva de diversas outras reas
do conhecimento (LIMA-MARQUES, 2011).
Talvez uma clarificao sobre as diferenas e semelhanas entre as reas de pesquisa da
Information Science e Science of Information possa ser obtida por meio das ideias de Bertram Brookes
(1980), relativas aos trs mundos de Popper (2007):

Popper's World 3 should commend itself to library and information
scientists because, for the first time, it offers a rationale for their
professional activities which can be expressed in other than purely
practical terms. Natural scientists and technologists explore and exploit
World 1 and deposit their records and artefacts in World 3. Social
scientists and humanists study and reflect upon World 2 and the
interactions of World 2 with World 1; they too deposit their records and
artefacts in World 3. [] So the practical work of library and information
scientists can now be said to collect and organize for use the records of
World 3. And the theoretical task is to study the interactions between
Worlds 2 and 3[] (BROOKES, 1980, p. 128).

8

A extenso das ideias de Popper a todos os tipos de registros tambm compartilhada pelo
Prof. Miranda, da Universidade de Braslia, segundo o qual [...] mesmo reconhecendo que o ponto de
partida de Popper seja restrito ao documento de natureza cientfica, houve uma apropriao do conceito para
englobar todos os tipos de registro e formato (MIRANDA, 2003, p. 178).
Deste modo, segundo Brookes (1980), a Biblioteconomia e a Cincia da Informao, referindo-
se nesse caso ao campo designado como LIS (Library and Information Science), teria como interesses
principais o conhecimento registrado do mundo trs, a organizao desse conhecimento e o estudo
das interaes entre os Mundos 2 e 3. Em funo desta caracterizao, alguns autores sugerem como
forma de diferenciao entre estas duas disciplinas, que se denomine a rea a qual Brookes se

8
O Mundo 3 de Popper deveria ser recomendado aos pesquisadores da Biblioteconomia e da Cincia da Informao (LIS)
porque, pela primeira vez, oferece uma abordagem racional s suas atividades profissionais, a qual pode ser expressa
noutros termos que no meramente prticos. Pesquisadores das Cincias Naturais e da tecnologia estudam e exploram o
Mundo 1 e depositam seus registros e produo no Mundo 3. Pesquisadores das Cincias Sociais e Humanidades estudam e
refletem sobre o Mundo 2 e as interaes do Mundo 2 com o Mundo 1; eles tambm depositam seus registros e produo
no Mundo 3. [] Deste modo, o trabalho prtico dos pesquisadores da Biblioteconomia e da Cincia da Informao (LIS)
pode agora ser definido como a coleta e organizao para uso dos registros do Mundo 3. E a tarefa terica consiste em
estudar as interaes entre os Mundos 2 e 3 []. traduo livre.

223
refere, de Cincia da Informao Documental (SIQUEIRA, 2012a, p. 250). O Prof. Miranda
presumivelmente apoiava este ponto de vista quando afirma que A rigor, a Cincia da Informao a
julgar por sua origem pragmtica tem menos a ver com informao e mais com documentao [...].
(MIRANDA, 2003, p. 174).
Utilizando-se ainda a ideia dos trs mundos Popperianos, torna-se possvel, estabelecer
fronteiras e pontos de contato entre a Cincia da Informao Documental e a Cincia da Informao,
termo que passa a referir-se a partir deste momento ao contexto da Science of Information. Assim,
conforme representado na figura 2, enquanto a Cincia da Informao Documental teria seu foco no
mundo trs de Popper, a Cincia da Informao teria seus interesses abrangendo os trs mundos
Popperianos e as relaes entre todos eles. Este ponto de vista implica que os objetivos de pesquisa
da Cincia da Informao sejam estendidos a todo o processo cognitivo humano, desde a
compreenso da natureza da realidade objetiva, dos processos de apreenso pelo sujeito das
propriedades dos objetos desta realidade objetiva, at o registro do conhecimento obtido como
resultado desse processo subjetivo de apreenso.

Figura 2. Os trs mundos de Popper e os domnios da CI
9

Em defesa da adoo de uma rea de pesquisa mais ampla para a Cincia da Informao, h de
considerar-se o objetivo maior de construo de uma teoria unificada, ou Teoria Geral da
Informao (HOFKIRCHNER, 1999). Como a informao permeia todas as reas de atividades
humanas, uma teoria geral adequada no poderia estar restrita a limites disciplinares rgidos. Este
objetivo mais abrangente estabelece a principal distino entre os campos de investigao da
Cincia da Informao e da Cincia da Informao Documental. As afirmaes de Lena Vnia
Pinheiro e Jos Mauro Loureiro, segundo os quais a Cincia da Informao Documental no dirige
sua pesquisa preliminarmente para um desvendamento do mundo, mas se constri por abordagens
estratgicas voltadas para a soluo ou trato de problemas (PINHEIRO E LOUREIRO, 1995, p. 44), reforam
este posicionamento, complementando a viso de Gernot Wersig, para quem uma teoria geral da
informao no deveria estar no mbito da Cincia da Informao Documental (WERSIG; NEVELING,
1975), a qual no possuir uma teoria, mas uma estrutura proveniente de um amplo conceito cientfico ou
modelos e conceitos reformulados (WERSIG, apud PINHEIRO E LOUREIRO, 1995, p. 44).

9
Fonte: Produzido pelo autor.

224
Uma viso mais abrangente para a Cincia da Informao, com forte semelhana
apresentada por Borko (1968), mencionada anteriormente, tambm compartilhada pelo Prof.
Robredo (2003):

[] o objetivo da Cincia da Informao visto hoje como sendo mais
amplo que o binmio anglo-saxnico library and information science[]
(ROBREDO, 2003, p. 82).
A cincia da Informao uma cincia interdisciplinar que se deriva
de e se associa a disciplinas como a matemtica, a lgica, a lingustica, a
psicologia, a informtica, a pesquisa operacional, a anlise de sistemas, as
artes grficas, as comunicaes, a biblioteconomia, a administrao, etc.
Assim, a biblioteconomia tradicional e a documentao no so mais
do que aplicaes particulares da cincia da informao (ROBREDO, 2003,
p. 3).

O processo de ramificao e/ou de integrao de disciplinas, conforme defende-se neste texto
esteja ocorrendo com a Cincia da Informao, explicado pelo psiclogo social Eduardo E.
Tomanik:

As cincias pretendem ser uma forma de conhecimento da realidade.
Ora, tanto o mundo fsico (o mundo dos organismos e dos fenmenos
naturais; das rochas, metais e gases; dos planetas e dos tomos, dos
sistemas estelares e dos microorganismos) quanto o mundo social (das
organizaes coletivas e processos humanos, das culturas e dos desejos
individuais, do trabalho e das revolues) esto em contnuo processo de
transformao. A realidade no esttica, e, por isto, os conhecimentos
sobre ela devem ser capazes de acompanhar, de refletir estas mudanas.
(TOMANIK, 2004, p. 15)
Frequentemente acontece que uma destas cincias chega a
desenvolver conhecimentos to complexos sobre sua rea, ou a descobrir
variaes to importantes dentro desta, que se subdivide, dando origem a
novas cincias. Outras vezes a combinao de duas reas de estudo que
permite o surgimento de uma terceira (TOMANIK, 2004, p. 17).

Quanto ao que pode-se esperar para o futuro prximo, recorremos novamente ao Prof.
Robredo (2003), que complementa e conclui de forma otimista sua anlise sobre os caminhos que
devem ser seguidos pela Cincia da Informao:

Cientistas e estudiosos de outros domnios (integrantes das cincias
cognitivas, cincias biolgicas, cincias da comunicao e da computao,
etc.), realizam avanos espetaculares, em seus respectivos domnios, em
pesquisas sobre informao, conhecimento, e suas implicaes sociais.
Mais importante ainda o surgimento de uma corrente que parece
irreversvel de intercmbio e pesquisas conjuntas entre especialistas de
diversas reas, que comeam a reivindicar o direito de enquadrar suas
pesquisas e descobertas sobre informao num episteme bem mais
amplo (movimentos, associaes e congressos internacionais, tais como a
Foundations of Information Science (FIS) e o Information Science and Knowledge

225
Organization (ISKO)) [] Deve ser destacado tambm que um nmero
crescente de profissionais da Library and Information Science, conscientes
do surgimento e crescimento da nova corrente que procura, reunindo
praticamente todas as reas do saber, estabelecer uma teoria unificada da
informao, abrem-se cada vez mais ao dilogo com os profissionais de
outros domnios (ROBREDO, 2003, p. 94).

A nova fronteira da Cincia da Informao, trabalhando em conjunto com reas como a Fsica,
a Neurofisiologia e a Cincia da Computao, deve ser o desenvolvimento de um novo modelo
computacional independente da mquina de Turing, com capacidades de armazenamento,
recuperao e processamento muito alm das atuais. A arquitetura plstica do crebro humano
apresenta-se como o mais forte candidato para servir de modelo para o novo paradigma
computacional. Recentes projetos de pesquisa aprovados neste ano,
10
tanto nos Estados Unidos
como na Europa, tm recebido bilhes de dlares, envolvendo centenas de centros de pesquisas e
milhares de cientistas de diversas reas do conhecimento. Todo este investimento financeiro e
intelectual certamente dever gerar significativos resultados (FERNANDES; LIMA-MARQUES, 2012,
p. 20-21).

Concluses

Considerando a falta de consenso sobre as origens, objetivos, abrangncia, terminologia e
fundamentos, ainda persistentes na Cincia da Informao, conclui-se que estes fatores sejam
resultantes de um estgio pr-paradigmtico desta rea do conhecimento, conforme a viso de
Kuhn (2009).
A partir da aceitao de uma natureza fsica para a informao e do reconhecimento de que a
concepo de uma Teoria Unificada da Informao exige uma rea de investigao englobando os
trs mundos de Popper e suas interrelaes, defende-se neste trabalho um abrangente e
transdisciplinar campo de pesquisa para a Cincia da Informao, com a necessria interao com
outras disciplinas e reas do conhecimento que suportem o estudo da natureza da informao, dos
mecanismos de percepo humana e do processo cognitivo que resulta na formao do
conhecimento, alm da coleta, organizao, armazenamento, recuperao e uso dos produtos do
intelecto humano, em todas as formas de expresso e em todos os tipos de suporte para o seu
registro.
Em funo da abrangncia disciplinar descrita acima, prope-se atribuir Cincia da
Informao, com o significado de Science of Information, a condio de metadisciplina, tendo a
Biblioteconomia e Documentao (ou Cincia da Informao Documental) como subdisciplinas
(SIQUEIRA, 2012a, p. 94).

Agradecimentos
Ao Prof. Jaime Robredo (in memorian), da Faculdade de Cincia da Informao/FCI da
Universidade de Braslia/UnB, europeu por nascimento mas brasileiro por opo, por sua relevante
contribuio cientfica Cincia da Informao e por ser inspirao para inmeros estudantes e
pesquisadores.

10
Os projetos Human Brain Project (http://www.humanbrainproject.eu/), europeu, e, Brain e Human Connectome
(http://www.neuroscienceblueprint.nih.gov/index.htm), norte-americanos, todos com o objetivo de mapear a arquitetura
e conectividade do crebro humano, so considerados em conjunto como o maior projeto da humanidade de todos os
tempos, milhares de vezes maior que o projeto de mapeamento do genoma humano. Para que se tenha uma dimenso do
desafio de mapear a arquitetura do crebro humano, atualmente aceito que cada um de ns possua cerca de 100 bilhes
de neurnios e cada neurnio, em mdia, 5.000 dendritos, totalizando 500 trilhes de sinapses.

226
Andr Henrique de Siqueira, do Centro de Pesquisas em Arquitetura da Informao/CPAI,
da Universidade de Braslia/UnB, por seu exaustivo trabalho de fundamentao epistemolgica da
Cincia da Informao.

Referncias

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230
ELABORACIN DE NDICES PARA LIBROS
Perspectivas de actuacin y formacin profesional en Espaa y Brasil

ISIDORO GIL-LEIVA
[email protected]

MARINGELA SPOTTI LOPES FUJITA
[email protected]

PEDRO DAZ-ORTUO
[email protected]

Resumen Los ndices para libros tienen como nico propsito permitir la localizacin la informacin
mediante tres elementos que los caracterizan: una frase o expresin que sintetiza parte del texto,
localizadores (el nmero de folio) y el orden alfabtico. Desde hace varias dcadas disponemos de normas
especficas para la elaboracin y presentacin de ndices si bien su uso solamente parece estar generalizado
entre las editoriales de pases anglosajones. Aunque con la expansin generalizada que se est produciendo de
los libros electrnicos entre particulares e instituciones acadmicas parece que un ndice de calidad puede ser
una herramienta imprescindible en estos nuevos entornos para un acceso rpido y eficiente a la informacin.
As pues, pretendemos analizar los planes de estudio y particularmente, las asignaturas dedicadas a la
indizacin impartidas en las titulaciones de Biblioteconoma y Documentacin en Espaa y Brasil para
localizar contenidos relacionados con la enseanza en la elaboracin y publicacin de ndices. Y en segundo
lugar, encuestar a profesores que imparten asignaturas relacionadas con este contenido para conocer su
opinin sobre la necesidad de incorporar esta materia a los curricula acadmicos.

Palabras-clave ndices para libros. Indizacin. Planes de estudios. Encuestas.

Abstract Book indexes are intended to allow the location of information through three elements that
characterize them: a phrase or expression that summarizes part of the text, the locators (page number), and
the arrangement in alphabetical order. For decades we have specific rules for the production and presentation
of indexes. However the use of these standards only appears to be generalized among publishers of Anglo-
Saxon countries. With the widespread expansion that is occurring in the provision and use of electronic books
between individuals and academic institutions, it seems that in these new environments, a quality index can
be an essential tool for fast and efficient access to information. Thus, we analyze the curriculum and, in
particular, the subjects focused in indexing taught in the degrees of Library and Information Science in Spain
and Brazil, to locate content related to the teaching of the production and publication of book indexes.
Secondly, we intend to survey teachers who teach subjects related to this content to know their opinions
about the need to incorporate this matter in academic curricula.

Keywords Books Indexes. Indexing. Curricula. Surveys.

231
Introduccin

La elaboracin de ndices para libros es una herramienta antigua pero de utilidad para
localizar informacin. El origen de los ndices temticos para libros est en los monasterios europeos
del siglo XIII, en donde ya aparecen los tres elementos que los caracterizan: una frase o expresin
que sintetiza parte del texto, localizadores (el nmero de folio) y el orden alfabtico. Los ndices de
los textos cientficos se componen en gran medida de palabras clave del propio texto, pero tambin
se requiere de una normalizacin del vocabulario, mxime cuando se trata de un libro conformado
por captulos elaborados por autores distintos.
En Mulvany (2005, p. 8) se puede leer que un ndice no es slo una versin ms elaborada de
una tabla de contenido o un esquema de un libro, sino que un ndice tiene un nico propsito claro,
permitir a los lectores encontrar la informacin de manera eficiente. Tanto para los editores como
para los autores es importante disponer de un buen ndice en los libros porque puede tener un
impacto directo en su comercializacin. La realizacin de un buen ndice es una tarea que requiere
planificacin, tiempo y esfuerzo. No lo puede escribir una persona sin los conocimientos y
habilidades requeridos para realizar el proceso de indizacin.
Segn Moreiro Gonzlez (2004, p. 95), los ndices se basan en los conceptos y es el resultado de
un proceso intelectual de captacin del conocimiento que contienen los documentos. Efectivamente,
de ah que un buen ndice permite localizar conceptos explcitos e implcitos, nombres de personas,
lugares o fechas mediante los localizadores o por medio de las referencias cruzadas (vase o vase
adems). Y para Uschtrin and Fassbender (2011, p. 13) estos son algunos elementos y caractersticas
de un buen ndice:

Garantizar la localizacin de conceptos hasta el nivel ms apropiado de detalle, de ah que
representan un verdadero valor aadido;
Incluir referencias implcitas, y no slo las propias palabras encontradas en el texto
(palabras clave);
Hacer referencia a todos los pasajes importantes del texto;
Recoger todas las referencias a un tema en un solo trmino preferido, sin importar los
diversos trminos que se pueden usar en el texto para designar el tema;
Incluir los trminos no preferidos para un tema como puntos de entrada adicionales, por lo
general en forma de referencia cruzada;
Interconectar las entradas relacionadas por medio de referencias cruzadas.

Segn Mulvany (2005, p. 23), las clusulas estndar en la mayora de los contratos de libros de
no ficcin estipulan que el autor es el encargado de proporcionar el ndice o que el coste del mismo
debe ser compartido de forma conjunta entre la editorial y autor. Si el autor no proporciona un
ndice o el ndice no es satisfactorio, la realizacin del ndice se puede encargar a un indizador
profesional. Las ventajas de los ndices preparados por el autor en comparacin con los ndices
escritos por indizadores profesionales es una cuestin recurrente. Hay quien considera que los
autores no son los ms apropiados para realizar los ndices porque o bien estn demasiado cercanos
al texto (Vickers, 1987) o pueden tener consideraciones del tipo todo el mundo sabe esto o nadie
buscar esto (Wellisch, 1995). As, tambin es interesante recordar lo recogido en el Chicago
Manual of Style (2003), en donde se seala que el indizador ideal ve la obra como un todo, entiende
la importancia de las distintas partes y su relacin con el todo, y sabe - o supone - lo que los lectores
de la obra en particular es probable que busquen. Aunque los autores conocen mejor que nadie su
obra, los temas tratados y el pblico al que se dirige, no todos los autores son capaces de ver su

232
trabajo a travs de los ojos del lector potencial. Muchos de ellos, tampoco tienen las habilidades
tcnicas ni el tiempo necesario para producir un buen ndice.
Un indizador profesional aporta al proceso de indizacin la experiencia, los conocimientos y
habilidades de pensamiento inductivo y deductivo que les debe permitir trabajar de manera
detallada, cuidadosa y precisa. La desventaja ms obvia que un indizador profesional puede tener es
la falta de familiaridad con el tema. Los libros sobre una materia especializada y compleja a menudo
requieren las habilidades de indizacin de un profesional con amplios conocimientos sobre el tema.
El software para la elaboracin de ndices se divide en dos categoras: incrustados y dedicados.
Por software de indizacin incrustado se hace referencia a una caracterstica de los procesadores de
textos o software de maquetacin, como Microsoft Word o Adobe FrameMaker. Permite al indizador
insertar entradas de ndice directamente en el texto del documento. El software indizacin dedicado
es un software independiente para escribir las entradas de ndice y localizadores de referencia. Este
tipo de software es generalmente caro y precisa un aprendizaje importante para un manejo preciso
(Mulvany, 2005, p. 253). Programas como MACREX, SKY Index y CINDEX son ejemplos de este
software.
La disponibilidad de ndices en los libros vara de un pas a otro, segn se constata en
diferentes trabajos. As, en Francia era del 15 % (Weinberg, 2000); en Holanda, el 52,5 % (Diepeveen,
2006); en Estados Unidos, el 82,2 % para los libros acadmicos (Tulic, 2006). Adems, en los best sellers
mundiales es fcil comprobar que en sus ediciones anglosajones cuentan con exhaustivos y
completos ndices, mientras que en las francesas, holandesas, alemanas o espaolas disponen de
ndices bsicos. Por otro lado, en la actualidad se est disparando el uso del libro electrnico segn
el Pew Internet Project 2012. El 23% de los estadounidenses mayores de 16 aos ha ledo un e-book en
2011, un 16% ms que el ao anterior, mientras que la lectura de los impresos disminuy del 72% al
67%. Y la disponibilidad de buenos ndices en los e-books es de mucha utilidad para los lectores
porque en las bsquedas sobre el texto completo de una palabra determinada se localizan decenas o
incluso centenares de ocurrencias de dicha palabra, en cambio, un buen ndice te remite mediante
los localizadores a informacin relevante, proporcionando incluso referencias cruzadas (vase o
vase adems). Estas afirmaciones son compartidas por Humphreys (2012), en donde analiza el papel
y los problemas de los ndices en los libros electrnicos.
Diepeveen (2006) para conocer la situacin de la indizacin en Europa envi un cuestionario a
indizadores de Francia, Dinamarca, Blgica, Italia, Espaa, Suiza y Noruega. Se percat de que
existen diferencias a la hora de entender el trmino indizacin (indexing). Unos lo identifican con el
proceso de asignacin de descriptores y materias para el almacenamiento de artculos cientficos,
libros, informes, etc. en bases de datos; mientras que otros (principalmente en el mbito anglosajn)
identifican el trmino con la elaboracin de ndices temticos y onomsticos para libros. Baste
recordar aqu algunos ttulos de libros publicados dedicados a esta ltima concepcin (Handbook of
indexing techniques; Indexing form A to Z; Indexing books; The art of indexing).
Desde hace varias dcadas disponemos de normas especficas para la elaboracin y
presentacin de ndices, diferentes a las normas para la indizacin. As, contamos con la norma
internacional ISO 999-1996, la americana NISO TR02-1997, la britnica BS ISO 999-1996, o la espaola
UNE 50-111-89. A pesar de este esfuerzo normalizador fuera del espacio anglosajn el bajo prestigio
y utilizacin de los ndices es evidente y pensamos que se requiere una respuesta educativa que
contrarreste esta situacin. Sera conveniente que en esta tarea de reeducacin participasen todos
los sectores implicados (autores, editores, asociaciones profesionales, educadores, bibliotecarios y
profesores de indizacin). Por tanto, como docentes con competencias en esta materia se hace
necesario iniciar investigaciones para ir dando respuesta a cuestiones como En los estudios de
Biblioteconoma y Documentacin en Espaa y Brasil, se ensea a elaborar ndices para libros? Si no
se incluye en los curricula acadmicos es interesante su inclusin? Qu tanto por ciento de los
libros publicados cuentan con algn tipo de ndice? En las editoriales quin elabora los ndices para
los libros? Puede ser de utilidad para las editoriales contar con personal especializado que elabore
ndices bajo demanda, y as ampliar el mercado laboral de nuestros egresados?

233
El objetivo de este trabajo es comenzar a dar respuesta a alguno de los interrogantes
planteados anteriormente. As pretendemos analizar los planes de estudio y particularmente, las
asignaturas dedicadas a la indizacin impartidas en las titulaciones de Biblioteconoma y
Documentacin en Espaa y Brasil para localizar contenidos relacionados con la enseanza en la
elaboracin y publicacin de ndices. Y en segundo lugar, encuestar a profesores que imparten este
tipo de asignaturas en universidades espaolas y brasileas para conocer su opinin sobre la
necesidad de incorporar esta materia a los curricula acadmicos en el caso de que no sea impartida.

1 Material y mtodo

En primer lugar, se localizaron las webs de las universidades espaolas y brasileas en las que
se imparten enseanzas de Biblioteconoma y Documentacin (Anexo 1). Posteriormente se
revisaron los planes de estudio disponibles. A la vez se fueron recopilando los emails de los
profesores responsables de las asignaturas relacionadas con la representacin temtica (indizacin y
clasificacin) y la representacin descriptiva (catalogacin). Posteriormente, se prepar una
encuesta (Anexo 2) para ser rellenada en la web mediante invitacin por email. Dicha encuesta fue
enviada a un total de 150 profesores espaoles y brasileos y permaneci abierta durante dos
semanas. Se obtuvieron cuarenta y ocho respuestas, lo que supuso una participacin del 32%.

2 Resultados y discusin

2.1 Anlisis de las asignaturas relativas a la indizacin

El estudio de los curricula en Biblioteconoma y Documentacin de los diferentes grados en
Universidades espaolas y brasileas nos ha permitido advertir que a pesar de la presencia de
asignaturas dedicadas a la indizacin e incluso a la historia del libro o la produccin y comercio de
libro, en los que se menciona el proceso editorial, no se especifican contenidos relativos a la
elaboracin de ndices. Observaciones que posteriormente fueron confirmadas con las respuestas
obtenidas mediante los cuestionarios.

2.2 Anlisis de las encuestas

A continuacin iremos desmenuzando las cuestiones planteadas en el cuestionario.

2.2.1 Contenidos dedicados a la elaboracin de ndices

Con la pregunta 3 queramos saber si los profesores incluyen en sus asignaturas algunos
contenidos dedicados a la elaboracin de ndices para libros. Como se muestra en el Grfico 1, la
mayor parte de las respuestas sealan que no se incluyen contenidos sobre la elaboracin de ndices
para libros.

234

Y para los que contestaron que s incluyen contenidos sobre este asunto, a continuacin les
pedimos que aportaran los contenidos impartidos y solamente cuatro profesores hicieron uso de
esta posibilidad con lo siguiente:

Respuesta encuestado A: Vocabularios semnticos;

Respuesta encuestado B: Elaboracin de ndices onomsticos e temticos;
Clasificaciones bibliogrficas y catalogacin;

Respuesta encuestado C: Contenidos de carcter terico (funcionalidades de los
diversos tipos de indizacin) y prctico (aplicaciones para indizar);

Respuesta encuestado D: Indizacin;

Respuesta encuestado E: Elaboracin de ndices;

Respuesta encuestad F: Mencin genrica a todos los tipos de ndices.

Solamente respondieron seis encuestados y las respuestas fueron tan imprecisas que no
permiten atisbar los contenidos impartidos. Y viene a confirmar los resultados del estudio inicial de
los programas de las asignaturas durante las visitas a las webs. En esta misma pregunta tambin se
les peda que sealaran las horas dedicadas a ensear a elaborar ndices para libros, a lo que solo
respondieron cinco encuestados. Uno de ellos apunt veinticuatro horas; dos encuestados
mencionan que dedican cuatro horas; un encuestado emplea tres horas y por ltimo, otro
encuestado que dedica una sesin de dos horas a ensear a elaborar ndices. Aunque respondieron
pocos profesores a esta cuestin todo parece indicar que no se dedica el tiempo suficiente a este
asunto.

2.2.2 Importancia de ensear a elaborar ndices

En otra pregunta se dio la posibilidad de que los profesores sealaran su opinin sobre la
importancia o no de ensear a los alumnos a elaborar ndices para libros. Esta pregunta fue

235
respondida por la totalidad de encuestados. En el Grfico 2, 1 significa poco importante y 5, muy
importante.

De las respuesta se desprende que la mayora de los profesores considera importante ensear
a elaborar ndices temticos u onomsticos, si bien, en una pregunta anterior se constat que treinta
y siete de los cuarenta y ocho que respondieron la encuesta no dedican en sus programas espacio a
la elaboracin de ndices (Ver Grfico 1).

2.2.3 Razones por las que no ensea a elaborar ndices

Posteriormente, se pregunt a los profesores que si impartan una asignatura relacionada con
la representacin temtica o descriptiva y no incluan en sus programas la elaboracin de ndices,
sealaran las razones por las cuales no lo hacan. Las posibilidades de respuesta eran las siguientes:

A: No lo considero necesario;
B: La asignatura no cuenta con suficientes horas para poder ensear a elaborar ndices
para libros;
C: La asignatura ya desarrolla los conocimientos y habilidades relevantes para que los
futuros profesionales puedan elaborar ndices de libros;
D: Sera necesario incluir una asignatura completa para ensear a los alumnos a
elaborar ndices de libros;
E: Considero que estos conocimientos sobre la elaboracin de ndices temticos y
onomsticos PODRA ser una especializacin de postgrado;
F: Considero que estos conocimientos sobre la elaboracin de ndices temticos y
onomsticos DEBERA ser una especializacin de postgrado.

236

De las respuestas proporcionadas y del anlisis el Grfico 3 cabe observar lo siguiente:

a) la mayora importante considera que sus asignaturas no cuentan con las suficientes
horas para poder ensear esta materia;
b) parece existir cierto consenso en que en las asignaturas impartidas ya se desarrollan
los conocimientos y habilidades relevantes para que los alumnos puedan elaborar
ndices;
c) no parece existir consenso en que sea necesario la inclusin de una asignatura
completa para ensear a elaborar ndices;
d) los conocimientos para la elaboracin de ndices no se deben adquirir en una
especializacin de postgrado. Aqu se detecta una contradiccin cuando se seala que
las asignaturas no cuentan con las horas suficientes para poder ensear esta materia,
pero a la vez no se ve necesario que exista una asignatura dedicada a ello, y tampoco
se reconocen estos conocimientos como una especializacin de postgrado. Este ltimo
aspecto, est de nuevo en contradiccin con lo que ocurre en pases anglosajones o de
su influencia, en donde existen importantes asociaciones que imparten diferentes
niveles de especializacin para formar a indizadores profesionales y que fueron
creadas hace dcadas como la de Gran Bretaa (1957), Estados Unidos (1968), Australia
(1972), Canad (1977), China (1991), Sudfrica (1994), o ms recientemente, Holanda
(2011).

2.2.4 Software para elaborar ndices

Solamente el 14,6% de los encuestados respondieron a esta pregunta. De los seis profesores
que contestaron solamente uno seal software especfico disponible para la elaboracin de ndices,
en concreto, Cindex y Sky; mientras que el resto manifest conocer o usar las opciones de Microsoft
Word para realizar esta tarea.

237

2.2.5 Posibilidades laborales de los egresados en las editoriales

En cambio, el 100% de los profesores encuestados respondi a la siguiente cuestin:
Consideras que un estudiante egresado con conocimientos para elaborar ndices para libros podra
trabajar para una editorial realizando esta tarea?

A: S, en cualquier editorial y para cualquier temtica que trate la editorial;
B: S, en cualquier editorial pero adems es CONVENIENTE que posea conocimientos
especficos de alguna disciplina como Historia, Derecho, Qumica, Medio ambiente,
etc.;
C: S, en cualquier editorial pero sera IMPRESCINDIBLE que posea conocimientos
especficos de alguna disciplina como Historia, Qumica, Medio ambiente, etc.

De nuevo, encontramos en las respuestas ofrecidas cierta contradiccin, ya que al revisar las
webs de algunas asociaciones profesionales de indizadores se observa que la totalidad de indizadores
profesionales dedicados a la elaboracin de ndices para autores o para editoriales usan algn
software dedicado o especfico como Cindex, Sky Index, Macrex o incluso el Word o Excel. En
cambio, en la pregunta anterior el ochenta y cinco por ciento de los profesores no contestaron. Del
mismo modo, ms del cincuenta y dos por ciento de los profesores sealan que sus alumnos estn
preparados tienen conocimientos para trabajar en cualquier rea temtica del conocimiento, sin
embargo, en la web de la sociedad de indizadores de Gran Bretaa, por ejemplo, existe un amplio de
listado indizadores disponibles para ser contratados por autores o editores en donde se observa una
alta especializacin. As encontramos indizadores expertos en finanzas, anarquismo, cricket,
gentica, farmacia, aromaterapia, autismo, histologa, arte renacentista, historia rusa, diseo de
interiores, sintaxis, tarot, historia militar, etc.

238
2.2.6 Los ndices en las editoriales

Una vez ms, la totalidad de los encuestados rellen la siguiente pregunta: Sabes quin se
encarga de realizar los ndices temticos u onomsticos en las editoriales que publican libros con
este tipo de ndices?

En este caso, de los treces profesores que sealaron conocer quin se encarga de realizar los
ndices en las editoriales solamente ocho anotaron y las respuestas fueron las siguientes que
reproducimos literalmente: el autor; profesionales formados en ciencias de la informacin; los
autores y el mismo editor; profesionales formados en ciencias de la informacin aunque
generalmente es contrado alguien de Letras/Lingstica; normalmente los propios autores o
editores; el autore y editor; profesionales formados en ciencias de la informacin: los
documentalistas, los correctores y editores.

2.2.7 Indizadores profesionales y editoriales

Por ltimo, queramos saber la opinin de los profesores acerca de si el trabajo en una
editorial puede ser una salida profesional para nuestros egresados si recibieran formacin en la
elaboracin de ndices. Para ello, se realiz esta pregunta: Consideras que un indizador
especializado en la elaboracin de ndices para libros puede ser un perfil profesional interesante
para trabajar en una editorial?

Aunque hubo cuatro profesores que contestaron que un indizador especializado en la
elaboracin de ndices no es un perfil profesional interesante para trabajar en una editorial, s

239
parece existir consenso en lo contario. De ah que se hace necesario recopilar informacin de
primera mano de las editoriales, puesto que si entre las editoriales tambin existiera tal idea, ya sea
como trabajadores en plantilla o trabajadores autnomos (Weaver, 2006; Johncoks, 2008; Greulich,
2011), sera necesario explotar esta va como posible nicho profesional para nuestros egresados,
mxime cuando parece que las salidas laborales, al menos en Espaa, parecen haber tocado techo, a
lo que habra que unir la situacin de crisis actual de la que no se vislumbra una salida cercana.

Conclusiones

Los ndices temticos u onomsticos para libros impresos son herramientas de gran utilidad la
localizacin de informacin por parte de los lectores puesto que detrs de la aparicin de una
palabra o frase en tales ndices hay una decisin de un experto basada en criterios analticos, de
contenido y de usabilidad. Este valor de los ndices se ve incrementado enormemente cuando
hablamos del libro electrnico, puesto que son una va rpida y eficiente para acceder al contenido
de los mismos que va ms all de usar las opciones de bsqueda de una palabra que proporcionan los
lectores ebook.
En el estudio de los curricula en Biblioteconoma y Documentacin de los diferentes grados en
Universidades espaolas y brasileas no hemos podido detectar la presencia de enseanzas o
contenidos relativos a la elaboracin de ndices que sean reseables.
Las respuestas recibidas parte de los profesores, aunque solamente suponen el 32% del total,
consideramos que sirven para obtener una visin general sobre las cuestiones planteadas.
En algunos aspectos se detectan cierta contradiccin puesto que la mayora de los encuestados
seala que no incluye en sus enseanzas el aprendizaje para la elaboracin de ndices, dato que
confirma el anlisis inicial de la webs de centros universitarios espaoles y brasileos. Sin embargo,
al mismo tiempo, parecen coincidir en dos ideas: que es importante su inclusin en los curricula y
que en sus asginaturas no cuentan con suficientes horas para poder ensear esta materia; si bien, al
mismo, no existe consenso en que sea necesario la inclusin de una asignatura completa dedicada a
la elaboracin de ndices; y a la vez, la mayora considera que estos conocimientos no deberan ser
una especializacin de postgrado.
La mayor parte de los encuestados no contest a la pregunta relativa al software usado o
conocido para la elaboracin de ndices. Los que lo hicieron no parecen conocer software dedicado
que es usado extensamente para estas tareas por los indizadores profesionales que trabajan para
editoriales o de manera autnoma.
En general, se considera que el trabajo de indizador profesional autonmo o para editoriales
puede ser una buena salida profesional para nuestros egresados; si bien, los profesores desconocen
quin elabora los ndices de los libros publicados por las editoriales.
Por ltimo, cabe sealar que este tema requiere ser ms investigado. Es preciso conocer quin
elabora los ndices en las editoriales espaolas y brasileas y qu formacin tienen o qu formacin
consideran las editoriales que deberan poseer; qu piensan los lectores de libros y de ebooks sobre la
funcin y utilidad de los ndices; e igualmente, es necesario una exploracin y anlisis de los planes
formativos de las asociaciones profesionales anglosajonas para los indizadores.
Agradecimientos
Los autores desean agradecer a los profesores espaoles y brasileos su inters y tiempo dedicado
a cumplimentar la encuesta, ya que sin su participacin no hubiera sido posible la obtencin de
estos datos, y por tanto, la redaccin de este texto.

240
Referencias

ANDERSON, James Doig. (1997). Guidelines for Indexes and Related Information Retrieval Devices: a
Technical Report. Bethesda, Md: NISO Press.

BONURA, Larry S.(1994). The art of indexing. New York: J. Wiley.

The Chicago Manual of Style (2003). Chicago, Ill.: University of Chicago Press.

CLEVELAND, Donald B.; CLEVELAND, Ana D. (2001). Introduction to Indexing and Abstracting. Englewood,
Co.: Libraries Unlimited.

GREULICH, W. (2011). Scientific texts and the indexer. The Indexer, (29)3, 114-122.

HUMPHREYS, N. (2012). Whither the eBook Without the Index!. The Indexer, (20)1, 20-24.

JOHNCOKS, B. (2008). Web 2.0 and users expectations of indexes. The Indexer, (26)1, 18-24.

MOREIRO GONZLEZ, J.A. (2004). El contenido de los documentos textuales: su anlisis y representacin
mediante el lenguaje natural. Gijn: Trea.

MULVANY, Nancy C. (2005). Indexing Books (2 nd ed.). Chicago: University of Chicago Press.

Guidelines for Indexes and Related Information Retrieval Devices: a Technical Report (1997). Bethesda (Md.):
NISO Press.

USCHTRIN, S.; FASSBENDER, J. (2011). The art of indexing. The Indexer, 29(1), 13-18.

VICKERS, John A. (1987). Index, How Not To. The Indexer, 15(3), 163-166.

WEAVER, C.G. (2006). The Indexer as Consultant: Collaborative Indexing of Community Newspapers.
The Indexer, (4)1, 18-33.

WELLISCH, Hans H. (1995). Indexing from A to Z. New York: H.W. Wilson.

241

Anexos
Anexo 1. Universidades

Universidades brasileas Universidades espaolas
Centro Universitrio de Formiga - UNIFORMG
Faculdades Integradas Teresa Dvila - FATEA
Fundao Escola de Sociologia e Poltica de So Paulo
Fundao Universidade do Estado de Santa Catarina
Pontifcia Universidade Catlica de Campinas
Pontifcia Universidade Catlica de Campinas
Universidad Estadual de Londrina
Universidade de Braslia
Universidade Estadual do Piau
Universidade Estadual Paulista - UNESP
Universidade Federal da Bahia - UFBA
Universidade Federal da Paraba
Universidade Federal de Alagoas - UFAL
Universidade Federal de Cear
Universidade Federal de Gois
Universidade Federal de Mato Grosso - UFMT
Universidade Federal de Minas Gerais
Universidade Federal de Pernambuco
Universidade Federal de Santa Catarina
Universidade Federal de So Carlos - UFSCAR
Universidade Federal do Amazonas - UFAM
Universidade Federal do Estado Rio de Janeiro (UNIRIO)
Universidade Federal do Maranho - UFMA
Universidade Federal do Par
Universidade Federal do Rio de Janeiro - UFRJ
Universidade Federal do Rio Grande - FURG
Universidade Federal do Rio Grande do Norte - UFRN
Universidade Federal do Rio Grande do Sul
Universidade Federal Fluminense - UFF
Universidade Santa rsula
Universidade So Paulo
Universidad Autnoma de Barcelona
Universidad Carlos III de Madrid
Universidad Complutense de Madrid
Universidad de Alcal de Henares
Universidad de Barcelona
Universidad de Granada
Universidad de Len
Universidad de Valencia
Universidad Politcnica de Valencia
Universitat Oberta de Catalunya

242
Anexo 2. Encuesta

1. Eres espaol o impartes docencia habitualmente en una Universidad Espaola?
S
No
2. Impartes o has impartido alguna asignatura relacionada con la representacin temtica o
representacin descriptiva (indizacin, asignacin de materias, catalogacin o clasificacin?
S
No
3. Si impartes o has impartido alguna asignatura relacionada con la representacin temtica
o descriptiva, incluyes en el programa de tu asignatura o asignaturas algunos contenidos
dedicados a la elaboracin de ndices para libros?
S
No
4. Si has contestado afirmativamente a la pregunta anterior completa lo siguiente:
Qu tipo de contenidos impartes:
Di aproximadamente las horas que dedicas a ello:
5. Si en alguna de las asignaturas que impartes enseas a tus alumnos a elaborar ndices para
libros, usas algn software especfico para ello?
Seala, cul o cules:

6. Marca lo que proceda

1 (Poco
importante)
2 3 4
5 (Muy
importante)
Considero que es importante
ensear a los alumnos a elaborar
ndices temticos o ndices
onomsticos para libros

7. Si impartes una asignatura relacionada con la representacin temtica o descriptiva y no
incluyes en el programa de la asignatura cmo elaborar ndices para libros, seala las razones
por las cuales no lo haces

1 (Totalmente en
desacuerdo)
2 3 4
5 (Totalmente de
acuerdo)
No lo considero
necesario

La asignatura no
cuenta con suficientes

243

1 (Totalmente en
desacuerdo)
2 3 4
5 (Totalmente de
acuerdo)
horas para poder
ensear a elaborar
ndices para libros
La asignatura ya
desarrolla los
conocimientos y
habilidades relevantes
para que los futuros
profesionales puedan
elaborar ndices de
libros

Sera necesario incluir
una asignatura
completa para
ensear a los alumnos
a elaborar ndices de
libros

Considero que estos
conocimientos sobre
la elaboracin de
ndices temticos y
onomsticos PODRA
ser una
especializacin de
postgrado

Considero que estos
conocimientos sobre
la elaboracin de
ndices temticos y
onomsticos DEBERA
ser una
especializacin de
postgrado

8. Seala qu software conoces o has usado alguna vez para elaborar ndices para libros
Seala cul o cules:
9. Consideras que un estudiante egresado con conocimientos para elaborar ndices para
libros podra trabajar para una editorial realizando esta tarea?
S, en cualquier editorial y para cualquier temtica que trate la editorial
S, en cualquier editorial pero adems es CONVENIENTE que posea conocimientos
especficos de alguna disciplina como Historia, Derecho, Qumica, Medio ambiente, etc.
S, en cualquier editorial pero sera IMPRESCINDIBLE que posea conocimientos especficos
de alguna disciplina como Historia, Qumica, Medio ambiente, etc.

244
10. Sabes quin se encarga de realizar los ndices temticos u onomsticos en las editoriales
que publican libros con este tipo de ndices?
S . Seala quin:
No
11. Consideras que un indizador especializado en la elaboracin de ndices para libros puede
ser un perfil profesional interesante para trabajar en una editorial?
S
No

245
INTERFERNCIAS DOS CONTEXTOS DE PRODUO E DE USO NA ANLISE DOCUMENTRIA DE
CHARGE

THULIO PEREIRA DIAS GOMES
Instituto Brasileiro de Informao em Cincia e Tecnologia
[email protected]

VNIA LISBA DA SILVEIRA GUEDES
Universidade Federal do Rio de Janeiro
[email protected]

MARIA JOS VELOSO DA COSTA SANTOS
[email protected]

Resumo Discute as interferncias dos contextos de produo e de uso na anlise documentria de charge,
valendo-se de suas caractersticas lingusticas e informativas. Sob essa perspectiva, o uso frequente da charge
como documento sugere a necessidade de refinamento de estudos sobre a anlise documentria de charges.
Esses estudos abrangem o desenvolvimento de metodologias e de instrumentos eficazes para e representao
documentria de charge sob a perspectiva da Organizao do Conhecimento. O presente estudo fundamenta-
se na compreenso da charge como um gnero discursivo de uso hbrido de linguagens verbal e imagtica,
caracterizado pela temporalidade, pela stira e pela crtica referente a determinado evento, em geral de
natureza poltica. Apresenta a anlise documentria como uma abordagem da Organizao do Conhecimento e
como conjunto de operaes realizadas para representar o contedo de um documento de forma distinta da
original, com o fim de facilitar a recuperao da informao. Defende que a anlise documentria se configura
de forma variada consoante s especificidades lingusticas e informativas do gnero de documento em foco. A
partir da observao das especificidades lingusticas da charge, aponta para aspectos crticos nas operaes da
anlise documentria e enfatiza a discusso sobre os contextos de produo e de uso da charge. Como
principal abordagem terico-metodolgica, adota a Lingustica Documentria apoiada em pressupostos
epistemolgicos da abordagem domnio-analtica na Organizao do Conhecimento. Discute a noo de
contexto, a partir da perspectiva scio-cognitiva lingustica, como restrio e condio para a interpretao do
discurso e pensa o contexto de uso documentrio da charge, o qual no previsto pelo chargista, como
determinante durante o processo de anlise documentria. Finalmente, afirma ser a charge um potencial
objeto de investigaes para a Organizao do Conhecimento na Cincia da Informao, visando sua
valorizao como geradora de conhecimento.

Palavras-chave Anlise documentria. Charge. Contexto. Gnero discursivo. Produo discursiva.

Abstract This paper discusses the political cartoon's production and using contexts in subject analysis,
considering its linguistics and informative aspects. The Documentary Linguistic is used here as the main
theoretical and methodological approach, based in Knowledge Organization's (KO's) theoretical paradigms of
the domain analysis. The common use of political cartoons as documents triggers the need of improvement in
studies about subject analysis of them. These studies consist in developing effective methodologies and tools
to subject analysis in KO's scope. The political cartoon is a hybrid graphic and verbal discoursive genre which
criticizes or satirizes an event. Subject analysis consists in extracting central ideas of a document, intending
the retrieval of it through synthetic representations. This study defends that subject analysis may take
different shapes, according to the linguistic and informative specificities of an analyzed document. It lays
emphasis on the discussion about the issues on political cartoons drawing and reading contexts. It reasons
about the notion of context, out of the socio-cognitive perspective, as a restrictive condition to discourse
interpretation. It also defends the political cartoons using context as an unpredictable issue to its creator,
although determinative to the subject analysis process. Lastly, it affirms that the political cartoon is a
potential object of study to KOs field in the Information Science.

246

Keywords Subject analysis. Political cartoon. Context. Discoursive genre. Discoursive production.

Introduo

Este estudo desenvolve uma reflexo terica sobre as interferncias dos contextos de
produo e de uso da charge no processo de anlise documentria. O trabalho contribui para
compreenso dos fenmenos informativos e lingusticos relacionados produo e ao uso da charge,
valendo-se dos fundamentos tericos e metodolgicos da Teoria de Gneros e da Lingustica
Documentria relacionados ao paradigma hermenutico e da abordagem domnio-analtica da
Cincia da Informao.
Souza e Toutain (2010) discutem as barreiras para representao documental de histrias em
quadrinhos. As dificuldades apontadas pelos autores se resumem simultaneidade de signos verbais
e imagticos na composio de sua linguagem e ao reconhecimento do gnero como meio de
comunicao de massa. A composio sgnica hbrida forma uma linguagem prpria, caracterizada
pela intertextualidade, e exige do profissional da informao a compreenso dos processos
cognitivos envolvidos na leitura da histria em quadrinhos. A associao das histrias em
quadrinhos aos meios de comunicao de massa privilegia, enquanto veculos de comunicao, os
estudos das Cincias da Comunicao e, por consequncia, obscurece o carter informativo
investigado pela Cincia da Informao. Entretanto, os autores advertem que, mesmo apresentando
barreiras para a representao documentria, essas mesmas caractersticas do histria em
quadrinhos um forte poder mnemnico e a torna atrativa aos seus leitores. Por isso, Souza e Toutain
defendem o valor da histria em quadrinhos como fonte de informao.
Embora consistam em gneros discursivos diferentes, a charge e a histria em quadrinhos
apresentam muitas similaridades, de tal forma que as observaes de Souza e Toutain (2010) sobre a
histria em quadrinhos podem ser aplicadas anlise da charge. Assim como a histria em
quadrinhos, a charge se constitui hibridamente das linguagens imagtica e escrita (Flres, 2002) e
consiste em um estilo jornalstico (Nicolau, 2012) que frequentemente leva cacterizao do gnero
como meio de comunicao de massa. Sendo assim, possvel dizer que a charge deve ser objeto de
investigao na Cincia da Informao, visando caracterizao de suas especificidades
informatividas.
Ademais, durante a pesquisa bibliogrfica para basear o estudo foram consultados os
peridicos digitais relacionados no stio da Associao Nacional de Pesquisa e Ps-Graduao em
Cincia da Informao (Associao..., 2013), principal sociedade cientfica da rea no Brasil. Por meio
dos mecanismos de busca dos sites dos peridicos, no foram encontrados estudos especficos sobre
a charge
1
. Tal fato sugere a necessidade de intensificao de pesquisas sobre o gnero discursivo
charge como objeto informativo. Em face do exposto, este trabalho se justifica na necessidade de
aprofundar as discusses sobre a charge no domnio da Cincia da Informao, particularmente no
mbito da Organizao do Conhecimento.
O objetivo geral do estudo contribuir para os avanos terico-metodolgicos do tratamento
da informao contida em charge. Os objetivos especficos so: (a) discutir a anlise documentria, a
partir do estabelecimento de suas operaes e das noes de texto e de contexto; (b) analisar a

1
A origem da palavra charge remonta lngua francesa. Entre outros significados, a palavra francesa charge denota uma
crtica exagerada e tambm uma caricatura. No foram encontrados nas lnguas inglesa e espanhola, termos equivalentes
charge em portugus. Em ingls, o termo cartoon pode abranger os correspondentes em portugus para charge, cartum,
histria em quadrinhos e tirinha de jornal. Em espanhol, o termo caricatura pode assumir o sentido que em portugus
equivale charge, cartum e caricatura. Em vista de tal variedade terminolgica e conceitual de charge em outros idiomas e
por causa do tempo necessrio para transposio das barreiras idiomticas, optou-se neste estudo se limitar ao domnio
brasileiro da Cincia da Informao na pesquisa da literatura peridica. Pretende-se nas prximas etapas da pesquisa
trabalhar sobre o conceito de charge e sobre seus equivalentes em outros idiomas, permitindo a expanso da pesquisa
bibliogrfica para outros idiomas e, por consequncia, para a produo cientfica de outros pases.

247
charge, em seus contextos de produo e de uso; (c) explorar as interferncias dos contextos de
produo e de uso da charge durante o processo de anlise documentria.
Na prxima seo apresentam-se a anlise documentria, suas operaes gerais, bem como as
noes de texto e de contexto que adota e a sua relao com a anlise de domnio. Na terceira seo,
analisa-se a charge, dando nfase aos seus contextos de produo e de uso, enquanto discurso e
documento. Na quarta seo, discutem-se as possveis interferncias dos contextos de produo e de
uso da charge no processo da anlise documentria. Finalmente, so apresentadas algumas
consideraes sobre a pesquisa seguidas das referncias ligadas aos textos que fundamentaram esta
pesquisa.

1 Anlise documentria

Esta seo apresenta a anlise documentria como abordagem terica da Organizao do
Conhecimento. Sob essa perspectiva, so destacadas as operaes gerais da anlise documentria,
relacionando-as com as variveis inerentes ao processo. O contexto da anlise documentria
discutido, a partir do ncleo da leitura documentria, e, por fim, so abordadas as interfaces entre a
Lingustica Documentria e a Anlise de Domnio.
Guimares (2009) observa no universo da organizao da informao trs vertentes tericas
que subsidiam as prticas nesse domnio. A primeira consiste na catalogao de assunto (subject
cataloguing), de matriz norte-americana, cuja tnica reside na construo do catlogo de assunto
enquanto produto do tratamento temtico da informao em bibliotecas. Surgida no contexto dos
centros de documentao e das bibliotecas especializadas, a segunda abordagem terica a
indexao (indexing), de matriz inglesa, cujo enfoque est na proviso de instrumentos para a busca
de informao na perspectiva da dupla dimenso entre o documento e o usurio, representado pela
recuperao da informao. Finalmente, a anlise documentria (analyse documentaire), de matriz
francesa, a terceira vertente terica da organizao da informao e sua preocupao recai sobre
os procedimentos da organizao do conhecimento e da informao, ou seja, na identificao e na
descrio de suas etapas.
Cunha (1990: 59) observa que durante muito tempo os mtodos da organizao da informao
foram considerados como operaes empricas de bom senso pelas quais se atribua, a um
texto/documento qualquer, uma ou vrias palavras-chave destinadas a facilitar a recuperao, no
momento da pesquisa sob um dado tema. Durante esse perodo, Guimares (2009: 112) ressalta que
no se tinha "exatamente claro como o processo de determinao de assunto efetivamente ocorre".
Hjrland (2008) infere que a prtica tradicional de organizao do conhecimento tem sido uma
atividade de cunho prtico, sem consistncia terica.
A anlise documentria surge frente preocupao com o desenvolvimento de referenciais
terico-metodolgicos para o processo de organizao da informao. A literatura destaca, durante
o desenvolvimento inicial, os estudos de forte matriz lingustica dos franceses Jean-Claude Gardin e
Maurice Coyaud. A anlise documentria francesa tem importantes reflexos na Espanha, a partir dos
trabalhos como os de Jos Mara Izquierdo Arroyo, de Flix Sagredo Fernndez e de Antonio Luis
Garca Gutierrez e, no Brasil, atravs de pesquisadores como Johanna Wilhelmina Smit e Marilda
Lopes Ginez de Lara, do Grupo Temma, grupo de pesquisa afiliado Universidade de So Paulo, com
os estudos sobre Lingustica Documentria (cf. Andrade, 2010; Guimares, 2009; Kobashi, 1996; Lara,
2008; 2011).
Pode-se definir a anlise documentria como uma atividade metodolgica especfica no
interior da Documentao, que trata da anlise, sntese e representao da informao, com o
objetivo de recuper-la e dissemin-la (Cintra, Tlamo, Lara & Kobashi, 1994: 24). Para Coyaud
2

citado por Lara (2011), a anlise documentria primeiramente uma operao de reconhecimento

2
Coyaud, M. (1996). Introduction a ltude des languages documentaires. Paris: C. Klincksieck: 8.

248
das unidades lexicais que representam as noes importantes de um documento. Gardin (1973)
apresenta a anlise documentria como um conjunto de procedimentos efetuados com a finalidade
de expressar o contedo dos documentos cientficos, sob formas destinadas a facilitar a recuperao
da informao. Para Garca Gutierrez (1990), a anlise documentria consiste em extrair as ideias
centrais de um documento com o fim de disponibiliz-lo para sua recuperao mediante
representaes sintticas.
Atualmente, a anlise documentria faz parte de um vasto conjunto de estudos que podem ser
includos na Lingustica Documentria que tende a integrar, por sua vez, o conjunto dos estudos de
Organizao do Conhecimento, subrea da Cincia da Informao (Lara, 2011).

1.1 Operaes da anlise documentria

Cunha (1990) identifica duas fases no processo de anlise documentria: a anlise e a sntese.
Nessa mesma direo, Guimares (2003) esclarece que a etapa analtica se subdivide em: leitura
tcnica do documento, visando a identificar as partes com maior contedo temtico, e identificao
de conceitos mais significativos tematicamente. A etapa sinttica se subdivide em trs momentos:
seleo de conceitos pela qual os assuntos so postos em categorias (principais, secundrios e
perifricos); condensao documentria, referente elaborao de um resumo para o documento, e
representao documentria, pela qual o contedo temtico do documento traduzido em
linguagem de indexao.
Kobashi (1996: 9) lana mo do termo "informao documentria" em sua proposta de
delineamento de fases para anlise documentria. A autora, contudo, no define "informao
documentria" neste artigo, mas usa o conceito como se referisse ao produto da anlise
documentria. Kobashi, ento, esquematiza trs fases para a elaborao de informaes
documentrias, que so vlidas independentemente do corpus documental a ser analisado ou do
sistema documentrio no interior do qual se realizam. A primeira fase corresponde leitura do
texto. A segunda fase consiste em selecionar, no texto lido, o contedo informacional pertinente a
usos determinados. E, a terceira fase se refere a representar, ou seja, dar forma s informaes
selecionadas, de modo a torn-las documentariamente manipulveis.
As operaes de anlise documentria, entretanto, sofrem influncias de algumas variveis
que interferem na formulao de informaes documentrias. Lara (2011) enumera as seguintes
variveis: (1) a estrutura do texto; (2) as informaes brutas presente no texto; (3) o estado de
sistematizao metodolgica e terminolgica da rea; (4) a instituio na qual o processo se
desenvolve; (5) o usurio da informao documentria; (6) o estoque de conhecimento anterior do
analista e sua formao ideolgica.

1.2 Contexto na anlise documentria

Conforme o exposto na seo anterior, tanto Cunha (1990) quanto Guimares (2003) e Kobashi
(1996) delineiam em suas propostas para a anlise documentria alguma operao na qual a leitura
esteja envolvida. Cintra (1983: 5) afirma que "todo e qualquer trabalho de indexao supe uma
leitura do documento e essa leitura tanto pode ser processada por crebro humano, quanto por
mquina". Tendo em vista sua importncia, neste trabalho se toma a leitura documentria como
ncleo da discusso a respeito do contexto da anlise documentria de charge.
Fujita (2004) afirma que a leitura um ato social, no obstante sua individualidade. A autora
justifica essa observao na existncia de um processo de comunicao e de interao entre leitor e
autor intermediados por um texto, ambos com objetivos estabelecidos dentro do contexto de cada
um. Nesse sentido, ela acrescenta que a leitura incorpora uma complexidade subjacente porque
depende do processamento humano de informaes e da cognio de quem l, de um texto

249
elaborado por um autor e dos contextos de ambos. A partir dessa concepo de leitura, Fujita
identifica trs variveis envolvidas no processo de leitura documentria: o texto, leitor/indexador e
o contexto.
De acordo com Koch (2002) o texto pode ser compreendido como lugar de interao entre
leitor e contexto sociocognitivo dos participantes da interao. Segundo a autora, o texto um
evento comunicativo no qual convergem aes lingusticas. Nessa mesma direo, Marcuschi (2008:
76) afirma que no mbito da Lingustica Textual mais do que um artefato lingustico, o texto um
evento que ocorre na forma de linguagem inserida em contextos comunicativos.
Porm, em termos de anlise documentria, alguns autores defendem que essas concepes
de texto se comprometem. Cintra (1989: 30) observa que na leitura para fins documentrios,
entretanto, o princpio de cooperao autor/leitor rompido, j que, normalmente, o autor no
previu o documentalista como leitor. Este fator complicador deve ser acrescentado complexidade
inerente leitura documentria. Alm disso, conforme afirmado na seo anterior, a estrutura
textual e as informaes brutas presentes no texto constituem variveis do processo de anlise
documentria (Lara, 2011).
Fujita (2004) identifica o conhecimento textual como forte componente cognitivo na leitura, o
qual envolve a tipologia e a estrutura textuais. A autora afirma:

o texto, alm de uma estrutura lingustica, possui uma estrutura de
significado que somente aparece quando o leitor faz uma leitura
compreensiva. Ento, tambm o texto est sujeito a uma interpretao
cognitiva e no somente descritiva (Fujita, 2004: p.???).

Fujita (2004) acrescenta que o conhecimento textual implica no conhecimento prvio do leitor
e uma das condies para o xito da leitura. Mollica e Leal (2012) observam que durante a leitura os
conhecimentos prvios so relacionados a informaes novas a fim de processar operaes
inferenciais e de atingir o nvel efetivamente interpretativo da informao. No mbito da anlise
documentria, h uma preocupao com a identificao da estrutura informacional dos textos, a fim
de elaborar representaes condensadas que permitam ao leitor identificar o contedo do
documento (Kobashi, 1996).
Fujita (2004) relaciona o modo pelo qual as ideias so organizadas ao contedo, ao tema e aos
conceitos tratados no texto. O autor de um texto articula o seu texto quando escolhe determinada
estrutura textual que venha coincidir com o contedo que deseja transmitir. Tal ideia corroborada
por Andersen (2008) ao associar os diferentes gneros s distintas atividades humanas. Por esse
motivo, uma importante parte do processo de compreenso de leitura justamente essa habilidade
de reconhecimento do gnero discursivo, bem como os diferentes tipos de texto (Fujita, 2004).
Acrescenta-se ainda a afirmao de Mollica e Guedes (2011) sobre a necessidade de se reconhecer a
estrutura informativa dos textos, uma vez que a embalagem da infomao no aleatria. Conforme
Fujita (2004), a estrutura textual pode estar explcita ou no e se diferir de acordo com as diversos
gneros textuais e discursivos.
Para Fujita (2004), a identificao da ideia principal variar de acordo com a estrutura textual.
Desse modo, um acontecimento ou uma interpretao podem ser a ideia principal em um texto
narrativo e uma regra ou conceito podem ser as ideias-chave em um texto informativo. Porm, nem
sempre a identificao da ideia principal um processo fcil. Fujita (2004) declara "quando a ideia
principal aparece implcita, o leitor deve inferi-la com base nas informaes fornecidas pelo texto e
no seu conhecimento prvio sobre o assunto.
Na leitura documentria, o leitor identificado por Fujita (2004) como indexador e por Lara
(2011) como leitor-documentalista. De acordo com essas autoras, o que caracteriza a especialidade
do leitor-documentalista o conhecimento sobre anlise documentria, estratgias de anlise e,
sobretudo, polticas de indexao e demanda de usurios do sistema informativo documentrio. Para

250
Cunha (1990), existe a necessidade de conhecimento da rea em que se trabalha, na medida em que
este contribui para a identificao do contexto e dos fatores de produo do discurso em anlise.
Lara (2011) acrescenta que a leitura documentria se enquadra no processo de produo industrial
de textos, de modo que o leitor-documentalista no pode dedicar mais tempo leitura do que aquele
previsto na atividade de indexao de um grande volume de publicaes. O pensamento da autora
sintetizado quando afirma:

o leitor documentalista tem de realizar uma leitura para focalizar
preposies no texto usando estratgias que, alm das restries de sua
enciclopdia particular (seu conhecimento sobre o tema do texto que est
lendo), remete a propsitos da insero de seu trabalho num espao
institucional determinado (Lara, 2011: 101-102).

Para Cintra (1989), a sobreposio ao texto dos conhecimentos prvios de vrios nveis
permite ao leitor avanar na compreenso e imprime maior velocidade leitura. Lara (2011) conclui
que o processo de leitura deve, ento, ser apoiado em quadros de referncia que permitam o
reconhecimento da terminologia das reas do conhecimento e as formas mais usuais de organizao
textual. Somadas ao conhecimento dos objetivos institucionais e dos perfis dos usurios, essas
competncias habilitam o leitor-documentalista na produo da sntese documentria, meio para
construo da informao documentria.
Alm da estrutura lingustica e de contedo, o texto possui um contexto de produo prprio
do autor e do desenvolvimento do trabalho que culmina na redao do texto que, certamente, so
influentes na leitura. Esses aspectos podem estar presentes na leitura profissional, tornando-se
fundamentais (Fujita, 2004).
Em seu uso comum, a palavra contexto utilizada nas anlises de determinados fatos e de
processos, visando compreenso da situao e das condies em que ocorrem. Ao passo que, em
usos especficos, a palavra contexto pode incorporar diferentes significados. No mbito da
Lingustica, de modo geral, possvel dizer que contexto se refere s condies sob as quais a lngua
falada (Fujita, 2004).
O contexto constitui a terceira varivel do modelo de leitura documentria proposto por
Fujita (2004), englobando todas as condies nas quais se encontra o leitor (com as suas estruturas e
processos) quando entra em contato com um texto. Fujita distingue trs tipos de contexto:
psicolgico, fsico e sociocognitivo, explicitados a seguir.
O contexto psicolgico est relacionado s condies contextuais prprias do leitor, as quais
abrangem a sua disposio para ler, a sua motivao, a sua inteno e seu objetivo de leitura. Em
termos de leitura documentria, o leitor-documentalista tem o propsito de extrair a informao
relevante do texto, tendo em vista a sua posterior recuperao por um leitor interessado. Para obter
eficcia, este leitor lana mo de estratgias metacognitivas prprias de leitura documentria. Nesse
sentido, a leitura documentria se orienta, sobretudo, por seus objetivos. Deste modo, o seu xito
depende das habilidades do leitor-documentalista e dos conhecimentos prvios necessrios
atividade da anlise documentria (Fujita, 2004).
O contexto fsico se refere s condies materiais em que ocorre a leitura. Ditas condies
esto relacionadas, principalmente, ao sistema informativo documentrio para o qual ser realizada
a anlise documentria (Fujita, 2004). Dessa maneira, abrange, por exemplo, a infraestrutura do
sistema bem como a organizao, seus recursos, seus servios e seus produtos. Os instrumentos de
explicitao de processos em anlise documentria, tais como as polticas de indexao, a linguagem
documentria e os manuais de procedimentos, tambm compem o contexto fsico.
Por contexto sociognitivo, conforme Fujita (2004), entendem-se as formas de interao que
podem se produzir no decurso da atividade. O contexto sociocogntivo considerado pela autora
uma representao mental do leitor. Este contexto se circunscreve no conhecimento da situao

251
comunicativa e de suas regras e est implcito no contexto fsico do trabalho desenvolvido por
leitores documentrios nos sistemas de informao. O contexto sociocognitivo tem relao com os
instrumentos da anlise documentria.
Sob a perspectiva sociocognitivista, Van Dijk (2012: 11) menciona que os contextos so
constructos (inter)subjetivos concebidos passo a passo e atualizados na interao pelos participantes
enquanto membros de grupos e de comunidades. Assim, a interpretao do discurso depende de
sua contextualizao, ou seja, requer que se faam inferncias acerca do domnio discursivo em
anlise. O autor destaca que preciso considerar quase todas as caractersticas das situaes sociais.
Esse modelo de contexto define as condies de adequao do discurso oral e escrito s normas
estabelecidas pela comunidade discursiva, em que as interaes ocorrem, e so, segundo o autor, a
base para a construo da teoria de gneros textuais, de estilos entre outras e, em geral, de qualquer
variao discursiva. O contexto, neste sentido, se configura como condio e restrio do discurso.

1.3 Lingustica documentria e anlise de domnio

A anlise de domnio consiste em um paradigma da Cincia da Informao voltado para o
estudo de domnios do conhecimento reconhecidos como comunidades discursivas. Do ponto de
vista da Organizao do Conhecimento, a anlise de domnio estuda estruturas, modelos tericos de
cooperao entre reas do conhecimento, linguagens e formas de comunicao, sistemas de
informao e critrios de relevncia como meios de compreenso da produo discursiva nessas
comunidades (Hjrland & Albrechtsen, 1995).
Em Swales (1990), a noo de comunidade discursiva empregada em relao produo de
texto, como uma atividade social, realizada por comunidades que tm convenes especficas e para
as quais o discurso faz parte de seu comportamento social. De acordo com autor, a noo de
comunidade discursiva se fundamenta nas convenes e nas tradies para as quais diversas
atividades verbais de um grupo convergem como, por exemplo no mbito acadmico, pesquisas,
congressos, encontros rpidos, que produzem relatrios e publicaes. O discurso, desse modo,
mostra o conhecimento do grupo e evidencia sua organizao e dinmica. (cf. Guedes; 2010; Hemais
& Biasi-Rodrigues, 2010; Mollica & Guedes, 2011). Na Cincia da Informao, o conceito de
comunidade discursiva associado noo de domnio, como, por exemplo, na proposta do
paradigma domnio-analtico (Hjrland & Albrechtsen, 1995).
A literatura apresenta esforos para se estabelecer a interface entre a Anlise de Domnio e a
Lingustica Documentria. Lara (2008) delineia paralelos entre as duas abordagens, salientando que
ambas destacam preocupaes com o aperfeioamento da comunicao em ambientes de
informao. Ao comparar as abordagens, Andrade (2010) aponta caractersticas comuns, como a
preocupao com os aspectos sociais da organizao e a atuao das pessoas no contexto de
produo e uso de informaes e conhecimento. Embora consistam em abordagens distintas, as
autoras apontam direes para que a Anlise de Domnio e a Lingustica Documentria se
complementem nas investigaes da Cincia da Informao, particularmente na Organizao do
Conhecimento.
A anlise de domnio se baseia em modelos sociocognitivos, ao considerar a influncia da
cultura e da sociedade no processo de cognio. Nesse sentido, Hjrland (2002) apresenta onze
abordagens da anlise de domnios na Cincia da Informao:

(1) produo e avaliao de guias da literatura e assuntos;
(2) produo de classificaes especializados e de tesauros;
(3) pesquisas sobre indexao e recuperao da informao em domnios especializados;
(4) estudos empricos de usurios em diferentes reas de assunto;

252
(5) produo e interpretao de estudos bibliomtricos;
(6) estudos de gneros de documentos em domnios do conhecimento;
(7) estudos crticos e epistemolgicos de diferentes paradigmas, hipteses e interesses em
domnios do conhecimento;
(8) estudos terminolgicos, linguagens para fins especiais e anlise do discurso em reas
especficas do conhecimento;
(9) estudo de estruturas e instituies na comunicao cientfica em um domnio do
conhecimento;
(10) anlise de domnio, investigando a cognio profissional e inteligncia artificial;
(11) estudos histricos de servios e estruturas de informao nos domnios do
conhecimento.

Conforme mencionado anteriormente, neste estudo investiga-se a charge como um gnero
discursivo de uso hbrido das linguagens verbal e imagtica. Sendo assim, percebe-se uma relao
mais estreita com (3) pesquisas sobre indexao e recuperao da informao em domnios
especializados; (6) estudos de gneros de documentos em domnios do conhecimento e (8) estudos
terminolgicos, linguagens para fins especiais e anlise do discurso em reas especficas do
conhecimento.

2 A charge

Esta seo inicia com um debate acerca dos estudos sobre gneros discursivos na Cincia da
Informao. Nesse contexto, apresenta o conceito de charge adotado na pesquisa e discute o
contexto de produo da charge, desde a enunciao at observao das instncias discursiva e de
produo sgnica do gnero. Por sua vez, o contexto de uso discutido a partir da noo de
informatividade.

2.1 Gneros discursivos e Cincia da Informao

Segundo Mollica e Guedes (2011), a origem da noo de gneros discursivos como tipos
relativamente estveis de enunciados remonta s ideias do Crculo de Bakhtin e ecoa em diferentes
correntes tericas da Lingustica. As autoras defendem que os enunciados so unidades reais da
comunicao discursiva e funcionam como elo entre universos de valores construdos por dois ou
mais indivduos. Sob essa perspectiva, elas consideram os enunciados respostas a outros enunciados,
envolvendo o locutor e o interlocutor num movimento de responsividade, constituindo um carter
dialgico do discurso. Flres (2002: 15-16), destaca que a enunciao se refere ao acontecimento
constitudo pela apario de um enunciado, ao passo que o enunciado o termo utilizado para
designar o produto da enunciao, isto , o discurso. Assim, o enunciado resulta de um
acontecimento social, a enunciao. Portanto, segundo a autora, no possvel dissociar, sem
perdas, o enunciado das condies reais de enunciao, que enreda marcas lingusticas no
enunciado.
Relacionados ideia de enunciado, os gneros discursivos assumem carter scio-histrico,
uma vez que a sua constituio est relacionada a uma situao social de interao. (Rodrigues, 2005;
Rojo, 2005). Dessa maneira, "aquele que fala ou escreve (locutor/produtor) interage com quem
escuta ou l (interlocutor/receptor), estabelecendo uma parceria no ato pleno de comunicao."
(Mollica & Guedes, 2011: 2). Nessa mesma direo, Bakhtin (2004: 79) defende que nenhuma
enunciao verbalizada pode ser atribuda exclusivamente a quem a enunciou: produto da

253
interao entre falantes e em termos mais amplos, produto de toda uma situao social em que ela
surgiu.
Na opinio de Rojo (2005), os estudos sob a perspectiva dos gneros discursivos partem de
uma anlise de detalhes dos aspectos scio-histricos da situao enunciativa. A autora ressalta que
a finalidade da enunciao, expresso da vontade enunciativa do locutor, privilegiada nesses
estudos; contudo, so tambm consideradas as apreciaes valorativas de seus interlocutores bem
como os temas discursivos. Dessa maneira, buscam-se as marcas lingusticas no texto que refletem
os aspectos da situao social que ocasionou o enunciado.
Na perspectiva de Bazerman (2006), os diferentes gneros compem o sistema de atividades
humanas e, consequentemente, os estudos dos gneros textuais permitem a compreenso do
complexo mundo da comunicao escrita e da atividade simblica. Ele defende que a organizao e
as atividades humanas se constituem, em parte, da produo, da circulao e do uso de textos. A
questo central para o estudo de gneros, conforme salienta o autor, requer o entendimento de
como as prticas e conhecimentos surgem e so aprendidas por um determinado grupo social.
Assim, Bazerman argumenta que, ao reconhecer um gnero, possvel identificar muitos aspectos
da situao social e institucional que ocasionou o texto.
A contribuio da compreenso dos gneros discursivos pela comunidade da Cincia da
Informao defendida por alguns pesquisadores. Segundo Mollica e Guedes (2011), o conhecimento
sobre os gneros discursivo contribui para a compreenso dos fenmenos de produo, organizao,
circulao e uso da informao. Hjrland (2002) argumenta que os gneros existem apenas quando
os indivduos de determinado domnio esto organizados, isto , quando surge uma comunidade
especializada organizada. Acrescenta que os gneros refletem a atividade desse domnio discursivo.
Nessa mesma direo, Andersen (2008) relaciona os gneros s atividades humanas e organizaes
sociais. Esse mesmo autor demonstra que o conceito de gnero bastante explorado nos estudos da
informao e defende que a Cincia da Informao, em sua interdisciplinaridade, no apenas deve
utiliz-lo, mas tambm deve contribuir para o enriquecimento da teoria de gnero.
Sendo assim, a produo da informao estruturada em gneros discursos se relaciona com a
organizao e com as atividades de determinados grupos sociais, denominados comunidades
discursivas. Os processos de organizao da informao e do conhecimento podem ser mais
eficientes e eficazes, na proporo em que a identificao do gnero discursivo e seus elementos
servir ao analista da informao como um recurso operacional na execuo de suas atividades
profissionais. A circulao da informao em um domnio do conhecimento se d por meio de
documentos, estruturados em gneros discursivos. J o uso da informao se d por meio da
apreenso do conhecimento em estruturas lingusticas especficas de determinados gneros
discursivos. As pesquisas em Cincia da Informao, por isso, no devem descartar critrios tocantes
s diferenas entre os gneros discursivos. (cf. Andersen, 2008; Gardin, 1973; Garca Gutierrez, 1990;
Guedes, 2010; Hjrland, 2002; Hyland, 2008; Kobashi, 1996; Mollica & Guedes, 2011).
Mollica e Guedes (2011) advogam que a varivel gnero discursivo constitui parmetro
importante para decises de pesquisa, tanto para a escolha e tamanho de amostras, quanto para
orientao terico-metodolgica de investigaes cientficas em domnios especficos do
conhecimento. Ento, elas ressaltam que as caractersticas do gnero do discurso com que se est
trabalhando podem ser decisivas nas etapas de diferentes estudos na Cincia da Informao, tanto
na anlise quanto na interpretao de dados, como por exemplo, para fins de compreenso dos
fenmenos de classificao, processamento, indexao, circulao de informao e construo de
conhecimento em um domnio especfico.
Frente importncia da compreenso dos gneros discursivos para as pesquisas em Cincia da
Informao, este trabalho procura analisar a charge, a partir dos pressupostos da teoria de gneros,
bem como de outras abordagens relacionadas anlise crtica do discurso. O propsito dessa anlise
contribuir com o conhecimento acerca das condies de produo e de uso do documento, assim
como subsidiar reflexes sobre as interferncias do contexto na anlise documentria da charge.

254
2.2 O conceito de charge

A despeito de esforos para uma definio por parte de pesquisadores de diferentes reas do
conhecimento, no h um consenso a respeito da conceituao de charge. O uso comum do termo
aproxima e, s vezes, at confunde a charge com outros gneros discursivos, tais como o cartum, a
caricatura, a histria em quadrinhos e a tirinha de jornal. Moretti (2005) afirma que no fcil
estabelecer uma diferena definitiva entre essas formas de arte.
Charge o termo utilizado para designar um tipo de texto constitudo de desenho e escrita. A
charge costuma ser publicada em meios de comunicao de massa, como jornais e revistas. Suas
caractersticas textuais possibilitam seu uso para diversos fins, tornando-a um rico veculo de
informao e comunicao. Suas aplicaes vo desde material para ensino e aprendizagem a
instrumento de luta ideolgica. Para definir o termo charge, em um trabalho anterior (Gomes, 2013)
se recorreu s caracterizaes sugeridas por Gawryszewski (2008) e por Flres (2002) bem como o
verbete do Dicionrio de Comunicao, de coautoria de Rabaa e de Barbosa (1979). Gawryszewski
trabalhou durante seu ps-doutoramento na discusso da arte grfica visual, em especial o uso da
caricatura e da charge polticas como expresso de pensamento poltico e instrumentos de formao
de opinio pblica e identificao popular de um movimento poltico autnomo, no contexto da
sociedade carioca e paulistana atravs da imprensa nos anos de 1901 a 1927, a qual se intitulava
anarquista
3
. Como um dos resultados da pesquisa, o historiador publicou um artigo com o objetivo
de contribuir para o debate terico das possveis definies de caricatura e de charge. Nesse artigo,
Gawryszeswki (2008) apresenta algumas variaes a respeito dos conceitos, entretanto observa
similaridades entre as definies. O autor identificou em diferentes conceitos de charge propostos
por diversos autores os seguintes pontos comuns: a subordinao ao conceito de caricatura, a
simultaneidade das linguagens verbal e imagtica, a intertextualidade, a temporalidade marcada, a
crtica, o riso e a stira. Flres (2002: 10) apresenta a charge, sobretudo como "desenho, caricatura",
caracterizada pelo uso hbrido das linguagens imagtica e verbal, sendo esta suplementar
primeira. Rabaa e Barbosa (1987: 19) definem a charge como cartum cujo objetivo a crtica
humorstica imediata de um fato ou acontecimento especfico, em geral de natureza poltica. Os
autores ainda consideram a charge associada a determinado assunto momentoso, estando centrada
na ateno e no interesse do pblico leitor. Para eles, a mensagem da charge eminentemente
interpretativa e crtica e conta com poder de sntese.
A partir das caracterizaes e da acepo supracitadas, Gomes (2013: 26-27) constri uma
definio de carter operacional de charge, a qual adotada neste trabalho. Assim, a charge consiste
em um gnero textual de uso hbrido das linguagens verbal e imagtica, caracterizado pela
temporalidade marcada pela stira e pela crtica referentes a determinado evento, em geral de
natureza poltica. O autor refora a limitao dessa definio, de modo que para a obteno de um
conceito preciso de charge seja necessria uma anlise mais minuciosa e profunda do objeto e de
outros similares.

2.3 O contexto de produo da charge

Esta seo parte do pressuposto de que o discurso apresenta vestgios da enunciao que o
ocasionara. Em vista disso, a enunciao da charge pode ser empregada como ponto de partida para
a discusso a respeito do seu contexto de produo. Assim, discute-se a produo discursiva da
charge, a partir de uma anlise de seus aspectos lingusticos. Aborda-se, portanto, a constituio das
instncias enunciativas da charge, uma vez que mantm forte vnculo com o momento da
enunciao. Ademais, debate a produo sgnica da charge, na inteno de identificar reflexos do

3
Alberto Gawryszewski se ps-doutorou em Histria Social, pelo Instituto de Filosofia e Cincias Sociais, da Universidade
Federal do Rio de Janeiro, entre os anos 2002 e 2004. Estas informaes foram extradas do currculo lattes do pesquisador.

255
contexto de produo discursiva. Flres (2002: 14) identifica trs instncias enunciativas na charge:
o narrador, o personagem e autor. O narrador caracterizado pela autora por sua interveno
decisiva no texto. Sua gnese se d com a da prpria charge. responsvel pelo jogo interativo entre
leitor e texto, atravs da composio textual e da distribuio de imagens e de escrita. Alm disso, o
narrador atribui os graus de participao dos personagens, dando-lhes voz, expresso e
personalidade. Ao narrador cabe estabelecer vnculos entre texto e contexto, sendo sua existncia
totalmente dependente da publicao da matria, diz a autora. Por sua vez, o personagem existe
por meio do texto e atravs dele se mantm. Pode ser tanto ficcional como pode ser uma
representao caricata de alguma personalidade conhecida. O indivduo a que a charge faz
referncia est presente no contexto social do enunciado e deve ser identificado a partir de
caractersticas prprias do desenho. (cf. Flres, 2002; Gawryszeswki, 2008; Gomes, 2013). Pode-se
utilizar o termo chargista para designar o autor da charge, indivduo que assina o texto. Para Flres
(2002), o chargista dispe de espao social para emitir opinies em seu prprio nome atravs da
charge. De acordo com ela, o autor constitui uma instncia extratextual decisiva na divulgao e na
articulao textual, sendo o responsvel por colocar as instncias discursivas na charge. Sua
participao no texto no direta, exceto pela sua assinatura ou rubrica em algum lugar da charge.
Porm, de forma indireta, o autor d rumo narrativa, estabelecendo de que modo e atravs de que
recursos o narrador far o (s) comentrio (s), o estilo do texto, o seu desenrolar, o enfoque
assumido e a temtica abordada, quer utilize palavras e ilustraes, quer faa uso apenas de
ilustraes [...] (Flres, 2002: 15).
Portanto, tendo em vista o chargista constituir-se em um importante fator extratextual da
charge, a disposio de informaes sobre o autor, seu estilo e seus ideais podem contribuir
terminantemente para a identificao do contexto de produo da charge, tornando-se til no
processo de leitura da charge.
Outra perspectiva para a discusso sobre o contexto de produo discursiva da charge pode
proceder a partir da discusso a respeito do fenmento da produo sgnica. A significao, afirma
Flres (2002: 21), no se encontra ao final do texto, ela o atravessa, sendo desde o princpio seu
critrio de existncia. Para a autora, o autor de um discurso lana mo de uma base comunicacional
j existente para dar sentido ao que diz. Esta base se compe, segundo ela, de metfora e de
metonmias, constituindo uma relao entre cones e ndices distinguidos por critrios de
semelhana e de contiguidade, respectivamente.
De acordo com o Dicionrio Terminolgico (2012), a metfora consiste na substituio de
uma palavra prpria [...] por uma palavra com a qual aquela possui elementos smicos em comum.
De acordo com o verbete do dicionrio, essa transposio de significados se baseia em uma analogia
manifesta ou oculta, que a metfora desvela e d a conhecer. Desse modo, a metfora incorpora uma
dimenso cognitiva para alm da dimenso de ornato lingustico. Para Lakoff e Johnson (2002), a
compreenso contempornea da metfora tem categoria de operao cognitiva fundamental,
constitutiva da linguagem e do pensamento. Segundo os autores, a interpretao de uma metfora
implica o desenvolvimento do raciocnio analgico e da capacidade inferencial. Flres (2002: 25)
apresenta a metfora como relao condensada em uma expresso, imagem ou smbolo, podendo
ser enriquecida em complexidade ou quantidade de implicaes. Assim, na viso da autora, a
metfora constitui-se em tentativa de explicar ou expressar uma coisa nova a partir de uma j
conhecida, de um j-dito.
Para Flres (2002: 25), a caracterstica fundamental da linguagem metafrica evidente na
charge. O fenmeno da metfora na charge se d na transmutao de uma coisa em outra, sem que a
original se dilua automaticamente na segunda. Essas duas coisas se encontram disponveis ao leitor e
se apresentam sua percepo. Segundo a autora, a metfora est na charge como um todo, nos
seus diversos elementos e nas relaes entre eles. Flres enfoca o cdigo hbrido presente na
charge, circunscrevendo a anlise desse gnero discursivo ao carter metafrico da imagem e da
combinao de palavras. Para a autora, fica destacado na leitura da charge o pensar
metaforicamente, isto , entender uma coisa em termos de outra, disso resultando uma forma de
conhecimento obtido interativamente.

256
Flres (2002) tambm associa a metfora ideia de cone, apoiada no critrio de semelhana.
Segundo a autora, o cone apresenta uma semelhana topolgica entre um significante e seu
denotado. Tal semelhana baseada em critrios fixados culturalmente, de modo que no seja
preciso que o cone necessariamente possua as mesmas caractersticas e propriedades do objeto
representado. A autora designa o processo de produo sgnica como iconicidade e ressalta a
metonmia como outro componente na base comunicacional utilizado pelo chargista, que de modo
geral pode ser uma simples transferncia de denominao. De acordo com Dicionrio Terminolgico
(2012), a metonmia constitui-se em uma figura de linguagem pela qual uma palavra ou expresso
remete a um referente diverso daquele que designa normalmente, em virtude de uma relao de
contiguidade de ambos. Conforme o dicionrio, tais proximidades podem se dar a partir de relaes
de causa e efeito, de parte e todo, de autor e obra, de espao e instituio, de continente e contedo.
Assim, por meio de metonmia, de relao autor e obra, a expresso encanto por Dal pode ser
utilizada para designar a admirao pela obra do pintor surrealista espanhol Salvador Dal.
Flres (2002) relaciona a metonmia aos signos indexicais. Segundo a autora, o signo indexical
dotado de significante contguo a seu significado ou, ento, parte dele. A indexicalidade
corresponde a processos voltados para designao das coisas, por meio de expresses lingusticas
multifuncionais. Ainda de acordo com Flres, tais expresses lingusticas podem ser utilizadas
indexicalmente, se referindo a coisas existentes no mundo, ou autorreflexivamente, referindo a si
mesmas.
Tanto os signos indexicais quanto os autorreflexivos podem ser encontrados na linguagem da
charge. Os signos indexicais esto presentes na charge para referenciar o contexto ou a prpria
enunciao que a ocasionou, enquanto os signos autorreflexivos podem ser observados,
principalmente, em charges com mais de um quadro (cf. Flres, 2002; Gawryszeswki, 2008).
Em vista dessas consideraes, pode-se dizer que os diversos elementos textuais da charge
referenciam elementos existentes no contexto de produo por meio de semelhana ou de
contiguidade. Desse modo, os signos asseguram as funes representativa e reflexiva bem como as
definies das condies a que os processos de produo sgnica deve obedecer. O reconhecimento
dos discursos enunciados como referentes a algum mundo possvel deve se fundamentar, ento, na
identificao desses processos de significao, ou seja, de iconicidade e de indexicalidade. Alm do
mais, essas referncias esto ligadas s condies de aceitao dos prprios signos e de efetivao da
enunciao (cf. Flres, 2002; Gomes, 2013).
Cabem ainda mais algumas consideraes em Flres antes de encerrar a seo sobre o
contexto de produo da charge. Flres (2002:30) define contexto como o conjunto de elementos
no-lingusticos que intervm na delimitao do sentido. Segundo a autora, o narrador da charge
pode omitir ou acrescentar informaes, tornando o enunciado mais ou menos vago. As lacunas
informativas dos elementos lingusticos, nesse sentido, devem ser preenchidas com informaes
sobre o contexto enunciativo. Portanto, observa-se que inferncia, o preenchimento de lacunas
informativas, autoriza inmeras complementaes acrescentadas pelo leitor.
Uma interpretao adequada da charge, segundo Flres (2002), est condicionada a
especificao do contexto aludido durante a leitura. O contexto, ao ser explicitado, se torna algo
definido, passvel de discusso. A atribuio de sentido torna-se dependente da colocao da
linguagem em contexto comum entre os interlocutores. Esse detalhamento do contexto contribui
para evitar os efeitos da ambiguidade e da heterogeneidade do discurso, contribuindo para a
compreenso da charge.

2.4 O contexto de uso da charge

O uso da charge est relacionado ideia de informatividade do gnero documental. Nesse
sentido, esse estudo parte do pressuposto de que a informatividade que permite entrever o jogo
intertextual que caracteriza os processos de recepo determinando os critrios de relevncia para

257
que algo seja considerado informativo (Ortega & Lara, 2010). Dessa forma, se analisa o uso da
charge, privilegiando a discusso sobre a sua capacidade de informar. Para isso, lana-se mo da
noo de informatividade do paradigma hermenutico da informao de Capurro (2007) e dos nveis
documentais de Rendn Rojas (2005).
Segundo Lara (2008), o conceito de informatividade se origina na Lingustica Textual e em sua
verso contempornea destaca o fato da compreenso de um texto depender do conhecimento de
outros textos. No tocante ao paradigma hermenutico da Cincia da Informao relacionado
perspectiva domnio-analtica, a informatividade depende da relao entre a relevncia da
mensagem comunicada e do conhecimento prvio de certo indivduo e/ou do conhecimento
compartilhado por determinada comunidade discursiva ou laboral. Para que algo seja considerado
informao, necessria uma pr-estrutura de conhecimento capaz de contextualizar e de
interpretar a mensagem, gerando uma nova estrutura de conhecimento. A informao, assim,
constitui no conhecimento em prtica e est relacionada novidade e relevncia do contedo das
mensagens (cf. Capurro, 2007; Capurro & Hjrland, 2003).
Recorre-se tambm noo de informao da Lingustica Documentria. Segundo a proposta
de Lara (2008), quando reconhecida como inscrio organizada, a informao o resultado de uma
construo institucional e intencional que tem nos valores simblicos e funcionais a condio para a
construo do sentido e para circular socialmente, desencadeando processos de conhecimento. A
construo de sentido e a circulao social, condicionadas aos valores simblicos e funcionais,
propem a ideia de que a informao no uma questo individual, mas de ordem social e cultural.
Uma das principais caractersticas da charge a referncia a outros eventos e textos, cabendo
ao leitor estabelecer os elos para construo do sentido proposto pelo chargista. Se a interao entre
autor, texto e leitor no se estabelece, as informaes contidas na charge no se convertem em
signos, no so percebidas e, nesse caso, no entram no circuito comunicacional (Flres, 2002: 11).
O interdiscurso e a intertextualidade caracterizadores da charge a aproximam da ideia de
informatividade de Capurro e Hjrland e do entendimento de informao como um processo
construtivo sugerido por Lara. A leitura da charge, portanto, se ocorrer efetiva compreenso pelo
leitor, se torna um processo informativo em que um usurio possui uma estrutura prvia de
conhecimento a partir da qual interpretar a mensagem, isto , identificar a informatividade do
documento segundo seus prprios critrios de relevncia.
Sob outra tica, possvel analisar a informatividade da charge lanando mo dos nveis do ser
documento sugeridos por Rendn Rojas (2005: 127-130). O autor distingue diferentes nveis de "ser
documento" segundo o tipo de objeto em contextos epistemolgicos construdos cientificamente e,
por consequncia, segundo a atividade cognitiva a que o documento d lugar e da qual produto.
Por meio desses nveis, ele prope o percurso para que um objeto se torne um documento no
domnio da Bibliotecologa. Apresenta, assim, elementos dos contextos de produo e de uso da
charge, com o intuito de se estabelecer uma associao aos nveis de ser documento.
Em um primeiro nvel se encontra o objeto tal e como , sem que haja uma interveno para
sua apario ou uma intencionalidade de faz-lo documento. Assim, no primeiro nvel se tem o
objeto em si. (Rendn Rojas, 2005). O uso comum da charge est relacionado sua funo como
gnero jornalstico opinativo. Em meio a este contexto, a charge "uma crtica poltico-social
atravs da qual o chargista expressa graficamente, com humor e ironia, seu ponto de vista sobre
determinadas situaes cotidianas" (Nicolau, 2010: 6). Dessa forma, no primeiro nvel de ser
documento se tem a charge em si cuja finalidade a expresso do chargista atravs do gnero
jornalstico opinativo.
No segundo nvel aparece o mesmo objeto que contm informao para especialistas de
determinada disciplina, os quais visando obteno de informao estudam e investigam as
mensagens apresentadas por esse objeto. O objeto nesse nvel se converte em documento para o
trabalho do especialista, deixa de ser um objeto em si para ser um objeto para outro. Fisicamente
pode constituir o mesmo objeto, porm em uma dimenso simblica incorpora um significado
adicional em relao ao que possua quando era somente objeto em si. (Rendn Rojas, 2005). Alm de
seu uso comum, a charge um documento relevante para diferentes comunidades disciplinares,

258
sendo, por exemplo, objeto de estudos nos domnios das Artes Visuais, das Cincias Sociais, da
Comunicao Social, da Comunicao Visual, da Educao, da Filosofia da Arte, da Lingustica e da
Literatura (cf. Gomes, 2013). Flres (2002) defende o valor histrico das charges como repositrio de
foras ideolgicas em ao, como instrumento de reflexo e projeo das principais concepes e
dos pontos de vista em circulao em determinada sociedade. Desse modo, a charge passa ao
segundo nvel de ser documento quando, por exemplo, para um historiador deixa de ser apenas a
expresso de uma opinio e de uma crtica de um chargista para ser um indcio das principais ideias
e opinies circulantes em determinado contexto socio-histrico.
O documento configura um terceiro nvel quando elaborado por um profissional da
informao e este se encarrega de convert-lo em um documento bibliotecolgico. Devido a ao
desse profissional, ao inserir um documento em um sistema informativo documental, a informao
agregada ao documento no processo de representao e organizao da informao e do
conhecomento, com o propsito de recuperao por um usurio. O documento dentro desse sistema
tem um ser agregado que no tinha antes. A ao do profissional da informao d um novo sentido
ao documento inicial porque o coloca dentro de um contexto especfico. Somente depois dessa ao,
o documento adquire personalidade dentro do sistema informativo documental. (Rendn Rojas,
2005). No contexto do objeto desta pesquisa, os profissionais da informao tratam a charge a fim de
lhe agregar valor informativo para determinado domnio segundo estruturas objetivas do sistema
informativo documental.
Conforme mencionado anteriormente, a literatura especializada apresenta escassez de
estudos especficos sobre a charge no domnio dos estudos da informao. Tal fato sugere que este
tipo de documento ainda enfrenta dificuldades de insero nos sistemas informativos documentais,
no alcanando o terceiro nvel do ser documento. Estas afirmativas tambm vm justificar a
realizao desta pesquisa.

3 Interferncias do (s) contexto (s) na anlise documentria de charge

A partir das discusses anteriores, esta seo aborda as interferncias dos contextos de
produo e de uso da charge no processo de anlise documentria. Certamente, no esgota a
discusso a respeito dessas interferncias. Porm, pretende fornecer subsdios para pesquisas
futuras.
Observa-se que o contexto de produo da charge se relaciona com o seu momento
enunciativo, o qual influi na produo sgnica. Autores afirmam que os conhecimentos da estrutura
textual e das condies de produo discursiva favorecem a compreenso do fluxo de informao
durante a leitura do discurso (Cunha, 1990; Fujita, 2004; Kobashi, 1996; Mollica & Guedes, 2011). Em
termos de anlise documentria de charge, o conhecimento da estrutura do discurso e de como
ocorre sua produo sgnica permitem a caracterizao de processos cognitivos recorrentes durante
a leitura documentria.
O reconhecimento das instncias enunciativas da charge (Flres, 2002) se configura como uma
das etapas da identificao da estrutura discursiva e textual do documento. Mais do que apenas a
identificao de responsabilidade na representao descritiva, a instncia autor assume o carter de
vestgio do contexto enunciativo. Por exemplo, informaes sobre o chargista podem contribuir
para o preenchimento de lacunas informativas sobre o contexto ideolgico de produo (Cunha,
1990) da charge, na medida em que a opinio emitida possa ser correlacionada a uma corrente de
pensamento presente no momento da enunciao. Desse modo, alm de contribuir para a
compreenso da charge, a autoria pode servir como garantia para representao do contexto scio-
histrico. A identificao do narrador, por sua vez, permite o reconhecimento do que foi omitido e
acrescentado na charge, favorecendo a compreenso da leitura. Finalmente, os personagens e os
demais cones da charge so representaes de elementos presentes no contexto de enunciao. O
reconhecimento desses cones fundamental para a compreenso da charge, assim como para uma
representao eficaz.

259
A iconicidade e a indexicalidade, atravs das metforas e metonmias, respectivamente,
favorecem a compreenso dos elementos representados e referenciados no discurso. A identificao
dos elementos representados e referenciados e, especialmente, os omitidos exige do analista
documentrio um conhecimento enciclopdico amplo. Porm, a compreenso de como ocorrem os
fenmenos da iconicidade e indexicalidade na charge tem se mostrado importante para o
desenvolvimento de estratgias metacognitivas de leitura documentria (Fujita, 2004), permitindo o
alcance de eficincia e de eficcia na anlise documentria.
Tais estratgias no dispensam a necessidade de um conhecimento prvio do leitor. A leitura
da charge, desse modo, consiste em um processo informativo de contextualizar o conhecimento
objetivado no documento, a partir de um pressuposto j conhecido. Quanto maior for o
conhecimento pressuposto, maior a chance do processo informativo obter xito, durante a anlise
documentria (Lara, 2011). O conhecimento prvio, inclusive, pode permitir a superao de barreiras
j apontadas referentes execuo da anlise documentria. Nesse sentido, se torna necessrio o
aprofundamento de pesquisas sobre as estruturas e os fluxos da informao, visando ao
estabelecimento de estratgias de recuperao do contexto de enunciao por meio da compreenso
da produo sgnica da charge.
No que tange ao contexto de uso da charge, afirma-se que a charge objeto informativo em
diferentes domnios do conhecimento, o que implica diferentes contextos de usos desse gnero
documentrio. A insero e o tratamento da charge em um sistema informativo documental devem
observar os usos especficos que se faz dela. Cada domnio do conhecimento utilizar a charge,
segundo critrios prprios de relevncia de seu contexto. Hjrland (2001) afirma que a melhor
anlise temtica aquela que faz melhor prognstico de uso futuro do documento. O conhecimento
sobre os usurios representados pelos domnios discursivos, ento, contribuir decisivamente para a
qualidade da anlise documentria de charge.

Consideraes finais

A capacidade da charge ser informativa est associada ao seu aspecto pragmtico medida em
que revela o carter social e simblico da informao e, consequentemente, os ambientes e as
situaes concretas de uso. A charge pode ser dotada de informatividade para um indivduo assim
como pode ser relevante para determinados domnios de conhecimento. Diante do exposto, afirma-
se que a charge um potencial objeto de investigaes para a Cincia da Informao, visando sua
valorizao como geradora de conhecimento e, na perspectiva de Rendn Rojas (2005, p. 130), sua
transformao em ser documento de terceiro nvel. Essas investigaes incluem o
desenvolvimento de metodologias para sistematizao do tratamento documentrio da charge,
material de caractersticas informacionais e lingusticas prprias.
A restrio da pesquisa bibliogrfica ao domnio brasileiro da Cincia da Informao, sobre a
qual se baseou este estudo, uma limitao para o desenvolvimento da pesquisa. possvel que se
tenha ignorado resultados de estudos, realizados em outros pases e publicados em outros idiomas,
voltados para o tratamento temtico da charge. Porm, necessria a superao de barreiras
terminolgicas em torno dos conceitos de charge, uma vez que preciso a identificao de termos
correspondentes em idiomas distintos. Somente assim ser possvel a pesquisa bibliogrfica eficaz
sobre a organizao da informao em charges, em domnio internacional.
As especificidades textuais da charge devem ser observadas durante o processo de
organizao da informao. Esse procedimento se justifica em vista das especificidades informativas,
as quais esto diretamente relacionadas s caractersticas discursivas da charge. Corroborando
estudos anteriores, a anlise documentria se apresenta como abordagem terico-metodolgica
profcua para a organizao da informao de charge, considerando suas interlocues com a
Lingustica Textual.

260
Este estudo apresentou as interferncias dos contextos de produo e de uso da charge na
anlise documentria, valendo-se de teorias a respeito da produo discursiva e sgnica bem como
de uso por domnios especficos. Assim, contribui para o avano de pesquisas sobre a insero das
charges em sistemas informativos.
Finalmente, importante ressaltar que a presente pesquisa se vale da interface entre a
Lingustica Documentria e a Anlise de Domnio, ao delinear pontos comuns e divergentes em
ambas as abordagens. Pretende-se, por conseguinte, contribuir para o desenvolvimento de teorias e
metodologias de Organizao do Conhecimento, contido na charge, que privilegiem essa interface.

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264
VISUALIZACIN Y ANLISIS DE LA ESTRUCTURA DE LA BASE DE DATOS SCOPUS

ANTONIO J. GMEZ-NEZ
Scimago
[email protected]

BENJAMN VARGAS-QUESADA
Scimago
[email protected]

TERESA MUOZ-CIJA
Scimago
[email protected]

FLIX DE MOYA ANEGN
e Instituto de Polticas y Bienes Pblicos
[email protected]

Resumen Introduccin: La visualizacin de grandes redes de citacin extradas de bases de datos
multidisciplinares como Web of Knowledge y Scopus es un tema de investigacin recurrente en la
investigacin generada dentro de las ciencias de la informacin. La visualizacin de los elementos de la red y
su agrupamiento en clsteres temticos permite mapear la estructura de la investigacin y la interrelacin
entre sus disciplinas, equiparables a los clsteres temticos detectados.
Objetivos: Se pretende representar la estructura de Scopus en base a la extensa red de citacin establecida
entre las numerosas revistas Scopus incluidas en la plataforma Scimago Journal & Country Rank (SJR), que en
nuestro estudio ascienden a 18891. Mediante tcnicas de clustering y visualizacin, se proceder a la re-
clasificacin de las revistas.
Metodologa: En base a la citacin de trabajos, se obtuvieron listas de adyacencia agregadas a nivel de revistas
para la citacin, co-citacin y coupling. Estas listas muestran parejas de revistas del SJR relacionadas mediante un
valor numrico que expresa la fuerza de su relacin. Las tres listas fueron integradas en una nueva resultante
de su suma, y sus valores fueron normalizados mediante la geo-similaridad. Por ltimo, se ejecut el algoritmo
de clustering de VOSviewer. Los clsters de revistas obtenidos se etiquetaron con las categoras originales del
SJR junto con las palabras significativas ms repetidas en los ttulos.
Resultados y Discusin: El mapa resultante refleja la estructura de Scopus en funcin de un conjunto de
categoras que representan el contenido temtico de las revistas cientficas incluidas en la base de datos. La
reduccin del conjunto de categoras en relacin con el nmero inicial del SJR, as como el elevado nmero de
cambios en la clasificacin de las revistas sugiere un refinamiento y una optimizacin de la clasificacin
original.
Conclusiones: El cienciograma presentado constituye una representacin fiable y precisa de la estructura de la
investigacin basada en revistas cientficas, puesto que se fundamenta en la opinin de los expertos, reflejada
por medio de sus citas.

Palabras-clave Clasificacin. Visualizacin de informacin. Clustering.

265
Abstract Introduction: Visualization of big citation networks extracted from multidisciplinary databases as
Web of Knowledge and Scopus is a recurrent topic in Library and Information Science research. Visualization
and clustering of network items enable to map science and research structure on the basis of thematic clusters
detected as well as their relations.
Objectives: We pretend to map Scopus database structure based on the extensive citation network derived
from the full set of Scopus journals included in Scimago Journal & Country Rank (SJR) platform, which rise to
18891. We will re-classify the journals analysed using visualization and clustering techniques.
Method: Working from citation of papers we constructed three journal adjacency lists covering citation-based
measures, namely, direct citation, co-citation and bibliographic coupling. These lists are showing journal
couples related through a numeric value which express the strength of the relation. Then, the three lists were
combined in a new one resulting from summing up their values which were later normalized through geo-
similarity measure. Finally, VOSViewer clustering algorithm was executed and journal clusters obtained were
labelled using original SJR category tags together with the most repeated significant words from journal titles.
Results and Discussion: The resulting map reflects the Scopus structure through a set of categories that
represents thematic content of scientific journals included in the database. The reduction of categories as well
as the high number of shifts in journal classification originated from our method suggests a refinement and
optimization of SJR journal original classification.
Conclusiones: The sciencitogram displayed arise like a reliable and accurate picture of science and research
structure based on scientific journals, since it is built upon expert opinions, revealed by means of their
citation patterns.

Keywords Classification. Information Visualization. Clustering.

Introduccin

La visualizacin de informacin surge como una disciplina de enorme inters en el mbito de
la Bibliometra y de la Cienciometra, al proporcionar diferentes representaciones visuales y
cienciogramas o mapas de la ciencia que facilitan el anlisis de un dominio mostrando la estructura de
la ciencia y de la investigacin a travs de las distintas disciplinas temticas que la componen
(elementos representados) junto con sus relaciones e interacciones (Moya-anegn et al., 2007).
Principalmente, estos mapas se construyen a partir de la literatura cientfica compilada por las bases
de datos, utilizando diferentes unidades de anlisis (papers, revistas, categoras) y distintas
unidades de medida, tanto basadas en la citacin y sus derivados (citacin directa, co-cocitacin,
coupling), como en el texto de las publicaciones. Pero adems de mostrar la estructura disciplinar
de la ciencia, permiten contemplar la evolucin temporal de la investigacin, detectar frentes de
investigacin, reas de interdisciplinariedad, temas emergentes o en decadencia, etc.
Respecto a la bases de datos, en la actualidad destacan especialmente dos: Web of Knowledge
(Wok) (Thomson Reuters, 2009) y Scopus (Elsevier, 2002), consideradas por la mayora de la
comunidad cientfica como las fuentes de informacin con una cobertura ms exhaustiva y con
mayor prestigio y reconocimiento a nivel internacional. Estas bases de datos, tienen carcter
multidisciplinar y dan cabida a un elevado nmero de revistas cientficas de prestigio de las que no
slo proporcionan informacin bibliogrfica detallada, sino tambin ndices de citas que permiten
construir numerosos indicadores bibliomtricos. Estos instrumentos, que pueden ser tanto
cualitativos como cuantitativos, resultan de gran valor en tareas de evaluacin de la ciencia y la
investigacin, y en especial, para los encargados de la toma de decisiones y el diseo de la poltica
cientfica de los pases.
Ahora bien, en el desarrollo y diseo de herramientas basadas en las publicaciones cientficas
albergadas en las bases de datos, conviene tener presente que la correcta clasificacin de la
literatura resulta de vital importancia para conseguir productos y resultados coherentes, fiables y
slidos. Por lo general, en la construccin de los cienciogramas subyacen procesos de asociacin y
distribucin espacial de los tems representados en funcin de su similaridad. La asociacin puede
calcularse, por ejemplo, en base a la co-ocurrencia de palabras significativas o al nmero de
referencias bibliogrficas compartidas. Utilizando tcnicas estadsticas como el clustering o el anlisis
factorial es posible detectar grupos temticos interrelacionados, que pueden interpretarse como un

266
reflejo de las diferentes disciplinas en las que puede descomponerse el conocimiento cientfico. En la
actualidad, varias herramientas de visualizacin y anlisis de redes, como Pajek (Batagelj & Mrvar,
1999) o VOSViewer (Eck & Waltman, 2010), integran diferentes algoritmos para la deteccin de
clsters o comunidades dentro de una red, descomponindolas en grupos de tems similares y
fuertemente relacionados entre s. As, las herramientas de visualizacin aparecen tambin como
una solucin efectiva para la optimizacin y el refinamiento de la clasificacin de la literatura en las
bases de datos.

1 Clustering y visualizacin de informacin

El clustering emerge como una de las tcnicas estadsticas ms utilizadas en la clasificacin e
identificacin de grupos temticos. Son muchos los mtodos de clustering que han sido utilizados
con frecuencia por investigadores del mbito de la visualizacin de la informacin con el fin de
delinear la estructura del conocimiento cientfico y de la investigacin. Para ello, resulta
indispensable disponer de un esquema de clasificacin consistente que represente de forma efectiva
las diferentes disciplinas y/o subdisciplinas que integran la ciencia. Algunas propuestas
significativas en el uso de clustering para la construccin de mapas de la ciencia (basados tanto en
literatura de WoK como de Scopus) fueron recogidas y estudiadas en un trabajo de Klavans y Boyack
(2009). Su propsito era desarrollar un mapa de la ciencia de consenso a partir de los mapas
previamente analizados.
Numerosos investigadores han aplicado tambin algoritmos de clustering a matrices y redes
de citacin, co-citacin y/o coupling de revistas. Chang y Chen (2011) proponen aplicar el mtodo de
mnimum span clustering (MSC) a una matriz cuadrada de citacin de aproximadamente 1.600 revistas
del Social Science Citation Index (SSCI). Leydesdorff, Hammarfelt y Salah (2011) utilizaron el
algoritmo k-core para representar las 25 categoras especficas del rea de Arts & Humanities Citation
Index y tratar de integrar su representacin en un mapa global de la ciencia desarrollado
previamente (Rafols, Porter, & Leydesdorff, 2010). Leydesdorff y Rafols (2012) publicaron un estudio
en el que una matriz de citacin compuesta de 9162 revistas extradas del Science Citation Index
Expanded de 2009 se utiliz para elaborar mapas interactivos. Entre los diferentes mtodos llevados
a cabo utilizaron diversos algoritmos de clustering para detectar grupos de revistas relacionadas e
incluirlas en grupos temticos bien definidos.
A lo largo de la cuantiosa literatura existente sobre clustering pueden encontrarse
experimentos ejecutados a distintos niveles de agregacin. A nivel de documento, Small (1999)
desarroll un mapa de la ciencia jerrquico mediante un mtodo combinado de conteo
fraccionalizado de los documentos citados, single-linkage clustering y ordenacin bidimensional
conforme a un proceso de triangulacin geomtrica. Moya-Anegn y otros (2004) propusieron la
cocitacin de categoras como unidad de anlisis y representacin, combinndola ms adelante con
tcnicas de reduccin del espacio como pathfinder networks (PFNET), y de identificacin de grupos
como anlisis factorial (Vargas-Quesada & Moya-Anegn, 2007). Ahlgren y Colliander (2009)
analizaron diferentes mtodos de clculo de similaridad entre documentos en base a texto, coupling
y combinacin de ambos, as como varios mtodos para representar y clasificar un pequeo
conjunto de 43 documentos de la revista Information Retrieval. Para ello utilizaron complete-linkage
clustering y compararon los clsters generados automticamente con una clasificacin previa
realizada por expertos. De forma similar, Boyack y otros (2011) aplicaron una combinacin de
presentaciones grficas y average-link clustering sobre varias matrices de similaridad basadas en
palabras significativas extradas del ttulo, resumen y descriptores del Medical Subject Headings
(MeSH) de un total de ms de 2 millones de artculos cientficos extrados de la base de datos
Medline. Ms recientemente Brner y otros (2012) presentaron una metodologa para el diseo y
actualizacin de un mapa de la ciencia y un sistema de clasificacin elaborado para la Universidad de
California, San Diego (UCSD) utilizando tcnicas de clustering sobre matrices de similaridad de
revistas de Web of Science (WoS) y Scopus.

267
Por lo general, la ejecucin de procedimientos de clustering sobre grandes redes y matrices de
datos implica complejas operaciones de clculo adems de altos requerimientos de hardware y
software. Adems, la visualizacin de los datos debe ser lo ms ptima y clara para su comprensin y
manipulacin. Programas como Pajek o VOSViewer surgen como excelentes herramientas para el
anlisis y la visualizacin de grandes masas de datos que, adems, integran algoritmos de clustering
para clasificar los datos analizados. En este trabajo, se utilizan ambas herramientas para llevar a
cabo la representacin de la estructura de la base de datos Scopus, utilizando Pajek para la
preparacin previa de los datos y VOSViewer para ejecutar la visualizacin final. Los detalles del
proceso son pormenorizados en la siguiente seccin de este trabajo.

2 Material y Mtodo

En primer lugar, se dise una ventana temporal de dos aos correspondiente a 2009 y 2010 y
se recuperaron los datos de citacin de un total de 18891 revistas de la plataforma Scimago Journal &
Country Rank (SJR) (Scimago Lab, 2007). Esta plataforma aglutina todas las revistas contenidas en la
base de datos Scopus y permite elaborar indicadores para la produccin de anlisis de dominio y
rankings tanto de revistas como de pases. Para este conjunto de datos slo se contaron las citas
incluidas en el perodo temporal comprendido entre 2000 y 2010. Las citas se calcularon a nivel de
artculos y posteriormente fueron agrupadas por revistas. A partir de estos datos se construyeron
tres listas de adyacencia, compuestas por parejas de revistas y un valor numrico que expresa la
fuerza de su relacin, representando medidas basadas en la citacin, como son la citacin directa, la
co-citacin y el coupling.
Por ltimo, estas tres listas fueron integradas en una lista final mediante la suma de las tres
medidas de citacin mencionadas y siguiendo para ello el modelo propuesto por Persson (2010), que
l mismo denomin Weighted Direct Citation (WDC). Conforme a su trabajo, se presenta a continuacin
el diagrama utilizado por Persson para calcular el WDC. No obstante, se ha introducido una sensible
modificacin con respecto al original, al representar en nuestro caso los dos sentidos en que puede
considerarse la citacin directa.

C

A

B

D

Siguiendo el diagrama, la frmula para la integracin de las tres medidas de citacin sera la
siguiente:
c_ij = ABC + DAB + max(AB,BA)

Donde ABC hace referencia al coupling, DAB a la co-citacin, y AB o BA a la citacin directa.

Seguidamente, se normalizaron los resultados de la red utilizando la geo-similaridad, medida
cercana al coseno de Salton y que funciona dividendo los elementos de la matriz por la media

268
geomtrica de ambos elementos de la diagonal (Batagelj & Mrvar, 1999). Se detalla a continuacin, la
frmula utilizada para su clculo:

s_ij = c_ij / sqrt(c_i*c_j), c_i = sum{ j: j!=i: c_ij }

La siguiente fase de nuestro mtodo se corresponde con la ejecucin del algoritmo de
clustering sobre la red normalizada de revistas que integra las tres medidas basadas en la citacin.
VOSViewer permite llevar a cabo no slo la visualizacin de informacin, sino tambin ejecutar un
algoritmo de clustering que permite establecer una clasificacin de los datos que posteriormente
sern mapeados. En palabras de sus creadores (Waltman, Eck, & Noyons, 2010) este algoritmo
incluye un parmetro de resolucin capaz de detectar grupos o clsteres de pequeo tamao si se
proporciona un valor adecuado para configurarlo. Tambin indican que un mayor parmetro de
resolucin implica un incremento paralelo del nmero de clsteres generados. Teniendo en cuenta
estas consideraciones, decidimos ejecutar varias pruebas introduciendo distintos valores en el
parmetro de resolucin del algoritmo. De esa forma, podramos obtener diferentes soluciones
ofreciendo distintas descomposiciones (subredes) de la red de revistas y, por lo tanto, produciendo
diferentes conjuntos de clsteres o comunidades temticas. Nuestro objetivo final fue obtener un
sistema de clasificacin consistente para representar de forma eficiente las diferentes disciplinas de
la ciencia y la investigacin a partir de la literatura cientfica compilada por Scopus.
La Figura 1 muestra la correlacin existente entre el valor del parmetro de resolucin y el
nmero de comunidades o clsteres proporcionados por el algoritmo de VOSViewer a lo largo de las
diferentes pruebas ejecutadas. Atendiendo a nuestros propsitos de visualizacin, una solucin
aportando alrededor de 250-300 clsteres resultara efectiva para representar la estructura de la
ciencia eficazmente. Adems, se estim que con independencia de la solucin final escogida, el
tamao mnimo de clster no podra ser inferior a 10 revistas, garantizando de esta forma una serie
de grupos temticos con un mnimo de consistencia y delimitacin. Una vez analizados los
resultados de las diferentes pruebas, se consider que el parmetro de resolucin con valor 15,
aportando 270 clsteres tiles con ms de 10 revistas (mientras otros 848 quedaban por debajo del
umbral), resultaba ser una solucin ptima para la elaboracin del cienciograma que representara la
estructura de Scopus.

531
593
662
723
787
848
904
973
1043
1120
1170
174 200 225 234
261 270
297 308
337 348
367
0
200
400
600
800
1000
1200
1400
10 11 12 13 14 15 16 17 18 19 20
N
m
e
r
o

d
e

C
l
s
t
e
r
e
s
Parmetro de Resolucin
VOS VOS Umbral 10

Figura 1: Nmero de clsteres por parmetro de resolucin con y sin umbral 10

En la clasificacin original de la plataforma SJR, sus 18891 revistas se distribuyen entre un
total de 304 categoras temticas, con un nmero medio de revistas por clster de 62,14. Nuestra
propuesta, en base al algoritmo de VOSViewer con parmetro de resolucin 15 y un tamao mnimo
de clster de 10 revistas, arroj un nmero medio de revistas que asciende a 65,66 y que, por lo
tanto, se antoja bastante similar a la distribucin de revistas por categoras de la clasificacin

269
original del SJR. Las distribuciones referentes al nmero de revistas clasificadas y al nmero medio
de revistas por clster a lo largo de los distintos parmetros de resolucin configurados pueden
observarse en las Figuras 2 y 3 respectivamente.

18271
17729
17135
16400
16600
16800
17000
17200
17400
17600
17800
18000
18200
18400
10 11 12 13 14 15 16 17 18 19 20
N
m
e
r
o

d
e

C
l
s
t
e
r
e
s
VOS Umbral 10

Figura 2: Nmero total de revistas clasificadas

105,01
91,06
80,36
77,00
68,57
65,66
59,48
56,83
51,70
49,61
46,69
0
20
40
60
80
100
120
10 11 12 13 14 15 16 17 18 19 20
N
m
e
r
o

d
e

C
l
s
t
e
r
e
s
VOS Umbral 10

Figura 3: Nmero medio de revistas por clster

Al mismo tiempo que el nmero de clsteres generados por el algoritmo se incrementa al
aumentar el valor del parmetro de resolucin, si aplicamos el umbral de 10 revistas como tamao
mnimo de clster, comprobamos que se incrementa tambin el nmero de clsteres que no
superan dicho umbral y que, por consiguiente, no son tiles para nuestros propsitos. En otras
palabras, existe correlacin positiva entre el incremento del valor del parmetro y el aumento del
nmero de clsteres tanto que superan el umbral como que no. En relacin con el nmero de
revistas asignadas, tal como afirman los creadores de VOSViewer, todas las revistas son asignadas a
alguna comunidad o grupo durante el procedimiento de clustering. No obstante, si comparamos el
incremento del parmetro de resolucin con el total de revistas asignadas a clsteres que superen el
umbral de 10 como tamao mnimo, entonces encontraremos que existe una correlacin negativa
entre ambas variables.
El ltimo paso de nuestro mtodo est relacionado con el etiquetado de los diferentes
clsteres o comunidades detectadas por el algoritmo de VOSViewer. Para tal fin nos propusimos
reutilizar los nombres o etiquetas de las categoras originales del SJR, asignando a cada clster el
nombre de las etiquetas ms repetidas y derivadas de las revistas incluidas. La frecuencia de
aparicin de dichas etiquetas fueron transformadas en porcentajes y en pesos tf-idf (Salton &
Buckley, 1988). A continuacin, las categoras fueron ordenadas conforme a los pesos tf-idf y se
seleccionaron slo aquellas que representaban al menos un 33% del conjunto total de categoras

270
citadas por las revistas incluidas en cada clster para su delimitacin temtica. En el proceso de
etiquetado se desecharon todas las categoras originales marcadas como Miscelneas o
Multidisciplinar. Este hecho provoc que algunos clsteres tuvieran que ser etiquetados a posteriori,
utilizando para ello una combinacin de etiquetas de las categoras SJR originales junto con
trminos significativos extrados del ttulo de las revistas agrupadas en los clsteres.
Antes de continuar, conviene destacar dos asuntos importantes derivados del proceso de
etiquetado desarrollado en nuestro mtodo. En primer lugar, el uso de etiquetas de categoras
prediseadas dio lugar a la aparicin de varios clsteres nombrados con exactamente las mismas
etiquetas. Estos clsteres fueron fusionados en otro clster nuevo, al considerarse que sus revistas
abarcaban temas anlogos y colindantes. Como consecuencia, el esquema temtico inicial generado
en base al algoritmo de VOSViewer deriv en un nuevo esquema temtico basado en las etiquetas de
las categoras y compuesto por un total de 219 categoras temticas. En segundo lugar, habra que
resaltar que la multi-asignacin de revistas no proviene del funcionamiento del algoritmo
propiamente dicho, sino que es una consecuencia de nuestro proceso de etiquetado, que permite
asignar una revista a ms de una categora provocando un solapamiento en determinadas categoras
temticas. No obstante, esta multi-asignacin no resulta demasiado elevada. As, si observamos la
Figura 4, descubrimos que alrededor de un 60% de las revistas fueron asignadas a una sola categora
temtica, mientras que cerca de un 30% se asignaron a dos categoras, casi un 7% a tres categoras y
un valor casi residual de revistas fueron asignadas a cuatro categoras.

0
2000
4000
6000
8000
10000
12000
1 2 3 4
N
m
e
r
o

d
e

R
e
v
i
s
t
a
s
Nmero de Categoras

Figura 4: Asignacin de revistas a categoras

3 Resultados y Discusin

La clasificacin final del conjunto de revistas analizadas y sometidas al proceso de clustering
comentado, puede consultarse en la siguiente direccin web:
http://www.scimago.es/benjamin/vos15_classification.pdf
Desde el punto de la visualizacin de la informacin a continuacin mostramos y analizamos
de forma breve, por las limitaciones lgicas de espacio, el cienciograma completo que representa la
clasificacin general obtenida, as como el de otras disciplinas que se pueden distinguir a simple
vista.

271

Figura 5: Cienciograma de revistas Scopus

El cienciograma de la Figura 5 muestra cmo se agrupan las revistas de la base de datos Scopus
en base a sus medidas de citacin, cocitacin y coupling. El tamao de las esferas (revistas) y de sus
etiquetas, es proporcional a su grado de interaccin con el resto. A mayor interaccin, mayor
tamao. El color de cada esfera muestra su adscripcin, es decir, el clster (categora) al que ha sido
adscrita cada revista mediante el algoritmo de Vosviewer (VOS). El cienciograma est construido en
base a los principios de VOS, que puede ser considerado como una especie de MDS
(Multidimensional Scaling) ponderado mediante proximidades y pesos, que evita los dos
problemas/artefactos caractersticos del MDS: la tendencia a colocar los tems ms importantes en el
centro, y la propensin a crear representaciones circulares (Eck, Waltman, Dekker, & Berg, 2010).
Esto se consigue haciendo que la proximidad entre dos tems sea igual a la inversa de su similaridad,
y que su peso sea igual a su similaridad.
Grosso modo, si nos fijamos en el cuerno que aparece en la parte inferior del cienciograma, de
color marrn claro, observaremos como es en ese sitio donde se agrupan las revistas de
Matemticas. Siguiendo el sentido de las agujas del reloj, y por tanto a su izquierda, podemos
observar de color rosa y verde a distintos tipos de Ingenieras, la Fsica de color amarillo, justo por
encima de ella, y sobre esta ltima a la Agricultura. En el cuerno superior, y justo encima de la
Agricultura, encontramos las Neurociencias, la Psicologa, la Medicina y la Biologa. Desde esta
posicin y siguiendo de nuevo el sentido de las agujas del reloj, podemos detectar la Sociologa, la
Lingstica, la Historia y la Literatura (extremo derecho del cienciograma). Siguiendo el
cienciograma hasta nuestro punto de origen detectamos la Economa, la Documentacin, y la
Ciencias de la Computacin, que conectan con las Matemticas.

272

Figura 6: Cienciograma de revistas de Matemticas de Scopus

La Figura 6 muestra claramente cmo se agrupan y se estructuran las revistas de Matemticas
en base a sus relaciones de citacin. Si se observa de forma detenida, se puede ver como en la parte
inferior aparecen las revistas de Matemticas bsicas y cmo, a medida que se asciende en el
cienciograma, empiezan a aparecer las revistas de Matemticas aplicadas, llegando a mezclarse con
las de Ciencias de la Tierra, Fsica y Astronoma en la zona superior izquierda, y con las de Ciencias
de la Computacin en el rea superior derecha.
Otras disciplinas, como ocurre con Library & Information Sciences (LIS), representada por
revistas como JASIST o Scientometrics que se sitan en el centro de la Figura 7 en color verde, no se
muestran tan cohesionadas ni forman un clster tan bien definido como suceda con las
Matemticas en la figura anterior.

Figura 7: Cienciograma de revistas de Library & Information Science de Scopus

Esta dispersin de las revistas de LIS, al igual que ocurre con muchas otras disciplinas, se debe
fundamentalmente a que muchas de estas revistas son interdisciplinares y acaban publicando

273
contenidos que pertenecen a diferentes disciplinas cientficas del mismo rea. Desde el punto de
vista de la visualizacin de la informacin, esto hace que las revistas de esta disciplina aparezcan
cerca y, por tanto, mezcladas con otras de Ciencias de la Computacin, Gestin, Planificacin, etc.
Este efecto disgregador de las revistas de una disciplina se ve adems aumentado por la necesidad y
obligatoriedad de tener que representar los cienciogramas en dos dimensiones (2D), puesto que su
fin ltimo es ser visualizados mediante una pantalla de ordenador de forma esttica, o a travs de un
soporte como el papel. Esto provoca que la dimensin profundidad (Z) desaparezca, y que disciplinas
que claramente estn separadas, es decir, lejos de otras en un cienciograma en tres dimensiones,
acaben estando juntas e incluso mezcladas, en otro de 2D.

Conclusiones

La visualizacin de la informacin es una herramienta muy potente para el anlisis y
corroboracin de resultados en favor de la clasificacin. No obstante, por si sola, no puede ni debe
ser utilizada como nica herramienta, pues la multidisciplinariedad e interdisciplinariedad de las
unidades que se representan, en combinacin con las limitaciones propias de un espacio de 2
dimensiones (papel o pantalla de ordenador) provocaran un falseamiento de los resultados. Por ello,
al igual que hacemos en este trabajo, recomendamos generar esquemas de clasificacin tradicionales
apoyados y validados mediante tcnicas de visualizacin de informacin.
La propuesta aqu realizada facilita la creacin de un nuevo esquema de clasificacin
equilibrado en cuanto a la distribucin de revistas por categoras, nmero de categoras tiles, y
concentracin moderada de revistas en las categoras o grupos temticos con mayor poder de
atraccin. As, en un trabajo desarrollado anteriormente (Gmez-Nez, Vargas-Quesada, Moya-
Anegn, & Glnzel, 2011) basado en un proceso iterativo de anlisis de referencias bibliogrficas
citadas por las revistas del SJR, tan slo cinco categoras resultaron suficientes para aglutinar un 25%
de las 14166 revistas clasificadas. Con la propuesta de clasificacin que presentamos aqu, se
necesitan 18 categoras para alcanzar algo ms de ese 25% de revistas clasificadas. Teniendo en
cuenta que el nmero de revistas ahora es bastante ms elevado (17729), este asunto adquiere an
mayor importancia, puesto que ese amplio margen podra favorecer todava ms las
concentraciones de revistas en categoras con mayor poder de atraccin.

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276
INVESTIGAO DA REGULARIDADE E PRODUTIVIDADE DE NOMINALIZAES DEVERBAIS EM
CARTAS CIENTFICAS EM LNGUA PORTUGUESA

VNIA LISBA DA SILVEIRA GUEDES
[email protected]

MARIA DE FTIMA SOUSA DE OLIVEIRA BARBOSA
[email protected]

MARIA JOS VELOSO DA COSTA SANTOS
[email protected]

Resumo O estudo investiga a recorrncia de nominalizaes deverbais em cartas cientficas em lngua
portuguesa, do arquivo pessoal do mdico e entomologista brasileiro ngelo Moreira Costa Lima (18871964),
visando a determinar os graus de produtividade das nominalizaes e observar suas funes de ndice e
estratgias de polidez na comunicao cientfica. A pesquisa situa-se na fronteira entre a Lingustica e a
Cincia da Informao e considera como referencial terico a anlise crtica do discurso na Sociolingustica,
assim como a indexao de assuntos e a comunicao cientfica na Cincia da Informao. Objetiva contribuir
para maior compreenso dos fenmenos que norteiam a escrita em cartas cientficas e confirmar os resultados
de pesquisa, apresentados em 2012, na qual foram analisadas cartas trocadas pela cientista Bertha Lutz (1894-
1976). A hiptese de que as nominalizaes em [-o] so predominantes em cartas cientficas e exercem
funes de ndice de assuntos, devido s suas frequncias de uso ligadas ao grau relativo de carga semntica.
As cartas foram digitalizadas e transformadas em texto pelo software ABBYY Converter". As palavras foram
processadas pelo software RankWords2.0, que produziu uma lista de frequncia de palavras para verificao da
recorrncia de nominalizaes e os graus de relevncia de suas funes de ndice. Do ponto de vista
Pragmtico, discute-se o processo no qual o pesquisador-autor distanciado do texto e o evento apresentado
como fato, revelando adequao s convenes estabelecidas pelas comunidades cientficas discursivas e
salientando a polidez na comunicao entre pesquisadores. Finalmente, observa-se a predominncia da
recorrncia das nominalizaes em [-o] na escrita das cartas analisadas e suas funes de intensificao da
carga semntica e estratgias de impessoalizao. Os dados obtidos corroboram a hiptese preestabelecida e
apontam para a relevncia das abordagens terica e descritiva nominalizao deverbal nos estudos de
indexao de assuntos e de polidez na comunicao cientfica.

Palavras-chave Escrita cientfica. Indexao. Nominalizao. Polidez. Comunicao Cientfica.

Abstract The study investigates the recurrence of deverbal nominalizations in scientific letters in Portuguese
language from the personnel file of the Brazilian medical and entomologist Angelo Moreira Costa Lima (1887-
1964) in order to determine the productivity of nominalizations and observe their index functions and
politeness strategies in scientific communication. The research is located on the border between Linguistics
and Information Science and considers as theoretical basis the discourse critical analysis in Sociolinguistics, as
well as subject indexing and scientific communication in Information Science. The aim is to contribute to the
understanding of the phenomena concerned about the scientific writing and to confirm the results of the
research presented in 2012, which were analyzed scientific letters exchanged by the scientist Bertha Lutz
(1894-1976). The hypothesis is that nominalizations in [-o] are prevalent in scientific letters and develops
index term function, due to their use frequency. From the point of view Pragmatic, discuss the process of
nominalization as impessoalization's mark, denoting strategy of politeness, since the researcher-author is
distanced from the text and the event is presented as fact, revealing the adequacy to conventions established

277
by scientific communities and politeness in scientific communication. The letters were processed by the
software RankWords2.0 and thus was produced a frequency list of words to observe the recurrence of
nominalizations and the degree of relevance of their index functions. Finally, the results reveal predominance
of nominalizations in [-o] in the analyzed letters and certificate their index terms and impessoalization
strategies functions. The data confirm the hypothesis predetermined and indicate relevance of theoretical and
descriptive approaches to the deverbal nominalization in the subject indexing researches and politeness
studies in scientific communication.

Keywords Scientific writing. Indexing. Nominalizations. Politeness. Scientific communication.

Introduo

Este estudo desenvolve uma anlise lingustica e documentria do gnero discursivo cartas
cientficas com o propsito de contribuir para a compreenso de fenmenos informativos ligados
escrita cientfica do gnero, do ponto de vista da indexao temtica e da comunicao cientfica no
mbito da Organizao do Conhecimento (OC) na Cincia da Informao (CI) e da anlise crtica do
discurso, na Sociolingustica.
No contexto CI, a frequncia de uso de itens lexicais est diretamente ligada ao grau de
informatividade do termo. Nesse sentido, investiga-se a recorrncia de nominalizaes deverbais em
cartas cientficas, em lngua portuguesa, do arquivo pessoal do mdico, entomologista e pesquisador
brasileiro ngelo Moreira Costa Lima (1887-1964), visando a observar suas funes de ndices
temticos e estratgias de polidez na comunicao cientfica. A ttulo de enriquecimento, tambm
investigada a frequncia de uso de outras categorias lexicais (tais como: verbos, pronomes,
advrbios), no corpus analisado, que designam estratgias de polidez na comunicao cientfica.
A motivao para a pesquisa prende-se, especialmente: (i) na busca de fundamentos tericos e
metodolgicos que estabeleam a interface entre a CI e a Lingustica para a identificao do grau de
informatividade de itens lexicais na escrita cientfica; (ii) na investigao da frequncia de uso de
itens lexicais como marca de impessoalizao, denotativa de estratgia de polidez na comunicao
cientfica e na (iii) investigao da frequncia de uso da nominalizao.
Sob essas perspectivas, a estrutura do texto se compe das sees apresentadas a seguir. A
primeira introduz o trabalho de forma panormica. A segunda lana os objetivos estabelecidos para
a pesquisa. Os pressupostos tericos acham-se resumidos na terceira seo. A seguir, a metodologia
descreve os critrios utilizados para a constituio da amostra e as etapas do procedimento de
anlise dos dados. Na quinta seo, apresentam-se a descrio e a discusso dos resultados,
utilizando-se tabelas para a sintetizao dos dados e confrontao dos padres importantes
encontrados. As consideraes finais e sugestes para pesquisas futuras encerram o texto na seo 6,
seguidas das referncias ligadas aos documentos citados.

1 Objetivos

Os objetivos delineados para o estudo, divididos em geral e especficos, so elencados a seguir.

278
1.1 Objetivo geral

Contribuir para o enriquecimento do arcabouo terico-metodolgico do processo de
indexao temtica e comunicao cientfica no mbito da OC na CI.

1.2 Objetivos especficos

Determinar a frequncia de uso de nominalizaes deverbais com os sufixos
nominalizadores [-o], [-mento] e [-ncia];
verificar o grau alto de informatividade da escrita de cartas cientficas por meio da
frequncia de uso de nominalizaes deverbais;
observar a funo da nominalizao como estratgia de polidez na comunicao
cientfica;
analisar o uso de outras classes de itens lexicais como estratgias de polidez;
intensificar pontos de interface entre a Lingustica, especialmente a Anlise Crtica do
Discurso em gneros cientficos, e a OC na CI.

2 Pressupostos tericos

Nessa seo, so abordados brevemente alguns pressupostos tericos importantes para o tema
de pesquisa do presente trabalho. Inicialmente, so apresentados conceitos sobre a Anlise Crtica
do Discurso, na Lingustica, e a Anlise de Domnio na OC. Em seguida, discute-se a escrita cientfica
luz da Teoria da Polidez. Completando essa seo, abordam-se a comunicao cientfica e as
estratgias de polidez.

2.1 Anlise Crtica do Discurso e Anlise de Domnio

O estabelecimento de pontos de interface entre a Lingustica e a CI, sobretudo no que se refere
abordagem terica e descritiva ligada ao grau de informatividade de itens lexicais na escrita
cientfica, remonta ao final da dcada de 60 do sculo XX. Desde ento, estudos vm sendo
desenvolvidos na tentativa de ampliao e intensificao do grau de interdisciplinaridade dessas
reas do conhecimento.
Na CI, a anlise documentria vem contando com a produo de conhecimento, ligado
anlise e indexao da informao, que evidencia a importncia das cincias da linguagem no
processo de anlise, representao e organizao do conhecimento.
Hjrland e Albrechtsen (1995), do ponto de vista da Anlise de Domnio na Organizao do
Conhecimento, ressaltam a relevncia dos estudos sociolingusticos para as pesquisas sobre o
significado textual, mencionando as contribuies de autores como Bakhtin (1992), Halliday (1994),
entre outros.
Hjrland (2002) indica onze abordagens de anlise de domnios discursivos, dentre as quais
so de interesse desta pesquisa:

a) pesquisas sobre indexao e recuperao da informao em domnios especializados;

279
b) produo e interpretao de estudos de estruturas e instituies na comunicao
cientfica tambm em domnios especializados;
c) estudos de gneros de documentos em domnios do conhecimento;
d) estudos crticos e epistemolgicos de diferentes paradigmas, hipteses e interesses em
domnios do conhecimento;
e) estudos terminolgicos, linguagens para fins especiais e anlise do discurso em reas
especficas do conhecimento.

Hjrland e Albrechtsen (1995) sustentam que a disciplina anlise de domnio compreende o
entendimento das reas do conhecimento por meio da anlise das comunidades de discurso.
Hjrland & Albrechtsen (1995), rom (2003), Hyland (2008), entre outros, reforam que a
representao e a organizao do conhecimento devem ser baseadas na escrita e na terminologia
adotadas pelas comunidades discursivas.
Sob essa perspectiva, Guedes (2010) ao estabelecer a interface entre a Lingustica e a Cincia
da Informao apresenta um estudo sobre o fenmeno lxico-morfolgico de nominalizao
deverbal presente na escrita cientfica na rea de indstria de vinhos.
A nominalizao, segundo Baslio (2007, p.77), refere-se ao conjunto de processos que
formam substantivos a partir de adjetivos e, sobretudo, de verbos. Analisando os aspectos
discursivos, a autora destaca (i) as funes envolvidas com a expresso de atitudes subjetivas em
relao ao objeto do enunciado e (ii) as funes associadas adequao de itens lexicais ao gnero de
discurso e construo do enunciado. A autora esclarece que a funo semntica da nominalizao
a de denominao, possibilitando a referncia a um processo verbal, bem como a um evento, uma
ao, um estado (Baslio, 2007, p. 83).
Do ponto de vista da Lingustica e da indexao na Bibliometria, Guedes e Santos (2011)
investigam a frequncia de uso de nominalizaes deverbais na escrita de resumos de cartas
cientficas em lngua portuguesa, selecionadas do arquivo pessoal da cientista brasileira Bertha Lutz.
Guedes, Barbosa e Santos (2012) estudam a frequncia de uso de nominalizaes deverbais em
lngua portuguesa como estratgia lingustica de polidez em resumos de cartas cientficas com
propsito comunicativo.

2.2 A Polidez na escrita cientfica

Na escrita cientfica a forma como os autores escrevem sobre seu tema e defendem seus
pressupostos revelam suas competncias discursivas nas reas de conhecimento especficas. No
discurso cientfico bem sucedido os autores buscam encaixar sua escrita em um mundo social
particular, atravs de um discurso aprovado por seus pares (cf. Hyland e Salanger-Meyer, 2008). Sob
essa perspectiva, os autores inferem que os textos acadmicos so distinguidos no somente pelos
tpicos e vocabulrios especializados, mas tambm pelos diferentes apelos ao background do
conhecimento, meios distintos de estabelecimento da verdade e de engajamento com leitores.
Consequentemente, Hyland & Salanger-Meyer afirmam que o rtulo cientfico confere
confiabilidade ao mtodo e prestgio aos seus usurios e que o texto cientfico tem a funo de
superfcie para a discusso das ideias dos autores.
Do ponto de vista dos gneros discursivos acadmicos, a literatura destaca alguns aspectos
que caracterizam a sua escrita, que deve ser explcita, lexicalmente densa, impessoal, nominalizada,
cautelosa, intertextual e referenciada (Swales,1990; Hyland, 2009; Eggins, 2004).
O presente estudo pretende demonstrar particularmente que a correspondncia cientfica
apresenta-se como um espao de interao entre os cientistas, marcado por classes de itens lexicais,
denotadores de conceitos relevantes no que tange a sua indexao, e de impessoalizao, os quais

280
revelam o uso de estratgias de polidez distintas na comunicao cientfica. Nesse cenrio, salienta
especialmente o uso da nominalizao, na medida em que reconhecida como estratgia discursiva
acadmica tanto de impessoalizao como tambm de representao da informao contida na
escrita cientfica das cartas em anlise.
Gil-Salom e Soler-Monreal (2009) citam os trabalhos de Garcs-Conejos (1998); Hyland (2005);
Kuo (1999); Myers (1989; 1992) que aplicam a Teoria da Polidez em estudos da linguagem com
propsitos especficos. Na Teoria da Polidez, Goffman (1967, p. 76-77) definiu a noo de Face e
Trabalho de Face (facework) como o valor social positivo que uma pessoa efetivamente reclama para
si, atravs daquilo que os outros presumem ser uma linha por ela tomada durante um contato
especfico.
A preservao da face est relacionada com a cooperao e com a solidariedade partilhada
entre falantes cujas relaes so construdas em conversaes face a face, ou distncia, e resultam
em um trabalho discursivo, mediado por estratgias de polidez (Barbosa, 2010, p. 57). Deve-se
observar que, quanto mais indireto o ato comunicativo, menos risco de ameaa face. Para a
estrutura do texto cientfico, a indiretividade e a impessoalidade so marcas de preservao da face.

2.3 A comunicao cientfica e as estratgias de polidez

O desenvolvimento de uma rea cientfica e sua maturidade caracterizado pela publicao
de um trabalho escrito, sendo esta considerada, por muitos autores, to importante quanto a prpria
pesquisa que lhe deu origem. Antes da publicao dos resultados, a pesquisa cientfica
exaustivamente discutida, criticada e avaliada pela comunidade cientfica que corrobora ou refuta os
resultados, ou ainda, estabelece novas perspectivas para esse ou aquele campo de interesse. Aps o
reconhecimento de sua pertinncia e legitimao, a pesquisa torna-se conhecimento cientfico e
comunicado, dentre outras formas, por meio de publicaes, formando o que vem a ser a literatura
de um determinado campo cientfico, que Price (1976, p.2) reconhece como a manifestao
exteriorizada do conhecimento cientfico.
Para Ziman (1979) no existe cincia sem sua comunicao e Meadows (1999, p. 15) preconiza
que os processos de comunicao so basilares para a natureza e prtica da cincia, a tal ponto que
considera a comunicao o corao da cincia. Gonzlez de Gomes e Machado (2007) acrescentam
que a comunicao cientfica considerada constituinte de um campo de conhecimento e de seus
resultados, enquanto Bourdieu (1983) entende que o cientista reconhecido pelos pares por sua
reputao que depende de sua produo cientfica comunicada.
Sendo assim, considera-se que a comunicao vital para a cincia porque garante a
divulgao dos resultados de pesquisas, a proteo da propriedade intelectual, a aceitao dos
resultados pelos pares e a consolidao do conhecimento.
Entende-se por comunicao cientfica a troca de informaes entre os membros da
comunidade cientfica, incluindo

atividades associadas produo, disseminao e uso da informao,
desde o momento em que o cientista concebe uma ideia para pesquisar, at
que os resultados de sua pesquisa sejam aceitos como constituintes do
conhecimento cientfico. (Garvey, 1979, p. 36).

Ziman (1979) considera que a comunicao na cincia se d de forma sistmica. A cada elo
(cientista) do sistema a informao veiculada criticada, aperfeioada e assimilada, dando margem
criao de um novo conhecimento. Nessa perspectiva, Vickery (1963) considera a cincia cumulativa
porque est integrada em um sistema de comunicao onde cada nova pesquisa, depois de analisada,
ordenada, correlacionada e trabalhada, anexada ao contexto de um corpo de conhecimento

281
cientfico organizado. E este, por sua vez, na qualidade de informao cientfica, a sada e fonte de
retroalimentao do sistema.
Meadows (1999) identifica dois canais no processo de comunicao cientfica: canais formais
ou estruturados, e canais informais ou no estruturados. Os canais formais so caracterizados, quase
sempre, pelo uso de fontes escritas, publicadas de forma impressa, como por exemplo, um artigo
publicado em um peridico cientfico. Os canais informais so caracterizados pelo uso de fontes,
orais ou escritas, para as comunicaes interpessoais. Incluem-se os telefonemas, as cartas trocadas
entre cientistas, as visitas a laboratrios e instituies, as reunies de grupos locais ou conversas de
corredores.
Para o interesse desse trabalho sero estudados os canais informais de comunicao cientfica,
especificamente as cartas do cientista ngelo Moreira da Costa Lima, trocadas com seus pares,
contemporneos, j que a correspondncia cientfica apresenta-se como espao de interao entre
os cientistas.
As cartas so consideradas textos cientficos e, como tal, constituem poderosas foras
comunicativas tendo papel basilar para a comunicao na cincia. Utilizadas para a transmisso de
conhecimento e difuso de ideias, eram trocadas entre pesquisadores e cientistas com a finalidade
de relatar pesquisas originais para serem discutidas, opinadas e avaliadas pelos pares (Bazerman,
2006).
A construo de textos cientficos, no caso as cartas, so regidas por estratgias de polidez e
atendem aos princpios da comunicao cientfica. Portanto, torna-se vlido analis-las dentro deste
contexto. Com base nessas consideraes, o uso de nominalizaes pode ser compreendido como
estratgia discursiva visando a preservar as relaes interpessoais entre cientistas. Alm disso,
outras classes de itens lexicais reforam a adequao da escrita cientfica s exigncias
predeterminadas para o discurso cientfico.
Neste estudo prope-se analisar a frequncia de uso de distintos padres de estruturas
lingusticas na escrita de cartas cientficas na rea de Entomologia, sob a perspectiva da
Sociolingustica e da Anlise de Domnio na Organizao do Conhecimento.

3 Material e mtodo

Nesta seo, apresenta-se o material utilizado para a pesquisa, os procedimentos de anlise e
os critrios que nortearam o processamento das 63 cartas que formam a amostra da
correspondncia cientfica de ngelo Moreira Costa Lima.

3.1 ngelo Moreira da Costa Lima

ngelo Moreira da Costa Lima nasceu no Rio de Janeiro em 29 de junho de 1887. Em 1904,
iniciou o curso de Medicina na ento Faculdade de Medicina do Rio de Janeiro. Ainda no terceiro
ano, submeteu-se a um concurso proposto por Oswaldo Cruz para o cargo de auxiliar acadmico para
o Servio de Profilaxia da Febre Amarela do Departamento Nacional de Sade Pblica (1910-1913).
Depois de diplomado em Medicina, continuou na rea de sade pblica, tendo feito parte da
"embaixada sanitria", expedio comandada por Oswaldo Cruz para combater a febre amarela no
estado do Par, onde tambm trabalhou no controle da malria. No Par, foi incentivado pelo ento
diretor do Museu Paraense Emlio Goeldi a iniciar pesquisas no campo da Entomologia, campo que
pesquisou at a sua morte, em 1964. A partir dessa experincia, foi convidado por Oswaldo Cruz para
fazer parte da equipe de Manguinhos, iniciando suas pesquisas no laboratrio do cientista Adolpho
Lutz.

282
Em 1914, prestou concurso para a cadeira de Entomologia Agrcola da Escola Superior de
Agricultura que hoje constitui a Universidade Federal Rural do Rio de Janeiro, optando por assumir o
cargo de professor nessa instituio. Por um curto perodo de tempo, foi chefe do Laboratrio de
Entomologia Agrcola do Museu Nacional (1916-1917).
Com uma produo cientfica de mais de 300 trabalhos, destacando-se entre esses a obra
Insetos do Brasil, constituda de 12 tomos, publicados entre os anos de 1939 e 1962, at hoje
referncia acadmica em nvel nacional e internacional.

3.2 Procedimentos Metodolgicos

A pesquisa caracterizada como pesquisa exploratria e foi realizada de acordo com as etapas
a seguir.

Delimitao da amostra - foram selecionadas aleatoriamente 63 cartas, da
correspondncia cientfica do arquivo pessoal de ngelo Moreira Costa Lima (1887
1964). As cartas selecionadas foram digitalizadas e transformadas em texto por meio
do software de reconhecimento tico de caracteres (ocr) ABBYY Converter" que
reconheceu mais de 90% dos caracteres e est disponvel em
http://www.abbyy.com.br/finereader-windows/;
contagem das palavras - foi utilizado o software contador de palavras Rank Words 2.0,
em <http://download.cnet.com/Rank-Words3000-2279_4-10909564.html>;
listagem e ordenao das palavras - o software produziu uma listagem em 3 colunas
assim distribudas: i) palavras, ii) frequncia em ordem decrescente de ocorrncia e
iii) rank das palavras;
clculos matemticos e estatsticos - os dados foram plotados em planilhas utilizando-
se o Software Microsoft Office Excel 2003 e foram obtidos os seguintes produtos: ranking
de nominalizaes deverbais, ranking de outras classes de palavras denotadoras de
polidez e ranking de palavras com alto grau de carga semntica;
identificao dos padres de nominalizaes - foram investigados os seguintes
padres de nominalizaes deverbais: (i) [X] v[ [X] v -o ] N, (ii) [X] v[ [X] v-
mento] N, (iii) [X] v[ [X] v -ncia ] N;
clculo da produtividade das nominalizaes - foi calculada a produtividade relativa
de cada padro de formao de nominalizaes deverbais, considerando-se a
frequncia relativa das estruturas nominalizadas;
controle de formas no singular e plural foram consideradas as frequncias de
nominalizaes somando-se suas formas no singular e no plural;
relevncia das nominalizaes- foram investigadas as frequncias de uso das
nominalizaes deverbais como indicativo de graus distintos de relevncia;
estratgia de polidez verificao do uso de nominalizaes como fenmeno de
impessoalizao e estratgia de polidez na comunicao cientfica. Foram tambm
identificadas outras classes de itens lexicais denotadoras deste fenmeno.

283
4 Apresentao e Discusso dos Resultados

Na escrita das cartas cientficas que compem o corpus em anlise foram identificadas 87
nominalizaes deverbais, observando-se o uso recorrente de distintos padres dessas estruturas
lingusticas de acordo com:

(i) [X] v [ [X] v -o ] N;
(ii) [X] v [ [X] v -mento] N;
(iii) [X] v [ [X] v -ncia ] N.

Os quadros 1, 2 e 3, a seguir, mostram a produtividade de nominalizaes em [-o],
[-mento] e [-ncia].

Rank
Nominalizaes em -
O Frequncia Rank
Nominalizaes
em ES Frequncia
164 Publicao 9 408 Recomendaes 4
180 Coleo 9 415 preocupaes 4
208 Confeco 8 438 instituies 4
256 Situao 6 1398 Saudaes 1
357 Educao 5 1403 satisfaes 1
394 Soluo 4 1449 resolues 1
462 Determinao 4 1528 publicaes 1
588 Indicao 3 1568 preparaes 1
839 Oposio 2 1625 perturbaes 1
841 Operao 2 1920 instalaes 1
915 informao 2 1936 informaes 1
917 Infeco 2 1945 indicaes 1
967 Exposio 2 2315 descries 1
968 Expedio 2 2396 contribuies 1
1002 eletrocoagulao 2 2444 complicaes 1
1008 Disposio 2 2475 cogitaes 1
1027 Descrio 2 2676 alteraes 1
1065 comunicao 2
1068 comparao 2
1071 colaborao 2
1072 classificao 2
1081 Cassao 2
1322 Suposio 1
1343 Solicitao 1
1380 seleo 1

1404 satisfao 1

1430 retribuio 1

1450 resoluo 1

1455 reproduo 1

1486 reedio 1

1731 observao 1

284
1733 obrigao 1

1766 multiplicao 1

1900 investigao 1

1904 introduo 1

1906 interveno 1

1916 instruo 1

1924 inscrio 1

1928 inoculao 1

2070 formao 1

2152 exceo 1

2156 evoluo 1

2249 edio 1

2264 divulgao 1

2266 distribuio 1

2414 considerao 1

2627 aspirao 1

Qaudro 1 - Produtividade de Nominalizaes em [o] e em [-es]

Rank
Nominalizaes em
-MENTO Frequncia Rank
Nominalizaes
em MENTOS Frequncia
407 reconhecimento 4 656 conhecimentos 3
469 conhecimento 4 789 pronunciamentos 2
775 recebimento 2 1040 cumprimentos 2
1573 preenchimento 1 1375 sentimentos 1
2216 entendimento 1 2218 ensinamentos 1
2324 desapontamento 1
2436 comprometimento 1
2441 comportamento 1
2715 aditamento 1

Quadro 2 - Produtividade de Nominalizaes em [mento] e em [-mentos]

Rank
Nominalizaes em
-NCIA Frequncia Rank
Nominalizaes
em NCIAS Frequncia
430 Luminescncia 4 1964 importncias 1
772 Referncia 2
920 Importncia 2
1050 correspondncia 2
1246 Urgncia 1
1452 Residncia 1
1572 Preferncia 1
1632 Permanncia 1

285
1937 Influncia 1
2144 Existncia 1
2147 Exigncia 1
2234 Emergncia 1
2624 assistncia 1
2760 Bioluminescncia 1

Quadro 3 - Produtividade de Nominalizaes em [ncia] e em [-ncias]

Analisando-se esses trs quadros, verifica-se que nas estruturas identificadas, houve a
predominncia de uso do padro de estruturas nominalizadas em [-o], total de 60 estruturas que
representam aproximadamente 69% (68,96%) do total de nominalizaes; seguido do padro de
estruturas em [-ncia], com o total de 14 estruturas (16,09%), e, por ltimo, do padro em [-mento],
totalizando 13 nominalizaes deverbais (14,94%). Vale lembrar que a variao de nmero, singular
e plural, foi controlada nessa amostra.
No universo de nominalizaes identificadas, verificou-se alta frequncia de uso dos seguintes
itens lexicais: publicao com frequncia 9; publicaes com frequncia 1. Em seguida, apresenta-se
coleo com frequncia tambm 9. Essas nominalizaes foram as mais recorrentes e so
lexicalmente densas em funo do tema discutido nas cartas, especialmente se somadas s palavras
elencadas no Quadro 4.
O quadro 4, a seguir indica as palavras relevantes quanto seu grau de informatividade.

Rank
Palavras
Relevantes Frequncia
177 Entomologia 9
172 Manguinhos 9
127 inseto 11
110 insetos 12
249 Insetos 7
128 espcies 11
273 Microlepidopteros 12
275 lagarta 6
279 Hexachaeta 6

Quadro 4 - Produtividade de palavras com alto grau de carga semntica

No quadro 4 foram identificadas as palavras Entomologia e Manguinhos com frequncia igual a
9, relevantes do ponto de vista do grau de informatividade nos textos processados. Tambm foram
selecionadas outras palavras com graus distintos de informatividade, tais como: inseto
com frequncia igual a 11, insetos com frequncia igual a 12, Insetos com frequncia 7, que controlada
a variao da primeira letra em maiscula e minscula e de formas no singular e no plural, totalizam
frequncia de uso 30, confirmando seu alto grau informativo e consequentemente funo de ndice
na indexao temtica do corpus em anlise. Foram identificadas ainda as palavras espcies tambm
com frequncia 11, Microlepidopteros com frequncia 12, lagarta e Hexachaeta com frequncia 6,
respectivamente.
O quadro 5, a seguir, mostra as estruturas lexicais indicadoras de estratgia de polidez na
escrita das cartas cientficas de Costa Lima.

286
Rank Palavras Frequncia
66 grato 20
73 prezado 18
796 prezados 2
1554 prezada 1
177 cordialmente 18
148 favor 10
168 prazer 9

Quadro 5 - Produtividade de palavras que denotam estratgia de polidez
Verifica-se que nas cartas analisadas so utilizados recursos que denotam estratgias de
polidez, sendo mais utilizada a palavra grato que apresenta a frequncia 20, seguida das palavras
prezado/prezada com frequncia 19 e cordialmente com frequncia 10.
Os dados obtidos apontam para a confirmao de que a frequncia de uso de estruturas
lingusticas permite inferncias sobre o grau de informatividade, ligado ao tema, e que as estratgias
de polidez marcam a escrita do gnero discursivo em foco, com propsito de comunicao cientfica.

Consideraes finais

O principal objetivo do trabalho ora apresentado foi o de contribuir para o enriquecimento do
arcabouo terico-metodolgico do processo de indexao temtica e comunicao cientfica no
mbito da Organizao do Conhecimento na Cincia da Informao. Acredita-se que os objetivos
propostos foram cumpridos na medida em que os resultados alcanados comprovam a hiptese
estabelecida e apontam para o uso frequente de nominalizaes deverbais para a representao de
conceitos relevantes, do ponto de vista da indexao, e para estratgia de polidez na comunicao
cientfica.
A anlise da escrita cientfica nas cartas trocadas pelo cientista ngelo Moreira Costa Lima
(1887-1964) com seus contemporneos aponta a predominncia de nominalizaes em [o] em
competio com as estruturas nominalizadas em [-ncia] e em [- mento].
A predominncia da produtividade de nominalizaes em [-o] na escrita das cartas em
anlise revela suas funes de intensificao da carga semntica do corpus e de impessoalizao
como estratgia lingustico de polidez, concluindo-se, portanto, que a escrita dessas cartas
nominalizada, impessoal e polida.
Sob essa perspectiva, os resultados obtidos indicam, tambm, que as cartas contm algumas
marcas discursivas que visam a preservar a face dos pesquisadores envolvidos na interao que se
estabelece na comunicao cientfica. Nesse sentido, verificou-se que as marcas de impessoalizao,
como estratgia de distanciamento do autor do texto, possibilitam melhor interao leitor-texto-
contexto. Observou-se ainda o uso frequente de outras classes de itens lexicais que permitem
afirmar que no gnero carta cientfica as regras de polidez so respeitadas.
Sendo assim, os dados obtidos, pela anlise das cartas cientficas trocadas em fins do sculo
XIX e primeira metade do sculo XX, revelam adequao aos princpios estabelecidos para a
comunicao cientfica, salientados na literatura sobre a teoria do gnero discursivo acadmico.
Em suma, esses resultados no conjunto so de grande relevncia, dada a funo de tais
estruturas de termos de indexao nos sistemas de representao, organizao e recuperao da
informao e do conhecimento na CI.
Finalmente, ressaltam-se que os dados obtidos corroboram a hiptese estabelecida e apontam
para a importncia das abordagens tericas e descritivas da nominalizao para os estudos da
polidez e identificao da carga semntica de itens lexicais na comunicao cientfica.

287
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Uma anlise de domnio a partir das percepes das comunidades cientficas do Brasil e da Espanha

JOS AUGUSTO CHAVES GUIMARES
Universidade Estadual Paulista Jlio Mesquita Filho- Departamento de Cincia da Informao
[email protected]

DANIELA DE OLIVEIRA MATOS
[email protected]

JUAN CARLOS FERNNDEZ-MOLINA
Universidad de Granada - Facultad de Documentacin y Comunicacin
[email protected]

JSSICA DE ARAJO LOPES
[email protected]

Resumo A anlise documental constitui, ao lado da catalogao de assunto e da indexao, uma das
abordagens tericas que subsidia a organizao do conhecimento, revelando uma construo terica de
influncia francesa, notadamente a partir dos estudos de Coyaud e de Gardin que, por sua vez, encontrou
considervel espao investigativo e desenvolvimento terico no Brasil e na Espanha. A vista disso, e em
continuidade a estudos anteriores, objetivou-se analisar, comparativamente, como se comporta o domnio
cientfico da anlise documental no Brasil e na Espanha, a partir dos autores que a prpria comunidade
discursiva considera como fundantes, no intuito de identificar realidades e/ou perspectivas de interlocuo.
Para tanto, adotou-se como procedimento de coleta de informaes um questionrio aberto enviado a um
grupo de 31 docentes/pesquisadores brasileiros e 33 espanhis, solicitando que informassem os autores
considerados fundantes, na rea. Aos dados aplicou-se a anlise de domnio, por meio da conjuno das
abordagens bibliomtrica e epistemolgica (Hjrland e Albrechtsen, 1995; Hjrland, 2002; Hjrland, 2004;
Tennis, 2003), e elaboraram-se redes de citao a partir da utilizao do software PAJEK. Os resultados
revelam, por um lado, ntidas lideranas investigativas em cada pas, como o caso de Moreiro Gonzlez, Pinto
Molina e Garca Gutierrez, na Espanha, ao lado do Grupo TEMMA (Smit, Tlamo, Kobashi, Lara, Cintra, Cunha,
Fujita e Guimares), no Brasil, pautado na concepo gardiniana. A dialogicidade entre ambos os espaos
ainda tmida, mas apresenta pontos de confluncia bastante significativos, como o caso de Lancaster, Foskett,
Dahlberg e Hjorland. Pode-se concluir que esse domnio cientfico enriqueceu-se pelas especificidades de cada
realidade nacional, e que tanto Brasil como Espanha conseguiram construir massa crtica nessa temtica,
sendo que a diversidade de referentes tericos entre ambos os pasesrevela uma rica possibilidade de dilogo e
complementaridade no espao hispano-americano, abrindo espao para interlocues mais abrangentes.

Palavras-chave Anlise documental. Organizao do conhecimento. Anlise de domnio.

Abstract Subject analysis can be considered one of the theoretical approches of knowledge organization and
reveals a strong French influence, specially from the pioneer studies of Coyaud and Gardin, with a special
development in Brazil and Spain. Considering those questions, this paper aims to analyze the behavior of the
scientific domain of subject analysis in Brazil in Spain, basing on the theoretical refentes more deeply
recognized by the discoursive community, in order to identify dialogical perspectives. A survey was applied to
a group of 31 subject analysis researches in Brazil and 33 in Spain and the data were treated by means of the
bibliometrical and epistemological approaches of domain-analysis (Hjrland e Albrechtsen, 1995; Hjrland,
2002; Hjrland, 2004; Tennis, 2003). Citation networks were elaborated by using the software PAJEK and the

290
results reveal clear research leaderships in both countries (Moreiro Gonzlez, Pinto Molina and Garca
Gutierrez, in Spain, and the research grupo TEMMA - Smit, Tlamo, Kobashi, Lara, Cintra, Cunha, Fujita and
Guimares in Brazil). The dialogical relationships between Brazil and Spain are still shy but it is possible to
identify points of confluence in authors such as Lancaster, Foskett, Dahlberg e Hjorland. It is possible to
conclude that the mentionned scientific domain has enriched itself with the specificities derived from each
national research reality in such a way that both Brazil and Spain could built a scientifc community under a
wide variety of theoretical influences. Such a reality allow us to point out a strong dialogical possibility in the
subject analysis scientific environment between Brazil and Spain, in a rich complimentary basis.

Keywords Subject analysis. Knowledge organization. Domain-analysis.

Introduo

A anlise documental constitui, ao lado da catalogao de assunto e da indexao, uma das
abordagens tericas que subsidia a organizao do conhecimento (Guimares, 2008, 2009; Guimares
& Sales, 2012; Guimares & Tennis, 2012, Guimares, Sales e Gracio, 2012), revelando uma construo
terica de influncia francesa, notadamente a partir dos estudos de Coyaud e de Gardin (Coyaud,
1966, Gardin, 1966 a,b, 1970, 1973, 1974, 1981) que, por sua vez, encontrou considervel espao
investigativo e desenvolvimento terico no Brasil e na Espanha.
Desse modo, tem-se uma operao de decomposio (anlise) e representao do contedo
informacional dos documentos, que pressupe um conjunto sistemtico e seqencial de
procedimentos que possam ser explicitados, sendo que a questo da explicitao dos procedimentos
consiste o ponto fulcral da concepo de anlise documental de Gardin, pautada em aportes
interdisciplinares (notadamente da Lingstica e da Lgica) necessitando, para tal, de um conjunto
de ferramentas, denominadas linguagens documentais (Gardin, 1981).
A anlise docuemntal, portanto, centra-se nas operaes lgico-lingusticas que envolvem os
procedimentos de decomposio do documento, com vistas identificao de seu contedo temtico
para uma posterior representao.
Como destaca Chaumier (1982), na anlise documental que reside efetivamente o cerne dos
problemas da rea de informao, pois ela que, em ltima instncia, conferir valor ao sistema
docuemental, uma vez que do conjunto de operaes de tratamento da informao utilizado na
cadeia documental que dependero os resultados obtidos na fase de recuperao. Desse modo, a
partir das operaes de anlise docuemtnal que se se torna possvel o efetivo uso da informao, na
medida em que da expresso de um contedo de forma sinttica e sem ambiguidades que
efetivamente se pode falar em recuperao da informao (Neet, 1989; Fox, 2005).
No caso brasileiro, a anlise documental, encontrou grande impulso a partir dos anos 80,
quando Johanna Smit criou, na Universidade de So Paulo, o Grupo de Investigao TEMMA, que
introduziu, no pas, os estudos de anlise documental a partir da matriz gardiniana e construiu uma
tradio de pesquisa centrada nos aspectos lingusticos, lgicos e terminolgicos que incidem sobre
a anlise documental (Vogel, 2007, 2009).No caso da Espanha, a influncia francesa se nota a partir
dos anos 90, com os trabalhos de Lpez Yepez e Izquierdo Arroyo, de matriz mais otletiana, e de
Moreiro Gonzlez, Pinto Molina e Garca Gutierrez, de matriz mais gardiniana.
Como se pode observar, a anlise documental constituiu, nos referidos universos acadmicos,
um domnio cientfico, caracterizando uma comunidade discursiva que centra suas investigaes em
uma temtica comum, guardadas as especificidades de cada pas (Hjrland, 1994; Hjrland e
Albrechtsen, 1995; Hjrland, 2005 e Tennis, 2003).
A vista disso, e em continuidade a estudos anteriores, objetivou-se analisar,
comparativamente, como se comporta o domnio cientfico da anlise documental no Brasil e na
Espanha, a partir dos autores que a prpria comunidade discursiva considera como fundantes, no
intuito de identificar realidades e/ou perspectivas de interlocuo.

291
1 Metodologia

Para tanto, adotou-se como procedimento de coleta de informaes um questionrio aberto
enviado a um grupo de 31 docentes/pesquisadores brasileiros e 33 espanhis (valendo-se dos
cadastros de ISKO-Brasil e de ISKO-Espaa). A esse grupo foi solicitado que informasse quais os
autores considerados fundantes, na rea, assim como aqueles pesquisadores que, em seu pas, so
considerados como referentes tericos. Obteve-se resposta de 20 (65%) docentes/pesquisadores
brasileiros (vinculados a 13 instituies) e de 20 (61%) docentes/pesquisadores espanhis
(vinculados a 9 instituies). Desse modo, obteve-se um total de 221 diferentes autores citados.
Aos dados aplicou-se a anlise de domnio, por meio da conjuno das abordagens
bibliomtrica e epistemolgica (Hjrland e Albrechtsen, 1995; Hjorland, 2002; Hjorland, 2004; Tennis,
2003), na medida em que essas se apresentam consistentes para analisar e caracterizar um domnio
cientfico, este entendido como reflexo de uma comunidade discursiva e do seu papel na cincia.
Desse modo, realizou-se anlise de redes de citao e de cocitao, cujos resultados foram dispostos
graficamente a partir da utilizao dos software PAJEK, sendo identificados, em vermelho, os autores
citantes e, em azul. Os autores citados que receberam ao menos 2 citaes, como se v nas figuras a
seguir.

Figura 1- Rede de Citaes: Brasil
1

1
Fonte: Elaborada pelos autores.

292

Figura 2 - Rede de Citaes: Espanha
2

Aplicando-se a Teoria de elitismo de Price (Price, 1963, 1986), segundo a qual a raiz quadrada
dos integrantes de um domnio responde pela metade da produtividade desse domnio, constituindo
uma elite investigativa (Urbizagstegui Alvarado, 2009), chegou-se a um conjunto de 17 autores
citados (cuja incidncia de citao varia entre 20 e 6 citaes), nomeadamente Lancaster, Moreiro
Gonzlez, Pinto Molina, Gardin, Chaumier, Cintra, Dahlberg, Garca Gutirrez, Guimares, Kobashi,
Ranganathan, Lara, Foskett, Grupo TEMMA, Hjorland, Soergel e Van Dijk, que compem a rede
apresentada seguir:

2
Fonte elaborada pelos autores.

293

Nesse contexto, observa-se que h um grupo de 15 autores Lancaster, Pinto Molina, Gardin,
Chaumier, Cintra, Dahlberg, Garca Gutierrez, Guimares, Kobashi, Ranganathan, Foskett, Grupo
Temma, Hjrland, Soergel e Van Dijk so so citados tanto por brasileiros como por espanhis, o
que evidencia seu papel como fundaentes da rea em um contexto internacional. Observa-se,
outrossim, que nesse grupo, tem-se 2 autores espanhis e e 4 brasileiros, o que reitera cas
constataes de que esses pases efetivamente construram massa crtica na rea.
Lancaster ocupa a centralidade desse universo, respondendo por 20 citaes (50% do
universo). O grupo TEMMA, por sua vez, e se considerados os seus compenentes que foram indicados
separadamente Kobashi, Cintra, Guimares e Lara responde por 37 citaes o que, somando s
indicaes de Gardin, totaliza um universo de 48 citaes, reiterando toda uma escola de construo
terica.

2 Anlise e discusso dos resultados

Observa-se, na rede brasileira, um universo que confiorma a liderana do Grupo TEMMA na
construo do conhecimento em anlise documental, uma vez que seus autores perfazem, juntos,
aproximadamente 54% das citaes consideradas. Destaca-se, outrossim, que apenas Cavalcanti,
dentre os autores brasileiros citados, no integra o universo do Grupo TEMMA. No mbito
internacional, h de se destcar, de forma mais marcante, a presena de Lancaster e de Ranganathan,
representando duas correntes toricas distintas, ligadas respectivamente indexao e
classificao facetada.
No que se refere rede espanhola, o universo de autores citados mais diversificado, sendo
que a presena de autores espanhis citados se situa ao redor de 41% do universo. Nesse contexto,
Moreiro Gonzlez, Pinto Molina e Garca Gutirrez destacam-se entre os demais, o que refora
pesquisas anteriores que os situam como singificativos referentes na rea. Lancaster ocupa posio
de preponderncia em toda a rede, respondendo por cerca de 10% do total de citaes.
De uma anlise comaprativa, observa-se em Lancaster um efetivo e importante ponto de
confluncia das duas redes. Tambm os autores, respondendo por 9% do total. Tambm autores
como Gardin e Chaumier (representando o que se poderia chamar de escola francesa da rea),

294
aliados a autores da vertente anglo-saxnica (Lancaster, Dahlberg, Foskett, Hjrland) se fazem
presentes em ambas as redes. No tocante ao reconhecimento recproco de cada espao investigativo
destacam-se, em ambos a presena do grupo brasileiro TEMMA e pelos autores espanhis Pinto
Molina e Garcia Marco.

Concluso

Os resultados revelam, por um lado, ntidas lideranas investigativas em cada pas, como o
caso de Moreiro Gonzlez, Pinto Molina e Garca Gutierrez, na Espanha, ao lado do Grupo TEMMA
(Smit, Tlamo, Kobashi, Lara, Cintra, Cunha, Fujita e Guimares), no Brasil, pautado na concepo
gardiniana.
Por outro lado, curioso observar que, a exceo da Gardin e Chaumier, por meio de
referentes tericos de escolas alheias ao universo francs (notadamente em um universo cientfico
anglo-saxo) que ocorre a dialogicidade (compartilhamento de referentes tericos) entre os
universos brasileiro e espanhol, a partir de autores como o caso de Lancaster, Dahlbeg e Hjrland.
A dialogicidade entre ambos os espaos ainda tmida, mas apresenta pontos de confluncia
bastante significativos, como o caso de Lancaster, Foskett, Dahlberg e Hjrland.
Pode-se, ainda, concluir que esse domnio cientfico enriqueceu-se pelas especificidades de
cada realidade nacional, e que tanto Brasil como Espanha conseguiram construir massa crtica nessa
temtica.
Observa-se, por fim, que a diversidade de universos tericos entre ambos os pases, a partir
dos autores citados, revela uma rica possibilidade de dilogo, em que autores como Ranganathan,
Svenonius, Otlet, e Frohmann, trazidos baila pelos pesquisadores brasileiros, e Vickery, Spark-
Jones, Rowley, Pottier, Fugmann, Fondin, e Borko, no caso dos espanhis, se completam e ampliam o
quadro de referentes tericos que integra a rea no espao hispano-americano, abrindo espao para
interlocues mais abrangentes.

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297
O CAMPO DA ORGANIZAO DA INFORMAO E DO CONHECIMENTO
Anlise da produo intelectual publicada em anais e peridicos brasileiros de Cincia da informao
(2000-2010)

NAIR YUMIKO KOBASHI
Universidade de So Paulo
[email protected]

Resumo Apresentao dos resultados de pesquisa sobre a produo cientfica brasileira em Organizao do
conhecimento. Duas so as questes que interpelam continuamente a especialidade: as demandas sociais e o
desenvolvimento tecnolgico. As pesquisas, nessa medida, buscam alternativas que se adequem cada vez mais
ao horizonte de expectativas dos sujeitos sociais que buscam informao. No Brasil, a produo de
conhecimentos sobre o tema est institucionalizada em programas de ps-graduao em Cincia da
Informao. Nota-se, tambm, que grupos de reas multidisciplinares e de reas vinculadas s Cincias da
computao e Lingustica computacional, desenvolvem pesquisas Organizao da informao e do
conhecimento. Nesta comunicao so expostos os eixos temticos mais frequentes e as redes de colaborao
dessa produo. O corpus foi constitudo de referncias de artigos de peridicos brasileiros de Cincia da
informao e de trabalhos de anais de eventos publicados no perodo 2000 a 2010, que foram submetidos a
anlises quantitativas e qualitativas. Observa-se que h quantidade expressiva de textos produzidos, de
abrangncia temtica ampla. Os resultados preliminares indicam que os descritores mais frequentemente
utilizados nessa produo so: Organizao da informao, Ontologia, Organizao do conhecimento,
Representao do conhecimento. Por outro lado, Organizao de domnio; Cartografia temtica, Classificao
em Cincia e Tecnologia so temas emergentes. As redes de colaborao so mais intensas entre pesquisadores
da mesma instituio. A presente sistematizao permite identificar a institucionalizao social e cognitiva da
pesquisa sobre o domnio. Semelhante sistematizao pode ser til para refletir sobre o que vem sendo
produzido e tambm para subsidiar polticas de pesquisa da rea.

Palavras-chave Organizao da informao. Organizao do conhecimento. Indicadores de produo
cientfica.

Abstract Results of a research on the Brazilian scientific production on "Knowledge Organization" is
presented. Two issues are of concern to the field of expertise: the social needs and the technological
development. The research, to that extent, seek alternatives that meet the horizon of expectations of
information systems users. In Brazil, the production of knowledge on the subject is institutionalized in master
and doctoral programs in Information Science. It is also noted that groups of Computer Science and
Computational Linguistics develop research on the subject. This communication sets out the most frequent
subjects and collaborative networks in Knowledge organization researches in Brazil. The corpus consisted of
references of Brazilian Information Science journal articles and papers of conference proceedings published in
2000-2010. It was observed that there is a significant amount of works produced in a broad thematic range.
Preliminary results indicate that the most used descriptors are: information organization, ontology,
knowledge organization, knowledge representation. On the other hand, thematic cartography, and automatic
classification are emerging subjects. Collaborative networks are more intense among researchers from the
same institution. This results may be useful to reflect on what has been produced and also to support research
policy in Knowledge organization

Keywords Information Organization. Knowledge Organization. Scientific productions indicators.

298
Introduo

A proposio e produo de mtodos que promovam o acesso informao parte integrante
das pesquisas da rea da Organizao do conhecimento (OC). Com efeito, as demandas sociais so
cada vez mais amplas e complexas, pari passu com o crescimento e universalizao das redes
eletrnicas de informao, como tambm com a diferenciao dos dispositivos (sites, portais) e
instituies de memria, no caso, bibliotecas, museus, arquivos. As pesquisas sobre a OC procuram,
nessa medida, apresentar alternativas que se adequem ao horizonte de expectativas dos sujeitos
sociais que buscam informao. As pesquisas so eminentemente tericas ou apresentam contornos
pragmticos, baseados em dados empricos. As conferncias e congressos ISKO so o foro
privilegiado de discusso de problemas, teorias, mtodos da OC. No Brasil, a pesquisa em OC est
insitucionalizada, em larga medida, em programas de ps-graduao em Cincia da Informao.
Nota-se, tambm, que grupos vinculadoss s Cincias da computao e Cincias da Linguagem
desenvolvem estudos relacionados OC (mtodos e testes de criao de Ontologias, sistemas de
recuperao de informao, Gesto do conhecimento, Processamento da Linguagem Natural, entre
outros).
Os interesses de pesquisa da rea so amplos, no havendo, porm, mapeamentos abrangentes
e sistemticos sobre a OC produzida no pas. Esta pesquisa foi realizada para preencher essa lacuna.
Os resultados obtidos podem revelar, para a prpria rea, o que vem sendo produzido. Os resultados
podem, alm disso, subsidiar as polticas de pesquisa de grupos e de programas de ps-graduao de
Cincia da Informao e reas correlatas.

1 Percurso terico: breve exposio

Uma abordagem epistemolgica do fazer cientomtrico parece ser fundamental para
promover avanos no campo. Nesse sentido, deve ser superada, principalmente, a viso positivista
que tem caracterizado os estudos de vertente quantitativa. importante, desse modo, ter presente a
dimenso simblica e poltica da atividade cientfica. Dito de outro modo, deve-se compreender que
a cincia realizada em contextos sociais, portanto, imersa em relaes de poder.
O trabalho com dados simblicos, como os desta pesquisa, requer, por outro lado, a adoo de
mtodos da Organizao da Informao para reorganiz-los em categorias consistentes; e,
finalmente, fundamental a familiaridade com softwares bibliomtricos para realizar o tratamento
quantitativo dos dados. Esse conjunto de requisitos mostra a complexidade inerente aos estudos
cientomtricos contemporneos. De fato, a anlise da produo cientfica no mera quantificao,
mesmo porque os indicadores s ganham significado ao serem interpretados no quadro das polticas
cientficas concretas. As abordagens contemporneas podem ser sintetizadas nos seguintes pontos: a
nfase na idia de que a cincia produz os seus objetos de pesquisa, lastreados em teorias; o
reconhecimento da importncia da linguagem, portanto do simblico na atividade cientfica; a
interferncia dos aspectos polticos no trabalho cientfico, mais precisamente, as relaes de poder
que a permeiam e o interesse das comunidades epistemolgicas, vistas como os atores fundamentais
do processo de produo e de difuso do conhecimento (Burke, 2003, p. 17).
A metfora da escavao arqueolgica de dispositivos, proposta por Foucault (1986, 2000), tem
sido explorada heuristicamente nos mtodos bibliomtricos de explorao de bases de dados
(ALVARENGA, 1998; KOBASHI, SANTOS, 2008). O mapeamento da cincia , com efeito, uma forma de
escavao para identificar, descrever e interpretar a informao que se encontra armazenada em
diferentes tipos de repositrios. Dois conceitos operacionais sustentam os estudos de mapeamento
aqui realizados: a institucionalizao cognitiva e a institucionalizao social, categorias propostas
por Whitley (1974). A institucionalizao cognitiva diz respeito aos aspectos epistemolgicos,
tericos e metodolgicos das disciplinas cientficas. So seus objetos os graus de consenso sobre os
conceitos da rea, a legitimidade e pertinncia dos problemas propostos ao campo, o grau de

299
aceitabilidade das solues encontradas e, finalmente, o grau de adequao dos mtodos, tcnicas e
instrumentos de observao dos fenmenos.
A institucionalizao social relaciona-se s estruturas formais de constituio dos membros de
uma comunidade cientfica. Nesta dimenso, so analisados o grau de organizao de uma rea do
conhecimento, sua integrao s estruturas de legitimao (universidades, institutos de pesquisa,
instncias de avaliao, sociedades cientficas, etc), as condies de acesso aos programas de
financiamento da pesquisa e a constituio de redes de colaborao (PARLEMITI; POLITY, 2002). O
estudo das redes de colaborao de pesquisadores do campo da Organizao da Informao,
proposto nesta pesquisa, tem como meta identificar a institucionalizao social da atividade
cientfica especfica, ou seja, conhecer as parcerias que se formam, estimulada pela ideia da
necessidade de formao de coletivos para consolidar vertentes e linhas de pesquisa.

2 Percurso metodolgico

Nesta pesquisa, foram utilizados mtodos qualitativos (classificao dos dados) aliados a
procedimentos quantitativos (bibliomtricos). Recorreu-se aos softwares bibliomtricos para
padronizar dados com o fim de produzir indicadores confiveis. A interpretao dos dados teve o
apoio da abordagen sociolgica de Whitley (1974) e da antropologia da atividade cientfica de Latour
(2000) e Latour e Woolgar (1997), da abordagem epistemolgica da Cincia da
Informao/Documentao de Frohmann (1989, 2004a, 2004b) e Gonzlez de Gmez (1996, 2012). Foi
considerado, ainda, o contexto contemporneo de produo e circulao do saber, que utiliza, de
forma intensa, as redes eletrnicas de comunicao (CASTELLS, 1999).
A anlise multidimensional de registros bibliogrficos configura-se como uma das
contribuies tericas e tcnicas mais recentes aos estudos de mapeamento da atividade cientfica. O
mtodo supe a classificao automtica dos dados e sua representao por meio de cartografias.
Os recursos visuais de apresentao de informaes digitais, em seus diversos formatos
(grficos, animaes, multimdias, figuras e mapas interativos) vm sendo utilizados de forma
crescente para identificar estruturas de campos cientficos e as dinmicas do desenvolvimento
cientfico (HASCOT, 2004; SANTOS, KOBASHI, 2009). Convm ressaltar, no entanto, que a elaborao
de visualizaes grficas so dependentes da qualidade do tratamento dos dados de repositrios de
informao sobre a cincia, a tcnica e a inovao.

2.1 Levantamento e sistematizao de dados
Os estudos de mapeamento temtico e de redes de colaborao requerem um trabalho
paciente e metdico de escavao de fontes bibliogrficas (bases de dados, repositrios, bibliotecas).
Os dados de eventos foram levantados de forma exaustiva, porm, utilizados de forma parcial. Nos
casos ISKO Internacional e RITERM, os dados no esto disponveis em formato processvel por
software bibliomtrico. Este um problema ainda recorrente nos estudos de mapeamento da
atividade cientfica das reas de Cincias humanas e Sociais.
Os artigos de peridicos e trabalhos de eventos em formatos processveis por mquina, foram
identificados e recuperados na Base de Dados ABCDM (Arquivologia, Biblioteconomia, Cincia da
Informao, Documentao e Museologia), desenvolvida na Universidade de Braslia, pelo Prof.
Jayme Leiro. Ela contm artigos dos peridicos brasileiros e portugueses das reas citadas, como
tambm os trabalhos dos anais ENANCIB. No perodo de consulta (2011 e 2012), a base continha 6.868
registros.
O levantamento foi realizado por meio de estratgias de busca com os principais termos
relativos rea da Organizao da Informao. Estes foram selecionados com base na terminologia
utilizada como palavras-chave em uma amostragem de artigos e trabalhos de eventos. Foram

300
recuperados na busca 646 registros, distribudos da seguinte forma: 216 artigos de peridicos e 176
trabalhos de eventos.
A seguir, a Tabela com os resultados das buscas na Base ABCDM, com distribuio de temas.

Pesquisa na Base ABCDM
Resultados para busca em todos os campos
88
72
108
87
64
3
22
15
1
23
41
20
24
29
4
41
53
217
14
63
25
91
28
0
50
100
150
200
250 Organizao do conhecimento
Representao da informao
Organizao da informao
Representao do conhecimento
Ontologia
Cartografia temtica
Taxonomia
Modelagem conceitual
Classificao em cincia e tecnologia
Vocabulrio controlado
Tratamento da informao
Teoria do conceito
Teoria da classificao
Sistema(s) de classificao
Organizao de domnio(s)
Linguagens documentrias
Linguagem documentria
Indexao
Folksonomia
Tesauro(s)
Taxonomia(s)
Ontologia(s)
Vocabulrio(s) controlado(s)

Tabela 1 - Resultados de busca na Base de dados ABCDM
1

Optou-se por considerar apenas os autores com ttulo de doutor com base na hiptese de que
os indicadores de colaborao mais significativos seriam obtidos pela anlise de pesquisadores com
esse nvel de formao. A confirmao da titulao de pesquisador-doutor foi realizada por
levantamento na Plataforma Lattes (CNPq, 2011). Os registros com mais de um pesquisador com
ttulo de doutor, no campo AUP (Autor), foram duplicados, sendo tambm mantidas as instituies
de filiao de cada autor.
Foram realizados diversas sesses de buscas na Plataforma lattes, ao longo do perodo de
coleta de dados. No primeiro levantamento (2011), com a palabra-chave Organizao da informao,
obtivemos 7.302 registros/currculos. Dado o elevado nmero de currculos recuperados, foi feita
uma segunda busca (2012), com a palavra-chave Organizao da informao entre aspas. Foram
recuperados 178 registros. Posteriormente, cada registro/currculo foi analisado individualmente
para identificao dos seguintes dados dos pesquisadores que comn produo no perodo janeiro de
2000- janeiro de 2012. Para consistncia do corpus, foram considerados os campos Formao
acadmica/Titulao, Linhas de Pesquisa; Projetos de Pesquisa; Produo em C, T & A. Aps
anlise, foram considerados pertinentes 53 registros/currculos. Foram aplicados outros
filtros para identificar pesquisadores da rea da Computao.
A coleta de dados realizada na Plataforma Lattes tornou-se complexa devido a dois fatores
principais:
Elevado nmero de registros recuperados quando utilizadas palavras-chave mais
abrangentes como, por exemplo, Ontologia;

1
Fonte: Elaborao da equipe de pesquisa (2010)

301
Preenchimento no-padronizado do campo rea de atuao pelo pesquisador, o que
tornou necessrio elaborar diferentes estratgias de busca e utilizao de diferentes
filtros, disponveis na Busca Avanada.
Com os resultados obtidos nos diversos turnos de levantamento, o corpus foi reduzido a 73
registros/currculos que foram processados na ferramenta scriptLattes, gerando o grafo de
pesquisadores e seus respectivos pesos.
Em resumo, para a constituio do corpus foram realizados os seguintes procedimentos:
- Identificao e sistematizao das fontes de dados.
- Recuperao das referncias bibliogrficas dos artigos e trabalhos de evento
- Padronizao dos dados
- Tratamento dos dados para fins de anlise bibliomtrica e cientomtrica
- Representao grfica dos dados obtidos.
Nos Grficos 3 e 4 abaixo so apresentados dados sobre os trabalhos de eventos informados
nos Currculos Lattes. Foram identificados 176 registros, como segue:

Grfico1 - Trabalhos de eventos informados na Plataforma Lattes
2

A seguir, o grfico com os 10 termos mais frequentes:

2
Fonte: elaborado pela equipe de pesquisa (2012)

302

Grfico 2 Termos mais frequentes dos trabalhos de eventos
3

No Grfico 3, pode-se observar a freqncia dos termos Ontologia, Organizao da Informao
e Representao do conhecimento em viso diacrnica.

Grfico 3 - evoluo da freqncia de termos de trabalhos de eventos (Base ABCDM).
4

2.2 Softwares utilizados

A reformatao de dados, a mensurao e os recursos de representao grfica dos resultados
obtidos nas pesquisas se beneficiam largamente do uso de softwares estatsticos, bibliomtricos e de
visualizao. O conhecimento das funcionalidades desse softwares e seu domnio mostra ser hoje
imprescindvel para os que realizam estudos de institucionalizao da atividade cientfica. Por essa
razo, tambm neste projeto, foi dedicada especial ateno ao treinamento e uso crtico dessas
ferramentas. A seguir, os softwares utilizados, sua breve descrio e as atividades de treinamento
realizadas:
- para anlise bibliomtrica: programa INFOTRANS 4.0 e Vantage Point
- para anlises de nvel micro: programa DATAVIEW
- para a gerao automtica de grficos e clusters: programa MATRISME.
- para gerao de representaes grficas: programas Data View, Statistica e Excel

3
4

303
- para anlise de colaborao: Script Lattes.

3 Apresentao de redes (anlises unidimensionais e multidimensionais)

A visualizao de aspectos da atividade cientfica por meio de cartografias permite apreender
diferentes tipos de ligaes entre dados: pesquisadores e instituio, redes de colaborao,
pesquisadores e temas, entre outros.
As cartografias abaixo apresentadas foram elaboradas com os dados coletados na Base de
dados ABCDM (VILAN FILHO, 2008), conforme exposto no item 2.1 acima.
As referncias coletadas (638 registros) foram armazenadas em uma base de dados ad hoc e
reformatadas para processamento bibliomtrico (contagem de objetos) e anlise cientomtrica
(anlises multidimensionais).
Nas duas primeiras visualizaes, sob a forma de dendogramas, Figuras 1 e 2, as variveis
Descritores X Afiliaes institucionais e Descritores X Primeiro autor foram agrupadas utilizando-se
o mtodo Ward, a partir da distncia de 1-r de Pearson. Para comparar os agrupamentos foi adotada
distncia igual a 1. Observa-se, na FIG 1, que os ns esto agrupados dois a dois (Maria Luiza Almeida
Campos, Categorizao) ou trs a trs (Comunicao Cientfica, Carlos Henrique Marcondes,
Publicaes Eletrnicas). Em princpio, pode-se verificar se h, em cada agrupamento, coerncia
temtica entre pesquisadores e referncias de trabalhos publicados.

Figura 1 - Representao hierrquica de registros sobre Organuzao da informao- agrupamento Descritores
X Afiliaes institucionais
5

5
Fonte: elaborado pela equipe de pesquisa (2011-2012)

304

Figura 2 - Representao hierrquica de registros sobre Organizao da Informao agrupamento Descritor X
Primeiro autor.
6

As visualizaes em forma de rede, FIG. 3, 4 e 5, abaixo, apresentam agrupamentos
expandidos Descritor X Primeiro Autor, das seguintes instituies: Universidade Federal
Fluminense (UFF), Universidade Estadual de So Paulo (UNESP) e Universidade de So Paulo (USP).
Essas figuras mostram os pesquisadores e os temas de pesquisa mais frequentes. Mostram tambm o
universo dos temas de pesquisa, de forma global, os temas mais relacionados a cada pesquisador e o
compartilhamento de interesses desses pesquisadores.

Figura 3 - Rede Social de registros bibliogrficos sobre Organizao da Informao - agrupamento Descritor X
Primeiro autor (UNESP)

6

305

Primeiro autor (UFF)
7

Primeiro autor (USP)
8

7
8

306
3.1 Colaborao (Rede Social) entre instituies e pesquisadores

Dentre os 176 registros recuperados do tipo Evento, foram encontrados 12 trabalhos
elaborados em coautoria entre pesquisadores vinculados a instituies distintas. A seguir, o grafo de
colaborao construdo no software DATAVIEW:

Figura 6 - Colaborao entre instituies
9

A anlise de redes sociais realizada no software DATAVIEW mostra as interaes entre os
indivduos, de forma agrupada ou individual. No grafo acima, h 10 instituies que no
apresentaram trabalhos em coautoria, em eventos. no recorte temporal adotado nesta pesquisa.
Foram encontradas, ainda, duas redes sociais isoladas e distantes e com fluxo direcional, portanto,
sem vnculos de colaborao entre instituies. O nmero presente entre a as linhas que ligam duas
instituies representam a quantidade de trabalhos em coautoria.
O grafo de colaborao foi construdo no software SCRIPTLATTES, a partir dos 32
pesquisadores mais indexados na base de dados ABCDM. Foram considerados: Artigos completos
publicados em peridico; Trabalhos completos publicados em anais de congressos; Resumos
expandidos publicados em anais de congressos; Resumos publicados em anais de congressos.
Observamos a formao de dois grupos de colaborao distintos, expostos nos grficos a
seguir:

9

307

Figura 7 - Colaborao (Rede Social) entre os pesquisadores (grupo A)
10

Figura 8 - Colaborao entre pesquisadores (Grupo B).
11

10
11

308

A figura 7 apresenta inconsistncias, na medida que um colaborando aparece colaborando
consigo mesmo. Novas investigaes sero feitas para identificar a fonte do problema.

Consideraes finais

O presente estudo analisou a produo cientfica publicada em anais de eventos e em
peridicos nacionais de Cincia da Informao, publicados de 2000 a 2010, de autoria de
pesquisadores com ttulo de doutor, da rea de Organizao do Conhecimento. Os resultados
indicam que houve crescimento na participao de pesquisadores doutores em eventos nacionais e
internacionais, principalmente a partir de 2005. Entre os temas de pesquisa, a Ontologia se
destaca, a partir de 2007, configurando-se como campo interdisciplinar explorado no apenas por
pesquisadores da Cincia da Informao, como tambm da Cincia da Computao. Observou-se
tambm a formao de dois Grafos de Colaborao nos trabalhos de eventos. Constatou-se, por outro
lado, que: a) os estudos mtricos vm sendo aplicados de forma crescente nas anlises de
institucionalizao das Cincias Humanas e Sociais. Tais pesquisas requerem o aporte dos Estudos
Sociais da Cincia para serem interpretados e ganharem sentido poltico, econmico e social; b)
novas abordagens e ferramentas vm sendo criadas para consolidar os dados de pesquisa,
correlacion-los e produzir representaes grficas; c) os mtodos de classificao de dados,
propostos pela area da Organizao da Informao, so imprescindveis para dispor informaes em
categorias funcionais auto-excludentes, adequadas para a anlise temtica de pesquisas; d)
crescente a quantidade de estudos qualitativos sobre autoria e redes de relacionamento entre
pesquisasdores.
A crtica constante dos procedimentos tambm fundamental para evitar a estagnao e as
repeties que pouco acrescentam ao saber cientfico. Romper as fronteiras do conhecimento uma
das tarefas do trabalho cientfico. No que se refere a esta pesquisa, procurou-se adotar abordagem
interdisciplinar, na convico de que os problemas de pesquisa requerem respostas que, muitas
vezes, so encontradas no dilogo com outras especialidades. A combinao de mtodos e o
referencial terico adotado permitiram compreender melhor a dinmica da atividade cientfica do
campo da Organizao da informao.
Nos estudos de mapeamento da cincia necessrio que a metodologia de coleta seleo e
tratamento dos dados seja planejada cuidadosamente. Sem esses procedimentos, limitam-se as
possibilidades de aplicao e uso dos resultados obtidos. Portanto, as questes metodolgicas devem
ocupar lugar central no desenvolvimento de projetos desta natureza.
Como o texto cientfico se expressa pela linguagem, foi imprescindvel incorporar, ao campo
dos estudos mtricos, as teorias e mtodos da rea da Organizao do Conhecimento para consolidar
os corpora de anlise. A compreenso dos processos semnticos e pragmticos para classificar termos
e orden-los em conjuntos consistentes mostra a necessidade de substituir os procedimentos
ingnuos de contagem de frequncia de palavras por procedimentos mais rigorosos, fundados na
anlise semntica e terminolgica. No mapeamento da cincia, necessrio generalizar conceitos
por meio da neutralizao de traos muito especficos para se obter classes homogneas de nvel
mais abstrato. Semelhante tratamento elimina os problemas decorrentes da pulverizao e
fragmentao do corpus em classes dispersas, inadequadas para mapear a cincia.
Deve-se chamar a ateno, igualmente, para a incipiente infra-estrutura de informao
cientfica do pas. Parte dos objetivos propostos no projeto no foram alcanados em face da
ausncia de fontes de informao apropriadas para o mapeamento da cincia. No basta, portanto,
criar repositrios institucionais. necessrio que os contedos neles armazenados sejam
estruturados e padronizados sob a forma de metadados consistentes, capazes de suportarem
processamento automtico. Fontes de informao, ferramentas de pesquisa e pesquisadores so, de
fato, os componentes principais de um sistema de mapeamento e avaliao da pesquisa (KOBASHI,

309
SANTOS, 2008). No Brasil, a quantidade e qualidade das fontes secundrias de informao
disponveis impe limites construo de conhecimentos sobre as relaes cincia-tecnologia-
sociedade. Com efeito, a obteno de dados atualizados e confiveis, em nveis variados de
exaustividade, agregao e cobertura geogrfica um dos maiores desafios para os que se dedicam
aos Estudos mtricos da informao. Decorrem da as lacunas na produo de estatsticas e
indicadores para o planejamento da atividade cientfica nacional (KOBASHI;SANTOS, 2006).
Os softwares para dar suporte aos estudos sociais da cincia devem ser amplamente
disseminados. Suas funcionalidades permitem analisar e compreender melhor o mundo da CT&I.
Dito de outro modo, eles nos capacitam a descrever e ver de forma mais confivel a natureza e a
dinmica dos fenmenos relacionados construo do conhecimento socialmente produzido. o
que procuramos fazer ao longo da pesquisa, ao realizar cursos de capacitao da equipe, tanto para
alunos de ps-graduao quanto de graduao.
As principais inconsistncias encontradas nos registros utilizados nos estudos de produo
cientfica so: falta de padronizao dos nomes de autores, orientadores e instituies. Quanto
descrio de contedo, observa-se a falta de padronizao gramatical dos descritores (singular,
plural) variaes nas formas de expresso de conceitos semelhantes (sinonmia, quase-sinonmia),
problemas de gradao (atribuio de descritores extremamente genricos ou muito especficos) e
nmero ora excessivo, ora insuficiente de descritores.
A segunda dificuldade decorre dos critrios de tratamento temtico adotados em cada
repositrio. Os descritores so atribudos pelos prprios autores, no constituindo, portanto, classes
rigorosas de assuntos baseadas em repertrios terminolgicos compartilhados. A disperso temtica
impede a realizao de anlise de tendncias ou linhas de fora predominantes ou emergentes em
cada campo cientfico, ou mesmo a anlise de redes de colaborao sobre temas de pesquisa. Nesse
sentido, as operaes bibliomtricas tradicionais que selecionam o corpus com base apenas em
critrios estatsticos, sem a anlise prvia da natureza dos dados de partida, devem ser substitudas
por critrios qualitativos e adoo de procedimentos metodolgicos e tcnicos que promovam
consistncia efetiva de dados. Critrios qualitativos so, portanto, fundamentais para promover a
confiabilidade dos estudos bibliomtricos. o procedimento que procuramos adotar nesta pesquisa.
(grficos, animaes, multimdias, figuras interativas, mapas interativos) vm sendo utilizados de
forma crescente para identificar estruturas de campos cientficos e visualizar as dinmicas do
desenvolvimento cientfico propriamente dito (HASCOT, 2004; SANTOS;KOBASHI, 2009). Convm
ressaltar, no entanto, que a elaborao de visualizaes grficas so dependentes da qualidade dos
dados de partida, ou seja, do tratamento a eles dado na construo de repositrios.
A pesquisa realizada gerou, igualmente, resultados marginais no desprezveis: as mais
importantes dizem respeito consolidao de mtodos e tcnicas de pesquisa e capacitao de
pessoas para realizar, com rigor, estudos de mapeamento da produo cientfica. A universalizao
dessas competncias deve ser objeto de aes especficas nas diversas instncias de formao
(graduao e ps-graduao, iniciao cientfica, especializao, aperfeioamento). Sinaliza-se,
portanto, a necessidade de sensibilizar e mobilizar os especialistas da rea para um trabalho
cooperativo de formao de pessoas qualificadas para produzir indicadores cientficos.

310
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313
A TEORIA DO CAMPO SEMNTICO NO DESENVOLVIMENTO DE VOCABULRIOS ESTRUTURADOS
PARA A WEB SEMNTICA

VNIA MARA ALVES LIMA
[email protected]

CIBELE ARAJO CAMARGO MARQUES DOS SANTOS
[email protected]

MICHELY JABALA MAMEDE VOGEL
[email protected]

Resumo As normas de tesauros da dcada de 1970 no atendiam a organizao e recuperao da informao
de recursos interconectados, e no deixavam claras as diferenas entre conceitos e termos. Na escolha do
termo preferido atravs de critrios pr-estabelecidos, nem sempre o termo escolhido o termo utilizado na
busca. Os tesauros e vocabulrios controlados resolveram as questes lingusticas que envolvem a sinonmia
com a relao de equivalncia, mas a polissemia precisou do artifcio do uso de qualificadores dificultando ao
usurio a identificao do termo correto. O processamento por mquina nesta soluo tambm
insatisfatrio. Os vocabulrios estruturados para a Web Semntica precisam de modelos de dados com a
distino entre termo/conceito pela explicitao do campo semntico. Este trabalho pretende relacionar a
teoria referente ao campo semntico apoiado nas definies dos conceitos e de suas denominaes, os termos,
como fundamento para o desenvolvimento de vocabulrios estruturados para a Web semntica. Pesquisa
terica desenvolvida atravs de levantamento bibliogrfico sobre vocabulrios estruturados e semntica
estrutural. Entre 2005 e 2012, as normas foram revisadas, porm as estruturas lidam com as mesmas
dificuldades semnticas. As normas de vocabulrios estruturados permitem mapeamento entre vocabulrios,
interoperabilidade e modelo de dados em XML que separa as classes de conceito e de termos de forma mais
rigorosa. O W3C (World Wide Web Consortium) desenvolveu a SKOS (Simple Knowledge Organization Systems)
para vocabulrios estruturados com modelo de dados a distino entre conceito e as etiquetas usadas para
represent-los. Na relao entre conceitos e suas etiquetas so explicitados os campos semnticos, a rea
coberta ou seu domnio de significao com indicando a carga semntica que o delimita e seus contextos.
As relaes semnticas dos vocabulrios estruturados devem ser desenvolvidas por especialistas com aportes
da lingustica, da lgica e da terminologia e estudos nessas reas continuam sendo fundamentais para estes
formatos, mesmo quando interoperveis.

Palavras-chave Linguagens documentrias. Web semntica. Terminologia.

Abstract The theory of semantic field in the development of structured vocabularies for the Semantic Web.
The standards for thesaurus development of the 1970s did not propose effective solutions for organization and
retrieval of information from interconnected resources, and they did not make clear the differences between
concepts and terms. In choosing the preferred term by using pre-established criteria, lots of times the chosen
term was not used in the search. The thesauri and controlled vocabularies solved the linguistics questions on
synonymy using equivalence relation, but the polysemy required the trick of using qualifiers, making more
difficult for the users the identification of the correct term. Similarly, the machine processing in this kind of
question was unsatisfying. In the quest for interoperability between those tools within the Semantic Web,
arises the need for data models that operate with the distinction between term/concept by showing up the
semantic field. This work related the theory referred to semantic field as the foundation for the development
of structured vocabularies to the Semantic Web. Theoretical research done by bibliographical survey on

314
structured vocabularies and structural semantics. In 2005 to 2012, the standards were reviewed, but their
frameworks deal with the same semantic difficulties. The structured vocabularies standards allow mapping
between vocabularies, interoperability, and data model in XML, which separate the concept and terms groups
in a more strict way. The W3C (World Wide Web Consortium) developed the SKOS format (Simple Knowledge
Organization Systems) as a data model that consider the distinction between concept the labels used for its
representation. In this relationship, the semantic fields, the covered area or signification dominion are shown
up to indicate the semantic load that limits it and in which contexts it occurs. The semantic relations of
structured vocabularies must be developed by specialists with contributions from Linguistics, Logic, and
Terminology and studies of these areas are still fundamental to those formats, even when they are
interoperable.

Keywords Indexing languages. Semantic Web. Terminology.

Introduo

Nos ltimos dois sculos os bibliotecrios tem desenvolvido linguagens documentrias, como
vocabulrios controlados e tesauros, para a busca e a indexao nos mais diversos sistemas de
informao. Ocorre que ainda que desenvolvidos de forma estruturada, utilizando-se dos
conhecimentos da lingustica e da lgica e procurando estabelecer relaes semnticas entre os
termos que as compem, estas linguagens documentrias no tem sido capazes de operar no nvel
conceitual quando se pensa na interoperabilidade entre elas no mbito da web.
A busca na Web caracteriza-se pelo apoio de sistemas automticos, os quais utilizam
algoritmos estatsticos baseados em busca inteligente em texto completo (Vatant, 2010). Por este
motivo, para os especialistas na rea de informtica, os motores de busca no precisariam de
vocabulrios controlados, pois utilizariam tecnologias de busca e indexao automtica baseados em
algoritmos que podem alcanar um alto nvel de rendimento.
Por outro lado, os bibliotecrios e especialistas em organizao do conhecimento defendem
que os motores de busca no tratam de forma adequada a ambiguidade dos termos e que a busca
inteligente deveria aproveitar o conhecimento estruturado e o valor agregado destes vocabulrios
(Vatant, 2010).
Ainda que nem sempre o descritor escolhido pelo bibliotecrio na indexao seja o mesmo
utilizado pelo pesquisador na busca da informao, o tesauro, usado em contextos controlados por
humanos ou com mediao de processo de pesquisa tem boa resposta, pois o usurio consegue
interpretar os resultados realizando a inferncia entre o termo e conceito, ainda que as diferenas
entre os conceitos que envolvem uma informao e os termos expressos na busca por esta
informao no estejam claras (Clarke e Zeng, 2012).
As normas de tesauros como a ANSI/NISO Z39.19 e a ISO 2788, desenvolvidas na dcada de
1970, no atendem mais as necessidades da organizao e recuperao da informao em um mundo
de recursos interconectados. Verifica-se isso pela maneira como buscam resolver as questes
lingusticas.
No caso da sinonmia, por exemplo, onde vrios termos remetem a um mesmo conceito, os
vocabulrios controlados e os tesauros utilizam-se da relao de equivalncia. J no caso da
polissemia onde um mesmo termo pode remeter a mais de um conceito, as normas recorrem ao uso
de qualificadores para indicar o campo semntico a que o termo pertence. Este recurso, em alguns
casos, no s dificulta a identificao do termo correto para a busca, por parte do usurio, como
tambm se mostra insatisfatrio no processo de recuperao automtica. Cabe, portanto, verificar se
as atualizaes que tem sido propostas para estas normas conseguem estabelecer as relaes entre
conceitos, entre conceitos e termos e entre termos, adequadamente no mbito da Web semntica.
Na Web semntica, o software que a operacionaliza necessita de modelos de dados
explicitados que indiquem a distino entre termo/conceito e as relaes que podem ser
estabelecidas entre eles.

315
O vocabulrio controlado e o tesauro, por serem linguagens documentrias estruturadas a
partir do relacionamento entre seus descritores, ainda constituem-se nas ferramentas mais
adequadas para representao e acesso informao, quando seus descritores tm como referncia
os termos, isto , as denominaes dos conceitos do domnio que pretendem representar. Em
contraposio, a abordagem da pesquisa por texto completo, apesar dos avanos, ainda no
consegue operar de maneira efetiva quando o conceito, expresso por diferentes termos ou
combinaes de termos, ocorre em diferentes contextos.
De qualquer maneira, apesar dos esforos tanto na normalizao, para a elaborao dos
vocabulrios controlados, quanto no desenvolvimento de ferramentas, como as ontologias, que
buscam especificar e explicitar formalmente os conceitos compartilhados com o objetivo de garantir
uma comunicao livre de ambiguidades, ainda necessrio chegar a um consenso com relao ao
significado de cada elemento que operacionaliza a representao do conhecimento na web
semntica.
A partir de aportes tericos e metodolgicos das reas da Lingustica, da Terminologia e da
Organizao do conhecimento, este trabalho apresenta a teoria referente ao campo semntico,
apoiada nas definies dos conceitos e suas denominaes, os termos, como um dos fundamentos
que devem ser levados em considerao quando do desenvolvimento de vocabulrios estruturados
para a Web semntica.

1 Vocabulrios controlados e normalizao

O acesso ao contedo informacional de documentos individuais, tradicionalmente tem sido
feito tanto pela superfcie expressiva lxica e pelo contexto de referncia, utilizando-se a
terminologia do domnio, quanto pelo uso de vocabulrios controlados formando redes semnticas.
Essas redes semnticas incluem os conceitos, cuja designao pode ser feita por mais de uma palavra
ou termo e devem indicar sinnimos e variaes gramaticais com remissivas, conter subdivises
normalizadas e os rtulos explicativos para evitar ambiguidade (Moreiro Gonzlez, 2011, p. 29).
As linguagens documentrias, ou seja, os sistemas de classificao e cabealhos de assunto,
desenvolvidos nos Estados Unidos a partir do final do sculo XIX tem como fruto o tesauro atravs
do uso do Unitermo em 1951, como uma ruptura ou um novo modelo do sistema pr-coordenado
para o sistema ps-coordenado. Na dcada de 60 surge o tesauro do Centro de Informao do
Ministrio da Defesa dos Estados Unidos, o Chemical Engineering Thesaurus e baseado neste em 1964
publicado o Thesaurus of Engineering Terms. No ano seguinte, estes dois tesauros so reunidos pelo
projeto Lex (1965-1967) que tem por meta estabelecer princpios comuns para construo e uso,
preparando um manual de construo de tesauros que foi recomendado como fonte e servindo de
base para as diretrizes e normas produzidas pela ANSI (American National Standardization Institute) em
1981 e pela Unesco em 1973, que tambm deu origem a normas nacionais e internacionais na Europa
(Campos & Gomes, 2006, p. 351-353).
A criao do Classification Research Group CRG em Londres representa vertente
diferenciada da vertente norte americana, segundo Campos & Gomes (2006, p. 353). O Grupo
desenvolveu estudos e pesquisas voltadas para a classificao facetada de Ranganathan e influenciou
uma gerao inteira de profissionais. As bases classificatrias do tesauro foram desenvolvidas no
Thesaurofacet por Aitchison que constri o esquema de classificao com orientao para uma
sintaxe tendo um ndice alfabtico decorrente do prprio sistema de classificao. No entanto,
embora esta vertente tenha avanado quanto apresentao sistemtica, as autoras acima lembram
que os tesauros adotam a base lingustica na construo do vocabulrio, o que pode ser comprovado
nas normas nacionais e internacionais.
Na organizao e representao da informao e do conhecimento, retomando Gardin (1966),
Moreiro Gonzlez (2011, p. 16) transpe para a Web a ideia de que as linguagens documentrias
consideradas para indexao podem ser apresentadas de acordo com a perspectiva do lxico

316
utilizado e das relaes estabelecidas entre as palavras que as compem. As linguagens podem ser
listas de palavras que utilizam inclusive a folksonomia, listas de termos como glossrios, listas de
nomes e dicionrios entre estes os anis semnticos, classificaes e taxonomias, bem como grupos
de relaes baseados em associaes entre termos e conceitos como tesauros automticos, tesauros
conceituais, topic maps e ontologias.
A evoluo das normas de tesauro levou, a partir de 2005, quarta reviso da norma
ANSI/NISO Z39.19 para vocabulrios controlados pois com a era digital surgiram diferentes tipos de
vocabulrios, s vezes trabalhando de forma paralela aos tesauros. Esta reviso da norma da ANSI
cobre vrios tipos de vocabulrios cujas abordagens e estruturas lidam com as mesmas dificuldades
que os tesauros como as listas de termos controlados, os anis de sinnimos e as taxonomias, mas
esta norma ainda no traz o modelo de dados que torne clara e especfica a relao termo/conceito
(Clarke e Zeng, 2012).
Mudanas importantes trazidas por esta norma compreendem a referncia a objetos de
contedo, entidades que contm informao no lugar de documentos, o uso de termo uma palavra que
representa um conceito para referir-se aos descritores e termos preferenciais (Moreiro Gonzlez,
2011, p. 71). As finalidades dos vocabulrios controlados apresentadas na norma so a traduo do
vocabulrio natural aos termos, a consistncia atravs da uniformidade na atribuio dos termos,
indicao de relaes semnticas entre os termos, etiquetagem, visualizao e recuperao. Tambm
a complexidade dos vocabulrios controlados aumenta em relao a controle de ambiguidade,
controle de sinnimos, relaes hierrquicas e relaes associativas (Moreiro Gonzlez, 2011, p. 72;
Santos e Mazini, 2011).
A norma britnica BS8723, que equivale a norma BS5723, voltou-se para vocabulrios
estruturados e foi publicada em 5 partes entre 2005 e 2008. Trata com profundidade do tesauro com
menor nfase em outros vocabulrios, na quarta parte apresenta um guia para mapeamento entre
vocabulrios e na quinta parte traz um modelo de dados explcito com esquema em XML para
intercambio de um tesauro inteiro ou suas partes. Este modelo de dados separa as classes de
conceito e de termos (Clarke e Zeng, 2012).
Os tesauros que, segundo Moreiro Gonzlez (2011, p. 69) apresentam vantagens como a
existncia em muitas reas do conhecimento, sendo alguns muito testados e com eficcia
comprovada, passam a ter mecanismos de compartilhamento na Web aps a criao de SKOS
(Simples Knowledge Organization System). Como desvantagens das verses tradicionais o autor lembra
que os tesauros pertencem a domnios restritos, existe dificuldade de definir relaes, um
vocabulrio sem relao direta com os objetos, sua criao atende consenso prvio de criadores e
no de usurios e possui custo elevado na criao, manuteno e funcionamento evitveis somente
com automao ou semiautomao de processos. No entanto, existem dificuldades na automao,
devido s estruturas semnticas dos textos.
Em 2005, tambm o W3C (World Wide Web Consortium) apresentou sua Recommendation
SKOS (Simple Knowledge Organization Systems) desenvolvida para publicao de vocabulrios
estruturados como os tesauros na WEB e traz no seu modelo de dados explicitamente a distino
entre conceito e as etiquetas usadas para representar conceitos. Segundo Clarke e Zeng (2012) no
SKOS os relacionamentos semnticos entre conceitos correspondem de forma bem prxima aos
relacionamentos hierrquicos e associativos recomendados nas normas de tesauro. O SKOS Core
Specification foi revisado em 2009 e nesta verso o SKOS Core Data Model bsico foi complementado
com um apndice contendo vrias etiquetas que estendem as etiquetas para relaes entre termos,
denominado SKOS-XL.
Nesse movimento internacional, as normas ISO (2788/1986 Tesauros Monolngues e
5964/1985 Tesauros Multilngues) tambm foram revisadas por um grupo de trabalho com
representantes de 15 pases, as normas antigas foram revogadas e criou-se a Norma ISO 25964
Thesauri and interoperability with other vocabularies -- Part 1: Thesauri for information retrieval (publicada
em 2011) e Thesauri and interoperability with other vocabularies -- Part 2: Interoperability with other
vocabularies (publicada em 2013). Esta norma, segundo Clarke e Zeng (2012) mais rigorosa na

317
distino de termos e conceitos. Embora a norma no esteja disponibilizada de forma gratuita na
Internet o modelo de dados e o esquema XML esto disponibilizados gratuitamente no site da NISO.
Embora atualmente tenhamos modelos de metadados que permitem interoperabilidade entre
vocabulrios, as relaes semnticas continuam sendo desenvolvidas atravs da anlise cuidadosa de
profissionais da informao quanto aos campos semnticos a que os termos e conceitos pertencem,
o nvel de relao existente entre eles, preferncias de termos, identificao de sinnimos e
resoluo de termos ambguos.
As linguagens que fazem parte dos sistemas de organizao e representao do conhecimento
KOS (Knowledge Organization Systems) para a Web, que podem ser vocabulrios controlados ou no e
pertencer a um mesmo domnio do conhecimento ou a domnios diferentes, apresentam grande
complexidade disciplinar e de uso, com fundamentos conceituais de diversos campos como a Lgica
Formal e a Estatstica, a Computao, a Retrica, a Lingustica do texto, a Semitica e a Lexicografia
(Moreiro Gonzlez, 2011, p. 16-17).
Portanto, torna-se necessrio discutir as questes lingusticas que envolvem a elaborao e o
uso de linguagens documentrias e vocabulrios controlados na web semntica.

2 Questes lingusticas e terminolgicas

No contexto da Web Semntica, vocabulrios estruturados so considerados Linguagens
Documentrias, ou LDs (Caro-Castro, 2011; Campos, 2001, BS 8723 part 1, 2005, Clarke e Zeng, 2011).
Essa nova web, de caracterizao semntica, requer linguagens de representao do conhecimento
baseadas em ontologias para localizar e acessar os recursos (Moreiro Gonzalez, 2011, p. 34). A ideia,
para o autor, controlar novamente a polissemia, a ambiguidade, muito presentes na web 2.0 com as
folksonomias e tags.
Entre suas funes, as LDs so usadas para normalizar as descries realizadas com
metadados, e para recuperar informaes (Caro-Castro, 2011, p. 9). Apresentam uma trplice funo,
a saber:

Conseguir que cada descritor represente um s conceito (evitando a
polissemia, homonmia e homografia) e que cada conceito esteja
representado por um nico descritor (controlando a sinonmia); Organizar
e relacionar os conceitos de uma rea de conhecimento geral ou
especializada; Assegurar a consistncia do sistema, de maneira que
diferentes indexadores utilizem sempre o mesmo termo para expressar o
mesmo conceito (Caro-Castro, 2006, p. 3).

Alm disso,

a comunicao da informao s possvel atravs de uma linguagem
em que haja significao para os envolvidos. Dar acesso informao e
promover sua circulao so aes que fazem necessrio o uso de uma
linguagem que a represente baseada em uma hiptese de organizao que
permita a construo de significao a Linguagem Documentria. Dessa
forma, a elaborao dessa linguagem requer metodologias que tenham
como referncia conceitos lingusticos e tambm terminolgicos (Vogel,
2007, p. 56).

318
Assim, procuraremos relembrar tais parmetros lingusticos e terminolgicos que amparam as
teorias das LDs, brevemente.
Em ensaio de 1997, para introduzir o conceito de Linguagens Documentrias, Tlamo aponta
como base as propostas da Lingustica Estrutural para o desenvolvimento daquelas linguagens e da
prpria rea de Anlise Documentria. De acordo com a autora,

problemas relativos comunicao passam a integrar o quadro de
discusses da rea no momento em que se torna clara a importncia da
noo de linguagem. Evidencia-se que operar com o universo da linguagem
no se confunde com a verbalizao de denominaes de classes pr-
determinadas (Tlamo, 1997, p. 3).
preciso entender, portanto, que intrnseco palavra significar de
maneira prpria a cada ocorrncia (...). As LDs, ao contrrio, porque so
elaboradas para o exerccio estrito da funo informativa, compreendem
unidades capazes de representar informao. No suficiente que tais
unidades signifiquem. necessrio que elas signifiquem de maneira
determinada (Cintra et al, 2002, p. 69).

Tlamo alerta para o fato de que

imagina-se que ao agrupar uma srie de palavras tpicas de uma rea de
conhecimento garante-se a forte credibilidade desse conjunto de palavras,
tornando representativo. Ora, somente a rede de relaes das unidades de
uma linguagem que pode contribuir para o exerccio de qualquer
representao (Tlamo, 1997, p. 4).
Quando optamos pela utilizao de uma Linguagem Documentria para
representao das informaes de um sistema, desejamos, entre outras
coisas, reduzir a redundncia, as ambiguidades, polissemias, variaes de
seus elementos, ou seja, buscamos univocidade interpretativa via controle
do vocabulrio: escolhemos quais termos sero as unidades preferenciais,
explicitamos ou indicamos a correspondncia unidades/conceitos, e
procuramos controlar a sinonmia. Dessa forma, tambm estabelecemos
um controle sobre a significao, como um modo de orientar a busca de
informaes (Vogel, 2007, p. 62-63).

Por ter como objetivo a comunicao, a Linguagem Documentria construda sob forma de
linguagem. Mais que isso, a Lingustica Documentria reconhece a natureza da comunicao
documentria e afirma a necessidade de composio de quadros de referncia para a anlise,
avaliao e construo dessa modalidade de linguagem construda (Tlamo, 2001, p. 142).

No entanto, no basta uma estrutura e relaes para que a Linguagem
Documentria seja bem sucedida; preciso que, durante sua elaborao,
seja estabelecido um princpio de classificao que se desenha de acordo
com os usurios e a rea de conhecimento ou atividade selecionada. Do
mesmo modo, necessrio que se considere os objetivos da instituio ou
comunidade que de fato far uso dessa Linguagem Documentria. A
elaborao deve levar em conta os conceitos utilizados nesse mbito
(Vogel, 2007, p. 63).

319

No ambiente digital e na web, um obstculo comum o fato de que os sistemas baseiam suas
investigaes em correntes de signos e no em conceitos. Assim a palavra co tratada como a
sucesso de signos c, , o e no como um conceito traduzvel (dog, chien, perro, ...), que pertence
subclasses dos mamferos, animais domsticos etc (Moreiro Gonzalez, 2011, p. 34).
Em relao aos signos nas Linguagens Documentrias, Lara afirma que os descritores no so
etiquetas, mas o resultado de uma construo julgada pertinente para a significao (Lara, 1999, p.
66). Para Le Guern (1989), palavras so independentes das coisas e os termos se referem s coisas,
localizando-as em reas do conhecimento. Para o autor, as palavras tm significado, mas no tm
referncia e representam propriedades e qualidades de um objeto e no o objeto. Uma palavra passa
a ser um termo quando remete a uma classe que foi atribuda a um objeto dentro de um universo
determinado. Este processo denominado por Cabr (1993, p. 119) de terminologizao, ou seja, as
palavras da lngua comum adquirem significados especficos, pertinentes a determinado campo do
saber cientfico ou tcnico.
Uma forma de compreender o que foi dito acima comparar um dicionrio de lngua e um
dicionrio especializado. No primeiro, as palavras tm inmeros significados; no segundo, tm o
significado que se localiza numa rea de especialidade, correspondendo, portanto, ao conceito.
Assim, quando se pensa na organizao de contedos informacionais por meio de descritores, so os
conceitos sua referncia, no as palavras (Vogel, 2007, p. 78). E aqui, apoiamo-nos na Terminologia,
pois a converso do conceito em termo de uma rea especfica vai garantir a funo comunicativa de
uma linguagem documentria, como o caso dos vocabulrios estruturados, isto , vai garantir a
representao da informao de maneira efetiva e adequada.
A relao entre Terminologia e Documentao, ou mais especificamente entre Terminologia e
Linguagens Documentrias existe e positivamente reconhecida por diversos autores, tanto da
Terminologia como da Cincia da Informao (Le Guern, 1989; Lara 1993, 1999; Sager, 1990, 1993;
Cabr, 1999; Tlamo et al, 1992; Tlamo 2001; entre outros).
A relao entre termo e conceito pode ser determinada segundo o contedo semntico de
cada conceito, por meio de relaes lgicas de gnero/espcie, causa/efeito, ou pelas relaes
associativas abstrato/concreto, parte/todo, objetivo/meio e relaes de oposio. As relaes do
segundo tipo servem mais para explicar os conceitos do que para classific-los. Aqui fica evidente,
tambm, a presena da noo de estrutura, como sistema de relaes mtuas entre os conceitos,
garantia de sua significao (Vogel, 2007, p. 80).
Recorremos s normas terminolgicas para entender Conceito, Caractersticas, Definio, e
Designao:

Conceito: unidade de conhecimento criada pela combinao nica de caractersticas
(ISO 1087-1, 2000, p.2) ou representaes mentais de objetos de dentro de um campo
ou contexto especializado (ISO 704, 2000, p.2);
Caracterstica: abstrao de uma propriedade de um objeto ou de um conjunto de
objetos. Existem categorias essenciais (indispensveis ao objeto), e delimitadoras
(usadas para distinguir objetos) (ISO 704, 2000, p. 3);
Definio: representao de um conceito por meio de um enunciado descritivo que
serve para diferenci-lo de conceitos relacionados (ISO 704, 2000, p. 6). A combinao
nica de caractersticas criando a intenso dever identificar o conceito e diferenci-
lo de outros conceitos (ISO 704, 2000, p. 15);
Designao: representao de um conceito por um signo que o denote (ISO 704, 2000,
p. 6). Pode ser smbolo, nome (designao verbal), e termo (designao verbal num
campo especfico).

320

Os conceitos contextualizados na linguagem especial do campo de
conhecimento pode ser expresso nas vrias formas de comunicao
humana de acordo com o sistema utilizado. Na linguagem natural,
conceitos podem assumir a forma de termos, nomes, definies ou outras
formas lingusticas; na linguagem artificial, pode assumir a forma de
cdigos ou frmulas, enquanto em grficos, podem ter a forma de cones,
figuras, diagramas ou outras representaes grficas. Conceitos tambm
podem ser expressos com o corpo humano como feito na linguagem de
sinais, expresses faciais ou movimentos do corpo (ISO 704, 2000, p. 2).

A formao do conceito acontece pelo reconhecimento de objetos e seu agrupamento em
unidades significativas em um dado campo. Objetos que partilham as mesmas propriedades so
agrupados em unidades. E essas propriedades so as caractersticas abstradas desses objetos, e
combinadas com um conjunto na formao do conceito. Caractersticas esto constantemente sendo
combinadas a fim de criar conceitos, embora diferentemente em diferentes culturas, campos ou
escolas de pensamento (ISO 704, 2000, p. 3).

Caractersticas so consideradas essenciais se elas forem
indispensveis para o entendimento do conceito num campo particular de
conhecimento; a ausncia de uma caracterstica essencial
fundamentalmente muda o conceito. A ausncia de uma caracterstica
fundamental no curso de uma anlise levar ao entendimento pobre ou
mesmo errneo do conceito (ISO 704, 2000, p. 4).

Deve-se notar que a mesma propriedade de um dado objeto pode ser abstrada como uma
caracterstica essencial de um conceito em um campo de conhecimento mas no essencial em outro
(ISO, 2000, p. 5).
Essa discusso busca trabalhar a questo da ambiguidade. Para reduzi-la, uma das
possibilidades seria colocar o termo, como, por exemplo, o descritor em ingls Table em categorias
ou classes que o definam moveis para o lar ou bases de dados. Como lembra Vatant:

Estes contextos tm de ser formalmente identificados e declarados j
como sendo um conceito genrico ou relacionado, ou como um esquema
conceitual (em funo do nvel de granularidade). No suficiente o
simples indcio do contexto por um qualificador como na prtica dos
tesauros (Vatant, 2010).

Sobre o uso de qualificadores, Vatant comenta que em casos assim, como por exemplo,
Atores Psicologia, ainda que a soluo parea lgica aos usurios humanos, a descrio formal
deste conceito no proporciona enlaces nem a Atores e nem a Psicologia. Para aplicaes da
Web semntica, esta relao deve ser explcita para ser utilizvel (Vatant, 2012). Ele prossegue:

Uma consequncia indireta da elaborao destes exemplos para o
gestor de vocabulrio obrigar a uma reflexo sobre a semntica
subjacente da sintaxe, que deveria ter sido levada em conta h anos. Para a
migrao automtica ao formato da Web Semntica, as construes
sintticas idnticas devem ser interpretadas e processadas de mesma

321
maneira. Mas parece que averiguar uma semntica geral para tais
separadores, vai mais alm de um geral e vago SKOS: related, e que tal
semntica seja vlida totalmente em um vocabulrio grande, como
RAMEAU ou LCSH, no uma tarefa obvia. Mesmo havendo pautas para os
administradores de vocabulrios explicando em linguagem natural o que
dever ser a utilizao correta de cada construo sinttica, em geral no h
maneira de fazer cumprir essas diretrizes no sistema de gesto de
vocabulrios, por no falar da avaliao das consequncias de seu uso
incorreto (Vatant, 2010).

Completando essa noo, Cabr e Codina (2001, citados por Caro-Castro, 2006, p. 1) afirmam
que:

Tanto o conhecimento armazenado nos documentos como a
necessidade de informao dos usurios se representam mediante
conceitos, seriam estes a via ideal para estabelecer relaes entre ambos os
extremos. Porm, como no podemos manejar diretamente os conceitos,
temos de faz-lo por meio dos signos que os representam.

Exemplo interessante dado por ECO no texto Marco Polo e o Unicrnio (Eco, 1997, p. 55-56).
Em suas viagens, Marco Polo depara-se com um rinoceronte, animal que no conhecia de nenhuma
forma. Cruza algumas caractersticas que v com algumas que ouviu falar: possui quatro patas, e tem
um nico chifre. Chega noo de unicrnio. No entanto, esta noo possui outros traos alm
desses: unicrnios so brancos, geis, belos e dceis, ao passo que o animal que v diante de seus
olhos possui pelos de bfalo, ps de elefante, chifre negro e desgracioso, e feio e arisco. Assim,
faltam a Marco Polo caractersticas para constituir o conceito.
Voltando Web Semntica, e sua orientao ao conceito e no a descritores, entendemos que
a anlise lingustica e terminolgica dos traos desses conceitos se faz necessria para podermos
criar ambientes de interoperabilidade realmente funcionais. Ou seja, possvel afirmar que as
implicaes lingusticas e terminolgicas continuam as mesmas j observadas nas LDs antes da Web
Semntica. O controle do vocabulrio, ponto de vista da significao no se resolve pela simples
interoperabilidade. Novamente, nesse processo, apenas cadeias de significantes ou de letras esto
sendo lidos, no conceitos.
nesse contexto que inserimos a discusso sobre a teoria do campo semntico apoiada na
definio dos conceitos e suas denominaes, os termos do domnio, como um dos fundamentos a
serem considerados quando do desenvolvimento de vocabulrios estruturados para a web semntica
e a efetiva interoperabilidade lexical, semntica e terminolgica desses instrumentos.

3 O Campo semntico, a definio e as ontologias

Determinar o campo em lingustica , segundo os pressupostos epistemolgicos, procurar
descobrir a estrutura de um domnio dado, ou propor a ele uma estruturao (Dubois, et al, 2011 p.
95).
A noo de campo semntico aparece sempre relacionada ao trabalho de Jost Trier na dcada
de 30, sobre o vocabulrio alemo do conhecimento do sculo XIII e XIV, ainda que o autor
preferisse utilizar os termos campo lexical, campo conceitual, campo lingustico de signos, etc.
(Germain, 1981, p. 39). O mrito de Trier, para Germain (1981, p.42) seria o estudo sistemtico do

322
campo da inteligncia, reunindo sob um todo coerente, as ideias de outros autores, o que permite
identific-lo como o criador da noo de campo semntico.
Como bem coloca Lopes (1987, p. 242) Trier, observou que as unidades lxicas de uma lngua
encontram-se organizadas em grupos estruturados de tal modo que cada unidade fica ali definida
pelo lugar que ocupa respectivamente posio das demais, isto , o sentido de elementos lexicais
especificado somente por sua semelhana e sua diferena em relao aos outros elementos
relevantes do campo.
A teoria de Trier pode ser resumida em: o lxico de uma lngua aparece constitudo por um
conjunto hierarquizado de palavras (campos lxicos) de modo que cada grupo de palavras recobre
exatamente um mbito bem delimitado ao nvel das noes (campos conceituais) e cada um destes
campos, tanto lxico quanto conceitual, est formado de unidades justapostas como as pedras
irregulares de um mosaico (Germain, 1981, p. 42).
Esta hiptese parte das seguintes premissas, 1) existe anteriormente estruturao de uma
lingustica formal, uma certa organizao no lingustica da experincia humana. 2) a totalidade do
lxico de uma lngua se apresenta com uma hierarquizao de campos lxicos justapostos, sem
lacunas e nem sobreposies; 3) uma palavra s adquire seu significado por oposio as outras
unidades do mesmo campo (Germain, 1981, p. 44).
Na medida em que a estruturao constitui a essncia fundamental da linguagem, todos os
elementos lingusticos so resultado dessa estruturao. Assim, Trier denomina campo conceitual as
organizaes ao nvel do pensamento e campo lexical as organizaes ao nvel da lngua (Germain,
1981, p. 46).
J Matoso Cmara Jr. distingue a organizao dos elementos do lxico no nvel lexical e no
nvel semntico, onde o campo lexical formado por famlias etimolgicas, isto , constitudo por
palavras cognatas, j o campo semntico formado por famlias ideolgicas, isto , constitudo por
palavras do mesmo universo de significao (Bastos, 2002, p. 327).
Genouvrier e Peytard (1974, p. 318) definem campo lexical como o conjunto de palavras que a
lngua agrupa ou inventa para designar os diferentes aspectos, ou os diferentes traos semnticos,
de uma tcnica, de um objeto, de uma noo: o campo lexical do automvel, da lgebra, etc. No que
se refere ao campo semntico, o definem como o conjunto de empregos de uma palavra (ou
sintagma, ou lexia) onde e pelos quais a palavra adquire uma carga semntica especfica e a
delimitao destes empregos se daria pelo levantamento de todos os contextos imediatos que a
palavra recebe num texto dado.
De acordo com o Dicionrio de Lingustica (Dubois, et al., 2011, p. 532) denomina-se campo
semntico a rea coberta, no domnio da significao, por uma palavra, ou por um grupo de palavras
da lngua. Assim, podemos identificar com pertencentes ao campo semntico da palavra mesa as
seguintes palavras: mesa de refeies, mesa redonda, mesa da Assembleia, mesa de operao, mesa de
som, etc.
Neste trabalho utilizaremos a denominao campo semntico para indicar os limites, no plano
da significao, do emprego dos descritores de um vocabulrio estruturado no processo de
representao e de recuperao de uma informao no mbito da web semntica.
A estruturao de um vocabulrio para fins de representao e recuperao da informao
inicia-se com a identificao das categorias de um dado domnio, como por exemplo, no caso da
Medicina, no Vocabulrio Controlado da USP, onde constam como grandes categorias: Diagnstico,
Doenas, Equipamentos e Provises Hospitalares, etc..., sob as quais esto agrupados todos os demais
termos do domnio.
Da mesma maneira, segundo Hernando Cuadrado (1995, p. 98-99) as palavras que integram um
campo semntico devem pertencer mesma categoria, pois o campo semntico de uma palavra est
constitudo por todas as que se relacionam com ela no plano do significado, correspondendo a
grupos de associaes como:

323

significante e significado (calor, caloria, calorfico)
significado (calor, ardor, energia, fervor)
significado e referente (fresco, frio, quente)

O autor indica que esta caracterizao deve ser restrita por algumas limitaes, do tipo: a
condio mnima para que as palavras pertenam a um mesmo campo que tenham um trao
significativo (sema) comum (quanto maior o nmero de semas tanto mais coerente ser o campo
semntico e no geral um menor nmero de palavras o integra); uma palavra pode tomar parte de
todos os campos semnticos que se construam sobre qualquer dos traos significativos que se
descubram nela; quando uma palavra possui vrios significados, cada um deles pertence a um campo
semntico distinto.
Umberto Eco em seu Tratado de Semitica Geral (1981, p. 141-156) coloca que os campos
semnticos so segmentrios e mostram a viso de uma cultura e que nessa cultura podem existir
campos semnticos complementares ou contraditrios. Da mesma maneira, uma mesma unidade
cultural pode, dentro de uma mesma cultura, formar parte de campos semnticos diferentes. No
mbito de uma cultura, um campo semntico pode desfazer-se e voltar a reestruturar-se em um
novo campo.
Da mesma maneira, a hierarquia interna dos termos de um campo semntico pode ser
alterada a partir de mudanas externas que afetam seu contexto. Por exemplo, com relao ao termo
calas que antes tinha o trao s para homens, o qual foi perdido, j que a pea passou a integrar o
guarda roupa feminino (Hernando Cuadrado, 1995, p.99).
No caso da linguagem natural, a dificuldade em operacionalizar a constituio de um campo
semntico est em que cada lngua expressa uma cultura prpria, uma viso de mundo, que se
manifesta atravs do lxico. Um grupo pode ter interesses particulares que o levam a distinguir
alguns aspectos significativos que no tem importncia para os demais. Por esse motivo, no caso da
linguagem documentria, como os vocabulrios estruturados para a web semntica, estes devem ter
como referente terminologia do domnio, pois esta no s reconhecida pela comunidade no
processo de busca pela informao, mas tambm obedece a critrios precisos de denominao e
definio, apoiados nas normas internacionais.
Segundo Aguado de Cea et al (2009, p. 231) as categorias utilizadas para etiquetar o campo
semntico esto estritamente relacionadas com outros estudos em semntica que recorrem ao lxico
e categorizam o mundo real como os dicionrios, os tesauros e as redes semnticas. Os tesauros
agrupam as palavras de acordo com um conjunto padronizado de relaes como as hierrquicas, as
associativas e as de equivalncia. As redes semnticas agrupam os termos em um domnio de
conhecimento de acordo com as relaes reais que ocorrem nesse domnio. Em qualquer um dos
casos, se coloca a necessidade de desambiguao do sentido, tema de estudos na lingustica
computacional que tem como objetivo a elaborao de etiquetagem automtica do significado, seja
no caso de uma palavra com vrios significados, seja na coincidncia formal de duas palavras
diferentes.
Com o desenvolvimento da web semntica o autor coloca a necessidade de novos tipos de
anotaes capazes de indicar o significado ou contedo semntico de um documento para que seja
processado por computadores. Essa marca semntica que inclui o contedo informacional da pgina
a ser publicada na web semntica passa pela escolha da linguagem (XML, RDF, OWL), pela adio de
comentrios ou anotaes semnticas (metadados) e pela racionalizao com estes metadados. Para
chegar ao consenso do significado desenvolvem-se as ontologias (Aguado de Cea et al, 2009, p. 245).
No sentido filosfico ns podemos nos referir Ontologia como um sistema particular de
categorias a partir de uma determinada viso de mundo (Guarino, 1998). De acordo com Breitman
(2005, p. 7) ontologias so especificaes formais e explicitas de conceptualizaes compartilhadas.

324
Modelos conceituais que capturam e explicitam o vocabulrio utilizado nas aplicaes semnticas,
servem como base para garantir uma comunicao livre de ambiguidades na chamada web
semntica.
Para Moura (2011, p. 167) as ferramentas ontolgicas so dispositivos informacionais
contextualizados e desenvolvidos sob um ponto de vista especfico com o objetivo de orientar a
organizao da informao temtica em um dado contexto informacional. Ao mapear uma dada rea
do conhecimento, indicando suas categorias gerais e especficas esta ferramentas tambm operam
no mbito do campo semntico.
Segundo Degoulet et al citado por Moura (2011, p. 168) a interoperabilidade semntica requer
a articulao de trs elementos: a terminologia, a explicitao das relaes semnticas dos
elementos da terminologia e a representao dos conceitos nas mensagens. A terminologia seria o
vocabulrio controlado do domnio. As relaes semnticas articulam a rede de conceitos deste
domnio e expressam a natureza de cada conceito que a integra. A representao dos conceitos nas
mensagens visa compatibilizar as diferentes formas atravs das quais as organizaes se referem aos
dados semelhantes. Essa representao s possvel com a incluso das definies de cada conceito
na ontologia, definio essa que deve compilar os enunciados verdadeiros, isto , as caractersticas
essenciais e acidentais a respeito de determinado objeto ao qual o conceito se refere (Dahlberg, 1978,
p. 106).
Como a rede de relaes entre os conceitos de um domnio estruturada a partir destas
caractersticas possvel mapear o campo semntico deste domnio. Da mesma maneira, estas
caractersticas elencadas em uma definio expressam a natureza de cada conceito, indicando a sua
posio no interior do campo semntico e possibilitando inmeras articulaes semnticas.
Parece claro que para a interoperabilidade entre instrumentos que pretendam representar o
conhecimento na web semntica deve ser considerado o mapeamento dos vrios campos semnticos
que constituem um domnio, ou mais especificamente as caractersticas elencadas nas definies dos
conceitos que constituem esse campo. Dessa maneira possvel estabelecer um vnculo entre termo,
conceito e significado.
A definio resulta de uma anlise e descrio de grandezas signicas, situando-se, pois, no
nvel semitico pelo menos no que diz respeito ao seu ponto de partida. Se o conceito resultado de
uma interpretao de fatos naturais e/ou culturais, a definio o resultado de uma interpretao
de unidades lexicais. Conceituar o processo de um modelo mental que corresponde a um recorte
cultural e, em seguida, de escolha da estrutura lxica que pode manifest-la de maneira eficaz. Este
processo parte do mundo natural. Definir o processo de analisar e descrever o semema lingustico
para reconstruir o modelo mental: o seu ponto de partida a estrutura lingustica manifestada
(Barbosa 2001, p. 153).
Ao tratar da problemtica da definio a autora tambm distingue campo conceptual, campo
lexical e campo semntico e suas respectivas unidades: conceito, vocbulo/termo e semema. O
campo conceptual, conjunto de conceitos, o resultado do processo de conceptualizao do saber
sobre o mundo pr-lingustico. O campo lexical, conjunto de vocbulos/termos que tem um
ncleo smico comum, resulta da converso da informao conceptualizada em significao
lingustica. O campo semntico constitui um conjunto de sememas e resulta da interseco do
significado das unidades lexicais (vocbulos/termos) de um campo lexical. As relaes entre os trs
no so simtricas, visto que um campo lexical pressupe e contm necessariamente seus
correspondentes no campo conceptual e no campo semntico, entretanto um campo conceptual
pode no ter ainda os campos lexicais e semnticos que lhes correspondem. Assim, a definio
resulta do fazer interpretativo do sujeito que articula os semas que identificam o conceito, o que em
um discurso terminolgico eminentemente paradigmtico, como processo e como produto
(Barbosa, 2001, p. 154).
A definio permite ainda, situar o conceito dentro do sistema conceitual a que pertence
relacion-lo e delimit-lo a respeito de outros conceitos graas a suas caractersticas (Sager , 1993
apud Azarian, 2011, p. 3).

325
Azarian e Tebe (2011, p. 13) ao discutirem a metodologia para a elaborao da definio
terminolgica citam Cabr (1993) e De Besse (1997) que consideram a definio terminolgica como
um ponto intermedirio entre a definio lingustica e a definio ontolgica: a definio lingustica
inclui as caractersticas que permitem diferenciar uma noo das demais no sistema lingustico; a
definio ontolgica consiste na enumerao exaustiva das caractersticas de um conceito e tem
como finalidade incluir toda a informao possvel relativa a este conceito, ainda a definio
terminolgica pretende identificar um conceito no mbito temtico dado mediante a enumerao
das caractersticas essenciais que devem ser somente as caractersticas necessrias e suficientes para
esta identificao.
Desmet (2002, p.177) ao analisar a problemtica da definio terminolgica indica que
elaborar uma definio o primeiro nvel de anlise do sentido dos termos. Segundo a autora a
definio do dicionrio segue o modelo aristotlico de incluso lgica ou hiperonmica em que uma
classe de objetos includa em outra classe de objetos. A especificidade marcada pela incluso de
traos distintivos do referente, que marcam a diferena entre duas unidades lexicais classificadas
sob o mesmo hipernimo.
Esta definio, segundo Desmet (2002, p. 181) a base tanto dos dicionrios quanto das
terminologias. As principais diferenas ocorrem na escolha do includente e das diferenas
especficas. Por exemplo, pinheiro pode ter como hipernimo tanto rvore resinosa (gnero
comum a todos os falantes para os dicionrios) quanto confera (gnero prximoque um termo
tcnico da Botnica para a terminologia).
O termo, segundo Cabr (2000) uma unidade singular e s vezes similar a outras unidades de
comunicao, dentro de um esquema global de representao da realidade, admitindo variao
conceptual e denominativa, e levando em conta a dimenso textual e discursiva dos termos.
A norma ISO 1087 (1990) s reconhece a definio por compreenso, tambm denominada
definio intensional e a definio extensional. Temos aqui dois aspectos da definio, sua extenso
e sua intenso ou compreenso. A extenso da palavra consiste na classe de todas as coisas a que o
objeto se aplica. J a intenso ou compreenso de uma palavra a classe das propriedades que
determinam os objetos a que a palavra se aplica. Consiste nas propriedades que um objeto precisa
possuir a fim de estar na extenso do vocbulo.
A questo da extenso e da intenso tambm est presente nas ontologias, ao afirmar que uma
ontologia uma especificao formal e explcita de uma conceptualizao compartilhada, Gruber
(1993) considera que a conceptualizao reside no nvel das relaes extensionais. J Guarino e
Giaretta (1995) que afirmam que o mais adequado seria investir na noo de que a conceptualizao
reside no nvel das relaes intensionais.
Isto corroborado pelo fato de que a definio por extenso imprecisa, pois supe que o
sujeito pode reconhecer outros elementos da extenso por similaridade em relao ao exemplo
selecionado. No caso, quando se exibe objetos reais da extenso da palavra, por exemplo, para fixar o
significado da palavra co se exibe uma grande variedade de ces. O mesmo no seria possvel se
tivssemos que utiliz-la para definir paixo, dor, justia, azul, amarelo, etc. J a definio por
intenso vai indicar o gnero prximo e a diferena especfica relacionando os critrios, traos,
caractersticas que permitem dizer se um determinado objeto cabe ou no dentro dessa classe.
Assim, para definirmos essencialmente algo precisamos: enunciar o gnero prximo ao qual
pertence o conceito e enunciar a diferena especfica. Ao enunciarmos o gnero prximo indicamos
o campo semntico, ao enunciarmos a diferena especfica estabelecemos o seu limite.
Em outras palavras, delimitamos o campo semntico em que o conceito/termo/descritor se
inscreve ao instaurarmos o trao comum a toda uma classe de termos, que estaro, por essa razo,
associados, ou seja, a classe em que o sentido especfico de um conjunto de termos se define. Ao
fornecermos os traos especficos do conceito/termo/descritor de modo a individualiz-lo no
interior de uma classe estabelecemos a disjuno entre os conceitos/termos/descritores dentro do
mesmo campo.

326
A partir disso, coloca-se a necessidade de buscar uma metodologia que permita
operacionalizar a demarcao do campo semntico, apoiado nas definies intensionais dos
conceitos/termos/descritores de maneira que estas definies sejam includas como metadados na
modelagem de ontologias interoperveis que permitam no s a organizao do conhecimento do
domnio, mas tambm a recuperao da informao.

Consideraes finais

Entre 2005 e 2012, as normas foram revisadas, porm as estruturas lidam com as mesmas
dificuldades semnticas. As normas de vocabulrios estruturados permitem mapeamento entre
vocabulrios, interoperabilidade e modelo de dados em XML que separa as classes de conceito e de
termos de forma mais rigorosa. O W3C (World Wide Web Consortium) desenvolveu a SKOS (Simple
Knowledge Organization Systems) para vocabulrios estruturados com modelo de dados a distino
entre conceito e as etiquetas usadas para represent-los. Na relao entre conceitos e suas etiquetas,
ou seja, entre conceitos, termos e descritores, os quais acabam transformados em metadados,
necessrio explicitar os campos semnticos, a rea coberta ou seu domnio de significao,
indicando a carga semntica que o delimita e seus contextos. Essa delimitao s possvel atravs
das caractersticas presentes nas definies de cada elemento do campo.
As relaes semnticas dos vocabulrios estruturados portanto, devem ser desenvolvidas por
especialistas com aportes da lingustica, da lgica e da terminologia e estudos nessas reas
continuam sendo fundamentais para estes formatos, mesmo quando interoperveis.
Sem esse aporte, continuaremos trabalhando no nvel sinttico.

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330
ABORDAGEM DA LINGUAGEM NA PRODUAO CIENTFICA DO CAMPO DA ORGANIZAO DO
CONHECIMENTO (KO)

ELAINE DE OLIVEIRA LUCAS
Universidade do Estado de Santa Catarina
[email protected]

MARILDA LOPES GINEZ DE LARA
[email protected]

JOSE ANTONIO MOREIRO-GONZLEZ
[email protected]

Resumo A pesquisa tem como objetivo identificar a produo cientfica que aborda questes relativas
linguagem em estudos no campo da Organizao do Conhecimento (Knowledge Organization - KO). Como
objetivo principal pretende-se identificar como as principais tendncias dos estudos de KO enfrentam as
questes da linguagem, verificando que subtemas foram privilegiados nesse percurso e que redes cientficas
surgiram, a partir da anlise de um corpus constitudo pela produo bibliogrfica publicada entre 1997 e 2011
em portugus e espanhol e repertoriada nas bases de dados Library Information Science Abstract (LISA),
Library, Information Science & Technology Abstracts (LISTA), Scopus e Web of Science. Do ponto de vista do
mtodo, compreende o levantamento bibliogrfico, a seleo do corpus, a anlise e a sistematizao. Em
relao seleo do corpus os textos recuperados foram selecionados observando-se o ttulo, o resumo e as
palavras-chave. Para o mapeamento do corpus utilizamos, como parmetro, o Classification System for
Knowledge Organization Literature da ISKO. Para a anlise quantitativa e relacional, as metodologias de ARS e
Bibliometria, que auxiliaram na organizao dos dados e na identificao dos relacionamentos entre autores.
Os resultados permitiram reunir informaes sobre a distribuio dos artigos por idiomas e por peridicos,
autores mais produtivos (elite de pesquisa), bem como respostas positivas das bases de dados quanto ao tema
pesquisado.

Palavras-chave Abordagem da linguagem em Knowledge Organization. Anlise temtica em Knowledge
Organization. Redes cientficas.

Abstract This research aims to identify the scientific approach that addresses issues regarding language in the
field of Knowledge Organization. The main goal is to identify how the principal tendencies in Knowledge
Organization studies deal with language issues, verifying which subthemes received more attention along that
path and what scientific networks emerged, by analyzing the bibliographic production between 1997 and 2011
in Portuguese and Spanish listed on the databases of the Library Information Science Abstract (LISA), Library,
Information Science & Technology Abstracts (LISTA), Scopus and Web of Science. The methodological point of
view includes the bibliographical survey, selection of the chosen texts, analysis and systematization.
Regarding the selected works, they were chosen according to titles, abstracts and keywords. To map the
selected texts, we used ISKOs Classification System for Knowledge Organization Literature methodology. For
the quantitative and relational analyses, the ARS and Bibliometrics methodologies helped in data organization
and in creating relationships between authors. The results allowed us to gather information on the
distribution of articles according to language and journal, most productive authors and positive answers given
by the databases regarding the researched item.

Keywords Language approach on Knowledge Organization. Thematic analysis in Knowledge Organization.
Scientific network.

331
Introduo

Conhecer a produo cientfica sobre Knowledge Organization (KO) em lngua portuguesa e
espanhola, identificar as relaes existentes entre os pesquisadores (autores e coautores), bem como
os temas tratados nos estudos, equivale a reunir dados para auxiliar o mapeamento do campo
cientfico relativo ao domnio investigado. Esse objetivo faz parte do projeto de doutorado
desenvolvido junto ao Programa de Ps-Graduao em Cincia da Informao da Escola de
Comunicao e Artes da Universidade de So Paulo (USP), bem como do conjunto de preocupaes
sobre KO dos autores deste trabalho.
Parte-se do pressuposto de que a linguagem central na organizao da informao e do
conhecimento (KO), quer porque as operaes documentrio-informacionais se desenvolvem no
universo da linguagem, quer porque a recepo e a interpretao se realizam em linguagem.
Integrando uma pesquisa mais ampla, este trabalho se prope a explorar alguns dos
elementos que permitiriam contribuir para traar um mapa de tendncias das pesquisas sobre KO,
focalizando especificamente, para o perodo compreendido entre 1997 e 2011, nos idiomas portugus
e espanhol, a incidncia de artigos relativos KO que abordam questes de linguagem.
No levantamento ora realizado, pretendemos mostrar a distribuio dos artigos pelos ttulos
de peridicos, a condio da autoria (individual ou mltipla) e a identificao da elite de pesquisa. A
pesquisa revelar, tambm, o grau de especializao dos ttulos de peridico relativamente ao tema,
alm da identificao da coincidncia de ttulos recuperados nas diversas bases de dados
internacionais.
Partimos do pressuposto que estudos dessa natureza constituem uma ferramenta ltil para a
identificao dos temas privilegiados e das tendncias de pesquisa, cuja anlise pode trazer
contribuies importantes para o aperfeioamento das metodologias relacionadas ao tratamento da
informao, com consequncias para o ensino, a pesquisa e a interlocuo entre pesquisadores.
Inmeros so os autores que falam sobre a importncia dos estudos da linguagem para a KO,
seja na literatura hispanfona ou lusfona, em diversos momentos e destacando diferentes aspectos.
Desde meados da dcada de 60 (sc.XX), as reflexes e a prtica documentria tm se reportado s
questes da linguagem, principalmente na tica estruturalista ou de seus desenvolvimentos
(abordagens lingustico-semiticas, anlise do discurso, teorias de enunciao etc), com resultados
palpveis para as metodologias de leitura, indexao e construo de linguagens documentrias.
Autores em lngua inglesa, mais recentemente, tambm tm pontuado a importncia terica dos
princpios semnticos, pragmticos e hermenuticos subjacentes ao entendimento lingustico e
comunicacional relacionados s questes da organizao e circulao da informao. Uma incurso
na literatura publicada internacionalmente nos idiomas espanhol e portugus permitir,
certamente, contribuir para a identificao do quadro da pesquisa no perodo.

1 Metodologia

A pesquisa usa diferentes mtodos de acordo com as fases da pesquisa: 1
a
. fase: levantamento
bibliogrfico para a delimitao do corpus de anlise; 2
a
. fase: utilizao da Anlise de Redes Sociais
para a organizao dos dados e identificao das relaes entre eles; 3
a
. fase: anlise qualitativa dos
dados, a partir das noes de campo, capital social e capital cientfico. O trabalho ora apresentado
refere-se a alguns dos resultados alcanados na primeira etapa organizados a partir das
metodologias referidas para a segunda etapa da pesquisa.
A constituio do corpus de anlise foi realizada a partir da consulta s bases. Os artigos
recuperados foram selecionados observando-se o ttulo, o resumo e as palavras-chave. A anlise
privilegiou os aspectos mencionados no objetivo, perseguindo a identificao dos autores,
metodologias propostas e procedimentos adotados. As perguntas a serem respondidas foram,

332
considerando o universo dos idiomas portugus e espanhol correspondente a artigos publicados
entre 1997 a 2011: que artigos contemplam o tema da abordagem lingustica ou das teorias da
linguagem no perodo assinalado? Quem so os autores desses artigos? Como a distribuio dos
artigos entre os autores? Como eles publicam: individualmente ou com outros autores? Quais so os
peridicos que mais contemplam o tema? Quais so as bases que mais respondem positivamente s
questes colocadas? H respostas redundantes comparando-se os resultados das vrias bases de
dados internacionais?
A definio das bases internacionais pesquisadas foi feita a partir da identificao, no Portal
de Peridicos CAPES - Coordenao de Aperfeioamento de Pessoal de Nvel Superior
1
, selecionando-
se aquelas que disponibilizam artigos em texto integral, a saber: Web of Science, disponibilizada pela
Thomson Scientific e Scopus, publicada pela Elsevier, ambas de abrangncia internacional e com
cobertura multidisciplinar; Library, Information Science & Technology Abstracts (LISTA) disponibilizada
pela plataforma EBSCOhost; e Library Information Science Abstract (LISA), editada e disponibilizada
pela ProQuest, ambas de abrangncia internacional e especializadas na rea da Cincia da
Informao.
O corpus foi constitudo por artigos no domnio referido e no recorte idiomtico assinalado
espanhol e portugus -, publicados entre 1997 e 2011. Sua delimitao foi realizada utilizando a
equao de busca que contempla termos relacionados linguagem, conforme quadro abaixo.

Equao de busca

(ibliographic classification OR Categories OR Categorization OR Classification OR Classification of
Knowledge OR Classification scheme OR Classification system OR Controlled language OR Controlled
vocabulary OR Document analysis OR Document organization OR Documentary language OR Facet analysis OR
Facet classification OR Facet classification schemes OR Index languages OR Indexing OR Indexing language OR
Information organization OR Knowledge Organization OR Knowledge Representation OR Knowlege Organization
Systems OR KOS OR arkup language OR Natural languages OR Ontologies OR Ontology OR Retrieval Languages
OR Semantic vocabularies OR Simple Knowledge Organization System OR SKOS OR Strutured vocabulary OR
Subject analysis OR Subject approach to information OR Subject cataloguing OR Subject heading OR Subject
Headings Schemes OR Subject Indexes OR Subject Indexing OR Synonym rings OR Taxonomies OR Terminologies
OR Thesauri OR Thesaurus OR Topic aps OR Vocabularies OR Vocabulary control OR web semantics)
AND
(Language OR Language theories OR Linguistics OR Linguistics theories OR
Semantics OR Terminology OR Lexicology)

Quadro 1 - Equao de busca - Termos e filtros utilizados
2

O mapeamento especfico do corpus ser realizado na 3
a
. fase da pesquisa, tendo como
parmetro o Classification System for Knowledge Organization Literature da ISKO, elaborado por Dahlberg
em 1974.

1
http://www.periodicos.capes.gov.br/
2
Fonte: desenvolvido pelos autores

333
Sistema de classificao da literatura em
Organizao do conhecimento

Grupo 1 Fundamentos tericos e problemas gerais de Organizao do Conhecimento. Contedos:
Ordenao e Organizao do Conhecimento, Conceptologia em Organizao do Conhecimento, Matemtica e
Organizao do Conhecimento, Teoria de sistemas e Organizao do Conhecimento, Psicologia e Organizao do
Conhecimento, Cincia e Organizao do Conhecimento, Problemas em Organizao do Conhecimento, Pesquisa da
classificao, Histria da Organizao do Conhecimento;
Grupo 2 Sistemas de Classificao e Tesauros, estrutura e construo. Contedos: Estruturas e elementos
de Sistemas de Classificao e Tesauros (SC&T), Construo de SC&T, Relaes entre conceitos, Taxonomias,
Notaes e cdigos, Manuteno, atualizao e armazenagem de SC&T, Compatibilidade e concordncia entre
linguagens de indexao; Avaliao de Sistemas de Classificao e Tesauros;
Grupo 3 Metodologia de Classificao e Indexao. Contedos: Teoria de Classificao e Indexao, Anlise
de assunto, Tcnicas de Classificao e Indexao, Classificao e Indexao automtica, Ordenao manual e
automtica, Gerao de ndices e programas, reclassificao, Avaliao de Classificao e Indexao, Codificao e
decodificao;
Grupo 4 Sistemas de Classificao e Tesauros. Contedos: Dewey Decimal Classification, Library of Congress
Classification, Library of Congress Subject Headings, Colon Classification, Outros Sistemas Universais de
Classificao e Tesauros;
Grupo 5 Classificao orientados objetos (Taxonomias), nas diferentes reas de conhecimento;
Grupo 6 Classificaes e Tesauros de assuntos especficos;
Grupo 7 Representao do Conhecimento por Linguagens e Terminologia. Contedos: Problemas gerais de
linguagem natural em relao Organizao do Conhecimento, Semntica, Processamento automtico da
linguagem, Sistemas de recuperao on-line e tecnologias, Problemas de terminologia, de gramtica, de
lxicos/dicionrios, Sistemas multilngues e de tradues, Trabalho de Terminologia orientada ao assunto;
Grupo 8 Indexao e Classificao aplicadas. Contedos: Problemas gerais, Catlogos, Diretrizes, Regras,
ndices, Indexao e Classificao de dados, ttulos, literatura primria, de livros, literatura secundria, materiais
especiais ou no livros e de assuntos especficos;
Grupo 9 Ambiente da Organizao do Conhecimento. Contedos: Organizao profissional e espacial (nvel
nacional e internacional), bem como itens de Educao e treinamento, Legislao, Econmicos, Uso de servios,
Normalizao no trabalho de Organizao do Conhecimento, Estudos de usurios etc.

Quadro 2 - Sistema de classificao da Literatura em Organizao do Conhecimento elaborado por I. Dahlberg
3

Para a anlise quantitativa e relacional utilizamos as metodologias de ARS e Bibliometria, que
auxiliaram na organizao dos dados e na identificao das relaes entre pesquisadores.

2 Resultados

Os artigos recuperados com base na metodologia adotada e descrita anteriormente resultaram
em um corpus de 246 artigos, sendo 169 no idioma espanhol e 77 em portugus. Para o ano de 1997,
recuperamos 04 artigos e em 2011 o resultado foi de 23 artigos, nmero que demonstra um grande
aumento da literatura na rea nos quinze anos correspondentes ao perodo coberto pelo estudo. O
ano com maior quantidade de artigos, dentro dos parmetros estabelecidos, foi o de 2009, com um
total de 37 artigos recuperados. A distribuio anual e idiomtica dos artigos apresentada na tabela
1, bem como sua representao grfica na figura 1, ambos abaixo.

3
Fonte: Dalbergh (1993 traduo livre)

334

Ano de Publicao Idioma Total
Espanhol Portugus
1997 4 - 4
1998 7 1 8
1999 14 1 15
2000 10 2 12
2001 5 1 6
2002 7 3 10
2003 5 1 6
2004 9 5 14
2005 7 4 11
2006 22 3 25
2007 16 11 27
2008 16 9 25
2009 27 10 37
2010 10 13 23
2011 10 13 23
Total Geral 169 77 246

Tabela 1 - Distribuio anual dos artigos, no corpus analisado, por idioma, 1997-2011

No grfico a seguir possvel perceber uma correlao na variao da quantidade de artigos
entre os idiomas abordados no estudo.

Grfico 1 - Evoluo anual da publicao de artigos (corpus), por idioma, 1997-2011

Os peridicos que serviram de veculo de disseminao do tema estudado compreende 25
ttulos diferentes. Como a importao dos dados foi feita com a recuperao em diferentes bases de
dados, os ttulos dos peridicos passaram por processo de normalizao com base no

335
reconhecimento e conferncia a partir do ISSN de cada um deles. Assim, foi possvel normalizar os
ttulos e posteriormente adotar uma forma abreviada dos mesmos para melhor visualizao neste
estudo.
Ttulo por extenso Ttulo Adotado
ACIMED ACIMED
Anales de Documentacion Anales de Documentacion
Analisis de Tendencias en Informacion y Documentacion Analisis de Tendencias en Inf. y Doc.
Biblioteche Oggi Biblioteche Oggi
Boletin de la Asociacion Andaluza de Bibliotecarios Boletin Asoc. Andaluza de Bibliotecarios
Cadernos de Biblioteconomia, Arquivstica e
Documentao
Cadernos de Biblio. Arquiv. e Doc.
Cadernos de Pesquisa Cadernos de Pesquisa
Cincia da Informao Cincia da Informao
Ciencias de la Informacion Ciencias de la Informacion
El Profesional de la Informacin El Profesional de la Informacin
Enl@ce: Revista Venezolana de Informacion, Tecnologia
y Conocimiento
Enl@ce
Ibersid: Revista de Sistemas de Informacion y
Documentacion
Ibersid
IFLA Conference Proceedings IFLA Conference Proceedings
Informao & Informao Informao & Informao
Informao & Sociedade: Estudos Informao & Sociedade
Informacion, Cultura y Sociedad Informacion, Cultura y Sociedad
Information Research Information Research
Investigacion Bibliotecologica: Archivonomia,
Bibliotecologia, e Informacion
Investigacion Bibliotecologica
Pginas Arquivos & Bibliotecas A & B Pginas A & B
Perspectivas em Cincia da Informao Perspectivas em Cincia da Informao
Perspectivas em Gesto & Conhecimento Perspectivas em Gesto & Conhecimento
Revista Espanola de Documentacion Cientifica Revista Espanola de Doc. Cientifica
Revista Interamericana de Bibliotecologia Revista Interamer. de Bibliotecologia
SCIRE: Representacion y Organizacion del Conocimiento SCIRE
Transinformao Transinformao

Tabela 2 - Ttulos de peridicos recuperados (corpus), 1997-2011

Quanto ocorrncia dos peridicos na pesquisa sobre o tema constatou-se que dos 25 ttulos
encontrados, os 5 primeiros so responsveis por mais de 50% do total dos artigos publicados, o que
demonstra um alto grau de concentrao de ttulos para a publicao neste domnio.

336

Grfico 2 - Ttulos de peridicos com maior nmero de artigos (corpus), recuperados, 1997-2011

Com um corte para os peridicos que possuem 10 ou mais artigos, identificamos 8 ttulos de
peridicos, que somam sozinhos um total de 180 artigos, o que corresponde a 73% dos 246
recuperados.
Os peridicos com maior concentrao de artigos foram SCIRE e El Profesional de la Informacin,
que correspondem a um maior nmero de artigos no conjunto total dos artigos recuperados, assim
como ao conjunto dos artigos em lngua espanhola. Para peridicos com maior representatividade
entre os artigos em portugus os destaques so Cincia da informao e Perspectivas em Cincia da
Informao.

PERIDICOS
IDIOMA
Espanhol Portugus Total
SCIRE 35 3 38
El Profesional de la Informacin 35 35
Cincia da Informao 21 21
Perspectivas em Cincia da Informao 21 21
Investigacion Bibliotecologica 19 19
Revista Interamer. de Bibliotecologia 18 18
ACIMED 14 14
Informao & Sociedade 14 14
Peridicos 9 48 18 66
Total Geral 169 77 246

Tabela 3 - Ttulos de peridicos com maior nmero de artigos recuperados (corpus), por idioma, 1997-2011

337
Os 336 autores identificados no levantamento produziram 246 artigos, correspondendo a uma
mdia de 0.73 artigos por autor. Isso pode ser explicado em razo das autorias mltiplas, `fenmeno
evidenciado por Price (p. 55-56) em relato datado em 1963 em que ele afirma que um exame
detalhado da incidncia do trabalho cientfico em colaborao revela que este fenmeno tem
aumentado continuamente e de modo cada vez mais rpido a partir do incio do sculo. Para o
autor a proporo de artigos de vrios autores cresceu continua e vigorosamente e atualmente
to grande que, se for mantido o presente ritmo, ao redor de 1980 desaparecero os artigos de
autoria nica. Embora suas palavras no tenham se confirmado de forma to drstica, o fenmeno
pode ser observado no presente estudo de modo contundente: foram percebidos 117 artigos com
autoria nica e 129 em colaborao. A distribuio de autoria pela incidncia de coautoria visvel
na tabela 4, a seguir.

Autoria Mltipla
Qtde autores Incidncia
1 117
2 78
3 32
4 10
5 3
6 3
8 3
Total artigos 246

Tabela 4 - Incidncia de autoria mltipla nos artigos recuperados (corpus), 1997-2011

No grafo abaixo possvel ver como acontece as relaes e distribuies dos autores
envolvidos nos artigos recuperados no presente estudo.

Figura 1 - Distribuio de autoria e suas relaes de co-autoria nos artigos recuperados (corpus), 1997-
2011

Tambm consideramos a possibilidade de identificar os autores mais produtivos ou a elite de
pesquisa no domnio do presente estudo. Baseado em Price (1976, p. 30), para quem o nmero de
produtores prolficos parece equivaler raiz quadrada do nmero total de autores, temos ento

338
336 =18,33 onde 336 o nmero total de autores presentes no corpus do estudo e 18,33 o
equivalente quantidade de autores, onde deve se inserir o corte que identifica a elite de pesquisa.
Por motivos de adequao, foi feito arredondamento no corte para 18.
Dos 336 autores envolvidos no estudo, 18 correspondem elite de pesquisa, ou seja, 5,3% dos
autores responde pela maior produo no domnio estudado com base nos parmetros estabelecidos.
Esses autores, distribudos segundo sua produtividade, so apresentados na tabela 5, a seguir.

Autores Qtde. de artigos
Fujita,Mariangela Spotti Lopes 13
Boccato,Vera Regina Casari 7
Caf,Lgia 6
Gonzalez,Jose A. Moreiro 6
Codina,Lluis
5
Martnez,Ana Mara
5
Pea,Catalina Naumis
5
Almeida,Mauricio Barcellos
4
Brun,Ricardo Eito
4
Cuadrado,Sonia Snchez
4
Gonzalez,Mercedes Martinez
4
Lima,Gercina Angela Borem de
Oliveira
4
Moraes,Joao Batista Ernesto
4
Morato,Jorge
4
Moura,Maria Aparecida
4
Quintana,Ania R. Hernndez
4
Rubi,Milena Polsinelli
4
Urdiciain,Blanca Gil
4
Total 91

Tabela 5 - Elite da pesquisa e produtividade nos artigos recuperados (corpus), 1997-2011

Temos assim que os autores de elite aparecem em 91 artigos e muitas vezes de forma
colaborativa. J para os autores com maior produtividade entre os artigos de autoria nica a tabela
correspondente a que segue:

Autores nicos Qtde. de artigos
Pea,Catalina Naumis 4
Quintana,Ania R. Hernndez 4
Brun,Ricardo Eito 3
Marco,Francisco Javier Garca 3
Pinero,A. Rosa 3
Alonso,Miguel Angel Lopez 2
Bax,Marcello P. 2
Comeche,J. A. M. 2
Founier,Isabel Daudinot 2
Lima,Gercina Angela Borem de
Oliveira
2
Mendonca,Ercilia Severina 2

339
Mora,M. C. Marcos 2
Moura,Maria Aparecida 2
Rave,B. N. C. 2
Torres,Mara Teresa Mnera 2
Yepes,Jos Lpez 2
Autores autoria nica 78
Total Geral 117

Tabela 6 - Autoria nica nos artigos recuperados (corpus), 1997-2011

Os autores com alta produtividade em artigos de autoria nica (tabela 6) que pertencem a elite
de pesquisa (tabela 5) so Pea, Catalina Naumis; Quintana, Ania R. Hernndez; Brun, Ricardo Eito;
Lima, Gercina Angela Borem de Oliveira; Moura, Maria Aparecida.
As relaes de co-autoria, objeto de anlise deste estudo, podem ser verificadas em relao a
quantidade de relaes (pares) na tabela 7.

Autores Qtde. de relaes
Fujita,Mariangela Spotti Lopes 12
Stubbs,Edgardo A. 11
Gonzalez,Jose A. Moreiro 11
Cuadrado,Sonia Snchez 9
Morato,Jorge 9
Martnez,Ana Mara 9
Caminotti,Mara Laura 8
Gonzalez,Mercedes Martinez 8
Autores Relaes de co-autoria 7 610
Total 688

Tabela 7 - Autores em relaes de co-autoria nos artigos recuperados (corpus), 1997-2011

Entre os 8 autores com maior nmero de relaes de co-autoria (formao de pares) podemos
observar que 6 deles pertencem tambm a elite de pesquisa, 2 autores entre os maiores em
quantidade de relaes de co-autoria no pertencem a elite de pesquisa. Na figura 4 pode-se ver a
rede formada pelos autores quanto ao grau de relaes de co-autoria.

340

Figura 2 - Autores e relaes de co-autoria nos artigos recuperados (corpus), 1997-2011

Os 3 autores com maior nmero de relaes de co-autoria, ou seja, os autores com maior grau
de colaboraes esto representados com destaque, bem como suas relaes, nos grafos
apresentados nas figuras seguintes.

Figura 3 - Rede de co-autoria de Fujita nos artigos recuperados (corpus), 1997-2011

Figura 4 - Rede de co-autoria de Gonzalez nos artigos recuperados (corpus), 1997-2011

341

Figura 5 - Rede de co-autoria de Stubbs nos artigos recuperados (corpus), 1997-2011

A pesquisa permitiu confirmar que as bases de dados LISA e LISTA so mais adequadas para
levantamentos no domnio da Cincia da Informao, respondendo melhor, consequentemente, aos
objetivos do levantamento ora efetuado.
Dos 246 artigos recuperados, 185 artigos (75%) foram localizados em apenas uma das quatro
bases pesquisadas (tabela 8) e 61 artigos (25%) foram encontrados simultaneamente em duas ou mais
bases de dados (tabela 9).

Bases de dados Qtde. %
LISA 10
0
41
%
LISTA 74 30
%
WoS 8 3
%
SCOPUS 3 1
%
Total 1
85
7
5%

Tabela 8 - Incidncia de artigos recuperados (corpus) com exclusividade por uma base de dados, 1997-2011

Bases de dados Qtde.
LISA;LISTA 26
LISA;LISTA;SCOPUS 7
LISA;LISTA;WoS 7
LISTA;SCOPUS;WoS 7
SCOPUS;WoS 4
LISA;SCOPUS 3
LISTA;WoS 3
LISA;LISTA;SCOPUS;
WoS
2
LISA;SCOPUS;WoS 1
LISA;WoS 1
Total 6
1

Tabela 9 - Artigos recuperados (corpus) simultaneamente entre base de dados, 1997-2011

342

Grfico 3 - Incidncia dos artigos (corpus) nas base de dados, 1997-2011

Consideraes finais

Os resultados da pesquisa desenvolvida at o momento no so conclusivos, uma vez que
faltaria avanar para a 3
a
. fase quando procederemos anlise qualitativa dos dados. A anlise
quantitativa, no entanto, j permite enunciar alguns resultados interessantes, que sintetizamos a
seguir:
a) De um corpus de 246 artigos repertoriados e recuperados nas bases internacionais
discriminadas, 169 so em idioma espanhol e 77 em portugus. Os autores mais produtivos, no
entanto, publicaram em lngua portuguesa, indicando a necessidade de novas anlises para explicar
a diferena, bem como as variveis que implicaram esse resultado;
b) possvel perceber uma variao semelhante na produo dos dois idiomas no decorrer dos
anos. Um estudo detalhado poderia ser feito para perceber que fenmenos influenciaram estas
variaes;
c) As bases de dados LISTA e LISA possuem um grande nmero de artigos recuperados em
comum. Acreditamos que isso se deva por terem acervo semelhante j que ambas so bases de dados
especializadas da Cincia da Informao. A busca restrita nas bases especializadas representaria 94%
das respostas na pesquisa. Enquanto utilizando somente as interdisciplinares seriam 19%;
d) Dos 25 ttulos de peridicos, os cinco primeiros - SCIRE; El Profesional de la Informacin; Ciencia
da Informacao; Perspectivas em Ciencia da Informacao; Investigacion Bibliotecologica - so responsveis por
mais de 59% do total de artigos publicados, o que demonstra alto grau de concentrao de ttulos
para a publicao no domnio estudado;
e) Verificou-se existir uma concentrao de artigos em alguns peridicos: 8 ttulos de
peridicos respondem sozinhos por um total de 180 artigos, ou seja, 73% dos artigos recuperados;
f) Os peridicos com maior concentrao de artigos foram o SCIRE e o El Profesional de la
Informacin, que apresentam um maior nmero de artigos no conjunto dos artigos recuperados,
assim como ao conjunto de artigos em lngua espanhola. Em lngua portuguesa, os peridicos mais
representativos so os brasileiros Cincia da Informao e Perspectivas em Cincia da Informao;
g) Os 246 artigos recuperados so de responsabilidade de 336 autores, com uma mdia de 0,73
artigos por autor. Do conjunto total de artigos recuperados, 117 tm autoria nica e 129 autoria
coletiva;
h) Dos 336 autores recuperados, 18 deles correspondem elite de pesquisa, ou seja, 5,3% dos
autores responde pela maior produo no corpus. Delimitando a elite em relao a autores que

343
publicam individualmente temos que 16 autores so responsveis por artigos de autoria nica, com
2 ou mais artigos publicados individualmente;
i) Na elite de pesquisa os autores com alta produtividade que publicaram individualmente
encontramos: Catalalina Naumis Pea, Ania R. Hernndez Quintana, Ricardo Eito Brun, Gercina
ngela Borm de Oliveira Lima e Maria Aparecida Moura.
j) Dos 8 autores com maior nmero de artigos em co-autoria, 6 deles pertencem elite de
pesquisa.
Concluindo, devemos afirmar que a validade de uma pesquisa tem de ser considerada em
relao ao universo delimitado e s suas metodologias. Isso significa dizer que no possvel, a
partir desses resultados, fazer generalizaes. Os recortes operacionalizados e as metodologias
utilizadas para sua observao so sempre parciais, mas so ferramentas importantes para a anlise
de problemas especficos.

Referncias

DALBERGH, I. (1993). Knowledge organization: its scope and possibilities In Knowledge Organization, 20
(4), p. 211-222.

MERTON, Robert. (2013). Ensaios de sociologia da cincia. So Paulo: Editora 34.

PRICE, Derek de Solla. (1976). O desenvolvimento da cincia. Rio de Janeiro: Livros tcnicos e Cientficos.

TRAVIESO-RODRGUEZ, C., LASCURAIN-SNCHEZ, M. L., SAL-AGERO, A., SANZ-CASADO, E. (2011,
julio). La Organizacin del Conocimiento en Espaa a partir del anlisis bibliomtrico de los
Congresos ISKO-Captulo Espaol. In Congreso Isko Captulo Espaol, Ferrol (ES), 10.

344
MODELAGEM CONCEITUAL
Os princpios de Ranganathan aplicados na interface de busca de uma biblioteca digital de
documentos acadmicos

BENILDES COURA MOREIRA DOS SANTOS MACULAN
[email protected]

GERCINA NGELA BORM DE OLIVEIRA LIMA
[email protected]

Resumo Toda pesquisa cientfica necessita do conhecimento sobre os aportes tericos a respeito do tema que
deseja investigar, sejam essas informaes de carter histrico ou no. Aliado a isso, importante conhecer os
mtodos e tcnicas que so aplicveis ao seu problema de pesquisa. Sabe-se que os documentos acadmicos, do
tipo teses e dissertaes, so fonte para se apreender o estado da arte das pesquisas j realizadas sobre
determinada questo ou objeto. Neste artigo, investigamos o uso da modelagem conceitual para a
padronizao da representao de contedos informacionais de documentos acadmicos, visando criar uma
interface facetada para facilitar o acesso s informaes. A interface foi composta por classes bsicas temticas
a serem alimentados pelos termos indexadores representativos do contedo dos documentos. A metodologia
envolveu procedimentos com uma abordagem qualitativa em relao anlise da literatura especializada da
rea. O percurso metodolgico foi iniciado com uma explanao histrico-bibliogrfica sobre a modelagem de
sistemas. Em seguida, apresentou-se uma breve reviso sobre os diferentes aspectos da modelizao e
modelagem conceitual, assim como as possveis aplicaes da mesma, e os princpios da modelizao de um
domnio, com base em Campos (2004). Finalizamos mostrando a aplicao de uma modelagem com o
desenvolvimento de um conjunto de classes bsicas, para representar documentos do tipo teses e dissertaes,
usando o modelo da Teoria da Anlise Facetada de Ranganathan. Os resultados demonstraram que a interface
facetada pode facilitar a tarefa de explorao, busca e recuperao de contedos nos documentos acadmicos.
As classes bsicas deram acesso a dados importantes tais como teorias, mtodos e instrumentos de coleta de
dados. Conclumos que a possibilidade de refinamento da busca atravs da estrutura facetada pode auxiliar o
usurio a explorar os resultados das pesquisas concludas, uma vez que d maior visibilidade ao contedo
disponvel na biblioteca digital, sem sobrecarreg-lo de informaes.

Palavras-chave Modelagem conceitual. Representao da informao. Taxonomia facetada. Interface de
busca. Documentos acadmicos.

Abstract Every scientific research needs to know about the theoretical resources concerning the theme which
one wants to investigate, whether this information has a historical trait or not. Besides this, it is important to
know the methods and techniques which are applicable to your research problem. It is known that academic
documents, like theses and dissertations, are sources from which one can apprehend the state of the art of
researches already carried out about a certain question or object. In this article, we examine the use of
conceptual modeling for the standardization of representation of informational contents of academic
documents, aiming to make up a faceted interface to facilitate the information access. This interface has been
created by basic classes which will be fed by indexer terms representative of the document content. The
methodology involved procedures with a qualitative approach in relation to the analysis of the specialized
literature of the area. The methodological route started with a historic-bibliographical explanation about the
modeling of systems. Then, we present a brief review of the different aspects of modeling and conceptual
modeling, as well as its possible applications, and the principles of the modeling of a domain, according to
Campos (2004). Finally, we show the application of a modeling with the development of a set of basic classes to
represent documents like theses and dissertations using the model of the Ranganathan facet analysis theory.
The results proved that the faceted interface can facilitate the task of exploration, search and retrieval of

345
academic document contents. The basic classes provided access to important data such as theories, methods
and data collection tools. We concluded that the possibility of search refinement through the faceted
structure can help the user explore the results of concluded researches since it provides a better visibility of
the content available in the digital library, without overloading it with information.

Keywords Conceptual modeling. Information representation. Faceted taxonomy. Searching interface.
Academic documents.

Introduo

Uma das principais funes dos sistemas de recuperao de informao (SRI) promover e
facilitar o intercmbio e a transferncia de informaes. Alguns SRIs so desenvolvidos para
oferecer servios especializados a uma comunidade especfica de usurios. Dentre esses servios, h
as bibliotecas digitais de teses e dissertaes (BDTD), que so repositrios digitais institucionais, com
a funo de disponibilizar a produo cientfica dos programas de ps-graduao. O objetivo das
BDTDs possibilitar acesso facilitado produo cientfica e acadmica das universidades, visando
aumentar a visibilidade dos contedos desse tipo de documentos.
Nesse sentido, as BDTDs tm importante papel na comunicao cientfica, pois disponibilizam
os resultados de pesquisas j concludas. Teoricamente, possvel recuperar valiosas informaes
sobre teorias e mtodos aplicados, por exemplo, o que potencializa o progresso da rea em questo.
Adicionalmente, ao dar acesso a esse tipo de informao, promove-se a discusso entre pares,
acarretando a credibilidade ou a refutao de um conhecimento desenvolvido. Por consequncia,
consegue-se a consolidao do domnio.
Entretanto, nas BDTDs h diferentes problemas que dificultam o acesso aos resultados
detalhados dessas pesquisas. Alguns problemas esto ligados produo do documento, ou seja, ao
autor: (a) ttulos imprprios para representar o contedo do documento; (b) atribuio insuficientes
de palavras-chave; (c) resumos incompletos. Ademais, h problemas ligados entrada de dados no
SRI, que dizem respeito indexao inadequada desse tipo de documento. Com isso, a recuperao
das informaes dos documentos fica prejudicada. A soluo dos fatores ligados ao autor do
documento est atrelada prpria academia, com o aprimoramento das exigncias na produo
textual final. J os fatores relacionados com a entrada dos dados devem ser resolvidos pelos gestores
da BDTD, provendo um tratamento informacional mais refinado.
Em um SRI, o subsistema de indexao o responsvel pela atribuio de representaes para
o recurso informacional, que sero utilizados pelo usurio para a localizao de documentos, na
sada do sistema. Sendo assim, ao disponibilizar as teses e dissertaes em uma BDTD necessrio
que os documentos sejam processados a partir de critrios que sejam adequados s necessidades de
informao do usurio, visando facilitar o seu acesso a to importante insumo de pesquisa.
Com o objetivo de oferecer informaes estruturadas e com resultados j refinados para o
usurio final, desenvolvemos uma taxonomia facetada navegacional como interface de busca e
recuperao para uma BDTD, denominada TAFNAVEGA. Uma taxonomia facetada permite
apresentar o domnio segmentado em facetas. Em cada faceta h uma hierarquia de elementos que
compartilham caractersticas semelhantes entre si. As distintas relaes possveis entre as facetas da
estrutura taxonmica indicam a multidimensionalidade do conhecimento desse domnio. O atributo
navegacional da taxonomia facetada admite que os usurios encontrem e acessem informaes por
meio da navegao em sua estrutura. Isso possvel porque cada faceta e subfaceta tm, acoplados a
elas, seus respectivos contedos informacionais.
O mecanismo foi criado a partir da aplicao de uma modelagem conceitual para a
padronizao das representaes dos contedos informacionais de documentos acadmicos, do tipo
teses e dissertaes. Neste artigo, apresentamos essa aplicao, que foi realizada utilizando o mtodo
da Teoria da Anlise Facetada, desenvolvida por Ranganathan. Iniciamos o relato, proporcionando
os fundamentos e um breve histrico sobre a modelagem de sistemas, de dados e conceitual,

346
especificando os princpios da modelizao de um domnio, segundo Campos (2004), dentro da rea
de Biblioteconomia e Cincia da Informao (BCI).

1 O ato de modelar como uma representao

Modelar representar, a reformulao ou indicao de um conceito por meio de uma
linguagem de indexao ou informao; [...] [ou] atravs de uma linguagem [computacional] ou de
uma programao (Cunha & Cavalcanti, 2008, p.322). E modelar o conhecimento representar o
conhecimento, o conjunto de processos de simbolizao notacional ou conceitual do saber
humano no mbito de qualquer disciplina [...] [e] incluem a classificao, a indexao e o conjunto de
aspectos informticos e lingusticos relacionados com a traduo simblica do conhecimento
(idem, idem).
A partir dessas afirmaes, percebemos que a representao do conhecimento envolve um
amplo processo no qual, a informao deve ser ordenada, estruturada ou contida de alguma forma,
seno permanecer amorfa e inutilizvel (McGarry, 1999, p.11). Entendemos que para a eficcia no
uso da informao, ela deve ser organizada por meio de agrupamentos, recortes, classificaes ou
segmentaes, de forma a evidenciar os conceitos associados entre si, que permitem comunicar e
compartilhar ideias.
A forma utilizada para a representao (smbolos, imagens, termos, entre outros) deve ser
significativa dentro do contexto para o qual est sendo elaborada. As representaes devem, de
preferncia, ser culturalmente construdas e aceitas dentro de uma comunidade especfica (Furgeri,
2006). Nesse sentido, a modelizao e a modelagem conceitual empregadas para as representaes
devem estar em conformidade com o objetivo ao qual o projeto se prope.

1.1 Um passeio pela modelizao e modelagem conceitual

Um modelo uma representao simplificada de qualquer objeto, seja este um sistema, uma
informao, um processo ou um domnio
1
. Le Moigne (1977, p.34) alega que modelar conceber,
para um objeto, um modelo que permita conhec-lo, compreend-lo, interpret-lo e auxilie na
antecipao do comportamento dele. O autor afirma que o homem cria representaes
compreensveis, artificiais e simblicas, das situaes ou fenmenos. Ele acrescenta que somente o
ser humano capaz de raciocinar atravs de modelos para identificar, formular e solucionar
problemas, elaborando enunciados.
Na literatura da rea BCI encontramos o uso alternado dos termos modelizao e modelagem
conceitual. Para evitar ambiguidade terminolgica, neste artigo julgamos pertinente utilizar esses
dois termos como sinnimos. Modelizao ou modelagem o processo de modelar algo, a partir de
um modelo e seus princpios de criao. o ato de dar forma a algo, estabelecendo uma estrutura
sistemtica onde, originalmente, no havia uma forma organizada para a comunicao e
transferncia de mensagens.
Modelagem , portanto, um esforo de apreenso do significado de diferentes objetos, com o
objetivo de convert-lo em representaes voltadas ao interesse do sistema para o qual esto sendo
criadas. , ainda, a combinao da informao proveniente de diferentes fontes, transformando-a
em uma forma til, clara e fcil de ser utilizada no apoio de um processo decisrio (Cunha &
Cavalcanti, 2008, p.251). Sendo assim, a modelagem um processo capaz de permitir a compreenso
ou a construo da inteligibilidade de um fenmeno complexo e dinmico (Le Moigne, 1977).

1
Domnio pode ser entendido como uma rea de conhecimento (especialidade), um conjunto literrio ou, ainda, a tarefa de
um grupo de pessoas trabalhando juntas em um projeto ou em uma organizao (Hjorland & Albrechtsen, 1995).

347
A BCI tem se apropriado da Teoria da Modelizao, desenvolvida por Le Moigne, aplicando-a
em estudos sobre modelos conceituais para a criao de linguagens documentrias ou sistemas de
organizao de conhecimento (SOCs), sistemas computacionais, hipertextos e ontologias (Campos,
2004). Nesse contexto, imperativo compreender o modelo e o seu respectivo objeto (ou fenmeno).
Ao nos apropriarmos do significado mais amplo do modelo, possvel construir mltiplas
representaes de um mesmo objeto, para atender a distintos propsitos. Em sntese, a modelagem
se caracteriza pela identificao de um modelo conceitual que possa estruturar um domnio segundo
as necessidades e objetivos que esto propostos, como, por exemplo, para possibilitar que uma
funo (meio ou fim) seja cumprida.
A modelagem conceitual uma etapa importante em todos os processos ligados a tecnologias
de informao que envolve a construo de modelos de representao (Cunha & Cavalcanti, 2008,
p.251). No contexto da modelagem conceitual, a expresso tecnologias de informao tem sentido
mais amplo, e deve ser compreendida como qualquer tcnica utilizada para realizar a representao
de diferentes tipos de informaes, em distintos sistemas de informao (SIs), seja ele automatizado
ou no. Um SI um conjunto de elementos inter-relacionados (que inclui pessoas, mquinas ou
mtodos), utilizado para a coleta, processamento, armazenamento, transmisso, recuperao e
disseminao de itens informacionais para atender s necessidades de usurios, comunidades
discursivas ou clientes. Visando esclarecer melhor sobre o tema da modelagem conceitual de SIs,
apresentamos um breve relato sobre o tema, e, em seguida, os ambientes de aplicao da modelagem
conceitual.

2 Breve reviso sobre modelagem de sistemas de informao

Cada poca possui suas prprias orientaes investigativas que afetaro a escolha dos modelos
adotados (Kuhn. 2006). Nesse sentido, modelar um sistema pressupe iniciar com a definio do
paradigma dar respaldo ao processo: se o reducionista (cartesiano) ou o sistmico. O mtodo
cientfico da contemporaneidade pode contemplar modelagens que, alm das certezas, consideram
tambm as probabilidades. Os sistemas no devem ser observados de forma reducionista, como era
feito at aproximadamente a primeira metade do sculo XX. Naquela poca, tentava-se entender os
fenmenos reduzindo-os a unidades elementares e independentes umas das outras.
No incio da segunda metade do sculo XX, desenvolvem-se novas concepes com base na
totalidade dos sistemas, uma vez que a complexidade dos problemas e dos fenmenos no mais
permitia que os mesmos fossem compreendidos a partir de suas partes isoladas. Entre as dcadas de
1940 e de 1970, foram desenvolvidas diferentes teorias respaldadas no paradigma sistmico, tais
como: a teoria geral dos sistemas, de Bertalanffy, em 1951; a Teoria Geral do Universo de Monod
(1970); o mtodo criado por Morin (1970) para tratar os sistemas complexos; e a teoria da
modelizao, de Le Moigne (1977).
Com a teoria de Bertalanffy surge o pensamento de sistema como uma complexidade
organizada, onde o todo no apenas a soma de suas unidades isoladas, pois esse todo ter
caractersticas prprias que suplantar as dos elementos isoladamente (Bertalanffy, 2008). Contudo,
na dcada de 1970, Le Moigne ainda considerava a noo de sistema de Bertalanffy reducionista,
afirmando que a mesma era focada em problemas, excluindo a complexidade dos fenmenos. Assim,
Le Moigne (1977) defende a Teoria da Modelizao dos objetos, postulando conservar a
complexidade. Esse autor afirma que h uma pluralidade de modelos para um mesmo fenmeno e,
mais especificamente, que h uma pluralidade de mtodos de modelizao. Para ele, um sistema
pode ser descrito como: (1) alguma coisa (o objeto de interesse); (2) que em alguma coisa (o
ambiente); (3) para alguma coisa (a finalidade); (4) faz alguma coisa (a atividade); (5) atravs de
alguma coisa (rgos); (6) que se transforma com o tempo (evoluo). Nesse sentido, um sistema
algo ativo, pois faz alguma coisa, ao mesmo tempo em que estvel e evolutivo, uma vez que os
elementos so associados e combinados em uma estrutura estvel que evolui no tempo, em um
ambiente particular e em conformidade com alguma finalidade especfica (Carvalho, Ramos &
Gonalves, 2002).

348
Le Moigne (1977) cunhou o termo sistemografia para denominar a competncia do sistema
como instrumento modelizante de objetos, quando estes so designados por palavras (Leite &
Bornia, 2006). Le Moigne e Bartoli (1996, citado por Rosario, 2011) conceituaram sistemografia
como o processo no qual o modelador cria modelos de fenmenos complexos para objetos (FIG. 1).

Figura 1 - Etapas da sistemografia
2

Podemos notar que a sistemografia um processo sistmico, no qual o modelador possui
papel ativo. Ele tem como principal objetivo identificar, mapear e detalhar a anlise de um processo
de forma que se tenha o efetivo entendimento do problema, estudando todos os elementos e as
relaes entre esses elementos (Rosrio, 2011, p.3). Le Moigne (1977) assegura que na concepo do
modelo a representao do objeto pode ser descrita por trs distintos polos: o ontolgico (o que ), o
gentico (o que faz) e o evolutivo (como evolui). Somente a concluso dessas descries pode
nortear o trabalho intelectual de modelagem conceitual em diferentes domnios.
No campo da BCI, Sayo (2001) realizou importante trabalho no qual revisou a literatura
identificando a aplicao de instrumentos de modelagem no desenvolvimento de SIs, analisando a
natureza desses instrumentos, suas caractersticas bsicas, funes e principais tipos de modelos.
Verificou que cada realidade ou fenmeno pode possuir distintos modelos e cada modelo justifica
uma abordagem metodolgica. Por sua vez, o mtodo de abordagem subtende um modelo, gerando
um estado cclico e sistmico. Isso confere ao modelo o que Sayo (2001) denomina de uma dimenso
de heurstica, pois medida que o ciclo de operao acontece os SIs evoluem, visando encontrar um
desempenho to prximo quanto possvel atuao tima. Em sntese, Sayo (2001, p.83-85)
apresenta os seguintes elementos para os SIs:

- Servem a muitos propsitos, com nfase na comunicao;
- So representaes simplificadas e inteligveis do mundo, nas quais se identifica as
caractersticas essenciais de um domnio, atendendo especificamente ao propsito desejado;
- Possuem forma e estrutura prpria, independente do objeto que representam, o que lhe
confere uma natureza ambgua;
- Tm grau diferenciado de probabilidade de aplicao e um escopo limitado, e se tiver alta
taxa de aplicabilidade ter maior possibilidade de sucesso;

2
Fonte: Rosario, 2011 (adaptado de Le Moigne).

349
- Detm trs caractersticas bsicas: mapeamento (modelam um objeto ou fenmeno), reduo
(mapeiam aquilo que interessa ao objetivo proposto) e pragmatismo (espelham seus originais,
mas esto limitados no tempo e dentro de objetivos especficos);
- Formam um todo com caractersticas que vo alm da soma de suas partes individuais;
- Estruturam-se de forma a manter relaes (orgnica, de um mundo interconectado) com
outros modelos da realidade;
- Precisam ser replicveis, quando originados nas cincias aplicadas;
- Abarcam as funes: a) organizacional, com a aquisio de informao relevante ao seu
propsito; b) redutora da complexidade da realidade observada; c) de fertilidade, em termos
da possibilidade de produo de inferncias, novos dados e gerao de novas propostas; d)
lgica, pois elucida um fenmeno; e) normativa, pois permite compar-lo com outros modelos
j conhecidos; f) sistemtica, que deixa vislumbrar um conjunto de sistemas interligados; g)
construtiva, no sentido de que possibilitam a criao de leis e teorias; h) de parentesco,
porque expressam e comunicam uma ideia cientfica;
- Revelam-se micro-paradigmas, quando possuem alta capacidade explicativa de fenmenos,
sendo teis e adequados a inmeras aplicaes, sob diferentes circunstncias e a partir de
dspares tipos de dados;
- Podem ser agrupados ou classificados em diversificados e distintos tipos.

Na atualidade, percebemos que a BCI vem dando nfase aos estudos sobre a modelagem e a
criao de SIs nos quais as necessidades dos usurios so efetivamente priorizadas. Sayo (2001)
afirma que os modelos que melhor se aproximam do usurio so denominados modelos cognitivos.
Porm, o autor alega que os modelos cognitivos no podem ser considerados modelos conceituais,
pois representam uma viso individual da realidade. Um modelo conceitual deve refletir a viso de
um indivduo sobre o comportamento e interpretao de uma comunidade de usurios em relao
ao uso de um SI (Sayo, 2001). Essa modelagem conceitual pode ser aplicada em diferentes
ambientes, sobre os quais agora discorremos brevemente.
Nesta pesquisa, foram utilizados mtodos qualitativos (classificao dos dados) aliados a
procedimentos quantitativos (bibliomtricos). Recorreu-se aos softwares bibliomtricos para
padronizar dados com o fim de produzir indicadores confiveis. A interpretao dos dados teve o
apoio da abordagen sociolgica de Whitley (1974) e da antropologia da atividade cientfica de Latour
(2000) e Latour e Woolgar (1997), da abordagem epistemolgica da Cincia da
Informao/Documentao de Frohmann (1989, 2004a, 2004b) e Gonzlez de Gmez (1996, 2012). Foi
considerado, ainda, o contexto contemporneo de produo e circulao do saber, que utiliza, de
forma intensa, as redes eletrnicas de comunicao (CASTELLS, 1999).
A anlise multidimensional de registros bibliogrficos configura-se como uma das
contribuies tericas e tcnicas mais recentes aos estudos de mapeamento da atividade cientfica. O
mtodo supe a classificao automtica dos dados e sua representao por meio de cartografias.
(grficos, animaes, multimdias, figuras e mapas interativos) vm sendo utilizados de forma
crescente para identificar estruturas de campos cientficos e as dinmicas do desenvolvimento
cientfico (HASCOT, 2004; SANTOS, KOBASHI, 2009). Convm ressaltar, no entanto, que a elaborao
de visualizaes grficas so dependentes da qualidade do tratamento dos dados de repositrios de
informao sobre a cincia, a tcnica e a inovao.

350
2.1 Ambientes de aplicao da modelagem conceitual

Na modelagem conceitual, preciso identificar a estrutura da informao de um domnio, e
depois organiz-las, em conformidade com os objetivos desejados. Na fase de determinao da
estrutura, indispensvel definir quais os nveis, as partes ou os tipos de informao se deseja
contemplar, determinando as relaes existentes entre elas, assim como definindo quais relaes
so imprescindveis formalizar. J a fase de organizao, envolve a categorizao desses nveis,
partes ou tipos de informao, de tal forma que se consiga perceber as relaes que foram definidas
como indispensveis.
Nesse sentido, em disciplinas tais como BCI e Cincia da Computao (CC), h estudos que
investigam o desenvolvimento de processos e metodologias para a criao de modelos para serem
aplicados na modelagem conceitual. Na BCI, esses modelos so utilizados para a organizao da
informao e do conhecimento, e, na CC, para a concepo de sistemas automatizados. Na CC, os
primeiros estudos buscavam por modelos de dados que privilegiavam elementos relativos
implantao de software. Cabe ressaltar, que o interesse principal da engenharia de software sempre
foi o de automao de processos com o uso intensivo de software, muitas vezes realizado sem apreo
modelagem conceitual da informao. Como consequncia, os SIs podem apresentar dados
dispersos, que oferecem informaes desconectadas entre si, dificultando o acesso e o uso do
conhecimento nelas existente.
Nos estudos atuais, tanto a BCI quanto a CC utilizam modelos conceituais, que visam atribuir
significado representao, de forma que seja inteligvel para o usurio, com o domnio
representado de maneira no ambgua e consistente. Com o objetivo de obter consistncia, o
desenvolvimento de SIs na rea da CC passa por trs nveis de modelo de dados: modelo conceitual
de dados, o modelo lgico de dados e o modelo fsico de dados. Cada um desses nveis possui
caractersticas distintas, mas neste artigo apenas daremos nfase ao primeiro modelo.
O modelo conceitual de dados utilizado para o entendimento, mapeamento e validao dos
conceitos do domnio. Durante esse processo, os objetos, caractersticas e relacionamentos so
representados de forma fiel realidade observada, sem que se limitem capacidade computacional
disponibilizada. Essa falta de limitao tecnologia aumenta a possibilidade de os resultados da
modelagem serem reutilizados para outras finalidades que no somente o uso computacional. Por
exemplo, os resultados podem ser aplicados como instrumento para especificao de regras ou para
comunicao de conceitos (Sousa, 2009).
Na modelagem conceitual necessrio entender o domnio, seus fluxos de informao e
aplicaes. Tambm importante compreender os fatores explcitos e implcitos existentes, criando
modelos para a formulao de abstraes que daro origem s representaes. Por sua vez, elas
sero utilizadas como insumo para a criao de SIs para atendimento s demandas de usurios,
comunidades discursivas ou clientes.
Brachman (1979) descreve quatro nveis de representao de informaes: (1) lgico, que a
sintaxe de formalizao, sem preocupao com a semntica; (2) epistemolgico, que serve de
estruturao, pois o conceito e seus inter-relacionamentos so utilizados como instrumento
estruturante do conhecimento; (3) ontolgico, que tem relao com a significao e formalizao
(definio) do contedo do conceito, delimitando seu significado a um contexto em particular; (4)
conceitual, indicando a estrutura de conceitos em um domnio particular, cujos conceitos possuem
uma interpretao a priori, independente do formalismo dado. Cada uma dessas representaes ser
adequada para diferentes demandas de usurios.
Na opinio de Campos (2004), os modelos de objetos e de dados, oriundos da CC, no so
suficientes para representar o conhecimento. A autora considera que na BCI h teorias que podem
desempenhar tal papel: a Teoria da Classificao e a Teoria do Conceito. A primeira transita entre o
nvel epistemolgico e o ontolgico, e a segunda, no nvel ontolgico, uma vez que possibilita a
elaborao de definies e a sistematizao do conhecimento. Para a modelagem conceitual de

351
domnios de conhecimento, Campos (2004) determinou um conjunto de quatro princpios
fundamentais:

(1) determinao do mtodo de raciocnio para conceber a organizao do conhecimento;
(2) identificao da unidade de conhecimento que ser representada;
(3) mapeamento das possveis relaes semnticas (ligao/separao) entre os conceitos
evidenciados em um domnio;
(4) verificao das formas de representao grfica que so possveis ao modelo.

Campos (2004) estudou tais princpios em relao s reas da CC, da Terminologia e da BCI,
cujos resultados referentes rea da BCI apresentamos neste artigo.

2.2 Os princpios de Campos para a modelagem de um domnio

A partir dos quatro princpios descritos anteriormente (mtodo de raciocnio, objeto de
representao, relaes entre os objetos e formas de representao), Campos (2004) e identificou em
quais aspectos a Teoria do Conceito (Dahlberg) e a Teoria da Classificao (principalmente com
Ranganathan), oriundas do campo da BCI, podem respaldar tais condies. Ao final de sua
investigao e anlises, a autora chegou a resultados que so sintetizados a seguir:

(1) o mtodo de raciocnio: que envolve princpios procedentes da Teoria da Classificao, com
o uso do mtodo dedutivo para a organizao do conhecimento de um domnio. Parte-se de
um modelo geral, com categorias que representam conjuntos mais amplos e abstratos,
considerados metanveis conceituais, para justificar o particular, que a ordenao dos
conceitos em diferentes classes. Com a Classificao Facetada de Ranganathan, o princpio da
policotomia introduzido, em substituio forma dicotmica antes utilizada.
Adicionalmente, aplicam-se os preceitos da Teoria do Conceito, desenvolvida por Dahlberg
(1978), que abarca tanto o mtodo dedutivo quanto o mtodo indutivo. Isto , aborda o
domnio de forma racionalista (dedutivo), como um todo, sem ignorar a observao
sistemtica da sucesso de fatos isolados da realidade, de forma empirista (indutivo). Campos
(2004) afirma que preciso pensar o domnio de forma sistmica, utilizando uma abordagem
hbrida, na qual os mtodos de raciocnio indutivo e dedutivo so indissociveis.
(2) o objeto de representao: esse objeto a menor unidade de manipulao/ representao
de um domnio. Na Teoria da Classificao, Ranganathan denomina o objeto de representao
como isolado, que cada componente (termo/indivduo) simples de um assunto, obtido a
partir da diviso de uma faceta, mas ainda apartado da estrutura. J na Teoria do Conceito,
Dahlberg indica o conceito como a unidade mnima de significao, definindo-o como uma
trade: o referente (objeto em dado contexto), suas caractersticas (atributos) e seu signo
verbal ou lingustico (termo).
(3) as relaes entre os objetos: formam a estrutura conceitual do domnio analisado,
oferecendo um conjunto de relaes possveis: (3.1) relao categorial, (3.2) relao
hierrquica, (3.3) relao partitiva, (3.4) relao entre categorias e (3.5) relao de
equivalncia.
(3.1) Relao categorial: expe a natureza do objeto (entidades, processos, etc.),
minimizando erros lgicos no estabelecimento de relaes. Na Teoria da Classificao, as
categorias so os elementos de mais alto nvel de abstrao, sob as quais qualquer
domnio pode ser analisado e representado. Ranganathan definiu cinco categorias

352
fundamentais (PMEST): Personalidade, Matria, Energia, eSpao e Tempo. Originalmente,
a Teoria do Conceito no foi desenvolvida pensando em modelar um domnio. Contudo,
Campos (2004) assegura que o entendimento do conceito refm do domnio (contexto)
classificado, pois um domnio categorizado a partir dos conceitos existentes nele. H,
portanto, uma relao unvoca entre o conceito e o domnio. Sendo assim, tambm nessa
teoria as categorias so os elementos de mais alto nvel de abstrao. Dahlberg indica
quatro categorias bsicas, dividindo cada uma delas em trs subcategorias conceituais. A
predicao de um referente na Teoria do Conceito pode ter como resultado apenas quatro
tipos de caractersticas para determinar sua escala de especificidade (da mais geral para a
mais especfica).
(3.2) Relao hierrquica: determina como os objetos de mesma natureza se relacionam,
logo aps a atividade de agrupar os objetos segundo sua natureza. A Teoria da
Classificao define a relao hierrquica como uma relao lgica entre objetos de
mesma natureza, de gnero-espcie, e tambm do tipo todo-parte, que podem ocorrer
entre objetos de natureza diferentes. J na Teoria do Conceito, a relao hierrquica tem
por base somente a relao lgica entre conceitos de mesma natureza, indicando dois
tipos: as relaes de gnero e espcie, que formam cadeias de conceitos, e as relaes
laterais, que formam renques de conceitos. Para Dahlberg no h relao hierrquica
entre o todo e suas partes, pois muitas vezes so conceitos de natureza diferentes (por
exemplo, um avio e seu motor).
(3.3) Relao partitiva: analisa a constituio do objeto, identificando o todo, suas partes,
e como se relacionam. As teorias da BCI tratam essa relao de forma bastante simples,
sem especificar o que considerado todo e suas partes, e nem mesmo os critrios
para determinar os tipos de relacionamentos entre esses elementos. A Teoria da
Classificao inclui a relao partitiva na relao hierrquica, como explicitado no item
3.2. J a Teoria do Conceito a denomina de relao partitiva e a trata simplesmente como
a parte de um todo. Essa falta de especificaes e critrios dificulta o trabalho do
modelador no sentido de identificar as particularidades da tipologia de relaes partitivas
h no domnio que est sendo modelado.
(3.4) Relao entre categorias: verifica como os objetos de natureza diferentes se
relacionam e formaliza critrios para estabelecer relacionamentos prescritivos,
consistentes e assertivos. A Teoria da Classificao no trata, especificamente, desse tipo
de relao, trabalhando somente com estruturas hierrquicas (cadeias e renques),
desconsiderando as relaes entre categorias. Na Teoria do Conceito elas so as relaes
funcional-sintagmticas
3
, que no tm por finalidade especificar o objeto e suas
propriedades, mas evidenciam uma demanda ou funo entre objetos em uma realidade
particular. Sendo orientada por demanda, Dahlberg no aponta ou impe limitao aos
tipos e possibilidades de relacionamentos do tipo funcional-sintagmticas que podem
ocorrer em um domnio.
(3.5) Relao de equivalncia: examina a relao que ocorre nas fronteiras da lngua
verncula utilizada para expressar os conceitos e estabelecer comunicao dentro da
comunidade de usurios. A Teoria da Classificao no explicita essa relao na esfera da
linguagem, pois a linguagem tratada no plano verbal, no mbito da
linguagem/comunicao, e no na representao conceitual. Essa representao somente
acontece quando os conceitos so ainda trabalhados no plano das ideias. J na Teoria do
Conceito, essa relao explicitamente estabelecida quando h a definio terminolgica
de cada conceito do domnio.
(4) Formas de representao: investiga formas grficas de representao, que podem ser
utilizadas na demonstrao do modelo conceitual.A Teoria da Classificao e a Teoria do
Conceito no desenvolveram estudos sobre qualquer forma grfica de representao do

3
As relaes lgicas e partitivas so denominadas de relaes paradigmticas.

353
modelo conceitual que criaram. No se ocuparam em oferecer uma maneira de expressar,
graficamente, os relacionamentos que estabeleceram entre os diferentes conceitos, a no ser a
prpria lista endentada de termos e notao.

Face ao exposto, que oferece os fundamentos da modelagem conceitual, em uma abordagem
mais genrica, a seguir apresentamos os princpios de Ranganathan, desenvolvidos com a Teoria da
Classificao Facetada. Esse modelo foi utilizado na modelagem para a padronizao da
representao de contedos informacionais de documentos do tipo teses e dissertaes, visando
criar uma interface facetada para facilitar o acesso s informaes.

2.3 Princpios de Ranganathan para a modelizao de um domnio

A teoria da classificao facetada, criada por Ranganathan, permite a modelagem de um
domnio pela anlise por classes, em facetas, privilegiando os diferentes aspectos desse campo,
podendo-se ainda estabelecer relaes entre esses aspectos. A possibilidade de modelizao e de
representao do conhecimento de um domnio em sua multidimensionalidade sintetiza a maior
contribuio de Ranganathan teoria da classificao, desenhada originalmente para sistemas de
classificao bibliogrfica.
Piedade (1977, p.9), define classificar como dividir em grupos ou classes, segundo as
diferenas ou semelhanas. Assim, dispor os conceitos, segundo suas semelhanas e diferenas, em
certo nmero de grupos metodicamente distribudos. A origem da atividade de classificar tem
incio em Aristteles, que introduziu a diviso tricotmica das cincias, cuja lgica teve base na
finalidade de cada uma delas. Aristteles contribuiu com dois alicerces para o processo
classificatrio: (1) a diviso dicotmica das coisas, em hierarquias de gnero e espcie, com a
aplicao de princpios classificatrios, agrupando os semelhantes e separando os diferentes; (2)
desenvolvimento de cinco predicados (relaes) existentes em um arranjo lgico: gnero (classe),
espcie (tipo), diferena (caracterstica especfica), propriedade (atributo) e acidente (qualidade).
Depois disso, Porfrio, filsofo do sculo IV, aplicou o princpio de Plato e Aristteles para
criar seu processo denominado rvore de Porfrio. Diversamente de Aristteles (na obra
Categorias), Porfrio no tratou o conceito de substncia apenas como gnero/espcie, mas como
uma classificao lgica da substncia, sistematizando a noo de ideias gerais, chegando s mais
especficas, usando os predicados de Aristteles. A rvore de Porfrio ilustra a classificao lgica
da substncia, que pode ser considerada precursora das classificaes taxonmicas. Contudo,
considera-se que a sistematizao do conhecimento em um sistema de classificao foi realmente
elaborada em 1491, por Angelo Poliziano, na publicao de Panepistemon. Nessa obra, o autor
mostrou, na forma de um esquema, as relaes entre as cincias ou campos do conhecimento.
Em seguida, h a obra de Bacon, que por volta de 1605 props a classificao das cincias em
trs grupos, segundo a lgica das faculdades humanas: (1) a poesia (imaginao); (2) a histria
(memria); (3) a filosofia (razo), dando nfase aos assuntos tratados nos documentos e no mais s
colees em si. Ele publicou uma trilogia sobre teoria da classificao, oferecendo o primeiro esboo
racional de uma metodologia cientfica, demonstrando o primeiro mtodo cientfico indutivo. Bacon
recomendou o uso de trs tbuas para abordagem cientfica: (1) a tbua de presena: registrar a
presena das formas investigadas; (2) a tbua de ausncia (ou declinao): controlar situaes nas
quais as formas pesquisadas se revelam ausentes; (3) a tbua de comparao (ou graduaes):
registrar as variaes das formas. Os princpios e a lgica de classificao de Bacon influenciaram a
criao de um dos principais sistemas bibliogrficos: a Classificao Decimal de Dewey (CDD), em
1876.
No sculo XX, percebe-se uma busca constante por metodologias que permitam a introduo
de mais nveis de especificidade na representao dos assuntos, to necessria na representao dos
registros dos saberes. Nessa poca, bibliotecrios e classificadores tais como Otlet e Henri La

354
Fontaine (com a Classificao Decimal Universal CDU, 1904/1907), Brown (1906), Bliss (1940) e a
LCC (Classificao da Biblioteca do Congresso Norte-Americano) realizaram estudos detalhados
sobre os assuntos cientficos, visando solucionar problemas de representao.
Nesse contexto, Ranganathan contribui com o maior avano terico na rea de classificao
no sculo XX, desenvolvendo a classificao analtico-sinttica, atravs da Teoria da Classificao
Facetada, que possibilitou uma abordagem multidimensional na modelagem do conhecimento.
Ranganathan forneceu fundamentos gerais para a anlise de assunto e os processos classificatrios,
que respalda teoricamente a formao de conjuntos de informao, desde ideias ou conceitos mais
abrangentes at aos mais especficos (focos).
Os princpios de Ranganathan para a teoria da classificao facetada foram iniciados na
dcada de 30. Esses princpios esto expostos em duas importantes fontes de estudos: (1) os estudos
de Ranganathan, cuja teoria possui 46 cnones, 13 postulados e 22 princpios, e est apresentada
basicamente em cinco obras: Five Laws of Library Science, 1931, Colon Classification, 1933, Prolegomena to
Library Classification, 1937 (republicado em 1957 e 1967), Philosophy of Book Classification, 1951, e
Elements of Library Classification, 1962; (2) os estudos do Classification Research Group (CRG), criado na
dcada de 50, sediado no Reino Unido, e composto por profissionais envolvidos na organizao da
informao. O grupo foi criado para discutir os princpios e prticas de classificao bibliogrfica
(Vickery, 1960, p.10), incluindo os integrantes: D. J. Campell, E. J. Coates, J. E. L. Farradane, D. J.
Foskett, G. Jones, J. Milles, T. S. Morgan, B. I. Palmer, O. W. Pendleton, L. G. M. Roberts, B. C. Vickery,
A.J. Walford, K. E. Watkins e A. J. Wells (Lima, 2004). O CRG continuou as discusses sobre a
abordagem da anlise facetada ao longo dos anos 1960 e 1970 e, depois disso, podemos encontrar
material de estudos de seus integrantes, individualmente. Coates (1988) afirma que Vickery
desempenhou o papel de lder no grupo, promovendo as ideias de Ranganathan para criar
ferramentas de uso prtico e na clarificao do papel da classificao facetada como base dentro do
processo mais amplo de recuperao de informao.
Para melhor entendimento dos fundamentos do modelo de Ranganathan discutidos neste
artigo, necessrio apresentar algumas definies relevantes: categoria: diviso geral mais ampla e
abstrata de um domnio; classe: conjunto de coisas ou ideias que possuem vrios atributos,
predicados ou qualidades comuns; caracterstica: qualidade ou atributo inerente a um domnio, que
serve de base para aplicar um critrio de diviso; conceito: conjunto de enunciados ou afirmativas
que tornam um dado objeto nico em um domnio; termo: signo que representa um conceito em um
domnio.
Os postulados da abordagem da anlise facetada de Ranganathan foram introduzidos na
segunda edio de seu Prolegomena, de 1957, e desenvolvidos na terceira edio, de 1967. Apesar de
a Classificao de Dois Pontos (Colon Classification) no ter sido internacionalmente aceita e utilizada,
os fundamentos tericos sobre a anlise e sntese por facetas importante base referencial para a
modelagem de domnios, sendo abordagem bastante utilizada na rea da BCI na contemporaneidade.
A classificao por facetas um esquema analtico-sinttico, porque envolve dois processos
distintos: a anlise do assunto em facetas e a sntese dos elementos que constituem o mesmo,
decompondo os conceitos mais complexos em simples. A sntese a recombinao das partes para a
classificao, de acordo com as caractersticas do documento que vai ser descrito e representado
(Lambe, 2007). Essa abordagem visa identificao dos conceitos para a estruturao e ordenao do
conhecimento em classes formais, de acordo com as categorias existentes neste campo do
conhecimento. Ela permite tambm a incluso de novos conceitos, sem que seja necessrio mudar
toda a estrutura do sistema classificatrio, para fins de organizao e recuperao de documentos.
Na Teoria da Anlise Facetada, Ranganathan prope analisar um dado domnio de
conhecimento sob o princpio classificatrio no mais pela de rvore de Porfrio, mas como uma
policotomia
4
ilimitada, a rvore Baniana (banyan tree). Essa rvore, um tipo de figueira indiana, se
espalha por uma grande rea, enviando galhos para o solo, os quais criam razes formando vrios

4
Sujeito a um ilimitado nmero de divises das reas do conhecimento.

355
troncos. As razes so areas, e crescem do tronco principal, tornando-se novos troncos adicionais.
Numa rvore baniana no h apenas relacionamentos hierrquicos, pois a forma de seus galhos e
razes sugere a ideia de que os assuntos (espcies de categorias) so relacionados uns aos outros de
diferentes, complexas e imprevistas formas, gerando novas classes (Ranganathan, 1967, p.368). O
modelo baniano , assim, a representao simblica para um conhecimento como um organismo
vivo, em constante crescimento, que se ramifica e transforma, desenvolvendo-se atravs do tempo.
Nessa abordagem, os mtodos de diviso para a modelagem conceitual so feitos a partir de
categorias pensadas em sua abrangncia conceitual que no est relacionada somente a um ncleo,
mas a diversos ncleos, dependendo da forma como as unidades de conhecimento se relacionam.
Assim, o conhecimento multidirecional
5
e multidimensional
6
, pois pode se desenvolver em
diferentes direes, com fertilizaes cruzadas, multidisciplinares ou mesmo interdisciplinares. Para
Ranganathan (1967), o conhecimento no era esttico e sim dinmico, podendo ser formados novos
assuntos por meio de: a) laminao; b) reunio livre de termos; c) desnudao; d) dissecao; e e)
interpolao.
Para desenvolver o trabalho de anlise, Ranganathan introduziu trs nveis distintos: 1) plano
das ideias: nvel das ideias e conceitos; 2) plano verbal: nvel da expresso verbal dos conceitos; e 3)
plano notacional: nvel da fixao dos conceitos em formas abstratas (sinais, letras etc.). Este ltimo
plano aplica-se, principalmente, para a funo principal de uma classificao bibliogrfica, que a
ordenao de itens em um acervo fsico.
A essncia de sua classificao est fundamentada em um conjunto de cinco categorias
fundamentais, sob as quais qualquer domnio pode ser modelado, conhecido mnemonicamente por
PMEST: Personalidade (assunto; objeto), Matria (composio do assunto ou objeto), Energia (ao
ou processo em relao ao assunto ou objeto), Espao (localizao geogrfica do assunto ou objeto;
ambiente) e Tempo (perodo). Nesse sentido, para modelar um domnio usando o modelo de
Ranganathan preciso seguir as etapas:

1) Examinar a literatura do assunto para identificar sua terminologia, seus conceitos e os
termos que os representam;
2) Estabelecer as caractersticas dos conceitos para determinao das facetas;
3) Distribuir os termos em facetas, a partir de um nico princpio bsico de diviso;
4) Analisar cada faceta para determinar novos agrupamentos, pela aplicao de outras
caractersticas divisionais, dando origem a subfacetas;
5) Conservar os termos nas subfacetas mutuamente exclusivos (sem se sobrepor);
6) Determinar a ordem de apresentao das facetas e subfacetas no sistema.

Na aplicao desse modelo, o processo de classificao por facetas se baseia no
estabelecimento de classes de elementos que tenham pelo menos uma caracterstica comum,
podendo ser organizados segundo um ponto de vista ou caractersticas classificatrias. Por exemplo,
os indivduos podem ser agrupados segundo a idade ou o sexo, segundo sua profisso, e assim
sucessivamente. A diviso por classes possui: 1) um princpio de diviso, que obedece a critrios pr-
estabelecidos, obedecendo a uma caracterstica especfica de diviso; e 2) classes simples e classes
compostas, nas quais a classe simples identifica uma nica caracterstica, em que no cabem mais
subdivises, e a classe composta identifica mais de uma caracterstica, na qual podem caber mais
subdivises. Assim, um ponto fundamental que envolve o processo de classificao por facetas, em

5
Pode ser orientado a diferentes propsitos, sejam eles convergentes ou divergentes.
6
Possui diferentes dimenses em relao espao-tempo, formando relao entre dimenses e fatos, possibilitando
combinaes.

356
qualquer poca ou domnio, a definio dos princpios e critrios que nortearo a formao da
estrutura na qual as classes sero agrupadas.
A modelagem conceitual que foi aplicada nos documentos do tipo teses e dissertaes, para a
criao da interface facetada para a BDTD foi orientada pelos princpios expostos nesta seo, e est
apresentada na seo 4.
Aplicao do modelo de Ranganathan em documentos acadmicos
Nesta seo demonstramos a aplicao do modelo de Ranganathan na modelagem conceitual
para a padronizao da representao de contedos informacionais de documentos acadmicos, do
tipo tese e dissertao. O objetivo foi o de criar uma interface facetada para facilitar o acesso s
informaes. Iniciamos o relato, descrevendo as caractersticas desse tipo de documento e, depois,
sua modelagem. Em seguida, apresentamos a criao da taxonomia facetada navegacional.

2.4 Documentos acadmicos do tipo tese e dissertao

Em sentido lato ou strictu sensu, um documento acadmico ou trabalho acadmico o
resultado de um conjunto de processos ligados produo de um texto. Esse documento representa
uma investigao executada no mbito de instituies ensino, pesquisa e/ou extenso universitrias,
formalmente reconhecidas para o exerccio dessas atividades.

Para Paul Otlet, documento o livro, a revista, o jornal; a pea de
arquivo, a estampa, a fotografia, a medalha, a msica; tambm, o filme, o
disco e toda a parte documental que precede e sucede a emisso
radiofnica. Ao lado dos textos e das imagens, existem objetos documentais
por si mesmos (relia). So as amostras, os espcimes, modelos, fac-smiles
e, de maneira geral, tudo que tenha carter representativo em trs
dimenses e, eventualmente, em movimento (Cunha & Cavalcanti, 2008,
p.132).

Percebemos que o documento, desde a concepo otletiana, pode ser praticamente qualquer
objeto de informao, e estar objetivado em novos suportes alm dos tradicionais livros e elementos
textuais. Assim, retira-se o foco do suporte e resgata-se o processo da informao. Smit (2008) afirma
que nessa concepo o documento deixa a condio de objeto auto-referenciado para a de
representante de ideias ou objetos. Contudo, a autora tambm acrescenta que essa noo de
documento ainda era vaga e foi Suzanne Briet (1951) que determinou uma definio mais clara, na
qual impe o sentido original de documento como o registro preservado de informao, em
qualquer objeto, que serve de evidncia a um determinado fato fsico ou intelectual. H algum
tempo que a BCI reconhece o documento nessa acepo mais ampla, considerando que

Ele apresenta a materialidade e a susceptibilidade de inscrio ou
registro informacional como caractersticas principais e apresenta,
igualmente, uma estrutura e uma disposio que facilita e/ou propicia a
identificao e a apreenso das informaes nele registradas (Rabello, 2009,
p.12).

Como explicitado pela autora, o documento suporte para o registro de informaes e do
conhecimento, e cada tipo de documento possui caractersticas e estruturas prprias. Na produo
de um documento, o respeito sua estrutura facilita a sua identificao e a interpretao das

357
informaes nele contidas. Da a importncia da padronizao da estrutura dos documentos, cujos
elementos incluem desde o tipo de fonte utilizada at a determinao de suas partes constituintes.
Nesse sentido, cada parte do documento pode ser considerada uma unidade informacional e,
como tal, passvel de catalogao ou indexao, podendo ser tratada e disseminada em SRIs. A
concepo de informao como algo tangvel encontra respaldo em Buckland (1991), que prope
trs usos para a informao: 1) informao como processo, com a transmisso e comunicao de
uma informao; 2) informao enquanto conhecimento, capaz de reduzir incertezas atravs do uso
da informao pelo indivduo; 3) informao na perspectiva de objeto, que pode ser atribudo a
qualquer unidade informacional, a qualquer coisa. Assim, cada contedo documental pode servir a
propsitos distintos.
Os documentos acadmicos constituem o conjunto de produes que formam a literatura
cientfica. Se considerarmos apenas os tipos formais mais comuns, teremos: tese, dissertao,
monografia, artigo, relatrio e resumos. A aplicao apresentada neste artigo limita-se aos
documentos acadmicos do tipo teses e dissertaes.
No Brasil, a Associao Brasileira de Normas Tcnicas (ABNT), o rgo responsvel pela
normalizao tcnica e representa o pas em entidades internacionais tais como a International
Organization for Standardization (ISO) e International Elecrotechnical Commission (IEC). Assim, a ABNT
possui particular importncia no mbito de normalizao de documentao, sobretudo na
apresentao de documentos acadmicos. Isso confirmado pelo fato de que as diretrizes da Norma
ABNT-NBR 14724:2011 so as que prevalecem, desde 17 de abril de 2011, para padronizar a
elaborao e apresentao de documentos acadmicos, dentre eles as teses e dissertaes. No
obstante, outras normas complementam-na, quais sejam: 6023:2002 (Informao e documentao
Referncia Elaborao), NBR 6024:2003 (Numerao progressiva das sees de um documento
escrito), NBR 6027:2003 (Sumrio), NBR 6034:2004 (ndice), NBR 10520:2002 (Citaes), NBR
12225:2004 (Ttulos de lombada), NBR 6028:2003 (Resumo).
O Resumo, objeto desta ltima norma, parte constitutiva de todo documento acadmico do
tipo teses e dissertaes. Ele deve ser do tipo informativo e ser composto por uma descrio de todo
o contedo informacional do documento, indicando informaes tais como os objetivos,
metodologia, resultados e concluses do documento acadmico.
Sendo assim, convm explicar que, no Brasil, uma tese um documento acadmico que
representa o resultado de pesquisa com tema nico e escopo bem delimitado, responsvel por
contribuio real para a questo levantada, com alto grau de profundidade de estudo. Nesses termos,
a tese constitui exigncia para obteno do grau de Doutor, e deve ser elaborada sob a superviso
de um orientador que possua a titulao de doutor.
J a dissertao um documento acadmico de tema nico, com um escopo bem delimitado.
Seu objetivo estudar e reunir subsdios para analisar e interpretar informaes coletadas. Desse
modo, dever testar a capacidade e habilidade de sistematizao do aluno, para obteno do grau de
Mestre, sob a superviso de um orientador que tambm deve possuir a titulao de doutor.
Pelo exposto, percebemos que a pesquisa acadmica, inscrita nas teses e dissertaes,
demanda conhecimento cientfico e metodolgico por parte do autor. Com isso, o documento traz
contribuies desse autor ao tema escolhido, ainda que seja um pequeno aporte de conhecimento.
Adicionalmente, a produo desse tipo de documento requer o respeito a regras e normas tcnicas
para a normalizao dos textos, estruturando-o e padronizando-o. o atendimento ao padro e
estrutura textual que facilitar a comunicao e o compartilhamento da informao.
De modo geral, a norma ABNT NBR 14724:2011 indica trs partes fundamentais para a
estrutura textual das teses e dissertaes: (1) parte textual: o texto composto por uma parte
introdutria, que apresenta os objetivos do trabalho e as razes de sua elaborao; (2) o
desenvolvimento, que detalha a pesquisa ou estudo realizado; (3) uma parte conclusiva.
Na segunda parte a de desenvolvimento da pesquisa , necessrio discorrer sobre quatro
elementos bsicos:

358

Elemento 1: Reviso de literatura: contm uma explanao sobre os estudos
realizados por outros autores acerca do tema da pesquisa. Restringe-se, geralmente, s
contribuies mais contundentes, situando a evoluo do assunto.
Elemento 2: Metodologia: descreve, detalhadamente, os mtodos, tcnicas e
processos seguidos na pesquisa, explicando as hipteses ou pressupostos, populao
ou amostra, os instrumentos e a coleta de dados. Em especial, os mtodos inditos
desenvolvidos pelo autor devem ser justificados, e devem ser apontadas suas
vantagens em relao a outros autores.
Elemento 3: Resultados: apresenta os dados obtidos durante o desenvolvimento
da pesquisa, os quais podem ser oferecidos por meio de tabelas, quadros e figuras. Os
diversos resultados alcanados devem ser agrupados e ordenados, sendo que, para
maior clareza, podem ser acompanhados por grficos com valores estatsticos.
Elemento 4: Discusso: pode expor uma comparao dos resultados alcanados
na pesquisa com aqueles estudos e j mencionados na reviso de literatura,
ressaltando os aspectos que confirmem ou modifiquem, de modo significativo, as
teorias estabelecidas.

Tambm na literatura da rea de metodologia e mtodos de pesquisa, percebe-se que h
indicao do uso desse tipo de estrutura textual em teses e dissertaes. Em sntese, o que se
encontra nessa literatura : 1) seo inicial com a introduo, as justificativas e os objetivos; 2)
desenvolvimento geralmente, com a reviso da literatura, a metodologia, uma discusso
(argumentao terica, conceitual ou analtica), descrio dos dados, apresentao dos resultados; e
3) ltima seo parte em que so apresentadas as concluses.
Diante dessas verificaes e aps a anlise dos dados, partimos para a modelagem conceitual
utilizando a estrutura textual de criao de teses e dissertaes.

2.5 A modelagem do documento acadmico

Como descrito anteriormente, no modelo de Ranganathan h um processo de modelagem
conceitual por facetas, cuja organizao segue uma orientao funcional, isto , o seu propsito.
Assim, decidimos utilizar, como critrio para nortear a formao das facetas, a estrutura textual de
documentos do tipo teses e dissertaes. A partir disso, aplicamos o mtodo de Ranganathan, nas
seis etapas apresentadas na subseo 3.3 deste artigo:

Etapa 1: nesta etapa examinamos a literatura da rea para determinao da
terminologia utilizada no campo de produo de documentos acadmicos, visando
determinar seus conceitos e os termos que representam cada um deles. A coleta de
dados teve por base as fontes de informao listadas a seguir: o estudo de Targino
(2000); as ideias de Kuhn (2006); o dicionrio da rea de Biblioteconomia e
Arquivologia de Cunha e Cavalcanti (2008); Alvarado e Oliveira (2008); a norma ABNT
NBR 14724:2011, sobre regras para a apresentao de teses e dissertaes; e trs livros
de metodologia de pesquisa cientfica, de autores consagrados, a saber: Severino
(2007), Marconi e Lakatos (2010) e Silva (2010). Todas as referncias se encontram na
listagem, na seo 6.

359
Adicionalmente, foram utilizadas quatro fontes que estabelecem diretrizes para os programas
de mestrado e doutorado: 1) a legislao brasileira
7
sobre programas de ps-graduao stricto sensu,
incluindo seus decretos; 2) as resolues e portarias do Ministrio da Educao
8
(MEC); 3) as normas
e resolues da Coordenao de Aperfeioamento de Pessoal de Nvel Superior
9
(CAPES); 4) as
resolues internas do PPGCI-UFMG
10
.
Etapa 2: nesta etapa realizamos a anlise das fontes de informao elencadas anteriormente,
buscando dados sobre as caractersticas da produo de documentos do tipo tese e dissertao, para
identificao dos fundamentos para a estrutura textual desse tipo de documento cientfico. Tambm
analisamos um corpus representado pelo conjunto de 41 teses e dissertaes, total de projetos
defendidos no perodo entre 1998 e 2009, no Programa de Ps-Graduao em Cincia da Informao
(PPGCI/UFMG), da linha de Organizao e Uso da Informao.
Etapa 3: nesta etapa houve a distribuio dos termos em facetas, tendo como base de diviso o
princpio bsico da estrutura textual de documentos acadmicos do tipo teses e dissertaes. A
consolidao dessa anlise est apresentada no QUADRO 1.

PARTE TEXTUAL FACETAS E SUBFACETAS
Introduo
Tema
Tempo e espao
Problema
Objetivos
Justificativa
Metodologia
Referencial terico
Desenvolvimento
Reviso literatura
Hipteses e variveis
Fundamentao terica
Mtodos e tcnicas
Anlise e interpretao
Concluso Concluso (em relao s hipteses e objetivos)

Quadro 2 - Consolidao da estrutura textual de documentos acadmicos
11

Esta consolidao representa a anlise utilizando os dados levantados na literatura listada na
Etapa 1.
Etapa 4: a partir do resultado da Etapa 3, descrita no QUADRO 1, nesta etapa realizamos nova
anlise, mais aprofundada, e determinamos novos agrupamentos e as representaes para as classes
bsicas. As classes bsicas so a base da estrutura navegvel da taxonomia facetada. O resultado
pode ser observado no QUADRO 2.

7
Disponvel em: <http://www4.planalto.gov.br/legislacao>.
8
Disponvel em: <http://portal.mec.gov.br/index.php?option=com_content&view=article&id=12899:pos-graduacao-
normativos&catid=323:orgaos-vinculados>.
9
Disponvel em: <http://www.capes.gov.br/sobre-a-capes/legislacao/2341-resolucoes>.
10
Disponvel em: <http://ppgci.eci.ufmg.br/?O_Programa:Resolu%E7%F5es>.
11
Fonte: Elaborado pelas autoras

360
FACETAS E SUBFACETAS CLASSES BSICAS
Tema
Tempo e espao
Problema
Objetivos
Justificativa
Metodologia
Referncia terica
TEMA
AMBIENTAO
OBJETO EMPRICO
TIPO DE PESQUISA
Reviso literatura
Hipteses e variveis
Fundamentao terica
Mtodos e tcnicas
Anlise e interpretao
FUNDAMENTO
HISTRICO/CONTEXTUAL
FUNDAMENTO TERICO
COLETA DE DADOS
MTODOS
Concluso (em relao s
hipteses e objetivos)
RESULTADOS

Quadro 3 - Consolidao das classes bsicas da taxonomia facetada
12

Para determinar essa consolidao houve vrios procedimentos de diferentes agrupamentos e
escolha do termo para representar cada conceito.
Etapa 5 e Etapa 6: essas duas etapas foram realizadas em conjunto com a Etapa 4, quando
houve repetidas tentativas de reagrupamentos e representaes, at chegar ao resultado
apresentado no QUADRO 2. Cada um desses termos, que representam as classes bsicas, recebeu uma
definio terminolgica conceitual.
Ao final da anlise, obtivemos um conjunto validado de nove classes bsicas, pelos critrios:

1) Exaustivas: cobrem todo o contedo significativo da estrutura textual dos trabalhos
acadmicos, pois ao completar os campos, nenhuma parte textual deixar de ser
contemplada;
2) Homogneas: o conjunto possui um nico critrio representar a estrutura textual dos
trabalhos acadmicos do tipo teses e dissertaes;
3) Mutuamente exclusivas: cada classe se encaixa em uma nico e exclusivo lugar na
estrutura, pelo critrio de acatar a estrutura textual dos trabalhos acadmicos do tipo
teses e dissertaes;
4) Consistentes: qualquer outro pesquisador, com o mesmo objetivo proposto, chegar a
resultados semelhantes, ainda que estabeleam termos diferentes para representar as
classes bsicas, pois os trabalhos acadmicos possuem estrutura textual estvel e
persistente;
5) Vlidas: o conjunto de classes bsicas significativo em relao estrutura textual dos
trabalhos acadmicos do tipo teses e dissertaes e adequado ao objetivo proposto de
atender s necessidades de informao da comunidade cientfica.

12
Fonte: Elaborado pelas autoras

361
2.6 Criao da taxonomia facetada navegacional

Denominamos a taxonomia facetada navegacional de TAFNAVEGA, e sua criao envolveu
quatro procedimentos:

1) Determinao do usurio da BDTD: a caracterizao do usurio foi obtida por meio da
anlise sobre a produo e uso de documentos do tipo teses e dissertaes. A anlise foi
orientada pelas questes: quem produz documentos acadmicos?; com qual propsito
as teses e dissertaes so produzidas?; quem usa o contedo das teses e dissertaes?.
Ao responder a tais questes, identificamos que o produtor de teses e dissertaes
sempre um pesquisador de carreira ou de circunstncia, que parte da comunidade
cientfica (ou acadmica). A finalidade dessa produo ser aprovado perante uma banca
de doutores, tambm pertencentes comunidade cientfica. Ao receber a aprovao da
banca, o prximo passo do pesquisador comunicar, comunidade cientfica, os
resultados encontrados em sua pesquisa. Targino (2000, p.54) anuncia que a
comunicao cientfica que favorece ao produto (produo cientfica) e aos produtores
(pesquisadores) a necessria visibilidade e possvel credibilidade no meio social em que
produto e produtores se inserem. Durante o percurso de sua pesquisa, o produtor de
teses e dissertaes necessita conhecer o que j foi estudado sobre o tema de sua
investigao, assim como os fundamentos e mtodos utilizados em pesquisas j
concludas. Dessa forma, determinamos que o produtor e usurio do contedo das teses e
dissertaes a comunidade cientfica, representados por seus pesquisadores.
2) Identificao das necessidades de informao: em sentido stricto sensu, todo pesquisador
tem como objetivo empregar uma sistemtica metodolgica, apresentando seu tema, o
problema de pesquisa, a proposta de soluo, a fundamentao terico-metodolgica e os
resultados alcanados. Essa sistemtica faz parte da atividade profissional do
pesquisador, e exigncia para que a sua produo seja aceita como conhecimento
cientfico. Para avanar em seu conhecimento, um pesquisador precisa saber o que j foi
estudado sobre seu tema de pesquisa e sob quais condies, tericas e metodolgicas,
esse tema foi abordado. Corroborando com isso, Kuhn (2006) afirma que os integrantes de
uma comunidade cientfica possuem interesses cientficos semelhantes, uma bibliografia
similar, vocabulrio prprio (ainda que divergente em alguns pontos), compartilham de
similares abordagens e modelos metodolgicos, e geralmente iniciam suas pesquisas a
partir do resultado de pesquisas j realizadas. Para esse autor, uma comunidade cientfica
fortalecida na medida em que o conhecimento produzido pode ser transferido e
utilizado em novas abordagens de investigao dentro dela, intensificando o uso de suas
prprias teorias, mtodos e tcnicas. A partir disso, consideramos que, em atividade
profissional, o pesquisador necessita de informaes sobre ideias, abordagens,
fundamentos, teorias, mtodos e tcnicas que possam ser empregadas em sua prpria
produo, de modo que possa avanar no conhecimento, a partir de resultados j
atingidos.
3) Definio das classes bsicas da estrutura facetada: o conjunto de classes bsicas que
formam a estrutura facetada da taxonomia composta por nove elementos (QUADRO 2):
tema, ambientao, objeto emprico, tipo de pesquisa, fundamento histrico/contextual,
fundamento terico, coleta de dados e mtodos resultados. Analisando as classes bsicas e
comparando-as com os dados encontrados na literatura da rea (material descrito na
seo 4.2, Etapa 1), percebemos que esse conjunto de categorias a representao
simplificada do contedo dos documentos do tipo teses e dissertaes.

362
4) Desenvolvimento de um algoritmo
13
para a extrao de conceitos de documentos do
tipo teses e dissertaes: o algoritmo criado apresenta as instrues metodolgicas a
serem seguidas no processo de indexao temtica dos documentos do tipo teses e
dissertaes. Ele composto de uma tabela
14
com trs colunas: a) a primeira coluna
composta pelos conceitos que representam a estrutura textual dos documentos; b) a
segunda coluna indica a abordagem sistemtica, que realizada atravs de
questionamentos, a partir das recomendaes da norma 12.676 (1992) e do sistema de
indexao PRECIS; c) a terceira coluna determina as partes da estrutura textual dos
documentos, nas quais os conceitos da primeira coluna devem ser buscados. O objetivo
do algoritmo orientar e sistematizar os procedimentos durante a anlise conceitual
em documentos do tipo teses e dissertaes, facilitando a extrao de conceitos. Ao final
dos procedimentos, os conceitos encontrados foram traduzidos por termos
representativos, retirados de um vocabulrio controlado. Por sua vez, esses termos
alimentaram o conjunto de classes bsicas da TAFNAVEGA, complementando a
estrutura facetada navegacional.

Terminada a fase de criao da TAFNAVEGA, a mesma se tornou uma ferramenta que tem por
objetivo auxiliar o usurio da comunidade cientfica na busca por informaes no banco de dados de
uma Biblioteca Digital de Teses e Dissertaes (BDTD). Com a estrutura facetada da taxonomia, o
usurio pode acessar com maior facilidade no somente o ttulo, autor e ano do documento, mas
tambm informaes mais detalhadas tais como teorias e mtodos de pesquisa.

Consideraes finais

No mbito da Biblioteconomia e Cincia da Informao (BCI), que lida com conhecimento e
saberes registrados, representar contedos para organizar informao significa recortar, segmentar.
Os critrios para estabelecer a segmentao podem ser determinados a partir de necessidades
pragmticas que possam atender ao fluxo informacional que se pretende alcanar.
O contedo textual dos documentos do tipo teses e dissertaes semi-estruturado e, dessa
maneira, muitas vezes no facilmente recuperado pelo pesquisador. O contedo informacional
desses documentos imprescindvel no percurso investigativo da comunidade cientfica. Em nossos
estudos, buscamos conhecer quais so as necessidades informacionais de uma comunidade
cientfica, representada por seus pesquisadores em atividade profissional. Verificamos que, nesse
papel, o pesquisador demanda por informaes sobre seu tema de pesquisa, tais como teorias,
mtodos, instrumentos de coleta de dados e tipos de pesquisa. Contudo, percebemos essas
informaes, contidas nas teses e dissertaes, esto armazenadas e disponibilizadas na biblioteca
digital de teses e dissertaes (BDTD), mas no esto, necessariamente, acessveis ao usurio.
Observamos que, ao realizar a implantao de BDTDs em instituies de ensino superior, no
basta disponibiliz-las digitalmente. preciso, antes disso, agregar valor informao
disponibilizada, criando condies para que o conhecimento acumulado nos documentos possa ser
acessado e recuperado, promovendo a comunicao cientfica.
O mecanismo TAFNAVEGA foi criado a partir de uma modelagem conceitual utilizando a
Teoria da Anlise Facetada, desenvolvida por Ranganathan. O objetivo foi proporcionar informaes
estruturadas e refinadas ao pesquisador, usurio da BDTD, atravs de uma taxonomia facetada

13
Um algoritmo uma sequncia lgica, finita e bem definida de instrues para executar uma tarefa. Nem sempre um
algoritmo representa um programa de computador, pois ele pode determinar tambm as aes de um ser humano.
14
A descrio completa do desenvolvimento do algoritmo e a aplicao do mesmo na indexao dos documentos podem
ser encontrados em Maculan (2011).

363
navegacional. A TAFNAVEGA agregou valor ao recurso informacional colocado disposio do
usurio, pois apresenta o contedo a partir da ordenao lgica da estrutura textual de produo de
teses e dissertaes, permitindo mapear e organizar o contedo considerado relevante para o
pesquisador. A interface facetada, desenvolvida com a abordagem da navegao facetada, segue o
princpio da rvore baniana, proveniente do modelo de Ranganathan. Nesse enfoque, o documento
apresentado em uma perspectiva multidimensional, pois se atribui a ele distintas dimenses, como
por exemplo, o tema, ambientao ou tipo de pesquisa.
Essa caracterstica torna a busca facetada dinmica, com uma interface interativa, na qual o
usurio pode visualizar e explorar recursos informacionais, descobrindo o universo do contedo em
questo. Ele tambm refina sua busca progressivamente, podendo combinar uma ou mais
dimenses. Adicionalmente, ao usurio permitido saber, exatamente, quais informaes esto
disponveis na BDTD, pois no possvel um resultado de busca vazio. Isso minimiza a sobrecarga de
informao e, sobretudo, aprimora a recuperao de informaes, pois as combinaes lgicas entre
as diferentes dimenses dos documentos j se encontram implcitas na estrutura facetada.

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366
DOCUMENTOS
Sua relao com informao e conhecimento
Fundamentos, modelos e mtodos para a organizao e representao da informao

CARLOS H. MARCONDES
Universidade Federal Fluminense - Departamento de Cincia da Informao
[email protected]

Resumo As relaes entre documento, informao e conhecimento no so ntidas e estes termos so
frequentemente tomados de forma intercambiada; a literatura da rea registra recorrentemente estas
relaes, sendo consensual o reconhecimento de sua existncia, denominada com frequncia hierarquia da
sabedoria. Na literatura de CI, h bastante tempo, a proliferao de acepes do termo relatada com
preocupao. Quais as relaes entre os conceitos informao, documento, conhecimento? O que
caracterizaria o ser de informao, sua essncia, que o tornaria um fenmeno nico, distinto? O trabalho tem
como objetivo esboar uma teoria do documento e de suas relaes com informao e conhecimento, que
delimite informao enquanto objeto prprio da CI/OC. proposta uma anlise ontolgica de diferentes
definies de informao encontradas na literatura. Esta anlise objetiva identificar diferenas, nuances ou
variaes. A percepo de diferenas usada para indicar entidades distintas, logo, conceitos distintos.

Palavras-chave Documento. Informao. Conhecimento. Ontologia. Artefato.

Abstract Relations between document, information and knowledge are not clear and these terms are
frequently taken interchangeably; literature in IS/OK frequently mentions the relations between the terms
and recognizes their existence, named as wisdom hierarchy. In Information Science literature, the existence
of different acceptations to the term is reported with preoccupation. Which are the relations between the
concepts of information, document and knowledge? Which would be the essence of information so as to
precisely characterize it as a unique and distinct phenomenon? This works aims at sketches a theory of
document and its relations with information and knowledge which delimits information as an object of IS/KO.
An ontological analysis of different definition of information found in literature is proposed with the aim of
identify differences, nuances or variations. The identification of differences is used to distinguish entities, so
concepts.

Keywords Document. Information. Owledge. Ontology. Artifact.

Introduo

Informao e/ou conhecimento so, de fato, as duas faces de Jano. Organizao do
conhecimento trata de organizao de registros conhecimento, na prtica, de documentos, ou de
documentos de 2a. ordem, metadados sobre documentos. As relaes entre documento,
conhecimento e informao tambm no so ntidas e estes termos so frequentemente tomados de
forma intercambiada; a literatura da rea registra recorrentemente estas relaes, sendo consensual
o reconhecimento de sua existncia, denominada com frequncia hierarquia da sabedoria (Rowley,
2007). H bastante tempo, a proliferao de acepes do termo relatada, de forma recorrente, com
preocupao (Hjrland, & Albrechtsen, 1995). Informao um termo com extenso muito ampla, o
que faz com que, na prtica, seja empregado com mltiplos significados: Information is notoriously
a polymorphic phenomenon and a polimorphic concept so (Floridi, 2011). Em (Hjrland, 2012) so
discutidos os conceitos de information organization, organization of information, information
architecture e knowledge organization; a o termo informao usado como um mero rtulo
dado por comunidades de prticas, que no ajuda a distinguir o que, segundo o autor, so contextos
de aplicao diferentes. O termo tambm usado na atualidade de forma coloquial, largamente

367
empregado e frequentemente apropriado pela mdia e pelas empresas de consultoria, muitas vezes
de forma metafrica; a partir da replicado e reutilizado pela prpria CI/OC, designando entidades
diferentes, em empregos que no explicitam seus pressupostos, aumentando a confuso conceitual.
Esta situao problemtica quando se tenta estabelecer as bases de um campo cientfico,
caracterizado como um domnio no qual fenmenos e suas relaes devem ser inequivocamente
definidos, empregando uma terminologia de especialidade. Wersig & Neveling (1975, p. 129)
ressaltam esta questo: The most extreme case of polysemy in the technical communication of
information and documentation is the term information Obviously each use and understanding of
the term is justified but an ambiguity is one of the major fault in scientific communication and
theory building....
Ser que as diferentes acepes do termo informao no indicariam fenmenos diferentes,
embora relacionados? Quais as relaes e diferenas entre os conceitos informao, documento,
conhecimento? O que caracterizaria o ser de informao, sua essncia, que o tornaria um fenmeno
nico, distinto? Existiria uma essncia da informao, presente em todos esses fenmenos descritos
pelas diferentes acepes do termo? Quais os pressupostos, muitas vezes no explcitos, de cada uma
das acepes? So formas diferentes do mesmo fenmeno ou so fenmenos distintos? Informao
seria uma entidade ou um processo? Neste espectro de questes, existiria um fenmeno especfico
ao qual seria apropriado conceituar como informao, de forma que sua identificao, caracterizao
e diferenciao trouxessem maior clareza conceitual?
O objetivo deste trabalho , atravs da identificao das categorias e relaes envolvidas no
fenmeno informao, contribuir para uma teoria unificada que englobe, relacione e diferencie
documento, informao e conhecimento, que delimite informao enquanto objeto prprio da
Cincia da Informao/Organizao do Conhecimento.
Vrias teorias com esta finalidade foram formuladas no escopo da CI/OC; no entanto, a falta de
uma linguagem formal e de rigor ontolgico sobre as entidades mencionadas nestas definies
dificulta o desenvolvimento da CI/OC, uma vez que em seus discursos no fica claro que acepo dos
termos esta sendo empregada, no permitindo que experincias relatadas possam ser comparadas.
A disciplina que pode dar resposta s perguntas formuladas anteriormente Ontologia, que
estuda a natureza ltima do que existe. Barry Smith e Christopher Welty (2001, 4) afirmam que:
Philosophical ontology is the science of what is, of the kinds and structures of objects, properties,
events, processes and relations in every area of reality. Guarino (1995, p. 628) destaca a utilizao
da anlise ontolgica na identificao de diferenas: ... formal ontology can be intended as the
theory of a priori distinctions: among the entities of the world (physical objects, events, regions,
quantities of matter...); among the meta-level categories used to model the world (concepts,
properties, qualities, states, roles, parts...).
As razes da Ontologia remontam a Aristteles (2000, 1909), que fixou as bases de uma cincia
do ser em obras como Categorias e Metafsica. Ontologia vem sendo retomada recentemente em
funo da necessidade crescente de fixar significados formal e inequivocamente, para possibilitar o
processamento destes significados, associados a recursos na Web, por computadores e assim
viabilizar a comunicao homem-mquina e mquina-mquina (Jacob, 2003). Ontologia uma das
reas de pesquisa mais intensas para viabilizar a proposta da Web Semntica (Berneers-Lee et al.,
2001).
Segundo Le Moigne (1990, p. 79) uma completa compreenso de um fenmeno se d segundo
trs dimenses: A definio de um objeto faz-se por triangulao: pondera uma definio funcional (o
que o objeto faz), uma definio ontolgica (o que o objeto ) e uma definio gentica (o que o objeto
devm) . Este trabalho se prope a contribuir para uma definio ontolgica do fenmeno
informao, a partir das definies de informao encontradas na literatura de CI/OC, e desenvolver
uma anlise ontolgica dos seus elementos constitutivos com o objetivo de explicitar, identificar
suas categorias ontolgicas e inventariar estes elementos.

368
1 Metodologia

Definies de informao so analisadas para determinar a que entidades os termos
encontrados nas definies se referem. Para se chegar a estas determinaes, desenvolvido um
processo aproximativo no qual, primeiro, os termos so previamente identificados categorias
gramaticais, com base no WordNet; em alguns casos, substantivos que indiquem aes como
seleo na definio de Capurro (2003), so identificados a verbos, como selecionar. A seguir,
cada termo identificado s categorias do Modelo E-R de (Chen, 1976); a Teoria dos Nveis da
Realidade (Poli, 2001) e a ontologia dos trs mundos (Popper, 1978) so utilizados para identificar o
nvel da realidade ao qual pertenceria cada termo; finalmente os termos so identificados s
categorias da ontologia DOLCE- Descriptive Ontology for Linguistic and Cognitive Engineering
(THE WONDERWEB LIBRARY OF FOUNDATIONAL ONTOLOGIES, 2003) . As categorias DOLCE
identificadas so sempre apresentadas juntamente com a categoria de nel superior a que pertencem,
para deixar mais claro o contexto, como se segue: Object -> Agentive Physical Object. Para cada
definio apresentado um quadro com esses resultados. Os resultados de cada quadro so
discutidos.

1.1 Ontologias utilizadas

A ontologia DOLCE foi concebida como uma ontologia de alto nvel, que permite que
categorias de domnios especficos, como no caso do domnio documento-informao-
conhecimento, pudessem ser referenciados e terem seus significados definidos. Segundo seus
criadores DOLCE has a clear cognitive bias ... We do not commit to a strictly referentialist
metaphysics related to the intrinsic nature of the world: rather, the categories we introduce
here are thought of as cognitive artifacts ultimately depending on human perception, cultural
imprints and social conventions (THE WONDERWEB LIBRARY OF FOUNDATIONAL, (2003, p. 8)).
Possui tambm um vis lingustico, que permite analisar as diferentes definies de informao e
referenci-las nas categorias DOLCE. Apesar de ser concebida como uma ontologia de particulares, ou
seja, de entidades que ocorrem em tempos e espaos definidos, e no de universais, como talvez
fosse mais conveniente em se tratando de anlise de definies, sua vocao para tratamento da
linguagem, cultura e cognio a tornaram uma escolha bvia.
O modelo E-R (Chen, 1976), na verdade um metamodelo de alto nvel de abstrao, classifica as
coisas existentes em trs categorias: entidades (E): a thing which can be distinctly identified;
relacionamentos (R): an association among entities; e atributos (A) de entidades ou de
relacionamentos: The information about an entity or a relationship is obtained by observation or
measurement, and is expressed by a set of attribute-value pairs.
A Teoria dos Nveis da Realidade, conforme exposta em Poli (2001) oferece mais um elemento
de sustentao para a identificao das categorias ontolgicas dos elementos da definio e um
mecanismo a mais de aproximao identificao das categorias DOLCE. Calcada nas formulaes de
Hartmann, sustenta que a realidade formada por nveis de crescente complexidade, cada um dos
quais tm categorias e relaes prprias e por sua vez subdividido em diferentes estratos. Os nveis
bsicos, utilizados nesta anlise, seriam o nvel material (F), o mental (M) e o social (S). Segundo
Gnoli (2011), os nveis propostos por Poli so, grosso modo, equivalentes aos 3 mundos de Popper
(1978). A utilizao da ontologia de Popper combinada de Poli interessante para os fins deste
trabalho, na medida que Popper d nfase, entre os objetos do seu mundo 3 (nvel social, de Poli)
quelas corporificados ou objetivados (World 1 embodiments of world 3 object, such as handwritten
books, or printed books... (Popper, 1978, p. 162)), os objetos da cultura e do conhecimento com que
tradicionalmente lida a CI/OC. Quando for o caso, ser utilizada (So) para objetos do nvel social
(Poli, 2001) ou mundo 3 (Popper, 1978) objetivados em objetos da cultura e do conhecimento.

369
As ontologias utilizadas, ao oferecerem um quadro comparativo a partir de diferentes pontos
de vista, ajudam a caracterizar mais precisamente a natureza ltima dos objetos determinados pelos
termos das definies e permitem maior preciso na identificao da categoria de cada um.

1.2 Autores-definies utilizadas

Autores-definies utilizadas so alguns dos mais citados e representativos de diferentes
vises (algumas vezes chamadas de paradigmas (Capurro, 2003) da Cincia da Informao. Por
questes de tamanho do texto final, somente estas definies foram analisadas, mas o trabalho
poderia ser estendido incluindo outras definies.
Definies so um dos pilares de uma cincia. Manuais de metodologia cientfica destacam a
importncia da definio para a cincia. Segundo Viegas (2007, p. 73): A cincia tambm tem seus
instrumentos como a definio e a classificao e exigncias rituais como a argumentao.
Definio uma frase que exprime o significado de algo. Segundo o mesmo autor, definio uma
locuo que exprime o que uma coisa ou qual o significado de um termo... A definio busca atingir
a essncia do definido, aquilo que faz que a coisa seja ela e no outra... (Viegas, 2007, p. 75). Esta
conceituao deixa clara a ligao entre definio e ontologia.
Numa definio o termo a ser definido denomina-se definiendum. Uma definio formal
procura praticamente igualar o definiendum com a definio, na forma A B, ou A = B. Procurou-se
extrair da literatura definies de informao que fossem desta forma ou se aproximassem dela.

2 Anlise das definies

- Belkin e Robertson (1976)

Information is that which is capable of transforming structure
(Belkin, & Robertson, 1976, p. 198).
A TEXT (in information science) is a collection of signs purposely
structured by a sender with the intention of changing the image-structure
of a recipient.
INFORMATION (in information science) is the structure of any text
which is capable of changing the image-structure of a recipient (Belkin, &
Robertson, 1976, p. 201).

ENTIDADE CATEGORIA
GRAMATICAL
CATEGORIA E-R NVEL CATEGORIA
DOLCE
COMENTRIOS
capable adjetivo Potencialidade, no
necessidade; modalidade
de ao
transforming,
changing
verbo R Event ->
Achievement

purposely adjetivo A M Um Agentive Physical
Object dotado de
intencionalidade
sender substantive E F Physical Object
->

370
Agentive
Physical Object
recipient substantive E F Physical Object
->
Agentive
Physical Object

structure,
image-structure
E S Non-physical
Object ->
Mental Object

text substantive E So Physical Object
->
Non-agentive
Physical Object

signs substantive E So Physical Object
->
Non-agentive
Physical Object

O propsito de Belkin e Robertson determinar the fundamental phenomena of interest to
information science (Belkin, & Robertson, 1976, p. 197). Os autores delimitam sua proposta:
information science is specifically concerned with information in the context of human
communication (Belkin, & Robertson, 1976, p. 198).
Os autores definem informao a partir de uma funo envolvendo, de forma explcita:
agentes, possivelmente humanos e dotados de intencionalidade (sender e recipient), estados
mentais (structure, image-structure), processos sgnicos (transforming, changing) e objetos /
artefatos (text, signs). Para os autores structure e image-structure so animals conceptual
view (Belkin, & Robertson, 1976, p. 198), a viso do mundo que animais superiores, em especial,
humanos, constroem a partir de estmulos-experincias na sua interao com o mundo. Esta viso
conceitual poderia ser alterada a partir de novos estmulos-experincias ou atravs de messages
received from other humans (and structured by them) (Belkin, & Robertson, 1976, p. 199) de forma
intensional (purposely).

- Brookes (1980)

What is the relation between information and knowledge? I regard
knowledge as a structure of concepts linked by their relations and
information as a small part of such a structure.
I expressed this relationship by what I called the fundamental
equation:
K [S] + K = K [S + S],
Which states in its very general way that the knowledge structure K
[S] is changed to the new modified structure K [S + S] by the information
I, the S indicating the effect of the modification (Brookes, 1980, p. 131).

371
ENTIDADE CATEGORIA
GRAMATICAL
DOLCE
COMENTRIOS
knowledge substantivo E S Non-physical
Object ->
Mental Object

structure substantivo E S
concepts,
(substructure of)
substantivo E S Non-physical
Object ->
Mental Object

linked by their
relations
verbo R
Relao Parthood
(entre: concepts,
knowledge)

information substantivo E S Non-physical
Object ->
Mental Object

(small) part of substantivo R Relao Parthood
(entre:
information,
knowledge)

(such a) structure substantivo E
changed to by verbo R Event ->
Achievement

Relao
Participation
(entre: changed
by, information,
t)

Relao
Participation
(entre: changed
to, knowledge, t)

Relao
Participation
(entre: changed
to, new
knowledge, t)

Information substantivo E S Non-physical
Object ->
Mental Object

A definio de Brookes traz dois verbos: linked by e changed by e trs relaes: os dois
verbos anteriores, mais a relao part of. A relao linked by entre concepts e suas
relations. A relao part of aparece duas vezes: a primeira, entre concepts e knowledge e a
segunda, entre information e knowledge. Ambos, information e knowledge, participam da
relao changed by, a relao realmente significativa. As relaes da DOLCE so somente binrias;

372
assim, tanto information quando knowledge esto envolvidas, atravs de relaes DOLCE
Participation, com changed by, cuja categoria DOLCE um evento (Event).
Resta examinar possveis pressupostos da definio de Brookes. Todas as entidades na
definio de Brookes so objetos mentais. A nica exceo a um processo unicamente mental a
entidade concepts. Na concepo da Semitica Peirceana, um conceito parte da relao, dita
tridica, do signo, que envolve ainda um objeto a que o signo se refere; o conceito chamado de
interpretante, a representao mental do objeto para um intrprete. Segundo Peirce (1977, p. 46, CP
8.343): o signo qualquer coisa que , de um lado, de tal modo determinado por um objeto e, por
outro lado, de tal modo determina uma idia na mente de algum que esta ltima determinao,
chamada de interpretante do signo, consequentemente determinada mediatamente por aquele
objeto. Um agente humano, responsvel pelos processos envolvendo estes objetos mentais, seria
um pressuposto da definio de Brookes. Dahlberg (1995) tambm concebe conceito como uma
relao entre uma unidade de conhecimento, compartilhado atravs de sua manifestao lingustica,
o termo, que se refere a um objeto do mundo.
Mais adiante Brookes (1980, p. 131) afirma que: Information may, of course, depend on
sensory observation, but the sense-data so received have to be subjectively interpreted by a
knowledge structure to became information. Interpretao um processo semitico que pressupe
um agente humano que, com base no seu conhecimento (knowledge structure), possa interpretar
dados e, segundo Brookes, transform-los em informao. Assim, dados seriam interpretados (por
algum), tendo como insumo (estruturas de) conhecimento e como produto, informao.

- Buckland (1991)

1. Information-as-process: when someone is informed, what they
know is changed. ... The act of informing...
2. Information-as knowledge: Information is also used to denote which
is perceived in information-as-process: the knowledge
communicated concerning some particular fact, subject, or event.
3. Information-as-thing: the term information is also attributively for
objects... having the quality of imparting knowledge or
communication information. (Buckland, 1991).

ENTIDADE CATEGORIA
GRAMATICAL
CATEGORIA E-R NVEL CATEGORIA DOLCE COMENTRIOS
Information-as-
process
Event ->
Achievement

when someone substantivo E F Physical Object ->
Agentive Physical
Object

is informed verbo R Event ->
Achievement

what they know substantivo E S Non-physical Object
-> Mental Object

Is changed verbo Event ->
Achievement
O processo (is
informed e o
resultado (what they
know is changed),

373
mas no fala do
insumo, nem em que
contexto, etc.
(The act of)
informing
verbo Event ->
Achievement

Information-as
knowledge
S Non-physical Object
->
Mental Object

which is
perceived
substantivo E S Non-physical Object
->
Mental Object

in information-
as-process
verbo Event ->
Achievement

knowledge substantivo E S Non-physical Object
-> Mental Object

communicated verbo R Evet ->
Achievement

Information-as-
thing
substantivo So Physical Object ->
Non-agentive
Physical Object

objects substantivo F Physical Object ->
Non-agentive
Physical Object

having the
quality
adjetivo
imparting verbo Event ->
Achievement

knowledge substantivo S Non-physical Object
-> Mental Object

communication verbo

Event ->
Achievement

information substantivo S Non-physical Object
-> Mental Object

Buckkand define informao como trs entidades ontologicamente diferentes segundo a
DOLCE: como (Physical Object ->) Non-agentive Physical Object, como (Event -> ) Achievement e
como (Non-physical Object -> ) Mental Object.
As definies de Buckland teriam tambm necessariamente como pressupostos, agentes
inteligentes, sensibilizados por objetos fsicos que desencadeiam nos mesmos processos cognitivos.
Para o autor conhecimento seria o resultado de information-as-process.
No final do seu texto Buckland chega a uma concluso desconcertante:

374
We conclude that we are unable to say confidently of anything that it
could not be information.
This leads us to an unhelpful conclusion: If anything is, or might be,
informative, then everything is, or might well be, information. In which
case calling something "information" does little or nothing to define it. If
everything is information, then being information is nothing special.

- Bates (2005)

Information 1 is defined as the pattern of organization of matter and
energy.
Information 2 is defined as some pattern of organization of matter and
energy that has been given meaning by a living being.
Knowledge is defined as information given meaning and integrated
with other contents of understanding (Bates, 2005).

ENTIDADE CATEGORIA
GRAMATICAL
pattern substantivo E
organization substantivo E Abstract Quality
matter substantivo E F Physical Endurant ->
Amount of Matter

Energy substantivo E F
has been given verbo R Event ->
Achievement

meaning (by) R S Non-physical Object
-> Mental Object

(a) living being substantivo E F Physical Object ->
Agentive
Physical Object

Knowledge S o que esta sendo
definido
information S Segundo a definio
prvia, seriam
estruturas mentais
semiticas,
significados
integrated with R
other contents of
understanding
S significados

A natureza processual clara na definio de informao, no qual, a partir de padres de
matria e energia, significados so extrados por agentes vivos. A natureza de integrated with na
definio de conhecimento mais problemtica; um processo (achivement), mas no uma

375
mera juno de partes; seria uma integrao sistmica ao estado de conhecimento de um indivduo
(living being), na qual o sistema integraria a nova informao, se reorganizando num novo
patamar de qualidade.

- Raber & Budd (2003)
Information is a kind of sign that unites text and content

ENTIDADE CATEGORIA
GRAMATICAL
DOLCE
COMENTRIOS
Information
(is a kind of) sign substantivo E S Non-physical
Object ->
Mental Object

(that) unites verbo R Event ->
Achievement

text substantivo E So Physical Object ->
Non-agentive
Physical Object

content substantivo E S Non-physical
Object ->
Mental Object

Embora outros autores em definies anteriores j falem em interpretao, num intrprete
humano, esta definio se insere numa linha e que vm utilizando mais explicitamente as bases
tericas da Semitica nas questes de informao, em especial na questo de compreender
informao como um processo interpretativo. Esto nesta definio explcitos artefatos - text -,
significado - content - e implcito um intrprete humano para o qual content faz sentido, ou
seja, a definio trata um processo semitico.

- Capurro (2003)

A diferena entre mensagem, ou oferta de sentido, e informao, ou
seleo de sentido, , ao meu ver, a diferena crucial de nossa disciplina
entendida assim como teoria das mensagens e no s como teoria da
informao.

ENTIDADE CATEGORIA
GRAMATICAL
DOLCE
COMENTRIOS
diferena adjetivo A
mensagem substantivo E S Physical Object ->
Non-agentive
Physical Object

376
oferta (oferecer) verbo R Event ->
Achievement

de sentido substantivo E S Non-physical
Object ->
Mental Object

informao substantivo E Non-physical
Object ->
Mental Object

seleo
(selecionar)
verbo R Event ->
Achievement

de sentido substantivo E Non-physical
Object ->
Mental Object

Mensagens so mecanismos de comunicao intersubjetivos. Pressupe um emissor e um
receptor integrados em processos sociais concretos, ambos dotados de intencionalidade no
processamento da mensagem. Embora para o receptor possa haver uma oferta, para o emissor h a
intencionalidade de prover um sentido especifico; e para o receptor, a inteno de selecionar
sentido.
Outros autores analisados a seguir, como Frohmann e Hjrland, no definem propriamente
uma entidade informao. Frohmann afirma que nossas impresses abstratas do que parece ser
informao so reificaes de variadas prticas com documentos. Hjrland sugere que o objeto da CI
deve ser conhecimento, devendo ser encontrado em domnios de conhecimento atravs de prticas
discursivas ou de pensamento.

- Frohmann (2004)

According to Nunberg's argument, the key properties of our abstract
impression of information-as-substance, those he calls the syntactic
properties of quantifiability, uniformity, and morselization (or
boundedness), and the semantic properties of objectivity and autonomy,
"are simply the reifications of the various principles of interpretation" (p.
116) we bring to reading specific, historically contingent document forms
(Frohmann, 2004, p. 388).

ENTIDADE CATEGORIA
GRAMATICAL
DOLCE
COMENTRIOS
the key
properties of
A
abstract
impression of
substantivo E M Non-physical
Object ->
Mental Object

377
information-as-
substance
substantivo E S Physical
Endurant ->
Amount of
Matter

are simply the
reifications of
(reificar)
verbo R Event ->
Achievement

the various
principles of
interpretation
(interpreter)
verbo R Event ->
Achievement

we substantivo E Physical Object ->
Agentive
Physical Object

bring to reading verbo R Event ->
Achievement

(specific,
historically
contingent)
document (forms)
substantivo R So Physical Object ->
Non-agentive
Physical Object

so too does it shift our attention away from mentalistic pictures of
information and toward practices with documents (Frohman, 2004, p.
396).

ENTIDADE CATEGORIA
GRAMATICAL
Shift away (our
attention )
verbo R Event ->
Achievement

(from)
mentalistic
pictures of
information
substantivo E S Non-physical Object
-> Mental Object

(toward)
practices (with)
verbo R Event ->
Achievement

documents substantivo E So Physical Object ->
Non-agentive
Physical Object

- Frohmann (2006)

Para mim, materialidade o mais importante dos trs principais
conceitos do tema da conferncia, pois muito do carter pblico e social da
informao depende dela.
Mas, se documento nomeia a materialidade da informao e, se sua
materialidade importante para compreender os aspectos sociais e

378
pblicos da informao, ento, os estudos de documentao se tornam
importantes aos estudos de informao.
A documentao se torna o meio da materializao da informao
(Frohmann, 2006, p. 2).
Reificao , literalmente, transformar uma idia em coisa; no discurso
marxista, uma forma de alienao (Lucaks, 1967), como quando um
trabalhador com sua vida, suas aspiraes, sua sade, reduzido ou
considerado nos clculos econmicos como mera fora de trabalho.

- Hjrland, & Albrechtsen (1995)

The domain analytic paradigm in information science (IS) states that
the best way to understand information in IS is to study the knowledge-
domain as thought or discourse communities The individual persons
psychology, knowledge, information needs and subjective relevance
criteria should be seen in this perspective (Hjrland, & Albrechtsen, 1995
p. 400).

ENTIDADE CATEGORIA
GRAMATICAL
DOLCE
COMENTRIOS
understand verbo R
Information in IS
to study verbo R
knowledge
domain
substantivo E S Social Object ->
Non-agentive

thought substantivo E S Social Object ->
Non-agentive
Social Object

discourse
communities
substantivo E S Agentive Social
Object -> Society

Hjrland e Albrechtsen no definem informao em seu texto. A formulao dos autores no
, rigorosamente, uma definio do tipo A = B, como as tentativas anteriores, mas uma sugesto ou
recomendao sobre a melhor maneira para se entender informao no contexto da CI. No texto no
fica claro para os autores o que exatamente, num determinado domnio, seria informao. Nem se
haveria alguma propriedade comum de uma entidade informao, que fosse genrica e perpassasse
diferentes domnios.
Em outra formulao de Hjrland, desta vez em conjunto com Capurro, so mencionados
objetos informativos: The domain analytic view seems different objects as being informative
relative to the social division of labor in society (Capurro, & Hjrland, 2003, p. 377).
Hjrland, apesar de ser um dos formuladores do chamado paradigma da anlise de
domnios, no texto com Capurro, define informao como um processo cognitivo de interpretao
que ocorre em nvel individual, no de forma absoluta ou incondicional, mas apenas quando
processada (infomacionalmente) pelo receptor: It may yield a message if and only if it has been
processed... The message may acquire a meaning if and only if it has been information-processed by
a recipient (Capurro, & Hjrland, 2003, p. 363). Isto reafirmado em outro trecho do mesmo texto,
onde informao ento explicitamente mencionada: Information. It is a relational concept that

379
includes the source, the signal, the release mechanism and the reaction as its relactants (Capurro,
& Hjrland, 2003, p. 373).

- Floridi (2013)

... Over the last three decades, several analysis in Information
Science, in Information Systems Theory, Methodology, Analysis and
Design, in Information (Systems) management, in Database Design and in
Decision Theory have adopted a General Definition of Information (GDI) in
terms of data + meaning.

ENTIDADE CATEGORIA
GRAMATICAL
data substantivo E F Physical Object
meaning substantivo E S Non-physical Object
-> Mental Object

Floridi apresenta uma definio de informao rigorosamente construda a partir do conceito
de dados. O autor tambm delimita claramente que sua definio corresponde informao semntica,
distinguindo-a da informao na acepo de Shannon, como sequncia de sinais numa mensagem.
Data para Floridi se compe de um espectro de crescente complexidade que vai desde objetos
fsicos, passando por perceptos, sinais, at artefatos (registros codificados, mensagens, texto), desde
que sejam bem formados (well-formed), isto , codificados segundo regras sintticas de um sistema
definido. A condio de bem formados sintaticamente torna dados potencialmente passveis de se
constiturem em mensagens significativas para um interprete implcito, no escopo de um processo
semitico.

3 Discusso

As categorias DOLCE encontradas nas definies so apresentadas no seguinte quadro.

CATEGORIAS DOLCE TERMOS DAS DEFINIES
Event ->
Achievement
changing, changed to by, communicated, communication, has been
given, Information-as-process, interpretation, Is informed, Is
changed, (The act of) informing, in information-as-process,
imparting, oferta (oferecer), reifications, Shift away (our attention),
(toward) practices (with), transforming, unites
Physical Object -> Agentive Physical Object sender, recipient, someone, (a) living being,
Agentive Social Object -> Society discourse communities
Non-physical Object ->
Mental Object
(what they) know, structure, which is perceived, knowledge
Physical Object ->
Non-agentive Physical Object
mensagem, text, signs, objects
Social Object -> Non-agentive Social Object knowledge domain, thought,
Physical Endurant ->
Amount of Matter
Matter
Abstract Quality Organization

380
O nico termo de alguma das definies para o qual no foi identificada uma categoria DOLCE
foi Energy, encontrada na definio de Bates (2005). As categorias DOLCE para as quais nenhum
dos termos das definies foi identificado so: Abstract Region, Arbitrary Sum, Feature,
State, Temporal Quality e Temporal Region.
Exceto na formulao de Hjrland, & Albrechtsen (1995), todas as outras incluem processos
(Event -> Achievement). A nica meno a entidades sociais ou coletivas (knowledge domains ou
discourse communities) ocorre nesta definio. Uma vez que no uma definio rigorosa, pode-
se concluir que, a menos desta e segundo as definies analisadas, informao seria definida em
quatro graus de complexidade:

a) um processo que envolve matria organizada, mais especificamente, objetos, naturais ou
artefatos (texto, signos, documentos), que desencadeiam em agentes humanos dotados de
intencionalidade em sua interao com o mundo fsico ou entre si (a sender, a receipt,
a living being, someone), alteraes em seus estados mentais individuais (denotados pelo
artigo a).
b) A partir desta formulao mais geral, as definies permitem identificar variaes, mais
restritas, no que diz respeito entidades envolvidas.
c) um processo que envolveria, objetos que desencadeiam em agentes humanos (neste caso, a
receipt, a living being, someone) dotados de intencionalidade em sua interao com o
mundo fsico ou entre si, alteraes em seus estados mentais individuais. Esta formulao
corresponde s definies de Bates (2005) e de Buckland (1991), de information as thing.
d) um processo que envolve objetos especficos, artefatos (texto, signos, documentos), que
desencadeiam em agentes humanos, implcitos ou explcito, dotados de intencionalidade em
sua interao com o mundo fsico ou entre si (a sender, a receipt, a living being,
someone), alteraes em seus estados mentais individuais. Esta formulao corresponderia
s definies de Belkin, & Robertson (1976), Raber, & Budd (2003), Capurro (2003), Floridi
(2013).
e) um processo em que so mencionados somente alteraes de estados mentais (Information is
that which is capable of transforming structure, Belkin, & Robertson (1976), which is
perceived in information-as-process: the knowledge communicated concerning some
particular fact, subject, or event, Buckland (1995), K [S] + K = K [S + S], Brookes (1980),
Knowledge is defined as information given meaning and integrated with other contents of
understanding (Bates, 2005). Naturalmente nestas definies esto implcitos tambm
agentes humanos.
significativo tambm observar que em vrias das definies os conceitos de informao e
conhecimento so tomados como idnticos ou quase idnticos (I regard knowledge as a structure of
concepts linked by their relations and information as a small part of such a structure, Brookes
(1980)), Information is the knowledge communicated concerning... , Buckland (1995), The
modern concept of information as knowledge communication, (Capurro, & Hjrland, 2003, p. 371),
Knowledge is defined as information given meaning and integrated with other contents of
understanding (Bates, 2005).
Como o objetivo deste trabalho contribuir para uma teoria do documento e de suas relaes
com informao e conhecimento, procurou-se na literatura autores que propusessem definies de
informao. Deve ser observado, no entanto, que vrios dos autores seminais e considerados
clssicos da rea, definem Cincia da Informao, seu escopo, mas no definem um objeto
informao. Entre os autores/textos em que esta situao ocorre esto Borko (1968), Wersig, &
Neveling (1975), Saracevic (1992). Existe alm disso toda uma sub-rea de information retrieval,
que tem como pressuposto a informao cientfica, isto , documentos cientficos ou suas
representaes (Salton, 1983; Van Rijsbergen, 1979; Ingwersen, 1996).

381
Segundo as definies, a formulao d-, um processo de alterao de estados mentais, a mais
restrita e presente em todas as anteriores, constituiria ento a essncia do fenmeno informao. As
categorias da DOLCE no permitem descriminar a mudana qualitativa desta alterao de estados
mentais, que , segundo todas as definies, aquisio de conhecimento.
Ressalta-se a falta de rigor metodolgico na maior parte das definies analisadas, que se
parecem mais com palavras de ordem que com definies cientficas. irnico que a CI, que se
preocupa tanto em criar instrumentos terminolgicos e padronizar linguagens de especialidade para
outras disciplinas cientficas, no empregue esta prtica.

Concluses

Desde o sculo XVII na Critica a Razo Pura, que Kant (1991) prope uma superao das vises
racionalista e empiricista e que a Filosofia passa reconhecer a interao sujeito-objeto como
necessria para a aquisio do conhecimento. Esta posio filosfica vem sendo, ao longo do tempo,
corroborada por disciplinas cientficas como a Epistemologia Gentica, Psicologia Cognitiva e
Neurocincia.
Conhecimento descrito por Piaget (1978, p. 8) tambm como um processo: Entretanto, sob a
influncia convergente de uma srie de fatores, passa-se cada vez mais hoje em dia, a considerar o
conhecimento como um processo, mais que um estado. O autor descreve este processo:

... no existe experincia pura no sentido do empirismo e os fatos s
so acessveis quando assimilados pelo sujeito, o que pressupe a
interveno de instrumentos lgico-matemticos de assimilao
construtora das relaes que enquadram ou estruturam esses fatos e do
mesmo modo os enriquecem (Piaget, 1983, p. 29).

A relao entre aquisio de conhecimento, aqui chamada de aprendizagem, memorizao das
experincias da vida e evocao destas memrias para o agir do indivduo no mundo, so assim
descritas, numa viso a partir das neurocincias:

Desde um ponto de vista prtico, a memria dos homens e dos animais
o armazenamento e evocao de informao adquirida atravs de
experincias; a aquisio de memrias denomina-se aprendizado...

... O aprendizado e a memria so propriedades bsicas do sistema
nervoso; no existe atividade nervosa que no inclua ou no seja afetada de
alguma forma pelo aprendizado e pela memria. Aprendemos a caminhar,
pensar, amar, imaginar, criar, fazer atos-motores ou ideativos simples e
complexos, etc.; e nossa vida depende de que nos lembremos de tudo isso
(Izquierdo, 1989).

O estabelecido na ltima citao de Izquierdo, de que aprendizado, memorizao e
rememorao so pressupostos da atividade cognitiva humana o mesmo que conclui Buckland
(1991) quando afirma que If anything is, or might be, informative, then everything is, or might well
be, information. In which case calling something "information" does little or nothing to define it. If
everything is information, then being information is nothing special.

382
O processo de aquisio de conhecimento, ou aprendizagem, como descrito acima, parece ser
mais complexo que as vrias menes a processos sgnicos nos quais vrias definies se apoiam,
que simplesmente relaciona um signo a seu objeto e ao interpretante gerado na mente de um
intrprete. Seria o que vrios autores chamam de "inferncia abdutiva" (Magnani, 2001; Aliseda,
2004; Reichertz, 2004): diante de uma experincia nova, tentamos, como corolrio da percepo,
classific-la por semelhana a uma experincia j adquirida. Piaget (1983, p. 9) chama este processo
de constituio de esquemas: a nova experincia e assimilada a um esquema j existente mais
parecido, ou suscita a criao de um novo esquema.
Este processo corresponde ao que foi identificado em a-. No se trata de um fenmeno
especial ou diferente do que os descritos nas citaes de Piaget e Izquierdo. Alm disso, como afirma
este ultimo autor, no existe atividade cognitiva no homem que no se constitua em aprendizagem,
em aquisio de conhecimento. Chamar este processo de informao acrescenta pouco a sua
compreenso, que objeto tambm da Psicologia Cognitiva, da moderna Epistemologia e da
Neurocincia. Pode-se, no mximo, querendo ser especfico mas fiel ao encontrado na anlise das
definies, falar-se de um processo de informar-se, equivalente aquisio de conhecimento ou
aprendizagem.
Tambm deve ser observado que, segundo as citaes de Piaget e Izquierdo, a aquisio de
conhecimento um processo em nvel individual. Por mais que se possa reconhecer a influncia da
cultura e da vida social na aquisio e organizao do conhecimento (Hjrland, 2013), no h como
deixar de reconhecer este fato.
Assim como a aquisio de conhecimento um pressuposto da atividade cognitiva do homem,
assim tambm um pressuposto a questo da vida em sociedade e da cultura humanas como uma
segunda natureza, em paralelo natureza biolgica; e, neste contexto, a questo do conhecimento
humano, da sua acumulao ao longo da histria humana, da sua transferncia entre indivduos,
primeiro atravs da linguagem, que permitiu a interao e articulao entre indivduos e a vida
social. Posteriormente, no contexto de sociedades cada vez mais complexas e que dependiam desta
interao e articulao para sobreviverem, linguagem e interao direta se adicionaram artefatos
(Borgo, & Vieu, 2009; Miller, 2005) criados especificamente com esta finalidade, documentos, que
permitem o registro e a transferncia de mensagens atravs do tempo e do espao. Estes
pressupostos so dados pela histria humana (Marcondes, 2010).
Em vista do que foi dito poder-se-ia falar ento de uma classificao dos processos de
aquisio de conhecimento ou aprendizagem, que contemplasse documentos. Todas as instituies
sociais tm seus procedimentos baseados em documentos; todo o sistema de ensino tem esta como
uma de suas bases, professores, acadmicos, educadores, estudantes em geral, a praticam; manuais
de metodologia cientfica relacionam entre seus mtodos a pesquisa bibliogrfica. Assim, pode-se
adquirir conhecimento:

a partir da interao com o mundo;
a partir de objetos que possam ser informativos;
a partir da interao social;
a partir de mensagens entre seres humanos:
mensagens imediatas;
mensagens mediatas, objetivadas em artefatos, registros em geral, e,
especificamente, documentos.

O que existe de especifico na CI/OC e lidar com estas extenses artificiais da memria, estes
artefatos chamados registros ou documentos, cuja inveno permitiu a humanidade transferir
mensagens, conhecimento, interagir e articular-se de forma indireta, no presencial, atravs do

383
tempo e do espao. Neste contexto interessaria CI/OC enquanto objeto questes como: a produo
social de registros de conhecimento, sua transferncia, sua acumulao e guarda, sua recuperao e
utilizao, enfim, a economia destes artefatos. Documentos so socialmente institudos, produzidos,
transferidos e utilizados (Smith, 2005); no so fortuitos, ocasionais, tem uma grande objetividade
dentro dos contextos sociais especficos em que so produzidos e utilizados.
Os estudos histricos em Cincia da Informao Shera (1962, p. 96; Day, 2001) permitem
identificar o quanto de interesses profissionais/corporativos estavam envolvidos no surgimento da
CI. Segundo a proposta de Le Moigne (1990, p. 79), esta pesquisa complementa, do ponto de vista
ontolgico, aqueles estudos.

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387
A AVALIAO DOS OUTCOMES DOS SISTEMAS DE ORGANIZAO E REPRESENTAO DA
INFORMAO

MARIA BEATRIZ MARQUES
Universidade de Coimbra - Faculdade de Letras
[email protected]

Resumo O objetivo deste artigo analisar o valor da informao organizada e representada em funo da sua
capacidade/utilidade para gerar conhecimento e para aumentar a felicidade do ser humano.
Desenvolve-se uma abordagem cientfica do social e do humano, que desloca o foco da Cincia da Informao
do estudo do documento e da informao, para se debruar sobre o impacto do seu uso, reutilizao e
transformao o conhecimento resultante do processo de aprendizagem (o estado de estar informado, o
outcome principal do uso da informao).
Pretende-se encontrar uma sntese entre os paradigmas pr-custodial e ps-custodial atravs da compreenso
do desafio epistemolgico da Cincia da Informao no sculo XXI conciliar a investigao terica e a prxis
milenar das Bibliotecas, Centros de Documentao e Arquivos a partir de uma mudana estrutural na sua
viso. De Sistemas fornecedores de Informao, os Servios de Informao evoluem para estruturas sociais de
conhecimento, isto para Sistemas que informam.
Nesta perspetiva, apresenta-se o posicionamento futuro da Cincia da Informao como uma disciplina
cientfica de natureza transdisciplinar, cuja complexidade do objeto implica uma anlise de natureza
multivariada dos fenmenos de natureza objetiva e das reaes de mbito subjetivo. A dificuldade desta
anlise implica uma adaptao da metodologia s caratersticas do objeto em discusso e uma reviso dos
modelos subjacentes organizao e representao da informao.
Conclui-se que no novo milnio, o conhecimento das ideias e emoes do produtor e consumidor de
informao das suas necessidades e das suas expetativas assume-se como o fator determinante do
(in)sucesso dos processos de organizao e representao do objeto cientfico, a Informao Social, o qual
depende da sua vitalidade no domnio dos processos de intermediao entre a informao e o conhecimento e
na sua capacidade para atuarem como filtros no acesso ao conhecimento e no combate desinformao.

Palavras-chave Valor. Outcome. Informao. Aprendizagem. Conhecimento. Cincia da Informao.

Abstract The objective of this work is to analyze the value of the information organized and represented as a
function of their ability/utility to geneprerate knowledge and to increase the happiness of human beings.
It begins with a scientific approach to the social and human, which shifts the focus of Information Science
from the study of the document and information, to look into the impact of their use, reuse and
transformation - knowledge the result of the learning process (the state of being informed, the main
outcome of the use of information).
It is intended to find a synthesis between the two paradigms pre-and pos custodial - by understanding the
epistemological challenge of Information Science in XXI century - combine theoretical research and practice
of ancient Libraries, Archives and Documentation Centers - to shift the emphasis from information-supplying
services to systems that inform.
In this approach, we present the future positioning of Information Science as a transdisciplinary scientific
discipline, whose complexity of the object implies a multivariate analysis - the dimensions and emotions - the
phenomena of the objective nature to the subjective sphere reactions.
The difficulty of this analysis implies an adaptation of the methodology to the characteristics of the object
under discussion and a review of the models underlying the organization and representation of information.
Thus, we conclude that in the new millennium, the knowledge of the ideas and emotions of the producer and
consumer of information their needs and their expectations - is assumed as the determinant of
(un)successful processes of organization and representation of the scientific object - the Social Information
while vital elements in the in the field of mediation processes between information and knowledge and their
ability to act as filters to access knowledge and combat misinformation.

Keywords Value. Outcome. Information. Learning. Knowledge. Information Science.

388
1 A misso dos servios de informao no sculo XXI

Ao longo da histria da humanidade, assistimos criao de inmeras infraestruturas que
permitissem o progresso e a felicidade do ser humano.

Essa foi a prioridade de todas as sociedades, desde a Antiguidade pr-clssica
at aos tempos em que vivemos e, naturalmente, os valores culturais de cada
civilizao marcaram e marcaro substancialmente o processo evolutivo das vrias
organizaes, as quais surgem para desempenhar uma funo que sentida como
necessria em termos sociais (Marques, 2012, p. 25).

Assim, o contributo individual de cada organizao para o progresso da humanidade constitui
a sua vantagem competitiva e traduz-se na sua capacidade para aumentar a sabedoria do ser
humano na conduo racional das suas atividades dirias, reagindo constantemente s adversidades
que a natureza lhe impe.
Da que a sobrevivncia de cada organizao resulte da sua capacidade para se adaptar, da sua
maior ou menor flexibilidade para reagir a cada ciclo social, atravs da busca permanente de um
equilbrio entre a sua misso e os valores da sociedade em que est inserida.
este processo contnuo de aprendizagem e melhoria entre os diversos sistemas individuais e
o macrossistema social em que esto inseridos, que permite a criatividade e a inovao das
organizaes e dos subsistemas que as constituem.
Por isto, o estudo das diversas organizaes indissocivel da anlise das necessidades
intrnsecas de cada sociedade, em cada momento histrico.
Ora, e tal como refere Toffler (1981), a Sociedade foi evoluindo a ritmos diferentes e elegendo
como prioridades do seu progresso e desenvolvimento os valores individuais e coletivos que
sustentavam o prprio conceito de riqueza (Toffler e Tofler, 2006). Foi assim na sociedade agrcola
1
,
foi assim na sociedade industrial
2
e assim na Sociedade da Informao (SI).
No mbito desta abordagem, o processo de atribuio de valor per se determinante para o
sucesso de qualquer organizao social, que surge com o objetivo principal de ser capaz de produzir,
num dado momento ou lugar, algo que ningum est em condies de produzir ou, pelo menos, de produzir to
bem. Tal implica que qualquer organizao deve apresentar vantagens competitivas tais, que lhe permita no
ser substituda por terceiros (Chiavenato, 1999, p. 25).
pois ao nvel da anlise social do estudo das diversas orientaes ideolgicas e
necessidades culturais dominantes em cada momento histrico - que podemos encontrar a
identidade dos Servios de Informao de Arquivo e de Biblioteca (SIAB), desde a Caixa de Livros do
Egipto e da Mesopotmia
3
, aos Sistemas fornecedores de Informao
4
do sculo XX
5
, at chegarmos aos
Sistemas que informam do sculo XXI, isto , as estruturas sociais de conhecimento, mais do que os
meros facilitadores do acesso informao
6
.
Corroborando a necessidade de uma mudana paradigmtica na viso dos Servios de
Informao no novo milnio, Buckland (2012, p. 3) refere que information science has focused heavily on

1
Desde o Neoltico at ao sculo XVIII, 1780 carateriza-se pelo consumo de bens produzidos pelos prprios ou por outros
em nome prprio.
2
Cerca de 1800 a 1950 carateriza-se pelo consumo de bens produzidos por outros.
3
Cerca de 1950 a 2000, tambm designada por sociedade ps-industrial carateriza-se pelo acesso aos servios prestados
por outros.
4
Que consolida o primado do acesso sobre a propriedade da informao.
5
O termo Biblioteca aparece pela primeira vez na Grcia no sculo IV a.C. e forma-se pela justaposio de Biblion (livro) +
thck (depsito). A palavra Biblioteca tem origem etimolgica na palavra latina Bibliotheca, o lugar onde se guardam os livros.
6
Ver Buckland (1991).

389
information storage and retrieval systems, in effect on document-supplying systems, rather than systems that
inform.
Assim, a evoluo concetual, traduzida pela necessidade de possuir, aceder e, sobretudo, usar,
em prol do bem coletivo e individual, a riqueza dos pases a informao
7
espelha, naturalmente,
as mudanas da sociedade ao longo dos sculos e da prpria noo de produo e de acesso ao
conhecimento.
O denominador comum entre os diversos momentos da histria dos SIAB e que lhes confere
uma identidade de natureza intemporal, consiste na Misso que lhes est consignada, desde a sua
criao, c. de 3.200 a.C.
8
, at ao sculo XXI Recolher, Conservar e Difundir a memria da
humanidade
9
.
Esta misso, que constitui a nica verdade transversal a todos os momentos histricos, a todos os
locais do planeta e a todos os indivduos, diz respeito ao papel da informao como fonte de poder e,
consequentemente, do exerccio do direito fundamental de cidadania, da a necessidade de a conservar como
um bem
10
para as geraes futuras (Marques, 2012, p. 26-27).
Da garantia de direitos e de deveres dos cidados, que esteve na gnese da era custodial
11
,
criao e valorizao do capital intelectual dos seres humanos, caraterstica determinante da etapa
ps-custodial
12
, passaram vrios sculos de histria.
Todavia, a evoluo concetual foi muito lenta, da a facilidade em perceber a situao de crise
acentuada em que se encontra a sociedade do sculo XXI
13
, dado que de nada serve conservar a
memria, a tradio, a histria da humanidade, se ela no tem como funo ser til, servir de rede para as
geraes vindouras se ela no usada em favor do bem-estar presente e futuro da espcie humana (Silva,
2010, p. 137).
Por isso, esta misso tem de ser instrumentalizada e no pode continuar a ser um mero
exerccio de natureza intelectual. A sociedade do novo milnio tem de valorizar a informao para o
seu progresso individual e coletivo, atravs do valor intrnseco do conhecimento para aumentar a
criatividade e a inovao
14
.
Ora, aquilo a que estamos a assistir atualmente, um pouco semelhante ao que se verificava
nos primrdios da poca pr-clssica, ou pr-custodial, em que a informao produzida perdia-se no

7
Entendida como um conjunto de dados estruturados e formatados, disponvel em vrios formatos, que pode ser
acumulada pelo ser humano, ao qual externa, mas que pode ser utilizada para gerar conhecimento. A informao usada
s til quando relevante, ou seja, quando gera conhecimento, quando contribui para a tomada decises que promovem
o desenvolvimento do ser humano.
8
Desde a Biblioteca do Palcio Real de Ebla, Capital do imprio dos sumrios, cuja Biblioteca, de acordo com Lerner (1999,
p. 22), funcionava como uma escola, servia como academia para la capacitacin de los escribas. Pero, igual que una universidad
moderna, esta academia existi tanto para crear y preservar el conocimiento, como para propagarlo.
9
A possibilidade de perpetuar a memria da humanidade foi inaugurada com a descoberta da escrita pelas civilizaes pr-
clssicas Povos que habitavam no vale do Nilo e na Mesopotmia na rea designada como Crescente frtil e Mdio
Oriente, nos vales entre o rio Tigre e Eufrates, atual Iraque. A memria foi assim registada, ao longo dos sculos, em vrios
suportes (tbuas de argila, papiro, pergaminho, digital), com vrios formatos (rolo, cdice, ebook) e natureza diversa
(administrativa, legal, educativa, literria, etc.). Tal como muito bem referem Silva, et al. (2002, p. 27), sem memria no seria
possvel conceptualizar, no seria possvel conhecer e no haveria possibilidade de armazenar informao.
10
Entendido, segundo Ferrater Mora (1989, p. 38), como uma realidade metafsica, como um Bem em si mesmo, como uma luz que
ilumina todas as coisas.
11
Patrimonialista, historicista e tecnicista, que surge a partir do sc. XVIII at Era da Informao em que vivemos (Silva, 2010, p. 10).
12
Informacional e cientfico, que tender a formatar o modo de ver, de pensar e de agir de geraes de cientistas e profissionais da
informao, ao longo do sc. XXI (Silva, 2010, p. 11).
13
Como afirma Silva (2010, p. 17), o paradigma custodial ainda sobrevive, de facto, na actualidade, trazendo, em si, desde muito cedo,
mas em contradio com o esprito revolucionrio da lei de 7 de Messidor do perodo revolucionrio francs, uma concepo de mediao
passiva e at negativa, porque contrria ao utilizador, uma vez que a prioridade estava na guarda do patrimnio cultural incorporado
e acumulado, no no acesso ou na difuso plena.
14
Esta necessidade de demonstrao do valor da informao e dos servios de informao para a sociedade do novo sculo
uma imposio que deriva do chamado New Public Management ou Nova Gesto Pblica, uma ideologia neoliberal onde domina
uma fraca interveno do estado a nvel econmico e cultural, que se veio sobrepor ao modelo de Estado Providncia,
(Welfare State, que se tinha comeado a implantar na Europa depois da 2 guerra mundial e que, associado noo de
cidadania, consagrava uma srie de direitos sociais), impondo o papel do mercado como o modelo ideal.

390
vcuo e onde a sabedoria era transmitida pela voz dos ancios. Na Sociedade moderna, a
imaterialidade e a efemeridade do registo das atividades humanas, aliada a uma dificuldade na
organizao e significao da informao produzida, conduz inutilidade da sua conservao e
acesso para o desenvolvimento individual e coletivo.
A SI
15
, ou ps-custodial, continua a assistir, passivamente, proliferao de dados
16
, em muitos
casos inteis, sem qualquer tipo de significado, em estado bruto e que acabam por se perder nas
nuvens, agora virtuais.
A informao registada e conservada, ainda que em suportes muitas vezes efmeros, tem sido
acumulada pelo ser digital sem qualquer tipo de significao, relevncia ou utilidade para aumentar
a riqueza do novo milnio o conhecimento.
Ora, mais do que possuir, ou aceder matria-prima, preciso saber utiliz-la, necessrio
ser capaz de produzir um determinado bem ou servio, que contribua para o progresso da
humanidade, da que no sculo XXI we need people who are well-informed, who know about what they are
doing (Buckland, 2012, p. 5).
Assim, a necessidade sentida no domnio do registo, da materializao, do processamento, da
organizao e manipulao informao, veiculada oralmente, e que conduziu criao dos
primeiros arquivos e bibliotecas, mantm-se no sculo XXI, ainda que sobre os dados estruturados e
formatados, e assume-se como a certeza legitimadora do papel social insubstituvel dos profissionais da
informao (bibliotecrios, documentalistas, arquivistas e gestores de informao) (Silva, 2003, p. 28).
Tal como refere Chiavenato (1999, p. 25), no mundo atual, o sucesso dos indivduos, dos pases,
no depende de serem de grandes propores ou com vastido territorial, possuidores de recursos naturais ou
de imensas fontes de matrias-primas. Hoje, os pases mais bem-sucedidos so aqueles que so dotados de
conhecimento e tecnologia e que sabem agregar valor e competir com produtos e servios de melhor qualidade e
menor preo. Custos baixos e elevada produtividade.
Assim, podemos inferir que a Misso dos Sistemas de Informao no novo milnio consiste
em transformar o valor latente da informao
17
em valor real, retomando assim o seu papel original
de filtros, de mediadores, de agentes facilitadores do acesso ao conhecimento e do combate
desinformao
18,
recuperando a sua funo ancestral de refineras de informacin donde se busca y
recopila un producto en bruto, la informacin y lo que es ms importante se transforma en conocimiento
(Allepuz Ros, 1998, p. 3).

15
O Livro Verde para a Sociedade da Informao em Portugal (2010, p. 7), refere que a SI uma expresso que diz respeito a um
modo de desenvolvimento social e econmico em que a aquisio, armazenamento, processamento, valorizao, transmisso,
distribuio e disseminao de informao conducente criao de conhecimento e satisfao das necessidades dos cidados e das
empresas, desempenham um papel central na actividade econmica, na criao de riqueza, na definio da qualidade de vida dos
cidados e das suas prticas culturais.
16
Definidos como um conjunto de registros qualitativos ou quantitativos conhecido que organizado, agrupado, categorizado e
padronizado adequadamente transforma-se em informao. Miranda (1999, p. 286).
17
O conceito de informao entendido por Miranda (1999, p. 287) como dados organizados de modo significativo, sendo subsdio
til tomada de deciso.
18
Suaiden (2002, p. 336) considera que la desinformacin puede significar la falta de informacin, la informacin incorrecta, la
manipulacin de la informacin, todo esto lleva a la formacin de una sociedad incapaz de discernir, criticar y, consecuentemente, tomar
decisiones favorables para su propio desarrollo. Ver, sobre o conceito de informao, a obra de Ilharco (2003, p. 49-50) e, em
particular, os 18 problemas subjacentes ao estudo do que a informao.

391
2 O conceito de valor dos sistemas de organizao e representao da
informao

A necessidade de organizar o conhecimento
19
, que marca uma rutura paradigmtica da
conservao/posse ao acesso informao , tem um primeiro momento, a partir de finais do sculo
XV, com a inveno da imprensa
20
.
As grandes massas documentais produzidas, a partir de ento industrialmente, conduzem
necessidade de as controlar fisicamente e leva ao aparecimento de grandes classificaes e
catlogos
21
e de grandes Bibliotecas enciclopdicas, como a Ambrosiana (Itlia)
22
, Mazarina (Frana)
23

e a do Escorial (Espanha)
24
, todas elas veiculando a ordem social e religiosa vigente.
A partir da dcada de 90 do sculo passado, com o assinalvel progresso tecnolgico, em
particular a World Wide Web (WWW)
25
, d-se um segundo passo no sentido do acesso aos Recursos
Globais de Informao, agora, ainda que teoricamente, sem limites ou fronteiras de natureza fsica,
religiosa, ideolgica, poltica ou econmica.
Hoje, e ultrapassada a questo do acesso, constatamos que we can determine little of what we need
to know by ourselves, at first hand, from direct experience.in everyday life we depend heavily and more and
more on second-hand knowledge (Buckland, 2012, p. 5), da que a tnica ser a de determinar o valor
econmico dos SIAB, nomeadamente dos seus Sistemas de Organizao e Representao da
Informao (SORI), o que, e tal como refere Throsby (2003, p. 279), is not synonymous with financial or
commercial value, although it is ultimately expressible in terms of either a numeraire good or (preferably)
money comprises any direct use value of the cultural good or service in question, plus whatever nonmarket
values it may give rise to
26
.
Esta discusso, iniciada de alguma forma, j em meados do sculo passado
27
, nomeadamente
atravs do visionrio Umberto Eco
28
, que anunciou as oportunidades e as ameaas da globalizao
29

para o futuro da humanidade, prolonga-se at aos dias de hoje, tornando-se ainda mais abrangente e

19
Conduz, no Renascimento, ao lanamento do grmen da profisso e do conceito de bibliotecrio, pressupondo dessa
forma que a organizao dos documentos o nico caminho para aceder informao
20
O desenvolvimento da imprensa, arte da gravao com carateres mveis, que segundo Lerner (1999, p. 117), no foi
inventada por Johannes Gensfleiseh Zur Laden Zum Gutemberg, dado que j era utilizada na China desde o sculo IX para
reproducir ediciones de los Clssicos Confucianos, fez-se sentir na Europa, graas difuso macia do papel e dos caracteres
tipogrficos mveis, primeiro em madeira e depois em metal. De acordo com Escolar Sobrino (1990, p. 254), los libros
impresos passaron de unos veinte millones de ejemplares en el siglo XV a unos doscientos en el XVI.
21
Cujo principal objetivo era, segundo Lerner (1999, p. 111), de natureza essencialmente utilitria dado que o objetivo
prioritrio era permitir o acesso s colees mais do que organizar o conhecimento.
22
Biblioteca fundada pelo Cardeal Federico Borromeo (1564-1631)
23
Biblioteca particular do Cardeal Mazzarino (1602-1661).
24
Biblioteca constituda a partir da Biblioteca particular de Filipe II de Espanha, I de Portugal (Valladolid, 21 de maio de
1527 El Escorial, 13 de setembro de 1598).
25
Esta rede, constituda por iniciativa do Ministrio da Defesa dos EUA ARPANET (Advanced Research Projects Agency
Network), destinava-se, inicialmente, a ligar os computadores dos diferentes laboratrios de investigao que trabalhavam
em programas militares. Nos anos 80, foi alargada a todos os domnios da investigao universitria, de todos os pontos do
planeta ciberespao.
26
Tal como afirma Aabo (2005, p. 2), The economic concept of value has its foundation in the theory of modern welfare economics
and is related to choice. Based on, and constrained by, his or her economic situation each individual can choose to consume private,
public and other non-market goods, including library services.
27
Ver a obra de Eco (1984), publicada pela 1 vez em 1965.
28
Os apocalpticos eram os conservadores, os reativos, os pessimistas em relao ao futuro da cultura de massas e das
indstrias culturais, face s Novas Tecnologias da Informao e da Comunicao. Os Integrados eram os progressistas, os
proativos, os otimistas em relao ao desenvolvimento do ser humano o super homem que ver as suas capacidades
cognitivas individuais, aumentarem exponencialmente graas ao poder que lhe passa a ser conferido atravs das
potencialidades da SI, nomeadamente das ferramentas tecnolgicas.
29
O termo globalizao foi referenciado pela primeira vez num artigo publicado em junho de 1983 na Harvard Business
Review, da autoria de Levitt (1984), para designar um processo natural de abertura econmica, poltica, cultural, etc., que
conduz competio entre indivduos, organizaes e pases de todo o mundo. Podemos no entanto remontar a origem
deste conceito ao movimento quatrocentista da expanso.

392
diversificada, dado que ultrapassa as meras questes de natureza tecnolgica e debrua-se sobre as
questes de natureza tica e espiritual.
De um lado encontramos os chamados integrados, ou acrticos, com uma viso tecnocrtica do
mundo um paraso eletrnico, de valor incalculvel para a humanidade, porque assente nos
conceitos, nas ideias, nas imagens, e j no nas coisas (Rifkin, 2001, p. 17)
30
.
Para estes otimistas dos finais do sculo XX, o progresso tecnolgico, visvel atravs da WWW,
conduziria a uma aproximao entre os povos e criao da chamada aldeia global.
Do outro lado esto os apocalpticos, ou os crticos em relao nova ordem social, dominada
por uma certa canibalizao dos mercados
31
e por uma falta de controlo no acesso e difuso da
informao, a qual transformada numa Commodity
32
, de valor indiferenciado e universal.
Nesta aceo, o valor dos bens e servios de informao determinado por um mercado
selvagem e monopolista que pe em causa as virtudes inerentes era do acesso fcil e rpido
informao, enquanto elemento crucial para a criatividade, para a inovao
33
e para o
desenvolvimento da humanidade
34
.
Encontrar um equilbrio entre estas duas vises, aparentemente antagnicas, constitui o
grande desafio do novo milnio mas, para isso, preciso ser realista, deixar as utopias e evitar os
discursos pseudoideolgicos que suelen ser unicamente una excusa para prolongar una resistencia al cambio
de valores (Lozano Daz, 2006, p. 29), e sobretudo se deva olhar para a sociedade com uma viso de futuro,
sem querer parar o tempo, pois o tempo (in)felizmente no pra! (Marques, 2012, p. 151).
Assim, quando falamos em valor
35
econmico
36
dos produtos e dos servios de informao,
estamos a referirmo-nos riqueza, importncia, ao sentido, ao significado, utilidade dos SIAB
para a conduo racional das atividades dos seres humanos la posibilidad prctica de aplicar un
conocimiento a una demanda concreta (Capurro, 2010, p. 257) e, em simultneo, proporo entre uma
quantidade que se d, no caso dos servios pblicos, maioritariamente por uma via indireta, atravs
dos impostos dos cidados, e outra que se recebe em troca, o conhecimento gerado que possibilita a
criatividade e a inovao
37
.

30
Moulis (1996, p. 52-53) interrogou-se sobre a virtualidade do conceito de aldeia global e sobre tudo aquilo que ele encerra:
inferno ou paraso? Recuperando a ideia bblica da luta entre o bem e o mal, personificada por Ado e Eva, esta autora inicia
a discusso sobre a capacidade da humanidade utilizar em proveito prprio a sua liberdade A internet ou a Caverna de Ali
Baba.
31
Os mercados eram entendidos por Smith (1776) como a mo invisvel, essa entidade abstrata que regulava as relaes
comerciais de uma sociedade, mas que se veio a verificar pouco atuante no incio do sculo XXI, nomeadamente no que diz
respeito a essa sua funo reguladora. Referindo-se tambm ao papel do mercado como o garante da ordem social, Rifkin
(2001, p. 24), atribui-lhe uma dupla natureza - pode ser o nosso talism e a nossa bssola, e por vezes igualmente a maldio que
fere as nossas vidas.
32
De acordo com o dicionrio informal, Commodities so produtos padronizados, no diferenciados, cujo processo de produo
dominado em todos os pases (o que gera uma alta competitividade) e cujo o preo no definido pelo produtor, mas pelas condies do
mercado, da a impossibilidade de o produtor definir seu preo.
33
Criatividade e inovao, tal como informao e conhecimento, no so sinnimos. Como assinala Thodore Levitt, cit. por
Peters e Waterman Jr. (1987, p. 194-195), a criatividade o processo de pensar, imaginar coisas novas. A inovao fazer coisas
novas. A criatividade so as palavras e a inovao os atos, da a importncia de passar das palavras aos atos. Assim, por
mais geniais que sejam as ideias, elas so inteis, se no forem implementadas.
34
Suaiden (2002, p. 334) refere que algunos especialistas, a finales de la dcada de los 80, afirmaron que la sociedad de la informacin
sera una sociedad de inclusin social, en la que los recursos se compartiran, dedicada al bienestar social y en la que la tendencia
dominante sera acabar con las desigualdades sociales. No obstante, al iniciarse el nuevo siglo, el discurso ha seguido un camino
totalmente contrario. Para gran parte de los especialistas la sociedad de la informacin es una sociedad perversa, una sociedad feudal
donde los dueos del poder son los dueos de los medios de comunicacin y en la cual las desigualdades se acentan cada vez ms.
35
De acordo com o Grande dicionrio da lngua portuguesa (1997, p. 528), o termo valor refere-se quilo que uma coisa vale e
nesta aceo entendemos o valor de uso de um servio de informao a partir da utilidade que provm de emprego de uma
coisa ou de uma parte dela.
36
De acordo com o Grande dicionrio da lngua portuguesa (1997, vol. 2, p. 515), o termo econmico diz respeito ao conceito de
Economia, que significa uma Boa administrao ou ordem da casa, de estabelecimento, bens particulares ou pblicos; Harmonia das
partes de um todo.
37
Na opinio de Saracevic e Kantor (1997, p. 530), o valor , do ponto de vista econmico, the worth of something that
contributes to wealth.

393
Da que o valor econmico dos produtos e dos SIAB deva ser estabelecido, exclusivamente,
pelos seus produtores e consumidores os prosumidores
38
em funo dos seus valores, isto , da sua
capacidade/utilidade para gerar conhecimento, o qual as belief and as cultural should be frtile
(Buckland, 2012, p. 6) para aumentar a felicidade do ser humano.
Como corolrio podemos afirmar que, nesta sociedade mais horizontal, mais emocional e mais
espiritual, todas as atividades econmicas so orientadas para o conhecimento dos indivduos, do
seu interior uma vitria clara do inconsciente , ao que subjaz uma viragem significativa dos
estudos das atividades e das estruturas produtivas para os agentes produtores e consumidores e
onde o Marketing
39
se assume como o instrumento privilegiado da mudana.

3 O objeto de estudo da cincia da informao na ps-modernidade

Inerente alterao substancial do conceito de valor dos SORI, est uma redefinio do
objecto de estudo da Cincia da Informao (CI), em funo de novas ideias e de um novo contexto
social.
Na sociedade industrial, caraterizada pelo consumo de bens produzidos por outros, o objeto
de estudo da CI era o documento, enquanto testemunho da atividade do ser humano, fixado num suporte
perdurvel que continha informao o contentor e o seu contedo , consagrando-se assim o
paradigma da conservao/posse/propriedade da informao.
Na SI, tambm designada por sociedade ps-industrial ou ps-custodial, caraterizada pelo
acesso aos servios prestados por outros, o objeto de estudo da CI era a informao social
40
.
Na atual sociedade, que designmos por Sociedade do Conhecimento (SC)
41
, ou Sociedade ps-
moderna, o objeto de estudo da CI desloca-se da fonte de energia a informao
42
para o
conhecimento, enquanto capacidade cognitiva exclusiva do ser humano de processar os dados e a
informao em prol do seu bem-estar e do seu progresso, individual e coletivo
43
.
Do primado do capital material da sociedade industrial, chegamos, no sculo XXI,
valorizao do capital intelectual
44
e necessidade de o estudar a partir do seu nico produtor e
consumidor o ser humano e a sua mente
45
, o nico capaz de conhecer.

38
A sociedade de consumo passa a ser constituda pelos Prosumidores, palavra inventada por Toffler (1981), para designar
aqueles que, a ttulo individual ou coletivo, PROduzem e conSOMEM os seus prprios outputs. Ver, sobre o conceito de
prosumidor, Toffler e Toffler (2006, p. 217-286). Rifkin (2001, p. 258), designa-os como seres humanos proteiformes que se
metamorfosearam de trabalhador produtivo em consumidor informado e deste ltimo em protagonista de representaes criativas.
39
Em particular o designado Marketing 3.0 de que nos falam Kotler; Kartajaya; Setiawan (2010).
40
Entendida como uma espcie de substncia, susceptvel de ser movimentada, transferida, manipulada e consumida, muitas vezes
com vista satisfao de uma necessidade psicolgica. Essa substncia dever ter existncia material e, consequentemente, ter de ser
depositada sobre algo manusevel, ou seja um suporte fsico. sinnimo de dados do conhecimento registado (registo da actividade
humana) e por isso tem sido designada por informao documental este tipo de informao que, sendo materializado atravs das
mensagens contidas nos documentos, que constitui o objecto de interesse dos cientistas da informao. (Silva, et al., 2002, p. 24-25).
41
Apesar de todos os avanos tecnolgicos iniciados no sculo passado, o sonho de Paul Marie Gislain Otlet e Henri La
Fontaine da chamada cidade do conhecimento, continua, no sculo XXI, cada vez mais atual, ainda que com novas moradas e
novos habitantes.
42
Entendida como um conjunto de dados estruturados e formatados, disponvel em vrios formatos, que pode ser
acumulada pelo ser humano, ao qual externa, mas que pode ser utilizada para gerar conhecimento. A informao usada
s til quando relevante, ou seja, quando gera conhecimento, quando contribui para a tomada decises que promovem
o desenvolvimento do ser humano.
43
Os Conceitos de SI e SC, tm a sua origem na teoria crtica do ps-industrialismo que, nas dcadas de 60 e 70 do sculo
passado, anunciava o fim da era do capitalismo e a emergncia de uma sociedade de servios ou de tempos livres a tecnopolia
de Postman (1993). Estes conceitos tambm foram muito desenvolvidos por Bell (1980) e Lyon (1992). Ver tambm o artigo
de Gurnsey (1997, p. 218-220).
44
Passa a ser o motor da criatividade e da inovao, porquanto, o principal ativo dos indivduos, das organizaes e dos
pases, em oposio ao capital material, que passa para o domnio dos seus passivos. Tal como afirmou o visionrio Drucker
(1993, p. 183), No passado, as fontes de vantagem competitiva eram o trabalho e os recursos naturais, agora e no prximo sculo, a
chave para construir a riqueza das naes o conhecimento.

394
Mas, e contrariamente ao que acontecia na sociedade industrial, onde o paradigma tcnico ou
custodial permitia aos SIAB satisfazerem cabalmente as necessidades de uma sociedade carente de
bens e servios
46
, hoje, na SC, a epistemologia da Cincia da Informao ultrapassa as questes de
natureza estritamente terica, para alargar o mbito da sua anlise s evidncias do seu objeto de
estudo
47
, oscilando permanentemente entre la utopia de un lenguage universal y la locura de un lenguage
privado (Capurro, 2010, p. 259).
Dado que s se consegue conhecer a verdade do juzo formulado por algum sobre alguma coisa, atravs
da experincia e da evidncia (Marques, 2012, p. 260), o conhecimento e a satisfao das necessidades
de informao do ser humano - oscuras y anmalas (Capurro, 2010, p. 257), assume-se como o
grande e estimulante desafio dos SIAB no novo milnio, ainda que constitua de per se, um problema
de extrema complexidade
48
e de difcil resoluo.
O ser humano analgico ou digital no um objeto inerte, mas um sujeito cognoscente ativo
(Rifkin, 2001, p. 231) e, enquanto tal, indissocivel do objeto, da a necessidade permanente de o
estudar, nomeadamente atravs das suas decises, entendidas como um exerccio maior de
humanidade, e que resultam da combinao da racionalidade com a emoo, da crena com o desejo,
da convico com a esperana
49
.
Este paradigma humanista
50
, que Capurro (2010, p. 255-58) denominou de paradigma pragmtico
e social da CI
51
, comea a ser um tema recorrente da investigao desenvolvida nos ltimos anos no
domnio das Cincias Sociais e Humanas.
Este novo paradigma, que substitui o anterior paradigma tecnolgico, tem efeitos diretos,
ainda que muito singelos, no domnio da CI
52
, e procura recolocar o ser humano no centro de todas
as decises polticas, econmicas, sociais, culturais e, obviamente, tecnolgicas.
Da viso vanguardista da ltima dcada do sculo passado, centrada na criao de mecanismos
e processos de desmaterializao e acesso universal informao, evolui-se para uma viso
inovadora, que focaliza toda a sua ateno no processamento e uso individual da maior riqueza das
naes a informao processada em benefcio da estabilidade e do desenvolvimento humano
53
.
A nova orientao da CI implica uma mudana substancial da direo do domnio de anlise
da abordagem tradicional ou system-centered research
54
, para a abordagem alternativa ou user-oriented
research
55
. Do exterior, da embalagem, das formas fsicas que envolvem as mensagens, para o interior,

45
Entendida como um agente produtivo e no apenas como um elemento, ainda que determinante, do sistema de
produo.
46
Entendidos como objetos de conhecimento passivos.
47
De acordo com Silva (2006, p. 9), A CI consiste em dar forma a mentefactos, ou seja, a objectos mentais, representaes
mentais de coisas, situaes, ocorrncias externas e vivncias interiores conscientes, emocionais, etc.
48
Quanto mais se conhecer, mais se compreender o ser humano, mais facilmente se resolve este problema, reduzindo
substancialmente a sua complexidade. Ver Santos (1995, p. 9).
49
Tal como afirma Silva (2003, p. 39), pensar, descobrir e compreender o mundo indissocivel da capacidade humana, socialmente
exercitada, de dar forma (informar) atravs de cdigos mltiplos, simultneos e especficos.
50
Tambm designado por vrios autores como paradigma qualitativo, emergente, etnogrfico, fenomenolgico,
hermenutico, humanstico, interpretativo e naturalista. Ver Fernndez Hernndez; Rivera (2009, p. 5).
51
Esta mudana de paradigma do fsico e do cognitivo, para o social abala as crenas dominantes na rea da CI na
tcnica e na norma e inaugura o debate ou a crena nas pessoas, nos clientes dos SIAB. Ver Kuhn (2003). Pois, e como
afirma Marques (2012, p. 261), impossvel, no sculo XXI, adotar normas ou princpios universais para qualquer atividade
humana, seja ela singular ou coletiva, e muito menos tecer concluses vlidas e teis para todos ou alguns servios, ainda que da mesma
tipologia, assentes numa lgica de auto-evidncia do sistema.
52
Ver por exemplo o trabalho de Silva; Ribeiro (2002).
53
A ttulo de curiosidade, e de acordo com os dados da ONU (2013, p. 211), Portugal ocupa o 43 lugar da tabela de
classificao do IDH de 2012, descendo 3 lugares, em relao a 2011. O pas que ocupa, consecutivamente, o 1 lugar a
Noruega, logo seguida, em 2 e 3 lugar, da Austrlia e dos EUA, respetivamente.
54
Ver Choo; Auster (1993).
55
Da nfase nas abordagens instrumentais, prticas, normativas e prevalecentemente descritivas dos documentos-artefactos tem de se
passar para a compreenso e a explicao do fenmeno info-comunicacional patente num conjunto sequencial de etapas/momentos
intrnsecos capacidade simblico-relacional dos seres humanos origem, colecta, organizao, armazenamento, recuperao,
interpretao, transmisso, transformao e utilizao da informao (Silva, 2010, p. 13).

395
para a validade ou valor do contedo (Mcgarry, 1984, p. 81), dos ativos tangveis dos SIAB para os seus
ativos intangveis
56
.
Esta mudana do objeto de estudo da CI, que se consubstancia em emphasizing people rather
than systems (Case, 2002, p. 6), conduz a uma rutura na estabilidade da CI, enquanto Cincia dura
hard , classificao que lhe era atribuda pelo paradigma tecnolgico e que lhe conferia um estatuto
slido em termos de visibilidade e reconhecimento social.
Todavia, o paradigma humano do sculo XXI
57
, apesar da sua fragilidade aparente, a qual
contribui para as resistncias sua adoo, atribui CI, ainda que Cincia mole soft , um papel
estratgico no domnio da criao de riqueza e do desenvolvimento da humanidade
58
, porquanto
fonte sustentada e inesgotvel de alimentao da SC
59
.
Esta reorientao do objeto de estudo da CI, da informao para as pessoas o nico elemento
capaz de conhecer , do valor extrnseco da informao para o seu valor intrnseco, do seu valor
latente para o seu valor real, do seu consumo sua criao e uso, inerente nova ordem social e
inaugura uma nova viso dos SIAB e dos seus diversos sistemas
60
, conferindo CI o estatuto
transdisciplinar
61
e assumindo por isso com um carter eminentemente social
62
que lhe confere uma
maior solidez cientfica
63
.

56
Implcita a esta anlise est a necessria complementaridade, ou mudana, dos paradigmas de investigao da CI: dos
estudos de natureza quantitativa (tradicional, positivista, empirista ou experimental), para os estudos de natureza
qualitativa (construtivista, naturalista, interpretativista, ps-positivista ou ps-moderna).
57
Sobre a necessidade de desenvolver os estudos sobre o fenmeno humano e social da informao, ver o trabalho de Silva
(2005, p. 28).
58
Como afirma Buckland (2012, p. 5), fortunately for information studies, there is a strong alternative: societal need. Who wants to
have to deal with an ignorant mechanic, a physician with outdated medical knowledge, an ill-informed manager, obsolete manuals, or a
secretive government? With some exceptions, notably relating to privacy and security, we all have a substantial vested interest in a
knowledgeable society.
59
Peters; Waterman (1987, p. 58), afirmam que considerar as pessoas, e no as mquinas, o dinheiro ou mesmo os crebros, como um
recurso natural, talvez seja o sucesso de tudo, e citam, para elucidar a razo do sucesso das organizaes japonesas, o ento
chefe do escritrio de Tquio da McKinsey que diz que no Japo, organizao e pessoas so sinnimos.
60
Tal como refere Ribeiro (2005, p. 7), o direccionamento do olhar para as problemticas do mbito psicolgico ou psico-cognitivo e
sociolgico uma inevitabilidade, dado que esses aspectos so indissociveis do estudo da informao, encarada como fenmeno
humano e social.
61
Sobre as diferenas entre interdisciplinaridade, transdisciplinaridade e multidisciplinaridade, ver Silva (2006, p. 24-29).
Como afirma este autor, a Documentao ou a Cincia da Informao se constitui uma disciplina cientfica que prepara a informao
para ser usada por quem dela precisa, ou seja, os cientistas, os empresrios, os tcnicos, os polticos e, naturalmente, o cidado comum...
mas esta esta categoria conceptual equvoca e assaz porosa, podendo e devendo ser (re)construda e afirmada como disciplina
cientfica fortalecida pela transdisciplinaridade enriquecida pela interdisciplinaridade e empenhada na multidisciplinaridade (Silva,
2006, p. 20 e 24). Tambm concordamos que a CI constitui um estdio epistemolgico evolutivo, resultante da interaco e
integrao da Arquivstica, da Biblioteconomia e da Documentao. Mantm, naturalmente, a sua vocao interdisciplinar, que
ocorre por nveis de proximidade, acontecendo, em primeiro lugar, no campo emergente das Cincias da Informao e Comunicao e,
em seguida, no campo mais vasto das Cincias Sociais Aplicadas (Silva, 2010, p. 10).
62
Nas palavras de Silva (2006, p. 23), Interessa, pois, investigar como se produz, com que fim, quando e como, como se guarda, como
se transmite, usa e transforma o fluxo humano e social de signos, de smbolos, de representaes de todo o tipo.
63
Como refere Buckland (2012, p. 5), being interdisciplinary is widely considered to be a good thing and sometimes it is...
Nevertheless, words beginning with inter commonly imply a position of weakness (e.g., interval, intermission, interregnum, and
interim) and indicate something positioned inbetween other more substantial entities but that in times of economic crisis political
power tends to reside in well-established disciplines. So, arguing a claim to resources based on being interdisciplinary or on being an
emerging discipline is, in general, to choose to occupy a weak position.

396
4 Avaliao dos outcomes
64
dos sistemas de organizao e representao da
informao

Os SORI desempenham um papel crucial no domnio da inteligncia estratgica das
organizaes da SC
65
, nomeadamente pela sua capacidade de alimentarem a criatividade e a inovao
dos seres humanos a partir da criao e mediao da produo e do uso do conhecimento disponvel.
No pressuposto que a informao tem de ser estruturada e representada de algum modo, seno
permanecer uma pura essncia e s a luz elctrica pura informao; todos os outros meios tm outro meio
dentro de si (Mcgarry, 1984, p. 19), a determinao do seu valor intrnseco, isto , a capacidade da sua
significao, resulta do produtor e do armazenador/organizador dos dados, ou seja, da forma como
estes so estruturados.
Da decorre a vantagem competitiva dos SORI na SC fornecer ferramentas de acesso,
interpretao, consolidao e atualizao do conhecimento disponvel, que simplifiquem o processo
humano: in this flood of information, we have to select and we have to decide what to trust. What we believe
about a document influences our use of it, and more importantly, our use of documents influences what we
believe (Buckland, 2012, p. 5).
Porquanto, e apesar do valor intrnseco da informao, a SC apenas lhe atribui valor real
quando esta contextualizada pelo ser humano
66
, ou seja, a partir do seu valor extrnseco aferido e
mensurado atravs do tipo de julgamentos e decises que a informao recolhida, processada e
difundida origina , isto , da sua utilidade para gerar conhecimento, o qual se convierte en un
instrumento o medio para obtener resultados (Gonzlez Guitin, 2010, p. 190).
Assim, o valor latente da informao organizada e representada pelos cientistas da
informao apenas atinge um valor real quando ela assimilada pelo ser humano, isto , quando se
transforma em conhecimento, quando o ser humano elabora uma imagem da realidade para analisar e
classificar a informao recebida (Mcgarry, 1984, p. 27), concetualizando-a e usando-a em funo das
suas necessidades especficas, num determinado tempo e lugar.
Ora, e no mbito desta abordagem da avaliao, no suficiente el matching de un dato de
entrada (input) com outro dato previamente fijado, sino que dicho dato fijado es concebido como una oferta
frente a la cual el usurio juega un rol eminentemente activo (Capurro, 2010, p. 257).
Por isto, no basta existir informao, ainda que de qualidade interna excelente
67
, preciso
que ela seja usada e valorizada, isto , que lhe seja reconhecida essa mesma qualidade, da a
impossibilidade de os SIAB se manterem numa lgica de sistema fechado, como proprietrios do
processo de organizao e representao da informao
68
.
Concomitantemente, a assuno do fim do regime de monoplio dos SIAB - que assegurava a
sua transcendncia e sacralidade no domnio do acesso e processamento da informao existente - e

64
Outcomes can be seen as the eventual result of using library services, the influence the use had, and its significance to the user. Revill
(1990, p. 294-333).
65
A qual entendida por Miranda (1999, p. 287, como o uso do conhecimento estratgico no processo de tomada de deciso quanto
formulao ou redefinio de estratgias adotadas por uma organizao, ou seja o motor que conduz as organizaes, as pessoas
ao, inovao.
66
O valor da informao apenas pode ser considerado no contexto do seu uso, this means that the value of information can be
determined post facto after benefits have emerged from its use in some decision situation but not before its use. The economics of
information (1997, p. 191). Tambm Mcgarry (1984, p. 79), afirma que o crebro humano tem a capacidade de percecionar,
codificar, armazenar, recuperar e manipular a informao, de acordo com as suas necessidades individuais.
67
Informao que foi organizada e representada, isto , que tornou inteligveis elementos soltos, dados com significncia
autnoma, que se encontravam dispersos pelas nuvens fsicas ou virtuais, e de cuja combinao dependeu o seu significado e
o contedo da mensagem.
68
Sobre a distino entre value-in-exchange and value-in-use, ver a obra de Smith (2006). Sobre a necessidade dos SORI se
humanizarem, isto , deslocarem o foco, da descoberta e desenvolvimento de novos princpios tecnolgicos para uma
orientao para os clientes - simplificando os seus esquemas complexos de indexao, mesmo com o risco de uma perda
significativa de informao importante ou til - ver a investigao recente no domnio da folksonomia.

397
o aparecimento de um sistema concorrencial - que impe a qualidade total das organizaes como a
condio sine qua non para a sua existncia implicam um estudo detalhado do contexto social do ser
humano, enquanto fator determinante para a oferta de produtos ou servios
69
.
Este necessrio reposicionamento dos SORI enquanto atores principais do processo de
valorizao das quantidades incomensurveis de informao disponvel, de distino entre a boa e a
m informao
70,
de determinao da qualidade, da quantidade
71
e do valor da informao , implica
uma anlise e uma avaliao dinmica dos valores individuais dos seres humanos, das suas
necessidades
72
e das suas expetativas
73
, as quais so determinantes para o uso dos contentores e dos
seus contedos.
Esta avaliao permanente do ser humano e da sua circunstncia
74
pressupe a necessidade de
comunicar, de interagir com o objeto, iniciando assim o processo de conhecer e a sua
retroalimentao, possibilitada por uma aprendizagem contnua
75
.
Mas, e para que este novo posicionamento seja alcanado, torna-se imprescindvel que os SIAB
se assumam como espaos de conhecimento onde se l e se interpreta o mundo, para o poder
melhorar
76
, mais do que espaos de armazenamento, localizao e acesso s fontes de informao,
da decorrendo a necessidade de preservar e acentuar a identidade do ser humano o nico
elemento real da economia desmaterializada , mais do que a das fontes de informao.
Inerente a esta evoluo concetual est uma viso do mundo mais subjetiva, mais
contingencial, onde o conforto, a estabilidade, a segurana e o sucesso, possibilitado pelas verdades
absolutas, pelas receitas de natureza prescritiva e normativa
77
, do lugar ao desconforto,
instabilidade, insegurana e ao possvel insucesso, advindo do contributo de pequenas e efmeras
partculas para a construo de um universo informativo, imagem e semelhana da interpretao
feita pelo ser humano do mundo
78
.
Neste contexto, a Revoluo da Nova Economia elege, como indicador da boa administrao
dos seus bens e dos seus servios, a satisfao dos seres humanos
79,
isto , deixa de colocar a tnica

69
Capurro (2010, p. 259) afirma que a pergunta crucial que deve ser respondida pelos SORI no sculo XXI : informao
para quem?, mais do que informao?
70
Tal como assinala Gonzlez de Gmez (1996, p. 60), toda a poltica de uso da informao necessariamente acompanhada de
uma poltica de no-uso da informao. Da qualidade e rigor do metaconhecimento disponvel depender o acerto dessa definio.
71
Pois a dificuldade em conhecer tanto resulta da presena de informao redundante ou obsoleta, como do
excesso ou da ausncia de informao suficiente.
72
As necessidades podem ser definidas genericamente como a falta de algo que se estivesse presente contribuiria para o nosso
bem estar ou para facilitar o alcance de quaisquer objectivos que tenhamos em mente. O conceito de necessidade passa pelos termos de
vontade, desejo, anseio e exigncia e est intimamente relacionado com a ideia de motivao (Mcgarry, 1984, p. 38).
73
As expetativas podem ser definidas genericamente como crenas pr-consumo ou individual belief elements in a cognitive
structure (Olson; Dover, 1979, p. 179).
74
Frmula proposta pelo filsofo espanhol Jos Ortega Y Gasset (1914) Eu sou eu e a minha circunstncia e que ilustra a
multiplicidade de pontos de vista em relao realidade circundante e aos fatores contingenciais que condicionam a vida
coletiva e individual.
75
A este papel principal acresce, tal como afirma Mcgarry (1984, p. 143), o facto de eles serem o garante dos tradicionais
princpios liberais de responsabilidade dispersa e de poder alternativo, os tais espaos de liberdade de que nos fala Rifkin (2001, p.
24), que se assumem como contra poder, num mundo em que o acesso cultura humana est cada vezes mais submetido ao
capricho das empresas transnacionais que a veiculam e a comercializam. Tambm Buckland (2012, p. 2) restringe o uso do
conceito de informao traditional association with human knowing and learning.
76
Ver sobre o conceito de conhecimento a obra de Freire (1989).
77
Uma norma um documento, ou um conjunto de documentos escritos, estabelecido(s) por consenso, e aprovado(s) por um organismo
local, nacional ou internacional, de competncia reconhecida na rea em anlise (Marques,2012, p. 207), da as suas potencialidades
na agilizao e simplificao do processo de comunicao, no acesso a definies aceites internacionalmente pela
comunidade de agentes envolvidos nos diversos processos, na utilizao de indicadores robustos, que j se encontram
testados, e no desenvolvimento dos processos de benchmarking interno, funcional e competitivo.
78
A complexidade desta interpretao resulta da multiplicidade dos critrios e experincias individuais, pois, e tal como
afirma Silva [et al.], (2002, p. 29), as pessoas podem armazenar conceitos mas os inventrios mentais so nicos e distintos para cada
uma delas.
79
A satisfao, enquanto constructo individual, , igualmente, um conceito abstrato, de elevada subjetividade e de difcil
operacionalizao, mesmo quando, obrigatoriamente, associado ao homem e sua circunstncia. Entendemos este
conceito como uma avaliao global ps-compra e cumulativa (avaliao global das experincias de consumo de produtos

398
nos meios de recolha, processamento e circulao da informao, analgicos ou digitais para se
debruar sobre os modelos e indicadores da qualidade da informao, na sua maioria de natureza
imprecisa, contingencial e subjetiva, mas que, se devidamente interpretados e aplicados com alguma
flexibilidade, asseguram a felicidade do ser humano
80
.
Assim, se o acesso informao pode ser medido a partir da relao entre os Inputs
81
e os
Outputs
82
, o conhecimento resultante da informao acedida s pode ser medido a partir dos seus
Outcomes
83
, os quais recuperam a viso econmica de valor value-in-exchange (Smith, 2006) , ou
seja, o valor de mercado de determinada informao, o seu preo!
84

Isto , no basta aos SORI presumirem o valor da informao para a sociedade, necessrio
conhecer, em profundidade, os many different readers, that each has multiple interests, that there are very
many documents, and that readers, interests, and documents are all quite unstable greatly complicates the task
(Buckland, 2012, p. 4).
necessrio evidenciar, demonstrar o contributo da sua metainformao
85
para o
desenvolvimento individual e coletivo do ser humano
86
, ou seja, conhecer as capacidades que os
indivduos adquiriram por aceder informao, de que forma os seus comportamentos e atitudes se
modificaram, quais as alteraes proporcionadas no seu nvel ou qualidade de vida.
Tal como refere Capurro (2010, p. 256), na SC, os SORI devem abandonar la bsqueda de un
lenguage ideal para representar el conocimiento o de un algoritmo ideal para modelar la recuperacin de la
informacin a lo que aspiran el paradigma fsico y el cognitivo.
Mas, e pese embora saibamos de antemo que it is very difficult in practice to take into account
what individuals already know (Buckland, 2012, p. 3), preciso determinar, ainda que em ltima
instncia, se os indivduos e os pases so mais felizes na era do acesso global informao
87
.
Da que, para alm da sua funo tradicional de interpretarem a informao disponvel no
mercado e a informao selecionada
88
, os SORI tm, prioritariamente, de interpretar os mltiplos
arsenais de significados do ser humano, de aumentar o seu conhecimento estratgico
89
, pois s assim
conseguem concorrer, direta e indiretamente, com os novos agentes de poder.
Contrariamente ao que aconteceu na SI, em que se multiplicaram os estudos sobre a
information seeking
90
, visando medir tudo o que era visvel, e a partir da determinar o valor
extrnseco ou instrumental da informao, num conscious effort to acquire information in response to a

e/ou servios, neste caso de informao, e por tal relativamente estvel ao longo do tempo), ou como uma resposta
emocional (Marques, 2012, p.280).
80
Tal como afirma Rifkin (2001, p. 17), o verdadeiro valor na nova economia est nos conceitos, nas ideias, nas imagens, e j no nas
coisas. So a imaginao e a criatividade humanas, e j no o patrimnio material, que representam doravante a riqueza.
81
Entendidos como as entradas, os recursos despendidos, os custos da informao. Os inputs no so mais do que um
inventrio dos recursos disponveis/utilizados.
82
Entendidos como as sadas, a quantidade de informao fornecida quantos clientes, quantos documentos, quantas
pesquisas em linha Os outputs, so meras medidas da eficincia e da eficcia dos sistemas.
83
Entendidos como os resultados, impactos, ou a utilidade do uso da informao benefcios que a informao opera sobre
os indivduos nomeadamente o grau de conhecimento.
84
Estas teorias de valor so tambm designadas por Teorias de preos.
85
A informao da informao, ou seja a organizao e a representao da informao disponvel e que conduz ao
metaconhecimento. Ver Gonzlez de Gmez (1996, p. 59).
86
Entende-se por metaconhecimento, o conhecimento que indivduos, grupos, atores coletivos e instituies possuem acerca de seu
prprio conhecimento e organizao, sobre outros conhecimentos, de outros agentes, e sobre suas formas de disponibilidade e acesso
atravs da comunicao. Gonzlez de Gmez (1996, p. 59).
87
Ver ONU (2013).
88
A tripla motivao de que nos fala Otlet, (1934) intelectual, tcnica e social, sendo que esta ltima ser a determinante
no sculo XXI.
89
Por conhecimento estratgico entende-se a combinao de conhecimento explcito e tcito formado a partir das informaes
estratgicas e de informaes de acompanhamento, agregando-se o conhecimento de especialistas (Miranda, 1999, p. 287).
90
Tal como refere Silva (2006, p.19), a adeso a estes mtodos estatsticos e matemticos foi entusistica pois, para
bibliotecrios, documentalistas e arquivistas a adopo de um estatuto de cientificidade, credibilizador da sua dignidade profissional, s
interessa se ele for forte, se ele proceder do lado da hard science do que da outra... Este tipo de estudos dominantes dos paradigmas
fsico e cognitivo deram lugar, no paradigma social da CI, aos estudos sobre os utilizadores, ou a uma soluo de
compromisso entre estes dois ltimos designado por domain analysis. Ver Capurro (2010).

399
need or gap in your knowledge, a SC elege o information behaviour
91
como o foco principal da CI, o qual
abrange o information seeking as well as the totality of other unintentional or passive behaviors (such as
glimpsing or encountering information), as well as purposive behaviors that do not involve seeking, such as
actively avoiding information (Buckland, 2012, p. 5).
A tentativa, iniciada no sculo passado, de transformar a CI numa cincia exata, de viso
quantitativa e racional, acabou por no conduzir solidez pretendida, da a necessidade de recentrar
o seu objeto cientfico
92
, de estudar as pessoas e as suas emoes, a par, naturalmente, do seu
raciocnio o seu conhecimento explcito e o seu conhecimento tcito
93
, isto , analisando as suas
decises a partir de fatores que extravasam o domnio do positivismo, do empirismo ou do
experimentalismo, do que vsivel ou audvel
94
.
Assim, dos estudos bibliomtricos, cienciomtricos, informtricos e webomtricos
95
, de natureza
quantitativa
96
, que pareciam assegurar a robustez de uma rea cientfica, porque suportados pelos
contentores de armazenamento do conhecimento cientfico,
97
o sculo XXI elege uma abordagem
cientfica do social e do humano, baseada em modelos que assentam no conceito Evidence-based
Librarianship
98
.
Ou seja, centram a avaliao da qualidade dos SIAB na perspetiva do valor atribudo pelos
Stakeholders, deslocando o eixo de anlise das colees e do fornecimento de informao para a anlise da
utilidade do uso das colees e da informao para os clientes, a partir do seu ponto de vista, ou seja da medio
do desempenho para a medio do desempenho e da aprendizagem / conhecimento (Marques, 2012, p. 257).
Esta mudana paradigmtica acentua o carter da CI como uma disciplina cientfica de
natureza transdisciplinar
99
, que estabelece como o seu core as pessoas que, emocional e
cognitivamente, constroem, desconstroem e voltam a construir o seu conhecimento, a partir da
informao a que tm acesso e fruto de um processo permanente de aprendizagem
100
.
esta relao direta entre a aprendizagem e o conhecimento que confere CI um estatuto
slido e lhe permite criar uma identidade autnoma em relao a todos os outros domnios que
partilham a mesma matria prima a informao.
Tal como como afirma Buckland (2012, p. 5), Information science has been used to denote different
fields that we can distinguish by using different names: library and information science, computer science, the

91
Ou Comportamento informacional, ou estudos de utilizadores, ao qual est associado o conceito de fluxo da informao,
o qual retrata la trayectoria cclica que la informacin viaja desde su creacin hasta su uso. En este sentido, la capacidad de generar
o accesar informaciones adecuadas, interconectar con otras personas con otras informaciones de manera a recombinar y as crear
conocimiento de tipo nuevo, que ser despus utilizada para generar innovaciones dentro o fuera de la organizacin, en un proceso
retroalimentado es la clave de un ciclo virtuoso de la informacin para la innovacin (Zattar; Issberner, 2012, p. 17).
92
Tal como afirma Buckland (2012, p. 1), By the beginning of the 21st century, however, departments of (library and) information
science had turned instead towards the social sciences, p. 1.
93
De acordo com Miranda (1999, p. 287), o conhecimento explcito o conjunto de informaes j elicitadas em algum suporte (livros,
documento etc.) e que caracteriza o saber disponvel. O conhecimento tcito o acmulo de saber prtico sobre um determinado assunto,
que agrega convices, crenas, sentimentos, emoes e outros fatores ligados experincia e personalidade de quem o detm.
94
Como refere Silva (2010, p. 29), estes estudos feitos pelos agentes de inovao os arquivistas, os bibliotecrios, os
cientistas da informao , so um trunfo do especialista da informao que o designer de sistemas interactivos, centrados no
utilizador, deve acolher e realizar, no obstante as flagrantes limitaes formativas prprias, superveis mediante a constituio de
equipas interdisciplinares, sem dvida, indispensveis, desde que bem geridas e desenvolvidas...
95
Estes estudos resultaram de uma investigao setorial, sobretudo no domnio da informao especializada.
96
Ao longo dos ltimos anos multiplicaram-se os estudos que pretendiam medir o registo da informao (ndices de
produo) e a difuso do conhecimento, ou seja a medio das taxas de produtividade dos centros de pesquisa e dos investigadores
individuais, para a deteco daquelas instituies e reas com maiores potencialidades e para o estabelecimento das prioridades no
momento da alocao de recursos pblicos (Vanti, 2002, p. 152-162).
97
Como monografias, artigos de publicaes em srie, trabalhos acadmicos, relatrios tcnicos, pginas web, etc., e por
indicadores ou ferramentas de avaliao objetivos e seguros que avaliavam a qualidade, a atividade e o impacto cientfico.
98
Que anteriormente designmos de metodologia de avaliao contingencial, destinada essencialmente a determinar o
valor financeiro das ONL.
99
Tal como afirma Silva (2006, p. 28), o fortalecimento transdisciplinar liberta-a do perigoso especialismo tecnicista ou instrumental
e confere-lhe um outro flego para as prticas interdisciplinares que se situam em dois nveis: um central ou nuclear e outro
complementar.
100
Ver, sobre os tipos da mediao ps-custodial e informacional, Silva (2010, p. 31).

400
physics of information, entropy, etc., and information technology, meaning electronic technology applied to
communication and computation. Of these, only the first is directly concerned with knowing and learning.
Por conseguinte, o contexto evolutivo da CI est diretamente relacionado com o ambiente
social em que ela se desenvolve:

SOCIEDADE DA INFORMAO

SOCIEDADE DA APRENDIZAGEM

SOCIEDADE DO CONHECIMENTO
101

Da que o processo de aprendizagem
102
, formal e informal
103
, seja o motor que assegura a
possibilidade de a informao disponvel ser interiorizada pelo ser humano, aumentando o seu
conhecimento armazenado e, em simultneo, atravs do seu sistema nico e intransmissvel de
significao, construir o seu conhecimento e aplic-lo para obter sucesso na sua vida quotidiana.
Assim, o paradigma humanista da CI revoluciona uma prtica vigente nos SORI, de natureza
Ptolomaica
104
concerned with knowing about more than knowing how or knowing that (Buckland, 2012, p.
5) inaugurando uma viso Copernicana
105
com o utilizador no centro e uma variedade de servios e
pessoas circulando e ajudando o utilizador.
De entre os inmeros domnios que podem ser alvo dos outcomes dos SORI, nomeadamente em
funo do seu enquadramento tipolgico, podemos valorizar genericamente
106
:
- Aquisio de competncias; Mudana de comportamento; Mudana de atitude; Alterao de
estatuto social; Alterao de uma condio de vida, etc.
Em jeito de sntese, podemos afirmar que os outcomes dos SORI na SI, so evidenciados pela sua
capacidade para construrem conhecimento, para acrescentarem valor vida humana e para

101
Cunha (2003, p. 71) considera que os conceitos de sociedade da informao, sociedade do conhecimento e sociedade da
aprendizagem no so sucedneos, ou seja, um no substitui o outro. Ao contrrio, so simultneos, fruto de um desdobramento a partir
da existncia e valor da informao que s adquire sentido na medida em que comunicada, disseminada, o que permite gerar
conhecimento para produzir novas informaes, o que pressupe uma aprendizagem contnua, para realimentar o processo.
102
Tal como Buckland (2012, p. 3), consideramos que a Learning is incremental, a change in what we knew rather than simple
addition.
103
Os servios de informao, ao constiturem, conservarem, enriquecerem os seus recursos informativos, atuam como
agentes promotores do acesso universal informao e do combate a qualquer tipo de info-excluso, atravs da educao
permanente, aprendizagem ao longo da vida ou lifelong learning. Como refere Hernndez Snchez (1999, p. 60), El desarrollo
de la llamada Sociedad de la Informacin est poniendo de relieve una nueva perspectiva: al usuario no basta con informarle, tambin es
preciso formarle. Informar y formar al usuario aparecen cada vez con mayor claridad como dos caras de una misma moneda, como dos
vertientes de un mismo servicio que resultara ineficaz si no integrara ambos aspectos. Tambm Delors (2006, p. 117), afirma que o
conceito de educao ao longo de toda a vida a chave que abre as portas do sculo XXI. Ultrapassa a distino tradicional entre
educao inicial e educao permanente. Este conceito de educao permanente surge por volta dos anos 50 do sculo passado
e designa um processo global e sequencial de desenvolvimento do ser humano ao longo da vida, atravs das suas diversas fases:
infncia, juventude e idade adulta. Como refere Delors (2006, Captulo IV), a educao ao longo de toda a vida, mais do que ao
longo da vida, subentendendo uma ideia do processo educativo contnua e no seccionada em fases da vida, idades ou
grupos profissionais, tem associados os quatro pilares do conhecimento: aprender a conhecer, aprender a fazer, aprender a
viver juntos e aprender a ser, sem privilegiar, como alis um hbito generalizado, o aprender a conhecer e aprender a
fazer, em detrimento do aprender a ser e aprender a viver juntos.
104
Com os SORI no centro e os utilizadores na periferia. Cludio Ptolomeu (sculo II d.C.), cientista grego que viveu na
cidade egpcia de Alexandria, foi o formulador da teoria geocntrica da Terra segundo a qual a Terra ocupava o centro do
universo e a lua, o sol, os planetas e as estrelas giravam sua volta em esferas concntricas.
105
Nicolau Coprnico astrnomo e matemtico polaco (1473 - 1543). Em 1543 apresenta uma teoria revolucionria que
no pode ser cientificamente provada at ao sculo seguinte: o heliocentrismo, segundo o qual a Terra e os demais planetas
giram volta do Sol. Esta nova teoria pe em causa a conceo medieval da Terra como centro do universo.
106
Ver INSTITUTE FOR MUSEUMS AND LIBRARY SERVICES (2003).

401
ensinarem a interpretar e a satisfazer, criteriosamente, as mltiplas e obscuras
107
necessidades e
expetativas de informao do prosumidor
108
.
Da capacidade de criarem uma epistemopraxis (Capurro, 2010, p. 259), isto , de conciliarem
uma prxis centrada nos seus ativos tangveis os processos , com uma teoria enfocada nos seus
ativos intangveis as pessoas - resulta o reconhecimento do seu sucesso para o ser humano
(individual) e social (coletivo).

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107
Porque muitas vezes do domnio do inconsciente.
108
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288).

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406
FUNDAMENTOS Y CONTINUIDAD DE MODELOS DE CLASIFICACIONES ALTERNATIVAS A LA
CLASIFICACIN DECIMAL DE DEWEY PARA LA ORGANIZACIN DE LA INFORMACIN EN
BIBLIOTECAS

DANIEL MARTNEZ-VILA
[email protected]

ROSA SAN SEGUNDO
[email protected]

[email protected]

Resumen En el presente trabajo se presentan los planteamientos de un estudio de continuidad de modelos de
clasificaciones alternativas para la organizacin de la informacin en bibliotecas. Tomando como partida los
casos histricos de clasificaciones alternativas a Dewey, en el presente estudio se tratan los fundamentos de
las clasificacin alternativas en su concepcin tradicional y se estudia su continuidad con los actuales casos de
implementacin de clasificaciones provenientes de entornos comerciales, haciendo especial incidencia en los
aspectos crticos que pudieran resultar agravados en comparacin con la Clasificacin Decimal de Dewey,
como en el caso de representacin y construccin de identidades de grupos minoritarios, as como sus
consecuencias prcticas y una propuesta de mejoras para su aplicacin en bibliotecas. Por ltimo, se presenta
una propuesta terminolgica en espaol en la que se discuten algunos de los trminos ms adecuados para la
denominacin de los conceptos ms representativos relacionados con el tema.

Palabras-clave Clasificaciones alternativas. Clasificacin Decimal de Dewey.Terminologa.

Abstract In this paper we present an overview of a study on the continuity of reader-interest classifications
for the information organization in libraries. Starting from the historical cases of reader-interest
classifications, we lay out the fundamentals of reader-interest classifications in its traditional sense and for
the current cases of implementation in public libraries, focusing on the critical aspects that might be resulted
deteriorated in comparison to the Dewey Decimal Classification, such as the construction and representation
of minority groups, and the practical consequences of its application. Finally, we also present and discuss for
the first time the translation of some of the most accepted terms regarding the area of reader-interest
classifications to Spanish.

Keywords Reader-interest classifications. Dewey Decimal Classification. Terminology.

407
Introduccin

Uno de los principales retos que han afrontado en los ltimos aos los sistemas de
organizacin de la informacin bibliotecarios tradicionales ha sido la irrupcin de unos aparentes
competidores que, al contrario de lo que haba sucedido tradicionalmente en los casos de sustitucin
de sistemas de clasificacin en bibliotecas, no han provenido ni de los entornos acadmicos ni
profesionales bibliotecarios, sino de la industria comercial del libro.
El sistema de clasificacin utilizado por la industria del libro norteamericana BISAC, Book
Industry Standards and Communications, sustituy por primera vez a la Clasificacin Decimal de
Dewey (CDD) en una biblioteca pblica de los Estados Unidos en junio de 2007, cuando la biblioteca
Perry Branch en Maricopa County Library District, Arizona, se publicit como la primera biblioteca
en los Estados Unidos que utilizaba para la organizacin de su nueva coleccin de no-ficcin el
esquema de clasificacin BISAC, en lugar de la tradicional Clasificacin Decimal de Dewey.
Siguiendo la experiencia de Maricopa, muchas otras bibliotecas en los Estados Unidos y otros
pases de habla inglesa adoptaron o adaptaron BISAC junto a otras medidas inspiradas por sus
entornos comerciales de aplicacin como alternativa a los estndares y prcticas tradicionales,
inmersas en un nuevo movimiento en el que la adopcin de prcticas provenientes de la industria
del libro sugieren una nueva re-definicin del rol educativo de las bibliotecas y los requisitos y
prcticas de gestin en bibliotecas para lograr una optimizacin de recursos en tiempos de crisis.
Los agentes tradicionales involucrados en la gestin de estos modelos tradicionales, como es
el caso de OCLC, organismo a cargo de la Clasificacin Decimal de Dewey y otros recursos
colaborativos bibliotecarios como WorldCat, lejos de sentirse "amenazados" por este nuevo
escenario proveniente de la industria comercial del libro, decidieron realizar una incursin en estos
estndares y prcticas a travs de medidas que incluyen la participacin conjunta con el Book
Industry Study Group (BISG), organismo encargado de la gestin de BISAC, en seminarios sobre el
lanzamiento de BISAC (Bole, Harbison & Register, 2009), el enriquecimiento de registros MARC con
BISAC desde mayo de 2008, la sugerencia de enriquecimiento de registros ONIX (el estndar basado
en XML para el intercambio de metadatos gestionado por el BISG) con Dewey, la elaboracin de una
equivalencia entre Dewey y BISAC desde 2009 con una prioridad superior que la equivalencia con la
Lista de Encabezamientos de la Biblioteca del Congreso (LCSH) y la inclusin y utilizacin de BISAC
en la ltima versin de WebDewey 2011 (ver Martnez-vila, Kipp & Olson, 2012).
Mientras tanto, la expansin globalizada de BISAC tambin ha alcanzado otros niveles
internacionales que podran tener relacin con el mundo bibliotecario y de la industria del libro,
como son la utilizacin de BISAC para la organizacin de la informacin en el proyecto Google Books
-no exenta de controversia como han sealado algunos estudios (Nunberg, 2009a; Nunberg, 2009b;
Nunberg, 2009c), o la publicacin de la equivalencia en noviembre de 2010 con el esquema
proveniente de la industria del libro anglosajona BIC versin 2 revisin 01 (Martnez-vila, Olson &
Kipp, 2012).
En este nuevo escenario, los lmites entre el sector comercial y el sector bibliotecario han
tendido a difuminarse a la vez que se realizaban incursiones de uno y otro sector con la finalidad de
mantener y hacerse con una mayor parte del mercado del libro. La incursin de los agentes
provenientes de los entornos comerciales del libro en las bibliotecas se ha visto correspondida por
una incursin recproca de algunos agentes provenientes del entorno estrictamente bibliotecario en
los procesos globales de la cadena comercial de suministro del libro.
Siendo cada vez ms difusos los lmites entre los mbitos comerciales y bibliotecarios de los
entornos digitales, los esquemas y prcticas de organizacin del conocimiento en ambos entornos
han tendido a converger e influirse mutuamente. En este nuevo escenario, algunos agentes
tradicionales del mbito bibliotecario, como OCLC, han comenzado a colaborar de forma activa con
otros agentes provenientes de la industria del libro, como el BISG, no solo para consolidar su
mercado tradicional participando en las posibles incursiones externas del mismo, sino para tambin

408
poder expandirse hacia esos otros mercados propios de los entornos comerciales de forma
globalizada.
Lo que en un principio se percibi como una incursin de los esquemas tradicionales de la
industria del libro en las bibliotecas, generado por un creciente rechazo hacia instituciones y
esquemas tradicionales como OCLC y Dewey, como se desprende de algunos discursos provenientes
de bibliotecas pblicas en Estados Unidos que adoptaron BISAC desechando Dewey, se ha terminado
convirtiendo en una nueva oportunidad para OCLC de expandirse hacia nuevos entornos
comerciales no incurridos anteriormente por los estndares bibliotecarios.
La globalizacin y universalidad de estos nuevos esquemas en los entornos electrnicos del
libro se ha visto tambin agravada por una visin homognea en la que las dos principales industrias
del libro del mbito anglosajn, representadas por el BISG en los Estados Unidos y el Book Industry
Communication (BIC) en el Reino Unido, han considerado conveniente una convergencia tcnica y
cultural de sus principales sistemas.
En esta nueva situacin, la convergencia entre ambos esquemas de clasificacin de la industria
del libro, y su esquema comn de intercambio de metadatos ONIX, junto a las distintas equivalencias
con otros estndares bibliotecarios gestionadas por OCLC como la Clasificacin Decimal de Dewey,
LCSH y MARC, amenazan con una imposicin de facto en todas aquellas bibliotecas pblicas que
utilizan los servicios de OLCL de unos esquemas diseados para mbitos comerciales de marcado
sesgo anglosajn, incluyendo en el caso de Espaa, en el que no slo se decidi la adopcin del
sistema de clasificacin BIC2 para su utilizacin en DILVE, la plataforma electrnica para la gestin y
distribucin de informacin bibliogrfica y comercial del libro en venta, sino que tambin DILVE ha
realizado una equivalencia con la Clasificacin Decimal Universal (CDU) para as intentar una
expansin a las bibliotecas pblicas.
Finalmente, otros elementos perjudicados por esta nuevo escenario no solo sern los
esquemas estrictamente bibliotecarios cuyos agentes no hayan convergido con los entornos
comerciales (como es el caso de la CDU), sino tambin todas aquellas adaptaciones locales y
esquemas propios de contextos culturales especficos, como por ejemplo aquellos derivados de
posturas epistmicas surgidas de los estudios de gnero, LGBT, etc. que se pudieran adoptar en
bibliotecas.

1 Delimitacin del objeto de estudio

El objeto de la presente investigacin son los casos de intercambio de la Clasificacin Decimal
de Dewey por BISAC u otras clasificaciones alternativas a Dewey (denominadas en la bibliografa
anglosajona como 'reader-interest classifications'), aplicados principalmente a la organizacin de los
fondos no-ficcin en bibliotecas pblicas de Estados Unidos y otros pases de habla inglesa.
Tanto BISG, OCLC, como todos los agentes implicados en los actuales procesos de sustitucin
de la Clasificacin Decimal de Dewey por BISAC en bibliotecas pblicas, incluyendo los discursos
relacionados con crticas y polticas de actuacin de los organismos tradicionales involucrados en la
gestin de la Clasificacin Decimal de Dewey, son tambin objeto de anlisis en la investigacin por
tanto que estas motivaciones, factores e intereses implicados van a ser aspectos fundamentales de
las consecuencias a largo plazo en las bibliotecas que decidan utilizar los sistemas.
El estudio de estos sistemas y sus relaciones, as como de los posibles escenarios que pudieran
surgir a partir de ellas, no se debe limitar al mbito de aplicacin de las bibliotecas pblicas
anglosajonas, sino que se ampliar con una perspectiva internacional a todos los pases susceptibles
de ser afectados globalmente por la nueva utilizacin de BISAC en bibliotecas, haciendo especial
incidencia en la situacin de Espaa.
La delimitacin temporal del objeto de estudio, ya que se estudian las continuidades entre dos
"momentos", abarca desde el ao 2007, momento en el que se anunci la primera implementacin

409
de BISAC en una biblioteca pblica, la Perry Branch Library en Maricopa, Arizona, para el estudio de
BISAC, y desde la publicacin de la primera Clasificacin Decimal de Dewey en 1876 para el estudio
del resto de clasificaciones alternativas y crticas a la Clasificacin Decimal de Dewey. Respecto a
este ltimo punto, un aspecto al que se prestar especial atencin es la transformacin en el tiempo
de los problemas y sesgos en la representacin de grupos minoritarios, trabajando en el caso
concreto en la representacin y construccin de identidades del colectivo LGBT en los sistemas de
clasificacin tradicionales, como la CDD, y en clasificaciones alternativas como BISAC.

2 Antecedentes al objeto de estudio

Con anterioridad a la utilizacin de BISAC, en varias bibliotecas pblicas de Estados Unidos, el
Reino Unido, y otros pases de habla inglesa ya se haban implementado diversos proyectos de
clasificaciones alternativas a la Clasificacin Decimal de Dewey, las cuales tuvieron como origen el
experimento de la Detroit Public Library en Estados Unidos, en 1941, y que siguieron unos principios
y caractersticas que pueden inducir a considerar los proyectos de implantacin de BISAC como
nuevo casos de este tipo. Sin embargo, y con la excepcin de una breve mencin en una editorial de
"School Library Journal" en 2007 (Kenney, 2007), la continuidad entre ambos movimientos no ha sido
resaltada en alguno de los discursos publicados en relacin con BISAC.
Estas clasificaciones alternativas, por lo tanto, debern ser objeto de estudio con la finalidad
de compararlas con BISAC y poder as discernir si efectivamente estos nuevos casos de sustitucin
de la Clasificacin Decimal de Dewey por BISAC en bibliotecas pblicas se tratan de casos de
clasificaciones alternativas o, si por el contrario, disponen de unos atributos lo suficientemente
diferentes como para ser considerados conceptos independientes. Para ello se sigue una visin
epistemolgica y social para la determinacin de conceptos similar a la expresada por Birger
Hjrland en el trabajo "Concept Theory", que ha sido definida de la siguiente manera: "La visin de
conceptos presentada en este artculo es claramente social. Los conceptos han sido entendidos como
significados socialmente negociados que deben ser estudiados a travs del estudio de los discursos
ms que a travs de usuarios individuales o principios a priori" (Hjrland, 2009a, p. 1530).
Algunos de los aspectos que van a ser estudiados en las clasificaciones alternativas incluyen
los siguientes: la definicin del concepto de clasificacin alternativa, su historia, la revisin y
actualizacin de los casos publicados en la literatura, sus caractersticas, y las razones que las
llevaron a su cancelacin; todo ello con la finalidad de llegar a un mejor entendimiento de los
actuales casos de utilizacin de BISAC en bibliotecas pblicas y los potenciales problemas que
pudieran existir para la viabilidad de su aplicacin.
La consideracin de estos nuevos casos de sustitucin de la Clasificacin Decimal de Dewey
por BISAC en bibliotecas pblicas como nuevos casos de clasificaciones alternativas, aceptando las
diferencias que pudieran existir con los casos anteriores, podra justificarse y fundamentarse en una
transformacin histrica y natural del concepto, el cual ya pas por diversos momentos a travs de
su historia hasta poder ser considerado como clasificacin alternativa en el contexto de la presente
investigacin, y que justificara las diferencias existentes entre ambos ncleos de formaciones
discursivas con las caractersticas de su nuevo entorno y momento, y no con los atributos del
proceso de clasificacin o los esquemas propiamente dichos.
Sin embargo, una de las principales diferencias de las clasificaciones alternativas con los
actuales casos de utilizacin de BISAC, y que tambin condicionara posteriormente el reconocido
fracaso de las primeras, fue la inexistencia de un organismo supralibrario, como es el BISG en el caso
de BISAC (adems con las colaboracin de OCLC), que velara por la estandarizacin y
universalizacin de dichos sistemas. Por esta razn, se considera de especial importancia el estudio
de aquellos organismos involucrados en el desarrollo y mantenimiento de los actuales sistemas de
clasificacin as como de sus roles en los procesos de implementacin de clasificaciones alternativas.

410
3 Exposicin de las preguntas de investigacin

La primera cuestin que se plantea en el estudio de los casos de bibliotecas pblicas que han
cambiado la Clasificacin Decimal de Dewey por BISAC, u otros sistemas basados en BISAC, es si
existe una continuidad en los discursos entre estos proyectos y los anteriores proyectos de
clasificaciones alternativas descritos en la bibliografa, principalmente aquellos surgidos tras el caso
de la Detroit Public Library.
Una segunda pregunta de investigacin relacionada con la anterior es si BISAC, al igual que
otras clasificaciones alternativas planteadas en el pasado, supone alguna mejora respecto a la
Clasificacin Decimal de Dewey y otros esquemas de clasificacin tradicionales universales, no slo
desde un punto de vista tcnico sino tambin desde un punto de vista socio-cultural crtico y de
representacin de grupos sensibles a los esquemas universales como son los grupos discriminados
por su cultura, costumbres, ideologa, sexo u orientacin sexual, trabajando con el caso especfico
del colectivo LGBT.

4 Formulacin de las hiptesis de investigacin

La hiptesis de investigacin respecto a la primera pregunta es que los recientes casos de
implantacin de BISAC en las bibliotecas pblicas estadounidenses, pese a las diferencias existentes
con los anteriores casos de clasificaciones alternativas, podran englobarse dentro del movimiento
de clasificaciones alternativas surgido a raz de la experiencia de Detroit y que, tal como se indica en
la bibliografa, fue ramificndose y evolucionando de diversas formas a otros puntos geogrficos
durante los subsiguientes aos, incluyendo tambin algunos casos de clasificaciones alternativas a
Dewey contemporneos a BISAC como la Open Shelves Classification, elaborada por la comunidad de
LibraryThing durante el periodo 2008-2010, y definida por su creador como un "reemplazo libre,
'humilde', moderno, de cdigo abierto [open source] y participativo de la Clasificacin Decimal de
Dewey" (Spalding, 2008).
De este modo, y aceptando un concepto unitario y tradicional de clasificaciones alternativas a
travs de las definiciones y caractersticas de la literatura, podran justificarse las diferencias entre
el concepto con los actuales proyectos de implantacin de BISAC de igual manera que se aceptaron,
por ejemplo, las diferencias existentes entre el caso de Detroit y los casos surgidos en el Reino Unido
durante los subsiguientes aos. Aceptando esta equivalencia, tal como se plantea en esta primera
hiptesis de trabajo, pueden aceptarse algunas de las conclusiones del fracaso de las clasificaciones
alternativas en el pasado y aplicar estas conclusiones a la elaboracin de medidas correctoras y de
mejora para los nuevos casos de adopcin de clasificaciones alternativas basadas en BISAC.
Respecto a la segunda pregunta de investigacin, la premisa de partida es que la Clasificacin
Decimal de Dewey, como sistema de clasificacin dominante en las bibliotecas pblicas anglosajonas
en los ltimos cien aos, se trata de un esquema universalista, sesgado e inapropiado para la
representacin y uso de todos aquellos grupos marginados que se salen de la corriente principal de
representacin del conocimiento, como por ejemplo es el caso del colectivo LGBT. Entendindose
por marginados que han sido empujados a los mrgenes del sistema y no se encuentran totalmente
representados por la corriente principal del mismo. Una acepcin extrada de la obra de Drucilla
Cornell "The Philosophy of the Limit" (Cornell, 1992).
Esta premisa se ha visto fundamentada en la literatura a travs de numerosos estudios crticos
que han expuesto las deficiencias de los esquemas universales, teniendo como punto de partida los
trabajos del profesor A.C. Foskett, a partir de la dcada de los 70 en los sistema de clasificacin
(Foskett, 1970; Foskett, 1984), y continuando con la extensa obra de la autora Hope Olson -sirva
como muestra representativa el seminal trabajo en estudios crticos en sistemas de organizacin de
la informacin bibliotecarios "The Power to Name: Locating the Limits of Subject Representation in

411
Libraries" (Olson, 2002), y otros investigadores que han trabajado ms recientemente las cuestiones
de gnero y LGBT en los sistemas de organizacin del conocimiento (Campbell, 2000; Christensen,
2008; Martnez-vila, Fox & Olson, 2012; Pinho, 2010; Pinho & Guimares, 2012).
A travs de una actualizacin y profundizacin en el estudio de estas minoras, se va a poner
el ejemplo prctico de la representacin del colectivo LGBT en los sistemas de organizacin de la
informacin tradicionales bibliotecarios como Dewey, ampliando por lo tanto el objeto de la
investigacin tambin a un estudio crtico de la Clasificacin Decimal de Dewey y otros vocabularios
controlados bibliotecarios para un contexto de representacin de colectivos marginados y una
forma ms especfica el colectivo LGBT, siendo la hiptesis planteada en este sentido que no existe
ninguna razn que justifique el cambio de Dewey por BISAC desde un punto de vista crtico y de
sensibilidad hacia la representacin del colectivo LGBT y otros grupos marginados, y menos en base
a los argumentos y estudios realizados por aquellos agentes involucrados en los procesos de cambio
y en los que se han sustentado las bibliotecas que los han realizado.

5 Precisin de los objetivos de la investigacin

Los objetivos que se esperan conseguir en este proyecto son los siguientes:

1. Identificar, unificar y actualizar la terminologa relacionada con el concepto de
clasificacin alternativa, incluyendo una propuesta terminolgica en espaol, a
travs de una revisin de la bibliografa publicada sobre clasificaciones alternativas
desde la implantacin de la clasificacin alternativa en la Detroit Public Library;
2. Contrastar la informacin publicada sobre los proyectos de clasificaciones
alternativas en la bibliografa con la informacin disponible en catlogos en lnea y
otros recursos de Internet con la finalidad de determinar la continuidad de los
proyectos en su concepcin tradicional desde la implantacin de la clasificacin
alternativa de la Detroit Public Library;
3. Revisar las caractersticas, motivaciones, ventajas e inconvenientes de las
clasificaciones alternativas tradicionales a travs del anlisis exhaustivo de la
literatura publicada desde el caso de Detroit Public Library hasta el momento de los
primeros casos de implementacin de BISAC, haciendo especial incidencia en las
razones que provocaron su fracaso y que pudieran afectar a los presentes casos de
utilizacin de BISAC;
4. Revisar los fundamentos de las crticas a los vocabularios controlados bibliotecarios
tradicionales, siguiendo una tradicin de crtica socio-cultural de las clasificaciones
bibliotecarias desde una postura post-estructuralista en aspectos de gnero,
representada y plasmada en la literatura principalmente por la obra de Hope Olson,
y haciendo especial incidencia en la Clasificacin Decimal de Dewey para aquellos
casos en los que ha sido sustituida por clasificaciones alternativas as como en los
estudios en la literatura sobre representacin de grupos marginados como es el
colectivo LGBT;
5. Revisar los fundamentos lgicos derivados de la tradicin filosfica griega en que se
sustentan los vocabularios controlados bibliotecarios occidentales, incidiendo en los
sistemas de clasificacin y la Clasificacin Decimal de Dewey, y determinar
problemas que existen para la representacin de casos de interseccionalidad en
grupos marginales poniendo como ejemplo para ello una situacin de marginacin
como la interseccionalidad;
6. Sintetizar y recopilar todos los proyectos en bibliotecas pblicas que han sustituido
la Clasificacin Decimal de Dewey con BISAC para la organizacin de su coleccin

412
fsica o en el catlogo, y adoptado otras prcticas de organizacin de la informacin
provenientes de entornos comerciales, y determinar las motivaciones, filosofa,
caractersticas, amenazas y roles de los agentes implicados en estos casos tanto a un
nivel local como globalizado;
7. Contrastar los resultados de los proyectos de implantacin de BISAC en bibliotecas
pblicas con los de los anteriores casos de clasificaciones alternativas, incluyendo las
deficiencias detectadas desde un punto de vista crtico socio-cultural, con la
finalidad de determinar cules de los problemas detectados en los proyectos de
implementacin de clasificaciones alternativas podran extrapolarse a los actuales y
futuros proyectos de implementacin de BISAC.

6 Importancia de la investigacin de la continuidad en clasificaciones
alternativas

La justificacin terica de la investigacin radica en que, hasta la fecha, ningn trabajo
cientfico previo ha estudiado la continuidad de los discursos entre los actuales casos de
implementacin de BISAC en bibliotecas pblicas y los anteriores casos de clasificaciones
alternativas en bibliotecas pblicas surgidos tras la experiencia de Detroit Public Library. En este
sentido, todos los casos de bibliotecas que han utilizado BISAC han sido presentados tanto en la
bibliografa como por las propias bibliotecas como punteros e innovadores, en los que, ya sea
deliberadamente o por desconocimiento, se han omitido las referencias a los anteriores y
mayoritariamente fallidos experimentos quizs con la esperanza de no repetir los resultados o la de
obtener atencin en la prensa en unos tiempos de crisis y de escasez de presupuesto.
Por otra parte, otra de las posibles causas o justificaciones de esta omisin en los discursos
relacionados con BISAC se encuentra en el hecho de que el trabajo sobre clasificaciones alternativas
en la tradicin de Detroit ms reciente en la bibliografa, con anterioridad al presente proyecto de
investigacin, se trata de un trabajo publicado en 1995 en la revista "Cataloging & Classification
Quarterly" (Sapiie, 1995), por lo que una nueva actualizacin de los conceptos y seguimiento de los
proyectos de clasificaciones alternativas se considera de especial relevancia coincidiendo con los
nuevos casos de implementacin de BISAC.
El estudio de los proyectos de sustitucin de la Clasificacin Decimal de Dewey por BISAC en
bibliotecas pblicas, incluyendo su filosofa y los agentes implicados, se considera de especial
relevancia para el campo debido a la omisin en los discursos de las bibliotecas implicadas, tanto por
desconocimiento como de forma deliberada, tanto de los problemas y similitudes existentes en los
casos anteriores, como en los intereses presentes en las diferencias de los nuevos casos.
En este sentido, mientras el rechazo a las polticas de OCLC se convierte en uno de los
argumentos en muchos de los discursos de las bibliotecas implementando BISAC, su grado de
participacin y colaboracin con entidades como el BISG que gestiona BISAC, as como de los planes
de utilizacin de BISAC como la reciente integracin del sistema en aplicaciones como WebDewey
2.0 (2011), es algo que resulta desconocido para gran parte de la comunidad cientfica y bibliotecaria,
carecindose por lo tanto del juicio crtico y fundamentado a la hora de evaluar las implicaciones
econmicas y polticas, as como los inconvenientes tcnicos, que puede acarrear este cambio. De
esta forma, el trabajo se justifica como una necesaria incursin investigadora en unas prcticas
profesionales que puede enriquecer de forma crtica y terica los discursos y la discusin de los
avances bibliotecarios en materia de Organizacin del Conocimiento.
El apartado de crtica a los vocabularios controlados bibliotecarios, y ms especficamente a la
Clasificacin Decimal de Dewey, se justifica en tanto que las crticas a estos sistemas de organizacin
de la informacin son uno de los principales argumentos y justificaciones para la implementacin de
BISAC y tambin de las clasificaciones alternativas. Adoptando una postura post-estructuralista
representada en los estudios crticos en Organizacin del Conocimiento por Hope Olson y otros

413
autores, el problema de representacin de grupos LGBT en los casos de interseccionalidad lgica en
lenguajes controlados bibliotecarios se trata de un campo poco investigado desde un punto de vista
terico, aunque de creciente inters.
La revisin, actualizacin y profundizacin en el estudio de los problemas de representacin y
construccin de identidades LGBT en los sistemas de organizacin del conocimiento bibliotecarios se
considera de especial relevancia cientfica no slo por las consecuencias sociales que estos
problemas suponen en su aplicacin prctica, sino tambin por la escasez de investigacin terica
crtica que existe como fundamento de apoyo para la elaboracin y diseo de nuevos sistemas de
organizacin de la informacin bibliotecarios en la actualidad.

7 Metodologa de trabajo para el estudio de clasificaciones alternativas

La metodologa del trabajo de la investigacin se instala desde el discurso genealgico de
Foucault, no siguiendo unos preceptos metodolgicos normativos de la metodologa, ya que estos
nunca fueron otorgados por el propio Foucault, sino realizando un anlisis de los discursos -tanto de
sus estructuras de las exclusiones que existen y son creadas en ellos-, de las prcticas existente, de
las lneas de descendencia y discontinuidades, de las lneas de conexin a conflictos histricos y de
las estrategias de control, de una manera considerada similar a la seguida por Foucault.
Las especificaciones del anlisis del discurso genealgico de Foucault seguido fueron
plasmadas en su artculo publicado en 1971 titulado "Nietzsche, la genealoga, la historia" (Foucault,
2000), en el que Foucault repasaba la obra del filsofo alemn Nietzsche y se distinguan tres tipos de
historia: Una historia monumental en la que se crean lneas de continuidad entre los monumentos,
entre las grandiosidades de la historia, la cual no sera propio del anlisis del discurso; una historia
anticuaria en la que se momifican y glorifican las grandiosidades del pasado, la cual tampoco es
propia del anlisis del discurso de Foucault; por ltimo, una historia crtica que, tal como indicaba
Nietzsche, est al servicio de la vida y no de la muerte, la cual s correspondera con el anlisis
genealgico de Foucault. Por lo tanto, en el anlisis genealgico el elemento diferenciante es la
continuidad/discontinuidad de enunciados, estudindose cmo las formaciones discursivas son
formadas y transformadas en diferentes momentos de la historia por discursos y estrategias de
control respecto a unas relaciones de similitud y disimilitud. Una descripcin ms detallada de los
problemas y caractersticas del anlisis del discurso de Foucault como mtodo de trabajo seguido, y
centrndose en el rea de la Organizacin del Conocimiento en el que se enmarca el trabajo, ha sido
descrita en Martnez-vila (2012).
Aplicando estos tipos de historia a la investigacin, obtenemos que en la presente
investigacin no se pretende hacer una seleccin de los hitos de la historia de las clasificaciones
alternativas, nicamente plasmando aquellos momentos considerados relevantes para la
grandiosidad de la historia y mostrando una continuidad y evolucin natural entre ellas que omite
las abruptidades, lo cual sera propio de la historia monumental. Tampoco se pretende hacer una
glorificacin de las alternativas pasadas y los sistemas establecidos, comparando, glorificando y
momificando las clasificaciones alternativas del pasado o las clasificaciones bibliotecarias
tradicionales a la vez que se rechaza cualquier alternativa nueva, lo cual sera propio de la historia
anticuaria. Con el anlisis del discurso genealgico se pretende analizar el efecto de los discursos y
estrategias de control sobre los conceptos y revelar como artificial las exclusiones y las relaciones de
desigualdad existentes en estos.

414
8 Descripcin de las principales fuentes consultadas

En el anlisis del discurso de Foucault, se indica, prima la exhaustividad de la consulta de
fuentes sobre la seleccin a priori. Foucault deca que en la elaboracin del archivo haba que leer
todo y estudiar todo, lo que para Andersen (2003) tiene unas consecuencias que afectaran a la
investigacin:
Primero, no se pueden limitar las lecturas a un tema especfico, ya que no se pueden limitar
las formaciones discursivas a priori, ciertos temas pueden estar relacionados con otros de maneras
impredecibles, y por lo tanto deben seguirse todas las referencias y las referencias de las referencias
en el espacio y el tiempo; segundo, no es suficiente con leer las obras cannicas apuntadas por la
historia de las ideas, se hace crucial tambin la lectura de los enunciados de las instituciones, los
enunciados que demuestran prctica; tercero, no se debe hacer una distincin preconcebida entre
fuentes oficiales y fuentes ms privadas e individuales, como si estas ltimas existieran fuera del
discurso.
Por consiguiente, estas implicaciones inciden en la investigacin en tanto se debe tratar de
consultar de forma exhaustiva todas las fuentes existentes sobre el tema de investigacin y sus
referencias, sin hacer distinciones entre fuentes acadmicas y fuentes profesionales, ni entre
fuentes oficiales y fuentes privadas. Esto incluye no solo artculos de revistas cientficas, actas de
congresos y monografas sino tambin revistas profesionales, monografas y publicaciones de
congresos profesionales, prensa generalista, pginas web, catlogos de bibliotecas, presentaciones
comerciales, webcasts, comentarios en listas de distribucin, blogs y foros, y todo tipo de enunciados
que pudieran ser considerado de inters para el estudio de la genealoga.
Por otra parte, y a pesar de la pretensin de exhaustividad sin distinciones que se desprende
del mtodo de Foucault, para cada parte de la investigacin existirn unas fuentes que podran
considerarse principales:
Respecto a las clasificaciones alternativas, la mayor parte de la informacin sobre los
proyectos de clasificaciones alternativas realizados en el pasado corresponde con publicaciones en
revistas profesionales. Algunas de las principales revistas profesionales que han servido como
vehculo para la publicacin de artculos sobre clasificaciones alternativas desde la implantacin en
la Detroit Public Library son "The Unabashed Librarian", "Library Association Record" y "Public Library
Journal". Por otra parte, y aunque algunos de los artculos publicados en estas revistas profesionales
se encuentran en la actualidad indizados en bases de datos como "Library Literature and Information
Science Full Text" (Wilson) y "Library, Information Science & Technology Abstracts" (EBSCO), no todas las
fuentes profesionales consideradas de inters para la investigacin estn recogidas en estas bases de
datos acadmicas, y, por lo tanto, muchas otras fuentes tienen que ser recuperadas a travs de las
referencias y las referencias de las referencias de los artculos indizados, tal como indicaba Foucault.
Para el estudio y seguimiento en la actualidad de los casos de clasificaciones alternativas que
fueron publicados siguiendo la tradicin del proyecto de la Detroit Public Library, las principales
fuentes de informacin a consultar son aquellas pginas web y catlogos de las bibliotecas que hayan
podido continuar o discontinuar sus discursos a travs de sus recursos electrnicos.
Finalmente, los principales trabajos y revisiones que han intentado sistematizar el concepto
de clasificaciones alternativas anteriormente incluyen la monografa de Patricia Ainley y Barry
Totterdell titulada "Alternative Arrangement: New Approaches to Public Libraries Stock" (Ainley &
Totterdell, 1982), publicada por la Association of Assistant Librarians de Londres, y que incluye
captulos escritos por los principales autores de clasificaciones alternativas implementadas en el
Reino Unido hasta entonces; y una breve revisin del concepto de Denise Harris titulada "User-
oriented Arrangement of Library Stock" (Harris, 1985), publicado en la revista "Cape Librarian"; y el
artculo de 1995 titulado "Reader-interest Classification: the User-friendly Schemes" (Sapiie, 1995),
publicado por Jacquelyn Sapiie en la revista "Cataloging & Classification Quarterly", y que se trata del
trabajo ms reciente (exceptuando los resultados del presente proyecto) que ha tratado de forma
exclusiva el tema de las clasificaciones alternativas en su concepcin tradicional hasta el da de hoy.

415
Para el anlisis de crticas desde una perspectiva socio-cultural a la Clasificacin Decimal de
Dewey y a otros vocabularios controlados bibliotecarios, algunos investigaciones pioneras que
existen al respecto son los estudios de A.C. Foskett sobre sistemas de clasificacin, titulados
"Misogynists All: a Study in Critical Classification" (Foskett, 1970) y "Better Dead Than Read: Further Studies
in Critical Classification" (Foskett, 1984) y publicados ambos en la revista "Library Resources & Technical
Services", y el trabajo de Sanford Berman sobre la Lista de Encabezamientos de la Biblioteca del
Congreso (Berman, 1971). Como continuacin a esta lnea, posteriormente han sido publicados
diversos trabajos que han ahondado y actualizado algunas de las cuestiones introducidas por ellos.
Destacan las revistas especializadas en Organizacin del Conocimiento como "Knowledge
Organization" y "Cataloging & Classification Quarterly", y otras revistas ms generales sobre
Biblioteconoma y Documentacin como "Technical Services Quarterly", "Library Trends" y "Library
Resources & Technical Services". Hope Olson, es una de las investigadoras que ms ha publicado sobre
el tema en estas revistas, siendo tambin la autora de una de las monografas de referencia, titulada
"The Power to Name: Locating the Limits of Subject Representation in Libraries" (Olson, 2002).
Sobre los estudios especficos de representacin del colectivo LGBT en sistemas de
organizacin del conocimiento, los principales trabajos que existen son el captulo de Ellen
Greenblatt del libro "Gay and Lesbian Library Service", titulado "Homosexuality: the Evolution of a Concept
in the Library of Congress Subject Headings" (Greenblatt, 1990), y los artculos de Grant Campbell (2000)
y Ben Christensen (2008) publicados en la revista "Knowledge Organization". Respecto al problema de
representacin de interseccionalidades de grupos minoritarios y de forma especfica las
investigaciones sobre el colectivo LGBT, destaca el trabajo de tatiana de la tierra "Latina Lesbian
Subject Headings: the Power of Naming" (de la tierra, 2008), publicado en la obra "Radical Cataloging:
Essays at the Front" de K.R. Roberto.
Por otra parte, las fuentes ms directas que permitirn una crtica y estudio, tanto desde un
punto de vista socio-cultural como tcnico, de la Clasificacin Decimal de Dewey son las propias
tablas y contenidos de la clasificacin, incluyendo las introducciones de las mismas, las cuales
fueron redactadas por el propio Dewey hasta la edicin decimotercera, y las pginas web de OCLC en
las que se exponen las principales polticas y recursos de informacin sobre el sistema.
Sobre el sistema de clasificacin BISAC, las principales fuentes de informacin son los recursos
publicados en las pginas web del BISG, que incluyen manuales, tablas y actualizaciones de BISAC,
informes, actas y presentaciones de encuentros como el "BISG Annual Report" y las conferencias
"Making Information Pay" y "Annual Members Meeting", y webcasts de presentacin de las nuevas
versiones de BISAC -organizados de forma conjunta con OCLC en sus ltimas versiones (Bole,
Harbison & Register, 2009; Bole & Harbison, 2010).
Con referencia a los proyectos de implementacin de BISAC en bibliotecas pblicas, las
principales fuentes de informacin incluyen: revistas y pginas web profesionales, como "Library
Journal", "Public Libraries", "ALA TechSource blog", "Journal of the Library Administration and Management
Section", "Illinois Library Association", "Texas Library Journal", "Library Media Connection", "American
Libraries", "School Library Journal" o "Illinois Libraries"; artculos de prensa tanto nacional (de Estados
Unidos), por ejemplo "The Wall Street Journal" y "The New York Times", como local de los lugares donde
se implementan los proyectos, por ejemplo "The Arizona Republic" y "The Denver Post"; catlogos y
pginas web de las bibliotecas que han implementado BISAC; blogs y otras pginas creadas por estas
bibliotecas para la difusin de los proyectos, por ejemplo "deweyfree.com" de la Frankfort Public
Library District en Illinois y "henrylibrary.org/deweyfree/" de la Henry County Library en
Kentucky; presentaciones en congresos y conferencias profesionales, como los de la "Public Library
Association", "ALA Meeting", "Association for Rural & Small Libraries", "Illinois Library Association Annual
Conference", "Wisconsin Library Association Annual Conference", "Central Wisconsin Library Conference" y
"Massachusetts Library Association Conference"; y, por ltimo, otros recursos relacionados con las
instituciones implicadas en los procesos globales de implementacin y desarrollo de BISAC en las
bibliotecas, como por ejemplo las pginas web de EDItEUR, el BIC britnico, o DILVE en el caso de
Espaa.

416
Todas estas fuentes, acadmicas y profesionales, oficiales y privadas, conformarn el archivo
de la investigacin, el cual permitir, a travs del anlisis de los discursos y las formaciones
discursivas de sus materiales, la determinacin de las continuidades y discontinuidades en funcin
de la dispersin de los mismos.

9 Justificacin y propuesta terminolgica en espaol sobre clasificaciones
alternativas

Uno de los principales problemas encontrados, tanto en el proceso de consulta y recopilacin
de las fuentes como en las labores de desarrollo de resultados, es la inexistencia de publicaciones y
terminologa en espaol sobre el tema de investigacin. Mientras que la terminologa del concepto
en ingls ha sufrido transformaciones a lo largo de la historia, tal como se ha mencionado
anteriormente, un estudio de su conformacin y uso ha determinado el trmino 'reader-interest
classification' como uno de los mximos representativos del concepto en la lengua inglesa (Martnez-
vila & San Segundo, 2013). Sin embargo, el trmino 'reader-interest classification', ni en su defecto
cualquier otra denominacin del concepto o cuasi-sinnimos utilizado en la bibliografa
anglosajona, han sido traducidos y utilizados de forma aceptada en referencia a estos casos en
espaol.
Una de fuentes terminolgicas ms autorizadas y de mayor aceptacin en el campo de la
Organizacin del Conocimiento para el espaol es el "Diccionario de Organizacin y Representacin del
Conocimiento" de Mario Barit (2000; 2008). Sin embargo, y a pesar de su completa naturaleza, no
parece contener una traduccin directa del trmino 'reader-interest classification' ni de ninguno de sus
principales trminos relacionados (con la excepcin quizs de 'categora', el cual, adems de ser un
trmino muy general, se presenta tambin en un sentido diferente al que es usualmente utilizado en
el contexto de las 'reader-interest classifications').
El trmino ms aproximado a 'reader-interest classification' en la obra de Barit sera
'Clasificacin alternativa' (traducido de 'Alternative classification'), el cual, aunque no est presente en
la nueva versin del 2008, en la versin del 2000 deca lo siguiente: "En las clasificaciones facetadas,
orden de precedencia de las caractersticas no preceptivo, que otorga al clasificador la libertad de
modificarlo o trastocarlo de acuerdo con las necesidades de organizacin del conocimiento en su
servicio."
Segn esta definicin, una clasificacin alternativa sera una clasificacin facetada que
permite al clasificador elegir, entre distintas posibilidades, el orden de las facetas ms adecuado
segn las necesidades de organizacin del conocimiento del clasificador. Esta definicin, sin
embargo, difiere de las 'reader-interest classifications' en al menos dos puntos: primero, una 'reader-
interest classification' no es necesariamente una clasificacin facetada ya que el orden de las facetas es
alterado a priori por el clasificacionista y no por el clasificador; y segundo, en una 'reader-interest
classification' la eleccin del orden de las facetas debe satisfacer las necesidades del usuario, y no las
del clasificador en organizacin del conocimiento, siendo aqu uno de los principales nfasis en la
construccin de las 'reader-interest classifications' la satisfaccin de las necesidades del usuario como
principal foco de importancia, en contraposicin a las necesidades del clasificacionista o del
clasificador. Las clasificaciones alternativas, segn esta definicin, se centraran en el "bibliotecario"
(el clasificador) y no en el lector/usuario/cliente, no siendo por lo tanto estrictamente lo mismo que
las 'reader-interest classifications'.
Por otra parte, e incluso antes de presentar la definicin, el trmino 'Clasificacin alternativa'
muestra una referencia 'vase' que dirige a 'Localizacin alternativa' ('Alternative location'). sta, a su
vez, contiene en su definicin una referencia a 'Dispersin' ('Dispersion'), la cual contiene tambin
una referencia a 'Relacionado disperso' ('Distributed relative'). Debido a que el concepto de los
relacionados dispersos es una de las claves y razones de ser de las 'reader-interest classifications', se
considera por lo tanto que existe alguna relacin entre ambos trminos. Todos estos trminos, sin

417
embargo, tambin se encuentran omitidos en la edicin del 2008 disponible actualmente en lnea de
la obra de Barit.
Aunque, segn el "Diccionario de Organizacin y Representacin del Conocimiento", el trmino
clasificacin alternativa no es -estrictamente hablando- un equivalente de 'reader-interest
classification', denota, sin embargo, aspectos muy similares a los expresados en los discursos sobre
'reader-interest classifications', como la variacin del orden de las facteras para satisfacer otras
necesidades y el estatus de alternativa a "algo" (que es usualmente Dewey). Adems, este trmino
sera una aproximacin literal en espaol a uno de los cuasi-sinnimos de 'reader-interest
classifications' ms aceptados en la bibliografa (y que tampoco est incluido en ninguna edicin del
glosario de Barit): 'alternative arrangement' (Ainley & Totterdell, 1982).
Por ltimo, el trmino clasificacin alternativa expresa dos de los principales aspectos de las
'reader-interest classifications': la "caracterstica" (denotacin) de ser una clasificacin, y, como se ha
sealado anteriormente, el estatus de alternativa a una clasificacin anterior (como la Clasificacin
Decimal de Dewey) que es adoptada por bibliotecas. En conjunto, el trmino clasificacin alternativa
supone una buena opcin para expresar el trmino 'reader-interest classification' en espaol, un
concepto previamente no expresado en este lenguaje.
Respecto a algunos de los trminos que normalmente aparecen asociados al concepto en la
bibliografa, como por ejemplo 'purposive reader' y 'non-purposive reader' (ver Martnez-vila & San
Segundo, 2013), tampoco ellos o ninguno de sus equivalentes han sido encontrados en el Diccionario
de Barit.
En espaol, estos trminos podran ser traducidos como 'lector intencionado' (en el caso de
'purposive reader') y 'lector casual' (en el caso de 'non-purposive reader'). Mientras que el primero sera
una traduccin literal de 'purposive reader', denotando que el lector sabe qu y cmo acceder a los
materiales, el segundo no sera una traduccin literal sino que enfatizara la frecuencia del uso de la
biblioteca por el lector. La razn para esta eleccin estriba en que una traduccin literal de 'non-
purposive reader' al espaol podra llevar a confusin, ya que un lector no-intencionado podra dar a
entender que el trmino est siendo definido segn su intencin de acceso a los materiales y no por
el modo en el que acceden a estos, siendo este ltimo aspecto el de mayor importancia en la
distincin de 'purposive readers' y 'non-purposive readers' segn la bibliografa.

Conclusiones preliminares

Tras el planteamiento y propuesta terminolgica en espaol, algunas de los conclusiones
preliminares de la investigacin, que se esperan desarrollar en mayor profundidad y difundir en
diferentes etapas del proyecto, estn basadas en los siguientes resultados: Se ha realizado un anlisis
de toda la bibliografa recopilada sobre clasificaciones alternativas, determinndose las
transformaciones del concepto y las variaciones en su terminologa segn los estrategias de control
ejercidas por los diferentes organismos y discursos. Se han analizado y comparado los discursos y
casos publicados en la bibliografa sobre clasificaciones alternativas en el periodo 1952-1995 y la
bibliografa reflejando los actuales casos de implementacin de BISAC. En este sentido, algunas de
las conclusiones obtenidas indican que existen indicios fundamentados para considerar los
problemas que llevaron a la terminacin de clasificaciones alternativas en los actuales casos de
BISAC, y, que a su vez, los nuevos casos de implementacin de clasificaciones alternativas en
bibliotecas pblicas presentan nuevos problemas que no suponen una mejora a los detectados en
otras clasificaciones tradicionales como la Clasificacin Decimal de Dewey respecto a la
representacin de grupos minoritarios como el colectivo LGBT. Una consideracin de estos
problemas en el desarrollo de tanto las clasificaciones alternativas como de aquellos sistemas
tradicionales a los que sustituyen supondra una considerable mejora prctica para el uso y
recuperacin de informacin por parte de las minoras de usuarios, incluidos en el homogneo
grupo de usuarios al que este tipo de clasificaciones dan servicio y satisfaciendo sus necesidades, tal
como se indica en algunos de sus discursos, como principal objeto.

418
Agradecimientos
La investigacin subyacente a este trabajo se ha financiado en parte con fondos del proyecto
FEM2009-07194 del Ministerio de Ciencia e Innovacin.

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421
SISTEMATIZAO DE CONTEDOS EM ORGANIZAO E REPRESENTAO DO CONHECIMENTO
Um estudo nos peridicos de Cincia da Informao no Brasil

GRACY KELLI MARTINS
Universidade Estadual Paulista "Jlio de Mesquita Filho
[email protected]

JOO BATISTA ERNESTO DE MORAES
Universidade Estadual Paulista "Jlio de Mesquita Filho
[email protected]

Resumo A literatura cientfica da Cincia da Informao CI no Brasil tem apresentado crescentes
discusses a cerca da interdisciplinaridade conceitual da rea, especificamente no que tange a utilizao de
termos como organizao do conhecimento e representao do conhecimento. Os estudos de Guimares
(2002) sobre a sistematizao de contedos em organizao e representao do conhecimento ORC
apontam que a base terica desta subrea desenvolveu-se a partir da abordagem de trs aspectos que lhes so
inerentes: os processos, os produtos e os instrumentos. O objetivo deste estudo visa a compreenso na
utilizao e aplicao do termo representao do conhecimento RC como se configura na CI, propondo-se a
investigar junto literatura cientfica a evoluo das pesquisas sobre RC e sua base terica, nas quatro ltimas
dcadas, perodo de publicaes cientficas especializadas no pas. O recorte, de carter analtico-descritivo, se
deu, em um primeiro momento, pela recuperao do termo representao do conhecimento em cada um dos
peridicos online selecionados, contemplando a busca por ttulo, resumo e termos indexados. A partir destas
buscas realizou-se uma avaliao no texto completo dos artigos, para identificao de seus escopos
conceituais. Durante a pesquisa, observando o nmero de artigos recuperados, optou-se tambm pela busca
atravs do termo representao da informao, como contraponto e comparativo do material analisado. 08
(oito) peridicos online foram selecionados, que abrangem os anos de 1972 a 2012 e esto ativos h mais de 15
anos. Constata-se que h uma ambiguidade na utilizao dos termos representao da informao e
representao do conhecimento e que a rea da CI necessitaria, neste percurso evolutivo das pesquisas no
mbito da ORC, reconduzir a formao e padronizao conceitual para fortalecer o ncleo da CI e a visibilidade
de pesquisas em mbito nacional e internacional.

Palavras-chave Organizao do conhecimento. Publicaes peridicas Brasil. Representao do
conhecimento.

Abstract The scientific literature of Information Science in Brazil has presented increasing discussions about
conceptual interdisciplinarity in the area, specifically about the use of terms such as knowledge
organization and knowledge representation. The studies of Guimares (2002) about the content
systematization about knowledge organization and representation KOR show that the theoretical
foundations of this subarea developed upon the approach of three inherent aspects: the processes, the
products and the instruments. The objective of this study is to understand the use and application of the term
knowledge representation KR, as it is presented in the IS, proposing to investigate with the scientific
literature the evolution of both KR research and its theoretical foundations in the last four decades, period of
specialized scientific publications in the country. The clipping, of analytical-descriptive nature, was made, at
first, by the retrieval of the term knowledge representation in every selected online journal, contemplating
the search by title, abstract and indexed terms. From these searches it was conducted an assessment in the
papers full text, to identify its conceptual scopes. During the research, observing the number of papers
retrieved, it was decided to also include the search by the term information representation, as a
counterpoint and comparative of the analyzed material. 8 (eight) online journals were selected, that cover the
years from 1972 to 2012 and are active for more than 15 years. It was noticed that there is an ambiguity on the
use of the terms information representation and knowledge representation, and that the IS area needs, in this
evolutionary path of research within the KOR, reconduct the formation and standardization of concepts to
strengthen both the IS core and visibility of research at national and international scope.

422
Keywords Knowledge organization. Periodicals Publications - Brazil. Knowledge representation.

Introduo

O processo de construo da Cincia da Informao (CI), justifica sua fragmentao na
caracterstica da interdisciplinaridade onde, com base nessa premissa constituiu-se atravs de
recortes, teorias, prticas e vocbulos oriundos de outras reas. No que isso seja um problema, mas
o imbricamento de conhecimentos tambm originou a interdisciplinaridade no uso de seus termos e
de acordo com Lara (2011, p.92) As condies de visibilidade da Cincia dependem de seu
vocabulrio. Nesse nterim, a literatura mantm consenso quanto ao processo de construo da CI e
sua fragilidade dada sua interdisciplinaridade conceitual j que a rea passou por sistematizaes e
rearranjos, as mudanas "paradigmticas" e, principalmente, reformulaes conceituais (KOBASHI;
SMIT; TLAMO, 2001, p.01).
O uso dos termos e conceitos prprios da rea, assim como a adoo legitimada do termo
informao, no tem importncia apenas no seu significado, mas, como coloca Capurro e Hjrland
(2007), na relao com outros termos bsicos. Implicao percebida claramente quando buscamos
tratar do conceito de organizao do conhecimento OC. Ou ser, organizao da Informao? Neste
processo, representa-se a informao ou o conhecimento? A organizao da informao pressupe a
representao da informao e a organizao do conhecimento, a representao do conhecimento?
Tais inquietaes encontram respaldo nas colocaes dos autores acima citados, quando os mesmos
definem que o significado dos termos deve ser considerado na estrutura das teorias a que se supe
que sirvam (CAPURRO; HJRLAND, 2007, p. 152).
A ambiguidade e as diferenas ora observadas na literatura nos remetem s dvidas e busca
por pesquisas que consigam dirimir tais questionamentos e a dubiedade na definio de conceitos
to importantes e constantemente adotados no ncleo da CI. Tais conceitos j foram discutidos na
literatura recente, mas no h, na produo maior, e no uso desses conceitos, uma padronizao.

[...] debate-se sobre o objeto dessa cincia, sobre a pertinncia de
classific-la desse modo, ou desloca-se a questo a partir da identificao
do campo como interdisciplinar, o que no resolve o problema. H
profuso de expresses que so aproximadas na prtica, mas h tambm
conceitos emprestados de outras disciplinas sem efetivo sinal de
apropriao. Essa situao tambm caracteriza o subcampo da Organizao
e Representao do Conhecimento, acarretando dificuldades para o
entendimento dos conceitos ou para estabelecer uma harmonizao entre
eles (LARA, 2011, p. 92).

Parlemiti e Polity (2002, apud ELEIL, 2008) expem que cada rea deve estabelecer a sua
institucionalizao cognitiva e social; a institucionalizao cognitiva responde pelos conhecimentos
produzidos em uma dada rea do conhecimento, sendo estes conceitos consensuais, problemas
abordados, mtodos, instrumentos de investigao, metodologias, entre outros; e a
institucionalizao social est ligada criao de estruturas formais que do visibilidade e que
estabelecem as bases sociais para os membros da comunidade cientfica (PARLEMITI E POLITY, 2002
apud ELEIL, 2008, p. 208).
Lara (2008, p.93) corrobora afirmando que a legitimidade dos termos e conceitos assegurada
pelos discursos que propem reflexes de natureza terica a partir de generalizaes oriundas da
prtica e [...] pela sua validao por parte da comunidade cientfica que constitui a rea de
especialidade em causa. Assim, a padronizao conceitual se faz necessria para a legitimao dos
estudos e principalmente para atender a uma precisa recuperao da informao, tendo em vista

423
que o no consenso resulta na disperso do conjunto cientfico, mesmo este se encontrando reunido
em um nico veculo de comunicao. Essa disperso se acentua considerando o volume crescente
das publicaes e o gasto de tempo na localizao dos materiais.
A Associao Nacional de Pesquisa e Ps-Graduao em Cincia da Informao ANCIB,
coordena grupos de trabalhos temticos acerca da CI. Entre seus atuais 11 grupos, o GT2 aborda
temas relacionados Organizao e Representao do Conhecimento ORC. Anualmente a ANCIB
realiza o Encontro Nacional de Pesquisa e Ps-Graduao em Cincia da Informao ENANCIB, no
qual recebe e proporciona a divulgao de trabalhos da CI. Especificamente o GT2 tem como objetivo
contribuir com pesquisas dessa temtica desenvolvidas no Brasil, seus fundamentos tericos e
metodolgicos, o desenvolvimento histrico cientfico e a participao de sua comunidade cientfica
(FUJITA, 2008).
O acordo sobre a utilizao e padronizao da terminologia em ORC, no Brasil, expresso nas
mudanas terminolgicas que o prprio GT sofreu. De 1994 a 2003, o grupo era nominado pela
justaposio de expresses como Representao do Conhecimento/Indexao/Teoria da
Classificao, em 2005 passa a denominar-se Organizao do Conhecimento e Representao da
Informao, e ento em 2006 adota o termo Organizao e Representao do Conhecimento
(LARA, 2011, p. 94), que utiliza, confirmadamente, at o ano de 2012.
As alteraes realizadas na nomenclatura do GT tambm tm reflexos, segundo Lara (2011), a
partir dos trabalhos da International Society for Knowledge Organization ISKO, que em 2007 comeou a
promover o captulo brasileiro de seus eventos. Mesmo diante desse consenso dentro de eventos
especializados, ainda perceptvel uma dissonncia na terminologia da ORC, principalmente em
publicaes peridicas.

A literatura brasileira usa simultaneamente os termos Organizao da
Informao e Organizao do Conhecimento: ora esses termos aparecem
associados, ora so utilizados para falar de coisas distintas. Tambm
frequente a utilizao do termo Representao, muitas vezes com um
sentido prximo ou sinnimo de Organizao da Informao (LARA, 2011,
p. 94).

Neste contexto, de compreenso na utilizao e aplicao do termo representao do
conhecimento RC, como se configura na CI, o presente estudo se prope a investigar junto
literatura cientfica tomando como objeto especfico os artigos de peridicos da CI no Brasil a
evoluo das pesquisas sobre RC, considerando os tericos e suas teorias, aplicadas ao longo das
quatro ltimas dcadas, perodo de publicaes cientficas especializadas no pas. Para tanto, foram
selecionados os artigos que possuam estruturas tericas que contemplassem a temtica
representao do conhecimento.
De carter analtico-descritivo, o recorte se deu em um primeiro momento, em uma busca
pelo termo representao do conhecimento em cada um dos oito peridicos eletrnicos
selecionados, contemplando a recuperao por ttulos, resumos, termos indexados e, a partir destes,
realizando uma avaliao no texto completo dos artigos. Durante a pesquisa, observando o nmero
de artigos recuperados, optou-se tambm pela busca atravs do termo representao da
informao, como contraponto e comparativo do material recuperado. A seleo no universo das
publicaes cientficas em CI deu-se por aquelas que se encontram disponveis em peridicos online,
ativas h mais de 15 anos. A partir deste levantamento foram selecionados 08 (oito) peridicos, que
compreendem os anos de 1972 a 2012.

424
1 Representao da informao ou representao do conhecimento?

A representao um processo antigo e intrnseco na vivncia humana. As pinturas rupestres,
o alfabeto e a prpria atividade matemtica so provas fatuais da necessidade de externalizar,
compartilhar, compreender e organizar os fenmenos e assim promover o processo comunicacional
necessrio para manuteno harmoniosa de um sistema. Sob a tica da filosofia, a representao
constituda por conceitos atemporais que sustentam a realidade concreta, proporcionando-lhe
forma e significado, sendo uma operao em que a mente projeta uma imagem, ideia ou conceito,
que corresponde a um objeto exterior (TARNAS, 2011, p. 18). A funo de representao
exatamente a de tornar presente conscincia a realidade externa, tornando-a um objeto da
conscincia, e estabelecendo a relao entre a conscincia com real (JAPIASS; MARCONDES, 2006,
p. 239).
As formas de representao, na inteno de externar conhecimento, no apresentam datas
precisas, mas remontando pr-histria, Leroi-Gourhan (1983) aponta estudos onde o homem
realizava registros atravs de signos procurando estabelecer uma ligao com outras geraes. De
acordo com Caixeta e Souza (2008, p. 35), a representao um processo to antigo quanto o
surgimento das civilizaes e tem sua forma mais explcita na escrita. Talvez um dos trabalhos mais
angulares de significados da nossa civilizao tenha sido a representao dos seres, das coisas, idias
e fenmenos pelo alfabeto (CAIXETA; SOUZA, 2008, p. 35).
Aristteles foi um dos primeiros filsofos, e o mais marcante da histria, que se preocupou em
classificar e representar o conhecimento, criando atravs do sistema aristotlico, a categorizao de
todas as coisas, a metafsica, denominada por ele como Filosofia Primeira (LIMA-MARQUES, 2006, p.
18). Durante os sculos seguintes muitos de seus discpulos e outros estudiosos foram desenvolvendo
as chamadas escolas do saber e propondo formas diferenciadas para os sistemas de representao do
conhecimento. No sculo XVII filsofos famosos como Bacon
1
, Descartes
2
, Locke
3
e Leibniz
4
,
aplicaram essas representaes atravs de esquemas grficos chamados de sistemas, onde eram
representadas tanto as disciplinas especficas, das reas de conhecimento, quanto o conhecimento
como um todo (LIMA, 2004, p. 28).
A CI uma rea direcionada para os estudos referentes produo, disseminao e uso da
informao, utilizando-se de estudos a partir de desdobramentos gerenciais, tecnolgicos e
cognitivos. De acordo com Novellino (1996, p. 37), a CI est voltada para a ao comunicativa entre o
texto e o leitor, e cria condies, para que essa ao acontea de forma efetiva. Diante do exposto,
possvel identificar e esclarecer que a CI, sob o ponto de vista da representao, tem sua concretude
mediante aos processos e sistemas de organizao do conhecimento.
A representao na CI tem seu desdobramento atravs das subreas de representao
descritiva e representao temtica. No que diz respeito ao seu tratamento temtico, muitos
sistemas de organizao do conhecimento foram estudados e aplicados e se delinearam em trs
correntes tericas: catalogao de assuntos, indexao e anlise documental (GUIMARES, 2008).
Neste contexto, a construo terica da CI desenvolveu-se a partir da abordagem de trs facetas, que
de acordo com Guimares (2008, p.84) lhes so inerentes: os processos, os produtos e
instrumentos.
Para melhor compreenso, os estudos de Guimares (2008) foram estruturados a partir da
sistematizao de contedos em organizao e representao do conhecimento e tal estrutura se

1
Francis Bacon desenvolveu uma repartio baseada em trs fontes do conhecimento humano: Memria (Histria),
Imaginao (Poesia) e Razo (Filosofia) (LIMA, 2004, p. 53).
2
Descartes, em seu sistema de representao, inverteu a ordem do conhecimento que ia do ser para o conhecer ou das
coisas (sensaes e percepes) para o pensamento (MORAES, ARCELLO, 2000, p. 5).
3
Para Locke tanto as palavras, que eram representaes das ideias, quanto s prprias ideias eram instrumentos essenciais
do conhecimento (MORAES, ARCELLO, 2000, p. 5).
4
Leibniz produziu Um Plano para organizar uma Biblioteca, onde o conhecimento era dividido em nove partes: Teologia,
Direito e Medicina, acrescidas de Filosofia, Matemtica, Fsica, Filologia, Histria e assuntos diversos (LIMA, 2004, p. 48).

425
apresenta da seguinte forma: a) processos: compreendem a anlise
5
, a condensao
6
e a representao
7
;
b) produtos: a transformao dos documentos em produtos que facilitam a consulta aos originais,
em reas especializadas do conhecimento, como os ndices, catlogos impressos e catlogos de
acesso pblico online OPACs, e; c) instrumentos: ferramentas de linguagem documental para a
representao padronizada do contedo temtico de documentos, fazendo uso acentuado das
tecnologias de informao e comunicao, tais como classificaes, listas de assuntos, tesauros,
terminologias e ontologias (GUIMARRES, MORAES, GUARIDO, 2008, p. 5).
imprescindvel o esclarecimento que, prprio de suas naturezas, tanto os termos
representao, como conhecimento e informao possuem amplitude semntica e sua concepo
conceitual permite variaes de acordo com a rea em que so empregados. A padronizao
conceitual de termos duplos como representao da informao e representao do conhecimento
possuem discusses especficas na CI, rea de interesse desta investigao. Qualquer que seja o
processo de representao, este, antes de qualquer definio, carrega intrnseco a principal
caracterstica de ser um processo cultural, tendo em vista que todo processo de representao
ocorre dentro de um sistema de comunicao, dado a partir da externalizao de ideias,
compreenso e apreenso dentro de determinado contexto. Pensam-se aqui nas comunidades
cientficas, seus paradigmas, seus processos metdicos e o exponencial progresso que acompanha as
cincias e produz uma diversidade de representaes sociais prprias (MARTINS, MORAES, 2012,
p.179).
Brscher e Caf (2008) realizaram um estudo mais pontual em torno das definies de
Organizao da Informao, Organizao do Conhecimento, Representao da Informao e
Representao do Conhecimento. As autoras conduzem uma proposta conceitual no qual esclarecem
que a organizao da informao se aplica s ocorrncias individuais dos objetos informacionais,
onde h uma individualizao de determinado item entre o vasto nmero dos que formam o
conjunto de objetos informacionais, possibilitando que esse item seja recuperado quando
necessrio (SHERA; EGAN, 1961 apud BRSCHER; CAF, 2008, p. 7). A organizao da informao
dessa forma, o processo de descrio fsica e de contedo dos objetos informacionais, e o produto
desse processo descritivo a representao da informao, entendida como um conjunto de
elementos descritivos que representam os atributos de um objeto informacional especfico, de
acordo com Brscher e Caf (2008, p. 5). Entende-se aqui que, mediante organizao dos objetos
informacionais, a representao da informao visa particularizar um dado objeto do seu universo
maior.
A organizao e representao da informao situam-se no mundo dos objetivos fsicos,
enquanto a organizao e representao do conhecimento estabelece sua atuao no mundo da
cognio ou das ideias, no qual cognio o conhecimento e no a informao. As referidas autoras
pontuam que a organizao do conhecimento delineada como um processo de modelagem
conceitual que representa o conhecimento atravs de diferentes tipos de sistemas de organizao do
conhecimento. Esses sistemas centram-se na representao de determinado domnio por meio da
sistematizao dos conceitos e as relaes semnticas estabelecidas em sua modelagem. Mesmo
inter-relacionados, a organizao da informao e a organizao do conhecimento so processos
distintos, mas que compartilham aspectos tericos e metodolgicos comuns (BRSCHER; CAF, 2008,
p. 8-9). Para Campos e Gomes (2003, p. 151) o conceito de organizao da informao se aplica s
bases referenciais, enquanto a organizao do conhecimento passa a incluir a possibilidade de
utilizao de mecanismos que manipulam textos integrais e multimdia, que so formas atuais de
representao do conhecimento.
Para Hjrland (2003), em seu sentido stricto, a OC tem base nas atividades de indexao,
descrio e classificao de documentos, realizados em bibliotecas, bases de dados bibliogrficas,
arquivos, entre outras formas de registro. No seu sentido amplo, a OC se estrutura a partir da diviso

5
Parte da leitura de documentos, buscando as partes de maior relevncia temtica, exigindo assim um conjunto de
estratgias metacognitivas;
6
Trabalha no sentido de reduo do documento por um termo de recuperao;
7
Traduz o contedo temtico do documento a uma linguagem especializada, fazendo uso da indexao por ndices,
vocabulrios controlados, tesauros, entre outros.

426
social do trabalho mental, ou seja, a organizao de universidades e outras instituies de pesquisa
e ensino superior, a estrutura de disciplinas e profisses, a organizao social dos meios de
comunicao, a produo e a difuso do conhecimento" (HJRLAND, 2003, p. 88). O autor divide,
neste contexto, a organizao do conhecimento em: organizao intelectual do conhecimento, e
organizao social do conhecimento, respectivamente. Mantendo esta discusso Hjrland (2003, p.
108), cita Anderson (2003, 471), esclarecendo que a CI

lida com a descrio e organizao dos artefatos (mensagens, textos,
documentos) pelo qual o conhecimento (incluindo sentimentos, emoes,
desejos) representado e compartilhado com os outros. Esses recursos de
organizao do conhecimento so muitas vezes chamados de recursos de
informao. Assim, a "organizao do conhecimento" no contexto da
biblioteconomia e cincia da informao uma forma abreviada
de "recursos de organizao conhecimento". Assim, frequentemente
chamado de "organizao da informao" [Grifos do autor. Traduo
nossa].

Para Pinho (2009), no h uma simples e formal declarao sobre a teoria da OC, e sim estudos
e aplicaes que buscam compreender suas limitaes e possibilidades de composio. Diante desse
cenrio, o autor expe que os termos representao da informao, representao do conhecimento
e representao documentria possuem significados similares, dentro do escopo da Biblioteconomia
e CI. Tendo em vista que a representao, no mbito destas reas visa promover o acesso ao
contedo dos documentos para uso e posterior gerao de novos conhecimentos (PINHO, 2009, p.
46). Para Guimares (2003) a representao parte do processo de anlise documentria, que
compreende uma srie de procedimentos fundamentais e interdependentes como a produo, a
organizao, a recuperao e a disseminao e uso da informao.
Para Barit (2001), o conhecimento uma conquista subjetiva, a cerca da informao que
uma realidade objetiva. O autor reconhece que o conhecimento socializado transformado em
informao, e que so utilizados instrumentos idneos, como tesauros e sistemas de classificao,
para representar a temtica dos documentos e oferecer a informao certa para a comunicao
entre os indivduos e gerao de novos conhecimentos. Compreendemos assim, a partir destas
leituras, que o conhecimento um processo de compreenso, assimilao e produo atravs da
incorporao de outros conhecimentos. Esta incorporao subjetiva se d atravs do acesso de
informaes, realidades objetivas, extradas das produes de conhecimento registrado e
disponibilizadas para novas produes. A organizao dada ao conhecimento, mas este
representado pelo tratamento temtico e extrao de informaes dos documentos. Logo,
consideramos na viso de Barit, que se organiza o conhecimento e representa-o atravs da
informao, quando do ponto de vista do tratamento temtico.
No intentamos aqui tomar como legtimo uma ou outra definio, mas pontuar as mltiplas
conceituaes e suas interpretaes no escopo da CI. O levantamento realizado nos peridicos
brasileiros apontou no s essa extenso, mas a ambiguidade adotada para assuntos que tratavam
ora da representao da informao, ora da representao do conhecimento. Este estudo evidencia a
disperso encontrada na literatura brasileira e seus dados apontam que no s os problemas de
padronizao parecem destacados, mas o reflexo direto percebido na recuperao de informaes
dentro do mesmo escopo e rea especializada.

A dificuldade em traar um quadro panormico dos estudos de
Organizao e Representao do Conhecimento decorre do estgio de seu
desenvolvimento: mesmo que existam diferentes vertentes tericas e,
consequentemente, diferentes formas de observar os problemas,
necessrio que seus termos e conceitos sejam explcitos e que

427
correspondam a sistemas de conceitos coerentes. A disperso
terminolgica (conceitual e denominativa) dificulta a comunicao e
compreenso do quadro de propostas existentes (LARA, 2011, p. 94).

Os dados apresentados na prxima seo explicitam tais consideraes e apontam,
numericamente, as dificuldades decorrentes atravs da disperso terminolgica da rea, em especial
sobre a representao da informao e do conhecimento.

2 Amostra e anlise

O crescimento expressivo da literatura cientfica, em especial as publicaes em peridicos
especializados, vem se configurado como principal fonte de informao cientfica, dado o seu
potencial de atualizao e imediatismo na apresentao de estudos e resultados. De acordo com o
Boletim FAPESP (2011), os Indicadores FAPESP de Cincia, Tecnologia e Inovao apontam que o
Brasil lidera a produo de artigos cientficos em relao aos principais pases da Amrica Latina. Os
nmeros de publicaes brasileiras, entre 2008 e 2010, alcanam a marca de 25% a mais que a soma
das produes do Mxico, Argentina, Colmbia e Venezuela (FAPESP, 2011).
No Brasil, alm da publicao de livros, realizao de eventos e produes tcnicas, os artigos
cientficos tem sido a forma mais contundente para auxlio de pesquisas, apresentaes de
resultados e apoio didtico no processo de ensino em nvel superior. Como veculo de comunicao
do conhecimento, o peridico cumpre funes de registro oficial pblico da informao mediante a
reconstituio de um sistema de editor-avaliador e de um arquivo pblico - fonte para o saber
cientfico (MIRANDA, PEREIRA, 1996, p. 376). Isso confirma a importncia na disseminao da
produo cientfica, j que este processo legitima os pilares de uma rea e estabelece o consenso
conceitual que firma suas teorias basilares.

Portanto, o maior ou menor desenvolvimento desse veculo de
comunicao dependem: - do estgio de desenvolvimento da rea cientfica
cujas idias eles veiculam; - de uma comunidade engajada na atividade de
pesquisa e da afluncia de artigos para publicao; - da existncia de
grupos e instituies que desempenham funes tpicas de edio,
avaliao, publicao, disseminao e recuperao; - da existncia de
mercado representado por uma comunidade de usurios que o legitimem; -
de infra-estrutura para distribuio, recuperao e acesso s informaes
(MIRANDA, PEREIRA, 1996, p. 376).

As publicaes peridicas brasileiras em Cincia da informao tm incio mediante a criao
dos cursos de ps-graduao, com data inicial na dcada de 70, onde os resultados da produo das
primeiras dissertaes de mestrado comeam a fomentar as publicaes na rea (ELIEL, 2008). De
acordos com os dados informados na pgina web da Base de Dados Referenciais de Artigos de
Peridicos em Cincia da Informao BRAPCI
8
, a rea de CI possui 37 peridicos nacionais
impressos e eletrnicos. Dos peridicos disponveis, 28 esto ativos e 9 foram descontinuados, mas
mantm disponveis suas publicaes (BAPCI, 2013).

Entre os anos de 1972, quando surgem os primeiros peridicos da rea, no Brasil, a saber:
Cincia da Informao
9
(vigente) e a Revista da Escola de Biblioteconomia da UFMG
10
(inativa) e o ano de

8
http://www.brapci.ufpr.br
9
http://revista.ibict.br
10
http://portaldeperiodicos.eci.ufmg.br/reb/

428
2011, com a publicao das jovens AtoZ: Novas Prticas em Informao
11
e Conhecimento e Perspectivas em
Gesto & Conhecimento
12
, salutar destacar que todas estas publicaes encontram-se disponveis e
com acesso livre, inclusive aquelas que j so consideradas histricas e esto com sua vigncia
inativa. Os peridicos de livre acesso so considerados mecanismos de apoio s pesquisas, alm de
seu carter eminentemente democrtico e apoio divulgao extensa de investigaes e gerao de
novas produes.

No Brasil, o sucesso do Portal de Peridicos da Capes atesta a aceitao
do meio eletrnico para os peridicos, pelo menos para aqueles que
seguem o modelo bem prximo do tradicional impresso. Alm disso, as
diversas iniciativas do Ibict [Instituto Brasileiro de Informao em Cincia
e Tecnologia] e do MEC [Ministrio da Educao] que incluem acesso aberto
e a aceitao pelas nossas agncias de fomento (Capes e CNPq) de
publicaes em peridicos eletrnicos como equivalentes s publicaes
em peridicos tradicionais (para fins de avaliao de cursos e curriculum
vitae) tambm so indicadores significativos de um processo de aceitao e
legitimao (MUELLER, 2006, p. 36).

Exatamente por esse exponencial crescimento na produo cientfica, a Cincia da Informao
se depara com problemas decorrentes dessa significativa acumulao de informaes. Essa
acelerao cientfica e a disseminao e acessibilidade cada vez mais rpida coloca as reas em uma
mo dupla na atualizao de seus pesquisadores. De acordo com Pittella (1990) se por um lado a
produo crescente e a disponibilizao de informaes possibilita a atualizao dos pesquisadores,
por outro, torna-se impossvel que eles se mantenham em dia com toda a produo cientfica da sua
rea de especializao. Dessa forma, mais tempo e esforos esto sendo gastos na seleo do que
deve ser lido, do que na leitura propriamente dita (PITTELLA, 1990, p. 2).
Com o advento das tecnologias de comunicao e informao, tais sistemas de comunicao
cientfica se expandiram consideravelmente tornando-se um instrumento de promoo individual e
fortalecimento do ciclo de organizao e difuso do conhecimento, onde a institucionalizao social
contribui como fator determinante para a produo do conhecimento (BUFREN, et al, 2007).
Reconhecendo sua legitimidade, os peridicos cientficos tem se configurado como instrumento de
pesquisa e recolhimento de dados bibliomtricos para a compreenso e acompanhamento da
evoluo de uma rea e seu arcabouo de pesquisas e escopos conceituais. Os indicadores
bibliomtricos so ferramentas de avaliao e podem ser divididos em Indicadores de qualidade
cientfica; Indicadores de atividade cientfica; Indicadores de impacto cientfico e Indicadores de
associaes temticas.
Para a compreenso e desdobramento do uso do termo representao por parte da CI, este
estudo buscou identificar junto produo cientfica da rea as questes tericas e conceituais no
cenrio da literatura peridica em CI no pas, atravs do levantamento de dados bibliomtricos.
Inicialmente a pesquisa identificou todos os artigos que responderam recuperao pelos termos
representao do conhecimento e representao da informao, independente destes
localizarem-se no ttulo, palavras-chave ou resumo do texto, utilizando o mecanismo de busca
localizado no websites de cada peridico selecionado.
A amostra analisada reuniu 74 artigos cientficos, divulgados em publicaes online, entre os
anos de 1972 e 2012, e que mantm em vigncia sua circulao h mais de 15 anos. Os seguintes
veculos atenderam aos critrios: Biblos - Revista do Instituto de Cincias Humanas e da Informao
13

incio 1985; Cincia da Informao
14
incio 1972; Encontros Bibli: Rev. Eletrnica de

11
http://www.atoz.ufpr.br/index.php/atoz
12
http://periodicos.ufpb.br/ojs2/index.php/pgc
13
http://www.seer.furg.br/biblos
14
http://revista.ibict.br/ciinf/index.php/ciinf

429
Biblioteconomia e Cincia da Informao
15
incio 1996; Informao & Informao
16
incio 1995;
Informao & Sociedade: Estudos
17
incio 1991; Perspectivas em Cincia da Informao
18
incio
1996; Revista ACB: Biblioteconomia em Santa Catarina
19
incio 1996; e Transinformao
20
incio
1989.
Todos os peridicos analisados encontram-se hospedados em um stio na web e so
gerenciados pelo Sistema Eletrnico de Editorao de Revistas SEER
21
, que um software
desenvolvido para a construo e gesto de uma publicao peridica eletrnica. Adotando as
orientaes de pesquisa do SEER, mediante a recomendao Use aspas duplas para recuperar o
termo exato; ex.:"Acesso Livre informao", os artigos foram selecionados atravs de um esquema
baseado na recuperao dos termos representao do conhecimento e representao da informao,
compreendendo trs nveis de detalhamento: ttulo, resumo e termos indexados. Os dados extrados
focavam a forma como o artigo foi recuperado (ttulo, resumo ou termos indexados e combinaes),
temtica de sua indexao, se Representao do conhecimento RC ou Representao da
informao RI, faceta em que o estudo era abordado (processos, produtos, instrumentos e
combinaes), peridico onde se encontra publicado, ano e terico(s) adotado(s) para
fundamentao conceitual a cerca da representao no mbito da CI.
Como resultado da coleta de dados, foi possvel o mapeamento para identificar em quais dos
nveis mais artigos foram recuperados, bem como suas combinaes; quais peridicos mais
publicaram, tanto na perspectiva do RC, como RI e suas combinaes; e quais facetas mais
compreendem publicaes de acordo com a classificao processos, produtos ou instrumentos, e o
quantitativo de artigos indexados como RC e RI que foram distribudos nessas facetas. Por fim, foram
identificados, atravs da anlise de contedo, 113 autores utilizados como referencial terico para
conceituao da representao em CI, tanto para base conceitual de RC como em RI, onde apenas 09
autores apresentaram nmeros expressivos de citao (com mais de 3), e todos os demais,
contabilizaram individualmente, trs ou menos citaes.

2.1 Resultados

A qualidade de um artigo cientfico basicamente definida a partir de teorias e conceitos de
base aprofundados, questes de pesquisa e objetivos claros e definidos, validao e confiabilidade
dos instrumentos de pesquisa (quando se aplica), interpretao fidedigna dos dados, indicao dos
limites do estudo e exposio de recomendaes. Mesmo que atenda a esses e muitos outros
critrios, para que este estudo seja acessado necessrio que esteja disponvel e que tenha sido
devidamente indexado, garantindo a preciso e revocao entre os materiais recuperados.
No entanto, os artigos disponveis em peridicos cientficos ficam sob responsabilidade de
seus autores, tanto na elaborao do resumo, quanto no emprego das palavras-chave (termos
indexados). Esses, entre outros itens (ttulo e texto completo), so sugeridos para recuperao no
momento da pesquisa no website das publicaes. Dessa forma, possvel perceber que o uso
explcito do assunto principal no ttulo, resumo e palavras-chave garante a recuperao do artigo,
possibilitando seu uso efetivo e sua divulgao entre os pares e novas publicaes. Analisaremos
aqui a partir dos dados coletados, os nveis de recuperao dos artigos, tanto pelas buscas com
campos definidos, como pelos termos utilizados em cada um desses campos, alm da temtica e
quantitativo de recuperao em cada peridico.

15
http://www.periodicos.ufsc.br/index.php/eb
16
http://www.uel.br/revistas/uel/index.php/informacao/index
17
http://www.ies.ufpb.br/ojs2/index.php/ies
18
http://portaldeperiodicos.eci.ufmg.br/index.php/pci
19
http://revista.acbsc.org.br/racb
20
https://www.puc-campinas.edu.br/periodicocientifico
21
http://seer.ibict.br/index.php?option=com_content&task=view&id=243&Itemid=1

430
Dos 74 artigos da amostra, possvel perceber pelo grfico 1 que: o maior quantitativo de
recuperao se deu por 31 dos artigos (em nmero absoluto) recuperados pelo resumo, seguido de
18 que estavam indexados pelos autores atravs dos termos (palavras-chave) e 8 dessas publicaes
que foram recuperadas na combinao dos trs nveis.

Grfico 1 Nveis de recuperao dos artigos
22

A partir do quantitativo exposto foi possvel extrair quais peridicos mais publicaram e quais
foram os ndices de publicao de acordo com a recuperao dos termos RC e RI e suas combinaes,
conforme o grfico 2. A Encontros Biblio foi o peridico que mais publicou sobre RI, com 15%,
enquanto a Perspectiva em Cincia da Informao lidera as publicaes indexadas sobre RC, com
14%. O termo RC foi utilizado em 48% das publicaes, em contraponto do termo RI, utilizado em
43% dos artigos recuperados.

Grfico 2 Peridicos e temticas de publicao em RC e RI

Ao analisarmos as facetas, tambm foi possvel extrair quais temticas foram indexadas
conforme cada faceta estabelecida. Lembrando que, de acordo com os estudos de Guimares (2008), a
sistematizao de contedos em organizao e representao do conhecimento possui sua estrutura
dividida em processos; produtos e instrumentos. Vale salientar que na pesquisa, foram recuperados
artigos que mesmo apresentando um dos termos em um ou mais nveis de recuperao, no
condiziam com os estudos relativos subrea de representao da informao/do conhecimento no
mbito da CI, conforme mostra o grfico 3.

22
Grfico 1 e 2, dados da pesquisa, 2013.

431
A faceta processos, que compreende a leitura dos documentos e os processos metacognitivos,
responsvel por, em mdia, 25% das publicaes em RI, considerando que nesta faceta tambm
foram classificadas as discusses conceituais e epistemolgicas dos artigos e seu total entre os dois
termos, soma 46% das publicaes. Esse nmero fica bem prximo dos 40% dos estudos
concentrados em instrumentos. Esses valores evidenciam a rea nas pesquisas aplicadas,
considerando a soma dos instrumentos ao quantitativo dos produtos (6% na soma de RC e RI) e as
pesquisas que envolvem processos e instrumentos (5% na soma de RC e RI), em um total de 51%,
observados no grfico 3.

Grfico 3 Facetas
23

Do universo de 74 artigos, 36 destes receberam em seu ttulo, resumo ou palavras-chave o
termo RC, com uma diferena pequena em relao aos de RI, com um quantitativo de 32 (nmero
absoluto). Apenas cinco publicaes apresentaram em algum de seus nveis ou combinaes, os dois
termos, conforme consta no grfico 4. Esses dados reacendem as discusses relativas a padronizao
conceitual da rea, tendo em vista que a base terica usadas em suas fundamentaes, estavam
presentes em tanto em RC como em RI, como pode ser analisado no Tabela 1.

23
Dados da pesquisa, 2013.

432

Grfico 4 Artigos em RC e RI
24

Finalizando a proposta de anlise nesse trabalho, a tabela abaixo (Tabela 1) apresenta os 09
autores mais utilizados na base terica dos artigos recuperados. Estes autores apresentaram os
nmeros mais expressivos na lista dos 113 autores da amostra, enquanto aqueles que ocuparam a 10
(dcima) posio em diante, foram citados 3 vezes ou menos. Os autores foram extrados dos artigos
atravs da anlise de contedo e constavam nos textos como fundamentao terica para exposio
dos conceitos de RC e/ou RI. Dos 74 artigos recuperados, 12 no apresentaram conceituao a cerca
dos termos RC e RI, mesmo sendo recuperados atravs destes.

AUTOR NMERO DE CITAES
RC RI RC e RI Total
Ingetraut Dahlberg 3 4 2 9
Brian Campbell Vickery 6 1 2 9
Birger Hjrland 2 5 1 8
Frederick Wilfrid Lancaster 4 1 3 8
Shiyali Ramamrita Ranganathan 2 4 1 7
Marilda Lopes Ginez de Lara 2 3 1 6
Charles Sanders Peirce 3 3 0 6
Maria Luiza de Almeida Campos 1 1 3 5
Derek Langridge 1 2 1
4

Tabela 1 Autores citados na fundamentao terica
25

pertinente expor que foi possvel observar que algumas das fundamentaes utilizavam-se
de autores que tem como base terica outros autores, no sendo exatamente deles a fundamentao
exposta. Assim como, algumas fundamentaes no apresentavam os devidos crditos em relao
conceituao que expunham. No cabe aqui o julgamento pela adoo do termo mais adequado, mas
os apontamentos identificam uma disperso terminolgica que reflete diretamente na recuperao

24
25

433
do material cientfico, exigindo uma clara necessidade de padronizao. Isso refora as colocaes
de Lara (2011) quando a autora mostra clara preocupao em relao a literatura brasileira a qual,
perceptivelmente, ora esses termos aparecem associados (como mostra o grfico 4), ora falam da
mesma coisa utilizando terminologias distintas, como o caso da utilizao dos mesmos autores
para conceituaes tericas de termos diferentes ou prximos, como podemos observar na tabela 1.

Consideraes finais

A anlise junto literatura especializada de CI mostra a disperso na utilizao dos termos,
assim como possvel reconhecer esses reflexos vindos das bases tericas utilizadas na formao e
justaposio dos conceitos. A literatura se divide quanto adoo conceitual e as prprias discusses
a cerca dessa interdisciplinaridade terminolgica apontam a disparidade no consenso. No h
exatamente uma definio padro, assim como no h uma nica base terica que fundamente a
subrea de ORC. Dado seu escopo semntico e ubquo a ORC se expande adotando conceitos e
estruturas tericas de diversas outras reas, e origina a polissemia no s de termos, mas de
conceitos. E possvel perceber que essa disperso afeta diretamente a recuperao da informao,
impossibilitando tambm avanos e o conhecimento de outras pesquisas fomentadas dentro de uma
mesma rea, tratadas sob a perspectiva de uma mesma investigao, mas que no so identificados
em um mesmo conjunto por falarem de um conceito usando termos distintos ou mesmo, usando um
termo para conceitos diferenciados.
Esse estudo preliminar retoma no s a discusso relativa ao padro conceitual, como tambm
s questes de recuperao da informao, que no se desassociam, tendo em vista que a disperso
informacional s poder ser dirimida atravs da padronizao de linguagens e concentrao de
estudos reunidos e organizados por suas semelhanas e diferenas. Esse estudo no se encerra
medida que essa discusso seminal e h muito que responder quanto s inquietaes produzidas
no ncleo das cincias, em especial de uma cincia to interdisciplinar conceitualmente, como a
Cincia da Informao. A preocupao, ora colocada por outros autores, reforada pela
compreenso, inicialmente demonstrada por dados estatsticos, de necessrio uma reconduo e
padronizao conceitual para fortalecer os estudos de ORC e a visibilidade de suas pesquisas em
mbito nacional e internacional.

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437
FORMAES DISCURSIVAS EMERGENTES, FOLKSONOMIA E ESPAOS SOCIAIS DE INFORMAO
SEMNTICA (SSIS)
As contribuies da teoria dos nveis integrativos nos estudos do Classification Research Group
(CRG)

MARIA APARECIDA MOURA
Universidade Federal de Minas Gerais - Escola de Cincia da Informao
[email protected]

Resumo Este artigo focaliza as formaes discursivas emergentes em espaos sociais de informao semntica
(SSIS) luz do conceito de emergncia na teoria de nveis integrativos. O trabalho visa identificar as
possibilidades e os desafios da incorporao das consideraes epistemolgicas sobre o ato de conhecer na
consolidao de processos e dispositivos de organizao e mediao da informao na emergncia dos
fenmenos.

Palavras-chave Formao discursiva. Teoria dos nveis integrativos. Organizao da informao.

Abstract This paper focuses on the discursive formations shared in the Social Semantic Information Spaces
(SSIS) from the concept of emergence in the theory of integrative levels. The work aims, to identify the
opportunities and challenges to incorporate the epistemological considerations on the act of knowing with
the purpose to consolidate processes, mediations and devices to knowledge organization able to consider the
emergence of phenomena.

Keywords Discursive formation. Theory of integrative levels. Knowledge organization

Introduo
preciso pr em questo, novamente, essas snteses acabadas, esses
agrupamentos que na maioria das vezes, so aceitos antes de qualquer exame, esses
laos, cuja validade reconhecida desde o incio; preciso desalojar essas formas e
essas foras obscuras pelas quais se tem o hbito de interligar os discursos dos
homens; preciso expuls-las da sombra onde reinam (Foucault, 2010, p. 24).

A expanso da Internet, o alargamento e a diversificao das representaes sociais
apresentadas pelos usurios da Web tm exigido solues mais geis e capazes de incorporar a
formao discursiva emergente atravs dos diferentes dispositivos disponveis na Internet
dedicados ao compartilhamento de informaes. Se, antes, os estudos tericos e as experincias
prticas eram focados no carter material dos dispositivos de circulao da informao, hoje, devido
s trocas entre os papis sociais de autores e receptores de informao, possvel dizer que o foco
migrou para o compartilhamento, a produo, a gesto e a mediao. Isso se deve ao fato de o sujeito
informacional ter-se tornado, ele mesmo, fonte de informao na medida em que exigido desse
ator compreender, sistematizar, manipular e dinamizar fluxos informacionais em espaos sociais de
informao semntica (Social Semantic Information Spaces - SSIS).
Os espaos sociais de informao semntica se caracterizam como ambientes tecnolgicos que
conectam e pessoas, conhecimento e recursos computacionais. Por se fundamentarem em
conectividade social e tecnologias semnticas, ensejam a coexistncia de comunidades
especializadas organizadas em torno do compartilhamento de informaes atravs de temas e
conceitos. Estes espaos semnticos apresentam-se sob a forma de plataformas sociais privadas ou
pblicas, no interior da qual so criados perfis de pesquisadores individuais e grupos de investigao

438
que partilham diferentes padres de qualidade da informao a partir de distintos interesses de
pesquisa e vises de mundo.
Parte deste contexto, a folksonomia, termo foi criado por Vander Wal(2004), um neologismo
que associa o termo folk (povo) e taxonomia com o propsito de enfatizar os acordos de classificao
de contedos partilhados em ambientes digitais. O objetivo desta ferramenta gerar taxonomias
que so usadas para categorizar e recuperar contedos resultantes da experincia dos usurios e de
suas redes sociais na Web. O termo folksonomia conta com outras acepes tais como:
ethnoclassificao, etiquetagem colaborativa, social bookmarking, etiquetagem social, folksonomia
estreita, taxonomia popular, classificao social, entre outros.
Nesse trabalho buscou-se analisar os aspectos tericos do conceito de "emergncia" na teoria
dos nveis integrativos e os seus desdobramentos nos estudos do Classification Research Group.
Pretendeu-se analisar as repercusses dessa concepo na ao de uma mostra de pesquisadores
inscritos em um domnio de pesquisa emergente no site Academia.edu (http://academia.edu/) para
entender este tipo de indexao feita pelos usurios e comunidades como uma classificao de nveis
integrativos.
Nosso principal desafio foi compreender como as representaes dos pesquisadores
partilhados em espaos sociais de informao semntica influenciam o comportamento linguajeiro
em contextos de recepo de informaes cientficas.
De que modo, e em que medida, as etiquetas partilhadas em tais contextos so assimiladas nos
sistemas de representao da informao adotados nas instncias de mediao do acesso?

1 Formaes discursivas emergentes

De acordo com Foucault (2010) o discurso conjunto de enunciados que pode pertencer a
campos diferentes, mas que esto submetidos a regras de funcionamento comuns (discurso clnico,
mdico, psiquitrico). Para o autor os discursos devem ser tratados no jogo de sua instncia, visto
que no representam um lugar tranquilo a partir do qual outras questes podem ser levantadas
(estrutura, coerncia, sistematicidade e transformaes).
Para Foucault a formao discursiva (2010)

um conjunto de regras annimas, histricas, sempre determinadas no tempo
e no espao, que definiram em uma poca dada, para uma rea social, econmica,
geogrfica ou lingustica dada as condies de exerccio da funo enunciativa..

Inevitavelmente as formaes discursivas contemporneas tm-se consolidado sob a gide das
formas de difuso e compartilhamento da informao e do conhecimento.
O sistema de informao dos objetos permanentemente modificado e depositado
lentamente no discurso (mdico, econmico, social). Em virtude disso, Os sistemas conceituais,
produzidos em tais contextos, so, por vezes, derivaes heterogneas ou incompatveis, sendo
sempre necessrio analisar os jogos dos aparecimentos dos conceitos e a sua disperso em dado
contexto.
Compreender a formao discursiva, em contexto, pode auxiliar na identificao das relaes
estruturais e, consequentemente, apoiar a obteno de pistas vigorosas na proposio de sistemas de
relaes mais conexos ao conhecimento emergente.
Para a rea de organizao da informao tornou-se ainda mais complexo propor
instrumentos de recuperao da informao em contexto sem compreender a dinmica da formao
discursiva em dado domnio do conhecimento. Sobretudo, porque os conceitos referem-se

439
descrio do campo onde os enunciados aparecem. Eles so formados a partir de um feixe de
relaes (no um objeto isolado, obra individual ou uma cincia em um dado momento) no qual se
considera contexto, as regularidades e coaes discursivas, as escolhas tericas, a historicidade e
articulam-se acontecimentos, transformaes, mutaes e processos.
A formao discursiva se manifesta em trs nveis: superfcies de emergncia, instncias de
delimitao e grades de especificao.
As superfcies de emergncia assinalam as circunstncias do surgimento, as diferenas
individuais, os graus de racionalidade, os cdigos conceituais e os tipos de teoria.
A instncia de delimitao refere-se identificao das instituies reguladoras do domnio
responsveis por distinguir, designar, nomear, instaurar os processos de significao como objeto.
Finalmente, as grades de especificao referem-se aos regimes de agrupamentos e
classificaes adotadas em um determinado contexto de formao discursiva.

Foucault (2010), no entanto, afirma que no contexto cientfico,

h um outro princpio de rarefaco do discurso. Que at certo ponto
complementar do primeiro. Trata-se do autor. Entendido o autor, claro, no como o
indivduo que fala, o indivduo que pronunciou ou escreveu um texto, mas como
princpio de agrupamento do discurso, como unidade e origem das suas
significaes, como lastro da sua coerncia. Este princpio no funciona em
qualquer lugar, nem de maneira constante: existem, nossa volta, muitos discursos
que circulam sem que o seu sentido ou a sua eficcia estejam em poder de um autor,
a que seriam atribudos : palavras do dia a dia, que se apagam de imediato ;
decretos ou contratos que tm necessidade de signatrios, mas no de autor,
receitas tcnicas que se transmitem no anonimato. Mas nos domnios em que a
atribuio a um autor usual literatura, filosofia, cincia vemos que essa
atribuio no desempenha sempre o mesmo papel ; na ordem do discurso
cientfico, a atribuio a um autor era, na Idade Mdia, indispensvel, pois era um
indicador de verdade. Considerava-se que o valor cientfico de uma proposio
estava em poder do seu prprio autor.

De um ponto de vista filosfico, emergncia o processo pelo qual um fenmeno surge de
uma combinao de causas, enquanto ela no pode ser considerada como o resultado dos seus
efeitos respectivos.
Para Goldstein (1999: p.50) a emergncia refere-se ao surgimento de estruturas, padres e
propriedades inovadoras e coerentes durante o processo de auto-organizao em sistemas
complexos e as suas principais caractersticas so:

Coerncia ou correlao: emergncia aparece como totalidades integradas
que tendem a manter algum senso de identidade ao longo do tempo. Esta coerncia
se estende e correlaciona o nvel mais baixo, Nvel global ou macro: uma vez que a
coerncia representa uma correlao que se estende por componentes separados, o
lcus de fenmenos emergentes ocorre a nvel global ou macro; Dinmicos:
fenmenos emergentes no so pr-determinados, mas totalidades que surgem
como um sistema complexo que evolui ao longo do tempo. Como uma construo
dinmica, a emergncia est associada com o aparecimento de novos atratores em
sistemas dinmicos (ie, bifurcao); Ostensivo: emergentes so reconhecidos,
mostrando-se, isto , eles so reconhecidos ostensivamente.

440

Emergncia um conceito importante da teoria dos nveis integrativos que influenciaram os
estudos de classificao Research Group (CRG).

2 O Classification Research Group e a Teoria dos nveis integrativos

De acordo com Gnoli (2011: p. 30) as estruturas da organizao do conhecimento envolvem
influncias devidas a distintos fatores. Dentre tais fatores, o autor destaca as dimenses ontolgica,
epistemolgica e a pragmtica.
A dimenso ontolgica lida com os fenmenos reais que so estudados. A dimenso
epistemolgica envolve os propsitos, os aspectos culturais, disciplinares e metodolgicos que so
considerados e discutidos na organizao do conhecimento. Finalmente o aspecto pragmtico
envolve os aspectos materiais referentes aos documentos, colees e usurios da informao.
Fundado em 1948/1952, o Classification Research Group dedicou-se ao estudo dos sistemas de
classificao tendo como perspectiva contribuir para o desenvolvimento da pesquisa documentria.
O foco dos estudos do CRG envolveu, sobretudo, o estudo da anlise facetada, dos operadores
relacionais e a teoria dos nveis integrativos.
Segundo Spiteri (2003) o trabalho terico do Grupo abarcou o estudo de anlise faceta,
operadores relacionais e da teoria dos Nveis Integrativos.
Atravs da teoria dos nveis integrativos, o CRG pensou o processo de indexao como uma
relao complexa e ontolgica no ambiente de produo da informao e no contexto de pesquisa.
Essa importncia dada ao contexto de emergncia dos fenmenos estava em oposio centralidade
da garantia literria adotada na poca.
Devida ampla experincia dos integrantes do CRG no tratamento de informaes
especializadas em diferentes contextos, o grupo discordava da pressuposio de um universo finito
de conhecimentos subjacente aos sistemas de classificao mais tradicionais adotados poca.
Os principais limites dos sistemas de classificao referiam-se dificuldade em se manter os
sistemas atualizados devido s alteraes na produo do conhecimento, notadamente relacionados
aos dilogos interdisciplinares e integrativos decorrentes de tais processos.
J em 1950, Farradane postulava o apoio de consideraes epistemolgicas sobre o prprio
processo de aquisio do conhecimento (Rivier, 1992: p. 63).
Desse ponto de vista, o grupo propunha o estabelecimento das relaes semnticas a posteriori
e recebeu muitas crticas por abandonarem, em certa medida, os fundamentos ranganathianos.
De acordo com Foskett (1962) apud Spiteri (1995), a apropriao da teoria dos nveis
integrativos realizada pelo CRG apresentava a seguinte compreenso:

O mundo das coisas que se desenvolve a partir do simples para o complexo
pelo acmulo de propriedades novas e divergentes e certos pontos em que ocorrem
mudanas a "entidade" de um membro de um grupo ou classe em um membro de
um novo grupo. A nova entidade tem propriedades prprias, caracterstica do novo
nvel de organizao dentro dele, e ela se comporta de maneira semelhante e
caracterstica..

Conforme assinala Spiteri (1995) influenciados por James Feiblemann (1965), o CRG props um
conjunto de categorias que pudessem ser aplicadas as entidades. So elas: entidades fsicas,

441
entidades qumicas, entidades heterogneas no vivas, artefatos, entidades biolgicas, Homens e
mentefatos.
Na atualidade, as possibilidades de identificar, monitorar, registrar e segmentar as prticas
informacionais e os perfis de distintos usurios em ambientes colaborativos digitais encoraja a
retomar as questes postas pelo CRG com o intuito de identificar as possibilidades objetivas de
incorporar as consideraes epistemolgicas do processo de conhecer, organizar e mediar
informaes na emergncia dos fenmenos.

3 A pesquisa

A abordagem sistemtica de fenmenos humano-sociais envolve, conforme assinala
Domingues (2004) a descrio, a explicao e a interpretao pautados por recortes, selees e
abstraes do real. Em virtude disso, a pesquisa qualitativa desenvolvida teve como objetivo a
descrio, a explicao e a interpretao de um fenmeno contemporneo no contexto da
organizao da informao. Para tanto, optou pela triangulao de mtodos e teorias no qual se
articulou a teoria de nveis integrativos e a arqueologia do saber com vistas a compreender o
processo de significao em ambientes digitais e a sua repercusso na representao e recuperao
da informao em contextos dinmicos. Atravs da netnografia e da anlise de redes sociais (ARS)
foram identificados e analisados os perfis acadmicos, as agregaes sociais e prticas
classificatrias dos usurios do site Academia.Edu em torno das temticas emergentes e- science, e-
research, cyberinfrastructure, science 2.0.
Do ponto de vista terico, E-Science o termo que representa a nova de problemas cientficos.
Segundo Hey e Trefethen (2008:p.15)

A prxima gerao de problemas de e-Cincia variar de simulao de
engenharia complexa e sistemas biolgicos para a pesquisa em bioinformtica,
protemica e farmacogentica. Em muitos desses casos, os pesquisadores precisam
combinar a experincia de outros grupos de pesquisa e acesso a recursos
especializados, muitas vezes distribudos em todo o globo. (...) Da mesma forma, no
contexto social cincias, os conjuntos de dados que necessitam de ser analisados so
frequentemente to grandes e distribuda que tanto o armazenamento de memria,
bem como o poder computacional das estaes de trabalho individuais so
insuficientes, e a utilizao de recursos de computao distribuda se tornar a
norma.

O site Academia. edu uma plataforma digital Open Science dedicada ao compartilhamento de
artigos e documentos gerados em diferentes etapas da pesquisa entre acadmicos. Esta plataforma
foi lanada em setembro de 2008. Com este objetivo, os pesquisadores podem criar perfis acadmicos
na plataforma social e fornecer informaes institucionais com foco em seu interesse de pesquisa.
Esta informao gera um site individual com o perfil do pesquisador. A partir desse perfil, o
pesquisador pode seguir outras pessoas interessadas no mesmo tema de pesquisa e partilhar as suas
bibliotecas digitais e produes acadmicas.

442

Figura 1 Academia edu
1

O site Academia. edu baseado em Web Social. A rede social conecta os usurios atravs de
contedo gerado pelo usurio e anotaes. Da perspectiva da classificao do conhecimento, esses
pesquisadores compartilham a terminologia emergente que consolidada em seus domnios de
investigao e proveem uma classificao que reflete o contexto social e a dinmica dos estudos
realizados.
Foram selecionados os termos relacionados aos grupos temticos disponveis na plataforma
do Academia.edu. a saber: e-Science, cyberinfrastructure, e-research e Science 2.0. Nessa etapa
foram encontrados 429 perfis de usurios associados aos temas propostos, com 124 termos
distribudos.
Utilizando-se o software Visual Antrhropac
2
, buscou-se estruturar uma lista livre composta
pelas tags criadas pelos usurios em cada um dos grupos e identificar as salincias presentes na
articulao entre as listas obtidas.

TAG SALINCIA
cloud_computing 0,707
computer_science 0,444
computer_science_education 0,424
computer-based_learning 0,404
e-learning 0,391
digital_culture 0,389
data_mining 0,372
digital_humanities 0,372
distributed_file_systems 0,355
document_genres 0,342
dynamic_load_balancing 0,332
Education 0,306
heterogeneous_distributed_systems 0,279

1
Fonte: http://academia.edu
2
Anthropac um programa gratuito para a anlise de domnio cultural. Disponvel em:
http://www.analytictech.com/anthropac/anthropac.htm

443
high_performance_scientific_computing 0,262
information_retrieval 0,214
new_media 0,212
internet_&_society 0,19
open_source_software 0,18
parallel_architectures 0,163
resource_allocation 0,11
social_computing 0,077
software_engineering 0,057
web_2. 0 0,024

Tabela 1 - ndice de salincia
3

Notou-se que a lista de salincias referia-se ao atual consenso estabelecido pelos grupos na
articulao dos temas propostos, todavia ainda ocorrem oscilaes entre a nomeao dos grupos e as
tags que os compem. H tags que nomeiam grupos e/ou integram simultaneamente os demais
grupos analisados. Do nosso ponto de vista, isso evidencia alto grau de articulao semntica.
Buscou-se tambm identificar os interesses temticos de oito pesquisadores que integram o
grupo de interesse em E-science. Nesse sentido, foi elaborada uma lista com os termos especficos de
cada um dos pesquisadores e comparadas s salincias no grupo de tags com o propsito de
identificar similaridades e distines.
Obteve-se o seguinte resultado:

A observao realizada permitiu afirmar que a lista obtida representa a concepo de E-
Science pactuada informalmente pelo grupo e identificar a rea de interesse e de aplicao
prevalecente entre os membros. Esse pacto semntico informal tambm refletido nos documentos
compartilhados pelo grupo.

3
Fonte: da autoria

444
Pela incidncia de termos adotados, observa-se que, no grupo analisado no site Academia.edu,
E-Science considerada uma grid de computadores de alta performance em nuvens com foco na
melhoria da qualidade em pesquisas em diferentes domnios.
Nesse grupo, foram encontrados 86 termos, dos quais seis obtiveram frequncia entre 25 e
75% e indicaram referirem-se a termos mais estveis no tema proposto. Os demais 82 termos
indicam diferentes abordagens do tema tratado evidenciando uma provvel relao semntica ou
ontolgica. Dentre os termos esto: digital_humanities, digital_signature, archaeology,
authentication, archaeological_informatics, archaeological_graphics_&_illustration, distributed
data mining, resource allocation, virtual machines, information society research.

Consideraes finais

O estudo empreendido permitiu observar um esforo coletivo em sedimentar um modelo
interoperabilidade semntica na etiquetagem dos contedos pautados por boas prticas na descrio
dos objetos partilhados em espaos sociais de informao semntica.
A restituio e a negociao de sentidos dos conceitos que compem dada formao discursiva
em ambientes colaborativos funcionaram simultaneamente como superfcie de emergncia,
instncia de delimitao e grade de especificao e permitiu maior agilidade no estabelecimento de
pactos de significao tanto na etiquetagem, quanto nos processos de mediao e recuperao da
informao.
Percebeu-se que, a formao de redes sociais emergentes em ambientes colaborativos online
tem proporcionado maior verticalidade no tratamento do discurso em sua instncia geradora e
fortalecido as iniciativas de colaborao entre os usurios no tratamento dos conceitos emergentes
(identificao, delimitao e especificao).
Alm disso, os espaos sociais de informao semntica, ao permitirem a identificao das
formas de sucesso e de coexistncia dos discursos e o fortalecimento dos atores a eles associados,
apresentam boas perspectivas de consolidao de procedimentos capazes de representar
dinamicamente o conhecimento emergente compartilhado em rede.
Estas mudanas na forma de partilha de informao e conhecimento requerem uma
abordagem ontolgica e semitica para compreender as possibilidades de a classificao social e os
pactos de significao que surgem nos espaos sociais de informao semntica. Acredita-se que esta
abordagem terica e tecnolgica pode ajudar a melhorar as ferramentas semnticas, classificaes,
taxonomias de navegao e metodologias para construo de linguagem de indexao em ambientes
digitais colaborativos.

Referncias

Academia.edu. Disponvel em: <http://academia.edu>.

Anthropac. Disponvel em: <http://www.analytictech.com/anthropac/anthropac.htm>.

DOMINGUES, Ivan. (2004). Epistemologia das Cincias Humanas. Tomo 1: Positivismo e Hermenutica.
So Paulo: Loyola.
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445

FOUCAULT, Michel. (2010). A arqueologia do saber. Rio de Janeiro: Forense Universitria.

GNOLI, Claudio. (2011). Ontological foundations in knowledge organization // Scire. 17:2.

GOLDSTEIN, Jeffrey (1999). Emergence as a Construct: History and Issues, Emergence: Complexity and
Organization 1 (1): 4972.
<http://www.anecdote.com.au/papers/EmergenceAsAConsutructIssue1_1_3.pdf>.

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OLSON, G.; ZIMMERMAN, A; BOS, N. (2008). Scientific collaboration on the internet. Cambridge: MIT
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RIVIER, Alexis. (1992). Construo de linguagens de indexao: aspectos tericos. R. Esc.
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SPITERI, Louise. The classification research group and the theory of integrative levels. The Katharine
Sharp Review,1995.
<http://web.archive.org/web/20011222083409/alexia.lis.uiuc.edu/review/summer1995/spite
ri.html>.

446
PRTICAS DISCURSIVAS NA ORGANIZAO DO CONHECIMENTO
Otlet, Bliss e ISKO

EDUARDO ISMAEL MURGUIA
Universidade Federal Fluminense / Universidade Estadual Paulista Jlio Mesquita Filho
[email protected]

RODRIGO DE SALES
[email protected]

Resumo O discurso da organizao do conhecimento encontra espao de fortalecimentos cientfico e
institucional no mbito da International Society for Knowledge Organization ISKO, desde finais do sculo XX.
Comumente, os enunciados desse discurso atribuem Bliss (1929, 1933) a origem da organizao do
conhecimento enquanto espao investigativo, pautado, sobremaneira, pelas questes atinentes aos sistemas
de classificao e aos sistemas de relaes conceituais, como os tesauros. Mediante considerao de que o
termo organizao do conhecimento j aparece em um artigo de Otlet (1903), este trabalho consiste em
observar e refletir a respeito das possveis associaes tericas entre os conceitos de Bliss e Otlet. O escopo
textual da presente reflexo so, alm dos j citados textos de Bliss e Otlet, os artigos de Dahlberg (1993, 1995)
e Hjrland (2003, 2008), que podem ser considerados como fundantes de novas proposies discursivas. Do
ponto de vista metodolgico, esse estudo foi norteado pela perspectiva de um texto de Michael Foucault O
que um autor? (1992), para o qual o autor sendo um nome prprio no simplesmente uma referncia, ele
possui outras funes indicadoras. Os resultados deste estudo reflexivo e interpretativo apontam que Dahlberg
outorgou um estatuto especial obra de Bliss, o que implica que ela, e autores posteriores, desdobraram o
pensamento e a aplicabilidade dessa obra, instaurando Bliss como fundador de um discurso, apropriado e
reinterpretado pela ISKO. A respeito de Otlet, verifica-se que ele no fundador de um discurso no qual se
articule organizao do conhecimento tratada no mbito da ISKO. Porm, percebe-se uma aproximao de
sua obra no que diz respeito questo da recuperao da informao, presente nos enunciados de Hjorland.
Assim, o discurso da organizao do conhecimento de Otlet pode vir a contribuir e se associar com o discurso
fomentado pela ISKO.

Palavras-chave Paul Otlet. Henry Evelyn Bliss. Organizao do Conhecimento. International Society for
Knowledge Organization (ISKO).

Abstract The discourse of knowledge organization has been scientifically and institutionally supported by
the International Society for Knowledge Organization ISKO since the late twentieth century. This discourse
often accredits to Bliss (1929, 1933) the origin of knowledge organization as an area of investigation based
mostly on issues relevant to classification systems and the systems of conceptual relations such as the
thesauruses. Once acknowledged that the term knowledge organization is used in an article by Otlet (1903),
this work consists of observing and reflecting on the possible theoretical associations between the concepts of
Bliss and Otlet. The textual scope of such reflection encompasses, aside from the already cited Bliss and Otlet,
the articles of Dahlberg (1993, 1995) and Hjrland (2003, 2008), which can be considered founders of the new
discursive proposals. From the methodological point of view, this study was guided by the perspective of a
text by Michael Foucault What is an author? (1992), in which he states that the author, as a proper name, is
not only a reference, but also has other indicating functions. The result of this reflexive and interpretative
study shows that Dahlberg granted a special stature to Blisss work, which implies that it along with later
authors, developed the idea and the works applicability, setting Bliss as the founder of a discourse, borrowed
and reinterpreted by ISKO. Regarding Otlet, we could verify that he is not the founder of a discourse linked to
knowledge organization as it exists in ISKO. However, it is noticeable how his work closely approaches the
issue of information recovery, present in Hjorlands statements. Otlets discourse of knowledge organization
can contribute and be linked to the discourse supported by the ISKO.

447
Keywords Paul Otlet. Henry Evelyn Bliss. Knowledge Organization. International Society for Knowledge
Organization (ISKO).

1 Enunciando os discursos

Criada em 1989, a ISKO significa a emergncia de uma instituio que pretende propiciar a
pesquisa e a aplicao da organizao do conhecimento para o prprio ordenamento do
conhecimento. Por outro lado, ela tambm representa a culminao de um debate e uma corrente de
pensamento que consegue definir e desenhar um novo campo terico e profissional. No entanto,
passados mais de vinte anos, constatamos que a manifestao de tal campo ainda suscita dvidas
importantes sobre sua conformao. Por exemplo, a organizao do conhecimento forma parte de
uma rea maior como a Organizao da Informao ou ela prpria se apresenta como um campo
autnomo?
Longe de pretendermos dar um ponto final questo colocada, propomos, como hiptese de
nosso trabalho, que importantes pistas podem ser vislumbradas desde que focalizemos nossa
ateno para o momento da criao e ou adoo do nome que designa esse novo campo: organizao
do conhecimento. Considerando que o termo foi usado pela primeira vez por Paul Otlet, no artigo
intitulado A Cincia da Bibliografia e da Documentao, publicado em 1903, pretendemos, a partir da
discusso da ISKO sobre a organizao do conhecimento, estabelecer um paralelo entre dois autores
que, em pocas diferentes, utilizaram essa expresso: Bliss (1929, 1933) e Otlet (1903).
Desse modo, apresentamos como objetivo do trabalho, observar as possveis associaes
tericas desenvolvidas no mbito da ISKO com os conceitos de Bliss e Otlet. Delimitando nosso
objeto de estudo, restringimos nosso espao de reflexo ao mencionado artigo de Otlet, aos tratados
estabelecidos pro Bliss em 1929 e 1933 e aos artigos de Dahlberg (1993, 1995) e Hjrland (2003, 2008),
que podem ser considerados como fundantes de novas proposies discursivas.
Norteamos nosso estudo a partir da perspectiva de um texto de Michael Foucault O que um
autor? (1992), para o qual o autor sendo um nome prprio no simplesmente uma referncia, ele
possui outras funes indicadoras. Assim, o nome do autor possibilita certas manifestaes do
discurso, apontando para um discurso que no passageiro, nem cotidiano, mas sim um discurso ao
qual se lhe outorga um estatuto diferente.
Autoria uma forma de propriedade que se vai configurando ao longo dos anos. Por outro
lado, a questo da autoria no exterior, ela vai se configurando ao longo do tempo, ao ponto de
que, nos sculos XVII e XVIII, comea a evidenciar e delimitar questes como quem escreveu uma
obra, em que data, em que circunstncias etc. A questo da autoria no obedece a uma relao
espontnea de causa e efeito pelo qual um discurso atribudo a um indivduo. Pelo contrrio, o
resultado de uma operao complexa que constri um certo ser racional ao que chamamos de
autor (Foucault, 1992, p. 50). E, por ltimo, o discurso no que se refere questo de autoria, no
aponta para um indivduo real, porque um autor pode ter vrios eus.

Afigura-se-me porm que, ao longo do sculo XIX europeu, apareceram tipos
de autor bastante singulares, que no se podem confundir com os grandes
autores literrios, nem com os autores de textos religiosos cannicos, nem com os
fundadores das cincias. Chamemos-lhes ento, de forma um pouco arbitrria,
fundadores de discursividades.
Estes autores tm isto de particular: no so apenas os autores de suas obras,
dos seus livros. Produziram alguma coisa a mais: a possibilidade e a regra de
formao de outros textos (Foucault, 1992, 58).

448
O qual pressupe que no a obra que se relaciona com a cincia, mas a cincia ou a
discursividade que se relaciona com a obra deles (Foucault, 1992, 53).

Compreende-se, por isso, que encontremos, como uma necessidade inevitvel,
em tal discursividade, a exigncia de um retorno s origens. Aqui ainda, preciso
distinguir esses retornos a ... dos fenmenos de redescoberta e de
reactualizao que se produzem frequentemente nas cincias. Entendo por
redescoberta os efeitos de analogia ou de isoformismo que, a partir das formas
actuais do saber, torna perceptvel uma figura que foi esboada ou que simplesmente
desapareceu (Foucault, 1992, 63).

Elencamos essas ideias do texto de Foucault para seguirmos de guia e de elemento de
interpretao dos textos propostos para consecuo de nossos objetivos.

2 The Knowledge Organization na ISKO

Consideramos reveladoras as reflexes apresentadas no Captulo da International Society for
Knowledge Organization (ISKO), realizado no ano de 2012, na cidade de Mysore, ndia, referentes
discusso do estabelecimento de uma distino entre a organizao do conhecimento e outras reas
correlatas como organizao da informao, informao da organizao, arquitetura da informao
(Hjorland, 2012) e engenharia do conhecimento (Ohly, 2012). As referidas reas so correlatas no que
se refere ao seu objeto (maior complexidade da informao), mas, distintas em suas demandas e em
suas aplicaes para a resoluo de diferentes problemas. Nota-se, novamente, uma
intencionalidade de reivindicar a organizao do conhecimento como uma disciplina autnoma, ou
campo de estudo autnomo, e de evitar que a mesma seja entendida como um subcampo (ou
subdisciplina) da Cincia da Informao. Esse (re)posicionamento j vem sendo tratado por Hjorland
(2008), que postula a Library and Information Science (LIS) como disciplina central da Knowledge
Organization (KO), em seu sentido mais restrito organizao cognitiva do conhecimento. Essa
reivindicao da organizao do conhecimento como um campo de investigao tem se manifestado
desde a criao da ISKO em 1989, e ganhou fora, dentre outras formas, por meio do famoso artigo
de Ingetraut Dahlberg, intitulado Kowledge Organization: its scope and possibilities, publicado em 1993
pela Knowledge Organization.
No entanto, a organizao do conhecimento, no mbito dos estudos publicados nos congressos
da ISKO, vem sendo definida, predominantemente, como um fazer de natureza operacional (Garcia,
Oliveira, Luz, 2000; Green, 2002; Grcia Gutirrez, 2002), cujos objetos de investigao so,
principalmente, os conceitos e as estruturas conceituais (Kent, 2000; Green, 2002; Ohly, 2008,
Smiraglia, 2010), formalizadas instrumentalmente nos sistemas de organizao do conhecimento,
tais como os sistemas de classificao, os tesauros e as ontologias (Albrechtsen, 1990; Kent, 2000;
Green, 2002; Zherebchevsky, 2010; Souza; Tudhope e Almeida, 2010). Nota-se, assim, que a
organizao do conhecimento concebida pela ISKO tem sido desenvolvida, em grande medida, com
base nas atividades (prticas e intelectuais) atinentes ao que podemos chamar de Tratamento
Temtico da Informao (Foskett, 1973).
Relativo a essa discusso sobre a natureza da organizao do conhecimento, Hjorland (2008),
ao dissertar a respeito do sentido restrito da organizao do conhecimento (retomaremos esse
sentido restrito mais adiante), foi categrico ao afirmar que, embora diga respeito s atividades
operacionais desempenhas por bibliotecas, arquivos e bases de dados, tais como descrio de
documentos, classificao e indexao, a organizao do conhecimento (OC) consiste, sim, em um
campo de estudo preocupado com a natureza e com a qualidade dos processos e dos sistemas de

449
Longe de querer adentrar na discusso a respeito da natureza da organizao do
conhecimento (OC), procuraremos, to somente, contribuir para o debate promovido pela ISKO por
meio de uma observao sobre a formao de uma discursividade relativa OC. Para isso,
tomaremos por base algumas definies e contextualizaes trazidas por Dahlberg (1993, 1995) e por
Hjorland (2003, 2008), de modo a verificar uma efetiva influncia de Bliss (1929, 1933) na formao
do discurso de ambos os autores. Em seguida, procuraremos relacionar tal formao discursiva com
a organizao do conhecimento definida por Otlet no incio do sculo XX, de tal sorte que possamos
verificar se a essa proposta de Otlet serviu de pressuposto ou, foi reinterpretada ou, ainda,
desconsiderada pelas relevantes definies que ajudaram a compor o discurso da ISKO ao final do
sculo XX e incio do XXI.
O peridico fundado em 1974, chamado International Classification, tornar-se-ia, em 1993, o to
renomado Knowledge Organization. Na dcada de 1980 Dahlberg deixa a Society for Classification nas
mos de matemticos e estatsticos (que j haviam ocupado espao majoritrio no Conselho) e
funda a ento Knowledge Organization, que se tornaria, em 1989, a International Society for Knowledge
Organization (ISKO). To somente com esses dois acontecimentos mencionados por Dahberg (1993,
1995) podemos ter uma noo do quo indissociavelmente ligadas esto a organizao do
conhecimento e a classificao, ou sistemas de classificao. Alis, ao desenvolver o artigo Knowledge
Organization: its scope and possibilities, que pode no ser o texto fundador da ISKO mas, certamente,
um marco para o incio da formao de seu discurso, Dahlberg (1993) apresentou uma tabela de
classificao que hierarquizava e relacionava os assuntos tratados no mbito da literatura de
organizao do conhecimento Classification System for Knowledge Organization Literature. Na referida
tabela, os sistemas de classificao esto presentes em quatro das dez classes principais de assuntos.
Ainda, ao explanar a respeito dessa definio classificatria, Dahlberg (1993) lana mo do
agrupamento de trs em trs classes por meio da organizao em facetas.
Alm da corriqueira, porm fundamentada, presena da classificao, e tambm da indexao,
no discurso que Dahlberg tentava legitimar por meio da Classification System for Knowledge
Organization Literature, flagrante tambm o espao de destaque que a construo de tesauros ocupa
entre os assuntos tratados pela ento nova organizao do conhecimento (OC). No mesmo texto
em que Dahlberg (1995) disserta a respeito das tendncias da organizao do conhecimento, onde
lanou mo da expresso classificao reconsiderada, a autora coloca de igual importncia a
contribuio terica e metodolgica que os tesauros trouxeram para o desenvolvimento da OC,
chegando a empregar o termo o perodo dos tesauros, ao discorrer sobre informaes histricas.
Juntam-se s bases estruturantes de preocupaes conceituais, lideradas pelas questes
atinentes construo de sistemas de classificao e de tesauros, as preocupaes de carter
terminolgico e ontolgico, tomando de emprstimo, assim, contribuies advindas da Terminologia
e da Filosofia, evidenciando a postura interdisciplinar da OC que, nesse momento, j ganhava
contornos discursivos de campo de investigao.
Vale destacar que Dahlberg (1993), dando indcios de sua influncia advinda de Evelyn Bliss,
reclama por uma OC que efetivamente consista em um campo que lide com questes atinentes s
mais variadas possibilidades de conhecimento, provenientes das mais diversas reas. Dessa forma,
fazia-se necessrio expandir a perspectiva, at ento preferencialmente abordada por bibliotecrios
e profissionais da informao, para qualquer pessoa disposta a adotar um modo mais consistente de
vida e de estudos (Dahlberg, 1993, p. 212. Traduo livre). Para a autora, a organizao do
conhecimento ensinada aos estudantes universitrios, por exemplo, potencializaria seus estudos. De
especial maneira, a organizao do conhecimento deveria ser ensinada aos estudantes da rea de
educao, que por sua vez, passariam tais ensinamentos aos seus futuros alunos. Outro grupo que
Dahlberg (1993) considerava importante ter contato com a OC era o de pessoas ligadas s lideranas
polticas, industriais e sociais.
Alm da definio de uma classificao para a OC e, de uma definio das possibilidades de
atuao do campo, outro esforo de legitimar um discurso de organizao do conhecimento
enquanto campo de estudo, flagrante no artigo de Dahlberg (1993), a postulao de dez medidas
em que a autora prope aos seus colegas de ISKO: 1) funes a serem desempenhadas pelos membros

450
da ISKO; 2) elaborao de livros que apresentassem o arcabouo terico e metodolgico da OC; 3)
treinamento de professores; 4) encontros/conferncias para a discusso de tpicos correntes; 5)
centros de pesquisa, onde deveriam ser estabelecidas colaboraes com pesquisadores de outras
reas; 6) grupos de pesquisa para coordenar estudos atinentes aos sistemas de classificao e
tesauros; 7) colaborao de pesquisa internacional; 8) publicao de peridicos sobre OC; 9)
formalizao de um sistema de classificao e de um tesauro para a literatura da rea e; 10)
publicao de uma bibliografia atualizada de todos os assuntos pertinentes OC (Dahlberg, 1993).
A preocupao com a formalizao e com a institucionalizao de um campo vinha
acompanhada, obviamente, por uma preocupao de desenvolvimentos terico e metodolgico. O
termo organizao do conhecimento, que j havia sido adotado nos livros de Evelyn Bliss The
Organization of Knowledge and the System of the Sciences (1929) e The Organization of Knowledge in Libraries
(1933) e tematizado como Organization of Knowledge and Documentation, na dissertao de Dagobert
Soergel, em 1971, passou a ser adotado e estudado por Dahlberg a partir de sua dissertao,
intitulada Foundations of Universal Organization of Knowledge, publicada em 1973 (Dahlberg, 1993; 1995).
Para a autora, a organizao do conhecimento , sobretudo, uma organizao de unidades de
conhecimento, ou seja, uma organizao de conceitos. A afirmao de Dahlberg (1978, 1995) de que
as unidades de conhecimento, ou melhor, os conceitos, so enunciados essenciais e verdadeiros a
respeito de algum objeto referente e sua sntese formalizada por alguma designao (codificada ou
verbal), foi amplamente aceita e difundida na comunidade internacional da OC. Juntamente com as
abordagens da teoria da classificao facetada, de Ranganathan e dos pesquisadores do Classification
Research Group (CRG), usadas como base fundamental para a construo de sistemas de classificao e
de tesauros, bem como com teorias provenientes da terminologia, em especial a teoria geral da
terminologia de Eugen Wster, a teoria do conceito de Dahlberg comps a base forte e inicial do
discurso da OC no mbito da ISKO.
Na dcada seguinte, Hjorland (2003, 2008), com uma perspectiva notadamente epistemolgica,
trouxe ao debate da OC a distino entre a organizao intelectual (cognitiva) do conhecimento e a
organizao social do conhecimento. Tocante perspectiva cognitiva, tambm denominada pelo
autor de narrow meaning da organizao do conhecimento, Hjorland (2003, 2008) afirma se tratar
da organizao do conhecimento abordada, especialmente, pela biblioteconomia e pela cincia da
informao, cujo foco recai nos estudos atinentes aos processos e s construes instrumentais de
OC, tais como descrio de documentos, classificao e indexao.
Para o autor, essa forma cognitiva de organizao do conhecimento consiste em um campo de
estudo preocupado com a natureza e com a qualidade dos processos, instrumentos e produtos
desenvolvidos pelas atividades tcnicas e especficas desempenhadas pelas bibliotecas, arquivos e
bases de dados. Alm da j mencionada contribuio terica emprestada dos sistemas de
classificao, que Hjorland (2008) a divide em abordagem tradicional (classificaes decimais) e
abordagem analtico-facetada (classificao facetada), o autor complementa, em meio a essa
organizao cognitiva do conhecimento, as contribuies tericas provenientes da abordagem da
recuperao da informao (RI) e as implicaes tecnolgicas a ela atreladas da abordagem
bibliomtrica e da abordagem da anlise de domnio.
Por organizao social do conhecimento, ou broader meaning da OC, Hjorland (2003, 2008)
afirma se tratar basicamente das organizaes e categorizaes das profisses e das disciplinas, ou
seja, a diviso social do labor mental, como por exemplo, a organizao dos currculos dos cursos
universitrios, que dividem e relacionam as diferentes disciplinas e, as tabelas oficiais que
formalizam e legitimam as ocupaes profissionais de um pas. Para o autor, as tradicionais
classificaes de bibliotecas, como a Classificao Decimal de Dewey, por exemplo, so verdadeiras
organizaes sociais do conhecimento, uma vez que estruturam suas formas de representao do
conhecimento por meio da diviso e do relacionamento entre as disciplinas. O mesmo no poderia
ser dito, por exemplo, da classificao facetada de Ranganathan, pois essa, embora apresente
tambm uma diviso de disciplinas em classes e subclasses, abre espao para a identificao de
facetas de assuntos, o que pressupe uma anlise de conceitos.

451
Tocante interdisciplinaridade do campo, a exemplo de Dahlberg (1993), que props a
aproximao da organizao do conhecimento com as reas sociais (educao, poltica, indstria e
sociologia), afirmando se tratar de um campo interdisciplinar que se valia, pelo menos, da Filosofia e
da Terminologia, Hjorland (2008) ressalta no ser a organizao do conhecimento um assunto
exclusivo da biblioteconomia e da cincia da informao, mas tambm de domnios como a
computao, a lingustica e o processamento de linguagem natural, a teoria de conhecimento e
teoria da organizao social. Ademais, o autor menciona que tambm interesse de outros campos a
definio de questes referentes organizao de conhecimento, tais como a Sociologia do
Conhecimento e a Metafsica/Ontologia.
Em Hjorland (2008), encontramos, ainda, uma distino relativa a alguns conceitos que podem
ser considerados unidades de estudo na organizao do conhecimento. Para a cincia da informao
as unidades seriam os documentos, incluindo a livros, artigos, documentos arquivstico, objetos de
museus etc., notadamente tratados por bibliotecrios, arquivistas, documentalistas e demais
profissionais da informao. Para os cientistas da computao, por sua vez, as unidades a serem
observadas seriam a informao passvel de ser armazenada e recuperada em sistemas
computadorizados.
No campo, propriamente dito, da organizao do conhecimento, a unidade estudada pode ser
considerada o conhecimento enquanto um consenso estabelecido, conforme acreditava Evelyn Bliss
ou, o conceito, na perspectiva de que tratam de verdadeiras unidades de conhecimento, como
defendia Dahlberg (1995).
De certo modo, Hjorland (2008), revela indcios da existncia de diferentes discursos, ou
ticas, dentro da prpria organizao do conhecimento, um fomentado pelo pessoal da cincia da
informao, outro pelos informticos e, ainda, um discurso promovido pelos pensadores, natural ou
convencionalmente, assentados no campo da organizao do conhecimento.

3 The Organization of Kowledge em H. E. Bliss

Henry Evelyn Bliss (1870-1955) foi o criador da chamada Classificao Bibliogrfica, baseada
no subject approach to knowledge. No entanto, seu sistema de classificao foi negligenciado em favor
de outros sistemas de classificao j consolidados, como a Classificao Decimal de Dewey e a
Library of Congress Classification, no que se refere aplicao instrumental, uma vez que a classificao
elaborada por Bliss figura com uma das bases tericas dos estudos de organizao do conhecimento.
Situamos nossa ateno na obra The Organization of Knowledge and the System of Sciences, publicada em
1929. Na introduo da citada obra, John Dewey menciona que a mesma perpassada por uma
filosofia que vai do universal para o particular, da teoria para a prtica, impostas pelo crescimento e
pelas mudanas. O livro preza pelo seu academicismo presente na demonstrao do lugar que ocupa
a biblioteca moderna no cruzamento da integrao intelectual com a aplicao prtica, o que torna
evidente que nas atuais condies, as bibliotecas ocupam um lugar estratgico. Assim, a correta
organizao de uma biblioteca pretende a unificao do conhecimento e da experincia, oferecendo,
ao mesmo tempo, subsdios para o desenvolvimento do prprio conhecimento.
No prefcio do livro, Blis se questiona sobre o significado da organizao do conhecimento
(organization of knowledge), e prope que, num sentido amplo

comprehends not only the mental process, the development of concepts and
the conceptual synthesis of knowledge, but also the intellectual correlation and
systemization of valid knowledge, from the simple social synthesis to the more
complex conceptual systems of Science and philosophy (Bliss, 1929, XI).

O autor continua afirmando que em todos esses processos e mtodos, de uma forma ou de
outra, a classificao inerente. A classificao fundamental para a organizao do conhecimento,

452
motivo pelo qual seus princpios, mtodos e formas, devem ser de especial interesse. A classificao
no deve ser vista como uma camisa de fora, ela existe desde a nomeao e coleta de materiais
at a subsequente classificao conceitual, embora, sempre responda s necessidades econmicas.
Ainda, ela se sustenta no consenso, embora este possa mudar constantemente. A classificao, desse
modo, sustenta-se em dois princpios bsicos: a subordinao dos assuntos mais especficos aos mais
genricos, e a alocao de assuntos prximos por motivos de convenincia, que permitam sua
mxima eficincia.
O texto de Bliss (1929) est dividido em quatro partes: 1) The organization of knowledge, 2)
Classification, synthesis, and the order of nature, 3) The system of the science, e 4) a historical survey of
systems of knowledge. O volumoso tratado de quase 400 pginas finaliza com notas bibliogrficas dos
oito ttulos consultados e um anexo onomstico e de assuntos.
Na primeira parte do livro, Bliss (1929) comea destacando a importncia da organizao do
conhecimento para o bom funcionamento da sociedade. Considera que, se comparado com tempos
posteriores, o presente conseguiu, relativamente, socializar o conhecimento. O bem-estar da
sociedade contempornea foi alcanado graas aos avanos da cincia e tecnologia, da educao, das
leis e da organizao do conhecimento. Mesmo porque a vida (biologicamente orgnica) e a
mentalidade social devem ser socialmente organizadas com base na organizao do conhecimento.
O autor considera que a sociedade se debate entre uma tendncia conservadora (que levaria
ao estatismo e rigidez) e outra inovadora (que levaria anarquia). Apresenta uma anlise das
vantagens e desvantagens do socialismo e do liberalismo, colocando a necessidade de organizao da
sociedade como um meio termo. Considera que a liberdade no deva ser a falta de restries, mas
sim a regulamentao. Depois da Primeira Guerra, a racionalizao comea a emergir como uma
condio do progresso, e ela se aplica a diferentes esferas sociais, incluindo a organizao do
conhecimento. Aliada simplificao e estandardizao, a racionalidade contribui ao dinamismo
das mudanas sociais. Ainda, a organizao do conhecimento existe por meio de diferentes rgos e
instituies, como as publicaes peridicas, os escritrios de diversas organizaes e as bibliotecas.
Bliss (1929), depois de fazer uma apresentao bastante ampla sobre a relao entre o
conhecimento e a organizao social, destaca que aquilo que ele considera progresso nos diversos
tipos de organizaes, como as estritamente sociais, polticas, econmicas, educacionais, ticas e
religiosas, est indissociavelmente ligado ao funcionamento da organizao do conhecimento que as
sustenta. Cabe destacar que o autor considera as organizaes como funcionais, enquanto que a
organizao do conhecimento estrutural. Seguidamente, apresenta-se um captulo destinado ao
sistema das cincias, no qual descreve as instituies nacionais e internacionais e a necessidade de
cooperao para seu desenvolvimento.
Ainda no prefcio, quando Bliss se pergunta sobre o que a organizao do conhecimento?,
prope uma resposta imediata no captulo 4, mas, como o termo merece ser explicado, ele dedica os
trs primeiros captulos para esse motivo. No captulo 4, ao qual dedicaremos nossa ateno, o autor
exemplifica os diversos usos do termo organizao, no entanto, tratando de oferecer uma definio:

The current extension of the term organization beyond the biological is
therefore historically justified. Our definitions are accordingly be broader. An organ
is a part that works or functions in effectual relation to other parts, or organs, and to
the whole, or organism, or organization. An organism is a system of parts in which
the relation of part to part involves a relation of part to whole (Bliss, 1929, 75).

A organizao seria uma estrutura ou sistema de partes relacionadas funcionalmente entre
elas e com o sistema. No caso especfico da organizao do conhecimento, alm da estrutura e da
funo, existe o desenvolvimento. Mas, precisa-se tambm ter uma definio de conhecimento e,
embora a biologia e a psicologia tragam importantes contribuies para seu entendimento, torna-se
necessria uma viso mais cuidadosa. A posio do autor a respeito do conhecimento de que ele
deve ser considerado organicamente, no sentido biolgico, como existncia objetiva no crebro.

453
Porm, tambm de certa forma organizado, atravs das impresses, da memria, da experincia, da
coerncia, da sntese e da compreenso. Ainda, o conhecimento deve tambm ser considerado na
sua relao com o social e com a subjetividade (Bliss, 1929).
No caso especfico da organizao do conhecimento, verifica-se cinco classes: 1) a organizao
mental ou psicolgica, manifestada na sntese individual dos sujeitos; 2) a organizao social do
conhecimento e do pensamento de uma comunidade; 3) a organizao do conhecimento de uma
ideia ou um tpico expressado em um livro ou em outras formas lingusticas; 4) a organizao do
conhecimento de um campo especfico de saber ou em um tipo de livro, de uma biblioteca
especializada ou de uma exibio de museu; 5) a organizao social do conhecimento de muitos ou
de todos os campos do conhecimento considerados dentro de um sistema conceitual, em uma
enciclopdia ou em uma biblioteca (Bliss, 1929).
Existem tambm agncias e instituies com a finalidade de organizar e comunicar o
conhecimento. No caso especfico de sua organizao podem ser considerados cinco estgios: 1)
descritivo ou exibitrio, 2) classificatrio ou analtico, 3) sinttico ou sistemtico, 4) educacional ou
cultural e 5) bibliotecolgico ou bibliogrfico. O autor menciona que seu livro est focado nos trs
primeiros estgios. A escolha se deve no unicamente a um interesse intelectual, mas, tambm, ao
seu valor econmico.
A organizao do conhecimento no um problema que concerne unicamente aos
bibliotecrios, nem tampouco objeto exclusivo da cincia ou da filosofia. Ela engloba todos esses
aspectos e mais outro, a organizao social no sentido de

Concepts are synthesized and interlinked in knowledge and thought, which are
recorded and expressed in language, and by languages are communicated to many
minds. Thought proceeds thru reason to new and more comprehensive knowledge ant
thought. In books thought and knowledge are communicated to all minds that have
access. In libraries books are selected, classified, and preserved for present and future
uses and for transmission of valuable knowledge and thought (Bliss, 1929, 80).

Priorizamos, aqui, a obra de 1929 por se tratar de um intento de refletir, de forma mais
abrangente, a organizao do conhecimento, no sentido de que, diferentemente da obra de 1933, na
qual o autor apresenta j uma reflexo mais refletida e aprofundada da classificao, a primeira obra
introduz a classificao dentro de um conceito mais terico e social, fundamentado na organizao
do conhecimento.
Nesse contexto, Bliss (1929) percebe a importncia da organizao do conhecimento para a
prpria organizao da sociedade moderna. Dessa forma, entende que o princpio de racionalizao
e sua consequente economia de recursos se alimentam, tambm, na organizao do conhecimento.
Destacamos o esforo do autor para uma insero social dessa nova atividade (ou campo), de certa
forma, terica e profissional, elencando, para tal, a importncia do trabalho biblioteconmico. E, por
ltimo, percebe-se ainda o empenho reflexivo na definio do prprio conceito de organizao que,
emprestado das cincias biolgicas, teria uma correlao natural na sociedade.
Como o prprio ttulo do livro de 1929 indica, refere-se a uma apresentao e discusso ampla
e geral sobre a questo da organizao do conhecimento e o sistema das cincias. Posteriormente,
em 1933, Bliss aprofundaria e desenvolveria a segunda parte do livro anterior, intitulada
Classificao, sntese e a ordem da natureza, cujo aprofundamento e desdobramento daria lugar ao
seu tratado: The Organization of Knowledge in Libraries and the subject-approach to books. Segundo o
prprio autor, o referido livro (tratado) foi inicialmente pensado como o segundo volume da obra de
1929.
Uma classificao para bibliotecas, segundo Bilss (1933), deveria basear-se, necessariamente,
em um arranjo sistemtico de assunto, uma vez que arranjos alfabticos, como os baseados em
nomes de autores, por exemplo, apesar de na prtica apresentarem menor complexidade, no do
conta das exigncias de uma coleo de biblioteca, muito menos das organizaes dos catlogos.

454
Bliss, assim como Cutter, advogavam a favor da ideia de que uma classificao para bibliotecas, antes
de tudo, deveria ser uma classificao de assuntos, ou seja, tomar por base o relacionamento lgico
dos temas conforme definidos ou pelas classificaes filosficas ou pelas classificaes cientficas.
Para Bliss (1933), a vida til de uma classificao est diretamente ligada estabilidade das relaes
dos assuntos estruturados por uma classificao que formalize um conhecimento estabelecido por
consenso.
Nesse sentido, e deixando claro o fato de que o problema da classificao de bibliotecas no
deve se ater aos ndices e s notaes classificatrias, uma vez que esses apenas servem de
dispositivos auxiliares de um esquema de classificao, Bliss (1993), preocupado no mais em apenas
teorizar a respeito das classificaes, prope que o referido livro sirva resoluo de problemas dos
trabalhos desempenhados por catalogadores, classificadores, bibliotecrios e bibliografos em geral.
O livro pretende oferecer uma fundamentao para o estudo do problema, propondo, assim, uma
soluo para tal. Para tanto, Bliss (1933) busca a elucidao dos problemas dos sistemas de
classificao, dissertando desde os aspectos inerentes catalogao de assuntos at s questes que
tangenciam a bibliografia, finalizando com um criticismo relativo histria das classificaes de
biblioteca.

4 A Organizao da documentao em P. Otelt

Em 1894, Paul Otlet e Henri La Fontaine idealizaram a construo de um ndice universal do
saber registrado, que, fundamentalmente, consistiria em uma bibliografia universal (Piedade, 1983).
Um ano depois, em 1895, Otlet e La Fontaine promoveram a Primeira Conferncia Internacional de
Bibliografia, ocasio em que seria aprovada a iniciativa da construo do ndice universal e, tambm,
deliberada a criao do Instituto Internacional de Bibliografia (IIB). O IIB foi responsvel pelos
assuntos referentes ao ndice, que teve sua primeira edio publicada em 1905, sob a denominao
de Manuel du Rpertoire Universel Bibliografique, posteriormente, Classificao Decimal Universal
(CDU).
A CDU, resultado de uma organizao da informao efetivamente realizada no mbito do IIB,
tomava por base a quinta edio da Classificao Decimal de Dewey (CDD). Embora se tratasse de um
sistema hierrquico de classificao, e de base descritiva, a CDU apresentava maior articulao por
meio de dispositivos sintagmticos, avanando a classificao preconizada por Dewey ao adotar em
suas notaes sistemas semiticos, que, por sua vez, cumpriam funes distintas de relacionamento
entre os assuntos.
No podemos negar que a CDU consiste, muito provavelmente, na principal contribuio de
Otlet organizao do conhecimento. Porm, o trabalho por ele desenvolvido junto equipe do IIB
transbordou a construo de um sistema de classificao. Otlet (re)definiu concepes a respeito do
documento, estabelecendo, dessa forma, as diretrizes dos fazeres cientficos da documentao e,
consequentemente, deu contornos quilo que, a partir da dcada de 1990, a ISKO denominaria de
Segundo Dousa (2010), Otlet levantou a ideia de que a representao dos conhecimentos
veiculados pelos documentos poderia ser realizada no somente pela decomposio de unidades
bibliogrficas menores (como artigos dentro de peridicos ou captulos dentro de livros), mas,
principalmente, pela anlise de unidades de informao menores, tais como os conceitos, os fatos e as
evidncias encontrados dentro dos textos. As unidades de informao (conceitos e fatos), depois de
identificadas, poderiam ser reconfiguradas em um novo arranjo, com o propsito de facilitar a
recuperao dos documentos.
Essa concepo, preconizada por Otlet, de representar conhecimentos contidos em assuntos
por meio de unidades menores de informao, com vistas recuperao mais precisa dos
documentos, exerceria significativa influncia nos trabalhos e teorias que surgiriam posteriormente,
tais como: a indexao sistemtica de Julius Kaiser; a teoria da classificao facetada de

455
Ranganathan; os trabalhos desenvolvidos por documentalistas e bibliotecrios especializados
(primeira metade do sculo XX), que passaram a classificar informaes especficas contidas nos
contedos; a distino, surgida nas dcadas de 1950 e 1960, entre sistemas de recuperao de
documentos e sistemas de recuperao baseados em fatos/objetos e; os trabalhos de extraes de
unidades de informaes de documentos digitais dos sistemas de recuperao surgidos a partir da
dcada de 1990, cujos objetivos assentam-se nas possibilidades de identificar, recuperar e estruturar
unidades menores dentro dos textos digitais (Dousa, 2010).
A anlise da informao por meio de suas partes constituintes mais relevantes (unidades de
informao) evidencia uma transio da organizao pautada nos documentos para uma
organizao dos conhecimentos neles contidos, o que no pressupe, de maneira alguma, um
desligamento com a materialidade. Para Otlet, conhecimento engloba tudo aquilo que se conhece a
respeito dos objetos do mundo externo ou do prprio pensamento, sejam eles objetos fsicos
(naturais ou artificiais) ou no-fsicos (leis, pensamentos, sentimentos etc.). Os elementos primrios
(principais) desses objetos so os fatos ou ideias, que, estruturados conceitualmente pelos
autores, so registrados nos documentos, de modo a refletir a viso que cada autor tem a respeito
dos fenmenos apresentados e discutidos (Dousa, 2010).
Para Otlet, a funo do documentalista era extrair dos documentos os componentes
informativos relevantes (unidades de informaes), separando-os do contexto bibliogrfico original
e registrando-os individualmente, possibilitando que tais registros fossem estabelecidos
analiticamente em repertrios enciclopdicos (catlogos), que, por sua vez, propiciariam e interligao
entre unidades de informao e publicaes diversas (Dousa, 2010).
Para a viabilizao tecnolgica de seu sistema, Otlet adotou o sistema de cartes
padronizados. Ao final do sculo XIX e incio do sculo XX, tal tecnologia figurava como moderna, e
avanava diversas questes prticas de relacionamento entre documentos e seus registros, se
comparado aos formatos de livros de registro (catlogos em forma de livros), comuns at ento. Um
sistema baseado em cartes (fichas), uniformemente dimensionados, contidos de transcries
padronizadas de informaes, alocados fisicamente em gavetas (fichrios), relacionados com
mobilirios especficos e organizados conceitualmente por um esquema de classificao, era
realmente avanado e eficiente na poca de Otlet, fato que o levou, junto com Julius Kaiser, ao
aperfeioamento de tal sistema para o campo da indexao (Sales, 2012).
Uma vez que, nesse tipo de sistema, os cartes funcionam como registros individuais das
unidades que representam os documentos (Dousa, 2010), os cartes figuram como recursos ideais
para registrarem o resultado das anlises de informaes. Cada carto deveria servir como o
portador de uma nica unidade de informao extrada de um dado documento, estabelecendo uma
relao um-para-um que corresponderia ligao entre carto e uma das unidades de informao de
determinado documento (componente informativo extrado do contedo do documento). Otlet
chamou esse princpio de princpio monogrfico (Sales, 2012).
Mediante ao fato de que diferentes cartes podem possuir informaes referentes ao mesmo
assunto, o sistema de cartes permitia definir distines de cartes por meio de cores, tamanhos e
cartes guias, que possibilitavam referncias cruzadas de assuntos relacionados. Assim, o ndice de
cartes representaria tanto os componentes individuais da informao quanto a estrutura em que
tal informao estaria reunida (Dousa, 2010).
Essa sistematizao realizada por Otlet se restringia, nessa fase inicial, ao trabalho
bibliogrfico, proposta que, posteriormente, avanaria para a enunciao de uma nova cincia, a
Documentao. Tal proposta aparece de forma embrionria em seu artigo publicado em 1903, A
Cincia da Bibliografia e da Documentao, traduzido por Rayward no ano de 1990. Embora os
postulados dessa nova cincia do documento tenham sido sistematizados e aprofundados com maior
empenho no Tratado de Documentao, publicado por Otlet em 1934, optamos pelo artigo de 1903,
por retratar o dinamismo, por vezes contraditrio, da articulao de um novo saber/fazer cientfico.
No referido artigo, Otlet discute pela primeira vez a questo da cientificidade da bibliografia e
da documentao. Conforme Rayward (1997), quando Otlet usa pela primeira vez o termo

456
documentao, ele o faz com a finalidade de introduzir um termo mais amplo para o tratamento das
fontes de conhecimento, que anteriormente tinha sido associado bibliografia. Documentao,
portanto, refere-se a algo como providenciar uma documentao que se torne alguma coisa mais
compreensvel. Para Otlet, enquanto a bibliografia era responsvel pela organizao dos
documentos, a documentao seria responsvel pela organizao das informaes dos documentos.
Interessa-nos abordar alguns pontos apresentados no mencionado artigo de Otlet. A discusso
da formulao terica de uma cincia apresentada na parte introdutria do artigo. Otlet (1990)
comea seu artigo apresentando as abordagens atravs das quais o livro foi explicado at ento: seus
aspectos materiais, sua histria, sua organizao e usos, a bibliofilia, seus aspectos artsticos e os
repertrios bibliogrficos.
Embora o termo bibliologia deva ser entendido como a cincia concernente com todos os
conhecimentos relativos ao livro, infelizmente esse termo foi confundido com bibliografia. Outra
confuso flagrante com relao ao uso da expresso cincia do livro, que se via restrita unicamente a
esse tipo de formato. Nesse momento, o autor introduz a documentao. Para isso, ele explica que
assim como existem cincias baseadas em objetos, tambm existem cincias criadas em torno de
ideias, motivo pelo qual, elas podem ser associadas de formas diversas. Ainda, existem cincias que
so estabelecidas devido a um acordo respaldado pela tradio, ou pelas instituies que a
sustentam. Sintetizando sua proposta: Our analysis, however, leads us in general to distinguish the
book and the idea as form from substance the container from the contents, and clearly to
distinguish knowledge on the one hand from documentation on the other (Otlet, 1990, 74).
Introduzido o termo documentao, cabe ainda uma diferenciao com a organizao do
conhecimento, entendida, nesse momento, como os fatos e consideraes externas que organizam o
conhecimento: sociedades, congressos, ensino e; as discusses e avanos formulados em milhares de
documentos, principalmente em artigos. Nesse ltimo aspecto, fazem-se necessrias atividades de
produo, preservao, indexao, bibliografias sistemticas etc.

As one has just seen, everything which deals with scientific documentation,
can, in the final analysis, be considered as a branch of the organization of
knowledge. Nevertheless, because of its importance to make this branch of study [..]
an independent and self-contained subject (Otlet, 1990, 75).

Outra delimitao terica da documentao reside no fato de que nem todos os documentos
podem ser includos na cincia do livro. Os documentos so as fontes do conhecimento, e eles podem
ser de trs tipos. O primeiro tipo so os objetos naturais e as representaes no grficas dos
mesmos. Porm, esses documentos podem levar a escritos ou reprodues grficas que tratem deles,
ou a fenmenos relacionados a eles. O segundo tipo so os objetos basicamente relacionados
arqueologia, iconografia e epigrafia. Da mesma forma que os objetos naturais, eles podem levar
tambm s mesmas formas de reproduo.
O terceiro refere-se aos documentos escritos, os quais se subdividem em trabalhos literrios,
materiais de arquivo e outro tipo de escritos. Os trabalhos literrios so feitos intencionalmente
para um pblico, tanto os manuscritos como os impressos. O material de arquivo consta de materiais
escritos ou impressos, mas produzidos no curso de vida de uma instituio, organizao ou pessoa. E,
os outros tipos de escritos como notas pessoais, autgrafos ou correspondncia (Otlet, 1990).
O autor continua seu raciocnio argumentando que os trabalhos literrios caberiam
perfeitamente dentro do escopo da cincia do livro, mas devido ao formato dos livros, muitos
documentos ficariam fora desse escopo. Essa limitao existe devido ao fato de que a ateno
radicada na morfologia do documento e no na sua funo. Na atualidade, priorizam-se as
informaes contidas nesses documentos, qualquer que seja sua matria ou forma. Essa nova viso
est mais voltada aos futuros requerimentos, do que ao tradicional desenvolvimento da cincia do
livro.

457
Um dos aspectos mais importantes do artigo de Otlet foi dedicado a encontrar alguma
resposta ou soluo ao problema do aumento de publicaes, nos seus diversos formatos.

In summary, the book as shaped by the past is in the process of complete
change. The experiments that we are now witnessing are to make the book easier to
consult and easier to handle so that it is more effectively and more quickly
informative in a Word, more documentary. These experiments are all leading to a
better organization of documentation (Otlet, 1990, 85).

Otlet finaliza o artigo optando por uma cincia da bibliografia, devido s limitaes que ele
percebe na linguagem. Ele define a cincia da bibliografia como a cincia cujo objeto so as questes
comuns inerentes em todo tipo de documento. Portanto, seu objetivo prtico seria a organizao da
documentao, sobre as bases de uma maior compreenso, com a finalidade de que o pesquisador
possa alcanar o ideal de uma mquina capaz de explorar o tempo e o espao.
Podemos inferir, portanto, tal como mencionamos no incio, que o carter seminal do artigo
faz com que, no decorrer do texto, apresentem-se afirmaes muitas vezes imprecisas para aquilo
que hoje entendemos como Documentao. Faltaria um longo trecho ainda para se chegar ao
amadurecimento e sistematizao de sua proposta, que por enquanto, nota-se, de certa forma,
difusa.
O texto sugere uma diferena entre bibliografia e cincia da bibliografia. Se por um lado a
bibliografia era restrita, extraindo dela e da bibliologia a categoria livro (biblion), as caractersticas ou
as partes constituintes dessa categoria poderiam ser aplicadas a qualquer tipo de documento,
permitindo assim a anlise e a representao das unidades de informao dos documentos. Com isso,
assentavam-se as bases para a construo terica da cincia proposta. Por outro lado, a documentao
aparece como um saber prtico na medida em que viabiliza a organizao das informaes dos
documentos. Num sentido latu, seria a organizao desse novo mecanismo representado pelas fichas
(cartes) e seus catlogos. Assim, a finalidade desses novos mecanismos de acesso aos documentos
era a maximizao de recursos para uma maior efetividade da localizao do documento.
Finalmente, cabe destacar que o propsito de Otlet na construo desse novo saber-fazer, longe de
se iniciar a partir de uma construo terica, configura-se em um dinamismo entre teoria e prtica,
que exclui qualquer relao de causa e efeito.
Quando Otlet aloca dentro do conceito de organizao do conhecimento os aspectos externos de
um saber documentrio, ele, embora de forma no proposital, apresenta justamente os meios pelos
quais agiu para a construo do que posteriormente viria a ser a cincia da Documentao. Propomos
que Otlet tenha feito o caminho inverso, uma vez que ele no partiu de um conjunto de ideias
iniciais, mas de uma necessidade real o acesso informao. curioso perceber que, j no incio do
sculo XX, Otlet se preocupou com o fato de que os usurios/leitores/pesquisadores/profissionais
buscavam, efetivamente, informaes, fatos e ideias que propiciassem algum tipo de conhecimento.

5 Associando os dicursos

Retomando nossa apresentao, optamos por percorrer um caminho inverso, isto , evitamos
comear por uma suposta origem. Nesse sentido, iniciamos nosso texto apresentando uma
preocupao e uma discusso atual dentro do seio da ISKO, uma instituio, relativamente, recente,
criada a partir da emergncia de uma inquietao surgida pela configurao de uma nova realidade
terica. Em outras palavras, comea a se delinear um objeto que, embora nasa dentro da
biblioteconomia, comea a ser delimitado a partir da ideia de organizao e de conhecimento. Isso
significa um deslocamento da informao para o conhecimento e de processos especficos, como a

458
classificao, para uma abordagem mais abrangente, que a organizao, conceitos correlatos,
embora diferentes na sua abordagem, no seu mtodo e na sua finalidade.
A sada de Dahlberg da Society for Classification pode ser considerada como manifestao de um
incmodo de pertencimento. Na medida em que suas ideias no encontraram mais um espao de
manifestao, Dahlberg props a criao de outra instituio. Assim, esse novo lugar foi no
unicamente produto ou materializao das suas ideias, mas tambm o lugar que respaldou e validou
suas enunciaes. Consideramos o artigo de 1993 como a marcao de futuros caminhos a serem
seguidos para uma nova configurao de um objeto cientfico, dessa forma, alm de ser uma sntese
inicial, o artigo tambm pode ser considerado como uma declarao de princpios.
Pretendemos que as associaes entre as ideias de Dahlberg, a ISKO enquanto instituio e os
meios de comunicao dos debates (congressos, peridicos e universidade), sejam interpretados no
de forma linear, numa relao cronolgica ou de causa e efeito, mas como agenciamentos
simultneos ora associativos, ora excludentes. Portanto, foram tambm escopo de nossa anlise os
textos de Hjorland (2003, 2008), na medida em que a partir dos enunciados de Dahlberg,
contriburam para a abertura de novas frentes de problemas que, futuramente abordadas,
configuram-se hoje como uma discursividade cientfica em ebulio.
Ao abordarmos os enunciados de Dahlberg e Hjorland nos indagamos a respeito do momento
da instaurao de seus discursos, assim, decidimos que uma volta s origens seria atravs da
retomada dos textos de Bliss e do artigo de Otlet.
Assim, num primeiro momento, descobrimos que Dahlberg explicitamente reconhece Bliss
como pioneiro da organizao do conhecimento. Existe nisso uma clara intencionalidade na volta s
origens, a qual implica uma redescoberta e uma reatualizao. Pressupe-se que na instaurao de
um discurso essa movimentao se deva a um esquecimento prvio. Nesse sentido, trazer o Bliss de
volta no simplesmente uma positividade, pelo contrrio, significa suprir as faltas, os silncios
desse autor sobre um problema que na atualidade se apresenta como um motivo indagador. Faz
parte da instaurao do discurso essa dinmica do silncio e, justamente por acreditarmos que
existam lacunas, que novos enunciados venham ao seu encontro para suprir essas faltas,
modificando, ao mesmo tempo, o discurso.
Consideramos a relao entre Dahlberg e Bliss uma ligao de reatualizao baseada nas
fundamentais contribuies que a classificao trouxe para a configurao terica da organizao do
conhecimento. De certa forma, Dahlberg reinsere, explicita e implicitamente, as ideias de Bilss,
fazendo com isso a delimitao de um novo estatuto para o autor enquanto instaurador de uma
discursividade. Explicitando, Dahlberg amplia, reformula e exclui o Bliss para o enunciado que vai da
classificao organizao do conhecimento.
Existe outro aspecto da volta s origens, que chamaramos de aproximao exterior, isto , da
redescoberta de um autor ou de um enunciado especfico desse autor. Esse movimento se configura
a partir de uma interpretao que o presente faz do passado. Em outras palavras, de uma codificao
retrospectiva do olhar histrica.
Na leitura de Hjorland percebemos que quando ele prope um narrow e um broader meaning
para a organizao do conhecimento, fortalece as propostas de Dahlberg, ao mesmo tempo em que
amplia seu olhar para o aspecto da organizao social do conhecimento, proposta por Bliss em 1929.
Cientes de nosso olhar retrospectivo, percebemos que comea a se delinear uma outra preocupao
(por sinal, evidente no ltimo congresso da ISKO, na ndia) acerca da recuperao da informao
como elemento capital dentro da organizao do conhecimento. Notadamente, esse foco na
recuperao da informao j se encontra presente nos enunciados de Otlet. No artigo de 1903,
quando Otlet menciona o termo organizao do conhecimento, seu significado diz respeito ao
entorno exterior da cincia. Isto , so as instituies, associaes etc., que organizam o
conhecimento. Nesse sentido, pelos prprios elementos de compatibilidade discursiva, essa proposta
no se articula com o discurso da ISKO. No entanto, existe sim uma ressignificao do autor quando
Hjorland, desde a perspectiva de um broader meaning, contempla esses aspectos na construo de um

459
saber. E tambm quando ele, de certa forma, incorpora a questo da nfase na busca e na
recuperao da informao, piv do discurso da documentao de Otlet.
Para a ISKO a organizao do conhecimento um fenmeno de mo dupla. Se por um lado
existe uma organizao social manifestada pela sociedade como um todo, tal como acontece no
campo biolgico, e que se faz tambm determinante para a existncia do conhecimento, por outro
lado a organizao do conhecimento um dispositivo que serve para a prpria organizao da
sociedade e de suas organizaes. Para Otlet, existe o documento e suas unidades informativas, e
cabe Documentao extrair e disponibilizar tais informaes para o eficaz acesso informao.
Sendo o conhecimento uma esfera dentro da qual os documentos so necessrios para a sua
perpetuao, cabe s associaes organizar o conhecimento e Documentao agir dentro dos
campos dessa organizao prvia.
Finalizando, gostaramos de ressaltar que as associaes aqui apresentadas configuram-se
como o resultado de um exerccio reflexivo e interpretativo que, longe de pretender a construo de
um discurso linear e cronolgico, buscou estabelecer ligaes discursivas na dinamicidade de seus
possveis agenciamentos. Sob a luz da abordagem aqui adotada, a qual deixa clara que a
intencionalidade do autor no premeditada para instaurar o discurso, conclumos que Dahlberg
outorga um estatuto especial obra de Bliss, o que, dentro de nossa tica, implica que ela, e autores
posteriores, desdobraram o pensamento e a aplicabilidade dessa obra, instaurando Bliss como
fundador de um discurso, apropriado e reinterpretado pela ISKO.
A respeito do discurso de Otlet, verificamos que ele no fundador de um discurso no qual se
articule organizao do conhecimento tratada no mbito da ISKO. Porm, podemos perceber sim
uma aproximao de sua obra no que diz respeito questo da recuperao da informao, presente
nos enunciados de Hjorland. Nesse sentido, se Otlet no instaura, como Bliss, o discurso da
organizao do conhecimento, ele pode vir a contribuir e se associar com o discurso fomentado pela
ISKO. No obstante, o termo organizao do conhecimento fosse originalmente cunhado por Otlet.

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462
KNOWLEDGE ORGANIZATION AND ISKO
Some considerations for its development

H. PETER OHLY
International Society for Knowledge Organization, Frankfurt
[email protected]

Abstract Traditionally Knowledge Organization is the ordering of documents on a bookshelf and the
indexing of these in a more or less one-dimensional catalog. Now with the Web, its many and hyperlinked,
distributed and heterogeneous sources the plain terminological approaches are no longer sufficient. In the
same way ISKO society has to rethink its mission.
The New Knowledge Organization, which aims at the Semantic Web 3.0 tries to combine different
Knowledge Organization systems by shared meta data and formalized ontologies that are logical deductive.
Whereas the semantic approaches have quite an opposite approach to the 'social driven systems the future
might lay in a combination of logical descriptions, specialized evaluation, and self-organizing principles, what
could be named Self Organizing Knowledge Organization Systems. But still there are open questions which
might be solved in future by ISKO and neighbor societies. Not at least ethics and trust are key parameters.

Keywords Knowledge Organization. ISKO.

Resumo Tradicionalmente, "Organizao do Conhecimento" a ordenao de documentos numa estante e a
sua indexao num catlogo mais ou menos unidimensional. Agora, com a Web e as suas muitas, hiperligadas,
distribudas e heterogneas fontes, as abordagens terminolgicas simples j no so suficientes. Da mesma
forma, a sociedade ISKO tem de repensar a sua misso.
A nova Organizao do Conhecimento, que visa a Web "semntica" 3.0 tenta combinar diferentes sistemas
de organizao do conhecimento partilhando metadados e ontologias formais que so lgico dedutivas.
Considerando que as abordagens semnticas tm uma perspetiva bastante oposta dos sistemas sociais
orientados, o futuro pode assentar numa combinao de descries lgicas, avaliao especializada e
princpios de auto-organizao, o que poderia ser chamado "auto-organizao de Sistemas de Organizao do
Conhecimento". Mas ainda h questes em aberto que podem ser resolvidas no futuro pelas sociedades ISKO
ou prximas. No mnimo, a tica e a confiana so os principais parmetros.

Palavras-chave Organizao do Conhecimento. ISKO.

1 What is Knowledge Organization?

Dahlberg (2006) defines Knowledge Organization as the science of structuring and
systematically arranging of knowledge units (concepts) according to their inherent knowledge
elements (characteristics) and the application of concepts and classes of concepts ordered by this
way for the assignment of the worthwhile contents of referents (objects/subjects) of all kinds.
More precisely, Dahlberg (1998) defines knowledge organization as:
A subject area encompassing the organizing of a) units of knowledge concepts and b) all types
of objects (minerals, plants, animals, documents, pictures, museum objects, etc.), related to
particular terms or categories, so as to capture what is known about the world in some orderly form
allowing it to be further shared with others.
Knowledge organization encompasses the following nine sub-areas:
1. the epistemological, mathematical, system-theoretical, cognitive scientific and
scientific theoretical premises of order of concepts as well as their historical
background,

463
2. the knowledge of elements and structures of systems of concepts,
3. the methodology of intellectual construction, conservation and revision of this
system and computerization; including questions of paradigmatic and syntactic
relating of their elements and units as well as keeping the system compatible and
evaluating this system,
4. the methodology of intellectual and machine applications of this system via
classification and indexing,
5. the knowledge of existing universals and
6. special taxonomies and classification systems including documentation language
(thesauri),
7. questions arising from the influential areas linguistics (~ linguistics mathematics) and
terminology; including the retrieval problems, especially in online access,
8. the application of content indexing of all types of documents and in all subject areas,
9. the entire periphery of knowledge organization in the workplace, individual centers,
societies, countries and in international areas, as well as the question of education,
the economy, the user, etc.

According to Dahlberg (2014) the essential characteristics of an object lead to its concept as
well as to its hierarchical place and to its relations to other concepts. With respect to e.g. social
tagging, the systematic approach and the presumption of inherence of the knowledge elements are
nowadays no longer obvious. Traditionally Knowledge Organization was understood as the
ordering of documents on a bookshelf and the indexing of these in a more or less one-dimensional
catalog. At least with more detailed documents (e.g. journal articles), the growth of data bases and
the availability of sophisticated retrieval techniques, the concept approaches so far were not
satisfactory and term based organization became increasingly important. Now with the Web, its
many and hyperlinked, distributed and heterogeneous sources these simple terminological
approaches are as well no longer sufficient. Zeng (2008) sees an increase of dimensionality and
functions with the development from term lists, via metadata-like models and classifications, to
relationship models (see Fig. 1).

Figure 1 - KOS Types
(amended from Zeng 2008, p. 161)

In principle this reflects a shift from more subjective views of knowledge and its order to
more objective ones. Hence it has to be rethought how far e.g. ISKO (International Society for
Knowledge Organization) has to change its mission. There are many disciplines which are partially

464
applied in Knowledge Organization or which are operating in close connection with it, e.g.
Linguistics, Cognitive Science, Philosophy. As discussed above Knowledge Organization is more
oriented to the labeling, arranging, and retrieval of knowledge in archived documents. Main
frontiers exist nowadays with Knowledge Management and Knowledge Engineering (cf. Fig. 2).

Figure 2 - Characteristics of Knowledge Disciplines
1

In Knowledge Management the main focus is to make profit out of the knowledge within an
enterprise and its business. The elicitation, codification and retrieval of knowledge for management
processes are part of it. Knowledge Engineering tries to mechanize knowledge storage, its
maintenance, and its integration. Human models of understanding the universe of knowledge are
part of it. Whereas Knowledge Management and Knowledge Engineering are appropriate to contrast
to the primary scope of Knowledge Organization, these are as well neighbor disciplines worth to be
considered as essential collaboration fields. E.g. enhanced and electronic hyphened application
areas are more than a sum of all of these but a true progress if combined sophistically, like intended
in the Semantic Web.

2 Challenges for Knowledge Organization

At several conferences the future of Knowledge Organization, resp. Information Science was
discussed. 2006 on the Vienna ISKO conference (Ohly 2008a) Winfried Schmitz-Esser realized that a
world model is needed that integrates means of organization and that can also detect and process
knowledge in texts. And Gerhard Budin stated that Knowledge Organization nowadays comprises
cognitive, epistemic, communicative, and automatic knowledge representation, creation, and
processing. On the IKONE2 conference 2007 in Bangalore Maxmilian Stempfhuber stressed out that
aggregation of data resources in portals requires special treating of heterogeneity with respect to
user demands. One of the most demanding statements given at this conference was by Prasad
Bhaarat Ram: Give me what I want, not what I ask for (Ohly 2008b). Means for that might be
procedures that deal with misspellings, spam ranking, user models (cf. Knight 2008). Seen under the
perspective of local ethics, considerations of cultural context appropriateness must be taken into
account (Hoffman 2008, Skovira 2008). Stahl (2008) names openness, affinity to action, and
consequentialism as characteristics of social responsibility. A conference on Scientific
Communication of the Future in Jlich 2007
3
yielded in diversification of knowledge and types of

1
Source: Ohly 2011a
2
International Conference on Future of Knowledge Organization in the Networked Environment
3
Ball 2007

465
knowledge communication distinguishing between mainstream knowledge and ingenious
knowledge creation.
These discussions of the last decade shape clearly, that the users as well as the indexers have a
fluid notion of knowledge and of document contents to be useful for a certain application. These
users are very different with respect to their individual or public tasks and their observing or
constructing role, especially with the Social Web 2.0 (Trump 2007; see Fig. 3).

Figure 3 - Web 2.0 Users Typology
(translated from Trump 2007)

Whereas in the pre-digital world the experts were dictating the values to the users, now in a
native digital word the public and skilled users are setting the norms for the scientific experts (cf.
Quoniam 2009). The information quality is in so far not static but must be able to adopt information
sources from yesterday to very new arising questions of tomorrow (see Fig. 4).

466

Figure 4 - Past-PresentFuture of Information
4

Prerequisite - though not sufficient - is the trust in the information creation and its creating
institutions (cf. Oermann 2008). The retrieval should apply sophisticated robust processing
techniques which are able to mine important information from many and heterogeneous data bases.
In favor of the current user a flexible adaption with selective narrative ranges for decision making
have to be provided for. Hence the demanding question will be: How can outdated information be
transformed and reused for future unforeseen problems? Nevertheless unobvious user expectations
can hardly be matched by a mechanical information system. More recent conferences (ISKO France
2009, Lyon and 2011, Lille; ISKO Germany 2009, Bonn; UDC Seminar 2011, Den Haag; DGI 2012,
Dsseldorf) had similar discussion rounds but picked out more the lacking of Web semantics, the
conflict with new social media and the computer science dominance
5
.

3 Theoretical Foundations of Knowledge Organization

One key question is the theoretical foundation of information and Knowledge Organization
work. If we are going back to Dahlbergs definition we are finding also questions of application and
periphery of Knowledge Organization. And the founders of classification systems, like Dewey or
Otlet (Rayward 2010), went far beyond the question of positioning and distributing books. Such a
focus on usability is accompanied by questions like: What kind of knowledge is worth being
collected? Where should we get it from? How can we use and preserve it? Who should make profit
out of it? There are many theories offered from Activity Theory to Design Theory, not to omit
theories that include ecological and global aspects. A look only on Complexity Theory (Morin 2006)
6

shows the wide range of theories nested with it under different aspects (see Fig. 5).

4
Source: Ohly 2011b
5
< http://pro.ovh.net/~iskofran/?q=node/13 > and < http://liste.cilea.it/pipermail/isko/2010-January/000259.html >; <
http://conferences.isko-france.asso.fr/en/programme.htm >; < http://www.mail-archive.com/wiss-
[email protected]/msg00051.html >; < http://seminar.udcc.org/2011/programme.htm >; < http://dgi-
info.informationsassistent.de/index.php?option=com_content&view=article&id=288&Itemid=122 >
6
See also: Montuori 2004

467

Figure 5- Complexity Map
7

System Theory (Bertalanffy) and Cybernetics (Wiener) up to Global Network Society
(Castells)
8
. Thus Knowledge Organization must be aware of different theoretical positions that
enforce certain tasks and visions and must be able to lay its emphasis and principles on those
theories that are appropriate in its special application area and for its user clientele. Schultz (2008)
says that, only a more theoretical approach with deeper principles can give us the flexibility to deal
with our new ethical environment. Certain positions determine the kind of offering information as
well as expectations of the users. Not at least psychological theories, how we are attracted to use
information (Berlyne: Activation Theory)

and which design of information will be fashionable
(Brdeck: Design Theory), as well as sociological theories, how information and information norms
are diffusing (Rogers: Diffusion Theory) and psycho-social dynamics of opinion leadership (Lewin:
Group Dynamics)

have to be considered
9
. Hjrland (2002; see: Fig. 6) distinguishes between
Empiricism (induction from data), Rationalism (logical modeling), Historicism (historical
background), and Pragmatism (goals and values of information and users). Hjrland (1997)
10

explains the Pragmatic Theory of Knowledge
11
among others as follows:

7
Source: Castellani 2009
8
Bertalanffy 1957; Wiener 1948; Castells 2005
9
Berlyne 1967 (see also: Scott1966); Brdek 2005; Rogers 1962; Lewin 1935
10
Extract from Hjrland (1997): < http://www.iva.dk/jni/lifeboat_old/Positions/Pragmatism.htm >
11
Under which he subsumes his information concept of Activity Theory (Leontev 1978)

468

Figure 6 - Epistemological Schools
(amended from Hjoerland 2002)

Since living and acting constitutes the a priori of knowledge, knowledge is constructed in
such a way that an application of well constructed knowledge will directly or indirectly serve living
and acting []
12
in a bio-physical, a socio-cultural and a subjective world. [] There is a
continuous interaction between knowledge and action so that knowledge is created in and through
action and so that experiences that the actor acquires through action influences subsequent action.
He himself (with reference to (Andersen 2005) is a defender of Activity Theory as theoretical
basis for information work: The most important issues in the criticism of empiricism, rationalism
and positivism probably are the neglecting of knowledge as a social and historical product made
to serve certain purposes and interests and by implication the need reconsider knowledge claims in
the light of new purposes, conditions and interests (2013). For practical classification work he is
rather critical about user-based/cognitive views, facet-analytic approaches, empirical (numerical)
and as well social (citations) classifications, but in contrast to Mai (2004) he proposes for
bibliographic purposes also a domain-analytic view, where only the cooperation with subject
scientists will result in applicable and accepted knowledge organization systems. As he says: The
difference between a good and a bad classification is that the good classification reveals deep insight
concerning the possible choices and dilemmas and is well argued (2013). He is more or less in
consent with Umsttter (2014) who claims for scientificly secured knowledge which guarantees
scientific acceptance as well as logic processing. Equally the Science and Technology studies (Knorr-
Cetina 1984) demanded a deeper insight into processes of high technology labs if knowledge was
investigated in these areas.

12
Order changed by the author

469
4 New Knowledge Organization

The New Knowledge Organization, which aims at the Semantic Web 3.0 tries to combine
different Knowledge Organization systems in the Internet by shared meta data and formalized
ontologies which are logical deductive. Examples for these are the NKOS group with
recommendations for thesauri description schemes (NKOS 1998) and SKOS which applies machine-
readable resource description languages to knowledge organization systems such as thesauri,
classification schemes, and other concept schemes (Miles/Bechhofer 2008). The SKOS data model
provides basic sets of documentation properties, semantic relation properties, lexical labeling, label
relations, concept collections, and concept mapping. These sets provide a framework that can be
adapted to more specific needs.
Whereas the semantic approaches have quite an opposite approach to the user driven social
systems
13
the future might exist in a combination of logical knowledge based descriptions and self-
organizing principles, what could be labeled Self Organizing Knowledge Organization System
(SOKOS). A first attempt in harmonizing Knowledge Organization systems with a machine-readable
world is (in continuation of the British Standard BS 8723, Structured vocabularies for information
retrieval, published between 2005 and 2008) given by the ISO norm 25964 Thesauri and
interoperability with other vocabularies, part 1 from 2011 (Thesauri for information retrieval) and
part 2 from 2013 (Interoperability with other vocabularies)
14
, that revises and amends the existing
international standards for retrieval adequate thesauri. More basic ontology approaches are
addressed by Herre (2013; see Fig. 7), whereas Soergel (2011) and Weller (2008; see Fig. 8) advocate
first of all for repositories of already existing relations, resp. KOS systems.

Figure 7 - General Formal Ontology: Selected Categories
15

13
See e.g. Flickr < http://www.flickr.com/ >
14
See also: Dextre Clarke 2011 and 2011/2012; part 2 with subsections: Guidance on electronic functions and displays,
Functional specification for software to manage thesauri, Guidelines for certain additional types of vocabulary (e.g.,
classification schemes, taxonomies), Interoperability (mapping) between vocabularies, Formats for exchange of thesaurus
data
15
Source: http://www.isko-de.org/data/uploads/2013_Herre_Benking.pdf

470

Figure 8 - Conceptualization of main modules of KOSO with exemplary subclasses and basic interrelations
16

Knowledge Organization has to turn back to formal, semantic approaches, such as facetted
concept systems. But as well it has to be logically more precise and field adequate with the aim to
enable specialized reasoning over multiple sources in the Web environment. But also self-adapting
approaches, such as social indexing and its quantitative exploitation can be neglected no longer.
Protagonists of Collective Intelligence (Swarm Intelligence, Crowd Sourcing) are seeing a drift
from established information providers to combined individual information cumulation (Lvy 2003,
cf. Levy 1997, cf. Remoreras 2010). Besides the problem of mainstream insights the inferences over
heterogenous data sources will be rather error-prone if they intend to find factual results or even
ratings (Farkas 2008), but they might be adequate if only bibliographic references are provided for.

5 Conclusions for ISKO

ISKO as a specialized society in this field has to help its clientele to get orientation in an
unclear offer of competing approaches and specific realizations. Means for this are international
and interdisciplinary congresses, articles in its specialized journal (Knowledge Organization), access
to classical texts, text books, dictionaries, and repositories, as well as exchange relations with other
societies (cf. ISKO 1989, Art. 4). Not at least the theoretical background of information, resp.
knowledge, and its coding and exchange must be refurbished, especially it has to consider its
technical and the social dimension (see Fig. 9).

16
Source: Katrin Weller 2008b

471

Figure 9: Workflow for Collective Intelligence + Knowledge Representation
(amended from: http://glennremoreras.com/2010/07/28/forecast2020/)

A step forward into this direction are repositories with classical readings and old Knowledge
Organization journal issues, as well as a specialized bibliography open to the community and the
encouraging of norms and evaluations concerning the field of Knowledge Organization. Open access
to Knowledge Organization principles as well as KO systems are a prerequisite for a more than only
insider acceptance. Knowledge Organization textbooks have to include the topical potentiality of
ontologies, machine processing, and Web environment. Exchange with other disciplines or even
special groups requires more active contacts with other scientific societies in the field as well as
clear exchange rules with these. Nevertheless ISKO has to define its differences to other sciences.
But there are still open questions that might be solved in future by ISKO and neighbor
societies:

1. What are indicators for good Knowledge Organization System?
2. What is the special profit of different Knowledge Organization principles (facetted,
numerically clustered, social, etc.) and how can they be combined in applications?
3. How can local heterogeneity be combined with the aim of a global e-science?
4. Who is the target for Knowledge Organization literacy affords?
5. What is the profile of a Knowledge Organization profession ?
6. Where has Knowledge Organization auxiliary or application aspects for other sciences
in the information field and where is it a genuine contribution to the science of
knowledge (cf. Dahlberg 2014)?

472
6 Outlook

Knowledge Organization is an everlasting demand for efficient storage, retrieval, and
processing of information codified in text and other human artifacts. Similar to Information Science
it is such common that it is sometimes not seen as an own discipline with the prerequisite of getting
standardized, established, mediated, and updated. With the development of more and more complex
information and communication technologies it becomes increasingly dependent from these and is
sometimes understood as sub-discipline of these. Without any intention to subordinate one to the
other it must be clearly seen that engineering means and the semantic cultural logic are different
aspects of one more or less application problem. The problem is to provide specialized knowledge
for a special purpose (cf. knowledge management in enterprises). These situations should be closer
defined by Knowledge Organization and then knowledge engineering techniques can be applied in
cooperation. On the other hand Knowledge Engineering is demanded for the proliferation of
adequate techniques for Knowledge Organization in whatever context - if the intention is clearly
enough specified. Currently we have the offering of available techniques without knowing how
appropriate they are for application problems. E.g. the combination between open and closed
techniques is a question for knowledge workers according to its social functionality and desirability.
It is up to the Knowledge Organization to provide a transfer from the one to other. In so far
information technology (now mostly computer based) is a prerequisite for every information
designer but not the only and not the main focus. To find its role it is necessary to explore the
philosophical background (and social intention) for the current knowledge intermediation.

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477
O ENSINO DE ARQUITETURA DA INFORMAO E ORGANIZAO/REPRESENTAO DA INFORMAO
DIGITAL
uma anlise curricular dos cursos de Biblioteconomia do Brasil

HENRY PONCIO CRUZ DE OLIVEIRA
Universidade Federal do Cear
[email protected]

SILVANA APARECIDA BORSETTI GREGRIO VIDOTTI
Universidade Estadual Paulista Jlio Mesquita Filho /
Grupo de Pesquisa Novas Tecnologias em Informao
[email protected]

Resumo O termo arquitetura da Informao aparece por volta do final da segunda metade do sculo XIX
cunhado pelo arquiteto Richard Saul Wurman em um contexto reflexivo sobre os problemas gerados pela
ansiedade da informao. A Arquitetura da Informao AI um campo interdisciplinar que dialoga com
prticas tradicionais da Biblioteconomia, com a Cincia da Informao (CI) objetivando organizar e
representar a informao digital nas camadas dos diversos tipos de ambientes informacionais digitais (sites,
softwares, bibliotecas digitais, repositrios institucionais, peridicos eletrnicos, entre outros). A insero da
disciplina de AI nos Cursos de graduao em Biblioteconomia no Brasil pode propiciar a formao de
profissionais capazes de tratar, organizar e representar a informao no contexto digital. Questionados pelos
argumentos supracitados, empreendemos uma investigao para responder a seguinte questo de pesquisa:
Como tem acontecido o ensino de Arquitetura da Informao Digital nos cursos de Biblioteconomia do Brasil?
Estabelecemos como objetivo geral desta pesquisa: Investigar e diagnosticar o ensino de Arquitetura da
Informao nos cursos brasileiros de Biblioteconomia, a partir de seus Projetos Pedaggicos, grades
curriculares e ementas. Do ponto de vista metodolgico, este estudo ancora-se numa abordagem quantitativa e
qualitativa. A presente pesquisa pode ser categorizada, quanto aos seus objetivos, como diagnstica. Quanto a
fonte de dados bibliogrfica e documental, visto que utilizou as fontes primrias, secundrias e tercirias no
processo de pesquisa, e recorreu a documentos oficiais dos cursos de Biblioteconomia como os Projetos
Pedaggicos e resolues que orientam o ensino de Biblioteconomia no Brasil. Os resultados demonstram que,
mesmo sendo consenso na literatura de AI, do melhoramento da eficcia e eficincia dos ambientes digitais e
de que h uma relao intrnseca entre AI e Biblioteconomia, poucos cursos no Brasil tem inserido a
Arquitetura da Informao em suas grades curriculares como disciplina obrigatria.

Palavras-chave Arquitetura da Informao. Ensino. Biblioteconomia.

Abstract The term information architecture appears around the end of the second half of the nineteenth
century. It is used by the architect Richard Saul Wurman in the context of the problems caused by
"information anxiety". The Information Architecture - AI - is an interdisciplinary field that dialogues with
traditional practices of librarianship with the Information Science (CI) in order to organize and represent
information in digital layers of different types of digital information environments. The integration of of AI in
brazilian librarianship courses can provide training professionals able to handle, organize and represent
information in a digital context. Questioned by the arguments cited, we seek to answer the following research
question: How have occurred teaching Information Architecture brazilian librarianship courses? The objective
of this research: Investigate and diagnose teaching Information Architecture in Brazilian Librarianship
courses. The methodology is qualitative and quantitative. This study is diagnostic.
The results show that, even though consensus in the literature of AI, improving the effectiveness and
efficiency of digital environments and that there is an intrinsic relationship between AI and Librarianship, few
courses in Brazil has entered the Information Architecture as a discipline.

Keywords Information Architecture. Teaching. Librarianship.

478
Introduo

A histria e a evoluo humana fornecem elementos capazes de nos auxiliar na compreenso
de elementos da sociedade contempornea. Por isso reportamo-nos a evoluo das espcies e aos
indicativos de existncia de instrumentos tecnolgicos utilizados para solver demandas cotidianas,
prover o alimento e garantir a subsistncia da espcie. Nesta direo, Bussab e Ribeiro (1998)
sugerem que o Homo habilis, num modo de vida j scio-cultural, utilizava um extenso conjunto de
instrumentos manufaturados de pedra para o processamento de carne. De acordo com estes autores
esta tecnologia tpica de lascamento, persiste no registro das primeiras fases do Homo erectus. Assim
correto afirmar que desde muito tempo, os sujeitos produzem, usam e modificam suas tecnologias
em funo das mais diversas demandas, desde as tecnologias de lascamento dos homo habilis e homo
erectus at as Tecnologias de Informao e Comunicao criadas pelo homo sapiens.
Fazendo outro recorte, relacionado a capacidade humana de transmitir seu conhecimento,
observamos o desenvolvimento de materiais miditicos utilizados para registrar a cultura e o
conhecimento humano, de modo que os antigos utilizaram suportes como rochas, casco de rvores,
couro, seda, madeira, fragmentos de argila, papiro, pergaminho, papel, entre outros. Estes artefatos
funcionaram, e funcionam no caso do papel, como um suporte que d materialidade ao
conhecimento humano atravs dos conjuntos de informaes registradas (Doctors, 1999). Inclusive,
estes registros informacionais ou do conhecimento, tem sido armazenados ao longo da histria em
Bibliotecas e grandes centros de informao. Por conseguinte a Biblioteconomia protagonizou um
papel importante no tocante organizao, representao, armazenamento e recuperao da
informao enquanto materialidade do conhecimento humano. Saracevic (2008) corrobora nossa
linha de pensamento ao dizer que a Biblioteconomia tem uma longa e orgulhosa histria,
remontando a trs mil anos, devotada organizao, preservao e ao uso dos registros grficos
humanos (p. 48).
Os dois recortes apresentados acima no foram escolhidos aleatoriamente pois entendemos
que a articulao destes argumentos nos ajuda na compreenso de que a produo das
contemporneas TIC e os volumes informacionais existentes, sobretudo na web, esto imbricados
com os recortes apresentados. A produo de tecnologias e a necessidade de registrar a cultura e o
conhecimento humano so fenmenos histricos que foram construdos concomitantemente a
evoluo humana e ao desenvolvimento das sociedades, principalmente as capitalistas. Em nossa
compreenso, a necessidade humana de registrar seu conhecimento gerou instrumentos
tecnolgicos ao longo da histria e estes instrumentos aprimoraram-se at os dias de hoje chegando
ao que ns chamamos de Tecnologias de Informao e Comunicao. O cerne de nosso argumento
est no reconhecimento de que a conjuntura tecnolgica que temos atualmente, foi construda ao
longo da histria e incorpora elementos da evoluo das sociedades.
Desenvolvidas para facilitar a disseminao de informao e a comunicao entre os sujeitos,
as tecnologias so marcantes na sociedade contempornea. Na anlise de Castells (2005) estamos
vivendo, desde as trs ltimas dcadas, um processo de transformao estrutural, multidimensional
e associado emergncia de um novo paradigma tecnolgico.
Castells (1999) nos ajudada a compreender que as TIC tem sido usadas com uma intensidade
jamais vista em outro momento da histria e a forma como penetram no tecido social tem
modificado os comportamentos das pessoas, as organizaes, os governos e os diversos campos de
produo do conhecimento estabelecendo um paradigma tecnolgico baseado nas lgicas de rede
onde informao e conhecimento trafegam intensamente.
Esta lgica de redes conecta pessoas e organizaes atravs de ambientes informacionais
digitais
1
, que para Camargo e Vidotti (2011) so locais que renem informaes digitais, a fim de
minimizar as necessidades de informao dos sujeitos. As autoras supracitadas tratam os ambientes

1
Websites, e-commerce, bibliotecas digitais, repositrios, peridicos cientficos elentrnicos, sistemas de informao,
aplicativos para smartphones e trablets... entre outros.

479
informacionais digitais como uma categoria macro que engloba diversas subcategorias e entre elas
esto as Bibliotecas Digitais, Peridicos Cientficos Eletrnicos e os Repositrios Digitais.
Porm, estes ambientes informacionais digitais, tambm conhecidos como sistemas, sistemas
de informaes, ambientes digitais, espaos de informao necessitam de tratamento informacional
adequado pois a forma como a informao digital disponibilizada pode dificultar a experincia dos
sujeitos que, recorrem a eles para sanar suas necessidades de informao (Camargo Vidotti, 2011).
Para minimizar a problemtica apresentada um campo do conhecimento tem sido utilizado como
norteador terico e metodolgico no projeto, desenvolvimento e avaliao destes ambientes:
estamos nos referindo a Arquitetura da Informao Digital.
A Arquitetura da Informao atuado numa conjuntura marcada por um vasto volume
informaes digitais que necessitam ser organizadas e representadas nos ambientes informacionais
digitais. Este fenmeno est claramente relacionado ao avano histrico das tecnologias: que
desemboca nas TIC e que se sustenta na necessidade histrica dos sujeitos se comunicarem e
registrarem seu conhecimento, agora em suportes digitais. Entendemos ainda, que tais ambientes
podem ser melhor projetados, desenvolvidos e avaliados se receberem a contribuio da rea da
Biblioteconomia. Para Hjrland (2005) a Biblioteconomia um campo do conhecimento que prev a
aplicao de teorias, princpios e tcnicas para coleta, preservao, organizao e utilizao de
comunicaes registradas.
Os autores Oliveira e Vidotti (2012) defendem que em funo da presena massiva das TIC, a
Biblioteconomia vem modificando suas prticas disciplinares. Trata-se de um processo de expanso
do escopo biblioteconmico para investigar a informao de natureza digital, valendo-se das
competncias que esta rea acumula em relao a organizao, representao, armazenamento e
recuperao da informao.
Inclusive, a Disciplina Arquitetura da Informao, que trata de aspectos de organizao,
navegao, busca, rotulagem e representao da informao (Morville; Rosenfeld, 2006), tem
aparecido em estruturas curriculares de Cursos de Graduao em Biblioteconomia no Brasil. Estas
atualizaes curriculares so respostas da rea biblioteconmica a configurao de sociedade
baseada em redes, com intenso uso de TIC e largo trfego de informaes. Efeitos da penetrabilidade
e impacto das TIC nas diversas reas formais do conhecimento.
O exposto at aqui, d subsdios para explicitarmos nossa questo de pesquisa: Como tem
acontecido o ensino de Arquitetura da Informao nos cursos de Biblioteconomia do Brasil?
Partindo deste questionamento estabelecemos como objetivo desta pesquisa: Diagnosticar o
ensino de Arquitetura da Informao nos cursos brasileiros de Biblioteconomia, a partir de
seus Projetos Pedaggicos, grades curriculares e ementas.

1 Arquitetura da informao

Neste tpico apresentaremos elementos da gnese da Arquitetura da Informao,
explicitaremos seus objetivos, analisaremos conceituos e faremos conexes com o campo da
educao superior no Brasil.

1.1 Tangenciando uma gnese interdisciplinar

O termo Arquitetura da Informao foi pensado e amoedado pelo arquiteto Richard Saul
Wurman em 1976, na National Conference of the American Institute of Architects. O contexto da
Conferncia propiciou reflexes sobre a aplicao de pressupostos da Arquitetura para tornar claros
e diminuir a complexidade de materiais informacionais impressos como mapas, guias, entre outros.
Wurman questionava os problemas gerados pela ansiedade da informao que, da mesma forma

480
que hoje, desnorteava os sujeitos em funo do excesso de informao e das dificuldades de acesso e
uso da informao em veculos impressos (WURMAN, 1991).
A viso trazida por Wurman (1991) recebeu forte influncia de sua rea de atuao: a
Arquitetura. Suas preocupaes circundavam nas possibilidades de aplicao de pressupostos da
arquitetura em espaos de informao, a partir da compreenso de que h similaridades no projeto,
organizao e construo de espaos fsicos e espaos informacionais (Camargo; Vidotti, 2011).
Alm das contribuies da Arquitetura, campos do conhecimento como Design (Agner, 2006;
Anderson, 2002), Ergonomia (Cybis et al, 1999) e Usabilidade (Dias, 2003) tambm contriburam para
a constituio de uma Arquitetura da Informao interdisciplinar (Camargo & Vidotti, 2011).
Em nossa compreenso, a abertura da Arquitetura da Informao a interdisciplinaridade
favoreceu as contribuies de Rosenfeld e Morville (1998, 2002, 2006) que, influenciados pelas reas
de Biblioteconomia e Cincia da Informao, contextualizaram a AI em ambientes web com o
objetivo de promover uma melhor organizao e representao da informao digital nas camadas
dos diversos tipos de ambientes informacionais digitais, em funo de uma adequada recuperao da
informao.
Resmini e Rosati (2011), traando uma breve histria da AI, destacam sua relao com o campo
dos Sistemas de Informao. Sobretudo na dcada de 80, a Arquitetura da Informao contribuiu
para solver problemas relacionados a informao enquanto recurso fundamental na logstica
organizacional. Essa abordagem subjaz uma compreenso da informao como recurso e no como
matria prima, insumo para a construo do conhecimento. Esta diferena de concepo
informacional levaram Roger e Elaine Everden (2003) a defender a AI como disciplina capaz de dar
subsdios a gesto da Informao como recurso.
Atualmente, a Arquitetura da Informao tem traado um dilogo com a Computao Ubqua
e o Design de Servios afim de dar respostas a novos problemas de informao, cada vez complexos.
Segundo Resmine e Rosati (2011) a AI move-se para ambientes alm da web, neste caminho tenta
compreender o fenmeno da pervasividade na informao digital e os espaos de informao como
um processo dinmico que cada vez mais hibridiza aspectos fsicos e digitais.

1.2 Triangulando conceitos sobre a arquitetura da informao

A AI tem sido estudada, numa teia interdisciplinar, por autores de diversas reas do
conhecimento. Os diversos conceitos e vises sobre a AI se complementam, se questionam, se
contrapem fomentando o dilogo cientfico no interior da AI, e respeitando sua gnese
interdisciplinar. Neste sentido temos contribuies que trazem o olhar da Computao (Garret,
2010), da Engenharia de Software (Sommerville, 2007), do Design (Anderson, 2002; Caldas, 2007), da
Ergonomia e Usabilidade (Marcos, 2004), da Epistemologia (Hagedorn, 2005; Herrans; Mateos, 2004;
Macedo, 2005), da Arquitetura tradicional (Wurman, 1976; Sayed, 2002; Taylor, 2004), entre outros.
Considerando os objetivos desta pesquisa, escolhemos trs conceitos de Arquitetura da
Informao, so os conceitos elaborados por Rosenfeld e Morville (2006), Vidotti, Cusin e Corradi
(2008) e Resmini e Rosati (2011). Estes conceitos foram escolhidos tendo como base a percepo de
que estas vises compartilham influncias das reas de Biblioteconomia e Cincia da Informao.
Alm disso visualizam em comum a Arquitetura da Informao a partir da pragmtica e mantm o
consenso de que a AI um uma prtica profissional e um campo de estudos que focaliza a resoluo
dos problemas de acesso e uso do grande quantitativo de informao disponvel em rede.
A obra de Rosenfeld e Morville (2006) trouxe, ao campo da AI, o vis biblioteconmico e da
Cincia da Informao. Para estes autores a AI se embasa em um sistemismo que articula elementos
organizao, navegao, rotulagem, busca e representao
2
. A obra destes autores est muito

2
Compreendemos como sistemas de representao os elementos de Metadados, Vocabulrios Controlados e Tesauros
descritos na obra de Rosenfeld e Morville (2006)

481
presente nos estudos da AI, de forma que possvel consider-la um clssico da rea por sua
contribuio terica e metodolgica para o projeto, desenvolvimento e avaliao de ambientes
informacionais digitais com foco no usurio. A abordagem sistmica adotada por Rosenfeld e
Morville (1998, 2002, 2006) analisada por Oliveira e Vidotti (2012) como uma escolha coerente que
permite a produo de conhecimentos sobre ambientes informacionais digitais a partir de olhares
direcionados aos sistemas que compe o ambiente. Os componentes ou sistemas da AI, embora
estudados em separado, se interconectam como um conjunto de engrenagens que viabiliza o
funcionamento do ambiente informacional digital em sua completude. O sistema de organizao
permite que os blocos de informao sejam organizados segundo critrios especficos para
minimizar os aspectos de ambiguidade e heterogeneidade nos ambientes. De forma pragmtica
Rosenfeld e Morville (2006) sugerem a utilizao de Esquemas Exatos
3
, Esquemas Ambguos
4
e
Estruturas
5
para nortear a organizao da informao digital. Os componentes de Navegao so
pensados por estes autores para facilitar o deslocamento dos usurios nos blocos de informao e
camadas do ambiente digital, eles os categorizam em sistemas de navegao global, local e
contextual, alm dos sistemas complementares de navegao
6
. A Rotulagem diz respeito a uma
sistematizao para os componentes textuais ou imagticos que representam blocos de informao.
A Busca est relacionada as necessidades de informao dos que navegam nestes ambientes. Quando
falamos em sistemas de representao na abordagem clssica da AI, nos referimos aos campos
biblioteconmicos dos Metadados, Tesauros e Vocabulrios Controlados que Rosenfeld e Morville
discutem e sugerem que sejam adotados nos ambientes informacionais digitais. Embora as
contribuies de Rosenfeld e Morville (2006) tenham foco nos ambientes da web, possvel aplica-
las em ambientes no-web.
O segundo trato conceitual que destacamos advm dos estudos de Vidotti, Cusin e Corradi
(2008), estes autores fazem uma releitura do sistemismo de Rosenfeld e Morville (2006) evidenciando
categorias de pesquisa da Biblioteconomia e Cincia da Informao e incluem os elementos de
acessibilidade e usabilidade. Para estes autores a Arquitetura da Informao um campo do
conhecimento que enfoca a organizao de contedos informacionais e as diversas formas de
armazenamento e preservao (sistemas de organizao), representao, descrio e classificao
(sistema de rotulagem, metadados, tesauros e vocabulrio controlado), em funo da recuperao da
informao (sistema de busca), para criar um sistema de interao (sistema de navegao) no qual o
usurio tenha condies de interagir com facilidade (usabilidade), autonomia no acesso e uso do
contedo por diferentes pessoas, inclusive as portadores de necessidades especiais (acessibilidade).
Ao tecerem uma conceituao que amplia a contribuio de Rosenfeld e Morville (1998, 2002, 2006),
estes autores aproximam ainda mais a AI do campo da Biblioteconomia e tambm do campo da
Cincia da Informao potencializando a formao de arquitetos da informao no interior dos
cursos de Graduao em Biblioteconomia e de Ps-Graduao em Cincia da Informao, o que
coerente pois, as duas reas supracitadas tem a informao
7
como objeto de investigao.
Para finalizar a triangulao de conceitos, apresentamos a contribuio de Resmini e Rosati
(2011). Para eles o termo arquitetura abstrado e conceituado conectando-se estruturas digitais a
comportamentos humanos, superando a preocupao com layouts e questes estritamente
computacionais. Estes autores salientam que, embora haja um fio persistente para manter a
Arquitetura da Informao voltada ao contedos informacionais da web, as demandas tecnolgicas
empurraram a AI para um campo de fronteira marcado pela complexidade, desconhecimento,
sobrecarga informacional nos usurios e para uma independncia em relao a natureza do
ambiente, ou seja, para alm da web. a marcao de uma nova etapa, uma Arquitetura da
Informao Pervasiva que comea a abordar os espaos de informao como processo, a partir de
um dilogo maior com a computao ubqua e o design de servios.

3
Alfabticos, Cronolgicos e Geogrficos (Rosenfeld; Morville, 2006)
4
Por Tpicos, Tarefas, Audincia, Metforas e Hbridos (Rosenfeld; Morville, 2006)
5
Abordagem hierrquica Top-Down, Abordagem Database Bottom-Up e Hipertextos (Rosenfeld; Morville, 2006)
6
Mapas do Site, ndices, Guias (Rosenfeld; Morville, 2006)
7
Inclusive a informao gerada no contexto digital.

482
Em nosso entendimento, a triangulao destes conceitos permite visualizar uma Arquitetura
da Informao de base epsitemolgica sistmica associada a uma pragmtica que gera produtos
concretos
8
aplicveis em ambientes informacionais digitais, inclusive fora do contexto da web.
Evidenciam ainda que aparatos tericos e tcnicos da Biblioteconomia e Cincia da Informao esto
presentes no interior da AI fornecendo elementos para o projeto, desenvolvimento e avaliao de
ambientes informacionais digitais, inclusive os ambientes fronteirios que hibridizam elementos dos
processos digitais com os comportamentos cotidianos humanos fortalecendo a tendncia de uma
pervasividade digital.
A AI tem se fortalecido como um campo de estudos humanizado que inseriu no centro de suas
preocupaes os comportamentos dos usurios, os contextos nos quais eles esto inseridos e o
tratamento de contedos que atendam suas necessidades, dialogando com conhecimentos oriundos
da Biblioteconomia e Cincia da Informao.

1.3 Ensino de disciplinas tecnolgicas: o caso da arquitetura da informao

Hoje nos deparamos com uma produo tecnolgica forjada a partir do avano da Eletrnica
Analgica e Digital e dos impactos deste avano na Computao e nas Telecomunicaes. Este
avano imbricou numa produo intensa de TIC no interior da sociedade contempornea,
propiciando mudanas dinamizadas por um efeito de retroalimentao, ou seja, os sujeitos que as
produzem tem vivenciado mudanas em nvel organizacional e comportamental, mas as TIC
tambm tem sido modificadas a partir dos feedbacks que os usurios e o mercado fornecem. Castells
(2005) corrobora conosco ao dizer que

A sociedade que d forma tecnologia de acordo com as
necessidades, valores e interesses das pessoas que utilizam as tecnologias.
Alm disso, as tecnologias de comunicao e informao so
particularmente sensveis aos efeitos dos usos sociais da prpria
tecnologia. A histria da Internet fornece-nos amplas evidncias de que os
utilizadores, particularmente os primeiros milhares, foram, em grande
medida, os produtores dessa tecnologia (Castells, 2005, p. 16).

Estamos falando de um fenmeno cclico que afeta tambm campos de produo do
conhecimento como: Escolas, Universidades, Centros de Pesquisa, Programas de Ps-Graduao,
entre outros. So diversos os cursos de Graduao que tem revisado seus Projetos Polticos para
incluir disciplinas que propiciem reflexes sobre as TIC, ou ainda a produo delas como fator de
resposta ao dinamismo tecnolgico contemporneo.
Estes elementos tecnolgicos tem sido alvo de pesquisas na rea da Cincia da Informao e da
Biblioteconomia, temos vistos crescer o debate sobre bibliotecas digitais, repositrios de informao
digital, sistemas para gerenciamento de peridicos eletrnicos, sistemas de gerenciamento de
conferncias, entre outros. diante destas demandas que comeam a aparecer disciplinas com
enfoque mais tecnolgico nos cursos de Graduao em Biblioteconomia e na Ps-Graduao em
Cincia da Informao, inclusive a disciplina Arquitetura da Informao (Oliveira; Bentes Pinto;
Vidotti, 2011).
Estas modificaes encontram respaldo na legislao brasileira pois a Constituio Federal, no
art. 207, confere autonomia didtico-cientfica s Universidades para construir uma identidade
baseada no princpio de indissociabilidade entre ensino, pesquisa e extenso e que responda de
forma adequada as demandas da Sociedade Brasileira (BRASIL, 2003). As Universidades Pblicas

8
Referimo-nos aos entregveis que subisidiam o desenvolvimento de ambientes digitais.

483
brasileiras, em sua misso de prestar de servios de Educao superior em nvel de graduao e ps-
graduao tem sido interpeladas, pelas demandas da sociedade em rede, a unir a dimenso
tecnolgica s prticas docentes visando a formao do egresso, com habilidades e competncias
para atuar num mercado de trabalho que, cada vez mais, exige know-hall tecnolgico.
Oliveira, Carvalho e Souza (2009), refletindo sobre os paradigmas da Biblioteconmicos,
sinalizam que o advento das TIC e da internet potencializaram mudanas neste campo que
acarretaram uma ampliao do campo de atuao do bibliotecrio. Estes autores resgatam que em
2001, foram aprovadas as Diretrizes Curriculares Nacionais para os Cursos de Biblioteconomia
9
, que
determinam as seguintes competncias gerais aos graduados:

a) Gerar produtos a partir dos conhecimentos adquiridos e divulg-los;
b) Formular e executar polticas institucionais;
c) Elaborar, coordenar, executar e avaliar planos, programas e projetos;
d) Utilizar racionalmente os recursos disponveis;
e) Desenvolver e utilizar novas tecnologias;
f) Traduzir as necessidades de indivduos, grupos e comunidades nas respectivas reas
de atuao;
g) Desenvolver atividades profissionais autnomas, de modo a orientar, dirigir,
assessorar, prestar consultoria, realizar percias e emitir laudos tcnicos e pareceres;
h) Responder a demandas sociais de informao produzidas pelas transformaes
tecnolgicas que caracterizam o mundo contemporneo.

Nos chama ateno no contedo das Diretrizes Curriculares para os cursos de Biblioteconomia
os pontos imputam aos cursos o encargo de formar bibliotecrios com as seguintes competncias e
habilidades gerais: Desenvolver e utilizar novas tecnologias; Responder a demandas sociais de
informao produzidas pelas transformaes tecnolgicas que caracterizam o mundo
contemporneo. Fica evidente que a atualizao das bases curriculares dos cursos de
Biblioteconomia com disciplinas de carter mais tecnolgico, a exemplo da Arquitetura da
Informao, um caminho vivel para gerar egressos capazes de responder as demandas scio-
tecnolgicas relacionadas ao acesso e uso da informao digital.
A insero da disciplina de AI nos Cursos de graduao em Biblioteconomia no Brasil pode
propiciar a formao de profissionais capazes de tratar, organizar e representar a informao no
contexto digital e ainda capacit-lo a projetar, desenvolver e avaliar ambientes informacionais
digitais com foco nas necessidades e comportamentos dos sujeitos usurios.
Discutindo esta questo com foco na AI, Oliveira, Bentes Pinto e Vidotti (2011, p. 01) salientam
que

as prticas biblioteconmicas de organizao e representao da
informao tem sido resignificadas no interior dos cursos de
Biblioteconomia, a medida que a Arquitetura da Informao tem sido
anexada nas grades curriculares destes cursos.

O fenmeno de ressignificao salientado pelos autores acima ocorre em funo das
particularidades da informao digital que precisa ser tratada, organizada e representada tambm

9
Disponvel em http://portal.mec.gov.br/cne/arquivos/pdf/CES0492.pdf

484
em contextos digitais a partir de uma dialtica entre os elementos clssicos da Biblioteconomia e as
demandas de uma informao digital encontrvel, acessvel, interopervel e pervasiva.

2 Aspectos metodolgicos

2.1 Acostamento terico-metodolgico

Em funo do alcance do objetivo desta pesquisa, que exige uma anlise em currculos de
cursos de Graduao em Biblioteconomia no Brasil, nos acostamos no tratamento terico que
Estudos Culturais realizam sobre o Currculo. Os Estudos Culturais sdo pertinentes para serem
adotados neste estudo pois concentram-se na anlise da cultura, compreendida [...] como forma
global de vida ou como experincia vivida de um grupo social (Silva, 1999, p. 133). Esta
compreenso de cultura engrena com os argumentos de que a vida social contempornea est
marcada por uma cultura de ordem tecnolgica que faz modificaes nas experincias vividas por
grupos sociais (Castells, 1999), a exemplo das comunidades acadmicas.
Silva (1999, p. 133) refora que os Estudos Culturais concebem a cultura como campo de luta
em torno da significao social e neste campo contestamento de significao o que est em jogo
a definio da identidade cultural e social de diferentes grupos, ou seja, esto em questo
implicaes identitrias que ocorrem nos sujeitos a partir das marcaes tecnolgicas
contemporneas. Numa perspectiva da ps-modernidade estas identidades so fluidas, mveis,
deslocam-se ao longo da vida (Hall, 1997). Com base em Hall (1997) podemos dizer as mudanas
curriculares no mbito acadmico imbricam em mudanas no perfil e nos elementos das identidades
dos egressos.
O currculo concebido pelos Estudos Culturais, como um campo de luta em torno da
significao e da identidade (Silva, 1999, p. 133). A partir desta linha epistemolgica podemos ver o
conhecimento e os currculos como campos culturais propensos a disputa e interpretao, nos quais
os diferentes grupos sociais tentam impor suas demandas e (re)construir suas identidades (Hall,
1997). O currculo resultado de um processo de construo social onde h uma relao entre a
natureza de construo curricular e a produo de identidades culturais e sociais (Silva, 1999; Hall,
1995; Giroux; 1995).
Do ponto de vista terico metodolgico, consideramos necessrios os esclarecimentos
anteriores para que as bases epistemolgicas que fundamentaram e favoreceram a construo desta
pesquisa fiquem evidentes. Eles tambm so necessrios para sedimentar nossa compreenso de que
as mudanas curriculares nos cursos brasileiros de Biblioteconomia so respostas a cultura
tecnolgica que modifica, constri, destri e reconstri as identidades dos egressos num campo de
disputas ideolgicas entre eixos clssicos da Biblioteconomia e novos eixos.

2.2 Desenhando os procedimentos

A pesquisa um mecanismo utilizado pela cincia para descobrir, interpretar e discursar
sobre a realidade. um processo que no se esgota, mas explicita aproximaes sucessivas sobre a
realidade social caracterizada pela complexidade e multidimensionalidade (Demo, 1987).
Para Apolinrio (2012) toda pesquisa tem vrias dimenses, mas taxonomizar estas dimenses
sempre controverso pois, no campo de reflexo das metodologias da cincia, no h consenso
sobre esta multidimensionalidade. Por isso preferimos fazer um desenho da linha epistemolgica
10

10
Explicitado no tpico 3.1 deste texto.

485
adotada nesta pesquisa, e seguir tratando de aspectos procedimentais alinhados a noo de cultura e
currculo trazidos pelos Estudos Culturais.
Para alcanar o objetivo de diagnosticar o ensino de Arquitetura da Informao nos
cursos brasileiros de Biblioteconomia, a partir de seus Projetos Pedaggicos, grades
curriculares e ementas, dividimos a presente pesquisa em quatro etapas. O primeiro momento
consistiu na realizao de uma consulta pblica no sistema e-Mec
11
do Ministrio da Educao. Este
sistema possui um banco de dados dos Cursos das Instituies de Educao Superior, atravs dele
pudemos identificar as Universidades Pblicas brasileiras que possuem curso de Biblioteconomia em
funcionamento. Esta etapa da pesquisa gerou o quadro 01 que segue abaixo.

IES Nome do Curso Grau
UFMT BIBLIOTECONOMIA Bacharelado
UNB BIBLIOTECONOMIA Bacharelado
UFAM BIBLIOTECONOMIA Bacharelado
UFSCAR BIBLIOTECONOMIA Bacharelado
UEL BIBLIOTECONOMIA Bacharelado
FURG BIBLIOTECONOMIA Bacharelado
UDESC BIBLIOTECONOMIA Bacharelado
USP BIBLIOTECONOMIA Bacharelado
UNESP BIBLIOTECONOMIA Bacharelado
UFMA BIBLIOTECONOMIA Bacharelado
UFPA BIBLIOTECONOMIA Bacharelado
UFRN BIBLIOTECONOMIA Bacharelado
UFES BIBLIOTECONOMIA Bacharelado
UFMG BIBLIOTECONOMIA Bacharelado
UFAL BIBLIOTECONOMIA Bacharelado
UFPB BIBLIOTECONOMIA Bacharelado
UFPE BIBLIOTECONOMIA Bacharelado
UFRGS BIBLIOTECONOMIA Bacharelado
UFC BIBLIOTECONOMIA Bacharelado
UFC BIBLIOTECONOMIA Bacharelado
UFG BIBLIOTECONOMIA Bacharelado
UFSC BIBLIOTECONOMIA Bacharelado
UNIRIO BIBLIOTECONOMIA Bacharelado
UNIRIO BIBLIOTECONOMIA Licenciatura
UNIR BIBLIOTECONOMIA Bacharelado
UESPI BIBLIOTECONOMIA Bacharelado
UFS
BIBLIOTECONOMIA E
DOCUMENTAO Bacharelado
UFF
BIBLIOTECONOMIA E
DOCUMENTAO Bacharelado
UFBA
BIBLIOTECONOMIA E
DOCUMENTAO

Bacharelado

11
Disponvel em < http://emec.mec.gov.br/ >. Acesso em 23 abr 2013.

486
UFRJ

BIBLIOTECONOMIA E
GESTO DE UNIDADES
DE INFORMAO
Bacharelado

Quadro 1 Cursos de Biblioteconomia no Brasil segundo sistema e-Mec
12

De acordo os dados tabulados no Quadro 01, encontramos 30 Cursos de Biblioteconomia
abertos e em funcionamento em Universidades pblicas brasileiras. Todos os cursos encontrados
esto estruturados na modalidade presencial, sendo que um deles ofertado na habilitao
Licenciatura, os demais 29 so ofertados na modalidade Bacharelado.
A segunda etapa da pesquisa consistiu em coletar a grade curricular de cada curso do quadro
01. A disponibilizao de informaes dessa natureza est regulamentada pela Lei de Acesso a
Informao - LAI (Brasil, 2011) que no Artigo 3
o
. assegura o direito fundamental de acesso
informao de interesse pblico e dispensa a necessidade de que sejam feitas quaisquer solicitaes
aos rgos. No 2
o
. do Artigo 10
o
. a LAI determina que para cumprir o que est disposto, os rgos e
entidades pblicas devero utilizar todos os meios e instrumentos legtimos de que dispuserem,
sendo obrigatria a divulgao de informaes de interesse pblico em stios oficiais da rede
mundial de computadores (internet). No contexto do Ensino Pblico Superior, informaes sobre
grades curriculares, estruturas de funcionamento, endereos, formas de contato, entre outros... so
de interesse pblico e devem obedecer o que est disposto na Lei de Acesso a Informao (Brasil,
2011). Orientados por este aparato legal, utilizamos o buscador Google para encontrar os sites dos
cursos de Graduao em Biblioteconomia do quadro 01. Vale salientar que aps exaustivas buscas,
utilizando as frmulas para expresso de busca descritas no quadro 02, no encontramos as grades
curriculares de 3 cursos o que reduziu nosso campo de investigao para 27 cursos de graduao em
Biblioteconomia.

Bilbioteconomia + nome da universidade
Bilbioteconomia + grade curricular + nome da universidade
Bilbioteconomia + currculo + nome da universidade
Bilbioteconomia + disciplinas + nome da universidade

Quadro 2 - Frmulas para expresses de busca
13

Com dos dados coletados na segunda etapa procedemos com a anlise das grades curriculares
buscando disciplinas relacionadas as Tecnologias de Informao e Comunicao e tambm a
disciplina de Arquitetura da Informao.
A quarta etapa do conjunto de procedimentos adotados nesta pesquisa consistiu em encontrar
as ementas das disciplinas identificadas na terceira etapa, este procedimento objetivou corroborar o
pertencimento da disciplina identificada ao eixo temtico curricular das Tecnologias de Informao
e Comunicao. Aps findar a quarta etapa da construo do banco de dados demos incio a parte
analtica da pesquisa.
3 Disciplinas tecnolgicas nos cursos de biblioteconomia: uma anlise curricular

12
Fonte: Sistema e-Mec
13
Fonte: Dados da Pesquisa

487
Nesta pesquisa, os achados mais relevantes do banco de dados coletado diz respeito ao hall de
disciplinas relacionadas as Tecnologias de Informao e entre elas est a Arquitetura da Informao.
Vale salientar que tais achados exigem uma abordagem de anlise de cunho quantitativo e
qualitativo. A abordagem quantitativa nos permite compreender a espacialidade que as disciplinas
de Tecnologia da Informao, em especial a Arquitetura da Informao, ocupam nas grades
curriculares dos cursos de Biblioteconomia. O ponto de vista quanti nos permite perceber o quanto
de TI se ensina nos cursos brasileiros de Biblioteconomia. J a abordagem qualitativa nos fornece
um conhecimento sobre os elementos tericos e prticos presentes nestas disciplinas. Ou seja, o
ponto de vista quali nos pemite conhecer o que tem sido ensinado, em termos de TI e Arquitetura da
Informao. Adotar uma anlise quantitativa, qualitativa, ou quanti-quaitativa , na compreenso de
Baquero (2009), uma deciso que deve ser tomada com olhar extensivo do pesquisador sobre o
objeto de pesquisa e sobre os dados coletados. Ns concordamos com este autor quando classifica
como pouco relevante uma distino hierarquizada entre as abordagens quantitativas e qualitativas,
pois no caso da anlise curricular proposta nesta pesquisa, estas abordagens de anlise se
complementam para melhor fornecer conhecimentos sobre o ensino de Arquitetura da Informao
na Biblioteconomia brasileira.
Do ponto de vista quantitativo, partimos de um corpus de 30 cursos de Biblioteocnomia em
Universidades Pblicas brasileiras, porm s foi possvel coletar 27 grades curriculares que foram
analisadas permitindo as seguintes discusses.
Entre os participaram da investigao, no encontramos cursos que deixaram de apresentar
pelo menos uma disciplina, relacionada diretamente as Tecnologias de Informao na grade
obrigatria. Percebemos que o nmero de disciplinas tecnolgicas por cursos variou de 1 a 9
disciplinas, e percebemos ainda que quantitativo decresce vertiginosamente quando tratamos da
disciplina de Arquitetura da Informao que est ausente na grade curricular de 89,9% dos cursos
investigados.

Universidade (IES)
Disciplinas Disciplinas na rea de TI
Obrigatrias Optativas Obrigatrias Optativas
UFMT 32 - 2 -
UNB 22 18 4 0
UFAM 43 8 1 1
UFSCAR 44 - 9 -
UEL 51 16 5 2
FURG 34 25 2 2
UDESC 45 - 8 -
USP 33 16 2 5
UNESP 42 12 8 7
UFMA 44 6 3 1
UFPA 35 1 2 -
UFRN 39 13 3 2
UFES 36 26 2 2
UFMG 29 3 6 -
UFAL 19 5 2 1
UFPB 38 6 4 -
UFPE 32 36 2 5
UFRGS 34 62 3 3
UFC CARIRI 44 46 5 3
UFC FORTALEZA 44 46 5 3
UFG 41 - 2 -
UFSC 34 19 1 5
UNIRIO BACH 50 78 5 4
UNIRIO LIC

59 48 5 2
UNIR - - - -
UESPI

UESPI
- - - -
UFS 32 25 2 1

488
UFF - - - -
UFBA 33 12 1 2
UFRJ 51 45 5 3
Mdia 38,5 24,86 3,7 2,7
Desvio Padro 8,9 20,6 2,2 1,8

Tabela 1- Tabela demonstrativa de disciplinas de TI
14

A tabela acima nos permite visualizar o quantitativo de disciplinas obrigatrias e optativas
oferecida por curso. Tambm nos fornece dados quantitativos sobre as disciplinas relacionadas a
Tecnologia da Informao por curso. No universo investigado obtivemos uma mdia de 38,5
disciplinas obrigatrias por curso. Este resultado bem significativo para nossa pesquisa, pois as
disciplinas obrigatrias so responsveis diretas pela construo da identidade dos egressos, no caso
os bibliotecrios. Nosso intento no foi setorizar os blocos de disciplinas presentes nas grades
curriculares utilizando mecanismos de categorizao, mas perceber como as TIC tem penetrado os
currculos biblioteconmicos. Nesta direo salientamos a mdia de 3,7 disciplinas/curso
relacionadas as TIC. Numa relao percentual, podemos dizer que uma pequena faixa mdia de 9,6%
das grades dos cursos ocupada com disciplinas mais focadas nas questes tecnolgicas.
A tabela 02 que segue abaixo um recorte da tabela 01 onde focalizamos os cursos que
apresentaram maior quantidade de disciplinas tecnolgicas
15
. Esta tabela importante para
relacionar a penetrabilidade de disciplinas tecnolgicas nos cursos com a o desempenho
apresentado na avaliao do Guia do Estudante
16
.

Universidade
(IES)
Disciplinas
obrigatrias
Obrigatrias
de TI
%
Avaliao Guia
do estudante
UFSCAR 44 9 2
0,5
4
UDESC 45 8 1
7,8
4
UNESP 42 8 1
9,0
5
UFMG 29 6 2
0,7
5
UEL 51 5 9
,8
4
UFC CARIRI 44 5 1
1,4
3
UFC FORTALEZA 44 5 1
1,4
4
UNIRIO BACH 50 5 1
0,0
4
UFRJ 51 5 8
,5
4
UNB 22 4 9
,8
5
UFPB 38 4 1
8,2
4

Tabela 2 - Cursos de Bacharelado em Biblioteconomia com mais de 4 disciplinas obrigatrias de TI
17

A tabela 2 nos mostra os cursos que tem um quantitativo de disciplinas de TI maior que a
mdia encontrada no universo desta pesquisa (3,7 disciplinas de TI por Curso), e mostra tambm que
estes cursos tem sido avaliados com pelo menos 4 estrelas pelo guia do estudante, exceto o Curso de
Biblioteconomia da UFC Campus Cariri, nico que pontuou 3 estrelas no guia do estudante. Apenas
a Biblioteconomia da USP pontou 5 estrelas e mantm um nmero abaixo da mdia encontrada em
nvel nacional.
Apresentar anlises quantitativas relacionadas a presena de disciplinas de TI nos permite
visualizar que a rea biblioteconmica tem feito um movimento de adequao curricular em funo

14
15
Utilizamos como critrio de corte a mdia de 3,7 disciplinas tecnolgicas por curso (cf. Tabela 01).
16
O Guia do estudante uma publicao da Editora Abril S.A. que avalia o campo das profisses, cursos de graduao e
universidades atribuindo um conceito que varia de 0 a 5 estrelas.
17

489
de novas demandas da conjuntura scio-tecnolgica contempornea. Os achados nesta pesquisa
corroboram as indicaes tericas apresentadas neste texto.
Durante a pesquisa recorremos ao Projeto Politico de alguns cursos para subsidiar a
categorizao das disciplinas relacionadas as TIC, em especial gostaramos de destacar o Projeto
Poltico do Curso de BIbliteconomia da UDESC, que em 2008 comeou um processo de modificao
curricular, e entre outras demandas de modificao percebemos o aumento de disciplinas de TI na
grade curricular. A ocorrncia de uma modificao curricular nos moldes da percebida na UDESC,
tambm tem sido realizada nos cursos de Biblioteconomia da UFC-Cariri e da Unesp. Os dois cursos
supracitados so lugares acadmicos onde os autores desta pesquisa tem vnculo docente e por
conseguinte, tem acompanhado o debate interno sobre reformas curriculares e sobre a necessidade
de ampliar o acesso ao conhecimento tecnolgico por meio do currculo formal.

4 Ensino de arquitetura da informao nos cursos de biblioteconomia

Compreendemos que o ensino de Biblioteconomia tem mudado no pas e paulatinamente
vemos a insero de mais disciplinas tecnolgicas nestes cursos. Esta afirmao se respalda do ponto
de vista terico, a partir dos subsdios fornecidos pelo Estudos Culturais sobre o Currculo, e tambm
do ponto de vista emprico atravs dos achados quantitativos desta pesquisa.
Alinhado com os argumentos supracitados, Miranda e Simeo (2003) concordam conosco ao
afirmar que o perfil de um grupo profissional determinado pelo conjunto de competncias
necessrias para o desempenho da funo atribuda (p. 96). Este aprofunda seus argumentos ao
defender que a rea de atuao reivindicada pelos bibliotecrios compreende responsabilidades
clssicas como preservao, tratamento e disseminao da informao, mas vive uma expanso
acelerada provocada pelas mudanas sociais e avanos tecnolgicos, o que demanda atualizao
constante e grande diversidade de competncias.
Nosso intento diagnosticar o ensino de Arquitetura da Informao na rea biblioteconmica
considerando os pressupostos terico-conceituais que aproximam a Arquitetura da Informao da
Biblioteconomia e da Cincia da Informao, pressupostos que j foram apresentados neste texto.
Analisando dados sobre os 27 cursos participantes da pesquisa, encontramos dois Cursos de
Biblioteconomia (UNESP e UFRJ) que integraram a Disciplina de Arquitetura da Informao s suas
grades curriculares como disciplina obrigatria e 1 curso que a inseriu como disciplina optativa
(UFRN), o que representa apenas uma fatia de 11,1 % dos cursos investigados.
Embora tenhamos argumentado que h um alinhamento explcito entre Biblioteonomia,
Cincia da Informao e Arquitetura da Informao, e que este alinhamento fora evidenciado nos
conceitos de Rosenfeld e Morville (2006), Vidotti, Cusin e Corradi (2008) e Resmini e Rossati (2011),
percebemos que a Arquitetura da Informao enquanto campo disciplinar ocupa pouco espao nas
bases curriculares biblioteconmicas.
necessrio recorrer a Silva (1999) para lembrar que o currculo, numa perspectiva ps-
moderna, um campo de cultura tensionada, um lugar de luta em torno da significao social, onde
se coloca em jogo os elementos de identidade dos sujeitos na tentativa de fixar, com abertura ou
resistncia, as marcaes culturais tecnolgicas contemporneas.
A insero de disciplinas de cunho tecnolgico nas bases curriculares biblioteconmicas, em
nosso caso a Arquitetura da Informao, tambm est perpassada por este processo de tenso entre
o novo e o antigo, entre o tradicional e o que de vanguarda.
Aps diagnosticar uma presena tmida da disciplina de Arquitetura da Informao nas grades
do currculo formal de Cursos de Biblioteconomia no Brasil, garimpamos as ementas de AI nos trs
cursos que oferecem a disciplina, conforme apesentado no quadro 03. Para analis-las recorremos a
tcnica qualitativa de Mapeamento conceitual e extramos os ncleos conceituais contidos nas
ementas, conforme quadro.

490

UFRJ UFRN UNESP
Internet.
Princpios da arquitetura.
Fluxo da informao na web.
Implementao em meio
eletrnico.
Noes de linguagens web.
Provedor de informao na web.
Elementos de design grfico.

Usurio.
Acessibilidade.
Ansiedade de informao.
Histria e origem da Arquitetura
da Informao.
Conceitos e definies.
Prticas do profissional.
Metodologia e mtodos da AI.
AI e bibliotecas digitais.
Conceitos da Arquitetura da
Informao.
Tipologias da Arquitetura da
Informao.
Caractersticas da Arquitetura
da Informao.
Desenvolvimento e avaliao de
ambientes web.

Quadro 3: Categorias extradas das ementas de Disciplinas de Arquitetura da Informao em Cursos de
Biblioteconomia
18

Com base no quadro 02 e no mapa conceitual percebemos que as ementas das disciplinas de
Arquitetura da Informao tem sido ministradas com foco nos ambientes web. O texto clssico
Information Architecture for the World Wide Web de Louis Rosenfeld e Peter Morville tem subsidiado
estas disciplinas para, ancorados numa abordagem sistmica, produzir competncias para projeto,
desenvolvimento e avaliao de ambientes digitais considerando aspectos de organizao,
navegao, busca, rotulagem, representao, acessibilidade e usabilidade. Inclusive a obra de
Rosenfeld e Morville (2006) apareceu nas referncias nas disciplinas de AI da UFRJ, UFRN e UNESP.
Salientamos ainda que a disciplina de Arquitetura da Informao tem sido apresentada no mbito da
biblioteconomia considerando aspectos histricos, tericos e conceituais.

Consideraes finais

Os resultados demonstram que, mesmo sendo consenso na literatura de AI, do melhoramento
da eficcia e eficincia dos ambientes digitais e de que h uma relao intrnseca entre AI e
Biblioteconomia, poucos cursos no Brasil tem inserido a Arquitetura da Informao em suas grades
curriculares como disciplina obrigatria.
Mas considerando que a cultura tecnolgica contempornea tem gerado diariamente grandes
volumes de informao que tendem a, numa perspectiva Pervasiva, hibridizar ambientes digitais e
no digitais, objetos e informaes, espaos fsicos e digitais, comportamentos humanos e respostas
tecnolgicas. E considerando ainda que este processo irreversvel, conclumos que o movimento de
consolidao da Arquitetura da Informao enquanto campo terico e pragmtico tende a se firmar
em nvel de mercado e tambm nos meios acadmicos. Inclusive pudemos constatar nesta pesquisa
que, embora muitos cursos de Biblioteconomia no tenham adotado a AI como disciplina, a AI
aparece como tpico dentro de algumas disciplinas do tipo Tpicos em Tecnologias de Informao e
Comunicao.
No meio biblioteconmico temos visto a informao digital ser cada vez mais problematizada
em nvel de pesquisa. Dentro dos diversos ngulos que podem ser usados para problematizar a

18
Fonte: Projeto poltico dos Cursos de Biblioteconomia da UFRJ, UFRN e UNESP.

491
informao digital, as questes relacionadas a organizao, representao, armazenamento,
recuperao, acesso e uso da informao digital tem se mostrado preponderantes e estas questes
so de interesse terico e pragmtico da Arquitetura da Informao.
preciso salientar que em nossas anlises, concentramo-nos nas disciplinas obrigatrias para
discutir os resultados desta pesquisa, pois no processo de coleta de dados, encontramos muitos
cursos de Biblioteconomia com disciplinas optativas/eletivas sem ementa, sem programa e sem
bibliografia sugerida, o que fornece evidncias de que muitas das disciplinas optativas/eletivas que
constam nas listas podem nunca ter sido ministradas. Vrios Projetos Polticos dos cursos
investigados, apresentam uma lista de disciplinas optativas/eletivas bem maiores que as
obrigatrias, a priori isto pode ser entendido como uma tentativa de flexibilizar o currculo em
funo de identidades mltiplas, em funo de formar bibliotecrios com competncias em sub-
reas especficas e no necessariamente tecnolgicas.
A Lei de Acesso a Informao (Brasil, 2011) est em pleno vigor e assegura o acesso a
informaes de interesse pblico, a exemplo das grades curriculares, ementas e programas de
disciplinas dos diversos cursos de graduao de Universidades pblicas. Porm tivemos dificuldades
de encontrar informaes necessrias a esta pesquisa, alguns cursos no possuem website ou no
disponibilizam seus documentos oficiais, projetos polticos, grades curriculares em suas pginas.
Esta percepo nos permite afirmar que nem todas as Universidades pblicas tem cumprido de
forma adequada o que est disposto na Lei n 12.527 de 18 de novembro de 2011.
Conforme apresentamos no trato terico deste estudo, o currculo um artefato cultural
dinmico e que se modifica em processos de tenso e de ressignificao identitria (Silva, 1999).
Pensando na fluidez da ps-modernidade podemos dizer que o currculo no , pois na verdade ele
sempre est (Hall, 1997). Esta relfexo traz a este estudo um estado de contingncia, ou seja, este
estudo relevante para este momento panormico da Biblioteconomia no Brasil, mas devido a
fluidez curricular, compreendida como caracterstica da cultura ps-moderna, este estudo deve ser
refeito em momentos posteriores corroborar ou refutar as constataes aqui feitas.
Este estudo como uma fotografia que registra uma conjuntura momentnea, uma realidade
instantnea e que pode se modificar com o passar do tempo, com as modificaes na cultura
acadmica e a evoluo do homo sapiens.

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495
ANLISE DE DOMNIO EM AGRICULTURA
O uso conjunto da garantia literria (a lavoura) e do consenso entre especialistas (esquema de
classificao AGRIS/CARIS) como princpios para a Organizao do Conhecimento

LEANDRA PEREIRA DE OLIVEIRA
Universidade Federal do Estado do Rio de Janeiro / Instituto Brasileiro de Informao em Cincia e
Tecnologia
[email protected]

VERA LUCIA DOYLE LOUZADA DE MATTOS DODEBEI
[email protected]

Resumo Experimento lgico-emprico para a anlise do campo da Agricultura. Os princpios da garantia
literria e do consenso entre especialistas (Lancaster, 2004; Dodebei, 2002) so utilizados para realizar as
anlises conceituais do peridico A Lavoura (2002-2012) e do Esquema de Classificao AGRISCARIS, com o
objetivo de verificar o benefcio de se utilizar os dois princpios na delimitao de um domnio do
conhecimento. Especificamente, objetiva-se oferecer um mtodo para a compreenso da organizao de uma
dada rea do conhecimento sem ser especialista e/ou tcnico da rea nas quais as atividades acadmicas e/ou
profissionais so realizadas, verificar o comportamento de uma rea de conhecimento por meio da
Organizao do Conhecimento (OC) e, tambm, investigar a vantagem de utilizar a garantia literria e o
consenso entre especialistas para a construo do campo da Agricultura. Como procedimentos metodolgicos
levaram-se em considerao o processo de identificao das caractersticas dos conceitos (Dahlberg, 1978); a
distribuio dos assuntos dos artigos nas categorias AGRISCARIS e a representatividade dos assuntos dos
artigos pelo conhecimento estabelecido pelos especialistas. Verificou-se que a anlise de domnio (Hjrland &
Albrechtsen, 1995; Beghtol, 1995) proporcionou identificar os objetos, operaes e relaes entre o que os
especialistas de um domnio percebem como importante, podendo auxiliar os profissionais da informao a
expandirem suas competncias sobre as fontes de informao e a partir da se especializarem. E, ainda, que o
comportamento de uma rea do conhecimento pode ser percebido por meio da adequao dos assuntos
tratados nos documentos, ao lado das estruturas classificatrias existentes. Conclui-se que o uso conjunto
desses dois princpios para o conhecimento do domnio permite que os conceitos importantes do campo
possam ser criados dedutivamente por especialistas e, tambm, identificados indutivamente na literatura
desse campo, o que contribui para o desenho do quadro terico-conceitual da comunidade discursiva da
Agricultura no perodo estudado.

Palavras-chave Garantia literria. Consenso entre especialistas. Anlise de domnio. Agricultura.

Abstract This study is a logical-empirical experiment to analyze the field of Agriculture. The principles of
literary warrant and consensus (Lancaster, 2004; Dodebei, 2002) are used to perform conceptual analysis of the
periodical A Lavoura (2002-2012) and AGRIS/CARIS Classification Scheme, with the objective of verifying the
benefit of using the both principles to construct a knowledge domain. Specifically, the study aims to provide a
method for understanding the conceptual organization of a given knowledge area without being a specialist;
to verify a knowledge area through Knowledge Organization (KO) and, also, to investigate the advantage of
using literary warrant and consensus among experts to build a conceptual field for Agriculture. As
methodological procedures, it took into account the process of identifying characteristics of concepts
(Dahlberg, 1978); distribution of article concepts in categories AGRIS/CARIS and representativeness of article
subjects. It was verified that domain analysis (Hjrland & Albrechtsen, 1995; Beghtol, 1995) made possible to
identify objects relations which are consider by the specialists very important to a given field and, by
consequences, it may help information analysts to expand their skills and information sources and from these
to specialize themselves. And yet, that the conceptual dynamics of a knowledge area can be represented by a
selection of document terms, as well as those existing in a specialized classification structure. It concludes

496
that the use of both principles to design a knowledge domain enables a best conceptual representation,
deductively created by experts and also inductively identified by literature, which seems to contribute
theoretic and conceptually to obtain a discursive framework of Agriculture community for the studied period.

Keywords Literary Warrant. Consensus. Domain analysis. Agriculture.

1 Anlise de domnio em Agricultura: o uso conjunto da garantia literria (A
Lavoura) e do consenso entre especialistas (Esquema de Classificao
AGRIS/CARIS) como princpios para a Organizao do Conhecimento

O artigo resultado do estudo apresentado como trabalho final ao curso de especializao em
Organizao do Conhecimento para Recuperao da Informao, oferecido pela Universidade
Federal do Estado do Rio de Janeiro (UNIRIO). A motivao e escolha do tema decorreram do
interesse das autoras nos assuntos tratados pela Organizao do Conhecimento e pela importncia
da Agricultura no Brasil, visto ser uma das reas de interesse estratgico no Ministrio de Cincia,
Tecnologia e Inovao (MCTI) e possuir desde 1860, durante o Segundo Imprio, pasta prpria.
A Biblioteca Nacional de Agricultura (Binagri), criada em 1909, parte integrante da estrutura
organizacional do Ministrio da Agricultura, Pecuria e Abastecimento (MAPA) e tem como
atribuio gerir o Sistema Nacional de Informao e Documentao Agrcola (SNIDA). Este sistema
opera de forma cooperativa com instituies governamentais e no-governamentais, de ensino e
pesquisa e de extenso rural no pas, recebendo publicaes e documentos especializados em
Agricultura.
Alm disso, a Binagri possui estreito relacionamento com o Sistema Internacional para Cincia
e Tecnologia Agrcola (AGRIS), mantido pela Organizao das Naes Unidas para Agricultura e
Alimentao (FAO) e com a Alianza de Servicios de Informacin y Documentacin Agropecuaria de las
Americas (SIDALC), compartilhamento mantido por instituies de vinte e trs pases do continente
americano.
Neste cenrio brasileiro da informao agrcola, o artigo tem como objetivo estudar o domnio
Agricultura a partir de sua comunidade de discurso e para isso utilizou-se os princpios da garantia
literria e do consenso entre especialista (Lancaster, 2004; Dodebei, 2002) para realizar as anlises
conceituais do peridico A Lavoura e do AGRIS/CARIS: Categorization Scheme (Prince-Perciballi,
1998) com o intuito de verificar o benefcio de se utilizar os dois princpios na delimitao de um
domnio do conhecimento.
Especificamente, objetiva-se oferecer um mtodo para a compreenso da organizao de uma
dada rea do conhecimento sem ser especialista e/ou tcnico da rea nas quais as atividades
acadmicas e/ou profissionais so realizadas, verificar o comportamento de uma rea de
conhecimento utilizando os fundamentos da Organizao do Conhecimento e, tambm, investigar a
vantagem de utilizar a garantia literria e o consenso entre os especialistas para a construo
conceitual do campo da Agricultura.

2 A organizao social do conhecimento

O conceito de disciplina como uma designao abreviada para comunidade correlacionada a
seguir com a abordagem analtica de domnio, possibilitando perceber como diferentes domnios
encontram-se organizados. Assim, a partir da delimitao do domnio procura-se definir a
abrangncia e origem do termo Agricultura, seus limites e fronteiras com outras disciplinas.

497
2.1 Dimenso social do conhecimento

A construo da sociedade tal qual percebemos nos dias de hoje se d pela necessidade do
homem de transmitir suas capacidades intelectuais, sociais e prticas de gerao em gerao. E, essa
garantia da continuidade da transmisso de conhecimento ocorre por meio da educao, que
fornece subsdios para formalizar a herana cultural, ao refletir os valores da sociedade na
composio de temas discutidos nas escolas e universidades. Esses temas agrupam-se em disciplinas
que representam segmentos da totalidade do conhecimento existente. Nesse sentido, disciplina um
ramo de instruo, isto , um campo organizado de pesquisa investido por uma comunidade de
pessoas bem informadas, possuindo como caractersticas os seguintes atributos (Mcgarry, 1984):

ATRIBUTOS ESPECIFICAO
Distino entre conhecimento e
senso comum
A comunidade cientfica realiza pesquisas em qualquer aspecto do
mundo fsico, social ou moral com o apoio e para benefcio da
sociedade.
Compostas por pessoas

As disciplinas do conhecimento so compostas por comunidades
cultas que partilham um domnio de discurso ou de investigao
social.
Autenticidade As disciplinas contm conhecimento em todos os graus de
dificuldade, sendo a autenticidade o que qualifica a informao, pois
ela passa pelo crivo dos pares e por mtodos rigorosos de avaliao.
Conceitos classificados e
relacionados
Os conceitos estudados pelas disciplinas estruturam-se em
categorias fundamentais se subdividindo em reas mais restritas e
que mantm relao entre si.
Domnios distintos de pesquisa e
prprios mtodos especializados
A maneira de olhar os fenmenos se difere em cada disciplina, sendo
necessrio o emprego de mtodos distintos para disciplinas
diferentes.
Classificao do domnio a sua
maneira
O processo de classificao est implcito em toda atividade racional.
A diferena reside em que as categorias de certas disciplinas tm
contornos mais ou menos definidos que as de outras. Por exemplo,
nas disciplinas hard, as classes so discretas e independentes, em
oposio, as soft no to facilmente definidas.
Comunicao documental Cada disciplina desenvolveu um meio particular para se comunicar o
que significa dizer que a estrutura documental das disciplinas hard
no ser igual a das soft.
Viso do homem tcita e explcita As disciplinas so formadas por dois tipos de conhecimento: tcito e
explcito. O primeiro pessoal, constitudo de insights que torna
difcil sua expresso por meios sistemticos. O conhecimento
explcito formal e pode ser transmitido pela linguagem.
Terminologia prpria O vocabulrio especializado serve como meio de comunicao e
traa o domnio de estudo aos pesquisadores de um campo
cientfico.

Tabela 1 - Atributos das disciplinas cientficas

Em termos de comunicao, pode-se dizer que a estrutura interna de uma disciplina dividida
em dois subsistemas interligados, contribuindo para um todo integrado, a saber: documentos e
processo de comunicao interpessoal (Mcgarry, 1984). O subsistema dos documentos
caracterizado pela natureza de seus contedos e composto pela manifestao impressa do
conhecimento explcito por sua comunidade culta. Assim, o segundo subsistema, compe-se de laos
formais e tambm informais estreitamente ligados de forma idntica dentro do sistema (Figura 1).
Ao examinar a literatura cientfica de qualquer rea do conhecimento, encontram-se citaes
no corpo do texto e uma lista de referncia ao final do trabalho, onde so identificados documentos

498
em que a informao pode ser encontrada. As citaes propem-se a: garantir a autoridade;
sustentar a relevncia das informaes; reconhecer os percussores de tal pensamento; situar o
trabalho num contexto de prvias realizaes e de aspiraes gerais; alm de poder trazer crticas s
realizaes de autores anteriores (Mcgarry, 1984).
Professores, estudantes, pesquisadores; associaes profissionais, sociedades culturais; e
instituies de pesquisa e ensino, organizaes nacionais e internacionais representam, assim, a
estrutura social das disciplinas.

Figura 1 - Estrutura interna das disciplinas cientficas

Para um membro da comunidade acadmica apenas resta alternativa de publicar e enfrentar
o julgamento dos seus pares, pois cada campo do conhecimento tem suas normas, ideias e
mecanismos de controle e recompensa, apoiados pelo sistema de comunicao. Sob um ponto de
vista mais concreto, trata-se de pessoas trabalhando, pesquisando e ensinando em universidades e
instituies de pesquisa. Esses pesquisadores utilizam documentos organizados em sistemas de
informao que precisam ser parcelizados das relaes existentes entre a estrutura social da
disciplina e o fluxo da informao.
Tendo em vista que certas disciplinas so designadas como hard e soft, estes atributos
influenciam tanto a relaes sociais como o fluxo dentro da disciplina. A diferena entre as cincias
hard e soft consiste nas regras que regem a utilizao de smbolos que envolvem afirmaes sobre
o assunto. Quanto mais restrita for uma cincia no seu domnio, mais provvel que se possa articular
uma hiptese matemtica para ser comprovada por medies exatas. Em contraponto, as disciplinas
soft so governadas por relaes entre conceitos sem tanta preciso e nem sempre compartilhadas
pelo grupo, fazendo uso de terminologia mais dependente do contexto cultural (Mcgarry, 1984).
Pode-se dizer que as relaes existentes entre as ideias, categorias e estruturas conceituais e
as formas documentais de uma disciplina so mltiplas e complexas, pois estas integram, ao mesmo
tempo, uso dos documentos e necessidade de informao por parte da comunidade acadmica, sem
negligenciarem o papel dos sistemas de informao nos processos de organizao, disponibilizao e
transferncia do conhecimento.
Para Hjrland e Hartel (2003), a definio de uma disciplina cientfica envolve conceitos
ontolgicos, epistemolgicos e sociolgicos. Do ponto ontolgico, a disciplina caracterizada por
seus objetos, isto , na Botnica pelas plantas, na Zoologia pelos animais, na Psicologia pelas mentes
e comportamentos, na Teologia por deus etc. Os conceitos epistemolgicos dizem respeito maneira
como se percebe a existncia das coisas, o que significa que um dado domnio pode ter diferentes
definies para diferentes vises tericas ou diferentes interesses associados. Por ltimo, os
conceitos sociolgicos referem-se a grupos de pessoas estudando campos de conhecimento.
Documentos Processo de Comunicao
Interpessoal
Livros
Revistas
Relatrios de Pesquisas
Bibliografias
Professores, estudantes
Associaes Profissionais
Instituies de Pesquisa e de
Ensino
Linhas de Comunicaes Conexas

499
Essa dimenso sociolgica permite estudar os domnios como pensamento ou discurso de
comunidades, como parte da diviso de trabalho da sociedade. Desta forma, a organizao do
conhecimento, sua estrutura e modelos, bem como linguagem e formas de comunicao e at
mesmo os sistemas de informao so reflexos dos objetos de estudo dessas comunidades e de seu
papel na sociedade, no sendo relevante a cognio de apenas um indivduo, e sim, do grupo como
um todo (Hjrland & Albrechtsen, 1995).
O termo anlise de domnio foi introduzido por Neighbors em 1981, dentro da Cincia da
Computao, como um processo pelo qual se identifica objetos, operaes e relaes entre os quais
os peritos em um determinado domnio percebem como importante (Prieto-Diaz, 1990).
A definio da Cincia da Computao consonante com a viso analtica de domnio da
Cincia da Informao, visto que pode ser entendida como um processo de identificar e organizar o
conhecimento sobre uma classe de problema (Dodebei, 2002, p. 74). Pode-se dizer que a diferena
consiste no aspecto dinmico e social da Cincia da Informao.
No campo da Cincia da Informao e Biblioteconomia, Hjrland e Albrechtsen (1995)
destacam como contribuidores e precursores dessa abordagem pesquisadores como: Wilson, Amba e
Iyer, Bates, Taylor, Saracevic, Rowley, o prprio Hjrland, entre outros.
Hjrland (2002) descreve onze competncias especficas para cientistas da informao e
bibliotecrios, a saber: produo de guias de literatura; produo de classificaes especiais;
pesquisa em indexao e recuperao da informao; estudos de usurios empricos em diferentes
campos; estudos bibliomtricos; estudos histricos de troca de informaes; estudos de informao e
arquitetura da informao; estudos epistemolgicos e crticos; estudos de terminologia, linguagens
especializadas e anlise de discurso; estudos de estruturas e instituies em comunidades cientficas;
anlise de domnio em cognio e inteligncia artificial, que podem ser trabalhadas juntas ou
isoladamente.
Em oposio abordagem cognitiva que centrada nos processos individuais de conhecer, a
anlise de domnio concebe os indivduos como pertencentes a diferentes culturas, estruturas
sociais e domnios do conhecimento. Por isso, professores, pesquisadores, estudantes fazem parte de
comunidades que compartilham linguagens comuns, gneros literrios e outras prticas de
comunicao (Hjrland, 2004).
Para explicar essa abordagem scio-cognitiva, diversos trabalhos foram publicados nos
ltimos anos, inclusive um nmero especial do peridico Knowledge Organization em 2003, onde onze
pesquisadores de diferentes especialidades e oriundos de pases da Amrica do Norte, Europa e
Oriente Mdio discutem a diversidade de estudos sobre aplicao da anlise de domnio na
Organizao do Conhecimento (Hjrland & Hartel, 2003) (Quadro 2).
Dentre os oito artigos publicados nesse fascculo, destacamos o de rom (2003) por considerar
as diferentes questes paradigmticas em arte (iconogrfico, estilstico e materialista) e demonstrar
como esses paradigmas tm influenciado alguns esquemas de classificao existentes: Classificao
Decimal de Dewey (CDD), Classificao Decimal Universal (CDU), Classificao da Biblioteca do
Congresso Americano (LCC) e o Sistema de Classificao Sovitico BBK.

500
AUTORES ARTIGOS
rom, Anders Knowledge Organization in the Domain of Art Studies: History,
Transition and Conceptual Changes
Abrahamsen, Knut Tore Indexing of Musical Genres: An Epistemological Perspective
Sundin, Olof Towards an Understanding of Symbolic Aspects of Professional
Information: An Analysis of the Nursing Knowledge Domain
Gazan, Rich Metadata as a Realm of Translation: Merging Knowledge Domains in
the Design of an Environmental Information System
Tennis, Joseph T. Two Axes of Domains for Domain Analysis

Zins, Chaim; Guttman, David Analysis of Social Work: An Example of an Integrated
Methodological Approach
Albrechtsen, Hanne; Pejtersen,
Annelise Mark
Cognitive Work Analysis and Work Centered Design of Classification
Schemes
Hartel, Jenna The Serious Leisure Frontier in Library and Information Science:
Hobbys Domains

Tabela 2 - Nmero Especial da Knowledge Organization

A organizao do conhecimento significa, especialmente, a organizao da informao
registrada, ou seja, em seu sentido especfico estuda os sistemas (bibliografias, sistemas de
classificao, tesauros, ontologias etc.) e os processos (classificao, descrio de documentos,
indexao e anlise de assunto), sendo esta organizao desenvolvida por instituies de memrias
(bibliotecas, arquivos, museus) (Broughton et al, 2005). E a anlise de domnio uma abordagem
utilizada para conhecer os campos conceituais de comunidades sociais, o que vai fortalecer as
competncias de bibliotecrios e cientistas da informao, visto que os sistemas e processos so
compreendidos a partir de como os domnios encontram-se organizados do ponto de vista social e
epistemolgico.
Ento, o passo que antecede o estudo da organizao de um campo do conhecimento diz
respeito caracterizao desse domnio, visto que diferentes domnios podem ter diferentes
configuraes.

2.2 Delimitao do domnio

A conceituao do domnio implica consideraes sobre as relaes sociais existentes no
processo, isto , em estudar os domnios de conhecimento relacionando-os com suas comunidades
discursivas, que so grupos sociais sincronizados em pensamento, linguagem e conhecimento
(Hjrland & Albrechtsen, 1995).
A partir desta perspectiva, afirma-se que o desenvolvimento do conhecimento no apenas a
adio de um novo elemento dentro de uma classificao preestabelecida. Assim como o
conhecimento, tambm, se desenvolve a viso da estrutura do mundo e dos relacionamentos entre
diversos conceitos. Partes do mundo que eram previamente consideradas sem relao podem, de
repente, tornarem-se fortemente relacionadas. Desta forma, as relaes conceituais so alteradas e,
por implicao, tambm as estruturas conceituais e sociais representadas nas estruturas
classificatrias.
Mas, o que domnio? Para Hjrland (2005), um domnio pode ser uma disciplina cientfica ou
uma rea de conhecimento. Pode ser tambm uma comunidade de discurso ligada a um partido
poltico, uma religio, um negcio ou um hobby.
Operacionalmente, elegeu-se a Agricultura, disciplina cientfica, como domnio para o estudo,
adotando-a por estar prxima da grafia e da semntica no ingls Agriculture, em detrimento a
Agropecuria, Agronegcio e Cincias Agrrias. Sendo assim, procura-se a seguir delimitar o

501
conceito de Agricultura, sua origem e os diversos termos e significados usados por esta disciplina na
atualidade.
Etimologicamente, os elementos de composio Agri- (do latim Ager agri) e Agro- (do grego
Agrs agrou) significam campo, documentado em diversas palavras, principalmente aquelas
introduzidas a partir do sculo XIX pela literatura cientfica, como: agronomia e agropecuria. A
palavra agricultura, desde o sculo XV, formada por dois elementos de composio agri + cultura,
sendo cultura uma palavra latina que tem a mesma raiz de cultus, significando cultivo (Cunha, 1998).
Bluteau (1712) em seu dicionrio define a Agricultura como a arte de cultivar a terra. Por ser
uma atividade to estimada foi o ofcio do primeiro monarca do mundo. Os antigos prncipes persas
e romanos a achavam o mais delicioso dos exerccios. Era comum, poca, que romanos tomassem
sobrenomes e ttulos honorficos dos legumes que semeavam e colhiam (por exemplo, das favas
foram chamados os Fabios, das lentilhas os Lentulus e das ervilhas chamadas em latim Pisa, os
Pusoens). Alm disso, diversos autores renomados como Virgilio e Cicero, escreveram tratados sobre
a Agricultura.
A Agricultura na atualidade considerada uma atividade produtiva integrante do setor
primrio, caracterizada pela produo de bens alimentcios e matrias-primas decorrentes da
cultura de plantas e da criao de animais (Motta, 1987). No Brasil, o MAPA responsvel pela gesto
das polticas pblicas de estimulo Agropecuria, pelo fomento do Agronegcio e pela regulao e
normatizao de servios vinculados ao setor (Brasil, 2013).
Comumente, Agricultura e Agropecuria so utilizadas na economia brasileira como palavras
sinnimas, por se referirem ao setor produtivo baseado na atividade rural que tem na terra um fator
de produo essencial. No entanto, Agricultura encontra-se dicionarizada como o cultivo dos
campos, com vistas produo de vegetais teis ao homem e a palavra Agropecuria, diz respeito s
relaes existentes entre Agricultura e Pecuria (Ferreira, 2008). Assim, no senso comum, muitas
vezes a Agricultura percebida apenas como produo vegetal e a Agropecuria, envolveria o
conjunto de atividades relacionadas s produes vegetais e de animais.
Agronegcio tambm uma palavra largamente usada para se referir Agricultura como um
todo. O termo origina-se do ingls Agribusiness criado na dcada de 50, pelos professores Goldberg e
Davis da Universidade de Harvard. Os dois pesquisadores perceberam que no seria mais adequado
analisar a economia e a agricultura nos moldes tradicionais, como setores isolados. Para eles, o
agronegcio a soma total das operaes de produo e distribuio de suprimentos agrcolas; das
operaes de produo na fazenda; do armazenamento, processamento e distribuio dos produtos
agrcolas e itens produzidos a partir deles (Goldberg & Davis, 1957). Surge, ento, o conceito de
Agronegcio que implica a ideia de cadeia produtiva, com seus elos entrelaados e sua
interdependncia.
Um termo amplo, Cincias Agrrias, geralmente utilizado no meio acadmico-cientfico e
por agncias de financiamento de pesquisa para englobar as disciplinas que compem a Agricultura
como campo de conhecimento, a saber: Agronomia, Engenharia Florestal e de Pesca, Zootecnia,
Medicina Veterinria e Cincia e Tecnologia dos Alimentos.
Neste contexto, para fins de estudo, adota-se a definio de Schlipf (1929), para quem a
Agricultura veio para resolver o problema de utilizar as foras naturais que nos so oferecidas sem
gasto de energia sol e chuva, luz e ar para obter plantas cultivadas, das quais junto com os
animais que delas se nutrem, constituem a base de nossa alimentao.
Em outras palavras, os objetos integrantes do domnio Agricultura seriam as plantas, os
animais, as pessoas envolvidas com o setor, as operaes e aes incluiriam o manejo e produo de
plantas e animais, os processos relacionados ps-colheita, o processamento de alimentos entre
outros.
Por ser um experimento lgico-emprico para anlise do campo da Agricultura, observa-se a
seguir, dois mtodos que so princpios para a delimitao de um domnio e se organizam no cenrio
da anlise de domnio: a garantia literria e o consenso entre especialistas. No se deve esquecer que

502
tal experincia metodolgica foi anteriormente utilizada por Dodebei (1979) na elaborao de um
modelo terminolgico para a construo de um tesauro de formao profissional do Brasil e, de
certa maneira, j inclua a discusso sobre anlise situacional no campo das linguagens
documentrias.

3 A garantia literria e o consenso entre especialistas como princpios para a
Organizao do Conhecimento

Encontra-se na literatura para construo de sistemas de organizao do conhecimento
(classificaes, tesauros, ontologias, taxonomias etc.) dois mtodos de estabelecimento de relaes
conceituais: o indutivo e o dedutivo, como possibilidades de escolha de termos para composio de
um universo conceitual. Os dois mtodos derivam, respetivamente, da utilizao dos princpios da
garantia literria e do consenso entre especialista. A combinao de ambos foi adotada como
procedimento metodolgico para anlise de domnio em Agricultura.

3.1 Garantia literria

O termo garantia literria (Literary warrant ou Bibliographic warrant) foi cunhado pelo britnico
E. Wyndham Hulme em artigos publicados no perodo de 1911 a 1912, no Library Association Record,
sob o ttulo Principles of book classification, obra que discute tambm o conceito de pontos de acesso
originado no Rules for a Dictionary Catalogue (4th ed., 1904) de Charles A. Cutter. Os artigos foram em
1950 reunidos pela Association of Assistant Librarians (AAL) e publicados na forma de livros, tendo sido
realizada uma cpia fac-smile da obra em 1980 pela Universidade de Michigan. Esse trabalho
tambm foi selecionado por Chan, Richmond e Svenonius para compor a obra Theory of subject
analysis em 1985 (Barit et al, 2010).
Hulme parece ser ento o responsvel por modificar a fonte de legitimao dos compiladores
de classificaes bibliogrficas que at ento se baseavam puramente na Filosofia. Para Hulme
(1950), o princpio da garantia literria o resultado de um levantamento preciso das classes de
assuntos na literatura validadas pelo nmero de vezes que ocorrem.
O contexto histrico-social para o florescimento da garantia literria ocorreu no final do
sculo XIX e incio do sculo XX quando bibliotecrios anglo-americanos buscavam fundamentao
terica para a construo e refinamento das classificaes bibliogrficas. Naquele tempo no havia
ainda uma distino formal entres sistemas e catlogos de bibliotecas, pois os catlogos sistemticos
em geral refletiam a prtica institucional. Alm disso, a ideia de que os cabealhos de assunto
deveriam ser gerados independentemente dos sistemas de classificao ainda era um tanto difcil de
compreender pela maioria das pessoas que trabalhavam em bibliotecas (Rodriguez, 1984).
Sob esses aspectos e devido tendncia dominante para elaborar classificaes bibliogrficas
com embasamento terico-filosfico, ou seja, seguindo uma ordem natural das cincias, inicialmente
as ideias de Hulme foram rejeitadas pela comunidade cientfica. No seu entendimento, a classificao
bibliogrfica teria como funo primordial o arranjo de livros nas estantes e no de assuntos, teorias
ou ideias, sendo a literatura, a fonte que d autoridade e subsidia a classificao bibliogrfica, e no
sistemas de classificao com preferncias ideolgicas preconcebidas (Rodriguez, 1984).
A garantia literria no parte de uma organizao do conhecimento j estabelecida ou baseada
em aspectos formais da teoria da classificao, tambm no prope uma teoria da classificao
prpria para a Biblioteconomia e Cincia da Informao, mas deixa implcita a apelao do consenso
cientfico, acadmico e especializado de que os documentos so elementos de registro, socializao e
legitimao de um conhecimento gerado (Barit, 2007).

503
Na prtica, o sistema de classificao e a lista de cabealho de assunto da Library of Congress se
orientam e reconhecem a aplicao da garantia literria, por considerar a sua coleo bibliogrfica
durante a construo e atualizao dos seus instrumentos e por ajust-los ao perfil da Biblioteca e da
sua comunidade de usurios (Lancaster, 1986).
A vantagem da escolha de termos feita a partir da literatura permitir a obteno do termo
com o significado que lhe atribuem os especialistas da rea. Esse significado, apreendido a partir do
contexto em que o termo aparece, o que vai ser levado em conta no momento de estruturar os
conceitos em suas diversas relaes (Gomes, 1990).
No mtodo indutivo (bottom-up), as rvores hierrquicas so construdas depois da coleta de
termos at se obter mximos gneros e mnimas espcies que daro origem s classes gerais ou
facetas principais. O mtodo indutivo chamado de emprico por Lancaster, estalagmite por
Wooster e analtico pelo American National Standard Institute (Dodebei, 2002).
Sendo assim, os procedimentos adotados pelo estudo para uso da garantia literria foram:

a) Seleo da fonte de informao
A revista A Lavoura foi escolhida como fonte de informao para coleta de termos na literatura
agrcola, devido relevncia da publicao frente comunidade cientfica, a sua historicidade, o
nmero expressivo e ininterrupto de fascculos publicados, bem como o seu papel em registrar a
evoluo cientfica e tecnolgica da agricultura nos ltimos 116 anos.

b) Amostragem
A amostra compreendeu os artigos de divulgao cientfica assinados por pesquisadores e
professores, no perodo de 2002 at 2012.

c) Coleta de termos na literatura corrente
A partir da anlise conceitual, foram coletadas palavras ou expresses mais representativas do
contedo do artigo, sem o uso de instrumentos de indexao (tesauros, lista de cabealho de
assunto, tabelas de classificaes etc.).

d) Tabulao dos dados
Foram criadas planilhas eletrnicas para a tabulao dos dados levantados na revista, e mais, uma
lista de termos organizado em ordem decrescente de frequncia de ocorrncia.

e) Identificao das relaes entre termos
Por meio do material coletado, foi possvel identificar potenciais relaes de gnero e espcie,
relacionamentos associativos entre os termos e de equivalncia.

3.2 Consenso entre especialista

A outra forma de obteno de terminologia, diz respeito ao mtodo dedutivo (top down ou
summum genus) que decorre do processo de deduo das espcies, a partir da definio baseada no
conhecimento das classes gerais ou facetas principais, isto , segue um processo de diviso lgica do
conhecimento, desde os conceitos mais gerais (normalmente, as disciplinas ou subdisciplinas) aos
mais particulares (os tpicos especficos) (Barit et al, 2010).
O mtodo dedutivo tambm conhecido por Gestalt, para contrapor analtico, estalactite em
contraposio estalagmite, commitee aproach, em oposio emprico e ainda endosso do usurio
por Lancaster (Dodebei, 2002).
A expresso consenso entre especialistas enfatiza o grupo, contrapondo-se s opinies e
julgamentos individuais. O princpio se justifica pela garantia dos produtores e utilizadores de um
sistema de informao e ocorre mediante a formao de comits para discusso acerca dos termos.

504
O consenso entre especialistas um dos princpios utilizado como metodologia para
construo de sistemas de organizao do conhecimento e no possui na literatura da rea de
Biblioteconomia e Cincia da Informao aprofundamento sobre as questes ligadas a ponto de
acesso, tal como a garantia literria (Beghtol, 1995).
O termo consenso foi utilizado por Bliss para pontos de vista que cientistas e educadores
compartilhavam como estruturas comuns a disciplinas. Para ele, os sistemas de classificao
bibliogrficos deveriam se basear neste princpio, pois no final do sculo XIX e incio do sculo XX,
acreditava-se que fosse possvel identificar e mapear uma estrutura bsica e permanente nas
diversas reas do conhecimento (Beghtol, 1995). Contudo, o conhecimento nos dias de hoje
percebido como em processo, porque ele no s aumenta, como se modifica e torna-se mais
complexo enquanto aumenta, impondo essa dinmica aos relacionamentos existentes entre as
diferentes reas do conhecimento.
Compreende-se que para que haja qualidade na indexao de objetos e a correspondente
eficcia do sistema em recuper-los de um universo documental, o ideal seria que houvesse
concordncia entre os significados dos termos atribudos como elemento do ndice, para isso,
importante que exista alguma forma de consenso entre especialistas (Lancaster, 2004). Neste caso,
um esquema de classificao no atender a uma respectiva rea do conhecimento se no utilizar
termos sobre os quais os especialistas hajam concordado.
Buscou-se um sistema de classificao que pudesse refletir amplamente a rea da Agricultura,
sendo selecionado o AGRIS/CARIS: categorization scheme, preparado por Prince-Perciballi em 1998, na
lngua inglesa e disponvel na verso online, devido s categorias serem percebidas pelo estudo como
produto do consenso entre especialistas.

4 Resultados e Discusso

4.1 Descrio das fontes

A Lavoura (ISSN 0023-9135)

A Sociedade Nacional de Agricultura (SNA) entidade de utilidade pblica e sem fins
lucrativos, fundada em 1897 com a finalidade de desenvolver aes polticas e educacionais em prol
da Agricultura brasileira.
Veculo de comunicao oficial da SNA, A Lavoura publicada initerruptamente desde 1897,
sendo considerada a mais antiga revista em Agricultura no Brasil. Surgiu como um peridico
cientfico, mas foi perdendo este carter ao longo dos anos. Atualmente, publica artigos de
divulgao cientfica e reportagens tcnicas com o propsito de estimular debates fundamentais no
setor. A revista A Lavoura publicada bimestralmente, exceo feita para o perodo de 1987 a 2007,
em que teve periodicidade trimestral.
A Lavoura publicada em verso impressa, sendo distribuda por intercmbio a universidades
e instituies de pesquisa brasileiras e estrangeiras. Os fascculos publicados a partir de dezembro de
2011 esto disponveis no site da revista para consulta e download.
A ferramenta de avaliao e classificao de peridicos cientficos da Coordenao de
Aperfeioamento de Pessoal de Nvel Superior (Capes), Webqualis, classifica A Lavoura no estrato B5
para as reas de Cincias Agrrias, Cincias Ambientais, Biodiversidade, Interdisciplinar, e no estrato
C para as reas de Cincias dos Alimentos e Cincias Biolgicas.
No perodo estudado, alm dos artigos e reportagens apresentados no sumrio por palavras
que representam o tema abordado, em geral, pode-se encontrar as seguintes sees: SNA, Panorama,
Animais de estimao, Sociedade Rural Brasileira, SOBRAPA, Informe OCB/SESCOOP-RJ, Organiscnet,
Empresa e Entrevista.

505
Para fins de estudo, foram selecionados apenas os artigos de divulgao cientfica com autoria
de professores e/ou pesquisadores de instituies de pesquisa e universidades. No perodo de 2002 a
2012, foram publicados 52 fascculos, tendo como amostra 211 artigos de divulgao cientfica.

Ano Fascculos Artigos
2012 4 13
2011 6 13
2010 6 15
2009 6 24
2008 6 30
2007 4 18
2006 4 28
2005 4 11
2004 4 21
2003 4 24
2002 4 14

Tabela 3 Amostragem

Nos ltimos dez anos, foram publicados em mdia 19 artigos de divulgao cientfica por ano.
Nota-se que o maior nmero de artigos de divulgao publicado foi nos anos de 2006 e 2008, 28 e 30
respectivamente.

Grfico 1 - Artigos por ano

O total de 294 pesquisadores filiados a diferentes tipos de instituies do setor agrcola
divulgaram o resultado de suas pesquisas cientficas no peridico A Lavoura. O estudo levantou 41
instituies, classificadas da seguinte maneira: 21 universidades e instituies de ensino superior
(IES), 10 centros e institutos de pesquisa, 4 agncias financiadoras de projetos, 3 empresas privadas e
4 em outros, (Grfico 2).

506

Grfico 2 - Instituies

A maioria dos artigos de divulgao foi escrita por pesquisadores de centros e institutos de
pesquisa de governos estaduais e rgos federais, sendo os pesquisadores da Embrapa (Empresa
Brasileira de Pesquisa Agropecuria) os que mais colaboraram com a revista na divulgao de suas
pesquisas (aproximadamente 200 ou 68% de pesquisadores da Embrapa Sede e suas Unidades de
Pesquisas) (Grfico 3).

Grfico 3 Pesquisadores

Com o propsito de obter o contedo temtico dos artigos em lngua natural, adotou-se
durante o processo de anlise conceitual, a indexao seletiva e por extrao no texto das palavras
significativas sem o uso de instrumentos de controle terminolgico.
Aps a coleta, os termos foram organizados em ordem decrescente de frequncia de
ocorrncia na literatura. As palavras que apareceram com maior frequncia foram Trigo (11 vezes),
Alimentao animal, Bovino, Caf, Produtividade e Suno (8 vezes), Cultivar (7 vezes),
Cerrado, Controle biolgico e Produo animal (6 vezes), Agricultura sustentvel e assim por
diante at chegar a 380 palavras que apenas ocorreram uma nica vez. A coleta de termos teve como

507
resultado 394 palavras, sendo 187 palavras simples e 207 palavras compostas. Diferentemente da
indexao exaustiva que implica o emprego de um grande nmero de termos para abranger o
contedo temtico de forma exaustiva, a indexao seletiva utiliza-se de um nmero menor de
termos, a fim de alcanar um maior nvel de especificidade.
O princpio da especificidade
1
aquele segundo o qual um tpico deve ser indexado sob o
termo mais especfico que o abranja completamente. Por exemplo, um artigo que abordava o
assunto gado leiteiro no foi indexado por Gado, e sim sob Gado leiteiro. Alm disso, procurou-se a
especificidade pela identificao de possveis combinaes de termos. Por exemplo: Manejo da
fertilidade do solo, indexado por Manejo do solo e Fertilidade do solo.
A literatura revelou relaes de equivalncia entre as palavras, isto , foram percebidas 37
palavras com significado idntico ou equivalente, mas com significante diferente. Alm de oferecer
como vantagem a possibilidade de obteno de palavras em uso, em sua forma e significado mais
recente, o estudo identificou a incidncia de um nmero significativo de nomes cientficos, 35
palavras.
Procurou-se durante a coleta, tambm, transcrever quando percebido as definies e
explicaes das palavras encontradas nos artigos, aproximadamente 12 palavras, como: Adubao
verde um tipo de Adubao orgnica. Prtica conservacionista pelas quais plantas apropriadas so
cultivadas e, a seguir, incorporadas ou mantidas na superfcie do solo com a finalidade de manter ou
aumentar a sua capacidade produtiva.

AGRIS/CARIS: categorization scheme

AGRIS e CARIS so dois sistemas de informao criados na dcada de 70 pela Organizao das
Naes Unidas para Alimentao e Agricultura (FAO). O Sistema Internacional para Cincia e
Tecnologia Agrcola (AGRIS) tem por finalidade facilitar a troca de informaes, bem como reunir
atravs de esforos conjuntos a literatura do mundo sobre todos os aspectos da Agricultura. O
Sistema de Informao sobre Pesquisas em Andamento (CARIS) se prope a identificar e facilitar a
troca de informaes sobre pesquisas agrcolas em andamento em pases em desenvolvimento.
Atualmente, o AGRIS parte da CIARD (Coherence in Information for Agricultural Research for
Development), iniciativa na qual o Consultative Group on International Agricultural Research (CGIAR), o
Global Forum on Agricultural Research (GFAR) e a FAO colaboram para criar uma comunidade para
compartilhamento eficiente do conhecimento para as pesquisas agrcolas existentes e em
desenvolvimento (FAO, 2013).
O AGRIS disponibiliza pela internet uma base de dados bibliogrfica e de documentos abertos,
cobrindo diferentes aspectos da Agricultura, incluindo Engenharia Florestal, criao de animais
domsticos, Engenharia da Pesca, nutrio humana, uma extensa literatura de mais de 100 pases
participantes (Figura 2). Dentre os diversos tipos de materiais, a base inclui uma exclusiva literatura
cinzenta, tais como: relatrios tcnicos e cientficos no publicados, teses, anais de congresso,
publicaes governamentais etc. (FAO, 2013).
O AGRIS/CARIS: categorization scheme uma ferramenta de representao e recuperao de
documentos. O Esquema faz parte de um conjunto de instrumentos semnticos desenvolvidos pela
FAO, para facilitar a cooperao e parcerias institucionais por meio do incentivo de troca de
informaes e compartilhamento de conhecimento, alm de contribuir para harmonizar os esforos
no desenvolvimento de metodologias, normas e aplicaes para administrao de sistemas de
informao em Agricultura.
Inicialmente, as categorias foram preparadas por Donald Leatherdale em 1974, sendo
revisadas na dcada de 90 pelas equipes do AGRIS e CARIS, pela Diviso de Sistemas de Biblioteca e

1
o mais importante da indexao de assuntos e remonta a Rules for a dictionary catalog de Cutter, publicado em 1897
(Lancaster, 2004).

508
Documentao da FAO, centros e institutos de pesquisas participantes da rede AGRIS e CARIS, e
diversos outros especialistas (Prince-Perciballi, 1998).

Figura 2 - Rede da AGRIS no mundo. (FAO, 2013)

Na poca, o esquema categorial foi elaborado tendo em vista quatro objetivos: a) definir o
escopo de trabalho do AGRIS e CARIS; b) atribuir entradas de assunto na AGRIS e CARIS; c) organizar
as entradas no Agrindex
2
e nas bibliografias extradas no AGRIS; e, d) auxiliar na recuperao no
Agrindex e nas bases de dados do AGRIS e CARIS (Prince-Perciballi, 1998).
A rea de abrangncia do esquema categorial feito criticamente, no sentido de excluir
materiais que no esto de acordo com o domnio. A informao deve ser includa nas bases de
dados somente quando tem uma proposta relativa misso dos sistemas que so orientados pela
misso da FAO. Portanto, as categorias esto de acordo com as questes citadas no mandato da FAO
(2013), a saber:
Achieving food security for all is at the heart of FAOs efforts to make sure people have regular access to
enough high-quality food to lead active, healthy lives.
FAOs mandate is to raise levels of nutrition, improve agricultural productivity, better the lives of rural
populations and contribute to the growth of the world economy.
O AGRIS/CARIS: categorization scheme encontra-se na verso online, disponvel nos seguintes idiomas:
ingls e francs. possvel encontrar em formato impresso a traduo para a lngua portuguesa, a verso 3 de
1985. A organizao do esquema facilmente percebida pela apresentao do sumrio que se divide em:
Introduction: discorre sobre o escopo de trabalho, o Agrindex, a recuperao da informao, o ndice
alfabtico de assunto e os agradecimentos;
Agris/Caris: subject categories and scope description, as categorias gerais e seus respectivos cdigos so
listados nesta seo (Quadro 3);

2
ndice de assunto da Bibliografia em Agricultura publicada at 1995 (Prince-Perciballi, 1998).

509

Cdigo Categoria de assunto
A Agriculture in general
B Geography and History
C Education, Extension and Information
D Administration and Legislation
E Economics, Development and Rural sociology
F Plant science and Production
H Plant protection
J Postharvest technology
K Forestry
L Animal science, Production and Protection
M Fischeries and Aquaculture
N Agricultural machinery and Engineering
P Natural research and Environment
Q Processing of agricultural products
S Human nutrition
T Pollution
U Methodology

Tabela 4 - Categorias do AGRIS/CARIS: categorization scheme

Bibliographical references: cita as fontes de informao que subsidiaram o trabalho;
Alphabetical subject index: uma lista de assuntos organizada alfabeticamente, com a indicao do
cdigo de assunto. Por exemplo,

Abattoirs N10
Abscission F62
Absorption of nutrients,

animal L51

human S20

plant F61

Absorption,
soil P33

Abstracting C30

Academic agricultural education C10

De forma geral, o AGRIS/CARIS: categorization scheme apresenta a seguinte organizao interna
(Figura 3):

510

T. POLLUTION

T10 Occupational diseases and hazards
Use only for diseases and hazards to workers in the field of agriculture
due to their occupational activities
Harmful effects of agricultural, occupational activities
and work environment on workers' health and safety
Occupational or industrial accidents, injuries, safety
hazards
For:

A nomenclatura acima no consta no AGRIS/CARIS: categorization scheme. Foi usada pelas
autoras apenas para elucidar o entendimento dos elementos. A categoria o primeiro nvel de
diviso e representada por uma notao alfabtica. O segundo e terceiro nveis de diviso trazem
assuntos mais especficos e so representados por notaes alfanumricas. A maioria dos assuntos
possui uma nota de aplicao e, s vezes, tambm, uma nota de escopo, ambos auxiliam na
delimitao de uso das classes e subclasses. Alm disso, existe uma lista de exemplos com assuntos
relacionados.

4.2 Anlise dos dados

Em geral, a garantia literria enfatiza o contedo da literatura, enquanto que o consenso
descreve as estruturas necessrias para organizar os assuntos da rea estudada, contudo, os dois
princpios no so mutuamente exclusivos. Assim, o uso concomitante revelou os assuntos mais
representativos no domnio Agricultura (Tabela 2).

accident prevention education programmes, see E50
accident prevention devices, see N01
employment injuries benefits, see E50
health insurance, see E50
health protection devices, see N01
health services, see E50
occupational health services, see E50
personal accident insurance, see E50
quality of working life, work environment, working
conditions, see
E50
safety engineering, see N01
social insurance, see E50
zoonoses, see L73
Tabela 5 - AGRIS/CARIS: categorization scheme
Categoria
Assunto especfico
Nota de aplicao
Notas de escopo
Notao
Assuntos relacionados
Cdigo

511
Cdigo Categoria de assunto Artigos Porcentagem
A Agriculture in general 3 1,4%
B Geography and History 0 0%
C Education, Extension and Information 1 0,5%
D Administration and Legislation 0 0%
E Economics, Development and Rural sociology 41 19,4%
F Plant science and Production 52 24,6%
H Plant protection 25 11,8%
J Postharvest technology 11 5,2%
K Forestry 0 0%
L Animal science, Production and Protection 46 22%
M Fischeries and Aquaculture 1 0,5%
N Agricultural machinery and Engineering 5 2,4%
P Natural research and Environment 13 6,1%
Q Processing of agricultural products 3 1,4%
S Human nutrition 7 3,3%
T Pollution 2 0,9%
U Methodology 1 0,5%

Tabela 6 - Distribuio dos artigos nas categorias

As categorias F (24,6%) e L (22%) ilustram bem a definio de Schlifp (1929), pois tratam
respectivamente da Agricultura enquanto arte de cultivar plantas e da criao de animais teis,
juntas, as duas categorias somam 46,6%.
A categoria E (19,4%), que corresponde a Economia, o Desenvolvimento e a Sociologia Rural
tambm foi bastante significativa. Pode-se considerar, talvez, um apontamento para a relevncia da
Agricultura como atividade econmica, pertencente ao setor primrio da economia.
A proteo das plantas uma preocupao no meio rural, devido a sua influncia na
produtividade dos cultivos agrcolas e, imagina-se que essa tenha sido a razo pela qual a categoria H
(11,8%) teve tal pontuao.
De certo modo, a categoria P (6,1%) traz hoje a preocupao com os recursos naturais e o
ambiente no meio rural, buscando o equilbrio entre recursos naturais, alimentos e potenciais fontes
de energia.
Percebe-se na categoria J (5,2%) a discusso nas pesquisas para as tecnologias ps-colheitas
para manuseio, transporte, armazenamento e proteo dos produtos agrcolas, contudo, este ainda
um tema problema, devido falta de infra-estrutura para logstica e distribuio no Brasil.
No se pode esquecer que as plantas e os animais so base da alimentao humana, sendo a
categoria S (3,3%) tambm representada.
A categoria N (2,4%) refere-se s mquinas agrcolas e engenharia rural e, embora no tenha
tido um grande destaque, se encontra a frente de outros aspectos da Agricultura.
As categorias A (1,4%), C (0,5%), M (0,5%), Q (1,4%), T (0,9%) e U (0,5%) no obtiveram altos
ndices e trs categorias, B, D e K, foram nulas no perodo estudado.
Verifica-se que, em relao ao conceito de disciplina discutido anteriormente bem como aos
resultados apresentados deste estudo em particular, a Agricultura uma rea disciplinar, em geral,
com terminologia consensuada e estvel, com limites conceituais e fronteiras epistemolgicas bem
definidas.

512
Observa-se ainda que, embora a literatura corrente seja uma formalizao do conhecimento
produzido, nem sempre esse conhecimento est representado, dado o hiato existente entre o
conhecimento e a comunicao formal.
Por fim, vale ressaltar que o peridico estudado de divulgao cientfica e procura atender as
necessidades de um pblico mais amplo e ligado a prtica diria. Por isso, talvez, questes filosficas,
epistemolgicas e metodolgicas no tiveram representatividade.

Consideraes finais

Historicamente, pode-se dizer que a Cincia da Informao se desenvolveu em campo
interdisciplinar e que pessoas nesse campo foram originalmente especialistas preocupados em
aperfeioar a comunicao cientfica em suas respectivas reas.
Concorda-se com Hjrland (2002) quando afirma que a anlise de domnio uma abordagem
que pretende estar de acordo com a histria da Cincia da Informao e ao mesmo tempo ser capaz
de prover uma viso terica satisfatria e coerente para integrar suas vrias subdisciplinas e auxiliar
os profissionais da informao a expandir suas competncias sobre as fontes de informao e a
partir da se especializarem.
No obstante, o uso conjunto da garantia literria e do consenso entre os especialistas foi uma
maneira importante para identificao de assuntos em uma rea do conhecimento, colaborando na
medio do grau de estabilidade da rea em dado perodo.
Notou-se que a evoluo de uma rea do conhecimento pode ser verificada atravs da
adequao dos assuntos tratados nos documentos estrutura classificatria existente nos esquemas
de classificao.
Durante, o estudo observou-se que a prpria elaborao e atualizao do AGRIS/CARIS:
categorization scheme respeita os dois princpios. Contudo, afastando-se dos princpios da garantia
literria e do consenso entre especialista como mtodos de coleta de termos para o desenvolvimento
de sistemas de organizao do conhecimento, pode-se dizer que a discusso sobre o consenso ainda
no foi to explorado quanto garantia literria na literatura.
A Lei de Zipf, metodologia para medio de palavras de acordo com a frequncia de ocorrncia
no texto, outra sugesto para estudos futuros, que no foi explorada aqui. especialmente
relevante para a garantia literria, visto a sua possvel aplicao na construo de tesauros e lxicos,
processos de indexao e recuperao da informao, minerao de textos e aplicaes em ambiente
web.
Lembrando que uma palavra pode ter diferentes sentidos, no mtodo dedutivo, o princpio da
diviso lgica feito por deciso antecipada dos especialistas, o qual assume que as categorias no
so ambguas, sendo mutuamente exclusivas. A hierarquizao conceitual um processo analtico
que considera a diviso do tema geral em suas espcies. E as espcies so, portanto, as qualidades ou
atributos que somados aos prprios do gnero, as distinguem.
J no mtodo indutivo, os termos so definidos por meio da investigao das interligaes
existentes nas prticas humanas, o que determinar o significado das palavras, antes de serem por
ele determinadas.
Percebe-se, portanto, que, se de um lado, a Agricultura pode ser definida por suas atividades
prticas (p. ex.: cultivo de plantas), por outro, ela tambm um campo de pesquisa, que abrange
diversas reas de conhecimento (p. ex.: Zootecnia, Medicina Veterinria, Nutrio etc.). Quanto aos
relacionamentos, estes podem ocorrer atravs de relaes paradigmticas (essenciais) e/ou
sintagmticas (contingentes). Para as primeiras, os relacionamentos hierrquicos esto sempre
presentes, pois o significado de cada palavra traz consigo a sua insero em uma classe de objetos,
formando assim a posio de gnero e espcie, todo e parte e vice-versa. As relaes sintagmticas

513
so aquelas que ocorrem mais frequentemente entre termos de categorias diferentes, propiciando os
relacionamentos associativos.
Os relacionamentos hierrquicos ocorrem entre conceitos com nvel de abstrao que podem
ser de natureza genrica e especfica ou de natureza partitiva, por exemplo, rvore (Gnero) e
rvore frutfera (Espcie) e Macieira (Todo) e Ma (Parte). Diferentemente, os relacionamentos
associativos ocorrem normalmente entre conceitos que esto em categorias diferentes, por
exemplo, Leite (Produto), Pasteurizao (Processo).
Conclui-se que a vantagem do uso conjunto desses dois mtodos para a representao de um
domnio do conhecimento diz respeito a uma construo pactuada entre os especialistas que criam
dedutivamente conceitos e os analistas de informao que localizam indutivamente a rede
conceitual na literatura produzida por esses mesmos especialistas, possibilitando, desta forma, a
construo do domnio Agricultura sob o ponto de vista de sua comunidade de discurso.
Com a literatura transformando-se rapidamente em formato digital, j se pode vislumbrar a
criao de domnios do conhecimento sob forma de ontologias construdas com o auxlio da
inteligncia artificial e com ampla participao de especialistas e analistas, o que vem a comprovar
que a indexao feita por produtores e usurios tem no uso combinado do consenso com a literatura,
seus fundamentos principais.

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516
O PADRO SNOMED-CT COMO LINGUAGEM PARA A ORGANIZAO E REPRESENTAO DA
INFORMAO EM PRONTURIOS DO PACIENTE

VIRGINIA BENTES PINTO
Universidade Federal do Cear - Departamento de Cincias da Informao
[email protected]

CAMILA REGINA DE OLIVEIRA RABELO

IGOR PEIXOTO TORRES GIRO

Resumo O Systematized Nomenclature of Medicine Clinical Terms (SNOMED-CT), a exemplo do Medical
Subject Headings (MeSH) e dos Descritores de Cincias da Sade (DeCS) um padro para o tratamento, a
organizao, a representao e a recuperao de informao no contexto da sade. Ele estruturado, entre
outras coisas, em 19 categorias: diagnstico clnico/doena, procedimentos, entidades observveis, estrutura
do corpo, organismo, substncia, produtos biolgicos e farmacuticos, amostra, objeto fsico, fora fsica,
evento, localizao geogrfica ou ambiental, contexto social, estgios e escalas, conceitos especiais e
qualificadores. Nesse sentido, apresentamos os resultados da pesquisa realizada junto aos pronturios do
paciente, no Hospital Universitrio Walter Cantdio, da Universidade Federal do Cear. O fio norteador desse
estudo busca responder ao seguinte questionamento: qual a contribuio dessas categorias para construir a
representao de pronturios do paciente, no Servio de Arquivo Mdico e Estatstica (SAME) do Hospital
Universitrio Walter Cantidio (HUWC)? O objetivo da pesquisa estudar a contribuio do padro SNOMED-CT
para a representao da informao no mbito desses pronturios. Trata-se, portanto, de um estudo
exploratrio apoiada no mtodo Neofuncionalista e na anlise de contedo, tendo sido analisada a estrutura
fsica dos pronturios digitalizados, adotada no SAME do HUWC. Em seguida, analisamos um corpus constitudo
de dois prontuarios, constituidos por nove (09) volumes, com cerca de 4000 (quatro) mil pginas,
correspondentes a 777 Mb. Os resultados e as concluses apontam que as categorias hierrquicas do SNOMED-
CT podem trazer contribuies para a representao dos pronturios, haja vista tratar-se de uma terminologia
robusta fundamentada na ontologia, contemplando a essncia das informaes registradas nesses
documentos. Em relao estrutura fsica do pronturio apresenta algumas semelhanas, e,
consequentemente, pode contribuir para uma recuperao da informao com maior valor agregado, pois
possibilita o uso da pr e da ps-coordenao, bem como a linguagem natural, sinnimos e siglas.

Palavras-chave Snomed-ct. Terminologia clinica. Categorias de nomenclatura. Terminologia para a sade.
Pronturio do paciente.

Abstract The Systematized Nomenclature of Medicine Clinical Terms (SNOMED-CT), such as the Medical
Subject Headings (MeSH) and the Health Sciences Descriptors (MeSH) is a standard for handling, organizing,
representing and retrieval of information in the health context. It is structured, among other things, in 19
categories: clinical diagnosis / disease, procedures, observable entities, body structure, body, substance,
biological and pharmaceutical products, sample, physical object, physical force, event, geographical or
environmental location, social context, stages and scales, special concepts and qualifiers. In this way we
present the research results carried out with the patient's medical records, in the Walter Cantidio University
Hospital, at Federal University of Cear. The line guiding this study seeks to answer the following question:
what is the contribution of these categories to build a representation of the patient's medical records at the
Department of Medical Records and Statistics (SAME), at the Walter Cantidio University Hospital (HUWC)? The
objective of the research is to study the contribution of SNOMED-CT standard for the representation of
information within those records. It is therefore an exploratory study supported by the neo-functionalist
method and the content analysis, the physical structure of digitized records had been analyzed, adopted at the
SAME of the HUWC. Then we analyze a corpus of two patient records with 09 (nine) volumes, about 4.000

517
pages corresponding to 777 Mb. The results and conclusions show that the hierarchical categories of SNOMED-
CT may bring contributions to the representation of the charts, as it is a robust terminology based on
ontology, contemplating the essence of the information recorded in these documents. Regarding the physical
structure of the chart shows some similarities, hence can contribute to information retrieval with higher
added value, since it allows the use of pre and post-coordination as well as natural language, synonyms and
acronyms.

Keywords Snomed-ct. Clinical terminology. Nomenclature categories. Health terminology. Patient record.

Introduccin

La preocupacin con la terminologa teniendo como objetivo que haya una normalizacin
cuya finalidad seria obtenerse un lenguaje capaz de facilitar el proceso de comunicacin entre los
ciudadanos viene tomando grandes proporciones, principalmente, en el contexto de la ciencia y de
la tecnologa (c&t). Consideramos que, en estos contextos, los primeros conceptos en este tema son
el derivarse la taxonoma en los campos de la qumica, botnica y zoologa. Ms recientemente las
ideas terminolgicas se adentran a la ingeniera, con Eugen Wster, de la escuela de Viena, y D. S.
Lotte y Drezen, fundadores de la Escuela Rusa, tal realidad se viene consolidando basada
necesariamente en los estudios terminolgicos de los lxicos.
En el contexto de la Biblioteconoma y de la Ciencia de la Informacin, podemos considerar
que los primeros esfuerzos relativos a los aspectos terminolgicos son derivados de las
clasificaciones bibliogrficas as como de las listas de encabezamiento. Sin embargo, solamente con
el surgimiento de los tesauros, en finales de los aos 1950, fue que efectivamente esas ideas se
fueron consolidando, con la sistematizacin de los trabajos del Centro de la Informacin del
Ministerio de la Defensa de los Estados Unidos (ASTIA).
En lo que atae al rea de la Salud, se destaca la elaboracin de la primera bibliografa
denominada De medicinae claris scriptoribus, publicada en el ao 1506 (siglo XVI), cuyo el autor es
el mdico Synphorien Champier. (FIGUEIREDO; CUNHA, 1967). En 1879, el Servicio de Indizacin en
Medicina - Estados Unidos, inicia la produccin del Index Medicus, y, posteriormente, la Base de
Datos de la National Library of Medicina (NLM), el Medical Literature Analysis and Retrieval System
(MEDLARS), cuya versin online trae el ttulo de MEDLINE. (REIS, 1979). Otro emprendimiento que
tampoco puede olvidarse es la publicacin, en 1954, del Subject Heading Authority List por la NLM.
Despus, se publica la Unified Medical Language System (UMLS), la Systematized Nomenclature of
Medicine y el Index Medicus, en los aos 1986. Adems de esas iniciativas, surge, en 1974, la primera
versin de la Systematized Nomenclature of Medicine (SNOMED). En el ao 1970, se edit la versin
SNOMED II, que, en 1993, pasa a llamarse SNOMED International, y, en 2000, SNOMED RT. De la unin
entre la Snomed RT y el Clinical Terms Version 3 (CTV3), de la National Health Service (NHS), del
Reino Unido, surge la Systematized Nomenclature of Medicine Clinical Terms (SNOMED-CT), una
terminologa de referencia bilinge para la representacin de la informacin clnica de forma
precisa e inequvoca, con la finalidad de posibilitar la comunicacin entre los profesionales de la
salud de todo el mundo.
En Brasil, la idealizacin de la normalizacin de la terminologa en el campo de la salud la
empez el mdico Pedro Luiz Napoleo Chernoviz, que hizo publicar, en Pars, en el ao 1870, el
Diccionario de Medicina Popular y de las Ciencias Accesorias para el uso de las familias. La Biblioteca
Regional de Medicina tambin merece destaque en la construccin y la gestin de los Descriptores
en Ciencias de la Salud (DeCS), que se public en 1987.
Todas esas iniciativas contribuyeron significativamente al progreso cada vez ms cualitativo
de la terminologa en el rea de la Salud, con el objetivo fundamental de estandarizar los trminos y
facilitar la comunicacin y hacerla ms eficiente entre el equipo multiprofesional de la salud, as
como entre ella y los pacientes, de modo a evitar los ruidos de comunicacin de esos actores. De la
observacin de ese fenmeno, surgi nuestro inters por investigarlo, para, as, contestar a la
siguiente cuestin: cul es la contribucin de las categoras de SNOMED-CT para desarrollar la

518
representacin (indizacin) de las historias clnicas del paciente, en el Servicio de Archivo Mdico y
Estadsticas (SAME), del Hospital Universitario Walter Cantidio (HUWC) de la Universidad Federal
del Cear (UFC)? Esta investigacin tiene como objetivo general estudiar la aplicabilidad del
SNOMED-CT para la representacin (indizacin) de la informacin en el mbito de esas historias
clnicas, a partir de las relaciones existentes entre ellas y los trminos de las categoras del SNOMED-
CT. De ese objetivo general se desglosan los siguientes objetivos especficos:

a) Conocer la estructura fsica y lgica de la SNOMED-CT y sus categoras para
representar informaciones en el contexto clnico de la salud;
b) Estudiar la estructura fsica y lgica de las historias clnicas del paciente de modo a
mapear los conceptos registrados en esos documentos, con la finalidad de
sincronizarlos a la terminologa del SNOMED-CT;
c) Cotejar esas categoras, aplicndolas a la representacin de la informacin en el
mbito de las historias clnicas del paciente, en la esfera del HUWC-UFC.

Aqu son, por lo tanto, los aspectos importantes de esta investigacin exploratoria apoyada en
el mtodo Neofuncionalista y en el anlisis del contenido, tomando como objeto de estudio un corpus
compuesto de dos historias clnicas del paciente constits por nueve (09) volumenes y contienen
aproximadamente quatro mil (4000) pginas el equivalente a 777mb. El resultado evidenci, sin
embargo, que las categoras del SNOMED-CT se las pueden aplicar a la indizacin de estos
documentos aunque no se hayan evidenciado todas sus categoras, quizs debido a que los trminos
estudiados sean solamente relacionados a la terminologa de las nefropatas.

1 La historia clnica del paciente

La literatura referente a la historia de la medicina apunta que los registros sobre el estado de
salud del paciente ya se configuraban como preocupaciones por parte de los primeros mdicos desde
siglos antes de Cristo, a ejemplo de Imhotep e Hipcrates. Hipcrates, en el siglo V a.C. muestra la
importancia de hacerse estos registros, afirmando que ellos deben reflejar de forma exacta el curso
de la enfermedad e indicar sus posibles causas (Marin; Massad; Azevedo Neto, 2003, p. 9).
Segn Moutel y Baret (2002, p.8), hasta finales del siglo XVIII, la semntica de las historias
clnicas del paciente estaba relacionada al mdico, solamente a partir del siglo XIX es que aparece la
nocin de historias clnicas del paciente en las organizaciones de salud. Sin embargo, inmviles as,
se sigue haciendo su contenido de manera sucinta. Los mdicos basaban sus observaciones, y
consecuentemente sus notaciones, en lo que oan, sentan, siendo tales observaciones registradas en
orden cronolgico. Por lo tanto, esas historias son dirigidas al tiempo de uso desde entonces. Desde
1931, en los Estados Unidos, un registro de cualidad de la historia clinica del paciente pasa a ser una
exigencia tica en los hospitales. Pero es a partir del ao 1970 que las historias clnicas del paciente
pasan a tener un lugar preponderante en las prcticas mdicas y de otros profesionales de la salud,
pues incluyen

datos mdicos, sociales y administrativos. Ese expediente
administrativo mucho tiempo estuvo fuera del alcance del enfermo, para
garantizar el respeto del secreto mdico frente a otros, pero es un punto
extremo que a veces todo un servicio poda conocer el estado de salud de
un enfermo que l mismo ignoraba (Moutel y Baret, 2002, p.9).

En el Articulo 1
o
de la Resolucin n
o
1.638/2002 del Consejo Federal de Medicina de Brasil, las
historias clnicas del paciente son definidas como

519

Un documento nico constituido por un conjunto de informaciones,
seales y imgenes registradas, generadas a partir de hechos,
acontecimientos y situaciones sobre la salud del paciente y la asistencia a l
prestada, de carcter legal, sigiloso y cientfico, utilizada para posibilitar la
comunicacin entre los miembros del equipo multiprofesional y la
continuidad de asistencia prestada al individuo (BRASIL, CFM, 2002).

De otra parte, Bentes Pinto (2006), muestra las particularidades y especificaciones da las
historias clnicas del paciente, afirmando en sus reflexiones que esas historias son

Un documento que contiene registradas todas las informaciones
concernientes a un paciente, sean ellas de carcter del identificacin,
socioeconmico, de la salud (las observaciones de los profesionales de la
salud, las radiografas, las prescripciones, los resultados de los exmenes, la
diagnosis de los especialistas, las notas de la evolucin escritas por el
equipo multiprofesional: mdicos, enfermera, psiclogos, con respecto al
progreso observado), administrativas, entre otros. En la realidad, se trata
de la memoria escrita de la historia del enfermo, siendo, por lo tanto,
imprescindible, para la comunicacin intra y entre el equipo de la salud y
entre el equipo y el paciente, la continuidad, la seguridad, la eficacia y la
calidad de su tratamiento, as como de la gestin de las instituciones de
salud (BENTES PINTO, 2006, p. 37).

De acuerdo con Bentes Pinto (2006) la historia clnica del paciente tiene una estructura fsica y
otra lgica. La primera, contiene las categoras informacionales concernientes al paciente, los
convenios e internaciones y las gestiones de las instituciones de salud. Son las fichas clnicas, datos
referentes a los exmenes clnicos iniciales y complementarios solicitados y sus respectivos
resultados, diagnstico(s) definitivo(s), tratamiento(s) efectuado(s), evolucin diaria del paciente,
datos referentes a la nutricin, el Servicio Social, a la asistencia psicolgica, prescripciones sobre las
dosis de medicamentos a ser utilizadas, evaluacin pre y posoperatoria, recuperacin, apuntamiento
quirrgico, control antimicrobiano, boletn anestsico, sistema de control clsico y resumen de alta
de la sala de recuperacin. Y aunque la prestacin de cuentas referente a la hospitalizacin, informe
de alta, recetario con orientaciones y prescripciones a ser seguidas por el paciente, consumo en el
centro quirrgico y notificaciones de bito.
Mientras que en la segunda, se presenta la descripcin de las informaciones, propiamente,
sobre el paciente mismo, o sea, la identificacin, los datos socioeconmicos y administrativos, por
ejemplo: nombre completo, identidad, CPF, escolaridad, credo, direccin, de casa y del trabajo, edad,
color, filiacin, naturalidad, nacionalidad, estado civil, nombre del cnyuge, nmero de hijos, termo
de responsabilidad, apuntamiento del servicio social, profesin, local de trabajo, situacin con la
previdencia; salud: anamnesis (quejas principales, historia de la enfermedad actual, antecedentes
personales y familiares, historia mrbida anterior, vicios, alimentacin), examen fsico y hiptesis
diagnsticas; informes y evoluciones del personal de enfermera (grficos de temperatura, pulso y
respiracin - TPR, tensin arterial - PA y balance hdrico), apuntamiento de los profesionales del
servicio social, psicolgico y de la nutricin.

520
2 Lenguajes terminolgicos para representacin de la informacin en el rea de
la salud

2.1 Consideraciones sobre los lenguajes terminolgicos

Para hablar de los lenguajes terminolgicos, es necesario, antes de todo, que se comprenda
qu es un lenguaje en s mismo. Existen algunos conceptos sobre el lenguaje. Unos la consideran
como la expresin biolgica y, por lo tanto, hay la necesidad de buenas condiciones fisiolgicas del
sujeto para que pueda ocurrir la comunicacin, propuesta que defendi, entre otros, el filsofo
Humberto Maturana. Otros, la perciben como el instrumento para la interaccin social, idea de
Wittgenstein y, an, los lenguajes documentales y computacionales. Sin embargo,
independientemente de conceptos, todo el lenguaje tiene como propsito proficuo la comunicacin.
En esta direccin, no podemos percibirla distante del contexto social y de la accin comunicativa.
Respecto a eso, Echeverra (2007, p. 50) nos dice que el lenguaje nace de la interaccin social de los
seres humanos. En consecuencia, el lenguaje es un fenmeno social, no biolgico, desde que haga
una interaccin de diferentes seres humanos particulares y que se constituya en un dominio
consensual en el cual los participantes de una interaccin social comparten el mismo sistema de
signos [...] para designar objetos, acciones o acontecimientos en orden a coordinar sus acciones
comunes..
Sin embargo, no es nuestra intencin, aqu, discutir todas esas posibilidades, sino que nos
detendremos solamente a traer algunas miradas al lenguaje documental, en el contexto del
tratamiento, de la organizacin y de la representacin de la informacin en el contexto de las
historias clnicas del paciente. Eso es importante porque esos documentos se configuran como el
canal principal de la comunicacin y de la informacin intra e entre el equipo multiprofesional de la
salud y entre el equipo y la persona enferma (BENTES PINTO, 2006).
Los lenguajes documentales (LD) conocidas tambin por terminolgicos, como cualquier otro,
aparecen con la intencin de facilitar la comunicacin entre los profesionales de una misma
especialidad. Ellas son consecuencia de la explosin documental ocurrida a partir del siglo XIX
debido la gran cantidad de documentos que permean el universo cientfico y tecnolgico, y de la
necesidad de reducir los inconstancias lingsticas tradas por la lengua natural, considerada
polismica por su propia naturaleza. En razn de esa polisemia y con la intencin de disminuir los
ruidos en curso de comunicacin en campos, reas o disciplinas es que se sinti la necesidad de
establecer la estandarizacin terminolgica de manera que el flujo informacional se logre con ms
claridad entre las comunidades especficas.
En las reas de Biblioteconoma y Ciencia de la Informacin se considera que la estructuracin
de los lenguajes documentales fue construida en finales del siglo XIX con la publicacin de la
Clasificacin Decimal de Dewey, en 1876, y de la Clasificacin Decimal Universal, de Paul Otlet, 1895.
Respecto a los tesauros, encabezamiento de la Biblioteca del Congreso de los Estados Unidos,
iniciadas a partir del 1914, publicada como el titulo de Library of Congress Subject Headings (LCSH) y
que consista como la base para muchas otras listas. Segn la ANSI/NISO Z39.19-3005 (ISO, 2005), el
tesauro es un vocabulario controlado organizado en un orden conocido en el que las relaciones de
equivalencia, homogrficas, jerrquicas y asociativas entre los trminos son claramente exhibidas y
identificadas por indicadores estandarizados de relacionamientos. La construccin de esos
lenguajes se da, inicialmente, por la organizacin de trminos clasificados segn las categoras del
conocimiento. En realidad se construyen a partir de las terminologas de especialidades. En el
entendimiento de la Profesora Mara Teresa Cabr (1998, p. 70) la terminologa

es una ciencia transdisciplinar porque los productos terminolgicos
son las piezas de representacin lingstica en las que debe apoyarse
cualquier campo de conocimiento cientfico para poder adquirir, generar y

521
transferir el conocimiento especfico de cualquier dominio (eso quiere
decir que, en el campo del derecho, de la medicina o de la fsica, por
ejemplo, la disciplina de la terminologa desempea un papel fundamental
como proveedora de trminos transportadores de conocimientos que
median en la comunicacin, como identificadora de reglas subyacentes en
la generacin y relacin de los trminos, y como mtodo y habilidad de
trabajo.

Las terminologas se configuran como sistema de trminos normalizados que se utilizarn por
los profesionales de un rea especfica del conocimiento. Ellas son la base para la construccin de los
lenguajes documentales y, normalmente, cuando nos referimos a esos lenguajes nos estamos
refiriendo a un lenguaje especializado. Por lo tanto, ese lenguaje no existe de otra forma, pero
solamente a travs del uso de los trminos especializados insertados en el contexto dado, puesto que
cada terminologa es vlida en el alcance profesional con el que se relaciona.
El lenguaje documental se constituye de un conjunto de signos que representan la
terminologa de especialidad por medio de conceptos estandarizados y tienen como objetivo
representar, expresar o describir los contenidos de los documentos y facilitar la recuperacin de la
informacin. Como bien explica Urdiciain, cuando afirma que El lenguaje documental es un sistema
[...] de signos normalizados que facilitan la representacin formalizada del contenido de los
documentos para permitir la recuperacin, manual o automtica, de la informacin solicitada por
los usuarios (GIL URDICIAIN, 1996, p. 307). As, haban parecido los tesauros especializados, que
mapeaban los trminos/los conceptos de reas bien especficas como es el caso del Medical Subject
Headings (MeSH) construido por la National Library of Medicine (NLM) y que presentaba un
conjunto de descriptores normalizados para la representacin temtica o indizacin en documentos
del rea de la salud. Entendemos como representacin temtica de la informacin el resultado de la
accin de la lectura, de la identificacin, de la eleccin y/o de la traduccin de los tems
informacionales concernientes a los temas tratados en un documento.
Inicialmente los lenguajes documentales se buscaban a cubrir los campos diversos del saber,
los cuales eran universales y pre-coordinados, tales como la CDD y la CDU. Sin embargo, se percibi
que estos lenguajes no tenan alcance para cubrir todas las reas de las especificidades decurrentes
de la fragmentacin del conocimiento de las reas diversas del conocimiento, aunque su gnesis
habr sido generalista, configurndose como instrumentos eficientes para la indizacin del
documento. As aparecieron los tesauros especializados que mapeaban los trminos/los conceptos
de reas especficas bien como la caja de los ttulos sujetos mdicos (acoplamiento) construidos por
la biblioteca nacional de la medicina (NLM), presentando un sistema de los descriptores
estandarizados para la representacin temtica (indizacin) en documentos en el rea de la salud.
Entendimos como representacin temtica de la informacin el resultado de la accin cognitiva de
la lectura, de la identificacin, de la eleccin y/o de la traduccin de los trminos concernientes a los
temas discutidos en los documentos.
La representacin de la informacin en el contexto de la salud, del mismo modo como en otras
reas del conocimiento, haz uso de herramientas para que el acceso a la informacin sea posible. Los
lenguajes documentales son la manera por la cual la representacin o indizacin y la recuperacin
de la informacin son hechas.
Para obtener una comprensin ms amplia dentro de esa realidad, se presenta la siguiente
seccin la SNOMED-CT, ms precisamente algunas de sus principales caractersticas.

2.2 La SNOMED-CT

La Systematized Nomenclature of Medicine (SNOMED) es una terminologa clnica
internacional y multilengual para ser utilizada en el contexto de las Historias Clnicas Electrnicas

522
del paciente. Ella cubre el contenido clnico y puede ser utilizada para la indizacin de estos
documentos, de otros documentos clnicos y adems es utilizada para la recuperacin de
informaciones. Luego, es un lenguaje de base para concretar la interoperabilidad semntica del
registro clnico en sistemas de informacin de salud.
La gnesis de SNOMED se encuentra en la Nomenclatura Sistematizada de Patologa (SNOP),
que existe desde 1965, editado por el Colege of American Pathologists (CAP). En 1974, se publica la
primera edicin de SNOMED, que pasa a ser SNOMED International en el ao 1993. El acuerdo entre
el CAP y la NHS es celebrado en 1999 y, a partir de ah, con los cambios en la estructura lgica
aparece el SNOMED Reference Terminology (SNOMED-RT) - 2000. En 2001, como consecuencia de la
unin entre la SNOMED-RT y la terminologa Clinical Terms de la National Health Service (NHS) del
Reino Unido, se publica la Systematized Nomenclature of Medicine Clinical Terms (SNOMED-CT). En
el ao 2002, la UMLS de National Library of Medicine (NLM) dona una licencia para el uso de
SNOMED-CT en versin espaola. Ya en 2007, la IHTSDO compr los derechos intelectuales de
SNOMED-CT.
La organizacin estructural del SNOMED-CT contiene los componentes bsicos; las jerarquas;
los atributos (roles); el cliniClue browser y las referencias cruzadas (mapeos) + Post-coordinacin +
Subconjuntos. Los componentes bsicos del SNOMED CT son:

a) Conceptos llaves: se refieren a entidades abstractas o concretas del rea de la salud.
Son, por lo tanto, las unidades del pensamiento. Son identificados por cdigos
numricos nicos que nunca se modifican ni se eliminan. Ex. ConceptID 77427003;
b) Descriptions: conciernen a los nombres que se refieren a un concepto, teniendo toda
descripcin un identificador. Ex. hipertensin descriptionID. Hay tres tipos de
descripciones: el nombre especfico; trmino preferido; y, sinnimos. Adems es
posible la utilizacin de varios trminos para identificar un concepto;
c) Relaciones o referencias cruzadas: relacionan los conceptos del SNOMED-CT con
aquellos de otras terminologas o clasificaciones. Por lo tanto, encaminan un esquema
a un destino. Ellas contribuyen para la descripcin del significado de los conceptos y
los vinculan entre si, por ejemplo con CIE-10, NIC; NOC; NANDA; LOINC, SNODENT.

La organizacin estructural del SNOMED-CT se constituye de 19 categoras de alto nivel
jerrquico de conceptos, descripciones y correlaciones. En el cuadro-1 se presentan esas categoras:

Categoras de alto nivel del SNOMED-CT
Clinical Finding (Hallazgo clnico):
se refiere a conceptos relativos a
una observacin, evolucin,
estados clnicos. Ex. Tuberculosis,
anemia y bajo gasto cardaco
Pharmaceutical/biologic
product (Productos
farmacutica/biolgica): estn
relacionadas a su mecanismo o
uso teraputico.
Ex. Substancia: Ingredientes
genricos- colorante,
hematoxina.
Productos: Drogas clnicas -
Nombre, potencia, forma
farmacutica
Environments/
geographical locations
(Entorno y Localizacin
geogrfica): lugares en las
unidades de salud. Ej: UCI,
Servicio de traumatologa.
Procedure (Procedimiento):
actividades realizadas
Ej.: hemograma completo, Examen
fsico, vacuna contra asma
Qualifier value (valor
cualificador): Contiene alguno
de los valores para los atributos.
Ej.: Lateralidad, peso.

Social context (contexto
social): Conciernen a las
condiciones y circunstancias
sociales significativas para la
atencin bsica. Ej.: Contextos

523
sociales, religin, grupos
tnicos,
Observable entity (entidades
observables):
Ej.: Temperatura,
Frecuencia cardiaca, sexo
Record artifact (Agentes
qumicos)
Situation with explicit
content (Situacin con
contexto explcito Entidad).
Ej.: Sin nuseas
Body structure (Estructura
corporal ): estructura anatmica

Physical object (objetos fsicos):
naturales o fabricados. Ej.:
Catter, guantes de ltex
Staging and scales
(Estadificaciones y Escalas):
Ex. Glasgow, sistema de
estadificacin, neoplasias
ginecolgicas FIGO
Organism (Organismo), animal,
vegetal y microorganismos:
protocolos, notificacin
obligatoria. Ej.: Bacillus anthtracis,
liquen
Physical force (Fuerza
fsica): son las que intervienen
en mecanismos de lesiones
traumticas. Ej.: combustin,
accidente de coche
Linkage concept (Concepto de
enlace)
Ej.: a) Relacin asertiva (Tiene
etiologa);
b) Atributo (Sitio del
hallazgo)
Substance (Sustancias): son
relacionadas a los productos
farmacuticos o biolgicos. Ej.:
componentes qumicos, reacciones
adversas
Events (Acontecimientos): no se
refieren a procedimientos. Ej.:
Inundaciones, terremotos
Special concept (Concepto
especial): Incluye los
conceptos inactivos
manteniendo relacin con el
concepto activo
Specime (espcimen): se refieren a
las muestras obtenidas para los
exmenes o anlisis. Ej.:
Espcimen de prstata mediante
biopsia con aguja, material
citolgico de LCR ventricular

Cuadro 1 - Categoras de alto nivel del SNOMED-CT
1

La SNOMED-CT se configura como una de las terminologas con mayor alcance en el rea de
la salud, por ser una ontologa multiaxial, que se destaca debido a las posibilidades ofrecidas en su
estructura, en consecuencia de la gran cantidad de trminos existentes en su vocabulario. La ltima
actualizacin es del ao 2008, y contiene en su base terminolgica ms de 311.000 conceptos
relacionados en sus 19 ejes jerrquicos e inmeras subclases. As, la relacin entre esas clases sigue
el eje semntico (IHTSDO, 2012). La principal diferencia entre las SNOMED-CT es la preocupacin con
la indizacin, la recuperacin y la interoperabilidad semntica del conjunto de registros de
informacin de las historias clnicas del paciente y sus particularidades, hecho en el que no se haba
pensado en otras terminologas anteriormente estudiadas. La SNOMED-CT incluye: Las tablas de
los conceptos, descripciones y relaciones; Referencias cruzadas a CIE-10; MC - con fines
epidemiolgicos y/o estadsticos; Gua de Referencia Tcnica de SNOMED-CT; Un browser que
permite navegar la terminologa; y 2 actualizaciones: enero y julio (Ed. Ingls). La SNOMED-CT puede
ser utilizada para la Historia clnica electrnica; Informes de laboratorio; Almacenamiento de
imgenes; Informes de anatoma patolgica; protocolos; Base de datos para las autopsias; Sistema de
apoyo para la tomada de decisiones; Codificacin de la noticia sobre la salud en la prensa; Banco de
tejidos. Por lo tanto, es una terminologa clnica amplia que provee contenido clnico y
expresividad para la documentacin y relatos clnicos, que pude ser utilizada para codificar,
recuperar e analizar dados clnicos (SNOMED-CT, 2012, p. 15).

1
Fuente: IHTSDO. SNOMED CT, 2013

524
3 El camino metodolgico

Esta investigacin tiene caracterstica de un estudio exploratorio cuya finalidad permitir a
nosotros obtener nuevos conocimientos sobre la SNOMED CT y su aplicacin para la indizacin de
las historias clnicas del paciente registradas en soporte papel. Para aprofondar ms el tema, que es
muy interesante hiciemos una revisin de la literatura pertinente al tema en repartos. El mtodo
neo-funcionalista y en el anlisis del contenido fueran otras herramientas que nos apoyamos para la
interpretacin de la realidad. No encontramos ningn trabajo relativo a lo aqu propuesto, que es
estudiar la contribucin de la terminologa SNOMED-CT para la representacin de la informacin en
las historias clnicas del paciente cuyo registro se hace manualmente (impreso). Sin embargo, hemos
encontrado algunas investigaciones que contemplan el uso de la SNOMED-CT para las historias
clnicas electrnicas del paciente.
La teora neo-funcionalista visa a la comprensin del lenguaje de la representacin de la
informacin, que tiene la funcin de hacer posible la comunicacin intra equipo multiprofesional de
la salud y entre el equipo y el paciente, con poco ruido. Tal mtodo es una innovacin del
funcionalismo y aparece en las investigaciones sociolgicas y del campo del rea de la
administracin para explicar los hechos del mundo. El enuncia las cosas que escribe en las
historias clnicas del paciente, en el caso, los profesionales de la salud. De ah, pensamos en esas
historias como teniendo una funcin fundamental de comunicacin. Si no la vean de esta manera,
jams se despertar su importancia. En el neo-funcionalismo, la historia clnica del paciente no es
solamente pensada, pero, adems de esto, se debe observar si est cumpliendo su funcin y cmo lo
hace. Si no est cumpliendo su papel, cules peuden ser las consecuencias.
En relacin al anlisis del contenido, esa teora posibilit mapear los conceptos/terminologas
de las historias clnicas del paciente y, adems, la asociacin de las categoras da la terminologa
SNOMED-CT. Inicialmente, hicimos la seleccin de dos historias clnicas del paciente (en suporte
papel) del rea de nefrologa, almacenadas en el Servicio de Archivo Mdico y Estadstica (SAME) del
Hospital Universitario Walter Cantdio (HUWC) de la Universidad Federal de Cear (UFC). La opcin
por esa especialidad se da por el hecho de ser el HUWC/UFC considerado un hospital de referencia
en trasplante renal, ya que es el pionero en el Estado de Cear - Brasil.
Para la formacin del corpus de esta investigacin, han sido seleccionadas dos historias
clnicas del paciente. Los dos pacientes fueron internados en la dcada de 1990. El criterio usado
para la opcin de estos documentos es que son constituidos de nueve (09) volmenes y contienen
aproximadamente cuatro mil (4000) pginas, el equivalente a 777 Mb.
Despus de esta eleccin, las historias fueron digitalizadas, para comenzar el proceso de
anlisis del contenido. Se hizo un estudio comparativo entre la estructura de las historias y las
ofertas de las categoras propuestas en el SNOMED-CT. Despus de eso, extraemos de las historias
clnicas las informaciones y las comparamos a las categoras a que se refera el SNOMED-CT.

4 Resultados y discusiones

Segn lo que presentamos en el cuadro 1, la terminologa clnica SNOMED-CT tiene
diecinueve (19) categoras, a saber: Clinical Finding (Hallazgo clnico), Pharmaceutical/biologic
product (Productos farmacuticos/biolgicos), Environments/geographical locations (Entorno y
Localizacin geogrfica), Procedure (Procedimiento), Qualifier value (valor cualificador), Social
context (contexto social), Observable entity (entidades observables), Record artifact (Agentes
qumicos), Situation with explicit content (Situacin con contexto explcito/Entidad), Body
structure (Estructura corporal ), Physical object (objetos fsicos), Staging and scales (Estadificaciones
y Escalas), Organism (Organismo), Physical force (Fuerza fsica), Linkage concept (Concepto de
enlace), Substance (Sustancias), Events (Acontecimientos), Special concept (Concepto especial),
Specime (espcimen). Esas rotulaciones terminolgicas tienen la finalidad de cubrir todos los

525
aspectos relativos a la naturaleza de la informacin relativa al estado de salud de una persona
enferma.
As, los resultados de la investigacin emprica sobre las historias clnicas del paciente
evidencian que, no obstante nuestra investigacin se ha hecho en las historias manuscritas,
percibimos que las categoras terminolgicas del SNOMED-CT se pueden aplicar para el tratamiento,
la organizacin, la recuperacin y la gestin de informacin de estos documentos en los sistemas de
informacin de los organismos de salud, tanto en el sector pblico de salud como en el sector
privado (cuadro 2).

Pronturio 1 Pronturio 2
C
a
t
e
g
o
r
i
a
s

T
e
r
m
i
n
o
l
g
i
c
a
s

d
e
l

S
N
O
M
E
D
-
C
T

Diagnstico clnico/doena
Insuficincia Renal Crnica Portadora de IRC (Insuficincia Renal Crnica)
Procedimentos
Tratamento dialtico Hemodilise
Entidades observveis
Cefalia Palidez cutneo-mucosa
Estrutura do corpo
Parede vesical X
Organismo
Cndida (fungo) X
Substncia
Heparina gotejada Soro
Produtos biolgicos e farmacuticos
Lasix Rocaltrol
Amostra
Ureia Urina
Objeto fsico
X Catter duplo
Fora fsica
X X
Evento
X X
Localizao geogrfica ou ambiental
Enfermaria; Fortaleza-CE X
Contexto social
Dona de casa X
Estgios e escalas
Condies de alta Evoluo clnica
Conceitos especiais e qualificadores
X X
Linkage conceito
X X
Valor qualificador
X X
Conceito especial
X X
Artefato de registro
X X

Cuadro 2- Asociacin entre la terminologa SNOMED-CT y las historias clnicas del paciente
2

En conformidad con los resultados de la investigacin emprica hecha, evidenciamos que, de
este total de 19 categoras terminolgicas del SNOMED-CT, fueran encontradas, en la primera
historia clnica, 11 de ellas, totalizando 42% de los trminos. Contrariamente, en la segunda historia
clnica, los datos se invierten: identificamos que 11 de estas categoras se encuentran en estas
historias, configurndose en el 58%. Ese resultado es suficientemente interesante, aunque nuestros
anlisis se hayan hecho solamente en el estudio de las historias clnicas del paciente, en suporte
papel.
Tambin entendimos que este resultado puede ser consecuencia del poco conocimiento que
nosotros tenemos de la terminologa del rea de la salud, usada en SNOMED-CT, y adems en la
razn de ciertas dificultades para la traduccin de algunos trminos para la lengua portuguesa
(Brasil), una vez que el SNOMED-CT es estructurado teniendo en cuenta los aspectos relativos al rea
de la salud en el contexto de los Estados Unidos. Sin embargo, la intencin de su uso es de alcance
internacional.

2
Fuente: Resultado de la investigacin emprica

526
Igualmente, no fue posible encontrar las categoras en las cuales podramos poner la
informacin relativa a los antecedentes familiares, es decir, informacin sobre la descripcin de las
enfermedades de la familia. Por ejemplo, en una de las historias clnicas del paciente, percibimos la
observacin del mdico, "madre con hipertensin". Esa informacin no se puede poner en ningunas
de las categoras, pues no es referente al diagnstico del paciente, pero s de su madre. Todava, eso
es una informacin muy importante.
Otra observacin que constatamos, concerniente a la investigacin, es que no encontramos,
en las categoras del SNOMED-CT, ninguna en la que haya sido posible poner la especialidad en la
cual el paciente haya sido diagnosticado, y para la cual lo estn tratando. Ej.: Nefrologa. Ese es un
dato muy importante para la representacin (indizacin) de las historias clnicas del paciente.

Algunas conclusiones

En esta investigacin buscamos conocer la terminologa SNOMED-CT y su uso para la
representacin (indizacin) de informaciones en el contexto de las historias clnicas del paciente, en
soportes papel.
El resultado de la investigacin emprica muestra que esa terminologa es estructurada de
modo similar a otros lenguajes documentarios, con sus relaciones jerrquicas, de sinonimia, entre
otras cosas. Por lo tanto, de nuestro punto de vista, la SNOMED-CT puede ser utilizada para la
indizacin de las historias clnicas del paciente, cualquiera que sea su soporte, electrnico, digital,
papel u otro.
La SNOMED-CT es un lenguaje terminolgico que ofrece inmeras posibilidades para la
representacin (indizacin) de las informaciones concernientes a las historias clnicas del paciente,
puesto que tiene una rotulacin de grandes categoras y todas las relaciones entre ellas. Adems, esa
terminologa contiene otras categoras relativas a los informes de laboratorio, agregacin de
imgenes, protocolos especficos, construccin y manutencin de bases de datos y sistemas de apoyo
para las tomadas de decisiones y divulgacin de las condiciones de la salud de un pas, estado o
capital, estudios de genoma, entre otras cosas.
Por medio de la SNOMED-CT se tiene una terminologa de referencia en el contexto de la
salud, que facilita el intercambio de informaciones y, tambin, como herramienta para las tomadas
de decisiones y para la recuperacin de informaciones. Por lo tanto, es un lenguaje de tratamiento,
organizacin, mediacin y gestin de informacin.
Finalmente, nos gustara destacar que en el estudio que hicimos sobre el SNOMED-CT,
enumeramos las clases y categoras pertenecientes a esa terminologa, as mismo, tuvimos algunas
dificultades porque, aunque hayamos solicitado una licencia solamente pera el uso en esta
investigacin, no ha sido posible. Por consiguiente, nuestra investigacin emprica se hizo en las
pginas de la SNOMED-CT en Internet. As que, por ese motivo, tuvimos problemas para el
entendimiento de las categoras, no en el que respecta a la lengua, pero debido a las dificultades para
entender a qu el concepto se refera.

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19-2005.pdf#search=%22z39.19%22>. Acesso 18 jan.2013

528
O USO DA CLASSIFICAO NOS ARQUIVOS COMO INSTRUMENTO DE ORGANIZAO,
REPRESENTAO E RECUPERAO DA INFORMAO

FERNANDA RIBEIRO
Universidade do Porto - Faculdade de Letras / CETAC.MEDIA
[email protected]

Resumo Neste modesto ensaio procura-se discutir o interesse e a aplicao que tem tido a classificao no
campo dos arquivos, tanto ao nvel da organizao intelectual da informao, numa estrutura hierarquizada
de carter orgnico-funcional, funcional ou temtico, como ao nvel da representao/recuperao da
informao no que respeita ao seu contedo informacional.
Comeando pela abordagem do conceito de classificao, passa-se seguidamente para uma anlise de
instrumentos de acesso informao relativos aos arquivos portugueses, a qual permite perceber em que
medida a classificao tem sido usada para o estabelecimento de quadros organizativos que conferem contexto
produo informacional dos organismos (indivduos, famlias, coletividades) que geram o arquivo e de que
modo esses quadros representam (ou no) com rigor cientfico a realidade informacional em anlise.
Em complemento, discute-se a utilidade da classificao nos arquivos como instrumento para a representao,
e consequente recuperao, do contedo informacional, permitindo um acesso transversal informao, a par
do acesso por produtores/autores proporcionado pelos quadros orgnico-funcionais.
Estabelecem-se ainda paralelismos, analogias e divergncias com o uso de linguagens de indexao noutros
sistemas de informao, nomeadamente as bibliotecas, onde as classificaes temticas tm uma aplicao
generalizada desde finais do sculo XIX.

Palavras-chave Arquivo. Classificao. Estrutura orgnico-funcional.

Abstract This modest essay aims to discuss the interest and the use of classification in archives, either in what
concerns intellectual organization of information, in a hierarchical structure of organic-functional or
thematic type, or at information representation and retrieval level, regarding the informational content.
Starting by an approach to the concept of classification, we keep on analyzing the information access tools
relative to Portuguese archives. This enables to understand how classification has been used in order to
establish organizational schedules, which provide context to the informational production of the organisms
(persons, families, corporate bodies) that generate the archives and how such schedules represent (or not)
with scientific objectivity the informational reality being considered.
In complement, the utility of classification in archives is discussed as a tool for the representation, and
afterwards the retrieval, of the informational content, making possible a transversal access to information,
side by side with the access by creators/authors that the organic-functional schedules provide.
Comparisons, analogies and differences in what respects the use of indexing languages in other information
systems, namely libraries, where subject classifications have a generalized application since the last decades of
19
th
century, are also established.

Keywords Archives. Classification. Organic-functional structure.

1 O conceito de classificao na Organizao do Conhecimento

Se consultarmos qualquer dicionrio ou enciclopdia de carter geral encontramos uma
definio simples para o conceito de classificao, que se pode resumir em poucas palavras: ato ou
operao intelectual que consiste em agrupar elementos, que tm algo (uma caraterstica, uma
propriedade) em comum, formando um conjunto ou uma classe. Classificar significa, portanto,
formar classes de elementos com afinidades entre si e, simultaneamente, distingui-las de outras
classes cujos elementos no tm as mesmas caratersticas. O sistema ordenado de classes e

529
subclasses, com relaes entre si, formaliza-se atravs de um esquema de classificao, a que
tambm dado o nome de plano de classificao, quadro de classificao ou tabela de classificao.
Os esquemas classificativos clssicos assentam no princpio da diviso lgica, formulado desde
a Antiguidade por Aristteles e, posteriormente, retomado por outros filsofos e cientistas, como o
foi o caso de Francis Bacon, que desenvolveu a clebre classificao das cincias, no sculo XVII, ou
Leibniz e Comte que igualmente deram contributos importantes no domnio da classificao.
As classificaes, utilizadas para fins de organizao de informao, remontam ao tempo das
civilizaes pr-clssicas, e tinham por funo, quer a arrumao/ordenao fsica dos suportes
documentais, quer o agrupamento intelectual dos contedos ou sua representao meta-
informacional, em funo de determinados critrios (autores / produtores, ttulos, assuntos), com
o objetivo final de permitirem localizar documentos e/ou informao. Definies de classificao,
idnticas que enuncimos atrs, encontram-se formuladas tambm em dicionrios especializados
de Cincia da Informao, dos quais podemos referir, a ttulo ilustrativo, duas obras paradigmticas,
representativas do pensamento dominante nesta rea do saber: o Dictionnaire encyclopdique de
linformation et de la documentation, dirigido por Serge Cacaly (1997) e o Diccionrio enciclopdico de
Ciencias de la Documentacin, editado por Jos Lpez Yepes (2004). Nestes dois dicionrios, nos
verbetes dedicados classificao, traada a sua evoluo temporal e estrutural e das resenhas
efetuadas podemos retirar algumas concluses interessantes: por um lado, percebe-se que a partir
do sculo XIX, com Jacques-Charles Brunet, que podemos verdadeiramente falar em classificaes
bibliogrficas dans le domaine bibliographique, cest runet qui en 1804 instaure la premire classification
importante (Dictionnaire, 1997:136) e que a partir de finais dessa centria iro surgir as grandes
classificaes enciclopdicas (enumerativas e, mais tarde, facetadas) com aplicao generalizada nas
bibliotecas e centros de documentao, ao longo do sculo XX; por outro lado, torna-se evidente
que, na discusso sobre a temtica da classificao, no h quaisquer referncias ao seu uso nos
arquivos, parecendo consensual que esta uma problemtica prpria das
bibliotecas/documentao, excluindo-se, portanto, os arquivos da rea da Organizao do
Conhecimento, em que a classificao tem um lugar de excelncia.
No Dictionnaire encyclopdique dirigido por Serge Cacaly no h qualquer referncia aos
arquivos nos diversos verbetes dedicados classificao e s classificaes bibliogrficas. Em
contrapartida, no Diccionario enciclopdico, coordenado por Lpez Yepes, existe um verbete
especfico, intitulado clasificacin de archivos
1
, do qual se depreende que a classificao nesta
rea entendida mais como o estabelecimento de uma categorizao em funo de critrios vrios
(natureza do produtor da informao, mbito geogrfico dos arquivos, idade ou tipologia dos
documentos que conservam, finalidade do servio que prestam) do que como uma operao
intelectual destinada a organizar/representar informao ou a organizar/ordenar documentos,
colocando a classificao claramente fora do campo da Organizao do Conhecimento. Atente-se no
contedo do verbete, que dispensa mais comentrios:

Clasificacin de archivos (A). Segn quien produce el fondo documental:
pblicos y privados. Por su categora o mbito administrativo: locales,
provinciales, regionales, de Comunidades Autnomas, y Generales. Segn la
edad de los documentos: oficina o gestin, central, intermedio e histrico.
Por su finalidad: administrativos e histricos. Dependiendo el nmero de
fondos documentales que custodien: singulares y mltiples. Algunos
autores clasifican los archivos por su soporte o temtica: cartogrficos,
audiovisuales, especiales, etc. (Diccionrio, 2004: 321).

1
H, ainda, um verbete intitulado clasificacin de fondos documentales de archivo e outro sobre clasificacin funcional
de series documentales ((Diccionrio, 2004: 325).

530
Curiosamente, no Dicionrio do Livro, da autoria de Maria Isabel Faria e Maria da Graa Perico
(2008), a problemtica da classificao abordada em toda a sua abrangncia, no que toca s
diversas reas em que usada, em relao com a documentao/informao biblioteconomia,
arquivstica e proteo patrimonial de documentos cabendo sem ambiguidade no campo da
Organizao do Conhecimento e no excluindo deste campo a aplicao da classificao em
arquivos. Neste dicionrio h 53 verbetes para entradas em que a primeira palavra classificao,
classificador, classificar ou classificvel, mas dentro do verbete genrico intitulado
simplesmente classificao, que feita referncia ao seu uso nos arquivos. Depois de uma
definio genrica (conjunto ordenado de conceitos distribudos sistematicamente em classes, formando uma
estrutura; estruturao de conceitos em classes e subdivises para exprimir as relaes semnticas existentes
entre eles Faria; Perico, 2008:258), as autoras apresentam alguns enunciados mais operativos,
claramente identificados com a Organizao do Conhecimento, como por exemplo: atribuio dos
ndices de um sistema de classificao a dados ou a documentos para facilitar a sua indexao, ordenao e
recuperao; linguagem documental fundada na representao estruturada de um ou vrios domnios do
conhecimento em classes e na qual as noes e as suas relaes so representadas pelos ndices de uma notao
(Faria; Perico, 2008:258). E, finalmente, concluem o verbete com o enunciado referente aos
arquivos:

Em arquivstica, componente intelectual da organizao de arquivos, que
consiste na elaborao de um quadro ou de um plano, tabela ou cdigo
baseado em critrios de estrutura orgnica, cronolgicos, geogrficos,
temticos, alfabticos ou critrios de relaes lgicas e sistemticas
agrupados segundo as suas semelhanas ou diferenas, possibilitando a
localizao da srie ou dos itens dentro do plano, esquema, etc. (Faria;
Perico, 2008:258).

A partir dos exemplos enunciados possvel perceber que h entendimentos distintos sobre o
conceito de classificao, embora a sua conotao com o campo da Biblioteconomia seja claramente
dominante, se quisermos pensar a classificao na rea da Organizao do Conhecimento. Para
corroborar esta afirmao, podemos ainda consultar o verbete sobre classificao, assinado por Hans
H. Wellisch, que consta da ALA world encyclopedia of library and information services e no qual vemos
muito nitidamente a perspetiva biblioteconmica que referimos. O autor apresenta de forma muito
clara o conceito de classificao e enuncia as suas aplicaes na organizao da informao, nestes
termos:

It is important to distinguish between three different meanings of the
term classification in library practice: in its most literal and basic sense it
is the act of classifying or making a classification scheme (the resulting
scheme often being called a classification for short); second, it is the act of
classing or assigning class marks to documents that indicate subject
content; third, it is the resulting physical arrangement of documents
(books or other materials) on shelves or the related but not necessarily
identical arrangement of documents surrogates (catalogue entries) in a
classified subject catalogue.
The first of these, making a classification scheme, is obviously the
fundamental one, the others being dependent on it (Wellisch, 1986:200).

No mesmo verbete, Wellisch detm-se, especialmente, na questo dos esquemas de
classificao, enunciando os seus elementos constituintes (tabelas, notao e ndice alfabtico) e
analisa em particular os mais conhecidos sistemas de classificao bibliogrfica: Dewey Decimal

531
Classification, Classificao Decimal Universal, Classificao Expansiva de Cutter, Library of Congress
Classification, Bibliographic Classification, Colon Classification.
A perspetiva de que partimos para a discusso da classificao nos arquivos, como
instrumento de organizao, representao e recuperao da informao, emana, naturalmente, da
viso integrada e unitria que inerente Cincia da Informao, pensada e praticada na
Universidade do Porto. No assumimos uma dicotomia arquivos/bibliotecas e, portanto, a
componente tcnica que se desenvolve no mbito dos servios e dos sistemas de informao,
qualquer que seja o seu enquadramento orgnico (institucional, organizacional, familiar, pessoal),
s pode ser entendida como um conjunto de procedimentos relativos ao tratamento da informao,
independentes do contexto de aplicao. Assim, a classificao assumida como uma operao
intelectual e tcnica, que se traduz numa categorizao/sistematizao para fins organizativos e
numa representao formal tendo em vista a recuperao da informao. No ltimo ponto deste
texto retomaremos esta ideia com maior desenvolvimento.

2 O uso da classificao nos arquivos

Em qualquer manual clssico de Arquivstica, encontramos invariavelmente um captulo
dedicado classificao, entendida como uma das componentes da organizao dos arquivos.
Anglo-saxnicos falam de arrangement, franceses de classement, espanhis de
classificacin/ordenacin, enfim, um tema obrigatrio na formao e no trabalho quotidiano dos
profissionais dos arquivos.
Antonia Heredia Herrera, no seu livro Archivstica general: teora y prctica, dedica um captulo
classificao, considerando-a uma operao indissocivel da ordenao, duas etapas essenciais na
organizao de um arquivo. Vejamos o que afirma:

Clasificar y Ordenar son dos actividades dentro de una ms amplia que
podemos llamar Organizacin, perfectamente diferenciadas y esenciales,
en aras a la conservacin de los documentos, de una parte, e indispensables
para inventariar y catalogar, de otra (Heredia Herrera, 1989:181).

E num outro passo do mesmo livro:

La clasificacin siguiendo el principio de procedencia precisa de su
plasmacin material en un esquema o cuadro que no es otra cosa que el
andamio para sistematizar cada fondo en sus secciones y series. Habremos
de distinguir siempre dos niveles o estadios: el primero se identifica con la
estructura o funcionamiento de la institucin (por ejemplo, su
organigrama: rganos o funciones) y corresponde a las secciones y
subsecciones o bien grupos o subgrupos; el segundo nivel equivale a las
series documentales, es decir a los testimonios de actividades derivadas de
aquella estructura (Heredia Herrera, 1989:187).

Depreendemos daqui que no estamos a falar de classificao de contedos / informao, na
tica da Organizao do Conhecimento. Trata-se, antes, do uso da classificao numa perspetiva

532
orgnico-funcional, que tem em vista espelhar a estrutura e a atividade do organismo que produziu
a informao, o que no deixa de ser uma vertente importantssima da aplicao da classificao
2
.
Esta viso da autora espanhola no se distancia do que postulado pela Arquivstica
americana, fundada nos escritos de T. R. Schellenberg e seguida em diversos pases, designadamente
no Brasil, por consagrados autores, como o caso de Helosa Bellotto. Adotando a posio da Society
of American Archivists (SAA), Bellotto discorre sobre a noo de arranjo (termo usado na Brasil
para traduzir arrangement) e aceita a definio do glossrio da SAA: Arranjo o processo e o resultado da
organizao de arquivos, documentos e manuscritos de acordo com princpios arquivsticos consagrados,
particularmente o da provenincia, respeitando-se os seguintes nveis: arquivo, fundo, grupo ou seo, srie,
conjunto lgico dentro da srie e documento (Bellotto, 2004:140).
Uma outra obra de referncia no campo da Arquivstica o manual de Carol Couture e outros
autores, intitulado Les Fonctions de lArchivistique contemporaine. Dez anos depois de Antnia Heredia,
este autor pronuncia-se sobre a funo da classificao nos arquivos, de forma muito semelhante
dela, defendendo tambm a perspetiva orgnico-funcional:

Lobjectif de la classification est dassurer que tous les documents sont
rettachs leurs fonds dorigine et qu lintrieur de ce dernier ils sont
classifis dans lordre correspondant celui que leur a donn leur crateur
() Cest seulement dans ce contexte que le plan de classification fournit la
preuve tangible de lapplication du principe de respect des fonds
darchives. Cest par ce plan que seront identifies les limites externes et la
structure interne des fonds (Couture, 1999:221).

Porm, Couture tambm considera que o plano de classificao, expresso material da prpria
classificao enquanto operao intelectual, constitue le premier instrument de reprage intellectuel des
documents, facilitant de la sorte les dmarches de recherche des fins tant administratives quhistoriques. Son
existence stabilise les processus de gestion de linformation en proposant un cadre de rfrence et en facilitant
la confection ultrieure dinstruments de recherche spcifiques, tels que guides, rpertoires, inventaires et index
(Couture, 1999:221).
Vislumbramos aqui uma aproximao viso biblioteconmica, pela assuno de que a
classificao tambm um instrumento facilitador do acesso informao, do mesmo modo que a
Classificao Decimal Universal o no contexto das bibliotecas/centros de documentao.
Apesar de em alguns autores, como o que acabmos de referir, se notar uma perspetiva menos
custodial e mais voltada para o acesso, no concebendo a classificao como um mero instrumento
de arranjo material dos documentos, a ideia dominante sobre a classificao continua a ser a que
veiculada pela Arquivstica tradicional e que est consagrada e legitimada nos mais variados
dicionrios de terminologia desta rea. A ttulo de exemplo, vejam-se, apenas, as sucintas definies
de classificao existentes quer no Dicionrio de Terminologia Arquivstica portugus, quer no
brasileiro:
Classificao componente intelectual da organizao, que consiste na elaborao
e/ou aplicao de um quadro ou de um plano de classificao (Alves, et al., 1993:20)
Classificao sequncia de operaes que, de acordo com as diferentes estruturas,
funes e atividades da entidade produtora, visam a distribuir os documentos de um
arquivo (Dicionrio, 1996:16).

2
Sobre esta problemtica veja-se o artigo que publicmos em 1998, procurando mostrar em que medida
se diferencia o uso da classificao nos arquivos do que comum nas bibliotecas e centros de documentao
(Ribeiro, 1998).

533
Tendo em considerao este consenso sobre a definio de classificao, focada no seu uso
para proporcionar o arranjo dos fundos arquivsticos, seria natural que tal conceo se plasmasse,
de forma efetiva, na organizao dos arquivos e na elaborao dos instrumentos de acesso
informao. No entanto, temos muitas dvidas que assim seja, a avaliar pelo que foi a prtica ao
longo do sculo XX, como tivemos oportunidade de comprovar pela anlise dos instrumentos de
acesso referentes aos arquivos portugueses, publicados entre 1889 e 1996
3
.
No estudo que desenvolvemos h alguns anos atrs (Ribeiro, 2003), foram identificados 526
instrumentos de acesso, de diversas tipologias (ver Grfico) que, depois de analisados na sua
estrutura interna, revelaram uma grande falta de rigor na representao orgnico-funcional dos
documentos e/ou dos arquivos objeto de anlise, de descrio, de classificao e de indexao. Com
efeito, j na altura havamos considerado que uma concluso importante a extrair aps a anlise das
tipologias dos instrumentos de acesso informao dos arquivos portugueses, que foram alvo de
publicao, era a de uma evidente tendncia para privilegiar a produo de instrumentos destinados
a servir os interesses da investigao, especialmente, a histrica. Esta perspetiva conduzira
necessariamente elaborao de instrumentos muito parcelares face realidade total dos arquivos a
que se referiam e a uma valorizao dos documentos como fontes de informao, mais do que como
componentes de um todo orgnico-funcional, ou seja, o sistema de que faziam parte.
INSTRUMENTOS DE ACESSO INFORMAO DOS ARQUIVOS PORTUGUESES (PUBLICADOS)
PRODUZIDOS ENTRE 1889 E 1996
0
20
40
60
80
100
120
140
1889-
1899
1900-
1909
1910-
1919
1920-
1929
1930-
1939
1940-
1949
1950-
1959
1960-
1969
1970-
1979
1980-
1989
1990-
1996
Anos de produo
N

d
e

I
n
s
t
r
u
m
e
n
t
o
s
QUADROS DE CLASSIFICAO
LISTAS DE INCORPORAO
INVENTRIOS
NDICES
GUIAS
CATLOGOS

Afirmar que todo e qualquer instrumento de acesso informao arquivstica deve tornar
inteligvel o contexto de produo dos documentos algo que os arquivistas aceitam como
inquestionvel. Porm, na prtica, os instrumentos produzidos no seguem este princpio. Grande
parte dos instrumentos que analismos limitam-se a ordenar as unidades de descrio segundo um
critrio lgico (alfabtico ou cronolgico, na maioria dos casos) que, alm de no traduzir a
estrutura orgnico-funcional do arquivo, distorce a prpria realidade arquivstica, pois perde-se a
compreenso do contexto em que as unidades arquivsticas descritas foram produzidas e
organizadas.
A representao correta das unidades arquivsticas analisadas para efeito de um instrumento
de acesso informao s se consegue se a estrutura interna desse instrumento tiver como primeiro
critrio de ordenao das unidades de descrio, o da classificao orgnico-funcional. As rubricas
da classificao, enquanto elementos ordenadores das unidades de descrio, funcionam tambm
como pontos de acesso e possibilitam uma contextualizao adequada dessas mesmas unidades.
Os instrumentos de acesso informao dos arquivos portugueses, que escolhemos como
objeto de estudo, foram analisados tambm no que toca sua estrutura interna, tendo sido
identificados diversos critrios de ordenao da informao descritiva: alfabtico (cabendo aqui os

3
O estudo a que nos referimos foi objeto da tese de doutoramento que defendemos em 5 de fevereiro de 1999 e tem por
ttulo O Acesso informao nos arquivos (Ribeiro, 2003).

534
subcritrios antroponmico, geogrfico, ideogrfico e onomstico), sistemtico (classificao
genrica, classificao temtica ou orgnico-funcional), cronolgico, numrico e topogrfico. Destes
critrios importa aqui relevar o sistemtico, baseado no uso de uma classificao, isto , sempre que
a estrutura interna de um instrumento assenta na organizao por grupos de unidades de descrio,
enquadradas sob rubricas (ou classes). Tal classificao pode corresponder a um critrio lgico de
mera arrumao sem qualquer outra finalidade (classificao em sentido geral), pode resultar de
uma sistematizao por assuntos, (classificao temtica) ou pode representar a estrutura orgnica e
as funes arquivsticas (classificao orgnico-funcional).
Em funo dos critrios de ordenao identificados em 443 instrumentos de acesso
informao foi possvel identificar os critrios de ordenao que referencimos, conforme a tabela
seguinte:

CRITRIO DE ORDENAO N DE INSTRUMENTOS

Alfabtico
- Antroponmico
- Geogrfico
- Ideogrfico
- Onomstico

54
- 15
- 43
- 4
- 14 (Total: 130)

Classificao
- Classificao temtica
- Classificao orgnico-funcional

74
- 10
- 38
(Total: 122)

Cronolgico 88
Numrico 20
Topogrfico 83

A estes dados acresce ainda referir que, em 83 instrumentos no foi possvel identificar
qualquer critrio de ordenao das unidades de descrio, pois a apresentao das mesmas no
interior dos instrumentos parecia ser totalmente aleatria, no se descortinando qualquer lgica
ordenadora.
Estes resultados so, sem dvida, muito significativos e permitiram avanar algumas
concluses. O facto de s 38 instrumentos (7,2 %) apresentarem uma estrutura interna
correspondendo orgnica e s funes dos arquivos a que se referem revelador da insuficincia e
da inexactido da grande maioria dos instrumentos de acesso informao arquivstica que foram
publicados em Portugal. Tal facto pode ser justificado, por um lado, porque grande parte dos
instrumentos no da responsabilidade de arquivistas, mas de historiadores ou outros
investigadores que procuram tornar acessvel informao que conhecem e que est por divulgar,

535
sendo, portanto, natural, a falta de critrios arquivsticos nesses instrumentos; por outro lado, os
limites cronolgicos em que se situam abrangem pocas em que a Arquivstica ainda no conhecia
grande desenvolvimento do ponto de vista tcnico e, muito menos, em termos tericos. Contudo,
posteriormente a 1980, podem-se contar 187 instrumentos e tambm nestes correspondentes
poca de maior desenvolvimento da Arquivstica portuguesa se verifica, de forma notria, uma
deficiente representao da realidade em anlise.
Do estudo empreendido concluiu-se, ainda, que quase todos os tipos de instrumentos se
distribuam pelos diferentes critrios de ordenao, embora alguns tivessem maior expresso do que
outros. Assim, os catlogos eram maioritariamente cronolgicos e topogrficos; os guias eram
organizados, em maior quantidade, segundo um critrio de classificao (mas no orgnico-
funcional), embora os alfabticos e geogrficos tambm estivessem bastante representados; os
ndices onomsticos, antroponmicos, topogrficos e cronolgicos eram os que surgiam com maior
representao; os inventrios eram aqueles instrumentos em que mais se verificava uma estrutura
interna de tipo orgnico-funcional, mas tambm eram usadas outras classificaes e critrios de
ordenao alfabtica, geogrfica ou topogrfica para os estruturar.
No decorrer do corrente ano, voltmos a fazer uma recolha, por amostragem, dos
instrumentos de acesso informao dos arquivos portugueses, publicados entre 2010 e 2012, com o
objetivo de verificar se as concluses do nosso anterior estudo se podem considerar, ou no,
desajustadas da realidade atual. Num conjunto de 30 instrumentos de acesso informao foi
possvel verificar que apenas 9,6% apresentam uma classificao orgnico-funcional, na base da sua
estrutura interna. Tal nmero, se bem que ligeiramente superior ao do estudo anterior, continua a
ser revelador do insuficiente rigor com que os instrumentos de acesso informao representam a
realidade arquivstica que elegem como seu objeto de anlise.
Ser esta constatao justificada pela viso paradigmtica que ainda domina a Arquivstica
portuguesa e que prima pelo domnio da tcnica em detrimento de uma postura cientfica, reflexiva
e problematizante? A preocupao em fazer instrumentos de pesquisa sem uma anlise prvia da
realidade arquivstica, que assenta na aplicao do mtodo cientfico, tem levado, a nosso ver, a que
o acesso informao seja um fim em si mesmo e no a etapa final de um processo que pressupe
um conhecimento rigoroso do objeto que vai ser formalmente representado, com recurso a
metadados, para que o contexto orgnico em que os documentos/informao foram produzidos e
usados se torne inteligvel para o utilizador que anseia por conseguir aceder, de forma eficiente,
informao que procura.

3 Classificar para organizar/arrumar versus classificar para represen-
tar/recuperar

Do atrs exposto, facilmente podemos concluir que o uso dado classificao nos arquivos e
nas bibliotecas tem sido distinto e com finalidades diversas, porque, na verdade, decorre de
perspetivas tambm elas diferenciadas, sobre o modo como vista a organizao da informao. Nos
arquivos, particularmente nos histricos, a viso ainda muito custodial e voltada essencialmente
para a organizao dos documentos; nas bibliotecas, a questo do acesso informao comeou mais
cedo a ser valorizada e, por isso, a classificao tem sido mais usada em prol da representao e da
recuperao da informao. So duas funes distintas, mas complementares, que podem ser
desempenhadas em qualquer sistema de informao, potenciando um melhor desempenho e uma
maior eficcia do servio prestado ao utilizador.
Considerando as duas dimenses essenciais que a classificao pode ter, podemos
telegraficamente enunci-las como segue:
- organizar / arrumar (fisicamente) documentos
- representar/recuperar informao

536
A primeira destas dimenses nos arquivos histricos tem estado, sobretudo, conotada com a
organizao intelectual da documentao, traduzindo-se na elaborao de quadros de classificao,
que supostamente representam a estrutura orgnico-funcional da entidade produtora. Porm, como
vimos atrs, nem sempre assim acontece, pois as mais das vezes so elaborados quadros de
classificao temticos ou funcionais e o contexto de produo informacional no se torna
inteligvel. A aplicao da classificao para arrumar fisicamente os documentos, dando-lhes uma
organizao fsica de tipo sistemtico, no de todo feita nos arquivos histricos, naturalmente
porque a principal preocupao a rentabilizao do espao nos depsitos e os fundos no se
encontram em livre acesso.
Em contrapartida, nos arquivos ditos correntes, a ausncia de quadros de classificao
notria, mas, por outro lado, so normalmente usados planos de classificao que visam no
apenas a organizao intelectual dos documentos, mas tambm a sua arrumao fsica, em dossis
ou pastas (fsicas, colocadas em estantes ou eletrnicas, guardadas no computador). Estes planos so
normalmente temticos ou funcionais e tm aplicao, sobretudo, correspondncia e ao
expediente, deixando de fora muita outra documentao produzida/acumulada pelas entidades
produtoras.
As bibliotecas, por seu lado, aplicam a classificao com a finalidade de
organizao/arrumao, de forma bem diferente, privilegiando a sistematizao fsica dos
documentos, com vista implementao do livre acesso, evitando assim o recurso ao catlogo como
instrumento de mediao entre o utilizador e a informao. A organizao dos acervos em livre
acesso foi, e cada vez mais, a razo primordial para o uso das grandes classificaes universais,
como a Dewey Decimal Classification (DDC) ou a Classificao Decimal Universal (CDU), apesar da
reconhecida desatualizao que tais esquemas classificativos revelam. Diferentemente dos arquivos,
as bibliotecas usam a classificao para organizar/arrumar os documentos em funo do seu
contedo informacional e no em funo da sua provenincia orgnica
4
. Mas esta diferena no pe
em causa o uso da classificao como ferramenta fundamental para a organizao do
conhecimento e, em qualquer dos casos, justifica-se plenamente a sua utilizao.
Considerando agora a segunda dimenso de aplicao das classificaes
representar/recuperar informao novamente detetamos diferenas substanciais entre a prtica
corrente nas bibliotecas e o que usual nos arquivos. O surgimento das classificaes bibliogrficas
remonta, como vimos, ao incio do sculo XIX, altura em que surge a clebre Classificao de Brunet,
mas sobretudo a partir do desenvolvimento da DDC, em 1876, que podemos falar da classificao
como linguagem de representao do contedo informacional ou, como hoje diramos, linguagem de
indexao de tipo categorial.
A literatura sobre as linguagens de indexao em geral muito vasta e o consenso pacfico
entre os especialistas, podendo ser referidas, apenas a ttulo ilustrativo, vrias obras clssicas e de
referncia incontornveis (Chaumier, 1982; Maniez, 1987; Slype, 1991; Campos, 2001; Gil Urdiciain,
2004). Sobre o caso particular das classificaes h tambm bibliografia em abundncia, quer sobre
linguagens especficas (DDC, CDU, Library of Congress Classification, Bliss Classification, Colon
Classification, ), quer sobre teoria da classificao e questes gerais sobre o assunto (a ttulo de
exemplo veja-se, Simes, 2001). Nas bibliotecas e servios de documentao, os catlogos
sistemticos tm larga tradio e, a partir dos nos 50 do sculo passado, comearam a ser
complementados por outro tipo de instrumentos de acesso informao baseados em linguagens
vocabulares, combinatrias, de que os tesauros so a expresso mais tpica. ndices de assuntos,
bases de dados, catlogos de assuntos com uso de linguagens vocabulares tm uso generalizado e
constituem os instrumentos absolutamente indispensveis para a representao e a recuperao dos
contedos temticos dos documentos.
No mundo da Web, classificaes e tesauros evoluram para outras formas de esxpresso,
como as ontologias, as taxonomias, os mapas de conceitos, as folksonomias, com vista a tornar a
Web semntica uma realidade, sempre ao encontro das necessidades do utilizador, que hoje cada vez

4
Veja-se o artigo A Classificao em arquivos : processo natural ou arranjo a posteriori? (Ribeiro, 1998).

537
menos domina as linguagens hermticas dos bibliotecrios e pretende pesquisar na sua linguagem
natural, googlando e navegando pelo ciberespao.
E nos arquivos? Como se processa o acesso aos contedos temticos? Que linguagens so
usadas e qual o papel da classificao neste domnio?
H quase duas dcadas atrs desenvolvemos um estudo sobre o uso de linguagens de
indexao nos arquivos (Ribeiro, 1996) e, na altura, praticamente no existia bibliografia sobre o
tema. Do inqurito que aplicmos nos arquivos portugueses, pudemos concluir que a indexao por
assuntos era praticamente inexistente, alis na linha do que havia concludo alguns anos antes o
trabalho desenvolvido no Canad pelo Bureau of Canadian Archivists (1992):

In the archival world, Lawrence Dowler suggests, there is some
uncertainty about the vallue and efffectiveness of subject indexing; that
is, [archivists] tend to think it is important, but have very little
information about either how it is currently used or how it might be
used. Others have argued that subject indexing is of limited value to
archivists, because, whereas books and articles are about something,
archival records are part of personal or administrative transactions and,
therefore, do not lend themselves to being subject indexed. Archival
records are something, as distinct from being about something
(Bureau, 1992:35).

A idnticas concluses chegaram tambm os participantes no seminrio realizado em 1998,
em San Miniato, Itlia (I Soggetti, cop. 2000), um encontro pioneiro no que toca discusso do
acesso por assuntos nos arquivos.
Volvidos cerca de quinze anos, legtimo que nos questionemos sobre o modo como evoluiu o
tratamento da informao por assuntos nos arquivos e que nos interroguemos sobre como se tem
processado a integrao dos arquivos na sociedade digital e em rede em que nos movimentamos.
No se conhecem estudos de sntese que analisem esta problemtica, mas o que podemos afirmar
que, nas ltimas duas dcadas e sob o efeito incontrolvel da internet, os arquivistas se vem
pressionados a disponibilizar na Web os seus contedos e sofrem a presso dos utilizadores que no
querem ter de se deslocar s salas de leitura dos arquivos para consultar a informao de que
necessitam. Por outro lado, cada vez mais o interesse dos utilizadores se foca na obteno de
informao sobre assuntos, independentemente de ela ser custodiada por uma biblioteca, um
arquivo, um museu, uma instituio de memria de qualquer tipo. E tambm inquestionvel que a
pesquisa sobre to grande variedade de fontes de informao s eficaz, se a meta-informao
relativa aos contedos for criada, ou seja, as linguagens de indexao (incluindo aqui as
classificaes) continuam a ser indispensveis independentemente da sua tipologia ou dos formatos
utilizados serem mais ou menos interoperveis.
Trata-se, pois, muito mais de representar e recuperar informao do que de
organizar/arrumar documentos e, neste novo paradigma ps-custodial o acesso informao est
no cerne do trabalho e das preocupaes dos profissionais da rea. Percebe-se, assim, que deixa de
fazer sentido usar a classificao e outras linguagens, de forma diferenciada nos arquivos e nas
bibliotecas, e que a formao dos profissionais que vo exercer funes nestes dois tipos de servios
de informao (ou mesmo noutros organismos, como os museus, os centros de documentao e os
servios de gesto de informao nas mais variadas organizaes) no tem qualquer justificao
para ser distinta, muito menos no que toca componente tcnica da organizao e representao da
informao. Esta tambm uma consequncia natural que decorre da formao em Cincia da
Informao, lecionada na Universidade do Porto, que assume a unidade epistemolgica da rea, sem
separaes artificiais ditadas pelas lgicas dos contextos profissionais (David et al., 2008; O Curso,
2011). Tal formao unitria visa capacitar profissionais/gestores de informao aptos a
desempenhar a sua atividade em qualquer contexto organizacional, gerador de fluxo informacional

538
e, como tal, assume de forma integrada toda a componente tcnica direcionada para a Organizao
do Conhecimento.

Referncias

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540
FILOSOFIA DA LINGUAGEM E ORGANIZAO DO CONHECIMENTO NOS ANOS 1930
A pragmtica em Wittgenstein e em Ranganathan

GUSTAVO SILVA SALDANHA
Universidade Federal do Estado do Rio de Janeiro / Instituto Brasileiro Informao em Cincia e
Tecnologia
[email protected]

Resumo Reconhecida a relevncia dos estudos filosficos para a organizao do conhecimento, propomos um
estudo histrico-epistemolgico focado na dcada de 1930. A principal questo abordada se refere ao
desenvolvimento de um pensamento orientado para a pragmtica da linguagem no cenrio filosfico no
perodo. Este pensamento toma a linguagem ordinria como elemento fundador do sentido. A ideia de uso
reconhecida como estrutural e apenas atravs dela se pode conceber a significao. Em focos distintos, o
filsofo austraco Ludwig Wittgenstein e o filsofo indiano Shiyali Ramamrita Ranganathan discutem o
desenvolvimento epistemolgico segundo os pressupostos de uma pragmtica da linguagem. O pensamento
dos autores aborda a produo de sentido a partir do uso. A pragmtica ranganthaniana possibilita o
afastamento da noo ocidental-moderna de conhecimento. A partir da filosofia da linguagem presente no
filsofo indiano podemos pensar em saberes, tomando a prtica de organizao no mbito informacional
como responsvel por uma noo plural de epistemologia. Este posicionamento aproxima Ranganathan do
pensamento wittgensteiniano. O objetivo central deste trabalho propor uma anlise do dilogo entre as
vises de Ranganathan e Wittgenstein no mbito da construo das possibilidades do conhecer a partir do uso
da linguagem no mbito dos anos 1930. Como objetivos especficos, procuramos definir a pragmtica como
orientao comum da construo do conhecimento dos anos 1930; reconhecer a filosofia da linguagem em
Ranganathan; discutir as condies de transformao da organizao do conhecimento provocadas pela
filosofia pragmtica do filsofo indiano. O mtodo adotado a apresentao panormica de Wittgenstein,
pautada na anlise de conceitos que concebem a construo de uma gramtica dentro de uma comunidade de
uso da linguagem. A partir da apresentao panormica podemos identificar os pressupostos que levam
efetiva comunicao entre indivduos de um mesmo grupo, incluindo uma comunidade cientfica. Como
principais resultados, chamamos a ateno para os potenciais de correlao entre o desenvolvimento da
filosofia da linguagem na dcada de 1930 e a construo de uma epistemologia para a organizao do
conhecimento, a reconstruo da prpria noo de conhecimento no campo de estudos da informao,
iniciada em Ranganathan, e as possibilidades de ressignificar a prtica da organizao do conhecimento
atravs do ponto de vista da pragmtica. Como concluses destacamos a necessidade de reviso filosfica da
organizao do conhecimento, o reconhecimento da construo da pragmtica ao longo do sculo XX como
pressuposto terico para a organizao do conhecimento e a compreenso de uma noo de conhecimento
pautada tambm na noo de uso segundo o ponto de vista pragmtico da linguagem.

Palavras-chave Organizao do conhecimento. Filosofia da linguagem. Pragmtica.

Abstract This paper propose a historical-epistemological study of the knowledge organization focused on the
1930s. The main question is the development of a thought-oriented pragmatics of language in philosophical
scene in the period. This thought takes ordinary language as a founding element of meaning. The notion of
use is recognized as structural. In distinct foci, the Austrian philosopher Ludwig Wittgenstein and Indian
philosopher Shiyali Ramamrita Ranganathan discuss epistemological development under the premises of a
pragmatics of language. The thought of the authors addresses the production of meaning from the use. The
ranganthanian pragmatics a allows the revision of the Western notion-modern "knowledge." From the
philosophy of language present in the Indian philosopher can think of "knowledge", taking the practical
organization within informational responsible for a plural notion of epistemology. The aim of this paper is to
propose analysis of the dialogue between the visions of Ranganathan and Wittgenstein in the construction of
the possibilities of knowing from the use of language within the 1930s. As specific objectives, we define
pragmatic guidance as common knowledge construction 1930; recognize the philosophy of language in
Ranganathan; discuss the processing conditions of the organization of knowledge caused by the pragmatic

541
philosophy of Indian philosopher. The method adopted is the "panoramic presentation" of Wittgenstein,
based on the analysis of concepts to understand the construction of a grammar within a community of
language use. From the "panoramic presentation" we can identify the conditions that lead to effective
communication between individuals of the same group, including a scientific community. As main results, we
draw attention to the potential correlation between the development of the philosophy of language in the
1930s and the construction of an epistemology for the organization of knowledge, the reconstruction of the
notion of "knowledge" in the field of information studies, started in Ranganathan, and possibilities for new
meanings to the practice of knowledge organization through the point of view of pragmatics. In conclusion,
the study indicates the need to review the knowledge organization , recognition of the pragmatic construction
throughout the twentieth century as a theoretical assumption for the organization of knowledge and
understanding of a notion of knowledge from the notion of use of language pragmatics point of view.

Keywords Knowledge Organization. Philosophy of Language. Pragmatics.

Introduo

Em 1930, encontramos tanto a produo de uma viso atmica sobre a linguagem, como uma
viso pragmtica. De um lado, a procura por um postulado relativista, e, de outro, essencialista,
sobre a linguagem, incide na reviso da prpria filosofia como prtica do conhecer. Em outras
palavras, o conhecimento observado sob o prisma da linguagem, porm este olhar oriundo de
duas vises claramente distintas. Temos a emprica pragmtica que recorre ao plano aberto de
construo da linguagem a partir de sua experincia ordinria e, ao mesmo tempo, a metafsica
neopositivista, que busca uma racionalidade pautada no idealismo de uma lngua sem barreiras
culturais.
Na mesma dcada, o filsofo vienense Ludwig Wittgenstein, principal influncia do
neopositivismo do Crculo de Viena, est alterando sua proposta filosfica, desenvolvida na
Inglaterra. Wittgenstein se afasta da reflexo logicista da linguagem e se aproxima de um debate
sobre o carter mltiplo da produo de significados. Por sua vez, aps a passagem pelo Reino
Unido, o matemtico indiano Shiyali Ramamrita Ranganathan inicia sua produo filosfica sobre a
Biblioteconomia, em seu retorno cidade de Madras. Longe de identificar um paralelismo nas vises
de cada filsofo, percebe-se um exerccio de reflexo sobre o conhecimento e sobre a organizao do
conhecimento que, respectivamente, integram o olhar de Wittgenstein e de Ranganathan em um
contexto convergente.
Reconhecida a relevncia dos estudos filosficos para a organizao do conhecimento,
propomos, deste modo, um estudo histrico-epistemolgico focado na dcada de 1930. A principal
questo abordada se refere ao desenvolvimento de um pensamento orientado para a pragmtica da
linguagem no cenrio filosfico no perodo. Este pensamento toma a linguagem ordinria como
elemento fundador do sentido. A ideia de uso reconhecida como estrutural e apenas atravs dela se
pode conceber a significao. Em focos distintos, o filsofo austraco Ludwig Wittgenstein e o
filsofo indiano Shiyali Ramamrita Ranganathan discutem o desenvolvimento epistemolgico
segundo os pressupostos de uma pragmtica da linguagem.
O pensamento dos autores aborda a produo de sentido a partir do uso. A pragmtica
ranganthaniana possibilita o afastamento da noo ocidental-moderna de conhecimento. A partir
da filosofia da linguagem presente no filsofo indiano podemos pensar em saberes, tomando a
prtica de organizao no mbito informacional como responsvel por uma noo plural de
epistemologia. Este posicionamento aproxima Ranganathan do pensamento wittgensteiniano e do
profundo desenvolvimento dos estudos filosficos sobre a linguagem ordinria no perodo.
O objetivo central deste trabalho propor anlise do dilogo entre as vises de Ranganathan e
Wittgenstein no mbito da construo das possibilidades do conhecer a partir do uso da linguagem
no mbito dos anos 1930. Como objetivos especficos, procuramos definir a pragmtica como
orientao comum da construo do conhecimento dos anos 1930; reconhecer a filosofia da

542
linguagem em Ranganathan; discutir as condies de transformao da organizao do
conhecimento provocadas pela filosofia pragmtica do filsofo indiano.
O mtodo adotado a apresentao panormica de Wittgenstein, pautada na anlise de
conceitos que concebem a construo de uma gramtica dentro de uma comunidade de uso da
linguagem. A partir da apresentao panormica podemos identificar os pressupostos que levam
efetiva comunicao entre indivduos de um mesmo grupo, incluindo uma comunidade cientfica.
Como principais resultados, chamamos a ateno para os potenciais de correlao entre o
desenvolvimento da filosofia da linguagem na dcada de 1930 e a construo de uma epistemologia
para a organizao do conhecimento, a reconstruo da prpria noo de conhecimento no campo
de estudos da informao, iniciada em Ranganathan, e as possibilidades de ressignificar a prtica da
organizao do conhecimento atravs do ponto de vista da pragmtica.
Como concluses, destacamos a necessidade de reviso filosfica da organizao do
conhecimento, o reconhecimento da construo da pragmtica ao longo do sculo XX como
pressuposto terico para a organizao do conhecimento e a compreenso de uma noo de
conhecimento pautada tambm na noo de uso segundo o ponto de vista pragmtico da linguagem.

1 No caminho da linguagem: em direo aos estudos filosficos
ranganathanianos sobre a organizao do conhecimento

Wittgenstein (1979) compreende o conhecimento como um caminhar interminvel por
contextos e contextualizaes o conhecimento como ao -, conferindo ao indivduo e seu grupo
social importncia direta na construo de sentidos para o mundo que os cerca. Desta maneira, da
interao entre os atores do quotidiano, nascer o conhecimento de cada comunidade especfica,
pois cada grupo de indivduos compreende o mundo de forma diferente e reinventa este mundo a
seu modo. Ao preocupar-se com a linguagem como grande risco e permanente desafio para a
construo do conhecimento, Wittgenstein (1979), afirma: a posio quotidiana da contradio ou
sua posio no mundo quotidiano: este o problema filosfico (WITTGENSTEIN, 1979, p. 57).
Desta forma, seu pragmatismo uma teoria que interpreta a ao como esfera em constante
descontinuidade no plano do quotidiano, tendo na contradio do confronto deliberativo entre os
indivduos, ou seja, na percepo subjetiva destes acerca do social, o eminente tpico de
investigao. Este enfoque, baseado na segunda fase terica do filsofo vienense, aponta para uma
ampla noo pragmtica que tem por objetivo compreender no apenas os usos das palavras na
linguagem, ou debater a preocupao com a definio de verdades, mas reconhecer e contextualizar
as trocas discursivas sediadas por diferentes esferas de comunicao, no solo das relaes sociais e
manifestaes culturais, contribuindo para o esclarecimento dos dilemas da racionalidade, da
cientificidade e da comensurabilidade no conhecimento em geral e no apenas no conhecimento
cientfico , bem como fornecendo alternativas para a construo de uma tica que enxerga a
alteridade em sua arena quotidiana.
Tal pragmatismo wittgensteiniano encontra uma aproximao clara na viso ranganathaniana
sobre o conhecer e sobre o organizar os processos e os produtos do conhecer. Ao discutir a
abrangncia de suas propostas filosficas para a Biblioteconomia, o filsofo indiano demarca a
necessidade de um pensamento contingencial que se estabelece na viso sobre a cada cultura que
apropria os contedos produzidos como reflexo do conhecimento, bem como comporta uma viso
sobre a necessidade de transformao na maneira de perceber os modos como cada artefato
bibliogrfico pode ser apropriado, sendo sua contingncia material- simblica elementar para a
compreenso de tal apropriao. O que Ranganathan (2009) alerta como clamor dos livros para todos
se explica pela necessidade de um ponto de vista local que reconhece cada comunidade, tomada,
esta ltima, em diferentes nveis: de gnero, de renda, de classe, de territorialidade. Assim, homens e
mulheres, habitantes da cidade e das regies rurais, cada grupo de indivduos est inserido na viso
democrtica sobre o acesso aos livros.

543
Tendo em vista a problemtica da epistemologia contempornea da Cincia da Informao, do
acesso ao conhecimento e sua emergncia, verifica-se a demanda a relevncia destas aproximaes
em torno da reflexo filosfica sobre a pragmtica no campo. O pensamento de Ludwig Wittgenstein
permite uma leitura de um vis pragmtico no campo, ampliando nossos potenciais de leitura
ranganathaniana, incidindo, por exemplo:

a) a viso de uma filosofia da informao nascitura, baseada em uma observao
sistemtica da linguagem ordinria;
b) a ideia da relao entre cincia, sociedade, cultura e aplicabilidade dentro da Cincia
da Informao;
c) a mudana na viso sobre a cientificidade da Cincia da Informao - da interrogao:
cincia?, que se desdobra em cincia humana ou social?; para a interrogao:
quando e como somos teis e responsveis enquanto conhecedores?;
d) a discusso sobre a longa linha de pensamento nos estudos da informao estruturada
unilateralmente em uma filosofia representacionista da linguagem.

Percebendo o pensamento do filsofo indiano como contemporneo a estas reflexes,
podemos reconhecer o papel revolucionrio de Ranganathan para o contexto das questes
destacadas. A definio de uma filosofia que parte de noes dedutivas, mas diretamente
influenciadas pelas diretivas pragmticas est no filsofo indiano e so fundamentais para
compreenso da atual filosofia da informao.
A distino entre essencialismo e pragmatismo na Filosofia est tambm fundamentada na
prtica da organizao do conhecimento. Trata-se daquilo que denominamos de filosofia de pano
de fundo presente em duas direes: a filosofia representacionista e a filosofia pragmtica ou
pragmatista como dois panoramas identitrios da rea. A noo de pano de fundo transmite o
significado de que estes so dois cenrios diante dos quais toda a rea voltada para organizar os
saberes sempre esteve posicionada; caso queiramos v-la sob outro pano de fundo, estamos, na
verdade, escapando de seu possvel ncleo, ou seja, os estudos orientados para organizar os saberes,
visando representao, transmisso e preservao.
De um lado, a tradio representacionista toma a linguagem como meio, logo, como
representao; tem o profissional que atua com a organizao dos saberes como mediador;
preocupa-se com a representao acurada dos signos, tendo para isso a lgica formal e a tecnologia
que desta pode desprender-se como modelo ideal para otimizar a representao e sua dinmica;
aqui, o significado visto como representao ideal de um termo.
De outro lado, tradio pragmtica tem a linguagem como ao; logo, como transmisso; tem
o profissional que atua com a organizao dos saberes como intrprete; preocupa-se com a
transmisso contextual dos signos, tendo para isso a anlise de narrativas dos discursos como
mtodo para compreender as possibilidades de organizao os saberes; aqui, o significado visto
como o uso de um termo, ou sua vivncia. Assim, o pragmatismo comunga de um ponto de vista
antropolgico da realidade, ou seja, s podemos compreender o mundo e as relaes sociais para
organizar seus patrimnios a partir da compreenso dos usos sociais que conferem significados aos
artefatos e s palavras.
Nessa ltima tradio acompanhamos tanto o pensamento do segundo Wittgenstein como
aquele presente em Ranganathan, seja o filsofo da Biblioteconomia, seja o terico da classificao.
Essa aproximao nos permite repensar a construo dos estudos da informao, principalmente no
contexto do reconhecimento da linguagem como uma unidade no apenas estratgica, mas
fundacional do campo.

544
2 Cincia da informao e estudos filosficos da linguagem

A Filosofia da Linguagem pode ser encontrada a partir de um conjunto de consideraes
reflexivas sobre a linguagem, ou seja, a identificao dos estratos do pensamento de filsofos ao
longo do tempo que trataram a linguagem como objeto. Esta reflexo tem incio com os filsofos
pr-socrticos e continuada em Plato e Aristteles, que comearam a distinguir classes de
palavras inicialmente, nomes e verbos. Temos uma filosofia da linguagem, desta maneira, de
cada filsofo a Filosofia da Linguagem de Hegel e a de Heidegger, por exemplo. Discusses tericas
visando explicar a natureza lingustica ou a experincia humana diante/na da linguagem - e
tambm reflexes sobre a construo de sistemas lgicos uma filosofia analtica da linguagem -
tambm podem ser visualizados como manifestaes da Filosofia da Linguagem. No contexto
contemporneo destaca-se uma recusa pela busca por sistemas abstratos da lgica formal no estudo
da linguagem, resultando na filosofia da linguagem ordinria. Temos aqui o pensamento de
Wittgenstein como marco-filosfico no contexto da longa tradio da FL. (Auroux, 1998).
No sculo XX, por sua vez, encontramos um conjunto significativo de abordagens orientadas
para a linguagem. No apenas os antigos saberes lingusticos se especializam e se emancipam, como
ganham um discurso preponderante, atravs de seus mtodos e de seus conceitos, em outros ramos.
A prpria filosofia tende, neste momento, a ser traduzida apenas como uma filosofia da linguagem,
como se todo o projeto metafsico de dois milnios casse por terra no novecentos. Ludwig
Wittgenstein, Gilles Deleuze, Jacques Derrrida, Michel Foucault, Jrgen Habermas, Claude Levi-
Strauss e Ferdinand de Saussure so exemplos objetivos desta linha de pensamento.
Em seu estudo sobre a Filosofia da Linguagem e a CI, Gracioso (2008, p. 65), lembra que a
filosofia da linguagem coexiste com a Filosofia de modo geral; entretanto, as formas de essa abordar
a linguagem foram repensadas ao longo do tempo. Ou seja, a filosofia da linguagem uma
categoria aberta que contempla todos os estudos filosficos que tiverem como objeto a linguagem e
o significado. Em linhas gerais, a Filosofia da Linguagem elaborada no momento em que
redirecionamos nosso olhar sustentado na filosofia da conscincia (na qual se pergunta pelos
processos de aferimento do conhecimento) para uma filosofia que considera as condies para a
construo de sentido da linguagem antecedentes s condies de possibilidades de construo do
conhecimento. As margens abertas por abordagens individuais sobre a linguagem ganham no
oitocentos e, principalmente, no novecentos, confluncias, passando este objeto, a linguagem, a se
apresentar como domnio comum de diferentes domnios do conhecimento.
A relao entre Cincia da Informao e Filosofia da Linguagem pode ser verificada de
maneira mais clara nos ltimos destinos da epistemologia do campo. O trabalho de Blair (1992) nos
chama a ateno, ao dimensionar uma relao intrnseca entre Recuperao da Informao e
Filosofia da Linguagem. A primeira afirmao de seu posicionamento, como j mencionado em nossa
Introduo, taxativa: sistemas de informao so fundamentalmente Lingustica (Blair, 1992, p.
200). O principal foco de seu pensamento est na compreenso da chamada linguagem natural para
traduo dos documentos se compreendemos de maneira coerente a linguagem, podemos
descrever de forma mais qualitativa os textos e recuper-los, aponta o autor.
O trabalho de Day (2005) outro exemplo de aproximao da epistemologia da CI ao estudo da
linguagem. A partir do que trata como ps-estruturalismo, o autor observa a influncia de filsofos
como Gilles Deleuze, Jacques Derrida e Michel Foucault no pensamento da organizao do
conhecimento. O ps-estruturalismo, na viso de Day (2005), enfatiza a centralidade da linguagem
nos estudos informacionais em sua teoria e em sua prtica. Esta abordagem destacada pelo autor
como de relevncia destacada no campo por questes objetivas e sempre emergentes como
vocabulrio e discurso, signos no-lingusticos e afetos. A relao entre Cincia da Informao e
linguagem, na viso de Day (2005), ainda mais profunda: os estudos ps-estruturalistas poderiam
aprofundar tanto as questes ontolgicas e epistemolgicas, quanto aquelas questes ticas e
polticas pertinentes aos estudos da informao.

545
A epistemologia da Cincia da Informao traada no mesmo perodo por nomes como Bernd
Frohmann, Birger Hjorland, Rafael Capurro, Ronald Day, Michael Buckland e Miguel Angel Rendn
Rojas nos permite ampliar esta viso sobre a relao entre linguagem, Filosofia da Linguagem e
Cincia da Informao. No contexto brasileiro os estudos de Maria Nlida Gonzlez de Gmez se
aproximam, nos anos 1990, fundamentalmente, do pensamento de Ludwig Wittgenstein e do
pragmatismo e de Habermas e da Teoria da Ao Comunicativa, procura de uma pragmtica que
permite posicionar o usurio no apenas em sua busca, mas em sua construo da linguagem.
Gonzlez de Gmez (1996) nos oferece um ponto nuclear da reflexo: a passagem, atravs da
transferncia da informao, de um panorama epistemolgico orientado estruturalmente para a
organizao/representao do conhecimento para as polticas de informao. Por transferncia de
informao a pesquisadora abrange uma comunidade de interlocuo e relevncia em um domnio
do conhecimento. Esta transferncia diz respeito constituio de pragmticas da informao, que
se aperfeioam na pluralidade, e no na unidade, e conferem graus de validao para os signos e os
objetos manipulados nas aes de informao.

Na medida que est orientada para preencher um vazio entre uma
esfera desejada de distribuio e absoro da informao e um estado atual
de disponibilidade e uso da informao, a ao de transferncia vai definir
uma posio-sujeito correspondente clientela ou usurios da informao.
Nesse sentido, ela estabelece um traado preferencial da gerao,
distribuio e uso da informao. Interessa-nos analisar essas condutas
decisrias e seletivas, iniciadas por uma organizao ou ator coletivo,
conforme seus fins e objetivos, e seu recorte estratgico, num campo de
possibilidades cognitivas, comunicacionais, informacionais. De fato, uma
ao de Transferncia de Informao realiza, pelo menos, quatro
operaes de seleo: a) de uma rede de interlocuo (produtores,
parceiros, usurios); b) de um domnio temtico - ou de umna "ontologia"
da informao; c) de um universo de fontes; d) de um critrio de valor e
relevncia da informao. De fato, prticas intelectuais tradicionais, como a
classificao ou a elaborao de bibliografias, estabeleciam elos entre os
universos ideais do conhecimento e os acontecimentos espao-temporais
de sua elaborao e enunciao. Nesses registros de metainformao,
autores, instituies cientficas, eventos, editores, arcabouos disciplinares
e temticos apresentam-se como indicadores pragmticos, capazes de
vincular a produo do conhecimento sua recuperao. (GONZLEZ DE
GMEZ, 1996, p. 64, grifo nosso).

Em seu estudo sobre o conhecimento na cultura ocidental, Gonzlez de Gmez (1993) percebe
o deslocamento dos modos do conhecer em trs momentos distintos. No primeiro deles, o momento
ontolgico, o processo de conhecer no se identifica com a estratgia do representar. A ordem do
juzo e do julgamento, do conhecimento que parte da matria do intelecto, neste ponto aquela que
instrumentaliza a aprendizagem. O segundo momento, o gnosiolgico, localizado a partir da ruptura
da unidade crist, espiritual, ontolgica, desvelar um conhecer como representao, isto , o
mundo s pode ser quando representado; do homem entre as coisas do mundo, passamos agora ao
homem entre os signos que presenciam a ausncia da totalidade do mundo. Atravs da semitica
temos um terceiro momento: o indivduo deixa de exercer a fora explicativa do mundo; h a
passagem das filosofias da conscincia s da linguagem; as questes da representao do
conhecimento ganham novos domnios e so aprofundadas atravs de outros ngulos.
No contexto deste terceiro momento identificado por Gonzlez de Gmez (1993), o qual
correlacionamos como paradigma simblico (Martnez Rder, Rendn Rojas, 2004), encontramos
uma diversidade de linguagens flutuantes sobre uma superproduo de contedos. A linguagem,
enquanto complexo de signos que permite armazenagem, organizao e transferncia, vigorar,

546
para a Cincia da Informao, como um objeto de estudo que em breve ser responsvel por um
outro olhar sobre a epistemologia da rea. A experincia com a linguagem demarcada pelo campo
nos permite perceber que este, em certa medida, nunca se afastou absolutamente do primeiro
momento, o ontolgico, onde tudo relacional e onde o mundo carente recontextualizaes. Por
sua vez, os estudos da organizao do conhecimento tiveram na concepo gnosiolgica uma de suas
principais estruturas, a representao. Com o avano das anlises semiticas, a estrutura
pragmatista da rea, j impressa nas prticas, ganhar cada vez mais sedimentao e a linguagem
se emancipa de vez como prioridade metodolgica.
Mostafa (1996, p. 43), em sua crtica ao representacionismo, lembra-nos que a excelncia do
conhecer no passa pelo representar. No entanto, todo conhecer tambm representar. Por isso,
antes deste mbito, o estudo da organizao do conhecimento deve se voltar para o solo do
conhecimento, onde a linguagem primitiva, ou seja, comum aos seus participantes. A
informao, afirma a pesquisadora, aparece recentemente como linguagem, como texto, como
escrita. Desta maneira, antes de tudo, se h um paradigma dentro da CI, este o paradigma da
linguagem (Mostafa, 1996, p. 43). Por isso, o estudo da organizao do conhecimento
estruturalmente uma anlise filosfica da linguagem.
O conjunto destes argumentos demonstram a importncia da relao entre Filosofia da
Linguagem, linguagem e organizao do conhecimento, e demarca um territrio de observao
epistemolgica frutfero e provocador. Sylvian Auroux (1998) destaca-se como um dos principais
nomes dedicados reflexo histrica e filosfica do estudo da linguagem. Seu trabalho, ainda que
no cubra todas as possibilidades de anlise do objeto em questo, permite traar um mapeamento
das chamadas cincias que se dedicam linguagem como horizonte de estudo e de produo
terica.
a partir das lacunas abertas pelo seu estudo que evidenciamos a possibilidade de
aproximao da Cincia como uma das tantas cincias interessadas na linguagem, bem como a
possibilidade de elaborao de uma noo de gramtica peculiar na epistemologia da organizao
conhecimento, demonstrando que a Cincia da Informao no apenas se porta como um saber
deste macrodomnio, como produz mtodo e teorias estratgicas para o desenvolvimento do mesmo.
Conforme aponta Auroux (1998), apenas h uma cincia da linguagem quando podemos identificar
um saber metalingustico, ou seja:

quando se dispe de uma linguagem (metalinguagem) para
representar uma outra linguagem (linguagem objeto). [...] O nascimento
das cincias da linguagem a passagem de um saber epiligustico [o
conhecimento natural de uso da sua lngua que todos a princpio tm] a um
saber metalingustico. (AUROUX, 1998, p. 77, grifo nosso).

Podemos perceber, nos saberes bibliolgicos da Antiguidade e do Medievo, a formalizao
lenta de estratos de um saber sobre a linguagem, orientado para uma metalinguagem cada vez mais
complexa e, ao mesmo tempo, especializada. Estas cincias da linguagem se do, em geral, aps a
constituio da escritura que definidora de uma civilizao, como o caso de Homero e do Coro
transliterados. Ou seja, a fixao conduz a uma metarreflexo sobre o fixado-vivenciado.

Mas o que faz verdadeiramente comear a reflexo lingustica a
alteridade, considerada essencialmente do ponto de vista do escrito.
[...] De outro modo, o impulso do saber lingustico tem uma de suas origens
no fato de que a escrita, fixando a linguagem, objetiva a alteridade,
quer esta provenha da Antiguidade, quando preciso ler um texto que no
corresponde mais ao estado da lngua, ou da novidade, quando se trata de
decifrar um texto que no se conhece antes ou de transcrever uma outra

547
lngua. So, de algum modo, a filologia e a lexicologia que aparecem
primeiro, evidentemente no como disciplinas, mas como modos de
apreenso da linguagem. (AUROUX, 1998, p. 77-78, grifo nosso).

relevante destacar que os estudos de Sylvain Auroux (1998) atravessam permanentemente a
construo do saber bibliolgico tecido entre a Filologia e a Retrica, mas em nenhum momento este
afirmado como saber independente, muito menos como produtor de conceitos e ferramentas para
os saberes da linguagem. Em outras palavras, a organizao do conhecimento aparece
permanentemente em seu discurso, mas nunca afirmada como uma das cincias do macro-domnio
cartografado, o continente epistemolgico da linguagem.
Quando Auroux (1998) trata das cincias da linguagem, no cita a Cincia da Informao, nem
parece-nos distinguir conceitos-disciplinares a Bibliografia, a Biblioteconomia, a Documentao, por
exemplo, como domnios de reflexo historicamente constitudos e em franco desenvolvimento. No
entanto, seu estudo sobre a histria da filosofia da linguagem e da filosofia da linguagem como
especialidade filosfica, no deixa de tratar de instrumentos bibliolgicos e da natureza da
organizao dos saberes.
O autor recorre a todo momento aos domnios que so fronteirios Cincia da Informao
que foram surgindo ao longo do tempo histrico-bibliolgico, como bibliografias, catlogos e fontes
de referncia, como aponta tambm para as transformaes que repercutiram diretamente no fazer
do organizador dos saberes, como a documentao automtica, a teoria matemtica da comunicao
e o tratamento eletrnico da informao, alm de outros tantos saberes intrinsecamente vinculados
e/ou fundamentalmente investigados, como objeto, pelos estudos da OS.
Cabe-nos ressaltar que o trabalho de Auroux (1998) destaca-se, dentre outras caractersticas,
exatamente pela preocupao em pensar a linguagem a partir das tcnicas de construo, de
apresentao, de conservao e de transmisso dos saberes, aes epistmicas empreendidas pela
organizao do conhecimento ao longo do tempo, seja como arte, profisso ou cincia. Ao nos
aproximarmos de um mtodo retirado de uma reflexo filosfica sobre a linguagem, e tomarmos
paralelamente a linguagem como elemento de interligao entre as abordagens aqui analisadas,
procuramos demonstrar os potenciais interpretativos ligados ao posicionamento da CI como uma
cincia da linguagem.

3 Da pragmtica

Novellino (1996) apontar que a partir de 1851 o termo pragmatismo passa a designar a
corrente filosfica predominante nos Estados Unidos, segundo a qual o valor prtico de um
enunciado considerado como critrio de sua verdade ou, pelo menos, de sua aceitabilidade
(Novellino, 1996). Segundo Novellino (1996):

no contexto da filosofia pragmatiscista americana, Peirce distinguiu
trs dimenses do signo, a que Marvin daria nome de semntica, sinttica e
pragmtica. Enquanto a semntica diz respeito relao dos signos com os
objetos aos quais estes remetem e a sinttica relao dos signos entre si, a
pragmtica diz respeito relao de um signo com os seus interpretantes.
(Novellino, 1996).

O pragmatismo um movimento filosfico basicamente identificado a partir dos estudos de
Peirce, que trabalhou com o chamado pragmatismo metodolgico. Este est estruturalmente
relacionado linguagem. O trabalho de Peirce, como descreve Novellino (1996), no pretendia
definir a verdade ou a realidade, mas apenas o significado dos termos, ou melhor, das proposies.

548
Este significado era dado pelo hbito de ao, ou crena veiculada vivncia da proposio. Visto
isso, temos que, de modo geral, o pragmatismo metodolgico pode ser entendido como uma teoria
do significado (Abbagnano, 2000, p. 784).
Trata-se do mencionado ngulo do pragmatismo mais voltado para a definio de um mtodo
cientfico anlise dos conceitos na linguagem cientfica que para construo de uma filosofia da
cincia. Neste mesmo mbito pragmtico, encontra-se Dewey e os italianos Giovanni Vailati e Mrio
Calderoni. Uma outra concepo de pragmatismo observvel, oriunda de W. James e F. C. S.
Schiller, chamado pragmatismo metafsico. Aqui a verdade era reduzida a sua utilidade, e a
realidade ao esprito (Novellino, 1996). Neste outro olhar sobre o pragmatismo, a racionalidade
entendida como sentimento e todas as aes e desejos humanos so condicionantes da verdade,
incluindo a verdade cientfica.
Jacob & Albrechtsen (1999) problematizaro importantes lies do pragmatismo no mbito da
organizao do conhecimento. Dentre essas, esto o antidogmatismo, anteriormente tratado, e o
fallibilism, que aborda o argumento que vai contra a rigidez do racionalismo. Segundo as
pesquisadoras, os princpios pragmticos permitem entender o mundo em sua instabilidade, o
mundo como entidade fadada descontinuidade, considerando os indivduos como atores que
convivem com o imprevisto e que conjugam com seu grupo social o conhecimento que vivenciam e
reconstroem, evidenciando assim o pluralismo da linguagem quotidiana, outra lio do pragmatismo
selecionada por Jacob & Albrechtsen (1999, p. 530).
Para Peirce (1974, p. 12) o pragmatismo busca um mtodo capaz de determinar o verdadeiro
sentido de qualquer conceito, doutrina, proposio, palavra, ou outro tipo de signo. Trata-se, desta
maneira, de um mtodo arquitetnico, capaz de ilustrar de maneira anterior ao fato, o
delineamento do uso que fazemos de nossa linguagem um mtodo da filosofia, como indica o
autor. O estudo da filosofia consiste portanto em reflexo, e o pragmatismo aquele mtodo de
reflexo que assume uma finalidade que gira em torno da questo: tornar claras as idias, expandir
as possibilidades de dilogo entre os discursos cientficos.
Peirce (1974) parte, em sua construo do mtodo, de uma leitura da Crtica da Razo Pura, de
Kant. A necessidade de clarificao da metafsica no mbito da profuso de idias no sculo XIX fez
com que Peirce (1974) vislumbrasse uma filosofia prtica, ou seja, uma teoria do mtodo que
interpretasse os efeitos prticos do pensamento. O pragmatista compreende uma definio clara
dentro de um conjunto de pensamentos e ideias quando esta definio no apresenta uma diferena
prtica ou seja, ela justifica-se na atuao.
Dentro das categorias definidas por Peirce (1974a, p. 23) no mbito do mtodo pragmtico,
temos a presentividade (presentness), ou seja, a faculdade de ver o que estava diante dos olhos, ver
o que se apresenta, no substituindo o fenmeno por uma interpretao metafsica. Quando o
fenmeno surge, a primeira caracterstica que se nota sua presentidade, seu carter de
presentificao na realidade em que o observador se encontra. Como afirma o autor, o pragmatismo
pode ser pr-definido como uma espcie de atrao instintiva por fatos vivos.
Como afirma Moura (2006, p. 6), para Peirce:

a tarefa principal dos filsofos era criar uma doutrina capaz de,
atravs de suas categorias, contribuir para a anlise de todas as
experincias possveis. Tendo como ponto de partida sua insatisfao com
as categorias aristotlicas, consideradas mais lingusticas do que lgicas,
Peirce dedicou-se a elaborao de um novo complexo categorial.

Para Magalhes (2005), o pragmatismo de Peirce o pragmaticismo apoia-se numa filosofia
crtica do senso comum, ou na doutrina do senso comum crtico, e na doutrina escolstica do
realismo. No pensamento peirceano, o realismo indissocivel do pragmatismo. A significao

549
no pode ser concebida como o ato em si, observvel. Ela consiste em uma proposio condicional
concebida, e no nos resultados de um ato de verificao.
Em Peirce (1974) o significado s pode ser resolvido atravs do estudo dos interpretantes, isto
, dos efeitos significados dos signos. Tais efeitos que no so signos, mas tm uma aplicao geral
participam de um certo acontecimento, chamado mudana-de-hbito. Esta uma modificao nas
tendncias de uma pessoa para a ao, que resulta de exerccios prvios da vontade ou dos atos, ou
de um complexo de ambas as coisas.
Os hbitos peirceanos tm graus de fora variados, que vo desde a dissociao completa at
associao inseparvel. Os homens, em sua vivncia diria, constroem hbitos que influenciam seu
comportamento exterior. No h uma lgica a priori que defina o hbito. Este hbito que constitui
a concluso lgica real e verdadeira. Em outras palavras, o hbito deliberadamente constitudo,
autoanalisado, uma definio viva. Assim, para descrever um hbito necessria a descrio da
ao que d origem a ele. (Peirce, 1974b).
O pragmatismo, assim, cumpriria duas funes estruturais dentro do contexto cientfico. Na
primeira, trabalharia para desembaraar-nos ativamente de todas as idias pouco claras - nos
dizeres wittgensteintianos, afastar-nos do enfeitiamento da linguagem. Na segunda funo, atuaria
para apoiar, e tornar distintas, idias em si claras, mas de apreenso mais ou menos difceis.
(Peirce, 1974b).

4 Filosofia da linguagem ordinria em Wittgenstein

Ludwig Wittgenstein, filsofo posicionado pela histria da filosofia como expoente da Filosofia
da Linguagem, marcou esta ltima com sua viso ora atomista ora pragmtica sobre as
possibilidades da compreenso. Wittgenstein procurou mostrar, em sua segunda fase terica
representada centralmente pela publicao da obra Investigaes Filosficas, e perifericamente pelos
trabalhos compilados nas edies Livro Castanho e Livro Azul, entre outros , que a significao das
palavras se d pelo uso das mesmas no discurso. Nesta obra, o filsofo demonstra que se trata de um
encantamento equivocado a ocorrncia de termos fora de um sentido. Na verdade um erro um
erro de linguagem esta existncia. O uso do termo aquilo que lhe confere significado.
Nos primrdios de suas reflexes, no entanto, o jovem Wittgenstein acreditava existir uma
ordem a priori no mundo. Para isto, concebe este como uma reunio de fatos a reunio de coisas
que mantm uma relao lgica entre si. Assim, no princpio de suas argumentaes, o mundo
possua uma estrutura fixa (Monk, 1995, p. 126-127). Estas reflexes so as marcas tericas de sua
primeira fase discursiva, definida pela publicao do Tratado Lgico-Filosfico, escrito entre 1917 e
1918, e publicado em 1921, com o filsofo combatendo na Primeira Guerra Mundial. A preocupao
com os termos e seus significados , nesta obra, discutida por Wittgenstein a partir de fundamentos
lgicos, na busca por uma essncia para os usos da linguagem.
Como afirma Oliveira (2002, p. XXIII), no Tratado, a lgica forma (...) o quadro de
estruturao do nosso conhecimento do mundo pr-existente. Deste modo, a investigao lgica
significa a investigao de toda regularidade; fora da Lgica tudo aleatrio, acidental (p. XXVIII).
O prprio prefcio de Bertrand Russel (2002, p. 2-3) para a obra corrobora esta procura lgica:
Wittgenstein ocupa-se das condies necessrias a um simbolismo preciso, i.e., um simbolismo na
qual uma frase significa qualquer coisa de definido. Em outras palavras, toda a funo da
linguagem ter sentido e ela s satisfaz esta funo na medida que se aproxima da linguagem
ideal postulada (Russel, 2002, p. 2-3).
As diferenas sensveis na direo de outros olhares perceptveis nos escritos posteriores do
filsofo que fazem com que os intrpretes de sua obra o dividam correntemente em primeiro e
segundo Wittgenstein guardam alguns elementos abertos pela discusso do Tratado Lgico-
Filosfico. Assim, para o Wittgenstein do Tratado como para todo o pensamento do filsofo, a filosofia
uma crtica da linguagem (Wittgenstein, 2002, p. 53) , seu objeto a clarificao dos

550
pensamentos. Filosofia, pois, no pensamento wittgensteiniano em geral no uma doutrina, mas
uma atividade (Wittgenstein, 2002, p. 63), uma atividade de esclarecimento.
Findada a guerra, com dificuldades para publicar seu Tratado, o filsofo parte para uma
pequena cidade austraca, Trattenbach, onde passa a dar aulas para crianas (Monk, 1995, p. 183-
184). Durante a dcada de 1920, enquanto o Tratado Lgico-Filosfico comeava a repercutir - os
estudos no Crculo de Viena passam a conferir grande nfase obra, a partir de 1929; neste mesmo
ano, o citado livro de Wittegenstein aceito como tese por Moore e Russel (Monk, 1995, p. 250) a
preocupao com a linguagem faz o filsofo construir e publicar um dicionrio junto de seus alunos,
baseado na experincia de suas aulas (Monk, 1995, p. 211), ou seja, baseado em uma gramtica
primitiva, e no oficial. sua aproximao ao pragmatismo em ntido andamento. Aqui, h o
reconhecimento filosfico de que a linguagem pode ser usada pelas comunidades sob mltiplas
formas, e todas podem configurar-se como perfeitamente vlidas, desde que coerentes com o
quotidiano de seu uso.
Em 1932, o trao antropolgico do mtodo filosfico de Wittgenstein comeou a aparecer
(MONK, 1995, p. 240; MORENO, 2000). a partir deste perodo que o filsofo discute o que se tornaria
um de seus principais conceitos: os jogos de linguagem. A princpio, este conceito apareceria como
um mtodo: Wittgenstein imaginava, dentro das salas de aula, inmeras situaes de uso das
palavras, inmeros contextos, e tecia as possibilidades de uso dos termos. A tcnica filosfica ser
posteriormente interpretada como uma terapia, uma terapia que procurava libertar a linguagem
das confuses filosficas, decorrentes da abordagem que considerava a linguagem parte do seu
lugar na corrente da vida (MONK, 1995, p. 299). Este mtodo ganhar a caracterizao de conceito
em seus textos seguintes e definir o perfil filosfico de seu pensamento: a obra wittgensteiniana
posterior ao Tratado marcada pela anlise exaustiva da palavra e seus contextos possveis, pela
ampla explorao dos mais diversos jogos de linguagem, ou atmosferas sociais de uso das palavras.
(MORENO, 2000).
Ainda na dcada de 1920, Wittgenstein dita a um datilgrafo os pensamentos posteriormente
publicados como Observaes Filosficas, obra que marca os diferentes olhares que o filsofo passava a
conferir filosofia (Monk, 1995, p. 268). Aqui, Wittgenstein (2005, p. 57) dir: a gramtica
proporciona linguagem os graus necessrios de liberdade. o princpio de um pensamento
orientado para a dinmica dos jogos de linguagem, para as palavras como ao, e no como
representao; voltado para a fenomenologia dos jogos de linguagem, sua descrio em busca das
regras sociais que constituem a gramtica. (Wittgenstein, 2005, p. 37).
Na primeira metade da dcada de 1930, Wittgenstein oferece aulas para um grupo seleto de
alunos. A compilao de suas aulas ser registrada nas publicaes Livro Azul e Livro Marrom. As duas
obras ampliam a discusso pragmtica iniciada na dcada anterior pelo filsofo, argumentao que
ir at os escritos finais do filsofo, como a reunio de textos do ttulo Da Certeza, redigidos no
ltimo ano de vida de Wittgenstein. No Livro Azul incorporada a esta reflexo a noo de
semelhanas de famlia, um possvel substituto do conceito de essncia, apresentado no Tratado
Lgico-Filosfico. Se a essncia no primeiro Wittgenstein passava por uma nsia de generalizao,
com as semelhanas de famlia o filsofo conferia um olhar relativista sobre a filosofia e a sua
linguagem. No Livro Marrom, Wittgenstein intensifica seu mtodo filosfico, aprofundando o
conceito de jogos de linguagem. (Monk, 1995, p. 304-310).
O Livro Azul, ditado aos alunos entre o ano escolar 1933-34, em Cambridge, parte de um
questionamento central: o que o sentido de uma palavra? (Wittgenstein, 1992a, p. 25). Suas
respostas para esta pergunta orientam-se j por uma ordem pragmtica, e no formalista, como na
obra Tratado Lgico-Filosfico. Aquilo que anima o signo, nos revela Wittgenstein (1992a, p. 30), a
sua utilizao. Desta maneira, dar uma razo para algo que se fez ou disse significa mostrar um
caminho que conduz a esta ao; em alguns casos significa descrever o caminho que se utilizou;
em outros, significa descrever o caminho que a conduz e que est em conformidade com certas
regras aceitas. (Wittgenstein, 1992a, p. 43).
Aparece neste contexto terico o esclarecimento inicial do conceito de jogos de linguagem.
Narra Wittgenstein (1992a, p. 47):

551

chamarei muitas vezes a vossa ateno para aquilo que chamarei jogos
de linguagem. Estas so maneiras mais simples de usar signos do que os da
nossa linguagem altamente complicada de todos os dias. Os jogos de
linguagem so as formas de linguagem com que a criana comea a fazer
uso das palavras. O estudo dos jogos de linguagem o estudo das
formas primitivas da linguagem ou de linguagens primitivas. (...)
Quando examinamos essas formas simples de linguagem, a nvoa mental
que parece encobrir o uso habitual da linguagem desaparece.

O que dificulta o estudo dos jogos de linguagem a histrica busca por generalidade que os
filsofos e cientistas tm praticado, a busca por essncias comuns ao mundo, pela ordem a priori da
realidade social (Wittgenstein, 1992a, p. 47). Para tal, o filsofo apresenta as definies que
repercutiriam em toda a sua obra: o sentido que tem para ns numa expresso caracterizado pelo
uso que dela fazemos. O sentido no um acompanhamento mental da expresso (Wittgenstein,
1992a, p. 113); O uso da palavra, na prtica, o seu sentido (Wittgenstein, 1992a, p. 118).
O Livro Marrom traduzido para o portugus tambm como Livro Castanho e registrado pelos
alunos de Wittgenstein no ano letivo de 1934-35 aprofundar a noo e o mtodo proporcionado
pelos jogos de linguagem. Para o filsofo (Wittgenstein, 1992b, p. 14), os jogos de linguagem no so
partes incompletas de uma linguagem, mas linguagens completas em si mesmas, sistemas
completos da comunicao humana. O que governa estes jogos de linguagem so as regras,
imaginando o termo regra em seu uso vulgar, ou seja, social (Wittgenstein, 1992b, p. 25).
Wittgenstein (1992b) tambm procura aqui explorar com mais argumentos a noo de linguagem
primitiva (p. 42), ou palavras primitivas (p. 101), ou seja, a partir de um olhar antropolgico,
apreende toda linguagem em sua construo coletiva, chegando at o conceito de semelhanas de
famlia.
O filsofo, ainda no Livro Marrom, procura abordar a compreenso dos diferentes jogos de
linguagem perguntando-se por um sentimento de familiaridade entre estes jogos (Wittgenstein,
1992b, 1992b, p. 67). Este sentimento o esclarecimento dos fundamentos antropolgicos da
argumentao wittgensteiniana que se segue a publicao do Tratado Lgico-Filosfico, ou seja,
quando imaginamos o uso da linguagem, estamos nos referindo a uma cultura ((Wittgenstein,
1992b, 1992b, p. 76). Sob este prisma, a compreenso no um processo mental isolado da faculdade
razo. Antes, a compreenso a experincia de compreender (Wittgenstein, 1992b, 1992b, p.
101). Esta experincia uma convergncia entre reconhecimento e familiaridade, ou seja, a
compreenso um deslocamento contextual dentro de uma sociabilidade, ou atmosfera social.
(Wittgenstein, 1992b, 1992b, p. 115).
No final dos anos 1930, Wittgenstein prepara o texto que viria a constituir a obra que marca o
que muitos autores reconhecem como o ncleo da segunda fase de seu pensamento, as Investigaes
Filosficas. No entanto, com a Segunda Guerra Mundial, no consegue fechar a obra que vinha
desenvolvendo (MONK, 1995, 369). Esta obra, que o filsofo no ver publicada, chegar at os
leitores como uma condio provisria deixada por Wittgenstein em 1949. (Monk, 1995, p. 483).
O antidogmatismo de Wittgenstein agora explicitamente evidenciado. No h um mtodo
da filosofia, mas sim mtodos (1979, p. 58). Ou seja, uma causa principal das doenas filosficas
a dieta unilateral, isto , alimentamos nosso pensamento apenas com uma espcie de exemplos
(1979, p. 156-157). Do mesmo modo, a posio anti-representacionista do filsofo tambm
afirmada. Em lugar de representabilidade pode-se aqui dizer tambm: apresentabilidade num meio
determinado de apresentao (Wittgenstein, 1979, p. 124). A vida no est nas palavras, mas no
dilogo dos homens e seus jogos de linguagem. Todo signo sozinho parece morto. O que lhe d
vida? - No uso, ele vive (Wittgenstein, 1979, p. 131). Alm disso, o anti-essencialismo
wittgensteiniano nas Investigaes Filosficas determinado. A lgica no mais pode responder pela
preciso do mundo.

552

5 Ranganathan e a biblioteca inacabada

Shiyali Ramamrita Ranganathan (1892-1972) nasceu no estado de Madras (Tmil Nadu) na
ndia e pode ser considerado um dos pensadores mais originais da Biblioteconomia. O filsofo e
matemtico indiano coloca a biblioteca como centro da transformao social e poltica, assim como
o fazem as geraes de Melvil Dewey e Charles Cutter nos Estados Unidos e, na Europa, a corrente
documentalista a partir de Paul Otlet. Diferentemente, porm, destes, encontramos naqueles
grandes clares na leitura ocidental sobre o pensamento do mestre das 5 Leis da Biblioteconomia,
principalmente pela dificuldade da recepo do snscrito e da complexidade que h no bojo da
filosofia indiana como um todo. Especificamente, o lxico ranganathiano povoado por hipotextos e
aluses ao misticismo vdico e ao hindusmo.
A experincia da viagem de Ranganathan ao ocidente fundamental para a profundidade de
seu conhecimento, principalmente no que diz respeito complexidade da reunio de duas formas de
observar o mundo to distantes, como a britnica e a oriental. De uma viso lgica sobre as formas
do pensar e do problematizar a organizao do conhecimento, oriunda de sua formao como
matemtico, o filsofo desenvolver um trabalho terico que atingir a pragmtica das comunidades
em seus contextos locais de desenvolvimento.
Ranganathan (2009), uma vez indicado para assumir a biblioteca da Universidade de Madras,
parte para School of Librarianship da University of London para realizar sua formao como
bibliotecrio. O resultado um rpido e profundo processo de apropriao da tradio anglfona,
principalmente dos fundamentos democrticos de elaborao da prtica da organizao do
conhecimento. Esta passagem, no entanto, apenas um captulo de seu longo processo de
construo da filosofia biblioteconmica. Ao retornar Madras, Ranganathan recupera sua viso
filosfica de cunho matemtico e as maneiras de refletir presentes na cultura indiana, postula
dedutivamente as leis da Biblioteconomia e, no contexto de elaborao terica, de justificativa
mstica e de demonstrao aplicada de suas dedues, concebe uma viso intrinsecamente
pragmtica do fazer biblioteconmico.
Esta viso , em toda sua extenso, pautada no olhar sobre o outro, em um ponto de vista a
posteriori das relaes entre artefatos bibliogrficos e usurios de tais artefatos. O conceito de
biblioteca, sob o vis pragmtico, se estabelece, deste modo, a partir de um olhar sustentado pelo
uso, como anuncia sua primeira lei, e no pela sua condio prvia de instituio que guarda o
conhecimento. S h biblioteca se existe uso; s existe livro sob a existncia de leitores. E
tanto a biblioteca como o livro so conceitos que s podem ser pensados em uma cultura
democrtica, onde o acesso no apenas ilimitado, como as formas de apropriao dos artefatos
bibliogrficos so igualmente foco de construo dos pressupostos da filosofia da Library Science
anglfona agora ampliada pela concepo do conhecimento de linha indiana.
Da generalizao do pensamento biblioteconmico em cinco grandes dedues, sustentadas
por anlises indutivas, aos princpios de facetao do universo a partir das prticas bibliotecrias,
Ranganathan (2009) consegue utilizar mtodos filosficos tradicionais interpenetrados por uma
abordagem que claramente trataramos hoje pelo rtulo em aberto ps-moderno. Sua primeira lei,
de onde partem as demais, encontra sua gnese, segundo seu relato, j nas altas horas da noite, em
1928, quando, de volta ndia aps os estudos na Inglaterra, trabalhava na biblioteca e um antigo
professor, Edward B. Ross, lhe disse: Voc quer dizer, os livros so para usar; voc quer dizer que
esta a sua lei. Parte daqui a cosmologia da biblioteca ranganathaniana. (Ranganathan, 2009, p.
3).
Da nfase na preservao, a filosofia biblioteconmica indiana representada pelo matemtico
estabelece, em acordo com o desenvolvimento das linhas de pensamento da Biblioteconomia norte-
americana, da Documentao otletiana e da Cincia da Informao anglfona como um todo, o foco
no acesso como principal marca da prtica do bibliotecrio. Ranganathan (2009, p. 7) nos demonstra
que a perseverana na mxima os livros existem para serem preservados usurparia o lugar da

553
primeira lei, os livros so para usar. O indiano lembra que, antes da prensa, a cpia do
Mahabharata levava toda uma vida e, assim, justificava-se a negligncia com a primeira lei.
Esto presentes, pois, na biblioteca de Ranganathan (2009), o enfoque na acessibilidade, a
partir da localizao da instituio no seio de uma comunidade quando me ouviram sugerir uma
localizao na rua comercial, que atravessa o corao da cidade (Ranganathan, 2009, 2009, p. 11) e
da abertura em horrios cada vez mais amplos respondem, inicialmente, ao que o indiano trata de
magia do mantra da primeira lei. Por esta lei, o conceito de biblioteca aqui colocado s existe no
uso Uma biblioteca moderna no pode existir sem leitores. (Ranganathan, 2009, 2009, 42).
Enquanto a Terceira Lei aponta para uma ampla investigao retrica dos potenciais da
publicidade aplicada na biblioteca, a Quarta Lei nos permite pensar a biblioteca como metfora da
cidade logolgica: poupar o tempo do leitor significa criar uma infraestrutura que permita a
dinmica de circulao de conhecedores e conhecimento, contando com medidas de perda de
tempo, livre acesso, arranjos classificados para as estantes, sinalizao nas vias onde a informao
pode ser encontrada, catalogao cooperativa, construo de um servio de referncia especializado
no atendimento.
Esse ltimo estaria subdividido em dois: servio de referncia rpida e servio de referncia de
longo alcance. O primeiro seria representado por balces de informao de fcil localizao para
orientao dos leitores e instruo, alm de consultas simples; o segundo, responderia por um
contato ampliado entre leitor e servio de referncia, que aponta para o acompanhamento do
bibliotecrio at as estantes com o usurio. (Ranganathan, 2009, 2009, p. 226).
Da Quinta Lei, Ranganathan (2009, p. 263), retira o princpio vital das bibliotecas: [...] ser um
instrumento de educao universal que rene e difunde livremente todos os recursos de ensino e
dissemina o conhecimento com a ajuda delas. A grande biblioteca em Ranganathan (2009, p. 48)
est em uma inverso da filia tradicional do pensamento biblioteconmico: o foco continua sendo a
amizade ao conhecimento, mas este no est nos livros, mas no usurio precisamente, no dilogo
com o usurio. O bibliotecrio deve por isto ser amigo, filsofo e guia para o usurio, deve servir
comunidade.
A grande biblioteca mira-se no mantra educao para todos foco da segunda lei, a cada
leitor o seu livro -, ou seja, democracia. Sua suprema sabedoria, afirma Ranganathan (2009, p. 59),
est na arte da estratgia de guerra A Segunda Lei no aceitar uma derrota. No final, vencer.
Esta a nossa f. Ela responderia pela quebra das diferenas de tratamento entre homens e
mulheres, entre homens do campo e da cidade, entre crianas e adultos, entre negros e brancos,
entre toda classe de trabalhadores, buscando a afirmao de igualdade. Est aqui um princpio claro
de contextualidade cada regio responde por um tipo de interesse. A democracia ilimitada
defendida pela Segunda Lei responde, por fim, pelo direito irrestrito ao ensino e ao entretenimento.
(Ranganathan, 2009, 2009, p. 92).
No caso da segunda lei no pensamento ranganathaniano interessa-nos fundamentalmente o
conceito intraduzvel para o mundo ocidental: digvijaya. O termo significaria na ndia Medieval o
processo de conquista no sentido de alastrar sua influncia sobre outros povos. Em linhas gerais,
trata-se-ia de uma campanha militar e, por extenso, da vitria desta campanha vivenciada em um
espao territorial vasto. A digvijaya a responsvel por levar a boa nova democrtica anuncia pela
incansvel Segunda Lei (Ranganathan, 2009, p. 94).
A digvijaya biblioteconmica s pode ser pensada, segundo o filsofo indiano, se reconhecido o
movimento bibliotecrio dos Estados Unidos no sculo XIX, quando ali se tornou a terra das
bibliotecas (Ranganathan, 2009, 2009, p. 95). Sua construo envolveria uma ao poltica centrada
no multiculturalismo, cujo projeto discursivo deveria resultar na negociao com o estado de uma
legislao bibliotecria passvel de fazer cumprir o mantra da Segunda Lei (Ranganathan, 2009, 2009,
p. 114) Se existe uma lio importante, que a histria da digvijaya da Segunda Lei salienta
claramente, a responsabilidade do ministro da educao pelo fornecimento de livros para todos.
(Ranganathan 2009, p. 137).

554
Ranganthan (2009, p. 49) conclui sua explicao sobre a primeira lei convocando um outro
mantra, a partir das celebradas palavras do Senhor Sri Krishna: teu direito ao e jamais aos
frutos. O mantra de Ranganathan (2009) parece soar, repetido, como um sino eterno e preciso,
dentro da web Jamais se deve esquecer que nas bbiliotecas os livros so reunidos para serem
usados, preparados para serem usados, guardados para serem usados e oferecidos para serem
usados. (Ranganathan, 2009, p. 41).
Da Segunda Lei, ou seja, do seu esboo da expedio de conquista do mundo, resta uma
orao: Levar o saber s portas de quem dele carece e ensinar a todos a entenderem o que certo! /
Nem mesmo a distribuio de toda a terra se compara a essa forma de servio. (RANGANATHAN,
2009, p. 137). A digvijaya, a marcha (retrica) pela conquista do mundo pelas bibliotecas, ,
segundo Ranganathan (2009, p. 303), virtualmente uma breve histria do movimento por
bibliotecas em diferentes pases.

6 Os livros no so para o uso, so o prprio uso: Ranganathan e Wittgenstein,
linguagem e conhecimento

A Filosofia da Linguagem e sua profunda relevncia para a Cincia da Informao, como
analisado por Blair (2003), encontra em Ranganathan uma viso muito prxima dos estudos de
linguagem ordinria dos anos 1930, com destaque para o trabalho wittgensteiniano. Uma vez que a
preocupao de Wittgenstein sempre esteve direcionada para os problemas da linguagem e da
representao-comunicao da mesma, a obra do filsofo ganha dimenses mais profundas para
anlise em diversos campos de investigao dentro da Cincia da Informao. So exemplos as
inseres wittgensteinianas empreendidas por Novellino (1998) no estudo acerca da transferncia da
informao, no trabalho de Gonzlez de Gmez (1993) acerca das questes epistemolgicas da
representao do conhecimento. Mais do que isto, na reflexo histrica do que hoje tratamos por
filosofia da informao no campo, podemos identificar uma linha de argumentao extremamente
profcua entre a pragmtica em Ranganathan e Wittgenstein. Uma das questes mais fortes desta
linha estaria no conceito de uso, noo revolucionria para os contextos atuais da reflexo
epistemolgica do campo.
A noo de uso se apresenta como um dos fundamentos da filosofia de Wittgenstein e sua
interao com a conexo entre teoria e prtica na organizao do conhecimento ranganathiana
objetiva. Em Wittgenstein (1979), a filosofia deve pensar o prtico, deve resolver a questo o que
no deve ser pensado sobre uma perspectiva imediatista, por isso, antes, deve-se abordar a filosofia
do quotidiano, das linguagens primitivas, a prtica tambm como reflexo. Sua construo filosfica
vai de encontro aos pressupostos dos estudos de organizao do conhecimento como rea de
compreenso de usos e feituras do conhecer. Em Ranganthan (2009), jamais podemos pensar a
construo do saber sem o olhar sobre as prticas de apropriao do conhecimento dos usurios,
viso clara de sua Primeira Lei.
Desdobra-se da questo do uso, a noo de sentido, obtida pelo vis pragmtico. A categoria
sentido em Wittgenstein e na Cincia da Informao redimensionada por uma leitura
ranganathaniana uma das instncias que mais demandam investigaes e discusses exaustivas.
Em Wittgenstein (1979), uma das formulaes interrogativas, dentre aquelas que demarcam toda a
problematizao de seu percurso filosfico, est: o que isto quer dizer? Ser a partir desta indagao
que o filsofo iniciar sua caminhada at chegar a uma abordagem pragmtica.
Do mesmo modo, Ranganathan (2009) no consegue desenvolver sua filosofia
biblioteconmica antes de estabelecer a deduo geral pautada na noo de uso: a partir do mantra
da primeira lei, e apenas a partir dele, que podemos imaginar a amplitude da prtica da organizao
do conhecimento. Sem um ponto de vista a posteriori, que se estabelece a partir do uso, no podemos
determinar uma Filosofia da Biblioteconomia em seu carter geral. O sentido, desde a noo de
Biblioteca definio dos contedos de cada livro, s pode ser dado se reconhecida a fora
pragmtica dos processos de apropriao do conhecimento.

555
A partir da compreenso deste ponto de inflexo pragmtico sobre o conhecer, possvel
apreender o que est por trs da primeira lei. S pode existir o livro como processo de apropriao
do prprio livro. Antes do mantra os livros so para o uso, preciso compreender, com a ampla
viso pragmtica ranganathaniana, que os livros so o prprio uso. Seria impossvel, no pensamento
filosfico biblioteconmico do bibliotecrio de Madras, argumentar de maneira contrria. Sem
acesso e sem apropriao o conceito de livro no pode ser tomado pela Biblioteconomia. Em outras
palavras, para a Filosofia da Biblioteconomia, no existe o conceito de livro, se este for apartado da
noo de uso. Isto posiciona Ranganathan no mbito da filosofia da linguagem ordinria dos anos
1930, demonstrando sua semelhana com as vises do segundo Wittgenstein.

Consideraes finais

Destacando a necessidade de reviso filosfica da organizao do conhecimento,
demonstramos como a pragmtica, hoje discurso comum na epistemologia da Cincia da
Informao, pode receber olhares oriundos de outras demarcaes de nosso pensamento. o caso do
olhar ranganathaniano sobre nossa prtica. Sua viso de uso e suas possibilidades de pensar o
significado a partir da apropriao contingencial do conhecimento so contemporneas de
importantes anlises filosficas, como aquelas empreendidas por Wittgenstein, e refundam nosso
pensamento.
Destaca-se, nesse ltimo caso, uma importante reviso crtica entre a expresso consagrada
organizao do conhecimento e a noo organizao dos saberes para se pensar o corao da
reflexo de uma Cincia da Informao em sua construo epistemolgica no sculo XX. sabido
que o conceito organizao do conhecimento remonta a tradio anglfona da Library Science do
sculo XIX. Ela reflete, em certa medida, um modo de conhecer e um modo de conceituar o
conhecimento tpicos do oitocentos, pautados no positivismo e em uma viso emprica do exerccio
da reflexo humana.
Se retirada a carga cientificista do termo conhecimento, percebemos que, com a
pragmtica, assim como Wittgenstein o faz, Ranganathan demonstra que a ideia por trs do
conhecer perpassa todo tipo de saber. Se conhecimento se confunde, aps o sculo XVIII, com
cincia emprica, com a pragmtica oitocentista, o pensamento wittgensteiniano e a filosofia
biblioteconmica ranganathaniana problematizaro a multiplicidade dos saberes, e no a unidade
logicista do conhecimento.
Neste sentido, a expresso organizao dos saberes responde por um argumento filosfico-
histrico: se pensarmos em organizao do conhecimento, tenderamos a abordar
fundamentalmente do sculo XX, momento em que este conceito , de fato, fundamentado na
paisagem discursiva da CI. Ao contrrio, um significante para pensar a organizao como conceito
fundacional em Ranganathan se aproximaria mais da ideia de organizador dos saberes. Completa-
se esta justificativa o uso do termo saber no plural: temos aqui a ideia de conhecimento como
prtica socialmente construda e pautada na diversidade das comunidades e na complexidade das
diferenas, no apenas em um s meio como o caso do contexto acadmico. Uma espcie de
conhecimento que est no uso da linguagem experenciado por cada grupo de indivduos em
localidades distintas: apenas assim poderamos pensar uma epistemologia do campo hoje predicado
como da informao.

556
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558
JULIUS OTTO KAISER NA ORGANIZAO DA INFORMAO
contribuies para classificao, catalogao e indexao de assuntos
1

RODRIGO DE SALES
[email protected]

[email protected]

Resumo A indexao sistemtica de Kaiser trouxe contribuies substanciais para a concepo do quadro
terico da organizao da informao, especialmente no que se refere ao Tratamento Temtico da Informao
(TTI) de tradio anglo-americana, que se configura pelas abordagens da classificao, da catalogao e da
indexao de assuntos. Desse modo, objetiva-se evidenciar em que aspectos a obra de Kaiser efetivamente
contribuiu para o desenvolvimento das referidas abordagens, de onde decorrem os seguintes objetivos
especficos: a) contextualizar a presena de Kaiser no cenrio do TTI de tradio anglo-americana; b)
estabelecer os dilogos possveis entre Kaiser e os tericos desse cenrio; c) identificar os aspectos
fundamentais do trabalho de Kaiser que se relacionam com o desenvolvimento da classificao, da catalogao
e da indexao de assuntos. Como abordagem metodolgica, adotou-se o pragmatismo de William James, cujo
foco recai nos caminhos percorridos e nas possibilidades de realizao das teorias e mtodos. A observao
pragmtica foi respaldada empiricamente pela anlise das obras de Kaiser e de textos de autores da corrente
anglo-americana de TTI, tais como Cutter, Ranganathan, Foskett, Mills, Coates, Hunter, Bakewell, Rodrguez,
Knight, Witty, Dousa, entre outros. Os resultados revelam que, relativamente classificao de assuntos,
Kaiser teve importncia fundamental ao influenciar na construo do mtodo analtico-sinttico, espinha
dorsal da teoria da classificao facetada de Ranganathan. Alm disso, Kaiser compartilhou com Otlet e com
Ranganathan o desenvolvimento de uma nova forma de analisar assuntos, baseada nos elementos
constituintes dos contedos de documentos. No que diz respeito catalogao de assuntos, Kaiser contribuiu
ao avanar os princpios preconizados por Cutter, relativos padronizao de declaraes de assuntos. Em
termos de indexao de assuntos, a contribuio de Kaiser reside na definio de um mtodo para construo
de ndices sistemticos de assuntos, o que, de certa forma, potencializou a indexao enquanto abordagem
metodolgica para construo de ndices.

Palavras-chave Tratamento Temtico da Informao. Indexao. Julius Otto Kaiser.

Abstract Kaisers systematic indexing led to important contributions to the conception of the theoretical
framework of information organization, especially regarding the Anglo-Americans tradition of Subject
Approach to Information (SAI), characterized by the classification, cataloguing and indexing approaches. In
this way, we aim to demonstrate in what aspects Kaisers work effectively contributed to the development of
the approaches mentioned, from which the specific goals derive: a) to put in context Kaisers presence in the
Anglo-American tradition of SAI scenario; b) to set forth the possible dialogues between Kaiser and academics
in the scenario; c) to identify the fundamental aspects of Kaisers work that relate to the development of
classification, cataloguing and indexing. As a methodological approach, we adopted William Jamess
pragmatism, which focuses on the paths taken and the possibilities of carrying out theories and methods.
Pragmatic observation was empirically supported by the analysis of Kaisers works and texts of the SAI Anglo-
American branch, such as Cutter, Ranganathan, Foskett, Mills, Coates, Hunter, Bakewell, Rodrguez, Knight,
Witty and Dousa, among others. The results show that, regarding subject classification, Kaiser had
fundamental importance as he influenced the construction of the analytical-synthetic method, the basis of
Ranganathans theory of faceted classification. Kaiser also shares with Otlet and Ranganathan the

1
Este trabalho resulta de pesquisa de doutorado concluda no Programa de Ps-Graduao em Cincia da Informao da
Universidade Estadual Paulista (UNES/Marlia) em novembro de 2012 (Sales, 2012).

559
development of a new way to analyze subjects, based on elements that constitute the content of documents.
Kaiser also contributed to subject cataloguing by advancing the principles professed by Cutter regarding the
standardization of subject statements. In terms of subject indexing, Kaisers contribution resides in the
definition of a method to make systematic subject indexes, which, in a way, boosted indexing as a
methodological approach to building indexes.

Keywords Subject Approach to Information. Indexing. Julius Otto Kaiser.

Introduo

A organizao da informao (OI), enquanto rea de estudo que integra a Cincia da
Informao, possui natureza mediadora na medida em que propicia a interlocuo entre os
contextos de produo e de uso da informao (Guimares, 2008). A rea de OI constituda por duas
dimenses: a dimenso descritiva (voltada aos elementos relativos s questes formais dos
documentos) e a dimenso temtica (voltada aos contedos informacionais). Essa dimenso temtica
denominada por Foskett (1973) como Tratamento Temtico da Informao (TTI), expresso que
ser empregada ao longo do presente trabalho.
Historicamente, o TTI desenvolveu-se, pode-se afirmar, sob trs abordagens: a catalogao de
assunto (subject cataloguing) de matriz norte-americana (a partir do final do sculo XIX), a indexao
2

(indexing) de matriz inglesa (a partir da primeira metade do sculo XX) e a anlise documental
(analyse documentaire) de matriz francesa, notadamente a partir da dcada de 1960. Embora essas trs
vertentes tericas se diferenciem quanto nfase dada aos seus fazeres catalogao de assunto
focada no desenvolvimento de produtos (como catlogos), indexao focada no desenvolvimento de
instrumentos (como sistemas de classificao e tesauros) e anlise documental focada no
desenvolvimento de referenciais terico-metodolgicos dos procedimentos do TTI (Guimares, 2008
e 2009) elas constroem, juntas, o arcabouo terico do TTI.
Para os norteamericanos o TTI era a prpria catalogao de assuntos, pois foi no mbito,
sobretudo, da Library of Congress, que a organizao temtica da informao teve lugar nos Estados
Unidos. Da mesma forma que os estadunidenses visualizaram essa organizao temtica sob a tica
da catalogao de assuntos, os ingleses conceberam esse desenvolvimento de tratamento temtico
sob o prisma da indexao (indexing), ao passo que os franceses o fizeram sob o olhar da anlise
documental. Assim, numa perspectiva histrica, para os americanos o TTI a catalogao de
assuntos, para os ingleses o TTI a indexao e para os franceses o TTI a anlise documental.
Obviamente que no se pode reduzir em demasiado esse arcabouo terico a ponto de restringi-lo a
essas trs vertentes, pois essa apenas uma possibilidade de configurao terica do TTI. Mas, como
ser apresentado ao longo deste trabalho, tal configurao servir para assentar as discusses aqui
tecidas, as quais transitaro especificamente nas correntes inglesas e americanas.
Nesse contexto, esforos em prol de uma sistematizao do fazer profissional, no que tange
organizao da informao, comearam a ser empenhados a partir da segunda metade do Sculo XIX
proporcionando, assim, princpios tericos fundamentais para a Cincia da Informao.
Dentre os precursores do TTI h que se destacar o papel do bibliotecrio alemo Julius Otto
Kaiser (1868-1927) com sua indexao sistemtica (systematic indexing). A indexao sistemtica
desenvolvida por Kaiser no final do Sculo XIX e incio do Sculo XX pode ter trazido contribuies
substanciais, mas ainda no to reconhecidas, para a concepo do quadro terico da organizao da
informao, especialmente no que se refere ao Tratamento Temtico da Informao (TTI). O
presente estudo resgata a figura de Kaiser como referencial terico no universo do TTI de tradio
anglo-americana, que se configura pelas abordagens da classificao de assuntos (ou classificao
bibliogrfica), da catalogao de assuntos e da indexao.

2
Relativo vertente inglesa de TTI, faz-se necessrio ressaltar a existncia de pelo menos duas dimenses: a classificao
bibliogrfica, voltada predominantemente ao plano notacional da representao do conhecimento e, a indexao de
assuntos, centrada no plano verbal da representao do conhecimento.

560
Desse modo, o objetivo principal do estudo foi o de evidenciar em que aspectos o trabalho de
Kaiser efetivamente contribuiu para o desenvolvimento da classificao, da catalogao e da
indexao. Para tanto, definiram-se, tambm, alguns objetivos de carter mais especfico: a)
contextualizar a trajetria profissional de Kaiser no cenrio do TTI de tradio anglo-americana; b)
estabelecer os dilogos tericos possveis entre Kaiser e os tericos desse cenrio; c) identificar os
aspectos fundamentais do trabalho de Kaiser que se relacionam com o desenvolvimento da
classificao, da catalogao e da indexao de assuntos.
Adotando como abordagem metodolgica o pragmatismo de William James, cujo foco recai
nos caminhos percorridos e nas possibilidades de realizao das teorias, investigou-se como a
indexao sistemtica de Kaiser trouxe ao campo do TTI elementos importantes para seu
desenvolvimento terico. A observao pragmtica foi respaldada empiricamente pela anlise das
obras de Kaiser e de textos de autores da corrente anglo-americana de TTI, tais como Cutter,
Ranganathan, Foskett, Mills, Coates, Hunter, Bakewell, Rodrguez, Knight, Witty, Dousa, entre
outros.

1 Abordagens tericas do tratamento temtico da informao: tradio Anglo-
Americana

Para destacar a presena de Kaiser no quadro terico do Tratamento Temtico da Informao
necessrio, primeiramente, traar um panorama histrico das abordagens que ajudam a compor
esse arcabouo terico-metodolgico.
Conforme apresentado anteriormente, Tratamento Temtico da Informao (TTI) a
denominao que Foskett (1973) adotou para a dimenso temtica (responsvel pelo tratamento dos
contedos informacionais) da organizao da informao. Esse universo, na tradio anglo-
americana, se apresenta segundo as abordagens da classificao de assuntos, catalogao de assuntos e
indexao.
Partindo da pressuposio de que tais abordagens esto indissociavelmente ligadas pelos
objetivos precpuos de organizao e recuperao da informao por assunto, e que o trabalho de
Kaiser transita nesse horizonte, expem-se o cenrio histrico das referidas abordagens, a fim de
contextualizar o presente estudo.

1.1 A Perspectiva da Classificao de Assunto
3

A histria das classificaes do conhecimento tradicionalmente abordada pela literatura a
partir das investidas filosficas da categorizao de Aristteles e da rvore de Porfrio (na
antiguidade clssica), dando um salto at os sculos XV, XVI, XVII e XVIII, onde pensadores como A.
Poliziano (1454-1494), M. Nizolio (1498-1556), J. Huarte (1535-1592), F. Bacon (1561-1626) e G. W. F.
Hegel (1770-1831) empreenderam esforos para organizar os saberes de uma maneira fortemente
influenciada pelo princpio de diviso tripartitivo de Aristteles
4
(Schreiner, 1979). possvel
complementar esse panorama histrico, que estranhamente salta da antiguidade clssica
diretamente para o Sculo XV, com informaes a respeito da classificao dos saberes definida
durante o perodo Medieval. Isso pode ser observado, como fez Burke (2003), com base nos
currculos das instituies europeias de ensino da poca, as quais organizavam os conhecimentos da
seguinte maneira: Trivium Cincias Sermoniais (Gramtica, Dialtica e Retrica); Quadrivium

3
Opta-se pelo termo classificao de assunto com base na perspectiva de Ranganathan (1967), quem afirmou que toda
classificao voltada organizao de bibliotecas necessariamente uma classificao de assuntos.
4
Aristteles havia dividido os saberes humanos em cincias tericas/ prticas/ poticas. Faz-se necessrio lembrar que em
A Repblica, Plato j havia dividido o conhecimento em Fsica, tica e Lgica.

561
Cincias Reais (Geometria, Aritmtica, Astronomia e Msica) e; Estudos Superiores (Teologia,
Metafsica, tica e Histria).
Schreiner (1979) destaca ainda Descartes (1596-1650), Hobbes (1599-1679), Locke (1632-1704),
Leibnitz (1646-1715), Benthan (1748-1832), Ampre (1775-1836), Comte (1798-1857), Stuart Mill
(1806-1873), Spencer (1820-1903) e Wundt (1832-1920) como autores de classificaes que
propunham uma ordem lgica para os conhecimentos e ou disciplinas.
Mas a partir da segunda metade do Sculo XIX que a classificao deixa de ser puramente
cientfica ou filosfica, cuja funo primordial dar ordem lgica aos conhecimentos, para comear
a desempenhar seu carter mais aplicado de organizao da informao, ou seja, dar ordem tambm
aos conhecimentos materializados, servindo de base para a organizao fsica de acervos de
bibliotecas e a consequente localizao dos itens bibliogrficos. Nos Estados Unidos, Harris, Dewey e
Cutter comeam a investir esforos na organizao sistemtica dos assuntos existentes nos livros
das bibliotecas. Concomitantemente, na Europa, Otelt e La Fontaine investem na organizao de
informaes bibliogrficas de documentos das mais variadas naturezas. Nesse perodo, surgem para
o universo das classificaes de bibliotecas a Classificao Decimal de Dewey (1876) e a Expansive
Classification de Cutter (1891-3) (Barbosa, 1969; Foskett, 1973; Piedade, 1983).
Em 1870, o ento bibliotecrio da Escola Pblica de St. Louis (EUA), William Torrey Harris,
investindo esforos em definir uma classificao para o acervo da biblioteca daquela escola, inverte
a lgica da classificao filosfica definida por Francis Bacon em 1605. Bacon, pautado nas faculdades
humana, havia determinado a seguinte ordem para classificar os saberes: Memria Histria
(Cultural e Civil); Imaginao Poesia (Narrativa, Dramtica e Parablica) e; Razo Filosofia (Divina,
Natural, Humana e Teolgica). A classificao de Harris invertia a ordem das classes de
conhecimento para: Filosofia Cincias (Filosofia, Religio, Cincias Sociais e Polticas e Cincias
Naturais); Poesia Artes (Belas Artes, Poesia, Fico e Literatura) e; Histria Histria (Histria,
Geografia e viagens, Histria Civil, Biografia e Miscelnea). Essa inverso da lgica da classificao
definida por Harris influenciaria a concepo do primeiro esquema de classificao bibliogrfico de
alcance reconhecidamente internacional, a Classificao Decimal de Dewey (CDD) cuja primeira
edio data de 1876 (Barbosa, 1969; Kaula, 1984; Piedade, 1983).
Observando as dez classes principais de assuntos definidas na classificao de Dewey
Generalidades, Filosofia, Religio, Cincias Sociais, Lnguas, Cincias Puras, Cincias Aplicadas, Artes, Literatura
e Histria/ Geografia/ Biografia possvel notar a convergncia entre as classes de Dewey e de Harris,
pois ambos iniciam com os saberes relacionados razo e cientificidade, passam pelos saberes
relacionados arte imaginativa, e chegam aos registros de memria. O pioneirismo de Dewey,
portanto, no se assenta na definio de suas classes, Harris j havia de certa forma antecipado esse
pensamento lgico.
A contribuio fundamental de Dewey est, primeiramente, na definio de dez classes de
assuntos principais, na subdiviso de cada uma das dez classes em dez subclasses e de cada subclasse
em mais dez sees, o que proporcionava, minimamente, um arranjo sistemtico de assuntos
gradativamente mais especficos. A representao pragmtica desses assuntos por meio de notaes
numricas pautadas em casas decimais propiciou ao sistema de Dewey pontos fortes como a
localizao relativa antes de Dewey os livros das bibliotecas possuam espaos fsicos
predeterminados, pois a codificao era atribuda s estantes, e no aos livros e a especificao
detalhada de assuntos os assuntos dos livros passaram a ser tratados com maiores detalhes, visto
que, possuam agora maior mobilidade dentro dos acervos e dispunham de mecanismos notacionais
que permitiam especificaes, de assunto e de localizao (Foskett, 1973). Por meio do cdigo
numrico decimal, Dewey proporcionou uma representao notacional clara e objetiva, pois a
hierarquia dos assuntos era fundamentalmente refletida na hierarquia dos nmeros que os
representavam e, o carter mnemnico tornava-se tambm possvel com a notao decimal (Sales,
2012).
Entre os anos de 1891 e 1893 Charles A. Cutter elaborou um sistema dividido em sete nveis de
complexidade, sendo o primeiro nvel mais bsico (muito geral), o segundo menos geral, o terceiro
menos ainda e assim sucessivamente at o nvel sete, o mais detalhado. Cutter intitulou seu sistema

562
de Expansive Classification devido possibilidade do sistema se expandir conforme o crescimento das
colees. Sua ideia era a aplicao do primeiro nvel do sistema ao iniciar-se uma coleo, e na
medida em que a coleo fosse crescendo seriam aplicados os nveis classificacionais mais
elaborados, at se chegar necessidade de maior nvel de detalhamento.
Cutter considerava sua classificao como um sistema evolucionista, seguindo as ideias da
Histria Natural, pois cada assunto, ou parte de assunto, era alocado em uma ordem que respeitava o
aparecimento do respectivo assunto (e sua teoria) na natureza. As classes principais da classificao
de Cutter podem ser observadas detalhadamente em Sayers (1955), Barbosa (1969) e Piedade (1977).
A Classificao Expansiva influenciou diretamente o desenvolvimento da Classificao da
Library of Congress (LC), sobretudo na definio das classes principais, que seguem, em parte, a ordem
da classificao de Cutter (Mills, 1960; Barbosa, 1969; Foskett, 1973; Maltby, 1975; Piedade, 1977;
Coates, 1988). A Classificao da Library of Congress (LC) a mais importante classificao utilitarista
que se tem notcia, ou seja, uma classificao desenvolvida a partir das necessidades da prpria
coleo da biblioteca do congresso e sem bases cientficas ou filosficas no que diz respeito ao
encadeamento de assuntos e organizao lgica (Barbosa, 1969; Foskett, 1973; Maltby, 1975; Piedade,
1977).
Embora de tradio francfona, Paul Otlet (1868-1944), idealizador da Classificao Decimal
Universal (CDU), insere-se na vertente inglesa de TTI que dialoga com a teoria da classificao, uma
vez que o tratamento temtico desenvolvido por Otlet se assentava na perspectiva instrumental. A
organizao da informao promovida pelo documentalista belga, resultado da manipulao de uma
vasta quantidade de informaes, ocupava-se com a concepo de um repertrio bibliogrfico
universal que servisse, dentre outras coisas, de instrumento de classificao de assuntos de
documentos. A CDU, criao de Otlet e La Fontaine, que teve sua primeira edio publicada em 1905
no mbito do Institut International de Bibliographie (IIB), definia a hierarquia de suas classes e
subclasses de assuntos baseada na classificao de Dewey.
A maior articulao proporcionada pelos dispositivos sintagmticos para traduzir linguagem
natural por meio de notaes fez da CDU o primeiro sistema de classificao a viabilizar a sntese de
dois ou mais assuntos de classes distintas. Com suas divises de classes principais e subdivises
derivadas da CDD, a CDU avanou a classificao de Dewey ao adotar em suas notaes sistemas
semiticos que cumpriam funes distintas de relacionamento entre os assuntos.
No Sculo XX, surgiram inmeros sistemas que contribuiriam para a formao de um
arcabouo terico-metodolgico do TTI, dos quais destacam-se: a Subject Classification (1906), a Colon
Classification (1933), a Bibliographic Classification (1940), as classificaes especializadas desenvolvidas
pelos integrantes do Classification Research Group (a partir de 1952) e demais trabalhos
desempenhados no mbito da International Society for Knowledge Organization (a partir de 1989).
A teoria da classificao facetada, elaborada por Ranganathan (1892-1972) a partir da dcada
de 1930, talvez figure como a mais influente contribuio para o desenvolvimento do quadro terico
do TTI. Desenvolvida, aprimorada e aplicada ao longo de cerca de quarenta anos,
concomitantemente ao desenvolvimento e aprimoramento da Colon Classification, a teoria da
classificao facetada baseada no agrupamento de assuntos que apresentam as mesmas
caractersticas e os mesmos tipos de relacionamentos. Com efeito, Ranganathan foi o primeiro
dentre os classificacionistas de bibliotecas a se preocupar em deixar um legado terico por meio de
inmeras publicaes que objetivavam explicar e instrumentalizar estudiosos a respeito de seu
sistema e sua teoria.
No mbito das classificaes de assunto, a classificao facetada despontou como um novo
modo de pensar e fazer. Mais que um instrumento de classificao, tratava-se de um novo mtodo de
classificar. Seus princpios foram seguidos a aprimorados nos trabalhos desenvolvidos pelos
pesquisadores do Classification Research Group (CRG), que deram origem a inmeros esquemas de
classificaes especializados, baseados em facetas,como por exemplo: Classificao para Tecnologia
de Diamantes, criada por Farradane; Classificao para Segurana e Sade Ocupacional e
Classificao para Tecnologias de Alimentos, de D. J. Foskett; Classificao da Cincia do Solo e

563
Classificao da Astronomia, de Vickery; Catlogo Britnico de Catalogao de Msica, de Coates e;
Classificao da Aeronutica, elaborada por Vickery e Farradane.
Outra instancia cientfica onde a Teoria da Classificao Facetada uma constante terica em
estudos de classificao e indexao, revelando a durabilidade e consistncia de tal teoria, a
International Society for Knowlodge Organization (ISKO), que consiste no principal frum de discusso
cientfica de organizao do conhecimento na atualidade.
Os princpios tericos da classificao facetada so, dentre as contribuies proporcionadas
pela abordagem da classificao de assunto, os que mais significativamente guardam proximidade
com as demais abordagens do TTI. Refletindo rigorosamente a respeito das dimenses das ideias
(campo ideacional) e dos termos (campo verbal), no se detendo exclusivamente aos cdigos (campo
notacional), Ranganathan, primeira vista, foi quem proporcionou aos estudos de classificao um
dilogo inevitvel com a catalogao de assunto e com a indexao. Ao longo deste trabalho, ser
possvel perceber que, antes de Ranganathan, Kaiser j contribuiria terica e metodologicamente
catalogao de assuntos, classificao e indexao concomitantemente.

1.2 A Perspectiva da Catalogao de Assunto

A catalogao, voltada fundamentalmente identificao de informaes bibliogrficas, tanto
de forma quanto de contedo, estudada no espao investigativo do tratamento da informao
como um todo, seja no que se refere aos aspectos fsicos (catalogao descritiva), seja no que se
refere aos aspectos temticos (catalogao de assunto). Embora apenas a catalogao de assunto seja
foco deste trabalho, a configurao histrica da catalogao retrata o desenvolvimento
concomitante da catalogao descritiva e de assunto.
Para Hunter e Bakewell (1983), o marco inicial para o desenvolvimento da catalogao est
precisamente no ano de 1787, quando do surgimento do primeiro catlogo impresso do Museu
Britnico (British Museum). No mbito da mesma instituio, Sir Anthony Panizzi, em 1841,
desenvolveria o Rules for compiling the catalogue of printed books, maps and music, que, segundo Hunter e
Bakewell (1983), consiste no primeiro dos cdigos modernos de catalogao. At meados do Sculo
XIX, duas publicaes despontariam como contribuies fundamentais: On the Construction of
Catalogs
5
, de Charles Jewett e, The Art of Making Catalogues
6
, de Andrea Crestadoro, respectivamente
publicados em 1852 e 1856. Em 1864, no mbito da Manchester Public Library, os princpios definidos
por Crestadoro inspiraram a construo do primeiro ndice baseado em palavras-chave em seu
contexto (Keyword-in-Context KWIC).
Em 1876, Charles Ammi Cutter (1837-1903) publicou Rules for a Dictionary Catalog, obra que
impulsionaria o debate acerca da catalogao de assunto. A catalogao de assunto enquanto
abordagem terica reflete uma tradio pragmtica centrada na gerao de produtos, como
catlogos e listas de cabealhos de assunto. Fundamentalmente norteamericana, tem seus princpios
fundados na catalogao alfabtica de Cutter e nos cabealhos de assunto desenvolvido pela Library
of Congress. As regras elaboradas por Cutter definem princpios, o que o levou a grande notoriedade
no campo da Biblioteconomia (Barbosa, 1969; Foskett, 1973; Maltby, 1975; Piedade, 1977; Coates,
1988; Guimares, 2009; Sales e Guimares, 2010). A referida obra de Cutter recebeu esse nome porque
os cabealhos (autor, ttulo, assunto e forma) so organizados como as palavras em um dicionrio,
em ordem alfabtica (Cutter, 1904, p. 19. Traduo livre), preocupando-se tambm com as questes
das remissivas (Ferraz, 1957). Cutter publicou suas regras fundamentalmente voltadas aos catlogos
alfabticos
7
. A publicao do Rules for a Dictionary Catalog fez com que o universo da catalogao

5
Primeiras regras americanas para entrada de autor, com sugestes complementares para listas de assuntos (HUNTER e
BAKEWELL, 1983, p. 13 Traduo livre).
6
Alm de detalhar questes relativas entrada de autores, traz tambm questes relativas ao arranjo de nmeros de
acesso com ndices de nomes e assuntos, Hunter e Bakewell (1983).
7
Os catlogos alfabticos de assunto (o catlogo dicionrio de Cutter um exemplo de catlogo alfabtico), diferentemente
dos catlogos sistemticos de assunto, que so arranjados com base em notaes classificatrias, so arranjados em ordem

564
alcanasse maior notoriedade, passando a ser tratado com maior rigor mediante um verdadeiro
tratado de catalogao (Barbosa, 1969; Piedade, 1977), ou pilar fundamental da catalogao de
assunto norteamericana (Foskett, 1973) e, com um carter pragmtico voltado ao usurio (Mey,
1987).
Cabe ressaltar que as regras estabelecidas por Cutter diziam respeito no somente
construo dos cabealhos, mas tambm ao seu arranjo (FUJITA, 1989). Para Cutter (1904), a
importncia de decidir corretamente a entrada de um assunto se deve ao fato de que se no houver
um princpio bvio para orientar o catalogador no haver o porqu de o usurio acreditar que
encontrar o que necessita usando um termo de entrada em detrimento de outro. E o maior
benefcio da existncia de tal princpio , para Cutter (1904), a probabilidade de uma convergncia
nas decises tomadas por diferentes catalogadores no momento da elaborao e escolhas dos
cabealhos. Percebe-se, em Cutter, uma preocupao normativa em benefcio de uma uniformidade
procedimental e no apenas instrumental. Os princpios de Cutter sero devidamente abordados ao
longo das argumentaes deste trabalho.
Em 1899, a Library of Congress, na representao de Herbert Putnan, adotou o catlogo
dicionrio e iniciou a distribuio dos cartes do catlogo. Segundo Hunter e Bakewell (1983), a
partir desse momento a Library of Congress assumia a posio central da catalogao nos Estados
Unidos.
Adentrando ao Sculo XX, em 1908, a Library Association e a American Libray Association
publicaram o A. A. Code, um cdigo centralizador, que objetivava a uniformizao da prtica de
catalogao nos pases de lngua inglesa. No mesmo ano Kaiser publicou, em Londres, o The Card
System at the Office, obra que seria considerada o primeiro volume de sua principal publicao ou,
como prefere o prprio Kaiser (1911), a introduo do Systematic Indexing. Este ltimo, publicado em
1911, tambm na Inglaterra, surgia como significante contribuio denominada, por Hunter e
Bakewell (1983), teoria dos cabealhos de assunto.
Nesse incio de Sculo XX, a efervescncia da catalogao (descritiva e de assunto)
notadamente se desenvolvia em territrios anglo-americanos, sobretudo no mbito da Library of
Congress (LC). Em 1914, a LC tornou pblicos os cabealhos de assunto usados em seus catlogos
dicionrios que, juntamente com a lista de cabealhos de assunto de Sears (divulgada a partir de
1923), tornou-se os instrumentos de trabalho que mais influenciariam a prtica norteamericana de
catalogao. importante ressaltar, conforme Foskett (1973) e Hunter e Bakewell (1983), que ambos
os instrumentos refletiam as regras e os princpios definidos por Cutter no Rules for a Dictionary
Catalog.
No ano do falecimento de Kaiser, 1927, o Reino Unido, por meio do Kenyon Report Relatrio
do Comit das Bibliotecas Pblicas especialmente nas bibliotecas pblicas da Inglaterra e do Pas
de Gales, reclamou por uma cooperao local, talvez uma tentativa de conceber, em territrio
britnico, uma centralizao das atividades de catalogao to bem sucedida como nos Estados
Unidos. Nesse mesmo ano, foi fundada, na cidade de Edimburgo (Esccia), a International Federation of
Library Associations and Institutions (IFLA), organizao que contribuiria para o trabalho de
catalogao em pelo menos dois momentos importantes: em 1954, quando da implantao do IFLA
Working Group on the Coordination of Cataloguing Principles e, em 1971 com a introduo do International
Standard Bibliographic Description (ISBD).
Esse desenvolvimento bilateral (Estados Unidos e Reino Unido) da catalogao, especialmente
da catalogao de assunto, se fortaleceu no decorrer do Sculo XX, como pode ser verificado por
meio das publicaes de obras e de instrumentos (cdigos e normas) de catalogao. Para citar
alguns: Classified Catalogue Code
8
, publicado por Ranganathan em 1934 (Inglaterra); The Crisis in
Cataloguing, publicado por Osborn em 1941 na Library Quarterly (Estados Unidos); ALA Rules for Filing

alfabtica de cabealhos. A respeito das abordagens de catlogos do tipo alfabtico e do tipo sistemtico ver Ashworth
(1955); Shera e Egan (1969) e Bakewell (1974).
8
Segundo Hunter e Bakewell (1983), este foi o nico cdigo de regras especficas para catlogos classificados (p. 15
traduo livre).

565
Catalog Cards, publicado pela American Library Association em 1942; a publicao do primeiro catlogo
impresso da LC, entre os anos 1942 e 1946; Dictionary Catalogue Code, publicado por Ranganathan em
1945 e; ALA Rules and the Library of Congress Rules for Descriptive Cataloguing (1949), resultado de uma
parceria entre American Library Association e LC (Hunter e Bakewell, 1983).
Relativo aos trabalhos desenvolvidos pela LC, pode-se citar ainda: a criao do National Union
Catalog (1956); a publicao da Filing Rules for the Dictionary Catalogs (1956); o surgimento do servio de
Catalogao na Fonte (Cataloguing In Source - CIS), iniciado em 1958; a criao do programa nacional
para aquisio e catalogao (National Program for Acquisition and Cataloguing NPAC), desenvolvido
em 1965; o incio do desenvolvimento do formato de catalogao legvel por computadores (MARC -
Machine Readable Cataloguing), em 1966 e; a publicao, em 1967, do cdigo Anglo-American Cataloguing
Rules AACR, em parceria com Libray Association (LA), American Library Association (ALA) e Canadian
Library Association (CLA).
Se no contexto americano o desenvolvimento da catalogao era liderado pela Library of
Congress e pela American Library Association, no Reino Unido as diretrizes da catalogao eram
definidas e divulgadas fundamentalmente pela British National Bibliography (BNB) que, a partir da
dcada de 1950 desenvolveu uma bibliografia nacional tendo por base um arranjo classificado
usando procedimentos relacionados indexao de assuntos, com forte influncia ranganathiana
(Hunter e Bakewell, 1983). A BNB concebeu, em 1956, seus primeiros cartes impressos (fichas com
informaes bibliogrficas), e tornou pblico, j na dcada de 1960, o projeto MARC voltado
realidade britnica o UK MARC (1967). Merece destaque nesse mesmo ano o estabelecimento do
Online Computer Library Center
9
(OCLC) em Ohio, Estados Unidos.
A norma/padro britnica de maior relevncia surgida no respectivo perodo foi a BS 1749 -
Specification for Alphabetical Arrangement and the Filing order of Numerals and Symbols, definida
primeiramente em 1951 pela British Standards Institution (BSI).
Adentrando a dcada de 1970, observa-se o surgimento do sistema PRECIS (Preserved Context
Index System)
10
, desenvolvido por Austin em 1971 no mbito da BNB e, a publicao da segunda
edio do Cdigo Anglo-Americano (AACR-2), no ano de 1978, como resultado da parceria entre LC,
British Library, LA, ALA e CLA.
Note-se que a histria da catalogao de assuntos contada a partir do desenvolvimento de
cdigos, normas, regras e instituies que se empenharam na padronizao da construo de
cabealhos e de catlogos de assuntos, predominantemente pautados na concepo de arranjos
alfabticos, fato que a aproxima da abordagem da indexao, uma vez que ambas as abordagens se
preocupam fundamentalmente com o plano verbal do tratamento temtico da informao.

1.3 A Perspectiva da Indexao

A indexao surge no mbito dos primeiros esforos destinados a tornar a informao escrita
mais acessvel, fossem eles realizados por meio de um arranjo de amplo conhecimento ou por meio
da condensao de longos documentos em resumos pertinentes. Essas palavras, proferidas
primeiramente por Francis J. Witty no ano de 1973, conduzem qualquer inteno de observao
histrica da indexao a tempos muito remotos.
Witty (1973) identifica a origem da indexao na elaborao dos arranjos de cabealhos de
captulos (sumrios) dos livros histricos ou no-ficcionais, como a bblia, por exemplo, dos
primeiros sculos da Era Crist. Embora esses sumrios ainda estivessem distantes dos ndices como
so conhecidos hoje, sua apresentao facilitava a busca por informaes mais pontuais dentro do

9
Organizao sem fins lucrativos de pesquisa e servios biblioteconmicos computadorizados.
10
Segundo Fujita (2003), Derek Austin desenvolveu o sistema PRECIS para a British National Bibliograph (BNB), com o fim de
criar um instrumento cujo funcionamento estava pautado em estruturas semntica e sinttica e esquemas de operadores
de funes.

566
prprio documento, caracterizando assim, uma forma rudimentar da indexao da informao por
tpicos. Esses sumrios eram concebidos tanto pelos autores quanto pelos publicadores (editores)
das antigas publicaes. Percebe-se, aqui, a longevidade do desejo (necessidade) de se recuperar
informaes contidas em documentos.
Os ndices normalmente so estruturados com base em um arranjo que pode ser de ordem
alfabtica ou sistemtica (no caso de se adotar um sistema de classificao como base do arranjo). A
ordem alfabtica , sem dvida, um dos arranjos mais conhecidos e adotados no ocidente. Nota-se
um predomnio deste tipo de arranjo nos esforos de se organizar informaes em tempos mais
remotos, como fizeram os gregos helnicos do Egito para ordenar listas de nomes como as
encontradas em catlogos de bibliotecas e em estabelecimentos de finanas da poca e, como o
catlogo de Calmaco da Biblioteca de Alexandria (Witty, 1973). Nessa poca, embora a ordem
alfabtica no correspondesse exatamente ao arranjo que hoje conhecemos (letra por letra at o
final da palavra), tratava-se de uma ordenao inicial que avanaria o desenvolvimento dos recursos
que podem ser considerados os precursores dos ndices. Posteriormente, a ordem alfabtica seria
empregada tambm por escritores gregos para a elaborao de versos acrsticos que serviam como
formas mnemnicas para a apresentao de informaes de carter religioso ou no, que se
caracterizavam como esforos para o rpido levantamento de informaes especficas.
No perodo medieval, Witty (1973) identifica o aparecimento de sumrios (marginal summaries)
de contedos de pginas em manuscritos de obras acadmicas, tratando-se, muito provavelmente,
dos antecessores dos atuais ndices remissivos de assuntos. Embora no correspondiam
efetivamente aos ndices modernos, surgiam como recursos instrumentais que proporcionavam
consultas rpidas em informaes escondidas em extensos materiais. Obviamente que esses tipos
de sumrios de fato se concretizariam em grande escala somente com o surgimento do formato
codex (cdice), visto que, antes disso, os manuscritos no eram disponibilizados para emprstimos ou
consultas de referncias.
A verso mais antiga de um ndice alfabtico de assunto surge no Sculo V. Trata-se de um
trabalho annimo intitulado Apothegmata, que consistia em uma lista de inmeros dizeres de padres
gregos a respeito de temas teolgicos (Witty, 1973) e, que seria arranjado alfabeticamente apenas no
sculo posterior. No Sculo VI surgiriam livros (cdices) da rea de medicina que apresentavam
listas de contedos ordenadas alfabeticamente, como por exemplo o Vienna codex.
Dois sculos mais tarde, nota-se o surgimento de um ndice alfabtico de assunto destinado
aos homens do clero e, tambm, a Bible in the Sacra parallela by John of Damascus. Nesta ltima, a
introduo ressaltava os sumrios e as tabelas de contedos apresentadas no incio da obra. Relativo
a essa Bblia (Sculo VIII), cabe ressaltar o aparecimento de um elemento fundamental na indexao,
a palavra-chave: Them there follows in rough alphabetic order the theological statements arranged by
keyword, with passages from the Bible and the Greek fathers illustrating them (Witty, 1973, p. 6).
O Sculo XIV, j alavancado pelo crescimento das universidades ocorrido nos dois sculos
anteriores, bem como pelo crescimento dos debates acadmicos, que acarretaram necessidades de
informaes referenciais mais detalhadas, foi o perodo em que surgiram ndices alfabticos de
assuntos em livros das reas de Filosofia, Teologia e Medicina. Witty (1973) comenta pelo menos trs
desses ndices, encontrados no livro Sentences of Peter Lombard de Egdio Colonna e em dois
manuscritos do Vaticano, escritos por Dioscorides. O livro de Colonna era estruturado com
proposies (declaraes) devidamente argumentadas. Cada proposio era numerada,
proporcionando um ndice em que cada nmero remetia a um catchword de a uma proposio. Essa
tcnica seria adotada em publicaes do Sculo XX, como por exemplo, nas obras de Kaiser (1908 e
1911). Nos manuscritos de Dioscorides, eram os cabealhos dos captulos que apareciam citados no
ndice alfabtico. Essas tcnicas de elaborao de ndices pautadas ora em cabealhos de captulos,
ora em remissivas s proposies, so esforos pioneiros para a formao dos ndices
contemporneos de assuntos.
Knight (1968) atribui a origem da indexao s tabelas alfabticas de contedos encontradas
nos manuscritos medievais surgidos, aos poucos, somente no Sculo XV, aps a inveno da
imprensa na Europa. Segundo o autor, o termo index teria sido utilizado pioneiramente por Ccero

567
no Sculo XV, competindo com termos j conhecidos e adotados, como tabela, catlogo,
inventrio, sumrio, calendrio, registro e syllabus. Sua forma plural, indexes, apareceria
no Troilus and Cressida, de Shakespeare no ano de 1609 (Wheatley apud Knight, 1968).
A exemplo de Witty, Knight (1968) tambm tece suas consideraes histricas a respeito da
indexao por meio da anlise feita nos ndices contidos nos manuscritos (manuscritos guardados
pelo British Museum, no caso de Knight). Esses ndices variavam quanto extenso, ao idioma e at
mesmo quanto ao ttulo, mas, sem raras excees, todos estavam arranjados alfabeticamente. O mais
antigo ndice em lngua inglesa encontrado por Knight estava contido no manuscrito The Naturall
Historie, de Plinius Secundus, datado de 1601.
Somente no Sculo XVIII possvel notar o surgimento do profissional indexador (index
maker), uma vez que em perodos anteriores os ndices eram elaborados pelos prprios autores dos
livros. Na poca, esse profissional era normalmente considerado de menor status, embora, por
vezes, se tratassem de acadmicos. Knight (1968) demonstra tal fato com passagens encontradas em
originais de 1716
11
e de 1762
12
.
Segundo Knight (1968), em 1737 o ramo da indexao testemunhava o aparecimento de um
importante ndice, o Crudences Concordance, (um ndice da Bblia) que seria frequentemente utilizado
nos prximos 230 anos. Em 1755 Samuel Johnson publicou o Dictionary of the English Language, que se
tratava de uma verdadeira indexao da lngua inglesa, cuja concretizao se fez mediante a
contratao de seis indexadores (Collison, 1972).
O ano de 1755 foi um marco para os estudos histricos relativos indexao, pois nesta data
emergiu aquele que pode ser considerado o primeiro ndice publicado individualmente (separado de
um manuscrito) o General Index both of axims and Reflexions, de Samuel Richardson, relativo s
obras Pamela, Clarissa e Sir Charles Grandison (Knight, 1968). No prefcio do referido ndice o prprio
Richardson explica que tal publicao deve ser entendida como ndices relativos aos romances
acima citados.
Tm-se, nesse momento, um avano importante na trajetria de construes de ndices, pois
as tabelas de contedos, at ento fixadas exclusivamente em suas respectivas obras, ao alcanarem
independncia (fsica) de publicao, ampliam o conceito at ento observado, de recursos de
remissivas internas, para se tornarem ndices de assuntos de uma ou de vrias obras. Trata-se,
dentre as formas mais primitivas de ndices, aquela que mais se aproxima da concepo atual desses
produtos da indexao. A partir desse momento, o Sculo XVIII testemunharia o nascimento e o
crescimento de uma nova abordagem de ndices, o ndice analtico
13
de assuntos, que substituiriam,
em alguns casos, a prpria leitura integral dos documentos.
No Sculo XIX, com o crescimento quantitativo e qualitativo dos ndices, grandes
enciclopdias, compostas de vrios volumes de contedo, passaram a publicar volumes exclusivos
para o ndice de assuntos, como por exemplo, a stima edio da Enciclopdia Britnica (1827 a 1842)
e, a edio de 1874 da Chamberss Encyclopaedia.
Em 1877, o britnico Henry Benjamin Wheatley fundou o Index Society, organizao que tinha
por objetivo elaborar ndices para importantes obras que ainda no os possuam (Knight, 1968; Bell,
1997; Lee, 2002). A Sociedade de Wheatley publicou notveis ndices entre os anos de 1879 e 1891.
Devido ao infortnio da falta de suporte (financeiro e pessoal), a Index Society parou de desempenhar
suas atividades no incio da dcada de 1890.
No Sculo XX, a crtica literria tornava a discusso da indexao mais consistente, centrando
esforos, muitas vezes, nas deficincias ou insuficincias tocantes construo de ndices, sobretudo
na segunda metade do sculo. Na Inglaterra, ocorreram trs eventos que impulsionaram o ramo da

11
Dean Swifts pamphlet A further account of the most deplorable conditions of Mr. Edmund Curll, bookseller, since his
being poisoned on the 28
th
March (1716).
12
Oliver Goldsmiths Citizen of the world (1762).
13
No ndice analtico o arranjo alfabtico no mais a nica forma de ordenao dos termos, que passam a seguir uma
lgica de relao definida por uma anlise de assuntos.

568
indexao no que se refere organizao, ao estmulo e padronizao da elaborao de ndices: a
fundao do Society of Indexers em 1957, que figura como um marco na iniciativa de legitimar uma
coletividade em prol do desenvolvimento de ndices e do avano da indexao como um todo; a
instituio, pela Library Association, em 1961, do prmio Wheatley Medal, que premiava o melhor
ndice publicado em cada ano e; a publicao da ritish Standard Institutions Recomendations for the
preparation of indexes (B.S. 3700, 1964), um marco na padronizao da construo de ndices. A Society
of Indexers, que j havia, de certa forma, sido responsvel pelas iniciativas acima citadas o Wheatley
Medal e a B.S. 3700 foi a grande centralizadora dos esforos de padronizao na elaborao de
ndices, no somente no mbito britnico, mas tambm norteamericano, como pode ser observado
em Bell (1997).
Knight (1968) ressalta que os objetivos originalmente perseguidos pela Society of Indexers, que
contava, at ao final da dcada de 1960, com cerca de trezentos membros (ingleses e tambm
norteamericanos), eram os seguintes: melhorar a padronizao da indexao; aprimorar a ligao
com os autores e editores, incluindo a o aconselhamento relativo s remuneraes dos indexadores;
publicar ou comunicar livros e artigos sobre indexao; enfim, elevar o status dos indexadores.
Desse modo, a Society elevaria, no somente o status dos indexadores, mas tambm o status da
indexao como um todo, que, sob uma abordagem mais contempornea, pode ser considerada
como um campo de investigao terico e metodolgico no bojo do Tratamento Temtico da
Informao.
Dentre as publicaes realizadas no mbito da Society of Indexers, as quais podem ser
verificadas em Bell (1997, 1998a e 1998b), o peridico The Indexer desponta como o principal veculo
de comunicao no campo da indexao at os dias de hoje, no somente no contexto britnico, mas
tambm internacional. Fundado em 1958 pela Society of Indexers, o The Indexer continua publicando,
agora em edies impressas e digitais
14
, os principais artigos internacionais sobre indexao e conta
com o apoio editorial da American Society of Indexer, da Australian Society of Indexer e da Indexing and
Abstracting Society of Canada.
Observa-se que a histria da indexao retrata um longo perodo onde o foco de ateno
estava direcionado exclusivamente aos ndices propriamente ditos, fato que leva caracterizao de
uma nfase marcadamente instrumental. Porm, a partir da segunda metade do Sculo XX,
especialmente com o surgimento da Society of Indexers, o debate sobre indexao ganha um carter
mais metodolgico (procedimental). Por meio da comunicao cientfica, fortemente promovida
pelo The Indexer, discusses relativas padronizao, institucionalizao e qualidade dos ndices,
propiciaram um terreno frtil para uma concepo mais terica da indexao. Nesse instante, a
nfase instrumental da indexao passou a ser complementada por uma nfase metodolgica, pois
os discursos no se pautavam mais somente nos ndices propriamente ditos, mas principalmente,
nos procedimentos para se desenvolv-los.
Em uma perspectiva mais contempornea da indexao, possvel observ-la como um espao
investigativo que, ocupando-se com as questes relativas ao desenvolvimento procedimental do
tratamento temtico da informao (TTI), catalisa aspectos advindos tanto da catalogao de
assuntos quanto da classificao de assuntos. Nesse sentido, a indexao figura como um campo de
estudo, perceptivelmente de vertente anglo-americana, que centra ateno no somente no
desenvolvimento instrumental, mas tambm nos procedimentos atinentes anlise, descrio e
representao dos contedos documentais (Barit, 1998; Guimares, 2001), concebendo, assim, um
espao investigativo de carter terico e aplicado que promove o desenvolvimento tanto
instrumental quanto procedimental do ato de indexar (Sales, 2012).
A indexao, enquanto abordagem do TTI, apresenta caractersticas no evidentes
anteriormente na catalogao e na classificao de assuntos, como por exemplo, o interesse pelo
domnio da informao especializada e, a consequente aproximao das bibliotecas especializadas e
centros de documentao. A atuao em domnios e ambincias especializadas vem acompanhada de
uma nova preocupao no tratamento da informao, o apoio pesquisa, que por sua vez

14
Disponvel em <http://www.theindexer.org/>

569
pressupem a satisfao de demandas de usurios e de objetivos institucionais (Caffo, 1988). Nesse
contexto, fazem-se necessrias investigaes que elucidem aspectos relativos no somente
recuperao de documentos, mas tambm recuperao de informaes contidas nos documentos
(Neet, 1989), bem como os tipos de demandas que determinado documento, ou informao, pode
suprir (Batley, 2005).
Essa perspectiva voltada ao usurio-pesquisador-especializado promove, de certa forma,
estudos mais aprofundados nos procedimentos atinentes indexao, ou seja, nas etapas a serem
cumpridas para a elaborao de ndices.
Apesar de ser notrio o fato de Kaiser normalmente ser deixado margem das discusses e
debates relativos indexao, ainda causa certa surpresa a constatao de sua ausncia nos estudos
a respeito da histria da indexao, visto que, grande parte dos textos aqui examinados, com o
propsito de contextualizar a indexao, foi publicada pelo The Indexer, principal veculo
internacional de comunicao cientfica sobre indexao. Isso revela que a abordagem da indexao,
enquanto campo de investigao, ainda se encontra, em grande medida, fundamentada em estudos
de ndices, corroborando a predominncia da nfase instrumental. Resgatar a sistematizao
desenvolvida por Kaiser pode ser uma iniciativa que contribua para a nfase metodolgica da
abordagem da indexao.
Uma vez contextualizadas as perspectivas anglo-americanas do TTI (classificao, catalogao
e indexao), cabe inserir as contribuies de Kaiser para cada uma delas, de modo a explicitar o
bibliotecrio alemo como interlocutor terico do universo do TTI.

2 Kaiser na tradio anglo-americana de TTI

Embora nascido em Stuttgart em 1868, Kaiser traou sua trajetria profissional nos Estados
Unidos e no Reino Unido. Dentre as organizaes em que Kaiser desempenhou suas atividades
profissionais, destacam-se: o Philadelphia Commercial Museum (Estados Unidos), o Commercial
Intelligence Bureau, Ltd. (Inglaterra), a British Westinghouse Electric & Manufacturing Co. Ltd. (Inglaterra),
a Tariff Comission (Inglaterra), a Vickers Ltd. (Inglaterra), a Nobel Explosives Company, Ardeer Factory
(Esccia), a Engineering Societiess Library (Estados Unidos) e a Hercules Powder Company, Experimental
Station (Estados Unidos) (DOUSA, 2010a). Notadamente, tratam-se de instituies comerciais e
industriais de escopos especializados.
A bibliografia de Kaiser pode ser resumida em apenas dois livros, o The Card System at the Office,
publicado em 1908, tambm em edio francesa em 1914
15
, e o Systematic Indexing, publicado em
1911, que reaparece, sintetizado, no ano de 1926 nos Proceedings da Terceira Conferncia realizada no
Balliol College
16
em Oxford. Embora publicados separadamente, The Card System at the Office e
Systematic Indexing, segundo o prprio Kaiser (1911), devem ser lidos como dois volumes de uma
mesma e nica obra.
No primeiro livro Kaiser apresenta em detalhes o trabalho da organizao de informaes de
documentos baseado no sistema de cartes e fichas, um sistema relativamente novo nas companhias
industriais e comerciais de sua poca. No segundo livro (Systematic Indexing) reside a principal
contribuio de Kaiser ao TTI, pois nele o autor apresenta uma forma sistemtica de indexao de
assuntos de documentos, baseada em categorias semnticas que norteavam tanto a anlise do
assunto quanto a representao do mesmo por meio dos enunciados (statements).

15
Kaiser, J. Le systme de la carte au bureau. Paris: G. & M. Ravisse, 1914. Ressalta-se tambm a reimpresso da obra original
em idioma ingls, publicada pela editora inglesa BiblioLife em 2010.
16
Kaiser, J. Systematic indexing. In The Association of Special Libraries and Information
Bureaux, Report of Proceedings of the Third Conference held at Balliol College, Oxford,
September 24th27th 1926 (pp. 2044). London: The Association of Special Libraries and
Information Bureaux.

570
Uma vez que o presente trabalho lana mo da abordagem pragmtica de Willian James para
observar as contribuies de Kaiser, direciona-se a ateno para o modo (caminho) que Kaiser
tomou para desenvolver sua indexao sistemtica, cotejando seu pragmatismo com os
pragmatismos encontrados na classificao, na catalogao e na indexao.

2.1 Kaiser na classificao e na indexao de assuntos

Se para traar o panorama histrico da abordagem anglo-americana de TTI foi necessrio
separar a classificao da indexao, devido ao fato de que ambas as perspectivas se desenvolvem
historicamente por meio de concepes instrumentais distintas, para dissertar a respeito de
contribuies tericas e conceituais a unio da classificao e da indexao se faz imprescindvel aos
olhos de Lancaster (2004).
Relativo classificao de assuntos, o mtodo sistemtico de Kaiser dialoga com pelo menos
dois grandes nomes do TTI, Otlet e Ranganathan. Dousa (2010b) expe um ponto de convergncia
entre Otlet e Kaiser para o desenvolvimento terico da Organizao do Conhecimento a anlise da
informao. A ideia de que a representao dos conhecimentos poderia ser realizada no somente
pela decomposio de unidades bibliogrficas menores (como artigos dentro de peridicos ou
captulos dentro de livros), mas, principalmente, pela anlise de unidades de informao menores,
tais como os conceitos, os fatos e evidncias encontrados dentro dos textos, uma concepo que
aproxima os trabalhos de Kaiser e de Otlet.
As unidades de informao (conceitos e fatos), depois de identificadas, poderiam ser
reconfiguradas em um novo arranjo com o propsito de facilitar a recuperao dos documentos
(Dousa, 2010b), e isso notrio nos trabalhos pioneiros tanto de Otlet quanto de Kaiser. Essa
concepo, preconizada por Otlet e Kaiser, de representar conhecimentos contidos em assuntos por
meio de unidades menores de informao, com vistas recuperao mais precisa dos documentos,
exerceria significativa influncia nos trabalhos e teorias que surgiriam posteriormente, tais como a
teoria da classificao facetada, que desenvolveria suas diretrizes de classificao com base em
facetas.
Salvaguardado o fato de que Kaiser e Otlet divergiam quanto estrutura da organizao do
conhecimento (ordem alfabtica de Kaiser versus ordem classificatria de Otlet) e quanto ao escopo
das estruturas (localismo de Kaiser versus universalismo de Otlet), o ponto que efetivamente pode
ser considerado uma interseo terica entre ambos a anlise da informao por meio das partes
(unidades de informao) do contedo dos documentos.
Alm de concordarem que os assuntos deveriam ser organizados com base na anlise da
informao contida nos documentos, Otlet e Kaiser convergem tambm nas formas de alcanarem
tal organizao. Para Otlet, a funo do documentalista era extrair dos documentos os componentes
informativos relevantes (unidades de informaes), separando-os do contexto bibliogrfico original
e registrando-os individualmente, possibilitando que tais registros fossem estabelecidos
analiticamente em repertrios enciclopdicos, que, por sua vez, propiciariam e interligao entre
unidades de informao e publicaes diversas (Dousa, 2010b).
Para Kaiser, a funo do indexador era virtualmente a mesma. O indexador deveria analisar a
literatura indexvel de modo a extrair dela os componentes informativos (informaes indexveis),
separando-os da literatura, registrando-os em enunciados de assuntos que comporiam um ndice
sistemtico, que viabilizaria, por sua vez, a interligao entre declaraes de assuntos e materiais
(documentos) diversos.
Nesse sentido, possvel afirmar que o universo do TTI se serve de uma nova perspectiva a
partir dos trabalhos de Otlet (na documentao) e de Kaiser (na indexao), uma perspectiva que
estabelece a organizao de assuntos baseada na anlise de seus componentes informativos. Ou
melhor, uma organizao no mais de documentos, mas, sim, de informaes a respeito de
conhecimentos. Como afirma Dousa (2010b), tanto o ndice sistemtico de Kaiser quanto os

571
repertrios enciclopdicos de Otlet foram desenvolvidos para proporcionar o acesso imediato
informao.
Assim como na anlise da informao, observvel, tambm, a semelhana que ambos
tiveram no que se refere viabilizao tecnolgica de seus sistemas. Tanto Otlet quanto Kaiser
adotaram o sistema de cartes padronizados. Ao final do Sculo XIX e incio do Sculo XX, tal
tecnologia figurava como modernista e, avanava diversas questes prticas de relacionamento
entre registros e documentos, se comparado aos sistemas de livros de registro, comuns at ento.
Um sistema baseado em cartes uniformemente dimensionados contidos de transcries
padronizadas de informaes, alocados fisicamente em fichrios, relacionados com mobilirios
especficos e organizados conceitualmente por um esquema de classificao, era realmente
avanado e eficiente na poca de Otlet e Kaiser.
Assim como Kaiser e Otlet, Ranganathan tambm dedicou esforos para conceber uma
estrutura de organizao do conhecimento baseada nos elementos constituintes que compem os
assuntos. Porm, aquilo que foi entendido como anlise de informao para os dois primeiros
preferivelmente chamado de anlise de assunto para Ranganathan.
O pragmatismo de Kaiser e Otlet, advindos basicamente de trabalhos prticos e de
experincias empricas, resultaram, numa viso mais imediatista, em contribuies de ordens mais
profissionais que tericas, e suas respectivas obras refletiam tal caracterstica ao se mostrarem
eminentemente descritivas e norteadoras de prticas profissionais. Diferentemente de Kaiser e
Otlet, Ranganathan assumiu uma postura mais filosfica para desenvolver sua estrutura de
classificao de assuntos, de modo a evidenciar um racionalismo no que tange compreenso da
lgica de concepo dos conhecimentos e dos assuntos e, um pragmatismo no que se refere ao
resultado funcional do uso de seu mtodo (Sales, 2012).
A classificao de Ranganathan era baseada nos aspectos particulares e inerentes a cada classe
de assunto, ou seja, nas facetas. Para classificar documentos por assunto era necessrio identificar as
facetas isoladas (que agrupam conceitos) no interior das facetas bsicas (que agrupam assuntos
gerais), tendo em mente que as facetas isoladas eram manifestaes de categorias fundamentais
(Personalidade, Matria, Energia, Espao e Tempo).
Nesse aspecto, verifica-se um ponto de convergncia com Kaiser, quem definiu que para uma
anlise pragmtica da informao era necessrio identificar na literatura indexvel os elementos
constituintes do assunto que se manifestavam como uma das categorias fundamentais (Concretos,
Processos e Pases). Portanto, a forma como Ranganathan procurou resolver a anlise do assunto do
documento, assemelha-se forma como Kaiser buscou sistematizar a anlise das informaes
contidas nos materiais das organizaes. Dessa maneira, pode-se vislumbrar o incio de uma
abordagem analtico-sinttica j no trabalho desenvolvido por Kaiser. possvel afirmar que analtico
diz respeito identificao de conceitos que formam os assuntos dos documentos, ou seja,
decomposio dos assuntos e sua anlise com base em diretrizes que determinam o que so e o que
representam cada conceito em um discurso. Sinttico corresponde ao reagrupamento desses
conceitos por meio de uma sntese (terminolgica ou codificada) guiada por regras e princpios que
estabelecem as declaraes de assuntos.
Essa abordagem fundamentada na anlise das partes constituintes do assunto tende a
estabelecer estruturas de organizao do conhecimento que respeitam as caractersticas tpicas de
cada assunto, pois so os assuntos, materializados na literatura, que iro apresentar suas facetas e
seus conceitos, cabendo ao classificador e ao indexador a funo de organiz-los. Dessa forma,
comea a ganhar contornos um tratamento temtico dinmico que visa a refletir a expanso e a
atualizao dos assuntos no universo do conhecimento. Esse fundamento, concebido sob uma
perspectiva de teoria dinmica, que torna factvel o acompanhamento expansivo da dinmica dos
saberes.
Observa-se neste contexto de facetagem um aspecto j levantado por Kaiser quando da
elaborao de sua Systematic Indexing: um sistema que vise indexao de assuntos deve propiciar
elementos que orientem (instrumentalizem) o indexador a identificar e escolher os conceitos

572
fundamentais contidos nos assuntos, e no prescrever tais conceitos. Tal aspecto evidencia que
Kaiser j antecipava a necessidade de se desenvolver um sistema que, ao delegar ao indexador a
responsabilidade de escolhas, permitisse acompanhar a dinmica dos assuntos (Sales, 2012).
Embora a anlise de assuntos com base em seus elementos constituintes e informativos j
vinha sendo tratada desde a Documentao de Otlet, a forma como essa anlise se tornaria
logicamente factvel um aspecto que aproxima Kaiser de Ranganathan. A decomposio (anlise)
dos assuntos por meio dos conceitos que so manifestaes de facetas e categorias; a definio de
categorias fundamentais; a preocupao com a ordem de importncia e com a recomposio de tais
conceitos no momento de sintetiz-los (reagrup-los) para a indexao e; o respeito dinamicidade
das reas de conhecimento, so convergncias observveis nos trabalhos de Kaiser e de
Ranganathan.
Em uma perspectiva mais macro, verifica-se que Kaiser, ao estabelecer os pilares que
sustentam o mtodo analtico-sinttico, pode ter sido tambm o responsvel pelo incio da
concepo da abordagem metodolgica da indexao. Lanando um olhar atento sobre suas ideias,
concretizadas no Systematic Indexing, possvel afirmar que o trabalho desempenhado por Kaiser, no
final do Sculo XIX e no incio do Sculo XX, foi a transio entre o movimento de utilizar sistemas
para o movimento de criar sistemas, ou seja, a nfase do TTI, especialmente da indexao, passou a
ser a construo de mtodos, a construo de caminhos. Obviamente que a questo de um possvel
pioneirismo no que se refere indexao enquanto mtodo, no o mote deste estudo, mas sim uma
inferncia que transbordou os objetivos aqui almejados. Desse modo, investigar se Kaiser de fato foi
quem iniciou a indexao metodolgica no Sculo XX pode ser uma importante pesquisa para o
futuro na rea da organizao da informao.
Na primeira metade do Sculo XX, merece destaque tambm a contribuio de Edward
Wyndham Hulme (1859-1954). Dentre as concepes originais de Hulme, a garantia literria
emergiria como mtodo de considervel aplicao para o desenvolvimento de instrumentos de
Para Barit (2011), as funes principais da garantia literria so a justificativa e a
validao da terminologia adotada, bem como das relaes conceituais definidas no processo de
desenvolvimento de sistemas de organizao do conhecimento. Segundo o autor, Hulme foi quem
postulou a utilizao da garantia literria para esse fim cientfico e instrumental. Diante disso,
torna-se claro que Hulme, embora no tenha desenvolvido propriamente um sistema de
classificao, difundiu uma maneira de legitimar cientificamente o contedo (termos e relaes
conceituais) dos sistemas de organizao do conhecimento, por meio da garantia literria.
Adotar literatura especializada como base para assegurar cientificidade terminolgica, uma
concepo que une Hulme e Kaiser, visto que esse ltimo tambm advogava a favor da fidelidade
terminolgica. Porm, Kaiser avanou a questo ao complementar a garantia literria com a adoo
de princpios tericos categorizados.

2.2 Kaiser na catalogao de assuntos

A catalogao de assunto, a exemplo da classificao e da indexao, ocupa-se da
representao do contedo temtico veiculado pelos documentos, com o objetivo de gerar o ponto
de acesso de dado assunto. Definindo a catalogao nesse vis operacional, Immroth (1971) afirma
que a catalogao por assunto consiste em classificar documentos segundo um sistema prprio e
definir cabealhos de assunto segundo uma dada lista de autoridade. Para Fiuza (1985, p. 257),
catalogao de assunto a disciplina ou conjunto de disciplinas que tratam da representao, nos
catlogos de biblioteca, dos assuntos contidos no acervo.
Enquanto abordagem terica, a catalogao de assunto reflete uma tradio pragmtica anglo-
saxnica centrada na gerao de produtos advindos do tratamento temtico da informao em
bibliotecas. Fundamentalmente de matriz norteamericana, tem seus princpios fundados na

573
catalogao alfabtica de Cutter e nos cabealhos de assunto desenvolvido pela Library of Congress
(Guimares, 2009).
Quando Cutter publicou as Rules for a Dictionary Catalog, em 1876, o universo da catalogao
ganhou nova substancialidade, passou efetivamente a ser tratado como um campo frtil de pesquisa
(Barbosa, 1969; Foskett, 1973; Piedade, 1977).
As regras de Cutter para a elaborao dos cabealhos de assunto eram fundamentadas em trs
princpios bsicos: princpio especfico os assuntos deveriam ser dados entrada pelo termo mais
especfico e no pela classe a que estivesse subordinado; princpio de uso os cabealhos seriam os
termos sob os quais provavelmente a maioria dos americanos educados iria procurar. conhecido
tambm como o princpio da convenincia, e; princpio sindtico por se basearem em arranjos
alfabticos, muitas vezes as listas de cabealhos de assunto faziam aproximaes absurdas de
assuntos e ao mesmo tempo, separavam assuntos correlatos. Desse modo, Cutter props o
desenvolvimento de estruturas sindticas que, por meio de uma rede de referncias cruzadas,
poderiam ajudar ou mesmo superar este problema (Cesarino e Pinto, 1978).
observvel que os aspectos levantados por Cutter em seus princpios so tambm
trabalhados por Kaiser ao definir regras para a elaborao de enunciados de assuntos: 1) selecione o
que realmente importante para seu objetivo sem considerar forma ou extenso; 2) concentre-se na
informao relativamente especfica; 3) lide com cada item independentemente; 4) no adultere o
nome dos concretos; 5) evite inverso, preposies e plurais sempre que possvel; 6) teste a exatido
de cada enunciado pelo ponto de vista tanto do indexador quanto do usurio. (Kaiser, 1911, 348
Traduo livre).
Nota-se que Kaiser se assemelha a Cutter no somente na iniciativa de estabelecer regras para
a formao de termos de indexao, mas notadamente nos focos abordados. O princpio especfico
de Cutter, mesmo questionado por Kaiser o quo especfico o especfico? abordado nas regras
de formao dos enunciados. Enquanto Cutter definia que os assuntos devem dar entrada pelo termo
mais especfico e no pela classe a que est subordinado, Kaiser estabelecia que o foco devesse ser a
informao relativamente especfica. Embora ambos tenham se preocupado com a questo da
especificidade do termo de representao de assuntos, Kaiser avanou a questo prevendo a
necessidade que havia de possibilitar referncias de assuntos especficos para os assuntos gerais,
inexistente no catlogo dicionrio de Cutter (Foskett, 1986). Segundo Foskett (1973), a ligao dos
termos (concretos) em redes de remissivas coordenadas de forma superordenada e subordinada,
prevista no sistema de Kaiser, era o mais adequado.
Mills (1960) explica que os termos eram relacionados na rede de remissivas de Kaiser por meio
de cartes guias que especificavam, alm das relaes de termos superordenados e subordinados,
tambm termos sinnimos e qualquer outro termo/concreto que apresentasse alguma conexo
encontrada no momento da indexao da coleo. Nota-se que essas relaes entre termos tecidas
no systematic indexing uma continuidade do princpio sindtico preconizado por Cutter.
Observa-se que essa ateno dada aos tipos de relacionamento entre os termos, iniciada no
catlogo dicionrio de Cutter por meio das referncias cruzadas e avanadas no sistema de Kaiser
por meio das redes de remissivas, o incio de uma preocupao que permeia os estudos de
tratamento temtico da informao desenvolvidos posteriormente por Ranganathan e seus
seguidores da corrente inglesa de indexao.
Kaiser se ocupa tambm com a questo apresentada no princpio de uso de Cutter. Ambos os
sistemas esto voltados no apenas para o xito da representao (catalogao e indexao), mas
principalmente para a satisfao das necessidades dos usurios. E nesse ponto, mais uma vez
possvel verificar um avano de Kaiser com relao ao trabalho iniciado por Cutter. Enquanto este
apresentava uma postura mais dedutiva, pontuando que o cabealho deveria ser escolhido de
acordo com a deduo de quais os termos seriam provavelmente relacionados pelo usurio no
momento da busca, Kaiser buscava extrair do prprio usurio a exatido dos enunciados.

574
Embora se saiba que a representao de assuntos no se trata de uma tarefa isenta de
subjetividades, nota-se que tanto Cutter quanto Kaiser buscaram minimizar esse fator ao
determinarem princpios e regras que proporcionassem uma padronizao mnima e necessria para
o fazer da catalogao e da indexao. Porm, possvel verificar que tanto o Princpio de uso de
Cutter quanto as Regras 2 e 3 de Kaiser do vazo s subjetividades dos catalogadores e indexadores.
Cutter determinou que o uso dos termos empregados nos cabealhos deviam seguir o princpio da
convenincia, de acordo com a necessidade dos usurios, fator que delega a cada catalogador o
julgamento do que seria mais ou menos conveniente aos usurios. Da mesma forma, Kaiser definiu
que os termos a serem empregados nos enunciados deveriam ser os mais especficos (Regra 2), o que
d margem subjetividade de cada indexador decidir o que de fato mais especfico (lembra-se que
Aristteles afirmou nas Categorias que o mais especfico nem sempre o mais significativo em
situaes concretas) e, tratados de maneira independente (Regra 3), fato que seria prejudicial ao se
entender que, na realidade, o significado dos termos se relacionam com os contextos e com a tica
de quem cria e de quem utiliza ndices.
Desse modo, prefervel entender os princpios de Cutter e as regras de Kaiser no como
tentativas insuficientes de se neutralizar os aspectos que no sejam padronizveis, mas sim como
esforos iniciais em prol de uma uniformidade nos fazeres atinentes catalogao e indexao,
consistindo nos pilares iniciais para a construo de declaraes verbais de assuntos.
A Figura 1 (abaixo) ilustra sinteticamente as interlocues tericas aqui abordadas.

Figura 4 - Interlocues de Kaiser no TTI
17

A ilustrao acima mostra que a contribuio de Kaiser transita entre as trs abordagens de
tradio anglo-americana de TTI. Est na catalogao de assuntos, na medida em que continua e
avana o aspecto normativo da construo de declaraes de assuntos; est na classificao
bibliogrfica, na medida em que dialoga com a anlise de informaes de Otlet e com a construo
do mtodo analtico-sinttico, que serviu de base para a concepo da classificao facetada de
Ranganathan e; est na indexao, na medida em que preconiza a indexao como um mtodo
sistemtico para a construo de ndices, fator que alavancaria a nfase metodolgica da abordagem
inglesa de indexao. Alm do mais, converge com a ideia de garantia literria postulada por Hulme.
Desse modo, o presente estudo resgata Kaiser como um dos responsveis ora pelo avano, ora pelo
desenvolvimento e ora pelo pioneirismo de assuntos importantes na rea, ou seja, resgata Kaiser
como um referencial terico no universo epistemolgico do TTI.

17
Fonte: Elaborado pelos autores

575
Concluso

As interlocues aqui apresentadas revelam que, no que se refere classificao de assuntos,
Kaiser teve importncia fundamental ao influenciar na construo do mtodo analtico-sinttico,
espinha dorsal da teoria da classificao facetada de Ranganathan. Alm disso, Kaiser compartilhou
com Otlet e com Ranganathan o desenvolvimento de uma nova forma de analisar assuntos, baseada
nos elementos constituintes dos contedos de documentos. Relativo , Kaiser contribuiu ao definir
um mtodo para construo de ndices sistemticos de assuntos que, de certa forma, potencializou a
indexao enquanto abordagem metodolgica para construo de ndices. No que diz respeito
catalogao de assuntos, Kaiser contribuiu ao avanar os princpios preconizados por Cutter,
relativos padronizao de declaraes de assuntos. Tais evidncias permitem situ-lo efetivamente
em lugar de destaque no universo dos importantes tericos da organizao da informao,
assumindo muitas vezes situao de pioneirismo, e influenciando outros tericos de sua poca.
Este trabalho presta uma homenagem aos pouco mais de cem anos da publicao da principal
obra de Kaiser, o Systematic Indexing.

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ORGANIZAO DA INFORMAO E ARQUIVOS
Diferentes perspectivas informacionais em torno do documento de arquivo

CLARISSA SCHMIDT
Universidade de So Paulo - Escola de Comunicao e Artes
[email protected]

JOHANNA W. SMIT
Universidade de So Paulo - Escola de Comunicao e Artes
[email protected]

Resumo A organizao da informao nos arquivos engendra rumos especficos em relao a outras prticas
informacionais a partir do estabelecimento dos Princpios da Provenincia e da Ordem Original, tendo por
origem a promulgao e validao destes pelo Manual dos Holandeses (1898) e no I Congresso de Bruxelas
(1910). Assim, a Arquivstica se constri enquanto rea de conhecimento autnoma por teorias e metodologias
que visam representar as informaes do contexto de produo dos documentos de arquivo em detrimento s
de seu contedo. Porm, frente ao papel social da informao em tempos recentes, atualmente torna-se
fundamental para a rea valer-se de abordagens que contemplem o contedo dos documentos de arquivo.
Prope-se discorrer sobre as diferentes possibilidades informacionais que coexistem no campo dos arquivos,
que sejam as que esto dentro e as que esto fora do documento de arquivo, isto , informaes de
contexto e contedo. Para tanto, inicialmente buscamos analisar, na trajetria histrico-epistemolgica da
Arquivstica, como tais diferentes tipos de informao foram considerados para, posteriormente, analisarmos
os impactos do atual papel social da informao custodiada pelos arquivos. Como resultado, identificamos que
as informaes que esto fora do documento so portadoras de elementos que tributam Arquivstica sua
identidade frente a outras reas do saber. Contudo, no significa que as informaes de dentro devam ser
dispensadas ou negadas. Tanto informaes de contexto, quanto as de contedo, devem ser representadas de
forma unvoca e organizadas de modo a facilitar seu acesso de acordo com premissas especficas, porm no
excludentes. O acesso informao nos arquivos pressupe, portanto, a solidariedade entre dois tipos de
informao (contexto e contedo) e somente o efetivo entrelaamento das duas categorias informacionais
gera as condies para que os arquivos preencham seu papel social, ou seja, a organizao do acesso a um
determinado tipo de informao.

Palavras-chave Representao da informao. Organizao da informao. Recuperao da informao.
Documento de arquivo.

Abstract The information organization on archives takes specific routes related to other informational
practices since the institution of the Principles of Provenance and from the Original Order, originated by
the promulgation and validation of these by the Dutch Manual (1898) and the I Brussels Congress (1910).
Consequently, the Archival Science is built as an area of autonomous knowledge by theories and
methodologies that represent the information on the context of archival document files in detract from its
contents. However, towards the social meaning of information in recent times, it is of fundamental
importance to this area to broach the contents of the archival documents. It is aimed to discuss about the
different informational possibilities that coexist in the archives field; the ones that are inside the ones
outside of the archival document; meaning the informations context and contents. Initially we started to
analyze the historical-epidemiological trajectory of Archival Science; how those different types of information
were considered to lately analyze the impacts of todays social information on the custody of the archives. As a
result, we have identified that the outside document information carry elements that honor the Archival
Science its own identity when compared to other knowledge areas. Moreover, it does not mean that the
inside information should be denied or eliminated. Information of contexts as information of contents
should be represented in a univocal way and organized to facilitate its access according to specific premises
but not exclude. The access to information presumes the solidarity between two types of information (context
and content) and only the effective connection of these two informational categories create conditions for the
archives to fill its social rules; by the organization of the access to a determined type of information.

580

Keywords Information representation. Information organization .Iinformation retrieval. Records and
archives.

Introduo

No processo de construo da cincia Arquivstica, o perodo iniciado com a Revoluo
Francesa (1789) consolida, em alguns pases da Europa, a centralizao dos documentos dos arquivos
em modelos de instituio resultantes do novo papel que os documentos passam a representar nas
relaes de poder. Aliado a isso, trata-se de um momento em que buscava-se a afirmao do
sentimento nacionalista e a necessidade em inserir, na vida e no discurso dos cidados, razes de
identidade nacional. Os documentos que estavam nos arquivos foram elementos cruciais para tal,
cabendo aos profissionais dos arquivos atender essa demanda. Por conseguinte, implicaes destes
novos usos foram observadas no Fazer dos arquivos.
Essa viso institucional do documento, implementada conforme ideais liberais e nacionalistas,
transferira ao Estado a posse sobre os mesmos com objetivo de gesto patrimonial. Isso reforou a
necessidade em se refletir sobre a organizao dos documentos nos arquivos, j que seu crescimento
e acmulo apresentaram novos problemas como falta de espaos e instalaes inadequadas, alm da
ausncia de profissionais aptos a organiz-los, catalog-los e disponibiliz-los.
No s os novos usos atribudos aos documentos, mas a centralizao dos arquivos franceses,
como tambm os problemas derivados da mistura de grande quantidade documental, favorecem
para que apaream, a partir dos anos 1800, instrues para resolver questes desta natureza, como a
formulao francesa do Princpio da Provenincia, O Respeito aos Fundos, que surge como
resposta a problemas prticos, do Fazer, tornando-se um dos primeiros e ainda um dos principais
princpios tericos da rea, um Saber, que quase cinquenta anos depois foi chancelado pelo Manual
dos Holandeses.
A aceitao da publicao do Manual de Arranjo e Descrio de Arquivos, mais conhecido
como Manual dos Holandeses, ocorrida em 1898, (Muller; Feith; Fruin, 1960), como marco
referencial que situa o surgimento institucional da Arquivstica enquanto rea de Saber,
compartilhada por grande parte de sua comunidade cientfica. Isso no significa que esta tenha sido
a primeira publicao sobre a temtica ou que atravs desta que novas teorias foram construdas.
Contudo, foi atravs deste manual que o j referido princpio terico, gradualmente evoludo e
aperfeioado ao longo de anos anteriores, foi mais divulgado e concebido enquanto enunciado
fundamental. Ademais, outro elemento que justifica a cientificidade do campo dos arquivos a
partir do Manual dos Holandeses o que alguns tericos da rea definem como autonomia
perante outras reas do conhecimento, como a Histria, a Biblioteconomia e a Diplomtica, por
exemplo. Ou seja: a afirmao de teorias e princpios prprios.
De acordo com o arquivista americano John Ridener (2009), as teorias postas no Manual dos
Holandeses representam a consolidao de boa parte da teoria arquivstica que foi se construindo
desde os tempos medievais at o incio do sculo XX, refletindo o pensamento europeu oriundo da
experincia prtica do lidar com documentos medievais. J os canadenses Rousseau e Couture (1998,
p. 53), ao discorrerem sobre a importncia dos manuais de especialidade na constituio de um
corpus cientfico, afirmam que publicaes desta natureza articulam a teoria e as prticas em torno de
uma abordagem nica e permitem a transmisso do estado dos conhecimentos bem como o estabelecimento de
uma tradio.
Alm de ter oficializado e divulgado os princpios da rea, at ento o que havia de mais
moderno no Saber do campo dos arquivos, outro papel importante foi igualmente assumido por este
manual, o de afirmar as diferenas entre o Fazer da biblioteca e o do arquivo, isto , os motivos pelos
quais o documento de arquivo criado/mantido efetivamente se distinguem dos da biblioteca.

581
Tambm devem ser consideradas suas abordagens sobre o conceito de arquivo, de documento de
arquivo, descrio, organizao de documentos, inventrios, dentre outras.
Neste sentido, Menne-Haritz (1999) afirma que as instrues para o Arranjo e Descrio de
documentos de arquivo desenvolvidas pelos trs arquivistas holandeses, o que chama de teoria da
analogia orgnica, estabeleceu a identidade central da rea, ou seja, a distino entre um arquivo
como um todo orgnico e uma coleo. Segundo a autora, as instrues dos holandeses foram
oficialmente colocadas em uso na Sucia em 1903 e introduzidas na Dinamarca em 1907, atravs de
uma publicao de profissionais da rea. Descreve ainda a influencia de tais teorias no pensamento
do arquivista ingls Hilary Jenkinson durante a elaborao do Manual de Administrao de
Arquivo publicado em 1922, bem como no do arquivista italiano Eugenio Casanova em seu Manual
Arquivstica, publicado em 1928.
Nessa perspectiva, e considerando que o Manual dos Holandeses se configura como marco
de entrada da Arquivstica no campo cientfico, importante estabelecer tambm seu papel em
termos de delineamento metodolgico e ponto de partida para o avano de outras questes tericas,
lembrando que o seu contedo reflete um perodo, um contexto histrico-cultural especfico. Por
abordar a ideia da Organicidade, dos dois princpios, o conceito de fundo, de inventrio e
principalmente o que hoje definimos como funes arquivsticas, isto , a classificao e a descrio,
consideramos que o conhecimento transmitido atravs do Manual dos Holandeses estabeleceu,
nos apropriando do conceito de Kuhn (2006), os primeiros paradigmas para a Arquivstica,
elevando prticas e tcnicas ao status de cincia, inclusive por estar inserido nos modelos de
progresso cientfico preconizados pelos positivistas poca. Esses paradigmas se materializaram
em mtodos de ensino e sustentaram as bases tericas da rea, fundamentadas nos valores
histricos dos documentos. Desta maneira, alm de constituir o discurso coletivo de uma prtica
intelectual, o Manual dos Holandeses inaugura a efetiva posio de Saber ao campo dos arquivos
e influncia outras publicaes desta natureza.
No ano de 1910, por iniciativa da Associao de Arquivistas e Bibliotecrios da Blgica,
acontece o I Congresso Internacional de Arquivistas e de Bibliotecrios durante a Feira Mundial de
Bruxelas. O evento, que contou com a presena de conceituados personagens da rea da
Documentao e dos Arquivos, como Paul Otlet e Eugenio Casanova, tinha, entre outros objetivos,
refletir sobre questes tcnicas e profissionais no mbito dos arquivos e das bibliotecas. E visando
manter as duas reas autnomas de modo a respeitar suas especificidades, a organizao do
Congresso as dividiu em duas sees, cada uma com um presidente. No caso da seo de arquivos, o
presidente foi Samuel Muller, um dos autores do Manual dos Holandeses. Mesmo acontecendo
mais de dez anos aps a publicao deste manual, o Congresso foi um importante momento em que
seu contedo, ou seja, as cem regras para se trabalhar com documentos de arquivo, foi debatido e
colocado para avaliao pblica, sendo tal encontro reconhecido como o local oficial de divulgao
da obra.
Durante a reunio da sesso de arquivos, aberta s 9 horas da manh e presidida pelo Dr.
Bailleu, diretor dos Arquivos de Estado da ento Prssia, em Berlim, e que foi a primeira a acontecer
na segunda-feira dia 29 de agosto de 1910, foram pontuadas questes previamente consideradas
fundamentais para serem colocadas em pauta e discutidas entre os participantes. Ao todo foram
vinte e cinco questes de vrias ordens, tais como regras que deveriam ser aplicadas na construo
de arquivos, os melhores mtodos de restaurao e limpeza de arquivos, o que poderia ser eliminado
dentre os documentos, o que estava sendo feito nos pases para preservar os registros paroquiais
(batismos, casamentos, bitos), como deveria ser a formao dos arquivistas, seus dias e horrios de
trabalho, e muitas outras. Porm, a que vamos nos deter aqui ser a questo de nmero treze: a
aplicao do Princpio da Provenincia, instaurado pelo Manual dos Holandeses, para a
classificao dos documentos de arquivo, quais pases o estavam adotando e como, total ou
parcialmente.
Representando Roterd/Holanda, Wiersum afirmou se basear na autoridade de alguns
diretores de arquivos de outros pases, dentre eles Natalis de Wailly considerado por muitos
tericos da Arquivstica como o inventor do Princpio da Provenincia -, para mostrar vantagens

582
cientficas e administrativas deste sistema. Vindo de Viena/ustria, Gijrij de Nadudvar disse
concordar com o mtodo e acredita que ele deve estar presente em todos os arquivos. Os
participantes expuseram as dificuldades existentes nas classificaes anteriores ao estabelecimento
do princpio e como a partir deste ficou mais fcil classificar os documentos. Procedendo de
Florena, L. Pagliai concordou inteiramente com tal aplicao, justificando ser o nico princpio
cientfico que facilita e torna inteligente a pesquisa do historiador. Afirmou ainda que at ento
todas as classificaes que conhecia eram arbitrrias. Por fim, decide-se por unanimidade que o
Princpio da Provenincia o melhor sistema a ser adotado para classificao de um arquivo.
Contudo, importante observarmos que no foi somente por essa deciso coletiva e ocorrida em um
evento supostamente cientfico que conferiu valor de Saber aos princpios citados. Entretanto, essa
deciso unnime representa uma preocupao coletiva e cujas opinies foram formadas aps a
aplicao prtica dos princpios frente s maneiras de classificao existentes e experimentadas at
ento.
De acordo com Bellotto (2005, p. 16), os dois elementos mais importantes para sustentar a
teoria arquivstica so o Princpio da Provenincia e o Princpio da Organicidade, pois enquanto base
da sua teoria configuram a diferena entre esta e outras reas como a Biblioteconomia, a
Documentao e at mesmo a Museologia. E essa diferena acontece, principalmente, a partir do
momento em que a classificao dos documentos de arquivo passa a ser entendida menos pelos seus
assuntos e temticas para realiz-las a ordem na qual os documentos haviam sido produzidos (Duchein,
1986, p. 15). Afinal, a classificao, at as primeiras dcadas do sculo XIX, era elaborada sem levar em conta
a origem administrativa dos documentos (Sousa, R.T.B., 2007, p. 3).
No h dvidas que as primeiras dcadas do sculo XX foram bastante significativas para o
desenvolvimento da Arquivstica. As aes de centralizao e acesso aos arquivos, iniciadas pela
Revoluo Francesa, at a disseminao dos Princpios da Provenincia e da Ordem Original atravs
do Manual dos Holandeses abriram caminhos para que procedimentos anteriores realizados no
Fazer dos arquivos fossem questionados, como por exemplo, a classificao por assunto. Inaugura-se
uma nova ordem ao documento, da primazia do contexto frente ao contedo e a equivalncia entre
fatos e atividades, estabelecendo a a essncia do documento de arquivo, isto , seu estatuto
probatrio. Todavia, no podemos desconsiderar que os arquivistas poca estabeleceram suas
anlises a partir do que concebiam como arquivo, ou seja, arquivo histrico, formado por fundos
fechados nos quais a custdia era procedimento obrigatrio para manuteno da autenticidade dos
documentos de arquivo.
Frente ao exposto, podemos considerar que os princpios, conceitos e teorias arquivsticos
foram sendo construdos pela experincia profissional de arquivistas na lida com documentos
pblicos e que tinham por objetivo organiz-los e disponibiliz-los para a investigao histrica,
correspondendo ao delineamento de sua identidade terica e metodolgica atravs da necessidade
prtica em classificar documentos de arquivos. Mesmo considerando a classificao como principal
personagem neste momento de configurao cientfica da Arquivstica, maior relevncia para nossa
discusso perceber que neste perodo todas essas questes surgiram, permearam e foram pautadas
tendo como centro de anlise o objeto de trabalho dos arquivistas, isto , o documento de arquivo -
fundamentalmente em suporte papel.

1 Documento de arquivo: informaes de dentro e de fora

A consignao da Arquivstica enquanto campo cientfico esteve inserida no processo de
desenvolvimento histrico diretamente relacionado ao tempo e ao contexto em que estava
imbricada, sendo que o que conferia significados aos arquivos eram, essencialmente, os usos e
valores que se atribuam aos documentos. Com a promulgao e validao dos primeiros princpios e
com a publicao do Manual dos Holandeses, arrola-se a autonomia e consequente consolidao
do campo dos arquivos como rea de Saber, visto que a demarcao de certas caractersticas

583
estabelece e configura a ideia de documento de arquivo, contribuindo, sobremaneira, para a
identidade da rea.
Por documento de arquivo entendemos a

unidad de informacin estructurada y contextualizada, registrada em
cualquier soporte, producida por um agente produtor em el ejercicio de
funciones y atividades atribudas, testimonio y prueba de uma o varias
acciones cuya relacin entre ellas determina dicha unidad (Heredia
Herrera, 2011, p. 91).

Ou ainda, como o conjunto de documentos que, independente da natureza ou do suporte, so
reunidos por acumulao ao longo das atividades de pessoas fsicas ou jurdicas, pblicas ou privadas
(Bellotto; Camargo, 2010, p. 21). Isto posto, afirmamos que o documento de arquivo evidencia a
existncia e o funcionamento de uma instituio, permitindo-nos consider-lo o espelho, reflexo
fidedigno do funcionamento desta. E dessa relao, desse vnculo com seu contexto de produo,
decorre sua natureza probatria.
Portanto, na condio de objeto central da cincia Arquivstica, o documento de arquivo deve
ser compreendido a partir de atributos que, teoricamente fundamentados, o distinguem dos
documentos das bibliotecas, dos museus e de inmeras instituies de pesquisa. Ademais, a partir
destes atributos que as informaes inerentes ao documento de arquivo devem ser organizadas e
disponibilizadas.
Com vistas a fundamentar teoricamente como o documento de arquivo se configura e reflete o
funcionamento de uma instituio, torna-se fundamental compreender a estrutura deste
documento, seus elementos externos, intermedirios, substanciais e de utilizao. Tais elementos j
foram amplamente estudados por Vicenta Corts Alonso (1982) e Theodore Schellenberg (1963) -
este na perspectiva da descrio de documentos. Entretanto, vamos nos valer da proposta de
Bellotto (2002, pp.24-28), que revisita as abordagens de ambos os autores e prope, a partir de seus
estudos de anlises Diplomtica e de Tipologia Documental, trs elementos fundamentais para que o
documento de arquivo possa ser assim caracterizado e alcance a consecuo de seus fins. So eles;
elementos externos ou fsicos, internos ou substantivos e os intermedirios.

1.1 Elementos externos ou fsicos

Espao e volume que o documento ocupa;
quantidade;
suporte - material sobre o qual as informaes so registradas: papel, fita magntica, etc.;
formato - configurao fsica de um suporte de acordo com sua natureza e o modo como foi
confeccionado: caderno, livro, folha avulsa, etc.;
forma ou tradio documental - estgio de preparao e transmisso de um documento:
minuta, original, cpia;
o -gnero - configurao que assume um documento de acordo com o sistema de
signos utilizados: textual, iconogrfico, etc.

584
1.2 Elementos internos ou substantivos

Provenincia - instituio ou pessoa legitimamente responsvel pela acumulao,
produo ou guarda do documento;
funes, origens funcionais do documento, razo de produo;
contedo substantivo natureza do assunto;
data tpica (lugar de onde o documento est datado) e data cronolgica
(ano/ms/dia).

1.3 Elementos intermedirios

Espcie veculo redacional adequado, redigido e formatado de maneira que torne
vlido e credvel o seu contedo;
tipo- espcie carregada da funo que lhe cabe;
categoria reflete o peso e a hierarquia do seu contedo.

Em relao aos elementos externos, Schellenberg (1963, pp. 217-240) afirma tratar-se de
elementos de estrutura. Corts Alonso (1982, p. 63) os denomina o corpo do documento e, para
Duranti (1996, p. 120), so a forma fsica e constituem o carter material do documento, sua
aparncia externa. Para ns, estes elementos so considerados como informaes de contexto, as
que esto fora do documento de arquivo. J em relao aos elementos internos, o que Schellenberg
(1963, pp. 217-240) define como elementos de substncia, Corts Alonso (1982, p. 63) afirma que
so a alma do documento, e Duranti (1996, p. 119) os nomeia de forma intelectual, ou seja,
componentes de sua articulao intelectual. Sob nossa perspectiva, importante observar que estes
elementos so divididos em duas possibilidades informacionais; as de contexto, que esto fora do
documento, sendo a provenincia e as funes, e as de contedo, que esto dentro do documento,
sendo o contedo substantivo e as datas tpica e cronolgica.
No que tange aos elementos intermedirios, importante ressaltar que tal caracterizao
proposta por Bellotto (2002, p. 27) e no a encontramos nas obras dos demais autores supracitados.
Refere-se, como afirma a autora, a uma necessidade na relao suporte informao, pois sem os
elementos intermedirios, nesta relao os documentos pblicos administrativos e/ou jurdicos no
chegam consecuo de seus fins. Em nossa abordagem, os intermedirios so elementos de
contexto, que esto fora do documento.
Nesta perspectiva, os elementos externos, intermedirios e internos, o que estamos
traduzindo como informaes de contexto e contedo, isto , informaes de fora e de dentro
do documento de arquivo, que so as possibilidades informacionais inerentes a este documento,
inclusive na perspectiva do documento arquivstico eletrnico, e que devem ser objeto de trabalho
do profissional da informao. Entretanto, ambas as possibilidades informacionais devem ser
organizadas de acordo com premissas especficas a cada qual. Pens-las de maneira separada
favorece que certas caractersticas do documento de arquivo, como unicidade, organicidade,
indivisibilidade, por exemplo, sejam reduzidas, alm do Princpio da Provenincia.
Sendo assim, aps breve descrio e anlise dos elementos que, juntos, tributam ao
documento sua caracterstica de arquivstico, bem como definio e diferenciao do que estamos
considerando como informaes de dentro e de fora de contedo e contexto, respectivamente
-, ser possvel abordarmos o que estamos propondo como possibilidades informacionais no
documento de arquivo.

585
2 Possibilidades informacionais no documento de arquivo

importante reforarmos que o estatuto probatrio do documento de arquivo se d pela sua
natureza contextual e no pela natureza do assunto. Portanto, na teoria arquivstica, as informaes
de contexto so as mais significativas para a classificao documental. Porm, como vimos, na
sociedade da informao e em rede, de contnuo desenvolvimento das tecnologias digitais e
acentuada troca de informao e conhecimento, o acesso ao contedo do documento, isto ,
contedo substantivo natureza do assunto, algo que deve e passa a ser contemplado na atividade
do profissional da informao.
Devemos lembrar que nos campos da teoria e prtica arquivstica, a funo Descrio -
conjunto de procedimentos que, a partir de elementos formais e de contedo, permitem a identificao de
documentos e a elaborao de instrumentos de pesquisa (Bellotto; Camargo, 2010, p. 36) -, tem sido
tradicionalmente considerada e aplicada nos documentos de terceira idade permanentes,
fundamentalmente para elaborao de instrumentos de pesquisa com finalidade de acesso aos
documentos, onde o contedo passa a ser considerado. Inclusive, os estudos de Schellenberg (1963)
no que tange aos elementos externos e internos do documento de arquivo, foram pautados tendo em
vista a operao tcnica da Descrio.
Bellotto (1988, p. 65) considera duas vertentes descritivas; Sumria e Analtica, sendo que a
diferena entre ambas est calcada nos graus de amplitude e profundidade na abordagem dos dados
relativos aos documentos. Por Descrio Sumria define a correspondente srie como um todo,
enquanto a Analtica se ocupa do item ou pea documental, da menor unidade arquivstica.
Contudo, esta funo arquivstica, alm de comumente operada em documentos permanentes,
cujos trmites j esto encerrados, isto , no sero agregados novos documentos, foi desenvolvida
tendo em vista o Fazer com documentos em suportes materializados. Porm, em tempo presente, o
documento arquivstico eletrnico o majoritariamente produzido, alm dos procedimentos de
pesquisa presencial nas instituies terem sido abreviados, sendo cada vez mais ampliada a
necessidade de consultas virtuais, com respostas rpidas e objetivas. Alm disso, muitas
organizaes possuem situaes de recuperao de contedo em documentos de arquivo nos
momentos de produo e trmite documental, em servios de protocolo, nos bancos de dados, nos
sistemas eletrnicos, e na gesto de seus acervos e informaes de maneira geral.
Neste cenrio, entendemos que demandas de disponibilidade e acesso informaes no
documento de arquivo passam, necessariamente, pelo dilogo entre diferentes formas de
organizao e recuperao de ambas as possibilidades informacionais que abordamos, isto , as de
fora contexto -, e as de dentro contedo. Desta maneira, visando garantir o estatuto
arquivstico do documento, devem ser contempladas ambas as possibilidades informacionais e, no
entrelaamento das duas, serem aplicados os princpios e teorias da rea. Todavia, nossa abordagem
pretende pontuar discurso capaz de inserir, na prtica arquivstica, questes relacionadas
recuperao da informao que est dentro do documento. E, para tanto, vamos nos valer de
teorias e metodologias da Cincia da Informao.
Frente ao exposto, justificamos a necessidade de tal discurso por entendemos que no estamos
nos referindo a tema comum, tampouco tradicional, na cincia Arquivstica. Da mesma maneira,
ressaltamos que nossa abordagem, em momento algum prope-se a valer-se do contedo ou do
assunto do documento de arquivo visando sua classificao. Como j mencionado, o que
pretendemos inserir a necessidade da organizao, recuperao e acesso deste tipo de informao
no discurso e na prtica arquivstica.
Ao assumirmos que a Classificao sequencia de operaes que, de acordo com as diferentes
estruturas, funes e atividades da entidade produtora, visam a distribuir documentos de um arquivo
(Bellotto; Camargo, 2010, p.30). uma funo arquivstica intelectual, que organiza
fundamentalmente as informaes que esto fora do documento de arquivo, entendemos que
somente aps a realizao desta atividade que se torna possvel pensarmos nas informaes de

586
dentro. E isso se aplica a todos os tipos de documentos, em todos os suportes e em todas as fases
do ciclo de vida.
A partir disso, pensando na recuperao da informao para acesso, a Cincia da Informao
pode contribuir com seus estudos de Lingstica Documentria, como ontologias, vocabulrios
controlados, tesauros, indexao, dentre outros. Vejamos que especificamente para a
Biblioteconomia, a CDD e a CDU instrumentos de classificao -, podem ser consideradas
linguagens documentrias, ao passo que no campo dos arquivos a lgica no essa, uma vez que os
elementos utilizados para a classificao: as informaes de fora do documento, no podem ser
encontradas pelo contedo ou assunto do documento e tampouco seguir regras normalizadoras.
O que estamos considerando que o campo dos arquivos passe a valorizar, inclusive, as
informaes de contedo, de dentro do documento de arquivo, independente da fase em que
esteja inserido na teoria das trs idades. Afinal, as metamorfoses quanto aos documentos s se do sob o
ngulo do uso e no no das caractersticas externas e internas (Bellotto, 1988, p. 67).

Consideraes finais

Vimos que a Arquivologia se torna autnoma e estabelecida como rea cientfica a partir
da promulgao e divulgao do Princpio da Provenincia, que estabelece a ideia de Classificao
por origem de produo/acmulo, alm do da Ordem Original, do qual emerge a questo da
Organicidade. A partir disso, as informaes de fora, de contexto de produo/acmulo do
documento de arquivo passam a ser privilegiadas em detrimento das de contedo, de dentro.
Desta maneira, para efetiva classificao arquivstica tornou-se imprescindvel dominar os atributos
do documento de arquivo, o que acabou por revelar diferentes possibilidades informacionais
inerentes a este documento.
Nossa abordagem quanto a estas possibilidades no documento de arquivo no visa mudar a
operao de teorias, normas e princpios arquivsticos, tampouco substitui-los por outros mais em
voga ou de outras reas de conhecimento. Temos forte convico de que se aqueles no forem bem
aplicados acarretar em danos irreversveis para a sociedade. O que buscamos neste trabalho foi
apontar caminhos para necessidades que hoje so muito mais presentes do que antes e pelas quais
temos que nos preparar enquanto profissionais que lidam com documentos arquivsticos, sejam em
suporte fsico ou eletrnico. Isso tambm no significa que almejamos mudar a formao dos
arquivistas, mas sim inseri-los em perspectivas contemporneas. A recuperao das informaes de
dentro, de contexto, so hoje uma realidade, o que torna a tarefa de organiz-las, com vistas a
torn-las acessvel, fundamental.
Sendo assim, identificamos que as informaes que esto fora do documento so portadoras
de elementos que tributam Arquivstica sua identidade frente a outras reas do saber, o que no
significa que as informaes de dentro devam ser dispensadas ou negadas. Tanto informaes de
contexto, quanto as de contedo, devem ser representadas de forma unvoca e organizadas de modo
a facilitar seu acesso de acordo com premissas especficas, porm no excludentes. O acesso
informao nos arquivos pressupe, portanto, a solidariedade entre estes dois tipos de informao
(contexto e contedo) e somente o efetivo entrelaamento das duas categorias informacionais gera
as condies para que os arquivos preencham seu papel social, ou seja, a organizao do acesso a um
determinado tipo de informao.

587
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589
DIRETRIZES PARA ANLISE CONCEITUAL
As perspectivas de Hjorland, Dahlberg e Lakoff

RAFAEL APARECIDO MORON SEMIDO
[email protected]

[email protected]

WALTER MOREIRA
[email protected]

Resumo O que se depreende, prima facie, dos modos de articulao conceitual perspectivados na organizao
do conhecimento, uma esquemtica terminolgica com alcance operacional amplo. No obstante, so
notrios os esforos para estabelecer o estatuto epistemolgico da organizao do conhecimento por meio,
dentre outros expedientes, da atribuio de vnculos tericos entre correntes de pensamento e a esfera de
atuao da organizao do conhecimento. A situao da organizao do conhecimento, nesse sentido, poderia
ser descrita como tensional, vez que requer, de um lado, uma capacidade adaptativa e contextual
identificada com o relativismo funcional da esquemtica terminolgica e, de outro lado, a busca por
fundamentos tericos consistentes para compreender e explicar a natureza dos conceitos em consonncia
com o esforo epistemolgico de vinculao e esclarecimento de domnios. Em respeito a essa natureza
tensional da organizao do conhecimento, uma forma de articulao conceitual expressiva de tal natureza
necessitaria ser, ao mesmo tempo, adaptativa e fundamentada, contextual e geral, enfim, espelhar um domnio
especfico e se referenciar em um lastro terico geral e historicamente identificado. Este trabalho objetiva
analisar as perspectivas da anlise dos conceitos trazidas no bojo das teorias de Hjorland (2009) , Dahlberg
(1978) e Lakoff (1990) para amparar uma reflexo sobre a anlise do conceito no mbito da organizao do
conhecimento. A proposta terico-bibliogrfica pretendeu examinar o que se entende por conceito e anlise
conceitual para os tericos. Esse trabalho conceitual com base histrico-terica de identificao conceitual
possibilitar o mais amplo e fundamentado esclarecimento dos conceitos com suas razes tericas e domnios
que favoreceram sua emergncia. Com isso, foi possvel alcanar algumas diretrizes, a saber: necessrio
nutrir semanticamente os conceitos com mais propriedades referentes ao seu domnio original com todo
potencial descritivo e explicativo que ele transporta.

Palavras-chave Conceito. Anlise Conceitual. Organizao do Conhecimento.

Abstract What is evident, prima facie, in the modes of conceptual articulation in the knowledge organization,
is a terminological schematic with broad operating range. Nevertheless, the efforts to establish the
epistemological status of the knowledge organization are notorious, and occurs through, among other devices,
assigning links between theoretical schools of thought and the sphere of activity of the knowledge
organization. The position of the knowledge organization in this sense could be described as tensional, as it
requires, on the one hand, adaptive and contextual capacity - identified with functional relativism of the
terminological schematic - and on the other hand, the search for consistent theoretical foundations to
understand and to explain the nature of concepts - in line with the epistemological effort linking and
clarifying areas. Regarding this tensional nature of the knowledge organization, a form of conceptual
articulation of such a significant nature need to be, at the same time, adaptive and grounded, contextual, and
generally short, mirroring a specific domain and reference a general theoretical and historically identified
baseline. This paper aims to analyze the prospects of conceptual analysis brought by the theories of Hjrland
(2009), Dahlberg (1978) and Lakoff (1990) in order to support reflection on the conceptual analysis within the

590
knowledge organization. The theoretical and bibliographical proposed intended to examine what is meant by
the concept and conceptual analysis for theorists. This conceptual work based on historical and theoretical
identification enables broader conceptual and reasoned explanation of the concepts in their theoretical roots
and areas that favored its emergence. Thus, it was possible to achieve some guidelines, namely: it is necessary
to "nourish" the concepts semantically with more properties pertaining to its original domain considering all
descriptive and explanatory potential that it carries.

Keywords Concept. Conceptual Analysis. knowledge Organization.

Introduo

simbolicamente recorrente no mbito da Organizao do Conhecimento, campo que prope
mecanismos de compreenso dos universos simblicos de comunidades discursivas e instrumentos
de sistematizao destes mesmos universos para facilitar a recuperao da informao, bem como
na Cincia da Informao em geral, reunir a esfera operacional e a terica para fundamentar estudos
tericos e desenvolver tcnicas que visem objetivos funcionais relacionados informao e ao
conhecimento.
Parece mesmo inescapvel que todo o lastro de articulao terica, por mais que receba
aporte de reflexes filosficas, sociolgicas e histricas acaba sempre se submetendo ordem
esquemtica e funcional. A noo de relativismo funcional, por exemplo, constitui a chave de
abboda para a descrio metodolgica da Organizao do Conhecimento, e por isso ela aqui
frequentemente mencionada. Tal noo pode ser compreendida como uma expresso de discurso
retrico que tem sua validade determinada pelo contexto de informao e conhecimento a ser
organizado, com todos os matizes que carrega, a exemplo da compreenso metafrica e metonmica
dos conceitos, sentido social das categorias, etc. Na Organizao do Conhecimento, o relativismo
funcional ocupa a posio de objetivo final para todo o quadro temtico. Sendo assim, a Organizao
do Conhecimento respeita uma teleologia, amide, funcional. Esse relativismo funcional tambm
pode ser observado em outros ncleos epistmicos da Cincia da Informao, mas no cabe aqui
examinar esta problemtica por completo.
No obstante, sabendo-se que o funcional implica necessariamente um relativismo prprio de
cada situao, com suas aporias caractersticas, a Organizao do Conhecimento, presume-se, no
quer se restringir ao expediente de subsidiar funes de categorizao de cabedais de
conhecimentos, mas buscar no to timidamente alargar seu horizonte de perspectivao terica de
maneira a abranger uma generalidade explicativa perante o quadro maior das cincias. E, em
concomitncia, pretende um alcance descritivo condizente com os contextos particulares de
informao e conhecimento que visa tratar, seja do ponto de vista terico ou da perspectiva prtica.
O que se percebe, nesse sentido, a convergncia dialtica de duas linhas causais diversas: um
movimento de enfoque adaptativo (objetivando abarcar os contextos funcionais e domnios de
conhecimento) e outro de enfoque epistemolgico (que visa posicionar a Organizao do
Conhecimento na estrutura geral das cincias).
Compreendendo (e tomando por pressuposto) a essncia das prticas de organizao do
conhecimento nos termos estruturais da reunio tensional entre o adaptativo e o epistemolgico no
que toca ao seu modus operandi, apresentam-se, guisa de ensaio, algumas formas possveis de
anlise conceitual que reflitam esse movimento lgico dual, tendo sempre em linha de conta o
relativismo funcional enquanto telos norteador de todo esforo terico desenvolvido pela
subdisciplina da Organizao do Conhecimento. Neste trabalho opta-se por atribuir Organizao
do Conhecimento o adjetivo de subdisciplina, na esteira de Hjorland (2011), sem que com isso se
exclua a possibilidade de que a Organizao do Conhecimento seja um campo independente;
decidiu-se apenas deixar tal debate de lado nesse contexto.
Contudo, a anlise conceitual, a qual fazemos referncia, no exatamente o mesmo
procedimento ou etapa que permite a extrao do contedo de documentos para identificao do

591
assunto em indexao. Anlise conceitual no mbito da Organizao do Conhecimento deve ser
entendida como o mtodo utilizado para qualificar um conceito pretensamente cientfico e
determinar suas relaes lgicas. Esse processo d origem a todo esforo de organizar modelos
simblicos de mundo em classes e categorias.
Sendo assim, basicamente, erigem-se neste trabalho reflexes com base, por um lado, nas
propostas dos tericos I. Dahlberg (1978a, 1978b, 1993, 2006) e B. Hjorland (2009, 2011) e por outro
lado, nas contribuies de G. Lakoff (1990) para se compreender a noo de anlise do conceito,
fundamental Organizao do Conhecimento.

1 A organizao do conhecimento

Uma compreenso estrutural possvel da Organizao do Conhecimento conceber a noo de
uma morfologia de conhecimento de tipo segundo, expressiva, por seu turno, de conhecimentos que
requerem ser categorizados para favorecer a comunicao e a equalizao discursiva entre
interessados em um quadro temtico comum.
Segundo Dahlberg (2006), foi o bibliotecrio estadunidense Henry Evelyn Bliss quem utilizou a
expresso organizao do conhecimento (p. 11) no final da dcada de 1920 e incio de 1930 em seus
livros intitulados The Organization of Knowledge and The System of the Sciences e The
Organization of Knowledge in Libraries . Desde ento as atividades de organizao do
conhecimento tm sido um dos problemas centrais dentro e fora da Cincia da Informao.
Organizar o conhecimento envolve um quadro nocional que abriga, sobretudo, aspectos de
linguagem, tais como o conhecimento da forma expressiva dos cabedais a serem categorizados
(discurso sobressalente) e a compreenso das dinmicas de atribuio semntica s palavras (formas
categoriais socialmente involucradas). Para tanto, requer uma contribuio interdisciplinar, seno
orientadora de sua natureza, pelo menos indispensvel do ponto de vista operacional. Nesse sentido
que surgem as colaboraes oriundas da Filosofia, da Lingustica, da Sociologia, da Psicologia, da
Matemtica, da Estatstica, da Histria, da Biblioteconomia etc.
A partir disso, o campo que lida com a organizao do conhecimento desenvolve um processo
metodolgico de anlise e sntese que desemboca em um conjunto de conhecimentos sobre
conhecimentos primeiros (conhecimento das cincias e de outras reas do saber) em forma de um
esquema lingustico funcional que ir colaborar com uma comunicao mais eficiente destes
conhecimentos, na esfera social, cientfica, pedaggica ou outra. Com isso, propicia a interlocuo
entre os interessados em temticas afins para a futura produo de conhecimento.
So mltiplas, alis, as direes de estudo que, nesse sentido, podem ser tomadas na
Organizao do Conhecimento: desde uma abordagem que beira teoria do conhecimento, com o
estabelecimento de divises de tipologia de conhecimento at o enfoque nas formas idiossincrticas
de atribuio de significado social a termos lingusticos e elaborao de sistemas de organizao
voltados domnios especficos de conhecimentos.
Todavia, em termos materiais, a Organizao do Conhecimento constitui-se em uma
abordagem que trata de procedimentos informacionais, tais como a indexao, e processos de
sistematizao de conceitos e classes de assuntos para comunidades especficas, como se pode ler em
Hjorland (2011): classificao (junto indexao, descrio documental e metadados) forma a base
da organizao do conhecimento (KO), enquanto uma atividade prtica e enquanto uma
subdisciplina da biblioteconomia e cincia da informao (LIS), com enfoque no aperfeioamento
dessa atividade (p. 299, traduo nossa).
Atividade prtica com subdisciplina, a Organizao do Conhecimento encerra em si um
espectro de fatores relacionados informao e ao conhecimento, cada qual atrelado a uma linha
causal diferente (terica, institucional, epistemolgica e operacional) que so reunidas para projetar

592
expedientes tcnicos que deem conta de organizar o conhecimento segundo os objetivos dos
interessados.
Desse modo, colocam-se em marcha duas dinmicas metodolgicas, a que se responsabiliza
pela atividade prtica, desenvolvendo maneiras de organizao mais condizentes aos contextos de
conhecimento; e a dinmica concernente subdisciplina, que procura estabilizar a imagem
epistemolgica da Organizao do Conhecimento. Essa segunda dinmica, entretanto, no
desconsidera a primeira em seu esforo por delimitao cientfica, mas transporta os fatores
prticos como elementos para fundamentar a teoria.
Ressalta-se que a equalizao do ponto de vista terico entre Organizao do Conhecimento e
Cincia da Informao, bem como o espectro de atuao profissional e cientfica destes dois campos,
a despeito da inconteste parceria, ainda no esto consolidados. Temas como indexao e anlise de
assunto, e tudo o quanto relacionado, no estariam ligados representao e sistematizao do
conhecimento, porm referem-se extrao de informao de documentos, embora constem como
objetos de estudo no sistema de classificao da literatura de organizao do conhecimento
elaborada por Dahlberg (1993).
Nesse sentido, e a ttulo de anlogo estrutural da essncia metodolgica tensional da
Organizao do Conhecimento, Barit (1999) elabora uma forma de compreenso sobre a relao
entre Organizao do Conhecimento e Biblioteconomia (tendo em conta, como prprio da
subdisciplina, aspectos prticos/institucionais e tericos) que, sob um fundo de desenvolvimento
histrico, funda um marco terico-conceitual com base em axiomas a partir dos quais se espera
esclarecer a estrutura metodolgica da organizao do conhecimento.
Uma compreenso sinttica das reflexes de Barit (1999) para definir forma e alcance
metodolgicos da Organizao do Conhecimento, d a entender que o ncleo de significao em
torno do qual orbitam as acepes apresentadas expressa a noo de uma esfera de conhecimentos
articulados que se posiciona desde uma perspectiva cientfica (meta ou de segunda ordem) que
favorece, dentre outras, a abordagem biblioteconmica sobre o conhecimento socializado por
meio de suporte terico-conceitual e metodolgico, e propicia relaes de interface entre a
Biblioteconomia e reas afins. Nota-se, desse modo, que a Organizao do Conhecimento parte da
identificao das aporias de informao e conhecimento surgidas na esfera de atuao da
biblioteconomia, agrega uma generalidade terica eivada de influncias conceituais e
epistemolgicas de diversas correntes tericas - aos termos descritivos da demanda prtica, e
retorna um aporte tcnico/funcional para a resoluo da aporia.
Eis assim, em resumidas contas, a dinmica da Organizao do Conhecimento e seu
entroncamento disciplinar: unidade tensional entre o particular (adaptativo contextual) e o geral
(conceitual epistemolgico) e entre teoria e prtica; sendo tudo movido pelo objetivo final,
subsumido a um relativismo funcional.
Com base nessa compreenso estrutural da Organizao do Conhecimento, constituda aqui
como forma de aferio para manter a coerncia do discurso e no permitir que se tome direes
reciprocamente incompatveis, so tecidas algumas consideraes e diretrizes sobre a forma de
anlise de conceitos adotada pela subdisciplina como forma de entender um processo terico-
operacional caracterstico da rea. Por diretrizes, necessrio que se diga, compreendem-se alguns
apontamentos para entender melhor esses procedimentos fundantes da Organizao do
Conhecimento. Passa-se agora para a anlise do paradigma dominante no que respeita a
compreenso do conceito na Organizao do Conhecimento.

593
2 A perspectiva sobre anlise do conceito de Dahlberg

A perspectiva da anlise do conceito de I. Dahlberg surge no incio da dcada de 1970 na
Alemanha. Sua tese foi defendida em 1973, intitulada Foundations of unviersal organization of
knowldege. O objeto primordial de sua anlise esta centrado na noo de conceito. Nesta seo
procurar-se- expor o entendimento de Dahlberg sobre conceito e sua proposta de anlise do
conceito.
Para Dahlberg (1978a) o conceito definido como uma unidade de conhecimento que surge
pela sntese dos predicados necessrios relacionados com determinado objeto e que, por meio de
sinais lingusticos, pode ser comunicado (p. 12). Esta definio estabelece a natureza do conceito
enquanto uma parcela do conhecimento, isto , de um ente do pensamento humano. Essa parcela
obtida por um procedimento lgico que rene os predicados verdadeiros de um referente (objeto a
que se referem os predicados e enunciados) e os resume. Essa entidade epistemolgica precisa de
sinais lingusticos para ser comunicada.
O conceito valorizado nesta perspectiva o conceito cientfico, os quais seriam os nicos
plenamente descritveis ou definveis (Dahlberg, 1978a). Em outras palavras, campos do saber que
no possuam mecanismos de fixao dos conceitos para fazer referncia a objetos da realidade
seriam destitudos desta condio. A origem de um conceito est na composio dos predicados.
Segundo a autora (1978b) Cada enunciado verdadeiro representa um elemento do conceito (p.
102). Assim, o conceito seria formado por elementos, cada elemento descreve, por meio de um
enunciado, uma condio de verdade do objeto. As unidades de conhecimento so equivalentes aos
conceitos, so a sntese das caractersticas conceituais, fazem conexo com os referentes e podem
ser representadas por signos, seja uma palavra, nome, termo ou cdigo (Dahlberg, 2006).
Essa viso sistmica e compsita do conceito frente ao conhecimento em geral segmenta os
conceitos segundo a natureza: geral e individual. Um conceito geral, segundo a teoria de Dahlberg
mais abstrato possuindo predicados enunciados de tal maneira que no possuem poder algum de
indicao e determinao. Por outro lado, um conceito individual aparece como uma espcie, uma
descrio com determinao espao-temporal do objeto de referncia, o qual possvel extrair
analiticamente os predicados.
Vale-se de um exemplo dado por Dahlberg (1978a, p. 13):

Para apreender o contedo do conceito geral e abstrato de montanha
so apenas necessrios os seguintes predicados: ' um grupo de montes e
vales relacionados entre si', ou ' um macio mineral de formao e origem
comum, de grandes dimenses.'
Para apreenso do conceito individual 'monte Tauno' teremos que
acrescentar ao predicado ' um monte' as respectivas dimenses e situao
geogrfica.
Os conceitos individuais desta espcie necessitam, alm da descrio
dos seus elementos, a indicao do lugar e do tempo.

Pode-se afirmar que o elemento fundamental para explicar a diferena entre estes dois tipos
de conceitos est no grau de objetivao dos elementos nos enunciados que representam relaes do
referente. Quanto mais prximo do referente maior o grau de objetivao e mais prximo do
conceito individual. Por outro lado, quanto mais distante de um referente, mais vago e abstrato ser
o conceito, portanto, geral pois tem a capacidade de abarcar todas as manifestaes dos objetos
subordinadas ao conceito geral.

594
Esse grau pode tambm ser observado na descrio dos enunciados tomados como
verdadeiros em outro exemplo de Dahlberg (1993) relativo ao campo da Biblioteconomia. Para a
autora, os conceitos gerais possuem elementos obrigatrios, os quais tambm constam nos conceitos
individuais. Sendo assim, teramos na Biblioteconomia como elementos necessrios e conceitos
gerais: livros e documentos (objetos), catalogao (atividade), cdigos (ferramentas), para
recuperao (propsito), bibliotecas especializadas (ambiente). Na condio de conceitos individuais
de carter facultativo para explicao de Biblioteconomia: na Espanha (localizao) e 1993 (tempo).
H, porm, espcies de conceitos as quais fazem referncia a uma outra matriz mais detalhada
de conceitos que supera e esmia, segundo nossa avaliao, a diviso conceitos gerais e conceitos
individuais, a saber: conceitos de objetos (montanha, sociedade, dicionrio), conceitos de
propriedades (cor, calor, etc.), conceitos de processos (produo, preveno, etc.), conceitos de
fenmenos (barulho, trfego, etc.), conceitos de modos de ser (estar consciente, estar alegre, etc.),
conceitos de relaes (necessidade, condio, causalidade, etc.) e dimenses (espao, tempo,
posio) (Dahlberg, 1978a).
Essa unidade de conhecimento est suportada por uma teoria do conceito que reinsere na
discusso uma abordagem tridica do significado. Dahlberg tem o mrito de apontar para a
necessidade de uma teoria lgica do conceito e menos estrutural. A autora faz isso articulando uma
representao formal e diagramtica da unidade de conhecimento e suas relaes, no tringulo
conceitual (ver Figura 1):

Figura 1 - Tringulo Conceitual
1

Esse tringulo conceitual assemelha-se ao tringulo semitico de Ogden e Richards, o qual
apresenta na posio superior o pensamento ou referncia os quais so, por vezes, entendidos como
conceito. Porm, na estrutura de Dahlberg o conceito formado triadicamente, isto , h uma
interao entre referente e caractersticas, entre caractersticas do referente e forma verbal e, por
ltimo, entre o referente e a forma verbal equivalente. Nesse sentido, a formao de um conceito
para a cincia depende de processos relativos anlise, frequentemente envolvido com a
predicao, a denotao e a designao.
Tal esquema que explica o que o conceito sugere um procedimento que antecede quaisquer
tarefas relacionadas organizao do conhecimento. Esse movimento intelectual subjacente
organizao do conhecimento a anlise conceitual. A partir de Dahlberg (1993), podemos entender

1
Fonte: Dahlberg (1993, p. 11)

595
que a teoria do conceito que resgata procedimentos lgicos chamada de teoria analtica do
conceito orientada para o referente (p 11). Segundo argumenta a autora (1993), o qualificativo
orientado para o referente implica haver sempre alguma coisa no mundo real ou em nossa mente
que possa ser predicado, e analtico porque requer que os enunciados dos itens de referncia podem
ser determinados por simples caractersticas. Nesse caso, uma simples caracterstica seria o ponto
elementar obtido pela anlise do todo conceitual at uma de suas partes fundamentais.
Dahlberg (1993, p. 10-11) prope um modelo para construo conceitual, o qual supe como
passos: 1) partir de um universo de ideias, objetos, fatos, leis e aes; 2) extrair itens de referncia; 3)
avaliar os corretos enunciados sobre os itens; 4) sintetizar os enunciados em uma forma verbal,
termo ou nome; 5) utilizar da forma verbal no universo de discursos e nas demais aplicaes. Esse
modelo fornece procedimentos claros e objetivos para se organizar a anlise conceitual. Outro
benefcio da proposta de Dahlberg a produtividade que ele possibilita, permitindo que muitos
especialistas produzam resultados a partir da anlise dos conceitos em diversas reas e disciplinas.
A teoria de Dahlberg (1978b) afirma que quando se identifica similaridade entre as
caractersticas dos conceitos, deve-se falar de relao conceitual. A autora (1978b) apresenta cinco
conjuntos de relaes principais: relaes lgicas (identidade, implicao, interseco, disjuno e
negao), relaes hierrquicas (entre gnero e espcie), relaes partitivas (entre todo e as partes),
relaes de oposio (contradio e contrariedade) e relaes funcionais (conceitos que esto
implicados em um processo).
De acordo com Dodebei (2002), a proposta de Dahlberg insere-se na segunda forma de anlise
do conceito chamada de predicao conceitual, em que a primeira a diviso lgica de conceitos por
via dedutiva. Contudo, entende-se que a forma de anlise conceitual empreendida por Dahlberg ,
com efeito, uma anlise lgica do conceito - da mesma ascendncia que a diviso lgica -, a qual
pode ser encontrada de forma mais completa em manuais de lgica formal.
Essa teoria responde aos problemas ligados formao dos conceitos, apontando como estes
so formados a partir de caractersticas do objeto, permitindo a construo de sistemas de conceitos,
o que forma substancialmente o paradigma epistemolgico da Organizao do Conhecimento. Nas
palavras de Dahlberg (1978a):

Esta teoria coloca o trabalho no s da classificao mas tambm da
terminologia cientfica sobre nova base, visto que ajuda a lanar uma ponte
a lexicografia especializada e os sistemas de ordenao dos conceitos. Pois
sem definies, sem compreenso do contedo dos conceitos nenhuma
ordenao de conceitos pode ser construda (p. 18).

A abordagem de Dahlberg (1978a, 1978b, 1993, 2006) apresenta-se como aparentemente coesa
e coerente, mas as implicaes prticas de sua concepo de conceito e como analis-los provocaram
reflexes em diversos autores. O procedimento lgico-dedutivo de anlise dos conceitos abre pouco
espao para a flexibilizao dos significados pois sugere que para se analisar os conceitos devam ser
computadas apenas os enunciados verdadeiros, contudo a identificao das caractersticas dos
objetos representadas pelos enunciados verdadeiros respeita um contexto sociocultural e um
domnio de conhecimento especfico, o que abre margem para perspectivas contraditrias. H,
porm, outros pontos que poriam em desacordo o mtodo de anlise do conceito de Dahlberg com
respeito a uma teoria menos dedutiva de formao da definio dos conceitos e da categorizao
conceitual.
Assim, nesta perspectiva, a anlise do conceito seria considerada um procedimento ou mtodo
dedutivo de estabelecimento de conceitos que limita o espao para a confrontao das
caractersticas do objeto uma vez que estas so geradas a priori, muito mais que empiricamente.
Passa-se, ento, para a perspectiva de Hjorland sobre a anlise conceitual, o que, consequentemente,
o joga diante das ideias de Dahlberg.

596
3 Revisitando a teoria do conceito e a anlise do conceito

Como observado, prxima concepo funcional da anlise conceitual tem-se, no mbito da
Organizao do Conhecimento, a teoria do conceito de Dahlberg, para a qual o conceito pode ser
estruturalmente descrita como um expediente condensador de notas descritivas de um objeto que
da sua reunio e posterior expresso lingustica permite a compreenso unitria do mesmo. Em
outras palavras, segundo Dahlberg (1978a).

Podemos definir a formao dos conceitos como a reunio e
compilao de enunciados verdadeiros a respeito de determinado objeto.
Para fixar o resultado dessa compilao necessitamos de um instrumento.
Este constitudo pela palavra ou por qualquer signo que possa traduzir e
fixar essa compilao. possvel definir, ento, o conceito como a
compilao de enunciados verdadeiros sobre determinado objeto, fixada
por um smbolo lingustico (p.102).

Para o contexto da teoria do conhecimento e da lgica, essa hiptese sempre foi bastante
plausvel. Aristteles (2009), nos Tpicos, explica a noo de definio conceitual dizendo que
definio um enunciado que explicita o que cada coisa (p. 238). A definio corresponde a se
perguntar quid est ?: o que tal objeto de conhecimento em si e para si mesmo? E, a partir da
resposta pergunta, identificar, pela compreenso do conceito descritivo, os traos definidores que
correspondam essncia do objeto no quadro geral de distino entre entes, e categorizar, pela
extenso do conceito, o objeto conforme uma morfologia de gneros e espcies.
Entretanto, acredita-se que, Aristteles, em suas especulaes, no se guiava por objetivos
baseados em algum tipo de relativismo funcional, como a situao da Organizao do
Conhecimento. Esta, como se conjeturou, mistura a objetividade do real (na acepo cientfica de
independncia contextual) com meandros subjetivos, social e historicamente ambientados, sob a
esteira de um fim tcnico. O quid est no mbito da Organizao do Conhecimento seria melhor
expresso por: o que um objeto de conhecimento para seu contexto e para quem o conhece?
Nos termos de Dahlberg (1978a), o trabalho conceitual condiz muito com a dinmica
metodolgica que preza pela universalidade terica com as vinculaes e influncias
epistemolgicas, vez que reflete a universalidade das descries conceituais dos objetos de
conhecimento, permitindo um padro de universalidade mais defensvel, por meio do qual se torna
possvel formalizar o conceito para criar um critrio de reconhecimento que transcende os
contextos.
Mas o conceito tomado classicamente na abordagem de Dahlberg no possui potencial (ao
menos patente) para alcanar os meandros subjetivos e sociais que condicionam uma eficiente
categorizao de cabedais de conhecimento, j que se fundamenta na objetividade autoevidente dos
atributos caracterizadores dos objetos, olvidando da complexidade inerente ao contexto que
favoreceu o surgimento de tal cabedal. Assim, seria como se restringir (para usar uma terminologia
aristotlica) essncia dos objetos, sem ter em considerao os acidentes e desse modo perder de
vista a gama de nexos (disposies culturais, polticas, sociais, entre outras) que agregados
constituem a significao mais ampla dos conceitos com o consequente aperfeioamento das formas
de categorizao. As formas de categorizao so operaes sobre os conceitos e denotam um
processo de fixao de significados e explicitao das relaes conceituais.
Portanto, pode-se afirmar que, com base nessa acepo de anlise conceitual, se contempla,
com suficincia, mais a dinmica metodolgica de universalizao do conceito, a despeito de a
dinmica adaptativa impressa por um contexto determinado. Entretanto, o objetivo de relativismo
funcional, essa orientao para a utilidade, tambm guia as abordagens dessa acepo, como pode
ser notado pelos desdobramentos deduzidos por Dahlberg em sua teoria do conceito.

597
Como a Organizao do Conhecimento trabalha, essencialmente, com conceitos, os resultados
da categorizao (ontologias, tesauros entre elas) so, em certa medida, definidos como colees
organizadas de conceitos (Hjorland, 2009, p. 1520, traduo nossa). A noo clssica de conceito
promoveu uma lgica universalista, para a qual dos objetos de conhecimento emanariam
caractersticas descritivas auto evidentes e independentes de qualquer fator subjetivo de
interpretao.
Uma influncia remota dessa concepo seria a compreenso de homogeneidade do real, ou
seja, os objetos da natureza so formas inteligveis genricas e independentes da contraparte do
sujeito conhecedor, historicamente identificado e socialmente posicionado.
Da o entendimento da funo de categorizao se estruturar na descrio objetiva do mundo,
por analogia e por distino de atributos definidores. Conceito, nesse sentido, seria a reunio de
notas caracterizadoras, de algum modo, semelhantes entre objetos.
Em Hjorland (2009), por sua vez, se observa uma abrangncia suficiente das duas dinmicas
metodolgicas em questo: a que prima pela universalizao terica e a que procura abranger os
meandros conceituais dos contextos de conhecimento. Resumidamente, para Hjorland a teoria do
conceito, da qual parte a anlise conceitual, vai refletir, em seu ideal metodolgico, a forma
epistemolgica pressuposta pelos que se propem a desenvolver a anlise conceitual.
Hjorland (2009) delineia a questo conceitual a partir de um prisma por ele denominado post-
Kuhnian, significando que no v sucesso e superao, sob um percurso cronolgico, entre as
correntes epistemolgicas (ou paradigmas) das quais procedem as teorias do conceito, mas defende
a complementaridade entre elas em uma entremesclagem estrutural com vistas a melhor capacitar a
anlise conceitual.
E dessa maneira, como que vasos comunicantes, da epistemologia para a teoria do conceito e
desta para a anlise conceitual h uma continuidade estrutural e de mtodo.
A epistemologia se apresenta, segundo Hjorland (2009), como o melhor modo de se
compreender e classificar as teorias do conceito (p. 1519, traduo nossa). Dessa compreenso, ele
prope como correntes epistemolgicas mais frutferas para fundamentar a teoria do conceito na
Cincia da Informao e na Organizao do Conhecimento, o historicismo e o pragmatismo, que pela
tica do post-Kuhnian, poderiam ser coeridos para aperfeioar o potencial descritivo-
interpretativo da anlise conceitual. Do historicismo resgata a ateno aos contextos scio histricos
de conhecimento e informao, alm da abordagem hermenutica. J do pragmatismo - embora a
linha pragmtica no seja clara - a abertura do horizonte de conscincia para os objetivos, valores,
propsitos e, sobretudo, para as tarefas especficas a serem realizadas, em funo de descritores
conceituais.
Juntar as duas correntes epistemolgicas no sentido aventado por Hjorland, equivaleria a
conceber uma estrutura metodolgica de anlise conceitual que conjugasse a histria cultural de
formao dos conceitos com os propsitos funcionais de categorizao, em uma complementaridade
descritiva e interpretativa, na qual se busca identificar as influncias que favoreceram a constituio
conceitual, juntamente com a prospeco das potencialidades de uso das tramas conceituais.
Hjorland (2009), explica essa complementaridade metodolgica na seguinte concernncia:

Estudos sobre como um termo tem sido usado, tomados sozinhos, no
conseguem nos auxiliar a definir esse termo. Quando usamos linguagem e
termos, ns atribumos forma a um tipo de ato com a inteno de acoplar
algo. Os diferentes significados dos termos que usamos se constituem em
instrumentos mais ou menos eficientes para nos ajudar a acoplar o que
desejamos acoplar. Desse modo, conforme os filsofos pragmticos, tais
como Charles Sanders Peirce (1905), o significado de um termo
determinado no somente pelo passado, mas tambm pelo futuro (p. 1527,
traduo nossa).

598

O historicismo como meio de identificao do lastro diacrnico de formao das tramas
conceituais e o pragmatismo como forma de se adaptar ao contexto de informao e conhecimento,
so submetidos - ou mesmo erigem - a um relativismo funcional enquanto expresso da demanda
particular por categorizao de conceitos.
Ademais, sabe-se que, na Cincia da Informao, pela abordagem de anlise de domnio, que
tem como um de seus proponentes o prprio Hjorland (Hjorland; Albrechtsen, 1995), os conceitos
so estudados em seus domnios de significao e em relao com correntes epistemolgicas e suas
teorias. Portanto, segue a dinmica epistemologia-teoria-conceito e encontra sua contextualizao
dircursiva nas delimitaes do domnio.
Tem-se, dessa maneira, uma forma que corresponde s duas direes metodolgicas da
Organizao do Conhecimento; forma tensional que transporta potencial descritivo e interpretativo
conjugando o fator de universalidade com o fator de adaptatividade contextual na anlise
conceitual.
E , at certo ponto, pertinente identificar a noo de domnio em Hjorland (Hjorland &
Albrechtsen, 1995) com o que aqui se entende por contexto de conhecimento (adaptatividade ao
contexto de conhecimento). O domnio transporta elementos semnticos que lhe so peculiares e
identificadores, mas se acredita que contexto de conhecimento extrapola as fronteiras da noo de
domnio, pois esta expressa um tipo de restrio esfera cientfico-acadmica de conhecimento;
enquanto que ao se referir a contexto de conhecimento se pensa tambm na esfera social de
conhecimento cientfico.
Do argumento de Hjorland (2009) se depreende, enfim, que os conceitos devem ser analisados
tendo em conta a esfera social de perspectivao, isto , h que se devotar ateno s formas
discursivas que socialmente involucram os cabedais de conhecimento, da o alargamento do alcance
da anlise conceitual para abranger e pressupor uma teoria do conceito e uma epistemologia.
Nesse sentido, Hjorland (2009, p.1530, traduo nossa) assevera que

os conceitos tem que ser compreendidos enquanto significaes
socialmente negociadas que precisam ser identificadas por meio de estudo
de discursos mais que por estudos de usurios individuais ou por estudo de
princpios apriorsticos.

E destaca, como principal consequncia da adoo dessa sua proposta, a possibilidade de se
restabelecer contextos perdidos que conferem significao s palavras, isto , aos conceitos
(Hjorland, 2009, p. 1530, traduo nossa). Tratar-se-ia, ento, de uma aptido social e diacrnica de
aperfeioar o potencial semntico dos conceitos e, concomitantemente, o esclarecimento de
influncias tericas e de vinculaes epistemolgicas a eles relacionadas.
Da reunio dessas notas sobre a proposta de Hjorland, tomando a proposta de Dahlberg como
superfcie de contraste, o que se depreende uma acepo renovada do conceito, enquanto
expediente descritivo e interpretativo, por assim dizer, vinculante tanto ao contexto de
conhecimento (objetivos, forma discursiva originria e capacidade para operacionalizao
lingustica), quanto ao lastro de influncia histrico-terica (a composio histrica dos conceitos),
conjugando essas duas facetas sob a guia de um objetivo anterior que respeita a funcionalidade
enquanto o carter teleolgico de todo o trabalho da Organizao do Conhecimento.
Por conseguinte, a anlise conceitual dever, nos termos dessa proposta revisionista de
Hjorland, se constituir no amalgama tensional entre contexto de conhecimento e influncia
histrico-terica (sempre semanticamente perspectivada no social), respeitando os objetivos
funcionais demandados, pois assim estar posicionada dentro da dinmica lgico discursiva de

599
Hjorland (2009), cujo percurso metodolgico para anlise conceitual epistemologia-teoria-
conceito.

4 Contribuies de Lakoff noo de conceito e anlise conceitual

Com efeito, acredita-se que para favorecer ainda mais a forma dual da dinmica metodolgica
da Organizao do Conhecimento, seria pertinente agregar, no s formas epistemolgicas, mas ao
conjunto de teorias de conceito, uma abordagem que preze por uma abrangncia maior do polo
subjetivo na relao de categorizao de conhecimento por conceitos. Essa discusso revela como
insustentvel uma teoria clssica do conceito que no contemple a varivel subjetiva e contextual.
A assuno do conceito como base para os processos cognitivos tambm sustenta as operaes
de organizao do conhecimento. Em seu aspecto mais divulgado, contudo, os instrumentos de
organizao e representao do conhecimento ainda encontram fulcro nas concepes mais
tradicionais de conceito, originadas, principalmente, do modelo aristotlico. Assim ocorre com
sistemas de classificao como, e.g., a Classificao Decimal de Dewey e com alguns vocabulrios
controlados, sejam listas de cabealhos de assuntos, como, e.g., a Library of Congress Subject Headings
(LCSH) ou tesauros, como o Agrovoc.
Entretanto, concepes de que os conceitos podem ser melhor compreendidos e
operacionalizados quando so considerados em suas formas prototpicas, tm ganhado fora nos
anos recentes, e tm estabelecido interessantes dilogos com as concepes clssicas. Neste sentido,
podem-se citar, entre outros, os trabalhos de Rosch (1978) e Iyer (1995) e Lakoff (1990).
O conceito de conceito central na obra de Lakoff, ou pelo menos em duas delas: Metaphors
we live by (em parceria com Mark Johnson), publicado em 1980, e Women, fire, and dangerous things, de
1990. Para este autor os conceitos representam algo mais do que simples questes de intelecto,
posto que estruturam a percepo, a relao com o mundo e com outas pessoas. Nos termos de
Lakoff (1980), o sistema conceitual desempenha um papel central na definio de nossa realidade
quotidiana. Desse modo, relacionam-se intrinsecamente conceitos e categorias, pois, entende o
autor, a maioria das palavras e conceitos que utilizamos designam categorias, sejam elas categorias
de coisas no mundo fsico (como zebras) ou categorias de atividades de coisas abstratas (como o
governo) (Lakoff, 1990).
Na concepo clssica, objetivista, as categorias emprestam estabilidade e ordem ao mundo
percebido. Neste modelo no pragmtico, qualquer objeto identificado automaticamente
comparado com outras coisas que se conhece; decorre disto a implicao de que todos os objetos em
uma determinada categoria so considerados similares ou equivalentes (Iyer, 1995). A teoria clssica
do conceito baseada na suposio de que o mundo real - e esttico - estruturado em grupos
hierrquicos que compartilham propriedades inerentes.
Por esta razo, preciso compreender as categorias em limites rgidos. Segundo Iyer (1995),
essa concepo est ancorada em trs hipteses: a) o conceito funciona como representao
sinttica da classe; b) os aspectos definidores de uma categoria so tanto individualmente
necessrios como suficientemente unidos para determinar a categoria e c) os conceitos so
aninhados; a categoria subordinada possui todos os aspectos da categoria superordenada. Os
conceitos, nesta acepo, so definidos conforme sua capacidade de reunir um conjunto de
condies necessrias e suficientes que iro delimitar o que se situa e o que no se situa nas
fronteiras do conceito.
Na concepo ancorada na Semntica Cognitiva de Lakoff, os conceitos flutuam conforme a
linguagem e a cultura. Essa concepo baseia-se no reconhecimento de prottipos (exemplos tpicos
numa categoria), que ainda so formados a partir da hierarquizao, como no paradigma clssico,
mas sem a sua fixidez: rosa, e.g., num determinado contexto, pode ser um exemplo prototpico de
flor, do mesmo modo como tulipa pode ocupar essa posio em outro contexto. As categorias so
formadas por um conjunto de membros dentre os quais alguns so mais representativos do que

600
outros, denominados membros prototpicos em oposio aos membros perifricos. Consideram-se
membros prototpicos aqueles mais comumente identificados a uma determinada categoria, num
determinado campo conceitual.
Desse modo, as categorias conceituais, conforme compreendidas nas Cincias Cognitivas,
diferem significativamente do modo como so tradicionalmente compreendidas na perspectiva
objetivista. Lakoff (1990), alis, aponta que a mudana ocorre no apenas em relao s categorias,
mas na razo humana, de modo geral. Nesse sentido, argumenta Lakoff (1990), o pensamento
imaginativo, na medida em que os conceitos que no esto diretamente fundamentados na
experincia empregam metfora, metonmia e imagens mentais - as quais ultrapassam o
espelhamento ou a representao literal da realidade externa (p. xiv-xv, traduo nossa).
Desse modo, esta nova compreenso de categoria, altera, inclusive a viso de mundo, pois se
compreende o mundo no apenas em termos de coisas individuais, mas tambm a partir de
categorias de coisas, natural que se atribua existncia real s categorias (Lakoff, 1990).
Considerando-se, ento, a concepo pragmtica de conceito (Hjorland, 2009) preciso
admitir sua variao conforme contextos e operaes especficas, bem como situ-lo no conjunto de
interesses e teorias que motivaram sua construo, e necessrio ainda ater-se s idiossincrasias e
s influncias lingusticas e culturais (Lakoff, 1990) que iro motivar as diferentes conceptualizaes.

Consideraes finais

O exame do conceito permite estabelecer algumas diretrizes tericas. No que tange a
abordagem clssica de Dahlberg, pode-se concluir que a teoria do conceito utilizada
fundamentalmente na construo de linguagens documentais tradicionais. Alm disso, o conceito e
a diviso proposta pelo modelo clssico objetivista entre conceitos gerais e individuais, so
arbitrrios, uma vez que, em ambos os casos, tais conceitos necessitam de enunciados que se
referem mutuamente, portanto, no conteriam um carcter distintivo.
Ademais, o procedimento analtico-sinttico cartesiano, influenciado pela Lgica formal, que
subjaz a anlise do conceito, no compreende as formas naturais e as mudanas do significado
presentes na linguagem corrente e nos termos de modo especfico. Sabe-se que a partir de um
conceito definem-se as relaes que vo sustentar a formalizao de uma estrutura conceitual, a
qual pode ser expressa, em alguns casos, pelo computador (Gonalves Souza, 2008). Nesse sentido, a
teoria do conceito constitui-se em paradigma dominante da Organizao do Conhecimento, mesmos
em reas de estudo e aplicao tecnolgica.
Conforme mencionado na seo dedicada contribuio de Lakoff, a teoria clssica do
conceito est baseada na suposio de que o mundo real estruturado em grupos hierrquicos que
compartilham propriedades inerentes, as quais estariam representadas por enunciados
verdadeiros. A teoria clssica do conceito no se coaduna com a premissa das categorias
conceituais cambiantes. Diante dessa proposta, no caberia mais crer na reificao do mundo por
meio da rigidez da linguagem, muito menos que haveria uma nica relao causal entre fenmenos.
A dinmica e a vivacidade dos significados nos diversos domnios de conhecimento no so
compreendidas pela anlise conceitual de Dahlberg.
A partir de Lakoff pode-se concluir que os conceitos so dependentes da linguagem, da cultura
e das inter-relaes. No apenas os conceitos, mas tambm as categorias que subjazem nossas ideias.
Essa perspectiva no objetiva do conceito, a despeito de as diferenas assinaladas, ruma para uma
tendncia pragmtica em se compreender o conceito, mesmo que no esteja claro o vnculo com o
pragmatismo clssico. Nesse sentido, no cabe discutir se a leitura de Lakoff mais subjetivista
frente a um objetivismo funcionalista, qui relativista em alguns casos, da teoria clssica. O que se
procura ressaltar a renovao da discusso terica sobre o conceito e sobre anlise conceitual que,
ao fim e ao cabo, direciona-se para uma vertente mais pragmtica na medida em que inclui outras

601
variveis na anlise: a cultura e a vida da linguagem. Tal abordagem no seria, meramente,
relativista funcional ipsis literis porque a opo revisionista de Hjorland frente teoria clssica e a
presena dos estudos semnticos de Lakoff, sugerem um pragmatismo terico para a compreenso
do conceito e dos consequentes mtodos que se dispe para analis-los.
Resta-nos apontar algumas diretrizes gerais de interesse a futuras anlises, a saber: o conceito
no um todo acabado em um universo esttico; os enunciados verdadeiros que descrevem os
conceitos devem ser visto luz da continuidade das ideias e dos contextos culturais; a opo
pragmtica seria a mais razovel para dar sustentao aos conceitos que erigem sistemas de
classificao; o relativismo funcional ou a tendncia para descries prticas no constitui uma
abordagem razovel para compreender o conceito enquanto um fenmeno que ocorre entre as
culturas; os mtodos de anlise conceitual, especialmente os de descrio e de relaes conceituais
devem ser remodelados observando a dinmica do conceito, bem como e fundamentalmente, das
culturas envolvidas.

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abril de 2013, disponvel em
http://www.uff.br/ontologia/index.php?option=com_content&view=article&id=66&Itemid=6
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categorization (pp. 27-48). Hillsdale: Lawrence Erlbaum Associates.

603
A APLICAO DO SISTEMA DE CLASSIFICAO DECIMAL DE DEWEY PARA OBRAS LITERRIAS

ANA PAULA DA SILVA
[email protected]

CIBELE ARAJO CAMARGO MARQUES DOS SANTOS
[email protected]

Resumo Discute a utilizao da Classificao Decimal de Dewey - CDD, buscando compreender sua proposta de
organizao de obras literrias. Tabela comumente adotada por bibliotecas brasileiras, cumpre papel
importante na organizao fsica do acervo, porm parece no suprir as necessidades de recuperao de
informao existentes. Este sistema foi criado objetivando organizar fisicamente acervos, a partir do princpio
de sistema hierrquico, tratando o conhecimento de forma esttica sem considerar as complexas relaes
entre as reas e a interdisciplinaridade de um mundo cada vez mais dinmico. Tem por objetivo identificar
recursos existentes na CDD para a rea de literatura, investigar formas de organizao de obras literrias e
outras propostas de classificao. Foi realizada pesquisa bibliogrfica sobre o conceito de classificao, Mevil
Dewey e sua classificao, recursos da CDD e propostas alternativas para obras literrias. Apresenta o conceito
de classificao, estruturas da CDD, histrico da classe 800 Literatura, mostrando seu desenvolvimento ao
longo de mais de um sculo e vinte e trs edies. Expe trs propostas alternativas para a organizao de
obras literrias: o Vocabulrio controlado para indexao de obras ficcionais (Barbosa, 2005), a lista BISAC da
associao norte-americana BISG e os casos de bibliotecas pblicas da Austrlia e Reino Unido que aproximam
suas classificaes da organizao das livrarias apresentados por (Marker, 2008). Mostra que por mais que
existam recursos nos sistemas de classificao tradicionais tambm existe uma busca por novos mtodos que
minimizem os rudos na comunicao entre obras/informao e usurio. Apresenta exemplos de uso de
recursos da CDD em algumas bibliotecas. No foram encontrados muitos trabalhos sobre o tema, e apesar de
constantes atualizaes, a CDD no plenamente explorada nos recursos que oferece classificao de obras
literrias, o que leva ao questionamento sobre a razo dessa no utilizao e refora a importncia de novos
estudos.

Palavras-chave Classificao Decimal de Dewey - CDD. Organizao de acervos. Obras literrias.

Abstract Discusses the use of the Dewey Decimal Classification - CDD, seeking to understand its proposed
organization of literary works. Table commonly adopted by Brazilian libraries, fulfills an important role in the
physical organization of the collection, but does not seem to meet the needs of existing information retrieval.
This system was created aiming physically organizing collections, from the principle of hierarchical system,
treating knowledge as static without considering the complex relationships between the areas and the
interdisciplinary nature of a world increasingly dynamic. Aims to identify existing resources in the area for
CDD literature, investigate ways of organizing literary and other proposed classification. Bibliographical
research on the classification concept, Dewey Mevil and their classification, features of CDD and alternative
proposals for literary works. Introduces the concept of classification structures of CDD, historical class 800 -
Literature, showing its development over more than a century and twenty-three editions. Exposes three
alternative proposals for the organization of literary works: the controlled vocabulary for indexing fictional
works (Barbosa, 2005), the list of BISAC North American Association BISG and cases of public libraries in
Australia and the UK approaching their ratings of organization bookstores presented by (Marker, 2008). Shows
that while there are resources in traditional classification systems there is also a search for new methods to
minimize noise in the communication between construction / information and user. Provides examples of
resource use CDD in some libraries. There were found many papers on the topic, and despite constant updates,
the CDD is not fully exploited the resources that provides the classification of literary works, which leads to
questions about the reason for this non-use and reinforces the importance of further studies.

Keywords Dewey Decimal Classification - DDC. Organizing collections. Literary works.

604
Introduo

Neste trabalho discutimos a utilizao do sistema de Classificao Decimal de Dewey - CDD,
buscando compreender como ele auxilia na organizao e recuperao de informaes de obras
literrias.
Mesmo sendo a CDD uma tabela comumente utilizada por bibliotecas brasileiras, e cumprindo
o seu papel de organizao, ela parece no suprir as necessidades de recuperao existentes em um
acervo de obras literrias, como romance, poesia, conto, crtica literria, etc.
O sistema de Classificao Decimal de Dewey foi criado em 1873 e ainda que tenha sido
constantemente atualizado ao longo de mais de um sculo de existncia, apresentando um contnuo
desenvolvimento e atualmente seja disponibilizado via online para assinantes, a estrutura principal
continuou a mesma, o que causa algumas dificuldades para trabalhar/classificar um mundo cada vez
mais dinmico e que valoriza cada vez mais as relaes interdisciplinares. Observando acervos de
obras literrias, nos deparamos com este problema de comunicao, um rudo entre o
acervo/informao e o usurio.
Existem propostas hoje que apresentam formas alternativas de intermediar esta relao, aqui
sero apresentadas trs delas. Exploramos os recursos existentes na CDD para a rea da literatura,
buscando compreender sua utilizao, investigando formas especficas de organizao de obras
literrias nesta classificao e expondo outras propostas.

1 A classificao

A classificao um processo natural do ser humano, classificamos objetos e ideias para
agilizar a vida cotidiana e os processos mentais, mesmo que na maior parte do tempo no estejamos
conscientes das classificaes que fazemos.
Ao escolhermos nossas roupas para vestir estamos naturalmente classificando nossas opes,
podemos classificar as roupas como roupa para um dia de frio e roupa para um dia quente ou
roupa formal e roupa informal, esta classificao nos levar a fazer a escolha mais adequada
para determinada situao. Sem necessariamente entrar em questo de mrito: bom ou ruim, nosso
cotidiano est repleto de classificaes que nos auxiliam.
Portanto, a classificao uma separao de objetos e ideias diferentes, e o agrupamento de
objetos e ideias semelhantes, que tem por objetivo nos auxiliar em determinadas escolhas. Por ser
um processo que nos ajuda em diversos momentos, a classificao ou as caractersticas que iro
determinar o agrupamento ou a separao das coisas tambm poder variar de acordo com a deciso
a ser tomada, assim um objeto ou ideia pode ser classificado de formas diferentes em momentos
distintos, o jogo de tnis pode ser classificado como um esporte com bola, esporte individual,
esporte de quadra, esporte popular ou no, esporte olmpico, esporte tradicional ou no, esporte
profissional ou amador, sua classificao depender do objetivo e necessidade daquele momento.
No podemos dizer, portanto, que existe uma nica classificao correta, a discusso possvel se a
classificao adequada para o objetivo ao qual se prope.
Embora a classificao seja um processo recorrente e muitas vezes inconsciente, tambm um
processo cultural, sendo que nossas classificaes mais espontneas se baseiam em conhecimentos
sociais arraigados, e as classificaes mais artificiais tambm respondem ao pensamento dominante
em uma determinada poca e em um determinado local, como destaca Durkheim (citado por Burke,
2003, p.78): As categorias do pensamento humano nunca so fixadas de forma definitiva; elas se
fazem, desfazem e refazem incessantemente: mudam com o lugar e com o tempo.
O desenvolvimento do conhecimento, das cincias e das publicaes impressas criou a
necessidade de classificaes cada vez mais especficas. Com o aprofundamento dos conhecimentos

605
gerais e cientficos surgiram sistemas de classificao do conhecimento que os organizassem e com
isso facilitassem a estruturao dos estudos e dos currculos das universidades. Por sua vez, a criao
da imprensa e a multiplicao rpida de publicaes impressas gerou a necessidade de sistemas de
classificao que organizassem essas publicaes.
Ao longo dos ltimos sculos diversos sistemas foram propostos com essas finalidades, cada
sistema proposto tinha como base o pensamento de sua poca, os sistemas desenvolvidos para
organizar publicaes bibliogrficas se basearam nos sistemas filosficos apresentados para
classificar o conhecimento de uma forma geral. A partir do sculo 17, o conhecimento passa a ser
visto como algo cumulativo, ao mesmo tempo em que os nmeros j vinham ganhando importncia,
sendo considerados como um conhecimento impessoal e/ou imparcial. Os sistemas de classificao
bibliogrfica criados mais tarde so resultado destes pensamentos.
Embora haja muitas discusses filosficas envolvendo os sistemas de classificao e as
fronteiras existentes, ou no, entre uma disciplina e outra, os sistemas de classificao utilizados nas
bibliotecas tm como primeira finalidade organizar fisicamente os documentos, sendo eles baseados
em classificaes filosficas acabam por apresentar alguns problemas quando adaptados para a
classificao bibliogrfica.
A classificao em bibliotecas funciona tambm como a primeira forma de indexao das
obras, como afirma Langridge (2006, p.105): (...) a penetrao da classificao na vida sugere que
deve haver muito de classificao em qualquer forma de indexao de assuntos. (...), e completa:

Um esquema de classificao uma linguagem de indexao que
produzir um ndice final arranjado em ordem sistemtica. Uma lista de
cabealhos de assunto uma linguagem de indexao que produzir um
ndice arranjado em ordem alfabtica de assuntos com referncias-
cruzadas para mostrar as principais relaes. Para qualquer um desses
tipos devemos traduzir a anlise de assuntos de um documento feita em
nossas prprias palavras para uma linguagem controlada (nmeros de
classes em um esquema de classificao, termos escolhidos em uma
determinada ordem para uma lista de cabealhos de assunto) (Langridge,
2006, p.108).

Na primeira etapa da classificao de documentos em uma biblioteca que definir sobre o que
este documento trata o objetivo no deve ser s encontrar um lugar na estante para ele, mas a
partir desta deciso que se estabelecer uma comunicao com os usurios da biblioteca, esta
escolha implica na maneira como o usurio, em primeira instncia, conhecer o acervo da biblioteca.
O ideal que a solicitao pela informao corresponda forma escolhida pelo classificador para
tratar o documento, mas aqui temos outro problema que pode ser apontado nos sistemas de
classificao, um rudo na comunicao entre sistema e usurio com relao indexao primria da
obra, como indaga Barbosa et al. (2005, p.2): quantos leitores, at hoje, chegaram a nossa biblioteca
e pediram 'um livro de literatura alem'?.
Como afirma Pombo (1988, p.8): Classificar ento escolher uma entre outras classificaes
logicamente possveis procurando encontrar, para a escolha feita, um conjunto de razes
suficientes. Mas parece que em alguns casos as opes existentes limitam o classificador de
maneira a restringir sua comunicao com o usurio.
Tratando esta questo colocada por Barbosa (2005) do tema Literatura, isso pode ser explicado
em parte pela afirmao de Langridge quando ele aponta que mais complexo encaixar as
humanidades (artes, histria, religio e filosofia) nos esquemas de classificao do que as cincias, j
que estas possuem definies fixas, enquanto aquelas Esto frequentemente muito mais
relacionadas com indivduos do que com classes de objetos (2006, p.98).

606
Embora a afirmao possa ser verdadeira, a discusso mais corrente com relao a este tipo de
problema a limitao dos prprios sistemas de classificao, como j mencionado, eles foram
criados baseados no pensamento dominante de sua poca e para suprir necessidades prticas
daquele momento, mais de um sculo atrs, portanto, parece coerente pensar, depois de um sculo
em que o conhecimento e as cincias se multiplicaram de forma assombrosa, e a informao foi
democratizada ao mesmo tempo em que o desafio de organiz-la tornou-se muito maior em funo
de sua disponibilidade, que os sistemas j existentes no podem dar conta das novas demandas
surgidas neste cenrio.
Considerando que sistemas tradicionais no possam dar conta das novas demandas, mas
considerando tambm que a preocupao constante com sua atualizao um ndice de que existem
nestes sistemas qualidades que so teis para o trabalho nas bibliotecas, podemos questionar se
imprescindvel a utilizao de mais de um instrumento para estabelecer uma comunicao eficiente
entre usurio e biblioteca.

2 A Classificao Decimal de Dewey CDD

Melvil Dewey, nascido em 1851 nos Estados Unidos foi o idealizador de um dos sistemas de
classificao mais utilizados em todo mundo, no por acaso lembrado como o pai da
Biblioteconomia Moderna.
Antes de Dewey, as bibliotecas eram organizadas pelo chamado sistema fixo de localizao, ou
seja, salas, estantes, prateleiras e livros eram numerados e a sequncia desses nmeros indicava a
localizao da obra na biblioteca, mas a mudana de uma obra de lugar causava um efeito domin e
todas as obras subsequentes sofriam alterao em sua localizao, isso provocava um constante
retrabalho em bibliotecas em crescimento, j que a localizao s era vlida para o acervo localizado
naquele local especfico, a necessidade de mudana para uma sala maior ou para outro prdio
significava a necessidade de uma reclassificao dos livros (Guarido, 2008, 2010).
De acordo com a autora acima, pensando em todo o tempo e energia desperdiados em um
trabalho que periodicamente tinha que ser refeito, e considerando a possibilidade de livre-acesso do
pblico aos livros, Dewey empenhou-se na busca de um mtodo que resolvesse o problema,
organizando as estantes de maneira a facilitar o trabalho de funcionrios e frequentadores de sua
biblioteca. Depois de visitar vrias bibliotecas buscando uma soluo e observar a recorrncia do
problema, em 1873, Dewey teve uma espcie de epifania. Ele pensou num sistema que tornaria a
classificao relativa e a organizao dos livros por assuntos serviria para qualquer estante, de
qualquer sala, de qualquer biblioteca, acabando com a necessidade de reclassificao dos livros cada
vez que houvesse o crescimento da biblioteca.
Aos 21 anos, trabalhando como assistente, Dewey obteve autorizao para aplicar seu plano de
classificao na biblioteca do Anherst College. O mtodo funcionou e em 1876 a primeira edio
publicada anonimamente entitulada A classification and subject index for cataloging and arranging the
books and pamphlets of a library (Classificao e ndice de assunto para catalogao e arranjo de livros
e panfletos de uma biblioteca).
Por volta dessa poca muitos sistemas de classificao estavam sendo criados e
experimentados, e Dewey recebeu um pedido de autorizao para que seu sistema de classificao
pudesse ser traduzido para o francs; aquilo que seria uma traduo ganha um aumento
considervel e uma mudana de foco, sendo publicado em 1905 como um novo sistema de
classificao, a Classificao Decimal Universal CDU dos belgas Paul Otlet e Henry de La Fontaine,
que se apresenta com uma preocupao maior na organizao de ideias e no s na organizao
fsica de um acervo; isso torna o sistema de Dewey a base de outro sistema de classificao muito
importante e bastante utilizado nas bibliotecas pelo mundo (Guarido, 2010).
Melvil Dewey faleceu em 1931, mas sua contribuio para a Biblioteconomia permanece,
estando hoje o seu sistema de classificao na 23. edio.

607
O sistema de classificao idealizado por Dewey baseia-se numa organizao intelectual dos
livros a partir do uso de nmeros decimais. Os livros so organizados por assuntos, para tanto o
conhecimento humano foi dividido em dez classes, com base no sistema filosfico de Francis
Bancon, e essas classes divididas em mais dez subclasses cada uma, que podero ser divididas em
mais dez e assim sucessivamente.
A estrutura da CDD hierrquica, sendo as primeiras classes mais gerais e representadas por
assuntos cannicos, e as subclasses vo ficando cada vez mais especficas, cabendo ao classificador
definir o nvel de detalhamento necessrio para cada assunto em seu acervo. Estas classes de
assuntos so identificadas por nmeros decimais que iro indicar sua posio na hierarquia
intelectual e sua localizao na biblioteca. Convencionou-se que nenhum nmero na classificao
deve ter menos de trs dgitos, sendo as classes mais gerais assim numeradas:

000 Generalidades
100 Filosofia e psicologia
200 Religio
300 Cincias Sociais
400 Lngua
500 Cincias Naturais e Matemtica
600 Tecnologia (Cincias Aplicadas)
700 Belas Artes
800 Literatura e Retrica
900 Geografia e Histria

A quantidade de nmeros na notao aumenta de acordo com o nvel de especificidade do
assunto, quando a notao tem mais de trs dgitos convencionou-se colocar um ponto . depois do
terceiro nmero, isso facilita a leitura e a memorizao dos nmeros, como no exemplo: 869.3
Romance Portugus.
Esta estrutura permanece desde a primeira publicao, sendo que nem as classes principais,
nem as primeiras subclasses sofreram grandes alteraes ao longo deste sculo.
Outra caracterstica da CDD, particularmente importante para este estudo, so as tabelas
auxiliares que do o suporte necessrio para detalhar determinados assuntos que no aparecem de
maneira to especfica nos esquemas gerais, apesar dessas tabelas apresentarem numerao elas no
devem ser utilizadas sozinhas, tendo o classificador que se lembrar sempre que estes so nmeros
auxiliares que ajudam a compor a notao, sendo a notao um cdigo utilizado para representar o
assunto e tem a funo de indicar a ordem de organizao do acervo.
Embora a estabilidade na estrutura possa ser apresentada como qualidade, tambm pode ser
apontada como um problema j que o sistema hierrquico tende a projetar o conhecimento do
mundo como algo esttico e hermtico.
Ao longo dos seus mais de 100 anos a CDD foi sendo atualizada tendo sempre como referncia
a tentativa de equilbrio entre evoluo e tradio, Guarido (2008) em sua Histria da CDD nos mostra
algumas edies que trouxeram mudanas significativas na estrutura geral da publicao, das
edies apresentadas destaco algumas: 2. edio (1885) feita a partir das 44 pginas da primeira
edio, foi revista e aumentada estabelecendo a forma e a poltica do sistema para as prximas
dcadas; 13. edio (1932) foi a primeira edio aps a morte de Dewey e foi chamada de Edio
Memorial; 15. edio (1951) - Edio Padro, exps o conhecimento de modo hierrquico, feita para
bibliotecas com acervo inferior a 200.000 livros; 17.edio (1965) d nfase ao relacionamento de

608
assuntos e traz a classificao por disciplinas; 18. edio (1971) houve o aumento de cinco tabelas
auxiliares no sistema.
A partir de 1988 a CDD passa a integrar a OCLC - Online Computer Library Center e a 20.
edio (1989) a primeira edio a ser produzida com a utilizao de suporte on-line. O sistema
segue sendo atualizado, porm de forma mais constante j que a atualizao online muito mais
fcil do que a publicao de uma nova edio.
Hoje a CDD publicada nas duas verses, papel e virtual, a 22. (2003) e 23. (2011) edies
esto disponveis para assinantes no site da OCLC
1
, alm da 15. edio abreviada. O site oferece
treinamentos, atualizaes trimestrais e a possibilidade de participar de discusses sobre o sistema.

2.1 A literatura na CDD

Agora vamos apresentar de forma mais especfica os recursos oferecidos pela classe 800
Literatura da CDD. Primeiro vamos ver o esquema geral, sua utilizao e possibilidades, e
posteriormente vamos s tabelas auxiliares. Antecedendo os recursos de classificao atuais temos
um breve histrico das modificaes sofridas pela classe ao longo de sua existncia.

2.2 A classe 800

A classe 800 Literatura sofreu algumas alteraes ao longo dos anos e, especialmente para os
falantes e leitores da lngua portuguesa, algumas das mudanas ocorridas foram bastante
significativas.

Em sua primeira edio (1876) a classe de literatura j tinha a estrutura bsica que
possui hoje, com suas subdivises, a mesma numerao para as formas literrias, a
numerao 890 reservada para lnguas consideradas de menor expresso ou menos
conhecidas para os ocidentais e a literatura grega e latina com divises de formas
diferentes das demais lnguas, como mostra a figura 1.

1
http://connexion.oclc.org

609

Figura 1 Detalhe do esquema da classe 800 na 1. edio da CDD.
2

Para a segunda edio (1885) foi acrescentada para cada literatura uma subdiviso em
perodos, e dentro destes perodos uma srie de autores considerados significativos
recebia cada um a sua numerao. A literatura portuguesa no apresentava nenhum
tipo de diviso. J a literatura norte- americana ganhava destaque ao receber a
numerao 810, figurando assim como a primeira literatura a aparecer na organizao
fsica do acervo.
Na terceira edio (1888) aparecem as tabelas auxiliares e a estrutura da classe
continua a mesma. Esta foi a configurao da classe 800 por muitos anos, a literatura
brasileira no constava das edies e a literatura portuguesa possua somente sua
notao 869 e as indicaes para diviso de formas (-1 ao -9).
Na 13. edio (1932) a subdiviso 860 passa a ser apresentada como Literatura
espanhola e portuguesa, at ento s a literatura espanhola figurava no ttulo da
subclasse.
A literatura brasileira s veio a aparecer na 14. edio (1942) com o nmero
869.899891 e sem nenhuma indicao de divises.
Na 15. edio (1951) cada literatura passa a ter os seus respectivos perodos
numerados, e os autores especficos somem. Para a literatura brasileira apresentada
a sugesto de que ela seja classificada sob o nmero 869 precedido da letra B que passa
a identificar o Brasil.
A 16. edio (1958) traz uma diviso por perodos para a literatura portuguesa,
consolida a notao B869 para a literatura brasileira e inclui outros pases falantes da
lngua portuguesa.
Na 17. edio (1967) a literatura portuguesa segue sendo desenvolvida, neste
momento a recomendao que todos os pases falantes da lngua portuguesa sigam
as divises para literatura portuguesa.
A 18. edio (1971) apresenta diviso de perodos especfica para a literatura
brasileira.

2
Fonte: http://www.archive.org/stream/decimal01dewe#page/n22/mode/1up

610
A partir da 19. edio o esquema principal da classe fica estabilizado e as alteraes
ocorrem somente na tabela auxiliar.

Para a apresentao dos recursos foram utilizados trs autores distintos visando contemplar
toda a classe visto que cada um deles nos d um enfoque diferente, so eles: Maura Duarte Moreira
Guarido, Como usar e aplicar a CDD 22.edio, 2008; Marcelo Nair dos Santos, Classificao Decimal de
Dewey: classificao das obras literrias, 2010; e Nomia Lentino, Guia terico, prtico e comparado dos
principais sistemas de classificao bibliogrfica, 1971.
O texto apresentado por Guarido (2008) chama a ateno para questes gerais, recomendaes
que devem ser seguidas por todo classificador.
Uma questo particularmente pertinente classificao de obras literrias a Reduo da
notao, neste ponto Guarido (2008) observa bem o fato da CDD ser uma tabela adaptvel e servir
tanto classificao geral quanto classificao especfica, cabendo, portanto, ao classificador
avaliar as necessidades de uma maior especificidade, o que resultar em uma notao mais extensa,
ou uma menor especificidade na classificao de seu acervo, o que resultar em uma notao mais
enxuta.
Interessante notar que a capacidade de adaptao do sistema j vem sendo explorado h
muito tempo. Lentino (1971) cita em seu trabalho o fato de Ramiz Galvo ter desenvolvido uma
extenso para as literaturas portuguesa e brasileira antes que essas aparecessem nas edies da CDD,
essa extenso foi publicada em catlogo pelo Gabinete Portugus de Leitura em 1906, mais tarde, em
1943, a bibliotecria Adelpha Silva Rodrigues Figueiredo revisou o trabalho de Ramiz Galvo e
publicou sua reviso, esta reviso aparece no trabalho de Lentino com a diviso de perodos e
autores destacados nas literaturas portuguesa e brasileira.
Outro assunto apresentado por Guarido (2008) que nos bastante pertinente so as Obras
relacionadas, por serem as obras literrias muitas vezes adaptadas para outras formas (cinema, pea
teatral, espetculo de dana) ou traduzidas para outras lnguas, alm de comumente serem objeto de
crticas e estudos. De acordo com a autora, a CDD recomenda que adaptaes sejam classificadas
junto obra original, porm a recomendao no parece ser uma regra ficando a cargo do
classificador seguir ou no a indicao.
Esta recomendao j havia sido feita por Lentino (1971, p.130): (...) Achamos, porm, melhor
reunir todas as obras, originais e tradues de fico ou no-fico, sob o mesmo nmero, o que
facilita grandemente o trabalho e ser mais didtico.
Santos (2010) nos apresenta a classe 800 explicando que a numerao de 800 809 destinada
notao de temas gerais e estudos literrios que no tratem de uma forma ou uma lngua especfica
e os nmeros de 810 890 so destinados notao das diversas literaturas de acordo com a lngua.
Sendo que as notaes de 810 889 tratam das lnguas mais faladas ou mais conhecidas pelo mundo,
enquanto as notaes sob o nmero 890 so reservadas para lnguas faladas por menor nmero de
pessoas ou menos conhecidas, essas lnguas so reunidas por famlias lingusticas ou reas
geogrficas.
Conforme nos explica Santos (2010), a classe 810 pode ser utilizada para destacar uma
literatura ou reduzir sua notao, assim uma literatura que tenha destaque em determinado acervo
pode ser classificada sob a notao 810, deslocando-se a literatura norte-americana para a notao
820. Tambm uma literatura que tenha uma notao longa, segundo a CDD pode ser tratada atravs
do mesmo mtodo.
Outra opo para priorizar uma literatura utilizar smbolos ou letras em sua notao, assim
ao substituir o segundo dgito da notao por um smbolo ou letra esta notao anteceder a notao
810. Eis dois exemplos que o autor nos oferece:

611
8A0 Literatura albanesa
81 Poesia hebraica

Tambm com o objetivo de simplificar uma notao, o autor nos apresenta mais uma opo,
desta vez ele mostra como diferenciar literaturas escritas na mesma lngua em pases distintos sem
utilizar a notao extensa sugerida na CDD, onde ao final de cada literatura se faz a combinao da
notao da lngua com a notao da rea geogrfica o que resulta na notao 869.89923 para
Romance brasileiro.
possvel utilizar letras que identifiquem o pas de origem da literatura junto ao nmero
bsico da lngua em questo, assim podemos classificar a literatura brasileira em B869, a literatura
portuguesa em P869, a literatura angolana em A869, o mesmo podendo ocorrer com qualquer outra
lngua falada em mais de um pas como o ingls, o francs, o italiano, o espanhol, etc.
Lentino (1971) destaca que o arranjo desta classe diferente das outras por no priorizar o
assunto, devendo para a classificao das obras seguir a ordem: lngua, forma literria, cronologia do
autor.
Esta ideia tambm destacada por Santos (2010, p.4) quando d nfase para o fato de que
obra literria classificada pela lngua na qual foi originalmente escrita (...), e nos aponta que o
uso da Tabela 3 e suas subtabelas permite definir os gneros e as formas literrias.
Santos (2010) apresenta uma frmula para classificao de obras literrias que merece
destaque por sua fcil compreenso e memorizao:

N + T3

Onde:

N = notao base da literatura
T3 = gnero ou forma literria das subtabelas A ou B

N obtido na notao da CDD entre os nmeros 810 e 899, sendo que quando o nmero
terminar em zero este dever ser desprezado no fazendo parte da notao.
A utilizao das tabelas auxiliares para literatura, ou seja, a referida Tabela 3 e suas subtabelas
sero exploradas a seguir.

3 Tabelas auxiliares

As tabelas auxiliares aparecem pela primeira vez j na 2. edio (1885) da CDD assim
divididas:
Tabela 1 - Diviso geogrfica
Tabela 3 / Parte 1 Lnguas e Literaturas
Tabela 3 / Parte 2 Filologia

612
A Tabela de Lnguas e Literaturas apresentava uma lista com a numerao para algumas
literaturas, umas que constavam no esquema principal e outras que no estavam listadas nele.
Na 3. edio (1888) so cinco as tabelas:
Tabela 1 - Diviso geogrfica
Tabela 2 - Diviso de formas
Tabela 3 - Lnguas
Tabela 4 - Diviso filolgica
Tabela 5 Literatura
As tabelas de lnguas e literaturas foram separadas.
A estrutura das tabelas permaneceu a mesma durante muitos anos, na 14. edio as
tabelas de lngua e de literatura so unidas novamente voltando a formar uma nica
tabela, a tabela 3 que apresentava uma lista de lnguas com seus respectivos nmeros
para a lngua em si e para a literatura dali derivada,
Na 16. edio (1967) publicada uma tabela para auxiliar na classificao das obras de
Shakespeare.
A 18. edio apresenta a tabela de literatura bem desenvolvida com possibilidade de
classificar a obra por temas, grupos tnicos, elementos especficos, pessoas.

Exemplos: B869.2409355
B869.2 teatro brasileiro
4 perodo de 1921 - 1999
093 55 coisas cotidianas

A partir da 19. edio as alteraes feitas na CDD para a classe de literatura so todas
na tabela auxiliar que nesta edio desdobrada, sendo a Tabela 3 auxiliar para
classificar formas literrias como ensaio, histrias curtas, etc. e com a Tabela 3A surge
a possibilidade de classificar as obras literrias fazendo referncia ao assunto do qual
elas tratam.
Exemplos:
O nmero 3 refere-se a temas especficos e suas subdivises mostram tais
especificidades:
B869.43355
o B869.4 Ensaio brasileiro
o 3 perodo de 1830 - 1921
o 355 temas sociais

O nmero 9 refere-se a tipos de pessoas especficos e suas subdivises mostram tais
especificidades:
B869.149287
o B869.1 Poesia brasileira
o 4 perodo de 1921 1999

613
o 9287 mulheres

Na 20. edio, a tabela de literatura passa por novo desdobramento, sob o ttulo de
Table 3 - Subdivisions for individual literature, for specific literary forms publicada uma
breve apresentao das trs divises que vem a seguir e algumas recomendaes para
utiliz-las. A tabela 3A auxilia na classificao de obras de ou sobre um nico autor; a
tabela 3B auxilia na classificao de obras de ou sobre dois ou mais autores; e a tabela
3C s deve ser utilizada quando h instrues especficas na tabela 3B ou nas notaes
808 809. Todas elas apresentam a possibilidade de classificar as obras pela forma,
pelo tema, por tipos de pessoas, etc.
21. edio acrescenta-se Tabela 3C a possibilidade de auxiliar na classificao das
subdivises de arte 700.4 e 791.4.
Nas 22. e 23. edies as tabelas auxiliares de literatura permaneceram como na 21.
edio. Atualmente so seis as tabelas auxiliares:

1. Subdivises padro
2. rea
3. Subdivises para artes literrias individuais, para formas especficas
4. Subdivises de idiomas individuais e famlias de idiomas
5. Grupos tnicos e nacionais
6. Idiomas

No caso da classe 800, as tabelas funcionam para possibilitar a classificao por assunto, j que
como foi mostrado anteriormente a classe de literatura, ao contrrio das outras, no prioriza o
assunto ao definir a classificao.
Como expe Guarido (2008), a tabela 3 trata das formas literrias, caractersticas, temas e
pessoas, a tabela dividida em trs partes, e o que as difere que a primeira parte auxilia na
classificao de obras de um nico autor, a segunda parte auxilia na classificao de obras de dois ou
mais autores e a terceira parte reservada para temas mais especficos.
Santos (2010) explica que a Tabela 3A destinada ao auxlio da classificao de obras de ou
sobre um nico autor e inclui na notao o perodo em que a obra foi produzida. Para cada literatura
existe uma tabela dos perodos literrios especficos. Cada autor ter sua obra classificada em um
nico perodo literrio sendo recomendado que no caso de o autor ter produzido em mais de um
desses perodos sua obra dever ser classificada no perodo em que os estudiosos da rea
identificarem o autor, caso no haja consenso entre os estudiosos a obra dever ser classificada no
perodo em que a maioria dos livros foi publicada.
Os gneros e formas literrias primrias so apresentadas na tabela 3 em uma ordem
diferente da numrica, observando que no caso de uma obra contemplar mais de uma forma
literria, ela dever ser classificada respeitando a ordem apresentada: 2 - teatro, 1 - poesia, 3
romance, 4 ensaio, 5 oratria, 6 cartas, 8 - miscelnea.
Em um exemplo dado por Santos (2010), cartas poticas sero classificadas em poesia 1 e
no em cartas 6. Mais claro, porm o exemplo dado pela prpria tabela que explica que um
drama escrito em versos ser classificado como 2 teatro e no como 1 poesia.
Guarido (2010) apresenta as tabelas de forma bastante breve, utilizando-se de exemplos para o
melhor entendimento, com relao Tabela 3B, a autora nos mostra que esta contempla as colees,
nos dando como exemplo formas mais especficas de classificao como a poesia pica.

614
Santos (2010) por sua vez expe que a Tabela 3B destinada a auxiliar na classificao de
obras de ou sobre dois ou mais autores e a forma de montagem da notao idntica a forma geral.
Esta tabela tambm permite uma maior especificidade dos gneros literrios, por exemplo,
subdividindo a Fico 3 em Contos 301, Romance histrico 3081, Aventura 3087, Terror
30873.
Sobre a Tabela 3C, os autores so sucintos, Guarido (2008) aponta que esta tabela auxilia na
construo da notao de colees com caractersticas especficas, que versam sobre um tema ou
uma pessoa em especial.
Santos (2010) chama a ateno para seu uso bem mais restrito, podendo ser utilizada no
complemento das classes 700.4, 791.4, na sequencia 808-809 e em algumas notaes da Tabela 3B. O
autor tambm aponta como possibilidades da tabela a classificao de literaturas com temas
especficos e perodos literrios especficos como Realismo, Romantismo, Simbolismo, etc.
Outra possibilidade de auxlio na construo de notaes para a classe de literatura a Tabela
6 que trata de idiomas e dialetos, servindo de base para a construo de notaes das classes 490
Outras lnguas, dialetos e 890 Lnguas, dialetos e literaturas especficas, porm esta tabela s deve
ser usada quando houver instrues especficas nos Esquemas ou Tabelas auxiliares (Guarido, 2008).

4 O Sistema de Dewey e alternativas para a organizao de obras literrias

O Sistema de Classificao de Dewey parece servir bem finalidade para a qual foi
primordialmente criado, a organizao e localizao fsica do acervo, as crticas surgem quando
entramos no campo conceitual das suas estruturas hierrquicas ou quando atribumos classificao
o papel de primeira indexao das obras, como afirma Langridge (2006) e neste trabalho adotamos
como diretriz j que o assunto sob o qual a obra for classificada poder determinar a facilidade ou a
dificuldade de acesso do usurio a ela.
Neste ponto importante destacar que a classificao serve essencialmente organizao
fsica do acervo, enquanto a indexao tem como objetivo a recuperao da informao atravs de
palavras-chave. Indexar uma obra relacion-la a palavras-chave que representem seu contedo de
maneira que a informao possa ser recuperada mesmo na ausncia da obra. A classificao e a
indexao so instrumentos complementares na rotina de trabalho de uma biblioteca j que atravs
da indexao recuperamos a informao e atravs da classificao recuperamos a obra. Assim a
indexao auxilia na recuperao da informao em uma busca anterior ida ao acervo. J a
classificao determina a localizao do livro nas estantes e funciona como a primeira indexao na
medida em que corresponde a primeira palavra-chave ou na medida em que a busca se d
diretamente no acervo.
A insatisfao com esse papel de primeiro indexador da obra se evidencia pelas propostas que
surgem de organizar obras literrias de formas alternativas.
No livro Vocabulrio controlado para indexao de obras ficcionais de Barbosa et al. (2005) existe
uma proposta para a organizao de obras literrias, sejam elas livros ou em quaisquer outros
suportes, para bibliotecas cujo pblico no seja especializado, o objetivo da nova organizao
facilitar e aumentar o acesso dos usurios aos livros desejados ou que possam despertar interesse,
com possibilidade de uso para arranjo do acervo e para indexao.
O BISAC (Book Industry Standards and Communications), ligado The Book Industry Study
Group, Inc. (BISG) associao norte americana que cuida da poltica, normas e pesquisas tcnicas
relacionadas aos livros, grupo que tem por objetivo simplificar a logstica para todos os envolvidos
no comrcio e circulao de livros, como editores, fabricantes, fornecedores e bibliotecrios, tem
uma proposta de organizao e indexao de livros para que todas as instncias relacionadas com os
negcios de livros se comuniquem melhor, no site da associao a lista de termos recomendados est
disponvel com instrues de uso e um aviso de que se a pessoa no encontrar o termo que est

615
procurando pode entrar em contato que isso ajudar a melhorar o sistema. A ideia parece bastante
comercial e os termos lembram as sees de uma livraria.
O artigo Finding what you're looking for: a reader-centred approach to the classification of adult fiction
in public libraries (Marker, 2007) discute uma alternativa utilizada em algumas bibliotecas pblicas do
Reino Unido e da Austrlia. Considerando que os livros e a informao tm tido uma demanda cada
vez maior e as livrarias tornaram-se um timo negcio, mas as bibliotecas perdem espao, algumas
bibliotecas desses pases resolveram adotar o esquema de organizao das livrarias para as obras de
fico, passando a organiz-las por gnero: Western, Romance, Crime, Fico cientfica, Guerra, etc.,
o que parece ter sido uma estratgia correta j que a circulao dos livros nessas bibliotecas
aumentou.
Mas a estratgia questionada por Marker (2007), ele argumenta que existe uma dificuldade
em definir o gnero de algumas obras, at porque algumas delas apresentam mais de um gnero, e
que a classificao por gnero subjetiva. O autor afirma ainda que muitos leitores utilizam o
gnero para rejeitar obras e no para escolh-las. E destaca que seguindo o modelo das livrarias o
bibliotecrio no faz uma abordagem dirigida, mas muda de funo deixando de classificar as obras
para decidir em qual mercado leitor ela deve ser colocada.
As crticas de Marker (2007) no parecem muito convincentes j que as mesmas dificuldades e
subjetividade podem ser apontadas nos sistemas de classificao tradicionais.
Por outro lado, parece que as propostas apresentadas poderiam ao menos em parte ser
supridas pelos recursos existentes no Sistema de Classificao Decimal de Dewey e expostos
anteriormente.
A seguir veremos alguns exemplos do uso da CDD em obras literrias, utilizamos para o estudo
exploratrio seis bibliotecas, sendo que as bibliotecas 1 e 2 so bibliotecas universitrias, as
bibliotecas 3 e 4 so institutos de pesquisa, as bibliotecas 1 e 3 so integrantes do mesmo sistema de
bibliotecas, a biblioteca 5 uma biblioteca municipal e a biblioteca 6 a biblioteca nacional.
Foram pesquisados trs autores em todas as bibliotecas, sendo que nem sempre foi possvel
comparar a classificao da mesma obra nas diferentes bibliotecas, o que no final no se mostrou um
problema, mas foram utilizadas obras de mesmo gnero para efeito de comparao, os autores
pesquisados foram: Shakespeare (teatro), Euclides da Cunha (Os sertes) e Haroldo de Campos
(poesia).

Para a obra dramtica de Shakespeare foram encontradas duas classificaes:
822 Teatro ingls (Bibliotecas 1, 4 e 6)
822.33 Teatro ingls perodo elizabetano William Shakespeare (Bibliotecas 2 e 5)

Ambos os nmeros esto explcitos na CDD, no necessitando de seguir instrues para sua
construo, mesmo assim as opinies se dividem e algumas bibliotecas optam pela classificao mais
simples, sendo que as bibliotecas 1 e 5 contrariam o que afirma Langridge (2006, p.51):

As bibliotecas pblicas arranjam a literatura para atender de
preferncia s solicitaes de determinadas formas literrias tais como:
poesia, drama ou novelas. As bibliotecas acadmicas arranjam de
preferncia por perodo, uma vez que assim que o assunto tratado pelos
estudantes de literatura.

Interessante notar que a biblioteca que no utilizou o perodo da obra na notao o fez na
indexao, e a biblioteca que utilizou o perodo para compor a notao o omitiu na indexao, como
vemos na Figura 2, isso refora a necessidade de complementao entre classificao e indexao.

616

Figura 2 - Registro da obra de Shakespeare na Biblioteca 2.
3

Os sertes, de Euclides da Cunha recebeu quatro classificaes:

981 Histria do Brasil (Bibliotecas 1 e 2)
981.05 Histria do Brasil 1889 - 1930 Primeira repblica (Bibliotecas 5 e 6)
869.93 Prosa brasileira (Biblioteca 4)
869.9449 Ensaio brasileiro sobre perodo especfico (Biblioteca 3)

Neste caso interessante notar que a maioria das bibliotecas aqui citadas considera esta obra
um livro de Histria do Brasil, enquanto os dois institutos de pesquisa o consideram uma obra
literria, opinio bastante popular j que este livro considerado por muitos uma obra-prima da
literatura brasileira, literatura entendida como criao e construo, chegando alguns a afirmar ser
esta uma obra de criao potica (Campos, 2010).
O livro Os sertes poderia ser classificado tambm como um romance histrico ou uma obra
literria com temtica social, mas na maioria das bibliotecas vemos uma opo pela simplicidade.
Na Figura 3 vemos duas classificaes diferentes nas Bibliotecas 1 e 3 que pertencem ao
mesmo Sistema de Bibliotecas.

3
Fonte: http://acervus.unicamp.br/

617

Figura 3 - Registro da obra Os Sertes nas Bibliotecas 1 e 3.
4

A obra de Haroldo de Campos recebeu cinco classificaes, sendo quatro delas para o livro
Galxias:

869.14 Poesia brasileira 1921 1999 (Biblioteca 5)
869.91 Poesia brasileira (Biblioteca 4)
869.915 Poesia brasileira 2000 em diante (Biblioteca 1)
B869.15 Poesia brasileira 2000 em diante (Biblioteca 2)
B869.8 Miscelnea brasileira (Biblioteca 6)

Neste caso trs pontos merecem destaque:
O primeiro ponto que o autor classificado em dois perodos distintos, Haroldo de Campos
faleceu em 2003 e iniciou sua carreira literria na dcada de 1950, ento parece bvio classific-lo no
perodo que vai de 1921 a 1999, porm as duas bibliotecas universitrias optaram por classific-lo no
perodo que vai de 2000 em diante, poca em que ele pouco viveu. Talvez a deciso possa ter sido
baseada no fato de que sua obra sempre foi revolucionria e nada tem em comum com a poesia que
se fazia no pas nos anos 1950, 1960. Acreditamos que essa opo seja interessante e acertada, mas
evidencia a subjetividade envolvida na classificao.
O segundo ponto que nenhuma das bibliotecas o classificou como um poeta concreto,
embora seja ele um dos mentores do movimento da poesia concreta no Brasil.
O terceiro ponto que a Biblioteca 6 classifica a obra Galxias como Miscelnea enquanto as
Bibliotecas 1, 2 e 4 a classificam como uma obra potica, a obra uma prosa potica, mas
provavelmente por sua feio de mosaico foi classificada como miscelnea, mais uma vez fica
evidente a subjetividade inerente profisso do catalogador mesmo diante de um instrumento que
se prope objetivo.
Podemos notar ainda que embora a classificao no contemple a poesia concreta a biblioteca
2 utiliza a indexao para referencia-la, como mostra a Figura 4, funcionando assim a classificao e
a indexao como um conjunto de ferramentas que tornam a comunicao com o usurio mais
efetiva.

4
Fonte: http://dedalus.usp.br/F/6U8D4C4L6L47GVKLT8QB4B57K3MP1QY9SNICAB21FV639BF5KE-30533?func=full-set-
set&set_number=008556&set_entry=000103&format=037

618

Figura 4 - Registro da obra Galxias na Biblioteca 2.
5

Anteriormente vimos os recursos existentes na CDD, e embora no incio a tabela limitasse as
obras literrias s suas lnguas e formas, j h algumas dcadas isso vem sendo corrigido e a
possibilidade de classificaes mais especficas existe.
Ento por que a no utilizao dos recursos disponveis na CDD?
Algumas hipteses podem ser pensadas.
Podemos notar que a opo nas notaes parece ir na maioria das vezes na direo da
simplicidade, o que apontado como uma qualidade desejvel na notao e no acontece com
classificaes muito especficas que geram nmeros com muitos algarismos, mas tambm pode nos
levar a questionar o conhecimento do catalogador tanto com relao ao sistema de classificao
quanto com relao ao material com o qual est trabalhando.
As alternativas para a organizao de obras literrias vo na mesma direo das tabelas
auxiliares da CDD, em alguns casos com menos possibilidades, porm so propostas menos tcnicas e
que tendem a uma comunicao mais direta com o usurio.
Talvez devssemos considerar tambm que estamos em uma nova era do conhecimento que
pede novos sistemas de classificao para organizar novos conhecimentos e novas demandas de
informao.

Consideraes finais

A classificao um processo natural intimamente ligado ao meio e poca em que vivemos,
sendo derivada da cultura dominante. Sendo cultural tambm tende a ser naturalmente subjetiva, e
embora os sistemas de classificao criados ao longo dos sculos tentem ser objetivos eles so
regidos por um conhecimento socialmente construdo.
O Sistema de Classificao Decimal de Dewey foi criado h mais de um sculo e ao longo deste
tempo vem trabalhando para acompanhar o progresso do conhecimento e dar o suporte necessrio
para sua organizao. Os recursos do sistema vm sendo desenvolvidos com o objetivo de suprir as
demandas de uma exploso de informaes. Como pudemos observar a rea de literatura ganhou
com o tempo um novo enfoque ao possibilitar a classificao do texto atravs de seus temas e no
mais apenas por sua forma.

5
Fonte: http://acervus.unicamp.br/

619
Porm novas alternativas esto surgindo com a mesma finalidade, alternativas que
aparentemente priorizam os usurios da informao mais do que os profissionais que com ela
trabalham.
Como tambm observamos em nosso estudo exploratrio, as bibliotecas pouco utilizam os
recursos disponveis na CDD, recorrendo por um lado a suas notaes mais simples, e por outro ao
auxlio da indexao.
Talvez esta seja uma indicao de que um novo tempo exija novas formas de pensar o
conhecimento, e em um tempo no qual a informao est cada vez mais acessvel a todos,
precisamos mudar o enfoque de trabalho para atender as novas demandas.
Porm para responder essas questes de forma satisfatria e avanar nesta discusso seria
necessrio um estudo especfico junto a catalogadores e usurios para compreender como so
tomadas as decises dos profissionais e quais so as novas demandas dos usurios.

Referncias

BURKE, P. (2003). Uma histria social do conhecimento: de Gutenberg a Diderot. Rio de Janeiro: Jorge
Zahar.

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Intercincia.

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ficcionais. Braslia: Briquet Lemos.

POMBO, Olga. (1988). Da classificao dos seres classificao dos saberes. Revista da Biblioteca
Nacional de Lisboa , n. 2, p. 19 - 33. Disponvel em:
http://www.educ.fc.ul.pt/hyper/resources/opombo-classificacao.pdf - Acessado em:
out./2012

GUARIDO, M. D. M. (2010). CDD e CDU: uso e aplicabilidade para cursos de graduao em biblioteconomia.
Marlia: FUNDEPE.

GUARIDO, M. D. M. (2008). Como usar e aplicar a CDD 22.edio. Marlia: UNESP.

LENTINO, N. (1971). Guia terico, prtico e comparado dos principais sistemas de classificao bibliogrfica.
So Paulo: Polgono.

SANTOS, M. N. (2002 2010). Classificao Decimal de Dewey: classificao das obras literrias. v. 3. ver.
2010 para uso didtico.

620
ASPECTOS CULTURAIS NA REPRESENTAO DESCRITIVA DA AUTORIA
Anlise Normativa

NAIRA CHRISTOFOLETTI SILVEIRA
[email protected]

MARIA DE FTIMA GONALVES MOREIRA TLAMO
[email protected]

Resumo Em meio aos debates constantes sobre a autoria em diferentes reas do conhecimento,
importante desenvolver pesquisas integrando o contexto da natureza social representao documental. O
objetivo geral deste trabalho analisar como a autoria abordada na Representao Descritiva, por meio da
discusso de seus aspectos normativos presentes nos seguintes cdigos de catalogao: Normas para Catalogao
de Impressos, mais conhecidas como Cdigo da Vaticana, Cdigo de Catalogao Anglo-Americano (CCAA ou AACR) e
Resource Description and Access (RDA). Trata-se de uma investigao exploratria e terica, pautada nas
pesquisas bibliogrfica, documental, histrica e comparativa, que tem como objeto de estudo as normativas
que direcionam a representao da autoria e do autor no registro bibliogrfico. As normativas destinadas
representao da autoria relacionam-se parcialmente concepo de autoria e de autor presente nos cdigos
de catalogao. Em geral, as normativas especificam o valor conceitual de autoria e autor, pois esto
relacionadas necessidade de solucionar problemas para a organizao e representao documental. As
limitaes tecnolgicas impactam de modo significativo na elaborao das normativas, deixando a
representao documental muitas vezes inadequada ao documento representado. Sem dvida, a autoria um
importante elemento para a organizao, representao, busca, recuperao e identificao de documentos,
por isso dificilmente ser suprimida das representaes documentais, embora possa ser reordenada ou
realocada. As questes autorais na representao documental devem envolver o estudo dos usurios, dos
autores e das caractersticas do prprio documento para que os contextos socioculturais de produo,
representao, busca e recuperao da informao estejam contemplados na Representao Descritiva.

Palavras-chave Representao Documental. Representao Descritiva. Autoria. Cdigo de Catalogao.

Abstract Amidst constant debates about authorship in diverse areas of knowledge, it is important that
research be carried out to integrate the context of social nature and documental representation. The objective
of this work is to analyze how the authorship is addressed in Descriptive Representation, through discussion
of its normative aspects present in the codes adopted by descriptive representation in Brazil, namely: the Rules
for the catalog of printed books, better known as Vatican code, the Anglo-American cataloguing rules (AACR) and
Resource description and access (RDA). It is about an exploratory, theoretical investigation, based on
bibliographic, documental, historical and comparative research whose object of study is the authorship and
the author in documental representation, which has as its object of study the norms for representation of
authorship in bibliographic records. The norms relating to the representation of authorship relate partly to
the conception of authorship present in cataloging codes. In general, the norms specify the conceptual value
of authorship, in order to solve problems in the organization and representation of documents. Technological
limitations significantly impact the preparation of norms (or rules), leaving the documentary representation
often inadequate to the document representation. Undoubtedly, the authorship is an important element for
the organization, representation, retrieval and identification of documents, so it is hardly suppressed from
documentary representations, although it may be rearranged or relocated. The copyright issues in Document
Representation should involve the study of user and producers of the document so that the sociocultural
contexts of production, representation, search and retrieval of information are included in the Descriptive
Representation.

Keywords Documental representation. Descriptive representation. Authorship. Cataloguing codes.

621
Introduo

Desde as pinturas rupestres at os arquivos digitais, o homem tem registrado seu
conhecimento ao longo dos sculos, por isso o documento sempre esteve presente na histria da
humanidade. Algumas vezes os suportes so vistos como uma extenso da memria humana e, em
outras, como objetos de disseminao da informao. Assim, esses suportes possuem duas funes
principais: a de preservar e a de disseminar o conhecimento construdo por geraes.
Embora sempre presente, somente no sculo XX, com Paul Otlet (1934, 1937), que o registro
do conhecimento ficou conhecido como documento e recebeu uma definio que permitiu
reconhec-lo como duas instncias: a fsica (suporte) e a de contedo (informao).
Os documentos que compem um acervo fsico ou um repositrio digital so selecionados
mediante as polticas de formao e desenvolvimento de colees, amparadas nos objetivos de cada
instituio. Depois de selecionados, os documentos sofrem diversos processos de organizao e
tratamento necessrios ao seu armazenamento e recuperao. Esses procedimentos permitem a
oferta de servios e produtos comunidade.
Dentre os processos de organizao e controle dos documentos, tambm conhecidos como
tratamento documental, a representao documental teria duas grandes funes: representar o
documento produzido pela sociedade e permitir o acesso a este documento por qualquer indivduo
trata-se de um processo de mediao que est constantemente adequando-se s mudanas da
sociedade.
Como o objetivo geral deste trabalho analisar como a autoria abordada na Representao
Descritiva, por meio da discusso de seus aspectos normativos, primeiro ser apresentada a viso da
Representao Descritiva sobre o autor e o documento para fundamentar a anlise das normativas
dos cdigos de catalogao mais utilizados na elaborao do registro bibliogrfico em bibliotecas
brasileiras, a saber: Normas para Catalogao de Impressos, Cdigo de Catalogao Anglo-Americano (CCAA
ou AACR) e Resource Description and Access (RDA).
Como estudos sobre a relao de questes socioculturais e a Representao Descritiva so
escassos, essa investigao caracterizada como sendo uma pesquisa exploratria, pautada nas
pesquisas bibliogrfica, documental, histrica e comparativa entre as normativas e os cdigos de
catalogao. Em geral, as normativas especificam o valor conceitual dos termos autoria e autor, pois
as normativas buscam solucionar problemas prticos para a organizao e representao
documental. As limitaes tecnolgicas impactam de modo significativo na elaborao das
normativas, deixando a representao documental muitas vezes inadequada ao documento
representado e ao usurio da informao. Sendo assim, necessrio compreender o documento e
seu contexto de construo, circulao e uso para a determinao das normativas para a elaborao
do registro bibliogrfico.

1 A Representao Descritiva, o Autor e o Documento

O autor e a autoria integram o registro bibliogrfico quando vinculados a um documento. A
especificao e a descrio de elementos que identifiquem e possibilitem a busca e recuperao de
um documento pelo usurio inclui a identificao da autoria que normalizada segundo os cdigos
de catalogao adotados.
Pode ser que a contribuio mais significativa dos gregos Representao Descritiva tenha
sido o uso do autor de uma obra para a elaborao da entrada principal no registro bibliogrfico
(Strout, 1956). Para Svenonius (c1989, p. 17, traduo nossa), a autoria tem sido considerada como o
principal atributo de identificao de uma obra, pelo menos na tradio anglo-americana de
catalogao.

622
Cabe ressaltar que os catlogos se desenvolveram de forma diferente no Oriente e no
Ocidente, sendo o ltimo mais propenso a ressaltar o autor em seus registros bibliogrficos. Ainda
hoje no Oriente a entrada tradicional para um livro o seu ttulo (Strout, 1956).
Pettee (1985) observa que a atribuio da autoria sempre foi o princpio primrio nos cdigos
americanos, ou seja a identificao do autor seria o elemento mais importante para se elaborar o
registro bibliogrfico. Em outros cdigos europeus, como, por exemplo, o de origem germnica, o
elemento principal o ttulo.
Ao incluir a identificao da autoria e o controle da forma que seu nome ser representado, o
registro bibliogrfico torna-se mais eficiente, permitindo a recuperao, a identificao e a seleo
de documentos de forma mais precisa pelo usurio.
Muitas discusses sobre autor e autoria tm sido feitas em prol de representaes mais
fidedignas. A autoria na era eletrnica amplia essa discusso. H um novo contexto na produo do
conhecimento, por isso repensar os conceitos de autor e autoria to necessrio e urgente
sociedade contempornea. Uma vez armazenado de forma contrria s possibilidades de busca, o
documento pode no ser encontrado.
A tendncia observada a reordenao do conceito de autor e autoria que tem sido
utilizado por anos na Representao Descritiva, para os conceitos de responsvel e
responsabilidade. A forma como o autor e a autoria est contida nos registros revela como a
Representao Descritiva aborda essa temtica, pois a concepo de ambos est concretizada no
registro bibliogrfico.
Neste cenrio de adequao da representao documental ao contexto atual, surgem os
modelos conceituais FRBR e FRAD que alteraram o lugar do autor e da autoria na Representao
Descritiva e no se enquadram nas estruturas dos catlogos manuais ou automatizados vigentes.
Com a interpretao do documento como sendo quatro entidades (obra, expresso, manifestao
e item), a autoria passou a ser um dos possveis relacionamentos entre as entidades do Grupo 1 com
as entidades do Grupo 2 dos FRBR e um atributo da entidade manifestao (IFLA 1998; IFLA, 2009).
Acredita-se que o desenvolvimento de modelos conceituais seja uma busca ou um retorno aos
fundamentos tericos da disciplina a fim de encontrar solues para os problemas contemporneos
de Representao Documental. Os cdigos de catalogao Normas para catalogao de materiais
impressos e o Cdigo de Catalogao Anglo-Americano contm normativas estabelecidas sem a base
conceitual destes modelos, a Resource Description and Access busca incorporar em suas normativas tais
modelos conceituais. A anlise das normativas nos trs cdigos permite visualizar a trajetria do
autor e da autoria no registro bibliogrfico atravs dos cdigos de catalogao e relacionar as
questes socioculturais com a representao do documento em sistemas de informao.

2 Os Cdigos de Catalogao

Os cdigos de catalogao selecionados para esta anlise foram os citados na literatura como
os adotados massivamente nas bibliotecas brasileiras para a elaborao dos registros bibliogrficos e
para o ensino das disciplinas de Catalogao/Representao Descritiva nas escolas de
Biblioteconomia. A anlise destes cdigos no se dar em sua plenitude, sero analisadas apenas as
partes concernentes s normativas sobre as questes autorais. A seguir, uma breve descrio de cada
cdigo:
Normas para catalogao de impressos, tambm conhecidas como Cdigo da Vaticana. Este
cdigo foi o primeiro amplamente adotado no Brasil, sua primeira edio traduzida
de 1949 e a segunda de 1962. Ambas as edies possuem a mesma estrutura, so
divididas em quatro partes: a primeira destinada escolha e padronizao dos
pontos de acesso (exceto assunto); a segunda, descrio bibliogrfica; a terceira, aos

623
pontos de acesso de assunto; a quarta, organizao das fichas no catlogo. Sero
analisadas os captulos 1 e 9 da primeira parte e os captulos 1, 7 e 8 da segunda parte;
Cdigo de catalogao anglo-americano (CCAA, sua sigla em ingls AACR tambm muito
usual). A primeira edio deste cdigo foi traduzida em 1969, recebendo a sigla CCAA.
A segunda edio foi traduzida em dois volumes, sendo o primeiro publicado em 1983
e o segundo em 1985, recebendo a sigla CCAA2. A segunda edio possui algumas
revises em ingls, porm apenas a reviso de 2002 foi traduzida em 2005, recebendo a
sigla CCAA2R. A primeira edio possui uma estrutura diferente da segunda, porm
ambas no abordam a representao temtica do documento. Sero analisados os
captulos 1 e 6 (CCAA) e os captulos 1 e 21 (CCAA2 e CCAA2R);
Resource description and access (RDA), ainda no traduzida ou adotada, porm apontada
como a norma que substituir o CCAA2R. Sua estrutura muito diferente dos cdigos
anteriores. Essa norma dividida em 10 sees e por ser uma norma baseada nos
modelos conceituais FRBR, FRAD e FRSAD, abarca a representao temtica de um
documento. Sero analisadas as sees 1, 2 e 6.

As Normas para catalogao de impressos e a RDA no se intitulem como cdigo, porm neste
trabalho ambas as normas sero consideradas como cdigo a fim de traar a trajetria da questo
autoral nos instrumentos adotados para a elaborao da representao descritiva. As Normas para
catalogao de impressos foram substitudas pelo Cdigo de catalogao anglo-americano que, por sua vez,
ser substitudo pela Resource description and access.
Embora utilizem terminologias variadas (entrada, cabealho, ponto de acesso,
relacionamentos, descrio e registro), os cdigos determinam normativas especficas para dois
elementos distintos: os pontos de acesso e a descrio bibliogrfica. Observa-se que o primeiro
cdigo utiliza o termo cabealho e o ltimo relacionamento para denominar o captulo referente
s normativas para os pontos de acesso; o termo descrio foi substitudo por registro nos
captulos destinados descrio bibliogrfica. Essa alterao terminolgica nos cdigos fez com que
fosse necessrio o cotejamento entre as normativas, a fim de prosseguir com a anlise e identificar
as alteraes em normativas equivalentes. Independentemente da terminologia adotada, possvel
identificar duas grandes subdivises nas normativas dos cdigos de catalogao, uma destinada
escolha dos pontos de acesso e outra destinada descrio bibliogrfica. Tem-se, portanto, a anlise
normativa dividida em dois grupos: pontos de acesso e descrio bibliogrfica.
Existem vrias normativas que abordam as questes autorais, entretanto, foram analisadas
aquelas que se referem ao autor em seu sentido restrito. Foram utilizadas normativas com o sentido
amplo apenas para explicitar certas caractersticas e proporcionar uma viso geral sobre esta
temtica. Por exemplo, foram abordadas as normativas referentes ao autor de livros e outras
funes relacionadas a uma pessoa, como tradutor, ilustrador etc. No foram consideradas as
normativas relativas autoria de entidade coletiva e autoria em documentos diversos, como por
exemplo, o autor em obras de arte, gravao de som etc.
Embora estudar a relao da autoria com a Representao Documental em sua plenitude seja
necessria, o recorte sobre o autor, em seu sentido restrito, foi estabelecido para a anlise normativa
que busca fornecer uma viso geral sobre a autoria na Representao Documental.

3 O Autor, o Documento e a Representao Descritiva: Aspectos Normativos

A estrutura dos trs cdigos de catalogao selecionados para a anlise muito diferente
entre si, porm os trs determinam normativas para a escolha dos pontos de acesso e para a
descrio bibliogrfica com base em questes autorais, embora utilizem outra terminologia. Sendo
assim, optou-se por analisar em cada cdigo, as normativas em dois blocos: escolha dos pontos de

624
acesso e descrio bibliogrfica. Por serem normativas elaboradas em estruturas prprias, no foi
possvel estabelecer equivalncia direta entre as normativas nos trs cdigos analisados. Trata-se de
um trabalho de interpretao sobre as normativas relacionadas autoria e ao autor, na qual foram
identificados elementos comuns e passveis de comparao.
As normativas presentes nas Normas para catalogao de impressos foram as mais fceis de serem
comparadas, pois as duas edies possuem a mesma estrutura e praticamente as mesmas
normativas. As normativas presentes no Cdigo de catalogao anglo-americano foram relacionadas
mediante sua interpretao e categorizao, uma vez que a estrutura das trs tradues diferente.
As normativas da Resource description and access no foram comparadas entre si, pois h apenas uma
verso de seu texto, ainda em lngua inglesa. A comparao entre as normativas de um mesmo
cdigo possibilitou trilhar um percurso do tratamento da questo autoral nos cdigos e analisar a
trajetria em diversos cdigos, traando um panorama histrico e comparativo geral que perpassa
vrios cdigos, elencando consideraes acerca desse tema.
As Normas para catalogao de impressos foram analisadas em suas duas edies brasileiras.
Primeiramente focou-se nos critrios para a escolha de pontos de acesso relativos autoria. Para
tanto, recorreu-se primeira parte desse cdigo. Posteriormente, foram analisadas as normativas
para a descrio bibliogrfica da autoria, localizadas na segunda parte do cdigo.
A primeira parte desse cdigo denominada Cabealho da ficha principal e est dividida em 11
subpartes ou captulos, a saber: 1 Autores pessoais; 2 Nomes dos autores; 3 Nomes geogrficos; 4
Entidades coletivas como autores; 5 Annimos; 6 Bblia; 7 Livros sagrados orientais; 8 Livros
litrgicos, catecismos etc.; 9 Obras em colaborao; 10 Peridicos; 11 Sries, colees de monografias
e outras colees.
Como as duas edies desse cdigo apresentam a mesma estrutura, a anlise das normativas
segue a diviso dos captulos elencada no cdigo, comparando-as em suas duas edies. Como no
intuito desse trabalho analisar todas as normativas, foram selecionadas aquelas diretamente
relacionadas ao tratamento da autoria, atravs do autor pessoal na representao documental.
Sendo assim, sero analisadas apenas as normativas de dois captulos desta primeira parte: 1 Autores
pessoais e 9 Obras em colaborao.
Nas duas edies analisadas das Normas para catalogao de impressos a identificao da autoria
um elemento primordial na catalogao do livro, pois a primeira normativa se refere catalogao
do livro pelo seu autor. Um livro no deve ser considerado de autoria annima at que se esgotem
todos os recursos de identificao (Vaticano, 1949, 1962).
Embora a normativa priorize a catalogao para o autor (no sentido de estabelecer a entrada
principal para ele), existem normativas aplicadas em diferentes situaes: considera-se o tipo de
funo e de autoria (autor, compilador, autoria compartilhada e outros), o tipo e forma do
documento (livro, monografia, ilustraes etc.), e at mesmo a rea do conhecimento (arquitetura,
msica). Observa-se que as normativas so muito variveis, dependendo de cada situao.
Entre as duas edies das Normas para catalogao de impressos, foram observadas apenas quatro
diferenas nas normativas, a saber: em Colaboradores, na qual h reduo na quantidade de
colaboradores transcritos; em ndice de obras diversas e em Regesto que na segunda edio
receberam ampliaes; e em Libretos, que na primeira edio considera ponto de acesso principal
(PAP) para o compositor da msica, enquanto que sua segunda edio considerou o PAP para o autor
do libreto.
Em sua primeira edio, para um livro de autoria colaborativa entre dois e cinco autores, no
havendo meno das partes ou sees que caberia a cada autor, o PAP ser para o primeiro autor
citado. Na segunda edio delimita-se que para as colaboraes entre dois e trs autores e quando
no houver meno das partes ou sees que cabe a cada autor, o PAP ser para o primeiro autor
citado. A segunda edio deste cdigo possui a conhecida regra dos trs, na qual apenas as
colaboraes com at trs autores resultam em PAP para o primeiro mencionado e ponto de acesso
secundrio (PAS) para o segundo e terceiro, enquanto que as colaboraes com mais de trs autores
o PAS ser apenas para o primeiro. Essa regra, conhecida como regra dos trs, permanece at o fim

625
do uso do CCAA2R. O cdigo no apresentou justificativa para a reduo da transcrio dos
colaboradores. Em nota do tradutor consta que as Regras de catalogao descritiva da Library of
Congress, de 1949, prescrevem que havendo mais de trs autores, somente os nomes dos trs
primeiros sejam includos no corpo da ficha (Vaticano, 1962, 1969).
Acredita-se que a reduo na quantidade do nmero de colaboradores transcritos seja devido
ao espao fsico da prpria ficha catalogrfica e a multiplicao das fichas secundrias nos catlogos
manuais, que os transformavam em grandes mveis repletos de fichas catalogrficas. Assim, aliada a
esse fator tcnico encontra-se a praticidade.
Aps meados do sculo XX, a colaborao entre autores cresceu na rea cientfica, resultando
em um grande volume de documentos com coautorias, quanto mais coautores transcritos mais
fichas secundrias seriam geradas, ocupando mais espao, e o catalogador demandaria mais tempo
para catalogar um documento.
Portanto, os fatores que interferem na elaborao de normativas para a representao
documental seriam: o espao fsico e a tecnologia, naquele momento a tecnologia era compreendida
como uma ficha em papel com limitaes fsicas de espao; recurso humano e econmico, quanto
mais documentos a serem catalogados, maior deveria ser o nmero de profissionais envolvidos,
aumentando os custos desse processo; agilidade para disponibilizar o documento, quanto maior o
detalhamento das normativas o documento levaria mais tempo para ser catalogado.
A prioridade para a elaborao da ficha principal, ou seja, a determinao do ponto de acesso
principal para o autor de um livro, seja ele autor pessoal ou coletivo. Algumas vezes, mesmo
quando as orientaes so para a elaborao do PAP para o ttulo, existe a possibilidade de se optar
pela pessoa quando ela mais conhecida, indicando a preferncia por identificar alguma forma de
autoria em detrimento do anonimato.
possvel observar que em algumas normativas como o caso das dissertaes at 1800, das
ilustraes e dos desenhos dos arquitetos a importncia da autoria atribuda de acordo com as
caractersticas do documento que est sendo catalogado e no da relao entre o sujeito e o
conhecimento produzido. O PAP sempre estipulado para o autor, porm quando h mais de uma
pessoa envolvida na produo de um documento, o PAP busca revelar a contribuio mais
significativa. No caso do arquiteto, apenas para ilustrar, quando ele idealiza um projeto e outra
pessoa o desenha, associa-se que o arquiteto deva ser o PAP. Entretanto, a mesma obra desse
arquiteto quando compe uma coletnea com obras de diferentes arquitetos, desenhadas pelo
mesmo desenhista, interpreta-se que para essa coletnea, o elemento de maior importncia seja o
desenhista, porque ele o elemento que rene todas as demais obras, consequentemente o
desenhista o PAP.
Essa constatao revela que as normativas so aplicadas de acordo com o documento a ser
catalogado e que documentos que possuam as mesmas caractersticas (desenhos arquitetnicos)
podem utilizar normas diferentes para a elaborao de sua representao documental, porque o
contedo desse documento foi organizado de forma diferente. Sendo assim, compreender o contexto
de criao de um documento essencial para descrev-lo em seus aspectos intelectuais e fsicos.
O tipo de autoria (nica, compartilhada) tambm indica normas especficas; at trs ou cinco
colaboradores o documento ser representado por seu autor e se houver um nmero maior de
colaboradores, o documento ser representado por seu ttulo. Ou seja, a representao documental
considera o contedo do documento, sua forma, sua editorao e as relaes de responsabilidades
entre as entidades presentes no documento para estabelecer suas normativas.
Os termos autoria e autor possuem grande amplitude em seu conceito e a anlise das
normativas possibilitou identificar que esse conceito amplo tambm est refletido nas normativas,
pois dependendo do tipo de documento o termo autor pode ser utilizado. Entretanto, as
normativas buscam especificar o sentido conceitual amplo de autor, estabelecendo normativas
para grupos de documentos ou tipo de autoria que compartilhem as mesmas caractersticas, ou seja,
coletneas de um mesmo autor so representadas de acordo com normativas especficas para este

626
caso; coletneas de autores diferentes utilizam normativas diferentes daquelas com o mesmo autor;
a autoria nica, a autoria colaborativa e autoria mista so abordadas em normativas prprias.
Cabe ressaltar que as normativas indicam a designao das funes (tradutores, colaboradores,
presidentes, para bancas examinadores em teses e dissertaes e outras) nos pontos de acesso. Esse
detalhamento das normativas busca estabelecer critrios para especificar a generalidade conceitual
dos termos autor e autoria e solucionar os problemas prticos na representao documental.
A reviso bibliogrfica aponta o autor como o elemento bibliogrfico mais importante para os
cdigos de catalogao ocidentais. Conceitualmente, o autor possui tal complexidade que poderia
ser cunhado o termo autor bibliogrfico para agregar as diversas funes de um sujeito em relao
ao documento para fins de tratamento documental. Ao analisar as normativas, observa-se que o
conceito amplo de autor permite que ora o autor de um texto seja o mais relevante e merecedor do
PAP e em outros momentos, como em coletnea de textos de autores diversos, o compilador merea
maior destaque que os autores das obras independentes presentes em um livro. Essa flutuao revela
que o sujeito o elemento mais importante e que a sua funo de autor, compilador, desenhista, ou
outra, ter importncia atribuda de acordo com as caractersticas de forma e contedo do
documento. Nesse sentido, o autor bibliogrfico e no o autor que seria o elemento mais
importante nos cdigos de catalogao ocidentais.
A escolha dos pontos de acesso atua diretamente na busca e recuperao da informao pelo
usurio, pois so os elementos responsveis para esse fim. A descrio bibliogrfica permite a
identificao e seleo do livro representado no registro bibliogrfico. A anlise sobre a descrio da
autoria na descrio bibliogrfica envolve a segunda parte deste cdigo de catalogao, intitulada
descrio do livro, que ser analisada a seguir.
Enquanto a primeira parte do cdigo aborda detalhadamente a autoria, a segunda parte no
possui sequer um captulo especfico para a sua descrio que ser realizada junto ao ttulo. O
captulo 1 Ttulo o que apresenta orientaes sobre a descrio bibliogrfica da autoria.
Basicamente a descrio do livro a transcrio das informaes da folha de rosto e em ambas as
edies desse cdigo, o nome do autor considerado como parte do ttulo da obra e, por isso,
transcrito no lugar e na forma em que aparece na flha-de-rosto, ainda mesmo que, como palavra de
ordem, tenha forma diferente (Vaticano, 1949, p. 190, 1962, p. 249).
interessante observar que embora o autor tenha sido considerado o elemento mais
importante para a escolha dos pontos de acesso ele descrito como parte do ttulo. Isso revela como
intrnseca a relao entre a autoria e a obra. Sendo assim, a importncia do autor na representao
documental est mais clara nos pontos de acesso que na descrio bibliogrfica, segundo as Normas
para catalogao de impressos. Parece contraditrio que o elemento considerado como o mais
importante nos cdigos ocidentais no possua um lugar prprio na descrio bibliogrfica. Cabe
ressaltar que nesse perodo ainda no existiam as ISBDs, a partir delas que a descrio bibliogrfica
ficou padronizada e com os elementos descritivos evidentes.
A autoria na descrio do livro consta no ncleo do registro bibliogrfico, aqui definido como
descrio bibliogrfica, transcrita predominantemente seguindo a folha de rosto. Nesse caso, a
descrio est relacionada editorao do material a ser catalogado, forma de apresentao na
folha de rosto e no necessariamente s caractersticas do documento.
Existem mais normativas acerca da escolha dos pontos de acesso que para a descrio
bibliogrfica da autoria, assim como as caractersticas do documento so mais importantes para a
determinao dos pontos de acesso que para a descrio bibliogrfica do documento.
O cdigo acima analisado foi desenvolvido para o ambiente manual e, nesse contexto, embora
o autor fosse considerado o elemento mais importante na representao, muitas vezes ele acabava
sendo omitido do registro, devido s limitaes tecnolgicas. O cdigo analisado a seguir tambm
surgiu em um ambiente manual, mas presenciou o surgimento do ambiente automatizado, ou
eletrnico. Essa alterao no tipo de ambiente aliada ao grande volume de produo bibliogrfica
resultou em um nmero maior de normativas, como ser apresentado na sequncia.

627
O Cdigo de catalogao anglo-americano foi publicado no Brasil em trs tradues, sendo a
primeira, referente primeira edio, em 1969, mais conhecida pelas siglas CCAA ou AACR, a
segunda, referente segunda edio, em 1983 (v. 1) e 1985 (v. 2), mais conhecida pelas siglas CCAA2
ou AACR2, e a terceira traduo, referente segunda edio, reviso de 2002, em 2005, mais
conhecida pelas siglas CCAA2R ou AACR2R.
A primeira edio desse cdigo mantm uma estrutura similar s Normas para catalogao de
impressos, destinando a primeira parte para a entrada e cabealho, na qual se encontram as
normativas para a escolha dos pontos de acesso e a segunda parte para as normativas para a
descrio. Ao contrrio das Normas para catalogao de impressos, o Cdigo de catalogao anglo-
americano no possui nenhuma normativa destinada ao tratamento temtico de um documento.
A primeira diferena entre as edies deste cdigo est na inverso da ordem de apresentao
das partes. No CCAA a primeira parte destinada aos pontos de acesso e a segunda parte destinada
descrio, enquanto que no CCAA2 e CCAA2R na primeira parte est a descrio e na segunda os
pontos de acesso (Cdigo... 1969, 1983, 1985, 2005).
A terminologia adotada nas normativas tambm est alterada: o CCAA utiliza os termos
autor e autoria e os CCAA2 e CCAA2R adotam os termos responsvel e responsabilidade com
maior frequncia, embora ainda permanea o uso dos termos autor e autoria.
Em relao escolha dos pontos de acesso, para os cdigos importante identificar tanto a
relao de autoria conforme o tipo do documento, pois ambos so critrios para o estabelecimento
do PAP. De modo geral, as regras buscam identificar como PAP uma pessoa ou uma entidade
coletiva, relegando o PAP para o ttulo somente quando a autoria muito difcil de ser atribuda,
difusa ou quando h muitos colaboradores.
Os captulos do cdigo so subdivididos para aprofundar e especificar as funes, tipos de
autorias e caractersticas do documento a ser representado. As normativas sobre autor pessoal se
dividem em obras de uma nica autoria, obras em colaborao (com normas diferentes de acordo
com o nmero de colaboradores), obras de autoria mista, entre outras. Alm das subdivises
baseadas na relao do sujeito com o documento, denominada autoria ou responsabilidade, os
captulos tambm se subdividem com base na forma e tipo do documento, por exemplo, gravao de
som, entrevista, ilustrao e outras.
Aps a segunda edio desse cdigo, as normativas passam a ser estabelecidas separando a
autoria oriunda de uma pessoa e de uma entidade coletiva, o responsvel por um documento passou
a ser um critrio para o estabelecimento das normativas. Essa segmentao nas normativas pode ser
considerada um reflexo da adoo conceitual de autor pessoal, a qual exclui a entidade coletiva da
definio de autor. Alm das caractersticas do tipo de autoria (pessoal, entidade coletiva,
compartilhada, mista etc.), as caractersticas dos documentos permanecem como um direcionador
para as normativas.
Vale destacar nessa anlise que a questo autoral nas normativas se alterou ao longo do
tempo, por exemplo, os compiladores de coletneas poderiam ser considerados os autores de tais
obras, estabelecendo o PAP para eles. Com o passar do tempo, o compilador no foi mais considerado
como autor, sendo o PAP para o ttulo e PAS para o compilador. Infere-se que esta alterao na
atribuio do PAP e PAS para o compilador seja mais um reflexo do aspecto conceitual sobre as
normativas: quando o termo autor era adotado com amplitude, aceitava-se considerar o compilador
como PAP.
A anlise das normativas possibilitou observar que o PAP ficou menos propcio a ser destinado
s funes diversificadas. Por exemplo, opta-se pelo autor em seu sentido restrito para ser PAP. As
demais funes como compilador, editor, tradutor sempre sero PAS a partir da segunda edio do
cdigo. Com isso, embora o PAP prevalea para o sujeito ele encontra-se em declnio. Outra
observao relevante a despersonalizao das normativas. Na primeira edio do cdigo, os termos
utilizados eram representaes do sujeito, por exemplo autor, tradutor, adaptador etc.,
enquanto que a partir da segunda edio os termos representam as caractersticas do documento,

628
como por exemplo, tradues, adaptaes, ilustraes e outros. Conforme apresentado no
Quadro.

Cdigo de catalogao anglo-americano
CCAA (1969) CCAA2 (1985) CCAA2R (2005)
Adaptador ou autor original (7) Adaptao de textos (obra modificada) (21.10)
Artista ou autor do texto (inclui
obra ilustrada) (8)
Textos ilustrados (obra modificada) (21.11)
Colaborao entre artista e escritor (obra original) (21.24)
Bigrafo/crtico ou autor (9)
Textos publicados com matria biogrfica/crtica
(obra modificada) (21.15)
Calgrafo ou autor (10) ------
Comentador ou autor (11) Textos publicados com comentrios (obra modificada) (21.13)
Argente ou defensor da tese (12) Concursos acadmicos (obra original) (21.27)
Entrevistador ou pessoa
entrevistada (13)
Relatos de entrevistas ou intercmbio de idias (obra original)
(21.25)
Revisor ou autor original (14) Revises de textos (obra modificada) (21.12)
Tradutor ou autor (15) Tradues (obra modificada) (21.14)
Escritor ou autor nominal (16) ------
Autor coletivo ou autor individual
(17)
(Entidade coletiva e autor pessoal possuem regras especficas)
------ Comunicao de espritos (obra original) (21.26)

Quadro 1 Cdigo de catalogao anglo-americano: autoria/responsabilidade mista
1

A anlise das normativas para a escolha dos pontos de acesso no Cdigo de catalogao anglo-
americano coincide com a das Normas para catalogao de impressos em vrios aspectos. O sujeito ainda
prevalece como ponto de acesso principal de um registro bibliogrfico, mesmo com a
despersonalizao da maioria dos termos presentes nas normativas.
Em ambos os cdigos existem normativas para o estabelecimento de pontos de acesso para
obra annima. As normativas orientam que se o autor provvel de uma obra annima for
identificado, o PAP ser para ele, caso contrrio o PAP ser para o ttulo. Em suas trs tradues, o
Cdigo de catalogao anglo-americano inclui uma normativa especfica para a autoria atribuda
erroneamente ou ficticiamente no documento e nesse caso o PAP ser para o autor verdadeiro. Isso
revela uma preocupao das normativas em reconhecer o direito moral de um autor, no o direito
proprietrio, estabelecido na legislao sobre direito autoral.

1
Fonte: Elaborao prpria, baseada em Cdigo... (1969, 1985, 2005).

629
Concluda a anlise das normativas sobre o ponto de acesso, inicia-se a anlise comparativa
sobre a descrio bibliogrfica. O Cdigo de catalogao anglo-americano especifica suas normativas
destinadas descrio bibliogrfica de acordo com o tipo de documento. Para a presente anlise,
utiliza-se como ponto de partida as normativas presentes no captulo 6 Monografias publicadas
separadamente do CCAA, o captulo 1 Regras gerais para descrio do CCAA2 e o captulo 1 Regras gerais
de descrio, do CCAA2R.
A primeira observao sobre a descrio bibliogrfica que a partir da segunda edio ela
norteada pelas ISBDs. Isso resultou em maior padronizao e detalhamento dos elementos
descritivos e em uma nova estrutura para as normativas. Enquanto as normativas sobre pontos de
acesso estabelecem orientaes especficas para autor pessoal e para entidade coletiva, as
normativas para a descrio bibliogrfica abordam ambos igualmente.
Enquanto que a escolha do ponto de acesso permite que o catalogador estabelea PAP
principal para o autor verdadeiro, quando o documento acusa outro autor como sendo o autor de
um determinado contedo, reconhecendo, portanto, seu direito moral, na rea 1 indicao de
ttulo e responsabilidade da descrio bibliogrfica , apenas so descritos os responsveis que
aparecem com destaque no item. 1.1F2. Se nenhuma indicao de responsabilidade aparecer com
destaque no item, no construa uma nem a extraia do contedo do item. [...] Se essa indicao for
necessria, registre-a em nota (Cdigo..., 1983, p. 24).
Essa normativa demonstra que aqueles que aparecem com destaque no item merecem ser
descritos na rea de responsabilidade; os demais devem ser indicados em notas. O destaque pode
significar a meno na folha de rosto, a indicao explcita ou a indicao tipogrfica (letras
maiores). Nesse caso, a editorao do livro que estabelece quais responsveis devem ser indicados
na rea destinada especificamente ao ttulo e responsabilidade. Enquanto o ponto de acesso
permite o estabelecimento de PAP para autores no mencionados no documento, desde que sejam
seus verdadeiros autores, a indicao de responsabilidade na descrio bibliogrfica seguir
conforme consta no documento, mesmo que erroneamente.
Embora no exista uma nica rea destinada exclusivamente autoria na descrio
bibliogrfica ela compe a rea 1, intitulada indicao do ttulo e de responsabilidade , ela est
presente em vrias reas revelando a relao da autoria com a obra e suas caractersticas (edio,
srie etc.).
No CCAA no existem normativas para a indicao de responsabilidade na edio de um livro,
no CCAA2 existem trs normativas e no CCAA2R existem oito normativas destinadas
responsabilidade na edio. Os acrscimos de normativas nas reas de descrio demonstram a
necessidade de detalhamento da descrio bibliogrfica para identificar documentos semelhantes.
Com o CCAA2 e CCAA2R surgiu uma nota especfica para responsabilidade, provavelmente
para permitir a incluso de responsveis no pleiteados nas normativas da rea 1, como o caso de
autores verdadeiros, o que justificaria a supresso da nota acima do ttulo, presente no CCAA. A
existncia dessa nota no seria mais necessria, uma vez que a rea 1, tanto no CCAA2 quanto no
CCAA2R, contempla a informao descrita na nota acima do ttulo, no CCAA. Alm disso, o CCAA2 e
o CCAA2R possuem uma nota especfica para contemplar questes relacionadas autoria, no
contempladas na rea 1.
As indicaes de responsabilidade na rea da edio, da srie e das notas do CCAA2 e do
CCAA2R devem seguir as instrues da regra 1.1F, ou seja, embora existam elementos em vrias
reas da descrio bibliogrfica, os elementos descritivos relativos responsabilidade so
padronizados igualmente.
A descrio bibliogrfica ficou mais detalhada e com mais informaes referentes autoria,
aps a segunda edio do cdigo, pois as ISBDs foram adotadas para elencar os elementos, sua forma
e sua ordem na descrio. As ISBDs tambm tornaram os cdigos mais especficos e os elementos
descritivos mais claros. As normativas das Normas para catalogao de impressos, s vezes mesclavam
orientaes para o estabelecimento do ponto de acesso com elementos da descrio. Esse fato no se
repetiu nas normativas dos cdigos que adotaram as ISBDs.

630
Assim como observado nas Normas para catalogao de impressos, embora o autor seja um
elemento muito importante, h um limite quantitativo (at trs colaboradores) para o
estabelecimento de pontos de acesso e para a sua indicao na descrio bibliogrfica. Observa-se
que as Normas para catalogao de impressos e o Cdigo de catalogao anglo-americano so cdigos
desenvolvidos em ambientes manuais, nos quais existiam limitaes de espao fsico, tanto na
prpria ficha, quanto nos mveis que constituam os catlogos manuais. Neste caso, as limitaes
tcnicas direcionavam a elaborao das normativas e no o interesse dos usurios ou do autor.
Entretanto, na segunda edio, reviso de 2002, o ambiente automatizado estava consolidado, porm
esse ambiente no foi incorporado s normativas.
Dentre tantas limitaes do cdigo frente s mudanas tecnolgicas, um novo cdigo est
sendo desenvolvido. Embora no possua uma traduo no Brasil, julgou-se necessrio analis-lo. O
primeiro cdigo analisado surgiu e se desenvolveu em ambiente totalmente manual, o segundo
cdigo surgiu em ambiente manual, porm tambm percorreu o ambiente automatizado. Essas
caractersticas dos dois primeiros cdigos se diferem do cdigo subsequente, que surge em um
ambiente totalmente digital.
Embora essa norma no tenha sido adotada no Brasil, h inteno de que seja traduzida em
breve. Nesse contexto, julgou-se necessrio observar como esta nova norma aborda as questes
autorais. Como existe apenas uma verso de seu texto ainda em lngua inglesa, no haver a anlise
comparativa entre as suas normativas, como ocorreu nos dois primeiros cdigos.
Na RDA, as orientaes para a escolha dos pontos de acesso so estabelecidas de acordo com a
relao entre as entidades do Grupo 2 dos FRBR e o recurso. Como o recurso entendido como sendo
as quatro entidades do Grupo 1, as normativas so estipuladas de acordo com a associao do Grupo
2 com cada entidade do Grupo 1. Aps o captulo 18, que apresenta explicaes gerais sobre os
captulos dessa seo, os captulos 19 e 20 apresentam os relacionamentos relativos s questes
autorais, sendo apresentado o relacionamento de responsabilidade com a obra no captulo 19, e o
relacionamento de responsabilidade com a expresso no captulo 20 (RDA toolkit, c2010). As relaes
apresentadas nos captulos 21 e 22 no envolvem relaes de autoria, mas aquelas de produo de
uma manifestao e de posse de um item, que se referem s entidades concretas de um documento.
Como os dois ltimos captulos dessa seo no abarcam as questes autorais, eles fogem ao escopo e
no sero analisados aqui.
O captulo 19 possui orientaes especficas para identificar os criadores e outras pessoas,
famlia e entidades coletivas associadas obra. No constam os termos ponto de acesso principal ou
pontos de acesso secundrios e as normativas indicam orientaes sobre o estabelecimento de ponto
de acesso autorizado (authorized access point) para as entidades associadas obra. Embora a estrutura
seja diferente dos cdigos anteriores, a RDA tambm possui indicaes referentes ao tipo e forma do
documento, como por exemplo, identificar o criador e outros responsveis em obras religiosas,
obras legislativas etc.
Como o captulo 19 est relacionado obra, o foco de suas orientaes se refere criao,
originalidade do contedo de uma obra. As demais funes, como tradutor, ilustradores, editor etc.,
so abordadas no captulo 20, referente ao relacionamento entre as entidades do Grupo 2 e a
expresso.
As demais funes que uma pessoa, uma famlia ou uma entidade coletiva podem exercer so
designadas como contributor. Se a contribuio estiver relacionada realizao de uma obra atravs
de sua expresso, o captulo 20 deve ser consultado para se estabelecer os pontos de acesso. Como
no h meno a ponto de acesso principal ou secundrio, as orientaes apenas indicam a adoo
de pontos de acesso autorizados para os contribuidores.
Ao fazer um paralelo entre os cdigos analisados, nas Normas para catalogao de impressos os
pontos de acesso para a obra estariam alocados com as normativas referentes a obras de uma s
pessoa, ou entidade coletiva, ou em obras em colaborao e as normativas para os pontos de acesso
expresso estariam alocadas em obras de autoria mista ou para entradas secundrias. O mesmo se
encontra no CCAA, CCAA2 e CCAA2R. Cabe ressaltar que, embora essa diviso sobre pontos de acesso

631
possa ser observada nos cdigos anteriores a RDA que apresenta claramente essa segmentao.
Nos cdigos antecessores no existia a delimitao sobre obra e expresso, o que norteava a escolha
dos pontos de acesso variava de acordo com o documento em mos. Essa observao apenas permite
identificar que a RDA no est criando novos pontos de acesso, est tornando-os mais claros e
reordenando-os dentro de uma estrutura prpria. Alm disso, a RDA exige um conhecimento
conceitual sobre a construo do documento, sem ele fica impossvel identificar quando a
responsabilidade se refere obra e quando ela se refere expresso. Por isso, imprescindvel
entender o documento como as quatro entidades do Grupo 1 para proceder sua representao nessa
nova norma, tambm conhecida por ser o novo cdigo de catalogao.
O conhecimento conceitual sobre as entidades e relacionamentos dos FRBR tambm est
presente na descrio bibliogrfica. As sees iniciais da RDA so destinadas descrio bibliogrfica
do documento, denominado recurso. Para a RDA, o recurso definido como compreendendo as
quatro entidades do Grupo 1 dos FRBR, ora consideradas em conjunto, ora consideradas
separadamente. Dentro da RDA existe variao conceitual sobre o termo recurso.
A descrio bibliogrfica das questes autorais no registro bibliogrfico abordada apenas
como atributos no captulo 2. Isso ocorre porque a indicao de responsabilidade um atributo da
manifestao e no das demais entidades. A atribuio de responsabilidade nas entidades obra e
expresso se concretizam atravs dos pontos de acesso, ou seja, pelas relaes entre as entidades do
Grupo 1 com o Grupo 2. Se houver uma mudana na responsabilidade de uma obra, deve-se alterar o
ponto de acesso e o atributo, o que levaria a uma nova descrio baseada no captulo 2. Por isso
pode-se inferir que a obra est relacionada pessoa (criadora), pois quando a relao entre essas duas
entidades alterada surgem novas obras.
Como observado, nas normativas para a escolha dos pontos de acesso, as normativas para a
descrio bibliogrfica tambm so norteadas segundo as entidades dos FRBR. Um grande impacto
para a descrio bibliogrfica foi a supresso das ISBDs nas normativas que norteiam a descrio no
CCAA2 e CCAA2R. A RDA pretende ser utilizada em diversos ambientes, por isso ela oferece os
elementos a serem descritos, cabendo instituio catalogadora escolher a sua forma de
apresentao.
Embora as ISBDs tenham sido suprimidas, a descrio bibliogrfica est estruturada de modo
muito semelhante s oito reas de descrio, pois os atributos relativos s questes autorais esto
presentes, dispostos em categorizao semelhante.
A anlise das normativas destinadas descrio bibliogrfica da RDA revelou uma grande
mudana em relao aos cdigos anteriores, alm de sua estrutura e necessidade de um
embasamento conceitual para a sua utilizao. A grande mudana observada se refere inexistncia
de captulos especficos para a descrio de acordo com o tipo de documento (livro, material
cartogrfico etc.). Isso ocorre devido sua base no modelo conceitual FRBR. Essa ao parece
equiparar os suportes: antes o livro era o suporte norteador das normativas e os demais materiais
eram agregados como no livro. Por algum tempo foram estabelecidas normativas especificando o
material como no-livro (mapas, filmes etc.) e agora tudo indica que o norteador das normativas
o documento em sua plenitude.
Essa nova estrutura da RDA um reflexo dos modelos conceituais desenvolvidos para
representarem o universo bibliogrfico. E embora a RDA esteja sendo testada, tanto em sua aplicao
quanto na redao de suas normativas, observa-se que tais modelos permanecero norteando a
elaborao de registros bibliogrficos, pelo menos at o desenvolvimento de outros modelos.
Como a autoria passa a ser compreendida como um relacionamento entre as entidades do
Grupo 2 e do Grupo 1, o registro de autoridade ficar mais evidente no catlogo. Isso porque,
anteriormente, os registros de autoridade padronizavam os cabealhos dos registros bibliogrficos.
Agora, alm de padronizarem, parece que eles sero os elementos criadores dos vnculos entre tais
entidades, pois a responsabilidade no considerada atributo da obra nem da expresso, mas sim um
tipo de relacionamento.

632
A anlise em um mesmo cdigo de catalogao possibilitou trilhar um percurso do tratamento
da questo autoral nos cdigos independentemente. Analisar a trajetria em diversos cdigos
possibilitou traar um panorama histrico e elencar consideraes acerca das questes autorais
atravs dos cdigos nos ltimos 63 anos. Nesse perodo, tanto o conceito quanto as normativas sobre
as questes autorais sofreram alteraes, mas permaneceram como um elemento importante na
Representao Documental.
Nos trs cdigos analisados, o tratamento documental variava conforme o critrio de autoria,
por exemplo, um livro com a autoria annima possua uma representao diferente daquele em que
seu autor era identificado. Algumas vezes o autor foi considerado como PAP em outras como PAS,
mas permanecera presente ao longo dos anos nos cdigos de catalogao. Quando o catlogo manual
era predominante, a autoria tinha uma funo muito importante na elaborao da ficha principal,
pois a entrada prioritariamente era feita por seu autor, com os desdobramentos por ttulo e assunto.
Mesmo com a introduo de catlogos automatizados no final do sculo XX, os conceitos e as
normativas da Representao Descritiva continuaram os mesmos. Felizmente esse desequilbrio est
sendo revertido e busca-se cada vez mais criar princpios e fundamentos para se desenvolver as
normativas. A RDA tem assumido esse papel de iniciar a fundamentao de suas normativas em
modelos conceituais, mas ainda necessrio analisar o papel da autoria de forma mais aprofundada,
pois esta possui valores determinados por grupos sociais, rea do conhecimento e tipo de
documentos. Devido variedade de tipos de autoria seria muito difcil estabelecer normativas para
as questes autorais aplicveis igualmente a todos os contextos informacionais.

Consideraes finais

Sem dvida, a autoria um importante elemento para a organizao, representao, busca,
recuperao e identificao de documentos, por isso dificilmente ser suprimida das representaes
documentais, embora possa ser reordenada ou realocada. As questes autorais na Representao
Documental devem envolver o estudo dos usurios, dos agentes produtores do conhecimento
(criadores etc.) e das caractersticas prprias dos documentos para que os contextos socioculturais
de produo, representao, busca e recuperao da informao estejam contemplados na
Representao Descritiva.
Com os modelos conceituais entidade-relacionamento FRBR e FRAD a autoria representada
atravs de relacionamentos entre as entidades pessoa, famlia e entidade coletiva com as entidades obra
e expresso. Em breve, talvez, tais modelos conceituais sejam substitudos por outros. O importante
para a Representao Descritiva permanecer sempre questionando suas prticas e revisitando seus
conceitos, a fim de adequar-se sociedade contempornea.
A sistematizao de como a autoria e o autor so abordados nos cdigos de catalogao revela
que nenhum dos cdigos apresentou um conceito nico ou as mesmas normativas, ambos os termos
sofreram alteraes. Esse movimento cclico, pois as sociedades alteram suas caractersticas,
ocasionando a necessidade de alterao de conceitos e normativas das representaes documentais,
assim como o acompanhamento da comunidade atendida por determinada biblioteca, centro
cultural, entre outros, para identificar seus usurios.
Nesse contexto, se encontram as discusses sobre a cooperao e intercmbios de dados
bibliogrficos, assim como controle bibliogrfico universal. Embora a padronizao dos elementos
descritivos seja necessria para o funcionamento do sistema, ela no deve ser impeditiva para se
elaborar registros condizentes a grupos de usurios especficos. Elementos descritivos padronizados
em mbito internacional podem parecer uma tentativa ilusria de controle bibliogrfico. Todos os
instrumentos que fornecem padronizao bibliogrfica (descritiva ou temtica) sofrem atualizaes,
desejadas com veemncia pelos profissionais, pesquisadores e usurios.
Polticas de acesso informao e adequaes das normativas aos contextos locais, regionais,
nacionais e institucionais so necessrias, mesmo que isso resulte no desenvolvimento de padres

633
bibliogrficos especficos. As anlises conceituais e normativas demonstraram variaes na
padronizao dos elementos descritivos, as quais so necessrias para o desenvolvimento de
representaes.
O mesmo documento deve ser representado de forma diferente, pois atende usurios
diferentes em determinados contextos, por isso a padronizao deve existir sem que anule o usurio
no sistema. As tecnologias oferecem possibilidades de interoperabilidade que devem ser melhor
exploradas pela Representao Descritiva.
O modo de produo do conhecimento e a viso sobre o autor esto em constantes alteraes,
por isso, estudos sobre as relaes socioculturais e a Representao Documental so necessrios para
o desenvolvimento da prpria disciplina. Representaes desprovidas das caractersticas
socioculturais no representam os documentos em sua plenitude, nem atendem s necessidades dos
usurios.
Existe, portanto, uma caracterstica temporria sobre os cdigos de catalogao, que devem
ser constantemente monitorados para que seu uso propicie representaes documentais adequadas
aos usurios, com base nas tecnologias contemporneas e em fundamentos que reflitam os modos de
produo do conhecimento.
Nesse sentido, as prprias consideraes desta pesquisa possuem um carter provisrio. As
representaes das dinmicas culturais so complexas e merecem ser atentamente monitoradas
para que no se percam suas caractersticas essenciais.
Destaca-se que para este fim, estudos sobre a autoria e o autor precisam ser esmiuados em
pesquisas futuras, relacionando esses conceitos s reas especficas do conhecimento, s
caractersticas dos documentos e s caractersticas da sociedade para que as representaes
representem de fato o documento e gerem possibilidades de acesso aos usurios.
Estudos mais aprofundados so necessrios, pois a autoria e o autor so termos complexos
com arranjo de diferentes caractersticas. Alm disso, devem ser analisados outros elementos e
contextos para possibilitar uma representao mais adequada e que respeite a diversidade cultural,
desse modo, ser atribudo um carter democrtico representao documental.
A presente pesquisa alerta para a importncia de estudos socioculturais na Representao
Descritiva, assim como identifica que a padronizao de elementos descritivos em mbito
internacional ignora as necessidades de grupos especficos de usurios em prol da funcionalidade
dos sistemas de representao.
Como o autor representado nos registros bibliogrficos conforme as orientaes pr-
estabelecidas nos cdigos de catalogao, que so desenvolvidos em determinados contextos
socioculturais, reflexes acerca da sociedade, da produo do conhecimento, da autoria e do usurio
so necessrias elaborao de normativas e definies conceituais. Essas reflexes permitem a
adequao da representao no contexto atual e vislumbra formas de representao para o futuro.
A autoria conquistou um espao significativo na representao de um documento.
Inicialmente estava relacionada ao livro, mas hoje ocupa um lugar de criador de qualquer tipo de
documento. As alteraes normativas observadas inferem que a Representao Descritiva no possui
mais o livro como ponto de partida para o estabelecimento de seus princpios e prticas, mas sim o
documento. Esse um grande passo para o desenvolvimento desta disciplina e para a consolidao
de conceitos e estabelecimento de normativas cada vez mais adequadas ao contexto contemporneo.

634
Referncias

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So Paulo: Instituto Progresso Editorial.

635
VATICANO. Biblioteca Apostlica Vaticana. (1962). Normas para catalogao de impressos. 2. ed.
brasileira. Rio de Janeiro: IBBD.

636
A REPRESENTAO DA IMAGEM DIGITAL
Os metadados descritivos

ANA CAROLINA SIMIONATO
Universidade Estadual de Londrina
[email protected]

PLCIDA LEPOLDINA VENTURA AMORIM DA COSTA SANTOS
[email protected]

Resumo Em busca do real ou da lembrana, as tcnicas da imagem junto com a tecnologia avanam, com
nmeros inimaginveis de informaes armazenadas e disseminadas no meio digital. H diversos dispositivos
no mercado, que quando utilizados, armazenam e reproduzem suas expresses sem nenhuma preocupao
com o tratamento informacional. Assim, proposta uma construo de representaes de imagens digitais,
como base nos instrumentos no domnio bibliogrfico do Tratamento Descritivo da Informao, com a
apresentao de um modelo conceitual para imagens digitais. A investigao conduzida no princpio da
descrio de recursos imagticos e em sua modelagem conceitual. A metodologia consiste e em um
levantamento bibliogrfico sobre o tema e no mapeamento de dados e sua modelagem conceitual Entidade-
Relacionamento, com base no FRBR. Como resultados apresentam-se os Requisitos Funcionais para Dados
Imagticos Digitais RFDID. Aponta-se de que a garantia da persistncia dos dados e o instanciamento do
recurso com consistncia e integridade so requisitos essenciais para a representao da imagem digital.

Palavras-chave Catalogao. Imagem digital. Modelagem conceitual. FRBR. RFDID. Requisitos funcionais.

Abstract In search of the real or memory, the Technical Image with technology advancing, with unimaginable
numbers of information stored and disseminated in the digital medium. There are several devices on the
market that when used, store and reproduce their expressions with no concern for the informational
treatment. Thus, we propose a construction of representations of digital images, based on the instruments in
the field of bibliographic Treatment Description of Information, with the presentation of a conceptual model
for digital images. The research is conducted on the principle of resource description and imagery in their
conceptual modeling. The methodology consists in and a literature on the subject and mapping data and their
conceptual Entity-Relationship modeling, based on FRBR. The results present the Functional Requirements for
Digital Imagetic Data- RFDID. Points out that ensuring data persistence and instancing feature with
consistency and integrity are essential requirements for the representation of the digital image.

Keywords Cataloging. Digital Image. Conceptual Modeling. FRBR; RFDID. Functional Requirements.

Introduo
A busca pela padronizao na representao sempre existiu ao longo do tempo, como
tambm, a preocupao pelo desenvolvimento de instrumentos adequados para a individualizao e
a localizao dos materiais bibliogrficos (recursos informacionais). A efetiva sistematizao de
regras para a padronizao da construo de catlogos comeou com o advento das bibliotecas
modernas: pblico variado, aumento da demanda informacional e variedade de recursos
informacionais.
A informao para ser acessada, deve ser registrada e descrita. Da mesma forma, a imagem
digital um recurso iconogrfico que necessita de orientaes mais precisas e especficas para seu
tratamento descritivo. As orientaes para esse tipo de tratamento descritivo informacional

637
compreendem a anlise sistemtica e a descrio dos elementos de uma imagem para seu acesso,
recuperao, tornando possvel ao usurio dos ambientes informacionais a apropriao das
informaes disponveis.
Neste sentido, destaca-se a importncia da catalogao na preparao do recurso imagtico
digital a partir da construo de formas eficientes de descrev-lo, representando-o de maneira a
torna-lo disponvel e acessvel. Nesse sentido, requerido um esforo na padronizao das
orientaes para a descrio do material imagtico digital que favorea a clareza na compreenso
das diferenas entre a imagem analogia e a digital.
At a apresentao dos FRBR, o processo de catalogao no tinha como uma de suas tarefas,

[...] a representao conceitual dos elementos que comporo os
metadados do catlogo, ficando a critrio de um profissional da
Computao fazer o mapeamento dos elementos definidos pelo catalogador
numa estrutura conceitual de entidade, atributos e relacionamentos entre
os itens bibliogrficos, e consequentemente responsveis pela construo
do modelo conceitual. (Santos, 2010, p. 219).

A essncia do tratamento descritivo informacional continua a mesma, catalogadores
produzem e padronizam metadados desde as primeiras iniciativas de organizao da informao.
Profissionais de outras reas do conhecimento tm criado, especialmente com os avanos
tecnolgicos, novos mtodos de tratamento da informao, deixando de lado, muitas vezes, o que j
foi desenvolvido e algumas solues estratgicas e metodolgicas para a otimizao do processo de
descrio de recursos da rea da Cincia da Informao e suas aplicaes na Biblioteconomia e na
Arquivologia.
Nesse sentido, o conceito de metadados para o domnio bibliogrfico apresentado na
conduo de uma abordagem sobre a modelagem conceitual para a representao da imagem digital,
ou seja, o atributo deve estar coligado a um nico valor que o diferencia de todos os outros atributos,
da mesma forma durante o processo de modelagem, a entidade e suas propriedades devem estar em
um estado oblquo que seja capaz de relacionar com outras, e no havendo a necessidade de
duplicao.
Assim, cabe a proposta do trabalho que os dados descritivos sero persistidos, definidos como
valores nicos, levando em conta seu domnio e acesso para o instanciamento. Esta proposta parte
da possibilidade de que a persistncia e instanciamento dos dados sero dadas a partir do
mapeamento de elementos descritivos resultante da anlise de instrumentos de orientao para a
construo de registros descritivos e do modelo Entidade-Relacionamento.
A apresentao do modelo conceitual para recursos imagticos no prope a criao um novo
padro de metadados para as imagens digitais, pois j existem vrios padres disponveis, mas sim
afirmar que uma descrio mais especfica e detalhada sobre o recurso imagtico, pode ser a soluo
para diversos problemas ligados aos catlogos e banco de dados de imagens digitais.

1 Metadados para imagens digitais

Os metadados foram desenvolvidos para racionalizar, diferenciar e tratar o fluxo
informacional e consequentemente descrever recursos para melhorar a sua recuperao nos
ambientes informacionais. Os metadados auxiliam na organizao das fontes eletrnicas, favorecem
a interatividade, validam as identificaes e asseguram a preservao dos dados e das informaes.

638
O uso do termo metadados se tornou mais intenso em diversas reas do conhecimento a partir
da proposta de realizar o tratamento da informao na descrio de recursos, tendo em vista o
gerenciamento de dados e de informaes. Segundo Alves (2010, p. 47), os metadados so:

[...] atributos que representam uma entidade (objeto do mundo real)
em um sistema de informao. Em outras palavras, so elementos
descritivos ou atributos referenciais codificados que representam
caractersticas prprias ou atribudas s entidades; so ainda dados que
descrevem outros dados em um sistema de informao, com o intuito de
identificar de forma nica uma entidade (recurso informacional) para
posterior recuperao.

De modo geral, pode-se dizer que o objetivo e a funo dos metadados so os mesmos da
disciplina de catalogao na atividade de descrever recursos no domnio bibliogrfico: representar
as caractersticas de forma e de contedo de um recurso informacional de modo padronizado,
facilitando a identificao do recurso, o acesso aos dados descritivos, a localizao e a recuperao
de recursos (Hsieh-Yee, 2006).
Os metadados se restringem a definio de atributos do recurso informacional, a catalogao,
por sua vez, possui um escopo de atuao ampliado por sua funo gestora na construo e na
modelagem dos catlogos e de bancos de dados no processo de representao e de apresentao da
informao em ambientes informacionais e na definio dos relacionamentos entre entidades e
atributos descritivos dos recursos disponveis em um ou mais acervos.
Nesse sentido, um sistema de informao deve priorizar a estrutura interna do domnio de
conhecimento onde est inserido, pois cada domnio tem suas especificidades informacionais e
diante delas escolhe-se o padro de metadados que melhor atenda necessidades de rea. Todavia,
em um mesmo domnio h a possibilidade da utilizao de padres distintos por diferentes
instituies.

A sugesto que, para o estudo e implementao de metadados,
dado a regionalizao das taxonomias que ocorre na prtica, uma anlise
do domnio seria mais adequada, com observncia das dimenses histricas
e epistemolgicas. Princpios gerais (no absolutos) nasceriam do
confronto entre saberes de diversos domnios, o que pressupe um
redirecionamento da forma como a Cincia da Informao estuda as
tecnologias de metadados de interesse comum com a Cincia da
Computao (Fusco, 2011, p. 22).

Durante a construo do registro, percebida a origem de muitos conflitos para a descrio
das imagens digitais, como o exemplo, as propriedades do recurso podem estar inseridas em vrios
padres de metadados, como exemplo os cdigos tradicionais: AACR2r, Graphic Materials e o RDA.
E em muitos casos, o registro imagtico no apresenta uma garantia de que sua representao
significa a representao do recurso tratado: o da imagem digital, pois as caractersticas de um
recurso imagtico no so abordadas e muitas vezes os atributos seguem a risca certas
caractersticas textuais e apenas contextualizadas dentro do domnio digital.
Assim, pode-se evidenciar a necessidade e a importncia do tratamento descritivo da
informao para a construo de formas mais eficientes para sua representao e apresentao
como um modo de torn-las disponveis, acessveis e recuperveis, vai alem da definio do padro
de metadados utilizado.

639
um esforo no sentido de padronizao das orientaes para a descrio do material
imagtico digital necessrio. No qual, o desenvolvimento de esquemas de descrio que
considerem as especificidades desse tipo de recurso devem explicitar a sintaxe da imagem digital
como requisito para sua descrio.
As peculiaridades da imagem digital encaminharam para o desenvolvimento de um trabalho
que buscasse a interpretao de metadados que possam caracterizar as necessidades informacionais
para o acesso aos dados de um recurso em uma estrutura de persistncia de dados que garantam sua
integridade e qualidade e por fim, inseri-los em um padro especficos para a imagem digital.
Segundo Fusco (2011, p. 17),

[...] a estrutura de representao dos elementos de persistncia de
itens bibliogrficos influencia a qualidade da informao nos processos de
armazenamento, busca e recuperao dessas informaes, e deve,
portanto, fazer parte do processo de construo de catlogos digitais. A
utilizao de um padro de metadados que tem como principal objetivo a
entrada de dados e a interoperabilidade e que no considera questes de
qualidade de persistncia da informao pode, muitas vezes, em alguns
ambientes digitais de informao que so baseados somente nesses padres
apresentarem problemas tanto nos processos de manipulao de dados
quanto na recuperao das representaes dos itens bibliogrficos.

A garantia da persistncia dos dados e o instanciamento do recurso com consistncia e
integridade so necessrios para a representao de uma imagem digital, o que requer a descrio
do objeto informacional como sendo nico e de modo que possa ser inserido em diferentes
contextos mantendo sua integralidade. A consistncia do recurso imagtico digital se d pela
especificidade e detalhamento de sua descrio.
Segundo Booch; Jacobson; Rumbaugh (1998, traduo nossa) a persistncia de dados uma
propriedade do objeto que faz com que as informaes possam existir mesmo depois que o programa
que originou registro descritivo, ou o localizou, no seja o mesmo. E o instanciamento dos recursos
pode ser entendido como o processo pelo qual a informao persistida atue no acesso aos dados e na
recuperao do recurso representado e disponvel para uso e reuso em ambientes informacionais
digitais.
Na perspectiva de assegurar a consistncia na descrio dos dados imagticos para sua
persistncia no banco de dados foi realizada uma comparao por equivalncia dos elementos
descritivos de alguns instrumentos utilizados na descrio da imagem digital. Os instrumentos
analisados foram: AACR2r (Cdigo de Catalogao Anglo-Americano, 2 edio revista), ISBD
(Descrio Bibliogrfica Internacional Normalizada); Graphic Materials; RDA (Descrio de Recursos e
Acesso); CDWA (Categories for the Description of Works of Art) e o CCO (Cataloging Cultural Objects). E os
padres de metadados: Dublin Core; MARC 21 (Catalogao Legvel por Computador); MODS (Metadata
Object Description Schema); MIX (Metadata for Digital Still Images Standards Committee); IPTC (International
Press Communications Council) e o Core VRA. E por fim a estrutura de dados automtica: EXIF
(Exchangeable Image File Format).
A anlise desses instrumentos resultou no mapeamento dos elementos descritivos agrupados
em reas estabelecidas por uma lgica de descrio para imagem digital e pelas orientaes do
modelo conceitual FRBR (Functional Requirements for Bibliographic Records).
A partir do estudo dos instrumentos para a descrio da imagem, nota-se que a modelagem
dos dados permite uma maior economia processual, com a reutilizao de componentes e aumento
da flexibilidade e automatizao do sistema, do ponto de vista informacional e tecnolgico.

640
E as regras e as prticas de modelagem devem ser compostas por um catalogador atuando
como projetista do catlogo e fazendo com que algumas anomalias (exemplo: campos de catalogao
repetidos) sejam retiradas do projeto e a qualidade da informao seja homologada no modelo.
A partir de tal constatao, conclui-se que projeto de software bem estruturado, h de pensar
primeiramente na camada interna a camada de Persistncia de dados, onde os elementos
descritivos esto previamente planejados e definidos. Essa preocupao com a definio de dados
previne e auxilia problemas futuros ou mesmo novas funcionalidades do sistema funcional.
Dessa forma, o planejamento de como ser feito o registro imagtico nos catlogos ou banco
de dados de imagens antecede sua construo. A definio e relacionamento dos metadados devem
ser realizados conjunto a construo da camada de persistncia, tomando assim a verdade de que
nada adiantar modelar um sistema baseado na camada de apresentao: os dados no sero
concisos com a representao e o usurio ter dificuldades em recuperar os recursos imagticos.
Portanto, as questes-chave na representao da imagem digital so a concepo, a
implementao, a definio de metadados e a representao dos valores de cada atributo, muitos
deles com o preenchimento no momento de extrao de imagens e elaborado dinamicamente de
acordo com impresso do usurio e a captura de contedo (Hayama; Kiyoki; Kitagawa, 1994).
Na descrio de recursos, a catalogao oferece diferentes opes de pontos de acesso para o
usurio encontrar o material desejado. A catalogao na descrio de um recurso garante sua
unicidade e de uma forma sucinta e estruturada apresenta seus atributos com integridade, clareza,
preciso, lgica e consistncia (Mey, 1995, p. 07).
Essas caractersticas garantem a qualidade necessria para um registro descritivo em cada
domnio do conhecimento definidas a partir de esquemas de orientao para a representao, como
cdigos, formatos de intercmbio de dados, padres de metadados e modelos conceituais.
Os diferentes tipos de instrumentos de trabalho para a construo de formas de representao
orientam a construo de registros descritivos na apresentao das caractersticas dos recursos
tendo como fio condutor uma lgica de descrio que independentemente do seu contexto
(cientfico, acadmico, cultural, econmico, social, etc.) trar uma orientao para a construo
padronizada na apresentao dos dados buscando minimizar, de alguma forma, as barreiras
lingsticas e facilitar a compreenso e interpretao do contedo do registro descritivo para
usurios humanos e no humanos, com a apresentao de orientaes que definem a sinttica e a
semntica do registro descritivo de uma ou mais categorias de recursos, com o propsito de
padronizar a representao otimizando os resultados no acesso a dados e a recuperao de recursos
e informaes. Na tarefa de representar a informao imagtica so encontrados diversos
instrumentos de trabalho, sendo alguns deles, especficos para a representao do recurso visual.
Os padres de metadados, entretanto, so um conjunto de elementos descritores que segue
um determinado modelo de dados que contem um conjunto de conceitos e de requisitos, com o
objetivo de descrever recursos de um domnio especfico. (Barreto, 1999). Segundo El-Sherbini (2000,
p. 188), os padres de metadados [...] tm um importante papel no suporte ao uso de servios e
recursos eletrnicos. No entanto, para maximizar o uso destes e assegurar consistncia, so
necessrios padres universalmente aceitos que orientem a criao de metadados.
No mapeamento dos atributos definidos nos instrumentos do tratamento descritivo da
informao utilizados para a descrio de recursos imagticos considerou-se o maior detalhamento
da descrio para esse tipo de material e os elementos com maior incidncia nos padres resultaram
na construo dos quadros 1 e 2.
O Quadro 1 apresenta os elementos descritivos com maior incidncia nos instrumentos
analisados:

641
CATEGORIZAO ELEMENTOS DESCRITIVOS
OBJETO IMAGEM
Nvel da catalogao*
Tipo do objeto/obra*
Partes e componentes
Observaes
TTULO
Ttulo *
Tipo equivalente*
Idioma
Data relacionada ao ttulo
DERIVAO
Descrio da derivao
Extenso do criador
Qualificao do criador
Ttulo do criador*
Data de criao *
Localizao da criao*
Observaes
ESTILOS / PERODOS /
GRUPOS / MOVIMENTOS
Estilo do perodo
Tipo do perodo
DIMENSES
Descrio dimenses *
Tipo de dimenses
Valor das dimenses*
Unidade das dimenses
Extenso*
Forma*
Formato / Tamanho*
MATERIAIS E TCNICAS
Materiais / Tcnicas de Descrio*
Materiais / Tcnicas de Extenso*
Colorao*
Marcas d'gua*
Aes desempenho
Observaes
EDIO
Descrio da edio*
Nmero da edio
ORIENTAO Orientao*
DESCRIO FSICA
Tipo de Arquivo*
Codificao
Tamanho*
Velocidade de transmisso
Tipo de dados

642
Tipo de objeto
CONDIO DA IMAGEM
Abertura da lente
Colorao*
Compensao de exposio
Contraste*
Distncia focal
Flash
ISO*
Nitidez*
Saturao*
CONTEXTO
Identificao de evento histricos / cultural*
Data do Evento*
Local do Evento*
Contexto arquitetnico
Contexto arqueolgico
Localizao histrica
NOTAS DESCRITIVAS Nota descritiva*
TRABALHOS RELACIONADOS
Tipo de relao de trabalho*
Data de relao de trabalho*
Contexto mais amplo de trabalho
Observaes
LOCALIZAO
Localizao*
Nmero de identificao*
Galeria
Observaes
DIREITOS AUTORAIS
Declarao de direitos autorais*
Observaes

Quadro 1 - Elementos bibliogrficos descritivos necessrios para o registro da imagem digital
1

Os elementos mapeados destacados por um asterisco (*), nos quadros 1 e 2, representam
atributos essenciais para a descrio da imagem digital por carregarem informaes que garantem a
consistncia dos dados e sua persistncia na base.
O Quadro 2 aponta os elementos para o controle de autoridade e de assunto com maior
incidncia nos instrumentos analisados:

1
Fonte: (SIMIONATO, 2012, p. 91).

643
TIPO DE AUTORIDADE ELEMENTO DESCRITIVO
AUTORIDADE PARA PESSOA /
ENTIDADE COLETIVA
Tipo de registro Autoridade
Pessoa / Nome Pessoa Coletiva*
Responsabilidade*
Linguagem*
Data nome
Biografia
Data de nascimento
Data da morte
Local de Nascimento
Nacionalidade
Evento*
Data
Lugar*
Pessoa Vinculada / Pessoa Coletiva*
AUTORIDADE PARA LUGAR
Autoridade lugar - Tipo de Registro*
Local*
Idioma*
Coordenadas Geogrficas
Tipos lugar
Locais relacionados
AUTORIDADE PARA ASSUNTO
Tipo de registro assunto Autoridade*
Termo de classificao*
Nome da Entidade*
Data assunto
Funes sujeito / Atributos
Assunto relacionado*
Tipo de Relao assunto
Contexto mais amplo assunto*
Relao lugar
Pessoa Vinculada / Pessoa Coletiva*
Tipo de Relao pessoa*
Nota descritiva assunto
Fonte nota
Observaes

Quadro 2 - Elementos para o controle autoridade e assunto
2

2
Fonte: (SIMIONATO, 2012, p. 92)

644
O mapeamento dos elementos de descrio demonstra aponta que o tratamento da imagem
digital tem suas especificidades e se configura como um recurso informacional singular que exige
uma estrutura lgica em sua descrio que permita que cada elemento seja atribudo como nico.
Portanto, este mapeamento apresenta que a representao da imagem digital no pode apresentar
um espectro monoltico do objeto; mas sim de um recurso informacional especfico e deve ser
registrado isoladamente.
Como verificado por Loureno (2007), seja um ponto de acesso tanto ao objeto isoladamente,
quanto aos relacionamentos entre outros objetos, nomes entidades, locais e outra srie de elementos
ontolgicos e contextuais ampliando o potencial do conhecimento sobre determinado assunto.
A ideia no criar um novo padro de metadados para as imagens digitais, pois isso seria um
retrabalho, muito j est construdo e na descrio de imagens digitais a necessidade est
diretamente relacionada a consistncia de sua representao no atendimento das necessidades do
domnio do conhecimento em que est inserida.
A adoo da metodologia de modelagem conceitual de dados permite ao profissional da
catalogao atuar no processo de construo de banco de dados que reflitam os conceitos da rea de
catalogao, possibilitando uma viso no linear dos elementos descritivos de um item imagtico.
importante esclarecer que a modelagem se faz pelos dados dos registros descritivos, ou seja, pelos
elementos descritivos.
Uma soluo apontada para o controle dos dados no apresentarem anomalias, como o
relacionamento de dados repetidos ou a descrio vrias vezes do mesmo valor; a utilizao do
modelo conceitual FRBR (Functional Requirements for Bibliographic Records). O FRBR pode direcionar os
catalogadores ao desenvolvimento de projetos e comprovar que o conhecimento prvio do
profissional no contexto do tratamento descritivo e temtico da informao deve garantir a
especificidade do tipo de recurso informacional na utilizao de metodologias para a representao
de recursos em diferentes domnios.

2 Modelagem conceitual para a dados imagticos digitais

Nos sistemas de informao a modelagem conceitual de dados consolida os processos
referentes ao cenrio o sistema se prope a atender, a partir de uma viso no linear dos elementos
descritivos de um recurso.
Nesse sentido, a utilizao de uma arquitetura para o ambiente informacional digital com base
no modelo conceitual de requisitos bibliogrficos pode auxiliar no processo de representao de
imagens digitais.
O modelo conceitual utilizado foi o FRBR (Functional Requirements for Bibliographic Records). O
FRBR resultado de um estudo sobre os requisitos funcionais para registros bibliogrficos
empreendidos durante o perodo de 1992 a 1997 por um grupo de especialistas e consultores, a partir
da solicitao da IFLA. Os registros bibliogrficos so representaes codificadas por um conjunto de
dados, smbolos e palavras relacionadas, tratadas como um todo em termos lgicos ou fsicos que ao
reproduzirem algumas das caractersticas do recurso informacional representado servem para
descrev-lo e identifica-lo.
O modelo conceitual FRBR E-R estabelece alguns conceitos sobre os muitos tipos de materiais
descritos nas bases de dados pertencentes a instituies do patrimnio cultural, como bibliotecas,
arquivos e museus entre outras, na tentativa de torna os catlogos automatizados mais amigveis
para os usurios, e universais, tendo como propsito favorecer compatibilidades internacionais
sobre seus usos, de modo a tornar o acesso aos dados e o processo de busca e de recuperao cada
vez mais eficientes. Segundo Le Bouef (2007, p. 1), o FRBR:

645
[...] um modelo que define um nmero de classes gerais (entidades)
de coisas que so julgadas relevantes no contexto especfico de um catlogo
de biblioteca, seguidas de caractersticas (atributos) que pertencem a
cada uma dessas classes gerais, e os relacionamentos que podem existir
entre instncias dessas vrias classes.

Alm disso, os modelos conceituais, os esquemas de codificao e os padres de metadados
para a imagem digital refletem os aspectos tecnolgicos e representacionais para a determinao
padronizada dos elementos descritivos para imagem digital.
A modelagem de dados auxilia na visualizao dos relacionamentos entre as entidades e os
seus atributos, quando as relaes so construdas por meio de associaes entre um ou mais
atributos. Durante o processo de persistncia dos dados, o instanciamento (garantido pela a
especificidade e pela unicidade do material) e a granularidade (maior nvel descritivo) do registro,
so as propriedades necessrias para a representao de uma imagem digital, ou seja, a imagem
digital deve ser descrita como um objeto informacional nico, individualizado, em que cada
elemento do registro descritivo representado por um metadado.
A modelagem de dados pautada no modelo Entidade Relacionamento descreve o modelo de
dados de um sistema com um alto nvel de abstrao, por meio de uma viso esttica de um
programa.
Conforme aponta Peter Chen (1990), a determinao de como organizar os dados maximaliza a
utilidade e se torna um problema, assim, sempre haver o imperativo de uma modelagem complexa,
para que se visualizem as caractersticas essenciais de um domnio de abstrao. No domnio
bibliogrfico, a modelagem de dados apresentada pelos Grupos do FRBR, assim,

[...] os relacionamentos bibliogrficos servem como meio para
descrever a relao entre uma entidade e outra, assim como, meio de
auxiliar o usurio "navegar" no universo que representado em uma
bibliografia, catlogo ou banco de dados bibliogrficos. Normalmente o
usurio vai formular uma consulta de busca usando um ou mais atributos
da entidade para a qual ele est procura, e por meio do atributo que o
usurio encontra a instncia da entidade requerida (Fusco, 2010, p. 183).

As performances de desempenho dos relacionamentos baseados no FRBR, para a descrio das
imagens digitais, so analisadas a partir do mapeamento apresentado nos quadros 1 e 2. As
entidades, os atributos e os relacionamentos da imagem digital esto apresentados tambm em trs
grupos de entidades estruturadas sob os seguintes princpios que orientam o FRBR:

Grupo 1 este grupo compreende os produtos de trabalho intelectual ou artstico que so
descritos nos registros e que formam a base do modelo. Para a imagem digital:
Obra: a criao intelectual de quem ir capturar uma imagem e no a realizao da
imagem concreta, em pixels;
Expresso: a realizao intelectual ou artstica especfica que assume uma obra ao ser
elaborada, ou seja, para imagem digital a expresso o processo de a criao intelectual
ser transformada em imagem digital, ou seja, transformada em pixels;
Manifestao: a representao fsica da expresso de uma obra compreende um amplo
conjunto de objetos fsicos (itens) que podem ser impresses destas imagens,
reprodues em multimeios, formas que compartilhem as mesmas caractersticas no

646
que se refere tanto ao contedo intelectual como a forma fsica. A manifestao
possibilita a descrio de suas caractersticas;
Item: em muitos casos refere-se a um nico objeto fsico ou a um nico exemplar de
uma manifestao, ou seja, o item para imagem digital aquela imagem que o usurio
procura em um catlogo, uma imagem que se v e a sua representao deve conter
atributos que a tornem nica e garantam o seu instanciamento.

Grupo 2 agrega as Entidades que so responsveis pelo contedo intelectual, guarda ou
disseminao das entidades do primeiro grupo; so duas entidades: pessoa e entidade
coletiva. Para imagem digital:
Pessoa: indivduo responsvel pela criao ou realizao de uma obra, ou seja, quem
capturou a imagem digital ou quem responsvel por ela;
Entidade Coletiva: so organizaes ou grupos de indivduos responsveis pelo
contedo intelectual da imagem digital, inclusive grupos temporrios (encontros,
conferncias, reunies, festivais, etc.) e autoridades territoriais como uma federao,
um estado, uma regio, entre outros.

Grupo 3 envolve as Entidades que representam o conjunto de temas caracterizadores de
uma obra. Para a imagem digital, o grupo 3, influenciam principalmente nas formas de
organizao, como:
Conceito: uma noo abstrata ou uma ideia que podem ser amplas ou especficas,
abrangendo abstraes de uma obra que podem ser temticas: reas de conhecimento,
disciplinas, escolas de pensamento, teorias; como exemplo as tcnicas fotogrficas que
podem ser incorporadas nas imagens digitais;
Objeto: uma coisa material, que abrange uma completa categoria de coisas materiais
que podem ser as temticas de uma obra: objetos da natureza, objetos da criao
humana ou objetos que j no existam;
Evento: entidade que inclui uma variedade de aes, ocorrncias ou acontecimentos:
histrica, poca, perodo de tempo;
Lugar: entidade referente a uma localizao, abrangendo uma srie de localizaes
como: terrestres e extraterrestres, histricas ou contemporneas, caractersticas
geogrficas e jurisdies geopolticas.

A modelagem conceitual E-R para imagens digitais, incorporando os conceitos da Cincia da
Informao e Cincia da Computao pode auxiliar no desenvolvimento e no planejamento de
catlogos de recursos imagticos digitais na configurao e na apresentao das informaes para o
atendimento das tarefas do usurio.
Nesse contexto, Simionato (2012) desenvolve o modelo conceitual para recursos imagticos
denominado Requisitos Funcionais para Dados Imagticos Digitais - RFDID conforme demonstra
a Figura 1. Requisitos Funcionais para Dados Imagticos Digitais:

647

Figura 1 - Requisitos Funcionais para Dados Imagticos Digitais
3

3
Fonte: (SIMIONATO, 2012, p. 123)

648
Os Requisitos Funcionais para Dados Imagticos Digitais RFDID pressupem um sistema
de recuperao da imagem digital que envolve a extrao de caractersticas especficas da imagem
indo alm do contedo da informao extrado da leitura da imagem e a sua descrio em texto,
normalmente baseada na interpretao do assunto da imagem, ou at mesmo como uma imagem
tcnica. Neste modelo estabelecido um nvel de organizao dos dados nos sistemas digitais e um
grau de padronizao que pode favorecer a interoperabilidade entre sistemas e possibilitar o
compartilhamento de dados e de servios informacionais.

Consideraes finais

A rea de Cincia da Informao est vivenciando transformaes tanto no processo do fazer
quanto no modo de pensar as novas maneiras de representar e de apresentar o item informacional
resultante do aumento do fluxo informacional.
Os recursos imagticos, nesse contexto, so um grande atrativo no processo de comunicao e
se configuram como cones de rpida interpretao. Entretanto, requisitam catlogos otimizados,
mais amigveis e eficientes, fatores que geram uma crescente necessidade de tratamento
informacional especfico para a representao das imagens digitais.
A transformao desse tipo de recurso em informao acessvel solicita um tratamento
descritivo que acesse os dados persistidos no catlogo ou banco de dados, identifique e localize o
recurso, permita o seu instanciamento favorecendo seu uso, reuso e preservao.
A representao de imagens digitais na Web uma tarefa bastante complexa que exige um
trabalho de cooperao, de responsabilidade e de especialidade. Nessa atividade, uma situao que
merece um olhar mais atento diz respeito a atribuio dada aos usurios de sistemas de informao,
de construrem representaes responsveis pelo acesso aos dados e a recuperao do recurso
imagtico, o qu, at pouco tempo, era uma tarefa especfica do catalogador, que em tese, seria o
sujeito institucional com conhecimento estratgico para o uso de linguagens para a construo de
formas de representao estruturadas para a persistncia de dados e para a apresentao da
informao, estruturas essas responsveis pelo encaminhamento de operaes de acesso aos dados,
de busca de informaes, de localizao e de recuperao de recursos informacionais.
Ao longo da histria da catalogao, muitos debates e discusses foram realizados para a
definio e revises de esquemas de descrio, formatos de intercmbio de dados, padres de
metadados e modelos conceituais no domnio bibliogrfico, entretanto, a orientaes para a
descrio de recursos imagticos, mesmos nas atualizaes contemporneas dos instrumentos de
orientao para a construo de formas de representao tm sido deixados de lado.
Nesse sentido, a apresentao do modelo conceitual para a descrio de imagens digitais,
Requisitos Funcionais para Dados Imagticos Digitais RFDID, desenvolvido por Simionato (2012) e
aqui apresentado, se configura em uma proposta de construo de formas mais eficientes para
representar o recurso imagtico de modo a torn-lo disponvel, acessvel e recupervel.
A utilizao dos RFDID na modelagem de dados permitir uma maior economia processual,
com a reutilizao de componentes e o aumento da flexibilidade. A reutilizao de seus
componentes promove aos dados um relacionamento de seus valores conectivos as entidades
previamente definidas pelo modelo conceitual FRBR e os dados imagticos sero catalogados
somente uma vez, facilitando a composio de seu registro, bem como o aumento da flexibilidade
do registro dentro de seu ambiente.
A flexibilidade assim condiz com a quebra dos registros monolticos, transformando os
mesmos registros em dados que possam se relacionar, conjunto a suas respectivas entidades, essa

649
flexibilidade pode auxiliar tanto nos processos de representao, recuperao e acesso dos registros
imagticos.

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Filho, Faculdade de Filosofia e Cincias, Marlia/SP.

651
ABORDAGEM TERICA CONCEITUAL DE REPRESENTAO DE FOTOGRAFIAS EM BANCOS DE
IMAGENS, PARA USO NA PUBLICIDADE

JICE CLEIDE CARDOSO ENNES DE SOUZA
[email protected]

ROSALI FERNANDEZ DE SOUZA
[email protected]

Resumo Introduo Destaca a proliferao de imagens fotogrficas na atual sociedade da informao e sua
divulgao rpida e online com o crescimento do nmero de sites de bancos de imagens na web, para uso
publicitrio. A produo fotogrfica exclusiva para publicidade apresenta os aspectos custo e tempo. Custo
referente ao oramento destinado para a produo: modelos, fotgrafo, locao, etc. Os bancos de imagem se
apresentam como recurso para os produtores que demandam de tempo para a criao da pea publicitria,
pois oferecem colees imagticas selecionadas, com tratamento documental direcionado ao usurio. Objetivo
Propor procedimentos metodolgicos para a representao e recuperao de fotografias arquivadas em
bancos de imagens, visando obter subsdios para reflexo e desenvolvimento de esquema terico para
indexao de fotografias. Mtodos Pesquisa qualitativa, de carter exploratrio, com orientao analtico-
descritiva, mediante a identificao de elementos de anlise na literatura sobre publicidade direcionada ao
pblico feminino para definio de atributos visando atender demandas de contedo publicitrio. O banco de
imagens Latinstock foi selecionado para o desenvolvimento da anlise emprica por oferecer colees para uso
publicitrio, ser em portugus e explicitar os princpios adotados na anlise conceitual das fotografias.
Resultados As amostras investigadas indicam que os atributos usados pelo banco de imagem so compatveis
com a representao de aspectos subjetivos/abstratos da fotografia, e que o uso de substantivos e adjetivos na
indexao atendem aos elementos identificados na literatura de publicidade. Concluses Os resultados
indicam a ascendncia do profissional indexador na etapa de anlise conceitual, e que a indexao de imagens
para publicidade compreende atributos tcnicos, figurativos e subjetivos.

Palavras-chave Fotografia. Representao da Informao. Bancos de Imagens.

Abstract Introduction - Highlights the proliferation of images in the current information society and their
rapid dissemination online and with the growing number of image data banks sites on the web, for
advertising use. The exclusive photographic production for advertising displays the time and cost aspects.
Cost for the budget for the production: models, photographer, location, etc. The image data banks are
presented as a resource for producers who require time to set up the advertising piece, they offer selected
collections imagery, with the documentary directed to the user. Purpose - To propose methodological
procedures for the representation and retrieval of archived photographs in image databanks, in order to
obtain subsidies for reflection and development of theoretical framework for indexing images. Methodology -
Qualitative research, exploratory, descriptive-analytical oriented, by identifying elements of analysis in the
literature on advertising directed at women to define attributes to meet the demands of advertising content.
The stock photos Latinstock was selected for the development of empirical analysis by offering collections for
advertising use, to be in Portuguese and explain the principles adopted in the conceptual analysis of the
photographs. Results - The samples investigated indicate that the attributes used by the image databank are
compatible with the photo representation of subjective and abstracts aspects, and the use of nouns and
adjectives in indexing meet the elements identified in the advertising literature. Conclusions - The results
indicate the ascendancy of the professional indexer in the stage of conceptual analysis and indexing of images
for advertising comprises technical, figurative and subjective attributes.

Keywords Photography. Representation of Information. Image Databanks.

652
Introduo

A disseminao de bancos de imagens online, aliada proliferao da produo fotogrfica,
permitiu que o usurio pesquisasse remotamente, sem a necessidade de sua presena nas
dependncias das empresas detentoras dos acervos fotogrficos, desterritorializando as colees
fotogrficas acessveis at ento em formato fsico. O processo de negociao entre a solicitao de
busca feita pelo usurio e a obteno de um resultado relevante era intermediado pelo profissional
de informao, que interpretava as perguntas e entregava as imagens fotogrficas consideradas
representativas. Na web esse processo de responsabilidade do usurio uma vez que ele faz a busca
e, com base no resultado obtido, avalia a relevncia da recuperao conforme suas necessidades
informacionais. No mbito da publicidade, h o aumento de buscas pelos aspectos subjetivos e/ou
abstratos das imagens, consoante com a mensagem simblica transmitida pelo anncio publicitrio.
Este trabalho introduziu no mbito da Cincia da Informao questes relacionadas com a
indexao de fotografias a serem usadas na publicidade, se detendo na organizao e representao
do conhecimento por abordar a representao temtica de imagens. A definio dos atributos para
representao da fotografia decisiva para que determinada imagem seja recuperada ou no pelo
usurio. Em bancos de imagens com finalidade comercial, a no recuperao da fotografia desejada
resultar na no efetivao da transao comercial. Neste contexto, questiona-se: como as
fotografias so indexadas nos bancos de imagens? Quais atributos devem ser adotados na
representao de fotografias, para que as mesmas sejam recuperadas em bancos de imagem
comerciais para uso na publicidade, permitindo sua reutilizao em diferentes contextos?
Para a definio dos atributos usados na indexao de fotografias para publicidade, foi preciso
entender as diferentes etapas de criao da mensagem publicitria, desde a concepo do anncio, a
busca da fotografia no banco de imagens e sua publicao na pea publicitria. A partir dos
objetivos da mensagem publicitria foram identificadas no discurso publicitrio as formas de
enunciao que motivam o consumidor a comprar algum produto. Trazendo para a linguagem
visual, a funo persuasiva da publicidade possvel a partir da iconizao da mensagem
publicitria. A importncia da imagem no anncio publicitrio justificada pela primazia da
imagem na sociedade contempornea. O uso da imagem no anncio proporciona ao consumidor
duas mensagens: literal ou denotativa, a partir da percepo de objetos e pessoas; e simblica ou
conotativa, com base na interpretao individual.
Ao ser representada atravs de uma palavra ou conceito, a imagem fotogrfica pode ser
apresentada e re-apresentada de diferentes formas. A linguagem assume o papel de mediadora
nesse espao comunicacional, onde interagem modelos mentais e percepes individuais. Antes de
ser um obstculo, a polissemia da imagem no contexto publicitrio considerada uma qualidade. O
aspecto subjetivo implcito interpretao da fotografia permite a multiplicidade de significados e
usos, o que pressupe, de forma consciente, a impossibilidade de esgotar as diferentes formas de
represent-la. Nesse sentido, este trabalho se concentra na anlise conceitual da imagem, etapa que
compe o processo de indexao de um documento, junto com a traduo do assunto identificado
para a linguagem do sistema. Na analise conceitual possvel identificar o assunto de que trata a
fotografia, ou seja, de que trata a fotografia e sobre o que, abrangendo os elementos figurativos e
subjetivos da imagem.
A produo fotogrfica exclusiva para publicidade apresenta dois aspectos: custo e tempo. O
custo referente ao oramento destinado para a produo: contratao de modelos, fotgrafo,
locao de estdio fotogrfico, etc. Apesar de se obter um conjunto de fotografias produzidas para
um produto especfico, o fator tempo determinante em alguns projetos publicitrios. Os bancos de
imagem se apresentam como um recurso para os publicitrios que demandam de tempo para a
criao da pea publicitria, pois oferecem colees de fotografias selecionadas, com tratamento
documental direcionado ao usurio.
A existncia do International Press Telecommunications Council (IPTC), rgo responsvel pela
padronizao de descrio e divulgao do contedo produzido pelas empresas de mdia em geral,

653
compreendendo os bancos de imagens, garante a normatizao mnima dos atributos para o
compartilhamento de fotografias, mas no explcito sobre a descrio de imagens para o contexto
publicitrio.
Estabeleceu-se como hiptese para o presente trabalho, que a funo persuasiva da
linguagem publicitria oferece recursos a serem aplicados na anlise conceitual de fotografias
arquivadas em bancos de imagens na web. O objetivo da mensagem publicitria motivar o
consumo de um produto ou servio, atravs da ao intencional sobre a memria do consumidor, ou
incitando seu desejo pelo produto a partir de sugestes. A persuaso publicitria se d pelo destaque
de valores, qualidades e emoes que so atribudos aos produtos/servios, para estimular a
compra. Entende-se que o publicitrio um pesquisador de imagens que integra uma comunidade
de usurios cuja caracterstica a busca por fotografias que atendam o objetivo da mensagem
publicitria, que persuadir o consumidor. As imagens fotogrficas produzidas e disponibilizadas
pelos bancos de imagens atendem demanda do publicitrio por apresentarem qualidades sgnicas
diferenciadas que permitem diferentes caminhos interpretativos, possibilitando uso e reuso em
contextos variados.
O objetivo geral investigar procedimentos para a representao e recuperao de
fotografias arquivadas em bancos de imagens, visando obter subsdios para reflexo e
desenvolvimento de modelos para indexao de fotografia em arquivos digitais, para publicidade.
Especificamente objetiva-se: determinar conceitos associados s fotografias usadas na publicidade
visando obter embasamento para as estratgias de busca; identificar elementos de anlise para
definio de atributos visando atender demandas de contedo publicitrio; e identificar atributos
observados na anlise conceitual de fotografias em bancos de imagens, para uso na publicidade.

1 Referencial terico

Com base na literatura sobre publicidade, foi possvel analisar a imagem publicitria para
conhecer os objetivos dos criadores dos anncios publicitrios, visto que o foco de investigao foi a
imagem fotogrfica e sua aplicao na publicidade. O questionamento sobre a indexao das
fotografias nos bancos de imagens foi esclarecido a partir da anlise dos diferentes pontos de acesso
atribudos s fotografias pelos analistas indexadores do banco de imagens Latinstock Brasil, estudado
na parte emprica. A anlise foi fundamentada na literatura que foca os atributos aplicados na
representao de imagens (Shatford (1986), Smit (1996), Shatford Layne (1994), Armitage; Enser
(1997), Greisdorf; OConnor (2002), Jorgensen (1998), Markkula; Sormunem (1998) e Ornager (1997)),
alm da perspectiva subjetiva e interpretativa da imagem (Barthes, 2009; Jorgensen, 1996).

1.1 Publicidade, linguagem da propaganda e mensagem publicitria

O uso dos conceitos propaganda e publicidade na literatura brasileira no unnime. A
questo sobre a denominao de propaganda e publicidade focada por Charaudeau (2009), que
considera o termo propaganda mais amplo que publicidade, uma vez que o primeiro est associado
a mensagens diferenciadas, como poltica, institucional, religiosa e comercial. J publicidade,
Charaudeau associa o termo apenas mensagem comercial. No tocante ao universo que enfocam, a
propaganda trabalha com valores sociais e ticos, enquanto a publicidade tem um perfil mais
sedutor, uma vez que precisa convencer o consumidor.
No escopo deste trabalho ser usada a expresso publicidade, definida por sua associao
mensagem comercial ao consumidor, se caracterizando pelos recursos de persuaso usados para
convencer o consumidor a adquirir um produto/servio. No que diz respeito aos anncios com esse
perfil, sero focadas as fotografias que possuem potencial para serem publicadas em anncios de
exibio, mais precisamente em revistas femininas. Uma vez que nossa abordagem emprica ser a
anlise de fotografias oferecidas por bancos de imagens comerciais, nos deteremos na publicidade

654
conceitual por entender que tanto na anlise conceitual da fotografia como na busca por parte dos
usurios, h uma demanda por ideias, valores e sentimentos cujo objetivo desenvolver um
conceito relacionado ao produto/servio.
Para que o consumidor seja convencido que determinado produto possui valor de uso para
ele, observa-se a estetizao da mensagem publicitria, adotando tcnicas das artes verbais e
visuais. Segundo Vestergaard e Schrder (2004, p. 12), no s o produto, mas tambm o
consumidor que passa por um processo de estetizao. A compreenso do processo
comunicacional do anncio publicitrio possvel com o estudo da linguagem da propaganda e da
mensagem publicitria.
No contexto deste trabalho, o anncio publicitrio um espao comunicacional, onde o
emissor o anunciante e o receptor o usurio ou potencial consumidor. O significado transmitido
o produto ou servio objeto do anncio, em uma tentativa de persuadir o leitor a adquiri-lo. No
anncio impresso, o cdigo formado pela linguagem e pelo cdigo visual representado pela
imagem usada no anncio para a transmisso da mensagem publicitria. O canal consiste nas
publicaes impressas (jornais ou revistas) onde foi publicado o anncio. O contexto do processo
comunicacional representado pela situao do leitor (conhecimento prvio, se j tem o produto,
etc), pela publicao em que foi veiculado o anncio e pelo reconhecimento de que o que foi
publicado uma propaganda que apresenta um objetivo especfico.
Nos textos publicitrios, observamos que os participantes principais so o sujeito/receptor,
o produto e o objeto, representado pela qualidade que lhe associada. De forma anloga, podemos
fazer uma associao com a anlise conceitual da imagem, no tocante aos aspectos que devem ser
observados por ocasio de sua indexao. Levando-se em conta que h uma associao entre o
objeto e a qualidade, podemos sugerir que ao analisar conceitualmente uma fotografia, o indexador,
a partir da identificao dos objetos e situaes retratados, faa uma associao com qualidades ou
outros conceitos subjetivos que de alguma forma se relacionam com o objeto em questo.
Ao fazer uma reflexo sobre o objetivo comunicacional, foram consideradas as diferentes
funes da linguagem, segundo Jakobson (2008): expressiva ou emotiva (quando focaliza o emissor,
seus sentimentos, desejos e vontade); apelativa ou conativa (quando focaliza o receptor, se
destinando a influenciar em seus atos, emoes e crenas); metalingustica (o foco o cdigo);
referencial, denotativa ou cognitiva (quando est relacionada ao contexto); esttica ou potica
(quando est focada tanto no cdigo quanto no significado); e ftica (funo de averiguar se o
contato com o interlocutor est vivo).
As diferentes funes da linguagem no so exclusivas, podendo ocorrer em conjunto. No
contexto da publicidade, a mensagem publicitria se caracteriza pela funo apelativa ou conativa,
por ter foco no destinatrio ou consumidor, de modo a oferecer uma estratgia para chamar a
ateno e exaltar as qualidades e valores do que est sendo anunciado. Levando em considerao o
que caracteriza a funo apelativa ou conativa da linguagem, entendemos que no momento da
anlise conceitual de fotografias, devem-se destacar os aspectos subjetivos e/ou abstratos para que
no momento de busca, o publicitrio tenha acesso a um servio de informao em que sejam
recuperadas fotografias que atendam o objetivo da mensagem como um todo.
A eficincia do discurso publicitrio em instaurar novos modelos e comportamentos a partir
do discurso no-verbal, deve-se a produo de novas significaes, informao, alm da
manuteno de valores. Observa-se o consumo de smbolos e suas mltiplas relaes, onde o uso da
fotografia decisivo para a persuaso da mensagem da pea publicitria.

Mulher e publicidade

Com a finalidade de restringir a anlise emprica de fotografias oferecidas em bancos de
imagens, focaremos a mensagem publicitria direcionada ao pblico feminino. A definio do sexo

655
do pblico-alvo faz parte da estratgia de comunicao elaborada pelo publicitrio para um dado
produto. Para isso, as agncias de publicidade com maior projeo consultam psiclogos e
socilogos, juntamente com pesquisas de opinio recentes, para melhor determinar os valores e
imagens que atingiro o pblico.
A construo de valores e de imagens obtida atravs do processo de significao que um
determinado produto submetido, de modo a se tornar a representao de um estilo de vida, por
exemplo. Dependendo do pblico, o publicitrio usar elementos para atingir o consumidor alvo. Os
anncios so apresentados diferentemente para homens e mulheres, classe sociais, adultos e
crianas, mulheres casadas e mulheres solteiras, diferentes faixas etrias, etc.
A domesticidade da mulher na publicidade focalizada por Vestergaard e Schrder (2004),
que analisam tal caracterstica nos anncios de revistas e destacam que a mulher sempre
associada rotina da casa, apesar de nos dias atuais desempenhar um papel importante na diviso
do oramento familiar. Segundo os autores, a posio da mulher como trabalhadora associada
rainha do lar: alm de trabalhar fora, a mulher responsvel pelo zelo de sua casa e famlia.
Observamos que a imagem da mulher encerra dois enfoques na publicidade: ela protagonista e/ou
alvo dos anncios.
Carvalho (2006, p.24) salienta que o anncio dirigido mulher e suas diferentes facetas me,
profissional, esposa, dona de casa se caracteriza pela mensagem positiva, onde a mulher feliz,
bela e bem sucedida. A publicidade se adapta de modo a conquistar o consumidor representado pela
figura feminina, com a elaborao de anncios especializados, que focam temas relacionados ao
perfil feminino, como a beleza. Na publicidade atual observamos a imagem preponderante da
mulher associada ao ideal de beleza e conservao da boa aparncia fsica. Para ser feliz e bem-
sucedida a mulher precisa ser bonita, e tem sua ateno voltada para a forma fsica, unhas, cabelos,
maquiagem, cosmticos, depilao, entre outras aes que visam manuteno da beleza feminina
(VESTERGAARD; SCHRDER, 2004).
Em trabalho sobre a beleza feminina e a publicidade, Ribeiro (2011) conclui que
democratizao da beleza o lema do sculo XX, quando o ideal de beleza deixa de ser um privilgio
para as classes burguesas e se estende por toda a sociedade. Nos dias atuais h a ditadura do peso
que, associada ideia de sade, faz com que toda mulher deseje um corpo magro. Ser magra
simboliza ter liberdade e atitude. J no incio do sculo XXI, h uma crtica sobre os cnones da
beleza e a magreza excessiva das modelos. Percebe-se tambm uma individualizao do corpo
feminino, onde cada mulher responsvel por sua aparncia e caractersticas particulares, como o
uso de piercings e tatuagens.
A partir da anlise da publicidade publicada nas revistas femininas Nova, Lola, Claudia, Marie
Claire e Estilo em outubro de 2011, Kronbauer (2011) identifica valores/ conceitos perpassados pelos
anncios. Foram analisados 325 anncios e a autora (KRONBAUER, 2011, p. 42-51) estabeleceu os
seguintes conceitos e suas definies:

1. Beleza anncios com imagens e textos com contedos que estimulam a ideia da
necessidade de ser esteticamente belo, a partir dos padres de beleza estabelecidos pela
sociedade;
2. Sensualidade - anncios de lingeries e cosmticos, com modelos fazendo poses e
expresses sedutoras, comunicando um ar de encantamento e mistrio;
3. Luxo - anncios com foco na imagem do produto, estando as demais imagens em
segundo plano;
4. Requinte - anncios que comunicam requinte ao usarem imagens e textos mais sutis. As
modelos transmitem imagem de elegncia, requinte e bom gosto;
5. Moda Estilo anncios que comunicam estilo, moda e tendncias, como roupas,
sapatos, perfumes e acessrios em geral;

656
6. Juventude - anncios que comunicam ao consumidor uma atitude jovem;
7. Informao - anncios sobre promoes, eventos e demais anncios da prpria editora
da revista;
8. Qualidade - anncios de produtos de beleza e veculos, que trazem a imagem do
produto, e do enfoque s qualidades que o produto proporciona ao consumidor;
9. Sade - anncios de alimentos, comunicando os benefcios do produto e marca;
10. Prazer - anncios que comunicam sensao de conforto e prazer pela utilizao de
algum produto ou cosmtico. Usam imagens que remetem a sentimentos e sensaes
como liberdade, frescor, carinho, felicidade, cumplicidade;
11. Praticidade - anncios que comunicam as facilidades oferecidas pelo produto/servio ao
consumidor.

A anlise quantitativa dos anncios apontou que os anncios sobre Moda/Estilo totalizam
30% dos anncios pesquisados, seguido de Beleza e Informao, com 12% cada um. Com 10%, esto
os anncios que comunicam Prazer. A autora (KRONBAUER, 2011, p. 56) conclui, com base nos
anncios publicados, que as leitoras das revistas analisadas possuem como ideal de vida a beleza,
juventude e sucesso, o que justificou os termos pesquisados na parte emprica.

Imagem fotogrfica na publicidade e bancos de imagens

Nos primrdios da publicidade, no sculo XIX, a imagem possua um papel secundrio, sendo
a linguagem verbal preponderante. Observam-se os primeiros registros de usos da fotografia com
fins publicitrios em cartazes de divulgao com fins variados, na segunda metade do sculo XIX. A
importncia da figurao do objeto na publicidade unnime entre os autores da rea de
Comunicao. Vestergaard e Schrder (2004, p. 46) apontam pesquisas recentes com enfoque nos
elementos visuais e verbais dos textos de comunicao. At ento, as pesquisas sobre imagens eram
objeto da histria da arte e conduzidas em separado das pesquisas sobre linguagem.
Pninou (1973, p.61) afirma que, qualquer que seja o produto a ser anunciado, os criadores
fazem cada vez mais uso de figuras, que de alguma forma representam a mensagem que se objetiva
transmitir atravs do anncio. Apesar do apelo consumista, deduze-se que o ato da compra esteja
associado no somente posse do bem material, mas tambm aquisio de algo alm do produto,
uma qualidade ou um sentimento.
Nos dias atuais, percebe-se o domnio da cultura visual nos meios de comunicao de massa,
como na televiso, jornal e internet, apesar de neste ltimo a linguagem verbal estar inserida
dentro de uma composio imagtica (webdesign). O crescimento do uso das imagens nos anncios
impressos frente linguagem verbal foi objeto de estudo de Figueiredo Neto (2004), que parte da
hiptese de que as figuras de linguagem, como metforas e metonmias, catacreses, hiprboles,
entre outras, esto sendo cada vez mais usadas nos anncios publicitrios, atravs das imagens, o
que outrora era feito pelos textos. A partir da anlise de anncios de revista que receberam a
premiao ouro nos anurios do Clube de Criao de So Paulo, entre 1975 e 2001, o autor fez um
levantamento estatstico, por ano, pelo nmero de palavras usadas no ttulo e no texto dos
anncios. Como resultado, o autor (FIGUEIREDO NETO, 2004, p. 281) constatou que, enquanto em
1971 a mdia de palavras por ttulo era de sete, e por texto, 394; em 2001 a mdia era uma palavra
por ttulo e duas por texto. Figueiredo Neto (2004, p. 284) esclarece que o estudo parece indicar que
a publicidade brasileira vem simplificando sua mensagem a partir da iconizao da imagem atravs
da criao de metforas visuais.

657
A relao entre a imagem e o texto que a acompanha foi objeto de reflexo de Barthes (2009).
Segundo o autor, o processo de ancoragem da imagem realizado pela legenda ou texto que a
acompanha. Uma vez sem o recurso textual, a caracterstica polissmica das imagens permite ao
observador escolher alguns significados em detrimentos de outros. A despeito da importncia da
ancoragem para contextualizar a imagem, depreende-se que essa oferece alguns recursos que
permitem sua interpretao, como a presena de vesturio e automveis para identificar o perodo
de tempo da imagem, arquitetura urbana ou a geografia que representa uma determinada cidade.
Silva (2006, p. 11) identificou e relacionou as necessidades humanas que so usadas na
publicidade e retratadas pela fotografia publicitria, no considerando a segmentao por gnero,
classe ou faixa etria: ambio - desejo de progredir, de ser algum; amor famlia - afeto aos pais,
filhos, irmos, etc.; aparncia pessoal - asseio e bem vestir; apetite - paladar, amor boa mesa;
aprovao social - desejo de ser apreciado, de ser igual socialmente; atividade - esporte, jogos e
semelhantes; atrao sexual - conquista amorosa, casamento, namoro; beleza - sentimento esttico,
desejo pelo que belo; conformismo - hbitos, tendncias imitao, a seguir lderes; conforto -
desejo de repouso, bem-estar, tendncia euforia; cultura - sede de saber, desejo de instruir-se;
curiosidade - necessidade de saber o que se passa, bisbilhotice; economia - de dinheiro, tempo,
esforos, desejo de lucrar; evaso psicolgica - desejo de esquecer a realidade; impulso de afirmao
- desejo de se impor, de se afirmar; segurana - proteo contra sinistro, previdncia; sade -
higiene, defesa contra doenas.
Analisando as necessidades acima com base nos estmulos fisiolgico, emocional e cognitivo
descritos por Silva (2006), constata-se que das 17 necessidades, 8 so referentes aos estmulo
fisiolgico (Amor famlia, Aparncia pessoal, Apetite, Atividade, Atrao sexual, Conforto,
Segurana, Sade); 6 condizem com o estmulo emocional (Ambio, Aprovao social, Beleza,
Economia, Impulso de afirmao, Evaso psicolgica) e 3 se enquadram como estmulo cognitivo
(Conformismo, Cultura, Curiosidade). Observa-se que os aspectos fsicos do indivduo merecem
destaque na lista de necessidades. Visto que o consumidor manifesta o desejo de detectar nos
anncios publicitrios a possvel soluo para suas necessidades, infere-se que os publicitrios
tambm as consideram ao conceber as mensagens transmitidas pelos anncios publicitrios.
As colees de imagens pesquisadas pelos publicitrios apresentam diferentes aspectos,
podendo estar vinculadas a bibliotecas, arquivos, museus ou centros de documentao. As formas
como so oferecidas aos usurios tambm podem variar, podendo ser uma pesquisa presencial, feita
diretamente na instituio, ou mesmo ter seu acesso pela web, atravs de bases de dados de imagens,
como nos bancos de imagens disponveis na Internet. Ao abordar o crescimento do oferecimento de
imagens fixas e em movimento na web, Enser (2008, p. 7) define colees de imagens como um
conjunto que possui caractersticas profissionais de gerenciamento, como a existncia de polticas
de aquisio e de informao, direitos autorais e metadados. A partir dessa definio de colees,
considera-se de maneira anloga que as categorias oferecidas pela maioria dos bancos de imagens
sejam colees, uma vez que so administradas com base em polticas, direitos autorais e
metadados.
Historicamente, o surgimento dos bancos de imagens est associado criao das agncias de
fotografias no incio do sculo XX, ao aumento da produo editorial e ao desenvolvimento do
fotojornalismo. A publicao de fotografias nos jornais permitiu aproximar o leitor do fato
jornalstico, mesmo que essa fotografia seja uma representao do fotgrafo, seu olhar sobre o
referente. Ao organizar seu acervo em bancos de imagens, as agncias fotogrficas oferecem
imagens fotogrficas produzidas em contextos variados, com objetivo de proporcionar ao usurio
imagens que podem ser usadas criativamente. Esclarece Freitas que os bancos de imagens criam
colees de fotos conceituais que so comercializadas principalmente para agncias de publicidade,
dispensando a necessidade de contratar um fotgrafo especfico para o trabalho em questo
(FREITAS, 2009, p. 107). Segundo a autora, observa-se que as fotografias so selecionadas apenas por
serem indiciais ou para ilustrar uma notcia ou anncio, no se tendo cuidado com o carter esttico
ou criativo da imagem.

658
1.2 Leitura da imagem fotogrfica: princpios tericos

Apesar de na Cincia da Informao haver estudos sobre a representao de imagens, no
foram identificados estudos que focalizam a definio de atributos especificamente para a
representao de fotografias destinadas para o uso na publicidade. Segundo Shatford Layne (1994, p.
587), so escassos os estudos qualitativos que focam a relao entre o pesquisador de imagens e a
seleo de atributos a serem usados na indexao, e que sejam potencialmente teis para a
recuperao. J no tocante anlise do contedo da imagem, podemos destacar os estudos de
Shatford (1986), Smit (1996), Shatford Layne (1994), Armitage e Enser (1997), Greisdorf e OConnor
(2002) e Jorgensen (1998). Alguns trabalhos focam na anlise da imagem no mbito do jornalismo,
como Markkula e Sormunem (1998) e Ornager (1997).
Sobre pesquisas cientficas que se dedicam ao estudo do comportamento de busca de usurios
de fotografia com uso na publicidade, Jorgensen e Jorgensen (2005, p. 1346) destacam que na Cincia
da Informao houve um aumento na literatura sobre a pesquisa do usurio na web. Observamos um
aumento nos estudos sobre a recuperao da imagem na web, e o desenvolvimento de critrios para
balizar o ato de validao da informao ali obtida (FIGUEIREDO, 2011).
A partir da teoria dos trs nveis de Panofsky, Shatford (1986, p. 45) prope uma base terica
para identificar e classificar os diferentes tipos de objetos representados em uma imagem.
Inicialmente, a autora esclarece o conceito de imagem, entendida como imagens representacionais
(fotografias, desenhos, pinturas, slides, impresses ou qualquer outro item de informao
bidimensional), que contenham informao imagtica esttica (SHATFORD, 1986, p. 39).
O objetivo de Shatford (1986) possibilitar o acesso temtico por parte do usurio ao acervo
imagtico, sem perder de vista o propsito desse acervo e seu uso. Alm disso, a autora esclarece
que cabe aos profissionais de informao explorar o potencial do acervo imagtico para os futuros
usurios. Shatford (1986, p. 48) prope o desenvolvimento de uma classificao facetada para
imagem guisa de aspectos a serem contemplados por ocasio da anlise conceitual. A autora adota
as facetas Quem, O que, Onde, Quando, coordenada com os aspectos genrico, especfico e abstrato,
fazendo um paralelo com as categorias ranganathianas Personalidade, Matria, Energia, Espao e
Tempo.
As propostas tericas de Panofsky (1976) e Shatford (1986) influenciaram autores dedicados a
definir bases tericas para a indexao de imagens. rnager (1997) faz uso dos preceitos tericos
dos autores citados e dos conceitos de denotao/conotao estudados por Barthes (2009). A autora
(RNAGER, 1997) prope uma metodologia com base na anlise da imagem em nveis observada nos
autores e sua implementao na anlise de fotografias de imprensa. A hiptese da autora:

que uma metodologia conjunta possa ser implementada por ocasio
da anlise de fotografias de imprensa [...]. Para que possamos analisar uma
fotografia ser necessrio aplicar dois nveis, isto , um DE ou nvel factual
e um SOBRE ou nvel expressional, sendo que este ltimo baseado no
grupo cultural que utiliza a fotografia. Os dois aspectos devem aparecer na
indexao de imagem uma vez que se supe serem de importncia nas
consultas feitas em um sistema que contm fotografias (rnager R, 1997, p.
205, traduo nossa).

Segundo rnager (1997, p. 202-205), no primeiro nvel no necessrio dominar os cdigos,
cabendo ao observador apenas uma identificao familiar dos objetos e eventos fotografados. Em
um segundo momento, para ler o contedo da imagem, necessrio ao observador conhecer os
cdigos semnticos da imagem. De acordo com Barthes, tal percepo est associada cultura a
partir da qual a imagem visualizada.

659
Shatford Layne (1994, p. 583) discute algumas questes intelectuais sobre a indexao de
imagens, postulando que a indexao deve prover o acesso s imagens com base nos atributos das
imagens, alm de permitir o acesso a grupos de imagens. O agrupamento de imagens suscita
questionamentos relativos ao momento em que ocorreu a reunio e quais critrios foram usados; ao
nvel de detalhamento na descrio demandado pela comunidade usuria e se os agrupamentos
sero teis.
Os questionamentos de Shatford Layne (1994) so pertinentes e podem ser aplicados na
anlise dos atributos das fotografias oferecidas em um banco de imagens. Os atributos, alm de
serem aplicados na organizao das fotografias no site, agilizam a pesquisa feita pelo usurio.
Contudo, as fotografias representadas pelos atributos so agrupadas artificialmente pelos
administradores dos sites, podendo ter uma relao entre si, como nome do fotgrafo, nome dos
modelos, perodo de tempo, produo fotogrfica ou tema. Assim, os atributos permitem
agrupamentos artificiais, tendo as fotografias em comum o termo atribudo que as identifica como
pertencentes a uma determinada categoria do site. As perguntas da autora sobre o critrio e
utilidade do agrupamento podem ser aplicadas no cotidiano de um banco de imagens, onde o
critrio de agrupamento pode ser o tpico ou a coleo original de um grupo de fotografias. Sobre a
utilidade dos agrupamentos, supe-se que a criao de categorias, seja definida em virtude de uma
demanda do mercado publicitrio ou para dar destaque para uma coleo de fotografias. O nvel de
detalhamento do agrupamento acredita-se estar relacionado ao nvel de anlise conceitual das
fotografias.
No panorama nacional, Smit coordena em 1987 a publicao de coletnea de artigos dos
pesquisadores do grupo TEMMA, sendo um captulo destinado anlise da imagem. A autora (SMIT,
1987) esclarece que a descrio de uma imagem nunca completa, exigindo orientaes que nortear
sua anlise. Destaca o uso descontextualizado da produo da imagem, fato observado no uso
publicitrio, com exceo da produo fotogrfica feita para aquele fim. Segundo Smit analisar
uma imagem significa, quer queiramos quer no, traduzir certos elementos dessa imagem de um
cdigo icnico para um cdigo verbal (SMIT, 1987, p. 103). Para a autora, mesmo adotando uma
linguagem documentria para padronizar a linguagem usada pelo sistema, a transcodificao no
garante unanimidade na interpretao. Smit (1996) esclarece ainda que a representao da imagem
deve ser condizente com sua forma, no podendo ser feita de maneira mecnica e que as tabelas de
identificao da imagem devem estar harmonizadas com a poltica de indexao da instituio.
Baseando-se teoricamente em Panofsky e em Shatford, a autora prope duas formas de leitura: o
contedo informacional e a expresso fotogrfica, que foi definida por Smit como a forma
adotada para expressar o que se quer transmitir pela imagem (Smit, 1996, p. 34).
Com o objetivo de identificar os atributos designados na atividade de descrio de imagens,
Jorgensen (1998) empreendeu uma pesquisa exploratria, com base nas declaraes de assunto
elaboradas pelos participantes. Aplicando o mtodo de anlise de contedo e estatstica, a autora
identificou 47 atributos agrupados conceitualmente em 12 categorias, concluindo que um grande
nmero de atributos necessrio para atender todas as facetas de interesse dos pesquisadores de
imagens. Alguns atributos se manifestam com maior frequncia, como objetos que aparecem na
imagem, forma humana e atributos associados, alm de cor e localizao. De maneira
surpreendente, a estria apresentada pela imagem tambm contemplada na pesquisa. Os
resultados do estudo sugerem uma discrepncia entre os atributos obtidos com aqueles
tradicionalmente aplicados na descrio de imagens, sugerindo que tal aspecto seja revisto.
A identificao de atributos tambm pode ser balizada pelas pesquisas efetuadas pelos
usurios em colees de imagens. Na ltima dcada, verificaram-se estudos dedicados aos usurios
de colees de imagens, como suas buscas, tipos de pesquisa e comportamentos. Greisdorf e
OConnor (2002) investigam a anlise da imagem e sua interpretao com base nas camadas
semnticas do usurio. H estudos que focam na variedade de usurios, dependendo do tipo de
coleo pesquisada, como em Armitage e Enser (1997), que apresentam contexto favorvel para a
insero dos usurios dos bancos de imagens, uma vez que apresentam particularidades na busca e
na recuperao. Os usurios do ambiente jornalstico e de agncias de notcias foram investigados

660
por Markkula e Sormunen (1998), Ornager (1995) e Hung (2012). J a busca de imagens pelos
historiadores da arte foi analisada por Hastings (1995). Apesar desses estudos, as pesquisas
orientadas ao usurio de bancos de imagens ou com base nas buscas online de fotografias por parte
do usurio da comunidade jornalstica ainda so escassas.
Greisdorf e OConnor (2002) se destacam por defender a adoo de um novo olhar por parte
do analista indexador para analisar conceitualmente as imagens. Os autores (GREISDORF;
OCONNOR, 2002) afirmam que:

para tornar os recursos de recuperao com grande intensidade para
um espectador, a indexao de imagens digitais deve incluir um auto-
conhecimento da mente humana, pois evoca impresses subjetivas
traduzidas de temas subjetivos e tal contedo temtico s pode vir do
espectador da imagem (Greisdorf; OConnor, 2002, p. 6, traduo nossa).

Greisdorf e OConnor corroboram a nova tendncia na indexao com base na cognio do
usurio. Para isso, os autores (Greisdorf, OConnor, 2002, p.8) reconhecem que a imagem apresenta
trs nveis de percepo: Nvel visual primitivo a recuperao de imagens baseada no contedo
(cor, textura, formato); Nvel lgico - percebido visualmente a partir do reconhecimento visual
(objetos (pessoa/coisa)); lugar/localizao; ao (atividade; evento); Nvel da interpretao
indutiva - o aspecto simblico e temtico da fotografia, que depende da percepo tanto do
observador quanto do fotgrafo (valor simblico (representao, sentimento geral e estmulos
emocionais)).
Com base na categorizao das solicitaes dos usurios de imagens, Armitage e Enser (1997)
desenvolvem trabalho que contribui para identificar tcnicas de recuperao para informao
visual e atributos para representao. A abordagem emprica partiu da anlise de sete colees de
imagens com caractersticas gerais ou especializadas, localizadas em arquivos e bibliotecas, e das
solicitaes dos usurios. As buscas mais frequentes versavam sobre: contedo da imagem
(encontre imagens de...); checar identificao/atribuio/provenincia; acessibilidade da
imagem/trabalho do artista (direitos de propriedade, ver a disponibilidade) e miscelnea
(solicitao por procedimentos administrativos ou solicitaes no usadas). Os autores analisaram
somente as buscas que versam sobre o contedo da imagem (ARMITAGE; ENSER, 1997, p. 288).
A partir da classificao das solicitaes, os autores (ARMITAGE; ENSER, 1997, p. 288)
identificaram as categorias nica/no-nica e refinada/no-refinada. Definiram assuntos nicos
como sendo aqueles que diziam respeito a indivduos nomeados, eventos nicos, localizao e
objetos singulares. Fazendo um paralelo da categorizao proposta por Armitage e Enser com as
facetas de Shatford (1986), observa-se que as categorias nica/no-nica se aproximam do conceito
de DE genrico e DE especfico de Shatford. O DE genrico corresponde ao no-nico e o DE
especfico seria o nico. Aps a anlise das solicitaes, os autores (ARMITAGE; ENSER, 1997, p. 288)
definiram quatro categorias: pelo nome do artista, itens conhecidos, assuntos nicos e assuntos
no-nicos.
Pelo resultado apresentado por Armitage e Enser (1997, p. 289), depreende-se que
dependendo do acervo de cada instituio, algumas categorias estaro mais presentes que outras.
No caso de acervos fotogrficos autorais, quando o nome do fotgrafo a informao mais relevante
para o usurio, as buscas sero pelo nome do fotgrafo. Outro aspecto destacado pelos autores
(ARMITAGE; ENSER, 1997, p. 290) que por trs da aparente simplicidade das categorias
identificadas, h a complexidade em torno do que vem a ser assuntos nicos e assuntos no-nicos.
Ambos estabelecem entre si uma relao hierrquica gnero-espcie, onde os assuntos nicos so
mais especficos do que os assuntos no-nicos. Dentro de um sistema nocional, a relao
hierrquica apresenta conceitos superordenados e os subordinados. A questo da complexidade
reside no fato de conhecer em que nvel estaro situados os assuntos.

661
Na anlise das solicitaes dos usurios sobre contedo da imagem, Armitage e Enser (1997, p.
290) tambm se apiam teoricamente nos estudos de Panofsky (1976) e Shatford (1986), e elaboram
uma tabela para anlise de facetas, onde no sentido horizontal esto os aspectos analisados por
Panofsky - Iconogrfico (especficos), Pr-iconogrficos (genricos) e Iconolgico (abstratos). J
verticalmente encontram-se as categorias identificadas por Shatford Quem? O que? Onde?
Quando?. Armitage e Enser avanam na anlise empreendida anteriormente por Ornager (1997)
uma vez que incluem o nvel Iconolgico na anlise.
O artigo de Markkula e Sormunen (1998) o primeiro trabalho que estuda os usurios de
arquivos digitais de jornais, investigando o processo de busca e seleo de fotografias no dia-a-dia
de uma redao de jornal, de modo a verificar os diferentes tipos de necessidades de fotografias, o
comportamento de pesquisa e o critrio para a seleo. Markkula e Sormunen (1998, p. 1) constatam
que os resultados apontam para o domnio de necessidades especficas por parte dos usurios de
arquivos de jornais. So pesquisados fotografias de objetos, assuntos e temas abstratos, sendo que
este ltimo representa um problema no que diz respeito formulao das estratgias de busca
(query). Os autores observam tambm que os jornalistas costumam navegar pelo arquivo de
imagens.
Fazendo uma reflexo sobre o exposto por Markkula e Sormunen com base nos aspectos
tericos apontados na seo linguagem da propaganda, verifica-se que as caractersticas de pesquisa
do jornalista so semelhantes as dos publicitrios: busca por necessidades ou temas especficos, por
objetos ou por conceitos abstratos, para ilustrar, no caso do jornalista, uma notcia, e no caso do
publicitrio, um anncio.
Em um dos poucos trabalhos que analisam a recuperao de imagens em provedores
comerciais, Jorgensen e Jorgensen (2005) relatam o estudo feito a partir de search logs
1
de usurios. A
pesquisa foca no uso profissional de servios de pesquisa comerciais de imagens e objetiva
identificar o gap de conhecimento referente s pesquisas por tpicos por esse grupo de profissionais
de imagens. Os usurios profissionais definidos por Jorgensen e Jorgensen (2005, p. 1348) so
aqueles envolvidos em publicidade e propaganda, marketing, design grficos, e outros, que
pesquisam especificamente por imagens que transmitem uma ideia ou conceito. Os autores
apontam que h uma relutncia por parte dos servios comerciais de imagem em permitir o acesso
a dados considerados estratgicos para os concorrentes, no somente a consulta aos dados
oferecidos como tambm as deficincias do servio. Tais dificuldades justificam os poucos estudos
sobre a busca de imagens na web. Outro aspecto apontado consiste no estudo do comportamento de
pesquisa, uma vez que pressupe a observao direta dos usurios. Tal fato apresenta uma
dificuldade para o pesquisador que se dedica busca em bancos de imagens comerciais na web.
Jorgensen e Jorgensen (2005, p. 1357-58) concluem que a pesquisa possibilitou a anlise das
buscas por imagens, as modificaes nas estratgias de busca feitas pelos usurios, a navegao e
download dos resultados. Os autores identificaram que as pesquisas por termo nico foram menos
frequentes que em estudos anteriores, o que revela que os usurios tm uma ideia geral sobre a
imagem ou dos componentes que desejam recuperar. Observa-se que as buscas so mais descritivas
e temticas, alm de serem mais genricas sendo as buscas descritivas ou temticas mais comuns. A
pesquisa booleana, apesar de ser muito usada, no oferece efetividade nos resultados, justificando o
grande nmero de modificaes das buscas com vistas a ter uma recuperao eficaz. Constatou-se
tambm que os usurios empregam estratgias de buscas mais refinadas, mas no de maneira
correta. Entende-se que h uma lacuna no que diz respeito a orientaes por parte do sistema para
que o usurio otimize suas buscas. Jorgensen e Jorgensen concluem que uma interface de navegao
til importante no processo de seleo da imagem. Os autores finalizam destacando que assuntos,
emoes e relacionamentos surgiram como componentes de pesquisa para o grupo de usurios de
base de dados comerciais, o que indica uma tendncia nos sistemas para prover ao usurio

1
Search logs so os registros dos usurios ao solicitar alguma informao ao sistema. Os registros podem ser gerados e
analisados. Podemos obter informaes como o tipo de pesquisas usualmente feitas pelos usurios, velocidade de acesso,
tempo de respostam entre outras.

662
informaes a serem obtidas a partir de sistemas baseados em contedo e da indexao de legenda
da imagem.
Em estudo que foca os usurios do banco de imagens da agncia Associated Press (AP)
2
, Hung
(2012) examinou as caractersticas das buscas feitas pelos pesquisadores no processo de reunir
informao imagtica. A pesquisa envolveu trinta editores de fotografia que objetivam recuperar
fotografias especficas, gerais e subjetivas. Os resultados apresentaram que os usurios costumam
criar um grande nmero de queries por pesquisa, e que cada query contm poucos termos. Sobre as
pesquisas por fotografias subjetivas, Hung destaca que os usurios apresentaram mais dificuldade
em formular as queries, uma vez que exigem estratgias de busca mais complexas. Hung (2012)
complementa afirmando que uma das maiores questes na recuperao de imagens como indexar
e recuperar materiais visuais.
Segundo Hung (2012), os estudos de busca por imagens em bases online proveem critrios a
serem seguidos pelos indexadores, uma vez que a partir das buscas efetuadas, possvel identificar
os atributos ou aspectos a serem destacados por ocasio da indexao das imagens. O autor (HUNG,
2012, p.18) adota os princpios de anlise defendidos por Shatford (1986) sendo que em vez de usar a
denominao da faceta Sobre (About), o autor a renomeia como faceta Subjetiva, e a define como a
faceta que permite identificar imagens que possuem conceitos emocionais ou abstratos (HUNG,
2012, p. 18).
Uma caracterstica da pesquisa do usurio da publicidade em bancos de imagens recuperar
uma imagem para ilustrar um produto, conforme apontado por Fidel (1997) ao definir o conceito de
Plo de Objetos. Nesse contexto, o usurio no demanda uma informao especfica, mas sim o
contedo semntico da imagem. Jorgensen (1996) empreendeu um estudo em laboratrio,
utilizando uma variedade de imagens, com o objetivo de estudar como se d a nomeao dos
atributos mais comuns por parte dos usurios ao fazer a busca. A pesquisa consistiu em registrar em
gravaes como os usurios elaboravam os protocolos verbais sobre as imagens para identificar os
atributos. Para a autora (Jorgensen, 1996), o atributo da imagem no se limita s caractersticas
perceptveis, incluindo tambm as cognitivas, as afetivas ou interpretativas, as propriedades
espaciais, semnticas ou emocionais.
Hastings (1995) aponta em seu estudo a busca pelo contedo semntico da imagem pelo
usurio no domnio especfico da histria da arte. A autora analisa uma coleo de pinturas
caribenhas e seus usurios, os historiadores da arte, cujos parmetros de recuperao foram
comparados s caractersticas das imagens. O estudo de Hastings (1995, p. 3) objetivou investigar
como as variaes nos parmetros de recuperao e os pontos de acesso afetaram as consultas feitas
pelos historiadores da arte quando eles conduziram a pesquisa em um banco de imagens de arte.
Logo, o estudo de Hastings est focado na busca, indexao, uso da imagem pelo usurio e o padro
da imagem exigido de acordo com sua utilizao. Aps organizar e analisar os dados, Hastings (1995,
p. 3) conclui que: as consultas so identificadas pelo seu nvel de complexidade, o uso de imagens
digitais muda os nveis de complexidade da consulta, algumas pesquisas no so respondidas com o
uso de uma imagem substituta ou representao, e h caractersticas identificveis das imagens que
se relacionam tanto com a complexidade como com o tipo de pesquisa.

2 Metodologia

2
AP uma das instituies de notcias mais antiga do mundo, que distribui diariamente notcias, fotografias, grficos,
arquivos de udio e vdeo. Seu arquivo de fotografias possui aproximadamente 700.000 itens e compreende os campos de
histria, jornalismo, cincias polticas e arte, dos ltimos 150 anos.

663
Uma vez que o presente trabalho objetiva investigar procedimentos para a representao de
fotografias oferecidas em bancos de imagens, se caracteriza como de natureza terico-prtico. O
aspecto terico do trabalho confirmado por sua proposta de trazer novas condutas ao analista
indexador em relao indexao de imagens fotogrficas. Tal fato foi possvel a partir de estudos
sobre publicidade e linguagem da propaganda, para determinar conceitos associados s fotografias
usadas na publicidade, visando obter embasamento para as estratgias de busca efetuadas na parte
emprica. Uma vez que o pblico-alvo da mensagem publicitria diversificado, podendo ser
segmentado por gnero, faixa etria, nvel econmico, entre outros critrios, focou-se na
publicidade direcionada ao pblico feminino por apresentar diferentes estudos na literatura
(SWAIN, 2001; KRONBAUER, 2011; RIBEIRO, 2011). A figura feminina explorada na imagem
publicitria pelo seu poder de consumo pessoal e da famlia, tornando-se foco de anncios
publicitrios que exaltam as qualidades e valores dos produtos.
O apelo da imagem na sociedade contempornea confirmado por estudos que focam na
supremacia dos recursos visuais nos meios de comunicao e no cotidiano. O uso da fotografia na
publicidade tem como aliado sua caracterstica polissmica, permitindo sua aplicao em diferentes
contextos. A indexao da imagem representa um desafio para o analista indexador, uma vez que
feita a traduo da linguagem visual para verbal, que representa os aspectos cognitivos de um
indivduo. Alm da polissemia, a fotografia usada em publicidade foi selecionada para esse estudo
por ser um elemento de transmisso da mensagem publicitria, com a possibilidade de oferecer
percepes diferentes entre os consumidores.
A identificao de elementos de anlise para definio de atributos visando atender
demandas de contedo publicitrio foi possvel com a reviso de literatura sobre indexao de
imagens fotogrficas, com destaque para a etapa de anlise conceitual. Foram investigadas
contribuies de autores que identificaram elementos de anlise a partir do estudo da imagem
(SHATFORD, 1986; SMIT 1996) e que dedicaram pesquisas que exploraram o aspecto cognitivo do
usurio em relao imagem, como Greisdorf e OConnor (2002) e Jorgensen (1998).
A funo persuasiva da publicidade, que enaltece os valores e emoes do produto anunciado,
ao ser contemplada na indexao, amplia as opes de recuperao de imagens por parte do usurio
em publicidade. As imagens fotogrficas produzidas e disponibilizadas pelos bancos de imagens
apresentam qualidades sgnicas diferenciadas, que permitem diferentes caminhos interpretativos,
possibilitando uma variedade de usos. A partir desta proposio, questiona-se:

a) Como as fotografias so indexadas nos bancos de imagens?
b) Quais so os atributos a serem adotados na representao de fotografias, para que as
mesmas sejam recuperadas em bancos de imagem comerciais para uso na
publicidade, permitindo sua reutilizao em diferentes contextos?

O presente trabalho tambm classificado como prtico uma vez que tem como objetivo
investigar e comprovar a hiptese de que a linguagem publicitria oferece recursos a serem
aplicados na anlise conceitual de fotografias arquivadas em bancos de imagens na web. A partir de
elementos de anlise identificados no contexto da publicidade, foi possvel definir os atributos para
a indexao de fotografias e aplic-los na anlise dos procedimentos de indexao adotados no
banco de imagens Latinstock. Com base na constatao dos dados, infere-se que os atributos
empregados na indexao de fotografias arquivadas no Latinstock atendem s demandas de
recuperao do usurio em publicidade, confirmando o mtodo indutivo adotado na pesquisa.
A anlise emprica foi centrada no banco de imagens Latinstock Brasil
(http://www.latinstock.com.br). Foram considerados os seguintes aspectos na seleo do banco de
imagens para anlise: indexao atributiva na lngua portuguesa, divulgao dos atributos aplicados
na representao das imagens, publicao dos procedimentos usados na indexao, acesso aos
dados descritivos e temticos por parte do usurio e oferta de agrupamento de fotografias

664
destinadas ao mercado publicitrio. A lngua portuguesa foi um dos critrios de escolha adotado por
facilitar a anlise lingustica realizada. Com a explicitao dos atributos e procedimentos adotados
na indexao das fotografias pelo banco de imagens foi possvel identificar os pontos de acesso
considerados relevantes para o usurio. Com a consulta descrio da imagem e s palavras-chave
atribudas observou-se o uso de conceitos subjetivos, abstratos e simblicos, de acordo com os
pressupostos da mensagem publicitria.
Na descrio do banco de imagens foram observados os seguintes pontos: instituio qual o
banco de imagens pertence e sua natureza (agncia de notcias, jornal, etc.); acervo (volume,
cobertura de assuntos, tipologia); indexao (atributos usados na representao das fotografias);
verso ou no em lngua estrangeira (multilngue ou monolngue); servios oferecidos
(personalizao do resultado, envio de resultados por email, busca avanada e simples) e se exige
senha de acesso para pesquisar.
Para atender as questes referentes indexao de fotografias para uso na publicidade, e com
base no banco de imagem selecionado, foram seguidas as etapas metodolgicas abaixo, elaboradas a
partir de procedimentos previstos por Jorgensen (1998, p. 166) e Hastings (1995, p. 4):

1. Identificao na literatura sobre publicidade e sistematizao dos elementos de
anlise empregados na publicidade direcionada ao pblico feminino para definio
das estratgias de busca;
2. Busca das fotografias no banco de imagens selecionado;
3. Categorizao dos termos atribudos s fotografias segundo os procedimentos de
indexao adotados pelo banco de imagens;
4. Levantamento estatstico do nmero de termos atribudos por imagem;
5. Anlise quantitativa e qualitativa dos termos categorizados por atributo e verificao
de relaes conceituais entre os termos (gnero/espcie e equivalncia);
6. Interpretao dos resultados considerando a indexao realizada pelo banco de
imagens, o uso de classe de palavras e o vocabulrio de entrada do sistema.

O banco de imagem foi analisado a partir da perspectiva do usurio, com base na literatura
que foca seu comportamento na busca por imagens em diferentes contextos, e a composio dos
diferentes grupos, como historiadores da arte e jornalistas.
Baseando-se nessas etapas, foi possvel ter um conjunto de elementos que permitiu examinar
de forma sistemtica a indexao realizada no banco de imagens Latinstock, de modo a identificar
atributos observados na anlise conceitual de fotografias em bancos de imagens, para uso na
publicidade, e, com isso, comprovar a hiptese de que a literatura de publicidade oferece elementos
a serem aplicados na representao de fotografias em arquivos digitais, para uso publicitrio.

3 Marco emprico

Atravs dos bancos de imagens na internet, as agncias de imagens oferecem seu contedo
imagtico para usurios variados e, para atender as necessidades informacionais, suas colees
renem diferentes reas do conhecimento, alm de dar ateno ao tratamento tcnico na anlise
das imagens fotogrficas. Diante das diferentes atividades realizadas no mbito de bancos de
imagens, foi adotada a definio de bancos de imagens apresentada por Rodrigues que os concebe
como servio tcnico de uma instituio, que seleciona, adquire, organiza, armazena e permite a

665
recuperao de imagens fotogrficas de acordo com polticas e princpios pr-estabelecidos
(RODRIGUES, 2011, p. 199).
Como marco emprico, foi analisado o banco de imagens Latinstock Brasil, que faz parte do
grupo Latinstock
3
, instituio com objetivo de administrar a distribuio de contedos de diferentes
agncias internacionais. O banco de imagens Latinstock Brasil
4
dispe de aproximadamente quarenta
colees com cerca de sete milhes de imagens fotogrficas, imagens em movimento e trilhas
sonoras. Empresa brasileira estabelecida no mercado de imagens fotogrficas desde 1992, faz parte
do grupo Latinstock, com sede na cidade de So Paulo. O banco de imagens representa mais de
cinquenta agncias fotogrficas internacionais, entre elas Corbis, Magnun, Reuters e Science Photo
Library.
Analisando a pgina principal do site
5
, h o oferecimento de seis colees, sendo analisadas
especificamente neste estudo as colees Platinum e Publicidade. A coleo especial Platinum Stock
foi lanada em dezembro de 2012 e oferece imagens exclusivas no mercado brasileiro, direcionadas
especialmente ao mercado publicitrio
6
. Examinando a coleo constatou-se que so oferecidos ao
usurio os temas e sub-categorias: Pessoas e Estilos de vida (Bebs, Crianas, Casais, Famlia,
Homens/Idosos, Mulheres/Idosas, Adolescentes), Sade (Mdicos, Gravidez, Bem-Estar),
Arquitetura (Vista Exterior, Vista Interior), Negcios (Executivos), Paisagem (Natureza, Paisagem
Urbana), Alimentos, Animais, Viagem, Cincia. Ao se pesquisar na coleo Platinum, identificou-se
que h um dispositivo interno do sistema que filtra automaticamente as buscas cujas estratgias se
iniciam com as mesmas designaes das subcategorias oferecidas pela coleo. Na coleo
Publicidade no so oferecidos temas de pesquisa pr-definidos.
No link Dicas para busca os administradores do Latinstock explicam como pesquisar e
esclarecem o sistema usado na representao do acervo fotogrfico. Segundo informaes obtidas
no site, o Latinstock Brasil elaborou um sistema de busca por palavras-chave com o objetivo de fazer
com que o usurio localizasse a imagem fotogrfica de forma fcil e rpida
7
.
No mesmo link Dicas para busca h informaes sobre a estrutura de indexao usada pelo
banco de imagens. O acervo fotogrfico indexado por: Objeto (quem? objeto fotografado? e
assunto principal composto por substantivo e adjetivos), Ao (como? o que?), Contexto/Conceito
abstrato (significado global da imagem) e Forma expressiva (anlise tcnica da imagem:
enquadramento, exposio, foco, lente, luminosidade, posio da cmera). Para evitar problemas de
recuperao em decorrncia da subjetividade por ocasio da anlise da imagem, a Latinstock tem
como poltica analisar genericamente a imagem, evitando o excesso de subjetividade. Assim,
estimula que o usurio empregue o uso de palavras-chave concretas para representar conceitos,
como, por exemplo, a associao entre ideia e lmpada.
A partir da literatura de publicidade com enfoque na linguagem da propaganda, foram
identificados os elementos componentes da mensagem publicitria destinada ao pblico em geral
para precisar em seguida os direcionados ao pblico feminino.

3.1 Elementos de anlise

Os elementos de anlise identificados na literatura e relacionados abaixo representam
sentimentos, valores, qualidades, necessidades humanas, ou seja, conceitos abstratos e subjetivos.
Refletindo sobre os elementos em foco, percebe-se que os autores da rea de publicidade concebem
de forma diferenciada os componentes da linguagem da propaganda. Enquanto alguns sinalizam

3
Informaes obtidas no site http://www.latinstock.com, acesso em 05 nov 2011.
4
Disponvel pela Internet no site http://www.latinstock.com.br/br/homenet/default.aspx, acesso em 19 jan 2013.
5
Informaes obtidas no site http://www.latinstock.com, acesso em 18 jan 2013.
6
Informaes obtida no site http://www.meioemensagem.com.br/home/midia/noticias/2012/12/06/Latinstock-tem-
especial-de-publicidade.html#ixzz2IQzujLGb, Acesso em 19 jan 2013.
7
Informaes obtidas no site http://www.latinstock.com.br/br/ajudanet/indexacaobr.aspx, acessado em 05 nov 2011.

666
aspectos subjetivos ou abstratos, outros enumeram as classes de palavras que podem ser usadas
para destacar os aspectos subjetivos ou abstratos a serem transmitidos pela mensagem publicitria.
O aspecto subjetivo ou abstrato destacado pelos elementos: sentimentos (AZEVEDO JUNIOR,
2005), benefcios fsicos e emocionais da marca (AZEVEDO JUNIOR, 2005), qualidades
(VESTERGAARD; SCHRDER, 2004; CARVALHO, 2006), emoes (VESTERGAARD; SCHRDER, 2004;
CARVALHO, 2006), metfora e metonmia (SANDMANN, 2010), valores/conceitos (KRONBAUER,
2011; SANDMANN, 2010) e necessidades humanas (SILVA, 2006).
Compatibilizando linguisticamente os elementos destacados pelos autores, verifica-se que
algumas qualidades/valores/conceitos/sentimentos so observadas em mais de uma obra:

Beleza Sandmann (2010); Kronbauer (2011) ; Silva (2006);
Amor, amor famlia e afetividade Azevedo Junior (2005); Carvalho (2006); Silva
(2006);
Juventude Kronbauer (2011); Sandmann (2010);
Sade Silva (2006); Kronbauer (2011); Azevedo Junior (2005);
Moda Kronbauer (2011); Sandmann (2010);
Sucesso - Azevedo Junior(2005); Carvalho (2006); Sandmann (2010).

Os elementos identificados na literatura apresentam variaes entre os autores estudados.
Enquanto Silva (2006) especfico ao relatar as necessidades humanas usadas na publicidade e que
so retratadas pela fotografia publicitria, Kronbauer (2011), Sandmann (2010), Carvalho (2008),
Vestergaard e Schrder (2004), Rocha (2006) e Azevedo Junior (2005) focam os valores, sentimentos
e emoes tratados na mensagem publicitria como um todo, sem distinguir entre texto e fotografia
usada no anncio. Carvalho (2006) e Sandmann (2010) abordam linguisticamente os elementos,
ressaltando o uso de termos pejorativos ou meliorativos na linguagem da propaganda (CARVALHO,
2006); adjetivos (SANDMANN, 2010; CARVALHO, 2006); substantivos, metfora e metonmia,
sintagmas (SANDMANN, 2010). O emprego de conceitos subjetivos possibilita uma mirade de
interpretaes e apresentam uma variedade de denominaes: sentimentos e benefcios da marca
(AZEVEDO JUNIOR, 2005), qualidades, emoes, valores, aspectos subjetivos e/ou abstratos
(VESTERGAARD; SCHRDER, 2004; CARVALHO, 2006; SANDMANN, 2010). A subjetividade tambm
observada em Kronbauer (2011) que amplia a denominao dos elementos para valores/conceitos.
Silva (2006) foi pontual ao identificar que as necessidades humanas so os elementos utilizados na
publicidade e o autor, ao defini-las, minimizou a pluralidade de interpretaes.
Por apresentarem elementos especficos para a publicidade direcionada ao pblico feminino,
Sandmann (2010), Kronbauer (2011) e Rocha (2006) foram analisados com o objetivo de identificar as
estratgias de busca a serem adotadas na anlise do banco de imagens Latinstock. Para a seleo dos
elementos foi levada em considerao a incidncia em dois autores, privilegiando aqueles cujas
obras enfocam a publicidade direcionada mulher. Aliado a isso, Kronbauer (2011), aps
levantamento estatstico realizado com base nos anncios publicitrios publicados em revistas
femininas, constatou que os valores/conceitos mais frequentes foram Moda (30%) e Beleza (12%).
Em face do exposto, foram selecionados os elementos beleza, juventude e moda para compor as
estratgias de busca a serem realizadas no Latinstock com vistas coleta de dados. A seleo dos
elementos deveu-se incidncia de anncios publicados em revistas femininas com foco nesses
aspectos, conforme comprovado por Kronbauer (2011), e pela ocorrncia dos elementos na
literatura, conforme exposto acima: beleza (Kronbauer, 2011; Silva, 2006; Sandmann, 2010),
juventude (Sandmann, 2010; Kronbauer, 2011), moda (Sandmann, 2010; Kronbauer, 2011).

667
Com base nos elementos beleza, juventude e moda, foram formuladas estratgias de busca
usando a tcnica da fatorao semntica, uma vez que se considerou o uso de
conceitos/caractersticas que definem o termo pesquisado. Nesse caso, no foi efetuada a busca por
fatorao sinttica como, por exemplo, beleza + feminina. Sendo assim, no escopo desse trabalho,
foram adotados os conceitos mulher, beleza, juventude e moda, nas seguintes combinaes:
mulher+beleza; mulher+juventude; mulher+moda.
Foram realizadas buscas por cada combinao, no singular e no plural, uma vez que foi
constatado que a pesquisa no site Latinstock era sensvel a flexo de nmero. Levando-se em
considerao tal fato, foram elaboradas seis estratgias de busca: mulheres+beleza, mulher+beleza,
mulheres+juventude, mulher+juventude, mulheres+moda, mulher+moda. A cada resultado obtido,
foi feita a opo de exibio de 36 imagens por pgina, sendo as primeiras mais relevantes por
serem as mais recentes no banco de imagens, segundo informao fornecida no site.
Os dados foram organizados em 12 amostras, definidas como subconjuntos da populao
usada para obter informaes acerca do todo. No contexto desse trabalho, a populao
representada pelas colees fotogrficas Platinum e Publicidade, oferecidas no banco de imagens
Latinstock, que apresentam conjunto de fotografias destinadas ao mercado publicitrio. A coleta de
dados na coleo Platinum foi realizada usando a subcategoria Mulheres e na coleo em geral. J a
coleo Publicidade no oferece nenhuma opo de filtro, sendo as buscas feitas na coleo como
um todo. Foram recuperadas 4072 imagens na coleo Platinum, sendo analisadas 36. J na coleo
Publicidade, foram recuperadas parcialmente 24.840, uma vez que o resultado exibe somente os
4140 primeiros registros por pesquisa, sendo analisadas 42 fotografias.

3.2 Anlise e interpretao

Por ser uma coleo selecionada e direcionada ao mercado publicitrio, o levantamento
quantitativo da coleo Platinum apresentou resultados pontuais, enquanto que as buscas na coleo
Publicidade apresentaram como resultado mais de 4140 fotografias em cada busca, devido ao grande
nmero de imagens disponvel no site e pelas estratgias de buscas serem genricas.
Os itens recuperados na coleo Platinum apresenta oscilao entre as pesquisas por
subcategoria e aquelas realizadas na coleo em geral. Conforme esperado, o uso do filtro restringe
o resultado, presumindo-se que o mesmo seja preciso e atenda necessidade informacional do
usurio. Por outro lado, a grande revocao das buscas efetuadas na coleo em geral permitiu
inferir que, ao mesmo tempo que causa nus para o usurio selecionar a imagem que melhor lhe
atenda em um conjunto numeroso e variado, tal fato visto como uma caracterstica positiva pelo
usurio em publicidade.
A anlise qualitativa a partir do levantamento estatstico do nmero de palavras-chave
atribudo por fotografia e da distribuio dessas palavras-chave por atributo foi possvel pela
aplicao da mediana sobre os dados estatsticos obtidos. A mediana, por ser uma das medidas que
exibe a tendncia central de uma amostra com dados ordenados, proporcionou a anlise qualitativa
do conjunto de fotografias selecionadas uma vez estabelece limites de variao mnima (abaixo da
medida central) e mxima (acima de medida central) da atribuio de palavras-chave por fotografia
e por atributo pelo banco de imagens Latinstock. Por se aplicar tanto s variveis quantitativas
quanto qualitativas, o clculo da mediana ofereceu uma melhor interpretao para a distribuio de
termos atribudos s imagens, de modo a inferir sobre a exaustividade ou no da indexao
realizada pelo sistema.
Foram analisadas o total de 78 fotografias 36 na coleo Platinum e 42 na coleo Publicidade
as quais foram atribudas 1770 palavras-chave, distribudas da seguinte forma:

668

Tabela 1 - Palavras-chave por atributo nas colees Publicidade e Platinum
8

Examinando na tabela 1 possvel verificar a grande oscilao numrica entre os atributos,
com ateno especial para o atributo Forma expressiva, que no alcanou 10% em relao ao
nmero total de palavras-chave. Analisando cada atributo separadamente, percebeu-se que apesar
da divulgao de informaes sobre a estrutura de indexao no site, h imagens nas colees
Platinum e Publicidade com atributos Ao e Forma expressiva com valor igual a zero, ou seja, as
fotografias no foram indexadas por esses aspectos. As amostras da coleo Platinum apresentam 5
fotografias com o atributo Ao=0 e 10 com Forma expressiva=0, perfazendo respectivamente, 13,8%
e 27,7% do total investigado. J nas 42 fotografias que compem a coleo Publicidade, observou-se
que 7 delas no foram indexadas pelo atributo Ao (17,7%) e 13 pelo atributo Forma expressiva
(30,9%).
O atributo Objeto, que representa Quem? ou O que? exibido na fotografia se destaca perante
os demais com 59,4%, seguido de Contexto/Conceito abstrato com 19,1%. Ao vem em terceiro
lugar com 13,1% e por ltimo, o atributo Forma expressiva representando 8,2%. A partir da crtica
dos dados, constatou-se que o reconhecimento visual do que apresentado na fotografia o item
predominante na anlise da imagem. A descrio da Ao desse objeto seria um prosseguimento
natural do processo, uma vez que a pergunta Como? segue ao questionamento Quem? ou O que?.
Contudo, nas amostras examinadas, o atributo Contexto/Conceito abstrato surgiu como o segundo
aspecto na anlise das fotografias do banco de imagens Latinstock. Tal fato no surpreendente uma
vez que as colees estudadas so direcionadas ao mercado publicitrio, que se caracteriza pela
transmisso de valores, sentimentos e qualidades, que so conceitos subjetivos, em suas mensagens.
A partir da anlise qualitativa foi possvel estudar o vocabulrio de entrada a partir da
aplicao dos princpios de avaliao de linguagem previstos por Souza (2007, p. 99), sendo
observados: a estrutura dos termos, forma de apresentao, campo de abrangncia, forma das
palavras, estrutura semntica e relaes de equivalncia.

4 Resultados e discusso

O estudo dos termos atribudos s fotografias em relao aos atributos propostos pelo banco
de imagens Latinstock permitiu verificar se os elementos de anlise atendiam s demandas do
mercado publicitrio e identificar diferentes aspectos referentes indexao, como atributos,
exaustividade, inconsistncia e uso de substantivos e adjetivos conforme especificados a seguir:

8
Fonte: a autora

ATRIBUTOS OBJETO AO
CONTEXTO/CONCEIT
O ABSTRATO
FORMA
EXPRESSIVA
TOTAL
COLEO
PUBLICIDADE 605 136 204 79 1024
COLEO
PLATINUM
447 97 135 67 746
NMERO DE
PALAVRAS-CHAVE
1052 233 339 146 1770

669

a) Atributos da Indexao - O banco de imagens Latinstock adota os atributos Objeto,
Ao, Contexto/Conceito abstrato e Forma expressiva na indexao das imagens e
divulga os atributos no link Dicas de Pesquisa. Contudo, as palavras-chave so
apresentadas em ordem alfabtica, sem classificao por atributo, no esclarecendo
ao usurio a qual atributo determinado termo pertence. Analisando os atributos do
banco de imagens com a literatura estudada sobre representao de imagens,
constata-se que as orientaes de indexao do Latinstock contemplam trs aspectos:
figurativo, simblico e tcnico;
b) Indexao Exaustiva - Observou-se que o Latinstock apresenta uma mdia de 21
termos por imagem, permitindo a inferncia de que o emprego do nmero de
palavras-chave atribudo tem como objetivo garantir o acesso ao contedo temtico
da fotografia por parte do usurio. Tal conduta na indexao no encontra respaldo
na literatura. Lancaster (2004) explcito ao afirmar que apesar da revocao
expressar as extenses com que todos os itens teis sejam localizados, a preciso
estabelece a relao entre itens teis e total de itens recuperados, de modo que o
usurio acesse somente os itens desejados;
c) Inconsistncia na Indexao - Pelo exame das fotografias usadas na anlise de
dados, identificou-se a falta de consistncia na indexao. H imagens indexadas por
ser humano e pessoas, e outras somente por pessoas ou ser humano, o que revela uma
ausncia de padro na indexao ou falta de uma poltica que normatize a atividade
indexadora. A inconsistncia na indexao tambm observada no nvel de
detalhamento da indexao das fotografias. Com base no nmero de palavras-chave
atribudo por imagem, verificou-se que h uma variao no nvel de descrio entre
as imagens, comprovando a inconsistncia na indexao;
d) Adjetivos e Substantivos - Conforme previsto no link Dicas de Pesquisa do banco de
imagens, reparou-se o emprego de adjetivos e substantivos acompanhados de
adjetivos na indexao. Os substantivos + adjetivos foram classificados no atributo
Objeto como, por exemplo, as expresses cabelo comprido e roupa casual. No
contexto da publicidade, a atribuio de adjetivos indica a transmisso das qualidades
e propriedades do objeto anunciado. Os adjetivos so importantes na verbalizao da
mensagem simblica ou conotativa, pois justamente no plano simblico que se
apia a mensagem publicitria. A qualificao do objeto por meio de adjetivos e
substantivos abstratos na indexao permite a recuperao de aspectos que so
considerados na pesquisa por fotografias a serem usadas na publicidade. Uma das
etapas da criao publicitria justamente a qualificao do objeto a ser anunciado, a
partir da qual o publicitrio elabora a mensagem a ser transmitida;
Agrupamento de Imagens - O agrupamento feito artificialmente pelos administradores do site ao
organizarem as colees ou categorias Platinum, Brasil, Publicidade, Editorial, Assinaturas e Cenas. O
site no oferece recursos especficos para os usurios criarem suas prprias colees ou
agrupamentos mas, ao selecionarem as imagens para compor a mesa de luz, h um arremedo de
organizao de colees personalizadas.

Concluses

Da anlise realizada foi possvel concluir que a indexao de imagens para publicidade
compreende atributos de naturezas diferentes. Os Atributos tcnicos so compostos pelos recursos
tcnicos da imagem, como composio, ponto focal, orientao, perspectiva, foco, textura, cor,
formato. Os Atributos figurativos so aqueles cujos elementos so percebidos visualmente: Objetos
(pessoa/coisa); lugar/localizao; ao (atividade, evento). Os Atributos subjetivos abrangem o

670
aspecto simblico e temtico da fotografia: valor simblico (representao, abstrao, tema);
ambiente (sentimento geral, atmosfera) e estmulos emocionais (reao individual, emoes).
No mbito da publicidade foi possvel concluir sobre os elementos tcnicos da fotografia que
so relevantes por oferecem informaes sobre as caractersticas da imagem, transmitidas atravs
de cdigos observveis na composio da fotografia. Entre esses elementos podemos elencar a
localizao do ponto focal indicando o centro da imagem, pois capta o olhar do observador, a
orientao vertical ou horizontal da fotografia, importante para o editor grfico responsvel pela
montagem do anncio, e o uso da cor para estimular comportamentos.
Conclui-se que o aspecto simblico e temtico da fotografia destacado pelos atributos
subjetivos, compostos pelo valor simblico, que vem a ser representao, abstrao e tema da
fotografia; ambiente, que o sentimento geral ou atmosfera transmitida; e estmulos emocionais
que so sentimentos reativos do indivduo, como emoes. A manifestao dos atributos subjetivos
depende da percepo do fotgrafo, do analista indexador e do usurio. Conclui-se que a indexao
de imagens pelos atributos subjetivos representa um desafio para o banco de imagens.
Constata-se que a atribuio de elementos figurativos e/ou simblicos na indexao de
fotografias em publicidade caracteriza o tipo de recuperao por parte do usurio. Conclui-se que os
usurios de publicidade buscam fotografias em bancos de imagens para atenderem uma necessidade
que usa a imagem como objeto, por exemplo, em produtos dos usurios como anncios, capas de
livro ou revistas. A busca por fotografias enquanto objetos considera as caractersticas intrnsecas
da imagem. Outro aspecto que corrobora a natureza da recuperao de fotografias como objetos a
prpria organizao dos bancos de imagens em colees direcionadas ao mercado publicitrio,
compostas por fotografias com apelo esttico e valor artstico.
Da anlise do atributo que representa contexto geral da fotografia, constatou-se que a
qualificao de sentimentos, emoes e valores por meio de adjetivos e substantivos abstratos
permite a criao de pontos de acesso a serem considerados na representao dos atributos
subjetivos de fotografias usadas em publicidade. Os adjetivos e substantivos abstratos, por
indicarem qualidade ou defeito, estado, modo de ser, aspecto ou aparncia, melhor representam as
caractersticas subjetivas a serem transmitidas pelas fotografias e recuperadas pelos usurios. No
contexto da publicidade, o processo de exaltao do produto na construo da mensagem
publicitria pressupe o emprego de expresses que denotem qualidades, valores, emoes, e
sentimentos positivos a serem adquiridos pela aquisio do produto pelo consumidor. Conclui-se
que, uma vez destacando os aspectos subjetivos e/ou abstratos na anlise conceitual de fotografias,
o usurio de publicidade recuperar imagens pesquisadas pelos valores que deseja transmitir pela
mensagem publicitria.
A qualidade da indexao realizada pelo banco de imagens est diretamente relacionada com
a efetiva indexao das imagens com base nos atributos previamente definidos para a
representao. Ao analisar o padro de metadados IPTC para descrio de imagens geradas em
empresas de mdia contatou-se que o mesmo atende parcialmente os aspectos temticos das
fotografias. Elaborados para garantir a integridade das informaes sobre os arquivos de imagens
compartilhados, os campos definidos pelo IPTC destacam os aspectos fsicos e temticos. Observou-
se que os vocabulrios controlados de alguns campos no apresentam termos que representem
emoo ou sentimentos abstratos, de modo a atender aos atributos subjetivos da pesquisa em
publicidade.
A incluso dos valores, qualidades, sentimentos e emoes na indexao de fotografias s
possvel aps identific-los e nome-los, pressupondo uma indexao voltada para o usurio de
publicidade. Outro aspecto a ser destacado a adoo de adjetivos e verbos na descrio de imagens
para atender s buscas pela ao observada na imagem e por qualificativos.
H tambm a necessidade de desmistificar a subjetividade da indexao de fotografias,
entendendo que tal caracterstica um aspecto positivo para sua recuperao. Para isso, o analista
indexador deve desenvolver competncias para reconhecer o que est na imagem, identificar o
contexto em que aparecem as pessoas e os objetos, analisar esteticamente a composio da imagem,

671
identificar personagens, situaes, contexto global da imagem; e identificar tempo e espao
retratados.
O presente trabalho trouxe para o mbito da Cincia da Informao questes relacionadas
indexao de fotografias a serem usadas na publicidade, se detendo na organizao e representao
do conhecimento por abordar a representao temtica de imagens. A manifestao do contedo
semntico das fotografias atravs da indexao direcionada ao usurio de publicidade mostrou-se
efetiva na comunicao entre os bancos de imagens e seus usurios, garantindo a acessibilidade
mxima. A aproximao entre Cincia da Informao e Publicidade tambm ensejou uma reflexo
sobre as competncias e habilidades dos analistas que trabalham com fotografias em bancos de
imagens. O tratamento de acervos especiais, como fotografias, exige nova postura do profissional e
a integrao com outras disciplinas para formar novos conhecimentos que atendam as novas
atividades.
Ao aproximar duas reas que focam o processo comunicativo, Publicidade e Cincia da
Informao, a proposta deste trabalho foi lanar novas formas de pensar a indexao de fotografias
arquivadas em bancos de imagens comerciais, proporcionando uma reflexo sobre a atuao do
profissional de informao, conscientizando-o de sua importncia na sociedade atual, onde a
produo da imagem fotogrfica significativa, exigindo representao adequada para sua efetiva
recuperao.

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ARQUIVSTICA

NATLIA BOLFARINI TOGNOLI
[email protected]

Resumo A Diplomtica e a Arquivstica tem suas relaes estreitadas a partir do final da dcada de 1960,
quando ambas identificam o documento de arquivo como objeto. O presente trabalho busca, por meio da
anlise dos manuais clssicos de Diplomtica, verificar se h uma relao entre as disciplinas que antecede
essa data, como dizem alguns autores. Para tanto foram selecionadas e analisadas as obras de Mabilon (1681),
Sickel (1867), e Duranti (1989), que representam, respectivamente, a Diplomtica Clssica, a Diplomtica
Moderna e a Diplomtica Contempornea. Como resultados pode-se obervar que o mtodo diplomtico tal
qual conhecemos hoje foi formulado por Sickel e ainda tem validade quando aplicado aos documentos
medievais, enquanto que um mtodo contemporneo pode ser utilizado pelos arquivistas para garantir a
organizao da informao orgnica em um contexto contemporneo de produo documental.

Palavras-Chave Diplomtica Clssica. Diplomtica Moderna. Diplomtica Contempornea. Mtodo
diplomtico.

Abstract Diplomatics and Archival Science were brought together by the end of the 1960s, when both
disciplines identified the archival record as their object. This paper aims, through the analysis of Diplomatics
classic manuals, to verify if there is a relationship between them that precedes this date, like it has been told
by some authors. To do so the works of Mabillon (1681), Sickel (1867) and Duranti (1989) which represent
respectively Classic Diplomatics, Modern Diplomatics and Contemporary Diplomatics, were selected and
analyzed. As the results demonstrate the diplomatic method as we all know today was formulated by Sickel
and still has its value when applied to medieval documents, mean while a contemporary method can be used
by archival science to guarantee the organization of organic information in a contemporary context of record
creation.

Keywords Classic Diplomatics. Modern Diplomatics. Contemporary Diplomatics. Diplomatic method.

Introduo

A relao entre a Arquivstica e a Diplomtica pode ser observada nitidamente, pela primeira
vez, em 1962, na Frana, quando Robert-Henri Bautier identifica os documentos de arquivo como
objetos da Diplomtica. No entanto, autores como Heredia Herrera (1991) e Luciana Duranti (1995),
preferem remontar ao primeiro tratado de Diplomtica, De re diplomatica libri VI (1681) de Jean
Mabillon, para fundamentar o incio da disciplina arquivstica e consequentemente da relao entre
os arquivos e o mtodo diplomtico. As autoras destacam as obras de Diplomtica como as primeiras
manifestaes de princpios, conceitos e mtodos para a organizao dos documentos de arquivo,
levando muitos a acreditar que as primeiras ideias arquivsticas encontram-se fundamentadas
nestas obras.
No entanto, as efetivas discusses acerca do aporte metodolgico oferecido pela Diplomtica
aos estudos arquivsticos intensificam-se somente a partir do final do sculo XX, quando novas
formas de produo de documentos so descobertas e observa-se um aumento das tecnologias de
informao que oferecerem ao profissional arquivista um desafio no que tange organizao da
informao orgnica registrada.

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O presente artigo, fruto da tese de doutorado em andamento, discute, com base na anlise das
obras mais significativas de Diplomtica publicadas entre os sculos XVII e XX, o exato momento
em que o mtodo diplomtico passa a fomentar a organizao arquivstica (sculo XX); e se
realmente possvel afirmar que a Arquivstica, enquanto disciplina, tem origem nos manuais de
Diplomtica como discutem as autoras.
Para tanto, foram estudados trs dos principais tratados e manuais de Diplomtica,
notadamente aqueles publicados na Frana (De re diplomatica, de Mabillon), Alemanha (Acta regum er
imperatorum Karolinorum digesta et enarrata, de Sickel) e Amrica do Norte (Diplomatics: new uses for an
old science, de Duranti) subdivididos entre Diplomtica Clssica, Diplomtica Moderna e Diplomtica
Contempornea, para posteriormente verificar como a Diplomtica oferece subsdios por meio de
seu mtodo, para a organizao da informao orgnica registrada do sculo XXI.
O presente artigo se faz pertinente, ainda, por fornecer um estudo detalhado do mtodo
diplomtico das obras mais importantes e por fomentar as questes relativas Arquivstica e
Diplomtica no mbito das discusses da Organizao do Conhecimento.

1 Elementos para compreender a construo do mtodo diplomtico

iluso pensar que os problemas concernentes falsificao de documentos esto
relacionados s novas tecnologias ou s novas formas de produo dos documentos
contemporneos. A Histria est repleta de exemplos de falsificao de documentos antes mesmo
da inveno da imprensa, e encontram seu pice durante a Idade Mdia.

[...] as falsificaes so inmeras do incio ao fim da Idade Mdia. No sculo
IX, particularmente sob Carlos, o Calvo, apareceram falsificaes que marcaram
toda a cultura medieval. No fim do sculo XV, Joo Nanni, tambm conhecido
como Annio de Viterbo, publicou em Roma as obras de vrios autores da
Antiguidade que se acreditavam perdidas: ele tinha escrito todas. Seguramente, a
falsificao marca a Idade Mdia (Guene 2006, p. 529).

Em razo dessa grande quantidade de documentos falsos produzidos na Idade Mdia,
notadamente para provar a propriedade de terras, iniciam-se, no perodo, os estudos diplomticos
(entendidos aqui, ainda, como os estudos dos diplomas) que buscavam reconhecer a falsidade ou
autenticidade de diplomas referentes s pocas anteriores.
No sculo XII, criado um sistema de crtica, que segundo Board (1929), j poderia ser
considerado cientfico, uma vez que abrangia todas as caractersticas, internas e externas do
documento. Trata-se da obra do Papa Inocncio III (1160-1216), considerado um dos pioneiros da
Diplomtica cuja obra formula algumas regras para examinar o material sobre o qual os diplomas
eram escritos, sua escrita e seus estilos, alm do estudo dos lacres de chumbo colocados nas bulas
papais.
No entanto, as regras formuladas at essa poca, tanto por Inocncio III como por outros,
eram vlidas apenas para os documentos contemporneos, ou de poucos anos atrs. Muitas vezes
era necessrio verificar a autenticidade de documentos mais antigos, e para faz-lo ainda faltavam
os instrumentos apropriados.

Em geral, so raros os casos nos quais se procedia a um exame crtico
do documento sobre a base de argumentos que usaramos hoje.
Incomparavelmente mais frequentes so os casos de documentos que hoje

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sabemos com certeza que so grosseiras falsificaes, mas que foram
reconhecidos como autnticos e validados pelos sucessores dos soberanos
que os emitiam, assim como por funcionrios e notrios aos quais foram
apresentados para confirmar sua autenticidade. Isso nos demonstra que
em geral nem as chancelarias, nem os tribunais ou notrios da Idade Mdia
possuam conhecimentos precisos sobre os usos observados em pocas
anteriores redao dos documentos (BRESSLAU, 1998, p. 25).

Novas regras seriam, mais uma vez, apresentadas durante o Renascimento, respectivamente
por Francesco Petrarca (1304-1374) e Lorenzo Valla (1407-1457). O primeiro, em decorrncia de um
pedido do imperador Carlo IV, estudou e elaborou uma crtica sobre os falsos privilgios concedidos
por Jlio Csar a Nero, constatando diferena na datao do documento com relao aos outros
dados que conduziam o documento a uma poca posterior. O segundo teve um papel importante ao
demonstrar, em 1440, a falsidade da famosa Doao de Constantino (Constitutum domini Constantini
imperatoris), na qual, supostamente, o Imperador Constantino (306-337) doava ao Papa Silvestre I
(314-335) terras e imveis dentro e fora da Itlia no ano de 315. Aplicando uma crtica filolgica,
Valla conseguiu provar a falsidade do documento, que permanece ainda hoje, ilegtimo perante a
Igreja Catlica.
Embora possuam semelhanas com os mtodos que foram propostos posteriormente, as
crticas documentais estabelecidas nesse perodo ainda eram bastante rudimentares e delas quase
nada foi aproveitado aps a enunciao da Diplomtica de Mabillon.
, seguramente, no sculo XVII, que surgem as primeiras formulaes crticas e tericas sobre
o exame dos documentos, notadamente na Alemanha e Frana. Os constantes episdios de discusso
sobre a autenticidade/falsidade de diplomas que comprovavam direitos de propriedade
enriqueceram o perodo com obras sobre a crtica dos documentos, e ficaram conhecidos como
guerras diplomticas (bella diplomatica). Durante este perodo eram comuns as disputas de territrio
entre as ordens religiosas que, por sua vez, recorriam aos antigos documentos para legitimar seus
direitos. Por essa razo, as guerras diplomticas desenvolveram-se com muito mais fervor nesse
ambiente, onde ordens inteiras eram convidadas ao estudo crtico dos documentos preservados em
seus arquivos.
neste contexto de disputas entre ordens religiosas e documentos falsos que apresentado,
em 1681, o primeiro tratado que fundamentava a crtica dos diplomas, De re diplomatica, de Jean
Mabillon. As formulaes metodolgicas apresentadas por Mabillon consistiam em analisar e
comparar os documentos inseridos em uma srie cronolgica ou em um conjunto especfico de uma
determinada poca ou lugar, e que eram confrontados e analisados com base nesse contexto pr-
estabelecido.
Mabillon props analisar as partes internas e externas do documento (seus elementos)
inserido em uma srie cronolgica ou em um conjunto especfico de documentos de uma
determinada poca ou lugar. Para tanto, Mabillon (1681) os definiu como caracteres intrnsecos e
extrnsecos, descrevendo os primeiros como o contedo do documento que abrange, por sua vez, o
estilo, o texto, os selos, a data e as assinaturas. Aqui, o texto compreendia as seguintes parties: (1)
invocao (invocatio); (2) inscrio e titulao (inscriptio e titulis); (3) precao (imprecationes), (4)
selos (sigilla), (5) subscries (subscriptiones) e (6) datas (nota chronologica). Os caracteres extrnsecos
compreendiam o material (materia) sobre o qual eram escritos os documentos (pergaminho, papiro,
tbuas de argila, chumbo, pedras) e o meio usado para inserir as escrituras ou smbolos nesse
material (tinta).
O mtodo de Mabillon (o que chamamos nesse trabalho de formulaes) foi sendo
aperfeioado ao longo dos anos, notadamente nas obras de Tassin e Toustain (Nouveau Trait de
diplomatique: ou lon examine les fondements de cet art, 1750) e Fumagalli (Delle istituzioni diplomatiche,
1802), o que no significou, no entando a formalizao de um mtodo efetivamente completo, mas
sim o incio da formao de um, o que defensvel uma vez que as anlises realizadas tinham um

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objetivo majoritariamente prtico-jurdico, sem a clara inteno de formalizao de um mtodo
crtico ou cientfico, ou mesmo o estabelecimento de uma nova cincia ou disciplina.
Ainda no tocante a essas obras, identificadas, aqui, como tratados do Antigo Regime,
importante destacar o papel dos arquivos que, enquanto instituies que abrigavam a maioria dos
diplomas, eram frequentemente citados. Neste caso, possvel concluir que no havia uma inteno
dos diplomatistas em identific-los como objeto de estudo da Diplomtica, que seguia sendo os
diplomas. O que se fazia era citar os arquivos enquanto instituies que abrigavam os diplomas, o
que no significava uma inteno dos diplomatistas em formular uma disciplina ligada aos arquivos
e sua organizao, mas sim ilustrar e apresentar esses locais de guarda o que criou confuso em
alguns autores ao afirmarem a origem da Arquivstica nos manuais de Diplomtica.
Com objetivos muito mais cientficos, a Diplomtica Moderna se apresenta diferentemente da
Clssica, e tem incio no sculo XVIII e seu auge no XIX, com os estudos dos alemes Theodor Von
Sickel e Julius Ficker.
Baseando-se no modelo da cole des Chartes, em Paris, o Institut fr sterreichische
Geschichtsforschung - IG criado, em 1854, como uma escola que tinha como objetivo estudar a
histria austraca centrando-se nos estudos das cincias auxiliares da Histria como uma premissa
indispensvel. Chamado frente da direo do Instituto, o alemo Theodor Von Sickel logo o
transformou em um centro de referncia para os estudos das cincias auxiliares, principalmente da
Diplomtica, aperfeioando, finalmente, as formulaes de Mabillon, criando um mtodo para a
anlise crtica dos diplomas.
Desde a publicao da obra de Mabillon, era sabido que, para verificar a autenticidade de um
documento, necessitava-se confront-lo com outros seguramente originais da mesma poca e do
mesmo autor e, assim, chegar a um veredito sobre o diploma em questo. O que Sickel propunha
agora era um mtodo para verificar a autenticidade do documento, baseando-se no confronto de
escrituras de documentos produzidos pela mesma pessoa (no caso aqui, do notrio).

Ele partiu de uma observao que, depois, ao longo dos anos,
formulou em um modo sempre mais claro e preciso [...] assim o confronto
de escrituras torna-se o primeiro postulado da diplomtica moderna e ao
mesmo tempo o instrumento mais distinto de um conhecimento sem
dvida mais seguro, uma vez que se apia sobre a evidncia imediata da
impresso tica; possvel dizer que dessa forma a diplomtica alcanou o
patamar de uma cincia exata (BRESSLAU, 1998, p. 45).

A diferena desse mtodo para aquele de Mabillon consistia no fato de que o confronto de
escritura proposto pelo primeiro limitava-se a demonstrar que o tipo de escritura variava segundo a
poca, enquanto Sickel propunha o estudo do tipo de escritura variando de notrio para notrio.
Uma das obras mais citadas de Sickel, Acta regum er imperatorum Karolinorum digesta et enarrata,
publicada em 1867, define um importante momento na histria do mtodo da Diplomtica,
principalmente no que tange a partio do diploma para sua anlise crtica.
O autor o primeiro a dividir o documento em texto e protocolo, partio e nomenclaturas at
ento inexistentes na anlise diplomtica e que, aps seus estudos, so considerados as partes
principais de qualquer documento diplomtico.

Eu chamo texto a parte central do documento e formulrio ou
protocolo o conjunto de frmulas inicias e finais. Texto e protocolos so,
portanto, os caracteres intrnsecos documentos (SICKEL, 1867, p. 107).

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A anlise diplomtica estabeleceu uma primeira distino entre o protocolo, que a reunio
de formas por meio das quais se abre e fecha o teor, e o texto, que constitui o prprio corpo do
documento e contm essencialmente a relao do ato jurdico. Destinado a conferir aos atos de
qualquer natureza uma validade legal, o formulrio do protocolo pode ser uniforme quando se trata
de um mesmo autor ou de uma mesma chancelaria, enquanto que o texto depende da natureza de
cada documento e pode, s vezes, variar dentro de uma mesma chancelaria, ou entre os documentos
de um mesmo autor (BOARD, 1929, p. 265).
Os protocolos funcionam, portanto, como a moldura do documento. Eles so responsveis por
abrir e fechar o teor documental, e s vezes mantero a mesma frmula quando se trata de um
mesmo autor ou de um mesmo ato jurdico. Seu principal ofcio dentro da estrutura do documento
diplomtico fornecer os elementos de validade legal. J o teor documental, ou o texto,
propriamente dito, considerado, o contedo que pode variar segundo a natureza do ato jurdico.
Nesse contexto, apresentam-se, aqui, estruturados, os elementos internos da estrutura do
documento diplomtico, propostos por Sickel (1867): Protocolo inicial: (1) invocao, (2) nome e
ttulo; Texto: (3) Nome, ttulos e predicados do destinatrio, (4) Prembulo, (5) Notificao, (6)
exposio, (7) dispositivo, (8) forma de corroborao, (9) anncio dos sinais de validao; Protocolo
Final: (10) assinatura, (11) datas, (12) precao.
Alm do texto e dos protocolos, o estilo e a lngua tambm so considerados por Sickel como
elementos internos dos diplomas. Os elementos externos so os materiais utilizados para escrever o
documento, o tipo da escritura, as abreviaturas, os selos e comentrios no dorso do documento.
A estrutura da obra de Sickel tambm outro ponto de referncia para as obras que a
seguiram. At ento as obras de Diplomtica tinham uma estrutura diferente umas das outras e no
abordavam somente os elementos da Diplomtica, mas tambm aqueles concernentes s outras
disciplinas auxiliares, como a Paleografia e a Sigilografia, muitas vezes dedicando livros ou captulos
inteiros sobre elas, como o caso de Mabillon. Acta regum no ignora essa parte, mas no se atm a
ela com tanto afinco. Seu foco o processo de formao e evoluo dos documentos carolngios
entre os anos de 751 e 840, aproximando e confrontando atos de naturezas diversas e, para tanto,
sua diviso pragmtica e baseada em definies que, pela primeira vez, podem ser vistas como
inteiras enunciaes que permeiam toda a obra.
As definies apresentadas influenciaram to substancialmente a literatura europeia da
Diplomtica que ainda hoje o termo Urkunde
1
indicado para definir o documento objeto da
Diplomtica, sem nunca ter sido questionada sua validade no contexto atual.
Se a Diplomtica deve a Sickel a introduo de nomenclaturas chave para a anlise crtica do
documento, a Julius Ficker deve a distino entre o momento da ao (actio) e o momento da criao
do documento (conscriptio). Contemporneo a Sickel, Ficker que estudava a histria do Direito e das
instituies com base nas fontes documentais, via a Diplomtica como uma disciplina a servio do
historiador.
Encarregado, da edio dos documentos imperiais e rgios carolngios, Ficker, ao estudar os
documentos deparou-se com vrias contradies entre a data de criao do negcio jurdico (actum)
e a data de sua redao (datum), o que o levou a criao de um sistema que preconizava o estudo da
gnese do ato e de sua redao.

Ele estudou o processo de formao dos documentos separadamente
em suas fases e fatores, e destruiu a lenda da ordem perfeita na produo
dos documentos medievais, demonstrando que uma srie de
irregularidades presentes nos documentos isolados poderia ser explicada
melhor estudando a histria de sua formao, ao invs de supor, como at

1
Urkunden ist eine Schriftliche, in entsprechende Form gekleidete Erklrung ber Gegenstande oder Vorgnge rechtlicher Natur"
(SICKEL, 1867, p. 02).

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agora acontecia, um erro de tradio ou uma falsificao (BRESSLAU, 1998,
p. 43)

Antes de Ficker, o documento que apresentasse alguma irregularidade em sua redao, como
uma data escrita errado, por exemplo, era, imediatamente, considerado como uma falsificao. Sua
anlise era descartada e nenhum estudo crtico era realizado. Observando a importncia do estudo
da gnese documental ou seja, do tornar-se documento Ficker props que os documentos fossem
analisados com base em outros do mesmo autor ou chancelaria, por meio de um estudo crtico sobre
o momento da ao e sua redao para o suporte material. A partir de ento, no se tratava apenas
em analisar comparativamente os documentos provenientes da mesma fonte, mas sim estudar
todos os passos vividos pela ao antes de ela se tornar um documento. Instaura-se, portanto, pela
primeira vez, o estudo do contexto jurdico no qual a ao que dar origem ao documento foi gerada
e a relao desta com os outros elementos essenciais formao do documento, ou seja, as pessoas
que fazem parte dela e a forma documental.
Na mesma poca, foi incorporado ao mtodo de Sickel (diviso do documento e confronto de
escrituras), aquele de Ficker, ou seja, o estudo da ao (actio) e do contexto jurdico no qual o
documento foi gerado e sua passagem para um meio juridicamente relevante (concriptio). A partir
dessa juno, o documento passa a ser analisado luz de seu processo de formao, ou seja, desde a
ao que o levou a ser criado, forma escolhida para representar o negcio jurdico e as pessoas que
dele fizeram parte.
O mtodo de Sickel e Ficker difere-se, fundamentalmente daqueles apresentados nos tratados
do Antigo Regime por abranger no apenas a anlise de frmulas pr-estabelecidas para a redao
dos documentos, mas tambm um estudo da gnese documental, ou seja, do tornar-se documento. A
partir de ento, os diplomatistas puderam contar com um mtodo para a anlise de documentos,
sem que precisassem recorrer comparao com peas seguramente autnticas.
A Diplomtica deu um grande salto em direo s disciplinas modernas graas juno dos
mtodos de Sickel e Ficker, que passaram a ser estudados e aplicados rapidamente em toda a
Europa. Seus mtodos proporcionaram uma maior segurana no momento da anlise do documento
principalmente no que tange ao estudo da forma e de seus elementos graas partio em texto e
protocolo de Sickel e do contexto jurdico no qual teve incio a ao que o originou, como props
Ficker.

Esses diplomatistas racionalizaram, formalizaram e universalizaram a
criao do documento ao identificar nele os elementos relevantes,
estendendo sua relevncia no tempo e espao, eliminando as
particularidades, e relacionando cada um dos elementos aos seus objetivos
finais. Os elementos identificados foram o sistema jurdico, que constitui o
contexto necessrio de criao do documento; o ato, que sua causa
determinante; as pessoas que so seus agentes e fatores; os procedimentos,
que guiam seu curso; e a forma documental, que permite que a criao do
documento atinja seu propsito ao englobar todos os elementos
relevantes, mostrando suas relaes. (DURANTI, 1990, p. 10).

As obras escritas nesse segundo momento, ao contrrio dos tratados do antigo regime, no se
atm aos arquivos e suas instituies. Os documentos mantidos nos arquivos continuam a ser o
objeto de estudo mais fiel para compreender os fatos do passado, mas, agora, os diplomatistas no
vm mais razo em dedicar captulos inteiros s instituies de arquivo.
As obras do Antigo Regime foram muito explcitas ao tratar o diploma como objeto da crtica
diplomtica, dedicando captulos inteiros s instituies arquivsticas que alocavam esses

681
documentos. Ao contrrio, nas obras da Diplomtica Moderna no h uma preocupao em
caracterizar os arquivos embora algumas delas digam algo sobre o assunto, porm sem se
aprofundarem visto que esse no o objetivo da Diplomtica Moderna.
A abertura dos arquivos aos estudos histricos compreende uma fase decisiva para o
progresso das cincias auxiliares da Histria, mas, sobretudo para a Diplomtica. A Arquivstica,
considerada uma tcnica para organizar os arquivos, teve sua importncia reduzida medida que se
optou por uma organizao temtica dos documentos nas grandes e importantes instituies
arquivsticas europeias.
A explorao dos documentos de arquivo, enquanto fontes para conhecer o passado,
representou, ainda, um retrocesso na organizao arquivstica, que at ento, respeitava, mesmo
que timidamente, a relao dos documentos com seu rgo produtor. Buscando facilitar a pesquisa
histrica, os documentos foram reordenados e reorganizados com base em uma classificao
temtica, o que causou um caos nos arquivos e pilhas de documentos completamente
desorganizadas. Esse problema s seria resolvido, em 1841, com a promulgao do primeiro e mais
importante princpio arquivstico, o da Provenincia
2
.
Nesse contexto, uma dramtica mudana pode ser observada no mbito dos prprios
arquivos, que passaram de meios administrativos para a administrao e documentao de
atividades jurdicas como ainda o eram em 1700 para simples depsitos do passado, o que
contribuiu, em grande parte, para um atraso na formao da Arquivstica enquanto uma disciplina
com princpios e mtodos prprios.

importante dizer que os arquivos no interpretam um papel
importante apenas na constituio da Histria do sculo XIX, mas tambm
o fizeram no tocante ao desenvolvimento das cincias auxiliares,
oferecendo uma vasta gama de material comparativo em mbito
paleogrfico, diplomtico e herldico (AUER, 2006, p. 671).

Os estudos dos diplomatistas modernos estavam baseados nesse material, e foram,
consequentemente, aplicados a eles. No entanto, no houve uma preocupao em teoriz-los, muito
menos em organiz-los ou estabelecer princpios para tanto. O foco, naquele momento, era outro.
Destaca-se, tambm nesta segunda fase, uma relao explcita da Diplomtica com os
documentos de arquivo, o que no caracteriza uma aproximao da Diplomtica com a Arquivstica.
Embora mais prximos dos documentos de arquivo, os historiadores e diplomatistas estavam mais
afastados de uma preocupao em estabelecer definies e mtodos para sua organizao. O que se
estabeleceu foi uma relao com os documentos na sua individualidade e no na sua organicidade.
Pode-se dizer que a promulgao do Princpio da Provenincia, em 1841, e a publicao do
primeiro manual arquivstico - Manual dos Arquivistas Holandeses em 1898, foram dois fatores
chave para a mudana de contedo nas obras da Diplomtica Moderna. Uma vez que princpios so
promulgados e manuais especficos de Arquivstica publicados, nota-se um abandono por parte dos
diplomatistas modernos do estudo das instituies arquivsticas, pois no havia mais necessidade de
abord-las sumariamente em suas obras, visto que, a partir daquele momento, isso poderia ser feito
de maneira exaustiva nos manuais especficos da rea.
A Diplomtica Moderna contribuiu para a fixao de um mtodo analtico crtico baseado na
gnese e no estudo da forma documental e transformou a Diplomtica clssica em uma cincia

2
Atribui-se a Natalis de Wally a enunciao do princpio da provenincia em uma ordem de servio francesa de 1841. O
princpio consiste em deixar agrupados, sem misturar a outros, os arquivos (documentos de qualquer natureza)
provenientes de uma administrao, de um estabelecimento ou de uma pessoa fsica ou jurdica determinada: o que se
chama de fundo de arquivo dessa administrao, desse estabelecimento ou dessa pessoa (DUCHEIN, 1983, p. 64).

682
exata. Os diplomatistas alemes so os responsveis por esse feito e os franceses e italianos tm
uma boa dose de participao em tudo isso. No entanto a Arquivstica no pode agradec-los nesse
segundo momento, uma vez que no h nessas obras nada que sustente a construo de uma teoria
ou mtodo de organizao arquivstica.
Conclui-se, portanto, que a Diplomtica, nesse segundo momento, desenvolve-se
paralelamente aos estudos da Histria, caracterizando uma relao de dependncia, uma vez que o
mtodo histrico baseava-se na anlise crtica do documento proposta pela Diplomtica. Embora a
Histria utilizasse mtodos e definies de outras cincias auxiliares para realizar seu trabalho,
sua relao com a Diplomtica pode ser caracterizada como monogmica, o que contribuiu para
uma limitao da Diplomtica ao campo dos documentos histricos medievais e, consequentemente,
seu afastamento de outras disciplinas e/ou tcnicas, como a Arquivstica, a Paleografia e a
Sigilografia nesse segundo momento.
O contato com a Arquivstica s seria retomado alguns anos depois, na Frana, onde se inicia
um perodo de frtil colaborao entre ambas as disciplinas, caracterizando, pela primeira vez, um
aporte metodolgico diplomtico para a constituio da Arquivstica Contempornea.

2 Diplomtica Contempornea, seu mtodo e o aporte Arquivstica

Ao perodo de ideias em efervescncia, vivenciado pela Diplomtica no sculo XIX,
notadamente com os estudos de Sickel, Ficker e dos demais diplomatistas austracos e alemes,
seguiu-se um perodo de total estagnao da arte crtica, que encontrou, na segunda metade do
sculo XX, ora defensores que proclamavam a urgncia de uma reviso disciplinar em direo
ampliao do campo de estudo da Diplomtica, ora defensores de uma manuteno da erudio da
arte crtica, contra-atacando o carter tcnico que a disciplina ganhara nos ltimos anos.
Paradoxalmente, nesse cenrio conhecido como a crise da Diplomtica, vrios foram os
trabalhos publicados buscando extrair a arte crtica da situao de estagnao e empobrecimento
na qual se encontrava.
Nesse contexto de rica produo cientfica que buscava dar fim crise, o texto de Robert-
Henri Bautier, Leon d'ouverture du cours de diplomatique l'Ecole des Chartes, publicado no volume da
ibliotque de lcole des Chartes destaca-se como o mais importante e, ao mesmo tempo, o mais
controverso.
Bautier pode ser considerado um marco terico nos estudos da Diplomtica e,
consequentemente da Arquivstica, no sculo XX, uma vez que foi o primeiro autor a colocar, as
duas disciplinas em contato. Embora tenha tido diversas obras notveis ao longo de sua carreira
como arquivista, medievalista e diplomatista, Bautier notadamente conhecido no campo dos
estudos diplomticos pelo texto publicado no volume da ibliotque de lcole des Chartes.
O texto de Bautier causou certo choque em seus colegas ao defender uma expanso da
problemtica da Diplomtica, redefinindo o conceito de documento diplomtico e expandindo os
estudos da arte crtica a todos os documentos de arquivo, sem limitao cronolgica, como a nica
sada para uma crise de crescimento e esgotamento.
O autor propunha uma ampliao do objeto da Diplomtica alm daqueles testemunhos
redigidos segundo a observao de formas determinadas que garantem ao documento natureza
jurdica e fora probatria, Urkunde como os definiu a Diplomtica Moderna. Eu no vejo
nenhuma razo para que a diplomtica descarte de seu campo, como ela tem feito tradicionalmente,
todos os documentos administrativos que no sejam aqueles entendidos em sentido estrito
(BAUTIER, 1961, p. 208).

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Para Bautier, era necessrio, primeiramente, que os diplomatistas identificassem os
documentos gerados em uma administrao (actes instrumentaries) que compreendiam dois tipos:
actes administratifs, e os papiers administratifs.

Devemos distinguir dentre os documentos de uma administrao, dois
tipos: os que qualificamos como documentos administrativos - acte
administratif - que so aqueles que regulamentam ou notificam uma deciso
ou ainda, so fontes de direito ou obrigao. Os outros que designamos de
modo geral com o nome papiers administratifs, que no so os
documentos (actes) em sentido estrito, quer dizer, os documentos criados
com o objetivo de provar um direito: s vezes eles so criados no momento
da preparao, da notificao ou da execuo de uma deciso, s vezes so
destinados a informar a administrao no cumprimento de uma funo ou
mandato. Tanto um quanto outro , ou pode ser, imediatamente ou
mediatamente, fonte de direitos e obrigaes para a prpria administrao
ou para outros: vemos tambm um ndice no fato de que a administrao
os conserva como arquivos, quer dizer, prova em potencial (BAUTIER,
1961, p. 208).

O documento de arquivo passava, ento, a ser o objeto de estudo da Diplomtica. Se nos
sculos XVII e XVIII era comum encontrar nos manuais captulos inteiros dedicados aos arquivos,
devido importncia que representavam enquanto guardies dos diplomas, Bautier identificava,
agora, como o prprio objeto da Diplomtica todos os documentos mantidos nos arquivos, dos mais
solenes (diploma) aos mais comuns (chartae), invertendo a ordem que ora se apresentava: todos os
documentos de arquivo eram diplomticos, e no mais somente o contrrio.
Essa simbiose entre documento de arquivo e documento diplomtico permite, segundo o
autor, a compreenso do documento em funo do fundo ao qual pertence ou pertenceu. Ao invs
de estudar o documento diplomtico isoladamente, se deve compreend-lo enquanto documento
arquivstico documentos que fazem parte de um mesmo fundo e que guardam relaes orgnicas
entre si o que garante ao diplomatista uma melhor compreenso do contexto no qual o
documento foi gerado, uma vez que as fontes so claramente maiores.
No entanto, embora o autor conecte ambas as disciplinas por meio do mesmo objeto, o
documento de arquivo, ele toma o cuidado de definir suas esferas de interesses especficos.
Segundo ele, Arquivstica interessa o grupo de documentos, visando, acima de tudo, sua
conservao, classificao, descrio e divulgao, enquanto que Diplomtica interessa a forma e
gnese do documento de arquivo em si, isolado, para mais bem compreender seu contexto e sua
substancia jurdica.
importante, ressaltar que, quando Bautier prope uma expanso do objeto de estudo da
disciplina, ele no est tratando diretamente dos documentos contemporneos a ele, e sim dos
documentos posteriores ao sculo XVIII, especificamente aqueles do sculo XIX. sabido que at o
momento, o interesse dos historiadores recaa, sobretudo, nos documentos da Idade Mdia,
principalmente nos diplomas. Com uma abertura maior do que seriam as fontes histricas,
notadamente aps o incio da Escola dos Annales, na Frana, possvel perceber uma mudana nos
estudos dos historiadores que, agora, passam a analisar fontes mais vastas e variadas. Como
consequncia, Bautier, enquanto historiador, viu, na expanso do objeto de estudo da Diplomtica, a
possibilidade de analisar com muito mais preciso, um nmero maior de fontes histricas.
Conclu-se, novamente que, ao contrrio do que se imaginava, a Arquivstica (sua teoria e
mtodo) caminhou com as prprias pernas desde o sculo XIX quando foi elevada, finalmente ao
status de disciplina, sendo relacionada com a Diplomtica somente na dcada de 1960, por uma
necessidade muito maior da Diplomtica do que da prpria Arquivstica, o que nos leva a crer que

684
houve uma contribuio mtua para o desenvolvimento de ambas nesse momento e no apenas
uma via de mo nica (da Diplomtica para a Arquivstica) como se pensava.
Quando Bautier lanou as bases para uma disciplina mais elstica, na dcada de 1960, ele
no poderia imaginar que o mtodo, uma vez utilizado para a anlise dos documentos medievais,
passaria a fazer parte da Arquivstica como uma ferramenta tida como essencial para o estudo dos
documentos contemporneos. Justia seja feita, talvez o autor at tenha tido tal pretenso, no
entanto, no contava com tamanha elasticidade que permitisse a aplicao do mtodo criao e
preservao dos documentos eletrnicos no sculo XXI.
Em 1987, o aporte terico e metodolgico da Diplomtica Arquivstica finalmente encontra
fulcro nos estudos da documentao contempornea, notadamente a partir das pesquisas da italiana
Paola Carucci com a publicao do livro Il documento contemporaneo: diplomatica e criteri di edizione
no qual extrapola os limites de estudo do campo da Diplomtica, aplicando seu mtodo e definies
documentao contempornea da administrao pblica italiana.
A obra de Carucci merece destaque neste trabalho por ser o primeiro texto a tratar
exaustivamente sobre a aplicao da Diplomtica aos documentos contemporneos e de seu aporte
Arquivstica. Assim como Bautier, a autora conjuga documento arquivstico e Diplomtica ao
definir a unidade arquivstica elementar como objeto de estudo da Diplomtica.
Em seu livro, Carucci procura demonstrar que o estudo da forma do documento, objeto mais
que solidificado da Diplomtica, se justifica tanto para verificar sua autenticidade/falsidade, quanto
para reproduzir um contexto de produo da informao arquivstica. Nesse sentido, a autora
destaca que assim como na Idade Mdia, a atividade da administrao pblica e aquela de
relevncia jurdica se manifestam mediante os documentos que assumem uma forma determinada,
cujos elementos so, em alguns casos, pr-fixados pela lei (CARUCCI, 1987, p. 27). Logo, o
documento contemporneo que tambm se manifesta por meio da relao da vontade expressa no
ato jurdico e da forma na qual esse ato se manifesta, pode ser repartido e analisado em suas partes
por meio do mtodo diplomtico, permitindo ao arquivista uma anlise direta dessa relao, sem
intermedirios.
Diferentemente dos manuais de Diplomtica moderna que definem e especificam os
elementos internos e externos dos documentos medievais, Carucci procura, justamente, no defini-
los, pois, na concepo da autora, elementos como a matria ou tipo de escrita no parecem ser
muito relevantes para o estudo do documento contemporneo, adquirindo importncia em raros
casos para fins de pesquisa histrica. Essa diferena j demonstra uma ruptura de alguns padres
facilmente identificveis no mtodo diplomtico, como a anlise dos elementos internos e externos
que sempre foi uma das bases dos estudos diplomticos.
Apesar da variao sobre a identificao de elementos internos e externos ao documento
contemporneo, a diviso do documento em protocolo inicial-texto-protocolo final se mantm,
porm sem suas articulaes centralizadas que ora caram em desuso ora esto espalhadas pelo
documento. Segundo Carucci (1987) tais articulaes como invocao, titulao ou saudao podem
ser encontradas nos documentos mais importantes e que requerem uma forma mais solene, mas
no constituem uma regra geral e sim, exceo.
Para a autora, os elementos relevantes para anlise do documento seguem uma ordem de
importncia que caracterizam o documento no momento de sua formao. So eles: (1) autor, (2)
destinatrio, (3) texto, (4) subscrio e (5) data. Eventualmente seguiro alguns elementos tambm
juridicamente relevantes que so colocados no documento aps sua redao como as autenticaes
e aqueles elementos que so inerentes ao servio de arquivo e protocolo como, por exemplo, as
classificaes e registros de protocolo.
As discusses de uma Diplomtica contempornea ou arquivstica ainda so acaloradas em
alguns pases europeus. H quem sustente que a Diplomtica uma disciplina essencialmente
medieval, e h quem sustente que o mtodo diplomtico um elemento necessrio aos estudos dos
documentos contemporneos, constituindo quase uma relao simbitica da Diplomtica com a

685
Arquivstica. No tocante a essa ltima corrente, destaca-se o nome de Luciana Duranti que, no
encontrando espao para as discusses da Diplomtica contempornea na Itlia, muda-se para o
Canad para propagar as ideias de Carucci e tornar-se um verdadeiro mito da Diplomtica
arquivstica, ao fundamentar os estudos dos documentos eletrnicos na Diplomtica.
Em 1989, Luciana Duranti, arquivista e docente da University of British Columbia, no Canad,
publica uma srie de artigos em seis partes intitulada Diplomatics: new uses for an old science, no
peridico arquivstico Archivaria, na qual, influenciada pelas ideias de Carucci e refletindo seus
estudos comparativos entre os documentos medievais e os documentos contemporneos, propunha
novos usos para a Diplomtica, a partir da aplicao de sua crtica aos documentos contemporneos
na Amrica do Norte.
Assim como Carucci, a autora afirma que para aplicar o mtodo de anlise dos documentos
medievais queles contemporneos no necessrio reformular o conjunto de princpios e mtodos
da Diplomtica estabelecidos nos manuais do sculo XIX, mas somente adapt-los ao estudo dos
conjuntos documentais contemporneos, uma vez que a aplicao recai agora nos documentos
arquivsticos, que mantm uma relao direta do contexto com o conjunto.
A Diplomtica arquivstica permite, portanto, que o arquivista chegue compreenso do
conjunto documental e de seu contexto a partir da crtica documental. Desse modo, a anlise do
arquivista desloca-se desde o contexto documental imediato do material que examina at o amplo
contexto funcional dos criadores de documentos e de suas relaes. Essa anlise, assim como a
crtica de um documento medieval, feita por meio da anlise da forma do documento, que se
manifesta em seus elementos internos e externos.
Duranti define os elementos internos e externos dos documentos, seguindo a concepo de
Carucci de que alguns deles caram em desuso e no so teis na anlise dos documentos
contemporneos. Para Duranti os elementos externos so aqueles considerados como a parte
material do documento e sua aparncia externa. Eles podem ser (1) o meio, (2) a escrita, (3) a
linguagem, (4) os sinais especiais, (5) os selos e (6) as anotaes. Os elementos internos segundo a
autora (1991) so: Protocolo: (1) timbre, (2) ttulo do documento, (3) data tpica e cronolgica, (4)
invocao, (5) subscrio, (6) inscrio, (7) saudao, (8) assunto, (9) formula perpetuitatis, (10)
precao; Texto: (11) prembulo, (12) notificao, (13) exposio, (14) dispositivo, (15) clusulas
finais; Escatocolo: (16) corroborao, (17) datas, (18) precao, (19) saudao, (20), clusula
complementar, (21) atestao, (22) qualificao de assinatura e (23) notas secretariais.
importante destacar que, assim como os documentos medievais, os documentos
contemporneos no possuem todos esses elementos ao mesmo tempo, podendo variar de acordo
com a data, o pas ou o sistema jurdico.
A anlise proposta por Duranti mais abrangente do que aquela at ento encontrada nos
manuais modernos de Diplomtica. A complexidade se deve, em grande parte, estrutura da forma
do documento contemporneo, reflexo da complexidade dos sistemas jurdicos nos quais os
documentos so gerados no sculo XXI.

3 Consideraes acerca dos mtodos estudados

O que pode ser observado a partir da sistematizao e anlise dos elementos da Diplomtica
Clssica o incio da formao de um mtodo (o que chamamos nesse trabalho de formulaes) que
ainda estava longe de se formalizar, e por essa razo apresenta divergncias em seus elementos, o
que defensvel uma vez que as anlises realizadas tinham um objetivo majoritariamente prtico-
jurdico, sem a clara inteno de formalizao de um mtodo crtico ou cientfico, ou mesmo o
estabelecimento de uma nova cincia ou disciplina.
No tocante aos elementos da Diplomtica Moderna observa-se a formalizao do mtodo
diplomtico, constatada a partir da unidade e do consenso entre os elementos das formulaes dos

686
autores apresentados aqui. Tal uniformidade se d, em partes, pela inteno dos autores de fazer da
arte crtica uma cincia, reflexo da prpria noo de cincia que emergia no sculo XIX. Naquele
momento era clara a influncia do positivismo e do movimento historiogrfico de Rank na
construo de mtodos que serviriam para racionalizar o trabalho cientfico. No mbito da
Diplomtica no foi diferente, uma vez que os maiores beneficiados eram justamente, os
historiadores que, naquele momento, consideravam o documento como o testemunho mais fiel dos
fatos passado e, por isso, buscavam a forma mais segura e consensual para analis-los.
Baseando-se nos estudos dos elementos da Diplomtica Contempornea possvel observar a
construo de um mtodo contemporneo aplicvel aos documentos do sculo XXI a partir da obra
de Carucci, principalmente no tocante aos elementos internos. Quando a autora no elenca os
elementos do texto, o mtodo naturalmente se abre aos documentos contemporneos, uma vez que
eles no mantm mais a mesma estrutura rgida dos documentos solenes da Idade Mdia, e por essa
razo, torna-se desnecessria a identificao de elementos como invocao, prembulo, exposio.
Por ltimo, Duranti a nica a elencar, alm dos elementos internos e externos, aqueles que
esto diretamente ligados ao contexto de criao do documento. Embora este contexto e o sistema
jurdico tenham sido identificados primeiramente por Ficker quando este diferencia actio e
conscriptio at ento nenhum autor nem mesmo Carucci, havia sistematizado a crtica
diplomtica alm dos elementos internos/externos, e das pessoas envolvidas na criao do
documento. Com o mtodo de Duranti, as relaes entre a ao e a documentao, assim como com
as pessoas envolvidas na criao do documento e seu sistema jurdico, so claramente evidenciadas.
Conclui-se, portanto, que o mtodo diplomtico, tal como conhecemos hoje, foi formalizado
primeiramente por Sickel, para a anlise de documentos medievais e sofreu alteraes para dar
conta da documentao gerada no mundo contemporneo. Isso no significa que ainda no seja um
mtodo vlido. Na realidade, constata-se que o que vai definir qual mtodo utilizar o documento a
ser analisado. Para aqueles medievais, o mtodo moderno perfeitamente aplicvel, enquanto que
para analisar a documentao contempornea, produzida eletronicamente, lhe faltam elementos.
Para tanto, emerge o mtodo contemporneo, capaz de lidar com tipos e formas de documentos
diferentes. Especificamente nesse contexto, a organizao da informao arquivstica se beneficia
dos estudos diplomticos, uma vez que pode contar com uma ferramenta alm do princpio da
provenincia para analisar a documentao contempornea, indo do estudo da forma e da gnese
do documento, ao sistema jurdico no qual foi gerado e s pessoas que fizeram parte dele,
informaes essenciais a qualquer trabalho arquivstico.

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687

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TASSIN, R; TOUSTAIN, C. Nouveau Trait de diplomatique. Paris: Guillaume Deprez e Pierre-Guillaume
Cavelier, Imprimeur e Librarie, 1750-1765.

688
GLOSARIO DE INNOVACIN
Uma discusso a partir das obras de diplomtica
Una perspectiva terminolgica

CARLAI ZAPATA RINCN
Universidad del Zulia
[email protected]

LILIA M. FERRER MORILLO
Universidad del Zulia
[email protected]

Resumen La creciente necesidad de unificar el vocabulario cientfico, y lograr el consenso para un lenguaje
comn, dirigido a los usuarios especializados y de fcil interpretacin para los usuarios no especializados en la
disciplina de innovacin, crea la inquietud de construir un glosario, como herramienta terminolgica inicial,
que facilite a la comunidad de la Divisin de Estudios para Graduados de la Facultad de Humanidades y
Educacin de la Universidad del Zulia, involucrarse a la cultura de innovacin en la cual desarrolla su gestin
en la actualidad. Esta investigacin de tipo documental, se realiz a travs del anlisis crtico de la teora
terminolgica; las normas en terminologa, en especial los principios y estndares de la norma ISO que
delimitan la actividad terminolgica para este tipo de herramientas; la utilidad de la terminologa en la
organizacin del conocimiento, y los estudios terminolgicos que se realizan en el mbito de la innovacin. De
dicho anlisis, surge una propuesta metodolgica para la construccin del glosario, y se concluye con la visin
del impacto social a considerar en el hacer terminolgico, y en la organizacin del conocimiento de una
transdisciplina, de carcter multidimensional como la innovacin dentro del contexto universitario.

Palabras-clave Glosarios. Innovacin. Terminologa. Transdisciplinas. Universidad del Zulia.

Abstract The growing need to unify scientific vocabulary and build consensus for a common language
targeting specialized users, as well as being easy enough to be used and interpret by non-specialized users
among innovation discipline, creates the necessity to build a glossary as an initial terminology tool, providing
the Division of Graduate Studies community of Faculty of Humanities and Education at the University of Zulia
a way to engage in the culture of innovation developing at the present time. This documentary research, was
conducted through a critical analysis of terminology theory, terminology norms, in particular the ISO
principles and norms, that define and limits terminological activity for these tools, the use of terminology
knowledge in the organization and the terminology studies performed in the field of innovation. From this
analysis, a methodology for the construction of the glossary emerges, and concludes with a vision of social
impact to be considered when developing terminology and organizational knowledge, within a trans
disciplinary object of multidimensional character as the innovation in the University context.

Keywords Glossaries. Innovation. Terminology. Trans-disciplinary. Universidad del Zulia.

Introduccin

Abordar el tema de la innovacin desde la ptica universitaria, pasa por situarse en el
contexto de los procesos de cambios paradigmticos y de giros culturales iniciados a partir de lo que
autores como Lanz y Fergusson (2005), han dado en llamar el cambio civilizacional de gran
envergadura, impronta que define a las sociedades actuales, anhelantes de una refundacin posible
desde la reforma del pensamiento, donde la universidad ha de jugar un papel determinante desde

689
una clara conciencia sobre el rol que le corresponde asumir en los albores del cambio epocal, que
inaugura nuevas racionalidades donde el hacer cientfico tecnolgico se traduzca en actividad de
alto impacto y proyeccin en los entornos sociales.
En el entramado universitario actual, la innovacin, del latn innovare, ha de superar la nocin
ms bsica de ideas transmutadas en productos, servicios o procedimientos, y comprometerse con
nuevas racionalidades a favor de la materializacin de la anhelada universidad con pertinencia
social, bajo la gida de una autonoma responsable, comprometida con el ejercicio del pensamiento
crtico, la democracia, la formacin integral, la educacin humanstica y tica y la educacin a lo
largo de la vida (Lanz y Fergusson, 2005).
La innovacin, es entendida como un compromiso ineludible, necesaria para encarar el
cambio epocal; o innovamos o erramos viene a ser la premisa que sustrae a la universidad del
ensimismamiento y del retrgrado concepto del claustro, para posar su mirada en un contexto
afectado por una suerte de mundializacin, entendida como encuentro de civilizaciones y como
dilogo de saberes.
Siendo as, no puede haber novedad o renovacin en la universidad, si la misma no va
precedida de rupturas con obsoletos esquemas estrictamente profesionalizantes y desvinculados de
un ser/hacer cientfico y tecnolgico que traduzca conocimientos y saberes, en inteligencia social
para satisfacer cada necesidad menor o mayor del contexto en el que se sita.
De acuerdo a lo previsto al Artculo N 3 de la Ley Orgnica de Ciencia, Tecnologa e
Innovacin (2005), las instituciones de educacin superior forman parte del Sistema Nacional de
Ciencia, Tecnologa e Innovacin (SNCTI), al lado de otras instituciones pblicas o privadas, con el
Ministerio de Ciencia, Tecnologa e Innovacin a la cabeza, que generan y desarrollan
conocimientos cientficos y tecnolgicos, as como procesos de innovacin, al igual que las
personas que se dedican a la planificacin, administracin, ejecucin y aplicacin de actividades que
posibiliten la vinculacin efectiva entre la ciencia, la tecnologa y la sociedad.
Obsrvese cmo una de las condiciones para integrar el SNCTI, est dada por la generacin,
uso y circulacin de conocimiento cientfico requerido en el fortalecimiento y avance del pas. Rol
natural consagrado para las universidades que trascienden la elemental funcin profesionalizante.
En este contexto, la innovacin juega un papel fundamental por cuanto implica un compromiso
permanente de parte de las universidades con la investigacin cientfica, la apropiacin social de los
saberes, as como con la transferencia cientfica y tecnolgica hacia cada espacio donde se precise
del fomento de nuevas capacidades cientficas y tecnolgicas.
Ms all de la comunin que ha de tener la universidad con las actividades de ciencia,
tecnologa e innovacin, coexisten en el pas modelos diversos de universidades, centradas unas en
la profesionalizacin y otras en una visin corporativa de la educacin superior, entre otros tantos
enfoques; modelos que se debaten por igual entre dicotmicas aspiraciones de internacionalizacin
o de municipalizacin de la educacin, la ciencia y la tecnologa, suerte de sincretismo derivado de
el arte de mezclar (Lanz, 2005) propio de la postmodernidad, donde se suscita la combinacin de las
formas y la reapropiacin de los elementos que caracterizan la actividad cientfica y tecnolgica
nacional.
La verdadera innovacin cientfica y tecnolgica es aquella que responde a necesidades
reales, que conjuga lo abstracto-terico con lo real-practico. Se trata de trasmutar epistemologa
con lo tangible, filosofas ms nuestras, ms prximas y ms cercanas; as como tecnologas no
dependientes para encarar y atender las micro y macro necesidades nacionales.
En el marco universitario, la innovacin se erige en categora fundante y fundamental, que
deviene en principio y compromiso tico, de crear saberes, generar soluciones y transferir saberes,
que no solo tecnologas, para superar los grandes males de la sociedad venezolana. Innovar implica
entonces un compromiso con la (re)creacin permanente de conocimientos y su socializacin, de la
mano de los sectores integrantes del SNCTI, el Estado a la cabeza del mismo, con la activa
participacin socio-comunitaria e industrial, para garantizar los flujos cientficos y tecnolgicos
acordes a la realidad nacional.

690
As lo internaliza la Universidad del Zulia en general, y la Divisin de Estudios para Graduados
(DEPG) de una de sus Facultades, la de Humanidades y Educacin, quienes tienen un compromiso
impostergable con la innovacin. Lo demuestra la reciente creacin de la Unidad de Innovacin,
Transferencia Tecnolgica y Emprendimiento (UNITTEM) cuya misin es estimular, promover,
divulgar y fortalecer la prctica de innovacin y transferencia de conocimiento y tecnologa, as
como tambin el emprendimiento social y econmico en la DEPG, con los ms altos estndares
ticos e intelectuales, coordinando la prestacin de servicios en el mbito universitario y
extrauniversitario con orientacin a un desarrollo sostenible. (Divisin de Estudios para Graduados,
2011).
Este marcado inters, formalizado mediante la creacin de la UNITTEM, ha impulsado a su
equipo fundador a asumir el proyecto de produccin de un Glosario de Innovacin, empresa
asumida desde una ptica transdisciplinar que reconoce, en primer lugar, la urgencia de una
herramienta lingstica integradora del rico acervo conceptual, cognitivo y semitico de la
produccin terminolgica del rea y, en segundo lugar, reconoce el carcter multidimensional de la
innovacin.
La innovacin es, a un mismo tiempo, transdisciplinar y multidiversa, puesto que permea
toda actividad, no solo cientfica y tecnolgica, sino tambin organizacional, industrial y social. La
innovacin es, igualmente, una necesidad permanente de reforma, para que las universidades
respondan a las complejas exigencias de su entorno, fundamentalmente aquellas que sitan al ser
humano en sociedad como el primer receptor de la accin cientfica y tecnolgica de las
universidades.
Los prrafos que siguen a continuacin explican la base terica y metodolgica que guiar el
proceso de construccin del Glosario en innovacin, aporte que hace la UNITTEM en la recopilacin
de la grandiosa terminologa que da cuenta del estatuto epistemolgico de esta transdisciplina en el
contexto de la Universidad del Zulia, Venezuela.

1 La perspectiva terminolgica

El diccionario de la Real Academia Espaola, define la terminologa como el conjunto de
trminos o vocablos propios de determinada profesin, ciencia o materia.
En palabras de Sager (1993), la terminologa es el estudio y el campo de actividad relacionado
con la recopilacin, descripcin y presentacin de trminos, es decir, las unidades lxicas que
forman parte de reas especializadas de uso en una o ms lenguas.
Aunque Sager aborda la terminologa desde un enfoque prctico, orientada a los procesos de
construccin de corpus terminolgicos para la comunicacin de especialidades cientficas, la
investigacin que gua el proceso de conceptualizacin y construccin del Glosario en innovacin,
plantea la necesidad de una metdica integradora de racionalidades que posicionen a la innovacin
en el contexto universitario y venezolano como transdisciplina, que permea cada espacio de accin
cientfica-tecnolgica, gubernamental, industrial-empresarial y, especialmente social, donde surgen
procesos constantes de renovacin, orientados para el desarrollo nacional y crecimiento sostenible.
Aunque esta primera definicin de la terminologa pudiera entenderse desde una ptica
pragmtica, ms adelante Cabr, junto a Freixa y Teb (1998), replantean la teora general de la
terminologa de E. Wuster, desde los aportes que se han generado en esta interdisciplina durante
casi dos siglos, estableciendo una teora comunicativa de la terminologa, definida como el campo
de estudio del anlisis semntico-formal, vinculado a una lengua natural y que se caracteriza por un
sesgo cultural, para integrarlas a un modelo lingstico (gramatical y pragmtico).
Es esta visin de la terminologa, la que guiar la construccin del Glosario de innovacin
desde una perspectiva venezolanista y latinoamericanista, que transita procesos vanguardistas que
sitan al ser humano en sociedad como el gran protagonista de las actividades de ciencia,
tecnologa e innovacin. Claro que este transitar, se entiende como un recorrido en construccin

691
que pasa por la superacin de paradigmas coexistentes que aun no asumen la urgencia de una
reforma del pensamiento, que propicie la participacin competitiva en el concierto de la
mundializacin de los saberes. Viejos y nuevos paradigmas convergen, con racionalidades que
divergen unas veces, pero que se han de encontrar para solucionar los grandes males que aquejan a
la sociedad.
En este sentido, los estudios terminolgicos constituyen un aporte esencial para el registro de
los giros discursivos y los procesos de resignificacin social ocurridos al interior de transdisciplinas
como la innovacin, afectada siempre por sensibilidades sociales y polticas, las cuales se reflejan en
la prctica universitaria y de all han de revertirse en la sociedad ubicada ms all de los muros
universitarios.
Tal y como lo afirman Cabr, Freixa y Teb (1998), la terminologa tiene grandes
implicaciones en el orden sociolgico, puesto que resulta impensable la desconexin del sistema de
la lengua con su realizacin en contextos sociales. La terminologa se entiende entonces como una
industria que transciende lo meramente simblico (registro de trminos), para profundizar en los
actos comunicantes y de significacin en los cuales se sita el acervo terminolgico de una
comunidad o dominio de conocimiento, como el caso que nos ocupa, el de la innovacin.
Este hacer de la terminologa en transdisciplinas que tienen especiales atributos sociales, va a
provocar gran impacto en los resultados de la prctica terminolgica, mucho ms, cuando las
transdisciplinas con las que se relaciona tambin se encuentran en una constante revisin
conceptual y epistmica a partir de los giros culturales marcados por el agotamiento de lgicas
disciplinares.
Los aspectos antes sealados, pudieran complicar y complejizar mucho mas la definicin de
su objeto de estudio, o ms que el objeto de estudio, el mtodo y la praxis terminolgica, lo que nos
lleva a aceptar la propuesta de Cabr (2008), sobre la orientacin onomasiolgica y el paradigma
terminolgico, originado como consecuencia del estatuto epistemolgico de las ciencias, bien sea
desde una perspectiva estrictamente disciplinar o, como en el caso de la innovacin, desde una
concepcin transdisciplinaria.
Son las consideraciones de tipo semasiolgico y onomasiolgico, las que harn posible
entender los recorridos logrados en la construccin-deconstruccin de discursos articulados por las
comunidades cientficas, fundamentalmente aquellos que demuestran el carcter transdisciplinario
de la terminologa de la innovacin. La metodologa a seguir, se asume desde una conciencia crtica
que entiende la terminologa como signos re-semantizados permanentemente como consecuencia
de las racionalidades cientficas por las que transita la Universidad del Zulia, especficamente la
Divisin de Estudios para Graduados de la Facultad de Humanidades y Educacin.
Con el surgimiento de disciplinas emergentes como las neurociencias, la
psiconeurolingstica, la gerencia del conocimiento, la fsica cuntica, entre otras tantas que han
surgido a travs de procesos de innovacin y de la apertura incesante de nuevas rutas de
investigacin, especialmente aquellas que conducen a la dilucin de las fronteras epistmicas de las
disciplinas, la terminologa se asume vanguardista, en tanto que es capaz de acompaar los
procesos de renovacin de conceptos y las variaciones propias de la lengua, para su registro y
comunicacin.
En relacin a lo anterior Lpez-Huertas (2009), seala que la terminologa permite esclarecer
lo que sucede en una inter o transdiciplina, como es el caso de la innovacin, ya que otorga
garantas al momento de construir herramientas y sistemas de indizacin para la recuperacin de
informacin. Al mismo tiempo, la terminologa se erige en mtodo para descubrir nuevos
conocimientos, aparentemente ocultos en dominios cientficos; esto le da gran valor, ya que se
posiciona como alternativa de evaluacin del estado del arte del conocimiento del dominio en
cuestin, de su situacin epistemolgica, de las dinmicas de investigacin que puedan generarse,
as como del progreso, evolucin y transformacin cientfica del campo estudiado.
Por ltimo se tiene que, el someterse al mtodo propio de la terminologa implica un
compromiso tico de indagacin permanente sobre los giros discursivos, cruce de fronteras o de

692
cualquier cambio o variacin, entendida en el presente caso como INNOVACIN, constatada en los
discursos de la transdisciplina que nos ocupa (Innovacin) y sus dilogos continuos con otros
dominios (trans)disciplinares. Su logro va a depender de la conformacin de un equipo permanente
de estudio, estructurado en torno a un observatorio terminolgico-discursivo que pueda
monitorear cada uno de los giros terminolgicos y discursivos.

2 Una metodologa base para el desarrollo del glosario

A partir del estudio de las implicaciones transdisciplinares de la innovacin, as como del
reconocimiento de los cambios paradigmticos que han de ocurrir en el seno de las instituciones
universitarias, especialmente aquellos que nos llevan a entender la urgencia en la refundacin del
papel de las universidades en esta nueva era planetaria (Lanz, 2005), surge esta primera
aproximacin de una metodologa, asumida tambin como filosofa, que ha de guiar la gnesis y
consolidacin del GLOSARIO EN INNOVACIN, como esfuerzo colectivo de quienes, a partir de la
creacin de la Unidad de Innovacin, Transferencia tecnolgica y Emprendimiento (UNITTEM) en
la Divisin de Estudios para Graduados de la Facultad de Humanidades y Educacin de la
Universidad del Zulia, Venezuela, entienden la innovacin como una condicin natural, resultante
del dilogo de saberes propio de las nuevas racionalidades que surgen y que han de tener a las
universidades, como epicentro de las grandes rupturas del pensamiento del siglo que recin inicia.
La formulacin de una metodolgica, tiene la intencin de establecer los lineamientos
iniciales para el desarrollo de herramientas terminolgicas en la Divisin de Estudios Para
Graduados de la Facultad de Humanidades y Educacin de la Universidad del Zulia, adems de
promover esta actividad e incentivar a los profesionales en ciencias de la informacin y lingstica,
para que conformen equipos multidisciplinarios en beneficio de la organizacin del conocimiento
cientfico y las actividades que se realizan en el marco de la gestin institucional.
Debemos dejar claro que, la metodologa esbozada se entiende como camino, y acordamos
con Muoz y Andrade (2006) que el mtodo se asumir como methodus un mtodo o camino- y no
como un methodium un sainete- y menos an como methodeia asechanza, un cerco-, s como
ayuda y no como una camisa de fuerza que impida el supremo objetivo de generar una herramienta
terminolgica, que registre el estatuto epistemolgico y giros discursivos de la innovacin.
Por otro lado, es importante considerar que en el desarrollo del glosario y de cualquier otra
herramienta terminolgica, como bancos de datos terminolgicos, tesauros, entre otros, la
complejidad de ambas disciplinas puede provocar distorsin en la finalidad que tenga la
herramienta propuesta, ya que los trminos, conceptos y definiciones de innovacin, se deben
formular desde las dimensiones cognoscitiva, lingstica y comunicativa de la terminologa (Sager,
1993).
En relacin a lo expuesto, se enfatiza que los trminos deben comunicar, a travs de la
explicacin de su contenido semntico lo que el dominio de conocimiento en innovacin propone
de acuerdo al contexto universitario donde se utiliza, para no perder la funcin especfica del
glosario y con la intencin que viene determinada por el nivel de especialidad, aunado al estudio
minucioso y consensuado de las unidades lxicas que lo conformen.
Luego de haber superado esta fase previa, se prosigue a la metodologa propuesta,
desarrollada de forma sistemtica, esbozada a partir de la consideracin de los fundamentos
tericos y metodolgicos expresados por los autores hasta ahora citados, al igual que sustentados en
el estndar internacional que orienta la labor terminolgica (ISO 704: 2009), desde la cual se asumen
las herramientas terminolgicas como metaherramientas de organizacin del conocimiento.
Las fases integrantes de la metodologa a seguir en el desarrollo del GLOSARIO EN
INNOVACIN son las siguientes:
a) Evaluacin del uso y contexto del glosario;

693
b) Conformacin de un colectivo humano que asuma una empresa transdisciplinar;
c) Identificacin y seleccin de fuentes y recursos de informacin;
d) Adaptacin de estndares, principios y normas;
e) Captura de trminos en su contexto situacional natural;
f) Conformacin de un observatorio terminolgico en innovacin.

A continuacin se esbozan los lineamientos constitutivos y alcance de cada fase.
a) Evaluacin del uso y contexto del glosario
En esta fase de arranque se aspira definir una estrategia asertiva para la seleccin de
los trminos que conformarn el glosario de innovacin y los usuarios a quienes va
dirigida la herramienta. Es importante destacar que, el glosario pretende ser una
herramienta articuladora de sentidos no solo en el contexto universitario, sino
tambin entre comunidades no expertas ni acadmicas, que ven la innovacin como
opcin de avance y de renovacin desde cada espacio de ser/hacer en sociedad. Lo
importante aqu es que las comunidades extendidas logren comprender e integrarse
a la cultura de innovacin cientfica y tecnolgica nacional.

b) Conformacin de un colectivo humano que asuma una empresa transdisciplinar
La interaccin de un equipo transdisciplinario es necesario para asumir el desarrollo
del Glosario en innovacin, entendida est rea como de un rea de convergencia y de
dilogo de saberes, no reservada para un grupo disciplinar, sino de inters para la
academia y para el conjunto de los actores integrantes del Sistema Nacional de
Ciencia, Tecnologa e Innovacin (SNCTI), tomando en consideracin que debe haber
acompaamiento por parte de un equipo asesor de expertos en la disciplina que se
propone representar.
Son tan diversos los actores que integran el SNCTI, que ser necesario, incluso,
convocar a los sectores industriales interesados en la oferta cientfico-tecnolgica y
de innovacin y emprendimiento surgida en el seno de la Divisin de Estudios para
Graduados de la Facultad de Humanidades y Educacin de LUZ, especialmente en la
fase de verificacin y control de la terminologa generada.
Sobre la cooperacin profesional, es fundamental la interaccin de innovadores,
emprendedores, profesionales de la informacin, lingistas y computistas, que
reciban las instrucciones principales de la actividad terminolgica y puedan
posteriormente derivar la funcin cognoscitiva y comunicativa de los trminos
seleccionados. Estos profesionales participarn del proceso de seleccin de las fuentes
bibliogrficas, eleccin de la produccin cientfica de la cual se hace la extraccin de
trminos y fijacin de taxonomas y familias de trminos, conceptos y sus relaciones.
Desde la accin lingstica concreta, se proceder con la clasificacin de los trminos,
conceptos y relaciones, anlisis de las unidades lxicas que conforman el corpus
terminolgico, las polisemias, sinnimos y prstamos de trminos de otros idiomas,
es decir, que apoyan la tarea metodolgica del glosario.
Este aspecto metodolgico le aporta rigor cientfico y pertinencia a la terminologa
que conformar el glosario, ya que, cada especialista puede sumar grandes aportes
desde su rea de especialidad, mucho ms, si cada uno es experto en innovacin.

c) Identificacin y seleccin de fuentes y recursos de informacin

694
- Este aspecto puede considerarse uno de los ms importantes, determinante para la
conformacin del el corpus terminolgico. La seleccin de las fuentes repercutir en
el resultado del corpus, ya que, de acuerdo con algunos elementos caractersticos de
las fuentes y recursos, la seleccin equivocada pudiera ocasionar distorsiones en el
rigor de especialidad de los trminos de la disciplina innovacin. Por tal razn se
tienen en cuenta los siguientes criterios;
- Tipologa. Es importante determinar el tipo de fuente o recurso bibliogrfico que se
utilizar, el formato de representacin tambin es importante. Este criterio es
medular para el resto de los criterios a seguir;
- Especialidad en el dominio de conocimiento, asegura que los trminos que surjan de
fuentes calificadas tengan pertinencia con el trabajo terminolgico que se realiza;
- Rigor cientfico es determinante, ya que, la produccin cientfica a la cual se accede a
travs de ellas cuenta con calidad y reconocimiento, garantiza la base epistemolgica
del conocimiento y desecha posibles ambigedades;
- Estructura del conocimiento, permite determinar el orden de ideas y el contexto en el
que se ha originado y como se presenta el conocimiento desarrollado en innovacin a
travs de las fuentes seleccionadas;
- Periodicidad, que se refiere a la continuidad con la que se produce el conocimiento en
innovacin, y la frecuencia en la que los trminos pudieran aparecer en la produccin
cientfica, la ocurrencia de la terminologa en las investigaciones, da luces en cuanto a
lo ms reciente en esta disciplina, es decir, las tendencias en cuanto a innovacin;
- Actualidad, permite que la seleccin que se hace de las fuentes y recursos
bibliogrficos sea reciente, acorde a lo que pautan las normas de citacin, dndole
pertinencia a los trminos y alejando la obsolescencia al contenido del glosario;
- Idioma, contextualiza el trabajo terminolgico, desde las fuentes y recursos
bibliogrficos, hasta la produccin cientfica que nos provee cada una, esto facilita el
trabajo del lingista, en el estudio de los prstamos de trminos de lenguas
extranjeras a la de origen del glosario.

Un aspecto a resaltar es la existencia y revisin de tesauros, diccionarios, bases de datos
terminolgicos en la disciplina objeto de estudio, adems de la revisin de los sistemas de
clasificacin universales para la realizacin del glosario. En la seleccin de las fuentes y recursos
bibliogrficos debe tenerse consideracin de este aspecto, esto garantiza la cobertura que pueda
darse a los trminos.

d) Adaptacin de estndares, principios y normas:
Se considera pertinente el uso de los estndares, principios y normas de terminologa
(ISO 704: 2009), tomando en cuenta que es la de mayor cobertura puesto que estudia
el trabajo terminolgico de forma integrada y se considera al glosario como
herramienta para organizar el conocimiento.
Es importante destacar que la utilizacin de la norma no debe considerarse como una
limitante al momento de realizar la tarea terminolgica, pues tal y como se menciona
en ideas anteriores, el trabajo del glosario va a estar relacionado con el contexto, la
temtica o disciplina en la cual se desarrolla, los usuarios y la finalidad, tal como
seala Cabr (2009).
La norma ISO 704: 2009, seala que los principios y mtodos deben ser observados no
solo para la manipulacin de la informacin terminolgica, sino tambin en la
planificacin y toma de decisiones involucrada en la gestin del stock de

695
terminologa. Las situaciones en las que recomienda aplicar esta norma son las
siguientes:
- Identificando conceptos y relaciones conceptuales;
- Analizando y modelando sistemas de conceptos en la base de conceptos identificados
y relaciones de conceptos;
- Estableciendo representaciones de sistemas de conceptos a travs de diagramas
conceptuales;
- Definiendo conceptos;
- Atribuyendo conceptos (trminos en su mayora) para cada concepto en uno o ms
lenguajes;
- Registro y presentacin de datos terminolgicos, principalmente en medios impresos
y electrnicos (terminografa).

e) Captura de trminos en su contexto situacional natural
Los trminos que derivan de las actividades acadmicas, y que an no se encuentren
registradas en la produccin cientfica de la Universidad, deben ser considerados, a
fin de propiciar la mayor cobertura terminolgica posible.
Es importante recoger de la produccin cientfica y de la legislacin nacional en
materia de ciencia, tecnologa e innovacin, los trminos, conceptos y definiciones
que van a formar parte del glosario de trminos; sin embargo, esta propuesta
pretende crear precedentes en el uso de trminos y los conceptos y definiciones que
se construyan a partir de la actividad enmarcada de la gestin de innovacin en el
contexto universitario.

f) Conformacin de un observatorio terminolgico en innovacin
La revisin de la ocurrencia de los trminos en la produccin cientfica y las
actividades en innovacin del contexto de la Divisin de Estudios Para Graduados de
la Facultad de Humanidades y Educacin es importante, pues permite la actualizacin
del glosario, y prevenir as la obsolescencia del Glosario. Desde la UNITTEM se erige
el observatorio terminolgico como instancia de monitoreo permanente del estatuto
epistemolgico y giros discursivos de la transdisciplina seleccionada.
Como parte de la actividad terminolgica previa a la construccin del glosario, la
revisin de la ocurrencia de trminos en la produccin cientfica permitir conocer el
estado del arte de la disciplina, adems de aportar un estudio del impacto de la
disciplina en el entorno universitario.

Conclusiones

En el marco universitario, la innovacin se erige en categora fundante y fundamental, que
deviene en principio y compromiso tico, de crear saberes, generar soluciones y transferir saberes,
que no solo tecnologas, para superar los grandes males de la sociedad venezolana. Innovar implica
entonces un compromiso con la (re)creacin permanente de conocimientos y su socializacin, de la
mano de los sectores integrantes del SNCTI, el Estado a la cabeza del mismo, con la activa

696
participacin socio-comunitaria e industrial, para garantizar los flujos cientficos y tecnolgicos
acordes a la realidad nacional.
Este marcado inters, formalizado mediante la creacin de la Unidad de Innovacin,
Transferencia Tecnolgica y Emprendimiento, UNITTEM, ha impulsado a su equipo fundador a
asumir el proyecto de produccin de un Glosario de Innovacin, empresa asumida desde una ptica
transdisciplinar que reconoce, en primer lugar, la urgencia de una herramienta lingstica
integradora del rico acervo conceptual, cognitivo y semitico de la produccin terminolgica del
rea y, en segundo lugar, reconoce el carcter multidimensional de la innovacin.
La innovacin es, a un mismo tiempo, transdisciplinar y multidiversa, puesto que permea
toda actividad, no solo cientfica y tecnolgica, sino tambin organizacional, industrial y social. La
innovacin es, igualmente, una necesidad permanente de reforma, para que las universidades
respondan a las complejas y permanentes exigencias de su entorno, fundamentalmente aquellas
que sitan al ser humano en sociedad como el primer receptor de la accin cientfica y tecnolgica
de las universidades.
La metodologa, entendida como camino y no como methodium ni methodeia, incluye las
fases siguientes: a) evaluacin del uso y contexto del glosario, b) conformacin de un colectivo
humano que asuma una empresa transdisciplinar, c) identificacin y seleccin de fuentes y recursos
de informacin, d) adaptacin de estndares, principios y normas, e) captura de trminos en su
contexto situacional natural y f) conformacin de un observatorio terminolgico en innovacin.
Queda por recorrer el largo e inspirador camino que, guiado por esta metdica, propicie la
generacin de una herramienta que, no solo registre el estatuto epistemolgico de la innovacin
universitaria, sino tambin que articule los procesos dialgicos de los actores interesados en
participar de procesos de innovacin cientfica y tecnolgica.

Referencias

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http://132.248.242.3/~publica/archivos/libros/organizacion_del_conocimiento.pdf.

MUOZ, ngel; ANDRADE, Gabriel. (2006) Ni methodus, ni methodium: methodeia!: El camino al
conocimiento y sus obstculos. Enlace. 2006, vol.3, N 2 pp. 29-48.

SAGER, Juan C. (1993). Curso prctico sobre el procesamiento de la terminologa. Taduccin del ingls por
Laura Chumillas Moya. Madrid. Fundacin Germn Snchez Ruiprez; Madrid: Pirmide.

TEMA 2
Organizao da informao para gesto do
conhecimento

701
INDIZAR, CLASIFICAR Y ORGANIZAR LAS COLECCIONES DE LAS BIBLIOTECAS ESCOLARES
Herramientas en lengua espaola y portuguesa

MARA DEL CARMEN AGUSTN LACRUZ
[email protected]

MARIANGELA SPOTTI LOPES FUJITA
Universidade Estatal Paulista "Jlio de Mesquita Filho
[email protected]

ANA LCIA TERRA
Instituto Politcnico do Porto - Escola Superior de Estudos Industriais e de Gesto / CETAC.MEDIA
[email protected]

Resumen La biblioteca escolar es un servicio de informacin bsico para todos los miembros de una
comunidad educativa, que forma parte de los espacios docentes de los centros y de los procesos pedaggicos
que tienen lugar en ellos. Las bibliotecas escolares funcionan como centros de recursos para las actividades de
enseanza-aprendizaje, estn constituidas por un conjunto sistematizado y dinmico de servicios y fondos
documentales que permiten a los usuarios desarrollar hbitos lectores y buscar y valorar las fuentes de
informacin, entre otras relevantes funciones. Los recursos de informacin que albergan son uno de sus
principales activos, pero si coleccin documental no est organizada, las tareas de bsqueda y localizacin de
la informacin resultarn complicadas y la calidad de los recursos obtenidos, cuestionable. Los bibliotecarios
deben conocer en profundidad las caractersticas especficas del fondo documental y las fuentes disponibles;
las tcnicas y herramientas adecuadas para procesar y tratar el fondo bibliogrfico, as como los mtodos de
recuperacin de la informacin ms convenientes.
En este contexto, el objetivo de este trabajo es analizar de forma pormenorizada los procesos de indizacin y
clasificacin que se realizan en las bibliotecas escolares para procesar y recuperar la informacin que albergan
su colecciones, as como describir las caractersticas ms relevantes de las herramientas especficas que se
usan en las bibliotecas escolares espaolas, brasileas y portuguesas, adaptadas a las caractersticas de los
usuarios que utilizan sus servicios y acuden a ellas para resolver necesidades de informacin.
Para lograr este propsito, se analiza el concepto de biblioteca escolar de forma crtica, se estudian sus
funciones y se examinan las tcnicas y los instrumentos que permiten organizar la informacin. Entre otras
herramientas, se estudian listas de encabezamientos de materia como los Encabezamientos de materia para libros
infantiles y juveniles y la Lista de Encabezamientos de materia para las bibliotecas pblicas; sistemas de clasificacin,
como la Clasificacin Decimal Universal (edicin de bolsillo) o la clasificacin por centros de inters y tesauros
especializados como el Tesauro de la Educacin UNESCO-OIE y el Tesauro Europeo de la Educacin, entre otros.

Palabras-clave Bibliotecas escolares. Indizacin; Clasificacin. Organizacin de la informacin. Sistemas de
clasificacin. Listas de Encabezamientos de materias. Tesauros. Espaa. Brasil. Portugal.

Abstract The school library is a basic information service to all members of an educational community that is
part of the teaching environments and of the pedagogical processes where they occur. School libraries are like
resource centers for teaching and learning activities, they are formed by a systematic and dynamic set of
services and documentary resources that allow users to develop reading behaviors, to find and evaluate the
information sources among other relevant functions. The information resources they have are one of their
main assets, but if the document holdings are not arranged, the tasks of searching and location information
will be difficult and the quality of the results will be questionable. The librarians must know in depth the
specific characteristics of the document holdings, the available sources, the techniques and tools to process
and treat them as well as the most appropriate methods of information retrieval.

702
In this context, the aim of this paper is to analyze in detail the indexing and classifying processes that take
place at the school libraries to process and retrieve information from their collections, as well as to describe
the most relevant and specific tools used in Spanish, Brazilian and Portuguese libraries, adapted to their users
characteristics.
To achieve this goal, the concept of school library was analyzed, its function was studied and the techniques
and tools that allow the information organization were examined. Among the tools, we studied the Subject
Headings Lists for children and juveniles books and the Subject Headings List for public libraries, the
Universal Decimal Classification System (paperback edition) or the classification by fields of interest and
specialized thesauri like the Tesauro de la Educacin UNESCO-OIE and the Tesauro Europeo de la Educacin.

Keywords School libraries. Indexing. Classification, Information Organization. Classification Systems. Subject
Heading Lists. Thesaurus. Spain. Brazil. Portugal.

1 Introducin: las bibliotecas escolares en espaa, portugal y brasil

Las bibliotecas escolares evolucionan y se adaptan a las nuevas circunstancias planteadas en
las instituciones educativas de las forman parte: Algunos saberes se vuelven obsoletos con rapidez y
requieren actualizaciones continuas; se diversifican los canales de difusin y comunicacin del
conocimiento; surgen dispositivos que incorporan nuevas prestaciones; se suceden incluso se
solapan soportes y formatos informativos y se extiende la tendencia a no acumular documentos,
pues se considera ms til saber localizar, acceder y utilizar la informacin cuando resulta
necesario.
En Espaa, el modelo de biblioteca escolar mantiene estrechas relaciones con el tipo de centro
y de sistema educativo del que forma parte, y sus patrones de desarrollo son anlogos a las
respuestas que el propio sistema ha propuesto en cada uno de los contextos. Histricamente, el eje
de la escuela ha girado en torno a la enseanza de los contenidos curriculares impartidos por el
profesorado. Estos centros demandaban una biblioteca concebida con funciones auxiliares, centrada
en los soportes librarios, el procesamiento tcnico de la coleccin y la conservacin de los fondos, y
estaba orientada casi en exclusiva hacia la custodia y, en su caso, hacia la lectura de textos
literarios.
Las innovaciones educativas acometidas en las ltimas dcadas han puesto en valor la
enseanza comprensiva y el aprendizaje significativo, lo que implica un mayor protagonismo de los
estudiantes dentro de los procesos pedaggicos.
En este contexto, la biblioteca escolar ha ido adquiriendo un nuevo sentido cuando, adems, la
lectura deja de considerarse un mero proceso mecnico de decodificacin de smbolos escritos y se
extiende el concepto de comprensin lectora entendida como una competencia transversal bsica
que permite tambin la bsqueda y evaluacin de informacin en Internet, el manejo de
aplicaciones informticas y la comprensin de textos cientficos o tcnicos, mapas, grficos o
infografas.
Esto ha supuesto una profunda revisin del modelo de biblioteca escolar; ha comenzado a ser
considerada como un centro activo de recursos informativos y documentales al servicio del
aprendizaje, con una fuerte implicacin estratgica en los procesos pedaggicos desarrollados en el
centro y en cuya configuracin intervienen planteamientos tanto biblioteconmicos, como
educativos y sociolgicos.
Sin embargo, diversas circunstancias cambios legislativos, recortes presupuestarios,
indefinicin en el perfil profesional de los bibliotecarios escolares, entre otras han dificultado
notablemente la consolidacin y la sostenibilidad de este tipo de bibliotecas. Como ocurre en otros
servicios socio-educativos, las bibliotecas escolares tambin experimentan transformaciones en
multitud de aspectos: la definicin de sus objetivos se adapta a nuevas funciones; se ofertan nuevos
servicios; las colecciones adquieren un carcter cada vez ms audiovisual y multimedia; se

703
incrementa la cooperacin entre centros gracias a las redes auspiciadas por las TIC y los entornos
digitales.
En Portugal, la Rede de Bibliotecas Escolares (RBE) es un proyecto iniciado por el Ministrio da
Educao en 1996, con la participacin de las Cmaras Municipais, las bibliotecas pblicas
municipales y las direcciones regionales de educacin, bajo la coordinacin del Gabinete da Rede
Bibliotecas Escolares. Con esta iniciativa, el gobierno se propuso dotar a todas las escuelas pblicas,
con independencia de su nivel de enseanza, de una biblioteca escolar, para crear en los alumnos
hbitos de lectura y de acceso a la informacin. Se trata de un proceso desarrollado en diferentes
fases, con el objetivo ltimo de implantarse en las escuelas de todos los municipios del pas.
Actualmente, la RBE comprende cerca de 3000 bibliotecas escolares, pues desde 2008, todas las
escuelas de 2. y 3. ciclo de enseanza bsica, las escuelas bsicas integradas y las sedes de
agrupamientos disponen de una biblioteca escolar integrada. En julio de 2009, se cre legalmente la
funcin de profesor bibliotecario, mediante la Portaria 756/2009, que se actualiz 2010 y 2011. El
objetivo de esta norma es dotar a las bibliotecas escolares de los recursos humanos necesarios para
garantizar su papel innovador en el modelo organizacional de las escuelas, promoviendo en la
comunidad educativa el desarrollo de las competencias de acceso y uso de la informacin.
Generalmente, en los protocolos de cooperacin establecidos entre las Cmaras Municipais y
la RBE, se establece que la primera presta apoyo tcnico a las escuelas bsicas y secundarias,
compartiendo software y registros bibliogrficos. En 1 ciclo, asume mayores responsabilidades, ya
que se encarga de la construccin o adecuacin del espacio fsico de la biblioteca escolar, as como la
adquisicin de mobiliario, equipo y fondos bibliogrficos y multimedia subvencionados
econmicamente por las direcciones regionales de educacin.
Por lo que respecta a la situacin de las bibliotecas escolares brasileas, despus de la
publicacin de la Ley 12.244 de 24 de mayo de 2010, que prev la universalizacin de las bibliotecas
en las instituciones educativas de Brasil en un plazo mximo de 10 aos, la existencia de las
bibliotecas escolares ha adquirido una nueva dimensin poltica, nunca antes imaginada, pues la ley
estipula en el artculo 2.1 que ser obligatorio un fondo bibliogrfico en la biblioteca de, al menos,
un ttulo por cada estudiante matriculado, pudiendo el sistema educativo determinar el aumento de
esta coleccin conforme a su realidad, as como difundir directrices para la custodia, conservacin,
organizacin y funcionamiento de las bibliotecas escolares.
Esta Ley establece la instalacin de bibliotecas en todas las instituciones educativas del pas,
pblicas o privadas, y determina el papel de los bibliotecarios y la cantidad mnima de libros segn
el nmero de alumnos matriculados. A partir de ella, todos los niveles de gobierno federal, estatal y
local tienen la obligacin de crear, instalar o adecuar las bibliotecas.
En este contexto, las bibliotecas escolares brasileas, hasta esa fecha en estado de desarrollo
muy incipiente o casi inexistente, han alcanzado una gran presencia en las polticas pblicas.


En este contexto, el objetivo de este trabajo es analizar de forma pormenorizada los procesos
de indizacin y clasificacin que se realizan en las bibliotecas escolares para procesar y recuperar la
informacin que albergan su colecciones, as como describir las caractersticas ms relevantes de las
herramientas especficas que se usan en las bibliotecas escolares espaolas, brasileas y
portuguesas, adaptadas a las caractersticas de los usuarios que utilizan sus servicios y acuden a ellas
para resolver necesidades de informacin.
Para lograr este propsito, se analiza el concepto de biblioteca escolar de forma crtica, se
estudian sus funciones y se examinan las tcnicas y los instrumentos que permiten organizar la
informacin. Entre otras herramientas, se estudian las caractersticas y prestaciones de listas de
encabezamientos de materia como los Encabezamientos de materia para libros infantiles y juveniles

704
y la Lista de Encabezamientos de materia para las bibliotecas pblicas; sistemas de clasificacin,
como la Clasificacin Decimal Universal (edicin de bolsillo) o la clasificacin por centros de inters
y tesauros especializados como el Tesauro de la Educacin UNESCO-OIE y el Tesauro Europeo de la
Educacin, entre otros.

3 Marco conceptual

3.1 La biblioteca escolar: definicin y objetivos

La expresin biblioteca escolar es poco precisa, ya que incluye colecciones documentales muy
variadas que forman parte de centros y niveles educativos distintos. Designa las bibliotecas ubicadas
tanto en colegios como institutos, escuelas de idiomas, de msica y danza, de artes, centros de
educacin de personas adultas, de educacin permanente, centros de profesores y recursos, de
educacin no reglada, etc.
De forma general, se considera que la biblioteca escolar es un servicio de informacin bsico
para todos los miembros de una comunidad educativa, que forma parte de los espacios educativos de
los centros y de los procesos pedaggicos que tienen lugar en ellos.
Las bibliotecas escolares proporcionan recursos para las actividades de enseanza-
aprendizaje, estn constituidas por un conjunto sistematizado y dinmico de servicios y fondos
documentales que hacen posible el cumplimiento de diversos objetivos (Agustn, 2011):
a) Desarrollar el hbito lector y el gusto por la lectura; b) Aprender a buscar, localizar y
valorar la informacin y sus fuentes (su actualidad, fiabilidad, calidad, etc.);
b) Conocer diferentes soportes documentales, sus formatos y estructura, as como los
dispositivos para acceder a su contenido;
c) Conocer las caractersticas y las utilidades de distintos tipos de documentos (atlas,
diccionarios, glosarios, enciclopedias, directorios, etc.);
d) Llevar a cabo distintas interacciones con los recursos disponibles (discutir y aadir
entradas a la Wikipedia, por ejemplo) y
e) Facilitar el conocimiento y uso de distintas versiones de los textos y las fuentes de
informacin (versiones digitales/impresas; diferentes ediciones de una obra; distintos
formatos de diccionarios, etc.).

3.2 Marco normativo internacional para el desarrollo de las bibliotecas
escolares

En el ao 2000, las organizaciones internacionales IFLA (International Federation of Library
Associations and Institutions) y UNESCO (Organizacin de las Naciones Unidas para la Educacin, la
Ciencia y la Cultura) difundieron conjuntamente el Manifiesto sobre la Biblioteca Escolar.
Se trata de un documento propositivo, traducido a diferentes lenguas, que declara de forma
explcita que las bibliotecas escolares son parte integrante del proceso educativo, pues proporcionan
a los estudiantes informacin e ideas para desenvolverse con xito en la sociedad; as como
competencias para el aprendizaje a lo largo de toda la vida y tambin contribuyen a desarrollar la
imaginacin y la ciudadana responsable.
Entre las funciones que desarrolla la biblioteca escolar, IFLA y UNESCO enumeran las
siguientes:

705

a) Respaldar y realizar los objetivos del proyecto educativo del centro escolar y del plan
de estudios;
b) Inculcar y fomentar en los estudiantes el hbito y el placer de la lectura, el
aprendizaje y la utilizacin de las bibliotecas a lo largo de toda su vida;
c) Ofrecer oportunidades para realizar experiencias de creacin y utilizacin de
informacin a fin de adquirir conocimientos, comprender, desarrollar la imaginacin
y entretenerse;
d) Prestar apoyo a todos los estudiantes para la adquisicin y aplicacin de capacidades
que permitan evaluar y utilizar la informacin, independientemente de su soporte,
formato o medio de difusin, teniendo en cuenta la sensibilidad a las formas de
comunicacin que existan en la comunidad;
e) Facilitar el acceso a los recursos y posibilidades locales, regionales, nacionales y
mundiales para que los estudiantes tengan contacto con ideas, experiencias y
opiniones varias;
f) Organizar actividades que estimulen la concienciacin y la sensibilizacin en el plano
cultural y social;
g) Trabajar con el alumnado, el profesorado, la administracin y las familias para
realizar el proyecto educativo del centro escolar;
h) Proclamar la idea de que la libertad intelectual y el acceso a la informacin son
fundamentales para ejercer la ciudadana y participar en la democracia con eficiencia
y responsabilidad y
i) Fomentar la lectura y promover los recursos y servicios de la biblioteca escolar dentro
y fuera del conjunto de la comunidad escolar.

Para cumplir estas tareas (Agustn, 2011), la biblioteca escolar segn las recomendaciones
propuestas por IFLA y UNESCO ha de formular polticas y crear servicios, seleccionar y adquirir
materiales, facilitar el acceso material e intelectual a las fuentes de informacin adecuadas,
proporcionar recursos didcticos y emplear a personal capacitado.
Este Manifiesto ha alcanzado una gran repercusin y ha impulsado desde su publicacin el
quehacer de numerosos educadores y bibliotecarios que desarrollan un modelo activo de biblioteca
escolar entendida como mediadora del conocimiento y como promotora de los procesos de
aprendizaje de los estudiantes, futuros ciudadanos y ciudadanas, sin distincin de origen social,
econmico o cultural.
Con el propsito de ayudar a las escuelas en el proceso de implementar los principios del
Manifiesto, se redactaron las Directrices de la IFLA/UNESCO para la biblioteca escolar en el ao 2002.
Este documento presenta un modelo para promover la biblioteca escolar en los centros y
aborda aspectos tales como la misin de la biblioteca, recursos (financiacin, ubicacin y espacio,
equipamiento, coleccin...), funciones, habilidades y responsabilidades del personal bibliotecario,
posibles actividades y cooperaciones, formacin de usuarios, algunos programas para el desarrollo
de la biblioteca y la instruccin en destrezas para el estudio y la competencia informativa, etc.

4 La tarea bibliotecaria de organizar la informacin

Uno de los principales activos de la biblioteca escolar son los recursos de informacin de que
dispone.

706
No obstante, la gran abundancia y la variedad de los mismos, pueden llegar a saturar a los
usuarios, sin llegar a resolver las necesidades que tienen.
Por otra parte, si la coleccin de la biblioteca no est organizada, las tareas de bsqueda y
localizacin de la informacin resultaran complicadas y la calidad de los recursos obtenidos,
cuestionable.
Para poder llevar a cabo los objetivos y desempear correctamente las funciones que le son
propias, la biblioteca escolar necesita organizar la informacin.
Los bibliotecarios deben conocer en profundidad las caractersticas especficas del fondo
documental y las fuentes disponibles; las tcnicas y herramientas adecuadas para procesar y tratar
el fondo bibliogrfico as como los mtodos de recuperacin de la informacin.
El entusiasmo que provoc entre los profesionales la automatizacin de tareas muy laboriosas,
como la descripcin y el anlisis de documentos la denominada catalogacin que requieren
conocimientos tcnicos rigurosos y especializados, as como el hecho de que potentes tecnologas
como la web o el hipertexto aumentasen exponencialmente tanto la accesibilidad en lnea, como la
consulta directa a las colecciones digitales y las posibilidades de realizar bsquedas muy precisas en
los catlogos por ttulos, autores y materias, principalmente, han contribuido a extender la
expectativa utpica de que, en un futuro prximo, ser posible acceder de forma universal a todas
las publicaciones , sin necesidad de procesar y organizar la informacin.
Sin embargo, en la actualidad, todava no existe ninguna frmula mgica que permita
organizar la informacin sin esfuerzo. Quiz el futuro depare sorpresas. Por el momento, para poder
acceder a los recursos de informacin, es necesario organizarlos previamente.

5 Herramientas para organizar la informacin en las bibliotecas escolares

Los procesos de tratamiento documental se llevan a cabo mediante el empleo de instrumentos
que hacen posible el anlisis y la recuperacin de los documentos que conforma el fondo
bibliogrfico.
Entre ellos, destacan los lenguajes documentales definidos como conjuntos controlados de
trminos provistos de reglas sintcticas y semnticas que tienen por objeto la representacin de los
conceptos significativos de los temas de los documentos tanto durante la fase de indizacin, como
durante la fase de bsqueda de informacin por parte del usuario.
En las bibliotecas escolares se emplean lenguajes documentales de todo tipo: precoordinados y
postcoordinados; jerrquicos y asociativos; de naturaleza enciclopdica o especfica, pero en
cualquier caso, adaptados a las caractersticas de los usuarios que utilizan sus servicios y acuden a
ellas.
Al estudio de las herramientas que permiten organizar la informacin en las bibliotecas
escolares, se dedican los siguientes epgrafes.

707
5.1 Herramientas usadas en Espaa

5.1.1 Los Encabezamientos de materia para libros infantiles y juveniles

Se trata de una Lista de encabezamientos de materia elaborada por el profesor Alberto
Villaln y publicada en el ao 1994 para facilitar el acceso de nios y jvenes a los catlogos
alfabticos de materias.
Fue redactada de forma expresa para la biblioteca y el centro de documentacin del Centro
Internacional del Libro Infantil y Juvenil de Salamanca, perteneciente a la Fundacin Germn
Snchez Ruiprez, para resolver las demandas de informacin de sus usuarios, relacionadas con
tareas escolares y con la localizacin de libros sobre temas determinados, tanto de ficcin como de
informacin y conocimiento. Esto explica que incluya encabezamientos de materia que permiten
representar y recuperar el contenido de los libros de ficcin, caracterstica nada habitual en otras
herramientas similares.
La obra contiene una lista alfabtica de ms de 2.000 registros, que comprenden:
a) Encabezamientos principales aceptados que pueden ser usados en la asignacin de materias
y que constituyen la gran mayora de las entradas. Pueden incluir una nota de alcance que
orienta al usuario sobre la manera de usar el encabezamiento y tambin relaciones
asociativas (ER) que vinculan semnticamente unos encabezamientos con otros;
b) Trminos no aceptados, integrados por sinnimos y cuasi-sinnimos de los encabezamientos
aceptados. Se relacionan con ellos mediante referencias , del tipo UP (Usado por) y V
(Vase);
c) Sub-encabezamientos, que acotan el alcance y la significacin de los encabezamientos
principales. Pueden ser: subencabezamientos cronolgicos, geogrficos, temticos y
formales. Estn ubicados debajo de cada encabezamiento cuyo significado precisan,
precedidos de guiones;
d) Encabezamientos con doble funcin, que pueden ser usados tanto como encabezamientos
principales, como sub-encabezamientos.
La publicacin recoge tanto la propia Lista de Encabezamientos, como una breve introduccin
terica, un conjunto de sugerencias sobre la asignacin de materias en el procesamiento de libros,
100 ejemplos y casos prcticos de la utilizacin de la Lista, como la relacin bibliogrfica de las
principales fuentes utilizadas para su redaccin.

5.1.2 La Clasificacin Decimal Universal de bolsillo

La Clasificacin Decimal Universal (CDU) es un modelo de clasificacin del conocimiento muy
verstil, que se adecua a una amplia variedad de situaciones y contextos. Posee una estructura
temtica amplia, lgica y clara, de naturaleza jerrquica y permite la expresin de un mismo tema o
materia con distintos niveles de especificidad. Su sistema de notacin sinttico permite la expresin
de ideas complejas con un alto grado de precisin, y su carcter expansivo, hace posible ajustar la
longitud de las rbricas simplificndolas o extendindolas de acuerdo a las distintas necesidades y
requerimientos.
Uno de sus usos ms habituales es su capacidad como sistema de ordenacin fsica de los
documentos en las estanteras de las bibliotecas. La CDU puede organizar distintos tipos de
materiales colecciones de monedas, minerales, insectos, restos arqueolgicos, pinturas, grabados,

708
etc. y su versatilidad permite a las bibliotecas usarla para clasificar de forma temtica y cronolgica
sus colecciones bibliogrficas, mientras que las bibliotecas de centros musicales pueden vincular
documentos (audiovisuales, sonoros, textuales y grficos) con instrumentos de msica y otros
objetos. En los catlogos bibliogrficos, la CDU permite a los usuarios acceder a la coleccin travs de
materias y sub-materias navegando a travs del rbol de jerarquas y las relaciones entre
conceptos, as como la bsqueda a travs de notaciones o trminos truncados.
Su riqueza terminolgica y sus slidas relaciones semnticas hacen que, adems de ordenar
las colecciones fsicas, la CDU se use tambin para organizar y recuperar colecciones digitales; para
elaborar ndices y construir tesauros, as como para facilitar el intercambio internacional de
informacin bibliogrfica, pues facilita la traslacin de conceptos entre diferentes idiomas o
sistemas de clasificacin.
La CDU de bolsillo goza de un uso muy extendido en Espaa para la organizacin de
colecciones pequeas, como las de las bibliotecas escolares o los municipios pequeos, las
colecciones personales, las bibliotecas de hospital, las bibliotecas infantiles, etc. Para todas ellas son
adecuadas las ediciones CDU de bolsillo o la versin breve de la CDU accesible en lnea, pues el
tamao de los acervos no requiere clasificaciones muy detalladas ni excesivamente complejas.
La CDU de bolsillo incluye, adems de las tablas sistemticas auxiliares y principalesun
ndice alfabtico, una introduccin que explica la estructura de la obra y numerosos ejemplos
prcticos para facilitar su uso.

5.1.3 La Clasificacin por centros de inters

Las clasificaciones bibliotecarias tradicionales como la CDU estn vinculadas a una
concepcin del saber disciplinar, organizada en compartimentos independientes. En los ltimos
aos, las bibliotecas han ensayado modelos de organizacin ms interdisciplinares y transversales,
como la clasificacin por centros de inters, modificando los sistemas tradicionales en los que la
ordenacin fsica se vincula con la adscripcin disciplinar cannica (Agustn y Yubero, 2009).
La clasificacin por centros de inters tiene su precedente en las prcticas de algunos
bibliotecarios estadounidenses que, en los aos cuarenta y cincuenta del siglo pasado, comenzaron a
experimentar en las secciones de documentos dispuestos en libre acceso formas de organizacin
bibliogrficas temticas, alternativas a la clasificacin sistemtica de Dewey. Estas actividades
seguan el principio organizativo de orientarse segn los intereses del lector reader interest
arrangement.
En Europa, esta forma de organizacin documental permeabiliz en la Alemania de la
posguerra de los aos cincuenta y sesenta en la que la presencia militar y cultural norteamericana
era muy notoria a travs de la Amerika GedenkBibliothek ubicada en Berln, cuya influencia se
extendi en aos sucesivos a las bibliotecas de Mnste, Mlheim an der Ruhr y Gtersloh. Aos ms
tarde, tambin en Francia diferentes bibliotecas de Grenoble, Le Mans, Valencie, y en Paris, la
Biblioteca Pblica de Informacin, coincidan en la bsqueda de formas de organizacin de los
fondos bibliogrficos ms sencillas, cercanas y seductoras para los usuarios. En buena medida,
porque compartan parte de los mtodos didcticos del mdico y pedagogo belga Ovide Decroly,
acerca de la psicologa de la lectura y especialmente, acerca de los denominados por l centros de
inters.
En Espaa, este sistema de organizacin de fondos se introdujo a travs de la Fundacin
Bertelsman, en la biblioteca de Can Torr de Alcudia, que actu desde su inauguracin en el ao
1988, como eficaz divulgadora de las ventajas de este modelo organizativo. A la iniciativa se sum,
cinco aos ms tarde, la biblioteca Casa de las Conchas en Salamanca. Posteriormente el sistema se
ha extendido a la Biblioteca Pblica del Estado de Tarragona, a la biblioteca Pblica Municipal de
Sestao y a multitud de pequeas y medianas bibliotecas extendidas por toda la geografa espaola.

709
La clasificacin por centros de inters, tal y como la define R. Domnguez (2002) es una forma
de organizacin y presentacin de los fondos bibliogrficos utilizada en las secciones de libre acceso
de las bibliotecas como sistema alternativo a la disposicin tradicional basada en la clasificacin
sistemtica. Su objetivo fundamental es optimizar la accesibilidad a los fondos por parte de los
usuarios, creando una topografa documental ms intuitiva y cercana. Para alcanzarlo, se emplean
criterios de ordenacin prximos a las formas de pensar y plantear demandas que utilizan los
usuarios habituales de una biblioteca. Los centros de inters no se adaptan al esquema de
categorizacin de los sistemas cannicos de clasificacin bibliogrfica, sino que, de forma flexible
y verstil, se disponen adecundose a los gustos e inclinaciones mostrados por los usuarios de la
biblioteca. Se trata por tanto, de un mtodo de ordenacin temtico, pero no sistemtico ni
disciplinar al uso.

5.1.4 El Tesauro de la Educacin UNESCO-OIE

El Tesauro de la Educacin UNESCO-OIE (Oficina Internacional de Educacin) es una
importante herramienta de trabajo utilizada en numerosos centros de documentacin para la
indizacin de documentos que tratan sobre la educacin, las instituciones y programas
internacionales y los profesionales relacionadas con la docencia.
Sus descriptores proporcionan una terminologa especializada y estructurada para el anlisis
de datos relativos a la educacin a nivel internacional y se utilizan para la indizacin de materiales
en el catlogo electrnico IBEDOCS.
El Tesauro no debe ser considerado ni como un diccionario ni como un glosario, ni mucho
menos como un sistema para clasificar el contenido de una biblioteca, sino un instrumento para
indizar y recuperar el contenido de documentos relativos a la materia de su especialidad. Los
campos semnticos que lo integran, representan el primer nivel de clasificacin y proporcionan
siete vastos grupos de trminos que describen la educacin y el contexto en el que se desarrolla, y
un grupo que identifica esencialmente los nombres propios. Los campos semnticos se superponen,
se interpenetran y no pueden ser definidos o delimitados de manera estricta.
La edicin inicial data de los aos 70 y la ms reciente data del ao 2007 y est disponible en
lnea, nicamente en lengua inglesa, en la direccin web
http://www.ibe.unesco.org/es/servicios/documentos-en-linea/tesauro-de-la-educacion-unesco-
oie/sexta-edicion-2007.html.
Esta localizacin tambin proporciona acceso a:
a) Lista alfabtica de los descriptores e identificadores, disponible en
http://www.ibe.unesco.org/fileadmin/user_upload/Publications/IBE_Thesaurus/TH_
alpha_array_Oct07.pdf;
b) Lista por facetas de los descriptores e identificadores, disponible en
faceted_arrayOct07.pdf y
c) Lista de permutacin de trminos, Disponible en
permuted_listOct07.pdf.
La traduccin al castellano fue publicada por primera vez en 1977.

710
5.1.5 El Tesauro Europeo de la Educacin

El Tesauro Europeo de la Educacin (TEE) es el lenguaje de indizacin por excelencia de los
centros de documentacin y de los sistemas de informacin en materia de educacin de los
diferentes pases de Europa. Constituye el principal resultado de diecisiete aos de cooperacin
entre el Consejo de Europa y la Comisin de las Comunidades Europeas, iniciados en 1981.
Es un lenguaje multilinge, publicado en las once lenguas oficiales de la Unin Europea, del
que tambin se han elaborado versiones en albans, croata, checo, hngaro, polaco, esloveno y
turco.
Su carcter autnticamente multilinge le confiere gran parte de su valor, pues todos los
idiomas poseen un rango idntico: cada concepto presente se expresa mediante un descriptor en
cada idioma; las particularidades y la riqueza de los idiomas de la Unin Europea se tienen en cuenta
mediante notas de aplicacin y no-descriptores cuyo contenido y nmero vara segn el idioma de
que se trate.
Este planteamiento multilinge hace del tesauro un instrumento privilegiado de
comunicacin entre los especialistas en educacin de los diferentes pases para intercambiar
informaciones o enriquecer, de comn acuerdo, los bancos de datos pertenecientes a los sistemas de
documentacin nacionales o internacionales.
Ha resultado ser una herramienta muy adecuada para la indizacin de los fondos
bibliogrficos de bibliotecas como la Biblioteca di Documentazione Pedaggica de Florencia
(http://www.indire.it/risorse/banche/catalogobdp.htm); Redinet, red estatal de bases de datos de
informacin educativa, (http://www.mec.es/redinet2/html/ ); Bibliomec, Biblioteca del Ministerio
de Educacin (http://www.mec.es/cide/biblioteca/biblioteca.htm); para la indizacin de las bases
de datos de EURYDICE (la red de informacin de la UE sobre la educacin en Europa) y, en especial,
para su base de datos sobre los sistemas educativos de la Comunidad (EURYBASE
http://www.eurydice.org), as como para el ms reciente proyecto europeo PERINE
(http://www.dipf.de/perine/database/datab2.htm).
El Tesauro Europeo de la Educacin abarca las diversas materias y campos temticos que
integran el mbito interdisciplinario de la educacin: Principios y sistemas educativos; Polticas de la
enseanza; Establecimientos de enseanza, personal docente, alumnos; Edificios escolares y
materiales pedaggicos; Programas de enseanza y materias impartidas; Investigacin en materia de
educacin e informacin pedaggica; Psicologa de la educacin; Sociologa de la educacin;
Economa de la educacin y; Administracin pblica.
Su estructura terminolgica est integrada por:
a) Descriptores, son los trminos que se utilizan obligatoriamente para representar los
conceptos en la indizacin de los documentos y en la formulacin de las preguntas;
b) No-descriptores, son sinnimos o trminos que designan conceptos muy prximos a los
representados por los descriptores, a la vez que constituyen puntos de acceso en el tesauro. El
nmero de no-descriptores puede variar de un idioma a otro y aparecen siempre en letra
cursiva;
c) Notas de aplicacin, explican sucintamente el sentido en que se utiliza el descriptor cuando
ste es ambiguo. El nmero y el contenido de las notas de aplicacin pueden variar de un
idioma a otro;
d) Relaciones de equivalencia semntica entre descriptores y no-descriptores;
e) Relaciones de jerarqua entre descriptores;
f) Relaciones de asociacin de ideas entre descriptores y

711
g) Aparte de estas relaciones semnticas normalizadas, el tesauro contiene tambin:
relaciones de inclusin en un microtesauro y relaciones de equivalencia lingstica entre
descriptores que designan el mismo concepto en diferentes idiomas.
La versin en castellano contiene 3516 trminos; 2100 relaciones entre ellos y 520 trminos no
preferentes.

5.2. Herramientas usadas en Portugal

A travs de un estudio que se est llevando a cabo en Portugal sobre un universo de 406
bibliotecas escolares que han respondido a los cuestionarios sobre los lenguajes de indizacin
utilizados sabemos que en 370 centros se utiliza la CDU, en 3 la Clasificacin Dewey, en 81 la Lista de
Cabealhos de Assunto para Bibliotecas, en 42 se emplea una lista propia de trminos controlados
elaborados por la biblioteca escolar, en 12 el Tesauro Europeo de la Educacin y en 13, el Tesauro de
la Educacin de la UNESCO.

5.2.1 La C.D.U. (edicin portuguesa)

En Portugal hay un claro predominio en el uso de la CDU como sistema de clasificacin que
organiza los recursos de informacin en las diversas reas del conocimiento y que permite ordenar
con su propia estructura formal la disposicin fsica de los documentos en la biblioteca.
De hecho, segn Simes (2008, p 23) el uso de CDU implica, en la prctica, dos dimensiones:
1) la organizacin del conocimiento en unos catlogos de forma lgica y sistemtica, en los
que un cdigo numrico sirve como trmino de ordenacin jerrquico, facilitando el acceso a
los documentos y;
2) la organizacin fsica de los documentos en los estantes, reuniendo las obras que tratan un
mismo tema y creando condiciones que favorecen el acceso de los usuarios a las obras que
desconoce.
En la dcada de los 1990, Baird justific el uso de un sistema de clasificacin de la biblioteca
escolar en los trminos siguientes: classification is essential because it keeps information books on
the same subject together. This means students and teachers can find the information they want as
quickly as possible. Once they under stand the library classification system they will know where to
find the books they are looking for (Baird, 1994, p. 28).
Dado su carcter enciclopdico, la CDU se muestra capaz de abarcar todos los campos del
conocimiento, incluyendo en sus clases todas las reas de conocimiento escolar.
Adems, una de las ventajas de la CDU en las bibliotecas escolares consiste en permitir a los
estudiantes intuir la idea de la organizacin del conocimiento como un conjunto completo, que se
particulariza por reas disciplinares.
Por otro lado, al organizar intelectualmente el conocimiento en clases y categoras, se facilita
la ordenacin fsica de los recursos de informacin. La notacin de la clasificacin se incluye en el
tejuelo de cada documento, lo que permite designar de forma clara el lugar que ocupa en las baldas y
estanteras, permitiendo el libre acceso y consulta de la coleccin.
En la definicin de Faria y Perico (2008, p. 865-866) la notacin es un "sistema de smbolos,
por lo general letras y nmeros que, en un lenguaje documental de estructura jerrquica
(clasificacin) permite traducir dentro de un sistema categorial, los conceptos y las relaciones entre
ellos; cada lenguaje tiene sus propios signos de notacin: pueden ser letras, nmeros, nmeros y

712
signos de puntuacin que se combinan para formar ndices significativos del contenido de los
documentos".
Por estas caractersticas y funcionalidades, la CDU se presenta como una opcin adecuada
para resolver las necesidades de las bibliotecas escolares.
Sin embargo, dada la complejidad de su estructura concebida para ser utilizada por adultos, la
aplicacin de la CDU en centros educativos requiere una adaptacin a los niveles y grupos de edad
que conforman su pblico.
No obstante, a pesar de su uso generalizado, segn observan algunos autores (Arajo y Souza,
2012, p. 129) son casi inexistentes los estudios relativos a la aplicacin especfica de esta clasificacin
bibliogrfica a estas unidades de informacin.
El uso de colores para identificar las principales clases es una de las tcnicas ms comunes en
la adaptacin de la CDU en las bibliotecas escolares. El color se asocia no slo con la notacin de cada
clase, sino tambin la respectiva leyenda o inscripcin. Como han sealado Arajo y Souza (2012, p.
131-132), cada color tiene un significado simblico inherente al mismo y despierta efectos
sensoriales especficos que es necesario considerar. Sin embargo, cada biblioteca escolar es libre
para decidir cmo hacer coincidir el color con las clases y temas representados.
Segn algunos autores (Pinheiro, 2009), la combinacin de colores e imgenes o iconos
promueve la identificacin de los usuarios infantiles con los recursos de la biblioteca y su plan de
organizacin, lo que favorece el uso del servicio bibliotecarios. Los colores representan uno de los
primeros lenguajes que los nios perciben y saben usar y pueden ser un complemento til para
facilitar el conocimiento de la biblioteca escolar.

5.2.2. La Lista de Cabealhos de Assunto para Bibliotecas (LCAB)

La Lista de Encabezamientos de Materia para Bibliotecas (LCAB) (Blanc-Montmayeur, Danset,
1999) es el segundo lenguaje documental ms utilizado en las bibliotecas escolares portuguesas.
Se trata de un lenguaje de indizacin desarrollado originalmente en 1984 en lengua francesa y
traducido al portugus en 1999 a partir de la edicin de 1998.
Como lista de encabezamientos posee una estructura pre-coordinada, de estructura asociativa
o combinatoria, y se compone de listados alfabticos de palabras (encabezamientos y
subencabezamientos) capaces de representar los temas contenidos en los documentos que
conforman la coleccin (Faria y Perico, 2008. p 753).
La Lista de encabezamientos fue diseada para su uso en bibliotecas pblicas. Por ello muestra
una gran proximidad con el lenguaje natural y tiene una estructura abierta, adaptndose muy
satisfactoriamente a las caractersticas de los fondos documentales generalistas (tanto en lo relativo
a los temas y materias como a los soportes documentales).
Se trata de una lista con un nmero de entradas amplio, pero no exhaustivo, ya que es
discrecional para el indizador introducir nombres propios y algunos nombres comunes especficos
en el ndice.
En la introduccin de la Lista se recogen algunas pautas para la creacin de nuevos
encabezamientos y para su uso. Se analizan cuestiones generales relacionadas con la pertinencia, la
exactitud, la coherencia y la objetividad en la indizacin. Tambin se abordan cuestiones formales
relacionadas con la eleccin de encabezamientos en nmero singular o plural, en gnero masculino
o femenino, as como con el uso de las siglas y la forma de consignar los nombres propios. Tambin
se aborda el sistema de referencias cruzadas y relaciones de reenvo.

713
5.2.3. Thesaurus da Educaao UNESCO-OIE

Los lenguajes post-coordinados de estructura combinatoria parecen tener un uso bastante
reducido en las bibliotecas escolares portuguesas, segn la investigacin referida.
De hecho, los dos tesauros identificado como posibles opciones fueron seleccionados por un
nmero muy bajo de participantes en el estudio. Las dos opciones referidas son el Tesauro de la
Educacin y el Tesauro Europeo de la Educacin.
El Tesauro de la Educacin es una lista estructurada de trminos controlados para la
indexacin y bsqueda de documentos en las reas de Educacin, Cultura, Ciencias Naturales,
Ciencias Sociales y Humanas, Comunicacin e Informacin.
Fue creado a principios de 1970 por el Gabinete Internacional de Educacin de la UNESCO
(GIE).
La versin en portugus data de 1996 y consta de cuatro partes:
a) Ttulos generales de los campos semnticos y las facetas;
b) Lista alfabtica de los descriptores y los identificadores;
c) Lista facetada de los descriptores y los identificadores y
d) Lista permutada de los descriptores y los identificadores.
La edicin ms reciente de este tesauro data del ao 2007 y est disponible en lnea,
nicamente en lengua inglesa.

5.2.4. Thesauro Europeu da Educao

Este tesauro tiene edicin en lengua portuguesa desde 1991, procedente de una reformulacin
preexistente del Tesauro EUDISED.
Fue creado para facilitar la comunicacin entre los expertos en el campo de la educacin en
diferentes pases, debido a su carcter multilinge y tambin para facilitar el intercambio entre
sistemas de informacin con carcter internacional.
Aborda el campo interdisciplinario de la educacin en diferentes reas especficas relacionada
con su dominio.
Sus descriptores se agrupan en 42 microtesauros que configuran campos semnticos
especficos.

5.2.5 Herramientas de elaboracin propia

Para finalizar esta breve incursin en el panorama de los lenguajes documentales utilizados en
las bibliotecas escolares portugueses, es necesario hacer referencia a todas aquellas listas de
trminos controlados de creacin propia.
Como seal Malo (2009, p. 99), existe una importante gama de opciones cuando se trata de
herramientas para el procesamiento de la informacin en las bibliotecas escolares "sin embargo, la
mayora fueron construidas para contextos socio-culturales y educativos distintos del portugus y
aquellos que han sido traducidos no siempre respetan la especificidad de la lengua portuguesa,
resultando difcil adoptar trminos de estos instrumentos de indexacin".

714
La construccin de un instrumento de control terminolgico, en el entorno de la biblioteca
escolar o de la red de bibliotecas escolares, permite la creacin de un lenguaje documental adecuado
a la naturaleza multidisciplinar de este tipo de unidades de informacin, ayudando a la consistencia
de la indizacin y garantizando la recuperacin de informacin que resuelva las necesidades de los
usuarios.

5.3. Herramientas usadas en Brasil

5.3.1. Lista Sears
La gran importancia de esta Lista y su amplia difusin en los Estados Unidos se debe al hecho
de que resuelve bien las necesidades de las pequeas bibliotecas de Amrica, manteniendo al mismo
tiempo, posibilidades de expansin.
Ha sido importante su papel como herramienta bsica para el aprendizaje en las Escuelas de
Biblioteconoma de la aplicacin prctica de los encabezamientos de materia. En este sentido, es
destacable su estrecha relacin la Lista de encabezamientos de la Biblioteca del Congreso, siendo
esta una situacin que permanece a lo largo de las sucesivas ediciones. Sus nuevas ediciones cada
vez ms ampliadas, la han transformado en una herramienta valiosa no slo para pequeas
bibliotecas, sino tambin para las de tamao considerable.
A partir de la sexta edicin elimin de su ttulo la especificacin para bibliotecas pequeas.
Posteriormente ha sido traducida al espaol y portugus. Una adaptacin de la lista de Sears en
lengua portuguesa, escrita por Wanda Ferraz, fue publicada por el Instituto Nacional do Livro y ha
contribuido notablemente al desarrollo de las pequeas bibliotecas brasileas.

5.3.2. Library of Congress Subject Heading (LCSH)

La Lista de encabezamientos de materia de la Biblioteca del Congreso es una importantsima
herramienta de control de vocabulario y la ms completa lista de encabezamientos publicada. Se
trata de una lista enumerativa, que se actualiza y modifica mediante la publicacin de suplementos
mensuales, por lo que es necesario consultar cada entrada y sus subdivisiones para conocer la
idoneidad de la utilizacin de un encabezamiento concreto.
Sus reglas logran una amplia repercusin, por la influencia que ejercen las normas emanadas
desde la Biblioteca del Congreso en el resto de las bibliotecas americanas, y por extensin sobre el
resto de las bibliotecas del mundo.
En sus ltimas ediciones ha ido evolucionando en la lnea de los tesauros y los lenguajes
postcoordinados.

5.3.3. Lista de cabealhos de Assuntos BIBLIODATA

Se trata de una lista publicada en CD-ROM, como una Base de Autoridades de Materia,
fundamentada en la LCSH que recoge los encabezamientos que se usan en las bibliotecas brasileas
que participan en la red.
Mantiene la estructura de un lenguaje precoordinado y respeta las caractersticas de la lengua
portuguesa (Fundao Getlio Vargas, 1995, p. 11-12).

715
5.3.4. Terminologia de assuntos de la Biblioteca Nacional de Brasil

La Biblioteca Nacional de Brasil que coordina un consorcio formado por bibliotecas pblicas,
universitarias y gubernamentales ofrece en lnea la Terminologa de materias, como lenguaje de
indizacin actualizado por un equipo de bibliotecarios que trabajan con los registros de la LCSH en
portugus y en ingls.
En la actualidad, estos encabezamientos de materia son ampliamente utilizados por muchas
bibliotecas que tienen catlogos manuales y automatizados y en especial para aquellas que disponen
de catlogos en lnea.
En la recuperacin de informacin, la precoordinacin caracterstica de los encabezamientos
de materia ofrece especificidad y precisin, sin embargo, el usuario no puede visualizar el lenguaje
con el que tiene que desarrollar su estrategia de bsqueda.
En la indizacin temtica, a pesar del aspecto prescriptivo y enumerativo, la traduccin de los
trminos identificados con la lista de encabezamientos de materia, puede tener exhaustividad y
especificidad.

A modo de conclusiones

Las bibliotecas escolares son consideradas como centros activos de recursos informativos y
documentales al servicio del aprendizaje, con una fuerte implicacin estratgica en los procesos
pedaggicos desarrollados en el centro, en cuya configuracin intervienen planteamientos tanto
biblioteconmicos, como educativos y sociolgicos.
Plenamente integradas en los proyectos educativos y curriculares de los centros, desempean
un papel esencial en la educacin, pues albergan una gran variedad de recursos de informacin con
los que dar respuesta a las necesidades que plantean sus usuarios.
Pero slo si la informacin de que disponen est convenientemente tratada y organizada,
pueden cumplir las funciones que les son propias y proporcionar los servicios requeridos.
Para ello, es necesario que los bibliotecarios conozcan las caractersticas del fondo
documental y las fuentes disponibles; las tcnicas y herramientas adecuadas para procesar y tratar
el fondo bibliogrfico as como los mtodos de recuperacin de la informacin, pues no existen
frmulas mgicas que consigan organizar los recursos y resolver las demandas, sin esfuerzo y
trabajo profesional.
Los laboriosos procesos de tratamiento documental requieren el empleo de herramientas
especficas, adaptadas a las caractersticas de los usuarios de las bibliotecas escolares, que hacen
posible la representacin y la recuperacin de los documentos que conforma sus fondos
bibliogrficos.
El estudio detallado y el conocimiento de las herramientas que permiten organizar la
informacin en las bibliotecas escolares, facilita el aprovechamiento de los recursos y contribuye a
mejorar la calidad de los servicios que prestan.
En las tres realidades nacionales estudiadas espaola, portuguesa y brasilea se comprueba
el uso de lenguajes documentales de carcter general para indizar y clasificar los contenidos de las
bibliotecas escolares.
Esto es particularmente claro en Brasil y Portugal, donde no existen lenguajes documentales
adaptados o creados especficamente para bibliotecas escolares. En el caso espaol, la existencia de
la Lista de Encabezamientos de Materia para libros infantiles y juveniles, creada de forma especfica

716
para organizar una coleccin dirigida a nios y jvenes, permite el uso de un vocabulario adaptado
al grupo de edad en cuestin.
Por ello, considerando la necesidad creciente de que las bibliotecas escolares intensifiquen su
trabajo en red dado que las colecciones comparten caractersticas comunes y categoras similares
de pblicos y usuarios sera recomendable aunar esfuerzos en la lnea de elaborar y mejorar
lenguajes documentales comunes.
Esta tendencia a la normalizacin tambin deber tener en cuenta las especificidades de cada
biblioteca escolar y su contexto especfico. Para ello, el empleo de la clasificacin por centros de
inters puede considerarse una opcin interesante.
Sin duda, ser a travs de la reflexin y el trabajo compartido entre bibliotecarios, profesores
y el conjunto de los actores de la comunidad educativa; dentro de espacios interdisciplinares en el
mbito de las Ciencias de la Informacin, la Documentacin y la Educacin, donde puedan
desarrollarse estos avances necesarios.

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718
REVISITANDO O MAPEAMENTO DE COMPETNCIAS
O caso das instituies acadmicas

MARISA PEREIRA ALDEIAS
Universidade do Porto - Faculdade de Engenharia
[email protected]

ANTNIO LUCAS SOARES
Universidade do Porto - Faculdade de Engenharia / Instituto de Engenharia de Sistemas e
Computadores do Porto
[email protected]

Resumo Esta comunicao descreve o desenvolvimento de um modelo conceptual e processo de mapeamento
de competncias numa instituio acadmica na rea das engenharias. Pretendeu-se melhorar a preciso e a
abrangncia nas respostas procura dos ativos intelectuais pelos interessados internos e, sobretudo, externos
organizao, bem como estudar novas tcnicas de mapeamento. Por isso, o modelo conceptual desenvolvido
integra tcnicas de tagging e classificao hierrquica de domnios do saber na organizao e classificao da
informao sobre competncias.
No universo das instituies universitrias, onde a informao relativa a docentes e investigadores est
organizada por reas cientficas, comum que haja dificuldade em encontrar profissionais com
conhecimentos especficos e especializados numa determinada rea do saber ou tecnologia de ponta, pelo que
muitas vezes a perceo das competncias acaba por ficar concentrada nos colaboradores com mais
visibilidade, que normalmente se destacam pela reputao acadmica ou pela experincia acumulada.
Consequentemente, a instituio tende a no aproveitar todo o potencial dos seus ativos intelectuais.
Sendo assim, propomos uma soluo apoiada no mapeamento de competncias, na medida em que fornece
uma viso geral das competncias profissionais especficas e dos nveis de proficincia de docentes e
investigadores. Este instrumento, alm de inverter a situao acima descrita, permite identificar e ter acesso a
competncias dos respetivos colaboradores e, indiretamente, ao seu conhecimento especializado. Ora, ao
propiciar o aumento da abrangncia nas respostas solicitao de profissionais detentores de conhecimentos
especficos de uma rea do saber, o processo em estudo facilita a localizao das equipas mais eficientes,
auxilia o processo de procura de ativos intelectuais, cria oportunidades de valorizao dos recursos endgenos
e proporciona uma viso clara dos conhecimentos que emprega, quais so e onde esto.
O presente trabalho evidencia tambm a utilidade da classificao com tags, como complemento a
classificaes estruturadas, olhando para o efeito de relevncia e de critrios de ponderao da relevncia dos
termos para a criao de um ranking de profissionais mais habilitados para satisfazer uma necessidade.

Palavras-chave Mapeamento de competncias. Classificao. Folksonomia. Recuperao da informao.

Abstract This communication describes the development of a conceptual model and a competence mapping
process in an academic institution in the engineering field. It was intended to improve the accuracy and the
comprehensiveness to satisfy the demands for intellectual assets by internal stakeholders and, especially,
organization outsiders as well as studying new mapping techniques. Therefore, the conceptual model
developed integrates tagging techniques and hierarchical classification of knowledge domains in the
organization and classification of information about competence.
In the universe of higher institutions, where information concerning teachers and researchers is organized by
scientific areas, it is often difficult to find employees with specific knowledge and specialized in a particular
area of knowledge or technology, so that the perception of competence ends up concentrated in employees
with greater visibility, who usually stand out for academic reputation and cumulative experience.
Consequently, the institution tends to take not advantage of the full potential of their intellectual assets.
To provide the increased comprehensiveness in the response to the requests for specialists of a knowledge
domain, the process under study facilitates the location of the more efficient teams and helps the intellectual
assets search process, creates opportunities for enhancement of endogenous resources and provides a clear
view of the expertise that employs, which and where they are.

719
This study also demonstrates the classification usefulness with tags, as a supplement to structured ratings,
looking at the relevance effect and weighting criteria of the conceptss relevance to create a most qualified
professionals ranking to fulfill a need.

Keywords Competence mapping. Classification. Folksonomy. Information retrieval.

Introduo

No atual universo das instituies universitrias, detentoras de profissionais altamente
diferenciados, mais do que nunca essencial tomar conhecimento das competncias essenciais e das
especialidades dos seus recursos intelectuais estratgicos, dos indivduos ou grupos mais produtivos
e que mais contribuem para o seu prestgio e para o seu reconhecimento. Isto fundamenta a
necessidade de um instrumento que lhes permita identificar e ter acesso, de modo vantajoso, a
competncias dos colaboradores e, indiretamente, ao seu conhecimento especializado. Neste
contexto, o mapeamento de conhecimento e de competncias pode ser a soluo estratgica e
geradora de valor acrescentado, na medida em que fornece uma viso geral das competncias
profissionais especficas e dos nveis de proficincia de docentes e investigadores.
Autores como Hellstrm e Husted (2004) argumentam que, dada a complexidade do contexto
acadmico, o tipo de mapeamento em causa representa uma abordagem para a criao de uma
estrutura de abundncia de informaes potencialmente teis. Seguindo uma linha de
pensamento prxima, importa citar Neef (2005) que faz aluso organizao, por ordem de
importncia, da informao sobre indivduos e grupos de especialistas para garantir uma resposta
rpida face a uma necessidade de informao. No entanto, alguns autores asseguram, num artigo
mais recente, que, embora a relevncia deste processo seja indiscutvel, pouca ateno que lhe tem
sido concedida (Dang, Zhang, Hu, Brown, & Chen, 2011).
No sentido de delinear uma abordagem cientfica, aceitamos a tese de que o processo de
mapeamento de conhecimento corresponde a um processo de organizao e de classificao do
conhecimento (L. Liu, Li, & Lv, 2006). Desta feita, pretendemos descrever um modelo conceptual e
um processo de mapeamento de competncias para organizar as competncias tcnico-cientficas de
colaboradores de instituies de ensino superior. Com isto, afigura-se imperativo desenvolver e
adotar novas tcnicas para estruturar a informao sobre conhecimentos e competncias
individuais para, com rapidez, preciso e abrangncia, aceder futuramente s mesmas. Sendo assim,
demos enfoque a estudos cientficos desenvolvidos ao longo da ltima dcada, perodo em que se
assistiu, por um lado, ao surgimento dos primeiros contributos orientados para o mapeamento de
conhecimento e de competncias no contexto acadmico e, por outro, em que se situam as
perspetivas mais recentes que culminaram no reconhecimento do mapeamento de conhecimento,
designado tambm como mapeamento de informaes, como uma disciplina cientfica (Pino-Daz,
Evaristo, Ruz-Baos, & Balln-Moreno, 2012). Tambm documentmos o que est a ser feito no
campo tecnolgico e procedemos ao levantamento das demandas de stakeholders junto de pessoas-
chave na instituio sobre a qual nos debruaremos: a Faculdade de Engenharia da Universidade do
Porto (FEUP).

1 Reviso do conceito de mapeamento de competncias

1.1 Conhecimento, competncia, mapeamento

No senso comum, o conhecimento o que cada indivduo sabe; por outras palavras, ter
conhecimento saber algo. Mas afinal o que podemos entender por conhecimento no contexto
organizacional? No presente trabalho, procurmos abarcar as perspetivas mais recentes. Entre elas

720
encontra-se a de Gupta, Mehrotra e Singh (2012) que apresentam no seu artigo a diviso apresentada
por psiclogos cognitivos que classificam o conhecimento como descritivo, correspondendo ao
know-what (saber o qu), como procedimental, correspondendo ao know-how (saber como / saber
fazer), e como estratgico, correspondendo ao know-why e know-when (saber porqu e saber quando,
respetivamente). Martin Eppler e Remo Burkhard, cinco anos antes, tinham exposto uma
classificao semelhante, distinguindo seis tipos de conhecimento: os dois primeiros evidenciados
anteriormente, mais o conhecimento resultante da experincia (know-why) em substituio da
designao conhecimento estratgico atribuda pelos psiclogos cognitivos, o conhecimento
relacionado com pessoas (know-who), o conhecimento baseado na localizao (know-where) e o
conhecimento baseado em hipteses (know-what-if) (Eppler & Burkhard, 2007).
Para autores como Wexler (2011), o conhecimento informao em ao, criando valor para
uma organizao. Paralela a esta perspetiva encontra-se a do investigador brasileiro Jaime Robredo,
para quem o conhecimento mais do que informao. No seu livro, este autor recorre Quinta
tese do filsofo Popper para manifestar a sua posio quanto definio de conhecimento no
contexto da Cincia da Informao (CI), entendendo-o como a aplicao e o uso produtivo da
informao (Popper 1976 apud Robredo, 2003). Maria Jos Sousa faz aluso a uma pequena, mas
significativa, parte do conhecimento de um indivduo, que o conhecimento tcito. Segundo a
investigadora, este composto por duas dimenses: a cognitiva, definida como o conjunto de
modelos mentais que influenciam as aes e a tomada de deciso; e a tcnica (Sousa, 2009), sobre a
qual nos debruaremos, definida como o know-how aplicado numa situao especfica (Nonaka 1994
apud Sousa, 2009), acabando por fundir-se na noo de competncias.
No contexto especfico do mapeamento, entendemos que o conhecimento deve equivaler, por
um lado, ao saber terico adquirido nas escolas e nas universidades, ou seja, o saber o qu (Eppler &
Burkhard, 2007; P. Gupta et al., 2012), correspondendo aos conhecimentos tcnicos e especializados
certificados, definidos atravs de indicadores que podem ser retirados, por exemplo, das
habilitaes acadmicas do currculo dos indivduos (Matuichuk, 2007). tambm conhecimento
"teorizado", decorrente da aplicao do saber o qu, que se transforma em saber como e, em virtude de
estarmos a falar de acadmicos, se teoriza tornando-se saber o qu. No entanto, a palavra adquire na
prtica outro valor pelo uso indiferenciado, perpetuado pela literatura, das expresses mapeamento
de conhecimento e mapeamento de competncias.
Quanto a mapeamento, assinalamos desde j que se trata de um processo com objetivos bem
definidos numa organizao. Assim, aceitando a premissa de que knowledge mapping is the process
of creating a knowledge map (Ebener et al., 2006), entenda-se como mapeamento o ato de mapear,
ou seja, o modo de fazer um mapa, mtodo, sistema. Quanto a mapa, corresponde representao
grfica decorrente do mapeamento.
No que concerne ao sentido de competncia, optmos por caracterizar, em traos largos, as
interpretaes legtimas mais comuns. Importa ter presente que, luz do conhecimento emprico,
competncia diz respeito ao saber fazer algo. Considerado um conceito essencial para o alcance do
sucesso (Das & Mukherjee, 2012), podendo ser associado a pessoas e a equipas de trabalho (Brando
& Babry, 2005), luz do conhecimento cientfico tem havido uma variedade de interpretaes para
clarificar o sentido do termo. Hoje em dia amplamente reconhecido o acrnimo CHA (Amaral,
Garcia, Aliprandini, & De Faria, 2008; Fleury & Fleury, 2004; JR, 2007; G. Silva, 2010) como o primeiro
passo da sua descodificao, correspondendo ao conjunto de conhecimentos, habilidades e atitudes.
O conceito de competncia baseia-se portanto nestas trs dimenses. A primeira, j abordada
anteriormente neste estudo, a mais estudada pela cincia (JR, 2007) e corresponde ao
conhecimento terico e teorizado, ou seja, ao saber (Amaral et al., 2008). A segunda dimenso,
habilidades, diz respeito aos conhecimentos colocados em ao (Brigago, 2008), ou seja, ao saber fazer
(Amaral et al., 2008) aos conhecimentos e aptides obtidos atravs da experincia. A terceira,
classificada como o saber ser (Amaral et al., 2008), corresponde ao perfil comportamental (JR, 2007),
incluindo aspetos sociais e afetivos e fatores psquicos (Matuichuk, 2007). O mapeamento que
propomos no visa contemplar este ltimo atributo de competncia (Amorim & Amaral, 2011),
pela subjetividade acrescida que acarreta, embora seja difcil negar que prevalece, na sua
generalidade, dominante e privilegiado pelas organizaes, uma vez que o comportamento

721
percebido como um diferencial de sucesso. Importa anotar que para Sousa (2009), as competncias
podem ser decompostas em duas categorias: as competncias comportamentais, que no dependem
de fatores ligados a uma funo ou a um setor especfico; e as competncias tcnicas e funcionais,
designadas como skills por Ranade et al. (2011), que incluem fatores singulares de uma funo
profissional.
Como ficou exposto, h mltiplas tentativas de definio de competncia. Nesta
investigao concentramos a nossa ateno num saber alcanado pela prtica, ao que Matuichuk
(2007) chama de competncias tcnicas ou operacionais dos docentes e investigadores, isto , nos
conhecimentos tcnicos e nos saberes decorrentes da experincia e da prtica, ou seja, da utilizao
do conhecimento no dia-a-dia, ao que a epistemologia tradicional designa de conhecimento prtico
(Zins, 2006).
Ora anotemos que, visto o nosso trabalho estar concentrado no mapeamento do
conhecimento tcnico e tecnolgico e do conhecimento especializado no necessariamente
certificado, ou seja, das competncias, para evitar interpretaes equvocas salvaguardamos que os
investigadores citados que utilizam a expresso mapeamento do conhecimento, cuja terminologia
mantivemos, referem-se, na verdade, a mapeamento de competncias. Mas anotemos algo mais:
apesar de a diferena entre as expresses mapeamento de conhecimento e mapeamento de
competncias, sobre as quais nos debruaremos, acabar por no ser to evidente como, em nosso
entender, deveria, parece-nos mais adequado que a diferena na terminologia corresponda pois a
uma diferena na significao. Julgamos que, a rigor, uma no deve substituir a outra, porque s
vezes o conhecimento dos profissionais no est alinhado com as suas competncias. Pelo facto,
porm, de o significado de competncias englobar o significado de conhecimento, afigura-se-nos mais
incisiva a expresso mapeamento de competncias. No entanto, utilizaremos, pontualmente, a
expresso mapeamento de conhecimento e de competncias.
Em sntese, entendemos como competncias, no plural, o saber e o fazer integrados, ou seja, o
know-how ou saber como fazer algo (Eppler & Burkhard, 2007; P. Gupta et al., 2012; Matuichuk, 2007), o
que nos aproxima da viso de Bernardis e Maiolini (2013), que entendem que esse conceito is based
on a theory of performance.

1.2 Mapeamento de competncias no ensino superior

Na medida em que a definio de competncia assenta maioritariamente no conjunto
conhecimentos, habilidades e atitudes, o mapeamento do conhecimento afigura-se como parte
essencial do mapeamento de competncias (G. Silva, 2010). H que remeter para Liu e Li (2011) que
para se referirem s competncias dos indivduos empregam as expresses conhecimento tcito e
mapa de conhecimento especializado.
Subcampo emergente da CI (Dang et al., 2011), o mapeamento do conhecimento tem sido
promovido como uma soluo para integrar as componentes-chave de projetos e tecnologias
envolvidas nesses projetos e as organizaes (Yun, 2008), mais precisamente os seus ativos
intelectuais. Estes correspondem a profissionais mais capacitados, profissionais que fazem um
trabalho diferenciado, melhorando os processos, os produtos e os servios, gerando inovao.
Em ambiente acadmico, o mapeamento do conhecimento pode explicitar as reas em que as
pessoas se distinguem pelo que fazem, bem como a sua localizao, as reas de interesse e o que
representam para a organizao em termos de investigao e de ensino (Hellstrm & Husted, 2004).
Os mesmos autores afirmam que este tipo de mapeamento inclui vrios tipos de mapeamento de
competncias e garante uma base de dados ou um catlogo online. Desta forma, o mapa resultante
pode ser usado face a uma solicitao de um stakeholder orientada para um domnio do
conhecimento (Hellstrm & Husted, 2004).
Ciente da necessidade de ajustes e desenvolvimento de estratgias para responder
rapidamente s mudanas tecnolgicas e s demandas de stakeholders, Tripathi e Ranjan (2010)

722
focalizam a sua ateno no mapeamento de competncias do corpo docente com o intuito de
analisarem as lacunas evidentes para definir estratgias de aprendizagem, o que garantir s
instituies acadmicas um leque de competncias adequadas. possvel vislumbrar em
Watthananon e Mingkhwan (2012) uma vertente com a tnica no acesso e na recuperao da
informao. Eles postulam no s a associao de contedos similares atravs do mapeamento do
conhecimento, com recurso a mapas de conceitos, mas tambm a atribuio de medidas de
recuperao para cada pedao de informao, o que propicia a revelao e o acesso ao conhecimento
ou a informaes antes ocultas nas respetivas associaes (Watthananon & Mingkhwan, 2012).
Outros investigadores reconhecem a importncia do mapeamento do conhecimento para
identificar requisitos de conhecimento, rotas de acesso e de recuperao do conhecimento (atravs
de pessoas e de tecnologia), bem como as reas de conhecimento que so estratgicas ou crticas,
servindo de apoio para a tomada de deciso (P. Gupta et al., 2012). Importa ainda destacar que os
mesmos autores consideram tambm que este processo explora competncias pessoais e de grupo.
luz da proposta de Tripathi e Ranjan (2010) a metodologia assenta na anlise de tarefas, que envolve
a identificao e a compreenso do problema a ser resolvido; na aquisio de conhecimento, que
abarca a organizao e a representao do conhecimento de uma forma que garante uma replicao
exata do conhecimento e de uma situao de deciso, sendo possvel recorrer a entrevistas no
estruturadas; desenvolvimento de prottipos; expanso e refinamento, atravs da observao e de
entrevistas; verificao e validao com critrios como a preciso, eficcia, desempenho, facilidade
de uso, capacidade de adaptao, adequao, fiabilidade e credibilidade.
Constatmos que as tentativas para definir e limar os contornos do processo em questo
assumem o protagonismo. No entanto, as etapas a percorrer e a sua descrio so lacunares e no
existe qualquer referncia classificao a usar. Seja como for, o certo que podemos concluir que
as abordagens so ainda ambguas e manifestamente incompletas. No entanto, de uma forma geral,
os trabalhos de investigao revelam que os mapas de conhecimento propiciam o aumento da
eficincia da gesto do conhecimento (Watthananon e Mingkhwan 2012).
Os mais recentes trabalhos sobre o mapeamento de conhecimento e de competncias
permitiram esclarecer aspetos obscuros, mas importantes, da maneira como as instituies de
ensino superior tm abordado o tema. Mas antes de avanar, convm desfazer o equvoco que as
leituras realizadas permitiram observar quanto identificao da natureza do termo mapeamento
que por vezes confundido por alguns investigadores afetos ao tema com a natureza do termo mapa
(Lin & Hsueh, 2006), e vice-versa, ou seja, alguns estudos definem mapa como processo (Yun, 2008) e
mapeamento como tcnica ou ferramenta (Yun, 2008; Fisher, 2002). Utilizados por vezes
indistintamente (Fisher, 2002), carecem, porm, de distino.
De modo a extenuar o equvoco, fixemos a nossa ateno na elucidativa sntese de Gupta,
Mehrotra e Singh (2012), para quem o mapeamento do conhecimento um processo de
levantamento, de avaliao e de ligao de informaes, conhecimentos, competncias e
proficincias realizadas por indivduos e grupos dentro de uma organizao. Os mesmos autores
afirmam que este processo pode ser usado como uma ferramenta analtica no processo de tomada de
deciso e que tambm pode ser utilizado como uma tcnica de representao do conhecimento que
revela as relaes subjacentes das fontes de conhecimento.

1.3 Plataforma de TI para mapeamento de competncias

Muitas empresas multinacionais incluem h j bastante tempo mapas de conhecimento e de
competncias na sua gesto de conhecimento, iniciativas que devem ser encaradas como um
reconhecimento do valor daqueles mapas e da importncia do mapeamento.
Tomemos como exemplo a Microsoft, lder mundial em software para computao pessoal e
empresarial, e a IBM, responsvel pelo desenvolvimento e fabrico de TI. A primeira possui um mapa
do conhecimento orientado s pessoas (Mussi & Angeloni, 2000). A organizao optou por mapear o

723
CHA dos seus membros, no sentido de melhorar o alinhamento entre os funcionrios e os seus
cargos, assim como as equipas de trabalho. A segunda possui o sistema Skill Systems que localiza um
trabalhador com caractersticas especficas para realizar uma determinada tarefa. Os dados sobre
cada profissional so registados no sistema mediante metainformao, como a participao em
novos cursos, convenes e seminrios, o que anuncia a existncia de uma classificao facetada.
Alm disso, so utilizados questionrios de autoavaliao em relao s competncias
comportamentais. Note-se que esse sistema retrata as competncias existentes na empresa e revela
lacunas de formao, apontando para a necessidade de aprimoramento de certas aptides por parte
de funcionrios referenciados.
Consciente tambm de que o uso de uma ferramenta para mensurao e desenvolvimento de
aptides e capacidades dos colaboradores a posicionaria como lder de mercado, a Bosch
Termotecnologia SA, como est explanado em Sousa (2009), utiliza como ferramenta de gesto mapas
de competncias em cada seco da fbrica. Neste caso, existe uma matriz de competncias com as
qualificaes e as competncias que os funcionrios devem possuir. Entre os requisitos que
estiveram na base do mapeamento ressaltam as caractersticas do local de trabalho e do
equipamento utilizado.
Consideremos, ainda, a existncia de plataformas oferecidas no mercado de software (livre e
comercial). Note-se que as ferramentas orientadas para o tipo de mapeamento em causa so
consideradas uma das tecnologias que suportam as prticas de gesto do conhecimento (Neef, 2005),
mas o enfoque dos servios oferecidos por algumas organizaes reside no processo e no na
ferramenta, como o caso da empresa de consultoria HR Consulting
1
. Merece meno, por dar
enfoque recuperao da informao, o IntraFind Software AG
2
, que faz parte dos produtos da
empresa virtual IntraFind mas no de cdigo aberto (open source). Descrito como especialista em
recuperao de informaes a partir de dados estruturados e no estruturados de documentos de
empresas, disponibiliza um Mapa de Conhecimento, onde fornecida uma viso completa dos
dados disponveis numa empresa. Esse mapa gerado a partir de filtros, os quais podem ser
baseados em metainformao contida nas propriedades dos documentos, como por exemplo autor,
rea temtica, data de modificao e tipo de arquivo. No entanto, a metainformao pode ser ajustada,
quer pela empresa, quer pelo utilizador, mas no se efetua indexao manual. O processo prev
tambm a prospeo de texto. Verifica-se, assim, um reconhecimento automtico de nomes prprios
e de contextos especficos de uma empresa, nomeadamente produtos, marcas, servios, locais,
especialistas ou matrias-primas. Efetivamente, trata-se de uma classificao. Aps a identificao
dos conceitos e da descoberta dos seus atributos, os conceitos acabaram por ser combinados nas
categorias atrs anunciadas.
Focando-nos agora nas instituies de ensino superior, importa mencionar a este nvel, entre
muitas outras, a instituio acadmica privada de medicina Thomas Jefferson University, localizada
nos Estados Unidos. Dedicada excelncia no atendimento ao paciente, na sua segurana e na
qualidade da experincia em sade, dispe, no seu site3 do item de pesquisa Research Community,
que conduz interface de uma base de dados de interesses e feitos acadmicos do corpo docente
designada Faculty Interests Database, permitindo ligar e partilhar informao de profissionais da rea
com outras bases de dados da referida unidade universitria.
Percebe-se que a sua organizao resulta de um mapeamento do conhecimento especializado,
o que corroborado com o item Profiles: Faculty Research Knowlege Map
4
, disponibilizado ao pblico
em geral pela Jefferson Medical College, uma das faculdades pertencentes universidade supracitada.
No obstante a designao knowledge map, trata-se na verdade do resultado de um mapeamento do
conhecimento profissional na aceo da palavra competncias como a entendemos neste trabalho de
investigao, na medida em que o conhecimento mapeado corresponde aos conhecimentos tcnicos,
tecnolgicos e cientficos, bem como experincia e prtica. Efetivamente, trata-se de um servio

1
Cf. http://www.supporthr.com/english/mappaturacompetenze.php?iExpand2=108
2
Cf. http://www.intrafind.de/de/produkte/ifinder/wissenslandkarte
3
Site disponvel em http://www.jefferson.edu/
4
Cf. http://www.jefferson.edu/jmc/research/profiles.html

724
que tem por base um software designado Profiles Research Networking Software (Profiles RSN), que est
disponvel gratuitamente sob a licena OpenBSD
5
para as instituies, datando a verso mais recente
de 13 de maro do ano corrente. Fixemos desde j que possvel inferir que a classificao utilizada
assemelha-se classificao facetada. Constatamos, por exemplo, que os profissionais so agrupados
por algumas caractersticas que possuem, como palavras-chave comuns, pertena ao mesmo
departamento, relaes de coautoria, entre outras. Desta feita, qualquer propriedade ou atributo
pode ser usado para classificar os resultados da pesquisa.

2 Estado da arte: o sistema Profiles RNS

Parece-nos oportuno conhecer o estado da arte para, no que respeita em particular
organizao do conhecimento, construirmos em cima dos conceitos, modelos e tcnicas atuais uma
abordagem ao mapeamento de competncias na FEUP. Ora, o Profiles RNS uma ferramenta open
source que cria uma visualizao do perfil tcnico-cientfico dos profissionais de uma instituio
acadmica e ilustra como cada indivduo est ligado a outros nessa comunidade, o que aparenta ser o
mais prximo do que pretendemos com a nossa inteno de mapeamento. Teremos, pois, de analis-
lo de forma metdica.

2.1 Modelo de anlise

Para analisar o Profiles RNS optmos por desenvolver um modelo de anlise na perspetiva do
mapeamento de competncias. Assim, cabe observar a pgina do perfil profissional dos indivduos e
a metainformao associada para perceber quais os inputs que o sistema admite, qual a possibilidade
de atualizao de informaes de forma instantnea e como esto descritas as competncias. Neste
quadro, estabelecemos na figura 1 as linhas gerais da nossa proposta de mapeamento de
competncias e do nosso modelo conceptual.

Figura 1: Esboo do mapeamento de competncias tcnico-cientficas

Outro tpico de grande interesse a classificao. Alm de inferir como as competncias
foram mapeadas, interessa para a nossa investigao perceber como foram classificadas para serem
posteriormente recuperadas pela aplicao. O passo seguinte diz respeito independncia da
plataforma. Pretendemos investigar quais as fontes que alimentam o sistema e se isso se deve a uma
indexao manual ou automtica.

5
Cf http://www.openbsd.org/policy.html

725
Um outro ponto que ocupar a nossa ateno a representao do conhecimento. Cabe aqui
indagar se est assegurada a interoperabilidade com outros sistemas e se a aplicao tem uma base
ontolgica. Tenhamos presente a convico de Liu e Li (2011) de que, para a organizao do
conhecimento num campo de conhecimento, a relao entre os conceitos pode ser analisada pela
ontologia.
importante ainda verificar quais os outputs notveis. Por um lado, averiguaremos a
existncia de um ranking de especialistas e refletiremos sobre critrios de ponderao da relevncia
de termos de indexao para a recuperao da informao pretendida, isto , os especialistas que
mais se aproximam dos parmetros da pesquisa. Watthananon e Mingkhwan (2012), entre outros,
fazem aluso atribuio de um valor de associao apropriado para cada pedao de informao.
Por ltimo, indagaremos a propsito da representao visual.

2.2 Avaliao do sistema

Implantado pela primeira vez para ligar o corpo docente da Harvard Medical School, o Profiles
RNS foi adotado por diversas universidades e faculdades espalhadas pelos cinco continentes, o que
sinaliza, em nosso entender, o reconhecimento cientfico e tecnolgico do Profiles RNS. Vejamos, na
tabela 1, a informao que pode constar no perfil de um especialista numa instituio que utiliza o
software em anlise
6
.

PGINA DE PERFIL
Identificao
. Nome
. Ttulo acadmico
. Ttulo profissional
. Disciplina lecionada + rea cientfica correspondente
. Afiliao
. Morada da instituio
. Contactos na instituio
. Fotografia
Narrativa . Espcie de biografia
Qualificaes acadmicas e
especialidades
. Denominao + ano
Outros cargos ocupados
. Designao do cargo + Nome da instituio +
Departamento
Interesses de investigao
Prmios e homenagens . Data + denominao
Participao em projetos . Ano + Designao + Cdigo do projeto
Orientao ou tutoria de estudantes
. Ttulo + Data + rea cientfica + Breve descrio
. Informao acessvel aps login
Websites . Nome do Website com hiperligao
Palavras-chave atribudas pelo

6
Cf. http://connects.catalyst.harvard.edu/profiles/search

726
prprio
Pases onde ampliou experincia
Publicaes
. Apresentao da referncia bibliogrfica
. Recuperao automtica da base de dados PubMed
. Introduo manual
. Representao grfica do n. de publicaes por ano
Tabela 1: Informao disponibilizada pelo Profiles RNS na pgina de perfil de um especialista

Temos, pois, de contemplar duas situaes distintas. Um utilizador que pretenda utilizar a
plataforma poder faz-lo segundo um dos propsitos: ou navega nas pginas do sistema para
encontrar um especialista; ou, no caso de ter um perfil criado, ou seja, ser um colaborador da
instituio, acede ao seu perfil para atualiz-lo e melhor-lo. Neste caso ter de autenticar-se na
plataforma e, de seguida, ter a capacidade de modificar o seu perfil (adicionando por exemplo
publicaes, removendo informao incorreta) ou expandir a sua networking profissional,
adicionando novos contactos.
Voltemos pgina do perfil profissional antes aludida. Esta pe em evidncia cinco categorias
com hiperligaes, atinentes colaborao e networking profissional. Trata-se da visualizao do que
designado por redes profissionais passivas, ou seja, indexadas automaticamente segundo as
caractersticas dos profissionais. Atentemos por conseguinte que, tal como previam alguns tericos,
as competncias surgem inter-relacionadas (Stoof, Martens, & Merrinboer, 2006):
Keywords/Concepts/Related Concepts (lista de palavras-chave extradas automaticamente das
publicaes cientficas do autor); Co-Authors (lista dos autores que colaboraram em publicaes e que
tm um perfil criado no sistema); Similar People (apresenta os especialistas com conceitos/palavras-
chave comuns); Same Department (profissionais que pertencem ao mesmo departamento do que a
pessoa visada); Physical Neighbours (identificao de profissionais que, geograficamente, esto
prximos). Em suma, encontramos aqui espelhada a ligao entre indivduos pertencentes a uma
comunidade de investigao: relaes de coautoria de produo cientfica e palavras-chave
similares. Estas, em particular, ilustram simultaneamente quer a existncia de uma hierarquia de
pginas com ligaes cruzadas entre especialistas e reas especficas de conhecimento, quer a
anlise implcita das publicaes com dois propsitos: identificar palavras-chave/conceitos e
tendncias, assim como descobrir ligaes entre os profissionais. Por outro lado, a lista resultante de
uma pesquisa revela a presena de uma classificao por categorias com base nos atributos dos
conceitos.
As listas das palavras-chave ou conceitos so obtidas automaticamente a partir das
publicaes, enquanto as listas de pessoas so obtidas a partir de registos institucionais. A isto
podemos juntar o agrupamento e a listagem dessas palavras-chave de acordo com as suas categorias
semnticas, limitadas a um mximo de 10 por categoria, apresentadas por ordem decrescente de
relevncia.
Tenha-se agora em conta a interoperabilidade com sistemas externos. Sabe-se que o software
em anlise de base ontolgica. Por norma, o Profiles RNS apoia-se na ontologia VIVO, que
corresponde a uma aplicao em open source, baseada na Web semntica, que aloja informaes
sobre os cientistas e os seus interesses, atividades e realizaes acadmicas, a que acrescem as inter-
relaes. Por outras palavras, cria perfis profissionais. Para tal, baseia-se em informaes que podem
ser importadas de fontes externas autorizadas, como PubMed (base de dados de bibliografia
especializada em biomedicina), e fidedignas, tais como registos institucionais, repositrios locais e
bases de dados bibliogrficos (Krafft, Cappadona, & Caruso, 2010). Como complemento, veja-se a
entrada manual de dados. Outra caracterstica da ontologia VIVO reside na oferta de suporte
pesquisa facetada para a recuperao eficaz de informao sobre pessoas, organizaes, eventos e
informao relacionada com a pesquisa. Constata-se ainda o tesauro do campo da medicina e
cincias afins, suportado pelo software: Medical Subject Headings (MeSH) utilizado para indexar

727
artigos. Trata-se de uma lista de vocabulrio controlado da Biblioteca Nacional de Medicina dos
EUA
7
, composto por conjuntos de descritores que se encontram numa estrutura hierrquica,
dispostos por ordem alfabtica, permitindo a pesquisa em vrios nveis de especificidade.
semelhana do que se entende por classificao, o Profiles RNS tambm organiza listas de
palavras e de autores pelas suas caractersticas. Por um lado, rene uma lista de palavras-chave com
base em parmetros que exibiremos. Por outro lado, agrupa nomes de autores que ora colaboraram
na redao de artigos com um determinado profissional cujo perfil est a ser observado, resultando
uma listagem organizada por ordem alfabtica ou ordenada segundo o grau de importncia do cargo
na instituio, ora partilham conjuntos semelhantes de conceitos, mas sem que isso signifique,
porm, que tenham publicado artigos em coautoria, surgindo uma lista ordenada por ordem
decrescente de semelhana. Existe tambm uma ordenao por proximidade geogrfica e pela
pertena ao mesmo departamento (cf. tabela 2).

FACETAS RESULTADOS
Classificao
. Por relevncia
.Classificao
facetada

. Hiperligao

. Hierarquia de pginas
com ligaes cruzadas
entre especialistas e
reas de conhecimento
. Por grau de importncia do cargo
. Por ordem alfabtica
. Por data de publicao
. Por palavras-chave
. Por palavras-chave similares na produo
cientfica, obtidas automaticamente
. Por relaes de coautoria
. Por palavras-chave comuns entre especialistas
. Por pertena ao mesmo departamento
. Por proximidade geogrfica entre os
especialistas
. Por categorias semnticas
Tabela 2: Quadro-sntese da classificao adotada pelo software Profiles RNS

A lista de pessoas resultante de uma pesquisa revela a presena de uma classificao por
categorias com base nos atributos dos conceitos. Ora, a abordagem que mais se aproxima deste
esquema de classificao a classificao facetada.
Mas antes de avanarmos , pois, relevante retomar um tpico antes esboado: os critrios de
ponderao da relevncia dos termos. Quanto aos rankings de palavras e pessoas similares, resultam
de algoritmos baseados em fatores como o nmero total de publicaes de um autor numa rea de
conhecimento especfica em relao ao nmero total de profissionais que tm publicado na mesma
rea. Merecem tambm ser relatados os critrios de ponderao do significado de uma palavra-
chave para a recuperao de um profissional: a posio do especialista na lista de autores de uma
publicao, a importncia de uma palavra-chave como tpico de uma publicao, a data de
publicao, a ocorrncia da palavra na literatura e o impacto de uma publicao calculado pelo
nmero de citaes.
O Profiles RNS propicia tambm a visualizao de grficos reveladores de clusters que resultam
quer do nmero de publicaes de cada autor, quer do nmero de publicaes partilhadas, ou seja,
em coautoria. Outros grficos podem ser mencionados, designadamente network timelines,
grfico que mostra como as palavras-chave utilizadas por um especialista foram mudando ao longo
do tempo; grafos radiais, que apresentam vises de colaborao; e mapas geogrficos 3D.

7
Cf. http://www.nlm.nih.gov/class/terms_cond.html

728
3 Um modelo conceptual para o mapeamento de competncias tcnico-
cientficas

3.1 Classificao nas reas tcnico-cientficas

Entre as classificaes disponveis na Universidade do Porto (UP), h duas que merecem
destaque por serem as mais usadas no domnio cientfico. Uma designa-se Field of Science and
Technology (FOS) e consiste num padro internacional, para identificar com rigor reas cientficas
nas estruturas curriculares dos cursos ou no ciclo de estudos. Elaborada e publicada pela
Organizao para a Cooperao e Desenvolvimento Econmico (OCDE), aplica-se, por exemplo, para
classificar projetos de investigao e desenvolvimento (I&D) e para a atribuio de fundos. Entre os
agentes que a usam, destacamos o governo, os conselhos de administrao, universidades e
organizao internacionais (OCDE, 2007). A outra denomina-se Community Record & Development
Information Service (CORDIS). As designaes fundamentais desta classificao serviram de base
distribuio, por rea cientfica, das unidades curriculares de cursos que conferem grau acadmico.
Podemos ainda acrescentar que permite indicar as reas de oferta da Educao Contnua ao nvel da
unidade orgnica.
A nossa ateno dirige-se agora para o caso da FEUP, que organiza por reas cientficas
contedos como o plano de estudos e respetivas unidades curriculares, os projetos
8
, assim como a
informao relativa a docentes e investigadores. Pretendemos contribuir neste ponto para a
discusso em torno das classificaes, fazendo uma apreciao global s duas supracitadas. O
glossrio CORDIS classifica no s as reas de oferta da Educao Contnua ao nvel da unidade
orgnica, como tambm reas cientficas, onde se encaixam as reas de interesse. Esta classificao
distingue seis grandes reas: Health sciences (Cincias da sade), Humanities (Humanidades), Natural
sciences (Cincias naturais), Physical sciences (Cincias fsicas), Social sciences (Cincias sociais) e
Technological sciences (Cincias tecnolgicas). Partindo das reas gerais para as especficas, dentro de
cada rea geral, rea especfica e subrea especfica as designaes encontram-se organizadas por
ordem alfabtica e associadas a um cdigo facilitador da sua identificao.

reas e subreas Designao CORDIS Cdigo CORDIS
CINCIAS TECNOLGICAS TECHNOLOGICAL SCIENCES 06
Engenharia Engineering 06.02
Engenharia mecnica Mechanical engineering 06.02.18
Engenharia automvel Vehicle engineering 06.02.18.04
Tabela 3: Tabela exemplificativa da apresentao da classificao CORDIS
9

As reas cientficas aparecem em maisculas a negrito, as reas gerais aparecem a negrito, as
reas especficas a azul e as subreas especficas surgem a preto, somando quatro nveis de
classificao, num sistema de codificao at oito dgitos (cf. tabela 3). semelhana do glossrio
CORDIS, os campos de cincia e tecnologia do FOS esto divididos em seis classes: Natural sciences
(Cincias exatas e naturais), Engineering and technology (Engenharia e tecnologia), Medical and health
sciences (Cincias mdicas e da sade), Agricultural sciences (Cincias agrrias), Social sciences (Cincias

8
Cf. http://sigarra.up.pt/ant/feup/projectos_geral.listar_por_areas_cient
9
Fonte: (Universidade do Porto, 2006)

729
sociais) e Humanities (Humanidades), registadas a negrito e numeradas de 1 a 6. Como j dissemos,
esta a classificao usada para I&D, designadamente para o domnio cientfico de publicaes
cientficas e projetos de investigao. Consultando o glossrio, apercebemo-nos da presena das
reas cientficas a negrito e das reas gerais em itlico identificadas por uma numerao progressiva
(OCDE, 2007) que, por sua vez, contm marcas de lista seguidas da enumerao de reas especficas,
separadas por um ponto e vrgula, em detrimento de uma visualizao esquemtica. Se bem
atentarmos, ocorrem, entre parnteses e em itlico, referncias cruzadas para outras classes (cf.
figura 2), caracterstica inexistente na classificao CORDIS.
Estamos perante informaes que enriquecem a ligao de campos que esto intimamente
relacionados, mas que, no caso em anlise, no resolvem os problemas de recuperao da
informao pelo facto de o traado das fronteiras ser ainda impreciso e imperfeito.

Figura 2: Exemplo de referncias cruzadas na classificao FOS
10

Ressalta, pois, que por vezes os esquemas de classificao dividem colees de material
relacionado. No entanto, as referncias cruzadas podem superar parcialmente essa ameaa, na
medida em que representam uma tentativa para promover a interdisciplinaridade. Na verdade,
verifica-se que os termos esto relacionados entre si pela proximidade do significado,
correspondendo pois ao termo relacionado dos tesauros.
Feitas estas consideraes de ordem geral, vamos procurar dar uma vista do conjunto das
engenharias, onde as diferenas e os problemas so notrios. Vejamos, pois, como esto distribudas
pelas duas classificaes as reas de engenharia. Para tal, partiremos da observao dos conceitos
especficos para depois anotarmos a sua organizao em classes mais genricas.
Tomemos como exemplo a rea especfica Engenharia mdica, presente na classificao FOS.
Como podemos constatar na tabela 4, pertence rea geral Cincias da engenharia e tecnologias. No
entanto, possvel observar uma rea especfica relacionada com a anterior, mais precisamente
Biotecnologia mdica, que, contudo, no pertence mesma rea geral, como seria expectvel
primeira vista por conter tecnologia na sua designao, mas sim a Cincias mdicas e da sade.
Vejamos agora o que ocorre na classificao CORDIS com dois exemplos semelhantes. Se atentarmos
mais uma vez na tabela 4, apercebemo-nos da existncia da subrea especfica Biotecnologia, que
pertence rea especfica Tecnologia que, por sua vez, pende da rea geral Cincias tecnolgicas.
Convm reparar tambm, seguindo a mesma linha de raciocnio, que a rea especfica Cincias
biolgicas, cuja rea geral Cincias naturais, integra a subrea especfica Engenharia biolgica.

10
Fonte: (OCDE, 2007)

730
Classificao rea geral rea especfica Subrea especfica
FOS
Cincias da engenharia e
tecnologia
Engenharia mdica

Cincias mdicas e da sade
.
Biotecnologia
mdica
CORDIS
Cincias naturais Cincias biolgicas Engenharia biolgica
Cincias tecnolgicas
Tecnologia
Biotecnologia
Tecnologia mdica
Engenharia
Engenharia
biomdica
Tabela 4: Um olhar sobre as classificaes FOS e CORDIS

Ora, a lgica desta estranha subdiviso de classes contestvel. Rick Szostak associa as
classificaes arbitrrias aos temas interdisciplinares e reala a falta de sentido de algumas
classificaes de disciplinas que resulta, inevitavelmente, numa diviso ilgica (Szostak, 2004).
Importa sublinhar um aspeto fundamental aquando, por exemplo, da pesquisa de informao sobre
projetos
11
. Poder-se- constatar que possvel procurar projetos atravs de alguns campos, dos quais
salientamos dois: o Domnio cientfico e a rea cientfica, pelo facto de cada um apresentar como base
uma das classificaes em anlise, FOS e CORDIS respetivamente.
Discute-se, naturalmente, as razes que estiveram na base da adoo destas classificaes em
especial. Desde j convm anotar que Olga Pombo aponta como critrios determinantes os
caracteres dominantes, a previsibilidade, o reconhecimento e as relaes de dependncia (Pombo,
2003). Efetivamente, no caso em estudo trata-se de classificaes reconhecidas pela generalidade da
comunidade cientfica mundial e por organismos internacionais. Tem sido reconhecido que o
conhecimento sempre produzido a partir de pontos de vista especficos e tende a enfatizar certos
interesses em detrimento de outros interesses (Hjrland & Pedersen, 2005). Por ltimo, vale a pena
lembrar que uma classificao tem ramificaes polticas e sociais (Mai, 2011).
Recordemos que o SIGARRA utiliza as duas classificaes supracitadas para as reas cientficas,
o que se afigura redundante e contraproducente. Por outro lado, trata-se de classificaes
hierrquicas fechadas. O facto de se manterem inalteradas at serem revistas e atualizadas faz com
que alguns aspetos sejam anacrnicos. Prova disso a reviso realizada em 2007 classificao FOS,
cujo intento foi refletir as mudanas na cincia e tecnologia (C&T), em particular nas tecnologias
emergentes (OCDE, 2007), mantendo-se, porm, muito condensada face CORDIS. inegvel, pois, a
desadequao das classificaes face ao estado atual do conhecimento cientfico, o que implica que
tenham de ser revistas regulamente.
Ora, convm chamar a ateno para algo mais. s classificaes explanadas devemos juntar
outra, cujo enfoque j no so as estruturas conceptuais de domnios especficos, mas sim as
competncias. Entre as que existem, mencionaremos a DISCO - European Dictionary of Skills and
Competences
12
por se aproximar mais da definio de competncia que defendemos: a vertente
tcnico-cientfica. Trata-se de um vocabulrio controlado peer-reviewed (revisto pelos pares)
disponvel online, que oferece uma descrio de aptides e competncias baseada em padres
internacionais e em classificaes europeias e nacionais dos pases parceiros do projeto. Alm de ser
multilingue, compatvel com instrumentos europeus (como por exemplo o Europass ou a
classificao ESCO). Exibe uma estrutura em rvore com mltiplas subclasses e baseado numa
compreenso abrangente de aptides e competncias que incluem competncias profissionais,

11
Cf.http://www.viedenbratislava.sk/fsDownload/disco_presentation_isemantics_final_fullversion.pdf?forumid=464&dire
ctdownload=1&v=1&id=1416673
12
Cf. http://disco-tools.eu/disco2_portal/

731
embora tambm padres de comportamento, adquiridas de forma formal, no formal ou informal.
Temos, pois, acesso descrio das competncias tcnico-cientficas relacionadas, at ao momento,
com as seguintes reas de engenharia: computao; engenharia eltrica; arquitetura e construo;
proteo ambiental; transformao de metais e engenharia mecnica. H que ter presente que esta
ferramenta pode servir de apoio terminolgico.
Vale a pena observar que h outras possibilidades, com mais detalhe, para as engenharias.
Podemos comear por descrever uma classificao orientada somente para o campo da computao:
ACM Computing Classification System
13
. Revista em 2012, assemelha-se a uma ontologia contendo vrias
hierarquias, podendo ser utilizada em aplicaes da Web semntica. As categorias e os conceitos
refletem o estado da arte do domnio da computao e so recetivos a mudanas estruturais, uma
vez que no est associada uma numerao aos nveis da hierarquia da classificao. Outra
classificao disponvel a IEEE Taxonomy, criada pelo Institute of Electrical and Electronics
Engineers
14
, voltada pois para a engenharia eltrica e eletrnica. Apresenta uma estrutura em
rvore. Sob cada ramo, pende um mximo de trs nveis hierrquicos, assinalados por um
conjunto de pontos: quatro, oito e doze em ordem decrescente de hierarquia, cujos termos se
encontram organizados por ordem alfabtica. Os nveis mais elevados da IEEE surgem a negrito. Por
vezes ocorre a utilizao de um termo em mais de um ramo hierrquico, servindo pois como soluo
para o cruzamento de campos que estejam intimamente relacionados. Citemos tambm a CSA / ASCE
Civil Engineering Abstracts Classification Codes
15
, menos detalhada do que as anteriores, que fornece
indexao e respetiva notao de documentos de engenharia civil e dos seus campos
complementares, incluindo engenharia forense, gesto e comercializao de servios de engenharia,
educao, engenharia, mecnica terica e dinmicas e matemtica e computao.
No , porm, vivel que estas ou outras classificaes, no obstante a sua especificidade em
relao a um domnio do conhecimento, venham substituir as j existentes na FEUP. No entanto, h
uma forma frutuosa de aproveitar as ontologias atrs identificadas, que advm do facto de que
podem ser utilizadas como tesauros num software de vanguarda como o Profiles RNS. Importa, pois,
anotar a utilidade mas tambm a insuficincia do uso de vocabulrios controlados na medida em
que, como foi visto por White (2013) no seu verbete, no melhoram a preciso na recuperao de
informao. Cremos que talvez seja necessrio algo mais.
Detenhamo-nos um pouco nas limitaes envolvidas. Como ficou claro, a classificao
hierrquica uma das formas mais usuais de classificar disciplinas e reas cientficas, mas Gupta e
outros assinalam que influenciada pela subjetividade do catalogador, no tem flexibilidade para
agregar novos termos e no leva em conta as diferentes necessidades e pontos de vista do utilizador
(M. Gupta, Yin, Han, & Li, 2010).
Como alternativas e/ou complementos destacamos a social tagging e a classificao facetada. A
primeira, processo pouco estruturado que tem vindo a adquirir popularidade e importncia pela
utilidade inerente, consiste, em traos largos, na atribuio de uma etiqueta ou marca, a um objeto
ou a um documento para descrev-lo, organiz-lo e atribuir-lhe um significado (J. V. Silva, 2009). Na
realidade uma etiqueta um descritor, atribui um significado e serve para organizar o contedo em
termos da sua recuperao. A recuperao da informao (RI) por terceiros fica aparentemente
facilitada (M. Gupta et al., 2010) em virtude de o utilizador ter a liberdade de associar tags ao
contedo, organizando-o. O que interessa aqui sublinhar que sistemas baseados em tagging
permitem que o utilizador categorize informao disponvel na Web atravs de tags com a finalidade
de recuperar mais tarde esses contedos (Hassan-Montero & Herrero-Solana, 2006; L. Liu et al.,
2006).
No podemos esquecer, como observa Susan Herring, que uma outra abordagem para a
organizao da informao a classificao facetada, que teve origem na rea de Biblioteconomia e
CI (Herring, 2007). Podemos efetivamente reparar nos resultados a que chegaram alguns

13
Cf. http://www.acm.org/about/class/2012
14
Cf. http://www.ieee.org/documents/2013_taxonomy_v101.pdf
15
Cf. http://www.csa.com/factsheets/supplements/civilclass.php

732
investigadores, porquanto presumem que as pessoas preferem seguir hiperlinks baseados em
categorias, ao invs de hierarquias rgidas (Uddin & Janecek, 2007). Estes autores revelam apreo
possibilidade de cada categoria conter subcategorias dispostas numa hierarquia. A importncia disto
que, ao contrrio do que estabeleceu Ranganathan atravs das cinco facetas - personalidade,
matria, energia, espao e tempo (Uddin & Janecek, 2007), se chega a uma classificao baseada nos
atributos dos objetos que, como veremos, ser de fundamental interesse na recuperao da
informao.

3.2 Estratgia para a classificao

Reveste-se de interesse mencionar, como Uddin e Janecek (2007), que as estruturas de
classificao so teis tanto para a organizao de informao, como para a sua procura. Ora, no
mapeamento de competncias em organizaes acadmicas somos levados, pois, para o domnio da
classificao para fins de recuperao.
Observa Jack Mills que uma classificao a ao de reconhecimento e constituio de grupos
de classes e subclasses de objetos que espelham uma caracterstica ou um conjunto de caractersticas
particulares (Mills, 2004). No entanto, outras acees so comportadas. Alguns autores consideram-
na um processo de agrupar elementos que possuem propriedades semelhantes ou caractersticas em
comum que, por sua vez, os distinguem de outros elementos (Hjrland & Pedersen, 2005; Jones,
2005).
Importa ter em conta que os sistemas de classificao agrupam unidades menores noutras
sucessivamente maiores. No pode passar despercebida a afirmao de Brner et al., de que em sua
opinio era altamente desejvel ter um sistema comum de classificao (Brner et al., 2012), o que
engrandeceria o mapa da cincia resultante. Os mesmos investigadores elencam no seu artigo
algumas caractersticas desejveis para a criao desses mapas. Entre elas apartmos a seleo de
um layout de leitura fcil, com grupos distintos e nomenclaturas significativas; a facilidade de
atualizao, quer do mapa da cincia, quer do sistema de classificao, de forma a acompanhar a
evoluo da cincia; e o alinhamento da estrutura do mapa com classificaes vulgarmente usadas,
arrolando por exemplo as classificaes utilizadas pela Thomson Reuters Databases, pela Elseviers
Scopus, ou pela Biblioteca do Congresso.
J para Hjrland e Pedersen (2005), qualquer classificao deve partir dos atributos dos
objetos que representa, viso perfilhada por Dang et al. (2011) e por Watthananon e Mingkhwan
(2012). Estes consideram que as associaes de contedo semelhante, percetveis atravs do mapa de
conhecimento, propiciam a gesto do conhecimento numa organizao (Watthananon &
Mingkhwan, 2012).
Cabe aqui colocar um pequeno apontamento que envolve o mapeamento do conhecimento
cientfico de uma determinada rea. Este processo pode dever-se a uma classificao facetada e
proporcionar a descoberta de ligaes e de semelhanas entre diferentes campos do conhecimento,
assim como facilitar a recuperao da informao (Speziali 1973 apud Lima, 2004).

3.3 Recuperao da informao de competncias

Comecemos por anotar que o sistema de informao acadmico da UP, o SIGARRA - Sistema de
Informao para a Gesto Agregada dos Recursos e dos Registos Acadmicos, onde esto registados
processos que envolvem docentes e investigadores, entre outros membros da instituio
universitria, utilizado por todas as unidades orgnicas e facilita o acesso informao relevante
de carter tcnico, cientfico, administrativo ou pedaggico. Parece-nos oportuno sublinhar que o
SIGARRA d-nos oportunidade de navegar pelas reas cientficas, mas o que efetivamente
pretendemos chegar s competncias de docentes e de investigadores. Debrucemo-nos pois sobre a

733
recuperao de pessoas especialistas num determinado ramo da engenharia a partir de uma
pesquisa exploratria pelo SIGARRA da FEUP. Faamos uma pesquisa pela classificao cientfica
utilizada, que neste caso a CORDIS, como possvel constatar pela rea de Interesse. Vejamos, a
ttulo de exemplo, o que encontramos ao percorrer 4 cenrios, comeando pela identificao de uma
rea cientfica e terminando numa subrea especfica:

1. Cincias Tecnolgicas
2. Cincias Tecnolgicas > Engenharia
3. Cincias Tecnolgicas > Engenharia > Engenharia Civil
4. Cincias Tecnolgicas > Engenharia > Engenharia Civil > Geotecnia

No transcrevemos, porm, os nomes verdadeiros das pessoas recuperadas pelo sistema,
substitumo-los por cdigos alfanumricos. Assim, aos elementos masculinos atribumos a sigla EM
(Especialista Masculino), seguida de um nmero correspondente a cada um dos visados. No caso dos
elementos femininos, convencionmos a sigla EF (Especialista Feminina), a que se segue tambm um
nmero. Importa sublinhar que a numerao mantm-se acoplada a cada elemento.

Cenrio RI Ordenao Resultado
1
EM1
EF1
EM2
Ordem
alfabtica
Lista com 3 profissionais recuperados.
2
EM1
EM2
Lista com 2 profissionais que constam da lista do cenrio
anterior.
3
EM1
EM2
4
EM3
EM1
Lista com 2 profissionais recuperados. Somente um deles,
o segundo, surge na lista dos cenrios anteriores.

Tabela 5: Recuperao de colaboradores no SIGARRA da FEUP (conferido em 10 de maio de 2013

Como os resultados obtidos no tm uma extenso excessiva, proporciona evidncias
interessantes e relevantes. Em primeiro lugar, verificamos que o resultado apresenta uma lista de
nomes apresentados por ordem alfabtica. Ora, o utilizador, na verdade, fica sem saber qual o
elemento mais experiente, mais capaz e mais indicado para satisfazer as necessidades de
informao. Cremos que uma apresentao dos resultados por relevncia, assente evidentemente
em determinados critrios, seria mais eficaz e mais eficiente. Em segundo lugar, seria de esperar que
o cenrio 1, sendo mais genrico, apresentasse a listagem de todos os indivduos recuperados nos
nveis mais especficos, mas, ao contrrio do previsto, tal no se confirma.
Curiosamente, constatamos que com o cenrio 4 obtivemos a recuperao de dois docentes ou
investigadores da FEUP, um dos quais no tem representatividade nos cenrios anteriores, o que
significa que no seria recuperado noutros nveis, o que no ocorre com o outro elemento que surge
na mesma lista. Torna-se, portanto, conveniente apurar porqu. Observemos a informao que
consta na pgina de perfil de ambos, disponibilizada pelo sistema.

734

Cenrio RI Pgina de perfil
4
EM3

EM1

Tabela 6: Informao atinente pgina de perfil (conferido em 10 de maio de 2013)

Dificilmente poderamos permanecer indiferentes perante o facto de acedermos s pessoas
pela classificao das reas de interesse. Este exemplo ilustra bem que cada profissional da FEUP
introduz de forma geral ou de forma pormenorizada as suas reas de interesse, as quais ficam
associadas a si. No primeiro caso, o especialista em Geotecnia optou por selecionar esta subrea
especfica, no selecionando qualquer outra classificao mais geral, o que condicionou a
recuperao das suas competncias, enquanto no segundo caso o especialista na mesma rea
colocou quatro entradas para as reas de interesse, correspondentes a: rea cientfica, rea geral,
rea especfica, subrea especfica, otimizando assim a recuperao eficiente aquando da solicitao
de competncias em qualquer um desses nveis.
Desenha-se aqui uma questo que devemos ter presente: possvel localizar as competncias
tcnico-cientficas de profissionais especialistas a partir desta classificao cientfica? A pesquisa
exploratria anterior exibiu que a classificao adotada no permite uma recuperao eficaz e
impede a navegao pelas competncias. Por outro lado, em termos gerais, fatores como a ausncia
de detalhe para a especificao de assuntos determinam a ineficincia dos sistemas de classificao
convencionais na localizao de docentes e investigadores com competncias especficas no domnio
da engenharia.
H trs aspetos, de certa forma independentes, que causam a pouca eficcia da recuperao da
informao sobre as competncias dos acadmicos da FEUP:

1. A "significance" ou "literary warrant" (Vickery, 2008) que caracteriza a utilidade da
classificao como instrumento de recuperao da informao. So pois enfatizadas
caractersticas consideradas, pelo utilizador, significativas para a classificao, s quais
atribuda uma importncia relativa.
2. A "usabilidade" da classificao, tanto na descrio das competncias como na sua
pesquisa. Em particular a primeira muito relevante porque os utilizadores, de uma
forma geral, optam por uma classificao que abrange o campo do saber aparente e
tambm assuntos afetos ao mesmo (Vickery, 2008).
3. A plataforma que implementa a classificao. Afiguram-se, pois, convenientes
funcionalidades de inferncia lgica.

Nos cenrios aqui apresentados, o ponto 2 peca por uma usabilidade muito pobre. Quando o
utilizador define uma categoria especifica, no deveria ter que descrever explicitamente as
categorias mais genricas. Isso deveria ser feito automaticamente pela plataforma.

735
4 Proposta de implementao do mapeamento de competncias no
SIGARRA/FEUP

Chegados a este momento, convir desvendar o que ocorre na FEUP aquando da procura de
profissionais com conhecimentos especficos e especializados, pelos interessados internos e,
sobretudo, externos instituio. Aps uma entrevista exploratria com dois responsveis da
organizao de ensino em observao, tommos conhecimento de que no existe nenhuma
funcionalidade no SIGARRA que permita a pesquisa de competncias entre os indivduos e
funcionrios da FEUP.
A nvel interno a questo parece no ser crtica na medida em que os profissionais vo-se
conhecendo, porque coabitam na organizao. Efetivamente, ocorre a nvel organizacional a
delegao de tarefas a pessoas de confiana. Contudo, a confiana fundamentalmente baseada na
competncia. Cremos, no entanto, que isto no chega, pois as competncias so percecionadas num
nmero reduzido de investigadores. Por outro lado, os interesses podem mudar com o tempo (Zhu &
Wang, 2009). Afigura-se pois legtimo trazer para aqui os fundamentos de Mark Wexler. Evocando
que um mapa de competncias ajudaria a construir os alicerces sobre os quais a confiana pode
crescer, a identificar o capital intelectual, a incorporar indivduos novos e respetivas competncias,
percebeu que uma ferramenta dessas poderia servir a cultura de uma organizao, identificando,
por exemplo, indivduos com determinadas capacidades (Wexler, 2011). por isso nossa inteno
propor uma vertente de atuao.

4.1 Requisitos

Est amplamente difundido que a base de uma organizao inclui as capacidades dos
colaboradores, bem como o conhecimento das necessidades ou solicitaes dos clientes ou
stakeholders. Para a obteno e registo de informaes referentes s demandas dos stakeholders
externos, foi levada a cabo uma entrevista exploratria junto de uma pessoa-chave na instituio, da
qual resultou a revelao de oito cenrios apresentados patentes em baixo.

1. Solicitaes dos meios de comunicao social. Na base do contacto encontra-se a
necessidade de uma anlise experiente e perspicaz de docentes ou de investigadores
sobre os vrios fenmenos que a sociedade enfrenta atualmente.
2. Solicitaes a nvel empresarial. Trata-se, no fundamental, de organizaes externas que
procuram especialistas (grupos ou indivduos) para colaborao ou simplesmente
para resoluo de problemas (consultoria, por exemplo). Esta necessidade pode
materializar-se eventualmente num projeto. Entenda-se que o papel da FEUP consiste
em saber como poder ajudar uma determinada empresa a ultrapassar um problema
especfico. No entanto, torna-se de toda a pertinncia encontrar as competncias
necessrias, o que nem sempre fcil, porque muitas vezes o cliente externo no sabe
o problema que tem. Neste ponto o mapeamento de competncias afigura-se
auspicioso, pois ao criar conhecimento factual sobre associaes de sucesso atravs
de uma breve descrio, catalogando problemas por quem os resolveu, possibilita
descobrir a rea cientfica a que pertence e, por sua vez, descobrir colaboradores em
reas conexas que podero ser teis.
3. Pedidos de formao contnua medida. Embora neste caso o Curriculum Vitae (CV) seja
um recurso legtimo, na verdade h um conjunto de dependncias que dificultam a
tomada de deciso. Entre elas, merecem destaque o limite de horas at ao qual um
docente poder dar formao fora do contexto interno, a disponibilidade temporal e
o grau de pertena instituio. Convm, portanto, ter em conta estas filtragens no
modelo de mapeamento de competncias a propor.

736
4. Atividades de consultoria.
5. Pedidos editoriais.
6. Pedidos de oradores (keynote speakers).
7. Recomendaes a nvel de empregabilidade. Por vezes uma empresa solicita uma
recomendao relativamente a um aluno. Tipicamente consultado o diretor do
curso, mas tambm poder ser o professor de uma rea.
8. Cooperao internacional. Habitualmente, quando a FEUP est a negociar um protocolo
com uma instituio externa, o fator preferencial para recomendar um colaborador
poder ser tcnico, poltico ou geogrfico.

A hierarquia profissional, o fator idade e o gnero so tambm fatores a ter em conta no tipo
de resposta a dar. Estas anotaes interessam-nos sobretudo pela influncia que podem exercer no
processo de mapeamento a propor para assegurar resultados mais eficazes. No se perca de vista que
um dos potenciais do mapeamento do conhecimento especializado o aumento do envolvimento
dos principais intervenientes no processo (Ebener et al., 2006).
Ora, a perceo das competncias acaba por ficar concentrada nos mesmos colaboradores,
pelo que as redes informais no so eficientes, resultam na falta de preciso e na falta de
abrangncia na procura de profissionais com determinados conhecimentos tcnico-cientficos.
Impe-se, assim, s instituies de ensino superior que possam intervir no sentido de serem mais
competitivas. Para tal, contribui ter uma ferramenta informtica capaz de apoiar a classificao de
competncias (Bernardis & Maiolini, 2013). por isso que neste quadro importa realar que a
classificao surge como resposta a um objetivo (Jones, 2005). Como se pode ler no mesmo verbete
de Jones (2005), o enfoque na teoria da classificao serve o propsito especfico de recuperar o
conhecimento especializado pertinente s solicitaes internas e externas.
Voltemos pois ao SIGARRA. Convm recordar que a recuperao de docentes e investigadores
com conhecimentos especficos e especializados baseada, no momento, nas opes que ele
acrescenta nas reas de interesse e que consistem basicamente numa classificao de alto nvel.
Cremos, porm, que importante prever uma classificao e uma recuperao automtica alm das
reas de interesse, baseadas em informao extrada do currculo profissional eletrnico, de
publicaes em bases de dados externas e de uma classificao por palavras-chave feita por pessoas
chave da instituio e pelo prprio especialista. Teremos tambm em vista critrios de ponderao
da relevncia de atributos e de termos.

4.2 Soluo proposta

A nossa proposta no descura as atuais potencialidades do SIGARRA. Como dissemos atrs,
CORDIS a classificao usada nas reas de interesse. No obstante tratar-se de uma classificao
muito vaga e que no se coaduna com uma classificao eficiente de competncias, poder
continuar, porm, a servir para recuperar informao sobre pessoas. No entanto, especificaremos
critrios de pesquisa para aumentar a preciso. Alm disso, importa realar que as classes de nvel
superior devem recuperar sempre as de nvel inferior, para evitar situaes como a que est
retratada na tabela 5.
Esta soluo proposta prefigura uma pesquisa por facetas. No momento, os critrios de
pesquisa baseiam-se apenas nas reas de interesse, enquanto segundo o nosso esquema basear-se-iam
tambm em Tags pessoais, em Tags de outros e Competncias (CV) (cf. figura 3). Este ltimo critrio
resultaria da organizao das competncias em grupos ou categorias (cf. tabela 7). No apareceriam,
pois, os dados do docente ou do investigador, mas sim a informao classificada. No podemos
esquecer, no entanto, a importncia em mapear reas do saber e competncias com diferentes graus

737
de detalhe, em indivduos e grupos. Esta, aliada eficcia e eficincia da comunicao do
conhecimento, uma caracterstica dos mapas de conhecimento (P. Gupta et al., 2012). O peso de
cada atributo seria atribudo por ordem de importncia.
Importa ainda assinalar que o ideal seria tambm a associao subrea especfica da
classificao supracitada atravs de palavras-chave comuns. Neste processo, tal como registaram
Uddin e Janecek (2007), cada uma das categorias esboadas independente e passvel de conter um
nmero indeterminado de subcategorias dispostas numa hierarquia. Podemos ainda averbar, como
os mesmos investigadores, que essa hierarquia pode ser usada para descrever, organizar ou
consultar a informao relativa a um ativo do conhecimento, para aceder ao mesmo, ou apenas
como sistema de navegao (Uddin & Janecek, 2007). Da a pertinncia de um esquema em rvore.
Convm portanto que a classificao seja flexvel e fcil de expandir. Adiantemos desde j que a cada
nvel seria atribudo um peso relativo. Da soma destes e de outros valores previstos resultaria a
ordenao por relevncia.
Facetas Nveis
Critrios de ponderao da
relevncia
Competncias
(CV)
Disciplinas
lecionadas
Unidades curriculares
Subrea especfica
Data
N. de unidades curriculares
lecionadas, pertencentes a uma
subrea especfica
Orientao de
trabalhos
acadmicos
Tema
rea cientfica
Breve descrio
Nmero de ocorrncias, no
documento, de palavras presentes
num vocabulrio controlado e numa
classificao muito detalhada da
mesma rea cientfica
Participao
ativa em
consrcios
(nacionais e
internacionais)
Tema
rea cientfica
Breve descrio
mesma rea cientfica
Participao em
conferncias
/Keynote speakers
Tema
rea cientfica
Breve descrio
mesma rea cientfica
Participao em
projetos
Tema
rea cientfica
Breve descrio
N. de ocorrncias, no documento do
projeto, de 5 palavras presentes
mesma rea cientfica
Pertena a
departamento
Departamento
. Seco
Pontuao relativa
Prmios /
Reconhecimento
Tema
rea cientfica
Breve descrio
N. de prmios num domnio do
saber
Publicaes
Domnio cientfico
Palavras-chave
N. de publicaes e n. de citaes
Servio de
consultoria
rea cientfica
Breve descrio
Pontuao relativa
Tabela 7: Competncias (CV)

738
semelhana do que verificmos no Profiles RNS, a ordenao resultante baseada em alguns
atributos dos objetos classificados (Hjrland & Pedersen, 2005). Segundo os mesmos autores, a
qualidade dessa classificao assenta no propsito que conduziu escolha dos critrios. Ora, no caso
em apreo assenta principalmente na resposta s necessidades prementes dos stakeholders externos
FEUP. Aceitando a formulao de que qualquer propriedade ou atributo pode ser usado para
classificar os resultados da pesquisa, a abordagem que mais se aproxima deste esquema de
classificao a classificao facetada. Como se v, fica facilitada a recuperao eficiente das
competncias, proporcionando pontos de acesso lgicos (Zins & Santos, 2011).
Com o objetivo de tornar mais eficiente a recuperao da informao, propomos
complementar a abordagem anterior com uma pesquisa de texto livre que contemple, alm do
exposto, que um indivduo associe ao contedo palavras-chave que considera relevantes para
descrev-lo e para recuper-lo (Kato & Silva, 2010). Estamos a referir-nos ao uso de tags, introduzidas
quer pelo profissional, quer por pessoas chave da instituio. Este processo conhecido por social
tagging (Hassan-Montero & Herrero-Solana, 2006) ou folksonomia. Diversos utilizadores atribuem
tags a um mesmo contedo, o que amplia, a priori, a possibilidade de recuperao do mesmo. O nosso
otimismo advm do facto de se tratar de um dos pontos que contribuem para a criao de um
ranking dentro do contexto acadmico. Ora, sendo o sistema de consulta pblica, natural que
docentes e investigadores cooperem para, consoante os parmetros das pesquisas, aparecerem nos
lugares cimeiros.
A rea do especialista estaria pois dividida em quatro critrios de pesquisa, mas s um seria
editvel por si: o das Tags pessoais. A escolha das tags poderia ser livre ou baseada em vocabulrios
controlados ou outras classificaes para engenharia, semelhana do que sugerimos para as Tags de
outros. Parte-se portanto da lngua natural dos indivduos, o que contribui, em conjunto com
outras classificaes, para uma recuperao eficiente dos contedos armazenados, fornecendo
pontos de acesso adequados. Como h o risco de as tags serem ambguas, o ideal que a folksonomia
esteja associada a outras formas de classificao. Ao nmero de palavras utilizadas e relacionadas
com uma rea do saber seria atribuda uma pontuao. Concordamos com Hassan-Montero e
Herrero-Solana (2006) quando afirmam que possvel encontrar uma relao semntica entre tags
pela relao de coocorrncias que pode ser mensurvel.
Em termos de recuperao da informao, portanto, esse processo afigura-se um
complemento aos mtodos tradicionais de indexao, como defendem Lykke, Hj e Madsen (2012).
No se trata da resoluo de todo o problema, mas cremos que usar tags como descritores de assunto
um passo importante para a ligao entre o senso comum e classificaes estruturadas, como a
CORDIS.

Figura 3: Esquema de classificao hbrido

739

Em sntese, propomos que seja possvel uma pesquisa em rvore e outra por texto livre. No
primeiro caso, h quatro cenrios que merecem apreo: pesquisa por reas de interesse, por Tags
pessoais, por Tags de outros e pelos atributos do CV condensados nas facetas em Competncias (CV).
Desta feita, na pesquisa pelas reas de interesse, seria possvel navegar por todos os nveis da
classificao CORDIS. Ao ser selecionado um nvel, iriam ser recuperados os indivduos que tivessem
agregados a si o(s) termo(s) presente(s) no respetivo nvel da classificao. Independentemente de
ser muito ou pouco refinada, se a seleo incidisse, por exemplo, em Engenharia Civil, os termos
Engenharia e Civil seriam procurados entre as competncias distribudas pelos quatro critrios de
pesquisa previstos. Se, porventura, a pesquisa se refletisse no critrio Competncias (CV), o utilizador
selecionaria a faceta que lhe parecesse mais adequada s suas necessidades e iria percorrendo os
nveis nela contidos. Neste caso, teriam um peso superior os termos recuperados das categorias
correspondentes e um peso inferior os termos que, embora iguais, se encontrassem distribudos
pelos outros critrios de pesquisa. A ordenao dever-se-ia ao conjunto da pontuao atribuda,
calculada atravs de algoritmos que teriam de ser criados, mas que no fazem parte da nossa
investigao. No entanto, faceta selecionada seria dada mais importncia por se presumir que o
utilizador pretende dar mais importncia ao que cada colaborador privilegiou no respetivo campo.
Na pesquisa por texto livre, o utilizador digitaria a sua necessidade de informao e aqui
temos dois aspetos a realar. Por um lado, aquando da digitao poderiam surgir hipteses de
competncias que garantiriam uma recuperao mais eficiente. Mas h outro aspeto que, do nosso
ponto de vista, relevante. Estamos a referir-nos aos critrios de ponderao da relevncia dos
termos: medida que fossem digitados termos no campo de pesquisa, a relevncia iria diminuindo,
logo seria atribudo um peso a cada posio dos termos, por ordem decrescente de importncia.
Antevemos, pois, uma melhoria significativa da pesquisa pela interface. Os termos presentes na rea
dos critrios de pesquisa facilitariam a sua recuperao e organizao num ranking de acordo com
uma pontuao. Quanto aos critrios de ponderao de relevncia, estes contemplam, entre outras
condies, as que esto expostas na tabela 7. A ordenao feita, portanto, pela relevncia que, por
sua vez, baseada na soma de todos os pontos.
Quanto a outputs, realamos a combinao de informaes j previstas na anlise do Profiles
RNS. Interessante tambm seria a panplia de representaes visuais. Isto faz sentido se tivermos
presente que as diferentes partes interessadas podem preferir diferentes representaes visuais da
informao relativa ao pessoal especializado (Brner et al., 2012).

Concluses e trabalho futuro

Neste trabalho constatmos que a instituio acadmica analisada tem informao sobre o
conhecimento especializado dos seus profissionais, mas no a ordena de forma estratgica. Ou seja,
tem a informao, mas no tem o conhecimento das competncias tcnico-cientficas, nem dos
grupos mais produtivos. Nestas circunstncias, afigura-se-nos que se reveste de grande importncia
recordar que o mapeamento de competncias propicia uma associao de itens de informao
(Ebener et al., 2006) a ponto de criar o que admitimos ser informao diferenciada, ao que alguns
tericos chamam conhecimento. E como o mapeamento provm em certa medida do exerccio de
classificao, por isso importante apostar na melhoria da classificao tendo em vista uma
recuperao da informao eficiente.
Como se disse, os stakeholders podem ter interesses diferentes ao utilizar o conhecimento ou a
informao armazenada (Zhu & Wang, 2009). Sugerimos pois um esquema de classificao hbrido
para organizar e facilitar a recuperao futura de conhecimentos especficos mapeados. Aceitamos,
pois, com Karen Jones, que um dos meios de avaliar a classificao assenta na recuperao da
informao (Jones, 2005).

740
A proposta de classificao para mapeamento de competncias aqui apresentada, tanto em
termos de conceitos como de processos, carece de uma validao pelos stakeholders. A opo mais
adequada, na nossa opinio, a utilizao de cenrios. Estes so compostos por maquetas de
interface juntamente com a descrio do contexto e atividades de uso. Possveis cenrios seriam a
recuperao de informao sobre indivduos com determinadas competncias e o processo de
descrio das competncias pelos investigadores. Outra possibilidade seria usar um prottipo, mas
esta opo revela-se bastante mais dispendiosa em termos de recursos.
Parece legtimo concluir que da implementao do mapeamento de competncias resultaria
uma infraestrutura intelectual para iniciativas de gesto do conhecimento, com base na
categorizao dinmica de pessoas e das suas competncias, bem como das comunidades a que
pertencem, facilitadora da recuperao do conhecimento (Ann 2003 apud Jafari & Akhavan, 2009).

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746
KNOWLEDGE ORGANIZATION AND ORGANIZATIONAL LEARNING
The case of project-based organizations

MARIA ALMEIDA
Universidade do Porto - Faculdade de Engenharia / Instituto de Engenharia e Sistemas e

[email protected]

ANTNIO LUCAS SOARES

Universidade do Porto - Faculdade de Engenharia / Instituto de Engenharia e Sistemas e

[email protected]

Resumo Os projetos constituem atividades sociais num contexto organizacional que produzem e consumem
informao de uma forma bastante intensa e so, por esse motivo, em organizaes orientadas a projetos,
locais ideais para a criao de conhecimento. Devido sua natureza temporria e pela falta de estruturas e
prticas de gesto de informao apropriadas e flexveis, quando uma equipa de projeto se dissolve, a
informao concebida acaba muito provavelmente dispersa, sem que ocorra a sua conveniente organizao,
documentao e disseminao. Tudo isto contribui para que a aprendizagem organizacional a partir de
projetos seja muito difcil, e que conhecimento relevante no seja convenientemente capitalizado pela
organizao. Os projetos so ainda, por norma, contextos multidisciplinares, o que pode constituir outra
barreira para uma gesto de informao eficaz (Ajmal, Takala, & Kekle, 2008). Consequentemente, um dos
maiores desafios das organizaes orientadas a projetos consiste na aprendizagem entre projetos, atravs de
uma gesto de informao eficaz (o que inclui os processos de organizao, armazenamento, recuperao e
distribuio), contribuindo para uma maior partilha de conhecimento entre projetos e para a reduo de
custos organizacionais relacionados com a duplicao de esforos para a resoluo de problemas similares
(Reich & Wee, 2006).
Este artigo procura contribuir para um melhor entendimento acerca da forma como a gesto da informao e
organizao do conhecimento permitem melhorar a aprendizagem organizacional em organizaes orientadas
a projetos. Para isso, levou-se a cabo um caso de estudo num instituto de investigao portugus, com o
principal objetivo de analisar os principais problemas de gesto de informao e organizao do conhecimento
em projetos e a sua influncia na partilha de conhecimento e na aprendizagem organizacional. Neste estudo
foi aplicada a abordagem de Investigao-Ao; deste modo, ao mesmo tempo que se procuravam solues
prticas para a gesto de projetos, promoveu-se uma interao com as equipas de projeto, que acabaram
fortemente envolvidas na investigao. O desenvolvimento de ciclos de ao e reflexo proporcionaram
concluses mais rpidas e sobretudo uma melhoria contnua das prticas de gesto de informao e de
sedimentao do conhecimento na organizao.
Pelo reduzido nmero de publicaes cientficas que relacionem a Gesto de Informao em projetos com a
aprendizagem organizacional, esta investigao representa um importante contributo para um
aprofundamento das necessidades informacionais dos atores de projetos e da relao entre a criao de
conhecimento em projetos e a aprendizagem organizacional que pode e deve resultar destes. Espera-se que os
resultados alcanados venham alavancar a investigao nestas temticas, de forma a ajudar as organizaes
orientadas a projetos a tirarem o maior partido do conhecimento gerado seio dos seus mais variados projetos.

Palavras-chave Organizao do Conhecimento. Aprendizagem Organizacional. Organizaes orientadas a
Projetos. Investigao-Ao.

Abstract Projects are social activities in an organizational context that intensively produce and consume
information. Therefore, potentially, projects in a project based organization (PBO) are very suitable for
creating knowledge. Because of their temporary nature and due to the lack of appropriate and flexible
information management structures and practices, when the project team dissolves information is likely to
disperse, without its convenient organization, documentation and dissemination. This makes organizational
learning from projects difficult and relevant knowledge is not conveniently capitalized by the organization.

747
Projects are also typically multidisciplinary contexts which can be a barrier to an effective information
management (Ajmal, Takala, & Kekle, 2008). Therefore, there is a major challenge for PBOs to learn between
projects through the effective management of information (including processes of organization, storage,
recovery and distribution), contribute for the sharing of knowledge across projects and consequently reducing
the organizational costs of duplicating efforts for solving similar problems (Reich & Wee, 2006).
In this paper we aim to contribute to a better understanding of how information management and knowledge
organization can improve organizational learning in PBO. For that purpose, an empirical case study was
perform in a Portuguese research institute aimed at uncovering the main information management and
knowledge organization issues in projects and its influence in knowledge sharing and organizational learning.
An action research approach was used; this way, while working on practical solutions for the project
management, we interacted closely with the project teams, involving them in the research. Cycles of action
and reflection were performed which provided fast conclusions and mostly the continuous improvement of
information management practices and for the sedimentation of knowledge in the organization.
This subject is highly relevant firstly because of the lack of scientific publications relating information
management in projects with organizational learning. It is an important input for a deeper understanding of
the informational needs of project actors and the relation between knowledge creation in projects and the
organizational learning that can and should be driven from projects. We expect that the findings will leverage
the research in these matters, in order to help project-based organizations to manage projects and the
information produced in them more efficiently and effectively.

Keywords Knowledge Organization. Organizational Learning. Project-Based Organizations. Action Research.

Introduction

The large amount of new digital technologies used organizations are a big challenge to the
knowledge organization and management today. ICT tools are responsible for the exchange of
information and knowledge as well as work execution in the organizations of all forms by
integrating information and documents or even more unstructured information. On the other hand,
organizations themselves are also evolving towards new ways of working and to more flexible
structures than they were a couple of decades ago. Project-based organizations (PBO) are an
example of such structures and a currently very popular organizational form that faces severe
problems related with the information overload (Karim & Hussein, 2008) and with the creation of
contents in a highly rapid pace, produced by a large and diversified amount of ICT tools. The biggest
problem in such dynamic contexts is that knowledge is created very fast and without the time to be
conveniently sedimented, in order to be reused for other people in the future and to be a contribute
for the organizational learning. As we will explained more detailed below, we consider that
Knowledge Organization (KO) can address to this major problem of PBO and help these new
organizational forms to better organize and transfer knowledge from projects to the company as a
whole, improving, of course, learning from projects. Following this drive, the main goal of this paper
is to provide a better understanding of how knowledge is organized and shared in the specific
contexts of Project-Based Organizations, and how KO can support learning within such dynamic
contexts.
Organizational learning problems in Project-based Organizations:
Project-based organizations (PBO) have received increasing attention in recent years as an
emerging organizational form (Thiry & Deguire, 2007) and projects are nowadays the most
important delivery vehicle for products and services in a global economy. Key characteristics of
projects are: the significant interdependence of different kinds of knowledge and skills, the
complexity and unpredictability of many tasks and problems, and the time-delimited nature of
project goals. (Ajmal et al., 2008). Projects are becoming more complex, requiring the integration of
diffuse partners who are often physically separated and from different cultural backgrounds, and
precision, timeliness and congruence of communicated meanings become increasingly important
and challenging. (Jackson & Klobas, 2008).
Project Management literature has pointed out lately the importance of coherently managing
knowledge (both codified knowledge, i.e. the information which is produced and stored in the

748
projects informational assets, or tacit knowledge which is socially constructed and shared) in order
to support the specific, fast and unique project needs. In fact, a project can be envisaged as a
difficult KO problem: teams of strangers from different disciplines and with different viewpoints
work together under time and budget constraints in a knowledge-intensive activity like producing a
new product, process, or service. By involving several participants from different fields, with their
own culture and ways of working, they can be conflicting with the other participants or project
culture (Ajmal et al., 2008). Specific domains of Information Science, as information management
and knowledge management were already envisaged as a crucial help to improve communications
among the project team and provide faster and better information in project contexts, for the
benefit of project managers and teams (Back & Moreau, 2001; Bresnen, Edelman, Newell,
Scarbrough, & Swan, 2003; Prencipe & Tell, 2001; Reich, 2007).
Furthermore, an important role of a PBO is to ensure effective knowledge sharing and
integration within and between projects to avoid the risk of reinventing the wheel and so repeating
the same mistakes (Pemsel & Wiewiora, 2013). Nevertheless, it appears that project-based
organizations face substantial obstacles to be overcome in capturing knowledge and in the re-
cycling of project-based learning that stem from the relatively self-contained, idiosyncratic and
finite nature of project tasks (Bresnen et al., 2003). Knowledge Organization seems to have here a
crucial role of supporting the information and knowledge management strategies for overcome this
barriers to knowledge sedimentation and dissemination, by improving information retrieval and
reuse. and allowing, therefore, a faster and better organizational learning. PM literature has not,
however, explored yet the importance of KO in the PBO processes of knowledge sharing and
dissemination (and consequently, what contribute can bring to the organizational learning). Our
aim is, therefore, to address this specific gap in the related literature, in order to come up with
meaningful outputs for PM research about the role of KO in the PBO organizational learning.
Knowledge Organization trends and contributes for PBO:
Knowledge Organization (KO) designates a domain concerned with the ordering of what is
known, particularly for information retrieval (Friedman, 2013) and it addresses the nature and
quality of the knowledge organizing processes as well as the knowledge organizing systems (KOS)
used to organize documents, document representations and concepts (Hjrland, 2008). Within the
library and information science and information management areas, KO can be seen in a narrow
sense (where is especially concerned with information in bibliographical records) or in a wider
perspective, related with full-text documents and Internet documents and their representation for
retrieval (Hjrland, 2008). Concerning the context of organizations and the increasing creation of
contents in a digital form (in opposition to more traditional contexts related with libraries or
information services), our informational object in PBO will be the digital contents produced by
projects and in order to support project managers and teams.
There is a considerable agreement in the more recent literature (Hjrland, 2008, 2012; Mai,
2011) that KO is now inevitably being developed towards a new perspective of which relates with a
more interpretative view of organizing knowledge. We are now moving from the traditional
perspectives, based and expressed by classification systems used in libraries and databases
(including UDC), which followed that the sciences tend to reflect the order of Nature and that library
classification should reflect the order of knowledge as uncovered by science (Mai, 2010). Organizing and
classifying knowledge was, therefore, based upon the principle of ordering from general subjects to
specific subjects, by using controlled vocabularies, and assuming that what is being classified exists
independently of humans and that the work of classificationists and classifiers is to discover the real essences
and represent the kinds and phenomena as they really are (Mai, 2010). In opposition to this dominating
view it is now argued that classification work involves some sort of interpretive flexibility in
which the distance between what is classified (the object) and those who classify (the subject) is not
kept at an artificial distance. We are aligned with this domain classification, which approaches the
questions regarding subjectivity and objectivity, where the indexing of a given document should reflect
the needs of a given group of users or a given ideal purpose. In other words, any description or representation of
a given document is more or less suited to the fulfillment of certain tasks (Hjrland, 2008). This means that

749
there is no universal or neutral way of organizing knowledge; KO means the best for a given task
and no system is the best for all purposes.
This also relates with (Mai (2010) categorization of Knowledge Organization Problems; he
divides them into Big, Medium and Small KOP, where BIG KOP relates with the organization and
representation of large quantities of information for unrecognizable many people (the web is the
prototypical example of that) and Small KOP are, in opposition, concerned with an individuals
information management challenges and collections (for instance, organizing personal e-mails or
photos which can be collected, and searched by individuals for they own usages). The Medium KOP
are probably what suits more the typical organizational issues (including PBO), because they relate
to information collections for particular, stated, clear, objective, and specific purposes to be used by people
with particular, similar interests, beliefs, positions, knowledge, expertise, etc. which can be known, understood,
and articulated by those in charge of the collection or service. A companys intranet, a web portal, a store, and
some special libraries are typical examples (Mai, 2010).
We will follow the domain-specific perspective of KO for this research, because, as we will
explain below, we consider that is better aligned with the knowledge problems and needs of project
contexts. In fact, and related with Mai (2011) concept of KOP, we consider that Knowledge
Organization can be facing, in PBO, different problems: in one hand, it needs to represent a large
amount of information for a group of users that may have different knowledge expertise and varied
beliefs and cultures which, as we already revisited before with Mai (2011), reflects a typical Big
KOP. But, on the other hand, and by referring to a single and unique project, knowledge
organization is project-oriented and therefore particular, clear and objective; people, despite their
obvious differences, are aligned with common goals and results and, consequently, are able to
understand a common and shared project domain. This clearly reflects the complexity inherent to
project contexts, which may definitely challenge the role of KO.
Furthermore, and related with the organization of the large amounts of digital assets
produced by projects, KO literature explains that, in such digital environments, the concerns in
managing information are not those of arranging the material (as it was in the traditional and
physical environments). The focus should rather be of adequate object description (labeling the
items to support subject retrieval), providing search tools that support browsing, navigation and
retrieval, and, to a more limited extent, the presentation of results (Broughton, 2006) or, using the
ECM terminology, content delivery. Here, we can apply, for instance, a simple taxonomy structure
or more complex solutions like faceted classifications; these last ones have gained importance in the
past years in many methods for information classification and retrieval, particularly in the World
Wide Web. Its main benefits are the capacity to express synthetically the complexity of subject
content (that is typical of digital documents) using a logical structure compatible with machine
manipulation at whatever level, and the facility through variation or rotation of the citation order
to allow approaches from a number of angles (i.e. cross domain searching) (Broughton, 2006). In
website architectures, specifically, one benefit of faceted classification is that users may have a very
precise understanding about the domain content even though they are unfamiliar with website
content.
Other features of modern KO, like social tagging and folksonomies, also currently attracts
much attentions and are seen as a key feature of Web 2.0 (Matthews et al., 2009); they allow
reducing indexing costs by allowing end users to contribute and interact actively with the
information description. Organizing and managing information today is much more social and
collaborative than it was in the past, and classification need to be aligned with this new perception
of knowledge as intensively socially constructed.
All this characteristics seem to support the idea that modern and domain specific
classifications are more appropriate to the KO problems that project contexts face nowadays. We
also believe that KO should become an important ally to a coherent strategy of knowledge sharing
and dissemination in PBO, improving the processes of organizational learning. Following this drive,
this paper aims at contributing for a better understanding of the role of KO in PBO, and suggesting
some concrete approaches for classifying and organizing knowledge in such dynamic examples.

750

1 Research Design

The main goal of this research was to explore what is the actual role of KO within the dynamic
contexts of projects and PBO, for the purpose of supporting organizational learning. Our main goals
were to empirically analyze how KO manifests itself in projects of this institution, and how it could
help the organizational learning. Following this drive, two research questions were developed:

RQ1: How knowledge is organized and shared in the specific contexts of PBO?
RQ2: How KO can help to improve learning from projects in PBO?

In order to address the mentioned questions and goals, an in-depth study was made in INESC
TEC, an important Portuguese Research Institute working with consultancy and R&D projects of
many kinds. Here, we analyzed the ICT tools used within a specific project - Project X - which created,
organized, stored and allowed the usage of information for the project benefit, the informational
needs of its users and also the information architecture (i.e., how information was organized and
classified). We also explored how knowledge was disseminated outside the project to the overall
organization and if KO had a role in such process. Our main focus was to globally comprehend the
importance of KO in this specific environment and specifically investigate how it could make a
contribution to a better learning from projects, since, as we previously stated, learning in project
contexts can be a very hard task.
This study was performed applying the principles of Action Research. It consists in a holistic
approach to problem-solving where knowledge is learned working in a context of action and where
people try to work together to address key problems in their organizations: Within an action research
projects, communities of inquiry and action evolve and address questions and issues that are significant for
those who participate as co-researchers (Reason & Bradbury, 2008). Action research embodies a strategy
for study change in the organizations, by intervening and taking actions in order to introduce
change. More than just observe and bring recommendations for the problems found, our main
purpose was to make a real contribute based on our acquired knowledge about the subjects; also, we
wanted to have our participants closely involved within this research, as people learn best and more
willingly apply what they have learned, when they do it themselves (O Brien, 2002).
Action research typically follows a cyclical process, where each cycle has four steps: plan, act,
observe and reflect. In action phases co-researchers test practices and gather evidence; in reflection
stages they make sense together and plan further actions (Reason & Bradbury, 2008). Accordingly, we
performed 2 different cycles of action and reflection, which we considered it would provide fast
conclusions and mostly the continuous improvement of information management and knowledge
organization practices and a better sedimentation of knowledge in the organization. Cycle 1 took
place inside a specific R&D project of INESC TEC (Project X); Cycle 2 was performed outside the
project and within the scope of a specific department (UESP) of the overall organization.

751

Figure 1 - AR Cycles (OBrien, 2002)

An important advantage is considered here when choosing Action Research: it allows the
investigator to interact closely with people, by integrating meetings, listening and registering their
concerns about the organization of documentation and collaboratively introducing improvements
in the ICT tools and techniques used, for a better organization of the digital assets. This is a crucial
aspect of this study and surely what makes it richer and unique: the ability to analyze the everyday
reality of such a complex environment like INESC is, with real problems that we intended to rapidly
solve in a way that people could contribute with their insights and quickly apply and learn with the
actions performed.
By applying action research, participants were considered as co-investigators of this study.
Cycle 1, as being about a specific project, had as co-investigators the team members that interact
with us; cycle 2, within a larger scope, made as co-investigators some INESC TEC project managers,
with whom we talked and discuss the main issues of knowledge organization for the purpose of
learning in INESC TEC. The principle of collaborative resource in action research presupposes that
each persons ideas are equally significant as potential resources for creating interpretive categories of
analysis, negotiated among the participants. It especially makes possible the insights gleaned from noting the
contradictions both between many viewpoints and within a single viewpoint (O Brien, 2002).
Action research allows for several different research tools to be used as the project is
conducted, as it is more a holistic approach rather than a single method to collect data (O Brien,
2002). Methods used are generally common to the qualitative research paradigm. Following Yin
(2003) recommendations, our evidences relied on three main sources. The first one was
documentation, where we analyzed project-specific documentation essentially to corroborate and
augment evidence from other sources. We also performed a set of interviews to 4 project team
members and INESC TEC project managers, which intended to gather the opinion about the topics
and collaboratively reflect about it. Finally, and related with the direct and participant observation
performed, a research journal was written by the author, in order to help keeping a detailed history
of the research process as it unfolds, and register her thoughts and conclusions about some
individual conversations with her co-investigators.
Evidence for the action research study was collected over a period of 7 months. Since AR is a
cyclical approach, it was continued by a few more months, particularly for the purpose of trying to
introduce improvements to the organization of contents and information and knowledge

752
management strategies. However, this paper will only focus on the main conclusions gathered
during the reflection phases, and particularly concerning the topics of KO we want to explore.

2 Results

This section presents the research results of the 2 AR cycles in INESC. The first cycle of action
was developed inside a specific project - Project X. The project relied in a large and multidisciplinary
team of 7 different organizational partners from different fields: R&D institutions, software
companies and industrial factories. Project activities were developed within a strong collaborative
environment, by using videoconference for weekly meetings, and developing the project tasks
together, with collaborative tools like Google Docs, Dropbox, discussion forums and Wikis. All this
factors have contributed for the creation of large amounts of information, made by different people
from different places and which were disperse by different ICT tools, making information
sometimes difficult to reach.
The most important tool for storing and use information created within the project was
Dropbox, which is basically a set of shared folders that the project team used to create new
documents and recovery project-made documents from its colleagues. Only project members could
access to Dropbox folders, which should be organized in a way that the several users could easily
find the information they needed to work on. Dropbox organization was the following (Figure 2)
and, although this wasnt a static hierarchy, changes during the project execution were not very
significant. Mainly, information was organized in 2 categories: Coordination folders (related with
coordination and project management documents) and Development folders (about the technical
developments within the project tasks). Each category had a different hierarchy with specific
subfolders, related with the contents within and following the more consensual designations
among its users.

Figure 2 - Dropbox hierarchy of folders

During our intervention within Project X, the most important concern of project members
about Dropbox (where it was concentrated the most volume of project documentation) was that, as
the project evolved the information became overload and it was sometimes difficult to retrieve what
the user needed: Theres a lot of information and sometimes it is difficult to find it (interviewed1).

753
Nevertheless, project team members seemed to be satisfied with this repository, mostly because
they felt that it was a familiar tool to use; since it was nothing more than a shared folder in
everyones personal desktop, the learning period was quite small. In fact, the main reason that
justified choosing Dropbox for being the main project repository was that all team members already
were using it in their own organizations or for personal purposes. Since projects are fast and result
oriented, project members dont want to lose many time in learning how to use an ICT tool to help
them managing documents. This is increasingly important since project members came from
different organizations, with different ways of working, therefore, it would be hard to find a
platform that everyone already was using in their own environments. Also, another complex
platform to manage information and contents created could create some resistance or opposition to
its usage, what could lead to even more informational chaos.
Concerning information classification in Dropbox, it followed a simple hierarchy of folders,
related with the project task structure (within the execution phase) in the main information
repository - Dropbox. Hierarchical classification was mainly based on the task division and
document types, because all the participants were familiar with the tasks and work they needed to
perform within the project, therefore it was considered appropriate and easy for usage and for
retrieving information. According with the principles of knowledge organization, this type of
classification can be address as task-specific, since it reflects the project structure of tasks. Hence
the users of our classification system were from multiple contexts and areas of study, it will be very
hard to come up, in a short time, with a standard and a universally accepted classification which
would reflect all their different disciplines and requests of retrieval; the most commonly accepted
organization was the project structure itself, i.e. the different tasks, subtasks and related deliveries,
and also the document type (for instance, if it was a technical report, a Project Management
progress report, a meeting minute, etc.). Therefore, the classification developed in Dropbox was
based on a set of main tags or labels as follows in Figure 2 - Hierarchy folders (first level). This labels
were the first line of the hierarchy tree of folders; produced documents should fit under those
folders or inserted inside specific subfolders created closely with the team members as the project
was being developed and according with their specific needs at the moment. Classification wasnt,
therefore, a static structure.

Figure 3 - Hierarchy folders of the Coordination and Development categories (first level)

Besides the classification of contents within a task-driven organization of folders (related
with the technical contents), other project-management contents were classified by type of
document (as we presented in Figure 2). Labels (folders names) reflected the type of contents in a
way that would be familiar for the users to know what was inside each folder.

754
Although it remains a basic knowledge organization method, this structure was considered
useful by its users because all the activities were organized in tasks, and all the participants were
aware of the tasks they needed to perform: since the project is organized by tasks, and folders too, it is not
hard to know the folders (interviewed1). in the project I am working on a specific task and I know where I can
find the documents created or developed under that specific task where I am working on. (interviewed2). Also,
we confirmed that project members are usually focused on immediate deliverables (Holzmann,
2012); they needed to access information related with the tasks which were also oriented to the
respective result, so classification was faithful to that concern by allowing contents to be organized
by task.
KO and the organizational learning
As we previously said, second cycle of action within our holistic AR approach intended to
understand the main difficulties related with project-based knowledge sharing and dissemination in
INESC (and why they happen), and how KO can help to improve learning across projects in INESC.
The most important output here was to comprehend how people could learn better by reusing
knowledge created in past or current projects, and - specifically to our analysis of KO - what it the
role of KO in this process.
The first thing we could observe in INESC environment is that people in their work
environment transfer knowledge in a very social way. The so called knowledge-sharing
mechanisms or knowledge-sharing strategies (Boh, 2007; Prencipe & Tell, 2001; Ruuska &
Vartiainen, 2005) in PBO are usually divided into codification VS personalization perspectives.
Basically, the first one claims that sharing knowledge in organizations relies in a strong culture of
carefully writing down and codifying knowledge into digital platforms where it can be easily
recover and reused or, on the other hand, second one says that knowledge can be closely tied to the
people who developed it and is shared by personal and social interactions. In INESC, although
knowledge is codified into digital platforms within the different projects (we already saw a
particular example in Project X, with Dropbox), it doesnt exist any centralized strategy for
managing contents and sharing codified knowledge. In fact, INESC members more frequently
preferred to talk directly with someone they already know will help them, instead of trying to find
answers in documentation, which they found boring, and heavy to read. As we are aware, they were
also working in projects, with all its shrinking deadlines to answer, so they needed to find the right
information fast and effectively. This knowledge sharing culture reflects a very collaborative and
interactive way of creating and sharing knowledge, which can be a challenge to KO, when compare
to the more rigid and stable contexts that KO systems normally address, and where everything is
written down in documents we are able to recover easily.
The main need and purpose for seeking project information in INESC was to find out some
past experience or problem-solving for a specific problem or area where someone was working on at
the moment. Here, tacit knowledge (specifically skills, experience and opinion that people possess
intrinsically) was what it was more relevant to recover. Thats what explains this prevalence and
preference for personalization mechanisms, so typical in organizations that are conducting tasks
more unique in nature and that do not have clear solutions at the outset (Boh, 2007). As someone
told us, technical how to information is easily found on the web, by googling it; on the other
hand, the usability experience of some technology, point of view or opinion is not always easy to
reflect in a written document tacit knowledge is not always translated in words and texts: I see
rather difficult people managing at structuring all their experience and knowledge inside some kind of platform
it is very complicated! (interviewed4). Tacit knowledge is, therefore, more easily shared by social
interactions, informal conversations or gatherings.
INESC doesnt have any platform where people can search for other projects information
what is another enabler of this social knowledge sharing. So, if, in one hand, knowledge is
dynamically created and transferred within social interactions, on the other hand, there might be
some important knowledge lost in nodes of the social net that are not interconnected. By becoming
aware of this knowledge gap, our interviewers agreed that, to a certain level, some codification
mechanisms for projects will help to sediment some project-based knowledge. Codification

755
components could provide direct channels where INESC members can recover, for instance, past
knowledge without a middle man in the process and, therefore, in a more broader way. Here, their
main concerns addressed more specifically the features of classification and retrieving; they
considered that knowledge organization for seeking past project information should rely on a set of
tags reflecting the main areas of INESC (for instance, simulation, logistics, business process
management) and the type of industry where the project took place (i.e., shoe industry, SW
development company) and where the ability of intersect those tags will be a plus. This feature will
therefore enable searching and retrieving old information from previous projects, and by doing so,
will address the main need for seeking project information. Associating the mentioned tags to the
people who have worked in projects under these categories will definitively be a plus.

3 Discussion

The observations we have described above reflect the period of observation we took in INESC
and allowed us to come up with some meaningful interpretations and what we hope to be a
coherent picture of what KO means in such modern, and dynamic contexts of PBO.
Our first Research Question - How knowledge is organized and shared in the specific contexts of PBO?
was concerned about understanding the environment surrounding KO in Project Based
Organizations (PBO). Project based organizations, like all the current organizations in general, are,
as we have stated in the related literature, using an enormous amount of ICT tools to manage the
even larger extents of information they possess nowadays. Furthermore, people working in projects,
have, in many cases, distinct organizational or department cultures and ways of working which can
be conflicting with each other and that makes the standardization of information very difficult
(Ajmal & Koskinen, 2008). In order to fill this gap, and because they normally dont have time to
reflect about which is the best tool to manage the project codified knowledge, they end up using ICT
tools which are more easier and familiar to them. We have observed this issues particularly within
the scope of Project X, were people felt more comfortable using mainstream tools such as Dropbox
(that they already knew). Not only in this specific project, but also across projects, what we could
perceived is that people are not very worried about choosing the best possible tool or classification
to manage their project documents, mainly because they are busy in developing tasks and delivering
results (Holzmann, 2012). Our PBO can here be facing substantial obstacles to be overcome in
capturing knowledge and in the re-cycling of project-based learning that stem from the relatively
self-contained, idiosyncratic and finite nature of project tasks (Bresnen et al., 2003). By not having a
coherent strategy for organize those contents, the process of retrieving and reusing past
information is very hard.
Another threat to KO and to information recovery in particular is the significant social
environment that characterizes our PBO. Usually personalization strategies for knowledge sharing
are more adequate to organizations conducting tasks or encountering problems that are more
unique in nature (Boh, 2007), which is the case of project contexts. In INESC, there is a very
collaborative and interactive way of creating and sharing knowledge, mostly tacit knowledge, which
cannot be easily written down and codified. Since knowledge is so reliant on people, and in more
informal and verbal contacts and interactions between them, it can be easily lost. For instance,
when people leave their job at INESC they take all their tacit knowledge with them, because it was
has not be written anywhere or conveniently learned by others. Also, by relying in personalization
mechanisms we became dependent on other peoples availability, which is not guaranteed at every
moment (because sometimes people working in projects are out of INESC in meetings or other
events and, therefore, out of reach). We believe here that if some verbal and tacit knowledge was
codified and integrated in the current organization history and knowledge-base, the ease of
knowledge transfer increases and costs associated with such transfer will decrease (Prencipe & Tell,
2001).

756
Other characteristics of the knowledge-sharing culture in INESC might lead us to the idea that
KO systems generically might be losing their traditional role in the organization of knowledge.
Modern contexts like these ones are inevitably changed by Google era and the way people rely on
this new way of seeking information also have, in a lot of ways, replaced the role of the traditional
informational services. This perception has been proved by our interviews, where people refer to
Google as the tool they normally use to find a lot of information. More standard KO systems like
ontologies and thesaurus are nowadays less necessary as a way to retrieve knowledge because of the
rapid pace of knowledge creation in such environments, combined with the large number of ICT
tools used, most of them not even company based (like Google or other web-based tools). Here, we
have to agree with Hjrland (2012): creating a strategy for KO in project contexts, should be based
on the premise that users today have access to the internet and all the information they need is one
click away. As the same author states, creating complex classification systems for an organization
knowledge base (whether is project-based or more general information) may be considered a waste
of time and resources. In this sense, KO in project contexts will be embedded in the various ICT tools
people use, most of the times created for users themselves and in order to fill specific and
temporary needs.
Considering the mentioned characteristics of such project contexts, and all the barriers
related with knowledge sedimentation, what should be the role of KO for the purpose of learning?
Organizational learning in PBO is defined as the process of making newly created project-level
knowledge available to the organization as a whole by sharing, transferring, retaining, and using it (Bartsch,
Ebers, & Maurer, 2012). While projects are where knowledge creation takes place, the overall
process of learning in project-based organizations involves the subsequent transfer, retention and
use of this knowledge within the project-based organization as a whole. We consider that there is a
place to KO in the path to accomplish this mission, that will be closely tied to the existent
environment of knowledge creation and sharing, and that can only be envisaged in that way. In
order to take advantage of the natural knowledge-sharing mechanisms of personalization (that are
the most relevant characteristic of the INESC learning culture), we are convinced that we need to
envisage KOS as a way that people can find other people. An essential role of any kind of
classification in such contexts will be, then, to provide a set of tags where people could connect a
specific need about a subject or project to the person who have worked on that subject, being able
to, consequently, address her directly.
By using this, we will be aligned with the existent culture and, at the same time, improving
the information retrieval of codified knowledge. As we have acknowledged, people considered that
information retrieval could be, in some ways, improved, mostly because they start being aware of
the fact that, if some knowledge is written down, it will be recovered by potentially much more
people that the social linkages allow to. We will be following (Hansen, Nohria, & Tierney, 1999): ICT
tools are used to help people to communicate their knowledge, and not to store it, and PBO should
focus on dialogue between individuals, not knowledge objects in a database, transferring knowledge
in brain-storming sessions and one-on-one conversations - people will scan documents in order to
get the crucial information in a particular area and to find out who has done work on a topic, and
then approach those people directly. KO, therefore, is envisaged as a crucial component of such
knowledge-sharing strategy.
By recalling the domain-specific perspective of KO that were following, we also want to point
out the importance of KO during a project execution. We have concluded that, in such temporary
contexts, where people are more worried about delivering results, a KO structure is helpful in order
to arrange contents, but is not a priority to users. Here, we consider that KO should be task-oriented
(which can be a more specific interpretation of the domain-specific perspective), because people in
projects have different visions, beliefs and domains of interest; nevertheless their goals are aligned
during the project execution, and they are aware of the tasks they need to perform in order to
deliver the necessary results. KO should address those goals and provide a familiar structure that
can facilitate project work.
Following this drive, classifications and categorizations in projects are a way to represent
documents and their subject in one of the possible ways they could be organized and represented

757
(Mai, 2011). Documents have a meaning that a classification intends to reflect, but this meaning can
be different according with the context we are moving. For instance, by being part of Project X, the
team has a shared meaning of things because is aligned with common goals, results, and people
develop new knowledge together; however, if a team member goes to another project he might
found a classification that is not familiar and does not reflect his previous vision of things. He will
then contribute for the creation of a new classification of things, based on the project needs and
reality, but also on their own understanding of things, which could have been changed or evolved
by consequence of his participation in the previous project. Classification and knowledge
organization, as being created by people working in such dynamic and changing environments, are
a reflection of peoples learning and skills, and of their own knowledge of things in a certain
moment in time.
Another significant outcome of this study is that KO in projects and PBO also enables people
to develop a shared meaning about things. In such dynamic environments, the diffusion of
knowledge involves developing some level of shared meaning that allows one group to understand
and apply anothers insights to their own context. Following Bresnen et al. (2003), the importance of
developing shared meanings and understandings, however, highlights the problems of inter-project
knowledge diffusion and learning. In project settings, groups are temporally, spatially and culturally
differentiated in ways that militate against the diffusion of knowledge. In such circumstances, the
challenge maybe not so much to make tacit knowledge explicit, but to work out how social practices
are organized and to find ways of aligning them. We agree with the author, but we go further by
saying that KO can also improve meanings alignment. For instance, classification was used to
organize contents from Project X, and it allowed people to be aligned with the project structure of
tasks. The action of creating a classification itself can be envisaged as a tool which explains the
project structure and main components and that enables team members to be aligned with such
structure, better comprehend the project organization itself and better organize their own internal
knowledge structures and mindset about the project. So, in this case, classification of Project X, in
the form of a set of folders reflecting the project structure and also the type of contents, helps
people to better find and transfer knowledge in order to accomplished their tasks but is also, at the
same time, the conclusion of someones acknowledgement about the project. KO is itself a
component of the knowledge transfer and, at the same time, a tool to accomplish it.
Moving towards the context of learning through projects in the overall organization, KO and
classifications are also the enablers of important shared meanings across the organization. KO
systems should be of course connected to the need of project members to find past and registered
information about other projects. According with the people we have interviewed, knowledge
classifications here should rely on a set of tags (labels) reflecting a set of knowledge structures that
seem to be familiar to many members, and despite whatever projects they might be in. Here, and
despite all the intrinsic differences surrounding project contexts (making project significances very
dependent on the peoples background or on the project scope), it is safe to say that there are some
shared meanings across the organization that could be fully understand by everyone (or, at least,
the organization should aim at accomplish that). For instance, everybody seemed to be familiar with
the type of industries that exist and that each project could work on - or, at least, everybody is
familiar with this categorization, even not knowing in detail the characteristics of each label of
the classification system. Also, the type of projects in INESC - for instance, simulation, logistics,
business process management - may also be a good way of organizing contents, because they are
connected with the organizational structure itself and its different investigation areas. By gathering
a set of categories which clearly reflect INESC environment of action and those users feel it respond
to their needs, an important impact can be made to help project knowledge navigate through the
organization and also help to create a set of shared categories of knowledge that everyone will be
familiar with.
So, if, in one hand, when a project is being developed, there is a shared meaning, whether it is
related with the project structure of tasks or its goals, results, areas of knowledge, etc., when we
leave the project and we look to the holistic view of PBO as a set of current and past projects, all
with their unique nature, our interpretation of meanings is challenged. Here, knowledge

758
organization needs also to look to the more holistic and shared goals of all the INESC community,
and, by understanding their informational needs for seeking project-based knowledge, should
provide a structure that enables them to recover that knowledge. A classification system, embedded
in some kind of knowledge management platform with project information from the past, and
providing the necessary tags, will have an enormous impact within the information recovery, which
seemed to be so sensitive and useful to users.
These last considerations lead us to conclude that KO is also as a learning representation
itself. We are agreeing with (Hjrland, 2012) when he states that a given KOS is much more than its
systemic features. When, for example, a classification system has been applied for years in a given library many
qualified decisions may have been made about what to classify as X. In this way the system may then represent
an important accumulation of knowledge, which is seldom reflected in the scientific literature concerning KO.
Classifying, creating categories here is nothing more than a way of defining a reality at some
moment in time, so, in a way it reflects the learning of someone about something and can be used as
a rich representation of what is known and is thus useful in communication and in generating a fresh cycle of
exploration, comparison, and theorizing. (...) Classification schemes have properties that enable the
representation of entities and relationships in structures that reflect knowledge of the domain being classified
(Kwasnik, 1999).
Knowledge Organization, classifications, categorizations, are, therefore, different than before,
but its importance remains. They are ways people can organize project activities and keep
themselves aligned with such activities goals. KO will be embedded in the various ICT tools used in
project contexts, but should not be ignored, or else it could be hampering project execution and the
consequent knowledge sharing, dissemination and learning across the organization. KO should be
addressed as an important tool people should use to organize important knowledge; according with
their specific needs and the characteristics of the environment they are inserted. Inside our
dynamic and idiosyncratic PBO contexts, classifications can also be used in order to support the
social sharing of knowledge, helping people to find other people related with their informational
needs. As Mai (2010) says, Classification systems should address these concerns by providing the right
information to users, based on the fact that the systems themselves are already part of existing conversations
and activities, as knowledge and information are socially achieved, generated and trusted.

Conclusions and Future work

Moving towards our initial questions (How knowledge is organized in the specific contexts of
Project-Based Organizations, and what is the role of KO within the dynamic contexts of projects and
project based organizations?) the first conclusion we want to register is that the dynamics of such
knowledge creation contexts make the process of creating KO structures itself (classifications,
categorizations, ontologies, etc.) also very dynamic and fast. Managing information nowadays is, in
fact, much more social and full of interactions and collaborations among different people, which
makes information itself much more dynamic than before (and, consequently, becoming obsolete
faster that before). Projects themselves seem to have the ability to create new relations among
people because they allow different people from different surroundings to work together,
sometimes for the very first time, which enhances new social interactions and consequently new
knowledge transfers.
We have acknowledged that in our PBO (as a place where projects are themselves temporary
organizations, with its temporary, unique and unrepeatable goals and tasks) and with a knowledge-
sharing environment very reliant on peoples social interactions instead of a more codified and
structured sharing of knowledge, Knowledge Organization should be itself reinforced as a learning
tool about specific projects. Classification of contents by different folders helps users to organize
their own knowledge structures and to be aligned with the project goals and tasks. In this way, KO
helps users to better navigate through the large amounts of information a project produces but also
reflects a knowledge of someone (or a groups of people) in some moment in time about the
categorization of a set of contents about something.

759
Besides this more broader vision of classification as a demonstration of learning itself, KO
should never abandoned its role of improving information retrieval. Project teams need to find fast
and accurate information whether inside their own project contents or about other projects. Team
member are committed in delivering results and in following shrinking deadlines and dont have
time to think about the way they will organize all the information they need.
The most important role of KO in project contexts needs to be aligned with the goals of the
context itself. Consequently, and considering the results of this study, KO needs to:
in a micro perspective of projects as small and temporary organizations, KO
should reflect the project structure and results, in a way that project members, during
a project execution, are able to create, manage, publish and recover information
easily. KO characteristics, in this context, are flexibility and simplicity. Its goals are
also simple: help users to retrieve information and maintain a coherent project
structure that all their members comprehend and are comfortable with. KO in
projects are a way to organize contents for a short period of time and for specific but
temporary contexts; therefore they must be constructed closely with its members and
in a rapid way. KO here is only meaningful during the project execution, when it
finishes contents are no longer useful for that context; knowledge should be
transferred for the organizational knowledge base in order to respond to new
informational needs;

in a macro perspective of PBO as a group of ongoing and past projects, KO should
reflect the organizational project-based learning. In PBO, knowledge is intensively
created during projects execution and the main difficulty seems to be to sediment this
brand new knowledge into the organizational knowledge structures, in order to be
easily reused in the future and for every members of the company. Classification
structures should create a type of metadata or tags providing essential information
about the content for the purpose of information retrieving. KO should be tailored
towards different domains, epistemis communities and user groups (Hjrland, 2012)
by allowing a fast recovery of information globally and despite all this dissimilarities.
But, in a place where knowledge is shared mostly by personalization mechanisms and
in a very informal way, KO should also help people to find other people - hence people
prefer to talk with each order and socially learn something. An essential role of any
kind of classification in such contexts will be, then, to provide also a set of tags or
connections where people could connect a specific need about a subject or project to
the person who have worked on that subject, being able to, consequently, address her
directly.

KO and KO systems are not, therefore, less important than before. They represent a
organization of a reality, more or less volatile, which users could rely on to find information they
need. KO will be embedded in many different ICT tools, but independent of such platforms, and the
information professionals, along with the users of such classifications, need to be aware of the
companys changes and adapt KO according with those changes, by including new labels or new
points of recovery which reflects the evolution of the users needs or the strategic position of the
organization.
Future research should focus on how the knowledge created in past projects (or tasks) is
embedded in the evolving classification schemes in organizations, and what are the criteria to make
such changes in the knowledge classifications and categorizations, considering Project Management
principles and good practices. We also have already learned that peoples interactions and social
sharing of knowledge are very strong and influence the way we create knowledge structures to
support them - but how can we take advantage of that social interaction in order to make KO richer

760
and closer to its users? Perhaps more social classifications such as folksonomies might be an
improvement to the effectiveness of KO in project contexts.

Acknowledgements: This work is financed by the ERDF European Regional Development Fund
through the COMPETE Programme (operational programme for competitiveness) and by National Funds
through the FCT Fundao para a Cincia e a Tecnologia (Portuguese Foundation for Science and Technology)
within project FCOMP - 01-0124-FEDER-022701.

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763
SUBJETIVIDADE, INFORMAO E TOMADA DE DECISO ORGANIZACIONAL
Uso das dimenses simblicas e afetivas na compreenso da dinmica decisria

ELIANE PAWLOWSKI DE OLIVEIRA ARAUJO
[email protected]

CLUDIO PAIXO ANASTCIO DE PAULA
[email protected]

Resumo As organizaes tm vivenciado momentos desafiadores nas ltimas dcadas. O desenvolvimento das
tecnologias de informao e comunicao e a intensificao da concorrncia aumentaram a cobrana por
performance e resultados rpidos no ambiente corporativo, o que implicou para os gestores em aumento da
presso por melhor desempenho em prazos cada vez mais curtos. Com os ambientes de negcios se tornando
mais complexos, a informao e a capacidade de lidar com ela tm se transformado em questo estratgica
para as organizaes, principalmente quando se considera os aspectos subjetivo e relativo da racionalidade
envolvida nos processos decisrios. Verifica-se, assim, a imprescindibilidade de analisar os comportamentos e
competncias informacionais presentes no ambiente organizacional, aos quais se apresenta um
questionamento: como estudar a subjetividade presente nos processos de tomada de deciso? Este artigo, fruto
da dissertao de mestrado em andamento no Programa de Ps-Graduao em Cincia da Informao da
Universidade Federal de Minas Gerais, pretende demonstrar o estudo efetuado com o objetivo de analisar a
subjetividade de indivduos envolvidos em atividades de tomada de deciso e seus esforos para interpretar
uma realidade. A pesquisa configurou-se na investigao dos comportamentos informacionais por meio de
mtodos que privilegiaram as dimenses simblicas e afetivas, contemplando o uso de instrumentos que
possibilitaram analisar os comportamentos envolvidos em um processo decisrio em nvel operacional
ambientado em uma biblioteca universitria. Os resultados parciais demonstraram que os instrumentos
utilizados, em especial a Abordagem Clnica da Informao e o Teste Arqutipo dos Nove Elementos AT9,
permitiram observar indcios da subjetividade presente no processo de tomada de deciso, em especial, nos
critrios adotados para subsidiar o processo decisrio. Desta forma, foi possvel compreender como os
aspectos subjetivos se integraram s competncias individuais para influenciar o processo de tomada de
deciso.

Palavras-chave Gesto do conhecimento. Subjetividade. Tomada de deciso. Dimenses simblico-afetivas.

Abstract Organizations have been living defying moments in the last decades. The TI and communication
technologies evolution and the concurrency increased the performance and fast results needs in corporate
environments, which implied on more pressure on managers for best performance on shorter deadlines. As
business environments become more and more complex, information and the way to deal with it have been
tagged as strategic matter to organizations, specially when considering subjective and relative aspects of
racionality involved on decision processes. Therefore the indispensability of behavior analysis and
information competencies available on organizational environment presents us a question: how to study the
subjectivity as part of decision making processes? This article, resulted from the in progress master degree
dissertation on Information Science at Universidade Federal de Minas Gerais, is intended to demonstrate the
research made to evaluate individual subjectivity related on decision making activities and its efforts to
interpret a reality. This research was focused on behavior information investigation using methods that was
focused on symbolic and emotional dimensions, using instruments which allowed us to analyze behaviors
involved on decision processes at operational levels lived at a university library. Partial results showed that
the used instruments, specially the Clinic Information Approach and the Nine Elements Archetype Test - AT9,
allowed us to see evidence of subjectivity on decision making processes, specially at the element used to
subsidize the decision process. Thus, it was possible to understand how the subjective aspects integrated to
the individual competences influence the decision making process.

764
Keywords knowledge management. Subjectivity. Decision making. Dimensions symbolic-affective.

Introduo

De acordo com Malvezzi (2008), novos conceitos, modelos e informaes tm sido uma
constante no cotidiano das organizaes, pois o acesso a fontes de dados tem estado, nas ltimas
dcadas, permanentemente disponvel a uma velocidade e alcance sem precedentes. No tocante
disponibilidade da informao, Barbosa (2006) alerta sobre a dificuldade de selecionar, dentre a
crescente multiplicidade de fontes existentes, aquelas que contm, de fato, o que se necessita,
destacando que essa farta disponibilidade de informaes no assegura, em si, que elas sejam
efetivamente valiosas para seus usurios. Em relao velocidade, Vitorino e Piantola (2009)
ressaltam que a rapidez de surgimento e renovao do conhecimento tm tornado rapidamente
obsoleto muito do que se aprende em determinado momento da vida, o que traz como consequncia
indivduos incapazes de dar conta de uma realidade em contnua mutao e das novidades que
proliferam em ritmo extraordinrio.
Adaptar-se a essa realidade, segundo Malvezzi (2008), exige inteligncia, o que implica na
capacidade de transformar percepes, criar associaes e processar novas informaes visando
gerar solues para os desafios e necessidades, sendo que essas solues so alcanadas por
conjuntos complexos de operaes mentais, motoras, perceptivas, afetivas, simblicas e sociais. O
autor afirma, desta forma, que as competncias no se limitam apenas s habilidades cognitivas dos
indivduos, mas implicam tambm em processos psicolgicos que funcionam de maneira
interdependente entre a organizao e seus funcionrios.
Associado a esse entendimento acrescentam-se as proposies de Goulart (2007) que afirma,
com base em uma das vertentes dos estudos dos aspectos psicolgicos do indivduo, que o homem
um ser scio histrico e que deve ser entendido em todas as suas expresses: as visveis
(comportamento) e as invisveis (sentimentos), as singulares (individuais) e as genricas (coletivas)
que so sintetizadas na ideia de subjetividade. Segundo a autora,

a subjetividade constitui, a sntese singular que cada ser humano vai
constituindo ao longo de sua experincia de vida social e cultural. Ela
constitui a maneira de sentir, pensar, fantasiar, amar, sonhar e agir que
prpria de cada um e que construda medida que nos apropriamos do
material do mundo no qual vivemos e, ao mesmo tempo, atuamos na
construo desse mundo. (Goulart, 2007, p.21).

Sob esse enfoque, a determinao da relevncia de determinadas fontes de informao e o
valor atribudo informao no ambiente corporativo devem ser analisadas a partir de uma
perspectiva que busque compreender os processos subjacentes aos comportamentos visveis dos
sujeitos ao desenvolverem essas aes. O interesse, parafraseando a perspectiva fenomenolgica,
no o mundo que existe, mas sim como um determinado pano de fundo influencia a forma pela
qual o conhecimento do mundo se realiza para cada pessoa.
A perspectiva de que, tanto a racionalidade quanto os comportamentos so influenciados por
elementos subjetivos - como os sentimentos e afetos vem ampliar a proposio de Taylor (1986)
que considera, no processo da tomada de deciso, a existncia de duas abordagens: uma racional,
que visa a busca de uma deciso tima, e uma comportamental, que pretende entender como os
indivduos se comportam na resoluo de problemas e como utilizam a informao nesse contexto.
Assim, diante do cenrio de pressa e urgncia que as organizaes tm vivenciado, que tem
destacado a afetividade com um fator marcante nos processos decisrios, e o fato do desempenho
dos indivduos ser influenciado por processos psicolgicos inerentes ao ser humano, um

765
questionamento se apresenta nos estudos sobre comportamento informacional: como estudar a
subjetividade presente nos processos de tomada de deciso?
Uma alternativa para tentar responder a esta questo baseia-se no uso das dimenses
simblicas e afetivas como uma estratgia para acessar a subjetividade de indivduos envolvidos em
atividades de tomada de deciso e seus esforos para interpretar uma realidade. Segundo Paula
(1999) no recente a noo de que mitos, rituais e smbolos permeiam as organizaes. O autor
ressalta, baseado nas proposies de David Krech, que os smbolos, mitos e ritos constituem formas
de expresso de padres bsicos de experincia que so a base das faces mais elementares da
natureza humana e que no faz apelo apenas ao intelecto, mas atinge uma dimenso mais profunda
referenciada na psicologia como o inconsciente. Desta forma,

Parece-nos lcito pensar que os conceitos de mito e smbolo [...]
possam (se aplicados leitura da psicodinmica expressa atravs das
proposies dos membros das subculturas e dos valores tribais de uma
organizao) contribuir para a construo de um estudo interpretativo das
organizaes, acrescentando novas compreenses sobre como os
indivduos se comportam em seu esforo por significar o mundo a seu
redor (Paula, 1999, p. 69).

1 A Cultura da Urgncia

A sociedade tem sido marcada, desde sua origem, por transformaes, sejam de origem
econmica, social, poltica ou cultural. Consequncia dessa evoluo, o homem tem vivido desde o
incio da civilizao sob a gide de diversos rtulos e movimentos: feudalismo, romantismo,
sociedade industrial, iluminismo, sociedade da informao, dentre muitos outros.... Foram vrias as
transformaes ao longo dos sculos que culminaram na atual sociedade contempornea, assim
discriminada como o perodo que tem seu marco inicial na Primeira Guerra Mundial e
caracterizado pelo desfacelamento de uma estrutura influenciada pela Europa capitalista e
imperialista e pela exploso de grandes crises geradoras de novas estruturas e equilbrios (Falcon &
Moura, 1988).
Esta sociedade contempornea, como as demais, tambm tem passado por profundas
transformaes, o que um processo natural e evolutivo. Uma das caractersticas da histria
contempornea recente o fato de que qualquer acontecimento de importncia, em qualquer parte
do mundo, tem repercutido, dentro de um perodo de tempo relativamente curto, em todas as outras
partes do planeta (Thomson, 1973). Essa interdependncia criou um cenrio globalizado no qual os
conceitos de informao, tempo e fronteira foram redefinidos implicando em um novo contexto,
tanto para as sociedades desenvolvidas quanto para os ambientes corporativos.
A partir de 1980, Lipovetsky (2004) identificou a ocorrncia de um fenmeno que surgiu
subjacente globalizao neoliberal e revoluo informtica. O autor definiu esse fenmeno
como tempos hipermodernos, perodo marcado pelo excesso, pelo imediatismo, pela instabilidade,
sendo que uma das caractersticas dessa nova era - a hipermodernidade - tem como marcas o
movimento, a fluidez e a flexibilidade. Segundo o autor (2004, p. 77), o clima de presso - uma das
consequncias desse ciclo da modernidade exige dos indivduos resultados em curto prazo e que
tudo seja realizado no menor tempo possvel. Essa corrida da competio faz priorizar o urgente
custa do importante, a ao imediata custa da reflexo, o acessrio custa do essencial.
Essa caracterstica da contemporaneidade tambm observada por Nicole Aubert (2003) que
destaca a desregulamentao do tempo como consequncia desta busca por resultados: o tempo est
compactado e esta relao com o novo tempo acaba por desenhar uma sociedade imediatista,
que vive dentro de uma dinmica de alta competitividade, na qual os indivduos se sentem obrigados

766
a estarem continuamente presentes, abolindo-se desta forma o espao para reflexo e restando
apenas o tempo para a ao.
Malvezzi (2008a) destaca no trabalho de Aubert (2003) as formas de ao relacionadas a quatro
dimenses a que os indivduos esto sujeitos: a gesto da rotina, a gesto estratgica, a gesto da
crise e a gesto da urgncia. Para Aubert (2003), este ltimo modo de ao tornou-se o imperativo da
atual sociedade e os desdobramentos desta lgica da urgncia esto redefinindo a identidade do
indivduo contemporneo e a relao que este estabelece com o tempo, influenciando sua maneira
de pensar, de ser, de sentir e de viver. Segundo Paula (2012) esse novo comportamento leva a uma
situao em que, por no haver espao de manobra, as decises passam a ser determinadas por
uma interferncia muito maior da afetividade do que se consideraria natural, o que impacta a busca
por informaes em organizaes, principalmente nas situaes de tomada de deciso, em que a
celeridade tem sido um dos fatores diferenciais do sucesso corporativo.
Esse culto a urgncia vivenciado pela sociedade contempornea tem repercutido nos
ambientes organizacionais, instituies que esto se tornando extremamente complexas em virtude
das rpidas transformaes decorrentes, principalmente, do desenvolvimento das tecnologias de
informao e comunicao. Nesse contexto, a informao passou a ser alvo de ateno dos gestores,
uma vez que tem se configurado como uma arma capaz de garantir a devida antecipao e anlise
de tendncias, bem como a capacidade de adaptao, de aprendizagem e de inovao (Barbosa,
2008).
No tocante ao uso da informao para fins decisrios, a competncia em lidar com a
informao assume papel ainda mais relevante visto que a dinmica informacional tem adquirido
dimenses muito mais complexas nesse cenrio afetado diretamente pela sociedade da urgncia.

2 A Dinmica Decisria

De acordo com Taylor (1986), a tomada de deciso o meio pelo qual as organizaes e os
indivduos se adaptam aos ambientes em mudana, alocam recursos escassos e mantm seu bem-
estar; em suma, sobrevivem. Miller e Starr (1972) afirmam que decises so tomadas porque h algo
a ser alcanado uma meta, propsito, objetivo etc e envolvem a escolha de uma ao e a
utilizao especfica de recursos.
Tomar uma deciso, na perspectiva de Turban, Rainer e Potter (2005, p.369), pode ser um
processo complicado devido a quatro fatores: o nmero cada vez maior de alternativas disponveis,
as relaes entre as variveis envolvidas, a presso do tempo e o fato de que as diversas decises
podem estar inter-relacionadas. Entretanto, a importncia da deciso, na viso de Pereira (2011,
p.26), depender dos valores e dos objetivos que se pretende alcanar com ela. Essa definio do grau
de importncia, segundo o autor, dada pelo responsvel pela tomada de deciso e a velocidade
exigida para uma deciso tambm depender dos valores e dos objetivos que se pretende alcanar,
alm do tempo que o decisor ter para avaliar as alternativas e decidir.
Um aspecto relevante quando a questo a escolha de um curso de ao adequado o
conceito da racionalidade limitada, termo apresentado por Herbert Simon que, segundo Weick
(1973, p. 9), tem como essncia a noo de que

os indivduos tm limites perceptivos assim como de processamento
de informao, e embora possam pretender agir racionalmente, s podem
faz-lo de maneira limitada. Esta consiste em aes a partir de
conhecimento suficiente e no a partir de conhecimento completo (o
conceito de satisfatrio), a partir do uso de regras simples, e no
trabalhosas, para procurar uma soluo no momento em que o problema
surge.

767

Segundo Leito (2010), os estudos de Herbert Simon j chamavam a ateno para as limitaes
da racionalidade no processo decisrio, destacando-se a limitao humana na busca e uso de toda a
informao necessria para a tomada de deciso: o nmero de alternativas disponvel e a
informao necessria so to vastos que difcil admitir qualquer aproximao da racionalidade
objetiva (Simon, 1965, p. 93). Neste sentido, Leito (2010, p. 55) afirma que preciso considerar o
ambiente psicolgico, ou seja, os pressupostos dos quais partem a deciso do indivduo.
Mintzberg e Westley (2001) defendem que as empresas devem incluir formas intuitivas nas
suas tomadas de deciso, entendimento que encontra repercusso nas ideias de Correa (2011, p.7),
que considera que a percepo, emoo, ateno e memria, entre outras funes cognitivas,
interferem no processo de tomada de deciso. Segundo esta autora, o processo decisrio
influenciado pela experincia prvia do indivduo, sua capacidade de identificar os principais
fatores da situao na qual se deve decidir, de quais desses fatores so ressaltados e valorizados,
alm da afetividade relacionada deciso; em suma, por fatores subjetivos.
Para Taylor (1986), a tomada de deciso pode ser definida como a converso de informao em
ao, mas McGee e Prusak (1994) alertam para o fato de que, na verdade, as pessoas jamais recebem
informao: elas criam informao a partir de suas prprias leituras, relao com os dados e
contexto. Desta forma, para que os dados se tornem teis como informao a uma pessoa
encarregada do processo decisrio preciso que sejam apresentados de tal forma que essa pessoa
possa relacion-los e atuar sobre eles (McGee & Prusak, 1994, p.24). Sob esse enfoque percebe-se
como a subjetividade permeia o processo de tomada de deciso, que afetado por aspectos
individuais nem sempre de forma consciente.

3 Subjetividade

De acordo com Lima (2007), a subjetividade um conceito controverso, pois envolve a
interpretao da natureza humana pelo prprio homem segundo prismas pessoais (ou seja,
subjetivos). A autora entende como subjetivo o que pessoal, existente no sujeito e passado
unicamente no esprito de uma pessoa. Tittoni (1994, p. 13) tambm define como subjetivo aquela
dimenso da experincia que expressa o sujeito na interseo de sua particularidade com o mundo
sociocultural e histrico.
A preocupao com os aspectos subjetivos do comportamento humano vem desde a
antiguidade. Segundo Davel e Vergara (2001, p.45-46) foi Sneca (4 a.C.- 65 d.C.) quem comeou a
perceber com mais clareza que as pessoas so dotadas de um espao interior que se distingue da
exterioridade. Entretanto, de acordo com os autores, a partir de Santo Agostinho que surgiu o
conceito de subjetividade prximo ao entendimento moderno decorrente da noo de interioridade,
que pressupe que a compreenso dos fatos depende de como se experimenta o prprio
acontecimento.
na subjetividade, segundo Rey (2003, p. 241), que aparece constituda a histria nica de
cada um dos indivduos, a qual, dentro de uma cultura, se constitui em suas relaes pessoais. De
acordo com Lima (2007, p.163) a subjetividade implica uma forma peculiar e individual de
percepo do mundo, que no aparece completamente dissociada do meio externo, sendo nesse
meio que se concretizam as aes que caracterizam o indivduo.
Pimenta e Ferreira (2007, p.79), consideram ser possvel compreender a formao subjetiva
dos indivduos atravs de sua imerso nas relaes sociais mais ntimas e aquelas mais amplas, onde
os processos e estruturas so sustentados pelos papis que os indivduos nele desempenham. Nesta
perspectiva, as autoras negam que a racionalidade seja o principal argumento constitutivo do sujeito
e entendem que sua identidade pode ser considerada um processo de subjetivao,
metamorfoseado pelo vivido que configura o indivduo em sua dimenso psicolgica.

768
Quando se aborda a subjetividade no processo de aquisio de conhecimento, tm-se as
consideraes feitas por Nonaka e Takeuchi (1997, p.8), de que as concluses, insights e palpites
altamente subjetivos so parte integrante do conhecer e abrangem ideais, valores e emoes, bem
como imagens e smbolos.
A subjetividade tambm est presente quando as pessoas buscam e usam a informao, o que
influenciado por mltiplos fatores:

No nvel cognitivo, diferentes estratgias de busca de informao so
ativadas para preencher diferentes lacunas de conhecimento. No nvel
afetivo, o estado emocional e psicolgico determina diferentes preferncias
e mtodos de buscar a informao. No nvel situacional, as caractersticas
do trabalho ou da situao problemtica determinam a maneira de usar e
acessar a informao (Choo, 2006, p.18).

Verifica-se, pela exposio de Choo (2006), que cada forma de utilizar a informao coloca em
jogo um conjunto especfico de necessidades e recursos cognitivos, emocionais e situacionais, sendo
a busca e uso da informao determinados pelas demandas do trabalho e do ambiente social, pela
lacuna de conhecimentos do individuo, por sua experincia emocional e, a nosso ver, pela
subjetividade.
De acordo com Malvezzi (1996, p.7), os estudos iniciais sobre os aspectos psicolgicos do
trabalho nas organizaes caracterizaram-se pela primazia dada ao comportamento e cognio
como seus determinantes de maior peso em detrimento de outros aspectos como os sentimentos e
o imaginrio devido a dificuldade dos gestores em lidar com elementos menos visveis e que
envolviam anlises mais complexas e profundas. Isto porque, segundo o autor, seria complicado
para um gestor entender e decidir sobre um de seus funcionrios com base no contedo da dinmica
de seu inconsciente. Entretanto, para Ziemmer (1996, p.14).

No nvel de complexidade atual das relaes, a dimenso subjetiva no
deve ser ignorada, pois cada vez mais perceptvel que ela dirige, canaliza
e influencia a ao das organizaes, tanto ou mais do que as estratgias
elaboradas de forma intencional e racional.

4 O Simblico e o Imaginrio

Segundo Krech, Crutchfield e Ballachey (1969) tem crescido o interesse pelo estudo dos
padres implcitos para o comportamento, pois acredita-se que eles determinam as regularidades
observadas no comportamento explcito das pessoas. Esses padres, entendidos como cultura
implcita, podem ser discutidos em funo das crenas, valores, normas e premissas culturais de
uma sociedade. O sistema de crenas, segundo os autores, inclui todas as cognies, ideias,
conhecimento, tradies e mitos, sendo o mito uma das bases para a continuidade da vida social e da
cultura.
Minayo (2011, p.35) reafirma esta concepo quando expressa que, desde tempos imemoriais,
as religies, a filosofia, a poesia e os mitos tm sido poderosos instrumentos de conhecimento por
meio dos quais possvel desvendar as lgicas profundas do inconsciente coletivo, da vida cotidiana
e do destino humano. Tambm em Jung (1987) podemos ver essa interpretao quando ele afirma
que existem em cada indivduo as grandes imagens primordiais, ou seja, a aptido hereditria da
imaginao humana de ser como nos primrdios, o que explica o fenmeno de alguns temas de

769
lendas se repetirem no mundo inteiro e de forma idntica, caracterizando formas universais de
percepo do comportamento humano.
Paula (1999, p.65), consolidando as reflexes que vrios autores desenvolveram baseados em
Carl Jung
1
, define os smbolos como as melhores expresses, descries ou formulaes possveis
para um fato relativamente desconhecido que se sabe poder existir. Segundo o autor, quando os
smbolos so organizados de forma coerente numa narrativa, pode-se consider-los como
constituindo mitos.
De acordo com Dias (2003, p.80), do inconsciente ao processo consciente haver sempre um
imaginrio a ser formado pelas pessoas. Acerca dessas duas dimenses, a autora (2003, p.86) destaca
que, enquanto o consciente delimitado em sua viso, o inconsciente no se pode delimitar, uma
vez que contnuo e imenso em sua plenitude, podendo, sim, ser dividido, segundo a viso de Jung
[...] em inconsciente pessoal e inconsciente coletivo.
O inconsciente pessoal composto estritamente por elementos pessoais, experincias que, de
acordo com Dias (2003), no so aceitas pelo ego. Segundo Jung (1979, p.11), os contedos
inconscientes so de natureza pessoal quando podemos reconhecer em nosso passado seus efeitos,
sua manifestao parcial, ou ainda sua origem especfica. So partes integrantes da personalidade,
pertencem a seu inventrio. O inconsciente coletivo, entretanto, concentra o resduo psquico da
evoluo do homem, suas imagens primordiais, uma estrutura denominada arqutipo que
definida por Jung como formas instintivas de imaginar (Dias, 2003).
Paula (2005) afirma que os arqutipos so entidades hipotticas que descrevem certos padres
de desempenho psicolgico e de estruturao da psique que esperam o momento de se ativarem (o
que vai ocorrer em funo das demandas do indivduo em interao com o meio) e se realizarem na
personalidade. O autor (2005, p.26) tambm referencia Jung que define arqutipo como formas ou
imagens primordiais de natureza coletiva, que ocorrem em praticamente todas as partes da terra
como componentes dos mitos, e simultaneamente, como produtos individuais de origem
inconsciente.
Para Jung (1995, p.86), uma vez que as figuraes do mundo so retratos relativamente fiis
dos acontecimentos psquicos, os seus arqutipos tambm correspondem a certas caractersticas
gerais de ordem fsica, motivo pelo qual possvel transferir figuraes arquetpicas como conceitos
ilustrativos da experincia diretamente ao fenmeno fsico: Devido ao seu parentesco com as coisas
fsicas, os arqutipos quase sempre se apresentam em forma de projees.
Oliveira e Maia (2008) mencionam essa viso em relao ao imaginrio trazendo a abordagem
dada ao tema por Gilbert Durand (1997) que construiu uma Teoria Geral na qual o imaginrio
considerado como

o alicerce fundante sobre o qual se constroem as concepes de
homem, de mundo, de sociedade. A sua base matricial para a construo
da tessitura das relaes indivduo/sociedade, natureza/cultura (Oliveira &
Maia, 2008, p.1).

Gilbert Durand (1997) considera que a principal funo do imaginrio encontrar modos de
enfrentar a angstia original decorrente da conscincia do Tempo e da Morte visando desenvolver
estratgias para enfrentar as situaes que as evoquem. Assim, diante da impossibilidade de encarar
o desconhecido e manusear os perigos que este possa representar, o imaginrio cria imagens que
representam as faces do Tempo e da Morte. Neste enfrentamento so desenvolvidas duas atitudes
imaginativas padro, que correspondem a dois regimes de imagens diurno e noturno e trs
dominantes reflexas: postural, digestiva e rtmica ou copulativa. De acordo com Paula (2012), as

1
Psiquiatra suo, criador da Psicologia Analtica

770
representaes correspondentes s dominantes expressam-se em substratos gestuais (schmes) que
substantificam-se em arqutipos ao entrarem em contato com o meio natural e sociocultural.
Chanlat (1996, p.30-31) afirma que o universo humano um mundo de signos, imagens,
smbolos e mitos e que um local propcio emergncia do simblico so as organizaes - espao
particular da experincia humana. Campo profcuo para a pesquisa cientfica, as organizaes so
um reflexo da sociedade e exercem um papel considervel na vida do ser humano. Entender e
analisar metodicamente suas dinmicas nos aspectos funcionais, informacionais e comportamentais
nos permite compreender questes relacionadas ao prprio existir do indivduo e sua histria de
evoluo na sociedade.

5 Analisando a tomada de deciso sob o olhar simblico

O objeto de estudo da pesquisa proposta configurou-se na investigao dos comportamentos
informacionais relacionados tomada de deciso por meio de mtodos que privilegiassem a anlise
do processo decisrio utilizando as dimenses simblicas e afetivas. Para tanto procurou contemplar
o uso de instrumentos de pesquisa que possibilitassem analisar os comportamentos subjetivos
envolvidos neste processo.
Foi selecionada para a investigao uma situao de tomada de deciso em nvel operacional
ambientada em uma biblioteca universitria. A escolha desse ambiente deveu-se ao fato de que, na
biblioteca, ocorre um processo de tomada de deciso que envolve certa complexidade e grande
importncia na recuperao da informao: a anlise de assunto no processo de indexao. Atribui-
se indexao a complexidade do processo de tomada de deciso visto que, apesar da existncia de
metodologias que orientam a prtica de indexao ocorre, segundo Kobashi (1994), um vazio terico
e metodolgico nas vrias regras de elaborao de informaes documentrias. Segundo a autora,
estas regras no apresentam indicaes objetivas sobre o modo de obter os produtos desejados,
valendo seu xito ao bom senso e experincia do indexador, fato que nos leva a atentar para a
influncia dos aspectos subjetivos na tomada de deciso envolvida nesta atividade.
A pesquisa foi conduzida em uma biblioteca especializada integrante de um Sistema de
Bibliotecas de uma instituio de ensino superior. O domnio em anlise, donde foram selecionados
os sujeitos para participao da pesquisa, uma das bibliotecas que possui um dos maiores acervos
bibliogrficos do Sistema. Essa ambincia mostrou-se adequada aos objetivos da pesquisa uma vez
que, nas bibliotecas com maiores acervos, o volume de entrada de exemplares, e consequente
tratamento de informao para compor o catlogo bibliogrfico, tambm so maiores. Os sujeitos da
pesquisa foram trs bibliotecrios lotados na biblioteca, cujo critrio de seleo foi a experincia na
atividade de catalogao e o aceite voluntrio para participar da pesquisa.
Foram utilizadas algumas tcnicas e mtodos como instrumentos de anlise, cabendo
destaque para a Abordagem Clnica da Informao, a Tcnica do Incidente Crtico, o Protocolo
Verbal, a Anlise de Contedo e o Teste Arqutipo dos Nove Elementos (AT9).
A Abordagem Clnica da Informao, metodologia apresentada por Paula (2012), aponta a
possibilidade de investigar o comportamento informacional considerando a influncia de elementos
culturais, simblicos, cognitivos e afetivos, assim como fatores psicodinmicos (conscientes e
inconscientes). A proposta designa uma perspectiva de trabalho inspirada na designao francesa
approche clinique que tem por caracterstica um olhar profundo do fenmeno da informao,
utilizando-se de uma perspectiva clnica (sem o vis psicopatolgico) para alcanar nveis de anlise
que no so usuais nos estudos comportamentais e cognitivistas tradicionais.
Esse mtodo de abordagem, segundo o autor, consiste em investigar o objeto sobre o qual se
pe um problema, inserindo as informaes coletadas na dinmica particular desse objeto,
reconhecendo e determinando certos estados, padres, movimentos e alteraes. Essa ao permite
descrever fenmenos, tecer diagnsticos, prognsticos ou prescrever intervenes. No entender de
Paula (2012), a adoo desta prtica possibilita o sair de cena de uma postura mais funcionalista e

771
adentrar ao palco das aes numa busca intensa pelos comos e os porqus das aes
consideradas subjetivas e dotadas de significados.
Uma forma peculiar de trabalhar a subjetividade, de acordo com Paula (2005), trabalhar os
smbolos. Nessa perspectiva, foi utilizada uma estratgia para acessar a subjetividade humana
baseada no conceito apresentado por Tassara e Rabinovich (2001) que consideram a possibilidade de
utilizao do fenmeno da expresso criativa como forma de acesso dimenso subjetiva. As
autoras (2001, p.217) entendem que o potico uma condio humana e que a subjetividade se
expressa

pelas figuras que representam as imagens e estas, por sua vez,
alimentam o pensamento que se expe atravs de falas. O que se conhece
do sujeito aquilo que ele vai ser capaz de expressar a respeito destas
imagens que compem o seu acervo experiencial, mediado pela linguagem,
que no o define mas o veicula (Tassara & Rabinovich, 2001, p.217).

Para viabilizar a abordagem simblica na pesquisa foi utilizado o AT-9. Desenvolvido pelo
psiclogo frances Yves Durand (1988) como modelo normativo de validao da Teoria Geral do
Imaginrio de Gilbert Durand (1997), este mtodo tem como objetivo identificar os ncleos
organizadores da simbolizao, os micro-universos mticos que derivam dos regimes de imagens e
que esto presentes no imaginrio de cada homem (Oliveira & Maia, 2008, p.7). De acordo com
Cemin et al (2001), o AT-9

um teste do tipo projetivo, com abordagem e orientao
antropolgicas, que visa mapear o tipo de estrutura do imaginrio com a
qual o indivduo (isolado ou em grupo) expressa seus estmulos ansigenos,
suas defesas e o uso que faz dos elementos auxiliares propostos pelo teste.

A tcnica compreende a elaborao de um desenho composto por nove elementos, um relato
sobre esse desenho e um pequeno questionrio, sendo que os nove estmulos que fazem parte da sua
composio configuram-se dentro de um quadro de referncia elaborado por G. Durand (1997). Os
nove elementos/estmulos por meio dos quais se espera conduzir a emergncia do imaginrio so:
queda, espada, refgio, monstro devorante, algo cclico (que gira, produz ou progride), personagem,
gua, animal (mamfero, pssaro, rptil ou peixe) e fogo.
O teste composto por um estmulo central, dois estmulos ansiognicos, trs estmulos de
resoluo de ansiedade e trs estmulos complementares, sendo que os estmulos so palavras-
chave, smbolos arquetpicos que estimulam o sujeito na elaborao do seu traado grfico e
discursivo (Oliveira & Maia, 2008, p.7). No entendimento de Paula (2012) a inteno utilizar
estmulos arquetpicos que tm o papel de colocar o problema trabalhado numa perspectiva de
tempo, ameaa e finitude para construir modos de enfrentamento de um problema.
Associada s metodologias acima mencionadas incorporou-se pesquisa a Tcnica do
Incidente Crtico (TIC). Esta tcnica consiste em um conjunto de procedimentos para a coleta de
observaes diretas do comportamento humano, de modo a facilitar sua utilizao potencial na
soluo de problemas prticos e no desenvolvimento de amplos princpios psicolgicos (Flanagan,
1973, p.99).
Um incidente definido por Flanagan (1973, p.100) como qualquer atividade humana
observvel que seja suficientemente completa em si mesma para permitir inferncias e previses a
respeito da pessoa que executa o ato. Segundo o autor, para ser considerado crtico, um incidente
deve ocorrer em uma situao na qual o propsito ou inteno do ato parea bastante claro ao
observador e suas consequncias sejam suficientemente definidas para deixar poucas dvidas sobre
os seus efeitos.

772
Para Nogueira, Mendes, Trevizan e Hayshida (1993),

A essncia da tcnica consiste em solicitar do observador, ou sujeitos
envolvidos numa atividade, tipos simples de julgamentos ou relatos de
situaes e fatos que so avaliados pelo pesquisador em funo da
concordncia/discordncia destes julgamentos, ou relatos com o objetivo e
natureza da atividade, ou situao, que se deseja estudar. Para evitar que as
observaes sejam feitas ao acaso, sem mtodo e sem sistematizao,
muitas vezes dependentes apenas das inferncias subjetivas do observador,
h necessidade de um conjunto de procedimentos que, alm de coletar as
observaes, permitem uma sistematizao e anlise das mesmas
(Nogueira et al, 1993).

Como estratgia para a coleta de dados do experimento executado na pesquisa foi utilizada
uma tcnica de anlise qualitativa denominada Protocolo Verbal. Esta tcnica, sistematizada por
Ericsson e Simon (1980), consiste na verbalizao consciente dos pensamentos dos indivduos diante
da execuo de uma atividade com vistas a fornecer informaes, a partir da exteriorizao por meio
da fala, de seus processos mentais.
Por fim, como um dos eixos de estruturao da anlise na pesquisa foi utilizada a Anlise de
Contedo. Chizzotti (2011, p.115) define esta tcnica como um conjunto de procedimentos que visa
extrair o sentido de um texto por meio das unidades elementares que compem produtos
documentrios, ou seja, palavras-chave, lxicos, termos especficos, categorias, temas e semantemas.
A expectativa, segundo o autor, identificar a frequncia ou constncia dessas unidades para fazer
inferncias e extrair os significados inscritos no texto a partir de indicadores objetivos.
Para Bardin (2011, p.52), o objetivo geral da anlise de contedo a manipulao de
mensagens visando evidenciar indicadores que permitam inferir sobre uma outra realidade que no
a da mensagem. O autor destaca que as diferentes fases desta tcnica se organizam em torno de trs
polos cronolgicos: a) pr-anlise; b) explorao do material; c) tratamento dos resultados, a
inferncia e a interpretao.
Desta forma, a pesquisa emprica foi estruturada nas seguintes etapas:

Figura 1. Estrutura da pesquisa emprica
2

As entrevistas, de natureza semiestruturada, foram realizadas individualmente no ambiente
de trabalho dos bibliotecrios, nas quais foram coletados dados demogrficos dos sujeitos
pesquisados (sexo, idade, estado civil, nvel de instruo, formao), bem como informaes sobre o
tempo de graduado, tempo de exerccio na funo atual, tempo de trabalho na atividade de
tratamento da informao, dentre outros, com o objetivo de conhecer um pouco da trajetria
profissional dos pesquisados, abordando principalmente aspectos relacionados atividade de
catalogao, indexao e anlise de assunto.
A entrevista inicial foi conduzida a partir do roteiro elaborado segundo as proposies
tericas de Paula (1999, 2005, 2012). Aps a realizao da entrevista foi apresentada a proposta de
realizao de um experimento que compreendeu a execuo de uma atividade de anlise de assunto.

2
Fonte: Elaborado pela autora
Entrevista
inicial
Realizao do
experimento
Protocolo
Verbal
Aplicao
do AT9
Anlise e
concluses

773
Os materiais selecionados para fazer parte do experimento foram livros que no existiam no acervo
da Universidade, que foram escolhidos aleatoriamente por possurem assuntos diferenciados.
Aps a execuo da atividade foi utilizada a tcnica denominada Protocolo Verbal para a
coleta de dados. Finalizada esta etapa solicitou-se aos bibliotecrios que escolhessem um dos livros,
sobre o qual houve algum grau de dificuldade em realizar a atividade ou no qual o processo de
tomada de deciso tenha se diferenciado um pouco dos demais, para que pudesse ser aplicado o
Teste Arquetpico de Nove Elementos.
Os dados reunidos por meio da entrevista, bem como os dados obtidos no Protocolo Verbal,
foram tratados, analisados e interpretados utilizando-se a tcnica da Anlise de Contedo, apoiando-
se nas proposies de Bardin (1977). A etapa posterior de compilao dos dados compreendeu a
avaliao de todo o material obtido sob o crivo das estruturas antropolgicas do imaginrio de G.
Durand (1997) consolidada na metodologia desenvolvida por Y. Durand (1988) com vistas a
identificar indcios que revelassem como se deu o processo informacional, subjetivo e afetivo
envolvido na tomada de deciso.

6 Resultados parciais

Os bibliotecrios que participaram da pesquisa, denominados por S1, S2 e S3, podem ser
identificados segundo as caractersticas constantes do Quadro 1.

Caractersticas S1 S2 S3
Idade 58 56 40
Sexo Feminino Feminino Feminino
Estado civil Solteira Solteira Solteira
Ano da graduao 1993 1988 2003
Ps-graduao Especializao em Sist. de
inform. Cincia e
Tecnologia
Especializao em
Administrao
Especializao em
Informtica
Outro curso superior Estudos Sociais Administrao
Trabalha como Bibliotecria Desde 1993 Desde 1994 Desde 2004
Trabalha como Catalogador Desde 1993, mas de forma
ininterrupta a partir de
2000
Desde 1994 (S
execuo)
Desde 2004

Quadro 1 Perfil dos bibliotecrios
3

A primeira etapa do processo de anlise compreendeu verificar a estruturao temtica da
entrevista inicial por meio da Anlise de Contedo. A atividade consistiu na diviso do contedo
textual em categorias semnticas que foram definidas baseando-se em pontos considerados
relevantes no que se refere Tomada de Deciso identificando rubricas que poderiam caracterizar a
presena da subjetividade no processo decisrio. As entrevistas foram submetidas a uma anlise
temtica tendo como referncia as seguintes categorias:
Processo de tomada de deciso;
Critrios utilizados para orientar a tomada de deciso;
Influncia da experincia pessoal na tomada de deciso;

3
Fonte: Dados de pesquisa. Elaborado pela autora

774
Fontes de informao utilizadas na tomada de deciso;
Sentimentos envolvidos na tomada de deciso;
Presso vivenciada na tomada de deciso;
Obstculos percebidos na tomada de deciso;
Relacionamentos ocorridos durante a tomada de deciso;
Dvidas existentes na tomada de deciso.

A Anlise de Contedo tambm foi efetuada no material transcrito do Protocolo Verbal.
Procurou-se verificar se as mesmas categorias identificadas no relato da entrevista inicial estariam
representadas na tomada de deciso referente anlise de assunto realizada com os livros do
experimento.
A utilizao da Tcnica do Incidente Crtico possibilitou a observao, por meio do relato dos
pesquisados, de situaes crticas vivenciadas em atividades de tomada de deciso. A vantagem do
uso desta tcnica foi possibilitar a identificao de eventos relatados na perspectiva dos
entrevistados de modo a compor a anlise dos aspectos subjetivos da tomada de deciso numa
perspectiva holstica em que o indivduo no considerado isolado de seu contexto e histria, o que
permitiu nessa pesquisa um entrelaamento entre fatos presentes e passados.
A anlise da subjetividade por meio do uso das dimenses simblicas e afetivas consolidou-se
nesta pesquisa atravs de duas abordagens, das quais se destaca o AT-9. A aplicao deste teste
permitiu que pudessem ser acessados os aspectos subjetivos existentes de forma inconsciente
quando do processo de tomada de deciso. De acordo com Paula (2012), os elementos do teste podem
ser agrupados quanto ao seu contedo temtico, possibilitando verificar a estrutura do imaginrio e
o universo mtico dos sujeitos, caracterizado por G. Durand (1997) em quatro tipos:

Estruturao herica (tema do combate); estruturao mstica
(atmosfera do repouso); estruturao sinttica (temas do combate e
repouso organizados de forma diacrnica ou sincrnica); e universo da
no-estruturao, no qual os nove elementos so representados
isoladamente e sem articulao temtica aparente entre si. (Paula, 2012)

O contedo da aplicao do AT-9 apresentado resumidamente abaixo:
O primeiro entrevistado (S1) representou a situao de tomada de deciso por meio do
desenho visualizado na Figura 2. As respostas ao questionrio podem ser assim agrupadas:

Elementos essenciais: Montanhas, trilhas, borboleta, espada;
Elementos a eliminar: Ondas do mar (gua);
Como acaba a cena: Conscincia do caminho a seguir;
Onde voc estaria na cena e o que faria: Exatamente o que o personagem fez.

775

Figura 2. Cena imaginada por S1

O segundo entrevistado (S2) representou a situao de tomada de deciso por meio do
desenho visualizado na Figura 3.


As respostas ao questionrio podem ser assim agrupadas:

Elementos essenciais: Fogo, gua, queda dgua que o moinho, refgio;
Elementos a eliminar: Monstro;
Como acaba a cena: Acaba no refgio;
Onde voc estaria na cena e o que faria: Nadando, estaria na gua, descansando.

O terceiro entrevistado (S3) representou a situao de tomada de deciso por meio do desenho
visualizado na Figura 4 e as respostas ao questionrio podem ser assim agrupadas:

Elementos essenciais: Animal, a natureza e a espada;
Elementos a eliminar: As nuvens, as pedras do fundo, ou do caminho;

776
Como acaba a cena: O personagem consegue chegar ao abrigo;
Onde voc estaria na cena e o que faria: Seria o personagem e usaria a espada para me
defender da cobra.


A interpretao dos dados seguiu orientao expressa em Paula (2012) de realizar uma
costura das narrativas obtidas por meio dos instrumentos de pesquisa utilizados visando a
complementaridade. A anlise inicial dos dados mticos evidenciados pelo AT-9 possibilitou
vislumbrar os cenrios relatados a seguir:
S1 estruturou seu desenho em torno de elementos que simbolizam, para o entrevistado,
barreiras, conhecimento, caminho a seguir e novo caminho. Gostaria de eliminar da cena as ondas
do mar (gua) que representam o monstro, elemento que, segundo Y. Durand (1988), suscita o
tempo, a morte e a angstia do indivduo.
Essa representao consolida um cenrio do qual se pode inferir que a angstia encontra-se
presente na dvida pela melhor soluo e nas dificuldades e insegurana, pois h barreiras e vrios
caminhos a seguir. Para resolver a angstia S1 recolhe-se reflexo (refgio) para pensar na soluo
e encontrar o caminho mais seguro. Deseja eliminar as dificuldades e inseguranas para chegar ao
seu final feliz que a conscincia do caminho a seguir.
A circunstncia demonstrada no desenho no qual a espada e o monstro so desfuncionalizados
e a existncia de uma representao de cenrio de vida pacfica com o jardim, permite caracterizar o
micro-universo deste sujeito como Mstico Integrado.
Com base nos elementos obtidos por meio da pesquisa emprica foi possvel inferir que, numa
situao de tomada de deciso, S1, antes de enfrentar a situao de decidir, para, pensa e analisa
todas as possibilidades para chegar escolha do caminho a seguir. Sente-se inseguro quando a
situao de deciso se lhe apresenta, mas ampara-se em suas reflexes para decidir. A tomada de
deciso de S1 demonstrou ser bastante subjetiva, pois fruto de um processo de anlise baseada em
suas convices pessoais.
S2 estruturou seu desenho em torno de elementos que simbolizam para o entrevistado a
dvida, a continuidade, a deciso como algo cclico e a deciso satisfatria. S2 gostaria de eliminar da
cena o monstro que representado pela figura humana. A espada representa no desenho o
sentimento de coao e significa a obrigatoriedade de decidir.

777
Essa representao consolida um cenrio do qual se pode inferir que o ponto desejado para o
final da histria a deciso satisfatria (chegar ao refgio). Para isto acontecer deve-se passar pelo
movimento de decidir (s vezes h dvida fica em baixo no moinho), mas a gua (continuidade)
movimenta o moinho e coloca a deciso no alto representando acerto ou certeza). Para S2 decidir
um processo: s vezes se acerta, outras no, movimento natural do ciclo. Mas, nesta dinmica,
aparecem os monstros, as pessoas que o obrigam a tomar uma deciso. O final desejado passar
pelos desafios e descansar na cabana, que o refgio.
A circunstncia cclica evidente no desenho representada pelo movimento do moinho, e
reforada na narrativa da histria de S2 pelo peixe que nada tranquilo, mas as vezes perseguido
pelo tubaro. Esse cenrio caracteriza o micro-universo de S2 como Sinttico simblico de forma
diacrnica de evoluo cclica, no qual a dualidade integrada e modulada em fases do ciclo
expressa pelos altos e baixos.
situao de tomada de deciso, S2, enfrenta a situao de decidir, como um processo natural que
ameaado quando h presso de outra pessoa na deciso. Sente-se coagido quando a situao de
deciso se lhe apresenta com mais algum no processo. A tomada de deciso de S2 demonstrou ser
influenciada pela presso do outro, situao que demonstra que S2 pode ter dificuldade em trabalhar
e decidir em equipe ou em situao que o outro tenha opinio contrria sua.
S3 estruturou seu desenho em torno de elementos que simbolizam para o entrevistado o
medo, a mudana e a proteo. S3 gostaria de eliminar da cena as nuvens e as pedras que
representam as mudanas e as dificuldades e desafios.
O monstro, que suscita a angstia do indivduo, representado pelas pedras. A espada, um dos
elementos que se constitui, nas consignas do teste, como meio de resolver a angstia, no desenho
representada por um instrumento (de corte). Esta representao consolida um cenrio do qual se
pode inferir que o entrevistado necessita se proteger das mudanas que lhe causam medo utilizando,
para tanto, o instrumento que tem em mos. Ele deseja eliminar os desafios para chegar ao final
imaginado da sua histria que alcanar o refgio, ou seja, chegar ao abrigo. Entretanto, quando
questionado sobre sua participao na cena, S3 se v em posio de enfrentamento: ele se coloca
como o personagem e usaria a espada para lutar contra a cobra (animal) que um dos elementos
em torno do qual o desenho se estruturou e que significa amedrontar/ provocar decises.
Essa circunstncia de combate e repouso caracteriza o universo mtico de S3 como Sinttico.
Diante da angstia da deciso, que marcada no desenho pelas mudanas, pelo cclico representado
pela natureza e pelas nuvens, ele deseja passar pelas dificuldades e chegar ao abrigo seguro, mas no
se furta ao enfrentamento do perigo que se aproxima representado pela cobra que personifica, no
discurso narrado, a tomada de deciso.
A dualidade presente na narrativa demonstra que o universo mtico de S3 enquadra-se como
um micro-universo Sinttico Existencial Diacrnico, no qual o personagem vive dois episdios com
polaridades heroico e msticas de maneira sucessiva.
situao de tomada de deciso, S3 enfrenta a situao de decidir, no por opo, mas porque precisa
passar por ela para chegar a uma situao segura. Tem dificuldades com desafios, mas os enfrenta
sem pestanejar, pois o desafio da deciso est ligado vida. Sente-se inseguro quando a situao de
deciso se lhe apresenta, mas usa instrumentos para agir, de modo que sua deciso totalmente
amparada nas fontes de informao que considera adequadas. A tomada de deciso de S3
demonstrou ser bastante objetiva, pois fruto de um processo de anlise do contexto baseada em
informaes buscadas em fontes confiveis, mas h pouco espao para a intuio, j que so apenas
as fontes de informao embasam sua deciso.

778
Concluses parciais

Por meio da pesquisa emprica, contraposta aos resultados do AT-9, foi possvel verificar os
primeiros indcios que evidenciam a influncia das dimenses simblicas e afetivas sobre a
subjetividade envolvida no processo de tomada de deciso.
O estudo continua sendo desenvolvido com a anlise dos resultados do teste junto aos demais
instrumentos utilizados na pesquisa, perspectiva que sinaliza a importncia da complementariedade
dos mtodos na anlise holstica do fenmeno e no entendimento da subjetividade e sua influncia
na compreenso da dinmica decisria.

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782
LA DESCRIPCIN DE IMAGEN EN MOVIMIENTO PARA TELEVISIN EN EL NUEVO CONTEXTO DIGITAL

JORGE CALDERA-SERRANO
[email protected]

Resumen Se identifican y definen los principales cambios que se han desarrollado en la descripcin de imagen
en movimiento en los archivos de televisin, derivados de los cambios de las plataformas analgicas a las
digitales, siendo conscientes que este cambio ha generado importantes modificaciones en la produccin,
difusin, edicin y por supuesto en los hbitos y rutinas en los centros de documentacin audiovisual de las
cadenas. Los cambios tendrn relacin con los derivados de un acceso inmediato al documento original,
mientras que tradicionalmente era necesario acceder al documento referencial que te remita al depsito o
videoteca donde era necesario acceder al documento utilizando adems reproductores del material
audiovisual.

Palabras-clave Sistemas digitales televisivos. Imagen en movimiento. Descripcin documental. Unidad
documental. Keyframes.

Abstract Identify and define the major changes that have taken place in the description of moving image on
television archives, resulting from changes of the analogue to digital platforms, be aware that this change has
led to major changes in production, distribution , editing and of course habits and routines in audiovisual
documentation centers of the chains. Changes relating to derivatives have immediate access to the original
document, while traditionally it was necessary to access the document you referred the benchmark deposit or
library where it was necessary to access the document using players also audiovisual material.

Keywords Television digital system. Motion picture. Description documentary. Unit documentary. Keyframes.

Introduccin

La digitalizacin es una realidad en todas las empresas televisivas. El primer esfuerzo por
parte de estas instituciones fue la digitalizacin de la redaccin, con el fin de intentar emitir a la
mayor brevedad posible con mejor calidad. No siempre fue fcil ni barato la adaptacin a este nuevo
modelo, a las cuales algunas cadenas se vieron abocadas sin quererlo y otras sin ser conscientes de
ello.
Pero una vez digitalizada las redacciones era necesario digitalizar todo el sistema lo que no
siempre se realiz de forma sincronizada. Ejemplo de este desfase fueron los Sistemas de
Informacin de Documentacin Audiovisual, los cual se han ido implantando de manera dispar
atendiendo a cada medio de comunicacin. Algunos de los medios comenzaron rpidamente a
generar informacin en digital pero no a reconvertir sus fondos.
Esta migracin de los fondos analgicos a lo digital es sin lugar a dudas uno de los mayores
problemas con los que han contado las cadenas. No siempre es fcil digitalizar ciento de miles de
horas de imgenes, y sobre todo, determinar hasta qu punto es importante y vital dicha
retroconversin. Las grandes cadenas, especialmente las surgidas en la dcada de los 50 del siglo
pasado, cuentan con un basto fondo documental en multitud de formatos y soportes, los cuales no
resulta sencillo digitalizar por los cambios continuos en la tecnologa de la informacin. Los cambios
en los soportes documentales se traduce igualmente en cambios los reproductores necesarios.
Pero este camino se ha recorrido por muchas cadenas, algunas siguen inmerso en l, no
obstante la digitalizacin es una realidad en todos los medios de comunicacin y, por su puesto, en
los sistemas documentales.

783
Esta migracin a lo digital debe traducirse en mutaciones en las formas de hacer y entender
en documentacin. Sera absurdo seguir trabajando con patrones analgicos en un ambiente digital,
por lo que es necesario sacarle el mayor partido posible al mbito digital.
Lo digital potencia el acceso, la difusin, la rapidez de transmisin, y la optimizacin de la
informacin desde un punto de vista documental. Se va a tratar de analizar en este trabajo en qu ha
cambiado la lectura de imagen en el contexto digital, en qu se traduce estos cambios en los
mtodos de trabajo y cmo el periodista como el gestor de media library han ganado en
disponibilidad y recuperacin documental.
La metodologa utilizada en el trabajo es la revisin de las labores de descripcin en los
medios de televisin, especialmente los realizados en Televisin Espaola (en el mbito analgico) y
de Tele 5 y Antena 3 TV en su nueva forma de descripcin en las plataformas digitales. Partiendo de
estos tipos de descripcin, y atendiendo al repaso de la bibliografa existente sobre dicha temtica,
se indicarn los principales cambios en la lectura de imagen en movimiento.

1 La Unidad Documental en televisin

Ginchart y Menou (1983) definen la unidad documental como la parte
de un documento que se ha aislado artificialmente con el fin de proceder a un
tratamiento posterior: descripcin bibliogrfica, descripcin del contenido,
almacenamiento y bsqueda de informacin, difusin. Un documento constituye
efectivamente una unidad fsica, pero puede contener informaciones de distinta
naturaleza o sobre diversos temas, que puede ser interesante discriminar. Esta
separacin corresponde a veces a una parte de un documento fsicamente aislable.

No existe un nmero representativos de trabajos que analicen la unidad documental en
informacin audiovisual y mucho menos en los archivos de televisin (Zapico & Caldera, 2000). No
obstante, se puede llegar a la siguiente conclusin: no puede tratarse la unidad documental en las
televisiones tal y como se entiende en otras unidades, al ser potencialmente las unidades de anlisis
y recuperacin distintas (atendiendo a los requerimientos del usuario). El material audiovisual
durante su anlisis se agrupa normalmente atendiendo a criterios temticos, es decir, se aglutina
todo el material con el que se ha generado una informacin en un mismo documento. Ahora bien, el
periodista raras veces requiere la informacin de esta misma manera, requiriendo una parte
concreta del documento matriz.
Algunos elementos para individualizar la referencia documental seran:

Unidad informativa conceptual: noticia, entrada, reportaje o hecho.
Tratamiento y creacin del documento atendiendo a la agrupacin conceptual de la
informacin audiovisual. Independientemente de las imgenes y de su potencial relacin, se
conservan en el mismo documento aquellas imgenes que fueron generadas para un mismo hecho
noticioso.

Unidad documental de emisin: programa o espacio
La emisin puede ser la unidad especialmente en programas no informativos, donde la
totalidad de la produccin audiovisual coincida con la emisin.

Unidad documental temtica.

784
Otra opcin, y cercana a la noticia sera la unidad documental temtica, en la cual se aglutinan
en un mismo item diferentes imgenes con una temtica en comn.

Las diferentes definiciones que se realizan de unidad documental siempre tratan el concepto
desde el punto de vista del tratamiento pero nunca de la difusin. Recordar que la unidad
documental puede elaborarse desde la unidad noticiable, desde la unidad de emisin como desde la
unidad temtica. Pero esta unidad de tratamiento y conservacin es muy diferente a la unidad de
difusin, debido a que los usuarios solicitan informacin de todo tipo: personajes, lugares, temas y/o
noticias, etc. La unidad documental utilizada en el mbito de la documentacin de manera
generalizada es la monografa, en cuyo caso la unidad de tratamiento y difusin es idntica (no as
con el libro electrnico, en el cual se abre un nuevo abanico de posibilidades de recuperacin),
mientras que con la documentacin audiovisual el usuario no siempre pide el documento completo
sino que puede solicitar "captulos" o "frases" dentro del documento audiovisual.
En definitiva las referencias que pueden localizar en un gestor de base de datos audiovisual
seran (Zapido & Caldera, 2000):

1. Referencias de noticias o crnicas emitidas en los informativos.
2. Referencias de programas informativos completos, descripcin de la noticia y no de
las imgenes.
3. Referencia de reportajes, entrevistas, mesas redondas, etc. dnde la informacin
audiovisual es mucho ms relajada, con mayor duracin y menos post producida.
4. Referencias de actos que han sido grabados en su totalidad.

Tal y como sealan Caldera y Arranz (2011) los sistemas digitales permiten fragmentar y
jerarquizar los documentos audiovisuales, convirtiendo las secuencias en pequeas unidades
documentales dentro del vdeo mayor (noticia, reportaje, hecho, etc.). Aunque dicha secuencia
hereda metadatos del clip matriz no deja de contar con otros que le son propios y lo identifican
dentro de la colecciones sino tambin en el marco del clip.
A continuacin exponemos un registro sealado por los autores anteriores para identificar los
diferentes tipos de unidades documentales en un documento audiovisual.

785

En definitiva, existen metadatos generales del documento y propio de cada secuencia, que es
la unidad de la descripcin de imagen. Esta forma de trabajo es especialmente til en los Servicios
Informativos de las cadenas televisivas, al contar con informacin general con una macroestructura
global (Informativos), con unidades inferiores (noticias) que a su vez estn conformadas por
elementos potencialmente reutilizables (secuencias).

2 Los keyframes representativos del documento

Una vez que hemos analizado cmo la secuencia ha conseguido mayor relevancia en el anlisis
de imgenes en el marco de las empresas audiovisuales, debemos a su vez desmontar este hecho. El
trabajo en digital hace posible no slo tener la referencia del documento original (an base para la
recuperacin en los sistemas de gestin de documentacin audiovisual de las cadenas) sino tener el
propio documento original, y adems no slo se facilita informacin referencial sino keyframes que
son representativos del propio documento.
Esto es una realidad por la que los usuarios podrn ver, incluso antes que el propio registro
documental, cules son las imgenes fijas que pueden ser representativas del documento
recuperado, pudiendo clicar sobre stas y convertirlas en material audiovisual (eso s, en baja
resolucin).
Analicemos brevemente los keyframes como elemento de representacin de la realidad y de
su extraccin.
Es representacin de la realidad desde el momento que la muestra en imagen fija, que
podemos ver el resultado de la consulta plasmada en el terminal, sin ser necesario -como
anteriormente- tomar el tejuelo de la cinta e ir a la videoteca a por la misma, identificar en qu hora,
minuto y segundo se ubicaba la imagen requerida y por lo tanto introducirlo en un reproductor para

786
ubicarlo. Nos posibilita analizar rpidamente si el material es til atendiendo a parmetros fsicos
tales como condiciones atmosfricas, iluminacin, calidad del material, encuadres, actualidad del
personaje, etc. atendiendo a una serie de parmetros que debern ser determinados por el propio
usuario.
Cuestin aparte es que en estos sistemas, la realizacin de consultas sencillas podrn ser
realizadas directamente por el usuario-periodista sin tener que utilizar los servicios del gestor de
informacin, por lo tanto ser el usuario en primera instancia quin determine la vala del material.
Pueden obtenerse keyframes o fotogramas representativos del clip de forma automtica,
atendiendo a cambios de plano, de tiempo, de colores y tambin de forma manual, siendo el
documentalista el que elige los ms representativos. Por lo tanto, implica la existencia adems del
propio documento audiovisual y de su aporte referencial, de imgenes que lo representan y le
aportan o quitan validez (Vilches, 2001).

1

La extraccin automtica tiene la principal ventaja de la rapidez y del nulo coste temporal de
los recursos humanos, y computacionalmente es relativamente sencillo. No obstante, destacar
elementos de forma automtica se traduce en que no siempre sean keyframes representativos o que
tampoco sea el comienzo o parte del clip ms relevante que quiera ser representado posteriormente
en movimiento. No obstante, parece que es una buena solucin derivado de que van a ser
representativos del documento y va a servir para la toma de decisin, por parte del periodista, si el
material es til para el producto audiovisual que se desea generar o no tiene relevancia informativa.

1
Fuente: http://forensic.belkasoft.com/en/bec/en/Video_Specific_Analysis.asp

787
3 Cambios en la descripcin de imgenes

Dejando de lado en este trabajo la descripcin de imgenes por medio de la utilizacin de un
lenguaje controlado que sin lugar a dudas es tambin una forma de descripcin (cada vez ms
denostada en algunas cadenas), vamos a centrarnos en la descripcin de secuencias propiamente
dicha y cmo los nuevos contextos digitales han cambiado las formar de hacer en los servicios de
documentacin.
Ya hemos comentado que la recuperacin por partes del clip de vdeo es una realidad que ha
sido potenciada en las plataformas digitales, derivado de lo complejo que eran estas bsquedas en
las plataformas analgicas (aunque tambin eran realizadas de esta manera y gracias a la pericia
descriptiva de los documentalistas).
Se constata en la literatura cientfica que actualmente la utilizacin del archivo es mayor,
bsicamente por que est ms accesible y con mayor facilidad para los usuarios. Adems, los
usuarios han descubierto en el archivo audiovisual una fuente inagotable de recursos y tambin de
sorpresas para las futuras producciones. El archivo audiovisual se ha convertido en uno de los
principales centros de produccin de material audiovisual en las cadenas (Caldera & Arranz, 2011).
Los usuarios son cada vez ms exigentes al conocer cada vez ms el fondo y las maneras de
trabajo en los centros de informacin audiovisual, y sobre todo, los tiempos de espera para el acceso
a la informacin se han recortado de forma considerable.
Y el cambio en la descripcin viene motivado por lo sealado con anterioridad: no slo
tenemos la referencia sino que tenemos propiamente el documento, eso significa que parte del
documento pueda ser no descrita en el anlisis ya que se tendr el documento audiovisual
propiamente dicho al cual se podr acceder. No siempre esta idea se ha llevado a la prctica en todas
las cadenas, y son muchas las que siguen describen imgenes digital como si siguieran trabajando
con material analgico. Por qu? La necesidad de consultar y buscar la informacin audiovisual por
trminos ya sea de indizacin o del lenguaje natural hacen posible que cuanto mayor y mejor sea el
anlisis y la descripcin de la imagen ms fcil ser su accesibilidad.
No obstante, estimamos que no siempre es necesario realizar semejantes esfuerzos, sobre todo
teniendo presente la presin con la que se trabaja en estos centros, presin que se est traduciendo
en recortes en el nmero de personal, rebajas salariales y mayor produccin por parte de las
cadenas, por lo que aumenta el nmero de horas a analizar.
Adems existen oportunidades que van a ayudar a aligerar an ms esta descripcin. A saber:

1. Identificacin de imgenes por patrones. Se estn desarrollando diversos trabajos
para el reconocimiento por patrones de formas, colores, etc. de diversos objetos. Esto
har posible no tener que identificar elementos al hacerlo de manera automtica el
sistema (Carrasco & Martinez, 2011).
2. Identificacin biomtrica. Se podr determinar personas por la identificacin de
puntos nodales que hacen nico a un individuo. Por lo tanto, se podr identificar de
forma automtica a todo personaje visualizado en el material y que est presente en el
banco de rostros mapeados (Caldera & Zapico, 2009).
3. Identificacin de audio transcripcin. La transcripcin de lo dicho en la banda
sonora, tanto por parte de las personas que aparecen en la informacin por medio de
las declaraciones como por la voz en off aportarn texto relevante que podr
posteriormente ser recuperado como representativo de las imgenes (Caldera, 2008).

788
4. Identificacin de audio reconocimiento. El reconocimiento del audio nos ayudar a
identificar personajes, pudiendo cruzar los bancos de imgenes y de rostros para
garantizar la validez de la identificacin y por ende de la indizacin.
5. Identificacin de elementos de postproduccin. Por medio de la identificacin de la
rotulacin sealada en las imgenes se podr identificar personajes adems de
reconocer e identificar lugares. Se podr realizar por medio de la tecnologa OCR.
6. Adicin de informacin textual al registro audiovisual. Un documento audiovisual
suele ser el resultado de una labor de conjunto realizada por parte de un colectivo
conformado por periodistas y documentalistas. Parte del proceso de produccin
queda documentado por medio de partes de grabacin, generacin de escaletas,
planes de rodaje, etc. entre otros documentos. Se requiere que estos documentos sean
adjunto al registro documental audiovisual con el fin de que dicha informacin sea
susceptible para poder recuperar los registros documentales de la coleccin
audiovisual.

En resumen, estos elementos podrn ayudar a que la disminucin del tiempo destinado a la
descripcin de secuencias, haciendo el documentalista otras labores. El Instituto Nacional de lo
Audiovisual de Francia seala que por cada minuto de imagen en tiempo real es necesario cinco
veces ms para hacer su transcripcin a texto. Este tiempo es absolutamente inadmisible en las
condiciones actuales de las televisiones, por lo que los mecanismos planteados sern una ayuda
fundamental para realizar de forma correcta la labor en los centros de informacin de las cadenas
televisivas.

Conclusiones

Se ha mostrado los principales cambios ocurridos en el tratamiento y descripcin de la
imagen en movimiento en el marco de las cadenas televisivas una vez han cambiado los sistemas
analgicos por las plataformas digitales. El anlisis documental se ha relajado al contar con el
material audiovisual de una forma ms rpida, por lo que a veces es ms fcil acceder al documento
que leer la descripcin referencial realizada por el documentalista, por lo que el anlisis documental
de las imgenes se centra actualmente ms en facilitar puntos de acceso en lenguaje libre que en dar
una descripcin exhaustiva del material audiovisual.
Adems se han aportado alternativas para la indizacin automtica como para la
identificacin de trminos-palabras que puedan ser tiles para la recuperacin del material
audiovisual por informacin que referencia al documento. Hemos de tener presente, adems, que
existe una evolucin muy rpida en la identificacin de patrones por lo que no est lejana la opcin
de poder consultar las colecciones audiovisuales por medio de material audiovisual y no por
metadatos que lo representan.
Reconocimientos
Este trabajo ha sido financiado por la Junta de Extremadura (Consejera de Educacin, Ciencia
y Tecnologa) y el Fondo Social Europeo dentro del plan de apoyo a las actuaciones de los Grupos de
Investigacin inscritos en el catlogo de la Junta de Extremadura. GR10019.

789
Referencias

CALDERA-SERRANO, Jorge (2008). Changes in the management of information in audio-visual
archives following digitization: current and future outlook. Journal of Librarianship and
Information Science, vol. 40, 1, pp. 13-20.

CALDERA-SERRANO, Jorge; ARRANZ-ESCACHA, Pilar (2011). Descripcin de secuencias en los
archivos televisivos digitales. En Lmites, fronteras y espacios comunes: encuentros y desencuentros
en las Ciencias de la Informacin. Badajoz: Abecedario, 2011. pp. 551-560. ISBN 978-84-9978-021-4

CALDERA-SERRANO, Jorge; ZAPICO-ALONSO, Felipe (2009). Biometric facial identification. El
Profesional de la Informacin, vol. 18, 4, pp. 427-431.

CARRASCO OCHOA, JESS ARIEL; MARTNEZ TRINIDAD, JOS FRANCISCO (2011). Reconocimiento de
patrones.Komputer Sapiens, Ao III, Vol. III, 2011, pp. 5- 8.

GUINCHAT, Claire; MENOU, Michel (1983). Introduccin general a las ciencias y tcnicas de la informacin
y de la documentacin. Pars: Unesco.

VILCHES, Lorenzo (2001). Tecnologas digitales al servicio de los archivos de imgenes. Anlisi, nm.
27, pp. 133-150.

ZAPICO ALONSO, Felipe; CALDERA SERRANO, Jorge (2000). La unidad documental en los servicios de
documentacin de las televisiones. En La gestin del conocimiento: retos y soluciones de los
profesionales de la informacin. Bilbao: Fesabid, pp. 129-130.

790
LA DESCRIPCIN DE MATERIAL AUDIOVISUAL EN EL INSTITUTO BRITNICO DEL CINE

MARIA-JOSE DE ESTEBAN
British Film Institute
[email protected]

Resumen El Instituto Britnico del Cine est considerado como la organizacin lder en la promocin y
fomento de la cultura cinematogrfica en el Reino Unido desde 1933, y su archivo cuenta con ms de 1,4
millones de ejemplares de pelculas y programas de televisin. El archivo tambin contiene informacin
filmogrfica sobre ms de 800,000 ttulos cuyo contenido ha sido indexado usando un tesauro con ms de
50,000 encabezamientos de materias. Desde el principio, el BFI tuvo la ambicin de potenciar y respaldar el
conocimiento sobre todos los aspectos de la cultura audiovisual y as pues en 1934 se cre la Biblioteca para
proveer informacin sobre cine en general
1
. Hoy por hoy, los fondos incluyen ms de 51,000 libros, unas 7,000
revistas de cine con cerca de 1 milln de sus artculos indexados y ms de 4 millones de artculos de prensa
digitalizados. Tambin desde su origen, el BFI se centr en coleccionar materiales relacionados con la
produccin de cine y televisin como por ejemplo guiones, documentos personales y efmera. Los fondos de
estas colecciones incluyen ms de 30,000 guiones no publicados, 15,000 carteles de cine, 1,2 millones de
fotogramas y 3,000 imgenes de diseos de vestuario y produccin.

Abstract The BFI has now integrated all its collections in a new database -CID (Collections Information
Database) and has also introduced a new workflow system to manage its film and video collections. CID holds
records for materials including: 1,4 million copies of films and TV programmes, filmographic information on
800,000 film and television titles; 51,000 books, 7,000 journals, 30,000 unpublished scripts, 15,000 posters and
designs and 90,000 stills. The different vocabularies and classification systems employed to describe the
content of moving image and related collections were incorporated too. Work has already commenced on the
strategy and methodology to tidy them up and make them more up-to-date and user-friendly. CID data
structure reflects the new metadata model created by the European Committee for Standardization (EN-
15907) to identify and describe cinematographic works. EN-15907 uses a hierarchical structure. At the top
level is the Work which describes the general and more abstract qualities of a moving image. The second level
is the Variant which is used to record minor changes to the content of a Work. The next level of the hierarchy
is the Manifestation which is used to represent an embodiment of the abstract Work in a concrete form. The
final level in CEN is the Item, that is, the object itself. The data mapping process presented many challenges as
the collections are very diverse, follow different standards and sub-standards, and include different types of
moving image. EN-15907 standard had to be adapted to enable us to describe television works as these made
up for the majority of BFI holdings and we decided not to implement the primary entity Variant at this stage.
Plans for the future include the linking of CID filmographic data to other information resources generated
within the BFI such as DVDs, festivals and programming as well as reuse the data seamlessly and dynamically
on the BFIs website.

1 CID: Collections Information Database
2

En el pasado, el acceso a las vastas colecciones tena lugar a travs de diferentes bases de
datos. Por lo general, stas eran difciles de utilizar y en la mayora de los casos no podan accederse
externamente. A esto hay que aadir que no exista una responsabilidad centralizada, con lo cual
tampoco haba ni una estructura ni una terminologa que fueran comunes a todas las colecciones.
Esto conduca a una significativa duplicacin de datos y mal estado de la documentacin en general.

1
Geoffrey Nowell-Smith and Christophe Dupin, The British Film Institute, the government and film culture, 1933-2000
(Manchester University Press: 2012, p.26).
2
Quisiera agradecer a Gabriele Popp, Jefa del Departamento de Informacin y Documentacin, y Stephen
McConnachie, encargado de la gestin de CID, por sus sugerencias con la redaccin de sta parte del artculo.

791
Alrededor de 2008 se asignaron los recursos necesarios para remplazar Tec Rec (Technical
records), la base de datos utilizada hasta entonces para gestionar los 1,4 millones de ejemplares de
pelculas y programas de televisin. El nuevo sistema de gestin de colecciones tena que permitir el
acceso directo a las colecciones del archivo y adems tena que ser capaz de facilitar las operaciones
necesarias para el funcionamiento del archivo a travs de tres ubicaciones geogrficas:
Hertfordshire, donde estn alojadas las copias de nitrato en el Centro de Conservacin de
Berkhamsted, Warwickshire-donde reside el nuevo centro para las copias maestras en acetato, y
Londres. De igual importancia era la ambicin de que el nuevo sistema pudiera gestionar y registrar
todos los programas de conservacin a gran escala que tienen lugar en el archivo. Especficamente,
el BFI necesitaba crear un sistema de flujo de trabajo que fuera capaz de proveer un enfoque
estandarizado independientemente de la tarea o combinacin de tareas requeridas para completar
una actividad: por ejemplo, el sistema tena que ser capaz de localizar si la copia de una pelcula
estaba siendo inspeccionada tcnicamente para una proyeccin, si estaba en el departamento de
audio codificacin, o si estaba en la seccin encargada de restaurar los inter-ttulos.
En Octubre de 2009 comenz la bsqueda de un proveedor de sistemas de gestin de
colecciones, con el consiguiente nombramiento de la empresa Adlib en Marzo de 2010. El desarrollo
del sistema comenz en Agosto y estuvo listo para ser utilizado un ao despus, en Septiembre de
2011. El sistema ofrecido por Adlib cumple con los estndares internacionales relevantes para la
organizacin de informacin en archivos, entre ellos:

ISAD (G): Norma Internacional General de Descripcin Archivstica para la
identificacin, produccin, seleccin, acceso, conservacin y organizacin de
documentos como guiones, documentos personales y efmera.
Spectrum: Estndares Britnicos para la documentacin de objetos en museos.

Al mismo tiempo, los nuevos estndares Europeos de metadatos para la identificacin de
pelculas acababan de emerger as que decidimos que tambin debamos adaptarlos.
Originalmente, lo que nos haban encargado en Noviembre de 2008 cuando comenz el
proyecto, era que remplazaramos el sistema que gestiona la informacin tcnica relativa a pelculas
y programas de televisin. Sin embargo, enseguida nos dimos cuenta de que podamos ampliar
nuestro cometido e integrar las bases de datos que contenan informacin sobre otros aspectos del
material audiovisual. Queramos que el BFI pudiera ofrecer al pblico acceso directo a todas las
colecciones as que el nuevo sistema tena que ser capaz de ofrecer puntos de entrada basados en
datos descriptivos como nombres propios de personas e instituciones, pases de referencia, palabras
clave, gneros, sinopsis, y datos tcnicos como formato, extensin, duracin o soportes. El sistema
de informacin tena que ser capaz tambin de enlazar el ttulo de una pelcula o programa de
televisin, por ejemplo, Orlando (Sally Potter, 1992), con todos los materiales relativos a esa pelcula
existentes en las bases de datos de otras colecciones como la de carteles, fotogramas, diseos de
produccin, guiones, libros o artculos. Adems de esto, el sistema de gestin tena que poder
enlazar los records con materiales digitalizados como archivos proxy de baja resolucin,
animaciones de celuloide y correspondencia. Finalmente, tenamos la ambicin de que el nuevo
sistema pudiera proveer registros y activos digitales para plataformas web. As pues, para cuando
empez el desarrollo del sistema en Agosto de 2010, se esperaba que CID (Collections Information
Database) consolidara las siguientes bases de datos:

Tec Rec: informacin tcnica de 1,4 millones de ejemplares de pelculas/programas de
televisin
Cdigo de barras: usado para localizar informacin sobre ms de 120,000 registros

792
BID: informacin filmogrfica (crditos, reparto, productora, pas de referencia, fecha,
etc)
Sidx: 45, 000 encabezamientos de materia en forma de tesauro

CID se lanz en Septiembre de 2011, y la segunda fase-CID2- comenz en Marzo de 2011.
Durante sta fase tuvo lugar la integracin de las siguientes bases de datos:

Idealist: base de datos de guiones, documentos personales e institucionales y efmera
OLIB: catlogo de la biblioteca
Access: una aplicacin de Microsoft usada para la gestin de carteles y diseos de
vestuario y produccin
IMS: base de datos de la coleccin de fotogramas (90,000)

A comienzos de Diciembre de 2012, lazamos un navegador de web para explorar las
colecciones en lnea con acceso restringido al personal del BFI, y en Abril de 2013 estrenamos CID en
lnea con acceso para todo el pblico as pues, finalmente, todos los fondos del BFI pueden ser
explorados por cualquiera desde cualquier sitio del mundo.

Fig.1 Base de datos del BFI en lnea http://collections-search.bfi.org.uk/web

2 Nuevos estndares: la implementacin de CEN (EN 15907:2010)

En el ao 2005, la Comisin Europea y la Asociacin Europea para el Libre Comercio solicit al
Comit Europeo de Normalizacin que definiera y desarrollara un nuevo conjunto de estndares
para metadatos relativos a la descripcin de obras cinematogrficas. La racional detrs de la decisin
era clara: Se da el caso de que los datos que existen en muchas organizaciones culturales Europeas
han sido compilados a lo largo de muchos aos y en algunos casos son anteriores al advenimiento de
las bases de datos informticas. Para ayudar a reconciliar las inconsistencias que, inevitablemente,
existen entre los datos procedentes de fuentes diferentes, ste estandar [EN 15907] trata de

793
proporcionar un puente entre los datos existentes y las nuevas tecnologas emergentes
seleccionadas para representar este tipo de datos
3
.
El momento en el que se introdujeron los nuevos estndares europeos en 2010 no poda haber
sido mejor para el BFI, y as pues nos propusimos incorporar la estructura para datos de EN 15907 en
la estructura de nuestra nueva base de datos-CID.
La tarea de organizar los datos del BFI en la estructura CEN presento numerosos retos, todos
ellos acentuados por el hecho de que cuando nos dispusimos a hacerlo no exista ninguna otra
organizacin cultural de tamao semejante al BFI que ya lo hubiera implementado y que por lo tanto
nos pudiera servir de referencia o modelo. Como se ha mencionado anteriormente, CEN se cre con
la intencin de ayudar a los archivos de cine europeos a describir obras cinematogrficas y as pues,
en las normas no se hace referencia a ningn otro tipo de material audiovisual de primer orden. En
el BFI, la mayora de los fondos de material audiovisual son programas de televisin as que nuestro
primer gran reto fue encontrar la manera de que las nuevas normas sirvieran tambin para describir
obras de televisin. El modelo CEN emplea una estructura jerrquica de entidades primarias con un
nivel decreciente de abstraccin: Obra y Variante, Manifestacin y Ejemplar
4
.

Fig.2 Modelo para datos EN-15907

3
Film Identification-Enhancing interoperability of metadata-Elements, sets and structures (BSI Standards Publication:
2010, p.4). Traduccin propia.
4
Quisiera agradecer a mi compaero Stephen McConnachie por proporcionarme los grficos en Fig.2 y Fig.3.

794

Fig.3 Mapeo de los BFI datos con la estructura CEN

El nivel Obra (Fig. 2-Work) describe las caractersticas generales y ms abstractas de una
pelcula: en el contexto del BFI una Obra se refiere tanto a una pelcula como a un programa de
televisin, independientemente de si la pelcula fue estrenada alguna vez o de si el programa de
televisin lleg a ser transmitido. Por ejemplo, la obra Which side are you on? de Ken Loach fue
producida para ser transmitida por el canal de televisin ITV en Noviembre de 1984. Sin embargo, en
aquel entonces, la mencionada cadena de televisin consider que la obra tena demasiado sesgo
poltico y nunca la llegaron a transmitir
5
. Which side are you on? es una obra monogrfica, cuyos
elementos descriptivos clave incluyen: idioma, fecha de produccin, pas de produccin, productora,
gnero, encabezamientos de materia, y sinopsis. La obra tiene una relacin de uno-a-muchos con
varios agentes (crditos y reparto).

Fig.4 Ejemplo de un registro en el nivel Obra

5
El episodio fue finalmente transmitido en Enero de 1985 en el Channel 4.

795
El segundo nivel en la jerarqua CEN es la Variante (Fig. 2 Variant), la cual es usada para
describir cambios menores en el contenido de una obra. Tras un anlisis detallado de nuestros
fondos decidimos que de momento no era necesario incorporarlo en la estructura de metadatos de la
nueva base de datos.
El siguiente nivel en el modelo CEN es la Manifestacin (Fig.2 Manifestation), la cual
representa la informacin sobre el momento en el que una Obra comienza su andadura vital.
Siguiendo con el ejemplo anterior, cuando la obra de Loach fue finalmente transmitida por la cadena
Channel 4 en Enero de 1985, la informacin relevante a este evento fue aadida al nivel
Manifestacin en la jerarqua de CID. Los atributos denotan el tipo de manifestacin (en ste caso
Transmisin televisiva) y sus elementos incluyen: idioma, duracin y formato.

Fig.5 Ejemplo de un registro en el nivel Manifestacin

El cuarto nivel en CEN corresponde al Ejemplar (Fig. 2 Item), esto es, el objeto en s mismo,
tanto si es un trozo de una pelcula, un nico rollo de pelcula o un archivo digital. El Ejemplar
describe, entre otras cosas, los datos tcnicos, as pues, siguiendo con el ejemplo de la obra de Loach,
las caractersticas fsicas de la cinta de video de Which side are you on? -estndar del color, formato
de video -fueron aadidas al nivel Ejemplar en CID.

796

Fig.6 Ejemplo de un registro en el nivel Ejemplar

3 Encabezamientos de materias

A lo largo de los ltimos 80 aos, el BFI ha utilizado diferentes tipos de encabezamientos de
materias y sistemas para describir el contenido del material audiovisual y de las colecciones de
materiales impresos. Hasta el ao 2011 se podan encontrar cinco sistemas principales:

a. Un tesauro basado en el sistema de clasificacin UDC con ms de
45.000 encabezamientos usado exclusivamente para material
audiovisual:

Pubs
o Utilizado para Public house
o Trmino genrico Public refreshment buildings
o Trmino especfico The Fox Inn
o Trmino relacionado Bars

b. Una lista con 365 gneros de pelculas y programas de televisin:

3-D
Abstract film Use Avant-garde
Accin Vea Aventura
Actualidades Use Film de actualidad

797
c. Un tesauro diseado internamente para la catalogacin de
fotogramas con unos 1,000 encabezamientos:

Accesorios
o Trmino genrico Ropa
o Trmino especfico Sombrero

d. Un sistema de clasificacin de UDC con ms de 4,000
encabezamientos utilizado para catalogar fundamentalmente libros
y panfletos:

e. Una lista de ms de 9,000 encabezamientos para indexar artculos de revistas
de cine y televisin:
Cines. Amrica Latina
Cines. Argentina
Cines. Chile

Cada uno de estos vocabularios tena su propia base de datos, y slo los miembros del
departamento en donde resida la base de datos podan accederlas. Esto supona que, por ejemplo,
cuando un encabezamiento nuevo era necesario en la biblioteca para catalogar un libro, el
encabezamiento tena que ser aadido sin que el catalogador tuviera la posibilidad de mirar si ese
encabezamiento exista ya en la otra base de datos que utilizaba UDC y si as era, de comprobar de
que forma se haba aadido y que cdigo se la haba asignado. Igualmente, existan numerosas
versiones impresas de la lista de gneros de cine y televisin, pero las versiones no eran idnticas y
ni tan siquiera estaban siempre al alcance de todas las personas que necesitan aadir gneros a los
registros a diario. Las normas y directrices sobre cmo aadir un gnero o cmo crear uno nuevo
tampoco estaban incluidas en todas las versiones de la lista. En conclusin, cada departamento (la
biblioteca, el archivo, el equipo de documentacin, la seccin de fotogramas, etc) haba desarrollado
e implementado sus propios mtodos de mantenimiento y actualizacin de los encabezamientos as
que stos aumentaron de una manera asistemtica y sin ningn tipo de control centralizado. Sin
embargo, hay que dar crdito donde es debido, y hay que reconocer que a pesar de la falta de
coordinacin y directrices comunes, y gracias a la profesionalidad y experiencia de los
catalogadores, el crecimiento de encabezamientos no fue ms catico o heterogneo.
En el nuevo sistema de gestin de la colecciones algunos aspectos claves en el proceso de
integracin y consolidacin de los encabezamientos son tcnicamente posibles. Por ejemplo, hemos
creado tan solo dos listas de encabezamientos:

1. Gneros de cine y televisin: esta lista controlada consta ahora de 95 trminos y puede
usarse a lo largo y ancho de todas las colecciones. Por ejemplo, el gnero Comedia
puede ser aadido ahora igualmente por el archivista que registra la pelcula Some Like
It Hot, el personal que cataloga el poster Britnico de la pelcula, el bibliotecario que
clasifica un libro sobre esa pelcula, etc. La revisin y actualizacin de la lista original
de 365 trminos comenz en Octubre de 2010, y finaliz en Abril de este ao. El
proceso incluy la modificacin de ms de 200,000 registros. La mayora de los
cambios se efectuaron automticamente, utilizando una herramienta especfica del

798
nuevo sistema. Y ni que decir tiene, sin la nueva base de datos, ste proyecto no se
hubiera podido realizar.

Fig.7 Lista controlada de gneros de cine en CID

2 Thesaurus: ahora incluye unos 61,000 encabezamientos. Por el momento es un
cocktail que contiene todos los encabezamientos que han existido desde siempre en el
BFI. Sin embargo, ya hemos empezado a delinear la estrategia y metodologa que
vamos a emplear para ordenarlos y hacer que sean ms fciles de utilizar. Los
objetivos establecidos para este proyecto son muy similares a los que establecimos
para el proyecto de los gneros de cine y televisin: preservar la riqueza y sutileza
semntica, evitar la confusin y ambiguedad, extender el uso de los encabezamientos
a nuevos departamentos (BFI player, BFI website, etc) sin que la consistencia o
especificidad sean sacrificadas, eliminar la redundancia de encabezamientos causada
por el amalgamiento de sistemas de clasificacin similares, y la clarificacin de las
normas para utilizarlos. El tesauro es mantenido y actualizado por un equipo de
especialistas de la informacin, que est encargado de aprobar o rechazar trminos
candidatos aadidos por el personal de los diferentes departamentos, situarlos en el
lugar adecuado dentro de la jerarqua del tesauro, crear las relaciones requeridas con
otros trminos, aadir el cdigo de UDC apropiado y redactar las directrices de uso
necesarias.

799

Fig.8 Encabezamientos de materias provenientes de sistemas de clasificacin diferentes

4 El futuro de los datos y metadatos en el BFI

Consideramos el nuevo sistema de gestin de colecciones como la culminacin del trabajo del
BFI durante las ocho dcadas pasadas. CID es una base de datos de registros coleccionados,
organizados y creados cuidadosamente que ahora, ms que nunca, es capaz de revelar su verdadero
potencial para entretener e interaccionar con el pblico. El mapeo de los datos y el proceso de
integracin en general supusieron muchos retos prcticos, algunos de los cuales todava no se han
resuelto del todo. Por ejemplo, la implementacin del sistema de flujo de trabajo result ser ms
complicada de lo que habamos anticipado. Esto es debido, principalmente, al altsimo volumen de
circulacin de ejemplares y al nmero elevado del personal del BFI usndolo al mismo tiempo. Por
ello, seguimos trabajando muy de cerca con Adlib para perfeccionarlo. Adems de esto, ahora nos ha
quedado un legado enorme de datos y registros que necesitan ser corregidos y enriquecidos
respectivamente. Esta tarea nos mantendr ocupados durante los prximos aos. Sin embargo, toda
la informacin reside ahora bajo un mismo techo y los metadatos tienen la misma estructura lo cual
nos permitir ejecutar proyectos basados en interoperabilidad interna y externa. Por ejemplo,
tenemos la ambicin de enlazar y compartir los registros en CID con otros recursos de informacin y
conocimiento generados dentro del BFI como la informacin proveniente de la publicacin de DVDs,
de la programacin de los cines y festivales. El acadmico y profesional de nuevas tecnologas Lev
Manovich lo ha expresado muy bien para bien o para mal, acceso a la informacin de ha convertido
en una actividad crucial en la edad del ordenadorel mundo se nos presenta como una coleccin
infinita y sin estructura de imgenes, textos, datos y registros [as pues] lo apropiado es que
intentemos organizarlo utilizando las bases de datos. Pero tambin sera lo apropiado que
quisiramos desarrollar una potica, esttica y tica para estas bases de datos6. Creemos que con
CID hemos alcanzado la primera parte del enunciado de Manovich, y el pblico britnico y no
britnico puede ahora buscar, navegar y visionar una de las colecciones pblicas de material
audiovisual ms grande del mundo.

6
Lev Manovich The Language of New Media (Cambridge, Massachusetts: Massachusetts Institute of Technology, 2001: 217-
219).

800
A APLICAO DE NOVOS CONHECIMENTOS PARA A SUSTENTABILIDADE COM BASE NA
INFORMAO DE PATENTES

SRGIO MARAVILHAS
CETAC.MEDIA - Centro de Estudos das Tecnologias e Cincias da Comunicao
[email protected]

Resumo O desenvolvimento sustentvel visa integrar consideraes ambientais na poltica econmica,
trazendo as ideias dos ambientalistas para a poltica mundial e procurando equilibrar cuidadosamente a
preocupao ambiental com o desenvolvimento econmico. Esta tarefa torna-se difcil j que a preocupao
imediata se centra mais nos aspetos econmicos do que na preservao do ambiente e dos recursos naturais.
Esta questo tem particular importncia nos modelos econmicos dos pases em desenvolvimento, onde se
encontra a maioria dos recursos naturais a explorar e que devem ser salvaguardados e usados na melhoria de
vida das populaes que os detm. Outra preocupao relaciona-se com a dificuldade em aceder a tecnologias
mais eficientes por parte das populaes desses pases, sendo muitas vezes o local onde as empresas procuram
vender os seus produtos, ultrapassados e sem procura nos mercados mais desenvolvidos, contribuindo para
que nesses locais estejam disponveis produtos mais poluentes e geradores de problemas ambientais quando
deveria ser o oposto. A utilizao coerente e efetiva da informao de patentes, contendo o resultado das
atividades de investigao com aplicao industrial, pode contribuir para o aumento da criatividade e suporte
na resoluo de problemas, potenciando a inovao atravs de novos produtos e processos da decorrentes.
possvel utilizar bases de dados e bibliotecas digitais de patentes para a gesto do conhecimento presente nos
produtos e processos desenvolvidos com base nessa fonte de informao. A informao de patentes ajuda a
evitar o desperdcio de recursos materiais e financeiros, pois evita a reinveno do que j existe e consumiu
recursos para ter sido inventado, permitindo a realizao de solues sustentveis, pelo aproveitamento de
solues no exploradas e pela formulao de novos produtos com base em investigao e desenvolvimento j
realizada, que pode ser adaptada a novas necessidades globais, gerando emprego, melhoria das condies
sociais e econmicas, protegendo o ambiente e seus recursos.

Palavras-chave Informao de patentes. Inovao. desenvolvimento sustentvel. gesto do conhecimento.
Criatividade.

Abstract Sustainable development aims to integrate environmental considerations into economic policy,
bringing the ideas of environmentalists to world politics and looking carefully to balance environmental
concerns with economic development. This task becomes difficult as the immediate concern focuses more on
economic aspects than in preserving the environment and natural resources. This question has particular
importance in economic models in developing countries, where the majority of natural resources to be
exploited exist, and that must be safeguarded and used to improve the lives of the people who hold them.
Another concern relates to the difficulty in accessing more efficient technologies by the populations of these
countries, where companies seek to sell their products, often outdated and without demand in more
developed markets, contributing to more polluting generators and environmental problems in these locations,
when it should be the opposite. A coherent and effective use of patent information, containing the results of
research activities with industrial application, may contribute to the increase of creativity and support in
solving problems, fostering innovation through new products and processes arising from them. Databases and
digital libraries of patents can be used for knowledge management in the products and processes developed
based on this source of information. Patent information avoids wasting material and financial resources,
preventing the reinvention of what already exists and the resources consumed in that process, allowing the
realization of sustainable solutions by the exploitation of untapped solutions and formulating new products
based on research and development already done, which can be adapted to new global needs, generating
employment, improving social and economic conditions, protecting the environment and its resources.

Keywords Patent information. Innovation. sustainable development. knowledge management. Creativity.

801
Introduo

O desenvolvimento sustentvel procura equilibrar cuidadosamente a preocupao ambiental
com o desenvolvimento econmico, tarefa difcil quando a preocupao imediata se centra sempre
mais nos aspetos econmicos do que na preservao do ambiente e dos recursos naturais.
Esta preocupao tem particular importncia nos modelos econmicos a adotar nos pases em
desenvolvimento, maioritariamente situados no hemisfrio sul, onde se encontram a maioria dos
recursos naturais a explorar e que devem ser salvaguardados e usados em prol da melhoria de vida
das populaes que os detm. Outra preocupao, relacionada diretamente com a questo
econmica, relaciona-se com a dificuldade em aceder a tecnologias mais eficientes por parte das
populaes desses pases, sendo muitas vezes o local onde as empresas procuram vender os stocks
dos produtos que foram ultrapassados e j no tm procura nos mercados mais desenvolvidos,
contribuindo para que nesses locais estejam disponveis produtos mais poluentes e geradores de
problemas ambientais quando deveria ser o oposto.
Assim, o conceito de desenvolvimento sustentvel tem origem na tentativa de integrar
consideraes ambientais na poltica econmica, trazendo as ideias dos ambientalistas para a rea
central da poltica mundial que, atualmente se centra na Economia (Dresner, 2008, p. 69).
A consulta da informao de patentes ajuda a evitar o desperdcio de recursos materiais e
financeiros, pois evita a reinveno do que j existe e consumiu recursos para ter sido inventado
1
.
A eficiente gesto do conhecimento contido nos documentos de patente permite: i) estimular
a criatividade e a inovao
2
; ii) transformar invenes em inovaes; iii) aproveitar tecnologias
patenteadas que no esto a ser exploradas; iv) encontrar forma de integrar essas invenes no
plano de negcios de uma empresa para posterior desenvolvimento e introduo no mercado; v)
estimular a criao de empresas para explorar esses inventos; vi) impulsionar o empreendedorismo
atravs da criao de um negcio de intermediao tecnolgica (Technology Broker), identificando
tecnologias e encontrando quem as queira produzir; vii) vender solues acabadas ou compostos a
incluir em produtos acabados (inclusive como produto de exportao); viii) explorar fontes de
energia limpas e /ou renovveis; ix) apoiar o desenvolvimento econmico-social sustentvel; x)
proteger o ambiente.
Permite a realizao de solues sustentveis, quer pelo aproveitamento de solues no
exploradas, como pela formulao de novos produtos com base em investigao e desenvolvimento
(I&D) j realizada, que pode ser adaptada a novas necessidades globais, gerando emprego e
protegendo o ambiente e seus recursos.
A informao de patentes no a nica fonte de estmulo inovao mas uma das mais
importantes pelos seus: i) detalhe, profundidade, atualidade e mbito de cobertura (cientfica,
geogrfica e territorial); ii) elementos constituintes (descrio, esquemas, desenhos, grficos); iii)
anlise do estado-da-arte (descrevendo a cincia e tcnica que a possibilitaram); iv) inputs externos
de especialistas que os complementam e enriquecem (examinadores de patentes e seus relatrios de
pesquisa).
Esta fonte de informao cobre todas as atividades cientficas e tcnicas da inventividade
humana e est codificada de forma a permitir a sua fcil recuperao e utilizao.

1
A 1998 survey by the technology firm BTG International, for example, revealed that 67 percent of U.S. companies have
technology assets that they fail to exploit. In fact, said the study, American firms on average let over 35 percent of their
patented technologies go to waste simply because they have no immediate use in their products. According to the BTG
report, the value of these wasted technology assets is at least $115 billion (Rivette & Kline, 2000, p. 122).
2
Numa sociedade em que a dinmica da comunicao empresarial, cultural e entre naes cada vez mais competitiva,
torna-se fundamental encontrar respostas rpidas e inovadoras para fazer face concorrncia ou resolver problemas
sociais, polticos e ecolgicos. Dada a crescente relevncia da inovao para o sucesso de qualquer organizao,
fundamental promover o reforo das competncias criativas que iro sustentar o desenvolvimento futuro dos respetivos
sistemas (Tschimmel, 2003).

802
Permite obter insights no s da rea cientfica em que se est a investigar mas, tambm, de
reas complementares que podem aumentar o valor da soluo desenvolvida e servir para outras
aplicaes no consideradas inicialmente e resolver outros problemas de reas intermdias, de
cruzamento (charneira) entre disciplinas cientficas.
A informao de patentes, ao permitir realizar atividades de monitorizao e anlise de
tendncias de desenvolvimento cientfico e tecnolgico
3
, responde a um vasto conjunto destas
questes com a confiana de ter sido revista por um conjunto de profissionais das reas cientfico-
tcnicas, mas tambm legais, que validam o seu valor e relevncia.
Os repositrios de informao de patentes, sob a forma de bases de dados (BD) e bibliotecas
digitais (BDP), so a maior fonte de informao cientfico-tcnica, disponvel gratuitamente via web,
a nvel mundial.
A razo que conduz anlise da informao de patentes deve-se ao facto de ser a que mais
gera informao cientfico-tcnica, proveniente de qualquer pas, passvel de consulta recorrendo s
possibilidades oferecidas pela Internet e respetivas plataformas digitais.
As organizaes portuguesas no esto a utilizar com eficcia esse esplio de informao
disponvel, que tem vrias vantagens estratgicas e de mercado, conforme nos mostram dois estudos
recentes efetuados a pedido do Instituto Nacional da Propriedade Industrial (INPI), a entidade que
regula a Propriedade Industrial (PI) em Portugal (Godinho, 1999, 2003; Roland Berger & Partner,
1998), e um outro a pedido do EPO (Doornbos, Gras, & Toth, 2003).
Pela anlise de vrios indicadores e de estudos nacionais e internacionais (Hollanders, 2003;
Ministrio da Economia, 2001, 2002), verificamos que Portugal no est a utilizar de forma
satisfatria os recursos dos registos de PI, no retirando da as vantagens que lhe poderia propiciar.
Sustenta-se que uma utilizao coerente e efetiva da informao de patentes, contendo
informao resultante das atividades de I&D com aplicao industrial, pode contribuir para o
aumento da criatividade e suporte na resoluo de problemas de investigao, potenciando a
inovao atravs de novos produtos e processos da decorrentes, com vantagens para a
sustentabilidade do pas em virtude da utilizao de recursos de forma mais eficiente pela
diminuio de custos e do gasto de recursos em I&D
4
.
Vrias tecnologias amigas do ambiente esto disponveis para serem exploradas, muitas sem
qualquer custo, o que poder permitir usufruir de energias limpas, gratuitas e com vantagens
econmicas para quem as desejar implementar.
Este trabalho visa contribuir para o aumento da utilizao da informao de patentes nas
atividades de I&D e da integrao do conhecimento que a pode ser obtido, por forma a estimular a
criatividade, contribuir para a resoluo de problemas, minimizar os custos inerentes a projetos e
maximizar os resultados provenientes dessa atividade e respetivos investimentos, que podero
contribuir para a criao de produtos e negcios amigos do ambiente com vantagens para todos os
intervenientes.

3
Large corporations turn to patent information for the purpose of competitor intelligence, market analysis and
forecasting, current awareness, R&D, infringement avoidance, and other reasons. (Butler, 1995, p. 36)
4
Cf. (http://www.innovationmanagement.se/2013/04/12/the-benefits-of-sustainability-driven-innovation/);
(http://www.cienciahoje.pt/index.php?oid=46137&op=all) e tambm
(http://www.ver.pt/conteudos/verArtigo.aspx?id=1464&a=Entrevistas)

803
1 Propriedade industrial e patentes

As patentes constituem uma das mais antigas formas de proteo da propriedade intelectual.
Como em todas as formas de proteo da propriedade, a finalidade de um sistema de patentes
incentivar o desenvolvimento econmico e tecnolgico recompensando a criatividade.
Esta primeira forma de proteo visava recompensar os inventores com um monoplio
limitado, desde que estes aceitassem revelar as suas invenes ao Estado. Conforme se nota, 500 anos
passados e alguma evoluo e alteraes, esta continua a ser a motivao da concesso de um ttulo
de patente a divulgao da informao tcnica necessria para a elaborao do invento.
Sendo a finalidade da patente conceder uma forma de proteo aos progressos tecnolgicos,
ao menos em teoria, a proteo da patente recompensa no s a criao da inveno, mas tambm o
desenvolvimento dessa inveno para a tornar realizvel do ponto de vista tecnolgico e comercial;
esse tipo de incentivo suscetvel de promover a criatividade e encorajar as empresas a
continuarem o desenvolvimento de novas tecnologias, para as tornar comercializveis, teis e
favorveis ao interesse pblico.
A patente , pois, um direito exclusivo concedido a uma inveno, quer se trate de um produto
ou um processo, que permita uma nova forma de realizar algo ou uma soluo tcnica nova para
resolver um problema. Protege a inveno, geralmente por um perodo de tempo limitado, em troca
da divulgao pblica pelo inventor, da inovao tcnica nela contida.
De acordo com o Art. 51. (CPI, 2009, p. 83), podem ser objeto de patente as invenes que
sejam, (i) novas; (ii) impliquem atividade inventiva; (iii) sejam suscetveis de aplicao industrial. O
ponto 3 do mesmo Art. refere algo que pode ser extremamente importante no contexto do
problema que aqui abordamos, e que o facto de poderem tambm ser objeto de patente os
processos novos de obteno de produtos, substncias ou composies j conhecidos.
Existem cerca de 70 milhes de documentos de patentes publicados em todo o mundo,
contendo a maior parte deles informao no disponvel em nenhum outro local (Bregonje, 2005;
Greif, 1987; Marcovitch, 1983), e mesmo a informao que existe simultaneamente nos documentos
de patente e noutras fontes como artigos cientficos, relatrios tcnicos, atas de conferncias,
monografias, teses e outras publicaes no est descrita com o mesmo grau de detalhe e demora
mais tempo a ser tornada pblica. A descrita a ideia e possveis aplicaes mas nunca a forma de
realizar o invento, o que obrigatrio descrever no documento de patente para que a sua proteo
seja concedida.
Alm disso, aproximadamente um milho de novos documentos so criados todos os anos
5

(OMPI e EPO) que aps publicao, cerca de 12 a 18 meses aps efetuado o pedido, so de consulta
pblica mesmo antes de ter sido concedida a proteo, o que s acontece normalmente trs anos
aps a data de entrada do pedido de proteo por patente.
Sabemos tambm que mais de 30% das patentes se encontram em domnio pblico - por terem
atingido o limite temporal de proteo ou por falta de pagamento das licenas anuais - ou no esto
a ser exploradas por falta de financiamento ou incapacidade tcnica do seu detentor (Godinho, 2003,
Idris, 2003; Maia, 1996).
Alguns estudos referem que mais de 30% da investigao em Portugal redundante (Godinho,
1999, 2003; Ribeiro, 2007), o que significa que todos os anos so gastos tempo e dinheiro em I&D que
no poder ser patenteada, explorada e rentabilizada pois estaria a infringir patentes j existentes.
Constantemente se reinventa a roda sem que se possa obter algum retorno dessa atividade.
Ao descurar a informao de patentes desconhece-se o que j foi inventado pois entre 70% a
80% da informao contida nos documentos de patente no se encontra publicada em nenhum outro
meio (Bregonje, 2005; Idris, 2003; Maia, 1996; Marcovitch, 1983; Marcus, 1995).

5
Em 2011 foram criados cerca de 2,2 milhes de novos documentos (Mueller & Nyfeler, 2011, p. 384)

804
A consulta deste tipo de informao permite a livre explorao de determinados inventos sem
a obrigao de pagar qualquer licena se a patente do mesmo se encontrar em domnio pblico e
livre de ser utilizada. Tal o caso dos medicamentos genricos que so a livre utilizao das
substncias ativas de determinados medicamentos que atingiram o seu limite de proteo e se
encontram livres para serem explorados, o que tem sido feito com sucesso por vrias empresas
nacionais e internacionais.
Os pases em desenvolvimento podem utilizar esta prerrogativa para poderem aceder a
medicamentos a preos comportveis, como fazem a ndia e o Brasil (Imam & Tandon, 1986;
Pignarre, 2004; Simmons, 2005; Tachinardi, 1993).
Apesar de em Portugal ser notria esta falta de conhecimento e consulta da informao de
patentes, no s no nosso pas que tal sucede. De acordo com o European Patent Office (EPO),
aproximadamente 32 mil milhes so gastos pelas empresas da Unio Europeia (UE) em
investigao redundante (Ribeiro, 2007).

2 A informao de patentes

No decurso do processo de registo e concesso da patente, os gabinetes oficiais iro gerar um
ou mais documentos de ndole legal que se designam por literatura de patentes. A informao que
estes documentos contm designa-se por informao de patentes.
Aps a publicao do pedido de patente, normalmente 18 meses depois de ter dado entrada no
respetivo Gabinete (a concesso da proteo s atribuda, normalmente, trs anos aps o pedido),
essa informao passa a ser de acesso pblico para quem a desejar consultar
6
.
Assim, conhecer a informao de patentes pode permitir o desenvolvimento dos mesmos
produtos, mas por processos diametralmente diferentes, originando uma reduo nos custos que
pode conduzir os seus detentores a vantagens competitivas, poupando recursos naturais.
Excluem-se do mbito de proteo da patente os atos realizados num mbito privado e sem
fins comerciais e mais importante ainda os atos realizados exclusivamente para fins de ensaio ou
experimentais, incluindo experincias para preparao dos processos administrativos necessrios
aprovao de produtos pelos organismos oficiais competentes, no podendo, contudo, iniciar-se a
explorao industrial ou comercial desses produtos antes de se verificar a caducidade da patente que
os protege (CPI, 2009, p. 113, Art. 102.), mas permitindo aos investigadores obterem o know-how
necessrio para uma vez conhecida essa tecnologia darem o salto cognitivo necessrio para a
inveno de outros produtos que lhes permitam deixarem o papel de seguidores e iniciarem projetos
de I&D conducentes sua emancipao tecnolgica.
Atualmente, a durao da patente em Portugal de 20 anos contados da data do respetivo
pedido. Para dispor livremente da tecnologia nelas contida necessrio esperar que a patente
caduque por limite temporal, ou por outras razes como o no pagamento das taxas devidas pela
manuteno anual da patente, a qual em quantos mais pases tiver sido requerida, mais encargos
financeiros acarreta, pelo que se no for devidamente explorada em termos comerciais cedo cessa a
sua viabilidade
7
.

6
Eighteen months after filing for the patent, the full document is disclosed, regardless whether it has been granted or
not. This difference in procedure is embedded in a different emphasis in patent philosophy. In the U.S. system, patent
protection aims at safeguarding the rights of the inventor. The European system targets the timely diffusion of new
technological information so as to stimulate the rate of technological progress (Debackere, Luwel, & Veugelers, 1999, p.
5).
7
Das 557 concesses de patentes a residentes que se verificaram no perodo da amostra (1980-2001), cerca de 50% haviam
caducado at ao final de 2001. Destas, mais de dois teros no passaram alm dos 10 anos de durao. () Das 17027
concesses de patentes a no-residentes que se verificaram no perodo da amostra (1980-2001), cerca de 73% haviam
caducado at ao final de 2001. Destas, tambm mais de dois-teros no passaram alm dos 10 anos de vigncia. (Godinho,
2003, p. 85).

805
Tambm de realar o contedo dos Art. 107. e 108. (CPI, 2009, pp. 115-117) que dizem
respeito s licenas obrigatrias e licenas por falta de explorao da inveno. De acordo com estes
artigos, podem ser concedidas licenas obrigatrias sobre determinada patente, entre outras razes,
sempre que se verifique existir falta ou insuficincia de explorao da inveno patenteada ou se o
titular durante trs anos consecutivos e sem justo motivo ou base legal deixar de proceder sua
explorao
8
.
Se um tal sistema de proteo se reveste dos inmeros benefcios econmicos, entre outros
que temos vindo a salientar, a consulta da informao tcnica que tal sistema disponibiliza a partir
do momento em que a inovao se torna pblica como quando se d a publicao da patente, torna-
se imprescindvel para a manuteno econmica das empresas, propiciando as vantagens e
minimizando os riscos.
Podemos encontrar nos documentos de patente as seguintes informaes: i) o estado-da-arte,
os conhecimentos tcnicos disponveis at data na rea em que se insere o invento realizado; ii)
tipo e natureza dos problemas tcnicos que o invento ir solucionar ou resolver; iii) descrio
detalhada do invento e da forma como funciona; iv) ilustraes, esquemas e desenhos das partes
constituintes do invento para mais fcil entendimento do mesmo, sempre que necessrio e
apropriado; v) alm disso, as informaes patentrias podem esclarecer e complementar artigos
divulgados pelo inventor (Macedo & Barbosa, 2000, p. 58).
Uma das prerrogativas para que a patente possa ser atribuda a de que a informao
constante do pedido de patente seja de tal forma detalhada que uma pessoa versada na rea seja
capaz, ela prpria, de executar o invento (produto ou processo).
O documento de patente no s descreve a inveno, obrigatoriamente passvel de aplicao
industrial, como tambm define o mbito de proteo pretendido, caso a respetiva patente seja
obtida, concedido pelo gabinete responsvel.
A revelao (disclosure) dos segredos tcnicos contidos na documentao resultante de um
pedido de patente divulga informao valiosa ao pblico acerca do estado-da-arte numa dada rea
fomentando, atravs desse conhecimento, o desenvolvimento tecnolgico. Como resultado dessa
divulgao, partes constituintes dessa inveno podem mesmo ser utilizadas, desde que no
incorram em nenhuma infrao das reivindicaes contidas e descritas na patente.
Saber que outra organizao, como um centro de investigao, conseguiu com sucesso
resolver e ultrapassar um determinado problema tcnico pode tornar-se o rastilho para despoletar
ulteriores investigaes na rea em concreto ou em reas circundantes, como tem acontecido com o
exponencial nmero de descobertas recentes nas reas da Engenharia Gentica e da Biotecnologia
(Jegorov, Husak, Kratochvil, & Cisarova, 2003; Sherwood, 1992; Tachinardi, 1993).
Tal procedimento pode conduzir tentativa de desenvolver produtos concorrentes queles
descobertos, inventando alternativas mais lucrativas ou mais eficazes
9
.
Alm da informao tcnica contida nos documentos de patente, referentes inveno em si
mesma, uma outra fonte de informao extremamente importante, que normalmente descurada,
diz respeito aos relatrios de pesquisa. Estes so resultantes do processo de anlise realizado por um
examinador de patentes que teve de pesquisar em toda a literatura tcnico-cientfica para apurar se
a inveno em questo obedecia aos critrios de patenteabilidade, principalmente no que concerne
ao aspeto da novidade do invento. O relatrio de pesquisa proporcionado pelo gabinete de

8
Em todo o caso, as licenas obrigatrias s podem ser concedidas quando o potencial licenciado tiver desenvolvido
esforos no sentido de obter do titular da patente uma licena contratual em condies comerciais aceitveis e tais
esforos no tenham xito dentro de um prazo razovel (CPI, 2009, p. 116 Art. 107., ponto 3).
9
In theory, a patent serves the public good because the disclosure of the invention brings new ideas and technologies to
the public and induces inventive activity. But while these roles inherently depend on the ability of the patent to
disseminate technical knowledge, the teaching function of patents has received very little attention. Indeed, when the
document publishes, it can serve as a form of technical literature. Because patents can, at times, communicate knowledge
as well as, or better than, other information sources, patents could become a competitive source of technical information.
Presently, however, patents are rarely viewed in this manner (Seymore, 2010, p. 621).

806
patentes onde se requereu o registo e constitudo por uma lista de todas as patentes, livros, artigos
de revistas cientficas, atas de conferncias e teses que possam eventualmente ter alguma relao
com o invento em questo. Estes relatrios so de suma importncia mas habitualmente so
descurados quando se pesquisa informao nos repositrios de patentes (Marcus, 1995, pp. 65, 66;
Rivette & Kline, 2000, pp. 29, 30).
A informao de patentes, para alm de proporcionar uma excelente fonte de informao para
gerao de ideias, tem tambm a vantagem de poder ser utilizada como fonte de inspirao quando
h necessidade de encontrar a soluo para auxiliar na resoluo de problemas de ndole
tecnolgica.

2.1 Onde pesquisar a informao de patentes

A Internet trouxe inmeras alteraes e vantagens no acesso informao. De acordo com
Idris (2003), esta possibilidade de acesso informao que possibilita a criao de conhecimento
aumentando a criao de riqueza. Para ele, so o combustvel que alimenta o incrvel progresso
tecnolgico atual e a posse ou o acesso a esse meio e s informaes por ele veiculadas so vitais
para qualquer empresa que se quer manter no topo da sua rea de atuao, pois isso permitir-lhe-
criar produtos inovadores ou encontrar formas inovadoras de produzir produtos j existentes com
eficcia de custos.
De acordo com Maia (1996), as bases de dados de patentes (BDP) permitem de forma rpida e
eficiente: (i) certificar-se da originalidade dos seus programas de pesquisa; (ii) pesquisar invenes
com utilidade para posteriores inovaes; (iii) obter uma perspetiva das novas tendncias em
atividades de I&D numa rea particular de desenvolvimento tecnolgico; (iv) monitorizar as
estratgias de Marketing dos concorrentes descobrindo os pases onde requereram proteo de
patente.
As possibilidades que a tecnologia moderna tem para oferecer no que respeita pesquisa da
informao de patentes pode revelar-se muito til por permitir descobrir invenes com elevado
potencial econmico e que no estejam a ser devidamente exploradas pelos seus detentores,
permitindo estabelecer contratos de licenciamento de tecnologia que conduzam explorao do
invento pelos interessados. Muitas invenes com vantagens ambientais no foram ainda exploradas
em virtude do domnio econmico das empresas baseadas em energias provenientes do carvo, do
petrleo e do nuclear.
As plataformas digitais que permitem o acesso a patentes e sua informao, assim como a
invenes no protegidas (Open innovation) com importncia ambiental e sustentvel so: i) Ecopatent
Commons; ii) The GreenXchange da Nike; iii) WIPO Green.
A Ecopatent Commons, lanada em 2008 por quatro empresas (IBM, Sony, Nokia e Pitney Bowes) em
colaborao com o The World Business Council for Sustainable Development (WBCSD), tem por objetivo o
compromisso com todos aqueles que procurem desenvolver produtos inovadores que respeitem o
ambiente e a sustentabilidade do planeta. Para tal, as empresas colocam disposio de quem as
queira explorar nessas condies, um conjunto de patentes de invenes com cariz ambiental
(ecofriendly), promovendo parcerias e colaboraes entre as empresas detentoras das patentes e
empreendedores que tenham projetos para as utilizar. Neste momento, alm das quatro fundadoras,
fazem parte deste consrcio mais nove empresas (num total de 13) que j contriburam com 103
patentes para este fundo (HP, Bosch, Dow, DuPont
10
, Fuji-Xerox, Ricoh, Taisei, Hitachi e Xerox). Estas
iniciativas devem ser enaltecidas, pois muitas empresas tm vrias patentes no utilizadas que
podem ser exploradas, de forma til e amiga do ambiente, beneficiando a humanidade em geral.

10
In 1999, for example, Dupont donated 23 of its unused patents to universities and nonprofit groups. As a result, instead
of having to pay the maintenance costs of keeping them in its portfolio, Dupont received a $64 million tax write-off. A
similar donation recently netted Dow a $4 million write-off (Rivette & Kline, 2000, p. 134).

807

Figura 1 Ecopatent Commons
11

A plataforma The GreenXchange da Nike, em parceria com a CreativeCommons e a BestBuy, foi
anunciada em Davos no World Economic Forum em janeiro de 2011 e a rede de parcerias inclui agora
empresas como Ideo, nGenera, SalesForce e Yahoo!. Possui atualmente 463 ativos disponveis para
explorao, detidos por trs organizaes: as fundadoras Nike e BestBuy, com 444 e 15 ativos
respetivamente, e a University of California Berkeley com quatro. De salientar que existem trs tipos de
licenas disponveis, podendo existir restries (ex. geogrficas) na licena a conceder para o
invento, ou mesmo haver lugar a um pagamento pelo seu uso
12
.

Figura 2 The GreenXchange da Nike
13

11
http://www.wbcsd.org/work-program/capacity-building/eco-patentcommons.aspx
12
For example, the patent holder may restrict the field of use, geography, or require a payment. These limits can be
defined when uploading IP and posting the license online. Subjects - 236 apparel; 167 devices; 17 materials ; 17 method.
Organizations 15 Best Buy; 444 Nike; 4 University of California, Berkeley. (http://www.greenxchange.cc/ - 25-01-2011)
13
http://www.greenxchange.cc/

808
Do mesmo modo, a OMPI criou uma plataforma para acesso informao de patentes
respeitantes a tecnologias verdes (WIPO GREEN - The Sustainable Technology Marketplace),
ambientalmente sustentveis, para permitir a todos os interessados o acesso a informao e
mediao com transparncia e confiana, garantidas pela prpria organizao.
Dirige-se essencialmente a pases em desenvolvimento e economias emergentes, pretendendo
aumentar e acelerar a adoo, adaptao e difuso destas tecnologias nesses pases.
Pretende contribuir para tornar o mundo e a economia low-carbon e, dessa forma, minorar as
alteraes climticas que assolam esses pases, j de si muito fragilizados e necessitados.

Figura 3 WIPO GREEN - The Sustainable Technology Marketplace
14

Para alm destes recursos de informao especficos, direcionados para a promoo de
invenes sustentveis, outras solues podero surgir a partir da consulta da informao de
patentes em geral permitindo, como j referido, utilizar invenes existentes com outras finalidades
que possam ser adaptadas para a resoluo de problemas relacionados com o desenvolvimento
sustentvel e a boa gesto dos recursos naturais.
Atualmente, a quase totalidade dos pases industrializados disponibiliza as suas colees de
patentes via Internet para facilitar o acesso e a consulta deste precioso recurso. Normalmente, os
documentos esto na lngua oficial, o que nem sempre se revela tarefa fcil para quem pesquisa. Da
o acesso s BDP disponibilizadas pela WIPO e EPO serem recursos indispensveis, pois possuem
grandes quantidades de resumos (abstracts) em ingls, alm de disponibilizarem apoio pesquisa nos
principais gabinetes asiticos
15
.
A vantagem de todos os recursos aqui descritos que, para alm de serem gratuitos - bastando
um computador com acesso Internet para lhes aceder - permitem consultar informao de registos
de patente dos principais pases industrializados, com maior nmero de invenes e
consequentemente de patentes atribudas como, em certos casos, permitem o acesso aos
documentos cujas patentes foram recusadas ou que ainda se encontram em fase de anlise. Mesmo
recusado o pedido de patente, a informao a contida deveras relevante pois contm o que de
mais recente se faz nessa rea do saber.
Comeamos pela PatentScope da OMPI onde esto contidos os documentos de patente pedidos
via Tratado PCT (Patent Cooperation Treaty) que possibilita que um nico pedido seja vlido nos 143
pases que o constituem.
A partir de um nico ponto temos acesso a cerca de dois milhes de patentes internacionais,
desde a primeira publicao na sua origem em 1978. Permite consultar o documento aps a sua

14
https://www3.wipo.int/green/green-technology/techOverview
15
This area of the European Patent Office website is dedicated to services related to patent information from East Asian
countries: Japan, China and Korea. EPO - Asian patent information (http://www.epo.org/searching/asian.html)

809
publicao, cerca de 12 a 18 meses aps realizado o pedido. Somente cerca de outros 12 a 18 meses,
num total de aproximadamente trs anos, a patente ser definitivamente concedida.

Figura 4 - PatentScope da WIPO
16

De seguida passamos quela que talvez seja mais interessante para as organizaes
portuguesas, uma vez que se encontra em portugus, o que pode facilitar a sua consulta e utilizao.
Trata-se da Espacenet
17
, a funcionar desde 1998, que contm as patentes concedidas em Portugal e
em todos os pases que assinaram o Tratado Europeu de Patentes via EPO. Elaborada com base numa
das pioneiras BD de patentes, a INPADOC
, permite o acesso a mais de 70 milhes de documentos de

patente, a maioria pedidos de patente ainda em anlise, provenientes de 90 pases, incluindo a
informao do Japo e dos EUA, os pases mais industrializados, dos mais inovadores e com maior
nmero de pedidos de patente todos os anos em todo o mundo.

Figura 5 Espacenet

(em Portugus)
18

16
http://www.wipo.int/pctdb/en
17
Um tutorial da Espacenet
pode ser encontrado em (http://www.european-patent-

office.org/wbt/espacenet/assistant.php). Outros recursos de apoio s pesquisas na Espacenet
podem ser encontrados em

(http://www.espacenet.com/getstarted/index.en.htm)
18
http://pt.espacenet.com

810
Todos estes recursos so de vital importncia para a obteno de informao que permita
reduzir os custos e desperdcios, simultaneamente aumentando a probabilidade de se criar solues
viveis para problemas globais.

3 Patentes, desenvolvimento sustentvel e crescimento econmico

De acordo com um estudo
19
realizado em conjunto pelo EPO, a United Nations Environment
Programme (UNEP) e o International Centre for Trade and Sustainable Development (ICTSD), seis
pases so a origem de cerca de 80% das inovaes desenvolvidas em todo o mundo no mbito das
tecnologias de energias limpas.
Este estudo teve por base a anlise de 400.000 patentes (de entre cerca de 70 milhes
disponveis na Espacenet
) na conceo e disseminao deste tipo de tecnologias em termos mundiais.

Foi analisado o efeito das patentes na transferncia de tecnologias de energias limpas (TEL), sendo a
primeira vez que se verificou a importncia do licenciamento de tecnologias nesta rea, o que
permite conhecer as prticas dos detentores destas tecnologias em reas como fotovoltaico solar,
energia geotrmica, vento, captura de carbono, entre outras.
O estudo demonstra claramente que o aumento do nmero de patentes em TEL coincide com a
adoo do protocolo de Quioto em 1997, tornando evidente que as decises polticas podem ser um
fator importante no estmulo ao desenvolvimento de tecnologias cruciais no combate ao
aquecimento global e s mudanas climticas.
Atravs da sua anlise estatstica, o estudo mostra que o aumento de patentes nas reas
tecnolgicas referidas aumentou cerca de 20% ao ano desde 1997, ultrapassando as patentes das
tradicionais fontes de energia fssil e de energia nuclear.
Entre os seis pases que lideram a rea, o Japo o que mais tecnologias desenvolveu e
patenteou, seguindo-se-lhe os Estados Unidos da Amrica (EUA), a Alemanha, a Coreia do Sul, Frana
e Reino Unido. A China aproxima-se rapidamente dos valores da Coreia do Sul no que respeita ao
patenteamento na rea do fotovoltaico solar.
No que respeita ao licenciamento de tecnologias, verifica-se uma reduzida atividade de
licenciamento entre organizaes provenientes de pases em desenvolvimento, estando estas
atividades limitadas a pases como a China, a India e o Brasil.
Segundo a anlise realizada pela empresa Eloqua, intitulada Do Green Companies Grow Faster?
de 27 de maio de 2012
20
, baseada num relatrio elaborado pela Newsweek em 2011
21
, para alm de
gerar uma boa reputao para as marcas que adotam posturas ambientalmente sustentveis, o que
funciona muito bem nos aspetos relacionados com a publicidade e as relaes pblicas das empresas
que as detm, verifica-se que estas promovem um crescimento econmico maior, com desempenhos
melhores nos mercados onde atuam. Pelo facto de estarem comprometidas com a misso de
tornarem o mundo um local melhor atravs de polticas de gesto sociais e ambientais, adquirem
uma vantagem intrnseca obtida pelo respeito e confiana que a sua reputao gera nos
consumidores.
Analisaram as 100 empresas mais verdes, de acordo com o estudo da Newsweek referido, e
compararam o crescimento cumulativo dos resultados lquidos dessas empresas entre 2005 e 2010,

19
"Patents play a key role in providing information about existing technologies, the level of their development and
geographic spread. This information facilitates an informed debate on climate change. Far from being a drag on economies
and innovation, international efforts to combat climate change have sparked technological creativity on low carbon,
resource efficient Green Economy solutions. The challenge now is to find ways in which these advances can be diffused,
spread and transferred everywhere so that the benefits to both economies and the climate are shared by the many rather
than the few." Patents and clean energy: bridging the gap between evidence and policy (http://beta-i.epo.org/news-
issues/news/2010/20100930.html - 23-05-2012)
20
(http://blog.eloqua.com/do-green-companies-grow-faster/ 02-06-2012)
21
(http://www.thedailybeast.com/newsweek/2011/10/16/green-rankings2011.html 04-06-2012)

811
com o das 500 maiores empresas do ndice Standard & Poors (S&P) para o mesmo perodo. Os
resultados mostram uma vantagem no desempenho de 13,7% de crescimento superior para as
melhores empresas no que respeita responsabilidade social.
Curiosamente, mesmo as 25 empresas menos verdes do estudo conseguem um desempenho
superior ao das S&P 500, demonstrando que parece compensar a aposta das empresas no
investimento em programas ambientais.

Figura 6 Desempenho: 100 maiores empresas verdes X S&P 500 X 25 empresas menos verdes
22

Tal situao comprovada por outro estudo, realizado pela MIT Sloan Management Review em
conjunto com a empresa The Boston Consulting Group (BCG), onde se l que as empresas que adotaram
prticas sustentveis constataram um aumento dos seus lucros
23
.
Outros autores j tinham chamado a ateno para as vantagens competitivas que as
estratgias ambientais sustentveis (Esty & Winston, 2008) e as energias limpas (Krupp & Horn,
2009) permitem obter.
Para alm de permitirem baixar os custos com as matrias-primas e a energia necessria ao
funcionamento de algumas atividades industriais, a utilizao de energias limpas e renovveis
diminui a degradao ambiental ao mesmo tempo que impe uma imagem positiva na opinio
pblica, captando um nmero maior de clientes e consumidores sem gastos em publicidade
24
. a
sustentabilidade imersa na Economia (Dresner, 2008, p. 81).
Existem vrios recursos energticos naturais que diariamente se perdem sem serem
utilizados, como a energia do sol que nos ilumina e aquece, o vento que sopra, as ondas do mar e as
mars que se sucedem sem a nossa interveno, a energia geotermal abundante em alguns locais
(Krupp & Horn, 2009) e que os Romanos to bem souberam aproveitar para os seus famosos banhos e
termas.
Existem vrias patentes que procuram utilizar estes recursos, algumas delas no
implementadas por falta de investidores financeiros que apostassem nestas tecnologias em virtude

22
http://blog.eloqua.com/do-green-companies-grow-
faster/?utm_source=feedburner&utm_medium=email&utm_campaign=Feed%3A+ItsAllAboutRevenue+%28It%27s+All+Abou
t+Revenue%29
23
This year, most survey respondents say sustainability is on their companies management agendas to stay. Whats more,
a substantial portion of respondents say their companies are profiting from sustainability activities. Sustainability Nears
a Tipping Point: Findings from the 2011 Sustainability & Innovation Global Executive Study and Research Project
(http://sloanreview.mit.edu/files/saleable-pdfs/53380.pdf - 12-06-2012)
24
Cf. (http://visao.sapo.pt/o-verde-vende=f693893)

812
dos mercados serem dominados pela indstria do carvo e do petrleo (Yeomans, 2006), dois dos
maiores causadores de problemas ambientais do planeta (Esty & Winston, 2008; Krupp & Horn,
2009).
Atualmente, com o incio da escassez do petrleo e com os custos ambientais incomportveis
dos materiais fsseis como o carvo e o petrleo proveniente de areias betuminosas, novas solues
tm de ser encontradas para suprir as necessidades energticas da humanidade (Dresner, 2008), pelo
que o hidrognio um candidato a considerar (Yeomans, 2006).
No entanto, outras solues energticas esto j a ser exploradas, como as clulas de
combustvel de metanol, inventadas h 15 anos, que so o primeiro produto comercial no mercado,
suprindo as lacunas tcnicas que o hidrognio para j apresenta
25
.
Em vez de se perder tempo precioso e gastarem ainda mais recursos e causar mais danos
ambientais, o ideal ser procurar se j existe soluo ou adaptar uma soluo existente para a
resoluo dos problemas atuais. A informao de patentes pode conter a soluo a adotar.

4 A informao de patentes para a criao de negcios sustentveis

O Forno Solar, criado pelo Prof. Manuel Colares Pereira (Professor no IST e investigador no
INETI), foi desenvolvido com base numa patente j caducada, de um invento semelhante (o Pireliforo
do Padre Mag Himalaya) mas usado para outras funes (fundir metais e criar fosfatos para
fertilizantes)
26
.

Figura 7 O Phyreheliophoro em Portugal e em St. Louis nos EUA em 1904
27

A consulta desta patente, de um portugus (o Padre Manuel Antnio Gomes, conhecido por
MAG Himalaya), que no incio do sc. XX, em 1904, arrecadou o 1 prmio num concurso de Cincia na

25
O primeiro a desenvolver e comercializar estas clulas de combustveis para aparelhos portteis, com alimentao
direta de metanol, foi o engenheiro alemo Manfred Stefener. A sua ideia, nos anos 90, consistiu, basicamente, em
substituir o hidrognio pelo metanol. Como combustvel, este composto qumico tem diversas vantagens em relao ao
hidrognio quatro vezes mais denso; lquido temperatura ambiente e facilmente transportvel e armazenvel,
reduzindo o peso das baterias. (http://pt.euronews.com/2012/06/05/celulas-de-combustivel-para-dispositivos-portateis/
- 06-06-2012)
26
Programa 4 X Cincia, de Andreia Azevedo Soares na TV2 (23-09-2004 14h00 s 15h00).
27
Rodrigues, 1999

813
Feira Universal de St. Louis, nos EUA (Rodrigues, 1999), motivou o desenvolvimento de um forno
28

para elaborao de alimentos, com recurso energia do Sol
29
.
Este invento utiliza somente a energia do sol, no poluente, elimina a necessidade de cortar
rvores para obter lenha para cozinhar, diminuindo a desflorestao
30
, liberta tempo disponvel
para outras funes, como estudar e cuidar da famlia, o que impossvel se tivermos de percorrer
longas distncias para recolher lenha, como sucede nos pases menos desenvolvidos e permite a
criao de negcios familiares, como cozinhar para fora, possibilitando a realizao de capital para
criao de outros negcios.
Trata-se, pois, de um produto ecolgico que permite negcios sustentveis com inerentes
vantagens econmicas, sociais e ambientais.

Figura 8 The Sun Cook Solar Oven by Sun C. Comp de Energia Solar S.A.
31

Este novo invento, baseado numa tecnologia de 1900, ele prprio patentevel, uma vez que a
soluo encontrada nova, no est contida no estado-da-arte da tcnica, passvel de aplicao
industrial e no se destina ao mesmo uso da inveno precedente.

Figura 9 Patente do Forno Solar
32

28
Forno solar concentrador do tipo caixa, incorporando tica do tipo coletor parablico composto. Nmero da Patente:
PT102576, Data de publicao: 2002-09-30, Inventor: PEREIRA MANUEL (PT); OLIVEIRA JO O (PT), Requerente: SUN CO
COMPANHIA DE EN SOLAR S (PT) (http://pt.espacenet.com/ - 24-12-2004).
29
Cf. (http://solarcooking.wikia.com/wiki/Sun_Co)
30
Cf. (http://diariodigital.sapo.pt/news.asp?id_news=628965)
31
http://www.sun-cook.com
32
http://pt.espacenet.com/

814
Tambm Henri Dou nos comprova todas estas vantagens, atravs de projetos encetados em
pases de baixo desenvolvimento tecnolgico, onde se verificaram mudanas assinalveis na criao
do prprio emprego, melhorias sociais e econmicas, diversificao da oferta e aumento das
exportaes aps a introduo da prtica de monitorizao de mercados e tecnologias, com especial
incidncia na vigilncia tecnolgica usando a informao de patentes na Internet.
Num desses projetos, o autor (Dou, 2004; Dou, Leveill, Manullang, & Dou Jr., 2005) relata-nos a
situao vivida numa provncia indonsia, numa ilha remota e sem grandes recursos econmicos,
mas com grande abundncia de cocos.
O fruto era comido e o seu sumo bebido (leite de coco), mas as cascas resultavam num grave
problema ambiental pois no lhes era dada qualquer utilizao e constituam pilhas de detritos
espalhados pela ilha, retirando-lhe a sua beleza e afastando os turistas. Foi dada formao
populao para que pudesse utilizar os computadores da biblioteca municipal, com acesso
internet, para realizar pesquisas na Espacenet
33
de patentes de tecnologias que envolvessem a
utilizao de cocos (COCONUT ou KELAPA na lngua autctone).
Graas a esses documentos descobriram que podiam usar o fruto e o seu sumo em vrias
aplicaes diferentes como compotas, doces, bolos e licores, mas que a sua casca tambm poderia ter
utilizaes at a desconhecidas, que potenciavam fazer desaparecer esse detrito de uma forma
rentvel. Assim, as cascas podem ser utilizadas como adubo ou fertilizante, para a construo de
mobilirio, materiais de construo e isolamento, brinquedos e artigos decorativos, produtos
artesanais e como material para encher almofadas e colches.
Tais conhecimentos despoletaram um sem nmero de indstrias familiares bem-sucedidas,
transformando uma pequena ilha sem recursos econmicos num local prspero de maior igualdade
social e sede de pequenos empresrios que j expandiram os seus negcios alm-fronteiras. De
salientar que a maioria das tecnologias e patentes descobertas eram de origem brasileira, no
protegidas na Indonsia, podendo ser usadas sem qualquer impedimento ou pagamento de direitos.

4.1 A utilizao de produtos naturais para gerao de inovaes com preocupaes
de sustentabilidade econmica e ambiental

Se ao consultar uma inveno criada com uma determinada inteno, fundir metais e produzir
fosfatos, foi possvel dar o salto cognitivo para a criao de um forno solar para a confeo de
alimentos, visualizar a informao de patentes onde j esto disponveis invenes utilizando
produtos naturais mais facilmente poder permitir o insight necessrio para a criao de novos
negcios com base nessas invenes.
A seguir se apresentam alguns exemplos, para que melhor se perceba o valor da informao
contida nestes repositrios e, tambm, para vincar a ideia da utilizao de produtos e recursos
naturais para a resoluo de problemas de forma sustentvel, eliminando resduos que de outra
forma seriam, eles prprios, um problema para resolver.
A plataforma WIPO GREEN disponibiliza um conjunto de invenes, patenteadas, passveis de
serem exploradas por quem tenha interesse em aproveitar as solues disponveis.
Entre os inventos disponveis podemos encontrar uma forma de produzir plstico e papel a
partir do anans, o que pode ser uma soluo para o aproveitamento dos resduos, cascas e folhas,
que no so aproveitados na indstria alimentar. semelhana do exemplo dos cocos, no s pode
permitir uma forma de rentabilizao do excedente que no era aproveitado, como pode evitar o
problema ecolgico da deposio desses resduos.
Mais uma vez, como j anteriormente salientado, todos ganham com a situao, os
empresrios, o ambiente e, em ltima instncia, o pblico em geral.

33
Foi utilizado um software de apoio pesquisa, interpretao e visualizao da informao fornecida pela Espacenet
,
designado MatheoPatent
cuja autoria e criao dos autores dos artigos citados.

815

Figura 10 Anans para a produo de plstico
34

Figura 11 - Anans para a produo de papel
35

Outros resduos provenientes da indstria alimentar, neste caso as cascas da banana, podem
ter uma utilizao extremamente vantajosa na eliminao de metais pesados, problema que os
filtros industriais disponveis no mercado no resolvem satisfatoriamente e cujo custo muito
elevado. Alguns dos recursos naturais j utilizados nesta atividade envolvem o uso de argila,
carapaas de crustceos, espigas de milho e o algar (algas e sargao).

Figura 12 - Utilizao da casca de banana como despoluente industrial
36

A empresa americana de informtica Dell utiliza materiais orgnicos provenientes do bambu e
de cogumelos para a elaborao de caixas e embalagens amigas do ambiente
37
, a Universidade
Catlica do Porto em conjunto com a Pascoal e a WeDoTech desenvolvem implantes sseos a partir de
espinhas de bacalhau - um resduo desaproveitado resultante da indstria alimentar
38
-, Espanha e
Etipia patentearam um novo mtodo de purificao da gua com base num mineral existente em

34
https://www3.wipo.int/green/green-technology/withoutLogin
35
https://www3.wipo.int/green/green-technology/withoutLogin
36
http://www.cienciahoje.pt/index.php?oid=46955&op=all
37
Cf. (http://sloanreview.mit.edu/article/how-dell-turned-bamboo-and-mushrooms-into-environmental-friendly-
packaging/). O bambu uma planta tropical renovvel e que se reproduz anualmente sem a necessidade de replantio,
evitando assim a desflorestao de outras espcies de crescimento lento, no havendo nenhuma outra espcie florestal que
possa competir com ele em velocidade de crescimento e de aproveitamento por rea
(http://pt.wikipedia.org/wiki/Bambu)
38
Cf. (http://www.cienciapt.net/pt/index.php?option=com_content&task=view&id=107518&Itemid=279)

816
frica
39
, uma universidade norueguesa produz biocombustvel mais barato a partir da carapaa de
insetos e marisco
40
outro desperdcio da indstria alimentar e, na Universidade de Trs-os-
Montes e Alto Douro (UTAD), so usados os resduos da produo de azeite e da cortia para produzir
energia, diminuindo os efeitos do impacto ambiental
41
(vencedor de um Green Project Award em
2011).
A empresa italiana Bio-on produz plsticos biodegradveis a partir do acar de beterraba que
sero utilizados para transportar gua potvel. A vantagem que aps 10 dias em gua com
bactrias como a do mar, rios ou charcos - ou dois meses depositado na natureza - este material
dissolve-se sem deixar qualquer resduo, com benefcios ambientais e sem qualquer prejuzo
ecolgico.

Figura 13 Bio-on plsticos biodegradveis
42

Enquanto tal tecnologia no se torna a norma vigente, nos EUA j possvel reciclar garrafas
de plstico para criar materiais adequados ao revestimento de pavimentos, eliminando toneladas
desses detritos, com menores custos de produo e benefcios ambientais
43
.

39
Cf. (http://www.cienciahoje.pt/index.php?oid=57432&op=all )
40
Cf. (http://www.cienciahoje.pt/index.php?oid=45602&op=all)
41
42
http://www.bio-on.it/
43

817

Figura 14 Plant-e - Eletricidade a partir da interao entre as razes das plantas e as bactrias do solo
44

A Universidade de Wageningen, na Holanda desenvolveu o Plant-e, que gera eletricidade a
partir da interao natural entre as razes das plantas e as bactrias do solo. Segundo Marjolein
Helder, CEO da empresa, o processo funciona aproveitando at 70% de material orgnico produzido
por fotossntese, que a planta no utiliza e segregado pelas razes. As bactrias existentes no solo,
perto das razes, interagem com esse lixo orgnico, libertando eletres. A eletricidade gerada
atravs da colocao de um eltrodo que absorve os eletres libertados produzindo energia.
Por ltimo, apresentamos um exemplo desenvolvido no departamento de Engenharia Qumica
da Universidade de Coimbra, que visa o aproveitamento de outro resduo com vantagens no mbito
da sustentabilidade, a utilizao das cascas de ovo como aditivo para correo dos solos. No s se
elimina o problema ambiental da deposio das cascas de ovo como se tornam teis e,
provavelmente, rentveis na resoluo de um problema ambiental, eliminando a utilizao de
fertilizantes qumicos, com inegveis benefcios ambientais.

Figura 15 - Utilizao da casca de ovo como aditivo
45

44
http://pt.euronews.com/2013/04/29/eletricidade-verde-de-raiz/

818

Por todos os motivos apresentados, a consulta da informao de patentes revela-se uma tarefa
a considerar por empreendedores, investigadores e empresrios pois poder descobrir-se uma
oportunidade de rentabilizao de algum invento que possa ser usado ou adaptado para prticas
sustentveis econmica e ambientalmente rentveis.

Concluso

Aps termos descrito a PI e as patentes, analisamos a informao de patentes e a sua
importncia para o crescimento econmico e obteno de vantagens competitivas, atualmente
disponvel via Internet e plataformas digitais de informao e comunicao que facilmente a
disseminam a custos muito reduzidos.
Vimos que as empresas que adotam prticas verdes, amigas do ambiente, conseguem obter
um crescimento superior mdia das 500 maiores empresas do ndice S&P, detendo uma reputao
e imagem positivas que conduzem a um maior nmero de clientes.
Citamos vrios exemplos da sua utilizao estratgica, donde salientamos os seguintes: i) usar
produtos inventados para uma funo, que adaptados possam servir para outra distinta (satisfao
de necessidades bsicas em mercados menos desenvolvidos, pessoas com necessidades especiais
46
,
etc.); ii) conhecer produtos patenteados que possam ser melhorados tornando-os tecnologicamente
mais avanados (imitao criativa); iii) usar em Portugal produtos e processos que no estejam
registados e protegidos no nosso pas ou cuja patente j tenha cado em domnio pblico (ex:
medicamentos genricos); iv) utilizar invenes em domnio pblico para a realizao de produtos e
negcios sustentveis, ambientalmente responsveis, que melhorem a vida das populaes (ex.
forno solar e utilizao de cocos como matria prima de inmeros produtos ecolgicos).
Mostramos que existem organizaes que fomentam a utilizao de solues patenteadas para
quem desejar iniciar a sua explorao sem grandes custos iniciais de I&D e que, por vezes, os
recursos naturais podem ser utilizados para resolver problemas complexos.
No se trata de fomentar a cpia, pela simples imitao de solues existentes, mas de tentar
que esse seja o primeiro passo para o aumento da capacidade criativa e a aquisio da capacidade
tcnica necessria para que ocorra o salto que permite a utilizao criativa da inveno, conducente
inovao.
Consultar a informao de patentes, s por si, no vai resolver os problemas estruturais do
pas. um processo que permite aos nossos empresrios e investigadores a criao de solues
inovadoras, sempre de acordo com as necessidades e desejos do mercado, na tentativa de resoluo
de um problema sentido por algum grupo de consumidores e que permita despoletar a procura e
posterior fornecimento desse bem.
A posterior criao de empresas para a produo e comercializao desses bens, geradoras de
empregos, e cujas vendas permitiro diminuir o nosso deficit externo, alavancando a balana
comercial nacional, ser seguramente um fator de crescimento econmico e social.
Apesar de a informao estar disponvel para todos, nem todos usufruem dela e no basta
det-la, preciso construir algo novo com ela. Alm disso, pode permitir avanos na interseo

45
http://www.cienciahoje.pt/index.php?oid=54436&op=all
46
A FEUP criou a IntellWheels uma cadeira de rodas inteligente desenvolvida por um grupo de docentes da Faculdade de
Engenharia da Universidade do Porto (FEUP) que h quatro anos se lanou na aventura de transformar uma cadeira de
rodas comercial num equipamento inteligente, de custos reduzidos e com poucas alteraes do ponto de vista ergonmico.
() Destaca-se que algumas metodologias (nas reas de cooperao, comunicao, simulao, navegao e localizao)
foram inicialmente desenvolvidas no mbito das equipas de futebol robtico () e depois adaptadas, estendidas e utilizadas
com sucesso no projeto IntellWheels
(http://www.cienciapt.net/pt/index.php?option=com_content&task=view&id=102717&Itemid=279 26-01-2011).

819
(Johansson, 2007), permitindo criar conhecimento novo entre reas cientficas diferentes, ou uma
cincia nova com base em outras j existentes (ex. Bioinformtica, Bioengenharia, Engenharia
Gentica).
De salientar a questo da vantagem social, muito mais importante que os simples benefcios
econmicos, que tambm podem estar presentes, nomeadamente se apostarmos em tecnologias que
induzam prticas assentes numa economia do reutilizvel
47
que seja economicamente sustentvel e
ambientalmente vivel.
A informao de patentes pode ser perfeitamente utilizada para a criao de tecnologias
limpas e tecnologias para salvar vidas ou ajudar a melhor-las. A Eco Patents Commons e a WIPO Green
podem conter vrias solues a explorar nesse sentido.
Se alguma tecnologia desenvolvida com um determinado propsito permitir a sua adaptao
para outro diferente
48
com benefcios de custo e vantagens ambientais, ento deve ser usada e todos
ficam a ganhar com essa adoo, desde que a mesma esteja em domnio pblico. Devemos voltar
atrs, quelas invenes que apesar de geniais, nunca foram possveis por no existirem tcnicas
viveis e financeiramente suportveis para serem realizadas. Com o desenvolvimento atual, talvez
seja possvel serem realizadas com sucesso e permitirem algum avano tecnolgico.
Devem, por isso, explorar-se inventos verdes, a baixo custo, pois no implicam custos de I
(investigao) mas apenas de D (desenvolvimento) + i (inovao), ficando a cargo de um parceiro
estratgico a colocao do novo produto/processo no mercado, sua divulgao e formao dos
utilizadores e toda a ao necessria para a distribuio e explorao comercial do mesmo.
O segredo do sucesso no est s em saber o que os outros no sabem. Est sim, em agir sobre
essa informao e produzir vantagens e benefcios para o seu detentor.
Para tal, necessrio adotar uma atitude pr-ativa de consulta e anlise da informao de
patentes, disponvel gratuitamente atravs da Internet.
Existem inmeros exemplos de empresas que inovaram a partir da inovao de outros
49
e, se
ainda no temos capacidade para realizar inovaes disruptivas e radicais que criam novos
mercados e mudam a nossa forma de ver o mundo e de nos comportarmos, pelo menos tenhamos a
viso de aproveitar essas inovaes feitas por outros em nosso benefcio.

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47
sempre bom lembrar que a frugalidade no pobreza. o aproveitamento inteligente dos recursos
(http://www.theeleventhhouraction.com 28-12-2010). Existindo vontade e determinao, a melhoria dos padres de vida
de todos pode continuar a crescer sem pr em causa a qualidade ambiental.
48
I was horrified to learn that patents had been delivered on antipersonnel mines. But on further inquiry I found that the
patent related to the detonator, which is exactly the same at that used in car airbags. This is typical of the complexity of
these dual technologies, which can be used for both civilian and military purposes (Stein, 2007, p. 25).
49
Cf. Apple (http://mashable.com/2012/10/27/apple-stolen-ideas/?goback=.gde_56751_member_179527704)

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824
REPRESENTAO DA INFORMAO EM ARQUIVSTICA
Busca por uma consolidao terminolgica

DULCE AMLIA DE BRITO NEVES
Universidade Federal de Paraba - Departamento de Cincia da Informao
[email protected]

MARIA ISABEL DE JESUS SOUSA BARREIRA
[email protected]

JULIANNE TEIXEIRA E SILVA
[email protected]

ROSA ZULEIDE LIMA DA SILVA
[email protected]

ROSALE DE MATTOS SOUZA
Universidade Federal do Estado do Rio de Janeiro - Departamento de Estudos e Processos
Arquivsticos
[email protected]

Resumo Pesquisa em andamento que objetiva elaborar glossrio de termos referentes a Representao
Temtica da Informao em Arquivstica a partir do levantamento dos termos da rea. A escassez de estudos
acerca da temtica aliada ao crescimento da rea promovida pelo uso da tecnologia da informao faz com que
exista dissensos com relao aos termos a serem identificados, provocando com isso, certa impreciso
conceitual e consequentemente baixa consistncia terminolgica na rea da Arquivologia. A metodologia
traada vem atender as questes especficas como objetivos norteadores, e pretende descrever as etapas
relacionadas construo de um mapa conceitual que demonstrar o estado atual dos termos identificadores
do domnio da Arquivologia no que concerne a representao da informao, assim como um glossrio de
termos que ser disponibilizado nos sites institucionais dos cursos de arquivologia das Instituies Federais de
Ensino Superior (IFES) participantes deste projeto, seguindo os princpios do trabalho realizado em
cooperao. Para tanto, ser efetivada atravs do levantamento dos termos em lxicos da rea, anlise dos
termos identificados, estruturao conceitual, elaborao do mapa conceitual e organizao do glossrio. A
terminologia ser estruturada a partir das definies existentes ou construdas de acordo com a necessidade
de atualizao terminolgica, observando a evoluo dos conceitos no tempo e espao como comum ao
universo dinmico e contnuo do conhecimento advindo dos domnios. Ao concluir o estudo, os pesquisadores
pretendem que a consolidao dos termos arquivsticos possibilite que o usurio tenha acesso informao
clara e segura nos diferentes repositrios fsicos ou virtuais utilizados para sanar suas necessidades
informacionais.

Palavras-chave Arquivstica. Organizao do Conhecimento. Representao da Informao.

Abstract This research that to develop a glossary of terms relating to Thematic Representation of Archival
Information from the survey of the terms of the area. The scarcity of studies on the theme along with the
growth of the area promoted by the use of information technology makes disagreements exist regarding the

825
terms to be identified, thereby causing, certain conceptual vagueness and consequently low consistency in
terminology in the field of Archival. The proposed methodology is an answer specific questions as guiding
objectives, and is intended to describe the steps related to the construction of a conceptual map that will show
the current state of the domain identifiers terms of Archival regarding the representation of information, as
well as a glossary of terms which will be available on the websites of institutional courses archival of Federal
Institutions of Higher Education (IFES) participants of this project, following the principles of the work done
in cooperation. Therefore, grouper effect through the survey in terms of lexical area, analysis of the identified
terms, structuring conceptual elaboration of the concept map and organization of the glossary. The
terminology will be structured based on existing definitions or constructed in accordance with the need to
update terminology, observing the evolution of concepts in time and space as is common in the universe
dynamic and continuous knowledge provided by domain. Upon completion of the study, the researchers
intend to consolidate the terms archival enables the user to have access to safe and clear information on
different physical or virtual repositories used to remedy their informational needs.

Keywords Archival. Knowledge Organization. Knowledge Representation.

Introduo

Este trabalho busca refletir acerca das linguagens utilizadas na Arquivologia, sejam elas
natural, artificial ou linguagens documentrias, bem como trazer contribuies para construo de
uma terminologia da rea Arquivologia e da Documentao constitui-se a essncia dessa pesquisa.
Assim, essas questes como locus de discusso podero aprimorar o pensar e o fazer arquivsticos,
tanto no sentido de lhe oferecer maior consistncia terminolgica, quanto de promover o uso de
ferramentas tericas que so correntes em outras reas. Assinala-se a rea de Biblioteconomia e
Documentao, e a Cincia da Informao, que se utilizam de recursos, tais como a representao da
informao, a representao descritiva, a representao temtica, a anlise documentria, a
indexao e termos correlatos. Esses aspectos envolvem os planos de mediao do profissional da
informao, os canais e sistemas de informao, e a cognio dos usurios na apropriao dos
termos e seus respectivos conceitos.
Problematiza-se que a terminologia na rea da Arquivologia carece de maior consistncia,
pois ainda existem dissensos com relao aos termos a serem identificados e conceituados. Desde o
inicio ficaram evidenciadas as preocupaes em torno da terminologia empregada na rea nos anos
1950 e 1960. Segundo o Dicionrio de Brasileiro de Terminologia Arquivstica, do Arquivo Nacional,
publicado em 2005 foram constatadas algumas iniciativas nacionais e internacionais no sentido da
normalizao de termos da rea.
Os principais termos e conceitos utilizados na rea traduzidos para seis idiomas, tais como,
Elseviers Lexicon of Archive Terminology, em 1964, com cerca de 175 termos, em 1974 o trabalho
realizado pela Society Of American Archivists trabalhado intitulado A Basic Glossary for Archivists,
Manuscript Curators, and records Managers, que reuniu cerca de 127 termos em ingls, acompanhados
de conceitos.
Em 1976, a literatura tcnica que ultrapassou o campo da Arquivologia, intitulada Terminology
of documentation, reunido pelo terico da CI Gernot Wersig, preocupado com as questes voltadas
para a comunicao. J em 1977, o CIA resgatou a preocupao com a terminologia em arquivos,
produzindo o Dictionary of Archival Terminology - DAT1 de 1984 com cerca de 503 termos e seus
conceitos. O DAT 2, com cerca de 486 termos em edio de 1988. Entre as dcadas de 1980 a 1990
houve contribuies de Cuba e da Colmbia, e promovido pela Associao Latino-Americana de
Arquivos ALA. Em 2002 o Arquivo Nacional brasileiro toma conhecimento da elaborao do DAT 3
pelo CIA.
No Brasil, tcnicos inspirados no DAT 3 e em experincias realizadas pela rea a partir do I
Congresso Brasileiro de Arquivologia, de 1972 com um glossrio de cerca de 132 termos. A
Associao dos Arquivos Brasileiro (AAB) criou um comit de Terminologia Arquivstica, em 1989,
ocasio em que Rolf Nagel, apoiado por uma Fundao para o Desenvolvimento Internacional

826
juntamente com Maria Jos Rabello de Freitas desenvolveram o denominado Dicionrio de termos
arquivsticos: subsdios para uma terminologia arquivstica, vulgarmente chamado de Dicionrio da
Bahia, com cerca de 537 termos.
Destacam-se mais duas experincias na rea de terminologia arquivstica, a de 1989, tendo
frente as Profas. Helosa Liberalli Bellotto, e Ana Maria Camargo, com uma primeira edio do
Dicionrio de Terminologia Arquivstica, do Ncleo Regional da AAB de So Paulo, com reedio em
1996, sendo a ltima edio (de bolso) em 2002, publicada pelo Centro de Memria da Educao, e
pela FEUSP/FAPESP. Outra experincia, iniciada na dcada de 1990 pelo Arquivo Nacional, retomada
em 1999, evoluiu at chegar ao Dicionrio Brasileiro de Terminologia Arquivstica.
Diante do exposto, nos propomos a elaborar glossrio de termos referentes a Representao
Temtica da Informao em Arquivologia. Especificamente busca identificar as terminologias
existentes; analisar os termos e sua relao com conceitos arquivsticos; possibilitar a criao de
estruturas de representao da informao; cotejar os termos entre si para identificar sinnimos,
quase-sinonimos, homnimos e homgrafos; ordenar os termos levando em conta suas relaes
lingusticas e epistemolgicas. Com isso retoma-se inicialmente os termos e conceitos relacionados
com as operaes, atividades e servios de informao imbricados com a representao da
informao, em particular no que tange rea arquivstica, visando a otimizao do trabalho dos
arquivistas, dos sistemas de informao e o atendimento aos usurios e pesquisadores.
Tendo em vista a complexidade deste projeto formamos uma equipe de 6 pesquisadores 3 da
UFPB, 1 da UFBA, 1 da UNIRIO que trabalharo concomitantemente em suas Universidades,
comunicando-se on-line, mas reunindo-se presencialmente em mesas redondas a cada semestre ao
longo dos 24 meses de execuo.
A proposta tambm contar com o apoio do Laboratrio de Tecnologias de Intelectuais (LTI)
que desenvolvido em parceria entre o Departamento de Cincia da Informao e o Programa de
Ps-Graduao em Cincia da Informao da Universidade Federal da Paraba.

1 Representao da informao arquivstica: a chave para a recuperao e acesso

A Cincia da Informao (CI) um conhecimento que opera com a linguagem numa
perspectivas da compreenso do fenmeno informacional (NEVES, 2006a). Para Saracevic (1996) a CI
um campo dedicado s questes cientficas e s prticas profissionais voltadas para os problemas
da comunicao do conhecimento e de seus registros entre os seres humanos, no contexto social,
institucional ou individual, do uso e das necessidades de informao. Entre suas vrias funes, est
a de organizar e descrever, atravs da representao a informao.
A CI tambm se prope a estabelecer uma abordagem cientfica consistente para o estudo dos
vrios fenmenos relacionados a noo de informao, sejam eles encontrados nos processos
biolgicos, psicolgicos da dimenso humana, ou nas mquinas. Essa busca envolve princpios que
norteiem o processo de comunicao sistemas de recuperao da informao e sua interao com os
sujeitos na busca da informao.
A organizao da informao uma rea interdisciplinar que abrange lingustica, filosofia,
psicologia, sociologia, semitica, entre outros campos. tambm uma atividade de carter mediador
da CI, uma vez que, segundo Guimares e Pinho (2006, p. 3), serve de elo entre a produo e o uso do
conhecimento registrado e socializado. Ainda segundo os autores, na perspectiva atual quando o
impacto das tecnologias de informao e da comunicao tem levado a uma agilizao de processos,
produtos e instrumentos, imprescindvel refletir acerca dos aspectos relacionados prxis
informacional e em especial as implicaes ticas relativas ao trato da informao (adaptao nossa).
Nesse processo, a descrio do contedo dos documentos tem por objetivo torn-los acessveis
s pessoas que os procuram. A representao da informao de dois tipos: descritiva e temtica. A
representao descritiva enfatiza as propriedades fsicas do documento, como: autor, data, local de

827
publicao, etc. J a representao temtica se prope identificar os conceitos abordados no
documento. Ambas geram registro em um ndice para fins de recuperao, atravs de ndices,
catlogos, dados bibliogrficos, ou seja, produzem metadocumentos (NEVES, 2011).
Para a UNISIST (1981), a representao temtica de informao, tambm denominada
indexao, um processo de extrao dos conceitos dos documentos por anlise e so representados
por snteses. Desse modo, a indexao pode ser separada em duas etapas: anlise de assunto e
traduo dos conceitos nos termos de uma linguagem documentria.
A Biblioteconomia h muito tempo utiliza a Representao Temtica objetivando a
organizao do acervo a partir dos conceitos elaborados pelo autor em um determinado documento.
Tais representaes geram metalinguagens, tais como tesauros e vocabulrios controlados.
Gomes (2009) define conceito como

unidade do conhecimento constitudo por caractersticas que refletem
as propriedades significativas relevantes atribudas a um objeto ou a uma
classe de objetos e expresso comumente por signos lingusticos.

Embora o arquivo seja visto como uma unidade de informao, tradicionalmente o arranjo
documental feito atravs de um levantamento e organizao intelectual e fsica baseado na
estrutura organizacional, do fluxo documental, do contexto, da misso, das funes, atividades,
tipologias e assuntos documentais de entidades pblicas ou privadas, e ainda de pessoais e famlias.
Sendo uma outra prtica arquivstica, aquela denominada de descrio para representar o
contedo e a forma dos documentos. Entretanto, com a complexidade dos acervos e a maior
visibilidade aos arquivos, se faz necessrio sua melhor representao para atender as necessidades
do pblico.
A Arquivologia possui uma relao com a atividade humana e social, representadas por
documentos provenientes de entidades pblicas e privadas, pessoas e famlias, considerando-se no
somente o contexto social de produo documental, mas tambm com as suas finalidades e
atividades, como informao registrada (orgnica, institucional) desempenhando seu papel no
contexto em que est inserida.
H que se analisar que a Arquivologia deixou de ser cincia auxiliar da Histria (modelo
positivista do Sc. XIX), caminha por reas limtrofes, e est procurando com as relaes
interdisciplinares como a Cincia da Informao (Scs. XX e XXI), a sua prpria identidade. Com a
influncia da Histria, os instrumentos de pesquisa eram mais narrativos, e com a influncia da
sociedade da informao estes vm ganhando novos contornos, adequando-se s potencialidades das
tecnologias da informao e da comunicao. Nessa perspectiva, a Arquivologia est sainod
paulatinamente do senso comum e ganhando maior cientificidade; vem saindo do eixo
paradigmtico da Histria, e se inserindo no eixo paradigmtico da Cincia da Informao, na qual
busca aperfeioar suas questes tericas e prticas.
No caso do estabelecimento dos conceitos, observou-se em Dahlberg,1978 o estudo sobre os
termos, e os respectivos conceitos e predicados. Desta forma, amparados nestas noes de termos e
conceitos refletimos como so importantes para a configurao dos aspectos de significao, os
significantes, significados, adequao dos termos numa rvore semntica; tendo repercusses na
representao da informao, no estabelecimento de vocabulrios controlados, na diminuio de
sinonmias, homonmias, e quase sinonmias, critrios de relevncia, validao de termos, na
entrada e sada de dados dos sistemas de recuperao da informao, no pensar e no fazer
arquivsticos.
No se pode deixar de mencionar que o Arquivista vai lidar com a semntica dos documentos
e informaes respeitando os princpios arquivsticos, principalmente os de respeito provenincia,

828
s suas relaes orgnicas, contextuais e sua origem, as funes e atividades do rgo produtor,
sua integridade relacionada com os fundos documentais.
Conforme Sousa (2002) a funo arquivstica classificao de documentos, considerada
matricial para o fazer arquivstico, a explicitao de funes ou estruturas dentro de um contexto de
produo documental. a representao do mapeamento deste contexto produtivo e que subsidia as
demais etapas da gesto de documentos. Classifica-se o item documental pensando no todo e nas
relaes existentes, no papel desempenhado pela informao dentro do organismo.
Ao contrrio do livro para a biblioteca unidade de informao que independe das outras
unidades - o documento, ou ainda, a informao arquivstica, pensada em nvel de unidade de
informao, s pode ser significada se relacionada com outras unidades informacionais que
representam uma atividade, subfuno ou funo especfica. medida que vo sendo acumuladas, as
informaes estabelecem relaes entre si. Elas esto unidas por um elo criado no momento em que
so produzidas e recebidas, determinado pela razo de sua elaborao e que necessrio prpria
existncia e capacidade de cumprir seu objetivo. Elas so um conjunto indivisvel de relaes
intelectuais. (SOUSA, 2002, p. 15).
A NOBRADE (2006, p. 59) em seu item 8 intitulado rea de pontos de acesso e indexao de
assuntos tem por objetivo indicar

[...] os procedimentos para recuperao do contedo de determinados
elementos de descrio, por meio da gerao e elaborao de ndices
baseados em entradas autorizadas e no controle do vocabulrio adotado.

Entretanto, a NOBRADE no apresenta os passos metodolgicos para que o arquivista
compreenda e proceda anlise e representao documentria voltada para a indexao.
No que diz respeito a algumas questes no muito bem claras em termos e conceitos
identificados em dicionrios de terminologia arquivsticos nacionais podemos apontar, por exemplo,
a falta de consistncia nos seguintes termos:
Recuperao da Informao, que no Dicionrio Brasileiro de Terminologia Arquivstica, (2005,
143) consta o seguinte: Identificao ou localizao da informao desejada; j no Dicionrio de
Terminologia Arquivstica, de So Paulo, publicado numa verso de bolso (2010, 71) consta o
seguinte: Conjunto de procedimentos, usualmente automatizados, pelos quais as referncias ou dados contidos
em documentos so indexados e armazenados, de maneira que possam ser encontrados em resposta a comandos
especficos.
Outro aspecto a ser mencionado ausncia do termo Pronturio Mdico ou do Paciente
conjunto de documentos extremamente importante dentro da rea de arquivos mdicos nos
Dicionrios de Terminologia Arquivsticos.
Nesse sentido, percebe-se a necessidade de ser efetuada pesquisa sobre representao
temtica da informao e suas especificidades em contexto arquivstico.

2 Procedimentos metodolgicos

A metodologia traada para este proposta vem atender as questes especificadas como
objetivos norteadores, e pretende descrever as etapas relacionadas construo de um mapa
conceitual que demonstrar o estado atual dos termos identificadores do domnio da Arquivologia
no que concerne a representao da informao, assim como um glossrio de termos que ser
disponibilizado nos sites institucionais dos cursos de arquivologia das Universidades Federais de
Ensino Superior (UFES) participantes deste projeto, seguindo os princpios do trabalho realizado em
cooperao.

829

2.1 Levantamento dos instrumentos de definio dos termos relacionados ao
trabalho de representao arquivstica

Levantar em base de dados, bibliotecas e arquivos os materiais de referncia (glossrios,
dicionrios e vocabulrios controlados) que contemplam definies capazes de atender a construo
das estruturas conceituais para a elaborao de um mapa conceitual que demonstre a organizao
do conhecimento advindo deste domnio.

2.2 Anlise dos termos identificados

Analisar os termos nos diferentes materiais de referncia que declarem os assuntos e possam
melhor traduzir o domnio da representao arquivstica.

2.3 Estrutura conceitual e suas relaes

A partir da declarao de assunto identificar os termos e a sua estrutura conceitual com base
na Teoria do Conceito de Dahlberg, segundo Lara (2004, p. 92) O trabalho terminolgico de
definio tem no conceito seu ponto de partida. Segundo as normas terminolgicas, o conceito
uma unidade abstrata criada a partir de uma combinao nica de caractersticas. E ainda na Teoria
da Classificao Facetada com base no plano das ideias para compor as relaes hierrquicas e
partitivas objetivando a construo do mapa conceitual a partir das categorias. [...] O trabalho no
plano das idias pode ser tomado como anlise do conceito . Uma ideia e um conceito que ao tomar
forma concreta pode levar a alguma informao. (Kaula, 1982, p. 14).

2.4 Elaborar mapa conceitual

Elaborar um mapa conceitual a partir dos termos categorizados utilizando o software Cmap
tools desenvolvido pelo Institute for Human and Machine Cognition da UWF-Universidade de West
Florida, objetivando demonstrar as relaes conceituais em uma forma grfica de representao que
apresenta as facetas assim como as sries verticais (cadeias) e horizontais (renques).
O mapa permitir uma visualizao estruturada dos conceitos e viabilizar uma possibilidade
de navegao nas definies objeto do glossrio de termos, bem como apontar para artigos que
abordam temticas de representao da informao e do conhecimento ligados s prticas
arquivistas.

2.5 Organizao do glossrio

Paralelamente a construo do mapa conceitual, estar sendo criado o glossrio dos termos, a
partir de definies existentes ou que sero construdas de acordo com a necessidade de atualizao
da terminologia, observando a evoluo dos conceitos no tempo e espao como comum ao
universo dinmico e contnuo do conhecimento advindo dos domnios.
Este glossrio ser disponibilizado nos sites dos cursos das universidades participantes deste
projeto, contribuindo com a disseminao e difuso da rea, alm de ser uma obra de referncia

830
atualizada que poder facilitar o trabalho de classificacionistas e taxonomistas na construo de
estruturas classificatrias e vocabulrios controlados.

Consideraes finais

A terminologia de maneira geral diz respeito ao estudo dos termos especficos de uma rea do
conhecimento os conceitos so analisados de acordo com a sua relao com certa rea do
conhecimento, pretendendo a ligao daquele conceito com o registro escrito e fontico da ideia a
que se refere o objeto. Nesse sentido, pode-se tratar tambm do estudo onomstico dos termos,
investigar a origem, transformaes, morfologia, etc., dos nomes. A linguagem adotada por uma rea
do conhecimento.
Para que um domnio do conhecimento possa ter unidade em sua expresso necessrio
haver uma convergncia terminolgica quanto ao conceito de um termo. Portanto, o discurso de
uma rea necessita de coeso e coerncia para seu desenvolvimento consistente. Este um dos
fatores para que a Arquivologia se consolide como domnio de conhecimento, fazendo com que as
agncias de informao, os rgos de fomento, as instituies e servios arquivsticos, os cursos de
Arquivologia, e os prprios arquivistas tenham maior e melhor unidade de pensamento.
Buscamos responder as preocupaes relativas terminologia, tendo em vista no apenas o
fato de identificarmos os termos e seu escopo, mas tambm suas imbricaes com o referencial
terico da rea, que por questes culturais, polticas e sociais transcende a identificao lingustica
do termo, buscando um aprofundamento onomstico do ajustamento de uma palavra na lngua
portuguesa, sem perder sua representatividade para o campo do conhecimento.
Transcorridos mais de 60 anos de criao do Conselho Internacional de Arquivos (CIA), em
1948, rgo apoiado pela Organizao das Naes Unidas (ONU) e pela UNESCO, persiste ainda certa
impreciso conceitual na Arquivologia, tanto no mbito nacional quanto no internacional.

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834
GESTO DO CONHECIMENTO, CRIATIVIDADE E TICA NO ACESSO E USO DA INFORMAO

BRASILINA PASSARELLI
Universidade de So Paulo - Escola de Comunicao e Artes / Ncleo de Pesquisa das Novas
Tecnologias de Comunicao Aplicadas a Educao
[email protected]

FRANCISCO CARLOS PALETTA
[email protected]

ALAN CSAR BELO ANGELUCI
Universidade de So Paulo / Escola de Comunicao e Artes / Ncleo de Pesquisa das Novas
[email protected]

ANTONIO HLIO JUNQUEIRA
[email protected]

Resumo Neste trabalho, enfocam-se aspectos de tica relacionada ao acesso e uso da informao. Discute-se a
tica como caracterstica inerente a toda ao humana e, por esta razo, um elemento vital na produo da
realidade social a partir de uma nova abordagem das literacias emergentes. Destaca-se nessa abordagem a
aplicao da tica no campo da criatividade e do uso das novas tecnologias na produo do conhecimento, bem
como a literacia digital e a estruturao do ambiente computacional sob a tica da produo e gesto do
conhecimento. Ao final deste texto, espera-se oferecer uma contribuio no que tange reflexo sobre os
atores em rede, em que indivduo e coletividade so mais eficientes quando h congruncia entre os valores e
as crenas a respeito de como o trabalho deve ser feito e as expectativas e exigncias da organizao em
relao ao uso da informao na produo de novos conhecimentos.
Eixo Temtico: Organizao da Informao para a Gesto do Conhecimento

Palavras-chave Gesto do Conhecimento. Acesso e Uso da Informao. Criatividade. tica.

Abstract In this work, ethical aspects related to access and use information are the focus. Ethics as inherent
characteristic of all human action is discussed, and therefore, a vital element in the production of social
reality from a new emerging literacies approach. Stands out in this approach the application of ethics in the
field of creativity and the use of new technologies in the production of knowledge, as well as digital literacy
and the structure of the computing environment from the perspective of production and knowledge
management. At the end of this text, providing a contribution in relation to reflection on the actors-network
is expected, in which individual and group are more efficient when there is the congruence between the
values and beliefs about how work should be done and expectations and requirements of the organization in
relation to the use of information in the production of new knowledge.

Keywords Knowledge Management. Access and Use of Information. Creativity. Ethics.

835
Introduo

Este trabalho tem por objetivo discutir os limites da tica no processo criativo em um
momento em que as organizaes alteram suas hierarquias e burocracias com objetivo de criar
oportunidades para o pensamento e ao criativa como fator fundamental na busca por vantagem
competitiva, eficincia operacional e sustentabilidade.
O desafio na gesto do conhecimento est em compreender que o esprito criativo precisa ser
abastecido de informao e que lampejos intelectuais no aparecem do nada, sendo as ideias criativas
resultado de um processo cognitivo complexo.
As literacias emergentes tm produzido uma nova tica que esta no centro do debate em um
mundo cada vez mais digital. A criatividade vem se destacando como uma caracterstica
imprescindvel para equipes e indivduos envolvidos em processos de produo e gesto do
conhecimento.
Propomos uma reflexo sobre a importncia da discusso tica no processo de acesso e uso da
informao, no campo da criatividade organizacional e seus impactos no successo profissional do
indivduo bem como no desempenho operacional e na imagem da organizao seja ela pblica ou
privada. Para essa reflexo, so utilizados dois estudos: o survey realizado em 2012 pela Escola do
Futuro USP que trata de usos e apropriaes de computadores, TV, games e celulares por crianas e
jovens brasileiros (Passarelli & Junqueira, 2012), bem como do Programa Acessa So Paulo, tambm
gerido pelo Ncleo de Pesquisas das Novas Tecnologias de Comunicao Aplicada a Educao, Escola
do Futuro Universidade de So Paulo.
s organizaes competem o desafio de entender o dilema tico em que o profissional
exposto diariamente quando submetido presso por resultado em um cenrio global altamente
competitivo. Ao mesmo tempo precisa estimular o profissional a entender que a criatividade
consiste em mudar a perspectiva e ver as coisas sob um novo ngulo. preciso levar o profissional
busca da informao capaz de produzir novos conhecimentos e gerar vantagem competitiva bem
com refletir sobre os limites da tica no processo criativo e na busca pelo desempenho e sucesso
profissional.
A linha que separa a criatividade e os limites ticos muito tnue e a busca por resultados a
qualquer preo pode ser um fator decisivo para romper este limite. Somente a tica e a moral podem
estabelecer parmetros de controle, evitando que se possa tomar um caminho sem volta ao fracasso
pessoal e organizacional (Ferrell, 2001).
tica como introduzi-la no processo criativo? Esperamos que este trabalho possa contribuir
para uma reflexo sobre os seus limites e como os atores em rede podero contribuir neste cenrio
onde somos usurios e consumidores da informao.

1 Atores em rede, tica e as relaes de acesso e uso da informao

O desenvolvimento da cincia e tecnologia, para o qual a criatividade e a inovao tm de
estar necessariamente presentes, suportado por trs premissas fundamentais: a primeira delas se
deve inteligncia humana e ao incentivo a sua potencialidade; a segunda pode ser localizada na
mobilizao das pessoas e instituies em torno de objetivos, de bandeiras, de metas geradoras de
algum benefcio estratgico ou social; a terceira refere-se ao esforo da sociedade, canalizando
recursos adequados para a rea cientfica e tecnolgica. somente por meio da concretizao dessas
trs premissas que as organizaes conseguiro vencer os grandes desafios do sculo XXI (Matos,
2005).
No podemos considerar que organizaes so apenas entidades jurdicas. Organizaes so
formadas por pessoas e s existem por causa delas. Por trs de qualquer deciso, de qualquer acerto,
erro ou imprudncia esto os indivduos, produtores e usurios da informao. E so eles que vo

836
viver o sucesso ou fracasso da organizao. Por isso, quando falamos de organizao tica, estamos
falando de pessoas ticas. Uma poltica interna mal definida por um colaborador de qualquer nvel
pode atingir em cheio dois dos maiores patrimnios de uma instituio: a marca e a imagem (Srour,
1998).
A alta permeabilidade das tecnologias de informao e comunicao (TIC) permite, para alm
da onipotncia da cadeia de distribuio e da audincia de cerca de 3 bilhes de pessoas no mundo,
diferentes perspectivas de enfoque sobre a sociedade conectada e seus atores em rede. Tratadas
como agentes transformadores, as plataformas culturais acolhem conceitos como: hipertexto,
multimdia, cibercultura, interatividade, wikis, blogs, personas, jogos em rede, comunidades
virtuais de aprendizagem, redes sociais e folksonomias (reputao em rede) (Passarelli &
Junqueira, 2012).
Assim, a reboque da sociedade contempornea em rede, emergem novas lgicas, novas
semnticas, novas literacias, novos modelos de negcios e novas prticas que ultrapassam as
dualidades emissor-receptor da comunicao de massa do sculo passado, relocando a ateno dos
tericos da comunicao, das instituies de ensino e pesquisa e das empresas da chamada nova
economia para a reciprocidade das aes comunicacionais onde os usurios da modernidade agora,
na contemporaneidade, so denominados prosumers (produtor+consumidor) com a consequente
redenio dos papis destes atores em rede (Passarelli & Junqueira, 2012).
Com o nascimento da sociedade burguesa, assistiu-se ao aparecimento de doutrinas ticas
progressistas, antifeudais, criadas pela jovem burguesia que censura a moral asctica da idade Mdia
e proclama o "egosmo racional" segundo o qual, a conduta do homem deve depender no da
religio, porm dos interesses pessoais bem compreendidos. Os materialistas russos do sculo XIX
eram os promotores de uma moral que tinha por princpio o bem do povo. Eles tambm no podiam
compreender, porm, o papel histrico do proletariado e no puderam, por esta razo, produzir uma
tica cientfica. Esta foi obra do marxismo, o primeiro que descobriu as leis objetivas que
determinam o desenvolvimento da moral e seu papel na luta de classes (Rosental, 1959).
A Internet tem modificado o comportamento humano, incentivando a paixo pelo
conhecimento, educao e cultura. A sociedade contempornea valoriza comportamentos que em
algumas vezes podem excluir qualquer possibilidade de cultivo de relaes ticas.
De acordo com Turkle (2011) a tecnologia est mudando a forma com que as pessoas se
relacionam umas com as outras e constroem suas vidas internas. Enquanto mais e mais pessoas esto
projetando qualidades humanas para os robs, esperamos cada vez menos e menos de nossos
encontros conforme so mediados pela Net. Ao invs de amigos reais, ns fazemos de amigos,
estranhos no Facebook. Ao invs de falar pessoalmente ns enviamos textos e tweets. O uso poltico
da internet como manifestado nas revoltas democrticas no Egito e em outros pases do Oriente
Mdio tem menor grau de importncia quando comparado com seus efeitos psicolgicos.
As novas tecnologias incluindo mensagens de e-mail, posts do Facebook, Skype e outros
tem feito da convenincia e controle uma prioridade enquanto diminuem as expectativas que temos
de outros seres humanos.
fcil verificar que o desejo obsessivo na obteno, possesso e consumo da maior quantidade
possvel de bens materiais o valor central na nova ordem estabelecida no mundo e que o prestgio
social concedido para quem consegue esses bens. Esse desejo se tornou mais voluptuoso e de
acesso mais fcil depois da ascenso do comrcio eletrnico na Internet. O sucesso material passou a
ser sinnimo de sucesso social e o xito pessoal deve ser adquirido a qualquer custo. Prevalece o
desprezo ao tradicional, o culto massificao que no ameaam e que permitem a manipulao
fcil das pessoas.
Um dos campos mais carentes, no que diz respeito aplicao da tica, o das novas
tecnologias e nisso inclui-se a Internet. No existe uma legislao prevendo condutas ou regras, com
isso fica muito perto o limite da tica no acesso e uso da informao, ingredientes fundamentais
para a produo do conhecimento. Uma das principais e mais evidentes realidades da Internet o

837
individualismo extremo, esse fator quando associado falta de tica pessoal pode gerar prejuzos
incalculveis imagem e reputao dos atores em rede.
No Brasil, tramita no Congresso Nacional o Projeto de Lei 2126/2011, o Marco Civil da
Internet, estabelece direitos e deveres para uso da Internet e est baseado em trs pilares: a
neutralidade da rede - direito do internauta de acessar diferentes contedos -, a proteo aos dados
dos usurios que probe a comercializao de dados de navegao dos internautas sem autorizao
-, e a liberdade de expresso que garante a no restrio informao na rede.
Um fato que ilustra a fragilidade da rede ocorreu em abril de 2011, quando jogadores do
mundo todo quase tiveram um ataque de nervos ao saber que a PlayStation Network, servio da
Sony que fornece contedo digital e partidas multiplayer, estava fora do ar. Porm, a frustrao se
transformou em empolgao quando grupos de hackativismo assumiram a autoria do ataque que
levou a rede a ficar offline. A operao foi motivada pelo processo que a Sony moveu contra o jovem
George Hotz (Geohot), responsvel pelo desbloqueio do Playstation 3. Na ocasio, 77 milhes de
pessoas ficaram sem acesso ao servio da empresa. Alm disso, os dados de mais de 24 milhes de
contas foram roubados, contendo informaes valiosas e que no estavam protegidas por
criptografia, como nmeros de cartes de crdito, senhas e histrico de compras. O prejuzo
para a Sony foi de US$ 24 bilhes.
Esse quadro nos remete diretamente questo da produo do conhecimento e da formao
de recursos humanos, pois a pessoa a base de qualquer tentativa de iniciar o resgate da tica nas
organizaes e nas relaes de trabalho, acesso e uso da informao. importante entender que o
conceito de que estender benefcios sociedade um meio concreto de abraar a tica e criar uma
boa imagem para a organizao. Ser tico demanda gerenciar e usar a informao de forma
eficiente, divulgar declaraes precisas definindo as regras e criar procedimentos de verificao
para assegurar que todos na organizao as esto cumprindo.
Os setores mais promissores do desenvolvimento so justamente os que impem as
organizaes os desafios de aprender a pensar em longo prazo e investir em criatividade e inovao.
Ao acessar e usar informaes para fundamentar decises, as organizaes legitimam seus atos de
gesto e contribuem para sua permanncia ao longo do tempo. O paradoxo moral do sistema
capitalista pode ser superado com o argumento central aqui desenvolvido: a interveno poltica dos
interesses em choque fora os indivduos a serem socialmente responsveis.
As organizaes exigem, hoje, a aplicao dos mais elevados valores ticos conduta de seus
dirigentes e colaboradores. No entanto, quais so exatamente os valores e padres ticos que se
espera das pessoas? Por que essa questo se tornou to importante?
Que papel desempenha nesse quadro a ambio, que pode tanto induzir alguns lideres a
colocar a organizao em risco como ajudar a produzir crescimento sustentvel?
Em uma sociedade em rede, nada disso ser possvel, todavia, sem uma sociedade civil ampla e
articulada, engajada de forma molecular em processos de fiscalizao e de defesa dos cidados,
contribuintes, consumidores, usurios e pblicos em geral. Ou seja, coletividades totalitrias ou
autoritrias no autorizam tal mediao. Sem mecanismos democrticos de controle, liderados por
organizaes voluntrias, no h como morais orientadas para o bem da maioria prevalecer.
A tica est amplamente constituda de regras de sobrevivncia, regras de comportamento
associadas profisso, regras de relacionamento que possibilitem harmonia na convivncia social e
assim por diante.
tica gera questes extremamente delicadas e, na maioria das vezes, de foro ntimo. No
existe uma receita universal, pronta e completamente eficaz para resolv-las. A deciso sempre
varia de pessoa para pessoa, de conscincia para conscincia, cada um tem os seus limites, impostos
por suas crenas e pelas leis, e deve segui-los. (Srour, 1998).
As atitudes devem ser rpidas e certeiras, mas sempre seguindo estratgias globais; estas, sim,
capazes de diferenciar as organizaes e garantir resultados consistentes no que diz respeito
sobrevivncia. Os sistemas formais da organizao correspondem aos mtodos, s polticas e aos

838
procedimentos que claramente identifica qual o negcio, quando, como, onde e por que ele se
realiza. Quando os sistemas formais contm um direcionamento tico claro, os colaboradores tm
uma compreenso correta das expectativas e exigncias. Quando esses sistemas no so claros ou
quando a mensagem tica varia entre os sistemas, os indivduos buscam outro ponto de referncia
para uma orientao definitiva, uma dimenso tipicamente de liderana. A mensagem que no
existe um padro tico. Isso deixa os indivduos totalmente dependentes de seus valores pessoais e
do comportamento observvel dos outros (Hitt, 1990).
A inteligncia, conforme Kahaner (1996), um imperativo devido a fatores como velocidade
dos resultados, a sobrecarga de informaes, o crescimento global do processo competitivo com o
surgimento de novos participantes, a concorrncia cada vez mais agressiva, as rpidas mudanas
tecnolgicas impostas pela sociedade em rede. fundamental criar relacionamentos ticos no
mundo virtual para poder sobreviver e, obviamente, obter vantagem competitiva.
A Internet provavelmente a mais sofisticada tecnologia de informao e comunicao
atualmente disponvel para a sociedade, em funo da sua forma de organizao e de seus impactos
nas esferas tecnolgicas, social, econmica e poltica. Ela tambm a infraestrutura necessria para
uma de suas maiores e mais conhecida aplicao: a Web, grande responsvel pela popularizao da
Internet, a ponto de hoje ser confundida com esta. As constantes mudanas nas formas de
organizao tradicional da informao presentes em ambientes informacionais digitais so reflexos
da incorporao das Tecnologias de Informao e Comunicao (TIC), como no caso das bibliotecas e
repositrios digitais, que armazenam, preservam, disseminam e permitem o acesso a produo
intelectual, visando contribuir para o aumento da visibilidade e do valor da instituio ao agregar
recursos que possibilitam o processo de construo do conhecimento, a partir da participao
colaborativa aplicada em diferentes ambientes.
Segundo Passarelli (2008) um novo mundo despontou no final do sculo XX, na coincidncia
histrica de trs processos independentes: a revoluo da tecnologia da informao; crise econmica
do capitalismo e do estatismo e a consequente reestruturao de ambos; e apogeu de movimentos
sociais e culturais, tais como: libertarismo, direitos humanos, feminismo e ambientalismo. A
interao entre esses processos e as reaes por eles desencadeadas fizeram surgir uma nova
estrutura social dominante a sociedade em rede; uma nova economia a economia informacional;
e uma nova cultura a cultura da virtualidade real. Com o modelo conceitual da Internet tambm
surge neste mesmo perodo o foco no usurio, centrado na comunicao de todos com todos,
instaurando uma rede de comunicao horizontal em oposio hierarquia vertical que rege as
relaes humanas em ambientes outros que no a Internet.
A inovao tecnolgica constitui uma ferramenta essencial para aumentar a produtividade e a
competitividade das organizaes, assim como para impulsionar o desenvolvimento econmico de
regies e pases. Debater o potencial da tecnologia, da inovao e das novas mdias para um mundo
melhor e a transformao desse potencial em aes o principal objetivo da Cpula Global do Bem
Social, evento anual que comeou em 2010, e tem apoio da ONU.
O desenvolvimento no deriva de um mero crescimento das atividades econmicas existentes,
mas reside fundamentalmente em um processo qualitativo de transformao da estrutura produtiva
no sentido de incorporar novos produtos e processos e agregar valor produo por meio da
intensificao do uso da informao e do conhecimento.
No novo contexto mundial definido pela globalizao e pela mudana tecnolgica, o
conhecimento tornou-se na principal riqueza das naes, das empresas e das pessoas, podendo
tambm vir a constituir o principal fator de desigualdade. A Sociedade da Informao a pedra
angular das Sociedades do Conhecimento. O conceito de sociedade da informao, est
relacionado ideia da inovao tecnolgica, enquanto o conceito de sociedades do
conhecimento inclui uma dimenso de transformao social, cultural, econmica, poltica e
institucional, assim como uma perspectiva mais pluralista e de desenvolvimento.
O conceito de sociedades do conhecimento expressa a complexidade e o dinamismo das
mudanas que esto ocorrendo. O conhecimento em questo no s importante para o

839
crescimento econmico, mas tambm para fortalecer e desenvolver todos os setores da sociedade
(Estratgia de Lisboa, 2010).
Literacia Informacional tem constitudo nos ltimos cinco anos, novo campo de pesquisa que
interessa educao, cincia da informao e s cincias cognitivas. O desafio est em, num
primeiro momento, aprender a utilizao bsica dos recursos tecnolgicos (literacia digital) e a
seguir apropriar-se dos mesmos para gerar novos conhecimentos (literacia informacional).
Entretanto esta apresentao reducionista de ambas as formas de literacia gestadas no bojo da
sociedade em rede no d conta de delinear as profundas rupturas imersas nas mesmas (Passarelli,
2008).
De acordo com Choo (2003), a construo do conhecimento provocada por uma situao que
revela lacunas no conhecimento atual de um indivduo ou organizao. Essas lacunas de
conhecimento impedem a soluo de um problema tcnico ou de uma tarefa, a criao de um novo
servio, ou ainda a possibilidade de aproveitar uma oportunidade. Uma organizao possui trs tipos
de conhecimento: o conhecimento tcito, contido na experincia de indivduos e grupos;
conhecimento explcito, codificado nas rotinas e procedimentos da organizao; e o conhecimento
cultural, expresso nas crenas, normas e pressupostos usados para dar valor e importncia a novos
conhecimentos e informaes.
A comunicao em rede uma comunicao de carter global, portanto assente nas foras da
globalizao comunicacional, da mediao em rede, na qual tecnologias de massa interagem com
tecnologias de comunicao interpessoal, dando origem a redes de mediao que suportam a
coexistncia de diferentes graus de interatividade. Ou seja, um modelo de comunicao que se
estrutura em torno de duas tecnologias, as quais acessamos atravs de mltiplos suportes tcnicos: a
televiso, quando procuramos momentos de baixa interatividade, e a internet, quando procuramos
alta interatividade (Cardoso, 2010).
Segundo Passarelli & Junqueira (2012), na sociedade em rede, a noo de literacia passa a
referir-se tambm a capacidade de interagir e comunicar-se utilizando as TIC. Se num primeiro
momento estava mais ligada ao estgio industrial do capitalismo, em que livros e jornais
constituam-se fundamentalmente como os artefatos fsicos de transmisso do conhecimento, nos
dias de hoje, possuir uma televiso, seguida de um computador e/ou videogame e mais
recentemente - um celular, simboliza estar apto a desenvolver diferentes literacias, uma vez que
estar conectado exige dos atores em rede no apenas leitura, mas tambm interpretao, pesquisa,
navegao, alm do conhecimento de diferentes linguagens multimdias.

2 Criatividade e tecnologia na produo do conhecimento

A criatividade o recurso mais fecundo com que o homem, desde sempre procura derrotar os
seus inimigos atvicos: a fome, o cansao, a ignorncia, o medo, a feira, a solido, a dor e a morte.
Em cada esquina do planeta, em cada fase da sua evoluo, a criatividade humana consegue atribuir
uma forma ao caos, um significado s coisas (De Masi, 2003).
No futuro, a criatividade em todas as reas ser o ingrediente chave do xito das
organizaes. Quando a tecnologia passar a ser um produto comum e habitual, e todos os
concorrentes alcanarem o mesmo nvel de idoneidade, s a criatividade poder fazer a diferena.
Neste cenrio altamente competitivo, o crescimento pessoal e profissional passou a ser imperativo.
A dimenso pessoal da criatividade considera aspectos como filosofia, temperamento, atitudes,
hbitos e valores assim como o conhecimento e as habilidades. Desta forma, o conhecimento passa a
ocupar papel relevante nas organizaes e o profissional para obter sucesso na sua carreira precisa
investir com afinco no resgate da sua capacidade criativa e inovadora, valorizando o livre fluxo de
informao, compartilhando o aprendizado e desenvolvendo novas habilidades que lhe permitam
lidar com os desafios prprios desse novo contexto.

840
Nos ltimos trinta anos, poucos temas suscitaram tanta polmica, interesse, especulao,
descobertas surpreendentes, como a mente humana quanto s diferenas entre os dois hemisfrios
cerebrais. De Masi (2003) descreve o hemisfrio direito do nosso crebro como sendo a essncia para
a evoluo do pensamento humano e chave para a sobrevivncia de todos os traumas. Destaca que o
hemisfrio direito a nossa salvao, a morada da criatividade e a sede de todas as grandes idias. O
esquerdo o lado racional, consciente e totalmente humano.
A criatividade (do latim creatio = criao) a capacidade de pensar produtivamente revelia
das regras, criar coisas novas combinando de maneira inusitada o saber j disponvel. A pesquisa
cientfica da inteligncia (do latim intelligere: entender, compreender, conhecer) s teve incio no
comeo do sculo passado. Inmeros conceitos foram formulados neste ltimo sculo sem que
alcanasse um consenso. Comum a todas as definies de inteligncia, entretanto, a capacidade de
se orientar em meio a situaes novas e desconhecidas.
Essa aptido certamente foi um dos motores do homem ao longo de sua histria. Aristteles,
depois de afirmar que todos tm, por natureza, o desejo de conhecer, diz no primeiro livro da
Metafsica que, para escapar da ignorncia, os primeiros filsofos entregaram-se filosofia,
buscando a cincia para compreender. Aperceber-se de uma dificuldade e espantar-se reconhecer
sua prpria ignorncia: a construo do saber passa exatamente pelo enfrentamento e pela
tentativa de superao de aporias. Ainda que seja para sempre voltar a encontr-las.
Segundo Vriens (2004) medimos e definimos a inteligncia de modo diferente daquele de
dcadas atrs, incorporando a esse conceito reas que j no tem muito a ver com os domnios
cognitivos tradicionais do pensamento, da resoluo de problemas e do saber. Outros tipos de
inteligncia como a emocional e a social so consideradas, e a habilidade de perceber emoes,
necessidades e motivaes em si mesmo e nos outros tambm qualificada como inteligncia. A
criatividade, outra caracterstica freqentemente associada inteligncia no um dom dos deuses
e apesar de restar muito a ser desvelada sobre o pensamento criativo, a cincia j traz boas notcias:
a criatividade pode, sim, ser estimulada e treinada. Leva tempo, demanda pacincia. Mas com um
pouco de flexibilidade intelectual e crebro alimentado de conhecimento, todos podemos exercitar o
esprito criativo.
Um dos desafios da gesto do conhecimento est em aprender a construir e administrar uma
organizao criativa e inovadora. Teremos que aprender a construir e administrar um grupo
humano capaz de prover o novo, de transformar suas idias em tecnologia, produtos e processos,
capazes e desejosos de aceitar o novo sem romper com as barreiras da tica nos limites da
criatividade. A tica deixou de se limitar ao terreno religioso e filosfico para se tornar tambm um
assunto de interesse de toda a sociedade.
O futuro das organizaes nunca esteve to entrelaado, e mesmo a ambio sempre um
desafio para o comportamento tico pode ser transformada em fora competitiva. Na ponta desse
processo, esto as organizaes visionrias, inovadoras e criativas: mais humanas, elas abrem
horizontes para atuarem em redes e contribuem para aprimorar a tica em todas as interaes. Em
uma era de intensas mudanas e de crescente competio para uma sociedade em rede, onde
usurios se transformam em produtores e consumidores de informao, preciso descobrir novos
caminhos, fomentar a criatividade e desenvolver novos talentos.
De acordo com Govindarajan (2009) a importncia da inovao tem sido ressaltada por um
sem-nmero de autores, dois dos quais merecem meno especial: Joseph Schumpeter, que, se no
foi o primeiro economista a falar sobre inovao, foi certamente quem mais destacou a sua
importncia e a contribuio para o desenvolvimento econmico; e Peter Drucker, que tratou do
tema ao longo de toda a sua obra. A partir da dcada de 1970, o tema inovao passou a atrair um
nmero sempre crescente de pesquisadores acadmicos, que muito contriburam para a
compreenso dos mecanismos e circunstncias em que se processam as inovaes. Dois desses
trabalhos devem ser destacados: o Minnessota Innovation Research Program (Mirp), conduzido pelo
Strategic Management Research Center, da Universidade de Minnesota; e o estudo de Everett Rogers
sobre a difuso da inovao. Finalmente, na ltima dcada do sculo XX a inovao passou a ser

841
reconhecida como um fator essencial para a competitividade e foi includa na agenda estratgica de
muitas organizaes.
O conhecimento a chave para o poder nas relaes e nos negcios e as instituies que
focam sua estratgia para a Gesto do Conhecimento necessitam de uma abordagem que veja a
organizao como uma comunidade humana, cujo conhecimento coletivo representa um diferencial
competitivo relevante.
no conhecimento coletivo que se baseiam a vantagem competncia essencial. A Gesto do
Conhecimento vista como uma coleo de processos que governa a criao, disseminao e
utilizao do conhecimento para atingir plenamente os objetivos da organizao. A Gesto do
Conhecimento lida principalmente com os aspectos crticos para a adaptao e sobrevivncia da
organizao, diante de um ambiente de mudana crescente e descontnua (Dalkir, 2011).
A Tecnologia da Informao e da Comunicao tem um papel fundamental que muitas vezes
tem sido negligenciado, ou mesmo tem passado despercebido, na maioria das organizaes. As
competncias essenciais e o conhecimento coletivo se baseiam no acesso e uso de informaes. O
papel a ser desempenhado pelas TIC estratgico: organizar e disponibilizar a informao,
promover desenvolvimento coletivo, o aprendizado contnuo, tornando mais fcil para as pessoas na
organizao compartilharem a informao, o conhecimento, as estratgias, as dificuldades e
limitaes, as expectativas, as ideias e solues. Neste cenrio competitivo, o principal desafio das
organizaes esta em estabelecer os padres ticos nas relaes entre pessoas e organizaes na
forma como lidam com a informao na era das sociedades em rede.

3 Literacia digital e a gesto do conhecimento

Segundo Passarelli (2010) a construo do conhecimento humano at meados do sculo XX
desenvolveu uma lgica racionalista para nomear, classificar e ordenar a natureza numa perspectiva
centrada no humano com o objetivo de conhecer e reconhecer o objeto. A percepo do mundo
atual, embora permeada por novas lgicas como a complexidade e transitoriedade dos fenmenos a
reboque da sociedade em rede, ainda convive com coordenadas de compartimentalizao das
informaes, especificando nichos, quantificando dados e qualificando informaes no embate
dirio entre o moderno e o contemporneo.
O projeto de pesquisa conduzido pela Escola do Futuro da Universidade de So Paulo sobre as
competncias e habilidades dos usurios do Programa AcessaSP projeto de Incluso Digital do
governo do Estado de So Paulo apresenta o conceito de literacia digital a partir de uma nova
abordagem para os estudos sobre a cultura das redes, das competncias e habilidades das pessoas em
relao s TICs no uso da informao de maneira efetiva e criativa.
O mundo vive o imbricamento do moderno e ps-moderno e est se tornando, a cada dia, mais
complexo, competitivo, imprevisvel, e seus problemas mais difceis de serem solucionados. O
mundo esta sendo atribulado por uma multiplicidade de questes que exigem profissionais criativos,
inovadores e dotados de literacias digitais.
Torna-se relevante a capacidade de se auto-renovar frente a temas que se fazem presentes na
sociedade moderna como: a riqueza sem trabalho; o prazer sem conscincia; os negcios sem tica; o
discurso sem prtica; a cincia sem humanidade; a religio sem espiritualidade e f autntica; o
trabalho sem satisfao pessoal e auto-realizao; as informaes em excesso, porm desprovidas de
sabedoria; o conhecimento sem compromisso com a verdade; a vida sem sincronicidade fsica,
intelectual, social, psico-emocional e espiritual; o marketing pessoal com embalagem atraente,
porm, com contedo falso e enganoso. Afinal, essa necessidade de fazer diferente esta se tornando
mais importante e decisiva, medida que as organizaes descobrem que seus mtodos de operao
e gesto de pessoas inclusive esto sendo desafiadas na sociedade em rede.

842
Com a crescente concorrncia global e usurios cada vez mais exigentes, tanto as pequenas
como as grandes organizaes, em todo o mundo, esto empenhadas em se reinventarem criando
novas e melhores formas de produzir, administrar, atingir diferentes mercados, recrutar,
desenvolver, motivar e manter os melhores talentos. A guerra de competitividade global dar-seno
campo da mente de seus colaboradores e no no campo de seus assets fsicos ou financeiros. Uma
revoluo na forma como acessamos e usamos a informao na produo de novos conhecimentos e
inovaes que impactam na competitividade e eficincia das organizaes est sendo orquestrada
pela monumental abundncia de dados, sua variedade e a velocidade com que trafegam no universo
digital (Vriens, 2004).
A Internet, fenmeno em expanso e com consequncias comunicacionais e educativas ainda
imprevisveis, reintroduz a dimenso social, ideolgica e axiolgica no debate sobre as tecnologias e
retoma a discusso sobre as relaes sujeito-objeto e natureza-cultura por meio de um pluralismo
epistemolgico.
Diante da popularizao da sociedade em rede, muitos tericos tem-se debruado sobre o
fenmeno da comunicao on-line, da comunicao mediada por computador e da comunicao
cientfica. Considerando a polarizao geogrfica, j histrica, das teorias da comunicao, tambm
os estudos sobre cibercultura tm seus referenciais tericos e bibliogrficos, assim como suas
preocupaes empricas, distribudos entre os europeus e americanos: enquanto os primeiros se
dedicam mais a estudos acerca dos usos e dos impactos sociais e culturais das tecnologias, os ltimos
se concentram na inveno, no desenvolvimento e no design das tecnologias (Aires, 2010).
O papel cultural da internet est intrinsecamente ligado a sua interao com outros produtos
culturais. J a anlise filosfica da internet, invariavelmente, resgata produes e ferramentas
culturais externas, recontextualizadas, borrando ainda mais a diviso entre objeto e meio que se
tenta constantemente atribuir rede e seu valor quanto a capacidade de integrao tecnolgica do
ambiente social no qual se insere (Santos, 2010).
As mudanas ocasionadas pela tecnologia usada para gerar, disseminar, acessar e usar a
informao demanda por habilidades e competncias relacionadas ao acesso, uso e disseminao da
informao. neste ponto que surge um novo usurio da informao com novas demandas por
recursos computacionais e novas capacidades em produzir novos conhecimentos.
As literacias digitais so compreendidas hoje em um contexto amplificado, muito alm das
simples aquisies de habilidades, ou de um conjunto de habilidades descontextualizadas,
aleatoriamente adquiridas e acumuladas. Pelo contrrio, os processos de seu conhecimento e
apropriao e uso devem ser pensados como vivncias e experimentaes holsticas, integradas e
autoconscientes, capazes de conduzir os indivduos e novas possibilidades de desenvolvimento,
emancipao, autonomia educativa e protagonismo pessoal, bem como as novas formas de
cidadania, atuao e participao social (Passarelli & Junqueira, 2012).
Resulta desse procedimento que hoje em dia se conhece muita coisa sobre planejamento,
aquisio, organizao, controle e desenvolvimento de colees, mas muito pouco sobre como as
pessoas fazem uso dos sistemas ou para que fins e como a informao, que a matria-prima dos
sistemas, est sendo utilizada.
Podemos afirmar que a informao o elemento fundamental que sustenta todo o processo de
tomada de deciso e esta se processa num contexto em que interesses contraditrios se
movimentam, tenham ou no tenham conscincia os agentes envolvidos. Neste contexto
competitivo, globalizado e altamente dependente do uso das tecnologias para acessar, organizar e
disponibilizar a informao que devemos observar o papel estratgico dos processos de produo de
novos conhecimentos como agentes de desenvolvimento econmico sustentvel.

843
Concluso

Na era moderna, o motor do desenvolvimento tem sido o conhecimento. Adam Smith, Karl
Marx, Josef Schumpeter, Robert Solow destacaram o papel das ideias na criao de progresso para a
humanidade.
A criatividade vem se apresentando cada vez mais como uma caracterstica imprescindvel
para equipes e indivduos nos atuais ambientes de trabalho das organizaes. O desafio da sociedade
moderna esta em poder identificar a linha tnue onde a criatividade rompe a barreira da tica e
impor os limites corporativos.
Para Miller (2000) a distino entre lei e tica nem sempre fica muito clara para o profissional
de inteligncia ao enfrentar decises dirias num contexto operacional. No se trata de uma
diferena entre preto e branco; pelo contrrio, muitas vezes pode cair no mundo ambguo do
cinzento.
Esta reflexo busca chamar a ateno das organizaes e suas lideranas na difcil tarefa de
conduzir suas estratgias, produzir novos conhecimentos no campo da criatividade e inovao
consciente do dilema entre criatividade e tica. At onde devemos estimular a criatividade sem
romper os limites da tica. At onde devemos colocar a inteligncia e a criatividade na busca da
inovao e da vantagem competitiva das organizaes sem romper as barreiras do certo ou errado,
do moralmente correto, do eticamente justo.
Colocar a criatividade a servio do ser humano um desafio do mundo moderno, saber
caminhar na fina linha que separa o comportamento e atitude tica uma deciso solitria de cada
um. Contribuir para a capacitao profissional no momento em que a criatividade, o
empreendedorismo e a inovao so considerados formas de assegurar a competitividade cada vez
mais globalizada sem dvida alguma prioridade primeira das organizaes nos dias de hoje.
No esto em jogo apenas as oportunidades de expanso num mundo cada vez mais
competitivo, mas a prpria sobrevivncia do negcio, em especial quando temos como foco a era dos
resultados. Esta premissa vale no Brasil, onde segundo relatrio da OCDE (Organizao para a
Cooperao e o Desenvolvimento Econmico), coloca o Brasil no ltimo lugar em um grupo de 36
pases ao avaliar o percentual de graduados na populao de 25 a 64 anos.
Os nmeros se referem a 2008 e indicam que apenas 11% dos brasileiros nessa faixa etria tm
diploma universitrio. Entre os pases da OCDE, a mdia 28% mais do que o dobro da brasileira. O
Chile, por exemplo, tem 24%, e a Rssia, 54%.
Se o panorama nacional nos faz crer que a demanda por recursos humanos no ser
preenchida em curto prazo, est mais do que na hora de as instituies de ensino e as organizaes
baseadas no Brasil proporem solues que visem minimizar este cenrio e seja capaz de transformar
bits e bytes em poderosa vantagem competitiva para todos.

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845
CONTRIBUIES OFERECIDAS PELA INVESTIGAO DAS DIMENSES SIMBLICAS E AFETIVAS DO
USO DA INFORMAO PARA OS ESTUDOS DE USURIOS E PARA A GESTO DO CONHECIMENTO
Uma anlise das comunicaes entre professores de uma instituio de ensino superior pblica
brasileira

CLUDIO PAIXO ANASTCIO DE PAULA
[email protected]

Resumo Este trabalho objetiva apresentar os resultados da anlise das dimenses simblicas e afetivas
subjacentes ao uso de informaes e as perturbaes no seu compartilhamento, entre os professores do
departamento de psicologia de uma tradicional instituio de ensino superior pblica brasileira. Fundamenta-
se na abordagem alternativa para os estudos de usos e usurios da informao e nos estudos da teoria
psicolgica dos complexos. Utilizou-se uma chave de leitura que prope anlise da diversidade de
interpretaes de uma realidade, produzida por grupos e subgrupos no ambiente da organizao e que,
aparentemente, exercem uma influncia direta na forma como os indivduos se apropriam da informao.
Props-se que esse fenmeno pudesse ser avaliado atravs da identificao das reaes motivadas pela
ativao de deflagradores individuais de reaes afetivas e seu alinhamento com deflagradores coletivos que
permeiam a organizao. Para tal, realizou-se um estudo de caso envolvendo entrevistas semi-estruturadas
inspiradas em autores da psicologia, bem como no experimento com associaes de palavras. Foram
identificados alinhamentos entre disposies simblico-afetivas individuais e coletivas que direcionam as
interpretaes e o uso dado s informaes por diferentes subgrupos resultando em um processo inconsciente
de gesto das informaes com resultados deletrios no somente para o processo de gesto do conhecimento
na organizao, como para a gesto da organizao como um todo. Com base nesses resultados prope-se que
a abordagem apresentada poderia contribuir para o aperfeioamento dos estudos de usurios, especialmente
quanto investigao das relaes entre motivaes individuais e coletivas, busca de informao, uso da
informao, e fatores como personalidade, criatividade e produtividade.

Palavras-chave Gesto do Conhecimento. Metodologias para estudos de usurios. Comportamento
informacional. Dimenses simblico-afetivas. Psicologia analtica.

Abstract This work aims to present the results of the analysis of the symbolic and affective dimensions
underlying information use and the disturbances in sharing information among teachers of the Psychology
Department of a traditional public Brazilian university. It is grounded on the alternative approach to studies
of information uses and users and on psychological studies of complexes. The author used a framework which
proposes an analysis of the diversity of interpretations of a reality, produced by groups and subgroups in the
organizational environment and which apparently exert a direct influence in the way individuals apprehend
information. It is proposed that this phenomenon can be evaluated through the identification of the reactions
motivated by the activation of individual triggers of affective reactions and their alignment with collective
triggers which permeate the organization. To this, a case study was carried out with semi-structured
interviews inspired by authors from psychology and on the word association experiment. The results enabled
the identification of alignments between individual and collective symbolic-affective dispositions which
direct the interpretations and the use of information by different subgroups resulting in an unconscious
process of information management with negative results not only for the process of information
management, but for the process of organizational management as a whole. Based on these results it is
proposed that the approach presented could contribute to the improvement of the user studies, especially to
the investigation of the relationship between individual and collective motivation, information search,
information use and factors such as personality, creativity and productivity.

Keywords Knowledge Management. Methods of user studies. Informational behavior. Symbolic-affective
dimensions. Analytical psychology.

846

Introduo

A maioria das discusses sobre os usos e usurios da informao muitas vezes desconsideram
que o estudo das relaes entre os discursos, reas de conhecimento e documentos tpicos da
cincia da informao devem ser conduzidos sempre em relao s possveis perspectivas ou
pontos de acesso de distintas comunidades de usurios (HJRLAND 2003 apud CAPURRO, 2003, p.
16, grifo nosso). Essa nfase na perspectiva dos usurios evoca as consideraes de Figueiredo:

...muitos estudos de usurios (...) se limitam ao levantamento do
primeiro estgio da pesquisa: a demanda pela informao, mas muito
pouco sabido sobre o uso que o pesquisador faz da informao, uma vez
obtida (...) o estudo da segunda fase, ou da utilizao da informao,
envolve a psicologia dos usurios e questes fundamentais da pesquisa
cientfica em relao ao comportamento humano: a relao entre
motivao, busca de informao, uso da informao, e a relao entre
fatores de personalidade, criatividade e produtividade. Estudos realizados
provaram serem desanimadoras as perspectivas para, no momento atual, a
psicologia oferecer as respostas definitivas a estes problemas de
motivao, processos cognitivos, ou das relao informao/criao
intelectual. A contribuio da psicologia seria mais na rea experimental,
desde que uma grande ateno tem sido dispensada nesta rea
formulao de problemas, projetos e execuo de experimentos, anlise
interpretao de dados (FIGUEIREDO, 1994, p. 18 e 19, grifos nossos).

A atualidade do desafio lanado por Figueiredo em 1994 tornou-se incontestvel dentro do
contexto que Aubert (2003) chama de cultura da urgncia. Nessa segunda dcada do Sculo XXI
determinar a influncia de fatores e motivaes subjetivos na busca e no uso da informao
possibilitaria, conforme props Venncio (2007), buscar novos instrumentos que permitissem
abordar o usurio em suas mltiplas dimenses (lingstica, individual, social, emocional) e
compreender a busca de informao como um processo histrico, social, experiencial e
contingencial.
A pesquisa que originou este trabalho foi concebida dentro dessa perspectiva. Ao analisar as
dimenses simblicas e afetivas subjacentes ao uso da informao e as perturbaes no
compartilhamento de informaes de um grupo de professores do departamento de psicologia de
uma tradicional instituio de ensino superior pblica brasileira prope-se utilizar o binmio
sentido-afeto como possibilidade de alcanar a autogesto inconsciente e subjacente da
informao (muitas vezes em desacordo com a realidade oficial da organizao).
Tentar demonstrar a viabilidade da anlise da funo mediadora da dimenso afetiva e da
produo de sentido relacionadas ao simbolismo no processo de comunicao de uma organizao,
e sua influncia na utilizao da informao na produo, na mediao e na soluo dos conflitos
poder confirmar a intuio de Arajo (2008), segundo a qual:

a adoo de uma outra racionalidade, que valorizasse a pluralidade, a
validade de diferentes critrios de cientificidade (permitindo incorporar
avanos dos estudos das vrias reas alternativas que se seguiram
consolidao do modelo hegemnico) pudesse dar aos estudos de usurios
a condio adequada para avanar terica, conceitual e
metodologicamente, para a compreenso desse complexo objeto de estudo
que so os usurios da informao (ARAJO, 2008, p.14).

847

1 Do paradigma social da informao complexidade da relao entre cultura
organizacional e o compartilhamento de informaes

Conforme Almeida et al (2007) sugeriram, pode-se identificar no mbito dos estudos da rea
de gesto empresarial, trs momentos, diretamente ligados aos trs paradigmas em CI dos quais nos
fala Capurro (2003): a gesto de dados (fundamentada no paradigma fsico), a gesto da informao
(paradigma cognitivo), e a gesto do conhecimento (paradigma social). Considerando que o terceiro
momento (gesto do conhecimento / paradigma social), entende a informao como algo
construdo por um usurio inserido em contextos culturais e sociais (ALMEIDA et al, 2007, p. 24)
abre-se para o pesquisador da informao a interessante possibilidade para investigar os motivos
pelos quais a inteno de transmitir determinada informao, e as aes desencadeadas com esse
fim, frequentemente no so capazes de traduzir com efetividade as expectativas. Nessas ocasies,
percebe-se que os esforos para tornar comuns os significados entre os diversos setores das
organizaes parecem ser afetados por certas caractersticas particulares que os grupos emissores
e receptores assumem no cotidiano organizacional.
Outros autores, em contextos diversos, buscaram descrever e explicar o que acontece nessas
situaes. Anzieu e Martin (1971, p. 113), por exemplo, criaram a sua verso de um modelo
descritivo do processo de comunicao de informaes no interior de pequenos grupos. Para os
autores, toda atividade social (lembremo-nos de que as relaes organizacionais so um espao no
qual se efetiva a atividade social) implica um intercmbio de informaes, quer seja entre os
membros de um mesmo grupo, quer seja entre os membros de grupos diferentes. Os autores alertam
para o fato que a individualidade dos sujeitos se constri no processo de interao que se efetiva nos
grupos atravs da comunicao: a captao de informaes teis e eficazes, e o uso e a distribuio
dessas mesmas informaes convenientemente entre todos os potenciais usurios (especialmente
aqueles que delas dependem para tomarem decises vlidas) pressupe a existncia de grupos
organizados.
A forma como se efetuam esses intercmbios condiciona as relaes entre as pessoas,
afirmam Anzieu e Martin (1971). Segundo os autores, conhecemos a ambigidade das palavras
entender e compreender e o papel ambguo da linguagem, simultaneamente veculo de
comunicao e fonte de equvocos. Por outro lado, apontam algumas distines e definies,
aparentemente bvias, porm de fundamental importncia para a compreenso de seu raciocnio.
Segundo eles a informao a uma s vez uma operao (a ao de informar) e um contedo (o que
se informa) que tendem a uma reduo de desordem. Cabe ressaltar aqui que reduo da
desordem poderia ser compreendida nesses termos como reduo da entropia: quantidade de
confuso presente em um ambiente. Se considerarmos que as dimenses simblicas da
informao, como veremos mais adiante, so marcadas por um esforo por conferir sentido a
situaes caticas, poderemos compreender essa tendncia como uma tentativa que muitas vezes,
devido a dessemelhana das percepes individuais no alcana xito.
Os autores a definem comunicao como: o conjunto dos processos fsicos e psicolgicos
mediante os quais se efetua a operao de relacionar a uma (ou vrias) pessoa(s) o emissor com
uma (ou vrias) pessoa(s) o receptor , com o objetivo de alcanar determinados objetivos
(ANZIEU e MARTIN, 1971, p. 111).
Embora a interpretao formal do processo de comunicao das informaes redutvel a um
esquema ciberntico disposto no modelo tradicional emissor/canal/receptor contemple a
possibilidade da interferncia de algum rudo se interpondo entre os processos de codificao e
decodificao das informaes, a ineficincia do modelo para, como afirmam os autores, explicar
as interpretaes equivocadas, as incompreenses paradoxais, os contra-sensos e os conflitos mais
evidentes (ANZIEU e MARTIN, 1971, p.112) evidente.

848
Segundo Anzieu e Martin (1971) os aspectos Psicossociolgicos da comunicao da
informao no unem simplesmente uma caixa preta emissora e uma caixa preta receptora, ou um
emissor e um receptor, mas freqentemente, trata-se de duas ou mais personalidades
comprometidas em uma situao comum e que lutam com as significaes (ANZIEU e MARTIN,
1971, p.113). Nesta acepo uma perspectiva diferenciada de anlise para o processo de
comunicao das informaes delineada. Embora o modelo proposto pelos autores no tenha a
pretenso de ser completo, uma vez que se refere a uma combinao muito extensa de fenmenos,
possibilita fazer a seguinte leitura: uma vez que a comunicao ocorre, pode-se comprovar que do
emissor ao receptor se produz uma considervel perda de significao, em relao atitude
intencional inicial.
Lembrando que para os autores a relao emissor/receptor envolve duas personalidades
envolvidas com uma luta de significaes em uma situao comum, cabe destacar que os indivduos
que se comunicam caracterizam-se por sua histria pessoal, seu sistema de motivaes, seu estado
afetivo, seu nvel intelectual e cultural, seu marco de referncia, seu status social e seus papis
psicossociais, os quais influem na emisso e na recepo das mensagens. A esse conjunto de fatores
os autores denominam campo de conscincia do sujeito:

Figura 1 - Modelo descritivo do processo de comunicao de informaes proposto por Anzieu e Martin (1971,
p. 113).
Extrado de: Anzieu e Martin, 1971 (adaptado do original da p. 113 pelo autor)

No plano dos meios de transmisso, o emissor s chega a expressar uma parte do que havia
desejado fazer compreender (zona branca da Figura 01). Em nvel de recepo, as preocupaes do
campo de conscincia do receptor s o predispe a receber uma parte do transmitido (zona
marcada em preto). As zonas cinzas representam as perdas.
Em que ponto os conceitos informao e comunicao tangenciam um ao outro constitui a
indagao que surge a essa altura. Segundo Foskett (1990) informao consiste na organizao, em
uma mente individual, de colees de dados dentro de uma estrutura coerente dotada de
F
E
E
D
-
B
A
C
K
Campo de
Conscincia
EMISSOR
Atitude
intencional
Meios de
Transmisso
Perdas
Perdas
COMUNICAO
ESTMULO
Perdas
Campo de
Conscincia
RECEPTOR
Atitude
intencional
Estado de
Receptividade
Seleo da
Informao
Resposta (indireta, atravs da execuo de uma ao)
Resposta (direta, mediante mesmos meios)

849
significncia em relao prtica humana. Para o autor, se antes de ser comunicada, uma
informao foi elaborada a partir de dados reunidos e processados por um ato intelectual
individual, torna-se impossvel se evitar que seu compartilhamento seja feito sem a incorporao de
contaminaes provenientes da individualidade daquele que a elaborou. Do mesmo modo, a mesma
informao, quando apresentada para outros indivduos, sofrer todo um processo de elaboraes e
interpretaes segundo o contexto das outras individualidades.
Em vista do exposto, se os indivduos no somente comunicam uma determinada quantidade
de informaes, mas tambm intercambiam significaes, devemos nos ater ao fato de que, os
elementos da comunicao sejam essencialmente smbolos mais ou menos claros, porm,
raramente unvocos. A carga simblica das palavras utilizadas induz gradualmente associaes de
sentido que expandem ou contraem os respectivos campos de compreenso dos interlocutores, e
tornam esses campos cada vez mais coincidentes ou divergentes. Disso resultam importantes
conseqncias:

a ateno dirigida comunicao em sua forma literal anula o contedo significativo
da mensagem;
a aptido para comunicar-se com algum outro maior quando as duas pessoas
compartilham de um mesmo universo simblico e possuem os mesmos marcos de
referncia (onde, por exemplo, a cultura da organizao agiria como fonte de alguns
desses referenciais).

Segundo Ansoff e McDonnell (1994), considerando o carter multicultural das organizaes,
sua estrutura de poder no dever ser considerada monoltica e sim como uma multiplicidade de
centros de poder que conduziriam a uma multiplicidade de reaes a uma determinada
comunicao. Reaes que variam desde o apoio firme at a uma rejeio completa. Para os autores,
cada centro de poder est associado a uma dada subcultura, sendo que esses centros so
tipicamemente unidades organizacionais que revelam uma disposio para defender suas
convices culturais enquanto centro, e a usar do poder para imp-las a outros centros. De fato,
para Sathe (1985) subcultura um fenmeno que se forma em uma comunidade quando um desvio
(no universo das crenas e valores) do modelo cultural dominante partilhado por um nmero
representativo de membros.
Na perspectiva descrita, um estudo que deixasse de levar em considerao os mapas de
leitura dos indivduos usados para a produo de sentido estaria incompleto. Lane (1993) chamou
tentativas semelhantes de dicotomia indivduo/sociedade.
Os mapas de leitura acima referidos so originados de certas representaes sociais
construdas pelos indivduos. Lane (1993) afirma que as formaes coletivas da sociedade e da
cultura concernentes aos sistemas de representao - mitos, lendas, vises-concepes de mundo,
crenas e idias - devem ser objeto de ateno particular. Essas diferentes representaes sociais se
relacionam intimamente com a cultura da organizao e as subculturas nas quais os indivduos se
inseriam. Essas mesmas representaes sociais eram intimamente relacionadas com a cultura onde
essa sociedade estava inserida, sofrendo influncias constantes do ambiente externo. A articulao
entre o universo psquico prprio de sujeitos singulares e sua posio enquanto membros de um
conjunto social encontram, segundo a autora, organizadores inconscientes na representao do
grupo. Para ela esses organizadores tornariam possvel a elaborao simblica do ncleo
inconsciente da representao, atravs da comunicao entre os membros de uma sociedade. Por
outro lado, existem evidncias de que esse ncleo inconsciente que conecte as representaes
construdas coletivamente psicologia individual dos sujeitos envolvidos. Conforme Lane (1993), a
realidade individual, construda no social, certamente uma representao simblica, que busca
integrar os aspectos afetivos e simblicos dos fenmenos circundantes. Afetos estimulados pelos
smbolos inscritos na tradio, no cotidiano e nas frmulas a eles se modulam e constituem essas

850
representaes. Torna-se, portanto, fundamental investigar como o smbolo atua dentro desse
produto cognitivo intimamente relacionado com a produo de sentido (a representao social).
Esse estudo, no entanto, demanda ferramentas atualmente pouco utilizadas nos campos da gesto da
informao e do conhecimento, em geral, dos estudos de usurios, em particular.

2 Construindo as bases para uma ferramenta: introduzindo a teoria dos
complexos

Dar prosseguimento s reflexes apresentadas envolve demonstrar a viabilidade da anlise da
funo mediadora da dimenso afetiva e da produo de sentido relacionadas ao simbolismo no
processo de comunicao de uma organizao, e sua influncia na utilizao da informao na
produo, na mediao e na soluo dos conflitos.
Para alcanar esse propsito, considerou-se que a diversidade de interpretaes de uma
mesma informao (ou de uma realidade), produzidas por grupos e subgrupos no ambiente de uma
organizao pode ser avaliada mediante a identificao das relaes de seus integrantes com as
emoes e representaes mentais evocadas pelos os smbolos a ela inerentes. Uma vez que a
produo de sentido ocorre num espao (ou modo de operao) psquico muito alm dos modelos
de realidade convencionados dentro do senso comum, pode-se dizer que, num processo constante
de construo e desconstruo, o smbolo atua como catalisador das expresses afetivas conscientes
e inconscientes, e como objeto de passagem, mediando os opostos inerentes aos atos comunicativos
interpessoais produzindo, concomitantemente, sentido e cultura.
A teoria dos complexos, desenvolvida por Jung (1997) nos oferece um interessante referencial
para prosseguir. Ela afirma que aquilo que se denomina eu um complexo de imaginaes que so
mantidas juntas e fixadas atravs de impresses sinestsicas. Esse complexo do eu se assemelharia a
outros ncleos de representaes, os complexos secundrios, oriundos de contedos que fazem
parte da experincia vital individual, mas que por alguma incoerncia, so por demais conflitantes
para serem integrados e reconhecidos como parte da personalidade consciente. Esses complexos se
evidenciariam atravs da experienciao de certos sentimentos, motivaes e lembranas de cunho
intenso e perturbador; quando aconteciam alteraes sbitas na freqncia cardaca, na cor da pele,
no controle de esfncteres, na respirao e na tumescncia genital; e, finalmente, quando certos
contedos psquicos se tornam um im que atrai novas partculas (lembranas, pensamentos,
sentimentos...) como uma ferida aberta atrai micrbios.
Para Jung (1997) os complexos so autnomos e podem disputar com o eu o comando das
atitudes e reaes individuais como uma nova personalidade mrbida, cujos julgamentos,
tendncias e resolues apontam, constantemente, em direo aos seus prprios objetivos. Essa
segunda personalidade (o complexo) teria a capacidade de inibir a autonomia do eu normal e o
forar a representar o papel de um complexo secundrio:

Uma coleo de vrias idias, as quais, em conseqncia de sua
autonomia, so relativamente independentes do controle central da
conscincia e a qualquer momento capazes de cruzar ou contrariar as
intenes do indivduo (...) um forte complexo tem todas as caractersticas
de uma personalidade separada (JUNG, 1997, par. 1352)

851
3 Como e onde investigar esta perspectiva?

Pesquisar a diversidade de interpretaes de uma realidade produzida por grupos e
subgrupos no ambiente de uma organizao e que, aparentemente, tem uma influncia direta na
forma como seus membros se apropriam da informao envolveria identificar as reaes motivadas
pelos complexos pessoais de seus membros e o alinhamento desses complexos com os complexos
culturais que permeiam essa organizao. Poder-se-ia definir esses complexos pessoais como
conflitos psquicos marcados por contedos cognitivos e afetivos que se manifestam como
perturbaes tpicas nas experincias de um indivduo. J pela expresso complexos culturais faz-
se referncia ao Fenmeno sugerido por Kimbles (2000) posteriormente estudado por Singer and
Kimbles (2004) como um anlogo cultural e coletivo dos complexos individuais que pode operar
simultaneamente tanto na psicologia coletiva do grupo como na de seus indivduos alinhando
emoes e crenas na vida mental do grupo e na de seus membros. Efetuar a identificao dessas
reaes exigiria desenvolver a pesquisa em um ambiente que reunisse condies favorveis para
que essa sorte de fenmenos se tornasse bastante evidente.
O caso exemplar dos professores do Departamento de Psicologia de uma tradicional
universidade pblica brasileira e sua relao com a informao (as dimenses simblicas e afetivas
subjacentes ao uso de informaes e as perturbaes no seu compartilhamento), ver-se- frente,
se encaixa nesse quadro e ser utilizado para ilustrar essa perspectiva.

3.1 O caso

A instituio a que esse departamento pertence foi fundada aproximadamente 90 anos antes
da realizao da pesquisa e incorporada a uma instituio muito maior, cerca de 30 anos depois,
aumentando muito a sua importncia.
O departamento foi criado nos anos 1960 e o curso de psicologia foi um dos primeiros dessa
rea a serem criados na cidade. Os primeiros professores se reuniram em torno de um lder
fundador. importante notar que os professores do departamento vinham tentando criar uma
faculdade autnoma separando-se daquela a que eles se vinculam desde a criao do departamento
at a poca em que o estudo foi conduzido (Paula, 2005). Ano aps ano esses esforos fracassaram
devido a divergncias internas. Esses datam dos primeiros anos do departamento quando seu
fundador teve seus direitos civis cassados com a implantao do regime militar. Tendo sido afastado
do grupo, as disputas internas pelo poder se iniciaram. Nesse momento os professores se
polarizaram em dois grupos sustentados por diferentes perspectivas tericas. Essa situao teve
consequncias negativas para o departamento que chegou a ter mais de 100 professores e, no
momento do estudo, passou a menos da metade desse nmero. importante ressaltar que o
currculo original do curso teve pequenas mudanas desde a fundao e que uma reforma curricular
foi tentada por mais de uma dcada e nunca concluda por causa desses conflitos internos. Um dos
professores relata que o motivo para que a criao de um programa de doutoramento na rea ter
sido adiado por um perodo semelhante se deveu uma absoluta falta de capacidade daquele
envolvidos de concordar minimamente quanto s condies e parmetros bsicos para que o curso
pudesse ser oferecido (Sujeito 1 - S1).
Devido a esse histrico de dcadas de conflitos envolvendo comunicao, interpretao e uso
de informaes o departamento foi visto como um local adequado para se desenvolver o estudo.

852
3.2 Quem estudar?

Considerando que os possveis sujeitos do estudo seria composto pelo grupo de professores
efetivos do departamento ( poca 50 docentes) seria necessrio determinar com quantos
indivduos poder-se-ia assumir que as variveis (diferenas tericas, subculturas...) seriam
contempladas. Estudos similares, com objetivos de complexidade semelhante, estudaram apenas
uns poucos indivduos ver, por exemplo, o mtodo clnico sugerido por Dejours (1991) e o estudo
de White e McSwain (1983). Considerando a complexidade do experimento, um estudo com seis
indivduos foi planejado. Alm da anuncia para participar do estudo, o critrio para a escolha dos
sujeitos foi pertencer a um dos seis grupos atualmente significantes ou divergentes do
departamento. Alm disso, foram considerados: tempo no departamento (indivduos com menos de
10 anos seriam descartados) e dados referentes ao seu status na instituio (sua posio em grupos
especficos de relacionamento ou afinidade). O quadro abaixo sintetiza o perfil dos sujeitos
estudados:
Identificao do
Sujeito
Sexo Idade Tempo no departamento Titulao
S1 Feminino 64 11 anos Doutorado
S2 Masculino 54 24 anos Ps-Doutorado
S3 Masculino 48 10 anos Doutorado
S4 Feminino 61 38 anos Mestrado

Quadro 1 Sujeitos da pesquisa
1

Mtodos

Buscando acessar a subjetividade dos indivduos, optou-se pela utilizao complementar de
vrios mtodos e tcnicas. Essa opo fundamentou-se em Tassara e Rabinovich (2001), que
sugerem a possibilidade metodolgica de estimular a potencialidade poitica (de expresso criativa,
iniciada pela presena de certas formas, imagens ou metforas, por exemplo) e uma formulao
esttico-simblica que permitisse acesso subjetividade dos entrevistados. Utilizou-se, ainda, a
introduo da noo de actante (referncia a qualquer ser ou objeto que tenha agncia, isto ,
produza efeitos no mundo e sobre o mundo e, nesse caso especfico, palavras que sejam capazes de
despertar reaes no indivduo) na concepo do roteiro semi-estruturado, como um recurso
complementar de estimulao expresso de contedos afetivos durante a entrevista.
Foi proposta tambm a utilizao do experimento de associao de palavras como uma forma
de acesso ao nvel inconsciente dos sujeitos e de confirmao da interferncia do afeto nas
formulaes simblicas por eles produzidas, bem como evidenciar as relaes entre os complexos
ideo-afetivos e os smbolos e para rastrear as reaes emocionais que so consideradas pela teoria
dos complexos como determinantes do conceito de smbolo. Esse experimento foi proposto por Jung
(1995) a partir dos estudos de Wilhelm Wundt (1832-1920), inspirados no trabalho de Francis Galton
(1822-1911). A verso de Jung consistia em uma lista de cem palavras (verbos, substantivos,
adjetivos) que era lida, palavra por palavra, para um sujeito (S) a quem se pedia que respondesse,

1
Fonte: dados da pesquisa

853
to rpido quanto possvel, com a primeira palavra (e somente com uma palavra) que lhe viesse
mente. Aps registrar as cem associaes com as palavras do teste e o tempo de reao (em quintos
de segundos) para cada uma, o experimentador percorria novamente a lista das palavras estmulos,
pedindo a S para repetir o que disse na primeira vez. Desvios entre a primeira associao e a
lembrana tambm eram registrados. Os padres de distrbios eram ento examinados nos
protocolos, como, por exemplo, tempos de reao prolongados, perseverao da mesma reao
verbal, esquecimento da reao original pela segunda vez, associao bizarras, rima, ou reaes
afetivas, etc. que os distrbios na associao refletem um grupo inconsciente de ideias, imagens e
memrias, entrelaadas segundo um padro individual, permeadas por um nico matiz de
sentimento (desejo intenso, ansiedade, raiva, aflio, etc.), e carregadas de forte emoo. Essas
manifestaes seriam indicadores de complexos. Segundo ele, apesar das melhores intenes da
personalidade de S de prestar ateno e obedecer s instrues, aconteciam interferncias
desencadeadas por esses complexos.
Durante o processo de anlise dos dados foi proposta a busca por mitologemas (elementos
menores, estruturas quase formais, constituintes de narrativas mticas) como uma alternativa
utilizao de categorias previamente estabelecidas na interpretao dos dados. Foi, ainda, proposta
a tomada do drama narrado como um campo de ao, um contexto, onde o smbolo se constela.
Deve-se destacar ainda a importncia conferida atitude do pesquisador: a) diante do
entrevistado (posicionamento como audincia interessada e abertura para interao); b) diante do
material apresentado (utilizao do mtodo da ateno flutuante).

3.3 Instrumentos

Trs instrumentos foram necessrios para o estudo proposto: 1) um consentimento
informado para tomar parte no estudo; 2) um roteiro semi-estruturado e semi-diretivo para
entrevistas; e 3) um formulrio para apresentao de palavras-estmulo e registro de tempo e
associaes par ao experimento de associaes de palavras.

3.4 Roteiro de entrevistas

O roteiro para as entrevistas semi-diretivas e semi-estruturadas foi formulado utilizando
predominantemente uma linguagem conotativa para estimular a narrativa de histrias pessoais em
relao ao departamento e permitir acesso ao material simblico que permeia os relacionamentos.
Isso no impediu, no entanto, que elementos, retirados, por exemplo, da tcnica do incidente crtico
pudessem ser utilizados:

1. Dados Bio-Sociogrficos. (Sexo biolgico; nacionalidade; naturalidade; backgroud
tnico; backgroud religioso; estado civil; nmero de filhos; anos de escolaridade;
atividades paralelas ao magistrio superior; anos de experincia como professor
dentro e fora da instituio; cargos que ocupa; participao em grupos temporrios
ou por tarefa e grupos de referncia a que se vincula dentro e fora da instituio);
2. Histria pessoal e profissional. (Quem voc? Conte-me sua histria... Como o Senhor
(a) chegou at aqui? O que aconteceu desde ento?...);
3. Histria do departamento. (O que o departamento? Conte-me histria deste
departamento... Como ele surgiu?);
4. Qualidades do departamento. (O que bom no departamento?);
5. Problemas do departamento. (O que ruim no departamento?);

854
6. Ciclos. (Se o departamento fosse uma plantao... em que momento do cultivo ele
estaria? Voc diria que o departamento evoluiu ou involuiu com o tempo? Voc
poderia narrar casos ou situaes que evidenciem essa opinio?);
7. Elementos que diferenciam o departamento de outros da faculdade. (Aproveitando
esse retrospecto, como voc diferenciaria o Departamento dos outros departamentos
aqui da faculdade?);
8. Histrias e relatos sobre aspectos valorizados no departamento. (Voc poderia contar
3 coisas importantes que todo mundo valoriza nesse departamento?);
9. Histrias e relatos sobre aspectos criticados no departamento. (E se falarmos de
crtica? Voc seria capaz de contar 3 coisas importantes que todo mundo critica por
aqui?);
10. Problemas renitentes ou crnicos. (Existem coisas renitentes que so discutidas
sempre e, sempre, voltam baila?);
11. Hbitos do departamento. (Existem hbitos tpicos do departamento ou hbitos
tpicos das pessoas aqui do departamento?);
12. Um smbolo para o departamento. (Se eu lhe pedisse para escolher um smbolo para
descrever o departamento, que imagem o Sr.(a) usaria?;
13. Comparao do departamento com um estilo artstico / musical. (Se voc fosse
comparar o departamento a um estilo artstico ou musical que estilo ele seria?
Porqu?);
14. Comparao do departamento com um instrumento musical, animal ou cano. (E se
voc tivesse que escolher um instrumento, um animal ou uma cano para
representar o departamento, qual voc escolheria? Porqu?;
15. Relato de conflitos no departamento. (Conte-me um caso ou uma situao de conflito
ocorrida no departamento. Conte-me outra.);
16. Relato de xitos do departamento. (Conte-me uma histria de sucesso do
departamento. Conte-me outra.);
17. Relato de fracassos do departamento. (Fale-me agora do oposto. Conte-me uma
histria de fracasso ocorrida no departamento. Conte-me outra.).

3.4.1 O experimento com associaes de palavras

Uma inovao em relao ao processo desenvolvido por Jung foi proposta: a introduo de
uma srie especfica de palavras retiradas das entrevistas com os sujeitos. A extrao de elementos
da experincia dos indivduos do departamento (por exemplo, palavras que faziam referncia a
temas polmicos) das narrativas e a sua incluso em uma das listas usadas no experimento original
foram utilizadas com base na suposio de que idias, objetos e situaes designadas por essas
palavras poderiam permanecer emocionalmente carregadas e influenciar a reao dos sujeitos
durante o experimento.
As 40 palavras apresentadas na sequncia foram selecionadas do contedo das entrevistas e
escolhidas como palavras estmulo crticas para compor o experimento com outras 60 palavras
supostamente neutras: alcolatra, aposentar, arrogante, atendimento, auto-imagem, avaliao, banca,
behavioristas, CAPES, chefia, clnica, competio, concorrentes, concurso, corporativismo, crise, currculo,
departamento, efetivo, excludo, improdutividade, individualista, interesses, jornada, lacanianos, mal-estar,
maracutaia, mestrado, orientando, panelinhas, particular, perder, prejudicar, psicanalistas, radical, rejeitar,
reprovar, setor, substituto, turno.

855
Atravs da anlise dos tempos de reao, das formas como os sujeitos reagem e do contedo
das associaes (individualmente e em grupo) um nmero de elementos foi reunido e utilizado para
uma interpretao dos sentidos produzidos individualmente e daqueles compartilhados pelo grupo
(ou por parte dele).
Os dados foram submetidos a uma hermenutica baseada na teoria de Jung para a anlise das
relaes de sentido produzidas.

Anlise e interpretao dos dados

As associaes produzidas pelos sujeitos foram submetidas a duas anlises, uma individual e
outra comparativa. Ambas foram avaliadas em comparao com os dados coletados nas entrevistas.
Os dados para anlise foram organizados segundo dois critrios:

1. verticalmente: atravs do percurso de cada sujeito (na entrevista, ou no experimento
com as associaes) onde sua trajetria individual de respostas foi acompanhada;
2. horizontalmente: atravs do percurso de cada questo na amostra, onde as respostas
individuais para cada pergunta foram confrontadas entre si.

Na discusso final os resultados das duas anlises foram comparados para identificar as
relaes descritas.
Como uma ilustrao do tratamento dos dados obtidos dos sujeitos, um mapa das associaes
produzidas pelo sujeito nmero 1 (S1) reproduzida esquematicamente abaixo. As palavras em
destaque so as prprias palavras estmulo e se referem quelas cujas associaes foram produzidas
aps um tempo de resposta consideravelmente superior mdia do tempo tomado aps a emisso
da palavra-estmulo:

Figura 2 Mapa sinttico das associaes do Sujeito 1.
2

2

Improdutividade
Existncia Justia
Sombra
Competio
Rejeitar
Mau /
Monstro
Maracutaia
Grande
CAPES
Doutorado.
Concurso.
Perfurar
Po
Dente.
Cozinhar
Concorrente.

856
Esses ncleos foram dispostos em categorias sugeridas espontaneamente pelo material
estudado (autoridade, justia, existncia, competio e sombra) e claramente integram contedos
relacionados a experincias pessoais e organizacionais.
A confrontao das entrevistas com a anlise comparativa dos seis experimentos com as
associaes indicou elementos que apontam a presena de um fenmeno similar ao que Kimbles
(2000) chamou complexos culturais e que no estudo descrito optou-se, num esforo para
circunscrev-los, por denominar complexos organizacionais.
Certos complexos detectados parecem operar simultaneamente individual e coletivamente na
psicodinmica grupal dos membros do departamento. Os exemplos mais evidentes foram indicados
pelas palavras maracutaia, improdutividade e CAPES e suas vrias associaes podem ser vistas
como a evidncia da presena desses complexos. Essa observao evidente quando os resultados
individuais no experimento so postos juntos num mesmo grfico (Grficos 1 e 2) como pode ser
observado seguir:

857

Grfico 1: Comparativo dos resultados tempo de reao por palavra-estmulo S1 a S6 (1 50)
3

3
Tempo de reao em segundos
Improdutividade
CAPES

858

Grfico 2: Comparativo dos resultados tempo de reao por palavra-estmulo S1 a S6 (51 10)
4

4
Tempo de reao em segundos
Maracutaia

859

Uma srie de interessantes comentrios feitos pelos indivduos quando inquiridos sobre os
motivos para terem feitos determinadas associaes ou por terem levado tanto tempo para eliciar
uma resposta so reveladores da intensidade com que essas palavras atingem esses indivduos e o
poder que elas tem para deflagrar respostas emocionais:

a) Maracutaia: concurso pblico (bota aspas no pblico) (S3), Macunama, o
rei da maracutaia, representante tpico do brasileiro (S2), muito difcil
construir sua vida sem fazer maracutaia (S1), no conseguia vir uma
palavra cabea... vigarice (S6), eu no acredito que esse pessoal tenha
coragem de fazer o que fazem (S1). Surgiu ainda uma referncia cruzada
apresentada em associao palavra Concurso (para professor): maracutaia,
com um alto tempo de resposta seguida de um sorriso (S3).
b) Improdutividade: passei a vida tentando ser produtiva... uma morte a
improdutividade (S1), porque nossos bons propsitos falham? (S2),
corporativismo (S4), falta do que fazer (gaguejando)... a pessoa
improdutiva a que no te... num num que no faz nada. No ee... Fo-fo-foi a
primeira coisa que veio. Eu teria falado outras coisas, a universidade cobra da
gente produtividade, mas a primeira que veio foi essa... (S2).
c) CAPES: um rgo que vive fazendo exigncias, cobrando e no
reconhecendo... eu percebo uma certa injustia nas decises... (S6), uma
burocracia infernal, n? So critrios assim injustos e as pessoas fazem as
coisas de uma maneira que a gente no entende muito bem como que
funciona (S4), O governo... rgo de fomento, nunca usei nem precisei dela,
nem para fazer mestrado, nem para fazer doutorado. Eu no tenho relao
com ela (S3), desconhecido ... Esses critrios (da CAPES, do MEC e do CNPq)
no so articulados entre si, ento a universidade fica sendo puxada entre
essas instituies (S5).

Seria possvel imaginar uma abordagem clnica da informao aplicada aos estudos de
usurios e gesto do conhecimento?

Os resultados deste estudo parecem apontar para uma proposta de metodologia para a
investigao do comportamento dos usurios da informao no mbito das organizaes atravs da
utilizao de uma hermenutica das dimenses simblicas e afetivas subjacentes busca, seleo e
ao uso de informaes como uma estratgia para acessar a subjetividade de indivduos envolvidos
em atividades coorporativas e seus esforos para interpretar essa realidade. Essa proposta poderia
fundamentar-se na abordagem alternativa para os estudos de usos e usurios da informao,
tomando como referencial adicional os estudos da psicologia. Prope-se que estudos dessa natureza
acabem por conduzir a uma perspectiva de trabalho e pesquisa que, na falta de uma designinao
melhor, poderia ser chamada Abordagem Clnica da Informao. Essa perspectiva poderia
contribuir para o aperfeioamento dos estudos de usurios com destaque para a investigao das
relaes entre motivaes individuais e coletivas, busca e uso da informao, e fatores como
personalidade, criatividade e produtividade especialmente aqueles voltados para o campo da
gesto do conhecimento.
Ao se analisarem os estudos desenvolvidos nos ltimos anos em Cincia da Informao,
observa-se que, apesar de uma abertura para novas perspectivas, a tentao da maioria dos estudos
nos campos da informao e gesto do conhecimento em geral e particularmente dos estudos sobre
os usurios repetir as abordagens convencionais em pesquisas de comportamento organizacional

860
e informacional (um vis nomottico - que lida com o estabelecimento de leis ou do estudo de
eventos recorrentes). Estas abordagens apesar do importantssimo carter prescritivo/moral
apresentam como resultado uma compreenso fragmentada das competncias necessrias para o
intercmbio de informaes, especialmente aquelas de pessoas obrigadas a comunicar-se em
fundamentos instveis.
Uma das maiores dificuldades dessas abordagens conseguir explicar adequadamente como
dois aspectos centrais na prtica da relao com a informao trabalhados neste artigo (o simblico
e o afetivo) elementos marcadamente equilibrados entre as vivncias individuais e coletivas
interferem em atividades centrais da vida coorporativa como, por exemplo, o processo de tomada
de decises.
Questionamentos semelhantes tm sido propostos frequentemente. Borges (2005) e Borges et
alli (2004), por exemplo, destacam que, embora a Cincia da Informao tenha se desenvolvido de
forma interdisciplinar, intimamente ligada a campos como o das cincias cognitivas, possui
proposies baseadas em uma perspectiva que considera muito mais o indivduo do que o seu
comportamento como ser imerso em um contexto social.
Outra grande dificuldade a falta de instrumentos que tornem possvel ir alm do que at
agora tem sido obtido na maioria dos estudos sobre usurios da informao. Venncio (2007) sugere
que estes estudos so muito tradicionais e desenvolvidos com base em abordagens cognitivas que
enfatizam a natureza individual das estruturas mental dos usurios de informao e que consideram
uma viso do comportamento informacional/organizacional desvinculada de um contexto. Segundo
esta autora, novos instrumentos so necessrios para abordar os usurios em suas mltiplas
dimenses (lingstica, individual, social, emocional) e compreender a busca de informao como
um processo histrico, social, experiencial e contingencial.
A dificuldade para ver o indivduo no seu contexto compartilhada por muitos campos que
estudam a interao do ser humano com sua vida e espao de trabalho. Estudos seminais - Mendel
(1998 e 1999), Lhuillier (2006) e Thibierge (2007) - indicaram o que na Frana foi chamado approche
clinique (abordagem clnica) dos fenmenos organizacionais, como uma possvel alternativa para
lidar com os temas descritos acima. Ecos dessa abordagem pode ser identificados em outras
perspectivas, como a de Schein (2009) que prope que se apliquem aos servios pblicos um modelo
de atitude denominado Helping (em portugus, algo como Ajudando uma metodologia sobre
como oferecer, dar e receber ajuda em relacionamentos intrepessoais, grupais e organizacionais). A
caracterstica dessa nova perspectiva uma abordagem profunda dos fenmenos organizacionais,
utilizando uma perspectiva "clnica" para alcanar nveis de anlise que no so habituais nos
tradicionais estudos comportamentais e cognitivas.
O uso do termo "clnica" para descrever um mtodo no pode ser separado da sua origem
mdica cuja significao, como afirma Turato (2003)

(...) deriva do latim clinicus, que quer dizer uma pessoa acamada, e
do grego ... (klinikos), relativo cama, de ... (kline), leito. Desta forma,
ter uma atitude clnica significa colocar-se naturalmente frente a uma
pessoa necessitada para ao menos compartilhar com ela as ansiedades e
angstias, surgidas ou agravadas com sua condio de adoentado
(TURATO, 2003, p. 239).

No entanto, quando se substitui o termo "pessoa" pelo termo "organizao" pode-se ter um
vislumbre das possibilidades apresentadas pelo estudo ora descrito: um esforo para sugerir uma
abordagem baseada nos princpios acima mencionados para permitir uma nova aproximao do
fenmeno organizacional e, assim, aprimorar os estudos sobre a relao entre indivduos, seus grupos
e a informao.

861

Concluses e consideraes finais

Embora no se possa saber, com base apenas nos dados da pesquisa, que essas palavras-
smbolo (CAPES, maracutaia e improdutividade) se refiram ao tema do ncleo central de um
complexo ou se elas se ligam apenas a situaes perifricas, reuniram-se elementos suficientes para
indicar o papel dessas palavras no drama investigado. Ao alcanarem o status de smbolos, elas
trabalham dentro de cada indivduo organizando sua interpretao da realidade e, ao mesmo
tempo, dentro do grupo organizando atitudes, emoes e comportamentos que indivduos e grupos
tm em relao s informaes que so compartilhadas no departamento.
Salta aos olhos o fato de que interpretaes diferentes de partes do mapa de leitura simblico
da organizao parecem estar na base das subculturas do departamento. Algumas dessas
subculturas ganharam um status de instituies: os chamados setores. Os setores, embora teis
administrativamente, tm uma atuao patolgica dentro do departamento e, utilizando uma
metfora energtica, drenam uma energia fundamental manuteno da higidez do departamento.
O material das entrevistas extremante rico e na identificao das palavras para o
experimento escolhas tiveram que ser feitas. Provavelmente se diferentes palavras crticas tivessem
sido usadas, um nmero diferente de respostas indicadoras de complexos teria sido obtido. Idias
como reforma curricular quando transpostas para o experimento tiveram que ser adaptadas para o
modelo uma palavra/um estmulo. Optou-se por utilizar currculo para se referir a idia de
currculo acadmico (em referncia reforma por tanto tempo adiada). Foi uma substituio
equivocada que originou associaes em todos os sujeitos com a idia de curriculum vitae. Embora se
pudessem creditar algumas dessas associaes a um tipo de evitao da idia (complexo?) reforma
curricular, tornou-se difcil obter dados que confirmassem essa possibilidade.
Aprofundar as constataes desse estudo seria importante para determinar como o conjunto
de associaes ligadas a essas palavras-smbolo opera no nvel inconsciente do departamento.
Posteriormente, seria interessante investigar como crenas grupais e individuais se organizam
atravs delas.
A partir dessas respostas seria possvel analisar a influencia desses construtos no processo de
interao dos indivduos com a informao disponvel, permitindo uma compreenso de como os
mapas de leitura que guiam o processo de produo de sentido so construdos.
Esses resultados demonstram que os estudos de usurios ainda podem ser aperfeioados,
especialmente quanto investigao das relaes entre motivaes individuais e coletivas, busca e
uso da informao, e fatores como personalidade, criatividade e produtividade. Aperfeioamentos
nesse sentido poderiam originar uma melhor compreenso dos processos sociais, comunicacionais e
informacionais nas organizaes, bem como apontar possibilidades para interveno nesses
processos de forma antecipatria, diagnstica e, se necessrio, remediativa.

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864
CATLOGOS DE NUEVA GENERACIN EN LAS BIBLIOTECAS UNIVERSITARIAS ESPAOLAS
Una primera exploracin

BLANCA RODRGUEZ BRAVO
Universidad de Len
[email protected]

CRSPULO TRAVIESO RODRGUEZ
[email protected]

Resumen Se indaga en el estadio de evolucin de los catlogos de las bibliotecas universitarias espaolas. El
propsito se cifra en conocer qu bibliotecas han implementado interfaces de descubrimiento, qu
herramientas han sido las elegidas y qu funcionalidades ofrecen. Las herramientas de descubrimiento se han
instalado en casi un 60% de las bibliotecas universitarias y las plataformas elegidas son: Encore, Primo Central,
Summon, VuFind y WorldCat Local. Todas ellas implementan la mayora de las funcionalidades evaluadas lo
que supone un avance en la consecucin de Catlogos de Nueva Generacin.

Palabras-clave Bibliotecas Universitarias. Catlogos de Nueva Generacin. Espaa. Herramientas de
Descubrimiento. Opacs.

Abstract The study explores the evolutionary stage of the catalogs of Spanish university libraries. The
purpose is to get to know what libraries have implemented interfaces of discovery, what tools have been
chosen and what functionalities offered. Discovery tools are installed in nearly 60% of university libraries and
chosen software are: Encore, Primo Central, Summon, VuFind and WorldCat Local. All of them implement
most of the features evaluated representing a breakthrough in achieving Next Generation Catalogs.

Keywords. Academic Libraries. Discovery Tools. Next Generation Catalogs. Opacs. Spain.

Introduccin

El acceso inmediato a contenidos de calidad es clave para la investigacin y es el valor
principal que los acadmicos asignan a la biblioteca, como se desprende del informe del Research
Information Network (RIN) (2011).
Los datos bibliogrficos han desempeado un papel trascendental en las bibliotecas
universitarias que necesitan cumplir su misin de apoyo a la investigacin, la enseanza y el
aprendizaje. Las bibliotecas acadmicas dedican abundantes recursos a la adquisicin, gestin y
creacin de datos de manera que sus usuarios puedan acceder al contenido disponible.
Sin embargo, como apuntaba el informe de RIN (2009), el objetivo sealado se encuentra en
peligro por dos razones principales: la percepcin de que los procesos tradicionales implican
innecesariamente duplicacin de esfuerzos; y la creencia de que diversos servicios basados en la
web y desarrollados por distintas organizaciones como puedan ser Google o Amazon -
proporcionan vas ms adecuadas para crear y compartir datos y para ofrecer servicios al usuario
final. As, como subraya Tennant (2009), el descubrimiento de recursos informativos ya no se realiza
exclusivamente por medio de las descripciones de los catlogos individuales de las bibliotecas.

865
Numerosos han sido los estudios que han puesto de relieve las limitaciones de los OPACs
como instrumentos intermediarios en la recuperacin de informacin. Sirva de ejemplo el realizado
por Matthews (1997) quien enumera las principales dificultades del usuario en el proceso de
obtencin de informacin: bsquedas por materias fallidas o, por el contrario, recuperacin de un
nmero de registros inmanejable. A estas dos situaciones extremas se suma la desorientacin que
experimenta el usuario en los procesos de exploracin/navegacin. El resultado es la ausencia de
perseverancia por parte del cliente, que puede devenir en un xodo de la biblioteca.
El mismo autor sealaba que el OPAC se encontraba en un momento crtico en su desarrollo.
Sostena que problemas de diverso cariz haban impedido que el OPAC evolucionase hacia el
catlogo de tercera generacin descrito por Hildreth (1993), el E3 OPAC: Enriquecido Enhanced- (en
funcionalidad y usabilidad), Expandido Expanded- (abarcando toda la coleccin) y Extendido
Extended- (dando acceso a travs de enlaces, redes y portales a recursos adicionales a la coleccin
propia de la biblioteca).
Es notorio que tradicionalmente los catlogos han proporcionado informacin detallada y de
alta calidad sobre libros impresos, si bien a menudo con un formato que no facilita la agregacin de
datos ni el trabajo colaborativo; han incluido informacin sobre revistas de calidad variable y de
escasa utilidad para los usuarios; no suelen proporcionar informacin sobre artculos de revista y
contienen irregularmente descripciones de recursos electrnicos.
El camino hacia la consecucin de la nueva generacin de catlogos es reciente. Para ello se
han utilizado varas vas: la integracin de las descripciones de revistas y de recursos electrnicos;
la incorporacin de las aplicaciones web 2.0 al catlogo, convirtindolo en un OPAC social,
participativo; y la implementacin de herramientas de bsqueda federada de los materiales de la
biblioteca que estn evolucionando hacia interfaces de descubrimiento (Margaix, 2009; Travieso,
Alonso y Vivancos, 2007). Es a este ltimo aspecto de evolucin de los catlogos al que atenderemos
en este trabajo.
Como sealan Yang y Wagner (2010), hasta los ltimos aos, las bibliotecas no han tenido
muchas posibilidades de actualizar sus OPACs. Los Sistemas Integrados de Gestin Bibliotecaria
(SIGB) propietarios ofrecan una customizacin limitada. Actualmente, las bibliotecas que utilizan
determinados sistemas de este tipo, propietarios o en cdigo abierto, pueden realizar alguna mejora
aadiendo parches, adquiriendo mdulos nuevos del sistema propietario o plug-ins, pero estas
soluciones no permiten transformar un viejo OPAC en un Catlogo de Nueva Generacin (CNG).
Como comentan los autores sealados se trata de mejoras meramente cosmticas en la mayor parte
de las ocasiones.
Adicionalmente las bibliotecas pueden adoptar un envoltorio web que permite camuflar su
catlogo debajo de otra interfaz de usuario. Esta situacin parece ser la predominante en la
actualidad. El abandono del OPAC en favor de una nueva generacin de herramientas, capas o
interfaces de descubrimiento es una tendencia posible pero que hoy por hoy no parece hallarse
consolidada.
Yang y Wagner (2010) proponen clasificar los catlogos en catlogos clsicos, catlogos
facetados y herramientas de descubrimiento. Los OPACs clsicos son los implementados con los
SIGB tradicionales que no poseen interfaces facetadas y no aportan, prcticamente, ninguna de las
funcionalidades que la bibliografa especializada considera definitorias de una interfaz de
descubrimiento. Los catlogos facetados han nacido tambin de la mano de un SIGB pero poseen
navegacin facetada por categoras, materias, etc.- y muchas otras de las caractersticas sealadas
de los catlogos de nueva generacin como el contenido enriquecido y las contribuciones de los
autores. Las capas de descubrimiento son interfaces independientes del SIGB, a menudo
proporcionadas por un proveedor alternativo al que suministra el SIGB y que es quien aporta las
funcionalidades sealadas para los CNG.
El National Federation of Advanced Information Services (NFAIS) (2011) define las herramientas de
descubrimiento, teniendo en cuenta sus caractersticas bsicas y su finalidad, como un vnculo entre
el usuario y la plataforma o localizacin en que reside la informacin () proporcionando una

866
interfaz con una caja de bsqueda simple a metadatos y/o al texto completo () con la finalidad de
proporcionar al usuario una experiencia de bsqueda sencilla, rpida y fcil del tipo de la utilizada
por Google; de proporcionar al bibliotecario la consecucin de un mayor conocimiento y uso de las
colecciones por parte de sus usuarios; y de proporcionar a los proveedores de contenidos la
oportunidad de incrementar el uso, especialmente por parte de buscadores poco expertos, y
dotarles de canales de distribucin ms amplios para difundir su marca.
Ms dirigida a sus principales funcionalidades resulta la concepcin de Fagan et al. (2012)
quienes definen las herramientas de descubrimiento como un software web que busca artculos de
revista y metadatos catalogrficos en un ndice unificado y presenta los resultados de bsqueda en
una nica interfaz.
Teets (2009) describe las herramientas de descubrimiento o web-scale discovery como un
sistema de alta disponibilidad, confiable, transparente, de alto rendimiento, escalable, accesible,
seguro, usable y barato.
Desde un punto de vista arquitectnico y visual, las herramientas de descubrimiento son
reconocibles principalmente por su utilizacin de la bsqueda facetada de un tem catalogado que
permite al usuario aadir o eliminar puntos de acceso y expandir o limitar su bsqueda. Como
apunta Johns-Smith (2012) algunas herramientas de descubrimiento permiten a las bibliotecas
definir las facetas, otorgarles diferente peso y customizar la terminologa utilizada para su
etiquetado. Las principales facetas incluyen el tipo de material o la forma en que se presenta el
contenido, el formato, la materia, la fecha o el rango de fechas, la localizacin fsica y la lengua de
origen. El usuario final tiene la facilidad de ajustar el contenido, contenedor, edad y finalidad de los
documentos requeridos.
No obstante, ms all de las facetas, la utilidad de las interfaces de descubrimiento radica en
la habilidad para combinar mltiples fuentes de metadatos en una nica caja de bsqueda sencilla.
La combinacin de registros MARC, repositorios OAI, bases de datos, imgenes, materiales
multimedia y otros recursos online conduce a la obtencin exhaustiva de resultados hasta ahora
nunca alcanzados de una manera tan sencilla.
El acceso a volmenes de informacin ocultos anteriormente en silos de catlogos o bases de
datos particulares, sin posibilidad de ser recuperados simultneamente y desde un nico punto de
acceso, es una revolucin tanto para los investigadores como para los usuarios inexpertos. As,
Breeding (2011) seala que las herramientas de descubrimiento estn pensadas para encontrar, no
solo para buscar.
Las capas de descubrimiento difieren de los metabuscadores en que estos ltimos buscan en
mltiples bases de datos y posteriormente agregan los resultados. Con la utilizacin de software de
bsqueda federada los resultados ofrecidos dependen tanto de los algoritmos de bsqueda y de los
rankings de relevancia del metabuscador como de los correspondientes a cada herramienta
utilizada.
Contrariamente, las capas de descubrimiento importan los metadatos a un nico ndice y
aplican un nico conjunto de algoritmos de bsqueda y una nica frmula de ordenacin de
resultados.
Anglada (2012) recoge brevemente la historia de estas interfaces de descubrimiento que
nacieron con la aspiracin de ofrecer una experiencia de bsqueda enriquecida a los catlogos.
Paralelamente a la instalacin de la primera herramienta de este tipo, AquaBrowser, se
desarrollaron buscadores federados, MetaLib fue el primero de los comerciales, que permitan la
consulta simultnea de varias bases de datos y ofrecan un solo conjunto de resultados. Las
bsquedas por filtraje y las federadas han evolucionado hasta convertirse en bsquedas unificadas
por medio de los instrumentos de descubrimiento que conocemos hoy da. Los catlogos se
extienden para incluir bsquedas a artculos de revistas (WorldCat) y grandes ndices de artculos
de revistas engloban a los catlogos de biblioteca y a los repositorios institucionales (Summon,

867
Primo Central, etc.). Cualquiera de las dos rutas conduce al resultado deseado de ofrecer un acceso
unificado a todos los recursos que la biblioteca posee o contrata.


El trabajo indaga en el estadio de evolucin de los catlogos de las bibliotecas universitarias
espaolas. El propsito se cifra en conocer qu bibliotecas han implementado interfaces de
descubrimiento, qu herramientas han sido las elegidas y qu funcionalidades ofrecen.
Se parte de una exploracin minuciosa de las sedes web de las bibliotecas universitarias,
llevada a cabo en el mes de mayo de 2013. Son 72 las bibliotecas universitarias que forman parte de
Rebiun
1
, incluyendo las pertenecientes a la red del CSIC.
La metodologa a emplear parte de la constatacin de la presencia o ausencia de
funcionalidades que Yang y Wagner (2010) y Yang y Hofmann (2011), basndose en investigaciones
previas, fijaron como rasgos definitorios de los Catlogos de Nueva Generacin en un estudio de los
OPACs de 260 bibliotecas acadmicas de USA y Canad.
En este trabajo nos hemos guiado por los parmetros propuestos por la bibliografa
especializada con alguna adaptacin propia. Es el caso del parmetro segundo que incide
fundamentalmente en la usabilidad de la interfaz en detrimento del criterio relativo al diseo
moderno que los autores mencionados proponan como nico indicador.
Las principales funcionalidades sometidas a evaluacin y que se descomponen en indicadores
varios, en la mayor parte de los casos, son:

1. nico punto de bsqueda para toda la informacin de la biblioteca: El catlogo de la
biblioteca consistir en una caja de bsqueda simple o bsqueda federada para todos
los recursos de la biblioteca. Una nica bsqueda podr recuperar todos los
materiales relevantes.
2. Usabilidad de la interfaz web: Se ha considerado la posibilidad de aadir a favoritos, la
consistencia de las pantallas, que exista una gua constante sobre acciones
posteriores a la pantalla visualizada y sobre las acciones que la han precedido y que
han derivado en la actual ubicacin de la consulta. Asimismo, se han tenido en cuenta
la existencia de cdigos de barras bidimensionales QR, de la opcin Aadir a
mochila o Aadir a cesta, de la opcin de ayuda y de la opcin de guardar
bsquedas. Por ltimo, se valora positivamente el diseo similar al existente en webs
comerciales como Google o Amazon.
3. Contenido enriquecido: los catlogos de la biblioteca han de incluir imgenes de las
cubiertas de los documentos, aportaciones de los usuarios tales como comentarios,
descripciones, valoraciones o nubes de etiquetas.
4. Navegacin facetada: los catlogos deben ser capaces de mostrar los resultados de
bsqueda por categoras de distinto tipo: materias, fechas, lengua, formato, ubicacin,
disponibilidad, etc.
5. Bsqueda simple y avanzada en todas las pginas. Se valora positivamente la
existencia de una caja de bsqueda simple en cada pgina que se complementar con
un enlace a la bsqueda avanzada.

1
http://www.rebiun.org/bibliotecas.html

868
6. Ordenacin de resultados por relevancia: la obtencin de resultados por relevancia de
los catlogos de nueva generacin ha de considerar las estadsticas de circulacin
como indicador de la popularidad y utilidad de los documentos.
7. Sugerencias y mecanismos de correccin. Los catlogos tienen que ofrecer la
posibilidad de elegir la forma ortogrfica correcta con preguntas del tipo: ha querido
decir?
8. Recomendaciones y/o materiales relacionados. Siguiendo la tendencia de las webs
comerciales, un catlogo de nueva generacin recomendar al usuario documentos
similares al accedido o llevado en prstamo gracias a los datos de uso proporcionados
por las transacciones recogidas en ficheros logs y las estadsticas de circulacin. La
funcionalidad sealada puede mostrarse con un link a lecturas recomendadas o con
expresiones del tipo: los lectores que leyeron este libro tambin leyeron.
9. Contribuciones de los usuarios. El input de los usuarios puede incluir descripciones,
resmenes, reseas, crticas, comentarios, puntuaciones y etiquetas. Cada vez ms los
usuarios confan en la opinin de otros usuarios y las etiquetas empleadas por los
lectores sirven como puntos de acceso para tems utilizados con frecuencia.
10. Sindicacin de contenidos. Permiten que el usuario est suscrito a canales RSS a
travs de los que puede mantenerse al da de nuevas adquisiciones, listas de libros
ms ledos, etc.
11. Integracin con las redes sociales. Los catlogos permiten a los usuarios compartir
enlaces a los materiales de la biblioteca con sus amigos de redes sociales.
12. Enlaces persistentes. Los registros de los catlogos de nueva generacin contienen un
identificador estable al tem.

Los parmetros propuestos inciden en las funcionalidades que facilitan una bsqueda rpida
y sencilla, unos resultados pertinentes y enriquecidos, acceso inmediato a esos resultados, contexto
en la navegacin y posibilidades colaborativas.

2 Resultados

La revisin de los catlogos de las bibliotecas universitarias ha permitido identificar la
implementacin de diversas herramientas de descubrimiento en un considerable nmero de
bibliotecas universitarias espaolas. En la Tabla I se muestran los resultados hallados. Del total de
bibliotecas consideradas, 72 incluyendo el CSIC, son 43 las instalaciones de interfaces de
descubrimiento en el mes de mayo de 2013, cifra que supone un 59.7% del total.
La situacin ha evolucionado significativamente con respecto a la comentada por Alvite
(2012) quien constat la existencia de herramientas de descubrimiento en una veintena de
universidades con la presencia de las siguientes interfaces de descubrimiento: AquaBrowser, EDS,
Encore Interfaces, Primo Central, Summon y WorldCat Local.
De las exploraciones llevadas a cabo se desprende que la eleccin de la interfaz de
descubrimiento ha venido, en gran medida, determinada por decisiones consorciadas. As, el
consorcio de las bibliotecas andaluzas se ha decidido por la herramienta Encore, mientras que el
CBUC lo ha hecho por Primo Central, Madroo por Summon y BUCLE por WorldCat Local.
Consecuentemente con el nmero de universidades que configuran las autonomas sealadas, se
observa la implantacin dominante de tres herramientas de descubrimiento, Encore, Primo Central
y Summon.

869
Algunas comunidades no se han sumado al proceso de instalacin de este tipo de interfaces,
tal es el caso de la comunidad gallega y su consorcio Bugalicia.

Herramientas de descubrimiento
2

Bibliotecas Universitarias
Encore-EDS Universidad de Almera
Universidad de Cdiz
Universidad de Crdoba
Universidad Europea de Madrid
Universidad de Granada
Universitat Illes Balears
Universidad de Mlaga
Universidad de Navarra
Universidad Pablo Olavide
Universidad de Sevilla
Primo Central IE Business School
IE University
Universitat Autnoma de Barcelona Universidad
de Barcelona
Universidad de Deusto
Universidad de Girona
Universidad de La Laguna
Universidad Politcnica de Catalua
Universidad Politcnica de Valencia
Universidad Rovira e Virgili
Summon CSIC
Universidad de Alcal
Universidad Autnoma de Madrid
Universidad de Cantabria
Universidad Internacional de Andaluca
Universidad de Las Palmas de Gran Canaria
Universidad de La Rioja
Universidad Oberta de Catalunya
Universidad Rey Juan Carlos
UNED
WorldCat Universidad de Alicante
Universidad de Burgos
Universidad de Len
Universidad de Valladolid
VuFind Universidad Abat Oliba CEU
Universidad Cardenal-Herrera-CEU
Universidad de Oviedo
Universitad San Pablo CEU

Tabla I. Herramientas de descubrimiento en las Bibliotecas Universitarias

2
Encore http://www.iii.com/intl/spanish.php
Primo Central http://www.exlibrisgroup.com/?catid=%7B7C50F49A-109E-47CA-BE97-FD560E9BC940%7D
Summon http://www.serialssolutions.com/en/services/summon/
VuFind http://vufind.org/
WorldCat Local http://www.oclc.org/worldcat-local.en.html

870
Se constata que la implementacin de las herramientas de descubrimiento no se ha limitado a
las universidades pblicas sino que se ha extendido a las privadas como es el caso de las
universidades del CEU, el Instituto de Empresa, la Universidad Europea, la Oberta de Catalunya y la
Internacional de Andaluca.
Cabe sealar que la Red Universitaria Fundacin San Pablo CEU instal tempranamente, en
2008, una herramienta de descubrimiento, AquaBrowser Library, distribuida en Espaa por Scanbit.
En 2009, la herramienta sealada, con 700 instalaciones en todo el mundo, se posicionaba como la
principal interfaz de descubrimiento. El CEU ha sustituido recientemente esta capa de
descubrimiento por VuFind, herramienta open source desarrollada por Vilanova University (USA) y,
distribuida, as mismo, por Scanbit. Se trata del nico software de cdigo abierto en el conjunto de
las interfaces identificadas.
WorldCat Local de OCLC, fue la primera herramienta de descubrimiento desarrollada y su
lanzamiento se retrotrae a 2007. En 2009 apareci en el mercado Summon de Serials Solutions que
fue seguida en 2010 por el lanzamiento de EBSCO Discovery Service (EDS) de EBSCO Publishing,
Encore Synergy de Innovative Interfaces y Primo Central Index de ExLibris.
En junio de 2012 Ebsco e Innovative firmaron un acuerdo de colaboracin que persigue
avanzar hacia un desarrollo integrado entre EBSCO Discovery Service (EDS) y la herramienta de
Innovative, Encore.
La primera biblioteca en implementar Encore fue la Universidad de Sevilla y su instalacin se
retrotrae a abril de 2010. Con respecto a la primera instalacin en Espaa de WorldCat se
corresponde con la realizada en las bibliotecas universitarias de Castilla y Len que se present al
pblico en abril de 2011.
Hemos sometido a una somera evaluacin las cinco interfaces de descubrimiento que hemos
hallado implementadas en las bibliotecas universitarias espaolas. Para ello hemos utilizado las
prestaciones de las capas de descubrimiento de las siguientes universidades: Universidad de Sevilla
(Encore), Universidad de Murcia (Primo), Universidad de Las Palmas de Gran Canaria (Summon),
Universidad de Salamanca (WorldCat) y Universidad San Pablo CEU (VuFind). Previamente se han
chequeado varias interfaces y optado por aquella en la que se observaba un superior desarrollo de
las funcionalidades establecidas como criterios de valoracin.
Se presenta en la Tabla 2 el resultado de la evaluacin de los parmetros recogidos en la
metodologa. Nos hemos limitado a observar la aplicacin o no de las doce funcionalidades
establecidas. El cumplimiento de un indicador de los recogidos en cada parmetro es suficiente para
considerar que el criterio se aplica. Por tanto, la similitud de comportamiento que se desprende de
la tabla es ms aparente que real. Se han apreciado diferencias significativas en el nmero y alcance
de cumplimiento de los requisitos considerados entre unas herramientas y otras en los catlogos
tomados como punto de referencia.

871

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S
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W
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l
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C
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V
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f
i
n
d

nico punto de bsqueda

Usabilidad de la interfaz

Contenido enriquecido

Navegacin facetada

Bsqueda simple y avanzada en todas las pginas

Ordenacin segn relevancia

Mecanismos de autocorreccin y sugerencia

Recomendaciones y/o materiales relacionados

Contribuciones de los usuarios

Sindicacin de contenidos

Integracin con redes sociales

Enlaces persistentes

Total de funcionalidades
1
2
1
1
9
1
1
1
1

Tabla II. Evaluacin de las herramientas de descubrimiento de las bibliotecas universitarias

Todos los catlogos que han instalado las herramientas sealadas tienen un comportamiento
correcto ya que cumplen con los principales parmetros establecidos: nico punto de bsqueda,
adecuada usabilidad, contenido enriquecido, navegacin facetada, bsqueda simple y avanzada en
todas las pginas, ordenacin de resultados por relevancia y mecanismos de autocorreccin y
sugerencia, as como disponibilidad de enlaces persistentes a los documentos.
El producto que aparentemente permite implementar todas las funcionalidades establecidas
como requisitos esenciales es Encore, que adems tiene algunas prestaciones distintas a las

872
restantes herramientas, sobre todo en el apartado de la usabilidad. Asimismo, garantiza de forma
explcita que los enlaces de los registros son permanentes (URL permanente para este registro).
En el extremo opuesto, Summon, no cumple con tres de las funcionalidades evaluadas. No
realiza recomendaciones a los usuarios ni admite sus contribuciones. Con respecto a la aportacin
de contenido enriquecido se limita a la inclusin de portadas. Igualmente, carece de la posibilidad
de integracin con redes sociales. Otra limitacin observada se cifra en que las pantallas
intermedias de resultados enlazan con una pantalla de registro bibliogrfico del propio catlogo
tradicional, es decir, se enva al usuario fuera de la interfaz de consulta cuando selecciona un
resultado concreto.
Como aspecto diferencial positivo de Summon cabe sealar que permite al usuario configurar
un cajetn de bsqueda personalizado.
En el estudio de 2010 de Yang y Wagner, Primo y VuFind cumplen en el apartado de
integracin con las redes sociales. Sin embargo, no se ha podido constatar esta circunstancia en los
catlogos tomados como referencia en este estudio valorativo.
En relacin a Primo Central, se han encontrado diferencias en su aplicacin entre las
bibliotecas del CBUC y la biblioteca de la Universidad de Murcia, siendo sta ltima una versin algo
ms completa y de mejor usabilidad, de ah que se haya empleado ese catlogo en la evaluacin. En
el apartado de recomendaciones y/o materiales relacionados permite no slo sugerencias de
materias relacionadas -como casi todos los dems- sino tambin de obras relacionadas o ttulos
similares.
En el caso de WorldCat, la herramienta no parece contemplar la posibilidad de sindicacin de
contenidos. Por lo que hace a VuFind, evaluado a partir de las bibliotecas del CEU, cabe destacar
positivamente sus prestaciones en lo referido a opciones de filtrado por facetas, navegacin entre
registros y posibilidades de contribuciones de los usuarios.
Es preciso recordar que se ha considerado la aplicacin de las diversas funcionalidades
establecidas aunque no se cumplan todos los requisitos englobados en cada uno de los criterios
evaluativos. As, en el apartado de Contenido enriquecido, las nubes de etiquetas son poco comunes.
En cuanto al criterio de Contribuciones de los usuarios, lo ms habitual es la posibilidad de aadir
etiquetas de descripcin, pero algunos sistemas permiten aportar comentarios, crticas o reseas,
como es el caso del catlogo de la Universidad de Murcia (Primo Central), el de la Universidad San
Pablo CEU (Vufind) o el de la Universidad de Salamanca (WorldCat).
Los resultados obtenidos en esta evaluacin son significativamente mejores que los
alcanzados en la evaluacin de las herramientas de descubrimiento de las universidades americanas
y canadienses (Yang y Wagner, 2010). En el estudio de Yang y Wagner ninguna de las interfaces de
descubrimiento analizadas implementaba ms de 10 de las funcionalidades establecidas. Los
mejores resultados correspondan a herramientas de cdigo abierto, principalmente a LibraryFind,
Scriblio y VuFind, de las que los autores destacan su buen comportamiento.
En relacin a las capas de descubrimiento evaluadas por Yang y Wagner (2010), VuFind
cumpla 9 criterios, Primo 8, mientras que Summon y WorldCat Local implementaban 7
funcionalidades. Encore se ubicaba en una posicin intermedia al considerar los autores que
cumpla solo en parte con el primer criterio evaluativo, implementacin de un nico punto de
bsqueda, siendo el resultado asignado de 7,5.
De estos resultados los autores colegan que ninguna de las herramientas de descubrimiento
analizadas poda considerarse CNG. La bsqueda federada y la ordenacin por relevancia se
hallaban ausentes en todas las bibliotecas que tenan implementadas las interfaces analizadas. Se
constata, por tanto, el desarrollo que han experimentado las interfaces de descubrimiento en los
tres ltimos aos.

873
Discusin

El resultado final nos ha permitido identificar las herramientas de descubrimiento instaladas
en las bibliotecas universitarias espaolas. El grado de implantacin ha evolucionado muy
positivamente en los ltimos aos si tomamos como referencia el trabajo de Alvite (2012). Las
instalaciones se han duplicado pasando de una veintena a 43 (con CSIC). Este crecimiento
exponencial se ha observado igualmente en el estudio de Hofmann y Yang (2012) quienes
constataban, as mismo, que el nmero de instalaciones se haba duplicado en un ao en Canad y
USA.
Johns-Smith (2012) fija los factores principales a considerar para la contratacin de una
interfaz de descubrimiento: la evaluacin de los proveedores de contenido y su capacidad para
distribuir contenidos y metadatos de calidad a la herramienta de descubrimiento; la evaluacin de
la capacidad de integracin de la herramienta con los productos y servicios del SIGB existente; y la
evaluacin de las empresas que ofertan la herramienta de descubrimiento y los servicios de valor
aadido que proporcionan.
En el caso que nos ocupa, hemos observado que la eleccin de las herramientas ha venido
marcada por decisiones conjuntas tomadas a nivel de consorcio. Igualmente, se ha apreciado la
influencia de la relacin con las empresas distribuidoras de los Sistema Integrados de Gestin
Bibliotecaria en las decisiones de las bibliotecas respecto a la contratacin de estas herramientas. La
confianza en determinados proveedores ha resultado un factor determinante, sin desdear las
caractersticas del producto y su precio.
Se constata que las instalaciones de VuFind en bibliotecas espaolas, tanto universitarias
como pblicas, se corresponde en todos los casos con instituciones pertenecientes a la red Amicus
3
.
Por su parte, la implementacin de la herramienta Encore en las bibliotecas andaluzas puede ser
muestra tambin de la satisfaccin con las prestaciones y el servicio proporcionado por la empresa
Innovative Interfaces durante aos de trabajo con el SIGB Millenium.
Las bibliotecas de Castilla y Len no han atendido, no obstante, a la consideracin anterior al
decantarse por WorldCat Local. El consorcio Bucle argumenta a favor de la calidad de esta
herramienta a la que considera un sistema rpido, sencillo de utilizar y rentable que al integrarse en
la base de datos WorldCat confiere una superior visibilidad al patrimonio bibliogrfico de Castilla y
Len
4
.
La Universidad de Alicante, por su parte, se escuda en su confianza en OCLC y en la empresa
Doc6, su representante en Espaa, as como en el precio para la seleccin de esta herramienta
5
.
La investigacin llevada a cabo ha facilitado la realizacin de una primera evaluacin de las
prestaciones de las herramientas implementadas. El comportamiento de las cinco herramientas
evaluadas es adecuado, si bien, si atendemos a Yang y Wagner (2010) solo en el caso de los catlogos
implementados por Encore, que resuelven las 12 funcionalidades establecidas, podramos hablar de
catlogos de nueva generacin. Los resultados obtenidos de la comprobacin de los requisitos
establecidos en las instalaciones de Primo Central, WorldCat y VuFind, permiten, sin embargo,
considerar que estas herramientas cumplen tambin su cometido de manera solvente. Por lo que a
Summon se refiere muestra carencias en la implementacin de funcionalidades relacionadas con los
aspectos sociales o participativos del Opac.
Cualitativamente queremos resaltar tambin el excelente comportamiento de la herramienta
de cdigo abierto VuFind, evaluada atravs de una universidad privada, San Pablo CEU. VuFind ha
lanzado en enero de 2013 su versin 1.4 con mejoras sustanciales como son
6
: soporte a colecciones

3
http://www.scanbit.net/primeras-instalaciones-en-espana-con-vufind/?lang=es
4
http://www.oclc.org/es-americalatina/news/releases/2011/201122.html
5
http://www.oclc.org/es-americalatina/news/releases/2011/201129.html
6
http://sourceforge.net/news/?group_id=199442&id=310237

874
jerrquicas de registros, favoreciendo la integracin de materiales de archivo y de repositorios
digitales; soporte arquitectnico para funcionar sin un SIGB lo que convierte a la herramienta en
instrumento adecuado para usos no bibliotecarios; capacidad para realizar recomendaciones
personalizadas al usuario que no halla resultados; capacidad para indexar artculos; soporte
opcional Clickatel para SMS; y, asimismo, nuevas lenguas disponibles para la interfaz como son el
vasco, cataln, checo y ruso.
Las herramientas analizadas parecen haber evolucionado muy positivamente en los ltimos
aos dado que del examen llevado a cabo por Hofman y Yang (Hofman y Yang, 2010; Yang y
Hofman, 2011) sobre los catlogos de ms de un centenar de bibliotecas americanas y canadienses se
desprenda que las reas dbiles en el desarrollo de herramientas de descubrimiento eran la
bsqueda unificada, tems recomendados y ordenacin por relevancia teniendo en cuenta las
transacciones de los usuarios, carencias paliadas en el momento de realizar este estudio salvo la
funcionalidad de recomendacin de materiales en el caso de Summon.
Podemos identificar como principales fortalezas en los sistemas cotejados, un claro esfuerzo
de adaptacin a entornos visuales con los que el usuario est familiarizado, la posibilidad de
consulta de varios recursos de la biblioteca mediante la integracin de stos, la opcin bastante
generalizada de incluir la contribucin de los propios usuarios, fomentando que stos conciban el
catlogo como algo ms cercano y participativo, y la opcin de sugerir bsquedas relacionadas o
documentos similares.
En el extremo opuesto detectamos carencias a subsanar. Se aprecia cierta indefinicin a la
hora de dirigir al usuario a la nueva herramientas y/o al catlogo tradicional. Tambin se observa la
limitada utilizacin de las funcionalidades relacionadas con el Opac social. Se requiere una labor de
difusin por parte de las bibliotecas para fomentar la participacin de los usuarios. Por ltimo, es
preciso ampliar el contenido enriquecido que se ofrece con cada registro, que se limita
mayoritariamente a la inclusin de las portadas, con la aportacin de sumarios, reseas, crticas,
etc. que permitan una seleccin ms fundamentada y, por tanto, eficaz.
Cabe insistir que el nmero de sedes exploradas por cada herramienta de descubrimiento ha
sido limitado y que se han observado diferencias entre interfaces y tambin entre bibliotecas que
utilizan la misma herramienta. El desarrollo y adaptacin de las herramientas de descubrimiento no
es idntico en las distintas universidades y esta situacin puede obedecer, en parte al menos, a que
la finalidad perseguida con la contratacin de las herramientas es diversa. Como ponen de relieve
Luther y Kelly (2011) la intencin puede ser reemplazar el catlogo existente o simplemente
superponerle una nueva interfaz.
Por los motivos expuestos consideramos necesario seguir abundando en esta lnea de trabajo
y realizar una exploracin y evaluacin ms exhaustiva.
Igualmente, conviene reflexionar sobre si cabe hablar ya de una nueva generacin de
catlogos, en qu casos y qu estadio de evolucin viven las bibliotecas espaolas. Es preciso sealar
que muchas de las bibliotecas que no tienen contratada una herramienta de descubrimiento s
cuentan con catlogos facetados. As mismo, gran parte de las bibliotecas disponen de
metabuscadores que permiten realizar bsquedas federadas.
Las herramientas de descubrimiento suponen un avance considerable. La combinacin del
catlogo de la biblioteca, los ndices de artculos y otras fuentes de informacin en una interfaz
unificada es una mejora indudable. Es preciso incidir en los estudios de usabilidad que proporcionen
datos acerca de la repercusin de las nuevas herramientas en el acceso y uso de informacin por
parte de usuarios expertos e inexpertos, as como de su nivel de satisfaccin. Los estudios realizados
hasta el momento indican una respuesta favorable de los usuarios hacia las herramientas de
descubrimiento (Hofmann y Yang, 2012). El anlisis de las estadsticas de circulacin de
documentos, de ficheros logs y de las opiniones recabadas por medio de encuestas, llevados a cabo
de manera sistemtica, nos proporcionarn la respuesta.

875
Pese a esta consideracin favorable detectada, si atendemos a las necesidades de los usuarios
avezados, quiz no todo sean ventajas. Sealan Fagan et al. (2012) como carencias la dificultad para
llevar a cabo estrategias de bsqueda disciplinares especficas y la ausencia de control de
autoridades que inciden negativamente en la precisin de la recuperacin de informacin. De igual
opinin resulta el informe de OCLC (2009) que propone que las clasificaciones, los vocabularios de
materia y los datos estructurados de los catlogos se utilicen para mejorar los rankings de
relevancia de los catlogos en lnea.
Fagan y sus colaboradores (2012) aconsejan a las bibliotecas repensar la funcin de sus
catlogos y otros gestores de contenidos para satisfacer las expectativas de los usuarios. Los
catlogos y las bases de datos especializadas todava cumplen algunos cometidos mejor que las
herramientas de descubrimiento. Las bibliotecas tendrn que considerar al cliente a la hora de
situar en su web los distintos instrumentos de acceso a los contenidos y hacerse las preguntas
siguientes: Cundo dirigir a un usuario hacia el catlogo? Cundo dirigir a un usuario haca una la
herramienta de descubrimiento? Qu tems tiene que seguir incluyendo la biblioteca en su
catlogo? O bien Ha llegado el momento de abandonar el catlogo? Y, fundamentalmente, son
capaces los usuarios de encontrar los mejores recursos para solventar sus necesidades?
La finalidad debe ser ayudar a los usuarios a descubrir los contenidos accesibles desde la
biblioteca en cualquier formato, sin descuidar la pertinencia que tradicionalmente ha perseguido la
tarea de representacin y organizacin de la informacin llevada a cabo por los bibliotecarios. Son
muchos y variados los estudios que constatan las diferencias existentes entre las prioridades de los
usuarios finales, en relacin a la calidad de los datos de los catlogos, y aquellas de los bibliotecarios
(OCLC, 2009). Observan Fagan et al. (2012) que la implementacin de interfaces de descubrimiento,
que enmascaran el catlogo sin sustituirlo, pueden considerarse una etapa de compromiso en el
camino de conseguir satisfacer las preferencias del usuario y el bibliotecario.
Hofmann y Yang (2012) apuntan que el 96% de las bibliotecas americanas y canadienses que
tienen implementada una herramienta de descubrimiento mantiene en uso la interfaz del catlogo
simultneamente. As, parece que los OPACs de los SIGB no han sido reemplazados todava por las
capas de descubrimiento. Los autores consideran que este reemplazo pasa porque las herramientas
mencionadas integren de manera generalizada la bsqueda avanzada y las funcionalidades de
navegacin por ndices alfabticos de autor, ttulo y materia.
La siguiente generacin de OPACs posee numerosas y tiles funcionalidades nuevas pero
puede necesitar asumir algunas de las tradicionales para satisfacer a los usuarios expertos Pasa por
esta integracin la sustitucin definitiva de los catlogos actuales? Resulta evidente que pese a los
progresos realizados para la modernizacin de los catlogos de las bibliotecas universitarias en
persecucin del CNG ideal, el objetivo todava no se ha alcanzado.
El futuro es una incgnita. Quiz sean las empresas proveedoras de SIGB y de herramientas de
descubrimiento las que lo despejen. Podra ser que los OPACs perdurasen hasta que se dejen de
soportar y de actualizar sus interfaces y se requiera un cambio radical en las bibliotecas. Las
principales dudas que se nos plantean son las siguientes: Los vendedores de sistemas propietarios
han abandonado la actualizacin de los catlogos clsicos a favor de las herramientas de
descubrimiento? Las capas de descubrimiento que hoy conocemos se van a convertir en los CNG?
Debemos esperar ulteriores desarrollos de las interfaces de descubrimiento para alcanzar ese
objetivo?

876
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879
O RESUMO ESTRUTURADO COMO RECURSO NA DISSEMINAO DA PRODUO CIENTFICA NA
REA DA SADE

MARIA DA GRAA SIMES
[email protected]

MARIA MANUEL BORGES
[email protected]

M. CRISTINA V. DE FREITAS
[email protected]

CARLA FERREIRA
Universidade de Coimbra - Biblioteca Geral
[email protected]

Resumo Aborda-se o resumo estruturado enquanto recurso na disseminao da produo cientfica da rea da
Sade, examinam-se os principais documentos que orientam a sua elaborao e verifica-se a coincidncia
entre o discurso e a prtica deste tipo de resumo na rea analisada. Trata-se de uma abordagem qualitativa,
formalizada em duas estratgias: (i) reviso seletiva da literatura especializada nos Estados Unidos da
Amrica, nomeadamente da norma ANSI/NISO Z39.14-1997 e dos princpios estabelecidos pelo Ad Hoc
Working Group for Critical Appraisal of the Medical Literature, International Committee of Medical Journal
Editors e pela National Library of Medicine (ii) estudo de caso da aplicao do resumo estruturado nos ttulos
correntes da SciELO Portugal, focalizado nas Instrues aos autores e nos fascculos publicados no primeiro e
no ltimo ano disponveis. Os principais resultados revelam uma aplicao razovel do formato estruturado
no conjunto dos artigos originais ou de reviso (47,91%) publicados nos nmeros do ltimo ano analisado,
realando o desempenho de dois ttulos (20%), que atingiram valores entre 90 e 100%. No conjunto dos casos
clnicos publicados no mesmo perodo, a aplicao do resumo estruturado menos expressiva (28,84%),
destacando-se dois ttulos (33,33%), pela total conformidade com este aspeto. Comparativamente, os nmeros
globais do ltimo ano representam uma pequena elevao (artigos cientficos, 7,1%; casos clnicos, 5,79%) em
relao ao primeiro ano analisado. Como principal concluso recomenda-se um maior envolvimento dos
editores e dos rbitros, quer para inclurem o resumo estruturado nas instrues aos autores, quer para
zelarem pela sua aplicao nos manuscritos submetidos.

Palavras-chave Resumo estruturado. ANSI/NISO Z39.14-1997. International Committee of Medical Journal
Editors (ICMJE). National Library of Medicine.

Abstract This study addresses the structured abstract as a resource in the dissemination of scientific
production of Health Sciences and aims to examine the key documents that guide its design and verify the
coincidence between the discourse and the practice of this type of resume in the analyzed area. This is a
qualitative approach, formalized in two strategies: (i) selective review of the literature in the United States,
including the ANSI / NISO Z39.14-1997 and the principles established by the Ad Hoc Working Group for
Critical Appraisal of the Medical Literature, International Committee of Medical Journal Editors and the
National Library of Medicine, (ii) and a case study regarding the application of the structured abstract of
Health Sciences current titles in SciELO Portugal, focused on the "Instructions to authors" and issues
published in the first and last available years. The main results show a reasonable application of the
structured format in the set of original and review articles (47,91%) published in the last analyzed year,
highlighting the performance of two titles (20%) which reached values between 90 and 100%. In all of the

880
clinical trials published in the same period, the application of the structured abstract is less expressive
(28,84%), highlighting the performance of two titles (33,33%), by the total compliance with this aspect. As
main conclusion, we recommend greater involvement of editors and referees in this process, whether to
include a structured abstract in the instructions to authors, either to look after their application in
manuscripts accepted for publication.

Keywords Structured abstract. ANSI/NISO Z39.14-1997. International Committee of Medical Journal Editors
(ICMJE). National Library of Medicine.

Introduo

O resumo (abstract) uma representao concisa e acurada do contedo de um documento
primrio (Rowley, 1982, p. 9; Lancaster, 1991, p. 3; Cremmins, 1982, p. 86; ANSI/NISO Z39.14-1997,
1997), num estilo muito semelhante, idealmente preparado pelo autor para publicao (Lancaster,
1991, p. 3). Trata-se de um texto secundrio e autnomo
1
, que representa e, em determinados casos,
espelha a prpria estrutura do documento que sintetiza
2
. A sua elaborao obedece a um processo
dicotmico de seleo e omisso de informao. Pela forma como apresentado e estruturado, o
resumo proporciona dois tipos de acesso informao original, formal e concetual. Estas
possibilidades tornam-no um excelente instrumento de disseminao de informao, especialmente
no mbito cientfico, sendo considerado um dos mais completos e privilegiados recursos na
divulgao do conhecimento. A sua relevncia para a comunidade cientfica faz com que acresa o
interesse pelo seu estudo.
O resumo pode assumir diferentes tipologias
3
, segundo o critrio que preside sua
elaborao, destacando-se: a autoria
4
, a densidade informativa
5
e o contedo
6
. Este artigo centra-se
num tipo particular de resumo de carter informativo, o resumo estruturado. Desde meados da
dcada de 80 do sculo passado, este resumo vem sendo recomendado na rea da Sade
7
, tendo
vindo a aumentar substancialmente a sua aplicao (Hartley, 2004, p. 368). Regra geral, apresenta os
contedos numa forma pr-estabelecida, sistematizada e sobretudo explcita, oferecendo um
conjunto mais amplo de informaes do que os resumos em texto livre ou tradicionais
8
(Hartley,
2004, p. 368; Snedeker, Canning, Totton, & Sargeant, 2012).

1
Esta talvez uma das caratersticas mais significativas de um resumo. O facto de ser um texto autnomo confere-lhe a
particularidade de, em alguns casos, substituir o documento original.
2
Mesmo sendo desejvel que respeite a estrutura do texto original, um resumo acaba por possuir uma estrutura prpria,
pautada pela coerncia e pela consistncia lingusticas. esta estrutura lgica e lingustica que confere ao resumo uma
autonomia formal e semntica.
3
O facto de se poderem construir vrias tipologias no quer dizer que um resumo, uma vez integrado numa categoria,
passe a fazer parte de um grupo estanque e, por esse motivo, no possa ser classificado em outras categorias tipolgicas.
Deste modo, o mesmo resumo poder ser informativo e ao mesmo tempo estruturado, ou poder ser de autor e
simultaneamente informativo e apresentado em texto livre.
4
Incluem-se nesta tipologia os seguintes resumos: de autor, de especialistas e de profissionais.
5
Incluem-se nesta tipologia os seguintes resumos: indicativo, informativo, informativo-indicativo e analtico. A
ANSI/NISO Z39.14-1997, neste caso, inclui apenas duas tipologias: informativo e indicativo. A ISO 214-1976, entretanto,
postula trs tipos: informativo, indicativo e informativo-indicativo.
6
Incluem-se nesta tipologia os resumos em texto livre e o estruturado.
7
Mas no apenas, dado que outras reas cientficas o tm vindo a adotar progressivamente, incluindo os fornecedores de
bases de dados. Veja-se, a ttulo de exemplo, a posio da Emerald que disponibiliza instrues aos autores (Disponvel na
WWW: http://www.emeraldinsight.com/authors/guides/write/abstracts.htm?part=1#2) ou a ERIC (Education Resources
Information Center) que disponibiliza igualmente informao (Disponvel na WWW:
http://www.eric.ed.gov/ERICWebPortal/resources/html/news/eric_news_34.html).
8
Acresce a estas particularidades o facto de serem mais fceis de recuperar em ambientes informatizados, quando
comparados com os resumos de texto livre. Se um facto que este tipo de resumos usado sobretudo nas cincias
biomdicas, tambm uma realidade que eles so utilizados em estudos econmicos e sociais. A recente utilizao do
resumo estruturado, em artigos das cincias sociais, uma recomendao de James Hartley (Hartley & Betts, 2009; Hartley,
1997), concorreu para a sua adaptao, ampliando-se a sua estrutura com mais dois elementos: Contextualizao e
Comentrios. No resumo estruturado de tipo informativo usual registar-se uma introduo quando o tema complexo.
Neste caso, para alm dos elementos habituais, a estrutura apresenta tambm no incio uma breve nota introdutria, para
contextualizar o assunto.

881
Em muitos casos, especialmente no que respeita s bases de dados, este tipo de informao
secundria o nico elemento passvel de acesso pelos investigadores, alm do ttulo e das
palavras-chave. No mbito da literatura mdica, o resumo o nico elemento das publicaes
normalmente disponibilizado em livre acesso pelos editores das revistas cientficas ou o nico
elemento que, para alm do ttulo e tal como acontece com outras reas cientficas, lido
9

("Addressing the Limitations of Structured Abstracts," 2004; (ICMJE: Preparing a Manuscript for
Submission to a Biomedical Journal, 2010.)
10
.

1 Objetivos e metodologia

Aborda-se o resumo estruturado enquanto recurso na disseminao da produo cientfica da
rea da Sade e tem com o objectivo de examinar os principais documentos que orientam a sua
elaborao e verificar a coincidncia entre o discurso e a prtica deste tipo de resumo nos ttulos
correntes da Scielo Portugal na mesma rea.
A metodologia assenta no modelo qualitativo e formaliza-se em duas estratgias: (i) reviso
seletiva da literatura especializada nos Estados Unidos da Amrica, nomeadamente da norma
ANSI/NISO Z39.14-1997 e dos princpios estabelecidos pelo Ad Hoc Working Group for Critical
Appraisal of the Medical Literature (Ad Hoc Working Group), International Committee of Medical
Journal Editors (ICMJE) e pela National Library of Medicine (NLM); (ii) estudo de caso,
designadamente da aplicao do resumo estruturado nos ttulos correntes da rea da sade da
SciELO (Scientific Electronic Library Online) Portugal.
Na reviso da literatura realizada, destacaram-se os aspetos relativos ao surgimento e
expanso da aplicao deste tipo de resumo, bem como a evoluo da estrutura dos subcabealhos
recomendados e as respetivas nomenclaturas que permitem aferir as principais semelhanas no
nmero, sequncia e designao propostos.
Para compor o estudo de caso foram consultados todos os 10 ttulos correntes da rea da
Sade disponveis na plataforma SciELO, com periodicidade vria, contabilizando 133 nmeros. A
anlise foi efetuada numa amostra intencionalmente selecionada dos 44 nmeros (33,08%)
publicados no primeiro e ltimo ano disponveis (Cf. tabela 1), alm das Instrues aos autores
11
,
seco que conforme se constatou estava disponvel em todas as revistas. A observao do ltimo
ano revela a deciso editorial tomada quanto aplicao do resumo estruturado nos artigos
cientficos e nos casos clnicos publicados pelas revistas, sendo um parmetro usado para avaliar, no
presente, o grau de coincidncia entre o discurso ("Instruo aos autores") e a prtica (o texto
efetivamente publicado). A observao do primeiro ano, por contraste, confirma se esta prtica
existia ou no no momento em que a publicao passou a figurar como ttulo corrente da rea da
Sade na SciELO Portugal.
Em cada ano, e correspondentes nmeros, foram contabilizados individualmente os artigos
originais, os artigos de reviso e os casos clnicos
12
, consultando-se as seces respetivas em cada
ttulo
13
.

9
O paradoxo do resumo que quanto melhor for, menos provvel ser que o leitor queira ler o artigo (Taddio et al., 1994).
As vantagens do seu uso so, entre outras: evitar a omisso de elementos, conter mais -informao e facilitar a avaliao
pelos pares, sendo de maior qualidade (Hartley, Sydes, & Blurton, 1996).
10
Sobre esta matria veja tambm (Weinert, 2010).
11
As "Instrues aos autores" revelam aspetos da poltica editorial das revistas, sendo um parmetro pertinente para
avaliar o dilogo que estabelecem com potenciais autores. Esta seco foi consultada para verificar as orientaes relativas
aplicao do resumo estruturado nas publicaes submetidas.
12
Nas Instrues aos autores foram referidas diferentes modalidades de artigos cientficos (cf. tabela 3), mas foram
analisados somente os artigos originais, os de reviso e os casos clnicos.

882
Tabela 1: Ttulos correntes da SciELO Portugal da rea da Sade
Ttulo Propriedade
Nmeros
Consultados Analisados
Angiologia e Cirurgia Vascular
Sociedade Portuguesa de Angiologia
e Cirurgia Vascular
8 4
Jornal Portugus de
Gastrenterologia
Sociedade Portuguesa de
Gastrenterologia
39 11
Motricidade
Fundao Tcnica e Cientfica do
Desporto
25 5
Nascer e Crescer: Revista do
Hospital de Crianas Maria Pia
1
Hospital de Crianas Maria Pia -
Centro Hospitalar do Porto
8 4
Portuguese Journal of Nephrology
& Hypertension
Sociedade Portuguesa de Nefrologia 4 4
Psicologia, Sade & Doenas
Sociedade Portuguesa de Psicologia
da Sade
25 3
Revista Portuguesa de Clnica Geral
Associao Portuguesa dos Mdicos
de Clnica Geral
5 5
Revista Portuguesa de
Imunoalergologia
Sociedade Portuguesa de Alergologia
e Imunologia Clnica
4 4
Revista Portuguesa de Sade
Pblica
Escola Nacional de Sade Pblica 6 2
Revista de Enfermagem Referncia
Escola Superior de Enfermagem de
Coimbra - Unidade de Investigao
em Cincias da Sade - Enfermagem
9 2
Totais 133 44
14

Feito o levantamento verificou-se, nas Instrues aos autores, quais destas revistas incluam
indicaes diretas ou indiretas a respeito do tipo de resumo recomendado, contabilizando-se este
nmero. Alm disso, verificou-se se os artigos publicados possuam ou no resumo estruturado e,
em caso positivo, se esta estrutura coincidia com o que preconizavam as instrues aos autores,
contabilizando-se igualmente este nmero.

2 O percurso do resumo como recurso na divulgao da produo cientfica

O resumo encontra as suas origens vinculadas ao sculo XVII com o aparecimento daquela
que considerada a primeira revista cientfica, a Philosophical Transations of the Royal Society
(Phil Trans)
15
. No sculo XX, o seu formato evoluiu rapidamente em funo da multiplicao da
literatura cientfica que aumentou a procura por este tipo de documento de carter seletivo e de
consumo rpido. Com efeito, o aumento exponencial do nmero de artigos publicados anualmente
16
est na raiz do aumento do seu consumo e da criao de centros especializados na sua elaborao e
difuso:

There were about 28,100 active scholarly peer-reviewed journals in
mid 2012, collectively publishing about 1.81.9 million articles a year. The

13
Dada a falta de uniformidade na categorizao, aspeto comum a vrias das revistas, optou-se por consultar apenas os
textos includos nas seces com as referidas designaes ou designaes equivalentes (e.g. seces de relatos de casos e de
artigos tericos).
14
Fonte: SciELO Portugal.
15
Sobre o Philosophical Transations e o papel da revista cientfica veja, por exemplo, o primeiro captulo da obra de (Gudon,
2001) .
16
A este propsito, Bernardo A. Houssay (cit. por Briet, 1960, p. 6-7), no discurso inaugural da III Reunio da Comisso
Latino-americana da Federao Internacional da Documentao - FID, em 1962, referiu que a produo cientfica em
Qumica duplicava de oito em oito anos e que o que se produzia em Medicina se duplicava de 10 em 10 anos.

883
number of articles published each year and the number of journals have
both grown steadily for over two centuries, by about 3% and 3.5% per year
respectively. The reason is the equally persistent growth in the number of
researchers, which has also grown at about 3% per year and now stands at
between 6 and 9 million, depending on denition, although only about
20% of these are repeat authors (Ware & Mabe, 2009), p. 5

A proliferao de revistas cientficas tornou a situao insustentvel j por volta de 1830,
altura em que surgem as revistas de resumos, como ilustrado na figura de seguinte de Derek de
Solla Price.

Fig. 1: Grfico de Derek de Solla Price onde se evidencia o crescimento exponencial da literatura em termos de
revistas criadas desde o incio da primeira revista cientfica, o Phil Trans, bem como o aparecimento das
revistas de resumos em 1830 (D. J. deSolla Price, 1962, p. 97)

No data, contudo, do sculo passado a criao dos servios de indexao e de resumos, uma vez que
j nos finais do sculo XIX existiam vrios destes servios em funcionamento: Pharmacopoeia of the
United States (1820), Index Medicus (1879)
17
, Index Notes (1884) e Science Abstracts (1898)
18
. Na sua
generalidade, os servios de resumos eram especializados, destacando-se os orientados para as
cincias puras e aplicadas. A par destas reas, tambm se observou um desenvolvimento das
revistas de resumos nas cincias sociais, todavia muito menos significativo: dos j referidos 1500
servios de resumos existentes em 1965, apenas 200 (cerca de 13%) se dedicavam rea mencionada
(FID, 1965, p. 3). No mbito do Direito, as Shepards Citations datam de 1873 (Lawlor, 2003). A figura
seguinte retrata a distribuio no tempo por diferentes reas do conhecimento e o seu crescimento

17
O Index Medicus tem uma particular relevncia na rea da Medicina. Para mais informao sobre a cronologia do Index
Medicus veja, por exemplo, a informao disponibilizada pela National Library of Medicine
(http://www.nlm.nih.gov/services/indexmedicus.html).
18
As Shephards Citations esto na base da criao das bases de dados do Institute of Scientific Information (ISI) por
Eugene Garfield, atual Thomson Reuters.

884
cumulativo.

Fig. 2: Nmero cumulativo de resumos nos vrios campos cientficos.
19

Aos servios de resumos competia facultar a maior quantidade possvel de informao
original, atualizada e especializada, num formato condensado (i.e., resumido), para que pudesse ser
selecionada de forma pertinente e precisa (ANSI/NISO Z39.14-1997, 1997).
Na atualidade, a contribuio do produto destes servios disponveis na World Wide Web, em
particular nas bases de dados, continua a ser considerada relevante para a disseminao da
produo cientfica (Nicholas, Huntington, & Jamali, 2007) e a questo da importncia do resumo na
disseminao da informao tem sido insistentemente referida (Ad Hoc Working Group, 1987; Huth,
1987; Miech, Nave, & Mosteller, 2005).
Nas Cincias da Sade, as revistas clnicas no incluam os resumos at ao final dos anos 60 do
sculo XX (Ad Hoc Working Group, 1987). Nas duas dcadas seguintes foram sendo apontadas vrias
deficincias aos resumos tradicionais, as quais resultaram na proposta de um novo modelo, o
resumo estruturado (Dijkers, 2003).
Os autores e os leitores de artigos originais, mas no s
20
, tendem a preferir os resumos
estruturados
21
em funo de (i) proporcionarem a abertura e a clara subdiviso do texto, ajudando o
leitor a identificar rapidamente a sua estrutura
22
; (ii) apresentarem a informao de forma
ordenada, num conjunto pr-estabelecido de subcabealhos
23
, facilitando a busca e a recuperao

19
Fonte: (D. J. D. S. Price, 1963, p. 10)
20
Hartley (2004, p. 368) recomenda expressamente a sua utilizao tambm nos artigos de reviso.
21
Informao corroborada pelos estudos de (Hartley & Benjamin, 1998) e de Haynes (1993) citado por Hartley (2000, p.
335). A superioridade do resumo estruturado sobre o tradicional sublinhado em vrios trabalhos (Hartley, 1999), mas
os diferentes aspetos em que foi analisado na literatura e respetivos autores foram, entre outros, sumariados por Hartley
(2004).
22
Sobre a clareza dos resumos, as trs reas de maior importncia que tm sido alvo de investigao so a linguagem ou
legibilidade, a sequncia da informao ou estrutura e a tipografia ou apresentao (Hartley, 2000, p. 332). Sobre a questo
da tipografia ou apresentao veja tambm Hartley, & Sydes (1996).
23
Em praticamente todos os artigos em ingls usado, de uma forma consistente, o termo subcabealho, pelo que foi
tambm adotado ao longo deste artigo.

885
de informao
24
e (iii) recorrerem a uma escrita estruturada, disciplinando o autor e evitando a
omisso de informao relevante (Hartley, 2000, p. 335). Assim, pelas suas caratersticas, os resumos
estruturados respondem a trs tipos de problemas: servem melhor ao leitor, facilitam o processo de
arbitragem e promovem a recuperao da informao (Guimares, 2006)
25
.
Nos resumos estruturados, o nmero e a nomenclatura dos subcabealhos recomendados,
bem como os contedos esperados, variam quer segundo a indicao das instituies/associaes
que os preconizam, quer atendendo aos fins a que se destinam.

3 Nomenclaturas e contedos esperados de um resumo estruturado

Em abril de 1987, o Ad Hoc Working Group for Critical Appraisal of the Medical Literature
publicou uma proposta para a elaborao de resumos mais informativos, isto , estruturados, que
permitissem uma leitura rpida do documento e consequentemente avaliao do seu interesse. Este
documento destinava-se a servir de orientao submisso de artigos originais e continha os sete
subcabealhos que constam da Fig. 3
26
.

1. OBJECTIVE: the exact question(s) addressed by the article.
2. DESIGN: the basic design of the study.
3. SETTINg: the location and level of clinical care.
4. PATIENTS OR PARTICIPANTS: the manner of selection and numbers of patients or participants
who entered and completed the study.
5. INTERVENTIONS: the exact treatment or interventions, if any.
6. MEASUREMENTS AND RESULTS: the methods of assessing patients and key results.
7. CONCLUSIONS: key conclusions including direct clinical applications.

Fig. 3: Informao necessria construo de um resumo estruturado para um artigo original segundo o Ad
Hoc Working Group for Critical Appraisal of the Medical Literature (1987, p. 599).

Em 1990, Haynes et al. propem uma alterao que se aplica a artigos originais e a artigos de
reviso sublinhando a sua importncia na preparao do manuscrito. Tal estruturao deve ser
prvia ao processo de arbitragem que sai, deste modo, facilitado por esta estrutura.

24
Apesar de serem necessrios mais estudos nesta matria. Entre eles, veja, por exemplo, (Wilczynski, Walker, McKibbon,
& Haynes, 1995).
25
Quanto a este ltimo aspeto, o aumento do nmero de termos de indexao torna a recuperao mais eficiente a partir
de bases de dados (Lodge, 1998). O facto de as bases de dados disponibilizarem os resumos e de os termos de indexao se
basearem apenas neles (Winker, 1999) torna a sua preciso ainda mais necessria, mesmo em face da crescente
disponibilidade de pesquisa em texto integral (Dijkers, 2003).
26
Ainda hoje, e especialmente no mbito do caso estudado, verificam-se diferentes instrues quanto ao emprego dos
subcabealhos, atendendo aos diferentes tipos de artigos cientficos (Cf. tabela 3).

886
ORIGINAL ARTICLES
1. OBJECTIVE: the exact question(s) addressed by the article.
2. DESIGN: the basic design of the study.
3. SETTING: the location and level of clinical care.
4. PATIENTS OR PARTICIPANTS: the manner of selection and numbers of patients or
participants who entered and completed the study.
5. INTERVENTIONS: the exact treatment or interventions, if any.
6. MAIN OUTCOME MEASURES: the primary study outcome measure as planned before
data collection
7. RESULTS: the key findings.
8. CONCLUSIONS: key conclusions including direct clinical applications.

REVIEW ARTICLES
1. PURPOSE: the primary objective of the review article.
2. DATA SOURCES: a succinct summary of data sources.
3. STUDY SELECTION: the number of studies selected for review and how they were
selected.
4. DATA EXTRACTION: rules for abstracting data and how they were applied.
5. RESULTS OF DATA SYNTHESIS: the methods of data synthesis and key results.
6. CONCLUSIONS: key conclusions including potencial applications and research needs.

Fig. 4: Informao necessria construo de um resumo estruturado para artigos originais e de reviso
por proposta de Haynes et al., 1990, p. 70.

A revista Annals of Internal Medicine foi a primeira a concretizar esta proposta nesse mesmo
ano
27
. Em 1996, contudo, considerando insuficientes os subcabealhos existentes recomendou a
adio do subcabealho Background, e, em 2004, introduziu um novo tipo de resumo estruturado,
o resumo estruturado crtico. A preocupao pela preciso do resumo resultou, assim, na introduo
de mais um subcabealho Limitations, imediatamente antes das concluses (Guimares, 2006)
(Addressing the Limitations of Structured Abstracts, 2004) (Cf. Fig. 5)

Fig. 5: Informao necessria construo de um resumo estruturado crtico

27
Esta revista tem sido pioneira na adoo de um guio especializado aos autores. Veja o vasto conjunto de instrues aos
autores desta revista na pgina disponvel na WWW em: http://www.acponline.org/journals/annals/authors/#formats.
1. BACKGROUND
2. OBJECTIVE
3. DESIGN
4. SETTING
5. PATIENTS
6. INTERVENTIONS
7. MEASUREMENTS
8. RESULTS
9. LIMITATIONS
10. CONCLUSIONS

887
A norma americana ANSI/NISO Z39.14-1997 (1997) preconiza a nomenclatura e respetivos
contedos esperados de um resumo desta natureza, apontando os sete subcabealhos que constam
da figura seguinte.

1. OBJECTIVE: To determine the correlation among obstacles to medical care, lack of a regular
source of care, and delays in seeking care.
2. DESIGN: Cross-sectional survey of patients pre-senting for ambulatory care during a 7-day period.
Multiple logistic regression models were used to identify obstacles independently associated with
outcome variables.
3. SETTING: Urban public hospital.
4. PATIENTS: A total of 3897 disadvantaged and predominantly minority patients.
5. MEASURES: Lack of a regular source of medical care and delay in seeking medical care for a new
problem.
6. RESULTS: The majority (61.6%) of patients reported no regular source of care. Of 2341 patients
reporting a new medical problem, 48.4% waited more than 2 days before seeking medical care. No
health insurance (adjusted odds ratio [OR], 2.2; 95% confidence interval [CI], 1.89 to 2.61), no
transportation (OR, 1.44; 95% CI, 1.23 to 1.70), exposure to violence (OR, 1.21; 95% CI, 1.08 to 1.45),
and living in a supervised setting (OR, 1.50; 95% CI, 1 .OO to 2.25) were independent predictors of
lack of a regular source of care. No insurance (OR, 1.24; 95% CI, 1.02 to 1.51), no transportation (OR,
1.45; 95% CI, 1.19 to 1.77), and less than a high school education (OR, 1.22; 95% CI, 1.08 to 1.49) were
independent predictors of delaying care for a new medical problem.
7. CONCLUSIONS: Obstacles in addition to lack of insurance impede provision of medical care to
disadvantaged patients. The adoption of universal health care coverage alone will not guarantee
access to appropriate medical care.
Fig. 6: Exemplo de um resumo estruturado para um artigo original segundo a norma ANSI/NISO Z39.14-1997
(1997)

A Medical Library Association prope uma verso simplificada dos subcabealhos
recomendados pela National Library of Medicine (NLM) (Cf. fig. 7), deixando cair o subcabealho
Background para ficar com quatro elementos: Objetivos, Mtodos, Resultados e Concluses
(Bayley, & Eldredge, 2003). Este modelo, conhecido pela sigla OMRC, torna-se de facto assimilvel e
utilizvel pela maioria dos autores, uma vez que se aproxima da estrutura que apresenta o texto
original (Salager Meyer, 1991, p. 528-531). Na figura seguinte podem ver-se as duas modalidades de
apresentao do resumo estruturado proposto pela NLM que divergem apenas na adio ou
supresso de entrelinha em branco.

1. BACKGROUND:Elevated plasma concentrations of total homocysteine (tHcy) and obesity are risk
factors for cardiovascular disease. The relationship between hyperhomocysteinemia and obesity
has not been totally elucidated.
2. OBJECTIVE: The first aim of the study was to investigate whether anthropometric measurements
and insulin resistance contribute to the variation in homocysteine levels in obese adults. Our
second aim was to determine if any relationship exists between the carotid intima-media
thickness (IMT) and plasma tHcy levels in obese subjects without traditional cardiovascular risk
factors.
3. MATERIAL AND METHODS: Fifty-five obese (15 male, 40 female) and 30 (11 male, 19 female) age-
and sex-matched apparently healthy volunteers were included. Exclusion criteria were smoking,
hypertension, diabetes, vitamin ingestion, hyperlipidemia, renal failure, liver disease, pregnancy,
menopause and secondary obesity such as Cushing's syndrome, hypothyroidism. tHcy, folate,
vitamin B12 levels, fasting insulin, glucose, total cholesterol, triglycerides, HDL, LDL particles, uric
acid, creatinine and creatinine clearance were measured. Non-invasive ultrasound measurements
of carotid IMT were performed.
4. RESULTS: tHcy levels and carotid IMT were comparable between obese and non-obese subjects.
Waist/hip ratio (WHR) was related to tHcy and carotid IMT. Hyperhomocysteinemic subjects

888
(tHcy >19.2 micromol/l) had greater WHR than normo-homocysteinemic subjects. Both tHcy
levels and carotid IMT were higher in male subjects both in obese and non-obese subjects. No
association was observed between insulin resistance and tHcy and carotid IMT. Renal function and
abdominal obesity were significant predictors of plasma tHcy levels.
5. CONCLUSIONS: We concluded that, in obese subjects who are free from atherosclerosis and
impaired renal function, plasma tHcy levels do not differ from healthy subjects. Plasma tHcy
concentrations are not related to carotid IMT in obese subjects during the non-atherogenic stage.
Although no significant difference was observed between insulin-resistant and insulin-sensitive
subjects compared to the plasma tHcy levels, the relationship between tHcy levels and some
components of the insulin resistance syndrome may support the opinion that tHcy may be
considered a component of the insulin resistance syndrome.
.

1. BACKGROUND: Elevated plasma concentrations of total homocysteine (tHcy) and obesity are risk
factors for cardiovascular disease. The relationship between hyperhomocysteinemia and obesity
has not been totally elucidated.

2. OBJECTIVE: The first aim of the study was to investigate whether anthropometric measurements
and insulin resistance contribute to the variation in homocysteine levels in obese adults. Our
second aim was to determine if any relationship exists between the carotid intima-media
thickness (IMT) and plasma tHcy levels in obese subjects without traditional cardiovascular risk
factors.

3. MATERIAL AND METHODS: Fifty-five obese (15 male, 40 female) and 30 (11 male, 19 female) age-
and sex-matched apparently healthy volunteers were included. Exclusion criteria were smoking,
hypertension, diabetes, vitamin ingestion, hyperlipidemia, renal failure, liver disease, pregnancy,
menopause and secondary obesity such as Cushing's syndrome, hypothyroidism. tHcy, folate,
vitamin B12 levels, fasting insulin, glucose, total cholesterol, triglycerides, HDL, LDL particles, uric
acid, creatinine and creatinine clearance were measured. Non-invasive ultrasound measurements
of carotid IMT were performed.

4. RESULTS: tHcy levels and carotid IMT were comparable between obese and non-obese subjects.
Waist/hip ratio (WHR) was related to tHcy and carotid IMT. Hyperhomocysteinemic subjects
(tHcy >19.2 micromol/l) had greater WHR than normo-homocysteinemic subjects. Both tHcy
levels and carotid IMT were higher in male subjects both in obese and non-obese subjects. No
association was observed between insulin resistance and tHcy and carotid IMT. Renal function and
abdominal obesity were significant predictors of plasma tHcy levels.

5. CONCLUSIONS: We concluded that, in obese subjects who are free from atherosclerosis and
impaired renal function, plasma tHcy levels do not differ from healthy subjects. Plasma tHcy
concentrations are not related to carotid IMT in obese subjects during the non-atherogenic stage.
Although no significant difference was observed between insulin-resistant and insulin-sensitive
subjects compared to the plasma tHcy levels, the relationship between tHcy levels and some
components of the insulin resistance syndrome may support the opinion that tHcy may be
considered a component of the insulin resistance syndrome.
Fig. 7: Exemplo de apresentao de um resumo estruturado, sem e com introduo de entrelinha em branco,
segundo a Medline da National Library of Medicine, atualizado a 31 de agosto de 2012 (Fonte: Disponvel na
WWW: http://structuredabstracts.nlm.nih.gov/Implementation.shtml#MachineRules).
Uma variao deste modelo proposto pela NLM um formato muito difundido, tambm
conhecido por IMRAD, tornado norma em 1972 com a publicao da ANSI Z39.16-1972, para a
preparao e apresentao de trabalhos cientficos. O formato IMRAD composto pelos
subcabealhos: Introduo, Metodologia, Resultados e Discusso. o formato mais amplamente
utilizado nas reas cientficas e recomendado nos Uniform Requirements for Manuscripts Submitted
to Biomedical Journals (UR) do International Committee of Medical Journal Editors (ICMJE). Desde

889
meados da dcada de 80 do sculo passado que o ICMJE produz documentao relevante nesta
matria. Os URM so, pois, um conjunto de princpios produzidos por este comit para orientar a
preparao de manuscritos de um grande nmero de revistas muito influentes na rea da
biomedicina. So tambm referncia, para alm do ICMJE, a World Association of Medical Editors, o
Council of Science Editors e a European Association of Science Editors.
28

Na tabela 2 renem-se os diferentes modelos explicitados, com os subcabealhos e as
respetivas nomenclaturas propostas pelos documentos referidos, incluindo a revista que de um
modo consistente tem avanado nesta matria, a Annals of Internal Medicine.

Tabela 2: Resumos estruturados na rea da Sade: subcabealhos recomendados
AIM AHWG ANSI/NISO NLM/Medline ICMJE MLA
Background Background -
Backgroun
d
Intro
duction
-
Objective Objective Objective Objective
Object
ive
Design Design Design
Materials
and methods
Meth
ods
Metho
ds
Setting Setting Setting - - -
Patients or
Participants
Patients or
Participants
Patients - - -
Interventions Interventions - - - -
Measurements
Measurements and
Results
Measures - - -
Results Results Results
Resul
ts
Result
s
Limitat
ions
Limitations - - - -
Conclusions Conclusions Conclusions Conclusions Discussion Conclusions
=10 =9 =7 =5 =5 =4
Legenda:
AIM. Annals of Internal Medicine
AHWG. Ad Hoc Working Group on Critical Appraisal of Medical Literature
ANSI/NISO. Norma Americana Z39.14 1987
NLM/Medline. Biblioteca Nacional de Medicina dos EUA/Medline
ICMJE. International Committee of Medical Journal Editors
MLA. Medical Library Association

Desta anlise conclui-se que a estrutura fundamental se mantm em todos os subcabealhos
recomendados, ainda que com algumas alteraes, e que, em todos os casos, a opo pelo formato
estruturado, mais simplificado ou mais complexo, se tornou norma.

4 O resumo estruturado na rea da Sade: o caso dos ttulos correntes da SciELO
Portugal

A observao da seco "Instrues aos autores" revela que os dez ttulos da rea da Sade
presentes na SciELO
29
Portugal definem os tipos de artigos que publicam, sendo mais citados os

28
Para mais informao veja na WWW: http://www.ICMJE.org.
29
Nos critrios de avaliao dos ttulos a figurar na coleo da SciElo Portugal, verifica-se a indicao de que os artigos
devem incluir resumo no idioma do texto e em dois outros idiomas, o ingls e o portugus, quando estes no forem o
idioma do texto original, no havendo nenhuma referncia especfica quanto tipologia do resumo a adotar pelos autores
e pelas revistas. Para mais informao veja na WWW: http://www.scielo.gpeari.mctes.pt/avaliacao/avaliacao_pt.htm.

890
artigos originais e os de reviso, com respetivamente 10 (100%) e oito (80%) menes diretas, face
aos casos clnicos ou relatos de casos, citados por seis (60%) ttulos. Ainda, h a realar que quatro
(40%) ttulos (Angiologia e Cirurgia Vascular, Nascer & Crescer, Revista Portuguesa de Clnica Geral e Revista
Portuguesa de Imunoalergologia), dirigidos especialmente classe mdica, declaram publicar em
simultneo os trs tipos de artigos mencionados. Nas restantes (60%) revistas (Jornal Portugus de
Gastrenterologia; Motricidade; Portuguese Journal of Nephrology & Hypertension; Psicologia, Sade & Doenas;
Revista Portuguesa de Sade Pblica; Revista de Enfermagem Referncia) observa-se alguma variao,
destacando-se as menes publicao de short papers (30%) e de artigos de opinio (20%).
Consequentemente verifica-se que todos os ttulos analisados informam a respeito dos tipos de
artigo que publicam, sendo mais frequentemente mencionados os artigos originais (100%) e os de
reviso (80%), e no os casos clnicos (60%) ou outros tipos de textos cientficos (Cf. tabela 3).
As revistas tambm referem os tipos de resumos que adotam e as recomendaes a seguir na
sua elaborao. Assim, apurou-se que nove ttulos (90%) apontam, de modo explcito ou implcito, o
modelo estruturado (Angiologia e Cirurgia Vascular, Jornal Portugus de Gastrenterologia, Nascer & Crescer,
Portuguese Journal of Nephrology & Hypertension, Psicologia, Sade & Doenas, Revista Portuguesa de Sade
Pblica, Revista de Enfermagem Referncia, Revista Portuguesa de Clnica Geral, Revista Portuguesa de
Imunoalergologia)
30
, excluindo-se deste grupo apenas a revista Motricidade (10%), por no fazer
qualquer referncia desta natureza. Apurou-se, ainda, que destas nove revistas, apenas cinco
(55,55%) propem explicitamente os subcabealhos a incluir e a sua sequncia (Jornal Portugus de
Gastrenterologia; Nascer e Crescer, Revista de Enfermagem Referncia, Revista Portuguesa de Clnica Geral,
Revista Portuguesa de Imunoalergologia), verificando-se alguma semelhana entre a estrutura proposta
e os modelos OMRC/IMRAD
31
, especialmente no que respeita aos artigos originais. Nos artigos de
reviso e nos casos clnicos ou relatos de casos notam-se, em alguns casos, ligeiras diferenas
relativamente a esta mesma estrutura (Nascer & Crescer, Revista Portuguesa de Clnica Geral e Revista
Portuguesa de Imunoalergologia)
32
. Portanto, confirma-se que a maioria (90%) esmagadora dos ttulos
analisados apresenta, nas "Instrues aos autores", indicaes explcitas ou implcitas sobre os tipos
de resumos adotados nas trs principais categorias de artigos a publicar. A designao e a ordem dos
subcabealhos a incluir so tambm declaradas em pouco mais de metade destes mesmos casos
(55%), notando-se alguma semelhana com a estrutura OMRC/IMRAD, sobretudo no que toca aos
artigos originais (Cf. tabela 3).
Ao confrontar as informaes referentes aos tipos de textos publicados com as instrues a respeito
das formas de apresentao dos resumos, sobressaem duas situaes: (i) a necessidade explcita de

30
1. Angiol. Cir. Vasc.: "Os artigos devem incluir um resumo estruturado de cerca de duzentas e cinquenta palavras".
[sublinhado nosso] 2. J. Port. Gastrenterol.: "O Resumo () [d]eve ser organizado respeitando a sequncia: introduo,
objectivos, mtodos, resultados e concluses" [sublinhado nosso]. 3. Nascer e Crescer: "O resumo () [n]o que respeita aos
artigos originais dever () ser elaborado segundo o seguinte formato: Introduo, Objectivos, Material e Mtodos,
Resultados e Concluses. Os artigos de reviso devem ser estruturados da seguinte forma: Introduo, Objectivos,
Desenvolvimento e Concluses. Relativamente aos casos clnicos () devem ser estruturados em Introduo, Caso Clnico e
Discusso/Concluses" [sublinhados nossos]. 4. Port. J. Nephrol. Hypert.: "Os manuscritos devem ser preparados em
conformidade com os Requisitos Uniformes para Manuscritos Submetidos a Revistas Biomdicas, produzidos pelo ICMJE
(International Committee of Medical Journal Editors) ()". 5. Psic., Sade & Doenas: "A nossa revista segue os
procedimentos definidos nos 'Uniform Requirements for Manuscripts Submitted to Biomedical Journals'". 6. Rev. Port.
Clin. Geral: "O Resumo () [] obrigatoriamente estruturado, dividido nos seguintes subttulos: Objectivos, Tipo de
estudo, Local, Populao, Mtodos, Resultados e Concluses." [sublinhado nosso]. 7. Rev. Port. Imunoalergologia: " Nos
artigos de reviso o resumo deve apontar os principais pontos de reviso/discusso, com ou sem uma breve introduo.
Nos casos clnicos, o resumo deve ser estruturado em introduo, descrio do caso e discusso/concluses. Nos artigos
originais deve ser estruturado da seguinte forma: fundamentos, objectivos, mtodos, resultados, concluses" [sublinhados
nossos]. 8. Rev. Port. Sau. Pub: "O formato dos resumos deve ser estruturado ou narrativo, conforme se trate de um artigo
original (at 300 palavras) ou de um artigo de outra tipologia (at 150 palavras)" [sublinhado nosso]. 9. Rev. Enf. Ref.: "O
resumo do trabalho () deve incluir a descrio do contexto, objectivos, mtodo, resultados e concluses" [sublinhado
nosso].
31
Esse formato, como j foi referido neste texto (cf. tabela 2), coincide, regra geral, com a estrutura dos contedos
apresentados no documento original.
32
Existem situaes, como na revista Angiologia e Cirurgia Vascular, em que o subcabealho Objetivos substitudo por
Introduo, podendo os objetivos ser ou no referidos. H tambm casos em que estes dois subcabealhos ocorrem em
simultneo (cf. tabela 3).

891
apresentao de resumos estruturados nos artigos originais e de resumos livres nos artigos de
reviso, verificada em dois ttulos (22,22%) (Revista Portuguesa de Sade Pblica e Revista
Portuguesa de Imunoalergologia); (ii) o pedido implcito ou explcito de apresentao de resumos
estruturados, independentemente do tipo de textos publicados, observada nos demais sete ttulos
(77,77%) (Angiologia e Cirurgia Vascular, Jornal Portugus de Gastrenterologia, Nascer & Crescer,
Portuguese Journal of Nephrology & Hypertension, Psicologia, Sade & Doenas, Revista de
Enfermagem Referncia, Revista Portuguesa de Clnica Geral). Logo, nota-se que no conjunto das
nove revistas que referem a necessidade de apresentao do resumo estruturado, h uma maioria
razovel (77,77%) que prope a sua aplicao nos diferentes tipos de textos publicados, sendo
minoritrios (22,22%) os casos em que esta situao no prevalece (tabela 3).

Tabela 3: Informaes sobre resumos e artigos nos ttulos correntes da SciELO Portugal da rea da
Sade
Ttulo Tipos de textos publicados Formas de apresentao do resumo
Angiol. Cir. Vasc.
Originais, reviso, casos
clnicos
Estruturado
J. Port. Gastrenterol. Originais, casos clnicos
Ambos: Introduo, objetivos, mtodos,
resultados, concluses.
Motricidade
Originais, reviso, opinio,
breves
-
Nascer e Crescer

Originais, reviso, opinio,
casos clnicos
Originais: introduo, objetivos, material e
mtodos, resultados, concluses.
Reviso: introduo, objetivos,
desenvolvimento, concluses.
Casos clnicos: introduo, caso clnico,
discusso/concluses.
Port. J. Nephrol. Hypert.

Originais, breves, casos
clnicos
Refere seguir o que preconiza o ICMJE para
a publicao de manuscritos
1
Psic., Sade & Doenas

Originais, breves, reviso,
tericos
Refere seguir o que preconiza o ICMJE para
a publicao de manuscritos
1
Rev. Enf. Ref. Originais, reviso
Ambos: contexto, objetivos, mtodos,
Rev. Port. Clin. Geral

Originais, relatos de casos,
revises
Originais: objetivos, tipo, local, populao,
mtodos, resultados, concluses.
Relatos de casos: introduo, descrio do
caso, comentrios.
Reviso: objetivos, fontes, mtodos,
resultados e concluses.
Rev. Port.
Imunoalergologia
Originais, reviso, casos
clnicos
Originais: fundamentos, objetivos, mtodos,
Casos clnicos: introduo, descrio do
caso, discusso/concluses.
Reviso: livre.
Rev. Port. Sau. Pub. Originais, reviso
Originais: estruturado.
Reviso: livre.

Nota:
1
O ICMJE recomenda o uso de resumos estruturados, quer para os artigos originais, quer para os artigos
de reviso
33

33
Fonte: disponvel na WWW: http://www.icmje.org/manuscript_1prepare.html

892
A observao dos nmeros referentes ao ltimo ano de publicao d indicaes sobre
aspetos relevantes da aplicao do resumo estruturado. A observao do primeiro ano funciona
como um contraponto entre a situao passada e a presente, como j foi referido.
No ltimo ano analisado, de todos os ttulos observados apenas a revista Psicologia, Sade &
Doenas (10%) no apresenta artigos cientficos com resumos estruturados. No extremo oposto est a
Revista Portuguesa de Clnica Geral (10%), que apresenta resumos estruturados na totalidade dos
artigos analisados, seguindo-se a esta o Jornal Portugus de Gastrenterologia (10%), que os apresenta na
quase totalidade dos artigos publicados (91,66%). Numa situao intermdia encontram-se quatro
(40%) revistas (Revista Portuguesa de Imunoalergologia, Revista Portuguesa de Sade Pblica, Nascer &
Crescer e Angiologia e Cirurgia Vascular), que apresentam resumos estruturados (50 a 75% dos artigos
publicados). Contrariamente, em trs (30%) outras revistas (Portuguese Journal of Nephrology &
Hypertension, Revista Enfermagem Referncia e Motricidade), este tipo de resumo frequente em menos
de 50% dos artigos verificados.
Ao confrontar estes resultados com os obtidos no primeiro ano analisado, observa-se que,
excetuando-se quatro (40%) ttulos (Revista Portuguesa de Clnica Geral, Revista Portuguesa de
Imunoalergologia, Portuguese Journal of Nephrology & Hypertension e Psicologia, Sade & Doenas), e por
razes diferentes
34
, as seis (60%) revistas restantes apresentaram resumos estruturados. Portanto,
regista-se que no ltimo ano analisado a maioria (60%) dos ttulos observados apresenta, em metade
ou mais dos seus artigos cientficos, resumos estruturados. No primeiro ano analisado, a maioria
(60%) destas revistas j os apresentava, em diferentes nveis de expresso (tabela 4).
Em todos estes ttulos, importa confirmar se a informao oferecida nas "Instrues aos
autores" coincide com a prtica efetiva, analisando-se os nmeros atuais, contabilizando-se e
qualificando-se esta coincidncia
35
(cf. tabela 3 e tabela 4). Deste modo, na Psicologia, Sade & Doenas
(11,11%) verifica-se no haver coincidncia entre o discurso e a prtica. Apesar de determinar nas
instrues que o modelo seguido o preconizado pelo ICMJE, esta revista no apresenta no
conjunto dos nmeros atuais observados nenhum caso de resumo estruturado. Na Revista
Enfermagem Referncia e na Portuguese Journal of Nephrology & Hypertension (22,22%) esta coincidncia
pouco expressiva. Nos dois casos, as instrues so para que os resumos obedeam a uma
determinada estrutura, que s seguida em menos da metade dos artigos observados (36,84% e
42,85%, respetivamente). Na Angiologia e Cirurgia Vascular, na Nascer e Crescer, na Revista Portuguesa de
Sade Pblica e na Revista Portuguesa de Imunoalergologia (44,44%) esta coincidncia algo expressiva.
As instrues apontam para o formato estruturado que , de facto, seguido em metade ou mais dos
artigos atuais observados (50%; 66,66%; 70%; 75%, respetivamente). No Jornal Portugus de
Gastrenterologia (11,11%) esta coincidncia muito expressiva. Nas suas instrues recomendam, e
efetivamente apresentam, na quase totalidade dos casos atuais observados (91,66%), resumos
estruturados. Por fim, na Revista Portuguesa de Clnica Geral (11,11%) tem-se um caso nico em que o
discurso coincide completamente com a prtica. Nas suas instrues so recomendados, e
efetivamente publicados, em todos os artigos atuais observados, resumos na forma estruturada.
Apesar de, na sua quase totalidade (90%), os ttulos analisados terem recomendado o resumo
estruturado para a submisso de manuscritos, no que respeita sua real aplicao considera-se que
uma boa parte destes mesmos ttulos (77,77%), individualmente, no ultrapassa os limites de pouca
ou alguma expressividade. Ainda, dos ttulos analisados no perodo de referncia, apenas uma
franca minoria (22,22%) atinge na prtica o que seria, segundo o discurso, a situao expetvel.
Observa-se, assim, no ltimo ano e numa boa parte (77,77%) dos ttulos analisados, algum desvio
entre as regras propostas e a prtica seguida. Esta situao no diverge muito dos casos observados
no primeiro ano analisado (Cf. tabela 3 e tabela 4).
Do conjunto das revistas analisadas emergem entretanto duas situaes particulares: (i) a
revista Motricidade que, apesar de no incluir nas suas instrues atuais as informaes sobre o
formato dos seus resumos, apresenta no nmero atual um caso (11,11%) isolado de resumo

34
Os dados obtidos nas trs primeiras revistas mencionadas referem-se apenas ao ltimo ano. A quarta revista no
apresentou resumos estruturados neste perodo.
35
Desta anlise exclui-se a revista Motricidade, por no apresentar as referidas informaes.

893
estruturado e, em nmeros anteriores, outros trs (10,71%); (ii) a Revista Portuguesa de
Imunoalergologia e a Revista Portuguesa de Sade Pblica, que nas suas instrues admitem resumos de
artigos de reviso no formato livre, situao que se reflete de um modo mais ou menos consistente
nos nmeros que sinalizam a sua prtica atual (Cf. tabela 3 e tabela 4).
Os tipos de artigos efetivamente publicados nos nmeros do ltimo ano suscitam igualmente
alguns comentrios. Assim, verifica-se ser indiscutivelmente maior o nmero global de artigos
originais (75,69%) publicados nos fascculos atuais, em relao ao nmero de artigos de reviso
(24,3%). Trata-se de uma prtica que coincide em boa medida com o discurso. Nas atuais "Instrues
aos autores" estas revistas expressam com maior frequncia a publicao de artigos originais (100%)
do que o fazem em relao aos artigos de reviso (80%) (Cf. tabela 3 e tabela 4). tambm
visivelmente maior o nmero global de resumos estruturados nos artigos originais (86,95%) do que
nos artigos de reviso (13,04%), pese embora o facto assinalvel de que metade das revistas
analisadas (Angiologia e Cirurgia Vascular, Nascer e Crescer, Psicologia, Sade & Doenas, Revista
Enfermagem Referncia e Revista Portuguesa de Clnica Geral) recomenda, nas suas instrues, o uso do
resumo estruturado tambm nos casos de publicao de artigos de reviso. Novamente a assinalar,
neste contexto, dois exemplos tipicamente opostos de cumprimento e de incumprimento das
expetativas, dados respetivamente pela Revista Portuguesa de Clnica Geral e pela revista Psicologia,
Sade & Doenas (Cf. tabela 3 e tabela 4). No ltimo ano analisado indiscutivelmente maior o
nmero global de textos completos e de resumos estruturados includos na categoria dos artigos
originais do que na que corresponde aos artigos de reviso, prtica que condiz parcialmente com o
discurso manifesto nas instrues aos autores. O contraste entre o ltimo e o primeiro ano
analisado, tendo em conta os casos observveis em ambos os perodos, apresenta alguma
semelhana na generalidade dos resultados (Cf. tabela 4).
Os dados referentes ao nmero global de resumos estruturados presentes nos fascculos
referentes ao ltimo ano disponvel revelam-se de razovel expresso (47,91%). Quando se compara
a prtica atual com a prtica passada, contabilizando-se os dados observveis em ambos os anos
analisados, verifica-se uma discreta tendncia (de 27,27% para 34,37%) de elevao do nmero
global de resumos estruturados nos artigos cientficos (Cf. tabela 4).

894
Tabela 4: Ttulos e nmeros analisados na SciELO Portugal da rea da Sade: artigos
cientficos
Ttulos
Anos e
nmeros
analisados
Primeiro ano analisado ltimo ano analisado
Artigos
cientficos
Com resumo
estruturado
Artigos
cientficos
Com resumo
estruturado
O
1
R
2
n O R n
%
O R n O R n
%
Rev. Port.
Clin. Geral
3
2011, v. 27, n. 1-
5
- - - - - -
13 5 18 13 5 18
100
J. Port.
Gastrenterol
.
2006, v. 13, n. 1-
6
2012, v. 19, n. 1-
5
13 1 14 10 0 10
71,42
10 2 12 10 1 11
91,66
Rev. Port.
Imuno
alergologia
2012, v. 20, n. 1-
4
- - - - - -
14 2 16 12 0 12
75
Rev. Port.
Sau. Pub.
2009, v. 27, n. 2
2012, v. 30, n. 1
6 1 7 2 0 2
28,57
8 2 10 6 1 7
70
Nascer e
Crescer
2010, v. 19, n. 3-
4
2012, v. 21, n. 1-
2
2 1 3 2 0 2
66,66
4 2 6 4 0 4
66,66
Angiol. Cir.
Vasc.
2010, v. 6, n. 4
2012, v. 8, n. 1-3
2 1 3 2 0 2
66,66
3 3 6 3 0 3
50
Port. J.
Nephrol.
Hypert.
2012, v. 26, n. 1-
4
- - - - - -
7 7 14 6 0 6
42,85
Rev. Enf.
Ref.
2010, s. III, n. 1-
2
2013, s. III, n. 9
23 8 31 7 1 8
25,8
15 4 19 5 2 7
36,84
Motricidade
2007, v. 3, n. 1-4
2013, v. 9, n. 1
24 4 28 3 0 3
10,71
7 2 9 1 0 1
11,11
Psic., Sade
& Doenas
2000, v. 1, n. 1
2012, v. 13, n. 1-
2
11 2 13 0 0 0
0
28 6 34 0 0 0
0
81 18 99 26 1 27 109 35 144 60 9 69
Com resumo estruturado
%
27,27 47,91

Categorias analisadas
99
Artigos
cientficos
27
Com resumo
estruturado
144
Artigos
cientficos
69
Com
resumo
estruturado
Tipos de artigos O R O R O R O R
% 81,81 18,18 96,29 3,7 75,69 24,3
8
6,95
13,04

Notas:
1
O=Artigos originais ou de investigao;
2
R=Artigos tericos ou de reviso.
36

Do conjunto em avaliao, quatro (40%) ttulos (Motricidade; Psicologia, Sade & Doenas; Revista
Portuguesa de Sade Pblica; Revista Enfermagem Referncia) no publicam casos clnicos ou relatos de
casos no ltimo ano analisado (tabela 5), o que coincide totalmente com as informaes obtidas nas
Instrues aos autores destas revistas (cf. tabela 3). Estes resultados, quando confrontados com os
obtidos no primeiro ano analisado to pouco so significativamente diferentes (tabela 5). Logo, uma
discreta maioria (60%) das revistas observadas apresenta casos clnicos em ambos os anos
analisados, sendo esta uma prtica que, na atualidade, coincide totalmente com o discurso.

36
Fonte: Elaborao prpria.

895
No ltimo ano analisado, dos seis (33,33%) ttulos que apresentam casos clnicos ou relatos de
casos, so a Nascer e Crescer e a Revista Portuguesa de Clnica Geral que apresentam um melhor
desempenho, ao cumprir totalmente com o requisito de publicao de resumos estruturados. Numa
posio intermdia encontra-se a Revista Portuguesa de Imunoalergologia (16,66%) com uma
percentagem razoavelmente expressiva (50%) de casos clnicos com resumos estruturados. Em duas
(33,33%) outras revistas observadas, neste mesmo conjunto e perodo de referncia (Portuguese
Journal of Nephrology & Hypertension; Jornal Portugus de Gastrenterologia), verificam-se percentagens
pouco significativos de casos clnicos com resumos estruturados (9,09%; 5,26%, respetivamente).
Ainda, no ltimo ttulo (16,66%) deste mesmo conjunto, Angiologia e Cirurgia Vascular, no se
verificam resumos estruturados em nenhum dos casos clnicos publicados. Logo, metade dos ttulos
observados, na atualidade, cumpre total ou razoavelmente a apresentao de resumos estruturados
nos casos clnicos publicados. Ao comparar-se estes resultados com os casos observveis no perodo
anterior, notam-se algumas variaes nos desempenhos individuais (tabela 5).
No ltimo ano, as seis revistas que declaram publicar casos clnicos tambm declaram nas
"Instrues aos autores", e de uma forma maioritariamente direta (83,33%)
37
, a obrigatoriedade dos
resumos estruturados. Neste mesmo perodo, verifica-se que a Revista Portuguesa de Clnica Geral e a
Nascer e Crescer (33,33%) cumprem completamente esta determinao, fazendo coincidir o discurso
com a prtica. J a Angiologia e Cirurgia Vascular (16,66%) se destaca pelo incumprimento e pela
ausncia de coincidncia nos aspetos referidos. Em outros ttulos notam-se diferentes situaes: (i)
na Revista Portuguesa de Imunoalergologia (16,66%) a coincidncia e o cumprimento so razoveis,
dado que so apresentados resumos estruturados em metade dos casos clnicos observados; (ii) nos
Portuguese Journal of Nephrology & Hypertension e Jornal Portugus de Gastrenterologia (33,33%) a
coincidncia e o cumprimento so pouco expressivos em funo do nmero de casos clnicos com
resumos estruturados ser de facto pequeno (9,09%; 5,26%, respetivamente) (cf. tabelas 3 e 5).
Portanto, na atualidade, do conjunto de revistas que publicam casos clnicos, em mais da metade
(66,66%) verifica-se a presena de resumos estruturados. Do mesmo modo, em metade destes ttulos
o discurso coincide parcialmente com a prtica. Estes resultados, quando comparados com os dados
observveis no primeiro ano, apresentam alguma alterao, especialmente no que respeita ao
desempenho individual das revistas analisadas (tabela 5).
Os nmeros globais obtidos neste ltimo ano revelam uma percentagem pouco expressiva de
casos clnicos com resumos estruturados (28,84%) (tabela 5). Quando comparados com os nmeros
obtidos no primeiro ano analisado, contabilizando-se os dados observveis em ambos os casos,
verifica-se uma discreta tendncia de elevao, de 20,68% para 26,47%, do nmero global de
resumos estruturados nos casos clnicos e/ou relatos de caso (tabela 5).

37
A nica revista que no declara diretamente Portuguese Journal of Nephrology & Hypertension (cf. tabela 3).

896
Tabela 5: Ttulos e nmeros analisados na SciELO Portugal da rea da Sade: casos clnicos
Ttulos
Anos e nmeros
analisados
Primeiro ano analisado ltimo ano analisado
Casos
clnicos
Com
resumo
estruturad
o
%
Casos
clnicos
Com resumo
estruturado
%
Nascer e Crescer
2010, vol. 19, n 3-
4
2012, vol. 21, n 1-
2
5 4 80 8 8 100
Rev. Port. Clin.
Geral
2011, vol. 27, n 1-
5
- - 0 3 3 100
Rev. Port.
Imunoalergologia
2012, vol. 20, n 1-
4
- - 0 4 2 50
Port. J. Nephrol.
Hypert.
2012, vol. 26, n 1-
4
- - 0 11 1 9,09
J. Port.
Gastrenterol.
2006, vol. 13, n 1-
6
2012, vol. 19, 1-5
22 1 4,54 19 1 5,26
Angiol. Cir. Vasc.
2010, vol. 6, n 4
2012, vol. 8, n 1-3
2 1 50 7 0 0
Motricidade
2007, vol. 3, n 1-4
2013, vol. 9, n 1
0 0 0 0 0 0
Psic., Sade &
Doenas
2000, vol. 1, n 1
2012, vol. 13, n 1-
2
0 0 0 0 0 0
Rev. Port. Sau.
Pub.
2009, vol. 27, n 2
2012, vol. 30, n 1
0 0 0 0 0 0
Rev. Enf. Ref.
2010, vol. 3, n 1-2
2013, vol. 3, n 9
0 0 0 0 0 0
N / % 29 6 20,68 52 15 28,84

Os dados resumidos nas tabelas 4 e 5 permitem constatar, no que respeita aos nmeros
analisados no ltimo ano, que a presena dos resumos estruturados significativamente maior nos
artigos originais e de reviso (47,91%) do que nos casos clnicos ou relatos de casos (28,84%). Ainda,
comparativamente, do primeiro ao ltimo ano analisado, quer nos artigos cientficos, quer nos casos
clnicos, observa-se uma discreta tendncia para a elevao dos nmeros globais registados (7,1%;
5,79%, respetivamente). No que respeita ao primeiro aspeto, estes resultados so semelhantes aos
obtidos por um estudo prvio, em que esta ltima tipologia tambm apresenta uma menor
percentagem de resumos estruturados (Fleming, Buckley, Seehra, Polychronopoulou, & Pandis,
2012). Por seu turno, o segundo aspeto revelador da necessidade de adoo de uma poltica
editorial mais incisiva, por parte das revistas analisadas, fazendo coincidir, de direito e de facto, o
discurso com a prtica efetiva do resumo estruturado no conjunto dos artigos aceites para
publicao.

897
Concluses

Os resumos estruturados assumem uma relevncia capital na disseminao do conhecimento
cientfico. As suas principais funes so manter os investigadores, e todos aqueles que se servem
destes recursos, em contacto com os avanos dos seus campos de interesse, permitindo-lhes decidir
sobre a leitura dos textos completos dos artigos, i.e., determinar a pertinncia da consulta do artigo,
facilitar a arbitragem cientfica e a sua efetiva recuperao. As suas caratersticas e funes
fundamentais foram vistas luz dos princpios estabelecidos pelo Ad Hoc Working Group, pelo
ICMJE e pela National Library of Medicine dos Estados Unidos da Amrica, para alm da prtica da
Annals of Internal Medicine, concluindo-se que a estrutura fundamental se mantm em todos os
subcabealhos recomendados, ainda que com algumas alteraes, e que em todos os casos a opo
pelo formato estruturado, mais simplificado ou mais complexo, se tornou norma.
A anlise da aplicao do resumo estruturado nos ttulos correntes da SciELO Portugal, no
primeiro e no ltimo ano disponveis, permitiu concluir que pouco ou razoavelmente expressiva
no conjunto, respetivamente, dos casos clnicos e dos artigos cientficos observados, o que revela,
particularmente na atualidade, uma inconformidade e inconsistncia parcial entre o discurso
dirigido aos autores e a prtica do formato estruturado, por parte das revistas analisadas. O facto
das Instrues aos Autores no exigir a obrigatoriedade de meno e destaque dos subcabealhos
acaba por ter consequncias relativamente ao seu cumprimento por lhe faltar precisamente a parte-
chave deste tipo de resumo, a estrutura. No podem, pois, os editores esperar que a meno
sequncia a ser seguida pelos autores transforme o resumo num resumo estruturado.
Dadas as funes desempenhadas pelos resumos, recomenda-se a todos os intervenientes um
cuidado especial na elaborao do resumo. Aos autores para que prestem a devida ateno sua
redao no sentido de garantir uma representao acurada do contedo. Aos editores e revisores
que zelem pelo seu cumprimento, insistindo com os autores para que introduzam a informao
crucial a uma avaliao eficiente na submisso de manuscritos.

Referncias

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901
OS ARQUIVOS DE INSTITUIES DE SADE
Informao para gesto do conhecimento?

PABLO SOLEDADE
Universidade Federal da Bahia
[email protected]

ZENY DUARTE
[email protected]

Resumo Apresentar-se- discusso acerca da importncia dos arquivos mdicos, atualmente denominados de
arquivos de instituies de sade, para a garantia da melhoria do tratamento assistencial. Trata-se de estudo
descritivo, realizado a partir de pesquisa bibliogrfica e documental, aliada a investigao feita num hospital-
escola universitrio em Salvador, Bahia. Vislumbra-se que as discusses sejam aprofundas a partir da anlise
de cada realidade regional e que passe a vigorar um maior interesse dos gestores e autoridades sobre esta
temtica. Neste estgio atual da sociedade, no concebvel que um arquivo de instituio de sade tenha
como objetivo nico a custdia dos documentos. Para alm de outras atribuies desta unidade de
informao, o arquivo, seja qual for a instncia, no foco desta pesquisa, o arquivo mdico, possibilita
transferncia de informao contribuindo para a ampliao do conhecimento de uma equipe
multiprofissional da sade, disseminando dados informacionais em tempo real, estatsticas e correlaes
entre casos semelhantes, sejam de enfermidades, diagnsticos e do tratamento em si. A partir das observaes
elencadas, algumas perguntas precisam ser respondidas, como exemplo: Os arquivos das instituies de sade
no Brasil esto aqum da realidade de contribuir com a gesto do conhecimento? A anlise realizada no
hospital-escola universitrio e a pesquisa bibliogrfica e documental sero determinantes na verificao do
estgio atual do sistema de informao mdica no Brasil e o alcance de uma situao ideal. Ainda que no
tenha sido realizado um estudo em todas as instituies de sade brasileiras, mas, pelas leituras realizadas
neste estudo, buscar-se- descrever a evoluo nos servios relativos aos arquivos em comparao aos
servios assistenciais. A concluso prvia de que muito h o que se fazer e que a evoluo das questes aqui
discutidas certamente contribuir com um servio sade humana mais eficaz e qualificado.

Palavras-chave Arquivos Gesto do conhecimento. Informao e conhecimento. Arquivos de instituies de
sade.

Abstract Presenting will be discussion about the importance of medical archives, currently named archives
healthcare institutions, to guarantee the improvement of treatment care. This is a descriptive study
conducted from literature and documents, combined with research done in a University teaching-Hospital in
Salvador, Bahia. It is expected to go more in depth discussions are based on the analysis of each regional
reality and be in force greater interest of managers and authorities on this subject. In this state of society, it is
inconceivable that a archive of the health institution has the sole purpose of custody documents. In addition
to other duties of this unit information, archive, whatever the instance, the focus of this research, the medical
archive, enables transfer of information contributing to the expansion of knowledge of a multidisciplinary
team of health, disseminating informational data in time real statistics and correlations between similar cases
are of diseases, diagnosis and treatment itself. From the observations listed, some questions need to be
answered, such as: Archives of health institutions in Brazil are understatement to contribute to knowledge
management? The analysis in the university teaching hospital and research literature and documents will be
crucial in checking the current status of medical information system in Brazil and scope of an ideal situation.
Although it has not been a study in all the Brazilian health institutions, but the readings performed in this
study, it will seek to describe the evolution in services related to archives in comparison to the health
services. The preliminary conclusion is that there is much to be done and that the evolution of the issues
discussed here will surely contribute to a service to human health more efficient and qualified.

902
Keywords Archives - Knowledge Management. Information and knowledge. Archives of health institutions.

1 Importncia dos arquivos de instituies de sade

O arquivo de uma instituio de sade, denominado de arquivo mdico ou Setor de Arquivo
Medido (Same) segundo Costa (2001), o setor

responsvel pela organizao arquivstica, centro receptor,
disponibilizador e controlador da produo documental da rea mdica
como um todo: enfermagem, nutrio, assistencial social, relatrios
estatsticos, entre tantos outros componentes documentais que no fazem
parte da composio do pronturio.

Ainda sobre o Same, Carvalho (1977), comenta que ele um setor com caractersticas
tcnicas que deve estar ligado a uma gerncia tcnica.
Segundo Mezzomo (1991), um Same deve atender bem a quatro finalidades: administrativa,
jurdica, histrica e de pesquisa. 1 - Administrativa para a boa execuo de procedimentos da rotina
da instituio, envolvendo estatsticas e relatrios gerenciais; 2 - jurdica como fonte de prova, de
resguardar a instituio e garantir os direitos do cidado; 3 - histrica para registrar, preservar,
possibilitando aos cidados o acesso s suas informaes; e 4 - de pesquisa mdica para contribuir
com o avano cientfico e formao de profissionais.
As funes do Same so maiores, portanto que o trato do pronturio do paciente, no
desconsiderando a importncia deste, certamente a mais significante tipologia documental
produzida numa instituio de sade sob a responsabilidade deste setor. Em sntese, o Same deve
transformar-se num setor que possibilite a obteno de informaes mdicas e estatsticas de forma
gil, que podero servir para pesquisa, para tomada de decises administrativas e assistenciais.
Talvez aqui possamos identificar o momento de maior interdisciplinaridade entre a arquivologia e
as cincias da sade, especialmente a medicina.
A produo cientfica existente sobre o assunto, entre artigos, dissertaes, teses, revelam
maior preocupao com o pronturio do paciente e as evolues tecnolgicas deste instrumento,
como por exemplo, o pronturio eletrnico, Alves (2004) destaca que: o pronturio eletrnico
significa um grande avano para a assistncia sade. Mas pequena a existncia de trabalhos,
monografias e dissertaes acadmicas que tratem especificamente do Same.
Sobre o registro clnico do paciente, Lourdes (1977): destaca que

desde do sculo XVI que sob influncia de Camilo de Lllis, filho de
um general do Exrcito de Carlos V, os hospitais passam a ter uma
documentao escrita sobre o tratamento ao paciente, exigindo a
prescrio medicamentosa, e alimentar e ainda exigia relatrios de
enfermagem.

Carvalho e Silva (2000), acrescentam outras funes importantes do Same como: manter um
servio que proporcione estudos capazes de facilitar o diagnstico e o tratamento e contribuir para
o progresso constante da medicina.
Sobre a relevncia de aes polticas na rea de arquivos de instituies de sade, podemos
trazer o relato de Santos, Paulo Elian, 2009, p. 223:

903

A definio de uma poltica para os arquivos de instituies de sade,
como parte de uma poltica nacional de arquivos deve estar articulada s
discusses sobre a gesto do Sistema nico de Sade (SUS) e as funes
que devem desempenhar os servios de arquivos, documentao e
informao em ambientes hospitalares.

O mesmo autor aponta que,

mais recentemente o CFM atualizou o marco legal para rea mdica
atravs da Resoluo 1821 CFM, que aprova normas tcnicas concernentes
a digitalizao e uso de sistemas informatizados para guarda e manuseio
dos pronturios,..., no entanto permanecem os mesmos equvocos das
resolues anteriores no uso inadequado da terminologia arquivstica, na
definio da temporalidade e destinao distintas para o pronturio nos
suportes em papel e digital.

Essas reflexes reforam a importncia dos arquivos de instituies de sade como
instrumentos de informao e de gesto do conhecimento que contribuem para a melhoria da
assistncia ao paciente.

2 Estudo de caso feito num hospital-escola universitrio situado em Salvador,
Bahia

O presente trabalho contou com um estudo de caso realizado num hospital-escola
universitrio situado em Salvador Bahia, a partir da aplicao de questionrio estruturado,
respondido pela chefia do setor, revelando o nvel de organizao/preparao do Same aos aspectos
relativos informao e gesto do conhecimento para melhorias na assistncia da instituio.
Constavam no questionrio as seguintes questes: 1 Nomenclatura adotada pelo setor; 2
Mensurao do acervo; 3 Quantidade e perfil dos funcionrios do setor; 4 Nvel de organizao
do arquivo fsico; 5 Nvel de informatizao do setor; 6 Quantidade de grupos de pesquisa
atuando no setor; 7 Participao em comisses da instituio; 8 Nvel de pesquisa da equipe
mdica; 9 Identificao da importncia do setor junto a assistncia sade; 10 Programas de
treinamento/educao para sensibilizao dos usurios do setor; 11 Projetos e aes de
valorizao do setor.
Antes de revelar os resultados da aplicao do questionrio, para melhor entendimento, faz-
se necessrio uma caracterizao da instituio e do ambiente de trabalho.
O Same da mencionada instituio est ligado Diretoria Administrativa, possuindo cerca de
90 metros quadrados, divididos em rea de atendimento e de guarda, sendo respectivamente cerca
de 25 metros quadrados e 65 metros quadrados para cada uma das reas. O setor est localizado no
1 andar da instituio e funciona de forma ininterrupta das 07h s 18h de segunda sexta-feira.
Os problemas do Same concentram-se nas questes estruturais e de recursos humanos, estas
subdivididas em vrios pontos: estrutura fsica, envolvendo questes prediais, de conservao;
equipamentos e ferramentas de trabalho, englobando mobilirio, hardwares, softwares; e de recursos
humanos, com todos os seus desdobramentos (motivacional, comportamental, falta de treinamento
e capacitao, entre outros).

904
H cerca de 6 anos a situao do Same era pssima, caixas abarrotadas no cho, goteiras em
toda extenso do teto molhando os pronturios, infestao de cupins e outros organismos
degradantes, layout indefinido e desordenao dos documentos.
A administrao da instituio investiu em reforma e na chegada de profissionais e
estagirios propiciando uma mudana na realidade do local.
Dos estagirios contratados, dois eram bacharelandos do curso de arquivologia, da Ufba, alm
de duas especialistas em restaurao.
Grande parte dos pronturios j se encontram higienizados e arquivados nas devidas caixas e
estantes, diversos pronturios j foram restaurados e organizados.
Atualmente na rea de atendimento so verificadas 06 mesas de trabalho, 03 computadores e
1 impressora, nmeros insuficientes para a demanda do setor.
A rea de guarda possui 117 estantes de ao com 06 prateleiras, 12 arquivos de ao com 04
gavetas, 02 armrios de ao com 06 prateleiras, totalizando cerca de 7.000 caixas-box de pronturios
do paciente, outros documentos da rea de sade e de reas administrativas, alm de centenas de
livros de registros datados a partir de 1910 aos dias atuais, desde a fundao da instituio.
No tocante ao quadro de pessoal, so ao todo 7 funcionrios divididos em 2 turnos de
trabalho, que para atender a rotina das atividades finalsticas so suficientes, mas no
quantitativamente, nem qualitativamente para a realizao de trabalhos relativos a avaliao
documental, higienizao e restaurao de documentos, construo e aplicao de instrumentos
arquivsticos.
O quadro atual de funcionrios no atende as necessidades do setor. Todos esses funcionrios
esto envolvidos com as rotinas do setor relativas a arquivamento, desarquivamento e recebimento
de documentos, no sobrando tempo para aes de planejamento, de avaliao documental e
transformaes. Os tcnicos-administrativos realizam o trabalho de arquivamento e retirada dos
pronturios ambulatoriais e de internao, para atendimento e pesquisa, o controle de entrada e
sada da documentao existente no setor, registro de informaes no livro de registro.
O espao fsico existente insuficiente para atender a crescente demanda e acomodar os
profissionais e os documentos existentes de forma correta, e por isso salutar a realizao de um
trabalho que culmine com o descarte de documentos, a partir da definio de uma poltica de gesto
documental para a instituio. Ressalta-se que a implementao de um trabalho dessa natureza
perpassa indiscutivelmente pelas melhorias das condies estruturais e a disponibilizao de
recursos humanos.
Fica assim demonstrada a situao do setor pesquisado, revelando que s possvel um
trabalho srio de informao e gesto do conhecimento com uma boa estrutura fsica e de pessoal.

3 Respostas aos questionamentos

1. Nomenclatura adotada pelo arquivo da instituio de sade Same / Servio de
Arquivo Mdico e Estatstica.
2. Mensurao do acervo; 117 estantes de ao com 6 prateleiras, 12 arquivos de ao com
4 gavetas, 2 armrios de ao com 6 prateleiras, totalizando cerca de 7.000 caixas-box
de pronturios do paciente.
3. Quantidade e perfil dos funcionrios do setor - 7 funcionrios divididos em 2 turnos
de trabalho.
4. Nvel de organizao do arquivo fsico intermedirio, visto que 70% da
documentao encontra-se organizada em caixas-box com identificao.

905
5. Nvel de informatizao do setor apenas sistema para localizao fsica do
pronturio, no existe digitalizao, pronturio eletrnico, etc.
6. Quantidade de grupos de pesquisa atuando no setor 12 grupos de diversos setores
da instituio e inclusive de fora dela.
7. Participao do setor em comisses da instituio o setor participa de 2 comisses e
possui mais 1 internamente.
8. Nvel de pesquisa da equipe mdica irregular, no so pesquisas peridicas, nem
intensas, praticamente pela necessidade das Comisses ou por questes relativas a
processos por erro mdico ou judiciais.
9. Identificao da importncia do setor junto a assistncia sade - pouca
importncia, pelo fato de existir poucas consultas ao setor e anlise de outros casos
para tratamento dos pacientes. Mas, podemos dizer que h uma preocupao com o
preenchimento do pronturio para fins de assistncia e probatrio.
10. Programas de treinamento/educao para sensibilizao dos usurios do setor no
h, mas o setor tem projeto para que seja realizado.
11. Projetos e aes de valorizao do setor projeto de modernizao do Same,
participao em reunies de diretoria sempre apresentando as aes do setor.

3.1 Anlise das respostas

As respostas revelam que o Same desta instituio ainda no encontra-se plenamente
preparado, mas no entanto, mesmo com problemas estruturais, de pessoal, entre outros, mostra-se
importante no que tange suas informaes, especialmente para Comisses, como por exemplo, de
CCIH Comisso de Controle da Infeco Hospitalar, Comisso de bito fetal, Comisso de Reviso
de pronturios. a partir das informaes do Same que as comisses produzem conhecimento,
contribuindo para a melhoria da assistncia.
As respostas 2 a 5 revelam a necessidade de melhorias estruturais e no quadro de pessoal, as
respostas 6 e 7 demonstram que h por parte da instituio e alguns grupos, o interesse e
reconhecimento no trabalho desenvolvido no setor. J a resposta 8 alerta para a necessidade de
colocar em prtica a resposta 10 e 11, contribuindo assim para modificar o quadro apresentado na
resposta 9.
Tendo por base essas respostas, cabe ento a reflexo sobre a situao geral dos arquivos de
instituies de sade do pas: os arquivos das instituies de sade no Brasil esto aqum da
realidade de contribuir com a gesto do conhecimento? Quais aes esto sendo feitas? Existem
exemplos nacionais e internacionais de arquivos de instituies de sade que organizam
informaes para gesto do conhecimento?

Consideraes finais

A argumentao apresentada at ento suficiente para demonstrar a importncia do
arquivo ou SAME ou qualquer outra nomenclatura que seja dada a este setor, para uma instituio
de sade, ento como garantir o pleno exerccio de suas funes sem uma estrutura decente, sem
profissionais em quantidade e qualidade necessria?
Ao longo dos anos, os arquivos das instituies de sade sofreram um processo de degradao
em funo da ao do tempo, da ausncia de cuidados tcnicos e da falta de priorizao pelas
gestes das instituies. Essa realidade vem sendo transformada nesta ltima dcada, quando vrios
interesses contriburam para um novo olhar.

906
Primeiro, destaca-se a necessidade do dinamismo da informao, provocada pela sociedade da
informao, com o uso das tecnologias de informao e comunicao (TIC), propiciando sociedade
o acesso informao, ou seja, requisitando mais aos rgos e fazendo com que estes definam
caminhos para cumprir o que de Direito Constitucional, estabelecido na Carta Magna no seu artigo
5, inciso XIV e agora recentemente regulamentado pela Lei 12.527/2012, a Lei de Acesso
Informao.
Em segundo lugar, percebe-se a necessidade de preservao arquivstica, garantindo assim a
guarda permanente do que de fato importante para a memria da sociedade.
Como terceiro, podemos destacar ainda aspectos legais e cientficos que envolvem a questo
do pronturio do paciente, partindo do reconhecimento do valor probatrio e do mais presente
interesse de pesquisas, com o uso desse tipo documental, garantindo o avano das reas de sade e
da prpria arquivologia.
Em quarto lugar, encontram-se os eventos cientficos que vm sendo deflagrados, nos ltimos
5 anos, a exemplo do Colquio Internacional a Medicina na Era da Informao (Medinfor) iniciado
em 2008 (Duarte, 2009), com segunda edio realizada em 2011
(http://medinfor.med.up.pt/index.php/resumos-e-comunicacoes) e terceira edio prevista para
este ano, evento periodicamente promovido pelo PPGCI / Ufba em parceria com a U.Porto, Portugal.
Tanto esse Colquio quanto outros certames, incluindo aqui o GT 11 do Enancib, assim como
tambm os planos de ao empreendidos pela FioCruz, Rio de Janeiro e Salvador e por outras
instituies de pesquisa que realizam pesquisas sobre a informao mdica, nos do a esperana de
que teremos, em breve, a informao e a sade em aliana e bem planejadas para atender a
sociedade em suas diversas demandas de gesto do conhecimento, respeitando a tica e o direito de
acesso informao.

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908
ORGANIZAO DA INFORMAO PARA GESTO DO CONHECIMENTO
Organizao e disseminao da informao numa dimenso cognitiva

AIDA VARELA VARELA
Universidade Federal da Bahia / Instituto de Cincia da Informao
[email protected]

MARILENE LOBO ABREU BARBOSA
[email protected]

Resumo A proposta deste trabalho a de refletir sobre a aplicao dos estudos de cognio nos processos
interativos de organizao, representao e disseminao da informao em bibliotecas, na perspectiva de
alcanar o pblico, estimulando, atendendo e ampliando suas expectativas de acesso ao saber e cultura,
mediante a difuso, a mediao e a reduo de barreiras de acesso ao conhecimento. Focalizam-se tanto as
atividades em que o indivduo se engaja para apreender a informao e transform-la em conhecimento,
compreendendo habilidades intelectuais como decodificao, interpretao, controle e organizao do
conhecimento, como as dos profissionais que, conhecedores dos acervos e de seus instrumentos de
representao, so facilitadores desta relao dialgica, na qual devem ser observados alguns pressupostos
epistemolgicos e eticopolticos, tendo em vista que a realidade concreta uma totalidade que inclui
determinaes e potencialidades de diversas naturezas e o homem, um sujeito histrico-social, que enfrenta a
realidade concreta, apropriando-se dela, num processo permanente de transformao.

Palavras-chave Organizao. representao e disseminao da informao. Estudos cognitivos. Profissionais
e usurios da informao.

Abstract The purpose of this paper is to reflect about the application of cognition studies in interactive
processes of organization, representation and dissemination of information in libraries, in view of reaching
the public, stimulating, meeting their expectations and expanding access to knowledge and culture by
diffusion, mediation and reducing barriers to access knowledge. The paper is focusing the activities in which
the person engages to grasp the information and turn it into knowledge, including intellectual skills as
decoding, interpretation, control and organization of knowledge, like the professionals, who knows the
collections and their representation instruments, that are facilitators of this dialogical relationship, which
should be observed in some epistemological, ethical and political assumptions, considering that the reality is
a totality that includes determinations and potential of various natures and man, a social-historical subject,
which faces reality, appropriating it, in a permanent process of transformation.

Keywords Organization, representation and dissemination of information. Cognitive studies. Professionals
and users of information.

Introduo

Este trabalho fruto de uma reviso bibliogrfica, que contempla estudos da organizao e
disseminao do conhecimento na dimenso cognitiva, argumentando-se sobre a aplicao dos
estudos de cognio nos processos interativos de disseminao da informao em unidades de
informao, com o objetivo de alcanar o pblico, estimulando, atendendo e ampliando suas
expectativas de acesso ao saber e cultura, mediante a difuso, a mediao e reduo de barreiras
de acesso ao conhecimento. , nesta perspectiva, que as bibliotecas procuram sensibilizar, fazer
perceber, ajudar a apreender e aprender com os recursos informacionais expostos e disponveis em

909
seus espaos fsicos e virtuais que estas instituies tm de gerir e gerar informaes que as
aproximem de seus usurios.
Em certo sentido, os recursos de busca e recuperao, descritivos dos acervos bibliogrficos e
documentais, tais como catlogos, guias, inventrios, enfim seus instrumentos de pesquisa precisam
dialogar com os usurios, fazendo-os tomar conscincia do valor dos objetos reais que representam
e simbolizam.
Neste contexto, incluem-se tambm os recursos informacionais gerenciados por sistemas de
informao e acessados a distncia, tais como bibliotecas virtuais, repositrios institucionais,
computao em nuvem etc., que suscitam uma dinamicidade prpria de organizao e
disseminao, em que se deve considerar a interface homem-mquina. Nesta dimenso, est
implcito, por um lado, o desenvolvimento de solues tecnolgicas de acesso informao
baseadas em estratgias cognitivas e, por outro, o desenvolvimento de competncias e habilidades,
que tornem o sujeito apto a obter a informao desejada.
Na interao entre os objetos reais, virtuais e simblicos e o pblico, esto tambm os
profissionais da informao, que, conhecedores dos acervos e de seus instrumentos de
representao, so facilitadores desta relao dialgica, na qual devem ser observados alguns
pressupostos epistemolgicos e eticopolticos, tendo em vista que a realidade concreta uma
totalidade que inclui determinaes e potencialidades de diversas naturezas e o homem, um sujeito
histrico-social, que enfrenta a realidade concreta, apropriando-se dela, num processo permanente
de transformao.
Inegavelmente neste percurso, que compe o ato comunicativo, transita a cognio, quer do
ponto de vista do profissional que busca perceber o pensamento do usurio , quer deste, que
elabora estratgias cognitivas que lhe permitam interpretar o significado dos objetos
representados.
H que se considerar as diferenas e variveis entre necessidade, desejo, demanda, uso
finalidade de busca, idioma, nvel cientfico, tipos de documentos desejados e disponibilidade de
tempo. Da a importncia dos estudos cognitivos para subsidiar a organizao e a busca da
informao com autonomia e garantia de desenvolvimento pessoal, com maior contribuio num
contexto de constantes mudanas.
A proposta deste estudo a de refletir sobre a aplicao dos estudos de cognio nos
processos interativos de organizao e disseminao da informao em bibliotecas, na perspectiva
de alcanar o pblico, estimulando, atendendo e ampliando suas expectativas de acesso ao saber e
cultura, mediante a difuso, a mediao e reduo de barreiras de acesso ao conhecimento.

1 Organizao e Disseminao da Informao

Numa sociedade, como a atual, pautada no conhecimento, a instituio biblioteca tem um
papel fundamental, isto porque, compete-lhe reunir, organizar e disseminar o conhecimento
registrado, proporcionando, s pessoas, acesso, sem fronteiras, ao conhecimento, haja vista, as
bibliotecas virtuais, conforme assevera Mey et al. (2008) na afirmativa abaixo:

Em princpio, uma biblioteca existe para propiciar alternativa,
possibilidade e oportunidade s pessoas. Alternativa, para que possam
escolher entre vrios, no havendo nunca um caminho nico.
Possibilidade, para que tenham acesso ao que, de outro modo, lhes estaria
vedado, por empecilhos de ordens diversas. Oportunidade, porque apenas
atravs do conhecimento as pessoas se podem transformar e transformar o
mundo em que vivem.

910
Barit (2001) anuncia algumas premissas bsicas que justificam intelectualmente a
organizao do conhecimento: o conhecimento um produto, uma necessidade e um dnamo social,
que se realiza a partir da informao e ao socializar-se transformado, novamente, em informao.
A estrutura e a comunicao do conhecimento formam um sistema aberto, que deve ser organizado
para seu melhor aproveitamento individual e social. H muitas formas possveis de organizar o
conhecimento, embora toda organizao do conhecimento seja artificial. O conhecimento
registrado sempre em documentos, como conjunto organizado de dados disponveis e admite usos
indiscriminados. Expressa-se em conceitos e se organiza mediante sistemas de conceitos, que so
organizados para fins cientficos, funcionais ou de documentao e estes sistemas so regidos por
leis uniformes e previsveis e se aplicam por igual a qualquer rea disciplinar.
A organizao da informao realizada na expectativa de satisfazer o desejo e a necessidade
do usurio, quando busca informao e anseia por conhecimento. Ao tecer o instrumento que, de
modo simblico, mas significativo, espelhar o estoque do conhecimento que est tratando, o
profissional tambm pressupe a trajetria lgica com a qual o usurio organiza seu pensamento
para pesquisar e apreender a informao. Neste nterim, a cognio mostra-se um conhecimento
necessrio, pois amplia a possibilidade do profissional da informao compreender e delinear a
trajetria lgica do usurio no processo de busca da informao e da construo dos meandros da
cognio na apreenso do conhecimento.
evidente que o profissional da informao se norteia por alguns parmetros, tais como:
conhecer, em tese, as necessidades de seu usurio; categorizar e representar de modo fsico e
temtico o estoque de conhecimento acumulado; construir instrumentos de recuperao desta
representao. Contudo, muitas vezes, o usurio no sabe quais so exatamente suas necessidades.
Sendo assim, h que se considerar as diferenas e variveis entre necessidade, desejo, demanda, uso,
finalidade de busca, idioma, nvel cientfico, tipos de documentos desejados e disponibilidade de
tempo. A busca se fundamenta numa srie de estratgias, procedimentos e conhecimentos para
obter, com maior rapidez, economia e pertinncia, a informao desejada.
Hjrland (2006) divide as fases de evoluo da organizao do conhecimento sob a tica de
cinco tecnologias estruturantes, quais sejam:

Classificao e indexao: perodo em que se produziram os princpios da organizao do
conhecimento; teve seu incio em bibliotecas por volta de 1876, e entre os fundadores esto Charles
A. Cutter (1837-1903), Melvil Dewey (1851-1931), Henry Bliss (1870-1955) e S. R. Ranganathan (1892-
1972).

Documentao: caracterizada pelo interesse do controle bibliogrfico, na comunicao e
documentao cientfica e na organizao e representao da informao e do conhecimento.
Aborda estudos especficos, enfocando o atendimento s necessidades e atitude mais cientfica em
direo soluo de problemas. Teve seu marco aproximadamente em 1892, a partir dos trabalhos
de Paul Otlet (1868-1944) e Henri La Fontaine (1854-1943), por ocasio da criao do Escritrio
Internacional de Bibliografia, em Bruxelas, seguido do Instituto Internacional de Bibliografia (IIB)
em 1931, iniciativa pioneira dentre as associaes internacionais no campo da informao. O IIB
alterou seu nome para Instituto Internacional de Documentao (IID) em 1937, e para Federao
Internacional de Documentao (FID), em 1936. Mais tarde, em 1988, recebeu a denominao de
Federao Internacional de Informao e Documentao e manteve a sigla original. As atividades da
FID foram encerradas em 2002, por falta de recursos financeiros.

Armazenamento e recuperao da informao: quando os novos conceitos de revocao e
preciso tornam-se amplamente difundidos; os computadores passam a ser objeto de pesquisa
cognitiva, a fim de modelar seu uso de acordo com as necessidades dos usurios. Na dcada de 1960,
florescem os servios baseados em computador, com destaque para o Chemical Abstracts e Medline. E
mais, so intensificados os esforos em desenvolvimento da recuperao em texto livre, a lgica

911
booleana, o acesso a assuntos especficos e outras inovaes extremamente importantes na
recuperao de documentos. Desse modo, a recuperao da informao significou melhoria dos
servios de informao e a multiplicao de esforos de pesquisa em CI; as pesquisas, nessa fase,
foram dominadas por estudos em metodologias quantitativas, no entanto, no se concretizou a
tentativa de automatizar a recuperao de informao eliminando a interpretao humana. Assim
que, na dcada de 1950, a cincia da informao sofre grande influncia dos computadores e na
esteira da evoluo tecnolgica, os conceitos de informao e documento sofrem forte diviso
conceitual: informao tende a alinhar-se aos estudos de controle, codificao e rudos na
transmisso de mensagens, enquanto documento tende a ir em direo s teorias sobre o
significado, linguagem, conhecimento, epistemologia e sociologia.

Bibliometria: fase que agregou o conceito de redes de documentos, tcnica que trouxe a
inovao de evidenciar as relaes semnticas entre os documentos citados. Os autores que se
destacam na integrao desse campo com a organizao do conhecimento so Pao e Worthen
(1989), Pao (1993), Rees-Potter (1989) e Hjrland (2003, 2006, 2008), entre outros. Esta fase foi
introduzida por Eugene Garfield, do Science Citation Index, em 1963, marca a possibilidade de
recuperar documentos de acordo com as citaes que recebem, representando verdadeira reforma
em recuperar informao.

Texto completo, hipertexto e internet: nessa fase, os aspectos qualitativos so
fundamentais. No se trata apenas das questes de fazer algoritmos eficientes para recuperao da
informao, mas tambm para identificar os valores subjacentes e os objetivos a que tais algoritmos
vo servir. Importa saber que os objetos informacionais so influenciados por pontos de vista mais
amplos, e a anlise de assunto parte vital do entendimento da organizao do conhecimento.

Vale ressaltar, no entanto, que esta evoluo no ocorre igualmente em todas as partes do
mundo, tanto em intensidade, quanto em relao concepo do universo documental houve
diferenas, isto por razes histricas, polticas e econmicas que marcaram avanos e recuos, ou at
mesmo por uma viso diferenciada do universo documental, como, por exemplo, a emergncia nos
Estados Unidos da Cincia da Informao, em virtude do aumento exponencial da informao
cientfica e tecnolgica, fruto das pesquisas cientficas e tecnolgicas desenvolvidas em funo das
guerras mundiais do sculo XX, enquanto na Europa florescia o conceito das cincias documentais,
resultante dos estudos e iniciativas de Paul Otlet.

2 Representao do Conhecimento

Representar o conhecimento uma tentativa de se apropriar dos elementos informacionais
existentes nas estruturas e processos mentais que compem o conhecimento individual, para que o
saber possa ser socializado. Quando se usa o termo representao do conhecimento, faz-se
oportuno ressaltar a existncia de dois problemas tericos que so explicitados por Friedman e
Thellefsen (2011): a inexistncia de uma terminologia unificada e a falta de compreenso estrutural
e terica no que diz respeito ao termo.
Representar o conhecimento um esforo, nas diversas cincias, de materializar o que ocorre
na mente humana e na dinmica do conhecimento, cuja estrutura e funcionamento ainda significam
enorme desafio para a comunidade cientfica. Para isso, so usados diversos modelos de
representao, que podem ser descritivos, matemticos, visuais, informatizados, dentre outros,
conforme as necessidades e especificidades de cada rea, para se aproximar dos processos
cognitivos que envolvem a aprendizagem, o raciocnio, as relaes que ocorrem entre os
conhecimentos disponveis na memria para gerar novos conhecimentos.

912
Na cincia cognitiva, por exemplo, o conhecimento pode ser representado por meio de mapas
de processos cognitivos, mapas conceituais, mapas mentais, mapeamento funcional do crebro, etc.
Na cincia da computao, principalmente no campo da inteligncia artificial, so usados mtodos,
tcnicas e instrumentos que tentam simular e reproduzir artificialmente os processos que supomos
ocorrer na mente humana.
Para isso, so usados elementos de representao, associao entre as representaes e
processamento por meio da lgica formal, de redes neurais, procedimentos estatsticos e modelos
matemticos para compor sistemas especialistas, sistemas inteligentes e de apoio tomada de
deciso que faro correlaes entre os componentes de bases de dados e informaes, propiciando
um processamento denominado inteligente, que possibilita fazer inferncias a partir de premissas.
A representao temtica, na biblioteconomia e nas cincias documentais compreende a
representao, de maneira sintetizada, do contedo dos documentos, objetivando viabilizar a
identificao, recuperao e disseminao do conhecimento contido nestes documentos. Abrange
principalmente as prticas de classificao e indexao. Novamente a literatura da rea no
consensual. No que diz respeito indexao e classificao, alguns autores consideram a segunda
includa ou at mesmo subordinada primeira. Cintra et al (2002, p. 39), por exemplo, afirmam que
indexao a operao de traduzir o contedo dos documentos da linguagem natural para uma
linguagem documental, enquanto que a classificao uma etapa inerente ao processo de
indexao. Outros pensadores concebem estas operaes como processos distintos, mas com pontos
convergentes, conforme concebem Dias e Naves (2007, p. 18):

Uma diferena bsica entre classificar um documento para colocao
nas estantes de uma biblioteca (ou, mais genericamente, para situ-lo
numa coleo) e catalog-lo ou index-lo por assunto que, no primeiro
caso, o classificador deve optar por um nico lugar para o documento na
coleo, o que no acontece nos outros casos, pois o catalogador de
assunto e o indexador podem decidir que um determinado documento
tenha vrias entradas de assunto, num catlogo ou num ndice. O
catalogador ou indexador tem como limite apenas a poltica de indexao
do sistema, em que princpios de recuperao da informao tm
evidentemente um papel fundamental, mas consideraes de ordem
econmica tambm podem operar.

No processo de organizao e recuperao da informao, a classificao e a indexao se
apresentam como operaes complementares, a primeira ordenando os documentos nas estantes,
as fichas nos catlogos ou, ainda, os registros bibliogrficos, nas bibliografias, e a segunda
garantindo e ampliando os meios de acesso ao contedo, tendo em vista que, pela indexao,
podem-se atribuir infinitos descritores para representar o contedo de um documento, criando-se,
assim, infinitos pontos de acesso ao contedo.
A histria da indexao tem incio com o surgimento da bibliografia, conforme apontam
Gomes e Gusmo (1983, p. 13-4), justificando que, com a evoluo da cincia, o aumento da
literatura tcnico-cientfica e o aparecimento dos peridicos, tornou-se necessrio, desenvolver
uma tcnica que se ocupasse da organizao, por assunto, das publicaes peridicas que
aumentavam exponencialmente.
Na Biblioteconomia, a classificao por assunto possibilita a ordenao sistemtica dos
acervos documentais, especialmente os bibliogrficos, e representa um processo fundamental da
representao temtica e da organizao da informao, bem como um importante meio de
recuperao da informao e do documento.
As atividades de indexao e classificao se completam com a associao das linguagens
documentrias ao processo, tendo em vista que a indexao se manifesta por meio de uma
terminologia especializada, capaz de representar tematicamente o contedo de um documento. As

913
linguagens documentrias so instrumentos que possibilitam aos bibliotecrios representar, de
maneira estruturada e padronizada, o contedo dos documentos, de modo a permitir e otimizar o
acesso dos usurios informao desejada. As linguagens documentrias so construdas e,
portanto, artificiais. Para Cintra et al. (2002, p. 34), as linguagens documentrias so sistemas
simblicos institudos que visam facilitar a comunicao. Sua funo comunicativa, entretanto,
restrita a contextos documentrios, ou seja, as linguagens documentrias devem tornar possvel a
comunicao usurio-sistema.
De acordo com Urdiciain (2004, p. 17), pode-se conceituar a linguagem documental como
todo sistema artificial de signos normalizados, que facilitan la representacin formalizada del
contenido de los documentos para permitir la recuperacin, manual o automtica, de informacin
solicitada por los usuarios.
A principal caracterstica das linguagens documentrias o controle terminolgico a que
esto submetidas, conforme declarao abaixo:

El lenguaje documental es un lenguaje no natural, aunque utiliza los
signos de este. Esos signos adquieren valor semntico por medio de su
normalizacin y de las reglas morfosintcticas que lo articulan. Son
precisamente esas reglas las que le dan categora de lenguaje (Urdiciain,
2004, p. 20).

Alguns autores, inclusive, atribuem, ao termo vocabulrio controlado, o significado de
linguagem documental, como Lancaster (1993, p. 14). Um vocabulrio controlado essencialmente
uma lista de termos autorizados. Existem diferentes maneiras de se caracterizar as linguagens
documentais, diferenciando-as de acordo com critrios especficos, conforme apresenta Urdiciain
(2004, p. 23): existen diversos criterios de tipificacin de los lenguajes documentales, los ms
generalizados son: el de control, el de coordinacin de los trminos y el estructural.
Tendo-se por critrio o controle do vocabulrio utilizado, as linguagens documentrias
podem ser divididas em livres (por exemplo, listas de descritores livres) e controladas (sistemas de
classificao, tesauros etc.). As linguagens documentrias livres so pouco utilizadas, uma vez que
no fazem o controle dos termos, caracterstica valorizada no tratamento documental e na
recuperao da informao, tendo em vista que garantem maior preciso na operao de busca e
Entretanto, a liberdade de escolha dos termos pode fazer com que a indexao se torne menos
rgida e mais atual, uma vez que no necessrio esperar por sua atualizao, como o caso da
maioria das linguagens documentrias. Com isto, a representao temtica pode utilizar os termos
dos prprios documentos, na medida em que estes so inseridos no percurso do tratamento
documental, e pode, ainda, ser mais compatvel com a linguagem dos usurios, uma vez que ela
realizada em um contexto prximo aos mesmos e sem o controle dos termos. Assim, possvel que a
representao temtica acontea em um contexto mais prximo aos usurios e s suas
particularidades.
Contudo, este tipo de instrumento tem diversas desvantagens, relacionadas sobretudo com a
ausncia do controle vocabular e com os problemas de ambiguidade e disperso que a inexistncia
do controle vocabular causa. Por isso, as linguagens documentrias livres so pouco utilizadas e, sob
o ponto de vista de alguns autores que valorizam o controle do vocabulrio, como qualidade
fundamental destes instrumentos, as linguagens livres no poderiam ser consideradas linguagens
documentrias, no sentido estrito da palavra.
Outra maneira de diferenciar a tipologia das Linguagens Documentais a partir do critrio de
coordenao dos conceitos que compem tais instrumentos. Para Gil Urdiciain (2004, p. 23), si los
trminos se combinan cuando se elabora el lenguaje o en momento de la descripcin, el lenguaje
ser precoordinado, y si lo hace en el momento de la recuperacin, se tratar de un lenguaje

914
postcoordinado. Nas linguagens documentrias pr-coordenadas a relao entres os termos
gramatical, enquanto, nas ps-coordenadas, esta relao lgica (Urdiciain, 2004, p. 24).
A terceira tipologia das Linguagens Documentais refere-se sua estrutura hierrquica ou
associativa ou combinatria. Ainda sob a viso de Urdiciain (2004, p. 25), a la estructura jerrquica
responden determinadas clasificaciones, a la combinatoria, los lxicos documentales y los tesauros,
si bien es cierto que en la organizacin multidimensional de estos ltimos participa tambin la
estructura jerrquica en concreto en la presentacin sistemtica.
Alm da representao descritiva e da representao temtica, um terceiro elemento est
inserido no processo de anlise documental: os resumos. Embora os resumos estejam relacionados
com o tratamento temtico dos documentos, so considerados distintos da representao temtica
propriamente dita, dada suas particularidades. Segundo Fujita (2003, p. 3-4), o resumo [...]
apresenta um nvel de condensao menor do que os termos de indexao ou o nmero de
classificao, entretanto, o resultado da indexao, da classificao e da elaborao de resumos
uma representao do contedo do documento para sua acessibilidade temtica.
Desta forma, a representao descritiva, a representao temtica e a elaborao de resumos
so processos inseridos no contexto da anlise documental e que, auxiliados por instrumentos
especficos, resultam em produtos indispensveis busca e acesso aos documentos e ao
conhecimento registrado, atividades localizadas no mbito do processo de recuperao da
informao.
Na recuperao da informao o agente em destaque o usurio, que busca por determinado
informao ou documento. De modo geral, em uma biblioteca convencional um usurio pode optar
entre trs meios para obter uma informao: a) indo diretamente ao acervo; b) por intermdio de
um profissional mediador, normalmente chamado de bibliotecrio de referncia e; c) utilizando-se
de instrumentos que a levem ao documento no qual contenha a informao procurada, isto , que
faam a ponte entre ela e o documento que lhe ser til: as bases de dados. Estes trs caminhos so,
cada um a sua maneira, mediados por produtos e instrumentos da biblioteconomia.
Com efeito, uma anlise dos mtodos, processos e tcnicas da rea evidenciam que,
subjacente a este instrumental operacionalizado pela rea, esto elementos da cognio. Isto porque
as cincias documentais e da informao esto a servio do sujeito social, isto , do usurio da
informao e da coletividade. E tambm porque a inter-relao da trade informao (ou acervo
documental ou sistema de informao) versus usurio e versus profissional da informao ,
tipicamente, uma mediao cognitiva. As atividades de organizao do conhecimento mediante
procedimentos de representao da informao so atividades-meio, que objetivam criar uma
logstica que responda eficientemente s buscas de informao, pelo usurio. Esta logstica tem de
estar associada s trajetrias intelectuais do usurio quando arquiteta a estratgia com que vai
buscar a informao e percorre as vrias alternativas proporcionadas pelos instrumentos de busca.
No tocante aos servios de informao, os profissionais devem pressupor que suas aes
mediaro o conhecimento entre os documentos e seus usurios. nesta relao que as estratgias
de organizao do conhecimento, por meio de suas diversas ferramentas, contribuem para efetivar
o acesso do usurio s informaes de que precisa para apreender, transferir e transcender o
conhecimento. Pode-se assim afirmar que a razo para organizar o conhecimento possibilitar o
processo futuro de mediao, que ser vivenciado posteriormente pelo usurio, ainda que
autonomamente.
Almeida Jnior (2009, p. 34) entende que a mediao da informao perpassa todos os
servios relacionados com o tratamento e a disseminao da informao, caracterizando-se como
um processo implcito de mediao, na medida em que o usurio no est presente, embora ele seja
o alvo de todo este trabalho de organizao do conhecimento.
indubitvel o embricamento da mediao com os processos de organizao do
conhecimento, portanto, este deve ser um conhecimento a ser aprendido pelos profissionais da
rea. Para Almeida Jnior (2009), mediao uma ao de interferncia que possibilita a

915
apropriao da informao, de forma plena ou parcial, na qual o profissional da informao um
dos atores, subsidiando, direta ou indiretamente, a necessidade informacional do usurio.
Shera (1973) categoriza a representao da informao como um processo intelectual e, deste
modo, inerentemente embasado em teorias cognitivas, at porque este processo de representao
destina-se a promover a mediao entre os registros grficos e o usurio.

3 Estudos cognitivos

Na rea das cincias cognitivas, o termo informao visto como um processo que ocorre na
mente humana e que tem efeitos sobre o mapa cognitivo ou mental do sujeito. O processamento de
informao pelo indivduo baseia-se em experincias sensoriais, representaes de vivncias,
pensamentos e lembranas, resultando em conhecimento de diferentes naturezas.
Todo conhecimento constitui, ao mesmo tempo, uma traduo e uma reconstruo, a partir
de sinais, signos, smbolos, sob a forma de representaes, ideias, teorias, discursos. A organizao
do conhecimento realizada em funo de princpios e regras que comporta operaes de ligao
(conjuno, incluso, implicao) e de separao (diferenciao, oposio, seleo, excluso). O
processo circular, passando da separao ligao, da ligao separao, e, alm disso, da anlise
sntese, da sntese anlise. Ou seja, o conhecimento comporta, ao mesmo tempo, separao e
ligao, anlise e sntese.
Controle e organizao relacionam-se organizao da informao por meio de uso de
instrumentos cognitivos, como recursos, esquemas, mapas conceituais e elaborao de textos.
Assim, o usurio, na trajetria de busca e recuperao da informao, realiza tarefas cognitivas de
seleo, anlise, sntese, comparao, organizao e escrita, de acordo com sua estrutura cognitiva,
seus interesses e necessidades, seus conhecimentos prvios e suas condies internas e externas.
O uso da informao compe-se de atividades em que o indivduo se engaja para apreender a
informao e transform-la em conhecimento. Compreendem habilidades intelectuais como
decodificao, interpretao, controle e organizao do conhecimento. A decodificao e a
interpretao por sua vez incluem atividades de leitura, estabelecimento de relaes e
conhecimento prvio e as novas informaes, comparao de vrios pontos de vista e avaliao.
O paradigma construtivista, para explicar esses processos, utiliza-se dos seguintes princpios:
a subjetividade humana resulta de uma realidade que no transmite significado constante; o
conhecimento no acabado, constitui-se das interaes do indivduo com o meio pelo uso da
linguagem; os usurios como seres ativos, direcionam-se por seus prprios objetivos e capacidade
de escolhas; o comportamento informacional varivel de acordo com a especificidade da situao;
os usurios devem ser compreendidos em um contexto social mais amplo, e os sistemas, como um
dos elementos a que podem recorrer se querem informao. Desse modo, o cognitivismo, baseado
na crena de que as abordagens fundamentadas no comportamento e no desenvolvimento
cognitivo, pode contribuir substancialmente no processo de interao de instituies culturais.
Teorias e estudos relacionados com cognio e educao podem explicar o fenmeno
interativo. Freire (1985) afirma que a conscincia se constitui no primeiro momento de apreenso
da realidade e dialogando que esta percepo inicial a tomada de conscincia que se aprofunda
e se transforma em conscientizao. J Piaget (1964) pondera que h no comportamento humano a
tendncia a uma procura experimental por novas assimilaes, graas coordenao dos esquemas
mentais que possibilitam um comportamento de explorao do mundo real e, ao se deparar com o
desconhecido, gerado, no sujeito, o desequilbrio cognitivo.
Piaget enfatiza a construo do conhecimento, considerando que os estmulos do mundo so
assimilados pelo ser humano, de acordo com o desenvolvimento de sua estrutura cognitiva. Os
referidos estudos auxiliam a entender os mecanismos presentes no processo interativo de
aprendizagem de conceitos, a partir da experincia do sujeito no mundo.

916

Os conhecimentos nunca se derivam exclusivamente da sensao ou
da percepo, mas tambm de esquemas de ao ou esquemas operatrios
de diversos nveis, que so uns e outros irredutveis percepo por si s.
Por outro lado, a prpria percepo no consiste numa simples leitura dos
dados sensveis, mas comporta uma organizao ativa, na qual intervm
decises e as pr-inferncias e que devida influncia sobre a percepo
como tal desse esquematismo das aes ou das operaes (Piaget, 1991,
p.105).

Piaget desenvolveu e definiu os dois pilares de sua teoria: a assimilao e a acomodao. A
assimilao diz respeito capacidade da estrutura cognitiva do indivduo atuar no ambiente e, em
contrapartida, a estrutura cognitiva tambm mobilizada e modifica-se em funo da realidade,
acomodando-se a ela (Piaget, 1987). Deste modo, aprendizagem a modificao duradoura
(equilibrada) do comportamento, em razo das aquisies decorrentes da experincia. O
conhecimento constri-se em um movimento contnuo de equilibrao, da ser importante que a
ao mediadora provoque os sujeitos por meio de situaes desequilibradoras, dando espao para
que eles possam criar e/ou descobrir as solues a partir do prprio esforo para a superao do
desequilbrio. (Piaget, 1987).
Para Piaget (1971), h no comportamento humano uma tendncia a uma procura
experimental por novas assimilaes, graas coordenao dos esquemas, que possibilitam um
comportamento de explorao do mundo real. Dessa forma, pode-se dizer que, para Piaget (1964), o
processo de aprendizagem ocorre por nveis gradativos, pois, necessria a existncia de estruturas
prvias construdas por meio da adaptao do indivduo (assimilao e acomodao) e da
organizao do que foi adaptado em um sistema coerente, por meio de um processo autorregulador
(equilibrao). O processo de aprendizagem depende, assim, sempre do desenvolvimento cognitivo.
Vygotsky (1991) pontua que o desenvolvimento mental um processo dinmico de
transformaes de sentidos partilhados inter e intra psicologicamente. J os espaos de trocas
coletivas de sentidos e afetos, por meio de dilogo, so fontes de novas construes psicolgicas,
pois criam os processos de internalizao, advindos da reflexo, mediante intercmbio de
experincias que so comunicadas e se convertem em um ponto de encontro entre os indivduos. A
construo de significados partilhada evidencia a importncia do processo do conhecimento a
partir da compreenso do outro e dos sentidos que so elaborados.
De acordo com Vygotsky (1989), os sujeitos so interativos, uma vez que o processo de
aquisio de conhecimento se d mediante as relaes inter e intrapessoais e de permuta com o
meio e defende a ideia de que a aquisio do conhecimento ocorre a partir da interao entre os
sujeitos. Nesse sentido, a interao um fenmeno dialtico que acontece por meio da linguagem,
propiciando ao homem uma transformao de si mesmo e de seu ambiente sendo, portanto,
essencial na transferncia do conhecimento construdo social, cultural e historicamente.
Entretanto, para que a interao ocorra indispensvel a participao ativa dos sujeitos envolvidos,
na relao com o outro para alm da relao intersubjetiva, o que proporciona o desenvolvimento
lingustico e cognitivo e o intercmbio de conhecimentos e experincias.
O surgimento do pensamento verbal e da lngua como sistema de signos crucial no
desenvolvimento da espcie humana, momento mesmo em que o biolgico transforma-se no
histrico e em que emerge a centralidade da mediao semitica na constituio do psiquismo
humano. O surgimento da lngua atribudo, por Vygotsky (1989), necessidade de intercmbio dos
indivduos durante o trabalho, atividade especificamente humana. Conclui-se, pois, que os sistemas
simblicos e, particularmente, a lngua exercem um papel fundamental na comunicao entre os
sujeitos e no estabelecimento de significados compartilhados que permitam interpretaes dos
objetos, eventos e situaes do mundo real. (Vygotsky, 1989).

917
Segundo Rego (1999), Vygotsky identifica dois nveis de desenvolvimento: um referente s
conquistas efetivas, que ele chama de nvel de desenvolvimento real ou efetivo, e o outro, o nvel de
desenvolvimento potencial ou proximal,que se relaciona s capacidades em vias de serem
construdas. Para que estas capacidades se transformem em conquistas consolidadas, fundamental
a ajuda de outras pessoas (adultos ou crianas mais experientes). O autor denominou de zona de
desenvolvimento proximal a distncia entre aquilo que o indivduo capaz de fazer de forma
autnoma (nvel de desenvolvimento real) e aquilo que ele realiza em colaborao com os outros
elementos de seu grupo social (nvel de desenvolvimento potencial).
Discpulo de Piaget, Feuerstein (1980) desenvolveu a Teoria da Modificabilidade Cognitiva
Estrutural -TMCE, que descreve a trajetria pela qual o sujeito chega soluo do problema e
prope o mapa cognitivo como ferramenta de anlise do ato mental. Para Feuerstein, a
modificabilidade um fator tanto biolgico quanto cultural, o que o remete a Vygtsky.
Para explicar como a interao humana impulsiona o desenvolvimento da estrutura
cognitiva e fomenta sua capacidade para a modificabilidade, Feuerstein desenvolve o aporte
conceitual central de sua teoria: a Experincia de Aprendizagem Mediada (EAM), que tem seu foco
no propriamente no contedo das informaes, mas, sim, na estratgia metodolgica dialgica
intencional emissor e receptor interagindo constantemente. A interao comunicacional no
processo de EAM mobiliza o cognitivo e o afetivo, em direo a uma relao dialgica e interacional.
Na viso de Feuerstein (1980), o mediador ajuda o aprendiz a construir, filtrar e escalonar
estmulos. O autor, ao destacar vrios critrios para a realizao da mediao, classifica trs deles
como critrios universais, uma vez que necessitam ser considerados em qualquer experincia de
aprendizagem: da intencionalidade, reciprocidade, do significado e da transcendncia. Assim, a falta
de um mediador ou de mediadores com intencionalidade - que se coloquem entre o sujeito e o
mundo e selecionem e organizem as informaes, contextualizando-as culturalmente,
possibilitando ao indivduo transcender os estmulos e as experincias de vida - provoca a
denominada sndrome de privao cultural, sendo que, para o autor a ausncia de transmisso
cultural impede o desenvolvimento cognitivo e afetivo adequado, reduzindo o grau de
modificabilidade cognitiva e flexibilidade mental.
Paulo Freire, no conjunto de sua obra, destaca alguns elementos ontolgico-epistemolgicos,
entre eles o conceito de educao dialgica versus educao bancria. A educao dialgica uma
aplicao imediata do conceito de processo de estruturao do mundo: [...] o dilogo o encontro
amoroso dos homens que, mediatizados pelo mundo, o pronunciam, o transformam e,
transformando-o, o humanizam para a humanizao de todos. (Freire, 1973, p.46).
Para Freire (1985), o dilogo assume papel fundamental na constituio da conscincia, pois
esta essencialmente dialgica, pelas relaes estabelecidas com os outros e com o mundo. O
dilogo a chave para a conscientizao dos homens, das mulheres e do mundo e ao ultrapassar a
esfera espontnea da apreenso da realidade o homem alcana a conscincia crtica. Por meio dessa
crtica, a realidade passa a ser reconhecida como um objeto, diante do qual o homem assume uma
posio epistemolgica: o homem em busca do conhecimento.
Com uma formao ecltica, seguidor de Marx e crtico da razo cartesiana, Morin v o
mundo em sua multidimensionalidade e o ser humano como um fenmeno total; e entrelaando
as cincias biolgicas com as cincias humanas desenvolveu o pensamento transdisciplinar, criando
a teoria da complexidade Segundo Morin (1998), um conhecimento pertinente deve enfrentar a
complexidade.H complexidade quando elementos diferentes, constitutivos do todo, so
inseparveis (como o econmico, o poltico, o sociolgico, o psicolgico, o afetivo, o mitolgico), h
um tecido interdependente, interativo e inter-retroativo do objeto de conhecimento com seu
contexto as partes e o todo, o todo e as partes, as partes entre si. Morin (2001) afirma que a
capacidade de aprender est ligada ao desenvolvimento das competncias inatas do indivduo ao
adquirir conhecimentos, associadas s influncias e estmulos externos, da cultura.

918
4 Enredamento de Profissionais e Usurios da Informao

As necessidades de informao nascem de problemas, incertezas e ambiguidades encontradas
em situaes e experincias especficas. Tais situaes e experincias so as interaes de um
grande nmero de fatores relacionados no apenas questo subjetiva, mas tambm cultura; aos
limites na execuo de tarefas; clareza dos objetivos e do consenso; ao grau de risco; s normas
profissionais; quantidade de controle, etc. Portanto, no se est preocupado, apenas, com o
significado da informao, mas sim com as condies, padres e regras de uso, que tornam a
informao significativa para determinados indivduos em determinadas situaes.
Numa relao de confiana e credibilidade, o usurio compartilha sua necessidade
informacional com o mediador, ou seja, o profissional da informao, na expectativa de que este lhe
proporcione as condies apropriadas no atendimento, fornecendo subsdios tcnico-operacionais,
para a busca e recuperao da informao. papel, do profissional, assistir o usurio, no entanto, os
instrumentos de busca, hoje, a maioria representados pelos sistemas informacionais informatizados,
devem ser didticos e interativos, ajudando o sujeito a construir sua prpria maneira de buscar e
recuperar a informao, proporcionando-lhe autonomia no manuseio dos recursos informativos e
tecnolgicos postos sua disposio. Assim, o usurio pode vir a ser consciente do seu real saber e
querer, no momento da formulao da questo de pesquisa.
O essencial que o usurio tenha condies para identificar sua necessidade informacional;
conhea e domine os mtodos e as estratgias de busca e recuperao da informao utilizando
tecnologias; adquira o controle sobre recursos e fontes de informao ao desenvolver suas
habilidades e conhecimentos na gesto da informao; reconhea a informao pertinente e
adequada para a necessidade detectada, transformando o conhecimento e ferramentas para a
tomada de decises; ou seja, que o usurio internalize atitude crtica, analtica e reflexiva,
indispensvel para a investigao e para a aplicao em sua vida pessoal e social, bem como na
gerao de conhecimento, conforme visualizao no grfico abaixo:

Grfico 1: Processo de formao no uso da Informao.
1

O estudo do comportamento informacional uma das reas de investigao da que subsidiam
a interao profissional e usurio e visa: identificar os fatores que geram a necessidade de
informao; as etapas do processo de busca e os elementos que influenciam este comportamento e
para que fim o usurio utiliza a informao obtida. Tais estudos contribuem para o desenvolvimento
dos servios prestados pelas unidades de informao (Barreto, 2005), pois, possibilitam a

1
Fonte: Rendon Giraldo; Naranjo Vlez, 2008.

919
identificao das necessidades dos usurios e fornecem subsdios para o planejamento de produtos e
servios mais ajustados comunidade.
Para Todd (2003), comportamento informacional o estudo das interaes entre os
indivduos, as vrias formas de dados, informao e conhecimento que esto sob o rtulo da
informao, assim como os diversos contextos nos quais eles interagem. Para Case (2007), o
comportamento de busca de informao caracteriza-se como o esforo consciente, que envolve uma
variedade de comportamentos de um indivduo para adquirir informao como resposta a uma
necessidade ou a uma lacuna em seu conhecimento.
Pesquisas empricas sobre comportamento informacional e comportamento de busca deram
origem a vrios modelos (Jansen et al., 2006) e ajudam a identificar os fatores envolvidos na busca e
na forma dos indivduos lidarem com a informao. O modelo de comportamento informacional de
Wilson e Walsh (1996), elaborado a partir de pesquisas multidisciplinares elenca vrios fatores que
podem influenciar o comportamento informacional dos indivduos. Estes fatores podem ser
internos e externos aos indivduos. Dentre os fatores internos esto, por exemplo: os aspectos
afetivos, habilidades para utilizar as ferramentas de busca ou recursos informacionais e
conhecimento prvio acerca do assunto e idiomas que o indivduo domina. Entre os fatores externos
esto: lugar onde o indivduo mora; unidade de informao a qual ele tem acesso; tipos de fontes de
informao que ele utiliza e aspectos de acessibilidade da informao disponveis (Calva Gonzlez,
2004).
Wilson (1996) props um modelo de busca, que apresenta o ciclo de atividades de informao,
a partir da necessidade de informao at o estgio do uso. Wilson tenta explicar o surgimento das
necessidades na busca da informao; o uso intensivo de algumas fontes de informao; e o chegar
plenamente aos objetivos com conscincia do seu alcance.
O modelo inclui diversas variveis interferentes que influenciam na dinmica da necessidade
de informao, podendo ser de natureza pessoal, papel pessoal/interpessoal ou ambiental. O autor
ainda observa que na busca da informao as necessidades diferem a depender das mudanas no
ambiente, nos papis profissionais, entre outros. Os fatores contextuais influenciam a ocorrncia e o
tipo de necessidade, afetando a percepo de barreiras de acesso informao e os modos pelos
quais uma necessidade satisfeita.
Kuhlthau (1993) desenvolveu o modelo ISP Information Search Process que divide o
processo de busca da informao em seis estgios: iniciao (quando se percebe a falta de
conhecimento/reconhece a necessidade de informao), seleo (identifica-se e seleciona-se o
tpico a ser investigado), explorao (investiga-se a informao sobre o tpico para formar seu
ponto de vista), formulao (focaliza-se a informao encontrada/construo de conhecimento /
insight), coleo (juntam-se as informaes encontradas, relacionando-as com o tpico em foco) e
apresentao (completa-se a busca e prepara-se para apresentar o que encontrou). Cada estgio
caracteriza-se pelo comportamento do usurio em trs campos de experincia: o emocional
(sentimentos), o cognitivo (pensamento) e o fsico (ao).
Assim, pode-se considerar a busca da informao como um processo de construo, que
envolve toda a experincia da pessoa sentimentos, como tambm, pensamentos e aes. A
proposio fundamental que os sentimentos de incerteza somados necessidade de buscar a
informao do origem aos sentimentos de dvida, confuso e frustrao, que vo sendo
enfraquecidos medida que o sujeito chega satisfao da informao buscada.
Para Kuhlthau (1993, p.137) a mediao essencial para permitir s pessoas fazerem
conexes, moverem-se do concreto ao abstrato, reconhecerem a necessidade de saber mais,
estudarem mais profundamente e obterem maior compreenso. A autora destaca, ainda, que, nos
ltimos vinte anos, as pesquisas sobre o comportamento informacional do usurio cresceram
substancialmente, a exemplo dos estudos de relevncia, construdos por Saracevic (1975); os
modelos de comportamento de busca e arcabouos tericos - o sense-making introduzidos por
Dervin (1983); os nveis de necessidade de informao e contextos de uso da informao, de

920
Taylor(1968; 1991); o modelo de busca de informao, de Wilson (1999) e os estudos de busca de
informao do cotidiano, de Savolainen (1995 apud KUHLTHAU, 2008).
Kuhlthau (2008) esclarece que muitas ferramentas foram aplicadas para o desenho de servios
de informao, a exemplo das apresentadas no trabalho de Ellis (1989), usadas em diferentes
atividades de busca de informao, incorporando o browsing, de Chang and Rice (1993 apud
Kuhlthau, 2008), o monitoramento e o delineamento de cenrios de Chu (2006 apud Kuhlthau, 2008),
alm do processo de descrio de como selecionar e extrair informaes, de Mrcia Bates (1989
apud Kuhlthau, 2008).
Kuhlthau (2005) afirma que suas pesquisas sobre usurios revelam novos insights sobre o
comportamento informacional. Seus estudos investigaram aspectos afetivos ou sentimentos no
processo de busca da informao integrados aos aspectos cognitivos e fsicos. Com base nas
incertezas dos usurios, ela criou o conceito de zona de interveno, com a idia de que, ao
aumentar a incerteza do usurio h indicativos da necessidade de uma ajuda para acomodar a
informao. A zona de interveno um conceito modelado com base na zona de desenvolvimento
proximal de Vygostsky (1987), que afirma que o processo de construo de uma compreenso pode
ser ajudado por outra pessoa. Com base neste pressuposto, a zona de interveno, para Kuhlthau,
aquela rea na qual o usurio da informao pode chegar com a ajuda de um mediador.
Segundo Choo (2006), a busca da informao percorre a seguinte trajetria: iniciar, encadear,
buscar, comparar, selecionar, extrair, verificar e finalizar. Iniciar, encadear e buscar ajudar o
indivduo a enfocar objetos de pesquisa e estratgias de execuo.
Como observou Choo (2006), a existncia do vazio cognitivo impulsiona o processo de busca,
que acompanhado de diferentes estados emocionais. Os primeiros estgios da busca de informao
so caracterizados pela ansiedade, confuso, frustrao e dvida. medida que o processo bem-
sucedido, a confiana cresce e surge um sentimento de satisfao. Os estados emocionais
influenciam: a) na maneira como o indivduo processa e usa a informao; b) na capacidade do
usurio de construir significado; c) no modo de focalizar a busca; d) na capacidade de distinguir
informaes relevantes e irrelevantes; e) no modo de lidar com o emocional e as expectativas; f) no
grau de interesse na pesquisa (Choo, 2006).
Ingwersen (1996) compreende a Cincia da Informao como uma cincia cognitiva,
destacando tambm sua relao com a Inteligncia Artificial, rea do conhecimento que ganhou
influncia a partir da dcada de 80, poca em que as cincias cognitivas eram entendidas como a
interseo da lingustica, inteligncia artificial e psicologia, merecendo destaque a influncia direta
desses campos no momento da recuperao da informao.
O modelo cognitivo do processo de recuperao da informao de Ingwersen (1996)
concentra-se em identificar os processos de cognio que ocorrem durante o processamento da
informao e em suas pesquisas sobre cognio humana, Ingwersen (1996) identificou que o espao
cognitivo do usurio dividido em quatro componentes: necessidade de informao; espao do
problema; estado cognitivo atual; e domnio de interesse/tarefa de trabalho. A necessidade de
informao caracterizada pela habilidade do usurio expressar o que deseja recuperar durante
uma busca de informao; o espao do problema a lacuna, que caracteriza a incerteza do usurio
com respeito sua busca; o estado cognitivo definido pelo conhecimento do usurio num
determinado tempo; o domnio do interesse/tarefa de trabalho so as condies sociais e ambientais
oferecidas aos usurios.
A necessidade de informao leva o usurio a formular questes ao sistema, que podem ser
negociadas entre usurio e profissional. Para responder s questes, este estabelece uma estratgia
de busca, seja alfabtica ou sistemtica, que levar escolha das ferramentas a serem utilizadas. O
profissional disponibiliza para o usurio a descrio dos documentos baseada em resumos e ttulos,
visando avaliao pelo usurio. Comprova-se, assim, que a interao entre usurio e profissional,
tanto na etapa de indexao/recuperao, como no atendimento no servio de recepo ao usurio,
se faz mediante um processo de gesto cognitiva.

921
Sobre esta temtica, Hjorland e Albrechtsen (1995) sugerem o desenvolvimento de uma
disciplina epistemolgica para a Cincia da Informao, aplicao de uma epistemologia
sociocognitiva nos domnios do conhecimento. Sempre h explicaes filosficas subsidiando os
produtores da informao, usurios, mediadores e os que desenvolvem sistemas. O autor declara
que, do ponto de vista sociocognitivo, os discursos comunicativos so parte de uma diviso do
trabalho, isto porque o conhecimento historicamente, culturalmente e socialmente determinado,
segundo a teoria da atividade; a informao precisa existir no coletivo e no somente na mente
individual; e o conhecimento subentende teorias, paradigmas e epistemologias.
Segundo a teoria da atividade, o individuo como ator constri o conhecimento, a partir dos
fatos, valores e procedimentos, por meio da interao entre o conhecimento interno e sua
participao na vida externa. Observa-se nesse sentido, que os sistemas de organizao do
conhecimento, os conceitos e suas relaes semnticas, as estruturas de informao, as
necessidades de informao e os critrios de relevncia so moldados em comunidades
discursivas.
Nos anos 90, Hjorland e Albrechtsen (1995) declaram a necessidade de incorporar, na
investigao psicolgica, perspectivas social, cultural e histrica mais amplas, argumentando: a
tendncia sociocognitiva no apenas uma crtica ao cognitivismo ortodoxo, e, sim, uma nova
maneira de assumir a viso cognitivista, integrando este enfoque ao universo sociolgico e cultural;
o domnio do discurso ou do conhecimento um espao cientfico ou profissional com estruturas
nicas de comunicao, tipos nicos de documentos e combinaes informacionais especficas; a
indexao um processamento intelectual que depende da cognio e do domnio do contexto
fsico, psicolgico e sociocognitivo, supondo que o indexador necessita realizar a identificao e a
seleo de conceitos na concepo orientada para o contedo e para a demanda.
A anlise de domnio vista por Hjrland (2002), como uma unidade de anlise formada pelos
campos coletivos de conhecimento ou domnios de conhecimento, de acordo com suas
comunidades discursivas. O autor identifica uma comunidade discursiva como um espao onde
ocorre um processo de comunicao ordenado e delimitado, caracterizado como cientfico,
acadmico ou profissional, com estruturas de comunicao e publicao,com tipos de documentos,
terminologia especfica e estruturas informacionais nicas, e todas com estrutura e organizao do
conhecimento, padres de cooperao, formas de linguagem e comunicao, sistemas de
informao, literatura e sua distribuio e critrios de relevncia.
A abordagem da anlise de domnio proposta por Hjrland (2002) baseada nos estudos e nas
concepes de John Dewey, Vygotsky, e na Teoria da Atividade, desenvolvida por Leontiev
(desdobramento da Teoria Scio-histrica de Vygotsky), que fornece uma estrutura pragmtica
para o estudo da cognio e do comportamento humano. Nesse foco de anlise, o conhecimento
visto como resultado da interao do sujeito com o meio, como estrutura criada culturalmente e
como produto histrico da atividade humana ligada, no s mentes dos indivduos, mas prtica
social.
Na abordagem de Hjrland (2002), a indexao um processamento intelectual que depende
da cognio; e o domnio dos contextos fsico, psicolgico e sociocognitivo necessrio para que o
indexador realize a identificao e a seleo de conceitos na concepo orientada para o contedo e
para a demanda.
Hjrland (2002) orienta para que a anlise de domnio seja combinada com as pesquisas
tradicionais da Cincia da Informao, fortalecendo a identidade do campo cientfico e a
importncia do relacionamento entre as pesquisas tericas e prticas. Para tanto, o autor descreve
onze abordagens, entre tradicionais e inovadoras, para a anlise de domnio na Cincia da
Informao, a saber: a) produo de guias de literatura e portais temticos; b) construes de
classificaes especializadas e tesauros; c) indexao e recuperao especializadas; d) estudos
empricos de usurios; e) estudos mtricos da informao; f) estudos histricos; g) estudos do
gnero e sobre documentos; h) estudos crticos e epistemolgicos; i) estudos terminolgicos,
linguagens para propsitos especiais, bases de dados semnticas e estudos do discurso; j) estruturas

922
e instituies em comunicaes cientficas; k) cognio cientfica, conhecimento especializado e
inteligncia artificial.
A teoria do Sense-Making, de Dervin (1983) e de Dervin e Nilan (1986), destaca-se pelo
enfoque cognitivo no estudo de usurios e compe-se de quatro elementos: a situao no tempo e
espao; a lacuna que identifica a situao desejada; o uso, o resultado; a ponte como meio de
preencher a lacuna, ou seja, a necessidade do usurio. Nesta teoria, a realidade (os contextos) no
completa, nem constante, ao contrrio, permeada de descontinuidades fundamentais e difusas,
intituladas lacunas (gaps).
A expresso Sense-Making pode ser decodificada em dois sentidos: 1) quando se refere ao
objeto de estudo, ao processo emprico por meio do qual os usurios de informao atribuem
sentido s situaes em que se encontram (s lacunas cognitivas, s necessidades de informao
sentidas, ao engajamento no processo de busca da informao) e, tambm, s informaes que os
usurios encontram, utilizam e se apropriam. 2) quando se refere forma de estudar o
comportamento informacional dos usurios, relaciona-se com o tipo de metodologia usada para
analisar os processos pelos quais os usurios atribuem sentido s situaes em que se encontram e
s informaes que utilizam.
O modelo comportamental de busca de informao de Ellis (1989) constitui-se de um conjunto
de fases/estgios, denominadas de caractersticas pelo autor, que so: iniciao: meios empregados
pelo usurio para comear a busca de informao; ligao: seguir uma rede de citaes ou outras
formas de conexo referencial; navegao: procura casual por informao em reas de interesse
potencial; diferenciao: uso de diferenas conhecidas entre as fontes encontradas, como um modo
de filtrar a quantidade de informao obtida; monitoramento: manter-se atualizado acompanhado
regularmente as fontes de informao; extrao: seleo de fontes relevantes; verificao:
checagem da preciso de informao; finalizao: busca final por informao. Tais
comportamentos no necessariamente acontecem numa sucesso especfica, podendo ser iniciados
em tempos diferentes no processo de busca global. Assim, a partir do incio, pode-se ir para a
navegao ou para a ligao, voltar ao incio, fazer o monitoramento, voltar ligao etc.
Na perspectiva de concretizar a aproximao dos servios de informao com seus usurios,
desde 1985, vem sendo desenvolvido o movimento denominado information literacy, com iniciativas
em vrios pases europeus, nos Estados Unidos e Amrica Latina, cuja finalidade desenvolver a
competncia informacional no usurio para busca, recuperao e uso eficaz da informao e que,
necessariamente, se fundamenta nos princpios e teorias cognitivas aplicadas educao,
objetivando estimular o processo ensino e aprendizagem, que se efetiva nas aes de capacitao do
programa.

Concluso

Em resposta proposta deste estudo, que pretendeu refletir sobre o aporte da cognio nos
processos interativos de organizao e disseminao da informao em bibliotecas, com base na
galeria de autores estudados, reafirma-se a existncia de um embricamento da biblioteconomia, das
cincias documentais e da cincia da informao com as cincias cognitivas, em virtude da singular
natureza social destas cincias, que se cumpre pela prestao de servio de informao ao sujeito
social, levada a cabo pelas instituies e profissionais da rea.
Outrossim, na perspectiva de intermediar a relao do usurio com os recursos e o
profissional da informao, que bibliotecas, centros de documentao e outros servios da mesma
natureza tratam a informao e constroem instrumentos de representao, tais como catlogos,
bibliografias, sistemas de recuperao da informao, de modo que tais instrumentos espelham o
contedo do acervo representado e assumem o papel de interface entre este acervo e o usurio,
facilitando tambm a interveno do profissional, quando necessria.

923
Neste sentido, os processos e ferramentas de organizao e representao do conhecimento,
no mbito da biblioteconomia, das cincias documentais e da cincia da informao tm
funcionalidades nitidamente mediadoras, tendo em vista que objetivam a localizao da informao
na perspectiva do acesso pleno ao conhecimento.
Neste nterim, a cognio mostra-se um conhecimento necessrio, pois amplia a possibilidade
do profissional da informao compreender e delinear a trajetria lgica do usurio no momento de
busca da informao, bem como, perceber os meandros construdos pela cognio na apreenso do
conhecimento. Assim, imbudo deste conhecimento, o profissional pode construir instrumentos de
busca e recuperao da informao mais prximos das estratgias cognitivas do usurio.
Constata-se, deste modo, que a organizao do conhecimento sob uma vertente cognitiva ,
de fato, uma questo primordial para o acesso ao conhecimento, considerando-se, sobretudo, que a
gerao de um novo conhecimento, no indivduo, acontece por meio da assimilao da informao
organizada, que estimula o estabelecimento de vnculos de significao com o conhecimento
pregresso internalizado neste indivduo.
Do exposto, conclui-se que os processos que operacionalizam o campo da organizao do
conhecimento transcendem o carter utilitrio e pragmtico de reunir, registrar e tratar ou
processar a informao, de modo manual, mecnico ou digital, tendo em vista que, subjacente a
estes processos, est o propsito de propiciar ao sujeito social o acesso pleno informao, na
expectativa da criao do conhecimento, o que, inexoravelmente, inclui a necessidade de conhecer
este sujeito cognoscente.

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TEMA 3
Normalizao e interoperabilidade para o acesso
informao

929
KNOWLEDGE ORGANIZATION IS AN ESSENTIAL PART OF KM LIFECYCLE RELATED TO OPEN ACCESS
REPOSITORIES

AGNES HAJDU BARAT
University of Szeged
[email protected]

Abstract This paper considers different types of Open Access from both a scientific and general viewpoint,
introduces some initiatives, including Budapest Open Access Initiative (BOAI) and highlights the role of Open
Access (OA) in scholarly communication. It details experiments to interlink the local full text repositories and
central database. This article also takes into account the challenges of Open Access to Knowledge in Hungary
and the weakness of search engines including Knowledge Organization in these systems. A dual viewpoint is
taken, from both researchers and libraries.
This dedicated paper will focus on OA movement in theory and practice in the context of KM lifecycle:
knowledge creation, organization, dissemination and preservation in the repositories with especial regards to
knowledge organization.
The paper will introduce the HUNOR consortium and its activities, that was established in 2008 by the
libraries of Hungarian higher education institutions and the Library of Hungarian Academy of Sciences to
advance national Open Access practices.
Methods: Summarizing the international OA initiatives, particularly the Budapest Open Access Initiative and
its visions and recommendations for the next ten years; case studies from the Hungarian practice of OA
repositories. The study is an applicable research, analysing facts using comparative methods.

Keywords Open Access. Repository. Knowledge Organization. Knowledge Management. Hungary.

Introduction

The open access of modern terms in the field of access to information has many dimensions.
There is a time for paradigm shift related to scholarly publication and publishing. Researchers and
academics can retrieve almost any information but equally, items can be lost in this digital world.
Libraries respond to their obligations related to information and content services, but this
was made more difficult because the price of scholarly journals increased greatly. (Bnhegyi, 2003)
There were several movements and campaigns among libraries, librarians and researchers
against editors of scientific journals and owners of databases in the recent past, and there are many
new initiatives, declarations and manifestos. In reply to these challenges the two major initiatives
are:

- repositories of universities and institutions
- e-journals with OS initiatives

As a consequence of these actions there were many solutions in relation to the OA and these
topics have become more crucial.

930
1 Some international activities in connection with Open Access

1.1 IFLA mission on Open Access

Parallel in previous actions, IFLA also focus on the OA and the IFLA Governing Board
published IFLA Statement on Open Access (ISOA) at 18 April 2011.

The International Federation of Library Associations and Institutions
(IFLA) is committed to the principles of freedom of access to information
and the belief that universal and equitable access to information is vital
for the social, educational, cultural, democratic, and economic well-being
of people, communities, and organizations. (IFLA, 2011).

These principles harmonize the presidential theme of the Past President of IFLA, Ellen Tise. It
is: Libraries Driving Access to Knowledge (A2K) and there were the own open session (120) in
Helsinki. Since her presidency OA has been one of the fundamental pillars of IFLAs mission
including the Strategic Plan 2010-2015 in which a whole-of-organization approach is taken to
integrating the issue into federations current and proposed activities.
IFLA will advise its member associations in regard to:

promoting open access in national policies;
stimulating library members to promote open access in their communities and to
implement measures to enlarge the impact of open access;
enriching the local and national information infrastructure in order to stimulate
open access;
assistance in the work for national policies regarding open access to knowledge, as
well as to publicly funded research and cultural heritage;
supporting organizations, programmes, initiatives and services that are working for
the promotion of open access. (IFLA, 2011).

The ISOA and other assessments have verified that the current models dont guarantee
veritable and unrestricted access and are not sustainable. This document gives a definition of Open
Access, points to the changing role of libraries, details the benefits of Open Access and the need for
a clear focus on the access issue. We should emphasise that further to OA topics there are other
essential objectives, for example effective and user friendly solutions, freedom from censorship,
regulated and harmonized copyright law, long-term preservation, high quality and widespread
information literacy, secured and rigorous systems of repositories, suitable and continuous
developed infrastructure, standardized methods, usage of Knowledge Organization and Knowledge
Management, etc.
IFLA Governing Board has decided to develop a transition plan that specifies the steps to be
taken to transform IFLAs publications into open access. Since 2012 any authors should give
permission of the widest possible dissemination and use of congress papers. IFLA requests that all
Authors of Papers accepted for presentation at the IFLA World Library and Information Congress
provide their paper under a Creative Commons Attribution 3.0 (CC-BY) License. For the avoidance
of doubt, IFLA will also accept papers under terms with fewer restrictions than CC-BY, such as
under the terms of the CC0 Licence. (IFLA, 2013).

931

IFLA Sections are working on establishing repositories and they will publish there accepted
papers, significant submissions, presentations, case studies, fundamental and crucial documents.

1.2 Open Session in World Library and Information Congress in Helsinki

There was a very successful open session in World Library and Information Congress (WLIC)
in Helsinki in 2012, entitled: The dual mode of scholarly communication, challenges and opportunities for
librarians, libraries and the profession Open Access Taskforce.
The focused centred on what new skills libraries need to acquire in order to manage OA and
indeed play a major role in the development and implementation of an OA-infrastructure.
The challenges apply to various dimensions in library operations. The session looked at the
following two issues:
- Managing OA content in the widest sense
- Developing Infrastructure
Both topics had equal importance.
- Open Access and the role of libraries
ELLEN R. TISE, Past President, IFLA (Library and Information Services, Stellenbosch
University, South Africa)
- Open Access - the balance August 2012 -overview (policy, mandates, stakeholders, numbers,
geographical spread etc.)
LARS BJRNSHAUGE (SPARC Europe & Chair, IFLAs Open Access Task Force)
- SCOAP3
- Sponsoring Consortium for Open Access Publishing in Particle Physics, latest developments.
JENS VIGEN (Library Director, CERN, Switzerland)
- How can libraries make financial and human resources available for coping with OA
RICK LUCE (University Libraries, University of Oklahoma, USA)
- What are new skills libraries need to have at hand in order to manage OA and indeed play a
major role in the development and implementation of an OA-infrastructure: Open Access content
management and skills required
ANGELA REPANOVICI, (Transilvania University, Brasov, Romania)
- Moving towards an open access future: the role of academic libraries. Selected findings from a
Roundtable discussion organised by SAGE
LARS BJRNSHAUGE (SPARC Europe & Chair, IFLAs Open Access Task Force).

2 Budapest Open Access Initiative

The original Idea of Open Access was born in Hungary with the Budapest Open Access
Initiative (BOAI) in February 2002. The BOAI was the first initiative to use the term open access
for this purpose, the first to articulate a public definition, the first to propose complementary
strategies for realizing OA, the first to generalize the call for OA to all disciplines and countries, and
the first to be accompanied by significant funding. (BOAI10, 2012).

932
There were many initiatives, public statements, and principles after the cities in which they
were formulated and announced before BOAI, for example there are well-known public statements
named after Aarhus, Dakar, Florence, Florianpolis, Halle, Havana, Lund, Nairobi, Okinawa, San Jos,
Sante Fe, Tempe, and Windhoek. The Budapest Open Access Initiative is consciously following these
initiatives.
The BOAI pointed out the economic feasibility of OA, that it gives readers extraordinary
power to find and make use of relevant literature, and that it gives authors and their works vast and
measurable new visibility, readership, and impact. (BOAI, 2002).
The organizers have developed a homepage for these initiatives and they have followed new
launchings, activities and standards. They have collected translations of original English
declarations, have given a forum for activists and representatives and have advised both
theoretically and practically. If we analyse two lists of translations we find the original BOAI was
translated more widely in the word, and the attention of European, particularly Iberian countries
has spread about OA events and statements including BOAI and BOAI10.

BOAI translations BOAI10 translations
Arabic
Bengali
Catalan
Chinese (simplified)
Chinese (traditional)
French
German
Korean
Portuguese
Russian
Spanish
Turkish
Catalan
French
German
Greek
Italian
Japanese
Polish
Portuguese
Portuguese (Brazilian)
Romanian
Russian
Spanish

The organizers collected and elaborated essential resources related to OA, for example: Guide
to Open Access Publishing and Scholarly Societies, Guide to Institutional Repository Software,
EPrints Handbook, Open Access Journal Business Guides, Meeting of the Academies of Sciences:
Open Access as a Means to Promote Academic Publishing, etc. One of the most used resources is the
business guide for OA Journal Model. This suggests different types of business plan, and guides for
launching and converting to open access. There were 3 expanded and revised editions of Open
Access Journal Business Guides from 2003-2004.

2.1 Ten years on from the Budapest Open Access Initiative BOAI10

For the tenth anniversary a new document was created: Ten years on from the Budapest Open
Access Initiative: setting the default to open. (BOAI10, 2012) The paper gives a prologue with
summarized stages, changes and developments for the last ten years. Original issues were studied
and compared with current situations. Ten years ago the BOAI brought a worldwide movement for
Open Access to all new peer-reviewed research. The BOAI10 verifies the idea of Open Access is no

933
longer at the forefront of this worldwide campaign, but not yet at the end. After ten years they
studied the essential and recommended points of BOAI and the newly created initiatives provides
more detailed and progressive statements. The following statement was applied: Nothing in the
last ten years makes OA less necessary or less opportune.
The following relevant points of BOAI were reaffirmed, including
- statement of principle,
- statement of strategy,
- statement of commitment,
- the aspiration to achieve this unprecedented public good and to accelerate research,
enrich education, share the learning of the rich with the poor and the poor with the rich,
make this literature as useful as it can be, and lay the foundation for uniting humanity in a
common intellectual conversation and quest for knowledge.
- confidence that the goal is attainable and not merely preferable or utopian. [] (BOAI10,
2012).
New recommendations were made in connection with policy: licensing and reuse;
infrastructure and sustainability; advocacy and coordination for the next ten years. One of the most
crucial parts of these recommendations over the fundamental political intentions and principles
from the point of view of knowledge organization is included in the third section relating to
infrastructure and the sustainability of institutional repositories. The statement encourages the
establishment of more institutional and/or disciplinary repositories, or both. The interface in these
repositories should be available in several languages. Any OA repository should harvest from other
OA repositories also and OA repositories should provide tools to convert deposits made in PDF
format into machine-readable formats such as XML. This recommendation posits that research
institutions, including research founders, should support the development and maintenance of the
tools, directories, and resources essential to the progress and sustainability of OA.
- The list of essential tools will evolve over time, but includes OA repositories and journals,
free and open-source repository software, free and open-source journal management
software, tools for text- and data-mining, directories of OA journals and repositories,
directories of university and founder policies, providers of open licenses, digital
preservation services, current awareness services, services for cross-linking and persistent
URLs, and search engines.
- Research institutions should also support the establishment of worldwide, open standards
for metadata and querying that publishers and repositories could implement to make OA
research more discoverable, retrievable, and useful. (BOAI10, 2012).

3 KM life cycle related to Open Access Repositories

According to IFLA KM Section brochure, the objectives and mission of KM provide theoretical
and practical knowledge in areas of KM such as:
- knowledge sharing;
- improved measures of performance;
- being value-oriented rather than service-oriented;
- explore pros and cons of KM implementation;
- foster a deeper understanding of KMs many dimensions and its relevance in the work within
the library and information environment;
- provide international platform for professional communication and understanding of KMs
significance for librarians and their institutions;
- support the implementation of KM culture in information environments including libraries;

934
- facilitate the application of KM in libraries by developing a program of activities that supports
information professionals in their effort to implement KM in their own organizations.

- meet the demand of librarians to enhance their skills in an ever changing work environment,
the Section seeks to;
- use interactive communication in information settings to enhance knowledge sharing;
- use information technology to convert knowledge into information for use;
- aid in knowledge retention / preservation.

Within the context of IFLA, KM is defined as:

.... a process of creating (generating, capturing), storing (preserving,
organizing, integrating), sharing (communicating), applying
(implementing), and reusing (transforming) organisational knowledge to
enable an organisation to achieve its goals and objective. KM is extending
the concept of knowledge beyond existing concepts like memory,
storage, and information. The term knowledge is not limited to
published information; it also covers such areas as tacit knowledge
(expertise), implicit knowledge, explicit knowledge, and procedural
knowledge. (IFLA KM Section Brochure, 2012).

We define Knowledge Management Life Cycle (KM LC) in various ways. Generally we can
verify KM systems as an exercising mutual influence, developing, processing and changing systems
continually.

Figure1. Knowledge Management Life Cycle
Knowledge Creation
Knowledge Innovation and
Transfer
Knowledge Sharing and
Dissemination
Knowledge Capture
Knowledge Refining
KM Life Cycle
Knowledge Storage
Testing and Deployment

935
The Knowledge Management life cycle has, in my opinion, the following steps: Knowledge
creation, Knowledge Capture, Knowledge Refining, Knowledge Storage, Testing and Deployment,
Knowledge Sharing and Dissemination, Knowledge Innovation and Transfer.
There are some stages to add and use any Knowledge Organization solutions. During the KM
LC objectives are availability of the technologies, usability, searchable, interoperability,
permeability and visibility. Actually each phase of the KM life cycle is associated with issues, input
data, support mechanisms, and output data. The difference between the input and output data
depends on the processes involved in the particular phase of the KM life cycle. For example, in the
archiving process, the output data are indexed according to a standard or controlled vocabulary,
whereas in the translation phase, the format of the information is converted to a more useful
form. (Business and Investment Center, n.d.).

1. Knowledge Refining places new knowledge in context.
2. Duration of Knowledge Storage: we should archive in reasonable formats and accessible
systems, and, if required, adjust current concepts.
3. One of the Testing and Deployment viewpoints is the KO aspect for the valuable OA
repositories and systems.
4. We can make the Knowledge Sharing and Dissemination process on the bases of disciplines,
systematic concepts, controlled vocabularies, etc.

BOAI10 verify the significance of gathering, organizing, and disseminating OA metadata in
standard format, cross-linking for all new and old publications, including non-OA publications.

4 Case studies: Hungarian repositories

There are a few initiatives for creating institutional repositories in the country. The HUNOR
(HUNgarian Open Repositories) Consortium was the first launching and cooperation between
Hungarian institutional repositories as a light association. The establishers were the following
institutions:
- Corvinus University, Budapest - PhD dissertations Archive;
- Corvinus University, Budapest researches;
- Contenta, University of Szeged network of more repositories;
- DEA - University of Debrecen Electronic Archive, University of Debrecen;
- Midra University of Miskolc Digital Repository and Storage, University of Miskolc;
- REAL Repository of Hungarian Academy of Science (HAS), Library of the HAS, Budapest;
- REAL-d Theses of the doctors of the HAS. Library of the HAS, Budapest.

The HUNOR consortium was established in 2008. HUNOR has 24 current institutional
members, mostly from the academic area. The members of HUNOR are dedicated to promoting
Hungarian research both nationally and internationally and to achieving effective dissemination of
scientific outputs through the implementation of national infrastructure of open access
repositories. (HUNOR Leaflet, n.d.) The consortium is coordinated by the National and
University Library of the University of Debrecen.

Their activities: meetings, mailing list, websites, surveys, reports, presentations, tutorials,
guidelines, projects, advocacy, consultancy, helpdesk. Their projects: OpenAIRE, OpenAIREplus;
COAR; DART-Europe; LIBER. Summarizing the result of this 4 year old initiative we can enumerate:
- Hungarian Open Access website,

936
- Hungarian version of ROMEO,
- DRIVER Guidelines in Hungarian,
- 22 Hungarian Journals in DOAJ,
- 16 Hungarian publishers (97 journals) in ROMEO.

University
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Corvinus 1 1 1 1
Corvinus 2
Debrecen 1 1 1
Gyr
Miskolc 1
Sopron 1
Savaria - Szombathely 1 1
SOTE 1 1

Table1. Types of University Repositories

4.1 DEA

The flagship of HUNOR and all Hungarian repositories is DEA (University of Debrecen
Electronic Archive) which is maintained by the University and National Library in Debrecen.
Use is made of all related legislative rules and regulations (including a governmental
mandate on the open availability of PhD theses) to collect as many documents as possible into the
repository. University of Debrecen is a DART-Europe, DRIVER partner.
At the same time they are building a publication database for the university and offer full text
deposit when researchers upload bibliographic data of their research articles. The service
forgenerating personal bibliographies and CVs for personal and/or departmental web pages is
under development. The aim is to offer a repository-centred information package for researchers of
the university.
Apart from the development of DEA they are also interested in integrating Hungarian
research output into the European landscape. To achieve this goal they have to create an
infrastructural background for institutional repositories and develop an open access culture in the
country. (Karcsony, Gy. & Blint, ., 2008).
The structure of DEA is divided into the following parts: lectures, reports, educational
material, Database of publication 2834 titles, library rules, scientific publications.

937
31

Figure 1. The structure of DEA

Naturally we can search for these items via Google. When we see the results of the search we
can see how many works there are in the repository from each author.

Figure 2. Results of the search
My next point considers browsing the repository. We can browse categories of collections,
date of publishing, author, title, subject heading and date of uploading.

938
The most interesting point is the browsing by subjects:

1. Verbal and substantive forms of the same concepts;
2. Same concept, different letters, the last one having the extra and unnecessary
position after the concept (colza);
3. Mixing the different terminologies, languages (Hungarian, English, Latin, etc.).

Problem: the KO system is not harmonic and standardized in the repositories.

34
Browsing by subjects in DEA
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The KO system is not harmonic and standardized
verbal and substantival
forms of the same
concepts
Different
letters

Figure 3. Browsing by subjects in DEA

Conclusion

The principal conclusions consider the searching of the repositories: the problem being that
the KO system hasnt yet been harmonic and standardized in the repositories. Knowledge
Organization is an essential part of Knowledge Management (KM) lifecycle related to Open Access
Repositories and we have to solve the information retrieval by content availability of the
technologies, usability, searchable, interoperability and visibility.
I have given a case study about Hungarian repositories from aspects of Knowledge
Organization (KO) and I have identified the consequences of lack of classification and incompletion
of information retrieval systems.
Personal conclusions:
OA will become more widespread, but the traditional publication also remains parallel. OA
will bring many positive changes, to ensure that:

939
- Correct citation methods for students are taught much more effectively, at all levels from
primary to university.
- Colleagues consider copyright and ethical aspects.

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940
THEORY AND PRACTICE OF CONCORDANCE BETWEEN DIFFERENT EDITIONS OF UDC

AGNES HAJDU BARAT
University of Szeged
[email protected]

Abstract This paper aims to explore the theory and practice of concordance between different editions of
UDC particularly in Hungary.
There is a great and long history of UDC usage in Hungary. There were eight abridge or medium editions from
the second world war including the last one in 2005. The last publishing had about ten years from the earlier
one. It brings so many problems to follow the changing of numbers. The last concordance was published in
2008. This was the first printing and electronic parallel edition. After the last Hungarian edition the users,
particularly the librarians waited for the concordance between two editions (1991 and 2005). There were
several meeting about inaugurate of the new numbers and changing. The concordance can help librarians to
use the new version and to adopt the knowledge of earlier editions. The last edition (2005) based on the
database of UDC MRF in the time and we hope it will be help to set the concordance. Under the preparation
the last Hungarian edition we decided to use the new information in the text about the revision particularly if
the actual number is new comparing to the last edition. We hoped it will help us to set the concordance it
was only the dream and preparing the concordance was very difficult.
Methods the study is an applicable research, analysing facts and is done by comparative method. I describe
all processes, particularly the decisions from aspects of knowledge management.

Keywords Universal Decimal Classification. Classification Theory. Concordance. Paradigm of Stability and
Actuality. Hungary.

Introduction

In Hungary one of the possibilities for exploring the contents of documents and processed
information stored in libraries is the use of the Universal Decimal Classification (UDC = ETO).
Similarly to most of the surrounding European countries, the UDC is a significantly widespread and
traditionally applied information retrieval language.
We can find it in every type of library and at various levels. Perhaps it is not an
overstatement to say that every library has used the UDC at least once in their history, and most of
them still use it. Such standardization has been very wide and desirable, although the UDC has not
become everywhere as popular a scheme among users as it has in Hungary. Some integrated library
system (ILS) left the UDC numbers from their data. Therefore the expectation of colleagues
increased our commitment to concordance (Hajdu Barat, 2004, p.173).

1 Short history of the different UDC edition in Hungary

There were three types of UDC editions in history of the UDC usage in Hungarian:
- Abridge,
- Medium,
- Full.

941
Its not an overstatement, that the usage and publications of the UDC in Hungary are
significant milestones in the international history of UDC. Only the most important and well-known
facts:
1893 Gyula Mandello
Otlet and La Fontaine were searching for a detailed classification system. During a
journey abroad Gyula Mandello (1868-1919; economist, university professor and
editor of Kzgazdasgi Szemle [Economic Review]) called Otlets attention to Melvill
Deweys Decimal Classification (DC). This event was told to Lszl Esztegr (1870-
1905 - director of the Szchnyi Library) by Otlet during the second international
bibliographical congress(1897).
1895 Survey on Deweys Decimal Classification in German in the West-stliche
Rundschau by Kroly Mandello.
1904 Lornd Hegeds suggesting the usage of the decimal system in the Parliament
Library.
1910 Szab Ervin introduced the use of the UDC to the Metropolitan Library by from
1910.
1912 The first Hungarian edition was prepared by autolitography and published in 1912.
1916 The UDC is in use in the library of the Commercial Museum (Kereskedelmi Mzeum
1923 Initiation of the UDC by Gza Kplny in the Technological and Material Testing
Institute (the antecedent of OMIKK).
1936 Initiation of the UDC in the Szchnyi Library.
1929-1941 Duplicating of the eight-volume edition by Gyula Veredy in the Capital Library
(Fvrosi Knyvtr). In this edition the pressmarks are more near to the
international standard.
1943 The second volume of Gza Kplnys two-volume work on librarianship is the
abridged edition of the UDC.

The fact that form 1938 Hungary became the national member of the FID through the
Association of the Hungarian Librarians and Archivists beneficially effected the spreading of UDC.
The next official publication of the UDC editions was a short Hungarian version of the UDC in 1943.
In the meantime the tables were published and used as internal duplications. From 1947 the
National Documentation Centre (ODK), then the National Library Centre, and finally the Centre for
Library Science and Methodology of the National Szchnyi Library represented Hungary in the
FID, and these institutions published the tables four times in three volumes between 1950 and 1955
(Hajdu Bart & Fejs, 2005).

942
Volumes of the
abridge/medium
Year
Publisher Closed Volume
No.
Copies
1950 National Documentation
Centre Duplicated
P-Notes 1949. 3 Four editions
published a
total of 3500
copies
Centre Duplicated
P-Notes 1950. 3
Centre Duplicated
DK-Ergnzungen
1951.
3
1955 National Szchnyi Library
Duplicated
Ext. Corr. 1:6 1949-
1952
3
1958 Az OSZK kiadvnyai. Gondolat
Kiad: Budapest
Ext. Corr.2:3 1954 1 1150
1966 MSZ 4000-66 (FID Publ.389.) EC 5:6 and EC 6:1
1965
2 3000
1977-1978 MSZ 4000-77 (FID Publ.555.) EC 9:2 1976 2 6000
1990-1991 OMIKK-OSZK KMK (FID
Publ.691.)
EC 13:3 1988 2 2000

Table 1 The Hungarian abridge and medium editions

The last medium issue is more generic and together with the subdivisions and auxiliaries. It
summarizes the human knowledge in 33.000 notation.

1.1 The History of the Hungarian Full Editions

From 1968 the Hungarian Standards Office published booklets containing the full edition of
the UDC for more than 20 years. A full edition is being used mainly by reference libraries with great
stores and for reveal special collections. Additionally, there is a need of a broader determination of
contents in processing smaller library stores. Therefore, the medium edition of UDC was published
in 1990. This volume was not published as standard by Hungarian Standards Office. This volume was
published by the Centre for Library Science and Methodology of the National Szchnyi Library
(OSZK KMK) as well as the National Technical Information Centre and Library. Although, later a
medium issue was published as a reprint, but this did not contained newer notation (Hajdu Bart &
Fejs, 2005).
The well-known grey booklets were published between 1968 and 1992 in 112 volumes. The
lasts were the Religion (2) and Housekeeping (64). The editions were supported by the OMKDK (later
OMIKK); the Hungarian Standardization Office (M. SZ. H.), the Library Department of the Ministry of
Public Education; and the National Technological Development Committee (Orszgos Mszaki
Fejlesztsi Bizottsg). The theoretical work was governed by the seven member editorial board
(founded in 1965).

943
The chairmen and the secretaries of the editorial board:
period chairman secretary
1965-1968 Pter Lzr Bla Babiczky
1969-1974 Gza Sebestyn Bla Babiczky
1975-1990 Bla Babiczky Gbor Barta

Bla Babiczky had a significant role in the history of complete editions. I will never forget the
first UDC conference (26-11-1993) after formation of the Consortium. Between FID and the
Consortium it was important not to stay away from the international events to get information.
Bla Babiczky was real responsible in this case also.
Bla Babiczkys editorial work of many decades standing achieved appreciation as he
followed the changes published in the E&C. The page as an illustration represents the work of an
editor-colleague of an international edition before the UDC MRF database. Bla Babiczky was such a
man who we could learn from: humanity and humility.
By this time the 1990s the system of the complete editions has dissolved and collapsed in
many countries using UDC. The reasons were, first of all, the manual editorial and the printing
operations became more and more difficult. The second reason was the administrative difficulties
the operations of the UDC complete editions were not able to keep up with other standards validity
and publishing policy. In fact, the international standard was so different from the majority of the
national standards. The main difference is/was the judgement of validity, because the validity of
the UDC numbers has no time limit. They are valid independently of the time of publishing till
they are not modified or deleted. However, its standard style and compulsory nature similar to
other standards is unquestionable.
The newest Hungarian UDC edition (2005) has come out. It was a real hard work; weve been
waiting for it for a long time. Its obvious that that this publication is not only an independent
product but just a simple station in the 100 year-old history of the UDC publications according to
international processes and the technical improvements. The year 2006 when the UDC Publ. No.
P057 was published with 2005 time of edition was a great change in the history of the Hungarian
UDC publications. In order to judge it correctly we should survey the antecedents.

1.2 The Hungarian Edition Based on the MRF (Master Reference File)

The preparation of the 2005 edition started in 1993. One year after the formation of the UDC
Consortium 26-11-1993 there was a national UDC conference organized by the Association of
Hungarian Librarians and the National Szchnyi Library (OSZK). The reasons of this conference
were:

Changes in the international system of UDC editions:
- formation of the Consortium;
- the transformation of the revision;
- possibilities to follow the changes.

Changes in the national system of UDC editions:
- cessation of the complete edition;

944
- dissolution of the supporters system;
- the UDC seven member editorial board has neither consigner nor function.

Objectives:
- subscription to the volumes of MRF database and the Extension and Correction to the UDC;
- establish a central place responsible for the improvement of UDC in Hungary (UDC office);
- Get sponsorship (of principle or financial) of the representatives of national libraries in order to
continue the UDC operations.

The conference supported the need of UDC and also the formation of the UDC office, and
finally, the joining the Consortium. It was decided that the National Library is responsible for the
Hungarian UDC and asked the OSZK for the execution of tasks and organisation of the work. To
have the financial background they requested 2 000 000 HUF from the Ministry of Public Education
(Mveldsi s Kzoktatsi Minisztrium) and also a guarantee of the annual membership fee. At
the end of 1996 the OSZK and the UDC Consortium could contract (for 3 years: 1997-1999) to the
usage, the adaptation and the publishing of the MRF database. The translation to Hungarian could
begin, but before that we had to decide important questions: electronic or paper; complete or
selected edition.
When the governmental maintenance of the UDC terminated in the middle of 1990s the
Hungarian libraries asked the OSZK KMK and its assign the Hungarian Library Institute to maintain
the Hungarian edition of the UDC.
The institute began to prepare the new Hungarian edition of the UDC by combining the last
Hungarian UDC edition and the MRF file of year 2000 from the UDC Consortium. The new Hungarian
UDC was created by collaboration of translators, specialists of each field and librarians, and after
multiple checks. The UDC edition was published in three volumes (two tables and one alphabetic
index) contains almost twofold amount of notation than the last medium issue.
Approximately a thousand library indicated demand for the new UDC edition. This is a great
number, and a part of the libraries the librarian training institutions had also significant demand,
too.
After the publishing we took several seminars about the changing on the every level of the
library education. We organized these seminars not only like places for the teaching but like places
for the discussing where the specialists could debate their experience and questions.
For effective use of the new UDC edition it is essential to construct a list of concordance,
which helps to monitor the occurred changes. This will be the next important task and that will be
followed by the publication of the classified storage table adjusted to the changes. Finally, the
booklet disclosing the changes taking place between 2000 and 2005 will close the work on possibly
the last paper based UDC edition (Hajdu Bart & Fejs, 2005).

Year Publisher Closed Volume No Copies
2005 OSZK (UDC Publ. No. P057) EC 22 3 2500

Table 2 The Hungarian edition based on the MRF

945
2 List of concordance

There are many countries where we cannot find list of concordance, but the Hungarian
librarians waited this list before they use the new edition. The similar concordances were published
after the 1991 and 1978 editions and Hungarian colleagues used to use them.
List of concordance gives the differences between two abutting editions, the impact of
changes on the classified arrangement of materials. We created this concordance with computer
and developed quite of nember of softvers to analyse, compare and build databases for publishing.
Based on the last UDC edition (a medium one) from 1990 the Institute has been localizing the
Consortium's notations, which numbered twice as many as in the last Hungarian edition. Changes
are not just quantitative but to a large degree qualitative ones as well. Several concepts have moved
to new notations while some earlier notations express new concepts (Fejs, 2008).
First we decided to try to generalize and automatize the indexes of differences. We used the
UMRF (Name of the Hungarian MRF database) as a starting-point and tried to create lists of
changing from it automatically. The first cause of basic problem was the edition in 1991 didnt
establish on the database, but there was an electronic index volume of UDC. Second problem was
the earlier edition was medium and currently is a full edition.
Same as the earlier concordances we focused the modified, cancel and moved numbers,
descriptions and notations. We closed the changed at 1990 and 2000 in the studied editions.
First I would like to give any comparison about quantitative increase:

numbers common auxiliary main tables total
1990 2800 26831 29631
2000 7473 54584 62056
2006 12931 56230 69160

Table 3 Quantitative increase of UDC numbers

Considering these quantitative growing and tendencies we have to ponder the stability and
reflexivity, theoretical based and practice.
Those participating in preparing a concordance agreed that they worked on the most
extensive and most difficult project of its kind ever. It was a new feature of the working method
that, without unanimous sources, the two editions was being compared based on a textual analysis
of the relevant notations. This could be easily automated, nevertheless the enormous set remaining
after filtering out clear correspondences needs a huge amount of man/months' work. It is a task for
the future to compile a source material which is apt for computerized systems in order to carry as
much as possible from the re-notation work automatically (Fejs, 2008).
By having the table of the UDC published we wanted to compensate for the previous lack of
this information. With this edition we wanted to get our specialists to insist even more than before
to the UDC system so that through the updated database presenting itself on the carrier they can
realize the intensive international interest in the universal classification systems based on the
division of the specific scientific fields. To the best of our hoped, by publishing the table of the UDC
system we will be able to give assistance to those working in libraries and in the field of mass
communication as well as to colleagues compiling OPAC catalogues and to those using the services
of these institutes.

946
The tables are modeled upon the English MRF database and it will reflect its version
published in 2000. Thus, certain customary, traditionally Hungarian entries, codes, and examples
might be missing, namely those which probably appeared also in the previous edition in the form of
notations. Similarly there are less parallel divided examples representing. We tried to explain these
methods and solutions in wider introductions and collection of examples in close future. The new
volumes give the big help to the librarians with the history of revision (Hajdu Bart & Fejs, 2005).
The proportionately to numbers of records between 1990 and 2000 are 1:2, what fact is very
crucial and fundamental. The field names and other files are bilingual (English and Hungarian) in
the UMRF (Hungarian Master Reference File) database.

2.1 Data Structure is following

Identifier of
fields
Field name Subfield
Max.
length
Data type*
Repeatable
**
1 UDC number / ETO-szm 1000 0 0
2 Table/Tblajel 1000 1 0
3
Special auxiliary type / Specilis
aloszts tpusa
10 0 0
4 Combination type 6 0 1
10 Derived from par.instr. at UDC 50 0 0
11 Parallel divided as UDC abtg 50 0 1
12 Par.div. provides spec.aux. 10 0 1
13 Applic.note provides spec.aux. 10 0 1
100
Description (With subfields for
language versions)
egsl 250 0 1
105
Verbal examples (With subfields
for language versions)
egsl 250 0 1
110
Scope note (With subfields for
language versions)
eg 250 0 1
111
Application note (With subfields
for language versions)
eg 250 0 1
115 Combination examples abcdgnry 250 0 1
120 Parallel division examples adg 250 0 1
125 References atg 250 0 1
504 Jelzet-sszekapcsolsi tpusok 1000 0 1
510 Prhuzamos jelzetszerkeszts 1000 0 0
511 Prhuzamos jelzetszerkezet abtg 1000 0 1
512
Specilis aloszts prhuzamos
jelzetszerkezet
1000 0 1
513
Specilis aloszts alkalmazsi
magyarzata
1000 0 1
600 Megnevezs 1000 0 0
605 Szbeli pldk eg
***
250 0 1
610 rvnyessgi terlet magyarzata eg
***
1000 0 1
611 Alkalmazsi terlet magyarzata eg
***
1000 0 1
615 Jelzetsszekapcsolsi pldk abcdgnry 1000 0 1
620 Prhuzamos jelzetszerkeszts: pldk adg 250 0 1
625 Utalsok atg 250 0 1
704 evezet megjegyzsek 250 0 1
714 Megjegyzs a trlshez 250 0 1
724 Megjegyzs a revzihoz 250 0 1
725 A revzi trtnete fds 1000 0 0
752 Specilis jelek hasznlata 250 0 1
755 Szerkeszti megjegyzs 250 0 1

947
757 Admin. megjegyzs (bels) 1000 0 0
758 A kvetkez Extension-bl (bels) 1000 0 0
760 Mutat 1000 0 1
799 Csak ideiglenes (bels) 1000 0 1
901 Introduction date/Bevez. 1000 2 0
903 Introduction source/B.forr. 1000 0 1
904 Introduction comments 250 0 1
911 Cancellation date/Trl.id 1000 0 0
912 Replaced by UDC#/Mdosts 1000 0 1
913 Cancellation source/T.forr. 1000 0 1
914 Cancellation comments 250 0 1
921 Last revision/Utols rev. 1000 0 1
922 Revision type/Rev.tpus 1000 0 1
923 Revision source/Rev.forrs 1000 0 1
924 Revision comments 250 0 1
925 Revision history fds 100 0 1
951 Terms for index only/Index 1000 0 1
952 Use special characters 250 0 1
955 Editorial annotation 250 0 1
957 Admin notes (internal) 250 0 0
958 For next E&C (internal) 1 0 0
999 Temp work only (internal) 4 0 1

Table 4 Data Sturcture

*0 alphabetical or numeral, 1 alphabetical, 2 numeral
** 0 not repeatable, 1 repeatable
*** There is not subfield
Note: records are bilingual. 1-99, 100-199, 900-999 English, 500-599, 600-699, 700-799
Hungarian. There are not duplicate if they are numeral field.
The structure of records shows the information about changes ( new, cancelled, modified,
revision, etc.) comes from 900s fields. It would be great if the source of 1990 edition would be the
UDC MRF database, but some parts of Hungarian edition are more detailed and other ones are more
general.
Studying of changing related to common and special auxiliaries are very interesting.
Common/Special auxiliaries 1990 2000 2006
1c) language 175 1365 (!) 1364
1d) form 303 351 370
1e) place 1741 4236 9590 (!)
1f) human ancestry, ethnic
grouping and nationality
13 45 33
1g) time 223 361 284
1i) aspect 163 0 0
1k) general characteristics:
Properties, Materials,
Relations/Processes and Persons
262 1107 1562 (!)

Table 5 Quantitative increase of common and special auxiliaries

948
The common auxiliaries of place, language and general characteristics had increased
apparently.

2.2 Methods and basic principles of concordance

The chosen method was the text analysis. First we created the sandwich database.
I. cancelled and removed numbers from UDC Consortium;
II. records from database of 1990 edition;
III. records from database of 2000 (2006) edition.

The starting-point was records from database of 1990 edition.
1. Corresponding between I. and II. leads to become eliminated numbers in concordance;
2. Searching followers based on I. But we had to control each case in these processes manually;
3. Studying of unknown destiny numbers. We could collect with usage an algorithm, but we
had to control each case in these processes also manually.
There were some modifications that were special cases, if the number had divided 600, 605 and
615 and the main meaning was identical one, we considered unchanged number. We could verify the
additional primps were very problematic, because the automatized processes regarded them
modifications incorrectly.
At the end we got 17 333 figures, about 1700 pages, after revision we got 1070 pages. This size
is too huge therefore we published the list of concordance only electronically.

2.3 Structure of concordance

Number Description Original number
with changed
description
New number(s) Modifications

=71 Classical Latin H. h. =12402
Classical Latin

23 Dogmatika. Theologia
dogmatica. Systematic
Theology
Religion of Indian
Subcontinent.
Hindu religion
27-284 Systematic Christian
keresztny
57.063.2

Coutry Classes and other
grouping
57.063.1 Countries and other
similar groups.
Coutries. Strain.
Substrain
612.13 Hydrodynamics of
circulation. Arterial,
venous and subvenous
circulation
Circulation.
Hydrodynamics of
circulation
612.133 Arterial circulation
612.134 Venous circulation
612.135 Subvenous circulation

Table 6 Structure of concordance

949
Using this structure the list of concordance can follow the all lifecycle of UDC numbers.

We have published the list of concordance in various format:
- printed edition, paper version
- pdf and the customer can print their printed version locally
- CD in WINISIS database
- CD in ISO 2709 form
- CD in XML form
- CD in tabulated
- cd in txt form with tabulated

Conclusion

The usable tool for librarians, users in a CD-ROM edition of list of concordance and the
helpful tool for informational retrieval systems to give an implement for search among items,
records from the different time therefore from the different UDC editions. This solution is a crucial
tool in favour of UDC usage, the research evaluates verify the feasibility of knowledge management
methods in this field. The work on this project based on knowledge sharing and the verified
principles could change a little, but they were a living guide under the unknown way. These process
could be easily automated, nevertheless the enormous set remaining after filtering out clear
correspondences needs a huge amount of man/months' work.

References

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Osztlyozrendszer rvidtett magyar nyelv kiadsa. Budapest.

951
ORGANIZAO E CONTROLE DA INFORMAO
Descrio bibliogrfica padronizada para os folhetos de cordel no Brasil

MARIA CLEIDE RODRIGUES BERNARDINO
[email protected]

FRANCISCA PEREIRA DOS SANTOS
[email protected]

RIA LEMAIRE
Universit de Poitiers
[email protected]

Resumo O processo editorial de um pas de grande relevncia para o desenvolvimento cultural e histrico
tendo em vista a contribuio para a construo do conhecimento e disseminao da informao. O folheto de
cordel surgiu no nordeste brasileiro no final do sculo XIX (Lemaire, 2010) e desde sempre, para a sua
publicao, conta com um processo editorial complexo que abrange todas as nuances do design editorial de
qualquer outro formato. O controle bibliogrfico universal - CBU reconhece a responsabilidade de cada pas
para identificar e registrar sua produo bibliogrfica, neste sentido, o presente trabalho tem o objetivo de
refletir sobre a criao de um nmero internacional padronizado para o folheto de cordel, pautada na sua
contribuio para a construo do conhecimento a fim de controlar a produo editorial de folhetos de cordel
no pas. A pesquisa est amparada na problemtica da excluso do folheto de cordel do cnone literrio e
consequentemente da falta de controle de sua produo. Trata-se de uma pesquisa emprica que busca dados
relevantes obtidos atravs da experincia e da vivncia do pesquisador, com o objetivo de chegar a novas
concluses a partir da maturidade experimental do outro (Demo, 2000). A ttulo de resultados preliminares a
pesquisa identifica um maior amadurecimento da ideia com os principais atores envolvidos a partir de uma
chamada pblica para posterior congresso.

Palavras-chave Controle Bibliogrfico. Produo Editorial. Folheto de Cordel.

Abstract The editorial process of a country is extremely important for the historical and cultural
development contributing for the construction of knowledge and dissemination of information. The cordel
brochure came in the Northeastern Brazil in the late nineteenth century (Lemaire, 2010) and which has had
always, for its publication, a complex editorial process and it covers all the nuances of the editorial design of
any other format. The universal bibliographic control- CBU recognizes the responsibility of each country to
identify and record their academic output, in this sense, this paper aims to reflect on the creation of a
standard international number for the cordel brochure, based on their contribution to the construction of
knowledge in order to control the editorial process of cordel brochures in the country. The research is
supported by the matter of exclusion of the cordel brochure from the literary canon and consequently the
lack of control of its production. It is an empirical research that seeks relevant data obtained through
experience and the experience of the researcher, in order to reach new conclusions from the experimental
matuity of the other (Demo, 2000). Preliminary research identifies a greater maturity of the idea with key
stakeholders from a public call for subsequent congress.

Keywords Bibliographic Control. Editorial Production. Booklet Cordel.

952
Introduo

O processo editorial de um pas de grande relevncia para o seu desenvolvimento cultural e
histrico tendo em vista a contribuio para a construo do conhecimento e disseminao da
informao.
O folheto de cordel surgiu no nordeste brasileiro no final do sculo XIX (Lemaire, 2010) e
desde sempre, para a sua publicao, conta com um processo editorial complexo que abrange todas
as nuances do design editorial de qualquer outro formato.
O Controle Bibliogrfico Universal (CBU) reconhece a responsabilidade de cada pas para
identificar e registrar sua produo bibliogrfica, neste sentido, o presente trabalho tem o objetivo
de refletir sobre a criao de um nmero internacional padronizado para o folheto de cordel,
pautada na sua contribuio para a construo do conhecimento a fim de controlar a produo
editorial de folhetos de cordel no pas.
Amparada a partir de um estudo emprico definido por Demo (2000) como o tipo de pesquisa
que busca obter dados relevantes a partir da experincia do pesquisador. Nosso objetivo refletir
sobre a produo dos folhetos de cordel e contribuir para a criao de um novo conceito de
produo editorial dos folhetos que permita a designao de uma numerao internacional
padronizada a fim de possibilitar um controle bibliogrfico de sua produo.

1 Folhetos de cordel

A produo potica denominada de literatura de cordel no Brasil uma das mais expressivas
formas de narrativa e de comunicao cultural dos atores sociais do nordeste. Produzida,
transmitida, repetida e conservada atravs da memria ou dos folhetos impressos nos sertes
nordestinos desde o sculo XIX, essa potica tem seu ncleo criativo e inicial em muitas narrativas
do imaginrio medieval que ao chegarem a terras brasileiras foram ressignificadas ganhando novos
sentidos, gneros textuais, suportes e novas temticas.
A literatura de cordel ou como foi historicamente chamada e conhecida no nordeste
brasileiro por seus produtores e receptores, [...] livrinho de feira, livro, obra, livro de Atade,
estria do meu padrinho, folheto e romance (Souza, 1976, p. 13), antes de ganhar o suporte
impresso e antes mesmo de ser manuscrita, e em seguida, escrita e publicada, uma potica
marcada pela oralidade.
Essa poesia, no entanto, ganha o status da escrita em fins do sculo XIX, e surge ento um
novo processo de comunicao gerado a partir de um extenso sistema editorial que ali emerge. O
cordel que antes era voz passou do manuscrito ao documento escrito impresso. So algumas fases
das tecnologias da informao e da comunicao humana que podemos ver atravs dessa potica.
Esse fenmeno leva a pesquisadora Lemaire (2003, p. 23) a entend-la como um campo de pesquisa
fascinante, pois, segundo ela, se [...] encontram a coexistentes e reunidos num espao de menos
de um sculo e meio todas as fases da histria das tecnologias da comunicao, que a Europa teria
percorrido em mil anos.
Alcoforado (2006) afirma que a introduo das novas tecnologias da informao e da
comunicao trouxe mudanas oralidade. Para a autora no incio o prprio poeta era o
responsvel pela produo e transmisso do conhecimento. Esse contexto de oralidade foi alterado
a partir do surgimento da escrita, da imprensa e dos meios de comunicao como o rdio, a
televiso e a internet. Essas mudanas favoreceram a criao de novas relaes entre a potica da
oralidade e a escritura potica do folheto de cordel, tanto na produo do conhecimento como nas
estruturas mentais e cognitivas dessas relaes.

953
1.1 Folhetos de Cordel e a Produo Editorial

Um processo editorial pressupe algumas fases como: edio do texto, preparao dos
originais, reviso de prova, projeto grfico etc. A editorao bibliogrfica complexa e contempla as
seguintes fases: a anlise do contedo; a escolha; seleo, filtragem onde verificada a pertinncia
ou correspondncia linha editorial. Nesta fase realizada uma analise referente a consistncia do
texto, sua originalidade, as obras concorrente, preparao da obras, formatao grfica do texto e
de reviso ortogrfica e estilstica.
Outro fatoro relacionado editorao de obras bibliogrficas so os aspectos exteriores como
a compaginao, a impresso e o acabamento da obra; a definio do preo final e os direitos
autorais; a promoo, divulgao e distribuio, que consistem em estratgias de marketing, da
propaganda e a distribuio dos exemplares de acordo com a demanda de cada regio.
No processo de produo do livro, numa primeira etapa, os editores definem, juntamente com
o autor, o projeto editorial ou design grfico. nessa etapa que so decididas questes que
envolvem, usando os conceitos de Chevallard (1991), a delimitao dos saberes e a dessincretizao,
que levaro ao processo de despersonalizao, que foi iniciado pelo autor e continuado pelo editor,
quando atua diretamente no texto apresentado nos originais da obra. Chevallard (1991) afirma
ainda que no processo de dessincretizao, o saber desvinculado do ambiente epistemolgico no
qual ele se originou, passando a reconstituir-se em um novo contexto.
Concomitantemente a essas etapas, os agentes envolvidos no design elaboram o chamado
projeto grfico, que servir tambm como instrumento no momento da transformao do saber, ou
seja, pelo projeto grfico torna-se possvel estabelecer uma progresso do conhecimento e
consequentemente, a sua assimilao.
A discusso no campo do folheto de cordel d-se a partir de sua excluso do cnone literrio, o
que por sua vez, nos leva a problemtica da falta de controle de sua produo. inegvel, em se
tratando de Brasil, a produo editorial do folheto grande. Outro fato que no se pode esquecer
que apesar de no ter seu valor reconhecido pela Academia, o folheto traz em sua edio todo o
processo editorial prprio de uma produo bibliogrfica.
Quintella (2010) falando sobre produo editorial do folheto de cordel afirma que,

Dentre os produtores de folhetos nordestinos, sem dvida, J. Martins
de Athayde foi o que melhor representou o processo de homogeneizao
editorial do cordel, ocorrido no decorrer do sculo XX. Esse aspecto
ressalta, antes de mais nada, no modo como o poeta-editor procedeu em
relao forma de apresentao dos folhetos, padronizando, por exemplo,
o estilo das capas das representaes de pelejas e dos romances, as duas
categorias por ele privilegiadas (p. 48).

Essa homogeneizao e padronizao que Quintella (2010) ressalta nada mais que o projeto
grfico da confeco dos folhetos. Assim, partindo desse pensamento chamamos a reflexo para um
controle bibliogrfico dos folhetos de cordel atravs de uma numerao internacional padronizada.
Ao falar do processo editorial Santos (2011) o conceitua como um extraordinrio sistema de
produo e circulao de folhetos (p. 222). Para a autora o processo se completa com a divulgao e
circulao dos folhetos em feiras nordestinas. Porm, hoje a produo editorial que antes era
manual e caseira foi substituda por processos mais sofisticados, que contemplam todas as etapas
editoriais como qualquer produto bibliogrfico.

954
2 Controle bibliogrfico universal

O conceito de controle bibliogrfico foi introduzido por Egan e Shera (1949) como a
possibilidade para acessibilidade ao contedo e ao documento. O texto dos autores traz a noo de
controle associada mquinas. Machado (2003) afirma que a partir da publicao do Cybernetics, de
Norbert Wiener em 1948, onde estabelecia os fundamentos do conceito de controle que Egan e
Shera (1949) construram sua analogia mecnica para a ciberntica que designa qualquer sistema
dinmico.
Para Machado (2003), a nova expresso controle bibliogrfico ento adotada por
profissionais bibliotecrios e documentalistas e, em 1950, formalmente definida em um documento
emitido pela UNESCO e pela Library of Congress (p. 40). O documento conceitua controle
bibliogrfico como o domnio sobre os registros escritos e publicados.
As bibliotecas historicamente foram as primeiras instituies que se preocuparam com o
controle bibliogrfico (Campello, 2006) e os seus catlogos foram durante muito tempo a nica
forma de controle do conhecimento registrado. Segundo Campello (2006):

A partir da dcada de 1970, o esforo da biblioteconomia em direo
ao aperfeioamento do acesso produo bibliogrfica mundial
representado pelo desenvolvimento das redes de informao, resultantes
da aplicao da informtica aos processos de organizao bibliogrfica (p.
2).

As diretrizes para o Controle Bibliogrfico Universal (CBU) foram propostas pela UNESCO e
pela Federao Internacional das Associaes e Instituies Bibliotecrias (IFLA) em 1977, que tinha
basicamente o objetivo de reunir e tornar disponveis os registros da produo bibliogrfica
universalmente.
O programa foi ativado em longo prazo na Conferncia da IFLA em Grenoble, em 1973. O CBU
foi formalizado por deciso do Comit Executivo em 1974, com a criao do escritrio internacional
para o controle bibliogrfico da IFLA aps discusses na Reunio Internacional de Especialistas em
Catalogao, em 1969, em Copenhague. De acordo com Anderson (1977), o CBU foi proposto com o
objetivo de criar um sistema mundial para o controle e troca de informaes. Esse sistema funciona
a partir de alguns mecanismos como: depsito legal, catalogao na fonte, descrio bibliogrfica e
outros.
Para o bom funcionamento do CBU as agncias e instituies envolvidas no processo so de
suma importncia. Sobre o compartimento das informaes padronizadas Grings e Pacheco (2010)
destacam que:

[...] so partes indispensveis para o sucesso do compartilhamento das
informaes a uniformidade e consistncia dos dados fornecidos pelas
instituies. Desse modo, os formatos de intercmbio de dados tm sido
cada vez mais estudados e desenvolvidos, com destaque para o formato
MARC Machine Readable Cataloging (p. 78-79).

A descrio bibliogrfica um dos mecanismos de controle bibliogrfico que pressupe, a
partir de um sistema que envolve editoras e uma agncia nacional, um controle editorial da
produo bibliogrfica de cada pas.

955
Neste sentido, os componentes bsicos do CBU so: reconhecimento de que cada pas est
mais capacitado para identificar e registrar sua produo editorial; e a aceitao, pelos pases, de
normas internacionais para o registro da descrio de sua produo bibliogrfica.
importante ressaltar que atualmente o CBU, liderado pela IFLA, est acoplado ao MARC
internacional, que reflete a importncia fundamental da padronizao bibliogrfica para os
objetivos do CBU, uma vez que esse programa est direcionado para a coordenao do
desenvolvimento de sistemas e normas para o controle bibliogrfico. O CBU se d a partir de uma
estrutura em nvel nacional e internacional.
Conforme Anderson (1977), a necessidade do CBU decorre da enorme responsabilidade dos
bibliotecrios, que mais conscientes de seu papel e importncia na sociedade, atuam como
organizadores de todas as fontes de informao em disponibilidade.

2.1 Descrio Internacional Bibliogrfica Padronizada

Em 1969, na Conferncia de Especialistas em Catalogao de Copenhague, o primeiro passo foi
dado rumo aos Padres Internacionais de Descrio Bibliogrfica (ISBD), estabelecendo-se grupos de
trabalho para o desenvolvimento dos ditos padres para diversos suportes documentais. O objetivo
do ISBD estabelecer critrios para uma catalogao descritiva compatvel a nvel mundial, com a
finalidade de tornar possvel o intercmbio de registros bibliogrficos entre agncias bibliogrficas
nacionais, entre as bibliotecas a nvel internacional e entre as comunidades de informao em geral.
Dentro dos padres internacionais do CBU, essencial que para o registro de dados haja um
cdigo de catalogao estabelecendo regras, aceitas internacionalmente, que determinem a
responsabilidade de autoria de uma obra e ao mesmo tempo normalizem uma descrio fsica. A
padronizao se d com auxlio de regras de catalogao estabelecidas pelo Cdigo de Catalogao
Anglo-Americano (AACR) e demais documentos e sistemas de normalizao de registros
bibliogrficos.
O primeiro padro a ser lanado foi o de monografias, ISBD(M), em 1971. A ISBD para
monografias teve o texto revisto em 1974. Sucessivamente, foram aparecendo as ISBDs para outros
recursos especficos como: para publicaes em srie ISBD(S) em 1974; para material cartogrfico
ISBD(CM) e material no livro ISBD(NBM) ambas em 1977; a ISBD(A) para livro antigo e as ISBD(PM)
para msica impressa em 1980 e, mais recentemente as ISBD(CF) para ficheiros de computador, em
1990.
importante ressaltar que foi imprescindvel a criao de uma estrutura geral que abrigasse
todas as ISBDs, que resultou na ISBD(G) em 1977. O objetivo principal do ISBD(G) assegurar a
harmonia entre as outras ISBDs.
Para a descrio dos analticos, foram publicadas em 1988 as diretivas para a aplicao da
ISBD para a descrio de partes componentes. A ISBD(CR) um documento normativo, elaborado
pela IFLA, que fornece as regras para a descrio bibliogrfica das publicaes em srie e outros
recursos contnuos. Esta ISBD foi publicada em 2002 como reviso da ISBD(S).
A proliferao de recursos bibliogrficos na internet conduziu a novas necessidades tanto
pelos utilizadores como pelos profissionais que tem por misso prestar-lhes informao. As ISBDs se
constituem em um instrumento fundamental para a formulao e comunicao padronizada e
normalizada da informao bibliogrfica universal da informao registrada.

956
2.2 Sistemas de Identificao Numrica dos Documentos

O nmero internacional normalizado individualiza o documento, favorecendo o processo de
representao do documento na forma de catalogao que tem como objetivo tornar o documento
nico permitindo sua recuperao de forma multidimensionada.
A UNESCO recomenda que os servios dos programas de catalogao na publicao sejam
efetuados pela prpria Agncia Bibliogrfica Nacional (ABN) ou Biblioteca Nacional (BN) a partir de
uma relao com as editoras, as quais competem enviar a prova tipogrfica do livro em tempo
suficiente para a descrio do registro antes da obra ser publicada.
Criado em 1967 por editores ingleses, o ISBN - International Standard Book Number - um
sistema que identifica numericamente os livros segundo o ttulo, o autor, o pas e a editora,
individualizando-os inclusive por edio. Posteriormente passou a ser amplamente empregado
tanto pelos comerciantes de livros quanto pelas bibliotecas, at ser oficializado, em 1972, como
norma internacional pela International Standard Organization (ISO) 2108
1
.
O sistema controlado pela Agncia Internacional do ISBN, que orienta e delega poderes s
agncias nacionais. No Brasil, a Fundao Biblioteca Nacional (FBN) representa a agncia brasileira
desde 1978, com a funo de atribuir o nmero de identificao aos livros editados no pas.
A partir de 1 de janeiro de 2007, o ISBN passou de dez para treze dgitos, com a adoo do
prefixo 978. O objetivo foi aumentar a capacidade do sistema, devido ao crescente nmero de
publicaes, com suas edies e formatos.
O ISBN atribudo a cada edio de uma publicao, edio em idioma diferente, aos
volumes de uma coleo e no seu conjunto completo, reedio com mudana no contedo, aos
diferentes tipos de suporte de uma mesma obra ou mudana de capa, reimpresso fac-smile, e s
separatas quando apresentam ttulos diferentes e paginao prpria.

2.3 O Folheto de Cordel e a Criao de uma Numerao Padronizada Internacional

Tomando como base as informaes elencadas, sugerimos a criao de uma numerao
padronizada internacional para os folhetos de cordel, justificada pelas caractersticas da sua
produo editorial, que no se diferencia da produo de livros. Essa sugesto encontra amparo na
prpria historiografia do cordel que aponta para uma excluso do cnone literrio.
Schmidt (1996) explica que por cnone entende-se:

[...] um conjunto de textos que passou pelo teste do tempo e que foi
institucionalizado pela educao e pela crtica como clssicos, dentro de
uma tradio, vem a ser o polo irradiador de paradigmas de que e do como
se escreve, do que e como se l. Tradicionalmente, a sua constituio est
pautada no processo de reproduo do mesmo, pois a fora
homogeneizadora que atua sobre a seleo reafirma as identidades e
afinidades e exclui, portanto, as diferenas, uma vez que essas so
incompatveis com um todo que se quer uniforme e coerente em termos de
estticos por excelncia, argumento geralmente invocado na ratificao do
estatuto cannico de uma obra (p. 116).

1
VER: http://www.isbn.bn.br/

957
Ao observar os mecanismos de construo de cnone para o folheto de cordel Lucena (2010)
pontua que,

Construir uma narrativa histrica e querer que ela seja definitiva e
perptua o mote seguido pelos cnones oficiais, sejam eles da Histria
(com h maisculo e no singular), ou da Literatura (com sua inicial
tambm maiscula e o mesmo e insistente singular) (p. 41).

Historiograficamente esse cnone para a literatura ajuda a sedimentar um tipo de escritura
em detrimento de outras. Acreditamos que esse pensamento ajudou a construir as barreiras entre os
folhetos de cordel e as demais obras bibliogrficas. Neste sentido Lucena (2010) afirma que:

[...] a historiografia construda obedeceu aos mesmos preceitos de
construo que a historiografia literria brasileira hegemnica obedeceu,
e, por vezes, ainda parece obedecer. A preponderncia da nao na base
desses cnones, seja da literatura hegemnica seja do cordel, passa a
estabelecer parmetros tericos e o conceito e os limites dessas
manifestaes artsticas, bem como seus autores, seus meios legtimos de
publicao, entre outros tantos aspectos (p. 43).

Menezes Neto (2012) chama ateno para o fato de que a Academia Brasileira de Letras,
principal instituio representante da literatura brasileira, no possui nenhum membro cujo foco
mais importante de seus escritos seja a chamada literatura de cordel (p. 200). O fato contribui para
o afastamento dos folhetos de cordel do cnone literrio vigente. A atribuio para esta constatao
d-se, de acordo com Lucena (2010), pela forma manual de produo dos folhetos. Entretanto, hoje
com a implantao das tecnologias de informao em Grficas, Tipografias e Editoras produtoras de
folhetos de cordel, esta no mais uma circunstncia obrigatria.
A confeco dos folhetos de cordel assume hoje as mesmas nuances e mecanismos da
produo literria cannica. Portanto, apesar do folheto de cordel, de acordo com sua
historiografia, encontrar-se margem do cnone literrio, o folheto contm informaes que por
sua vez auxiliam na construo de conhecimentos. O folheto possui uma produo editorial
semelhante ao processo de confeco do livro e possui inclusive um sistema de distribuio. Por
esse motivo no se justifica a excluso do folheto de cordel dos mecanismos de controle
bibliogrfico universal.

3 Metodologia

Nossa investigao est amparada na problemtica da excluso do folheto de cordel do cnone
literrio e consequentemente da falta de controle de sua produo. Prope uma discusso da
temtica pelos especialistas, a fim de se pensar e estabelecer uma Numerao Padronizada
Internacional para o Folheto de Cordel International Standard Cordel Number (ISCN).
Neste sentido, trata-se de uma pesquisa emprica que, conforme observa Demo (2000), busca
dados relevantes obtidos atravs da experincia e da vivncia do pesquisador, com o objetivo de
chegar a novas concluses a partir da maturidade experimental do outro.
Para Demo (2000) esse tipo de pesquisa abre a possibilidade uma maior concretude s
argumentaes, por mais tnue que possa ser a base fatual. O significado dos dados empricos

958
depende do referencial terico, mas estes dados agregam impacto pertinente, sobretudo no
sentido de facilitarem a aproximao prtica" (Demo, 1994, p. 37).

Concluses

Conforme assinalamos, a criao de uma numerao padronizada internacional para os
folhetos de cordel justificada pelas caractersticas da sua produo editorial, que no se diferencia
da produo de livros.
Neste sentido, os resultados preliminares dessa investigao identifica um maior
amadurecimento da ideia a partir de grupos de discusso com os principais atores envolvidos sobre
a temtica. Essa discusso dever se realizar atravs de uma chamada pblica para o um Congresso
de Literatura de Cordel, em Juazeiro do Norte, Cear, no ano de 2014. Para a realizao desse evento
propomos parcerias entre instituies, universidade e agncias de fomento e a congregao de
autores, pesquisadores e editores de folhetos de cordel em reunies regionais antes da realizao do
congresso.
Somente com a discusso embasada e coerente poderemos chegar a um denominador para
poder encaminhar a proposta de criao do ISCN, que contribuir para o controle do conhecimento
registrado em folhetos de cordel no Brasil. Apesar de situarmos a produo literria dos folhetos de
cordel no Brasil, por este ter a hegemonia neste tipo de publicao, sugerimos que a numerao
padronizada seja internacional, uma vez que tentamos corrigir um problema que foi plantado no
preconceito arraigado na Academia durante muito tempo. Neste sentido, no pretendemos que
nossa proposta esteja abrigada no mesmo tipo de excluso que a produo editorial dos folhetos de
cordel teve de sua origem at os dias atuais.

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960
NORMALIZACIN DE MODELOS PARA EL ACCESO A LA INFORMACIN ENFOCADOS AL USUARIO Y A
LAS WEBS DE ARCHIVOS

CRISTINA FABA-PREZ
Universidad de Extremadura - Departamento de Informacin y Comunicacin
[email protected] ; [email protected]

LAURA CABALLERO-CORTS
Cdice Gestin de la Informacin

ISABEL SANZ-CABALLERO
Gobierno de Extremadura - Consejera de Fomento, Vivienda, Ordenacin del Territorio y Turismo

Resumen Internet se ha convertido en un elemento esencial para el acceso a la informacin y para dar a
conocer los servicios y productos que ofrecen las instituciones a travs de sus webs. La accesibilidad web
implica facilitar un acceso universal a la Web que posibilite su utilizacin por el mayor nmero posible de
usuarios, independientemente de sus condiciones. Ahora bien, las pautas internacionales de accesibilidad web
(Web Content Accessibility Guidelines (WCAG)) establecidas por el World Wide Web Consortium (W3C), se
basan en unos parmetros o puntos de verificacin muchas veces incompresibles para el usuario que desea
conocer la accesibilidad de las webs que disea y/o consulta. Por otro lado, el acceso al contenido de
determinadas webs institucionales, como son los archivos, resulta prcticamente imposible debido a la falta
de homogeneidad. Por ello, el objetivo de este trabajo es doble: disear una plantilla ponderada de
accesibilidad web basada en las WCAG 1.0 enfocada al usuario y comprobar su grado de comprensin con
respecto a la versin 2.0; e idear un modelo ponderado de caractersticas en el que apoyarse a la hora de
disear y evaluar una web de archivos. La finalidad en ambos casos es normalizar los modelos en cada mbito
para permitir su interoperabilidad. La metodologa usada se centra en el diseo de los modelos planteados,
previa consulta de bibliografa especializada al respecto y en la propuesta de ponderacin ideada. Como
resultado se obtiene, en el primer caso, una plantilla normalizada de accesibilidad web con 67 puntos de
verificacin especialmente enfocados a la comprensin del usuario y, en el segundo, una plantilla
normalizada y exhaustiva de 100 caractersticas para el diseo y acceso a la informacin de webs de archivos.
Entre las principales conclusiones se halla la posibilidad de que el usuario aplique un modelo normalizado,
ponderado y comprensible, para identificar si una web cumple o no los criterios internacionales de
accesibilidad, y la facilidad para identificar y acceder al contenido de las webs archivsticas.

Palabras-clave Normalizacin. Acceso a la informacin. Usuarios. Webs de archivos.

Abstract Internet has become an essential for access to information and to make known the services and
products offered by institutions through their websites. Web accessibility means providing universal access to
Web and enable their use by as many users as possible, regardless of their condition. The Web accessibility
guidelines (Web Content Accessibility Guidelines (WCAG)) set by the World Wide Web Consortium (W3C) and
internationally accepted, are based on some parameters or checkpoints often incomprehensible to the user
you want to know the availability of the Websites that designs and / or consultation. On the other hand,
access to content of certain institutional sites, such as archives, it is practically impossible due to the lack of
homogeneity and well-designed criteria. Therefore, the aim of this paper is twofold: first, to design a template
of web accessibility weighted based on the WCAG 1.0 focused on the user and check their understanding with
respect to version 2.0, and secondly devise weighted feature model to lean on when it comes to web design
and evaluate a archive. The aim in both cases is to normalize the models in each area to allow
interoperability. The methodology focuses on the design of the proposed models, after consultation of

961
literature. The result is, in the first case, a web accessibility standard template with 67 points specially
focused on user understanding for the design and / or consultation of the websites and in the second case, a
template 100 features for design and access to archives websites. Among the key findings is the possibility
that the user to apply a standardized, weighted, and understandable, to identify whether a website fulfills the
international criteria of accessibility, and facility to identify and access the contents of archival websites.

Keywords Normalization. Access to information. Users. Websites archives.

Introduccin

Como consecuencia del incremento de los recursos electrnicos y las dudas de los usuarios
finales acerca de la calidad ltima de ciertos sitios web, surge la necesidad de medir y valorar
numerosos aspectos de Internet y, por consiguiente, de normalizar las herramientas utilizadas para
tal fin. Una de las caractersticas ms importantes para medir la calidad de un sitio web es su
accesibilidad y una de las instituciones menos estudiadas en la red ha sido la de los archivos.
Aunque durante mucho tiempo, debido a intereses comerciales de las empresas para darse a
conocer mundialmente, se le concedi mayor importancia a la presentacin atractiva del contenido
que a la accesibilidad del mismo (Caballero-Corts, Faba-Prez y Moya-Anegn, 2009), la llegada de
la Web 2.0 o Web social, ms centrada en la participacin del usuario y en el desarrollo de servicios
y herramientas sociales, concedi a la accesibilidad web el lugar que le corresponda.
Tradicionalmente la accesibilidad web se ha asociado a las personas con discapacidad (Henry, 2002;
Casado Martnez, Mor Pera y Sabat Jord, 2006) pero actualmente, debido a los progresos
tecnolgicos recientes, los problemas de accesibilidad web se extienden ms all de los usuarios con
discapacidad o con otro tipo de dificultades de acceso, abarcando a la generalidad de los mismos
(Tim Berners-Lee, 2000, citado en Lpez Marn, Mndez Rodrguez y Sorli Rojo, 2002; Hassan-
Montero y Martn-Fernndez, 2004). A pesar de ello, conceptualmente, los modelos o pautas
internacionales que miden la accesibilidad de los sitios web (Web Content Accessibility Guidelines
(WCAG)) y que subyacen bajo las herramientas tecnolgicas de accesibilidad son de difcil
comprensin por parte del usuario inexperto, por lo que es preciso normalizar dichos modelos o
pautas y traducirlos a un lenguaje ms asequible. As, por ejemplo, la herramienta TAW
1
(Test de
Accesibilidad Web) desarrollada por la Fundacin CTIC (Centro Tecnolgico de la Informacin y de
la Comunicacin) y financiado por el Ministerio de Industria, Turismo y Comercio de Espaa an
utiliza para sus anlisis la complicada versin para el usuario WCAG 1.0
2
puesto que la versin
WCAG 2.0
3
, con un lenguaje ms claro, an est en fase beta.
Por otro lado, Internet se ha convertido en un elemento esencial para el desarrollo de las
sociedades y para dar a conocer los servicios y productos que ofrecen las instituciones de todo tipo,
incluidas las archivsticas. Durante los ltimos veinticinco aos, los archivos han profundizado en la
aplicacin de las tecnologas de la informacin a un ritmo espectacular lo que ha favorecido su
presencia en la Web. Sin embargo, la principal objecin que puede plantearse a la calidad de los
sitios web de archivos se concreta en la falta de homogeneidad y de criterios bien diseados a la
hora de organizar los documentos que integran, puesto que en muchas ocasiones se trata de
iniciativas particulares que, en el mejor de los casos, pueden contar con algn auxilio institucional
(Angulo Morales, 2006). Afortunadamente, son cada vez ms los archivos que han reconocido la
necesidad de aumentar, tanto su presencia en Internet, como la calidad de sus sitios web y, por
consiguiente, de los recursos y servicios ofrecidos a travs de la Web. Para determinar la calidad de
los sitios web de archivos es preciso evaluarlos atendiendo a unos parmetros de calidad o
caractersticas relacionadas con su diseo, estructura o contenido. En el entorno de los archivos, las
investigaciones que desarrollan modelos de caractersticas son escasas (Cuadrado y Gmez, 2002; Gil

1
http://www.tawdis.net/
2
http://www.w3.org/TR/WCAG10/
3
http://www.w3.org/TR/WCAG/

962
Garca, 2003; Roba Stuart, 2003; Crespo, 2007; Kim and Lee, 2007; Chan Navarro and Garca Gonzlez,
2009; Chan Navarro and Ms Bleda, 2009; Ms Bleda y Chan Navarro, 2009) y, en general, utilizan
indicadores demasiado universales que se pueden aplicar en mbitos muy heterogneos no
exclusivamente archivsticos. Por ello, partiendo de la falta de modelos concretos normalizados
para el anlisis de las caractersticas de los sitios web de archivos, es preciso el diseo de un modelo
ponderado y exhaustivo de caractersticas especficas para el diseo de los sitios web de archivos.
As, el objetivo del presente trabajo es doble: por una parte, disear una plantilla ponderada
basada en las WCAG 1.0 enfocada al usuario y comprobar su grado de comprensin con respecto a
las WCAG 2.0; y por otra, disear un modelo ponderado de caractersticas en el que apoyarse a la
hora de disear una web de archivos. La finalidad en ambos casos es idear un modelo normalizado
de accesibilidad y de archivos de cara al usuario para permitir la interoperabilidad de los mismos
independientemente de quien los utilice.

1 Metodologa

1.1 Metodologa: Modelo ponderado de accesibilidad

Dado que la versin 1.0 de las pautas internacionales de accesibilidad WCAG an se utiliza en
herramientas tecnolgicas que miden la accesibilidad de los sitios web (por ejemplo, en TAW), as
como en algunas investigaciones actuales (Bakhsh y Mehmood, 2012; Fontanet Nadal y Jaume
Mayol, 2011) y dada su difcil comprensin e interpretacin para el usuario inexperto, se propone el
diseo de un modelo centrado en el usuario. Dicho modelo parte de los 67 puntos de verificacin de
la versin original de las WCAG 1.0 que se agrupan en 14 pautas y 3 prioridades (P1: puntos de
verificacin que obligatoriamente tienen que cumplirse; P2: puntos de verificacin que deben
cumplirse; y P3: puntos de verificacin que pueden cumplirse). En el modelo propuesto, los 67
puntos de verificacin son traducidos a un lenguaje ms claro con la finalidad de que el usuario
pueda ponderar cada punto, para ello, se solicita a un conjunto de 41 usuarios de las bibliotecas
universitarias de Extremadura que lo valore en un rango de 1 (menor) a 3 (mayor) (1, 2, 3), teniendo
en cuenta su importancia de cara a la accesibilidad.
Adems, para comparar la dificultad del usuario en la comprensin de las WCAG 1.0. con
respecto a las 2.0, se reproducen estas ltimas en una plantilla con sus 61 criterios de xito que se
agrupan en 12 pautas y 3 niveles de conformidad (Nivel A, AA y AAA) y en este caso, se pide a un
conjunto reducido de los usuarios anteriores simplemente que seale si comprende el criterio o no.

1.2 Metodologa: Modelo ponderado de archivos

El modelo ponderado de archivos propuesto para disear una web de archivos forma parte
del trabajo de Faba-Prez y Sanz-Caballero (en prensa) y est formado por dos conjuntos de
caractersticas: 22 Caractersticas generales, para las que se han tomado como referencia modelos
universales como los de Hassan Montero y Martn Fernndez (2003) o Jimnez Piano (2001); y 78
Caractersticas especficas, para los que se han tomado como referencia algunos modelos previos sobre
anlisis de caractersticas en archivos como los de Cuadrado y Gmez (2002), Roba (2003), Crespo
(2007), Kim y Lee (2007), Chan Navarro y Garca Gonzlez (2009), y Chan Navarro y Ms Bleda
(2009); as como el marco terico existente en la Archivstica como Heredia Herrera (1989), (2011) o
Cruz Mundet (1994), (2011) y manuales de normas y procedimientos de numerosos archivos como
"Manual de Normas y Procedimientos del Archivo Universitario de Valladolid", "Manual del
Archivo General de la Universidad Carlos III de Madrid", etc.

963
Para ponderar cada caracterstica se propone un rango de ponderacin de 0,25 a 1 (0,25, 0,5,
0,75, 1). Para establecer el peso de cada caracterstica dentro del rango sealado, se cuenta con la
colaboracin de un grupo de expertos en archivos y en evaluacin web que validan la ponderacin
propuesta.

2 Resultados

2.1 Resultados: Modelo ponderado de accesibilidad

En la tabla 1 se refleja el modelo ponderado de las WCAG 1.0 enfocado al usuario. El peso de
cada uno de los 67 puntos de verificacin (P.V.) se obtiene con la media de las ponderaciones dadas
por los usuarios que participan en el estudio. Para que existiera una relacin directa entre la
importancia del punto de verificacin segn su prioridad y el peso asignado por los usuarios, la P1
debera aproximarse a 3, la P2 a 2 y la P3 a 1. En los resultados se observa que la media de las tres
prioridades (media P1 = 2,47; media P2 = 2,40; y media P3 = 2,36) sigue dicha serie descendente en el
peso, lo que denota cierta comprensin por parte del usuario del modelo adaptado a sus
necesidades.

P.V. PRIORIDAD 1 Peso
1.1
Es importante proporcionar un texto equivalente para todo elemento no textual, como imgenes,
animaciones, botones grficos, sonidos y vdeos?
2,37
1.2
Es importante proporcionar enlaces redundantes en formato texto para cada zona activa de un
mapa de imagen?
2,03
1.3
Es importante proporcionar una descripcin auditiva de la informacin visual de una presentacin
multimedia?
2,29
1.4
Es importante usar alternativas equivalentes, como por ejemplo subttulos o descripciones de la
banda visual, con la presentacin de pelculas o animaciones?
2,41
2.1
Es importante que toda la informacin transmitida a travs de los colores tambin est disponible
sin color? 1,63
4.1
Es importante identificar claramente los cambios en el idioma del texto del documento y en
cualquier texto equivalente (por ejemplo, con leyendas, subttulos)? 2,32
5.1 Es importante identificar los encabezamientos de fila y columna en las tablas de datos? 2,60
5.2
Es importante utilizar marcadores para asociar las celdas de encabezamiento y las celdas de datos,
en aquellas tablas de datos que tienen dos o ms niveles lgicos de encabezamientos de fila o
columna? 2,36
6.1
Es importante organizar el documento de forma que pueda ser ledo sin hoja de estilo? (por
ejemplo, cuando un documento HTML es interpretado sin asociarlo a una hoja de estilo, tiene que
ser posible leerlo) 2,63
6.2
Es importante que los equivalentes de un contenido dinmico sean actualizados cuando cambia el
contenido dinmico? Un contenido dinmico es aqul que se genera automticamente en el
momento que alguien solicita su visualizacin, por tanto, puede cambiar dependiendo de quin lo
solicite o en que momento lo haga. Por ejemplo, una seccin de noticias, pero no queda claro qu es
el equivalente de un contenido dinmico. 2,62
6.3
Es importante que las pginas se puedan seguir usando cuando se desconecten o no se soporten los
scripts, applets u otros objetos programados? 2,64

964
7.1 Es importante evitar destellos en la pantalla? 2,58
8.1a
Es importante que los elementos de programacin, tales como scripts y applets, sean directamente
accesibles si su funcionalidad es crucial para la comprensin del documento y no se presenta en otro
lugar? 2,80
9.1
Es importante proporcionar mapas de imagen controlados por el cliente (o, lo que es lo mismo, por
el navegador del usuario) en lugar de por el servidor? Si no fuera s, y el servidor, por ejemplo,
pensara que el usuario utiliza una resolucin de 800 x 600 pixeles, pero ste la utiliza mayor o
menor, el servidor puede estar definiendo el rea sensible con el vnculo fuera de la imagen o un
lugar distinto, con lo que puede provocar graves equivocaciones. 2,57
11.4
Si no pudiera crear una pgina accesible, es importante proporcionar un vnculo a una pgina
alternativa que use tecnologas W3C, sea accesible, tenga equivalente y sea actualizada tan a menudo
como original? 2,79
12.1
Es importante titular cada marco para facilitar su identificacin y navegacin? Los marcos o frames
HTML permiten a los autores presentar documentos con vistas mltiples, que pueden ser ventanas o
subventanas independientes. 2,43
14.1 Es importante utilizar el lenguaje apropiado ms claro y simple para el contenido de un sitio web? 2,93
2.2 a
Es importante que las combinaciones de los colores de fondo y primer plano en imgenes tengan
suficiente contraste? 2,37
3.1
Es importante utilizar un marcador apropiado en vez de imgenes de mapa de bits para transmitir
la informacin? Por ejemplo, usar MathML para marcar ecuaciones matemticas y hojas de estilo
para el formato de texto y el control de la maquetacin. Igualmente, evitar la utilizacin de
imgenes para representar textos, y en su lugar, usar texto y hojas de estilo. 2,34
3.2
Es importante crear documentos que estn validados por las gramticas formales publicadas?
Validar contra una gramtica formal (HTML, XHTML, etc.) y declarar esa validacin al principio del
documento permite al usuario saber que la estructura del documento es fiable, y adems saber
dnde buscar la semntica si fuera necesario. Es preferible validar contra las gramticas del W3C. 2,44
3.3 Es importante utilizar hojas de estilo para controlar la maquetacin y la presentacin? 2,27
3.4
Es importante utilizar unidades relativas en lugar de absolutas al especificar los valores en los
atributos de los marcadores de lenguaje y en los valores de las propiedades de las hojas de estilo? 2,03
3.5
Es importante utilizar elementos de encabezado para transmitir la estructura lgica de la pgina y
utilizarlos de acuerdo con las especificaciones? 2,48
3.6 Es importante marcar correctamente las listas y los tems de las listas? 2,68
3.7 Es importante marcar las citas? 2,43
5.3 Es importante no usar tablas para maquetar? 1,68
5.4
Es importante no utilizar marcadores estructurales para dar efecto visual de formato si se utiliza
una tabla para maquetar? 1,73
6.4
Es importante para los scripts y applets que los manejadores de evento4 sean independientes del
dispositivo de entrada?
2
,09
6.5
Es importante que los contenidos dinmicos sean accesibles o, en caso de que no lo sean, que se
proporcione una pgina alternativa? 2,78
7.2 Es importante evitar el parpadeo del contenido? 2,71
7.3 Es importante evitar los movimientos en las pginas? 2,63
7.4 Es importante no crear pginas que se actualicen automticamente de forma peridica si las 2,28

4
Un manejador de evento es un componente de software que se ejecuta cuando se detecta un cambio en el estado de un
host.

965
aplicaciones de usuario no ofrecen la posibilidad de detener dichas actualizaciones?
7.5
Es importante no utilizar marcadores para redirigir las pginas automticamente si las aplicaciones
de usuario no proporcionan la posibilidad de detener el redireccionamiento automtico? 2,26
8.1 b
Es importante que los elementos de programacin, tales como scripts y applets, sean directamente
accesibles o compatibles con las ayudas tcnicas? 2,59
9.2
Es importante que cualquier elemento que tenga su propia interfaz pueda manejarse de forma
independiente del dispositivo? 2,37
9.3
Es importante especificar manejadores de evento lgicos en vez de manejadores de evento
dependientes de dispositivos para los "scripts"? 2,09
10.1
Es importante no provocar apariciones repentinas de nuevas ventanas y no cambiar la ventana
actual sin informar al usuario? 2,63
10.2
Es importante que en los formularios con etiquetas asociadas implcitamente, stas estn colocadas
adecuadamente? 2,75
11.1 Es importante utilizar tecnologas W3C cuando estn disponibles y utilizar las ltimas versiones? 2,76
11.2 Es importante evitar caractersticas desaconsejadas por las tecnologas W3C? 2,49
12.2
Es importante describir el objetivo y la relacin entre los marcos (frames) si no resulta obvio
solamente con su ttulo? 2,31
12.3
Es importante dividir los bloques largos de informacin en grupos ms manejables cuando sea
natural y apropiado? 2,48
12.4 Es importante asociar explcitamente las etiquetas con sus controles? 2,31
13.1 Es importante identificar claramente el objetivo de cada vnculo? 2,60
13.2 Es importante proporcionar metadatos
5
para aadir informacin semntica a las pginas y sitios? 2,31
13.3
Es importante proporcionar informacin sobre la maquetacin general de un sitio (por ejemplo,
mapa del sitio o tabla de contenidos)? 2,33
13.4 Es importante utilizar los mecanismos de navegacin de forma coherente? 2,68
1.5
Es importante proporcionar vnculos de texto redundante para cada uno de los enlaces
incorporados en una misma imagen?
1,85
2.2 b
Es importante que las combinaciones de los colores de fondo y primer plano del texto tengan
suficiente contraste?
2,44
4.2
Es importante especificar la expansin de cada abreviatura o acrnimo cuando aparezcan por
primera vez en el documento?
2,63
4.3 Es importante identificar el idioma principal de un documento?
2,51
5.5
Es importante proporcionar resmenes de las tablas?
2,15
5.6 Es importante proporcionar abreviaturas para las etiquetas de encabezamiento?
2,00
9.4
Es importante crear un orden lgico para navegar con el tabulador a travs de vnculos, controles
de formulario y objetos?
2,45
9.5
Es importante proporcionar atajos de teclado para los vnculos ms importantes y los controles de
formulario?
2,38
10.3
Es importante proporcionar un texto lineal alternativo (en la misma pgina o en alguna otra) para
todas las tablas que maquetan texto en paralelo, en columnas de palabras?
2,27
10.4
Hasta que las aplicaciones de usuario manejen correctamente los controles vacos, es importante
incluir caracteres por defecto en los cuadros de edicin y reas de texto?
2,08

5
Metadatos: informacin sobre los datos.

966
10.5
Hasta que las aplicaciones de usuario interpreten claramente los vnculos contiguos, es importante
incluir caracteres imprimibles (rodeados de espacios), que no sirvan como vnculo, entre los
vnculos contiguos?
2,08
11.3
Es importante proporcionar la informacin de modo que los usuarios puedan recibir los
documentos segn sus preferencias (por ejemplo, idioma, tipo de contenido, etc.)?
2,71
13.5 Es importante proporcionar barras de navegacin para destacar y dar acceso a la navegacin?
2,51
13.6 Es importante agrupar los vnculos relacionados e identificar el grupo?
2,35
13.7
Es importante proporcionar diferentes tipos de bsquedas para diversos niveles de habilidad y
preferencias? (por ejemplo ofrecer alternativas de "la mejor opcin", bsquedas mediante
preguntas, etc.)
2,46
13.8
Es importante localizar la informacin destacada al principio de los encabezamientos, prrafos,
listas, etc.?
2,54
13.9
Es importante proporcionar informacin sobre las colecciones de documentos (por ejemplo, los
documentos que comprendan mltiples pginas)?
2,24
13.10
Las imgenes producidas mediante smbolos y caracteres de texto (ASCII art) pueden resultar muy
molestas para aquellos usuarios que utilizan lectores de pantalla. Es importante proporcionar una
manera de saltar sobre un ASCII art de varias lneas?
2,43
14.2
Es importante complementar el texto con presentaciones grficas o auditivas cuando ello facilite la
comprensin de la pgina?
2,56
14.3
Es importante crear un estilo de presentacin que sea coherente para todas las pginas?
2,63

Tabla 1. Modelo ponderado de accesibilidad enfocado al usuario (WCAG 1.0)

Adems, en el grfico 1 se refleja la distribucin de las respuestas dadas por los usuarios a
cada punto de verificacin. Se observa que, a pesar de ser un modelo traducido previamente a un
lenguaje comprensible para el usuario, existe un porcentaje elevado de puntos de verificacin que
siguen siendo de difcil interpretacin para l, puesto que solo el 31,34% de los puntos son
respondidos por el 100% de los usuarios (desde el 1.1. hasta el 7.2.) y el 43,9% de los usuarios (18 de
los 41 usuarios) no responde, al menos, a uno de los 67 puntos de verificacin. Sin embargo, el hecho
de que el punto de verificacin que se halla en la cola de la distribucin (6.4.) sea contestado por el
78% de los usuarios (32 de los 41 usuarios lo ponderan) denota que la interpretacin del modelo a un
lenguaje ms claro ha sido positiva.

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Puntos de verificacin
WGAC 1.0. Porcentaje de Respuestas

Grfico 1. Grado de comprensin de las WCAG 1.0 por parte del usuario

Tambin se ha comparado el grado de comprensin de las WCAG 2.0 con respecto a sus
predecesoras de la versin 1.0. Solo el 14,28% de los usuarios (1 de los 7 participantes) no responde a
uno de los 61 criterios de xito. Se puede observar en el grfico 2 que el 98,3% de los criterios de
xito (todos excepto el 3.1.3) han sido entendidos por el 100% de la poblacin. Estos datos
demuestran que las WGAC 2.0. son mucho ms entendibles para el usuario que sus antecesoras por
lo que, en este caso, no sera necesario realizar una plantilla especialmente adaptada a las
necesidades del usuario.

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Criterios de xito
WGAC 2.0. Porcentaje de Respuestas
Grfico 2. Grado de comprensin de las WCAG 2.0 por parte del usuario

968
2.2 Resultados: Modelo ponderado de archivos

La tabla 2 contiene el modelo ponderado de 100 caractersticas (C) que permiten disear y
evaluar correctamente los sitios web de archivos.

Cd. NOMBRE Y DESCRIPCIN Peso
CARACTERSTICAS GENERALES
C1 Los objetivos del sitio web se expresan con claridad 1
C2 El sitio web tiene una URL correcta, clara y fcil de recordar 0,75
C3 Posee una ULR estable 0,75
C4 La estructura general del sitio web est orientada al usuario 1
C5 Aporta un diseo general del sitio web coherente 0,75
C6
Se permite la visualizacin del sitio web con navegador estndar
0,75
C7
Tiene un acceso rpido y regular
0,75
C8
Aparece la fecha de creacin intelectual del recurso
0,25
C9
El logotipo es significativo, identificable y suficientemente visible
0,5
C10
Ofrece algn enlace con informacin sobre el sitio web, webmaster
0,25
C11
Est dirigido a un mbito geogrfico o lingstico concreto
0,25
C12
Proporciona alguna informacin nueva o innovador
0,25
C13
Se cuida la gramtica y la ortografa
0,75
C14
Menciona el rea geogrfica que abarca
0,25
C15
Posee un lenguaje claro y conciso
0,75
C16
El sitio web es amigable, familiar y cercano
0,25
C17
1 prrafo = 1 idea. Es recomendable evitar prrafos vacos o varios mensajes en un mismo
prrafo.
0,25
C18
Dispone de un mapa sensible
0,25
C19
Contiene rtulos significativos
0,25
C20
Funcionan los enlaces de la home page
0,75
C21
Tiene enlaces fcilmente reconocibles como tales
0,25
C22
No tiene sobrecarga informativa
0,25
CARACTERTICAS ESPECFICAS
IDENTIFICACIN
C23
Se encuentran identificadas las series documentales
1
ORGANIZACIN: CLASIFICACIN Y ORDENACIN

969
C24
Indica el tipo de clasificacin que sigue el archivo
0,75
C25
Indica el tipo de ordenacin que siguen las series
0,75
VALORACIN
C26
Contiene ficha de descripcin de organismos
0,75
C27
Aparecen reflejados los fondos que custodia y conserva el archivo
1
C28
Permite descarga del inventario documental
0,5
ACCESO A LA INFORMACIN: PRSTAMO Y CONSULTA
C29 Ofrece el servicio de prstamo de documentos a usuarios internos 1
C30
Ofrece el servicio de prstamos especiales para exposiciones y actividades similares
0,75
C31
Tiene normativa del servicio de prstamo
0,75
C32
Da acceso a la normativa de prstamo
0,5
C33
Permite la descarga de modelos normalizados de prstamo para usuarios internos mediante
clave de acceso
0,5
C34
Permite la descarga de modelos normalizados de prstamo para usuarios externos al archivo
0,5
C35
Contiene modelo de autorizacin para gestores de la documentacin
0,75
C36
Contiene todos los modelos utilizados para llevar a cabo el proceso de prstamo (testigo,
solicitud de prstamo, etc.
0,75
C37 Contiene un registro de prstamos que permite la recogida de datos para estadsticas futuras 0,75
C38
Muestra diagramas sobre el proceso de prstamo
0,5
C39
Indica las instrucciones para cumplimentar modelos normalizados
0,75
C40
Ofrece informacin sobre el servicio de consulta de documentos
0,75
C41
Permite la descarga del modelo de consulta de documentos
0,5
ELIMINACIN DOCUMENTAL
C42
Contiene tablas de valoracin documental
0,75
C43
Contiene calendario de conservacin
0,75
C44
Existe una Comisin de Valoracin de Documentos
0,75
C45
Tiene inventario de eliminacin
0,75
C46
Contiene modelo de acta de eliminacin
0,75
C47 Contiene memoria de documentacin eliminada 0,5
C48 Contiene modelo de solicitud de eliminacin 0,5
C49 Contiene modelo de autorizacin de eliminacin 0,5
C50 Muestra diagramas sobre el proceso de expurgo 0,75
DESCRIPCIN
C51 Tiene cuadro de clasificacin de fondos 1
C52 Da acceso al cuadro de clasificacin 0,75

970
C53
Se utiliza la Norma ISAAR (CPF) (International Standard Archival Authority Record for Corporate
Bodies, Persons, and Families) para los registros de autoridad
1
C54
Se utiliza la Norma ISDIAH (International Standard for Describing Institutions with Archival
Holdings) para la descripcin de archivos
1
C55
Se utiliza la Norma ISAD(G) (General International Standard Archival Description) para la
descripcin de fondos
1
C56
Se utiliza la Norma ISO 15489 (International Organization for Standardization). Informacin y
documentacin. Gestin de documentos
1
C57 Se utiliza la Norma NEDA (Norma Espaola de Descripcin Archivstica 1
INSTALACIN
C58 Indica el volumen de documentacin en unidades de instalacin (cajas, legajos, etc.) 1
C59 Indica los metros lineales de documentacin 1
TRANSFERENCIA DE INFORMACIN
C60 Contiene instrucciones sobre cmo realizar una transferencia 1
C61 Tiene modelo de relacin de entrega (tambin denominada hoja o relacin de transferencia 0,75
C62 Existe modelo de diligencia de cotejo 0,5
C63
Permite la descarga de modelos normalizados de documentos de transferencia para usuarios
internos mediante clave de acceso
1
C64
Permite la descarga de modelos normalizados de documentos de transferencia para usuarios
externos al archivo
1
C65
Recoge un calendario de transferencias o en su defecto una previsin de futuras
transferencias al archivo
0,5
NUEVAS TECNOLOGAS EN LOS ARCHIVOS
C66
Utiliza algn software para la gestin de archivos (Archivo 3000, Albal, AlbalaNET, Anser,
Archon, ARGES, CLARA, DIGIARCH, EDAS Archivo Fsico, FLORA Archiv, ICA-AtoM, IRGES,
Pinakes Archives, etc.)
0,5
C67
Utiliza software libre (Sistema Operativo GNU/Linux)
0,25
C68
Posee una base de datos que recoge los fondos del archivo
1
C69
Permite el acceso a la base de datos a usuarios internos
1
C70
Permite el acceso a la base de datos a usuarios externos
1
C71
Contiene fondos digitalizados
1
C72
Permite la descarga del fondo digitalizado a usuarios internos
1
C73
Permite la descarga del fondo digitalizado a usuarios externos
1
CERTIFICACIONES
C74
Contiene certificaciones de calidad por alguna entidad certificadora
0,5
C75
Contiene certificaciones por otras entidades
0,5
C76
Posee indicadores de calidad
1

971
PERSONAL DE LA INSTITUCIN
C77
Se pueden visualizar datos de contacto (email, telfono, direccin postal, etc.)
1
INSTRUMENTOS DE DESCRIPCIN
C78
Dispone de gua
0,75
C79
Dispone de inventarios de sus fondos
0,75
C80
Dispone de catlogos de sus fondos
0,75
C81
Contiene otros instrumentos auxiliares
0,5
LEGISLACIN
C82
Hace referencia a la legislacin nacional vigente
0,5
C83
Hace referencia a la legislacin autonmica o regional vigente
0,75
C84
Hace referencia a la legislacin local vigente
0,75
INFORMACIN CULTURAL
Las caractersticas siguientes han sido consideradas como un proceso evolutivo en la concepcin
funcional de los archivos en el mbito sociocultural. Es conveniente que el sitio web de un archivo contenga
informacin sociocultural en cualquiera de sus mbitos que favorezca su difusin.
C85
Contiene ponencias sobre el archivo o sobre los fondos del archivo.
0,5
C86
Contiene artculos sobre el archivo o sobre los fondos del archivo.
0,5
C87
Realiza exposiciones.
0,5
C88
Contiene bibliografa.
0,5
C89
Contiene Pieza del mes.
0,5
C90
Contiene novedades sobre archivos.
0,5
ENLACES
C91
Posee enlaces a asociaciones profesionales
0,5
C92
Contiene enlaces a manuales
0,5
C93
Posee otros enlaces de inters
0,75
OTRA INFORMACIN
C94
Posee contador de usuarios o visitas
0,75
C95
Aparecen encuestas de satisfaccin
0,75
C96
Contiene el manual de normas y procedimientos del archivo
0,5
C97
Aparece el organigrama de la institucin a la que pertenece el archivo
1
C98
El archivo est incluido en el organigrama de la entidad
1
C99
Contiene glosario de trminos
0,75
C100
Contiene carta de servicios
0,75

Tabla 2. Modelo ponderado de caractersticas para el diseo de sitios web de archivos

972
Conclusiones

Modelo de accesibilidad
Los resultados han demostrado que la versin actual de las pautas de accesibilidad web (Web
Content Accessibility Guidelines WCAG 2.0) son mucho ms comprensibles para el usuario que sus
antecesoras WGAC 1.0., a pesar de haber traducido estas ltimas en el presente trabajo a un lenguaje
ms claro para el usuario (puesto que el 98,3% de los criterios de xito de las 2.0. han sido
entendidos por el 100% de la poblacin frente al 31,34% de los puntos de verificacin de las 1.0.). Sin
embargo, el diseo y normalizacin de un modelo de accesibilidad web basado en las WGAC 1.0.
adaptado a la compresin del usuario y acometido en este trabajo ha permitido comprobar que, a
pesar de su dificultad, los puntos de verificacin de las mismas, han seguido una dinmica lgica de
ponderacin por parte de los usuarios, lo que denota una indudable comprensin por parte de los
mismos del modelo adaptado a sus necesidades. La aplicacin de este modelo permitir al usuario
identificar con facilidad si una web cumple o no los criterios internacionales de accesibilidad.
Modelo de archivos
En el entorno de los archivos, las investigaciones que desarrollan modelos de caractersticas
son escasas y, en general, utilizan indicadores demasiado universales que se pueden aplicar en
mbitos muy heterogneos no exclusivamente archivsticos. Por ello, es necesario el diseo de un
modelo ponderado y exhaustivo de caractersticas para la valoracin especfica de los sitios web de
archivos que permita conocer el estado de los mismos con la finalidad de mejorar su accesibilidad
para la sociedad. El presente trabajo ha demostrado que es posible disear dicho modelo y asignar
un peso especfico a cada caracterstica segn su nivel de importancia de cara a la accesibilidad de la
informacin para sitios web archivsticos, de tal forma que el usuario pueda identificar y acceder
con facilidad al contenido de las webs archivsticas.
Agradecimientos.
Este trabajo ha sido financiado por la Junta de Extremadura, Consejera de Empleo, Empresa e
Innovacin y el Fondo Social Europeo como parte de la ayuda a grupos de investigacin GR10019.

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975
O TRATAMENTO DO DOCUMENTO ARQUIVSTICO DIGITAL

GRACIELLE MENDONA RODRIGUES GOMES
[email protected]

WELLINGTON MARAL DE CARVALHO
[email protected]

Resumo O crescimento da produo de documentos arquivsticos em meio digital e a demanda pelo acesso s
informaes arquivsticas atravs do ambiente Web exigem o tratamento e a organizao adequada do
documento sob pena da informao no ser recuperada pelo usurio. Esta pesquisa teve como motivao
identificar os mtodos, as normas de descrio e os padres de metadados desenvolvidos para tratar e
descrever a informao arquivstica digital possibilitando disponibiliz-la para o usurio atravs do acesso
remoto. No texto sero apresentados o contexto, os conceitos e as caractersticas do documento arquivstico
digital. Em seguida, so identificadas as atividades realizadas para o tratamento do documento arquivstico
digital, as normas de descrio ISAD(G), ISAAR(CPF) e NOBRADE. Aps o exame destes componentes, so
apresentados os padres de metadados USMARC-AMC, Dublin Core e EAD-DTD, que permitem codificar os
instrumentos de acesso e sendo aplicados em conjunto s normas de descrio, possibilitam a padronizao
das descries arquivsticas. Por fim, so mostrados atravs dos projetos Acervo Curt Lange da UFMG, Padres
de Interoperabilidade do Governo Brasileiro e Digitarq2 do Arquivo Distrital do Porto, a aplicao dos mtodos
de tratamento documental, das normas de descrio e dos padres de metadados selecionados para cada
iniciativa, alm de outras solues desenvolvidas para atender a demanda de cada contexto e lidar com a
massa documental criada em meio eletrnico. O estudo tambm mostra ser possvel atravs da aplicao
destes recursos consolidar redes de intercmbio entre as instituies arquivsticas e oferecer a sociedade
servios de informao arquivstica mais eficientes com a possibilidade do acesso remoto pelo usurio.

Palavras-chave Documento arquivstico digital. Padres de metadados. Normas de descrio arquivstica.
Tratamento Documental.

Abstract The growing production of archivistic documents in digital environment and demand for access to
archival information through the Web require treatment environment and adequate organization of the
document under penalty of the information do not recovered by the user. This research was to identify the
motivation methods, rules of description and metadata standard developed to treat and describe the process
and enabling digital archival information makes it available to the user through remote access. The text will
be presented the context, the concepts and the characteristics of digital document archivist. Then, the
activities are identified for the treatment of digital archives document, the rules of description ISAD (G),
ISAAR (SFC) and NOBRADE. After examination of these components the metadata standard USMARC AMC,
Dublin Core and EAD-DTD, are presented enabling codify the instruments to access and being applied to the
rules of descriptions, makes the represent the digital information archival. Finally, are shown through
projects Treatment of the Collection Curt Lange of the UFMG, Standards for Interoperability of the Brazilian
government and Digitarq2 of the Arquivo Distrital do Porto, the application of methods of the documentary
treatment, description of the rules and metadata standart selected for each initiative, besides other solutions
developed to meet the demands of each context and deal with the mass documentary created electronically.
The study also shows that is possible by applying these resources to consolidate networks of exchanges
among archivist institutions offering to society services of archivistic information more efficient archival
with the possibility of remote access by the user.

Keywords Digital Archives Document. Metadata Standard. Archival Description. Description - Rules,
Treatment Documentary.

976
Introduo

O desenvolvimento da informtica provocou vrias mudanas na sociedade atual, a expanso
e o uso das Tecnologias de Informao e Comunicao (TICs) ocasionou o aumento da produo de
documentos em meio eletrnico, alm da possibilidade de armazenamento e administrao de
grandes volumes de dados numa velocidade jamais imaginada.
Nas organizaes, tambm houve um crescimento na criao dos documentos digitais
formando um ambiente, s vezes, catico em meio eletrnico cujas informaes se encontram
dispersas como nos depsitos que armazenam documentos arquivsticos de papel acumulados
durante longos anos sem receber um tratamento adequado.
Os profissionais da informao, atualmente, tm como desafio garantir uma gesto de
documentos eficaz, de forma a racionalizar a massa documental e facilitar o acesso s informaes
no ambiente eletrnico que em sua essncia no difere da gesto de documentos em outros
suportes, mas apresenta outras necessidades de tratamento alm dos aplicados nos suportes
convencionais.
Os documentos arquivsticos apresentam-se em novos suportes exigindo aos arquivistas
dominarem as tcnicas necessrias para controle, organizao, tratamento e difuso das
informaes em meio eletrnico, pois sem a compreenso das tcnicas arquivsticas, o profissional
no cumpre a misso de organizar, armazenar e disponibilizar os documentos em condies
adequadas aos usurios. Portanto, alm de se preocupar em reunir a documentao produzida
imprescindvel saber lidar com ela aplicando as melhores tcnicas.
O uso e a adaptao dos mtodos validados no ambiente convencional para o atendimento das
particularidades do ambiente eletrnico possibilitam o acesso aos documentos que no esto mais
localizados, restritamente, em depsitos fsicos e centralizados, estes tambm se encontram nas
bases de dados, computadores, repositrios digitais possveis de serem acessados atravs da
interface Web.
O acesso informao arquivstica no ambiente digital depende da representao adequada
da informao, de ferramentas eficientes para o acesso, pois os usurios podem realizar suas
prprias pesquisas e no contam com o trabalho do arquivista de referncia para servir de
intermedirio entre a informao e o usurio.
Nesse contexto, este trabalho foi motivado pelo desejo de se compreender como as atividades
de tratamento do documento arquivstico digital podem ser realizadas em meio eletrnico e quais
so os recursos tecnolgicos adotados para a codificao da informao no ambiente digital que
permitem disponibiliz-los atravs de bases de dados e sistemas para o acesso remoto e local dos
documentos e das informaes arquivsticas que os usurios necessitam. Portanto, o objetivo geral
da pesquisa foi identificar as normas de descrio arquivstica e os principais formatos de
metadados adotados, nacional e internacionalmente, para tratar a informao sobre documentos
arquivsticos no contexto digital.
Os objetivos especficos definidos foram compreender as metodologias utilizadas para o
tratamento da informao arquivstica aplicadas no ambiente eletrnico; conhecer as
caractersticas dos padres de metadados utilizados para descrio arquivstica dos documentos no
meio digital e identificar algumas iniciativas de tratamento do documento arquivstico digital,
observando-se quais foram as metodologias, as normas e os padres adotados.

1 Metodologia

O presente estudo consiste numa pesquisa descritiva, portanto, pretende identificar e
compreender as possibilidades para o tratamento da informao arquivstica no contexto digital

977
atualmente. Foi construdo a partir de fontes levantadas na internet, leitura de artigos da Revista
Ponto de Acesso, Informao & Informao, Arquivstica.Net, DataGramaZero, Perspectivas em Cincia da
Informao, o acesso a sites das organizaes desenvolvedoras dos padres de metadados, das
publicaes disponibilizadas pelo Arquivo Nacional do Brasil e dos projetos de tratamento do
documento arquivstico digital das seguintes instituies: Universidade Federal de Minas Gerais, do
Governo Eletrnico Brasileiro e do Arquivo Distrital do Porto, em Portugal.
A primeira etapa consistiu de anlise de documentos e trabalhos que tratam de forma similar
problemtica do estudo, em seguida foram feitos levantamentos bibliogrficos sobre os mtodos j
consolidados aplicados para o tratamento arquivstico nos suportes convencionais, prosseguindo
com a investigao do contexto e as caractersticas do documento arquivstico digital e os mtodos
aplicados para o tratamento arquivstico no ambiente eletrnico.
Foram pesquisados as normas e os padres de metadados para descrio arquivstica, atravs
dos rgos responsveis pela criao e o desenvolvimento. A seleo dos padres de metadados foi
realizada atravs da identificao e a freqncia em que foram citados nas bibliografias levantadas e
a importncia dada aos mesmos por vrios autores das reas da Arquivologia e Informtica. Por fim,
foram selecionados alguns projetos de tratamento do documento arquivstico no contexto digital
que utilizaram estes padres e os aplicaram em conjunto s normas de descrio arquivstica.

2 As tecnologias da informao e os arquivos

A insero e a banalizao da microinformtica provocaram a expanso do uso das
tecnologias, nas organizaes pblicas e privadas, trazendo novos mecanismos para a comunicao
e o registro das informaes. Os documentos que eram produzidos apenas no meio convencional so
gerados tambm no ambiente eletrnico.
As tecnologias da informao e comunicao agem sobre a maior parte dos processos nos
arquivos, seguem o ciclo vital dos documentos arquivsticos obedecendo evoluo desde o
surgimento at a eliminao ou guarda permanente. Os documentos arquivsticos digitais assim
como os convencionais so criados a partir do funcionamento das organizaes ou pessoas fsicas
para o cumprimento de suas funes e atividades.
Segundo Hofman (citado em Bellotto, 2002), a tecnologia da informao:

Cria novas estruturas organizacionais, o que influi no fluxo da
informao e cria novas necessidades no armazenamento da informao,
alm de se ter de conviver ao mesmo tempo com os suportes tradicionais e
com os eletrnicos. Tudo isso leva necessidade de mudana de nfase, do
objeto fsico para um nvel mais alto, abstrato e lgico, requerendo
renovada ateno quanto ao controle intelectual da informao, para que
se possa garantir sua autenticidade, acessibilidade e credibilidade.
(Bellotto, 2002)

A informtica proporcionou mudanas no processo de recuperao, disseminao, na gesto
dos planos de classificao e tabelas de temporalidade, no armazenamento, processamento e da
preservao dos documentos eletrnicos.
Os documentos arquivsticos produzidos em formato eletrnico apresentam novos atributos
sendo armazenados em vrios suportes magnticos e pticos, e gerenciados atravs de um sistema
informatizado no qual se tornam mais geis as atividades de produo, armazenamento, acesso e
transmisso das informaes.

978
2.1 Documento Arquivstico Digital

O documento arquivstico digital pode ser produzido, processado e armazenado por meio do
uso do computador, as informaes apresentam-se em forma textual, grfica, sonora ou outra. O
conceito de documento arquivstico digital foi definido no Glossrio da Cmara Tcnica de Documentos
Eletrnicos CTDE (2006) como:

Documento arquivstico codificado em dgitos binrios, produzido,
tramitado e armazenado por sistema computacional. So exemplos os
documentos arquivsticos digitais: textos, imagens fixas, imagens em
movimento, gravaes sonoras, mensagens de correio eletrnico, pginas
na web, bases de dados, dentre outras possibilidades de um vasto
repositrio de diversidade crescente. (CTDE, 2006)

Para a gesto dos documentos arquivsticos digitais, imprescindvel o controle de cada item
documental, isto ser possvel de ser realizado a partir do registro e da descrio dos documentos
inserindo dados sobre o contedo, estrutura, suporte, funo, contexto, produtor e outros.
O documento eletrnico constitui-se de conjuntos de dados (metadados) que acrescentados a
outros permitem o controle atravs de um sistema informatizado de gesto arquivstica de
documentos, desde sua criao at a sua destinao final de forma a garantir sua integridade.
O gerenciamento eficiente das informaes produzidas pelas organizaes, no meio digital,
permitir agilidade na recuperao e acesso dos documentos. De acordo com Santos (citado em
Lucca, G., Charo, A. S. & Stein, B. O., 2006, p. 72), uma gesto de documentos eficaz deve garantir o
tratamento adequado s informaes de acordo com mtodos e princpios arquivsticos.
A respeito dos documentos arquivsticos digitais Rosseau e Couture (1998) colocam que:

As conseqncias da utilizao destes novos suportes esto ainda por
determinar. Sabe-se que j tm a vantagem de permitir um maior
armazenamento e de facilitar a difuso. Tecnicamente frgeis, levantam
novos problemas relativos organizao da informao bem como sua
conservao. Eles exigem uma nova especializao por parte dos gestores
de informao. (Rosseau e Couture, 1998)

Diante do crescimento da produo informacional em ambiente eletrnico, os conceitos e
tcnicas aplicadas aos documentos esto sendo revistos, pois atravs deste conhecimento possvel
retirar informaes que forneam orientaes para lidar com os registros eletrnicos.

3 O tratamento do documento arquivstico digital

As dificuldades de acesso documentao encontram nas tecnologias da informao e na
atividade intelectual dos arquivistas possibilidades para se atenuarem e perspectivas de soluo.
possvel atender aos diversos interesses informacionais dos usurios, sem limites de distncia, com
rapidez e eficincia.
A partir das atividades relacionadas ao tratamento da informao documental e a
implantao das tecnologias da informao e comunicao (TICs) possvel elaborar instrumentos

979
de pesquisa para auxiliar aos usurios na recuperao das informaes no ambiente eletrnico. O
uso dos metadados tambm ser primordial para se ter acesso s informaes dos documentos, pois
permitem a organizao, a localizao e o armazenamento de informaes sobre eles.
Para as instituies arquivsticas disponibilizarem as informaes descritivas dos conjuntos
documentais necessrio realizar o tratamento dos documentos e informaes neles registradas.
Atravs da normalizao das descries arquivsticas possvel implantar redes de cooperao e
intercmbio de informaes descritivas entre os sistemas informatizados de gesto de documentos
e oferecer servios de recuperao mais eficientes para a sociedade.
No ambiente eletrnico, as metodologias para tratamento precisam ser aplicadas no
documento arquivstico digital. Para Andrade:

A organizao da informao pr-requisito para a representao.
No se podem representar informaes sem que se tenham passado por
um tratamento, porque h prejuzo da economia de recursos e o resultado
final poder no ser satisfatrio at mesmo em curto prazo. No caso dos
documentos permanentes, o arranjo documental essencial para
descrever o acervo, uma vez que entender as unidades lgicas
estabelecidas para a documentao (fundo, grupos, sries etc.) permite que
afirmaes acerca do contexto e do contedo sejam formalizadas.
(Andrade, 2007, p. 73)

Portanto, deve-se identificar a informao contextual que est ligada aos documentos
eletrnicos, conhecer a estrutura formal, sua tipologia, aplicar a Diplomtica para analisar e realizar
o tratamento arquivstico de forma mais adequada.
Os arquivistas que lidam com a informao arquivstica no meio eletrnico devem dominar e
respeitar a teoria e as metodologias da disciplina para aplicar as prticas neste contexto. O princpio
da provenincia, por exemplo, fundamental para o tratamento arquivstico, pois garante a
constituio e a plena existncia da unidade de base em arquivstica, o fundo de arquivo (Rousseau
e Couture, 1998, p. 79).
De acordo com o Dicionrio Brasileiro de Terminologia Arquivstica (2005), o processamento
tcnico, tambm chamado de tratamento tcnico ou tratamento arquivstico a expresso utilizada
para indicar as atividades de identificao, classificao, arranjo, descrio e conservao.
Dentre as vrias atividades realizadas pela Arquivstica atravs da descrio que se torna
possvel elaborar instrumentos de pesquisa, com vrias especificidades e finalidades, tais como os
guias, inventrios, catlogos e outros, permitindo assim a otimizao da recuperao da informao.
Dentre os mtodos da Arquivstica que tm como finalidade garantir o acesso s informaes dos
documentos est descrio que considerada por Sousa como:

O ato de descrever e representar informaes contidas em
documentos, e/ou fundos de arquivo, gerando instrumentos de pesquisa
(inventrios, guias e catlogo, etc...), os quais explicam os documentos de
arquivo quanto a sua localizao, identificao e gesto, alm de situar o
pesquisador quanto ao contexto e os sistemas de arquivo que os gerou. As
atividades de descrio so importantes em um arquivo porque garantem
a compreenso do acervo arquivstico. (Sousa, 2006)

Quando o suporte do documento arquivstico o papel, a descrio realizada com maior
freqncia na terceira idade, mas quando se trata dos documentos eletrnicos, a descrio ocorre

980
em todas as fases do tratamento dos documentos. No meio digital, de acordo com Lopes (citado em
Hagen, 1998), a descrio comea no processo de classificao, continua na avaliao e se aprofunda
nos instrumentos de busca mais especficos.
Duranti e MacNeil (citado em Rondinelli, 2005), tecem discusso sobre a descrio arquivstica
no ambiente eletrnico. Segundo estes pesquisadores

[...] no importa quo cuidadosos os processos de reproduo e
converso tenham sido executados, e no importa quanta autoridade e
responsabilidade foram dadas queles investidos da superviso dos
processos, a verificao da autenticidade dos documentos eletrnicos a
longo prazo ter que repousar em uma coisa apenas: a descrio
arquivstica. Quando os documentos eletrnicos que os pesquisadores
desejam usar como fontes tiverem passado por vrias reprodues e
converses, quando sua forma fsica tiver perdido muito das suas
caractersticas originais, quando seus criadores e pessoas encarregadas de
copi-los e migr-los estiverem mortos e incapazes de testemunhar sua
veracidade, o ltimo instrumento para a avaliao da sua autoridade ser o
inventrio arquivstico. (Rondinelli, 2005)

A descrio auxiliar nas atividades de identificao, acesso e preservao dos documentos
arquivsticos digitais atravs de elementos de metadados. Os metadados apresentam dados sobre o
contedo, o formato, o suporte, o aplicativo, a fonte, o software, estabelece a provenincia e a
organicidade do documento e possibilitam sua preservao. Para Andrade (2007), aes tradicionais
de representao arquivstica se mostram insuficientes no contexto digital para criar e manter uma
representao digital de informao arquivstica, pois requer tambm o entendimento da aplicao
das normas de descrio e formatos de codificao.
De acordo com Lopes (citado em Lucca, G., Charo, A. S. & Stein, B. O., 2006, p.74) a descrio
proveniente do processo de classificao e avaliao devendo ser aliada a um conjunto de
metadados que representem as informaes que identificam o acervo arquivstico e explicam o seu
contexto.
Para descrever os documentos arquivsticos digitais torna-se indispensvel o entendimento e
uso da Norma Internacional de Descrio Arquivstica, ISAD(G), ou da Norma Brasileira de Descrio
Arquivstica, NOBRADE, e elaborar os pontos de acesso de autoridades baseados nas regras
estabelecidas pela Norma Internacional de Registro de Autoridade Arquivstica para Entidades Coletivas,
Pessoas e Famlias, ISAAR(CPF), apresentadas com mais detalhes a seguir.

3.1 Norma Geral Internacional de Descrio Arquivstica - ISAD(G)

Em 1998, o Comit de Normas de Descrio do Conselho Internacional de Arquivos iniciou o
trabalho para a reviso da ISAD(G) junto comunidade arquivstica internacional. Atravs do envio
dos comentrios aos membros associados e os vrios rgos internos foi possvel elaborar um
compndio de comentrios para reviso, aps o seu aperfeioamento, a ISAD(G) foi publicada no
incio do ano 2000.
As regras de descrio da ISAD(G) podem ser aplicadas aos documentos arquivsticos, em
qualquer suporte, na fase corrente, intermediria e permanente e, inclusive, nos sistemas
informatizados de gesto arquivstica de documentos no qual a descrio deve abranger todas as
etapas da gesto.

981
Os objetivos do conjunto de regras estabelecidas pela ISAD(G) so: assegurar a criao de
descries consistentes apropriadas e auto-explicativas, facilitar a recuperao e a troca de
informao sobre documentos arquivsticos, possibilitar o compartilhamento de dados de
autoridade e tornar possvel a integrao de descries de diferentes arquivos num sistema
unificado de informao.
A ISAD(G) aplica quatro regras fundamentais para estabelecer uma hierarquia das descries
denominada descrio multinvel: a) descrio do geral para o particular: representa o contexto e a
estrutura hierrquica do fundo e suas partes componentes; b) informao relevante para o nvel de
descrio: representa com rigor o contexto e o contedo da unidade de descrio; c) relao entre
descries: torna explicita a posio da unidade de descrio na hierarquia e d) no repetio da
informao: evita redundncia de informao em descries hierarquicamente relacionadas.
As regras gerais designadas pela ISAD(G) so organizadas em sete reas de informao
descritiva: 1. rea de identificao; 2. rea de contextualizao; 3. rea de contedo e estrutura; 4.
rea de condies de acesso e uso; 5. rea de fontes relacionadas; 6. rea de notas e 7. rea de
controle da descrio.
A norma possui vinte e seis elementos compreendidos nas regras gerais, mas apenas seis so
considerados essenciais para o intercmbio internacional da informao descritiva: cdigo de
referncia, ttulo, produtor, data(s), dimenso da unidade de descrio e nvel de descrio.
Para estabelecer os pontos de acesso que tanto auxiliam na recuperao da informao, foi
criada a ISAAR(CPF) que estabelece regras para o registro de autoridades arquivsticas (entidades
coletivas, pessoas e famlias) e podem ser representados como produtores nas descries, alm do
uso dos vocabulrios controlados e tesauros.

3.2 Norma Internacional de Registro de Autoridade Arquivstica para Entidades
Coletivas, Pessoas e Famlias - ISAAR(CPF)

A segunda edio da ISAAR(CPF) foi preparada pelo Comit de Normas de Descrio do
Conselho Internacional de Arquivos, em outubro de 2003, aps passar por um processo de reviso de
cinco anos e contar com a cooperao da comunidade arquivstica internacional que foi convidada a
enviar comentrios para o aperfeioamento da Norma.
A Norma est organizada em quatro reas: rea de identificao (onde a informao visa
identificar especificamente a entidade que est sendo descrita e so definidos pontos de acesso
normalizados para o registro), rea de descrio (onde se registra informao pertinente sobre a
natureza, contexto e atividades da entidade que est sendo descrita), rea de relacionamentos (onde
relaes com outras entidades coletivas, pessoas e/ou famlias so registradas e descritas) e rea de
controle (onde o registro de autoridade especificamente identificado e registrada a informao
sobre como, quando e por qual instituio foi criado e mantido).
Todos os elementos abrangidos pela norma podem ser utilizados, mas somente os quatro
elementos apresentados a seguir so essenciais: tipo de entidade, forma(s) autorizada(s) do nome, datas
de existncia e identificador do registro de autoridade.
O objetivo primordial da norma fornecer regras gerais para a normalizao de descries
arquivsticas de produtores de documentos e do contexto da produo de documentos. Esta norma
deve ser aplicada em conjunto com a ISAD(G) e outras normas de descrio nacional.
Para o intercmbio de dados eletrnicos de autoridade arquivstica em rede precisa-se adotar
um padro de metadados apropriado, como o Encoded Archival Context (EAC).

982
3.3 Norma Brasileira de Descrio Arquivstica NOBRADE

A Cmara Tcnica de Normalizao da Descrio Arquivstica (CTNDA), do Conselho Nacional
de Arquivos (Conarq), criada pela Portaria n. 56 de 30 de setembro de 2001, tinha como pretenso
discutir as normas ISAD(G) e ISAAR(CPF) junto aos arquivistas brasileiros, a fim de adequ-las a
realidade brasileira.
Vrias reunies e trabalhos foram realizados para identificar os procedimentos tcnicos
adotados no tratamento dos arquivos, alm da execuo de levantamentos bibliogrficos, oficinas e
divulgaes do trabalho. Por fim, a verso preliminar foi submetida consulta pblica no 1
semestre de 2006 e aps a anlise das contribuies enviadas por vrios arquivistas de todo Brasil
elaborou-se a verso final.
A NOBRADE assim como a ISAD(G) tem como objetivos facilitar o intercmbio e o acesso das
informaes, a nvel nacional e internacional. As regras foram refletidas para serem utilizadas tanto
em sistemas automatizados como em sistemas manuais e em qualquer documento arquivstico
independente do gnero e suporte.
A Norma destina-se principalmente descrio dos arquivos em fase permanente, mas
podem ser aplicadas as fases corrente e intermediria. A NOBRADE tem como princpios bsicos o
respeito aos fundos e a descrio multinvel. Os seis principais nveis considerados para descrio
so: Nvel 0: acervo da entidade custodiadora; Nvel 1: fundo ou coleo; Nvel 2: seo; Nvel 3: srie;
Nvel 4: dossi ou processo e Nvel 5: item documental.
A Norma constituda de vinte oito elementos compreendidos em oito reas de descrio: 1.
rea de identificao; 2. rea de contextualizao; 3. rea de contedo e estrutura; 4. rea de
condies de acesso e uso; 5. rea de fontes relacionadas; 6. rea de notas; 5. rea de controle da
descrio e 6. rea de pontos de acesso e descrio de assuntos.
Dos vinte oito elementos de descrio, sete so considerados obrigatrios: cdigo de
referncia, ttulo, data(s), nvel de descrio, dimenso e suporte, nome(s) do(s) produtor(es) e
condies de acesso.
Portanto, a descrio arquivstica possibilita representar e padronizar as informaes sobre
os documentos, para permitir a sua localizao e acesso. O tratamento e a representao, coerente,
da informao dos documentos so traduzidos na qualidade dos instrumentos de pesquisa.

4 Padres de Metadados para Descrio de Documentos Arquivsticos digitais

Alm da aplicao das normas ISAD(G) e ISAAR(CPF) para descrio de documentos
arquivsticos tanto em formato tradicional como no digital, os padres de metadados so utilizados
para codificar as descries dos documentos em formato eletrnico e possibilitar o intercmbio de
descries eletrnicas entre instituies arquivsticas em rede.
Segundo Andrade (2007, p. 85), em um determinado momento, quando as descries dos
nveis iniciais tenham sido finalizados, ser possvel passar para o prximo passo, a codificao das
informaes descritivas.
A criao dos padres de metadados visa solucionar os problemas de armazenamento,
recuperao e intercmbio de informao entre bases de dados, repositrios, sistemas e internet. Os
padres de metadados so esquemas utilizados para estruturar e representar atributos de um
recurso (imagens, vdeos, banco de dados, documentos, mapas, entre outros) proporcionando
uniformidade e integrao. De acordo com Andrade:

983
De todos os aspectos que podem ser levantados quando da construo
dos ambientes web, o que se refere adeso de padres dos mais
importantes. Um ambiente construdo para funcionamento isolado, isto ,
sem possibilidade de cooperao tcnica e interoperabilidade, acaba por
no usufruir de diversas vantagens que podem garantir a preservao
digital. (Andrade, 2007, p. 74)

Assim a utilizao de normas de descrio e padres de metadados para os documentos
arquivsticos permite uniformizar e intercambiar os registros de conjuntos documentais
constitudos pelos arquivos. Dentre os padres de metadados utilizados para codificao das
descries dos documentos arquivsticos digitais, foram selecionados trs padres encontrados na
literatura e citados com freqncia por autores da rea da Arquivologia e Informtica, sendo
apresentados a seguir os padres: USMARC-AMC, Dublin Core e EAD DTD.

4.1 Padro USMARC-AMC

O Formato MARC original foi elaborado pela Library of Congress (LC), em meados dos anos 1960
e possui uma famlia de padres que teve grande aceitao nos Estados Unidos e
internacionalmente, como o USMARC.
Durante o final da dcada de 60 e incio da dcada de 70, na LC foram produzidos uma srie de
formatos MARC para diferentes tipos de materiais, livros, peridicos, mapas, manuscritos, e outros.
O padro adaptado para documentos e manuscritos foi lanado em 1973 e teve aceitao
generalizada pela comunidade arquivstica, porm suas orientaes no atendiam adequadamente
as necessidades descritivas dos arquivos.
No final dos anos 70, nos Estados Unidos, foram realizados muitos debates pelos arquivistas,
com o objetivo de desenvolver um padro automatizado de comunicao e permitir o intercmbio
de dados entre as instituies arquivsticas.
Em 1977, a Sociedade Americana de Arquivistas (SAA) criou a National Information Systems Task
Force (NISTF) para estudar as prticas descritivas. Uma das primeiras conquistas da NISTF foi
elaborao de um dicionrio para identificar e definir os elementos para construo de
instrumentos de pesquisa. Esses elementos poderiam ser utilizados para construir catlogos,
ndices, inventrios, guias ou qualquer outro tipo de instrumento, aplicados tanto em sistemas
automatizados como nos manuais. Com base nos termos do Dicionrio, a NISTF passou a trabalhar
em estreita colaborao com a LC para desenvolver o USMARC for Archival and Manuscripts Control
(USMARC AMC).
O Formato USMARC AMC foi aprovado no final de 1982 e incio de 1983, pelo Conselho da
Sociedade Arquivistas Americanos (SAA), a LC e o Comit dos Padres de Catalogao da Associao
das Bibliotecas Americanas. A verso final do padro USMARC AMC foi disponibilizada para
distribuio geral, no incio de 1985, como parte do formato MARC para Dados Bibliogrficos.
O USMARC AMC permite manipular os dados de descrio arquivstica tanto em sistemas
manuais como nos sistemas automatizados, armazenar e recuperar as informaes. O padro
capaz de tornar os dados dos registros seguros e confiveis, alm de possibilitar o
compartilhamento de dados com sistemas externos e migrar novos dados para o sistema interno.
Vrios arquivistas buscaram melhorar a estrutura do padro para permitir descries mais
adequadas e atender s necessidades dos usurios dos arquivos, incluindo informaes sobre o
contexto de criao dos registros arquivsticos, os formatos dos materiais e informaes sobre as
atividades da gesto arquivstica. Estes tipos de dados tinham sido tratados at ento, de forma
elementar, no formato USMARC AMC.

984
Para estrutura do padro foram adotados a Standard Generalized Markup Language -
SGML (ISO 8879:1986), documento referente linguagem de marcao, o (ANSI / NISO Z39.59)
amplamente empregado pela indstria editorial nos Estados Unidos e ANSI X12 Standards for
Electronic Data Interchange (EDI) que foi utilizado para o tratamento de um grande nmero de
operaes para as instituies financeiras, empresas e outros.

4.2 Padro Dublin Core DCMI

Desenvolvido em 1995, nos Estados Unidos, patrocinado pela Online Computer Library Center
(OCLC), o Dublin Core um conjunto de metadados constitudo de quinze elementos para descrio
de recursos informacionais. O nome "Dublin" devido a sua origem, num workshop em Dublin, em
Ohio; "core" porque os seus elementos so amplos e genricos, utilizveis para a descrio de uma
ampla variedade de recursos.
Os quinze elementos de descrio do Dublin Core so parte de um conjunto maior de
metadados, vocabulrios e especificaes tcnicas mantidas pela Dublin Core Metadata Initiative
(DCMI) que uma organizao dedicada promoo e adoo da norma, no desenvolvimento de
metadados interoperveis e vocabulrios especializados para descrever recursos de informao.
O Dublin Core utilizado por empresas, governos e organizaes a nvel internacional para
apoiar as atividades da gesto de documentos, nos servios de informao disponibilizados na
internet e para intercmbio de dados entre suas colees, sendo algumas dessas instituies: a
Biblioteca Nacional da Finlndia, o Conselho de Museus, Bibliotecas e Arquivos do Reino Unido, a
Biblioteca Nacional de Singapura, a Biblioteca Nacional de Nova Zelndia, a Embrapa Informtica
Agropecuria e o Programa do Governo Eletrnico Brasileiro.
O Dublin Core um padro simples, mas eficaz para a descrio de uma ampla gama de
recursos informacionais digitais, no ambiente da Web. Os conjuntos de metadados do Dublin Core
podem ser embutidos num documento HTML e XHTML, portanto a descrio dos atributos e
contedos dos recursos informacionais ser baseada nestas linguagens.
O padro inclui dois nveis: simples e qualificado. Dublin Core simples inclui quinze elementos
e o qualificado inclui trs elementos adicionais (pblico-alvo, provenincia e detentor dos direitos
autorais), alm dos qualificadores que permitem o aperfeioamento da semntica dos elementos, de
forma a tornar os recursos mais fceis para serem recuperados.
Alm da descrio de recursos digitais em texto, os metadados do Dublin Core podero ser
aplicados a outros recursos como imagens, base de dados, sites e outros.
A semntica do Dublin Core foi estabelecida por um grupo de profissionais multidisciplinares
das reas de Biblioteconomia, Cincia da Computao, Arquivologia, Museologia e reas afins. As
principais caractersticas do padro Dublin Core so: simplicidade para criao e manuteno dos
recursos; adoo de conjuntos de elementos genricos e com entendimento semntico universal;
desenvolvimento de verses do Dublin Core em vrias lnguas para o alcance internacional;
extensibilidade para acrescentar elementos e adaptar o padro s necessidades de cada organizao.
Os quinze elementos de metadados principais descritos pelo Dublin Core so: Ttulo; Autor ou
Criador; Assunto ou Palavras-Chave; Descrio; Editor; Colaborador; Data; Tipo; Formato;
Identificador; Fonte; Lngua; Relao; Cobertura e Direitos Autorais.

985

4.3 Padro EAD DTD

O Encoded Archival Description (EAD DTD) comeou a ser desenvolvido, atravs de um projeto
iniciado na biblioteca da Universidade de Berkeley, na Califrnia, em 1993. O objetivo do projeto foi
investigar a viabilidade do desenvolvimento de um padro independente de software e hardware para
a codificao de instrumentos de pesquisa, tais como inventrios, ndices e outros criados por
arquivos, bibliotecas, museus e repositrios para disponibilizar na Web. O desenvolvimento do EAD
DTD foi realizado atravs da cooperao entre especialistas da Universidade de Berkeley e de outras
instituies.
Daniel Pitti, o pesquisador principal do projeto, desenvolveu os requisitos para o Padro
incluindo os seguintes critrios: 1. capacidade de representar as informaes dos instrumentos de
pesquisa de forma extensa e inter-relacionada; 2. capacidade de preservar as relaes existentes
entre os nveis hierrquicos de descrio; 3. capacidade de representar informaes descritivas que
so herdadas de outro nvel hierrquico; 4. capacidade para mover dentro da estrutura hierrquica
informacional e 5. capacidade de suportar a indexao e recuperao de elementos especficos.
No incio de projeto, a linguagem de marcao Standard Generalized Markup Language
(SGML) foi escolhida como sendo capaz de satisfazer todos os requisitos funcionais do padro e por
ser aplicada numa variedade de produtos de softwares e sistemas operacionais existentes. As regras
foram aplicadas sob a estrutura de marcao (tags) que poderiam ser incorporadas no documento
eletrnico para identificar e estabelecer relaes estruturais entre as partes. Uma estrutura de
marcao consistente permitiria o sucesso no processamento eletrnico dos documentos. A SGML
incentivou a consistncia dos documentos ao introduzir o conceito de DTD. A SGML DTD prescreve
um conjunto ordenado de tags disponveis para a codificao dos documentos numa classe
semelhante.
O Padro desenvolvido contm 146 etiquetas para apresentar os atributos e os elementos dos
documentos. Os atributos so associados aos elementos contidos no EAD DTD. Cada atributo reflete
um elemento chamado de propriedade e pode conter valores diferentes, dependendo do contexto
apresentado.
O EAD DTD constitudo essencialmente de trs partes: eadheader: contm informao sobre
os metadados; frontmatter: contm informao conveniente para a apresentao ou publicao dos
metadados; e archdesc: compreende a informao sobre um fundo documental e sobre os respectivos
materiais que o constituem.
Os elementos do EAD DTD podem ser caracterizados por um identificador nico e um nvel de
descrio (ex. fundo, seo, subseo, srie, subsrie, processo, dossi e item documental), seguindo
as normas da ISAD(G).

5 Iniciativas de tratamento do documento arquivstico no ambiente eletrnico

5.1 Projeto Acervo Curt Lange (UFMG)

A Comisso de Polticas de Acervo foi criada pela Reitoria da Universidade Federal de Minas
Gerais (UFMG), em abril de 1999, com o apoio da Fundao de Desenvolvimento e Pesquisa
(FUNDEP), que juntos deram incio ao projeto para o desenvolvimento de um inventrio preliminar
para arranjo e descrio do Acervo Curt Lange.

986
Francisco Curt Lange, nascido em 1903 e falecido em 1997, foi um importante musiclogo
participante do desenvolvimento da musicologia latino-americana, inclusive da brasileira, atravs
dos estudos realizados sobre a histria da msica brasileira e influncia na msica dos compositores
mineiros.
A Biblioteca Universitria da UFMG, em 1995, reuniu o acervo de Curt Lange e o integrou ao
patrimnio da UFMG. O Acervo constitui-se de correspondncias, manuscritos, livros, fotografias,
instrumentos musicais, discos, transcries e reconstrues de obras musicais e documentos
importantes para a musicologia.
Na metodologia para realizar o tratamento do acervo foram considerados: a natureza do
acervo (abriga documentos arquivsticos e no arquivsticos); o respeito ao contrato de doao para
o rgo depositrio que teria o compromisso de manter o acervo reunido em seu conjunto; o
conhecimento sobre a poltica de tratamento e gerenciamento do Sistema de Bibliotecas da UFMG
que utilizava o software VTLS; a escolha do Formato USMARC para a entrada dos dados.
A partir desses fatores concluiu-se ser adequado realizar o tratamento arquivstico do acervo
empregando padres e normas internacionais visando o intercmbio das informaes, como a
ISAD(G) para definir os elementos para descrio dos documentos e o padro USMARC para permitir
a entrada de dados de carter arquivstico. Tambm foi adotado a International Standart Bibliographic
Description, ISBD(G).
O software escolhido foi o VTLS, por ser utilizado pelo Sistema de Bibliotecas da UFMG na
poca, e ser compatvel com o formato USMARC. Para a descrio arquivstica de alguns nveis
utilizou-se o MicroIsis.
Foram realizados o arranjo e a descrio multinvel, partindo-se do todo para as partes e
respeitando o princpio da organicidade. Atravs da anlise da estrutura do Acervo Curt Lange
definiu-se que o arranjo se daria nos nveis de fundo, srie, subsrie e dossi.
Criou-se uma tabela de converso para a incluso dos dados da ISAD(G) no registro USMARC e
que posteriormente serviu de suporte para a elaborao do Manual de Entrada de Dados para Descrio
- Verso preliminar.
O Manual apresenta a estrutura dos registros de natureza arquivsticas sendo estes: campos
fixos (referentes ao campo 008 com dados referentes ao VTLS e ao USMARC: Leader) e campos
variveis (so campos convencionais utilizados para quaisquer documentos ou de acordo com a
especificidades dos documentos).
Para representar a estrutura hierrquica do Acervo Curt Lange foram gerados links pelo
campo 773 para possibilitar o relacionamento hierrquico entre as partes e o todo. O campo 856
utiliza ligaes entre os registros USMARC e arquivos de imagens digitalizadas, sonorizao, web, e-
mail e outros.
At o tratamento arquivstico no nvel de subsries foi utilizado o Padro USMARC. No nvel
de dossis adotou-se o aplicativo MicroIsis desenvolvendo as bases de dados (Base envia, Base receb,
Base biobi, Base pub e Base parti) de acordo com o arranjo de cada subsrie.
Os registros correspondentes a descrio do Acervo Curt Lange foram implementados atravs
do EasyCat, editor de catalogao do VTLS, usando a planilha archives.wfm e o Manual de Entrada de
Dados para Descrio Arquivstica verso preliminar. As subsries Obras de referncia e Monografias da
srie Coleo bibliogrfica foram tratadas item a item utilizando-se as regras do Cdigo de
Catalogao Anglo Americano (AACR2), Tabela de Classificao Decimal Universal (CDU), Tabela Cutter-
Sanborn, indexao atravs da Library of Congress Subject Headings (LCSH), Rede Bibliodata CD de
catalogao (FGV), planilha books.wfm do VTLS, Manual de Entrada de Dados para Monografias verso
preliminar, metodologias de transferncias de registros bibliogrficos de outras bases (copy
cataloging).
Os resultados do projeto foram considerados positivos, possibilitando o acesso mais rpido s
informaes do acervo e a disponibilizao atravs da Web. Concluiu-se tambm ser mais adequada

987
adoo de uma base exclusiva para acervos arquivsticos, considerando suas particularidades e
caractersticas.
Na realizao do tratamento documental foram consideradas as atividades de arranjo e da
descrio multinvel antes de inserir os dados nos sistemas VTLS e Microisis. Por ser compatvel ao
VTLS foi escolhido o padro de metadados USMARC na codificao dos dados e para adequar a
exibio dos registros de descrio foram realizados ajustes entre a ordenao dos dados do
Formato USMARC e a ordenao dos dados da Norma ISAD(G). Portanto, observa-se a utilizao da
norma de descrio e o formato de metadados visando padronizao e a disseminao do conjunto
documental em meio eletrnico.

5.2 Projeto do Governo Eletrnico Brasileiro e-Ping

No Brasil foi criado o Comit Executivo do Governo Eletrnico, pelo Decreto de 18 de outubro
de 2000, com objetivo de formular polticas, estabelecer diretrizes, coordenar e articular as aes do
Governo Eletrnicas, voltadas para a prestao de servios e informao ao cidado.
Para regulamentar o uso das tecnologias da informao e comunicao na interoperabilidade
dos servios do Governo Eletrnico, o governo brasileiro estabeleceu a arquitetura e-PING Padres
de Interoperabilidade do Governo Eletrnico. A e-PING est segmentada em cinco reas:
Interconexo; Segurana; Meios de Acesso; Organizao e Intercmbio de Informaes e reas de Integrao
para Governo Eletrnico. Em cada rea so estabelecidos componentes e padres, de forma a atender e
acompanhar as necessidades dos diversos segmentos da sociedade.
A adeso a e-PING ser realizada inicialmente pelo Poder Executivo e gradativamente pelas
outras instncias do governo. A arquitetura e-PING abrangem o intercmbio de informao entre os
sistemas do governo federal e as interaes com: cidados, outros nveis do governo (estadual e
municipal), outros Poderes (Legislativo, Judicirio) e Ministrio Pblico Federal, organismos
internacionais, governos de outros pases, empresas (no Brasil e no mundo) e o terceiro setor.
Para cada rea da arquitetura e-PING, j citadas anteriormente, criou-se um grupo de
trabalho formado de profissionais dos rgos do governo e especialistas na rea, seriam
responsveis pelo estabelecimento de polticas e especificaes tcnicas para serem adotadas pelo
Governo Federal.
A rea Organizao e Intercmbio de Informaes trata dos assuntos referentes ao
tratamento e s transferncias de informaes no servio eletrnico abrangendo o padro de
estrutura de assuntos do governo e de metadados, compreendendo os seguintes componentes:
Linguagem para intercmbio de dados; Linguagem para transformao de dados; Definio dos
dados para intercmbio; Catlogo de Padres de Dados (CPD); Lista de Assuntos do Governo:
Taxonomia para Navegao (LAG); Padro de Metadados do Governo (e-PMG).
Trs aplicaes de metadados so desenvolvidas para possibilitar a organizao da
informao, o intercmbio de informao entre os sistemas e tornar a informao disponvel para o
uso: a Lista de Assuntos do Governo (LAG), o Catlogo de Padro de Dados (CPD) e o Padro de Metadados do
Governo (e-PMG).
A Lista de Assuntos do Governo (LAG) um vocabulrio controlado de termos selecionados para
representar o contedo do documento facilitando sua recuperao e localizao. A LAG possibilita a
organizao da informao de portais do governo na forma de diretrio e a seleo de termos para
preenchimento do elemento assunto do e-PMG.
O Catlogo de Padro de Dados (CPD) pretende estabelecer padres de dados para facilitar o
processo de intercmbio de dados entre os sistemas do governo, desenvolvendo a mesma estrutura
e formato para o entendimento entre os mesmos.

988
O Padro de Metadados do Governo (e-PMG) responsvel pela representao e gesto de
contedos tendo como principais caractersticas: simplicidade de criao e manuteno; fcil
compreenso de semntica; interoperabilidade com esquemas internacionais (Dublin Core, e-GIF
(governo ingls) e AGLS (governo australiano); extensibilidade para adequar a realidades especficas
(arquivos, bibliotecas, museus, sistemas de informao geogrfica, etc.); incluso de metadados
relacionados aos documentos arquivsticos; coerncia com os metadados do e-ARQ Brasil (Requisitos
para Sistemas Informatizados de Gesto Arquivstica de Documentos).
O e-PMG composto por quinze elementos do Dublin Core mais as extenses criadas para
atender as necessidades do governo brasileiro, totalizando vinte e um elementos: Abrangncia;
Assunto; Colaborador; Contexto jurdico-administrativo; Criador; Data; Descrio; Destinao;
Destinatrio; Direitos; Publicao; Fonte; Formato; Identificador; Idioma; Localizao; Preservao;
Pblico-alvo; Relao; Tipo e Ttulo.
O projeto no envolve todas as metodologias para tratamento da informao arquivstica
sendo que a organizao da informao no ser necessariamente realizada por profissionais
especializados como os Arquivistas. Para o desenvolvimento dos Padres de Interoperabilidade do
Governo Eletrnico foi selecionado o padro de metadados Dublin Core, adotado em projetos
semelhantes por vrios pases, e que permite aos prprios produtores dos documentos descrev-los
na Web. Ainda para auxiliar na organizao e na padronizao das informaes foi elaborado um
vocabulrio controlado de termos selecionados que servir para estabelecer os pontos de acesso que
tanto auxiliam na recuperao da informao, a Lista de Assuntos do Governo (LAG).

5.3 Projeto Digitarq e Digitarq2

O Digitarq foi uma iniciativa conjunta entre o Instituto dos Arquivos Nacionais/Torre do
Tombo, o Arquivo Distrital do Porto e a Universidade do Minho, em Portugal. O projeto surge em
2003 tendo como principal objetivo o desenvolvimento de uma ferramenta capaz de auxiliar o
trabalho de descrio arquivstica do Arquivo Distrital do Porto e tornar o acervo disponvel para o
pblico, atravs da Internet.
A criao da ferramenta possibilitou controlar a elaborao do instrumento de pesquisa,
centralizar os registros num nico repositrio e facilitar o acesso imediato e simultneo pelos
funcionrios e usurios do Arquivo ao sistema.
Os instrumentos de pesquisas elaborados anteriormente ao projeto no estavam
padronizados, portanto foi aplicado a Norma Internacional de Descrio Arquivstica - ISAD(G). O padro
de metadados EAD DTD foi adotado para a codificao dos documentos arquivsticos digitais. Os
instrumentos de pesquisas que estavam no formato convencional foram convertidos para o formato
digital utilizando os seguintes recursos: reconhecimento ptico de caracteres, digitalizao e em
seguida correo dos erros encontrados devido converso para o EAD DTD.
Tambm foi criado um motor de busca para permitir aos consulentes acessar, atravs da Web,
o repositrio central das descries arquivsticas. A disseminao do acervo foi realizada atravs da
associao das representaes fsicas e digitais com a descrio arquivstica do documento original
(metadados descritivos), permitindo a localizao atravs da ferramenta de pesquisa. Em 2004, o
projeto disponibilizou cerca de meio milho de registros organizados e tratados.
Em 2007, para solucionar as fragilidades do sistema, iniciou-se o desenvolvimento de uma
nova arquitetura denominada Digitarq2. Na segunda fase do projeto incorporou-se novas
tecnologias, reuniu-se em uma nica base informaes produzidas no contexto de vrias aplicaes
e fez-se um esforo para tornar a plataforma compatvel Norma Open Archival Information System
(OAIS). Na nova arquitetura esto sendo desenvolvidas as atividades denominadas de ingesto,
gesto e disseminao.

989
No mdulo de ingesto, os novos documentos so incorporados ao Arquivo. Faz parte do
processo de ingesto a criao dos Submission Information Packages (SIPs), que foi baseado em padres
internacionais e na linguagem XML, sua estrutura composta de um bloco de descrio arquivstica
e um bloco com a representao digital, incluindo a respectiva metainformao estrutural e tcnica
para a identificao e representao dos objetos digitais. Para as imagens utiliza-se o padro
Metadata Encoding and Transmission Standard (METS) para descrever a metainformao estrutural e o
padro NISO Z39.87 para descrever a metainformao tcnica.
O sistema oferece uma ferramenta de descrio autnoma para que as prprias entidades
produtoras possam criar a metainformao descritiva referente aos documentos a serem
incorporados no Arquivo. A ferramenta possui interface amigvel e simples com uma ficha para
preenchimento dos campos referentes metainformao descritiva. Outro instrumento tambm
est sendo desenvolvido para auxiliar produo dos Submission Information Packages (SIPs) que ser
utilizado pelos produtores dos documentos para preparar os pacotes de informao capazes de
serem capturados automaticamente pelo sistema.
O mdulo de gesto tem como objetivo gerir todas as informaes e os documentos
armazenados e as atividades realizadas no Arquivo. Esse mdulo permite controlar e autenticar os
acessos efetuados pelos usurios e funcionrios, alm de gerar relatrios da produtividade e realizar
estatsticas. Na nova verso do projeto foi desenvolvida uma ferramenta para auxiliar o operador a
associar os objetos digitais descrio do documento.
O mdulo de disseminao permite ao usurio do Arquivo realizar pesquisas, consultar,
reservar, pesquisar e reproduzir documentos, acompanhar a evoluo dos pedidos, efetuar o
pagamento dos servios por meio eletrnico, receber as cpias certificadas ou no em formato
digital pela Internet. O sistema oferece uma interface de pesquisa bsica e uma interface de
pesquisa avanada expondo o acervo para acesso atravs da Web.
Para preservao digital em longo prazo, o Digitarq2 monitora a integridade dos objetos
digitais e oferece apenas um sistema de alertas para refrescamento. No futuro pretende-se
desenvolver solues tecnolgicas capazes de garantir a preservao em longo prazo.
Para a disponibilizao dos documentos arquivsticos no ambiente digital, observa-se a
adoo da norma ISAD(G) para padronizar as descries e os instrumentos de pesquisas e o uso do
padro EAD DTD, por ser capaz de representar e preservar as relaes existentes entre os nveis
hierrquicos de descrio. Portanto, a adoo aos padres possibilitou reunir as descries e os
documentos num nico repositrio e disponibiliz-los para o acesso atravs da interface Web.
No projeto, solues interessantes esto sendo implementadas para lidar com o volume de
documentos arquivsticos produzidos a serem tratados e agilizar o acesso em meio eletrnico, sendo
utilizadas ferramentas intuitivas no qual o prprio criador do documento pode auxiliar no trabalho
de descrio e na insero dos documentos arquivsticos no sistema. Alm de disponibilizar o acervo
documental, o sistema tambm oferece aos usurios acesso aos servios do Arquivo para o uso via
Web.

Concluses

O impacto da tecnologia da informao tem provocado o aparecimento de um novo suporte
para o documento arquivstico, o meio eletrnico. As instituies, governos e pessoas fsicas
atualmente registram atravs dos computadores informaes referentes s suas funes e
atividades produzindo uma enorme quantidade de documentos arquivsticos digitais.
A compreenso das metodologias e dos recursos necessrios para o tratamento da informao
dos documentos arquivsticos digitais possibilitam a representao da informao e a construo de
instrumentos de pesquisas eficientes para permitir aos usurios recuperarem as informaes no
ambiente eletrnico que necessitam.

990
O tratamento do documento arquivstico digital muito recente, entretanto reconhece-se
que para lidar com crescimento da produo dos documentos arquivsticos digitais torna-se
indispensvel a aplicao das normas de descrio e dos padres de metadados e ainda necessrio
a compreenso dos mtodos e dos princpios que regem o tratamento documental para que possam
ser devidamente adotados.
No tratamento do documento arquivstico digital, as atividades de identificao, classificao,
arranjo e descrio so imprescindveis para que, em conjunto com as tecnologias da informao,
permitam representar, disponibilizar e gerenciar de forma eficiente as informaes. As normas
internacionais de descrio ISAD(G) e ISAAR(CPF) e a NOBRADE devem ser utilizadas para
possibilitar a padronizao e interoperabilidade das informaes, a implantao de redes nacionais
e internacionais de arquivos e a colaborao tcnica.
A possibilidade de disponibilizar e intercambiar informaes descritivas em nvel nacional e
internacional em meio eletrnico provocou o interesse da comunidade arquivstica e dos
profissionais ligados tecnologia da informao em criar padres de metadados para a codificao
das descries arquivsticas. Esses padres encontram-se em processo de desenvolvimento e
aperfeioamento. Os metadados para descrio dos documentos arquivsticos visam solucionar
problemas de estruturao e codificao das fontes de informao no ambiente eletrnico.
Devidamente aplicadas s atividades de tratamento da informao, as normas de descrio e os
padres de metadados, torna-se possvel o desenvolvimento de base de dados consistentes e a
construo de sistemas de recuperao de documentos arquivsticos digitais.

Referncias

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993
UMA VISO GERAL SOBRE FONTES DE INFORMAO EM SADE

JACQUELINE PAWLOWSKI OLIVEIRA
[email protected]

MAURICIO BARCELLOS ALMEIDA
[email protected]

ERIKA LEITE QUINTELA
[email protected]

Resumo Fontes de informao so essenciais para a conduo de atividades de pesquisa em qualquer campo
do conhecimento. Na rea da sade, considerada como a pesquisa e a prtica em medicina e biomedicina, o
desafio em recuperar informao se torna ainda maior visto o volume de dados disponveis e a diversidade de
fontes de informao. Um primeiro passo para vencer esse desafio conhecer as fontes de informao na
rea. O presente artigo uma iniciativa nesse sentido e apresenta reviso de literatura sobre fontes de
informao em sade, elaboradas a partir de dois critrios principais: a indicao de profissionais da sade e
legislao recente. Espera-se fornecer um retrato do panorama das fontes de informao em sade para
profissionais da rea ou profissionais de informao atuando na organizao da informao mdica.

Palavras-chave Fontes de informao. Fontes de informao em sade. Organizao do Conhecimento.
Interoperabilidade em sistemas de informao em sade.

Abstract Information sources are essential resources for conducting research activities in any field of
knowledge. Within the healthcare field, including research and medical clinical practice, as well as
biomedicine, the challenge of information retrieval becomes even greater because of the large volume of data
and the diversity of information sources. The first step in facing this challenge is to learn about the
specialized information sources. This paper is an initiative along these lines and presents a review of
literature about healthcare information sources, considering two main criteria: suggestions provided by
healthcare professionals and recent legislation. We hope to provide a portrait of the panorama of healthcare
information sources both for physicians and other specialized healthcare professionals and for information
professionals working on healthcare information organization projects.

Keywords Information sources. Information sources for healthcare. Knowledge Organization.
Interoperability in healthcare information systems.

Introduo

As fontes de informao e as tcnicas de organizao da informao em sade tm papel
fundamental na troca de informaes de natureza cientfica, administrativa, assistencial, clnica,
dentre outras. A diversidade de fontes em medicina glossrios de termos, vocabulrios
controlados, terminologias, ontologias, etc. resulta em reais dificuldades no intercmbio de dados
entre sistemas de informao que manipulam dados da pesquisa e da prtica mdica. Essa situao
tem sido preocupao em todo o mundo e existem diversas iniciativas, de natureza tcnica e legal,
para tentar reverter falta de interoperabilidade entre sistemas.

994
O presente artigo aborda fontes de informao mdicas, do ponto de vista de seu
funcionamento e de seus propsitos. Objetiva ser, dessa maneira, uma iniciativa no sentido de lidar
com a diversidade e heterogeneidade da informao em sade. Como parte de uma pesquisa em
andamento, apresenta-se uma reviso de literatura sobre fontes de informao na rea da sade.
Espera-se a partir da pesquisa abranger tanto as fontes de uso corrente quanto o estado da arte em
fontes utilizadas para lidar com a questo da integrao de sistemas. Ainda assim, no se conduziu
uma pesquisa exaustiva, mas apenas representativa do tipo de recurso que um profissional da
informao poder encontrar ao trabalhar com organizao e recuperao da informao mdica.
Espera-se assim que o artigo fornea, tanto ao profissional em sade quanto ao profissional da
informao envolvido nessa rea, um panorama das principais fontes de informao disponveis
para pesquisa e prtica em sade.
O presente artigo est organizado conforme segue: a seo 2 introduz o tema, ou seja, fontes
de informao e fontes de informao em sade; a seo 3 traz a reviso de literatura conduzida de
acordo com indicao de especialistas; a seo 4 traz a reviso de literatura conduzida seguindo
legislao; finalmente, a seo 5 sumariza o artigo e apresenta um quadro resumo dos tipos de fonte
de informao levantados.

1 Fontes de informao e fontes de informao em sade

Fonte de informao um documento, dado ou registro que fornea aos usurios de servios
de informao, informaes que possam ser acessadas para responder a suas necessidades (Arajo,
2006). Devido s mudanas causadas pela tecnologia, muitos dos conceitos j estabelecidos, como
por exemplo, fontes primrias, fontes secundrias, canais formais, informais, etc., tem sido
rediscutidos. Nesse contexto, classificar as fontes, no tarefa trivial, uma vez que distinguir com
clareza as diferenas entre suas caractersticas demanda uma avaliao criteriosa.
Na rea de sade existem, alm das tradicionais bases de dados e repositrios de artigos,
diversos fontes de informao que so, na realidade, entidades ou organizaes. Exemplos dessas
instituies so as bibliotecas especializadas das faculdades de medicina ou outras organizaes de
ensino ligadas sade, e os servios de sade em geral, como os hospitais, as clnicas, que utilizam
informao mdica para a prtica clnica e arquivam informao sobre pacientes.
A diversidade de fontes de informao favorece as atividades profissionais e cientficas dos
profissionais de sade. A busca por informaes pelos profissionais da sade decorre geralmente da
exigncia de novos conhecimentos mdicos no que se refere ao cuidado de um paciente e tambm
nas pesquisas cientficas. Pesquisas sobre a necessidade e o uso da informao (Cogdill, Friedman,
Jenkis, Mays & Sharp, 2000; Coumou, 2006; Gorman & Helfand, 1995) indicam como os principais
recursos utilizados nas pesquisas realizadas por mdicos as fontes impressas, consulta aos pares,
seminrios, workshops e conferncias.
No escopo da diversidade de fontes de informao utilizadas por especialistas, uma
alternativa nem sempre explorada a legislao. Via de regra, recursos de informao indicados ou
exigidos pelo poder pblico no mbito da legislao configuram-se em fontes de informao que so
adotados por sua utilidade ou para atender a exigncias legais. Tais recursos nem sempre se limitam
ao escopo das instituies brasileiras, e diversos padres internacionais so tambm indicados e
adotados (Ministrio da Sade, 2011).
Adota-se no presente artigo, dois critrios principais que vo nortear a reviso de literatura
sobre fontes de informao em sade: 1) fontes de informao especializadas indicadas por usurios
da rea mdica; 2) fontes de informao especializadas obtidas por consulta a legislao brasileira
regulamenta os sistemas de informao em sade.

995
2 Fontes de informao: sugeridas por profissionais de sade

Apresenta-se nessa seo a reviso de literatura sobre fontes indicadas por profissionais de
sade, participando de um projeto de pesquisa sobre organizao da informao biomdica
(Almeida, Proietti, Ai, Smith, 2011). A esses profissionais, solicitou-se informar que fontes fazem uso
no seu dia a dia de trabalho na rea mdica.

2.1 Systematized Nomenclature of Medicine Clinical Terms (SNOMED-CT)

SNOMED-CT uma terminologia clnica abrangente, uma iniciativa da International Health
Terminology Standards Development Organization (IHTSDO)
1
. A SNOMED-CT prov terminologia em
todos os domnios de sade, permitindo a comunicao entre mdicos e outros profissionais de
sade atravs de domnios clnicos diversos.
A estrutura da SNOMED-CT contm conceitos, descries e relaes. Os conceitos representam
ideias clnicas e so dispostos em hierarquias, organizadas do geral para o especfico, o que permite
que dados clnicos detalhados possam ser gravados e, posteriormente, acessados ou agregados em
um nvel mais geral.
Figura 1 Hierarquia do SNOMED-CT
2

Os conceitos ativos no SNOMED-CT podem ter vrias descries associadas, cada uma
representando um sinnimo que descreve a mesma ideia clnica. As descries tambm possuem um
identificador nico, e vrias descries podem estar associadas a um nico conceito. As relaes no
SNOMECD-CT vinculam conceitos a outros conceitos de significado relacionado. As relaes
fornecem definies formais, alm de outras caractersticas do conceito. O tipo de relao -um
organiza a hierarquia de conceitos, relacionando um conceito aos conceitos mais gerais.
medida que novo conhecimento mdico gerado e novos tratamentos so descobertos, a
terminologia cresce e evolui. A atualizao feita atravs da colaborao com especialistas que
fornecem expertise para representar o conhecimento clnico atual, atravs de polticas de incentivo
da IHTSDO a comunidades de prtica.

1
Disponvel na Internet em http://www.ihtsdo.org/. Acesso em: 13 set. 2012.
2
Fonte: IHTSDO, 2012

996
2.2 Medical Subject Headings (MeSH)

O MeSH um vocabulrio controlado especializado em cincias da sade, produzido pela
National Library of Medicine (NLM). O MeSH utilizado na indexao artigos de revistas biomdicas da
base de dados MEDLINE/PubMed
3
, na busca de informaes biomdicas e de sade.
A estrutura alfabtica e hierrquica do MeSH tem sido adotada como modelo para outros
tesauros. Consiste em conjuntos de termos de descritores organizada em uma estrutura hierrquica,
que permite pesquisar em vrios nveis de especificidade. O MeSH apresenta trs tipos bsicos de
registros: descritores: utilizados para indexar itens na base de dados Medline, catalogar publicaes,
alm de pesquisa na PubMed; qualificadores: tambm conhecidos como subcabealhos, so utilizados
para indexar e catalogar em conjunto com os descritores, agrupando citaes (Ex. fgado / efeitos
de drogas); conceitos complementares: so editados e adicionados ao MeSH, com o objetivo de indexar
produtos qumicos, drogas e outros conceitos para MEDLINE, alm de serem pesquisveis por nome
de substncia no PubMed.
No MeSH, os descritores representam classes de conceitos e esto organizados em categorias,
cada uma dividida em subcategorias dispostas em hierarquias mltiplas. Dentro de cada
subcategoria, os descritores esto hierarquicamente ordenados do mais geral ao mais especfico em
at doze nveis hierrquicos. Cada descritor MeSH aparece em pelo menos um lugar nas rvores da
estrutura. Cada descritor seguido pelo nmero que indica sua localizao na rvore. (Nelson,
2004).

Figura 2: fragmento do registro MeSH
4

Os dados do MeSH so revistos e atualizados por especialistas de vrias reas do
conhecimento, a equipe recolhe novos, define esses termos no contexto do vocabulrio existente e
recomenda sua adio.

3
Disponvel na Internet em http://www.ncbi.nlm.nih.gov/pubmed. Acesso em: 13 set. 2012.
4
Fonte: National Library of Medicine, 2005a.

997
2.3 Unified Medical Language System (UMLS)

O UMLS consiste de base de dados e um conjunto de ferramentas de software. Os trs
principais componentes so: o Metatesauro, a Rede Semntica e o Lxico Especialista.
O tesauro contm um conjunto de cdigos e listas de termos utilizados para a assistncia aos
pacientes, cobrana de servios de sade, estatsticas de sade pblica e indexao de literatura
biomdica. Sua organizao feita pelo conceito (ou significado), vinculando nomes alternativos,
vises sobre o mesmo conceito, alm de identificar relaes teis entre diferentes conceitos.
Diferentes tipos de relacionamentos entre os conceitos so representados (is-a para subclasses, is
part of, is caused by, etc).
A rede semntica consiste nas categorias em que as informaes do Metatesauro esto
organizadas e inclui: um conjunto de categorias de assuntos gerais, denominados Tipos Semnticos,
que organiza os conceitos representados no Metatesauro; um conjunto de relaes, denominadas
Relaes Semnticas, que se estabelecem entre tipos semnticos. Os tipos semnticos so os ns da
rede, e as relaes entre esses ns so os links. Os links entre os tipos semnticos definem a
estrutura da rede e denotam as relaes entre os grupos e conceitos. O principal elo entre os tipos
semnticos a relao is-a.
O Lxico Especialista consiste de um banco de dados de informao lexicogrfica para uso em
processamento de linguagem natural. Os lxicos especializados definem as categorias da rede
semntica, que o organizador dos termos individuais e conceitos no Metatesauro.

Figura 3: fragmento da Rede Semntica UMLS. Hierarquia Funo Biolgica
5

5
Fonte: National Library of Medicine, 2009

998
2.4 Medical Literature Analysis and Retrieval System Online (MEDLINE)

A MEDLINE uma base de dados disponibilizada pela NLM que contm referncias
bibliogrficas e resumos. Abrange as reas de medicina, biomedicina, enfermagem, odontologia,
veterinria e cincias afins. A principal ferramenta de busca para a MEDLINE o PubMed
6
,
desenvolvido pelo National Center for Biotechnology Information (NCBI)
7
, rgo da prpria NLM.
A MEDLINE usa o MeSH para recuperao da informao. Os mecanismos de busca projetados
para buscas no MEDLINE (por ex. Entrez e PubMed) fazem uso de expresses booleanas que
combinam termos MeSH, palavras no resumo e ttulo do artigo, nome do autor, data da publicao,
dentre outros campos.

2.5 Biblioteca Virtual em Sade (BVS)

Trata-se de uma rede de fontes de informao em cincias da sade criada para atender s
necessidades de informao de profissionais, pesquisadores e estudantes. Alguns dos tipos de fontes
de informao que a BVS abrange: base de dados bibliogrficos, publicaes eletrnicas de textos
completos; fontes de informao de apoio educao e tomada de deciso; servio de
disseminao seletiva da informao.
A BVS conta com cerca de 21 milhes de referncias bibliogrficas de documentos cientficos
reunidos em inmeras bases de dados bibliogrficos, disponveis em um site
8
da web. Uma das bases
de maior importncia acessadas atravs de interface prpria pela BVS a MEDLINE, j mencionada.
Dentre outras bases da BVS destacam-se: Literatura Latino-Americana e do Caribe em Cincias da
Sade (LILACS), que consiste de uma base de dados cooperativa sobre literatura cientfica em
cincias da Sade; Biblioteca Cochrane, uma coleo de fontes de informao sobre medicina
baseada em evidncias; e, Base de Dados de Enfermagem, uma base de dados bibliogrficas
especializada na rea de Enfermagem.

2.6 UpToDate

A UpToDate uma base de dados mdicos referenciais online baseada em evidncias, de acesso
restrito, tem como objetivo, auxiliar profissionais de sade em decises clnicas.
Todo o contedo escrito, editado e revisado por pares no mbito de uma comunidade de
mais de 5.100 autores, editores e revisores. A base oferece mais de 9.500 tpicos em 19
especialidades abordando questes da prtica clnica e recomendaes baseadas em evidncias.

2.7 Cumulative Index to Nursing & Allied Health Literature (CINAHL)

Trata-se de uma base de dados referencial com resumos, textos completos e livros,
disponibilizada pela editora EBSCO, sobre enfermagem e reas relacionadas sade.

6
Disponvel na Internet em http://www.pubmed.gov. Acesso em: 13 set. 2012.
7
Disponvel na Internet em http://www.nlm.nih.gov. Acesso em: 13 set. 2012.
8
Disponvel na Internet em http://www.bireme.br ou http://www.bvs.br. Acesso em: 12 set. 2012.

999
A base de dados contm textos completos e contedo adicional exclusivo, como fichas de
sade baseadas em evidncias. Todas as verses do CINAHL incluem dados e ferramentas: perfis de
3.000 autores; referncias citadas com possibilidade de busca em mais de 1.200 peridicos cientficos
indexados; atualizao que contm um ndice para cerca de 1.600 dos principais peridicos
cientficos. A CINAHL possui ainda cerca de 12.000 cabealhos de assunto usados para indexar na
base de dados. Estes cabealhos, desenvolvidos para refletir a terminologia seguem a estrutura do
MeSH.

2.8 Primal Pictures Interactive Anatomy

Trata-se de uma base de dados de imagens tridimensionais sobre anatomia humana,
desenvolvida em 1991 pela Ovid Technologies
9
. Contm fotos, vdeos, textos, imagens de
ressonncia magntica em vrios ngulos, dentre outros recursos. Apresenta reconstrues
computadorizadas de corpos humanos para o aprendizado em vrias reas de sade.
Um dos recursos didticos disponveis o Anatomia e Fisiologia Online que apresenta sistemas
do corpo completos, imagens de estruturas anatmicas em 3D, acompanhados de textos
explicativos; estudo de casos clnicos, objetivos de aprendizagem e questes avaliativas. Os recursos
da Primal so de acesso restrito.

2.9 Embase

Trata-se de uma base de dados bibliogrfica na rea da biomedicina e farmcia
disponibilizada pela editora Elsevier
10
. Os registros so indexados pelo tesauro EMTREE, que
engloba tambm as nomenclaturas MeSH, contando com mais de 50.000 termos e cerca de 210.000
sinnimos.
A Embase cobre a literatura relacionada com drogas e medicina clnica, com especial destaque
para a indexao completa de reaes adversas a medicamentos, nfase em Medicina Baseada em
Evidncias. A indexao inclui revises sistemticas, revistas e artigos relevantes para o
desenvolvimento e utilizao de dispositivos mdicos. Alm da consulta por profissionais de reas
diversas, a Embase objetiva auxiliar no desenvolvimento de novos medicamentos e descoberta de
novas aplicaes para drogas existentes. A EMBASE tem acesso restrito.

3 Fontes de informao: encontradas na legislao brasileira

A presente seo contm a reviso de literatura que inclui recursos de informao obtidas
atravs de pesquisa em legislao brasileira sobre modelos de informao e padres de
interoperabilidade para sistemas de informao. O uso desses recursos como fonte de informao se
justifica pela experincia e conhecimento mdico empregado em sua concepo.

9
Disponvel na Internet em http://www.primalpictures.com/. Acesso em: 13 set. 2012.
10
Disponvel na Internet em http://www.embase.com. Acesso em: 13 set. 2012.

1000
3.1 Open Electronic Health Records (OpenEHR)

O OpenEHR um modelo de referncia que prope um padro para pronturios mdicos no
formato eletrnico, com o objetivo de proporcionar interoperabilidade entre os sistemas de
registros mdicos.
O padro se vale do conceito de arqutipos, padres de metadados que renem conhecimento
clnico (observaes, instrues, aes e avaliaes) de modo estruturado para uso por
softwares.Atravs do uso dos arqutipos, o padro propem que mdicos e especialistas possam
criar conceitos complexos como, por exemplo, presso sangunea, histrico familiar, dentre outros
(Beale & Heard, 2007).

Figura 4: Tela do arqutipo para presso sangunea
11

3.2 Health Level 7 (HL7)

O HL7 uma organizao desenvolvedora de padres certificada pelo American National
Standards Institute of Standards (ANSI) na rea de sade. O HL7 define a estrutura de mensagens
especfica para dados clnicos com enfoque administrativo e financeiro. As especificaes HL7 so
utilizadas a troca de informaes entre aplicativos mdicos, integrando informaes clnicas e
administrativas. (Health Level 7 Brasil, 2012).
O HL7 Clinical Document Architecture (CDA) um padro baseado em XML (Extended Markup
Language) que objetiva especificar a codificao, a estrutura e a semntica de documentos clnicos
visando troca de informaes. O CDA pode conter qualquer tipo de contedo clnico como sumrio

11
Fonte: http://www.openehr.org/knowledge/

1001
de alta, imagem, admisso e relatrio, patologia fsica, dentre outros (Health Level 7 International,
2012).

3.3 Troca de Informao em Sade Suplementar (TISS)

O TISS um padro obrigatrio para troca de informaes em sade suplementar entre
operadoras de planos privados e prestadores de servios de sade no Brasil. Abrange os eventos de
sade realizados por seus beneficirios de planos de sade, e mecanismos de proteo informao
em sade suplementar.
O TISS estruturado em quatro componentes: i) contedo e estrutura: estabelece as
informaes administrativas e de ateno sade a serem trocadas entre operadoras de planos
privados de assistncia sade, prestadores de servios de sade e beneficirios de planos de sade;
ii) representao de conceitos em sade; iii) segurana: estabelece os requisitos para proteo
administrativa, tcnica e fsica necessrias garantia da confidencialidade das informaes; e iv)
comunicao: estabelece os mtodos de comunicao entre os sistemas de informao, bem como
das transaes eletrnicas (Agncia Nacional de Sade [ANS], 2013).
Em relao troca de informao entre operadoras privadas de assistncia a sade cabe ainda
citar a Terminologia Unificada da Sade Suplementa (TUSS) e a Classificao Brasileira
Hierarquizada de Procedimentos Mdicos (CBHPM).

3.4 Digital Imaging and Communications in Medicine (DICOM)

O padro DICOM consiste de uma srie de regras que estabelecem uma linguagem entre os
equipamentos de uso mdico. O DICOM proporciona a integrao entre dispositivos provenientes de
fabricantes diversos, com sistemas de comunicao e arquivamento, os quais so tecnologias de
imagens mdicas (como por exemplo, ultrassons, ressonncia, tomografia, raios-X, etc.).
Os dispositivos vem com declaraes de conformidade os quais estabelecem quais classes
DICOM so suportadas. Isso possvel, pois o padro foi criado pela National Electric Manufacturers
Association, a qual agrega a maioria das empresas que criam e manipulam equipamentos para
imagens mdicas. Permite que imagens mdicas e informaes associadas sejam trocadas entre
equipamentos de diagnstico geradores de imagens, computadores e hospitais (Digital Imaging and
Communications in Medicine [DICOM], 2012).

3.5 Logical Observation Identifiers Names and Codes (LOINC)

O LOINC objetiva a codificao de exames laboratoriais e outras observaes clnicas. Para tal,
se vale de termos padronizados para todos os tipos de observaes e medies, permitindo o
intercmbio e a agregao de dados eletrnicos de sade de sistemas independentes.
A parte relativa a laboratrio contm categorias da qumica, hematologia, sorologia,
microbiologia, toxicologia, bem como categorias para drogas e contagem de clulas,
susceptibilidade de antibiticos, dentre outros. A parte relativa a observaes clnicas inclui
entradas para sinais vitais, hemodinmica, ultrassom para obstetrcia, eco cardiograma, imagens de
urologia, procedimentos gastro-endoscpicos, instrumentos de pesquisa selecionados (por ex.
Glascow Coma Score, escala de depresso PHQ-9, etc.), de entre outros (Logical Observation Identifiers
Names and Codes [LOINC], 2012).

1002
3.6 International Standard for Blood and Tissues (ISBT 128)

O ISBT 128 objetiva a codificao de dados de identificao das etiquetas de produtos relativos
ao sangue humano, de clulas, tecidos e produtos oriundos de rgos para fins de transplante
(Ministrio da Sade, 2011).
O padro composto por um sistema de numerao das doaes, garantia de identificao
exclusiva em termos globais; uma base de dados internacional de referncia de produtos; estruturas
de dados para registro da informao; um sistema de cdigo de barras para transferncia da
informao na etiqueta do produto; uma composio padro para a etiqueta do produto; uma
referncia padro para utilizao nas mensagens eletrnicas (ICCBBA, 2012).

3.7 International Organization for Standardization - ISO 13606-2

A ISO 13606-2 especifica a arquitetura da informao necessria para comunicaes entre
sistemas e servios que fornecem dados RES (Registro Eletrnico de Sade). um modelo de
referncia, que tem como objetivo padronizar informaes de forma que todos os nomes, estruturas
e contextos, possam ser interpretados sem ambiguidades. Uma abordagem consistente na
estruturao semntica de dados para comunicao se faz necessria para que as aplicaes clnicas
e ferramentas de anlise possam processar os dados sem inconsistncias. O modelo define o
conjunto de classes que formam os blocos de construo genricos da RES, refletindo as suas
caractersticas e as incorporando em um ambiente distribudo como mensagens especficas ou
interfaces (International Organization for Standardization [ISO], 2008).

3.8 Pacient Identifier Cross-Reference (IHE-PIX)

Trata-se de uma especificao tcnica para cruzamento de identificadores de pacientes entre
diferentes sistemas de informao (Ministrio da Sade, 2011). Os artefatos do IHE-PIX objetivam
lidar com questes de interoperabilidade relacionados ao acesso informao para prestadores e
pacientes, bem como fluxo de trabalho clnico, administrao, segurana e infraestrutura de
informaes. Cada perfil define os atores, transaes e contedo necessrio para resolver um caso
de uso clnico atravs referncia os padres adequados (Integrating the Healthcare Enterprise [IHE],
2012).

3.9 Classificao Internacional de Doenas e Problemas rel. Sade (CID)

Publicada pela Organizao Mundial de Sade (OMS), a CID visa padronizar a codificao de
doenas e outros problemas relacionados sade. A CID 10 (DATASUS, 2012) fornece cdigos
relativos classificao de doenas e de uma grande variedade de sinais, sintomas, aspectos
anormais, queixas, circunstncias sociais e causas externas para ferimentos ou doenas. A cada
estado de sade atribuda uma categoria nica qual corresponde um cdigo CID 10.

1003
3.10 Clasificacin Internacional de la Atencin Primaria (CIAP-2)

O CIAP-2 um sistema de classificao para ser utilizado na ateno primria sade. Trata-
se de uma ferramenta que permite classificar no s os problemas diagnosticados pelos
profissionais da sade, mas principalmente os motivos da consulta e as internaes. Possibilita a
avaliao das razes pelas quais os pacientes procuram o servio de sade, as probabilidades pr-
teste dos problemas de sade (por exemplo, porcentagem de pacientes com queixa de febre que
recebe o diagnstico de infeco de vias areas superiores) e as co-morbidades (World Health
Organization [WHO], 2012).

Figura 5: Tela do ICD com dados sobre problemas de coagulao
12

3.11 Ontologias em sade e biomedicina

A pesquisa em ontologias nos campos da sade tem sido extensa e multifacetada. Talvez o
exemplo mais evidente dessa pesquisa diversificada seja o Open Biological and Biomedical Ontologies
(OBO) Foundry
13
, um repositrio open-source no qual tem sido reunida uma grande quantidade de
dados biomdicos, organizados em diferentes ontologias. O OBO Foundry fornece fundamentos para
o desenvolvimento de ontologias conforme algumas das melhores prticas para organizao da
informao. Trata-se de recurso informacional que oferece ambiente colaborativo, baseado em um
conjunto de princpios tericos bem fundamentados, para o desenvolvimento de ontologias
biomdicas (Smith, 2007). A participao no OBO Foundry e aceitao de seus princpios uma
iniciativa voluntria, conduzida de acordo com os preceitos das comunidades de prtica (Wenger,
1998).

12
Fonte: http://apps.who.int/classifications/icd10/browse/2010/en
13
Disponvel na Internet em http://www.obofoundry.org/. Acesso em: 13 set. 2012.

1004

Figura 6: Tela do OBO Foundry com ontologias mdicas livremente disponveis
14

No escopo da OBO Foundry, uma das mais importantes iniciativas a Gene Ontology (GO), devida
a sua abrangncia e significncia no campo biomdico. A GO um esforo colaborativo que tem sido
conduzido e melhorado continuamente desde 1998, criando um dos maiores repositrios mundiais
para dados genmicos. De acordo com o Gene Ontology Consortium (2010), a GO descreve produtos
genticos em termos de processos biolgicos, componentes celulares e respectivas funes
moleculares. As atividades sob responsabilidades do GO Consortium so aqueles relacionados a
manuteno e melhoramento da ontologia, a gesto de anotaes dos genes, e o desenvolvimento
de ferramentas para facilitar o acesso e o desenvolvimento de ontologias. A principal vantagem da
GO permite consultas por bancos de dados distintos, promovendo a integrao de recursos em
nveis distintos.
Outra iniciativa relevante no escopo da OBO Foundry a Protein Ontology (PRO)
15
, uma
ontologia para protenas que resultou em avanos na pesquisa biomdica. A PRO tem suas razes em
outras iniciativas, como o UniProt Knowledgebase
16
e o Mouse Genomic Information
17
. A PRO contm um
grande conjunto de dados relacionados a protenas humanas e de ratos na forma de representaes
explcitas de produtos de genes, as quais possibilitam raciocnio automatizado (Natale et al., 2006).
Outra importante ontologia a Cell-Type Ontology (CEL)
18
, a qual descreve tipos de clulas de
plantas e animais. Possibilita consultas complexas entre sistemas integrados conectadas pela
ontologia. Bard, Rhee & Ashburner (2005) explicam que a ontologia foi desenhada, no curto prazo,
para trabalhar como um catlogo de fentipos e padres de expresso de genes associados com
tipos de clulas; no longo prazo, a CEL vai funcionar com um recurso de integrao na pesquisa
biomdica. A ontologia est organizada em duas entidades principais de alto nvel cell-in-vivo e
experimentally-modified-cell as quais geram outros ramos da ontologia e cobrem os mais
importantes atributos das clulas.

14
Fonte: http://www.obofoundry.org/
15
Disponvel na Internet em http://pir.georgetown.edu/pro/pro.shtml. Acesso em: 14 set. 2012.
16
Disponvel na Internet em http://www.uniprot.org/help/uniprotkb. Acesso em: 13 set. 2012.
17
Disponvel na Internet em http://www.informatics.jax.org/. Acesso em: 13 set. 2012.
18
Disponvel na Internet em http://cellontology.org/. Acesso em: 14 set. 2012.

1005
A pesquisa em ontologias em sade e biomedicina, conforme citado, de tal forma
abrangente que no seria possvel apresentar amostra significativa. Aqueles interessados em uma
listagem mais completa de iniciativas podem consultar Freitas & Schulz (2009).

Consideraes finais

O presente artigo apresentou uma reviso de literatura sobre fontes de informao na rea de
sade.
Aps uma breve viso geral sobre fontes de informao, destacou-se a diversidade de fontes
de informao em sade e elegeram-se dois critrios como norteadores para a reviso de literatura:
indicao de profissionais de sade e indicao pela legislao. Foram descritas, em maior ou menor
nvel de detalhe de acordo com a importncia atribuda, vinte fontes de informao variadas
incluindo vocabulrios, terminologias, padres, tesauros, ontologias, recursos visuais, dentre
outros. Um quadro sintico das principais caractersticas das fontes elencadas apresentado para
uma viso resumida do levantamento feito.

Fonte Tipo Cobertura Acesso Instituio responsvel
SNOMED-CT T clinica mdica, domnios diversos livre, web IHTSDO
MeSH VC
cincias da sade, domnios
diversos
livre, web NLM
UMLS V
abrange outros recursos da rea
de sade como terminologias,
vocabulrios e ontologias
livre, web NLM
MEDLINE BD
referencias bibliogrficas e
resumos da rea de sade
livre,web NLM
BVS BD
dados bibliogrficos, diretrios de
instituies, bases de dados
diversas, texto completo, outros
livre, web BIREME
UPTODATE BD
dados sobre medicina baseada em
evidncias, domnios diversos
restrito, web Wolters Kluwer Health
CINAHL BD
texto completo, resumos e livros
em sade e enfermagem
restrito, web EBSCO
PRIMAL BD
imagens 3D sobre anatomia
humana
restrito, web OLVID
EMBASE BD
referncias bibliogrficas em
biomedicina e farmcia
restrito, web ELSEVIER
OpenEHR MR
conhecimento relevante para a
prtica da clnica mdica
livre, web OpenEHR Foundation
HL7 MR
conhecimento relevante para
administrao e gesto mdica
restrito, web Health Level 7 Inter.
TISS MR
troca de informao entre
operadoras de planos de sade
livre, web Agncia N. de Sade
DICOM MR
linguagem para equipamentos de
livre, web NEMA*

1006
uso mdico
LOINC CO
codificao de exames
laboratoriais e observaes
clinicas
livre, web
Regenstrief Institute, Idiana
Univ.
ISO-13.606 NO
estabelece parmetros para
determinao da arquitetura da
informao em sistemas mdicos
restrito, web ISO
IHE-PIX ET
troca de informao sobre
procedimentos clnicos e gesto
livre, web IHE International
CID-10 V
doenas, sintomas, aspectos
anormais, morbidade
livre, web WHO**
CIAP-2 V
ateno primria, diagnsticos,
probabilidades de problemas
livre, web WHO
GO V
ontologia sobre genes e
correlatos
livre, web GO Consortium
PRO V
ontologia sobre protenas e
correlatos
livre, web University of Delaware
CELLTYPE V
Ontologia sobre tipos de clulas
humanas
livre, web Cell Type Consortium
Tipo: T-terminologia; VC-vocabulrio controlado; V-vocabulrio; BD-base de dados; MR-modelo de referncia;
CO-codificao; NO-Norma; ET-especificao tcnica
* The Association of Electrical Equipment and Medical Imaging Manufacturers
** World Health Organization
Figura 7: Quadro sintico das fontes de informao

Referncias

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1009
ORGANIZAO DO CONHECIMENTO NAS ARTES DIGITAIS

GABRIELA PREVIDELLO ORTH
[email protected]

MARILDA LOPES GINEZ DE LARA
[email protected]

Resumo Este trabalho discute as formas de organizao e recuperao das obras de artes digitais que, em face
sua efemeridade, constituem um desafio documentao. A anlise elenca e discute abordagens
contemporneas de organizao do conhecimento considerando como problemas de base a complexa rede de
seus contedos informativos, a instabilidade de seus suportes eletrnicos e as possibilidades de mltiplas
interpretaes e apropriaes em sua constituio informacional. A estabilizao do contedo para fins
documentais e a procura pela interoperabilidade entre sistemas so preceitos que devem ser buscados para os
ambientes de acervo da arte digital. O aporte terico-metodolgico da anlise considera as recomendaes do
International Committee for Documentation-CIDOC, do Documentation and Conservation of the Media Arts
Heritage - DOCAM, da W3Consortium (SKOS - Simple Knowledge Organization System), alm das normas
recentes da ISO sobre vocabulrios, no intuito de destacar as convergncias e as divergncias das iniciativas,
bem como enfatizar a importncia da interoperabilidade entre arquivos e bases de dados na esfera da arte.
Recorremos, tambm, a autores da Cincia da Informao que permitem situar a problemtica no contexto
contemporneo, bem como os das Artes Digitais que enfatizam suas especificidades. Como concluso,
sistematizados os principais elementos para uma matriz bsica para a documentao da arte digital focando
na interoperabilidade. Com o problema da arte digital, procuramos trazer para o campo da organizao do
conhecimento a discusso sobre as especificidades de tratamento e promoo do acesso a essas obras.

Palavras-chave Arte digital. Documentao das artes digitais. Organizao do conhecimento.
Interoperabilidade. Clusters de arte.

Abstract This paper discusses organization and retrieval forms for digital artworks, due to its ephemeral
nature, it constitutes a challenge to documentation. The analysis introduces the discussion about problems of
informative content network complexity, the instability of their electronic media, and multiple
interpretations and appropriation possibilities in its informational constitution, arguing on the technical and
conceptual sides of interoperability. After defining some specific concepts of digital art, it refers to the model
CIDOC - International Committee for Documentation guidelines and then presents specific initiatives on
digital arts scope, highlighting the elements that promotes interoperability. They are: Archiving the Avant
Garde, DOCAM - Documentation and Conservation of the Media Arts Heritage, V2 - Institute for the Unstable Media, and
ZKM - Zentrum fr Kunst und Medientechnologie. Other important interoperable system references reported in
this listing are SKOS - Simple Knowledge Organization System and ISO 25964 on thesauri and vocabularies, among
others. From the methodological-theoretical standpoint, we assume the importance on documenting digital
art works, the need to update their technological foundation in order to ensure future access, allied to
dynamism, as an artwork that is modified in diverse appropriations. For these premises we rely on
Information Science and Digital Arts authors. As conclusion, we systematize the main elements for digital art
documentation matrix, focused on interoperability. With the problem of digital art, we seek to bring to the
knowledge organization field discussions on specificities for treating and promoting access of digital art
works.

Keywords Digital art. Digital art documentation. Knowledge organization. Interoperability. Art clusters.

1010
Data interoperability refers to achieving data assemblage and sharing
in order to enable reuse by various communities of users, across diverse
disciplines and across extended periods of time (Geoffrey Bowker).

Introduo

As questes de interoperabilidade na organizao do conhecimento para as artes digitais so
antes de tudo concetuais. Seguindo as proposies de Bowker (1999, p.10) h um pouco mais em
jogo - epistemologicamente, politicamente e eticamente - no trabalho do dia a dia da construo de
um sistema de classificao e na produo e manuteno de normas. No so apenas bites e bytes
que sero acomodados em formas padronizadas para as infraestruturas de sistemas de informao,
mas tambm os discursos e as prticas das pessoas, portanto, padronizam-se homens e mquinas
(2008, p. 112). A questo a ser debatida, considerando que muitos podem ser os padres de
interoperabilidade, quais deles permitem maior flexibilidade e heterogeneidade para atender s
caractersticas dos sistemas de arte digital.
Os ambientes da arte, quando submetidos a mecanismos de controle e protocolos, tm suas
dissonncias e especificidades homogeneizadas. A natureza no protocolar da arte digital resiste
sistematizao. A dificuldade das instituies culturais em seguir os padres se deve ao fato de que
eles nem sempre atendem s suas necessidades especficas ou carecem de desenvolvimentos
particulares nem sempre fceis de levar a cabo considerando as realidades de gesto e de recursos
humanos necessrios para o investimento. Nas questes infra-estruturais, os repositrios de artes,
no intuito de seguir padres interoperveis, procuram observar requisitos de preservao de
materiais e de ambientes, considerando a possibilidade de obsolescncia fsica de componentes das
obras. Procuram, tambm, meios de proceder a migrao de mdias para formatos abertos ou de uso
em grande escala pela comunidade.
Nossa hiptese que a questo da interoperabilidade para ambientes de informao das artes
digitais devem abranger nveis tcnicos e semnticos, acomodando as questes conceituais quando
da tomada de decises para o uso de padres na representao da arte. Alm disso, questes que
envolvam o uso de cdigos abertos e acordos com entidades comerciais, manuais que discutam tica
na guarda e disseminao da informao e estudos regulares de contextos e comunidades
participantes, so critrios importantes para atingir nveis satisfatrios na questo da
interoperabilidade.

1 Conceitos especficos da arte digital

A arte digital compreende as manifestaes estticas que, a partir do fim do sculo XX,
usaram como suporte, potica ou tcnica as mdias eletrnicas e a tecnologia computacional. Seus
desdobramentos so multidisciplinares, multimiditicos e operam na fluncia das redes. A arte
digital explora, alm do campo artstico, outros substratos intrnsecos a fenmenos culturais da
contemporaneidade, como a web, o espao urbano, computadores pessoais e dispositivos mveis; e
compreendem diversas linguagens em variados setores de pesquisa, tais como projetos
arquitetnicos, design de softwares e interfaces tecnolgicas, biotecnologia, entre outros. a partir
desta temtica artstica expandida, em dilogo com a categoria informao, que referenciaremos
nosso objeto.
Os sentidos da comunicao e da interatividade na arte digital so no geral pautados no
trabalho colaborativo e no efmero, o que solicita mudanas na documentao e no tratamento e da
arte digital. Enquanto processos experimentais na arte contempornea, a arte digital se configura a
partir da cintica (Perissinoto, 2000), da ciberntica e da esttica da informao (Gianetti, 2006),
recorrendo s novas mdias e performance, em paralelo s pesquisas cientficas no mbito da vida
artificial, nanotecnologia e aos ambientes imersivos.

1011
A arte digital comporta ainda uma terminologia instvel. Segundo Christiane Paul (2008), ela
sempre se apresentou de maneira extremamente fluida. Nos anos de 1970, foi referenciada como
arte computacional, depois arte multimdia at ser denominada arte digital, termo que se
fixou por um longo perodo at ser absorvido pelas artes do vdeo, sonoras e de mdias hbridas,
quando do deslocamento destas prticas do suporte analgico para o digital.
A tecnologia resignifica constantemente sua prpria natureza e, em seu carter
recombinante, influencia os ambientes de informao artsticos e culturais. No caso especfico de
ambientes de informao das artes digitais, tecnologia e informao so campos constituintes e
essenciais. As redes digitais e os processos estticos informacionais destes ambientes so orientados
pela lgica da multiplicidade, contingncia, singularidade e possibilidades de novas configuraes
(Frohmann, 2007, p. 71). Esta a configurao que empresta ao fenmeno da informao a
caracterstica de influenciar as relaes de comunicao e interpessoais.
Isso significa dizer que o fluxo da informao da arte passa a fazer parte do prprio fazer
artstico, o que no lido com tranquilidade pelos modelos tradicionais de documentao e
organizao do conhecimento. Obras feitas para serem disseminadas nas redes, com mltiplas
configuraes possveis, so reproduzidas (na diferena) a cada novo input, ou seja, so recriadas.
A interao j na produo de muitos trabalhos determina parte da complexidade na
representao documental das artes em meios tecnolgicos, uma vez que envolve artistas,
programadores, cientistas, entre outros, trabalhando conjuntamente em diversas etapas do
processo artstico. Muitos trabalhos tambm so realizados por coletivos artsticos ou grupos
hackers, que so modalidades em relevncia principalmente nos trabalhos de cunho ativista. H
tambm as parcerias com setores e agentes das comunicaes, da indstria e da tecnologia: a
colaborao com setores fora do eixo da arte pode acontecer em dois sentidos, tanto na produo da
obra quando o artista procura parcerias , quanto no sentido inverso, quando estes setores
assimilam os trabalhos de arte digital para outros fins, como o entretenimento, o desenvolvimento
de dispositivos tecnolgicos, etc.
A colaborao tambm pungente quando trabalhos originais so usados por outros artistas
para a realizao de obras derivadas, a exemplo dos remixes, samplers, e das estruturas com cdigos
abertos que permitem todo tipo de apropriao. A colaborao, caracterstica da produo de arte
digital, impe alteraes na documentao (organizao dos metadados, direitos autorais) como
tambm na codificao para promover a interoperabilidade.

2 Modelos conceituais e abordagens cognitivas de interoperabilidade

O uso de padres e metadados em banco de dados por si s no garante a contextualizao da
informao, tampouco seu fluxo de maneira a fazer sentido. Os modelos conceituais, como as
ontologias, operando na segunda camada na estruturao dos dados para formatos interoperveis,
garantem que diferentes domnios e fontes de informao sejam mais facilmente compatibilizados e
que usurios naveguem com maior fluidez entre distintos contextos. Os modelos conceituais so a
base para alinhamentos semnticos que facilitam a navegao atravs de dados abertos interligados
entre recursos informacionais diferentes atravs dos links semnticos entre entidades em diferentes conjuntos
de dados (Marcondes, 2012, p.19).
Para o tratamento da informao da arte digital em nveis conceituais destacamos
primeiramente a importncia da iniciativa do International Committee for Documentation CIDOC.
Embora no especificamente voltado s artes digitais, o CIDOC, vertente internacional do
International Council of Museums - ICOM, procura orientar prticas de documentao em museus.
As diretrizes do CIDOC propem uma representao disciplinar na documentao
museolgica, compreendendo a arqueologia, a histria da cultura, a arte, a cincia e tecnologia. Para
a criao da atual estrutura de representao e documentao o CIDOC props, em 1995, critrios
para a modelagem de dados para informao museolgica que compreende:

1012
Grupos de Informao do objeto: 22 entradas que determinam as informaes mnimas de um
objeto de museu e que abrangem dados sobre sua caracterizao, localizao, descrio fsica,
nomes especficos de cada objeto, informaes das instituies de provenincia e destino, entre
outras, voltadas para aspectos prticos de catalogao e administrao. Os grupos de informao
que permitem abrangncia documental em nveis no tcnicos so as categorias de informao
associadas aos objetos e as informaes de referncias do objeto.

Tipologias de informao: so os nveis que detalham os grupos de informao, como
por exemplo: Grupo: Informaes associadas ao objeto; Nveis: Local associado, Data
associada, Nome de pessoa/grupo associado, Tipo associado (funo original).

Para as pesquisas e normas terminolgicas na rea de artes, o CIDOC reporta-se ao vocabulrio
do Getty Institute, o Art & Architeture Thesaurus e tambm o Getty Union List of Artists Names, da mesma
instituio. O modelo conceitual de referncia para interoperabilidade no contexto da herana
cultural, o CIDOC - Conceptual Reference Model (http://cidoc-crm.org/), definido pelo consrcio
como uma ontologia de alto nvel (DOERR, 2003, p. 1), sugere a utilizao da linguagem XML e
RDF. O processo de padronizao iniciado em 1996 resultou na norma ISO 21127:2006, que prev o
relacionamento semntico, em nveis integrados, de dados que representam no apenas as
caractersticas de objetos em museus, mas tambm sua temporalidade. O modelo abrange, de
maneira genrica, a possibilidade de museus, bibliotecas e arquivos organizarem e recuperarem
informaes de carter heterogneo provindas de mltiplas fontes, criando uma estrutura
relacional que atende complexidade do material documental destes tipos de entidades.
O modelo comporta representaes de diferentes domnios e aceita ampliao de
especificaes e granularidades conforme a necessidade de cada instituio. No entanto, por sua
caracterstica generalizante, carece de especificidades e requer um extenso trabalho de
mapeamento para a compreenso de suas relaes. Neste sentido, a sugesto que esta ontologia
seja trabalhada em dois nveis, no mbito intencional e no mbito prtico.
A apreenso do escopo intencional vista como domnio (herana cultural) e se faz
necessria para delimitar parmetros de conceitos complexos e de difcil definio, como por
exemplo, patrimnio cultural. J o mbito prtico

(...) pode ser definido como a abrangncia da ontologia CIDOC CRM, e
expressa principalmente em termos de documentos de referncia e
fontes que tm sido usadas na sua elaborao. Podemos dizer que o CRM
CIDOC cobre o mesmo domnio que essas fontes de referncia. Em termos
concretos, "mapeamentos" so fornecidos e permitem a traduo de
documentos originais. O mbito prtico tambm limitado pelas
circunstncias contingentes, tais como a disponibilidade de recursos, a
carga de trabalho dos autores e consideraes tcnicas. O alcance prtico
pode evoluir medida que novas fonts tornam-se relevantes (The CIDOC
Conceptual Reference Model,n.d.).

O modelo conceitual de documentao do CIDOC compartilha a mesma concepo das teorias
para interoperabilidade de abordagens cognitivas, como a do grupo que realizou o Comparative
Interoperability Project, onde o tratamento da informao fundamentado em processos conceituais,
levando em conta uma rede de distribuio cognitiva (Baker, Ribes, Millerand & Bowker, 2005a),
fomentada pela comunidade ao dar sentido e contexto para as informaes. Os modelos conceituais
de interoperabilidade precisam ser considerados anteriormente s decises tcnicas para sistemas
de informao.

1013

Embora a implantao de estratgias de interoperabilidade como
orientao tcnica, mobilizao da comunidade e da estrutura
organizacional os cientistas, tcnicos, gestores de dados e de informaes
aparecem ativamente engajados nos processos de distribuio cognitiva,
de modo que uma grande parte de seu trabalho consiste exatamente na
estabilizao dessas distribuies, na incorporao destas em artefatos
tcnicos, em arranjos organizacionais e em representao de comunidades
(Millerand, Ribes, Baker & Bowker, 2005b, p. 4).

O CRM CIDOC, embora se atenha primordialmente s questes da herana cultural,
fundamentado em princpios que atendem a modelagem conceitual para as artes digitais, pois as
matrizes e relaes que constituem a modelo de ontologia foram sistematizadas pela comunidade de
estudos de documentao do consrcio levando em conta os contextos locais das diversas
instituies envolvidas e procurando trazer para o mbito da estabilizao e uniformizao de
dados, um repertrio conceitual ou cognitivo.

3 Iniciativas selecionadas para a organizao do conhecimento nas artes digitais

Alm da referncia ao modelo do CIDOC, existem vrias iniciativas de documentao das artes
digitais. Tais empreendimentos s vezes extrapolam o mbito estrito dessas artes especficas
compreendendo o amplo escopo da arte contempornea. Os exemplos a seguir contribuem para
uma visualizao do estado da arte das iniciativas, compreendendo temas como a preservao, a
documentao, a estruturao de dados e a divulgao da informao, entre outros temas, alm de
fornecer indicadores sobre as condies bsicas para o estabelecimento de um projeto de
interoperabilidade.

3.1 Archiving the Avant-Garde

O projeto Archiving The Avant-Garde uma iniciativa pioneira em preservao de obras de
arte digitais levada a cabo pelas seguintes instituies: Berkeley Art Museum and Pacific Film Archive
(http://www.bampfa.berkeley.edu/), Solomon R. Guggenheim Museum
(http://www.guggenheim.org/), Rhizome.org (http://rhizome.org/), Franklin Furnace Archive
(http://www.franklinfurnace.org/) e Cleveland Performance Art Festival and Archive
(http://library.csuohio.edu/speccoll/collections/paf.html). O consrcio fomenta iniciativas de
documentao e preservao de mdias variveis (termo cunhado pelo prprio consrcio),
entendendo estas obras por sua natureza efmera e considerando as dificuldades quanto preciso
de sua documentao, acesso e preservao.
O objetivo do consrcio incentivar a interoperabilidade entre os sistemas de documentao
das artes digitais atravs do cumprimento de normas para padres de metadados, como o modelo de
arquivamento sugerido pelo Open Archival Information Systems OASIS (https://www.oasis-
open.org/). O OASIS, que um consrcio no governamental sem fins lucrativos, desenvolve e
incentiva o uso de padres abertos no tratamento e organizao da informao (similar ao W3
Consortium), fornecendo modelo para patentes, direitos autorais, guia de prticas para padres
abertos e manuais de boas prticas para a estruturao de ambientes de informao e arquivos.
As instituies participantes do Archiving the Avant-Garde comprometem-se a seguir os
padres de documentao desenvolvidos por museus e centros de documentao e, embora
trabalhem em seus ambientes e casos especficos, procuram a generalizao de suas metodologias
para que possam ser aplicadas em contextos diversos. Esta generalizao parte de um padro
mnimo para descrio de obras de arte digitais que atende aos parmetros para atribuio de

1014
descritores para a indexao de objetos artsticos e apoia-se no vocabulrio controlado AAT Getty.
Entre os documentos disponibilizados pelo consrcio, destacamos o A System of Formal Notation for
Scoring Works of Digital and Variable Media Art (Rinehart, 2007), que examina parmetros para a
construo de um modelo conceitual de documentao, geral, amplo e customizvel, atendendo a
expectativas para estratgias de interoperabilidade tanto em nveis tcnicos, quanto em nveis
polticos e institucionais. Baseado principalmente na linguagem XML, o Media Art Notation System -
MANS funciona para:

(...) a preservao de obras de arte, para a recriao destas obras no
futuro; como um formato de documentao, como uma arquitetura para
banco de dados de gerenciamento de arte mdia, como um framework para
o acesso pblico de catlogos online de arte mdia, para fins pedaggicos e
fruns dedicados arte mdia, ou como um framework para redes
colaborativas de artistas (...). Para a comunidade da web semntica, este
modelo conceitual e formato de expresso constitui uma ontologia. Para a
biblioteca digital e toda a comunidade de informao cultural, ele compe
um framework de metadados (Rinehart, 2007, p. 183).

Outra importante plataforma para interoperabilidade desenvolvida pelo Archiving Avant-Garde
o Variable Media Questionnaire (http://variablemediaquestionnaire.net/), um questionrio que
oferece a possibilidade de investigao diretamente com o artista sobre as diretrizes de preservao
de seus trabalhos com instrues para a sistematizao e o entendimento da montagem dos
trabalhos, alm de pragmticas para futuras intervenes na obra quanto documentao e
conservao. O VMQ trabalha com um sistema de codificao o Metaserver (http://forging-the-
future.net/#) e disponibiliza um glossrio em lngua inglesa com os termos mais usuais da arte em
mdias variveis, classificados em facetas.
Ainda no campo de estratgias para a interoperabilidade de informao das artes digitais, o
AAG trabalha em conjunto com o National Digital Information Infrastructure and Preservation Program
(http://www.digitalpreservation.gov/index.php), programa de infraestrutura e preservao digital
que uma iniciativa da Library of Congress, focado na memria digital dos Estados Unidos, com fins
de preservao, organizao e acesso deste contedo para as futuras geraes. Este programa
compreende documentos governamentais, jornalsticos, cientficos e artsticos, priorizando o
estabelecimento de padres e normas para o tratamento da informao, interoperabilidade
computacional e acesso democrtico ao material, seguindo os padres do OASIS. O trabalho
especfico desenvolvido nas temticas de encapsulamento digital, metadados, infraestrutura e
organizao de repositrios. A parceria garante para o consrcio estabilidade e parmetros
consistentes para as instituies envolvidas.
O consrcio Archiving the Avant-Garde corrobora a tese de que a colaborao entre
profissionais e instituies interessadas no tema imprescindvel para a criao e a manuteno dos
ambientes de informao da arte digital.

3.2 DOCAM

O Documentation and Conservation of the Media Arts Heritage - DOCAM (http://www.docam.ca/)
um comit internacional para a documentao e conservao dos trabalhos de arte em meios
tecnolgicos formado por vinte instituies comissionado pelo Social Sciences and Humanities
Research Council of Canada SSHRC (http://www.sshrc-crsh.gc.ca/about-au_sujet/index-eng.aspx) e
pela Daniel Langlois Foundation (http://www.fondation-langlois.org/html/e/). O foco do programa
so as metodologias para conservao de obras em mdias tecnolgicas.

1015
No mbito da interoperabilidade semntica, o DOCAM disponibiliza referncias para
vocabulrios controlados nas reas de arte digital, arte contempornea e computao,
principalmente nos idiomas francs e ingls. Realiza uma anlise detalhada de mdias digitais e
analgicas (fitas cassetes, vdeos, filmes e udios), procurando neste escopo padres para a
preservao das obras. Sua base terica so os estudos da aplicao e metodologias de criao e
produo de arte digital, no contexto da documentao. Dentre os documentos gerados a partir das
prticas destacamos, aqui, os referentes interoperabilidade.
O documento Cataloguing Guide for New Media Collections tem como objetivo sistematizar as
metodologias para descrio, documentao e exibio de obras de arte em meios tecnolgicos. Nele
so abordados de maneira minuciosa parmetros para catalogao, que compreende ferramentas
descritivas em nveis tcnicos e conceituais das obras de arte e uma estrutura lgica que permita a
automao dos processos de documentao e a interoperabilidade entre sistemas. A metodologia
correspondente foi elaborada a partir de um questionrio enviado para cem museus da Europa,
Estados Unidos e Austrlia, a anlise de relatrios de estudos de caso, alm do resultado de debates
entre os profissionais envolvidos na Aliana DOCAM, provenientes das instituies envolvidas no
projeto.
A documentao sobre a experincia mostra que os museus consultados compartilham
instrumentos e problemas, a saber: uso de ferramentas semelhantes para a documentao de obras
(formulrios de catalogao, esquemas de classificao e descrio, bases de dados); problemas de
falta de controle terminolgico para a arte digital; problemas derivados da rpida obsolescncia de
materiais e equipamentos constituintes das obras. Tambm so registradas a identificao da
necessidade de consultas a artistas e assistentes para a manuteno e substituio de materiais dos
trabalhos e problemas relacionados aos direitos legais de propriedade e autoria das obras, quer pela
falta de sistematizao em polticas de aquisio ou em razo da natureza colaborativa das obras e
do uso de tecnologias e equipamentos comerciais.
Outros documentos relacionados podem ser consultados no site do consrcio. Por tratarem de
interoperabilidade destacamos, aqui, dois exemplos. O primeiro, o Documentary Model Adapted to
Media Arts, um modelo conceitual, tal como o CRM CIDOC, voltado para a estruturao de dados, com
o intuito de apresentar um mapa conceitual semntico dos arranjos as informaes de todo o ciclo
de vida de uma obra de arte digital. A plataforma oferecida pelo consrcio consiste em uma
interface grfica que contempla conexes entre os agentes envolvidos na produo do trabalho, a
tipologia de seus documentos, equipamentos e componentes, alm de permitir a indicao das
intervenes feitas durante os perodos de exibio e conservao das obras (criao, divulgao,
pesquisa, custdia). A recomendao do DOCAM que os documentos sejam descritos segundo as
hierarquias sugeridas pelo Functional Requirements for Bibliographic Records FRBR
(http:/www.ifla.org/publications/functional-requirements-for-bibliographic-records)
contemplando obra, expresso, manifestao, item e agregando a estas categorias relacionadas a
componentes considerando sua importncia para a abordagem das artes em mdias tecnolgicas.
O segundo documento analisado o DOCAM Glossaurus. Definido como um
Glossrio/Tesauro, esta ferramenta terminolgica do DOCAM oferecida nos idiomas ingls e
francs, integrando os termos utilizados na prpria organizao. As relaes entre os descritores foi
construda segundo o modelo Simple Knowledge Organization System SKOS
(http://www.w3.org/2004/02/skos/) visando sua disponibilizao em formato de dados abertos que
possa ser replicado com facilidade. Este Glossrio fundamentado em uma srie de vocabulrios
controlados e teve como base a classificao atravs das facetas: Atividades, Agentes, Prticas
artsticas, Componentes e Manifestaes, e Recepo. Os conceitos so apresentados em relaes
hierrquicas e associativas, estruturadas atravs do SKOS em uma rede semntica, porm
apresentados em uma plataforma web para facilitar a consulta de pesquisadores e demais
interessados. O DOCAM tem o cuidado de ressaltar que este glossrio no um trabalho definitivo,
carecendo sempre de reviso principalmente quanto aos termos que fazem referncia s
tecnologias empregadas nas obras de arte. Por essa razo, tais termos esto sempre relacionados a
uma linha de temporalidade para a identificao de seu contexto de uso.

1016
O DOCAM entende que, em razo da natureza conceitual e dos contextos de produo dos
trabalhos de arte digital, h dificuldades em se estabelecer sua sistematizao para a organizao.

3.3 V2 - Institute for the Unstable Media

O V2 Institute for the Unstable Media (http://www.v2.nl/) um centro interdisciplinar,
fundado em 1981 por um coletivo artstico residente em Rotterdam (NL). Promove exibies,
apresentaes, oficinas e desenvolve uma linha de pesquisa voltada para a interface entre arte,
tecnologia e sociedade. Sua plataforma online oferece um espao para a troca de experincias entre
artistas, cientistas, programadores de software e hardware, pesquisadores e tericos de vrias
disciplinas.
De carter contestador, o V2 tem em sua histria a marca de uma organizao independente
que incentiva o debate crtico na contextualizao das mdias eletrnicas. As mdias instveis
(unstable media) so consideradas, em razo de sua instabilidade, uma fora criativa essencial para
o reordenamento contnuo das relaes sociais, culturais, polticas e econmicas na sociedade
(V2_Mission, n.d.). Para eles, as mdias instveis apresentam a imagem de um mundo que
inconsistente, heterogneo, complexo e varivel (V2_Mission, n.d.).
No ano de 2003, o projeto intitulado Capturing Unstable Media, desenvolveu parmetros e
recomendaes para as questes de preservao de arte eletrnica e produziu o modelo Capturing
Unstable Media Conceptual Model - CMCM (http://v2.nl/archive/works/capturing-unstable-media-
conceptual-model-cmcm), que abrange estratgias de documentao das atividades relacionadas
arte digital e um modelo sistematizado para metadados e interoperabilidade entre arquivos da rea.
O CMCM visa atender s necessidades de padronizao da informao para interoperabilidade entre
arquivos de arte digital, sem estancar as necessidades singulares de cada instituio ou ambiente de
informao de arte que o utilize. O CMCM definido como uma ontologia multi-hierrquica, de
conceitos inter-relacionados e configurao top-down, baseado em estrutura semntica que atende
s tendncias dos padres internacionais de linguagens web, como os desenvolvidos pelo W3
Consortium (http://www.w3.org/2001/sw/), por exemplo. Os eixos principais de aplicao so
orientados para definir: a) terminologia consistente para a descrio da arte eletrnica e digital; b)
tipos e gneros de documentos das produes de arte digital; c) descrio das diversas categorias de
autoria distribuda, caracterstica dos trabalhos de arte digital; d) categorias de interdependncia
entre hardwares e softwares; e) tipos de interatividade propostos nos trabalhos.
O projeto teve como resultado uma srie de documentos, disponveis em seu website, que
orientam a busca por interoperabilidade tcnica e conceitual no trabalho de organizao do
conhecimento. Destacamos, entre eles, o Capturing Unstable Media Glossary
(http://v2.nl/archive/articles/capturing-unstable-media-glossary), com termos e entidades dos
documentos e metadados aplicados no ambiente de informao do V2 Institute; e o Capturing
Unstable Media and Archival Interoperability (http://v2.nl/archive/articles/capturing-unstable-
media-and-archival-interoperability), documento que apresenta as diretrizes para
interoperabilidade regularizadas pelo instituto. Neste ltimo documento so analisadas as
iniciativas do Open Archives Initiative (http://www.openarchives.org/), Dublin Core
(http://dublincore.org/), OAI Metadata Harvesting Protocol - OAI-MHP
(http://www.openarchives.org/OAI/openarchivesprotocol.html), com observao sobre a
insuficincia destes modelos na modelagem de metadados de obras de arte digitais. A opo,
portanto, do projeto Capturing Unstable Media, a aplicao de parmetros de web semntica
desenvolvidos pelo W3C, com destaque para as iniciativas do Semantic Computing Research Group,
University of Helsinki (http://www.seco.tkk.fi/) e do CIDOC - CRM, sendo este ltimo tomado como
modelo para o desenvolvimento das linguagens interoperveis entre sistemas de colees nos
ambientes de informao do V2.

1017
A pesquisa do V2 Institute Archive se destaca pelo aprofundamento de questes conceituais
relativas documentao da arte digital, oferecendo parmetros consistentes para uma abordagem
detalhada das relaes entre os seus agentes e das relaes entre materiais e a produo de obras.

3.4 ZKM

O Zentrum fr Kunst und Medientechnologie ZKM (http://on1.zkm.de/zkm/e/) uma
instituio cultural, fundada em 1989, com projetos interdisciplinares, voltada para as novas mdias
e a arte contempornea. Com sede na cidade de Karlsruhe (DE), abrange as seguintes propostas: dois
museus, um voltado para a Arte Contempornea, outro para a Mdia Arte e trs institutos para a
pesquisa nos seguintes eixos: a) msica e acstica; b) mdias visuais e c) mdias para a educao e
economia. Conta ainda com uma biblioteca multimdia e um laboratrio para recuperao e
digitalizao de vdeos antigos. Seu organograma estruturado nas reas de produo e pesquisa,
museus e exibies, arquivo e comunicao, e administrao e servios gerais, abrangendo desta
maneira um hbrido campo de atuao entre tais reas, com base nas artes interativas,
contempornea e digital. A ZKM | Media Library abriga material relacionado s artes contemporneas
produzidas entre os sculos XX e XXI. Em seu acervo bibliogrfico esto disponveis obras de arte
digital, arquitetura, design, teoria das mdias, filme, fotografia e msica eletroacstica. A biblioteca
do Instituto faz parceria com a Staatliche Hochschule fr Gestaltung, universidade pblica da cidade de
Karlsruhe, totalizando um acervo de 48.000 itens. Para a organizao e acesso s informaes, a
biblioteca multimdia utiliza o KOBV Virtual Catalog Film
(http://www.kobv.de/en/user_info/online_resources/virtual_catalogue_film/) e integra o sistema
Network of Multimedia Resource Centres, em conjunto com mais de 60 arquivos, bibliotecas, centros de
documentao, museus e pesquisadores, viabilizando metodologias de preservao, segurana e
acesso ao material audiovisual da Europa. Alm destas plataformas, o ZKM mantm uma
classificao por rea de seu contedo documental, bem como do contexto bibliogrfico de suas
exposies passadas e atuais, disponibilizando este material atravs de links web
(http://on1.zkm.de/zkm/institute/mediathek/linksammlung/).
Acreditando na importncia da interoperabilidade entre sistemas de informao, o instituto
incentiva o uso de padres (CDWA, XML, MARC/AACR, DUBLIN CORE, DACS, OBJECTID, CIMI, FDA
GUIDE, etc.) e disponibiliza as caractersticas especficas de cada um atravs do Metadata Standards
Crosswalk
(http://www.getty.edu/research/publications/electronic_publications/intrometadata/crosswalks.
pdf), produzido pelo Getty Institute. As facetas elencadas por esta sistematizao (objeto/trabalho;
classificao; ttulo/nome; criao; estilos/perodos/grupos/movimentos; medidas; materiais e
tcnicas; inscries/marcas; estado), so fundamentais para a indexao de objetos de arte, mas no
caso da arte digital, poderiam ser discutidas considerando-se outras ontologias.

4 Fundamentos para uma orientao em estratgias de interoperabilidade

A reviso efetuada permite afirmar que os esquemas de arquitetura da informao de
sistemas de informao da arte digital devem acomodar os vrios nveis de complexidade dos
trabalhos, observando a heterogeneidade dos materiais e as diferentes tcnicas, autores e estilos das
obras, visando garantir a recuperao da informao sem descaracterizar a compleio hbrida dos
produtos.
De modo geral, os parmetros para o uso de padres de interoperabilidade no mbito das
artes so voltados para objetos nicos, normalmente localizados em museus e centros de
documentao ou integrados a redes de bibliotecas. Prevem a catalogao, a produo de
inventrios e o uso de procedimentos de representao por meio de vocabulrios controlados.
Observa-se, porm, que muito pouco do montante das obras de arte digitais foram ou sero
adquiridas por museus devido a seu carter no comercial, efmero e de multiplicao, e quase
nenhum dos trabalhos de arte digital constitui um objeto nico ao qual se pode atribuir nmeros de

1018
marcaes, tamanho, espessura, cor, etc. Tampouco so objetos digitais textuais de monitoramento
e rastreamento acessveis: usualmente so baseados em complexas estruturas tecnolgicas,
instveis, ou de carter hbrido entre o digital e o analgico.

Isto requer a interoperabilidade no s em nvel de codificao
tarefa bem resolvida pelo XML, por exemplo mas tambm em nvel
semntico mais complexo, onde se encontram as caractersticas do
domnio (...) Entretanto, a realidade da interoperabilidade semntica est
ficando frustrante. Apenas na rea cultural, existem dezenas de padres,
centenas de metadados proprietrios e estruturas de dados, assim como
centenas de sistemas terminolgicos (Doerr, 2003, p. 75-76).

A semntica especfica de contextos culturais e, particularmente, das artes digitais, so
referenciadas por fontes distribudas, na maioria das vezes fora dos clusters de informao de
bibliotecas e museus. Elas so de natureza simblica, mais do que material. Classificaes so
simultaneamente conceituais (no sentido de padres de mudanas e aes persistentes, recursos
para as abstraes da organizao) e materiais (no sentido de serem inscritas, transportadas e
fixadas para objetos) (Bowker,1999, p. 289). Podem ser exploradas por relaes mltiplas e no
coordenadas de seus objetos, bem como apresentar uma diversidade de hiperlink entre textos,
imagens, vdeos e outras interfaces digitais. Normalmente, estes nveis se expressam em camadas
sobrepostas de padres que servem para traduzir uns aos outros, do mais genrico (de uso global)
para o mais especfico (de uso local). O detalhamento destes nveis abrange decises conceituais que
devem ser tomadas conjuntamente ao desenho tcnico dos sistemas: O objetivo uma
compreenso integrada de interoperabilidade como um complexo plano de ao, uma interao
entre estratgias sociais e tcnicas (Baker, Ribes, Millerand & Bowker, 2005a, p. 2).
Alguns pontos ainda no desenvolvidos nas questes de interoperabilidade entre museus,
bibliotecas e arquivos decorrem principalmente dos mltiplos padres existentes e da
impossibilidade de trnsito por contedos informacionais alm de contextos sistmicos e
institucionais especficos (Marcondes, 2012, p. 13). O que ocorre, segundo o autor, uma navegao
de mo nica, normalmente de um link de um repositrio para outro link na web, mas no o
contrrio, tampouco entre repositrios. Tal situao se torna um empecilho integrao em larga
escala do contedo de catlogos de arquivos, bibliotecas e museus, com a infinidade de outros
recursos informacionais agora disponveis na Web (2012, p. 15).
Se a ideia sair do carter catico do que j existe como contedo web, a padronizao
necessria para a interoperabilidade de informao deve ser examinada sob proposies que
indiquem que h uma externalidade positiva das redes em adjacncia com toda a comunidade.
Muitas formas de aplicao de interoperabilidade baseadas nas abordagens semnticas e
ontolgicas nem sempre deixam espao para contemplar a indisciplinariedade ou a
extradisciplinariedade das artes digitais, levando em conta principalmente a perspectiva do
produtor e do mantenedor da informao. Padres estabelecidos tendem a privilegiar o discurso de
contextos restritos. H sistemas que ficam invisveis no campo da arte contempornea ou porque
no so financiados por instituies culturais de projeo, ou porque seus trabalhos no so
considerados no escopo da classificao do campo artstico contemporneo.
As abordagens para sistemas interoperveis no mbito das artes carecem ainda de
investimentos, compreendendo uma srie de princpios operacionais para regime de dados
Arzberger (2004, p.2):

Abertura dos dados;
Ativa transparncia e divulgao de dados;

1019
Atribuio e concordncia de responsabilidades formais;
Interoperabilidade tcnica e semntica das bases de dados;
Controle de qualidade, validao de dados, autenticao e certificaes;
Eficincia e flexibilidade operacional;
Respeito propriedade intelectual e outros requisitos ticos e legais;
Prestao de contas de gesto, incluindo abordagens de financiamento.

Alm disso, devem se apoiar, para a definio e organizao de conceitos, em glossrios e
tesauros especficos, consultando referncias propostas pelos consrcios em consonncia com o uso
de termos pela comunidade, que incluem prticas ad hoc em museus e galerias. Devem observar,
tambm, a norma ISO/DIS 25964-1/2 (2011-2012), Thesauri and interoperability with other vocabularies,
e o padro Direct-linked, que consiste na utilizao de diversos vocabulrios agregados que no
necessariamente compartilham a mesma estrutura. Como sugesto para a aplicao de plataformas
de interoperabilidade nas artes, modelos em dados abertos como o SKOS so propostas consistentes,
mas exigem uma operacionalizao crtica na esfera dos princpios de sua construo (Lara, 2012,
p. 9).

O que est em jogo o fato de que trabalhamos com conceitos
representados por palavras, e no com simples etiquetas formais. Outros
problemas a serem enfrentados so os diferentes graus de especificidade
ou granularidade das linguagens documentrias a serem comparadas no
mapeamento (Lara, 2012, p. 9).

Como j havia afirmado Bowker (1999, p. 294), padres para sistemas de informao no
permanecem como padro por muito tempo e o que padro para um, desorganizao para
outro. Podemos concluir, portanto, que a interoperabilidade nas artes digitais necessita modelos
conceituais e cognitivos complexos que possam acompanhar a dinamicidade prpria da arte,
absorvendo heterogeneidades, observando as referncias da comunidade envolvida, como tambm
seu vocabulrio. A observao das experincias fundamental.

1020
Referncias

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1022
UNESKOS
Publicacin como Linked Open Data de la Nomenclatura Internacional de Ciencia y Tecnologa y del
Tesauro UNESCO.

JUAN-ANTONIO PASTOR-SNCHEZ
[email protected]

FRANCISCO-JAVIER MARTNEZ-MNDEZ
[email protected]

ROSANA LPEZ-CARREO
[email protected]

JOS-VICENTE RODRGUEZ-MUOZ
[email protected]

Resumen El objetivo del proyecto UNESKOS es la representacin de la Nomenclatura Internacional
Normalizada de Ciencia y Tecnologa y del Tesauro de la UNESCO mediante tecnologas propias de la Web
Semntica. Se pretende ofrecer dichos vocabularios como conjuntos de datos RDF con una estructura que
facilite su consulta y reutilizacin segn los principios Linked Open Data. La representacin de ambos
vocabularios se ha desarrollado aplicando SKOS. Si bien el modelado de la Nomenclatura ha resultado sencillo,
el del Tesauro ha sido algo ms complejo debido a su estructura de dominios de conocimiento y micro-
tesauros. La consulta, tanto del Tesauro como de la Nomenclatura, puede realizarse a travs de una web
multilinge que permite la bsqueda (por etiquetas preferentes y alternativas) y la navegacin por la
estructura de relaciones semnticas. Cada categora y concepto se identifica mediante una URI
derreferenciable que permite la negociacin de contenido en mltiples formatos. Tambin se ofrece un
SPARQL Endpoint para la ejecucin de consultas y la recuperacin de datos RDF. SKOS se ha demostrado muy
adecuado para representar vocabularios sencillos como es el de la Nomenclatura, y algunos ms complejos
como el Tesauro de la UNESCO. En este ltimo se ha identificado la necesidad de definir elementos que
complementen una futura versin de SKOS. El modelado obtenido es compatible con una interfaz de consulta
clara y sencilla. La publicacin bajo los principios de Linked Open Data permite una reutilizacin sencilla y
gil de los datos RDF y posibilitan el desarrollo de proyectos futuros, como la alineacin con otros
vocabularios mediante relaciones de mapeado.

Palabras-clave SKOS. Linked Open Data. UNESCO. Vocabularios Controlados. RDF.

Abstract The goal of UNESKOS project is to represent the International Standard Nomenclature for fields of
Science and Technology and the UNESCO Thesaurus. These vocabularies are provided as RDF datasets with an
appropriate structure for access and reuse the contained data, applying the Linked Open Data principles. The
representation of these vocabularies has been developed using SKOS. The modeling of the Nomenclature is
simple. However, the Thesaurus needs a more complex structure because it is organized into several
knowledge domains and micro-thesauri. The queries to the Thesaurus and the Nomenclature can be done
through a multilingual website that allows searching (for preferred and alternative labels) and browsing the
structure of semantic relationships. Categories and concepts are identified by a derreferenciable URI with
content negotiation in multiple formats. There is a SPARQL endpoint to query and retrieval RDF data. SKOS

1023
has proven suitable for representing simple vocabularies like the nomenclature, and in more complex cases
such as the UNESCO Thesaurus. In this case has been identified the need to define elements that complement
SKOS in a future versin of the Thesaurus. The obtained modelling is easily compatible with the development
of a clear and simple query interface. The publication, under the principles of Linked Open Data, provides an
simple and flexible reuse of RDF data and enables the development of future projects like the alignment with
other vocabularies using mapping relationships.

Keywords SKOS. Linked Open Data. UNESCO. Controlled Vocabularies. RDF.

Introduccin

En en el mbito de la Web Semntica resulta esencial disponer de vocabularios controlados
adecuados a la descripcin de contenidos y conjuntos de datos. Esta importancia deriva de la
capacidad de los vocabularios controlados para la desambiguacin terminolgica y la organizacin
semntica de conceptos (Montalvo, 2011). De hecho, los vocabularios controlados, los tesauros en
particular, constituyen una fuente para el desarrollo de ontologas (Garca-Torres, et al, 2008).
Desde su introduccin, SKOS se ha convertido en el instrumento ms aplicado para
representar en forma de conjuntos de datos RDF lenguajes documentales del tipo tesauros,
clasificaciones, encabezamientos de materia, glosarios, etc. (Pastor et al., 2009), (Pastor et al., 2012).
De hecho, se ha convertido en uno de los componentes clave en el despliegue de la Web Semntica,
puesto que permite aplicar tcnicas y principios propios de la organizacin del conocimiento.
Adems de la representacin, mediante SKOS es preciso considerar determinados aspectos
relacionados con el acceso y la reutilizacin. En este sentido Linked Open Data va ms all de la
mera aplicacin de SKOS para modelar un vocabulario, puesto que propone una serie de criterios y
tcnicas para facilitar tanto su acceso como su interoperabilidad.
Con este panorama podemos encontrar diferentes sistemas de organizacin del conocimiento
(KOS)
1
que si bien estn publicados en Internet, su reutilizacin deja bastante que desear. Una de las
lneas de trabajo de nuestro grupo de investigacin se ha centrado tanto en la Nomenclatura
Internacional Normalizada de Ciencia y Tecnologa y en el Tesauro de la UNESCO, vocabularios que
han sido objeto de nuestro inters por la relevancia que poseen ambos en la gestin de informacin
cientfica relacionada con procesos y proyectos de investigacin. La Nomenclatura es ampliamente
utilizada en la gestin y realizacin de proyectos de investigacin, tesis doctorales, documentos
cientficos de todo tipo (informes, artculos, monografas). Por su parte, el tesauro de la UNESCO es
profusamente utilizado como vocabulario de mbito general para la indizacin de colecciones y
repositorios digitales, estudios informtricos y cienciomtricos, as como fuente para el desarrollo
de nuevos vocabularios y ontologas. Este tesauro dispone de un sitio web para su consulta, pero no
dispone de funciones para la reutilizacin o acceso a trminos especficos de un modo sencillo y
transparente.
Las tareas desarrolladas en el seno del proyecto UNESKOS tenan como objetivo la
representacin, publicacin y acceso mediante tecnologas de la Web Semntica de la Nomenclatura
y del Tesauro. El presente trabajo expone cmo se han llevado a cabo los distintos pasos del
proyecto, los problemas encontrados, las decisiones tomadas, y las soluciones adoptadas. Se detalla
la metodologa utilizada, abordando adems un breve anlisis de ambos vocabularios destacando
sus principales caractersticas. En la seccin de resultados se muestra detalladamente el modelado
escogido para su representacin mediante SKOS junto el uso de diferentes herramientas para su
disponibilidad, como Linked Open Data a partir de la publicacin de conjuntos de datos RDF,
derreferenciacin de URIs
2
y puesta en marcha de un SPARQL Endpoint. A continuacin se debaten
algunas de las decisiones tomadas en relacin al modelado SKOS, la posible extensin de esta
recomendacin para incorporar ciertos puntos de la norma de tesauros ISO-25964 y las

1
Se utilizar en adelante la abreviatura KOS cuyo origen est en el trmino en Ingls Knowledge Organization System para
hacer referencia a los sistemas de organizacin del conocimiento desde una aproximacin general.
2
Una URI se utiliza para identificar de forma unvoca un recurso en entorno web. Una URI derreferenciable permite
adems su localizacin para poder acceder a dicho recurso.

1024
repercusiones que esto tendra en el proyecto. Para finalizar, se aporta una serie de conclusiones en
las que tambin se apuntan posibles ampliaciones de UNESKOS en el futuro.

1 Metodologa

A continuacin se detalla la metodologa seguida para la publicacin como Linked Open Data
tanto de la Nomenclatura como del Tesauro. Para comprender mejor los distintos pasos seguidos es
imprescindible realizar una descripcin global de la estructura de ambos vocabularios.

1.1 Sobre la Nomenclatura

UNESCO comenz los trabajos de desarrollo de un sistema normalizado para la clasificacin
de los campos de Ciencia y Tecnologa en 1966. Dicha nomenclatura fue propuesta por las divisiones
de Poltica Cientfica y de Estadstica de Ciencia y Tecnologa de dicho organismo entre 1973 y 1974.
En 1988 se propuso oficialmente por la UNESCO aunque en la prctica haba comenzado a utilizarse
antes de esta fecha
3
.
Su objetivo inicial era la clasificacin de artculos cientficos y tesis doctorales. Sin embargo,
actualmente es utilizada por numerosos organismos y entidades para la descripcin y clasificacin
de recursos relacionados con la investigacin cientfica, proyectos, grupos y lneas de investigacin,
patentes, informes de evaluacin cientfica, etc. (Martnez-Frias, Hochberg, 2007). La versin de
1988 no ha sido revisada posteriormente por la UNESCO y aunque han surgido numerosas
tecnologas y disciplinas cientficas desde entonces, la nomenclatura es ampliamente utilizada e
incluso ha sido revisada por algunos organismos
4
.
Aunque suele afirmarse que la Nomenclatura tiene tres versiones, en realidad se trata de
distintos niveles de detalle jerrquico. La organizacin bsica sigue una estructura clasificatoria de
tres niveles en el que cada categora tiene asociada una notacin de 2 a 6 dgitos. El primer nivel
utiliza dos dgitos para identificar los campos principales de la clasificacin. En el segundo nivel se
identifican las disciplinas asociadas a los diferentes campos mediante 4 dgitos. El tercer nivel
utiliza 6 dgitos para hacer lo propio con las subdisciplinas. Los cdigos son acumulativos, por
ejemplo: 22 Fsica, 2202 Electromagnetismo, 2202.05 Rayos gamma. Algunas categoras tienen uno o
varios reenvos que permiten identificar categoras relacionadas entre s, por ejemplo: 2202.09
Propagacin de ondas electromagnticas (vase 2105 Radiastronoma). La Nomenclatura se ofrece
en tres ediciones: Ingls, Francs y Espaol.

1.2 Sobre el Tesauro de la UNESCO

UNESCO hizo pblica la primera edicin de este tesauro en 1977 (Aitchison y Clarke, 2004).
Inicialmente, su principal aplicacin fue ayudar en la consulta de bases de datos de dicha
organizacin, si bien su uso se ha extendido a otros contextos: la desambigacin terminolgica,
como fuente para la elaboracin de otros tesauros (Dunsire, 2011), para la docencia o para la
descripcin de recursos educativos (Garca y Jaroszczuk, 2009).
Desde el ao 2000 existe una versin web para su consulta, primero en Ingls y luego, de
forma progresiva, se han incorporado progresivamente otros idiomas (Francs, Espaol y Ruso). Se

3
En 1983 por Resolucin de 23 de septiembre de 1983 (BOE 14 de octubre) pasa a ser la clasificacin utilizada por el
Ministerio de Ciencia y Tecnologa del Gobierno de Espaa.
4
La Universidad del Pas Vasco dispone de una versin de la edicin en Espaol que incluye actualizaciones en algunos
campos o disciplinas. Ms informacin en: http://www.et.bs.ehu.es/varios/unesco.htm.

1025
trata de un tesauro multidisplinar, monojerrquico
5
, multilinge que cumple las normas ISO-2788 e
ISO-5964 (Ewketu, 2011). Est estructurado en trminos entre los que se establecen relaciones de
equivalencia (sinonimia o cuasi-sinonimia), jerrquicas y asociativas, variando el nmero de
trminos en funcin del idioma.
Los trminos se dividen en preferentes y no-preferentes a partir de las relaciones de
equivalencia. De este modo, sobre un trmino no-preferente se define una relacin de sinonimia
USE (usar, sese) con un trmino preferente. El Tesauro de la UNESCO asocia los distintos
trminos a uno o varios micro-tesauros que a su vez estn asociados a siete reas o temas
principales. Uno de los aspectos ms interesantes de este tesauro es que su dominio de
conocimiento posee una cobertura general. Tambin hay que hacer especial mencin al hecho que
desde la puesta en marcha del servicio de consulta a travs de la Web, el tesauro se est
actualizando constantemente.

1.3 Planificacin

En este apartado procedemos a describir los pasos realizados durante el proyecto, algunos de
los cuales se ampliarn ms adelante. En primer lugar se procedi a trabajar con la Nomenclatura.
Tras analizar el trabajo realizado y recibir sugerencias por parte de usuarios y especialistas para
mejorar el resultado, se procedi con el Tesauro.

La secuenciacin de dichos pasos para cada uno de los vocabularios fue la siguiente:
1. Obtencin de una versin digital del vocabulario;
2. Elaboracin de ficheros de texto normalizados en cada idioma;
3. Obtencin de una serializacin RDF/Turtle y RDF/XML;
4. Volcado de la serializacin en un triplestore;
5. Configuracin del servidor para la derreferenciacin de URIs;
6. Desarrollo de la interfaz de navegacin y bsqueda;
7. Implementacin de un SPARQL Endpoint.

El desarrollo del primer paso ha variado sustancialmente para cada uno de los vocabularios.
En el caso de la Nomenclatura, no pudimos encontrar fuentes digitales procesables. nicamente se
localizaron archivos PDF con los correspondientes documentos originales escaneados6. Se utiliz el
documento de la Universidad del Pas Vasco7 como versin base puesto que permita su
recuperacin y procesamiento para la elaboracin de un fichero de texto normalizado en el paso
posterior. En este mismo paso se realiz la traduccin de dicho fichero para obtener las versiones
en Ingls y Francs utilizando los documentos originales escaneados. Los datos relativos al Tesauro
se obtuvieron del propio sitio web del Tesauro de la UNESCO8. Se aplicaron tcnicas de 'web
scraping'
9
para el envo automtico de formularios y anlisis mediante expresiones regulares de los

5
Si bien el Tesauro de la UNESCO es mono-jerrquico en su mayor parte no sucede as con los trminos que hacen
referencia a descriptores geogrficos.
6
Los documentos originales en los tres idiomas se encuentran en: http://unesdoc.unesco.org/Ulis/cgi-
bin/ulis.pl?catno=82946
7
Disponible en: http://www.et.bs.ehu.es/varios/unesco.htm
8
Disponible en: http://databases.unesco.org/thessp/
9
Extraccin de datos de las pginas web sin estructura para darles un formato.

1026
resultados obtenidos (Schrenk, 2012 p.49-75). A partir de dichos datos se construyeron los ficheros
de texto normalizados en cada idioma.
Este conjunto de ficheros fueron procesados conjuntamente en el paso 3 para obtener las
representaciones en SKOS. Como SKOS es una ontologa OWL que sigue el modelo de descripcin
RDF, esta representacin se serializ en RDF/Turtle y RDF/XML. El procesamiento de los ficheros se
realiz mediante un sencillo 'script'
10
PHP. Para la Nomenclatura y el Tesauro se utilizaron scripts
distintos, ya que la estructura de los ficheros de texto era diferente en cada caso.
En el paso 4 se procedi a volcar en un 'triplestore'
11
dichas serializaciones. En UNESKOS se
utiliz el triplestore suministrado por ARC2, un conjunto de libreras que facilita el desarrollo de
aplicaciones PHP que operan con datos RDF. En este caso, el triplestore hace uso de una base de
datos MySQL. Por lo tanto, los requisitos del servidor utilizado en el proyecto son muy bsicos y se
identifican con la oferta estndar de cualquier proveedor de alojamiento web, lo que favorecera
una potencial portabilidad y reutilizacin del proyecto.
Uno de los objetivos principales de UNESKOS era la publicacin Linked Open Data de ambos
vocabularios, por ello, cada vocabulario cuenta con su propio espacio de nombres XML. Adems se
procedi a la adecuada configuracin del servidor para la negociacin de contenido y la
consiguiente derreferenciacin de las URIs correspondientes a los diferentes elementos del Tesauro
y la Nomenclatura.
Con posterioridad, se desarroll la interfaz de navegacin y bsqueda para cada uno de los
vocabularios. Tambin se dot de contenidos adicionales: estadsticas, crditos, descarga de
serializaciones RDF, etc. El desarrollo se realiz en PHP y ARC2, desarrollando dos pequeos
programas que se adaptaban a las peculiaridades tanto del Tesauro como de la Nomenclatura. Estos
programas hacen uso de una clase creada para ex profeso para el proyecto UNESKOS. Esta clase
define una capa de abstraccin con respecto a ARC2, definiendo una serie de propiedades y mtodos
para el recorrido y la consulta de conjuntos de datos RDF que hacen uso de SKOS.
El ltimo paso realizado consisti en la implementacin de un SPARQL Endpoint, desde el que
se pueden realizar consultas para recuperar datos concretos de un determinado vocabulario.

2 Resultados

Para la presentacin de los resultados, en primer lugar vamos a llevar a cabo una breve
descripcin de SKOS indicando todo lo referente al trabajo de modelado y a la arquitectura del
sistema para cumplir con los requisitos Linked Open Data. Como producto final del proyecto
UNESKOS se va a disponer de un sitio web12 en el que se pueden consultar tanto la Nomenclatura
como el Tesauro. Por otro lado, el modelado realizado para ambos vocabularios forma parte de los
resultados del proyecto, puesto que se tomaron ciertas decisiones con el objeto de alcanzar una
representacin adecuada.

10
En Informtica es un guin, archivo de rdenes o archivo de procesamiento por lotes, vulgarmente referidos con el
barbarismo script (del latn scriptum, escrito).
11
Un triplestore es una base de datos que permite el almacenamiento de sentencias RDF.
12
La Nomenclatura y el Tesauro estn disponibles en <http://skos.um.es/unesco6> y <http_//skos.um.es/unescothes>
respectivamente.

1027
2.1 Modelado mediante SKOS

SKOS es una ontologa OWL-Full desarrollada para la representacin de KOS de estructura
relativamente sencilla. Como toda ontologa OWL se basa en el RDF, el modelo de datos sobre el que
se desarrolla la Web Semntica. En RDF la informacin se representa mediante tripletas del tipo
sujeto-predicado-objeto. El sujeto es un recurso web identificado con una URI. El predicado es una
propiedad o relacin que se declara sobre el sujeto. El objeto es el valor de la propiedad u otro
recurso con el que se relaciona el sujeto.
En SKOS los sujetos pueden ser de tres clases: conceptos, esquemas de conceptos y
colecciones. Los elementos fundamentales son los conceptos que tienen asignadas etiquetas en uno
o varios idiomas. Existen diferentes tipos de etiquetas:

preferentes (skos:prefLabel): trminos utilizados en la indizacin. Su funcin es
idntica a la de los trminos descriptores de los tesauros;
alternativas (skos:altLabel): utilizadas para representar trminos sinnimos o cuasi-
sinnimos de los preferentes. Permiten enriquecer la diversidad lxica de un KOS y
ofrecer mltiples puntos de acceso a un concepto que puede representarte con
diferentes trminos;
Ocultas (skos:hiddenLabel): no visibles para los usuarios, pero si para las aplicaciones
informticas. Son tiles para el control de variantes terminolgicas con errores
ortogrficos, diversas formas de acrnimos y abreviaturas, etc.

Existen una serie de propiedades que permiten vincular conceptos a travs de la definicin de
relaciones semnticas:

Jerrquica especfica (skos:narrower): relacin que indica que existe un concepto
cuyo significado es ms especfico que el concepto sobre el que se define la relacin
(por ejemplo: Botnica con Gentica Vegetal);
Jerrquica genrica (skos:broader): es la relacin inversa de la anterior;
Asociativa (skos:related): relacin que indica que dos conceptos estn relacionados
semnticamente. (Por ejemplo: Botnica con Biologa).

Los conceptos se asocian a un esquema de conceptos (skos:ConceptScheme) que
generalmente identifica un nico KOS. Tambin es posible agrupar los conceptos en colecciones
simples (skos:Collection) u ordenadas (skos:OrderedCollection).
SKOS tambin dispone de un conjunto de propiedades que permiten configurar redes entre
diferentes KOS mediante relaciones de mapeado a establecer entre conceptos de diferentes
esquemas:

Equivalencia jerrquica especfica (skos:narrowMatch): se utiliza cuando se desea
indicar que un concepto de un esquema tiene un significado ms especfico que un
concepto de otro esquema.
Equivalencia jerrquica genrica (skos:broadMatch): es la relacin inversa de la
anterior.

1028
Equivalencia asociativa (skos:relatedMatch): cuando dos conceptos de diferentes
esquemas estn relacionados semnticamente.
Equivalencia exacta (skos:exactMatch): cuando ambos conceptos tienen exactamente
el mismo significado.
Equivalencia cercana o prxima (skos:closeMatch): cuando ambos conceptos tienen
un significado aproximado sin llegar a ser exacto.
Adicionalmente, SKOS define una serie de condiciones de consistencia y reglas -
especialmente referidas a la transitividad de las relaciones semnticas- que delimitan el mbito de
aplicacin de los vocabularios en procesos lgicos de inferencia (Miles y Bechhofer, 2009).

2.2 Modelado de la Nomenclatura

Como se ha indicado anteriormente, la Nomenclatura Internacional Normalizada de Ciencia y
Tecnologa tiene una estructura jerrquica con determinados reenvos de unas categoras a otras. La
terminologa se encuentra en tres idiomas: Espaol, Ingls y Francs. Este vocabulario ha precisado
de un modelado sencillo para el que SKOS se ha adaptado perfectamente. Se defini un nico
esquema de conceptos, las categoras se representaron mediante conceptos asociados al esquema de
conceptos, sobre los que se definieron una etiqueta preferente en cada idioma. A cada concepto se
asoci una propiedad skos:notation para representar la notacin de dgitos correspondiente. Las
relaciones semntica jerrquicas genricas y especficas, as como las relaciones asociativas, se
expresaron con las propiedades skos:broader, skos:narrower y skos:related respectivamente. El
modelado expresado en RDF/Turtle de la categora 2105 Radioastronoma sera:

@prefix rdf: <http://www.w3.org/1999/02/22-rdf-syntax-ns#> .
@prefix skos: <http://www.w3.org/2004/02/skos/core#> .
<http://skos.um.es/unesco6/2105>
rdf:type skos:Concept ;
skos:prefLabel
"Radio-astronomie"@fr ,
"Radioastronomy"@en ,
"Radioastronoma "@es ;
skos:inScheme <http://skos.um.es/unesco6/00> ;
skos:narrower <http://skos.um.es/unesco6/210599> ,
<http://skos.um.es/unesco6/210502> ,
<http://skos.um.es/unesco6/210501> ;
skos:notation "2105" ;
skos:broader <http://skos.um.es/unesco6/21> ;
skos:related <http://skos.um.es/unesco6/220209> .

1029
Los campos principales de la Nomenclatura se han identificado como conceptos cabecera del
esquema de conceptos mediante la relacin skos:topConceptOf y skos:hasTopConcept. El conjunto
de datos de la Nomenclatura est formado por un total de 20.820 tripletas RDF
13
. La tabla 2 muestra
los resultados finales cuantitativos ms destacados:

Entidad SKOS Tipo Nmero
skos:ConceptScheme Clase 1
skos:Concept Clase 2504
skos:prefLabel Propiedad 7515
skos:broader Propiedad 2480
skos:narrower Propiedad 2480
skos:related Propiedad 780
skos:hasTopConcept Propiedad 24
skos:topConceptOf Propiedad 24
skos:inScheme Propiedad 2504

Tabla 1: Detalle de las estadsticas del conjunto de datos de la Nomenclatura desglosados por entidades SKOS.
La Nomenclatura sirvi como una primera toma de contacto del proyecto con un caso real de
modelado con SKOS. El hecho ms destacable del procedimiento tiene que ver con la integridad
terminolgica de la propia nomenclatura. Durante el proceso de modelado se verific que existan
ms de 200 categoras con la misma etiqueta preferente en el mismo idioma (por ejemplo, la
disciplina 1105 y la subdisciplina 610701 tienen la misma etiqueta preferente: Metodologa o las
subdisciplinas 220303 y 330705 tienen ambas como etiqueta preferente, Vlvulas electrnicas). A
este respecto, la Gua de Referencia de SKOS establece en su condicin de integridad S14 que las
propiedades skos:prefLabel, skos:altLabel y skos:hiddenLabel son disjuntas entre s. Esto significa
que en un mismo idioma no deberan existir dos etiquetas iguales, sean del tipo que sean. El
incumplimiento de esta condicin de integridad significa que los procesos de bsqueda y
recuperacin de conceptos, basados en el texto de las etiquetas, se ven distorsionados al ser
recuperados varios conceptos con idnticas etiquetas a partir de un mismo mismo trmino.

13
El conjunto de datos de la Nomenclatura puede descargarse libremente en: http://skos.um.es/unesco6/downloads.php

1030
2.3 Modelado del Tesauro

El Tesauro de la UNESCO posee un mbito multidisciplinar (macro-tesauro) y se estructura en
7 reas de conocimiento y ms de 88 micro-tesauros que actualmente contienen ms de 8.600
trminos en Espaol y Francs, ms de 7.100 trminos en Ingls y casi 7.000 en Ruso
14
.
Las equivalencias entre los trminos de diferentes idiomas permitieron la definicin de
conceptos etiquetados mediante skos:prefLabel (descriptores) y skos:altLabel (no-descriptores). Las
propiedades SKOS para la representacin de las relaciones jerrquicas y asociativas se utilizaron
para modelar los trminos especficos, genricos y relacionados de cada trmino del Tesauro.
Aquellos conceptos sin relaciones jerrquicas genricas se establecieron como conceptos cabecera.
La principal dificultad del proceso de modelado estrib en la representacin de la estructura
de reas de conocimiento y micro-tesauros. En principio, SKOS no ofrece ningn elemento para
representar este tipo de estructuras de forma directa
15
. Las alternativas analizadas fueron las
siguientes:

[a] Definir el Tesauro de la UNESCO, cada rea de conocimiento y cada micro-tesauro como
esquemas de conceptos y utilizar la propiedad in:Scheme para jerarquizarlos. Suponiendo
que <S> representara el Tesauro de la UNESCO en su totalidad, <S1> el rea de conocimiento
de Educacin y <S105> el micro-tesauro Ciencias de la educacin y ambiente
educacional se representara del siguiente modo:

<S> rdf:type skos:ConceptScheme
<S1> rdf:type skos:ConceptScheme
<S1> skos:inScheme <S>
<S105> skos:inScheme <S1>

[b] Definir algn tipo de propiedad personalizada y con una semntica diferente de
skos:inScheme para definir jerarquas de esquemas de conceptos, del tipo: ex:subScheme y
ex:subSchemeOf. Siguiendo el ejemplo anterior
16
:


14
La organizacin general del tesauro se ha descrito previamente en la seccin 2.2.
15
A este respecto resulta interesante consultar el debate que tuvo lugar en la lista public-esw-thes del W3C:
http://lists.w3.org/Archives/Public/public-esw-thes/2012Dec/0006.html
16
Se utiliza el prefijo ex para hacer mencin de las propiedades que deberan crearse con esta opcin.

1031
<S> ex:subScheme <S1>
<S1> ex:subScheme <S105>
<S1> ex:subSchemeOf <S>
<S105> ex:subSchemeOf <S1>

[c] Aplicar la correspondencia entre ISO 25964 y SKOS/SKOS-XL
17
(ISO TC46/SC9/WG8 e Isaac,
2012) que en la prctica supone una ampliacin SKOS. Utilizando esta propuesta en el
ejemplo anterior, el Tesauro se definira como un esquema de conceptos y las reas y los
micro-tesauros como grupos de conceptos (iso-thes:ConceptGroup). Se subordinaran las
reas al esquema de conceptos mediante iso-thes:microThesaurusOf y los micro-tesauros a -
las reas utilizando las propiedades iso-thes:subGroupOf / iso-thes:superGroupOf.

<S1> rdf:type iso-thes:ConceptGroup
<S105> rdf:type iso-thes:ConceptGroup
<S1> iso-thes:microThesaurusOf <S>
<S1> iso-thes:subGroup <S105>
<S105> iso-thes:subGroupOf <S1>

Definir el Tesauro como un esquema de conceptos y las reas y micro-tesauros como
colecciones. Las reas se asociaran al esquema con la propiedad skos:inScheme. Mediante
skos:member se indicara la pertenencia de un micro-tesauro a una rea de conocimiento.
Continuando con el ejemplo anterior:
<S1> rdf:type skos:Collection
<S105> rdf:type skos:Collection
<S1> skos:inScheme <S>

17
Se trata de una propuesta que todava est pendiente de su publicacin definitiva y por lo tanto todava no se ha
definido un espacio de nombres para las diferentes elementos. En dicha propuesta se utiliza el prefijo iso-thes para los
diferentes elementos, por lo que en este trabajo se har lo mismo.

1032
<S1> skos:member <S105>

Las cuatro alternativas mostradas conllevan la vinculacin de los conceptos del Tesauro al
esquema de conceptos que lo representa aplicando la propiedad skos:inScheme. En el caso de la
opcin [a] dicha vinculacin se realizara con el esquema de conceptos del micro-tesauro al que
pertenezca el concepto. En las alternativas [b] [c] y [d] los conceptos se asociaran a las entidades
que representan los micro-tesauros mediante la propiedad skos:member. Es decir, el caso de un
concepto <C> asociado al micro-tesauro <S105> se expresara del siguiente modo:
<C> rdf:type skos:Concept
<S105> skos:member <C>

La opcin [a] se descart debido a que en la prctica habitual de modelado con SKOS las
entidades del tipo skos:ConceptScheme se utilizan para modelar KOS independientes. Como los
micro-tesauros que nos ocupan no tienen dicha naturaleza, se descart esta opcin. El modelado
con la propuesta [b] se rechaz debido a que en un principio el equipo del proyecto UNESKOS quera
evitar la definicin de un vocabulario ad hoc, buscando en todo momento el uso de las clases y
propiedades ofrecidas de forma nativa por SKOS. Tambin se descart la opcin [c], puesto que en el
momento de realizar el modelado la propuesta ISO-THES todava estaba pendiente de perfilar
(Pastor, 2013) e incluso todava no dispona de un espacio de nombres normalizado que permitiera
hacer referencia a los diferentes elementos.
Finalmente se opt por aplicar la alternativa [d] al no precisar de elementos diferentes de los
que incorpora SKOS y permitir el modelado de los micro-tesauros dentro de su pertenencia a un
esquema de conceptos que representa al Tesauro en su totalidad
18
, obtenindose como resultado
final un conjunto de datos formado por 69.776 tripletas
19
. En la tabla 2 se detallan los datos
cuantitativos de los elementos ms relevantes.

Entidad SKOS Tipo Nmero
skos:ConceptScheme Clase 1
skos:Concept Clase 4408
skos:Collection Clase 96
skos:prefLabel Propiedad 17980
skos:altLabel Propiedad 13868
skos:broader Propiedad 4244

18
Se puede descargar el conjunto de datos libremente en: http://skos.um.es/unescothes/downloads.php.
19
El conjunto de datos del Tesauro puede descargarse libremente en: http://skos.um.es/unescothes/downloads.php.

1033
skos:narrower Propiedad 4244
skos:related Propiedad 12196
skos:hasTopConcept Propiedad 583
skos:topConceptOf Propiedad 583
skos:inScheme Propiedad 4415
skos:member Propiedad 4496

Tabla 2: Detalle de las estadsticas del conjunto de datos del Tesauro desglosados por entidades SKOS.

2.4 Aplicacin de los principios Linked Open Data.

Adems del modelado de vocabularios mediante SKOS, nuestro proyecto tambin tena como
objetivo la aplicacin de los principios Linked Open Data para la publicacin de dichos conjuntos de
datos. La expresin Linked Open Data se refiere a la publicacin de datos estructurados en la Web.
Los conjuntos de datos pueden ser reutilizados, recuperados e incluso enlazados desde otros
conjuntos de datos. Este planteamiento conlleva la apertura de datos para su uso pblico, partiendo
de la interoperabilidad que aportan los formatos y protocolos abiertos desarrollados por el W3C. Se
utiliza el protocolo HTTP para que una aplicacin informtica pueda seguir los enlaces establecidos
entre diferentes conjuntos de datos. Es un enfoque diferente al utilizado en los sistemas basados en
procesos de agregacin, como ocurre con el protocolo OAI-PMH
20
que conlleva la creacin de
catlogos centralizados cuyo contenido se obtiene a partir de agregadores que recolectan los
metadatos de repositorios externos.
A partir de la propuesta original realizada por Berners-Lee (2006) y algunos otros autores
(Haslhofer y Schandl, 2010) hemos definido una serie de principios Linked Open Data para este
proyecto:

1. Utilizar URIs derreferenciables.
2. Implementar mecanismos para la negociacin de contenido.
3. Aplicar estndares abiertos con respecto a los formatos empleados para suministrar los
datos.
4. Permitir la recuperacin selectiva mediante SPARQL.
5. Incluir enlaces a URIs de recursos externos que permita descubrir nuevos objetos.
6. Existencia de una licencia adecuada para la libre reutilizacin de los datos.

20
Open Archives Initiative-Protocol Metadata Harvesting es un protocolo utilizado para la recoleccin de metadatos que
describen objetos de informacin. Se basa en el uso de una serie de comandos para solicitar conjuntos de metadatos
expresados mediante Dublin Core a servicios web de proveedores de datos. Se utiliza XML, tanto para representar los
mensajes de solicitud como para hacer lo propio con los datos obtenidos.

1034

El uso de URIs derreferenciables es el mecanismo esencial para la identificacin y el acceso a
objetos o recursos especficos de un conjunto de datos. Se ha dotado a cada objeto de los
vocabularios de su propia URI individual. Para ello se han definido dos espacios de nombres:
Nomenclatura: <http://skos.um.es/unesco6/>
Tesauro: <http://skos.um.es/unescothes/>
Estos espacios de nombres se utilizan como prefijos de los objetos de los elementos
respectivos. Por ejemplo, la URI para el concepto del Tesuro de la UNESCO etiquetado con el
trmino en Espaol Almacenamiento de agua es <http://skos.um.es/unescothes/C04305>. Este
criterio se ha aplicado a todos los tipos de objetos: conceptos, esquemas y colecciones.
La existencia de URIs derreferenciables permite utilizar el protocolo HTTP en la negociacin
de contenido, es decir, la transmisin de datos entre cliente y servidor, pudiendo indicar el primero
el formato en el que ste ltimo debe suministrar los datos. Existen varias opciones para realizar
dicha negociacin de contenido (Saumermann et al., 2008), (Heath y Bizer, 2011). UNESKOS
implementa una negociacin de contenido mediante la existencia de URIs neutras y especficas
(segn el formato) y el uso de reenvos 303. Las URIs neutras se corresponden con URIs
derreferenciables que apuntan a un objeto especfico de un vocabulario, como en el ejemplo
anterior. Para atender peticiones de un objeto en formatos especficos existen URIs diferenciadas,
derivadas mediante un sufijo a partir de la URI neutra21. Los formatos disponibles son HTML,
RDF/XML, RDF/Turtle, JSON y JSON-LD. Siguiendo con el ejemplo anterior de Almacenamiento de
agua en el Tesauro de la UNESCO se tendra la siguiente tabla:

URI Descripcin
<http://skos.um.es/unescothes/C04305> URI neutra
<http://skos.um.es/unescothes/C04305/html> Versin HTML
<http://skos.um.es/unescothes/C04305/rdfxml> Versin RDF/XML
<http://skos.um.es/unescothes/C04305/turtle> Versin RDF/Turtle
<http://skos.um.es/unescothes/C04305/json> Versin JSON
<http://skos.um.es/unescothes/C04305/jsonld> Versin JSON-LD
Tabla 3: Esquema utilizado para la derreferenciacin de URIs.
Si un cliente web solicita un objeto en un formato determinado a travs de la URI neutra, el
servidor de UNESKOS indica que debe acceder a otra direccin devolviendo el cdigo de estado
HTTP 303 See others junto con la URI donde se encuentran los datos en el formato solicitado. Si el
cliente se conecta directamente a una URI correspondiente a un formato concreto, recupera los
datos en dicho formato.
En todo momento se han utilizado estndares abiertos con respecto a los formatos
empleados. La versin HTML est optimizada para la consulta y navegacin a travs de un agente de

21
Una URI proporciona un identificador genrico para un recurso web, con independencia de que exista una direccin
diferente y especfica para cada formato en el que se proporcione la informacin sobre dicho recurso.

1035
usuario convencional. Esta versin utiliza RDFa 1.1 para el marcado semntico, de forma que es
posible extraer informacin RDF mediante el anlisis del documento HTML, permitiendo que una
misma URI sirva tanto para la consulta por personas como para su procesamiento automtico por
una aplicacin informtica. El formato RDF/XML aunque resulta muy verboso puede ser reutilizado
fcilmente para su conversin en otros formatos a travs de XSLT. RDF/Turtle es un formato
compacto, de fcil lectura por personas y procesamiento directo por mquina. JSON y JSON-LD
permiten la recuperacin y procesamiento de datos mediante Javascript en el lado del cliente por
parte de prcticamente cualquier agente de usuario.
UNESKOS dispone de un SPARQL Endpoint
22
que permite realizar consultas en este lenguaje
para seleccionar datos concretos. Se trata de un punto de acceso unificado, tanto a la Nomenclatura,
como al Tesauro. Es posible realizar consultas mediante los comandos SELECT, CONSTRUCT, ASK y
DESCRIBE, as como visualizar y obtener ficheros de los datos recuperados en mltiples formatos. Se
piensa conservar esta infraestructura para otros conjuntos de datos que se puedan publicar
en el futuro, amplindola con nuevos conjuntos de datos y espacios de nombre
correspondiente. La ilustracin 1 muestra un ejemplo de consulta para recuperar las URIs y
las etiquetas preferentes en Espaol de todos los conceptos que estn definidos como
conceptos cabecera de la Nomenclatura. El SPARQL Endpoint de UNESKOS est registrado en el
Status Endpoint Status de Mondeca Labs23.

Ilustracin 1: Ejemplo de consulta en el SPARQL Endpoint del proyecto UNESKOS y resultados obtenidos.

22
Un SPARQL Endpoint es una direccin web que permite recuperar datos RDF utilizando el lenguaje de consulta SPARQL.
23
Ms informacin en: http://labs.mondeca.com/sparqlEndpointsStatus/

1036
En el contexto del proyecto UNESKOS se estn desarrollando actualmente una serie de tareas
cuyo objetivo es la alineacin entre s de la Nomenclatura y del Tesauro, as como con otros
vocabularios externos. Esto implica el uso de las relaciones semnticas de equivalencia (mapeado)
con otros vocabularios como EUROVOC o AGROVOC (por ejemplo). Uno de los primeros resultados
ha sido la obtencin un conjunto de datos experimental a travs de un proceso automtico de
alineacin mediante Apache SOLR. El anlisis de dicho conjunto de datos se est llevando a cabo
actualmente. Tambin est por definir si los resultados de estas operaciones se ofrecern como
conjuntos de datos separados o integrados en los ya existentes, con independencia de visualizarlos
de forma unificada en la interfaz web de visualizacin y navegacin. Con respecto a la licencia, en
principio los conjuntos de datos pueden descargarse y utilizarse libremente. Sin embargo, la nota
genrica de copyright de UNESCO
24
no permite el uso comercial de sus contenidos. Por este motivo,
hemos decidido que la licencia ms adecuada para el conjunto de datos era Creative Commons
Atribucin, No Comercial, Compartir Igual 3.0 Unported (CC BY-NC-SA 3.0)
25
.

Principio Linked Open Data Presencia en UNESKOS
Derreferenciacin de URIs Cada concepto, coleccin o esquema de conceptos tiene
una URI propia para su identificacin y acceso
Negociacin de contenido Actualmente soporta la negociacin de contenido HTML
con RDFa embebido, RDF/XML, Turtle, N3, JSON y JSON-LD
directamente o con referencia mediante URL neutra.
Uso de estndares abiertos Los formatos utilizados se basan en estndares abiertos.
Enlaces a recursos externos Se est trabajando en la alineacin tanto de la
Nomenclatura como del Tesauro con otros vocabularios.
De forma experimental se han definido relaciones de
mapeado entre ambos conjuntos de datos.
Disponibilidad de un SPARQL Endpoint Se ofrece un SPARQL Endopoint unificado.
Licencia libre de los datos Actualmente los conjuntos de datos estn disponibles para
su descarga y uso libres. Licencia CC BY-NC-SA compatible
con el copyright de la UNESCO que no permite el uso
comercial sin autorizacin expresa.
Tabla 4: Resumen de caractersticas Linked Open Data del proyecto UNESKOS

24
Ms informacin en: http://www.unesco.org/new/es/terms-of-use/terms-of-use/copyright
25
Ms informacin en: http://creativecommons.org/licenses/by-nc-sa/3.0/deed.es

1037
Ambos conjuntos se encuentran registrados en el catlogo the Data Hub en el que se han
descrito los datos, servicios y formatos utilizados
26
.

2.5 Arquitectura funcional y dinmica del sistema

El diseo del sistema se ha realizado siguiendo los principios indicados en la seccin anterior.
A travs de una interfaz web cualquier usuario puede consultar el Tesauro y la Nomenclatura,
navegando a travs de la estructura semntica de los vocabularios o buscando en las etiquetas
preferentes y alternativas. La navegacin puede iniciarse mediante una bsqueda o bien
consultando las reas de conocimiento, micro-tesauros y conceptos. La dinmica de navegacin
entre elementos se realiza de un modo muy sencillo e intuitivo a travs de enlaces de hipertexto. Se
ha utilizado una presentacin alfabtica para la visualizacin de los trminos y las relaciones de
cada elemento del tesauro.

Ilustracin 2: Ejemplo de consulta de la interfaz web del Tesauro de la UNESCO.

26
Dichas descripciones se encuentran en http://datahub.io/en/dataset/unesco6 y en
http://datahub.io/en/dataset/unescothes para la Nomenclatura y el Tesauro respectivamente.

1038

Ilustracin 3: Ejemplo de bsqueda en la interfaz web del Tesauro de la UNESCO. Puede observarse como una
misma bsqueda localiza trminos descriptores y no-descriptores, indicando entre parntesis la abreviatura
del idioma del trmino.

La redireccin HTML nicamente se ha utilizado para agentes de usuario que soliciten los
datos en dicho formato conectndose a la URI neutra de un elemento del vocabulario. Tal y como se
ha indicado anteriormente, tambin es posible que otro tipo de clientes soliciten una URI neutra en
un formato diferente a HTML. En tal caso, el servidor devuelve un cdigo 303 See others junto con
la direccin correcta a la que debe conectarse el cliente para obtener los datos en el formato
solicitado.

Ilustracin 4: Esquema funcional de consulta y acceso a los datos del proyecto UNESKOS

1039
Tanto el SPARQL Endpoint, como el envo de los datos en cualquier formato hacen uso
directamente del triplestore utilizado. La nica excepcin es la descarga completa de los conjuntos
de datos a travs de los correspondientes ficheros RDF/XML y RDF/Turtle.

3 Discusin

Los principales aspectos de debate abiertos en torno al proyecto UNESKOS giran en torno a
dos puntos fundamentales: el modelado del tesauro y la incorporacin de ciertos elementos
tecnolgicos que permitan una mayor eficiencia, escalabilidad y actualizacin del sistema de acceso
a los datos.
Con respecto al primer punto, el modelado, hay que indicar SKOS se mostr ms que
suficiente para representar la Nomenclatura, pero algo limitado para el modelado del Tesauro. Los
principales problemas tienen que ver con la propia naturaleza del Tesauro de la UNESCO: su
divisin en reas de conocimiento y micro-tesauros no conlleva una aplicacin inmediata y nica
del modelo de SKOS para la representacin de la estructura. La ausencia de elementos especficos de
SKOS para realizar esta tarea implica la inexistencia de una normalizacin para representar una
organizacin basada en micro-tesauros. No es un caso nico, el tesauro EUROVOC (cuya estructura
de micro-tesauros es similar) utiliza una ontologa ad hoc para modelar este tipo de agrupaciones
27
.
Es evidente que sera preferible un enfoque ms cercano a la normalizacin, como ISO-THES, en
lugar de disear una nueva ontologa. Esto es lo que hemos intentado durante el desarrollo del
proyecto UNESKOS aunque, tras realizar el modelado del Tesauro de la UNESCO se han identificado
una serie de carencias en la ontologa SKOS con vistas a la publicacin de KOS como Linked Open
Data. Estas carencias se refieren a la capacidad de descubrir datos a partir de los enlaces que
conectan los elementos del vocabulario, ms concretamente: en SKOS no hay ninguna propiedad
que permita modelar un enlace desde un Concepto hacia la Coleccin a la que pertenece.
En el caso del Tesauro de la UNESCO esto significa que nicamente a partir de los datos RDF
de un determinado concepto no se puede determinar a qu micro-tesauro pertenece. El sistema
diseado en el proyecto UNESKOS obtiene esta informacin a partir de una consulta SPARQL. Sin
embargo, entendemos que una aproximacin puramente basada en Linked Open Data precisa que la
relacin desde un concepto hacia la coleccin a la que pertenece se declare explcitamente. Otro
punto interesante se relaciona con la definicin de los conceptos cabecera de un micro-tesauro, este
aspecto resulta de gran importancia ya que los conceptos cabecera constituyen el punto de inicio
para el recorrido de una estructura jerrquica. En el modelado actual, esta informacin se obtiene a
partir de la interseccin de dos conjuntos: el formado por todos los conceptos del tesauro definidos
como conceptos cabecera y el formado por todos los conceptos perteneciente a una coleccin.
Partiendo nicamente de los datos de una coleccin y utilizando exclusivamente SKOS es imposible
conocer directamente aquellos conceptos que constituyen el inicio de la estructura jerrquica de un
micro-tesauro. Al igual que en el caso anterior, este inconveniente se ha salvado mediante consultas
SPARQL. Por ejemplo, la consulta para obtener los conceptos cabecera del micro-tesauro de
Poltica Educativa del Tesauro de la UNESCO sera:

SELECT ?concepto {
FROM <http://skos.um.es/unescothes/> {
?concepto skos:topConceptOf <http://skos.um.es/unescothes/CS001>.
<http://skos.um.es/unescothes/COL110> skos:member ?concepto .
}}

27
Ms informacin en: http://eurovoc.europa.eu/drupal/?q=ontology

1040
Sin embargo, un software que actuara a modo de rastreador RDF y cuyo cometido fuera el
descubrimiento de conceptos SKOS, basndose exclusivamente en los enlaces entre recursos, no
podra obtener dicha informacin. Una posible solucin sera el uso de un pequeo nmero de
elementos que permitira solucionar esta asimetra de SKOS. Esto permitira modelar un vocabulario
definiendo relaciones en ambos sentidos entre elementos de distinto tipo, algo que tampoco
contempla actualmente la propuesta de ISO-THES
28
. Actualmente estamos trabajando en el
modelado del Tesauro de la UNESCO utilizando como complemento de SKOS las propiedades de la
Tabla 5.

Elemento Descripcin Inverso Dominio Rango
uneskos:contains Permite relacionar un esquema
de conceptos con cualquier
elemento de SKOS.
skos:inScheme skos:ConceptSche
me

uneskos:isMemberOf Permite relacionar un concepto
con una coleccin
skos:member skos:Concept skos:Collectio
n
uneskos:hasMainConc
ept
Identifica los conceptos que son
puntos de acceso a una
jerarqua de conceptos de una
coleccin. Subpropiedad de
skos:member
uneskos:mainConcept
Of
skos:Collection skos:Concept
uneskos:mainConcept
Of
Relaciona un concepto a una
coleccin como punto de acceso
a una jerarqua. Subpropiedad
de uneskos:memberOf
uneskos:hasMainConc
ept
skos:Concept skos:Collectio
n
Tabla 5: Elementos propuestos por el proyecto UNESKOS para la ampliacin de SKOS. Se ha utilizado uneskos como
prefijo de dichos elementos.

Con respecto a la plataforma, se est trabajando en la incorporacin de un buscador basado
en Apache SOLR que solucione determinados inconvenientes que plantea el uso de variantes
ortogrficas y lxicas de los trminos utilizados en la consulta. Esto tambin permitira optimizar
los procesos de bsqueda en las etiquetas preferentes y no preferentes, que actualmente se realizan
mediante consultas SPARQL relativamente complejas.

Conclusiones y futuros trabajos

Los resultados de modelado e implementacin de la Nomenclatura Internacional Normalizada
de Ciencia y Tecnologa y del Tesauro de la UNESCO han resultado altamente satisfactorios a nivel
general. La ontologa SKOS se ha mostrado adecuada en su mayor parte para satisfacer los objetivos
del trabajo aunque los principios de publicacin Linked Open Data exigen una revisin de ciertos

28
Ms informacin en: http://www.niso.org/lists/25964info/archive/subject?list_name=25964info&monthdir=201302

1041
aspectos de SKOS, principios que la propuesta de integracin con ISO-25964 (ISO-THES) tampoco
tiene en cuenta.
Por lo tanto, para futuros trabajos en el seno del proyecto UNESKOS se deber llevar a cabo
un modelado ms adecuado del Tesauro de la UNESCO para su reutilizacin como Linked Open Data.
Se utilizarn para ello los elementos apuntados anteriormente en la discusin de resultados de
manera que se pueda modelar adecuadamente la estructura de reas de conocimiento y micro-
tesauros de este vocabulario. Uno de los retos de dicho modelado se centrar en introducir el
mnimo de cambios imprescindibles en relacin al conjunto de datos actual.
La alineacin de vocabularios constituye un campo muy interesante, en especial mediante la
aplicacin de procesos automatizados basados en tcnicas avanzadas de recuperacin de
informacin, tales como los vectores semnticos, clasificacin mediante VSM o indizacin aleatoria.
Estas tcnicas, que permiten operar simultneamente con conceptos y trminos, se estn
demostrando muy eficacaces en el desarrollo de nuevas tcnicas de recuperacin de informacin.
La integracin entre servicios web basados en SPARQL Endpoint y herramientas como Apache
SOLR
29
resulta de gran inters, no solamente en la tarea de alineacin de vocabularios sino tambin
para simplificar los procesos de bsqueda, mejorando los resultados y como un medio de
reutilizacin inmediato de conjuntos de datos RDF.
Finalmente, indicar que con la disponibilidad de ambos vocabularios, en especial de la
Nomenclatura, se abren nuevas posibilidades para la publicacin e integracin de otros conjuntos
de datos relacionados en los que se utiliza este vocabulario para la descripcin del contenido de
recursos relacionados con el mbito acadmico y de investigacin.

Referencias

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29
Apache Solr es una plataforma de cdigo abierto para el desarrollo de motores de bsqueda web que est basado en el
software de recuperacin de informacin Apache Lucene. Ms informacin en: http://lucene.apache.org/Solr/

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PHP/CURL. San Francisco, No Starch Press, 63-75.

1044
USABILIDADE EM BIBLIOTECAS DIGITAIS
Abordagem emprica e analtica

FERNANDA PEREIRA
Ferrovia Centro Atlntica
[email protected]

GERCINA NGELA BORM LIMA
[email protected]

Resumo As bibliotecas digitais tm por objetivo disponibilizar informaes para seus usurios com maior
rapidez e facilidade de busca e acesso. Nessas bibliotecas, a interao dos usurios com o acervo realiza-se por
meio de suas interfaces. Tendo em vista a importncia do papel desempenhado pelas interfaces, ou seja, de
ligao entre usurio e sistema, esse trabalho prope um estudo de caso sobre a usabilidade da interface da
Biblioteca Digital Brasileira de Teses e Dissertaes, mantida pelo Instituto Brasileiro de Cincia e Tecnologia,
BDTD-IBICT. Os objetivos especficos so: evidenciar a contribuio dos princpios de usabilidade para
melhoria das interfaces de bibliotecas digitais; mapear os problemas de usabilidade da interface escolhida
para o estudo; e propor solues para os problemas encontrados. O problema abordado foi como as avaliaes
de usabilidade podem ser aplicadas na avaliao de bibliotecas digitais com vistas a melhorar a interao
humano-computador, possibilitando aos usurios uma recuperao mais eficiente da informao. Trata-se de
uma pesquisa qualitativa em que os dados colhidos foram analisados indutivamente pelos avaliadores. A
interface foi avaliada por meio de um mtodo analtico (avaliao heurstica) e um mtodo emprico (teste
com usurios). Na avaliao heurstica, os dados foram coletados por meio de trs formulrios prprios para
cada uma das trs etapas da avaliao. Para a avaliao emprica, foram utilizados questionrios e anotaes
das observaes feitas durante a avaliao. A fundamentao terica metodolgica abordou os temas:
bibliotecas digitais, usabilidade e interfaces. Os resultados apontam para uma lista de problemas relacionados
usabilidade que interferem diretamente na interao do usurio com a BDTD-IBICT. Alm de enumerar os
problemas encontrados sob o ponto de vista de avaliadores e usurios foi sugerido uma soluo para cada um
deles. Por fim, o estudo revela a importncia de se observar os requisitos de usabilidade visando garantir a
qualidade e a satisfao de uso nas interfaces das bibliotecas digitais.

Palavras-chave Biblioteca Digital. Avaliao analtica de usabilidade. Avaliao emprica de usabilidade.

Abstract The digital libraries aim to make available information to their users in a faster and easier ways. In
these libraries, the interactions of users with the collections are carried out by means of their interfaces as a
link between user and system. This study proposes a case study about the usability of the Brazilian Digital
Library of Theses and Dissertations, which is maintained by the Brazilian Institute of Science and Technology
(BDTD-IBICT) pointing out the contribution of usability principles to the improvement of interfaces of digital
libraries; mapping the problems of usability of the interface chosen for this study; and proposing solutions for
the problems that emerged It is discussed how the assessments of usability can be applied in the evaluations
of digital libraries in order to improve the human-computer interaction, enabling users a more efficient
information retrieval. The interface was assessed by means of an analytical method (heuristic assessment)
and an empirical method (test with users). In the heuristic assessment, the data were collected using three
appropriate forms for each of the three stages of assessment. The use of these documents guided the
evaluators, and avoided losses of information during the assessment. For the empirical assessment, we have
used questionnaires and notes about the observations made during the assessment. The data collected in this
qualitative research were assessed inductively by the evaluators. The theoretical and methodological basis of
this research resorted to the literature about digital libraries, usability and interfaces. The results generated a
list of problems related to the usability which interferes directly in the interaction of the user with the BDTD-

1045
IBICT. In addition to enumerate the problems identified from the user and evaluations point of view was
suggested a solution to each. Finally, the study shows how important are the usability requirements be
watched order to ensure quality and satisfaction.

Keywords Digital Library. Usability. Analytical evaluation of usability. Test with users.

Introduo

A literatura da rea de Cincia da Informao tem apontado os estudos de usabilidade como
agregadores para os profissionais da informao (Bohmerwald, 2005; Kafure& Cunha 2006). Esses
estudos ganham especial importncia na rea quando se trata da criao de um acervo digital.
Ao criar acervos digitais, fundamental assim como em acervos fsicos que se tenha uma
poltica de indexao adequada para garantir que a recuperao de informaes no seja
prejudicada. No entanto, para garantir a satisfao dos usurios potenciais desses acervos preciso
ainda observar recomendaes de usabilidade das interfaces oferecidas.
A usabilidade coloca o usurio como o centro de todos os esforos para que a informao
chegue at ele de forma clara e inteligvel. Para isto, analisa a qualidade de uso das interfaces
atravs de tcnicas e mtodos que buscam identificar problemas que afetam a satisfao do usurio
durante a interao. Esses mtodos podem ser aplicados durante a criao ou remodelao das
mesmas, visando melhor-las tornando-as mais agradveis ao usurio. Atravs de avaliaes de
usabilidade pode-se verificar a facilidade de uso da interface. Uma interface considerada fcil de
usar quando atende as recomendaes de usabilidade e indutiva para seus usurios
proporcionando satisfao durante a navegao.
Neste estudo prope-se fazer duas avaliaes de usabilidade, a avaliao heurstica proposta
por Nielsen e uma avaliao emprica, para avaliar a usabilidade da Biblioteca Digital Brasileira de
Teses e Dissertaes mantida pelo Instituto Brasileiro de Cincia e Tecnologia, BDTD/IBICT. A
escolha por essa interface se deve ao fato dela integrar, em um nico portal, os sistemas de
informao de teses e dissertaes existentes nas instituies de ensino e pesquisa brasileiras, alm
de estimular a publicao desses documentos em meio eletrnico.

1 Reviso de literatura

Para a reviso de literatura foram levantados trabalhos que tratam a importncia do estudo
de usabilidade dentro da Cincia da Informao, especialmente relacionado avaliao de interfaces
de bibliotecas digitais.
Os estudos sobre as Bibliotecas Digitais foram iniciados na dcada de 1980, e, atualmente, o
assunto conta com ampla literatura, tanto nacional quanto internacional.Apesar de no contar com
um conceito preciso e respaldado por toda a rea de CI, vrios autores buscaram definir as
bibliotecas digitais, conforme se pode observar na literatura. Nonato, Borges, Maculan e Lima, (2008,
p. 126) comentam a falta de consenso entre os autores para a definio do termo, ressaltando como
ponto de concordncia das definies o tipo de acervo dessas bibliotecas que disponibilizado em
formato digital independentemente da forma como foi criado.
Os requisitos de usabilidade, quando aplicados na construo de sites de bibliotecas digitais,
possibilitam inmeros benefcios aos seus usurios. No entanto, poucos trabalhos na rea de Cincia
da Informao buscaram explorar as contribuies que os estudos de usabilidade podem trazer ao
desenvolvimento deste tipo de biblioteca.
O investimento em bibliotecas digitais precisa se justificar alm de suas caractersticas de
facilidade de manuteno tcnica. preciso que elas proporcionem experincias satisfatrias e

1046
produtivas para seus usurios, Blandford e Buchanan (2003) defendem a ideia de que as bibliotecas
digitais so instrumentos poderosos de veculo da informao e que s tero um impacto
proporcional ao seu investimento quando houver aceitao por uma comunidade ampla de
potenciais utilizadores. Os autores apontam a falta de consenso sobre quais seriam os principais
critrios para avaliar a usabilidade das bibliotecas digitais. Segundo eles, alguns pontos especficos
no podem deixar de ser observados nas interfaces de bibliotecas digitais, so eles: familiarizao do
usurio com a estrutura da biblioteca (tipo de contedo, mecanismos de busca) e consistncia de
estilo de interao. ressaltada ainda a importncia de um profissional bibliotecrio para apoiar os
usurios dessas bibliotecas e garantir sua eficcia.
Em seu artigo what is usability in the context of the digital library and how can it be measured?
Jeng (2005) analisou como a usabilidade foi definida no contexto da biblioteca digital e ainda props
um modelo de avaliao para verificar a eficcia, eficincia, satisfao e capacidade de aprendizado.
O autor ressalta o rpido desenvolvimento desse tipo de biblioteca embora os meios de avaliao
no tenham se aprimorado no mesmo ritmo. Em seu trabalho, o autor considerou tanto a
quantificao dos elementos de desempenho (tempo, taxa de preciso, medidas para completar
tarefas) quanto os critrios subjetivos como a satisfao.
Avaliar as interfaces digitais e torn-las mais fceis de usar para seus usurios determinante
para aceitao das BDs, elas devem ser indutivas e objetivas. Para isto, devem buscar oferecer
interfaces indutivas e preferencialmente prximas ao modelo mental do usurio. Fuhr, Tsakonas,
Aalberg, Agosti, Hansen, Kapidakiset al.(2007) reconhecem que geralmente as bibliotecas digitais
so instrumentos de apoio para atividades em contextos especficos e que precisam ser avaliadas
para determinar o quanto so eficazes. A principal razo de uso desse tipo de biblioteca se
concentra em torno da informao e do acesso. Segundo o autor a pesquisa em usabilidade em
bibliotecas digitais apontou para o que denomina sndrome: librariansknowbetter, ele argumenta
que os bibliotecrios conhecem as necessidades que um sistema deve cobrir, enquanto os
desenvolvedores esto ignorando as necessidades dos usurios primrios. Conclui enfatizando que a
avaliao das BDs crucial para sua evoluo e aceitao desses sistemas.
A preocupao com as interfaces das bibliotecas digitais existe, uma vez percebido que, se
aps dar um tratamento de qualidade as informaes, elas forem inseridas em uma interface com
baixa usabilidade os usurios no conseguiro recuperar e podero at mesmo abandonar o sistema.
Como citados acima, vrios pesquisadores tm defendido a ideia de que preciso aumentar cada vez
mais a usabilidade das interfaces humano computador com o propsito de se permitir que os
usurios consigam recuperar as informaes que buscam de maneira eficaz, eficiente e confortvel.
A importncia das ferramentas tecnolgicas enfatizada por Kafure e Cunha (2006), ao
discorrer que atravs delas possvel proporcionar maior usabilidade e conforto aos usurios, para
que possam atingir seus objetivos. Os autores expem ainda a importncia de os projetistas
conhecerem os usurios para definir os aspectos do sistema e definir, alm das informaes que
estaro presentes, o modo como elas sero apresentadas na interface da ferramenta tecnolgica. O
que refora a idia apresentada por Jenget al. (2005), conforme citado acima, preciso atender a
expectativa do usurio, oferecer algo que extrapole ou fique abaixo de sua expectativa certamente
ir frustr-lo. Segundo Kafure (2004), a concepo de Interfaces Humano-Computador para sistemas
de informao em bibliotecas progrediu bastante, mas ainda grande a discrepncia entre o modelo
mental do usurio e a representao computacional.
Alguns trabalhos j publicados relacionados diretamente avaliao de usabilidade em
bibliotecas digitais so: Marcelino (2008), cuja pesquisa avaliou o site da biblioteca do Instituto
Nacional de Pesquisas Espaciais (INPE) a partir do usurio e da usabilidade. Dias (2008) recomenda
testes de usabilidade para se obter um referencial das necessidades de usurios de bibliotecas
virtuais e digitais. Nascimento (2006) estudou cenrios, tendncias de websites de bibliotecas
universitrias e conceitos de usabilidade para, ento, avaliar a usabilidade da Biblioteca Central da
Universidade de Braslia, usando guia de avaliao heurstica, entre outras tcnicas, e verificou
problemas de usabilidade quanto falta de linearidade na navegao, duplicidade de links e uma
estrutura que impede o usurio de executar suas tarefas em tempo hbil. Bohmerwald (2005)

1047
destaca a importncia de os profissionais em Cincia da Informao se dedicarem aos estudos de
usabilidade, para agregar conhecimentos dessa rea, sejam sobre necessidade, uso ou recuperao
de informao. Nascimento e Amaral (2010, p. 99) apresentam em seu livro um estudo de caso sobre
o website de uma biblioteca universitria, os autores concluem dizendo que os gestores e
desenvolvedores de websites de bibliotecas devem fazer da usabilidade uma aliada que os auxilia a
conceber contedos e estruturas de navegao adequadas que permitam desenvolver servios para
um campus universitrio compostos de variados perfis. Observa-se que os trabalhos voltados para a
avaliao de bibliotecas digitais utilizam na maioria das vezes testes com usurios e fazem
apontamentos para estudos de usabilidade, (Fernandes, Insfran & Abraho 2011).

2 Bibliotecas digitais de teses e dissertaes

Apesar de no contar com um conceito preciso e respaldado por toda a rea de CI, vrios
autores buscaram definir as bibliotecas digitais, conforme se pode observar na literatura. Nonato et
al. (2008, p.126) comentam a falta de consenso entre os autores para a definio do termo,
ressaltando como ponto de concordncia das definies o tipo de acervo dessas bibliotecas que
disponibilizado em formato digital independentemente da forma como foi criado. Essa dependncia
tecnolgica e a ligao de tarefas atravs de interfaces exigem que aspectos como usabilidade e
arquitetura da informao sejam considerados para que se alcancem objetivos tais como melhorar a
produtividade dos usurios.
As BDTDs das instituies brasileiras esto em diferentes estgios de desenvolvimento. No
entanto, as instituies mantm o objetivo comum de facilitar o acesso e impactar suas pesquisas
disponibilizando o conhecimento gerado. Aquelas que oferecem acesso a toda a produo de teses e
dissertaes, atravs de documentos completamente digitalizados em formato pdf, partes dos
textos, referncias e resumos autorizados pelos autores, favorecem seus usurios e facilitam a
recuperao.
O Instituto Brasileiro de Cincia e Tecnologia (IBICT) mantm, em parceria com as
Instituies brasileiras de Ensino Superior (IES), a Biblioteca Digital de Teses e Dissertaes (BDTD)
que objetiva integrar, em um nico portal, os sistemas de informao de teses e dissertaes. A
partir de uma base centralizada de metadados, as IES podem compartilhar sua produo,
alimentando o repositrio com seus metadados. Para participar necessrio que as bibliotecas
participantes faam adoo do MTD-BR que compatvel com o padro Dublin Core e o padro ETD-
MS da NDLTD, assim como implementao do protocolo OAI-PMH para exposio dos metadados.
Esse protocolo funciona segundo padres de interoperabilidade aliado a dois atores principais, so
eles: o provedor de dados que administra o depsito de publicao, expondo metadados para a
coleta automtica e o provedor de servios que fornece servios de informao com base nos
metadados coletados junto aos provedores de dados.
Como forma de incentivar a parceria entre essas bibliotecas, o IBICT fornece um software para
as instituies montarem suas BDTDs e, para aquelas que preferem outros softwares, o IBICT pede
que utilizem algum que mantm padres de interoperabilidade, para que consigam fazer a
varredura das bases de dados. Dessa forma, as instituies de ensino e pesquisa atuam como
provedores de dados, enquanto o IBICT atua como um agregador disponibilizando-os para coleta
por outros provedores. Nesse processo, as instituies participantes criam suas bibliotecas digitais,
enquanto a Biblioteca Digital Brasileira de Teses e Dissertaes faz a varredura dessas bases,
indicando em seu portal o endereo eletrnico para os documentos. Cabe, no entanto, a preservao
dos documentos fornecidos s instituies participantes.
Essa iniciativa de implantao de BDTDs nas instituies de ensino, apesar de trazer diversos
benefcios aos pesquisadores, como o de facilitar a pesquisa, permitindo que ela seja feita em um
nico portal, ainda no foi acatada por todas as instituies de ensino superior do pas. Mas a

1048
tendncia que, vendo os benefcios trazidos, as instituies venham a participar desse
compartilhamento.

3 Usabilidade em bibliotecas digitais

A definio mais abrangente e aceita sobre o termo usabilidade a dada pela ISO 9241-11
(1998), que o define como: capacidade de um produto ser usado por usurios especficos para
atingir objetivos especficos com eficcia, eficincia e satisfao em um contexto de uso.
Na Cincia da Informao, a usabilidade aparece nos estudos que abordam a necessidade de
informao do usurio, nos estudos do comportamento de busca e uso de informao, e na avaliao
de sistemas, considerando o usurio como componente essencial no processo de interao. A
Cincia da Informao v a informao como algo construdo pelos seres humanos atravs de
processos cognitivos. Procura compreender como as pessoas constroem sentido, focando ento no
usurio, nas suas situaes particulares de uso da informao e no que ocorre antes e depois de suas
interaes com o sistema.
Para que uma biblioteca digital proporcione ao usurio um uso eficiente de seus recursos, ela
precisa ter uma boa interface, e para avaliar a qualidade da interface, um dos critrios utilizados
em relao usabilidade. Essas bibliotecas devem optar por interfaces que melhorem a
produtividade dos usurios.
A qualidade da interface de uma biblioteca digital de suma importncia para seu uso
eficiente. De acordo com Bohmerwald (2005, p.95) os critrios de usabilidade fornecem parmetros
para medir a eficincia da interface e revelam como se d a interao entre usurio e sistema.
Apesar de j ser reconhecida a importncia da qualidade das interfaces de bibliotecas digitas, Alvite-
Diez (2009, p.9) alerta para o nmero pequeno de estudos que investigam diretamente a influncia
do desenho dessas interfaces e a forma como se d a interao com os usurios. Para prosseguir em
seu desenvolvimento as BDs precisam contar com pesquisas que contemplem toda sua
complexidade, variedade de usos e usurios, e que permitam evoluir de modo que assegurem sua
aceitao por parte da comunidade a que se dirigem.
Em um sistema digital, o tratamento da informao dos documentos e a usabilidade precisam
estar presentes, pois intil que as etapas do tratamento de descrio fsica, anlise de assunto,
classificao e representao, sejam efetuadas com qualidade, se elas no refletirem em uma
interface que atenda aos critrios de usabilidade. preciso prover aos usurios possibilidades como
diferentes tipos de buscas e pginas atraentes, que contenham informaes objetivas e diretas, que
correspondam ao seu modelo mental, evitando sobrecarga cognitiva.
Simplificando, podemos dizer que a usabilidade est associada a uma caracterstica de
qualidade do produto que se refere sua adequao utilizao pelos usurios. Em sistemas de
informao a usabilidade trata da qualidade da interao usurio-computador proporcionada pela
interface de um sistema de computao. importante salientar que a usabilidade est sempre
associada a um contexto de utilizao do produto; a adequao ao uso significa adequao ao tipo de
tarefas ou atividades que se pretende realizar com o produto de software, ao tipo de usurios que
tipicamente usa o produto e ao ambiente de utilizao do produto.
A interface deve funcionar, portanto, como um mediador entre a visualizao e a
representao de redes de informaes, permitindo que o usurio siga as ligaes entre os conceitos
que esto sendo explorados.

1049
4 Metodologia

O universo de estudo escolhido para essa pesquisa foi a Biblioteca Digital Brasileira de Teses e
Dissertaes mantida pelo IBICT, portanto ter como amostra a interface dessa biblioteca. As
avaliaes foram feitas buscando identificar problemas de usabilidade da interface da BDTD
mantida pelo IBICT. Os mtodos escolhidos foram um mtodo analtico e um emprico de avaliao
de usabilidade, so eles: a Avaliao Heurstica e o Teste com Usurio. Desta forma, a interface ter
uma avaliao sob o ponto de vista de avaliadores e outro dos usurios.
Esta pesquisa de natureza aplicada, pois objetiva gerar conhecimento para aplicao prtica
dirigida a um problema especfico. Quanto aos objetivos, trata-se de uma pesquisa exploratria, pois
busca familiarizar-se com o problema, torn-lo explcito e apontar possveis solues. Quanto
forma de abordagem do problema, prope-se uma pesquisa qualitativa. Os dados sero analisados
indutivamente, centrando-se na compreenso e explicao das heursticas e demais recomendaes
de usabilidade citadas no referencial terico. Ao final teremos uma avaliao sob o ponto de vista do
avaliador e outra do usurio.

4.1 Desenvolvimento e etapas metodolgicas da Avaliao Heurstica

A avaliao foi estruturada tendo como base os seguintes documentos: DAUSW, APUSW E
RAUSW, descritos abaixo. Esses documentos foram desenvolvidos pelo professor Clarindo Pdua
(2010) do Instituto de Cincias Exatas da Universidade Federal de Minas Gerais (UFMG), para a
realizao de avaliaes heursticas. DAUSW, Descrio de Avaliao de Usabilidade do Software,
auxilia a estruturao da avaliao, atravs desse documento os avaliadores podero se orientar
durante a avaliao individual; APUSW, Anlise de Problemas de Usabilidade do Software, identifica
o problema encontrado, utilizado durante a avaliao individual, seu uso facilita o registro dos
problemas observados; RAUSW, Relatrio de Avaliao de Usabilidade do Software, descreve as
consideraes finais da avaliao. Esse relatrio objetiva reunir em um documento final os objetivos
e resultados da avaliao. Esses documentos foram adaptados para atender ao objetivo dessa
pesquisa. O uso desses relatrios estruturados facilita o registro das informaes durante a
avaliao e evita a perda de informaes importantes ao final do processo.
Antecedendo a essas etapas seguiu-se a sugesto de Nielsen (2003), de que se utilizem entre
trs e cinco avaliadores, para este tipo de avaliao foi criado um grupo de trs avaliadores,
constitudo pelos seguintes componentes: um especialista em avaliaes de usabilidade (designer,
mestrando em cincia da informao); um analista com conhecimento sobre o domnio e tarefas do
sistema a ser avaliado (bibliotecrio, mestrando em cincia da informao); e, por ltimo, um
analista de sistemas (doutorando em cincia da informao), todos avaliadores com interesse em
temticas relacionadas com usabilidade e arquitetura da informao.
A avaliao heurstica foi desenvolvida em trs etapas, descritas a seguir. Na primeira etapa
os avaliadores tomaram conhecimento do objetivo da avaliao, do objetivo da BDTD, do perfil dos
usurios a serem atendidos pela interface e das heursticas para avaliao. Esses esclarecimentos
serviram para orientar as avaliaes. Para esta avaliao no foi excluda nenhuma das heursticas
propostas por Nielsen, pois elas so gerais e observou-se que todas deveriam ser consideradas.
Sendo elas: (1) Visibilidade e reconhecimento do estado ou contexto atual do sistema; (2)
Compatibilidade com o mundo real; (3) Controle e liberdade do usurio; (4) Consistncia e padres;
(5) Preveno de erros; (6) Reconhecimento ao invs de memorizao; (7) Flexibilidade e eficincia;
(8) Projeto esttico minimalista; (9) Diagnosticar e corrigir erros; (10) Ajuda e documentao.
Na segunda etapa, cada avaliador realizou a avaliao da interface individualmente, evitando
que a influncia dos demais avaliadores em suas observaes. Nessa avaliao individual, os
avaliadores tiveram uma viso geral do contedo e da arquitetura da BDTD. Eles puderam navegar

1050
livremente pela biblioteca, anotando as ocorrncias de problemas de usabilidade, justificando cada
problema, baseando-se nas heursticas de usabilidade, alm de registrar a localizao e o grau de
severidade de cada problema.
O grau de severidade dos problemas encontrados foi baseado nas recomendaes de Nielsen e
Loranger (2007). Os autores classificam o grau de severidade de um problema segundo a combinao
de trs fatores: (1) Frequncia com que o problema ocorre: se comum ou raramente
experimentado. Se apenas um nmero pequeno de usurios for prejudicado, ento esse ser
considerado um problema cosmtico; (2) Impacto que esse problema ter sobre o usurio: de difcil
ou fcil superao. Esse tipo de problema pode irritar os usurios, faz-los perder horas de trabalho
e at mesmo sair do sistema; e, por ltimo, (3) Persistncia do problema: verificar se ele aparecer
somente uma vez, e se os usurios aprendero sobre o problema, conseguindo super-lo ou se eles
continuaro repetindo o erro. Alguns problemas de usabilidade no so persistentes, pois medida
que as pessoas o identificam, elas conseguem solucion-lo, superando-o com facilidade no futuro.
No entanto, algumas interfaces so to confusas que causam desorientao frequente nos usurios,
merecendo uma classificao de gravidade mais alta.
A combinao desses fatores resultou em uma escala para pontuar a gravidade do problema,
que segundo Nielsen (2005), a seguinte: 0 = corresponde a um problema cosmtico: embora deva
ser trabalhado, no uma prioridade; 1 = corresponde a um problema pequeno, de baixa prioridade;
2 = corresponde a um grande obstculo ao uso do sistema: deve ter prioridade alta para ser
resolvido;3 = corresponde a um problema grave, que impede o uso do sistema e deve ser imperativo
consert-lo.
Foi solicitada aos avaliadores a realizao das seguintes tarefas especficas, que so
consideradas importantes para a interface analisada: Fazer uma busca simples; Cadastrar usurio;
Fazer uma busca avanada; Consultar o glossrio; Montar uma estante virtual; Criar acesso direto s
Teses e Dissertaes. O resultado da anlise individual, realizada na segunda etapa, foi uma lista com
todos os problemas de usabilidade encontrados pelos avaliadores.
A terceira e ltima etapa metodolgica teve como subsdio o resultado das avaliaes dos trs
avaliadores. Nela ocorreu a consolidao dos resultados da avaliao segundo consenso dos
avaliadores e foram feitos apontamentos para melhorar a usabilidade da interface. Foram
eliminadas as consideraes repetidas e se buscou o consenso sobre as consideraes contraditrias.
Essa fase se desenvolveu considerando-se os problemas apontados na avaliao, as heursticas
avaliadas e as recomendaes sobre usabilidade com base no referencial terico.
Ao fim dessa etapa, obteve-se uma lista de todos os problemas identificados pelo grupo de
avaliao, com a identificao do grau de severidade. Nessa lista foram explicitados os problemas
crticos da interface e aqueles puramente cosmticos, que, embora influenciem sutilmente o
funcionamento do sistema, tm soluo tambm, recomendada.

4.2 Desenvolvimento e etapas metodolgicas para o Teste Emprico de Usabilidade

Para a preparao da avaliao foi tomado como base a descrio do mtodo de avaliao
emprica de usabilidade proposto por Prates e Barbosa (2003). A coleta de dados foi feita atravs de
anotao em tempo real, uso de gravao de vdeo e questionrio. Para o teste desta pesquisa foi
utilizado o laboratrio para testes de usabilidade do Instituto de Cincias Exatas (ICEX-UFMG) que
segue todas as recomendaes para esse tipo de teste.
Segundo Prates e Barbosa (2003) a preparao dos testes em laboratrio passam pelas
seguintes etapas:
(1) determinao do objetivo da avaliao; (2) seleo das tarefas; (3) seleo dos usurios
participantes; (4) gerao de material para o teste; (5) execuo de teste piloto; (6) execuo dos
testes em laboratrio; (7) anlise dos dados coletados.

1051
Para determinar o objetivo da avaliao o avaliador deve estabelecer quais os critrios
prioritrios. Neste trabalho foi avaliado se a interface oferece facilidades de uso para atender a
satisfao de seus usurios.
De acordo com os objetivos da avaliao, o avaliador deve selecionar as tarefas a serem
executadas durante o teste, que podero fornecer indicadores sobre os objetivos a serem atendidos.
Neste caso, deve-se tomar cuidado com o tempo exigido para cada tarefa do teste, pois as tarefas
devem ser descritas na ordem em que aparecero para os usurios. No recomendado que o tempo
de execuo de cada tarefa exceda a vinte minutos, e o tempo total do teste ultrapasse a uma hora,
para que os participantes no se sintam cansados. As tarefas foram entregues aos participantes uma
a uma, assim que resolvidas era entregue a seguinte sucessivamente at o cumprimento de todas.
A seleo dos usurios participantes deve ser feita de acordo com o perfil daqueles que
utilizaro o sistema de fato. Em alguns casos o sistema se destina a usurios com perfis variados,
ento recomendado que os testes sejam feitos com usurios que atendam a cada perfil. Para o
experimento proposto nessa pesquisa foram selecionados 9 participantes. Foram escolhidos 3
participantes dentro das trs grandes reas do conhecimento, cincias exatas, humanas e biolgicas
que estivessem cursando ou que j concluiram ps-graduao. No foram separados perfis de
usurios novatos e experientes, por se tratar de pesquisadores, alunos de ps-graduao,
pressupondo que todos j tivessem conhecimento do domnio avaliado.
O material necessrio para execuo do teste inclui: script de apresentao e explicao do
processo de teste aos usurios, formulrio de consentimento do usurio, texto com a descrio da
tarefa para garantir que todos os participantes tenham as mesmas informaes e um questionrio
para coleta de opinio do usurio sobre o sistema. Conforme anexo.Aps assegurado que a interface
continha suporte necessrio para a realizao das tarefas previstas, foi entregue aos usurios uma
descrio das cinco tarefas que eles deveriam executar. As tarefas foram entregues uma a uma,
medida que uma tarefa era executada durante o teste era entregue a prxima.
O teste piloto foi feito com os mesmos avaliadores que fizeram a avaliao heurstica, para
assegurar que o experimento seria possvel para ser aplicado aos participantes do teste emprico,
antecipando algum problema que pudesse ocorrer durante a avaliao. Como no foi constatado
nenhum problema, no foi preciso fazer alteraes.
A execuo dos testes em laboratrio exige um ambiente adequado para os testes e ateno
para as questes ticas envolvidas neste tipo de teste. necessrio dar condies aos participantes
para que eles se sintam vontade e ajam de forma natural nesse ambiente controlado.
Foi explicado ao participante seu papel no teste, deixando claro que no era a sua capacidade
que estava sendo testada e sim a do aplicativo. Alm disto, deve-se tambm dizer quais so seus
direitos enquanto participante.
Alguns pontos foram esclarecidos para garantir aos usurios o entendimento sobre o teste:
Os objetivos do estudo e exatamente como deveria ser a colaborao de cada
participante.
As expectativas do anonimato, enfatizando que os dados particulares identificados
durante o teste no so divulgados.
Possibilidade de interrupo do teste, caso o participante desejasse.
Garantia de que se algum relato do usurio fosse divulgado, seria com seu
consentimento e seu anonimato ser preservado.
Os direitos do participante esto baseados na Portaria n 196/96
1
que um dispositivo legal
que trata de pesquisas realizadas com seres humanos. Apesar de concebida na rea de sade,
regulamenta os testes que envolvem seres humanos em outras reas por no existir uma lei

1
http://www.sbhh.com.br/pdf/etica/PesqSeresHumanos.pdf

1052
especfica para rea. Segundo essa portaria, o usurio deve ser informado sobre seus direitos,
condies de realizao do teste, como gravaes das telas, udio, vdeo, observaes. Para garantir
tal procedimento foi elaborado um termo de consentimento que garante aos usurios os seus
direitos. Esse termo permite ao usurio acrescentar novas condies ao acordo e deve ser assinado
por ele e pelo avaliador. Ao assinar esse termo o usurio se declara ciente de seus direitos e autoriza
o uso de todos dados gerados.
Aps a apresentao do laboratrio para teste e assinatura do termo de consentimento
entregou-se a lista de tarefas para os usurios. A partir deste momento os participantes foram
observados e comeou-se as anotaes para sua posterior anlise de dados. Cabe ao avaliador nesse
momento fazer as devidas anotaes e responder apenas perguntas que no se relacionem com
aquilo que ser observado para no comprometer o objetivo do teste.
Nesta fase do teste, o avaliador pode fazer perguntas que julgue importante aproveitando ao
mximo a contribuio do participante. Ao perceber alguma dificuldade o avaliador pde interferir
com perguntas, tais como: O que voc est tentando fazer? O que esperava ao clicar nesse boto?
Precisa de alguma dica? Tem alguma duvida? Cabe ainda ao avaliador explicar ao participante sobre
como fazer alguma tarefa abortada por ele.
Aps o teste o pesquisador responsvel pde colher a opinio pessoal do participante,
sugestes, tirar dvidas sobre as aes observadas pelo usurio atravs de questionrio.
A anlise dos dados coletados serviu para gerar o relatrio do teste. Alm dos dados, ainda
tm-se as anotaes das observaes de cada avaliador e os questionrios de satisfao preenchidos
por cada participante. O relatrio descreve o teste feito, os problemas encontrados e propostas de
soluo.
O pesquisador foi o responsvel pela observao dos participantes e dos avaliadores e pela
coleta de dados para posterior interpretao e identificao de problemas da interface do aplicativo.
Os documentos (roteiro do avaliador para execuo da avaliao, roteiro de tarefas para o avaliador,
termo de consentimento, lista de tarefas dos participantes, questionrio) utilizados durante a
avaliao serviram de apoio aos avaliadores e tambm para garantir que os participantes tivessem
as mesmas informaes.
Ao fim dessas etapas foi possvel identificar problemas especficos de usabilidade da interface,
verificar se a interface usvel, bem compreendida e se os usurios se sentem satisfeitos ao utiliz-
la.

5 Anlise dos resultados

Em seguida, apresentado o resultado das avaliaes propostas neste trabalho: a avaliao
heurstica de usabilidade (analtica) e a avaliao com usurios (emprica).

5.1 Avaliao Heurstica de usabilidade da BDTD

Aps a avaliao e as consideraes de cada um dos avaliadores, procedeu-se a consolidao
dos resultados. Ao final, os avaliadores enumeraram 15 problemas, os quais, segundo eles, poderiam
comprometer a qualidade da usabilidade da interface. A fim de ilustrar os comentrios acima, o
quadro abaixo apresenta uma sntese do resultado da avaliao, demonstrando os problemas
identificados, a heurstica no atendida, a estimativa de seriedade e a sugesto de soluo.

1053
PROBLEMA IDENTIFICADO / HEURSTICA
NO ATENDIDA
SUGESTO DE SOLUO
1 - Tamanho da fonte pequeno, / H8 Aumentar tamanho da fonte
2 - Rodap confuso, ultrapassando os
limites da tela. / H6
Definir um estilo para que o usurio possa identificar a existncia
de um menu com subitens atrs daquele texto.
3 - Opo cadastro encontra-se pouco
visvel. / H10
A opo cadastro deveria aparecer na tela de incio e estar
disponvel em todas as pginas.
4 - Quanto aos critrios de busca, no fica
claro se os critrios utilizados so
conjuno ou disjuno. /H7
Fornecer flexibilidade ao usurio, de modo que possa usar
conjuno ou disjuno na aplicao dos critrios na busca
avanada. Ampliar os parmetros de busca.
5 - Ausncia de instruo sobre o uso dos
operadores. / H10
Colocar uma dica (hint) sobre como utilizar os operadores de
busca.
6 - Dificuldade para modificar uma busca.
/ H7
Criar opo de voltar pagina de busca, exibindo os ltimos
parmetros inseridos e permitindo a alterao destes parmetros
para uma nova busca.
7 - Falta de estilo padro para texto, links
e comandos, o que pode induzir o usurio
ao erro /H4
necessrio que o designer estabelea uma padronizao visual
para cada um dos elementos de interao (links, botes, menus,
etc.).
8 - O sistema poderia ser mais flexvel,
oferecendo, por exemplo, a opo
imprimir o resultado das pesquisas, nas
telas de resultados./ H7
Poderia ser implementado um comando de impresso, para que,
com maior rapidez, o usurio possa imprimir a relao de
documentos encontrados.
9 - O sistema no oferece dicas para o
preenchimento dos campos nas telas de
procura. / H7
Colocar uma dica (hint) sobre como preencher os campos que
admitem uma nica forma de preenchimento.
10 - Mensagens com linguagem tcnica./
H2
As mensagens de erro devem apresentar uma linguagem clara
para o usurio, sem uso de cdigos.
11 - Ausncia de caixa de busca nas
telas./H1
Acrescentar caixa de busca.
12 Na tela instituies parceiras, a
barra de rolagem extensa. / H1
Acrescentar caixa de busca; melhorar a forma de apresentao
das instituies.
13 - Duplicidade de informaes. / H8

A caixa destaques deve mostrar um contedo relacionado ao
contexto do menu global, ou seja, suas informaes devem estar
distribudas segundo a opo escolhida no menu global.
14 - Os breadcrumbs no informam o
caminho exato percorrido pelo usurio
para chegar determinada pgina. / H1
Deve ser feito um estudo bem elaborado sobre Arquitetura da
Informao do site, a fim de corrigir esses problemas. O usurio
deve saber em que ponto da navegao ele se encontra.
15 - No h ajuda. A biblioteca possui
algumas dicas de como guardar o site em
favoritos, do navegador, mas no
existe qualquer orientao ou dica sobre
como utilizar o sistema./ H10
As pginas devem fornecer ajuda e documentao. Seria
interessante que, em todas as pginas, houvesse uma caixa de
ajuda.

Quadro 1 - Lista de problemas identificados aps avaliao heurstica
A associao de uma heurstica para cada problema foi feita segundo consenso dos
avaliadores, no entanto, alguns problemas podem estar associados a outras heursticas, tais como:
Problema 3 (opo de cadastro pouco visvel) poderia tambm estar associado a H6; Problema 4
(falta de clareza nos critrios de busca) associado tambm a H5; Problema 5 (falta de instruo sobre
os operadores) associado tambm a H5; Problema 7 (falta de estilo dos links e comandos) tambm

1054
associado a H5; Problema 9 (dicas de preenchimento dos campos nas telas de busca) associado
tambm a H5; Problema 10 (linguagem tcnica) tambm associado a H9; Problema 11 (ausncia de
caixa de busca) associado a H7.
Aps a anlise dos problemas, pode-se concluir que as heursticas mais desrespeitadas foram
H7 (flexibilidade e eficincia de uso) e H10 (ajuda e documentao), sendo apontados quatro
problemas referentes flexibilidade e eficincia de uso, alm de outros trs, relacionados ajuda e
documentao. Sobre a H1 (visibilidade e reconhecimento do sistema) e H8 (projeto esttico
minimalista), foram identificados dois problemas em cada. J em H2 (compatibilidade com o mundo
real), H4 (consistncia e padres), H6 (reconhecimento do sistema) e H9 (diagnosticar e corrigir
erros), detectou-se um problema em cada. Por fim, no foi atribudo diretamente nenhum problema
H3 (controle e liberdade do usurio) e H5 (preveno de erros).
Quanto gravidade dos problemas encontrados, cinco deles foram considerados como
pequenos problemas de usabilidade, que precisam ser resolvidos com baixa prioridade. Outros trs
foram denominados grandes problemas de usabilidade, que devem ser analisados com alta
prioridade. Finalmente, sete dos problemas encontrados foram considerados catstrofes de
usabilidade, que precisam ser solucionados imediatamente.
Alm dos problemas enumerados e citados acima, a discusso dos avaliadores identificou
alguns bugs, ou seja, problemas de implementao que comprometem a eficincia do sistema, no
sendo, entretanto, de usabilidade, propriamente. Apesar de a avaliao proposta se direcionar
apenas qualidade de uso da interface, esses problemas (codificao de caracteres e formulrio de
login, citando alguns exemplos) despertaram a ateno dos avaliadores, pois podem influenciar,
diretamente, a qualidade da interface, prejudicando, assim, toda a experincia de uso.
Com relao codificao de caracteres, h um problema com seu registro no banco de dados.
Haja vista que algumas bases de dados no suportam caracteres latinos como "", "~" e outros. Por
exemplo, a palavra "Avaliao" foi guardada no banco como "Avaliao" e "Avaliao". Ento, se
for feita uma pesquisa por cada um desses termos, os resultados obtidos sero diferentes.
interessante verificar que a pesquisa realizada com a utilizao do termo avaliao
retorna 22518 documentos. J a pesquisa feita por meio do termo avalio, oferece 1865
documentos, conforme pode ser observado na figura abaixo. Nesse sentido, pode-se perceber que a
revocao das buscas bastante reduzida em funo da negligncia acerca da codificao de
caracteres. Com efeito argumentativo, nota-se que a diferena entre o nmero de documentos
recuperados de 20653 documentos.
Outro problema encontrado refere-se ao formulrio de login. Mesmo aps a ativao da
conta criada, no possvel fazer o login. Esse erro difcil de qualificar, uma vez que se trata de um
problema de implementao do banco de dados, que, apesar de no ser um problema com a
interface em si, atrapalha bastante o usurio.
Cabe registrar, por fim, que o mtodo avaliao heurstica, embora no substitua os testes
com usurios, permite uma avaliao global da interface e eficaz para identificao dos problemas
de usabilidade de um sistema. Constitui um mtodo bsico da engenharia de usabilidade
relativamente fcil de ser aplicado, seu uso propicia aprendizado aos avaliadores e, principalmente,
melhorias para a interface em anlise. Convm destacar, ainda, que, apesar dos problemas de
usabilidade do sistema, permite aos avaliadores identificar bugs do sistema.

5.2 Avaliao Emprica de usabilidade da BDTD

Os resultados do teste emprico sero apresentados dentro de cada uma das tarefas solicitadas
aos participantes.

1055
Tarefa 1
Voc pensa em comear uma pesquisa sobre: compositores eruditos brasileiros. Para isso, deseja saber se j
existe algum documento sobre esse tema.
Tarefa: Verificar se existe alguma tese ou dissertao sobre esse tema. Caso encontre algum documento, abra-
o para leitura.

Os principais problemas apontados pelos participantes durante o teste foram: (a) Tamanho da
fonte dos textos pequena; (b) Alguns cones que apontavam para o documento remetiam a outro
site, e no diretamente para o documento. Isso faz com que o usurio tenha de aprender a trabalhar
na nova interface apresentada; (c)cones pouco representativos; (d) O texto dos links so pouco
indutivos e no possuem estilo apropriado; (e) Na tela de resultados, aparece um dado indicando
uma porcentagem esquerda. Entretanto, no h informao sobre seu significado; (f) Excesso de
cones e comando sem cada resultado recuperado.
Os links para os documentos conduzem s bibliotecas digitais de suas instituies de origem.
Esse fato causou surpresa em todos os participantes, que estranharam o aparecimento de uma nova
tela com leiaute diferente daquele do site que estavam navegando. A ttulo de explicao, esse
projeto de avaliao no cobre cada uma dessas interfaces, limitando-se a avaliar a interface da
Biblioteca Digital Brasileira de Teses e Dissertaes mantida pelo IBICT. Alm dos problemas
evidenciados, foram percebidos outros que impedem a interao, como a falta de compatibilidade
com alguns navegadores, tal qual observado com o navegador MozillaFirefox, que um dos mais
utilizados.
Para a segunda tarefa apresentada, tinha-se a expectativa de que o participante utilizasse o
recurso procura avanada. A tarefa solicitava ao participante que fizesse uma pesquisa
envolvendo aspectos descritivos e temticos. Para cumpri-la, o participante deveria fazer uma
busca, filtrando por assunto (pas e data). Dentre os participantes, somente trs conseguiram
cumprir a tarefa. De maneira a contribuir para o entendimento, abaixo, segue a maneira como a
tarefa foi apresentada.

Tarefa 2
Voc est fazendo um trabalho sobre: ensino distancia no Brasil. Para isto, precisa fazer uma reviso
de literatura que busque teses e dissertaes que tenham tratado esse tema entre 2005 e 2010. Tarefa: Buscar
os documentos que tratam esse tema entre os anos de 2005 a 2010. Quantos documentos voc conseguiu
recuperar?

Os principais problemas apontados durante o teste foram: (a) O link para a tela de incio
conduz pgina de resultados da pesquisa anterior, e no para a tela inicial do site; (b) Falta
padronizao na entrada de dados; os resultados para buscas com os termos ensino distncia e
ead so diferentes; (c) Dvidas quanto aos campos pas, grau e idioma, os quais estavam
dispostos no formato combo-box ou menu-list. Nesses campos, os usurios no estavam certos se, ao
ignorar um dos campos, o sistema retornaria todos os itens da base de dados ou nenhum.
Na terceira tarefa, era esperado que os participantes conseguissem encontrar o formulrio de
cadastro e, feito isso, realizassem seus cadastros. Todos os participantes conseguiram cumprir essa
tarefa, apesar de algumas dificuldades. A tarefa foi apresentada da seguinte maneira:

1056

Tarefa 3
Voc encontrou vrios documentos relevantes para sua pesquisa na Biblioteca Digital Brasileira de Teses e
Dissertaes. Agora, gostaria de ter acesso a outros recursos dessa biblioteca, como servio de alerta e de
estante digital. Para isso, voc precisa efetuar seu cadastro na Biblioteca. Tarefa: Fazer seu cadastro

Os principais problemas identificados no desenvolvimento dessa tarefa foram: (a) Dificuldade
para localizar a tela de cadastro; (b) Mensagem confusa na tela de cadastro; (c) O estilo dos botes
faz com que eles paream inativos; (d) Falta legenda nos campos obrigatrios; (e) Falta legenda
indicativa de quantos dgitos a senha deve conter; (f) O tamanho da fonte pequeno; (g) Os
asteriscos demonstram campo obrigatrio. No entanto, podem ser confundidos como indicao de
nota de rodap, que traz outra informao, sobre navegador popups.
A quarta tarefa pretendeu verificar se os participantes eram capazes de identificar quais so
as instituies parceiras. Para isso, lhes foi pedido que localizassem a Universidade Federal do
Tringulo Mineiro / UFTM dentro das instituies parceiras da biblioteca. Da maneira descrita
abaixo, a tarefa foi apresentada.

Tarefa 4
Voc se interessa por um tema que est sendo pesquisado na Universidade Federal do Tringulo Mineiro,
UFTM.
Tarefa: Verificar se a Universidade Federal do Tringulo Mineiro / UFTM uma das instituies parceiras da
Biblioteca Digital Brasileira de Teses e Dissertaes.

As dificuldades encontradas foram: (a) Leiaute da tela confuso; (b) Falta de ordenao dos
resultados e ausncia de opo para orden-los; (c) Inexistncia de caixa de busca.
Na quinta tarefa, tinha-se como objetivo que os participantes localizassem, dentro do menu
indicadores (resumo geral), as instituies que registraram maior nmero de defesas. A tarefa
foi apresentada da seguinte maneira:

Tarefa 5
Voc um pesquisador e gostaria de saber quais as 3 instituies que tiveram maior nmero de
defesas.Tarefa: Verificar quais so essas instituies.

Os principais problemas apontados pelos participantes foram: (a)Rotulao dos links pouco
explicativos; (b) Os participantes se sentiram confusos com a grande quantidade de links; (c) A tela
foi considerada pequena, no havendo opo para abri-la em tela cheia (no permite ver fullscreen).
Ao terminarem de executar as tarefas, foi pedido aos participantes que preenchessem um
questionrio de satisfao de uso da interface. O questionrio com oito perguntas, divididas em trs
blocos que buscavam colher a opinio dos usurios sobre o leiaute do sistema, a terminologia e a
facilidade de aprendizado do mesmo. Para cada um dos tpicos avaliados, foi solicitado ao
participante que atribusse uma nota em uma escala entre 1 (pior nota) e 9 (melhor nota) ou N/A
(no aplicvel).
A primeira parte do questionrio, bloco 1 (questes 1 a 5), buscou avaliar o leiaute do sistema.
Nesta oportunidade, os participantes avaliaram as (1) imagens dos comandos, se eram indutivas e
visveis; (2) quanto s fontes utilizadas, verificaram se apresentavam tipo e tamanho legveis; (3) a

1057
respeito das cores, se eram adequadas; (4) sobre a quantidade de informaes, avaliou-se a
pertinncia ou a falta dela; e (5) acerca da organizao das informaes, se eram lgicas ou ilgicas.
A nota mdia data a esses quesitos pelos participantes variou entre 6 e 7.A segunda parte do
questionrio, bloco 2 (questo 6) pretendeu avaliar a terminologia. Sendo assim, nesse tpico, foi
pedido aos usurios que avaliassem a consistncia das siglas, cdigos e abreviaes.J na terceira
parte, ultimo bloco (questes 7 e 8) analisou-se a facilidade de aprendizado do sistema. Nessa
circunstncia, os participantes avaliaram (7) a facilidade para comear a utilizao do sistema, bem
como (8) o tempo necessrio para aprender a utiliz-lo.
Com relao mdia geral da satisfao de uso, foi possvel perceber que superou as notas
esperadas pelos avaliadores, uma vez que, durante a execuo das tarefas, os participantes
demonstraram muitas dificuldades e sugeriram diversas mudanas. Apesar de as notas dadas pelos
participantes no questionrio serem relativamente altas, tendo mdia entre 6 e 7, alguns deles no
conseguiram cumprir todas as tarefas previstas, o que torna esses resultados um pouco
contraditrios. Somente na tarefa 3 todos conseguiram cumprir o pedido.
Na medida em que os usurios se deparavam com os problemas, eles j cogitavam possveis
solues para que a interao com a interface se tornasse mais agradvel, fato que tornou o teste
bastante proveitoso. Dessa maneira, os participantes sugeriram que as seguintes mudanas fossem
realizadas na interface: (a) Ao clicar em incio, espera-se um retorno pgina inicial, sem
necessidade de limpar a procura; (b) O menu geral deve possuir uma arquitetura da informao que
represente bem o contedo da biblioteca; (c) Manter a opo cadastro e login em todas as telas; (d)
Renomear os links e deix-los em destaque; (e) Alterar a aparncia dos botes da tela de cadastro,
para que no paream inativos; (f) Acrescentar uma caixa de busca na tela instituies parceiras;
(g) Texto da sesso indicadores poderia estar dentro da sesso BDTD; (h) A sesso Destaques
deveria aparecer na pgina inicial.
O teste emprico contribuiu para que os participantes propiciou oportunidades para
apresentarem suas dificuldades, ressaltarem os pontos que, a partir de suas anlises, deveriam ser
melhorados e sugerirem mudanas que, se implementadas, podem otimizar a usabilidade da
interface, facilitando a interao.

Consideraes finais

A partir das anlises realizadas, chega-se constatao de que os casos de uso mais comuns e
importantes em uma biblioteca digital so aqueles relacionados interao entre os usurios e seu
contedo, ou seja, o acesso aos documentos. Com a aplicao das avaliaes emprica e analtica foi
possvel mapear os problemas de usabilidade da BDTD mantida pelo IBICT e, ainda, foram feitas
vrias propostas para soluo dos problemas identificados.
Comparando os dois tipos de avaliao no se pode considerar que um mtodo de avaliao se
sobrepe ao outro. De fato, nota-se que cada um deles se aplica melhor em diferentes contextos,
podendo haver complementao entre eles.
Durante a avaliao heurstica, os avaliadores receberam uma lista com algumas tarefas para
cumprir. No entanto, era permitido que percorressem outras telas, identificando problemas em
todo site. Na realidade, as tarefas serviram como norteador para a avaliao, mas os avaliadores no
se limitaram a resolv-las. Eles ultrapassaram essas tarefas com vistas identificao de todos os
problemas. O inverso disso ocorreu nos testes empricos, quando os usurios focaram-se na
resoluo das tarefas propostas. Durante a execuo das tarefas relativas a este teste, os
participantes identificaram alguns problemas, sem observarem as outras telas. Nesse sentido, o
resultado apresentado foi bastante especfico para cada tarefa proposta. Diante disso, vale ressaltar
a necessidade de maior cuidado no planejamento desse tipo de teste, pois, se as tarefas no
refletirem as principais atividades a que o site se destina, a avaliao ficar comprometida e no
abranger todas as funcionalidades que o sistema, potencialmente, pode oferecer aos seus usurios.

1058
Como j mencionado, este trabalho se restringiu a avaliar o site da BDTD, mantida pelo IBICT.
No entanto, outros fatores externos acabam se relacionando com a BDTD e podem causar frustrao
aos usurios, como, por exemplo, a inexistncia de servios anunciados no site
2
do IBICT, estante
digital, servio de alerta, gerenciador de repositrios e indicadores de produo e de pesquisa, como
na BDTD. O anuncio dessas funcionalidades geram expectativas no usurio que essa biblioteca ainda
no oferece ou que no estavam disponveis durante o perodo em que foi avaliada.
A usabilidade trata dos aspectos comportamentais, relacionados interao humano-
computador. A usabilidade requer experimentao e avaliao porque h a necessidade de
verificao da qualidade de solues que envolvem a interao com o ser humano. Como no se
consegue modelar efetivamente o comportamento do ser humano, devido a sua complexidade e
variedade, as avaliaes com os usurios so utilizadas para validao das solues.
Vale ressaltar que a avaliao feita sobre a interface e no sobre o software, ou seja, um
software pode ser eficiente, isto , utilizar poucos recursos de hardware, mas se no refletir suas
funcionalidades em uma interface com boa usabilidade dificilmente ser bem utilizado por seus
usurios com uma interao eficiente, ou seja, requerendo pouco esforo cognitivo de seus usurios.
Por fim, conclui-se que quanto mais indutiva uma interface for aos seus usurios, maior ser a
produtividade destes em suas tarefas. Sendo assim, para o uso eficiente de um Sistema de
Informaes, fundamental que ele tenha uma boa interface.

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1061
LA EDICIN EN INSTITUCIONES ACADMICAS
Normalizacin e interoperabilidad para favorecer el acceso y la visibilidad de la informacin
publicada en revistas cientficas

CECILIA ROZEMBLUM
Universidad Nacional de La Plata - Facultad de Humanidades y Ciencias de la Educacin
[email protected]

CAROLINA UNZURRUNZAGA
Universidad Nacional de La Plata - Facultad de Humanidades y Ciencias de la Educacin
[email protected]

Resumen Este trabajo, que se encauza en una experiencia particular de cooperacin entre bibliotecarios y
editores de revistas cientficas de humanidades y ciencias sociales, suscitada en la Facultad de Humanidades y
Ciencias de la Educacin de la Universidad Nacional de La Plata -Argentina- se propone: 1) reflexionar sobre el
rol de los bibliotecarios en los equipos de edicin cientfica y acadmica, resaltando la importancia de su
participacin para la correcta identificacin y descripcin de las contribuciones a las revistas a partir de la
utilizacin de estndares internacionales que permitan su normalizacin y tambin la interoperabilidad con
otros sistemas; 2) exponer y sistematizar la metodologa de trabajo emprendida en la Facultad con sus revistas
para favorecer el acceso y la visibilidad de la informacin en ellas publicada, en la que se involucran diversos
actores y sectores de la institucin para lograr la interoperabilidad entre los sistemas de informacin
bibliogrfica existentes tanto internos como externos a la institucin. Como resultado del trabajo se explica la
sistematizacin de la experiencia a fin de que pueda ser aprovechada por instituciones de caractersticas
similares. Para concluir, se realizan una serie de comentarios finales sobre el rol central que ocupan los
bibliotecarios en metodologas de trabajos como la aqu compartida. Se enfatiza en que los conocimientos
acerca del control bibliogrfico, la normalizacin de informacin y la ductilidad para interoperar sistemas de
informacin posicionan a este profesional para trabajar junto a los editores en razn de lograr una efectiva
accesibilidad al conocimiento cientfico editorial generado por la institucin acadmica y una mayor
visibilidad nacional, regional e internacional.

Palabras-clave Edicin cientfica. Interoperabilidad. Visibilidad. Acceso al conocimiento. Acceso Abierto.

Abstract This paper is the result of a cooperative experience among librarians and editors of journals in the
humanities and social sciences, who work in the Faculty of Humanities and Education Sciences of the National
University of La Plata, in Argentina. Its aims are: 1) to reflect about the role of librarians in the scientific and
academic edition teams and to emphasize the importance of their work for the correct identification and
description of the contributions to the journals, by means of the use of international standards for their
normalization and interoperability with other systems; 2) to present and systematize the methods used to
work with the journals published by the Faculty of Humanities and Education Sciences in order to improve
access to and visibility of the information, which involves a variety of agents and sectors of the institution to
guarantee the interoperability among existing systems of bibliographic information, both internal and
external to the institution. This paper explains and systematizes the experience so that it can be harnessed in
other institutions in similar conditions. It concludes with a number of final remarks about the central role of
librarians in the type of shared work done here. It is stressed that knowledge about bibliographic control,
normalization of information and ductility to make information systems inter-operational allows library
professionals to work with editors in order to achieve accessibility of the scientific knowledge produced at
the academic institution, as well as greater national, regional and international visibility.

Keywords Scientific edition. Interoperability. Visibility. Knowledge Access. Open access.

1062
Introduccin

Las revistas son en la actualidad el canal ms significativo de comunicacin cientfica
(Delgado Lpez-Cozar, Ruiz Prez & Jimnez Contreras, 2006; Romanos de Tiratel, 2008). En las
ltimas dcadas este vehculo formal de la ciencia ha debido adaptarse a diferentes cambios por las
mltiples funciones que desempea: registro oficial de la ciencia, medio para difundir informacin e
institucin social que confiere prestigio y recompensas (Romanos de Tiratel, 2000). Tambin ha
tenido que adecuarse a las nuevas tecnologas de informacin y a las necesidades actuales de sus
usuarios potenciales migrando su soporte del papel al entorno digital. Estos cambios han sido
producidos, en parte, por los requerimientos que las bases de datos bibliogrficas, nacionales,
regionales e internacionales, especializadas o multidisciplinarias, vienen exigiendo a los editores
para conseguir su indizacin en los servicios.
Los indicadores de calidad editorial que utilizan las diferentes bases de datos han sido
estudiados en varias oportunidades respecto a los solapamientos de exigencias y a la relacin que
stos tienen con la calidad de contenido (Alperin, Fischman, & Willinsky, 2012; Rozemblum et al.,
2012). En este caso, el anlisis se limitar a considerar los indicadores de evaluacin como
elementos que ofrecen informacin acerca de la fuente y sus contribuciones con el fin de organizar
la informacin bibliogrfica de las revistas cientficas. Apesar de esto, no debe perderse de vista que
los sistemas de evaluacin y los indicadores fijados por las bases de datos sobrepasan, en ocasiones,
los lmites de lo formal y se adentran en cuestiones que se relacionan ms con evaluar la calidad de
los trabajos ya evaluados.
La normalizacin en el contexto de la edicin cientfica de revistas permite la identificacin
de la fuente y la correcta descripcin bibliogrfica de las contribuciones que es lo que, finalmente,
termina posibilitando la interoperabilidad de los datos en diferentes sistemas de indizacin. Por
esto, cuanto antes se normalice una revista mayores sern sus beneficios. En este sentido es
importante tener en cuenta a todos los actores que intervienen en la concrecin de este tipo de
documento y en su normalizacin, comenzando por los autores, siguiendo por los editores
cientficos, los evaluadores, los correctores de estilo, los editores/publicadores y terminando por los
bibliotecarios. Esta ponencia se enfocar en el anlisis del aporte de este ltimo actor. Como se ver
a lo largo del trabajo, su intervencin desde el comienzo de la generacin de las revistas cientficas
agiliza el proceso editorial y favorece luego la inclusin de stas en distintos sistemas bibliogrficos
lo que permite mejorar su accesibilidad, su difusin y su visibilidad, logrando un proceso ms fluido
y eficaz. (Rozemblum & Banzato, 2010; Rozemblum & Banzato, 2012).
En la presente ponencia se aborda la experiencia de cooperacin entre bibliotecarios y
editores que se ha venido desarrollando durante los ltimos ocho aos en el marco del Facultad de
Humanidades y Ciencias de la Educacin de la Universidad Nacional de La Plata -Argentina- (en
adelante FaHCE) y la implementacin del sistema Open Journal System (OJS) para la gestin y la
publicacin de las revistas editadas por la FaHCE, aprovechando los beneficios que ste ofrece para
favorecer el acceso abierto y mejorar la interoperabilidad con sistemas internos y externos a la
institucin. A partir de estas experiencias en este trabajo se plantean dos objetivos. El primero de
ellos es reflexionar sobre el rol del bibliotecario en el manejo de informacin bibliogrfica en los
equipos de gestin y edicin cientfica y acadmica. Especialmente, se busca resaltar la importancia
de su participacin para la correcta identificacin y descripcin de las contribuciones a las revistas
a partir de la utilizacin de estndares internacionales que permitan su normalizacin y tambin la
interoperabilidad con otros sistemas. Participacin que se hace imprescindible tambin cuando se
quiere otorgar una mayor y ms efectiva visibilidad a las revistas. El segundo, en tanto, consiste en
exponer y sistematizar la metodologa de trabajo emprendida en la FaHCE con sus revistas a fin de
que pueda ser aprovechada por otras instituciones. En sta se involucran diversos actores y sectores
de la institucin para lograr la interoperabilidad entre los sistemas de informacin bibliogrfica
existentes y para favorecer as el acceso y la visibilidad de la informacin en ellas publicadas.

1063
1 Nuevos roles para los bibliotecarios

El rol social del bibliotecario se ha transformado en las ltimas dcadas debido a la
incorporacin de tecnologas de informacin en la vida cotidiana de las personas. El bibliotecario,
an ms en el medio digital, se ha convertido en un verdadero gestor de la informacin.
Actualmente, existen una interesante cantidad de lugares vacantes que stos podran ocupar, uno
de ellos est en los equipos editoriales. En este mbito los bibliotecarios pueden aplicar sus
conocimientos sobre: normalizacin de informacin, establecimiento de puntos de acceso, manejo
de bases de datos bibliogrficas e interoperabilidad de sistemas bibliogrficos en general
(Rozemblum & Banzato, 2012; Babini, 2004).
En este sentido, los profesionales de la informacin deberan asumir nuevas competencias y
posicionarse como pares investigadores con los colegas de otras disciplinas. Este posicionamiento
les permitira ya no abocarse meramente a tareas de intermediacin entre la informacin recibida
de las revistas y los usuarios sino ubicarse un paso ms atrs en la cadena de la produccin
cientfica. Los bibliotecarios, como gestores de informacin, son capaces de trabajar con los
informticos y los editores aportando su experiencia en la manipulacin y en la visibilidad de la
informacin, pudiendo utilizar los datos de la fuente principal para lograr incluir e indizar a las
revistas en la mayor cantidad posible de repertorios bibliogrficos a fin de facilitar el acceso de la
informacin cientfica y potenciando el trabajo acadmico de los comits editoriales. Estas tareas,
como indica Romanos de Tiratel (2008), son sin duda indicadas para bibliotecarios con aptitud y
vocacin bibliogrfica. Debe ponerse en valor el carcter proactivo de los profesionales que se
inclinan hacia tareas no tradicionales enriqueciendo la cadena de produccin-transmisin de la
informacin y el conocimiento (Salazar Vera, 2007). En relacin a las nuevas tareas bibliotecarias
Baiget (2010) considera que quiz sea el momento adecuado para que la profesin se replantee su
postura y levante ms la cabeza, adquiera una visin ms amplia e intente avanzar hacia posiciones
ms ambiciosas en la jerarqua laboral.

2 Normalizacin, acceso abierto e interoperabilidad

Como sostienen Gimnez Toledo, Romn Romn & Vzquez Valero (2001:179) la
normalizacin documental se encarga por un lado de la organizacin racional de los conocimientos,
como as tambin de sus soportes y del tratamiento de los documentos para facilitar el intercambio
de informacin. Este proceso, como dicen las autoras, implica la regulacin de las distintas partes
del ciclo de la transferencia: la produccin de los documentos y la creacin de las referencias
bibliogrficas de los mismos, as como su difusin (Gimnez Toledo, Romn Romn & Vzquez
Valero, 2001: 179).
La normalizacin favorece en varios aspectos a la edicin de revistas cientficas a travs de la
regularizacin de formatos y de procedimientos: facilita tanto su localizacin e identificacin como
la de las contribuciones que publica, le confiere credibilidad y por medio de la inclusin de
elementos bibliogrficos en ingls, promueve su difusin internacional y finalmente la trasferencia
de informacin (Gimnez Toledo, Gmez Caridad & Vzquez Valero, 2001). En las ltimas dcadas el
proceso de normalizacin de las revistas cientficas ha sido impulsado por la necesidad de cumplir
con los indicadores de evaluacin de las bases de datos que las indizan (Rozemblum, et. al., 2012). La
normalizacin de los datos identificatorios de la revista y de las contribuciones publicadas en ella,
como as tambin, de las referencias bibliogrficas que se citan en los trabajos, permiten una
recuperacin de informacin ms efectiva y la realizacin de estudios bibliomtricos para medir su
impacto y las tendencias que se dan dentro de la comunidad cientfica. Como apoyo a los editores y
a los dems actores relacionados en este proceso se han elaborado varias guas que marcan los
elementos que debe tener una revista cientfica y los aspectos que debe cumplir, una de ellas es la
de Delgado Lpez-Cozar, Ruiz Prez & Jimnez Contreras (2006).

1064
Otro elemento que ha afectado a las revistas cientficas, especialmente en la ltima dcada, es
el movimiento de acceso abierto (AA). ste surgi a principios de este siglo como reaccin a la
sostenida crisis de revistas cientficas que se sucedi en las ltimas dcadas (Keffer, 2007) y como
iniciativa de los propios investigadores que se encontraron pagando por acceder a su propia
produccin. Se daba entonces, y se sigue dando actualmente, una paradoja: para acceder a los
resultados de las investigaciones financiadas con fondos pblicos, la comunidad acadmica, que
haba solventado la investigacin, deba volver a pagar, esta vez a las editoriales. A partir de 2002 se
dieron a conocer tres declaraciones, Budapest Open Access Initiative (Feb. 2002), Bethesda Statement on
Open Access Publishing (Jun. 2003) y Berlin Declaration on Open Access to Knowledge in the Sciences and
Humanities (Oct. 2003), que sentaron las bases de este movimiento que propicia el libre acceso al
conocimiento cientfico. En la primera Declaracin se definieron dos posibles vas para alcanzarlo:
la verde, que consiste en que los autores depositen, autoarchiven, una copia de su trabajo en
repositorios institucionales o temticos y la dorada, que consiste en que los autores publiquen sus
trabajos en revistas de acceso abierto, es decir, que se encuentren disponibles en lnea de forma
gratuita y en las cuales el copyright no limite el acceso y el uso de los documentos. Si bien sta fue la
primera intencin surgieron pronto distintas tipologas de revistas de acceso abierto segn el
copyright y el modelo econmico adoptado. Melero & Abad Garca (2008) distinguen cuatro clases:
revistas AA gratuitas para lectores y autores, la que ms propicia el AA; revistas AA de pago por
publicacin; revistas de pago por suscripcin con opcin AA; y revistas basadas en el modelo de
suscripcin que facilitan acceso a su versin digital con o sin periodo de embargo.
Para comenzar el camino de la va dorada, y poner en abierto su revista, un editor podra
decidir publicarla en un sitio web propio o en sistemas externos de alojamiento, sin embargo, son
notables las ventajas que obtendra si utilizara un sistema especfico de gestin editorial, software
desarrollado en base a necesidades especficas. Jimnez-Hidalgo, Gimnez-Toledo & Salvador-Bruna
(2008: 290-291) mencionan entre sus beneficios ms importantes: mayor control de tiempos de los
procesos, reduccin de tiempo entre recepcin y publicacin, mayor agilidad en la comunicacin
autor-editores, mejor acatamiento de las normas de los autores facilitando la normalizacin y su
visibilidad, reduccin de costos de gestin, incremento de la visibilidad por la utilizacin de
protocolos de intercambio de datos (como el OAI-PMH) que permiten a los proveedores de servicios
cosechar automticamente las contribuciones, mejor alcance en la comunidad cientfica por la
posibilidad de sumar servicios de valor aadido y facilidades para generar identificadores
persistentes como DOI. Existen varios desarrollos de sistemas de gestin editorial de software
privativo o libre, de distribucin gratuita que podran ser utilizados por los equipos editoriales.
Entre los del ltimo grupo pueden mencionarse: HyperJournal, DPubs, GNU Eprint y Open Journal
Systems (OJS) (Owen & Stranack, 2012). Esta ponencia centrar su estudio en OJS ya que fue el
gestor de revistas elegido para la implementacin del Portal de Revistas de la FAHCE
(http://www.revistas.fahce.unlp.edu.ar/) por cumplir con los estndares de gestin y edicin de
revistas cientficas y con los requerimientos internacionales de interoperabilidad y por ser, adems,
uno de los ms aceptados mundialmente, con lo cual cuenta con una comunidad de usuarios que
brinda apoyo a su desarrollo.
1

OJS es un software libre, de distribucin gratuita y de cdigo abierto (bajo licencia GNU
General Public License versin 2) que es desarrollado desde 2001 por el Public Knowledge Project
(http://pkp.sfu.ca/?q=ojs). Consiste en un sistema que permite, adems de la publicacin de las
revistas en lnea, la gestin a travs de la asignacin de roles y permisos, de todos los procesos
relacionados: recepcin, evaluacin, correccin de estilos, maquetacin, pruebas de galera. Adems,
como mencionan Owen & Stranack (2012: 140) el sistema es interoperable: presta servicios OAI-PMH
compatibles con buscadores comerciales y contiene una serie de plugins que permiten importar o
exportar informacin en formato xml de/a varios sistemas (Mets, CrossRef, Dspace, PubMed, Erudit
y DOAJ, entre otros). Estas caractersticas son, como bien sealan los autores anteriormente citados,
las que contribuyen a la visibilidad y a la recuperacin de la informacin contenida en los artculos
publicados.

1
Segn informa su sitio web OJS era usado a diciembre de 2011 por ms de 11250 revistas en todo el mundo.

1065
Segn el ltimo informe presentado por COAR (2012) tanto los repositorios institucionales y
temticos como las revistas publicadas en abierto han aumentado considerablemente en los ltimos
aos. Este incremento se debe al auge alcanzado por el AA y a la mayor implicacin de los gobiernos
e instituciones en el desarrollo de polticas que favorecen a este nuevo modelo de comunicacin
cientfica. El informe resalta la importancia de que estos elementos que difunden el conocimiento
cientfico puedan interconectarse con el fin de construir redes de repositorios y a su vez unificar el
acceso a la gran cantidad de informacin existente en investigacin abierta, de manera tal que
puedan generarse nuevas formas de trabajar con la informacin. Tal como sostiene Fushimi (2010)
la incorporacin de las revistas cientficas editadas por la organizacin en el repositorio
institucional trae aparejado una serie de beneficios que radican en la amplia difusin y visibilidad
global, ya que stos cumplen con el protocolo OAI-PMH lo que hace ms sencilla la difusin e la
inclusin de stas en otros sitios y buscadores y tambin en el propio mbito de la organizacin
editora y en la preservacin digital a largo plazo.
En este sentido, la interoperabilidad permitir la integracin y la conectividad entre los
repositorios, y por qu no con las revistas de AA. Segn el informe COAR (2012) el xito de esta
interconexin depende de que los repositorios sigan directrices, protocolos y estndares sobre
interoperabilidad que les permitan comunicarse entre ellos, conectarse con otros sistemas, y
transferir informacin, metadatos, y objetos digitales entre s. En este nuevo entorno de
intercambio de informacin, el informe de COAR pretende servir de gua para precisar los servicios
y los retos de interoperabilidad que se pueden abordar ahora y en un futuro.
Gmez Dueas (2007) deduce del anlisis del trmino interoperabilidad que realiza que en los
sistemas de informacin documental el concepto se relaciona con las necesidades de: intercambiar
(exportar), integrar (importar) y buscar (recuperar). Como seala el autor, el propsito de sta en el
mbito documental sera "el de construir una red de sitios acadmicos y bibliotecas, que permitiran
la recuperacin mundial dentro de una base de conocimiento heterognea, independientemente de
la localizacin fsica de los documentos proporcionados"(Gmez Dueas, 2007: 28).
Por lo tanto, el uso de software que permita poner en acceso abierto a las revistas y el
cumplimento de protocolos de intercambio de informacin, OJS y OAI respectivamente, hacen de
esta propuesta de interoperabilidad de la informacin, un modelo confiable segn las sugerencias
internacionales (COAR, 2011). La metodologa que en este trabajo se propone posibilita que los datos
generados por el autor, desde el inicio de la cadena de la comunicacin cientfica, hasta su
publicacin y difusin, estn normalizados.

3 La edicin de revistas cientficas en la FaHCE

3.1 Antecedentes

La incorporacin de los bibliotecarios como asesores en la edicin cientfica de las revistas se
produjo en la FaHCE en 2005. Ese ao el personal especializado de la biblioteca realiz una
evaluacin de las revistas editadas por la unidad acadmica, tomando los indicadores del Catlogo
Latindex, con el fin de analizar su posible incorporacin al Ncleo Bsico de Revistas Cientficas
Argentinas (NBRCA)
2
, convocatoria organizada conjuntamente por el Centro Argentino de
Informacin Cientfica y Tecnolgica (CAICYT) y el Consejo Nacional de Investigaciones Cientficas y
Tcnicas (CONICET). En ese momento, slo dos revistas de las catorce que eran editadas por la
Facultad integraban el Catlogo Latindex, aunque algunos de los editores del resto de las revistas
decan conocer su encuesta de evaluacin o haber participado en cursos implementados por CAICYT

2
Puede encontrarse ms informacin sobre el NBRCA en su web:
http://www.caicyt.gov.ar/index.php?option=com_content&view=article&id=32&Itemid=119.

1066
para editores cientficos (Fushimi, 2005). Con este panorama institucional, desde la biblioteca se
inform a las autoridades la evaluacin realizada y se les sugiri la presentacin de ocho ttulos
editados.
A comienzos de 2006, finalmente, se realiz el primer envo al NBRCA. Los resultados de la
presentacin se dieron a conocer en 2007. CAICYT incorpor ese ao 60 ttulos del rea sociales de
los cuales seis pertenecan a la Facultad: Mundo agrario, Synthesis, Sociohistrica, Olivar, Revista de
filosofa y teora poltica y Orientacin y sociedad (este ttulo pertenece actualmente a la Facultad
de Psicologa). Desde entonces, los bibliotecarios de la FaHCE, han logrado posicionarse como
asesores de los editores de todas las revistas de la Facultad en los aspectos relacionados con el
cumplimiento de parmetros de calidad editorial y como gestores de los procesos para la inclusin
de las revistas en diferentes repertorios especializados y multidisciplinarios, nacionales e
internacionales para aumentar su visibilidad, afianzando un modelo de cooperacin
interinstitucional (Rozemblum et. al, 2010; Rozemblum & Banzato, 2009; Rozemblum & Banzato,
2010).
Paralelamente, en 2006 la biblioteca impuls la creacin del repositorio institucional (RI),
Memoria Acadmica (http://www.memoria.fahce.unlp.edu.ar) que se puso en funcionamiento en
2007. Para el desarrollo de este repositorio se utiliz el software Greenstone
(http://www.greenstone.org/). Durante los aos siguientes a esta implementacin la biblioteca
gestion con los editores las autorizaciones para el depsito de las revistas. Los editores en ese
momento aceptaron la difusin de las revistas a travs del RI, la mayora de ellos sin requerimientos
de embargo. Adems, se tom la decisin de incorporarlas en ste antes de enviarlas a las diferentes
bases de datos para su indizacin y se modificaron las normas de envo de trabajos para informar a
los autores de que el mismo sera depositado en el RI.
Si bien esto constituy un gran paso para avanzar hacia el acceso libre de las revistas
surgieron nuevas necesidades. Tras la asistencia en 2008 al Primer Taller Internacional de Editores del
Sistema de Informacin Cientfica RedALyC, se vislumbr la necesidad de poner nfasis en el acceso
abierto a la informacin cientfica a partir del uso de software de gestin editorial y de protocolos
de intercambio de informacin.
3
Era importante continuar la lnea de adhesin al movimiento de
AA que se haba comenzado con la implementacin del repositorio institucional y la inclusin de las
revistas en ste. Era necesario dar otro salto e incorporarlas a un sistema que por un lado,
permitiese su publicacin y aunara el acceso a todas ellas, ya que hasta entonces existan revistas
electrnicas publicadas en diferentes web independientes, y que, por otro lado, facilitase la gestin
editorial, el cumplimiento de la periodicidad declarada y, tambin, la indizacin de forma
automtica en las distintas bases de datos para aumentar su visibilidad sin incrementar el cmulo
de trabajo. Entonces se decidi elegir el software OJS por sus potencialidades para estos
requerimientos y desarrollar un portal de revistas.
El Portal de Revistas de la FaHCE (http://www.revistas.fahce.unlp.edu.ar) fue inaugurado a
fines de 2012. Atravs de ste se ponen en acceso abierto bajo licencias Creative Commons los
ttulos vigentes de las revistas cientfico-acadmicas que edita la institucin, incluyendo tanto las
revistas electrnicas como a las versiones digitales de las que se publican en formato impreso. De
esta forma se contina trabajando en concordancia con la poltica institucional que promueve y
apoya el movimiento de AA sosteniendo la idea de que la cultura y el conocimiento nos pertenecen
a todos.

3
El informe presentado a los editores puede consultarse en
http://www.fahce.unlp.edu.ar/biblioteca/labiblioteca/resolveuid/8b61ea981a250eeb9466bfe3832356e.

1067
3.2 Metodologa

Como se mencion anteriormente el trabajo cooperativo entre bibliotecarios y editores para
mejorar las revistas que son editadas por la Facultad comenz hace casi ya una dcada. La Biblioteca
de la Facultad vena alimentando desde los 90 una base de datos analtica, creada con el software
ISIS (Unesco), con las contribuciones publicadas en todas sus revistas. Esta base es la que alimenta
hasta la actualidad al catlogo en lnea y ahora tambin al RI, Memoria Acadmica. La metodologa
que se explicar en este apartado consiste en: la estructuracin de los metadatos existentes en la
base de datos de analticas para la carga de nmeros retrospectivos de las revistas incluidas en el
nuevo sistema de edicin y gestin en lnea y, la reutilizacin de los metadatos registrados en este
nuevo sistema de gestin de revistas para su exportacin al repositorio institucional y para el envo
a las diversas bases de datos en las que se indiza cada ttulo.
En 2012 durante el proceso de puesta en funcionamiento del Portal de Revistas de la FaHCE
con el software OJS, comenz a diagramarse la extraccin de los metadatos de la base de datos de
analticas para conformar los archivos xml necesarios para importar la informacin de los nmeros
retrospectivos de las revistas. La metodologa que se utiliz, y que se expone a continuacin, es
similar a la que se emplea para exportar la informacin desde la base de datos de analticas a los
archivos de metadatos para Greenstone, software que sustenta el RI.
Para efectuar la migracin de la base en ISIS hacia OJS se prosigui de la siguiente manera:

Se estudi la estructura xml de la dtd (document type definition) del sistema OJS.
Se mape la dtd con la definicin de la base de datos de analticas en ISIS
Se configur un archivo de impresin (pft) para lograr extraer la informacin con la
estructura de datos requerida.
Se extrajo de la base de datos de analticas la informacin de cada nmero de revista
estructurada con las etiquetas xml en un archivo txt por medio de una lnea de
comando especfica ejecutada a travs del utilitario CISIS MX. La lnea se compone de
una expresin booleana que permite recuperar los artculos especficos del nmero
de la revista, la indicacin del archivo pft y el nombre del archivo en donde se
imprimen los resultados con el indicado formato.
Se codific el txt con la informacin de la dtd propia de OJS y se lo pas a formato
xml.
Se control la informacin exportada y se la complet, en los casos correspondientes
con las etiquetas requeridas para subir los archivos de las versiones galeradas en pdf
y en html.
Se import cada archivo xml al nmero de la revista previamente generado. Para
hacerlo se utiliz el plugin Plugin XML para artculos & nmeros que viene
preinstalado en OJS.
Se normaliz la informacin incorporada al sistema y se public cada uno de los
nmeros.

Los archivos que contenan el texto completo de las contribuciones que fueron subidos al
Portal de revistas se reprocesaron de la siguiente manera para mejorar su visibilidad y navegacin:
a) a los pdfs se les incorpor automticamente con un script desarrollado ad-hoc por los
informticos de la institucin los metadatos: ttulo, autor, asunto y palabras claves y

1068
tambin las indicaciones sobre el licenciamiento para que sean captados de mejor
forma por los buscadores comerciales y
b) a los htmls, se les mejor el cdigo y se les estableci hipervnculos para facilitar la
navegacin en el documento.

Como resultado de este proceso se consigui migrar 793 registros de metadatos de 11 revistas
en un periodo de 4 meses. La estructura de la base de datos de analtica y la informacin
correctamente registrada en la biblioteca facilit el proceso de importacin. En la figura 1 se
muestra la esquematizacin del proceso, antes explicado, que sirvi para pasar la informacin de la
base de datos ISIS a OJS.

Figura 1 Esquematizacin del proceso base de datos ISIS-OJS

A partir del ao 2013, que los editores comenzaron a utilizar el Portal para la gestin y la
publicacin de las revistas de la FaHCE, se comenz a trabajar en el establecimiento de un flujo
inverso al descrito anteriormente. Actualmente, la informacin registrada en el Portal se exporta
para incorporarla a la base de datos de analticas en ISIS y de sta pasa directamente al RI. Los
autores son ahora quienes en primera instancia, al hacer el envo, ingresan los metadatos
respectivos de su trabajo en OJS. Estos datos son luego revisados por los editores y normalizados por
bibliotecarios que trabajan en el rea de publicaciones de la Facultad y finalmente, controlados y
enriquecidos por expertos catalogadores en la biblioteca que le asignan tambin un identificador
para el RI.
Para hacer posible la importacin a la base de analticas se realiz un mapeo de los metadatos
que la exportacin en OJS brindaba. Cabe aclarar que luego de evaluar distintas posibilidades, se
prefiri usar la exportacin con la dtd propia del sistema a fin de automatizar la incorporacin de
otros metadatos no contemplados en la estructura pero que s se registran en la base de datos, por
lo menos en esta primera instancia, y continuar estudiando la posibilidad de generar un set de
metadatos que permita hacerlo de forma automatizada con OAI-PMH. A travs de un
procedimiento, que fue elaborado por la biblioteca, en el que se emplean utilitarios CISIS y scripts
programados ad-hoc, los metadatos que describen la informacin identificatoria de los diferentes
trabajos publicados se reestructuran, y se incorporan a la base de datos de analticas, de una forma
semiautomtica y de all se autoarchivan directamente en el repositorio.

1069
Por medio del empleo de plugins especficos disponibles en OJS se est logrando tambin la
interoperabilidad con sistemas de informacin externos. Por el momento se ha conseguido la
indizacin efectiva de las revistas en DOAJ (http://www.doaj.org/), incorporando a su base ms de
400 artculos con slo exportar un archivo xml estructurado con la dtd que ste admite y luego
importarlo en la opcin del sistema en lnea de DOAJ. Se espera, a partir de procedimientos
similares, incorporar en los prximos meses los contenidos completos de las revistas en sistemas de
indizacin que contemplen posibilidades de importacin desde OJS.

4 Resultados

La articulacin entre el rea de publicaciones de la Facultad, la biblioteca y los editores ha
consolidado una metodologa de trabajo favorable para la gestin, la accesibilidad y la visibilidad de
las revistas editadas en la institucin. En este apartado se explica la figura 2 que representa la
sistematizacin del flujo de trabajo cooperativo que logr establecerse en la institucin el cual
permiti aumentar la visibilidad de las revistas, por un lado, al poner en acceso abierto la
produccin acadmica-cientfica producida en la institucin, y por el otro, al facilitar su inclusin
en distintos servicios de informacin a travs de la interoperabilidad con sistemas internos y
externos y la normalizacin de la informacin que identifica y describe las contribuciones.

Figura 2: Sistematizacin de la metodologa de interoperabilidad entre los sistemas de informacin en
una institucin acadmica editora

1070
En la figura 2 pueden verse tres sistemas de informacin en lnea que son gestionados
generalmente por instituciones acadmicas: el portal de revistas, el repositorio institucional y el
catlogo web de biblioteca. En la FaHCE por decisiones institucionales stos se gestionan con OJS,
Greenstone e ISIS respectivamente. Cabe aclarar que la metodologa que aqu se expone est
verificada con estos software pero se considera factible su implementacin con software de
similares caractersticas.
Alrededor de los tres sistemas se encuentran los actores que se requieren para ponerlos en
funcionamiento, mientras que en la interseccin se localizan los tres factores fundamentales para el
logro de la metodologa propuesta:

1) los metadatos que se le asignan a cada documento (en el archivo y en su registro),
2) la normalizacin tanto de los elementos identificatorios de las revistas y de sus
contribuciones como la de los metadatos que los describen y
3) la interoperabilidad entre los sistemas y entre la informacin contenida en stos, en
algunos casos lograda de forma automtica a travs de la implementacin del
protocolo de datos OAI-PMH y en otros, de manera semi-automtica por medio de
trabajo de mapeos de los metadatos establecidos en cada sistema.

Como puede verse los actores que intervienen en el funcionamiento de los productos son
varios y coinciden en algunos de los casos:

los bibliotecarios que se encargan en el RI y en el catlogo de la descripcin
bibliogrfica y de contenido como as tambin del sostenimiento y actualizacin de la
herramienta; en el Portal de revistas stos dan soporte y capacitacin en el uso de la
plataforma y brindan asesoramiento en la normalizacin de los documentos y de la
informacin registrada en el sistema.
los informticos que en los tres casos administran los sistemas y los servidores,
brindan asistencia en todos los aspectos tcnicos que surgen durante su utilizacin y
desarrollan soluciones ante las necesidades que van surgiendo en los grupos de
trabajo.
los diseadores que se encargan de otorgarle una identidad a los productos dentro del
marco institucional y de maquetar los trabajos a publicarse
4
.
los editores que slo interactan directamente
5
en el Portal de revistas, gestionan
desde all las revistas que editan y envan a travs del sistema los documentos finales
al rea de publicaciones para que se armen las galeradas y finalmente se publique el
nmero, asegurando que se cumplan los requerimientos formales.
los autores que interactan en el caso del Portal y del RI, ya que son los que aportan la
materia prima para la publicacin en el primer caso y el depsito en el segundo.

En el esquema presentado los procesos que muestran la interoperabilidad entre los tres
productos se esquematizan con flechas con direccionalidad:

4
La tarea de diagramacin de los originales para su publicacin en el entorno web es compartida en la experiencia de la
FaHCE entre diseadores y bibliotecarios.
5
Los editores son los que han tramitado a travs de cartas de cesin de derechos y la firma de convenios y/o
autorizaciones la inclusin, la indizacin y el depsito de los contenidos de las revistas en distintas bases de datos.

1071
Catlogo web - Portal de revistas: con la exportacin de la informacin registrada en el
catlogo web de la biblioteca, especficamente en la base de datos de analticas de las
ediciones de la FaHCE, se confeccionaron de manera automtica archivos xml
estructurados con las etiquetas de marcado necesarias para lograr la importacin de
la descripcin de las contribuciones de los nmeros retrospectivos de las revistas al
Portal de revistas.
Portal de revistas - Catlogo web: una vez implementado el Portal se comenz a realizar
el proceso inverso, ste es ahora el que provee la descripcin de las contribuciones de
los nuevos nmeros. Los archivos xml que permite exportar el sistema OJS y que
contienen la descripcin realizada por el propio autor, revisada por el editor y
normalizada por los bibliotecarios que trabajan en el portal, es importada a travs de
un mapeo a la base de datos de analticas. Los bibliotecarios expertos en descripcin
bibliogrfica y de contenido que trabajan en la biblioteca se encargan de controlar la
calidad e incorporar trminos controlados para facilitar la recuperacin de la
informacin.
Repositorio institucional - Catlogo web: este proceso inmerso en la biblioteca permite
que los registros del catlogo nutran a las distintas colecciones existentes en el RI, en
este caso particular a la coleccin de artculos de revista. Como se ha visto
anteriormente este proceso se realiza mediante la programacin de script y de
lenguaje de formateo propio de ISIS.
Portal de revistas - Repositorio institucional: los trabajos publicados en el Portal son
facilitados para su depsito en el RI con los metadatos incorporados en el archivo. Si
bien este proceso no se realiza automticamente los archivos estn listos para
incorporarse cumpliendo con los aspectos requeridos.

Las otras flechas que se encuentran en el diagrama corresponden al acceso: indican desde que
producto se puede tener acceso a los archivos disponibles en los otros productos. Aqu pueden
notarse dos cosas: la primera, que el catlogo web facilita el acceso a los trabajos publicados en las
revistas y a los depositados en el RI y, la segunda, que el repositorio da acceso a travs de una URL
alternativa (registrada en el metadato dc.relation del archivo OAI) a los trabajos publicados en el
portal.
Puede observarse tambin que los tres sistemas, los autores y los procesos suceden en el
mbito de la institucin editora, en este caso una unidad acadmica, y brindan desde uno u otro
servicio el acceso a los contenidos generados en su mbito a la comunidad cientfico-acadmica y al
pblico en general, representados en la parte ms externa del diagrama. En el actual contexto de la
comunicacin cientfica, la visibilidad de las revistas es mayor si stas son indizadas, incluidas o
recolectadas por distintos sistemas de informacin que brindan acceso a colecciones de documentos
regidas por criterios de seleccin diversos
6
ya que stos tienen mejor alcance en los consumidores
de informacin. En la figura 2 se mencionan algunas bases y servicios de indizacin con distintas
particularidades a travs de los cuales se puede favorecer la visibilidad y el impacto de las
contribuciones publicadas en las revistas, en este caso el de las humanidades y ciencias sociales. La
utilizacin de un sistema desarrollado especficamente para la publicacin y la gestin de revistas,
como OJS, facilita el flujo automatizado para la incorporacin de los trabajos en estas bases. Cabe
resaltar que la institucin editora se convierte en proveedora de contenidos de estos servicios y
ofrece, adems, directamente el conocimiento editado a la comunidad acadmica-cientfica
internacional y pblico en general en acceso abierto.

6
Existen bases de datos que elaboran criterios de inclusin ms o menos rgidos que deberan involucrarse solamente en
el cumplimiento de aspectos formales de la publicacin, otras que en tanto se guan por un alcance temtico o por
caractersticas de publicacin.

1072
Comentarios finales

La participacin de bibliotecarios en equipos de edicin cientfica, asumiendo su rol en el
contexto actual como gestores de informacin, favorece la normalizacin de las publicaciones y la
correcta descripcin de los trabajos, lo que termina haciendo ms efectiva su posterior
recuperacin.
La implementacin de sistemas de software de gestin editorial que sean compatibles con
protocolos de intercambio de datos, como el OAI-PMH, simplifica y potencia a los procesos de
indizacin en bases de datos y tambin agilizan el depsito en repositorios digitales lo que
acrecienta la visibilidad y favorece el acceso a la produccin editorial de la institucin.
Para lograr la interoperabilidad entre los sistemas, a fin de lograr una mayor visibilidad de la
produccin y reducir los esfuerzos por parte de todos los actores involucrados en los procesos, es de
vital importancia la concientizacin de los editores y de los autores. Los editores en cuanto a la
relevancia de normalizar las revistas y la correcta eleccin de un software para gestionarla y
editarla. Los autores sobre la necesidad de estructurar correctamente sus trabajos, de realizar un
uso efectivo del lenguaje y de asignar precisamente los trminos claves que utilizan para
describirlos en pro de la futura visibilidad de su investigacin. Es tambin deseable que ambos
actores asuman un compromiso con el acceso libre a los contenidos y que permitan a los
profesionales de la informacin trabajar junto a ellos para lograr el objetivo ya que la normalizacin
en los contenidos y en las descripciones que se realizan de los recursos cobra tanta importancia en
el contexto actual como el contenido en s.
La metodologa de trabajo expuesta sostiene la idea de que ambas vas declaradas en la
Declaracin de Budapest (2002) son necesarias para el acceso universal a la produccin cientfica.
Los repositorios aseguran la preservacin y la continuidad en el tiempo de los contenidos y a su vez
la difusin de los trabajos en diferentes servicios. Las revistas de acceso abierto brindan a los
autores lugares para publicar y para certificar los conocimientos de sus investigaciones que no les
implique un pago de cnones ni a ellos ni a sus lectores, es el caso del modelo adoptado por la
FaHCE.
La sistematizacin de la metodologa empleada en la FaHCE hace que la misma sea aplicable
en cualquier institucin que cuente con un grupo de profesionales de la informacin que sean
capaces de llevarla a la prctica. Si bien en esta institucin se la ha puesto en marcha con los
software especficos comentados nada impedira aplicarla con otros de caractersticas similares.
Para el xito de este modelo se requiere tambin de un compromiso de la gestin
institucional para con los editores y un apoyo a las reas involucradas. En el caso de la FaHCE, la
continuidad en el proyecto de mejoramiento y visibilidad de las revistas ha sido uno de los pilares
fundamentales para el avance de cada uno de los sistemas desarrollados.
Para finalizar se debe resaltar que actualmente es igualmente importante lograr la
interoperabilidad entre los sistemas internos como con los externos a la institucin. En ambos casos
se puede lograr un mejor aprovechamiento de los recursos humanos y una normalizacin de la
informacin ofrecida hacia el exterior de la misma. Para agilizar an ms los procesos de indizacin
sera conveniente que otras bases de datos regionales de tanta envergadura como SciELO y RedALyC
consideren las posibilidades que sistemas de publicacin como OJS ofrecen para que los contenidos
de las revistas sean importados en la menor cantidad posible de instancias. Asimismo, que el
esfuerzo que realizan los editores para marcar los archivos, particularmente las citas de cada
trabajo, como lo requieren estas bases de datos, pueda ser reutilizados por los propios editores a fin
de ofrecer en sus revistas nuevos servicios e indicadores bibliomtricos.

1073
Agradecimientos
Este trabajo es parte del Proyecto de Investigacin "El movimiento de Acceso Abierto al
conocimiento cient-fico en la Argentina. Polticas y prcticas en torno a la investigacin, las
revistas acadmicas y los repositorios (Cdigo H-642), que se radica en el Departamento de
Bibliotecologa de la Facultad de Humanidades y Ciencias de la Educacin de la Universidad de La
Plata y ha sido aprobado por el Programa de Incentivos del Ministerio de Educacin de la Nacin de
la Repblica Argentina, para el periodo 2012-2015.
Se agradece a Guillermo Banzato, director del proyecto mencionado, por su lectura y sus
recomendaciones y a Federico Banzato por la concrecin del diseo de la figura 2.

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1076
A NORMALIZAO DA DESCRIO ARQUIVSTICA E A ORGANIZAO DO CONHECIMENTO

ELIEZER PIRES DA SILVA
[email protected]

EVELYN GOYANNES DILL ORRICO
[email protected]

Resumo A descrio arquivstica o processo em que o arquivista cria representaes de um determinado
acervo arquivstico, apresentando seu contexto e contedo. uma atividade intelectual que demanda
competncias de interpretao de texto, conhecimento histrico e habilidade para redigir descries dos
acervos. Evidentemente essa uma funo do arquivista associada Organizao do Conhecimento no
contexto dos arquivos. O conceito de descrio arquivstica apresenta relativo isolamento em relao ao
desenvolvimento da noo de representao no mbito Organizao do Conhecimento. Esta comunicao
objetiva problematizar as referncias norteadoras do trabalho de descrio de acervos arquivsticos no Brasil.

Palavras-chave Arquivologia e Organizao do Conhecimento. Normas arquivsticas. Descrio arquivstica.

Abstract Archival description is the process in which the archivist creates representations of a particular
archival collection, with its context and content. It is an intellectual activity that requires skills of reading
comprehension, historical knowledge and ability to provide descriptions of collections. Evidently this
function is associated to Knowledge Organization in the archives' context. However, although the concepts of
archival description and Representation within the Organization of Knowledge bear resemblances, the former
is independent and separate from the latter. This oral presentation shows research which aims to analyze the
references guiding the description of archival collections in Brazil.

Keywords Archival Science and Knowledge Organization. Standardization of archival description. Archival
description.

Introduo

A descrio arquivstica o processo em que o arquivista cria representaes de um
determinado acervo arquivstico, apresentando seu contexto e contedo. uma atividade
intelectual que demanda competncias de interpretao de texto, conhecimento histrico e
habilidade para redigir descries dos acervos. O objetivo o controle dos documentos
arquivsticos, tendo em vista a promoo do acesso.
Evidentemente essa uma funo do arquivista associada Organizao do Conhecimento no
contexto dos arquivos. O conceito de descrio arquivstica apresenta relativo isolamento em
relao ao desenvolvimento da noo de representao no mbito Organizao do Conhecimento,
ainda que, tanto neste quanto naquele campo as funes tcnicas se configuram em torno do
objetivo de dar acesso aos acervos, mas com trajetrias separadas.
Leo (2006), na sua dissertao de mestrado em Cincia da Informao, na Escola de
Comunicaes e Artes da Universidade de So Paulo, reflete sobre a descrio arquivstica frente ao
processo de normalizao dessa prtica arquivstica e traa um histrico da ideia de descrio nos
arquivos desde a antiguidade com o objetivo de identificar concepes relacionadas com esse termo.

1077
A partir da pesquisa bibliogrfica, em bases de dados brasileiras e estrangeiras, buscou
localizar referncias sobre o tema descrio arquivstica e observa a presena de uma discusso da
descrio no ambiente dos arquivos como uma representao da informao. A autora assume que
[...] subjacente a idia da representao est a reduo (LEO, 2006, p. 8), a perda de detalhes
para ganhar em acesso, estruturam-se contedos em informaes processveis por meio dos
sistemas de busca.
Leo infere, depois de apresentar as origens da descrio arquivstica, que essa prtica
objetivava apenas o controle do acervo, mesmo considerando o agrupamento original como critrio
de organizao. Desde o comeo do sculo XX, a finalidade desse procedimento ter-se-ia ampliado,
no apenas para prestar conta dos acervos custodiados, mas tambm para prover o acesso pblico.
Portanto, o resultado da descrio no outro que a preservao de significado, o exerccio de
controle, e a proviso de acesso (LEO, 2006, p.21).
As definies de descrio arquivstica so classificadas entre a tendncia de entend-la como
produto, instrumentos resultantes da atividade de descrever, e como processo, ao de representar
o contedo de acervos arquivsticos.

Esta concepo da descrio arquivstica, como um processo para se
estabelecer controle intelectual e fsico sobre os acervos, uma concepo
bastante focada na elaborao de um produto: os instrumentos de
pesquisa. Entretanto, vale observar que ela parece operar com duas
categorias distintas de produto: aqueles que promovem o controle
intelectual e os que promovem o controle fsico (LEO, 2006, p. 29).

Ao discutir o movimento de normalizao arquivstica, a partir dos anos de 1980, e o
surgimento dos primeiros instrumentos de padronizao da descrio, associados s novas
tecnologias, a autora assinala a referncia biblioteconmica subjacente s obras que
fundamentaram essas normas e observa que [...] causa estranheza que um cdigo de catalogao
biblioteconmico tenha sido a principal referncia a fundamentar o desenvolvimento de uma
norma de descrio arquivstica. (LEO, 2006, p. 45).
Essas normas de descrio arquivstica promoveriam o aumento do nmero de elementos
representacionais e a dissociao entre as noes de descrio e de instrumento de pesquisa,
ressaltando que [...] o objetivo da descrio no o de elaborar instrumentos de pesquisa, mas o de
elaborar representaes precisas de unidades de descrio (LEO, 2006, p. 51).

Desse modo, parece-nos possvel inferir que assim como a
Arquivstica incorporou tcnicas de descrio oriundas da
Biblioteconomia, adaptando-as s suas demandas, [tambm] normalizou
uma prtica que j era usual, ao menos parcialmente, nos arquivos de todo
o mundo (LEO, 2006, p. 56).

Para Leo, a normalizao da descrio arquivstica apresenta uma inspirao
biblioteconmica, alm de enfatizar o acesso ao contedo dos documentos de modo
contextualizado, o que para ela representa a institucionalizao de uma noo de informao
arquivstica.
Para Guimares e Silva (1996), aps o recolhimento dos registros custdia de uma
instituio arquivstica realizado o tratamento tcnico de classificao e de descrio desses
objetos, com a representao e o controle intelectual do contedo dos documentos nos
instrumentos de descrio, os quais sero utilizados na situao de busca por informao por parte

1078
do usurio. Assim, [...] constata-se que no o documento em si que oferecido, mas uma
representao artificial elaborada pela instituio e sua equipe, sobre o contedo do documento
(GUIMARES E SILVA, 1996, p.58).
Os instrumentos de descrio so entendidos como forma de representar o contedo dos
documentos e assim mediar a eventual consulta ao prprio registro. A noo de informao
arquivstica encontra-se associada construo de instrumentos de pesquisa que indexam os
documentos custodiados por meio da representao de contedos, destinados a permitir e orientar
a pesquisa pelos usurios.
Guimares e Silva (1996) considera que alm da custdia de documentos por parte das
instituies arquivsticas estar associada organizao e ao armazenamento fsico desses objetos
com vista preservao, ela aponta que a descrio arquivstica, com a funo de representar o
contedo do acervo na forma de meta-informao (ou informao arquivstica), oferecida como
servio de informao ao usurio do arquivo. Afirma, ainda, que os instrumentos de pesquisa podem
colocar em evidncia ou fazer desaparecer documentos de arquivo diante dos usurios.
A autora alerta que essa informao arquivstica, ou meta-informao, [...] est fortemente
associada a um contexto especfico, a um perodo de tempo determinado e a um conjunto de
usurios que integra esse contexto (GUIMARES E SILVA, 1996, p.63). Entende que as instituies
arquivsticas tm a funo social de garantir acesso aos documentos de sua custdia por meio de
instrumentos que representam o contedo desses registros, comprovantes de direitos, alm de
subsidiar a pesquisa retrospectiva. Assim, compreende a transferncia de informao nos arquivos
como um processo que vai do armazenamento do documento at a divulgao de contedos,
considerando os instrumentos de descrio como mediadores dessa finalidade.
Guimares e Silva destaca que na Arquivologia o documento tem sido o conceito central,
sendo o suporte uma entidade que carrega dados concretos das circunstncias de sua criao, capaz
de consignar o ato passado, garantindo a fixao desse instante, alm da funo de carregador fsico
da mensagem. Essa postura representaria apenas uma preocupao com a organizao e
preservao de documentos na lgica de sua acumulao original. A noo de informao
arquivstica expressaria uma integrao dessa funo custodiadora das instituies arquivsticas aos
instrumentos que representam o contedo do acervo para a busca do usurio.

1 Normalizao da descrio arquivstica

O processo de construo das normas de descrio arquivstica surge, no final da dcada de
1980 como uma iniciativa do Conselho Internacional de Arquivos que envolveu a comunidade
arquivstica internacional. Inicialmente, houve a criao de um grupo de trabalho, posteriormente
transformado em Comisso Ad Hoc de Normas de Descrio do CIA. Em 1993, a Comisso aprovou a
Norma Geral Internacional de Descrio Arquivstica ISAD(G). Esse instrumento normativo
estrutura sete reas de informao para representar e explicar o contexto e o contedo de
documentos de arquivo a fim de promover o acesso aos mesmos (FONSECA, 1999).
Desse modo, foram sistematizadas as seguintes reas de informao: identificao da
unidade de descrio informando referncias sobre o controle fsico, nome do que est sendo
representado, datao, dimenses do suporte e o nvel dessa unidade de descrio em relao ao
fundo de arquivo que forma ou faz parte; contextualizao identificando a origem arquivstica e a
histria da custdia dessa unidade de descrio; contedo e estrutura em que se destina
caracterizao do assunto contemplado pela unidade de descrio; condies de acesso
informando sobre possveis restries legais, critrios de reproduo, instrumentos de pesquisa e
idioma; fontes relacionadas indicando a existncia de outras unidades de descrio associadas a
que est sendo descrita; notas apresentando informaes que no forem enquadradas nos campos
previstos pela norma; e, controle da descrio identificando quem a elaborou.

1079
O surgimento das normas de descrio arquivstica representa um movimento de
normalizao das prticas arquivisticas, que evidencia uma inovao em relao aos manuais
(aquela espcie de tradio manualstica), mas que d continuidade ao carter prescritivo do
saber arquivstico. Indica uma aposta na normalizao das prticas arquivsticas e na perspectiva
informacional nos arquivos.
A normalizao das prticas arquivsticas uma tendncia atual na Arquivologia com a
valorizao dos padres estabelecidos pelo Conselho Internacional de Arquivos.

Aes institucionais, tcnicas e polticas de largo alcance tambm
contribuem para estabelecer uma cultura tcnica comum, como por
exemplo, aquelas que visam identificar e controlar massas documentais
ainda no recolhidas, estabelecer canais de articulao e intercmbio de
informao com a criao e implementao de sistemas de arquivo,
interferir no sentido da racionalizao da produo e conservao de
documentos de fase corrente e intermediria (FONSECA, 1999, p. 2).

Para Fonseca (1999), a necessidade das normas seria um consenso, alm de urgente, nas
instituies arquivsticas brasileiras, que serviriam para equacionar os principais problemas no
processamento tcnico dos acervos arquivsticos. Esse autor reconhece uma ampla utilidade das
normas para o trabalho arquivstico, no apenas para a descrio, j que a comunidade arquivstica
brasileira vem demonstrando interesse em normalizar outras atividades tcnicas.

Todo o processo de participao dos tcnicos brasileiros demonstrou
o interesse que o assunto desperta e o desejo unnime de um trabalho
tcnico sobre bases comuns, que amplie a troca de informaes entre as
instituies e facilite o acesso dos pesquisadores aos documentos que
desejam (FONSECA, 1999, p. 4).

Para esse autor, o estado da questo no Brasil aponta para a ausncia de pesquisas sobre os
acervos arquivsticos, especificamente, quanto adoo das normas de descrio e s caractersticas
dos instrumentos de pesquisa. Entende que a difuso de padres encontra-se relacionada aos
modismos de prticas adotadas por instituies de projeo, alm do papel das consultorias
especializadas para o intercmbio das metodologias arquivsticas.
Qual seria, ento, a inovao trazida pela normalizao? As normas permitiriam a
interoperabilidade de sistemas garantindo a criao de descries consistentes e indexao de
assuntos? Como problematizar o anncio de que se est apenas diante de aes que visam
promoo de pontos de acesso consistentes e auto-explicativos?
Quais so as relaes das normas de descrio arquivstica com a representao bibliogrfica?
A descrio arquivstica apresenta relativo isolamento em relao ao desenvolvimento da noo de
representao no mbito da biblioteconomia, ainda que, tanto na biblioteca quanto nos arquivos,
existam funes tcnicas especficas se configurando em torno do objetivo de dar acesso aos
acervos, mas com trajetrias separadas.
No caso da Arquivologia, prevaleceu a ideia dos instrumentos de pesquisa, tais como os
inventrios e os repertrios, que apontam para um horizonte em que se poderia descrever,
objetivamente, o conjunto de documentos que formam um arquivo. Essa perspectiva est posta, por
exemplo, no Manual dos Holandeses.

1080
A questo fundamental que se estabelece um entendimento da descrio arquivstica
centrada exclusivamente no objeto a ser descrito, desassociado da prpria finalidade disso o
acesso, que envolve a noo de usos que devem ser antevistos para que possam ser viabilizados.
De acordo com Michael Cook (2007, p. 130), preciso incorporar a contribuio dos usurios
na descrio arquivstica. Apenas a adoo de sistemas de computador e os mtodos normativos de
categorizar a informao descritiva dos acervos arquivsticos no so capazes de contemplar o
mundo de usurios em potencial: [...] por detrs das normas esto vrias suposies culturais que
podem precisar ser ajustadas.
Para Claire Sibille (2007), a normalizao da descrio arquivstica estruturou a ideia de 26
elementos de representao dos arquivos, possibilitando a troca de registros descritivos entre
sistemas de informao, mas a descrio como operao intelectual de representar o que se
descreve dentro das categorias de informao previstas pelas normas, significa uma ao do
profissional em funo de demandas de usurios que so antevistas, norteando a anlise que vai dar
ou no visibilidade a determinados contedos nos acervos. O que ampliaria a concepo de
descrio envolvendo o acesso seria o nvel de conscincia do agente em relao mediao que
exerce, escapando ao domnio de padronizao estabelecido pelas normas.
Entende-se os movimentos de normalizao das prticas arquivsticas como uma abordagem
informacional nos arquivos. A viso informacional tem sido apresentada na literatura da rea em
associao com as transformaes socioculturais a partir da emergncia das tecnologias da
informao e comunicao. A atualizao das prticas arquivsticas em relao aos discursos das
novas tecnologias, difundidos no final do sculo XX, concederia informao uma condio
fundamental no territrio da Arquivologia. Isso se somaria ao surgimento da normalizao das
prticas arquivsticas na direo das iniciativas internacionais de padronizao da informao,
visando interoperabilidade dos sistemas informacionais. A normalizao objetiva uma descrio
arquivstica que estrutura informao para servir de ponto de acesso tanto das entidades
documentais como tambm das relaes estabelecidas entre os documentos representando um
contedo intelectual.
De acordo com a proposta de subsdios para insero do segmento dos arquivos no Programa
Sociedade da Informao no Brasil, elaborado pelo Conselho Nacional de Arquivos em 2001, a
perspectiva da comunicao de contedos envolve mecanismos padronizadores para garantir a
troca de informaes no ambiente das tecnologias de informao e comunicao, tendncia
materializada nas normas de descrio arquivstica.
Segundo Michael Fox (2007), essa normalizao beneficia o acesso intelectual ao acervo por
meio dos protocolos que reduzem variaes nas formas de apresentao de contedos de cada
instituio arquivstica. As normas significariam uma plataforma para representao do contedo
dos arquivos harmonizando a terminologia da descrio aos mapas mentais dos usurios.
Para Dollar existiria o imperativo de formao de padres no ambiente das tecnologias de
informao, [...] mudando a nfase dos produtos especficos, tais como os instrumentos de
pesquisa, para uma viso mais ampla que focalize os sistemas de informao. Desse modo, [...o]
mais relevante o fato de que o conceito de um documento cada vez mais inadequado para
descrever o produto de complexos sistemas de informao (DOLLAR, 1994, p. 2 e 16).
O conceito de documento encontra-se associado ideia de que os propsitos do ato de
registrar as misses executadas so para assegurar ao contedo registrado os efeitos de
responsabilidade e comprovao. Esse entendimento construdo em torno da funo da escrita, no
registro oficial e legal, para constatao de transaes ocorridas, e denota informao registrada
que apreendida como entidade fsica e cujos atributos nos ajudam a fornecer a prova autntica e
contempornea de uma operao ou transao (DOLLAR, 1994, p. 7).
Santos (2007, p. 65), em artigo sobre a representao da informao em arquivos, trata da
viabilidade do uso de padres utilizados na Biblioteconomia e seu impacto na Arquivologia.

1081
Tem-se como certo que a palavra de ordem da era da globalizao o
compartilhamento de informaes visando economia de recursos. Para
que isso ocorra de forma eficiente e eficaz, necessrio se faz que a
padronizao da representao da informao seja estruturada de forma
mais coerente, atendendo s necessidades de buscas de usurios, no s de
bibliotecas, mas, tambm, de arquivos.

Abre-se uma esfera de apreciao do impacto das novas necessidades impostas pelo quadro
das tecnologias da informao e da comunicao no mbito do desenvolvimento do pensamento
arquivstico.
As iniciativas de padronizao internacional da descrio arquivstica revelam uma tendncia
em que o conceito de descrio arquivstica se confunde com os instrumentos normativos propostos
pelo Conselho Internacional de Arquivos. Atualmente existem normas internacionais para
descrever os acervos arquivsticos (ISAD/G: General International Standard Archival Description),
os produtores de arquivos (ISAAR/CPF: International Standard Archival Authority Record for
Corporate Bodies, Persons and Families), as funes dos produtores de arquivos (ISDF: International
Standard for Describing Functions) e as instituies custodiadoras de acervos arquivsticos (ISDIAH:
International Standard for Describing Institutions with Archival Holdings).

2 Panorama nacional
1

As prticas e o saber arquivstico tm uma trajetria no pas que remonta, por exemplo, a um
tempo em que o Brasil melhor denominado de Amrica Portuguesa. O que chamamos hoje de
Arquivo Nacional uma criao de 1838. A despeito desse histrico, h um movimento recente de
institucionalizao especfica da Arquivologia dentro do aparelho de cincia no Brasil, tratando-se
da perspectiva clara sobre a configurao do campo disciplinar para os estudos arquivsticos
(ORRICO;SILVA, 2011).
Na arquivologia h (para alm das interfaces e zonas em que se mobilizam diferentes
disciplinas na compreenso do fenmeno arquivstico) um ncleo conceitual historicamente
referenciado pela trajetria das prticas em torno do processamento tcnico dos arquivos, o que
configura uma estrutura intelectual, ou epistemologia, dessa disciplina. Assim, a Arquivologia
mais do que apenas uma mobilizao especfica de diferentes saberes em torno das questes dos
arquivos, h um territrio de problemas socialmente reconhecidos sobre os quais pessoas e
instituies encontram-se envolvidas, sobretudo atores de cincia.
nesse quadro que a Cmara Tcnica de Normalizao da Descrio Arquivstica (CTNDA),
criada pela portaria n. 56, de 30/9/2001, do Conselho Nacional de Arquivos, em conformidade com a
ISAD(G) e a ISAAR(CPF), prope a NOBRADE: Norma Brasileira de Descrio Arquivstica. Tal
normalizao das prticas arquivsticas no Brasil a valorizao dos padres a partir das recentes
iniciativas do Conselho internacional de Arquivos.
Neste tpico importante demonstrar as referncias norteadoras do trabalho de descrio de
acervos arquivsticos no Brasil. O procedimento metodolgico foi a utilizao da publicao
Descrio arquivstica: referncias bibliogrficas, produzida pela Cmara Tcnica de
Normalizao da Descrio Arquivstica, no mbito do Conselho Nacional de Arquivos-CONARQ,
servindo de base emprica.
A seguir so apresentados os grficos que revelam quais so as referncias norteadoras do
trabalho de descrio dos acervos arquivsticos, realizado pelos arquivistas no Brasil. Esta pesquisa

1
Os dados apresentados neste tpico foram divulgados no II Congresso Brasileiro em Organizao e Representao do
Conhecimento, em 2013 no Rio de Janeiro.

1082
estabeleceu indicadores que revelam os pases de origem e as datas de publicao, bem como uma
categorizao das obras de referncia desse assunto entre os seguintes enfoques: normalizao da
descrio arquivstica; fundamentos arquivsticos; temticas afins descrio arquivstica.

Grfico 1: Distribuio das referncias sobre descrio arquivstica por ano
2

O grfico acima ratifica a importncia dos anos 1990 para os debates sobre a descrio
arquivstica num perodo que coincide com o surgimento das normas propostas pelo Conselho
Internacional de Arquivos. O percentual das publicaes com data entre 1990-1999 de 61%, com
destaque para o ano de 1998 com 13%.

Grfico 2: Referncia bibliogrfica sobre descrio arquivstica por pas

A perspectiva da identificao do pas de origem das obras de referncia revelou a relevncia
da produo nacional de conhecimento arquivstico, alcanando o percentual de 20%, seguida da
influncia espanhola com 16%. Chama a ateno o fato de que a Espanha possui nmeros superiores
aos da Frana e dos Estados Unidos, pases que tradicionalmente tm exercido maior influncia
sobre a comunidade arquivstica brasileira.

2
Grfico 1 e 2: Fonte: Elaborado pelos autores.

1083

Grfico 3: Categorizao dos enfoques das referncias sobre a descrio arquivstica
3

O grfico 3 resulta do exerccio de anlise das obras de referncia do trabalho de descrio de
acervos arquivsticos no Brasil. Os percentuais so: normalizao da descrio arquivstica (45%);
fundamentos arquivsticos (30%); temticas afins a descrio arquivstica (25%). A concentrao do
enfoque da normalizao nas referncias da descrio arquivstisca confirma a perspectiva de que o
debate conceitual sobre a descrio arquivstica vem sendo absorvido pelo processo de sua
normalizao nos planos internacional e nacional.

3 A norma brasileira de descrio arquivstica

A primeira ao da Cmara Tcnica de Normalizao da Descrio Arquivstica foi
diagnosticar prticas de descrio comuns nos arquivos brasileiros e, assim, elaborou-se uma
proposta para tal realidade baseada nas normas internacionais ISAD (G) e ISAAR (CPF).
A Norma Brasileira de Descrio Arquivstica NOBRADE apresentou novidades em relao
ISAD (G). A NOBRADE prev a existncia de oito grandes reas, dentro das quais h 28 elementos de
descrio. Os elementos obrigatrios so: cdigo de referncia, ttulo, data(s), nvel de descrio,
dimenso e suporte, nome(s) do(s) produtor(es) e condies de acesso, sendo este ltimo
obrigatrio somente para descries em nveis 0 e 1.

3
Fonte: Elaborado pelos autores.

1084
reas Elementos de descrio
Identificao 5
Contextualizao 4
Estrutura 4
Condies de Acesso e Uso 5
Fontes Relacionadas 4
Notas 2
Controle de Descrio 3
Pontos de Acesso 1
Total de elementos 28

Quadro1: NOBRADE reas e elementos de descrio
4

Uma das novidades da NOBRADE a existncia de um nvel de descrio anterior ao nvel
fundo ou coleo (nvel 1): o nvel acervo da entidade custodiadora (nvel 0) e o nvel intermedirio
acervo da subunidade custodiadora (nvel 0,5). O nvel 0 til para descries gerais da totalidade
do acervo de uma entidade custodiadora e o nvel 0,5 para quando se dispe de subunidades
administrativas que custodiam acervos e do acesso aos mesmos em locais diferentes.
O ponto de inovao da norma brasileira a rea de pontos de acesso e descrio de assuntos,
uma rea que a ISAAD(G) no abrange. De acordo com Campos (2006) e Dantas (2007), o documento
possui pontos de acesso de duas naturezas distintas, pelos quais pode ser recuperado: os de natureza
objetiva (descritiva) e os de natureza subjetiva (atributiva). Os de natureza objetiva so os pontos de
acesso que esto evidenciados no documento como, por exemplo, a autoria, a tipologia documental,
o suporte, o formato. Os de natureza subjetiva so os pontos de acesso que obtemos atravs de uma
anlise interpretativa do documento, em geral, o assunto do documento. Desse modo, a norma
nacional envolve pontos de acesso introduzindo em seu escopo uma rea onde se podem registrar
termos selecionados para a localizao e recuperao da unidade de descrio atravs da indexao
do assunto do documento e da adoo ou elaborao de um vocabulrio controlado para tal,
metodologias advindas da biblioteconomia que se insere no escopo da arquivstica.

Consideraes finais

O processo de construo das normas de descrio arquivstica surge no final da dcada de
1980, como uma iniciativa do Conselho Internacional de Arquivos, que representa a comunidade
arquivstica internacional. Em 1993 foi divulgada a Norma Geral Internacional de Descrio
Arquivstica ISAD(G). Esse instrumento normativo estrutura sete reas de informao para
representar e explicar o contexto dos documentos de arquivo a fim de promover o acesso aos
mesmos.
O surgimento das normas de descrio arquivstica representa um movimento de
normalizao das prticas arquivisticas, sugerindo uma inovao em relao aos manuais (uma
espcie de tradio manualstica), mas que d continuidade ao carter prescritivo do saber
arquivstico. Hoje se questiona em que medida as normas permitiriam a interoperabilidade de

4
Fonte: Elaborado pelos autores.

1085
sistemas e a criao de descries consistentes. Quais so as relaes das normas de descrio
arquivstica com a Organizao do Conhecimento? Pressupomos que h o entendimento
hegemnico sobre a descrio arquivstica centrada no objeto a ser descrito, desassociado da
prpria finalidade disso o acesso, que envolve a noo de usos que devem ser antevistos para que
possam ser viabilizados.
Esta comunicao buscou problematizar as relaes entre o trabalho arquivstico de descrio
dos acervos e o escopo da Organizao do Conhecimento. Os mtodos adotados foram a reviso de
literatura sobre o surgimento das normas internacionais de descrio arquivstica e a anlise da
iniciativa brasileira de incorporar elementos da Organizao do Conhecimento na normalizao
nacional. Os resultados principais so: no vem sendo reconhecida, por parte do Comit de Boas
Prticas e Normas do Conselho Internacional de Arquivos, a questo de organizao do
conhecimento que est envolvida no trabalho dos arquivistas quando realizam a representao do
contedo de acervos custodiados por instituies arquivsticas, isso se evidencia na ausncia de
qualquer campo de informao para a indexao temtica nas normas internacionais; na
experincia brasileira, houve uma alterao quando foi elaborada a Norma Brasileira de Descrio
Arquivstica NOBRADE, que prev o elemento de informao denominado pontos de acesso e
indexao de assuntos. Trata-se do primeiro passo para o envolvimento dos arquivistas brasileiros
com a elaborao de ndices baseados em entradas autorizadas, controle de vocabulrio e dilogo
com a rea da Organizao do Conhecimento.
Conclui-se que a normalizao da descrio arquivstica em nvel internacional tomou grande
impulso nos anos de 1990 e se apresenta como uma conquista definitiva da Arquivologia tendo em
vista as vantagens alcanadas quando trabalhos baseiam-se em procedimentos tcnicos comuns. No
entanto, a ausncia dos elementos da representao temtica na construo dos instrumentos de
referncia arquivsticos uma realidade a ser superada a partir do dilogo mais aprofundado com a
Organizao do Conhecimento.

Referncias

BRASIL. Arquivo Nacional. (2004). Conselho Nacional de Arquivos. Descrio arquivstica: referncias
bibliogrficas. Rio de Janeiro: Arquivo Nacional.

CAMPOS, Maria Luiza de Almeida. (2006). Indexao e descrio em arquivos: a questo da
representao e recuperao de informaes. Arquivo & Administrao, Rio de Janeiro, v. 5, n. 1,
p. 17-31.

COOK, Michael. Desenvolvimentos na descrio arquivstica: algumas sugestes para o futuro.
Acervo, Rio de Janeiro, v. 20, n. 1-2, p.125-132, jan/dez 2007.

DANTAS, Daiana Maria Ribeiro. (2007). A descrio arquivstica e as normas de padronizao: um
panorama geral sobre o conceito. Trabalho de concluso de Curso (Graduao em Arquivologia),
Universidade Federal Fluminense, 2007.

DOLLAR, Charles M. (1994). O impacto das tecnologias de informao sobre princpios e prticas de
arquivos: algumas consideraes. Acervo, Rio de Janeiro, v. 7, n. 1-2, p. 3-38 , jan/dez 1994.

1086
FONSECA, Maria Odila. (2004). Arquivologia e Cincia da Informao: (Re) definio de marcos
interdisciplinares. Tese (Doutorado em Cincia da Informao)- IBICT, Escola de Comunicao.
Universidade Federal do Rio de Janeiro, Rio de Janeiro.

FONSECA, Vitor Manoel Marques da. (1999). A normalizao da descrio arquivstica: avanos
internacionais e a situao do Brasil. Rio de Janeiro: Arquivo Nacional do Brasil.

FOX, Michael. (2007). Por que precisamos de normas. Acervo, Rio de Janeiro, v. 20, n. 1-2, p. 23-30,
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GUIMARES E SILVA, Jnia. (1996). Socializao da informao arquivstica: a viabilidade de enfoque
participativo na transferncia da informao. 1996. Dissertao (Mestrado em Cincia da
Informao) - IBICT, Escola de Comunicao. Universidade Federal do Rio de Janeiro, Rio de
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LEO, Flvia Carneiro. (2006). A representao da informao arquivstica permanente: a normalizao
descritiva e a ISAD(G). 2006. Dissertao (Mestrado em Cincia da Informao) ECA,
Universidade de So Paulo, So Paulo, 2006.

ORRICO, Evelyn Goyannes Dill; SILVA, Eliezer Pires da. (2011). Network of specialists in the archival
field and the impact on knowledge organization: the case of Brazil. In X Congreso ISKO-Espaa,
2011, Ferrol. ISKO Congreso-Espaa, 2011.

SANTOS, Maria Jos Veloso da Costa. (2007). A representao da informao em arquivos:
viabilidade de uso dos padres utilizados na biblioteconomia. Acervo, Rio de Janeiro, v. 20, n.
1-2, p.57-66, jan./dez 2007.

SIBILLE, Claire. (2007). A descrio arquivstica na Frana, entre normas e prticas. Acervo, Rio de
Janeiro, v. 20, n. 1-2, p.93-112, jan/dez 2007.

1087
REPRESENTACIN DEL VOCABULARIO DE INDIZACIN EN HUMANIDADES CON UN GESTOR DE
TESAUROS
La experiencia del lxico de las bases de datos ISOC en TemaTres

JOS IGNACIO VIDAL LIY
Centro de Ciencias Humanas y Sociales - Unidad de Anlisis y Produccin de Bases de Datos

LUIS RODRGUEZ YUNTA

ROSARIO DE ANDRS VERD

Resumen La siguiente ponencia presenta Vocindario, lxico elaborado por el rea de Humanidades de las bases
de datos ISOC. Se muestran sus utilidades actuales y su potencial para el futuro en cuanto que otorga ms
precisin y pertinencia a los trminos de indizacin y bsqueda, absorbe con facilidad nuevos trminos y
conceptos, plantendose adems como un lxico multidisciplinar comn a varias reas de la base de datos.

Palabras-clave Indizacin. Recuperacin de la informacin. Lenguajes controlados. Tesauros. Bases de datos
bibliogrficas. Intercambio de datos. Multidisciplinariedad.

Abstract The following paper presents Vocindario, lexicon elaborated by the area of Humanities of the
databases ISOC. His current usefulness and his potential appear for the future in all that grants more
precision and relevancy to the terms of indexation and search, it absorbs with facility new terms and
concepts, appearing in addition as a multidisciplinary common lexicon to several areas of the database.

Keywords Indexation. Information recovery. Controlled languages. Thesaurus. Referential databases.
Exchange of data. Multidisciplinarity.

Introduccin

Los intentos de adaptar el lenguaje natural a las bsquedas en bases de datos bibliogrficas
son una preocupacin inherente a los sistemas de informacin. Esta problemtica no ha terminado
de resolverse ni siquiera con la emergencia de la web semntica y las ontologas, de tal manera que
los problemas de precisin en el lenguaje (sinonimias, polisemias y ambigedades) siguen afectando
a menudo al carcter disperso y parcial de cualquier bsqueda. (Moreiro, 2013).
En la concepcin tradicional de la recuperacin booleana estas imprecisiones han podido
minimizarse en las bases de datos bibliogrficas merced a los necesarios lenguajes controlados que
facilitan la indizacin y homogenizan la recuperacin de la informacin a partir de la normalizacin
y sistematizacin de la fase de introduccin de datos. Los tesauros nacieron para cubrir las
necesidades de informacin de los usuarios mediante un sistema de descriptores que a la vez sirve
para indizar o representar el contenido de los documentos. Un tesauro tradicional se basa
esencialmente en un conjunto de trminos preferidos descriptores- y no preferidos sinnimos y
cuasi-sinnimos- utilizados para representar un campo del conocimiento y/o representar el
contenido de los documentos de un sistema de informacin. Los trminos se regulan a travs de
relaciones de equivalencia, y se enriquecen con relaciones jerrquicas o asociativas que permiten
expandir las opciones de recuperacin (Currs, 2005; Lancaster, 2002; Lancaster, 1996).

1088
A pesar del incremento de la complejidad de los sistemas de informacin y de los lenguajes
documentales desde hace unos aos con la irrupcin de la web semntica, en las bases de datos
bibliogrficas o referenciales sigue siendo recomendable el empleo de lenguajes controlados tipo
tesauros tradicionales o lxicos de indizacin. En primer lugar porque trabajan con datos de
referencia bibliogrfica y suelen carecer de documentos a texto completo. Y en segundo lugar,
porque incluso ofreciendo la posibilidad de indizacin a texto completo, la utilizacin de un
lenguaje controlado favorece la bsqueda al ayudar al usuario a explorar el fondo documental
(Codina & Pedraza Jimnez, 2011).
En la base de datos ISOC se utilizan lenguajes controlados en la indizacin por materias
asignadas a cada registro, dentro de su ya larga lnea de trabajo sobre terminologa y lenguajes
documentales. Resultado de esta trayectoria ha sido la creacin de tesauros y lxicos en diferentes
disciplinas: Economa, Urbanismo, Psicologa, Biblioteconoma, Historia Contempornea y el tesauro
de topnimos; mientras otras reas trabajaban con lxicos de indizacin. La base de datos ISOC no
ha contado nunca con un lenguaje controlado unificado para varias disciplinas, lo cual ha
dificultado su aplicacin en la interfaz de recuperacin, ya que las decisiones tomadas en cada rea
disciplinar eran a menudo contradictorias. Como el producto final si era multidisciplinar y muchos
documentos reciban clasificaciones de diferentes mbitos, en la prctica las contradicciones en los
criterios de indizacin se podan percibir en cada disciplina concreta. El objetivo de unificar los
tesauros y lenguajes de indizacin utilizados, dio lugar a diferentes proyectos, pero no lleg nunca a
concluir por falta de herramientas comunes de trabajo.
Pero, al margen de los lenguajes controlados, los propios registros de la base de datos
tambin constituyen un recurso de inters para el anlisis de la terminologa empleada en Ciencias
Sociales y Humanidades, ya que incorporan campos especficos para el anlisis de contenido:
resumen, clasificacin, descriptores, identificadores, topnimos, legislacin, jurisprudencia y
periodo histrico.
Aprovechando la produccin misma de la base de datos junto a la elaboracin de lenguajes
documentales y las posibilidades tcnicas que ofrecen los actuales gestores electrnicos de tesauros
y ontologas, el rea de Humanidades de la Unidad de Anlisis y Produccin de Bases de Datos ISOC
(Centro de Ciencias Humanas y Sociales - CSIC) ha elaborado Vocindario, un lxico controlado cuyos
listados han sido extrados de los ndices empleados en la base de datos. Es resultado de una labor de
sistematizacin y control de los descriptores utilizados en la base de datos (descriptores,
identificadores y topnimos), si bien todava se encuentra en fase de construccin. Las reas
implicadas hasta el momento son Antropologa Cultural y Social, Arqueologa, Bellas Artes e
Historia, esperndose en un futuro prximo la inclusin de otras disciplinas. El vocabulario est
accesible de forma gratuita en la sede web del Centro de Ciencias Humanas y Sociales del CSIC
1
.
En la siguiente ponencia se pretende describir la experiencia del desarrollo de este lxico a
partir de un gestor de tesauros, con la finalidad de mostrar la necesidad de una herramienta
dinmica para el control del vocabulario y con ello llegar a una valoracin ms pertinente de las
aplicaciones del vocabulario.

1 La base de datos ISOC: lenguajes documentales, caractersticas y problemas de
la recuperacin

La base de datos ISOC es el principal sistema analtico de informacin cientfica en Ciencias
Humanas y Sociales en Espaa como atestigua el milln anual de sesiones de consulta abiertas por
los usuarios suscritos a las bases de datos del CSIC
2
. Forma parte de las bases de datos bibliogrficas

1
URL de consulta: http://archivos.cchs.csic.es/vocabularioisoc/vocab/index.php
2
El uso de las bases de datos se mide por el nmero de sesiones de consulta abiertas por los usuarios suscritos a las bases
de datos del CSIC. Datos referidos al ao 2012 extrados de http://www.investigacion.cchs.csic.es/isoc/

1089
del CSIC (Rodrguez-Yunta, 2009) y se crea a comienzos de la dcada de los ochenta a partir de dos
repertorios bibliogrficos impresos: ndice Espaol de Ciencias Sociales (IECS) y el ndice Espaol de
Humanidades (IEH). Desde entonces recoge toda la produccin cientfica espaola desde 1975 en el
rea de Humanidades y Ciencias Sociales. Actualmente recoge casi 700.000 registros, y cumple con
los principales requisitos de calidad referentes a la cobertura temtica y la seleccin de
documentos, a la par que ofrece un conjunto de valores aadidos que van desde el anlisis de
contenido hasta las posibilidades de recuperacin de su interfaz de consulta
3
.
Desde el ao 2006 aplica un riguroso sistema de evaluacin de revistas (utilizando como base
de su sistema los criterios de evaluacin Latindex), aunque lo que otorga un carcter distintivo es el
enriquecimiento de su estructura de campos de contenido y que es su apuesta por una recuperacin
eficaz de la informacin ajustada a la especialidad cientfica, garantizando un equilibrio entre
exhaustividad y pertinencia (Abejn Pea, Maldonado Martnez, Rodrguez Yunta, & Rubio Liniers,
2009).
La base de datos ISOC est formada por 16 subconjuntos correspondientes a las reas de Bellas
Artes, Biblioteconoma y Documentacin, Educacin, Antropologa, Arqueologa y Prehistoria,
Filosofa, Geografa, Urbanismo, Historia, Derecho, Lengua, Literatura, Economa, Psicologa,
Sociologa, Ciencias Polticas y Amrica Latina. Cada documento incorporado se analiza y describe
su contenido por indizadores especializados en la materia que emplean conceptos recogidos en
lenguajes controlados de elaboracin propia (lxicos, vocabularios de indizacin, tesauros) basados
en la significacin y el contexto. Los campos para la indizacin de contenidos son:

Descriptores o conceptos representativos del tema de trabajo. Se estn metiendo
tambin en este campo los hechos histricos.
Identificadores: nombres propios, instituciones con sede, ttulos de obras. Se incluyen
igualmente aqu los yacimientos arqueolgicos.
Topnimos: nombres geogrficos de lugares, tanto fsicos como divisiones
administrativas y denominaciones histricas.
Perodo histrico, dcadas y siglos: datos numricos que se utilizan para analizar y
recuperar los artculos de tema histrico.
Legislacin y jurisprudencia: leyes y sentencias objetos de estudio en los trabajos
jurdicos.
Palabras clave de autor (slo a partir de 2012 en un campo de uso interno hasta el
momento).
Aunque no es un campo de anlisis la recuperacin de la informacin tambin se
puede efectuar a travs de los resmenes de autor incorporados en la ficha de los
documentos.

De cara a los lenguajes de indizacin, esta divisin en campos ha determinado que los
tesauros disciplinares construidos contemplasen exclusivamente los trminos utilizados como
descriptores. Tambin se publicaron varias ediciones de un tesauro especfico para los topnimos,
pero limitado a las entidades poltico-administrativas (pases, estados, provincias, municipios),
mientras que en el mismo campo se han utilizado otras entradas para la localizacin geogrfica
(comarcas, cordilleras, ros e incluso denominaciones histricas). As pues, los tesauros disponibles
en la base ISOC slo afectaban a determinadas disciplinas e incluso en estos no recogan la

3
Las bases de datos del CSIC disponen de dos accesos web, uno bsico y gratuito en la direccin http://bddoc.csic.es:8080/,
otro para suscriptores que incluye la interrogacin de todos sus campos de anlisis de contenido en
http://bddoc.csic.es:8085/

1090
estructura completa de los campos para la indizacin. Adems, la presencia de campos numricos
para siglos y periodos, diseados para facilitar las bsquedas por rango, ha justificado la exclusin
de entradas de este tipo en el lxico, imprescindibles para el anlisis de contenido en los artculos
de Humanidades.
La recuperacin de la informacin se puede efectuar o bien a cada una de las sub-bases
mencionadas o bien a todo el conjunto, obteniendo de esta forma un resultado multidisciplinar. En
cualquiera de los dos casos, existen las mismas tres modalidades de bsqueda:
La bsqueda simple, que es la ms sencilla, es tambin la ms imprecisa, pues en caso de que
se haga la consulta al conjunto de la base, la respuesta producir resultados de todas las sub-bases.

a) Una segunda forma es la bsqueda por campos, que permite combinar diferentes
criterios y cruzarlos con una clasificacin temtica y/o con un ao o intervalo
temporal.
b) Un tercer y ltimo modo de bsqueda es a travs de ndices (Autor, Revista,
Descriptores, Identificadores, Topnimos, etc.) y que visibiliza en forma de listado
alfabtico el contenido de casi la totalidad de los campos que componen el registro. Es
una opcin muy til para conocer el vocabulario utilizado en el anlisis de los
documentos y mejorar la precisin en la obtencin de resultados.
c) La bsqueda experta mediante comandos y etiquetas de campo.

Gracias al hipertexto (campos de autor, descriptores, identificadores y topnimos) se pueden
realizar nuevas bsquedas a partir de la visualizacin de un registro. Finalmente, cualquiera que
haya sido la bsqueda, una vez que aparece en pantalla el listado de los documentos recuperados, se
puede activar un filtro con el fin de visualizar las referencias con enlace al texto completo.
Es importante resaltar que, salvo en la bsqueda simple, en todas las dems modalidades de
consulta juega un papel imprescindible la gestin de ndices y el control del vocabulario. La
presencia de ndices por frase garantiza que es posible recuperar una entrada nica por su sentido
exacto sin que se entremezcle con otras entradas en las que un trmino est presente. Esto afecta a
los campos de anlisis de contenido y tambin a otros elementos como Autores o Ttulos de revista,
que es necesario presentar en forma de ndice por frase para garantizar la precisin en la bsqueda.
As, por ejemplo slo pueden recuperarse exactamente los registros de la revista Historia social
sin mezclarse con otros ttulos que contienen estas dos palabras (Historia social y de la educacin
o Historia de la Comunicacin Social), si se ofrece al usuario un ndice por frase que solo contiene
entradas diferenciadas exactas.
La divisin sectorial de la base en conjuntos especializados ms reducidos, supuso que en cada
rea se empleaba cada trmino desde el significado pertinente a cada disciplina (Abejn Pea, 1997).
Consecuencia de ello fue el desarrollo de los problemas clsicos derivados de las ambigedades,
sinonimias y polisemias, y que afecta especialmente a la consulta general de la base. As por
ejemplo, si se hace una bsqueda general en texto libre por Restauracin, obtendr
simultneamente resultados que tratan de restauracin artstica, otros sobre el perodo de la
Restauracin borbnica, referidos a la restauracin eclesistica o sobre restauracin de edificios. De
la misma manera, si se desea saber publicaciones en torno a la Ilustracin, lo ms seguro es que
encuentre mezclados resultados de la Ilustracin como movimiento cultural e intelectual europeo,
pero tambin relacionados con estampas, dibujos o grabados. Si en una disciplina como Historia se
utiliza en la indizacin una entrada como Restauracin o Ilustracin con un significado nico y
restrictivo, es necesario coordinar criterios y asegurar que el mismo criterio se respeta y utiliza con
el mismo sentido igualmente en otras disciplinas como Bellas Artes o Literatura.
El empleo de lenguajes controlados de elaboracin propia en la base de datos ISOC no ha
terminado de solventar estos inconvenientes, puesto que hasta el momento no se ha elaborado un

1091
lxico controlado de carcter global y los que se disponen actualmente se cien al vocabulario de
cada especialidad. ste es uno de los objetivos de Vocindario, el lxico que aqu se presenta.

2 Vocindario: Una propuesta para la gestin de un vocabulario controlado
general para las bases de datos ISOC

Ms de treinta aos de anlisis documental permiten que la base de datos ISOC disponga de
un vocabulario de indizacin de las reas de Ciencias Sociales y Humanidades que ha sido
imprescindible a la hora de elaborar herramientas y recursos documentales propios a los que ya se
ha hecho referencia. De esta manera, este vocabulario es el que ha servido de base para la
confeccin del lxico a partir del gestor de tesauros TemaTres, con el que se pretende crear por
primera vez una herramienta para el anlisis de contenido de manera global para varias disciplinas.
Son ya muy conocidas las aportaciones del entorno digital a la gestin y control electrnicos
del vocabulario (Arano, 2005):

enriquecimiento de la funcionalidad de la estructura de los tesauros a
partir de la hipertextualidad, esto es, el establecimiento de hipervnculos entre los trminos y las
partes del vocabulario; reduccin de costes de actualizacin y mantenimiento mediante software
libre y licencias Creative Commons; posiblidad de integrar al usuario en el proceso de creacin,
gestin y optimizacin a travs de testes, tcnicas de modelado de usuario. El cuarto y ltimo es
quiz la aportacin ms interesante al permitir la posibilidad de aplicar medidas de reutilizacin e
interoperabilidad en la planificacin y construccin de tesauros, lxicos o vocabularios. Con ello se
posibilita el aprovechamiento y enriquecimiento de la informacin conceptual y lingstica ya
generada para otros recursos.
Precisamente ste ltimo elemento ha sido el que se subyace al espritu de Vocindario, pues
uno de los fines que se pretende con el mismo es relacionar los ndices con las diferentes
clasificaciones del rea de Humanidades de la base de datos. La aplicacin que se escogi para ello,
dadas sus mltiples ventajas y funcionalidades, fue TemaTres, software libre para la gestin de
lenguajes documentales (Gonzles Aguilar, Ramrez Posada, & Ferreyra, 2012). Con esta finalidad, se
persegua enriquecer u orientar la bsqueda temtica en la base de datos ISOC, para las personas
con acceso a la versin completa del producto por pertenecer a una entidad suscriptora de las Bases
de datos documentales del CSIC. Adems, TemaTres permite descargar, compartir o reutilizar datos
de este vocabulario en condiciones de licencia Creative Commons Reconocimiento No Comercial
(by-nc).
Vocindario recoge los trminos de indizacin utilizados en la base ISOC a partir de ciertos
mrgenes de frecuencia. No es un tesauro propiamente dicho aunque se presenta con una
estructura jerrquica similar a este tipo de lenguajes. As, las relaciones de equivalencia (USE/UP)
identifican los trminos no utilizados o palabras clave de autor que pueden traspasarse a un
trmino preferido s utilizado, por ser sinnimo, cuasi-sinnimo o variantes formales; las
jerrquicas (TGP/TEP) refieren a la relacin genrico-especfico entre clasificacin y trminos de
indizacin utilizados en el campo de Descriptores, mientras que las instancias (TGI/TEI) remiten a la
relacin genrico-especfico entre clasificacin y trminos de indizacin utilizados en el campo de
Identificadores. Se utiliza una estructura multijerrquica para presentar cada entrada dentro de
todas las diferentes agrupaciones de la clasificacin en las cules ha sido utilizado con una
frecuencia suficiente (10 registros para los descriptores, 5 para los identificadores).
La pgina de inicio del Vocindario ofrece tres opciones de navegacin (fig. 1) para los trminos
genricos (que se corresponden con las clasificaciones utilizadas en la base de datos ISOC):

por campos del anlisis de contenido: clasificacin, descriptores, identificadores,
palabras clave de autor, periodos histricos y topnimos;
por disciplinas, extradas de la clasificacin utilizada en la base de datos y

1092
por trminos que incluyen aclaraciones tiles para la bsqueda, una agrupacin que
pretende destacar aquellos registros de trminos que cuentan con notas de alcance
de inters para los usuarios.

Fig.1: Pgina de inicio de la interfaz de consulta de Vocindario con las tres opciones de navegacin

El vocabulario refleja todas las opciones de anlisis documental de contenido empleadas en la
base ISOC. Para los descriptores e identificadores, se parte de la estructura de las clasificaciones
ISOC, agrupando algunos de sus epgrafes para obtener conjuntos con la mayor coherencia posible y
que se correspondan con un mnimo de 100 documentos. En cada una de estas entradas se indica
que se trata de clasificaciones y en nota de alcance se hace constar su correspondencia dentro de la
base de datos (fig. 2).
Se insertan como trminos especficos aquellos descriptores utilizados al menos en 10
registros en cada conjunto definido a partir de la clasificacin. Para distinguir este tipo de entradas
se utiliza la etiqueta de TEP trmino especfico partitivo de la que dispone el programa TemaTres.
En el caso de los identificadores se ha establecido como lmite la presencia en al menos 5 registros
en cada agrupacin de la clasificacin, y se distingue con la marca TEI (Trmino Especfico
Instancia). Para los topnimos se ha contemplado la frecuencia de 10 registros, pero se analiza su
uso a nivel global para el conjunto de las disciplinas que abarca este vocabulario.
Entre los descriptores se incluye una familia especial para reflejar entradas de uso general
que permitan recoger de forma diferenciada dos tipos de problemas:

Trminos de uso poco frecuente, aquellos que no superaban los 10 registros dentro de
ninguna familia, pero s en el conjunto de las disciplinas agrupadas en el vocabulario.
A 15 de mayo de 2013 esta agrupacin reuna 3134 trminos.

1093
Trminos modificadores de uso frecuente, aquellos trminos de indizacin que
pueden figurar indistintamente en cualquiera de las clasificaciones (estn presentes
en 10 o ms de las agrupaciones contempladas en este vocabulario) y suelen
emplearse con un significado secundario, similar a un modificador de otro trmino,
por ejemplo Origen, Localizacin, Datos biogrficos o Descripcin. A 15 de
mayo de 2013 se haba asignado esta categora a 28 entradas.

Fig. 2: Ejemplo de presentacin de las agrupaciones de la clasificacin de Arqueologa en la interfaz de
consulta de Vocindario

Respecto a las palabras clave de autor se han introducido en la base de datos ISOC a nivel
interno a partir de las publicaciones editadas en 2012. Por ello an es pronto para tener un acopio
suficiente de trminos, de modo que en Vocindario inicialmente slo se han incorporado los
trminos utilizados por los autores en al menos 5 registros en el rea de Historia. Este apartado
podr enriquecerse con nuevas entradas en prximas actualizaciones del vocabulario, segn vayan
recogindose ms registros con esta informacin.
Finalmente, de forma ocasional se han introducido como trminos candidatos (sin asignacin
de familia) algunos descriptores utilizados menos de 10 veces en la base de datos, especialmente
para recoger en su nota de alcance las posibles variantes que pueden crear duda en la forma de la
entrada.
Por ltimo, hay trminos que tienen la marca del asterisco (*) el cual distingue las entradas
aadidas para las agrupaciones de trminos en la navegacin por campos y disciplinas. Todas las
entradas que comienzan por asterisco son no-descriptores. Esta estrategia se inspira en la aplicada
en el Tesauro de Patrimonio Histrico Andaluz (Lpez Hernndez, 2000), que incluye trminos
estructurales para denominaciones arbitrarias de familias, niveladores e indicadores de faceta.

1094
En la relacin de palabras clave de autor se aplica exclusivamente a las que no se
corresponden con trminos empleados en ISOC. Tambin se asigna el asterisco para los apartados
destinados a perodo histrico, dcadas y siglos. En este vocabulario se han introducido entradas
como Siglo XVIII exclusivamente para poder aclarar que en la base de datos ISOC este aspecto se
refleja de forma numrica en un campo especfico y por tanto no debe emplearse en los
descriptores.

A 15 de mayo de 2013 el Vocindario contiene:

15120 entradas, de las que 190 son entradas con asterisco, no usadas en la indizacin
(vase explicacin en el prrafo anterior) y 20 son trminos candidatos.
4000 entradas que cuentan con ms de un trmino genrico.
3564 relaciones entre trminos.
933 trminos equivalentes.
612 notas de alcance.

3 Aplicaciones de Vocindario: usos internos y externos

El proyecto permite dar al vocabulario utilizado en la base de datos ISOC un doble uso, como
herramienta interna para la gestin y para mejorar la recuperacin en este producto, as como para
usos externos, a travs de la exportacin de datos que pueda facilitarse para que otros proyectos los
analicen o integren con diferentes fuentes en otros contextos. En este sentido, describimos cuatro
posibles mbitos de aplicacin de Vocindario:

a. Herramienta de gestin interna para los analistas o indizadores de la
base de datos.

En la poltica de calidad y mejora continua del mantenimiento de una base de datos
bibliogrfica, es una preocupacin constante la normalizacin en los trminos utilizados en la
indizacin durante el anlisis de contenido. Este proceso pretende conseguir dos objetivos:

Reducir el nmero de trminos de los ndices de materia, para facilitar la
recuperacin. Se pretende que un mismo tema de bsqueda que puede ser expresado
con diferentes formas por los autores de los documentos, se concentre en entradas
nicas o en una combinacin razonable de trminos, en la medida en que sea posible
hacerlo sin prdida de significado sustancial.
Evitar la ambigedad de los trminos que pueden tener varias interpretaciones,
asignndoles un nico significado y utilizando de forma sistemtica entradas ms
precisas cuando sea necesario. Con ello se reduce el riesgo de ruido en la
recuperacin, al menos cuando esta se realice a travs de los ndices de materias.

Por ejemplo, para referirse al movimiento cultural del siglo XVIII se utiliza como trmino
preferente la entrada Ilustracin en lugar de Siglo de las Luces (considerado como trmino

1095
equivalente y por consiguiente no-descriptor, eliminado de las opciones de indizacin). Pero este
concepto conlleva problemas de ambigedad en la recuperacin, ya que los autores pueden
utilizarlo con otro sentido en el mbito del diseo grfico. Para evitar la polisemia se admite una
segunda entrada diferenciada ms precisa para este segundo sentido: Ilustracin grfica (fig. 3).
La diferenciacin entre ambos conceptos se produce en la recuperacin solamente si se realiza a
travs de los ndices de materias. Su aplicacin en la bsqueda a texto libre no puede garantizar la
eficacia puesto que la forma lxica utilizada por los autores est sujeta a muchas variaciones.

Fig. 3: Ejemplo de bsqueda de entradas con el trmino Ilustracin en la interfaz de consulta de Vocindario

La experiencia de los indizadores y su conocimiento de la materia son fundamentales para el
mantenimiento de una poltica de indizacin en aquellos aspectos que precisan una toma de
decisiones. No obstante, no es eficaz confiar su aplicacin a la memoria, ya que pueden producirse
olvidos y errores, y tambin el modo de trabajo debe adaptarse fcilmente a las sustituciones
temporales o definitivas en el personal dedicado a estas tareas. En la Unidad de bases de datos ISOC
se trabaja con un Manual de indizacin para uso interno, que marca criterios de procedimiento para
una amplia gama de casos. Pero este manual no puede reflejar cada ejemplo y las dudas y dobles
usos surgen con frecuencia. Por ello, es muy recomendable disponer de una herramienta donde
reflejar las decisiones relativas a la indizacin, especialmente en aquellos temas, hechos,
instituciones o personajes ms tratados por la bibliografa. Un gestor de vocabularios es eficaz para
ello en cuanto que permite establecer relaciones de equivalencia y explicitar el alcance de un
trmino a travs de las notas.
La puesta en marcha del proyecto ha servido para poner de manifiesto algunas deficiencias en
el tratamiento de algunos temas que precisaban una depuracin de variantes, desde los problemas
aparentemente ms simples (uso de singular y plural) hasta los problemas ms complejos que
precisan la consulta de diccionarios y obras de referencia para determinar la entrada ms adecuada.

1096
Igualmente, se ha contemplado la normalizacin con otros lenguajes documentales. Aunque
en la base de datos ISOC no se toma como norma el fichero de autoridades de la Biblioteca Nacional
de Espaa, si se consulta habitualmente como fuente referencia igual que las autoridades del
catlogo colectivo de las bibliotecas del CSIC. En este sentido se ha optado por la inclusin en
Vocindario en las notas de alcance de los cdigos VIAF cuando se han localizado entradas que
efectivamente cuentan con una referencia normalizada en este sistema.
La inclusin de palabras clave de autor es una medida reciente en la base de datos ISOC. En un
futuro prximo, esta herramienta puede utilizarse tambin para el establecimiento de puentes
entre ambos modelos de indizacin, as como para la deteccin de los principales problemas de
ambigedad en la recuperacin que pueden surgir a partir del uso de una indizacin sin control del
vocabulario.

3.1 Herramienta abierta a los usuarios de la base de datos ISOC para mejorar la
recuperacin de informacin bibliogrfica

La facilidad del gestor TemaTres para editar el vocabulario en la web, permite que los posibles
usuarios de la base de datos utilicen esta herramienta para la preparacin de una estrategia de
bsqueda, de forma previa a su realizacin. De igual manera puede emplearse en cursos de
formacin o en presentaciones prcticas del producto.
A priori, puede parecer que para este uso sera preferible que la herramienta estuviera
integrada dentro de la interfaz de interrogacin de las bases de datos del CSIC. El hecho de que el
acceso sea independiente, tiene sin embargo una ventaja: la presentacin filtrada del vocabulario
utilizado a partir de un umbral mnimo de frecuencia de uso y limitada a unas disciplinas concretas.
La base de datos ISOC es un gran fichero multidisciplinar, lo cual sin duda es uno de sus principales
valores, pero tambin un inconveniente a la hora de presentar un vocabulario. Por otra parte, los
ndices de materia tienden a crecer de forma constante, se pueblan de entradas que a menudo no se
puede asegurar que sean eficaces para la recuperacin. Por lo general, y salvo que se trate de un
trmino emergente en el mbito de la investigacin en Humanidades, hay que tener precaucin
porque cuando una entrada est presente solamente en un nmero muy reducido de registros, o
bien puede ser una errata, o bien una variante que puede estar expresada por otras alternativas en
la propia base o bien no define una utilidad clara para la recuperacin de informacin. La gestin
del vocabulario en un programa externo a la interfaz permite una presentacin ms depurada de
aquellas entradas que realmente s permiten realizar una bsqueda con xito en la base de datos.
La recuperacin de informacin bibliogrfica resulta muy sencilla solamente cuando un nico
trmino usado de forma sistemtica resuelve la extraccin de los registros pertinentes a una
bsqueda. Pero a menudo pueden producirse necesidades que precisan hilar ms fino o para las
cules resulta conveniente conocer las caractersticas concretas del sistema de indizacin. As por
ejemplo:
Temas que estn presentes tanto en la clasificacin como en los descriptores de
materia. Los resultados pueden no ser idnticos y tampoco puede establecerse una
recomendacin general de si es preferible buscar mediante clasificacin o mediante
descriptores, o combinar ambas opciones. En ocasiones se le otorga un matiz distinto
segn el campo. Por ejemplo, el descriptor Historia medieval est usado en
referencia a la subdisciplina en el contexto de la historiografa, mientras que para
buscar estudios medievalistas debe utilizarse la clasificacin. En otros casos, como
etnomusicologa se mantiene el mismo sentido entre descriptor y epgrafe de
clasificacin, pero en este ltimo se asegura que tiene un sentido central en el tema
del documento, mientras que en descriptores podra haberse reflejado como tema
secundario.

1097
Periodos histricos que pueden buscarse a travs de formas textuales o bien a travs
de fechas o siglos. En Prehistoria, Arqueologa e Historia Antigua los periodos se
expresan preferentemente a travs de formas textuales (Neoltico, Alto Imperio,)
mientras que en Historia Medieval, Moderna y Contempornea pueden utilizarse
tanto formas textuales (Trienio constitucional, Primera Repblica) como
frecuentemente solo siglos y fechas. En este caso se deben utilizar los conceptos
cuando se buscan estudios que aborden de forma pertinente el periodo histrico de
que se trate, mientras que las bsquedas por fechas aportan mayor exhaustividad en
cuanto al contexto histrico (personajes de la poca, sociedad, cultura,).
Conceptos genricos que aparecen expresados con frecuencia a travs de otros ms
especficos. As, por ejemplo, para realizar una bsqueda sobre Andaluca es
demasiado restrictivo limitarse a esta entrada, que debe combinarse con las
diferentes provincias. Por el contrario, no hace falta en general la interrogacin por
entradas ms especficas (otras poblaciones andaluzas) ya que en la indizacin de la
base ISOC se reflejan de forma sistemtica las provincias tratadas en cada documento.
Conceptos que se expresan a menudo por los autores con una construccin simple
aunque para una mayor precisin es recomendable una construccin ms compleja.
Por ejemplo es frecuente que en ttulo, resmenes o palabras clave de autor se utilice
la expresin guerra civil para referirse a la contienda del periodo 1936-1939 en
Espaa. Sin embargo, en descriptores se utiliza la frmula ms precisa guerra civil
espaola, indispensable para asegurar la pertinencia y eliminar la ambigedad de la
formulacin simple.
Palabra: Pgina de inicio de la interfaz de consulta de Vocindario con las tres opciones
de navegacin.

El vocabulario refleja todas las opciones de anlisis documental de contenido empleadas en la
base ISOC. Para los descriptores e identificadores, se parte de la estructura de las clasificaciones
ISOC, agrupando algunos de sus epgrafes para obtener conjuntos con la mayor coherencia posible y
que se correspondan con un mnimo de 100 documentos. En cada una de estas entradas se indica
que se trata de clasificaciones y en nota de alcance se hace constar su correspondencia dentro de la
base de datos (fig. 2).
Se insertan como trminos especficos aquellos descriptores utilizados al menos en 10
registros en cada conjunto definido a partir de la clasificacin. Para distinguir este tipo de entradas
se utiliza la etiqueta de TEP trmino especfico partitivo de la que dispone el programa TemaTres.
En el caso de los identificadores se ha establecido como lmite la presencia en al menos 5 registros
en cada agrupacin de la clasificacin, y se distingue con la marca TEI (Trmino Especfico
Instancia). Para los topnimos se ha contemplado la frecuencia de 10 registros, pero se analiza su
uso a nivel global para el conjunto de las disciplinas que abarca este vocabulario.
Entre los descriptores se incluye una familia especial para reflejar entradas de uso general
que permitan recoger de forma diferenciada dos tipos de problemas:

Trminos de uso poco frecuente, aquellos que no superaban los 10 registros dentro de
ninguna familia, pero s en el conjunto de las disciplinas agrupadas en el vocabulario.
A 15 de mayo de 2013 esta agrupacin reuna 3134 trminos.
Trminos modificadores de uso frecuente, aquellos trminos de indizacin que
pueden figurar indistintamente en cualquiera de las clasificaciones (estn presentes
en 10 o ms de las agrupaciones contempladas en este vocabulario) y suelen
emplearse con un significado secundario, similar a un modificador de otro trmino,

1098
por ejemplo Origen, Localizacin, Datos biogrficos o Descripcin. A 15 de
mayo de 2013 se haba asignado esta categora a 28 entradas.

Fig. 4: Ejemplo de presentacin de las agrupaciones de la clasificacin de Arqueologa en la interfaz de consulta
de Vocindario

Respecto a las palabras clave de autor se han introducido en la base de datos ISOC a nivel
interno a partir de las publicaciones editadas en 2012. Por ello an es pronto para tener un acopio
suficiente de trminos, de modo que en Vocindario inicialmente slo se han incorporado los
trminos utilizados por los autores en al menos 5 registros en el rea de Historia. Este apartado
podr enriquecerse con nuevas entradas en prximas actualizaciones del vocabulario, segn vayan
recogindose ms registros con esta informacin.
Finalmente, de forma ocasional se han introducido como trminos candidatos (sin asignacin
de familia) algunos descriptores utilizados menos de 10 veces en la base de datos, especialmente
para recoger en su nota de alcance las posibles variantes que pueden crear duda en la forma de la
entrada.
Por ltimo, hay trminos que tienen la marca del asterisco (*) el cual distingue las entradas
aadidas para las agrupaciones de trminos en la navegacin por campos y disciplinas. Todas las
entradas que comienzan por asterisco son no-descriptores. Esta estrategia se inspira en la aplicada
en el Tesauro de Patrimonio Histrico Andaluz (Lpez Hernndez, 2000), que incluye trminos
estructurales para denominaciones arbitrarias de familias, niveladores e indicadores de faceta.
En la relacin de palabras clave de autor se aplica exclusivamente a las que no se
corresponden con trminos empleados en ISOC. Tambin se asigna el asterisco para los apartados
destinados a perodo histrico, dcadas y siglos. En este vocabulario se han introducido entradas

1099
como Siglo XVIII exclusivamente para poder aclarar que en la base de datos ISOC este aspecto se
refleja de forma numrica en un campo especfico y por tanto no debe emplearse en los
descriptores.
A 15 de mayo de 2013 el Vocindario contiene:
15120 entradas, de las que 190 son entradas con asterisco, no usadas en la indizacin
(vase explicacin en el prrafo anterior) y 20 son trminos candidatos.
4000 entradas que cuentan con ms de un trmino genrico.
3564 relaciones entre trminos.
933 trminos equivalentes.
612 notas de alcance.

4 Aplicaciones de Vocindario: usos internos y externos

El proyecto permite dar al vocabulario utilizado en la base de datos ISOC un doble uso, como
herramienta interna para la gestin y para mejorar la recuperacin en este producto, as como para
usos externos, a travs de la exportacin de datos que pueda facilitarse para que otros proyectos los
analicen o integren con diferentes fuentes en otros contextos. En este sentido, describimos cuatro
posibles mbitos de aplicacin de Vocindario:

4.1 Herramienta de gestin interna para los analistas o indizadores de la base de
datos

En la poltica de calidad y mejora continua del mantenimiento de una base de datos
bibliogrfica, es una preocupacin constante la normalizacin en los trminos utilizados en la
indizacin durante el anlisis de contenido. Este proceso pretende conseguir dos objetivos:

Reducir el nmero de trminos de los ndices de materia, para facilitar la
recuperacin. Se pretende que un mismo tema de bsqueda que puede ser expresado
con diferentes formas por los autores de los documentos, se concentre en entradas
nicas o en una combinacin razonable de trminos, en la medida en que sea posible
hacerlo sin prdida de significado sustancial.
Evitar la ambigedad de los trminos que pueden tener varias interpretaciones,
asignndoles un nico significado y utilizando de forma sistemtica entradas ms
precisas cuando sea necesario. Con ello se reduce el riesgo de ruido en la
recuperacin, al menos cuando esta se realice a travs de los ndices de materias.

Por ejemplo, para referirse al movimiento cultural del siglo XVIII se utiliza como trmino
preferente la entrada Ilustracin en lugar de Siglo de las Luces (considerado como trmino
equivalente y por consiguiente no-descriptor, eliminado de las opciones de indizacin). Pero este
concepto conlleva problemas de ambigedad en la recuperacin, ya que los autores pueden
utilizarlo con otro sentido en el mbito del diseo grfico. Para evitar la polisemia se admite una
segunda entrada diferenciada ms precisa para este segundo sentido: Ilustracin grfica (fig. 3).
La diferenciacin entre ambos conceptos se produce en la recuperacin solamente si se realiza a
travs de los ndices de materias. Su aplicacin en la bsqueda a texto libre no puede garantizar la

1100
eficacia puesto que la forma lxica utilizada por los autores est sujeta a muchas variaciones.

Fig. 5: Ejemplo de bsqueda de entradas con el trmino Ilustracin en la interfaz de consulta de Vocindario

La experiencia de los indizadores y su conocimiento de la materia son fundamentales para el
mantenimiento de una poltica de indizacin en aquellos aspectos que precisan una toma de
decisiones. No obstante, no es eficaz confiar su aplicacin a la memoria, ya que pueden producirse
olvidos y errores, y tambin el modo de trabajo debe adaptarse fcilmente a las sustituciones
temporales o definitivas en el personal dedicado a estas tareas. En la Unidad de bases de datos ISOC
se trabaja con un Manual de indizacin para uso interno, que marca criterios de procedimiento para
una amplia gama de casos. Pero este manual no puede reflejar cada ejemplo y las dudas y dobles
usos surgen con frecuencia. Por ello, es muy recomendable disponer de una herramienta donde
reflejar las decisiones relativas a la indizacin, especialmente en aquellos temas, hechos,
instituciones o personajes ms tratados por la bibliografa. Un gestor de vocabularios es eficaz para
ello en cuanto que permite establecer relaciones de equivalencia y explicitar el alcance de un
trmino a travs de las notas.
La puesta en marcha del proyecto ha servido para poner de manifiesto algunas deficiencias en
el tratamiento de algunos temas que precisaban una depuracin de variantes, desde los problemas
aparentemente ms simples (uso de singular y plural) hasta los problemas ms complejos que
precisan la consulta de diccionarios y obras de referencia para determinar la entrada ms adecuada.
Igualmente, se ha contemplado la normalizacin con otros lenguajes documentales. Aunque
en la base de datos ISOC no se toma como norma el fichero de autoridades de la Biblioteca Nacional
de Espaa, si se consulta habitualmente como fuente referencia igual que las autoridades del
catlogo colectivo de las bibliotecas del CSIC. En este sentido se ha optado por la inclusin en
Vocindario en las notas de alcance de los cdigos VIAF cuando se han localizado entradas que
efectivamente cuentan con una referencia normalizada en este sistema.

1101
La inclusin de palabras clave de autor es una medida reciente en la base de datos ISOC. En un
futuro prximo, esta herramienta puede utilizarse tambin para el establecimiento de puentes
entre ambos modelos de indizacin, as como para la deteccin de los principales problemas de
ambigedad en la recuperacin que pueden surgir a partir del uso de una indizacin sin control del
vocabulario.

4.2 Herramienta abierta a los usuarios de la base de datos ISOC para mejorar la
recuperacin de informacin bibliogrfica.

La facilidad del gestor TemaTres para editar el vocabulario en la web, permite que los posibles
usuarios de la base de datos utilicen esta herramienta para la preparacin de una estrategia de
bsqueda, de forma previa a su realizacin. De igual manera puede emplearse en cursos de
formacin o en presentaciones prcticas del producto.
A priori, puede parecer que para este uso sera preferible que la herramienta estuviera
integrada dentro de la interfaz de interrogacin de las bases de datos del CSIC. El hecho de que el
acceso sea independiente, tiene sin embargo una ventaja: la presentacin filtrada del vocabulario
utilizado a partir de un umbral mnimo de frecuencia de uso y limitada a unas disciplinas concretas.
La base de datos ISOC es un gran fichero multidisciplinar, lo cual sin duda es uno de sus principales
valores, pero tambin un inconveniente a la hora de presentar un vocabulario. Por otra parte, los
ndices de materia tienden a crecer de forma constante, se pueblan de entradas que a menudo no se
puede asegurar que sean eficaces para la recuperacin. Por lo general, y salvo que se trate de un
trmino emergente en el mbito de la investigacin en Humanidades, hay que tener precaucin
porque cuando una entrada est presente solamente en un nmero muy reducido de registros, o
bien puede ser una errata, o bien una variante que puede estar expresada por otras alternativas en
la propia base o bien no define una utilidad clara para la recuperacin de informacin. La gestin
del vocabulario en un programa externo a la interfaz permite una presentacin ms depurada de
aquellas entradas que realmente s permiten realizar una bsqueda con xito en la base de datos.
La recuperacin de informacin bibliogrfica resulta muy sencilla solamente cuando un nico
trmino usado de forma sistemtica resuelve la extraccin de los registros pertinentes a una
bsqueda. Pero a menudo pueden producirse necesidades que precisan hilar ms fino o para las
cules resulta conveniente conocer las caractersticas concretas del sistema de indizacin. As por
ejemplo:
Temas que estn presentes tanto en la clasificacin como en los descriptores de
materia. Los resultados pueden no ser idnticos y tampoco puede establecerse una
recomendacin general de si es preferible buscar mediante clasificacin o mediante
descriptores, o combinar ambas opciones. En ocasiones se le otorga un matiz distinto
segn el campo. Por ejemplo, el descriptor Historia medieval est usado en
referencia a la subdisciplina en el contexto de la historiografa, mientras que para
buscar estudios medievalistas debe utilizarse la clasificacin. En otros casos, como
etnomusicologa se mantiene el mismo sentido entre descriptor y epgrafe de
clasificacin, pero en este ltimo se asegura que tiene un sentido central en el tema
del documento, mientras que en descriptores podra haberse reflejado como tema
secundario.
Periodos histricos que pueden buscarse a travs de formas textuales o bien a travs
de fechas o siglos. En Prehistoria, Arqueologa e Historia Antigua los periodos se
expresan preferentemente a travs de formas textuales (Neoltico, Alto Imperio,)
mientras que en Historia Medieval, Moderna y Contempornea pueden utilizarse
tanto formas textuales (Trienio constitucional, Primera Repblica) como
frecuentemente solo siglos y fechas. En este caso se deben utilizar los conceptos
cuando se buscan estudios que aborden de forma pertinente el periodo histrico de

1102
que se trate, mientras que las bsquedas por fechas aportan mayor exhaustividad en
cuanto al contexto histrico (personajes de la poca, sociedad, cultura,).
Conceptos genricos que aparecen expresados con frecuencia a travs de otros ms
especficos. As, por ejemplo, para realizar una bsqueda sobre Andaluca es
demasiado restrictivo limitarse a esta entrada, que debe combinarse con las
diferentes provincias. Por el contrario, no hace falta en general la interrogacin por
entradas ms especficas (otras poblaciones andaluzas) ya que en la indizacin de la
base ISOC se reflejan de forma sistemtica las provincias tratadas en cada documento.
Conceptos que se expresan a menudo por los autores con una construccin simple
aunque para una mayor precisin es recomendable una construccin ms compleja.
Por ejemplo es frecuente que en ttulo, resmenes o palabras clave de autor se utilice
la expresin guerra civil para referirse a la contienda del periodo 1936-1939 en
Espaa. Sin embargo, en descriptores se utiliza la frmula ms precisa guerra civil
espaola, indispensable para asegurar la pertinencia y eliminar la ambigedad de la
formulacin simple.
Palabras que estn presentes en diferentes trminos, con diferente sentido. As por
ejemplo la entrada Cuenca se utiliza exclusivamente en el campo de topnimos
para la ciudad manchega, pero la misma palabra puede aparecer en la bsqueda libre
con el sentido de concepto geogrfico (cuenca hidrogrfica) formando parte de otras
entradas como Tajo (Cuenca). En este tipo de ambigedades solo la bsqueda a
travs de ndices por frase puede garantizar la pertinencia en la recuperacin.
Conceptos relacionados que conviene emplear como alternativas en la recuperacin
si se busca la mayor exhaustividad posible. Por ejemplo si se emplea el descriptor
Pintura academicista o Pintura cubista conviene buscar tambin por el
movimiento en general Academicismo y Cubismo pues son trminos
relacionados, si bien no sinnimos exactos pero que puede ser necesarios para una
recuperacin ms amplia sin una prdida importante de pertinencia.

4.3 Recurso para los estudios terminolgicos en Humanidades

Los estudios terminolgicos en cualquier disciplina precisan utilizar corpus documentales
que a menudo no resultan fciles de reunir. Los lenguajes documentales permiten aportar un
conjunto de entradas que definen con claridad expresiones formales de temas de investigacin. Los
trminos de indizacin aportan listados de sintagmas nominales que garantizan la consistencia en
la seleccin.
En esta modalidad de uso, Vocindario aporta una relacin de trminos relacionados con su
contexto de uso, disciplinas o epgrafes de clasificacin. Ello facilita la interpretacin
interdisciplinar del resultado, al permitir al usuario la visualizacin simultnea de los trminos ms
utilizados para cualquiera de las reas, as como las relaciones de cualquier de ellos con las
disciplinas relacionadas en la base de datos. As por ejemplo si se introduce el trmino
Arquitectura nazar, el usuario sabr que los resultados que obtendr en la base de datos estarn
clasificados en la base de datos en Arqueologa medieval, Arte medieval y Teora del Arte. Si
se busca por Transicin poltica (fig. 4), los resultados que obtendr estarn clasificados casi en su
totalidad en Historia contempornea, pero tambin en Antropologa social, econmica y
poltica, y en Arte contemporneo II (1945-Actualidad). En caso de que se desee encontrar los
resultados exclusivos de una clasificacin concreta, se podr posteriormente utilizando los filtros
pertinentes en la base.

1103

Fig. 6: Ejemplo de presentacin de un trmino (Transicin poltica) en la interfaz de consulta de Vocindario,
con sus diferentes agrupaciones de clasificacin de la base ISOC en las que aparece por uso

4.4 Exportacin del vocabulario para su integracin en otros lenguajes
documentales.

Hoy en da, con la evolucin de los lenguajes documentales tradicionales hacia herramientas
de recuperacin en el contexto de la web semntica (ontologas, tesauros con verbos,), resulta
recomendable disponer de opciones para la exportacin en formatos de intercambio (Prez Agera,
2004). El programa TemaTres permite la extraccin de listados en diferentes opciones: texto (txt),
Zthes, Skos-Core, TopicMap (xtm), BS8723, IMS Vocabulary Definition Exchange (VDEX), Wordpress
XML (WXR), Site Map y SQL (para funcin de Backup).
Skos (siglas de Simple Knowledge Organization System) es una iniciativa del W3C que puede
emplearse para definir cualquier tipo de lenguaje documental en forma de aplicacin tipo RDF. Este
formato puede utilizarse igualmente en la importacin de vocabularios en TemaTres.
La pgina de descripcin del proyecto disponible en la web del Centro de Ciencias Humanas y
Sociales
4
define la poltica en cuanto a la descarga o reutilizacin de los datos de este vocabulario

4
http://www.investigacion.cchs.csic.es/isoc/es/node/25

1104
bajo las condiciones de licencia Creative Commons Reconocimiento No Comercial (by-nc). La
exportacin del vocabulario permite su posible integracin en otras herramientas (gestin de bases
de datos, catlogos bibliogrficos, gestor documental, gestin de revistas electrnicas,) o la suma
con otras fuentes para constituir un corpus de conceptos relevantes en una disciplina.

Conclusiones

Vocindario est en fase de construccin y no es posible todava hacer un balance general de los
resultados obtenidos a partir de su puesta en marcha. Por el momento slo podemos llegar a
resultados parciales, siendo el ms destacado la capacidad del lxico como herramienta para el
control del vocabulario de indizacin. La creacin de un vocabulario, aunque no se persiga el
objetivo ms ambicioso de construir un tesauro o una ontologa, s resulta ya de clara utilidad para
sacar a la luz los problemas de desambiguacin, otorgando ms precisin y pertinencia a los
trminos de indizacin de la base de datos. De la misma manera, la posibilidad de absorber con
facilidad los nuevos trminos y conceptos que surgen en la investigacin y que en las Humanidades
es especialmente activa. En el futuro, este vocabulario y esta herramienta aspirarn a ser referente
en el mbito de la catalogacin e indizacin institucional y nacional.
Frente a los trabajos con lenguajes documentales abordados anteriormente en la unidad ISOC,
el proyecto Vocindario conlleva varias diferencias importantes:
Cubre la totalidad de los campos de indizacin de la base de datos ISOC. Hasta ahora
los tesauros generados a partir de la base de datos ISOC se limitaban a los
descriptores, o trataban parcialmente el campo de topnimos. En este vocabulario se
integran tambin los identificadores, se hace constar el tratamiento otorgado a los
periodos histricos e incluso se reflejan las palabras clave de autor aadidas
recientemente.
Se plantea como un lxico multidisciplinar. Con ello, pretende ser una herramienta
comn a varias disciplinas que facilite la adopcin de criterios comunes y la
resolucin de ambigedades que pueden crearse cuando una entrada tiene diferentes
sentidos en funcin del contexto. Por el contrario, los proyectos anteriores tuvieron
un carcter disciplinar y ello no contribuy a unificar criterios.
Ubica cada trmino en la estructura jerrquica del vocabulario no por su sentido
ontolgico sino en relacin con la disciplina en la que ha sido empleado. Esto supone
una alternativa frente al tesauro tradicional: un concepto como guerra civil
espaola en un tesauro quedara ubicado exclusivamente como un trmino de
Historia militar, mientras que el uso real muestra que se trata de una entrada
indispensable en otras reas como Historia poltica, religiosa o cultural.
Establece filtros por uso, es decir no refleja necesariamente todos los trminos de
indizacin utilizados en la base de datos, sino solamente aquellos que superan un
determinado nmero de registros (10 en descriptores y topnimos, 5 en
identificadores y palabras clave de autor). Con ello, se puede asegurar que todas las
entradas recogidas se corresponden con una bsqueda real en ISOC, mientras que en
los tesauros se introducan algunos trminos que no se correspondan con el uso real.
Por todas estas aportaciones, consideramos que Vocindario es un proyecto con un gran
potencial, tanto para el uso interno de la base de datos ISOC como para su explotacin externa. Las
bases de datos bibliogrficas precisan herramientas para el control del vocabulario, en donde
reflejar aquellos criterios del anlisis de contenido que pueden ayudar a mejorar la eficacia de las
bsquedas en los casos en los que existen ambigedades o imprecisiones por sinonimias y
polisemias.

1105
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Tesauros editados ligados a la experiencia de la base de datos ISOC

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Reeditado con actualizaciones en 1995.

MOCHN BEZARES, Gonzalo; SORLI ROJO, ngela (2002). Tesauro de Biblioteconoma y Documentacin.
Madrid: CINDOC.

RUBIO LINIERS, Mara Cruz (1999). Tesauro de historia contempornea de Espaa. Madrid: CINDOC;
ANABAD Castilla-La Mancha; Junta de Comunidades de Castilla La Mancha.

Tesauro ISOC de topnimos (1993). Madrid: CINDOC. Reeditado con actualizaciones en 1994, 1996 y
2003. Edicin abreviada en 2004.

Tesauro ISOC de urbanismo (1992). Madrid: CINDOC Instituto Vasco de Administracin Pblica.

VALVERDE LUNA, Ana Mara (coord.) (1992). Tesauro ISOC de Economa. Madrid: CINDOC. Reeditado
con actualizaciones y edicin multilinge en 1995.

VILLAGR RUBIO, ngel (coord.) (2008). Tesauro ISOC de Economa. Madrid: CINDOC.

TEMA 4
Partilhar informao e construir conhecimento nas
comunidades virtuais

1109
A INFLUNCIA DO OPEN ACCESS NAS COMUNIDADES ACADMICAS DA REA DE
BIBLIOTECONOMIA NO NORDESTE DO BRASIL

VIRGNIA BRBARA DE AGUIAR ALVES
Universidade Federal de Alagoas

Resumo A influncia do Open Access (OA), nas comunidades acadmicas da rea de biblioteconomia das
Universidades Federais da Regio Nordeste do Brasil. Tem como objetivo geral identificar e discutir a
influncia do movimento OA. A metodologia adotada consiste na combinao da abordagem qualitativa
e quantitativa; os instrumentos de recolha de dados utilizados foram questionrios e entrevista. A
entrevista foi aplicada ao tecnlogo snior do Instituto Brasileiro de Informao, Cincia e Tecnologia
(IBICT) com a finalidade de obter informaes sobre o movimento OA no Brasil. Os questionrios
aplicados aos professores e alunos dos cursos de Biblioteconomia com a finalidade de verificar os
efeitos e as consequncias do movimento OA sobre essas comunidades visavam responder a seguinte
questo: Que efeitos/consequncias a via verde e a via dourada de disseminao da informao
trazem para a comunicao cientfica nas comunidades acadmicas da rea de biblioteconomia da
Regio Nordeste do Brasil? Os resultados dos inquritos apontam vrios indicadores positivos da
influncia do movimento OA sobre essas comunidades acadmicas entre os quais podemos citar: a
existncia de repositrios institucionais em Universidades Federais Nordestinas, um alto percentual de
utilizao de repositrios institucionais, o elevado percentual de utilizao e produo de publicaes
bibliogrficas em OA, o conhecimento e a concordncia com o movimento OA demonstram o impacto
desse movimento nas comunidades acadmicas da Regio Nordeste do Brasil.

Palavras-chave Acesso livre. Acesso livre influncia. Acesso livre - Regio Nordeste do Brasil.

Abstract The influence of the Open Access (OA) on the academic communities of the bibliotheconomy in
the Federal Universities in the Northeastern Region of Brazil. Its global goal is to identify and discuss
the influence of the OA movement. The adopted methodology consists of the combination of the
qualitative and quantitative approaches; surveys and interviews were used as data collection
instruments. The interview was applied to the senior technologist of the Brazilian Institute of
Information on Science and Technology (IBICT) - Instituto Brasileiro de Informao em Cincia e
Tecnologia) aiming to obtain information on the OA movement in Brazil. The surveys applied to
teachers and students of the Bibliotheconomy courses, aiming to verify the effects and consequences of
the OA movement on those communities, were intended to answer the following question: Which
effects/consequences do the "Green Road" and the "Golden Road" of the information spread bring to
the scientific community in the academic communities of bibliotheconomy in the Northeastern Region
of Brazil? The survey outcomes point to several positive indicators of the OA movement influence on
those academic communities among which we can include: the existence of institutional repositories in
Northeastern Federal Universities, the high percentage of use of institutional repositories, the high
percentage of use and production of bibliographic publications with OA, the knowledge and
concordance with OA movement show the impact of this movement on the academic communities in
the Northeastern Region of Brazil.

Keywords Open Access. Open Access influence. Open Access Northeastern Region of Brasil.

Introduo

1110

A procura da informao e a sua disseminao atravessou geraes e, entre o final do
sculo XX e o incio do sculo XXI, surgiu o movimento do Open Access (OA), um modelo
alternativo para a comunicao cientfica, que vem contribuindo para a consolidao desse
sonho. O modelo estabeleceu padres para a interoperabilidade entre bibliotecas digitais e
repositrios temticos e institucionais, desencadeando uma verdadeira rede de eventos, com
o objetivo de apoiar o movimento para o acesso aberto ao conhecimento cientfico.
Exemplos do impacto do modelo implementado so: a Declarao Sobre a Cincia no
Sculo XXI (1999) e a Budapest Open Access Initiative (2002); a reunio promovida pelo Open
Society Institute (OSI), a qual estabeleceu duas estratgias - a via verde (auto-arquivamento
em repositrios institucionais e temticos) e a via dourada (publicao em revistas de acesso
livre); a Bethesda Statement on Open Access Publishing (2003), visando estabelecer princpios para
obter apoio formal das agncias de financiamento e de todos os atores do fluxo da
comunicao cientfica para a publicao de resultados de pesquisa cientfica; a Berlin
Declaration on Open Access to Knowledge in Sciencies & Humanities (2003) que recomenda o uso
consistente da Internet para divulgao e publicao das pesquisas cientficas, encorajando os
pesquisadores a publicarem os seus trabalhos em revistas de acesso livre, alm de endossar as
declaraes anteriores; a International Federation of Library Associations and Institutions
(IFLA) on Open Access for Scholarly Literature (2003) - que afirma que abrir o acesso literatura
cientfica e a resultados de pesquisa fundamental para compreenso do mundo e para
identificao de soluo aos desafios globais e, em particular a reduo da desigualdade de
informao; a Declarao de Salvador para Acesso Aberto (2005) conclama a todos os
parceiros da comunidade cientfica internacional para, conjuntamente, assegurar que a
informao cientfica seja de livre acesso e disponvel para todos. o Manifesto Brasileiro Sobre
Acesso Livre Brasil (2005) chama a comunidade cientfica brasileira apoiar o movimento
mundial em favor do acesso livre informao cientfica.
A pesquisa, que apresentamos, insere-se na rea da Cincia da Informao e a temtica
compreende questes relativas comunicao cientfica e de uma forma especfica ao
Movimento do Acesso Livre. O estudo pretende, concomitantemente, identificar e discutir a
influncia do movimento OA nas comunidades acadmicas da rea de Biblioteconomia nas
Universidades Federais da Regio Nordeste do Brasil. Nesse sentido, a metodologia empregue
na construo desta investigao envolve: a recolha de dados, nomeadamente, atravs de
entrevistas e questionrios, com pessoas que tm experincias e prticas com as questes
relativas produo, disseminao e ao uso da informao cientfica, fazendo, neste
contexto, a anlise de exemplos que estimulem a compreenso do tema.
Tem como objetivo geral identificar e discutir a influncia do movimento OA, nas
comunidades acadmicas da rea de Biblioteconomia das Universidades Federais da Regio
Nordeste do Brasil, nomeadamente nas Universidades Federais da Bahia, Alagoas,
Pernambuco, Paraba, Cear, Rio Grande do Norte e do Maranho, com nfase sobre as
questes relativas via verde e via dourada. As duas vias enquanto estratgias bsicas
do Movimento do OA foram estabelecidas com a finalidade de acelerar a disseminao do
conhecimento cientfico. Como objetivos especficos, a investigao pretendeu: estabelecer
um paralelo entre as duas estratgicas bsicas, definidas em Budapeste, sendo a primeira
estratgia o auto-arquivamento, que constitui a via verde (Green Road) - e a segunda estratgia
os peridicos eletrnicos de acesso aberto, que constituem a via dourada (Golden Road);
verificar a importncia da utilizao das vias verde e dourada para a disseminao da
informao, como uma alternativa aos mecanismos tradicionais de comunicao cientfica no
meio acadmico; relacionar a diferena entre legitimao e legitimidade das publicaes
eletrnicas de acesso aberto, com o uso da via verde e da via dourada; discutir a importncia
da Open Archives Initiative (OAI) na implementao do movimento do OA.
Como questo de investigao apresentamos: quais os efeitos/consequncias que a via
verde e a via dourada de disseminao da informao trazem para a comunicao cientfica?

1111
Tendo como hiptese a afirmao abaixo descrita: o Movimento do OA, que utiliza as via verde
e dourada, como estratgias de ao na disseminao da informao, proporciona um novo
modelo, mais vantajoso, para comunicao cientfica nas comunidades acadmicas,
localizadas na Regio Nordeste do Brasil.
O movimento do acesso livre vem procurando tornar possvel a comunicao cientfica
entre milhares de pesquisadores espalhados pelo mundo, quebrando assim as barreiras
geogrficas e facilitando a disseminao da literatura cientfica, constituindo-se como meio
essencial para a construo do conhecimento, que compreende a produo, a comunicao
(disseminao do conhecimento) e a aplicao do conhecimento gerado na criao de novos
conceitos.

Discusso e resultados

De acordo com Carvalho e Kanisk (2000 citado por Binoto, 2007) a histria da cincia
vem se modificando, configurando perodos de normalidade e perodos de revoluo, com a
inveno da escrita e da imprensa: a escrita possibilitou a preservao dos registros do
conhecimento, o que proporcionou a difuso cultural, e a imprensa tornou possvel o acesso a
esse mesmo conhecimento em uma rea obsoleta e separada de outros debates, onde
manifestam tendncias de democratizao e universalizao da cultura geral e cientfica.

A introduo de novas tecnologias de informao, com suas
possibilidades de interatividade, hipertextualidade (liberdade na
criao de textos provendo interconexes entre informaes
vinculadas) e hipermediao, provocou uma mudana rpida do
ambiente e no aumento de publicaes eletrnicas. O atual
desenvolvimento de tecnologias de informao e da Rede Internet
gerou mudanas nos conceitos de canais formais e informais de
comunicao e introduziu inovaes no que diz respeito interao
no processo de construo do conhecimento cientfico (Moreno &
Arellano, 2005).

Com a Internet, e muito particularmente a World Wide Web, houve uma mudana de
paradigma do modelo tradicional de comunicao, facilitando a troca de informao entre
pesquisadores. A rede passa a ser um instrumento de comunicao de fcil acesso que
possibilita a rapidez e a visibilidade no intercmbio de informaes (Sena, 2006, p.72). A
rapidez alcanada na disseminao de informaes gerou um contraste entre a produo e a
distribuio de revistas cientficas impressas com a agilidade das publicaes eletrnicas.
Num perodo anterior ao surgimento da Rede, toda a publicao cientfica era
produzida em papel a um custo alto. Ainda hoje, devido a fatores econmicos ou por
problemas de distribuio os pesquisadores enfrentam srias dificuldades de acessar grande
parcela da literatura cientfica (Caf & Lage, 2002).
As editoras comerciais criam barreiras para a obteno de informao e para a sua
divulgao. Os altos custos das publicaes cientficas, em formato impresso e tambm em
formato eletrnico, so obstculos para vrios pesquisadores, bibliotecas e instituies de
ensino e pesquisa - mesmo as instituies que possuem grandes recursos no tm como
acessar todas as publicaes cientficas.

1112
Tradicionalmente, o principal veculo de divulgao dos
resultados de pesquisas em cincia e tecnologia o peridico
cientfico. O artigo cientfico se torna o elemento indicador primeiro
da produo cientfica, integrando o sistema de reconhecimento
cientfico (Cronin & Overfelt, 1995), concedendo visibilidade,
contribuindo para a promoo da carreira acadmica e cientfica e
facilitando a obteno de financiamentos junto a rgos de fomento
a pesquisa (Meadows, 1999, Ziman, 1979 citado por Ferreira & Muniz,
2005).

A crise no setor dos peridicos de acordo com Moraes (2006, p.25) foi marcada por
fatores, como: a) a fuso das editoras comerciais; b) o aumento dos preos das revistas, que em
pouco tempo abalou a continuidade das assinaturas e, por isso, muitas bibliotecas excluram
vrios ttulos; c) as vendas de assinaturas por pacotes onde os custos diminuam e neles eram
includas revistas que no interessavam s bibliotecas, sendo que tambm passavam a ter
ttulos que antes no podiam pagar; d) consrcios de bibliotecas para auxiliar a negociao
com as grandes editoras, as bibliotecas se agregaram em consrcio para comprar material
cientfico e disponibiliz-lo ao usurio atravs de intercmbio ou pela Comutao
Bibliogrfica (COMUT). Toda essa situao foi agravada pela inexistncia de concorrncia, o
que monopolizou o mercado deixando as instituies sem opo, porque a cincia no existe
sem comunicao (Moraes, 2006, p.25).
De acordo com Soares (2004, p. 13) o aumento dos custos das revistas acima do ndice
geral de preos no recente, e os bibliotecrios foram os primeiros a enfrentar esse
problema, juntamente com os administradores universitrios. Os pesquisadores s tiveram
conhecimento do problema quando foi solicitado para suprimirem algumas assinaturas. O
aumento dos custou intensificou-se nas ltimas dcadas e estes inviabilizaram os oramento
das universidades e institutos de pesquisas, abalando o funcionamento das universidades
americanas, especialmente as que tinham menos recursos. Ainda de Acordo com o autor
supracitado (2004, p.15), o resultado foi desastroso mesmo para grandes universidades com
reconhecido valor e inclusive algumas bibliotecas decidiram cancelar mais de 500 assinaturas
de revistas.
De acordo com Sena (2006, p.72), torna-se evidente a discrepncia entre a morosidade
do processo da comunicao cientfica tradicional e a rapidez com que algumas reas do
conhecimento se desenvolvem e promovem a divulgando os seus trabalhos. Neste contexto,
surge a questo da transferncia dos direitos autorais para os editores, o que nem sempre
atende aos interesses dos autores. Alm disso, a importncia do processo de reviso feita pelos
autores e o tempo despendido limita o processo de disseminao de novas idias facilitando a
promoo de grupos restritos de editores e autores. Segundo Jacobs (2006, p.1), as
preocupaes relativas ao tenso sistema de comunicao acadmica levaram proliferao de
um movimento para a mudana.
O movimento do acesso livre acredita ter a resposta para esta questo crtica: e os
lderes desse movimento no esto to interessados em reformar o sistema de comunicao
investigacional j existente mas sim em transform-lo para que possa funcionar com eficcia
num ambiente tecnolgico em rpida mudana.
De acordo com Borges (2006, p. 81) o movimento do acesso livre comeou em 1994,
quando Stevan Harnad d incio a sua proposta subversiva numa lista de discusso
disponvel na internet dedicada ao tema das revistas eletrnicas (OKERSON, O DONNEL 1995
citado por Borges, 2006). Na resposta a esta proposta esteve presente Paul Ginsparg, o criador
do arquivo de Los Alamos, atualmente conhecido Arxiv, um arquivo de preprints na rea da
fsica e da alta energia, cujo sucesso permitiu todo novo horizonte na partilha da Informao
Cientifica.

1113
Rodrigues (2006), aps a publicao da Proposta Subversiva, assim denominada pelo
seu prprio autor Stevan Harnad sublinha que vrias iniciativas foram ocorrendo em favor do
movimento do acesso livre em todo o mundo, nomeadamente: a criao da Scholarly Publishing
and Academic Resources Coalition (SPARC); a Declarao de Santo Domingo; a Conferncia
Mundial Sobre A Cincia para o Sculo XX; a Declarao sobre a Cincia e o Uso do
Conhecimento Cientfico; a Agenda para a Cincia; a Conveno de Santa F a Iniciativa de
Arquivos Aberto; o Lanamento da Pubmed Central.

Na origem do movimento de Acesso Livre esto os problemas,
limitaes e contradies do sistema de comunicao da cincia, em
particular os relacionados com as revistas cientficas. De fato, nas
ltimas dcadas do sculo XX o crescimento acentuado da literatura
cientfica, nos mais diversos ramos do saber, foi acompanhado pela
comercializao, e pela perda de controlo por parte do mundo
acadmico, do sistema de comunicao da cincia (Rodrigues, 2006).

Existe uma multiplicidade de definies do que vem a ser Acesso Livre, mas o Acesso
Livre diz respeito acessibilidade ampla e irrestrita a contedos disponveis em formato
digital, no sentido em que remove barreiras de preo e de permisso, tornando a literatura
cientfica disponvel com o mnimo de restries de uso (Suber, 2003 citado por Batpista,
Costa, Kuramoto & Rodrigues, 2007, p.5).
Swan (2006, p.1) descreve o movimento do acesso livre como resultado de uma longa
histria de comunicao acadmica, que sempre esteve ligada s mudanas tecnolgicas e
econmicas. Artigos cientficos e monografias tm estado implicados nas recentes mudanas,
mas so talvez os desenvolvimentos recentes na disseminao de artigos cientficos, que mais
tm exercitado as mentes dos investigadores, livreiros e editores.

O OA no mais do que a vontade expressa de um autor
oferecer o que j acontece com os meios tradicionais de publicao
os resultados validados da sua pesquisa a um conjunto ilimitado de
pessoas (pares ou pblico em geral) para maximimizar o seu uso e
impacto e este, na verdade, o objetivo. Mas no apenas o autor
quem beneficia do impacto de citao tambm a unidade de
investigao e a universidade onde est inserido so co-beneficirios
do sistema (Borges, 2006, p.75).

Para Mueller (2006, p.1), o movimento para o acesso livre ao conhecimento cientfico
pode ser considerado o evento mais significativo da nossa poca, no que se refere
comunicao cientfica, e, neste sentido, se torna um grande desafio para a comunidade
acadmica. Quanto mais sucesso obtiver o movimento, maior ser o impacto sob as mudanas
provocadas no sistema tradicional. Segundo Foster (2008), o acesso livre tornou-se num
assunto importante para determinados pesquisadores e numa oportunidade de explorao
para universidades, no que concerne troca de impresses acerca de novidades e mudanas
na comunicao acadmica, capacidade de pesquisa e modelos para edio.
A edificao do saber est diretamente ligada difuso e transferncia de informao,
com o intuito de solidificar novas ideias e, assim, efetuar todas as etapas do conhecimento
cientfico, que compreendem a produo, a comunicao e a aplicao do conhecimento
criado, e, neste contexto, a publicao cientfica encerra uma funo indispensvel na
divulgao dos resultados de pesquisa, auxiliando a discusso entre pesquisadores.

1114
Suber (2006 citado por Bailey, 2006) caracteriza assim o cerne do conceito do acesso
livre: o acesso livre elimina as barreiras de preo (por exemplo, as taxas de subscrio) e as
barreiras de permisso (tais como, os direitos de autor e as restries de licena)
literatura realmente livre (ou seja, os trabalhos de investigao criados sem fins lucrativos
pelos autores), tornando-se disponveis balizados por restries de utilizao mnimas (por
exemplo, a atribuio de autor).
O Brasil vem distinguindo-se quanto s polticas de acesso a informao. Tem realizado
diferentes iniciativas em favor do acesso livre. De acordo com Melo, Sampaio e Pires (2007) o
Brasil, devido dimenso do seu territrio e, consequentemente, s desigualdades regionais,
no se desenvolve de maneira semelhante nas diversas regies, pelo que especificamente no
contexto educativo, ainda convive com diferenas na educao das classes mais abastadas, por
um lado, e das classes menos favorecidas, por outro lado. Neste seguimento, os autores
supracitados destacam o impacto das diferenas regionais e do investimento na disseminao
do conhecimento, defendendo que as regies que possuem mais conhecimento podem
partilhar os seus recursos informacionais com as regies menos beneficiadas, cooperando
para o desenvolvimento geral da nao.
A partir de 2005, com a elaborao Manifesto Brasileiro de apoio ao Acesso Livre
Informao Cientfica, e segundo Kuramoto (2008), o Brasil vem realizando atravs do IBICT,
vrias iniciativas em favor desse movimento entre as quais podemos mencionar: a assinatura
da Declarao de Berlim (2003), a submisso, a aprovao e o desenvolvimento do Projeto de
Publicaes Peridicas de Acesso Livre (PCAL), junto a Financiadora de Estudos e Projetos
(FINEP), a prospeco, a identificao, a absoro, a customizao, e o aperfeioamento e a
distribuio de tecnologias para o tratamento e disseminao da informao, que sustentem
s aes de acesso livre a exemplo do Sistema Eletrnico de Editorao de Revistas (SEER), a
construo de repositrios institucionais e temticos de acesso livre, Projeto de Lei (PL)
1120/2007 - que dispe sobre o processo de disseminao da produo cientfica, a
implantao da Biblioteca Digital Brasileira de Teses e Dissertaes (BDTD). Para alm destas
iniciativas, foram publicados, em 2006, um nmero especial da revista Cincia da Informao
(35:2), e, em 2008, da Revista LIINC (4:2) ambas com artigos de pesquisadores brasileiros e
estrangeiros sobre o tema do acesso livre.
E salientamos tambm a participao brasileira na Iniciativa ALEMPLUS (2006), no
Compromisso do Minho (2006) e a Cooperao Luso-brasileira (2009). Esta ltima, foi realizada
coma finalidade de aumentar a difuso do conhecimento cientfico em lngua portuguesa, nos
pases lusfonos e no mundo.
A pesquisa efetuada procurou identificar os efeitos e/ou as consequncias desse
movimento sobre a comunidade acadmica da rea de Biblioteconomia na Regio Nordeste do
Brasil e como podemos verificar, atravs dos indicativos apresentados, nomeadamente dos
inquritos aplicados aos professores e alunos dos cursos de Biblioteconomia da Regio
Nordeste do Brasil, possvel concluir o impacto do OA nas comunidades acadmicas da rea
de Biblioteconomia no Nordeste do Brasil.
Verificamos que a maioria dos professores respondentes (67,3%) informou que a
universidade onde trabalha possui repositrio institucional de acordo com a tabela 1.

1115

A universidade onde trabalha possui
repositrio institucional

Freqncia
(N)
Frequnci

Percentual
(%)
Sim 33 67,3
No 16 32,7

Tabela 1 A universidade onde trabalha possui repositrio

A maior parte dos professores respondentes possui produo bibliogrfica em OA
(74,3%). De fato, os docentes respondentes possuem um elevado nmero de publicaes em
OA, conforme a tabela 2

Possui produo bibliogrfica em
OA

Frequncia
(N)

Percentual
(%)
Sim 26 74,3
No 9 25,7

Tabela 2 - Possui produo bibliogrfica em AO

A grande maioria dos professores respondentes (90,0%) utiliza produo bibliogrfica
em OA para realizao de seus trabalhos acadmicos, de acordo com a tabela 3.

Utiliza produo bibliogrfica
em OA
Frequncia
(N)
Percentual
(%)
Sim 36 90,0
No 4 10,0

Tabela 3 - Utiliza produo bibliogrfica em OA

Foi possvel averiguar que 62,8% das universidades onde os alunos respondentes
estudam possuem repositrios institucionais e que apenas 37,2% no possuem repositrios,
conforme a tabela 4.

1116
A universidade onde estuda possui
repositrio institucional
Frequncia
(N)
Percentual
(%)
Sim 86 62,8
No 51 37,2

Tabela 4 - A universidade onde estuda possui repositrio institucional

A maioria dos alunos respondentes (78,6%) informou que no possu produo
bibliogrfica em OA e apenas uma minoria dos alunos respondentes (21,4%) informou que
possu, como demonstra a tabela 5.

Possui produo bibliogrfica
em OA
Freqncia
(N)
Percentual
(%)
Sim 6 21,4
No 22 78,6

Tabela 5- Possui produo bibliogrfica em OA
87,5% dos alunos respondentes, assim como 90,0% dos professores respondentes,
afirmaram que utilizam produo bibliogrfica em OA como fonte de pesquisa, como
apresenta a tabela 6.

Utiliza produo bibliogrfica
em OA
Freqncia
(N )
Percentual
(%)
Sim 28 87,5
No 4 12,5

Tabela 6 - Utiliza produo bibliogrfica em OA

E como mostra a tabela seguinte, podemos constatar mais um indicador positivo do
movimento OA no Brasil: uma grande parte dos professores inquiridos (83,3%) conhece o
movimento do OA, de acordo com a tabela 7.

1117
Conhecimento do OA Freqncia (N ) Percentual (%)
Sim 40 83,3
No 8 16,7

Tabela 7 Conhece o OA

Para comprovar esta abertura, a maioria dos inquiridos (97,5%) concordam com o
movimento do OA, como demonstra a tabela 8.

Concordncia com o movimento OA
Concorda com o
Movimento do OA
Frequncia (N) Percentual (%)
Sim 39 97,5
No 1 2,5

Tabela 8 Concorda com o OA

A realizao dessa pesquisa permitiu adquirir informaes sobre o movimento OA no
mundo e, de uma forma muito especial, no Brasil.
Como fator bastante positivo para o movimento do OA no Brasil, a maior parte das
Universidades inquiridas possui repositrios institucionais (RI).
Como fator bastante positivo para o movimento do OA no Brasil, a maior parte das
Universidades inquiridas possui repositrios institucionais (RI): o RI da Universidade Federal
da Bahia (UFBA), Universidade Federal de Alagoas (UFAL), Universidade Federal do Rio Grande
do Norte (UFRN) e Universidade Federal do Maranho (UFMA) encontram-se instalados, o RI
da Universidade Federal de Pernambuco (UFPE) est em fase de testes e o RI da Universidade
Federal do Cear (UFC) j possui um link e publicaes depositadas, ser lanado oficialmente
no segundo semestres de 2011 e s o RI da Universidade Federal da Paraba (UFPB) ainda no
foi implantado, mas o Departamento de Cincia da Informao onde funciona o curso de
Biblioteconomia nesta universidade possui um repositrio. Todos os RI acima citados fazem
parte da Relao dos Repositrios Brasileiros que utilizam o Dspace e o RI da UFRN e UFMA
esto registrados no Directrios Luso-brasileiro repositrios e revistas de acesso aberto, todos
foram implantados a partir dos recursos oriundos da FINEP. Mas comprovadamente pelo
baixo percentual de produo bibliogrfica e produo tcnica de docentes e discentes
respondentes depositadas em RI no existe ainda uma poltica estabelecida para divulgar e
incentivar o auto-arquivamento (via verde) e a disponibilizao da produo cientfica de
professores e alunos nesses RI. Apesar de existir um alto percentual de utilizao de RI entre
os docentes respondentes enquanto os alunos no o utilizam, mas assim como os professores
utilizam peridicos eletrnicos em OA.
Apesar da maioria das universidades da regio inquirida possuir RI ainda
significativamente baixo o nmero de produo bibliogrfica de docentes e principalmente de
discentes, depositada nesses repositrios.

1118
A maioria dos professores e alunos respondentes utiliza produo bibliogrfica em OA
nos seus mais variados tipos, sobretudo artigos publicados em peridicos eletrnicos em OA,
mas s os docentes possuem um nmero significativo de produo bibliogrfica publicada em
AO.
Comprovadamente a maioria dos docentes conhece e concorda com o movimento do
OA, outro fator de impacto do movimento do OA no Brasil. Ao contrrio dos discentes
respondente, cuja maioria desconhece o OA, mas a minoria que conhece tambm concorda
com o movimento do AO.
Os docentes respondentes assim como os discentes possuem uma opinio formada
sobre o OA, mas ainda no asseguram que o movimento do OA promove o aumento de
citaes da produo bibliogrfica de professores e pesquisadores", apesar de inmeros
estudos comprovarem essa afirmao e de uma forma mais bem acentuada tambm no
afirmam que as publicaes bibliogrficas em OA tm a mesma importncia das publicaes
bibliogrficas em revistas impressas com avaliao prvia feita pelos pares conforme o
modelo tradicional.
Apesar da maioria das universidades da regio inquirida possuir RI ainda
significativamente baixo o nmero de produo bibliogrfica de docentes e principalmente de
discente depositada nesses repositrios; isso se justifica pelo fato dos referidos repositrios
terem sido recentemente implantados e sendo assim reafirma-se a falta de incentivo ao auto-
arquivamento e a promoo da disponibilizao da produo bibliogrfica produzida nas IES
da regio nordeste do Brasil.
A produo tcnica de docentes e discentes publicadas em OA, em RI e em RI da
instituio onde lecionam ou estudam irrelevante, se comparado ao nmero de produo
bibliogrfica de docentes em OA, em RI e em RI da instituio onde lecionam; justifica-se isso
pelo fato da produo tcnica ser relativamente baixa nas chamadas cincias sociais e
principalmente na Cincia da Informao, alm da falta de incentivo ao auto-arquivamento
nas Instituies de Ensino Superior (IES) do nordeste do Brasil, mas a maioria dos docentes e
alunos respondentes utiliza produo tcnica em OA principalmente de material didtico e
instrucional e de software.
Independentemente da instituio onde lecionam e estudam a maioria dos professores
e alunos respondentes concordam totalmente e concordam com as afirmaes apresentadas
sobre o OA, com relao ao acesso, a disseminao e a visibilidade, mas existe uma disperso
entre os professores e alunos respondentes com relao as afirmaes "o movimento do OA
promove o aumento do nmero de citaes de professores pesquisadores" e "as publicaes
bibliogrficas em OA tem a mesma importncia das publicaes bibliogrficas em revistas
impressas com avaliao prvia feitas pelos pares".
A maior parte dos professores e alunos respondentes que lecionam e estudam em
instituies que possuem repositrios concorda totalmente com as afirmaes sobre o OA,
com relao ao acesso, a disseminao e a visibilidade, mas independentemente da instituio
onde lecionam ou estudam possuir repositrios existe uma distribuio entre os professores e
alunos respondentes com relao as afirmaes "o movimento do OA promove o aumento do
nmero de citaes de professores pesquisadores" e "as publicaes bibliogrficas em OA tem
a mesma importncia das publicaes bibliogrficas em revistas impressas com avaliao
prvia feitas pelos pares";
Como verificamos atravs da reviso de literatura, e dos resultados dos inquritos
aplicados, podemos afirmar que a comunidade acadmica da rea de Biblioteconomia na
Regio Nordeste do Brasil concorda e aceita o acesso livre, sendo que j se torna visvel o
impacto ou a influncia do movimento do acesso livre no Brasil, e, especificamente, na Regio
Nordeste.

1119
Contudo, dever-se- continuar a investir na divulgao do movimento em prol do
acesso livre e a implementar programas e projetos, de forma a ampliar e estimular a utilizao
do auto-arquivamento (via verde) e a criao de peridicos de acesso livre (via dourada). Este
impulso no dever ser proporcionado s atravs governo brasileiro, s atravs do IBCT, mas
tambm atravs do envolvimento direto das prprias comunidades acadmicas com os seus
pares, nas suas instituies, para que o acesso livre se torne de fato uma alternativa para a
disseminao do conhecimento cientfico e para que o Brasil e especificamente a Regio
Nordeste tenham a possibilidade de aumentar a visibilidade da sua produo cientfica no
Brasil e no mundo.

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1121
COMPARTILHAMENTO DE VDEOS SOBRE INFORMAO EM SADE
Anlise da representatividade da dengue no Youtube

RONALDO FERREIRA DE ARAJO
[email protected]

BRUNO FELIPE MELO SILVA
[email protected]

FRANCISCA ROSALINE L. MOTA
[email protected]

Resumo Discorre sobre a informao em sade no contexto da internet e dos sites de redes sociais
situando-os no mbito da Comunicao Interativa em Sade (CIS) como fonte de informao cada vez
mais popular. Destaca por meio de algumas pesquisas, o Youtube, como fonte de informao em sade e
apresenta um estudo exploratrio com base nos estudos mtricos da informao na web, de natureza
cibermtrica, sobre a dengue, no referido canal. Foram considerados, por uma amostragem intencional,
os 100 primeiros vdeos, e analisados pelos critrios de visibilidade, influncia e engajamento. Os foram
publicados entre os anos de 2006 e 2013, sendo que 90% possui at 1 ano de existncia, indicando que a
recorrncia ao canal do Youtube para divulgao de informao em sade sobre a dengue recente. As
categorias ensino e notcia e poltica esto melhor representadas, somando 54% do universo
analisado. Na visibilidade, os vdeos tiveram 1.413,995 visualizaes nicas oriundas de 36 pases;
quanto a influncia percebeu-se baixa participao de perfis (institucionais e pessoas) ligados a rea da
sade, o que tende a comprometer a qualidade das informaes; o engajamento tambm pode ser
considerado baixo tendo em vista os poucos comentrios recebidos.

Palavras-chave Informao em sade. Dengue. Redes Sociais Youtube.

Abstract Discusses the health information on the web and social networking sites context situating
them within the interactive health communication as a source of information increasingly popular.
Highlights through some research about Youtube as a source of health information and presents an
exploratory study based on metric studies of information on the web about Dengue, in that channel.
Were considered by a purposive sampling, the first 100 videos, and analyzed by the criteria of visibility,
influence and engagement. The were published between the years 2006 and 2013, with 90% having less
than 1 year of existence, indicating that the recurrence Youtube channel for disseminating health
information about dengue is recent. The categories 'teaching' and 'News and politics' are better
represented, totaling 54% of the universe analyzed. About visibility, the videos had 1413.995 unique
views coming from 36 countries, as it was realized the influence of low participation profiles
(institutions and individuals) related to health care, which tends to compromise the quality of the
information; engagement also may be considered low in view of the few comments received.

Keywords Health information. Dengue. Social Networking - Youtube.

1122
Consideraes iniciais

Na sociedade contempornea a propagao de informaes ocorre em ritmo acelerado,
onde mudanas significativas dos aspectos tecnolgicos influenciam de forma direta a vida
cotidiana. O principal, e primeiro, ponto a ser observado refere-se evoluo dos
computadores que deixaram de ser mquinas de calcular e transformaram-se em mquinas de
comunicar (Santaella, 2003).
Frente ampla difuso dos computadores e o advento da Internet, surge a web, capaz de
viabilizar a interao dos usurios nesse meio, criando assim a possibilidade da formao de
redes sociais em espaos virtuais, bem como plataformas que expressam a mxima da web
2.0, embasadas na conexo em rede de todos para todos (Lvy, 2000) alterando muitos
paradigmas nas esferas econmicas, poltica e social.
Dessa forma, a internet passa a ser um dos principais meios no processo de
disseminao da informao e a comunicao mediada por ela deve ser vista como fenmeno
social (Castells, 2003b) na denominada sociedade interativa. Ao mesmo tempo a internet vem
se tornando fonte inesgotvel de recursos que podem ser tanto utilizados pelos usurios que
buscam informao quanto por estudiosos que se dispem a analisar a estrutura da rede e seu
contedo (Vanti, 2002, p.159).
Dos mais variados tipos de informaes buscadas e compartilhadas nos ambientes
digitais, a informao em sade tem ocupado o centro de algumas pesquisas que situam a
internet como fonte de informao em sade, seja no seu processo de comunicao (Soares,
2004), bem como seus impactos e outros aspectos crticos voltados a sua qualidade e avaliao
(Lopes, 2004; Vitria da Silva & Cardozo de Castro, 2008).
consenso nessas pesquisas que o uso cada vez mais amplo da internet e podemos
estender aos sites de redes sociais (Vance, Howe & Dellavalle, 2009) para a busca de
informaes em sade, vem crescendo de forma vertiginosa, seja por parte dos profissionais
ou dos pacientes. Em uma cultura digital participativa, as plataformas e os ambientes
colaborativos de produo dessas informaes bem como os canais para sua disseminao
tambm acompanham esse crescimento e ganham destaque nos estudos sobre o assunto.
O presente trabalho discute a informao em sade no contexto da internet com nfase
nos sites de redes sociais. Evidencia as contribuies dessas redes para a disseminao da
informao em sade e apresenta um estudo emprico sobre a dengue na rede social de
compartilhamento de vdeos: Youtube.

1 Informao em sade, internet e redes sociais

Pensar a informao em sade conjugando-a no mbito da Internet e das redes sociais
assumir uma perspectiva interdisciplinar, no que tange s prticas relacionais e s novas
metodologias que demandam esses espaos interativos. De acordo com Marteleto (2010, p.32)
nesses espaos e nos circuitos de uma web 2.0 existem prticas massivas, multiformes e
surpreendentes que reavivam formas antigas de sociabilidade, comunicao e informao, ao
mesmo tempo em que desenham novos formatos de trocas e interaes.
A interao entre indivduos, mediada por tecnologias de comunicao, para busca ou
compartilhamento informao em sade considerada Comunicao Interativa em Sade -
CIS (Soares, 2004; Eng e Gustafson, 1999). Podemos considerar que as trocas informacionais em
sade na internet, por meio de chats que acompanham uma webconferncia, comentrios em
blogs, grupos e comunidades em sites de redes sociais, e de fruns e listas de discusso so
formas de CIS. Dentre as funes da CIS destacamos seu papel de viabilizar a troca de

1123
experincias e apoio mtuo que convergem com o ideal democrtico e participativo das
redes.
Castells (2003a, p. 7) enfatiza que uma rede um conjunto de ns interconectados. A
formao de redes uma prtica humana muito antiga, mas as redes ganharam vida nova em
nosso tempo, transformando-se em redes de informao energizadas pela Internet. No
ciberespao, essa energia (re)combina os mais diversos contedos to mltiplos quanto os
atores que lhe do origem.
Presenciamos um momento em que o indivduo busca cada vez mais espaos que
garantem sua liberdade de expresso, e essa est ligada diretamente ao interesse dele em
disponibilizar informao condizente com suas necessidades informacionais. Assim, no h
centro, temos usurios emissores/receptores de mensagens, produtores/consumidores de
contedos, mediadores e at certo ponto influenciadores, visto que a abrangncia daquilo que
se produz e disponibiliza na rede, pode vir a ser o termmetro que permitir considerar o
contedo vlido ou no, e o fluxo de mensagens encontra sentido quando h certa assiduidade
das trocas entre os membros.
O crescimento exponencial da informao, atrelado aos aspectos referentes a formao
de redes, promove, como dito por Tapscott e Williams (2007), o compartilhamento da
informao ampliado pelo intercmbio entre os indivduos, desenvolve um ambiente de
aprendizagem mtua e influencia no processo de construo e manuteno do conhecimento.
A internet a mais popular fonte de informao em sade (Campbell, Ogilvie &
Gerrand, 2012) e os pacientes contam ela com maior frequncia do que com seus mdicos de
acordo com Vance, Howe & Dellavalle (2009). Para esses autores as redes sociais na internet
desempenham um papel cada vez maior nas pesquisas sobre sade, e dentre o sites
apresentados h um destaque com pesquisas realizadas sobre o Youtube, considerado como
rede que possui maior potencial para sade pessoal e tomada de deciso.

2 O Youtube e a informao em sade: broadcast youself

O Youtube, site destinado ao gerenciamento de vdeo, foi fundado em 2005 pelos
desenvolvedores Chad Hurley e Steve Chen. No ano seguinte, devido grande quantidade de
acesso em um pequeno espao de tempo, foi comprado pelo Google tendo como misso
possibilitar a organizao da informao em formato de vdeo, na perspectiva de tornar
acessvel e til de forma universal (SERRANO, PAIVA, 2008, p. 3).
Ao evidenciar a dinmica que acompanha o Youtube Burgess e Green (2009, p. 23-24) o
descreve como sendo um objeto de estudo particularmente instvel, marcado por mudanas
dinmicas (tanto em termos de vdeos como de organizao), diversidade de contedos (que
caminha em um ritmo diferente do televisivo mas que, da mesma maneira, escoa por meio do
servio e, s vezes, desaparece de vista) e uma freqncia cotidiana anloga, ou mesmice,
deixando claro que o fato de existir a liberdade de criao de contedo pode de certa forma
apresentar a sociedade tal qual ela , visto que o que produzido est diretamente ligada a
aspectos polticos, econmicos e culturais.
Segundo Vance, Howe & Dellavalle (2009) o uso dos sites de redes sociais, (ou mdias
sociais) so atraentes para espalhar mensagens de sade voltadas principalmente para o
pblico jovem, que assim como usam esses ambientes para favoritar sua banda, filme ou
candidato poltico, podem faz-lo, por exemplo, para adicionar um link em sua pgina pessoal
de um site sobre sade da pele com atualizaes sobre o tratamento da acne e outros
problemas de sade.
Para Campbell, Ogilvie & Gerrand (2012) o Youtube pode ser considerado como uma
importante fonte de informao em sade com as vantagens de baixo custo, rpida

1124
transmisso atravs de uma ampla comunidade e interao com o usurio. Os autores
levantaram uma srie de trabalhos sobre o site sendo avaliado como uma fonte de informao
e perceberam vrios temas, incluindo o cncer de prstata, o fumo e consumo de tabaco, a
pandemia de influenza H1N1, epilepsia, vacinas, amamentao, ressuscitao cardiopulmonar
e pedra nos rins.
Keelan, Tomlinson & Wilson (2007) analisam o compartilhamento de vdeos sobre
vacina e imunizao no Youtube e pelo nmero de avaliaes e visualizaes sugere a presena
de uma comunidade de usurios crticos da imunizao no canal. No entanto, para os autores,
os mdicos devem estar preparados para responder pacientes que obtm informaes em
sade nessas fontes. Para os autores o uso potencial desse tipo de site como comunicao
eficaz por profissionais de sade deve ser considerado.
Nesse contexto Hayanga & Kaiser (2008) questionam o trabalho anterior, alertando para
a inconsistncia na qualidade de fontes online de informaes, sobretudo em canais
projetados mais para entretenimento (cultura popular) do que para a difuso de informaes
baseada em evidncias mdicas, refletindo baixa credibilidade mdica.
Mas Keelan, Tomlinson & Wilson (2008, p.1425), em resposta a crtica, reiteram que a
comunidade mdica j aceitou que os pacientes iro usar a internet como fonte de informao
em sade e encontrou mecanismos eficazes que permitam difundir informao mdica
convencional (tais como Medline e MedlinePlus). Alm do mais, para os autores o Youtube est
servindo sim, como um mecanismo para comunicar informaes em sade, e a crena de que
plataformas como Youtube so inerentemente problemticas e, portanto, nunca devem ser
usadas para a transmisso de informao mdica para o pblico, no significa que deixaro de
serem usadas pelo pblico para esta finalidade(traduo nossa).
Nas breves pesquisas aqui apresentados no houve algum estudo se dedicasse ao
compartilhamento de informaes sobre a dengue no Youtube, foco deste presente trabalho.
Tendo em vista ser a arbovirose mais importante do mundo, a qual mais de 2,5 bilhes de
pessoas corre o risco de se infectarem, constituindo um problema grave de sade pblica
(Tauil, 2002), considerando ainda sua exploso epidmica nos ltimos anos (Barreto &
Teixeira, 2008) e a importncia da circulao de informaes que divulguem os aspectos
centrais da dengue (vrus e transmissores; sintomas; tratamento; e preveno) tornam-se
cada vez mais necessrios, estudos que se dedicam analisar (mensurar) sua representao na
web, bem como as informaes produzidas e disponibilizadas.

3 Procedimentos Metodolgicos

A pesquisa tem como objetivo central investigar a apropriao do canal do Youtube para
veiculao de informaes sobre a dengue, com vistas a verificar sua representatividade.
Trata-se de uma pesquisa exploratria de princpio metodolgico pautado nos estudos
mtricos da informao na web com abordagem quantitativa descritiva. A partir dos
descritores dengue e aedes aegypti foram realizadas buscas na prpria plataforma do
Youtube e considerados os vdeos relacionados doena endmica causada pelo mosquito,
postados at 18 de janeiro de 2013, nos idiomas: portugus, espanhol e ingls.
Foram coletados e analisados, por meio de uma amostra intencional, os 100 primeiros
vdeos presentes nos resultados da busca. Por meio de uma abordagem cibermtrica (Vanti,
2005), aquela adequada mensurao da informao no contexto da internet e do ciberespao
(chats, grupos de discusso, sites de redes sociais), empregada na pesquisa a partir de trs
indicadores, vistos tambm por Recuero (2009) como valores construdos na rede: 1.
Visibilidade: quantitativo de usurios que tiveram acesso (alcance de pblico); 2. Influncia:
relaciona-se com a autoridade do ator que publica (reputao); 3. Engajamento: capacidade do
contedo publicado em mobilizar (participao).

1125
4 Anlise dos Resultados

Os vdeos so descritos por data de publicao e categoria, com destaque aos mais vistos
e comentados. Antes das consideraes sobre os indicadores tem-se uma anlise dos termos
mais recorrentes com base na leitura dos ttulos, descrio e palavras-chave dos vdeos.

4.1 Descrio geral dos vdeos

Conforme Grfico 1 percebemos que os vdeos foram publicados entre os anos de 2006 e
2013, sendo que a maioria (90%) possui at 1 ano de existncia, indicando que a recorrncia ao
canal do Youtube para divulgao de informao em sade sobre a dengue recente e
demonstra ser evolutiva.

Grfico 1. Vdeos sobre a Dengue por ano
1

De acordo com dados divulgados pelo Ministrio da Sade em 1995 o nmero de
municpios afetados era de 1753 j em 2010 o nmero subiu para 4007 (o Brasil possui 5565
municpios, dados do IBGE - Instituto Brasileiro de Geografia e Estatstica) totalizando
aproximadamente um aumento de 130%. Com o aumento de municpios afetados e de casos
confirmados, comum que haja mais procura e consequentemente mais informaes
disponibilizadas na rede sobre o assunto.
A distribuio dos vdeos por categorias pode ser visualizada no Grfico 2. Foram
identificadas 13 categorias, das quais Noticia e Poltica a mais representativa com 34%,
seguida da categoria Ensino, com 20%. A categoria Pessoas e Blogs e Entretenimento
obtiveram 8% cada, seguidas de Cincia e Tecnologia e Filmes e Animao com 6% cada.
As demais apresentaram menos de 5% cada.

1

1126

Grfico 2. Vdeos sobre a Dengue por categoria
2

A disseminao de contedos informativos e educativos so as bases para a tomada de
deciso e, portanto, componentes importantes da promoo da sade. (Quino et al., 2011). As
categorias Notcia e poltica e Ensino obterem o maior nmero de vdeos, nos aproxima
dessa assertiva, indicando por um lado o compartilhamento com fins de divulgao da
informao em sade (relatos de casos locais por meio de reportagens ou entrevistas), e por
outro, a disponibilizao de informaes de carter mais educativo (esclarecimentos sobre a
epidemia, mostrando formas de preveno e combate a propagao da mesma).
A comunicao interativa em sade considera a interao na transmisso e acesso
informao em sade por indivduos por meio de tecnologias da informao. A Tabela 1
apresenta os vdeos mais acessados e mais comentados.

Tabela 1. Ranking dos vdeos mais vistos/comentados

2
Grfico 2 e Tabela 1: Fonte: dados da pesquisa

1127
A literatura aponta as redes sociais como ambientes atrativos para os jovens na busca
por informao sobre sade. Da amostra escolhida, os vdeos mais vistos e os mais comentados
so os de animao, registrados na categoria Filmes e Animao, que normalmente
atenderiam a esse pblico. Embora o acesso j seja considerado como elemento para a CIS, os
comentrios talvez materializem mais a noo de interao. Nesse quesito, tendo em visto os
nmeros de acesso, consideramos baixa a participao em torno dos comentrios.
Ainda que nesse momento, no esteja no escopo da pesquisa a analise do contedo
propriamente dita, foi realizada uma analise nos ttulos, descrio e palavras-chave dos vdeos
para ter certa compreenso sobre o que eles tratam e obter os termos mais frequentes. Como
resultado temos a visualizao disposta na Figura 1, com destaque (maior tamanho de fonte)
para os termos com mais recorrncia. Foi retirado da figura o termo dengue (com 148
ocorrncia) para privilegiar o destaque de outros.

Figura 1. Nuvem de termos mais recorrentes
3

As tradues (ingls espanhol) foram consideradas, assim os termos com maior
frequncia so: Mosquito (mosquitoes, mosquitos), 52; Doena (disease, enfermedad), 34;
Sade (health), 31; Febre (fever, fiebre), 29; Vrus (virus), 19; Combate (combater), 23; Casos
(cases), 22; Preveno (prevenir, evitar), 18; Contra, 14; Aedes, 14; Aegypti, 11; Dor, 12;
Campanha, 10; e sintomas, 10. Podemos perceber que os termos representam bem os
elementos que envolvem a epidemia do mosquito causador e dos sintomas da doena s
campanhas de preveno e combate.

4.2 Cibermetria da dengue no Youtube: Visibilidade, influncia e engajamento

A visibilidade refere-se disseminao da informao expressada no alcance
quantitativo que os vdeos atingiram. Para essa mtrica identificamos que os vdeos tiveram
juntos 1.413,995 visualizaes nicas oriundas de 36 pases, sendo os mais representativos:
Brasil (38%), Bolvia (7%), Cabo Verde (7%), Moambique (7%) e Portugal (7%). De forma
isolada as diferenas de visualizaes bastante grande, mas tendo em vista abordarem o
mesmo tema no problematizou-se essa questo.

3

1128
Figura 2. Nuvem dos pases que mais acessaram os vdeos
4

Quanto ao perfil dos usurios que do audincia aos vdeos, a estatstica do canal estima
que a maioria de homens (36%) e em menor proporo esto as mulheres (27%). O restante
(37%) no pde ser identificado uma vez que nem todos que acessam aos vdeos o fazem
logados (cadastrados) e nem todos que possuem conta informam esses dados. A incidncia do
pblico adolescente, jovem e adulto com faixa etria de 13 a 34 anos praticamente
inexistente. A preferncia pelos vdeos est na faixa entra 35 a 54 anos, conforme pode ser
vista no Grfico 3.

Grfico 3. Nuvem dos pases que mais acessaram os vdeos

A influncia est ligada a reputao dos usurios e sua capacidade de agenciar outros e
mobiliz-los ao acesso e interao com os contedos publicados. Dos 100 vdeos analisados
foram identificados 86 canais, ou seja, atores (usurios) que compartilharam contedos sobre
a dengue, dando uma mdia 1,16% de vdeos por usurio, no apresentando destaque para
nenhum deles.

4
Figura 2 e grfico 3: Fonte: dados da pesquisa

1129
A predominncia para os perfis institucionais com 70% deles mantidos por
organizaes (emissoras de TV, portais de notcias, programas televisivos, dentre outros); e
30% com perfis pessoais, dos quais 26% deles so homens e 4% mulheres - oriundos de 13
pases diferentes, sendo a maioria do Brasil (68%), seguido pela ndia (11%), Estados Unidos
(5%) e Portugal (3%).
Embora perfis institucionais tendam a indicar certo grau de influncia por ser mantido
por empresas e organizaes, dos perfis institucionais analisados, apenas 04 correspondem a
rgo ou instituio (pblica/privada) de sade: o Ministrio da Sade, do Brasil
5
; o Ministrio
da Sade do Uruguai
6
; o Ministrio da Sade de El Salvador
7
; e o Hospital General Rio Bravo,
localizado no Mxico
8
. A anlise dos perfis pessoais ainda menos representativa, apenas 01
(um) profissional de sade foi identificado, o Dr. Jorge Manaia
9
, brasileiro e mdico Cirurgio
Geral.
O que percebemos com esse baixo ndice que a influncia est pautada na autoridade
atribuda mais ao cunho informativo-noticioso do canal do que pela reputao ou
credibilidade ligada formao (ou vnculo do usurio do canal) na rea da sade.
Por fim, o engajamento est relacionado mobilizao em si, trata-se de uma reao,
geralmente positiva do usurio em relao ao contedo visto na rede, que o move a
interagir com ele. Essa interao pode ser expressa ao curtir, recomendar e compartilhar o
contedo, dentre outros. Essa mtrica demonstrou-se baixa, os vdeos renem cerca de 442
comentrios e 1.318 sinalizaes de gostaram contra 104 no gostaram, tendo em vista o
nmero total de visualizaes de 1.413,995 o engajamento gerado pelos vdeos pode ser
considerado tmido.

Consideraes finais

O Youtube como uma fonte de informao e como ferramenta de disseminao da
informao potencializa a interao em torno do que compartilhado no canal e precisa ser
melhor explorado na comunicao interativa em sade. Embora no critrio de visibilidade os
vdeos tenham atingido um nmero significativo de visualizaes, sobretudo sob a influncia
de canais mais noticiosos, a ausncia de profissionais e rgos da sade vinculados aos vdeos
no canal pode vista como fator que compromete a qualidade das informaes veiculadas nos
vdeos.
Por outro lado, ao considerarmos o Youtube enquanto um site de cultura participativa
pode-se entender que ele cumpre seu papel de emancipao do cidado dando-lhe a voz para
circular na rede informaes sobre seu interesse. Ainda que praticamente no tenha
profissionais da sade entre os que compartilham vdeo sobre a dengue no canal, como
pressuposto da comunicao interativa em sade, de aproximao dos mesmos com pacientes
que esto nesses ambientes, pode ser que em uma anlise dos comentrios que os vdeos
receberam se verifique a presena de mdicos, enfermeiros e outros profissionais
participando das discusses.
Como desdobramento da pesquisa pretende-se ainda analisar o Youtube como fonte de
informao em sade atentando-se aos critrios de qualidade da informao em sade na
internet (Lopes, 2004; Vitria da Silva & Cardozo de Castro, 2008) e compreender melhor no

5
Disponvel em: http://www.youtube.com/user/MinSaudeBR
6
Disponvel em: http://www.youtube.com/user/comunicacionesmsp
7
Disponvel em: http://www.youtube.com/user/comunicacionesminsal
8
Disponvel em: http://www.youtube.com/user/HospitalGralRioBravo
9
Disponvel em: http://www.youtube.com/user/drjorgemanaia?feature=fvst

1130
critrio engajamento, a conversao em rede (Recuero, 2012) estabelecida nos comentrios
sobre os vdeos, considerada nos aspectos semnticos e estruturais.

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1133
SOCIABILIDADE ONLINE E OS PARTICIPANTES SENIORES

SNIA FERREIRA
Universidade de Aveiro Departamento de Comunicao e Arte / CETAC.MEDIA
[email protected]

ANA VELOSO
[email protected]

SCAR MEALHA
[email protected]

Resumo medida que o envelhecimento progride, os seniores tendem a tornar-se socialmente menos
ativos, mais isolados geograficamente dos membros da famlia e apresentam mais limitaes bio e
psicolgicas. Para os seniores, ter oportunidades regulares para interagir com outras pessoas tem,
assim, mais significado. Pesquisas anteriores sugerem que a participao em comunidades online
podem reduzir o isolamento e proporcionar a expanso das redes de apoio social. Embora os seniores
sejam mais cautelosos na participao, evidenciando preocupaes com a sua privacidade e com a
confidencialidades dos seus dados pessoais, revelam-se mais solidrios e informativos (Clark, 2002;
Zaphiris & Sarwar, 2006). Percebendo a necessidade de aprofundar o conhecimento nesta rea, o
objetivo deste estudo duplo: i) perceber o contributo das comunidades online na interao,
participao e na partilha entre utilizadores seniores, atravs da reviso de literatura e ii) sugerir a
poltica para a comunidade snior online em desenvolvimento no mbito do Projeto SEDUCE,
nomeadamente, as polticas da rea de registo, dos termos de utilizao e a poltica de privacidade.
Os resultados revelam que, devido s caratersticas intrnsecas dos modos de comunicao mediada por
computador, estes so utilizados pelos seniores para diferentes fins. As mensagens instantneas so
utilizadas para obter apoio emocional, a sala de conversao por voz solicitada para a procura de
companhia e o frum de discusso para oferecer suporte informacional. Ao nvel dos padres de
interao, verifica-se que a conversa factual est ligada a um padro diferente da emocional. As trocas
relacionadas com problemas pessoais compreendem uma forte conexo entre os indivduos, enquanto
que as conversas factuais parecem estar relacionadas com a diminuio do nvel de atividade. Ponto
fundamental obter resposta a qualquer questo, no s para a sua permanncia como para promover
a prpria resposta/comentrio a outros participantes. As rotinas de utilizao da comunidade e o
binmio motivao aprendizagem com misso bem sucedida, ajudam a ultrapassar os problemas
sucessivos com a utilizao da comunidade ou do prprio computador que afastam os seniores da
participao. Alm disso, tambm incomodativo quando se deparam com longos processos de
inscrio ou de recuperao de passwords. A incapacidade em perceber a linguagem ou metforas
utilizadas com discernimento por utilizadores mais novos potenciam o abandono.

Palavras-chave Comunidade online. Comunicao mediada por computador. Sociabilidade. Seniores.

Abstract As aging grows, older adults tend to become less active and less social, more isolated from
family members in the geographic sphere and they reveal more biological and psychological
limitations. Thus, for elderly, having regular opportunities to interact with others is more meaningful.
Previous researches suggest that the participation in online communities can reduce isolation and
provide the expansion of social support networks. Although elderly are more cautious regarding
participation, emphasizing concerns about privacy and confidentiality of their personal data, they
prove more helpful and informative (Clark, 2002; Zaphiris & Sarwar, 2006). As for the perception of the
need to deepen their knowledge in this domain, the aim of this investigation is twofold: i) to

1134
understand the online communities contribution on interaction, participation and sharing for elderly
users, from literature review and ii) suggest the policy of the online senior community under
development in the research Project SEDUCE, in particular the registration area, the terms of use and
privacy policy.
The results indicate that the communication means, due to their intrinsic characteristics, are used for
different purposes by elderly. Instant messaging is used to get emotional support; the chat room with
voice requested to look for companionship and the discussion forum for support on information. At the
level of interaction standards, one verifies that the realistic conversation is connected to a distinct
standard from the emotional distress standard. Interactions associated to personal problems comprise
a strong connection between individuals, while factual conversations seem to be related to the
decreased level of activity. The key point is getting an answer to any question, not only for users
permanence but also to promote the users own answer/comment to the other participants. The
community routine utilization and the binomial motivation learning from successful mission help to
overcome the successive problems with the community utilization or with the computer itself and
depart the elderly of the participation. Furthermore, it is also annoying when these users face with
long registration procedures or recovery passwords. The inability to understand the language and
metaphors used by younger users increase the abandonment.

Keywords Online community. Computer mediated communication. Sociability. Older adults.

Introduo

Um dos factos mais evidente do sculo XXI nas sociedades desenvolvidas o
envelhecimento demogrfico, devido s suas implicaes na esfera sociodemogrfica e nas
alteraes individuais e em novos estilos de vida (Carrilho & Gonalves, 2004). As projees
avanadas pela Comisso Europeia (2010) estimam que, em 2060, teremos duas pessoas em
idade ativa (dos 15 aos 64 anos) por cada indivduo com mais de 65 anos. Em 2010, o rcio era
de quatro pessoas em idade ativa por cada pessoa com mais de 65 anos. A esta sociedade em
clere processo de envelhecimento esto associadas as perdas fsicas e psicossociais
decorrentes do envelhecimento que atenuam as possibilidades de incluso social do cidado
snior. Como consequncia desses decrscimos, prevalece a viso do snior como algum
isolado, intil e, geralmente, dependente de algum econmica e fisicamente (Lima, 2004).
Contudo, esta ideia poder estar em transformao. Embora se apresentem como um universo
heterogneo, noutros tempos o cidado snior recolhia-se e vivia o resto da vida dedicado aos
netos e a reviver memrias passadas mas, atualmente, apresentam maior vitalidade e anseiam
por experimentar novos projetos, a curto prazo, e por contribuir para a produo ou, at
mesmo, por intervir nas mudanas sociais e politicas (Kachar, 2002). Para as teorias de
envelhecimento bem sucedido, envelhecer bem passa pela implementao de um estilo de
vida que mantenha o corpo e a mente saudveis, atravs da diversificao das atividades
pessoais, da fuga rotina e da adeso a novas atividades mentais e fsicas (Fonseca, 2005). A
importncia da diversificao das atividades pessoais, da fuga rotina e da adeso a novas
atividades mentais e fsicas na preservao e recuperao de um bom funcionamento
individual nos seniores consensualmente aceite (Guerreiro, 2005; Vaz-Serra, 2006; Barreto,
2007). Neste sentido, Santos e Pal (2006) sustentam que facilitar o acesso interao social,
cultural e de lazer uma necessidade urgente para este grupo etrio. Paralelamente a esta
realidade esto vincados a presena e o progresso tecnolgico, onde o seu acesso e utilizao
so novas questes polticas e sociais nas quais os seniores no podem ficar esquecidos.
Justifica-se, assim, o aparecimento de estudos e projetos que privilegiem o cidado snior
enquanto utilizador ou futuro utilizador de servios de fomentem a incluso digital, a
diminuio do isolamento social e, consequentemente, um envelhecimento bem sucedido.
Neste estudo tenta-se aprofundar o conhecimento sobre a sociabilidade em contexto de
comunidades online com utilizadores seniores, percebendo o modo de interao e
participao dos utilizadores mais velhos. Alm disso, apresenta-se um contributo ao projeto
SEDUCE sugerindo a componente da poltica da comunidade snior online em

1135
desenvolvimento (poltica da rea de registo, poltica dos termos de utilizao e a poltica de
privacidade).

1 Reviso de literatura

1.1 Comunidade Online

Numa abordagem retrospetiva e uma vez no ciberespao, a existncia de comunidades
online remonta gnese da Internet. Os primeiros utilizadores, cientistas e acadmicos,
usavam a rede para a troca de conhecimento sobre as suas investigaes, estabelecida com
recurso ao e-mail, a newsgroups ou a FTP-servers. A mais famosa comunidade online, pela sua
durabilidade, a WELL (Whole Earth Lectronic Link). Criada em 1985 e ativa at hoje, pelos
ecologistas do Whole Earth Catalogue, inicialmente era constituda por indivduos que se
conheciam fora da rede e que utilizavam a rede enquanto meio para troca de informao e
hoje um dos melhores exemplos de fomento das relaes intelectuais, afetivas e sociais
(WELL, 2011). A comunidade The-Park outro exemplo de durabilidade (1994 at 2001). Com
salas de conversao, fruns, notcias e artigos, a The-Park era constituda por mais de 700 mil
membros, dos quais mais de metade contribua com pequenas mensalidades. Os membros
poderiam ser moderadores nos fruns, nas salas de conversao e ainda podiam usufruir de
um banco de dados com artigos relacionados com os temas em discusso (Costa, 2005).
Rheingold (1993), pioneiro no domnio das comunidades online e participante ativo na
origem da WELL, descreve, no seu livro The Virtual Community, o conceito de comunidade
online como um lugar onde podemos interagir com diversos indivduos, diferentes objetivos,
com apelo difuso do conhecimento e sem a existncia de qualquer tipo de barreiras.
Acrescenta que se trata de um grupo de pessoas que se interligam entre si atravs de uma
complexa rede informtica, onde os indivduos independentemente de se conhecerem ou no,
envolvem-se num processo de partilha e de constituio de grupos, em experincias que se
assemelham s de qualquer outra comunidade tradicional, ainda que a interao entre os
membros seja mediada e no estabelecida face a face. De acordo com o autor (Rheingold,1993)
podemos identificar nas comunidades online algumas das caractersticas das comunidades
tradicionais, embora a interao entre os seus elementos seja mediada por computador. A
interao entre os indivduos transferida do espao fsico para o espao online, propiciado
pelas tecnologias. Nesta perspetiva as novas tecnologias configuram-se em mais um
instrumento ao dispor de todos os membros das comunidades tradicionais para comunicarem,
no colocando em risco a prpria existncia da comunidade (Costa, 2005). Tal como refere
Hamman (1999), as comunidades continuam a existir mas so suportadas atravs das
tecnologias, utilizadas para manter e criar laos que a distncia pode no permitir. Alm disso,
pode acontecer, no caso das relaes estabelecidas entre indivduos que se conhecem fora da
rede, que as relaes sejam reforadas atravs do contato estabelecido online. Rheingold (1993)
salienta outro aspeto pertinente relativamente formao de relaes de afinidade social. Nas
comunidades tradicionais os indivduos selecionam as pessoas entre os vizinhos, colegas de
trabalho, conhecidos, trocam informaes e procuram descobrir interesses em comum. Com a
ligao em rede, o processo invertido: a seleo das pessoas feita de imediato nos
contextos de partilha dos mesmos interesses.
Em 1997, Jones expe e analisa os dois usos mais comuns do termo comunidade online.
O primeiro o que se entende por suporte da comunidade, isto , os modos de comunicao
mediada por computador (CMC), como o IRC ou o email. O segundo explicita que as
comunidades online so novas formas de comunidade, criadas atravs da utilizao desses

1136
suportes de CMC. primeira definio Jones chama de virtual settlement (estabelecimento
virtual) e a segunda como verdadeira comunidade online. Na teoria que defende, Jones afirma
que a existncia de um virtual settlement geralmente seguida pela presena de uma
comunidade virtual. Logo, seria possvel identificar comunidades online a partir do encontro
do virtual settlement. O virtual settlement um ciber-lugar simbolicamente delineado por um
tpico de interesse e onde ocorre a interatividade. Para Jones, esses lugares seriam
caraterizados por: i) um nvel mnimo de interatividade, que para o autor trata-se de uma
extenso onde as mensagens numa sequncia tm relao entre si e, principalmente, quando
as mensagens posteriores tm relao com as anteriores; ii) associada primeira
caracterstica, deve possuir uma variedade de comunicadores; iii) um espao comum e pblico
partilhado por parte significativa do grupo; iv) um nvel mnimo de associao sustentada ou
uma quantidade de membros relativamente constante, necessria para fazer existir o nvel
razovel da interatividade, referida como primeira caracterstica (Jones, 1997). A perspetiva
de Jones traz tpicos importantes que podem ajudar compreenso de comunidade online.
Se, como o autor refere, ao conceito de comunidade online se associar o de virtual settlement,
observa-se que, tambm existe como condio para a comunidade online, a existncia de um
espao pblico e comum, onde a interao da comunidade ocorre. Claro que este espao por si
s no constitui a comunidade, mas complementa. A comunidade precisa, assim, de uma base
no ciberespao, isto , um locus pblico e online que propicie e suporte a interao. A
comunidade online diferente do seu virtual settlement, mas este parte essencial para a sua
existncia. A comunidade distinta do seu suporte tecnolgico e no podem ser confundidos.
Por exemplo, um servidor de IRC que contm milhares de canais sem qualquer relao entre si
no demonstra a existncia de uma comunidade, isto porque o servidor IRC o suporte no
qual os indivduos se podem ligar para ter acesso aos canais e trocar mensagens. Do mesmo
modo, um sistema que permite gerar vrias listas de discusso no , por si s, uma
comunidade online, assim como qualquer outro servio onde vrios indivduos que no
possuem quaisquer relao entre si e cujo nico ponto em comum a procura do servio no
pode ser considerado como uma comunidade online.
As caractersticas de variedade e estabilidade e membros demonstram que as
comunidades devem ser compostas por diversas pessoas que estabelecem trocas entre si.
Alm disso, Jones (1997) refere que as relaes sociais devem ser mantidas tambm no
ciberespao, para que o nmero de indivduos participantes do virtual settlement permanea
relativamente estvel. Esta estabilidade , na opinio de Recuero a caracterstica de
permanncia presente nas comunidades online. Sem a existncia de um plano de tempo, as
relaes entre os indivduos no podero ser aprofundadas o suficiente para que constituam
uma comunidade (Recuero, 2002).
Para Gupta e Kim se os conceitos que envolvem a comunidade online so
multidisciplinares, os seus benefcios tambm podem ser vistos de vrias perspetivas: na
perspetiva tecnolgica as comunidades online melhoram a comunicao, oferecem na maioria
dos casos sem custos, rpida e ubqua. As comunidades online proporcionam a partilha
arquivos, os servios de acesso pblico, as experincias de comunicao udio/vdeo, escrita.
Na perspetiva dos negcios a comunidade online pode ajudar a estabelecer uma marca, a
aumentar o interesse do pblico para produtos e servios. No panorama do e-commerce a
verdade um fator importante para a sua consolidao e as comunidades online tm uma
enorme capacidade de construo da verdade. Os membros geram a confiana atravs da
interao propiciada pela comunidade. Na perspetiva do marketing, vrias das aes podem
ser realizadas visando a transformao de um membro em consumidor ou em extrair dados da
comunidade para oferecer promoes personalizadas. Economicamente, as comunidades
online podem conceber valor, ao criarem taxas, contedos pagos, ao colocarem publicidades e
poderem criar sinergias com outras partes de um negcio (Gupta & Kim, 2004).
Em 1997, Whittaker, Issacs e ODay organizaram um workshop com o objetivo de
identificar questes tericas pendentes sobre comunidades fsicas e online e desenvolver um

1137
conjunto de requisitos de conceo de sistemas comunitrios. Os participantes de diferentes
disciplinas, entre os quais tericos sociais e integradores de sistemas comunitrios,
identificavam os atributos mais e menos importantes numa comunidade. Os atributos
principais foram: i) os membros tm um atributo partilhado, interesse, necessidade ou
atividade como principal razo para pertencer comunidade; ii) a participao repetida e
ativa, muitas vezes com formao de interaes intensas, laos emocionais fortes e atividades
partilhadas entre os participantes; iii) os membros tm acesso a recursos partilhados e h
polticas que determinam o acesso a esses mesmos recursos e iv) reciprocidade de
informaes, apoio e servios entre os membros que partilham o mesmo contexto
(convenes sociais, linguagem, protocolos). Os atributos menos centrais identificados foram:
i) a existncia de papis diferenciados e a reputao; ii) a conscincia dos limites de adeso e
identidade do grupo; iii) critrios de iniciao; iv) histria e longa durao da comunidade; v)
eventos e rituais; vi) ambiente fsico partilhado e vii) adeso voluntria (Whittaker, Isaacs, &
O'Day, 1997). Entretanto, uma das mais populares e multidisciplinares definies de
comunidade online estabelecida por Preece (2001). A autora prope que uma comunidade
online no consiste apenas em transportar uma comunidade presencial para o contexto
online. Uma comunidade online constituda por um conjunto de pessoas que interagem
socialmente enquanto partilham finalidades para a satisfao de necessidades, interesses e
troca de informaes ou servios, regidos por um cdigo (ou protocolo, ritual ou normas) de
conduta aceite por todos e que tm as tecnologias como suporte interao e promotoras do
sentido de unidade.

1.2 Sociabilidade online: a interao e a participao dos seniores em
comunidades

Para o estudo do primeiro objetivo deste artigo i) Perceber o contributo das comunidades
online na interao, participao e na partilha para utilizadores seniores; importante recuperar a
trajetria do raciocnio de Simmel, na sua teoria da sociedade desenvolvida no final do sculo
XIX, e na teorizao de Goffman para posteriormente pensar sobre as interaes que ocorrem
nas comunidades online, nomeadamente, em comunidades destinadas aos seniores.
Em linhas gerais, Goffman define interao como a influncia recproca dos indivduos
sobre as aes uns dos outros, quando em presena fsica imediata. Uma interao pode ser
definida como toda a interao que ocorre em qualquer ocasio, quando, um conjunto de
indivduos, se encontram na presena imediata uns dos outros (Goffman, 1989:22).
Simmel (1983) trabalha duas proposies para descrever a constituio da disciplina
que chama sociologia pura: P1) em qualquer sociedade possvel fazer a distino entre forma
e contedo; P2) a prpria sociedade refere-se interao entre os membros que a compem,
originada a partir de impulsos ou propsitos. Como seres integrados na sociedade, os
indivduos vivem, agem uns com, ou contra, os outros e influenciam-se mutuamente a partir
de impulsos religiosos, interesses, objetivos, propsitos de defesa, apoio, ataque, de jogo.
Simmel refere que o contedo o que est presente nos indivduos na forma de impulso,
interesse ou propsito referidos anteriormente. Sugere, ento, que a base das sociedades
humanas constituda por esses interesses, sejam eles permanentes ou efmeros, conscientes
ou inconscientes, causais ou ideais.
Tendo presente esta distino entre contedo e forma, Simmel vai chamar de
sociabilidade a um fenmeno desta categoria sociolgica. O contedo da sociedade seria estar
com o outro motivado por intentos individuais ou materiais, o qual configuraria formas
especficas que, uma vez desenvolvidas, ganhariam vida. Estas formas, autonomizadas e
independentes dos seus contedos originais, adquirem fascnio por causa desta desvinculao,
a sociabilidade. Simmel associa, assim, o conceito de sociabilidade a uma forma pura de

1138
interao ou forma ldica da socializao. Nesta perspetiva, a sociabilidade evita atritos com
a realidade, de tal modo que os motivos da socializao implicados no quotidiano no tm
importncia neste contexto de interao. Simmel confere especial destaque espontaneidade
na vida social. Para o autor, a sociabilidade como um actus purus encontrado na vitalidade
dos indivduos reais, na sensibilidade e nas afinidades deles, na integridade das suas
convices e impulsos (Simmel, 1997:128). Neste ponto, apontamos a nfase de Habermas no
processo comunicativo das interaes. Para o autor, a comunicao apresenta-se
primordialmente como o modo pelo qual transmitimos e reproduzimos o nosso modo de vida
[...] o processo comunicativo das interaes simples e das prticas sociais deriva do
pressuposto de que a linguagem que torna possvel o entendimento intersubjetivo
(2003:164-168).
Na convico de Goffman (1998), a maior parte da interao social do quotidiano
possibilitada pelo envolvimento comum e voluntrio dos participantes, chamado de consenso
operacional. Trata-se de uma espcie de concordncia superficial onde cada participante se
abstrai das suas posies pessoais em prol de uma definio, situao partilhada pelos
intervenientes. Esta forma de harmonia um ideal otimista, mas no necessria para o
funcionamento da sociedade, pelo contrrio. Espera que cada interveniente suprima os seus
sentimentos cordiais imediatos, transmitindo uma viso da situao que julga ser
temporariamente aceitvel pelos outros (1993:18). Alm disso, cada participante tem a
permisso de estabelecer a regulamentao oficial experimental relativa aos assuntos que
para ele so vitais, mas que no sejam imediatamente importantes para os outros. Nesta
cortesia, as questes que so importantes para os outros podem no o ser para ele. Trata-se,
ento, de uma forma de modus vivendi interacional.
J a sociabilidade em espao online relativamente nova, se pensarmos na trajetria
social humana, e algumas caractersticas deste ambiente salientam a forma como a Internet
transformou o sentido de tempo e espao na sociabilidade. No quer isso dizer que a
sociabilidade baseada no lugar no continue a existir, pois as sociedades no evoluem rumo a
um padro uniforme de relaes sociais (Castells, 2005:106). Contudo, pode-se afirmar que a
evoluo rumo s relaes destitudas de obrigaes territoriais e presenciais esto cada vez
mais presentes na nossa sociedade e tendem a expandir-se cada vez mais.
Preece refere que, enquanto a usabilidade est preocupada principalmente com as
interaes dos utilizadores com a tecnologia (isto , com a interao humano-computador), a
sociabilidade est relacionada com as interaes entre os membros de uma comunidade
(interao humano-humano) atravs da tecnologia de suporte (Preece, 2001). Para a autora a
sociabilidade refere-se s caractersticas de uma comunidade online que suportam um estado
de ser socivel e onde os membros encontram um local agradvel para interagirem uns com
os outros para atingir objetivos comuns atravs de tecnologia preparada para tal. Semelhante
ao conceito proposto por Preece o de Bouman para sociabilidade em redes sociais online.
Concentra-se em como os atores se relacionam entre si para organizar as suas prticas sociais
e construir a sua identidade, com um propsito comum (por exemplo, a partilha de
conhecimento) (Bouman et al., 2008).
Uma comunidade online com alta sociabilidade caracterizada pela presena de um
ambiente propcio para a interao social, com base em polticas e regras para a realizao de
fins comuns, configurando-se como bons indicadores de sociabilidade o nmero de
participantes na comunidade, o nmero de observadores (o nmero ideal depende da massa
crtica da comunidade) (Nonnecke & Preece, 2000), o nmero de mensagens (alto nas
comunidades de sucesso), o nmero de mensagens por participantes, o nmero de respostas
por participantes, a quantidade de discusso sobre o assunto em questo, o nvel de confiana,
a satisfao dos participantes com a interao social na comunidade, o nmero e o tipo de
incidentes que produzem um comportamento menos civil (baixo nas comunidades de sucesso)
e a percentagem de pessoas que continuam membros, aps determinado perodo de tempo.

1139
Para os seniores ter oportunidades regulares para interagir com outras pessoas tem
ainda mais significado. Tal como j foi referido anteriormente, a verdade que os utilizadores
mais velhos tendem a minimizar o contato em sociedade atravs da criao dos prprios
grupos sociais, procurando apoio nesse pequeno mundo. Alm disso, medida que o
envelhecimento progride, os seniores podem tornar-se socialmente menos ativos e isolados
geograficamente dos membros da famlia (Preece, Rogers & Sharp, 2007).
Pesquisas anteriores sugerem que a participao em comunidades online podem
reduzir o isolamento e proporcionar a expanso das redes de apoio social. Embora os seniores
sejam mais cautelosos na participao em comunidades online, uma vez dentro das mesmas
so normalmente mais solidrios, divertidos e informativos (Clark, 2002). Zaphiris e Sarwar
(2006) apresentam uma anlise estatstica s interaes humanas em dois grupos de discusso,
um para adolescentes (alt.teens) e outro para seniores (soc.senior.issues). O objetivo do estudo
era perceber as semelhanas e as diferenas nos modos de interao entre os participantes.
Foi utilizado o modelo Social Network Analysis para a verificao estatstica. Esta anlise
mostrou que o grupo de discusso dos adolescentes possui mais mensagens enviadas e
recebidas, porm o nmero de mensagens no respondidas menor no grupo de seniores.
Estes partilham a ideia de que podem contribuir para o grupo, dar e receber apoio dentro da
comunidade. Segundo Zaphiris e Sarwar (2006) este facto pode estar relacionado com a
capacidade dos mesmos em ajudar os outros e em lidar com os problemas. Alis, o estudo do
National Council on the Aging revela que 65% dos americanos voluntrios da Cruz Vermelha em
desastres naturais so adultos com mais de 55 anos, apontando como possveis causas o tempo
livre, o desejo de estar envolvido socialmente e o seu altrusmo. Transferindo para o contexto
online, este voluntariado traduz-se na forma dos seniores se integrarem, oferecendo-lhes a
oportunidade de sustentar o seu bem-estar e servir a sua comunidade (National Council on
the Aging, 2006).
Alm disso, o grupo de discusso dos seniores possui participantes dominantes/lideres
que fazem com que o resto da rede dependa deles para a comunicao. Isto mostra maior
comprometimento e consistncia entre os membros seniores (Zaphiris & Sarwar, 2006).
Facilmente se percebe a limitao deste estudo, a aplicao a apenas dois grupos de discusso
impossibilita a generalizao, contudo os resultados deixam pistas interessantes sobre o
comportamento dos seniores dentro de uma comunidade. Embora no se mostrem to ativos
na participao (no nmero de mensagens) quanto os adolescentes, tendem a formar grupos
mais estveis, com natural emergncia de lderes e formadores de opinio atravs da CMC.
Com o trabalho de pesquisa realizado por Mittil e Antikainen (2006) mostra por um
lado os caminhos que se abrem para se perceber os fatores que atraem os seniores a participar
em comunidades online e, por outro lado, os fatores que os afastam das mesmas. Atravs de
perguntas abertas colocadas em fruns de discusso os autores reconhecem que pedir e dar
conselhos um fator comum. Os participantes procuram conselhos para temticas como
fotografia, artesanato e passeios, e do conselhos sobre como usar a Internet, por exemplo. Um
dos seniores referiu que muito bom saber que quando pergunta algo recebe resposta e que
isso o encoraja a responder ao outros participantes. Discutir com os outros utilizadores
outra das razes para visitar a comunidade online. Exprimir a opinio e aprender com a
opinio dos outros motiva-os a voltar. Estabelecer novas relaes e conhecer pessoas online
so fatores importantes. Por se sentirem sozinhos e, muitas vezes, por razes fsicas os
seniores vm nas comunidades online uma nova possibilidade para estarem socialmente
ativos. Alm disso, alguns seniores referiram que tambm procuram parceiros online e
procuram a possibilidade de conhecer diferentes pessoas e estabelecer conversas usando um
nickname, sob anonimato. De acordo com os participantes no estudo importante que a
comunidade online seja fcil de usar. Problemas sucessivos relacionados com o computador
ou com a utilizao da comunidade online afastam-nos da participao. Referem tambm que
incomodativo quando se deparam com um longo processo de inscrio ou de recuperao de
palavras-chave. Acrescentam tambm que quando so incapazes de compreender a linguagem

1140
ou as metforas utilizadas pelos membros mais novos acabam por abandonar o tpico, pelo
que preferem comunidades online direcionadas para adultos mais velhos. Isto pode ser visto
como uma questo de similaridade de experincias e expresso verbal (Mittil & Antikainen,
2006).
Nimrod (2009) analisou quantitativamente cerca de 686 mil mensagens publicadas entre
1 de abril de 2007 e 31 de maro de 2008 em 14 comunidades online para seniores, utilizando o
sistema Forum Monitoring System. Esta anlise ao contedo identificou os 13 principais temas
discutidos nas comunidades, so (por ordem decrescente): divertimento online,
aposentadoria, famlia, sade, trabalho e estudo, lazer, finanas, religio e espiritualidade,
tecnologia, envelhecimento, civismo e sociedade, compras e viagens.
Xie (2008) investigou a relao entre a utilizao de trs modos de CMC e a natureza dos
diferentes tipos de apoio social trocados dentro de uma comunidade online de seniores
chineses, a Lao xiaohai. Esta comunidade online, literalmente traduzida para OldKids, foi
criada em 2000, tem mais de 10 000 membros registados e oferece servios gratuitos de CMC,
incluindo salas de conversao por voz, fruns de discusso e mensagens instantneas. Desta
comunidade foram recrutados 33 membros, com idades entre os 50 e 79 anos, para fazerem
parte da amostra. Por meio da reviso bibliogrfica e de um estudo etnogrfico, com recurso a
entrevistas e observao participante, os resultados conseguidos pela investigadora sugerem
que cada um dos modos particulares de CMC, devido s suas caractersticas intrnsecas, so
utilizados para diferentes fins: i) a sala de conversao por voz mais requisitada como forma
de obter companhia; ii) o frum usado principalmente para oferecer suporte informacional;
iii) as mensagens instantneas so solicitadas para apoio emocional. Com o mesmo intuito,
Pfeil, Zaphiris e Wilson (2009) analisaram qualitativamente o contedo de 400 mensagens
trocadas dentro de um frum de discusso sobre depresso, na comunidade SeniorNet.
Contudo, para alm de estudarem o tipo de apoio procurado pelos seniores numa comunidade
online, analisam em detalhe os contedos da interao e a dinmica da comunidade. A fim de
compreender os padres de interao estabelecidos dentro da comunidade, os investigadores
analisaram o contedo e a sequenciao das mensagens trocadas no frum de discusso.
Verificaram que a conversa emocional est ligada a um padro de rede diferente da conversa
factual e ao nvel de atividade, isto , o intercmbio de informaes relacionadas com
problemas pessoais est relacionado com uma forte conexo entre as pessoas, o que revela
que podero ser o componente bsico para a sustentabilidade da comunidade, enquanto que
as conversas factuais parecem estar relacionadas com a diminuio do nvel de atividade.
Existem tambm diferenas na estrutura da rede no que diz respeito procura e oferta de
apoio. Quando procuram apoio fazem-no atravs de mensagens para toda a comunidade,
enquanto que as mensagens de apoio so direcionadas para um membro especfico.
Importa exemplificar algumas das comunidades online que, segundo o seu nome, a sua
homepage e as mensagens de boas-vindas, tm os seniores como pblico alvo. A Tabela 1
apresenta sete comunidades online, com os respetivos endereos, as ferramentas de
comunicao disponveis, um resumo do contedo e objetivos das mesmas.

1141
Tabela 1 Comunidades Online para seniores
Nome da
Comunidade
Endereo Ferramentas
de
comunicao
disponveis
Pas Contedo
IDF (I dont feel)
50
www.idf50.co.
uk
Frum UK O objetivo principal a publicao de vdeos
com contedos direcionados para seniores.
Permite a partilha e comentrios a fotos por
parte dos utilizadores registados e a
participao no frum.
Little-Brown-
Jug
www.little-
brown-
jug.com
Chat USA Permite a divulgao de notcias, receitas e
poesias. Possui chat com acesso restrito aos
utilizadores registados.
Tio Terceira
Idade Online
projectotio.ne
t
Frum Portugal Objetiva a integrao do utilizador seniores na
sociedade de informao. Permite a participao
no frum e divulga atividades de lazer,
comunicao, temticas de sade e iniciativas
para seniores.
The Cool
Grandma
www.coolgran
dma.com
Frum e chat USA Permite a divulgao de contedos relacionados
com arte, negcios, artesanato, alimentao,
sade, sociedade. Oferece tambm tutoriais
temticos que direcionam os utilizadores para
pginas externas.
Seniors Daily
Online
www.seniorsd
aily.net
Frum USA Destinada divulgao de contedos sobre
sade, viagens, finanas, investimentos, estilo
de vida, lazer e reforma. Permite a participao
no frum de discusso.
Senior.com www.senior.c
om
Frum, chat e
blogue
USA Comunidade bastante completa em termos de
ferramentas de comunicao, possui
informaes sobre dinheiro, habitao, sade,
alimentao, relacionamentos, diverso e
viagens.
SeniorNet www.seniorne
t.org
Frum USA A misso proporcionar a aprendizagem e o
acesso a aulas de informtica para maiores de 50
anos, possibilitando a partilha de
conhecimentos e a divulgaes de contedos
especializados.

A comunidade Senior.com revela-se a mais completa no que diz respeito
disponibilizao de servios. A maioria das outras comunidades apresentam-se mais
direcionadas para a divulgao de contedos noticiosos ou temticas como sade, lazer, arte.
Enquanto que a comunidade SeniorNet serve de suporte aprendizagem e ao acesso a aulas
de informtica para maiores de 50 anos, permitindo, atravs da utilizao de um frum de
discusso, a partilha de conhecimento e a divulgao de contedos especializados.

2 Investigao Emprica

2.1 Componente poltica da comunidade snior online prevista no projeto
SEDUCE

De acordo com Preece e Maloney (2003), os principais componentes da sociabilidade so
o propsito ou objetivo da comunidade online, as pessoais e as polticas que orientam o
comportamento online. Na componente poltica incluem-se o registo na comunidade online,
os termos de utilizao e a poltica de privacidade. Assim, e de forma a permitir a resposta ao

1142
segundo objetivo deste estudo: ii) sugerir a poltica para a comunidade snior online em
desenvolvimento no mbito do Projeto SEDUCE, nomeadamente, as polticas da rea de registo, dos
termos de utilizao e a poltica de privacidade. Para tal seguiu-se a estratgia metodolgica de
User Centered-Design, mas acrescentando, na primeira fase, a observao de comunidades
online para seniores, uma vez que o objetivo inclua tambm a identificao dos campos e
itens necessrios s vrias reas.
Tendo presente, tambm, que a reviso bibliogrfica indica que os seniores so
cautelosos na participao em comunidades evidenciando preocupaes com a sua
privacidade e com a confidencialidade dos seus dados pessoais (Clark, 2002; Zaphiris & Sarwar,
2006), justifica-se a incluso dos utilizadores finais no processo de desenvolvimento.
Participaram neste estudo os seniores de trs IPSS (Instituies Particulares de Solidariedade
Social) do concelho de Aveiro, parceiras no projeto SEDUCE. Os critrios para a incluso dos
participantes foram: i) idade igual ou superior a 65 anos; ii) estado cognitivo considerado
normal (despiste de demncia efectuado com recurso ao Mini Mental State Examination
(Guerreiro, Silva, & Botelho (1994)); iii) participao voluntria e saber ler e escrever.
As comunidades online foram selecionadas na fase de reviso de literatura, atravs da
pesquisa online, em portugus e em ingls, das palavras chave comunidade online,
seniores, servios de comunicao, chat, email e frum. Posteriormente, realizou-se
uma rpida observao aos servios de comunicao sncrona e assncrona que
disponibilizavam. As comunidades analisadas foram Tio Terceira Idade Online, Portugal
Snior, IDF 50 I Dont feel 50, Seniores Daily Online, Senior.com e SeniorNet.
Para a conceptualizao da rea de registo organizou-se a primeira verso da interface
com a orientao das linhas grficas anteriormente definidas para o Projeto SEDUCE e
aplicou-se, na segunda fase, entrevistas contextuais individuais, seguindo um guio de tarefas,
no local onde os participantes habitualmente utilizam os computadores, na IPSS. Nesta fase,
participaram 5 seniores de duas IPSS do concelho de Aveiro, 3 da IPSS A e 2 da IPSS B.
As observaes foram registadas com o auxlio da grelha de observao, medida que
eram realizadas as tarefas. Na fase seguinte procedeu-se interpretao dos resultados e
redesign da interface.
Na segunda fase de desenvolvimento de modo a sugerir com rigor os termos de
utilizao e as polticas de privacidade da comunidade snior online considerou-se
fundamental a sua reviso por parte de um especialista. Com esta colaborao pretendia-se
salvaguardar a inexistncia de inconformidade ou lacuna expressas nos termos de utilizao e
nas polticas de privacidade, considerando o tipo de comunidade e os servios oferecidos. A
sua participao pretende validar legitimamente os termos de utilizao nas polticas de
privacidade no enquadramento da Legislao Nacional de Proteco de Dados Pessoais, Artigo
35 da Constituio da Repblica Portuguesa e Lei 67/98 Lei de proteco de Dados Pessoais.
Reconhecendo que o baixo nvel de escolaridade dos seniores, futuros utilizadores da
comunidade snior online prevista no Projeto SEDUCE, pode gerar incompreenso de algum
conceito presente nos termos de utilizao e nas polticas de privacidade, considerou-se
relevante a integrao dos seniores neste processo. Assim, na terceira fase do processo
contou-se com a colaborao de 5 seniores da IPSS C, com o objetivo de validar os termos de
utilizao e as polticas de privacidade mas ao nvel da linguagem utilizada, mesmo
reconhecendo que a inexperincia e pouco conhecimento dos seniores pode limitar o seu
poder crtico e, consequentemente, a apresentao de solues (Ferreira, Veloso & Mealha,
2012) Nestas fases, segunda e terceira, realizou-se uma entrevista no estruturada (Coutinho,
2011), de forma individual e em grupo, respetivamente.

1143
2.1.1 Caractersticas dos Participantes

A Tabela 2 apresenta as caractersticas dos participantes, a idade dos participantes est
entre os 68 e os 88 anos, com mdia nos 81 anos (SD=5,8). A amostra constituda por 10
participantes, cinco so do sexo masculino e cinco do feminino. Relativamente escolaridade,
seis seniores frequentaram 4 anos de escolaridade, dois participantes possuem 6 anos de
escolaridade, um snior frequentou 5 anos e, ainda, um participante frequentou apenas 3 anos
de escolaridade.

Tabela 2 Caractersticas dos Participantes
Cdigo Idade Gnero Escolaridade
IPSS A
AG 87 F 5 anos
EC 86 F 4 anos
FS 68 M 6 anos
IPSS B
AF 88 M 4 anos
JF 76 M 4 anos
IPSS C
CS 80 F 6 anos
JB 77 M 3 anos
JR 85 M 4 anos
MD 80 F 4 anos
MM 79 F 4 anos

2.1.2 rea de registo

A Tabela 3 apresenta os campos de preenchimento da rea de registo, em comunidades
online para seniores. Verifica-se que a comunidade Tio Terceira Idade Online no possui
sistema de registo e que os campos comuns s restantes comunidades so o nome, a senha, a
confirmao da senha, o email, a utilizao de mensagem contextual, o sistema de verificao
e a disponibilizao dos termos de utilizao da comunidade. Estes sero os campos a integrar
na rea de registo da comunidade SEDUCE. Prev-se a substituio do sistema de verificao
captcha por um sistema invisvel ao utilizador devido filosofia inerente s metodologias de
desenvolvimento do projeto e s questes relacionadas com os objetivos do projeto SEDUCE
1
,
incluir tambm os campos gnero e data de nascimento. So objetivos do projeto, de forma
geral, o estudo sobre o impacto dos efeitos no cognitivos mediante o uso das TIC entre
cidados seniores em contexto de comunidade social online e a construo uma comunidade
social online com a participao do cidado snior (Veloso et al., 2011).

1
http://www3.ca.ua.pt/seduce/projeto.html, disponvel em 25 Maio 2013

1144
Tabela 3 Campos de preenchimento da rea de registo, em comunidades online para seniores
Campos
Comunidades online para seniores
Portugal
Snior
IDF 50 Seniors
Daily
Senior.com SeniorNet Tio
Nome

No possui
sistema de
registo
Username

Data de nascimento
Telefone
Endereo
Cidade
Pas
Estado
Cdigo postal
Senha
Confirmar senha
E-mail
Confirmar e-mail
Timezone
Verificao
4

Mensagem contextual
Termos de utilizao
Confirmao de registo
Nota:
identifica que possui
identifica que no possui

Procedeu-se organizao dos campos na interface da rea de registo. A primeira verso
da rea de registo, apresentada na Figura 1, foi concebida em colaborao com a colaborao
da equipa do projeto SEDUCE e considera as linhas orientadoras de usabilidade para seniores
de Nielsen (2002), do National Institute on Aging (2002) e de Zaphiris (et al., 2005). Apostou-se,
nomeadamente, em reas clicveis generosas, ajuda contextual no preenchimento dos
diferentes campos e feedback sobre o estado de preenchimento.

Figura 1 Primeira verso do ecr da rea de registo da comunidade online SEDUCE

Esta primeira verso da rea de registo foi testada pelos trs seniores da IPSS A e por
dois seniores da IPSS B. Utilizou-se um guio de tarefas simples que possua apenas a
indicao: Para utilizar qualquer servio de comunicao ou comunidade online dever

2
Verificao visual com letras
3
Verificao atravs de uma questo aleatria (terceiro ms do ano)
4
Verificao visual com letras

1145
registar-se. Nesta tarefa ter que preencher o seguinte formulrio. Aos seniores foi dada livre
possibilidade para exprimirem alguma dificuldade ou sugesto. Para o registo das observaes
utilizou-se uma grelha de observao, sendo registado o correto ou incorreto preenchido dos
campos nome, gnero, data de nascimento, palavra-chave, repetir palavra-chave e a utilizao
ou no das opes de esconder palavra-chave, alterar o email sugerido e a leitura e
concordncia com os termos de utilizao da comunidade.
Os resultados revelam que as principais dificuldades foram a utilizao do dropdown
para a escolha do gnero e da data de nascimento. Como se observou que os participantes
tentaram iniciar a escrita dentro desses campos, optou-se por esta soluo final. Uniformizar
os campos e transform-los em caixas de texto simples, tal como surge na Figura 2. Todas as
outras reas foram facilmente preenchidas.

Figura 2 Ecr da rea de registo da comunidade online SEDUCE

Este ecr de registo na comunidade online contempla a utilizao de botes com reas
clicveis generosas, mensagem contextual e reas destacadas com estratgias de cor para
ajudar os utilizadores identificar e compreender os campos de preenchimento.

2.1.3 Termos de utilizao e polticas de privacidade

Repetindo o procedimento realizado na definio dos campos necessrios rea de
registo da comunidade online, observou-se as mesmas 6 comunidades online para seniores
para a definio dos itens a integrar nos termos de utilizao e nas polticas de privacidade.
A Tabela 3 rene os itens que compem os termos de utilizao de comunidades online
para seniores. Na anlise verificou-se que apenas a comunidade Senior.com identifica
claramente as suas normas de utilizao, apresentando os termos relacionados com a
elegibilidade, a privacidade, a responsabilidade, a linguagem, o acesso comunidade e
informaes gerais, como a morada. A comunidade Portugal Snior apresenta apenas uma
referncia ao tipo de linguagem a utilizar pelos utilizadores.
Assim, ficaram identificados os itens elegibilidade, privacidade, responsabilidade,
linguagem, acesso e divulgao como necessrios redao dos termos de utilizao da
comunidade online prevista no projeto SEDUCE.

1146
Tabela 3 Itens que compem os termos de utilizao de comunidades online para seniores
Itens
Portugal
Snior
IDF 50 Seniors
Daily
Senior.com SeniorNet Tio
Elegibilidade
Privacidade
Responsabilidade
Linguagem

Acesso
Divulgao
Nota:

A Tabela 4 apresenta os itens que compem as polticas de privacidade de comunidades
online para seniores. Na anlise das vrias comunidades destaque apenas para a comunidade
Senior.com que refere os princpios fundamentais.

Tabela 4 Itens que compem a poltica de privacidade de comunidades online para seniores
Itens
Portugal
Snior
IDF 50 Seniors
Daily
Senior.
com
SeniorNet Tio
Informaes pessoais e fins comerciais
Partilha de dados pessoais na comunidade
Informaes pessoais e autoridades
Alterao da poltica de privacidade
Alterao de dados pessoais pelo
utilizador

Dados pessoais e empresas direcionadas
Segurana dos dados
Nota:

Estas comunidades revelam especial cuidado com as informaes pessoais dos
utilizadores, salvaguardando situaes comerciais, seja de venda ou aluguer das informaes
por parte dos utilizadores, seja a pedido de empresas direcionadas para este pblico alvo,
situaes de partilha de dados dentro da comunidade, de pedidos por parte de autoridades, de
edio de informaes pessoais dos utilizadores e garantias de segurana de dados.
Considerando a comunidade Senior.com como referncia, redigiu-se a primeira verso
dos termos de utilizao, apresentada na Figura 3, para a comunidade desenvolvida no mbito
do projeto SEDUCE.

1147

Figura 3 Primeira verso dos termos de utilizao da comunidade snior online

Da mesma forma e tendo a comunidade Senior.com como referncia, redigiu-se a
primeira verso das polticas de privacidade, apresentada na Figura 4, da comunidade online
prevista no projeto SEDUCE.

Figura 4 Primeira verso da poltica de privacidade da comunidade snior online

Na fase seguinte do processo considerou-se necessria a reviso dos termos de
utilizao e polticas de privacidade da comunidade por parte de um especialista. Fez-se a
recolha de dados atravs de uma entrevista. Com este procedimento objetivou-se

1148
salvaguardar alguma inconformidade ou lacuna expressas nos termos de utilizao e nas
polticas de privacidade, considerando o tipo de comunidade e os servios oferecidos.
A Tabela 5 apresenta os resultados da reviso dos termos de utilizao e polticas de
privacidade da comunidade.

Tabela 5 Resultados da reviso dos termos de utilizao e polticas de privacidade da comunidade
por parte de um especialista
Alterao necessrias/Lacunas observadas Propostas de resoluo
Termos de
Utilizao
No Ponto 3 substituir os termos a
negrito (...) As trocas
comunicativas expressam a
opinio dos utilizadores e no
dos proprietrios (...) encerrar
qualquer tpico por qualquer
razo.
(...) As trocas comunicativas expressam a opinio
dos utilizadores e no da comunidade (...) encerrar
qualquer tpico considerado inadequado e/ou
conta de utilizadores por uso indevido.
Prever o que acontece quando
uma empresa cria um perfil com
fins comerciais.
No ponto 1 acrescentar (...) Deve considerar que a
sua conta na comunidade X no pode ser transferida
ou vendida a terceiros nem explorada
comercialmente.
Polticas de
privacidade
No ponto 4 detalhar que
informaes pessoais os
utilizadores podem partilhar com
outros elementos da
comunidade.
Partilhamos apenas o seu Nome. Outras
informaes pessoais como a foto, a localidade, o
estado civil e a escolaridade s sero publicas se
assim o entender. Pode divulgar essas informaes
apenas com os seus amigos ou com toda a
comunidade. Essa escolha feita por si na sua rea
de Perfil.
O ponto 7 j est integrado no
ponto 1.
Eliminar.
Prever situaes de roubo de
informaes pessoais a partir da
base de dados ou em situaes de
pirataria.
Alterar a ltima parte do ponto 8: As informaes
recolhidas so armazenadas e protegidas por
dispositivos de segurana tcnica mas no podemos
dar garantias sobre todas as situaes.

Aps efetuar as alteraes necessrias, a prxima etapa corresponde reviso dos
termos de utilizao e polticas de privacidade junto dos utilizadores seniores. Participaram os
cinco seniores do grupo experimental da IPSS C. A entrevista realizou-se no contexto onde
habitualmente decorrem as sesses de informtica e demorou cerca de 80 minutos.
Previamente, preparou-se o espao, organizado em torno de quatro mesas, distribuindo os
termos de utilizao em papel e um conjunto de canetas coloridas e lpis pelos lugares.
Quando todos os seniores estavam confortavelmente instalados, explicou-se os objetivos da
entrevista e foi-lhes dados 20 minutos para lerem e sublinharem os conceitos ou frases que
no compreendiam ou conheciam. Aps todos manifestarem que concluram a tarefa, foi-lhes
questionado o que no compreenderam e que sugestes de melhoria poderiam indicar. O
processo foi repetido para as politicas de privacidade.
O instrumento de recolha de dados utilizado foi a entrevista, com registo atravs de
notas e pela gravao audiovisual.
A tabela 6 apresenta os resultados da reviso dos termos de utilizao e poltica de
privacidade da comunidade por parte dos seniores da IPSS C onde os participantes
identificaram as incompreenses e apresentaram as propostas de resoluo.

1149

Tabela 6 Resultados da reviso dos termos de utilizao e poltica de privacidade da comunidade
por parte dos seniores do PNSFV.
Alterao necessrias/Lacunas observadas Propostas de resoluo
Termos de Utilizao No Ponto 1 substituir o termo
superviso.
Se no cumpre este requisito, pode
utilizar esta comunidade mas apenas com
acompanhamento dos seus responsveis.

No Ponto 4 substituir o termo
obsceno.
Por sugesto de um dos seniores,
substituir por imoral.
Poltica de privacidade No Ponto 1 especificar
consentimento explcito, como?
A sua informao pessoal apenas ser
revelada com o seu consentimento
explcito, por escrito.

Importa ainda referir que, ao longo da sesso de entrevista com os participantes, os
seniores partilharam que:
percebem e apoiam a necessidade de polticas e regras que orientem os
utilizadores de comunidades online;
do muita importncia, sobretudo, ao tipo de linguagem utilizada pelos outros
membros e garantia de confidencialidade dos dados pessoais.
Ainda, compararam as regras de utilizao e as polticas de privacidade com situaes
socioculturais presentes nas comunidades tradicionais. Para os participantes, os termos de
utilizao assemelham-se a regras de boa conduta social e as polticas de privacidade a
comportamentos que garantam a salvaguarda de informaes pessoas intransmissveis. Como
exemplos desses princpios citaram a no divulgao de dados bancrios ou morada a
terceiros, a no assinatura de nenhum documento sem aprovao dos filhos e no partilharem
com estranhos informaes sobre os seus familiares.
Considerando as observaes de um especialista e dos seniores da IPSS C a sugesto
para os termos de utilizao e a poltica de privacidade da comunidade snior online
apresentada nas Figuras 5 e 6, respetivamente.


1150


Consideraes finais

Relativamente ao primeiro objetivo deste estudo, perceber o contributo das comunidades
online na interao, participao e na partilha entre utilizadores seniores, a reviso de literatura
revela que os utilizadores seniores utilizam os modos de CMC para diferentes finalidades, de
acordo com as suas caractersticas. As mensagens instantneas so utilizadas para obter apoio
emocional, enquanto que a sala de conversao por voz usada para a procura de companhia
e o frum de discusso para oferecer suporte informacional. Ao nvel dos padres de
interao, verifica-se que as trocas relacionadas com problemas pessoais compreendem uma
forte conexo entre os indivduos, enquanto que as conversas factuais parecem estar
relacionadas com a diminuio do nvel de atividade.
Para os utilizadores seniores fundamental obter resposta a qualquer questo, no s
para a sua permanncia como para promover a prpria resposta/comentrio a outros
participantes. Alm disso, importante que a comunidade online seja fcil de utilizar/viver
e os processos de registo ou de recuperao de passwords sejam rpidos. A incapacidade em
perceber a linguagem ou metforas utilizadas com discernimento por participantes mais
novos potenciam o abandono dos utilizadores mais velhos.
Quanto ao segundo objetivo, sugerir a poltica para a comunidade snior online em
desenvolvimento no mbito do Projeto SEDUCE, nomeadamente, as polticas da rea de registo, dos
termos de utilizao e a poltica de privacidade, os resultados indicam que os seniores, de facto,
so cautelosos na participao em comunidades online. Evidenciam preocupaes com a sua
privacidade e com a confidencialidades das suas informaes pessoais.
Os participantes relacionaram as regras de utilizao e as polticas de privacidade com
situaes socioculturais presentes nas comunidades tradicionais. Para os seniores, os termos
de utilizao assemelham-se a regras de boa conduta social e as polticas de privacidade a
comportamentos que garantam a salvaguarda de informaes pessoas intransmissveis.
A rea de registo deve contemplar apenas as informaes bsicas dos utilizados e
atende s particularidades dos seniores: utilizao de botes com reas clicveis generosas,
mensagem contextual e reas destacadas com estratgias de cor para ajudar os utilizadores a
identificar e compreender os campos de preenchimento.

1151
Agradecimentos
Este estudo foi possvel graas cooperao dos seniores das IPSS de Aveiro e
suportado pelo projeto SEDUCE (PTDC/CCI-COM/111711/2009) e por uma bolsa individual de
doutoramento (SFRH/BD/70092/2010), ambos com financiamento COMPETE, FEDER, FCT de
Lisboa, Portugal. Agradecimento especial Professora Doutora Isabel Oliveira, pela
disponibilidade e colaborao. O nosso agradecimento.

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1155
DISSEMINAO DA INFORMAO NOS WEBSITES DAS INSTITUIES DE PATRIMNIO
CULTURAL
Um enfoque em Arquivos Permanentes

PAULA REGINA VENTURA AMORIM GONALEZ
Universidade Estadual Paulista "Jlio de Mesquita Filho"
[email protected]

MARIA JOS VICENTINI JORENTE
Universidade Estadual Paulista "Jlio de Mesquita Filho"
[email protected]

Resumo Os Arquivos Permanentes, presentes no campo de atuao da Cincia da Informao cumprem
seu papel social ao fazerem a guarda, a preservao, a organizao a divulgao e a disseminao da
informao de seus acervos documentais e tm usado a Web para faz-lo de uma forma extensiva, pois,
nos ambientes digitais podem faz-lo de forma rpida, simples e dinmica. Norteado pelo direito ao
acesso s informaes e aos documentos, hoje garantidos por Lei a todos os cidados, o presente artigo
tem como objetivo analisar de que maneiras a informao dos Arquivos Permanentes dos estados
brasileiros est disponibilizada na Web. Para tanto, nos pautamos nas ltimas Diretrizes Gerais para a
Construo de Websites de Instituies Arquivsticas, elaboradas pelo Conselho Nacional de Arquivos
[CONARQ] em 2000 e no instrumento de avaliao DaSilva, o primeiro avaliador de acessibilidade em
portugus para Websites. Verificamos que com o crescente aumento da disponibilizao da informao
aos usurios, oportunizado na Web pelas Tecnologias de Informao e Comunicao [TIC], pode-se
facilitar no somente o processo de disseminao da informao, como tambm a sua compreenso,
resultando em conhecimento e empoderamento queles que a procurem e acessem. No entanto, se a
partir do uso dos recursos tecnolgicos disponibilizados nos anos 90 do sculo XX, mudou-se o enfoque
do documento para as informaes nele contidas, a maioria dos Arquivos Permanentes dos Estados
brasileiros disponveis na Web, apresentam problemas de complexidade variada. Tal verificao nos
levou a algumas consideraes e sugestes aqui apresentadas.

Palavras-chave Arquivos Permanentes. Web. Acesso Informao.

Abstract The Permanent Files, present in the field of Information Science fulfill their social role by
storing, preserving, organizing, disclosing and disseminating the information of their collection of
documents and have used the Web to do it in an extensive way, because, the digital environments can
make it fast, simple and dynamic. Guided by the right to access the information and the documents,
today granted by Law to all citizens, this article aims to analyze in which ways the information of the
Permanent Files of the Brazilian states is available in the Web. For that, we followed the General
Guidelines for Building Websites of Archival Institutions, created by the National Council on Archives
(CONARQ) in 2000, and the instrument of evaluation DaSilva, the first evaluator of accessibility in
Portuguese for Websites. We found that with the increasing availability of information to the users,
enabled in the Web by the Information and Communication Technologies (ICT), it is possible to
facilitate not only the process of disseminating the information, but also its understanding, resulting in
knowledge and empowerment to those who seek and access it. However, if from the use of
technological resources made available in the 90s of the twentieth century, the focus was changed from
the document to the information contained in it, the majority of the Permanent Files of the Brazilian
states available in the Web present problems of various complexities. Such finding led us to some
considerations and suggestions presented here.

Keywords Permanent Archives. Web. Access to Information.

1156
Introduo

Quando pensamos no estudo das sociedades modernas a partir das transformaes
proporcionadas pelas tecnologias da informao e comunicao, faz-se necessrio
recorrermos a tericos que direcionaram seus estudos para a compreenso da lgica destas
transformaes.
Consideramos as concepes de Walter Benjamin elaborou em 1936 (e cuja traduo
aqui utilizada de 1983) sobre as reprodues tcnicas das obras de arte atravs da fotografia
e do cinema que surgiram como reprodutores e disseminadores da arte qual a maioria da
populao tem acesso. Em contraponto, Theodor Adorno expe suas ideias no texto de 1963
(cuja traduo de 1977), que alguns anos mais tarde, dialeticamente critica a produo da
cultura como se esta fosse uma mercadoria, pois as sociedades modernas a padronizam como
qualquer bem de consumo.
Por outro lado, em tempos atuais, a produo ampliada de informaes a partir do uso
das tecnologias de informao exigiu como consequncia o aumento da disponibilizao da
informao na forma visual com o objetivo de facilitar a compreenso e a apropriao do
usurio sobre algum conhecimento.
Tambm perceberemos essa preocupao nos trabalhos de Paul Otlet no perodo do
final dos anos 1930 at sua morte em 1944; o autor discutia modos de integrao e distribuio
do conhecimento atravs de mecanismos que em dias atuais reconhecemos como diferentes
tipos de interfaces.
Nesse contexto, a preocupao de Otlet estava em como a apresentao da informao
na forma at mesmo imagtica era importante para a compreenso e apropriao do
conhecimento. Em Trait de documentacin de 1934, ele faz a proposta da ferramenta de
formatao que pode ser comparada aos programas atuais de texto que contm tais
ferramentas como as do Word e do Clipart, formadas de linhas curvas e quebradas, de formas
poligonais e circulares, todas s unidades bsicas para a composio de diagramas manuais,
figuras e desenhos simplificados (Heuvel; Rayward, 2011).
Segundo Heuvel e Rayward (2011, traduo nossa),

Otlet estava particularmente interessado em linguagens visuais
que fossem capazes de expressar significados semnticos
independentes das lnguas naturais com base no texto, mas poderia
fornecer interfaces para o contedo de acervos textuais e
museogrficos. Seus primeiros pontos de vista da CDU (Classificao
Decimal Universal) foram um passo nessa direo em que ele
acreditava que poderia formar uma espcie de linguagem universal
de cdigos numricos, uma verdadeira linguagem nova, cujas figuras
traduziriam ideias absolutamente comuns para todo mundo
cientfico. (p. 2320).

Considerando o nosso contexto sociocultural que vem sendo evidenciado pela rapidez
em que as Tecnologias de Informao e Comunicao (TIC) esto se desenvolvendo,
originando profundas transformaes no universo informacional em todas as reas do
conhecimento, a informao vem adquirindo status cada vez mais importante.
Neste cenrio a informao se torna insumo para viabilizao das atividades, nos
processos culturais, nos processos de ensino e aprendizagem, nos processos de aquisies e

1157
construo de conhecimento para pesquisa cientfica e tecnolgica e em outros setores ou
atividades onde o conhecimento humano se faz necessrio. (Marcondes, 2001).
O que vem a confirmar, como a forma da apresentao da informao extremamente
importante para a compreenso e construo de novos conhecimentos por parte do usurio,
principalmente quando nos valemos de recursos digitais to presentes em nossas vidas nos
dias atuais.
Nesse contexto, cabe afirmar que a relao mais evidente entre a Cincia da Informao
e a Disseminao da Informao nos ambientes digitais Sociedade em Rede est na proposta
voltada para as tarefas do usurio, aquelas que so desempenhadas pelos usurios quando
esto buscando ou fazendo uso de instrumentos de representao da informao em
ambientes informacionais (Ifla study group..., 2008): encontrar, identificar, selecionar,
adquirir/obter informaes e navegar em ambientes informacionais (Svenonius, 2000).
Em tempos contemporneos, intensas mudanas ocorreram na forma de difuso e
aquisio da informao, bem como, na maneira de integrao e na comunicao entre as
diferentes estruturas sociais por meio de sistemas de informaes em ambiente Web. Ocorreu
uma ampliao no paradigma de custdia e acesso aos contedos documentais, ou seja, o
acesso informao atravs das mdias disponveis e acessveis. Diante disso, o acesso, o uso e
o reuso da informao se constitui como o principal quesito dos servios de informao.
Nessa perspectiva, Silva et al. (2002), apontam que os Arquivos Permanentes podem ser
tratadas no panorama da interdisciplinaridade, no contexto das cincias sociais aplicadas.
Destacam que as tecnologias j presentes na segunda metade do sculo XIX e o fortalecimento
do uso das tecnologias na produo da informao digital, a partir dos anos 80 do sculo XX,
atuam sobre o tratamento da informao contidas nos documentos de modo a permitir seu
uso e reuso.

1 A contemporaneidade nas instituies arquivsticas: acesso e apropriao
do conhecimento

A partir de uma anlise dos arquivos estaduais brasileiros, na ambincia digital,
comprova-se a mudana de paradigma na prestao de servios comunidade por essas
instituies custodiadoras do patrimnio cultural nacional. Este trabalho se prope a verificar
se os Websites dos Arquivos podem ser tratados como tal.
A partir das questes de reproduo apresentadas por Benjamim (1983) e,
posteriormente tambm as consideraes de Adorno (2002) sobre a Indstria Cultural, busca-
se uma reflexo sobre as TIC na contemporaneidade, em especial sobre a Web 2.0, e o acesso
informao e ao conhecimento.
Todavia se refletirmos a partir do posicionamento de Benjamim sobre os benefcios da
reprodutibilidade, podemos dizer que: ao disponibilizar uma obra artstica, ou ainda um
documento no ambiente virtual, esses podem ser visitados em seu espao original, e ainda ser
acessados virtualmente por meio de hiperlinks disponveis que levam aos ambientes virtuais,
alcanando assim pblicos diferentes em diferentes situaes.
Como visto, tal situao tem reflexo tambm nos ambientes das Instituies
Arquivsticas.
Buscamos assim determinar como a Arquitetura e o Design da Informao facilitam o
acesso e a recuperao das informaes, contribuindo para que elas sejam captadas pelos
usurios em sua busca, e recuperao.

1158
Para tanto nos pautamos nas Diretrizes Gerais para Construo de Websites de
Instituies Arquivsticas, documento proposto pelo Conselho Nacional de Arquivos em
dezembro de 2000, objetivando a elaborao de normas sobre a criao de sites de instituies
arquivsticas.
Para que os recursos informacionais nas instituies arquivsticas sejam disseminados
eles precisam de tratamento documentrio, e uma das etapas do tratamento de como a
informao ser apresentada os usurios, o objeto de estudo deste trabalho.
Nesse sentido, fazemos um estudo sobre as formas de apresentao da informao como
agente facilitador do acesso s informaes no ambiente informacional dos Arquivos.
Segundo Fernanda Ribeiro (2005), quando facilitamos o acesso s informaes
arquivsticas ampliamos o paradigma de custdia com a insero da ideia de acesso ao
contedo documental, ou seja, de acesso aos documentos presentes nos fundos.
O arquivo que antes era utilizado como um espao de custdia, isto , de guarda de
documentos, e atendia um nmero reduzido de usurios, pois se restringia a um grupo de
especialistas ou historiadores e servia de subsidirio da histria e da memria social e poltica,
continha inclusive uma similaridade com a obra de arte em um lugar para iniciados, possua
uma aura de sagrado. Agora as instituies arquivsticas podem disponibilizar seus
contedos documentais a todos que precisarem da informao. Qualquer indivduo tem
direito informao; assim, novas formas de acesso devero facilitar a busca, uso e reuso da
informao; as dificuldades so minimizadas pelo uso das TIC.
O direito informao foi formalizado na Declarao Universal dos Direitos Humanos,
de 1948, contemplado no artigo 19, nos seguintes termos:

Todo indivduo tem direito liberdade de opinio e expresso;
este direito inclui a liberdade de, sem interferncia, ter opinies e de
procurar o de procurar, receber e transmitir informaes e ideias,
por quaisquer meios e independentes de fronteiras. (Declarao
Universal dos Direitos Humanos, art.19, 1948).

Atualmente, a apresentao da informao nas instituies arquivsticas
disponibilizada atravs das representaes coletivas, organizadas a partir de algum princpio
norteador, seja ele histrico, artstico ou cientfico, que ser usado como base para a pesquisa,
para produo do conhecimento e tambm para divulgao de determinadas reas do
conhecimento, ampliando os campos. A transio da mdia impressa para mdia digital
assegura-se como passo decisivo para a criao de uma nova estrutura para as instituies do
patrimnio cultural quando a informao poder ser acessada remotamente e compartilhada
de forma instantnea. (Borges, Oliveira e Pohlman Filho apud Zafalon, 2008).
Nas apresentaes dos Arquivos da ambincia digital, se por um lado perdemos a
autenticidade do documento enquanto probatrio ao nos depararmos com um simulacro, uma
reproduo, ganhamos com a oportunidade do acesso informao para construo de novos
conhecimentos.
Ambientes digitais podem representar de maneira bastante adequada uma forma de
apresentar a informao e disponibiliz-la de forma rpida, simples e dinmica aos usurios.
Nestes ambientes h um ganho do conhecimento ao identificarmos que dificilmente as
informaes ali disponveis sero acessadas por um nmero de usurios potencialmente
ampliado pelo uso das TIC, pois naturalmente um nmero muito menor de sujeitos teria
acesso presencial s informaes hoje disponveis digitalmente.

1159
Os processos de digitalizao e de criao de interfaces transformam informaes
criadas em papel, microfichas ou microfilmes em arquivos digitais, isto , geram imagens e
representaes. Tal tecnologia possibilita que um grande volume de documentos seja
armazenado em um ambiente acessvel em computador. Seu objetivo tornar mais rpido os
processos a partir da velocidade na troca de informaes.
Em 2010 o CONARQ, entendendo a significativa contribuio que a digitalizao para a
ampliao do acesso e disseminao dos documentos arquivsticos atravs das TIC, faz a
Recomendao para Digitalizao de Documentos Arquivsticos Permanentes, visando auxiliar
as instituies que custodiam os acervos de valor permanente:

A digitalizao de acervos uma das ferramentas essenciais ao
acesso e difuso dos acervos arquivsticos, alm de contribuir para
sua preservao, uma vez que restringe o manuseio aos originais,
constituindo-se como instrumento capaz de dar acesso simultneo
local ou remoto aos seus representantes digitais como os
documentos textuais, cartogrficos e iconogrficos em seus suportes
convencionais, objeto desta recomendao.

Destaca, porm, que a digitalizao no deve ser feita em detrimento das aes de
conservao convencional dos acervos custodiados pelas instituies arquivsticas, pois estes
so inalienveis e imprescritveis, conforme artigo 10 da Lei Federal n 8.159/1991.
A maneira de como a informao apresentada ao usurio uma preocupao que
antecede o advento do computador, preocupao essa, sentida pelo contemporneo belga de
Walter Benjamin, Paul Otlet quando demonstrou esta inquietao ao trabalhar a fim de
conceituar ideias sobre interfaces que antecipavam s nossas modernas verses para facilitar
manual e mecanicamente a integrao de dados.
Santos e Vidotti (2009) fazem a seguinte pontuao sobre Paul Otlet,

[...] imaginou um sistema de informao artesanalmente
projetado, que buscava antes de tudo, humanizar e universalizar o
conhecimento nos seus aspectos quantitativo e qualitativo. Passvel
de acesso por um suporte miditico, o aparato de armazenamento,
de representao, de recuperao, de acesso, de disseminao e de
preservao de documentos por Otlet recorria a um variado de
tecnologias integradas (p.3).

Otlet mesmo no podendo contar com os tipos de tecnologia disponvel em nossos dias,
demonstrava que uma Arquitetura da Informao seria atravs de combinaes entre textos,
frmulas, grficos, tabelas, imagens e representaes esquemticas entre outras.
Otlet tinha a percepo do problema de interfaces; em 1892 no Um peu de Bibliographies
(Algo sobre bibliografia) comeou analisar a ideia de como poderamos ampliar o acesso de
maneira mais eficaz ao conhecimento contidos no livro, porm, que eram reduzidos pelo seu
formato fsico.
Assim, segundo Otlet (apud Heuvel, Rayward, 2011, p. 2315, traduo nossa).

O externo make-up de um livro, seu formato e da personalidade
do seu autor no so importantes desde que a sua substncia, as suas
fontes de informao e as suas concluses sejam preservadas e

1160
possam ser feitas uma parte integrante da organizao do
conhecimento, um trabalho impessoal criado pelos esforos de todos
(p.2315).

Nesse contexto, o que entendemos como problema de interface era o que Otlet buscava
ao perceber que precisava reconceituar o formato do livro, para ele torn-lo colaborativo e
para que alcanasse de maneira efetiva a ampliao e a disseminao do conhecimento.
Segundo pesquisa do Ibope divulgada em 25 de setembro de 2012, em parceria com o
Nielsen Online, o nmero de pessoas com acesso Internet no Brasil chegou a 82,4 milhes no
primeiro trimestre de 2012 e 83,4 milhes no segundo trimestre de 2012, que representa um
crescimento de 7% nos ltimos seis meses e de 16% no perodo de um ano em relao ao
mesmo trimestre em 2011 (Ibope, 2012).
Se considerarmos os dados recolhidos pelo censo de 2010 pelo Instituto Brasileiro de
Geografia e Estatstica (IBGE), a pesquisa do Ibope indica que aproximadamente 43% dos
brasileiros tm acesso Web.
Considerando que as instituies arquivsticas podem possuir seus Websites, pois, um
nmero cada vez maior pessoas tem acesso Internet se faz necessrio entendermos os
processos de criao de estoques informacionais e da transferncia da informao expostos
por Smit e Barreto (2002).

As informaes armazenadas em bases de dados, bibliotecas,
arquivos ou museus, [entre outros ambientes informacionais],
possuem a competncia para produzir conhecimento, mas este
somente se efetiva a partir de uma ao de comunicao
mutuamente consentida entre a fonte (os estoques) e o receptor (p.
14).

Dessa maneira, nos Arquivos da ambincia digital outro fator de importncia que
interfere e influencia o processo de transferncia da informao a adequao dos ambientes
digitais ao usurio, quanto Usabilidade, Apresentao da Informao e ao Design centrado
no usurio. Para que seja construdo o conhecimento a partir das informaes encontradas
nas pginas da Web preciso que os ambientes informacionais digitais estejam adequados s
necessidades e s competncias informacionais de quem quer atingir.

2 A informao nos ambientes digitais dos arquivos permanentes

Com o advento das tecnologias as formas da apresentao da informao foram
alteradas de maneira a ampliar o universo de usurios. Nesse contexto, nossa proposta
avaliar a forma de exposio das informaes na pgina principal dos Websites de instituies
arquivistas dos estados brasileiros.
Podemos afirmar que existe uma mudana de paradigma na exposio da informao
nos servios dos Arquivos, ampliando o ambiente informacional e a forma de acesso a estes
ambientes, independente de sua localizao fsica, tornando-o global com um alcance nunca
antes vislumbrado pelos servios das Instituies do Patrimnio Cultural, que antes
trabalhavam com a ideia de espaos delimitados, em uma comunidade restrita e conhecida
pessoalmente. Marcondes et al.(2006).

1161
Diante a esta nova realidade, buscamos determinar como se d a disseminao da
informao e a acessibilidade aos Websites dos Arquivos Pblicos Estaduais Brasileiros, fazendo
uma anlise de como as Informaes esto dispostas nos Websites das instituies pblicas
estaduais arquivsticas e se atendem ou no as diretrizes recomendadas pelo CONARQ no ano
de 2000.
Estas recomendaes buscam facilitar a interpretao e o acesso s informaes
custodiadas pelas Instituies do Patrimnio Cultural, para que sejam captadas pelos usurios
que, no sculo XXI, querem ser satisfeitos rapidamente, almejam liberdade ao buscar as
informaes, no tm trajetos definidos ou limitados e tambm querem opinar, interagir e
contribuir.
Sendo o acesso informao requisito essencial para o conhecimento, direito e
cidadania, que tem se tornado principal objetivo da Sociedade da Informao. A disseminao
da informao tem se exposto em diferentes formas e encontra na internet sua grande aliada.

3 Legislao

O acesso aos documentos pelos cidados assegurado por Leis desde 1989 e segundo
Bellotto (2004) a finalidade principal dos arquivos, independente da idade documental.
E em 2012, o Decreto n 7.724, de 16 de maio de 2012, regulamenta Lei n 12.527, de 18 de
novembro de 2011, que dispe sobre o acesso a informao.

Art. 8 dever dos rgos e entidades pblicas promover,
independentemente de requerimentos, a divulgao em local de fcil
acesso, no mbito de suas competncias, de informaes de interesse
coletivo ou geral por eles produzidas ou custodiadas.

Tambm foram criadas leis que asseguram o direito acessibilidade das pessoas
portadoras de deficincias ou com mobilidade reduzida, como o Decreto Lei de n.5.296, de 2 de
dezembro de 2004, que define acessibilidade como:

Iacessibilidade: condio para utilizao, com segurana e
autonomia, total ou assistida, dos espaos, mobilirios e
equipamentos urbanos, das edificaes, dos servios de transporte e
dos dispositivos, sistemas e meios de comunicao e informao, por
pessoa portadora de deficincia ou com mobilidade reduzida;

Esse decreto tambm define outras barreiras da comunicao:

d) barreiras nas comunicaes e informaes: qualquer entrave
ou obstculo que dificulte ou impossibilite a expresso ou o
recebimento de mensagens por intermdio dos dispositivos, meios
ou sistemas de comunicao, sejam ou no de massa, bem como
aqueles que dificultem ou impossibilitem o acesso informao
(Brasil, 2004b).

1162
Nesse contexto, no podemos negar a ampliao das oportunidades de acesso e
comunicao que a Web oferece s pessoas portadoras de deficincia ou com mobilidade
reduzida, diante deste respaldo legal.

4 Arquivos pblicos dos estados brasileiros

Considerando a finalidade do arquivo e o texto legal para assegurar ao cidado o acesso
informao, este trabalho de pesquisa apresenta uma anlise dos: Websites, Pgina e Blog dos
Arquivos Permanentes dos estados brasileiros.
Utilizando cada vez mais as TIC, crescente o nmero de Arquivos Pblicos Estaduais
na ambincia digital; neste levantamento identificou-se que dos 26 estados brasileiros mais o
Distrito Federal, 17 arquivos pblicos estaduais podem ser encontrados na Web (Arquivo
Pblico de Alagoas, Arquivo Pblico da Bahia, Arquivo Pblico do Cear, Arquivo Pblico do
Distrito Federal, Arquivo Pblico do Esprito Santo, Arquivo Pblico de Gois, Arquivo Pblico
de Maranho, Pblico do Estado do Mato Grosso, Arquivo Pblico de Minas Gerais, Arquivo
Pblico do Par, Arquivo Pblico do Paran, Arquivo Pblico de Pernambuco, Arquivo Pblico
do Rio de Janeiro, Arquivo Pblico do Rio Grande do Norte, Arquivo Pblico do Rio Grande do
Sul, Arquivo Pblico de Santa Catarina). Foram analisados 16 arquivos disponveis na rede,
devido ao Website do Arquivo Pblico do Estado do Mato Grosso ainda estar em
desenvolvimento.
Apesar de alguns arquivos no se configurarem como um Website e sim como uma
pgina inserida em um Website da secretaria na qual o arquivo est vinculado, foi realizada
uma anlise dos Websites, das pginas e dos blogs, onde se encontram os arquivos na
ambincia digital, isto , analisamos os Arquivos que se utilizam da Internet para
disponibilizar informaes relativas aos servios e produtos oferecidos por eles.
Segundo o CONARQ (2000),

O Website de uma instituio arquivstica deve ser visto como
um instrumento de prestao de servios dinmico e atualizvel e
no simplesmente como a reproduo de um folder institucional.
Trata-se na verdade, de um espao virtual de comunicao com os
diferentes tipos de usurios da instituio a ser gerenciado como
parte da poltica de informao da instituio. Dado o potencial e as
caractersticas da Internet, este espao, alm de redefinir as formas
de relacionamento com os usurios tradicionais, poder atrair outros
que, por vrias razes, difcil ou raramente procurariam o arquivo
como realidade fsica. (p.4)

Nesse contexto, o CONARQ no ano de 2000, com o objetivo de disponibilizar um
referencial bsico s instituies arquivsticas que querem criar ou redefinir seus Websites,
props Diretrizes pertinentes ao contedo, desenho e estruturas para o Website das
instituies arquivsticas.
A anlise dos Websites; pginas e blogs dos Arquivos Permanentes estaduais brasileiros,
parte da premissa de que, se por um lado perde-se a autenticidade do documento enquanto
probatrio ao se deparar com um arquivo digital, uma reproduo, por outro se ganha com a
oportunidade de acesso irrestrito informao para a construo de novos conhecimentos.

1163
Para a anlise proposta, a pesquisa iniciou-se na Home Page, ou seja, na pgina principal
do Website da instituio arquivstica ou na pgina do Arquivo que est inserida no Website da
Secretaria em que o arquivo est vinculado. Assim, partimos do princpio que o
desenvolvimento do Website pode facilitar a navegao do usurio, e a Home Page que
determinar as decises dos caminhos que o usurio dever tomar; nela esto a
contextualizao dos documentos e as condies e acesso aos acervos e neste momento
analisamos as informaes gerais, como por exemplo: o que o arquivo, onde ele se localiza
que tipo de informao o usurio poder obter na instituio, de que forma ele tem acesso ou
no s informaes.
Na informao sobre Website, apenas cinco arquivos (31,25%) informam sobre seu
objetivo no ambiente digital, o que denota inexistncia ou falta de independncia da
instituio.
Na informao sobre a instituio os dezesseis arquivos (100%) trazem o histrico da
instituio, o endereo fsico e as formas de acesso presencial, porm no contemplam a
estrutura organizacional, programas de trabalho, quadros de diretores e instrumentos de
pesquisa e muito menos documentos com os contedos de informaes constantes nos
arquivos.
Oito arquivos (50%) informam ao usurio o que est disponibilizado na rede, porm s
em trs desses arquivos (18,75%),os usurios tem acesso a algum documento e quatro arquivos
(25%), possuem um link com Lei de Acesso, o que demonstra que alguns arquivos utilizam a
Web apenas como um canal de divulgao da instituio.
Dez arquivos (62,5%), evitam os termos tcnicos pouco conhecidos enfatizando-se que
nos outros os servios so direcionados especialistas e no ao pblico em geral; portanto
estes no cumprem a legislao de Lei de Acesso.
Material protegido por copyright contemplado por nove arquivos (56,25%), a indicao
feita atravs do smbolo internacional ou da frase: material protegido, o que indica a
preocupao das instituies com o direito do autor sobre sua criao, porm somente um
arquivo (6,25%) cita o responsvel tcnico pelo site, mas no trs seu e-mail pessoal, desta
maneira no satisfaz plenamente o que recomendado por este item da diretriz.
Oito arquivos (50%) mantm links atualizados ao estado e secretaria.
Somente o Arquivo Estadual do Rio de Janeiro (6,25%) disponibiliza o relatrio anual da
instituio no Website, desde 2002, o que um facilitador para que o usurio saiba o que est
sendo feito na instituio.
As diretrizes propostas pelo CONARQ tambm fazem recomendaes quanto aos
aspectos arquivsticos, pois por meio desta disponibilizao de informao no ambiente
digital que o usurio tomar a deciso de ir ou no ao Arquivo, se ele poder ter acesso ao
documento de forma remota ou ainda de como entrar em contato com o responsvel da
instituio atravs de telefone, e-mail ou dos formulrios de acesso: desta maneira ele poder
decidir se precisa fazer a consulta presencial ou no.
Ainda que o usurio no tenha acesso aos documentos e aos contedos documentais se
faz imprescindvel ter no ambiente digital os instrumentos de pesquisa, para que assim o
usurio tome conhecimento do contedo do acervo arquivstico da instituio; porm
verificou-se que em apenas nove arquivos (56%), os instrumentos de pesquisa so
disponibilizados aos usurios.
No item sobre o acervo (caractersticas, datas-limites, quantidade, tipologia, etc.) onze
arquivos (68,75%) disponibilizam essas informaes na Internet.

1164
Quanto estrutura de funcionamento para o atendimento ao usurio, catorze arquivos
(87,5%) disponibilizam principalmente os horrios de atendimento do arquivo e como este
atendimento se d, reafirmando o intuito de divulgao das instituies.
A prestao de servios como obteno de cpias dos documentos oferecida por seis
arquivos (37,5%), porm, nenhum destes disponibiliza o e-mail do responsvel pelo
atendimento.
Metade dos arquivos citam seus mtodos de trabalho, fazem a descrio dos
documentos e se utilizam das tecnologias da informao, e quatro arquivos (25%) citam a lei
de acesso informao.
Trs arquivos (18,75%) oferecem ao usurio um glossrio de termos arquivsticos.
Apesar de 59% das instituies arquivsticas estarem presentes na Internet, no
podemos deixar de considerar que ainda um nmero insuficiente.
Felizmente no Brasil o acesso informao pblica se tornou a regra, e o sigilo a
exceo, busca-se com isso, a superao da cultura do sigilo e a criao da cultura de acesso;
assim, quando os arquivos disponibilizarem suas informaes documentais na Web
objetivando sua disseminao est cumprindo seu papel na sociedade.
Quanto ao design e contedo do Website o CONARQ elegeu em suas diretrizes itens que
oferecem ao usurio mecanismos e informaes para que seu acesso seja facilitado e fluido.
O uso do domnio .gov.br, atendido por 15 arquivos (93,75%): O mapa do Website,
contemplado por cinco arquivos (31,25%) e o mecanismo de busca est presente em onze
arquivos (68,75%), sendo que em alguns Websites, os termos de busca j esto definidos.
Somente o Blog do Arquivo Pblico de Pernambuco (6,25%) possui o contador de
acessos, porm este item contemplado em algumas pginas do Arquivo Pblico do Distrito
Federal.
Somente quatro arquivos (25%), colocam a data de atualizao de seus Websites e/ou de
suas respectivas pginas, o que segundo Furquim (2004) importante, pois, representa a
atualidade da informao disponibilizada.
Os Arquivos Pblicos Estaduais apresentam preciso gramatical e tipogrfica, mas
sugerimos uma padronizao da linguagem para no ocorrer, por exemplo, que o Arquivo
Permanente seja chamado de Arquivo Principal, como ocorre no Website do Estado do Cear.
Servios de acesso s imagens de documentos como manuscritos e fotografias podem
ser verificados em cinco arquivos (31,25%).
O Arquivo Pblico Mineiro (6,25%) oferece a opo da pesquisa em outro idioma.
Doze arquivos (75%) utilizam-se do menu toolbar. Para solicitao de servios, quatro
arquivos (25%) utilizam formulrios eletrnicos on-line.
Um arquivo est no Facebook, no twiter e no YouTube. Quatro arquivos esto no Facebook
e no twiter, um arquivo est somente no Facebook , dois esto somente no twiter, e dois desses
arquivos possuem Blog. Assim, oito arquivos (50%) se fazem presentes nas redes sociais e dois
arquivos possuem blog.
Os Websites dos arquivos pblicos estaduais so utilizados como um meio para informar
sobre os aspectos fsicos e quais os servios que so oferecidos pela instituio.
No foram mencionados por nenhum arquivo os itens:
- Data de criao do Website;
- Mudana de URL do Website;
- Indicao do responsvel pelo Website e seu e-mail;

1165
- Utilizao de uma seo do tipo Novidades, indicando mudanas no Website;
- Garantias de segurana no acesso quando da transmisso de dados especialmente os
de carter sigilosos ou aqueles relativos privacidade do usurio;
- Utilizao de instrumentos de pesquisa on-line em dois nveis;
- Instrues para facilitar o download: especificaes como o tamanho do arquivo,
formato(s);
- Opo de navegao do Website sem imagens ou animaes;
- Opo de verso textual no caso de uso de som.

5 Acessibilidade

Acessibilidade significa a possibilidade de acesso de todo cidado no somente
relacionada ao meio edificado, aos transportes e s vias pblicas, mas tambm, s TIC, com
autonomia e usabilidade. Acessibilidade assegura condies para que a cidadania possa ser
exercida plenamente por todos os cidados.
No que diz respeito acessibilidade no ambiente Web, Dias (2003) faz a seguinte
considerao:

A acessibilidade na web significa que qualquer pessoa, usando
qualquer tipo de tecnologia de navegao (navegadores grficos,
textuais, especiais para cegos ou para sistemas de computao
mvel) deve ser capaz de visitar e interagir com qualquer site,
compreendendo inteiramente as informaes nele apresentadas (p.
11).

Com a popularizao da Web foi fundado em 1994, por Tim Berners-Lee o Word Wide Web
Consortium (W3C), principal organizao de padronizao da Word Wide Web (WWW), que tem
como finalidade estabelecer padres para criao e interpretao de contedos para Web, a
fim de facilitar o acesso s informaes disponveis na Internet.
Para tanto, em 5 de maio de 1999, foi criado pelo Guia de acessibilidade para contedos
Web (Web Content Accessibility Guidelines - WCAG ) - Guia do W3C, onde so feitas as
recomendaes para acessibilidade do contedo da Web que explicam como tornar o contedo
Web acessvel s pessoas com deficincias. destinado aos criadores do contedo Web, e a
programadores, objetivando facilitar o acesso s informaes disponveis na Web.
Ao emitir este Guia, o W3C tem como propsito chamar ateno para suas
especificaes e promover sua adoo generalizada, com o intuito de maximizar a
funcionalidade e a universalidade da Web. O WCAG (Guia de acessibilidade para contedos
Web) recomenda pontos de verificao para validar acessibilidade Web; foram atribudos a
cada ponto de verificao um nvel de prioridade (WCAG, 1999).

Prioridade 1: pontos que os desenvolvedores de contedo Web tem absolutamente de
satisfazer.
Prioridade 2: pontos que os desenvolvedores de contedo Web deveriam satisfazer .
Prioridade 3: pontos que os desenvolvedores de contedos Web podem satisfazer. (Guia
de acessibilidade para contedos Web - WCAG).

1166
Para que o contedo informacional digital possa ser validado e verificado se ele possui
ou no acessibilidade, ferramentas de avaliao automticas foram criadas, esses
avaliadores se baseiam nos pontos de verificao de cada nvel de prioridades.

Nesse contexto, para a avaliao dos Websites dos Arquivos Pblicos dos Estados
Brasileiros, ou onde se encontram as pginas das instituies arquivistas dos estados,
elegemos o avaliador Da Silva, o primeiro avaliador de acessibilidade em portugus para
Websites. O avaliador Da Silva mantido pela Organizao da Sociedade Civil de interesse
Pblico OSCIP, e sua interface permite a avaliao simultnea nos trs nveis de prioridade.
A OSCIP Acessibilidade Brasil registrada no Ministrio da Justia e est voltada para o
desenvolvimento de estudos e projetos que privilegiam a insero social e econmica das
pessoas com deficincia (Brasil, 2007).
O processo de avaliao simples: quando digitado o endereo eletrnico do Website
para avaliao, ele retorna numa tela com o resultado da avaliao em cada nvel de
prioridade e demonstrando a quantidade de avisos e de erros, logo abaixo desses avisos
abrem-se 3 abas (Prioridade1, Prioridade 2 e Prioridade 3) e cada aba trs as respectivas
descries do erro e da recomendao para correo do mesmo.
No caso dos Arquivos Permanentes analisados, os 16 arquivos (100%) possuem erros que
dificultam a acessibilidade em suas pginas na Web. Esses erros necessitam ser corrigidos,
removendo assim, as barreiras que dificultem, impeam ou excluam os usurios do acesso, do
uso de servios, produtos e informaes pertinentes s instituies arquivistas. Para que estas
barreiras sejam ultrapassadas se faz necessrio que os Websites no sejam percebidos como
uma mdia puramente visual, pois, o problema de acessibilidade no afeta somente os usurios
deficientes, mas toda comunidade de usurios, que so excludos por usarem sistemas e
computadores mais antigos ou ainda por se utilizarem de dispositivos mveis para acesso
Web (Dias, 2003).
Como resultado da consulta feita pelo avaliador DaSilva, nos Websites dos Arquivos
Permanentes dos estados brasileiros, no nvel de prioridade um (1), esto os pontos que os
criadores do contedo da Web tm de satisfazer inteiramente, para que os usurios no fiquem
impossibilitados de compreender as informaes.
Os Arquivos Permanentes cumprem de 75% a 93% das recomendaes feitas pelo Guia
do W3C e aplicados pelo avaliador DaSilva, para o nvel de Prioridade 1; a satisfao dos
pontos deste nvel de prioridade um requisito bsico para que um determinado grupo de
pessoas possa acessar os documentos disponveis na Web. Nesse cenrio, verifica-se que
grupos de pessoas no tem acesso ou tm dificuldade de acesso s pginas ou Websites de 100%
dos Arquivos Permanentes brasileiros da ambincia digital.
No nvel de Prioridade 2 esto os pontos em que os criadores dos contedos para Web
devem satisfazer, evitando desta maneira que os usurios tenham dificuldades para ter acesso
s informaes contidas nos documentos.
Dos pontos que devem ser satisfeitos na Prioridade 2, propostos pelo Guia do W3C
utilizados pelo avaliador DaSilva, os Arquivos Permanentes presentes na Web, satisfazem de
86,66% a 96,66% das recomendaes feitas. Ainda assim, um ou mais grupos de usurios tero
dificuldades em acessar as informaes contidas nos documentos, o que no aconteceria se
todas as recomendaes fossem satisfeitas.
Dos pontos descritos neste nvel de Prioridade 3, os criadores dos contedos para Web
podem satisfazer para melhorar o acesso s informaes.
Verifica-se que no nvel de Prioridade 3, os arquivos que se fazem presentes na Web,
cumprem de 89,47% a 94,73%, das recomendaes do Guia do W3C, e seguidos pelo avaliador
DaSilva. Portanto, ainda alguns grupos de usurios que acessem o Website ou as pginas de um

1167
destes onze Arquivos Permanentes Estaduais, podero se deparar com algumas dificuldades
para acessar informaes contidas nos documentos por eles disponibilizadas.

Consideraes finais

Os ambientes virtuais possibilitam inmeras formas de se fazer a mediao cultural e
promover o acesso s informaes. Nesse contexto, percebe-se o quanto as TIC e o ambiente
digital criam medidas eficazes para que o patrimnio cultural seja encontrado e utilizado,
conhecendo desta forma, as riquezas culturais e, por conseguinte, assegurando sua
conservao.
Os Arquivos Permanentes, por meio de seus Websites, e seu design/Arquitetura podem
preservar e disponibilizar de forma efetiva o patrimnio documental sociedade A partir do
advento do computador e da sociedade em rede atravs da Web foi possvel a socializao do
saber e consequentemente houve o empoderamento dos indivduos que interagem com esses
espaos do saber por meio do uso de diferentes recursos e servios.
Entretanto, embora existam Leis e Diretrizes, o seu cumprimento pelas instituies
arquivsticas estaduais brasileiras presentes na Internet, ainda no suficientemente
atendido para que os Arquivos Permanentes cumpram se papel de disseminadores da
informao. Percebe-se tambm que os Arquivos Permanentes subutilizam a Web quando a
utilizam como meio divulgador e no como meio disseminador da informao, fato
comprovado quando em somente cinco arquivos (31,25%) em que os usurios tm acesso a
alguns documentos, levando em considerao nesta pesquisa o acesso a partir de apenas um
documento disponibilizado para consulta.
No que tange a acessibilidade dos Websites e a ampliao de acesso s informaes e aos
itens documentais, um longo caminho ainda tem que ser percorrido e para tanto, este
caminho deve ser iniciado com o cumprimento das Diretrizes gerais para a construo dos
Websites de instituies arquivsticas e das Recomendaes para acessibilidade do Guia do
W3C.

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crtica no modelo de organizao da informao na contemporaneidade. Revista digital
de biblioteconomia e documentao, 6 (1), p.61-83.

1170
BIBLIOTECAS ESCOLARES DINAMIZADAS PELO USO DAS TECNOLOGIAS DE INFORMAO E
COMUNICAO

LUCIRENE ANDRA CATINI LANZI
[email protected]

SILVANA APARECIDA BORSETTI GREGORIO VIDOTTI
[email protected]

EDBERTO FERNEDA
[email protected]

Resumo As bibliotecas escolares aliadas s Tecnologias de Informao e Comunicao (TIC) podem
potencializar o processo na aquisio de conhecimento dos utilizadores de biblioteca. Uma das formas
de se alcanar este propsito inserir ambientes digitais colaborativos na estrutura da biblioteca
escolar e estimular os aprendizes a compartilhar informao nesses ambientes. No contexto de
biblioteca escolar dinmica, tem-se as TIC como facilitadoras no processo de ensino, aprendizagem e no
desenvolvimento individual e coletivo da comunidade. A insero dessas tecnologias digitais na rotina
da biblioteca escolar, a identificao do perfil tecnolgico e das necessidades informacionais dos
adolescentes para obteno de informao no cotidiano foram objetivos dessa investigao. Alm disso,
foi proposta a participao efetiva da biblioteca escolar no contexto educacional, por meio da interao
entre bibliotecrio, aluno, professor e coordenao pedaggica, buscando um ensino aprendizado
cooperativo e informal das TIC, e o compartilhamento de informaes e conhecimento, de forma
consciente e competente. Como embasamento terico, utilizamos os estudos cognitivos de Jean Piaget,
em especial, as etapas de assimilao e acomodao do conhecimento por prticas cooperativas. A
pesquisa-ao-participativa permitiu conhecer o estado comportamental dos adolescentes. O modelo
de busca de informao para o cotidiano (Everyday Life Information Seeking), Savolainen (2006), em
conjunto com as abordagens de HUGUES-HASSEL & AGOSTO (2007) e UCL(2008), permitiu identificar o
perfil tecnolgico e informacional dos adolescentes. Foi criada a Confraria da Biblioteca para a
estruturao de ambientes digitais colaborativos, de modo a tornar a biblioteca em um ambiente
participativo. Assim, a biblioteca escolar foi reestruturada, de modo a proporcionar uma interao mais
ativa dos adolescentes, no contexto educacional e cultural. Todo esse processo resultou no maior
interesse dos alunos por estudos e maior motivao para buscar novas leituras.

Palavras-chave Biblioteca Escolar. Tecnologias de Informao e Comunicao. Ambientes Digitais
Colaborativo.

Abstract School libraries combined with Information and Communication Technologies (ICT) can
enhance the process in the acquisition of knowledge by library users. One of the ways to achieve this
purpose is to insert collaborative digital environments in the school library structure and to encourage
learners to share information in those environments. In the context of a dynamic school library, the
ICTs are facilitators in the processes of teaching, learning and in the individual and collective
development of the community. Inserting those digital technologies in the school library routine and
identifying the technological profile and the informational needs of adolescents to obtain information

1171
in the everyday life were the objectives of this research. Furthermore, the effective participation of the
school library in the educational context was proposed, by means of the interaction between librarian,
student, teacher and education supervision, seeking a cooperative and informal teaching and learning
process of the ICTs, and the sharing of information and knowledge, in a conscious and competent way.
The cognitive studies of Jean Piaget were chosen as theoretical foundation, in particular the stages of
assimilation and accommodation of knowledge by cooperative practices. The participatory action
research allowed to know the behavioral state of adolescents. The model of information search for
everyday (Everyday Life Information Seeking), Savolainen (2006), in conjunction with the approaches of
HUGUES-HASSEL & AGOSTO (2007) and UCL (2008), allowed to identify the technological and
informational profile of adolescents. The Library Brotherhood was created to structure collaborative
digital environments, in order to transform the library into a participatory environment. Therefore,
the school library has been restructured, in order to provide a more active interaction of adolescents in
the educational and cultural context. This whole process resulted in greater students interest in studies
and higher motivation to seek new readings.

Keywords School Library. Information Technologies and Communications. Collaborative Digital
Environments.

Introduo

As Tecnologias de Informao e Comunicao (TIC) so os meios que as crianas e
adolescentes usam como forma de se comunicar e obter a informao, o profissional
bibliotecrio escolar precisa inserir-se nesse ambiente digital e ser capaz de intervir no rumo
das transformaes, no sentido mais favorvel ao seu desenvolvimento. Para tal, ter de
possuir grande capacidade de adaptao, um esprito aberto e atento e ser capaz de integrar
informaes oriundas das mais diferentes fontes.
O objetivo principal desta investigao foi buscar referncias e apresentar experincias
que favoream um novo conceito de biblioteca escolar que engloba as TIC como facilitadoras
no processo de ensino-aprendizagem e no crescimento pessoal e coletivo dos usurios. Como
objetivos especficos para alicerar essa averiguao; destacam-se: inserir as tecnologias na
rotina de uma biblioteca escolar; identificar o perfil tecnolgico e informacional dos
adolescentes; compreender suas necessidades e quais recursos tecnolgicos utilizam para
obterem informao no cotidiano e, por ltimo analisar a importncia da participao efetiva
da biblioteca escolar no contexto educacional da escola, por meio de maior interao entre o
bibliotecrio, professor e coordenao pedaggica, buscando um ensino aprendizagem
cooperativo e informal das TIC junto aos alunos, aprimorando-os na competncia em
informao digital para, juntos, compartilharem a busca de informaes e conhecimento, de
forma consciente e competente.
Para essa investigao, escolhemos como referncia bibliogrfica duas abordagens
selecionadas na literatura cientfica (HUGHES-HASSEL & AGOSTO, 2007; UCL, 2008) que
abordam as necessidades gerais de informao.
Os ambientes escolhidos foram as plataformas de redes sociais: Facebook, Twitter, e Blog
Tumblr,por serem os servios que os alunos mais utilizam.
Explorar as vantagens informacionais e pedaggicas do trabalho conjunto no uma
ideia nova. Jean Piaget nos anos 1930 dedicou dois textos este tema, especialmente. (PIAGET,
1996). Naquela ocasio, tendo por base a teoria do desenvolvimento, j chamava a ateno
para os benefcios tanto cognitivos como sociais do uso desta tcnica. Desde que
fundamentadas em princpios de autonomia e cooperao, as trocas intelectuais, afetivas e
sociais entre os prprios alunos podem, at mesmo superar o alcance de um ensino
concentrado no saber do professor. Ou seja, no se trata de subestimar a importncia do
professor, mas de se contrapor condio de exclusividade, at porque a cooperao se
desenvolve por uma combinao de relaes simtricas (no grupo de iguais) e assimtricas (na
relao com o diferente, no caso, o bibliotecrio). Este ltimo possui inspirado na teoria

1172
piagetiana, um lugar ativo, ao colaborar na provocao de desequilbrios e estimular a
reflexo dos alunos. Suas intervenes podem no somente favorecer como acelerar suas
conquistas, se relacionadas valorizao do trabalho em grupo, conforme destaca Piaget
(1978, p. 149).
As novas geraes devero ser formadas no sentido de coeso e de responsabilidade
social. As crianas e os adolescentes precisam ter oportunidades para desenvolver os seus
impulsos e interesses, mas precisam tambm saber respeitar o outro, conviver, colaborar e,
sobretudo, trabalhar em grupo. Para que isso acontea, fundamental que, perante uma
imensa oferta de fontes de informao, de caminhos possveis e de ritmos personalizados de
aprendizagem, o bibliotecrio da biblioteca escolar assuma um protagonismo crescente. E
para que isso acontea, o bibliotecrio deve ser formado no domnio das TIC para que elas
sejam teis na realizao desta nova biblioteca escolar.
Foi pensando nisso que nasceu a ideia de iniciar um projeto formado por um grupo
heterogneo, composto por adolescentes, que se renem semanalmente na biblioteca escolar
de um colgio em Marlia, interior de So Paulo, com a proposta de discutir temas de interesse
geral no caso, a tecnologia para a construo de conhecimentos. Nesta atividade,
denominada Confraria da Biblioteca, ainda em funcionamento, no existem professores ou
alunos, todos so colaboradores de um aprendizado informal e produtivo.

1 Referencial terico

Toda situao educacional tem como ponto inicial um meio de comunicao (exposio
oral, texto, imagem, atividades, etc.). Entende-se que aprender mais do que recuperar a
informao. Depende de interaes no contexto de aprendizagem, da informao ou material
disponvel, das ferramentas e das caractersticas cognitivas individuais dos estudantes.
Na perspectiva cognitivista piagetiana, segundo Parra (1983, p. 35), Educar consiste, de
forma geral, em provocar o desequilbrio na mente do educando, de maneira compatvel com
seu nvel de desenvolvimento, de modo que, ao procurar o reequilbrio, ele se reestrutura
cognitivamente e aprende. O reequilbrio pode ser entendido como a troca de um estado de
desequilbrio por outro de equilbrio.
Para Piaget (1970), s h aprendizagem quando ocorre acomodao. Desta forma, a
aprendizagem tida como um processo ativo, sendo importante uma postura ativa por parte
do estudante, que tambm possui responsabilidade no processo.
Tradicionalmente as tecnologias tm sido utilizadas como ferramentas para ensinar os
alunos, em uma viso na qual eles as entendem como fonte de conhecimento.
Para melhor exemplificar o que se afirma acima, veja-se o quadro abaixo mostrando as
vrias formas do uso da tecnologia na educao: como fim, como meio e tambm como
ferramenta. Neste estudo nos deteremos no uso da tecnologia como meio:

1173
Uso da tecnologia na
educao
Como fim Aprender sobre a tecnologia
Como meio Aprender da tecnologia, com a tecnologia
Como ferramenta Para professores/colaboradores e para alunos
Quadro 1 - O uso da tecnologia na educao
1

O primeiro uso apresentado no quadro o da tecnologia como fim, ou seja, refere-se a
aprender sobre a tecnologia. Neste caso, a tecnologia vista como fim e o aluno entra em
contato com ela para entend-la e domin-la. Entende-se o uso como ferramenta como a
utilizao da tecnologia que tanto professores quanto alunos fazem para apoiar seus
trabalhos. Neste caso, a tecnologia utilizada como mais uma ferramenta entre outras (lpis,
papel, computador, borracha, impressora, etc.). No caso da biblioteca escolar, fazia-se uso da
tecnologia apenas como ferramenta para catalogar e registrar emprstimos e devolues. Ou
seja, um apndice no acervo, sem explorar suas outras possibilidades.
No uso da tecnologia como meio existem duas vertentes: o aprender da tecnologia e o
aprender com a tecnologia. Aprender da tecnologia implica que a tecnologia detenha o
conhecimento e que o aprendiz a utilize como fonte para aquisio. Segundo Jonassen (1999,
p. 27), nessa viso o conhecimento visto como algo que pode ser transmitido, externo e
acabado, e o conhecimento pode ser embutido dentro da tecnologia e transmitido ao aluno.
O aprender com a tecnologia parte do pressuposto de que o aluno um sujeito ativo e
que para que ocorra aprendizagem, necessrio seu pensar, e sua reflexo sobre o prprio
processo, conforme se observa na figura 1.

Figura 1 - Aprender com a tecnologia e suas implicaes
2

Para Jonassen (1999, p. 17) o pensamento mediatiza a aprendizagem e esta se origina do
pensamento. Por outro lado, o pensamento est intimamente relacionado com o conceito de

1
Fonte: Baseado no modelo Passerino
(
PASSERINO, L. M. (2001). Informtica na Educao Infantil: perspectivas e
possibilidades. In: ROMAN, E. D., & STEYER, V. E. (Org.). A criana de 0 a 6 anos e a Educao Infantil: um retrato
multifacetado. Canoas: UFRGS, 1691-98.)
2
Fonte: - Elaborado pelos autores

Aprender com Tecnologia
Pensamento
Atividades
Tecnologia
Biblioteca
Alunos/Bibliotecrio/Professores

1174
atividade (no sentido de ao, do agir). Diferentes tipos de atividades provocam diferentes
tipos de pensamentos. Por exemplo, resolver problemas matemticos, ler um texto, projetar
um produto, argumentar, etc., provocaro tipos de pensamentos prprios de cada atividade.
Partindo de propostas de atividades que proporcionem a observao e a utilizao
concretas, a atuao do bibliotecrio poder ser um fator importante no favorecimento dos
ajustes iniciais das estruturas cognitivas e na familiarizao do aluno com o contedo novo a
ser aprendido (aprender com a tecnologia).
Resumindo, trabalhar com tecnologia numa viso construtiva significa usar as
tecnologias para engajar ativamente os alunos no processo de aprendizagem. Essas
tecnologias podem estar em qualquer ambiente ou em um conjunto de atividades que
permitam o envolvimento dos alunos no processo.
Sabendo que a assimilao cognitiva de Piaget se origina de um desconforto, de um
desequilbrio na mente do aprendiz e que s h a aprendizagem mediante a acomodao deste
processo, o bibliotecrio pode estimular o conhecimento por meio do uso das tecnologias para
adquirir conhecimentos, estimulando os alunos a buscarem o conhecimento de forma
cooperativa e em grupo.

2 Pesquisa-ao participativa

Visto se tratar de uma experincia prtica, ou seja, o investigador participa como ator
social da mesma realidade, esta investigao escolheu como mtodo de avaliao,
planejamento e direcionamento, a pesquisa-ao-participativa.
Para isso, foi usado um modelo, proposto por ngel (2000, p. 50), apresentado em trs
etapas. A primeira etapa de elaborao da investigao de pesquisa-ao est na formao do
prprio grupo de trabalho. Aps a formao do grupo, seguem-se os processos de escolha do
tema, do tipo de atuao necessria para acion-lo, e quais as formas de observao dos
resultados obtidos. A segunda etapa consiste na ao propriamente dita, em que se nota a
importncia da observao e da reflexo sobre as aes empreendidas, tanto na elaborao de
novos planos, como na prpria formao ou produo de conhecimento, inerente reflexo e
pesquisa sobre os acertos e erros das aes anteriormente realizadas. A etapa final, no menos
importante, consiste na divulgao analtica, que deve ser realizada como forma de socializar
os resultados da investigao.
Com base nesses conhecimentos metodolgicos, foi desenvolvida a primeira etapa das
aes norteadas por ngel (2000): uma pesquisa para conhecer o estado comportamental dos
jovens e adolescentes, baseada no modelo de busca de informao para o cotidiano
(Everyday Life Information Seeking) ELIS, desenvolvido pelo pesquisador finlands Savolainen
(2006), como tambm para identificar o perfil tecnolgico e informacional dos adolescentes a
partir de duas abordagens selecionadas na literatura cientfica (HUGUES-HASSEL; AGOSTO,
2007; UCL, 2008). Assim buscou-se compreender quais recursos tecnolgicos so utilizados
para obter a informao no seu cotidiano.

2.1 Necessidades informacionais cotidianas de adolescentes urbanos

A modelagem das necessidades informacionais cotidianas de adolescentes urbanos
(Modeling the every Day life of urban teenagers) foi realizada por Hughes-Hussel e Agosto (2007), a
partir do resgate do comportamento informacional de adolescentes, enfocando suas
necessidades gerais de informao e a busca de informao no cotidiano. A investigao teve

1175
como enfoque o comportamento informacional de adolescentes urbanos e a identificao das
suas necessidades informacionais no cotidiano, tendo como base o modelo Everyday Life
InformationSeeking (ELIS), desenvolvido por Savolainen (1995).
Hughes-Hassell e Agosto (2007, p. 34) apresentaram quatro categorias de busca da
informao, seguidas de tipologias correspondentes conforme descritas a seguir:

1. Canais e fontes pessoais: amigos e familiares, funcionrios da escola,
mentores, pessoal de servio ao cliente, outros adolescentes (no amigos),
bibliotecrios;
2. Modo de comunicao preferida: boca a boca, telefone, computador;
3. Canais de mdia: computador, TV, livro, folheto, jornal, revistas, rdio/CD
player, telefone, caderno escolar;
4. Tpicos de necessidades informacionais: rotina diria, atividades sociais,
desempenho criativo, acadmico, finanas pessoais, eventos correntes, bens e
servios, sade emocional, relaes amorosas e de amizade, cultura popular,
relacionamento familiar, moda, faculdade, sade, segurana fsica, imagem,
trabalho, normas sociais e legais, responsabilidades do trabalho, preocupao
filosfica, consumo criativo, carreira, cultura escolar, segurana sexual,
identidade sexual, prtica religiosa, dever cvico, identidade patrimonial /
cultural, auto realizao.

A partir do levantamento das necessidades de informao e tipologias identificadas,
Hughes-Hassell e Agosto (2007) construram dois modelos comuns (terico e emprico) para
necessidades informacionais cotidianas de adolescentes urbanos, os quais so apresentados a
seguir.
O modelo terico de necessidades informacionais de adolescentes influenciam no
ego emocional, social, sexual, cognitivo, criativo, fsico e reflexivo, exemplificado na (Figura
2).

Figura 2 - Modelo terico de necessidades informacionais de adolescentes
3

3
Fonte: Adaptado de Hughes-Hassell & Agosto (2007, p. 38).

1176
A partir do modelo terico, surge, ento, o modelo emprico de necessidades
informacionais cotidianas de adolescentes urbanos com as tipologias de cada rea
identificada, conforme Figura 3.

Figura 3 - Modelo emprico de necessidades informacionais cotidianas de adolescentes urbanos
4

Tendo em vista esses dois modelos, foi possvel visualizar a influncia do
comportamento informacional e a sua relao com as necessidades informacionais dos
adolescentes, demonstrando que a busca de informao est presente no processo de
amadurecimento e passagem da condio de indivduo adolescente para indivduo adulto.
Assim, o modelo ELIS aplicado ao estudo de adolescentes, possibilita compreender seu
mundo e sua posio diante dele, bem como aquilo a que aspiram. Pode auxiliar tambm no
delineamento das necessidades de informao e servios a serem oferecidos aos adolescentes
pelas bibliotecas e pelos bibliotecrios, bem como em ambientes informacionais digitais.
Vale ressaltar que, a partir dos tpicos identificados no modelo emprico
especificamente, torna-se possvel odesenvolvimento de colees destinadas ao pblico em
questo.O modelo tambm pode contribuirna elaborao e na construo de websites, e na
elaborao de programas e servios de referncia, em especial, na biblioteca escolar.
Para esse projeto tambm nos ativemos aos estudos da UniversityCollege London UCL,
onde desde 2008, investigadores especialistas objetivam identificar como os pesquisadores do
futuro sero capazes de acessar e interagir com recursos digitais em um tempo de cinco a dez
anos, observando desde o seu aprendizado em fase pr escolar, at o perodo de incio de seus
estudos no ensino superior. Esse estudo contempla resultados que podem auxiliar bibliotecas
e servios de informao relacionados aos comportamentos emergentes, em que ser
necessrio evidenciar o uso das TIC nos processos informacionais e na sua relao com os
indivduos.
Os resultados desse tipo de estudo possibilitam aos bibliotecrios o entendimento deles
e sua aproximao com os adolescentes, como tambm o conhecimento de suas necessidades
informacionais, auxiliando diretamente na resoluo de seus anseios
Como concluses desse estudo, a UCL (2008, p. 67) aponta que as bibliotecas, at o
presente momento, no esto acompanhando a demanda de estudantes e investigadores no
que diz respeito s experincias obtidas com recursos e servios integrados no novo contexto

4
Fonte: Adaptado de Hughes-Hassell & Agosto (2007, p.40)

1177
tecnolgico. Dessa forma, mudanas devem ocorrer inclusive na formao dos prprios
bibliotecrios, pois so eles que podero refletir sobre o desenvolvimento de novos recursos e
servios de informao e precisaro, sem dvida alguma, trabalhar em equipes
interdisciplinares para tal e, principalmente, junto aos profissionais de informtica.

2.2 A atuao para o uso das tecnologias de informao e comunicao e das
necessidades informacionais cotidianas dos alunos

Oferecer recursos e servios que atendam s necessidades dos adolescentes requer
amplo levantamento do comportamento juvenil e profundo conhecimento de sua realidade
sociocultural.
Para a aplicao desta investigao foram selecionados 30 adolescentes entre 12 e 18
anos, alunos do Colgio. Os estudantes cursam entre o 6 ano do Ensino Fundamental e o
Cursinho Pr-Vestibular e tm como perfil familiar, a preocupao com o investimento na
formao educacional.
A seleo dos participantes da pesquisa teve como critrio: estudantes que menos
frequentam a biblioteca do colgio e possuem mais proximidade com computadores, Internet
e respectivos aplicativos e ferramentas. Os adolescentes se dispuseram voluntariamente a
participar da pesquisa.
A anlise investigativa foi realizada a partir da observao e da avaliao das
necessidades e comportamento de busca da informao na biblioteca escolar e na Internet:
seguindo a orientao da segunda etapa sugerida por ngel (2000), de elaborao de novos
planos para a constatao da formao e/ou produo de conhecimento.
Em um primeiro momento, foi realizado um levantamento de dados, baseado na
pesquisa de Hughes-Hussell & Agosto (2007), em que os (trinta) adolescentes responderam
perguntas referentes idade, sexo, tarefas e hobbies cotidianos, alm de questes
relacionadas utilizao do computador e Internet. Tudo isso possibilitou a determinao de
caractersticas sociais, econmicas e culturais dos entrevistados.
As tabelas a seguir apresentam os resultados que caracterizam o perfil dos 30
respondentes. Na tabela 1, podem ser observados idade, srie e sexo dos participantes.

Tabela 1 -Perfil dos participantes: idade, srie e sexo
5

Percebe-se que a maioria dos participantes da investigao possuem 13 anos (40%), ou
seja, frequentam o 8 ano do Ensino Fundamental II (33,33%).

5

1178
Na tabela 2, podem ser observados os resultados referentes utilizao do computador
e da Internet.

Tabela 2 - Perfil dos participantes: utilizao do computador e da Internet
6

Nota-se na tabela acima que todos os adolescentes entrevistados possuem, computador
em casa, sendo que 40% possuem apenas 1 computador e que predomina a Internet banda
larga (73,33%). Alm disso, pode-se observar que apenas 3,33% utilizam o computador do
colgio para suas atividades. Isso se deve ao fato de o colgio no permitir o uso dos
computadores em ambientes colaborativos digitais, como os blogs, Facebook e os prprios
endereos eletrnicos (e-mails).
Na tabela 3, podem ser observados os resultados referentes utilizao do computador
e s atividades realizadas pelos adolescentes no dia a dia.

Tabela 3 - Perfil dos participantes: sobre o uso do computador e atividades do dia a dia

Observa-se que mais de 50% iniciaram o uso de computadores entre 6 e 10 anos, com
destaque para os adolescentes que iniciaram o uso a partir dos 7 anos (23,33%), incio do
Ensino Fundamental I. Ainda podemos notar que em suas atividades do dia a dia, 26,67% fazem
uso do computador para realizar as suas atividades habituais.

6

1179
Baseados no modelo Everyday Life Information Seeking (ELIS) de Savolainen (1995),
investigado na pesquisa apresentada por Sandra Hughes-Hassell e Denise Agosto (2007), alm
de nortear-se pela terceira e ltima etapa de ngel (2000), de uma divulgao analtica como
forma de socializao dos resultados da averiguao, buscou-se investigar o comportamento
informacional de uma amostra de alunos do colgio, analisando suas preferncias em relao
utilizao de canais e fontes de informao para pesquisas.
Foi realizada uma entrevista semiestruturada tendo como base trs questionamentos
principais:

1. Quais so os tipos de informao que os jovens buscam em seu dia a dia?
2. Quais canais de informao so utilizados para a busca dessas informaes?
3. Quais as fontes de informao consultadas pelos adolescentes quando procuram
informao no dia a dia?

A anlise dos dados foi feita com base nas consideraes tericas a respeito do tema,
bem como a partir da coleta e tabulao das respostas dos entrevistados. Pode-se chegar a
algumas consideraes importantes com o objetivo de compreender o comportamento
informacional dos adolescentes.
A tabela 4 apresenta os resultados referentes aos tpicos: amizade e amor, atividades
sociais, cultura popular e moda.

Tabela 4 - Resultados da entrevista: amizade e amor, atividades sociais, cultura popular e moda
7

A importncia das relaes virtuais para os adolescentes entrevistados fica evidente na
figura acima, o Facebook se destaca com 50% de uso como relaes afetivas (amizade e amor),

7
Fonte: Elaborada pelos autores

1180
nas atividades sociais sobressaem os passeios (33%), seguidos da Internet (30%). Podemos
dessa forma observar que os adolescentes gostam mais de se relacionar em suas atividades
sociais, de forma presencial e, quando isso no possvel, por meio da Web. Outro detalhe, se
refere seus meios utilizados para se conhecer cultura popular: observa-se que 53% buscam por
meio do Google e Internet e 30% pesquisam as tendncias da moda na Internet.
A tabela 5 apresenta os resultados referentes aos tpicos normas sociais e legais,
relacionamento familiar, religio e auto imagem.

Tabela 5 - Resultados da entrevista: normas sociais e legais, relacionamento familiar, religio e autoimagem
8

Na tabela 5 um dado curioso merece ser salientado, no item sobre relacionamento
familiar, o Facebook, rede social via web , fica prximo (23%) da famlia (30%), como mediador
de bate papo, ou seja, os ambientes digitais esto inseridos no dia a dia dos adolescentes como
ferramenta de interao entre eles e os familiares. Podemos perceber tambm que os
adolescentes continuam buscando um apoio espiritual, pois 43% buscam a igreja e 47% no
usam a Internet como meio de autoimagem, ou seja como ambiente de auto promoo. J
quando o tema Normas sociais e legais, 39% buscam por esses temas na Internet, Google e TV.
A tabela 6 apresenta os resultados referentes a interesses polticos, identidade /
herana cultural, colgio e carreira.

8

1181

Tabela 6 - Resultados da entrevista: interesses polticos, filosficos e sociais, identidade / herana
cultural, colgio e carreira
9

A Internet e os buscadores (Google) tm para os adolescentes um papel formador, sendo
fonte confivel (para eles) dos mais diversos assuntos: poltica, filosofia e interesses sociais
53% buscam a Internet e Google, para assuntos ligados ao colgio (57%) confiam suas buscas no
site do prprio colgio, carreira (33%) e identidade e herana cultural (53%) confiam na
Internet e Google. Observa-se o cenrio nos dados acima, em que, para todos os temas, a
Internet se apresenta como soluo para dvidas e questionamentos.
A tabela 7 apresenta os resultados referentes atualizao, rotina, bens e servios e
finanas pessoais.

9
Tabela 6 e 7: Elaborada pelos autores

1182

Tabela 7 - Resultados da entrevista: atualizao, rotina, bens e servios e finanas pessoais

Percebe-se que os livros so preteridos em relao aos meios eletrnicos. Para a
atualizao nota-se que a Internet no geral fica em destaque (27%) e buscadores Google (13%) e
portais de informao como o Terra (13%) e rede social como o Facebook(10%) so preferncia
entre os adolescentes, somando um percentual de 63% de busca. Assim como os tpicos de
rotina (33%) entre Internet e Google e bens e servios (34%) entre o uso da Internet e Google.
Sobre finanas pessoais a maioria dos entrevistados no tem interesse e os que o demonstram
recorrem famlia (20%).
A tabela 8 apresenta os resultados referentes aos tpicos: sade, pesquisas escolares,
performance criativa e consumo criativo.

Tabela 8 - Resultados da entrevista: sade, pesquisas escolares, performance criativa e consumo
criativo
10

10

1183

Em relao a temas como sade, os centros de sade prevalecem (27%) precedendo a
Internet (13%) e revistas (13%). Como local de procura de informao, no que se refere s
pesquisas escolares o Google dispara com 63% ficando um distanciamento expressivo em
relao a livros/biblioteca (13%). J na performance criativa a Internet aparece frente com
23%, e o Google e os amigos aparecem empatados com 13%, e os que no possuem interesse
ficam em segundo lugar, com 20%. Outro ponto interessante o consumo criativo, onde a
Internet se destaca com 33%, ficando as lojas em segundo (23%) e o Google logo em seguida,
com 20%.
A tabela 9 apresenta os resultados referentes aos tpicos: faculdade, cultura escolar,
eventos e sexualidade, segurana sexual e identidade sexual.

Tabela 9 - Resultados da entrevista: faculdade, cultura escolar, eventos e sexualidade, segurana
sexual e identidade sexual
11

Na tabela 9, revela-se que mesmo para temas delicados como a sexualidade a Internet
(20%) assume importncia semelhante da famlia (20%). Quanto a faculdade, 50% buscam na
Internet e Google informaes, com relao a descoberta ou divulgao de eventos, a Internet
fica frente, com 33%, seguida de amigos (17%), e o Google e os que no procuram (13%),
empatados. A respeito de cultura escolar, a Internet (33%) j se destaca frente dos livros
(23%), mostrando a importncia da Web no cotidiano dos adolescentes, inclusive no espao
acadmico. Diante das informaes apresentadas e dos demais componentes da pesquisa,
percebeu-se que a Internet, por meio de seus websites, servios de busca e interao,
preferncia dos adolescentes no que se refere busca informacional, convergindo com os
resultados de pesquisa da UCL (2008).

11

1184
2.3 Confraria da Biblioteca: uma oportunidade de discutir, analisar e aplicar as
TIC com os estudantes

Diante dos resultados apresentados pela investigao apontada anteriormente e com
base nos estudos sobre a gerao nativos digitais (UCL,2008), surgiu ento a iniciativa de criar
uma Confraria
12
na biblioteca do colgio. O objetivo da atividade reunir, semanalmente,
alunos que tenham interesse pelas TIC para compartilhar informaes e apropriar-se de novos
conhecimentos por meio da presena de convidados especiais, como especialistas e
professores universitrios, para, depois, saber fazer um bom uso dessas informaes, e poder
aprimorar a sua competncia em informao, inclusive em ambientes digitais, usufruindo este
novo conhecimento para poder dividi-lo com a biblioteca, pela construo de um ambiente
colaborativo digital.
A confraria permite a observao mais direta sobre o que os alunos sabem e como
utilizam os meios digitais. J nos primeiros meses de atuao da Confraria percebeu-se que a
maioria dos adolescentes tem preferncia pelos blogs e pelas redes sociais mais
especificamente, pelo Facebooke Twitter , jogos online, msicas e ferramentas de busca.
A Confraria resultou na criao de um Blog
13
da biblioteca e de perfis no Twitter
14
e
Facebook
15
. Os prprios alunos so responsveis pela atualizao de contedos, acompanhados
de perto pela bibliotecria responsvel que, dessa forma, consegue avaliar o desempenho dos
alunos, seus comportamentos perante as tecnologias e o uso que fazem das TIC.

Fig. 4 Vdeo que apresenta as expectativas dos alunos
16

O grande diferencial da Confraria est na constatao do fato de que possvel analisar
os estudantes de maneira informal e mediar a aprendizagem por meio da construo do
conhecimento em parceria. Com sutileza direcionamos aos alunos a melhor forma de utilizar
as ferramentas de pesquisa e vincular o uso da tecnologia a contedos significativos e
enriquecedores.

12
Confraria foi um termo escolhido pela pesquisadora, como forma de instigar os alunos a participarem deste
grupo de estudos. O nome remete ao mundo mgico e misterioso do bruxo Harry Potter, da coletnea mais lida na
atualidade pelos adolescentes da autora J.K. Roling.
13
Disponvel em: <http://biblioteenccr.tumblr.com/>. Acesso em: 10 ago. 2011.
14
Disponvel em: <http://twitter.com/twittecaccr>. Acesso em: 10 ago. 2011.
15
Disponvel em: <http://www.facebook.com/bibliotecaccr>. Acesso em: 10 ago. 2011.
16
Fonte: Vdeo produzida pelos autores

1185
Consideraes finais

A partir das abordagens de Hughes-Hassel e Agosto (2007) e os estudos da University
College London (2008), bem como dos resultados apurados por esta pesquisa, possvel tecer
alguns comentrios e consideraes.
Algumas das consideraes feitas pelo cruzamento das informaes conseguidas por
meio da aplicao dos modelos terico e emprico so que, por tratar-se de uma gerao que
tem grande acesso s ferramentas tecnolgicas e, por isso, desenvolveu habilidades para sua
manipulao, ela est dependente dos meios digitais para o acesso informao. Sem se
preocuparem com as origem das fontes, os jovens confiam na Internet e associam sua
utilizao a contedos atualizados e modernos.
Em contrapartida, os meios tradicionais de acesso informao como as bibliotecas
esto em descrdito entre os alunos entrevistados. Eles atribuem estagnao, burocracia e
complexidade aos sistemas de busca em bibliotecas convencionais, o que demandaria longas
pesquisas com resultados incertos e ultrapassados. Essa observao tambm converge com os
resultados da UCL (2008), demonstrando que em nvel mundial, as bibliotecas e os
bibliotecrios precisam urgentemente modificar sua postura e posio.
Percebe-se que a competncia em informao dos jovens adultos fica comprometida
pela suposta facilidade das ferramentas web, como o Google, banalizando as fontes
institucionalizadas pelo acesso informao e construo do conhecimento.
Fica evidente a necessidade de reformulao das bibliotecas tradicionais, especialmente
as escolares, desburocratizando seus processos e ampliando a utilizao dos seus recursos
pelos adolescentes.
Outro fator de importncia inegvel a incorporao, ao ambiente da biblioteca, de
meios digitais para a divulgao e a atrao dos jovens estudantes. Ambientes e mdias como
blogs, redes sociais, TV, msicas e jornais podem cativ-los e servir como porta de entrada
para os demais contedos e ferramentas.
Alm disso, os resultados da pesquisa deixam claro que os jovens anseiam por
informao rpida, objetiva e direta. Com isso, percebe-se que mudanas na linguagem e
condutas do profissional bibliotecrio so necessrias, para proporcionar aos adolescentes
uma viso dinmica, investigativa, crtica e cooperativa na busca de informao.
Um conhecimento aprofundado das necessidades informacionais dos adolescentes
usurios auxiliou o desenvolvimento de medidas como a criao de novos produtos e servios
de informao, o que possibilitou o envolvimento e o compartilhamento dos alunos do Colgio
Cristo Rei na biblioteca.
As reflexes decorrentes deste artigo prosseguiro por meio da continuidade da
Confraria da Biblioteca, que se tornou um termmetro da utilizao dos ambientes
informacionais digitais e da postura dos alunos diante das Tecnologias de Informao e
Comunicao no mbito do Colgio Cristo Rei.

1186
Referncias

NGEL, J. L. (2000). La investigacin accin: um reto para el professorado. 2 ed. Barcelona: INDE
Publicaciones.

HUGHES-HASSELL, S., & AGOSTO, D. E. (2007). Modeling the everybody life information needs
of urban teenagers. In: Chelton, M. K., & Cool, C. (Ed.) Youth Information-Seeking Behavior
II: context, theories, and issues. The Scarecrow Press: Lanham; Toronto; Plymouth.

JONASSEN, D. (1999, Abr./Jun.). O uso das novas tecnologias na educao a distncia e a
aprendizagem construtivista. Em aberto, Braslia, 16 (70).

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1187
SHARING INFORMATION IN A VIRTUAL COMMUNITY OF CROWDFUNDING
The case of Kickstarter

NUNO MOUTINHO
University of Porto - School of Economics and Business / Center for Economics and Finance at
UP and CETAC.MEDIA
[email protected]

PEDRO LEITE
University of Porto - School of Economics and Business
[email protected]

Abstract Crowdfunding occurs when a large group of people, seen as the crowd, agrees to collaborate
with small amounts of money to a project, in exchange for a reward. This concept is not new, but a
recent internet-based and ex-ante approach, in the form of open call, provides new applications for it,
once no investment is realized until the financial goals are achieved. This allows the test of creative
and innovative ideas that would seem risky to invest without further warranties. Therefore,
crowdfunding is emerging as an alternative to traditional forms of financing, helping entrepreneurs to
raise funds to launch their projects. It In this paper, we try to study the success in these crowdfunding
platforms, identifying all variables and factors explaining the financing rate, defined as the ratio of
capital pledged to financial goal. Kickstarter was used as our base for analysis since it represents the
largest platform existing to date. The entrepreneur is required to make a video and a description of the
campaign and to define a set of counterparts for different price range of contributions. Regarding
quantitative analysis, our sample is formed by projects financed in Kickstarter until February 2012,
corresponding to 18.430 different observations. We estimate the "best fit" of a set of independent
variables against the financing rate. After the quantitative analysis, a jury formed by specialists
evaluated some relevant cases. Results suggest that it is important for success to involve backers and
raise their number, to design a simple rewards system and to be a backer of other projects.
Furthermore, qualitative analysis revealed that the enrollment of consumers is crucial with the good
use of video, description tools and social media. Therefore, crowdfund platforms are essentially virtual
communities sharing information about projects needing funding from the crowd.

Keywords Crowdfunding. Crowdsourcing. virtual communities. Kickstarter.

Resumo Crowdfunding ocorre quando um grande grupo de pessoas, visto como a multido, se
compromete a colaborar com pequenas quantias de dinheiro para um projeto, em troca de uma
recompensa. Este conceito no novo, mas uma abordagem recente, baseada na Internet e ex-ante, na
forma de concurso pblico, oferece novas aplicaes, uma vez que nenhum investimento realizado
at que os objetivos financeiros sejam alcanados. Isso permite o teste de ideias criativas e inovadoras
que parecem arriscadas para investir sem maiores garantias. Portanto, crowdfunding est a emergir
como uma alternativa s formas tradicionais de financiamento, ajudando os empresrios a arrecadar
fundos para lanar os seus projetos. Neste trabalho, tentamos estudar o sucesso nestas plataformas de
crowdfunding, identificando todas as variveis e fatores que explicam a taxa de financiamento, definida
como a relao entre o capital obtido e o capital definido como meta para o projeto avanar. A escolha
da Kickstarter para nossa anlise foi natural, uma vez que representa a maior plataforma existente at
data. O empresrio obrigado a fazer um vdeo e uma descrio da campanha e definir um conjunto de
contrapartidas para os diferentes nveis de contribuies. Em relao anlise quantitativa, a nossa
amostra formada por projetos financiados no Kickstarter at fevereiro de 2012, o que corresponde a
18.430 observaes diferentes. Ns estimamos o "melhor ajustamento" de um conjunto de variveis
independentes contra a taxa de financiamento. Aps a anlise quantitativa, um jri formado por
especialistas avaliaram alguns casos relevantes. Os resultados sugerem que importante para o sucesso
aumentar o nmero de investidores, desenhar um sistema de recompensas simples e ainda ser apoiante

1188
de outros projetos, envolvendo-se ativamente na plataforma. Alm disso, a anlise qualitativa revelou
que o envolvimento de consumidores crucial, com o bom uso do vdeo e das ferramentas das redes
sociais. Portanto, as plataformas de crowdfunding so essencialmente comunidades virtuais,
compartilhando informaes sobre os projetos que necessitam de financiamento da multido.

Palavras-chave crowdfunding. Crowdsourcing. comunidades virtuais. Kickstarter.

Introduction

Crowdfunding is a tool that is emerging as an alternative to traditional forms of
financing such as bank loans, business angels, bootstrapping or venture capital investment,
helping entrepreneurs to raise funds to launch their ideas. It occurs when a large group of
people, seen as the crowd, agrees to collaborate with small amounts of money to a project, in
exchange for a reward. Examples of the basis of crowdfunding can be, for instance, in form of
lottery tickets or charity contributions. However, a recent internet-based approach, in the
form of open call, provides new applications for this concept. It is a subset of crowdsourcing,
which represents the outsourcing of a job or process to a large group of people (Howe, 2006).
Therefore, by outsourcing the financing to the crowd, crowdfunding transfers finance and
marketing risk of innovation to the public, and lowers the minimum efficient scale of making
something new.
This is even more important in a context of economic and financial international crisis,
where the lack of liquidity and recession is affecting all the agents such as the state, financial
institutions, firms or families. Furthermore, an inherent problem that entrepreneurs face at
the beginning of their entrepreneurial activity is to attract outside capital (Schwienbacher &
Larralde, 2010), regardless whether from bank loans or equity capital (Belleflamme, et al,
2011). In addition, due to current depression, there are difficulties for the banks to decide
where to invest their increasingly reduced resources, while it is harder for the entrepreneurs
to obtain credit at reasonable rates to turn their ideas into reality. As a consequence, this is
also affecting the economys renewal of its tissue, as the velocity of capital circulation is
slowing down. To this extent, in this research we explore the crowdfunding concept and
determine why its contribution might be relevant in the present context. Our aim is to
determine which characteristics a project should have to be successfully financed in this
recent trend for fundraising.
Crowdfunding platforms are collecting funding at an exponential rhythm. In the USA, it
took less than five years to hit the 1 billion dollar mark (Koren, 2011). According to the
Crowdfunding Industry Report, in April 2012 there were 452 crowdfunding platforms active
worldwide, and it is expected that this number grows to 536 until the end of the current year
(Massolution, 2012). Together, in 2011, these portals raised 1.470 million dollars and
successfully funded more than one million campaigns. The same report estimates that total
funding for 2012 is 2.806 million dollars.
Innovative websites are emerging through the web, providing different possibilities of
connection among people. The proliferation of the web 2.0 and social networks and the
development of portable devices such as smartphones, tablets or notebooks at affordable prices
facilitate information sharing, interoperability and user-centered design (Sharma, 2011), and
therefore interaction and participation. Our avenues of communication are wider through the
spreading of mobile data plans and WiFi terminals that boost the connectivity everywhere
and anytime. The result is that the growth of the rate of change suggests that the technology
generations are compressing, which means that each technology cycle is smaller than the
previous, representing a constant opportunity for the introduction of product and process
innovations. Things are changing all the time, assumptions are constantly being challenged,
and new business strategies are emerging. Technology is now more sophisticated and

1189
available to a wider spectrum of people. What would be impossible five years ago is now
available via the swipe of a finger. It is turning tech entrepreneurism cheaper and accessible
to everyone. Creative and innovative business models are spreading, and are in the center of
some revolutions. The airline industry, for instance, is now very different compared to what it
was some years ago. One may notice that processes are being reformulated and performed by
different agents (ex: tickets and check-in by the internet), prices are lower and massification
is taking place. The internet and social networks allows making things differently, working as
an indispensable distribution channel within modern corporate strategy.
Crowdfunding platforms are a novel place for fundraising activities, functioning as
online intermediaries between entrepreneurs with ideas and the public with money and
expertise. In crowdfunding terminology, they are often referred as creators and funders
respectively. The process for funding incorporated in these websites is also different from
what we are used to, in addition from the fact that money comes from a crowd instead of an
individual. Entrepreneurs utilize them to expose their campaigns, normally through the
elaboration of a description and a video that explains it. Together with this, one is required to
define their financial goals (for instance: 5.000 dollars), the deadline (usually from one to two
months) and the rewards offered in exchange for desired contributions. For different
amounts of investment, different rewards are offered. During this timeline, the project stands
in the front of the world. People can visit the campaign on the internet, and users opt to make
their contribution or not. At the end of that timeline, project may or may not reach their
objective. Only in the situation that success is achieved, money is transferred from funders to
creators. In general there are no limits for amounts collected, and it often happens that
projects raise more money than their goal. Compared to other ways of funding, crowdfunding
differs in the way that you dont need lots of money to invest. According to Dell (2008), if you
have ten dollars, then you too can be a venture capitalist. It is obvious that one contribution
by itself is not enough, but if we join numerous participations of one, five, ten, twenty or fifty
dollars, one may end up with a lot.
The most relevant crowdfunding platforms to date are Kickstarter
1
, Indiegogo
2
or
Rockethub
3
for funding creative initiatives; Sellaband
4
or Mymajorcompany
5
for projects
related with the music industry; Kiva
6
where people empower people in the Third World with
a 25 dollar peer-to-peer loan; Chipin
7
where you can collect money; Appbackr
8
specific for
mobile application conception or even 33needs
9
that dedicates to social entrepreneurship.
Those are just the top of the iceberg. Through a quick search on the internet, one can find
many other examples: a bunch of them are starting and some others soon to be launched.
Each one of them makes a different interpretation of crowdfunding, which may vary at the
scope or field of application. Besides, the primary revenue income for these is a percentage
based commission on funds paid by entrepreneurs. Moreover, these websites play a decisive
role in the process, since they allow anyone in the world to get to know different initiatives
and enable participation for creation, giving entrepreneurs a chance to achieve their creative
goals.
This work is structured as follows. First, a literature review provides the state of the art
for this topic. In this section we start by examining crowdsourcings literature as a background
for the main concept. Then, crowdfunding is explored in three dimensions: a definition of the

1
Link: http://www.kickstarter.com/
2
Link: http://www.indiegogo.com/
3
Link: http://rockethub.com/
4
Link: https://www.sellaband.com/
5
Link: http://www.mymajorcompany.com/
6
Link: http://www.kiva.org/
7
Link: http://www.chipin.com/
8
Link: http://www.appbackr.com/
9
Link: http://ready.33needs.com/

1190
topic is provided before describing some of the main researches about the issue to date. At
last, we present a theoretical framework in the fields of innovation management and
organizational networks.
Afterwards, we design a taxonomy for crowdfunding, as a classification of the various
types of crowdfunding based on the nature of the reward given to the individual who invests in
a project of this nature.
Furthermore, we start with our quantitative and qualitative research. To the extent of
this work, we decide to explore Kickstarters platform, in view of the fact that it is by far the
largest portal of crowdfunding in the world to date. Our analysis is based on information
collected from the portals website, representing a sample of 18.430 financed projects in the
past 2.75 years, from May 3, 2009 until February 29, 2012. In the quantitative analysis a
statistical and econometrical approach is performed to the data, which is complemented with
the qualitative selection and analysis of six case studies about six different projects financed
in this platform. Among other information, the case studies are made based on a survey we
built and sent to be answered by specialists connected to this issue, and aims to provide
information that cannot be withdrawn from quantitative section. We end by exposing our
findings and posting our conclusions.

1 Literature review

Our purpose in this section is to provide understanding of the crowdfunding
phenomenon, based on previous work done in this field. Here, we aim to answer the following
questions: (1) what is the exact meaning of crowdfunding? (2) why is the study of success in
these platforms something worthwhile?
Crowdfunding is seen as a part of a broader concept referred as crowdsourcing.

1.1 Crowdsourcing

The term was first introduced and defined by Howe (2006) in Wired Magazine, as
representing the act of a company or institution taking a function once performed by
employees and outsourcing it to an undefined - and generally large - network of people in the
form of an open call. Essentially, it characterizes the act of outsourcing some process or a part
of production to a crowd. Crowdsourcing is seen as production model that utilizes intelligence
and voluntary crowd wisdom to solve problems, create contents or provide solutions to
companies in exchange for money, prizes, recognition or even for intellectual satisfaction
(Howe, 2006). As Kleeman and Gunther (2008) state, it takes place when a profit oriented firm
outsources specific tasks essential for the making or sale of its product to the general public,
the crowd. According to these authors, this happens in the form of an open call over the
internet, with the intention of animating individuals to make a contribution to the firm's
production process for free or for significantly less than that contribution is worth to the
firm. This is an important improvement for the concept, as it shows the economic added
value of this participation for the companies, as they gain efficiency, for which at the same
cost or slightly more they can do more or a lot more.
Crowdsourcing is considered as an example of open innovation. This concept, coined by
Chesbrough (2003), means that valuable ideas can come from the inside or outside of the
company, and can go to market from inside or outside of the company as well. It also assumes
that firms can and should use both external and internal ideas and paths to market
(Chesbrough, 2003). Nevertheless, it is not an open-source practice. Brabham (2008) argues
that problems solved and products designed by the crowd become the property of companies

1191
who turn large profits off this crowd labor. The difference is that crowdsourcing rewards
financially the contributors, though in a less compensating way than integrating those people
in their enterprise (Brabham, 2008). According to Howe (2008), people contribute for little or
no money, and rewards cant always be measured by the dollar or the euro. This author states
that sometimes the crowd works just for the desire to create something from which the
larger community would benefit. Open source production works precisely against this notion
by liberating code, making it available to everyone (Brabham, 2008). Howe (2008) also states
that people contribute with their excess capacity to indulge something they love to do. The
time people once used in leisure recreation is now exploited in fulfilling (and sometimes
profitable) activities. He named this as spare cycles, from which users perform their
contributions in their free time, where a distinction from professional and amateur users
becomes indistinguishable. Users involved in these actions are often seen as lead users, who
are users of a product or service that currently experiences needs that are still unknown to
the general public, and who would also benefit if a solution for these needs would be
implemented (Hippel, 2005). It is an opportunity to involve the consumers to participate, as
the correlations found between innovation and lead user are highly significant (Hippel, 2005).
These participants will also tend to be more engaged and more rabid fans of the brand than
the average customer (Kornish, 2012), as they have interest in taking over the production
process (Kleeman & Gunther, 2008). For instance, crowdsourcing is utilized to the build of an
extensive encyclopedia into small chunks. We know it today as Wikipedia, a useful tool in our
everyday life. So, as Toffler (1980) predicted, in The Third Wave, consumers exercise much
more control over the creation of the products they consume, becoming a mix of producers
and consumers, in a word: prosumers. Three examples of crowdsourcing are presented
below, for a better understanding of its potential:
a) Threadless.com is a website that sells design t-shirts. The main difference to a
traditional store is that, beyond being an exclusive online store, is that the
processes of designing and selection of production is performed by the users of
the site. Designers can submit their own designs, and the users vote in them. T-
shirts with best scores are the ones which are elected to be produced.
b) Innocentive.com is an online platform created to promote problem solving in
R&D, innovation and product design processes. Here, highly complex problems
are described by the clients who face them, and monetary rewards are offered
to people who can solve them. The probability for achieving results is higher
because the community includes millions of people, who are called
communities of problem solvers. Clients pay only for complete results while
solvers may earn large sums of money and also obtain awards to promote
themselves in their fields by beating those challenges.
c) Barack Obama, in his campaign to the presidency of USA, created a website
where people could suggest and vote in questions directed to him, including
several topics such as education, jobs, budgeting, among others. The most
popular questions were answered by him. Thanks to the Neighbor-to-
Neighbor tool on My.BarackObama.com, Obamas supporting volunteers were
able to reach far more people within their community in much less time than
before (Abraham & Behrendt, 2010). The same concept was transferred to the
official website of the White House
10
. Obama also rose around three quarters of
billion dollars in a crowdfunding action. Kappel (2009) argues that the
campaigns ability to mobilize and monetize supporters using the internet is
often referred as the main factor in Obamas victory.
In the previous cases, design and selection; problem solving; journalism and funding,
were jobs outsourced to the crowd. Positive impacts of these kinds of initiatives are turning

10
Link: http://www.whitehouse.gov/OpenForQuestions

1192
crowdsourcing into a common strategy in several businesses. Crowdsourcing models are being
adopted by big enterprises such as Philips, P&G, Nokia Betalab, PepsiCo, Dell, Starbucks and
many others. More examples can be found at Howes blog
11
, where he used to keep track of
fresh examples but, as he states, they began to multiply so rapidly, he gave up trying. As
crowdsourcing travels from fringe to mainstream, this phenomenon is inflicting disruptions
which are affecting the direction of the shift of change in the economies. New processes are
replacing the old ones, and are becoming indispensable, while others are perfectly
complementary to established activities. In this practice the concept of creative destruction
popularized by Schumpeter (1950) is observed, whereby the new product or method displaces
the old (Elliott, 1980). New industries are emerging and older ones struggle to adapt.
Crowdsourcing is not only part of the disruption but also part of the foundation on which new
order is built (Howe, 2008). The same author assert that crowdsourcings limits are determined
by peoples passion and imagination, which is to say, there are not any limits at all. In his
books one can find plenty of other crowdsourcing examples, and the creative approach
employed at the open network.

1.2 A Taxonomy of Crowdfunding

To start with, it is important to set differences between two types of crowdfunding: ex-
ante and ex-post, distinguished by Kappel (2009). Ex-post crowdfunding occurs where financial
support is offered in exchange for a completed product. For example, the seventh Radiohead
bands album, named In Rainbows, was released in October 2007 as a digital download, and
customers could order it for the price they saw fit. The crowd would finance the product after
its completion. On the other hand ex-ante crowdfunding happens when financial support is
given on the front end to assist in achieving a mutually desired result. Further analysis in this
work is based on the ex-ante approach, since the achievement of the level required of finance
is going to determine if the project will be launched or not. Ex-ante approach is a game changer
vision. The fact that the project does not require to be completed allows the test of creative
and innovative ideas that would seem risky to invest without further warranties. Kappel
(2009) states that, for instance, ex-post activities offer very little to lesser known artists
without pool of supporters.
Other key research in this field is The Geography of Crowdfunding, developed by Agrawal
et al (2011). This work is based on the music crowdfunding platform Sellaband. The authors
data supports that the average distance between artists and investors is of about 5.000
kilometers. According to this paper, the benefits of the online platform seem to eliminate
most distance-related economic frictions. Their findings suggest that investment propensity
increases as the entrepreneur accumulates investment, and local investors are more likely to
invest at early stages than later. Also, friends and family tend to invest early in the funding
cycle and non-friends and family tend to invest later. This vision is also shared by Brian
Meece of RocketHub platform, as he affirms that typically, 95% of contributions in the
creative space come from the first and second level of friends circles (Lawton & Marom, 2010).
Henceforward, Ordanini et al (2009) address the questions why and how do
consumers turn into crowdfunding participants. The results suggest that the crowd is driven by
other kinds of motivations than regular investors and that crowd motivations and roles differ
concerning the platform. In their study, conclusions reffer that consumers who participate in
crowdfunding websites like engaging in innovative behaviour, since they like to be first and to
use highly interactive tools. Normally, the first funders to invest identify themselves strongly
with the proponents of the project. Consumers contribute for the desire of patronage, desire
for social participation or desire for investment, and have innovative orientation to try new

11
Link: http://crowdsourcing.typepad.com/

1193
models of interacting and social identification with the content. Regardless the motivation or
the size of the investment, the behaviour of the agents follow a consistent path, consisting in
three distinct phases. In the initial phase, called friend-funding there is a quick and
significant flow of capital by those highly involved and close to the proponents of the
campaign. Then, investment slows down, in the getting-the-crowd phase. Progress is
achieved mainly by gaining visibility through word-of-mouth communication and
information cascades. Authors underline that this is the most delicate phase since many
projects are never able to leave it. Only for a few moments there is the so-called engagement
moment, which triggers a chain reaction and facilitates rapid growth towards investment
target. People in this last phase do not have any original connection to the initiative, but read
about it and got interested. After this, sometimes there is a race to be in phase, where
people speed up their investment decision while there is opportunity.
Belleflamme et al (2011) develop a model that associates crowdfunding with pre-ordering
and price descrimination, where this first group of investors, the crowdfunders, and the
consumers who wait that production takes place before puchasing directly. Their conclusions
show that compared to external funding, crowdfunding has the advantage of offering an
enhanced experience to some consumers and, thereby, of allowing second-degree price
descrimination and extract a larger share of consumer surplus. The disadvantage is that the
larger the amount of capital asked, the larger pre-ordering price and the less profitable the
menu pricing sheme. Additionally, the study shows that crowdfunding is optimal only for lower
levels of finance. This article concludes that crowdfunding can be a vital asset for artists or
entrepreneurs in need to present of a specially targeted audience, and may be viewed as a
way to develop corporate activities through the process of fundraising.
Massolution (2012) and the portal crowdsourcing.org, an organization that describes
themselves as a neutral professional association dedicated solely to crowdsourcing and
crowdfunding, offering the largest online repository of news, articles, videos and site
information about these topics, released in May 2012 the first ever Crowdfunding Industry
Report, a research that provides an in-depth analysis of crowdfunding market trends and
composition, and an overview of operating platforms, based on 170 survey responses sent to
these entities. In this study it is aggregated the overall value of the crowdfunding market, as
are explained different types of crowdfunding. According to their data, in contrast to popular
belief that the first 25% of funds take longer to raise than the last 25%, the data shows it takes
2.84 weeks on average to raise the first 25% of the funding goal and 3.18 weeks on average to
raise the last 25% of the funding goal.
Lastly, according to Gerber et al (2011), creators are motivated to participate to raise
funds, receive validation, connect with others, replicate successful experiences of others and
expand awareness of their work through social media. Besides, the same authors argue that
funders are motivated to participate in order to seek rewards, to support creators and causes,
and to strengthen connections with people in their social networks. In a global perspective,
participation may have a significant effect on the economy by encouraging a more diverse set
of people to start small entrepreneurial ventures, influencing the ideas that are introduced
into the world (Gerber, et al, 2011). If social networking changed how we allocate time,
crowdfunding will change how we allocate capital (Lawton & Marom, 2010).
The definition of crowdfunding provided by Ordanini et al (2009) was later refined by
Lambert and Schwienbacher (2010), stating that it involves an open call, essentially over the
internet, for the provision of financial resources either in form of donation or in exchange for
some form of reward and/or voting rights in order to support initiatives for specific
purposes. The novelty of this explanation relies on the segmentation of different types of
crowdfunding according to the types of the compensation that creators give to funders.
Massolution (2012) identifies four main categories of crowdfunding platforms in the
Crowdfunding Industry Report: (1) donation-based, for philanthropic or sponsorship
purposes; (2) lending-based, as a peer-to-peer and peer-to business loans; (3) equity-based, for

1194
financial and participation return; and (4) reward-based, for non-monetary rewards that are
normally the result of the entrepreneurial activity. We remind that this report also shows
that in April 2012, there were 452 crowdfunding platforms active worldwide, and that the
majority of them are in North America and Western Europe. Below, we provide a brief
framework and an explanation about each one of the four alternatives.

Donation-based

According to Massolution (2012), donation-based crowdfunding is as a model where
funders donate to causes that they want to support, with no expected compensation. The
type of projects that fit this category pertains to social entrepreneurship causes, without
profit objectives. This implies that there is no financial return to the people that put the
money in, and when a physical reward is offered it is only symbolical towards the value of the
contribution. We consider that the reward of participation in these causes is the identification
with the success of the campaign that is being promoted, and/or the feeling of contributing
for a better world. Greenunite, Fundrazr, 33needs , Lets , Preenchaestavida and many others
impersonate this type of crowdfunding. The report concludes that donation-based model is
the one that attracts less funding per project, and is best suited for cause based campaigns
that appeal to funders personal beliefs and passions. This model raised 676 million dollars in
2011, and is expected to grow 50% in 2012.

Lending-based

Massolution (2012) considers lending-based crowdfunding as a model where funders
receive fixed periodic income and expect repayment of the original principal investment, as
a loan that one gives to another and expect the reimbursement of the same value over a
period of time. A clear and successful example of this is Kiva, that makes use of the internet
and a worldwide network to let individuals lend as little as $25 to help create opportunity
around the world. In their website one can also find that lenders combat poverty daily by
making small loans to borrowers that are mostly located in the Thirld World, where $25
dollars can make a difference. They believe in fair access to affordable capital for people to
improve their own lives. It is the smallest category in terms of crowdfunding platforms, and
Massolution (2012) predicts a 70% growth for year 2012.

Equity-based

The definition provided by Massolution (2012) states that in equity-based crowdfunding
model funders receive compensation in the form of fundraisers equity-based or revenue or
profit-share arrangements, what is to say that the investor becomes a shareholder in the
company, with future interest in the growth of the enterprise. The funder may have the right
to participate and vote on some decisions, being entitled to dividends out of eventual
revenues, or even to get a share of the value in the company if one sells its participation.
Furthermore, the report shows that equity-based crowdfunding is the most effective practice
for funding digital goods like software, music and video, and on average raises the largest sum
of money per campaign comparing to others. More than 80% of the campaigns rose above 25
thousand dollars in the equity-based crowdfunding, and it is already the fastest growing
category.
Legislation varies from country to country, and in each one of them there are obstacles
of this nature that limit totally or partially the scope of equity-based crowdfunding. In the

1195
case of the United States, Kappel (2009), Lawton & Marom (2010), or Belleflamme et al (2010)
point out that certain legal issues are blocking the development of these kind of initiatives. As
the authors state, one is not allowed to ask the general public to collectively fund a startup in
exchange for equity, unless they receive prior authorization from their national securities
regulator, making this kind of crowdfunding very difficult. Nevertheless, the rise of
crowdfunding is not going under noticed in the United States. During the completion of this
work, some exciting developments emerged concerning this issue, especially about equity-
based models, due to the sign into law of the Jumpstart Our Business Startups (JOBS) act by
president Obama at April 5, 2012. This law is intended to encourage funding of small business
in this country.
This represents the final step for legislation that legalizes crowdfunding in start-ups by
non-accredited investors (Clark, 2012). In short, everyone can invest in ones initiative up to
the limit of one million dollars per year in exchange for equity without making a public
offering, a step that would previously cost thousands of dollars. It also stipulates that an
investor can only invest the greater of two thousand dollars or to a maximum of ten percent
of their annual income. Furthermore, it is also required for the start-up to provide detailed
information to help potential investors decide to invest. However, this collection can only be
made in platforms previously approved by the American Securities and Exchange Commission
(SEC). This group is on mission to find the best way for the industry to develop effective self-
regulation, best practices and investor protection, and is to include members of the
crowdfunding industry who will collaborate with legal, securities and SEC experts. It is
envisaged that this system is put in practice on January 1, 2013.
The new law legalizes a participation in the equity by the public. In this same attempt
to recognize crowdfunding as a serious alternative for fundraising, crowdsourcing.org
developed the Crowdfunding Accreditation for Platform Standards (CAPS). The
accreditation is designed to protect both crowdfunders (people pledging or investing capital)
and fundraisers (people raising capital), with the mission to foster the sustainable growth of
crowdfunding industry to provide much needed capital for projects and initiatives, start-ups
and small business. Until May 3, 2012, seventeen platforms were already recognized with the
ribbon of accreditation. Carl Espotsi, a crowdsourcing.org manager, quoted by Empson (2012)
states that around two hundred crowdfunding platforms are expected to apply for
accreditation until the end of the year. The accreditation is expected to accept all types of
crowdfunding platforms, but is developed above of all for equity models because they are
more complex and need to be regulated. This ribbon is intended to give consumers more
confidence to invest their money in eligible platforms.

Reward-based

Finally, Massolution (2012) refers to the reward-based model as a situation where
funders primary objective for funding is to gain a non-financial reward such as a token or in
the case of a manufactured product, a first edition release. The reward is implicit in the
nature of the project. For instance, if the idea of the campaign is to produce watches, the
rewards certainly include those watches, as a pre-buy of that item. Though we acquaint for
the other types, we consider that this version is the one that represents the true essence of
crowdfunding. In this model, the finance of projects does not mean giving away equity.
Normally, after the collection of the funding, the project becomes independent from the
platform and from investors. The unique obligation of the entrepreneur is to fulfill in time
with the rewards promised in exchange of the contribution, which are usually the result of
the self-entrepreneurial activity. In these situations, there is place for a strong commitment
to a steady growth, instead of giving priority to quick profits normally imposed by
shareholders. It is the implemented category with best results and most developed to date

1196
(Massolution, 2012). The report from the industry shows that this is the largest crowdfunding
category, and together with donation-based, it is the best suited for cause based campaigns
that appeal to funders personal beliefs and passions. Our further research is based on
Kickstarter, which corresponds to this type of crowdfunding.
The selection of Kickstarter as our base for analysis stands not only on the fact that it is
the largest crowdfunding platform existing to date, but also because we find that this portal
represents at its best the power and the history of internet based ex-ante crowdfunding. We
could not find any other platform with the dynamic and the dimension observed in
Kickstarter. The diversity of the initiatives and the vast sample of success cases allow us to
perform a meaningful approach compared with any other possible options.
Kickstarter was funded in April 28, 2009 by Perry Chen, Yancey Strickler and Charles
Adam, with the faith that a good idea, if well communicated, could spread fast and wide.
Besides, they also believed that a large group of people could be a tremendous source of
money and finance. However, it was not until 2010 that this website achieved a significant
status. Since this moment, it has been rising at high pace. The numbers for 2011 are
impressive . In this year, 27.086 projects were launched, from which 11.836 collected at least
100% of the capital required, representing a total of almost 100 million dollars pledged and a
43,7% success rate. More than one million rewards were offered in exchange for financing,
representing an average of 86 dollars per contribution. In average, 32 projects per day were
completely funded there. Comparing with the previous year - 2010 - there is the observation
of an obvious expansion: there are more 243% projects launched and more 303% successful
initiatives, materialized in the pledge of a positive difference of 71 million dollars. We are
aware that the year 2012 is keeping the stakes up, and it promises the continuing of a steady
growth.
In fact, a lot of entrepreneurs with creative and innovative ideas found this portal as
the perfect partner to start their business ventures. In 2011, Kickstarter launched projects
such as a pop-up restaurant that changes every month, the creation of real-life portals, the set
of a giant guitar on fire, and the turning of a cottage into a musical instrument. These
projects make us believe anything can happen. (Kickstarter Blog, 2012). But, how does this
portal work?
Kickstarter is a generalist, for-profit and reward-based crowdfunding platform, and is
directed to for-profit initiatives that belong to the creative industries. Creators are able to
pitch projects with nature in one of the following categories: art, comics, dance, design,
fashion, film & video, food, games, music, photography, publishing, technology and theater.
In the website, it is possible to observe a great amount of information about the projects that
were successful, and those that are in progress. For each one of those, it is possible to look for
a diversity of data, such as the goal in dollars, the capital pledged in dollars, the name, the
description and video of project, the number of backers, the different levels of reward or the
number of backers in each stage of reward. Each project has a standard designed page, where
people can easily access, in the form of internet link (easy to divulgate around journals, blogs
and social networks), and where they can get to know the project and see in which state it is.
Figure 1 is a print screen from one random project page, and allows us to be familiarized with
the way information is displayed. It is also available a page that lists all funded projects.

1197

Figure 1 Print Screen of a Project Page

The platform provides entrepreneurs the opportunity to describe their idea, to define
the amount of money they aim to raise, and the time window (from 1 to 60 days) they need to
achieve it. Creators must also define and describe the rewards offered in order to convince
the public. Usually, there are different types of rewards that vary corresponding to the value
of the contribution. These rewards are expected to be the product of the self-entrepreneurial
activity. Evidence suggests that funders are aware of the exchange of value (Gerber, et al,
2011) of those proposals, meaning that a higher contribution is given when a better
counterpart is proposed by creators. Inside the same project there are different stages of
contribution rewards can be priced anywhere from a minimum of 1 dollar and a maximum
of 10.000 dollars. Creators must also specify the estimated date for the delivery of the
rewards. As a reward-based platform, the prize given to investors is always in a pre-buy
regime, as the purchase is made before project investment is started. Crowdfunding investors
have the right for the first and/or special edition release of products/services pre-ordered.
Some projects keep operating in their own or in other channels after their foundation. In
some project pages, after financial deadlines end, it is commonly seen something as if you
missed our Kickstarter campaign, you can find us on our own website. There is possibility for
interaction with both parties, through comments and updates tools. Comments about the
project can be made by funders, and updates are performed by entrepreneurs to keep
everyone up to date with the campaign. To help entrepreneurs, Kickstarter developed an
online guide to build out a project page. A complementary blog of the platform and social
network institutional pages are regularly updated with content related with them, such as
project promotion, projects on the news, statistics, interviews, and so on.
In Kickstarter one does not find projects where money is given to social projects,
neither will participation in capital or management be offered. When a project is fully funded,
it becomes independent from the public and from the platform. The money is only
transferred if the project becomes successful, in an all-or-nothing funding model. In other
words, if the creator does not meet his funding requirements within the time frame
previously set, he earns nothing, and funders keep their money. So, the security for funders is
reinforced, because money is not debited if the project does not hit its objective. At the end,
the platform gets a 5% commission of the capital pledged. Amazon Payments, as the company
responsible for the payment system and preventing fraud, charges an additional 3-5%
commission. This system fits the needs of the specific requirements of the platform, as it

1198
makes possible for the transaction to be made (or not) at the date of funding, and also enables
contributions from beyond boundaries. On the other hand, it is harder for the submission of
foreign campaign, as it forces the entrepreneur to be a permanent United States resident with
a social security number, bank account, state-issued identification and major credit or debit
card. This happens because Amazon Payments is the only processor that currently supports
these requirements, and currently Amazon Payments does not support non-US recipients.
To be approved within the platform, the first step is for the entrepreneur to submit the
following information: (1) What is your project? (2) What rewards would you offer? (3) Where
can we find out more about you and your project? (4) Which category fits your project? (5)
How much money would you like to raise? (6) How did you hear about us? After providing
this, for quality control reasons, the Kickstarter team will assess if the project is eligible
according to their guidelines to be evaluated by the crowd. These proceedings determine if
the campaign will be approved to enter the crowdfunding process.
In short, a crowdfunding platform like Kickstarter provides not only an innovative
process for funding, but also a means for supporting innovative projects across boundaries,
promoting competitiveness, efficiency and transparency of economies. It is a place where
dreams can come true, every participating feels part of something bigger and everyone is
winning.

Hybrid-based

Though we agree with the four-type discrimination by Massolution (2012), in our
perspective a fifth possibility should be introduced in this typology as a hypothesis for further
development. That is proposed as a hybrid-based crowdfunding combination between one of
the previous four crowdfunding categories combined with other financing method. Financing
methods such as own money; friends, fools and family; bank loan; business angels or venture
capital. For instance, one could use reward-based crowdfunding achieve fifty percent of the
required funding amount, and the other half could be raised with a loan at the bank. We
should define this as (5) hybrid-based crowdfunding, where other source of financing
provides a substantial percentage of the total volume needed in combination with one of the
other types of crowdfunding. Though we do not see it implemented in any known platform, it
is a highly reasonable way to leverage the collection of higher amounts of money. A
combination between reward-based crowdfunding and a bank loan for example seems to be
very promising.
In short, it is still not clear if there is a superior category towards the other, as they are
developing at different life cycles. While the reward system is in practice for about three
years, the equity-based is only going to be officially launched in the next year. It is certain
that equity systems may be more attractive for investors, as they play part of the business and
may expect future returns. Also, each project fits different requirements, turning that some
will fit best in certain categories, and therefore, they are complementary too each other. In
the reward-based model, equity stays in the hand of the entrepreneurs, and the fulfillment of
obligations are expectably easy to achieve. It is proved that it is possible also to collect a lot of
money in this model by itself. The nature of the project itself and the direction the
entrepreneur wants to give it is still going influence the type of the financing model. We can
certainly expect, still, to see a boom in the equity-based and possibly hybrid-based
crowdfunding portals, and a bubble of startup entrepreneurship financed by these methods.
In the future, crowdfunding can undoubtedly be the incentive that will launch the next big
thing like Google.

1199
2 Empirical analysis

We combine quantitative and qualitative analysis according to Yin (1989, 1993) and
Eisenhardt (1989, 1991). First, we perform a quantitative analysis, using econometric models.
Then, we choose multi-cases for a qualitative study, because they extend emergent theory or
because they fill theoretical categories. We select Kickstarter as our base for analysis since it
is the largest crowdfunding platform existing to date, representing at its best the power and
the history of internet-based crowdfunding. Kickstarter is a generalist, for-profit and reward-
based platform, and is directed to for-profit initiatives that belong to the creative industries.
The entrepreneur is required to make a video and a description of the campaign and to define
a set of counterparts for different price range of contributions. It is also defined a financial
goal for funding. Then, the project stands in the front of the world for a pre-determined
period of time, which usually goes from one to two months. In the meanwhile, people can
visit the campaigns page and users opt to make their contribution or not. At the end of that
timeline, project may or may not reach their objective. In the case that success is achieved,
money is transferred from funders to creators. In general there are no limits for amounts
collected, and it often happens for the projects to raise more money than what was asked.
Regarding quantitative analysis, our sample is formed by projects financed in
Kickstarter since May 3, 2009 until February 29, 2012, corresponding to 18.430 different
observations. All successful projects can be found listed in the website. The database was
collected through scraping from the website with individual verification, at 1 March 2012. For
each of those 18.430 projects we captured the following information: (1) number of the
project (2) name of the project (3) date (4) short description (5) goal in dollars (6) capital
pledged in dollars (7) financing rate (8) number of backers (9) average contribution in dollars
(10) category of the project (11) sub-category of the project (12) number of comments (13)
number of updates (14) number of levels of reward (15) city (16) state (17) country (18) name
of the entrepreneur (19) number of other projects backed by the entrepreneur (20) URL to the
project.
Our quantitative analysis starts with a closer examination of our data. First, we observe
that some projects exhibit very small amounts of capital (less than 500 dollars) both asked and
pledged. On the other hand, we find observations with missing values for some variables,
namely fields (16), (17) and (18). After removal of all of these cases, we end up with 17.457
projects remaining for analysis. Then, we perform some stability tests to our data. In fact, we
observe that the number of projects launched on Kickstarter grew exponentially between
May 2009 and February 2011, remaining stable until February 2012
12
. This means that this
online platform reached maturity in this period, representing a subsample of 12.203
observations. For our analysis, we consider only projects successfully financed from March 1,
2011 and February 29, 2012. In that period, the average return per project is very high.

12
Numbers for 2011 are impressive: 11836 projects financed, representing a total of almost 100 million dollars
pledged (http://www.kickstarter.com/blog/2011-the-stats).

1200

Figure 2 - Average return per project category in Kickstarter

We remind that our core goal is to understand success in crowdfunding platforms. To do
so, we decide to use the financing rate ratio as a proxy for success, as it seems to be the more
appropriated dependent variable, considering success as the situation where overcoming
initial expectations is achieved. Our sample is only constituted by financed projects:
therefore, our dependent variable is always greater or equal to 100%.
We use ordinary least squares (OLS) to estimate the "best fit" of a set of independent
variables such as (8) (12) (13) (14) and (19), and dummies accounting for project category)
against the dependent variable we wish to explain or predict (7). The primary product of
regression analysis is a linear equation which can be used to predict values of the dependent
variable, given the values of the independent variables. This method is based upon a number
of statistical assumptions such as: linearity in its parameters; residuals are homoscedastic and
uncorrelated with independent variables and with one another over time; the data is derived
from a normally distributed population.
Regression analysis produces two types of statistics. One set of statistics provides
information about the individual independent variables included in the analysis and
summarizes the relationship between each independent variable and the dependent variable.
A second set of regression statistics provides information about the regression model as a
whole, summarizing the extent to which all of the variables included in the regression model
explain variation in the dependent variable. In order to select the most parsimonious set of
those explanatory variables, we use the stepwise method which adds predictor variables to
the regression that best correlate with the dependent variable and subtracts predictor
variables that least correlate. This way one generates a regression equation using only the
predictor variables that make a significant contribution to the prediction.

1201
Variables Coefficients T Sig.
(Constant) 114,427 24,084
,00
0
Backers ,289 36,430
,00
0
Project category: Design 115,538 9,798
,00
0
Comments -,092 -6,490
,00
0
Project category: Games 45,910 3,562
,00
0
Entrepreneur backed 1,090 4,016
,00
0
Project category: Fims&Video -14,637 -3,288
,00
1
Levels of reward -1,677 -3,629
,00
0
Project category: Technology 52,026 2,857
,00
4
Updates ,747 2,494
,01
3
Project category: Art 13,770 2,069
,03
9

Table 1 - Regression results (OLS with stepwise)

The use of the stepwise method reveals that significant variables are (8), (12), (13), (14),
(19), and if the project belongs to design, games, film & videos, technology or art categories.
Ceteris paribus, we find a positive relationship between success and (8), (13), (19), and the
categories design, art, games and technology; a negative relationship of (7) and (12), (14), and
the category film&videos.

3 Qualitative analysis

After the completion of the previous section, we are able to select some of the projects
for a qualitative multi case-based analysis. In this part we try to identify other variables
affecting the success of financing, which cannot be tested within an econometric framework.
The projects selected are: (1) Tephra: the Steampunk RPG
13
(2) Elevation Dock: The Best Dock
For iPhone
14
(3) The Kids on the Street: Season Two!
15
(4) Pen Type-A: A minimal pen
16
(5)
COLOR ME OBSESSED, a film about The Replacements (phase 7)
17
and (6) Printrbot: Your First
3D Printer
18
. Projects 1, 4 and 6 are the ones with higher financing rate within the categories
that are positively related to success: games, design and technology respectively.
Furthermore, project 5 is chosen because it has the highest financing rate in the films&videos,
which is the category that holds a negative relationship with the same variable. This initiative
stands out since it was the best succeeded in a difficult category. These receive special

13
Project 1 link: http://www.kickstarter.com/projects/257331192/tephra-the-steampunk-rpg
14
Project 2 link: http://www.kickstarter.com/projects/hop/elevation-dock-the-best-dock-for-iphone
15
Project 3 link: http://www.kickstarter.com/projects/cglenwilliams/the-kids-on-the-street-season-two
16
Project 4 link: http://www.kickstarter.com/projects/cwandt/pen-type-a-a-minimal-pen
17
Project 5 link: http://www.kickstarter.com/projects/1542689813/color-me-obsessed-a-film-about-the-
replacements-ph
18
Project 6 link: http://www.kickstarter.com/projects/printrbot/printrbot-your-first-3d-printer

1202
attention because they represent the essence of the variable that we are trying to explain:
success. Project 3 is our black sheep, because it is the closest one in our sample that looks like
failure, and helps us understand success by contrasting with it. Note that this project
achieved its funding goal, so it cannot be considered as a pure failure. However, it certainly
contrasts with projects with the highest financing rate ratio. This one is found in
films&videos category, and got precisely 100% of financing rate. We find a several number of
projects in this situation so, after this filter, we elected randomly between the project with
the lower capital pledged (500 dollars), considering an inferior value of goal as less capable of
explaining success. We understand that project 2 should also be included in this part of the
analysis, since it is by far the project with the higher amount pledged in our sample.
For a better understanding of the phenomenon, we use the Kickstarters campaign page
and perform a survey with the intention of collecting perceptions about selected projects
from a range of specialists and directed to people who are somehow linked to this matter,
including investors, entrepreneurs, platform members or related professionals in fundraising
activities. At the end we got six opinions from around the globe, and at least one answer from
each specialist category. The survey included closed and open questions. Therefore, we
combine the three possible approaches outlined by Mason (1996), focusing on the exact use of
particular language and making sense of research participants' accounts. We use the software
tool NVivo to improve the accuracy of the analysis process by validating some of our own
impressions of the data.

(1) Tephra is a role playing game developed by Cracked Monologue. The goal was set for
a thousand dollars, in exchange for rewards that would function as instruments useful
to play the game, including the respective rule book, a dice and/or a dice bag. Higher
valued contributions included being integrated in of the game developers or being part
of the game characters. They aimed to be able to print a solid first set of hardback
books and start shipping them to the many game stores who have asked for them. This
campaign was successfully funded at January, 2012, and achieved a total amount
pledged of 22.821 dollars with 374 different contributors. This money allowed the
project to order 2.000 numbers for the edition. Though only one out of six respondents
would invest in this cause, the remaining five would not contribute just for the fact that
they have no interest in the game. A platform manager stated that the reason for
success is the fact that they attacked an audience that is typically passionate for this
hobby, which is typically open-minded and eager to spend more, while a fundraiser
defends that rewards are well designed and fair, which makes sense for who wants to
play the game. According to the same inquired, the project was in the direction of the
needs identified in the market, revealing an effective market research.
(2) Casey Hopkins developed the Elevation Dock as an accessory for the famous high-
end Apples iPhone phone device. The entrepreneur detected this particular need in the
market, by realizing that existing docks were not capable and practical for the job it
was proposed. The product is thought in line of Apple usual products and users: high
quality of construction and functionality. The materials used are solid CNC machined
from solid billets of aircraft grade aluminum giving the consistency and heavy feeling.
Furthermore, the redesign of the connector is performed to minimize the friction for
effective charging of the equipment that can be done with or without a cover in the
phone, unlike existing products. The creator identifies a series of benefits for
consumers such as perfect for standing along a stereo, video conference sessions, or
even at as a bedroom charger. It is the campaign with the highest amount of funding
for a single project in our sample. The landmark of 1.46 million dollars was achieved at
February, 2012. The initial goal of 75 thousand dollars seems only a little crumb
comparing to the total pledged value. For this project five out of the six respondents
would buy this product, mainly for the 79 dollars level, which offers the Elevation
Dock+, a better version of the dock. This reward, after the Kickstarter campaign will

1203
eventually retail for the price of 120 dollars, so there are clear advantages for buying at
this moment. We also find curious the fact that to use the product one must be the
owner of the referred equipment, and it shows that the success of this equipment can
make the success of a well-designed accessory. According to an investor in our sample,
there is an evident preoccupation about the exposure of the information. There is
excellent communication, images, video and FAQ and the rewards are realistic and
appropriate. A contribution of another investor adds that although the product is
susceptible to be reproduced at an industrial scale, there is the preoccupation to show
the human character of the entrepreneur.
(3): This project is about the production of a web-series that take pre-existing movies
and we layer our own humor on top. The goal of 500 dollars is set to buy a microphone
for every participant in the show, and with it their own audio levels and tweaks, and
represents an improvement production quality for present and future series recording.
It finished precisely with the same amount of money asked and received.
Unfortunately, no one in our sample would buy a reward from this project. A platform
manager states that rewards are not attractive, however the goal was low and they
were probably able to convince friends and family to support the cause. An investor
and a fundraiser have the same opinion that the project is basic, but is realistic
considering the goal.
(4): The Pen Type-A is a product design of a stainless steel replacement for the Hi-Tec-
C's cheap plastic housing, which are known for its thin tip and light touch. It is the
project with the higher financing rate of its category, with almost 282 thousand dollars
pledged, receiving approximately 113 times the pre-defined goal. Five out of our six
respondents would invest in this project, all at the 50 dollars reward, and the one who
would not invest admits that the contact with the project makes you want to have the
product, but it is expensive. A platform manager has the opinion that the project is
well presented, and a personal connection with the entrepreneurs is made. The
pressure to buy is increased at the point where is stated that for 50 dollars one could
get a product that would later be sold for 99 dollars.
(5): This project is a short movie that tells a true story of the most influential, always
drunk, self-destructive, and yet frighteningly brilliant rock band of all time as told
through the eyes of their fans, followers, and fellow musicians, including love, hate,
obsession, tears and vomit. It is the project with the higher financing rate in
films&movies category, with 8.275 dollars out of 500 dollars asked. Most successful
reward was at 42 dollars, and includes a dvd screener of the films long before it's
available commercially, along with a special than you email from the film's director.
They also collected a single contribution for 500 dollars, other for 1000 dollars, and
another one for 2500 dollars. Higher valued contributions offered your name as a
character, the unedited interviews or even a small role with at least one line of
dialog in an upcoming movie. In quantitative analysis we observe that this category is
the one that holds negative relationship with financing rate. To the same effect of P3,
no one of our respondents would put his money in this project. A platform member is of
the opinion that at first, rewards do not seem sufficient and are quite expensive, and
highlights the cost of the dvd. On the other hand, he states that the video, however, is
a good teaser for the supporters who want to know more about the project. And it
seems that they managed to appeal to some fans of the band and some other sponsors. I
think that the word-of-mouth was very important. This is consistent with the fact that
almost half of total funding was collected by three single high valued contributions. A
fundraiser reinforces that the project is directed to a very small and specific crowd.
(6): The Printrbot is a 3D printer designed by Brook Drumm, to be the 3D simplest
printer yet. He states that, unlikely other printers available, this all-in-one kit can be
assembled and printing in couple of hours. Rewards offered different versions of the

1204
printer, and the most selected was the 499 dollars level where the everything you need
in one box to assemble a Printrbot Lasercut and start 3D printing. The entrepreneur
asked for 25 thousand dollars and attracted 830 thousand from 1808 contributors. Two
of our respondents would buy this equipment, even considering the high price to pay.
According to a platform manager, the possibility of having this object at home is
attractive and seems to convince whoever has that financial capability. Furthermore,
an investor thinks that in a global perspective, the project is very realistic in the
communication and in the goal and reward fields.

Conclusion

We examine information collected from projects in Kickstarter until February 29, 2012
for a better understanding of crowdfunding phenomenon and also to provide comprehension
about the critical factors for a project to succeed in these platforms. In our sample, it is widely
observed that a lot of initiatives are achieving their financial goals thanks to the contribution
of rhizomatic networks and their ability to connect. The fact that there is interaction between
entrepreneurs and investors, through comments and updates, makes ex-ante crowdfunding a
system that allows multiple combinations between elements, which are dynamic and
complex, with unlikely, unexpected and unpredictable results.
We find that most projects that collect more money are in the design, technology and
games categories. However, music and films & video are the ones with higher number of
financed projects. Though we have in our sample projects with more than 1 million of dollars
collected, we underline that more than 60% of the financed projects collected less than 5.000
dollars, proving that crowdfunding is best suited for small venture projects. Results extracted
from the econometrical analysis suggest that it is important for success to involve backers
and raise their number; to design a simple rewards system with lower number of levels and
finally to be an active entrepreneur within the platform, backing other projects. The analysis
of case-studies based in experts opinion reinforces the idea that success is better achieved
when there is a possibility of reaching a large crowd of potential consumers or to a niche
where one can find a passionate and loyal audience. Probabilities of succeeding rise when
tangible and interesting rewards are offered in exchange for collaboration, as proved by most
wanted levels of contributions. We find that the enrollment of consumers is extremely
important and, at this extent, communication has crucial influence. A project should explain
why it is important or different from everything else in the marketplace and why prospective
supporters should get behind it, and it should make good use of video and description tools.
Showing a campaign where ideas are well structured and the technical characteristics of the
product are in detail also increases the probabilities of funding.
This paper is primarily concerned with the role played by digital crowdfunding
platforms in the process of communicating an entrepreneurial idea. Crowdfunding, makes it
easier for creators, and can therefore help to tackle unemployment as it supports auto-
employment by empowering unemployed people to use their capabilities. There is room for
projects that otherwise would never see the daylight. Its unequivocal performance in the
creation of small ventures and small initiatives is working towards the decentralization of the
economies, which goes against the running evidence of constant growth of medium and high
dimensioned companies. From another point of view, an approximation between demand and
supply is observed when using crowdfunding. Initiatives are funded because they somehow are
giving the market what people want. Moreover, it brings the capacity to test the market by
giving visibility to ideas before investment, promotes of the image of the brand and the
creation of a fan base before its constitution with low agency costs without any extra costs of
market research. If the project does not succeed at this stage, there are no high sunk costs,
and therefore the risk is low. It is, then, an intelligent way to apply resources, since every

1205
dollar is affected by an independent mechanism. This is changing the present and it is a game
change for the near future. Still, many projects do not achieve their funding goals. Failure is
still a part of the process, and it is not necessarily bad. It means that the business needs to be
adapted or rethought. It is better to fail at this time compared to situations when real money
is invested. It has the potential to many things, including the lowering of the influence of the
bank institutions for certain loans, transforming the world in a place where people agree to
lend each other directly.

References

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1208
A BIBLIOTECA VIRTUAL COMO INSTRUMENTO DE EDUCAO MDICA

JACQUELINE PAWLOWSKI OLIVEIRA
[email protected]

EDISON JOS CORRA EDISON
[email protected]

MARIA RIZONEIDE NEGREIROS ARAJO
[email protected]

Resumo O advento das Tecnologias de Informao e Comunicao proporcionou grandes avanos na
rea da educao que favoreceram a aplicao de novas abordagens de ensino dentre as quais o ensino
a distncia. Por ser uma modalidade de ensino diferenciada, exige das instituies que oferecem cursos
a distncia investimentos em novas ferramentas que potencializem em seu corpo discente o
aprimoramento de suas habilidades e competncias. A articulao das tecnologias da informao e
comunicao expertise do campo biblioteconmico permitiu construir um mecanismo para otimizar o
processo de armazenamento e disponibilizao de informao que extrapolou os objetivos prprios das
bibliotecas virtuais. Este trabalho, objetiva apresentar a Biblioteca Virtual do Ncleo de Educao em
Sade Coletiva da Faculdade de Medicina da Universidade Federal de Minas Gerais originada da
necessidade de se disseminar a literatura cientfica produzida no mbito das atividades dos membros
envolvidos neste ncleo de ensino, pesquisa e extenso.

Palavras-chave Biblioteca virtual. Informao disseminao. Educao a distncia. Recurso
Informacional. Educao mdica.

Abstract The advent of Information and Communication Technologies has provided great advances in
education that favored the application of new teaching approaches among which distance learning. To
be a different kind of education, requires institutions that offer distance learning courses investments
in new tools that enhance their students in improving their skills and competencies. The articulation of
the information and communication technologies to the librarianship filed expertise allowed building a
mechanism to optimize the information storing and availability process that extrapolate the virtual
libraries own goals. It aims to present the Virtual Library of the Ncleo de Educao em Sade Coletiva
da Faculdade de Medicina da Universidade Federal de Minas Gerais, originated from the necessity of
disseminate the scientific literature produced in the activity scope of the members involved in this
teaching, research and extension nucleus.

Keywords Virtual Library. Information Dissemination. Distance Learning. Informational Resource.
Medical education.

1209
Introduo

O advento das Tecnologias de Informao e Comunicao (TIC) proporcionou grandes
avanos na rea da educao que favoreceram a aplicao de novas abordagens de ensino: o
Ensino a Distncia (EaD). Nessa perspectiva estratgias de aprendizagem foram criadas
permitindo ao aluno ser sujeito e agente do processo de construo do conhecimento, fazendo
com que ele amplie a habilidade intelectual de raciocnio e pensamento crtico.
Sem dvida a educao a distncia, por sua experincia de ensino com metodologias
no presenciais, pode vir a contribuir inestimavelmente para a transformao dos mtodos de
ensino e da organizao do trabalho nos sistemas convencionais, bem como para a utilizao
adequada das tecnologias de mediatizao da educao (Belloni, 2008).
Uma das vantagens do ensino a distncia a flexibilidade, com a opo de gerenciar
com autonomia o seu horrio e o seu local de estudo, conforme suas necessidades. Outras
vantagens so os custos reduzidos, autonomia do aluno, interatividade entre alunos e
professores e tutores.
notrio o quanto a Educao a Distncia (EAD) cresce rapidamente em todo o mundo.
No Brasil, essa modalidade demonstra ser uma opo de ingresso ao ensino superior para
muitos estudantes.
Constantemente novas Instituies de Ensino Superior (IES), no Brasil, credenciam-se
junto ao Ministrio da Educao (MEC) para ofertar cursos distncia. Por ser uma
modalidade de ensino diferenciada, exige que essas instituies invistam em novas
ferramentas que possibilitem o funcionamento dos cursos ofertados, como tambm,
desenvolvimento das potencialidades dos seus alunos.
O MEC, por meio da Secretaria de Educao a Distncia (SEED), publicou nos
Referenciais de Qualidade para Educao a Distncia, acerca do credenciamento,
acompanhamento e avaliao, reconhecimento e recredenciamento dos cursos, que qualquer
iniciativa de modalidade de educao assncrona, principalmente em instituies de ensino
superior, deve incluir a biblioteca como suporte pedaggico. (Brasil, 2003, 2007). Nesse
sentido, enfoca-se a relevncia das bibliotecas virtuais e digitais no processo de ensino e
aprendizagem a distncia. Elas surgem como elementos essenciais para suprir as necessidades
informacionais dos usurios remotos, provendo informaes a qualquer hora, em qualquer
lugar, colaborando, assim, com o processo educacional. As bibliotecas virtuais oferecem a
seus usurios informaes organizadas e especficas que contribuem para que eles possam
cumprir com suas atividades na esfera dos cursos.
Neste cenrio surgiu a Biblioteca Virtual do Ncleo de Educao em Sade Coletiva da
Faculdade de Medicina da Universidade Federal de Minas Gerais, cujo objetivo inicial era to
somente disseminar a literatura de interesse do Curso de Especializao em Ateno Bsica
em Sade da Famlia, destinados a mdicos, enfermeiros e dentistas em exerccio da profisso.
Entretanto, no perodo de desenvolvimento e implantao da Biblioteca Virtual, constatou-se
que este dispositivo detinha a capacidade de potencializar o processo de mediao
educacional especificamente ao possibilitar atingir as seguintes funcionalidades: resgatar
conhecimento adquirido pela prtica; compartilhar recursos informacionais e objetos de
aprendizagem; dinamizar o processo de comunicao educativa, entre outros.

1210
1 Ncleo de Educao em Sade Coletiva (Nescon) da Faculdade de
Medicina da UFMG

O Nescon um rgo complementar da Faculdade de Medicina da Universidade Federal
de Minas Gerais. Entre suas finalidades esto o desenvolvimento de atividades de capacitao
voltadas aos profissionais de sade e, a articulao de atividades de ensino, pesquisa e
extenso na rea de sade coletiva. Vem-se caracterizando como uma das instncias de
cooperao mais atuantes com a organizao de servios de sade no Brasil.
Este Ncleo empenha-se em prestar servios de consultoria e assessoria na rea de
sade coletiva, bem como a pesquisas que enriqueam o processo de elaborao de solues
para os problemas de sade coletiva; pesquisas que contribuem para elaborao, execuo e
avaliao das polticas pblicas de sade no Brasil. Alm de colaborar direta e indiretamente
na formulao de solues para os problemas de sade da comunidade.
Por meio do Programa gora, implementado pelo Nescon, articulam-se o ensino, a
pesquisa e a extenso. Nele foi desenvolvido o Curso de Especializao em Ateno Bsica em
Sade da Famlia (CEABSF), fruto da parceria do Nescon, Ministrio da Sade e Ctedra da
UNESCO de Educao Continuada (FAE/UFMG).

2 Curso de Especializao em Ateno Bsica em Sade da Famlia (CEABSF)

O CEABSF foi aprovado pela Pr-Reitoria de Ps-Graduao da UFMG em setembro de
2007, e gerenciado pelo Nescon em parceria com as unidades acadmicas de Medicina,
Enfermagem, Odontologia, Educao Fsica, Fisioterapia e Terapia Ocupacional e Educao.
Conta com o apoio e acompanhamento das pr-reitorias de Ps-Graduao, Extenso,
Graduao e Planejamento.
O Curso oferecido na modalidade de Educao a Distncia (EAD) e se articula poltica
de especializao em larga escala em Sade da Famlia (SF) empreendida pelo Ministrio da
Sade, para atender meta 4.4 do Programa Mais Sade, que prev a oferta de 52.172 vagas de
especializao em Sade da Famlia.
A proposta ofertar cursos que combinem metodologias a distncia e presenciais, por
intermdio da Universidade Aberta do SUS (UNA-SUS), estratgia governamental que articula
os processos necessrios para a formao em larga escala nacionalmente. Todos seus mdulos
esto registrados como curso de atualizao no Sistema de Informao da Extenso (SIEX), o
que possibilita uma oferta por mdulos educacionais, passveis de validao de crditos.
A integrao como programa integra oferta acadmica do CEABSF outras aes
complementares, como cooperao tcnica com outras universidades e organismos nacionais
e internacionais, desenvolvimento de projeto de capacitao de tutoria, produo de material
didtico em vrias mdias e consultorias locais para apoio a planos municipais/regionais de
sade e de desenvolvimento de recursos humanos.
O CEABSF tambm, integrante do Sistema Universidade Aberta do Brasil/Coordenao
de Aperfeioamento do Pessoal do Ensino Superior (CAPES). Ministrado a distncia, o curso
conta com 1.655 (mil seiscentos e cinquenta e cinco) profissionais de sade em formao
(mdicos, enfermeiros e cirurgies-dentistas), segundo o Relatrio de Gesto UNA-SUS de
2011.
O curso atende demanda pblica de formao de recursos profissionais mdicos,
cirurgies-dentistas e enfermeiros , em escala, para equipes de Sade da Famlia, em Minas
Gerais. Seu desenvolvimento metodolgico e a experincia exitosa acumulada permitem-lhe
atuar como referncia nacional.

1211
No ambiente do curso CEABSF, na internet (plataforma), o profissional tem acesso
gratuito, ao material grfico, caderno de estudos com contedos de cada mdulo a cursar,
vdeos, fotografias, site e fontes, e acesso, sob senha, que lhe possibilita interagir com colegas,
tutores e especialistas fruns, vdeo ou teleconferncias e chat postar atividades,
arquivar trabalhos (portflio on-line) e acesso livre a biblioteca virtual (textos, vdeos,
bibliografia recomenda, etc.).

3 Biblioteca Virtual do Nescon

A Biblioteca Virtual do Nescon foi desenvolvida utilizando o software WWWISIS, que
um programa executvel desenvolvido em linguagem C pelo Centro Latino-Americano e do
Caribe de Informaes em Cincia da Sade (BIREME), com a biblioteca de funes CISIS que
funciona como uma interface entre o Common Gateway Interface (CGI) do servidor web e a
aplicao escrita em sua linguagem nativa - o IsisScript - permitindo o gerenciamento de
informao em bases de dados do modelo ISIS.
um repositrio de informaes, cuja finalidade compartilhar conhecimentos sobre
sade coletiva de forma equnime. De acesso livre, coloca disposio de todos os usurios da
internet, um acervo rico na rea de sade para atender prontamente s necessidades
informacionais de seus usurios.
Organiza e filtra informaes produzidas por pesquisadores do Nescon, disponibiliza
materiais desenvolvidos em parceria com outras instituies e oferece seleo abrangente de
links nas reas da sade coletiva.
O acervo da Biblioteca Virtual do Nescon composto de: material instrucional
produzido para apoiar os cursos do Nescon; bibliografia dos cursos, trabalhos de concluso de
curso, pster, artigos, captulos de livros, livros, dissertaes, teses, publicaes do Nescon,
vdeos, dvds, cd-roms, links de sites de outras bibliotecas, sala de leitura (com textos
complementares da rea), entre outros.
Todo material disponibilizado nessa unidade de informao, indexado utilizando os
Descritores da Sade (DeCS) criando, assim, um padro de terminologia em todo acervo, que
facilita a maneira de busca para os usurios, j familiarizados com os termos pr-definidos.
O principal objetivo da Biblioteca Virtual do Nescon apoiar os alunos em seu processo
de aprendizagem, disponibilizando a literatura cientfica necessria s atividades didtico-
pedaggicas do Curso de Especializao em Ateno Bsica em Sade da Famlia, alm de
promover, por meio da plataforma de ensino, a interao entre o usurio da informao e o
autor, bem como, entre o aluno e o professor, dinamizando o processo de comunicao
educativa.
A Biblioteca Virtual do Nescon no se restringe apenas aos alunos matriculados nos
cursos, alm disso, atende toda comunidade, assim como toda a equipe envolvida nos cursos:
professores, tutores, conteudistas, coordenadores dos cursos, administradores, dentre outros.
Esse dispositivo informacional incentiva a divulgao e a discusso do saber adquirido
pela prtica ambulatorial ao disponibilizar os trabalhos de concluso de curso (TCC) feitos
pelos trabalhadores em sade, cujo material fonte de informao para a investigao
cientfica de novas demandas e possibilidades, e feedback aos rgos normalizadores para
repensar e aperfeioar os protocolos em sade.

1212
4 Recursos oferecidos na Biblioteca Virtual do Nescon

A Biblioteca Virtual do Nescon foi planejada integrando materiais dos cursos
distncia, videoteca, sala de leitura, bem como, todas as publicaes do Nescon (artigos, livros,
relatrios tcnicos, cd-roms etc.). Apresenta as seguintes opes de recuperao da
informao: Pesquisa Simples: pesquisa a partir de qualquer termo(s) em toda a base; Pesquisa
Guiada: permite especificar qual o campo deve ser pesquisado. Para estas pesquisas podem-se
utilizar os caracteres especiais '$' (truncamento), '+' (ou) e '*' (e) entre os termos de busca; e
tambm a Pesquisa por Termos: apresenta todos os termos de busca definidos no banco de dados
em ordem alfabtica. As interfaces de consulta da Biblioteca Virtual do Nescon so amigveis,
com alguns elementos principais como: navegabilidade, funcionalidade, suporte e feedback ao
usurio.
A interface de Bibliografia Bsica apresenta a relao da bibliografia sugerida nos
cursos. Para cada referncia o usurio tem a possibilidade de acessar o texto completo na
Biblioteca Virtual pelo link no ttulo da obra.
Nas pginas onde esto disponveis os materiais dos cursos possvel visualizar, para
cada mdulo, o texto completo do mdulo, as leituras obrigatrias, as recomendadas e as
complementares. possvel tambm o acesso aos vdeos das atividades de cada mdulo. Nas
figuras 1 e 2, a seguir, apresentam-se as interfaces de Consulta, Materiais dos Cursos e da
Bibliografia Bsica:

Figura 1: Interfaces de Consulta
1

1
Fonte: http://www.nescon.medicina.ufmg.br/biblioteca/

1213

Figura 2: Interfaces de acesso ao mdulo e bibliografia bsica
2

2
Link de acesso direto
ao texto completo
da bibliografia
bsica do curso.
Acesso aos mdulos,
bibliografia bsica,
vdeos etc.

1214
A interface de apresentao do resultado de consultas, que pode ser vista na figura 3,
contm opo para impresso da descrio do material e acesso ao artigo (texto completo),
quando este oferecido.

Figura 3: Interface de apresentao do resultado de consultas.
3

Por meio da interface da Biblioteca Virtual possvel acessar outras bases s links
disponveis para acesso destas bases de dados.

3
Acesso ao texto
completo
Trabalhos de Concluso
dos cursos
Sala de Leitura e
Videoteca
Todas as publicaes do
Nescon
Acesso aos materiais
dos cursos

1215

Figura 4: Interface de links de acesso a outras bases de dados.
4

Concluso

A implantao da Biblioteca Virtual do Nescon, atravs da cooperao dos profissionais
e usurios, possibilita a pesquisa, desenvolvimento e operao de fontes de informao
cientfica tecnolgica, que atendam progressiva e eficientemente s demandas de informao
por tomadores de decises.
Espera-se que a Biblioteca Virtual do Nescon contribua para a transposio das
barreiras culturais do trabalho de pesquisa e do processo de criao de conhecimento
mapeado, auxiliando nos mecanismos de busca, reunio e preservao da informao
associada a cada item do conhecimento construdo, em funo das necessidades e
peculiaridades de cada biblioteca. Este conhecimento est disponvel na Biblioteca Virtual do
Nescon, a fim de favorecer o engajamento das pessoas na converso do conhecimento, na
atualizao e na busca da inovao.
Fazer da Biblioteca Virtual do Nescon uma das principais ferramentas informacionais
na rea de sade para atender principalmente os usurios do ensino a distncia a meta a ser
alcanada por toda equipe envolvida neste Ncleo.

4
Links de acesso as
principais bases de
dados e peridicos da
rea da sade

1216
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Relatrio de Gesto UNA-SUS: apresentado Universidade Aberta do SUS UNA-SUS/GTES/MS
2010. Belo Horizonte: Nescon/UFMG.

1217
O USO DAS FERRAMENTAS WEB 2.0 NAS INSTITUIES ARQUIVSTICAS NACIONAIS DE TRADIO
IBRICA
Uma reflexo sobre a cultura participativa

LOUISE ANUNCIAO FONSECA DE OLIVEIRA
[email protected]

MARIA TERESA NAVARRO DE BRITTO MATOS
[email protected]

Resumo A cultura participativa, que emerge no ciberespao, possibilita Cincia da Informao e
Arquivologia uma extenso da concepo do acervo ao acesso, passando-se do acesso a participao. A
imerso das instituies arquivsticas no mundo digital exige que sejam estabelecidas condies aos usurios
para identificar, acessar, usar e colaborar com a migrao para a web dos registros arquivsticos. A partir do
contexto sublinhado, esta pesquisa se constitui em um estudo exploratrio e descritivo que tem como
objetivo identificar o nvel de uso das ferramentas web 2.0 pelas instituies arquivsticas nacionais de pases de tradio
ibrica. Como resultados da pesquisa, a partir da observao sistemtica dos websites de instituies
arquivsticas nacionais de tradio ibrica, identificou-se que, dos 41 pases analisados, 11 no potencializam a
transferncia e acesso s informaes por no possurem pginas na web ou ainda manterem suas pginas fora
do ar. Por outro lado, 30 pases possuem websites, mas em apenas 15 pases identifica-se a utilizao das
ferramentas web 2.0. Conclui-se que, em funo de um contexto emergente e fortemente marcado pela
necessidade do acesso informao e pela participao dos usurios atravs da web, as polticas de gesto das
instituies arquivsticas nacionais necessitam permanecer firmemente vinculadas ao estabelecimento de
diretrizes voltadas web 2.0.

Palavras-chave Arquivos nacionais. Tradio arquivstica Iberoamericana. Ferramentas web 2.0. Cultura
participativa.

Abstract The participatory culture that emerges in cyberspace, enables the Information Science, more
specifically the Archival Science, an extension of the conception "from holdings to the access", passing from
the access to the participation". The immersion of the archival institutions in the digital world requires that
conditions are established to the users to identify, access, use and collaborate with the migration of the
archival records to the Web. From this context, this dissertation consists in a descriptive and exploratory
study that aims to identify the level of use of the Web 2.0 tools by the managers of the national archival
institutions of Iberian tradition countries. As results of the research, through a systematic observation in the
websites of archival institutions of Iberian tradition, identified that considering the 41 countries analyzed, 11
do not maximize the transfer and access to the information because they dont have Web pages or even
maintain their pages off. On the other hand, 30 countries have their Web pages, but still in 15 countries
identified the use of the Web 2.0 tools. It follows that, due to an emerging context, strongly marked by the
need of access to the information and by the users participation through the Web, the management policies
of the national archival institutions need to be firmly linked to the establishment of guidelines related to Web
2.0.

Keywords National archives. Ibero-American archival tradition. Web 2.0 tools. Participatory culture.

1218
Introduo

Na rea de Cincia da Informao, e mais especificamente em Arquivologia, nas duas ltimas
dcadas, h uma tendncia de concentrar as pesquisas em temas relacionados ao acesso
informao, diferentemente do perodo anterior, a nfase, segundo Jardim e Fonseca (2004, p. 01,
grifo nosso), [...] desloca-se do acervo para o acesso [...].
Ao longo da dcada de 1990 e no incio do sculo XXI intensifica-se a utilizao da internet e
registra-se a incluso de instituies e servios arquivsticos em ambiente web. Com a intensificao
do uso da internet, o campo da Arquivologia passa a dispor da web, um espao digital a ser utilizado
para facilitar a transferncia da informao e o acesso informao arquivstica. A web 2.0 se
identifica como um fenmeno social relativamente recente. A transferncia e o acesso informao
arquivstica no espao da web 2.0 necessitam de aprofundamento conceitual para subsidiar a teoria
e a prxis.
Considerando a importncia do fenmeno da web 2.0 emerge uma nova preocupao: As
instituies arquivsticas nacionais de pases de tradio ibrica esto incorporando e utilizando nos
websites institucionais ferramentas web 2.0? A investigao deste problema foi norteada por
objetivos que se propem a aprofundar o conhecimento dos arquivos nacionais de pases de
tradio ibrica no contexto da web 2.0. Nesta perspectiva, teve por objetivo geral identificar o uso
das ferramentas da web 2.0 pelas instituies arquivsticas nacionais de pases de tradio ibrica. Os
objetivos especficos so: a) mapear os websites das instituies arquivsticas nacionais de pases de
tradio ibrica e b) identificar a presena de ferramentas web 2.0 nos websites de instituies
arquivsticas nacionais de pases de tradio ibrica.


Optou-se por desenvolver o trabalho fundamentado na pesquisa de natureza aplicada. Alm
disso, utilizou-se de propsitos exploratrios e descritivos, com enfoque qualitativo e quantitativo,
na busca de conhecimentos especficos para a aplicao prtica soluo do problema levantado.
A composio do referencial terico exigiu a realizao de uma pesquisa bibliogrfica, com o
intuito de delinear os principais autores nacionais e internacionais, pesquisadores do tema:
Arquivologia e Informtica; Arquivologia e internet, bem como Arquivologia e web 2.0.
Desse modo, foram definidos critrios para balizar a seleo das instituies arquivsticas
nacionais de pases de tradio ibrica que integrariam o universo de estudo. Para tanto, coletou-se
os dados em trs fontes de pesquisa diferenciadas: a) Listagens dos arquivos nacionais de lngua
portuguesa, dos arquivos nacionais latino-americanos e do Caribe, disponvel no website do Conarq;
b) Listagem disponibilizada no website da Associao Latino-Americana de Arquivos (ALA); e 3) Guia
dos Arquivos Nacionais de Tradio Ibrica, organizado pelo Arquivo Nacional do Brasil.
Aps a anlise dos referidos documentos, estabeleceu-se que o universo da pesquisa se
encontrava composto por um total de quarenta e duas instituies arquivsticas nacionais. Sendo,
quarenta e um pases de tradio ibrica
1
, para a realizao do estudo exploratrio-descritivo
combinado, com o intuito de descrever completamente o fenmeno da web 2.0 no contexto de
tradio ibrica.
Esse levantamento conceitual, a definio dos critrios, a seleo de instituies arquivsticas
nacionais e identificao dos respectivos stios iniciaram-se em maro de 2010. Aps a delimitao
do universo da pesquisa e da aplicao da tcnica de observao direta sistemtica foi possvel

1
Pela listagem do Conarq, Portugal possui duas instituies arquivsticas nacionais: o Arquivo Nacional da Torre do
Tombo (ANTT) e o Arquivo Histrico Ultramarino (AHU). As duas instituies foram consideradas nessa pesquisa.

1219
definir a amostra da pesquisa. Durante a observao direta sistemtica, os websites selecionados
foram classificados em:
a) 11 sites de instituies arquivsticas nacionais de pases de tradio ibrica que no
potencializavam a transferncia e o acesso s informaes. Razes: O arquivo no
tinha stio prprio ou o stio do arquivo estava fora do ar.
b) 30 sites de instituies arquivsticas nacionais de pases de tradio ibrica que
potencializavam a transferncia e o acesso s informaes:
Arquivos que possuam stio prprio:
Ferramentas web 1.0
Ferramentas web 2.0
A partir dessa primeira classificao, selecionou-se a amostra que iria compor a segunda e
terceira etapas da pesquisa.
A amostra da segunda etapa correspondeu anlise dos 30 websites das instituies
arquivsticas nacionais de pases de tradio ibrica que potencializavam a transferncia e o acesso
s informaes, por possurem pginas na web.
Quanto amostra da terceira etapa, correspondeu aos 15 websites das instituies
arquivsticas nacionais de pases de tradio ibrica que apresentavam os elementos de colaborao,
momento no qual foi realizada a identificao das ferramentas web 2.0 incorporadas por estas
instituies arquivsticas.

2 Instituies arquivsticas, web 2.0 e cultura participativa
O cenrio de crescimento das tecnologias da comunicao e informao, em especial com o
advento da internet e da world wide web, impulsiona novos questionamentos s instituies
arquivsticas. A incorporao dessas tecnologias promove nessas instituies um
redimensionamento em termos de teorias e prticas informacionais, ampliando e diversificando a
sua misso primordial (Mariz, 2005).
A transferncia da informao arquivstica na internet, dessa maneira, implica em
transformaes no fluxo informacional no que tange ao armazenamento, ao tratamento,
disseminao e ao uso de documentos e informaes nos ambientes virtuais das instituies
arquivsticas, conforme Figura 1:

Figura 1 - O fluxo de informao multiorientado.
2

2
Fonte: Barreto (1998, p. 4), adaptado pela autora.

1220
Os espaos virtuais das instituies arquivsticas potencializam-se cada vez mais como uma
plataforma para a promoo de seus repositrios (aumento da visibilidade e reconhecimento
institucional), compartilhamento de informaes sobre colees e alcance do potencial de novos
usurios. Isso no significa que a instituio arquivstica fsica tenha a sua finalidade reduzida.
Ganha, inclusive, nova dimenso, na expanso do quesito acesso e recuperao de documentos e
informa-es via rede. E, portanto, reflete na forma como se relacionam com os usurios sem,
contudo, alterar os princpios arquivsticos que permeiam as prticas tradicionais (Mariz, 2005;
Theimer, 2010).
Para que as instituies arquivsticas mantenham a sua presena na web 2.0, torna-se
fundamental o estabelecimento de trabalhos educativos voltados qualificao e configurao de
equipes responsveis pelo gerenciamento, incluindo manuteno e atualizao, dos acervos e
servios institucionais disponibilizados nos websites de instituies arquivsticas, bem como
investimentos significativos em infra-estrutura tecnolgica (Ohira, Paula & Prado, 2005).
As instituies arquivsticas tero que se renovar, adequando sua misso para a nova
realidade, a dos tempos da cultura participativa, cada vez mais disseminada na web. Para Jenkins
(2009), o prximo estgio da evoluo de uma cultura de interao para a cultura participativa:

A expresso cultura participativa contrasta com noes mais antigas
sobre a passividade dos espectadores dos meios de comunicao. Em vez
de falar sobre produtores e consumidores de mdia como ocupantes de
papis separados, podemos agora considera-los como participantes
interagindo de acordo com um conjunto de regras, que nenhum de ns
entende por completo (Jenkins, 2009, p. 28)

O autor evidencia uma mudana cultural em curso: um indivduo que no se contenta mais
em consumir um produto, mas quer dispor da oportunidade de poder modific-lo, criar a partir
dele, reinvent-lo, fazer parte. Pierre Lvy corrobora com Jenkins ao afirmar que o nervo do
ciberespao no o consumo de informaes ou de servios interativos, mas a participao em um
processo social de inteligncia coletiva (Lvy, 1999, p. 17).
Constata-se que o crescimento das tecnologias web 2.0, em meados da primeira dcada do
sculo XXI, transformou a participao de alguma coisa limitada e infrequente para alguma coisa
possvel a qualquer momento, para qualquer pessoa, em qualquer lugar (Simon, 2010).
Essa participao identificada pelo conceito de web 2.0. De acordo com Curty (2008, p. 55), a
web 2.0 pode ser assim definida:

Uma web mais social, pois envolve mais pessoas; mais colaborativa,
porque todos so partcipes potenciais e tm condio de se envolver mais
densamente; mais apreensvel, pois desmistifica que conhecimentos
tcnicos sejam necessrios para a interao; uma web que se importa
menos com a tecnologia de informao e mais com pessoas, contedo e
acesso: dizem que por essa web denota-se a verso 2.0.

As instituies arquivsticas tm vivenciado uma verdadeira revoluo com o advento da
internet. possvel observar no quadro a seguir, as principais caractersticas dos perodos: Antes
da web, Arquivos 1.0 e Arquivos 2.0, de acordo com o Quadro 1:

1221
Arquivos anteriores Web Arquivos 1.0 Arquivos 2.0
Paradigma do acervo Paradigma do acesso Paradigma da participao
Audincia de massa Audincia de massa
Ferramenta Contador de
usurios.
Nichos (Seguidores,
Amigos, Fs, Contatos,
Membros dos grupos,
dentre outros)
Disponibilizao da informao:
Arquivo Usurio
Disponibilizao da
informao:
Arquivo Usurio
Interao, redes
participativas:
Arquivo Usurio
Endereo fsico para
correspondncia.

Contato telefnico
Endereo fsico para
correspondncia/ Mapa de
localizao/ Como chegar
Correio eletrnico (e-mail):
e-mail geral da instituio
arquivstica, e-mail do
websmaster

Consultas eletrnicas por e-
mail
Endereo fsico localizado
via Mashups (Google Maps,
Google Earth)
E-mail geral da instituio
arquivstica
E-mail do webmaster do
stio
E-mail do webmaster da
ferramenta Web 2.0

Chat
Fotografias impressas Galeria de fotos
Galeria virtual
Exposies virtuais
Fundos online
Flickr
Reproduo de vdeos e udio em
aparelhos especficos, como
vdeos cassete e rdios.
Recursos multimdia: Seo
de udio/Vdeos
YouTube e Podcast
Informes do arquivo em suas
instalaes fsicas.
Servio de alerta de
novidades: Cadastro para
mala direta (newsletter);
Notcias
RSS, Blog, Facebook, Twitter
Livro de visita
Caixa de sugestes
Fale Conosco
Fruns
Facebook, Twitter
Questionrio de satisfao do
usurio impresso
Questionrio de satisfao
do usurio online

Enquete no website
Questionrio de satisfao
do usurio online via
ferramenta Web 2.0.
Enquete no website e nas
ferramentas Web 2.0.
Visita ao arquivo fsico:
agendamento presencial ou por
telefone para visita guiada.
Visita guiada ao arquivo
fsico: agendamento
presencial, por telefone ou
e-mail.

Exposies Virtuais
Visita Virtual
Visita ao arquivo fsico:
agendamento presencial,
por telefone, e-mail,
website ou via ferramentas
da Web 2.0.

Arquivo fsico recriado no
ambiente virtual do Second
Life: autonomia na visita e
arquivista como
facilitador.
Servio de referncia presencial:
viagem do pesquisador ao
arquivo para rever o material (ou
pagar um pesquisador local para
Servio de referncia
presencial ou via correio
eletrnico ou pginas de
questes mais frequentes
Servio de referncia
presencial e virtual via
bate-papo (chat) em
tempo real.

1222
fazer isso); pagamento da
fotocpia para identificar se o
material encontrado era
relevante (ou pagar a postagem
desse material).
(FAQs)

Consulta online via e-mail
para verificar a pertinncia
do material encontrado.

Consultas Pblicas no
website.

Consulta, debate e troca
online de material
pertinente via
ferramentas Web 2.0.

Consultas Pblicas no
website e nas ferramentas
Web 2.0.

Quadro 1 - Evoluo dos servios e produtos arquivsticos.
3

Diante da evoluo dos servios e produtos arquivsticos, possvel verificar que a integrao
dos usurios com a instituio arquivstica a base sobre a qual se apia o processo de transferncia
da informao arquivstica na web, acrescentando maior qualidade aos processos informacionais nas
instituies arquivsticas:

Partilhar com a coletividade as tarefas mencionadas reconhecer que
ela tem um peso enorme nas decises sobre o que deve ou no ser
guardado, que valores e referncias de sua identidade merecero uma
atitude mais efetiva de proteo. Esta partilha, entretanto, s poder ser
alcanada pela participao, e isto implica abrir o arquivo comunidade,
trazendo para perto de si os usurios da instituio dispostos a estabelecer,
juntamente com a equipe do rgo, uma relao mais qualitativa com os
arquivos (Silva & Marinho Jnior, 1996, p. 26).

No mbito da web 2.0, conforme apresentado no Quadro 1, alguns autores sugerem
ferramentas web 2.0 que poderiam ser utilizadas pelas instituies arquivsticas nacionais:
a) Feeds Really Simple Syndication (RSS): Essa ferramenta habilita os usurios a terem uma
nica, customizvel e pessoal pgina da instituio arquivstica, organizando todo o contedo
que os interessa. Alm disso, mantm o usurio informado sobre os novos itens da coleo,
novos servios e novos contedos nas bases de dados (Daines III & NIMER, 2009). Theimer
(2010) cita exemplo da aplicao dessa ferramenta em arquivos nacionais: The National
Archives (UK) disponibiliza o RSS para divulgar as ltimas notcias e os novos documentos
incorporados ao acervo;
b) Blogs: Permitem que um ou mais autores postem contedos passveis de comentrios de
terceiros. Podem representar um canal de comunicao de notcias e de novos servios do
arquivo para seu usurio. Daines III e Nimer (2009) afirmam que os blogs normalmente
utilizam de RSS como um formato de intercmbio, disseminando contedo para os leitores, e
citam o exemplo do blog institucional do Deseronto Archives, localizado no Deseronto Public
Library (Ontario, Canad). Essa ferramenta inclui notcias e informaes sobre o repositrio e
as suas colees, incluindo extratos e destaques; tambm inclui um feed RSS para as ltimas
postagens;
c) Flickr: O intuito dessa ferramenta gerenciar e compartilhar lbuns colaborativos de
fotografias e figuras. Assim, os usurios so convidados a interagir, inserindo comentrios
nessas imagens (Curty, 2008). Daines III e Nimer (2009) citam a aplicao dessa ferramenta
pela Netherlands' National Archief. Essa instituio arquivstica inclui imagens favoritas de suas

3
Fonte: Theimer (2010, traduo nossa), adaptada pela autora.

1223
colees, organizados em pequenos grupos temticos. As imagens esto disponveis para
comentar e marcar, com um feed RSS para novos itens;
d) Twitter: uma ferramenta que permite enviar uma curta mensagem numa conta partilhada
com outros seguidores. Theimer (2010), Daines III e Nimer (2009) apresentam o exemplo do
U.S. National Archives: inclui mensagens (tweets), com links para o Today's Document from
the National Archives, press releases e outros materiais relacionados coleo. Um feed RSS
dos posts novos tambm est disponvel;
e) Wikis: so essencialmente pginas abertas, onde qualquer pessoa registrada pode publicar e
modificar o contedo, mesmo que no tenha conhecimento em HTML. Um wiki de uma
instituio arquivstica como um servio, pode habilitar a interao entre arquivistas e
usurios, criando uma autntica sala de grupo de estudos online (Samouelian, 2009). Pode-se
citar o exemplo do Arquivo Nacional Britnico que criou Your Archives wiki para a sua
comunidade online de usurios registrados e The National Archives of the United Kingdom wiki
site contendo informaes sobre suas colees e contexto histrico associado. Fornece um
frum online, permitindo que a comunidade possa contribuir com seu conhecimento e
experincia (Daines III & Nimer, 2009);
f) MySpace e FaceBook permitem que cada usurio possua uma pgina prpria, na qual pode
adicionar informaes pessoais e manter um grupo de contato. Assim favorece a formao de
grupos de usurios vinculados ao arquivo, uma vez que os usurios se unem em torno de
necessidades de informao em comum (Daines III & Nimer, 2009). O National Archives of
Australia possui uma pgina no Facebook, onde apresenta informaes sobre a localizao,
horrio e acontecimentos atuais. Alm disso, inclui um link para seu Flickr (Daines III &
Nimer, 2009);
g) Podcasting um arquivo de udio ou vdeo distribudo automaticamente para usurios
cadastrados no servio. Para ilustrar, Theimer (2010) cita o Arquivo Nacional Britnico que
utiliza o podcasting para disseminar relatos de pesquisa de historiadores e os acervos
custodiados por essa instituio arquivstica, possibilitando que os usurios dessa ferramenta
tenham a chance de aprender, com os especialistas, o contedo dos acervos e como eles
poderiam ser utilizados.

3 Problematizao da pesquisa

No ano de 1999, o Conselho Nacional de Arquivos (Conarq), o Banco Mundial e a Organizao
dos Estados Americanos promoveram a realizao da Mesa Redonda Nacional de Arquivos, nos dias
13 a 15 de Julho, na cidade do Rio de Janeiro (RJ). Este evento teve como objetivo definir um plano
diretor, para curto, mdio e longo prazo, com estratgias e aes a serem implantadas, visando
modernizao das instituies arquivsticas brasileiras, alm de estimular agncias de fomento,
nacionais e internacionais, no patrocnio de projetos na rea de Arquivologia (Conselho Nacional de
Arquivos, 1999). Entre as recomendaes propostas no documento final da Mesa Redonda Nacional
de Arquivos destaca-se:

- Estimular as instituies pblicas e demais centros de documentao
e informao detentores de documentos arquivsticos a dar ampla
divulgao aos seus instrumentos de pesquisa;
- Constituir, no Conarq, Cmara Tcnica, com a participao de
tcnicos de diferentes partes do pas, com o objetivo de elaborar normas
brasileiras de descrio, compatveis com as normas internacionais;

1224
- Realizar, por intermdio do Conarq, campanha de marketing no
sentido de divulgar a importncia dos arquivos;
- Fomentar a criao de redes coordenadas de arquivos, que permitam
a difuso da informao, mediante campanha que facilite a conexo
Internet dos principais arquivos brasileiros;
- Viabilizar a criao do Grupo de Trabalho em Arquivos Virtuais no
Comit Gestor da Internet Brasil;
- Constituir grupo de trabalho para elaborar normas sobre a criao
de sites de instituies arquivsticas (Conselho Nacional de Arquivos, 1999,
grifo nosso).

As 6 (seis) recomendaes destacadas se inserem em um universo de vinte e cinco
recomendaes propostas no documento final da Mesa Redonda Nacional de Arquivos. No entanto,
as recomendaes concentram-se em questes de difuso dos arquivos e/ou da representao da
informao de natureza arquivstica. Vale registrar, ainda, que das 6 (seis) recomendaes, 3 (trs)
revelam preocupaes especficas com a difuso no mbito da internet. No que tange a proposio
de normas sobre a criao de websites de instituies arquivsticas, o Conarq designou uma
Comisso Especial, em novembro de 1999, para esse fim.
O resultado dos trabalhos da citada Comisso Especial, constituiu-se em documento que tem
por ttulo: Diretrizes Gerais para a Construo de Websites de Instituies Arquivsticas, publicado
pelo Conarq, em dezembro de 2000. O objetivo deste documento fornecer um referencial bsico
para as instituies arquivsticas interessadas em criar ou redefinir seus websites. No entanto,
chama-se ateno para o fato de que, em decorrncia do alto grau de obsolescncia tecnolgica, o
documento dever, inevitavelmente, ser revisto e atualizado.
Ressalta-se a necessidade de incorporao das diretrizes para uso dos recursos da web 2.0 nos
websites de instituies arquivsticas nesse documento, uma vez que surgiram no incio do sculo
XXI. Contudo, as reflexes sobre a necessidade dos websites de instituies arquivsticas se
revestirem de um novo significado para produtores e usurios da informao, esto presentes nesse
documento:

O website de uma instituio arquivstica deve ser visto como um
instrumento de prestao de servios dinmico e atualizvel e no
simplesmente como a reproduo de um folder institucional. Trata-se, na
verdade, de um espao virtual de comunicao com os diferentes tipos de
usurios da instituio a ser gerenciado como parte da poltica de
informao da instituio. Dado o potencial e as caractersticas da
Internet, este espao, alm de redefinir as formas de relacionamento com
os usurios tradicionais, poder atrair outros que, por vrias razes, difcil
ou raramente procurariam o Arquivo como realidade fsica (Conselho
Nacional de Arquivos, 2000, p. 4, grifo nosso).

A ausncia de abordagem do impacto da web 2.0 nesse documento, aliada a ausncia de
polticas nas instituies arquivsticas voltadas para implementao e uso das ferramentas web 2.0 e
a escassez de literatura acadmico-cientfica nacional sobre o tema no mbito da arquivstica,
dificulta a incorporao e manuteno das prticas colaborativas que possibilitam a modernizao
das instituies arquivsticas.
Tambm no ano de 2000, o Arquivo Nacional do Brasil realizou o Seminrio de Arquivos de
Tradio Ibrica. Nessa primeira edio do evento, a instituio arquivstica nacional julgou

1225
pertinente a elaborao do Guia dos arquivos nacionais de tradio ibrica, envolvendo os pases da
Amrica Latina e Caribe, de lngua hispnica, pases africanos de lngua portuguesa e Brasil,
Portugal e Espanha. De um total de 41 (quarenta e um) pases, apenas 18 (dezoito) pases
responderam ao questionrio enviado pelo Arquivo Nacional, sendo 5 (cinco) pases de lngua
portuguesa e 14 (quatorze) latino- americanos e do Caribe. Desse modo, possvel delimitar as
instituies arquivsticas nacionais que j possuam presena na internet no final do sculo XX, de
acordo com a Figura 2:

Figura 2 - Evoluo da insero na web nos Arquivos Nacionais de Tradio Ibrica em 2000.
4

A partir da anlise da evoluo da insero da web nos Arquivos Nacionais de tradio ibrica,
possvel constatar que, no ano de 2000, 8 (oito) pases se encontravam em um estgio Antes da
web, ou seja, no possuam stio institucional. Por outro lado, 4 (quatro) pases j possuam suas
instituies arquivsticas nacionais em um estgio de Pr-web 1.0, visto que, apesar de no
possurem stio web, dispunham do e-mail como ferramenta web 1.0 para transferncia e acesso s
informaes arquivsticas. Somente 8 (oito) pases possuam website e, por isso, realmente estavam
inseridos no contexto da web 1.0.
Nesse sentido, ainda analisando a Figura 2, constata-se que 2 (dois) pases de lngua
portuguesa, em 2000, no possuam website. Assim, Angola e So Tom e Prncipe eram as
instituies arquivsticas que mais restringiam a transferncia e o acesso s informaes
arquivsticas, uma vez que a comunicao com os usurios era feita apenas atravs da
correspondncia, do telefone, fax e na sede do arquivo. Moambique, alm das formas de
comunicao apresentadas, utilizava o e-mail como dispositivo de comunicao com os usurios,
considerado como ferramenta da web 1.0. Isso comprova que esse pas j possua acesso internet,
contudo ainda no havia criado o seu website. O Arquivo Nacional do Brasil e as duas instituies
arquivsticas nacionais portuguesas destacavam-se nesse cenrio pois, alm dos seus websites,
possuam como forma de transferncia e acesso informao a correspondncia, o telefone, fax, e-
mail e a sede do arquivo (Arquivo Nacional do Brasil, 2000).
Dentre os 14 pases latino-americanos e do Caribe, somente 7 (sete) possuam presena na
internet no ano de 2000: Argentina, Bolvia, Brasil, Colmbia, Equador, Peru e Porto Rico. Dessa

4
Fonte: Arquivo Nacional (2000) e Fundacin Histrica Tavera (2000), adaptados pela autora.

1226
maneira, constata-se que, juntamente com Portugal, esses 7 (sete) tornam-se os pases mais
desenvolvidos arquivisticamente em termos de insero na web no ano de 2000. Assim como
Moambique, Costa Rica, Cuba e El Salvador destacam-se com a presena do e-mail como
ferramenta de comunicao da web 1.0 com os usurios, o que demonstra a presena da internet
nessas instituies, contudo sem a existncia de website. Em situao similar a Angola e So Tom e
Prncipe, encontravam-se Espanha, Guatemala, Nicargua, Repblica Dominicana, Honduras e
Paraguai (Arquivo Nacional do Brasil, 2000).

4 O uso das ferramentas da web 2.0 nos websites das instituies arquivsticas
nacionais de tradio ibrica

A observao realizada, de forma sistemtica, em 41 pases de tradio ibrica permitiu o
seguinte resultado: 26,83% (11) delas no potencializam a transferncia e o acesso s informaes.
Dessas, 72,73% (8) no possuam presena na internet: 1 na regio da frica Arquivo Histrico de
Angola , 1 na regio da sia Arquivo Nacional do Timor Leste 4 na regio do Caribe Archivo
Nacional de Aruba, Barbados Department of Archives, National Archive Centre of Dominica e National
Archives of Saint Vincent and Grenadines -, 1 na regio da Amrica Central Archivo Nacional de
Honduras e 1 na regio da Amrica do Sul Landsarchiefdienst no Suriname, de acordo com Figura 3.

1227

Figura 3 Instituies arquivsticas nacionais de tradio ibrica que no possuem presena na web, em
2012, e suas formas de transferncia e acesso s informaes.
5

Devido a ausncia de websites, a maioria desses 8 (oito) pases utilizam como formas de
transferncia e acesso informao os meios tradicionais como correspondncia, seguida do fax.

5
Fonte: Elaborada pela autora com base na observao sistemtica.

1228
Por sua vez, o telefone e o e-mail so os meios menos utilizados por esses pases. Um destaque
dado a Angola, Honduras e Timor Leste, por utilizarem o e-mail como forma de transferncia e
acesso informa- o, demonstrando que esses pases j se inseriram no estgio da web 1.0, apesar
de no possurem website. Em Angola e Honduras ainda evidencia-se a combinao entre elementos
tradicionais (correspondncia e telefone) com o elemento 1.0, o e-mail. Dentre esses trs pases,
outro destaque feito a Angola que, em 2000, somente utilizava a correspondncia e o fax como
formas de comunicao, passando a incorporar tambm o e-mail e o telefone, apesar de ter baixa
penetrao na internet. Desse modo, Angola saiu do estgio Antes da web para a Web 1.0.
Dominica e Suriname utilizam somente a correspondncia como forma de se comunicarem com os
seus usurios. Saint Vincent and Grenadines, Barbados e Aruba, com expressiva penetrao na
Internet, j poderiam estar pelo menos na web 1.0 e disponibilizarem o e-mail para comunicao
com os usurios, mas ainda permanecem alicerados nas formas tradicionais de comunicao. Nesse
sentido, em plena web 2.0, trs pases esto ainda na Web 1.0, sem a presena do website e apenas
com o e-mail e outros cinco pases ainda no estgio Antes da web, utilizando somente as formas
tradicionais de comunicao.
Por sua vez, 27,27% (3) instituies arquivsticas nacionais de pases de tradio ibrica que
possuem presena na internet esto com website fora do ar e, portanto, tambm no esto
favorecendo a transferncia e o acesso informao: 2 na regio da frica Arquivo Histrico de
Guin- Bissau e Arquivo Histrico de So Tom e Prncipe e 1 na regio do Caribe Cayman Islands
National Archives. Nesse sentido, constata-se que a regio da frica apresenta mais pases com os
websites de suas instituies arquivsticas nacionais fora do ar. Dessa maneira, com seus websites
fora do ar, Cayman Islands, Guin-Bissau e So Tom e Prncipe contam apenas com as formas
tradicionais de transferncia e acesso s informaes arquivsticas, de acordo com a Figura 4:

1229

Figura 4 Instituies arquivsticas nacionais de tradio ibrica com stio fora do ar, em 2012, e suas
formas de transferncia e acesso s informaes.
6

6

1230

Em contrapartida, 30 (73,17%) instituies arquivsticas nacionais de 29 (72,50%) pases de
tradio ibrica potencializam a transferncia e o acesso s informaes arquivsticas, por
intermdio da presena de seus websites na web. Nesse contexto destacam-se Bolvia, Colmbia,
Costa Rica, Cuba, El Salvador, Espanha, Guatemala, Nicargua, Repblica Dominicana e Peru que no
possuam presena na internet no ano 2000, mas que passaram a potencializar a transferncia e o
acesso informao atravs de seus websites.
Desse modo, constata-se que as 30 (73,17%) instituies arquivsticas nacionais esto, em sua
maioria, distribudas geograficamente na Amrica do Sul, seguidas pela Amrica Central, Caribe,
Europa, frica, Amrica do Norte e sia, ordem oposta da encontrada nos pases de tradio ibrica
que no potencializam a transferncia e o acesso informao arquivstica.
Nessa perspectiva, constata-se que Bermuda, Haiti e Honduras, apesar de possurem website,
no apresentam nenhuma ferramenta web 1.0 e/ou web 2.0. Em contrapartida, Argentina, Bahamas,
Cabo Verde, El Salvador, Guyana, Jamaica, Macau, Moambique, Panam, Portugal (AHU), Porto Rico
e Uruguai. Cabo Verde, El Salvador e Guyana so os nicos a utilizarem somente o e-mail. Alm do e-
mail, Bahamas, Portugal (AHU) e Porto Rico se destacam por apresentam os servios virtuais de
galeria e exposio virtual. Argentina e Moambique investem na galeria de fotos, bem como
Jamaica e Panam apresentam as Perguntas Freqentes (FAQ) e apenas Macau possui um Fale
Conosco. Esses pases necessitam de maior investimento no que tange comunicao com os seus
usurios.
Apenas outras 15 instituies arquivsticas nacionais apresentam as ferramentas web 2.0 e as
associam com as ferramentas web 1.0, mostrando que a web 2.0 acrescenta novas possibilidades s
instituies arquivsticas, a saber: Belize Archives and Records Service; Archivo y Biblioteca Nacionales de
Bolivia; Arquivo Nacional do Brasil; Archivo Nacional de Costa Rica; Archivo Nacional de Chile; Archivo
General de la Nacin de Colombia; Archivo Nacional de la Repblica de Cuba; Archivo General de
CentroAmerica; Archivo General de la Nacin de Peru; Archivo General de la Nacin de Venezuela e Arquivo
Nacional da Torre do Tombo (Portugal).
A instituio arquivstica nacional que apresenta 6 (seis) das 7 (sete) ferramentas web 2.0
identificadas, com exceo do mashups
7
, a Colmbia, ao passo em que, com apenas 1 (uma)
ferramenta web 2.0, encontram-se Bolvia, Brasil, Chile, Costa Rica e ANTT. A Colmbia o pas mais
completo no quesito 2.0 por utilizar as ferramentas que possibilitam recursos de redes sociais,
notcias, multimdia, interao em tempo real e etiquetagem de assuntos. Em segundo lugar,
encontra-se o Mxico, por apresentar 4 (quatro) das 7 (sete) ferramentas web 2.0 e recursos de redes
sociais, multimdia e localizao geogrfica do arquivo. Em terceiro lugar, encontram-se Guatemala,
Peru e Venezuela, que tem como recurso comum apenas o multimdia. A Guatemala atrela esse
recurso localizao geogrfica e a etiquetagem de assuntos. O Peru, alm da multimdia e da
localizao geogrfica, faz uso das redes sociais. Quatro pases utilizam apenas duas ferramentas e,
portanto, dois recursos da web 2.0: Belize, Cuba, Espanha e Repblica Dominicana. Enquanto a
Espanha se utiliza das notcias e da localizao geogrfica do arquivo em seu website, a Repblica
Dominicana associa as notcias a multimdia, Cuba as notcias com a etiquetagem de assunto e Belize
apresenta a multimdia e as redes sociais. Embora utilize de duas ferramentas web 2.0, o Equador faz
uso de apenas um recurso, o das redes sociais. Apresenta 02 (duas) ferramentas para a mesma
finalidade. Desse modo, constata-se que os pases com foco nas ferramentas web 2.0 voltadas
exclusivamente para as redes sociais so Equador, assim como Brasil, Chile e Costa Rica, devido ao
uso do Twitter e do Facebook. Nesse sentido, os pases com foco exclusivo para as notcias so
Bolvia e Portugal (ANTT), devido utilizao do RSS. As Figuras 5 e 6 explicitam o exposto acima.

7
Aplicao web que combina dados ou funcionabilidade de duas ou mais fontes em uma nica e integrada aplicao
(Kroski, 2008, traduo nossa). Google Maps e Google Earth esto entre as mais populares aplicaes usadas em mashups.

1231

Figura 5 Instituies arquivsticas nacionais de tradio ibrica com stio, em 2012, e ferramentas web
1.0 e web 2.0.
8

8

1232

Figura 6: Ferramentas web 2.0 incorporadas pelos pases de tradio ibrica em 2012.
9

Nessa perspectiva, possvel estabelecer o estgio dos 30 websites das instituies
arquivsticas nacionais de pases de tradio ibrica. Desse modo, 7 (sete) instituies encontram-se
no estgio Antes da web, outras 7 (sete) no estgio Pr-web 1.0, 12 na Web 1.0 e 15 na Web 2.0.
A Figura 7 apresenta considerveis evolues ao longo desses 12 anos. A Espanha, Guatemala
e a Repblica Dominicana saram do estgio Antes da web, em 2000, para a Web 2.0. Colmbia,
Costa Rica, Cuba e Peru saram do estgio Pr-web 1.0, no qual no tinham website e possuam
apenas o e-mail, para a adoo tambm das ferramentas web 2.0. Brasil, Equador e Portugal
Arquivo Nacional da Torre do Tombo - so os pases que evoluram significativamente da web 1.0
para a web 2.0, acompanhando o novo cenrio 2.0.

Figura 7: Estgio evolutivo de insero na web pelas instituies arquivsticas de pases de
tradio ibrica em 2012.

9
Fonte: Elaborada pela autora com base na observao sistemtica

1233

Entretanto, algumas instituies arquivsticas pouco evoluram no mesmo perodo. Nesse
contexto encontram-se Angola, Nicargua e So Tom e Prncipe saram do estgio Antes da web
para o Pr-web 1.0. Alm disso, Moambique saram do estgio Pr-web 1.0 para a Web 1.0. A
Argentina foi o nico pas a se manter no mesmo estgio Web 1.0.

Consideraes finais

Com os servios de ferramentas web 2.0, criam-se espaos cada vez mais interativos e
participativos para apoiarem o acesso, o uso e a associao interativa de usurios com as
instituies arquivsticas. Os valores que emergem com a cibercultura permanecer informado,
comunicar-se constantemente e de forma clere, trabalhar colaborativamente, criar, publicar,
disseminar informaes, entre outros se tornam cada vez mais pr-requisitos evidentes e
necessrios ao desenvolvimento social do indivduo.
As iniciativas de instituies arquivsticas nacionais de tradio ibrica, nesse sentido, foram
comentadas sob diversas perspectivas da web 2.0, reforando a premissa do fluxo multiorientado
nesses mbitos para a disseminao de produtos e servios arquivsticos. Nessa pesquisa procurou-
se demonstrar que a incorporao e uso das ferramentas web 2.0 pelas instituies arquivsticas
nacionais de tradio ibrica devem ser considerados como fatores decisivos e imprescindveis
modernizao de instituies no sculo XXI, que desempenham a misso de preservar a memria
das naes e difundir a informao arquivstica.
Dos 41 (quarenta e um) pases com instituies arquivsticas nacionais de tradio ibrica que
foram devidamente visitados, constatou-se que 30 (trinta) pases potencializavam a transferncia e
o acesso informao, contudo de maneira distinta: em 15 (quinze) encontravam-se apenas as
ferramentas web 1.0 e, em outras 15 (quinze), as ferramentas web 1.0 e web 2.0. Observou-se um
equilbrio nesses estgios, mas uma necessidade de maior adoo das ferramentas web 2.0.
A adoo das ferramentas web 2.0 relativas s redes sociais so as mais encontradas e
atreladas s ferramentas web 1.0, reafirmando que uma realidade no exclui a outra, pelo contrrio,
agrega valor transferncia e ao acesso informao, permitindo a adoo de novos dispositivos de
comunicao com os usurios.
Numa situao mais delicada e preocupante encontraram-se outros 11 (onze) pases que, no
sculo XXI, no potencializam a transferncia e o acesso informao por no estarem conectadas
web, ou seja, por no possurem seus websites institucionais, bem como aquelas que apresentam
website fora do ar.
A utilizao das ferramentas web 2.0 ainda acontece de maneira parcial. Os resultados
apontaram para prticas mais voltadas incluso de ferramentas tecnolgicas do que para a
institucionalizao do uso da filosofia web 2.0. Quinze instituies arquivsticas nacionais de
tradio ibrica adotaram as ferramentas web 2.0, mas ainda sem a formalizao dessas prticas. O
Brasil o nico pas de tradio ibrica 2.0 com diretrizes 1.0. As recomendaes para a construo
de websites de instituies arquivsticas contemplam, no Brasil, somente a realidade da web 1.0,
apesar de abordar implicitamente uma perspectiva da web 2.0. Na Espanha foi constatada uma
preliminar institucionalizao da ferramenta web 2.0.
O que determina o xito da adoo da filosofia web 2.0 no o quantitativo de ferramentas
utilizadas, mas a qualidade de sua implementao que reside na elaborao de diretrizes voltadas
quela ferramenta. A sistematizao de diretrizes web 2.0 em polticas direciona todo o trabalho a
ser realizado. A partir da colocao clara e objetiva de diretrizes para cada ferramenta web 2.0, a
instituio arquivstica nacional beneficia-se de padres de participao e de colaborao dos seus
usurios que possibilitam a preservao e difuso do patrimnio documental. Importante que as
instituies arquivsticas nacionais coloquem como prioridade a institucionalizao das
ferramentas web 2.0 j incorporadas, antes de adotar novas ferramentas.

1234
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1236
POLTICAS INFORMACIONAIS E CULTURAIS
Um caminho em busca do livre acesso aos recursos e contedos informacionais, cientficos e
culturais na internet

ANDR PEQUENO DOS SANTOS
[email protected]

MARCO ANTONIO ALMEIDA
[email protected]

Resumo O objetivo deste trabalho discutir a importncia das polticas informacionais e culturais no
contexto das novas tecnologias de informao e comunicao, da internet e das formas de apropriao pelos
usurios, relacionando o papel destas polticas na fundamentao do livre acesso aos contedos
informacionais, cientficos e culturais disponveis na web. A hiptese que norteia este trabalho parte do
principio da abundncia de recursos e contedos existentes na internet, sendo esta responsvel pelo
desenvolvimento das principais atividades de seleo, apropriao, disseminao e transformao de
contedos por parte dos usurios da grande rede, configurando um interessante paradoxo quando se pensa as
faces da apropriao, produo e disseminao informacional e cultural. A internet possibilita cada vez mais a
livre circulao dos usurios a um vasto universo de informaes e produtos culturais, fomenta ambientes
para a troca, discusses, e colaborao entre usurios a partir de comunidades, fruns e redes sociais.
Contudo, ao se tomar conta da grande monta apropriada pelos usurios, percebe-se que em sua esmagadora
maioria, estes contedos esto protegidos sob as tradicionais e rigorosas leis de direito autoral baseadas no
copyright. Sob tais circunstncias, tornam-se determinantes as interferncias dos produtores informacionais e
culturais que se veem prejudicados pela livre apropriao dos seus contedos, endurecendo um jogo cada vez
mais pendente para a cultura livre baseada nas TICs. Logo, ao se introduzir a discusso em torno de polticas
informacionais e culturais, objetiva-se expandir a discusso em torno do livre acesso que no discrimine os
usurios e suas experincias de navegao, seleo, apropriao, transformao e disseminao, tornando
mais democrticas e menos lesivas as suas experincias na web.

Palavras-chave Livre acesso. Internet. Pirataria. Polticas Culturais.

Abstract The objective of this paper is to discuss the importance of informational and cultural policies in the
context of new information and communication technologies, the Internet and forms of ownership by users,
linking the role of these policies in the grounds of free access to the informational content, scientific and
cultural available on the web. The hypothesis that guides this work come from the abundance of resources
and existing content on the internet, which is responsible for the development of the main activities of
selection, appropriation, dissemination and transformation of contents by the users of web, setting up an
interesting paradox when you think about appropriation, production and informational and cultural
dissemination. The internet allows more and more a free movement of users to a vast universe of information
and cultural products, promotes exchange, discussion, and collaboration environments among users from
communities, forums and social networks. However, by taking account of the large amounts appropriated by
users, it is clear that overwhelmingly, these contents are protected under the traditional and strict copyright
laws based on copyright. Under such circumstances, become decisive interferences of informational and
cultural producers who find themselves affected by the free appropriation of their contents, hardening the
game for issues that encourage free access to cultural and informational content based on ICTs. So, when you
discuss informational and cultural policies, the objective is to expand the discussion on open access that does
not discriminate users and their experiences of navigation, selection, appropriation, transformation and
dissemination, making it more democratic and less affecting their experiences on the web.

Keywords Free Access. Internet. Piracy. Cultural Policies.

1237
Introduo

Nunca foi to fcil conhecer colees de museus como o de Arte Contempornea de Bogot,
Metropolitan Museum of Art de Nova York, Pallazzo Vecchio de Florena, Chteau de Chantilly na
cidade de mesmo nome, e obras de autores como Van Gogh, Rembrandt, Manet, Botticielli, entre
outros; pode-se dizer tambm da facilidade em acessar os livros dos grandes acervos (ou parte
considervel deles) de bibliotecas nacionais, universitrias, das bases de dados de peridicos
cientficos, teses, dissertaes... No Brasil, a recente Lei de Acesso a Informao
1
tornou
constitucional o acesso a documentos pblicos, contribuindo para o fortalecimento no s da
democracia, mas de toda a atividade cidad no que diz respeito participao popular. O que falar
da facilidade com que se deu o descobrimento de novos talentos musicais dos mais variados pases,
seja qual for seu estilo? E das trocas e compartilhamentos de msicas, extensas discografias de
artistas, sejam eles conceituados ou novatos? O mesmo pode-se dizer das mais novas e tambm
antigas produes cinematogrficas e televisivas. E no s de Hollywood e a sua fbrica dos sonhos
de que se fala... Tambm so jogos, fotos, mapas, softwares, instrues, receitas etc. Na internet, seja
l o que se procura, parece no ter fim as possibilidades de se encontrar tudo o que se deseja.
Contudo, se faz conveniente notar que muito do que est disponvel neste praticamente
infinito oceano de bits e bytes no est l pura e simplesmente pela vontade e benevolncia dos seus
criadores e/ou produtores. Pode-se dizer que a internet no tem dono. Mesmo no seu incio (ou
partindo dele), a partir de esforos conjuntos do Departamento de Defesa dos Estados Unidos e
algumas universidades e mesmo depois, quando da sua privatizao, a internet pode ser
considerada como um Leviat que tomou o seu prprio rumo, mas que ao contrrio do monstro
social centralizador de Hobbes, optou pela anarquia
2
, um certo livre arbtrio particular para se
expandir e jogar todos os seus tentculos (at aqueles inimaginveis) em todos os lugares, sentidos e
direes; tomar o seu rumo, tal qual ele deve ser. Para Castells (2003, p. 10), a internet uma
tecnologia particularmente malevel, suscetvel de ser profundamente alterada por sua prtica
social, e conducente a toda uma srie de resultados sociais potenciais a serem descobertos por
experincia, no proclamados de antemo.
Esta breve representao a respeito de termos como oceano e Leviat, tambm pode ser
expandida no contexto da internet quando se pensa no seu lado mais desafiador, talvez at mais
presente nas aes que ocorrem a partir da rede mundial de computadores: a pirataria. Os
corsrios da rede so muitos, estimados na casa dos milhes. Os produtos pilhados perdem-se
de vista no s em nmero, como em variedade. Contudo, a despeito das mais variadas violaes de
copyright infligidas por to destemidos navegadores, pode-se afirmar que a pirataria em alguma
medida benfica, direta ou indiretamente, por questes como, por exemplo, novas propostas de
polticas que valorizem o livre acesso aos contedos informacionais e culturais. Pois como frear o
mpeto livre que pareceu nascer junto e ser a principal proposta da internet enquanto
meio/ferramenta social? E a aqui chamada indstria cultural, como reage? Existe coexistncia
possvel e pacifica para duas plataformas to distintas? Elas seriam rentveis? Para quem?
Todavia, o mais importante para este trabalho se d no sentido de discutir a importncia de
polticas culturais/informacionais que busquem melhor entendimento do livre acesso aos
contedos culturais, cientficos e informacionais. Para isso, alguns tpicos sero necessrios para
melhor compreenso da estrutura geral deste trabalho. Questes como a internet luz do contexto
das TICs, a pirataria na rede, a forma como esta discute (mesmo que de forma indireta), subsidia e
viabiliza algumas propostas voltadas ao livre acesso, o copyright e a questo dos direitos autorais,
bem como alguns exemplos que deem sentido e reforcem a ideia central deste artigo, alm de uma

1
A Lei N 12.527 foi sancionada em 18 de novembro de 2011 pela presidenta Dilma Rousseff torna livre o acesso s
informaes pblicas produzidas pelos trs poderes da Unio, Estados, Distrito Federal e Municpios. Para mais
informaes, ver: http://www.acessoainformacao.gov.br
2
Em que implique aqui algum tipo de contradio a partir da comparao com o Leviat, penso ser adequada aos
propsitos deste estudo uma vez que permite um princpio de solidificao da internet como o mais contraditrio dos
ambientes, em que o legal e o ilegal habitam e coexistem s vezes at em harmonia e dependncia.

1238
breve introduo a respeito das polticas culturais enquanto conceito, constituem o percursos
necessrio para a construo de uma argumentao consistente ao longo deste trabalho. Embora
utilizemos exemplos de atividades e propostas desenvolvidas na internet, estas no necessariamente
fazem referncia direta ao estabelecimento de polticas culturais que discutam e favoream o livre
acesso aos contedos culturais e informacionais. So, antes de tudo, exerccios exploratrios de
cartografia das formas possveis de apropriao da internet em relao ao seu carter
descentralizado e aberto.
A discusso de polticas aqui se faz no sentido de reforar a necessidade de uma reflexo e de
esforos organizados em transformar atividades isoladas (mesmo levando em conta um possvel
desenvolvimento no nmero de projetos e atividades em torno do livre acesso) em algo mais
concreto, tentando explorar os ganhos no s em termos culturais, no sentido de acmulo de capital
ou bagagem cultural por parte dos que fazem uso da internet, mas tambm da (re)afirmao dos
produtores culturais e informacionais, da dinamizao e possibilidade de legitimao de um
mercado baseado no grtis que para Anderson (2011) ainda possibilita ganhos substanciais em
dinheiro aos seus participantes/investidores.
Entretanto, para melhor apresentar as ideias centrais deste trabalho, torna-se adequado um
breve prembulo acerca do cenrio de expanso das TICs e da internet e o surgimento de uma
organizao social claramente estruturada a partir delas: a sociedade de rede, e os conceitos
derivados e relacionados que, para alguns autores, constituiriam uma sociedade da informao e
uma sociedade do conhecimento.

1 TICs, internet e sociedade em rede: um breve panorama

No que diz respeito histria da internet, trs so os fatores fundamentais em seu
desenvolvimento: a colaborao do Departamento de Defesa dos Estados Unidos, o mpeto inovador
de algumas das mais brilhantes cabeas na poca (e ainda hoje, por que no?) e, finalmente, o que
Castells (2003) chama de big science
3
. No intuito deste trabalho elaborar um extensa e detalhada
histria da internet, contudo, resumidamente podem ser pontuados alguns momentos fundamentais
a partir dos esforos do ARPA atravs do ARPANET em 1958 como uma rede de computadores; dos
protocolos de controle de transmisso TCP/IP em 1973 e 1978; da separao entre MILNET e Arpa-
Internet em 1983, desvinculando a rede militar da de pesquisa; da entrada da Nacional Science
Foundation (NFS) como patrocinadora do Nacional Science Foundation Network (NFSNET),
interconectando diversas universidades atravs da rede de computadores, j no ano de 1985; da
criao em 1991 da www (World Wide Web) por Tim Berners-Lee como um sistema interligado de
documentos de hipermdia que pode vincular os mais variados tipos de documentos como
contedos textuais, sonoros, visuais, hipertextos etc.; do lanamento do Netscape Navigator em
1994 como o primeiro navegador comercial de xito e apto a navegar na estrutura www e
finalmente em 1995 quando do desativao da NFSNET e da privatizao da internet em uma
transformao dos moldes da ferramenta/ambiente que conhecemos hoje.
Esta breve recapitulao de alguns dos momentos mais importantes da histria da internet e
dos mecanismos que hoje do vida a grande rede tal como a conhecemos e utilizamos nos dias
atuais, serviu como j se esperava de elemento contextual e descritivo da ferramenta, ou seja, da
prpria internet. Todavia, permite tambm a introduo e a contextualizao da internet dentro do
panorama das Tecnologias da Informao e Comunicao (TICs) e das mudanas envolvendo a
sociedade de maneira geral a partir da revoluo da informao e das caractersticas que a
informao e conhecimento adquirem a partir de princpios distintos.
A respeito das TICs, pode-se afirmar sem nenhum prejuzo as questes histricas do seu
desenvolvimento, que surgiram principalmente no ps-guerra, alimentados pelo incrvel boom

3
O mesmo Castells se refere a big science como sendo o tipo de investigao cientfica em que esto envolvidos projetos de
grande complexidade, caros e em sua maioria financiados pelo governo.

1239
informacional vivenciado na poca, no que pode ser visto como a Revoluo da Informao. Ainda
que muito anteriores poca, fatores como o desenvolvimento da prensa tipogrfica por
Gutenberg, a institucionalizao da produo do conhecimento com o desenvolvimento das
universidades e laboratrios, a qualificao, o desenvolvimento e a especializao de novas
disciplinas e reas do saber, bem como a formao dos mais variados ambientes da informao
(bibliotecas, museus, centros de pesquisa, documentao etc.), podem ser entendidos num fluxo
histrico continuo e evolutivo como fundamentais no entendimento do que temos hoje como
transformao do papel informacional na sociedade (BURKE, 2003).
Em seus dois volumes da Histria Social do Conhecimento, Burke (2003 e 2012) discute as mais
variadas questes que envolvem o conhecimento a partir de processos distintos, mas s vezes
dependentes em que o conhecimento e consequentemente a informao evoluram at as prticas
atribudas a coletivizao cooperativa do saber pelo Wikipdia e tambm pelas ferramentas sociais,
tornando possveis, entre outras coisas, questes como a descentralizao dos lugares de
conhecimento, a acumulao das funes produtor/receptor por parte dos usurios e a retomada
dos valores iluministas de democratizao do conhecimento. A dcada de 70 ento experimenta o
que fica conhecida como a revoluo tecnolgica da informao e da comunicao. Castells (1999, p.
67) caracteriza como tecnologia da informao o conjunto convergente de tecnologias em
microeletrnica, computao (software e hardware), telecomunicaes/radiodifuso, e
optoeletrnica, no descartando nos domnios das tecnologias da informao a engenharia
gentica e o seu crescente conjunto de desenvolvimentos e aplicaes.
interessante ressaltar que tal revoluo no aparato tecnolgico e os processos evolutivos
que culminaram com o boom informacional da dcada de 50 podem ser vistos como dois dos mais
importantes fatores de reordenamento da sociedade, que sai da sua fase industrial e entra no que se
pode conceituar como a sociedade da informao. Os conhecimentos tcnicos, cientficos e
acadmicos, bem como a organizao vertical das instituies em redes de comunicaes e
relacionamentos, a especializao da mo de obra e a mediao por computador so caractersticas
marcantes desta sociedade, que marcada pela sinergia de informaes em atividades econmicas,
polticas, industriais, comerciais, tecnolgicas, culturais etc. A respeito da mediao protagonizada
pelos computadores, Warschauer (2006) diz que as formas de se organizar, representar e partilhar
as informaes foram modificadas essencialmente na medida em que permitiram interao por
escrito, comunicao por longa distncia entre as pessoas, multimdia e hipertexto global. Outra
condio latente desta nova sociedade trata da contradio da inovao a partir da
desterritorializao dos espaos geogrficos do mundo globalizado.
Para Pinto, Sales e Osrio (2008, p.17), El concepto sociedad de la informacin, surgido em el
siglo XX, hace referencia a un tipo de sociedad que se caracteriza por un importante desarollo
tecnolgico que favorece e incremento, la diversificacin y la transmisin de la informacin. J em
Oliveira e Bazi (2008, p. 116), vemos que a histria da Sociedade da Informao confunde-se com a
histria da sociedade ps-moderna, ora com a histria da revoluo da tecnologia da informao,
ora com a histria da sociedade do conhecimento.
Miranda (2000) trata da questo da sociedade da informao tendo como principio o papel da
globalizao, da queda das barreiras fsicas e das posies do sujeito neste esquema, onde at
mesmo as funes do Estado tambm so redefinidas, mas neste caso, destitudas da importncia de
outrora. Para ele existe uma retirada progressiva do Estado, beneficiando o espao privado e
mercantil, o que facilita o acumulo de capital e a mercantilizao tanto dos espaos informacionais
quanto culturais. Oliveira e Bazi, contudo, reforam uma evoluo na sociedade da informao, que
para eles.

[...] caminha a passos largos para uma Sociedade do Conhecimento,
assumindo contornos diferentes na medida em que, em razo dessa
exploso de informaes disponibilizadas, o indivduo levado a
desenvolver uma conscincia crtica em relao ao que est sendo
apresentado, a analisar a relevncia disso para suas necessidades, a

1240
assumir posturas pr-ativas de busca e uso da informao e a estabelecer
relaes entre as informaes processadas, para ento produzir
conhecimento. O centro est no processo e na verbalizao, no mais na
conceituao, uma vez que os conceitos so mutantes em funo das
condies de relevncia, interpretao e contexto em que o indivduo est
inserido. (OLIVEIRA, BAZI, 2008, p. 124).

O Manual da UNESCO para Sociedade do Conhecimento
4
(2005, p. 18) aponta que la sociedad
mundial de la informacin solo cobra sentido si propicia el desarollo de sociedades del
conocimiento. Ainda usando a informao como sustentculo a sua formao, temos a concepo
de uma sociedade do aprendizado, baseada em valores de contnuo desenvolvimento nos campos do
saber, independente da formao ou do campo de especialidade. Valoriza tambm o aprendizado
crtico sobre o prprio aprendizado (ou seja, ter a capacidade de se manter atualizado, aprender a
aprender), alem de aprendizado ativo, interativo e relacionado as TICs. Pinto, Sales e Osorio (2008)
alertam para os campos do saber, ou seja, para os lugares do aprendizado que j se colocam alem
dos muros das escolas e universidades, saindo em direo s instituies culturais, o ambiente de
trabalho, bibliotecas etc.
Pinto, Sales e Osorio (2008) tambm falam da questo da aprendizagem tendo em vista seu
aspecto de rede, ou seja, uma espcie de retorno virtual s salas de aula para um novo tipo de
aprendizado, baseado e voltado para a manipulao das ferramentas e contedos informacionais na
Internet. Tem-se a partir da a noo de alfabetizao digital buscando a diminuio das chamadas
brechas digitais, que no trabalho de Warschauer (2006) se configura como a info-excluso dos
usurios e consequente marginalizao social frente s Tecnologias da Informao e Comunicao e
os seus usos sociais. Nesta perspectiva, Pinto, Sales e Osorio afirmam que:

Para superar esta brecha digital es importante una fuerte inversin en
infraestructura y un planteamiento educativo que contemple la
alfabetizacin digital como un aspecto imprescindible para que la
tecnologia se convierta en una herramienta de progresso y
transformacin. (PINTO, SALES e OSORIO, 2008, p. 24).

O aspecto de rede citado anteriormente permite introduzir a questo mais flagrante: as
mudanas atribudas passagem da sociedade industrial para uma sociedade informacional com
matriz nas TICs. Encontra-se entre os seus maiores expoentes o j citado Manuel Castells (1999 e
2003), que a concebe como sendo a sociedade em rede. Esta pode ser entendida como a expresso
mxima do que procurou de maneira objetiva ser discutido at aqui quando se pensam as questes
da informao, do conhecimento e da aprendizagem.
O conceito de sociedade em rede, ao procurar analisar conjuntamente aspectos polticos,
econmicos e socioculturais, objetiva destacar a escala das mudanas, o desenvolvimento, o
estabelecimento e a criao de novas organizaes sociais diversas a partir da verticalizao das
suas aes e da organizao das redes de comunicao e informao.
A internet, portanto, acaba simbolizando o enfoque e a determinao de uma sociedade
orientada para a formao e o desenvolvimento de redes. Pinto, Sales e Osorio (2008, p. 19) apontam
que este sintagma acuado por Castells (2001) hace referencia a Internet como mdio de
comunicacin, de interaccin y de organizao social.

4
Burke entende o conhecimento como plural, significando, dando sentido e concebendo saberes distintos. O
conhecimento processado, contextualizado e se materializa atravs de processos de verificao, crtica, medio,
comparao e sistematizao. O autor tambm sintetiza importantes questes no que se refere qualificao do que ou
no conhecimento, destacando um claro vis poltico-ideolgico questo. Destaca tambm as formas de conhecimento,
os dividindo em implcitos e explcitos, puros e aplicados, locais e universais.

1241
As interaes comunicacionais organizadas pelos individuos em torno de uma nova cultura,
convenientemente chamada de cultura da internet, tornam-se importantes para compreender
alguns processos que acabam convergindo para os movimentos de livre acesso aos contedos
culturais e informacionais na grande rede. importante destacar essa nova cultura oriunda da
internet porque ela no s firma vnculos com o ambiente virtual, como tambm transforma as
relaes e a sociabilizao do sujeito, seja com outros sujeitos ou com o seu meio de ao social,
cultural, poltico e econmico estabelecido fora da virtualidade da rede.
Ao estabelecer a cultura da internet nas tecnoelites, nos hackers, empresrios e na comunidade
virtual, Castells (2003) relaciona os esforos cientficos e tecnolgicos, a meritocracia e o apelo dos
valores colaborativos em um ambiente formatado por comunidades de interesse comum que
beneficiam o conhecimento e a pesquisa desenvolvidos em centros acadmicos e nos parques
tecnolgicos, em que o valor e a condio de investimento dos empresrios fomentam ousadas
experincias nos domnios da internet e da nova sociedade transformada por estas mesmas
condies.
Abre-se caminho para discusso em torno do que Lessig (2004) chama de cultura livre e
pontos de interseco que diz respeito a questo dos direitos autorais, da pirataria, das novas
formas de manifestar o livre pensamento e a livre criao a partir de licenas criativas e da
importncia de iniciativas organizadas em torno de polticas culturais que valorizem no espao da
internet no s discusso, mas a prtica efetiva do livre acesso em um instrumento que por si s j
nasceu para permitir a liberdade.
Se a realidade permitisse uma volta para o perodo entre os sculos XVI e XVIII e os bits e
bytes da internet fossem comparados ou personificados s icnicas moedas de ouro, joias e demais
preciosidades da poca, teramos um dos mais inestimados tesouros da humanidade, digno das
proezas de piratas e corsrios famosos como Edward Teach (o famoso Barba Negra), Henry Avery,
Edward Low e Bartholomeu Roberts. No muito estranho que nos dias atuais nos referimos s
atividades ilegais propagadas na grande rede (mas no s nela) como pirataria, bem como a meno
ao ato de desbravar (este mesmo termo relacionado prpria questo pirata clssica, mas no sendo
esta a nica) neste cada vez mais interminvel oceano de informaes, servios, comunidades, jogos
e contedos voltados ao entretenimento cultural e a pesquisa cientfica que a internet, a partir da
navegao dos seus sites, blogs, comunidades e redes sociais diversas?
A discusso sobre a pirataria e a luta travada para a proteo dos direitos autorais e da
propriedade intelectual so temas recorrentes no nosso cotidiano e foco de importante anlise
neste estudo. Esto intimamente ligadas s atividades de livre acesso aos contedos culturais e
informacionais ainda que a margem das leis de proteo dos direitos proprietrios, bem como na
formao de uma nova economia organizada a partir da internet que marginaliza o preo e se baseia
no grtis (Anderson, 2009). Permite tambm o vislumbre de atividades com relativo impacto
sociocultural e que podem ser determinantes discusso de polticas culturais e informacionais que
valorizem as aes em busca do livre acesso aos mais variados contedos propagados pela grande
rede.
Sendo a indstria fonogrfica uma das mais emblemticas no que diz respeito indstria
cultural, este trabalho partir da sua abordagem para melhor qualificar e compreender o papel da
pirataria como uma espcie de atividade de contracultura estabelecida na internet pelos usurios (e
s vezes por alguns de seus produtores).

1242
2 Cultura, internet, pirataria e direitos autorais: um breve panorama a partir da
indstria musical

Uma breve recapitulao histrica da indstria fonogrfica pode apontar os anos 50 como o
incio de um perodo em que as atividades ligadas msica comeariam a crescer de forma
vertiginosa. Em um pas como os Estados Unidos dos anos 50, por exemplo, surgiam artistas de jazz,
blues, folk, msica country, gospel, bluegrass, rhythm & blues, e de um novo ritmo recm-criado, que
compartilhava de tudo um pouco dos estilos citados, o rock and roll (VINIL, 2008).
com o rock enquanto gnero musical, e da glamorizao do rockstar a partir de Elvis Presley,
Bealtes e Rolling Stones, seguidos por The Who, Bob Dylan, Pink Floyd, Jimmy Hendrix, Led
Zeppelin, Deep Purple, Black Sabbath, Queen entre outros que se torna possvel a escalada da
indstria musical rumo a um mercado altamente rentvel e lucrativo para artistas, produtores e
empresrios. Este perodo, que compreende as dcadas de 60, 70 e 80 pode ser considerado como o
grande apogeu da indstria fonogrfica, mercado que explorava amplamente a venda de discos,
shows, licenciamento de produtos, execuo nas rdios de todo mundo, peas publicitrias, jingles,
novelas, filmes, seriados e com a inveno e disseminao da TV, os recm-criados programas
musicais. neste perodo que ocorrem as maiores vendas da histria da msica. S para se ter uma
ideia, dos 10 lbuns mais vendidos de todos os tempos, 8 compreendem o perodo entre os anos 60 e
80.
Contudo, este cenrio extremamente favorvel as grandes gravadoras comeou a desmoronar
com surgimento da internet e o desenvolvimento de ferramentas que modificariam de forma
relevante a maneira como se acessa, compartilha, dissemina e porque no, se produz msica. Neste
sentido a internet e a digitalizao representaram, juntas, o inicio de uma forma completamente
nova de distribuio e de consumo de musica a qual nenhum ator do mercado de musica pode ficar
indiferente (GPOPAI, 2010, p. 10). Lessig (2004) aponta na mesma direo, pensando a internet como
parte fundamental da vida cotidiana do individuo, provocando mudanas tcnicas, mas tambm
culturais de impacto destacado na sua produo e assimilao.
Na esteira das mudanas promovidas pela internet podemos de imediato citar duas
importantes inovaes tecnolgicas: o MP3 e o peer-to-peer. Outras tantas se juntam a elas, como,
por exemplo, a disponibilidade de ferramentas de produo e mixagem, sites de compartilhamento,
broadcasting, blogs, chats, fruns, comunidades e, finalmente, as grandes protagonistas do
momento, as redes sociais. Tais mudanas transformam tambm a percepo e a ao cultural da
msica, nas formas que possibilitam o acesso, compartilhamento, disseminao, produo e
promoo dos contedos sonoros.
O papel do MP3
5
a partir da internet de destacada importncia. Como tecnologia que permite
a compresso de udio sem muitas baixas na qualidade do som, este se tornou o formato mais
popular de udio e consequentemente abriu o mercado para produtos que viriam a usar a
tecnologia MP3 como forma de reproduzir arquivos de udio. Primeiro vieram os Disc Man
compatveis com o formato, depois os MP3 Players, em sequncia surgiram celulares, micro systems,
DVDs de mltiplas leituras, rdios automotivos e at TVs com tecnologia de suporte ao formato. A
revoluo imposta pelo MP3 foi intensa, rpida e praticamente no deu chances para a indstria
fonogrfica reagir. O formato estava presente em milhares de computadores e to cedo o MP3 tenha
logrado sucesso, novos dispositivos de leitura do formato foram criados, como o BS Player, Real
Player, Winamp, AIMP3, entre outros. Contudo, faltava um algo a mais. A disseminao do MP3 era
clara e parecia ser definitiva. E num ambiente onde cada vez mais as pessoas se comunicavam em
chats, fruns, comunidades e em embries do que viriam a ser as redes sociais, surgia a necessidade

5
O MP3 nada mais do que uma forma de compresso de udio em que as perdas relativas a qualidade do som so
praticamente imperceptveis. Sua sigla deriva de MPEG 1 Layer-3, um padro de arquivos digitais desenvolvido pela Moving
Pictures Experts Group.

1243
de trocar impresses, gostos, conhecimento e msica. Cenrio mais do que adequado para o
desenvolvimento do peer-to-peer.
Por definio, o peer-to-peer ou P2P um formato de rede de computadores que descentraliza
as funes em rede, habilitando cada computador a ser ao mesmo tempo servidor e cliente. Logo,
pelas suas atribuies, todos os seus usurios acabam colaborando para a eficincia do sistema
devida a sua complexa estrutura de ns mutuamente dependentes.

O compartilhamento de arquivos atravs de sistemas peer-to-peer (P2P)
est entre as formas mais eficientes de tecnologia permitidas pela Internet.
Usando inteligncia distribuda, sistemas de P2P facilitam a distribuio de
contedo de uma maneira que uma gerao atrs era simplesmente
inimaginvel (LESSIG, 2004, p. 17).

So exemplos de programas, aplicativos e redes que utilizam o P2P o Ares Galaxy, eMule,
LimeWire, Shareaza, SoulSeek, BitTorrent, BitComet, uTorrent e o grande propulsor das disputas
entre a indstria fonogrfica e a internet, o Napster. com o Napster que a chamada pirataria ganha
contornos definitivos no meio digital. Tal opinio compartilhada por Porto (2003). O grande marco
no que diz respeito ao compartilhamento das msicas, veio segundo a autora primeiramente com o
Napster, que um software que possibilitava a troca direta de arquivos de msica entre os usurios
(PORTO, 2003, p. 2).
O Napster foi criado pelos ento estudantes Shawn Fanning e Sean Parker em 1999. A ideia
dos seus idealizadores era facilitar o download de msicas, roubando as partes que estavam
interligadas em rede atravs do P2P e do uso de computadores que executam simultaneamente as
atividades de servidor e cliente. Em 2000, o Napster estava no auge da sua popularidade quando
despertou a ira das grandes corporaes do mercado fonogrfico, representados pela Recording
Industry Association of America (RIAA) e de uma banda em especial, o Metallica. Eles estavam
acusando o Napster de violar trs reas das leis dos Estados Unidos: violao dos direitos autorais,
uso ilegal de aparelho de interface de udio digital e a Lei RICO, que trata das organizaes
criminosas (WALL, 2012, p. 376). Os danos causados em cima dos direitos autorais segundo a parte
queixante era uma das maiores responsveis pela vertiginosa queda nas vendas de discos no s nos
Estados Unidos, como tambm no resto mundo. Representava uma sria ameaa ao modelo
econmico do mercado fonogrfico, diminuindo severamente os seus lucros e criando um mercado
paralelo de compra e venda de produtos piratas, fora o livre compartilhamento de msicas pelos
usurios da grande rede.
Em 2001 ao meio de diversas aes legais baseadas em violaes de copyright, o Napster entrou
em acordo com um dos seus mais celebres acusadores, os californianos do Metallica. Logo na
sequncia foram comprados pelo conglomerado alemo Bertelsmann BMG que impediu que os
usurios trocassem faixas com qualquer artista que levantasse objees (WALL, 2012, p. 377). Mas
em 2002 a venda para o Bertelsmann BMG foi bloqueada e o mais emblemtico site para
compartilhamento de msicas fechou. Ao menos no formato que lhe trouxe reconhecimento. Hoje o
Napster opera no mercado de compra de msicas on-line, mercado este que virou uma das
alternativas da indstria fonogrfica para combater a pirataria. Mas o que dizer desta pirataria? O
quo lesiva ela , de fato, para a indstria musical ou a indstria cultural como um todo? No existe
mercado para o livre compartilhamento? Existem propostas que buscam servir de alternativa?
Propostas que de alguma maneira se adequaram a nova realidade introduzida pela internet no meio
cultural e informacional?
Em linhas sucintas a pirataria pode ser entendida como qualquer atividade em que h tomada
ilegal do direito do autor, o copyright, seja para qualquer fim, lesando assim os proprietrios da obra.
Seu enquadramento se baseia quase que estritamente no aparato da lei.

1244
Entretanto, a complexa questo da pirataria digital aqui apenas
analisada no que diz respeito msica no pode ficar restrita a uma viso
policial, apenas. importante frisar que no h consenso entre
consumidores, produtores e distribuidores em relao participao do
download gratuito na pirataria de msica. H discordncia de pontos de
vista mesmo dentre membros de cada uma dessas trs categorias. O caso
da gravadora brasileira Trama um exemplo de modelo alternativo de
negcio que no criminaliza o download gratuito, mas compe com ele,
servindo-se desta tecnologia para inaugurar nova modalidade de
prospeco de mercado. Em relao ao consumo, algumas apropriaes
no hegemnicas das TICS, dentre as quais o download gratuito, tm
demonstrado que elas podem ser utilizadas para enfrentar prticas
comerciais consideradas abusivas ou insatisfatrias (CASTRO, 2006, p. 3).

Um dos principais argumentos da indstria fonogrfica que a pirataria digital (e
consequentemente a pirataria fsica existente decorrente da gravao de material coletado na rede)
alem de ferir os direitos proprietrios dos autores, a principal responsvel pela perda de
arrecadao das gravadoras e consequentemente do dividendo dos lucros entre artistas, tcnicos,
produtores e as prprias gravadoras. Mas at que ponto isso verdade? Seria a pirataria a nica
responsvel pela queda nas vendas? Lessig (2004) aponta um argumento interessante, que para a
infelicidade dos representantes da indstria fonogrfica, foi apresentado por eles prprios.

Em 2002, a RIAA relatou que as vendas de CD caram em 8,9%, de 882
milhes para 803 milhes de unidades; o faturamento caiu em 6,7%. Isso
confirma uma tendncia dos ltimos anos. A RIAA culpa a pirataria na
Internet pela tendncia, embora haja muitas outras causas que poderiam
ser consideradas para essa queda. A SoundScan, por exemplo, relata uma
queda de mais de 20% no nmero de CDs lanados desde 1999. No h
dvida que isso conta para uma parte das perdas em vendas, Os aumentos
de preos tambm contam como parte dessa perda. De 1999 a 2001, o
preo mdio do CD subiu em 7,2%, de 13,04 dlares para 14,19 dlares. A
competio com outras formas de mdia tambm conta como parte dessas
perdas (LESSIG, 2004, p. 64).

Lessig prossegue na sua argumentao, deduzindo que

Vamos imaginar, porm, que a RIAA esteja certa e que todas as perdas
nas vendas de CD resultem de pirataria na Internet. Aqui est o fato
estranho: no mesmo perodo em que a RIAA estimou que 803 milhes de
CDs foram vendidos, a prpria RIAA estimou que 2,1 bilhes de CDs foram
copiados de graa na Internet. Dessa forma, embora 2,6 vezes o total de CDs
vendidos foram copiados da Internet, as quedas em faturamento foram de
apenas 6,7% (LESSIG, 2004, p. 64).

Como se v, a dita afirmao que apregoa pirataria todas as mazelas sofridas pela indstria
da msica , em parte, exagerada. Entretanto, no se pode absolver a pirataria de maneira alguma. E
muito menos condena-la, principalmente com argumentos que sobrecarregam em fatos o que ela
realmente faz. O ideal equilibrar a balana e compreender as possibilidades que ela pode causar e
buscar alternativas que satisfaam os detentores de copyright.
O mercado fonogrfico s um de tantos outros prejudicados pela ao compulsria dos
usurios da internet. A substituio da msica pelo cinema, sries, jogos, softwares e at mesmo pelos

1245
livros digitalizados produziriam efeitos semelhantes quando no mais devastadores. Um dos
aspectos mais interessantes a respeito da diversidade das mdias, dos formatos e contedos, bem
como dos seus usurios que mesmo quando visto pelo prisma legal da defesa dos direitos autorais
e da propriedade intelectual, possibilita novos reordenamentos no que se refere o livre acesso aos
contedos culturais e informacionais. Os movimentos organizados em torno do Open Access,
baseados na livre difuso, pesquisa, consulta, copia e distribuio dos conhecimentos tcnicos,
cientficos e acadmicos podem ser pensados como uma outra faceta na qual se desdobram essas
questes.

3 O Movimento Open Access para comunicao cientfica

O movimento Open Access tomou corpo a partir das definies de trs importantes
manifestos institudos em Budapeste (fevereiro de 2012), Bethesda (junho de 2003) e Berlin (outubro
de 2003) no qual Peter Suber, um dos grandes incentivadores do movimento classificou como
definio BBB (BBB definitions). As perspectivas orientadas a partir do Open Access vo ao
encontro s falas de Kuramoto (2008) e Mueller (2008) que veem a pesquisa cientfico-acadmica ser
limitada pelas dificuldades de acesso aos trabalhos apresentados em peridicos em que ainda
prevalece o sistema de assinaturas. Com a crise presenciada pela exploso documental e a
incapacidade de sustentar vastssimos acervos em um espao fsico cada vez mais reduzido, uma das
solues encontradas foi migrar do meio fsico ao digital, onde ainda prevaleceu o modelo de
assinaturas. No foi o suficiente, e tomando o Manifesto de Budapeste como modelo:

There are many degrees and kinds of wider and easier access to this
literature. By 'open access' to this literature, we mean its free availability
on the public internet, permitting any users to read, download, copy,
distribute, print, search, or link to the full texts of these articles, crawl
them for indexing, pass them as data to software, or use them for any
other lawful purpose, without financial, legal, or technical barriers other
than those inseparable from gaining access to the internet itself. The only
constraint on reproduction and distribution, and the only role for
copyright in this domain, should be to give authors control over the
integrity of their work and the right to be properly acknowledged and
cited (BUDAPEST OPEN ACCESS INITIATIVE, 2002).

O Open Access parte de duas vias: a que possibilita o auto-arquivamento e a que estabelece o
modelo de peridicos de livre acesso. A primeira utiliza de repositrios pessoais, temticos e
institucionais, como de universidades, centros de pesquisa e tecnologia, laboratrios, empresas,
rgos governamentais etc. onde o autor fornece o livre acesso aos seus prprios contedos,
dispensando a reviso por pares. O segundo modelo trabalha a partir das publicaes peridicas em
que o livre acesso garantido logo aps a sua publicao, em que a reviso por pares e demais
processos editoriais so necessrios e providenciados pelo peridico. O licenciamento das obras
feito a partir do Creative Commons, modelo de licena que oferece maior liberdade de uso por
terceiros, mas sempre sob certas condies ou normas que o prprio autor escolhe e define
(ENTENDENDO AS LICENAS CREATIVE COMMONS, 2010). As licenas Creative Commons permitem
um modelo de licenciamento completamente aberto em que so permitidos o acesso, distribuio,
adaptao e mixagem de uma obra; mas tambm podem oferecer um modelo mais fechado em que
somente permitida a distribuio. Contudo, em todas as seis licenas
6
a meno de autoria deve
ser respeitada e citada.

6
Para conhecer as licenas, ver: http://creativecommons.org.br/as-licencas/

1246
Dentre as iniciativas no modelo Open Access destacam-se o DOAJ e o PLoS. O Directory of
Open Access Journals (DOAJ) foi concebido a partir dos esforos da Universidade de Lund, na Sucia.
Trata-se de um diretrio de revistas de livre acesso que cobrem as mais variadas reas do
conhecimento, disponibilizando textos completos de mbito cientfico e acadmico. J o Public
Library of Science (PLoS) que tem como objetivo a organizao dos peridicos de livre acesso
relativos as cincias, sejam elas naturais, exatas, biolgicas...
O modelo Open Access somente um entre outros tantos em que prevalecem a liberdade e a
igualdade de acesso perante os bens culturais e informacionais. A nfase em acessar, disponibilizar,
disseminar e transformar o conhecimento em uma escala de aprimoramento constante da cincia se
torna o seu ponto de apoio. E a internet, ao se constituir como um ambiente descentralizado a partir
da sua estrutura de redes de comunicao colabora para diminuir as desigualdades enfrentadas
entre outros, por universidades, centros de pesquisa e demais instituies que no podem custear as
cada vez mais caras e valiosas assinaturas de peridicos e bases de dados. Isso sem contar os
pesquisadores, estudantes e docentes que veem diminudas as suas chances de impacto na
disseminao de seus estudos ou no compartilhamento, anlise e transformao dos estudos de seus
iguais.
Outras iniciativas neste mbito tambm merecem destaque, mas ao contrrio do que pode se
levar crer pela simples traduo do termo Open Access, no esto diretamente vinculadas as suas
propostas. Assumiremos aqui o termo livre acesso que embora seja a traduo literal de Open
Access, expande o campo de atuao do primeiro ao no condiciona-lo somente a comunicao
cientfico-acadmica.

4 O caminho para o livre acesso: experincias e possibilidades

Quando foi utilizado como modelo de estudo e anlise, o mercado da msica analisado
anteriormente demarcou interessantes questes que dizem respeito s constantes brigas da
indstria fonogrfica contra sites, programas de peer-to-peer, download e upload de arquivos. O
popular servio de vdeos Youtube foi um dos primeiros a sofrer impositivas sanes do mercado da
msica, mas tambm do cinema, TV e demais meios que utilizam os recursos audiovisuais para fins
de divulgao, entretenimento, lazer, cultura etc. O clamor pela quebra dos direitos autorais fez
com que milhares de vdeos fossem retirados do site. Eles podiam ser colocados por qualquer
usurio que se interessasse em criar uma conta no site, criar e compartilhar a sua pgina
personalizada de vdeos, respeitando, evidentemente os contedos sexuais.
Uma das solues encontradas para minimizar o efeito e a disseminao incessante destes
contedos se deu com a criao de canais oficiais dos mais variados artistas, selos, estdios de
cinema, canais de TV e at mesmo de mdias tradicionalmente impressas como as revistas e sites de
noticias que viram na questo uma interessante oportunidade de expandir os seus domnios.
Entretanto, duas interessantes iniciativas evocam perfeitamente o domnio do livre acesso frente as
mais conservadoras atitudes de endurecer cada vez mais o jogo a partir dos direitos estabelecidos
em copyright. Tratam-se do Jamendo e do Trama Virtual/lbum Virtual.
Trama Virtual/lbum Virtual e Jamendo, cada qual a sua maneira, desenvolvem trabalhos em
favor do livre acesso as msicas e a inovao do cenrio musical (que poderiam, eventualmente, ser
seguidos pelas grandes gravadoras). Elas disponibilizam de graa milhares de msicas no s de
artistas consagrados (caso da Trama Virtual/lbum Virtual), como tambm de novos talentos
musicais. O mais interessante que cada uma trabalha com um modelo distinto. A Trama
Virtual/lbum Virtual tem em um dos focos do seu trabalho o download remunerado, enquanto o
Jamendo se apoia nas licenas criativas Creative Commons. A seguir uma breve descrio destas
duas interessantes e inovadoras iniciativas.
Brao da gravadora principal, a Trama uma iniciativa de Joo Marcello Boscolli e dos irmos
Cludio e Andr Szajman. Um dos principais argumentos para a fundao da gravadora foi a de dar
chance aos novos talentos musicais e que tambm resgatasse a carreira de artistas deixados de lado

1247
pela mdia; que ocupasse o vcuo cultural e mercadolgico negligenciado pelas majors do setor,
excessivamente voltadas para a produo padronizada de msica (TRAMA, 2012). Se aproveitando
das inovaes propostas pela internet e pode-se dizer, da popularizao de redes sociais como o
MySpace, em 2008 surge a ideia de montar uma pgina onde seriam disponibilizados os lbuns dos
artistas do selo gratuitamente, remunerando seus artistas por cada download feito graas a ajuda de
patrocinadores simpticos a causa da gravadora.
Atualmente a iniciativa conta com 23 artistas e bandas e mais de 100 discos. No seu portflio
existem nomes conhecidos no cenrio musical brasileiro como Elis Regina, Nazi, Ed Motta, Cachorro
Grande, Leci Brando, Jair Rodrigues, entre outros. Mas existe tambm um ambiente destinado
exclusivamente aos novos talentos da msica. Trata-se do Trama Virtual, uma verdadeira
comunidade virtual que rene artistas dos mais variados estilos. So mais de 78 mil artistas e 204
mil msicas! O sistema de download remunerado tambm existe na comunidade, mas aqui ao invs
do patrocnio direto em cima de um artista, o que ocorre uma espcie de bolo. Um valor
especifico estipulado todo ms atravs de empresas que apoiam a causa dos novos talentos da
msica e partir disso a renda dividida entre todos os downloads recebidos do ms.
Em termos de proposta, o Jamendo oferece basicamente as mesmas condies do Trama
Virtual/lbum Virtual: oferecer gratuitamente msica de qualidade atravs da internet e incentivar
a criao, inovao e prospeco de novos talentos musicais. Contudo, sua forma de ao se baseia
em uma das mais interessantes ideias surgidas com o desenvolvimento da internet e das questes
que ela ajudou a descortinar: a questo dos direitos autorais. O Jamendo utiliza, como contrapartida
ao copyright, as licenas criativas Creative Commons. Logo, os artistas divulgam o seu trabalho
gratuitamente e ainda podem conceder licena para que suas msicas sejam modificadas, utilizadas
comercialmente ou no, reproduzidas, retrabalhadas, etc. Sempre, claro, dependendo das restries
impostas pelas licenas.
Se o caminho em direo a uma abertura ou flexibilizao das leis de direito autoral baseado
no copyright ainda parece um sonho distante, utilizar esta mesma proteo a partir das obras de
domnio pblico j se torna realidade, tendo em vista a imensa quantidade de bens culturais e
informacionais produzidos. E neste domnio o conhecimento um dos grandes beneficiados a partir
da internet e das demais tecnologias que possibilitam a organizao, digitalizao, seleo,
arquivamento, classificao e por fim a disseminao, utilizao e apropriao dos contedos.
Bibliotecas, museus, arquivos, centros de memria, pesquisa e cultura so os grandes
beneficiados. E mais: ao digitalizar seus acervos e tornar acessvel os seus contedos, expandem
sobremaneira as suas funes sociais mais bsicas: o de democratizar e tornar acessvel os recursos
culturais e informacionais para os mais variados pblicos, transpondo inclusive barreiras
geogrficas e lingusticas.
Destacam-se projetos de digitalizao de acervos como a organizada pelo Google nos mais
variados museus e instituies culturais existentes no mundo com o Google Art Project; mas
principalmente, de aes voltadas digitalizao de acervos de domnio pblico como a do The
Public Domain Review e a Digital Public Library of America, que se constitui como a mais ousada
empreitada na disseminao do conhecimento produzido pelo homem.
O Public Domain Review uma iniciativa da Open Knowledge Foundation (OKFn), organizao
sem fins lucrativos fundada no ano de 2004 com objetivo de incentivar o livre acesso, a utilizao e
apropriao de contedos, sejam elas informacionais, culturais, tcnicos etc. A OKFn parte do
principio em que todo contedo deve ser livre para utilizao, que sua utilidade seja incentivada,
que se torne facilmente acessvel, de fcil compreenso e que possa transformar e ajudar seus
usurios a partir dos problemas ou das questes especificas de suas necessidades. Neste domnio, o
The Public Domain Review se torna um importante meio de acesso as mais variadas obras e
expresses culturais de importante impacto nos meios de estudos cultural, tcnico e acadmico. A
sua coleo composta por textos, fotos, desenhos, mapas e vdeos que caram em domnio pblico,
constituindo um acervo crescente a partir da sua funo peridica.

1248
A Digital Public Library of America tem na sua histria uma relao de esforos conjuntos de
algumas das mais renomadas universidades dos Estados Unidos, da ao do Google na digitalizao
de alguns acervos e do entusiasmo de um grande apreciador da questo dos livros e da
democratizao do acesso ao conhecimento, o diretor do conjunto de bibliotecas de Harvard, Robert
Darnton.
A ideia por trs de uma iniciativa de digitalizar todo o acervo da riqussima universidade de
Harvard, mas tambm de outras universidades e instituies como as do Instituto Smithsonian,
Kentucky Digital Library, Internet Archive, South Carolina Public Library, Nacional Archives and
Records Administration, New York Public Library, entre outras, surgiu ainda nos anos 90. O esforo
conjunto em prol de uma biblioteca digital j estava na pauta de discusso de profissionais da rea,
pesquisadores, educadores, representantes polticos e da indstria editorial, maximizada com o
poder de disseminao da internet de prover acesso aos mais variados contedos culturais e
informacionais.
Darnton (2010) aponta a gigante da informao, Google, como uma das responsveis pela
guinada positiva em busca dos esforos comuns realizao da DPLA. Segundo o historiador, o
Google Book Search (atualmente Google Books) no s digitalizou obras de domnio pblico das mais
variadas bibliotecas e instituies de pesquisa, como tambm obras protegidas por copyright em que
majoritariamente predominam livros fora do catlogo de circulao. Mas a questo no foi to
simples como parecia. Entre setembro e outubro de 2005, autores e editoras sentindo seus direitos
cerceados, moveram uma ao conjunta contra o Google, alegando violaes no copyright. Em 2008,
aps uma rodada de negociaes ficou estabelecido que o Google, atravs do seu Google Books e do
empreendimento chamado Book Rights Registry, possibilitariam um

[...] registro de direitos autorais para representar os interesses dos
detentores do copyright. O Google vender acesso a um gigantesco banco de
dados composto essencialmente por livros fora de catalogo, mas ainda
protegidos por copyright, digitalizados dos acervos de bibliotecas de
pesquisa (DARNTON, 2010, p. 31).

Tratou-se, portanto, de um ato que Asceno (2006) chama de mercantilizao do direito
autoral, que ainda segundo o autor, passa a beneficiar, acima de tudo, as empresas de copyright.
Uma ideia muito distante dos princpios estabelecidos a partir do Estatuto de Anne em 1710, que
pode ser considerado como a primeira ao moderna que promulgava o copyright como direito
inalienvel do autor e estabelecia em 14 anos, renovveis por igual perodo, o direito do autor sob
seu domnio criativo. Estava a expresso um conceito de bem pblico sobre o direito privado que,
todavia, era valorizado a partir da concesso dos direitos autorais legtimos. Tal conceito foi levado
a cabo em muitos pases, sofrendo modificaes ao longo dos anos, sempre em busca dos interesses
de mercado da indstria do copyright. Ficou, por fim, convencionado o direito estabelecido em
copyright como sendo o perodo que compreende a vida do criador mais setenta anos.
A empreitada do Google, embora aparentemente sensvel aos apelos ao acesso ao
conhecimento, permite algumas consideraes, uma vez que o carter coletivo e popular do
acordo torna o Google invulnervel competio (DARNTON, 2010, p. 34). Pode-se falar de um
principio de monoplio, embora popularmente esta no seja uma das palavras que melhor definem
a gigante de informao de Mountain View. Entretanto, parece ser evidente a tomada do Google em
torno do patrimnio e da herana cultural a partir dos trabalhos de digitalizao de vastos e
diversificados acervos.

Apenas o Google tem os fundos necessrios para digitalizar numa
escala macia. E, aps o acordo com autores e editores, poder explorar
seu poder financeiro protegido por uma barreira legal, pois a ao coletiva
[que deu origem ao Books Rights Registry] engloba a classe de autores e

1249
editores por inteiro. Nenhum novo empreendedor, mesmo que tenha
recursos, conseguir digitalizar livros dentro desse territrio cercado, uma
vez que teria que lutar novamente pelos copyrights (DARNTON, 2010, p. 35-
6).

a partir deste contexto que surge a DPLA. Ela constitui-se como biblioteca digital das obras
de domnio pblico dos Estados Unidos, e no organiza-se a partir de obteno de lucros; sejam eles
baseados nas assinaturas do Books Rights Registry ou ainda das propagandas inseridas na busca.
Pensa o retorno, a contribuio social, cultural e cientfica que obras dos mais variados tipos e reas
podem trazer a partir da internet, das tecnologias de digitalizao e da prtica estabelecida em
domnio pblico. Mas tambm permite uma crtica indireta ao modelo vigente do copyright, uma vez
que Darnton entende que a maioria das obras no tem valor financeiro cinco ou seis anos depois da
publicao. Neste sentido, algumas obras em copyright tambm poderiam ser digitalizadas e
liberadas, enriquecendo os acervos e beneficiando direta ou indiretamente a prpria cadeia
editorial estabelecida no copyright.
A pirataria na internet e a constante busca da proteo e endurecimento dos direitos autorais
estabelecidos pelo copyright serviram como interessante pano de fundo no estabelecimento de
propostas que viabilizam o livre acesso aos bens culturais. A breve apresentao destas propostas,
alem de demonstrar o potencial cultural da internet, tambm possibilitou o enquadramento legal de
aes que tomam as experincias de rede como propostas legitimas de acesso, compartilhamento,
uso e disseminao dos mais variados produtos e recursos produzidos ao longo do que Darnton
(2010) chama de herana cultural.
A verificao de tendncias, a observao de fenmenos, as discusses, a representao de
ideias, a elaborao de propostas e por fim, a execuo de projetos em que primeiro, entendem o
conceito por trs do livre acesso; e segundo, que viabilizem este mesmo acesso aos bens e contedos
culturais de forma irrestrita, devem ser vistos sob o domnio de polticas culturais, informacionais,
tecnolgicas e sociais. Elas devem organizar-se a partir da questo que julgamos mais importante, a
questo da liberdade no acesso, considerando todos os atores e ferramentas necessrios para o seu
xito. Mas o que so essas polticas? Quem so seus proponentes e executores? Como elas colaboram
e qual o seu impacto na questo?

5 Polticas culturais: um importante movimento em torno das questes do livre
acesso aos bens culturais e informacionais

Por definio, as polticas culturais podem ser entendidas como um conjunto de
intervenes realizadas pelo Estado, instituies civis, entidades privadas ou grupos comunitrios
com o objetivo de satisfazer as necessidades culturais da populao e promover o desenvolvimento
de suas representaes simblicas (TEIXEIRA COELHO, 2012, p. 313). As intervenes realizadas no
necessariamente dizem respeito a apresentao de normas jurdicas ou procedimentos semelhantes
que se originam exclusivamente das funes de Estado. Existe o que Teixeira Coelho chama de
intervenes diretas de ao cultural que podem partir dos mais variados segmentos da
sociedade.
Para Calabre (2009, p. 9), os objetivos de tal poltica devem ser no s satisfazer as
necessidades culturais, mas tambm despertar novos desejos, construir, reconstruir, transformar ou
consolidar novos cenrios culturais, em uma sociedade cada vez mais voltada para o
reconhecimento e a garantia do direito e da diversidade cultural.
Barbalho (2007), a partir do estudo e avaliao das aes tomadas no governo Lula e da gesto
de Gilberto Gil a frente do Ministrio da Cultura, fala de polticas que orientem a valorizao da
identidade e da diversidade cultural, reconhecendo e incorporando diferenas, absorvendo e sendo
absorvida pelas dinmicas da globalizao sem perder o reconhecimento das suas caractersticas
locais. Ele ainda aponta que

1250

Com o governo Lula, tem-se uma reavaliao do que seria a identidade
nacional brasileira que aponta para o pluralismo e a incorporao de
expresses culturais historicamente excludas. A diversidade no resulta
mais em uma sntese, pelo contrrio, o polo identitrio que cede
diversidade e se multiplica em identidades. H, por sua vez, a crtica
concepo mercadolgica da cultura e a cobrana do papel fundamental do
Estado como elaborador e executor de polticas culturais (BARBALHO,
2007, p. 17).

Rubim (2007) traz a perspectiva das polticas culturais como campo de estudo disperso que
dialoga com a sociologia, histria e comunicao, em que, todavia, no se levantam muitas questes
a respeito s questes mais tericas e conceituais. Para o autor, raros so os textos preocupados,
por exemplo, com a teorizao e a definio de polticas culturais. Na bibliografia nacional podem
ser lembrados os textos de Teixeira Coelho e Alexandre Barbalho, que se voltam especialmente para
a definio do conceito de polticas culturais (RUBIM, 2007, p. 140).
no contexto das tecnologias, entretanto, que os estudos sobre as polticas culturais ganham
importncia neste trabalho. A internet mais uma vez lugar comum para o domnio dessas polticas
que so, sem prejuzo de afirmao, fundamentais no estabelecimento de propostas que modifiquem
de maneira profunda as atividades de livre acesso aos contedos culturais e informacionais. Canclini
(2005) fala em uma ampliao no escopo das polticas culturais, tendo em conta o processo de
globalizao e os processos simblicos e materiais da atualidade, em que aqui se pode assumir a
importncia de polticas culturais para o meio digital.
Seus agentes, proponentes e demais atores devem trabalhar a partir das propostas j
existentes sobre a necessidade do estabelecimento de polticas culturais que aqui chamaremos de
tradicionais, que no s valorizem o patrimnio cultural, como tambm e principalmente os
tornem facilmente acessveis populao. Deve, contudo, estabelecer vnculos com o real, trabalhar
a internet como extenso das atividades sociais j estabelecidas, reforando e institucionalizando os
vnculos entre dois ambientes aparentemente separados. Nesse sentido, compreendemos a internet
no como uma pura aplicao tecnolgica, mas como um artefato cultural: algo que possui
diferentes significados culturais em diferentes contextos de uso. Desse modo, a internet
multifacetada e passvel de diversas apropriaes.
Enquanto discusso, campo de pesquisa e ao para as mais variadas investigaes, as
polticas culturais orientadas para o ambiente de rede devem ser estimuladas, abranger aes
multidisciplinares de cooperao, que por si s caracterizam as aes das polticas culturais de
forma geral. Devem ter no cerne da sua discusso e desenvolvimento, os preceitos estabelecidos
pela cultura hacker, com seus valores fincados na liberdade, colaborao, compartilhamento e
generosidade intelectual, baseando sua estrutura informacional em um modelo horizontal e
multilateral, com diversos emissores e receptores, quebrando a lgica do monoplio da emisso dos
grandes meios de comunicao (LACERDA E LIMA, p. 06).
O eixo de orientao desta poltica deve ser proposto a partir da considerao dos efeitos
adversos da pirataria produo cultural e informacional estabelecida na comunicao tcnica,
cientfica e acadmica, mas, ao mesmo tempo, como expresso de um movimento ideolgico de
contracultura que possibilita novas perspectivas a partir da contestao da posse perptua do
acesso ao conhecimento. O foco, portanto, gira em torno do eixo da propriedade intelectual dos
direitos autorais pelo copyright. Cabe discutir-se a importncia e a viabilidade da construo de
polticas de Estado que criem subsdios e aparatos constitucionais para a legalidade de aes
baseadas no livre acesso. Quanto a isso, afirma-se que

Levando em conta o crescente papel desempenhado pelas tecnologias
de informao e comunicao nos processos de elaborao e fruio dos

1251
contedos culturais, e a oportunidade de apoderamento crtico dessas
inovaes pela sociedade, o Estado deve instituir programas integrados
para promover o uso livre e qualificado do meio digital (MINISTRIO DA
CULTURA, 2012).

Outras entidades pblicas como universidades, museus, bibliotecas, centros culturais e
arquivos; entidades privadas, organizaes no-governamentais sem fins lucrativos e a sociedade
civil tambm so importantes agentes de transformao e proposta de polticas culturais no meio
digital. O inter-relacionamento entre ele, inclusive, pode garantir a transparncia a partir do
processo democrtico e a abertura para parcerias nos moldes pblico-privado.
Tais polticas reforam o carter e a importncia de uma sociedade que est comprometida
com o desenvolvimento social, poltico, econmico e cultural alicerado no conhecimento. Seu
impacto, se no neutraliza, ao menos pode permitir o enquadramento e reordenamento de aes e
prticas estabelecidas em um novo modelo que flexibiliza, valoriza e beneficia a condio pblica do
conhecimento.

Consideraes finais

O desenvolvimento da internet como ambiente livre, estabelecido por princpios
compartilhados da cultura hacker, possibilitou uma infinidade de aes baseadas nos valores de
compartilhamento, colaborao e inovao. Se por um lado a internet e as demais tecnologias de
informao e comunicao permitem o fomento e desenvolvimento de uma nova economia,
rearranja os princpios e as caractersticas de uma sociedade e permite uma maior insero em um
mundo globalizado; por outro, graas a pirataria, facilitam a tomada, a pilhagem e o dividendo dos
bens culturais e informacionais produzidos tanto dentro quanto fora do ambiente de rede.
As anlises e observaes realizadas at aqui demonstram o enorme potencial de um mercado
que ainda merece ser (e muito provavelmente ser) melhor explorado na internet. A despeito das
tentativas muitas vezes frustradas em brecar (e se possvel obliterar) o mpeto dos usurios em
relao troca e compartilhamento de livros, artigos, msica, filmes, fotos, jogos, softwares etc.,
vemos surgir movimentos organizados que no s discutem o impacto da pirataria nos tempos
atuais, como tambm propem alternativas legais que viabilizem a democratizao no acesso aos
bens culturais e informacionais.
O intuito deste trabalho foi apresentar de forma resumida aspectos da atual situao dos bens
culturais e informacionais tanto no campo cientfico-acadmico como no campo da indstria
cultural, particularmente exemplificado pelo caso da msica. Buscou-se relativizar o impacto e o
papel da internet na chamada pirataria digital e as possibilidades que podem surgir e que, se no
acabam, ao menos podem diminuir o ndice das atividades ilegais na rede. Essa perspectiva baseou-
se na contextualizao da internet como artefato cultural, passvel de gerar um ambiente favorvel
preservao, organizao, coleta, classificao e disseminao da herana cultural.
Contudo, no objetivo deste trabalho defender explicitamente a pirataria e fazer vista
grossa as suas aes. Muito pelo contrrio. Ao reconhec-la como um problema no a ser
combatido, mas sim melhor equacionado, planejou-se ir ao encontro s perspectivas que a internet
cada vez mais torna possvel: o compartilhamento, a colaborao, disseminao e distribuio
realizadas pelos usurios que se tornam, agora tambm, cada vez mais produtores.
A condio para polticas culturais e informacionais eficientes no mbito da internet deve
partir no sentido de chamar ateno causa do livre acesso, discutindo a flexibilizao das leis de
direito autoral baseadas em copyright, incentivando a criao cooperativa, compartilhada e
estimulando o desenvolvimento de prticas e ambientes que valorizem a liberdade frente
utilizao dos recursos culturais e informacionais existentes. Os agentes destas polticas so

1252
diversos, partem da iniciativa pblica, privada, organizaes sem fins lucrativos e sociedade civil. As
parcerias devem ser estimuladas; as discusses nos meios de representao cultural e nos crculos
acadmicos que discutem cultura, tecnologia e sociedade devem ser ampliados, valorizados e
trabalhados no sentido de fortalecer as discusses e os estudos que qualifiquem a questo do livre
acesso aos recursos culturais e informacionais.
A apresentao de algumas iniciativas neste trabalho trouxe exemplos de como pode ser
possvel trabalhar a questo do livre acesso, respeitando questes como o direito autoral pelo
copyright, valorizando o conhecimento em domnio pblico, as novas licenas criativas, a
organizao de comunidades dedicadas ao compartilhamento e a absoro de prticas que
limitavam o conhecimento acadmico ao circulo das publicaes impressas e/ou digitais baseadas
nas assinaturas, introduzindo e aprimorando a questo do Open Access nos crculos cientficos.
Como se v, uma mudana possvel. No se pode deixar guiar pela iluso e achar que ser
fcil. Mas o modelo da internet veio para ficar. E queiram ou no, gostem ou no e adequem-se ou
no, muito pouco poder ser feito para deter este poderoso mpeto inovador.

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1255
A INFORMAO ACADMICA EM EDUBLOGS
tenso dialgica e (multi)literacia

ELIETE CORREIA DOS SANTOS
Universidade Estadual da Paraba
[email protected]

FRANCINETE FERNANDES DE SOUSA
Universidade Estadual da Paraba
[email protected]

Resumo Sabe-se do avano irreversvel e progressivo, o que torna relevante e urgente o compromisso
constante de (re)pensar criticamente a informao, mdia e tecnologia. Neste sentido, o presente artigo
analisa como se configura a informao acadmica em edublogs e como os conceitos de (multi)literacia
informacional possibilitam entender como a capacidade de ler, escrever e distribuir informaes para alm da
linguagem, h de estar conscientes do fluxo de informao existente no interior de estruturas definidas de
uma instituio no Ensino superior. Partindo do pressuposto bakhtiniano do enunciado como produto da
interao verbal, analisamos como e para quem os professores-blogueiros conformam seu discurso. Tambm
atentamos para o contexto social no qual esto inseridos os enunciados dos blogs e o papel assumido pelos
blogueiros nesse espao. Para ilustrar nossas observaes, utilizamos como corpus uma mostra com cinco
blogs de professores da universidade pblica da Paraba. O projeto que ainda est em andamento aponta como
resultado que os professores-blogueiros direcionam seu discurso para dois tipos de interlocutores:
profissionais de outras instituies e seus prprios alunos. O discurso dos blogs constri-se numa tenso
dialgica com outros enunciados do campo acadmico. Em nossas iniciais anlises, a emergncia de outras
vozes no fio discursivo faz do blog um espao de interao social, cuja literacia acadmica otimiza a forma
como as pessoas lidam com formulrio de informaes e como compreendem, processam, e cumprem as suas
intenes e a dos outros.

Palavras-chave Edublogs. (Multi)literacia no ensino superior. Interao verbal.

Abstract It is irreversible and progressive advance, which makes it relevant and urgent commitment
constant (re) thinking critically about the information, media and technology. In this sense, this paper
analyzes how to set up the academic information on edublogs and how the concepts of (multi) information
literacy possible to understand how the ability to read, write and distribute information beyond language, is
to be aware of information flow existing structures defined within an institution in higher education.
Assuming Bakhtin's utterance as a product of verbal interaction, we analyzed how and to whom the teacher-
bloggers conform his speech. Also we look at the social context in which the statements are inserted blogs
and role played by bloggers in this space. To illustrate our observations, we used the corpus a show with five
blogs of teachers of public universities of Paraba. The project is still in progress as a result shows that the
teacher-bloggers direct their speech to two types of actors: professionals from other institutions and their
own students. Speaking of blogs is constructed through a dialogic tension with other statements in the
academic field. In our initial analysis, the emergence of other voices in the discursive thread makes the blog a
space for social interaction, academic literacy which optimizes the way people deal with information form
and how to understand, process, and fulfill their intentions and others.

Keywords Edublogs. (Multi) literacy in higher education. Verbal interaction.

1256
1 Edublog: o que ?

O termo blog a abreviatura do termo original da lngua inglesa weblog. O termo weblog
parece ter sido utilizado pela primeira vez em 1997 por Jorn Barger. Na sua origem e na sua acepo
mais geral, um weblog uma pgina na Web que se pressupe ser atualizada com grande frequncia
atravs da colocao de mensagens que se designam posts constitudas por imagens e/ou
textos normalmente de pequenas dimenses (muitas vezes incluindo links para sites de interesse
e/ou comentrios e pensamentos pessoais do autor) e apresentadas de forma cronolgica, sendo as
mensagens mais recentes normalmente apresentadas em primeiro lugar. Tambm pode-se
considerar que o blog um formato de publicao online que caracteriza-se pela ordem cronolgica
inversa das entradas, com o objetivo, de divulgao de notcias e contedos e busca de opinies
(Feedback dos seguidores). Sua autoria individual, com um estilo informal, por este motivo pode
ser conhecido como um dirio virtual.
Embora tenham surgido na segunda metade da dcada de 1990, os blogs comearam a se
popularizar no Brasil, em 1999, com o surgimento do Blogger, ou Blogspot, uma das ferramentas
pioneiras em hospedagem e publicao. Com essa expanso do blog, no h um consenso para
definir um conceito em resultado da diversidade de formas, objetivos, contextos de criao e
variedade de autores fsicos e jurdicos. Dos blogs pessoais aos comerciais, do pessoal ao
institucional, o que se percebe uma progresso dos blogs cada vez mais especficos, com
finalidades definidas, como o caso do Edublog, que significa blog em educao.
Enquanto recurso pedaggico, Gomes (2005) sistematiza os blogs como:

um espao de acesso informao especializada : A utilizao de blogs
como um espao de acesso a informao especializada decorre da pesquisa
e inventariao de blogs que tratem de temticas com possveis
enquadramentos curriculares ou extracurriculares, que apresentem
informao cientificamente correta e adequada aos nveis etrios com os
quais cada professor esteja a trabalhar e que seja da autoria e
responsabilidade de pessoas e/ou instituies de mrito e credibilidade.

um espao de disponibilizao de informao por parte do professor:
o prprio professor que cria e dinamiza um blog no qual disponibiliza
informao que considera de interesse para os seus alunos. O professor vai
mantendo atualizado o blog procurando acompanhar a abordagem de
contedos nas suas aulas com a disponibilizao de materiais pequenos
textos e comentrios pessoais, estabelecimento de ligaes a sites
relevantes devidamente analisados e at comentados sucintamente pelo
professor, referncias a notcias da atualidade que se relacionem com
contedos abordados nas aulas, etc.

Enquanto estratgia pedaggica, Gomes (2005) destaca o blog como um portflio digital,
especificamente no ensino superior, pode assumir diversas funes e ter mltiplos propsitos sendo
de realar a possibilidade da sua explorao como forma de organizar e apoiar as aprendizagens
e/ou a possibilidade de se constituir como instrumento de avaliao e subdivide esse espao digital
com trs funes: um espao de intercmbio e colaborao; um espao de debate role playing; um
espao de integrao.

1257
Segundo Gomes (2005), o que denominamos de edublogs, nada mais do que o espao de
intercmbio e colaborao entre Escolas: Atravs da tecnologia criou-se projetos visando o
intercmbio entre escolas, consistindo assim, em uma estratgia pedaggica que j era utilizada, na
experincia portuguesa por outras rea da esfera pedaggica, porm no caso especfico do ensino
das lnguas com maior incidncia. O autor salienta ainda que a comunicao em suportes
tradicionais que eram frequentemente estabelecidas entre estudantes espalhados, por diversas
escolas, em pases diversos, agora, se d atravs das redes de computadores e considera que a
utilizao destes recursos pode ser propulsora de um tipo novo de intercambio lingustico e cultura
e facilita a criao de blogs que tero como atividade no apenas uma relao rarefeita de
comunicao, mas podendo se tornar um veculo perene e e com uma atividade de intercmbio bem
mais produtiva, porque facilita o registro, o arquivo das comunicaes no tempo e no espao e
possui um alcance jamais imaginado.
ainda ideia do autor a adoo da ideia d estratgia de role-playing (desempenho de papeis). O
objetivo, neste caso seria o de organizar entre os diferentes grupos de uma turma, ou entre
diferentes turmas de uma ou mais escolas um debate sobre uma determinada temtica em que cada
grupo (ou turma ou escola). Constitui uma estratgia vlida de comunicao e aprendizagem que,
no entanto, nos cabe salientar que funciona em determinadas condies de produo, onde a
interao esteja instalada e haja a cooperao dos diversos grupos envolvidos. Do ponto de vista da
cognio especialmente relevante fomentar estas atividades de formao de argumentos sobre
determinado assunto, criando um ambiente propicio para o desenvolvimento de competncias
relativas a pesquisa cientfica e de domnio da comunicao escrita mas tambm pode contribuir
para o desenvolvimento de um esprito de maior tolerncia e abertura a pontos de vista diferentes
(p.314).
Ainda sobre este mesmo assunto, o autor, de forma afirmativa, procura evidenciar que tais
blogs servem como espao de integrao. Neste mbito, se sai do espao puramente pedaggico
para a possibilidade considerarmos outras utilidades para os blogs, onde a comunicao sempre o
carro chefe, no entanto, se torna mais especfica, pois segundo ele, as escolas em toda a Europa
esto recebendo um nmero cada vez maior de estudantes de outros pases e a utilizao deste
instrumento em que a colaborao se torna pea-chave, provoca uma troca de experincias entre os
indivduos e estes podem apresentar as suas perspectivas, experincias e realidades culturais
promovendo a compreenso mtua e facilitando a integrao dos alunos pertencentes a minorias
tnicas e/ou culturais(p. 315).
Seja como recurso, seja estratgia pedaggica, muitos blogs no se apresentam de forma
clara, no entanto h um crescente avano na Paraba que se deve ao fato de sites de criao, gesto e
alojamento de blogs gratuitos. H uma preocupao com a insero da comunidade acadmica com
as tecnologias, seja da prtica pedaggica, da instituio de ensino, do profissional da educao
situado em espao e tempo mltiplos, o que fomenta multi (literacias) para quem ensina e para
quem aprende.

2 Diretrizes para a pesquisa em edublogs: Espao-tempo, interao verbal e
(multi)literacias

As formas ou maneiras que o homem descobriu para transmitir informaes constituem um
dos maiores legados de uma civilizao. Da primitiva sociedade oral sociedade hipermiditica, o
homem vem se tornando, cada vez mais, dependente das tecnologias da informao e da
comunicao (TIC). A preponderncia dos sistemas miditicos, a comunicao por satlites e as
redes de computadores fez surgir uma nova economia e um novo conceito de sociedade, a sociedade
planetria, que tm exigido dos sistemas educacionais a formao de um cidado do/para o mundo,
capacitado a empregar os recursos infotelecomunicacionais para a aquisio e construo de
conhecimento. Estamos diante de um novo formato de receber e transmitir informao, e de uma
busca interminvel de conhecimento.

1258
As pessoas tm acesso ao mundo e as suas tradies culturais, com muita mais eficcia e
rapidez que ontem. As novas TIC, usadas na comunicao social, esto cada vez mais interativas,
pois permitem a troca de dados dos seus usurios com recursos que lhes permitem alternativas e
aberturas das mais diferentes. Essas novas tecnologias que permitem a preparao e manipulao
contgua de teores especficos por parte do professor/aluno e do aluno/professor, codificando-os,
decodificando-os, recodificando-os conforme as suas realidades, as suas histrias de vida e a
tradies em que vivem, permitem um entendimento mais eficaz, alternando os papis de emissor e
receptor, como co-protagonistas e contribuintes da ao cognitiva. Estamos com um novo tipo de
aluno que necessita de um novo tipo de professor. Um professor ligado e compromissado com o que
esta acontecendo ao seu redor. O novo molde de educao e a utilizao de sistemas de
gerenciamento de blogs na educao respondem s limitaes e demandas, tanto espaciais como
temporais, na construo dos conhecimentos de forma colaborativa e interativa. Sendo assim,
destacamos trs aspectos que julgamos pertinentes trazer para a discusso sobre edublog: espao-
tempo, interao verbal e multi(literacias).

2.1 Espao-tempo

Antes de falar do espao-tempo de sala de aula, exporemos nosso entendimento por espao-
tempo luz dos princpios bakhtinianos. Para Goethe (BAKHTIN, 2010), tempo e espao so
indissolveis e concretos, ou seja, um aspecto geogrfico corresponde a um acontecimento
histrico, portanto o tempo histrico e a imagem do homem em formao. A atualidade, para ele,
se manifesta como uma essencial diversidade de tempos, tanto na natureza como na vida humana, o
presente como remanescentes ou relquias dos diferentes graus e formaes do passado e como
embries de um futuro mais ou menos distante. Bakhtin, ento, nomeou por meio de um
neologismo: cronotopo, uma categoria em que tempo e espao so construdos na composio da
obra literria como texto de cultura (...) Cronotopo uma forma de compreenso da experincia,
(Machado, 2010, P. 211-212) quase como uma metfora da noo de tempo nos campos da fsica e da
biologia.
Se h diferenciaes entre o conceito de cronotopo e o de exotopia no constitui uma
contradio. Ao apresentar seu ponto de vista sobre o lugar do autor e da obra no grande tempo,
destacamos duas questes a esse respeito em passagens distintas elaboradas por Bakhtin. Primieiro,
Na grande temporalidade, as vozes nos gneros continuaro a ecoar entre ns e para alm de ns:

No existe a primeira nem a ultima palavra, e no h limites para o
contexto dialgico (este se estende ao passado sem limites e ao futuro sem
limites). Nem os sentidos do passado, isto , nascidos no dialgo dos
sculos passados, podem jamais ser estveis (concludos, acabados de uma
vez por todas): eles sempre iro mudar (renovando-se) no processo de
desenvolvimento subsequente, futuro do dialgo. Em qualquer momento
do desenvolvimento do dilogo existem massas imensas e ilimitadas de
sentidos esquecidos, mas em determinados momentos do sucessivo
desenvolvimento do dilogo, em seu curso, tais sentidos sero relembrados
e revivero em forma renovada (em novo contexto). No existe nada
absolutamente morto: cada sentido ter sua festa de renovao. Questo
do grande tempo (BAKHTIN, 2010, p. 410).

Em segundo lugar, o tempo que representa diferente do tempo representado, o que
comum em textos cientficos que podem ser autobiogrficos ou fruto de pesquisa-ao, como
acontecem em muitos blogs. Para Bakhtin (1978), mesmo as autobiografias, ou as confisses mais
autnticas, estariam fora do mundo, seriam representadas, porque seria imagem do criador. O russo

1259
acrescenta ainda que por mais verdadeiro seja o mundo representado, ele no poder ser idntico
ao mundo real, do ponto de vista espao-temporal, o que se cria sempre imagem do autor-criador.
O espao e o tempo de ensinar e aprender eram determinados pelo movimento, deslocamento
at a instituio designada para a tarefa de ensinar e aprender, o tempo que o homem dedicava
formao escolar em um espao institucional, a sala de aula. A transformaes tecnolgicas impem
novos ritmos e dimenses tarefa de ensinar e aprender, o estado de aprendizagem constante,
se adaptar ao novo. Alm disso, mltiplas so as agncias que apresentam informaes e
conhecimentos a que se pode ter acesso, sem a obrigatoriedade de deslocamentos fsicos at as
instituies tradicionais de ensino para aprender. Nesse sentido, no podemos falar de espao e
tempo fora ou exterior a ns. Em se tratando do que chamamos de espao-tempo virtual, jamais
poderamos separ-lo de um pretenso espao-tempo real, pois ambos s so espaos-tempo real
ou virtual em detrimento de ns, somos ns quem conferimos esse status de espao-tempo a partir
de nossas intuies acerca do que seja espao-tempo definido pelo homem. Uma vez que no haja
mais seres humanos, no haver mais espao-tempo, nem histrico, nem geogrfico, pois so
noes atribudas a partir de ns mesmos.
O que se desloca a informao em dois sentidos: O primeiro, o da espacialidade fsica, em
tempo real, sendo possvel de serem acessadas atravs das tecnologias mediticas de ltima
gerao. O segundo, pela sua alterao constante, transformaes permanentes, sua temporalidade
intensiva e fugaz. Velocidade. Este o termo sntese do status espao- temporal do conhecimento
na atualidade. Velocidade para aprender e velocidade para esquecer. Velocidade para acessar as
informaes, interagir com elas e super-las com outras inovaes. (Kenski, 2007).
Como o espao e tempo do professor? Pensar na atuao de um professor necessrio em
sua formao inicial e continuada dentre e fora da sala de aula, sobre sua identidade pessoal e
profissional docente, seus anseios, seus estilos. Qual a familiarizao desse profissional com as
novas tecnologias educativas, suas possibilidades e limites para que faa escolhas conscientes sobre
o uso das formas mais adequadas ao ensino de um determinado tipo de conhecimento, em um
determinado nvel de complexidade, para um grupo especfico de alunos e no tempo disponvel. O
que cabe ao ensino virtual e o que cabe somente ao presencial? Como pensar o espao-tempo da sala
de aula? Quais so os desafios e perspectivas para esse novo professor? A apreenso do
conhecimento na perspectiva das novas tecnologias eletrnicas de comunicao e informao, ao
ser assumida como possibilidade didtica exige que, em termos metodolgicos, tambm se oriente a
prtica docente a partir de uma nova lgica. Compreender este novo mundo com uma nova lgica,
uma nova cultura, uma nova sensibilidade, uma nova percepo. No mais, apenas, a perspectiva
estrutural e linear de apresentao e desenvolvimento metodolgico do contedo a ser ensinado;
nem tampouco, a exclusiva perspectiva dialtica. O espao-tempo do professor est relacionado ao
posicionamento no mais como o detentor do monoplio do saber, mas como um parceiro, no
sentido clssico do termo, que encaminhe e oriente o aluno diante das mltiplas possibilidades e
formas de se alcanar o conhecimento e de se relacionar com ele.
Fazendo uma analogia da situao do professor com a realidade, como estar plugado o
tempo inteiro, o Sony Ericsson Timescape modifica a maneira como o usurio deve interagir com
outras pessoas reunindo todas as suas comunicaes em uma exibio. Todos os eventos (texto,
multimdia ou atualizaes de servios da Web) aparecem como um bloco em um fluxo cronolgico
na tela. O uso do blog para fins educacionais, usando uma linguagem dessas novas tecnologias,
estariam nessa vertente do timescapes que, para Jesus (s/d, p. 28), um novo arranjo espao-
temporal que se estrutura em torno da ampliao do espao real em favor do virtual, ligado a uma
temporalidade mltipla, que parodoxalmente s presente e ao mesmo tempo tem uma durao.

1260
2.2 Interao verbal

Para estudar os enunciados nos blogs baseados nos estudos de Bahktin (1992), se faz
necessrio admitir que enunciado constitudo de duas partes: uma parte verbal e uma parte
extraverbal. Parte extraverbal do enunciado quem determina o sentido da primeira parte (verbal):
situao. Melhor dizendo, o espao e o tempo do evento, o objeto ou o tema do enunciado, a posio
dos interlocutores diante do fato. Toda interao verbal se realiza sob a forma de uma troca de
enunciados, isto , na dimenso de um dilogo. Os discursos mais ntimos so inteiramente
dialgicos: so atravessados pelas avaliaes de um ouvinte virtual, de um auditrio potencial,
mesmo se a representao de tal auditrio no aparece de forma clara no esprito do locutor. Todo
enunciado, alm de sua orientao social, comporta um sentido, um contedo, porm, de acordo
com as circunstncias, de acordo com o contexto, que este enunciado ter um sentido, a cada vez,
diferente. Assim, o pedir silncio do professor, ou solicitar uma atividade de sala de aula, comporta
sentidos diferentes, dependendo de seu contexto.
A formulao dos conceitos bakhtinianos tem como princpio norteador a ideia de que a
linguagem se situa no interior das relaes sociais mantidas pelos indivduos, se contrapondo a duas
tendncias marcantes do pensamento filosfico-lingustico do comeo do sculo passado: o
subjetivismo idealista e o objetivismo abstrato. Um ponto que podemos destacar da rejeio de
Bahktin a essas tendncias que a expresso tudo aquilo que, tendo se formado e determinado de
alguma maneira no psiquismo do indivduo, exterioriza-se objetivamente para outrem com a ajuda
de algum cdigo de signos exteriores, ou seja, a expresso comporta, portanto, duas facetas: o
contedo (interior) e sua objetivao exterior para outrem (ou tambm para si mesmo).
Assim, para Bahktin (1999, p. 21) a enunciao uma prtica social, inseparvel das relaes
que mantm os interlocutores, o centro organizador de toda enunciao, de toda expresso, no
o interior, mas o exterior: est situado no meio social que envolve o indivduo. Ele acrescenta que
no existe atividade mental sem expresso semitica. Consequentemente, preciso eliminar de
sada o princpio de uma distino qualitativa entre o contedo interior e a expresso exterior, pois
no a atividade mental que organiza a expresso, mas, ao contrrio, a expresso que organiza a
atividade mental, que a modela e determina sua orientao.
Segundo esse filsofo, o discurso humano um fenmeno biface: todo enunciado exige a
presena simultnea de um locutor e de um ouvinte. Toda expresso lingustica orientada em
direo ao outro, em direo ao ouvinte, mesmo quando este outro se encontra fisicamente ausente,
ou mesmo que o enunciado seja emanado de um interlocutor nico, como na aula de um professor.
Desse modo, pensar numa interao criativa, nos termos de Bahktin, levar em considerao
que na comunicao verbal que se elaboram os diferentes tipos de enunciados, correspondendo,
cada um deles, a um diferente tipo de comunicao social. Por isso, refletir sobre o conceito de
linguagem tambm se faz presente nesse texto, j que a verdadeira essncia da linguagem o
evento social da interao verbal e ela se encontra concretizada em um ou vrios enunciados.
Bahktin concebe, portanto, a linguagem primordialmente como interao e no como sistema
(estrutura); como processo e no como produto.
A comunicao humana erigida por seres que interagem de forma diferente, produzem
linguagem e estabelecem relaes que se diversificam conforme uma srie de fatores, dentre eles, os
papis sociais, a relao interpessoal, a situao de comunicao, os propsitos e o gnero de
discurso. Nessa perspectiva, a linguagem plural e complexa, cujos usos apresentam diversos
modos de produzir sentido. A linguagem formada por um conjunto de semiologias, incluindo o
verbal e o no-verbal e constitutiva do sujeito. No caso do gnero filme, a linguagem
cinematogrfica constitutiva de vrios elementos semiticos, como por exemplo, animaes feitas
em computador.
Bakhtin/Volochinov consideram a linguagem em seus aspectos scio-histricos culturais e
movimentada por sujeitos. Os enunciados no so vistos como entidades abstratas, separados das

1261
condies de produo, mas como acontecimentos determinados por suas condies contextuais de
produo/recepo.
A teoria bakhtiniana enfatiza, ainda, a mobilidade, a diversidade, a pluralidade de usos da
lngua e de sentidos. O modo de construir sentido ocorre no processo de interao, no qual a palavra
possui um acento apreciativo, ora reiterando ora alterando sua consistncia significativa. esse
acento apreciativo ou avaliativo que d vida palavra, e ele muda conforme o contexto. Uma mesma
palavra pode, ainda, adquirir sentidos diferentes conforme a entoao expressiva, assim como a
enunciao, que tambm possui uma orientao apreciativa. Para Bakhtin/Volochinov (1981, p.
132): sem acento apreciativo no h palavra. A palavra vai acumulando os sentidos das suas
diversas utilizaes ou na prtica viva da lngua. O acento d o tom da conversa ou orienta para o
sentido da enunciao. s entoaes que se devem as apreciaes, e a estas devemos as
significaes, que so formadas no horizonte do interlocutor.
Conforme Bakhtin/Volochinov (1929/1981, p. 106), o sentido da palavra totalmente
determinado por seu contexto que no fixo nem uma situao isolada, mas algo a se precisar. A
palavra assume um sentido em cada contexto, fato que mostra o carter polissmico e plurivalente
que ela comporta pela natureza dialgica da linguagem. Para esse autor, so tantas as significaes
quantos forem os contextos, que no esto prontos, mas sempre em situao de interao (cf.
ALMEIDA; SANTOS, 2010). Para Bakhtin/Volochinov (1929/1981, p. 41), as palavras so tecidas a
partir de uma multido de fios ideolgicos e servem de trama a todas as relaes sociais em todos os
domnios.
Nessa abordagem, toda enunciao s pode ser concebida como produto da interao de dois
indivduos socialmente organizados, sendo a ela que devemos as mudanas semnticas.
Bakhtin/Volochinov (1929/1981, p. 131-132) assegura que compreender a enunciao de outrem
significa orientar-se em relao a ela, encontrar o seu lugar adequado no contexto correspondente.
A compreenso sempre uma reao ao que o outro disse e provoca uma resposta. No processo de
compreender, os interlocutores introduzem o objeto a ser compreendido no contexto potencial da
resposta. Todos esses valores se juntam no momento da produo do sentido que se realiza no
processo de compreenso ativa e responsiva, forma de dilogo que leva formulao de uma
contrapalavra (cf. Almeida; Santos, 2010). A concepo de compreenso responsiva fundamental para
entendermos os edublogs.

2.3 Multi(literacias)

De acordo com Morin (2007), a sociedade hoje mais complexa como tambm as
competncias necessrias para ela, por isso preciso repensar todo o processo, reaprender a
ensinar, a estar com os alunos, e orientar atividades, a definir o que vale a pena fazer para aprender
juntos ou separados. Desse modo, os papis de professores e alunos passam a abranger mais espaos
de atuao. Sujeitos agora capazes de intervir de forma concreta e eficaz em suas prprias
realidades. Pode-se inicialmente questionar, que tipo de didtica deve dar conta das novas
competncias e habilidades requeridas por uma escola em processo de transformao. A primeira
necessidade que surge, a mudana na postura do professor que com relao ao conceito de sala de
aula, uma preocupao com o aluno na classe, no laboratrio, na internet (atividades a distncia), do
ponto que liga a teoria prtica, um acompanhamento das prticas, das experincias, que ligam o
aluno realidade, sua profisso. Um mudana no entendimento da apreenso do conhecimento
enquanto mobilidade, em qualquer lugar e em qualquer hora. Este novo olhar do processo de ensino
aprendizagem, trazido pela numeras possibilidades da internet, modifica de maneira singular os
papis de professores e estudantes. Esta realidade possvel com a internet e as redes de
comunicao em tempo real, surgem novos espaos importantes para o processo de ensino
aprendizagem, que modificam e ampliam o que fazamos em sala de aula, justamente nesse ponto
que o blog encontra espao.

1262
Quais competncias e habilidades sero adquiridas e trabalhadas com as novas prticas
docentes (didtica)? Como sero agora os registros de aula? Muda alguma coisa? E quais critrios
devero ser usados para atribuio de notas? Ora, se a dinmica do processo de ensino
aprendizagem muda, no se pode avalia-lo tendo como base mtodos tradicionais de avaliao e de
registro. Neste sentido, torna-se necessrio uma reflexo sobre que tipo de avaliao deve se
submeter o processo educacional com as novas posturas dos professores, alunos e de toda a
comunidade escolar. Uma avaliao com um novo olhar permitir uma interpretao dos resultados
que leve em conta os contextos em que cada saber foi produzindo, permitindo uma aprendizagem
na diversidade e com flexibilidade. E aqui, ressalta-se a importncia da obra Homo Zappiens:
educando na era digital que nos convida a reflexes sobre o papel das novas tecnologias na
sociedade, em especial, na educao. Sobre as implicaes da insero dos novos meios de
telecomunicaes no comportamento dos indivduos, a saber: como estamos lhe dando com essas
tecnologias. (Veen; Vrakking, 2009).
Reala-se o carter colaborativo (Franco, 2005) da produo do conhecimento pautado na
tecnologia. O outro no visto mais como incapacitado e desordenado, mas as suas habilidades e
competncias so consideradas e trabalhadas partindo do contexto em que se est inserido. A real
contribuio da tecnologia para o processo educacional justamente intensificar a gama de
conhecimentos diversos em s uma rede completamente ligada a diversas formas de pensar e agir,
contribuindo desta maneira para aceitao das diferenas, e assim, a prpria diferena como um
aspecto rico, e a flexibilidade como norteadores da construo deste processo educacional. Logo, o
tempo passa a ser parmetro fundamental na aprendizagem, na espera do desabrochar do outro.
Com os adventos dos meios de comunicao a capacidade de se relacionar e interagir com o
outro se tornou mais vivel e instantnea. Podemos interagir com o outro a qualquer momento,
desde que, tendo em mos um aparelho mvel interligado com a rede de comunicao mundial.
Deste modo, falando-se em educao, a escola deixa de ser o lugar primordial da aprendizagem,
cedendo espao para outros territrios. As formas de ensinar e aprender so fundamentalmente
modificados com a considerao e consequente insero das tecnologias na educao. Desta forma,
quais papis assumem o professor e o estudante nesta nova dinamicidade educacional?
Aprender agora no se torna mais uma questo de deslocamento, mas tambm de adequao
aos novos dispositivos de aprendizagem. Os textos antes impressos ganham agora a possibilidade de
serem apreendidos eletronicamente. Neste sentido,

Ler sobre uma tela no o mesmo que ler um livro impresso, um
cdex muito menos um rolo. A representao eletrnica de um texto
provoca inmeras modificaes e abre novas e variadas possibilidades (...)
O texto eletrnico possibilita ainda, ao leitor, por um lado a construo de
textos originais e por outro lado a interveno e a modificao de textos de
outros autores, atravs de operaes que envolvem indexar, anotar,
desmembrar e deslocar um texto, convertendo assim o leitor em autor.
(Panizzolo, 2005, p. 5).

Ora, se o texto eletrnico faz surgir mudanas no atual estudante tornando-o agora no
apenas como um receptor, mas como interventor no conhecimento, faz-se necessrio uma mudana
na prtica pedaggica do professor em sala de aula. O professor deve ento associar ao tempo em
sala de aula atividades a distncia que utilizem redes sociais, bate papo, funes de dispositivos
mveis para que efetivamente a possibilidade de um processo de ensino aprendizagem critico,
interventor e questionador surja entre ele e os seus estudantes. Este desafio do professor passa por
um processo de educao do uso da internet (principal provedora dessas mudanas), para evitar a
recusa sistemtica e o medo dos recursos tecnolgicos, como se os mesmos tivessem vida prpria,
quando ao contrrio, so apenas recursos criados e gerenciados pelo prprio homem. Em
consequncia, preciso evitar a idolatria dos recursos, atitude alienante que nega o poder criador e

1263
gerenciador do homem, transferindo para os recursos tecnolgicos o poder decisrio sobre sua vida.
E finalmente, preciso construir atitudes que reconheam nas tecnologias, recursos que colaboram
com o processo de desenvolvimento humano do qual o homem o prprio construtor. (Panizzolo,
2005).
Para compreender este paradigma da literacia digital ou informacional, buscamos em
Malheiro ( 2008) no texto Incluso Digital e Literacia Informacional em Cincia da Informao,
porque as implicaes so quase que biunvocas, entrelaadas. Para que se tenha um projeto
educacional inovador dos Edublogs, no caso especfico de nossa investigao, temos de comear a
pensar em nosso modelo educacional e no s em disciplinas genricas como a lngua portuguesa, a
redao acadmica, mas nas produes especficas de nossos bacharelados.
Remetemos tais consideraes ao paradigma posto pelo professor Malheiro sobre a
aprendizagem da rea de Cincia da informao. necessrio que tenhamos conhecimento e
domnio tcnico das novas tecnologias e em decorrncia apreendermos o aparato tecnolgico e
instrumental como ferramenta dominada pelo profissional. Isto posto, ir provocar como resultado
um significativo up na vida profissional dos professores e/ou pesquisadores das mais diversas
reas. Porm, esse domnio no se d por um vis tecnicista, necessrio pensar as diversas
possibilidades de aplicao destes conhecimentos em sua rea de atuao e perceber as ideologias
que se forjam no processo.
No caso da linguagem burocrtica, linguagem de especialidade to prpria das reas tcnicas,
em virtude da realidade que vivemos, torna-se necessrio que avancemos em seus estudos e na
aplicabilidade, pois vivemos em um mundo onde h necessidade de compartilhamento e
colaborao, sendo assim, h que se procurar uma mediao, quer seja no mbito da transferncia,
da recuperao e disseminao da informao.
Ainda para esta discusso, parece relevante considerar a problemtica da ideologia. Como
estamos falando de competncia informacional e da construo de Edublogs que em ltima
instncia se nos afigura como ato colaborativo, portanto, constituindo-se como conjuno de ideias,
torna-se imperioso alertar para a tendncia ao reducionismo, empregado ao fenmeno ideologia.
No nosso entender, a construo de Edublogs deve ser pensada para alm noes de erros,
iluso. Ricouer (apud Sampaio, 1993) prope a funo mediadora, que est ligada a integrao social,
servindo para coeso do grupo, caracterizando-se por avanar no aspecto referente s atividades
ligadas to somente ao operatrio. Para o autor, necessrio se faz em decorrncia das demandas
exigidas pelo mundo contemporneo, que pensemos no mbito do temtico e como decorrncia de
tais pressupostos, assumamos consequentemente uma atitude proativa, de modo que esta funo
mediadora possa exceder a simples quantidade de informaes transmitidas pelo ensino, abrindo
novas perspectivas numa atitude deliberadamente reflexiva. Como resultado desta viso inovadora,
o autor esclarece que existem cinco pontos a serem pensados por quem produz ou critica a
formao de edublogs:

a) Caracteriza-se pelo conservadorismo e resiste a modificaes;
b) Perpetua-se atravs de um tempo histrico, difundindo-se na memria social;
c) dinmico e motivador, impulsionando a prxis social;
d) Justifica-se, necessitando de demonstrao de que o grupo que a professa tem razo
de ser o que ;
e) Constitui-se como projeto ou ditam-se regras de um modo de vida.

Este um fator interessante para se refletir sobre a produo deste novo conhecimento,
preciso atinar pra no cairmos em hierarquias fechadas que no preconiza uma ao realmente
colaborativa.

1264
Assim, um elemento relevante que, a nosso ver, antecede as questes como informao e
letramento torna-se necessrio ser considerado: trata-se da linguagem que aparece como peculiar
nesta discusso. Segundo Boudieu e Passerron (1992.p 129), as diferenas entre a lngua padro, ou
de elite e a lngua vulgar ou do povo, residem na tendncia que a primeira tem eloquncia,
abstrao e ao formalismo; j a se funda tende expresso do concreto, da experincia , da
ilustrao.
O que fazemos enquanto universidade, biblioteca, arquivo, no caso especfico de lidar com a
linguagem dos computadores? Muitas vezes criamos situaes particulares, totalmente artificiais de
trabalho com este tipo de instrumento. E uma pergunta se faz premente: ser que conseguiremos,
sem a devida observao e aprofundamento a matrias ligadas linguagem e ideologia, propor um
projeto real colaborativo, atravs dos Edublogs? Acreditamos que no, estaremos, assim, apenas,
reproduzindo atividades puramente pedaggica e formal.
No entanto, quando tivermos a competncia tcnica e a capacidade crtico reflexiva, atrelada
a uma dinmica comunicacional e informacional, em que as trocas preveem diferenas culturais,
sociais e regionais, observaremos, desse modo, a constituio de uma metodologia no mais
burocratizante, e sim producente e democrtica.
Do exposto acima, sente-se a necessidade de aliar ao uso das tecnologias no processo
educacional, outro processo educacional que traga responsabilidade, conscincia e reflexo no uso
desses novos recursos. Pensar dessa forma garantir o poder criativo do professor e do estudante
fazendo-os autores do conhecimento produzido, gerando assim uma escola no mais como
instituio ultrapassada, autoritria e desimportante, mas, pelo contrrio, revestida da funo de
desenvolver ao mximo as potencialidades do indivduo, atravs de uma formao, que propicie o
desenvolvimento das faculdades tanto espirituais, quanto intelectuais.
Pensar um processo de ensino aprendizagem associado ao uso responsvel e reflexivo de
recursos tecnolgicos garantir uma formao para a vida. Os indivduos estaro mais preparados
para lhe dar com as mais diversas situaes cotidianas, onde se sentiro seguros e responsveis no
momento da interveno. Cumprem assim, o papel de cidado de que tanto essa sociedade
necessita, em busca de um conhecimento que promova justia, equidade, respeito aos mais diversos
valores efetivando o papel da escola: promotora da vida. A essa capacidade de os alunos
desenvolvam diversas competncias em lngua materna e nas outras lnguas que no pode ser
isolada das prprias competncias individuais, que compreendem as dimenses saber-ser, saber,
saber-fazer e saber-aprender, (...) um cidado que, efetivamente, dever ser capaz de saber agir para
saber viver com os outros (Ferro Tavares, 2012, P. 112), podemos denominar de literacia. A
Propagao do termo literacias
1
(letramentos), no lugar de discursos (uma tradio norte-
americana), de deu por causa de uma preocupao com a escrita, em vez da lngua falada e discurso
naquela ocasio era mais ligado linguagem falada.
De um modo geral, os estudos que circulam na Europa sobre literacia recebem influncia dos
estudos de Street (1996), conhecidos como "Novos Estudos do Letramento". Essa perspectiva
partindo das prticas sociais se aproximam de literacias mltiplas e plurais, muitas vezes
associadas, o que denominamos aqui de multi(literacias).
Lea e Street (1998) sugerem que literacias so fundamentais para qualquer explicao
necessria para examinar as expectativas do corpo docente e de estudantes em torno da escrita,
sem fazer qualquer juzo sobre quais prticas eram mais adequadas. Nesse sentido, para desenvolver
a pedagogia de literacias, o dilogo est no centro e preciso validar espaos alternativos para a
escrita e construo de significados na academia. Os autores apresentam trs modelos de escrita:
habilidades de estudo, socializao e letramentos acadmicos. O estudo do modelo baseia-se na
capacidade do pressuposto de que o domnio das regras corretas da gramtica e de sintaxe vai

1
Para obter uma viso geral das pesquisas sobre literacias e/ou literacias acadmicas, ver o texto de Russell et al (2009).
Aqui, no temos essa pretenso, apenas sinalizar a necessidade de conhecimento de multi(literacias) para o processo
ensino-aprendizagem.

1265
garantir a competncia do aluno; o modelo de socializao acadmica assume que os estudantes
precisam ser aculturados nos discursos e gneros de disciplinas especficas; o modelo literacias
acadmicas admite vrias caractersticas dos outros dois, mas tambm mais capaz de levar em
conta a natureza da escrita do estudante em relao s prticas institucionais, relaes de poder e
identidades, em suma a considerar a complexidade da construo de significado.

4 Resultados prvios da pesquisa

Para efeito de anlise, escolhemos 5( cinco) blogs para fazermos um estudo geral. Lembramos
que a pesquisa est em andamento e pressupe uma verticalizao da problemtica que excede o
limite desta comunicao. Como os blogs so abertos para consulta pblica, no fizemos nenhuma
comunicao prvia com os blogueiros, no entanto, por um questo tica, no divulgaremos
instituies ou nomes. Criamos assim o seguinte cdigo para apresenta-los:

Blog A rea de Cincias contbeis;
Blog B- rea de Cincias da Informao;
Blog C- rea de letras e Cincia da Informao;
Blog D- rea de letras.

A escolha foi aleatria e o proposito to somente refletir sobre o processo de criao,
divulgao, alcance e qualidade pedaggica destas fontes de informao. Em primeiro lugar,
devemos destacar que nosso pas uma referencia mundial na rea computacional, no entanto, isto
ainda no reflete um campo de distribuio democrtica destas tecnologias e ainda se aprofunda no
referente ao empenho no mbito pedaggico.
Assim, qualquer anlise sofre inferncias das condies de produo das escolas e instituies
universitrias. Existem ilhas educacionais em alguns Estados onde no estamos a dever a nenhum
cursos ou escola do chamado primeiro mundo, no entanto, para grande maioria dos estudantes e
professores o conceito de literacia digital est longe de ser alcanado.
Porm para falarmos nos blogs e suas dimenses pedaggicas, torna-se importante
relatarmos processos bem sucedidos. As escolas particulares e universidades, tambm particulares,
com recursos disponveis possuem manancial de informao digital que estabelecem uma relao de
interao e integrao com os estudantes, tornando-os autnomos e preparados para enfrentar esta
nova realidade. Neste mbito, os blogs pedaggicos tornou-se uma ferramenta fundamental,
inclusive ampliando o nmero de horas das crianas e jovens no concernente ao contato com as
atividades pedaggicas e mundo da informao.
Como afirmado, anteriormente, trata-se de casos isolados. No entanto, ainda que de maneira
ainda um pouco individual, encontramos nas escolas e universidades vrias experincias, algumas
com relativo sucesso.
Constatamos a semelhana dos blogs em aspectos formais como no design, nas tags, programa
pedaggico, parecendo haver um padro seguido, embora para reas diversas. Uma peculiaridade,
se fizermos uma comparao com o que preconiza o texto Blogs: um recurso e uma estratgia
pedaggica de Maria Joo Gomes, que apresenta a realidade portuguesa, existe uma distino entre
blogs enquanto recurso pedaggico e os blogs enquanto estratgia pedaggica
O recurso pedaggico os blogs podem ser:
Um espao de acesso informao especializada.

1266
Um espao de disponibilizao de informao por
parte do professor.
Enquanto estratgia pedaggica a autora afirma que estes podem ser:
Um portflio digital.
Um espao de intercmbio e colaborao.
Um espao de debate role playing.
Um espao de integrao.
O que aconteceu nos blogs estudados? Nota-se uma mescla entre a estratgia pedaggica e
recurso pedaggico. Os blogueiros no se limitam ao estabelecimento de um simples espao de
informao especializada. Dentro do mesmo blog se prope aspectos diversificados (BLOGS A,C,D E) .
O blogueiro B fornece dois endereos, um onde estabelece um liame de estrutura fixa: textos para
sala de aula, provas, notas e no outro estabelece um espao de intercmbio, onde a palavra de
ordem informao, intercmbio e colaborao.
Tomando, ainda, como base o artigo citado acima, verificamos nos blogs paraibanos, ainda
uma certa timidez no referente integrao e debates. Na verdade, o blog A que se caracteriza
predominantemente, como recurso pedaggico (notas de sala de aula, programas de estudos,
resultados de notas e frequncia) parece no ter um planejamento de longo prazo, pois desde 2010,
os elementos so os mesmos, revelando at uma certa negligncia para quem assume uma tarefa
que envolve informao e usurios em potencial.
A respeito da configurao da informao acadmica em edublogs, consideramos que h
muito caminhos para investigar para se entender como os conceitos de (multi)literacia
informacional possibilitam entender como a capacidade de ler, escrever e distribuir informaes
para alm da linguagem, h de estar conscientes do fluxo de informao existente no interior de
estruturas definidas de uma instituio no Ensino superior. Partindo do pressuposto bakhtiniano do
enunciado como produto da interao verbal, analisamos como e para quem os professores-
blogueiros conformam seu discurso. O projeto que ainda est em andamento aponta como resultado
que os professores-blogueiros direcionam seu discurso para dois tipos de interlocutores:
profissionais de outras instituies e seus prprios alunos. O discurso dos blogs constri-se numa
tenso dialgica com outros enunciados do campo acadmico. Em nossas iniciais anlises, a
emergncia de outras vozes no fio discursivo faz do blog um espao de interao social, cuja
literacia acadmica otimiza a forma como as pessoas lidam com formulrio de informaes e como
compreendem, processam, e cumprem as suas intenes e a dos outros.
Como a formao e literacia digital uma necessidade para melhorar a capacidade lgico
reflexiva dos nossos universitrios, poderamos inferir que beira a irresponsabilidade no usar
plenamente esta ferramenta. No entanto, necessrio enfatizar que o movimento tecnolgico nos
chega de forma muito rpida e est em constante mudana, ficando os professores bombardeados
por um grande nmero de informaes e ao mesmo tempo, presos a currculos limitantes, o que
compromete, sem dvidas o uso desta ferramenta de letramento que no pode ser encarada como
apenas inovao pedaggica, mas como uma aliada para fomentao de investigao cientfica,
intercmbio entre a diversidade de estudantes no Brasil que por si s j possui dimenses
continentais com marcas regionais muito fortes e diversas. Consideramos tambm a prpria
internacionalizao do conhecimento que pressupe redes colaborativas cada vez mais amplas.

1267
Consideraes finais

O uso de blog no Brasil vasto, ao escolher a Paraba, delimitando o ambiente universitrio,
nos obriga a especificar o contexto social no qual esto inseridos os enunciados dos blogs e o papel
assumido pelos blogueiros nesse espao. Nesse sentido, a nossa pesquisa ainda incipiente, no h
resultados precisos, o que existem so algumas pistas, como: tentativa positiva de algumas
instituies e blogueiros em participar desse novo universo educacional. Algumas dificuldades que,
a nosso ver, se estabelece porque ainda h muitos professores no caminho de descoberta da
ferramenta blog.
O que nos parece importante ressaltar, no entanto, que no se pode dizer que este trabalho
nas universidades paraibanas seja um caso isolado, h um pensamento de se democratizar o uso da
ferramenta e capacitar professores para gerenciarem suas contas e a fazer seu prprio design, como
aconteceu em 2012 um curso do programa E-tutor da UFPB sobre a construo de Edublogs, cujas
finalidades extrapolam as orientaes bsicas contidas no blogger, por exemplo. Sendo assim, ainda
que preliminarmente, podemos considerar que esta forma de instrumento didtico vem somar-se a
outras tantas, para que se alcance a excelncia acadmica, somado a pesquisas exaustivas traro um
quadro melhor delimitado e serviro de ferramenta basilar para o aperfeioamento de tal tcnica
pedaggica e comunicacional no ambiente acadmico.
A investigao sobre Edublog, como tambm a utilizao deles por professores universitrios
j uma realidade que se expande na Paraba. O que nossa pesquisa aponta que h um campo
aberto para novas investigaes, prticas e posturas pedaggicas. Ao considerar os trs elementos
como essenciais: espao-tempo, interao verbal e multi(literacias), as competncias exigidas para
um professor so sempre multi, uma compreenso da sala de aula como multi (espaos e tempos),
com capacidade de dominar multi(linguagens) e saber integrar inovao e conhecimento com
equilbrio. Essa perspectiva lanada por ns para se pesquisar ou criar um Edublog se distancia do
modismo que todo bom professor precisa ter um blog, mas se estabelece na convico de uma
construo identitria do sujeito-professor-blogueiro, como espao de interao entre a
comunidade a que deseja atingir.

1268

Referncias

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1270
CONSTRUO DE COMUNIDADES DE PARTILHA PARA UTILIZADORES SENIORES

CLIA SOARES
Instituto Superior da Maia
[email protected]

ANA VELOSO
[email protected]

SCAR MEALHA
[email protected]

Resumo Com o aumento da populao snior e o crescimento da utilizao da Internet, a criao de
comunidades de partilha de informao, adaptadas utilizao dos seniores, pode ser explorada para dar
resposta a novas necessidades. Esta investigao apresenta o processo de construo de uma comunidade de
partilha adequado a um pblico snior. O objetivo determinar a preferncia dos contedos a partilhar e dos
modelos utilizados na partilha que satisfaam as necessidades dos utilizadores.
O resultado final esperado apresentar uma proposta de um modelo de partilha validado em contexto de
trabalho colaborativo com um conjunto de seniores que frequentam a universidade snior de Ermesinde.

Palavras-chave Informao. Seniores. Incluso digital. Design participativo.

Abstract With the senior population and the growth of Internet use increasing, the setting up of information
sharing communities tailored to the use of older people can be exploited to meet new needs. This research
presents the construction process of an information sharing community adapted to the senior population.
The goal is to determine the preference of content sharing and conceptualize a model that meets the users
needs.
The expected final result is a proposal of a sharing model validated in the context of collaborative work with a
group of seniors who attend the Senior University at Ermesinde.

Keywords Information. Seniors. Digital Inclusion. Participatory Design.

Introduo

Este artigo resulta de uma investigao de doutoramento em curso enquadrada no projeto
SEDUCE
1
onde se pretende aferir de que forma ser possvel um modelo infocomunicacional para
partilhar informao e construir conhecimento, com e para um grupo de utilizadores seniores
recorrendo utilizao de ferramentas como blogues, wikis e redes sociais.
A Internet na era da Web 2.0 ultrapassou a mera filosofia de apresentao de informao e
transformou-se numa rede de ligaes entre pessoas. As redes sociais tornaram-se mais frequentes,
explorando novas formas de partilhar informaes. Apresentam-se de forma alternativa aos
tradicionais websites, uma vez que focam no esprito de promoo das ligaes individuais de cada
um, associado ao esprito colaborativo das suas redes de relaes. Para potenciar esse efeito utilizam

1
Projeto SEDUCE - utilizao da comunicao e da informao mediada tecnologicamente em ecologias Web pelo cidado
snior, PTDC/CCI-COM/111711/2009, COMPETE, FEDER, FCT de Lisboa, Portugal.

1271
cada vez mais servios de comunicao mediados por computador que promovem a interao em
grupo, como chat, blogues e fruns de discusso, tirando assim partido da motivao que os
utilizadores apresentam para se relacionarem entre si.

1 Enquadramento terico

1.1 Caraterizao do envelhecimento

A constatao de que os cidados vivem cada vez mais tempo e com cada vez maior
autonomia fsica e mental faz com que seja necessrio olhar para este grupo da sociedade e
possibilitar-lhe o acesso a todo o tipo de recursos. O cidado envelhecido vive confrontado com
problemas de isolamento emocional e social associados muitas vezes a questes de sade e
consequente diminuio de qualidade de vida (White et al., 1999). A idade no deve ser um fator
discriminatrio, a incluso pode ser fomentada recorrendo a diferentes tcnicas mais ou menos
elaboradas que garantam a igualdade de oportunidades para todos. Embora o envelhecimento
demogrfico da populao mundial levante srias preocupaes sobre questes relacionadas com
segurana social, penses, cuidados continuados, sistemas familiares as ferramentas digitais so
apontadas como um recurso capaz de melhorar a qualidade de vida do cidado snior (Blaschke,
Freddolino, & Mullen, 2009). Segundo Maes, um grande nmero de utilizadores com poucas
competncias tcnicas vo ter necessidade de utilizar computadores e plataformas de comunicao,
tornando-se crucial a necessidade de mudana do paradigma de interao utilizador-computador, a
gesto direta que exige ao utilizador iniciar e monitorizar a totalidade dos eventos. Para a mesma
autora o paradigma emergente est inserido num plano abrangente de tecnologia de agentes. Nele,
o utilizador inserido num processo onde homem e agentes computacionais inicializam a
comunicao, monitorizam eventos e executam tarefas (Maes, 1994).
Apesar das sociedades apresentarem ndices de envelhecimento elevados (Grfico 1) o cidado
snior vive ainda confinado com o estigma de baixa literacia tecnolgica. A Organizao Mundial de
Sade na dcada de 90 adota o conceito de envelhecimento ativo, definindo-o como o processo de
otimizao das oportunidades para a sade, participao e segurana, para melhorar a qualidade de
vida das pessoas que envelhecem. Apostada em garantir o reconhecimento dos direitos humanos
aos seniores, na independncia e na dignidade do cidado.

Grfico 1 - Evoluo da populao com mais de 60 anos (WEF, 2012)
A populao independentemente da sua idade deve comprometer-se com o que comummente
se designa de aprendizagem ao longo da vida, de forma a utilizar novos produtos, novos dispositivos

1272
e realizar tarefas num contexto profissional ou meramente pessoal. Grande parte da populao
confia na formao para adquirir competncias para desempenhar novas tarefas ou utilizar novos
dispositivos. Infelizmente, muitas vezes por esteretipos diretamente relacionados com o
envelhecimento, os seniores so postos margem e no so includos nos programas de formao,
afastando-os desta forma de um papel mais ativo na sociedade.
Um dos principais aspetos demogrficos e mais desafiantes para a sociedade o
envelhecimento da populao (
Em Portugal em 2012 a populao com mais de 65 anos era cerca de 22% e estima-se que em
2050 seja de 40% (Tabela 1 e Grfico 1).

Sem
escolaridade
Ensino bsico Secundrio Superior
1 Ciclo 2 Ciclo 3 Ciclo

Anos
15-64 5 15-64 5 15-64 5 15-64 5 15-64 5 15-64 5
2
007
299,6 04,3 1921,9 62,7 1393,3 0,2 1469,9 4,6 1191,1 4,4 859,2 8,4
2
008
285,4 69,4 1840,5 18,5 319,6 8,3 1597,2 7,8 1195,5 5,5 906,9 3,5
2
009
253,6 20,3 1754,1 75,9 1253,3 4,9 1674,3 4,3 1271,2 3,5 936,2 2
2
010
249,4 82,8 1642 20,7 1217,5 2,5 1664,1 00,9 1356,3 0,3 984,6 0,4
2
011
258,9 02,1 1406,4 9
00
1105,3 6,5 1755,8 16,2 1460,8 7,6 1109,3 8,3
2
012
230,7 58,6 1323,6 21,2 057 6,8 1701 46,4 1540,9 2,7 1185,3 17,4

Tabela 1 Populao Portuguesa por escalo etrio e nvel de escolaridade (valores expressos em milhares) -
(Fontes/Entidades: INE
2
, PORDATA
3
- ltima atualizao: 2013-02-15)

Ano Total populao
Portuguesa
% Seniores em
Portugal
% Seniores sem
qualquer nvel de
escolaridade
2007 8969,6 20,5 43,8
2008 8998,1 20,6 41,5
2009 9023,6 20,8 38,3
2010 9021,5 21,1 35,8
2011 9037,2 21,5 36,2
2012 9011,6 21,9 33,4

Tabela 2 Evoluo da Populao snior em Portugal (Fontes/Entidades: INE, PORDATA - ltima atualizao:
2013-02-15)

2
URL: http://www.ine.pt acedido em 2013-05-01
3
URL: http://www.pordata.pt acedido em 2013-05-01

1273
1.2 O cidado senior e a sua relao com as tecnologias da informao e
comunicao

A utilizao das tecnologias de informao e comunicao por parte do cidado snior surge
associado ao conceito de motivao, definida como uma fora ativadora ou uma tendncia que
conduz, amplia e coordena funes mentais e fsicas. De forma simples a motivao pode ser vista
como uma tendncia para alocar recursos pessoais numa determinada tarefa. O envelhecimento
exerce uma diversidade de influncias no ser humano, estas influncias podem diretamente ou
indiretamente afetar a motivao (Kanfer & Ackerman, 2004). Geralmente a literatura indica-nos
que a transio para uma fase em que o cidado abandona a idade ativa do ponto de vista de
atividade profissional acompanhada de uma perda cognitiva e intelectual seletiva, de uma
diminuio das capacidades fsicas e motoras, mas tambm acompanhada de ganhos em termos de
conhecimentos, adquiridos pela experincia e vivncias do dia-a-dia. O atingir de objetivos nos
adultos jovens mais proeminente e os interesses e atividades tendem a ser mais organizados em
torno de informao que promove as oportunidades futuras. Em contraste, os seniores destacam os
objetivos organizados em torno de afetos de forma a promover a procura de integrao social como
forma de garantir satisfao emocional (Kanfer & Ackerman, 2004). Heckhausen sugere que
medida que se envelhece as pessoas tendem a perseguir objetivos para os quais se sentem
intrinsecamente motivados em detrimento de objetivos extrnsecos como por exemplo melhores
salrios ou carreira profissional (Heckhausen, 2006).
Embora o nmero de utilizadores de Internet, com idade superior a 65 anos, esteja a
aumentar ainda no possvel explicar as razes pelas quais a utilizao dos computadores
inferior utilizao dos computadores pelas geraes mais novas (UMIC, 2010).

Grfico 2- Utilizao de servios de comunicao por escalo etrio (%) - (UMIC, 2010)

1274
A utilizao da tecnologia est relacionada com as variveis demogrficas (idade, sexo, nvel
de educao e estado civil), acesso tecnologia e baixa ansiedade informtica (Morrell, Mayhorn, &
Bennett, 2000) (Selwyn, Gorard, Furlong, & Madden, 2003).
Um estudo, utilizando um focus group, mostra que os seniores com idades compreendidas
entre os 65 e os 88 anos esto abertos aprendizagem de tecnologias como por exemplo os
computadores, mas exigido mais esforo e tempo em comparao com utilizadores mais novos. A
motivao para aprendizagem muitas vezes baseada na procura de respostas para a realizao de
tarefas e os utilizadores que participaram no estudo, esto interessados nas novas oportunidades e
funcionalidades que as tecnologias oferecem, revelando uma atitude positiva (Rogers, Meyer,
Walker, & Fisk, 1998).
Por vezes a falta de conhecimentos e a dificuldade em aceder a formao impede o acesso
tecnologia. Os fatores socioeconmicos so apontados como uma das razes que mais influenciam a
utilizao das tecnologias de informao e comunicao, mas no podem ser considerados
exclusivos. As experincias realizadas com recurso a formao direcionada a seniores mostram que
a atitude perante a tecnologia positiva. Morris observou que a postura muda num curso de
introduo informtica (Morris, 1992), Segrist refora essa ideia destacando que depois de um
curto perodo de formao e de utilizao da internet a atitude dos utilizadores claramente mais
positiva do que acontecia no incio da experincia (Segrist, 2004).
Goodman et al. (Goodman, Syme, & Eisma, 2003) num estudo com mais de 350 seniores
verificaram que a forma mais comum de aprender a utilizar um computador o recurso a formao,
existindo apenas 15% de pessoas que aprenderam a utilizar um computador sozinhas ou com ajuda
de um amigo. Baseado nestes estudos parece existir motivao para aprender a utilizar
computadores, no entanto, outros estudos, apontam para os seniores serem vistos como ansiosos na
utilizao de computadores e com pouca motivao para realizar tarefas que envolvam a tecnologia
(Cutler, Hendricks, & Guyer, 2003; Ellis & Allaire, 1999; Wagner, Hassanein, & Head, 2010).
Por vezes associado idade surge tambm o conceito de ansiedade informtica (Wagner et al., 2010)
quer seja porque no existem competncias tcnicas que possibilitem o uso rpido da tecnologia
quer seja por questes fsicas limitadoras. O acesso tecnologia pode ser limitador para o snior,
uma vez que tm diferentes necessidades quando comparados com utilizadores mais novos que
resultam essencialmente de aspetos fsicos e cognitivos naturais que se vo alterando com a idade e
que e comeam a notar-se a partir dos 45 anos (Hawthorn, 2000).

1.3 Incluso digital do senior

Para Castells, a info-excluso fundamental no se mede pelo nmero de ligaes Internet,
mas sim pelas consequncias que tanto a ligao como a falta de ligao comportam (Castells,
2001).
Assim no ser suficiente ao snior aceder internet, mas ser crucial tomar conscincia do
que pode fazer com a informao que pode recolher e partilhar. A perceo do que possvel fazer
de como se pode aceder e a pertinncia da informao para o que se pretende analisar um fator de
sucesso para os diferentes modelos de partilha de informao atravs da world wide web.

If the users are unreliable, legacy conventions are inappropriate or conflicting,
and existing digital conventions are often inadequate to the task at hand, how can
designers make good choices? How do we know what is worth making that has not
been made before? (Murray, 2012, p. 7).

1275
Com as rpidas mudanas tecnolgicas, o aumento da utilizao da Internet para realizar
tarefas do dia-a-dia os comportamentos dos cidados transforma-se. Os objetivos e as intenes na
relao entre o compromisso de aceder informao e a realizao de atividades diversifica-se
(Jean, Rieh, Kim, & Yang, 2012).
A disseminao da informao assume um papel de extrema importncia na sociedade, a
apropriao a transformao e a circulao dos contedos atravs das tecnologias que fomentam
uma atitude e uma cultura participativa (Jenkins, Ford, & Green, 2013). Com o crescimento da Web
Social passa a existir uma oferta diversificada de conhecimento, o que faz com que a informao
guardada, pesquisvel e partilhvel (Tom, 2008).
O contexto foi identificado de forma persistente como um dos problemas a analisar no estudo
do comportamento informacional (Courtright, 2007; David Johnson, 2009; Dervin, 1997; Kari &
Savolainen, 2007). Embora vrias abordagens sugiram que para analisar esta problemtica
suficiente(Johnson, Case, Andrews, Allard, & Johnson, 2006; Pettigrew, Fidel, & Bruce, 2001) a
desconstruo espacial, social e temporal, a dimenso do contexto torna-se particularmente
pertinente.
Alguns autores desenvolveram trabalho centrado na procura de informao diria (Elfreda A
Chatman, 1999; Elfreda Annmary Chatman, 1992; Fisher, Durrance, & Hinton, 2004; Pettigrew et al.,
2001), destacando a importncia da construo do espao fsico e social como elementos
influenciadores do comportamento da informao. Savolainen (2009) concluiu que embora o espao
fsico seja importante no interessante o suficiente para ser analisado separadamente dos fatores
sociais. Em ltima anlise, os fatores sociais tornam a pesquisa de informaes e partilha algo
significativo que as pessoas fazem em conjunto quando partilham o mesmo espao fsico
(Savolainen, 2009). A mesma autora observou ainda a importncia de compreender a influncia das
novas tecnologias de informao e comunicao num contexto de investigao na rea da
informao. Embora existam autores que consideram evidente que a procura de informao possa
ser feita com recurso a ambientes tecnolgicos, nomeadamente com recurso Internet (Counts &
Fisher, 2008; Fisher et al., 2004; Hargittai & Hinnant, 2008), existem autores que centram a sua
anlise na componente socio espacial (David Johnson, 2009; Low, 2000; Sonnenwald, Wildemuth, &
Harmon, 2001).
Segundo Lloyd e Williamson (2008) referem os estudos sobre literacia da informao so
maioritariamente realizados num contexto de ensino (Lloyd & Williamson, 2008). Nesse contexto a
literacia associada ao conhecimento/aprendizagem (Bruce, 2000; Limberg, 2000) e ao papel
pedaggico.
A utilizao de dispositivos tecnolgicos como PDAS, Tablets ou Smartphones proporcionam
o acesso informao em locais e horrios onde at agora a informao se encontrava inacessvel,
mudando assim a natureza do ato da partilha e procura de informao. Surge desta forma uma
necessidade premente de analisar o papel que desempenha este tipo de tecnologia na alterao do
comportamento na que diz respeito procura de informao.
Jones e Bayen (1998) identificaram algumas limitaes cognitivas dos seniores que podem de
alguma forma inibir a utilizao das TIC. () discourse comprehension, reasoning inference information,
the acquisition from memory, all of which are relevant for the acquisition of computer skills(Jones & Bayen,
1998). Do mesmo modo Naumanen e Tukiainen (2009) reforam as limitaes atravs da
identificao de trs aspetos principais:
1. Contextual characters of user (income; health; education);
2. Personal beliefs about technology (complexity; hard to learn);
3. Perceptions of need of technology (what use; what it is the advantage for me?).(Naumanen &
Tukiainen, 2009).
Para ultrapassar esta realidade importante que as TIC passem a adotar uma abordagem mais
centrada nas pessoas e menos nos aspetos tecnolgicos e que de alguma forma os seniores possam

1276
ser envolvidos no processo de conceo dos sistemas, de forma a verem satisfeitas as suas
necessidades e expectativas.
Esta posio foi assumida por Boulton-Lewis, Buys e Lovie-Kitchin (2006) ao entenderem que
os seniores devem ser reconhecidos no exclusivamente como utilizadores/clientes finais mas
como coautores durante todo o processo de planeamento (Boulton-Lewis, Buys, & Lovie-Kitchin,
2006).

1.4 Design centrado no senior

O conceito de Community Centered Design (CCD) (Preece, 2000) engloba trs metodologias
diferentes na rea de desenvolvimento de projetos em HCI, nomeadamente, user centered design
(Preece, Sharp, & Rogers, 2011), direcionado para o utilizador e no nas tecnologias, contextual
inquiry (Beyer & Holtzblatt, 1999), focalizado no contexto e participatory design (Muller, 2002)
centrado na participao do utilizador enquadrado no contexto de desenvolvimento.
A evoluo da noo de CCD apresenta-se agora como participatory community-centered
development (PCCD) constitudo por dois elementos cruciais, o desenvolvimento de software, com
especial enfase no design de usabilidade, e desenvolvimento social (Preece & Maloney-Krichmar,
2003).
O desenvolvimento de um projeto em Participatory Community Centered Design (PCCD) (Preece &
Maloney-Krichmar, 2003) com a participao ativa do cidado snior de modo a fomentar a
comunicao mediada tecnologicamente na troca de informaes com o objetivo de partilhar e de
procurar pessoas, lugares e artefactos (Preece et al., 2011).
A investigao enquadra-se, no mbito da investigao desenvolvida no projeto SEDUCE, que
tem como objetivo principal avaliar o impacto das variveis emocionais e psicossociais (auto-
conceito, nimo e qualidade de vida) mediante o uso das TIC entre cidados seniores em contexto de
comunidade social online e construir uma comunidade social online com a participao do cidado
snior.
A comunidade online do cidado snior constituda por cinco reas temticas,
nomeadamente, comunicao; informao noticiosa; entretenimento; informao adequada sobre
sade; e partilha e construo de informao (Veloso, Mealha, Ferreira, Simes, & Fonseca, 2011). A
partilha de memrias funciona como um fator agregador da comunidade snior, possibilitando a
integrao dos elementos contribuindo desta forma para a dinamizao da sociabilidade.
No sentido da promoo da qualidade de vida do cidado snior, a comunidade online a ser
construda, tem como objetivo a criao de um modelo infocomunicacional de partilha e pesquisa
de informao adequado s especificidades do pblico-alvo a que se destina, e contando com a
participao ativa do cidado snior atravs de grupos de discusso durante o seu aperfeioamento.
Na Figura encontra-se representado um esquema conceptual referente exclusivamente rea
de partilha de informao.

1277

Figura 1 - Esquema conceptual da rea de partilha de informao

A motivao subjacente ao desenvolvimento deste trabalho assenta na constante necessidade
de sistemas de conhecimento flexveis e exploratrios, que permitam a transmisso de
conhecimento, a explorao de formas de apresentao, e principalmente formas de colaborao.

2 Construo de comunidades de partilha

Com este trabalho pretende-se aferir de que forma a populao snior partilha informao,
quais os mecanismos que utiliza para essa partilha e que limitaes encontra no processo de
partilha. Desenvolvemos o trabalho com um grupo de seniores que frequenta a Universidade snior
de Ermesinde. A amostra, constituda por doze seniores, com idades compreendidas entre os 60 e os
83 anos, 5 do sexo masculino e 7 do sexo feminino, frequentadores de aulas de informtica na
Universidade Snior de Ermesinde, foi envolvida no processo de construo de um modelo de
comunicao para partilha e acesso a informao.
Na tabela 3 apresentam-se os elementos caraterizadores da amostra, no que respeita s
habilitaes literrias e idade dos utilizadores.

1278
Utilizadores Idade Escolaridade
U1 61 9 ano
U2 74 Licenciatura
U3 66 12 ano
U4 63 12 ano
U5 66 Licenciatura
U6 61 12 ano
U7 78 6 ano
U8 60 Licenciatura
U9 83 12 ano
U10 62 9 ano
U11 68 9 ano
U12 66 Licenciatura
Mdia de Idades 67,33
Desvio Padro 7,33

Tabela 3 Caraterizao da Amostra

A Tabela 4 apresenta a calendarizao das fases da investigao que se realizou durante um
perodo de 8 meses com atividades desenvolvidas semanalmente de acordo com a fase em questo.

Fases Calendarizao Durao
(sesso1 hora)
Metodologia/Tarefas
desenvolvidas
Fase 1 identificao das
atividades realizadas pelos
seniores na Internet
Outubro 2012
Novembro 2012
8 Sesses - Observao direta em
contexto de aula de
informtica;
-Inqurito por questionrio.

Fase 2 aferio da relevncia
das atividades realizadas
Dezembro 2012
Janeiro 2013
8 Sesses
Fase 3 identificao de temas
de procura e partilha de
informao na Internet
Fevereiro 2013

4 Sesses
Fase 4 aferio da relevncia
dos temas de procura e
pesquisa de informao
Maro 2013 8 Sesses
Fase 5 desenho do modelo de
partilha de informao
Abril 2013
Maio 2013
7 Sesses - Identificao das
funcionalidades mais
importantes;
- Desenho do modelo;
- Validao do modelo.

Tabela 4 Calendarizao das fases da investigao
Iniciamos esta investigao com a necessidade de determinar as preferncias de utilizao
dos seniores no desenvolvimento de atividades na Internet desta forma, optou-se por identificar no
grupo o conceito de acesso internet no sentido de perceber que aes desenvolviam quando
estavam ligados em rede, clarificando as atividades que habitualmente realizam.
Na primeira fase percebemos, atravs da realizao de um questionrio, que se poderiam
enumerar como dez as atividades mais representativas partilhadas pelos elementos do grupo tendo
em conta a quantidade de seniores que referiu realizar cada uma delas, pelo menos uma vez por
semana (Tabela 5).

1279
Atividade Nmero de
utilizadores
a) Consultar correio eletrnico; 12
b) Ler jornais/revistas; 10
c) Ver contedos publicados por amigos nas redes sociais (Facebook); 12
d) Publicar contedos prprios (Facebook); 11
e) Jogar; 8
f) Ouvir msica (Youtube); 6
g) Ver vdeos (Youtube); 6
h) Procurar informao especfica nos motores de busca (Google); 10
i) Conversar com amigos (Facebook); 7
j) Conversar com familiares (Skype
4
); 3

Tabela 5 - Nmero seniores que referiu realizar a tarefa pelo menos uma vez por semana
Na segunda fase tornou-se importante perceber qual a relevncia que era dada a cada uma
das atividades de forma a caraterizar o tipo de pblico envolvido na investigao. Utilizando uma
escala baseada no mtodo de Likert. Com este pressuposto os seniores foram convidados a
classificar numa escala de 1 a 5, sendo que 1 representava uma atividade nada relevante para o
snior e 5 representava uma atividade muito relevante.
O resumo dos resultados encontra-se representado no Grfico 3.

Grfico 3 Relevncia das principais atividades desenvolvidas na internet pelo grupo de seniores envolvidos
no projeto

Consultar correio eletrnico alnea (a), considerada a atividade mais importante para o
grupo e os jogos so as atividades menos importantes alnea (e).

4
URL: http://www.skype.com/pt disponvel em 30/04/2013

1280
Na terceira fase centramos esforos nas atividades de partilha e acesso informao, e neste
sentido efetuou-se um levantamento sobre os temas que mais interesse suscitavam no que diz
respeito procura de informao e construo de informao. Nesta atividade cada snior
identificou 5 reas sobre as quais procurou informao e 5 reas sobre as quais disponibilizou
informao, no final obtivemos uma lista com os temas comuns selecionados pelos seniores o que
desencadeou a fase seguinte. Na quarta fase foi solicitada novamente a colaborao para ordenar as
temticas por relevncia e assim perceber o que mais interessa aos seniores quando procuram
informaes na internet. O Grfico 4 apresenta a organizao dos temas procurados por relevncia
das principais reas de pesquisa, na internet pelo grupo de seniores envolvidos no projeto.

Grfico 4 - Relevncia das principais reas de pesquisa na internet pelo grupo de seniores envolvidos no
projeto

Destaca-se de forma evidente a rea de jogos alnea (i) como a que menos interesse suscita na
procura de informao por parte dos seniores, e a rea das notcias alnea (n) como o mais relevante
para a procura de informao.

1281
De igual forma a partilha de informao foi tambm hierarquizada (Grfico 5) no sentido de
perceber o comportamento deste grupo no que diz respeito construo/partilha de contedos.

Grfico 5 - Relevncia das principais reas de partilha de informao na internet pelo grupo de seniores
envolvidos no projeto

O processo iniciou-se com a identificao das reas temticas utilizadas para partilha de
informao e prosseguiu com a organizao por relevncia dos temas.
No que diz respeito partilha de informao, mantm-se como menos importante a rea dos
jogos alnea (i), desta vez acompanhada pela temtica religiosa alnea (p) em que 9 dos 12 seniores
consideram nada relevante partilhar contedos relacionados com os temas em concreto. Do lado
oposto, mantm-se o interesse pela partilha de notcias alnea (n).
Mediante os resultados obtidos, procuramos perceber o que faz com que diminua o interesse
pela partilha de informao, uma vez que 11 dos utilizadores mostraram interesse em disponibilizar
informao, mas na prtica no o faziam. Novamente questionados sobre este facto, salienta-se que
para 10 seniores dos 12 seniores do grupo, as dificuldades que encontram na utilizao das
diferentes ferramentas de partilha de informao so o principal obstculo. A fase 5 concentra-se na

1282
definio da estrutura a utilizar na partilha da informao, identificando as reas imprescindveis
para a partilha e de que forma se podem organizar.
Utilizando como base de trabalho alguns dos blogs e fruns mais utilizadas para partilha de
informao identificamos as funcionalidades consideradas elementares pelos seniores que
participaram neste projeto para rea de partilha na comunidade snior online que se encontram
representadas a ttulo demonstrativo na Figura . Escrever texto, incluso de fotografias e vdeos so
as formas de partilha privilegiadas pelos seniores.

Figura 2 Ecr de insero de informao
Devido prpria filosofia de investigao centrada no conceito de PCCD destaca-se a
importncia atribuda possibilidade de partilha de formatos alternativos como imagens e vdeos
quer sejam criados pelos prprios quer sejam de autoria de outros utilizadores.

Comentrios finais

Neste artigo, apresentamos fatores a ter em conta na conceo e desenvolvimento de um
modelo de partilha de informao adaptado utilizao de seniores.
Apesar de ser possvel definir neste momento um modelo simplificado para partilha de
informao, o trabalho comea agora a ficar cada vez mais interessante e motivador. Vrias
questes so agora levantadas nomeadamente no que diz respeito organizao e hierarquizao
da informao, conduzindo a pesquisa em direo ao conceito de acesso/procura de informao que
ser explorado numa prxima fase deste mesmo projeto.
Agradecimentos
Este estudo foi possvel graas cooperao dos seniores da Universidade Snior de
Ermesinde e suportado pelo projeto SEDUCE (PTDC/CCI-COM/111711/2009) COMPETE, FEDER,
FCT de Lisboa, Portugal. O nosso agradecimento.

1283
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1287
PROJETO DE UMA BIBLIOTECA DIGITAL CONJUNTA ENTRE O MXICO E PORTUGAL
uma ponte para apoiar a investigao e o ensino em biblioteconomia e reas afins
1

ANA LCIA TERRA
Instituto Politcnico do Porto - Escola Superior de Estudos Industriais e de Gesto / CETAC.MEDIA
[email protected]

GEORGINA ARACELI TORRES VARGAS
Universidade Nacional Autnoma do Mxico/ Instituto de Investigaciones Bibliotecolgicas y de la
Informacin
[email protected]

Resumo Apresenta-se um projeto em curso entre a ESEIG/IPP (Portugal) e o IIBI/UNAM (Mxico) para a
criao de uma biblioteca digital na rea da Biblioteconomia e dos Estudos de Informao. Considerando a
misso educacional das instituies envolvidas, so analisados os conceitos conexos Ambientes Virtuais de
Pesquisa e Aprendizagem nos quais a biblioteca digital fundamenta alguns dos seus princpios. apresentado
o modelo de biblioteca digital que sustenta o projeto e so caracterizadas as instituies participantes. Faz-se
ainda uma reflexo sobre a conceo e o estabelecimento de uma poltica de informao, de modo a
proporcionar um substrato para a criao e utilizao dos recursos e servios entre as comunidades
envolvidas no projeto. Por fim, so apresentados os objetivos da biblioteca digital e diretrizes para a criao e
partilha dos recursos digitais.

Palavras-chave Biblioteca Digital. Poltica de Informao. Organizao da informao digital.

Abstract An ongoing project between ESEIG/IPP (Portugal) and IIBI/UNAM (Mexico) for the creation of a
digital library in the area of Library and Information Studies is presented. Considering the educational
mission of the institutions involved, the related concepts of Virtual Research Environment and Virtual
Learning Environments, in which the digital library based some of its principles, are presented. The digital
library model that supports the project is also presented and the participating institutions are characterized.
A reflection on the design and establishment of an information policy in order to provide a substrate for the
creation and utilization of resources and services among communities involved in the project is undertake.
Finally, the digital library's goals and guidelines for the creation and sharing of digital resources are showed.

Keywords Digital library. Information policy. Digital information organization.

Introduo

Em 2012, comeou um projeto de colaborao entre o Instituto de Investigaciones
Bibliotecolgicas y de la Informacin (IIBI), da Universidade Nacional Autnoma do Mxico
(UNAM), e a Escola Superior de Estudos Industriais e de Gesto, do Instituto Politcnico do Porto
(ESEIG/IPP), em Portugal. O objetivo deste projeto criar uma biblioteca digital no mbito da
Biblioteconomia e dos Estudos de Informao, destinada a apoiar as atividades de pesquisa e ensino
desenvolvidas em ambas as instituies. Pretende-se ainda que esta biblioteca digital possa ligar-se
a outras bibliotecas digitais, j criadas ou ainda em desenvolvimento, nas reas da Biblioteconomia,
Cincia da Informao e reas afins.

1
Trabalho desenvolvido ao abrigo do Programa de Apoyo a Proyectos de Investigacin e Innovacin Tecnolgica (PAPIIT)
de la UNAM(IT400312-3 ) iblioteca Digital en ibliotecologa y Estudios de la Informacin.

1288
Com esta biblioteca procurar-se- explorar e aproveitar os avanos proporcionados pela Web
2.0 e 3.0, cuja filosofia bsica a colaborao e partilha de informao. Neste sentido, iro ser
analisados e aplicados os conceitos de Ambientes Virtuais de Pesquisa e Aprendizagem. O recurso s
tecnologias mveis ser essencial para proporcionar os servios de informao concebidos. Outra
vertente da biblioteca ser a reflexo sobre a conceo e o estabelecimento de uma poltica de
informao, de modo a proporcionar um substrato para a criao e utilizao dos recursos e
servios entre as comunidades envolvidas no projeto.
Do ponto de vista tecnolgico, a construo da biblioteca digital assentar no uso de software
livre para a publicao digital e no aproveitamento de ferramentas semnticas, entre outros. Assim,
a biblioteca digital facultar a criao de colees digitais num ambiente aberto, envolvendo ainda
funcionalidades de gesto, organizao e recuperao de documentos.
Atualmente, a definio de diretrizes e normas para a publicao de documentos digitais um
ponto central da reflexo e construo de bibliotecas digitais, pelo que tambm constituir um
ncleo fundamental deste trabalho. Neste contexto, impe-se uma anlise dos ambientes virtuais de
pesquisa e de aprendizagem, pois constituem um ponto-chave na definio dessas diretrizes e
normas.

1 Ambientes Virtuais de Investigao e Aprendizagem

O Ambiente Virtual de Pesquisa
2
(AVP) um conceito e uma prtica relativamente jovem,
mas est a adquirir um impacto significativo em muitos aspetos da investigao (Wusteman, 2009,
p.169). At data, o AVP tem tido um impacto significativo em projetos de pesquisa nas reas das
Cincias Naturais, da Engenharia e da Gesto.
Contudo, a colaborao nas Cincias Sociais, incluindo a investigao focada na
Biblioteconomia e na Cincia da Informao, tem sido quase inexistente (Sonnenwald, et al., 2009, p.
191-192). Por exemplo, em algumas conferncias internacionais, como o ACM Computer-Supported
Cooperative Work Conference '08 e o ACM Group Conference '07 (que no total tiveram 163
documentos) no se encontra nenhum documento sobre Ambientes Virtuais de Pesquisa aplicados
s Cincias Sociais. Alis, no incluem sequer nenhum documento relativo a uma colaborao
envolvendo pesquisadores das cincias sociais e humanas (Sonnenwald, et al., 2009, p. 192).
O propsito de um AVP ajudar os investigadores a gerir a complexidade do trabalho de
pesquisa colaborativa, fornecendo uma infraestrutura projetada especificamente para apoiar as
atividades dentro dos grupos de pesquisa, tanto dos que apresentam uma dimenso reduzida como
dos que operam numa escala alargada.
3
O AVP deve fornecer acesso remoto a instrumentos
cientficos e software alm de apoiar a interao entre os pesquisadores, o que os coloca no centro da
inovao no mbito da comunicao digital para a comunidade cientfica. Este ambiente oferece
recursos no s para ter acesso a dados e conhecimentos de diferentes reas disciplinares, mas
tambm proporciona servios para o funcionamento de vrias ferramentas e recursos que
permitem a anlise de dados, simulao e controle de vrios processos que contribuem para a
criao de conhecimento especfico.
Por seu lado, os Ambientes Virtuais e Aprendizagem (AVA) constituem sistemas que integram
as componentes necessrias para a criao e publicao de materiais de aprendizagem, de gesto, de
comunicao e de colaborao (Coll Salvador, Busto Schez, Engel Rocamora, 2007, p. 91). O AVP
favorece e facilita ainda a colaborao entre os professores (Gairn Salln, 2006, p. 62).
Estes espaos incluem a biblioteca digital como uma das suas componentes, enquanto
instrumento ideal para gerir e partilhar informao. Neste sentido, a biblioteca digital de

2
Em ingls, o termo correspondente Virtual Research Environment (VRE).
3
Virtual Research Environments programme, (phase 1). Disponible en:
http://www.jisc.ac.uk/whatwedo/programmes/vre1.aspx

1289
Biblioteconomia e Estudos de Informao que est a ser concebida, fundamenta-se em alguns dos
princpios que regem o AVP e o AVA, mas no por si s um espao desta natureza.
Aqui, poderemos ainda convocar o conceito de e-science, muito em voga no mbito da big
science mas pouco usual na little science, onde se enquadram as Cincias Sociais e Humanas, e
consequentemente a Cincia da Informao. Isto pode dever-se ao facto de a partilha de dados
primrios/em bruto, essencial no trabalho da big science, ser pouco utilizada na little science, onde
cada investigador assume que os seus dados primrios sero pouco relevantes para outras
abordagens at porque apresentam um vis contextual e de escolha individual muito forte. Ou seja,
os dados recolhidos por cada investigador ou grupo de pesquisa da rea das Cincias Sociais no se
apresentam, na maioria dos casos, como dados numricos de enorme escala como os que resultam
do levantamento de variaes micro-ambientais, do crescimento das plantas ou de medies feitas
por satlite, entre outros, prprios da big science.
A falta de polticas de incentivo partilha de dados constitui, segundo Borgman (2007, p. 123-
125), outro dos motivos para a inexistncia ou fraco grau de concretizao desta prtica no contexto
das Cincias Sociais.
Especificamente no contexto da Cincia da Informao, os investigadores podem partilhar
instrumentos de recolha de dados ou grelhas de anlise, de modo a fazerem o levantamento de
dados ou desenvolverem abordagens do mesmo mbito mas em contextos diferentes. De acordo
com Sonnenwald et al. ( 2009), apesar da falta de cultura colaborativa entre os investigadores da
rea da Cincia da Informao, h a conscincia dos benefcios decorrentes da partilha de
instrumentos de recolha de dados, a saber: melhoria potencial na criao e uso de instrumentos de
qualidade, desenvolvimento da pesquisa na rea, poupana de tempo e dinheiro e melhoria da
aprendizagem pessoal atravs do estudo de instrumentos criados por colegas. Outro exemplo
apontado, o dos estudantes de mestrado de diferentes instituies/pases que podem dedicar-se
ao estudo do mesmo problema de investigao, replicando o mesmo questionrio ou protocolo de
entrevistas.

2 Conceo da biblioteca digital

No mbito deste projeto, considera-se a biblioteca digital como uma coleo de recursos
informacionais organizados, com servios associados, onde a informao est armazenada em
formato digital e acessvel num sistema de informao on-line (Torres Vargas, 2010).
Esta biblioteca ser configurada por trs componentes bsicas:

A. Tecnologias da Informao e Comunicao aplicveis.
B. Contedos digitais organizados.
C. Servios digitais de informao.

As definies do conceito de biblioteca digital so dspares e apresentam origens
multidisciplinares. Mas, nesta diversidade, podemos sublinhar caractersticas comuns a qualquer
definio de biblioteca digital: toda a informao digital, existe ligao em rede, proporciona um
catlogo on-line, permite acesso remoto a recursos e servios alm de favorecer o acesso universal
aos documentos (Torres Vargas, 2005, p. 34).
A biblioteca digital est dependente das Tecnologias de Informao e Comunicao no que se
refere ao ciclo de vida completo da informao: criao, armazenamento, organizao, pesquisa,
acesso, disseminao, uso, preservao e conservao.

1290
3 As instituies participantes: colaborao entre o Mxico e Portugal

Na presente fase de desenvolvimento do projeto, existe uma preocupao focalizada na
definio do contributo de cada uma das instituies intervenientes no que concerne aos contedos
digitais a serem includos. Para balizar esta identificao dos contedos a integrar, importa
caracterizar as instituies de modo a determinar os contributos que podero dar biblioteca
digital.
O Instituto de Investigaciones Bibliotecolgicas y de la Informacin, da Universidade Nacional
Autnoma do Mxico, tem como misso promover e realizar investigao relevante e inovadora na
rea da Biblioteconomia e da Cincia da Informao. Para o efeito conta com 23 investigadores
integrados nas nove linhas de pesquisa, a saber: 1. Organizao da informao e do conhecimento, 2.
Tecnologias da informao e do conhecimento, 3. Informao, conhecimento e sociedade, 4.
Mtricas da informao e do conhecimento cientfico, 5. Usurios da informao, 6. Leitura, 7.
Servios e recursos de informao, 8. Formao em Biblioteconomia, 9. Histria e fundamentos de
biblioteconomia e estudos da informao.
O IIBI co-responsvel, em parceria com a Faculdade de Filosofia e Letras da UNAN, dos
cursos de Ps-Graduao em Biblioteconomia e Estudos de Informao desta Universidade. Os
investigadores do IIBI orientam, sozinhos ou num trabalho partilhado com colegas de outras
instituies, estudantes de ps-graduao, ao nvel do Mestrado e do Doutoramento.
O Instituto Politcnico do Porto, atravs da sua Escola Superior de Estudos Industriais e de
Gesto, leciona o curso de licenciatura em Cincias e Tecnologias da Informao e Documentao,
um Mestrado em Informao Empresarial e um Curso de Especializao Ps-Graduada em Gesto de
Bibliotecas Escolares. Foi uma das primeiras instituies de ensino superior portuguesas a iniciar,
em 2001-2002, a formao ao nvel da graduao em Cincia da Informao, com um corpo docente
prprio e inserido na carreira acadmica. Atualmente, a Unidade Tcnico-Cientfica de Cincia da
Informao conta com quatro docentes a tempo integral, uma das quais doutoradas e trs em
processo de doutoramento. formao na rea da Cincia da Informao, tanto ao nvel da
licenciatura como da ps-graduao, esto ainda ligados em exclusivo dois docentes da Unidade
Tcnico-Cientfica de Informtica, um com o grau de doutor e outro em processo de doutoramento,
havendo ainda colaboraes pontuais de outros docentes da rea das Tecnologias.
neste contexto e para este pblico, de docentes, investigadores e estudantes, que a
biblioteca digital em construo dever orientar os seus recursos e servios.

4 Orientaes para a poltica de informao da biblioteca digital

A poltica inerente biblioteca digital permeando-a transversalmente desde a sua
conceptualizao at ao funcionamento. Neste pressuposto, a poltica de informao da biblioteca
digital tem de ser concebida e aplicada como um plano de desenvolvimento e de concretizao
global, integrando e coordenando componentes diversas num sistema multidimensional complexo.
Atualmente, um cuidado importante a ter na definio de qualquer poltica de informao diz
respeito ao seu mbito socio-tcnico. Kajberg e Kristiansson referiam isso mesmo, criticando a
nfase excessiva nos aspetos tecnolgicos das polticas de informao globais, nos seguintes termos:
Until recently many approaches to information policy-making have been one-sided in that they
have mainly adhered to the purely technological aspect. Information policy makers have ignored
the fact that the technology does not exist in a vacuum but a technological practice must be viewed
as an interaction between cultural, organizational and technical aspects (Kajberg; Kristiansson,
1996, p. 8).
Considerando a biblioteca digital como uma rede de ferramentas tecnolgicas, contedos e
servios que podem ser localizados e acedidos remotamente, apresentando como caratersticas o

1291
fato de toda a sua informao ser digital, estar conectada em rede, ter catlogos pblicos em linha,
permitir o acesso remoto a recursos de informao de outras bibliotecas ou repositrios e oferecer
acesso universal a documentos digitais (Torres Vargas, 2005), a componente tecnolgica primacial
mas no pode ser isolada da sua insero social.
A biblioteca digital no pode ser pensada, construda e utilizada apenas como um armazm de
metadados e de itens de informao, com funcionalidades de pesquisa e de acesso informao.
Nesse caso, as bibliotecas digitais no constituiro mais do que motores de pesquisa especializados.
semelhana das bibliotecas tradicionais, as bibliotecas digitais devem ser o reflexo das
comunidades s quais se dirigem, selecionando recursos e desenvolvendo servios em consonncia
com a sua misso. Mas libertada dos constrangimentos fsicos, a biblioteca digital deve orientar-se
para a construo de um ambiente informacional destinado partilha de saber, atravs da criao,
por parte dos utilizadores, de anotaes, de relaes entre recursos, de comentrios e resumos,
formando no s utilizadores-leitores mas tambm utilizadores-contribuidores/produtores (Lagoze,
2005).
Meghini, Spyratos e Yang (2010) estipulam que para se falar de biblioteca digital necessria
a existncia de um conjunto de objetos digitais e de servios que facultem o acesso e a utilizao
repetida por parte dos utilizadores. Estes devero poder realizar as seguintes tarefas no contexto da
biblioteca digital: criar objetos novos e complexos atravs da reutilizao de objetos pr-existentes
enquanto contedos, proporcionar representaes de um objeto criado, descrever objetos de acordo
com um vocabulrio selecionado, descobrir objetos a partir dos contedos ou das suas
representaes, visualizar representaes, de contedos ou das descries de um objeto, e
identificar objetos de interesse, podendo atribuir-lhes uma identidade.
A biblioteca digital cumprir assim uma misso orientada para o que poderemos apelidar de
inteligncia informacional (Boisvert, 2010), numa derivao da inteligncia emocional tal como
definida por Coleman, proporcionando contedos organizados, explorados e aproveitados atravs
de servios que maximizam as sinergias entre os produtores e os utilizadores da informao,
favorecendo um ciclo contnuo de produo do conhecimento com redes de partilha total de
trabalho, recursos e resultados.

5 Diretrizes para a criar e partilhar contedos digitais.

Para Meghini, Spyratos e Yang (2010, p. 41) a biblioteca digital deve permitir aos utilizadores
desenvolver o seguinte conjunto de tarefas: create a new, complex object by re-using other existing
objects as its content; provide representations of a created object; describe an object of interest
according to some vocabulary; discover objects of interest based on content or description; view the
representations, the content or the description of an object; identify an object of interest, in the
sense of assigning to it an identity () create versions of an object by modifying it (). Note-se aqui
que as funcionalidades tradicionais das bibliotecas relativas pesquisa e identificao de objetos de
informao so enriquecidas por outras possibilidades, em consonncia com a filosofia do utilizador
da web 2.0, a saber a capacidade de criar novos itens de informao ou novas verses bem como de
elaborar meta-informao no sentido em que pode elaborar representaes. Este utilizador
contribui para a formao da coleo da biblioteca digital mas tambm para a sua organizao, no
se circunscrevendo ao papel de utilizador que procura respostas ou documentos.
No que toca organizao da informao, aspeto determinante para o acesso, importa refletir
sobre a arquitetura da informao que suportar a estrutura da prpria biblioteca digital. O projeto
PALMM
4
(Publication of Archival, Library & Museum Material), promovido pelas bibliotecas da State
University da Flrida, orientando-se pelas diretrizes de Morville e Rosenfeld (2007) para a
arquitetura da informao na web, preocupou-se com a capacidade de providenciar vrios
caminhos para chegar mesma informao com a disponibilizao de ndices A-Z, em complemento

4
http://palmm.fcla.edu/

1292
s taxonomias de cada coleo, um sistema de navegao que proporcione aos utilizadores a noo
de contexto, o uso de linguagem adequada ao pblico-alvo bem como a combinao de opes de
pesquisa com as de navegao.
Associado ao conceito de arquitetura da informao da biblioteca digital deve estar o de
findability entendido como a. the quality of being locatable or navigable. b. the degree to which a
particular object is easy to discover or locate. c. the degree to which a system or environment
supports navigation and retrieval (Morville, 2005, p. 4). No projeto PALMM, o uso de vocabulrios
controlados, como a Library of Congress Subject Headings (LCSH), em combinao com palavras-
chave da linguagem natural, facilita a pesquisa e a navegao alm de sustentar o acesso
diversificado ao mesmo recurso. Os objetos digitais enquadram-se numa estrutura que permite
pesquisas por coleo, por assunto, pesquisas boleanas, de proximidade ou por citao, em
mltiplos campos. A possibilidade de os utilizadores criarem eles prprios metadados, atravs da
adio de etiquetas, numa abordagem prpria do movimento da indexao social, constitui outra
das estratgias desta biblioteca digital, nas suas vrias colees. (Parandjuk, 2010, p. 128-129).
Integra-se, assim, no movimento da web 2.0 onde emergem os prosumidores, utilizadores ativos e
criativos perante os recursos de informao.

6 Biblioteca digital em biblioteconomia e estudos da informao

De acordo com o exposto, os objetivos propostos para a biblioteca digital em Biblioteconomia
e Estudos da Informao do IIBI/UNAM e da ESEIG/IPP so os que a seguir se apresentam.
Esta biblioteca constituir um espao propcio investigao colaborativa entre o IIBI/UNAM
e a ESEIG/IPP. Este objetivo ser concretizado atravs da partilha de documentos criados no seio das
suas comunidades de investigadores, professores e de estudantes de ps-graduao.
De modo a criar uma comunidade de pesquisa colaborativa, a biblioteca digital ser um
espao propcio para o desenvolvimento dos trabalhos finais de graduao, atravs da interao
entre alunos e tutores do Mxico e Portugal. Simultaneamente, sero potenciadas e facilitadas as
pesquisas em parceria, fomentando um viso multicultural, tanto entre os alunos como entre
professores e investigadores do Mxico e de Portugal.
Ser ainda um contexto favorvel divulgao e partilha de documentos criados pelos alunos
no mbito das aulas dos respetivos cursos, proporcionando colaboraes internacionais desde uma
fase inicial da formao acadmica.
Esta viso pressupe a participao ativa e criativa da comunidade de utilizadores das
instituies participantes, na medida em que sendo os seus utilizadores finais sero tambm
criadores dos seus contedos e atores do seu desenvolvimento, importando que faam sugestes
acerca da estrutura de contedos e servios disponibilizados. Este aspeto est relacionado com uma
caracterstica prpria da biblioteca 2.0, j que o seu desenvolvimento deve basear-se nos seguintes
princpios:

- orientao para os utilizadores: os utilizadores participam na criao de contedos e
servios a que tm acesso atravs da Internet.
- enriquecida socialmente: a presena da biblioteca na web inclui os utilizadores.
- comunitariamente inovadora: a biblioteca deve permitir que os seus utilizadores
participem ativamente nas suas transformaes.

Atendendo a questes relacionadas com os direitos autorais, a publicao estar protegida, ou
seja, o acesso restrito aos atores das instituies participantes tanto para o depsito dos materiais
como para a sua consulta.

1293
Como proposta inicial, os documentos a serem includos incidiro em material didtico de
apoio formao nos Estudos de Informao, apresentaes de dissertao e trabalhos em curso de
graduao e ps-graduao, documentos de conferncias e preprints.
Mas a colaborao a que nos referimos no campo da biblioteca digital, est ainda orientada
para a criao e troca de outro tipo de documentos gerados nas instituies participantes. Por esta
razo, esto j a ser desenvolvidos trabalhos para definir orientaes relativas publicao de
documentos digitais, onde podero ser includos, na senda do que Borgman (2007, p. 98-99) advoga
para as Cincias Sociais e Humanas: dados estatsticos resultantes da aplicao de inquritos,
modelos de questionrios, observaes descritivas ou indicadores construdos para reas especficas
no mbito dos Estudos de Informao. Podero ainda ser includas outras categorias de publicaes
digitais como blogs, contedos de udio e/ou vdeo, fotografias.
Os recursos digitais devero ser devidamente organizados, considerando a filosofia do Open
Linked Data e com recurso a software que atenda a Open Archives Initiative.
Tratando-se de um projeto em fase de conceo e construo, outros aspetos podero e
devero ser tidos em conta, medida que os trabalhos forem avanando.

Notas finais

A colaborao entre instituies, investigadores e docentes da rea da Cincia da Informao,
no Mxico e em Portugal, num projeto de desenvolvimento de uma biblioteca digital em
biblioteconomia e reas afins permite combinar as melhores prticas sobre o conhecimento que
ambas as instituies tm sobre a implementao de sistemas de informao digitais.
Este projeto favorece tambm a troca de informao, de experincias, o uso conjunto de
servios e a colaborao nas reas do ensino e da pesquisa entre instituies de diferentes pases.
Assim, este trabalho est tambm a evidenciar como uma biblioteca digital pode constituir
um patamar de incio e de sustentao para promover a insero dos docentes e investigadores (e
tambm estudantes de ps-graduao) de duas instituies de ensino na rea Cincia da Informao
e afins, de dois pases distintos, no movimento da e-cincia, entendida como o conjunto de
atividades cientficas desenvolvidas por grupos de colegas de vrias partes do mundo, mediante
recursos distribudos acessveis atravs da Internet.

Referncias

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sens. Montral: ditions ASTED.

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1295
FUNCIONALIDADES DE CLASIFICACIN EN SISTEMAS DE GESTIN DE CONTENIDOS
Evaluacin de prestaciones

JESS TRAMULLAS
[email protected]

PIEDAD GARRIDO
[email protected]

ANA I. SNCHEZ-CASABN
[email protected]

Resumen Los sistemas de gestin de contenidos (content management systems, CMS) son paquetes de software
que permiten crear, publicar y archivar contenidos digitales. En estas plataformas desempean un papel
fundamental los mecanismos de clasificacin de los contenidos informativos. Este trabajo evala la
implementacin de funcionalidades para esquemas de clasificacin en estas herramientas. Para ello, se ha
definido un mtodo de anlisis, con el que se han estudiado diez paquetes, con la finalidad de determinar el
soporte a diferentes tipos de esquemas de clasificacin, en relacin con los contenidos que gestionan. La
evaluacin se ha llevado a cabo mediante anlisis heurstico, tablas de presencia/ausencia de prestaciones, e
indicadores numricos. Los resultados han sido recogidos en tablas comparativas. Las conclusiones obtenidas
permiten afirmar que las soluciones aportadas son incompletas y parciales, y no aprovechan todo el potencial
subyacente a los esquemas de clasificacin.

Palabras-clave sistemas de gestin de contenidos. Esquemas de clasificacin. Evaluacin.

Abstract The content management systems (content management systems, CMS) are software packages that
allow to create, publish, and archive digital content. On these platforms play a key role classification schemes.
This work evaluates the implementation of features for classification schemes in these tools. To do this, we
have defined a test method, and have been studied ten software packages, with the aim of determining the
different types of classification schemes supported, in relation to the content that they manage. The
evaluation was carried out by heuristic analysis, presence / absence of functionalities, and numerical
indicators. The results have been collected in comparative tables. The conclusions obtained are such that the
solutions provided are incomplete and partial, and do not exploit the full potential underlying classification
schemes.

Keywords Content management systems. Classification schemes. Evaluation.

Planteamiento y objetivos

Los sistemas de gestin de contenidos (content management systems, CMS) son el eje
fundamental sobre el cual giran las sedes web. Estas aplicaciones permiten desarrollar espacios de
informacin que dan soporte a las ms variadas necesidades informativas que puedan tener los
usuarios. Se trata de herramientas que ofrecen las prestaciones necesarias para crear, editar,
evaluar, publicar y archivar contenidos digitales, en el marco de un flujo de trabajo, y para

1296
administrar el ciclo de vida de la informacin digital (Tramullas, 2005; Prez-Montoro, 2005). Las
principales tareas que llevan a cabo los usuarios de los CMS son la publicacin, administracin y
consulta de contenidos. Para cualquiera de estos perfiles de usuario, las funciones de clasificacin y
etiquetado de los contenidos se convierten en un componente nuclear de los servicios, en tanto en
cuanto tienen tres usos principales:

1. El establecimiento de estructuras de organizacin de contenidos y de arquitecturas
de la informacin en los productos y servicios de informacin digital.
2. La creacin de sistemas de navegacin, en cuanto se utilizan para crear estructuras de
exploracin y trayectos.
3. La recuperacin de informacin, en cuanto ofrecen puntos de acceso de alto valor
aadido.

En estas plataformas, y dadas las caractersticas que ofrecen para la informacin digital, as
como los posibles contextos de uso, desempean un papel fundamental los mecanismos disponibles
para la clasificacin de los contenidos informativos. La creciente importancia de las herramientas
de clasificacin se aprecia en el auge que estn teniendo los esquemas de clasificacin en el
contexto de la gestin de la informacin digital, en especial en los ltimos aos, en los cuales el
desarrollo de servicios del web semntico se fundamenta en la utilizacin de ontologas. Sin
embargo, estas herramientas deben complementarse en los CMS con la existencia de las
funcionalidades tcnicas necesarias para conseguir su correcta implantacin y uso. La posibilidad de
implementar un tesauro o una clasificacin facetada en un sistema de gestin de contenidos, no
quiere decir que automticamente se encuentren disponibles todos los posibles usos deseables del
esquema. Este trabajo tiene como objetivo evaluar las funcionalidades con las que los CMS
implementan las soluciones tcnicas necesarias para utilizar correctamente los esquemas de
clasificacin.

1 Uso de esquemas de clasificacin

En la ltima dcada, la utilizacin de esquemas de clasificacin en internet se ha popularizado
de manera notable, en particular desde la explosin de los servicios del web 2.0. Los usuarios se han
acostumbrado a etiquetar contenidos de todo tipo, principalmente con el objetivo de poder
recuperar y acceder a informacin de su inters. Mai (2004) ya argument que la clasificacin
bibliogrfica poda aportar un gran avance a la organizacin de los contenidos del web, siempre y
cuando la investigacin en la misma se ajustase a las caractersticas del medio digital, y se centrase
en clasificaciones basadas en las necesidades y usos de la informacin. Sin embargo, slo en
entornos controlados se ha procedido a sistematizar el uso de esquemas de clasificacin, como en
bibliotecas digitales, repositorios, o entornos corporativos.
Gran parte de la actividad de etiquetado que los usuarios llevan a cabo puede identificarse
como una aproximacin intuitiva a la clasificacin facetada. El uso de los principios de las
clasificaciones facetadas ha sido analizado por Zins (2002), quien ha estudiado diferentes modelos
de organizacin de informacin en portales web. Este autor ha ideDal Porto, S., & Marchitelli, A.
(2006) identificado hasta un total de ocho modelos de clasificaciones facetadas, correspondientes a
temas, objetos, aplicaciones, usuarios, localizaciones, referencias, medios y lenguajes. Se pueden
encontrar modelos que combinan varios de ellos. Los cinco primeros sealados hacen referencia al
contenido informativo, siendo sta la aproximacin ms utilizada en los servicios y productos de
informacin digital. Las limitaciones inherentes al modelo de etiquetado plano, y los problemas que
conlleva han sido puestos de manifiesto por Noruzi (2006), que ha sealado la necesidad de

1297
perfeccionar el uso de los mismos, integrando principios procedentes de los esquemas de
clasificacin clsicos.
Garshol (2004), en su revisin de esquemas de clasificacin y metadatos de aplicacin en el
web semntico, seala las diferencias entre vocabulario controlado, taxonoma (o clasificacin
jerrquica), tesauro, clasificacin facetada, ontologa y topic map. La experiencia de los usuarios de
informacin digital permitira afirmar que, si bien los dos primeros son los dos ms utilizados por su
sencillez, como puede ser en comunidades virtuales, foros o blogs, en los entornos de servicios de
informacin ms especializados se ha optado por las clasificaciones facetadas y los tesauros,
mientras que las ontologas y los topic maps continan usndose sobre todo en entornos y productos
muy avanzados y en investigacin acadmica, en especial en aquellos desarrollos de servicios del
web semntico.

2 La evaluacin de sistemas de gestin de contenidos

No son abundantes las evaluaciones sistemticas y rigurosas sobre sistemas de gestin de
contenidos. La mayora de la informacin disponible proviene de informes tcnicos parciales,
elaborados por profesionales independientes o consultoras que trabajan en el sector. En otras
ocasiones, se limitan a estudios de caso, de lo que resulta sumamente dificultoso para extraer datos
o aspectos que puedan usarse para estudios comparativos bajo los mismos parmetros. Robertson
(2002) estableci un esquema bsico de evaluacin de sistemas de gestin de contenidos, dentro del
cual situaba como una fase fundamental la estructuracin previa de requerimientos, atendiendo a
las funcionalidades nucleares consideradas como necesarias. Dentro de las mismas ya destacaba un
apartado dedicado a los metadatos, identificados como crticos para gestionar el repositorio de
informacin. Dentro de este grupo sealaba el uso de palabras clave, taxonomas o clasificaciones
temticas y mapas de tpicos.
Africa (2008) ha desarrollado un marco de evaluacin para CMS libres, Web Site Quality
Evaluation Method, que sigue el estndar ISO 9126. Tras definir el objetivo y el alcance de la
evaluacin, establece las caractersticas de calidad, las subcaractersticas y los atributos, as como
las mtricas de calidad para cada uno de ellos. Finalmente, obtiene un indicador numrico que
indica la preferencia global para cada CMS.
Quinn y Gardner-Madras (2010) han llevado a cabo un estudio comparativo general sobre
cinco CMS libres, en el que han evaluado funcionalidades bsicas sobre instalacin y configuracin,
administracin, interfaz grfica, accesibilidad y optimizacin para bsquedas, flexibilidad
estructural, gestin de usuarios y comunidad, seguridad, extensibilidad y fortaleza de la comunidad.
Slo en un nico el apartado, concretamente en el de accesibilidad, dedican un indicador simple
sobre el uso de metadatos o categoras, sin profundizar ms en la cuestin. El Centro de Apoyo
Tecnolgico a Emprendedores de la Fundacin Parque Cientfico y Tecnolgico de Albacete (2012)
ha redactado un trabajo con un enfoque similar, en el que ampla a ocho el nmero de herramientas
estudiadas. Sin embargo, en el mismo no se contemplan especficamente los aspectos de
clasificacin y etiquetado de contenidos.
Aproximacin diferente es la adoptada por la consultora Smile (Bcue, 2012a), que, adems de
un estudio comparativo general sobre varias herramientas (Bcue, 2012b), plantea una evaluacin
basada en una lista de comprobacin de funcionalidades. En las que conciernen a las prestaciones
sobre metadatos, se seala la capacidad de capturar metadatos automticamente, relacionados con
el proceso de gestin del contenido, y la de asignar, de manera directa o automtica, metadatos
descriptivos de contenido informativo, atendiendo al estndar Dublin Core, y a la posibilidad de
incorporar metadatos tomados de diferentes taxonomas usadas en el CMS. Seala adems la
importancia de que stas, taxonomas o clasificaciones, puedan ser jerrquicas, con la finalidad de
permitir una estructuracin automtica de los contenidos.

1298
3 Metodologa

La evaluacin de software, a pesar de existir normas ISO (ISO 9126-1) que sirven de gua para
determinar su calidad, resulta una tarea compleja y de elevada dificultad. Jadhav y Sonar (2009) han
analizado un amplio repertorio bibliogrfico sobre la cuestin, concluyendo que, aunque existen
una gran variedad de propuestas, mtodos y tcnicas, una amplia mayora ha usado un proceso
analtico jerrquico, en el marco del cual se suelen asignar valores numricos para obtener un
indicador til para la toma de decisiones.
El proceso de evaluacin que se ha llevado a cabo en este trabajo ya ha sido probado, en una
primera iteracin simple, por los autores (Tramullas & Garrido, 2006). La evaluacin se basa en el
estudio analtico de funcionalidades requeridas. El proceso se estructura en las siguientes fases:

1. Definicin del objetivo de la evaluacin;
2. Establecimiento de las funcionalidades necesarias, de su jerarqua y de su valor;
3. Seleccin de los CMS a evaluar;
4. Prueba emprica de las funcionalidades disponibles;
5. Sntesis y validacin de resultados.

En la primera fase, se ha establecido que el objetivo es evaluar el soporte a la utilizacin de
esquemas de clasificacin en sistemas de gestin de contenidos web. La segunda fase ha
determinado que, en un primer nivel, los sistemas deben dar soporte a la implementacin de una
lista de palabras clave, de una clasificacin jerrquica, de una clasificacin facetada, de un tesauro y
de una ontologa, y a su utilizacin en entornos de creacin de contenidos. En un segundo nivel se
contemplan la posibilidad de usar varias de ellas de forma simultnea en diferentes tipos de
contenidos, la generacin de arquitecturas de informacin para estructurar el servicio, y la
capacidad para intercambiar esquemas de clasificacin con otras plataformas. Cada criterio ha
recibido un valor de cumplimiento de 10 puntos. Dal Porto y Marchitelli (2006) usaron un enfoque
similar, pero de menor complejidad, y slo contra un nico CMS, Movable Type.
La seleccin de CMS se ha circunscrito a aqullos que se distribuyen con licencias de software
libre. Esto excluye a las plataformas comerciales. Sin embargo, la creciente utilizacin de software
de este tipo, tanto en servidores corporativos, institucionales y personales, y la existencia de
grandes comunidades de usuarios, tanto empresariales como individuales, que utilizan y ofrecen
soporte para estos productos, hacen ms interesante esta clase de herramientas. A ello se une la
facilidad con la que es posible implementar una instalacin de los mismos para proceder a su
anlisis y estudio. El anlisis se ha llevado a cabo sobre una instalacin bsica o nuclear de cada
paquete de software. La arquitectura de las aplicaciones hace posible que se puedan aumentar y
mejorar sus prestaciones con la incorporacin de mdulos o plugins complementarios. Dada la
numerosa casustica que puede crearse si se toma en consideracin este enfoque, el estudio se ha
limitado a las versiones bsicas.

1299
CMS URL de referencia Versin Licencia
WordPress www.wordpress.org 3.5.1 GNU GPL 3
Plone www.plone.org 4.3 GNU GPL 2
Drupal www.drupal.org 7.22 GNU GPL 3
Joomla www.joomla.org 3.1.1 GNU GPL 2
e107 www.e107.org 1.0.3 GNU GPL 2
Typo3 www.typo3.org 6.1 GNU GPL 2
Xoops xoops.org 2.5.5 GNU GPL 2
phpwcms www.phpwcms.de 1.6 GNU GPL 2
SPIP www.spip.net 3.0.8 GNU GPL 3
ez Publish www.ez.no 5 GNU GPL 2

Tabla 1. Paquetes de software analizados

Para la prueba emprica, se han evaluado diez sistemas que renen las caractersticas
indicadas, y que se recogen en la tabla 1. Todos ellos tienen una asentada presencia en Internet, y
numerosos grupos de desarrolladores y usuarios, merced a los cuales existen gran cantidad de sedes
web que han implementado las soluciones indicadas.

Fig. 1. Listado de trminos en taxonoma en Drupal.

Una vez instalados con la configuracin bsica, se crearon varias entradas de diferentes tipos
de contenido, a crear los diferentes esquemas de clasificacin indicados en prrafos superiores, y a
asignar trminos a los contenidos. Casi todas las herramientas hacen necesario introducir los
elementos de la clasificacin, trminos o categoras con anterioridad a las entradas, ya que se
seleccionan desde las pantallas de creacin y edicin de contenido. Los resultados obtenidos se
recogen en la tabla 2.

1300
CMS Palabras clave Clasificacin
Jerrquica
Clasificacin
Facetada
Tesauro Ontologa
WordPress SI SI NO NO NO
Plone NO SI NO NO NO
Drupal SI SI SI NO NO
Joomla SI SI NO NO NO
e107 SI NO NO NO NO
Typo3 SI SI NO NO NO
Xoops NO NO NO NO NO
phpwcms SI SI NO NO NO
SPIP SI NO SI NO NO
ez Publish SI SI NO NO NO

Tabla 2. Funcionalidades de clasificacin bsicas.

Los resultados han sido recogidos en tablas comparativas, y evaluados mediante tablas de
presencia/ausencia de prestaciones y anlisis heurstico. En todos los paquetes estudiados es
necesaria la existencia de un perfil de administrador que gestione los esquemas de clasificacin,
tanto en lo concerniente a su creacin y mantenimiento, como a la configuracin de reglas y
permisos de uso por parte de los usuarios. Algunos de los criterios usados pueden inducir a
confusin, Por ejemplo, Plone usa como esquema de clasificacin jerrquico la nocin de carpeta;
una aproximacin similar es tambin empleada por e107, por ezPublish y por Typo3. Se trata de una
aproximacin al problema que tiende a replicar, en la interfaz de usuario, ideas clsicas de
organizacin jerrquica de informacin en ordenadores. El caso de Xoops es particular, dado que una
instalacin bsica no permite aadir contenidos, para lo cual es necesario instalar mdulos
complementarios; en consecuencia, no ofrece funcionalidades bsicas para ningn esquema de
clasificacin.

Fig. 2. Gestin de categoras para artculos en Joomla.

Slo Drupal es capaz de ofrecer funcionalidades que hacen posible crear y usar esquemas
facetados, sobre cualquier tipo de contenido. Como se deduce del contenido de la tabla 2, ninguno
de los paquetes analizados ofrece soporte para tesauros en sus instalaciones bsicas, y ninguno de

1301
ellos est preparado para implementar directamente ontologas y, por extensin, servicios basados
en tecnologas del web semntico.

CMS Bsqueda especfica
por trminos de
clasificacin
Uso combinado
esquemas de
clasificacin
Generacin de
arquitecturas de
informacin
Import./export. de
esquemas de
clasificacin
WordPress NO SI SI NO
Plone NO NO SI (parcial) NO
Drupal NO SI SI NO
Joomla NO SI SI (parcial) NO
e107 NO NO NO NO
Typo3 NO NO SI (parcial) NO
Xoops NO NO NO NO
phpwcms NO NO SI NO
SPIP NO SI SI (parcial) NO
ez Publish NO SI (parcial) SI (parcial) NO

Tabla 3. Funcionalidades avanzadas para esquemas de calificacin.

Las funcionalidades consideradas por el anlisis como avanzadas tambin muestran
notables carencias. Slo WordPress, Joomla y Drupal son capaces de combinar esquemas de
clasificacin, aunque en el caso de los dos primeros son etiquetas simples y una
clasificacin jerrquica, mientras que el tercero, Drupal, permite combinar
simultneamente varios esquemas, y discriminar por tipo de contenido si resulta necesario.
La generacin de arquitecturas de informacin, que parece una funcionalidad bastante
comn, en realidad se beneficia de aquellos paquetes que usan la aproximacin de la
carpeta como esquema jerrquico (marcados como SI parcial), indicados en el prrafo
anterior. Resulta destacable que, pese a emplear esquemas de clasificacin, ninguno de los
paquetes analizados ofrezca directamente la posibilidad de usar los esquemas de
clasificacin en sus interfaces de bsqueda.
CMS Funcionalidades bsicas Funcionalidades
avanzadas
Indicador numrico
final
WordPress 20 20 40
Plone 10 5 15
Drupal 30 20 50
Joomla 20 15 35
e107 10 0 10
Typo3 20 5 25
Xoops 0 0 0
phpwcms 20 10 30
SPIP 20 15 35
ez Publish 20 10 30

Tabla 4. Indicadores cuantitativos.

1302
La tabla 4 muestra los resultados obtenidos de asignar los valores de cumplimiento de
los requisitos, sobre un total de 90 puntos posibles. Drupal es el paquete que ofrece ms
prestaciones y flexibilidad. Tras ste, viene un segundo grupo formado por WordPress.
Joomla y SPIP, que muestran capacidades similares, siendo ms amigable la interfaz del
primero. Teniendo en cuenta que el valor mximo posible era de 90, los paquetes con
valores por debajo de 30 muestran notables carencias en sus versiones bsicas de
instalacin.

Fig. 3. Gestin de secciones y etiquetas en SPIP.

Conclusiones

La evaluacin desarrollada permite extraer conclusiones de gran inters para analizar el
estado de la integracin de las funcionalidades para clasificacin de contenidos en los sistemas de
gestin de contenidos:
En primer lugar, resulta obligatorio destacar que los sistemas de gestin de contenidos
web existentes dan, por el momento, ms importancia a los procesos de publicacin de
contenidos y de presentacin de usuario final, que a las funcionalidades de etiquetado y
clasificacin y de recuperacin de informacin fundamentadas en esquemas de
clasificacin.
Las funcionalidades disponibles para la implementacin de herramientas de
clasificacin son muy heterogneas, oscilando desde simples esquemas jerrquicos,
hasta la posibilidad de implantar esquemas facetados.

1303
Las tareas de gestin de los esquemas de clasificacin se entienden como parte de la
necesaria administracin general y configuracin del sistema que se trate.
Muchos sistemas tienden a identificar los esquemas de clasificacin jerrquicos con la
jerarqua de carpetas y ficheros de los sistemas operativos.
Los esquemas de clasificacin no se han integrado con las interfaces de bsqueda de
informacin.
No existe la posibilidad de utilizar ontologas, o usar otras aproximaciones al web
semntico.
Como conclusin general, puede afirmarse que la actual generacin de sistemas de gestin de
contenidos no ofrecen todas las prestaciones deseables para las herramientas de clasificacin, y
presentan adems un panorama muy heterogneo. Gran parte de los servicios de informacin ms
avanzados construidos sobre estos paquetes, que muestran un uso ms desarrollado de esquemas de
clasificacin en su arquitectura de la informacin, han hecho uso de la instalacin y configuracin
de mdulos complementarios que aumentan las funcionalidades y prestaciones para los esquemas
de clasificacin. Esto supone la necesidad de expertos y desarrollo especializado para implementar
sistemas de gestin de contenidos que aprovechen todo el potencial que ofrecen los esquemas de
clasificacin.

Referencias

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1305
EJERCICIOS DE GOBERNANZA EN COMUNIDADES ACADMICAS VIRTUALES. INDAGACIONES
CONCEPTUALES SOBRE LAS DINMICAS DIGITALES DE SOCIALIZACIN DEL CONOCIMIENTO
*

ESTHER-JULIANA VARGAS-ARBELEZ
Universidad de la Salle
[email protected]

Resumen El objeto de este texto es explorar la inclusin del concepto gobernanza para pensar las formas
alternativas de socializacin del conocimiento cientfico. Por formas alternativas nos referimos a los
dilogos que se dan en comunidades virtuales acadmicas que no necesariamente responden a las dinmicas
estandarizadas de valoracin de la produccin cientfica desde las polticas de ciencia, y que, empero,
entraan altos niveles de calidad y de apertura de la ciencia. Exploraremos si estos altos niveles de apertura
de la ciencia se deben, justamente, a una apuesta de gobernanza consciente o no- entre algunos acadmicos
que conduce, a la postre, a que se configuren ms claramente los caminos de la democratizacin del
conocimiento. Para ello indagaremos cmo se estructura la teora sobre el concepto gobernanza en la
comprensin del fenmeno de las comunidades virtuales acadmicas; haremos una aproximacin al concepto
gobernanza; y finalmente revisaremos si efectivamente podramos hablar de una gobernanza de la
ciencia en comunidades acadmicas virtuales. El texto apunta a la conclusin de que, en efecto, se puede
introducir la categora gobernanza para pensar estas formas de socializacin del conocimiento.

Palabras-clave gobernanza. comunidades acadmicas virtuales. intercambio de conocimiento.

Abstract The purpose of this paper is to explore the inclusion of the concept "governance" to think of
alternative forms of socialization of scientific knowledge. By "alternative" we refer to the dialogues that
occur within scientific virtual communities that do not necessarily correspond to the dynamics to the
standardized assessment of scientific production established according to science policies, and yet they
involve high levels of openness in science and quality. It will be explored whether these "high levels of
openness in science" is due, precisely, to a bet of governance of science -conscious or not- among some
academics that leads, ultimately, to the configuration of clearer ways of the democratization of knowledge. To
do so, it will be explored the concept "governance" and its role in understanding the phenomenon of
knowledge sharing within academic virtual communities. The text points to the conclusion that, indeed, the
category governance can be useful to think these forms of knowledge socialization.

Keywords governance. academic virtual communities. knowledge sharing.

Introducin

Llega Academia.edu, la red social para investigadores. Desde su pgina
se puede seguir el trabajo de Stephen Hawkings o Noam Chomsky y sus
colegas del departamento. Se podra definir casi como un hbrido entre
Wikipedia para expertos y Facebook. Academia.edu nace con la vocacin
de convertirse en el directorio de referencia de publicaciones cientficas,
un sector que a menudo no encuentra toda la difusin que merece o
permanece inaccesible para el comn de los mortales. Segn TechCrunch,
la gran baza que diferencia a esta iniciativa de otras similares es su
vocacin social. (Abun, 2010)
1

1
http://www.siliconnews.es/2010/11/28/llega-academia-edu-red-social-investigadores/

1306
ResearchGate was built by scientists, for scientists. It started when
two researchers discovered first-hand that collaborating with a friend or
colleague on the other side of the world was no easy task.
2

Los ejemplos con los que abrimos esta seccin son slo dos de muchos que se pueden
encontrar en la Internet. De acuerdo con el estudio desarrollado por REUBIN (Red de Bibliotecas
Universitarias, espaola), de todas las redes sociales acadmicas que se encuentran en la Internet
resaltan por lo menos seis (Academia.edu; Academici.com; Epernicus.com; Lalisio.com; Methodspace.com;
Researchgate.com y Sciencestage.com) seleccionadas entre las mltiples que existen en todo el mundo,
a partir de su orientacin exclusiva a la comunidad cientfica (Merlo, et al., 2010, p. 7).
Cada vez son ms populares las redes sociales que no son redes de la vida social de la gente,
sino verdaderas materializaciones de lo que desde finales del siglo pasado se estudiaba como el
colegio invisible. Actualmente encontramos redes de investigadores, que comparten contenidos,
sus perfiles, sus intereses de investigacin, e incluso sus aspiraciones laborales. Este no es, por
supuesto, un comportamiento aislado: no slo los acadmicos sino todos los que vivimos en la
llamada sociedad de la informacin estamos cada vez ms proclives a obtener ms informacin y
ms rpidamente (Innerarity, 2011).
Las comunidades de conocimiento (acadmicas o no) se han formado y reproducido a pasos
agigantados gracias a los desarrollos digitales. Para el caso de la academia es particularmente
interesante el hecho de que los recursos digitales lo que han hecho es sistematizar la prctica de
intercambio de informacin que se observaba desde los inicios de la concepcin de la moderna de
ciencia, con el llamado invisible college que, segn algunos historiadores de la ciencia (Webster,
1967), promovi la posterior creacin de la Royal Society of London.
El concepto invisible college, como recapitula Borgman (2007, p. 57) fue resucitado por
Derek de Solla Price (1963) y retomado por Diana Crane (1969 y 1972) como hiptesis de trabajo para
comprender si en efecto se poda hablar de la academia como un grupo social. Crane encuentra, a
travs de anlisis sociomtricos (Crane, 1967, 335), que los cientficos no slo s constituyen un
grupo social, sino que tienen dinmicas formales e informales de comunicacin que derivan en
mayor o menor visibilidad de sus miembros. Puntualiza en particular cuatro grandes modalidades
de interaccin entre los miembros de la comunidad acadmica: comunicacin informal,
colaboracin (formal testificada en la firma de los artculos- o de manera informal), la direccin de
tesis y las citaciones en los artculos de revistas cientficas (Crane, 1969, 336).
Actualmente estas cuatro modalidades no slo siguen vigentes, sino que estn impulsadas por
los medios digitales. En efecto, las colaboraciones siguen dndose entre los investigadores y siguen
siendo reconocidas en la firma de los artculos; las direcciones de tesis se facilitan gracias a recursos
de comunicacin en la red (Skype o Messanger, por ejemplo); los sistemas de citacin entre los
cientficos se han sistematizado mucho ms en la red; y finalmente la comunicacin informal es
cada vez ms fcil y rpida. Ya en 2007 Ch. Borgman anotaba: La comunicacin online ha acelerado
la cantidad de comunicacin informal entre los acadmicos y ha simplificado la diseminacin de
productos acadmicos formales (Borgman, 2007; p. 49).
Esta comunicacin informal entre los acadmicos facilitada por los recursos digitales, que
derivan en comunidades virtuales como las analizadas por REBUIN y referenciadas atrs, es la
materializacin, como decamos, de los colegios invisibles de los que hablaba Crane hace 40 aos. Esto
significa, como bien lo anota Borgman, que las intencionalidades de las interacciones no cambian
sustancialmente, pero s los medios usados contemporneamente. Qu es lo nuevo, entonces, en
este escenario, adems de los medios? Vamos a revisar la hiptesis, ms adelante, de que lo que
entraa cierta novedad en la popularidad de los espacios virtuales de intercambio de conocimiento
cientfico es una accin, deliberada o no, de retoma de la comunicacin cientfica al margen de los
mecanismos estandarizados de las polticas de ciencia esto es, una gobernanza de la ciencia-. Se

2
http://www.researchgate.net/aboutus.AboutUs.html

1307
podra decir que ello se debe a la creciente actividad de circulacin de conocimiento en la red, cuyas
caractersticas iluminan el estudio del comportamiento de los acadmicos en las comunidades
virtuales.

1 Las comunidades acadmicas virtuales

Las comunidades de conocimiento no son un espacio exclusivo de los cientficos (Lin, 2013).
Ya los estudiosos taiwaneses (Chiu, et al., 2006; Hsu, et al., 2007; Chen, et al., 2010, entre otros) han
investigado ampliamente el xito de los espacios de preguntas y respuestas en la red que no tienen
filtros acadmicos o valoraciones de calidad; aunque s tengan la particularidad de ser comunidades
virtuales de profesionales que comparten conocimiento.
Chiu, et al. 2006 analizan en su artculo las caractersticas de las comunidades virtuales.
Aplicando una combinacin de la Teora Social Cognitiva
3
y la Teora del Capital Social
4
, Chiu et al.
establecen un marco terico para comprender las caractersticas de las comunidades virtuales. Las
definen como redes sociales en lnea en las cuales la gente con intereses, metas o prcticas
comunes interacta para compartir informacin y conocimiento, e implican interacciones sociales
(Chiu, et al., 2006, p. 1873)
5
.
La clave del xito de una comunidad virtual y su mayor reto, como los autores afirman-, es el
deseo de compartir conocimiento (Ibid.). En qu se funda este deseo? Chen, et al. (2010), basados
tambin en la Teora Social Cognitiva, explican que el intercambio social asume la existencia de un
relacin relativamente a largo plazo, como opuesta a una de intercambio de una sola vez. La norma
de reciprocidad y confianza interpersonal son dos de los factores contextuales ms significativos
que conducen el intercambio de conocimiento (Chen, et al., 2010; p. 227 original en ingls).
Resaltan, entonces, dos aspectos centrales en el intercambio de conocimiento: reciprocidad y
confianza interpersonal.
Estas dos caractersticas parecen ser la base tambin de las comunidades acadmicas virtuales.
En efecto, como lo muestra el informe de REBIUN la caracterstica principal de la llamada web social
(2.0), que es el contexto de las comunidades acadmicas virtuales, es su carcter participativo, lo
cual supone un grado de confianza y de reciprocidad. La ciencia 2.0 es la aplicacin de las
tecnologas de la web social al proceso cientfico. La web social, web 2.0 o web participativa se
caracteriza por el empleo de tecnologas abiertas () y sobre todo, [por el] trabajo colectivo que se
realiza de forma telemtica, colaborativa y desinteresada (REBUIN, 2010, p. 5).
En el contexto de la ciencia 2.0 las tres cosas que se comparten son: investigacin, recursos y
resultados. La investigacin se comparte a travs de redes sociales de investigadores, para
diseminar documentos, intereses, perfiles profesionales, y en general apoyo a los procesos de la
investigacin. Por otra parte, los recursos que se comparten son eminentemente de orden
bibliogrfico: referencias bibliogrficas, favoritos web o ndices de citas (Redbuin, p. 3).
Finalmente, se comparten resultados de forma abierta, a travs de las publicaciones en las revistas
acadmicas en acceso abierto, en los blogs y en los wikis.

3
En una lectura de A. Bandura. Explican que La Teora [Social Cognitiva] define el comportamiento humano como una
interaccin tradica, dinmica y recproca de factores personales, comportamiento y redes sociales (Chiu, et al., 2006, p.
1873). Original en ingls.
4
La Teora de Capital Social [tomando los desarrollos de J. Nahapiet y S. Ghoshal] sugiere que el capital social, la red de
relaciones que un individuo o una red social poseen y el grupo de recursos enlazados en ella, influencian fuertemente el
alcance en el cual ocurre el intercambio interpersonal de conocimiento (Ibid.). Ms adelante los autores recapitulan as:
El capital social ha sido definido como la suma de los recursos actuales y potenciales incrustado dentro, disponible a
travs y derivado de la red de relaciones posedas por un individuo o una unidad social. (Nahapiet y Ghoshal, 1998, citado
por Chiu, 2006, p. 1875). Original en ingls.
5
Original en ingls.

1308
Ciertamente hay alguna presencia de las instituciones que agencian la valoracin de la ciencia
desde el establecimiento. Dentro de los sitios en la red recapitulados en el reporte de REDBUIN
encontramos, por ejemplo, dispositivos virtuales ofrecidos por editoriales acadmicas comerciales
que estn en sintona con mecanismos de validacin y medicin de la produccin cientfica
adoptados como polticas en la mayora de los pases.
Sin embargo, estos espacios estn vinculados con slo una de las tres actividades de los
cientficos en la red (compartir recursos), que no se vincula directamente con la divulgacin de
intereses o resultados de investigacin (compartir investigacin y compartir resultados). Por el
contrario, llama la atencin que estas actividades no estn mediadas por mecanismos
institucionalizados de difusin o valoracin de la ciencia. En materia de redes sociales cientficas, la
informacin sistematizada en el reporte de Rebuin (pp. 8-15) muestra que de las seis redes sociales
de cientficos ms populares, ninguna tiene como entidad responsable a un estamento
gubernamental, u otro que agencie polticas estatales, y las ms exitosas son las que provienen de
iniciativas particulares (caso Academia.edu, por ejemplo).
Esta falta de institucionalizacin facilita el acceso a la informacin acadmica de forma ms
rpida y directa. Las tecnologas de la web social estn facilitando el flujo de trabajo de la
comunidad cientfica y est permitiendo romper lmites formales en la constitucin de grupos de
investigacin (Rebuin, 2010, p. 6 cursiva ajena al texto). Podramos pensar que esto es una accin
de gobernanza? Acaso los grupos de investigacin, por ejemplo, no son formas de operacionalizar
las polticas de ciencia? Con estas actividades en la web no se estaran generando acciones desde la
poblacin de base en este caso los acadmicos mismos- en relacin con la produccin, valoracin y
uso de los productos cientficos? Esto se puede comprender como una gobernanza de la ciencia?

2 Hacia un entendimiento del concepto gobernanza

Governance es el proceso mediante el que solucionamos
colectivamente nuestros problemas y enfrentamos las necesidades de
nuestra sociedad. () Para hacer todo esto no debemos solamente
reestructurar las instituciones y los mercados sino que debemos forzar el
cambio en algunos de los grupos de inters ms poderosos del pas
profesores, altos directivos, sindicatos, doctores, hospitales.
Osborne y Gaebler (citado por Prats, 2001; nota 10, p. 116)

En las ltimas dcadas el concepto gobernanza se ha popularizado ampliamente, en
especial entre los estadistas y analistas de los gobiernos. Se habla de gobernanza bien como una
forma de buenas costumbres del Estado, en particular, como una materializacin del buen
gobierno; o bien como una forma de empoderamiento de los ciudadanos; o quiz como una forma de
accin colectiva de la sociedad civil parecida la comprensin de gobernanza como
empoderamiento, pero- para atender sus necesidades vitales ante la ausencia del Estado. El uso
del concepto gobernanza es tan amplio como equvoco. Para ilustrar esto revisemos los siguientes
tres ejemplos:

Enfoque 1: la gobernanza es buen gobierno
En Amrica Latina, el debate acadmico sobre la gobernanza ha sido ms bien escaso y la
nocin dominante ha sido difundida por los donantes de la cooperacin internacional. El Banco
Mundial (BM), el Programa de las Naciones Unidas para el Desarrollo (PNUD) y el Banco
Interamericano de Desarrollo (BID) han desempeado una funcin central en el desarrollo y
posterior transferencia de la nocin de buen gobierno, pretendiendo, de ese modo, volver ms

1309
efectiva la ayuda internacional en los pases subdesarrollados (Grindle, 2007; Weiss, 2000). El BM
define gobernanza como el conjunto de procesos e instituciones a travs de las cuales se determina
la forma en que se ejerce el poder en un pas, para desarrollar sus recursos econmicos y sociales.
(Word Bank, 2005: 3-7). El PNUD (UNDP) (1997: 12), por su parte, define gobernanza como el
ejercicio de la autoridad econmica, poltica y administrativa para administrar los asuntos de un
pas a todos los niveles de gobierno. (Zurbriggen, 2013).

Enfoque 2: la gobernanza es empoderamiento

Diciembre 14 de 2012. El Alcalde Mayor de Bogot, Gustavo Petro Urrego, instal este viernes
14 de diciembre, el primer Comit de Impulso a la Gobernanza del Agua, Reciclaje y Aseo, CIGARRA.
() Agreg que el comit es tambin una herramienta para el empoderamiento de toda la ciudadana con
respecto a la gobernanza del agua, su manejo, su cuidado y preservacin. (Tomado de la pgina de la
Alcalda de Bogot
6
. Cursiva ajena al texto).

Enfoque 3: la gobernanza es una accin de la sociedad civil

...el proceso y las instituciones, tanto formales como informales, que guan y limitan las
actividades colectivas de un grupo. El gobierno es el subconjunto que acta con autoridad y crea
obligaciones formales. Gobernanza no necesariamente tiene que ser conducida por los gobiernos y
por organizaciones internacionales a las que les delegan autoridad. Empresas privadas, asociaciones
de empresas, organizaciones no-gubernamentales (ONGs), y asociaciones de ONGs participan en
ella, de manera frecuente en asociacin con rganos gubernamentales, para crear gobernanza; a
veces sin autoridad gubernamental. (Keohane y Nye, citados por Serna, 2010).

Esta diversidad de comprensiones sobre este concepto (que adems desborda lo que
recapitulamos aqu) muestra la necesidad de hacer una delimitacin conceptual de este trmino.
Para este efecto, encontramos iluminadora la descripcin que hace Joan Prats (2001) en su texto
Gobernabilidad democrtica para el desarrollo humano. Marco conceptual y analtico. En este
documento, cuyo objeto principal es como se ve- comprender la gobernabilidad democrtica, el
autor hace una interesante distincin conceptual entre este trmino y otros trminos vecinos, a
saber: gobernanza y gobierno (o gobernacin), y el papel que cada uno de estos aspectos juega en la
consolidacin de una gobernabilidad democrtica estable. La gobernanza, preliminarmente, se
estructura con la gobernabilidad en la medida en que aporta la disposicin de la sociedad civil por
gestionar acciones. Esto considerando que la gobernabilidad democrtica la entiende Prats como un
conjunto de cambios no slo en las instituciones y en las capacidades de gobierno [que se
explicara desde la gobernacin] sino tambin en la actitud de los ciudadanos (2001, p. 105,
cursiva ajena al texto).

Esto es, la gobernabilidad democrtica se conjura en virtud de la ptima articulacin entre la
gobernanza (desde la actitud de los ciudadanos) y la gobernacin (los dispositivos y polticas
institucionales). Cmo se da esta articulacin? Por qu es tan importante esta articulacin, es
decir, la gobernabilidad democrtica?

6
En: http://www.bogotahumana.gov.co/index.php/noticias/comunicados-de-prensa/2838-alcalde-mayor-instalo-
primer-comite-que-impulsa-gobernanza-del-agua-reciclaje-y-aseo-en-la-ciudad

1310
Prats advierte que la urgencia de pensar la gobernabilidad, como bisagra entre la gobernacin
y la gobernanza, nace por la necesidad de allanar caminos ms claros para la democracia ligada al
desarrollo humano. Prats nos dice que los procesos democrticos se han reestructurado
ampliamente por cuenta de los cambios en la organizacin de la sociedad, de la economa y de los
rdenes polticos. [T]odos estos procesos han llevado a formular la insuficiencia del gobierno o
gobernacin (governing) y la necesidad de la gobernanza () para asegurar la gobernabilidad de
las democracias en nuestro tiempo (Prats, 2001; p. 105). El cambio no es balad. La idea que tiene
como base esta forma de gobernacin es que la orientacin de la sociedad en una democracia
sostenible se fundamente en la armona entre las iniciativas de las instituciones de los estados y las
acciones de los ciudadanos. stas son la condicin de posibilidad de un horizonte poltico ms estable,
abierto y participativo; puesto que la gestin del estado no es ya slo responsabilidad de la
autoridad, sino que se formula en conjunto con las orientaciones que va performando la ciudadana;
ahora responsable de su propio destino social.
Cmo se puede pensar esto con respecto a las polticas de ciencia? Cuando los ciudadanos
pinsese: los acadmicos- toman la vocera para incidir en las polticas que los afectan, se
desencadenan acciones de gobernanza; esto eso: gestiones de la sociedad civil que propenden
decisiones sobre sus realidades que, si bien deben ser aplicadas desde las instituciones, no
invisibilizan el lugar de enunciacin de estas decisiones que es la realidad, las necesidades o
quereres de esa sociedad civil. Una accin de gobernanza sobre la dimensin cultural o sobre la
dimensin cientfica de un colectivo debe tener como horizonte la constitucin de una mejor
gobernabilidad de lo cultural o de lo cientfico, esto es, ir ms all del perfeccionamiento
administrativo de las instituciones de gestin cultural o cientfica (como, digamos, secretaras de
cultura o agencias cientficas), o sea, ir ms all del buen gobierno. Ciertamente afirma Prats: El
riesgo ya no es el mal gobierno sino la ingobernabilidad (p. 109). La integracin con las acciones de
gobernanza invita a repensar las polticas en dilogo abierto y operativo con la ciudadana. Decimos
operativo en el sentido de que los dilogos no sean un saludo a la bandera sino que tengan un
efecto real en la consolidacin de las polticas (de ciencia, por ejemplo).
Cmo nacen las acciones de gobernanza? El autor nos indica que hacia el comienzo de este
milenio el problema que se tematiza es la cada de la confianza general en las instituciones y los
liderazgos polticos. En efecto, aunque el compromiso con los valores democrticos es ms firme
que nunca, se observa empricamente que la confianza en las instituciones y en los liderazgos
democrticos ha disminuido en estos 25 aos (p. 111). Este es un fenmeno que vemos casi a diario
en nuestro contexto. Ciertamente, los ciudadanos nos sentimos cada vez consientes de nuestro
papel poltico (en un sentido griego) en la sociedad y menos satisfechos con la sistematizacin de la
poltica en las instituciones concebidas para ese efecto. Este es el escenario del nacimiento de las
acciones de gobernanza, toda vez que son iniciativas no politizadas que tratan, a travs de un
ejercicio poltico (en sentido griego), problemas de la sociedad civil.
Qu caracteriza la gobernanza? Prats seala el mismo significado equvoco que mostramos
en el comienzo de esta seccin, especialmente por cuenta de la popularizacin del concepto tanto
en la academia como en la comunidad del desarrollo y en general en la retrica poltico-
administrativa actual (p. 113). Prats comienza recogiendo la definicin de gobernanza en el sentido
formulado por el PNUD, a saber, como: instituciones y reglas que fijan los lmites y los incentivos
para la constitucin y funcionamiento de redes interdependientes de actores (gubernamentales, del
sector privado y de la sociedad civil) as como la asuncin de su importancia para el desarrollo (p.
114).
La expresin clave cuando se conceptualiza la gobernanza es redes interdependientes. Llama la
atencin la cercana estructural entre la gobernanza y las comunidades virtuales acadmicas, a
saber, ambas tienen una estructura de red, y ambas suponen sujetos participando de forma activa y
colaborativa.
Ahora bien, la gobernanza con su estructura de redes interdependientes- se constituye por
las siguientes caractersticas:

1311

a. toma de decisiones multinivel (Prats, 2001; p. 114);
b. vinculacin del rgimen poltico con el desarrollo (Ibid.);
c. constitucin de redes de actores (Ibid; p. 115).

Sobre el segundo aspecto la vinculacin del rgimen poltico con el desarrollo- vale la pena
resaltar que se trata de un enfoque para pensar las dinmicas de participacin en el espacio pblico
desde una perspectiva digamos- del establecimiento. Tal como lo muestra Prats, citando a Hyden,
se ha desarrollado un concepto de gobernanza basado en el concepto de rgimen, [tal que es un
conjunto de] normas explcitas e implcitas que definen quines son los actores polticos relevantes
y a travs de qu canales y con qu recursos se posicionan activa y polticamente (p.114). En este
sentido, la gobernanza sera una teora metapoltica (p. 115) que comprende no slo las
instituciones del establecimiento, sino tambin la forma en que los actores de la sociedad civil
tienen, formal o informalmente, una influencia en los destinos polticos. Esta perspectiva, si bien
tiene la virtud de abrir el debate dentro del contexto de la poltica sistematizada, puede terminar,
en todo caso, reduciendo la participacin de la sociedad civil al formato establecido desde este
mismo sistema, que no necesariamente garantiza una ptima visibilizacin de las manifestaciones
ciudadanas.
El tercer aspecto la constitucin de redes de actores- es interesante si se tiene en cuenta que
no depende de la estandarizacin de la participacin de la sociedad civil, sino del reconocimiento
desde la teora de la gestin pblica de que en sociedades de alta complejidad, diversidad,
dinamismo e interdependencia, la eficacia y eficiencia de la gestin ya no depende slo de la accin
de gobierno o gobernacin sino de la capacidad para la creacin y gestin de redes de actores (p.
116). En este enfoque la participacin ciudadana es ms flexible y, quiz, ms autntica. En este
sentido, esta forma de comprender la gobernanza podra abrir horizontes conceptuales ms
iluminadores cuando se trata de pensar acciones de gobernanza de la ciencia.

3 Comunidades acadmicas virtuales, gobernanza de la ciencia?

Compartir el conocimiento es el pegamento social que une a las
comunidades acadmicas en conjunto, y las publicaciones son la moneda
de ese reino. En la medida en que los procesos y las estructuras de las
comunicaciones acadmicas evolucionan, los principios bsicos de la revisin de
pares y de la propiedad intelectual que enfatiza el modelo de ciencia
abierta estn siendo cuestionados.
Ch. Borgman (2007; p. 56. Cursiva ajena al texto)

Qu relacin tiene esta conceptualizacin sobre el ttulo gobernanza y la actividad de los
acadmicos? Quiz una de las debilidades de la hiptesis que se maneja en este texto es que la
gobernanza se aplica para comprender fenmenos de movilizacin ciudadana que est ntimamente
relacionada con la solucin de problemas apremiantes y vitales, como la regulacin sobre los
servicios mdicos, la alimentacin, los servicios pblicos, etc. Pensar en una movilizacin de
cientficos no parece tan realista, y sus demandas no pareceran tan vitales. Sin embargo si
pensamos la gobernanza en un sentido amplio como un comportamiento poltico de los actores de
base frente a las polticas institucionalizadas, el recurso a este concepto resulta interesante para
analizar las acciones de los cientficos frente a polticas de ciencia cada vez ms ajenas a sus
dinmicas de produccin del conocimiento.

1312
Revisemos cmo se ha dado la formulacin de polticas de ciencia en la ltima dcada.
Tomemos el caso colombiano, investigado de forma detallada por el socilogo Csar Guzmn Tovar
(2012). Los resultados de su investigacin iluminan la exploracin conceptual de una gobernanza de
la ciencia que proponemos aqu, puesto que, a pesar de tratarse de un estudio sobre un contexto
particular en un pas especfico, la dinmica de produccin y valoracin del conocimiento cientfico
describe el mismo comportamiento de la produccin y valoracin del conocimiento en el mbito
general, analizado por los italianos Berardi (2003) y Lazzarato (2006), entre otros.
Estos autores han analizado la penetracin de las dinmicas del mercado en la concepcin y la
regulacin de la ciencia. La formulacin de polticas de ciencia est entrelazada con las nuevas
prcticas econmicas y sociales de orden internacional (Guzman, 2012; p. 58), que tienen un
formato eminentemente neoliberal y que est impuesto desde fuera del contexto cientfico
propiamente. Esto supone que las polticas de ciencia desconocen las dinmicas humanas de
produccin cientfica (Ibid.; p. 59). C. Restrepo (2013) tambin analiza esta situacin y la juzga de la
siguiente manera: los mltiples poderes orquestados bajo la integracin del capitalismo mundial
[] han insertado el trabajo del pensamiento en un sinfn de relaciones productivas que implican
una desnaturalizacin del concepto, la prctica y el sentido de los saberes al condicionar su
desarrollo a patrones finalsticos, y al someterlos a los dispositivos de gestin, medicin, evaluacin
y estandarizacin que constituyen los modelos hoy en da imperantes de lo que se acepta sin
cuestionamiento alguno bajo la categora de investigacin (Restrepo, 2013; p. 86). Justamente es
en este tipo de escenarios de falta de sintona entre las polticas y los sujetos implicados en ellas,
que las acciones de gobernanza tienden a constituirse y desarrollarse.
La investigacin de Guzmn muestra cmo la enunciacin de polticas de ciencia est dada en
concordancia con la formulacin de polticas econmicas. El autor comienza su anlisis revisando la
dcada de los 90 en Colombia, que estuvo marcada por la introduccin del pas a las tendencias
neoliberales del resto del mundo. Ello implic la adopcin de una poltica de ciencia basada en toda
una serie de procedimientos y mecanismos para la medicin y la evaluacin de la produccin
cientfica, los cuales se basan en una racionalidad econmica que adjudica valor al conocimiento, de
la misma manera que el capital le adjudica valor a las mercancas. [Lo cual] es impulsado desde los
mbitos polticos, a travs de las reformas legislativas a la educacin y la implementacin de
sistemas de medicin y control de las actividades de ciencia y tecnologa (Guzmn, 2012; p. 61). En
este mismo sentido se expresa Restrepo (2013; p. 86), quien muestra que esta dinmica est cada vez
ms institucionalizada en la universidad; lo cual ha desfigurado el sentido de la investigacin.
Sobre esta base, lo que caracteriza la formulacin de polticas de ciencia en Colombia (y como
muestran los italianos, esto es una tendencia mundial), es un fundamento neoliberal y una
subordinacin de la ciencia a las dinmicas del mercado. Ello conduce al establecimiento de
valoraciones nicamente cuantitativas de la produccin del conocimiento y a una preferencia temtica
por los asuntos del desarrollo y el progreso (Guzmn, 2012; p. 62), que implican una nocin de
innovacin-competitividad en la ciencia (Ibid., p. 63).
Acaso toda la produccin de conocimiento est necesariamente enmarcada dentro de los
temas de desarrollo y progreso o cualquiera sea el tema impuesto desde una poltica de ciencia-?
Acaso todas las disciplinas tienen un ritmo de produccin de conocimiento idntico, para ser
medidas todas con el mismo rasero? El mismo Guzmn se pregunta Qu sucede con las actividades
de investigacin que no estn vinculadas directamente con los procesos de produccin econmica?
Qu sucede con las investigaciones sociales que tiene por objeto cualquier cosa menos fortalecer
los vnculos entre las actividades humanas y el mito del progreso occidental? (Ibid).
Los cientficos tienen muchos intereses y de muchos rdenes, as que una decisin poltica
que impone desde el Estado- unas lneas temticas especficas, genera bordes de lo cientfico que
no corresponden con la actividad cientfica real de los acadmicos. En otras palabras, una poltica
de ciencia que impone criterios epistemolgicos desde fuera de la ciencia entraa fuertes problemas
de legitimidad y, por ello, se abre el horizonte de acciones de retoma del asunto de la ciencia en las
manos de los cientficos. Creemos que esto es lo que se hace en las comunidades virtuales
acadmicas, en donde la valoracin de la produccin cientfica no atiende orientaciones polticas

1313
del Estado, mucho menos orientaciones heredadas de las dinmicas del mercado, sino que atiene
autnticos intereses cientficos bajo los cuales se comparte el conocimiento y se valora su calidad.
Prueba de ello es la fuerte actividad en espacios virtuales de acadmicos que no siempre
ejercen su actividad cientfica bajo los parmetros de polticas de ciencias estatales. Por el contrario,
la relacin entre las personas de una misma red es participativa, inmediata y ubicua (Redbuin,
2010, p. 6), razn por la cual no se atienden prescripciones ni mediciones establecidas. En estos
ambientes, en las plataformas cientficas [se] concibe la investigacin de forma global, mediante la
colaboracin entre cientficos en el proceso de investigacin, que permite dar a conocer los
resultados a otros investigadores, quienes pueden intercambiar opiniones con el autor de la
investigacin (Ibid., p. 6-7).
Evidentemente esto no es una accin poltica deliberada, en sentido completo. Sin embargo s
expone la insuficiencia de las polticas de ciencia para orientar las dinmicas de la produccin,
difusin y valoracin del conocimiento cientfico; insuficiencia frente a la cual los acadmicos
acuden a interacciones de base para el intercambio de conocimiento.
En este sentido la explicacin de ResearchGate sobre su misin resulta ilustradora: Hemos
hecho de nuestra misin la de devolver la ciencia a la gente que la hace posible y ayudar a los
investigadores a construir reputacin y acelerar el progreso cientfico
7
.

Por contera

Si bien es claro que no podemos hablar propiamente de una accin poltica en la actividad
virtual de los acadmicos, s creemos que podemos comenzar a identificar acciones de gobernanza
de la ciencia en esos espacios. Una accin que s es deliberada y polticamente activa es la que
adelantan los activistas de la Universidad Nmada (ver explicacin en Restrepo, 2013, p. 97-100) y
otras iniciativas de resistencia frente a las dinmicas mercantilistas importadas a la ciencia. En el
Manifiesto Uninmade + 10 (recogido por Restrepo, 2013) afirman: La red Universidad Nmade es una
espacio de investigacin y militancia, para pensar las brechas y los intersticios donde se articulan
las luchas que determinan esos lmites del capital y se abren a lo posible (Ibid., p. 99). Enfatizamos
el hecho de que este colectivo s expresa abiertamente una postura poltica frente a las decisiones
sobre la ciencia-sobre la universidad desde los establecimientos. Tambin vale la pena sealar que
su canal de comunicacin es virtual; de suerte que aunque no estemos hablando de una red social de
cientficos como las estudiadas por los investigadores de Rebuin-; s se trata de una comunidad de
intercambio acadmico y poltico que funciona virtualmente.

7
http://www.researchgate.net/aboutus.AboutUs.html. Original en ingls.

1314

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1316

TEMA 5
Informao local e organizao global: interaco e
estratgias

1319
CONSTRUO SOCIAL DE UM TERRITRIO LOCAL DE ATUAO PARA A BIBLIOTECA PBLICA
estratgias e polticas

MARIA CLEIDE RODRIGUES BERNARDINO
[email protected]

AURORA CUEVAS CERVER
[email protected]

EMIR JOS SUAIDEN
[email protected]

Resumo As bibliotecas pblicas assumem desafios de grandes dimenses na sociedade, principalmente
pelo desenvolvimento dos sistemas de informao e responsabilidades perante a sociedade da
informao. A construo social de um territrio local para as bibliotecas pblicas uma interpretao
da expressividade do cenrio de identidades local e regional da comunidade usuria em prol da
coletividade (Betancur Betancur, 2007). O panorama de atuao das bibliotecas pblicas na sociedade da
informao impulsiona a gerao e disseminao do conhecimento. Neste sentido, o objetivo desse
trabalho refletir sobre a atuao do Sistema Nacional de Bibliotecas Pblicas - SNBP/RJ para a
construo social de um territrio local de desenvolvimento para a informao e o conhecimento a
partir das bibliotecas pblicas. A pesquisa exploratria permite uma viso geral do fato (Gil, 1999) e a
anlise qualitativa contribui para a elaborao de construtos sociais norteadores das polticas para as
bibliotecas pblicas, elemento fundamental para a construo de um territrio de atuao social. Por
fim, ao elencar o raio de atuao e os aspectos de gesto de polticas pblicas no territrio brasileiro,
so apontados como resultados um mapeamento local e global da atuao das bibliotecas pblicas do
SNBP/RJ, contribuindo para a projeo sociopoltica das bibliotecas pblicas e de sua inegvel
contribuio para o desenvolvimento local. Entendemos que a funo da biblioteca pblica de garantir
o acesso a informao em qualquer suporte ou formato um aspecto fundamental para o
desenvolvimento da cultura e da educao e tem carter democrtico e social. Por fim, apresentamos as
contribuies da biblioteca pblica para a promoo humana a partir do reconhecimento das realidades
locais, integrando culturas e promovendo o empoderamento das pessoas e grupos, incentivando assim,
o desenvolvimento econmico e social da comunidade.

Palavras-chave Biblioteca Pblica. Territrio Local. Desenvolvimento Social.

Abstract Public libraries assume large challenges in society, particularly the development of
information systems and responsibilities towards the information society. The social construction of a
local territory for public libraries is an interpretation of expressiveness scenario identities of local and
regional user community in supporting the community (Betancur Betancur, 2007). The picture of
operation of public libraries in the information society drives the generation and dissemination of
knowledge. In this sense, the aim of this paper is to discuss the role of the National System of Public
Libraries - SNBP / RJ for the social construction of territory development site for information and
knowledge from the public libraries. Exploratory research provides an overview of the fact (Gil, 1999)
and qualitative analysis contributes to the development of social constructs guiding policies for public
libraries, a key element for the construction of a social service territory. Finally, to listing the radius of
operation and management aspects of public policies in Brazil, results are indicated as a mapping local
and global role of public libraries SNBP / RJ, contributing to the socio-political projection of public

1320
libraries and their undeniable contribution to local development. We understand that the role of the
public library to ensure access to information in any medium or format is a key aspect for the
development of culture and education and has a democratic and social. Finally, we present the
contributions of the public library to promote human from the recognition of local realities,
integrating cultures and promoting the empowerment of individuals and groups, thereby promoting
the economic and social development of the community.

Keywords Public Library. Local Territory. Social Development.

Introduo

As bibliotecas pblicas do sculo XXI enfrentam novos desafios de grandes dimenses
na sociedade moderna. Isto se deve principalmente aos avanos tecnolgicos e pelo valor
social da informao na vida da sociedade.
As bibliotecas pblicas so espaos socioculturais que desempenham para a
comunidade em que atuam servios informacionais abrigados em mltiplos suportes. Fala-se
muito que com o passar dos anos as bibliotecas, em especial a biblioteca pblica, deixou de ser
um simples depsito de livros para se transformar em um espao democrtico de informao
e cultura. Entretanto, no podemos esquecer que, em consonncia com Lozano Daz (2006), a
biblioteca pblica atual segue com poucas transformaes do modelo herdado dos sculos XIX
e XX. Apesar das inmeras transformaes que a informao e seus suportes passaram ao
longo dos sculos, a biblioteca pblica caminha a passos lentos e perde espao de atuao
perante a sua comunidade usuria. E no estamos falando de algo pontual, que acontece,
sobretudo, no Brasil, mas em uma constncia, que infelizmente ainda a principal
responsvel pela imagem das bibliotecas pblicas.
Pinheiro (2009) afirma que a biblioteca pblica um servio pblico tradicional
conhecido pelo morador de qualquer cidade, assim como a delegacia, a escola, o hospital etc,
entretanto, isto no significa que o seu papel seja claro ou imutvel para esta comunidade.
possvel afirmarmos que a comunidade consegue viver sem a escola, o hospital ou a delegacia?
E sem a biblioteca pblica? Qual a real significncia dessa instituio para a sociedade?
A biblioteca pblica precisa construir um territrio local de atuao para esta
sociedade. Necessita se fazer presente e atuante. Reconhecida. Necessria. Para isto
importante a reflexo de seu papel na sociedade, reconhecer sua identidade local, sua funo
para o desenvolvimento da cultura e da cidadania. Por ser um servio pblico, deveria
reconhecer sua potencialidade para a transformao das estruturas sociais (Lozano Daz,
2006, p. 23).
Betancur Betancur (2007) afirma que as bibliotecas pblicas so atores dinamizadores
da construo social do territrio por sua tripla funo de proporcionar a formao de uma
sociedade leitora; garantir o acesso a informao local, regional, nacional e internacional em
todo e qualquer suporte e formato; e divulgar e fomentar o desenvolvimento cultural.
Com esse pensamento pretendemos refletir sobre a atuao do Sistema Nacional de
Bibliotecas Pblicas - SNBP/RJ-Brasil para a construo social de um territrio local de
desenvolvimento para a informao e o conhecimento a partir das bibliotecas pblicas.
A investigao desenhada por uma pesquisa exploratria que, de acordo com Gil
(1999), permite uma viso geral do fato observado com delineamento qualitativo, o que
contribuir para a elaborao dos construtos sociais norteadores das polticas pblicas que se
constituem em elemento fundamental para a construo de um territrio de atuao social
para bibliotecas pblicas.
A pesquisa objetiva ainda elencar o raio de atuao e os aspectos de gesto das polticas
pblicas no territrio brasileiro, apontados como resultados em mapeamento local e global da

1321
atuao das bibliotecas pblicas do SNBP/RJ, contribuindo para a projeo sociopoltica das
bibliotecas pblicas e de sua contribuio para o desenvolvimento local.
Por fim, apresentamos as contribuies da biblioteca pblica para a promoo humana
a partir do reconhecimento das realidades brasileiras locais, integrando culturas e
promovendo o empoderamento das pessoas e grupos, incentivando assim, o desenvolvimento
econmico e social da comunidade.

1 Territrio local de atuao para as bibliotecas pblicas

O panorama de atuao das bibliotecas pblicas na sociedade da informao impulsiona
a gerao e disseminao do conhecimento e configura novos modelos desejveis para a
comunidade usuria. Para esta reflexo vale ressaltar o conceito de biblioteca pblica na
sociedade moderna, que conforme falamos anteriormente, apesar das inmeras
transformaes que passou a sociedade ao longo dos tempos, resiste em se basear em modelos
de sculos passados. O grupo de estudos em bibliotecas pblicas do Centro de Investigaes
em Cincia da Informao da Escola Interamericana de Biblioteconomia da Universidade de
Antioquia, Colmbia, fez uma reviso a cerca do conceito de biblioteca pblica na Amrica
Latina.
Seus estudos encaminharam a um entendimento que a construo de um novo conceito
de biblioteca pblica dever englobar a compreenso da misso social e cultural de uma forma
que permita visualizar sua articulao com a realidade social, sem esquecer de contemplar
componentes de sua atuao como o entorno, os sujeitos e o contexto local (Jaramillo;
Montoya Rios, 2005).
Pinheiro (2009) afirma que a biblioteca pblica um sistema democrtico de acesso
informao e leitura e que, portanto, deve respeitar a diversidade de interesses e abrir
possibilidades de integrao do indivduo no campo decisrio desse sistema (p. 27). Para abrir
possibilidades de integrao do indivduo por sua vez, preciso um conhecimento ntimo do
que Betancur Betancur (2007) chama de tripla funo da biblioteca pblica que centra-se na
formao de uma sociedade leitora, no acesso a informao e no fomento ao desenvolvimento
cultural. Neste sentido abrir possibilidades de integrao o primeiro passo para construir um
territrio local de atuao para a biblioteca pblica. torn-la parte integrante da
comunidade.
Neste sentido, revisitar o conceito de biblioteca pblica para o sculo XXI uma
necessidade para a compreenso da sua utilidade para a sociedade e com isso construir
possibilidades de integrao com o cidado.
O carter social e cultural da biblioteca pblica contribui para a formao do seu
potencial de interveno nas dinmicas sociais. Essa interveno por sua vez atuar para a
criao de relao ntima da biblioteca com seus usurios. Ao integrar-se com a comunidade a
biblioteca estar construindo um territrio de atuao local.
Betancur Betancur (2007) entende que a construo social de um territrio local para as
bibliotecas pblicas a interpretao da expressividade do cenrio de identidades local e
regional da comunidade usuria em prol da coletividade futura. Essa concepo dada a partir
dos processos de construo social da informao, do fomento leitura e cultura e se
consolida pelo estmulo aos processos de participao da sociedade e das possibilidades de
interao e transformao. Nessa perspectiva, para que a biblioteca pblica se constitua como
um territrio local de informao preciso que seus servios aproximem-se de maneira
precisa e contundente da populao usuria. necessrio, contudo, reconhecer a identidade
da biblioteca pblica, a globalizao dos aspectos relacionados aos construtos local e global
dessas possibilidades e, sobretudo, humanizar os servios como requisito para uma
aproximao entre a oferta e a demanda de informaes.

1322
Isto significa que preciso antes de tudo, que a biblioteca pblica e seus gestores
conheam a histria dessa biblioteca, reconheam suas condies histricas e principalmente,
conheam a sua comunidade e suas necessidades. preciso o reconhecimento e a vinculao
entre os atores sociais que envolvem a biblioteca, bibliotecrio e usurio para a interao
completa. necessrio tambm um planejamento das atividades no sentido local e regional,
pensando as atividades de fora para dentro, ou seja, a partir das necessidades informacionais
dos grupos de usurios e a adoo de estratgicas democrticas de participao da
comunidade.
Quando pensamos em uma biblioteca que funciona nesse modelo, logo imaginamos que
ela foi criada para esta comunidade especfica e no foi fruto apenas da vontade de um
governante de que ela fizesse parte da paisagem da cidade.
Neste sentido, Betancur Betancur (2007) aponta alguns desafios para a biblioteca
pblica se constituir em um territrio local de informao e cultura. So eles: rever a
concepo de interveno social a partir de bibliotecas; prestar servios de informao local;
compreender as relaes entre informao e leitura; entender a biblioteca como um centro de
encontro e intercambio de construo de mltiplas identidades; e participar do cenrio e
processos decisrios pblicos da comunidade local. Este ltimo to importante quanto
conhecer a comunidade usuria e suas necessidades, pois situa a biblioteca em uma posio de
integrao social ativa e responsvel para o desenvolvimento da comunidade a qual pertence.
Entretanto, para que isto possa se tornar realidade se faz necessria uma formao do
bibliotecrio, tanto com enfoque poltico quanto social para que possa desempenhar com
responsabilidade e sabedoria esta funo, conforme sintetiza Betancur Betancur (2007):

Os processos de construo de um territrio com contribuio
substancial a partir das bibliotecas pblicas implicam no
reconhecimento das identidades culturais, a construo social da
informao, projeto participativo dos servios e avaliao coletiva
para realmente conhecer o impacto nas comunidades (p. 24).

Um determinante para a construo de um territrio local de atuao para a biblioteca
pblica a criao de redes de bibliotecas pblicas funcionando como uma estratgia para o
desenvolvimento de aes que viabilizem e oportunizem sua participao no processo
decisrio da comunidade em que est inserida. Outro fator o conhecimento dos produtos e
servios e as transformaes e trocas necessrias para que se efetive, de forma permanente, a
criao de uso dos recursos de informao. Esse somatrio contribui para a projeo da
biblioteca pblica na sociedade e d maior visibilidade a instituio. Esse processo insere a
biblioteca no panorama territorial da cidade e claro, institui uma nova concepo de
biblioteca pblica.
Brettas (2010) pontua que uma nova concepo de biblioteca pblica:

[...] uma instituio integrada sociedade na qual faz parte, j
que se encontra inserida em um determinado contexto poltico e
cultural, do qual pode sofrer influncias no momento de organizar e
difundir o seu acervo. Entretanto, atravs dos prprios servios
prestados, ela pode tambm promover mudana das mentalidades de
seu pblico usurio (p. 102).

Para promover mudanas de mentalidade na comunidade a biblioteca precisa acima de
tudo conhecer essa mentalidade. Essa percepo responsvel pela interao entre a

1323
biblioteca e a comunidade usuria e constitui as diferentes ticas que compem a esttica
territorial de uma cidade. Conforme Betancur Betancur (2007), os cidados trazem em seu
imaginrio a representao dos diferentes contextos que abrigam a sua cidade.
Por sua vez, essa representao ajuda a construir um conceito de biblioteca pblica
integrada e com mobilidade cultural e visibilidade. Uma biblioteca pblica que funcione como
um centro de informaes e que atue permanentemente atendendo s demandas
informacionais da populao e que seja da comunidade e para a comunidade.

2 Sistema nacional de bibliotecas pblicas snbp/rj

O Sistema Nacional de Bibliotecas Pblicas - SNBP foi criado pelo Decreto Presidencial
n 520, de 13 de maio de 1992
1
, com o objetivo de contribuir para o fortalecimento das
Bibliotecas Pblicas do pas.
O SNBP/RJ nasceu atravs de um projeto de implantao encaminhado por um Grupo de
Trabalho da Associao dos Bibliotecrios do Distrito Federal - ABDF coordenado pelo
Professor Antonio Agenor Briquet de Lemos. O projeto visava a implementao de recursos
necessrios prestao de assistncia tcnica especializada s bibliotecas estaduais, com o
objetivo de melhorar os servios oferecidos e o estabelecimento de uma rede de colaborao
mtua.
Neste sentido, o SNBP, com sede na Fundao Biblioteca Nacional FBN/RJ, assume
como pressuposto bsico para o desenvolvimento de suas aes a funo social da biblioteca
pblica como organizao, entretanto, sem esquecer a sua funo cultura e educadora. Sua
atuao perante as demais bibliotecas pblicas do pas possvel pelo entendimento da
biblioteca pblica como sistema informacional, como uma unidade de informao sistmica,
voltada para as demandas informacionais da comunidade usuria e baseada em aes voltadas
para a interao e integrao dessas bibliotecas pblicas em mbito nacional.


Trata-se de uma pesquisa exploratria que conforme Gil (1999) tem como objetivo
proporcionar uma maior familiaridade com o problema proposto a fim, de torn-lo explcito e
construir hipteses. Cervo, Bervian e Silva (2007) afirmam que a pesquisa exploratria ajuda a
realizar descries precisas da situao problema e a descobrir as relaes existentes entre os
elementos proponentes da investigao.
A investigao de natureza qualitativa aquela que procura estabelecer um conceito
bem definido daquilo que se estuda (Gibbs, 2009). O mapeamento das polticas pblicas para
bibliotecas pblicas se baseou no Censo Nacional das Bibliotecas Municipais de 2010
2
.

1
VER: http://www.bn.br/snbp/historico.html
2
VER: http://www.cenpec.org.br/biblioteca/educacao/estudos-e-pesquisas/censo-nacional-das-bibliotecas-
publicas-municipais

1324
4 Estratgias e polticas para bibliotecas pblicas

Polticas pblicas so conjuntos de programas, projetos, aes e atividades
desenvolvidas diretamente ou indiretamente pelo Estado e que podem ter a participao da
sociedade civil.
As polticas pblicas objetivam garantir o direito do cidado, correspondendo a direitos
assegurados constitucionalmente ou que se legitimam pelo reconhecimento da prpria
sociedade e pelo poder pblico. Essas polticas so formuladas principalmente por iniciativa
do poder pblico a partir de demandas emanadas da sociedade. Faz-se necessrio a
participao da sociedade na formulao, no acompanhamento e na avaliao das propostas.
Essa participao garantida pela Lei Complementar n 131, de 27 de maio de 2009, estabelece,
I. incentivo participao popular e realizao de audincias pblicas, durante os
processos de elaborao e discusso dos planos, lei de diretrizes oramentrias
e oramentos;
II. liberao ao pleno conhecimento e acompanhamento da sociedade, em tempo
real, de informaes pormenorizadas sobre a execuo oramentria e
financeira, em meios eletrnicos de acesso pblico.
Neste sentido fica estabelecido que todos os poderes pblicos em todas as esferas e
nveis da administrao pblica esto obrigados a assegurar a participao da sociedade na
formulao, implementao, acompanhamento, fiscalizao e avaliao das polticas pblicas.
Machado (2010) afirma que as polticas pblicas para bibliotecas pblicas so as
polticas culturais que, por meio de sua administrao pblica e do conjunto de leis e
regulamentaes, buscam caminhos para o fortalecimento dessas bibliotecas e o
estabelecimento de aes de longo alcance, com carter permanente (p. 97). Ainda sobre as
polticas pblicas brasileiras para bibliotecas pblicas, Lindoso (2004) aponta que a percepo
sobre a importncia das bibliotecas para a sociedade civil no surgiu espontaneamente da
populao, mas que foi um trabalho lento, de muito investimento e conscientizao.

4.1 Algumas Iniciativas Brasileiras para Bibliotecas Pblicas

A criao do SNBP/RJ teve o objetivo de fortalecer as bibliotecas pblicas atravs de um
processo sistmico baseado em aes de interao e integrao das bibliotecas pblicas do
pas.
Entendemos que as polticas pblicas para as bibliotecas em nvel local compactuam
para o estabelecimento de um territrio local de atuao para essas bibliotecas, uma vez que a
biblioteca far parte do panorama arquitetnico e cultural da cidade.
No Brasil, o Instituto Nacional do Livro (INL), criado em 1937 e extinto em 1990, foi o
primeiro rgo governamental a promover e estabelecer polticas pblicas para as bibliotecas
pblicas. O INL incentivou a abertura de bibliotecas pblicas municipais e a formao de
acervo para essas bibliotecas, atravs da edio de livros que eram distribudos para cada
municpio.
Aps a extino do INL o recm-criado SNBP tornou-se responsvel pelas polticas
pblicas culturais para as bibliotecas e lana, em 2004, o Programa Livro Aberto com o objetivo
de alcanar o xito de ter uma biblioteca para cada municpio brasileiro.
Outra iniciativa voltada para a biblioteca e a formao de mediadores foi o Plano
Nacional do Livro e da Leitura (PNLL), que trata-se de um conjunto de projetos, programas,
atividades e eventos na rea do livro, da leitura, da literatura e de bibliotecas em
desenvolvimento.

1325
O projeto Uma biblioteca em cada Municpio, concebido e implementado pelo MinC no
perodo de 1995 a 2002, objetivou ampliar o acesso ao livro atravs da abertura e revitalizao
de bibliotecas pblicas por todo o Brasil mediante convnio com municpios.
Em 2005 foi lanado o programa Fome de Livro que, entre outras coisas, prev a
continuidade do projeto Uma Biblioteca em cada Municpio com abertura de bibliotecas atravs
de convnios com municpios. Sobre a iniciativa Machado (2010) afirma que o programa
surge como uma estratgia para articular o conjunto de aes realizadas pelo Estado, pelas
empresas e pela sociedade civil organizada (p. 102).
Em 2011 a Fundao Biblioteca Nacional (FBN) atravs do SNBP lanou o Cadastro
Nacional de Bibliotecas em conjunto com o Sistema Nacional de Informao e Indicadores
Culturais (SNIIC). O cadastro tinha o objetivo de mapear de forma abrangente todas as
bibliotecas existentes no pas, sejam elas pblicas, comunitrias, escolares, universitrias, ou
especializadas, levantando dados sobre a relao institucional, pblico, acervo, servios,
infraestrutura e gesto.O cadastro era requisito para a participao das bibliotecas em
programas de modernizao e atualizao de acervos.
O projeto Arca das Letras, lanado em 2003 pelo Ministrio da Reforma Agrria, por meio
da Secretaria do Desenvolvimento Agrrio, tinha o objetivo de criar bibliotecas rurais e
formar agentes de leitura locais para atuar nesses espaos.

Para complementar o Arca das Letras, foi criado em 2006 o projeto Bibliotecas Famlias
Agrcolas, focando na distribuio de livros para as escolas, famlias agrcolas e casas familiares
rurais.

4.2 Mapeamento da Situao das Bibliotecas Pblicas Municipais Brasileiras

Do universo dos 5.565 municpios brasileiros 4.763 bibliotecas pblicas municipais esto
em funcionamento, fase de implantao ou modernizao. O censo aponta para um resultado
positivo no que diz respeito ao perodo de funcionamento. Das bibliotecas pblicas mapeadas,
99% funcionam de segunda a sexta-feira no perodo da manh e da tarde.

Grfico 1 - Bibliotecas Pblicas Municipais em Funcionamento ou em Fase de Implantao

1326
Com relao a atuao das bibliotecas pblicas brasileiras, 91% no possuem servios
direcionados a pessoas com deficincia visual e 94% no oferecem servios para pessoas com
demais necessidades especiais. E 88% no tm nenhum tipo de atividade de extenso. Essa
realidade afasta a biblioteca de sua comunidade e do estabelecimento de um territrio local de
atuao.
O Grfico 2 evidencia um ponto positivo com 69% das bibliotecas municipais
funcionando em prdio prprio. Esta questo importante, pois cria um relacionamento entre
a biblioteca e a cidade, cria uma relao de pertencimento comunidade.

Grfico 2 - Estrutura Fsica das Bibliotecas Pblicas Municipais

Os servios oferecidos tambm so responsveis pela visibilidade da biblioteca pblica,
uma vez que cria rotinas e ajuda a formao de pblico. Entretanto, infelizmente poucas so
as bibliotecas brasileiras que oferecem servios diferenciados para usurios com necessidades
especficas.
O setor infantil responsvel por 52% dos equipamentos e servios oferecidos, seguido
pelo setor audiovisual com 13%. Apesar de contemplar um setor de audiovisual faltam s
bibliotecas pblicas municipais um espao para atividades culturais que possibilitem a
integrao da biblioteca, seus servios e a comunidade usuria. Esse espao, dependendo do
tipo de atividade oferecida, pode ser substitudo pelo setor de audiovisual, entretanto,
preciso que haja uma interao entre o servio oferecido e as necessidades dos cidados.
As atividades culturais podem criar vnculos entre o espao e o usurio, constituir a
efetivao da compreenso de identidade para a biblioteca e criar possibilidades de territrio
local para as bibliotecas pblicas.

1327

Grfico 3 - Equipamentos e Servios Oferecidos pelas Bibliotecas Pblicas Municipais

Abrigada na sociedade da informao, a biblioteca pblica precisa aliar-se internet e
s tecnologias para atender de forma satisfatria as necessidades informacionais da
comunidade usuria.
Do total de bibliotecas em funcionamento 55% no possuem acesso internet, conforme
visualizamos no Grfico 4. Este resultado coloca a biblioteca em desequilbrio com as
necessidades modernas de informao da sociedade. Analisando este quesito por regies,
temos os piores resultados para a regio norte com 20% e a regio nordeste com 28% das
bibliotecas municipais com acesso internet.

Grfico 4 - Acesso Internet

1328

Outro fator relevante para o estabelecimento de possibilidades de construo social de
um territrio local de atuao para as bibliotecas pblicas o percentual de bibliotecas que
oferecem o servio de internet clientela, conforme podemos observar no prximo grfico.

Grfico 5 - Bibliotecas Que Oferecem Acesso Internet Clientela

Apenas 29% das bibliotecas municipais oferecem o servio de internet a sua clientela.
Dficit ainda maior verificado nas regies norte e nordeste com 15% e 18% respectivamente
de bibliotecas pblicas que disponibilizam internet aos usurios. Entretanto, um resultado
previsvel devido aos incentivos das polticas direcionadas para a regio sul e sudeste.

Grfico 6 - Servios Oferecidos Pelas Bibliotecas

1329
Os servios oferecidos evidenciam uma atuao junto a comunidade escolar com que
repete discursos da escolarizao dos servios da biblioteca pblica. Essa uma caracterstica
que remonta aos anos 1970 que transformaram as bibliotecas pblicas em verdadeiras
bibliotecas escolares, uma vez em que essas bibliotecas assumiam a funo de atendimento
aos estudantes (Bernardino; Suaiden, 2011).

Grfico 7 - Programao Cultural Oferecida Regularmente Pelas Bibliotecas

O Grfico 6 demonstra que 65% das bibliotecas pblicas brasileiras centram seus
servios na pesquisa escolar e apenas 8% oferecem atividades de lazer aos usurios. O prximo
grfico traz um resultado de 44% de bibliotecas municipais que no oferecem nenhuma
programao cultural para a clientela.
Outra observao a preocupao com as atividades de leitura na biblioteca pblica
como oficinas e rodas de leitura, saraus literrios, atividades de mediao da leitura e agentes
de leitura.

Concluses

Entendemos que a funo da biblioteca pblica de garantir o acesso a informao em
qualquer suporte ou formato um aspecto fundamental para o desenvolvimento da cultura e
da educao e tem carter democrtico e social.
A biblioteca pblica conforme orienta Suaiden (1995) deve utilizar metodologias para
auxiliar no diagnstico das necessidades de informao da comunidade. Este o primeiro
passo para a instituio de um territrio local de atuao para a biblioteca pblica. Ainda
segundo o autor, as bases da comunidade so localidade e conscincia de si mesma, sendo uma
rea dotada de vida e de certo grau de coeso.
Este forte sentimento de localizao a condio necessria para criar a comunidade e
tambm a condio que conecta a biblioteca, mais especificamente, a biblioteca pblica no
panorama territorial de cada cidade. esse pertencimento que institui e implementa a
biblioteca pblica como territrio local e a legitimao se d pela sua atuao na comunidade.

1330
A criao de rotinas de atividades culturais compactua para a construo social de um
territrio local de atuao para a biblioteca pblica, pois a interao da biblioteca com o
panorama arquitetnico e cultural do municpio garantir um maior relacionamento entre a
biblioteca e a sua clientela.
Esse relacionamento e a sensao de pertencimento ser responsvel pela intrnseca
interao dos cidados e a biblioteca, construindo um territrio local legitimado socialmente.
A participao da sociedade imprescindvel nesse processo. E a instituio de polticas
para a biblioteca pblica que funcione de forma integrada com o interesse da sociedade
fundamental. preciso, conforme orienta Machado (2010) que essas polticas respeitem
processos e etapas, tenha clareza e objetividade e principalmente, respeitem a participao
democrtica dos cidados.
A biblioteca pblica como espao democrtico e territrio local passa pela distribuio
social e justa de informao e o que ajuda a construir so as polticas culturais.

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1332
A ORGANIZAO DO CONHECIMENTO PARA O ACESSO UNIVERSAL
as contribuies de Otlet, Bradford, Ranganathan, Dahlberg e Lancaster

HENRIETTE FERREIRA GOMES
[email protected]

AIDA VARELA VARELA
[email protected]

Resumo Discute-se a necessidade da organizao global da informao, portanto, identificar e analisar
contribuies de autores que refletiram e criaram alternativas para organizar a informao, para
socializar o seu acesso irrestrito, torna-se relevante. Apresenta-se um estudo bibliogrfico pautado nas
contribuies de cinco estudiosos (Otlet, Bradford, Ranganathan, Dahlberg e Lancaster) que
pesquisaram a temtica da organizao na perspectiva da universalizao do acesso informao. Paul
Otlet questionou problemas gerados pela exploso informacional, duplicaes e limitaes no
tratamento da informao, com aportes da Biblioteconomia, Bibliografia, entre outras reas, para o
acesso universal ao conhecimento. Bradford focalizou o tratamento e disseminao da literatura
cientfica, criou a Lei da Disperso nos estudos mtricos sobre a publicao de artigos de peridicos e
defendeu o controle da informao tcnica e cientfica. Ranganathan argumentou que por meio do
mtodo cientfico, num determinado perodo de tempo, ocorre o somatria do conhecimento
acumulado num processo contnuo. A produo contnua do conhecimento o motivaram a
redimensionar o processo de classificao, abandonando a hierarquia rgida, propondo a Classificao
Facetada. Nas Cinco Leis da Biblioteconomia fica clara a necessidade da organizao da informao,
visando o uso universal. Dahlberg desenvolveu a Teoria do Conceito, criando a Classificao de
Codificao da Informao (ICC). Desenvolveu um tesauro para a Biblioteca Nacional da Alemanha,
investigando tipos e formas dos termos empregados para a descrio dos assuntos, objetivando a
formulao de um tesauro geral para bibliotecas. Fundou a Sociedade Internacional para a Organizao
do Conhecimento (ISKO). Lancaster concentrou-se na recuperao da informao, vocabulrio
controlado, avaliao de servios e indexao. A obra Indexao e Resumos se constitui, at os dias
atuais, em uma das mais importantes contribuies para a organizao da informao. Conclui-se,
portanto, que os estudos desses cinco autores, em diferentes contextos, revelam um ponto de
convergncia: a preocupao com o organizar para o acesso e uso universal.

Palavras-chave Organizao do conhecimento. Estudos clssicos. Acesso universal.

Abstract It discusses the need for organization of information, therefore, to identify and analyze
contributions of authors who reflected and created alternatives for organizing information to socialize
your unrestricted access, it becomes relevant. This article presents a bibliographic study based in the
contributions of five experts (Otlet, Bradford, Ranganathan, Dahlberg and Lancaster) who researched
the organization from the perspective of universal access to information. Paul Otlet questioned
problems generated by information explosion, duplication and limitations in information processing,
with contributions from librarianship, bibliography, among other areas, to universal access to
knowledge. Bradford focused on the treatment and dissemination of scientific literature, created the
Law of Dispersion in metric studies on the publication of journal articles and advocated the control of
technical and scientific information. Ranganathan argued that by means of the scientific method in a
certain period of time is the sum of the accumulated knowledge in a continuous process. Continuous
production of knowledge motivated him to resize the classification process, abandoning the strict
hierarchy, proposing the Faceted Classification. In the Five Laws of Library Science is a clear need of
information organization, aiming at universal use. Dahlberg developed the theory concept, creating the
Information Coding Classification (ICC). She developed a thesaurus for the German National Library,

1333
investigating types and forms of the terms used to describe the subjects, aiming to formulate a general
thesaurus for libraries. Founded the International Society for Knowledge Organization (ISKO).
Lancaster concentrated in information retrieval, controlled vocabulary and indexing services
evaluation. The work Indexing and abstracts constitutes, to this day, one of the most important
contributions to the organization of information. We conclude, therefore, that studies of these five
authors, in different contexts, reveal a point of convergence: the preoccupation about how to organize
the information to give universal opportunity to access and to use it.

Keywords Knowledge Organization. Classical studies. Universal access.

Introduo

A organizao do conhecimento conta com o aporte terico de diversos campos do
conhecimento, no entanto, ocupa uma centralidade inquestionvel na Cincia da Informao,
especialmente frente ao fato de que nela a informao objeto de estudo central. Diante das
complexidades que envolvem o trabalho com a informao na atualidade, percebe-se a
necessidade de se discutir, entre outros aspectos, a organizao da informao para o acesso
global, identificando e revisitando as contribuies de autores que foram capazes de refletir e
criar alternativas para organizar a informao, de maneira a socializar o seu acesso irrestrito,
mas procurando analisar fatores circundantes aos contextos de vida e experincias
profissionais que podem ter favorecido a formulao de suas contribuies. Conhecer esse
passado recente da rea permite pensar o presente e projetar o futuro, j que esses
elementos podem ofertar interrogaes e problematizaes acerca da produo cientfica
nesse campo, a capacidade instalada de um corpo que transita entre as prticas e as teorias do
campo.
Com este objetivo foi realizado este estudo bibliogrfico pautado na anlise das
contribuies de alguns estudiosos que no passado pesquisaram a temtica da organizao na
perspectiva da universalizao do acesso informao. A amostra integrada por cinco
importantes protagonistas da Cincia da Informao: Otlet, Bradford, Ranganathan, Dahlberg
e Lancaster.
Do ponto de vista dos procedimentos metodolgicos, para analisar essas contribuies
histricas, adotou-se o procedimento de correlacionar eventos de modo multilateral, com o
objetivo de buscar um relativo entendimento acerca das realidades vividas pelos autores
selecionados que, possivelmente, influenciaram a gnese de suas contribuies.
O critrio de seleo da amostra foi o da intencionalidade, estabelecido a partir da
anlise quanto importncia referencial desses cinco autores, a relao de suas contribuies
tericas com a meta da universalizao do acesso informao e o encadeamento histrico de
suas experincias de vida, profissional e acadmico-cientficas.

1 Relaes entre o contexto histrico, vida e contribuies tericas

As contribuies tericas emergem da experincia de vida de seus autores, dentro de
um contexto histrico, de desafios e objetivos ligados tanto ao plano efetivo das atividades
profissionais quanto prpria viso de mundo, influenciada pelos paradigmas vigentes.
Para compreender essas contribuies, analisando as convergncias e divergncias
entre elas, seus impactos no desenvolvimento da rea, que se desdobram em novas teorias e
prticas, e o modo como elas acabam se interligando num corpo tambm terico-prtico que
d sustentabilidade s aes de universalizao do acesso informao nas vrias tipologias
de ambientes informacionais.

1334
Os cinco autores selecionados para o desenvolvimento do estudo integraram tempos
histricos que se entrelaaram, assim como as suas contribuies tericas e prticas,
estabelecendo um corpus a partir do qual possvel observar os contornos da construo
social de uma base epistemolgica da Cincia da Informao.
Assim, sob o critrio da intencionalidade este texto aborda em primeiro lugar o
contexto e as contribuies de Otlet, seguido de Bradford, Ranganathan, Dahlberg e Lancaster.

1.1 Contexto histrico da vida e contribuies tericas de Paul Otlet

Quando Paul Otlet levantou seus questionamentos acerca dos problemas ligados
exploso informacional, na qual a varivel da duplicao de documentos impactava e gerava
limitaes ao tratamento da informao, buscou apontar a necessidade de se encontrar a
soluo dessa problemtica a partir dos aportes da Biblioteconomia, Bibliografia, entre outras
reas. Tais questionamentos tinham como foco central o acesso universal aos contedos
informacionais.
Num contexto histrico de busca de superao dos conflitos econmicos, polticos e
sociais em nvel mundial, a viso humanista de Otlet influenciou o seu projeto de
desenvolvimento de um sistema de disseminao, recuperao e acesso de acordo com as
necessidades informacionais dos usurios, numa perspectiva global, vislumbrando assegurar o
uso da informao pela sociedade, independentemente das fronteiras geogrficas, polticas,
ideolgicas, como tambm dos suportes de registro dessas informaes.
O mundo vivia um perodo de acelerao da industrializao, de desenvolvimento
cientfico e tecnolgico que encantava e motivava o envolvimento dos intelectuais nesse
processo e, at mesmo, na consolidao de uma viso mtica em torno do fazer cientfico e dos
produtos desse fazer, que se materializavam nas comunicaes cientficas contidas nos
acervos de centros de documentao e de bibliotecas que eram criadas nesse perodo, como
tambm nos acervos das bibliotecas pblicas e universitrias, convocadas a contribuir com o
acesso mais amplo ao conhecimento registrado, colaborando ainda com o processo de
qualificao da mo de obra que sustentava o processo de produo idealizado no projeto de
industrializao mundial.
A faceta da organizao do conhecimento registrado nos diversos documentos
depositados nos acervos das bibliotecas carecia de expanso e dinamizao para sustentar o
desenvolvimento de pesquisas cientficas, necessrias ao desenvolvimento tecnolgico
almejado pelos diversos pases, em especial entre aqueles que detinham posies de
dominao hegemnica sobre outras naes, como tambm para, por outro lado, apoiar a
difuso do acesso ao conhecimento produzido dentro do ideal da socializao dos saberes, em
uma perspectiva dos direitos universais da pessoa humana, cuja origem reside no iderio
construdo e disseminado a partir da Revoluo Francesa.
O contexto de vida, o lastro cultural de Otlet e sua compreenso acerca do valor dos
documentos, nos quais o conhecimento humano est registrado para sua socializao, e, ao
mesmo tempo, do valor da sua descrio qualificada, detalhada e temtica para o acesso e
recuperao pelos homens e mulheres de cincia, o levaram a projetar um trabalho
informacional de carter universal.
No sculo XIX, o crescimento do processo de industrializao imps a necessidade da
qualificao da mo de obra e, segundo Foskett (1969), os livros passaram a ser reconhecidos
como fontes de informao referenciais e as bibliotecas como ambientes de importante apoio
ao processo de socializao do conhecimento, necessrio formao de uma sociedade capaz
de dar sustentao ao processo de industrializao do mundo. Nesse perodo tambm
ampliada a criao de peridicos cientficos e de documentos tcnicos.

1335
Tanto Otlet quanto La Fontaine, oriundos de uma elite intelectual, assumiam posies
pacifistas que os conduziam defesa da preservao e do acesso universal do conhecimento
humano. No final do sculo XIX e incio do sculo XX, mantinham vivo o iderio do
iluminismo quanto ao direito universal ao conhecimento e, ao mesmo tempo, marcados como
homens daquele perodo histrico pela grande efervescncia dos avanos da cincia e pelos
contornos expressivos que esta alcanou na Modernidade, passaram a desenvolver estudos
sistemticos acerca das tcnicas do tratamento documental, por compreenderem que o
trabalho com a organizao da informao mundial era uma misso essencial para possibilitar
a reunio, recuperao e o acesso ao conhecimento humano, em mbito universal.
Dentro de mesmo esprito foi que, em 1895, durante a realizao da I Conferncia
Internacional de Bibliografia, em Bruxelas, Otlet e La Fontaine criaram o Instituto Internacional
de Bibliografia (IIB), cujo objetivo era o de promover a organizao de um ndice universal em
torno dos contedos temticos de todos os tipos de documentos, independentemente do
suporte material utilizado para o registro da informao. O IIB focalizava a descrio do
documento, tanto em suas caractersticas externas quanto internas (do contedo),
recomendando que a descrio bibliogrfica deveria estar acompanhada de um resumo crtico
do contedo.
Inicialmente Otlet e La Fontaine optaram por empregar a Classificao Decimal de Dewey
(CDD) como base para a organizao do ndice dos contedos temticos, chegando a propor a
Dewey uma parceria com o IIB para que se efetuasse uma ampliao da CDD em termos de
detalhamento.
No transcorrer desse tempo Otlet seguiu refletindo sobre sua concepo de organizao
da informao e sobre as aes prticas que vinha adotando no tratamento dos contedos
informacionais, na busca de sistematizar contribuies acerca dessa experincia com o
trabalho informacional. Assim, em 1903 publicou o artigo intitulado Les sciences
bibliographiques et la documentation, no qual adotou a palavra documentao como o processo
de fornecimento de documentos ou de referncias descritivas deles para informar sua
existncia queles que necessitavam das informaes contidas nos documentos. Destaca-se
que Otlet entendia como documento os livros e manuscritos, [...] mas tambm arquivos,
mapas, esquemas, ideogramas, diagramas, desenhos e reprodues dos mesmos, fotografias de
objetos reais, entre outros. (1903 apud WOLEDGE, 1983, p. 270-271).
Em 1905 foi publicada a primeira edio internacional completa do Manuel du Repertoire
Bibliographique Universal que, segundo Lasso e La Vega (1969), se caracterizava mais como um
ndice dos contedos que integravam o acervo que Otlet e La Fontaine conservavam em
Bruxelas, apresentando 33.000 subdivises e um ndice alfabtico de 38.000 entradas. Em 1912
um novo suplemento desse repertrio foi publicado, com o acrscimo acima de 1.000
subdivises. Esse empreendimento sinaliza a preocupao constante de Otlet de assegurar
uma expanso permanente do ndice e do repertrio, abarcando a produo universal de
informaes, em especial no que se referia informao de carter cientfico.
Mas, a I Guerra Mundial (1914-1918) provocou uma interrupo nas atividades do IIB e
sua ao em nvel internacional foi interrompida, sendo retomada apenas em 1920, embora
somente em 1923 tenha sido criada uma comisso para reorganizao do Instituto, com sua
transferncia para Haya.
Se a I Guerra Mundial representou um evento de interrupo do projeto de construo
da acessibilidade universal e qualificada informao, de outra maneira ela intensificou o
interesse pelo desenvolvimento cientfico e tecnolgico, fazendo surgir vrias instituies e
associaes de pesquisa que tinham as bibliotecas como elementos centrais de seu trabalho,
por proporcionarem aos pesquisadores o acesso literatura cientfica e tcnica. O servio de
informao ganhou uma nova perspectiva, a ponto de entidades ligadas pesquisa e
industria passarem a propor o controle dessas informaes, a exemplo da Society of Chemical
Industry que, segundo Koskett (1969), em 1918 props o controle das informaes industriais e
cientficas.

1336
nesse contexto que, aps a retomada do IIB em 1924, Otlet deu continuidade ao seu
trabalho e, entre 1927 e 1933 ele, La Fontaine e Donker Duyvis publicaram a segunda edio do
Manuel Du Repertoire Bibliographique Universel, intitulado nessa segunda edio como
Classification Dcimale Universelle. Essa segunda edio foi elaborada com a colaborao de
quarenta especialistas no detalhamento das subdivises temticas. (LASSO DE LA VEGA, 1969).
Nesse perodo, mais precisamente em 1931, o IIB teve seu nome alterado para Instituto
Nacional de Documentao. E, em 1934, Paul Otlet publicou o Trait de Documentation, tratando
da redao de documentos, como tambm da sua multiplicao, descrio, classificao,
conservao e utilizao, empregando o termo documento de modo abrangente, envolvendo
no apenas os livros, mas todo tipo de suporte de registro de textos, imagens e outros
contedos expressos pelas diversas linguagens de comunicao (compartilhamento) do
conhecimento.
No seu tratado Otlet tambm aborda a bibliografia em uma dimenso mais
metodolgica e tecnolgica sobre os meios e instrumentos empregados para a recuperao e
acesso universal ao conhecimento registrado (informao). Otlet trabalhou na proposio do
princpio monogrfico, de uma classificao decimal universal e do desenvolvimento de
uma tecnologia para a produo e reproduo de fichas padronizadas para a descrio fsica e
temtica dos documentos, sempre tendo como vetor central seu ambicioso projeto de
conservao, organizao e recuperao da informao para o acesso universal.
nessa perspectiva que Otlet, aponta a centralidade da organizao da informao para
sua recuperao e, embora o Tratado de Documentao tenha abordado o conjunto de tcnicas
para o tratamento da informao tcnico-cientfica contida em documentos, ele inaugura um
olhar sobre a importncia da organizao e descrio temtica dos documentos, expandindo
a compreenso e torno do objeto documento, o que tornou o termo documentao um
divisor de guas na compreenso da importncia da representao e organizao da
informao.
Essa nova perspectiva acerca da representao e organizao da informao, no
apenas circunscritas ao objeto livro, foi to impactante que elevou o termo documentao a
um status de elemento de evidenciao de uma nova viso em torno do objeto informao.
Esse impacto repercutiu sobre o prprio IIB que, em 1937, por recomendao do Congresso
Mundial de Documentao Universal teve seu nome mais uma vez alterado para Federao
Internacional de Documentao (FID).
Em sua obra Otlet expe os princpios fundamentais da documentao e da bibliografia,
tomando esta ltima como precursora da primeira. Entretanto, Otlet no foi o primeiro a
destacar o papel importante da bibliografia. Seu foco nesse tipo de processo e produto
informacional decorria da sua interao com o tempo histrico no qual ele se constituiu em
um sujeito social, no qual as bibliografias alcanaram grande importncia na disseminao e
acesso informao.
Embora desde o sculo II se tenha notcia de repertrios elaborados para inventariar
colees, considera-se que a bibliografia nasceu no sculo XV, sendo a partir do sculo XVIII
que ela passou a ser compreendida como um processo (de descrio para reconhecimento dos
livros em todos os seus aspectos) e como um produto (repertrio constitudo a partir do
emprego de tcnicas de formulao e compilao dos elementos descritivos dos livros).
Conforme Figueiredo e Cunha (c1967), a primeira publicao oficial do significado de
bibliografia foi realizada pela Grande Encyclopdie de Berthelot (1885), onde sua definio a
aponta como uma cincia do livro, sob o ponto de vista de sua descrio e classificao. No
entanto, foi Malcls quem precisou que a bibliografia fundamentada na pesquisa, na
transcrio, na descrio e no arranjo dos textos, com o objetivo de organizar servios ou
elaborao de repertrios destinados facilitao do desenvolvimento do trabalho intelectual.
No sculo XVII, com o surgimento das primeiras sociedades literrias, cientficas e
artsticas, como tambm dos primeiros peridicos cientficos, e depois nos sculos XVIII e XIX

1337
com as repercusses da Revoluo Francesa, da instalao do estado de direito e do intenso
desenvolvimento cientfico, a bibliografia ganha maior importncia, surgindo as primeiras
bibliografias especializadas e uma compreenso maior do seu papel relevante na difuso do
conhecimento cientfico e tcnico.
A evoluo desses fatos histricos proporcionou ao homem Otlet a vivncia de um
olhar sobre os processos e produtos voltados difuso, recuperao e acesso informao
especializada e a importncia deles para o desenvolvimento cientfico, ao que o iderio
humanista de Otlet lhe permitiu incluir no rol dessa importncia a contribuio desse
trabalho informacional para o processo de humanizao do mundo. Nesse diapaso que Otlet
focalizou a bibliografia como ponto inicial de sua documentao, que engloba uma nova
perspectiva do desenvolvimento de processos, tcnicas e produtos informacionais.
Para Otlet a documentao envolve duas aes igualmente significativas: a primeira
ao corresponde desmaterializao dos documentos e a segunda virtualizao deles,
transformando-os em nova informao (recomposio de um novo documento). Na ao de
desmaterializao o contedo do documento fragmentado, reorganizado para se gerar
novo conjunto informativo. Esta ao tem como base o princpio monogrfico de Otlet que
orientava a formao dos repertrios, representando o processo por meio do qual o usurio da
informao pode relacion-la de acordo com seus processos mentais de associao de idias.
Pela primeira vez, um processo de representao e organizao da informao contida em
documentos era concebido considerando o lugar do usurio/pesquisador.
Assim, se pode concluir que o momento histrico vivido por Otlet e sua experincia
concreta com prticas de representao e organizao da informao para uma coleo
universal sustentaram sua proposio terica de que esse trabalho com a informao
imprescindvel a acesso universal s informaes e, em se tratando do acesso como a meta a
ser alcanada, tambm projetou estratgias de associaes que possibilitasse ao usurio
estabelecer relaes entre os itens do conjunto documental organizado.
Mas o contexto de exploso informacional, no interior do processo de industrializao
mundial e do avano do desenvolvimento cientfico e tecnolgico no impulsionou apenas
Otlet, outros estudiosos do que hoje denominamos Cincia da Informao tambm se sentiram
provocados a refletir sobre o trabalho com a informao. Entre os contemporneos de Otlet se
deve destacar as contribuies de Bradford.

1.2 Contexto histrico da vida e contribuies tericas de Bradford

Samuel Bradford, na condio de um cidado europeu, tambm viveu intensamente os
momentos histricos experimentados por Otlet, mas mais especificamente na Inglaterra, pas
no qual o processo de industrializao teve incio e se tornou referncia e cenrio de grandes
experimentaes em torno do trabalho com a informao. Alm de matemtico, com
doutorado em Qumica, Bradford foi bibliotecrio e documentalista do Museu de Cincia em
Londres. Em 1927 fundou a Sociedade Britnica de Bibliografia Internacional, tendo sido eleito
presidente da Federao Internacional de Informao e Documentao.
Em janeiro de 1934 publicou um trabalho pioneiro apontando o problema da disperso
de artigos de peridicos. O trabalho de Bradford centrava-se na disperso da informao
cientfica e consistiu na sistematizao de seus estudos e na formulao, em 1948, da lei da
disperso.
Tratando do caos documentrio, conseqncia da exploso informacional, e
preocupado com o acesso universal ao conhecimento cientfico, Bradford props a
estruturao de servios voltados elaborao de ndices e resumos, para reduzir o problema
da perda de informaes relevantes, decorrente desse caos. Tal proposio integra sua obra
clssica intitulada Documentao.

1338
Assim como Otlet, o foco de Bradford foi o da informao cientfica e tecnolgica. O
momento histrico vivido por ambos foi o que mais intensamente colocou em evidncia o
valor da informao para o desenvolvimento cientfico, tecnolgico, econmico, poltico e
social. Nesse contexto Bradford se sentiu provocado e intrigado com um resultado de pesquisa
que apontou uma perda significativa de informaes cientficas produzidas, j que se
identificou que menos da metade dos documentos publicados eram resumidos e indexados
pelas fontes secundrias de recuperao da informao, o que inviabilizava a identificao,
localizao e recuperao delas para acesso e uso. Esse fato mantinha informaes cientficas
relevantes sem utilizao e apenas armazenadas nos estoques das bibliotecas.
Preocupado com o acesso irrestrito produo cientfica, Bradford passou a estudar os
servios de ndices e resumos, identificando lacunas importantes frente a no incluso de
determinados tipos de documentos nesses ndices, como tambm problemas de duplicao de
referncias e de indexao de artigos em fontes secundrias especializadas em assuntos
diferentes daqueles tratados nesses artigos, variveis geradoras do ele denominou e disperso.
Em seus estudos, tomando como referncia o princpio da unidade em cincia que
defende o relacionamento, ainda que remoto, entre assuntos diferenciados, Bradford concluiu
que os artigos cientficos no eram indexados apenas por fontes secundrias de sua
especialidade, mas tambm poderiam ser indexados por fontes de reas afins, cujas temticas
tambm teriam sido abordadas em seus contedos. Suas observaes se deram no contexto de
sua atuao com o trabalho informacional nas reas da Geofsica aplicada e da Lubrificao.
A partir dos resultados alcanados em seus estudos, ele formulou sua Lei da Disperso,
capaz de identificar, pela ordem de produtividade dos artigos indexados pelas fontes
secundrias, o ncleo daquelas fontes de maior alcance de indexao e recuperao de
informaes cientficas pertinentes. Tambm reputada a Bradford a criatividade de verificar
a aplicabilidade e tambm a iniciativa de adoo da lgica booleana no estabelecimento de
estratgias de busca no processo de recuperao da informao. Alm disso, Bradford foi
defensor da idia de que os abstracts tambm se constituem em mtodos de classificao e
disseminao da informao.
A experincia profissional de Bradford o colocou na perspectiva de observao do seu
objeto de anlise a partir do seu terreno de atuao no trabalho com a informao. Seus
estudos no nasceram apartados da vivncia profissional, mas sim do fazer concreto em torno
da representao, organizao, disseminao, recuperao para o acesso e uso da informao.
Certamente, este fato da sua experincia de vida e profissional exerceu alguma
influncia, tanto na escolha do seu objeto de estudo, relacionado ao processo de representao
e organizao da informao por meio do processo de indexao e elaborao de resumos,
para sustentar a identificao e recuperao dos documentos para acesso e uso da informao
cientfica, quanto na sua compreenso acerca da documentao que, na sua interpretao
representa um aspecto do trabalho com a informao desenvolvido no mbito da
Biblioteconomia, o que se poderia entender como uma vertente do trabalho biblioteconmico.
Enquanto Otlet entendia que a documentao consiste nos processos de registro do
conhecimento em um suporte, de tornar esse documento disponvel, considerando que a
Biblioteconomia e a organizao de servios de informao, de bibliografia, de catalogao,
elaborao de resumo, de indexao, classificao, armazenamento, e o emprego dos mtodos
reprogrficos se constituem em mecanismos da documentao. (WOLEGDE, 1983).
Pode-se observar assim que, Bradford se distingue de Otlet na compreenso acerca do
que seja documentao, talvez porque, diferentemente de Otlet, ele efetivamente foi um
profissional da informao, que atuou diretamente em um ambiente informacional, derivando
dessa experincia no universo das prticas profissionais as suas questes de pesquisa, a
realizao de seus estudos e suas contribuies tericas. Otlet, por sua vez, foi posicionado
frente ao seu objeto de estudo por uma perspectiva de mundo que norteava suas posies e
disposies frente ao universo informacional.

1339
Embora ambos tenham trabalhado em estudos e formulado contribuies significativas
para a rea, pode-se inferir que foi no mundo do exerccio da prtica profissional, no qual
teoria e prtica podem efetivamente dialogar para a formulao dos fundamentos de um
campo cientifico, que se tornou possvel o espao de convergncia das idias e propostas de
Otlet e de Bradford. Esse ponto de confluncia foi o que possibilitou que essas propostas se
expandissem e adquirissem uma concretude no trabalho com a informao, a partir da
experimentao de um novo fazer desse trabalho, dentro de contextos sociais especficos nos
quais puderam ser testadas e aperfeioadas, passando a alimentar o processo de avaliao dos
produtos e servios de informao. Percebe-se aqui a importncia da unidade, ou melhor, da
interligao entre teoria e prtica para que uma nova perspectiva do trabalho possa ser
testada, criticada, aperfeioada e incorporada no corpus terico epistemolgico de um campo
cientfico. No caso do ponto de convergncia entre as concepes de Otlet e de Bradford
acerca da representao, organizao e recuperao da informao, estas introduziram no
campo cientfico da Cincia da Informao a perspectiva do trabalho informacional em prol do
acesso universal dos contedos de carter cientifico.
Tambm importante destacar que essas contribuies (de Otlet e de Bradford)
ocorreram na primeira metade do sculo XX, tempo que Ranganathan tomou contato com o
trabalho informacional, quando assumiu o cargo de bibliotecrio na Universidade de Madras,
insero no mundo do trabalho que lhe permitiu a vivncia, a pesquisa e a reflexo sobre o
fazer informacional, gerando suas contribuies ao campo da Cincia da Informao, nas quais
o ideal do acesso universal informao tem centralidade.

1.3 Contexto histrico da vida e contribuies tericas de Ranganathan

Ranganathan nasceu em 1892, em Shyali, na ndia que ento se encontrava sob o
domnio da Inglaterra. Entre o final do sculo XIX e o incio do sculo XX a ndia j era uma
sociedade dividida em castas e com tradio religiosa forte, baseada tanto no hindusmo
quanto na religio muulmana. Ranganathan pertencia casta dos brmanes e, por essa razo,
teve amplo acesso educao, concluindo seu bacharelado (em 1913) e o mestrado (em 1917)
em Matemtica pela Universidade de Madras. Sua atividade na rea da Biblioteconomia se inicia
em 1923, aps ter sido aprovado em concurso pblico para ocupar a vaga de bibliotecrio na
Universidade de Madras. Motivado por seu trabalho bibliotecrio, Ranganathan fez sua ps-
graduao em Biblioteconomia na School of Librarianship do University College em Londres.
A experincia profissional, associada a uma educao continuada na rea da
Biblioteconomia permitiram a Ranganathan explorar o universo das bibliotecas, identificando
suas caractersticas, particularidades, limites e possibilidades de avanos. Segundo o prprio
Ranganathan (2009, p.1), quando retornou de Londres havia desenvolvido uma grande

[...] bagagem terica, [...] alguma experincia prtica,
trabalhando nas bibliotecas pblicas de Croydon por uns seis meses.
Nos seis meses seguintes, visitei cerca de uma centena de bibliotecas
de diferentes tipos. Os bibliotecrios deram-me plena liberdade de
observar, fazer perguntas e conversar. Esta foi a primeira
experincia. Foi uma experincia rica.

As inquietudes geradas em Raganathan a partir da sua experincia de natureza prtica
no fazer biblioteconmico, como tambm frente realidade das bibliotecas da ndia, por ele
diagnosticada, o levaram a elaborar cinco fundamentos, que na sua viso, deveriam ser
norteadores desse fazer. Tais fundamentos foram por ele denominados de As cinco leis da

1340
Biblioteconomia, e consistem em um conjunto de proposies para uma nova dinmica de
organizao e funcionamento das bibliotecas, proposies que se concretizadas, poderiam
expandir o acesso aos acervos e a classificao dos contedos neles contidos.
O pensamento de Ranganathan carrega uma forte influncia do holismo, presente na
cultura brmane, na cultura chinesa e na astrologia, com forte influncia na cultura indiana.
(SEPLVEDA, 1996). A perspectiva holstica presente nessas influncias permeou sua
compreenso de que na soma das idias e postulados passa-se compreender o todo
sistemtico, que ele denominou de universo do conhecimento. Conforme Seplveda (1996),
o holismo est presente no pensamento de Ranganathan

[...] em partes importantes de sua Teoria: no mtodo residual
para identificar a personalidade (no isso, no isso); em seus
Planos Ideacional, Verbal e Notacional, em suas Primeira, Segunda,
Terceira e Quarta Leis da Biblioteconomia; em sua comparao da
importncia da Documentao com Kurma-Avatar; e em sua
definio de Colon Classification.

Outra grande influncia no pensamento e obra de Ranganathan foi a experincia que
construiu na School of Librarianship do University College em Londres, assim como no convvio
que pode partilhar com o professor e pesquisador Berwick Sayers, um estudioso da
Biblioteconomia, e tambm com Melwil Dewey, ambos com forte influncia hegeliana, o que
inclusive motivou este ltimo a pensar na organizao do conhecimento na perspectiva da
diviso hierrquica, como se observa no sistema de Classificao Decimal de Dewey (CDD).
Com os conhecimentos construdos nessa formao, que tambm envolviam aqueles
que emergiram do contato com Sayers e Dewey, Ranganathan agregou a rica experincia
extrada da observao do trabalho informacional em vrias bibliotecas e a sua prpria
experincia na biblioteca na qual atuava, percebendo a necessidade de contribuir para que as
bibliotecas se tornassem em instrumento vivo de acesso irrestrito informao.
Sua produo na rea foi intensa e iniciada em 1931 com a publicao da obra Five Laws
of Library Science (1931). Em 1934 publica a Colon Classification; em 1937 Prolegomena to Library
Classification (1937); em 1938 a Theory of the Library Catalogue; em 1945 Elements of Library
Classification; em 1948 Classification and International Documentation; em 1951 Classification and
Communication e em 1955 Headings and Canons. Observa-se na cronologia da sua produo o
contexto que envolveu os anos da II Guerra Mundial. O pensamento mundial nesse perodo foi
integrado pelos estudos que faziam avanar os conhecimentos especializados, naqueles que
analisavam e concebiam projetos polticos, econmicos e sociais e outros que analisavam as
repercusses sociais dessas mudanas. Pode-se dizer que, a preocupao de fazer avanar o
conhecimento especializado da Biblioteconomia, tendo como foco as mudanas sociais, e a
contribuio que o acesso universal informao poderia proporcionar para tais mudanas,
norteou a produo cientfica de Ranganathan.
Em suas contribuies Ranganathan ampliou a noo de classificao, sob fundamentos
tericos que sustentam o processo de constante renovao do conhecimento, o que
impossibilita uma classificao hierrquica rgida. Em sua compreenso acerca do processo de
construo do conhecimento Ranganathan defende que o sistema de classificao possa
incluir novos conceitos que emergem da prpria dinmica da produo do conhecimento.
Ao analisar o processo de construo do conhecimento, Ranganathan o concebe como
um continuum, elaborando uma representao que se apia na noo de pontos cardeais para
indicar o processo de percepo, de desenvolvimento da reflexo e construo conhecimento.

1341

Figura 1 A espiral do conhecimento
1

Para Ranganathan, os quadrantes da espiral devem ser compreendidos como pontos
cardeais relacionados ao ato de conhecer, que se d num processo cclico, partindo-se da
observao at a formulao de leis que regem o pensamento e o conhecimento construdos,
sendo que a qualquer tempo ou contexto esse processo pode ser recomeado na busca e
formulao de novos conhecimentos. A concepo de que a construo dos conhecimentos
cclica, portanto, constante, levou Ranganathan a compreender que qualquer classificao
necessitava contemplar da dinamicidade desse processo e a permanente renovao e
redimensionamento do que ele denominou de universo do conhecimento.
A partir dessa concepo Ranganathan determinou em seus estudos cinco categorias a
serem utilizadas no processo de classificao dos conhecimentos (personalidade, matria,
energia, espao e tempo), que considerava aplicveis a todos os assuntos, estabelecendo um
modo diferenciado de representar e organizar as informaes, diferente das classificaes
hierrquicas e rgidas, contribuindo para uma concepo mais filosfica da organizao do
conhecimento e da informao, e menos pragmtica das classificaes anteriores. (CAMPOS;
GOMES, 2003).
A estrutura proposta por Ranganathan na classificao tambm indica os tipos de
relacionamentos possveis entre os documentos e entre os conjuntos que esses passam a
integrar a partir de seus contedos e caractersticas ou particularidades, de maneira menos
hierrquica, atendendo a necessidade de associao e relao entre os contedos,
inaugurando o espao da flexibilidade, no interior de cada categoria de assuntos, j que a
associao e relao se tornaram possveis entre as classes de assuntos por meio da utilizao
de conceitos amplos, abrindo ainda condies para a expanso conceitual em cada uma das
categorias.
Sem adentrar detalhadamente em cada contribuio terica de Ranganathan, pode-se
afirmar que com o conjunto de sua obra ele deixou s futuras geraes de bibliotecrios e
outros profissionais da informao um legado de grande envergadura. Sua perspectiva de
mundo, pautada em uma viso holstica associada sua experincia na prtica profissional da
rea da informao, mais especificamente da Biblioteconomia, Ranganathan provoca a todos
ao pensamento de que a biblioteca um organismo vivo e integrado por elementos

1
Fonte: Ranganthan (2009)

1342
fundamentais que so, e devem ser compreendidos como, elementos articulados numa
perspectiva dinmica. Para ele, o trabalho biblioteconmico e informacional s promove a
difuso e o amplo e irrestrito acesso informao se for adotada e incorporada essa
perspectiva como norteadora do trabalho informacional. Na sua concepo, a biblioteca [...]
um instrumento de educao universal, que rene e difunde livremente todos os recursos de
ensino e dissemina o conhecimento [...] (RANGANATHAN, 2009, p.263).
Ranganathan viveu e formulou suas contribuies entre meados da primeira metade e
inicio da segunda metade do sculo XX, parecendo ter se constitudo em um elo entre seus
antecessores e outros estudiosos que atuaram mais fortemente a segunda metade do sculo
XX, j podendo tomar as contribuies de seus antecessores, mas sob influncia mais
significativa da sua obra como referncia basilar. Assim, destacam-se neste trabalho mais dois
autores clssicos do campo da Cincia da Informao que contriburam para uma nova
concepo da representao e organizao da informao, tendo como meta o acesso
universal ao conhecimento, Dahlberg e Lancaster.

1.4 Contexto histrico da vida e contribuies tericas de Dahlberg

Ingetraut Dahlberg nasceu em 1927, na Alemanha, portanto, foi formada no contexto
europeu, tambm em um perodo histrico entrecortado pelas grandes guerras e, no seu
prolongamento no tempo, sob forte influncia de polticas estabelecidas pelo contexto da
denominada guerra fria. Do ponto de vista da sua formao, concluiu os cursos de filosofia,
teologia, histria, ingls, tendo escolhido como foco de estudo o campo da Cincia da
Informao no desenvolvimento de sua tese de doutorado em filosofia sobre O sistema de
classificao universal do conhecimento: sua ontolgica cincia terica e fundamentos
tericos da cincia da informao.
Em torno da dcada de 1930 profissionais alemes de diversas reas, como a Lingustica,
Filosofia, Documentao e Engenharia, associados a instituies profissionais se voltaram para
questes ligadas terminologia e buscaram, conforme Campos (2001) desenvolver estudos que
contribussem para a sua fundamentao cientfica. Esse contexto pode ter influenciado as
escolhas de Dahlberg.
Sua atuao profissional e como pesquisadora se consolida na segunda metade do
sculo XX, perodo da chamada guerra fria, de alto desenvolvimento tecnolgico e de
aprimoramento dos processos envolvidos nos trabalhos com a informao, em cujo rol esto
situados os estudos em torno da terminologia.
Em 1963 passou a atuar profissionalmente na Biblioteca e Centro de Documentao da
Sociedade de Documentao Alem, assumindo o cargo de chefia desse ambiente informacional.
Essa experincia, associada aos estudos que vinha realizando desde o doutorado, levou-a em
1972 a desenvolver sua Teoria do Conceito e, ao mesmo tempo, criar um sistema de classificao
universal dos campos do conhecimento chamado Classificao de Codificao da Informao (ICC),
publicado em 1982.
Dahlberg se constituiu em uma estudiosa da organizao do conhecimento, voltada a
encontrar solues para os sistemas de classificao. Para tanto, ela desenvolve um
importante levantamento histrico sobre os sistemas de classificao e os princpios
filosficos sobre a organizao do conhecimento. Nesse processo foi influenciada pela obra de
Ranganathan, em especial pela Classificao dos Dois Pontos (Colon Classification) que j destacava
a importncia do conceito para se fazer combinaes capazes de representar o conhecimento.
Esta foi uma influncia marcante para a formulao da sua Teoria do Conceito. (DAHLBERG,
1979).
A partir dos estudos que realizou da produo de Ranganathan, associados a pesquisas
sobre a classificao, sobre as relaes entre conceitos e o resgate das formulaes de

1343
Aristteles acerca do conceito, enquanto algo que nos fala da essncia das coisas, e de suas
categorias (substncia = sujeito; quantidade, qualidade, lugar, tempo, relao, posse, ao,
paixo, posio = predicado), Dahlberg desenvolveu sua Teoria do Conceito.
Para Dahlberg (1978) o conceito consiste no agrupamento de predicados relacionados
com um determinado objeto do mesmo conceito. Cada predicado ndia uma caracterstica
(elemento). Os conceitos se relacionam entre si, sendo distribudos no estabelecimento das
relaes entre as diversas categorias. Essa compreenso acerca do conceito torna-se
importante para os estudos das terminologias.
Em sua teoria o conceito passa a ser compreendido como um artefato mental e,
portanto, abstrato, necessrio e relevante para a construo de vocabulrios controlados e
tesauros. Por meio de estudos sobre os tipos e as relaes entre os conceitos, torna-se possvel
a estruturao e arranjo sistemticos do conhecimento, tomando-se por base as
caractersticas comuns entre os conceitos.
Como desdobramento de seus estudos sobre os sistemas de classificao e a formulao
da Teoria do Conceito, Dahlberg criou a Classificao de Codificao da Informao (ICC), que
consistia na diviso dos campos do conhecimento em 09 nveis: forma e estrutura da rea;
energia e matria; cosmos e rea da terra; bio-rea; rea humana; rea social; rea da
economia e tecnologia; rea da Cincia e Informao; rea da cultura.
Esses noves nveis podem ser relacionados a todos ou a alguns conceitos que a autora
nomeia como: concepes e formas gerais; teorias e princpios; objetos e componentes;
atividades e processos; propriedades; personalidades; instituies; tecnologia e produo;
aplicaes; distribuies.
Sem uma apresentao detalhada e uma discusso aprofundada acerca da Teoria do
Conceito e da Classificao de Codificao da Informao (ICC) formuladas por Dahlberg, este
trabalho se limita a focalizar seu foco de discusso em torno da identificao de que suas
pesquisas e contribuies tericas para o campo da Cincia da Informao se deram sob uma
perspectiva ranganathiana de conceber a organizao do conhecimento dentro de parmetros
de flexibilidade no estabelecimento de relaes entre as diversas reas do conhecimento,
tendo sempre como meta ampliar as possibilidades de recuperao e acesso informao.
Por outro lado, outra caracterstica importante que a aproxima tanto de Ranganathan
quanto de Bradford, que seu trabalho tambm emergiu de um processo de associao entre
teoria e prtica. O seu trabalho com a informao, em especial a partir da sua experincia na
Biblioteca e Centro de Documentao da Sociedade de Documentao Alem, na qual exercia o cargo
de chefe, permitiu o refinamento do seu olhar acerca do trabalho de representao e
organizao da informao. Como resultado da sua atuao numa zona de convergncia entre
teoria e prtica, suas contribuies tericas foram concebidas. Sua experincia profissional
bem sucedida e o reconhecimento por sua competncia em refletir sobre s prticas
profissionais, desenvolvendo estudos e formulando proposies cientficas, levaram a
Biblioteca Nacional da Alemanha a convid-la para o desenvolvimento de um estudo piloto de
organizao de um tesauro geral a ser adotado por essa Biblioteca.
Mas dessa interligao de suas aes e experincias e associao entre teoria e prtica
levou Dahlberg a firmar seu compromisso com o desenvolvimento do campo da informao.
Em meados da dcada de 1970, talvez em 1974, ela fundou o Jornal de Classificao Internacional,
atualmente denominado Organizao do Conhecimento e, em 1977, colaborou para a fundao da
Sociedade Alem para a Classificao, tendo sido sua presidente at 1986. E trs anos mais tarde, e
1989, Dahlberg cria a International Society for Knowledge Organization (ISKO), tendo sido sua
presidente at 1996.
O perodo histrico vivenciado por Dahlberg na Europa prximo daquele vivido por
Lancaster nos Estados Unidos da Amrica do Norte (EUA), cujas contribuies esto abordadas
na prxima subseo deste texto.

1344

1.5 Contexto histrico da vida e contribuies tericas de Lancaster

Wilfrid Lancaster nasceu em 1933 na Inglaterra, onde estudou entre os anos de 1950 e
1954 na Newcastle School of Librarianship. Atuou como bibliotecrio no Sistema de Bibliotecas
Pblicas de Newcastle. Em 1959, aos 26 anos, passou a viver nos EUA onde trabalhou como
consultor de informao prestando servios a empresas, mas tambm atuou em bibliotecas
especializadas, realizando a avaliao de sistemas de recuperao da informao. (JACKSON,
2005). Observa-se que Lancaster desenvolveu suas atividades profissionais e de pesquisa na
segunda metade do sculo XX, no mesmo perodo histrico de atuao de Dahlberg, no qual as
naes estavam em desenvolvimento de alta especializao, buscando expandir mercados, em
um contexto de disputa poltica entre os sistemas capitalista e socialista, denominado de
guerra fria.
Suas contribuies tericas voltaram-se ao processo, tcnicas e instrumentos de
recuperao da informao, envolvendo estudos sobre vocabulrios controlados; avaliao de
servios de indexao, tendo sido o precursor dos estudos de avaliao de ases de dados com
seu trabalho clssico intitulado Medical Literature Analysis and Retrieval System (MEDLARS),
realizado na dcada de 1960, para a National Library of Medicine dos EUA. A partir de ento, e
por mais ou menos 42 anos, ele atuou profissionalmente no desenvolvimento e da base de
dados Medline (denominada em 1960 de Medlars).
Lancaster foi precursor na avaliao de bases de dados, com o trabalho clssico
intitulado Information Retrieval Systems e publicado em 1968. Esse trabalho tornou Lancaster
um dos principais estudiosos da Cincia da Informao com contribuies tericas acerca do
processo, instrumentos e produtos de recuperao da informao. Para Lancaster, a
recuperao da informao depende de uma boa indexao, sendo subdividida em dois
subsistemas: o subsistema de entrada (seleo de documentos, indexao e vocabulrio) e o
subsistema de sada (busca, comparao e interao entre o usurio e o sistema). O levou esse
autor a desenvolver estudos sobre vocabulrio controlado, avaliao de servios de
recuperao da informao e indexao.
Segundo lvares e Araujo Junior (2010), Lancaster um dos autores clssicos da Cincia
da Informao de maior relevncia nos estudos de recuperao da informao, tendo
abordado em seus estudos as problemticas que envolvem: a avaliao; a produo de
indicadores; os sistemas digitais e instrumentos automatizados; as diversas formas de
representao da informao; a questo terica e epistemolgica do campo.
Como se pode observar, Lancaster avana em um aspecto relacionado ao acesso
universal da informao ao tomar como objeto de anlise e estudo o processo, as tcnicas e os
instrumentos de recuperao da informao. Para ele o trabalho informacional realizado para
assegurar a recuperao da informao deve trabalhar com a indexao que assegura a
atribuio de termos que funcionaro como pontos de acesso informao, j que atravs
deles torna-se possvel ao usurio localizar e recuperar documentos que tratem de temtica
do seu interesse. (LANCASTER, 2004, p. 7).
Para Lancaster (2004) o resumo um produto gerado pelo profissional da informao de
grande relevncia para a recuperao da informao, porque ele proporcionar a
identificao dos pontos fortes do contedo do documento, devendo o resumo ter as seguintes
caractersticas: brevidade; exatido; clareza.
Suas contribuies tambm se estenderam ao ensino e pesquisa. Em 1970 Lancaster
inicia suas atividades como docente na Graduate School of Library and Information Science da
University of Illinois (EUA), tendo recebido o ttulo de professor emrito aps o seu afastamento
em 1992.

1345
Entretanto, deve-se destacar que Lancaster, mesmo depois de ter ingressado na carreira
acadmica, permaneceu prestando consultorias na rea de desenvolvimento de sistemas
automatizados de recuperao da informao.
Tambm participou como professor e orientador do primeiro Mestrado em Cincia da
Informao do Brasil, sob a coordenao no Instituto Brasileiro de Informao em Cincia e
Tecnologia (IBICT), tendo orientado 34 dissertaes defendidas ato o incio dos anos 1980.
(PINHEIRO, 2007).
Lancaster se manteve por todos esses anos atuando profissionalmente, atravs da
prestao de consultorias e servios ligados recuperao da informao. No incio dos anos
1970, nesse contexto de aes prticas, ele recomendou Agncia Central de Inteligncia dos EUA
(CIA), o desenvolvimento de um sistema automatizado que possibilitasse a realizao das aes
dos analistas da agncia sem o uso do papel, alm da criao de arquivos que permitissem a
recuperao automtica da informao, a busca de informaes em bases de dados on-line, a
emisso e recepo de mensagens eletrnicas, tornando-se o precursor do processo de
informatizao dos servios eletrnicos de recuperao da informao. (JACKSON, 2005).
Nesse perodo de intenso processo de informatizao dos sistemas de recuperao da
informao, Lancaster sempre compreendeu de modo positivo e otimista o papel dos
bibliotecrios. O autor previa a atuao desses profissionais como consultores em informao,
desenvolvendo atividades na organizao e explorao de buscas de informaes eletrnicas,
atendendo a pblicos de interesses variados.
Suas contribuies tericas so significativas para o campo da Cincia da Informao.
Ao longo da sua carreira publicou seis livros, todos intensamente citados na literatura da rea:
Information retrieval systems; Information retrieval on line; Towards paperless information systems;
The measurement and evaluation of library services; If you want to evaluate your library; Indexing and
abstracting in theory and practice; coordenou ainda uma coletnea com textos de importantes
bibliotecrios, intitulado Libraries and librarians in the Age of Electronics. Dentre eles, Indexao e
resumos: teoria e prtica tem sido seu livro mais conhecido, tendo sido premiado como o melhor
livro do ano sobre Cincia da Informao, outorgado pela American Society for Information
Science.

Concluses

A guisa de consideraes finais deste trabalho pode-se apontar as contribuies tericas
dos autores analisados e suas relaes com o tempo histrico e seus contextos de vida e
profissional.
Iniciando por Otlet pode-se, em sntese, dizer que, entre o final do sculo XIX e a
primeira metade d sculo XX, ele questionou os problemas gerados pela exploso
informacional, duplicaes e limitaes no tratamento da informao, percebendo a
necessidade de aportes da Biblioteconomia, Bibliografia, entre outras reas, para assegurar o
acesso universal aos contedos informacionais. Teve como meta desenvolver um sistema de
acesso e disseminao de acordo com as necessidades dos usurios, numa perspectiva global,
assegurando o uso da informao pela sociedade, independentemente das fronteiras
geogrficas, polticas, ideolgicas, como tambm dos suportes de registro.
Nos estudos de Bradford, desenvolvidos a partir do incio do sculo XX e perfazendo as
dcadas de grande impacto do crescimento da produo cientfica e das especialidades da
cincia, prevaleceu o foco na temtica do tratamento e disseminao da literatura cientfica, o
que o levou a criar a Lei da Disperso nos estudos mtricos sobre a publicao de artigos de
peridicos. Defendeu que o controle da informao tcnica e cientfica era essencial,
caracterizando-se como um problema de ordem internacional, o que o levou a apoiar a
Federao Internacional de Documentao (FID) na busca de solues para os problemas
relacionados organizao, busca, identificao e localizao da informao tcnica e

1346
cientfica. Aplicou a lgica booleana no estabelecimento de estratgias de pesquisa para a
recuperao da informao e entendia que os abstracts se constituem em mtodos de
classificao e disseminao da informao.
Ainda na primeira metade do sculo XX emergiram os postulados e contribuies de
Ranganathan, sob uma viso holstica que sustentou as bases culturais de sua formao.
Defendeu que por meio do mtodo cientfico, num determinado perodo de tempo, ocorre a
somatria do conhecimento acumulado num processo contnuo, o que ele denominou de
universo do conhecimento. Suas reflexes em torno da produo contnua do conhecimento o
motivaram a redimensionar o processo de classificao, abandonando a hierarquia rgida,
propondo um novo processo, mais flexvel, que possibilitou a incluso de novos conceitos,
formulando a Classificao Facetada. Tambm nas suas Cinco Leis da Biblioteconomia fica clara sua
viso sobre a necessidade da organizao da informao, visando o uso universal, sem
restries ou privilgios, sustentando a verdadeira democratizao do acesso.
Entre as dcadas de fechamento da primeira metade do sculo XX e as primeiras
dcadas da segunda metade desse mesmo sculo se situam as experincias e contribuies de
Dahlberg e Lancaster, portanto, em um perodo histrico de intenso desenvolvimento
cientfico e tecnolgico, de acelerado desenvolvimento e aplicao das tecnologias a
informao e comunicao, contornados pelos impactos de uma sociedade mundialmente
atingida pela problemtica advinda da chamada guerra fria e das disputas pela hegemonia
geopoltica e econmica entre as naes mais desenvolvidas.
No contexto europeu Dahlberg desenvolveu sua Teoria do Conceito quando criou um
sistema de classificao universal chamado Classificao de Codificao da Informao (ICC).
Tambm desenvolveu um tesauro para a Biblioteca Nacional da Alemanha, investigando tipos e
formas dos termos empregados para a descrio dos assuntos, visando contribuir para a
formulao de um tesauro geral para bibliotecas. Sua compreenso sobre a importncia do
estabelecimento de mecanismos, estratgias e padres internacionais para a organizao da
informao, levou-a a fundar, em 1989, a Sociedade Internacional para a Organizao do
Conhecimento (ISKO).
Europeu de nascimento e de formao educacional, ainda muito jovem Lancaster passou
a viver e atuar nos EUA, tendo concentrado seus estudos na recuperao da informao,
vocabulrio controlado, avaliao de servios e indexao. Para ele a indexao de assuntos e
a redao de resumos so atividades relacionadas, que demandam a representao do
contedo temtico dos documentos. Sua obra Indexao e Resumos se constitui, at os dias
atuais, em uma das mais importantes contribuies para a organizao da informao.
Observando os contextos histricos dessas ricas e marcantes experincias, verifica-se
que eles guardam um encadeamento que sinaliza a influncia, tanto do contexto singular de
cada um desses autores, como sujeitos de seu tempo e contexto, quanto da interligao de
suas contribuies, constituindo um corpus terico da Cincia da Informao que vem
acumulando abordagens e solues em torno da representao e organizao da informao,
visando sua disseminao, recuperao e acesso universal para o uso e apropriao das
informaes produzidas socialmente. Pode-se, portanto, concluir que os estudos desses cinco
autores, em diferentes contextos, revelam um ponto de convergncia: a preocupao com o
organizar a informao para o acesso e uso universal.
O conjunto de saberes, produzido por esses cinco autores clssicos da Cincia da
Informao, parte importante do conhecimento cientfico desse domnio. Os saberes
cientficos por eles produzidos representam um conjunto de hipteses, leis e teorias que at
hoje ocupam um lugar referencial nos estudos da rea, em especial em torno da
representao, organizao e recuperao da informao. E, por outro lado, os resultados
desse estudo permitem rememorar que o saber fazer desses autores, que representa o modo
processual de como se produz e aplica o conhecimento produzido, tambm teve grande
importncia para a consistncia de suas contribuies tericas.

1347
O saber cientfico representado pelo conjunto de hipteses, leis e teorias por eles
formuladas, que nasceram a partir de contextos scio-histricos especficos e s vezes
interligados, associados ao saber fazer experimentado por cada um deles e que apontaram as
necessidades e tambm a condio aplicvel de suas proposies nos ambientes de informao
(bibliotecas, arquivos, museus, centros de documentao, centros de informao, etc.),
acionaram a gnese de suas ricas, relevantes e referenciais contribuies tericas em torno da
representao, organizao e recuperao para o acesso universal da informao.

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1349
O MUNDANEUM NO BRASIL
O Servio de Bibliographia e Documentao da Biblioteca Nacional e seu papel na
implementao de uma rede de informaes cientficas

CARLOS HENRIQUE JUVNCIO
[email protected]

GEORGETE MEDLEG RODRIGUES
[email protected]

Resumo O Servio de Bibliografia e Documentao da Biblioteca Nacional do Brasil foi criado em 1911
sob a influncia do Instituto Internacional de Bibliografia (IIB), criado em 1895 por Paul Otlet e Henri La
Fontaine na cidade de Bruxelas, na Blgica. Ainda pouco explorado pelos pesquisadores da rea, o
contato entre a Biblioteca e o Instituto parece ter sido determinante para a construo de uma rede de
cooperao cientfica no pas. Sob este prisma objetivamos analisar as repercusses do projeto
Mundaneum nas aes de difuso de informaes cientficas da Biblioteca Nacional (BN) do Brasil. Desta
forma, buscamos compreender a criao do Servio de Bibliografia e Documentao da Biblioteca como
parte do projeto de cooperao internacional criado por Otlet e La Fontaine. Utilizamos como mtodo
de pesquisa a busca nos arquivos histricos da Biblioteca Nacional brasileira por documentos que
comprovem o contato entre as duas instituies e o estabelecimento desta rede de comunicao. Como
resultado, pudemos mapeamos as trocas informacionais ocorridas entre o IIB e a BN do Brasil com o
objetivo de criar o Servio de Bibliografia e Documentao, sobretudo pela adoo dos mtodos do
Instituto e a participao no Repertrio Bibliogrfico Universal, cuja proposta de criao tambm se
deve dupla belga. Tambm obtivemos como resultado o resgate histrico dos primeiros contatos
brasileiros com o Instituto bem como das instituies que fizeram parte desta rede de informaes
criada no Brasil. Por fim, posicionamos a publicao do Boletim Bibliographico da Bibliotheca Nacional,
em 1918, como o produto de maior representatividade gerado pelo contato entre a BN e o IIB.

Palavras-chave Biblioteca Nacional. Instituto Internacional de Bibliografia. Mundaneum.

Abstract The Library and Documentation Service of the National Library of Brazil was created in 1911
under the influence of the International Institute of Bibliography (IIB), created in 1895 by Paul Otlet
and Henri La Fontaine in the city of Brussels, Belgium. Still little explored by researchers, the contact
between the Library and the Institute appears to have been instrumental in the construction of a
network of scientific cooperation in the country. In this light we aimed to assess the impact of the
project actions Mundaneum in disseminating scientific information from the National Library of Brazil.
Thus, we seek to understand the creation of the Bibliography and Documentation Library as part of the
international cooperation project created by Otlet and La Fontaine. Used as a research method the
search in the historical archives of the National Library of Brazil documents showing the contact
between the two institutions and the establishment of this network communication. As a result, we
map the informational exchanges occurred between the IIB and BN Brazil with the aim of creating the
Bibliography and Documentation Service, especially by adopting the methods of the Institute and
participation in the Universal Bibliographic Repertory, whose proposal to create also due to Belgium
duo. We also obtained as a result of the historic rescue of the first contacts with the Brazilian Institute
as well as the institutions that were part of this network of information created in Brazil. Finally, we
position the publication of the Bulletin Bibliographico the National Library in 1918 as the most
representative product generated by contact between BN and IIB.

Keywords National Library. International Institute of Bibliography. Mundaneum.

1350
Introduo

No final do sculo XIX, a dupla de juristas belgas Paul Otlet e Henri La Fontaine prope a
criao de uma fonte de informao que pudesse representar todo o conhecimento humano j
produzido e o que seria produzido a partir de ento. Assim, em 1895, por ocasio do I
Congresso Internacional de Bibliografia, eles apresentam a proposta do Repertrio
Bibliogrfico Universal (RBU) um catlogo de fichas, padro 7,5 cm x 12,5 cm, que visava
representar os frutos do esprito humano, conforme nos fala Otlet e La Fontaine (1895).
Dotados do ideal de integrao entre as naes, bastante em voga na Europa do final do
sculo XIX, incio do XX, a proposta de criao do RBU por Otlet e La Fontaine perpassa pela
criao do Instituto Internacional de Bibliografia (IIB), mas, tambm, pela difuso das tcnicas
de documentao ao redor do mundo. Desta forma, como instituio custodiadora do
Repertrio, o IIB promovia um esforo de cooperao internacional para a sua construo e
desenvolvimento (Rayward, 1975; Matellart, 2002).
Nesse bojo, o Instituto busca difundir seus ideais entre os mais variados tipos de
instituies, incentivando a criao de bibliografias nacionais e especializadas; correntes e
retrospectivas, que pudessem contribuir para formao do imenso catlogo universal do
conhecimento produzido pelo esprito humano, como nos fala Otlet (1908).
Quase no mesmo perodo de tempo, a Biblioteca Nacional brasileira (BN) passa por
profundas mudanas, dentre elas a mudana para um novo prdio, projetado especialmente
para ela, a criao de um novo regulamento, bem como um processo de modernizao das
tcnicas de tratamento de seu acervo sob o comando do ento diretor, Manuel Ccero
Peregrino da Silva.
Considerado por Fonseca (1957) um visionrio bem como Otlet e La Fontaine, Peregrino
da Silva dirigiu a Biblioteca entre os anos de 1900 e 1924 (com alguns perodos de
interrupo). Na sua gesto, conforme mencionado acima, vrias mudanas ocorreram nas
estruturas da instituio, contudo, nesta comunicao trataremos da criao do Servio de
Bibliografia e Documentao, que visava, em correspondncia com o Instituto Internacional
de Bibliografia, difundir as tcnicas da documentao e bibliografia no pas.
Com esse intuito, utilizamos como fonte de pesquisa a correspondncia trocada entre as
duas instituies nos anos de 1910 a 1914. Tal documentao, custodiada pelo arquivo
histrico da Biblioteca, se apresentou como um ator importante na reconstruo desse
contato, uma vez que nos apresenta os bastidores desse relacionamento.
Nesse sentido, essa pesquisa surge buscando aprofundar o entendimento da relao
entre as duas instituies e a sua repercusso no Brasil, sobretudo por ser ainda um tema
pouco explorado por pesquisadores brasileiros, onde frequente se citar tal contato, contudo,
sem a profundidade a qual nos propomos.
Assim, a primeira parte desta comunicao aborda o momento pelo qual passava a
Biblioteca Nacional brasileira, frente as mudanas advindas da inaugurao de uma nova sede.
Bem como a criao do Servio pela Biblioteca Nacional, evidenciando seus objetivos e a sua
interao com o Instituto Internacional de Bibliografia.
A segunda parte comenta os ecos do intercmbio de informaes entre a Biblioteca
Nacional e o Instituto no bojo da sua insero nas aes de modernizao da biblioteca, bem
como sua influncia na edio da Bibliografia Brasileira, em 1918. Por fim, posicionamos a
criao do Servio no rol de outras aes de modernizao da Biblioteca, sobretudo a
construo de uma rede de informaes cientficas.

1351
1 A biblioteca nacional brasileira no incio do sculo xx

No incio do sculo XX, a Repblica brasileira, proclamada em 1889, ainda lutava pela
sua afirmao diante de um cenrio ainda instvel com diversas presses polticas e revoltas
(Carvalho, 1990). Assim, o ideal de modernizao entra em voga na sociedade brasileira, e a
primeira dcada do sculo XX marcada por grandes transformaes urbanas no corao
poltico do pas, o Rio de Janeiro (ento Distrito Federal). A ideia era de reurbanizar a cidade,
dando-lhe o aspecto moderno que uma nova nao desejava, abrindo novas avenidas e
derrubando boa parte dos antigos casebres da cidade que compunham o seu centro histrico,
considerados insalubres e os maiores responsveis pela propagao de doenas (Kok, 2005).
No bojo de tais aes, a Biblioteca Nacional brasileira busca tambm se modernizar, e o
seu primeiro passo nesse sentido buscar a construo de uma nova sede, pois, conforme nos
fala Manoel Ccero Peregrino da Silva, ento diretor da instituio, o momento era propicio.
Remodelava-se a cidade (Silva, 1911).
Inaugurado em 29 de outubro de 1910, a pedra fundamental do novo prdio havia sido
lanada 5 anos antes, em agosto de 1905. Construdo de acordo com as tcnicas mais modernas
da poca o edifcio era visto por diretor com regozijo. Contudo, apesar de possuir um
monumental palacio (Silva, 1911), a Biblioteca deveria honr-lo e buscar preencher as suas
estantes. Com esta misso, a Biblioteca implementa uma srie de aes que visavam aumentar
e enriquecer o seu acervo, bem como modernizar as tcnicas nele empregadas. Nesse sentido,
o primeiro esforo foi a aprovao da lei de depsito legal, quem em 1907 (Silva, 1908), institui
que toda obra produzida na nao deveria ter um exemplar remetido Biblioteca Nacional:

Art. 1. Os administradores de officinas de typographia,
lithographia, photographia ou gravura, situadas no Districto Federal
e nos Estados, so obrigados a remeter a, Bibliotheca Nacional do rio
de Janeiro um exemplar de cada obra que executarem.
1 Esto comprehendidos na disposio legal no s livros,
revistas e jornaes, mas tambem obras musicaes, mappas, plantas,
planos e estampas (Brasil, 1907).

A instituio tambm passa a adquirir por compra vrias colees e a receber, tambm,
inmeras doaes.
Ainda no bojo de aumento do seu acervo, a Biblioteca envia para o exterior algumas
pessoas com vistas a complementar sua coleo, contratando-as para pesquisar e copiar em
arquivo, bibliotecas e museus europeus, documentos que tivessem relao com a histria do
pas. Tal ao visava, tambm, ajudar o Brasil, uma vez que questes relativas s suas
fronteiras estavam abertas e o pas lutava para demarc-las, conforme nos mostra o relatrio
de 1911 (Silva, 1912).
Alm disso, o dirigente da Biblioteca tambm se encarrega de visitar instituies
estrangeiras para delas apreender tcnicas para o tratamento do acervo da instituio. Com
isso, a BN passa a manter contato com vrias delas, fundando, inclusive, o seu Servio de
Bibliographia e Documentao (tema desta comunicao), em contato direto com o Instituto
Internacional de Bibliografia, de Bruxelas (Brasil, 1911).
A adeso da Biblioteca Nacional, em 1909, Conveno da Unio de Berna, tambm
merece destaque, j que desta forma a instituio passa a resguardar os direitos autorais sobre
obras literrias e artsticas (Silva, 1910).
Descritas tais aes, percebemos que a Biblioteca Nacional brasileira no incio do sculo
XX buscava no s a modernizao de seu espao, mas tambm a modernizao de suas

1352
tcnicas, passando a manter contato com outras instituies objetivando melhor tratar o seu
acervo e a participar de esforos internacionais, como veremos a seguir.

2 O servio de bibliographia e documentao

Posicionado por Fonseca (1957) dentre as inovaes implementadas por Peregrino
frente da Silva na Biblioteca Nacional, o novo regulamento da instituio, datado de 1911
(Brasil, 1911), institui o Servio de Bibliographia e Documentao da instituio, declarando
que:

Art. 137. O servio de bibliographia e documentao, em
correspondencia com o do Instituto Internacional de Bibliographia
de Bruxellas, abranger:
1, a organizao, segundo o systema de classificao decimal e
por meio de fichas, do repertorio bibliographico brasileiro como
contribuio para o repertorio bibliographico universal, de modo a
comprehender as obras de autores nacionaes ou estrangeiros,
impressas ou editadas no paiz, as de autores nacionaes, impressas no
estrangeiro ou ineditas e as de autores estrangeiras que se
occuparem especialmente do Brazil, incluidos os artigos insertos em
publicaes periodicas e os escriptos de qualquer natureza;
2, a impresso dessas fichas para serem expostas venda ou
permutadas por fichas de repertorios estrangeiros;
3, a acquisio de um exemplar de cada uma das fichas que
constituem os repertorios estrangeiros, j organizados e que se
forem organizando;
4, a cooperao da Bibliotheca na organizao do repertorio-
encyclopedico universal;
5, a organizao do catalogo collectivo das bibliothecas
brazileiras;
6, o uso publico dos repertorios e do catalogo collectivo
1
.

Dentre suas misses podemos destacar algumas passagens, como a declarao de que os
seus propsitos esto em correspondncia com os ideais do Instituto Internacional de
Bibliografia, o que evidencia o alinhamento do Servio s propostas de Otlet e La Fontaine. A
organizao de um catlogo coletivo das bibliotecas brasileiras, fator que parece ter
demandado a formao de uma rede de informaes em nvel nacional.
A organizao do repertrio bibliogrfico brasileiro, que ser melhor abordado na
prxima seo desta comunicao. E, por fim, a aquisio de fichas do Repertrio Bibliogrfico
Universal, motivo precpuo do contato entre as duas instituies.
Segundo Rayward (1975, p. 123):

Talvez o maior evento na histria da distribuio do RBU tenha
sido o recebimento, em 1911, de um pedido da Biblioteca Nacional do

1
Optamos por no atualizar os vocbulos s normas gramaticais vigentes como uma forma de manter a
fidedignidade do texto.

1353
Rio de Janeiro, de 600.000 fichas para formar um repertrio de
assuntos gerais. A Biblioteca concordou em pagar a taxa de 15.000
francos pelas fichas. Tendo solicitado a metade do dinheiro
adiantado para recrutar pessoal para realizao do trabalho, Otlet
e sua equipe garantiram juntos a organizao de 230.000 fichas, que
foram classificadas em 192 caixas. Uma cerimnia foi organizada
para a transferncia das fichas ao embaixador brasileiro, para isso
foram convidados membros do corpo diplomtico da Frana e
Blgica, e da maioria dos pases sul-americanos. No final de 1913 o
total de fichas enviados chegavam a 351.697 registros. [Um envio
extra] foi realizado em 1914, perodo no qual Masure, secretrio do
OIB, escreveu ao Diretor da Biblioteca sugerindo que, talvez, o
Escritrio devesse mandar cpias das fichas j enviadas ao Rio para
que fosse construdo um repertrio alfabtico por autor. As fichas
que haviam sido enviadas eram em sua maioria provenientes de
contribuies recentes Bibliographia Universalis, com um ou dois
itens excepcionais que remontam ao perodo de 1895-1900.
evidente que o problema em obter cpias das bibliografias que
compem a Bibliographia Universalis, mas a encomenda do catlogo
[feito pela Biblioteca Nacional] em 1911, ou de qualquer outro
material do RBU, foi insupervel, e a meta de entregar as 600.000
fichas contratadas aparentemente nunca foi cumprida. No entanto, o
alto valor dado aos cartes recebidos no Rio do OIB, fez com que, em
1914, uma tentativa de enviar algum do Brasil para Bruxelas com a
finalidade de estudar como o OIB trabalhava fosse feita, a fim de
fazer um maior uso delas. Infelizmente a Guerra fez essa visita se
tornar impossvel (Traduo nossa)
2
.

Transferidas Biblioteca na figura do ento embaixador brasileiro em Bruxelas, Oliveira
Lima, o esforo de cooperao internacional apregoado pelo instituto pode ser percebido
nessa ao, que contou, tambm, com a presena de embaixadores de diversos pases da
Amrica do Sul. O documento abaixo, uma cpia digital que nos foi enviada pelo sr. Stphanie
Manfroid, dos Arquivos do Mundaneum, comprova isso:

2
Perhaps the greatest event in the history of the distribution of the RBU was the receipt of a request in 1911 from
the National Library of Rio de Janeiro for 600,000 cards to form a general subject repertory. The Library agreed to
pay a fee of 15,000 francs for the cards. Having requested half of the money in advance to recruit personnel to
do the work, Otlet and his staff gathered together 230,000 cards and arranged them in classified order in 192
boxes. A reception was held for the transfer of this material to the Brazilian ambassador, and to it were invited
the diplomatic staffs in France and Belgium of most of the South American states. By the end of 1913 the amount
of material sent consisted of 351,697 notices. Anextra 33,00 notices were dispatched in July 1914, at which point
Masure, the Secretary of the OIB, wrote to the Director of the Library to suggest that perhaps the Office should
send second copies of cards already sent to Rio for the construction of an alphabetic author repertory. The cards
which had been sent were in the main derived from recent Contributions to the Bibliographia Universalis, with
one or two exceptional items dating back to the period from 1895 to 1900. It is clear that the problem of
obtaining copies of the bibliographies making up the Bibliographia Universalis but out of print by 1911 or of
other material in the RBU, was insuperable and the 600,000 figure contracted for was apparently never met.
Nevertheless a high value was set upon the cards received in Rio from the OIB, and in 1914 an attempt was made
to send someone from Brazil to Brussels to study how the OIB worked in order to make greater use of them.
Unfortunately the War supervened to make the visit impossible.

1354

Figura 1: Carta do Secretrio Geral do Instituto ao Ministro Plenipotencirio do Chile em Bruxelas.
3

Nessa carta-convite (Masure, 1911), alm de comentar o evento, o secretrio do
Instituto
4
tambm faz propaganda do esforo de cooperao internacional que a construo
do RBU demanda. Parece-nos que, talvez, como uma forma de conseguir mais e mais adeptos
ao ideal de construo desta fonte universal de conhecimento.
Para chegarmos at esse ponto a entrega das fichas uma srie de correspondncias
teve de ser trocada, o primeiro contato entre as duas instituies acontece em 21 de maro de
1911, quando Manuel Ccero Peregrino da Silva envia uma carta ao Instituto solicitando
informaes sobre como obter fichas do RBU.
A seguir, com a resposta do secretrio do Instituto, Louis Masure, em mos, o diretor da
Biblioteca Nacional encomenda, no dia 04 de julho de 1911, 600 mil fichas do Repertrio, no
total de 15 mil francos, pagos em duas vezes pelo governo brasileiro. Aps ainda alguma troca
de correspondncias entre as partes, as primeiras fichas do RBU foram entregues Biblioteca
em 01 de dezembro de 1911.
Contudo, das 600.000 fichas requisitadas pela Biblioteca, segundo Rayward (1975), cerca
de 400.000 chegaram instituio, as outras, por conta da 1 Guerra, nunca foram remetidas.
Por outro lado, a trajetria destas fichas na instituio ainda no foi desvelada pela nossa
pesquisa, nos restando mais incertezas do que certezas, pois apenas uma pequena amostra
destas foi encontrada na Diviso de Manuscritos da Instituio. O pacote, ainda ordenado
conforme Classificao Decimal Universal (CDU), entre os nmeros 016:292 (Bibliografia de
movimentos espirituais modernos) at 016:59.82 (Bibliografia de smios), traz, ao que parece,
uma pequena amostra conservada para fins histricos. A imagem abaixo de uma dessas
fichas.

3
Fonte: Arquivos do Mundaneum.
4
Provavelmente o secretrio que enviou a correspondncia seja o senhor Louis Masure, figura chave na articulao
entre a BN e o IIB.

1355

Figura 2: Ficha do Repertrio Bibliogrfico Universal remetida Biblioteca Nacional
5

3 A bibliografia brasileira e o iib

A construo do repertrio bibliogrfico brasileiro, ou seja, a bibliografia nacional, foi
um dos objetivos propostos com a criao do Servio de Bibliografia e Documentao da
Biblioteca. Apesar de j existirem edies do final do sculo XIX verses desta obra, ela agora
se adequava num ideal maior, de cooperao e intercmbio internacional de informaes.
Apesar de Rayward (1975) nos falar que um esforo para levar algum do Rio Bruxelas
para que estudasse as tcnicas do Instituto tivesse falhado por conta da 1 Guerra Mundial,
nossa pesquisa aponta o contrrio. Com tal propsito, a Biblioteca planeja, em 1913, o envio de
um funcionrio para que no Instituto pudesse aprender as tcnicas por ele utilizadas, assim,
no dia 04 de agosto de 1913, o diretor da Biblioteca escreve ao secretrio Masure apresentando
Ccero de Britto Galvo, que objetiva estudar os modos de construo do repertrio e as
tcnicas nele empregadas (Silva, 1913b).
Tal ao parece ser um esforo para melhor entender as tcnicas empregadas pelo
instituto, bem como um meio para a edio da Bibliografia Brasileira.
Ccero de Britto Galvo era o oficial encarregado das fichas do Repertrio Bibliogrfico
Universal, conforme nos fala Manoel Ccero em carta ao Ministro da Justia e Negcios
Interiores datada de 17 de julho de 1913, onde este diz:

Sendo conveniente que o official Cicero de Britto Galvo,
encarregado de por em ordem as fichas do repertorio bibliographico
universal que tem sido fornecidas pelo Instituto Internacional de
Bibliographia de Bruxellas, estude a organisao do mesmo
repertorio e se familiarise com o systema de classificao decimal

5
Fonte: Biblioteca Nacional. Diviso de Manuscritos (I-19,19,1).

1356
nelle adoptado, de modo a poder organisar o repertorio brasileiro,
tenho a honra de submetter vossa approvao a designao que fis
do mesmo official para proceder quelles estudos no referido
Instituto de Bruxellas.
A commisso que ser confiada ao official Cicero de Britto
Galvo poder ser desempenhada nos mezes de Agosto a Dezembro
mediante a gratificao de quinhentos mil reis mensaes e um conto
de reis para passagens, sem prejuizo dos seus vencimentos, despesa
que correr pela sub-consignao Investigaes e estudos em
bibliothecas, etc. da consignao Material do n. 27 do oramento
deste Ministerio.
Por conta dessa gratificao extraordinaria e para occorrer s
primeiras despesas que o desempenho da commisso ir acarretar,
solicito que vos digneis de ordenar seja paga ao referido official a
quantia de dois contos e quinhentos mil reis.

Autorizado por carta do Ministro de 25 de julho de 1913 a ir Bruxelas, Ccero de Britto
parece ter ficado o tempo previsto na cidade belga e parece ter voltado antes da ecloso da 1
Guerra Mundial ao menos nossas pesquisas no arquivo histrico do Itamaraty no
identificaram seu nome dentre os brasileiros que permaneciam na Europa no incio do
conflito.
Com o hiato de alguns anos o silncio dos arquivos, a falta de fontes nos impediu de
traar a trajetria do oficial da Biblioteca , em 1918 foi lanada, de acordo com os padres
estipulados pelo IIB, a Bibliografia Brasileira, chamada de Boletim bibliographico da Bibliotheca
Nacional do Rio de Janeiro. Organizada por Ccero de Britto Galvo, a bibliografia foi editada
entre os anos de 1918 e 1921, contando com 14 volumes.

Figura 3: Detalhe da primeira pgina do Boletim bibliographico da Bibliotheca Nacional do Rio de
Janeiro
6

Tal Boletim foi editado conforme as normas do IIB, com as informaes preenchendo
apenas o anverso da folha, com espao suficiente para que fossem recortadas e coladas em
fichas padro 7,5 cm X 12,5 cm. Assim, O Boletim Bibliographico, finalmente vem luz
publica sem originalidade de maior, porquanto para elle se adoptou o melhor modelo
conhecido que o do Institut Internationale de Bruxelles (Magalhes, 1918).

6
Fonte: Boletim bibliographico da Bibliotheca Nacional do Rio de Janeiro.

1357
Desta forma, pudemos evidenciar que o contato entre as duas instituies no passa
apenas pela simples troca de informaes ou fichas, mas tambm forte impulsionador no
processo de modernizao sofrido pela Biblioteca Nacional.

4 Uma rede de informaes no brasil: aes de modernizao da biblioteca
nacional

Voltando, novamente, nossa perspectiva aos ideais de modernizao da BN por seu
diretor Manoel Ccero Peregrino da Silva, acreditamos que um dos reflexos do contato com os
ideais de Paul Otlet, impulsionados pelo perodo pelo qual passava a instituio, ajudaram na
criao de uma rede de informaes no Brasil e este ponto que exploraremos nesta seo.
Otlet e La Fontaine viveram um perodo singular na Europa, j na ltima dcada do
sculo XIX os intelectuais da poca discutiam como acabar com as limitaes que as fronteiras
nacionais impunham e como integrar o mundo (Mattelart, 2002). Muitos pensadores, inclusive
a dupla belga, acreditavam que por meio desta integrao o mundo, finalmente, poderia
alcanar a paz, pois as trocas culturais advindas deste intercmbio entre as mais variadas
naes permitiriam a compreenso mtua.
Desta forma, ao criarem o IIB, a dupla de juristas belga o pensa como uma chance de
integrar os mais variados pases com vistas a um objetivo em comum: a criao do Repertrio
Bibliogrfico Universal. J esmiuado nas sees anteriores, a criao do RBU est entre uma
das misses do Servio de Bibliographia e Documentao da Biblioteca Nacional brasileira,
contudo, no o nico. O 5 objetivo, j citado anteriormente, nos diz que a BN se
compromete com [...] a organizao do catalogo collectivo das bibliothecas brazileiras.
Apoiada nos ideais de Otlet, a Biblioteca parece buscar ser a instituio lder no Brasil
no contato com o exterior, para ela, segundo o seu regulamento (BRASIL, 1911), que
convergem os pedidos de intercmbio de obras e os pedidos de contato, se tornando o rgo
brasileiro responsvel pelas permutaes internacionais. Assim:

Art. 136. Como estao intermediaria, a Bibliotheca estender a
quaesquer paizes a sua interferencia, incumbindo-se gratuitamente
de:
1, encaminhar aos diversos estabelecimentos estrangeiros,
encarregados desse servio, as remessas provenientes de instituies
scientificas, litterarias, etc., e destinadas a instituies semelhantes;
2, enviar directamente s instituies dos paizes, onde no
houver estao intermediaria, as publicaes que lhes forem
destinadas;
3, receber do estrangeiro e fazer entregar no Brazil as que
procederem daquelles estabelecimentos ou instituies, dando
prvio aviso aos destinatarios e enviando-as pelo correio, quando
esse meio de transporte fr autorizado (BRASIL, 1911).

Desta forma, a Biblioteca Nacional se estabelece como lder regional na articulao com
organismos internacionais e no mbito das trocas culturais com outros pases.
Nesse sentido, a iniciativa da instituio parece adequar-se ao modelo apresentado por
Otlet (1934) de cooperao internacional, no seu Trait de Documentation. Nesta obra, Otlet nos
apresenta o Mundaneum e o ideal de construo de uma rede universal de conhecimento que

1358
reunisse todo o produto do esprito humano, e que a sua troca fosse facilitada por relaes
entre as mais variadas instituies e pases.

Figura 4: Modelo de organizao e cooperao internaciona para Paul Otlet.
7

O Mundanem seria uma evoluo natural do Instituto Internacional de Bibliografia, na
verdade, o IIB seria uma das engrenagens do Mundaneum, bem como a Biblioteca, o Museu e o
Arquivo Universal, dentre outras variadas instituies. Tal projeto est em consonncia com o
ideal de mundialismo
8
, proposto por Otlet, que seria:

[...] o movimento que tem como objetivo a construo da
unidade poltica mundial. Nele confluem aspiraes cosmopolitas e
pacifistas, qualificadas pela indicao dos instrumentos
institucionais necessrios para garantir suas realizaes.
Ele afirma o princpio da unidade (pluralista) do gnero humano
acima das divises nacionais e a necessidade de um seu ordenamento
pacfico capaz de garantir a unidade do planeta e, ao mesmo tempo,
a autonomia de todos os Estados (Bobbio; Matteucci; Pasquino, 1998,
p. 792).

Nesse sentido, a Biblioteca Nacional brasileira possui no ano de 1913, 260
correspondentes internacionais (SILVA, 1914) e, no mesmo ano, segundo carta levantada em
nossa pesquisa, 143 correspondentes nacionais, entre bibliotecas, arquivos, museus,
faculdades, institutos e outros (SILVA, 1913a).

7
Fonte: OTLET, 1934, p. 420.
8
Mattelart (2002) atribui a criao do termo Mundialismo a Paul Otlet.

1359
Desta forma, segundo o modelo acima de Otlet, a BN seria o organismo nacional nesta
tarefa, bem como seus correspondentes no pas seriam os organismos regionais e os seus
pares no exterior seriam tambm organismos nacionais ou internacionais, como o caso do
IIB.
Assim, o Mundanem estaria posicionado no Centro Mundial, o IIB nos organismos
internacionais, a BN como organismo nacional e outras instituies, tais como algumas
bibliotecas e arquivos brasileiros seriam os organismos regionais. Com isso, o ciclo proposto
por Paul Otlet estaria completo e uma rede de comunicao de alcance internacional estaria
estabelecida no pas.

Concluso

As instituies no so imutveis, elas esto em constante mudana, sendo
influenciadas pelo mundo exterior a elas, bem como o influenciam. No Brasil, a Biblioteca
Nacional aproveita-se do momento propcio para se modernizar e se firmar como uma
instituio importante, tanto no cenrio nacional como internacional.
Nossa pesquisa, j bastante adiantada, mas ainda com alguns hiatos a preencher, nos
mostra que a Biblioteca, ao ganhar um novo prdio, no muda somente sua estrutura fsica,
mas sim o seu modo de agir diante outras instituies, buscando cada vez ser mais atuante.
Desta forma, estabelece contato com diversas instituies nacionais e internacionais, contudo,
seu papel de liderana regional passa a ser resguardado por lei, como instituio promotora
do intercmbio internacional.
Sob este prisma, com a criao do Servio de Bibliographia e Documentao, a
Biblioteca busca se firmar como a promotora da criao de uma rede de informaes no Brasil,
mas, sobretudo, modernizar as tcnicas empregadas em seu acervo atravs do uso da
Documentao e participar do esforo de cooperao apregoado por Otlet e La Fontaine. Nesse
bojo, a edio da bibliografia brasileira em consonncia com as normas do IIB parece ser um
dos maiores frutos do contato entre as duas instituies.
Desta forma, acreditamos que o ideal da Biblioteca Nacional de liderana regional foi
garantido por meio do seu contato com instituies do exterior, mas, sobretudo, por sua
mudana estrutural. Seu novo regulamento, a edio de leis que modernizaram o depsito
legal asseguraram o seu papel de lder no desenvolvimento de uma rede de informaes
nacional.

Referncias

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1360
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1361
SILVA, Manoel Ccero Peregrino da (1913a). A Bibliotheca Nacional em 1912: relatorio. Annaes

SILVA, Manoel Ccero Peregrino da (1913b). Carta ao Ministro da Justia e Negcios Interiores,
Rivadavia da Cunha Correa. Rio de Janeiro, 17 jul. (Correspondncia enviada, 1913 -
Biblioteca Nacional/Diviso de Manuscritos)


1362
CULTURA, GLOBALIZAO E TECNOLOGIA
A mediao nos currculos dos cursos de cincias da informao no brasil e na ibero-amrica

MARIELLE BARROS DE MORAES
[email protected]

MARCO ANTNIO DE ALMEIDA
[email protected]

Resumo O desenvolvimento de Tecnologias de Informao e de Comunicao (TICs) tem um papel importante
nos processo de globalizao. Este fenmeno propiciou o surgimento de uma Sociedade da Informao, a qual
atua de forma conectada e altera o modo como os processos de mediao informativo-culturais so efetivados,
alm de alterar o papel dos tradicionais mediadores, dentre eles, os bibliotecrios. O texto analisa como os
conceitos de mediao, cultura e tecnologia so contemplados no interior dos currculos de alguns cursos de
Biblioteconomia do Brasil, a saber, os cursos da Universidade Federal do Par, Universidade Federal do Cear,
Universidade Federal de Santa Catarina, Universidade de So Paulo e Universidade de Braslia, com uma breve
comparao, a partir da, com seus congneres na Ibero-Amrica, especificamente, a Universidad de Buenos
Aires e a Universidade Nacional Autnoma de Mxico. Realizamos uma pesquisa bibliogrfica sobre as inter-
relaes entre globalizao, cultura, tecnologia e mediao. Em seguida, procedemos Anlise de Contedo
dos Currculos de Biblioteconomia no Brasil, bem como de seus congneres na Ibero-Amrica para realizar
uma anlise comparativa. Os resultados apontam que o conceito de mediao utilizado em sua acepo
tradicional ou, muitas vezes, no mencionado; a cultura no percebida como um destino provvel para
atuao dos profissionais da informao; a tecnologia tema pouco explorado e quando o apresenta-se em
forma de treinamento, ou como uma tentativa de modernizar as atividades tradicionais do campo. Conclui-se
que uma educao que promova competncias relacionadas a estes aspectos estratgica para os
profissionais da informao no cenrio contemporneo.

Palavras-chave Mediao da Informao. Cultura. Tecnologia. Formao de bibliotecrios. Currculo.

Abstract The development of Information Technologies and Communication contributes substantially to the
globalization processes. This phenomenon has given rise to an Information Society, which operates in the
network by changing the way the mediation process information-cultural are effective, besides altering the
traditional role of mediators, among them librarians. This paper examines how the concepts of mediation,
culture and technology are included in the curriculum of some courses Library of Brazil, can be highlighted as
the Federal University of Par, Federal University of Cear, Federal University of Santa Catarina, So Paulo
University and University of Braslia, establishing a brief comparison against similar courses in Latin America,
specifically the University of Buenos Aires and Universidad Nacional Autnoma del Mxico. The method used
is a literature search on the interrelationships between globalization, culture, technology and mediation
followed by a "Content Analysis of Library Science Curricula in Brazil" and similar in Ibero-America to
perform a comparative analysis. The results show that the concept of mediation used in its traditional sense
that often not mentioned; culture not perceived as a probable destination for actuation of information
professionals; technology is relatively unexplored and when it presents itself in the form of training, or as an
attempt to modernize traditional activities in this field. Conclude that an education that promotes related
competences these aspects is strategic for information professionals in the contemporary scenario.

Keywords Mediation of Information. Culture. Technology. Training of librarians. Curriculum.

1363
Introduo

A partir da inveno dos caracteres mveis tipogrficos, ao longo dos ltimos cinco sculos e
meio, assistimos a uma srie de transformaes culturais que tornaram possvel o mundo tal qual
ele hoje. At o sculo XIX, tudo que os homens consideraram, de alguma maneira, relevante, digno
ou simplesmente til, transferiu-se em registro de alguma natureza: foi transformado em livro e
colocado disposio de um nmero cada vez maior de pessoas; foi transformado em gravura, cuja
reproduo tambm permitiu um alcance maior do que uma imagem pintada ou esculpida, etc. No
sculo XIX, outras formas de registro renovaram a possibilidade de ampliar a memria e de
transformar o conhecimento: jornais e revistas, cujo princpio de informao (novidade, brevidade,
inteligibilidade e, sobretudo, falta de conexo entre as notcias) reflete o princpio de fragmentao
da cidade moderna, privando o leitor da experincia direta do acontecimento que narrativas
anteriores permitiam. A informao, a partir do sculo XIX, um produto definitivamente urbano
que remove os aspectos simblicos ligados aos cultos e s tradies.
O registro fotogrfico se realiza na metade do sculo XIX, a imagem em movimento do
cinema na virada do sculo. O sculo XX inventa o registro fonogrfico, as fitas magnticas e,
finalmente, o registro digital: a concepo de informao se transforma. Afasta-se cada vez mais da
associao com o livro, com a narrao, com o espao da biblioteca, torna-se cada vez mais
fragmentria, em sua face televisiva ou jornalstica, ou cada vez mais especializada na diviso dos
saberes cientficos, transformando, assim, os cdigos culturais do conhecimento.
Somos interpelados a todo o momento por signos ou produes simblicas produzidas em
diversas partes do mundo e postas em circulao, para consumo tambm em qualquer lugar do
planeta, acelerando o fenmeno da globalizao. Esta se apresenta de uma maneira bem diferente
da que vinha sendo efetivada na primeira fase da modernidade, uma vez que a forma como os meios
de comunicao, consorciados com as tecnologias informticas, h muito vem contribuindo para a
mediao ou aproximao entre os povos e culturas. Essa nova forma de globalizao baseia-se na
combinao dos meios de comunicao com a informtica, cujo principal insumo a informao,
que se apresenta na sociedade em forma de fluxos e, portanto, tem natureza imaterial.
O termo globalizao passou a ser bastante difundido a partir dos anos de 1970/80. Santos
(2001), ao analisar o fenmeno da globalizao, afirma existir trs mundos diferentes dependendo
da forma como a percebemos. O primeiro seria o mundo como nos fazem ver, ou seja, a globalizao
aqui percebida como uma fbula, na qual se faz crer que a difuso instantnea de notcias, de
informaes, realmente informa as pessoas; alm disso, por meio desse mito e do encurtamento das
distncias, tambm se difunde a noo de tempo e espaos contrados. O segundo refere-se ao
mundo como , a saber, a globalizao como perversidade, onde h o desemprego crnico, o aumento
de pobreza, bem como a mortalidade infantil permanece, a despeito dos progressos mdicos e da
informao. J o terceiro o mundo como pode ser: uma outra globalizao, que faa dialogar povos,
raas, culturas, gostos em todos os continentes, fazendo existir uma verdadeira sociodiversidade,
historicamente muito mais significativa que a prpria biodiversidade. Outra globalizao que
possibilite a produo de um novo discurso, de uma nova metanarrativa, um novo grande relato.
Alm do termo globalizao, outros que passaram a fazer parte do repertrio contemporneo
so os de cruzamentos, mestiagens, hibridizaes, os quais buscam representar as sensaes
provocadas pela globalizao, cujo modo de funcionamento faz associar as culturas com as
tecnologias, tornando-as centrais na dinmica das sociedades contemporneas, em quaisquer
aspectos da vida humana e social. Neste sentido, Jout (1993, p. 1010) afirma que com efeito, o
recurso s ferramentas de comunicao se impuseram no somente nos prazeres, mas tambm no
trabalho e na vida prtica. Portanto, as Tecnologias de Informao e de Comunicao (TICs)
alteraram as relaes dos homens consigo mesmo, com os outros, com o tempo e o espao. Nessa
mesma direo, Garca Canclini (2007, p. 144) analisa, criticamente, que a variedade de situaes
impostas vida contempornea articula o local e o global, os processos de globalizao com os de
desglobalizao, fazendo com que a mundializao no seja concebida de forma linear, mas sim,
em vez de imposies do centro s periferias, relaes de ida e volta: periferias-centro-periferias.

1364
O maior uso das TICs propiciou a emergncia do que Manuel Castells (1999) denominou de
Sociedade em Rede, uma vez que o globo se tornou cada vez mais conectado; todavia, no de uma
maneira universal. Esse fenmeno propiciou a aproximao entre os povos, cujas identidades no
so mais apenas culturais, mas inter/transculturais. Corroborando, Garca Canclini (2007) j
anunciara que as identidades dos sujeitos se formam em processos intertnicos e internacionais,
por meio de intercmbios financeiros e informacionais que so criados para serem distribudos
pelas indstrias culturais. Este fato vem a alterar a forma como os processos de mediao
informativo-culturais so efetivados. Se antes era necessria a figura de um intermedirio a fim de
realizar os fluxos informacionais; na contemporaneidade, os usurios passam a ser mais
independentes, ativos e autnomos da figura do mediador. Os denominados usurios deixam de
ter um papel somente passivo, para dar conta de um universo informacional em que ele tambm
um sujeito agente desse processo. Com o novo papel dos usurios, as tradicionais figuras dos
intermedirios, tais como bibliotecrios, jornalistas, arquivistas, professores, dentre outros, tm
seus papeis ressignificados num contexto em que as tradicionais formas de organizao, mediao e
uso de informao no do mais conta da realidade, uma vez que a informao no se apresenta
mais apenas em seu formato atmico/analgico, mas sim, quntico/digital. No caso das Cincias da
Informao este fenmeno torna-se ainda mais evidente uma vez que ela tem por objeto de estudos
os processos de mediao informativo-documentrios
1
.
Nesta direo, buscamos neste texto analisar como os conceitos de mediao, cultura e
tecnologia so contemplados no interior dos currculos de alguns cursos de Cincias da
AInformao do Brasil, a saber, os cursos de Biblioteconomia da Universidade Federal do Par
(UFPA), Universidade Federal do Cear (UFC), Universidade Federal de Santa Catarina (UFSC),
Universidade de So Paulo (USP) e Universidade de Braslia (UNB); com uma breve comparao a
partir da com seus congneres na Ibero-Amrica, especificamente, a Universidad de Buenos Aires
(UBA) e a Universidade Nacional Autnoma de Mxico (UNAM)
2
. A escolha de Argentina, Brasil e
Mxico, em que pesem algumas diferenas no mbito social, poltico e econmico, fundamentou-se
no fato de que os cursos ligados CI possuem j um histrico de maior consolidao nesses pases do
que nos outros pases da Amrica Latina.
As hipteses que nortearam esta investigao foram: a primeira de que os PPPs evidenciam
aspectos da identidade e da epistemologia dos cursos e das reas de conhecimentos e, portanto,
revelam aspectos acerca dos perfis profissionais que constituiro; a segunda que, embora a ideia de
uma Sociedade da Informao globalizada permeie esses currculos, aspectos econmico-culturais
locais podem determinar diferenas entre os mesmos.
Este artigo est dividido em trs partes: a primeira trata de uma discusso mais ampla sobre a
Sociedade da Informao e como os aspectos mediacionais, culturais e tecnolgicos esto
configurados nesse modelo societal. A segunda trata mais especificamente da Cincia da Informao
na contemporaneidade, analisando as transformaes de seus objetos, abrangncias e espaos de
trabalho com as Tecnologias de Informao e de Comunicao. A terceira refere-se s anlises de
contedo em si, no que concerne insero dos conceitos de mediao, cultura e tecnologia nos
currculos das Cincias da Informao Ibero-americanos.

1
Em relao ao objeto de estudos da Cincia da Informao afirmamos que no h um consenso na literatura da rea sobre
qual seria esse objeto. Rendn Rojas (2012) apresentou alguns avanos das propostas que alguns autores expuseram acerca
do objeto de estudos da Cincia da Informao. Na Espanha, Lpez Yepes (2011) afirma que esse objeto o processo
informativo que gera a informao documental. Delgado e Pirela (2011) na Venezuela propem que os processos de
mediao do conhecimento sejam esse objeto. No Brasil, para Ortega (2011) seria a interveno (especfica) que realizada
sobre a informao, por meio da elaborao de registros ou inscries, visando possibilitar permanncia e acesso para
usos posteriores. Na Colmbia, para Quintero Castro (2011) o objeto seria a organizao documental, pois ela permite o
acesso, uso e aplicao social da informao. Outro possvel objeto da CI seria o sistema informativo-documental, ideia
defendida por Rendn Rojas (Mxico) e Eduardo Mancipe (Colmbia) (Rendn Rojas, 2012).
2
Em relao aos currculos das instituies brasileiras, retomamos alguns aspectos anteriormente desenvolvidos em
Moraes (2012).

1365
1 Sociedade da informao: mediao, cultura e tecnologia

Com os processos acelerados de industrializao e urbanizao a partir do sculo XX,
ampliou-se enormemente a quantidade de dados e informaes necessrias para o gerenciamento
da vida social. Nesse sentido, que ir se desenvolver a mecanografia, tcnica cujo objeto
mecanizar a coleta e o tratamento dos dados e, de maneira mais genrica, de todas as informaes
sociais e econmicas. Outro aspecto importante do processo que desembocar na informtica, j
vinha se desenrolando desde o final do sculo XIX: descobertas na rea do eletromagnetismo que,
posteriormente, sero potencializadas pela telefonia sem fio, televiso, radar e computador. A
entrada dos EUA na Segunda Guerra Mundial ser o passo decisivo no desenvolvimento da
Informtica. Os EUA construram um modelo de guerra tcnica, na qual o clculo ocupa parte
decisiva. As redes de comunicao e colaborao entre cientistas proporcionada pela guerra
possibilitam trocas de ideias, quebras de fronteiras do conhecimento e estabelecimento de novos
desdobramentos tecnolgicos. Como, por exemplo, o desenvolvimento de novos mecanismos de
defesa contra os avies, que mobilizou Norbert Wiener durante a guerra. Ele integrou a tecnologia
do radar e a das calculadoras, chegando assim a uma soluo indita at ento, introduzindo o
conceito de retroao (feedback). A partir de sua proposta de comparao entre certos dispositivos
automticos e determinados comportamentos humanos que surgir a Ciberntica, abrindo novas
possibilidades para a cincia, sugerindo j a o prenncio de uma sociedade da informao. Resta
discutir, entretanto, como essa ideia de sociedade da informao surge e quais as implicaes-
sociais, econmicas e culturais- que ela traz para a vida dos indivduos.
Ao iniciar alguma discusso sobre a Sociedade da Informao podemos perceber que nos
deparamos com alguns autores que possuem abordagens especficas acerca desta temtica,
principalmente, quando observamos a temporalidade das suas produes. Por exemplo, dois autores
que sempre so citados e cuja importncia para quem deseja discutir alguns aspectos da Sociedade
da Informao, trata-se de Daniel Bell (1973) e Yoneji Masuda (1982). Ambos os autores escreveram
num momento em que as Tecnologias de Informao e de Comunicao estavam se tornando cada
vez mais a pauta do dia-a-dia. Os dois autores, em suas obras que datam dos anos de 1970 e 1980,
fizeram um esboo de como seria construda a Sociedade da Informao e a forma como conduziram
suas tentativas de previso social, nos leva a perceber que, para ambos, as emergentes TICs seriam
uma espcie de ddiva que libertaria o homem tanto do espao, quanto do tempo e, principalmente,
das formas de relaes de trabalho e educao, uma vez que no mais seria necessrio outro espao
fsico para o trabalho e a educao no sentido de que bastava ter um computador e realizar a auto-
formao e o trabalho distncia.
Por outro lado, um autor que vem analisar o atual desenvolvimento da Sociedade da
Informao em uma perspectiva comparativa com as projees dos autores mais futuristas, como os
citados anteriormente, Barbrook (2009). Este autor afirma que o modelo de sociedade que lhe fora
apresentada na dcada de 1960 como uma perspectiva certa de futuro foi aquela em que as
mquinas seriam capazes de raciocinar e at sentir emoes como os seres humanos; em que visitar
outros planetas seria to barato e fcil, como viajar a outras cidades o era naquele momento. Foi
nesse perodo em que as teses de Bell e Masuda ressoavam na sociedade; todavia, com a Guerra Fria,
as incertezas que pairavam sobre a sociedade, devido ao conflito entre as duas grandes potncias,
bipolarizando o globo, foram postas cada vez mais em evidncia. Foi o momento em que surgiram as
teses sobre a ps-modernidade, bem como o grande investimento em pesquisas a fim de prover os
Estados Unidos com a sua prpria narrativa e distinta daquela da modernidade. Desta forma, Bell
anuncia o prprio fim da ideologia.
Foi somente a partir da dcada de 1990 que as Tecnologias de Informao e de Comunicao,
as quais por muito tempo ficaram apenas no mundo das ideias desse Futuro Imaginrio
divulgados nos anos de 1960 a 1980, comearam a se efetivar em larga escala e em desenvolvimento
acelerado, atingindo quase todo o globo. Essa grande expanso do uso das TICs alterou a forma de
ser e de estar dos indivduos no mundo, facilitando a aproximao e a mediao entre os povos e as

1366
culturas, alm de acelerar o processo de globalizao e desenvolver cada vez mais a Sociedade da
Informao, mas num novo formato, ou seja, uma Sociedade da Informao Globalizada.
Se na primeira modernidade, a globalizao se dava por meio de explorar novos mundos
fisicamente e de conhecer a cartografia global a fim de impor soberania e poder (Bauman, 2001, p.
43); na segunda modernidade, a explorao d-se mediada pelas novas tecnologias informticas que
esto cada vez mais integradas, e a explorao do outro mundo ocorre de forma virtual. Nesse
sentido, o mundo vai cada vez mais configurando espaos como aqueles que Latour (2000)
denomina de centro de clculo, ou seja, um n de uma vasta rede em que uma inscrio aproveita
as vantagens do inscrito, do calculado, e se torna comensurvel com todas as outras, vindas de
domnios da realidade at ento completamente estranhos. Este fenmeno vem a transformar a vida
contempornea e tm seus impactos nas formas como as informaes so mediadas na
contemporaneidade. A este respeito, desta maneira que se expressa Wolff (2009, p. 90):

Em uma economia mundializada, pelas redes telemticas que toda a
sorte de informaes estratgicas, isto , aquelas relativas s ltimas
tendncias de consumo e tecnologias de produo, podem chegar mais
rapidamente de todos os cantos do mundo s grandes empresas-rede, cuja
caracterstica mais fundamental ter suas cadeias de produo espalhadas
nos mais diferentes pontos do planeta.

Castells (2000) concentrou-se no processo de adensamento das conexes sociais, polticas e
econmicas contemporneas, que constituiriam o que denominou Sociedade em Rede. Para este
autor, a sociedade em rede aquela em que a realidade constituda a partir da virtualidade, a qual
se constitui como uma virtualidade real, em que a tecnologia que possibilita a efetivao da
Sociedade em Rede a Internet, a qual se torna a base material da sociedade contempornea. Nessa
sociedade, a economia, a poltica, a cultura, a educao efetivam-se em fluxos globais, atravs de
redes informticas, as quais so constitudas de informaes.
As TICs atuam recriando a realidade dos sujeitos, criando simulacros, e criando e recriando as
formas de sociabilidade. Ou seja, se a forma mais realizada de interao num primeiro momento era
a face a face; contemporaneamente, as formas de interao mediadas e as quase-interaes
mediadas so as que mais so efetivadas pelos sujeitos (Thompson, 1998). A cultura da virtualidade
real, efetivada por meio das redes informticas e pelos stios de relacionamentos ampliam os
espaos de atuao dos sujeitos para lugares e para hiperlugares. Por outro lado, mesmo com a
perspectiva de uma sociedade em rede que atua de forma globalizada, destruindo as fronteiras
espaos-temporais; parece que cada vez mais se incrementa as barreiras culturais entre os povos, os
quais passam a proteger suas tradies culturais da homogeneizao cultural promovida pela
globalizao. Em uma anlise mais ampliada desse fenmeno, Weissberg (2010, p. 117) afirma que:

Uma observao mais flexvel permite lanar a hiptese de que, longe
de dissolver a importncia da localizao, as redes s fazem aument-la.
[...]. As comunidades cientficas, temticas por natureza, j eram
conectadas por outros canais (documentos postados, correio, colquios,
etc.). [...]. Atravs de uma localizao no espao informacional, refora-se,
pois, frequentemente, e paradoxalmente, a importncia da localizao
geogrfica.

Portanto, podemos perceber que as culturas esto postas sempre em situaes de
negociaes, precisam sempre estar sendo mediadas como forma de solucionar seus conflitos
internos e com o mundo exterior a elas. Nesse sentido, o conceito de mediao cultural se
apresenta, uma vez que, conforme Veillette (2008, p. 105; 106), se refere a situaes e prticas, onde
a cultura serviria causa, visaria ou pretenderia visar transformaes sociais e polticas, sendo que

1367
esta ocorre quando a cultura que interpelada enquanto mediadora numa situao de conflito e
passa a servir, portanto, para amortecer o confronto propriamente poltico. Desta forma, se pode
pensar em mediadores culturais tanto em nveis macro (no mbito das polticas governamentais,
com a soluo de conflitos entre os pases, com polticas de dilogos interculturais, etc.), quanto em
nveis micro (como em relao s mediaes no mbito dos arquivos, bibliotecas, museus, centros
culturais, etc.). Nesse sentido, se tomarmos essas prticas dos mediadores culturais, como as que, de
forma bastante en pasant citamos acima, retornamos o dilogo com Veillette (2008, p. 114), o qual
afirma que dificilmente podemos falar da interveno de um ator neutro quando precisamente a
cultura que interpela e faz mediao; portanto, no caso dos profissionais que tradicionalmente
vem tendo por prtica laboral a mediao
3
informativo-cultural, tais como arquivistas,
bibliotecrios e muselogos, por mais que durante muito tempo se tenha pensado que estes
profissionais atuavam de forma neutra, tal afirmativa no se sustenta, uma vez que, como
trabalhadores da cultura, e cujo objeto de trabalho, a informao (ou qualquer outra denominao
que se d a este objeto) um produto cultural, ento as prticas desses profissionais no so neutras
e so emblemticas da configurao, das prticas laborais e do ensino das Cincias da Informao
contemporaneamente.

2 As cincias da informao da/na contemporaneidade

Conforme vimos discutindo at o presente momento, a globalizao contempornea est,
desde a Segunda Grande Guerra principalmente, reconfigurando os sistemas social, poltico,
econmico e cientfico e uma das formas mais evidentes dessa reconfigurao d-se com a quebra
de fronteiras espaos-temporais, cujas consequncias recaem nos sistemas supramencionados, ao
mesmo tempo em que se reforam as barreiras culturais e territoriais. nesse contexto
sociocultural e econmico que vem se desenvolvendo a denominada Cincia da Informao.
A gnese desse campo de conhecimento no consenso entre os autores da rea, o que faz
ressaltar a ausncia de uma metanarrativa histrica. O que encontramos de sua historicidade so
microrrelatos que partem de pontos de vista diferentes, dependendo do paradigma em que o autor
que vai tecer o relato percebe a CI. Os paradigmas da Cincia da Informao foram delineados por
Capurro (2003), o qual os classifica em: fsico, social e cognitivo e, conforme este autor, dependendo
do paradigma em que o pesquisador venha a atuar na CI, tanto o objeto, quanto a historicizao da
rea se altera.
Conforme o paradigma fsico a rea teria tido incio com a teoria da information retrieval
baseada numa epistemologia fisicista e est relacionado com a Teoria da Informao de Shannon e
Weaver (1949) e com a Ciberntica de Norbert Wiener (1961). O principal representante deste
paradigma Buckland (1991), o qual classifica trs formas de se perceber a informao, a saber:
informao como processo (mudana no receptor ao receber a informao- ou seja, quando o
receptor mobiliza seus conhecimentos anteriores a fim de processar e significar a informao);
informao como conhecimento ( o que percebido na informao como processo, a significao em
si); informao como coisa (qualquer expresso, descrio ou representao- dados, objetos,
documentos que os sistemas de informao lidam). Conforme o paradigma cognitivo os
fundamentos da CI estariam na Documentao, de Otlet e La Fontaine e se preocupa mais com a
significao da informao por parte dos sujeitos. J os que se apoiam no paradigma social afirmam
ser a Biblioteconomia Clssica as origens da CI, e os que se apoiam nesse paradigma tem por
preocupao voltar os estudos acerca da informao para a contextura histrico-social.
Por outro lado, no somente acerca das gneses e formas de olhares sobre o objeto da CI que
a demarcao imprecisa, mas, sobretudo, acerca do seu ontos, do seu objeto, bem como da
formao dos profissionais que atuam nessa rea. Com efeito, a definio do que seria a CI depende

3
Para Rasse (2000) a mediao no um conceito, uma teoria organizada, relativamente solidificada e emprestada para
empregar na anlise do espao social, ela recobre ao contrrio, um campo de debate terico e de prticas profissionais
sobre as relaes entre a cultura e seu pblico.

1368
muito do que na realidade se entende como sendo objeto desta rea de conhecimento, e, tendo uma
definio deste objeto, saber quais os limites e abrangncias do mesmo. Nesse sentido, discutiremos
trs pontos importantes para os objetivos deste artigo: o objeto, a abrangncia e a formao no
campo da Cincia da Informao.
Em relao ao objeto da Cincia da Informao ainda no se tem consenso na literatura da
rea, uma vez que, conforme j dissemos anteriormente, numa pesquisa realizada por Rendn Rojas
(2012) o objeto de estudos da CI e a prpria denominao desta rea percebido de maneiras bem
diversificadas por seus pesquisadores. Assim, este autor delineou alguns dos objetos de estudo desta
rea, quais sejam: 1) o processo informativo que gera a informao documental, 2) os processos de
mediao do conhecimento, 3) a interveno (especfica) que realizada sobre a informao, por
meio da elaborao de registros ou inscries, visando possibilitar permanncia e acesso para usos
posteriores, 4) a organizao documental, pois ela permite o acesso, uso e aplicao social da
informao e 5) o sistema informativo-documental.
Independentemente do que venhamos a perceber como o objeto desta rea, uma coisa certa:
o que interessa sempre a mediao de informaes para os sujeitos satisfazerem suas necessidades
informacionais. Nesse sentido, a abrangncia deste campo se torna cada vez maior, pois
considerando a mediao da informao, como objeto desta rea, ainda assim ela percebida dentro
de um contexto sociopoltico, econmico e cultural que faz com que esta categoria no seja esttica.
Desta forma, se torna cada vez mais importante a construo de uma Cincia da Informao que se
abra cada vez mais ao pensamento plural, que busque sempre o dilogo entre suas reas
constituintes, a saber, a Arquivologia, a Biblioteconomia e a Museologia, assim como com as demais
reas de conhecimentos que lhe so interdisciplinares e, portanto, a mediao da informao, a
nosso ver, poderia ser o eixo que possibilitaria esse maior dilogo.
Em relao abrangncia, percebemos que esta se amplia cada vez mais. O fenmeno da
incorporao da informao pelas Tecnologias de Informao e de Comunicao, as quais operam
no formato de rede, veio a transformar o prprio objeto informao, atribuindo-lhe uma natureza
digital e transformando os campos que, tradicionalmente, tratam dos fenmenos informativos-
mediacionais como a Arquivologia, a Biblioteconomia e a Museologia. Nesse nterim, que
consideramos importante uma formao para os profissionais deste campo no apenas baseada no
paradigma da disciplinaridade, mas, sobretudo, para a inter/transdisciplinaridade. Uma
interdisciplinaridade que propicie a continuidade de formao que possibilite aos sujeitos o
pertencimento a uma determinada identidade profissional, mas que juntamente a este tipo de
formao se abra aos repertrios da transdisciplinaridade.
No que diz respeito formao nas Cincias da Informao tambm se pode perceber a falta
de delimitao nesse quesito. Se outrora os locais e as tipologias documentrias, bem como as
prticas dos profissionais e seus locais de atuao eram bem delimitados e poderiam ser
classificados como prticas de arquivistas, bibliotecrios ou muselogos; na contemporaneidade,
essa delimitao passa a ser bem imprecisa, tanto no que se refere aos locais de trabalho
tradicionais, quanto em outros espaos que esses profissionais vm conquistando, a saber, os
centros culturais, as empresas, as indstrias, o ciberespao, etc. Este fato afeta a formao dos
profissionais da informao, haja vista que um currculo que atente apenas para o paradigma da
interdisciplinaridade no d mais conta da realidade, mas cada vez mais os currculos poderiam
estar abertos transdisciplinaridade
4
. Portanto, a respeito das novas abrangncias laborais desses
profissionais e da importncia da mediao informativo-cultural nesse quesito, desta maneira que
se expressa Almeida (2007, p. 13):

4
Falamos aqui de transdisciplinaridade no sentido dado por Olga Pombo (2005, p. 5), ou seja, que por detrs dos prefixos
inter, multi, pluri, meta e trans est um mesmo radical, ou seja, disciplina. O prefixo trans no se trata apenas de
estabelecer ligaes, como no caso do inter, mas sim, de ultrapassar o que prprio da disciplina, sem perd-las de vista.
So disciplinas que se pretendem juntar e articular.

1369
Se hoje soa utpico ou ingnuo pensar num perfil de profissional da
informao como intelectual orgnico em funo da srie de mudanas
pelas quais passou o mundo contemporneo e o Brasil em particular,
tampouco vale apontar para um perfil tcnico que, na sua aparente
neutralidade, escamoteia questes sociais e polticas relevantes. A insero
dos profissionais de informao nos processos culturais atentando para
sua funo de construo da hegemonia parece-me, nesse sentido, um dos
focos a ser privilegiado numa formao que se quer crtica.

Portanto, a mediao informativo-cultural, tanto como conceito a ser estudado, quanto a
visualizao das prticas tradicionalmente realizadas por arquivistas, bibliotecrios e muselogos,
um espao fecundo para a reconstruo de uma nova prxis para os profissionais da informao da
contemporaneidade. Uma formao que perceba que as prticas desses profissionais j eram
mediao, e que estas se ampliaram e se efetivam em novos moldes, principalmente, com o advento
das Tecnologias de Informao e de Comunicao. Pensar nessa nova formao repensar os
currculos que formam esses profissionais, tanto o currculo planejado, aquele que est
documentado, quanto o currculo em ao, o que realmente realizado no mbito do cotidiano dos
ambientes de ensino.

3 Os currculos de ci na ibero-amrica e a mediao

3.1 Metodologia

Para a realizao deste trabalho, inicialmente, foi feita uma pesquisa bibliogrfica acerca dos
conceitos de cultura, globalizao e mediao. De posse desses conceitos, podemos construir as
discusses acerca das relaes entre mediao, cultura e tecnologia, para em seguida, verificarmos
como esses conceitos estariam inseridos nos currculos.
Para a consecuo da anlise de contedo seguimos os seguintes passos que foram adaptados
de Campos (2004), quais sejam: 1) Leitura flutuante- realizamos a primeira leitura dos PPPs sem as
teorias basilares e depois com as teorias que embasaram a pesquisa. 2) Seleo das Unidades de
Anlise- retiramos sentenas dos textos dos currculos que demonstram as nossas hipteses de que
a Sociedade da Informao influenciara a formatao dos currculos. 3) Categorizao e
subcategorizao: estas foram definidas aprioristicamente (antes da leitura do referencial terico) e
no-aprioristicamente (tendo o referencial terico como norte das anlises).
A segunda etapa constitui-se da Anlise de Contedo dos Currculos Planejados (aqueles que
esto inscritos no mbito dos documentos oficiais) das Cincias da Informao no Brasil e de seus
congneres Ibero-americanos. A amostra selecionada foi: no Brasil- UFPA, USFC, UFC, UNB e USP; na
Ibero-Amrica: UNAM e UBA. Em seguida, foi realizada a anlise comparativa entre os cursos em
questo.

3.2 Anlise dos dados e discusses dos resultados

Apresentamos a seguir, dois quadros que resumem de forma sinttica informaes
concernentes insero dos conceitos de mediao, cultura e tecnologia nos projetos pedaggicos
dos Cursos de Biblioteconomia brasileiros e nos Planes de Enseanza da amostra dos Cursos de
Biblioteconomia dos outros pases ibero-americanos, bem como nas disciplinas presentes nos
currculos de Biblioteconomia desses pases.

1370

QUADRO 1- Insero dos conceitos de mediao, cultura e tecnologia nos PPPs/Planes de Enseanza dos
currculos de Biblioteconomia da Ibero-Amrica.
5

5
Fonte: Pesquisa in loco.

1371

QUADRO 2- Disciplinas relativas mediao, cultura e tecnologia dos currculos de Biblioteconomia da
Iberoamrica
6

6
Fonte: Pesquisa in loco.

1372
3.3 Algumas consideraes

A partir da anlise do contedo dos PPPs e Planes de Enseanza da amostra brasileira e
iberoamericana, podemos inferir que a forma como a mediao tratada refere-se muito mais s
prticas profissionais mais tradicionais do campo da Biblioteconomia, mesmo que os PPPs tenham
uma linguagem aberta ao paradigma da informao. Nos sete cursos analisados, e isso se refere
tanto aos currculos dos cursos de Biblioteconomia brasileiros, quanto amostra dos currculos
ibero-americanos, o que mais pesa na formao ainda se refere ao tratamento tcnico da
informao, s linguagens documentrias, mesmo que esses currculos vislumbrem outras
possibilidades de atuao do profissional da informao. A UNB e a UBA no citam de maneira
explcita a mediao da informao, todavia, podemos inferir que no interior dos currculos esto
presentes os contedos da mediao da informao em sua conceitualizao como prticas
profissionais, como saber-fazer. O nico curso da amostra que trata da questo da mediao em sua
acepo mais humana a UFC, quando afirma que busca proporcionar a participao poltico-social
levando em considerao os direitos e deveres do cidado, a fim de que possa exercer dignamente a sua
cidadania. Os outros cursos analisados se referem mediao como um servio ao usurio. Neste
sentido, dos sete cursos analisados, todos eles tratam com maior nfase da mediao da informao
em seu formato de tcnicas de saber-fazer, exceo da UFPA, que foi o nico curso que insere
em seu currculo a disciplina de Mediao da Informao como forma de estudar seu conceito, bem
como as prticas, mas que pouco trata da questo da cultura em seu currculo, o que nos leva a
perceber que, de todas as maneiras, por mais que a disciplina seja tida como terica num primeiro
momento, num segundo momento, e ainda em outro semestre, a disciplina se reveste com a
denominao de Prtica em Mediao da Informao, revelando que o currculo dicotomiza a
teoria e a prtica em seu interior.
Analisando a insero das disciplinas referentes Mediao da Informao encontramos:
Estudos de Comunidades e de Usurios, Servios ao Usurio, Servio de Referncia como as disciplinas que
mais aparecem nos currculos analisados, fazendo-nos perceber que a mediao tratada no
interior dos currculos analisados como uma prtica profissional, na acepo de Rasse (2000).
Portanto, mesmo que os contedos relativos mediao pudessem ser voltados anlise da cultura,
sociedade e economia, as quais so instncias sociais que o termo mediao tambm abarca, os
currculos ainda permanecem bastante presos mediao tomada em sua acepo mais tradicional
__
exceo da UFC; cujo o termo mediao s aparece em seu PPP no havendo uma disciplina ou
tpico de uma disciplina que remeta diretamente s questes da mediao cultural, fato este que
apresenta um distanciamento do que estabelecido em seu PPP e na construo do fluxo curricular
deste curso.
Se as disciplinas referentes Mediao da Informao so inseridas de forma bastante
incipiente, as relativas mediao da cultura so ainda mais, pois, por mais que os profissionais
tenham por artefato de trabalho a cultura e os objetos culturais, estes so muito pouco tratados
desta forma no interior dos currculos. As disciplinas referentes cultura so muito poucas, ou at
mesmo inexistentes, como no caso dos currculos da UFSC, UNB e UBA. Outras se encontram no
currculo, mas na forma de discusso conceitual, ou historicista. A UFSC e a UNAM inserem no PPP
os contedos relativos mediao cultural, todavia apenas a UNAM inseriu em seu fluxo currculo-
disciplinar contedos voltados cultura local, tais como: Bibliotecologa en Mxico, Bibliografa
Mexicana, Bibliografa Mexicana Contempornea. Todavia, esses contedos so relativos no cultura
em si, mas aos produtos culturais mexicanos em seu formato de bibliografia. Os outros currculos
tratam da cultura como um conceito genrico e pouco tratam da cultura local em formato de
disciplinas. Alm disso, no texto do PPP dos cursos analisados, a UFSC e a UNAM inserem uma
perspectiva crtica na insero dos contedos culturais.
Outra questo que pouco inserida nos PPPs analisados a relao da cultura com as
Tecnologias de Informao e de Comunicao, temtica cada vez mais importante medida que as
TICs esto alterando as formas de sociabilidade contempornea. Este fato afeta tambm o mbito
dos arquivos, bibliotecas e museus e outros espaos de mediao informativo-cultural, pois estes

1373
ambientes esto cada vez mais inseridos no ambiente ciberespacial. Se antes as formas de mediao
entre os materiais de informao e o usurio eram realizadas de forma mediada, na
contemporaneidade, as formas de mediao so realizadas em outro formato, tais como a
desintermediao, ou seja, quando no se tem mais a figura do mediador e a informao chega ao
usurio sem o filtro dos mediadores humanos (o que no descarta a mediao dos prprios aparatos
tecnolgicos, mas essa seria uma discusso complexa que no cabe nesse momento). Neste sentido,
se a mediao pouco ou nada tratada no mbito dos currculos, em sua forma tradicional, quando
passa sua forma contempornea desintermediao humana - os currculos tratam menos ainda,
nem de forma terica, nem de forma prtica.
No caso da cultura, apenas a UFC e a UFPA afirmam explicitamente que os profissionais da
rea formulam, desenvolvem e executam polticas de promoo e de valorizao da cultura local,
regional e nacional, o que evidencia que esse campo vem sendo pouco explorado por quem formula
as polticas curriculares da rea, e, consequentemente, pouco explorado por parte dos profissionais
da rea, os quais no percebem o campo das polticas culturais como uma das vrias possibilidades
de atuao. Podemos perceber tambm que cultura nos currculos analisados muito pouco
trabalhada, tanto em sua conceitualizao, quanto na forma de insero de disciplinas que tratem
da mediao cultural.
Em relao s disciplinas que abordam a temtica da cultura a maioria trata de uma maneira
bastante incipiente acerca desta temtica. Por exemplo, disciplinas especficas acerca de cultura
(obrigatrias), encontramos apenas nos cursos de Biblioteconomia da UFPA, USP e UFC, quais sejam:
Histria da Arte, Histria da Cultura e da Comunicao e Cultura e Mdia. UFSC, UNB e UBA no possuem
disciplinas que remetam diretamente aos estudos culturais. A UNAM tambm no possui uma
disciplina voltada para os estudos culturais, mas disciplinas mais voltadas para a especificidade
cultural mexicana, que so as disciplinas de Bibliotecologa en Mxico, Bibliografa Mexicana e
Bibliografa Mexicana Contempornea. Diante deste cenrio curricular podemos afirmar que os
currculos analisados no tratam da cultura como um dos espaos de atuao dos profissionais da
informao, e ainda esto bastante focados no paradigma analgico/documental, tratando de forma
bastante incipiente o paradigma contemporneo informacional/digital.
Em relao ltima categoria de anlise, a tecnologia, podemos perceber que a mesma
tratada de uma forma bastante voltada competncia das tecnologias por si mesmas nos currculos.
A maioria dos currculos analisados inserem os contedos concernentes s tecnologias como um
mecanismo de facilitao e de aceleramento dos servios dos ambientes de informao. A maioria
insere as tecnologias buscando a competncia dos alunos nos ambientes tecnolgicos, mas sem uma
maior anlise da insero das TICs no cenrio contemporneo. Desconsidera-se, assim, que as TICs,
alm de alterarem as formas tradicionais de cultura, tornaram-se tambm produtoras de cultura e
de novas prticas e formas culturais. A insero da temtica da tecnologia nos currculos da UFC e
da UNAM feita de maneira diferente dos outros currculos analisados, a saber, a UFPA, UFSC e USP.
Nestes, a tecnologia mencionada como uma forma de modernizar os trabalhos tradicionais dos
profissionais da informao. No caso dos currculos da UFC e da UNAM, a tecnologia mencionada
em sua acepo mais humana, como uma forma de conservar e difundir a informao, gerando, assim,
novo conhecimento que repercute no desenvolvimento socioeconmico, cultural, educativo, cientfico e
tecnolgico da sociedade, conforme preconiza a UNAM.
As disciplinas relativas s tecnologias na amostra dos currculos ibero-americanos indicam
que na UFPA, UFSC e USP pouca ateno dada a esses conhecimentos, no formato de disciplinas
que se referem, tanto a dar um novo rosto s tradicionais disciplinas dos currculos de
Biblioteconomia, quanto da insero de outras que encerrem em seu contedo as tecnologias em si.
Cada um dos trs possui apenas uma disciplina que nos faz inferir que os contedos referentes s
TICs esto inseridos, quais sejam: Tecnologias de Informao e de Comunicao (UFPA); Informatizao de
Unidades de Informao (UFSC) e Documentao e Informtica (USP). Por outro lado, os outros currculos
analisados possuem as seguintes disciplinas, quais sejam- UFC (5): Informtica aplicada
Biblioteconomia e Cincia da Informao. Tecnologias da Informao I. Tecnologias da Informao II.
Informtica Documentria II. Gerao e Uso de Bases de Dados para Unidades de Informao; UNB (3):

1374
Introduo Microinformtica. Redes de Informao e Transferncia de Dados. Informtica Documentria;
UNAM (5): Computacin Aplicada la Bibliotecologa. Tecnologa de la Informacin en Bibliotecas.
Telecomunicaciones en las Unidades de Informacin. Sistemas y Programas de Automatizacin de Bibliotecas.
Recursos Digitales y Multimedias e UBA (7): Gestin de bases de datos. Sistemas de recuperacin de la
informacin. Sistemas y redes de informacin. Gestin de tecnologa de la informacin. Seminario: Avances en
tecnologa de la informacin. Pasanta o trabajo de campo en tecnologa de la informacin. Automatizacin en
unidades de informacin.
Dos dados extrados podemos afirmar que no h uma disciplina que trate dos aspectos mais
humanos das tecnologias, nem uma abordagem mais crtica em relao a elas, muito embora no
tenhamos realizado uma anlise mais aprofundada do currculo, analisando o contedo
programtico das disciplinas, o qual poder dar um direcionamento mais humano s tecnologias.
Por outro lado, a afirmao de que no h um tratamento mais humano s tecnologias no se
sustenta em alguns casos com o que podemos perceber do lead das disciplinas, mas se sustenta em
partes, porque os cursos da UFC e da UNAM afirmaram em seus PPPs e Planes de Enseanza,
respectivamente, que davam um tratamento mais humano quando da insero dos contedos
referentes s tecnologias em seus currculos.
Diante dos resultados que foram inferidos das anlises, podemos perceber que o conceito de
mediao inserido na maioria dos currculos analisados ainda pertence a uma mediao tradicional,
sendo que alguns deles no chegam a mencionar a mediao em seu currculo. Alm disso, a UFC a
nica universidade que trata das questes da mediao em seu formato mais humano, e no na
acepo mais prtica, tal qual a conceituada por Rasse (2000). Cultura no vista nos currculos
como um destino provvel, nem certo de atuao do bibliotecrio, uma vez que um termo e um
conhecimento muito pouco explorado nos currculos analisados, embora os bibliotecrios
trabalhem com objetos culturais (independentemente de ser material ou imaterial). A tecnologia
outro conhecimento, em seu formato terico, que pouco explorado nos currculos da rea e
quando explorado ainda em formato de treinamento, ou de uma tentativa de modernizar
atividades que os bibliotecrios vm fazendo desde a Antiguidade.
Neste sentido, a identidade dos cursos de Biblioteconomia da Iberoamrica possui um eixo
comum. No caso da amostra desta pesquisa, em que pesem as diferenas locais de cada um dos
cursos, privilegiando determinados tipos de saberes, os conhecimentos encerrados pela maioria
deles bastante parecida, o que pode vir a ser consequncia de uma sociedade da informao que
atua de forma globalizada.
Alm da questo identitria, outra questo que os PPPs e Planes de Enseanza revelam a
epistemologia dos cursos, pois dependendo da forma como os contedos esto inseridos, eles podem
estar elaborados de forma disciplinar, interdisciplinar ou transdisciplinar, independentemente da
denominao do curso (j que mesmo com nomes que no disciplinarizem a formao em
Biblioteconomia, Arquivologia, ou Museologia, os cursos, dependendo da forma como as disciplinas
esto dispostas e como foram elaboradas, podem estar disciplinarizando essas formaes); todavia,
estas so questes que sero discutidas noutro momento, uma vez que no se constituem como foco
central deste trabalho.

Consideraes finais

De forma sinttica, seguem-se algumas consideraes do trabalho ainda em curso, em relao
ao estudo dos currculos dos cursos de Biblioteconomia no Brasil e na Ibero-amrica, o qual foi
tecido em torno de quatro eixos fundamentais, a saber: cultura, globalizao, tecnologia e mediao.
Vale recordar que essas consideraes esto baseadas exclusivamente na anlise de contedo
dos PPPs e Planes de Enseanza, partindo da hiptese de que eles evidenciariam aspectos da
identidade e da epistemologia dos cursos e das reas de conhecimentos e, portanto, revelariam
aspectos acerca dos perfis profissionais que constituiro. Trata-se de uma primeira aproximao,
das disposies normativo-institucionais que direcionam o tratamento desses temas. Sabemos que

1375
para analisar mais profundamente como as diferenas locais/regionais se refletiriam na
apropriao (ou no) desses conceitos por parte dos atores concretos, seria necessrio que os
procedimentos metodolgicos tambm inclussem o contato com os docentes, bem como com os
alunos e egressos
__
procedimentos que esperamos implementar nas fases posteriores desta
pesquisa.
Isso posto, em primeiro lugar podemos perceber que o territrio da cultura, o qual se
apresenta cada vez mais dinmico e promissor, tem sido pouco explorado pelos profissionais e
pesquisadores da rea da Cincia da Informao. De um lado, por no ser visto como um destino
lgico, como os ambientes historicamente ligados ao campo - bibliotecas, arquivos, museus. Por
outro lado, porque em geral os currculos dos cursos carecem de elementos formativos que
predisponham e capacitem os futuros egressos a pesquisar e, principalmente, atuar nessa rea. No
que diz respeito reflexo e incorporao do campo cultural na forma de atividade econmica e de
gerao de recursos, pouco explorado e no visto como um destino lgico para a atuao do
bibliotecrio. O que evidente na anlise dos currculos que a Cultura vista como um contedo
terico a ser abordado no interior de algumas disciplinas, mas no como um campo promissor para
a atuao dos bibliotecrios.
Outro eixo de anlise foi a globalizao, a qual inserida nos currculos no de forma crtica,
mas indiretamente na forma da insero de disciplinas concernentes s Tecnologias de Informao
e de Comunicao (a base material da sociedade da informao globalizada) nos currculos. Neste
sentido, as tecnologias perpassam os currculos, mas como uma forma de tornar mais
contempornea as antigas prticas dos bibliotecrios e, muitas vezes, no so analisados os efeitos
dessas tecnologias no mbito dos ambientes de informao, tanto os tradicionais, quanto os mais
contemporneos.
Em relao mediao, especificamente no caso da amostra de currculos de cursos
brasileiros, observamos que poucos tratam da mediao da informao, e quando o fazem, ainda se
restringem a contedos e formatos tradicionais. No h uma preocupao maior com os processos,
ainda que tradicionais, de mediao humana, e menos ainda, uma discusso acerca dos
contemporneos processos de mediao automatizada proporcionada pelos aparatos
informatizados. Essa importante questo no contemplada nem de forma terica, nem de forma
prtica.
Outro ponto a ser ressaltado refere-se a que nos currculos, independentemente do nvel de
ensino, mas principalmente nos currculos que formam profissionais da informao, a alfabetizao
miditica e informacional se torna um elemento estratgico para a ressignificao do ensino nas
cincias da informao, bem como para a atuao dos profissionais da informao na sociedade.
Neste sentido, uma educao nestes moldes, que promova novas competncias nos profissionais da
informao, torna-se estratgica para a sobrevivncia numa sociedade da informao. Estas so
questes presentes num documento editado pela UNESCO, originalmente em 2011, intitulado
Alfabetizao miditica e informacional: currculo para a formao de professores e que poderia ser
utilizado como uma referncia-chave na elaborao dos currculos das Cincias da Informao.

1376

Referncias

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um conceito. 2007. Encontro Nacional de Pesquisa em Cincia da Informao, Salvador, 8.
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TEMA 6
Igualdade e diversidade em organizao do conhecimento

1381
GARANTA CULTURAL Y SESGO POSITIVO
Aproximacin Terico-Metodolgica

MARIO BARIT
Universidad de la Repblica
[email protected]

STEPHANIE COLOMBO
Universidad de la Repblica
[email protected]

Resumen Los sistemas de organizacin y representacin del conocimiento (SORC) son estructuras
conceptuales que tienen por objeto representar el contenido temtico de documentos y otros recursos de
informacin, y facilitar su acceso y recuperacin en sistemas de informacin convencionales o digitales. As,
promueven la representacin y gestin del conocimiento, la organizacin de datos e informacin.
Actualmente los SORC son creados segn estndares, bajo la concepcin de que sus estructuras representen
conceptos con neutralidad y equidad, expresando la objetividad de los estudios cientficos. Algunos autores
sostienen que en reas como Ciencias Sociales, Religin o Artes, la pretensin de neutralidad es difcil de
alcanzar, pues los clasificacionistas no escapan a las ideologas y concepciones dominantes en su tiempo. El
conjunto de connotaciones de un tpico (descriptor, palabra clave, etc.), que marca una tendencia, inclinacin
o expresin de una concepcin ideolgica es denominada 'sesgo'. El sesgo es negativo si refleja visiones
tendenciosas o prejuiciadas en aspectos como gnero, raza, y/u orientaciones sexuales, religiosas o polticas.
Es positivo cuando la construccin activa de un dominio exige una determinada perspectiva para satisfacer
las necesidades de informacin social, cultural, poltica o religiosa de un sector de la sociedad. Numerosa
investigacin aplicada y los conocimientos en msica, usos y costumbres sociales o Derecho tienen
referencias geogrficas y se apoyan en tradiciones locales. El tipo de garanta que justifica la terminologa
incorporada a un SORC puede incidir en la existencia de determinados sesgos. La garanta cultural aporta a
construir una identidad, a travs de elementos propios de interpretacin y vivencia de la realidad. Este
trabajo relaciona los conceptos de 'sesgo' y 'garanta cultural', estableciendo sus puntos de encuentro e
interdependencia. Se realiza una aproximacin metodolgica para desarrollar y revisar sistemas de
organizacin y representacin del conocimiento con sesgo positivo. Se establecen conclusiones y
proyecciones de investigacin.

Palabras-clave Sistemas de organizacin y representacin del conocimiento. Sesgo. Garanta Cultural.

Abstract The Knowledge Organization and Representation Systems (KORS) are conceptual structures which
represent thematic content of documents and other information resources. As well, KORS facilitate access and
retrieval in conventional or digital information systems. They promote the knowledge management and
representation, data and information organization. KORS are created followings standards, with the
conception that in theirs structures are represented the neutrality and equity of concepts. In areas such as
Social Sciences, Religion or Arts the neutrality is difficult to reach because the classificacionists are not able
to escape from their own ideology. Meanwhile, bias is an ideological connotation of a topic (descriptor, key
words, etc) which suggests a conceptual tendency, inclination or expression. The negative bias reflects
prejudice aspects in gender, race, sexual, religious or politics orientations. Although, the positive bias reflects
the active construction of a domain to satisfy social, cultural or religious information necessity of a society.
Music, Social Behaviour and Law are made based in local traditions and geographical references. The different
type of warrant justify the incorporation of terminology influencing some bias existence. The cultural
warrant helps to build this identity, also, representing specific aspects of a society. This paper will develop
the relationship between the concepts of 'bias' and 'cultural warrant', their interdependence and common
points. A methodological approach is given to create o revise KORS with positive bias. Conclusions and lines
or research will be given.

1382
Keywords Knowledge Organization and Representation Systems. Bias. Cultural Warrant.

Introduccin

Los sistemas de organizacin y representacin del conocimiento (SORC), tambin
denominados sistemas de organizacin del conocimiento (SOC) o lenguajes documentales, son
estructuras conceptuales que tienen por objeto representar el contenido temtico de documentos y
otros recursos de informacin, y facilitar su acceso y recuperacin en sistemas de informacin
convencionales o digitales. As, promueven la representacin y gestin del conocimiento, la
organizacin de datos e informacin. Actualmente los SORC son creados segn estndares, bajo la
concepcin de que sus estructuras representen conceptos con neutralidad y equidad, expresando la
objetividad de los estudios cientficos, o, en todo caso, la utilidad de sus descriptores para
propsitos de recuperacin en un dominio dado (...), de modo que la gente pueda identificar
fcilmente aquellos que necesite. (International Standard Organization, 2011, p. 15). En esta 'fcil
identificacin' parecieran quedar comprendidos aspectos de reconocimiento y correspondencia
sociocultural entre SORC y usuarios.
Algunos autores sostienen que, en reas como las Ciencias Sociales, Religin o Artes, la
pretensin de neutralidad es difcil de alcanzar, debido a que los clasificacionistas no escapan a las
ideologas y concepciones dominantes en su tiempo, o al hecho de que muchos dominios pueden ser
organizados en forma diversa, considerando diferentes perspectivas (Gonzlez Casanova, 1996;
Feinberg, 2007). De ese modo, muchas clasificaciones aparecen sesgadas hacia determinadas
orientaciones disciplinarias, ideolgicas, polticas, religiosas o culturales.
La cuestin del sesgo (bias en ingls) ha recibido atencin renovada en la literatura en tres
niveles: primeramente, en la identificacin ms o menos sistemtica de casos puntuales de
terminologa sesgada, presentados como formas de desajuste respecto a un modelo de dominio
ideal, neutral, o inclusive, polticamente correcto (por ejemplo, Pacey, 1989; Martn Santos et al.,
1999; Furner y Dunbar, 2004). En segundo trmino, en lo que corresponde a la identificacin y
valoracin de distintos tipos de sesgo: de raza (Furner, 2007), de gnero (Kublik et al., 2003; Olson,
2003), de orientacin disciplinaria (Tennis, 2003), entre otros. Y en un nivel ms elaborado, como
reconocimiento e institucin de una nueva rea-problema dentro de la Organizacin del
Conocimiento (Green, 2002; Feinberg, 2007; Hjrland, 2008).
La nocin de sesgo fue introducida por Ranganathan en la literatura del rea, a travs de la
explicacin de los mecanismos de relacin entre asuntos de su sistema de clasificacin Colon
Classification (Ranganathan, 1960). En las ltimas dos dcadas el concepto de sesgo extendi su
significado, pasando a representar toda manifestacin disonante, distorsionadora y/o
inconveniente de la representacin de conceptos. Solo muy recientemente se ha propuesto en
forma expresa la posibilidad alternativa de insertar premeditadamente terminologas sesgadas,
como una manera de atender las necesidades propias de comunidades de usuarios que comparten
una ideologa, una concepcin o una lnea de pensamiento (Hjrland, 2008), aunque la prctica
misma de sesgar esquemas tiene una tradicin bastante extendida.
No solo se ha estudiado insuficientemente la historia del uso del trmino 'sesgo' en
Organizacin del Conocimiento, sino que adems se ha dicho muy poco acerca de las metodologas
apropiadas tanto para corregir los sesgos no deseados, como para modelizar la inclusin
premeditada de sesgos denominados positivos. Tampoco se ha abundado en el vnculo que el
concepto de sesgo tiene, al menos en alguna de sus expresiones, con otros propios de la
Organizacin del Conocimiento. En este trabajo se explorarn estas cuestiones, y en particular se
introducir la relacin entre 'sesgo' y 'garanta cultural'.
De esta manera, se aspira a contribuir a la teora emergente del sesgo en sistemas de
representacin y organizacin del conocimiento, y a realizar una aproximacin metodolgica a la
insercin del sesgo positivo, en especial aqul culturalmente determinado. Las conclusiones
apuntan a innovar en el estado del arte sobre esta temtica.

1383
1 Teora del sesgo

En la literatura de Organizacin del Conocimiento se puede ver la evolucin conceptual que
ha tenido el trmino 'sesgo' a lo largo del tiempo, aunque no resulta sencillo dar con definiciones
precisas del trmino. Es posible que su introduccin al rea se haya dado desde la Estadstica,
disciplina en la cual el sesgo es visto como la propiedad de una muestra estadstica que hace que
los resultados no sean representativos de toda la poblacin. (Visual Mathematics Dictionary, 2007).
En su disciplina de origen, el sesgo constituye entonces una desviacin que puede dar lugar a
errores en la medicin de datos.
La revisin de literatura parece indicar que fue Ranganathan el responsable por la
extrapolacin del trmino hacia el rea de Organizacin del Conocimiento. En efecto, cuando este
autor desarrolla los diferentes tipos de relaciones que se pueden establecer utilizando su sistema
Colon Classification (Ranganathan, 1960), identifica una relacin no jerrquica llamada bias
relation, que permite clasificar documentos de una disciplina que fueron escritos para lectores de
otras disciplinas; por ejemplo: Psicologa para entrenadores deportivos. Todava a mediados de la
dcada de los '70 el trmino 'sesgo' mantuvo ese significado (Wersig y Neveling, 1976), hasta que fue
decayendo en su uso.
A comienzos de este siglo reapareci el trmino en la literatura con un sentido diferente,
aunque afn: la comprensin de un conjunto de visiones tendenciosas o prejuiciadas de los
clasificacionistas relacionado con aspectos culturales, como gnero, raza, y/u orientaciones
sexuales, religiosas y/o polticas (Olson, Nielsen y Dippie 2002), que llevan a imponer concepciones
predominantes de una cultura o ideologa, en esquemas presuntamente neutros.
Los crticos de los sistemas Dewey y CDU han hecho fila en esta posicin. As, se ha escrito que
estos SORC dejan traslucir en sus tablas las percepciones socioculturales de sus creadores (Barit,
1996; Caro y San Segundo, 1999), y que en la representacin de las Ciencias Sociales, la Religin y
hasta la literatura suelen producirse sesgos discriminatorios de tal magnitud, que atentan contra el
reconocimiento y la aplicacin internacional de esas herramientas (Pacey, 1989; Martn Santos et al.,
1999).
Siguiendo con la evolucin del concepto, es posible identificar un perodo bisagra donde los
autores comienzan a reconocer la importancia de las clasificaciones sesgadas, aunque plantean la
necesidad de neutralizar o al menos disminuir los sesgos. En este grupo se encuentran los trabajos
de Broughton (2000), Olson, Nielsen y Dippie (2002), McIllwaine (2002) y Furner (2007), entre otros.
Especialistas como Mai (2004) y Feinberg (2007) establecen que toda clasificacin es sesgada y
que los sesgos surgen en el proceso mismo de creacin de los SORC. El sesgo, bajo esta perspectiva,
ocurre cuando se elige una clasificacin de un tpico por sobre otra o cuando se pondera una
caracterstica (entendida como principio de divisin) por sobre otra. Una idea similar haban
expresado antes Hjrland y Albrechtsen (1999, p. 134-135) al afirmar que utilizar una clasificacin
del campo del conocimiento (o el conocimiento como un todo) es - de una forma u otra - apoyar un
punto de vista terico determinado a expensas de otros. Siguiendo esta perspectiva se puede decir,
con Mai, que una clasificacin es meramente una explicacin particular de las relaciones en un
campo dado que satisface a un grupo de personas en un punto del tiempo determinado. (Mai, 2004,
p. 41).
Cercano a la idea expuesta, se encuentra el caso de sesgo por omisin, ya que al privilegiar
una determinada forma de interpretar los objetos que se estudian, se invisibilizan o se omiten otros
que tambin forman parte del caudal de conocimiento acumulado en una disciplina. En la misma
lnea, los sistemas de organizacin y representacin del conocimiento fuertemente impregnados de
los valores de una cultura resultan ser excluyentes en cuestiones importantes para una comunidad,
respecto a los de otras.
En los ltimos aos se ha abierto camino la postura -que este trabajo pretende atender- de
identificar al sesgo, bajo ciertas condiciones o circunstancias, como un factor positivo e incluso,

1384
necesario. En esta lnea se inscriben, con matices, Beghtol (2002b), Mai (2004, 2010), Feinberg (2007),
Hjrland (2008) y Bart (2008).
Numerosas investigaciones aplicadas y conocimientos en msica, usos y costumbres sociales
o Derecho tienen anclajes geogrficos y se apoyan en tradiciones locales; constituyen referencias
culturales especficas que deberan ser consideradas y representadas adecuadamente por los SORC.
Esta postura confronta con la idea tradicional de una clasificacin universal, objetiva, que puede
abarcar todo el conocimiento producido y que sirve por igual a todos en cualquier parte del planeta.
Bajo esta presuncin fueron creados, por ejemplo, los grandes sistemas de clasificacin como la
Clasificacin Decimal Universal o la Clasificacin Decimal de Dewey. Hoy asumen nueva fuerza
aquellos que propugnan clasificaciones dedicadas a servir de herramientas pragmticas para
dominios especficos (Mai, 2004, p. 39), o enfocadas y/o realizadas desde ciertas perspectivas
culturales (Beghtol, 2002a).
Esta tensin entre enfoques universales y locales ha llevado a que los responsables de la
Clasificacin Decimal de Dewey, decidieran realizar modificaciones importantes en sus tablas para
ser ms inclusivos con otras creencias o culturas, y para disminuir los sesgos estadounidense y
cristiano (Sistema de Clasificacin Decimal de Dewey e ndice relativo, 2000).
Como resumen de lo expuesto, puede afirmarse que en la prctica se verifican dos tipos de
sesgo: (1) el sesgo negativo que refleja visiones tendenciosas, prejuiciadas o poco equitativas en
relacin con aspectos como gnero, raza, y/u orientaciones sexuales, religiosas o polticas. (2) el
sesgo positivo, que ocurre cuando la construccin activa de un dominio exige una determinada
perspectiva para satisfacer necesidades de informacin de un sector de la sociedad con
particularidades de identidad y cultura. Con el propsito de abarcar esas dos caras contrapuestas, se
propone entonces la siguiente definicin de sesgo: conjunto de connotaciones de un tpico
(descriptor, palabra clave, trmino, etc.), que marca una tendencia o inclinacin o la expresin de
una concepcin ideolgica, y que segn las circunstancias, puede ser consecuencia de visiones
prejuiciadas o, para el caso en que se busca atender demandas de colectivos especficos,
premeditadas.

2 Sesgo y garanta cultural

La garanta de una clasificacin es la autoridad que el clasificacionista invoca primero para
justificar y subsecuentemente para verificar las decisiones acerca de las clases o conceptos incluidos
en el sistema (Beghtol, 1986, p. 110-111). Es vista como un concepto prctico que denota el criterio
intelectual a partir del cual se organiza el conocimiento de un dominio (Huvila, 2006). Dicho de otra
manera, la garanta elegida como base metodolgica para el desarrollo de un sistema de
organizacin y representacin del conocimiento, tiene una incidencia directa respecto a la
seleccin de terminologa y de las relaciones entre los trminos elegidos como descriptores o
encabezamientos de materia.
Diversos tipos de garantas han sido propuestos y desarrollados a lo largo de ms de un siglo. El
impulso pionero lo dio Hulme quien en 1911 acu la expresin garanta literaria (literary warrant), para
propugnar que la terminologa de los sistemas de clasificacin deba estar basada en los tpicos
presentes en la documentacin misma, y no necesariamente en las nomenclaturas de las clasificaciones
cientficas o filosficas preexistentes (Hulme, 1911). Razonaba Hulme que si en las bibliotecas era
preciso clasificar libros, estas clasificaciones deban establecerse a partir de las temticas presentes en
ellos, antes que en sistemas formales de conocimiento, que podan no ajustarse a la realidad de la
documentacin.
Este principio es la referencia central en la revisin y actualizacin del Sistema de Clasificacin
de la Biblioteca del Congreso (San Segundo, 1996; Mills, 2004) y de la Clasificacin Decimal Dewey
(Sistema de Clasificacin Decimal de Dewey e ndice relativo, 2000), y es considerado como fuente de

1385
validacin de terminologa por parte del estndar norteamericano para la construccin de vocabularios
controlados monolinges (National Information Standards Organization, 2005).
En la centuria transcurrida desde el aporte de Hulme se han propuesto otras alternativas,
derivaciones o complementos de la garanta literaria, siendo las ms conocidas la garanta de
usuario (Lancaster, 1977), la garanta acadmica, basada en el consenso de los especialistas (Bliss,
1939), la garanta organizacional (National Information Standards Organization, 2005) y la garanta
cultural (Lee, 1976; Beghtol, 2002a).
El concepto de 'garanta cultural' (cultural warrant) fue acuado por Lee. Para este autor, la
garanta literaria de Hulme era percibida como una manifestacin de la garanta cultural, una
aplicacin prctica de los valores culturales expresada en la literatura producida por una cultura
determinada (Lee, 1976, p. 111-112). Argumentaba que el hecho de que una clasificacin estuviera
basada en la literatura existente, constituye un elemento de mayor validez, puesto que la
clasificacin va a reflejar las pautas culturales imperantes, lo que puede resultar ms fidedigno que
un orden ideal de las ciencias (Lee, 1976).
Ahora bien, para poder entender a qu hace referencia la garanta cultural, es preciso asignar
un alcance concreto a la palabra 'cultura'. Se trata de una expresin controvertida, cuyo concepto
parece ir variando a lo largo del tiempo. Por ello afirman O'Sullivan et al. que si alguien se
propusiera emplear el trmino 'cultura' como un concepto analtico (...), difcilmente podra
elaborar una nica definicin que se adaptara a todas las ocasiones (O'Sullivan et al., 1997, p. 87).
Tambin es controvertido respecto a su neutralidad: en la antropologa ms reciente se lo considera
como un trmino politizado (Wright, 1998), puesto que tiene visiones distintas conforme se
atraviesan los diferentes estratos sociales, y se tie de connotaciones religiosas, de gnero, raciales
e incluso rituales.
La Declaracin Universal de la UNESCO sobre la Diversidad Cultural logra combinar
elementos tradicionales con otros renovadores, cuando establece que cultura es el conjunto de los
rasgos distintivos espirituales y materiales, intelectuales y afectivos que caracterizan a una sociedad
o a un grupo social y que abarca, adems de las artes y las letras, los modos de vida, las maneras de
vivir juntos, los sistemas de valores, las tradiciones y las creencias (Unesco, 2001).
Parece de sentido comn considerar que individuos que pertenecen a diferentes culturas,
cuentan con diferentes necesidades de informacin y formas diversas de interpretacin del
conocimiento establecido. A su vez, se reconoce que dentro de una cultura particular se forman
distintas subculturas, cada una de las cuales marca en lo inmediato sus rasgos de identidad, al
tiempo que todas ellas se comunican y se influencian recprocamente.
En lo que hace al mundo del conocimiento, gran parte de la investigacin aplicada tiene
referencias locales, y hay segmentos del saber que son relevantes solo en un espacio geogrfico (que
es tambin una dimensin cultural) y no en otro, tanto si se habla de la msica, los usos y
costumbres sociales o del Derecho, que tienen configuraciones particulares en cada Estado o pas,
dependiendo de sus condiciones histricas y sus tradiciones sociales. Como expresan Garca Aguilar
y Villn Rueda, cada sociedad establece y determina los smbolos y significados de su cultura (...)
que le son esenciales y que le distinguen de otras (Garca Aguilar y Villn Rueda, 2000, p. 295).
En Organizacin del Conocimiento, la nocin de cultura tiene implicancias diversas respecto a
la representacin del conocimiento. En primer lugar, el factor cultural no puede ser soslayado al
momento de crear o revisar sistemas de organizacin y representacin del conocimiento. Segn
Bertrand-Gastady los sistemas de clasificacin pueden constituirse en ndices culturales fiables
para los historiadores (Bertrand-Gastaldy, 1993). Esta afirmacin presupone un anlisis retrospectivo
de los sistemas de organizacin y representacin del conocimiento, con la finalidad de establecer un
estado de situacin de las disciplinas y de las ideas y corrientes de pensamiento en determinado
momento histrico.
En segundo lugar, y desde una mirada ya no retrospectiva sino contempornea, podra
decirse que los SORC pueden constituirse en ndices culturales fiables para la clasificacin e

1386
indizacin de documentos e informacin. Para ello, los clasificacionistas debern considerar la
seleccin de un conjunto de trminos marcados culturalmente. Se entender aqu por marca cultural,
toda acepcin de un trmino que sea representativa de una prctica, una idea, un objeto o un ritual
que son propios de una comunidad, y que solo adquieren ese sentido dentro de ella. Estas marcas
culturales se expresan necesariamente en descriptores, encabezamientos de materia y tpicos.
En tercer lugar, los valores dominantes en una cultura pueden llevar -en el da a da del
proceso de documentos- a sustituir e incluso eliminar descriptores o cdigos de clasificacin que
pudieran considerarse anacrnicos, ofensivos, discriminatorios o malsonantes para una comunidad
de usuarios que interacta cada vez ms con las etiquetas temticas de las bases y los programas
informticos avanzados.
A partir de esta secuencia de ideas, es posible avanzar hacia el concepto de 'garanta cultural'
que propone Beghtol, cuando afirma que cultural warrant posits that every classification system is based
on the assumptions and preoccupations of a certain culture, whether the culture is that of a country, or of some
smaller or larger social unit (e.g. ethnic group, academic discipline, arts domain, political party, religion and/or
language) (Beghtol, 2002a, p. 45).
En bibliotecas pblicas que frecuentan personas con diferentes 'culturas', el sentido cultural
especfico de una clasificacin puede provocar problemas de mediacin y recuperacin de
informacin, dificultades de comprensin e incluso quejas por la utilizacin de lenguaje
discriminatorio o peyorativo. La garanta cultural puede resolver estas situaciones enojosas,
aportando a la reconstruccin de las marcas identitarias de una comunidad de usuarios, a travs de
elementos propios de interpretacin y vivencia de la realidad. Fcil es ver que el factor tico est
presente a lo largo de los procesos de configuracin de garantas culturales para los usuarios
(Guimares y Pinho, 2007; Guimares et al., 2008; Smiraglia, 2009).
Cuando un SORC contiene descriptores, conjuntos de descriptores o incluso clases enteras
que tienen una marca cultural, se establece lo que podra denominarse como 'sesgo cultural', el cual
se habr canalizado en un sentido positivo o negativo.
El sesgo cultural es positivo cuando los clasificacionistas establecen, en forma premeditada y
como fondo conceptual de las metodologas que aplican, descriptores, conjuntos de descriptores o
clases enteras que reflejan expresiones culturales aceptadas y reconocidas como propias por una
comunidad, a tal punto que constituyen sus seas identitarias. Al posicionarse en esta perspectiva,
los clasificacionistas renuncian a la vocacin de universalidad, tan firmemente instaurada en la
Organizacin del Conocimiento, afirmando el valor de las culturas locales, de minoras o grupos
sociales relegados (Sistema de Clasificacin Decimal de Dewey e ndice relativo, 2000; Kublik et al.,
2003; Olson, 2003; Gnoli, 2008).
El sesgo cultural, en cambio, se califica como negativo cuando la nota de alcance del
descriptor, el contexto en el que se ubica o su misma expresin verbal, resultan inconvenientes,
discriminatorios o hirientes para una comunidad de usuarios que comparte las mismas pautas
culturales de convivencia. Algunas de estas pautas pueden tener, por ejemplo, componentes
religiosos, tnicos o de gnero, y en estos casos hablaremos de sesgos culturales negativos
religiosos, sesgos culturales negativos tnicos o sesgos culturales negativos de gnero
respectivamente.
Se dejan fuera de esta discusin los casos de descriptores que no responden a las pautas
culturales de una comunidad, pero que son tolerados pacficamente porque su inclusin en los SORC
permite la clasificacin o indizacin de documentos que refieran a esa temtica. As, los cdigos
civiles latinoamericanos al reglar los matrimonios civiles, se basan en la consagracin implcita y
pacficamente aceptada, de la monogamia. Ello no impide que un SORC latinoamericano
especializado en Ciencias Sociales incluya trminos tales como 'poligamia', 'poliandria' e incluso
'matrimonio polgamo' o 'matrimonio polindrico', para contemplar el tratamiento bibliotecolgico
de documentos tiles para estudios culturales, sociales y antropolgicos. Con esta digresin se
pretende reafirmar la idea de que el 'sesgo cultural negativo' solo se da cuando la inclusin de

1387
descriptores puede resultar inconveniente, hiriente o discriminatorio, y por tanto inaceptable, para
una comunidad culturalmente determinada.

3 Aproximacin metodolgica

Cuando Feinberg afirma que la Organizacin del Conocimiento debe ser vista como un
proceso de construccin activa antes que como un descubrimiento pasivo del saber acumulado
(Feinberg, 2007), introduce tangencialmente el argumento clave para orientar el desarrollo de
metodologas en el rea, ya que las mismas deben apuntar al desarrollo de sistemas, esquemas y
repertorios que no solo expresen el estado del arte de las disciplinas, sino que adems representen
perspectivas diferentes e incluso originales y novedosas de las distintas reas del saber.
El insuficiente tratamiento de los sesgos en la literatura del rea, provocado por el estudio
espordico y asistemtico del tema, determina que los responsables de la creacin o revisin de
sistemas de clasificacin no cuenten con herramientas hbiles, probadas en forma concluyente,
para detectar y solucionar los problemas del sesgo. El primer eslabn a enlazar para una
aproximacin sistemtica lo constituye la categorizacin de los sesgos. A partir del anlisis
realizado, se proponen aqu en forma sumaria los siguientes tipos de sesgos: disciplinarios,
religiosos, ideolgicos, de gnero, tnicos, polticos, geogrficos y culturales en sentido amplio.
Estas categoras no son en todos los casos mutuamente excluyentes, pero contribuyen a establecer
diferentes formas de interpretacin.
Desde la perspectiva de su pertinencia, el sesgo puede clasificarse como negativo (cuando
hay fallas u omisiones metodolgicas que llevan a incluir trminos inconvenientes, anacrnicos
o discriminatorios) o positivo (cuando existe un diseo premeditado de la desviacin u
orientacin de los esquemas hacia determinada lnea de pensamiento). De esto sigue que el
adecuado tratamiento metodolgico del sesgo presupone la orientacin hacia el sesgo positivo,
para que los esquemas estn en consonancia con determinadas tendencias, inclinaciones o
concepciones que se pretenda plasmar.
El sesgo positivo puede presentar dos variantes, igualmente aceptables:

a) SORC con sesgo disciplinario premeditado. En este caso el desarrollo de un SORC se
fundamenta en un sistema de ideas que respalda integralmente la estructura de
conceptos que queda formalizada en los esquemas. El sistema de ideas se manifiesta
tanto en la estructura arbrea de base (por ejemplo, la divisin del rea temtica en
clases y subclases), como en la seleccin de terminologa que brinda sentidos
particulares a esa estructura. El marxismo y el psicoanlisis son dos ejemplos de
sistemas de ideas que han estado en la base de SORC. La BBK fue el sistema utilizado
en los pases que integraban la Unin Sovitica para organizar los fondos
documentales de las bibliotecas desde una perspectiva marxista-leninista (San
Segundo, 1996). En Argentina y en otros pases, se aplica el Tesauro de Psicoanlisis
desarrollado para atender las temticas propias de esa corriente en bibliotecas
especializadas (Asociacin Psicoanaltica Argentina, 2006).

b) SORC con garanta cultural. Si el concepto de 'garanta cultural' no es neutro, como
tampoco lo es el concepto de 'cultura', cabra compartir que a travs de la garanta
cultural se relativizan las ideas de que tanto los sistemas de organizacin del
conocimiento como los procesos de clasificacin y la indizacin deben basarse en la
objetividad y la neutralidad, siguiendo las premisas de la presunta objetividad de la
ciencia (Barit, 2011). Esta forma de sesgo positivo se basa, no ya en un sistema de

1388
ideas, sino en elementos culturales de identidad pacficamente aceptados por una
parte de la sociedad. Esos elementos culturales pueden impregnar la totalidad de los
esquemas de un sistema de clasificacin. (Gottlieb, 2008).

Desde el punto de vista metodolgico, se propone que la justificacin a travs de la garanta
cultural atienda a las siguientes pautas:

1) Determinacin precisa de una perspectiva o una orientacin que guiarn la inclusin,
revisin o sustitucin de terminologa. Por ejemplo, puede introducirse una
perspectiva de gnero para facilitar tanto los procesos de indizacin como la
organizacin temtica de bibliotecas especializadas en Estudios de las Mujeres o en
Estudios de Gnero. Esta perspectiva puede extenderse a todo el sistema (Sebasti i
Salat, 1988; Bruschini, Ardaillon y Unbehaum, 1998; International Information Centre
and Archives for the Womens Movement, 1998; Instituto de la Mujer, 1999), o
restringirse a una parte de l. En este ltimo caso, pueden aprovecharse las
enseanzas metodolgicas de Olson y Ward (1998), quienes propusieron una
modalidad de insercin de terminologa en el Sistema de Clasificacin Dewey a travs
de la implementacin de 'espacios paradjicos'. Ello implica -dicho en pocas palabras-
agregar un par contradictorio a un trmino ya existente, para incorporar un sesgo o
una orientacin, o para emparejar conceptualmente una tabla desequilibrada. Olson y
Ward (1998) ejemplificaron creando espacios paradjicos que aadan una
perspectiva de gnero a esquemas que carecan de la misma.

2) Seleccin de terminologa propia de la perspectiva o la orientacin elegidas. Esta
pauta es complementaria de la anterior, y por lo tanto asegura la coherencia entre
perspectiva y terminologa, y proporciona una representacin conceptual
homognea. Igualmente, pueden surgir problemas de difcil resolucin: la existencia
de dos o ms corrientes de pensamiento dentro de una misma perspectiva obligar a
una representacin ms o menos equilibrada y suficiente de las mismas,
considerando que en general cada corriente o tendencia suele producir su propia
subterminologa y su propia documentacin. Esto sucede, por ejemplo, con las
tendencias feministas por la igualdad y por la equidad.

3) Implantacin de terminologa culturalmente marcada en sistemas que omiten una
determinada perspectiva. Por ejemplo, los esquemas sobre usos y costumbres
deberan incluir -desde la perspectiva de pases como Uruguay y Argentina-
descriptores relacionados con la cultura rioplatense del mate, tanto en lo que hace a
sus utensilios (bombilla, porongo, pava o termo), como a los procesos (preparacin,
cebadura, lavado) o los diferentes tipos de yerba mate. Estas implantaciones
terminolgicas generan marcas culturales de referencia para una comunidad de
usuarios, y facilitan la clasificacin e indizacin de documentos especficos que de
otra manera quedaran invisibilizados en un descriptor o una notacin ms genricos.
La metodologa facetada puede utilizarse con provecho en estos procesos de
implantacin.

4) Promocin intencional de valores positivos que contribuyan a establecer relaciones
sociales de respeto recproco, tolerancia y convivencia pacfica. La utilizacin de
terminologa 'polticamente correcta' abona este camino. Por esta va, la garanta
cultural contribuira a la integracin cultural, reafirmando (...) la identidad de las
culturas locales, e incluso neutralizando en los sistemas de organizacin del

1389
conocimiento los efectos de aculturacin asociados con la globalizacin y con
procesos polticos y econmicos de exclusin social. (Barit, 2011). Esta estrategia
tico-metodolgica se compadece con valores universales que apuntan a la inclusin,
construccin de ciudadana y el fortalecimiento de formas democrticas de
convivencia. Tambin se corresponde con las aspiraciones plasmadas en la
Declaracin Universal sobre la Diversidad Cultural de la Unesco (Unesco, 2001), que se
constituye en un documento de referencia en esta materia. En este marco, la
sustitucin de terminologa sesgada negativamente por terminologa con marca
cultural positiva encuentra criterios generales de aplicacin, tiles para las revisiones
locales de los sistemas.

De este modo, las cuatro pautas metodolgicas reseadas brindan un marco inicial que se
considera adecuado para identificar aspectos de pertinencia y mtodo en la aplicacin de la garanta
cultural a sistemas de organizacin y representacin del conocimiento, y para la gestin de los
sesgos desde una perspectiva ajustada a los intereses, las necesidades y las caractersticas
socioculturales de los usuarios.

Conclusiones

El estudio organizado de los distintos aspectos que involucran al sesgo era una cuestin
pendiente en la Organizacin del Conocimiento, en virtud de la acumulacin de investigacin no
sistemtica, con escasa cohesin terica y tambin, algo errtica. Asimismo ha sido insuficiente la
atencin puesta en la conceptualizacin de la garanta cultural, que ha tenido como principal y casi
exclusiva mentora a Clare Beghtol, por lo menos desde 1986 hasta el presente. De hecho, tampoco se
han producido desarrollos significativos para vincular terica y/o metodolgicamente al sesgo con
la garanta cultural, dos conceptos que tienen estrechas relaciones de interdependencia. Este
trabajo pretende poner el pie en ese territorio casi no hollado, a efectos de establecer sus primeras
delimitaciones.
En este estudio se han desarrollado en forma incipiente algunos elementos relacionados con
la teora del sesgo, y se han establecido dos sistematizaciones: una que categoriza los diferentes
tipos de sesgo, y otra que distingue entre sesgo positivo y sesgo negativo. Tambin se han ofrecido
cuatro pautas metodolgicas para la aplicacin de la garanta cultural en los casos en que se
pretende implantar sesgos positivos en esquemas. Por esta va se han explicado posibles conexiones
conceptuales y metodolgicas entre 'sesgo' y 'garanta cultural'. Ambos conceptos y sus conexiones
merecen un estudio ms detallado, que abra nuevas perspectivas de investigacin.
Asimismo, se han propuesto cinco neologismos (marca cultural, trmino o descriptor
marcado, sesgo cultural, sesgo cultural negativo, sesgo cultural positivo). A ellos se agregan dos que
han tenido alguna visibilidad ya en la literatura: sesgo negativo y sesgo positivo. De este modo, se
manifiesta una constelacin de conceptos restringida pero til, que aumenta la caja terminolgica
del rea, con el objetivo de contribuir a la sistematizacin de casos en futuras investigaciones.
Cabe sealar que la nocin de sesgo ha ido variando lentamente a lo largo de por lo menos
cincuenta aos, y que hoy ya no es posible considerar su costado negativo e inconveniente sin
tomar en cuenta, a su vez, las posibilidades de manipulacin positiva del mismo para resolver
problemas reales de usuarios reales en una comunidad con seas particulares de identidad cultural.
Parece quedar demostrado que es posible desarrollar metodologas apropiadas tanto para
neutralizar o controlar las tendenciosidades de sello negativo, como para llevar adelante procesos
premeditados e intencionales de implantacin de terminologa culturalmente sesgada.
Estas convicciones ponen nuevamente en tensin las concepciones universalistas de la
representacin del conocimiento, respecto a las que valorizan el saber local, las peculiaridades
culturales y los intereses de las comunidades de usuarios ancladas satisfactoriamente en espacios
socioculturales de pequea escala. Este debate es tambin el que se da, bajo la lnea de flotacin,

1390
entre globalizacin y cultura local, y entre neutralidad y subjetividad en la produccin y
representacin del conocimiento.
Los usuarios se relacionan con la informacin desde sus propias percepciones y valores
culturales, pero tambin con la implcita vocacin de aprender de otras culturas y compartir con
ellas. Los responsables de los sistemas de informacin tienen el desafo de ajustarlos a una
expresin amplia, multicultural y receptiva de la Organizacin del Conocimiento, para favorecer la
circulacin de documentacin e informacin con una perspectiva integradora y constructora de
ciudadana.
En la medida en que el concepto de cultura est de alguna manera politizado, la garanta
promover cultural no solo no debe asegurar formas neutrales de organizacin del conocimiento,
sino que por el contrario, debe terminologa culturalmente orientada, bajo frmulas polticamente
correctas y promotoras de valores positivos, tales como la equidad, la igualdad, la inclusin social, la
discriminacin social positiva, las formas de compensacin social, la democracia poltica y social y
la tolerancia.

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1395
INTERAES COMUNICACIONAIS E APRENDIZAGEM NAS ORGANIZAES COMPLEXAS
Reflexes a partir da Teoria do Agir Comunicativo

JAQUELINE SANTOS BARRADAS
Instituto Brasileiro de Informao em Cincia e Tecnologia / Escola Superior de Guerra
[email protected]

SOLANGE FRANCISCA MAZZAROTO
Universidade Federal do Estado do Rio de Janeiro / Instituto Brasileiro de Informao em Cincia e
Tecnologia
[email protected]

CLVIS RICARDO MONTENEGRO DE LIMA
[email protected]

Resumo A complexidade uma caracterstica marcante das organizaes da sociedade contempornea. Os
indivduos que enfrentam as mudanas e os desafios da atualidade devem estar aptos a se adaptarem com
rapidez. Essa adaptao pode ocorrer de vrias formas, e uma delas a partir da capacidade de aprender
constantemente. Assim, o presente trabalho tem por objetivo discutir como o processo de aprendizagem
ocorre nas organizaes complexas, a partir da utilizao da Teoria do Agir Comunicativo, de Jrgen
Habermas, filsofo e socilogo alemo. Tambm descrita a Teoria dos Sistemas, de Niklas Luhmann,
socilogo alemo, para que se pudesse definir o que uma organizao complexa. O conceito de
aprendizagem explorado com foco no ambiente organizacional. Neste contexto, destacado o papel da
informao e da comunicao, que tm a linguagem e o discurso como principais elementos desta anlise.
Aps a definio e a caracterizao da Teoria do Agir Comunicativo, discute-se a sua relao com a
aprendizagem organizacional. Assim, verifica-se que a interao entre os indivduos, por meio da utilizao da
linguagem e do discurso, cria um espao para o compartilhamento de experincias e de valores, promovendo
a aprendizagem. So expostas algumas consideraes, com o intuito de que este trabalho possa orientar aes
prticas. Conclui-se que o grande desafio das organizaes facilitar e ampliar interaes pela linguagem dos
seus participantes, proporcionando compartilhamento da informao e o discurso, pois deste modo que os
indivduos podem aprender.

Palavras-chave Aprendizagem organizacional. Organizaes complexas. Teoria do Agir Comunicativo.

Abstract The complexity is a hallmark of contemporary society organizations. Individuals who face the
changes and challenges of today must be able to adapt quickly. This adaptation can occur in several ways, and
one is from the ability to constantly learn. Thus, this paper aims to discuss how the learning process occurs in
complex organizations, from the use of the Theory of Communicative Action, Jrgen Habermas, German
philosopher and sociologist. Also described is the Systems Theory of Niklas Luhmann, a German sociologist, so
you could define what is a complex organization. The concept of learning is explored with a focus on
organizational environment. In this context, emphasized the role of information and communication, which
has the language and discourse as key elements of this analysis. After the definition and characterization of
the Theory of Communicative Action, discusses its relationship with organizational learning. Thus, it is
verified that the interaction between individuals, the use of language and discourse, creates a space for the
sharing of experiences and values, promoting learning. Exposes some considerations, in order that this work
can guide practical actions. We conclude that the challenge of organizations is to increase the interactions
between the participants from the language, provided the sharing of information and speech, since this is so
that individuals can actually learn.

1396
Keywords Organizational learning. Complex organizations. Theory of Communicative Action.

Introduo

A aprendizagem uma prerrogativa dos seres humanos, j que os demais seres vivos (animais
e plantas) apenas se adaptam ao ambiente. Nesse cenrio, encontra-se a comunicao, pois os
homens so capazes de se comunicarem racionalmente por diversas formas de linguagens (sinais,
expresses corporais, fala etc.), e a partir delas que a aprendizagem acontece.
O uso da linguagem parece ser muito bvio, j que se aprende a falar ao mesmo tempo em que
se aprende a andar, logo no incio da infncia. medida que os indivduos se desenvolvem, vo
aprendendo a se relacionar com seus semelhantes, por meio das interaes sociais, mediadas pela
linguagem e aprendidas, inicialmente, na famlia e na comunidade em que vivem e, logo aps,
aprimorada na escola. Mais tarde, ao iniciarem a vida profissional, passam a interagir com outros
indivduos nas organizaes.
As organizaes so compostas por mquinas, computadores e demais engenhosidades,
criadas pelo homem, que somente reproduzem, de forma eficaz, as solicitaes programadas pelos
indivduos e, somente estes, so capazes de aprender.
A informao e o conhecimento coexistem nos processos organizacionais, e no se restringem
apenas aos espaos fsicos definidos (bibliotecas, arquivos, redes corporativas etc.), fluem entre os
indivduos. No entanto, o fato de estarem onipresentes dificulta a percepo das pessoas sobre suas
existncias. Dessa forma, tratar a informao para que as organizaes se beneficiem de forma
menos utilitarista, mais pluralista, sustentvel e social um dos desafios do mundo contemporneo.
Assim, o presente trabalho tem por objetivo discutir como o processo de aprendizagem
ocorre nas organizaes complexas, a partir da utilizao da Teoria do Agir Comunicativo, de Jrgen
Habermas, filsofo e socilogo alemo. Tambm descrita a Teoria dos Sistemas, de Niklas
Luhmann, socilogo alemo, para se definir o que uma organizao complexa. explorado o
conceito de aprendizagem, com foco no ambiente organizacional, destacando-se o papel da
informao e da comunicao, que tm a linguagem e o discurso como principais elementos desta
anlise.

1 As organizaes complexas

A origem da palavra organizao deriva do grego organon, que significa uma ferramenta ou
instrumento. Sendo assim, as organizaes raramente so propostas com um fim em si mesmas, pois
so instrumentos criados para se atingir outros fins (Morgan, 2011).
De acordo com Morgan (2011), a partir da inveno e da proliferao das mquinas,
particularmente, durante a Revoluo Industrial, o conceito de organizao tornou-se mecanizado,
especialmente na indstria, fazendo com que as organizaes se adaptassem s novas exigncias.
Dessa forma, muitos grupos de famlias e artesos, que trabalhavam por conta prpria,
abandonaram sua autonomia para trabalharem em atividades que exigiam pouca habilidade, em
ambientes fabris.
A diviso de trabalho, abordada por Adam Smith em seu livro A riqueza das naes, de 1776,
tornou-se intensa e, crescentemente, especializada medida que os fabricantes procuravam
aumentar a eficincia. Com isso, a partir do controle exercido pelas mquinas e seus supervisores, a
liberdade de ao dos trabalhadores foi reduzida. A nova tecnologia foi acompanhada e reforada
pela mecanizao do pensamento e das aes humanas (Morgan, 2011).
Surgiram, ento, as teorias da Administrao Clssica e da Administrao Cientfica. Toda
crena bsica da teoria da Administrao Clssica e sua aplicao moderna que as organizaes

1397
podem ou devem ser sistemas racionais que operam de maneira to eficiente quanto possvel. Os
tericos clssicos deram pouca ateno aos aspectos humanos da organizao, que foi
compreendida, principalmente, como um problema tcnico, j que sua principal orientao foi fazer
com que os seres humanos se adequassem s exigncias mecanicistas (Morgan, 2011).
Segundo Morgan (2011), o engenheiro norte americano Frederick Taylor foi o pioneiro da
Administrao Cientfica, cujos princpios ofereceram a base para o modo de se trabalhar, utilizado
na primeira metade do sculo XX, e que, ainda, predomina em muitas organizaes at os dias de
hoje. Taylor, em seu enfoque administrativo, solicitava a observao detalhada e a mensurao do
trabalho, mesmo do mais rotineiro, para descobrir a melhor forma de se realizar as atividades.
Assim, defendia cinco princpios bsicos:

a) transfira toda responsabilidade da organizao das atividades do trabalhador para o
gerente;
b) use mtodos cientficos;
c) selecione a melhor pessoa para desempenhar o cargo;
d) treine o trabalhador para realizar o trabalho eficientemente; e
e) fiscalize o desempenho do trabalhador.

Para Morgan (2011), ao considerar a organizao como um processo racional e tcnico, a
imagem mecanicista tende no s a subvalorizar os aspectos humanos da organizao, como
tambm a ver superficialmente o fato de que as tarefas enfrentadas pelas organizaes so
frequentemente mais complexas, imprevisveis e difceis do que aquelas que podem ser
desempenhadas pela maioria das mquinas. As organizaes estruturadas de forma mecanicista tem
maior dificuldade de se adaptarem s situaes de mudana porque so planejadas para atingir
objetivos predeterminados, ou seja, no so planejadas para a inovao, pois apresentam um nico
propsito e s podem engajar-se em atividades diferentes se forem modificadas ou replanejadas
para tanto.
No incio do sculo XX, o lado humano na administrao ainda no era percebido, at que, a
partir dos anos 1920 e 1930, comearam a surgir os primeiros estudos sobre a relao das condies
de trabalho e a incidncia da fadiga e monotonia entre os empregados. Esses estudos demonstraram
que as atividades de trabalho so influenciadas tanto pelo planejamento formal como pela natureza
dos seres humanos, sendo este um elemento em que os tericos da administrao deveriam se focar
(Morgan, 2011).
Logo surgiu uma nova teoria da organizao, apoiada na ideia de que os indivduos e grupos
atuam de forma mais eficaz quando satisfazem suas necessidades. Teorias da motivao, tal como a
do pioneiro Abraham Maslow, apresentaram o ser humano como um tipo de organismo psicolgico
que luta para satisfazer suas necessidades. Essa teoria se baseia no fato de que os seres humanos so
motivados por uma hierarquia de necessidades que progride a partir de diferentes tipos como:
fisiolgicas, sociais e psicolgicas (Morgan, 2011).
Conforme Morgan (2011), muitos tericos da administrao perceberam, com rapidez, que os
cargos e relaes interpessoais poderiam ser redesenhados para criarem condies de crescimento
pessoal que, simultaneamente, ajudariam as organizaes a atingirem seus propsitos e objetivos.
Dessa forma, a ideia de integrar as necessidades individuais e organizacionais transformou-se em
uma poderosa fora. O enriquecimento do trabalho, combinando um estilo de liderana mais
participativo, democrtico e centrado no empregado, surge como uma alternativa orientao
excessivamente estreita, desumana e autoritria, gerada pelas teorias da Administrao Clssica e
da Administrao Cientfica.

1398
Foram, ento, criadas dinmicas para desenvolver o que se tornou conhecida como
administrao de recursos humanos. Assim, os empregados passaram a serem vistos como recursos
valiosos que poderiam contribuir de maneira rica e variada para as atividades da organizao. Com
isso, durante os anos 1960 e 1970, os pesquisadores da rea de administrao focaram a ateno em
conceber o planejamento do trabalho, como meio de se aumentar a produtividade e a satisfao
(Morgan, 2011).
Atualmente, as organizaes esto sendo pensadas como organismos vivos que desenvolvem
padres de relacionamento para se adaptarem ao seu meio ambiente. Assim, foi desenvolvida a
viso de ecologia organizacional, que investiga a possibilidade de desenvolvimento de novos
padres de relacionamento interorganizacionais que emergem como resposta complexidade e
turbulncia no ambiente. O objetivo englobar as relaes entre as organizaes e o ambiente do
conjunto de organizaes constituintes, de forma que haja lugar para a colaborao (Morgan, 2011).
A partir da exposio anterior, sobre o desenvolvimento das organizaes e das teorias
organizacionais, chega-se ao conceito das organizaes complexas. No geral, essas organizaes so
definidas pela autonomia do executor, que no objetivado, ele o sujeito que pensa, age e produz.
o oposto do homem de fbrica. Dessa forma, a autonomia da ao uma caracterstica dessas
organizaes.
O tema da complexidade ganha referncia terica somente no sculo XX, pelo menos no
sentido comumente veiculado atualmente. Esse sentido especfico, diferenciado temporalmente, foi
construdo partir das transformaes nas cincias naturais e matemticas operadas no incio deste
sculo e que, entre outras mudanas, colocaram em dvida o estatuto epistemolgico e ontolgico
da fsica newtoniana, qual se ligavam as ideias de universo determinista, redues a causas ltimas
e mecanismos de reversibilidade, que so expresses teis para se entender o conceito da
complexidade anterior e o porqu do fascnio que as matemticas exerciam (Neves & Neves, 2006).
Apreendendo o iderio de Demo (2008), reescrevem-se, de forma resumida, as sete
caractersticas que devem ser observadas para que haja complexidade:

a) dinmica: no pode ser complexo o que no for campo das foras contrrias. Alm do
persistente modo de ser, tambm implica o modo inovador de vir a ser. A dinmica
indica processo;
b) no linearidade: em totalidades complexas a decomposio das partes desconstri o
todo, de forma que impraticvel, a partir destas, refazer o mesmo todo. Como
exemplo, tem-se o corpo humano, j que ao cort-lo em partes, no se tem mais o
corpo inteiro e, a partir da juno dessas partes, no se pode refazer o mesmo corpo
anterior. comum a percepo de totalidades complicadas como complexas, a
exemplo do avio. Mesmo o dotando de sensores, que parecem emprestar-lhe
capacidade de interpretao, de rotas e de comportamentos, estes no ultrapassam o
uso linear da informao. Totalidades complicadas, por mais sofisticadas que sejam,
no detm nada mais do que as partes, acrescidas da sua propriedade de organizao.
Ao decompor o avio em partes, s se tem essas partes e, partindo das partes,
possvel refazer o avio;
c) ser reconstrutiva: no reprodutiva, ou replicativa, ou ainda apenas recorrente.
Torna-se irreversvel, j que no se pode passar do depois para o antes, nem o depois
igual ao antes. Ao existir, vai-se reconfigurando conforme o fluxo do tempo e as
circunstncias encontradas. Como exemplo, h o computador e o homem. O
computador no reconstri a informao colhida, apenas a processa e a armazena. Se
forem colocadas vinte pessoas em volta de uma mesa redonda e contada para a
primeira uma pequena histria, e esta conta para a segunda, e assim, sucessivamente,
at a vigsima, percebe-se que o relato chega deturpado, porque foi naturalmente
reconstrudo durante essa trajetria. O homem no capaz de transmitir uma

1399
histria como se fosse um texto xerocado. Todavia, se um arquivo for gravado, em
vinte computadores, tem-se o mesmo arquivo em todos eles. O objetivo no que o
computador interprete o arquivo; o que se quer exatamente que ele o replique
mecanicamente. O computador, como constitudo atualmente, uma mquina
sofisticada, complicada, mas no complexa. Nem mesmo quando se torna apto a
reproduzir textos, pela tcnica do hipertexto, alcana qualquer dimenso no linear.
O hipertexto tipicamente reversvel, como toda equao linear digitalizvel;
d) ter processo dialtico evolutivo: ter a capacidade de aprender. Discute-se a
polmica em torno da inteligncia artificial, em que artefatos artificiais, prprios da
criao tecnolgica, no alcanam, pelo menos nos estgios atuais, a complexidade.
Podem atingir sofisticaes impressionantes, como o caso dos computadores, mas
prevalece neles o sentido do equipamento linear e, por isso, tanto mais confivel. O
computador no aprende porque no sabe errar. De que serviria um computador que
errasse? E, ainda, no interessante um computador que, de uma hora para outra,
meta-se a embaralhar o ambiente de hipertexto, desfazendo a credibilidade
sequencial;
e) ser irreversvel: a irreversibilidade refere-se, num primeiro passo, insero
temporal. Com o passar do tempo, nada se repete, por mais que possa parecer, o
depois diferente do antes. Assim, como impossvel voltar ao passado, tambm
impossvel ir para o futuro, permanecendo o mesmo;
f) ter intensidade: diferente de extenso (outra face do mesmo fenmeno, mas no
contraditrio). Busca captar dimenses de maior profundidade; e
g) ser ambgua/ambivalente: a ambiguidade refere-se estrutura, no sentido de
composio, tambm desencontrada de seus componentes, tpica das unidades de
contrrios. Com isso, salvaguarda-se a dialtica de algo que , ao mesmo tempo,
relativamente unitrio (forma um todo) e naturalmente aberto (ultrapassa seus
limites). J a ambivalncia refere-se processualidade dos fenmenos complexos,
mais facilmente visvel porque vinculada a seu modo de vir a ser. Algo
ambivalente quando a dinmica constituda de valores contrrios, estabelecendo-se
entre eles campos contrrios de fora. Toda complexidade um campo de fora, seja
na estrutura (ambiguidade), seja nos processos (ambivalncia). No campo de fora,
reencontramos a dupla marca: por ser campo apresenta limites de espao, mas por
ser fora, aparece sua marca indomvel, fazendo e desfazendo limites, por conta da
criatividade intrnseca dos fenmenos no lineares.

Assim, pode-se afirmar que as organizaes complexas so aquelas que assumem essas
caractersticas, em partes ou na totalidade, em suas dinmicas e processos de atuao na sociedade.
Em seguida, sero abordados os conceitos da Teoria dos Sistemas e da complexidade para que
sejam compreendidas suas relaes com as organizaes.

2 A teoria dos sistemas e da complexidade

O socilogo alemo, Niklas Luhmann, desenvolveu uma obra numerosa e abrangente,
versando sobre os mais variados assuntos, j que sua inteno no era elaborar uma teoria
especfica sobre determinado mbito social. Sua teoria pretendia ser universal, capaz de abarcar
tudo o que existe, revelando-se uma teoria geral da sociedade, mostrando-se complexa, abstrata e
com uma vasta terminologia (Kunzler, 2004).
A interdisciplinaridade tambm um trao da obra de Luhmann, que utilizou conceitos
oriundos de outras reas, como a biologia e de tecnologias inovadoras, como ciberntica e a

1400
neurofisiologia. Para ele, os tradicionais conceitos da sociologia foram fundamentais para o
Iluminismo, pertencente ao que chamou de velho pensamento europeu, porm no conseguem
resolver os problemas da sociedade contempornea (Kunzler, 2004). De acordo com Severino (como
citado em Kunzler, 2004, p. 124), a interdisciplinaridade o emprstimo ou a troca de metodologia e
fontes de uma disciplina para outra.
A contribuio mais significativa de Luhmann, considerado um dos mais importantes tericos
alemes da contemporaneidade, a renovao da teoria dos sistemas, baseada numa mudana
paradigmtica fundamental, ou seja, passar da distino do todo e das partes, para a distino de
sistema e entorno, tendo como referncia o conceito de complexidade. A relevncia deste conceito
se faz presente em diversas partes de sua teoria, desde a complexidade como sinnimo de
modernidade, at a complexidade como categoria analtica para a apreenso da diferena
sistema/entorno (Neves & Neves, 2006).
A complexidade, do latim complexus, significa aquilo que tecido junto. A sociedade complexa
tem como caractersticas o indeterminismo, a entropia, a imprevisibilidade, a incerteza e as
possibilidades, tendo o caos como resultado (Kunzler, 2004). Para Mariotti (2000 como citado em
Kunzler, 2004, p. 124), a complexidade corresponde multiplicidade, ao entrelaamento e
contnua interao da infinidade de sistemas e fenmenos que compem o mundo natural.
De acordo com Kunzler (2004), Luhmann preocupou-se com a complexidade do mundo e a
teoria sistmica prope sua reduo, j que tenta explicar de que forma possvel nascer a ordem
do caos. Assim, um sistema pode ser considerado complexo quando contm mais possibilidades do
que pode realizar num dado momento e, desta forma, deve selecionar algumas delas para continuar
operando. Quanto maior o nmero de elementos no seu interior, maior o nmero de relaes
possveis, tornando-o complexo quando no consegue responder imediatamente a todas essas
relaes.
As relaes entre os elementos no acontecem simultaneamente e sim de forma sucessiva
(Kunzler, 2004). So, ento, definidas algumas possibilidades que lhe fazem sentido, conforme a
funo que desempenha. Dessa forma, ao mesmo tempo em que a complexidade do entorno
diminui, a do sistema aumenta internamente, podendo inclusive chegar ao ponto de provocar sua
auto-diferenciao em subsistemas (Lima, Kemper, e Tiscoski, 2010).
Lima, Kemper e Tiscoski (2010) considera que o sistema no possui uma representao fiel do
entorno, pois nele o que existe so elementos produzidos por ele mesmo, porque os sistemas so
autopoiticos, ou seja, se reestruturam, se reorganizam. Sendo assim, o sistema encontra-se
operacionalmente fechado no seu processo de internalizao da complexidade (seleo), criao de
subsistemas e modificao de sentido, com relao ao seu entorno, pois este capaz de irrit-lo e
no modific-lo. Na verdade o que ocorre que o entorno pode irritar o sistema, levando-o a se
autoproduzir, a partir de autopoise, no entanto essa irritao faz parte do prprio sistema.
O termo autopoise deriva do grego auto (mesmo) e poim (produzir), que significa a
capacidade do sistema de elaborar, a partir dele mesmo, sua estrutura e os elementos de que se
compem (Neves & Neves, 2006). Este termo deriva da teoria biolgica, dos chilenos Humberto
Maturana e Francisco Varela, e diz respeito auto-organizao dos processos celulares. Assim, os
sistemas se definem (criam identidade), a partir de suas prprias operaes, que so dependentes do
sistema no qual so produzidas e, que, por sua vez, produzem o prprio sistema (Neves & Neves,
2006).
Conforme Kunzler (2004), Luhmann definiu quatro formas pelas quais o sistema pode
diferenciar-se, a partir de: segmentao, hierarquia, centro/periferia e funo. Conforme evolui,
passa de sistema segmentado at chegar ao sistema funcional. A razo da evoluo sobreviver
complexidade do ambiente, que cria, constantemente, novas possibilidades de forma inesperada. A
evoluo do sistema acontece quando ele desvia do planejamento, quando no reage da mesma
forma, quando no se repete.

1401
Luhmann (como citado em Kunzler, 2004, p. 127) identificou quatro tipos de sistemas: no-
vivos, vivos, psquicos e sociais. Os sistemas no-vivos, por exemplo, uma mquina, so incapazes de
se reproduzirem, assim no podem ser classificados como autopoiticos, pois para manterem-se
dependem do ambiente. Os sistemas vivos so, por exemplo, as clulas, os animais, o corpo humano
etc., so compostos de operaes vitais, responsveis por sua manuteno. O sistema psquico a
conscincia, e composto de pensamentos, que, como os sistemas autopoiticos, reproduzem seus
elementos. J, o sistema social, composto de comunicao, que produzida somente a partir de
comunicao.
Para se compreender a teoria de Luhmann necessrio superar trs obstculos
epistemolgicos, que devem perder a conotao de premissas bsicas. O primeiro deles a premissa
de que a sociedade constituda de pessoas e das relaes entre elas. Segundo a teoria sistmica, a
sociedade constituda exclusivamente por comunicao e as pessoas esto no ambiente do sistema
social. J o segundo obstculo diz que as sociedades tm fronteiras territoriais e/ou polticas, porm
como as sociedades so compostas apenas por comunicao, e esta no pode ser limitada no espao,
sobretudo pelo auxlio da tecnologia moderna, conclui-se que no existem fronteiras que as
separem. E, finalmente, o terceiro obstculo a separao entre o sujeito e o objeto, porm, para
Luhmann, no h um observador externo ao sistema social que possa analis-lo com distncia e
imparcialidade, pois ningum detm um ponto de vista absoluto, considerado como sendo o nico
correto (Kunzler, 2004).
Como a constituio do sistema se d pela reduo da complexidade, no caso das
organizaes, verifica-se que h a necessidade de uma reduo da complexidade comunicativa.
Assim, as organizaes devem reduzir a sua complexidade para atenderem a uma finalidade, para
resolverem os seus problemas e para serem eficazes. A facilitao das interaes promovida pelo
aumento das interaes comunicativas, que o que Habermas chama de Agir Comunicativo, que
ser discutido mais adiante.
No prximo item, ser apresentado o tema aprendizagem, focado nas organizaes.

3 Aprendizagem organizacional

Um ato de conhecimento demanda uma relao de autntico dilogo, ou seja, aquela em que
os sujeitos do ato de conhecer se encontram mediatizados pelo objeto a ser conhecido. Sendo assim,
os participantes assumem, desde o comeo da ao, o papel de sujeitos criadores. Conhecer envolve
o movimento dialtico que vai da ao reflexo sobre ela e desta a uma nova ao (Lima, Kemper, e
Tiscoski, 2010).
No livro Imagens da Organizao (Morgan, 2011), foram utilizadas metforas para se entender
os processos organizacionais, comparando-os a imagens como mquinas, organismos vivos,
crebros etc. De acordo com este autor, o crebro a coisa mais complexa que se conhece. Assim, a
metfora do crebro auxilia na compreenso de que uma organizao pode ser vista como um
sistema cognitivo, corporificando tanto uma estrutura de pensamento, como padres de ao. Dessa
forma, necessrio que seja desenvolvida a habilidade de se realizar o processo organizacional de
uma maneira em que ocorra a ao flexvel e criativa, melhorando a capacidade de inteligncia.
O crebro um sistema que d incio a uma ao inteligente, permanecendo supremo entre
todos os sistemas naturais e elaborados pelo homem, j que nenhum deles, dos quais se tenha
conhecimento, conseguiram atingir a sua sofisticao (Morgan, 2011).
Por motivos de sobrevivncia, diante do desconhecido, o crebro rastreia primeiro o que
haveria de conhecido e, logo, o que haveria de repetitivo. Para um apavorado, diante dos riscos e
desafios da vida, o que melhor o acalma encontrar trilhas j andadas, horizontes familiares,
contextos comuns (Demo, 2008).
Segundo Morgan (2011), as organizaes so sistemas de informao, de comunicao e de
tomada de deciso. Tomando-se como ponto de partida o processamento de informao, com

1402
relao complexidade e incertezas do ambiente organizacional, os tomadores de deciso
necessitam de maiores quantidades de informao, durante o desempenho de suas tarefas. Se, para
Simon (como citado em Morgan, 2011), a organizao um produto ou reflexo da capacidade de
processamento da informao, ento novas capacidades levaro a novas formas organizacionais.
Quando se toma decises, cortam-se cursos indesejados da ao (a palavra decidir vem do
latim decidere e significa cortar). Dessa forma, a deciso sim implica uma srie de nos,
evitando o que desagradvel e ameaador, de forma a delinear um curso futuro dentro do espao
remanescente (Morgan, 2011).
No geral, a ideia central da metfora do crebro a ideia de que possvel planejar
organizaes que possam aprender a auto-organizar-se como um crebro em pleno funcionamento.
Dessa forma, devem ser criadas organizaes que sejam capazes de inovar, evoluindo para alcanar
os desafios e solicitaes de ambientes em mudana. Sugere-se que as organizaes inovadoras
sejam planejadas como sistemas de aprendizado que colocam nfase especial em estarem abertas
investigao e autocrtica (Morgan, 2011).
Para tanto, faz-se necessrio compreender o conceito de informao, elemento fundamental
do contexto abordado.

4 A informao

A noo do significado de informao talvez um dos conceitos mais difundidos e tambm
mais controversos do nosso tempo, tanto no mbito da vida social como nas teorias cientficas,
particularmente, desde meados do sculo passado (Capurro, 2008).
O conceito de informao vem do latim, onde o termo informatio tem como significado
fundamental a ao de dar forma a algo material, assim como comunicar conhecimento a uma
pessoa. Ambos os sentidos, o ontolgico e o epistemolgico, esto intimamente relacionados. J o
prefixo in tem, neste caso, o sentido de acentuar a ao, podendo significar tambm negao, como
no caso de informis que significa sem forma (Capurro, 2008).
De uma forma geral, ocorreu uma transformao entre o sujeito substancial medieval para o
sujeito comunicacional moderno, reforando uma queda progressiva da filosofia escolstica, raiz do
auge da cincia emprica moderna, desde o sculo XVII. A transio da Idade Mdia para a Idade
Moderna exemplificada, neste caso, pela passagem do sentido objetivo da informao (dar forma
substancial a algo) para o sentido subjetivo moderno (comunicar algo a algum).
Assim, cotidianamente, a informao tem sido utilizada no sentido de comunicar algo a algum,
com a finalidade de solucionar um problema ou uma situao determinada (Capurro, 2008).
A discusso sobre a noo de informao nas cincias humanas e sociais concentra-se,
particularmente, na sndrome reducionista, que reduz o ser humano a um mero organismo (a
mquina processadora de informao, perdendo de vista os complexos componentes culturais que
caracterizam o conhecimento e o observador humano) (Capurro, 2008). Ainda, de acordo com este
autor, para os cibernticos, a informao uma diferena mental no observador (que constri e
descobre uma diferena no mundo exterior). Dessa forma, a informao seria algo entre o que o
mundo tem, menos o que um indivduo sabe.
As crticas aplicao das noes de informao, nas cincias naturais, so chamadas por
alguns autores como o trilema de Capurro (Capurro, 2008), que se baseia em:
a) univocidade: o conceito de informao significa o mesmo em todos os mbitos. Tem
como desvantagem o reducionismo;
b) analogia: o conceito de informao tem seu sentido originrio em um mbito, por
exemplo, na comunicao humana, e se aplica, analogicamente, a outros nveis. Tem-
se como desvantagem o antropomorfismo; e

1403
c) equivocidade: o conceito de informao tem significados diferentes em diversos
mbitos. Tem como desvantagem o que se chama de sndrome de Babel (os
discursos e teorias cientficas se encapsulam mutuamente).
A unidade de informao a diferena que faz a diferena, e dar uma resposta s diferenas
algo bsico a todos os sistemas. Assim, sistemas de informao mapeiam diferenas e a informao
baseia-se na comunicao dessas diferenas (Morgan, 2011). De acordo com Kunzler (2004, p. 131) a
informao uma diferena que provoca diferenas, na medida em que o sistema modifica suas
estruturas, tornando-se diferente para receber a informao.
Para Habermas, a informao tem uma dupla ancoragem: scio-cognitiva e instrumental-
estratgica (Gonzalez de Gmez, 2009). Na primeira, designa uma diferena que se instala a partir do
confronto entre as expectativas prvias do indivduo e o que acontece em suas relaes atuais com o
mundo. J, na segunda, a informao, enquanto codificada, reconstitui-se a partir dos meios, nas
zonas de trocas e negociaes entre os sistemas e o mundo da vida.
A gesto informacional tem sido considerada uma funo chave do administrador
contemporneo, seja para promover o contnuo fluxo de informaes entre o ambiente e a
organizao, seja para desenvolver o processamento interno de informaes necessrio para a
obteno de resultados organizacionais. Nesta espcie de reconfigurao das funes dos
executivos, salienta-se a importncia do administrador como elo entre os diferentes nveis e
departamentos da organizao, bem como um facilitador para a otimizao dos fluxos de
informao e produo de conhecimento. Alm de organizar a partir da comunicao, apreende-se a
realidade em todas as suas dimenses por este processo. O modo como se apreende a realidade
fundamental para determinar como se age (Vizeu, 2009).
A difuso e o compartilhamento de informaes requerem a conexo entre os atores
organizacionais, com canais ou mecanismos de comunicao que propiciem fluxos de conhecimento
e o aprendizado interativo. Observa-se que as organizaes e os agentes que cooperam introduzem
maior nmero de melhorias e de inovaes do que os que no cooperam, e o grau de melhoria e de
inovao aumenta com a variedade de parceiros se comunicando e cooperando em rede. A
colaborao facilita o compartilhamento de informaes e conhecimentos, e tambm resulta dele.
As organizaes no melhoram ou inovam sozinhas, mas sobre informaes e conhecimentos
acumulados dentro e fora delas. Cabe, ento, pensar nas relaes entre colaborao, melhoria da
qualidade e inovao (Lima, Lima, e Moreira, 2010).
A colaborao condio para a melhoria contnua e a inovao para que a informao possa
fluir de modo no linear dentro das organizaes, e entre elas e o seu entorno. A comunicao pode
contribuir com ideias e oportunidades na interao entre os colaboradores da organizao, ao
mesmo tempo em que difunde seus processos e produtos e cria condies para sua aceitao e uso.
A discusso dos processos e produtos em um sistema permanentemente problematizado pode
ampliar as possibilidades de interao e colaborao entre os trabalhadores, destes com os gestores,
e da organizao com o seu entorno (Lima, Lima, e Moreira, 2010).
To importante quanto a informao, no contexto das organizaes complexas, est a
interao entre os indivduos, que se estabelece a partir da comunicao, prximo tema a ser
abordado.

5 A teoria do agir comunicativo e a guinada lingustica

Habermas um dos pensadores mais densos do sculo XX, pois em sua teoria, diversas
correntes intelectuais esto presentes. Ele analisa e utiliza-as para criar a sua prpria viso da
sociedade moderna. Aparecem em sua teoria ideias de Kant, Marx, Weber, Durkheim, Parsons,
Piaget, Luhmann, da Lingustica, Escola de Frankfurt etc. (Pascoal, 2010).
Conforme Pascoal (2010), desde 1960, o mundo vem passando por contnuo processo de
transformao, em todas as suas dimenses. A cada dcada, as mudanas aceleram-se e acumulam-

1404
se, criando uma nova situao, geradora de novas problemticas, que exigem novas teorias, com
capacidade explicativa mais abrangente. Neste processo, teorias anteriores so retrabalhadas,
combatidas ou restauradas.
Para Pascoal (2010) captar as tendncias deste mundo moderno, buscar elementos heursticos
menos rgidos e mais flexveis, que permitem uma viso poliforme da realidade social, uma
necessidade, e Habermas expressa essa tentativa.
Embora dialogando com muitos autores clssicos, Habermas reviu os paradigmas antigos e
props uma nova interpretao da sociedade. O seu paradigma o da ao comunicativa,
assentado numa racionalidade que essencialmente a da comunicao, realizando uma mudana
com relao ao paradigma anterior, o da racionalidade instrumental. A racionalidade comunicativa
a manifestao da sua ruptura em relao ao marxismo, filosofia da conscincia, e s ideias da
Escola de Frankfurt. Trs elementos so bsicos na constituio deste novo modelo interpretativo: a
linguagem, a interao e a intersubjetividade (Pascoal, 2010).
A teoria da ao parte do mesmo pressuposto, utilizado na sociologia fenomenolgica de que
a interao comunicativa se localiza no centro da ao social (Vizeu, 2005, p. 12). Por isso, Habermas
a denomina Teoria do Agir Comunicativo (Habermas 1987a, 1987b e 1989a como citado em Vizeu,
2005).
A perspectiva interacionista supera a filosofia da conscincia, sendo que nesta a relao
sujeito-objeto apresenta-se de forma central na apreenso da realidade, refletindo apenas a
subjetividade do sujeito que se expressa ontologicamente por meio da ideia da autoconscincia.
Como exemplo, h Descartes e sua concluso filosfica: penso, logo existo (Vizeu, 2005).
Habermas (como citado em Lima, Carvalho, Martins, e Silveira, 2009, p. 9) afirma que a
passagem do paradigma da filosofia da conscincia para a filosofia da linguagem constituiu um corte
profundo. A partir daquele momento, os sinais lingusticos, que serviam apenas como instrumento e
equipamento de representaes, adquiriram, como reino intermedirio dos significados
lingusticos, uma dignidade prpria.
A relao entre o homem, o mundo e a linguagem tem sido um dos grandes temas da filosofia
do sculo XX, que pode ser chamada de guinada lingustica (Capurro, 2008). A comunicao assume
papel central, entendida como princpio ordenador da vida humana associada (Vizeu, 2005). As
relaes entre linguagem e mundo, entre proposio e estados de coisas, substituem as relaes
sujeito-objeto. O trabalho de constituio do mundo deixa de ser uma tarefa da subjetividade
transcendental para se transformar em estruturas gramaticais (Habermas como citado em Lima,
Carvalho, Martins, e Silveira, 2009, p. 9).
Para Vizeu (2005), utilizando-se o referencial da filosofia da linguagem, a realidade no
corresponde apenas s coisas apreendidas entre o sujeito cognoscitivo e o mundo objetivo, mas
abarca tambm outras esferas constitudas coletivamente, a esfera social. Dessa forma, parte da
subjetividade de um indivduo expressa para outro indivduo, de maneira que seja reconhecida e
objetivada por ambos. Assim, o sentido essencial da comunicao dialgico, e no monolgico
(apenas informacional).
A partir da perspectiva de dois agentes comunicativamente competentes, o processo de
interao passa a ser orientado para o entendimento mtuo das significaes consideradas nesse
processo, ou seja, a intersubjetividade plena. essa predisposio ao consenso quanto s
significaes na interao comunicativa que permite a Habermas propor a reconstruo racional do
ato da fala (Vizeu, 2005).
No paradigma da comunicao o enfoque dado para o entendimento intersubjetivo entre os
sujeitos capazes de falar e agir. no processo comunicativo que reside a possibilidade de
coordenao humana de emancipao no coercitiva (Vizeu, 2005). Na viso de Habermas, os que
participam de uma comunidade comunicativa esto em p de igualdade. No h uma fala superior e
incontestvel. Todas as proposies se afirmam argumentativamente, podendo perder sua fora

1405
persuasiva diante de outros argumentos. No o argumento da fora que conta, mas a fora do
argumento (Pascoal, 2010).
A guinada lingustica, proposta por Habermas para a superao dos impasses da teoria crtica,
fundamenta-se no deslocamento do processo cognitivo da conscincia monolgica para o mbito da
intersubjetividade discursiva. Com isso, altera-se o lugar do sujeito, que passa de observador
imparcial participante ativo do processo de construo interativa tanto dos saberes quanto das
prticas da resultantes (Bolzan como citado em Lima, Lima, e Moreira, 2010, p. 687).
A racionalidade comunicativa, como resultado da guinada lingustica, representa uma nova
formulao reflexiva e crtica da razo filosfica capaz de oferecer alternativas de ao que
possibilitem o resgate, a renovao e a promoo da racionalidade na sua multiplicidade de vozes e
formas. Por outro lado, instaura-se como um novo modelo terico por meio do qual se torna vivel a
anlise crtica das patologias sociais oriundas do processo de racionalizao das relaes sociais e
produtivas (Lima, Lima, e Moreira, 2010).
O uso da linguagem caracteriza o ser humano, j que abre a possibilidade de expressar pelas
palavras o sentimento e o pensamento a partir da realidade. a partir dela que ocorre a
comunicao entre as pessoas, que fundamental para se compartilhar valores e conhecimentos
(Lima, Kemper, e Tiscoski, 2010). Ainda, segundo esses autores, a funo comunicativa da linguagem
est relacionada com o falar, levantar objees e chegar a um entendimento.
A comunicao acontece quando o Ego (aquele que recebe a informao) compreende a
informao emitida pelo Alter (aquele que comunica), ou seja, quando h compreenso da
informao que est na mensagem (Kunzler, 2004). De acordo com Luhmann (como citado em
Kunzler, 1994, p. 131), a comunicao acontece quando informao, mensagem e compreenso so
sintetizados.
De acordo com Kunzler (2004) importante salientar que a comunicao pode ocorrer mesmo
que a informao selecionada no seja idntica informao emitida, pois a realidade objetiva da
informao no requisito para a comunicao e o que importa que apenas seja selecionada uma
informao.
O que acontece na realidade que a informao no transmitida, ela no se desloca do Alter
para o Ego, ela construda pelo Ego. Dessa forma, tem-se a comunicao ainda que a informao
selecionada no corresponda informao emitida, ou seja, ainda que haja um mal entendido, o
importante que se compreenda algo (Kunzler, 2004).
Segundo Kunzler (2004), existem trs ordens de impedimento para a comunicao:
a) no h compreenso;
b) a mensagem no chega ao interlocutor; e
c) a comunicao no aceita.
O discurso uma forma de comunicao (ou metacomunicao), na qual so tematizadas as
pretenses de validade, que se constituem nos processos de busca do entendimento mtuo, mas que
se tornam problemticas, e que passaro a serem examinadas luz dos processos argumentativos.
Na argumentao, os proponentes devero apresentar garantias ou boas razes que afianciem suas
afirmaes (Gonzalez de Gmez, 2009). Ainda, segundo essa autora, para iniciar um discurso
preciso sair do contexto da ao, j que nele no so intercambiadas informaes (que remetem a
objetos), mas h argumentos (que remetem a fatos ou estados de coisas no mundo).
No entanto, tem-se observado a comunicao sistematicamente distorcida nas organizaes.
Quando a comunicao um mecanismo para fazer com que acontea algo no mundo, a partir das
pessoas, diz-se que a orientao do ato de fala estratgica, ou seja, orientada para o xito (Vizeu,
2009 ). Ainda, de acordo com esse autor, podem ocorrer distores comunicativas, a partir da:

1406
a) veracidade dos fatos ditos: a fala baseada em conhecimento falso (uso de
informaes falsas ou mesmo a omisso de informaes nos processos de
comunicao organizacional; manipulao de balanos patrimoniais; e falta de
transparncia das aes dos executivos das empresas, demonstra a banalizao da
corrupo);
b) sinceridade quanto as motivaes dos sujeitos: expresses no sinceras em relao
a intenes e sentimentos; uso de jarges para demonstrar uma solidariedade que no
existe, tais como: estamos todos no mesmo barco ou somos a famlia Empresa-tal;
e hipocrisia e cinismo no teatro das relaes interpessoais nas organizaes: almoar
junto aos operrios, confraternizaes de final de ano etc.;
c) legitimidade: a fala que utiliza argumentos ilegtimos (a todo momento, os membros
das organizaes so solicitados a agir contrariamente aos seus valores e orientao
moral. Adulterar documentos, no informar direitos ao cliente e omitir informaes
so infraes cometidas em nome e por solicitao da organizao); e
d) clareza dos proferimentos: a fala que gera confuso e/ou distrao (distoro
comunicativa tambm se opera no patamar da inteligibilidade daquilo que dito.
Mais uma vez, o uso de jarges tem por funo dissimular ou confundir o
entendimento pleno do proferimento. A retrica outro recurso utilizado para gerar
confuso ou distrao sobre determinada questo. Caso da misso ao invs do
propsito).

Descrita a Teoria do Agir Comunicativo, a seguir ser aborda a relao entre essa teoria e a
aprendizagem organizacional.

6 Aprendizagem organizacional a partir da teoria do agir comunicativo

Para Habermas (como citado em Lima, Carvalho, e Lima, 2010, p. 14) os processos de
aprendizagem so como uma ampliao inteligente e como um entrecruzamento de mundos sociais
que, ao se depararem com conflitos, ainda no conseguem se sobrepor suficientemente. Assim, as
partes contendentes aprendem a inserir-se, reciprocamente, em um mundo construdo em comum,
a partir do qual possvel avaliar e solucionar consensualmente as aes controversas. Isto pode ser
descrito como uma troca reversvel de perspectivas de interpretao. As idealizaes fortes" , que
esto na base da pragmtica universal de Habermas, e o consequente poder da reflexo de
transcender os limites de um contexto qualquer, so essenciais para compreender processos de
aprendizagem.
Ainda, de acordo com Habermas (como citado em Lima, Kemper, e Tiscoski, 2010 p. 8) a
aprendizagem significa que a pessoa transforma de tal maneira as estruturas cognitivas
disponveis, que consegue resolver melhor do que anteriormente a mesma espcie de problemas.
Observa, ainda, que o discurso vem ao encontro de uma concepo construtivista da aprendizagem,
na medida em que compreende a formao discursiva da vontade e da argumentao, em geral
como formas de reflexo do agir comunicativo, e na medida em que exige, para a passagem do agir
para o discurso, uma mudana de atitude.
A aprendizagem requer o uso da linguagem como discurso ou discusso e no apenas como
instrumento para repetio da informao estruturada. O discurso amplia as perspectivas de
representao de interesses nas organizaes, politizando as suas decises e possibilitando a
racionalizao comunicativa mediadora. O discurso tem papel ativo na transformao das
organizaes, valorizando e viabilizando a expresso e a comunicao entre os que participam dos
processos produtivos. So a ampliao das expresses das perspectivas e a viabilidade da
comunicao que vo proporcionar a aprendizagem a partir dos prprios processos produtivos. a
participao nestes processos produtivos que a construo privilegiada de solues de melhoria e de

1407
inovaes. So as organizaes que discutem, isto , aquelas em que seus trabalhadores falam e
interagem que esto mais vocacionadas a aprender, melhorar e inovar (Lima, Kemper, e Tiscoski,
2010).
A partir da anlise da Teoria do Agir Comunicativo, Lima, Kemper, e Tiscoski (2010) chegaram
a algumas concluses sobre a aprendizagem organizacional. Para estes autores, Habermas enfatiza a
resoluo de problemas como sendo o mecanismo central do processo de aprendizagem, pois a
partir do dilogo que os interlocutores podem chegar a um entendimento mtuo sobre algo. Ainda
de acordo com estes autores, o entendimento que provm da discusso gera aprendizagem, pois
para se discutir preciso entender os fatos e as situaes. Assim, a aprendizagem requer o uso da
linguagem como discurso ou discusso e no apenas como instrumento para a repetio da
informao estruturada.
A Teoria do Agir Comunicativo evidencia como a interao entre os atores sociais pode ser
compreendida como discurso orientado ao entendimento, funcionando como espao para o
compartilhamento de experincias e valores em organizaes complexas. O discurso uma forma
de aprendizagem nas organizaes, que transcende o treinamento instrucional conteudista, ou seja,
tem papel ativo na transformao das organizaes, valorizando e viabilizando a expresso e a
comunicao entre os que participam dos processos produtivos (Lima, Kemper, e Tiscoski, 2010).
As organizaes que discutem precisam transformar as interaes em dinmicas de
aprendizagem. Essas interaes devem ser algo produtivo para as organizaes, de forma que os
indivduos possam aprender a resolver problemas. Para isto preciso que se estabeleam condies
para que essas interaes faam parte das rotinas organizacionais.
Aprender a capacidade de usar a linguagem para se resolver problemas. A ideia que as
pessoas dentro da organizao estejam interagindo com esta finalidade. Nesse contexto no h a
possibilidade de que um observador externo vai gerir o conhecimento das pessoas. A organizao
ir aprender e organizar seu conhecimento por meios das pessoas e dos processos que a compe.
A humanizao do trabalho nas organizaes refere-se a como se construir uma amplitude do
ser humano para aproveit-lo melhor, j que ele no apenas um fator de produo. No contexto
das organizaes complexas o ser humano interage com o outro para produzir melhor e encontrar
solues para os problemas. Dessa forma, possvel se resgatar a dimenso humana, perdida no
capitalismo.

Consideraes finais

A partir da literatura analisada, possvel observar que a informao se encontra em toda a
organizao, ou seja, nos processos, nos sistemas e nas pessoas. A racionalidade instrumental que
imperou, e ainda est presente em muitas organizaes, convive lado a lado com a racionalidade
comunicativa, que modifica as relaes sociais a partir do reconhecimento e do uso intensivo da
linguagem.
Verificou-se que as organizaes so construdas a partir da reduo da complexidade do seu
entorno, para produzirem com maior eficcia e eficincia. Esta reduo da complexidade implica
que a dinmica da comunicao interna seja estruturada em fluxos orientados para o sucesso (Lima,
Carvalho, e Lima, 2010).
Para Lima, Carvalho e Lima (2010) a produo e a circulao de informao tende a ser
restrita, em funo da necessidade de realizar aquilo que interessa aos gestores. Os participantes
dos processos internos so geridos para agir de acordo com estes interesses. A perda da autonomia
para agir tambm perda da autonomia para falar, e para facilitar a circulao das falas. A
perspectiva da gesto sempre a do observador "externo".
O uso da linguagem caracteriza o ser humano. A linguagem abre a possibilidade de expressar,
pelas palavras, o sentimento e o pensamento, a partir da realidade. Bloquear a linguagem nas

1408
organizaes negar aos que participam dos processos produtivos a sua condio humana. Ao
mesmo tempo, o uso da linguagem que permite a comunicao entre pessoas, incluindo a
comunicao dos que trabalham nas organizaes. A comunicao fundamental para que se
produzam e compartilhem valores e conhecimentos (Lima, Carvalho, e Lima, 2010).
A prtica da Teoria do Agir Comunicativo no to simples. O grande desafio comear a
pensar nas organizaes, a partir das relaes sociais e do uso da linguagem. Assim, algumas
questes so levantadas: como usar a racionalidade comunicativa nas organizaes em que os
propsitos so o lucro imediato e o poder? E no caso das organizaes pblicas, em que a burocracia
e a hierarquia imperam?
Como as pessoas so a parte mais importante da organizao, necessrio envolv-las nas
discusses e nas possibilidades de soluo dos problemas. Assim, cabe aos gestores promoverem
eventos internos e criarem espaos e condies para encontro das pessoas, a fim de que as prticas
de discusso tornem-se um ciclo virtuoso, que promova, com a maturidade dos grupos e da cultura,
a inovao dos processos e produtos.
Enfim, percebe-se que a sociedade, da forma como est organizada atualmente, est longe de
alcanar novos patamares que possibilitem acordos comunicacionais nas organizaes, sejam elas
pblicas ou privadas. deste modo que os indivduos na organizao podem realmente aprender. E
esse um dos maiores desafios deste tempo.

1409

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1410
CONTRIBUIES DA SEMITICA DA CULTURA PARA A ORGANIZAO DO CONHECIMENTO

MONA CLEIDE QUIRINO DA SILVA FARIAS
Universidade Estadual Paulista Jlio de Mesquita Filho
[email protected] e [email protected]

Universidade Estadual Paulista Jlio de Mesquita Filho
[email protected]

Resumo Enquanto campo de pesquisa que trata dos estudos da linguagem e do texto cultural, mais
precisamente dos sistemas de signos da cultura, a Semitica da Cultura reconhece que a cultura um
fenmeno gerador de textos que se diversificam criando novos textos. Sendo assim, os sujeitos criam
conhecimentos e os organizam conforme suas necessidades que esto diretamente ligadas ao seu contexto
sociocultural. Diante disso, traamos uma anlise terica em torno da abordagem da relao entre Semitica
da Cultura e Organizao do Conhecimento no intuito de apresentar que a compreenso simblica e hbrida
das linguagens envolvidas nos sistemas de organizao do conhecimento devem ser entendidas como
elemento referencial na perspectiva de reconstituio do contexto cultural por meio do texto formado por
signos e cdigos, assim como sustentam a abordagem da garantia cultural e da tica transcultural. Conclui-se
que, as diversas prticas de organizao do conhecimento devem fazer referncia ao contexto cultural das
pessoas que utilizam o conhecimento e as informaes, pois compreendemos que organizar o conhecimento
pressupe reconhecer a linguagem das comunidades discursivas, o que exige abordagens tericas para melhor
expressarem os conhecimentos dos sujeitos envolvidos, considerando sua diversidade lingustica.

Palavras-chave Semitica da Cultura. Organizao do Conhecimento. Diversidade lingustica. Texto cultural.

Abstract While the research field talks about the language studies and the cultural text, mainly the culture
sign systems, the Semiotics of culture recognize that the culture is a creator phenomenon of texts that
diversify themselves creating new texts. In this case, the subjects create knowledge and organize themselves
according to their necessities that are directly connected to the sociocultural context. Therefore, we outlined
a theoretical analysis around the relation approach between the Semiotics of culture and the Knowledge
Organization in the intention of presenting that the symbolic and hybrid comprehension of the languages
involved in the knowledge organization systems should be understood as a referential element in the
perspective of the reconstitution of the cultural context through the text made by signs and codes, as well as
support the approach of the cultural security and the transcultural ethics. It follows that, the several
practices of the knowledge organization should refer to the people cultural context that use the knowledge
and the information, since we understand that organize the knowledge implies to recognize the language of
the discursive communities, what demands theoretical approach to express better the knowledge of the
involved subjects, considering their linguistic diversity.

Keywords Semiotics of culture. Knowledge Organization. Linguistic diversity. Cultural text.

Introduo

A teoria dos signos humanos e no humanos tambm denominada de Semitica (do grego
semeion) ou cincia da semiose, enquanto instncia de ao dos signos na natureza e na cultura. A
Semitica moderna reconhecidamente vinculada a duas escolas hegemnicas: a estruturalista e a
lgico-filosfica. Todavia, tais escolas no representam toda a complexidade de teorias que tratam
dos signos nos contextos natural e cultural.

1411
A abordagem estruturalista nasceu no campo da Lingustica com o trabalho de F. Saussure no
incio do sculo XX que, sob o conceito de sistema, renovou a forma de compreender a lngua,
instituio social que manifesta um cdigo de signos que pode ser utilizado por um mecanismo de
execuo da linguagem, isto , a fala. O conceito de linguagem, nesta tica, rene lngua e fala.
claro que esta concepo no envolve outros cdigos no verbais. Contudo, o importante na
perspectiva estruturalista que ela nasceu, como teoria dos signos, na forma de um projeto de
estudo do significado dos signos construdos socialmente. Saussure (1970) explicou em sua obra que
um dia haver uma cincia que estudar os signos produzidos pelos homens em sociedade, esta
cincia foi batizada de Semiologia. O enfoque estava na linguagem humana e tudo quanto era cdigo
ou sistema sgnico envolvido na comunicao em sociedade: ritos, cdigos militares, indumentria
etc.
Uma outra perspectiva, embora no seja a nica, est vinculada a Filosofia de Charles Peirce,
contemporneo de Saussure. A Semitica de Peirce ou cincia formal dos signos, tambm conhecida
como Lgica, no se prendia fictcia diviso que valoriza o lado esquerdo do tringulo de Ogdens e
Richards, isto , os vrtices do significante e do significado em detrimento do vrtice do referente.
No cabe aqui dissertar sobre a querela signo tridico ou signo didico, o essencial apontar que o
contributo de Peirce a Semitica est na estruturao da tipologia dos signos apoiada em um
rigoroso sistema de categorias de fenmenos.
Para Peirce (2000), a Semitica estuda o signo (representao) como entidade que vincula
representamen, objeto e interpretante. O objeto do signo, sendo ele real ou fictcio, determina as
condies de existncia do signo, de tal modo que o interpretante (efeito de interpretao)
incitado pelo representamen. A relao tridica entre as partes qualifica o signo como perfeito. A
base epistemolgica da teoria do objeto do signo tem como anteparo o Pragmatismo e o Realismo
peirceanos. O signo ocorre em um processo contnuo de interpretao e no encerra o significado a
um ato presente ou passado, pois o significado est nas reaes mentais esperadas em um dado
momento futuro.
Presumimos que tanto Peirce, com a fundamentao lgica da teoria dos signos, quanto
Saussure, com a fundamentao lingustica que explica a ao dos signos na sociedade, no
contemplavam, especificamente, a cultura enquanto objeto de anlise. Embora Peirce e Saussure
tenham feito contribuies inumerveis para a compreenso da cultura como cdigo de composio
simblica. Na esteira desse desenvolvimento, encontramos a perspectiva cultural dos signos.
A Semitica da Cultura, tambm conhecida como abordagem semitica Russa, um campo de
pesquisa que visa discusses em torno dos estudos da linguagem e do texto cultural. De modo geral,
o conceito de linguagem na Semitica da Cultura tido como um sistema de signos, ecoando a
perspectiva semiolgica. Nesse sentido, a linguagem no est limitada a um sistema estruturado
como, por exemplo, a fala de acordo com Jakobson (1995). Na condio de sistema semitico, a
cultura como linguagem um sistema modelizante e por isso no se restrige apenas a estruturas
dotadas de propriedades lingusticas. Em outras palavras, no servem apenas como um dispositivo
de comunicao, de um ponto de vista utilitrio. A linguagem na Semitica da Cultura pode se
expressar por meio de vrios outros signos como da expresso visual, sonora, gestual e espacial. So
sistemas sgnicos que circundam o espao denominado semiosfera, isto , o espao semitico que
compreende todo o universo cultural nas suas diversas manifestaes e matizes. A semiosfera o
termo atribudo para nomear a dinmica entre culturas distintas, cujo objetivo a construo de
uma teoria crtica da cultura (Machado, 1997, p. 16).
Tratando do texto, mais precisamente do texto cultural, este produto da linguagem, uma
manifestao da lngua. Isto implica dizer que, um texto cultural, atua sempre por meio de uma
linguagem. Neste sentido, necessrio destacar, segundo Lotman (2003), que a linguagem apresenta
trs funes: a funo comunicativa; a funo criativa e por ltimo, a funo da memria da cultura.
Essa ltima perspectiva ressalta o resgate do passado e das tradies culturais.
Em torno dessa considerao temos que O escopo da Semitica da Cultura concebida pelo
pensamento eslavo diz respeito a um modus operandi em que a cultura fruto da semiose (semeiose)

1412
da prpria natureza (Machado, 2010, p. 158-159). No mbito geral de discusses, a lngua, enquanto
dispositivo de comunicao do texto cultural, antecede o prprio texto como enfatiza Lotman
(2003). No entanto, a compreenso semitica de lngua emana um sentido no estruturalista.
A dimenso comunicativa da lngua no deve ser entendida como um modelo a ser seguido,
pois consiste apenas na possibilidade de [...] produzir conhecimentos geradores de modus operandi
capazes de funcionar como linguagem (Machado, 2010, p. 161). Logo, a Semitica da Cultura abarca
os sistemas de signo na cultura, argumentando que os fenmenos existentes na cultura formam um
texto cultural, expresso por meio de uma estrutura que a lngua e ganha dimenso com um
sistema de linguagens, o que excede a compreenso da Semiologia. Pois a cultura percebida como
um fenmeno gerador de textos que se diversificam conforme um determinado contexto
sociocultural no qual os sujeitos (re)criam conhecimentos e os organizam conforme suas
necessidades.
Surgida inicialmente como disciplina a partir da Escola de Trtu-Moscou, as reflexes se
consolidam na segunda metade do sculo XIX, na Rssia. Os estudos da Semitica da Cultura
iniciaram com a constituio da Escola de Trtu-Moscou nos anos 1960, na Universidade de Trtu,
Estnia. Os pesquisadores dessa escola buscavam a consolidao de um espao de discusso e
compreenso sobre o papel da linguagem na cultura, assim como suas funes interpretativas
desenvolvidas e organizadas em um dado contexto sociocultural. Assim, esse campo de estudo
promove uma conscincia semitica e, com isso, prope uma viso globalizada da cultura
(Schnaiderman, 1979), de modo que, o universo lingustico e cultural compreendido como formas
de significao norteadas pelo ambiente cultural habitado pelos signos culturais (a semiosfera).
Podemos constatar na Semitica da Cultura vrios conceitos de interesse geral, a saber:
modelizao, traduo da tradio e texto cultural, os quais norteiam as discusses tericas neste
campo de pesquisa. necessrio registrar que a abordagem da cultura, no contexto da Semitica da
Cultura, no se assemelha, por exemplo, a Sociologia ou a Antropologia. Sabemos que a cultura
entendida como um fenmeno no gentico e sua criao no est vinculada apenas transmisso
de conhecimentos entre geraes. A despeito de as anlises sociolgicas e antropolgicas
promoverem um conceito de cultura mais voltado s realizaes materiais e morais de uma
comunidade, no enfatizam a dimenso simblica deste. Cultura, do ponto de vista semitico, nada
mais do que um processamento de sistemas de signos e por conseguinte sua organizao em
complexos sgnicos. Tal fato no significa que a Semitica da Cultura desconsidere as definies do
termo cultura em outras disciplinas. Em nosso entendimento, esta abordagem transcende as
perspectivas apresentadas em outros campos de estudo e, por isso, faz com que a Semitica da
Cultura se concentre a verificar as transformaes ocorridas no intervalo entre a transformao da
no-cultura em cultura. O que est em pauta , sobretudo, o estudo desse mecanismo de criao do
que se entende por cultural (Machado, 2003, p. 33).
De modo geral, a Semitica da Cultura uma teoria cujo objeto de estudo o texto cultural.
Ela consiste na anlise das mediaes ocorridas entre a natureza e cultura. Ademais, a linguagem
tida como um dispositivo organizador e modo de representao do conhecimento humano e, por
isso mesmo, est imbricada na cultura.
Diante do exposto, temos como hiptese preliminar de trabalho que a Semitica da Cultura
no se vincula diretamente Organizao do Conhecimento, todavia, a aproximao se d mediada
pela Cincia da Informao, embora no pela ao dos ncleos epistemolgicos mais consolidados.
Organizao do Conhecimento e Cincia da Informao orientam-se pelos estudos da Sociologia,
Antropologia, Lingustica e Comunicao quando procuram conhecer o contexto cultural.
Entendemos que o momento agora fazer uma reflexo da noo de contexto cultural que seja
unicamente semitica, na medida em que esta abordagem trata com mais intensidade das questes
simblicas, as quais, ao fim e ao cabo, representam o ncleo do problema do significado em
sociedade.
Considerando alguns conceitos da Semitica da Cultura buscaremos relacionar conceitos que
possam ser utilizados para a reflexo do processo de representao na Organizao do

1413
Conhecimento. Secundariamente, destacaremos os pontos de convergncia da Semitica da Cultura
com abordagens presentes na Organizao do Conhecimento.
De modo inicial, podemos considerar a Organizao do Conhecimento como uma construo
diversificada de expresses, condutas e de saberes cujo a forma de organizao e representao se
d via linguagens. Organizar o conhecimento supe um processo de compartilhamento mtuo entre
indivduos e um dado contexto sociocultural. Sabemos que para organizar o conhecimento
necessrio a construo de modelos de mundo como discorre Brascher e Caf (2008), muito mais
que a extrao de contedos informacionais de documentos, tal como a indexao e a anlise
documental. Dahlberg (1993, 2006, p. 12) sobre Organizao do Conhecimento menciona que
compete a esta rea tratar dos objetos e das atividades da teoria do conceito, da classificao, da
representao do conhecimento e da indexao. Contudo, esta discusso insere-se em pelo menos
dois campos da tabela de classificao da literatura da organizao do conhecimento proposta por
Dahlberg (2006, p. 15): a classe 1, que trata dos fundamentos tericos da rea e a classe 7
representao do conhecimento pela linguagem e atravs da terminologia.
Tendo em vista a discusso trazida pelo campo da Semitica da Cultura verificamos a
necessidade em propor um dilogo com a Organizao do Conhecimento, pois consideramos que a
Semitica da Cultura fornece elementos para o estudo da diversidade lingustica e semitica em
sistemas de organizao do conhecimento. Presumimos que os sistemas de organizao do
conhecimento devem reconstituir o contexto cultural e lingustico a partir de um texto - a prpria
cultura - formado por um emaranhado de signos e ordenadamente codificados. Em virtude disso,
reconhecemos que a Semitica da Cultura deixa sobre relevo a diversidade lingustica e cultural.
Para tanto, ao estabelecermos uma aproximao entre os estudos da Semitica da Cultura e a
Organizao do Conhecimento esperamos compreender cultura como linguagem e texto que
comporta uma diversidade de cdigos. Os instrumentos de organizao do conhecimento (por
exemplo, tesauros) deveriam reconstituir os cdigos que, por meio da Semitica da Cultura,
poderiam ser interpretados.
Este trabalho procura divulgar parte das reflexes dos autores vinculada s pesquisas que
tratam dos fundamentos semiticos da anlise e mediao da informao e da relao entre
mediao e Semitica da Cultura.

1 A semitica da cultura

Enquanto campo de pesquisa cultural que considera a cultura como manifestada por meio de
linguagens configurando-se em um verdadeiro texto da cultura, a Semitica da Cultura entede a
cultura como um conjunto diversificado de conhecimentos acumulados e expressos via linguagens.
Entedemos que a linguagem um sistema sgnico que antecede o texto, em outras palavras a
linguagem quem produz os textos da cultura. A Semitica da Cultura nos traz alguns conceitos
centrais para a discusso da cultura enquanto texto cultural e seus nveis de manifestao, isto , de
comunicao via lngua (estrutura), transformando em linguagens as quais podem ser percebidas e
interpretadas considerando um contexto que englobe um dilogo entre a realidade social e a
realidade cultural. Diante disso, o tecido cultural compreendido numa dimenso semitica e no
corresponde apenas linguagem verbal de uma lngua natural, [...] mas tambm a qualquer
portador de significado integral (textual): uma cerimnia, uma obra de arte, uma pea musical
(Machado, 2003, p.105). Esta seo pretende expor as ideias centrais relativas ao objeto de estudo da
Semitica da Cultura.
A lngua um instrumento primrio o qual constitui uma estrutura, expressa por um cdigo,
e por isso serve como modelo para a composio das linguagens. Todavia, comum no
entendimento semitico que a lngua e demais cdigos devem ser tratados igualitariamente. As
linguagens a que aludimos vo ao encontro da perspectiva de uma semitica social, isto , a
linguagem enquanto semitica social (Halliday, 1982, p. 9), o que nos permite considerar o

1414
contexto sociocultural da produo e comunicao da linguagem. Portanto, as linguagens so
processos sociais e dialgicos, precedem o texto e a partir delas o tecido cultural pode manifestar-se
em inmeros significados produzidos e mutuamente agregados permitindo a diversidade
lingustica-cultural.
O texto cultural se manifesta por diversas formas. Sobre isso, podemos identificar uma
diversidade de signos de carter lingustico-cultural. A cultura, nesse aspecto, entendida como um
conjunto de informaes no-hereditrias, armazenadas e comunicadas por grupos distintos e em
contextos diferenciados (Machado, 2003, p. 157). Aceitando esta premissa semitica, perceberemos
que o texto cultural uma construo social, o que implica dizer que envolve princpios, valores,
regras morais, e muitas vezes conflitos entre culturas. De qualquer forma, o texto cultural a
instncia mxima de comunicao entre os indivduos atravs de uma diversa e complexa rede de
signos, causando desse modo interpretaes multiplas.
Por esta perspectiva, a cultura interpretada como um sistema de signos, um grande texto,
um emaranhado de cdigos, onde o acumulo de informaes e conhecimentos se organiza por meio
de linguagens, tais linguagens quando recebem interpretaes criam novos textos culturais.
Portanto, compreender a cultura, sob esta tica, entender a multiplicidade de linguagens
existentes e que a modelam. perceber que em volta da cultura concentra-se um aglomerado de
elementos simblicos, significaes, cdigos e linguagens, dos quais o homem faz uso no momento
da representao do mundo e de seu contexto.
A noo de texto cultural no processo interpretativo da cultura faz com que as pessoas
reconheam os conhecimentos que iro ser compartilhados mediante um determinado contexto
sociocultural. Machado (2003, p. 26) explicita que no mbito da prtica investigativa da Semitica da
Cultura encontramos a compreenso do mundo como linguagem que, por sua vez, manifesta-se por
variadas formas e processos de comunicao que acontecem em domnios diversificados.
A diversidade lingustico-cultural sob o ponto de vista semitico, merece destacar trs
conceitos centrais abordados pela Semitica da Cultura os quais norteiam a discusso em torno do
hibridismo cultural instalado pela diversidade lingustica-cultural. Assim, surge a necessidade de
discorrer sobre os sistemas de modelizao, traduo da tradio e texto cultural. Tais conceitos so
trazidos de forma geral, no intuito de evidenciar a teoria sistmica da cultura e com isso
fundamentar a noo de que o universo social e cultural hbrido.
De um ponto de vista amplo, podemos dizer que a modelizao consiste em um processo
sgnico que visa possibilitar as manifestaes, os produtos e as atividades culturais, organizadas por
diversos tipos de linguagens, a construo de um texto, mais precisamente o texto cultural
(Machado, 2003, p.51). A modelizao consiste em processos sgnicos que permitem estabelecer
correlaes sobre traos particulares das culturas. Por sua vez, a modelizao no condiz com a
reproduo de modelos culturais, mas a produo de sistemas de signos, como no caso da linguagem
a qual pode correlacionar-se com a lngua enquanto sistema primrio.
Por conseguinte, ao tomar conhecimento do objeto da Semitica da Cultura possvel
perceber que o texto cultural, a manifestao da cultura em seu conjunto diversificado e organizado
de linguagens, necessita ser representado e posteriormente compreendido, pois carrega uma
infinidade de signos que evoluem num processo dinmico e infinito, numa constante semiose
cultural. Esta semiose deriva, obviamente, da Semitica Geral de Charles Peirce, como a ao
contnua de interpretao e gerao de signos.
Nesse sentido, consideramos oportuna a observao de Machado (2003. p. 24) quando
sustenta que em qualquer lugar onde exista lngua, linguagem e comunicao sempre haver signos
a serem interpretados. A linguagem da cultura caracteriza-se como um fenmeno multicultural e
pluricodificado, contudo, no neutra, a despeito de em algumas instncias possuir peculiaridades,
fenmeno que se deve diversidade cultural da linguagem.
No mbito da discusso proposta necessrio destacar que a linguagem no algo
cristalizado, tampouco atua como mero dispositivo transmissor de informaes. Mais do que isso, a

1415
linguagem um instrumento cultural que potencializa o conhecimento humano e interfere na viso
do mundo dos sujeitos. Em parfrase a este raciocnio, Semprini (1999, p.67) discorre que, sob um
ponto de vista cognitivo, a linguagem contribui na produo da realidade, isto , ela fornece o
instrumental conceitual - categorias e conceitos - que sem estes no seria possvel identificar e
muito menos compreender a realidade social.
Diante disso, possvel afirmar que a compreenso de linguagem na Semitica da Cultura
acompanhada da noo alargada de lngua, conceptualizada como um dispositivo modelizante de
nvel primrio. A lngua um sistema codificador de linguagens, e como tal possui uma estrutura
codificada. Ela atua como instrumento codificador das diversas linguagens existentes nos sistemas
dos signos culturais. Mas preciso advertir que a lngua um elemento sgnico pelo qual possvel
o desenvolvimento da linguagem em um sentido amplo, evoluindo para linguagens sociais e
culturais. A noo de lngua e linguagem para a Semitica da Cultura sustenta uma forma
democrtica de perceber a realidade atravs dos signos. Sendo assim, todas as linguagens teriam o
mesmo peso terico, na medida em que comunicam informaes sobre uma dada cultura. Um
reflexo semelhante constatada em Lotman (2003, p. 1), tal autor aponta que

A la vez, el lenguaje es percibido como un sistema que codifica el
lenguaje, y consequentemente todos los rasgos relevantes del texto se
manifestan en el lenguaje; lo que no se da en el lenguaje (en un lenguaje
concreto), no tiene funcin senso discriminativa. Por esta razn, um texto
siempre es un texto en un lenguaje determinado. Esto significa que el lenguaje
siempre se manifesta antes que el texto (no necessariamente en un sentido
temporal, sino quiz en algn sentido ideal) (Lotman, 2003, p. 1).

Nesse contexto, a lngua considerada o mecanismo semitico de transmisso de mensagens
por meio de um conjunto de signos, como um sistema, no necessariamente determinante para as
linguagens, no obstante seja considerada um sistema estruturado que fornece base para demais
sistemas secundrios que se apresentam por meio de diversas linguagens. A lngua tambm
percebida como um sistema auxiliar e por isso sua forma estruturada no impede o
desenvolvimento das demais linguagens da cultura. As linguagens, no sentido da dinmica na qual
se apresenta o texto cultural, no so estveis, ao contrrio, so multiplas. Language is opposed to
all that is accidental, unstable, extra-systematic: languages are mechanisms which go on
functioning, in spite of the damage caused to them (Lotman, 1990, p. 6). As linguagens so
sistemas instveis e complexos e isso resultante tambm da sua multiplicidade. Uma teoria
semitica consistente deve observar essa natureza instvel. Nesse sentido, a Semitica da Cultura
afasta-se da viso saussureana da lngua como uma instituio social relativamente reificada.
A multiplicidade das linguagens nos direcionam discusso sobre os sistemas modelizantes,
os quais envolvem uma ao ou ato de modelizar. Em outras palavras, consiste na leitura dos
sistemas de signos por meio de uma estrutura materializada, a lngua. Os sistemas modelizantes
atuam como sistemas de signos, isto , como conjunto de regras caracterizados em (cdigos,
instrues, programas) os quais servem para a produo de textos no sentido semitico (Machado,
2003. p.167). Ademais, preciso colocar que, a modelizao considera a dinmica das culturas e
prima pelas peculiaridades lingusticas e culturais de uma sociedade.
Modelizar consiste em um exerccio de compreenso dos signos culturais. Em respeito a isso,
a Semitica da Cultura enfatiza que modelizar semioticizar, isto , interpretar, compreender,
organizar e construir significados em torno de um contexto sociocultural. Por esta razo que os
sistemas modelizantes so manifestaes, prticas ou processos culturais e sua organizao
depende da transferncia de modelos estruturais (Machado, 2003. p.49), isto , da compreenso de
uma lngua determinada que ao menos fornea condies mnimas para a criao e organizao de
diversas linguagens da cultura.

1416
Em torno disso, sustentamos que a cultura condiz com um universo de signos
interdependentes, os quais se movimentam numa constante semiose. Os sistemas culturais so
textos [...] no porque se reduzem lngua mais porque sua estruturalidade procede da
modelizao a partir da lngua natural (Machado, 2003. p. 39). Todo texto criado no mbito dos
sistemas culturais transformam-se em vrios outros e sua potencialidade de transformao, isto ,
de modelizao fruto das mltiplas linguagens existentes na esfera semitica do texto cultural.
De todo modo, necessrio pontuar que a linguagem da cultura sofre transformaes, em
outros termos, evolui com o passar dos tempos e traz consigo traos de uma tradio, elementos
sgnicos que se adequam ao contexto atual. A evoluo da linguagem da cultura no campo dos
estudos da Semitica da Cultura um movimento de (re)criao de novos textos culturais os quais
obedecem a dinmica da cultura, do contexto atual pelo qual os fenmenos culturais se manifestam.
Em outras palavras, podemos dizer que ocorre traduo das tradies. Tal fenmeno, conforme
aponta Machado (2003, p. 30) corresponde ao encontro entre diferentes culturas e, como
consequncia, surgem os cdigos culturais. Os cdigos culturais, por sua vez, so mecanismos de
gestao da memria no-hereditria, encarregada de formatar os sistemas semiticos no universo
semiosfrico cultural.
Sobre o mecanismo de traduo da tradio na Semitica da Cultura, destacamos que no
consiste em um mero ato de reproduo, mas pelo contrrio, uma ao que envolve compreenso
e interpretao cujo objetivo uma representao da realidade cultural. Machado (2003, p. 163)
defende que o ato de modelizar condiz a um esforo deliberado de compreenso da significidade
dos objetos culturais, em sntese, modelizar e semioticizar.
Acrescentamos que em toda cultura h um conjunto de textos, os quais so expressos por
inmeros dispositivos conceituais como, por exemplo, as linguagens humanas. As linguagens
comunicadas e representadas entre diversas culturas evidenciam a existncia de um legtimo
hibridismo cultural (Canclini, 2008), pois tem o potencial de estabelecer interrelacionamento
entre os inmeros sistemas culturais. Sobre tal fato os estudos da Semitica da Cultura denominam
este processo de modelizao.
partindo da ideia de modelizao que pensamos a organizao da cultura como um campo
de conhecimento em contnua construo, fruto de uma realidade formada de experincias
construdas socialmente, onde os sistemas de organizao da cultura evoluem e por isso do origem
a novos textos culturais. Lotman (1999, p. 101) ressalta que El texto dentro del texto es una
construccin retrica especfica, atravs de la cual la diferencia de codificacin de las variadas
partes del texto se vuelve un factor evidenciado de la construccin del texto de parte del autor, y de
su percepcin de parte del lector. Diante disso, podemos destacar sobre a percepo dos
profissionais no processo de organizao dos signos culturais tendo em vista que o conhecimento
construdo e acumulado de uma determinada cultura necessita da interpretao realizada atravs
dos cdigos culturais.
Compreendemos que a cultura, isto , o texto cultural manifesta-se por linguagens as quais
so desenvolvidas por meio de contextos distintos. Assim o carter dinmico da cultura condiciona
interpretaes diversas, assim como, sua representao e organizao fazem referncia aos
contextos socioculturais. Isso nos faz contemplar a cultura em sua globalidade, como diz Eco (2000,
p. 21). Por esta razo, coerente sustentar que a cultura, em sua ampla complexidade, deve e
precisa ser discutida sob um olhar semitico. De todo modo, consideramos ainda que os textos
produzidos na cultura, so criaes sgnicas, isto , so mecanismos semiticos geradores de
sentidos. Machado (2003, p. 169) apresenta que o texto sempre um texto independente da
linguagem a qual ser dada antes desse. Desse modo, o texto no se apresenta como um receptor
passivo. O texto um gerador de sentidos, isto , condiz em um espao semitico onde as linguagens
interagem, se interferem e tambm se auto-organizam, pois so consideradas, nesse contexto, como
dispositivos pensantes ou at mesmo dialgicos.
Entendemos que os textos culturais, como manifestao de linguagens, so criaes dialgicas
entre diversas culturas. Assim, podemos ainda sublinhar que a criao de um texto depende da

1417
compreenso e uso de inmeros signos. Por esta razo, compartilhamos do raciocnio de Deely
(1999, p. 86) quando sustenta que criar um texto proceder conforme o uso de signos no intuito de
estruturar a objetividade em um contexto de modo a ser acessveis em demais contextos. Dessa
maneira, o texto necessita de um outro organismo para que possa haver o compartilhamento de
informaes sobre os signos modelados, isto , com os signos que passaram por processos de
codificao, considerando ainda que tais signos no so redutveis.
Portanto, fica evidente que o objeto de estudo da Semitica da Cultura pode se tornar tpico
de discusso de outras reas, em especial, com o campo da Organizao do Conhecimento. A cultura
poderia ser um instrumento de estudo de vrios profissionais, principalmente quando o objeto em
anlise for o texto cultural. Como enfatiza Machado (2003, p. 101), a cultura um dispositivo que
transforma [..] a esfera externa em interna, ou seja, desorganizao em organizao, ignorantes em
ilustrados, pecadores em santos, entropia em informao.
O conhecimento criado e compartilhado se traduz em signos, ou seja, em um amplo sistema
complexo de signos. Em outras palavras, a cultura organiza a vida em sociedade e com esta as regras
que so necessrias traduo de informaes em signos os quais so armazenados ou
reinterpretados quando surgem novas demandas (Velho, 2009, p. 253). Por fim, ao se identificar a
cultura, mecanismo qual se produz, se organizam conhecimentos em sociedade, pensamos ser
necessrio atentar para os contextos culturais, pois consideramos que por meio de um olhar
semitico podemos compreender a dinmica existente, assim como os valores imbudos no universo
lingustico e cultural dos sujeitos.

2 Aproximaes entre organizao do conhecimento e semitica da cultura

Se consideramos a cultura dinmica, sujeita a modelizaes e a inmeras tradues, assim
tambm podemos compreender que o conhecimento se encontra em eterno crescimento (Carlan,
2010). Temos a cultura como a combinatria de vrios sistemas de signos e a codificao difere em
cada um dos sistemas de signos, esta a mxima da abordagem da semitica sistmica, como
apontou Machado (2003, p.27). Portanto, cada cultura possui caractersticas peculiares, isto , que
determinam suas potencialidades hibridas e simblicas. nesse sentido que pensamos numa
abordagem global dos fenmenos culturais tendo em vista a diversidade lingustica e cultural dos
indivduos. A despeito disso, destacamos que as formas de organizao do conhecimento devem
respeitar o dinamismo cultural, o que, de fato, considere os contextos culturais. Por esta razo,
pretendemos nesta seo relacionar alguns tpicos de reflexo oriundos da Semitica da Cultura
sobre a Organizao do Conhecimento.
Percebemos inicialmente que os vrios contextos culturais precisam ser considerados para o
desenvolvimento dos sistemas de organizao e representao do conhecimento. Esse
procedimento deve levar em conta valores, entre os quais, a diversidade de linguagens e de aspectos
simblicos em uma determinada cultura.
De acordo com a Semitica da Cultura, o conhecimento no esttico e muito menos isolado,
isto , conhecimento e texto cultural so construes dialgicas e por sua vez esto situados em
determinado contexto sociocultural. Observando este mesmo contexto, presumimos que o
conhecimento e o texto cultural so organizados de modo que sua mediao e representao
ocorram via linguagens.
A mediao a qual nos referimos compreendida como um processo, que inclui aes
interpretativas, das diversas culturas as quais podem dar origem a novos textos culturais. Quanto a
representao, esta percebida como um modo de enxergar os textos culturais, alm de uma nica
estrutura como, por exemplo, a lngua. Assim, consideramos que cultura se expressa por um
conjunto dinmico de sistemas de signos, os quais no se encontram estritamente ligados lngua,
mas relacionados a diferentes sistemas de linguagens, como visual, gestual, sonoro e arquitetnico.

1418
No universo cultural, ncleo semiosfrico da cultura, podemos organizar e dar sentidos as
coisas e ao mundo por meio do uso de signos, mas para isso dependemos de uma anlise e
compreenso dos diversos contextos culturais. Tais contextos podem auxiliar na compreenso da
diversidade simblica e lingustica-cultural que circunda a esfera sociocultural do conhecimento
humano. As linguagens, assim como a diversidade de cdigos culturais em interao com outros
cdigos, so dispositivos dialgicos que auxiliam na organizao da cultura, portanto, na
organizao do conhecimento humano. O mundo composto in totum, em seu todo, de linguagens e
a cultura o texto que recorremos para comunicar informao sobre essas linguagens.
Desse modo, supomos que os indivduos, ao longo de suas vidas, estabelecem relaes com o
seu meio e essas relaes, por sua vez, do condies para que possam construir e adaptar modelos
de mundo que significam sua cultura. Seria como pensarmos na formao e construo de sentidos
por meio de uma multiplicidade de discursos nos quais podemos evidenciar um processo de
semiose social como aponta Vern (1996). Entendemos que organizar o conhecimento consiste
em um modo de modelar as experincias culturais de forma a que possam ser compartilhadas,
considerando suas linguagens naturais e traos peculiares das diversas culturas, esta seria uma
tarefa tambm da Semitica da Cultura. Essas diretrizes da Semitica da Cultura podem vir a somar
a teses no-clssicas encontradas na Organizao do Conhecimento.
Como avanos no campo da Organizao do Conhecimento que se relacionam Semitica da
Cultura, podemos citar as abordagens da Garantia Cultural como apresenta Beghtol (2002), da tica
da transculturalidade de Garca Gutirrez (2002) e os valores ticos envolvidos na representao do
conhecimento, tal como enfatizado por Guimares e Pinho (2008) e Guimares et al. (2009). Essas
abordagens formam uma linha de pesquisa no campo da Organizao do Conhecimento que poderia
dialogar com mais intensidade com a Semitica da Cultura, na medida em que os temas discutidos
se fundamentam em conceitos tal como cultura e linguagem. De maneira geral, estas perspectivas
concordam com a importncia de se respeitar o contexto cultural que chega at ns atravs de
cdigos culturais e da linguagem.
Um outro ponto de interseco entre os campos recorrente na literatura no uso do conceito
de traduo. A noo de traduo da Organizao do Conhecimento nem sempre explicita o aspecto
cultural. A representao da informao e do conhecimento, por exemplo, trabalha com um
conceito clssico de traduo voltado linguagem verbal, enquanto que a Semitica da Cultural
sustenta a igualdade entre os cdigos, porque h uma riqueza a ser reconhecida no hibridismo
cultural e isso possvel de ser percebido se optarmos por uma anlise semitica.
A este respeito, a Semitica da Cultura procura enfatizar a noo de sistema e de traduo de
cdigos. No se trata de um processo de traduo de uma lngua para outra ou dentro da mesma
lngua, pelo contrrio, refere-se a um trabalho de interpretao e representao por meio de
linguagens das mais variadas. Devemos ressaltar que o trabalho do especialista em Organizao do
Conhecimento procura responder a uma demanda de traduo entre cdigos, isto , passar da
linguagem expressa em depoimentos ordinrios e nativos linguagem artificial de um sistema de
Podemos nos valer da prtica de indexao como exemplo, por se tratar de um processo
pertinente Organizao do Conhecimento no qual envolve uma esfera de elementos informativos,
isto , a extrao de contedos dos documentos e a reorganizao conceitual destes, entretanto,
esse processo ainda ocorre no interior de um mesmo cdigo, o verbal e por isso pensamos que deve
ir mais alm, sendo a vez de d nfase aos aspectos culturais. Nesse sentido, trazemos a Semitica da
Cultura como contributo para Organizao do Conhecimento, pois seu ncleo de discusso torna
evidente que alm da linguagem verbal, outros sistemas de signos, no verbais, podem ser
analisados e organizados por sistemas de informao, isso se consideramos o contexto cultural.
Tambm incluiramos como processo de traduo entre cdigos a converso de categorias
socioculturais formadas pelas comunidades e subjacentes s classes do conhecimento dispostas em
um esquema de classificao. Com isso, conseguiramos encontrar formas de aperfeioamente de
possveis falhas ou incongruncias nos sistemas gerais de classificao (Classificao Decimal de

1419
Dewey e Classificao Decimal Universal). Ademais, traduzimos textos para um modelo sgnico
compsito e reduzido chamado de resumo ou representao documental, supondo a existncia da
linguagem do sistema.
Contudo, no campo de discusses semiticas, a questo da traduo no tratada unicamente
sob o ponto de vista da passagem de uma lngua para outra ou no interior de um mesmo sistema
lingustico, contudo, enfatiza a traduo de um sistema sgnico para outro, isto , do verbal para o
sonoro, do visual para o verbal, do gestual para o verbal, e tantas outras combinaes que fazem
avanar o processo de significao. Com a Semitica da Cultura nos direcionamos para um
entendimento mais elevado de traduo, no ligado apenas traduo intra-cdigo, mas
compreendendo como indispensveis as tradues inter-cdigos. A anlise da traduo, nesse sentido,
corresponde compreenso de um sistema sgnico complexo, pois envolve vrios sistemas de
signos distintos.
Associada questo da traduo em um sistema de organizao do conhecimento, agora vista
sob o olhar da Semitica da Cultura, est a noo de garantia cultural de Beghtol (2002).
Depreendemos disso que um sistema particular de representao e organizao do conhecimento
mais coerente para um grupo e no tanto para outro. Esse fato se deve a capacidade das linguagens
documentais (esquemas de classificao, tesauros etc.) representarem a cultura de uma
comunidade, uma regio, um pas. As linguagens devem revelar o real contexto cultural, isto , levar
em conta a dinmica da cultura, enquanto texto, caso contrrio as representaes podem no ter
sentido de existncia.
Devemos considerar os contextos culturais atravs dos cdigos, e no apenas do verbal. Isso
implica dizer que cada sistema constitudo conforme as concepes atribudas por uma
comunidade discursiva particular, tambm nomeada domnio de conhecimento. Supondo que o
domnio seja um texto cultural, temos que conseguir interpret-lo para garantir que os preceitos,
cosmoviso, valores, moral etc. deste grupo sejam representados. Diante do exerccio interpretativo
da cultura, de reconhecer sua hibridez e com esta suas mltiplas formas de manifestaes na
sociedade, destacamos a contribuio dos cdigos culturais.
Os cdigos culturais so responsveis pela gerao das linguagens, incluindo a as linguagens
documentais, por isso podemos concluir que as relaes dinmicas estabelecidas entre cdigos
culturais so responsveis pelas formas de compreenso e representao dos signos, portanto
transmisso do conhecimento. Tal conhecimento se d por meio da mediao estabelecida entre as
linguagens correntes produzidas culturalmente, e na medida em que so interpretadas, podem ser
transferidas com maior grau de representao para uma linguagem documental. Nesse processo
artesanal, interpretativo, os cdigos culturais atuam como instrumentos modelizadores das
linguagens da cultura, onde o processo de traduo fruto de uma mediao sgnica. Machado
(2003, p. 156) considera que

Os cdigos culturais criadores de linguagem e, consequentemente, de
textos culturais se do a entender como som, imagem, movimento,
textura, cheiro, paladar. Ainda que sejam assim traduzidos, preciso no
confundi-los como uma mera extenso do sensrio. Do ponto de vista da
modelizao, trata-se de um processo de culturalizao: o cdigo traduzido
sempre mediao sgnica e no a percepo.

Para a Semitica da Cultura todo cdigo entendido como um sistema modelizante, isto ,
uma forma de regra, necessria para a organizao e o desenvolvimento da informao. So
sistemas semiticos, estruturas que reconhecem, armazenam e processam informaes, cujo
objetivo regular e controlar as manifestaes da vida social, do comportamento individual ou
coletivo. Com efeito, os cdigos culturais so processos de culturalizao, isto , a recepo que se
faz do mundo, mediante um processo de apropriao, chamado de culturalizao. Sobre tal

1420
perspectiva temos que o fenmeno da culturalizao, [...] consiste na apropriao do mundo
mediante sua transformao em texto. O homem se apropria do mundo estudando a lngua,
decifrando o texto relativo e traduzindo-o em uma lngua que lhe acessvel (Machado, 2003, p.
157-159).
Diante disso, acrescentamos que alm dos indivduos utilizarem uma lngua, um cdigo para
apropriao do mundo, tambm valem-se de [...] certos esquemas ou cdigos que lhe permitem
uma economia de esforos (como caso das grias e abreviaturas) (Coelho Neto, 2010, p. 140). So
as linguagens de grupos particulares, comunicadas entre grupos distintos e com o passar dos
tempos tambm sofrem processos de modelizaes e por isso no deixam de atuar como cdigos
culturais. sobre esta potencialidade da traduo como tambm de interpretao no mbito da
cultura que nos refletimos sobre a necessidade de se considerar, estabelecer respeito diante dos
diversos contextos culturais. com esse intuito que trazemos a noo de linguagens e cdigo
cultural percebidos sob o olhar da Semitica da Cultura.
Contudo, diante do hibridismo cultural existente compreendemos o cdigo, de modo geral,
como um conjunto de signos, constitudo de regras, onde tais regras devem ser parte do
conhecimento prvio tanto daquele que se encontra na funo de destinador como de
destinatrio da mensagem (Coelho Neto, 2010, p. 140). De todo modo, cdigo cultural se apresenta
como uma linguagem a qual em cada contexto apresentar-se- por formas multiculturais. Assim, os
contextos culturais em que esto os usurios da informao so compreendidos atualmente a partir
de uma perspectiva multicultural, o que valoriza ainda mais o vnculo com teorias presentes na
Semitica da Cultura.
Nesses contextos ficam evidentes as diferenas culturais. O multiculturalismo vem sustentar
que a sociedade no homognea e por isso seus aspectos culturais obedecem a um aglomerado de
signos os quais representam uma dada realidade sociocultural por meio da construo e
comunicao de cdigos culturais revelados e mediados nas mais variadas formas de linguagens
compostas em meio social. Assim, coerente tambm colocar que, assim como os usurios esto
inseridos nesses contextos, o profissional da informao no deixa de fazer parte e por isso este
deve estar atento aos fenmenos multiculturais, pois como aponta Guimares, Pinho, Milane &
Molina (2009, p. 207)

O multiculturalismo traz, em seu bojo, a questo da diferena, que vai
alm de um conceito filosfico ou uma forma semntica, pois constitui
uma efetiva realidade social dinmica no espao e no tempo em que se
insere, com especial destaque para as questes afetas s minorias
relativamente s denominadas maiorias (seu lugar, seus direitos, sua
identidade e seu reconhecimento), de onde decorrem os denominados
conflitos culturais[...].

A questo principal do multiculturalismo ou de uma perspectiva multicultural da sociedade
projetar os discursos e narrativas de grupos inferiorizados socialmente organizados em movimentos
sociais, tal como grupos afirmativos. O multiculturalismo mais um exemplo que a cultura no
um composto homogneo de traos culturais e histricos, mas um conjunto de signos culturais
que formam diferentes cdigos que podem ser utilizados para narrar a trajetria de um grupo e
explicitar valores identitrios. Por isso que o cdigo deve ser encarado como a unidade central de
anlise para a organizar o conhecimento de maneira multicultural. Esse cdigo um meio que
permite reconhecer a rede de sentido por traz da cultura. Esse seria o processo de mediao cultural
por excelncia, anterior a qualquer atividade de promoo da cultura propriamente dita.
Para este fato imprescindvel que o profissional da informao reconhea que o seu papel
enquanto mediador condiz no exerccio complexo de anlises mediante os contextos culturais.
Contudo, necessrio destacar que a mediao multicultural da qual se refere Guimares et al.

1421
(2009, p. 208) consiste em uma complexidade e por isso visa uma ateno na recepo do usurio.
Alm de trabalhar em torno de se evitar a incomunicabilidade, o multiculturalismo visa alcanar
novos terrenos para tratar a mediao e traduo. A este respeito o profissional da informao, ou
mediador como utiliza Garca Gutirrez (2002) no deve evitar cumprir com a tica, isto ,
reconhecer a diversidade multicultural que pode possibilitar na valorizao e garantia de valores
culturais com respaldo ao respeito sobre os contextos culturais.
Sobre a perspectiva dos princpios ticos que devem ser adotados pelos profissionais da
informao - mediadores - cabe destacar a importncia da diversidade de acesso s informaes
culturais e pessoais. Tal acesso visa estabelecer condies para os usurios de modo que as
informaes comunicadas pelos sistemas de recuperao da informao, estabeleam sentido, isto ,
estejam coerentes com a sua realidade, seu contexto multicultural. Assim, a atuao do profissional
da informao ocorrer no sentido de projetar, avaliar, dar manuteno e revisar os sistemas de
representao, focando um ajuste aos princpios ticos (Guimares et al., 2009, p. 216). Esta
perspectiva nos faz apontar para a ideia da tica transcultural de Garca Gutirrez (2002), a qual
consiste numa conduta profissional direcionada ao cuidado de fazer com que haja uma igualdade
por meio do respeito e dilogo entre as culturas, de modo que uma no se sobreponha a outra como
forma de desmerecimento dos aspectos culturais de cada uma.
Contudo, sobre a concepo da tica transcultural de mediao no processo de organizao e
representao do conhecimento coaduna-se com o que estamos propondo, de uma perspectiva da
Semitica da Cultura para anlise dos sistemas de organizao do conhecimento. Para isso, tambm
consideramos que a Organizao do Conhecimento implica um processo reflexivo, tal como coloca
Garca Gutirrez (2002) e assim revela-se uma necessidade de adaptao, em torno de uma estrutura
epistemolgica social, tica assim como de princpios tcnicos na representao do conhecimento.
Isso implica dizer que nenhum discurso deve prevalecer sobre outros assim como nenhum usurio
privilegiado em relao aos demais (Guimares & Pinho, 2008, p. 6).
Retomando sobre a postura consciente e crtica do profissional da informao podemos dizer
que o profissional que lida com as atividades de organizao e representao do conhecimento deve
estar atento aos aspectos histricos e socioculturais que envolvem o conhecimento registrado e
socializado. Diante disso, enfatizamos que, a atividade de representao no uma atividade
meramente tcnica, mas uma ao intelectual e por isso exige posturas ticas, consciente e crticas
por parte do profissional so necessrias. De todo modo, coerente destacar que em torno do
processo de representao do conhecimento esto os problemas de tendenciosidade, os quais so
percebidos desde a fase de sua atuao, ao classificar ou at mesmo no momento de atribuir
conceitos no processo de indexao (Guimares & Pinho, 2008, p. 4).
Percebemos com isso que a adoo de uma concepo tica transcultural, isto , a adaptao
de uma nova estrutura epistemolgica, social, tica e de princpios tcnicos, promove a organizao
do conhecimento assim como o respeito sobre a diversidade multicultural dos indivduos. Logo, no
bojo das discusses sobre a tica transcultural e na medida em que passam a destacar que o
universo cultural no deve ser reduzido por ideias positivistas necessrio tambm destacar sobre
os discursos discriminatrios dos profissionais mediadores (Guimares & Pinho, 2008, p. 6). Em
torno disso, reconhecemos a necessidade em refletir sobre os sistemas de organizao e
representao do conhecimento, tendo em vista que, busquem por meio de princpios ticos com
base em reflexes crticas, a mediao do conhecimento sobre diversos aspectos culturais.
Portanto, enfatizar a pluralidade cultural na organizao do conhecimento - com base em
conceitos da Semitica da Cultura, a exemplo de cdigo e traduo -, os quais proporcionam como
efeitos a garantia de que o contexto cultural do usurio deve ser respeitado compreendido como
um dos princpios norteadores para os sistemas de organizao e representao do conhecimento.
Dado o respeito sobre os contextos culturais, o profissional da informao - mediador - estar certo
de que seu papel social est sendo cumprido e com isso a mediao de informaes e conhecimentos
no mbito cultural impulsiona o uso tico do conhecimento e com ele todos os valores, moral
contidos no tecido textual, simblico e hbrido das diversas culturas.

1422
Posto isso, entendemos que a contribuio de Gutirrez (2002) sobre a tica transcultural na
mediao visa numa proposta de valorizao dos contextos culturais dos usurios dos sistemas de
organizao e representao do conhecimento, o que implica em um posicionamento tico e crtico
sobre o papel do profissional da informao - mediador - atravs do exerccio interpretativo e de
representao do conhecimento onde se deve tambm considerar o multilingusmo existente no
contexto real dos usurios.
Frente a isso, notada a responsabilidade do profissional da informao na elaborao de
linguagens documentais, por exemplo, onde deve ser estabelecido de modo inicial o
reconhecimento da lngua e em um nvel mais elaborado de interpretao apresentar uma
representao cultural da sociedade sendo fiel aos seus contextos multiculturais. Nesse caso,
enfatizamos que necessrio haver dilogo entre os cdigos culturais e no simplesmente
estabelecer imposio entre as lnguas involuncradas. Alm disso, dispor de uma hospitalidade
cultural que possibilite o respeito e desse modo o desenvolvimento dos indivduos e suas culturas.
Com isso, percebemos que as questes ticas em organizao e representao do conhecimento
alm do seus aspectos deontolgicos, estabelecem conexes com elementos culturais como, por
exemplo, a moral e os valores de uma sociedade.
De acordo com esta linha, a Semitica da Cultura nos faz refletir sobre os condicionantes
simblicos que esto alm da linguagem verbal, pois a organizao dos contedos antes uma
organizao simblico-semitica, mais que uma organizao terminolgica. Hjorland (2007, p. 370)
refere-se aos sistemas de organizao do conhecimento como ferramentas que apresentam a
interpretao organizada de estruturas do conhecimento, tambm denominada de ferramentas
semnticas. Nesse contexto, tais ferramentas no se limitam a interpretao de palavras, reconhece
tambm que outros sinais, bem como, imagens sons so tomados como elementos semnticos. por
esse ponto de discusso da anlise semntica que reconhecemos a necessidade de uma
interpretao semitica sobre a constituio de sistemas de organizao e representao do
conhecimento.
Aps a apresentao das possveis interlocues entre Semitica Cultura e Organizao do
Conhecimento, esboamos um diagrama para mostrar alguns ligaes epistemolgicas entre tais
campos. A figura 1 registra em seu lado esquerdo a proximidade da Organizao do Conhecimento
com a Cincia da Informao, embora seu vnculo subordinado a esta rea seja discutvel. Do lado
direito, apontamos a presena da Semitica Geral como campo fundamental Semitica da cultura.
Na interseco dos campos pontuamos os conceitos semiticos mais adequados a discusso do
respeito ao contexto cultural dos usurios, alm da anterior noo de traduo e cultura.

Figura 1 - Esboo das Relaes Disciplinares entre Semitica da Cultura e Organizao do conhecimento
1

1

1423
Posto isto, resumiremos a seguir algumas premissas derivadas da discusso da Semitica da
Cultura que podem contribuir com a Organizao do Conhecimento.

Consideraes finais

Na Semitica da Cultura as diversas linguagens so compreendidas de maneira igualitria,
diferentemente do que ocorre com uma abordagem lingustica que talvez supervalorize o cdigo
verbal. O contributo trazido pela Semitica da Cultura gira em torno da valorizao de outros signos
que do nfase a outros cdigos culturais constitudos de uma multiplicidade de linguagens
socioculturais.
Nosso objetivo neste trabalho foi estabelecer um dilogo entre Semitica da Cultura e
Organizao do Conhecimento, para tanto, notamos que a noo de diversidade lingustica, a
reconstituio do contexto cultural e lingustico a partir de um texto, o entendimento da cultura
como rede de signos ordenadamente codificados, a traduo cultural, alm da prpria perpectiva
global de linguagem, configuram-se em instncias de interlocuo terica prioritrias para uma
aproximao disciplinar.
Reconhecer a linguagem, vista de modo amplo, seria recorrer a uma forma de valorizao dos
contextos socioculturais, de modo que, poderia vir a contribuir com as reflexes sobre o fenmeno
do texto cultural, como pano de fundo do trabalho de anlise do contexto empreendido pelo campo
da Organizao do Conhecimento. Nesse sentido, podemos considerar a linguagem como um
elemento pelo qual possvel reconstituir e fazer referncia aos contextos culturais dos indivduos
via sgnos e cdigos culturais. provvel que o dilogo entre estes campos esteja ocorrendo atravs
das reflexes da tica transcultural e da garantia cultural, em virtude da proximidade tericas que
subjaz estas perspectivas e a Semitica da Cultura.
As teorias associadas linguagem verbal, a despeito de seu uso instrumental, explicam
medianamente a organizao simblica dos contedos em um universo do conhecimento
especializado, pois as relaes das culturas com o mundo nem sempre se manifestam atravs do
cdigo lingustico presente em documentos ou depoimentos. Ademais, a noo que temos de
traduo na Organizao do Conhecimento muito preliminar ante a presente na Semitica da
Cultura que congrega vrios cdigos que se traduzem. Portanto, cabe apontar que as reflexes
trazidas pela Semitica da Cultura em torno da ideia de linguagem, assim como sua potencialidade
simblica no conhecimento humano, nos faz perceber a linguagem como elemento necessrio para
a constituio de sistemas de representao e organizao do conhecimento que considerem a
diversidade lingustica e cultural dos indivduos.
Sendo assim, defendemos a integrao da Semitica da Cultura Organizao do
Conhecimento como rea que contribuir com o exame dos temas ligados compreenso do
contexto cultural e das diversas linguagens, superando uma viso tradicionalmente lingustica que
sustenta que a nica forma de compreender a cultura e o pensamento humanos pela lngua.

1424
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1427
ndice de autores

AGUSTN LACRUZ, Mara del Carmen 35, 701
ALBUQUERQUE , Ana Cristina de 49
ALDEIAS, Marisa Pereira 718
ALMEIDA, Carlos Cndido de 68, 190,589, 1410
ALMEIDA, Marco Antonio de 1236, 1362
ALMEIDA, Maria 746
ALMEIDA, Mauricio Barcellos 993
ALVARES JNIOR, Laffayete 82
ALVES, Virgnia Brbara de Aguiar 1109
ANDRS VERD, Rosario de 1087
ANGELUCI, Alan Csar Belo 834
ARAUJO, Eliane Pawlowski de Oliveira 763
ARAJO, Maria Rizoneide Negreiros 1208
ARAJO, Ronaldo Ferreira de 1121
BAOS-MORENO, Mara-Jos 99
BARAT, Agnes Hajdu 929, 940
BARBOSA, Maria de Ftima Sousa de Oliveira 276
BARBOSA, Marilene Lobo Abreu 908
BARIT, Mario 1381
BARRADAS, Jaqueline Santos 1395
BARREIRA, Maria Isabel de Jesus Sousa 824
BARROS, Thiago Henrique Bragato 113
BERNARDINO, Maria Cleide Rodrigues 951, 1319
BORGES, Maria Manuel 879
CABALLERO-CORTS, Laura 960
CALDERA-SERRANO, Jorge 129, 782
CAMPOS, Maria Luiza de Almeida 141
CNDIDO, Gilberto Gomes 157
CANTOS MATEOS, Gisela 173
CARVALHO, Wellington Maral de 975
COLOMBO, Stephanie 1381
CUEVAS CERVER, Aurora 1319
CHINCHILLA-RODRGUEZ, Zaida 173
DAL' EVEDOVE, Paula Regina 190
DE ESTEBAN, Maria-Jose 790
DI PIETRO, Laila Figueiredo 204
DAZ-ORTUO, Pedro 230
DODEBEI, Vera Lucia Doyle Louzada de Mattos 495
DUARTE, Zeny 901
EDISON, Edison Jos Corra 1208
FABA-PREZ, Cristina 960
FARIAS, Mona Cleide Quirino da Silva 1410
FERNANDES, Gilberto L. 213
FERNNDEZ-MOLINA, Juan Carlos 289

1428
FERNEDA, Edberto 1170
FERREIRA, Carla 879
FERREIRA, Snia 1133
FERRER MORILLO, Lilia M. 688
FREITAS, M. Cristina V. de 879
FUJITA, Maringela Spotti Lopes 190, 230, 701
GARRIDO, Piedad 1295
GIL-LEIVA, Isidoro 230
GIRO, Igor Peixoto Torres 516
GOMES, Gracielle Mendona Rodrigues 975
GOMES, Henriette Ferreira 1332
GOMES, Thulio Pereira Dias 245
GMEZ DAZ, Raquel 35
GMEZ-NEZ, Antonio J. 264
GONALEZ, Paula Regina Ventura Amorim 1155
GUEDES, Vnia Lisba da Silveira 245, 276
GUIMARES, Jos Augusto Chaves 289, 406, 558
JORENTE, Maria Jos Vicentini 1155
JUNQUEIRA, Antonio Hlio 834
JUVNCIO, Carlos Henrique 1349
KOBASHI, Nair Yumiko 297
LANZI, Lucirene Andra Catini 1170
LARA, Marilda Lopes Ginez de 330, 1009
LEITE, Pedro 1187
LEMAIRE, Ria 951
LIMA, Clvis Ricardo Montenegro de 1395
LIMA, Gercina ngela Borm de Oliveira 344, 1044
LIMA, Vnia Mara Alves 313
LIMA-MARQUES, Mamede 213
LOPES, Jssica de Arajo 289
LPEZ-CARREO, Rosana 1022
LUCAS, Elaine de Oliveira 330
MACULAN, Benildes Coura Moreira dos Santos 344
MADIO , Telma Campanha de Carvalho 49
MARAVILHAS, Srgio 800
MARCONDES, Carlos H. 366
MARQUES, Maria Beatriz 387
MARTNEZ-VILA, Daniel 406
MARTNEZ-BJAR , Rodrigo 99
MARTNEZ-MNDEZ, Francisco-Javier 1022
MARTINS, Gracy Kelli 421
MATOS, Daniela de Oliveira 289
MATOS, Maria Teresa Navarro de Britto 1217
MAZZAROTO, Solange Francisca 1395
MEALHA, scar 1133, 1270
MIGUENS, Sofia 19

1429
MORAES , Joo Batista Ernesto de 157, 421
MORAES, Marielle Barros de 1362
MOREIRA, Walter 589
MOREIRO-GONZLEZ, Jose Antonio 330
MOTA, Francisca Rosaline L. 1121
MOURA, Maria Aparecida 437
MOUTINHO, Nuno 1187
MOYA ANEGN, Flix de 264
MUOZ-CIJA, Teresa 264
MURGUIA, Eduardo Ismael 446
NEVES, Dulce Amlia de Brito 824
OHLY, H. Peter 462
OLIVEIRA, Henry Poncio Cruz de 477
OLIVEIRA, Jacqueline Pawlowski 993, 1208
OLIVEIRA, Leandra Pereira de 495
OLIVEIRA, Louise Anunciao Fonseca de 1217
ORRICO, Evelyn Goyannes Dill 1076
ORTH, Gabriela Previdello 1009
PALETTA, Francisco Carlos 834
PASSARELLI, Brasilina 834
PASTOR-SNCHEZ, Juan-Antonio 94, 1022
PAULA, Claudio Paixo Anastcio de 763, 845
PEREIRA, Fernanda 1044
PINTO, Virginia Bentes 516
QUINTELA, Erika Leite 993
RABELO, Camila Regina de Oliveira 516
RIBEIRO, Fernanda 528
RODRIGUES, Georgete Medleg 1349
RODRGUEZ BRAVO, Blanca 864
RODRGUEZ YUNTA, Luis 1087
RODRGUEZ-MUOZ, Jos-Vicente 1022
ROZEMBLUM, Cecilia 1061
SALDANHA, Gustavo Silva 82, 540
SALES, Rodrigo de 446, 558
SALVADOR OLIVN, Jos Antonio 35
SAN SEGUNDO, Rosa 406
SNCHEZ-CASABN, Ana I. 1295
SANTOS, Andr Pequeno dos 1236
SANTOS, Cibele Arajo Camargo Marques dos 313, 603
SANTOS, Eliete Correia dos 1256
SANTOS, Francisca Pereira dos 951
SANTOS, Maria Jos Veloso da Costa 245, 276
SANTOS, Plcida Lepoldina Ventura Amorim da Costa 636
SANZ-CABALLERO, Isabel 960
SCHMIDT, Clarissa 579
SEMIDO, Rafael Aparecido Moron 589

1430
SILVA, Ana Paula da 603
SILVA, Armando Malheiro da 31
SILVA, Bruno Felipe Melo 1121
SILVA, Eliezer Pires da 1076
SILVA, Julianne Teixeira e 824
SILVA, Rosa Zuleide Lima da 824
SILVEIRA, Naira Christofoletti 620
SIMIONATO, Ana Carolina 636
SIMES, Maria da Graa 879
SMIT, Johanna W. 579
SOARES, Antnio Lucas 718, 746
SOARES, Clia 1270
SOLEDADE, Pablo 901
SOUSA, Francinete Fernandes de 1256
SOUZA, Jice Cleide Cardoso Ennes de 651
SOUZA, Rosale de Mattos 824
SOUZA, Rosali Fernandez de 651
SUAIDEN, Emir Jos 1319
TLAMO, Maria de Ftima Gonalves Moreira 620
TERRA, Ana Lcia 701, 1287
TOGNOLI, Natlia Bolfarini 675
TORRES VARGAS, Georgina Araceli 1287
TRAMULLAS, Jess 1295
TRAVIESO RODRGUEZ, Crspulo 864
UNZURRUNZAGA, Carolina 1061
VARELA, Aida Varela 908, 1332
VARGAS-ARBELEZ, Esther-Juliana 1305
VARGAS-QUESADA, Benjamn 173, 264
VELOSO, Ana 1133, 1270
VIDAL LIY, Jos Ignacio 1087
VIDOTTI, Silvana Aparecida Borsetti Gregrio 477, 1170
VOGEL, Michely Jabala Mamede 313
ZAPATA RINCN, Carlai 688
ZULUETA, Maria ngeles 173

1431
ndice de ttulos

Abordagem da linguagem na produao cientfica do campo da organizao do
conhecimento (ko)

330

Abordagem terica conceitual de representao de fotografias em bancos de
imagens, para uso na publicidade

651

Anlise de domnio em agricultura: o uso conjunto da garantia literria (a
lavoura) e do consenso entre especialistas (esquema de classificao
AGRIS/CARIS) como princpios para a Organizao do Conhecimento

495

Anlise documental de contedo de artigo cientfico: a utilizao do percurso
gerativo de sentido para identificao da temtica

157

A aplicao de novos conhecimentos para a sustentabilidade com base na
informao de patentes

800

A aplicao do sistema de classificao decimal de Dewey para obras literrias

603

Os arquivos de instituies de sade: Informao para gesto do conhecimento?

901

Aspectos culturais na representao descritiva da autoria: Anlise Normativa

620

A avaliao dos outcomes dos sistemas de organizao e representao da
informao

387

Bases tericas da anlise documental: Uma anlise de domnio a partir das
percepes das comunidades cientficas do Brasil e da Espanha

289

A biblioteca virtual como instrumento de educao mdica

1208

Bibliotecas escolares dinamizadas pelo uso das tecnologias de informao e
comunicao

1170

O campo da organizao da informao e do conhecimento: Anlise da produo
intelectual publicada em anais e peridicos brasileiros de Cincia da informao
(2000-2010)

297

Catlogos de nueva generacin en las bibliotecas universitarias espaolas: Una
primera exploracin

864

As cincias da comunicao e informao e a gesto da informao/
conhecimento

31

Classificao e fotografia: Abordagem conceitual como princpio norteador para
um estudo em arquivos, bibliotecas e museus

49

Colecciones audiovisuales on line en espaa y portugal: Fuentes para el film
research

129

Compartilhamento de vdeos sobre informao em sade: Anlise da
representatividade da dengue no Youtube
1121

1432

Competencias para el anlisis, la representacin, la organizacin y la
recuperacin de la informacin en los grados de informacin y documentacin
en Espaa

35

Consideraes sobre a abrangncia disciplinar da cincia da informao:
Fundamentos, modelos e mtodos para a organizao e representao da
informao

213

Construo de comunidades de partilha para utilizadores seniores

1270

Construo social de um territrio local de atuao para a biblioteca pblica:
estratgias e polticas

1319

Contribuies oferecidas pela investigao das dimenses simblicas e afetivas
do uso da informao para os estudos de usurios e para a gesto do
conhecimento: uma anlise das comunicaes entre professores de uma
instituio de ensino superior pblica brasileira
845

Contribuies da semitica da cultura para a organizao do conhecimento

1410

Cultura, globalizao e tecnologia: A mediao nos currculos dos cursos de
cincias da informao no brasil e na ibero-amrica

1362

La descripcin de imagen en movimiento para televisin en el nuevo contexto
digital

782

La descripcin de material audiovisual en el instituto britnico del cine

790

Diretrizes para anlise conceitual: As perspectivas de Hjorland, Dahlberg e
Lakoff

589

Disseminao da informao nos websites das instituies de patrimnio
cultural: Um enfoque em Arquivos Permanentes

1155

Documentos: Sua relao com informao e conhecimento: Fundamentos,
modelos e mtodos para a organizao e representao da informao

366

La edicin en instituciones acadmicas: Normalizacin e interoperabilidad para
favorecer el acceso y la visibilidad de la informacin publicada en revistas
cientficas
1061

Ejercicios de gobernanza en comunidades acadmicas virtuales indagaciones
conceptuales sobre las dinmicas digitales de socializacin del conocimiento

1305

Elaboracin de ndices para libros: Perspectivas de actuacin y formacin
profesional en Espaa y Brasil

230

O ensino de arquitetura da informao e organizao/representao da
informao digital: uma anlise curricular dos cursos de Biblioteconomia do
Brasil

477

1433
Estudio comparativo sobre la visualizacin de redes de co-words a travs de los
descriptores del science citation index y de medline

173

Filosofia da linguagem e organizao do conhecimento nos anos 1930: a
pragmtica em Wittgenstein e em Ranganathan

540

Filosofia da mente e Cincia da informao

19

Formaes discursivas emergentes, folksonomia e espaos sociais de informao
semntica (ssis): As contribuies da teoria dos nveis integrativos nos estudos
do Classification Research Group (CRG)

437

Funcionalidades de clasificacin en sistemas de gestin de contenidos:
Evaluacin de prestaciones

1295

Fundamentos y continuidad de modelos de clasificaciones alternativas a la
clasificacin decimal de dewey para la organizacin de la informacin en
bibliotecas

406

Garanta cultural y sesgo positivo: Aproximacin Terico-Metodolgica

1381

Gesto do conhecimento, criatividade e tica no acesso e uso da informao

834

Glosario de innovacin: Uma discusso a partir das obras de diplomtica: Una
perspectiva terminolgica

688

Indizar, clasificar y organizar las colecciones de las bibliotecas escolares:
Herramientas en lengua espaola y portuguesa

701

A influncia do open access nas comunidades acadmicas da rea de
biblioteconomia no nordeste do brasil

1109

A informao acadmica em edublogs: tenso dialgica e (multi)literacia

1256

Interaes comunicacionais e aprendizagem nas organizaes complexas:
Reflexes a partir da Teoria do Agir Comunicativo

1395

Interferncias dos contextos de produo e de uso na anlise documentria de
charge

245

A interpretao de conceitos no processo de indexao: Aspectos e reflexes
semiticas

190

Investigao da regularidade e produtividade de nominalizaes deverbais em
cartas cientficas em lngua portuguesa

276

Julius Otto kaiser na organizao da informao: contribuies para
classificao, catalogao e indexao de assuntos

558

Knowledge organization is an essential part of km lifecycle related to open
access repositories

929

1434
Knowledge organization and ISKO: Some considerations for its development

462

Knowledge organization and organizational learning: The case of project-based
organizations

746

Modelagem conceitual: os princpios de Ranganathan aplicados na interface de
busca de uma biblioteca digital de documentos acadmicos

344

O mundaneum no Brasil: O Servio de Bibliographia e Documentao da
Biblioteca Nacional e seu papel na implementao de uma rede de informaes
cientficas

1349

O mundo o assunto: epistemologia da indexao no sculo XIX 82

A normalizao da descrio arquivstica e a organizao do conhecimento

1076

Normalizacin de modelos para el acceso a la informacin enfocados al usuario
y a las webs de archivos

960

Notas sobre os conceitos semiticos fundamentais organizao do
conhecimento

68

Ontologia de fundamentao como um modelo terico para a representao de
domnios: desafios para a formao de profissionais de informao

141

Organizao da informao e arquivos: diferentes perspectivas informacionais
em torno do documento de arquivo

579

Organizao da informao para gesto do conhecimento: organizao e
disseminao da informao numa dimenso cognitiva

908

Organizao do conhecimento nas artes digitais

1009

A organizao do conhecimento para o acesso universal: as contribuies de
Otlet, Bradford, Ranganathan, Dahlberg e Lancaster

1332

Organizao e controle da informao: descrio bibliogrfica padronizada para
os folhetos de cordel no Brasil

951

Organizao e representao da informao em documentos de preservao da
memria social: O acervo do Museo de la Memoria y Derechos Humanos do Chile
204

A origem do mtodo diplomtico como subsdio organizao da informao
arquivstica

675

O padro snomed-ct como linguagem para a organizao e representao da
informao em pronturios do paciente

516

Perspectivas de renovao em classificao arquivistica: novos olhares velhos
mtodos

113

Polticas informacionais e culturais: Um caminho em busca do livre acesso aos
recursos e contedos informacionais, cientficos e culturais na internet
1236

1435

Prticas discursivas na organizao do conhecimento: Otlet, Bliss e ISKO

446

Projeto de uma biblioteca digital conjunta entre o Mxico e Portugal: uma ponte
para apoiar a investigao e o ensino em biblioteconomia e reas afins

1287

Propuesta de actualizacin de macro-tesauros a partir de noticias de
divulgacin cientfico-tecnolgica: Updating proposal of macro-thesauri from
popular science news

99

A representao da imagem digital: Os metadados descritivos

636

Representao da informao em arquivstica: Busca por uma consolidao
terminolgica

824

Representacin del vocabulario de indizacin en humanidades con un gestor de
tesauros: La experiencia del lxico de las bases de datos ISOC en tematres

1087

O resumo estruturado como recurso na disseminao da produo cientfica na
rea da sade

879

Revisitando o mapeamento de competncias: O caso das instituies acadmicas

718

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Fernanda Ribeiro e Maria Elisa Cerveira, org.

, permite o acesso a mais de 70 milhes de documentos de

pode ser encontrado em (http://www.european-patent-

podem ser encontrados em

) na conceo e disseminao deste tipo de tecnologias em termos mundiais.

cuja autoria e criao dos autores dos artigos citados.

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