Fernando Pessoa - Chuva Oblíqua

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Fernando Pessoa

I Atravessa esta paisagem o meu sonho dum porto infinito


CHUVA OBLQUA
I
Atravessa esta paisagem o meu sonho dum porto infinito
E a cor das flores transparente de as velas de grandes navios
Que largam do cais arrastando nas guas por sombra
Os vultos ao sol daquelas rvores antigas. . .
O porto que sonho sombrio e plido
E esta paisagem cheia de sol deste lado. . .
Mas no meu esprito o sol deste dia porto sombrio
E os navios que saem do porto so estas rvores ao sol. . .
Liberto em duplo, abandonei-me da paisagem abaixo. . .
O vulto do cais a estrada ntida e calma
Que se levanta e se ergue como um muro,
E os navios passam por dentro dos troncos das rvores
Com uma horizontalidade vertical,
E deixam cair amarras na gua pelas folhas uma a uma dentro. . .
No sei quem me sonho. . .
Sbito toda a gua do mar do porto transparente
E vejo no fundo, como uma estampa enorme que l estivesse desdobrada,
Esta paisagem toda, renque de rvore, estrada a arder em aquele porto,
E a sombra duma nau mais antiga que o porto que passa
Entre o meu sonho do porto e o meu ver esta paisagem
E chega ao p de mim, e entra por mim dentro,
E passa para o outro lado da minha alma. . .

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Obra Aberta 2011-02-09 05:12

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8-3-1914
Chuva Oblqua. Poesias. Fernando Pessoa. (Nota explicativa de Joo Gaspar Simes e Luiz
de Montalvor.) Lisboa: tica, 1942 (15 ed. 1995): 27.
1 publ. in Orpheu, n 2. Lisboa: Abr.-Jun. 1915.

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