Texto Base - Fundamentos Da Educação de Surdos
Texto Base - Fundamentos Da Educação de Surdos
Texto Base - Fundamentos Da Educação de Surdos
FLORIANÓPOLIS, 2006
APRESENTAÇÃO
OBJETIVOS ESPECÍFICOS
Fundamentar a língua de sinais com suas possibilidades na história
Mostrar as resistências da língua de sinais face ao historicismo
Identificar fundamentos legais da educação de surdos
Ter uma visão da língua de sinais cujos fundamentos se perdem na
cultura, na identidade, na memória de um povo
Apresentar os fundamentos da educação dos surdos
Procurar refletir a realidade da educação de surdos no Brasil
Fomentar a análise crítica do papel da Educação de Surdos diante da
realidade sócio-cultural brasileira
Estimular a discussão das relações existentes entre educação de
surdos, cultura e língua de sinais.
1 - UM BREVE PASSEIO PELAS RAÍZES DA HISTÓRIA DE EDUCAÇÃO DE
SURDOS
Como vemos pelo título do texto ’Um breve passeio pelas raízes da
história de educação de surdos’.
Porque raízes?
É pelas raízes numa história que surge revelações trazendo à luz as
discussões educacionais das diferentes metodologias, pode-se observar que a
raiz central das disputas sempre esteve ligada a respeito da língua, ou seja, se
os sujeitos surdos deveriam desenvolver a aprendizagem através da língua de
sinais ou da língua oral?
Naquela época, não tinham escolas para os sujeitos surdos. Com esta
preocupação educacional de sujeitos surdos fizeram surgir numerosos
professores que desenvolveram seus trabalhos com os sujeitos surdos e de
diferentes métodos de ensino.
Por exemplo: houve avanços na visão clínica, que faziam das escolas
dos surdos espaços de reabilitação de fala e treinamento auditivo
preocupando-se apenas em ‘curar’ os surdos que eram vistos como
‘deficientes’ e não em educar.
CONCEITO
Visão Clínica: nesta visão a escola de surdos só se preocupa com as
atividades da área de saúde, vêem os sujeitos surdos como pacientes ou
‘doentes nas orelhas’ que necessitam serem tratados a todo custo por
exemplo os exercícios terapêuticas de treinamento auditivos e os exercícios
de preparação dos órgãos fonador, que fazem parte do trabalho do
professor de surdos quando atua na abordagem oralista.
Nesta visão clinica geralmente categorizam os sujeitos surdos através de
graus de surdez e não pelas suas identidades culturais.
Para o povo surdo deve ter sido difícil as suas vivências durante a
antiguidade devidas ás injustiças sofridas e suportadas, no entanto o quase
silencio sobre o que se diz com a reverência sobre sujeitos surdos é na
verdade um sentido revelador, a forma parcial dos registros dos vários
pesquisadores mostra-nos a preocupação deles em nos apresentar a história
de surdos uma visão de que focaliza, na maior parte em esforços de fazer de
sujeitos surdos como modelos de sujeitos ouvintes ao oferecer ‘curas’ para as
suas ‘audições’ danificadas.
CONCEITO
Povo Surdo: “O conjunto de sujeitos surdos que não habitam no mesmo
local, mas que estão ligados por uma origem, tais como a cultura surda,
costumes e interesses semelhantes, histórias e tradições comuns e
qualquer outro laço”.(Strobel, 2006, p.8).
CONCEITO
Estereótipo: opinião preconcebida, difundida entre os elementos de uma
coletividade.(http://www.priberam.pt/dlpo/dlpo.aspx)acessado:28/04/2006
Nós não podemos deixar de reconhecer que a história do povo surdo
mostra que por muitos séculos de existência, a pedagogia, as políticas e muitos
outros aspectos próprios do povo surdo têm sido organizados geralmente no
ponto de vista dos sujeitos ouvintes e não dos sujeitos surdos que, quase
sempre, são incógnitos como profissionais que poderiam contribuir com suas
competências essenciais e de sua diferença do Ser Surdo.
CONCEITO
Ser Surdo: (...) olhar a identidade surda dentro dos componentes que
constituem as identidades essenciais com as quais se agenciam as dinâmicas
de poder. É uma experiência na convivência do ser na diferença (Perlin e
Miranda 2003, p.217)
CONCEITO
No dia 11 de setembro de 1880, houve uma votação por 160 votos com
quatro contra, a favor de métodos orais na educação de surdos, a partir daí a
língua de sinais foi proibida oficialmente alegando que a mesma destruía a
habilidade da oralização dos sujeitos surdos.
PARA REFLETIR
“oralismo se encontrava então bem adaptado à sociedade, mas como será
que as atitudes ocultas nestes métodos de ensino se adaptam à cultura
surda? Deveria a cultura surda se adaptar unilateralmente às exigências da
sociedade?” ( WIDELL, 1992, p.29)
- SACKS, Oliver. Vendo Vozes: Uma jornada pelo mundo dos surdos.
Rio de Janeiro: Imago Editora, 1990
3. MODELOS EDUCACIONAIS NA EDUCAÇÃO DE SURDOS
- ORALISMO,
- COMUNICAÇÃO TOTAL
- BILINGÜISMO.
- PEDAGOGIA DO SURDO
- MEDIAÇÃO INTERCULTURAL
3.1. O Oralismo e suas estratégias
COMENTÁRIO
Tem muitos métodos orais diferentes na educação com os surdos,
‘o oralismo’ é um dos recursos que usa o treinamento de fala, leitura
labial, e outros, este recurso é usada dentro das metodologias orais, entre
eles, o ‘verbotonal’, ‘oral modelo’ ‘materno reflexivo’, ‘perdoncini’ e entre
outros.
COMENTÁRIO
Na área de saúde classificam-se os surdos através de exames
audiometrias. Graus de surdez mais conhecida é: Leve/ Moderada/ Severa
/ Profunda
Audiometria: exame da audição realizado por meio de instrumentos e
avaliação da capacidade para apreender os diferentes sons da fala e de
classificação de surdez em vários graus.
CONCEITO:
AASI: é o aparelho de amplificação sonora individual, que aumenta os
sons, possibilitando que o sujeito com surdez consiga escutar, este
aparelho auditivo, tem vários tipos de fabricações e de diferentes modelos,
o mais tradicional é o colocado atrás da orelha com molde da orelha
interna, é conhecido popularmente como ‘aparelho auditivo’.
COMENTÁRIO
“Essa técnica de leitura labial:”ler” a posição dos lábios e captar os
movimentos dos lábios de alguém está falando é só útil quando o
interlocutor formula as palavras de frente com clareza e devagar. (...) a
maioria de surdos só conseguem ler 20% da mensagem através da leitura
labial, perdendo a maioria das informações. Geralmente os surdos
‘deduzem’ as mensagens de leitura labial através do contexto dito”.
(STROBEL, 2006, p.10)
(...) Espanha que tanto fez pela educação do surdo, é curioso de como
Ramirez de Carrion desenvolveu um processo de “cura” de surdos, cuja a
receita era a seguinte: raspar a cabeça (...), aplicar-lhe uma mistura de
Brandy, salitre, óleo de amêndoas e petróleo, e pondo-se atrás do surdo
reza-se a inevitável e medieval reza, bem alto, é claro, até porque estava-
se perante um surdo. A única garantia deste remédio era que, mesmo que
o surdo não se curasse, ficava careca, podendo assim dividir as suas
preocupações entre a surdez e a calvície?
Fonte:http://www.maosquefalam.com/index.php?module=ContentExpress&func=
display&ceid=14 acessado: 15/04/2006
PARA REFLETIR
- O bilingüismo progressista
REFLEXÃO
CONCEITO
Diferença: Refere-se às diferenças culturais nos diversos grupos sociais.
Por diferença entende-se a diferença mesma não contendo aspectos da
mesmidade que posições iluministas pregam para atingir a perfeição.
CONCEITO
Intercultural: para fleuri (2000).o que é inovador em educação é o
iniciar a focalizar momentos e processos produzidos face as diferenças
culturais. Nesta direção, a perspectiva intercultural pode estimular os
surdos a enfatizar os aspectos de identidade/alteridade com estímulos
para desenvolver a capacidade de reflexão sobre a diferença cultural, ao
lado da possibilidade solidária de interação com outros grupos culturais.
CONCEITO
Identidade cultural – é uma forma de distinguir os diferentes grupos
sociais e culturais entre si. A identidade cultural pode ser melhor
entendida se considerarmos a produção da política da identidade, que
também dá origem a esta metodologia da educação do surdo.
- Filhos do Silêncio
- Seu nome é Jonah
PARA LEITURAS COMPLEMENTARES SUGERIMOS
Para ter uma imagem da identidade, vamos entrar na idéia de que não
existe uma concepção única de identidade. Stuart Hall (1997, p 11) na
introdução a um artigo cita três concepções como sendo ligadas as diferentes
teorias contemporâneas. Assim, para ele, a identidade iluminista está
concebida como sendo centrada, unificada, dotada de capacidades de razão
com um núcleo interior; a identidade sociológica é concebida refletindo a
complexidade do mundo moderno onde o sujeito se forma ao redor de uma
gama de representações e na interação com a sociedade; por fim a identidade
pós-moderna que ele cita como não sendo fixa, centrada, e em constante
mudança, em transformação , ou seja, as identidades pós-modernas são
múltiplas, isto é, contraditórias umas as outras e estão em constante
construção.
CONCEITO
Narrativas culturais - geralmente na teoria cultural se identifica como
narrativas aqueles discursos dos sujeitos ou grupos que estão marcados
por praticas culturais.
É nesta série de narrativas que enfatizam nossa cultura, moldam a
nossa identidade que vamos tecendo a nossa identificação dos surdos. Vale a
afirmação de Hall (2003, p: 83) “todos nos localizamos em vocabulários
culturais e sem eles não conseguimos produzir enunciações enquanto sujeitos
culturais”. A cultura surda tem seus locais pelos quais convido você, agora, a
transitar, alguns locais onde as identidades surdas se constituem. Porém
lembre-se que a identidade surda não fica restrita a estes pontos de
identificação, ela principalmente se constitui no encontro eu-outro.
Mas seria errôneo ver Porto Alegre como único local de identificação.
Isto adere do fato de que as identidades surdas são múltiplas. Há locais que
estabelecem elos e as identidades aceitam estes fragmentos. Assim ser surdo
da capital gaúcha não é o mesmo que ser surdo do interior gaúcho.
CONCEITO
Identidades de fronteiras - são as identidades ouvintes segundo as
quais o surdo nalguns modelos de educação está obrigado a narrar-se
espelhar-se e que na ótica de skliar se denomina ouvintismo.
[....] aquilo no momento de meu encontro com os outros surdos era o igual
que eu queria, tinha a comunicação que eu queria. Aquilo que identificava
eles identificava a mim também e fazia ser eu mesma, igual. (Perlin, 1998,
p. 54)
Trago para você esta citação que é uma das melhores afirmações e que
motivou meu impulso na pesquisa da identidade surda. Daí podemos deduzir
que a identidade surda sempre está em situação de necessidade do outro
surdo para se formar, se constituir, buscar signos e significados para a sua
identificação. Então de nosso ensaio chegamos a uma questão cultural porque
a identidade está motivando um grupo, o grupo que somos como surdos. Daí o
que nos identifica sempre se constituirá através da cultura surda.
CONCEITO
Encontro surdo-surdo: Processo de encontro entre dois sujeitos surdos
em que acontece a sutura. O termo sutura pode ser usado em Estudos
Culturais para referir ao processo pelo qual o sujeito constrói sua
identidade em interação com o outro semelhante.
CONCEITO
Sutura: em cirurgia médica significa a costura de dois tecidos. Segundo
Silva 2000, o termo foi utilizado por Alain –Miller para se referir ao
processo pelo qual o sujeito sutura seu eu ao meio.
Cultura surda: Os resultados das interações dos surdos com o meio em
que vivem, os jeitos de interpretar o mundo, de viver nele se constitui no
complexo campo de produções culturais dos surdos com uma serie de
produções culturais que podem ser todas como produções culturais ou
seja: língua de sinais, identidades, pedagogia, política, leis, artes, etc...
REFLEXÃO
o múltiplo, devido às vezes ao hibridismo, sempre é presente entre os
surdos; assim temos: múltiplos jeitos de ser surdo; múltiplas
identidades; múltiplas culturas surdas.
Também podemos por outro lado, notar que a identidade surda sempre
é vigiada por agentes devidamente autorizados de outras culturas. Daqueles
que, em dados momentos históricos, querem propor uma identidade única a
todos. Isso acontece até nos momentos de simples debate e transforma-se em
luta intersticial. Nestes embates de fronteiras também se moldam identidades
surdas.
CONCEITO
Luta Intersticial: quando o encontro entre eu e outro se transforma em
espaço de produção que reverte em significados, trocas, construções
identitárias.
- no itinerário da diáspora
- no cordão da tradição
- os surdos híbridos
- nas posições da diferença
nas posições da diferença : os deficientes auditivos não são surdos pois ser
surdo é estar na transgressão, na inversão da cultura ouvinte, isto é os que tem
restos auditivos não são surdos, não partilham a mesma cultura ou seja as
políticas, a pedagogia, a língua, os interpretes. Os significados culturais dos
deficientes auditivos são muito diferentes e não se equiparam aos dos surdos.
Cumpre notar que não é minha intenção de fazer aqui categorias pois
estas poucas citações de identidade não esgotam todas diferenças de
identidades surdas.
CONCEITO
Enquadramento: refere ao grau de controle das formas de uso do
processo. Assim o processo de enquadramento da língua de sinais no
currículo é garantido por lei. A educação de surdos, seja na escola de
surdos, seja a inclusão deve determinar e controlar, segundo a lei, a
presença da língua de sinais garantindo sua proficiência entre os
professores, funcionários e demais membros do contingente escolar.
Gárdia Vargas
A inclusão não ocorre somente nas escolas, pode ocorrer também nos
restaurantes, nos shoppings, nos trabalhos, nos órgãos públicos, nas lojas, nas
igrejas e em outros ambientes de interação humana.
O que é Inclusão?
REFLEXÃO
Então os alunos surdos que antes que eram excluídos são agora sendo
destituídos do direito de sua língua na inclusão dentro de escolas de ouvintes.
Mas vamos refletir: isto está sendo feito corretamente? Isto é o ideal?
Realmente significa a ‘inclusão’ para os surdos?
CONCEITO
Embora sejam poucos estes registros frente ao povo surdo, vemos que
historicamente o povo ouvinte sempre decidiu como seria a educação de
surdos.
CONCEITO
Comunidade Surda: (...) não é só de surdos, já que tem sujeitos ouvintes
junto, que são família, intérpretes, professores, amigos e outros que
participam e compartilham os mesmos interesses em comuns em um
determinado localização. (...) Geralmente em associação de surdos,
federações de surdos, igrejas e outros. (STROBEL, 2006, p.42-43)
4
Fonte:
http://portal.mec.gov.br/seesp/index.php?option=content&task=view&id=62&Itemid=191).
E os municípios menores poderão estar organizando atividades de
educação em escolas pólos5 sistematicamente, já que os sujeitos surdos
necessitam interagir entre si para que a língua de sinais esteja evolução e
fluência lingüística.
CONCEITO
Escolas pólo: são as escolas de surdos ou escolas regulares com classes
especiais que atendem somente surdos. Em alguns Estados Brasileiros
existe estes serviços. Nas referidas escolas tem professor bilíngüe,
interprete e instrutor surdo. Os alunos são da região ou regiões adjacentes
5
atender a alunos surdos depende da convivência com a
comunidade surda, a aprendizagem da língua de sinais e o
estudo de uma pedagogia ampla. (1998, p.37)
CONCEITO
Regulação nos processos culturais - é no sentido que de acordo com a
teorização pós-estruturalista que fundamenta boa parte dos estudos
culturais a identidade cultural só pode ser compreendida como um
processo social discursivo. Ela está em conexão com a produção da
diferença.
Declaração de Salamanca
(http://www.lerparaver.com/legislacao/internacional_salamanca.html)
CONCLUSAO
A lei nos empurra para frente, par a conquista de nossos direitos, nosso
lugar cultural, nossa pedagogia, nossa história.