NOVOS DIREITOS INTELECTUAIS Estudos Luso
NOVOS DIREITOS INTELECTUAIS Estudos Luso
NOVOS DIREITOS INTELECTUAIS Estudos Luso
Coordenador
ISBN 978-85-67141-36-7
As publicações do GEDAI/UFPR são espaços de criação e compartilhamento coletivo. Fácil acesso às
obras. Possibilidade de publicação de pesquisas acadêmicas. Formação de uma rede de cooperação
acadêmica na área de Propriedade Intelectual.
Conselho Editorial
Allan Rocha de Souza – UFRRJ/UFRJ J. P. F. Remédio Marques – Univ. Coimbra/Port.
Carla Eugenia Caldas Barros – UFS Karin Grau-Kuntz – IBPI/Alemanha
Carlos A. P. de Souza – CTS/FGV/Rio Leandro J. L. R. de Mendonça – UFF
Carol Proner – UniBrasil Luiz Gonzaga S. Adolfo – Unisc/Ulbra
Dario Moura Vicente – Univ. Lisboa/Portugal Márcia Carla Pereira Ribeiro – UFPR
Francisco Humberto Cunha Filho – Unifor Marcos Wachowicz – UFPR
Guilhermo P. Moreno – Univ. Valência/Espanha Pedro Marcos Nunes Barbosa – PUC/Rio
José Augusto Fontoura Costa – USP Sérgio Staut Júnior – UFPR
José de Oliveira Ascensão – Univ. Lisboa/Portugal Valentina Delich – Flacso/Argentina
Curitiba
2019
PREFÁCIO
Curitiba, Outubro/2019
APRESENTAÇÃO .................................................................................................................. 9
EIXO 1
Propriedade Intelectual e
Novas Tecnologias
Novembro/2019
Marcos Wachowicz
Alexandre Libório Dias Pereira
Pedro de Perdigão Lana
EIXO 1
Propriedade Intelectual e
Novas Tecnologias
ROBÔS E PROPRIEDADE INTELECTUAL:
análise de direito comparado da legislação
portuguesa e brasileira sobre a proteção do
software executado por robôs e de obras
geradas por inteligência artificial
1 INTRODUÇÃO
1
Professor Auxiliar da Faculdade de Direito da Universidade de Coimbra e Investigador
do seu Instituto Jurídico. Sobre o direito português e da União Europeia, o presente
texto segue de perto o estudo do Autor sobre “Protecção jurídica de software executa-
do pelo robot” apresentado no Congresso Direito e Robótica, organizado pelo Instituto
Jurídico, em parceria com o Centro de Direito do Consumo, da Faculdade de Direito da
Universidade de Coimbra (FDUC), e que teve lugar no dia 16 de novembro de 2017 na
FDUC, tendo sido publicado nas Actas do Congresso.
2
Doutora e mestra em Direito pela Universidade Federal de Santa Catarina (UFSC). Gra-
duada em Direito pela Faculdade São Luís/MA. Pesquisadora do Grupo de Estudos em
Direito Autoral e Industrial da Universidade Federal do Paraná (GEDAI/UFPR). Profes-
sora no Curso de Graduação em Direito Centro Universitário Unidade de Ensino Dom
Bosco (UNDB). Advogada.
16 ALEXANDRE LIBÓRIO DIAS PEREIRA | HELOÍSA GOMES MEDEIROS
3
Segundo a Comunicação da Comissão Europeia sobre Inteligência artificial para a Euro-
pa [Bruxelas, 25.4.2018 COM(2018) 237 final, p. 1]: “O conceito de inteligência artificial
(IA) aplica-se a sistemas que apresentam um comportamento inteligente, analisando
o seu ambiente e tomando medidas — com um determinado nível de autonomia —
para atingir objetivos específicos. / Os sistemas baseados em inteligência artificial po-
dem ser puramente confinados ao software, atuando no mundo virtual (por exemplo,
assistentes de voz, programas de análise de imagens, motores de busca, sistemas de
reconhecimento facial e de discurso), ou podem ser integrados em dispositivos físicos
(por exemplo, robôs avançados, automóveis autónomos, veículos aéreos não tripulados
ou aplicações da Internet das coisas)”. No Brasil, o programa Estratégia Brasileira para
a Transformação Digital conceitua Inteligência Artificial como “o conjunto de ferramen-
tas estatísticas e algoritmos que geram softwares inteligentes especializados em deter-
NOVOS DIREITOS INTELECTUAIS: 17
4
<http://www.freepatentsonline.com/EP1169092.html>
NOVOS DIREITOS INTELECTUAIS: 21
5
Sobre o tema, desenvolvidamente: VICENTE, Dário Moura, “Proteção do know-how, se-
gredo de negócio e Direito Intelectual”. In: Propriedade Intelectual – Estudos Vários,
Lisboa, 2018, p. 281-309.
22 ALEXANDRE LIBÓRIO DIAS PEREIRA | HELOÍSA GOMES MEDEIROS
acordo com o artigo 4º, da lei de software,caso não haja contrato específico
em contrário, a titularidade sobre o software produzido por empregado
durante a vigência de seu contrato de trabalho será de titularidade do em-
pregador, desde que: (i) originado na vigência de contrato ou de vínculo
estatutário; (ii) tal contrato seja expressamente destinado à pesquisa e
desenvolvimento ou tal atividade seja prevista ou decorra da natureza do
trabalho. Ressalvado ajuste em contrário, a compensação do trabalho ou
serviço prestado limitar-se-ão à remuneração ou ao salário convenciona-
do. A titularidade somente pertencerá exclusivamente ao empregado caso
não haja utilização de recursos do empregador.
A lei de direito autoral outorga ao autor direitos patrimoniais e morais
sobre a obra que criou. Na definição dos direitos patrimoniais cabe ao au-
tor o direito exclusivo de utilizar, fruir e dispor da obra literária, artística ou
científica. Esse direito dispõe ainda que a utilização da obra, por quaisquer
modalidades, depende de autorização prévia e expressa do autor, como, por
exemplo, a reprodução parcial ou integral; a edição; a adaptação, o arranjo
musical e quaisquer outras transformações; a tradução para qualquer idio-
ma; e a inclusão em fonograma ou produção audiovisual. No software isso
significa que os direitos patrimoniais se referem “à comercialização dos pro-
gramas de computador; ao licenciamento de uso do programa; e aos direitos
de transferência de tecnologia” (WACHOWICZ, 2010, p. 141).
Por outro lado, destaca-se a inaplicabilidade das disposições relativas
aos direitos morais, com exceção do direito à paternidade ou autoria e di-
reito à integridade, podendo o autor opor-se a alterações não-autorizadas,
quando estas causem deformação, mutilação ou outra modificação do pro-
grama de computador, que prejudiquem a sua honra ou a sua reputação.
A duração dos direitos patrimoniais é definida pela lei de software
em cinquenta anos, contados a partir de 1º de janeiro do ano subsequen-
te ao da sua publicação ou, na ausência desta, da sua criação. Essa dispo-
sição reduz o prazo estabelecido para as demais obras autorais que é de
setenta anos, contados de 1° de janeiro do ano subsequente ao do faleci-
mento do autor, obedecida a ordem sucessória da lei civil; e para obras
audiovisuais e fotográficas, contato de 1° de janeiro do ano subsequente
ao de sua divulgação.
Não constituem ofensa aos direitos do titular de programa de com-
putador, sendo assim de uso livre e permitido legalmente: (i) a reprodução,
em um só exemplar, de cópia legitimamente adquirida, desde que se desti-
ne à cópia de salvaguarda ou armazenamento eletrônico, hipótese em que
24 ALEXANDRE LIBÓRIO DIAS PEREIRA | HELOÍSA GOMES MEDEIROS
via, consistem: (i) na preservação do domínio público, que não pode ser
apropriada por um único titular; (ii) que não seja cópia idêntica/servil de
outro bem já existente e, em muitos casos, pertencente a outrem. (BARBO-
SA, 2010)
A novidade pode ser subjetiva ou objetiva, na qual a primeira trata
do caráter distintivo, muito próprio dos direitos industriais, em especial a
patente, e a segunda, da originalidade, que marca as obras protegidas pelo
direito de autor. (ASCENSÃO, 1997, p. 62. BARBOSA, 2010, p. 1904) No pro-
grama de computador, a novidade tem o mesmo significado dos princípios
do direito de autor, conectando-se, assim, ao sentido de originalidade6.
Entende-se que a lei 9.609/98 protege apenas o programa de com-
putador em si, de forma que as outras partes que componham o software
ou que dele sejam resultado - manuais, imagens, sons, suportes físicos, des-
crições e material de apoio, por exemplo -, quer sejam fixados ou não, serão
protegidas por outros direitos de propriedade intelectual, em sua maioria
pelo direito de autor. Efeitos técnicos oriundos do programa de compu-
tador também não são passíveis de proteção nos termos da lei 9.609/98,
mas, cumprindo os requisitos legais, poderão ser objeto de patente.
Na legislação brasileira de propriedade industrial, Lei n° 9.279/96,
apenas a invenção e o modelo de utilidade são passíveis de patente. Inven-
ção é uma solução técnica, através de um trabalho dirigido a um problema
técnico, envolvendo uma ação humana de intervenção no estado natural de
um objeto. Modelo de utilidade é o objeto de uso prático, ou parte deste, sus-
cetível de aplicação industrial, que apresente nova forma ou disposição, en-
volvendo ato inventivo, que resulte em melhoria funcional no seu uso ou em
sua fabricação. Os pedidos de patente referentes a invenções implementadas
por programa de computador são passíveis apenas em relação à invenção.
As patentes de invenção podem ser de produto ou de processo, des-
de que proporcionem uma solução para um problema técnico. A patente
de produto diz respeito a um objeto corpóreo determinado, como máqui-
6
Mesmo que não exista na lei a previsão de originalidade, José de Oliveira Ascensão en-
tende que: “[…] é impossível admitir a tutela de programas banais. Se fôssemos prote-
ger programas que representam apenas a solução óbvia dum problema, teríamos que
alguém ganharia, sem nenhuma contribuição, um exclusivo sobre o óbvio. O que limi-
taria gravemente o diálogo social. Todos os que deparassem futuramente com o mes-
mo problema estariam limitados no recurso à solução óbvia. Temos, assim, que só o
programa que revele um mínimo de criatividade ou originalidade é afinal protegido.”
(ASCENSÃO, 1997, p. 670-671)
26 ALEXANDRE LIBÓRIO DIAS PEREIRA | HELOÍSA GOMES MEDEIROS
7
Cf. § 9(3) do UK CPDA 1988 (“the author shall be the person by whom the arrangements
necessary for the creation of the work are undertaken”). Vide por ex.: HOLDER, C. et al.
Robotics and Law: Key Legal and Regulatory Implications of the Robotics Age (Part I of II),
Computer Law & Security Review 32 (2016), p. 383-402 (referindo, a propósito, o acórdão
Nova Productions v Mazooma Games de 2006 - 401).
30 ALEXANDRE LIBÓRIO DIAS PEREIRA | HELOÍSA GOMES MEDEIROS
4 CONCLUSÃO
8
COM(2018) 237 final, p. 17.
9
COM(2016) 593 final.
10
No sentido de que a exceção de prospeção e mineração de dados pode ser útil para pro-
mover a IA pronunciou-se, recentemente, a Comissão na sua comunicação Inteligência
artificial para a Europa, COM(2018) 237 final, p. 11.
NOVOS DIREITOS INTELECTUAIS: 31
11
Disponível em: <https://patents.google.com/patent/US8996429B1/en>.
12
Outra questão é saber se podem ser patenteadas partes do robô que repliquem partes
do corpo humano, em especial próteses robóticas. O artigo 54.º/c do CPI dispõe que
pode ser patenteada uma invenção nova, que implique atividade inventiva e seja susce-
tível de aplicação industrial, que incida sobre qualquer elemento isolado do corpo hu-
mano ou produzido de outra forma por um processo técnico, incluindo a sequência ou
a sequência parcial de um gene, ainda que a estrutura desse elemento seja idêntica à de
um elemento natural, desde que seja observada expressamente e exposta concretamen-
te no pedido de patente, a aplicação industrial de uma sequência ou de uma sequência
parcial de um gene.
32 ALEXANDRE LIBÓRIO DIAS PEREIRA | HELOÍSA GOMES MEDEIROS
REFERÊNCIAS
ASCENSÃO, José de Oliveira. Direito Civil: Direito de Autor e Direitos Conexos.
Coimbra: Coimbra Editora, 1992.
_______. Direito autoral. Rio de Janeiro: Renovar, 1997.
BARBOSA, Denis Borges. Tratado da propriedade intelectual. Tomo 3. Rio de Ja-
neiro: Lumen Juris, 2010.
BRASIL. Ministério da Ciência, Tecnologia, Inovações e Comunicação. Estratégia
brasileira para a transformação digital. Brasília: MCTIC, 2018.
COMISSÃO EUROPEIA. Comunicação Da Comissão sobre Inteligência Artificial
para a Europa (COM(2018) 237 final). Bruxelas, 2018. Disponível em: <https://
eur-lex.europa.eu/legal-content/PT/TXT/HTML/?uri=CELEX:52018DC0237>.
Acesso em: 28 ago 2019.
DWORKIN, Gerald. Copyrights, Patents and/or ‘Sui Generis’: What Regime Best
Suits Computer Programs”. In: HANSEN, Hugh. (Ed.). International intellectual
property law and policy. London: Juris Publishing, 1996.
13
Licença disponível em: <https://www.gnu.org/licenses/gpl-3.0.en.html>.
NOVOS DIREITOS INTELECTUAIS: 33
1 CONSIDERAÇÕES INICIAIS
1
Mestre em Direito pela UFPR. Pesquisador junto ao Grupo de Estudos de Direito Au-
toral e Industrial da UFPR, cadastrado no CNPq. Advogado na área de Propriedade
Intelectual. Lattes: http://lattes.cnpq.br/2449332106724610.
2
Mestrando em Direito Empresarial pela Universidade de Coimbra, graduado pela UFPR
e técnico em eletrônica pela UTFPR. Advogado. Pesquisador do Grupo de Estudos de
Direito Autoral e Industrial da UFPR. Lattes: http://lattes.cnpq.br/4384081232803994
3
A escolha por dois países de civil law não é adotada sem algumas dificuldades, pois
parecem já haver respostas mais consolidadas nos dois mais importante sistemas de
36 LUKAS RUTHES GONÇALVES | PEDRO DE PERDIGÃO LANA
common law e copyright (ainda que firmando soluções opostas). O U.S. Copyright Office
determina, mediante os pontos 306 e 313.2 de seu compêndio de práticas, que recusará
os pedidos de registro se um ser humano não foi o criador da obra, expressamente men-
cionando casos em que uma máquina cria uma obra sem intervenção criativa humana.
Ver U.S. COPYRIGHT OFFICE. Compendium of U.S. copyright office practices. 3 ed.,
2017. Chapter 300, p. 4 e 16-17, com base no julgamento do caso Burrow-Giles Litogra-
phic Co. v. Sarony (1884). Do outro lado, o ordenamento britânico abre uma exceção ao
critério de criatividade e concede o copyright da obra gerada por computador para o
humano que fez os arranjos necessários para a criação do resultado final, mas excluindo
os direitos morais e prevendo um tempo menor de proteção dos direitos patrimonais.
Ver Section 9(3) do CDPA. Mais adiante, a seção 178 do CDPA define uma obra gerada
por computador como algo “generated by computer in circumstances such that there is
no human author of the work”. Dentre os precedentes judiciais, cita-se: [2006] EWHC 24
(Ch) Case No: HC04C02882, j. Justice Kitchin em 20/01/2006. E, em data anterior à pro-
mulgação da norma: Express Newspapers Plc v Liverpool Daily Post & Echo Plc [1985]
3 All E.R. 680.
4
A regulação do direito de autor na União Europeia se dá principalmente por meio de
diretivas. Embora elas deixem aos Estados-membros a escolha dos meios e formas para
alcançar determinado objetivo fixado a nível europeu (artigo 288º, par. 3º do Tratado
de Funcionamento da União Europeia), em certos casos (como a demora para harmo-
nização) o Tribunal de Justiça da União Europeia já decidiu pela possibilidade do efeito
direto vertical desses atos normativos, com aplicabilidade de regras transnacionais pe-
los tribunais nacionais (RAMOS, 2003). Ver casos Van Duyn (proc. 41/74, julgado em
04/12/1974) e Ratti (proc. 148/78, julgado em 05/04/1979).
NOVOS DIREITOS INTELECTUAIS: 37
5
No sistema internacional, essas regras são encontradas no artigo 2º da Convenção de
Berna, aliado aos artigos 4º e 5º da Convenção da OMPI sobre direitos do autor e artigo
10º do Acordo sobre Aspectos dos Direitos de Propriedade Intelectual Relacionados ao
Comércio. No âmbito comunitário europeu, as normas relevantes estão nas diretivas de
programas de computador (Diretiva 2009/24/CE) e de bases de dados (Diretiva 96/9/
CE). Nos ordenamentos nacionais, essa proteção está firmada em Portugal no artigo 36º
do CDADC e Decreto-Lei n.º 122/2000, enquanto no Brasil ela é encontrada na Lei n.
9.609/1998 e no artigo 87 da Lei de Direitos Autorais (Lei n. 9.610/1998).
38 LUKAS RUTHES GONÇALVES | PEDRO DE PERDIGÃO LANA
2.1 O ALGORITMO
2.2 O HARDWARE
6
O artigo tem como título Application-Controlled Demand Paging for Out-Of-Core Visual-
ization. O trecho em questão, que mostra o termo Big Data pela primeira vez, pode ser
encontrado ainda na introdução do artigo: “visualization provides an interesting chal-
lenge for computer systems: data sets are generally quite large, taxing the capacities of
main memory, local disk, and even remote disk. We call this the problem of big data. When
data sets do not fit in main memory (in core), or when they do not fit even on local disk, the
most common solution is to acquire more resources” (COX & ELLSWORTH, 1997, p. 235).
[Grifou-se].
42 LUKAS RUTHES GONÇALVES | PEDRO DE PERDIGÃO LANA
Banko e Brill, citados por Russell e Norvig (2016, p. 28), afirmam que
essas técnicas de machine learning têm um desempenho exponencialmen-
te melhor à medida que a quantidade disponível de textos cresce, e que
esse aumento na performance da utilização de mais dados excede qual-
quer diferença na escolha do algoritmo. Esses autores atestam que um al-
goritmo medíocre, com 100 milhões de palavras de dados de treinamento
não rotulados, consegue um resultado melhor que o algoritmo mais conhe-
cido com apenas 1 milhão de palavras.
À respeito desse tema, Russell & Norvig concluem (2016, p. 28) que
trabalhos como esse sugerem que o ‘gargalo de conhecimento’ na Inteli-
gência Artificial (o problema de como expressar todo o conhecimento que
o sistema precisa) poderia ser resolvido em muitos programas de com-
putador do tipo por meio de métodos de treinamento (como os citados
anteriormente de supervisionado, não supervisionado e reforçado) do que
por meio de conhecimento humano codificado diretamente na plataforma.
A condição para isso ocorrer seria que esses algoritmos precisariam de
dados suficientes para realizar suas funções de maneira satisfatória.
Isso ressalta a importância de que para uma aplicação de IA funcio-
nar de maneira adequada ela precisa que seu algoritmo, seu hardware e
os dados utilizados por ela sejam igualmente bem desenvolvidos. Ver-se-á
no capítulo seguinte se esse intricado sistema teria as condições de cum-
prir os requisitos da Convenção de Berna para ver suas criações protegidas
pelo Direito de Autor.
7
Art. 7º São obras intelectuais protegidas as criações do espírito, expressas por qualquer
meio ou fixadas em qualquer suporte, tangível ou intangível, conhecido ou que se inven-
te no futuro, tais como: (...)
8
Art. 8º Não são objeto de proteção como direitos autorais de que trata esta Lei: I - as
idéias, procedimentos normativos, sistemas, métodos, projetos ou conceitos matemáticos
como tais; II - os esquemas, planos ou regras para realizar atos mentais, jogos ou negó-
cios; III - os formulários em branco para serem preenchidos por qualquer tipo de infor-
mação, científica ou não, e suas instruções; IV - os textos de tratados ou convenções, leis,
decretos, regulamentos, decisões judiciais e demais atos oficiais; V - as informações de
uso comum tais como calendários, agendas, cadastros ou legendas; VI - os nomes e títulos
isolados; VII - o aproveitamento industrial ou comercial das idéias contidas nas obras.
9
Art. 1º Programa de computador é a expressão de um conjunto organizado de instru-
ções em linguagem natural ou codificada, contida em suporte físico de qualquer natu-
reza, de emprego necessário em máquinas automáticas de tratamento da informação,
dispositivos, instrumentos ou equipamentos periféricos, baseados em técnica digital ou
análoga, para fazê-los funcionar de modo e para fins determinados.
44 LUKAS RUTHES GONÇALVES | PEDRO DE PERDIGÃO LANA
relação às restantes obras. Isto tornará rara e pouco segura a tutela da base
de dados pelo Direito de Autor” (1997, p. 674).
Obra no direito brasileiro, desse modo, é toda expressão criativa do
intelecto. A lei 9.610/98 adiciona a proteção às bases de dados, o que ad-
quire relevância se for considerada a dependência da IA em informações.
Com relação a tutela específica dos programas de computador, a eles se
aplicam todas as disposições relativas ao Direito Autoral, com exceção aos
direitos morais.
O direito português é bastante próximo do brasileiro nesse ponto.
Sublinha-se, no entanto, que posições majoritárias da doutrina portuguesa
reforçam a ideia de criatividade e de uma obra que vá além do meramente
técnico.
José Alberto Vieira aponta que os artigos 1º, n. 1 e 2º, n. 2 do CDADC
(em harmonia, segundo o jurista, com a Convenção de Berna) determinam
expressamente que a obra protegida é uma criação intelectual. Aprofun-
dando, o doutrinador avança que a obra passível de proteção é uma ex-
pressão criativa de caráter subjetivo, e, portanto, sempre resultado de uma
atividade humana de criação, independentemente de seu valor econômico
(2001, p. 131-134).
Contudo, esse caráter subjetivo foi significativamente flexibilizado
por influência comunitária. As diretivas de proteção de bens informáticos
tinham critérios bastante objetivos para concessão de proteção autoral.
Para José de Oliveira Ascensão, essa escolha pela tutela objetiva de pro-
duções culturais pelo direito autoral, geralmente por razões econômicas e
eliminando o requisito de alto grau de criatividade, é um elemento indese-
jável da aproximação do droit d’auteur em direção às normas de copyright.
Ele diminui a centralidade do autor criador e permite o aparecimento de
situações que parecem distorcer princípios fundamentais, tal qual a exis-
tência de “obras sem autor” (ASCENSÃO, 2008a).
Do outro lado, o TJUE é um ator de peso na aproximação entre as
perspectivas utilitárias do copyright e as personalistas do droit d’auteur.
No caso Infopaq, a corte ampliou o critério de originalidade subjetiva (exis-
tente apenas para fotografias, programas de computador e bases de da-
dos10) para o direito exclusivo de reprodução da Diretiva Infosoc.
Isso efetivamente colocou esse critério como parâmetro central da
originalidade para todo o direito autoral europeu. O fez, contudo, estabele-
10
Case C-05/08 Infopaq International, ECLI:EU:C:2009:465.
NOVOS DIREITOS INTELECTUAIS: 45
11
Case C-604/10 Football Dataco, ECLI:EU:C:2012:115
12
Case C-145/10 Painer, ECLI:EU:C:2011:798
13
Principalmente nos arts. 11, 12 e 13:
Art. 11. Autor é a pessoa física criadora de obra literária, artística ou científica. Parágra-
fo único. A proteção concedida ao autor poderá aplicar-se às pessoas jurídicas nos casos
previstos nesta Lei.
Art. 12. Para se identificar como autor, poderá o criador da obra literária, artística ou
científica usar de seu nome civil, completo ou abreviado até por suas iniciais, de pseu-
dônimo ou qualquer outro sinal convencional.
Art. 13. Considera-se autor da obra intelectual, não havendo prova em contrário, aquele
que, por uma das modalidades de identificação referidas no artigo anterior, tiver, em
conformidade com o uso, indicada ou anunciada essa qualidade na sua utilização.
14
Assim prevê o artigo 15, alínea 1 da Convenção de Berna: para que os autores das obras
literárias e artísticas protegidos pela presente Convenção sejam, até prova em contrá-
rio, considerados como tais e admitidos em conseqüência, perante os tribunais dos
46 LUKAS RUTHES GONÇALVES | PEDRO DE PERDIGÃO LANA
países da União, a proceder judicialmente contra os contra fatores, basta que os seus
nomes venham indicados nas obras pela forma usual. O presente parágrafo é aplicável
mesmo quando os nomes são pseudônimos, desde que os pseudônimos adotados não
deixem quaisquer dúvidas acerca da identidade dos autores.
15
Dentre os casos previstos em lei, destaca-se: a pessoa jurídica pode ser a organizadora
de obra coletiva (art. 5º, VIII, h); a editora de uma obra literária (art. 5º, X); o produtor
de obra audiovisual (art. 81); o radiodifusor (arts. 91 e 95) ou o produtor fonográfico
(art. 93), ambos titulares de direitos conexos de autor (art. 89).
16
Art. 11º O direito de autor pertence ao criador intelectual da obra, salvo disposição
expressa em contrário
Art. 27º, 1 - Salvo disposição em contrário, autor é o criador intelectual da obra.
17
Art. 14º (...) 2 - Na falta de convenção, presume-se que a titularidade do direito de autor
relativo à obra feita por conta de outrem pertence ao seu criador intelectual
NOVOS DIREITOS INTELECTUAIS: 47
18
Que transpôs para o ordenamento interno português a Diretiva n.º 91/250/CEE, agora
substituída pela Diretiva 2009/24.
48 LUKAS RUTHES GONÇALVES | PEDRO DE PERDIGÃO LANA
19
A legislação alemã, por exemplo, estabelece na §7 da Urheberrechtsgesetz que o princípio
do criador é absoluto e que o direito autoral é inseparável do criador da obra. Na prática,
contudo, é possível obter efeitos similares à transmissão e titularidade originária para
terceiros através de certas licenças (SOUSA E SILVA, 2013, p. 1350).
20
LDA, Artigo 5º, inciso VIII, alínea b: para os efeitos desta Lei, considera-se obra anônima
- quando não se indica o nome do autor, por sua vontade ou por ser desconhecido. O art.
30º, 1 do CDADC de adequa à essa definição.
21
LDA, Artigo 5º, inciso VIII, alínea c: para os efeitos desta Lei, considera-se obra pseudô-
nima - quando o autor se oculta sob nome suposto. O CDADC, no Artigo 28º (identifica-
ção do autor) apenas faz menção à possibilidade de uso de pseudônimo, sem maiores
detalhes.
22
CDADC, Artigo 30.º Obra de autor anónimo. 1 - Aquele que divulgar ou publicar uma
obra com o consentimento do autor, sob nome que não revele a identidade deste ou ano-
nimamente, considera-se representante do autor, incumbindo-lhe o dever de defender
NOVOS DIREITOS INTELECTUAIS: 49
23
Cf. o relatório Artificial Intelligence - A European Perspective, EUR 29425, Publications
Office, Luxembourg, 2018,
56 LUKAS RUTHES GONÇALVES | PEDRO DE PERDIGÃO LANA
5 CONSIDERAÇÕES FINAIS
24
Há autores que argumentam em sentido contrário, afirmando que as aplicações de IA
deveriam ser consideradas autores, como faz Russ Pearlman (2018) analisando o siste-
ma dos EUA.
NOVOS DIREITOS INTELECTUAIS: 57
uma aplicação conjunta tanto dos dispositivos de leis que tratam do direito
autoral quanto aquelas que tratam do software.
Os últimos passos legislativos e jurisprudenciais nos sistemas eu-
ropeu e brasileiro indicam que não se excluirá a tutela ativa pelo direito
autoral dessas obras. A titularidade dos direitos para o programador ou
para o utilizador da aplicação de inteligência artificial é depreendida des-
ses avanços e dos tópicos abordados25. Relembra-se: (i) da facilidade de
se assumir a obra apenas com o simples colocar se seu nome nela; (ii) das
previsões de obras anônimas; (iii) do ambiente autoral crescentemente fa-
vorável aos interesses e atuações empresariais (especialmente no âmbito
dos bens informáticos)26.
Autores como James Grimmelmann (2016) apontam que as obras ge-
radas por computador não representam inovações suficientes no sistema
autoral que exijam a necessidade de novas regras, bastando uma interpreta-
ção adequadas das já existentes. Outros, como Margot Kaminski (2017), su-
gerem que as inovações tecnológicas não devem sempre ensejar mudanças
das leis. Pelo contrário, as regras devem ser levadas a sério e deve haver um
esforço de enquadrar as novas situações no ordenamento existente. Essa au-
tora lembra que muitos dos problemas supostamente novos colocados pelas
inteligências artificiais no direito autoral na verdade já foram introduzidos
(e respondidos) por outras tecnologias.
Isso faz com que o status quo para esse tipo de criação tenda a que
ela seja de titularidade de seu programador ou, de maneira mais recorren-
te, da empresa que comissiona a criação desse tipo de aplicação ou daquele
que dá azo para a utilização do programa. Seria essa a solução que mais
agradaria os agentes do mercado capazes de influenciar determinante-
mente o Judiciário, Executivo e Legislativo.
Até haver algum tipo de pressão de grupos interessados para que
uma mudança ocorra, as obras decorrentes desse método de produção de-
verão ficar nas mãos dos titulares e utilizadores desse tipo de programa.
25
Concordando com essa posição, cf. Okediji (2018), Denicola (2017) e Guadamuz (2017).
26
Pode ser, contudo, que a influência dos EUA mais uma vez seja dominante, o que neste mo-
mento reforçaria a tese de que não haveria qualquer proteção por direito autoral (conse-
quentemente, seriam obras que imediatamente cairiam no domínio público). Isso porque
o U.S. Copyright Office determina, mediante os pontos 306 e 313.2 de seu compêndio de
práticas, que recusará os pedidos de registro se um ser humano não foi o criador da obra,
expressamente mencionando casos em que uma máquina cria uma obra sem intervenção
criativa humana. Cf. U.S. COPYRIGHT OFFICE. Compendium of U.S. copyright office prac-
tices. 3 ed., 2017. Chapter 300, p. 4 e 16-17.
58 LUKAS RUTHES GONÇALVES | PEDRO DE PERDIGÃO LANA
27
Um aprofundamento dessa defesa alongaria demasiadamente este artigo, razão pela
qual se remete a alguns textos da extensa bibliografia já publicada sobre esse tema,
como a de Ascensão (2008b), Denis Barbosa (2012) e Steven Horowitz (2009).
NOVOS DIREITOS INTELECTUAIS: 59
REFERÊNCIAS
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Disponível em: <http://ibpieuropa.org/book/revista-eletronica-do-ibpi-nr-6>
28
Artigo 39.º Obras no domínio público
1 - Quem fizer publicar ou divulgar licitamente, após a caducidade do direito de autor,
uma obra inédita beneficia durante 25 anos a contar da publicação ou divulgação de
protecção equivalente a resultante dos direitos patrimoniais do autor. (...)
60 LUKAS RUTHES GONÇALVES | PEDRO DE PERDIGÃO LANA
1 INTRODUÇÃO
1
Mestranda em Direito das Relações Sociais na Universidade Federal do Paraná/UFPR.
Bolsista CAPES. Pesquisadora do Grupo de Estudos em Direitos Autorais e Industriais
- GEDAI/UFPR e do Grupo Direito, Biotecnologia e Sociedade - BIOTEC/UFPR. E-mail:
[email protected]
2
Mestranda em Direito - Menção em Direito Internacional Público e Europeu pela Uni-
versidade de Coimbra. E-mail: [email protected]
64 ALICE DE PERDIGÃO LANA | ÉRICA NOGUEIRA SOARES D’ALMEIDA
víduo. Números associados a sites ou objetos aos quais uma pessoa está
conectada, ainda que ela não os conheça, podem ser usados para identificá
-la (cookies, endereço IP, identificação por radiofrequência, etc) (POULLET,
2009, p. 220). Nesse sentido, históricos de navegação, termos de pesquisas
e compras online podem revelar traços da personalidade de um indivíduo
(BIONI, 2019, p. 109).
Hoje fala-se na tecnologia do Big Data: a capacidade de aproveitar
informações de novas formas para produzir conhecimento útil ou bens e
serviços de significante valor (MAYER-SCHÖNBERGER e CUKIER, 2013, p.
7). O Big Data está associado a grande volume e velocidade, já que exce-
de a capacidade das tecnologias tradicionais de processamento, e em alta
velocidade (BIONI, 2019, p. 49; LANEY, 2001). Assim, lojas coletam dados
sobre liquidações para fins contábeis, fábricas monitoram sua produção
para controle de qualidade, websites observam os cliques de usuários para
otimizar seu conteúdo (MAYER-SCHÖNBERGER e CUKIER, 2013, p. 96).
Além disso, empresas coletam dados de comportamento de seus
consumidores com objetivo de criar publicidade direcionada. Nesse con-
texto, a criação de perfis comportamentais (profiling) torna-se uma prática
comum. As capacidades de criação de perfis cresceram exponencialmente
nas últimas décadas, em decorrência tanto dos avanços tecnológicos quan-
to da disponibilidade cada vez maior de dados processáveis e rastros (GU-
TWIRTH e HILDEBRANDT, 2010, p. 32).
Uma característica das mudanças trazidas pela internet no que diz
respeito à produção de conteúdo é que o usuário deixa de ser um mero
receptor passivo de informações e passa a ser um polo ativo na dissemi-
nação de informação sobre os mais variados assuntos (BARRETO JUNIOR,
2015, p. 409). Também é necessário ressaltar o contexto do advento da
Internet 2.0. Ainda que hoje já se fale em Internet 3.0 ou mesmo 4.0, essa
terminologia mantém-se útil, pois designa o fato de que, atualmente, as
plataformas de Internet ganham valor sem oferecer necessariamente con-
teúdo próprio, mas sim as ferramentas para que o conteúdo seja postado
por diversos usuários e seja possível a interação destas pessoas entre si.
O termo foi cunhado por Tim o’Reilly em 2005 para definir o alto grau de
interatividade, colaboração e produção/uso/consumo de conteúdos pelos
próprios usuários.
Diferentemente da Internet 1.0, as relações não se operam mais ao
redor de páginas relativamente estáveis, mas sim em plataformas dinâmi-
cas, em constante transformação gerada pela interação entre os usuários.
NOVOS DIREITOS INTELECTUAIS: 67
3
Esse cenário já era perceptível em 2004, como descreveu Solove (2004, p. 3): “Com-
panhias utilizam dossiês digitais para determinar como negociam conosco; instituições
financeiras utilizam-nos para determinar se nos darão crédito; empregadores recorrem
a eles para examinar nosso histórico quando contratam; autoridades utilizam-nos para
nos investigar; e ladrões de identidade utilizam-nos para cometer fraude” (tradução
nossa).
NOVOS DIREITOS INTELECTUAIS: 69
4
Como aponta Catarina Sarmento e Castro (2005, p. 27), o direito à autodeterminação
informtiva não se refere apenas à garantia do direito à intimidade da vida privada. Pode
ser entendido como um feixe de prerrogativas, “que permite que cada cidadão decida
até onde vai a sombra que deseja que paire sobre as informações que lhe respeitam”.
Assume-se como um direito de personalidade, que permite que o titular controle a uti-
lização das informações a seu respeito.
NOVOS DIREITOS INTELECTUAIS: 71
o seu vetor central” (BIONI, 2019, p. 205). Pode-se dizer que o consenti-
mento é protagonista durante todo o seu ciclo evolucional (BIONI, 2015, p.
43). Nesse sentido, a tendência que se observou nas legislações das últimas
gerações é a adjetivação do consentimento.
No Direito Europeu, a Diretiva 95/46/CE buscou assegurar aos indi-
víduos o controle sobre seus dados pessoais (BIONI, 2019, p. 205; BIONI,
2015, p. 43). De acordo com a diretiva, o consentimento é descrito como uma
“manifestação de vontade, livre, específica e informada”5, e deve ser dado de
forma inequívoca6. No caso de dados sensíveis o consentimento deverá ser
explícito7. A adjetivação é uma tentativa de evitar o problema de um possível
consentimento ilusório (BIONI, 2019, p. 205)
A diretiva europeia havia adotado ideias já afirmadas na Convenção
108, de Strasbourg, do Conselho da Europa - que foi influenciada pelas dire-
trizes da OCDE para Proteção da Privacidade e dos Fluxos Transfronteiriços
de Dados Pessoais - no sentido de que a autodeterminação “é o que para-
metriza a (i) legalidade de qualquer tratamento de dados”. Todavia, a dire-
tiva não estabelecia somente o direito de controle dos dados pessoais pelo
titular, mas determinava também deveres aos controllers (responsáveis pelo
tratamento). Essa abordagem, centrada tanto no titular dos dados pessoais
quanto em quem os processa, situa a diretiva na quarta geração, que expan-
de o espectro do controle para todos os sujeitos inseridos na cadeia do fluxo
informacional (BIONI, 2019, p. 205).
5
Artigo 2º - Definições
Para efeitos da presente directiva, entende-se por: [...]
h) «Consentimento da pessoa em causa», qualquer manifestação de vontade, livre, espe-
cífica e informada, pela qual a pessoa em causa aceita que dados pessoais que lhe dizem
respeito sejam objecto de tratamento.
6
Artigo 7º
Os Estados-membros estabelecerão que o tratamento de dados pessoais só poderá ser
efectuado se:
a) A pessoa em causa tiver dado de forma inequívoca o seu consentimento; [...]
7
Artigo 8º
Tratamento de certas categorias específicas de dados
1. Os Estados-membros proibirão o tratamento de dados pessoais que revelem a origem
racial ou étnica, as opiniões políticas, as convicções religiosas ou filosóficas, a filiação
sindical, bem como o tratamento de dados relativos à saúde e à vida sexual.
2. O nº 1 não se aplica quando:
a) A pessoa em causa tiver dado o seu consentimento explícito para esse tratamento,
salvo se a legislação do Estado-membro estabelecer que a proibição referida no nº 1 não
pode ser retirada pelo consentimento da pessoa em causa; [...]
72 ALICE DE PERDIGÃO LANA | ÉRICA NOGUEIRA SOARES D’ALMEIDA
8
Como previsão dos artigos 8ª, §1º (consentimento fornecido por escrito) e 11, I (trata-
mento de dados pessoais sensíveis).
74 ALICE DE PERDIGÃO LANA | ÉRICA NOGUEIRA SOARES D’ALMEIDA
REFERÊNCIAS
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NOVOS DIREITOS INTELECTUAIS: 79
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80 ALICE DE PERDIGÃO LANA | ÉRICA NOGUEIRA SOARES D’ALMEIDA
1 INTRODUÇÃO
1
Doutorando em Direito no Programa de Pós-Graduação em Direito da Universidade
Federal do Paraná (PPGD/UFPR). Mestre em Direito pela Universidade Federal de Santa
Catarina (UFSC). Pesquisador do Grupo de Estudos de Direito Autoral e Industrial (GE-
DAI/UFPR). Advogado na área de direitos intelectuais.
2
Blockchain ou DLT é um banco de dados espalhado em vários sites, países ou insti-
tuições. Trata-se de um ledger de registros digitais ou transações que são acessíveis a
todos os computadores executando o mesmo protocolo de computador, encadeado em
blocos em correntes sucessivas por uma tecnologia ímpar.
82 RANGEL OLIVEIRA TRINDADE
2.1 BLOCKCHAIN
3
Segundo Kobielus, smart contracts são riscos para a segurança da Blockchain, pois se
os criminosos tiverem acesso à chave de um administrador de um Blockchain permis-
sionado, poderão introduzir falsos smart contracts que permitirão acesso clandestino
a informações confidenciais e chaves criptográficas, podendo iniciar transferências de
fundos não autorizadas e envolver-se em outros ataques aos ativos da empresa. (KO-
BIELUS, 2018). No entanto, não se tem notícia dito ter ocorrido.
NOVOS DIREITOS INTELECTUAIS: 85
4
Ethereum é uma plataforma descentralizada capaz de executar contratos inteligentes e
aplicações descentralizadas usando a tecnologia blockchain.
86 RANGEL OLIVEIRA TRINDADE
5
Em direito autoral, a gestão personalizada incluiria os direitos de execução, bem como
os conexos em fonogramas a músicos que participaram das gravações. A definição de
percentuais caberia ao próprio autor definir, conforme o exemplo do que desenvolveu a
UJO MUSIC (2019).
88 RANGEL OLIVEIRA TRINDADE
6
Algoritmo é uma sequência finita de passos elementares, cada um deles contendo uma
operação matematicamente bem definida; a execução da sequência sempre termina
para quaisquer dados de entrada. Noção esta que é uma caracterização não-formal
(SETZER, 2009).
NOVOS DIREITOS INTELECTUAIS: 89
7
Gestão Coletiva de direitos é a forma pela qual criadores e titulares de direito se organi-
zam a fim de se fazerem representar perante os usuários de sua criação e/ou patrimô-
nio, órgãos governamentais e não governamentais, instituições de mesma natureza e
também a sociedade. Existem autores, como Ana Frazão, que defendem, contrariamente
ao que pensamos neste artigo, que seria inviável uma gestão pessoal/individual de dire-
itos autorais (FRAZÃO, 2017).
90 RANGEL OLIVEIRA TRINDADE
de que forma cada novo participante que venha a integrar uma determinada
aliança deve participar e pode agregar valor.
É o que vemos na Aliança Portuguesa de Blockchain, pessoa jurídi-
ca de direito privado, de âmbito nacional e internacional, coletiva, inde-
pendente e sem fins lucrativos; de caráter social. Segundo informações da
instituição8, o seu contexto jurídico aponta que tem como finalidade geral
o desenvolvimento de um ecossistema regional que reúne empresas, aca-
demia e entidades governamentais de forma a promover e contribuir para
o estudo e a divulgação de novas tecnologias disruptivas e o seu impacto na
economia, na sociedade e no ambiente, assim como para a construção e o
desenvolvimento de soluções com base nestas novas tecnologias.
Da mesma forma, a Aliança Portuguesa informa que promoverá ini-
ciativas de sensibilização, informação e formação sobre estes paradigmas.
Para a execução do seu objeto, constituem suas atribuições essenciais:
8
Aliança Portuguesa de Blockchain – Informações institucionais. Disponível em <https://
all2bc.com/alianca/associacao-alianca> Acesso em 21 de julho de 2019.
9
Aliança Portuguesa de Blockchain – Informações institucionais. Disponível em <https://
all2bc.com/alianca/associacao-alianca> Acesso em 21 de julho de 2019.
NOVOS DIREITOS INTELECTUAIS: 91
10
ABCB. Sítio: <http://abcb.in/>. Acesso em 22 de julho de 2019.
11
Em um painel dedicado a explorar a utilização do Blockchain em serviços financeiros,
observando os desafios e oportunidades da implementação da tecnologia, a presidente
da IBM para a América Latina, Ana Paula Assis revelou dificuldade para a evolução do
blockchain no Brasil. Ela comentou que a definição de regras para o funcionamento exige
92 RANGEL OLIVEIRA TRINDADE
para que a adoção do sistema ainda não tenha conseguido alcançar o gran-
de volume de aplicações (da blockchain) esperado.
Se verificada a impossibilidade de lidarmos com a complexidade tec-
nológica a curto e médio prazo, comprometendo a escalabilidade em níveis
desejáveis, necessários à melhoria de produtos e serviços, é somente com
iniciativas conjuntas que podemos chegar a patamares que são ditos como
já alcançados ou alcançáveis.
4 CONSIDERAÇÕES FINAIS
o investimento de maior quantidade de tempo. Explicou: “Colocar duas partes para com-
patibilizar interesses já é difícil. Então imaginem o quanto isto se torna desafiador quando é
necessário que mais de 100 empresas, por exemplo, têm que ser ouvidas e ver suas demandas
atendidas” (CANTARINO BRASILEIRO, 2019).
NOVOS DIREITOS INTELECTUAIS: 93
REFERÊNCIAS
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94 RANGEL OLIVEIRA TRINDADE
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EIXO 2
Propriedade Intelectual
e Inovação
GESTÃO COLETIVA DE DIREITOS AUTORAIS:
breves apontamentos acerca do
sistema brasileiro e português
Marcos Wachowicz1
Bibiana Biscaia Virtuoso2
1 INTRODUÇÃO
1
Professor de Direito da Universidade Federal do Paraná/Brasil. Doutor em Direito pela
Universidade Federal do Paraná-UFPR. Mestre em Direito pela Universidade Clássica de
Lisboa-PORTUGAL. Coordenador do Grupo de Estudos em Direito Autoral e Industrial -
GEDAI / UFPR. Professor da Cátedra de Propriedade Intelectual no Institute for Informa-
tion, Telecommunication and Media Law – ITM da Universidade de Münster - ALEMANHA.
Docente do curso políticas públicas y propiedad intelectual do Programa de Mestrado
em Propriedade Intelectual na modalidade à distância na Faculdade Latino-americana de
Ciências Sociais - FLACSO/ARGENTINA. Contato: [email protected].
2
Advogada. Mestranda em Direitos Humanos e Democracia na UFPR. Pesquisadora do
Grupo de Estudos de Direito Autoral e Industrial da UFPR
3
Informação retirada do seguinte endereço eletrônico: https://www.wipo.int/copyri-
ght/en/management/
4
VIEIRA, José Alberto et al. Gestão colectiva: Reflexões dispersas de política legislativa.
In: VICENTE, Dario Moura et al (Org.). Estudos de Direito Intelectual em Homena-
98 MARCOS WACHOWICZ | BIBIANA BISCAIA VIRTUOSO
gem ao Prof. Doutor José de Oliveira Ascensão: 50 anos de Vida Universitária. Coim-
bra: Almedina, 2015. p. 325-341. p. 326.
5
VIEIRA, José Alberto et al. Gestão colectiva: Reflexões dispersas de política legislativa.
In: VICENTE, Dario Moura et al (Org.). Estudos de Direito Intelectual em Homena-
gem ao Prof. Doutor José de Oliveira Ascensão: 50 anos de Vida Universitária. Coim-
bra: Almedina, 2015. p. 325-341. p. 326.
6
FRANCISCO, Pedro Augusto P.; VALENTE, Mariana Giorgetti (Org.). Do rádio ao strea-
ming: ECAD, Direito autoral e música no Brasil. Rio de Janeiro: Beco do Azougue, 2016.
390 p. p. 113.
NOVOS DIREITOS INTELECTUAIS: 99
7
FRANCISCO, Pedro Augusto P.; VALENTE, Mariana Giorgetti (Org.). Do rádio ao strea-
ming: ECAD, Direito autoral e música no Brasil. Rio de Janeiro: Beco do Azougue, 2016.
390 p. p. 171.
8
ARENHART, Gabriela. Gestão Coletiva de Direitos Autorais e a Necessidade de Su-
pervisão Estatal. Publicado em: 25 jul. 2014. Disponível em: <http://www.gedai.com.
br/?q=pt-br/content/gest%C3%A3o-coletiva-de-direitos-autorais-e-necessidade-de
-supervis%C3%A3o-estatal>.
100 MARCOS WACHOWICZ | BIBIANA BISCAIA VIRTUOSO
9
BRASIL. Senado Federal. Relatório Final nº 1 de 2012: Comissão Parlamentar de In-
quérito criada pelo requerimento nº 547, de 2011. Brasilia, DF, 2012. p. 4.
10
BRASIL. Senado Federal. Relatório Final nº 1 de 2012: Comissão Parlamentar de In-
quérito criada pelo requerimento nº 547, de 2011. Brasilia, DF, 2012. p. 10.
NOVOS DIREITOS INTELECTUAIS: 101
Destaca-se o §15º, uma vez que abre espaço para o titular de direitos
praticar, pessoalmente, a gestão de suas obras, desde que comunique à as-
sociação com 48 horas de antecedência.
Por fim, as associações podem, por decisão de seu órgão máximo,
destinar até 20% (vinte por cento) da totalidade ou de parte dos recursos
oriundos de suas atividades para ações de natureza cultural e social que
beneficiem seus associados de forma coletiva (§16º).
O art. 98-A, por sua vez, trata da habilitação das associações no órgão
da Administração Pública Federal. Assim, devem demonstrar que a entida-
de solicitante reúne as condições necessárias para assegurar uma admi-
nistração eficaz e transparente dos direitos a ela confiados e significativa
representatividade de obras e titulares cadastrados, mediante comprova-
ção de alguns documentos e informações11.
Estes documentos devem ser apresentados anualmente ao Minis-
tério da Cultura (§2º). No caso de uma anulação da habilitação ou sua
11
Art. 98-A. O exercício da atividade de cobrança de que trata o art. 98 dependerá de
habilitação prévia em órgão da Administração Pública Federal, conforme disposto em
regulamento, cujo processo administrativo observará:
I - o cumprimento, pelos estatutos da entidade solicitante, dos requisitos estabelecidos
na legislação para sua constituição;
II - a demonstração de que a entidade solicitante reúne as condições necessárias para
assegurar uma administração eficaz e transparente dos direitos a ela confiados e signi-
ficativa representatividade de obras e titulares cadastrados, mediante comprovação dos
seguintes documentos e informações:
a) cadastros das obras e titulares que representam;
b) contratos e convênios mantidos com usuários de obras de seus repertórios, quando
aplicável;
c) estatutos e respectivas alterações;
d) atas das assembleias ordinárias ou extraordinárias;
e) acordos de representação recíproca com entidades congêneres estrangeiras, quando
existentes;
f) relatório anual de suas atividades, quando aplicável;
g) demonstrações contábeis anuais, quando aplicável;
h) demonstração de que as taxas de administração são proporcionais aos custos de co-
brança e distribuição para cada tipo de utilização, quando aplicável;
i) relatório anual de auditoria externa de suas contas, desde que a entidade funcione há
mais de 1 (um) ano e que a auditoria seja demandada pela maioria de seus associados
ou por sindicato ou associação profissional, nos termos do art. 100;
j) detalhamento do modelo de governança da associação, incluindo estrutura de repre-
sentação isonômica dos associados;
k) plano de cargos e salários, incluindo valor das remunerações dos dirigentes, gratifi-
cações, bonificações e outras modalidades de remuneração e premiação, com valores
atualizados;
NOVOS DIREITOS INTELECTUAIS: 103
de uma associação autoral poderá, uma vez por ano, após notificação, com
oito dias de antecedência, fiscalizar, por intermédio de auditor, a exatidão
das contas prestadas a seus representados (art. 100).
No caso da ocorrência de desvio de finalidade ou inadimplemento
das obrigações, seja por dolo ou culpa, os dirigentes das associações res-
pondem solidariamente, com seus bens particulares (art. 100-A).
Por fim, dispõe a lei que os litígios envolvendo falta de pagamento,
os critérios de cobrança, as formas de oferecimento de repertório e aos
valores de arrecadação, e entre titulares e suas associações, em relação aos
valores e critérios de distribuição, podem ser resolvidos por meio de me-
diação ou arbitragem, sem prejuízo da apreciação pelo Poder Judiciário e
pelos órgãos do Sistema Brasileiro de Defesa da Concorrência (art. 100-B).
Em que pese no Brasil a alteração da Lei 9.610 tenha trazido disposi-
ções que visam uma maior transparência, o sistema ainda está muito lon-
ge de funcionar adequadamente. Embora o sistema tenha como princípios
basilares a isonomia, eficiência e transparência, não é o que se verifica na
prática.
Os titulares de direito ainda se veem totalmente reféns das associa-
ções. O acesso à informação é restrito e difícil. Mesmo acessando o site das
associações as informações estão escondidas e muitas vezes fora do acesso
ao público. Ademais, muitos artistas não sabem sequer quais foram seus
ganhos.
A questão mais complexa diz respeito a forma de arrecadação reali-
zada pelo ECAD. Embora o Regulamento de Arrecadação esteja disponível
para os usuários, os elementos de precificação ainda são muito subjetivos.
Para além dos titulares de direitos, os demais usuários – rádio e te-
levisão – também são prejudicados, uma vez que são cobrados pelo ECAD,
mas sem saber o que estão pagando, haja vista que o escritório não deixa
claro como foi realizada a cobrança.
De acordo com o Regulamento, em seu art. 2º, IV, a arrecadação será
sempre pautada pela isonomia e pela não discriminação e será sempre
proporcional ao grau de utilização das obras e fonogramas pelos clientes,
considerando a importância da execução pública musical no exercício de
suas atividades, e as particularidades de cada segmento.
Mas seria possível mensurar o referido grau de utilização? A impor-
tância da execução pública musical no exercício de suas atividades? O REsp
106 MARCOS WACHOWICZ | BIBIANA BISCAIA VIRTUOSO
3 O SISTEMA PORTUGUÊS
12
Artigo 5º Constituição
1 - A criação de entidades de gestão coletiva é da livre iniciativa dos titulares de direitos
de autor e de direitos conexos. 2 - As entidades de gestão coletiva constituem-se obri-
gatoriamente como associações ou cooperativas privadas com personalidade jurídica e
fins não lucrativos, com um mínimo de 10 associados ou cooperadores.
13
LEITÃO, Adelaide Menezes et al. As entidades de gestão colectiva do direito de autor
e dos direitos conexos na lei nº 26/2015, de 14 de abril. In: VICENTE, Dario Moura et
al (Org.). Estudos de Direito Intelectual em Homenagem ao Prof. Doutor José de
Oliveira Ascensão: 50 anos de Vida Universitária. Coimbra: Almedina, 2015. p. 23-
38. p. 26.
14
LEITÃO, Adelaide Menezes et al. As entidades de gestão colectiva do direito de autor
e dos direitos conexos na lei nº 26/2015, de 14 de abril. In: VICENTE, Dario Moura
et al (Org.). Estudos de Direito Intelectual em Homenagem ao Prof. Doutor José
de Oliveira Ascensão: 50 anos de Vida Universitária. Coimbra: Almedina, 2015.
p. 23-38. p. 28.
110 MARCOS WACHOWICZ | BIBIANA BISCAIA VIRTUOSO
15
1 - Informações a prestar no relatório anual sobre transparência a que se refere o n.º 3
do artigo 26.º-A:
a) Demonstrações financeiras que incluam um balanço ou um mapa dos ativos e passi-
vos, uma conta das receitas e despesas do exercício e uma demonstração dos fluxos de
caixa;
b) Relatório sobre as atividades do exercício;
c) Informações sobre as recusas de concessão de uma licença, nos termos da alínea e)
do n.º 1 do artigo 27.º;
d) Descrição da estrutura jurídica e de governo da entidade de gestão coletiva;
e) Informações sobre as entidades detidas ou controladas, direta ou indiretamente, no
todo ou em parte, pela entidade de gestão coletiva;
f) Informações sobre o montante total das remunerações pagas às pessoas referidas no
artigo 22.º, no ano anterior e sobre outros benefícios concedidos a essas pessoas;
g) As informações financeiras a que se refere o número seguinte;
h) Relatório especial sobre a utilização dos montantes deduzidos para efeitos de ser-
viços sociais, culturais e educativos, contendo a informação a que se refere o n.º 3 do
presente anexo.
2 - Informações financeiras a prestar no relatório anual sobre transparência:
a) Informações financeiras sobre as receitas de direitos, por categoria de direitos geri-
dos e por tipo de utilização (por exemplo, emissão, utilização em linha e atuação públi-
ca), nomeadamente as informações sobre os rendimentos resultantes do investimento
de receitas de direitos e a utilização desses rendimentos (distribuídos aos titulares de
direitos ou distribuídos a outras entidades de gestão coletiva, ou utilizados de outra
forma);
b) Informações financeiras sobre o custo de gestão dos direitos e de outros serviços
prestados pela entidade de gestão coletiva aos titulares de direitos, com uma descrição
abrangente de pelo menos os seguintes elementos:
i) Todos os custos operacionais e financeiros, com uma discriminação por categoria de
direitos geridos e, caso os custos sejam indiretos e não possam ser imputados a uma
ou mais categorias de direitos, uma explicação do método utilizado para repartir esses
custos indiretos;
ii) Custos de funcionamento e financeiros, discriminados por categoria de direitos
geridos e, caso os custos sejam indiretos e não possam ser imputados a uma ou mais
categorias de direitos, uma explicação do método utilizado para repartir esses custos
indiretos, apenas no que diz respeito à gestão de direitos, incluindo as comissões de
gestão deduzidas ou compensadas nas receitas de direitos ou em quaisquer rendimen-
tos resultantes do investimento de receitas de direitos, nos termos do n.º 2 do artigo
33.º e dos n.os 1 a 4 do artigo 30.º;
iii) Custos operacionais e financeiros respeitantes a serviços, que não a gestão de direi-
tos, mas incluindo os serviços sociais, culturais e educativos;
iv) Recursos utilizados para cobrir os custos;
v) Deduções efetuadas às receitas de direitos, com uma discriminação por categoria de
direitos geridos e por tipo de utilização e a finalidade da dedução, como custos relativos
com a gestão de direitos ou com serviços sociais, culturais ou educativos;
vi) Percentagens que o custo de gestão dos direitos e de outros serviços prestados pela
entidade de gestão coletiva aos titulares de direitos representam, em comparação com
NOVOS DIREITOS INTELECTUAIS: 111
neste ponto, a disposição que obriga a publicação do relatório nos sites das
entidades de gestão coletiva, devendo os documentos permanecerem ali
disponíveis pelo prazo de cinco anos (art. 26-A/2).
O art. 28, por sua vez, reforça o dever de informação, devendo as en-
tidades de gestão coletiva informarem os terceiros interessados sobre as
16
LEITÃO, op. cit., p. 35.
17
Artigo 52.º Extinção das entidades de gestão colectiva
1 - A IGAC deve solicitar às entidades competentes a extinção das entidades de gestão
coletiva constituídas em Portugal:
a) Que violem a lei, de forma muito grave ou reiteradamente;
b) Cuja atividade não coincida com o objeto previsto nos estatutos;
c) Que utilizem reiteradamente meios ilícitos para a prossecução do seu objeto;
d) Que retenham indevidamente as remunerações devidas aos titulares de direitos.
2 - O disposto no número anterior é aplicável a outras entidades que exerçam efeti-
vamente a gestão coletiva, independentemente da sua natureza jurídica, autorização,
registo ou comunicação.
3 - Sem prejuízo de eventual responsabilidade civil, penal e contraordenacional de tais
entidades e das pessoas que atuem por conta ou em representação destas constitui
também causa de extinção a falta de autorização, registo ou comunicação das entidades
que exerçam efetivamente a gestão coletiva.
18
VIEIRA, op. cit., p. 329.
NOVOS DIREITOS INTELECTUAIS: 115
19
1 - Os titulares de direitos representados pelas entidades de gestão coletiva têm o direi-
to de: 3 - A revogação do mandato a que se refere a alínea b) do n.º 1 é feita por escrito,
mediante um pré aviso de 90 dias.
20
VIEIRA, op. cit., p. 331.
21
Ibid., p. 331.
22
Ibid., p. 334.
116 MARCOS WACHOWICZ | BIBIANA BISCAIA VIRTUOSO
4 CONSIDERAÇÕES FINAIS
23
VIEIRA, op. cit., p. 337.
NOVOS DIREITOS INTELECTUAIS: 117
Portugal, por sua vez, alterou sua legislação em 2015. Na mesma es-
teira que o Brasil e a Directiva, trouxe disposições acerca da transparência
e dever de informação, inclusive dispondo de forma aprofundada sobre a
apresentação de relatórios de transparência.
Apesar do avanço trazido pelas alterações legislativa, antigos proble-
mas ainda persistem. Tanto no Brasil como em Portugal, observa-se que as
associações ainda se sobrepõe aos seus associados.
Apesar das legislações definirem como princípio a transparência,
não é o que se verifica na prática. Os titulares de direitos ainda são re-
féns das decisões tomadas – de forma arbitrária e obscura – pelas asso-
ciações, tais como a definição da distribuição dos valores por meio de
Assembleia.
Outro ponto convergente é a forma de arrecadação. Os titulares con-
tinuam sem saber o que receberam e como receberam. Não há definições
exatas como valor das licenças. Os critérios de cobrança dos usuários são
confusos e feitos de forma arbitrária, causando uma insegurança tanto nos
titulares como nos usuários.
O problema da gestão coletiva não é local, mas está presente em mais
de um sistema. No entanto, a partir do momento que os interesses das as-
sociações divergem do interesse dos titulares, a gestão coletiva perde sua
razão de ser. Apesar dos avanços, ainda há um árduo caminho para per-
correr, de forma que faz-se necessário buscar alternativas para garantir a
transparência e fiscalização dos sistemas de gestão coletiva.
REFERÊNCIAS
ARENHART, Gabriela. Gestão Coletiva de Direitos Autorais e a Necessidade de
Supervisão Estatal. Publicado em: 25 jul. 2014. Disponível em: <http://www.
gedai.com.br/?q=pt-br/content/gest%C3%A3o-coletiva-de-direitos-autorais-e-
necessidade-de-supervis%C3%A3o-estatal>.
BRASIL. Senado Federal. Relatório Final nº 1 de 2012: Comissão Parlamentar de
Inquérito criada pelo requerimento nº 547, de 2011. Brasilia, DF, 2012
FRANCISCO, Pedro Augusto P.; VALENTE, Mariana Giorgetti (Org.). Do rádio ao
streaming: ECAD, Direito autoral e música no Brasil. Rio de Janeiro: Beco do Azou-
gue, 2016. 390 p.
LEITÃO, Adelaide Menezes et al. As entidades de gestão colectiva do direito de
autor e dos direitos conexos na lei nº 26/2015, de 14 de abril. In: VICENTE, Da-
rio Moura et al (Org.). Estudos de Direito Intelectual em Homenagem ao Prof.
118 MARCOS WACHOWICZ | BIBIANA BISCAIA VIRTUOSO
1 INTRODUÇÃO
1
Advogada, Mestre em Direito Político e Econômico pela Universidade Presbiteriana Ma-
ckenzie, pesquisadora do Grupo de Estudos de Direito Autoral e Industrial da Universi-
dade Federal do Paraná – GEDAI.
2
Mestranda em Ciências Jurídico-Empresariais na Faculdade de Direito da Universidade
de Coimbra. Licenciada em Direito pela Universidade de Coimbra.
120 BRUNA HOMEM DE SOUZA OSMAN | NÍDIA SIMÕES CRISTINO
3
POLLINI, Denise. Breve história da moda. Editora Nova Alexandria, 2018. p. 15.
4
DIAS, Julieta Prata de Lima. Terminologia de moda: conceitos e definições. Acta Semió-
tica et Lingvistica, Universidade Federal da Paraíba, v.16, n. 1, p. 215 - 253.
5
Importante destacar que Carol Garcia e Ana Paula Celso de Miranda observam que: “De
modo geral, psicólogos veem a moda como busca da individualidade; sociólogos com-
preendem-na como competição de classe e conformidade social às normas; economis-
tas explicam-na pela busca do escasso, do que é difícil de conseguir; criadores observam
a versão estética, os componentes artísticos e o ideal de beleza; historiadores oferecem
explanações evolucionários para as mudanças da moda. Entretanto, a moda em pro-
cesso não pode ser vista apenas sob determinada ótica”. GARCIA, Carol; MIRANDA, Ana
Paula Celso de. Moda é Comunicação: experiências, memorias, vínculos. São Paulo:
Anhembi Morumbi, 2005. p. 109.
6
Michaelis. Dicionário Online. Disponível em <https://michaelis.uol.com.br/moderno
-portugues/busca/portugues-brasileiro/moda/>. Acesso em: 19 ago. 2019.
7
POLLINI, Denise. Breve história... Op. Cit. p. 18-19.
8
Existem diversas teorias sobre o por quê da valorização da novidade e das mudanças,
dentre elas cita-se a Gabriel Tarde que propôs que as classes inferiores imitam as clas-
ses superiores refletindo seu desejo de ascensão social e, por sua vez, as classes supe-
riores mudam os elementos estilísticos nas suas roupas como forma de distinguirem-se
das classes inferiores (TARDE, Gabriel. Les Lois de l´imitation, étude sociologique
[1890]. Kimé, Paris. 1993.)
NOVOS DIREITOS INTELECTUAIS: 121
Talvez isso explique porque alguns designers são vistos como artis-
tas de talento especial e suas criações ganham valor de verdadei-
ras “obras de arte”, ou por que objetos de design são considerados
sinônimos de objetos modernos, inovadores e arrojados.13
9
OSMAN, Bruna Homem de Souza. Fashion law: desconstrução do direito da moda
no Brasil. 2017. p. 18. Dissertação (Mestrado em Direito Político e Econômico) – Coor-
denação de Pós Graduação em Direito da Universidade Presbiteriana Mackenzie de São
Paulo, São Paulo, 2017.
10
Esta afirmação é corroborada por CHRISTO, Deborah Chagas. Designer de moda ou es-
tilista? Pequena reflexão sobre a relação entre noções e valores do campo da arte, do
design e da moda. In: PIRES, Dorotéia Baduy (Org.). Design de moda: olhares diversos.
São Paulo: Estação das Letras, 2008. p. 27-35.
11
CHRISTO, Deborah Chagas. Designer de moda... Op. Cit. p. 27-35.
12
BOURDIEU, Pierre. A economia das trocas simbólicas. São Paulo: Perspectiva, 1999.
13
CHRISTO, Deborah Chagas. Designer de moda... Op. Cit.. 27-35.
122 BRUNA HOMEM DE SOUZA OSMAN | NÍDIA SIMÕES CRISTINO
14
DE CARLI, Ana Mary Sehbe. O sensacional da moda. Caxias do Sul: EDUCS, 2012, p. 18.
15
OSMAN, Bruna Homem de Souza. Fashion law... Op. Cit.
16
Cardoso registra que “as revistas de moda começaram a ser publicadas na Europa, prin-
cipalmente na Inglaterra e na França e nos Estados-Unidos, por volta dos anos 1800.
As revistas pesquisavam as últimas tendências e as espalhavam para todas as leitoras,
costureiras e clientes, até mesmo de outros países, copiavam os looks”. CARDOSO, Gisele
Ghanem. Direito da Moda. 2. Ed. Rio de Janeiro: Editora Lumen Juris, 2018. p. 17
17
LIPOVETSKY, Gilles. O império do efêmero: a moda e seu destino nas sociedades mo-
dernas. São Paulo: Cia. Das Letras, 1989. p. 80 e ss.
18
Segundo JEANNE BELHUMEUR foi Charles Frederick Worth o primeiro a destacar-se
como criador de moda, proporcionando inovação no processo de criação e na estética
de seus produto, exibindo seus modelos em desfiles de moda e introduzindo um ciclo
de moda com mudanças periódicas. BELHUMEUR, Jeanne. Droit International de la
Mode. Canova: Società Libraria Editrice, 2000. p. 17.
19
Deve-se observar, no entanto, que o segmento luxo no decorrer das últimas décadas
passou de pequenos negócios, independentes e semi-artesanais, a gigantescos grupos
multimarcas internacionais. Atualmente temos concentrações, fusões, aquisições e di-
visões de marcas num mercado mundial. MERCADO DE LUXO NO BRASIL: SEGMENTO
MODA LUXURY MARKET IN BRAZIL: FASHION SEGMENT Dal Bosco, Glória Lopes da
Silva; Especialista em Produção de Moda; Universidade Do Vale do Itajaí – Univali, glo.
[email protected]
20
Okonkwo redistra que a marca é a salvação da indústria de luxo enquanto o design e
criatividade são os seus alicerces. OKONKWO, Uche. Luxury fashion branding: trends,
tactics, techniques. New York: Palgrave Macmillan, 2007. Disponível em: . Acesso em:
21 set 2012.
NOVOS DIREITOS INTELECTUAIS: 123
21
Danielle Allérès observa que são três grandes categorias de classes sociais e de luxos,
que se diferenciam pela seleção dos usos e hábitos de consumo, o luxo inacessível o
qual pertence à classe social mais bem-provida e compreende os objetos mais raros,
novos e inacessíveis; o luxo intermediário vinculado à nova burguesia, geralmente com
hábitos de alto consumo de objetos novos, difundidos na mídia e com etiquetas; e, o
luxo acessível, relacionado com a classe média, também com alto consumo de produtos
que comumente são adquiridos para reproduzir classes sociais mais economicamente
abastadas. ALLÉRÈS, Danielle. Luxo: estratégias de marketing. 2 ed. Rio de Janeiro :
Editora FGV, 2006.
22
DELGADO, Daniela. Fast fashion: estratégia para conquista do mercado globalizado. Mo-
daPalavra e-periódico, v. 1, n. 2, 2008, p. 04.
23
LIPOVETSKY, Gilles. O império do efêmero... Op. Cit. p. 93
24
VALENTIM, Anamélia Fontana. A cópia na moda: imaginário e espetáculo. Anais do IV
Simpósio sobre Formação de Professores–SIMFOP Universidade do Sul de Santa
Catarina, 2012, p. 01.
25
TREPTOW, Doris. Inventando moda: planejamento de coleção. 4. ed. Brusque: Ed. do
Autor, 2007.
124 BRUNA HOMEM DE SOUZA OSMAN | NÍDIA SIMÕES CRISTINO
26
FILHO, João Gomes. Design do objeto bases conceituais: design de produto/ design
gráfico/ design de moda/ design de ambientes/ design conceitual. São Paulo: Escritu-
ras, 2006, p. 29.
27
VALENTIM, Anamélia Fontana. A cópia na moda: imaginário e espetáculo. Anais do IV
Simpósio sobre Formação de Professores–SIMFOP Universidade do Sul de Santa Ca-
tarina, 2012, p. 08.
28
CARDOSO, Gisele Ghanem. Direito da Moda. 2. Ed. Rio de Janeiro: Editora Lumen Juris,
2018. p. 17.
29
MESQUITA, Cristiane; PRECIOSA, Rosane. Moda em Ziguezague: Interfaces e Expan-
sões. São Paulo: Estação das letras e cores, 2011.
NOVOS DIREITOS INTELECTUAIS: 125
30
ERNER, Guillaume. Sociologia das tendências. Tradução Julia da Rosa Simões. São
Paulo: 1. ed. Editora Gustavo Gili, 2015.
31
DELGADO, Daniela. Fast fashion... Op. Cit. p. 04.
32
FRINGS, Gini Stephens. Moda do conceito ao consumidor. 9. ed. Porto Alegre:
Bookman, 2012. p. 50.
33
Gini Stephens Frings precisa em cinco etapas o ciclo da moda, são eles, introdução de
um estilo, aumento da popularidade, pico de popularidade, declínio da popularidade e
rejeição de um estilo ou obsolência. FRINGS, Gini Stephens. Moda do conceito ao con-
sumidor. 9. ed. Porto Alegre: Bookman, 2012. p. 62-63.
34
CARDOSO, Gisele Ghanem. Direito da Moda. 2. Ed. Rio de Janeiro: Editora Lumen Juris,
2018. p. 33.
35
ERNER, Guillaume. Vítimas da moda? Como a criamos, por que a seguimos. São Pau-
lo: Senac, 2005.
126 BRUNA HOMEM DE SOUZA OSMAN | NÍDIA SIMÕES CRISTINO
36
DELGADO, Daniela. Fast fashion... Op. Cit. p. 04-05.
37
Idem. p. 08.
38
CARDOSO, Gisele Ghanem. Direito da Moda... Op. Cit. p. 35-38.
39
Idem. p. 38-39.
NOVOS DIREITOS INTELECTUAIS: 127
dem ser piratas, falsificados, réplicas, ou que são denominados como relei-
tura ou inspiração. Todos existentes no mercado global de modo habitual e
incisivo – ainda que inaceitáveis.44
Entretanto, não é possível ignorar os potenciais prejuízos que podem
trazer aos designers. Em especial quando apresentam suas criações em des-
files de semanas de moda em, por exemplo, Nova Iorque, Paris ou Milão, e
estes produtos são divulgados em tempo real, em várias páginas web. Com
isto, qualquer empresa que tenha a estratégia fast fashion pode reprojetar,
ou seja, reformular a criação original e enviar o design para as fábricas dis-
seminadas pelo mundo para a sua produção em grande volume, com velo-
cidade assombrosa, para ser vendido por um valor consideravelmente mais
baixo. Essas peças chegam às lojas poucas semanas depois do original ter
sido apresentado ao público e, na maior parte das vezes, muitos meses antes
do original chegar até às lojas.45
Consequentemente, neste contexto, identificam-se os produtos que
são cópias, ou seja, bem pirata, falsificado ou réplica, por obviedade, não
requerem proteção jurídica, justamente porque tentam de alguma forma,
reproduzir de forma fidedigna a criação original.
Contudo, os demais bens de consumo de moda, sejam de luxo ou não,
complexos ou não, que não sejam cópia, podem eventualmente ensejar pro-
teção jurídica, assim, analisa-se a possibilidade de salvaguarda das criações/
produtos de moda (seja básico, fashion, vanguarda/conceitual) e dos produtos
denominados releituras/inspired, originários da estratégia fast fashion, tanto
sob a égide da legislação brasileira quanto da portuguesa.
44
CARDOSO, Gisele Ghanem. Direito da Moda... Op. Cit. p. 44-45.
45
ROCHA, Maria Vitória. Pirataria na Lei da Moda: um paradoxo? In Estudos de Direito
do Consumidor, nº12, 2007, ISSN 1646-0375 (disponível em https://www.fd.uc.pt/
cdc/pdfs/rev_12_completo.pdf). Acedido em 30 de novembro de 2018.
46
GODINHO, Manuel Mira. et al. Propriedade intelectual: uma temática na ordem do dia.
Lisboa: Público/UAL, 2008.
NOVOS DIREITOS INTELECTUAIS: 129
47
A Convenção de Estocolmo de 14 de julho de 1967 institui a World Intellectual Property
Organization – WIPO – denominação internacional da Organização Mundial da Proprie-
dade Intelectual - OMPI,
48
Convenção de Estocolmo, 14 de julho de 1967; Artigo 2, § viii
49
UNIVERSIDADE DO PORTO. Proteger Propriedade Intelectual. Disponível em: <ht-
tps://upin.up.pt/pt-pt/content/proteger-propriedade-intelectual>. Acesso em: 03 set.
2019.
130 BRUNA HOMEM DE SOUZA OSMAN | NÍDIA SIMÕES CRISTINO
50
CASTRO, Ana Célia; DE ALBUQUERQUE POSSAS, Cristina; GODINHO, Manuel Mira. Pro-
priedade intelectual nos países de língua portuguesa: temas e perspectivas. Edi-
tora E-papers, 2011. p. 19.
51
A denominação TRIPS (Agreement on Trade- Related Aspects of Intellectual Property Ri-
ghts) também é conhecido pela denominação AADPIC (Acordo sobre Aspectos dos Direi-
tos de Propriedade Intelectual Relacionados ao Comércio).
52
CASTRO, Ana Célia; DE ALBUQUERQUE POSSAS, Cristina; GODINHO, Manuel Mira. Pro-
priedade intelectual nos países de língua portuguesa: temas e perspectivas. Edi-
tora E-papers, 2011. p. 20.
53
Segundo Igor Ferraz da Fonseca e Marcel Bursztyn (2009), free-riders são aquelas pessoas
físicas ou jurídicas que disfruam de algum bem sem ter incorrido em qualquer custo
para a sua obtenção, portanto, são pessoas ou empresas que são beneficiárias de esforços
alheios. FONSECA, Igor Ferraz da; BURSZTYN, Marcel. A banalização da sustentabilida-
de: reflexões sobre governança ambiental em escala local. 2009.
54
GIACCHETTA, André Zonaro; SANTOS, Matheus Chucri dos. A proteção do design das
criações de moda pela propriedade intelectual: breve análise do panorama atual de pro-
teção e reflexões sobre a necessidade de proteção específica para o design das criações
de moda. In ROSINA, Mônica Steffen Guise; CURY, Maria Fernanda (Org.). Fashion Law:
direito da moda no Brasil. São Paulo: Thomson Reuters, 2018. p. 29.
55
Idem.. p. 29.
NOVOS DIREITOS INTELECTUAIS: 131
56
Lei nº 9.610, de 19 de fevereiro de 1998 – Artigo 1° Esta Lei regula os direitos autorais,
entendendo-se sob esta denominação os direitos de autor e os que lhes são conexos.
57
Lei nº 9.610, de 19 de fevereiro de 1998 – Artigo 7° São obras intelectuais protegidas
as criações do espírito, expressas por qualquer meio ou fixadas em qualquer suporte,
tangível ou intangível, conhecido ou que se invente no futuro, tais como: I - os textos
de obras literárias, artísticas ou científicas; II - as conferências, alocuções, sermões e
outras obras da mesma natureza; III - as obras dramáticas e dramático-musicais; IV -
as obras coreográficas e pantomímicas, cuja execução cênica se fixe por escrito ou por
outra qualquer forma; V - as composições musicais, tenham ou não letra; VI - as obras
audiovisuais, sonorizadas ou não, inclusive as cinematográficas; VII - as obras fotográ-
ficas e as produzidas por qualquer processo análogo ao da fotografia; VIII - as obras de
desenho, pintura, gravura, escultura, litografia e arte cinética; IX - as ilustrações, cartas
geográficas e outras obras da mesma natureza; X - os projetos, esboços e obras plásticas
concernentes à geografia, engenharia, topografia, arquitetura, paisagismo, cenografia e
ciência; XI - as adaptações, traduções e outras transformações de obras originais, apre-
sentadas como criação intelectual nova; XII - os programas de computador; XIII - as
coletâneas ou compilações, antologias, enciclopédias, dicionários, bases de dados e ou-
tras obras, que, por sua seleção, organização ou disposição de seu conteúdo, constituam
uma criação intelectual. § 1º Os programas de computador são objeto de legislação es-
pecífica, observadas as disposições desta Lei que lhes sejam aplicáveis. § 2º A proteção
concedida no inciso XIII não abarca os dados ou materiais em si mesmos e se enten-
de sem prejuízo de quaisquer direitos autorais que subsistam a respeito dos dados ou
materiais contidos nas obras. § 3º No domínio das ciências, a proteção recairá sobre a
forma literária ou artística, não abrangendo o seu conteúdo científico ou técnico, sem
prejuízo dos direitos que protegem os demais campos da propriedade imaterial.
58
Os direitos morais e patrimoniais do autor estão previstos no artigo 22 da Lei n°
9.610/1998, o qual estabelece que “pertencem ao autor os direitos morais e patrimo-
niais sobre a obra que criou”. Mas é importante lembrar que a Convenção de Berna rea-
132 BRUNA HOMEM DE SOUZA OSMAN | NÍDIA SIMÕES CRISTINO
lizada em 1886 em Berna, na Suíça estabelece que se existir direito de autor em algum
dos países signatários, este direito terá validade em todos os países que façam parte da
Convenção de Berna – atualmente Brasil e Protugal são signatários do tratado. COPYRI-
GHT HOUSE. Paises da Convenção de Berna. Disponível em <https://pt.copyrighthouse.
org/paises-convencao-de-berna>. Acesso em 03 set. 2019.
59
GIACCHETTA, André Zonaro; SANTOS, Matheus Chucri dos. A proteção do design... Op.
Cit. p. 33.
60
Lei nº 9.610, de 19 de fevereiro de 1998. Artigo 29. Depende de autorização prévia e ex-
pressa do autor a utilização da obra, por quaisquer modalidades, tais como: I - a repro-
dução parcial ou integral; II - a edição; III - a adaptação, o arranjo musical e quaisquer
outras transformações; IV - a tradução para qualquer idioma; V - a inclusão em fono-
grama ou produção audiovisual; VI - a distribuição, quando não intrínseca ao contrato
firmado pelo autor com terceiros para uso ou exploração da obra; VII - a distribuição
para oferta de obras ou produções mediante cabo, fibra ótica, satélite, ondas ou qual-
quer outro sistema que permita ao usuário realizar a seleção da obra ou produção para
percebê-la em um tempo e lugar previamente determinados por quem formula a de-
manda, e nos casos em que o acesso às obras ou produções se faça por qualquer sistema
que importe em pagamento pelo usuário; VIII - a utilização, direta ou indireta, da obra
literária, artística ou científica, mediante: a) representação, recitação ou declamação; b)
execução musical; c) emprego de alto-falante ou de sistemas análogos; d) radiodifusão
sonora ou televisiva; e) captação de transmissão de radiodifusão em locais de freqü-
ência coletiva; f) sonorização ambiental; g) a exibição audiovisual, cinematográfica ou
por processo assemelhado; h) emprego de satélites artificiais; i) emprego de sistemas
óticos, fios telefônicos ou não, cabos de qualquer tipo e meios de comunicação similares
que venham a ser adotados; j) exposição de obras de artes plásticas e figurativas; IX - a
inclusão em base de dados, o armazenamento em computador, a microfilmagem e as
NOVOS DIREITOS INTELECTUAIS: 133
65
Lei nº 9.279, de 14 de maio de 1996. Art. 8º É patenteável a invenção que atenda aos
requisitos de novidade, atividade inventiva e aplicação industrial.
66
GIACCHETTA, André Zonaro; SANTOS, Matheus Chucri dos. A proteção do design... Op.
Cit. p. 36.
67
Lei nº 9.279, de 14 de maio de 1996. Art. 9º É patenteável como modelo de utilidade o
objeto de uso prático, ou parte deste, suscetível de aplicação industrial, que apresente
nova forma ou disposição, envolvendo ato inventivo, que resulte em melhoria funcional
no seu uso ou em sua fabricação.
68
SILVEIRA, Newton. Direito do autor no design. 2. ed. São Paulo: Saraiva, 2012. p. 46.
69
GIACCHETTA, André Zonaro; SANTOS, Matheus Chucri dos. A proteção do design... Op.
Cit. p. 37.
NOVOS DIREITOS INTELECTUAIS: 135
70
GIACCHETTA, André Zonaro; SANTOS, Matheus Chucri dos. A proteção do design... Op.
cit. p. 37.
71
Idem. p. 37
136 BRUNA HOMEM DE SOUZA OSMAN | NÍDIA SIMÕES CRISTINO
72
GIACCHETTA, André Zonaro; SANTOS, Matheus Chucri dos. A proteção do design... Op.
cit. p. 38.
73
Decreto-Lei n° 63/85. Artigo 1°. 1 - Consideram-se obras as criações intelectuais do
domínio literário, científico e artístico, por qualquer modo exteriorizadas, que, como
tais, são protegidas nos termos deste Código, incluindo-se nessa protecção os direitos
dos respectivos autores. 2 - As ideias, os processos, os sistemas, os métodos operacio-
nais, os conceitos, os princípios ou as descobertas não são, por si só e enquanto tais,
protegidos nos termos deste Código. 3 - Para os efeitos do disposto neste Código, a obra
é independente da sua divulgação, publicação, utilização ou exploração.
74
PEREIRA, Alexandre Libório Dias. Direitos de Autor e Liberdade de Informação. Por-
tugal: Edições Almedina. 2008, p. 397.
NOVOS DIREITOS INTELECTUAIS: 137
75
PEREIRA, Alexandre Libório Dias. Direitos de Autor e Liberdade de Informação. Por-
tugal: Edições Almedina. 2008, p. 380.
76
Pedro Sousa e Silva faz uma extensa exposição de dois critérios (p. 173- 188), chegando
a uma possível definição de obra de caráter artístico: “(…) uma obra tem caráter artísti-
co quando constitua uma expressão estética individual, refletindo de algum modo a sen-
sibilidade do seu autor e resultando de escolhas arbitrárias deste, feitas segundo critérios
não exclusivamente funcionais”. SILVA, Pedro Sousa e. A Proteção Jurídica do Design.
Portugal: Edições Almedina, SA, 2017, p. 187.
77
Decreto-Lei n° 63/85. Artigo 2°. 1 - As criações intelectuais do domínio literário, científico
e artístico, quaisquer que sejam o género, a forma de expressão, o mérito, o modo de co-
municação e o objectivo, compreendem nomeadamente: a) Livros, folhetos, revistas, jor-
nais e outros escritos; b) Conferências, lições, alocuções e sermões; c) Obras dramáticas e
dramático-musicais e a sua encenação; d) Obras coreográficas e pantomimas, cuja expres-
são se fixa por escrito ou por qualquer outra forma; e) Composições musicais, com ou sem
palavras; f) Obras cinematográficas televisivas, fonográficas, videográficas e radiofónicas;
g) Obras de desenho, tapeçaria, pintura, escultura, cerâmica, azulejo, gravura, litografia
e arquitectura; h) Obras fotográficas ou produzidas por quaisquer processos análogos
aos da fotografia; i) Obras de artes aplicadas, desenhos ou modelos industriais e obras
de design que constituam criação artística, independentemente da protecção relativa à
propriedade industrial; j) Ilustrações e cartas geográficas; l) Projectos, esboços e obras
plásticas respeitantes à arquitectura, ao urbanismo, à geografia ou às outras ciências; m)
Lemas ou divisas, ainda que de carácter publicitário, se se revestirem de originalidade;
n) Paródias e outras composições literárias, ou musicais, ainda que inspiradas num tema
ou motivo de outra obra. 2 - As sucessivas edições de uma obra, ainda que corrigidas, au-
mentadas, refundidas ou com mudança de título ou de formato, não são obras distintas da
obra original, nem o são as reproduções de obra de arte, embora com diversas dimensões.
78
ABREU, Lígia Carvalho. Reconhecimento e lei aplicável às criações de moda pelo Direito
de Autor. Revista da Faculdade de Direito e Ciência Política da Universidade Lu-
sófona do Porto, v. 8, n. 8, p. 159, dec. 2016. ISSN 2184-1020. Disponível em: <http://
revistas.ulusofona.pt/index.php/rfdulp/article/view/5723>.
138 BRUNA HOMEM DE SOUZA OSMAN | NÍDIA SIMÕES CRISTINO
79
ASCENSÃO, José de Oliveira. Direitos de Autor e Direitos Conexos: Direito Civil. Coim-
bra: Editora Grupo Wolters Kluwer, 2012, p.94-97. Do mesmo modo RIBEIRO, Bárbara
Quintela. A Tutela Jurídica da Moda pelo Regime dos Desenhos ou Modelos. In Associa-
ção Portuguesa de Direito Intelectual, v.5, Coimbra, Almedina, 2008, p. 503-517.
80
Esta foi, durante algum tempo, a solução alemã. Impunha-se às obras de arte aplicada,
um nível de criatividade superior àquela que é exigida para as obras de arte pura, a
“altura criativa”. SILVA, Pedro Sousa e. A Proteção Jurídica do Design... Op. Cit., p. 261-
263. Hoje, já se segue um outro entendimento, como veremos.
81
ASCENSÃO, José de Oliveira. Direitos de Autor e Direitos Conexos... Op. Cit, p. 94.
NOVOS DIREITOS INTELECTUAIS: 139
Desta forma, terá o designer que elevar a sua obra, através das com-
binações de cores, tecidos, formas e outros ao nível da arte – como é possí-
vel observar nas criações/produtos de vanguarda/conceituais. Maria Vitó-
ria Rocha (2007) enfatiza que as criações de moda podem ser equiparadas
a várias esculturas ou pinturas83, com os mesmos níveis de sofisticação e
complexidade.
Ainda assim, não se entende tratar de uma “condição extra”, pelo
contrário, a “exigência do caráter artístico é transversal a todo o direito de
autor”84, e o que se quer para as obras de arte aplicada é aquilo que se exige
para toda e qualquer obra, que é possuir caráter artístico.
Conclui-se, assim, que não será qualquer criação/produto que pode-
rá ser protegido pelo Direito Autoral. Para tanto, é fundamental que tenha
caráter artístico.
Nesta conjuntura, cabe dizer que a obra, para ser protegida, deverá
ainda cumprir dois requisitos: a exteriorização e a originalidade. Segundo
Alexandre Libório Dias Pereira (2008, p. 384) “a exteriorização significa
que a criação intelectual deve ter uma expressão comunicativa reconhecível
através de uma forma sensorialmente apreensível (ou suscetível de perceção
(…))”85. Ou seja, a obra deverá assumir uma forma exterior ao seu criador
e ser apreensível pelos sentidos humanos. Do posicionamento deste autor
entende-se que não será necessária a sua fixação, ou seja, “a incorporação
da obra num material estável, que permita a sua fruição ou reprodução”86.
A originalidade é um requisito inegável no domínio dos Direitos de
Autor, mesmo que a lei não lhe faça referência. Porém, são várias as pers-
pectivas relativas ao seu significado e alcance. Alguns autores defendem a
82
RIBEIRO, Bárbara Quintela. A Tutela Jurídica da Moda... Op. Cit. p. 503-517.
83
“Qualquer pessoa que diga que a moda não pode ser arte, por certo não viu peças de al-
ta-costura de Alexander McQueen ou de Marchesa, por exemplo. Ou, entre nós, as peças
de StoryTailors”. ROCHA, Maria Vitória. Pirataria na Lei da Moda... Op. Cit.
84
SILVA, Pedro Sousa e. A Proteção Jurídica... Op. Cit. p. 233.
85
PEREIRA, Alexandre Libório Dias. Direitos de Autor e Liberdade... Op. Cit., p. 384.
86
Pelo menos no que toca às obras citadas. SILVA, Pedro Sousa e. A Proteção Jurídica...Op.
Cit. p. 194.
140 BRUNA HOMEM DE SOUZA OSMAN | NÍDIA SIMÕES CRISTINO
87
ROCHA, Maria Vitória. Contributos para a delimitação da “originalidade” como requisito
de proteção da obra pelo Direito de Autor. In Estudos em Homenagem ao Prof. Doutor
Castanheira Neves, Vol.II, Coimbra: Coimbra Editora, 2008, p. 764 e 780.
88
SILVA, Pedro Sousa e. A Proteção Jurídica...Op. Cit. p. 206.
89
SILVA, Pedro Sousa e. A Proteção Jurídica...Op. Cit. p. 208-214.
90
ABREU, Lígia Carvalho. Reconhecimento e lei aplicável às criações de moda pelo Direito
de Autor. Revista da Faculdade de Direio e Ciência Política da Universidade Lusó-
fona do Porto, v. 8, n. 8, p. 159, 2016.
91
ROCHA, Maria Vitória. Contributos para a delimitação... Op. Cit. ABREU, Lígia Carvalho.
Reconhecimento e lei aplicável às criações... Op. Cit.
92
Decreto-Lei n.º 63/85 (Obras equiparadas a originais) - Artigo 3.º 1 - São obras equi-
paradas a originais: a) As traduções, arranjos, instrumentações, dramatizações, cine-
matizações, e outras transformações de qualquer obra, ainda que esta não seja objecto
de protecção; b) Os sumários e as compilações de obras protegidas ou não, tais como
selectas, enciclopédias e antologias que, pela escolha ou disposição das matérias, cons-
tituam criações intelectuais; c) As compilações sistemáticas ou anotadas de textos de
convenções, de leis, de regulamentos e de relatórios ou de decisões administrativas,
NOVOS DIREITOS INTELECTUAIS: 141
100
Mas não só as grandes retalhistas cedem à tentação dos produtos inspired. A própria
Forever 21 viu uma das mais conceituadas marcas de alta-costura, a Yves Saint Laurent
a usar, num vestido, um tecido muito similar àquele que já previamente usara. Vide,
http://www.thefashionlaw.com/home/did-saint-laurent-actually-copy-forever-21
101
A Diretiva (UE) 2015/2436 do Parlamento Europeu e do Conselho, de 16 de dezembro
de 2015, aproxima as legislações dos Estados-Membros em matéria de marcas.
102
A Diretiva (UE) 2016/943 do Parlamento Europeu e do Conselho, de 8 de junho de
2016, é relativa à proteção de know-how e de informações comerciais confidenciais (se-
gredos comerciais) contra a sua aquisição, utilização e divulgação ilegais.
103
Com previsão no Novo Código de Propriedade Intelectual no Título II (Regimes jurídi-
cos da propriedade industrial), Capítulo I (Invenções), Subcapítulo I (Patentes) – Arti-
gos 50° ao 118°.
104
Código de Propriedade Intelectual - Artigo 54.º 1 — Uma invenção é considerada
nova quando não está compreendida no estado da técnica. 2 — Considera-se que uma
invenção implica atividade inventiva se, para um perito na especialidade, não resultar
de uma maneira evidente do estado da técnica. 3 — Para aferir a atividade inventiva
referida no número anterior não são tomados em consideração os documentos
referidos no n.º 2 do artigo seguinte. 4 — Considera-se que uma invenção é suscetível
de aplicação industrial se o seu objeto puder ser fabricado ou utilizado em qualquer
género de indústria ou na agricultura.
105
O estado da técnica é definido no artigo 55° do Código da Propriedade Industrial (2018)
como “tudo o que, dentro ou fora do País, foi tornado acessível ao público antes da data
do pedido de patente, por descrição, utilização ou qualquer outro meio.”
NOVOS DIREITOS INTELECTUAIS: 143
106
Com previsão no Novo Código de Propriedade Intelectual no Título II (Regimes jurídi-
cos da propriedade industrial), Capítulo I (Invenções), Subcapítulo II (Modelos de Utili-
dade) – Artigos 119° ao 152°.
107
Código de Propriedade Industrial - Artigo 119. 1 — Podem ser protegidas como modelos
de utilidade as invenções novas, implicando atividade inventiva, se forem suscetíveis de
aplicação industrial. 2 — Os modelos de utilidade visam a proteção das invenções por
um procedimento administrativo mais simplificado e acelerado do que o das patentes.
3 — A proteção de uma invenção que respeite as condições estabelecidas no n.º 1 pode
ser feita, por opção do requerente, a título de modelo de utilidade ou de patente. 4 — A
mesma invenção pode ser objeto de um pedido de patente e de um pedido de modelo de
utilidade. 5 — A apresentação dos pedidos mencionados no número anterior apenas pode
ser admitida no período de um ano a contar da data da apresentação do primeiro pedido.
6 — Nos casos previstos no n.º 4, o modelo de utilidade caduca após a concessão de uma
patente relativa à mesma invenção.
108
Código de Propriedade Intelectual:
Artigo 50.º [...] 5 — A mesma invenção pode ser objeto de um pedido de patente e de um
pedido de modelo de utilidade.
144 BRUNA HOMEM DE SOUZA OSMAN | NÍDIA SIMÕES CRISTINO
Artigo 119.º [...] 4 — A mesma invenção pode ser objeto de um pedido de patente e de
um pedido de modelo de utilidade.
109
Isto, claro, se preencherem os requisitos definidos nos art. 4º-9 do RDM e 176º-180º do
CPI. São eles: a novidade, o caráter singular, e, segundo Pedro Sousa e Silva, a visibilida-
de, a realidade prática, a arbitrariedade e a licitude. Cfr, A Proteção…, p. 85- 121.
110
Código da Propriedade Intelectual – Artigo 174º Artigo 174º 1 — Produto designa qual-
quer artigo industrial ou de artesanato, incluindo, entre outros, os componentes para
montagem de um produto complexo, as embalagens, os elementos de apresentação, os
símbolos gráficos e os carateres tipográficos, excluindo os programas de computador.
[...]
111
Código da Propriedade Industrial - Artigo 175º 1 — Gozam de proteção legal os
desenhos ou modelos novos que tenham caráter singular. 2 — Gozam igualmente de
proteção legal os desenhos ou modelos que, não sendo inteiramente novos, realizem
combinações novas de elementos conhecidos ou disposições diferentes de elementos já
usados, de molde a conferirem aos respetivos produtos caráter singular. [...].
NOVOS DIREITOS INTELECTUAIS: 145
6 CONCLUSÕES
REFERÊNCIAS
ABREU, Lígia Carvalho. Reconhecimento e lei aplicável às criações de moda pelo
Direito de Autor. Revista da Faculdade de Direito e Ciência Política da Univer-
sidade Lusófona do Porto, v. 8, n. 8, p. 159, dec. 2016. ISSN 2184-1020, disponí-
vel em: <http://revistas.ulusofona.pt/index.php/rfdulp/article/view/5723>.
ALLÉRÈS, Danielle. Luxo: estratégias de marketing. 2 ed. Rio de Janeiro : Editora
FGV, 2006.
ASCENSÃO, José de Oliveira. Direitos de Autor e Direitos Conexos: Direito Civil.
Coimbra: Editora Grupo Wolters Kluwer, 2012.
NOVOS DIREITOS INTELECTUAIS: 151
Luciana Reusing1
Vinicius de Holanda Costa2
1 INTRODUÇÃO
1
Professora e Mestre em Ciência Tecnologia e Sociedade, Instituto Federal do Paraná
– IFPR. Pesquisadora do Grupo de Estudos em Direito Autoral e Industrial – GEDAI /
UFPR. Contato: [email protected].
2
Graduado em direito pela UFPB, Mestrando em Ciência Jurídica com especialidade em
Propriedade Intelectual pela Universidade de Lisboa.
154 LUCIANA REUSING | VINICIUS DE HOLANDA COSTA
a) Desvio de Clientela
Dentro dessa classificação podemos enquadrar os incisos I, II e III
do artigo 195 do CPI Brasileiro, sendo esses atos os que se aproveitam da
publicação de informações falsas acerca dos concorrentes para obter van-
tagem.
Os incisos I e II preveem falsas afirmações, que possuem o objetivo
de denegrir a imagem do concorrente ou de seus produtos, levando os con-
sumidores a perderem a confiança que possuem nesta empresa, produtos
e serviços.
Essas afirmações causam um prejuízo econômico aos concorrentes,
posto que ao terem sua imagem relacionada a algo negativo a clientela pos-
sa buscar por produtos e serviços diferentes.
Já o inciso III afirma que o uso de qualquer meio fraudulento com ob-
jetivo de desvio da concorrência será considerado um ato de concorrência
desleal, sendo bastante amplas as possibilidades de atos que podem ser
enquadradas neste artigo.
b) Atos de Confusão
Os incisos IV, V e VI do art. 195 do Código de Propriedade Industrial
Brasileiro definem atos que possuem o objetivo de confundir o consumidor,
fazendo-o pensar que está adquirindo um produto quando na verdade está
consumindo outro. Para que de fato haja confusão, conforme Bittar (1982)
são necessários que se esse ato possua três elementos: (i) a preexistência
de um produto concorrente; (ii) existência de uma imitação servil do pro-
duto; (iii) a suscetibilidade de estabelecer a confusão.
É necessário que um produto já exista no mercado para que este seja
usado como base para gerar a confusão com o produto que virá a existir,
utilizando-se assim de um aproveitamento indevido.
A imitação do produto preexistente deve possuir as mesmas carac-
terísticas essenciais que identificam este como produto de uma determi-
nada empresa, induzindo o público ao erro quando o procurarem. Ou seja,
a imitação de algumas características que não são essenciais não pode ser
considerado um ato de confusão.
164 LUCIANA REUSING | VINICIUS DE HOLANDA COSTA
Por fim, a imitação desse produto deve de fato gerar uma confusão
nos consumidores, passível de induzir o consumidor médio ao erro. Logo,
se não causar este efeito, o ato não será considerado uma prática desleal.
Diante disto, no comercio eletrônico se utiliza bastante uma ferra-
menta do Google chamada Google Adwords, em que basicamente a empresa
registra uma mensagem, uma palavra-chave relacionada ao seu produto
ou serviço, e quando o consumidor procurar no Google algo relacionado a
estes, o Google Adwords irá posicionar no topo da lista gerada uma publici-
dade com um link direcionando o consumidor para seu website.
O lado negativo é que esta ferramenta também pode ser utilizada
como um meio para praticar atos de concorrência desleal, como casos em
que empresas registraram no Google Adwords, sinais distintivos (marcas)
de seus concorrentes, gerando confusão nos consumidores ao procurarem
produtos ou serviços no Google.
Por exemplo, o caso do Tribunal de Justiça do Rio de Janeiro (2017)
Groupon vs Hotel Urbano, em que o Hotel Urbano registrou nessa ferra-
menta a palavra-chave “Groupon” (marca registrada da empresa concor-
rente), fazendo com que os consumidores que procurassem por essa pala-
vra no Google fossem direcionadas ao website do Hotel Urbano, causando
confusão sobre uma parceria entre as empresas.
Por fim, a 22ª câmara Cível do TJ/RJ condenou a agência de viagens
online Hotel Urbano ao pagamento de R$ 50 mil, a título de danos morais,
por concorrência desleal.
Outro exemplo que pode gerar confusão é a utilização de domínios
parecidos em que se registram nomes semelhantes aos dos concorrentes,
visando que erros de digitação dos consumidores façam com que a empre-
sa se beneficie.
a) Atos de Confusão
O ato de confusão está previsto no CPI Português, em seu artigo 311
o
, no 1, a), bem como no Decreto-Lei 57/2008, e no artigo 7, no 2, a), como
sendo um ato que crie confusão nos consumidores, afetando sua liberda-
de de escolha e induzindo-os ao erro, através do aproveitamento da boa
reputação dos produtos, serviços, marcas e designação comercial de uma
empresa concorrente, independentemente do meio empregue.
Conforme demonstra Gonçalves (2019), é importante salientar que
existem atos de confusão que dizem respeito a sinais distintivos que são
protegidos pela propriedade industrial, mas também pode haver casos em que
esses sinais não são protegidos. Em caso de marcas que não são registradas,
deve-se voltar a atenção integralmente para as normas da concorrência des-
leal, tendo em conta a boa-fé das empresas e a livre concorrência.
Já no caso de marcas protegidas, deve-se levar em conta que a rela-
ção da concorrência desleal com a propriedade industrial é muito intima,
apesar de serem independentes são complementares uma a outra.
A exemplo, em caso de atos de confusão que envolvam marcas devi-
damente registradas, pelo escopo do CPI português, basta verificar se os
requisitos previstos no artigo 238o, n o 1 foram cumpridos.
168 LUCIANA REUSING | VINICIUS DE HOLANDA COSTA
b) Atos de Descredito
Podemos estabelecer uma analogia entres estes e os atos desvio de
clientela previstos no ordenamento jurídico brasileiro. Sendo assim, no or-
denamento português, estes atos estão previstos no artigo 311 o, n o 1, b)
do CPI português, prevendo como falsas afirmações aquelas que buscam
atribuir uma má qualidade aos produtos ou serviços das empresas concor-
rentes com o objetivo de fazer a clientela destes perderem sua confiança na
empresa e consequentemente passarem a comprar produtos ou serviços
de quem cometeu o ato, obtendo assim uma vantagem econômica, já que
acarretará na diminuição dos lucros do concorrente, e um aumento os seus
próprios lucros.
Não é necessário que se diga explicitamente o nome do concorrente
ou sua marca, basta que seja possível identificar a empresa alvo, ou seja, os
atos podem ser indiretos.
Importante salientar que as informações apresentadas que de fato
são verdadeiras, mesmo que sejam negativas, não podem ser consideradas
com práticas desleais, se publicadas de modo objetivo. Ainda, as meras
opiniões que não sejam apresentadas como fatos também não representam
qualquer forma de prática desleal.
c) Atos Enganosos
Os atos enganosos estão previstos no artigo 311o, n o 1, d), e) e f), em
conjunto com o Decreto-Lei 57/2008 nos artigos 7 o, 8 o e 9 o, se dividindo
basicamente em ações enganosas e omissões enganosas.
O artigo 7o do DL 57/2008 em seu caput alega que as práticas enga-
nosas são aquelas que contenham informações falsas, ou que mesmo que
sejam de fato corretas, induzam o consumidor ao erro, levando-o a consu-
mir o produto ou serviço (PORTUGAL, 2008).
Em seguida, o mesmo artigo traz em suas alíneas uma série de exem-
plos que podem ser considerados como atos enganosos. No artigo 8o é
apresentado um rol de ações enganosas, que independentemente do con-
texto são considerados atos enganosos por si só. Ou seja, não podem ser
NOVOS DIREITOS INTELECTUAIS: 169
praticados seja o meio qual for, como por exemplo esquemas de pirâmide,
vendas casadas, entre outros.
O CPI português em seu artigo 311o traz três formas de ações enga-
nosas, previstas também no DL57/2008, com a diferença que aquele diplo-
ma é focado especialmente para a propriedade industrial, enquanto este se
preocupa com a concorrência desleal como um todo.
A primeira forma prevista no CPI português está no artigo 311o, no
1, d), que são as falsas afirmações sobre a própria empresa, possuindo o
objetivo de se auto promover e se beneficiar ilegitimamente. Assim a em-
presa apresenta dados que não são verdadeiros, sobre o capital da sua em-
presa, a qualidade ou quantidade ou natureza de seus produtos e serviço,
quantidade de clientela, enganando o consumidor ao ganhar sua confiança,
levando-o a acreditar que estes são de um nível superior ao que de fato são.
A segunda forma está no artigo 311o, no 1, e), que são as falsas afir-
mações sobre a natureza, qualidade ou utilidade dos produtos ou serviços,
e as falsas afirmações sobre a origem dos produtos, como região, fábrica,
localidade. As falsas informações devem ser objetivamente falsas, ou seja,
não deve levar em conta o erro subjetivo do consumidor, como uma inter-
pretação errônea (GONÇALVES, 20191).
Por fim, a terceira ação enganosa está prevista no artigo 311o, no 1,
f), que são as omissões enganosas, estando estas práticas também previs-
tas no artigo 9o do DL 57/2008, que são omissões feitas pelo vendedor ou
por intermediários, acerca dos produtos que estão vendendo diretamente
para os consumidores, como a origem do produto, indicações geográficas,
sem que estas alterações tenham sido realizadas pelos seus fabricantes.
Importante salientar que o artigo 253o do CPI de Portugal (2018)
declara que o titular dos direitos sobre marcas não pode exigir a proibição
do comercio de produtos legitimamente colocados em circulação, salvo, se
houver motivos legítimos ou quando os produtos forem alterados após sua
colocação no mercado.
Sendo assim o titular sobre determinada marca, em caso de omissão
enganosa, pode proibir que este produto circule no mercado.
aparente ter uma melhor qualidade, além de fazer com que os consumido-
res confiem mais nestes.
Outra prática que pode ser considerada desleal são as chamadas
concorrências parasitárias, as quais consistem em aproveitar a boa repu-
tação de empresas ou produtos concorrentes, agindo sistematicamente de
modo parecido e continuado com estes, objetivando a atração da clientela
para si (GONÇALVES, 2019).
331º. Ele previa uma multa de 3000 a 30000 euros, se fosse pessoa coleti-
va, ou de 750 a 7500 euros, em caso de pessoa singular. Esse código sofreu
diversas mudanças, até ser revogado pelo Decreto Lei nº 110/2018, de 10
de dezembro, o atual CPI.
A punição prevista no artigo 330 o deste código manteve a natureza
civil do antigo código, e definiu que em caso de atos desleais deve ser paga
uma multa de 5 000 a 100 000 euros, se for pessoa coletiva, ou de 1 000 a
30 000 euros, em caso de pessoa singular.
Já o artigo 335o traz que o uso ilegal do nome, insígnia ou logotipo do
seu estabelecimento (registado ou não, de uma firma ou uma denominação
social que não pertença ao requerente, ou apenas parte característica das
mesmas, se for suscetível de induzir o consumidor ao erro ou confusão)
deverá ser punido com uma multa de 3 000 a 30 000 euros, caso se trate de
pessoa coletiva, e de 750 a 3 740 euros, caso se trate de pessoa singular
(PORTUGAL, 2018).
Contudo, a punição não deve ser aplicada se houver prova do con-
sentimento ou da legitimidade do seu uso (PORTUGAL, 2018).
O atual CPI de Portugal (2018), assim como o de 2003, não possui a
necessidade de comprovar o dolo para que a multa seja aplicada. Porém se
houver dolo ou mera culpa, comprovadamente, fica quem cometeu o ilícito
obrigado a indenizar a parte lesada pelos danos resultantes da violação.
5 CONSIDERAÇÕES FINAIS
REFERÊNCIAS
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lante: HOTEL URBANO VIAGENS E TURISMO S/A. e outro. Apelada: os mesmos.
Relator: Des. Carlos Eduardo Moreira da Silva. Rio de Janeiro, 01 de dezembro
de 2017. Diário de Justiça, Rio de Janeiro-RJ, 19 de abril de 2018. Disponível em:
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KONH, K.; MORAES C. H. de. O impacto das novas tecnologias na sociedade: concei-
tos e características da Sociedade da Informação e da Sociedade Digital. XXX Con-
176 LUCIANA REUSING | VINICIUS DE HOLANDA COSTA
1 INTRODUÇÃO
1
Bacharela em Direito pela PUCPR. Advogada, Especialista em Direito Público pela Uni-
brasil. Pesquisadora do Grupo de Estudos de Direito Autoral e Industrial da UFPR.
2
Advogado, Mestre em Direito pela Universidade de Coimbra/Portugal.
3
Existem proteções constitucionais para as diversas formas de expressar a liberdade de
expressão. Diante da relevância global do direito à liberdade de expressão é possível
destacar a sua previsão em outros diplomas legais internacionais, como por exemplo,
no artigo 19 da Declaração Universal dos Direitos Humanos; artigo 13 da Convenção
Americana sobre Direitos Humanos; artigo 19 do Pacto Internacional sobre Direitos
Civis e Políticos.
4
Nesse sentido: “[...] ao Direito positivo interessa cuidar apenas da liberdade objetiva
(liberdade de fazer, liberdade de atuar). É nesse sentido que se costuma falar em liber-
dades no plural, que, na verdade, não passa das várias expressões externas da liberda-
de.” SILVA, José Afonso da. Curso de direito constitucional positivo. 25. ed. São Paulo:
Malheiros, 2005, p. 234-235.
178 BRUNA RIBEIRO DOS SANTOS TITONELI BERCO | ÁTHILLA S. DA SILVA
5
SILVA, José Afonso da. Curso de direito constitucional positivo. 25. ed. São Paulo:
Malheiros, 2005, p. 243.
6
A Lei da Internet assegura a liberdade de expressão nos artigos 3º, inciso I, 18, 19, 20 e
21.
7
Patrícia Peck e Henrique Rocha mencionam que: “O MCI tem como fundamento princi-
pal o direito à liberdade de expressão e assim privilegia a manutenção de informação
publicada na rede em detrimento da imediata remoção do conteúdo.”. PECK, Patrícia,
ROCHA, Henrique. Advocacia Digital. São Paulo: Thomson Reuters Brasil, 2018, p. 35.
8
Em que pese José Afonso da Silva citar a doutrina de Ruy Barbosa que diferencia direitos
e garantias da seguinte forma “no texto da lei fundamental, as disposições meramente
declaratórias, que são as que imprimem existência legal aos direitos reconhecidos, e
as disposições assecuratórias, que são as que, em defesa dos direitos, limitam o poder.
Aquelas instituem os direitos; estas, as garantias: ocorrendo não raro juntar-se, na mes-
ma disposição constitucional, ou legal, a fixação da garantia, com declaração do direito.”
(Cf. República: teoria e prática – Textos doutrinários sobre direitos humanos e políticos
consagrados na primeira Constituição da República, p. 121 e 124), José Afonso da Silva
NOVOS DIREITOS INTELECTUAIS: 179
menciona que a Constituição não seguiu o conselho de Ruy, uma vez que não separou
rigorosamente os direitos de suas garantias. SILVA, José Afonso, op. cit., p. 186.
9
Para Paulo Bonavides “Os direitos da primeira geração são os direitos da liberdade, os
primeiros a constarem do instrumento normativo constitucional, a saber os direitos
civis e políticos, que em grande parte correspondem, por um prisma histórico, àquela
fase inaugural do constitucionalismo do Ocidente. Os direitos de primeira geração ou
direitos da liberdade têm por titular o indivíduo, são oponíveis ao Estado, traduzem-se
como faculdades ou atributos da pessoa e ostentam uma subjetividade que é seu traço
mais característico; enfim são direitos de resistência ou de oposição perante o Estado.”.
BONAVIDES, Paulo, p. 563-564.
10
Nesse sentido, “Liberdade interna (chamada também liberdade subjetiva, liberdade
psicológica ou moral e especialmente liberdade de indiferença) é o livre-arbítrio, como
simples manifestação da vontade no mundo interior do homem. Por isso é chamada
igualmente liberdade do querer. [...] Liberdade externa [...] que é também denominada
liberdade objetiva, consiste na expressão externa do querer individual, e implica o afas-
tamento de obstáculo ou de coações, de modo que o homem possa agir livremente. Por
isso é que também se fala em liberdade de fazer, “poder fazer tudo o que se quer.” SILVA,
José Afonso, op. cit., p. 231-232.
11
MENDES, Gilmar Ferreira, BRANCO, op. cit., p. 238.
12
SILVA, Afonso José, op. cit., p. 241.
13
Liberdade de expressão na internet tem outra conotação em nome do interesse público,
assim como o conceito atual de privacidade. Nesse sentido: “A Sociedade Digital já não
é uma sociedade de bens. É uma sociedade de serviços em que a posse da informação
prevalece sobre a posse dos bens de produção. Essa característica faz com que a pro-
180 BRUNA RIBEIRO DOS SANTOS TITONELI BERCO | ÁTHILLA S. DA SILVA
teção do Direito à Informação seja um dos princípios basilares do Direito Digital [...].”
PINHEIRO, Patrícia Peck. Direito Digital. 6. ed. rev., atual e ampl. São Paulo: Saraiva,
2016, p. 89.
14
Alexandre de Moraes menciona que: “Os direitos humanos fundamentais, dentre eles os
direitos e garantias individuais e coletivos consagrados no art. 5º da Constituição Federal,
não podem ser utilizados como um verdadeiro escudo protético da prática de atividades
ilícitas, tampouco como argumento para afastamento ou diminuição da responsabilidade
civil ou penal por atos criminosos, sob pena de total consagração ao desrespeito a um
verdadeiro Estado de Direito.” MORAES, Alexandre de. Direito constitucional. 33. ed. rev.
e atual. São Paulo: Atlas, 2017, p. 45. Cf. RT-STF 709/418; STJ – 6ª T. RHC nº 2.777-0/RJ –
Rel. Min. Pedro Acioli – Ementário, 08/721.
15
MORAES, Alexandre, op. cit., p. 45.
16
A Declaração dos Direitos Humanos das Nações Unidas também prevê a limitação dos
direitos fundamentais no artigo 29.
17
MENDES, Gilmar Ferreira, BRANCO, Paulo Gustavo Gonet, op. cit., p. 166.
18
Alexandre de Moraes entende que “Desta forma, quando houver conflito entre dois ou
mais direitos ou garantias fundamentais, o intérprete deve utilizar-se do princípio da
concordância prática ou da harmonização, de forma a coordenar e combinar os bens ju-
rídicos em conflito, evitando o sacrifício total de uns em relação aos outros, realizando
uma redução proporcional do âmbito de alcance de cada qual (contradição dos prin-
cípios), sempre em busca do verdadeiro significado da norma e da harmonia do texto
constitucional com sua finalidade precípua.”. MORAES, Alexandre, op. cit., p. 45.
19
MENDES, Gilmar Ferreira, BRANCO, Paulo Gustavo Gonet, p. 166 e seguintes.
NOVOS DIREITOS INTELECTUAIS: 181
20
MENDES, Gilmar Ferreira, BRANCO, Paulo Gustavo Gonet, p. 208.
21
Já Patrícia Peck menciona que “É fundamental fazer a ressalva no tocante ao direito
de liberdade de expressão, que, com o advento dos mecanismos de comunicação e a
sua disseminação, tem provocado certo conflito jurídico com outros direitos, como o
da proteção da imagem e reputação do indivíduo.”. PINHEIRO, Patrícia Peck. Direito
Digital. 6. ed. rev., atual e ampl. São Paulo: Saraiva, 2016, p. 90.
22
Isto porque é possível destacar que a Constituição Federal, no artigo 5º, inciso XLI, aduz que
“A lei punirá qualquer discriminação atentatória dos direitos e liberdades fundamentais”.
23
Paulo Gustavo Gonet Branco e Gilmar Mendes abordam em sua obra um capítulo refe-
rente às limitações ao direito de expressão e assim iniciam: “A liberdade de expressão
encontra limites previstos diretamente pelo constituinte, como também descobertos
pela colisão desse direito com outros de mesmo status.” MENDES, Gilmar Ferreira,
BRANCO, Paulo Gustavo Gonet, p. 243.
24
Exemplificativamente, ressalta-se que a liberdade de expressão terá como limite a própria
dignidade da pessoa humana, prevista no artigo 1º, inciso III, da Constituição Federal.
Isto porque, a dignidade da pessoa humana presume um tratamento dispensado ao ser
humano no qual é considerado todos os seus valores intrínsecos, não reduzindo a pessoa
a condição de objeto. MENDES, Gilmar Ferreira, BRANCO, Paulo Gustavo Gonet, p. 247.
25
PINHEIRO, Patrícia Peck. Direito Digital. 6. ed. rev., atual e ampl. São Paulo: Saraiva,
2016, p. 99.
26
Patrícia Peck entende que “No mundo virtual, o conteúdo tornou-se um objeto de nego-
ciação, um produto. A todo momento surge um novo site ou portal vendendo conteúdo
como uma palavra mágica, um diferencial em relação à concorrência (só que a concor-
rência também vende conteúdo como um diferencial). O conteúdo na Internet não é ge-
rado necessariamente para um comprador, mas torna-se cada vez mais uma mercadoria
cuja posse agrega valor ao seu proprietário.”. PINHEIRO, Patrícia Peck. Direito Digital.
6. ed. rev., atual e ampl. São Paulo: Saraiva, 2016, p. 203.
182 BRUNA RIBEIRO DOS SANTOS TITONELI BERCO | ÁTHILLA S. DA SILVA
27
Alexandre de Moraes menciona que: “A manifestação do pensamento é livre em nível
constitucional, não aludindo a censura prévia em diversões e espetáculos públicos. Os
abusos porventura ocorridos no exercício indevido da manifestação do pensamento são
passíveis de exame e apreciação pelo Poder Judiciário com as consequentes responsabi-
lidades civil e penal de seus autores.”. MORAES, Alexandre, op. cit., p. 53, cf RF 176/147.
28
Patrícia Peck continua “Devemos observar que a Constituição Federal de 1988 pro-
tegeu a liberdade de expressão em seu art. 5º, IV, mas determinou que seja com ‘res-
ponsabilidade’. Isso quer dizer que devemos interpretar a aplicação dela à luz do novo
Código Civil, em seus arts. 186 e 187, que determina a responsabilidade por indenizar
pelo dano causado, quer quando o ato ilícito tenha sido causado por ação ou omissão,
quer quando é fruto do exercício legítimo de um direito no qual o indivíduo que o de-
tém ultrapassou os limites da boa-fé e dos bons costumes.”. PINHEIRO, Patrícia Peck.
Direito Digital. 6. ed. rev., atual e ampl. São Paulo: Saraiva, 2016, p. 90.
29
Acerca da natureza jurídica do direito de autor: “Independentemente da pluralidade
de direitos que são atribuídos ao autor, parece-nos claro que todos esses direitos têm
uma origem comum e um objeto comum: resultam da actividadde de criação intelectual
e têm por objeto uma obra intelectual. O facto de o regime legal implicar tanto a atri-
buição de exclusivos de natureza patrimonial como faculdades destinadas a tutelar a
personalidade do autor não deve elidir que, em termos de enquadramento, se trata de
um direito que incide sobre uma realidade unitária, a qual consiste na obra intelectual.
Entendemos por isso que o direito de autor corresponde a um direito-quadro, que en-
globa vários direitos subjectivos específicos que se unificam num complexo unitário: a
permissão normativa de aproveitamento de uma obra intelectual.” LEITÃO, Luís Manuel
Teles de Menezes. Direito de Autor. 2ª Ed., Coimbra: Almedina, 2018, p. 45.
30
Sobre o conteúdo dos direitos de autor ver ASCENSÃO. José de Oliveira. Direito de Au-
tor e Direitos Conexos. Coimbra: Coimbra Editora, 1992, p. 166 e seguintes.
NOVOS DIREITOS INTELECTUAIS: 183
31
Para uma ampla abordagem acerca da relação entre direito e internet ver: EDWARDS,
Lilian; WAELDE, Charlotte (Org.). Law and the Internet. Porland: Hart Publishing, 2009
32
De acordo com Mafalda Miranda Barbosa, “A primeira é entendida como uma resposta
do ordenamento jurídico para casos de violação de direitos dotados com eficácia erga
omnes; a segunda torna-se atuante no quadro do incumprimento de uma obrigação em
sentido técnico, independentemente da fonte de onde brotou.” BARBOSA, Ana Mafalda
Castanheira Neves de Miranda. Lições de Responsabilidade Civil. Cascais: Principia,
2017, p. 13.
33
Importante salientar que também existe doutrina no sentido de unificar a responsabili-
dade civil. Para maior aprofundamento ver TARTUCE, Flávio. Manual de Responsabi-
lidade Civil. Rio de Janeiro: Forense, 2018, p. 50-57.
34
Sobre a terceira via de responsabilidade civil ver BARBOSA, Ana Mafalda Castanheira
Neves de Miranda. Lições de Responsabilidade Civil. Cascais: Principia, 2017, pp. 22-
38. Sobre o mesmo tema e com outra abordagem CORDEIRO, António Menezes. Tratado
de Direito Civil. Direito das Obrigações, vol. VII, Coimbra: Almedina, 2014, pp. 400/403.
35
Nesse sentido BARBOSA, Ana Mafalda Castanheira Neves de Miranda. Lições de Res-
ponsabilidade Civil. Cascais: Principia, 2017, pp. 37-38.
36
Sobre a concorrência de responsabildiades ver SERRA, Adriano Paes da Silva Vaz. Res-
ponsabilidade contratual e responsabilidade extracontratual. In Boletim do Minis-
tério da Justiça, n. 85, Abril, 1959. pp. 115-242, pp. 230-238.
184 BRUNA RIBEIRO DOS SANTOS TITONELI BERCO | ÁTHILLA S. DA SILVA
37
Acerca da culpa ver BARBOSA, Ana Mafalda Castanheira Neves de Miranda. Lições de
Responsabilidade Civil. Cascais: Principia, 2017, pp. 227-248.
38
CORDEIRO, António Menezes. Tratado de Direito Civil. Direito das Obrigações, vol. VII,
Coimbra: Almedina, 2014, p. 471.
39
Patrícia Pinheiro entende que deve-se adorar a teoria do risco na responsabilidade civil
no âmbito do chamado “direito digital”: “No direito tradicional, o conceito de Respon-
sabilidade Civil adota duas teorias: a teoria da culpa e a teoria do risco. A principal
diferença entre elas está na obrigatoriedade ou não da presença da culpa mesmo que
levíssima, para caracterizar a responsabilidade e o dever de indenizar. Para o Direito
Digital, a teoria do risco tem maior aplicabilidade, uma vez que, nascida na era da in-
dustrialização, vem resolver os problemas de reparação do dano em que a culpa é um
elemento dispensável, ou seja, onde há responsabilidade mesmo que sem culpa em de-
terminadas situações, em virtude do princípio de equilíbrio de interesses e genérica
equidade.”. “Considerando apenas a Internet, que é mídia e veículo de comunicação, seu
potencial de danos indiretos é muito maior que de danos diretos, e a possibilidade de
causar prejuízo a outrem, mesmo que sem culpa, é real. Por isso, a teoria do risco atende
às questões virtuais e a soluciona de modo mais adequado, devendo estar muito bem
associada à determinação legal de quem é o ônus da prova em cada caso.”. PINHEIRO,
Patrícia Peck. Direito Digital. 6. ed. rev., atual e ampl. São Paulo: Saraiva, 2016, p. 514.
40
Conforme BARBOSA, Ana Mafalda Castanheira Neves de Miranda. Danos – Uma leitura
personalista da responsabilidade civil. Cascais: Principia, 2018, p. 73.
41
Nesse sentido: “Assim como é difícil valorar um conteúdo virtual, é igualmente difícil
valorar o tamanho do dano causado por um conteúdo quando passa uma informação
errada, calunia, ou manifesto contra determinada empresa. É praticamente impossível
mensurar a extensão do dano; não há controle de tiragem e nem se sabe quantas vezes
esse conteúdo foi duplicado, a não ser que se programe o conteúdo para tanto. É possí-
vel fazer uma programação que permita rastrear o conteúdo clicado ou baixado, mas aí
estaríamos entrando na seara do Direito à Privacidade daquele usuário que teve contato
com o conteúdo.”. PINHEIRO, Patrícia Peck. Direito Digital. 6. ed. rev., atual e ampl. São
Paulo: Saraiva, 2016, p. 205.
NOVOS DIREITOS INTELECTUAIS: 185
42
Para maior aprofundamento da temática no direito português ver CASIMIRO, Sofia de
Vasconcelos. A Responsabilidade Civil pelo Conteúdo da Informação Transmitida
pela Internet. Coimbra: Almedina, 2000.
43
Interessante é o entendimento de Mafalda Miranda Barbosa na defesa do nexo de causali-
dade como nexo de imputação, bem como da natureza binária da responsabilidade (cau-
salidade fundamentadora da responsabilidade e causalidade preenchedora da respon-
sabilidade) e a natureza personalística da responsabilidade. Ver BARBOSA, Ana Mafalda
Castanheira Neves de Miranda. Do nexo de causalidade ao nexo de imputação: contri-
buto para a compreensão da natureza binária e personalística do requisito causal ao nível
da responsabilidade civil extracontratual. Volumes I e II. Cascais: Principia, 2013.
44
Adriano Vaz Serra ao tratar do a abuso do direito de exprimir ou publicar pensamento
que “A publicação, mesmo que não difamatória, mas prejudicial a outrem, dá lugar a res-
ponsabilidade civil, se os factos são inexactos com conhecimento de quem os publica ou
se este os recolheu com negligência, se os factos são publicados em condições desleais
ou deformados, com dolo ou culpa; em princípio se os factos respeitam a vida particular.
Em algumas hipóteses, é de admitir que a publicação, ainda que sejam previsíveis os
seus efeitos danosos, é permitida.”. SERRA, Adriano Paes da Silva Vaz. Abuso de direito
(em matéria de responsabilidade civil). In Boletim do Ministério da Justiça, n. 85, Abril,
1959. pp. 243-344, p. 287-288.
45
Ver SOUSA, Rabindranath Capelo de. Conflitos entre a Liberdade de Imprensa e a
Vida Privada.. Coimbra: Coimbra Editora, 1998.
46
SERRA, Adriano Paes da Silva Vaz. Abuso de direito (em matéria de responsabilidade
civil). In Boletim do Ministério da Justiça, n. 85, Abril, 1959. pp. 243-344, p. 289.
186 BRUNA RIBEIRO DOS SANTOS TITONELI BERCO | ÁTHILLA S. DA SILVA
Apesar deste não ser um assunto inovador, uma vez que a responsa-
bilidade civil por lesões aos direitos de personalidade cometidas no am-
biente virtual é analisada em diferentes países47, ainda terá muito o que
evoluir no cenário jurídico nacional e internacional.
Por fim, apesar de haver dificuldade, os tradicionais pressupostos
da responsabilidade civil parecem ser suficientes para responder a cada
uma destas hipóteses de lesão aos direitos de personalidade ocasionadas
no ambiente virtual. Para tanto, é importante ter como balizador da condu-
ta dos autores o direito a liberdade de expressão e o dever de não abusar
de tal direito.
5 CONSIDERAÇÕES FINAIS
A digitalização das relações sociais é um verdadeiro desafio para o
sistema jurídico. O direito, como um mecanismo de regulamentação da
sociedade, deve dar respostas a esses novos problemas que surgem co-
tidianamente. Especificamente, sobre o tema abordado, verifica-se que o
princípio da liberdade de expressão, ou o abuso dele, é o norte para a apu-
ração da responsabilidade civil do autor de conteúdo (seja ele qual for) no
ambiente virtual.
Diante das diversas formas de expressão pelo ser humano e as diver-
sas situações de abuso deste direito, há sempre a necessidade de analisar o
caso concreto para averiguar se houve ou não dano à vítima, acompahando
dos demais requisitos que configuram a responsabilidade civil. O papel de
apurar a responsabilidade civil no ambiente virtual é, quase /que exclusi-
vamente, do Poder Judiciário.
47
Edna Marton realiza uma diferenciação acerca das indenizações em que a Inglaterra
apresenta os maiores valores de indenizações entre os quatro países estudados. MÁR-
TON, Edna. Violations of Personality Rights though the Internet: Jurisdictional
Issues under European Law. London: Hart, 2016. Fazendo um paralelo entre as per-
spectivas da Alemanha, Hungria, França e Inglaterra sobre a responsabilidade civil e
a proteção contra a invasão da privacidade e a difamação através da internet a jurista
Edna Marton entende que: “Thirdly, as far as monetary compensation for non-pecuni-
ary harm caused by violations of personality rights is concerned, the examined national
laws differ in the use of presumption in respect of the proof of the non-pecuniary harm.
The Ptk., the BGB and, for violations of rights other than real subjective rights, the CC,
principally require the plaintiff to demonstrate his non-pecuniary harm. By contrast,
the új Ptk., regarding violations of real subjective rights, the CC, and, after determining
that the words complained of are defamatory, s.1(1) of Defamation Act 2013, display a
more liberalised picture, since as a general rule, they presume existence of such harm”.
MÁRTON, Edna. Violations of Personality Rights though the Internet: Jurisdictional
Issues under European Law. London: Hart, 2016, p. 53-54.
NOVOS DIREITOS INTELECTUAIS: 187
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ao nexo de imputação: contributo para a compreensão da natureza binária e per-
sonalística do requisito causal ao nível da responsabilidade civil extracontratual.
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MORAES, Alexandre de. Direito constitucional. 33. ed. rev. e atual. São Paulo:
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PECK, Patrícia, ROCHA, Henrique. Advocacia Digital. São Paulo: Thomson Reuters
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PINHEIRO, Patrícia Peck. Direito Digital. 6. ed. rev., atual e ampl. São Paulo: Sa-
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188 BRUNA RIBEIRO DOS SANTOS TITONELI BERCO | ÁTHILLA S. DA SILVA
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Mestranda em ciências jurídico-empresariais, menção em direito empresarial da Uni-
versidade de Coimbra. Licenciada em Direito pela Universidade de Coimbra.
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5
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relacionados com a propriedade intelectual com a de outros direitos fundamentais, vide
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7
“Os direitos de autor são direitos gémeos: formam-se num mesmo ovo, mas separam-se
à nascença.” Sobre a controvérsia em torno de saber se a estrutura dos direitos de autor
é monista ou dualista, vide PEREIRA, Alexandre Dias. Direitos de Autor e Liberdade
de Informação, 2008, pp. 482-488.
8
Os direitos pessoais de autor encontram-se intimamente relacionados com a preser-
vação da genuinidade e integridade da obra, protegendo-se o laço pessoal que se cria
entra a obra e o seu criador, fruto da liberdade de criação cultural que a este é asse-
gurada, independentemente das práticas de teor patrimonial à obra afectas. O criador
intelectual é o dono e senhor originário da sua criação no comércio jurídico e, investido
dessa posição, é-lhe reconhecido o poder de decidir se e quando a obra é divulgada,
bem como, ponderosas sejam as motivações, de interromper a circulação da obra. É-lhe
igualmente assegurado o direito de ser conhecido e reconhecido como autor que é, bem
como o de preservar a obra tal como a exteriorizou.
9
O direito autoral consubstancia, na nossa visão, um direito unitário que, contudo, com-
porta duas vertentes: a vertente pessoal ou moral e a vertente patrimonial ou econó-
mica. Advém deste circunstancialismo a nossa preferência pela terminologia plural “di-
reitos de autor” vertida no Código Civil e na Constituição, em detrimento da singular
“direito de autor” utilizada no CDADC.
192 CAROLINA COSTA
10
A referida susceptibilidade de transmissão ou oneração do direito patrimonial de autor
consubstancia o traço distintivo essencial entre este e o direito pessoal (cfr. art. 42º CDA-
DC), a par da possibilidade de renúncia - ressalvadas as excepções -, vedada ao segundo.
Acrescentando ao elenco a perpetuidade do direito pessoal, contrária à caducidade do
direito patrimonial, REBELLO, Luiz Francisco. Introdução ao Direito de Autor, vol. I, Lis-
boa, 1994, p. 156. Em sentido diverso, e propugnando a ficção da perpetuidade do direito
moral, PEREIRA, Alexandre Dias, op. cit., p. 479. Com efeito, no que à dimensão de impres-
critibilidade diz respeito, e munida do entendimento de que este direito se perpetua após
a morte do autor, cujo exercício fica a cargo dos seus sucessores, é do maior interesse
notar que, ainda que o teor literal da norma dê origem a diferentes acepções, nomeada-
mente no sentido de considerar a perpetuidade deste direito moral, uma vez caída a obra
no domínio público (decorrido o espaço temporal reservado à proteção privada da obra)
é ao Estado que compete a referida defesa da genuinidade e integridade da obra enquan-
to, agora, parte do património cultural.
11
Sobre a modernização do direito de autor na União Europeia, PEREIRA, Alexandre Dias.
A Modernização do Direito de Autor na União Europeia e a sua implementação em Por-
tugal. In: Revista de Direito Intelectual, nº 2, 2017.
NOVOS DIREITOS INTELECTUAIS: 193
3 A PROTECÇÃO JUSAUTORAL
12
VICENTE, Dario Moura. O equilíbrio de interesses no Direito de Autor, cit., p. 250.
“A tutela da criação literária e artística faz-se basicamente pela outorga de um exclusivo.
A actividade de exploração económica, que de outro modo seria livre, passa a ficar re-
servada para o titular. Deste modo se visa compensar o autor pelo contributo trazido à
sociedade. Por isso, esta aceita o ónus que representa a imposição do exclusivo. Todo o
direito intelectual é assim acompanhado da consequência negativa de coartar a fluidez
na comunicação social, fazendo surgir barreiras e multiplicando as reivindicações.” AS-
CENSÃO, José de Oliveira, op. cit., p. 12.
13
Ainda que a lei não preveja de forma expressa a originalidade da obra, não pode consi-
derar-se a sua omissão, dadas as metas prosseguidas pelo Direito de Autor, nomeada-
mente a de estimular a criatividade e produção de bem culturais. De resto, vários são os
afloramentos no CDADC, v.g., os arts.2º/1 m), e 4º/1.
14
Note-se, porém, que, determinadas criações intelectuais, ainda que cumpram os requi-
sitos acima referenciados, não farão parte do círculo da protecção jusautoral (cfr. arts.7º
e 8º CDADC).
194 CAROLINA COSTA
15
Seguimos de perto PEREIRA, Alexandre Dias. Direito de autor e Liberdade de infor-
mação, cit., pp. 538 e ss.
196 CAROLINA COSTA
16
ASCENSÃO, José de Oliveira, op. cit., pp. 218-219.
17
“Fala-se frequentemente de «limitações ao direito de autor». Elas abrangeriam afinal
tudo aquilo que impede que o direito de autor tenha carácter absoluto. Toda a regra
negativa seria limitação do direito de autor. Na realidade, assim como não há que falar
duma propriedade absoluta, também é deslocado partir do pressuposto de um direito
de autor ilimitado. Todo o direito se desenvolve em certa esfera, marcada por lei por
regras positivas ou negativas. Estas regras são elementos constitutivos da atribuição
em que o direito se cifra, tanto como as regras positivas. (...) O Direito de Autor realiza a
conciliação de interesses públicos e privados, de regras de cultura com preocupações de
remuneração do autor, e assim por diante. É a resultante desse acervo de regras positi-
vas e negativas. Por isso, os limites, como o seu nome indica, delimitam intrinsecamente
os direitos; não são obstáculos exteriores a uma imaginária ilimitação.” ASCENSÃO, José
de Oliveira, op. cit., pp. 212 e ss.
18
Acompanhamos de perto PEREIRA, Alexandre Dias, op. cit., pp. 540 e ss.
NOVOS DIREITOS INTELECTUAIS: 197
5 PERSPECTIVAS DIALOGAIS
O espírito cria o pensamento: cria-o elle só, é só seu. Mas para que
esta creação invisível se fecunde, tome corpo, seja vista, sentida, ava-
liada, para que della resulte gloria, proveito ao auctor, é necessária a
palavra e o escripto, mas que é nulla e como se não fora, sem os olhos
e os ouvidos, e a percepção daquelles a quem comunica. (...). Logo
não basta a creação mental para fazer existir a propriedade litteraria,
19
O génio é incompatível com o interesse material. Vide, 1º VISCONDE DE CARNAXIDE,
Tratado da Propriedade Literária e Artística, 1918, p. 36.
198 CAROLINA COSTA
20
GARRETT, Almeira. Projecto de Lei sobre a propriedade litterária e artística. Apre-
sentado na Câmara dos Deputados, em Sessão de 18 de Maio de 1839.
21
PEREIRA, Antonio Maria. O direito de autor e a sua duração. In Revista da Ordem dos
Advogados, ano 22, 1962. p. 60.
22
REBELLO, Luiz Francisco. op. cit., p. 596.
NOVOS DIREITOS INTELECTUAIS: 199
23
PEREIRA, Dias, op. cit., p. 538.
24
CANOTILHO, Gomes. Liberdade e exclusivo na Constituição. In: Estudos sobre Direitos
Fundamentais, 2008, p. 226.
25
CANOTILHO, Gomes. Liberdade e exclusivo na Constituição. In: Estudos sobre Direitos
Fundamentais, 2008, pp. 227-228.
200 CAROLINA COSTA
do-se a sua força vinculante face àquilo que o legislador constitucional vi-
sou proteger com a sua previsão. Estas liberdades fundamentais devem
continuar como alicerces válidos da arquitectura normativa da sociedade
da informação e do comércio eletrónico, ao invés de serem eclipsadas por
direitos de exclusivo cada vez mais absolutos, segundo as possibilidades
da técnica.26
26
PEREIRA, Dias, op. cit., p. 186.
NOVOS DIREITOS INTELECTUAIS: 201
7 CONSIDERAÇÕES FINAIS
A regulamentação jurídica dos direitos de autor corporiza uma disci-
plina de interesses: dum lado, os interesses dos autores; do outro, os inte-
resses de todos os que pretendem, por qualquer modo, servir-se das obras
dos autores. Uma breve apreciação do estado da arte da questão sub judice
sugere que em terrenos movediços onde se discutem as repercussões da
tutela da propriedade intelectual, em particular dos direitos de autor (in
casu, o direito patrimonial de autor), sobre (outros) direitos fundamentais,
se vem falando num conceito de justo equilíbrio que carece ser esmiuçado
e precisado.
Com efeito, compreende-se que se o acesso das massas à cultura e à
educação depende de como as obras literárias e artísticas são divulgadas,
seria injusto que se atendesse unicamente ao interesse do autor daquelas,
com desprezo por todos os consumidores dos produtos do espírito huma-
no. Todavia, é a todas as luzes justíssimo e indiscutível que o autor deva
ser compensado pela obra que trouxe ao mundo. O repto prende-se com
a necessidade de encontrar um meio-termo entre a vantagem social de
estabelecer exclusivos temporários, que beneficiem ramos de actividade
socialmente úteis e permitam a quem contribuir com obras e os outros
bens intelectuais susceptíveis de exclusivo uma remuneração justa, frente
à necessidade social oposta de manter quanto possível desobstruídas as
vias da comunicação e do diálogo social.28
REFERÊNCIAS
ANDRADE, José Vieira de. Os Direitos Fundamentais na Constituição Portu-
guesa de 1976, 5ª ed, 2017.
27
Ocupando-se detidamente sobre a questão vide, desenvolvidamente, PEREIRA, Dias.
Os direitos de autor em bibliotecas e arquivos públicos: desenvolvimentos recentes na
União Europeia, cit., pp. 25-36.
28
ASCENSÃO, José de Oliveira. Direitos intelectuais: propriedade ou exclusivo?. In The-
mis, ano IX, nº15, 2008, p. 138.
202 CAROLINA COSTA