CPMI Violênci Contra Mulheres - Violência Obstétrica, Parirás Com Dor
CPMI Violênci Contra Mulheres - Violência Obstétrica, Parirás Com Dor
CPMI Violênci Contra Mulheres - Violência Obstétrica, Parirás Com Dor
2012
Na hora que voc estava fazendo, voc no tava gritando desse jeito, n?
No chora no, porque ano que vem voc t aqui de novo.
Se voc continuar com essa frescura, eu no vou te atender.
Na hora de fazer, voc gostou, n?
Cala a boca! Fica quieta, seno vou te furar todinha.
Parto do Princpio
Mulheres em Rede pela Maternidade Ativa
Produo
Parto do Princpio Mulheres em Rede pela Maternidade Ativa
Colaboradoras:
Cariny Ciello
Ctia Carvalho
Cristiane Kondo
Deborah Delage
Denise Niy
Lara Werner
Sylvana Karla Santos
Sumrio
1. Apresentao .............................................................................................................................. 7
2. A assistncia ao parto no Brasil .................................................................................................. 8
3. A humanizao como abordagem tica .................................................................................... 10
4. A legislao no atendimento ao parto ....................................................................................... 19
5. A violncia obsttrica tipificada legalmente ............................................................................... 29
6. O aborto na realidade da ateno obsttrica no Brasil .............................................................. 54
7. Do reconhecimento da violncia obsttrica ............................................................................... 57
8. Caracterizao da violncia obsttrica ...................................................................................... 59
9. Descumprimento das normatizaes e legislao vigentes ...................................................... 64
9.1. Proibio do acompanhante ............................................................................................... 64
9.2. Restrio ao acompanhante mediante cobrana de taxas.................................................. 71
10. Procedimentos considerados invasivos e danosos mulher no atendimento ao trabalho de
parto e parto normal...................................................................................................................... 80
10.1. Episiotomia (ou mutilao genital?) .................................................................................. 80
10.2. Intervenes com finalidades didticas .......................................................................... 93
MPF defende privacidade em exames em hospital universitrio de Rio Grande ................... 94
10.3. Intervenes de verificao e acelerao do parto ........................................................... 96
10.4 Falta de esclarecimento e consentimento da paciente .................................................... 101
10.5. Manobra de Kristeller ..................................................................................................... 103
10.6. Restrio de posio para o parto .................................................................................. 107
10.7. Restrio da escolha do local do parto ........................................................................... 109
11. Cirurgias Cesarianas............................................................................................................. 110
11.1. Cesreas eletivas ........................................................................................................... 112
11.2. Cesrea por convenincia do mdico ............................................................................. 114
11.3. Cesrea por dissuaso da mulher .................................................................................. 118
11.4. Cesrea por coao da mulher....................................................................................... 122
1. Apresentao
A Parto do Princpio Mulheres em Rede pela Maternidade Ativa1 composta por mais de 300
mulheres em 22 Estados brasileiros e que trabalham voluntariamente na divulgao de
informaes sobre gestao, parto e nascimento baseadas em evidncias cientficas e nas
recomendaes da Organizao Mundial da Sade.
Acreditamos que a mulher deve ser a protagonista de sua histria e, assim, deve ter poder de
deciso sobre seu corpo, liberdade para dar luz e acesso a uma assistncia sade adequada,
segura, qualificada, respeitosa, humanizada e baseada em evidncias cientficas. Para tanto, no
pr-natal, no parto e no ps-parto, a mulher precisa ter apoio de profissionais e servios de sade
capacitados que, acima de tudo, estejam comprometidos com a fisiologia do nascimento e
respeitem a gestao, o parto e a amamentao como processos sociais e fisiolgicos.
O parto e o nascimento de um filho so eventos marcantes na vida de uma mulher. Infelizmente
muitas vezes so relembrados como uma experincia traumtica na qual a mulher se sentiu
agredida, desrespeitada e violentada por aqueles que deveriam estar lhe prestando assistncia. A
dor do parto, no Brasil, muitas vezes relatada como a dor da solido, da humilhao e da
agresso, com prticas institucionais e dos profissionais de sade que criam ou reforam
sentimentos de incapacidade, inadequao e impotncia da mulher e de seu corpo.
Acreditamos que outras formas de parir e nascer so possveis e devem ser oferecidas a toda a
sociedade. Como mulheres e como usurias do sistema de sade brasileiro, reivindicamos
intervenes urgentes na assistncia ao parto e nascimento. Parto sem violncia, com respeito,
com assistncia e escolha informada baseada em evidncias o mnimo que deveria ser ofertado
s mulheres.
www.partodoprincipio.com.br
O Brasil possui altos ndices de morbimortalidade materna e neonatal, sendo que as causas de
mortalidade materna mais frequentes so aquelas consideradas evitveis, como hipertenso,
hemorragia, infeco e complicaes de aborto (VICTORA et al., 2011). As principais causas de
mortalidade neonatal igualmente so aquelas consideradas reduzveis e evitveis, como falhas na
ateno adequada mulher durante a gestao e parto, bem como ao recm-nascido (MALTA,
2007). H evidncias de que no setor privado h maior presena de prematuros leves, o que pode
estar relacionado com os altos ndices de cesreas eletivas agendadas (LEAL et al, 2004;
BARROS et al 2006; MARCH OF DIMES et al, 2012 ).
As taxas de cesreas no Brasil h muito ultrapassaram os limites tolerveis e continuam
aumentando a cada ano. Em 2007, 47,0% dos nascimentos se deram por via cirrgica, sendo que
na rede pblica a proporo de cirurgias foi de 35,0% e, no setor suplementar, de 80,0%
(VICTORA et al., 2011).
O pas lidera o ranking mundial de cesreas e tem que reduzir drasticamente essa taxa para se
adequar s recomendaes da Organizao Mundial da Sade (OMS), que estabelecem que at
15% dos nascimentos podem ser operatrios. Mulheres foram e continuam sendo submetidas a
uma cirurgia de grande porte sem necessidade e sem esclarecimento adequado dos riscos e
complicaes inerentes ao procedimento.
Contudo, a observao dos dados quantitativos no tem sido a prtica do Estado como forma de
elaborao de polticas pblicas: como esperado nas estruturas democrticas, a mobilizao da
sociedade civil na construo de dinmicas e realidades desejveis essencial para fazer valer os
direitos assegurados legalmente. Assim, em 2007, um grupo de mulheres representantes da Parto
do Princpio denunciou ao Ministrio Pblico Federal (MPF) a omisso da Agncia Nacional de
Sade Suplementar (ANS) diante da ocorrncia abusiva de cesarianas nas maternidades
particulares. Em 2010, o MPF iniciou Ao Civil Pblica contra a ANS2, para que esta exera sua
funo reguladora, e parte das solicitaes e propostas da Parto do Princpio foram contempladas
pelo MPF.
Tornar pblico o abuso de cesreas no setor suplementar parecia ser uma boa ttica para
sensibilizar gestores a respeito da importncia do parto normal e da humanizao do nascimento,
todavia, constatou-se que as taxas de cirurgia cesariana aumentaram ainda mais: em 2008,
corresponderam a 84,5%, na rede privada, e a 31,0%, na rede pblica (DATASUS, 2010).
Como compreender esta realidade, visto que a maioria das mulheres expressa o desejo de dar
luz aos seus filhos de forma natural, sem interveno cirrgica? (FANDES et al., 2004) E os
esforos governamentais em alinhar o atendimento sade s prticas recomendadas
mundialmente? A Poltica Nacional de Humanizao do Sistema nico de Sade, por exemplo,
existe desde 2003, podendo, inclusive, ser considerada o desdobramento do Programa de
Humanizao do Pr-Natal e Nascimento (PHPN) do Ministrio da Sade, institudo em 2000.
A assistncia hospitalar ao parto quase universal no pas (98,4% dos nascimentos em 2008) e
80,9% das mulheres passaram por mais de cinco consultas de pr-natal nesse mesmo ano
(VICTORA et al., 2011). Porm, isso no se reflete em melhores condies de sade, conforme j
mencionado, com elevadas taxas de morbi-mortalidade. Mais grave, a qualidade do atendimento
no sofreu qualquer impacto das polticas j implantadas at o momento. Desse modo, por todo o
pas, as mulheres continuam a sofrer violncia quando se trata da assistncia sua sade sexual
e reprodutiva. Essa violncia se d de vrias maneiras, conforme relatado a seguir.
perturbam
inibem
desencadeamento
natural
dos
10
A nfase na humanizao do atendimento sade integra uma poltica positivista, de modo que o
termo tem sido empregado h muitas dcadas, sob diversas perspectivas. A humanizao j foi
usada, por exemplo, para justificar procedimentos como a narcose, emprego de instrumentos
mecnicos, intervenes bioqumicas e fisiolgicas e, por fim, procedimentos cirrgicos de relativa
complexidade e risco. No caso do atendimento ao parto e nascimento, Diniz descreve tal quadro:
11
12
13
mudana do olhar no viria das instituies acadmicas, mas da organizao civil fundamentada
nos preceitos do feminismo, trazendo a emergncia para as anlises que considerem a mulher
como o principal sujeito, como prossegue, em seu artigo, Diniz:
O feminismo, em suas muitas verses, tem um papel central, desde o movimento de
usurias pela Reforma no Parto, nos EUA na dcada de 1950, e nas dcadas de
1960 e 1970, com a criao dos centros de sade feministas e os Coletivos de
Sade das Mulheres (BWHBC, 1998). Posteriormente, as feministas redescrevem a
assistncia a partir dos conceitos de direitos reprodutivos e sexuais como direitos
humanos (CLADEM, 1998, RNFSDR, 2002), e propem uma assistncia baseada
em direitos (WHO, 2005). Foram muito influentes a abordagem psicossexual do
parto de Sheila Kitzinger (1985), a redescrio da fisiologia do parto de Michel
Odent (2000), e a proposta de parto ativo de Janet Balaskas (1996), entre outros
autores. As vertentes amigas da mulher (womanfriendly) e centradas na mulher
(woman-centered) so propostas principalmente para organizao de servios
(CIMS, 2005). Mais recentemente, surge uma abordagem do parto como
experincia genital e ertica, com desdobramentos inditos na assistncia (Vinaver,
2001).
Nas cincias sociais, iniciativas de questionamento da prtica usam o termo
humanizao da assistncia, j na dcada de 1970 (Howard & Strauss, 1975). A
chamada Antropologia do Parto, ao final dos anos 70, mostrou a assistncia como
construto social, sua reveladora variabilidade cultural e seu carter ritual tanto nas
sociedades tidas como primitivas quanto nas chamadas sociedades complexas.
Mostra os diferentes conhecimentos autoritativos o conhecimento que baseia as
decises na assistncia (Jordan, 1979), entre eles, o do chamado modelo
tecnocrtico, caracterizado pela primazia da tecnologia sobre as relaes humanas,
e por sua suposta neutralidade de valores. Essas autoras documentaram
extensivamente as relaes da assistncia ao parto com a sexualidade, com as
relaes de gnero e com o corpo feminino. Analisaram as contradies com as
evidncias cientficas, e os rituais da assistncia como expresses do medo
extremo, em nossa sociedade tecnocrtica, dos processos naturais dos quais esta
sociedade depende para continuar sua existncia (Davis-Floyd, 1992). Constitui um
campo de pesquisa muito produtivo, freqentemente ligada ao ativismo feminista
e/ou ao de mudana nas prticas.
Nas cincias da sade, a crtica assistncia foi relegada condio de marginal
at o final da dcada de 1970, quando publicado Bases fisiolgicas y psicolgicas
para el manejo humanizado del parto normal, de Roberto Caldeyro- Barcia (1979),
que constituiu uma cunha no discurso mdico, partindo de um pesquisador de ponta
14
inicialmente
por
profissionais
de
sade
epidemiologistas,
Daphne Rattner mdica epidemiologista, com doutorado pela Universidade da Carolina do Norte, EUA,
professora da Universidade de Braslia - Departamento de Sade Coletiva; integra a diretoria da International
MotherBaby Childbirth Organization IMBCO e a coordenao executiva da Rede pela Humanizao do Parto e
Nascimento - ReHuNa; conselheira da Rede Ibfan-Brasil International Breastfeeding Action Network e da
Relacahupan Rede Latinoamericana e do Caribe pela Humanizao do Parto e Nascimento. Organizou com
Belkis Trench o livro Humanizando Nascimentos e Partos; e foi presidente da III Conferncia Internacional sobre
Humanizao do Parto e Nascimento, realizada em Braslia em novembro de 2010.
15
Humanizao
como
legitimidade
profissional
corporativa
de
um
16
17
Ao final do descritivo (elencado de a a g), Rattner conclui que Finalmente, a autora comenta que
Humanizao um termo estratgico, menos acusatrio, para dialogar com os profissionais de
sade sobre a violncia institucional. (RATTNER, 2009, grifo nosso).
Esta premissa bastante elucidativa da maneira como o Estado elaborou suas polticas pblicas
de humanizao: o Programa de Humanizao no Pr-natal e Nascimento (PHPN) foi institudo
pelo Ministrio da Sade atravs da Portaria/GM n 569, de 1/6/2000, e em seu texto podemos
constatar a assertividade da afirmao de Diniz:
O objetivo primordial do Programa de Humanizao no Pr-natal e Nascimento
(PHPN) assegurar a melhoria do acesso, da cobertura e da qualidade do
acompanhamento pr-natal, da assistncia ao parto e puerprio s gestantes e ao
recm-nascido, na perspectiva dos direitos de cidadania.
O Programa de Humanizao no Pr-natal e Nascimento fundamenta-se nos
preceitos de que a humanizao da Assistncia Obsttrica e Neonatal condio
primeira para o adequado acompanhamento do parto e do puerprio.
A humanizao compreende pelo menos dois aspectos fundamentais. O primeiro
diz respeito convico de que dever das unidades de sade receber com
dignidade a mulher, seus familiares e o recm nascido. Isto requer atitude tica e
solidria por parte dos profissionais de sade e a organizao da instituio de
modo a criar um ambiente acolhedor e a instituir rotinas hospitalares que rompam
com o tradicional isolamento imposto mulher. O outro se refere adoo de
medidas e procedimentos sabidamente benficos para o acompanhamento do parto
e do nascimento, evitando prticas intervencionistas desnecessrias, que embora
tradicionalmente realizadas no beneficiam a mulher nem o recm nascido, e que
com freqncia acarretam maiores riscos para ambos. (BRASIL, 2002)
18
http://portal.saude.gov.br/portal/saude/cidadao/visualizar_texto.cfm?idtxt=28288
19
A Lei 11.108, de 7 de abril de 2005, tambm chamada Lei do Acompanhante, foi um marco na
representao do reconhecimento do bem-estar da parturiente, nas perspectivas da Medicina
Baseada em Evidncias e da Humanizao, estando seus apontamentos contidos implicitamente:
Altera a Lei no 8.080, de 19 de setembro de 1990, para garantir s parturientes o
direito presena de acompanhante durante o trabalho de parto, parto e ps-parto
imediato, no mbito do Sistema nico de Sade - SUS
Art. 19-J. Os servios de sade do Sistema nico de Sade - SUS, da rede prpria
ou conveniada, ficam obrigados a permitir a presena, junto parturiente, de 1 (um)
acompanhante durante todo o perodo de trabalho de parto, parto e ps-parto
imediato.
1o O acompanhante de que trata o caput deste artigo ser indicado pela
parturiente.
2o As aes destinadas a viabilizar o pleno exerccio dos direitos de que trata este
artigo constaro do regulamento da lei, a ser elaborado pelo rgo competente do
Poder Executivo.
Art. 19-L. (VETADO)"
20
21
Ou seja, o corpo da lei institui o direito parturiente de apenas um acompanhante de sua escolha,
mas no possui meios de estabelecer punio a quem impedir ou no fizer cumprir a mesma, por
falta de fundamentos no corpo do Cdigo Penal. Esta configurao, de certa maneira, esvazia
parcialmente a eficcia do instrumento legal pois, tendo o gestor da instituio de sade
conhecimento jurdico do fato, e na negativa em cumprir o dispositivo, sabe que aps a denncia
no h maiores consequncias no sentido de reparar o dano cometido. Este fato est ocorrendo,
conforme observado na reportagem publicada em 9 de setembro de 2012, no stio do jornal Dirio
Regional, de So Paulo:5
http://www.diarioregional.com.br/index.php?option=com_content&view=article&id=13197:hospitaisdescumprem-lei-do-acompanhante&catid=326:regional&Itemid=565
22
23
Por sua vez, a lei n 8.080, ao que refere-se conduta justificada pela instituio, precisa:
Art. 1 - Esta Lei regula, em todo o territrio nacional, as aes e servios de sade,
executados, isolada ou conjuntamente, em carter permanente ou eventual, por
pessoas naturais ou jurdicas de direito pblico ou privado.
Art. 2 - A sade um direito fundamental do ser humano, devendo o Estado prover
as condies indispensveis ao seu pleno exerccio.
1 - O dever do Estado de garantir a sade consiste na reformulao e execuo de
polticas econmicas e sociais que visem reduo de riscos de doenas e de outros
agravos no estabelecimento de condies que assegurem acesso universal e
igualitrio s aes e aos servios para a sua promoo, proteo e recuperao.
2 - O dever do Estado no exclui o das pessoas, da famlia, das empresas e da
sociedade.
Art. 5 - Dos objetivos do Sistema nico de Sade - SUS :
I - a identificao e divulgao dos fatores condicionantes e determinantes da sade;
24
25
26
27
28
simblica, trfico de mulheres, meninas e adolescentes e, por fim, la trata6 de mulheres, meninas
e adolescentes.
Ademais, belssima a introduo lei em sua publicao oficial,7 onde se explicita o
reconhecimento do Estado sobre a necessidade de polticas especficas s questes de gnero:
A luta das mulheres no mundo para obter reconhecimento de seus direitos
humanos, sociais e polticos e o respeito sua dignidade tem sido um esforo de
sculos, que teve uma de suas expresses mais elevadas na Declarao dos
Direitos Humanos da Mulher e Cidad em 1791. Seu proponente, Olympe de
Gouges, no conseguiu que os revolucionrios franceses aprovassem tal
declarao e, ao contrrio, sua iniciativa foi uma das causas que determinaram sua
morte na guilhotina.
Um gravssimo problema, contra o qual tem lutado historicamente as mulheres de
todo o planeta, que a violncia se exerce contra elas somente pelo fato de s-lo. A
violncia de gnero encontra suas razes profundas na caracterstica patriarcal das
sociedades em que prevalecem estruturas de subordinao e discriminao contra a
mulher que consolidam a conformao de conceitos e valores que desqualificam
sistematicamente a mulher, suas atividades e suas opinies.
Assim, qualquer negativa ou rechao ao poder masculino vivida pelo homem
agressor como uma transgresso a uma ordem natural que justifica a violncia de
sua reao contra a mulher. Se trata, pois, de uma violncia que se dirige sobre as
A traduo do termo trata para o portugus seria a palavra trfico, contudo se compreende que o que
diferencia a trata do trfico um conceito, tornado claro no texto abaixo. No h conceituao equivalente em
nosso idioma.
Los trminos "trata de seres humanos" y "trfico de migrantes" han sido usados como sinnimos pero se refieren a
conceptos diferentes. El objetivo de la trata es la explotacin de la persona, en cambio el fin del trfico es la entrada
ilegal de migrantes. En el caso de la trata no es indispensable que las vctimas crucen las fronteras para que se
configure el hecho delictivo, mientras que ste es un elemento necesario para la comisin del trfico.
Qu es la trata de personas?
La trata consiste en utilizar, en provecho propio y de un modo abusivo, las cualidades de una persona.
Para que la explotacin se haga efectiva los tratantes deben recurrir a la captacin, el transporte, el traslado, la
acogida o la recepcin de personas.
Los medios para llevar a cabo estas acciones son la amenaza o el uso de la fuerza u otras formas de coaccin,
el rapto, fraude, engao, abuso de poder o de una situacin de vulnerabilidad.
Adems se considera trata de personas la concesin o recepcin de pagos o beneficios para obtener el
consentimiento de una persona que tenga autoridad sobre otra, con fines de explotacin.
La explotacin incluir, como mnimo, la explotacin de la prostitucin ajena u otras formas de explotacin
sexual, los trabajos o servicios forzados, la esclavitud o las prcticas anlogas, la servidumbre o la extraccin de
rganos.
Qu es el trfico de migrantes?
El trfico ha sido definido como la facilitacin de la entrada ilegal de una persona en un Estado del cual dicha
persona no sea nacional o residente permanente con el fin de obtener, directa o indirectamente, un beneficio
financiero u otro beneficio de orden material. *
* http://www.acnur.org/t3/que-hace/proteccion/trata-y-trafico-de-personas/
7
Disponvel em: <http://venezuela.unfpa.org/doumentos/Ley_mujer.pdf>.
29
mulheres por serem consideradas, por seus agressores, carentes dos direitos
fundamentais de liberdade, respeito, capacidade de deciso e de direito vida.
A violncia contra a mulher constitui um grave problema de sade pblica e de
violao sistemtica de seus direitos humanos, que mostra de forma dramtica os
efeitos da discriminao e subordinao da mulher por razes de gnero na
sociedade.
O exerccio dos direitos humanos das mulheres, em matria de violncia baseada
no gnero, se v afetado significativamente tambm pelas concepes jurdicas
tradicionais, baseadas em paradigmas positivistas e sexistas. At algumas dcadas
atrs se acreditava, em uma perspectiva generalista, que os maus tratos s
mulheres era uma forma a mais de violncia, com uma adio de excepcionalidade
e causa possvel na patologia do agressor da vtima. Desde os anos setenta do
sculo XX reconhecida sua especificidade e o fato de que suas causas esto nas
caractersticas estruturais da sociedade. A compreenso do tema, ento, exige
algumas chaves explicativas que vo desde a insistncia em sua especificidade e
compreenso sociais, passando por uma denncia de sua frequncia e seu carter
no excepcional, mas comum.
[] Em virtude de que obrigao do Estado atender, prevenir, punir e erradicar a
violncia contra as mulheres, devendo expedir as normas legais que sirvam para
tais fins, se estabeleceram nesta lei todas as aes e manifestaes da violncia,
tanto no mbito intrafamiliar como fora do mesmo, dando lugar a novas definies
como a violncia institucional, miditica e laboral, entre outras, que afetam s
mulheres em diferentes espaos de seu desempenho social.
Com esta lei se pretende criar conscincia em todos os setores do pas sobre o
grave problema que constitui para a sociedade venezuelana que se violem os
direitos da metade de sua populao, por isso necessrio trabalhar em sua
instrumentao e garantir o cumprimento da mesma.
30
sociedade civil para a compreenso dos mesmos, o que se d no sem resistncia dos que
passam a configurar-se como agressores. Tal processo observvel em trabalhos acadmicos,
como o que reproduzimos a seguir. Graciela Medina, sua autora, advogada e doutora em
Cincias Jurdicas e Sociais pela Universidade de Mendoza (Argentina):
VIOLENCIA OBSTETRICA
1. Introduccin
La ley Integral de Violencia contra la mujer enumera como especfica manifestacin
de agresin hacia el gnero femenino la Violencia Obsttrica.
Este concepto no es precisamente conocido por los operadores del derecho, ni
tampoco por los responsables de las ciencias mdicas, motivo por el cual en el
presente trabajo tenemos como objetivo
31
por su pudor y sin ser consultadas sobre si estn de acuerdo en ser escrutadas,
palpadas, e investigadas, en lugares sin ningn tipo de privacidad por mltiples
personas. Quienes adems muchas veces realizan comentarios burlescos entre
ellos. Transcribiremos un testimonio que ayuda a comprender la magnitud de la
humillacin me metieron mano mas o menos 13 estudiantes, sent vergenza,
bronca, me tapaba la cara con la sbana para que no me miraran9.
Violacin del Derecho a la Informacin y a la toma de Decisiones. A las
pacientes se les realizan prcticas en muchos casos sin previa consulta, en otras
ocasiones sin que se le brinde informacin sobre el estado de su salud, ni sobre las
caractersticas de las intervenciones que se le realizarn. En consecuencia se le
niega toda
surgen frases como firma ac, te tengo que ligar las trompas,te tengo que hacer
cesrea, sin que estas locuciones vayan acompaadas de ninguna informacin
adecuada.
Tratos Crueles, Inhumanos y Degradantes.
un aborto
10
Testimonio extrado del Reporte DDHH Reporte Derechos Humanos sobre atencin en
salud reproductiva en Hospitales Pblicos, Rosario 2003.
10
Aunque en muchos casos puede ser un aborto natural, la sola presuncin de que se trate de
un aborto auto provocado da lugar a estas reacciones. Al respecto son ilustrativos los testimonios dados
en el libro Con todo al aire 2 pag. 39 a 59 y www.insgenar.org.ar/observatorio
32
el legrado en carne viva, es decir sin anestesia y a la mujer se le dicen frases tales
como se abren de pierna y despus mir. Y ante las splicas por el dolor y el
pedido de calmantes para mitigarlos es comn escuchar no querida ahora
aguntatela mam , o Ahora vienen ac y quieren que no les duela.
Al margen de los obstculos comunes para el acceso a la justicia en casos de
violencia de gnero como las limitaciones financieras y econmicas las victimas
de los malos tratos en los servicios de salud sexual y reproductiva encuentran
obstculos especiales en todas las fases de la administracin de la justicia penal.
La prdida de intimidad, sumada a la posibilidad de sufrir humillaciones en caso de
que se revelen determinados actos, logra que las mujeres oculten que han sido
objeto de torturas o malos tratos.
S los malos tratos se originan por un aborto inseguro, las mujeres ni se plantean la
posibilidad de denunciar cmo fueron atendidas. Ello por el temor a la denuncia
penal, al arresto y las consecuencias de la criminalizacin.11
Por ltimo en aquellos lugares alejados o zonas rurales, las mujeres se disuaden de
realizar las denuncias por temor de perder la posibilidad de seguir usando ese
nico prestador.
Cabe recordar que a partir de la reforma del Cdigo Procesal Penal numerosos precedentes
resolvieron que deba instruirse sumario criminal a la mujer que prefera no morir y acudir al Hospital
Pblico, para salvar su vida, para la averiguacin del hecho contemplado en el art. 193 del Cdigo,
dejando de lado lo dispuesto en el plenario CNCRIM Y CORREC DE LA CAPITAL FEDERAL - EN
PLENO - 26/08/1966. Natividad Fras, aunque en la actualidad, hay jurisprudencia que en el caso del
aborto provocado la mujer busca auxilio mdico porque se siente herida en su organismo, a veces con
verdadero peligro de muerte y que su presencia ante el mdico, para tratar el aborto, que si bien
provoc, no puede controlar, en sus ltimas consecuencias, implica mostrar su cuerpo, descubrirse en
su ms ntimo secreto, confesar su delito, y no puede ser incriminada, nadie est obligado a declarar
contra si mismo, y no podra negarse que en tales casos, la obligacin es urgida por el derecho a vivir.
La evolucin jurisprudencial puede consultarse en El valor de las decisiones judiciales para evitar la
violencia contra la mujer. Jurisprudencia de la Corte Interamericana de Derechos Humanos y Argentina
sobre derechos humanos de las mujeres Revista en Revista de Derecho de Familia y de las Personas,
n 1 setiembre 2009, ed. LL.
33
5. Legitimados activos
Este tipo de violencia solo puede ser ejercida por el personal de la salud. Una
lectura simple de la norma podra hacer pensar que se limita a quienes se
desempean en servicio ginecolgico u obsttrico de un Hospital o Clnica, sin
embargo el mbito de los legitimados activos es ms amplio.
Entendemos que deben considerarse legitimados activos para producir violencia
obsttrica:
a) todo el personal que trabaja en un servicio de asistencia sanitaria, tanto
profesionales
(mdicos/as,
trabajadores/as
sociales,
psiclogos/as)
como
25.929 de parto
34
Conclusin
Somos conscientes de la crisis por la que pasa el sistema de salud, de la carencia
de infraestructuras adecuadas, de la escasez de recursos, de la exigidad de los
presupuestos, de la insuficiencia de personal y de la insuficiencia del apoyo
tecnolgico, pero pensamos que su extrema gravedad no justifican los malos tratos
en un rgimen jurdico basado en el respeto a los derechos humanos ya que
ninguna miseria da derechos a daar y menos a lesionar por el gnero en lo sexual
o reproductivo.
O Dr. Gidder Bentez Guerra, professor agregado da Ctedra de Clnica Obsttrica da Faculdade
de Medicina da Universidade Central da Venezuela, editor e diretor da Revista da Faculdade de
Medicina, em seu artigo afirma:
Los aspectos relacionados con la violencia obsttrica se difundieron con rapidez
entre los mdicos, generando muchas dudas entre los gineco-obstetras.
35
Muchos argumentaron que esta Ley le permite a las pacientes hacer peticiones sin
fundamento, relacionadas con la va del parto o negarse a determinados
procedimientos interfiriendo de esta forma la adecuada ejecucin de su trabajo y el
Estado, en lugar de crear una Ley que los sancione por ejercer su profesin, debera
realizar mejoras sustanciales en los hospitales que garanticen una ptima atencin a
las embarazadas.
La Sociedad de Obstetricia y Ginecologa de Venezuela, rectora de la especialidad
en el pas, en cumplimiento de lo establecido en su Estatuto, tom la iniciativa de
realizar jornadas para la informacin y contenido de la Ley. Estas jornadas se
disearon de tal forma que trataron los aspectos mdicos y jurdicos y se celebraron
los das 11 y 12 de julio de 2007 con la asistencia de 104 profesionales de diferentes
hospitales de Caracas.
En la XXI Jornada Nacional de Obstetricia y Ginecologa, celebrada en la ciudad de
Mrida del 31 de octubre al primero de noviembre de 2007, se realiz una
conferencia plenaria sobre la Ley y en el XXIV Congreso Nacional, realizado en
Maracaibo del 11 al 14 de marzo del presente ao, se trat nuevamente y se analiz
desde la perspectiva mdica.
No obstante, muchos mdicos no conocen bien esta Ley, los actos que se
consideran violencia obsttrica y las sanciones que establece.
Sin pretender ser abogado, al analizar el texto de la Ley, es evidente que los
mdicos son quienes tienen los conocimientos pero deben informar a las pacientes y
sus actuaciones estarn determinadas por los medios disponibles.
El artculo que se refiere a los actos de violencia obsttrica reza: .. existiendo los
medios necesarios para y previo consentimiento voluntario, expreso e informado
de la mujer.
Artculo 51
Se considerarn actos constitutivos de violencia obsttrica los ejecutados por el
personal de salud, consistentes en:
No atender oportuna y eficazmente las emergencias obsttricas.
Obligar a la mujer a parir en posicin supina y con las piernas levantadas, existiendo
los medios necesarios para la realizacin del parto vertical.
Obstaculizar el apego precoz del nio o nia con su madre sin causa mdica
justificada, negndole la posibilidad de cargarlo o cargarla y amamantarlo o
amamantarla inmediata-mente al nacer.
36
Alterar el proceso natural del parto de bajo riesgo, mediante el uso de tcnicas de
aceleracin, sin obtener el consentimiento voluntario, expreso e informado de la
mujer.
Practicar el parto por va de cesrea, existiendo condiciones para el parto natural, sin
obtener el consentimiento voluntario, expreso e informado de la mujer.
En tales supuestos, el tribunal impondr al responsable o la responsable, una multa
de doscientas cincuenta (250 U.T.) a quinientas unidades tributarias (500 U.T.),
debiendo remitir copia certificada de la sentencia condenatoria definitivamente firme
al respectivo colegio profesional o institucin gremial, a los fines del procedimiento
disciplinario que corresponda.
Si bien es cierto que en Venezuela existe una gran demanda de atencin mdica,
que en la mayora de los hospitales pblicos y privados no existen los medios para el
parto vertical y en las escuelas de medicina no se ensea este tipo de parto;
tampoco es menos cierto que muchos mdicos usan en forma indiscriminada
oxitcicos en pacientes que no los necesitan, realizan cesreas sin indicacin
precisa y slo en muy pocas ocasiones utilizan el consentimiento informado a pesar
de reconocer su gran importancia.
Muchas pacientes desconocen que tratamiento recibieron porque no se les inform y
si esto se hizo fue con trminos y expresiones que no entendieron.
Existen adems otros actos no tipificados, aparentemente inadvertidos, que con el
paso del tiempo tienden a convertirse en norma y que son inaceptables. Estos son el
trato poco corts, la falta de inters por preservar el pudor de las pacientes y la
confidencialidad de los datos aportados por ellas; as como referirlas a mltiples
centros hospitalarios, sin causas justificadas.
Debemos cumplir a cabalidad lo establecido en nuestro Cdigo de Deontologa(4) y
no debemos omitir el consentimiento informado, pues constituye un derecho de todo
paciente y est consagrado en la Constitucin y las Leyes de la Repblica(5) .
El Consentimiento informado nos libera de consecuencias previsibles pero no nos
exonera de mal praxis mdica por negligencia, impericia, imprudencia e
inobservancia de las normas. (GUERRA, 2008).
37
restriccin,
humillacin,
deshonra,
descrdito,
manipulacin
38
39
c) Violencia laboral contra las mujeres: aquella que discrimina a las mujeres en los
mbitos de trabajo pblicos o privados y que obstaculiza su acceso al empleo,
contratacin, ascenso, estabilidad o permanencia en el mismo, exigiendo requisitos
sobre estado civil, maternidad, edad, apariencia fsica o la realizacin de test de
embarazo. Constituye tambin violencia contra las mujeres en el mbito laboral
quebrantar el derecho de igual remuneracin por igual tarea o funcin. Asimismo,
incluye el hostigamiento psicolgico en forma sistemtica sobre una determinada
trabajadora con el fin de lograr su exclusin laboral;
d) Violencia contra la libertad reproductiva: aquella que vulnere el derecho de las
mujeres a decidir libre y responsablemente el nmero de embarazos o el intervalo
entre los nacimientos, de conformidad con la Ley 25.673 de Creacin del Programa
Nacional de Salud Sexual y Procreacin Responsable;
e) Violencia obsttrica: aquella que ejerce el personal de salud sobre el cuerpo y los
procesos reproductivos de las mujeres, expresada en un trato deshumanizado, un
abuso de medicalizacin y patologizacin de los procesos naturales, de conformidad
con la Ley 25.929.
Sendo assim, a violncia obsttrica pode conter, em sua manifestao (havendo a necessidade,
portanto, de considerar cada caso individualmente), os tipos de violncia fsica e sexual, no caso
de uma episiotomia consentida, por exemplo, ou fsica, sexual e psicolgica, se no houver
consentimento da mulher em submeter-se ao procedimento.
A lei argentina bastante semelhante, em sua estrutura, Lei sobre a Violncia contra a Mulher
e a Famlia, de 1998, da Venezuela, onde define-se, alm da violncia contra a mulher e a
famlia, a violncia psicolgica, fsica e sexual. O dispositivo venezuelano descreve os delitos
como ameaa, violncia fsica, violncia sexual, acesso carnal violento, assedio sexual e violncia
psicolgica.
A Lei Orgnica sobre o Direito das Mulheres a uma Vida Livre da Violncia, vigente na Venezuela
desde 2007, tem em seu texto a seguinte definio, bem como suas derivaes nas formas
concretizadas:
Artculo 14. Definicin. La violencia contra las mujeres a que se refiere la presente
Ley, comprende todo acto sexista o conducta inadecuada que tenga o pueda tener
como resultado un dao o sufrimiento fsico, sexual, psicolgico, emocional, laboral,
econmico o patrimonial; la coaccin o la privacin arbitraria de la libertad, as como
la amenaza de ejecutar tales actos, tanto si se producen en el mbito pblico como
en el privado.
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41
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No h, na lei argentina, a tipificao dos delitos, tampouco as penas a serem aplicadas. J na lei
venezuelana, o delito caracterizado, bem como as respectivas punies, tornando o dispositivo
mais claro e sua execuo, mais efetiva:
Artculo 39. Violencia psicolgica. Quien mediante tratos humillantes y vejatorios,
ofensas,
aislamiento,
vigilancia
permanente,
comparaciones
destructivas
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O dispositivo venezuelano tambm prev, em seu corpo, as responsabilidades civis daquele que
comete o delito, assegurando mulher ou a seus herdeiros o direito de reparao ou indenizao
do dano causado:
Artculo 61. Indemnizacin. Todos los hechos de violencia previstos en esta Ley
acarrearn el pago de una indemnizacin a las mujeres vctimas de violencia o a sus
herederos y herederas en caso de que la mujer haya fallecido como resultado de
esos delitos, el monto de dicha indemnizacin habr de ser fijado por el rgano
jurisdiccional especializado competente, sin perjuicio de la obligacin de pagar el
tratamiento mdico o psicolgico que necesitare la vctima.
49
Artculo 62. Reparacin. Quien resultare condenado por los hechos punibles
previstos en esta Ley, que haya ocasionado daos patrimoniales en los bienes
muebles e inmuebles de las mujeres vctimas de violencia, estar obligado a
repararlos con pago de los deterioros que hayan sufrido, los cuales sern
determinados por el rgano jurisdiccional especializado competente. Cuando no sea
posible su reparacin, se indemnizar su prdida pagndose el valor de mercado de
dichos bienes.
Artculo 63. Indemnizacin por acoso sexual. Quien resultare responsable de acoso
sexual deber indemnizar a la mujer vctima de violencia en los trminos siguientes:
1.- Por una suma igual al doble del monto de los daos que el acto haya causado a
la persona acosada en su acceso al empleo o posicin que aspire, ascenso o
desempeo de sus actividades.
2.- Por una suma no menor de cien (100 U.T.) ni mayor de quinientas unidades
tributarias (500 U.T.), en aquellos casos en que no se puedan determinar daos
pecuniarios. Cuando la indemnizacin no pudiere ser satisfecha por el condenado
motivado por estado de insolvencia debidamente acreditada, el tribunal de ejecucin
competente podr hacer la conversin en trabajo comunitario a razn de un da de
trabajo por cada unidad tributaria.
De modo geral, o dispositivo legal venezuelano bastante preciso em sua forma de coibir e
erradicar a violncia obsttrica, bem como outras modalidades de violncia ou delitos, por seu
carter altamente rigoroso e punitivo. Explicita o que no deve fazer, ao profissional da sade, a
uma mulher gestante ou em trabalho de parto, sob pena de sofrer as consequncias legais
determinadas pela lei orgnica. No h lei semelhante, no corpo legal venezuelano,
Lei
50
mdica e social que atendam no somente garantia dos direitos da mulher contra a violncia,
mas sociedade em seus processos de continuidade e estruturao biolgica, cultural e poltica.
Contudo, alm da importncia da conceituao da violncia obsttrica e seus correlativos,
tambm muito importante o reconhecimento e igual tratamento da violncia institucional, haja vista
que a maioria dos partos acontece em hospitais, podendo a mulher sofrer a violao de seus
direitos por um servidor tcnico-administrativo, logo no momento de sua admisso. A figurao
das violncias psicolgica e fsica desdobradas nas formas de ameaa e assdio so tambm
relevantes para situar com mais exatido o grau e intensidade da violncia sofrida pelas mulheres
durante a gestao e parto.
Um ponto importante a ser ressaltado o entendimento que se tem sobre estes tipos de violncia
no Brasil e, para isso, tomaremos como exemplo um trabalho acadmico: a tese de doutorado de
Janana Marques de Aguiar, apresentada Faculdade de Medicina da Universidade de So
Paulo, Violncia Institucional em Maternidades Pblicas: hostilidade ao invs de acolhimento
como uma questo de gnero, orientado pela Dr. Ana Flvia Pires Lucas DOliveira. Este
trabalho aborda a violncia sofrida por mulheres nas maternidades do Sistema nico de Sade,
agrupando todas as variaes de maus tratos fsicos e psicolgicos sob o termo violncia
institucional, justificando:
Embora ainda sejam poucos os estudos que abordam este tema, se comparados
com a literatura cientfica sobre a violncia contra a mulher de uma forma geral,
alguns autores apontam que a violncia em maternidades , em grande parte,
resultado da prpria precariedade do sistema, que, alm de submeter seus
profissionais a condies desfavorveis de trabalho, como a falta de recursos, a
baixa remunerao e a sobrecarga da demanda social (caracterizando um
sucateamento da sade), tambm restringe consideravelmente o acesso aos
servios oferecidos, fazendo, entre outras coisas, com que mulheres em trabalho de
parto passem por uma verdadeira peregrinao em busca de uma vaga na rede
pblica, com srio risco para suas vidas e a de seus bebs [...]. Por outro lado, o
desconhecimento e a falta de respeito para com os direitos sexuais e reprodutivos
da mulher, alm da tcita imposio de normas e valores morais depreciativos por
parte do profissionais, tambm so apontados como importantes fatores na
formao da complexa trama de relaes que envolvem os atos de violncia
institucional contra gestantes, purperas e mulheres em situao de abortamento
[...]. Estes maus tratos vividos pelas pacientes, na maioria das vezes, segundo
alguns autores, encontram-se relacionados a prticas discriminatrias por parte dos
profissionais, quanto ao gnero, entrelaados com discriminao de classe social e
etnia, subjacentes permanncia de uma ideologia que naturaliza a condio social
51
Com isso, a autora consegue delinear todos os fatores a serem empregados em sua anlise, de
modo a torn-la abrangente tanto do ponto de vista tcnico, quanto poltico e cultural, construindo
uma abordagem eficiente dos problemas que compem a questo da violncia e m qualidade
dos servios de sade prestados s mulheres. Todavia, a colocao, em seu texto, de que Ao se
falar da violncia institucional nas maternidades (como uma violncia exercida por profissionais de
sade contra suas pacientes) a princpio a associao a que somos remetidos dessa violncia
como um uso abusivo do poder do qual so investidos esses profissionais numa relao que por
definio sempre assimtrica: entre um sujeito que detm um determinado saber sobre a sade e
o cuidado com o corpo e, outro, que se sujeita a este cuidado por reconhecer a legitimidade
cientfica e social deste saber, obriga a deparar-nos diante das especificidades da realidade
brasileira, ao que ponderamos:
a) o que se considera violncia institucional compreende a atuao do profissional de sade
dentro da instituio de atendimento, atrelando, de certa maneira, sua atuao s condies
fsicas, organizacionais e de recursos da mesma;
b) a relao profissional-paciente , por construo social e histrica, opressora e violenta;
c) a sujeio da paciente s decises do profissional de sade no ocorre mediante
esclarecimento sobre os procedimentos a serem realizados tampouco mediante o consentimento
por parte da mulher;
d) tal sujeio no encontra equipamentos sociais disponveis para sua reverso.
Diante dessas colocaes, o risco de consideramos, exclusivamente, a violncia obsttrica como
um trao da violncia institucional se d pela manuteno do constructo que perpetua o abuso das
52
aes cometidas pelo profissional de sade, no o considerando um responsvel civil pelos seus
atos. Sobre este fato, novamente a afirmao de Diniz se mostra pertinente, ao considerar as
polticas de humanizao como estratgias menos acusatrias no dilogo com os profissionais de
sade. Outro risco o do Estado continuar sendo condescendente para com a atuao
negligente, imprudente e danosa do profissional de sade, que encontra nas condies estruturais
da instituio de atendimento as justificativas para os seus atos. E a mais grave de todas as
consideraes: continuar negando s mulheres os meios para fazer valer seus direitos como
pessoa humana, em circunstncias especficas de sua existncia.
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12
54
55
Na pesquisa realizada pela Fundao Perseu Abramo e SESC13, em 2010, foi constatado que
25% das mulheres entrevistadas tiveram gestao interrompida, 22% declaram terem sofrido
aborto natural, e 4% admitiram interromper voluntariamente a gestao. 53% das mulheres que
declararam ter provocado aborto e procuraram assistncia a sade sofreram algum tipo de
violncia no atendimento, sendo estas:
- serem tratadas como suspeitas, questionadas insistentemente se haviam tirado o beb;
- no receberam informaes sobre os procedimentos realizados;
- foram acusadas de criminosas, e ameaadas de serem entregues polcia;
- aguardaram horas, no sabendo se seriam internadas ou no;
- foram internadas, sem receber explicaes;
- foram culpabilizadas, mediante a exposio dos restos fetais seguida da frase olha s o que
voc fez!.
Segundo a norma tcnica de Ateno Humanizada ao Abortamento do Ministrio da Sade, o
profissional de sade, no atendimento mulher em abortamento, deve proceder segundo estes
critrios:
dever do(a) mdico(a) informar mulher sobre suas condies e direitos e, em caso que
de sade no pode comunicar o fato autoridade policial, judicial, nem ao Ministrio Pblico, pois
o sigilo na prtica profissional da assistncia sade dever legal e tico, salvo para proteo da
usuria e com o seu consentimento. O no cumprimento da norma legal pode ensejar
procedimento criminal, civil e ticoprofissional contra quem revelou a informao, respondendo
por todos os danos causados mulher.
Disponvel em http://www.fpa.org.br/sites/default/files/pesquisaintegra.pdf
56
necessria: No fazer juzo de valor e no julgar, pois o dever de todos os profissionais de sade
acolher condignamente e envidar esforos para garantir a sobrevivncia da mulher e no causar
quaisquer transtornos e constrangimentos.
Deve-se oferecer medicamentos para alvio da dor a todas as mulheres. Aquelas que se
apresentem em condies clnicas favorveis, com teros pequenos e com pouco contedo a ser
esvaziado, e satisfatria interao com a equipe de sade, podem ser tratadas apenas com apoio
verbal e anestesia paracervical. Utilizam-se outras drogas associadas quando a mulher
necessitar, evitando-se sofrimentos desnecessrios. Na maior parte dos procedimentos,
suficiente o uso de analgsicos no narcticos, com anestesia paracervical e/ou sedao.
Algumas mulheres precisam receber drogas tranqilizantes, como o diazepan ou o midazolan,
quando a ansiedadepassa a ser componente prejudicial ao atendimento.
A ateno humanizada s mulheres em abortamento pressupe o respeito aos princpios
fundamentais da biotica (tica aplicada vida):
a) Autonomia: direito da mulher de decidir sobre as questes relacionadas ao seu corpo e sua
vida;
b) Beneficncia: obrigao tica de se maximizar o benefcio e minimizar o dano (fazer o bem);
c) No-maleficncia: a ao deve sempre causar o menor prejuzo paciente, reduzindo os
efeitos adversos ou indesejveis de suas aes (no prejudicar);
d) Justia: o(a) profissional de sade deve atuar com imparcialidade, evitando que aspectos
sociais, culturais, religiosos, morais ou outros interfiram na relao com a mulher.
A ateno humanizada s mulheres em abortamento direito de toda mulher e dever de todo(a)
profissional de sade.
57
por
xingamentos grosseiros com vis discriminatrio quanto classe social ou cor da pele (VENTURI
et al., 2010).
A tese de Janana Marques Aguiar , neste sentido, bastante relevante pois, alm de ser ela
mesma um registro das experincias e opinies dos atores envolvidos no parto hospitalar
parturiente, mdicos e enfermeiros acerca das relaes de poder, autoridade e cuidado,
explicita, na fala dos mesmos, o reconhecimento da desigualdade, abuso, preconceito,
discriminao, maus tratos, impunidade e injustia que envolvem o contexto do atendimento
sade de mulheres em processo reprodutivo. No referido trabalho, foram ouvidas e entrevistadas
21 mulheres, 10 mdicos ginecologista-obstetras, 5 enfermeiras e 3 tcnicas de enfermagem,
alm de citar como referncia pesquisas da mesma natureza que chegaram a entrevistar 9.633
mulheres em 47 instituies de atendimento sade. A maior parte dos depoimentos bastante
forte e ilustrativa, chamando a ateno, por seu carter sinttico, a seguinte colocao proferida
por um dos mdicos entrevistados:
Duvido que voc reclame. Do teu marido no maior? [...] Assim, voc no tem
como provar, no tem como denunciar isso porque voc no tem como filmar,
entende? Essa denncia tem que vir da mulher, mas testemunhas (outros
funcionrios) j vieram falar. [...] Indignados. Entendeu? Ento isso uma grande
violncia, mas o qu que a gente faz? (AGUIAR, D'OLIVEIRA, 2010)
58
Ao estudarmos sua tese, observamos que a consequncia de uma srie extensa de condutas e
tratamentos inadequados na assistncia s mulheres em trabalho de parto o aumento
significativo de seu sofrimento, o qual, naturalmente, evitado ou exteriorizado, reativamente.As
agresses sofridas, de natureza fsica ou verbal, determinam em maior ou menor grau o
comportamento e a percepo da mulher acerca da experincia do seu parto. Estigmatizaes
como escandalosa, descontrolada e irresponsvel (referindo-se aos casos de mulheres de
baixa escolaridade que j possuem outros filhos quando da ocasio do atendimento ao parto),
entre outras, so levantadas por Aguiar, e se cristalizam na conformao da experincia, seja
atravs da reatividade ou da culpabilizao da paciente.
Muitas vezes, a violncia se d de modo velado, silencioso. assim, por exemplo, que alguns
protocolos institucionais que em princpio visariam humanizar o atendimento so efetivados de
modo a reforar, na mulher, o sentimento de abandono, configurando-se como violncia. Tal fato
se explicita no trabalho de Helosa Salgado (2012), que coletou o seguinte relato:
A relao de desigualdade entre a mulher e o profissional de sade, a que Aguiar refere-se como
assimetria da relao, torna-se bastante evidente se analisarmos as situaes e seus possveis
desdobramentos do ponto de vista jurdico: uma paciente que, acuada ou agredida, reagir
violentamente ao sob ela impetrada pode, de acordo com o Artigo 331 do Cdigo Penal -
59
Decreto Lei 2848/40, ser enquadrada sob o crime de desacato a funcionrio pblico.14 mulher,
nenhuma proteo legal imediata conferida, visto serem considerados os atos mdicos
concernentes a sua autoridade e atuao profissional. Am disso, h dificuldade para levar
adiante, judicialmente, qualquer denncia a respeito do carter violento e danoso do profissional
de sade, como o relato mencionado anteriormente, de um mdico que aponta a dificuldade de
provar as agresses. De modo geral, as parturientes tambm desconhecem seus direitos, o que
colabora para manter e perpetuar tais condutas abusivas, configurando a crise da confiana e da
tica no exerccio das relaes.
De acordo com o que observamos nos relatos da mulheres vtimas de algum tipo de violncia
durante a gestao e o parto, com as legislaes vigentes na Venezuela e Argentina acerca do
14
O anteprojeto do Cdigo Penal prev a revogao do crime de desacato, configurando como injria
ato sofrido por funcionrio pblico. Dessa maneira, pressupe-se estabelecer uma relao de paridade
entre as partes. Contudo, a injria a funcionrio pblico no exerccio de suas funes pode dobrar a pena
prevista.
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64
Foi possvel verificar, por meio das entrevistas, que ficar sozinha na recuperao foi
um dado importante observado no conjunto do material emprico, pois, para este
grupo, esse foi um momento de grande desconforto, falta de informao e solido,
como ser visto adiante.
65
Quando o mdico chegou, pedi para deixar o meu marido entrar. Ele no quis
deixar, mas meu marido estava com o papel da Lei que permite acompanhante
no parto e ele mostrou para o mdico. O mdico se virou para o meu marido e
disse Ento eu vou embora e voc faz o parto.
C.M., atendida na rede pblica, Barbacena (MG)
66
3) houve restrio pelo vnculo com a instituio. Exemplos: esse direito s vale para o
SUS, s pode na ala privada, s para quem paga quarto, um direito s para quem tem
plano de quarto privativo, no pode ficar acompanhante para quem tem acomodao de
enfermaria ou quarto coletivo, s para o particular
Sou me solteira de gmeos. No foi fcil conseguir ter minha irm como
acompanhante, pois o hospital alegou que o direito escolha do acompanhante
somente para o SUS. Consegui uma carta de uma psicloga dizendo da
importncia de um acompanhante e os venci pelo cansao.
D.D. atendida no Hospital da Luz na Vila Mariana atravs do plano de sade Dix,
So Paulo (SP)
Prezada Senhora,
Acusamos o recebimento de sua correspondncia, e esclarecemos que a legislao
questionada, Lei 11.108 de 07 de abril de 2005, vale somente para hospitais do
SUS, conveniados ou credenciados. Informamos que o Hospital Unimed uma
empresa privada, que no faz parte do Sistema nico de Sade, seja por
credenciamento, seja por convnio. Assim sendo, o Hospital Unimed Limeira no se
enquadra na referida Lei, possuindo regra e normatizao prpria, que prev a
possibilidade, do esposo acompanhar o parto, desde que tenha participado do Curso
de Gestante oferecido pela Unimed Limeira.
Diante do exposto acima, contamos com a sua compreenso e permanecemos a
disposio para outros esclarecimentos necessrios.
Atenciosamente,
Dr. Joo Lus Zaros - Diretor Superintendente
67
4) houve restrio pelo tipo de parto. Exemplos: s pode acompanhante em parto normal, s
pode acompanhante se for cesrea.
Outra alegao muito frequente para proibir a entrada de acompanhantes de que a Lei no cita
bloco cirrgico ou cesrea no texto. A classificao oficialmente adatada pelo Brasil, o CID-10,
classifica cesrea como um subtipo de parto. Essa classificao de conhecimento de todos os
profissionais da rea da sade.
Imprimi a lei e levei para o meu mdico ver. Mas ele leu e disse que no tem
nada na lei [Lei Federal 11.108/05] escrito cesariana. Ele disse que o direito s
para parto e por isso eu no vou poder ter acompanhante na cesariana.
I. atendida atravs de plano de sade
[...] O artigo 7 do Cdigo de tica Mdica diz que o mdico deve exercer a
profisso com ampla autonomia... e o artigo 28 permite ao profissional recusar a
realizao de atos mdicos que, embora permitidos por lei, sejam contrrios aos
ditames de sua conscincia.
[] A lei n 11.108, de 07/04/05, publicada no Dirio Oficial da Unio no dia
08/04/05, diz em seu artigo 19-J que os servios de sade do Sistema nico de
Sade - SUS, da rede prpria ou conveniada, ficam obrigados a permitir a presena,
15
http://www.cremec.com.br/pareceres/2012/par2212.pdf
68
Existem normatizaes para o controle de infeco hospitalar que devem ser aplicadas a todos os
profissionais que entram no bloco cirrgico e inclusive aos acompanhantes, conforme a RDC n
38/2008 da ANVISA. Vrias maternidades j acolhem as mulheres com seus acompanhantes
inclusive dentro dos blocos cirrgicos adotando prticas como paramentao (vestes higienizadas,
touca, mscara), movimentao restrita dentro da sala.
69
No Brasil, comum os servios alegarem desconhecer a lei e assim impedirem que a mulher
exera seu direito.
Entrei em contato com a Maternidade e me informaram que no conhecem a lei que
d o direito ao acompanhante no parto e por isso a maternidade no permitir
acompanhante na hora do parto.
Dayana Rossi, em contato com a Maternidade Marlene Teixeira onde pretendia ser
atendida no parto, em Aparecida (GO)
Uma questo que dificulta a aplicao da Lei 11.108 de 2005 pode ser a falta de previso de
punio para o descumprimento da referida Lei. Para exigir que o seu direito seja cumprido,
algumas mulheres procuram o Ministrio Pblico ou chamam a polcia quando do entrada no
servio de sade. Outras mulheres relatam o medo de buscar esses dispositivos com medo de
desagradar as equipes e sofrer retaliaes durante seu atendimento. A vulnerabilidade da mulher
na assistncia sade evidente e necessita de aes efetivas para sua proteo.
O meu mdico disse que o meu marido no poder ficar comigo no parto porque o
parto feito no centro cirrgico, e hoje em dia existem muitas bactrias e ele pode
acabar levando alguma pra l.
70
Jennifer, que ficou sem acompanhante durante a cesrea pois no quis exigir seu
direito para que o mdico no trabalhasse de mau humor, atendida atravs de
plano de sade
71
16
Disponvel
em:
http://www.ans.gov.br/images/stories/Legislacao/camara_tecnica/rol_de_procedimentos/2_reuniao/2009
0401_transcricao_literal_da_reuniao.pdf
72
Consegui ter acompanhante no parto. Mas como meu plano era enfermaria, tive
acompanhante s por 24h aps o parto, depois disso s nos horrios de visita, uma
hora pela manh e uma hora pela tarde.
Carolina Moraes, atendida atravs de plano de sade em Mogi das Cruzes-SP
73
eles e no saberia para onde me repassar. Liguei para ANS, porm me informaram
que eu deveria passar primeiro pela operadora do plano. O SAC da Unimed estava
com algum problema e no realizava o envio da mensagem. O PROCON municipal
no possua informaes sobre essa questo, e ficaram de dar resposta depois.
Jaqueline Oliveira, parente da gestante que foi atendida no Hospital da Mulher
atravs do plano de sade Unimed
Ainda assim, muito comum a prtica de cobrana de taxa para a entrada e permanncia do
acompanhante no pr-parto, parto e ps-parto. Em algumas maternidades havia cobrana da
taxa de paramentao que variava de 20 a 300 reais, muitas vezes sendo cobrada vista no
momento da internao. Este um caso tpico de violncia obsttrica de carter institucional,
psicolgico e material.
Antes mesmo de nascer, um choro rasgava o silncio do hospital esperana. Era
madrugada. Aos prantos, Gustavo, pai do pequeno Marcos lamentava a falta de R$
300,00 para acompanhar o parto do seu filho. Gustavo no pde acompanhar o
nascimento
porque
no
tinha
dinheiro
para
pagar
taxa
exigida
pelo
estabelecimento.
(ABREU, 2009)
Diante dessas aes abusivas, - a cobrana de taxa para a entrada do acompanhante e o tempo
inferior ao previsto pela Lei 11.108/05 e pela Portaria 2.418/05 - houve participao da sociedade
civil na Consulta Pblica n 40 para exigir que a cobertura das despesas referente ao
acompanhante no parto estivesse explcita no Rol de Procedimentos e Eventos em Sade, a fim
de garantir o direito da mulher em um perodo de extrema vulnerabilidade.
17
74
75
Disponvel em:
http://www.ans.gov.br/images/stories/Legislacao/camara_tecnica/nona_revisao_do_rol_de_procediment
os/5_reuniao/ata_5_reuniao.pdf
76
tudo bem, uma mdia, mas caso a mulher tenha que ficar trs dias por uma
complicao no parto ou cinco dias, ela no pode ter um acompanhante com ela
num momento extremamente delicado que ela est passando com a criana, com as
complicaes ps-cirrgicas, eu acho uma restrio extremamente complicada.
MARTHA(ANS) na realidade a gente no est restringindo a 48 horas, a gente est
falando que 48 horas obrigatrio. O que a gente precisa restringir essa
internao social e a gente precisa ter esse parmetro at pro clculo atuarial de
impacto, o parmetro necessrio, 48 ou 72 horas acho que no faz a menor
diferena a gente combinar isso aqui, a gente s tem que ver qual a coisa mais
adequada.
REPRESENTANTE DO PRO-TESTE - Eu acho que exatamente por isso que a
gente deveria deixar ps-parto imediato, porque as horas que forem
necessrias precisaro ser cobertas, a redao do jeito como ela est a gente
no sabe o que pode acontecer, a redao dessa forma, o que vai acontecer
que a operadora vai cobrir as 48 horas e depois vai dizer que ela no
obrigada a cobrir o acompanhante.
MARTHA (ANS) - ento, a gente vai definir o ps-parto imediato da lei, que 10
dias, ok?
Apesar disso, a Resoluo Normativa n 262 foi publicada no Dirio Oficial com o seguinte texto:
Artigo 19
I cobertura das despesas, incluindo paramentao, acomodao e alimentao,
relativas ao acompanhante indicado pela mulher durante:
a) pr-parto;
b) parto; e
c) ps-parto imediato por 48 horas, salvo contra-indicao do mdico assistente ou at
10 dias, quando indicado pelo mdico assistente;
77
Essas dissonncias afetam as mulheres asseguradas por planos com internao em quarto
coletivo ou enfermaria, pois outros tipos de planos (quarto privativo, apartamento) oferecem
a acomodao para acompanhante como um dos diferenciais dos produtos. Isso facilita a venda
de planos de sade mais caros, ou a cobrana indevida de taxas adicionais para a entrada e
permanncia do acompanhante. No h esclarecimento sobre o direito da mulher em ter um
acompanhante no pr-parto, parto e ps-parto imediato atravs dos corretores que realizam a
intermediao da venda de seguros de sade ou dos contratos de planos de sade. Muitas
mulheres so induzidas a contratar um plano mais caro quando desejam contar com a presena
de um acompanhante nesse perodo delicado.
Todos os funcionrios disseram: Acompanhante s para quem paga quarto.
Natlia que no conseguiu ter o acompanhante de escolha no ps-parto, em internao
em enfermaria coletiva no Hospital Salvalus atravs do plano de sade Greenline, em
So Paulo-SP
Se voc fizer o plano de sade com acomodao em apartamento seu esposo pode
sim ficar com voc no ps parto, s no poder assistir a cirurgia do parto a no ser
que ele trabalhe na rea medica. Informe sua idade que te passo os valores.
C. corretora do Hapvida (email nos Anexos)
O plano apartamento pode ficar durante o dia e noite tambm... O plano enfermaria
no poder dormir, poder ficar durante o dia somente.
J. Supervisor de Vendas do Santa Casa Sade, So Jos dos Campos-SP
(email nos anexos)
78
79
No Quarto enfermaria, seu esposo podera ficar com a senhora somente no horrio de
visita, que estipuldao (sic) pelo hospital.
Para senhora ter acompanhante teria que ser no quarto particular (apartamento)
S. consultora de vendas do Vip Sade, Amil, Sulamrica e Medial em So Jos dos
Campos-SP por email
80
10.
A episiotomia, ou pique, uma cirurgia realizada na vulva, cortando a entrada da vagina com
uma tesoura ou bisturi, algumas vezes sem anestesia. Afeta diversas estruturas do perneo, como
msculos, vasos sanguneos e tendes, que so responsveis pela sustentao de alguns rgos,
pela continncia urinria e fecal e ainda tm ligaes importantes com o clitris.
No Brasil, a episiotomia a nica cirurgia realizada sem o consentimento da paciente e sem que
ela seja informada sobre sua necessidade (indicaes), seus riscos, seus possveis benefcios e
efeitos adversos. Tampouco se informa mulher sobre as possibilidades alternativas de
tratamento. Desse modo, a prtica de episiotomia no pas contraria os preceitos da Medicina
Baseada em Evidncias.
81
Estima-se que realizada em 94% dos partos normais no Brasil (BRASIL; CEBRAP, 2006). Essa
proporo estimada por meio de pesquisa domiciliar amostral, e pode ser ainda mais elevada,
uma vez que no h registro oficial do procedimento. Assim, a episiotomia invisvel, inclusive,
aos sistemas de informao sobre sade, como se integrasse o pacote do parto normal,
conforme efetivado nos hospitais brasileiros.
Quando a mulher d luz por via vaginal, pode permanecer com o perneo ntegro. Isto , se o
parto for fisiolgico, se o ritmo natural da mulher for respeitado e se ela no receber drogas, na
maioria das vezes ela ter, aps o parto, o perneo ntegro, sem qualquer tipo de leso.
Quando algum tipo de trauma perineal ocorre, ele pode ser classificado em quatro graus:
primeiro grau: compreende leses superficiais, que atingem pele e tecido subcutneo do perneo
ou o epitlio vaginal. Tambm so consideradas de primeiro grau as laceraes superficiais
mltiplas nessas regies;
segundo grau: leses mais profundas que as de primeiro grau, que atingem msculos
superficiais do perneo e o corpo perineal;
82
terceiro grau: as leses de terceiro grau mostram-se mais severas, por envolverem msculos
perineais e esfncteres anais,e subdividem-se em:
3a: menos de 50% do esfncter anal externo afetado;
3b: mais de 50% do esfncter anal externo afetado;
3c: inclui leses no esfncter anal interno;
quarto grau: alm de atingir os tecidos que compreendem o trauma de terceiro grau, o de quarto
grau inclui o rompimento do esfncter anal (externo ou interno ou ambos) e do epitlio anorretal.
(KETTLE, 2005, p. 29; ROYAL COLLEGE, 2004, p. 1).
Importante salientar que a episiotomia, por si s, constitui pelo menos um trauma de segundo grau
(AMORIM; KATZ, 2008). Alm de ignorarem esse fato, mdicos com frequncia afirmam que a no
realizao desse procedimento acarreta inevitavelmente laceraes graves, o que tambm no
tem base cientfica (AMORIM; KATZ, 2008; ROBINSON, 2012). Outra alegao para realizao da
episiotomia consiste na preveno de incontinncia urinria e fecal, fato no comprovado
cientificamente. No h, at o momento, estudos de longo prazo que verifiquem a ocorrncia de
incontinncia em idades mais avanadas da mulher, relacionando-a realizao ou no da
episiotomia. Porm, estudos que compreendem horizontes mais curtos apontam que a episiotomia
tem justamente o efeito contrrio, de provocar ou agravar incontinncia urinria, fecal e de flatos
(AMORIM; KATZ, 2008; ROBINSON, 2012; VISWANATHAN, M. et al., 2005).
Outras complicaes comuns da episiotomia so: dor, infeco, deiscncia, maior volume de
sangramento, dor nas relaes sexuais, maior risco de lacerao perineal em partos
subsequentes, resultados anatmicos e estticos insatisfatrios, prolongamento da inciso e
hematoma (ALPERIN et al., 2008; AMORIM; KATZ, 2008; CARROLI, MIGNINI, 2010; OYELESE,
ANANTH, 2010; ROBINSON, 2012; VISWANATHAN et al., 2005). Alm disso, muitas vezes
realizado o ponto do marido, para deixar a vagina mais apertada e preservar o prazer masculino,
o que, por sua vez, pode acarretar mais dor durante a relao sexual (para a mulher) e infeco.
Estudos mostram que mulheres que no sofreram episiotomia tiveram menos trauma no perneo,
precisaram levar menos pontos, com uma melhora mais rpida do tecido (MATTAR, 2007;
LARSSON, 1991; ANDREWS, 2008)
Desde o incio da dcada de 1980 h fortes indcios de que a episiotomia de rotina prejudicial
para a me e no oferece benefcios para o beb (CARROLI; BELIZN, 1999), e foi contraindicada como procedimento rotineiro em 1985 pela Organizao Mundial de Sade (WHO, 1985).
Diante dessas informaes, constata-se que as mulheres esto sendo submetidas episiotomia de
forma rotineira, em uma relao de confiana com o profissional de sade, em um momento de
83
vulnerabilidade, muitas vezes sem aviso e sem informaes cientficas, em uma situao na qual
no possvel se defender constitui violncia obsttrica de carter fsico, sexual e psicolgico.
Todas as evidncias cientficas indicam que o uso restritivo da episiotomia deve ser incorporado
em todos os servios de ateno obsttrica. Mas por que existe tanta resistncia para permitir que
mulheres tenham acesso a uma assistncia de qualidade no parto?
Durante o pr-natal, falei para a obstetra que eu no queria que fosse feito a episio.
Ela me respondeu se eu gostaria de ficar toda rasgada e relaxada.
F.C. atendida por mdica conveniada ao plano de sade, em Belo Horizonte (MG)
Quando eu ouvi ele pedindo o bisturi, meu Deus, quase morri! Eu pedi para que no
fizesse a episio, mas ele me respondeu: O seguro morreu de velho. Quem manda aqui
sou eu.
Danielle Moura, que procurou informaes sobre episiotomia durante a gestao, que
decidiu por no se submeter ao procedimento e comunicou ao mdico sobre a deciso.
Atendida atravs de plano de sade em Belm-PA
Senti muita dor com uma manobra de massagem perineal que foi feita durante o
parto e pedi para a mdica tirar a mo dali. Ela respondeu Quem manda aqui sou eu.
Logo em seguida, foi feita uma episiotomia sem aviso. At hoje tenho sonhos e flashs
dos momentos que passei na sala de parto, chorei muito, e at hoje, choro porque di
dentro de mim, di na alma.
Elis Almeida, atendida no Hospital da Mulher em Santo Andr-SP
Minha cicatriz ficou maior ainda na minha alma. Me senti violentada, me senti punida,
me senti menos feminina, como se por ser me, precisasse ser marcada nessa vida de
gado. [...] Chorei muito, sentia dor, vergonha da minha perereca com cicatriz, vergonha
de estar ligando para isso, sentia medo, medo de no consegui mais transar. Tenho
pavor de cortes, tinha medo de que o corte abrisse quando fosse transar. Demorei uns
cinco meses para voltar a transar mais ou menos relaxada, sentia dores, chorava
quando comeava, parava. Me sentia roubada, me tinham roubado minha sexualidade,
minha autoestima, me sentia castrada. "
84
Jacqueline Fiuza que foi atendida na rede pblica na Casa de Parto So Sebastio em
Braslia-DF
85
Ponto do marido: durante a sutura, realizado um ponto mais apertado, que tem a finalidade de
deixar a vagina bem apertada para preservar o prazer masculino nas relaes sexuais, depois
do parto.
86
Num determinado momento da sutura, ele disse que ia dar dois pontos que iam doer
um pouco mais, depois comentou que era o ponto do marido. Perguntei a ele o que
era isso e ele disse que era um ponto que era dado para que as coisas voltassem a
ser parecidas com o que era antes e que, se eles no fizessem isso, depois o marido
voltava para reclamar. Como a referncia ao marido uma constante, perguntamos se
eles j viram um marido reclamar, ao que responderam que no, uma vez que esse
ponto era sempre feito. (DINIZ)
E o mdico, depois de ter cortado a minha vagina, e depois do beb ter nascido, ele foi
me costurar. E disse: Pode ficar tranquila que vou costurar a senhora para ficar igual a
uma mocinha!. Agora sinto dores insuportveis para ter relao sexual.
J. atendida atravs de plano de sade em So Paulo-SP
87
Chorei na hora do corte e depois chorei do primeiro ao ltimo ponto. Depois que
nasceu, aplicaram a anestesia. A anestesia no pegou e costuraram assim mesmo.
L. atendida na rede pblica na Serra-ES
O mdico fez uma episiotomia em mim sem anestesia e sem me perguntar. Os pontos
da episiotomia infeccionaram e eu tive mais 20 dias de muita dor tomando
medicamentos.
C.M. atendida na rede pblica, em Barbacena-MG
88
Todos os anos, milhes de mulheres na Amrica Latina tm sua vulva e vagina cortadas
cirurgicamente (musculatura vaginal, tecidos erteis da vulva e vagina, vasos e nervos)
sem que haja qualquer necessidade mdica(1). Esse corte, chamado episiotomia, tem
sido utilizado de rotina em centenas de milhes de mulheres desde meados do sculo
XX, com base na crena de sua necessidade para facilitar o parto, e para a preservao
do estado genital da parturiente.
A partir da metade da dcada de 80, h evidncia cientfica slida recomendando a
abolio da episiotomia de rotina (reduo do seu uso a no mximo 10-15% de casos),
uma vez que para a grande maioria das mulheres, o procedimento ao invs de promover
a sade genital ou a do beb, provoca danos sexuais importantes, dor intensa, aumenta
os riscos de incontinncia urinria e fecal, e leva a freqentemente complicaes
infecciosas, problemas na cicatrizao e deformidades, entre outros(2). No Brasil e em
outros pases, temos o agravante do chamado "ponto do marido", a apertada adicional da
vulva supostamente para "devolver mulher a condio virginal", muito freqentemente
associada a dores na relao sexual e mesmo impossibilidade da penetrao,
necessitando correo cirrgica(3,4).
Por esses motivos, a episiotomia de rotina tem sido considerada por vrios autores como
uma forma de mutilao genital(5,6), e mesmo como violncia de gnero cometida pelas
instituies e profissionais(7,8,9). Alguns j propem uma mudana de nomenclatura,
chamando a episiotomia desnecessria de rotina como "leso genital iatrognica no
parto", "agravo sexual iatrognico" ou de "ferimento sexual iatrognico no parto"(10). O
abuso de episiotomias tem sido considerado uma questo exemplar de desrespeito aos
direitos humanos na rea de sade(11).
Poucas questes de sade e de violncia sexual tem a magnitude e a gravidade na vida
das mulheres, e so to prevenveis quanto a episiotomia. Alm de seu potencial em
reduzir o sofrimento das mulheres, a restrio do uso da episiotomia implicaria ainda em
uma importante economia do setor sade, preservando desse agravo milhes de
mulheres por ano. Nas demais regies do mundo, as evidncias cientficas levaram a
uma gradual reduo das episiotomias, enquanto na Amrica Latina, h uma enorme
89
resistncia mudana e a maioria dos servios, pblicos ou privados, mantm uma taxa
de episiotomia de mais de 90% nos partos vaginais(12).
Se for considerado que, de acordo com evidncias cientficas, a episiotomia tem
indicao de ser usada em cerca de 10% a 15% dos casos e ela praticada em mais de
90% dos partos hospitalares na Amrica Latina, pode-se entender que anualmente
milhes de mulheres tm sua vulva e vagina cortadas e costuradas sem qualquer
indicao mdica. Um estudo mostrou que o uso rotineiro e desnecessrio da episiotomia
na Amrica Latina desperdia anualmente cerca de US$ 134 milhes s com o
procedimento, sem contar nenhuma de suas freqentes complicaes(13).
No caso brasileiro, a questo da episiotomia marcadamente um problema de classe
social e de raa: enquanto as mulheres brancas e de classe mdia que contam com o
setor privado da sade, em sua maioria sero "cortadas por cima" na epidemia de
cesrea, as mulheres que dependem do SUS (mais de dois teros delas) sero "cortadas
por baixo", passaro pelo parto vaginal com episiotomia. Como as mulheres negras tm
caractersticas diferentes em termos de cicatrizao, pela maior tendncia a formao de
quelides [cicatrizes tumoriformes mais comuns nos indivduos de raa negra(14)],
acreditamos que esto mais sujeitas a complicaes cicatriciais da episiotomia.
No raro os casos de aleijes genitais resultantes da episitomia (informal e jocosamente
classificados pelos profissionais como "hemibundectomia lateral direita" ou como "AVC de
vulva") vo depois compor a demanda de outro profissional, o cirurgio plstico
especializado em corrigir genitais deformados por episiotomias - isso para as mulheres
que tm recursos para pagar os procedimentos corretivos.
Diferentemente das mulheres que so atendidas no setor privado e nas quais os
procedimentos cortantes como a episiotomia sero realizados sob a ao da anestesia
peridural, no caso das mulheres do SUS a episiotomia e sua sutura ser feita com
bloqueio local do perneo, procedimento considerado em estudos qualitativos como
altamente ineficaz, resultando em dor intensa, com as mulheres chorando e gemendo "do
primeiro ao ltimo ponto"(15). Nesses casos, as mulheres relatam que o momento mais
doloroso da parto foi exatamente o da sutura da episiotomia. Muitas mulheres relatam
que escolhem a cesrea para fugir de uma episiotomia, especialmente depois de uma
experincia traumtica e com seqelas(16).
Estudos sobre o risco de infeco da episiotomia de rotina mostram que, se comparado
com o risco das mulheres que no sofreram episiotomia ou que tiveram lacerao
espontnea, foi de 5 a 11 vezes maior nas submetidas ao procedimento(17). H mesmo
uma complicao infecciosa rara mas freqentemente fatal da episiotomia, a fascite
90
necrotizante. Dados dos Estados Unidos e Inglaterra mostram que naquelas pesquisas
essa complicao respondeu at por um quarto das mortes maternas(18).
Um dos argumentos a favor da episiotomia mais enfatizado no Brasil o de que o parto
vaginal deixaria a musculatura vaginal flcida, desqualificando a mulher sexualmente. A
evidncia cientfica clara de que a episiotomia piora o estado genital ao invs de
proteg-lo(19), e que o nico fator que propicia um tnus vaginal adequado a prtica de
exerccios vaginais - orientao virtualmente ausente da assistncia pr-natal ou
ginecolgica em geral no Brasil. O apelo da episiotomia para "devolver a mulher sua
condio virginal", como proposto por alguns autores na dcada de 20, teve grande eco
na cultura brasileira.
A imagem que o discurso mdico sugere que, depois da passagem de um "falo"
enorme - que seria o beb - o pnis do parceiro seria proporcionalmente muito pequeno
para estimular ou ser estimulado pela vagina(20). Isso poderia implicar numa autorizao
para que o homem procure uma mulher "menos usada" ou demande como alternativa o
coito anal(21).
A necessidade masculina de um orifcio devidamente continente e estimulante para a
penetrao seria ento prevenida ou resolvida pela episiotomia, ou mesmo pela cesrea,
preservando-se o estatuto da vagina como rgo receptor do pnis. No Brasil, prevalece
um "sistema ertico" baseado nas noes de atividade-masculino e passividade-feminino.
Essa idia ratifica a teoria da vagina apertada ou frouxa (passiva, diante do falo que a
estimula e estimulado), em oposio compreenso de vagina e vulva como rgos
ativos, capazes de se contrair e relaxar, de acordo com a vontade feminina, pois so
msculos voluntrios(22).
Essa concepo mecnica e passiva da vagina transposta para o parto, dificultando a
compreenso, mesmo pelos mdicos, de que esse rgo se distende para o parto e
depois volta ao tamanho normal. Mais uma vez, no se trata do que "cientificamente
correto", mas de sua representao(23).
No Brasil, a episiotomia e seu "ponto do marido", assim como a cesrea e sua
"preveno do parto", funcionam, no imaginrio de profissionais, parturientes e seus
parceiros, como promotores de uma vagina "corrigida". Se as mulheres acham que vo
ficar com problemas sexuais e vagina flcida aps um parto vaginal, e que a episiotomia
a soluo, elas tendem a querer uma episiotomia(24).
Mas, quando as mulheres tm acesso a informao e sabem que possvel ter uma
vagina forte por meio de exerccios, elas passam a compreender que a episiotomia de
rotina uma leso genital que deve ser prevenida e que elas podem recus-la(25). Um
91
BIBLIOGRAFIA
REFERNCIAS BIBLIOGRFICAS
TOMASSO, Gisella (col.). Debemos seguir haciendo la episiotoma en forma rutinaria? Revista
de Obstetricia y Ginecologa de Venezuela, Caracas, v.62, n.2, p.115-121, 2002.
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http://www.cochraneconsumer.com/. Acesso em: 2003.
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www.mulheres.org.br/parto. Acesso em: 2003.
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Nova York: Touchstone Simon and Schuster, 1998.
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http://www.gentlebirth.org/nwnm.org/Tragedy_Routine_Episiotomy.htm
9 GIBSON, FAITH. The Brave New World of 21st Century Maternity Care, LM,CPM
http://www.goodnewsnet.org/temporary02/Book_one_ch_5_Sept02.htm 10 www.amigasdoparto.com.br/episiotomia4.html
11 Frana Jr., Ivan. Sade Pblica e Direitos Humanos. In: Zbole, Elma e Fortes, Paulo. Biotica
92
93
Senti meu corpo totalmente exposto, me sentia um rato de laboratrio, com aquele
entra e sai de pessoas explicando procedimentos me usando para demonstrao. O
mdico mal falou conosco, abriu minhas pernas e enfiou os dedos, assim, como quem
enfia o dedo num pote ou abre uma torneira.
A.F.G.G., atendida na rede pblica em Belo Horizonte-MG
94
19
95
Uma gestante de alto risco teve procedimento ginecolgico negado pelo Hospital
Universitrio Miguel R. Corra Junior porque impediu que estudantes de medicina da
Fundao Universidade Federal do Rio Grande (FURG) acompanhassem o exame. O
Ministrio Pblico Federal moveu ao civil pblica, julgada improcedente tanto pela Vara
Federal de Rio Grande quanto pelo Tribunal Regional Federal da 4 Regio (TRF4).
Agora, a Procuradoria Regional da Repblica da 4 Regio (PRR4) apela para que o
Supremo Tribunal Federal (STF) mude o entendimento.
O procurador Carlos Eduardo Copetti Leite, autor do recurso, considera que negar
atendimento ao paciente que recusa o acompanhamento discente contraria direitos
fundamentais como direito dignidade, intimidade e sade. Segundo ele, a questo
transcende o interesse subjetivo da causa. "O objetivo da ao civil pblica no
impossibilitar todo e qualquer acompanhamento de estudantes em exames mdicos, mas
to somente quando o paciente sinta-se constrangido, humilhado e violado na sua
intimidade", afirma.
Para a Justia, o bem maior a ser protegido neste caso o da excelncia do ensino
mdico, que privilegia o interesse pblico de todos os cidados que necessitam de
cuidados hospitalares. Copetti argumenta que "o grau de realizao do direito
fundamental ao ensino dos estudantes de medicina no tamanho a ponto de justificar a
no realizao ou a restrio do direito sade, intimidade e dignidade da paciente".
96
Na hora do expulsivo, eu no tive alternativa de posio, ento tive que me deitar na mesa
obsttrica, minhas pernas foram amarradas aos estribos, um campo cirrgico foi erguido de
modo que eu no via quem eram as pessoas que entravam na sala e me viam de pernas
abertas, embora escutasse a porta abrindo e fechando o tempo todo. Ainda no estava com
dilatao completa quando ela me orientou a fazer fora comprida durante as contraes.
Vania, atendida na Maternidade So Lucas em Ribeiro Preto-SP com pagamento particular
No final da gestao de minha primeira filha, eu e meu marido precisamos nos mudar
de cidade, devido a uma transferncia em seu emprego. Morvamos no Rio de Janeiro
e eu vinha preparando-me para um parto normal atravs de exerccios, prtica de yoga
20
Manobra de Kristeller ou manobras derivadas dessa com o antebrao, brao, ou joelho de um profissional
sobre a barriga da mulher.
97
98
mdico disse-me se todas as grvidas fossem saudveis como eu ele no teria nenhum
trabalho.
s 5h30 da manh do dia 18 de maio de 1993, acordei sentindo uma presso no colo
do tero. A bolsa estourou. Era o momento e a hora natural da minha filha vir ao
mundo. Um momento de muita alegria. Esperei ansiosamente por esse dia, que deveria
ser o mais importante da minha vida at ento. Paradoxalmente, sentia-me calma e
preparada para aquele momento. Fui segura, com o pai da minha filha, da cidade onde
morvamos at uma cidade vizinha. L ficava o nico hospital da regio credenciado no
meu plano de sade.
Permaneci tranquila at dar entrada no hospital e ser atendida por uma enfermeira.
Deitei na maca, abri as pernas e ela fez o exame de toque. Ai, reclamei num ato
reflexo. Ela respondeu: Ah, minha filha, no reclama no porque ainda vai doer muito!.
Na hora, pensei comigo se aquela era, de fato, uma enfermeira, tamanha agressividade
de sua postura. Quatro centmetros, ela falou, de modo frio e impessoal. Senti-me
intimidada, entrei num estado apreensivo, devido ao choque no modo de tratamento, e
a partir dali a evoluo da dilatao estacionou.
Ao chegar, o Dr. X logo anunciou que no seria possvel fazermos um parto normal,
pois o colo do meu tero no estava dilatado o suficiente, e dizendo que minha
dilatao estagnadara nos 4 centmetros. Pensei: Mas no dava pra esperar mais um
pouco? Sempre ouvi dizer que o primeiro parto demora mesmo.... E todas as nossas
conversas que tivramos sobre parto natural ser a melhor opo e cesariana, s em
ltimo caso? Parece que ele havia esquecido tudo. E eu, me sentindo pressionada e
ameaada diante de uma cesria iminente, perguntei se no havia a opo da induo
antes da cirurgia, visto que s estava h quatro horas em trabalho de parto. Eu achava
que a induo era comum e incua, uma vez que praticada em larga escala no
sistema de sade pblica e privada, no Brasil, e ao menos seria uma opo melhor do
que uma cirurgia cesariana.
Ele sequer retrucou, e apresentava muita pressa, parecendo que queria se livrar daquilo
tudo. Deu ordem para a enfermeira aplicar um hormnio indutor chamado ocitocina na
minha veia, e foi embora.
Eu e o pai da minha filha ficamos l, perdidos no escuro. Fiquei superassustada, pois
nunca havia entrado em um hospital na minha vida e o nico mdico que eu conhecia
havia sumido.
difcil descrever o tamanho da dor provocada pela reao desse hormnio no meu
corpo. Em apenas uma hora fez o trabalho de parto que normalmente dura vrias. Entre
uma contrao e outra eu apagava, literalmente. Nunca senti tamanha dor e tanto medo
em toda a minha vida. O mdico no deveria estar ali para me acalmar?
99
Muitos anos depois li, em um artigo cientfico, que a ocitocina deve ser prescrita com
muito cuidado porque cada mulher reage de forma diferente mesma dosagem. Ou
seja: o mdico deveria estar sim por perto, no s para me dar apoio psicolgico, mas
para monitorar o processo e orientar a enfermagem se a dose deveria ser diminuda ou
mesmo ter sua aplicao cessada. Posso afirmar que aquela reao ocitocina no era
razovel. Parecia mais uma overdose. Muito possivelmente minha filha sofreu as
conseqncias disso pois li, nesse mesmo artigo que um dos efeitos colaterais da
ocitocina o sofrimento fetal.
Aos nove centmetros de dilatao, pronta para parir e sendo encaminhada para a sala
de parto, o Dr. X reapareceu. Eu no o teria escolhido para cuidar do meu parto se eu
soubesse que ele me abandonaria e s voltaria na hora do expulsivo, minando meus
nervos e me deixando aterrorizada. Eu imaginava que ele estaria, seno do meu lado,
prximo, acompanhando a evoluo e alguma possvel intercorrncia que pudesse
acontecer. Como de fato aconteceu.
Minha filha to desejada e esperada, nasceu sem soltar um pio. Quase inconsciente.
Foi resgatada pela pediatra que fez os procedimentos de ressuscitao. Porm, ela
ficou em um estado que eles chamam de gemente. A criana se mantm com os
bracinhos tremendo e soltando um gemidinhos. Durante horas seguidas.
A pediatra que atendeu minha filha foi embora logo em seguida, dizendo que tinha um
congresso mesmo sabendo que minha filha estava muito mal e com chances de
apresentar convulses. Em uma consulta, um ms depois do seu nascimento, ela
admitiu que j sabia que minha filha teria convulses. Eu me pergunto qual foi o
juramento que ela fez no dia de sua formatura: cuidar de pessoas e salvar vidas, ou ir a
congressos? Tal como o obstetra, Sr. X, ela tambm me abandonou, embora
tivessemos acertado previamente o acompanhamento de minha filha.
Minha filha nasceu tarde, e por toda a noite e madrugada teve convulses. Jamais
esquecerei o terror que senti ao v-la ter uma convulso nos meus braos, quando eu
tentava amament-la. Gritei apavorada, e a enfermeira a levou novamente para o
berrio.
Na manh seguinte, uma mdica indicado pela pediatra que eu havia contratado
apareceu. Eu no a conhecia, e ela ordenou a transferncia de minha filha para a UTI
peditrica de outro hospital, visto que o qual eu me encontrava no tinha essa unidade.
Outro erro.
Pouco tempo depois, foi diagnosticada a paralisia cerebral, e a experincia do parto foi
bastante traumtica para mim e meu marido na poca. Minha filha no tinha
completado um ano quando engravidei novamente. Procurei outro profissonal, uma
mdica, a quem contei tudo o que havia passado e, ainda assim, queria que minha
segunda filha, nascesse de parto natural pois, depois de tudo o que tinha lido e
100
C.R.
101
Durante um exame de toque, eu pedi para parar pois estava sentindo muita dor.
O mdico disse: na hora de fazer tava gostoso, n?. Nessa hora me senti abusada.
F. atendida na rede pblica em So Paulo-SP
102
Depois que ela nasceu que eu soube que me cortaram. Eu no queria ter uma seqela
sexual do parto. J se passaram 3 anos e ainda sinto dor para ter relao.
G.A. 26 anos, atendida na rede pblica na Maternidade Pr-Matre em Vitria-ES
103
Quando foi desenvolvida sem fundamentao cientfica, essa manobra era realizada com as duas
mos empurrando a barriga da mulher em direo pelve. Atualmente, dispomos de diversos
estudos que demonstram as graves complicaes da prtica desse procedimento e apesar disso a
manobra frequentemente realizada com uma pessoa subindo em cima da barriga da mulher, ou
expremendo seu ventre com o peso do corpo sobre as mos, o brao, antebrao ou joelho.
Essa manobra ainda frequentemente realizada na assistncia ao parto em conjunto com outras
intervenes inadequadas realizadas em cadeia, como conduo para mesa de parto antes da
dilatao completa, imposio de posio ginecolgica (que prejudica a dinmica do parto e
prejudica a oxigenao do beb), comandos de puxo, mudana de ambiente, entre outros.
Salienta-se que os prprios profissionais de sade reconhecem que a manobra de kristeller
104
Existem fortes evidncias dos benefcios de incentivar a mulher a escolher uma posio que se
sinta mais confortvel para o parto, e de incentivar posturas mais verticalizadas.
1. Prticas no parto normal demonstradamente teis e que devem ser estimuladas
1.16 - Estmulo a posies no supinas durante o trabalho de parto.
2. Prticas no parto normal claramente prejudiciais ou ineficazes e que devem ser eliminadas
2.18 - Manobra de Kristeller ou similar, com presses inadequadamente aplicadas ao fundo
uterino no perodo expulsivo.
(BRASIL, 2001)
A mulher deveria ser incentivada a adotar posies diferentes durante o trabalho de parto e fase
final do parto, de modo a sentir-se mais confortvel e a facilitar o nascimento. Posies
105
verticalizadas, por exemplo, favorecem a descida do beb, por contarem com a ajuda da
gravidade. Assim, seria mais racional, mais tico e mais respeitoso permitir que a mulher
posicione-se de modo mais confortvel para ela, em vez de realizar procedimentos
comprovadamente prejudiciais sade da mulher e da criana.
106
nada do que aconteceu comigo. Minha filha nasceu mal e ficou internada por uma
semana. Nunca soube o motivo. Ningum nunca me explicou nada sobre o parto e
sobre o porqu da minha filha ficar internada. Eu nunca mais quis ter filhos.
C.M. atendida na rede pblica em Belo Horizonte-MG
107
21
108
"A concluso dos revisores que as mulheres devem ser encorajadas a parir na
posio que lhes for mais confortvel, com o balano das evidncias a favor das
posturas no-supinas." (AMORIM, 2010)
109
direito da mulher definir durante o pr-natal o local onde ocorrer o parto. Vale
ressaltar que os partos podem ser realizados nos centros de parto normal, em casa
ou em qualquer hospital ou maternidade do Sistema nico de Sade (SUS)
(Brasil, s/d)22
No dia em que minha filha nasceu, 16 de fevereiro de 2012, fui realizar a curetagem
para retirada da placenta depois de um parto domiciliar. O procedimento foi feito no
Hospital e Maternidade So Luis, unidade Itaim em So Paulo. Aps o procedimento,
devido a algumas complicaes, fui para UTI. O mdico plantonista da UTI, acredito eu,
no lembro dele se apresentar, em um momento virou pra mim e falou:
- Voc s vai sair daqui quando voc estiver arrependida de ter tido um parto domiciliar
e quando as pessoas lhe perguntarem sobre seu parto e voc falar para elas que est
arrependida e no incentivar essa prtica.
Ludmila Ancelmo Cavalcante, que escolheu o seu local de parto, escolheu uma equipe
para acompanhar o parto, e foi encaminhada a um hospital quando foi necessrio,
Hospital So Luis, unidade de Itaim, So Paulo-SP
22
110
111
112
Cesrea eletiva a cirurgia de cesariana que realizada sem necessidade clnica, podendo ser
agendada e realizada antes mesmo do incio do trabalho de parto ou realizada durante o trabalho
de parto sem caracterizar urgncia ou emergncia.
O estudo indica que existe uma alta proporo de cesreas eletivas sendo
realizadas antes das 39 semanas. E que pode ser atribuda a uma srie de fatores,
incluindo o desejo da mulher em retirar o beb assim que atingisse o tempo de ser
considerado a termo e o desejo do obstetra em agendar a cirurgia sua prpria
convenincia. Esses nascimentos foram associados com um aumentos evitveis de
mortalidade neonatal e internao em UTIn, que demanda um alto custo financeiro.
(TITA et al, 2009)
No Brasil, muitos hospitais privados possuem altssimos ndices de cesreas. Em alguns perodos do
ano em alguns hospitais, difcil encontrar vagas disponveis devido a grande demanda para agendar
cesreas. Os riscos e complicaes dessa cirurgia devem ser esclarecidos mulher, j que, possui
aumento considervel de mortalidade e morbidade grave para me e beb comparados a um parto
normal com assistncia adequada.
113
"A minha filha veio ao mundo por uma cesrea com hora marcada, com 38 semanas, o
que lhe rendeu um desconforto respiratrio, 7 dias de UTI e uma infinidade de
frustraes."
Caroline Gurgel, atendida atravs de plano de sade no Hospital So Luiz em So
Paulo-SP
114
Na conduta mdica nos plantes obsttricos da rede pblica e privada, existe uma etiqueta de
no sobrecarregar o prximo mdico que ir assumir o planto, pois esse possivelmente estar
chegando de outro planto e estar cansado. Essa conduta, conhecida por limpar a rea,
consiste em realizar cesreas no final do planto de todas as mulheres que ainda esto em
trabalho de parto, ou acelerar o parto atravs de outras intervenes23. Dessa forma, o plantonista
seguinte poder descansar ao chegar, se encarregando de acompanhar somente as gestantes
que sero internadas em seu planto.
Essas cesreas, realizadas sem necessidade clnica, acontecem aproximadamente s 18h da
tarde, s 21h e s 6h da manh. As mulheres no so esclarecidas da necessidade do
procedimento, ou por vezes so ludibriadas por falsas indicaes exemplos: no tem dilatao,
no tem passagem, o seu beb prendeu o p na sua costela.
Maria Luza teve seu primeiro filho por cesrea no convnio e agora est fazendo o
pr-natal do segundo. Na consulta, o mdico pergunta se ela sabe porque foi feita a
cesrea e ela responde:
No me explicaram direito. Acho que foi um caso de sujeira na rea.
Como assim, sujeira na rea?
Sei l... S me lembro que o mdico falou pro outro: vamos logo fazer a cesrea
para limpar a rea24.
Mas no teve alguma coisa, assim como, a bacia era estreita, o nenm estava em
sofrimento? No falaram uma coisa assim? O que falaram pra senhora?
Ah, ele disse assim, Vamos l?. A eu fui.
E a senhora no falou nada, no achou nada estranho?
23
Soro com ocitocina, reduo manual do colo do tero, ruptura artificial da bolsa, comandos de puxo antes
da dilatao completa, manobra de Kristeller,
24
limpar a rea - realizar todos os partos, por cesrea ou induo at uma certa hora do planto, para
viabilizar horas de sono suficientes para que o profissional possa enfrentar mais um planto em seguida
daquele
115
Eu ia falar o qu? Ele mandou eu ir eu fui. O senhor acha que uma mulher na hora
do parto, com aquela bata que aparece tudo, cega e sem culos como eu estava, ia
fazer o qu? Eu s via aqueles vultos verdes, eles mandando e eu indo.
(Cartilha O que ns como profissionais de sade podemos fazer para promover os
Direitos Humanos das mulheres na gravidez e no parto do Projeto Gnero, Violncia
e Direitos Humanos Novas Questes para o Campo da Sade)
A gente vai procurando resolver o que tem que resolver para deixar a situao do
planto mais tranqila possvel pra poder descansar.
Fala atribuda a uma mdica em um planto noturno (HOTIMSKY)
116
Em 2010, o ndice de cesreas no setor suplementar alcanou 82% dos partos, apesar da
Organizao Mundial de Sade recomendar uma taxa de at 15% de cesreas. As mulheres
asseguradas por planos de sade esto mais vulnerveis a uma cirurgia de cesrea, apesar de
estarem supostamente em um grupo com melhor qualidade de vida e mais acesso aos servios
de sade. Especialistas apontam que a baixa remunerao para a assistncia ao parto um dos
fatores determinantes para o agendamento de vrias cirurgias a serem realizas em sequncia em
um s dia.
Alguns planos de sade at remuneram melhor o parto normal do que a cesrea, mas
mesmo assim no compensa.
Jos Fernando Maia Vinagre, representante do Conselho Federal de Medicina em
entrevista Folha e So Paulo do dia 20 de novembro de 2011 (em anexo)
"Meu mdico sabia que eu queria parto normal. Pedi a ele que tentasse esperar mais,
que preferia repetir os exames mais pra perto e pelo menos sentir as contraes para
ento fazer a operao. Ele me disse que era muito arriscado" esperar, que cesariana
no era to perigoso assim como dizem, que no era nada demais. Ele abriu a agenda
dele e falou: 'Ingrid, quarta-feira que vem voc se interna e a gente faz a cesrea.'. Meu
marido virou pra ele e falou: 'Poderia ser na sexta-feira, assim no final de semana eu
poderia ficar com ela direto?'. Ele respondeu: 'E eu vou perder o meu final de
semana???'
Ingrid Lotfi, atendida atravs de plano de sade Unimed no Rio de Janeiro-RJ. Depois
de nascer, seu beb passou 14 horas na UTIn por desconforto respiratrio
117
118
25
http://delas.ig.com.br/saudedamulher/aumento-de-cesarianas-leva-a-mais-bebesprematuros/n1597378550791.html
119
: http://www.ebb.com.br/mostrar_noticia.php?ref=5679
120
Sentindo dores desde s 6 da manh, meu mdico me diz s 15h da tarde de sbado,
que o termometro para parto normal dele estava quebrado e por parto normal o beb
no nasceria antes da meia noite. Quando entrei na sala de cirurgia, uma enfermeira
fez o toque e viu que tinha 9cm de dilatao. Se esperassem uma ou duas horas, eu
teria condio de ter o parto normal como planejei nos 9 meses anteriores. Porm, a
equipe j estava toda montada para a cirurgia e foi feita uma cesrea sem me dar outra
opo.
Luana Amorim, atendida na Maternidade Lilia Neves atravs de plano de sade
Campos dos Goytacazes-RJ
Fiz uma ultrassonografia quando estava de 20 semanas e minha beb ainda estava
sentada. Por isso, minha mdica pediu para marcar a cesrea para quando a gestao
completasse 37 semanas. Ningum me examinou antes de abrirem minha barriga.
Durante a cirurgia ouvi ela dizer que a beb tinha virado e poderia ter sido um lindo
parto normal.
A.C.N., atendida atravs de plano de sade na Maternidade Santa rsula em VitriaES
"Meu obstetra, que era meu mdico h 9 anos, me disse que meu beb no nasceria
de parto normal porque meu colo de tero estava ainda grosso e ela no estava
encaixada com 39 semanas de gestao. Marcou a cesrea para dali a alguns dias.
Procurei outro profissional e tive meu parto normal com 41 semanas."
Eleonora Moraes, atendida atravs de plano de sade em Ribeiro Preto-SP
O mdico diz que no era pra eu sofrer. Se eu quisesse fazer a cesrea, ele faria. 38
semanas o beb j est pronto. Digo que no quero, quero parto normal mesmo.
Thais Saito, atendida atravs de plano de sade no Hospital Santa Joana em So
Paulo-SP, foi submetida cesrea
Meu mdico disse que eu poderia sofrer mais no parto normal. Como eu tinha medo
de ficar sentindo dor, ele conseguiu me convencer a fazer a cesrea.
Patrcia Reis Frana, em entrevista para a Folha de So Paulo do dia 20 de novembro
de 2011
121
As pacientes, claro, adoraram a idia de um parto sem dor antes e durante (ainda que
um pouco mais dolorido depois), com data marcada e ainda a vantagem de preservar o
aparelho genital.27
Muitos atribuem os altssimos ndices de cesreas no pas preferncia das mulheres pela
cirurgia. No caberia ao profissional esclarecimento sobre os riscos e complicaes da cirurgia
eletiva? No caberia ao profissional prestar esclarecimento sobre o risco de prematuridade, de
desconforto respiratrio do beb, do risco aumentado de mortalidade materna e neonatal? No
caberia ao profissional esclarecer sobre as opes de analgesia de parto, tcnicas no
farmacolgicas de alvio da dor, riscos e complicaes de episiotomias? No caberia ao
profissional esclarecer a gestante sobre sua falta de disponibilidade para acompanhar um parto
que no tem data ou hora para iniciar e pode durar vrias horas?
27
122
muitas
mulheres
esto
buscando
alternativas
no
setor
suplementar.
No raro ouvir relatos de mulheres que se sentiram coagidas a aceitar uma cesrea eletiva
quando foram avisadas no final da gestao de que seus mdicos no prestam assistncia parto
normal ou que no aguardam o incio do trabalho de parto (maturao do beb) para realizar a
cirurgia.
"Pode-se interpretar que o mdico deve estimular a livre escolha da via de parto s
pacientes que assiste, informando-as acuradamente sobre as alternativas que
dispem. A possibilidade de cercear o direito de escolha da futura me, mesmo que
apenas por induo, algo que pode ser considerado contrrio tica profissional.
Devido a seu conhecimento e ao respeito que impe, o mdico deve manter-se
cauteloso quanto possibilidade de influenciar a deciso da paciente, levando-a a
escolhas que possam no atender a seus legtimos anseios ou interesses."
(BARCELLOS et al, 2009)
123
alegando que se o beb no tinha encaixado ainda, ele no encaixaria mais. Fui para
casa chorando. Meu marido tentou me consolar dizendo que poderamos consultar
outro mdico, j que o exame dizia que estava tudo bem. Mas ir para qual mdico?
Ainda liguei para desmarcar a cirurgia e o mdico limitou-se a dizer que eu deveria
tomar um calmante e que eu no devia colocar a vida do meu filho em risco adiando
essa cirurgia."
Socorro Moreira, atendida atravs de plano de sade em Fortaleza-CE
Meu mdico indicou a cesrea porque o cordo estava enrolado no pescoo. Ele
pediu para que a cirurgia fosse marcada para a quarta-feira de manh, pois ele s
tinha esse horrio disponvel e o parto normal poderia matar meu beb. Eu nunca iria
desejar a morte do meu filho..
E.S.S. de 30 anos, atendida atravs de plano de sade em Vitria-ES
Tive uma infeco urinria durante o incio da gestao e a mdica disse que no
poderei ter um parto normal para no contaminar o beb.
F. atendida por mdica atravs de plano de sade, em Vitria-ES
Camano: Um mdico sem preparo, visando apenas a sua comodidade, por vezes
indica uma cesrea no consultando a opinio da paciente e isso ns no aprovamos.
Marcelo: verdade... Eu diria que so mal indicadas porque o indivduo fez por
convenincia, no atendendo de forma honesta as indagaes e dvidas da sua
paciente.
Krikor: Vai numa maternidade particular numa vspera de feriado...
Marcelo: Fica cheia e no dia seguinte esvazia...
Revista Ser Mdico, debate Cesrea a pedido: atender ou no? Edio 28 de 2004
124
125
Agendar a data do nascimento do beb tratado com naturalidade por maternidade no Rio:
126
Submeter-se a uma cesrea tratado como uma dica por maternidade em So Paulo:
#ficaadica
resposta da pgina institucional da maternidade Santa Joana (So Paulo-SP) no
facebook pergunta S tem foto de parto por cesrea nessa maternidade?
127
A cesrea agendada divulgada sem restries na mdia brasileira. Alm de j ser considerada
como um bem de consumo, outros produtos e servios esto sendo agregados a essa cirurgia.
Servios agendados previamente de manicure, pedicure, escova e corte de cabelo. Filmagem e
fotografia tambm com agendamento prvio. E agora o buffet com decorao para a festa antes,
durante e depois da cesrea; podendo levar convidados e lembrancinhas; transmisso simultnea
do nascimento do beb atravs de cmera dentro do centro cirrgico e exibida em televisores de
plasma em um auditrio, e transmisso do auditrio para um televisor dentro do centro cirrgico
para que a mulher possa ver a reao da platia. Satisfao e segurana prometidas por uma
maternidade sem divulgar os riscos de submeter-se desnecessariamente a uma cirurgia de
grande porte, o risco de agendar a cesrea para antes do beb estar realmente maduro para
nascer, os riscos aumentados do beb necessitar de internao em UTIn.
Disponvel
em:
http://www1.folha.uol.com.br/cotidiano/1161504-cine-parto-vira-festa-de-familia-comespumante-em-maternidade.shtml
128
centro cirrgico. J a gestante pode ver a festa da famlia por uma outra televiso colocada
prxima aos mdicos. (Folha de S. Paulo, 30 set 2012, em Cine parto vira festa de
famlia com espumante em maternidade)
29
129
130
O cenrio de violncia obsttrica to naturalizado, que mulheres retratam como sorte quando
recebem um atendimento adequado no planto obsttrico (DIAS, 2006), e atribuem o atendimento
ruim falta de sorte. Isso demonstra a percepo de que o bom atendimento considerado raro
e no faz parte da rotina da assistncia ao parto.
Dentre os relatos recolhidos, como formas de maus tratos e tratamento inadequado de mulheres
no contexto da gestao e parto, identificamos:
131
Dilogos como esse so comuns na obstetrcia brasileira. Mulheres sentem que merecem o
tratamento hostil que recebem na assistncia gestao e ao parto, como uma forma de punio
pela sua sexualidade e por sua gestao. Em alguns estados, durante o pr-natal h vinculao
da gestante ao servio que a atender no parto - caso haja vaga (Lei Federal 11.634/2007).
Porm, no h amparo legal para oferecer procurar vaga sozinha quando uma gestante chega a
um servio de sade em busca de atendimento que no tem vaga para voc.
132
Omisso de Informaes
Em muitos servios de assitncia obsttrica no h utilizao do partograma, o que prejudica o
acompanhamento da paciente, alm de contrariar a norma.
Voc deveria vir aqui e me perguntar sobre fralda, sobre chupeta, mamadeira!
No devia me perguntar sobre procedimento no beb!!!
133
Descaso e abandono
Eu estava l em cima daquela mesa de parto com as pernas para cima com o
mdico ali me mandando fazer fora. A beb no nascia. Da o mdico disse para
eu continuar fazendo fora e saiu da sala. Eu sabia que o meu bumbum estava
no final da mesa, e que minha filha poderia cair no cho, pois no tinha ningum
na sala para pegar. A eu travei todo o meu corpo durante as contraes. Eu no
sabia mais o que fazer.
Sandra, atendida na Maternidade Pr-Matre, Vitria-ES
Desprezo e humilhao
134
A mdica plantonista que estava no dia que minha filha nasceu, me atendeu ali...
como se eu fosse um pedao de carne de aougue que o aougueiro corta, pesa
e vende... sem ao menos olhar na cara de seu cliente.
P.L.S. atendida na rede pblica em Ipatinga-MG
Eu acho que o maltrato, tratam voc como se voc... Voc j t ali numa
situao constrangedora, n, e assim, a pessoa falar grosso com voc, falar
grossa, de repente por ela estar com raiva de alguma coisa, ela vim te aplicar
uma injeo e te aplicar de qualquer jeito. Eu acho que isso uma violncia,
entendeu, dentro da sade.
Tas em (AGUIAR e DOLIVEIRA, 2011)
Ameaa e coao
Uma enfermeira me disse pra parar de falar e respirar direito se no meu beb
iria nascer com algum retardo por falta de oxigenao.
Aline Pereira Soares, atendida na rede pblica em Curitiba-PR
"Era noite de lua cheia e as enfermeiras diziam que eu tinha sorte por pegar a
sala de parto limpa pois em noites de lua cheia elas mal tinham tempo de limpla.
Na sala de parto o mdico mandava eu ficar quieta, disse que uma menina de 13
anos no fazia o escndalo que eu estava fazendo. E disse que eu estava
fazendo tudo errado."
Luana de Freitas Eullio, atendida no Hospital Evanglico de Curitiba
Eu digo pras grvidas: se no ficar quieta, eu vou te furar todinha. Eu agento
esse monte de mulher fresca?
T., tcnica de enfermagem relatando o procedimento de colocar o soro durante o
trabalho de parto, Itagua-RJ
At a enfermeira l falou assim, a estagiria falou: Olha, isso mesmo. Continua
assim [quieta] porque geralmente eles judia um pouco quando a mulher d
trabalho.
Jane em (AGUIAR e DOLIVEIRA, 2011)
135
Preconceito e discriminao
Tinha que ser! Olha a, pobre, preta, tatuada e drogada! Isso no eclampsia,
droga!
fala atribuda ao anestesista que foi chamado durante a madrugada (planto de
sobreaviso) para atender a uma cesrea de emergncia de uma gestante
adolescente com eclampsia cujo parceiro estava preso por trfico de drogas.
Maternidade Pr-Matre, Vitria-ES
Homofobia
Ligaram do Hospital Drio Silva pro Conselho Tutelar para denunciar a parturiente,
pois ela se declarou lsbica.
136
Estigmatizao
Fao parto normal no pblico. No privado nunca fiz. As mulheres no querem. Elas
so muito preguiosas.
P. mdica ginecologista obstetra em Vitria-ES
"Domingo tarde e feriado so dias em que vm mutias mulheres para o PA porque
comeram uma feijoada ou brigaram com o marido. O marido sai no domingo, vai
para o jogo de futebol e deixa ela em casa com as crianas. A, quando ele chega
em casa e quer descansar, a mulher de pirraa fala: 'Vai descansar coisa nenhuma"
Voc vai me levar para o hospital porque estou com dores...' E isso tpico de
feriado e domingo, principalmente de madrugada."
relato de mdica em (HOTIMSKY, 2007)
Me deitei e l vinha ela de novo com aquela luva de toque. Nesse momento ela
falou Voc t sentindo dor assim porque perde tempo gritando, pra de gritar...
Uma vez fiz um parto de uma menina de 15 anos, que no deu um grito sequer e
que conversava com o filho pedindo que ele no a machucasse... Foi o parto mais
lindo que j vi e no me deu trabalho nenhum.... Pronto, vrios pesos na
conscincia (por no conversar com minha filha, por gritar e por ter minha filha me
machucando).
Lorena Andrade, atendida atravs de plano de sade em Juiz de Fora-MG
137
ela: se voc no calar a boca... que se eu comeasse a gritar que ela ia embora e
ia deixar eu l gritando.
Ester, 32 anos, no parto de seu segundo filho em AGUIAR et al, 2011
Assdio, sadismo
138
Culpabilizao, chantagem
A perda de um filho uma marca para o resto da vida de uma mulher e por si s extremamente
traumtico. Ser repreendida por um profissional de sade por estar tentando matar seu beb, ou
tentando lhe causar dano, ou mesmo ser indicada como a nica responsvel pela sua morte, um
trauma inominvel.
O mdico s gritava: puxa ele logo, vocs esto quebrando ele todo, esse beb j
era, sintam o cheiro de podre, vou ter que interditar a sala, puxem!. Ento meu beb
nasceu e logo foram reanimar com apenas 50 batimentos cardacos por minuto. O
mdico dizia: No adianta, esse j era, eu tenho 30 anos de profisso, esse j era,
no percam tempo, ele est sofrendo... J era, sintam o cheiro de podre, como uma
me pode deixar uma infeco chegar a esse ponto?. Eu estava em estado de
choque, mas eu disse: Estive aqui h 15 dias e o senhor disse que minha dor era
frescura.. O beb faleceu, todos se calaram e me perguntaram: Quer ver o corpo?.
Eu no quis.
K.F.M.T., atendida na Maternidade Santa Therezinha, em Juiz de Fora-MG
Eles gritavam comigo assim: Faz fora direito!, Faz fora de fazer coc, Voc vai
matar seu filho! isso que voc quer?, Pra de gritar seno seu filho vai morrer!.
C. atendida na rede pblica, em Vila Velha-ES
139
Quando uma mulher em situao de abortamento chega ao servio de sade, percebe-se que h
uma tendncia a pressupor que o aborto foi provocado, apesar da considervel incidncia de
abortos espontneos. (HOTIMSKY, 2007)
A mulher que estava na cama ao lado dizia a todo tempo que ela no tinha
provocado o aborto. Era horrvel ver o jeito que tratavam dela. Muita grosseria e
muito descaso. Ela morreu no dia em que eu tive alta.
L. atendida em um hospital pblico, Vitria-ES
Cheguei ao hospital apavorada, em prantos Fui imediatamente encaminhada ao
mdico de planto. Esse senhor, sem sequer me cumprimentar, ao ser informado da
minha idade gestacional e ver a quantidade de sangue, disse: um aborto. Tora
para que o sangramento continue, para que no precise de curetagem.. Diante do
meu inconformismo, ele disse: Voc jovem e ter outros filhos.. Senti como se
estivesse sendo esfaqueada. Fiquei tonta, atordoada. Aquele mdico esqueceu-se
de algo essencial: para ele, aquele podia ser um ato cotidiano, mas eu estava
perdendo um filho. Filho que tinha sido planejado por anos e j era extremamente
amado. No importava quo nova eu era ou quantos filhos ainda teria. Aquele era
nico e estava morrendo.
G.S. atendida em Belo Horizonte-MG
[...] Me colocaram no soro, passaram l um negcio que ele falou o nome mais
agora eu esqueci, enfiaram um aparelho que abre igual o que usa para fazer
140
preventivo e falou que eu ia sentir uma espetadinha, depois ele me falou que eu ia
sentir uma dorzinha, s que no foi uma dorzinha no, foi uma dorzona, era como se
tivesse arrancando o tero para fora.
Alice em (BERTOLANI e OLIVEIRA, 2010)
"Ah foi a pior possvel porque foi um aborto provocado, no foi expontneo
entendeu? Ento eles no te tratam bem. Te deixam sofrendo, a minha
curetagem foi sem anestesia."
Entrevistada 3 (CARVALHO, 2009)
"Olha no recebem bem porque eles sabem que o aborto foi provocado por mais
que voc tente dizer que no eles sabem porque so profissionais, n? E olha
para te dizer eu fiz a curetagem a 'sangue frio'."
Entrevistada 15 (CARVALHO, 2009)
Mas com o servio da maternidade no tem no andar uma enfermaria apropriada
para o aborto, ento feito um protocolo de atendimento na admisso e
encaminhadas para esta sala as mulheres nessa situao. No temos normas
escritas para atendimento dos casos de aborto, a partir do momento que a mulher
entra na sala no importa se provocado ou espontneo, isso uma
particularidade dela, eu estou aqui para atender, fazer as medicaes, colocar no
soro e se a paciente passar mal chamar o mdico de planto. bem verdade que
essa sala sem condies para o atendimento dessas mulheres, no tem leito, no
tem banheiro, as pacientes ficam expostas. Quando esto sangrando ficam de
fraldas, s vezes sujam a camisola e para ir ao banheiro atravessam um corredor
at a sala do pr-parto.
Tcnico de enfermagem, em Dossi sobre aborto inseguro para advocacy (2010)
Estava grvida pela 3 vez no incio de 2006, havia conversado com a enfermeira
obsttrica varias vezes por telefone e estava deixando para marcar a primeira
consulta e os exames de rotina para depois da 12 semana de gestao.
Com 10 semanas senti um pequeno sangramento. Conversei com a enfermeira
obstetriz que me acompanhava e disse que achava que estava perdendo o bebe.
Ela recomendou repouso de disse para eu entrar em contato se houvesse qualquer
mudana. O pequeno sangramento no parou e eu liguei para ela dizendo que eu
sentia que havia perdido o beb. Conversamos por um bom tempo e ela sugeriu
que eu ligasse para o GO de minha confiana para conversar com ele sobre a
situao e foi o que fiz. O ginecologista obstetra era humanizado e conversamos
longamente. Eu disse que sentia que eu tinha perdido o beb e ele perguntou se eu
queria fazer um ultrassom para confirmar e, caso fosse confirmado, se eu desejava
uma curetagem. Eu disse que no, que eu queria vivenciar o meu luto
tranquilamente, que eu conhecia meu corpo o suficiente para saber que a gravidez
no continuaria, mas que no queria fazer um ultrassom para ver um saco
gestacional sem vida naquele momento. Ele foi muito compreensivo, conversamos
141
142
sei se deixariam). Ento eu me senti s, uma solido doda, uma solido fria. Me
colocaram na maca e me levaram para o centro cirrgico sem falarem uma nica
palavra comigo. Deitaram-me na mesa, eu chorava, ningum olhava para mim,
ningum me dirigia a palavra e eles me amarraram. Naquela posio, crucificada.
Em seguida, ainda sem me dirigirem palavra, me aplicaram algo e foi como se
tivessem me jogado num poo. Depois eu soube que me deram anestesia geral,
sem me consultar. Foi a forma que encontraram de me punir e me calar. Amarrada,
sozinha e com anestesia geral. Quando voltei, eu estava numa sala, com vrias
outras pessoas que tb estavam voltando das anestesias. Demorei para lembrar
quem eu era, o que estava acontecendo. As pessoas do hospital passavam e no
me olhavam. At que algum percebeu que eu havia acordado, veio e viu meus
sinais vitais e chamou uma pessoa para me levar pro quarto. Eu era um pedao de
carne, uma mquina, um nada. Eu poderia estar desacordada na curetagem, mas
meu corpo sabia. E a sensao que eu tinha era de que eu havia sido violentada,
estuprada. O mdico que fez a curetagem quando foi me dar alto disse, com
sarcasmo, que eu estava certa, que no havia mesmo nenhum feto. Eu queria dar
um murro na cara dele. Voltei para casa me sentindo vazia, impotente. Mas eu
ainda pude enterrar meus bebs, isso eles no conseguiram arrancar mim. Depois
cai em depresso. Foram 6 meses de tratamento e terapia. Quando pude,
finalmente me perdoar e perdoar meu marido, engravidei novamente.
Debora Regina Magalhes Diniz, So Paulo
143
30
144
Aps o nascimento dos filhos, mulheres muitas vezes so tratadas como reduzidas
maternidade. So chamadas de mezinhas como um tratamento infantilizado e restrito a cuidar
de seu beb.
Os servios de sade muitas vezes no oferecem uma abordagem adequada para acolher as
mulheres que desejam amamentar.
Apesar do Programa Nacional de Incentivo ao Aleitamento Materno ser muito difundido, muitos
servios no respeitam o desejo da me em amamentar seu beb logo ao nascer, mesmo que
no haja nenhum impeditivo clnico para isso. Em algumas maternidades, s permitido que a
me fique em alojamento conjunto com seu beb depois de vrias horas aps o nascimento,
ainda que no haja nenhum impeditivo clnico que justifique a separao me-beb. Essa demora
dificulta o incio da amamentao e afeta a durao do aleitamento materno exclusivo.
Durante a internao no ps-parto, vrios profissionais chegam para apertar os mamilos das
purperas sem ao menos se apresentar ou explicar a que se deve o procedimento.
Em muitos servios, mulheres recebem alta j com fissuras nas mamas por falta de apoio
adequado no incio da amamentao. Essa dor poderia ter sido evitada se fosse oferecido apoio
adequado e especializado nos primeiros dias aps o nascimento.
145
Minha filha que nasceu totalmente saudvel (apgar 9/9), a pediatra levou-a para o
berrio, no permitindo que eu sequer tocasse nela. Apesar de eu ter manifestado
meu desejo de amament-la imediatamente, como recomenda a OMS e o Ministrio
da Sade, fui totalmente ignorada. Fui levada para uma sala de recuperao e l
permaneci por algum tempo sozinha. Depois fui transferida para o quarto. Minha filha
nasceu s 3:57, mas s pude t-la nos braos quando j era de dia.
E.N.C. atendida atravs de plano de sade, em Belo Horizonte-MG
Eu tive de dizer: Voc a quarta pessoa hoje que entra nesse quarto para apertar
meu peito sem se apresentar! Eu tenho colostro, todo mundo j viu, no precisa de
ningum mais me apertar.
C. atendida na Maternidade Santa rsula atravs de plano de sade Vitria-ES
146
147
Mulheres que optam por dar luz em casa tem encontrado cada vez mais dificuldades em realizar
seu desejo, apesar da prtica ser bastante comum e reconhecida em pases na Europa,
apresentando muitos benefcios me e ao beb. No Brasil, direito da mulher definir durante o
pr-natal o local onde ocorrer o parto. Vale ressaltar que os partos podem ser realizados nos
centros de parto normal, em casa ou em qualquer hospital ou maternidade do Sistema nico de
Sade (Brasil, s/d)
Parto Domiciliar - Este tipo de parto realizado na casa da parturiente.
recomendado apenas para gestaes de baixo risco e deve ser conduzido por um
mdico ou enfermeiro-obstetra Durante o trabalho de parto, preciso garantir que a
gestante possa ser transferida para um hospital se for registrado qualquer problema
ou complicao.
Tipos de Parto (BRASIL, s/d)33
Em julho de 2012, o Conselho Regional de Medicina do Rio de Janeiro (CREMERJ) publicou uma
resoluo (Resoluo 265/2012) que probe a participao de mdicos em partos domiciliares e
na assistncia perinatal que no seja realizada em ambiente hospitalar. Essa resoluo torna
pblica a perseguio sofrida por parturientes, enfermeiras, obstetrizes e mdicos.
Quando mulheres que planejaram um parto domiciliar com equipes habilitadas a prestrar
assistncia a parto e so encaminhadas para um servio hospitalar por algum motivo, o
atendimento bem diferente do que se a mulher estivesse acidentalmente parindo no carro. Seria
melhor que essas mulheres no pudessem ter assistncia adequada quando necessrio? Seria
melhor que essas mulheres estivessem desassistidas?
O CREMERJ publicou tambm a Resoluo 266/2012 que probe a participao de doulas,
obstetrizes, parteiras, etc durante e aps a realizao do parto, em ambiente hospitalar,
privando a mulher do direito de escolher a equipe que acompanhar o seu parto, e privando a
populao do Rio de Janeiro de ter doulas e obstetrizes atuando nos hospitais e maternidades
como preconiza a atual poltica de humanizao do Ministrio da Sade.
[...] a presena de uma doula tambm bastante apropriada, visto que ela oferece
suporte fsico e emocional parturiente, transmitindo confiana, segurana e
suporte afetivo, fsico e emocional. Ao longo do trabalho de parto, essa profissional
ajuda a gestante a encontrar as melhores posies, sugere mtodos para aliviar as
dores, entre eles banhos e massagens, e ainda auxilia e orienta o acompanhante.
Tipos de Parto (BRASIL, s/d)
33
148
Ainda que o parto domiciliar seja defendido por muitos mdicos que seguem a
linha do nascimento humanizado, a maioria dos profissionais reprova o
procedimento e diz que tudo no passa de "modismo". O principal problema seria a
falta de estrutura adequada fora do ambiente hospitalar para um nascimento
seguro.
"S toro para que isso acabe antes de uma mulher famosa morrer e servir de
exemplo para as outras", afirmou a diretora da Federao Brasileira das
Associaes de Ginecologia e Obstetrcia (Febrasgo), Vera Fonseca. Ela classifica
o nascimento em casa como um "completo retrocesso".
Na opinio de Vera, as pessoas deveriam "marchar por melhorias na assistncia
obsttrica, no pelo direito ao parto domiciliar". O posicionamento reforado pelo
mdico ginecologista Krikor Boyaciyan, corregedor do Cremesp. "No h parto sem
risco. Em um parto domiciliar, o mdico estar impossibilitado de prestar socorro
caso ocorra qualquer evento adverso. No h estrutura."
Os defensores da tcnica citam como benefcios o conforto, a proximidade com a
famlia e com os profissionais envolvidos no nascimento, bem como uma maior
autonomia para a mulher. "O parto no um evento mdico. fisiolgico", disse o
obstetra Jorge Kuhn. " seguro porque s indicado para gestantes que
preenchem todas as condies necessrias", completa a obstetriz Ana Cristina
Duarte.
Portal R7 em Mes faro marcha pelo parto domiciliar hoje Avenida Paulista34,
publicado em 17 de junho de 2012
34
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150
35
151
36
Disponvel em
http://www.aceis.org.br/contratos/bensaude_contrato.pdf
37
Disponvel em:
http://www.unimedrio.com.br/unimed/filesmng.nsf/5C27F9FA97350D9E832573CA005D4C2A/$File/contr
ato_adesao_cobranca_direta_-_nacional_e_personal_.pdf
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153
[...]
38
Disponvel em:
http://www.amil.com.br/amilportal/upload/corretor/material/AmilContratoPessoaFisica110APF.pdf
154
Toda mulher tem direito a um acompanhante de livre escolha no pr-parto, parto e ps-parto
imediato de acordo com a Lei 11.108 de 2005 (que altera a Lei 8.080 de 1990) e a RDC 36 de
2008 da ANVISA que regulamenta os servios de ateno obsttrica e neonatal, sejam pblicos
privados, civis ou militares.
A alegao de que o direito ao acompanhante no se aplica a servios privados muito comum
mas no se fundamenta na legislao vigente.
A Lei 8.080 de 1990 regula, em todo o territrio nacional, as aes e servios de sade,
executados isolada ou conjuntamente, em carter permanente ou eventual, por pessoas naturais
ou jurdicas de direito Pblico ou privado.
Deliberaes
155
Capacitao dos canais 180 e 136 no Governo Federal e do 0800 da ANS para acolher, registrar
e orientar mulheres vtimas de violncia obsttrica e criao das categorias de violncia obsttrica
e violncia institucional no Ligue 180 violncia contra a mulher
Exigimos ainda
- Atuao do Ministrio da Sade junto s creches pblicas e privadas para alinhamento das
prticas poltica nacional de incentivo ao aleitamento materno
- Atuao do Ministrio da Sade junto ANS para que haja alinhamento das prticas da Rede
Cegonha no setor suplemnetar
- VOTAO da PEC para alterar a Licena maternidade para 180 dias
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165
A Resoluo Anvisa n. 36/08 garante parturiente acompanhante durante o prparto, parto e ps-parto imediato, que termina com a expulso da placenta.
De acordo com a Portaria 2.418 de 2005 do Ministrio da Sade, o perodo considerado psparto imediato, para fins de aplicao da Lei Federal n 11.108 de 2005 que garante o direito ao
acompanhante de livre escolha no pr-parto, parto e ps-parto imediato, so os primeiros 10 dias
aps o parto.
Considerando que a referida resoluo deve estar em conformidade com a legislao vigente, a
resposta da Ouvidoria alegando que o perodo ps-parto refere-se ao tempo at a expulso da
placenta, que na maioria das vezes ocorre em minutos aps o parto, uma resposta inaceitvel.
166
167
Contrato Unimed39
(contrato na ntegra nos Anexos em CD)
39
40
Disponvel em
http://www.aceis.org.br/contratos/bensaude_contrato.pdf
168
41
Disponvel em:
http://www.unimedrio.com.br/unimed/filesmng.nsf/5C27F9FA97350D9E832573CA005D4C2A/$File/contr
ato_adesao_cobranca_direta_-_nacional_e_personal_.pdf
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170
[...]
Toda mulher tem direito a um acompanhante de livre escolha no pr-parto, parto e ps-parto
imediato de acordo com a Lei 11.108 de 2005 (que altera a Lei 8.080 de 1990) e a RDC 36 de
42
Disponvel em:
http://www.amil.com.br/amilportal/upload/corretor/material/AmilContratoPessoaFisica110APF.pdf
171
2008 da ANVISA que regulamenta os servios de ateno obsttrica e neonatal, sejam pblicos
privados, civis ou militares.
A alegao de que o direito ao acompanhante no se aplica a servios privados muito comum
mas no se fundamenta na legislao vigente.
A Lei 8.080 de 1990 regula, em todo o territrio nacional, as aes e servios de sade,
executados isolada ou conjuntamente, em carter permanente ou eventual, por pessoas naturais
ou jurdicas de direito Pblico ou privado.
172
173
necessria
recomendao
para
que
Ao
Civil
Pblica
de
n0017488-
30.2010.4.03.6100, que est sob apreciao do Excelentssimo Senhor Juiz Federal da 24 Vara
Cvel de So Paulo, Dr. Victorio Giuzio Neto, seja enfim sentenciada. Essa ao civil pblica trata
do ndice abusivo de cirurgias cesarianas realizadas no setor privado de sade e possui dentr
outras .
174
175
- Normativa do ministrio da sade para que mulheres possam levar a placenta para casa
caso desejem e no haja impeditivo clnico para tal;
Da mesma forma que o item anterior, possvel que haja normatizao para que as mulheres
possam levar a placenta para enterrar no p da bananeira, ou realizar outra destinao de acordo
com sua cultura, religio, crena.
Pedi para guardar a placenta e a enfermeira que estava na sala disse que ia pegar o saquinho de
placenta. Eu achei que era a nica maluca que pedia para levar a placenta embora, mas ela disse
que no, e que justamente por isso, existiam as tais embalagens. A placenta est congelada, pois
vamos plantar uma rvore em um lugar bem bacana, e enterrar a placenta no p da rvore. Ela
que nutriu voc por nove meses, agora servir de adubo para uma rvore. Queremos fazer isso
com a presena dos amigos queridos e das pessoas que acompanharam toda essa histria!
Gisele Leal, atendida atravs de plano de sade em Sorocaba-SP
176
mulher em trabalho de parto se movimentar, caminhar, agachar sem que sinta-se constrangida
devido a vestimenta.
Modelo de camisola hospitalar aberto nas costas vestido por modelo sem barriga de grvida e
modelo de camisola hospitalar tipo kimono.
Esse tipo de adequao, considerada simples, pode ser de fundamental importncia para a
mulher na assistncia ao parto.
177
178
Incentivo
criao/manuteno
de
grupos
de
gestantes
com
179
A Lei Federal n 11.108 de 2005 que altera a Lei Federal n 8.080 de 1990 dispoe sobre o direito
a um acompanhante de livre escolha da mulher durante o pr-parto, parto e ps-parto imediato. A
refereida lei no possui previso de punio para seu descumprimento o que dificulta a sua
aplicao. Outras alteraes na referida Lei so necessrias para que as mulheres possam ter
acesso
para
180
Art. 19-J. Os servios de sade do Sistema nico de Sade - SUS, da rede prpria ou
conveniada, ficam obrigados a permitir a presena, junto parturiente, de 1 (um) acompanhante
durante todo o perodo de trabalho de parto, parto e ps-parto imediato.
1o O acompanhante de que trata o caput deste artigo ser indicado pela parturiente.
2o As aes destinadas a viabilizar o pleno exerccio dos direitos de que trata este artigo
constaro do regulamento da lei, a ser elaborado pelo rgo competente do Poder Executivo.
para
Art. 19-J. Os servios de ateno obsttrcia, de direito pblico ou privado, ficam obrigados a
permitir a presena, junto parturiente, de 1 (um) acompanhante durante todo o perodo de
trabalho de parto, parto (vaginal ou cesrea) e ps-parto imediato.
1o O acompanhante de que trata o caput deste artigo ser indicado pela parturiente.
2o As aes destinadas a viabilizar o pleno exerccio dos direitos de que trata este artigo
constaro do regulamento da lei, a ser elaborado pelo rgo competente do Poder Executivo.
Faz-se necessria tambm a incluso de sano para o descumprimento da referida Lei.
181
Exigimos ainda
- Atuao do Ministrio da Sade junto s creches pblicas e privadas para
alinhamento das prticas poltica nacional de incentivo ao aleitamento materno
Apesar do Ministrio da sade preconizar o aleitamento materno exclusivo por 6 meses e
complementado at 2 anos ou mais, muitas mes so incentivadas a realizar o desmame precoce
de seus filhos antes do perodo recomendado pelo Ministrio da sade. Essas orientaes que
so repassadas pelas creches fragilizam mulheres que desejam amamentar seus filhos. Observase uma falta de orientao adequada desses profissionais que atuam em contato direto com as
famlias.
- Atuao do Ministrio da Sade junto ANS para que haja alinhamento das
prticas da Rede Cegonha no setor suplemnetar
Reivindicamos a urgente votao e aprovao da PEC 00515/2010 que aumenta para 180 dias a
licena-maternidade para que todas as mulheres trabahadoras possam decidir livremente por
amamentar seus filhos por 6 meses, como preconiza o Ministrio da Sade.
182
meses aps o nascimento do seu filho. Esse perodo insuficiente para amparar uma mulher a
decidir livremente a amamentar seu filho por 6 meses. Nenhuma mulher deveria ser coagida a
parar de amamentar seus filhos.
Faz-se necessria alterao na legislao vigente para que haja adequao s recomendaes
do Ministrio da Sade.
183
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