Teoria Literaria
Teoria Literaria
Teoria Literaria
net
TEORIA LITERRIA
Vince Brewton
The Internet Encyclopedia of Philosophy1
traduzido do ingls por Bruna T. Gibson
em junho de 2006
I. Introduo
Teoria Literria o corpo de idias e mtodos utilizados na leitura prtica da literatura. O termo teoria literria no se refere ao significado de uma obra literria,
mas s teorias que revelam o que a literatura pode significar. A teoria literria uma
descrio dos princpios subjacentes - das ferramentas, pode-se dizer por meio dos
quais tentamos compreender a literatura. Toda a interpretao literria parte de uma
base terica, mas pode servir de justificativa para vrios tipos de atividade crtica. a
teoria literria que formula a relao entre o autor e a obra, e desenvolve a significncia da raa, classe e gnero para o estudo literrio, tudo a partir do ponto de vista da
biografia do autor e de uma anlise da sua presena temtica nos textos. Ela oferece
vrias abordagens para a compreenso do papel do contexto histrico na interpretao, assim como da relevncia da lingstica e dos elementos inconscientes do texto.
Os tericos da literatura traam a histria e a evoluo dos diferentes gneros - narrativo, dramtico, lrico -, alm de fenmenos mais recentes como o surgimento do romance e do conto, enquanto tambm investigam a importncia dos elementos formais
da estrutura literria. Finalmente, a teoria literria tem recentemente procurado explicar at que ponto o texto mais um produto de uma cultura do que de um autor individual, e como esses textos, por sua vez, ajudam a criar a cultura.
http://www.iep.utm.edu/l/literary.htm
1
direcionamento para as formas no-referenciais, no-lineares, abstratas; um grau maior de auto-referencialidade; e o colapso das categorias e convenes que tradicionalmente governavam a arte. O pensamento ps-moderno levou ao srio questionamento das chamadas metanarrativas da histria, cincia, filosofia e reprodues econmicas e sexuais. Sob o olhar da ps-modernidade, todo o conhecimento passa a ser visto
como construdo dentro de sistemas de entendimento histrico independentes. Os
pensamentos marxista, feminista e ps-modernista fizeram surgir a incorporao de
todos os discursos humanos (ou seja, interligando os campos da linguagem e do conhecimento) como um assunto principal na anlise feita pelo terico da literatura.
Usando as diversas teorias ps-estruturalistas e ps-modernas que freqentemente se
utilizam de outras disciplinas alm das literrias - lingsticas, antropolgicas, psicanalticas e filosficas - para formar as suas percepes primrias, a teoria literria se tornou um corpo interdisciplinar de teoria cultural. Tendo como premissa o fato de as
sociedades e o conhecimento humano serem, de uma forma ou de outra, constitudas
de textos, a teoria cultural (para o melhor ou para o pior) agora aplicada s variedades de textos, ambiciosamente visando a se tornar o modelo preeminente de questionamento da condio humana.
A teoria literria um stio de teorias: algumas, como a Teoria Homossexual, esto dentro; outras teorias literrias, como a Desconstruo, esto fora, mas continuam a exercer uma influncia no campo. A crtica literria tradicional, a Nova
Crtica e o Estruturalismo so semelhantes enquanto consideram a literatura como
um corpo objetivo de conhecimento no seu exame detalhado. As outras escolas de
teoria literria, em diferentes graus, adotam uma viso ps-moderna da linguagem e
da realidade que faz questionamentos srios sobre o objetivo referente aos estudos
literrios. As categorias a seguir certamente no so nem aprofundadas, nem mutuamente
excludentes, mas representam as maiores tendncias da teoria literria desse sculo.
da literatura. Em que consiste a literatura, o porqu de a lermos e o que lemos so questionamentos que seriam levantados pelos movimentos subseqentes da teoria literria.
a americana como a negra. Dubois e tericos posteriores procuraram compreender como uma experincia dupla cria uma identidade e tambm se revela na cultura.
Escritores africanos e afro-caribenhos - Aime Cesaire, Frantz Fanon, Chinua Achebe realizaram contribuies iniciais importantes teoria e prtica da crtica tnica que
exploraram as tradies, s vezes suprimidas ou marginalizadas, da atividade literria
tnica, e que ainda proveram uma crtica das representaes da identidade tnica encontradas dentro da cultura predominante. A Teoria literria tnica ou de minorias
enfatiza a relao entre identidade cultural e identidade individual em circunstncias
histricas de opresso racial manifesta. Mais recentemente, acadmicos e escritores
tais como Henry Louis Gates, Toni Morrison e Kwame Anthony Appiah levaram ateno aos problemas inerentes aplicao de modelos tericos derivados e paradigmas
(ou seja, estruturas de pensamento) eurocntricos s obras literrias de minorias enquanto, ao mesmo tempo, exploraram novas estratgias interpretativas para o entendimento das tradies nacionais (discurso comum) de grupos raciais que tm sido historicamente marginalizados pelas culturas dominantes.
Apesar de no ter sido o primeiro escritor a explorar a condio histrica do pscolonialismo, considera-se que o terico da literatura palestino Edward Said, em seu
livro Orientalism, inaugurou o campo da Crtica Ps-Colonial explcita no Ocidente.
Said argumenta que o conceito do Oriente foi produzido pela geografia imaginria
dos acadmicos ocidentais e tem sido instrumental na colonizao e dominao das
sociedades no-ocidentais. A teoria ps-colonial reverte a direo central/marginal
da investigao cultural: crticas da metrpole e capital agora emanam das antigas colnias. Ainda, tericos como Homi K. Bhabha questionaram o pensamento binrio que
produz as dicotomias - centro/margem, branco/negro e colozinador/colonizado - pelas
quais as prticas coloniais so justificadas. A obra de Gayatri C. Spivak concentrou o
foco na questo de quem fala pelo Outro colonial e na relao da entre a posse do
discurso e representao e o desenvolvimento da subjetividade ps-colonial. Assim
como a teoria tnica e feminista, a Crtica Ps-Colonial no objetiva somente a incluso da literatura marginalizada dos povos colonizados no discurso e cnone dominantes. Ela oferece uma crtica fundamental ideologia da dominao colonial e, ao mesmo tempo, procura desfazer a geografia imaginria do pensamento orientalista que
produziu divises tanto conceituais como econmicas entre Ocidente e Oriente, civilizado e no-civilizado, primeiro e terceiro mundos. Nesse aspecto, a Crtica PsColonial ativista e adversativa nos seus objetivos bsicos. A teoria ps-colonial trouxe novas perspectivas sobre o papel dos povos coloniais - suas riquezas, trabalho e
cultura - para o desenvolvimento dos estados nacionais europeus modernos. Enquanto
a Crtica Ps-Colonial surgiu no momento histrico que se seguiu ao colapso dos imprios coloniais modernos, a crescente globalizao da cultura - incluindo o neocolonialismo do capitalismo multinacional - sugere uma relevncia contnua desse
campo de investigao.
11
O termo queer tem vrios significados, indicando aqui homossexual. No entanto, o sentido que essa palavra d homossexualidade atualmente no tem traduo literal adequada
para o portugus. Para esclarecer o significado do termo, traduzo uma passagem do Concise
Oxford English Dicionary: A palavra 'queer' foi primeiramente utilizada para se referir a 'homossexual' no comeo do sculo XX: foi em sua origem, e geralmente ainda , um termo deliberadamente pejorativo usado por heterossexuais. Recentemente, no entanto, homossexuais
tm-na utilizado no lugar de 'gay' ou 'homossexual' como tentativa de retirar seu poder negativo, empregando-a positivamente. Uma compreenso melhor do termo poder ser alcanada com a leitura do texto. (N. do T.)
12
Butler sustenta que a identidade heterossexual por muito tempo considerada o fundamento normativo para a sexualidade , na realidade, produzida pela supresso da
possibilidade homoertica. Eve Sedgwick outra terica pioneira da teoria Queer e,
como Butler, sustenta que a dominncia da cultura heterossexual oculta a extensiva
presena das relaes homossociais. Para Sedgwick, o padro das histrias das sociedades ocidentais apresentado exclusivamente em termos de identidade heterossexual: Herana, Casamento, Dinastia, Famlia, Domesticidade, Populao, e, por esse
motivo, conceber a identidade homossexual dentro dessa estrutura j problemtico.
X. Estudos culturais
Grande parte do legado intelectual do Novo Historicismo e do Materialismo Cultural pode hoje ser percebido no movimento dos Estudos Culturais nos departamentos de literatura, um movimento no identificvel em termos de uma nica escola
terica, mas que adota uma vasta ordem de perspectivas - estudos da mdia, crtica
social, antropologia e teoria literria -, e que se aplica ao estudo geral da cultura. Os
Estudos Culturais surgiram de uma forma bastante auto-consciente durante os anos
80 para oferecer um meio de anlise da indstria de cultura global que se expandia
rapidamente e inclua entretenimento, propaganda, publicidade, televiso, cinema,
computadores e a Internet. Os Estudos Culturais trazem um olhar examinador no
apenas a essas categorias variadas de cultura, e no somente s decrescentes margens
de diferena entre as esferas de expresso, mas tambm, e com igual importncia,
poltica e ideologia que tornam possvel a cultura contempornea. Os Estudos Culturais ganharam notoriedade na dcada de 90 por terem sua nfase nos cones da msica pop e nos videoclipes em lugar da literatura cannica, e ampliarem a idia da Escola Frankfurt sobre a transio de uma cultura verdadeiramente popular para cultura
de massa em sociedades capitalistas posteriores, enfatizando a significncia dos padres de consumo dos artefatos culturais. Os Estudos Culturais tm sido interdisciplinares, e at antidisciplinares, desde o incio; de fato, podem ser entendidos como
um conjunto de mtodos e aproximaes, s vezes conflitantes, aplicados a um questionamento de categorias culturais contemporneas. Stuart Hall, Meaghan Morris,
Tony Bennett e Simon During so alguns dos importantes defensores dos Estudos
Culturais que procuram deslocar o modelo tradicional dos estudos literrios.
14
15
Benjamin, Walter. Illuminations. Ed. Hannah Arendt. Trans. Harry Zohn. New York:
Schocken, 1988.
Brooks, Cleanth. The Well-Wrought Urn: Studies in the Structure of Poetry. New York:
Harcourt, 1947.
Derrida, Jacques. Of Grammatology. Trans. Gayatri C. Spivak. Baltimore: Johns Hopkins, 1976.
Dubois, W.E.B. The Souls of Black Folk: Essays and Sketches. Chicago: A. C. McClurg &
Co., 1903.
Fish, Stanley. Is There a Text in This Class? The Authority of Interpretive Communities.
Harvard, MA: Harvard University Press, 1980.
Foucault, Michel. The History of Sexuality. Volume 1. An Introduction. Trans. Robert
Hurley. Harmondsworth, UK: Penguin, 1981.
----The Order of Things: An Archaeology of the Human Sciences. New York: Vintage,
1973.
Gates, Henry Louis. The Signifying Monkey: A Theory of African-American Literary Criticism. New York: Oxford University Press, 1989.
Hooks, Bell. Ain't I a Woman: Black Women and Feminism. Boston: South End Press,
1981.
Horkheimer, Max and Adorno, Theodor. Dialectic of Enlightenment: Philosophical
Fragments. Ed. Gunzelin Schmid Noerr. Trans. Edmund Jephcott. Stanford, CA: Stanford University Press, 2002.
Irigaray, Luce. This Sex Which Is Not One. Ithaca, NY: Cornell University Press, 1985.
Jameson, Frederic. Postmodernism: Or the Cultural Logic of Late Capitalism. Durham,
NC: Duke University Press, 1999.
Lacan, Jacques. Ecrits: A Selection. London: Routledge, 2001.
Lemon Lee T. and Reis, Marion J. Eds. Russian Formalist Criticism: Four Essays. Lincoln,
NE: University of Nebraska Press, 1965.
Lukacs, Georg. The Historical Novel. Trans. Hannah and Stanley Mitchell. Lincoln, NE:
University of Nebraska Press, 1962.
Marcuse, Herbert. Eros and Civilization. Boston: Beacon Press, 1955.
16
Nietzsche, Friedrich. The Genealogy of Morals. Trans. Walter Kaufmann. New York:
Vintage, 1969.
Plato. The Collected Dialogues. Ed. Edith Hamilton and Huntington Cairns. Princeton,
NJ: Princeton University Press, 1961.
Proust, Marcel. Remembrance of Things Past. Trans. C.K. Scott Moncrieff and Terence
Kilmartin. New York: Vintage, 1982.
Said, Edward. Orientalism. New York: Pantheon, 1978.
Sedgwick, Eve Kosofsky. Between Men. Between Men: English literature and Male Homosocial Desire. New York: Columbia University Press, 1985.
----Epistemology of the Closet. London: Penguin, 1994.
Showalter, Elaine. Ed. The New Feminist Criticism: Essays on Women, Literature, and
Theory. London: Virago, 1986.
Tompkins, Jane. Sensational Designs: the Cultural Work of American Fiction, 17901860. New York: Oxford University Press, 1986.
Wellek, Rene and Warren, Austin. Theory of Literature. 3rd ed. New York: Harcourt
Brace, 1956.
Williams, Raymond. The Country and the City. New York: Oxford University Press, 1973.
17