ESCREVENDO COMEDIA - Traducaoa4
ESCREVENDO COMEDIA - Traducaoa4
ESCREVENDO COMEDIA - Traducaoa4
PASSO À PASSO.
1 Comedy Writing
PRIMEIRA PARTE:
A Decisão de Escrever.
SEGUNDA PARTE:
Aumentando a sua Aptidão.
2 Comedy Writing
7. Escreva, leia e escute.
O material básico do humor. . . rotinas para apresentações STANDUP: um
aprendizado superbo. . . a melhor maneira de aprender. . . a outra melhor maneira
de aprender. . . como conquistar a auto-confiança. . . porque você deveria manter
uma cota ( e porque este é o melhor conselho que qualquer pessoa poderia lhe
dar) . . . se expondo para a avaliação de outros autores cômicos. . . descobrindo o
que funciona – e o que não funciona.
3 Comedy Writing
13. Atalhos para o humor.
Como extrair e intensificar o humor. . . fazer o público se identificar com a
verdade. . . relaxando a tensão: como alcançar uma gargalhada certeira. . .
atacando as autoridades – até onde . . . envolvendo o seu publico. . . seguindo a sua
intuição.
TERCEIRA PARTE
Construindo uma Carreira.
4 Comedy Writing
Tentativa e erro . . . como pesquisar o mercado. . . a importância do diálogo:
escrevendo cartas. . . como estabelecer contatos . . . quanta ajuda é demais para
pedir. . . superando o medo da rejeição. . . aturando os contratempos.
Apêndice
As dúvidas mais constantes entre aqueles que começam escrever comédia.
5 Comedy Writing
6 Comedy Writing
Prefácio
Carol Burnett
Maio, 1982.
7 Comedy Writing
A Decisão de Escrever.
Eu quero que você faça as pessoas rirem,
Assim elas começarão a ver as coisas mais seriamente.
William R. Zinsser
8 Comedy Writing
9 Comedy Writing
Você pode escrever comédia.
11 Comedy Writing
Eu já estive em outras situações onde foram creditados a mim méritos que
não merecia. Uma vez nosso staff de escritores foi nomeado para
concorrer a um Emmy, então o produtor do programa me convidou para
chegar com ele numa limusine alugada – nós queríamos chegar com estilo.
As festividades estavam acontecendo bem perto da minha própria casa,
assim meus quatro filhos foram para lá nas suas bicicletas e se colocaram
bem na frente atrás do cordão de isolamento formado pelos policiais. Tão
logo nossa limusine parou na frente do teatro e saímos, meus filhos
começaram a gritar histericamente.
Sendo um canastrão incurável como eu sou, eu me virei e comecei a acenar
para a multidão. Agora, todos na multidão gritavam.
O fato de que eles não me reconheciam ou nem ao menos sabiam quem eu
era, não importava. Eles pensavam: grite agora e faça perguntas mais
tarde.
Uma senhora, por outro lado, se aproximou da minha filha mais eloqüente e
lhe perguntou: “Quem é aquele?” e minha filha respondeu: “Meu Pai!”
Bem, há uma outra história que funciona mais ou menos como o oposto
desta. (Vocês estão começando a notar que cada uma das minhas histórias
tem a sua própria replica?)
Uma vez estávamos em um ensaio de um Bob Hope Show . Na ocasião, o ex
presidente Gerald Ford era um dos convidados de gala, e alguns agente
secretos munidos de seus cães farejadores,
farejavam todo e qualquer lugar a procura de bombas. Bob, que estava no
palco segurando um bando de paginas do seu script, me viu e gritou, “Hey,
Perret. Os cães não param de farejar as suas piadas.”
Acho que você começa a se arrepender de ter entrado para este curso,
mas eu só estou tentando ilustrar e enfatizar os momentos engraçados
que já tive nesta carreira.
Esta talvez seja a verdadeira razão para eu ter escrito este livro.
Eu já me diverti tanto escrevendo humor que eu gostaria de ajudar outras
pessoas a se divertirem também. E você pode.
12 Comedy Writing
Uma forma Universal.
Você pode até não acreditar mas há um medo geral em escrever comédia.
As pessoas acreditam que se trata quase de uma profissão sagrada, que o
dedo de uma Deusa ou Deus qualquer virá ungir nossas cabeças e fazer o
humor germinar.
Bobagem.
A comédia é a forma de arte mais universalmente praticada.
Como Jimmy Durante já nos disse tão eloqüentemente, “Todos querem
fazer parte.”
O humor é universal. Todas as vezes que sua família se reúne, eu tenho
certeza que coisas engraçadas e piadinhas são ditas a revelia. Todas as
vezes que velhos amigos se reúnem, o bom humor é um dos convidados
também. Todos nós gostamos de satirizar e fazer piadas uns com os
outros.
Nos meus anos de novato como parte do staff de escritores de uma
televisão, os produtores entraram na sala e pediram ao staff para criarem
uma piada nova para um dos convidados.
Nos estávamos fazendo um programa em homenagem a Las Vegas e
precisávamos de uma piada entre os versos de uma canção.
Dez de nós, entre recém chegados e veteranos, nos reunimos em uma sala
para escrever uma única piada. Bom, isso já é uma piada.
Nós nos bombardeamos com idéias das 10 da manhã até 1 da tarde, sem
que nenhuma das gags satisfizesse nosso julgamento coletivo. Quando
paramos para o almoço, a maioria de nós se dirigiu para os banheiros
masculino da CBS. Lá encontramos um garoto de uns 10 anos lavando as
mãos. Seu cabelo estava impecavelmente penteado, exceto um chumaço de
cabelo que se recusava a fazer parte do contexto e estava arrepiado para
cima como se houvesse sido lambido por uma vaca. Eu segurei seu cabelo
pelo chumaço e, olhando nossos reflexos no espelho, perguntei, “O que é
isso?”.
“Ah, isso,” ele me respondeu.
“Isso aí é a minha consciência.”
E ele saiu do banheiro andando como se estivesse acabado de nos dar uma
pérola.
Nós profissionais havíamos gastado horas com nenhum resultado e esta
criança havia nos dado um grande improviso assim em segundos.
“Todos querem fazer parte.”
13 Comedy Writing
Uma vez eu fui o convidado de honra para um jantar na minha cidade natal.
No mesmo jantar encontrei uma notável ex-professora minha.
Notável, porque se tratava de uma senhora de grande força de vontade de
93 anos que nunca havia se casado: ela me deu aulas quando eu estava na
5° série primária e ela já parecia ter 93 anos então, o que fiz questão de
lhe dizer. Ela era o tipo de pessoa que podia dizer estas coisas. Havia uma
história circulando durante o banquete de que esta mesma senhora havia
especificado no seu testamento que quando ela morresse ela não queria
que seu caixão fosse carregado por nenhum homem. Durante o jantar me
aproximei dela e perguntei sobre a veracidade de tal rumor.
Ela admitiu que era. Eu perguntei por que. “Aqueles bastardos nunca me
levaram pra passear quando eu estava viva,” ela declarou.
“E eu vou ficar puta da vida se me levarem depois de morta.”
É claro que a comédia não está restrita somente à perspicácia dos jovens
ou dos velhos.
Uma vez, quando Don Rickles foi interrompido durante uma performance -
o que não só requer bom humor mais muita coragem – Rickles não pôde
resistir a uma última palavra ao seu antagonista antes de sair do palco.
“Senhora”, ele disse, “Quanto você cobra para assombrar uma casa?”
Ela imediatamente respondeu da platéia, “Quantos quartos?”
Sim, Mr. Durante, todo mundo quer fazer parte do negócio.
O humor é universal.
Uma questão de Disciplina.
14 Comedy Writing
O medo do Iniciante.
Quando lido com escritores iniciantes a frase que eu mais escuto é,”Você
poderia dar uma olhada no meu material e me dizer se é bom ou não?”.
Bem, estas pessoas assistem TV, vão aos nightclubs ou lêem livros,
ninguém tem que lhes dizer quando devem sorrir. Eles conhecem uma boa
piada como qualquer outra pessoa. Estas pessoas sabem de qual material
elas se orgulham ou de qual material elas não se sentem tão seguras assim.
A pergunta - “Me diga se é bom ou não” – mostra o medo de se misturar
com os profissionais.
Muitas pessoas se auto denominam amadores e aos escritores que vendem,
de profissionais. Bem, isto é tecnicamente correto, mas os amadores não
precisam permanecer amadores. Bons amadores fazem bons profissionais.
Hoje, muitos dos boxeadores Olímpicos amadores estão nocauteando os
profissionais. E nós humoristas e escritores de humor profissionais
sabemos que, em breve, muitos escritores amadores estarão nos
nocauteando.
Uma das coisas do medo do iniciante é que ele esta constantemente
comparando o seu trabalho com os melhores.
As rotinas que acontecem nos nightclubs ou na televisão são produto de
várias mentes. As gags, piadas, tudo foi escrito, re-escrito e revisado
inúmeras vezes por zilhões de pessoas.
É quase impossível você conseguir este grau de profissionalismo sentado
na mesa da cozinha escrevendo sozinho, mas o mais importante é que você
não precisa faze-lo.
Jovens cômicos procuraram a min e a outros escritores inúmeras vezes
pedindo por um material que lhes colocariam no show do Johnny Carson, na
esperança de verem as suas carreiras deslanchar e coloca-los, de uma vez
por todas, morando na Estrada da Fama pelo resto de suas vidas. E
prometem mandar alguma grana para o escritor, assim que eles cheguem
lá. Se eu pudesse escrever um material que fosse capaz disso eu próprio
teria construído a minha moradia na Estrada da Fama.
Mas eu não posso e nem meus amigos podem fazer isso.
Ninguém é capaz de produzir sozinho este tipo de material.
Um escritor iniciante não deveria ter este tipo de expectativa.
15 Comedy Writing
Jogando com as Porcentagens.
Para ser um bom escritor, nem tudo que você escreve tem que ser bom –
uma boa parte já é o suficiente. Um jogador de baseball não precisa
acertar todas as bolas. Se ele conseguir acertar 1/3 de todas as bolas ele
já pode pedir um bom aumento para jogar o próximo campeonato. A mesma
porcentagem pode ser aplicada quando se escreve comédia.
Uma comediante para quem eu trabalhei uma vez tinha oito ou nove
escritores produzindo de 20 a 30 piadas sobre um mesmo tópico. Isto
quer dizer que o comediante tinha de 200 a 300 piadas sobre um único
assunto. E somente 15 destas piadas, no máximo, seriam incluídas no seu
monologo final.
Às vezes, eu mesmo desempenho meu próprio material após o jantar de
alguma palestra. (Os cheques não são tão grandes quanto aqueles que
recebo para escrever, mas é bom, de vez em quando, ouvir as gargalhadas
que você pode provocar.)
Para cada assunto que eu vou falar eu escrevo por volta de 25 ou 30 gags.
Quando estou re-escrevendo este numero cai para 12 ou 15 das melhores.
Quando faço a ultima revisão, eu corto ainda mais. Depois de ensaiar umas
duas ou tres vezes descrubro que algumas gags simplismente não estão
fazendo a sua parte. Das primeiras 30 gags, seis ou oito permacecem até o
final. E eu estou cortando as minhas próprias piadas.
Shows para TV são re-escritos interminavelmente. Se alguns produtores e
escritores pudessem, eles mudariam ainda mais coisas enquanto o
programa estivesse sendo transmitido.
Me vem a mente agora um incidente que occoreu comigo e meu sócio. Os
produtores the All in The Family nos pediram para escrevermos um
episódio. Depois de entregue, eles nos importunavam constantemente
para que submetêssemos novas idéias ou novo material para ser discutido.
Mas, quando o episódio que havíamos escrito foi para o ar, uma única piada
nossa tinha sido aproveitada. Num show de 30 minutos, uma única piada.
Nosso script havia sido completamente re-escrito, e mesmo assim, eles
nos importunavam por mais.
Um outro amigo meu havia escrito um script para o Dick Van Dike Show e
ele, então, foi para o Arizona ver a gravação do programa. Seu script havia
tambem sido inteiramnete re-escrito.
Quando a gravação terminou os produtores do programa vieram até ele
pra pedir que ele escrevesse outro programa e le disse: “Porque vocês não
usam aquele que eu mandei primeiro?”
16 Comedy Writing
Não se dê por vencido antes de você começar. Se você pode escrever
coisas engraçadas e esta afim de aprender e aplicar as técnicas, você
pode se tornar um humorista.
Tudo o que você escreve não precisa ser necessariamente uma jóia.
Só é preciso haver algumas pedras preciosas, o suficiente para que a
escavação valha a pena.
Pessoas que não escrevem profissionalmente acham que nunca irão – eu já
estive lá e sei – Eu escevi piadas para revistas mas no caminho eu sempre
me dizia que eu estava colecionando “NÃOS”.
Aí, alguma coisa aconteceu: Eu fui pago pelas minhas piadas. Minha vida
mudou. Mas, antes de estar entre os profissionais eu sempre me dizia: “Eu
não sou um escritor de piadas.”
Estas pessoas costuman se ver como engenheiros, eletricistas, ou
vendedores, alguém lá fora vai ser o humorista.
Isto tudo é uma grande besteira. Phyllis Diller compra material cômico de
qualquer lugar deste planeta, e embora eu não os conheça eu ousaria dizer
que eles vêm de pessoas de todos os tipos.
17 Comedy Writing
Sim, você pode aprender.
18 Comedy Writing
Alguns dos meus amigos escritores irão me açoitar por escrever este livro.
Eles argumentaram que não é possível ensinar ninguém a escrever comédia.
Isto me faz lembrar de um trabalho que tive antes assumir a carreira de
humorista como minha única fonte de renda.
Eu trabalhava no departamento de engenharia elétrica de uma grande
companhia, e eu fui encarregado de computadorizar a nossa lógica diária.
Eu devia juntar todo nosso raciocínio, organiza-lo, e reduzi-lo a um
formato que caberia dentro de um computador.
A primeira fase da investigação era entrevistar os engenheiros.
E, naturalmente, eles relutaram.
“É impossível fazer isso,” eles insistiam.
“Existem muitas variáveis no que sabemos para colocar numa maquina que
não pensa.”
“Mas vocês passam por uma série de passos até chegar ao que querem, não
é?”
“Certamente,” ele concordaram, “mas é tudo muito complexo para um
computador poder entender.”
“Mas se vocês pudessem,” eu persisti, “qual seria o primeiro passo?”
“A primeira coisa que faríamos,” eles responderam, “seria . . .” e então foi
assim que conseguimos fazer exatamente o que nos foi pedido. Cada um
deles definiu para mim o que, a principio, disseram ser impossível.
Nós temos o mesmo fenômeno aqui. Humoristas profissionais insistem em
dizer que somente escritores profissionais sabem e podem escrever
comédia.
Mesmo assim, a própria existência de escritores profissionais lhes
contradiz.
Eles não nasceram humoristas, então, eles devem ter aprendido de alguma
forma.
Por que eles insistem que ninguém mais pode aprender?
Eles se esqueceram que também aprenderam após 25 ou 30 anos
escrevendo comédia.
Mesmo assim, quando eles se vangloriam das suas longas carreiras o que
esta implícito em seus discursos é que eles aprenderam a escrever
comédia durante todo este tempo.
Se comédia é algo que não pode ser aprendido, como foi que eles
conseguiram, então?
Esta retórica é particularmente brochante para os escritores iniciantes.
“Se não pode ser aprendido como é que eu vou escrever comédia?”
Jovens escritores sempre me pedem para revisar os seus trabalhos. Minha
primeira inclinação é dizer, “Isto é horrível.”
19 Comedy Writing
Então, eu me pego revendo as coisa que eu escrevia a vinte e cinco anos
atrás e as acho tão ou mais horríveis.
A moral da estória é que há um potencial. A escrita não é ruim, só é
inexperiente. Aquele ou este escritor pode melhorar conforme ele
aprende ou é ensinado.
Um processo continuo.
O auto aprendizado.
22 Comedy Writing
de dois anos esta pessoa estará jogando tênis razoavelmente bem ou, até
mesmo, muito bem.
Talvez ele ainda rebata a bola sem precisão, mas com mais prática ele
conseguirá dominar esta dificuldade. Com certeza ele estará jogando
melhor tênis do que aquele que leu tudo o que ele podia a respeito de tênis
durante dois anos por duas horas ao dia.
É obvio que o ideal é ter os dois tipos de conhecimento.
Aprenda o que fazer e como faze-lo e vá a luta e faça.
23 Comedy Writing
As ferramentas que você ira
precisar.
24 Comedy Writing
Uma vez, quando eu estava ministrando um curso de como escrever
comédia, um aluno me disse que analisar uma comédia é como dissecar um
sapo: ”Você aprende algumas coisas durante, mas a pobre criatura sempre
morre durante o processo”.
Talvez, seja assim que algum de vocês se sinta no momento.
“Chega de comédia…. Quando é que a gente vai começar a escrever?”
Sinceramente, você tem a minha simpatia porque eu conheço muito bem
esta sensação.
A tendência quando recebemos um trabalho é simplesmente nos sentarmos
e começar a maquinar as piadas: “É para isso que somos pagos e é isso que
nos diverte – escrever coisas engraçadas.”
Preparação! Preparação!
Senso de Humor.
26 Comedy Writing
Eu estava ranzinza simplesmente por que as outras pessoas não me
deixavam em paz. Eu não reconhecia as coisas como elas eram.
Finalmente, eu fiz alguns testes que confirmaram que havia um problema
comigo e que eu precisaria ser operado.
Neste instante, eu aceitei as coisas como elas eram.
Não foi fácil mas. . . Minha vontade era dizer: “Eu vou me alimentar
melhor, vou fazer mais exercícios físicos, vou me comportar e o problema
ira desaparecer.”
Este exemplo ajuda a esclarecer os conceitos de ver, reconhecer, e
aceitar as coisas como elas são. Mas que raios isso tem haver com senso
de humor?
Assim como eu nunca teria sido curado do meu problema se eu houvesse
me recusado a seguir estes três passos, ninguém conseguirá ver o humor
em qualquer situação se não satisfazer estes mesmos três passos.
Deixe me usar como exemplo novamente. Junto com todo este problema
cardiovascular eu estava também passando por uma fase de queda de
cabelo crônica. Será que podem tirar sarro na minha cara por causa disto?
Espero que sim. Meus filhos, por exemplo, nunca me pouparam e me
mostraram o valor que a comicidade tem.
Já confessei que eu estava mal humorado, mas quando eu descobri que
devia ser operado eu comecei a ficar deprimido e um expert em sentir
pena de mim mesmo – nem preciso dizer que não havia muitas gargalhas ao
redor.
Para aumentar o meu sofrimento eu tinha que usar uma destas medicações
que a gente gruda na pele.
Tudo bem, se não fosse o fato de eu ter um corpo coberto por pelos. Dá
pra imaginar o tipo de tortura a que eu tinha que me submeter. Eu não
conseguia achar um lugar onde eu pudesse grudar aquilo. Minha filha,
então, me disse: “Porque você não gruda na sua cabeça?”
Parece cruel mas foi uma resposta espontânea e bem humorada que tirou o
peso da melancolia que sentia e nos fez rir novamente.
Eu recuperei o meu bom humor por que finamente consegui ver,
reconhecer e aceitar a realidade da minha doença.
Voltando a ilustrar o senso de humor.
Em que ocasião eu não teria aceitado piadinhas sobre a minha calvície?
Primeiro, eu não tinha consciência dela. Eu não via. Muitas pessoas
começam a perder cabelo em partes difíceis de serem vistas no espelho,
você não vê, mas todo o resto vê, principalmente aquelas pessoas mais
altas que você.
Se alguém faz uma piadinha a respeito disso neste estagio da calvície, as
pessoas te olham como se você estivesse ficando completamente louco.
27 Comedy Writing
“Quem???? Eu careca? Você está louco?”
Segundo, se elas se recusam a reconhecer o fato de que estão ficando
carecas.
Eu me convenci, durante anos, que se eu penteasse o cabelo de outro jeito
eu conseguiria disfarça-la. Se alguém houvesse feito alguma piadinha,
então, eu teria ficado completamente ofendido porque era uma prova viva
de que meu esquema de cobrir a careca não estava funcionando.
Terceiro, alguns de nós nos recusamos a aceitar os fatos, e piadas sobre
nossa perda de cabelo não são nem um pouco bem-vindas.
É essencial que você tenha consciência destas três habilidades quando
você está diretamente falando para o publico porque nem todas as platéias
tem senso de humor a respeito de todo e qualquer assunto.
Você deve saber o que o seu publico vê, reconhece e aceita antes de fazer
piadas com ele.
Humor e Bem-estar
29 Comedy Writing
Como parte da análise e preparação, um escritor vai querer encontrar
palavras, frases, eventos, pessoas, fatos, coisas e símbolos que são
similares ou completamente opostos ao tópico ou assunto principal.
Não é muito diferente de quando fazemos palavras cruzadas.
Quando uma palavra lhe é dada, você imediatamente começa a procurar
todas as outras palavras que, possivelmente, tenham uma relação com a
definição que você acabou de ler e, de repente, sua mente lhe apresenta
uma resposta e, de preferência, a resposta certa.
“My wife watched the game on television and said, ‘These players
can’t be too old. Some of them haven’t been unwrapped yet’.”
Este método funciona tão bem com palavras quanto com visualização.
Groucho Marx era mestre em achar novos sentidos para as palavras.
30 Comedy Writing
Uma outra piadinha velha que pode servir para ilustrar o que eu estou
dizendo é:
“Você sabe me dizer quanto tempo leva para tirar leite de uma vaca
bem grande.”
Você fica, então, esperando uma reposta relacionada com tempo, tipo 5 ou
10 minutos. Mas o comediante diz:
A habilidade de visualizar.
31 Comedy Writing
Esta é uma habilidade mental que irá lhe ajudar a criar muitas piadas. Se
você analisar as suas piadas favoritas, você descobrirá que muitas são
engraçadas porque elas criam imagens ridículas.
Eu criei uma piada para Phyllis Diller, uma vez, que tinha a ver com uma
rotina cômica sobre sogras do tipo “Minha sogra é tão gorda que. . .” E era
assim:
“My mother-in-law is so large, one day she wore a gray dress and an
admiral boarded her.”
“Minha sogra é tão grande que, um dia ela usava um vestido cinza e
um almirante quis embarcar nela.”
“Minha sogra é tão grande que, um dia ela usava um vestido cinza e
um almirante embarcou nela.”
“Minha sogra é tão gorda que, quando ela veste cinza parece um navio
de guerra!”
32 Comedy Writing
estão mais na moda, etc. que possam lhe ajudar quando ele escreve suas
piadas.
Durante um show de natal perguntaram a Bob Hope o que ele fazia para se
manter tão jovem. Ele respodeu, “Eu uso uma versão industrial de Óleo
Deveras”. Criando um trocadilho para o nome Aloé Vera.
33 Comedy Writing
A comédia como um hobby.
34 Comedy Writing
Há algum tempo atrás, eu estive presente em um workshop onde o
principal palestrante foi Charles Schulz, você sabe quem é, o criador de
Charlie Brown, Snoopy e toda a turma.
Durante a palestra, Schulz mencionou que Snoopy, o beagle precoce das
tiras, era um autor frustrado.
Embora ele escrevesse seriamente e com um otimismo inigualável,
Snoopy, concordou Schulz, nunca vendeu e nem vendera qualquer um dos
seus trabalhos.
Então, uma das pessoas da platéia comentou que muitos de nós ali naquele
dia éramos iguaizinhos ao beagle escritor.
Talvez nunca chegássemos a vender nada também.
Ela, então, perguntou se Schultz gostaria de dar algum conselho para
estas pessoas.
Eu me lembro de ter me simpatizado com Schulz quando a pergunta foi
feita porque, até então, ele se referia a Snooppy como um autor frustrado
de uma maneira bem humorada, e aquela pergunta fez com que aquele
clima engraçado se tornasse pesado e bastante deprimente.
Mas Schulz não se abalou. “Eu, com certeza tenho” - ele disse.
“A recompensa esta no fazer.”
“O que foi que o Robert Redford deixou quando ele encontrou os irmão
James?” ( ….. um buraco em um.)
“O que você compra com dois dólares num bordel?” ( … uma coca e um
sorriso.)
37 Comedy Writing
Eu descobri o quanto as pessoas gostam de ser motivo de risadas quando
eu comecei a escrever comédia.
Eu já havia adquirido uma certa reputação e já trabalhava como mestre de
cerimônias em banquetes ocasionais. Nestas ocasiões eu sempre escrevia
algum material sobre o convidado ou convidada de honra.
Depois do jantar, muitos se aproximavam de mim e pediam uma copia do
texto.
O humor pode ser um bom presente para alguém. Sua própria
inteligência lhe trará um suprimento infinito de idéias inovadoras, mas
aqui estão algumas das coisas que já fiz com humor das quais eu gosto
muito.
Já escrevi quadros sobre amigos ou membros da família, criei rotinas para
chás de cozinha, aniversários e bodas, escrevi frases engraçadas para
álbuns de família, etc.
Já criei cartões personalizados, e cartoons enormes para serem
emoldurados.
Não existe fim para o que se pode fazer com comédia.
Mas, como Charles Schulz disse no inicio deste capitulo, “A recompensa
esta no fazer.”
E esta recompensa é muito maior quando você a compartilha com os
outros.
38 Comedy Writing
A comédia como uma segunda
fonte de renda.
39 Comedy Writing
Com o devido respeito, a “Recompensa esta no fazer”, o próprio Charles
Schulz é uma prova viva de que não há nada de errado em conseguir alguma
remuneração pelos seus esforços.
Fazer comédia é divertido, mas também é divertido ir às compras com os
cheques que você pode receber em troca.
O valor do dinheiro não precisa ser explicado por mim aqui, mas eu posso
lhe dizer que há uma grande alegria em ser compensado pelo seu trabalho
como escritor. Um cheque sempre te leva de volta a máquina de escrever.
É uma força a mais que lhe mantém escrevendo.
Seus amigos e conhecidos podem te achar engraçado e rir histericamente
com as coisas que você cria, mas quando você apanha alguma coisa no
supermercado que você pode pagar, você acaba tomando consciência de
que você é um escritor.
Escrever comédia pode ser uma excelente forma de ter uma segunda
renda.
Você pode trabalhar em casa, quando bem entender e você pode ser seu
próprio chefe.
Eu comecei a escrever em 1959 e levei quase dez anos para
trabalhar na televisão e realmente ganhar muito dinheiro.
Durante aqueles dez anos, eu consegui fazer dinheiro o suficiente
para justificar todo a minha dedicação em escrever.
Nesta época eu ganhava em torno de 1,500 a 10,000 dólares anuais
escrevendo gags.
Hoje, provavelmente, estes números poderiam ser dobrados ou
quadruplicados.
A coisa mais importante é que, paralelamente, eu mantive meu emprego,
durante todos estes 10 anos, sem comprometer os meus momentos de
lazer.
E não precisava gastar muito com o meu hobby de escritor.
Uma máquina de escrever, fita e papel em branco (não por muito tempo, a
gente espera), um pouco de selos, talvez uma ligação telefônica extra, não
custam tanto assim.
As oportunidades de mercado para quem escreve comédia por meio
período são ilimitadas.
Tudo depende de você. Aqui estão duas histórias que me divertem até
hoje.
Durante meus anos de aprendizado, eu escrevi varias colunas para os
jornais.
Eram 12 piadas sobre os problemas locais. Eu as escrevia de manhã,
tomando o café e me barbeando para ir trabalhar.
40 Comedy Writing
Eu ainda fico orgulhoso de mim mesmo por ganhar 10 dólares toda manhã
enquanto me barbeava.
(Hoje eu tenho uma senhora barba, o que me faz pensar que talvez eu
nunca volte a escrever para os jornais ou eu tenha ficado rico.)
Com o tempo, contudo, eu comecei a ficar um pouco frustrado com o
caminho que minha carreira como escritor estava tomando; ou, eu comecei
a ficar irritado com a falta de caminho que a minha carreira estava
tomando, não sei bem.
Mas o fato é que eu precisava fazer alguma coisa com tudo aquilo.
Eu queria fazer um curso de comédia por correspondência, mas o custo do
curso me proibia.
Dai eu entrei em contato com um comediante local e contei para ele os
meus planos e vendi para ele os direitos de todas as piadas que produzi
durante o curso.
Ele conseguiu material cômico bem barato e eu aprendi um pouco
mais sobre comédia.
O humor esta sempre em demanda em qualquer lugar.
Você deve encontrar onde ele é necessário e preencher este
vazio, talvez até mesmo dentro da sua própria comunidade.
Seguindo você vai encontrar algumas sugestões para estimular a sua
mente.
Revistas
Muitas revistas solicitam pequenas piadas para preencher as suas páginas.
A Changing Times e a Reader’s Digest são os melhores exemplos disto.
Certamente, deve haver alguma coisa do gênero no seu pais.
Meu primeiro cheque veio de uma revista de suplemento dominical e era de
$5,00, junto dele um bônus especial: na capa desta revista veio a foto do
meu ídolo Bob Hope, com uma história sobre suas piadas de golf mais
famosas. (Então,às vezes, eu gosto de me engrandecer e dizer que a
primeira vez que eu apareci numa revista eu a dividi com Bob Hope.)
Se você concentrar esforços para entrar neste mercado você deve manter
suas piadas organizadas para que você depois saiba o que mandou, para que
revista.
As revistas mais convencionais trazem ensaios engraçados em todas suas
edições, você também poderia mandar trabalho para ser avaliado por estas
revistas.
Os editores adoram pedaços genuinamente engraçados e quase nunca sabe
onde encontrá-los.
41 Comedy Writing
Cartões.
Cartunistas
Ser abençoado com habilidades artísticas não quer dizer que esta mesma
pessoa tenha sido abençoada com o talento cômico.
A maioria dos cartunistas está sempre procurando por algum material
cômico que eles possam ilustrar.
Colunas de Jornais.
42 Comedy Writing
com um exemplo do tipo de material que você escreve. Se eles se
impressionarem com a sua habilidade, eles vão te procurar e dai é com
vocês. Muitas destas personalidades trabalham tanto fora quanto dentro
das rádios e das tevês. Eles vão, na maioria das vezes, precisar de algum
material cômico nas suas aparições em público.
Oradores Profissionais
Executivos.
43 Comedy Writing
Algumas destas pessoas já tinham ouvido falar das minhas piadas,
especialmente criadas para estas ocasiões, e me contrataram como
orador. Meu trabalho era entretê-los após os jantares.
Isso fez com que outras pessoas ouvissem a meu respeito e sobre minha
habilidade cômica, e não levou muito tempo até começarem a aparecer as
primeiras ofertas para comprar meu material.
Com o tempo, a função de escritor se tornou mais lucrativa do que
a de orador e comecei a dedicar mais tempo em frente à máquina de
escrever.
Recentemente, voltei a prestar este tipo de serviço e descobri uma coisa
bastante interessante: pessoas que não pagam por um orador, pagam por
um humorista.
A razão pela qual muitas organizações não pagam por oradores é que eles
geralmente falam de graça.
44 Comedy Writing
Comediante local.
Quase toda área tem seu Sr. ou Sra. Comédia. Cidades grandes tem vários
deles disputando o título. Estas pessoas precisam de material, tanto
quanto qualquer outro comediante famoso, talvez até mais. Vender para
eles é muito bom por dois motivos.
Primeiro porque você esta sendo pago. Segundo, você tem a oportunidade
de aprender com a reação do público.
Você poder ir ver estes comediantes apresentarem as suas piadas.
É quase a mesma sensação de estar, você mesmo, lá no palco dando o seu
recado.
Você pode viajar com os comediantes locais e assistir as suas
apresentações e, ao mesmo tempo, estudar o público enquanto eles
apresentam-se.
Isto já fica mais difícil com os comediantes de âmbito nacional.
Você nem sempre tem dinheiro ou tempo para acompanha-los, então, o
único jeito de ter algum feedback é conversando com eles.
No inicio da minha carreira, eu escrevi bastante material para vários
‘comediantes de final de semana’ que moravam na minha cidade. Com um
deles eu consegui fechar um contrato semanal, com um outro eu ganhava
uma porcentagem da bilheteria quando ele se apresentava.
É possível escrever para este tipo de comediante sem sair da sua própria
cidade. Eu escrevi durante anos para Phylis Diller, antes de nos
encontrarmos pessoalmente. A maioria de nossos negócios foi fechada por
carta ou por telefone.
Muitos destes comediantes compram material de escritores freelance.
Phyllis Diller é famosa por comprar material de donas de casa espalhadas
por todo os Estados Unidos. Ela seleciona as piadas que quer e paga uma
taxa por cada gag escolhida.
Joan Rivers comprou muita rotina cômica assim. Rodney Dangerfield
também comprou muito material de escritores freelance, durante anos.
Bom, não é fácil encontrar estas pessoas, você tem que estar atento para
saber onde encontra-las e mandar seu material para elas.
Na maioria das vezes, estas pessoas são bem receptivas e, se gostarem do
que você lhes mandou, elas entrarão em contato.
Eles precisam tanto de material que não deixarão esta oportunidade
passar.
45 Comedy Writing
Televisão.
No último capítulo, mencionei como você pode usar o seu humor para
presentear as pessoas.
46 Comedy Writing
Você pode começar a receber encomendas de pessoas conhecidas para
escrever comentários bem humorados para álbuns de família, cartões
personalizados, etc. Você provavelmente já deve estar tendo suas próprias
idéias de como usar o seu hobby para levantar alguma grana. Explore-as.
Tente.
Quanto vale?
“Uma boa piada é uma série de palavras que terminam num cheque bem
gordo.”
47 Comedy Writing
A comédia como carreira.
48 Comedy Writing
Ed Simmons, um produtor e escritor de Hollywwod, era um fotografo de
bebês.
E ele conta: “Eu passava meus dias provocando risadas em crianças. Depois
de um tempo, eu comecei a enlouquecer. Fazer um único bebê sorrir não
era o suficiente. Comecei a me concentrar em gêmeos, depois trigêmeos e,
quando eu cheguei nos quádruplos, eu quase fui à falência. Quantos
quádruplos existem lá fora? Foi quando apareceu a televisão e eu entrei
nesta onda.”
A televisão não apareceu assim, do acaso, na vida de Simmons, como ele
diz. Ele realmente era um fotografo especializado em fotografar crianças
mas, na mesma época, ele e um amigo se reuniam todas as noites para
escrever paródias musicais.
O sucesso que ele alcançou com paródias o levou a escrever para alguns
comediantes, que se apresentavam em nightclubs famosos.
A televisão era uma indústria jovem, até então, e precisava de escritores
que não haviam sido corrompidos pelo formato das rádios. Alguém que
pudesse se enquadrar naquela nova linguagem que se formava. Foi aí, que
Ed e seu companheiro de escrita foram convidados por um produtor para
escrever para televisão.
Ed tem uma lista de créditos que se estende até os dias de hoje.
Entre as pessoas para quem ele escreveu esta Dean Martin e Jerry Lewis,
Danny Thomas, Edie Cantor, Martha Raye, George Gobel, Red Skelton, e o
show onde Ed foi meu chefe por cinco anos, “O Carol Burnett Show.”
O caminho de fotografo de crianças a chefe do departamento de criação e
produtor de uma das maiores emissoras de televisão pode parecer meio
bizarro, mas não é.
Todos os escritores em Hollywood tem histórias similares para contar
sobre como esta transição aconteceu nas suas vidas.
Eu era um engenheiro elétrico antes de ir parar na televisão, e lá
encontrei médicos e advogados que haviam abandonado suas profissões
para entrarem para o Show Business.
Não existe uma única estrada que leva à comédia, e nem um único ponto de
partida para chegar até ela.
Eu abri este capitulo com a história de Ed porque muitos escritores
iniciantes me perguntam sobre a praticidade de iniciar uma carreira como
humorista profissional. É possível se tornar um? É fácil? Quanto tempo
leva?
Mr. Simmons, recentemente, concedeu uma entrevista onde lhe
perguntaram, “ O senhor poderia dar aos nossos leitores alguma idéia do
quanto a televisão esta acessível aos jovens escritores hoje em dia? A
porta está aberta? Existe trabalho para jovens escritores?,” e ele
49 Comedy Writing
respondeu: “ A industria da televisão diz que não esta aberta para novos
escritores, a porta esta fechada e eles não precisam e não querem novos
escritores. Mas, ao mesmo tempo, a cada ano, uma dúzia de novos
escritores são contratados.”
Uma carreira de escritor de comédia sempre é possível, se ela é fácil ou
difícil, não podemos dizer. Contudo, é o tipo de carreira que exige muito
esforço e disciplina para que você consiga algum reconhecimento. Neste
sentido, eu não a acho fácil. Mas pode ser mais fácil se você está disposto
a aprender e continuar aprendendo, nunca parar de escrever e se
aprimorar. Se você se dedicar, não tem como você não chegar a algum
lugar. É quase impossível falhar, assim.
É quase como aprender a tocar piano. Quando eu vejo uma pessoa tocando
piano, minha mente me diz que aquilo é impossível.
É humanamente impossível ler as notas musicais rabiscadas num pedaço de
papel, dar um sentido para aquilo, traduzi-las em movimento, ter 10 dedos
se movendo em direções e ritmos diferentes e tudo, simultaneamente. E,
por vezes, ainda cantar enquanto toca. É tudo tão complicado que parece
inalcançável.
Mas, mesmo assim, qualquer pessoa que tome aulas, estude e pratique
devotadamente, pode aprender a tocar piano.
Não é um dom dado a poucos, qualquer pessoa pode tocar piano.
50 Comedy Writing
O fator Sorte.
A comédia é popular.
Houve uma vez que a maioria esmagadora adorava o estilo de Jack Benny.
Aí, veio Lenny Bruce com seu estilo inovador.
Bill Cosby ainda faz uma rotina cômica diferente e Steve Martin criou o
novo louco.
Nem todos nós podemos escrever várias formas de comédia.
Eu me lembro quando nós escrevíamos para o Show da Carol Burnett, os
escritores do “Saturday Night Live” estavam sempre dizendo que nós
éramos um bando de velhos que não conseguia entregar uma bela e fresca
comédia (apesar de termos três escritores por volta dos 25, na nossa
turma).
Era uma competição interessante porque, durante os cinco anos em que eu
trabalhei no show de Carol Burnett, nós colecionamos três Emmies,
enquanto o pessoal do Saturday conseguiu dois.
Mas, a observação deles era correta. Cada novo estilo de comédia exigi
novos escritores.
Música é, novamente, uma boa analogia.
A música muda constantemente – drasticamente em anos mais recentes.
Quando apareceu o Hard Rock, muitos músicos não aceitaram e muito
52 Comedy Writing
menos o aderiram, este novo estilo de rock trouxe consigo uma legião de
novos músicos.
O mesmo acontece com o humor. Alterações modernas no seu estilo
sempre abrem a porta para uma nova cria de escritores.
Comece a contar uma piada e, imediatamente, você vai ouvir de alguém: “Eu
já ouvi essa.”
Ninguém gosta de uma história engraçada ou piada que já tenha ouvido
mais de uma vez. Mas, ninguém faz isto com um cantor por exemplo. Se
Frank Sinatra começasse a cantar aqui e agora um dos seus grandes
sucessos, ninguém diria pra ele parar e cantar outra porque eles já
conheciam aquela.
Material cômico é usado numa velocidade alucinante. Uma vez que ele
atinge as ondas da informação, telecomunicação, sei lá, ele já era.
Na verdade, não só as piadas específicas ou datadas e velhas se perdem,
mas as piadas parecidas com as que se foram, também.
Uma vez, estava escrevendo uma sitcom e um dos personagens era um
menestrel. Acontece que, quando o texto estava pronto pra gravar,
ficamos sabendo que Archie Banker havia feito o mesmo personagem no
seu show. Da pra imaginar???
Com a necessidade enorme que é criada por todas as formas de
entrenimento, e como o humor não dá para ser aproveitado ou re-usado
brevemente ou mesmo copiado, sem perdão, novas cabeças cômicas e
férteis são sempre necessárias para ajudar a manter a bola rolando.
Como não podemos reciclar a comédia, as pessoas que precisam dela estão
sempre atrás de material novo.
53 Comedy Writing
Eles só relaxam quando sabem que haverá um bando de gags para eles na
mesa do escritório, na manhã seguinte.
Por isso, precisamos sempre de novas mentes, novas idéias, resumindo,
novos escritores.
Para comédia chegar a ser qualquer coisa ela, primeiro, precisa ser nova,
única ou ter uma cara.
Estas qualidades já estão nos escritores novos. Escritores veteranos são
extremamente competentes, mas (apesar de detestar ter que admitir) às
vezes competência não é o suficiente.
Ela deve vir combinada com um novo brilho – alguma coisa diferente, única,
alguma coisa irreverente ou corajosa.
Justiça seja feita, por vezes, este frescor e anseio do novato tem de ser
temperado com um pouco da sabedoria do veterano.
A Associação Nacional de Futebol estaria em péssima situação se
deixássemos os jogadores darem as ordens.
O know-how e a disciplina de um técnico sempre são necessários.
Mas, que time patético você colocaria em campo se nele só houvesse
técnicos com 40 ou 50 anos de idade.
Há espaço na comédia, tanto para profissionais de carteirinha, quanto para
os zelosos recém-chegados.
54 Comedy Writing
será tão distinto e notável como cada um deles. Eles todos tem uma coisa
em comum, eles começaram pequeno.
Ter como seus heróis Erma Bombeck e Woddy Allen não tem nada de
errado, mas o iniciante tem que tomar cuidado para não querer se
equiparar aos seus heróis, logo no começo. Os escritores de nome hoje
começaram com um potencial ilimitado e nenhum sucesso. E, aos poucos,
foram trocando potencial por conquistas.
Você pode começar a sua carreira bem ai onde você esta agora.
Algumas pessoas freqüentemente, me dizem que vão se mudar para
Hollywood e tentar escrever. Tudo bem, afinal, é em Hollywood onde a
maioria dos escritores para os estúdios de televisão fica rica e famosa.
Mas, eles começaram todo o processo nas suas próprias cidades.
Hollywood ou Nova York é a maior aspiração de muitos escritores
americanos, mas você, que se inicia nesta coisa, deve se concentrar em
alicerçar a sua escrita primeiro.
Chegar em Hollywood ou Nova York cedo demais pode ser fatal.
É muito melhor você ter um background extenso onde você está e ,ai,
começar a entendê-lo para Nova York ou Hollywood do que se aventurar e
chegar lá como um iniciante e começar a colecionar “NÃOS”.
Muitos futuros escritores cômicos nunca mais se refazem da primeira
rejeição.
Eu já havia escrito para Phyllis Diller, por vários meses, por carta,
telefone, etc., antes de encontra-la pela primeira vez. Ela ia fazer um
show no Cassino Latino em Cherry Hill, New Jersey.
Eu fui até o camarim dela, depois do show, e a primeira coisa que ela me
disse foi: ”Você é meu melhor escritor.”
Eu fiquei completamente lisonjeado e já ia tentar obter mais elogios:
”Então me diz por que eu não estou em Hollywood?”
E ela respondeu: “Por que você ainda não está pronto.”
Eu nunca gostei muito de ter ouvido aquilo dela, mas só consegui entender
quando eu cheguei em Hollywood.
Claro que meus primeiros anos lá coincidiam com os primeiros anos de
muitos outros escritores, e eu pude ver a diferença.
Aqueles de nós que haviam se preparado e aprendido mais, conseguiam
seguir a loucura que é escrever para televisão, com os seus deadlines mais
loucos ainda. Nós talvez não fôssemos escritores brilhantes, mas
adaptávamos nossos estilos ao que a televisão precisava naquele momento.
Recentemente, entrevistei Phyllis Diller para o meu jornal.
O meu caminho.
Eu levei exatos nove anos do dia em que resolvi me dedicar a escrever até
o momento em que me tornei um profissional.
Eu vou citar qual foi meu processo aqui, só como exemplo.
Meu processo foi mais longo ou mais curto ou talvez diferente de muitos
outros. E depois, não há como dizer se as rotas que tomei foram as mais
corretas ou mais eficientes.
Minha narrativa não deve ser tomada como uma estrada para o sucesso,
mas simplesmente, como a história de alguém e com isso talvez ter uma
idéia das coisas que você poderá encontrar pela frente.
Eu achava que tinha talento para comédia e resolvi experimentar.
Eu não conhecia ninguém e não tinha contatos, mas estava determinado a
tentar, de qualquer maneira.
Meu maior medo era de não tentar e depois, mais tarde, ficar me dizendo:
“Eu devia ter tentado.”
Eu preferia quebrar a cara a me arrepender depois.
Eu comecei a gravar todos os monólogos que o Bob Hope fazia na tevê e,
depois, eu os digitava, estudava-os e tentava reproduzir a forma e o estilo
com que as piadas eram criadas com tópicos diferentes. (Anos mais tarde
quando recebi um telefonema de Bob Hope pedindo algum material para
sua performance, durante a entrega do Oscar, eu escrevi 300 piadas, ele
56 Comedy Writing
usou 10. Quando conversamos mais tarde sobre o evento ele me disse:
"Quando eu li o material que você me mandou, eu tive a sensação de que
você havia escrito para mim toda a sua vida.” Eu respondi: “Bob, eu
escrevi, só que você não sabia.”)
As revistas pareciam ser um caminho fácil de fazer algum dinheiro, então
eu comecei a mandar pequenas piadas para preencher os espaços para eles.
Com um esforço enorme, muito selo, endereços e organização eu consegui
fazer $20 com comédia por mês.
Só como exercício, eu comprei um livro de fotos de bebês e comecei a
escrever piadas para cada uma das fotos, enquanto eu trabalhava. Os
amigos do trabalho gostavam. Não demorou muito, comecei a fazer álbuns
de família de pessoas conhecidas, álbum de bodas de ouro e prata, álbuns
de formatura, etc.
Era um grande exercício para mim e este exercício vinha com uma
vantagem, ele expunha meu trabalho, de certa forma.
Alguém conhecia um comediante e disse para ele que eu era engraçado. Ele
me ligou e pediu para que eu mandasse algum material para ele. Ele nunca
comprou uma só piada minha, mas ele fez melhor, acabou me indicando
para uma estação de televisão local que precisava de um escritor para um
apresentador de um programa diurno e um ghost-writer para uma coluna
de jornal.
Eu fiz os dois e, novamente, não vendi nada.
Contudo, um dia, um comediante passou para visitar o diretor da tal
emissora e viu meu material na escrivaninha com o meu nome, endereço e
telefone impressos no topo e me ligou para que eu escrevesse para ele. O
que me valeu um contrato de seis anos.
Nesta época, eu também ia a todos os nightclubs em Filadélfia, levando
cópias das minhas gags mais recentes aos comediantes.
Eu consegui vender alguma coisa, mas o que eu mais consegui mesmo foi
lidar com a rejeição.
Finalmente, eu contatei e impressionei Phyllis Diller. Ela me fez escrever
mais e melhor. Com o passar dos anos, ela foi fazer um show para a tevê e
me contratou para escrever os seus monólogos. Foi quando eu fui
apresentado à televisão. E, daí, um trabalho leva a outro e a outro e, assim
por diante.
Eu comecei bem pequeno, na minha cidade e fui progredindo gradualmente.
Foi divertido este caminho e uma aula inesquecível que me serviu muito
bem quando chegou a hora de ir para Hollywood.
57 Comedy Writing
A sua jornada ainda esta por vir, mas o alicerce tem de ser erguido agora.
Eu tenho grande inveja de você, porque a sua estrada poderá ser divertida
e excitante.
A Primeira Parte deste livro foi escrita para ajuda-lo ou ajuda-la a
superar o seu maior obstáculo… aquela vozinha dentro de você que diz: “Eu
não sei escrever.”. Sim você sabe e pode. Você sabe que tem senso de
humor e perseverança. Se você conseguiu chegar até aqui sem ficar de
saco cheio, você tem perseverança.
58 Comedy Writing
Criando com suas habilidades.
Se o desejo de escrever não for acompanhado
pelo ato de escrever em si, então, o desejo não é o de
escrever.
59 Comedy Writing
Escreva, leia e escute.
60 Comedy Writing
Nesta segunda parte, você tomará o controle da situação. Você vai
escrever.
Garanto que vai ser muito mais divertido do que ler sobre todas as minhas
experiências.
Contudo, você não vai correr para a máquina de escrever impune. Você vai
ter de me ouvir um pouco mais. Deixe-me desperdiçar mais um capítulo do
meu interminável falatório, antes de deixa-lo livre para libertar a sua
criatividade.
Antes de continuarmos, nós deveríamos entender melhor qual é a nossa
tarefa, daqui para frente. Este é um curso, certo?
Mas esta apostila não deve ser tomada como a única, e definitiva bíblia
sobre comédia.
Ela contém sugestões para você iniciar a escrever comédia e algumas dicas
para aperfeiçoar a sua técnica e habilidade, mas a genialidade deve vir de
você.
A comédia é uma arte tão subjetiva que ninguém pode, ou deveria ter
todas as respostas. Se alguém tivesse todas as respostas sobre a
comédia, com certeza, ela não existiria mais.
Antes de ser qualquer coisa, o humor tem de ser novo, estar em constante
mudança, deve ser inovador e inventivo.
Para a sua comédia ter brilho ela deve ter você dentro dela.
Um cartaz no escritório dos produtores do show de Carol Burnett diz:
”Existem poucas pessoas capazes de julgar uma boa comédia, e eles
discordam entre si.”
Um dia, nós tivemos uma discussão séria a respeito daquele cartaz.
Alguns dos escritores queriam mudar os seus dizeres.
Alguns queriam que ele dissesse: “E nós sempre discordamos.”
Dá para ter uma boa idéia de como a comédia é subjetiva.
Espero que este material ajude a cada um de vocês. Contudo, gostaria que
você não permitisse que nenhuma coisa citada nele fizesse a sua
criatividade ou sua loucura endurecer.
Você não vai encontrar todas as respostas neste material, o que você vai
encontrar aqui são coisas que aprendi com os anos de profissão. Coisas
que aprendi e ouvi de outros escritores cômicos.
As sugestões e dicas aqui vão lhe ajudar a escrever comédia e aprender
sozinho.
Este livro é como tecer um suéter, até você começar a dar os primeiros
pontos, seu talento não aparece.
61 Comedy Writing
Ou melhor . . . este material é uma bomba. Eu lhe dou a faísca que fará a
bomba explodir. E ela explodirá quando você começar a criar sua própria
comédia.
As lições e os exercícios nestas paginas são básicos. Eu queria que este
material fosse um material que progredisse passo a passo.
Que qualquer aluno, quer seja ele totalmente iniciante ou com certo
conhecimento de comédia ou não, pudesse estudá-lo e fazer humor com o
potencial de um profissional.
Ao mesmo tempo, servindo como um curso de recapitulação (reciclagem?)
para aqueles humoristas mais experientes. Às vezes, a gente fica meio
relapso.
Uma boa porcentagem destas páginas será dedicada a escrita de piadas,
gags, ou monólogos.
Isto é, porque eu sinto que a comédia é baseada em piadas, e piadas são os
blocos de construção do humor. Se você elaborou alguma vez uma lista dos
melhores escritores de comédia para a tevê americana você verá que,
muitos deles, já escreveram gags.
Norman Lear começou fazendo paródias de musicas para comediantes que
se apresentavam em nightclubs até começar a escrever rotinas cômicas
para eles.
Os filmes bizarros de Wood Allen vieram da sua experiência em escrever
gags e apresenta-las em stand-ups, na noite.
Eu não estou dizendo que stand-up e gags são as melhores formas de
comédia. Contudo, não posso negar que este tipo de comédia é um grande
aprendizado para todas as outras formas.
Se imagine comprando uma sainha, uma raquete de tênis e bolas e chegar
para o seu treinador e dizer: “Eu quero ser uma jogadora de tênis de
ataque,” e o treinador diria, “Sim. Muito bem, mas antes vamos começar
com alguns exercícios gerais.”
Você não conseguirá formular nenhuma estratégia de jogo, a menos que
você conheça o básico. Durante este processo, você descobrirá suas
fraquezas e forças (potencialidades) - e suas preferências. E daí, você
poderá planejar o seu esquema de jogo.
Este manual só poderá ser o seu terceiro melhor professor de comédia.
Os dois primeiros serão a função de escrever comédia e a prática.
Lillian Hellman, uma vez, fez um comentário que pode ser usado aqui.
62 Comedy Writing
Ela disse: “Se eu tivesse que dar qualquer conselho para quem esta
começando eu diria – Nunca escute os escritores falando de como se deve
escrever.”
Uma vez escrevemos um quadro para o Carol Bunett Show em que
brincávamos com a série “Kung Fu,” na qual Harvey Korman fazia o papel do
sábio mestre. Ele daria longas, cansativas e, por vezes, incompreensíveis
explicações para seu discípulo e, no final de cada uma delas, ele diria: ”Mas
bem, é claro que se trata só de uma teoria.”
É isto que você deve ter em mente quando você ouve os escritores falando
de como se escreve: “É tudo teoria.”.
O único aprendizado que você pode realmente ter é escrevendo na prática
e observando a resposta do publico para aquilo que você escreve.
Algumas pessoas, às vezes, se intimidam ao sentar na frente de uma folha
em branco.
“Eu deveria tentar escrever, mesmo se não me sinto pronto?”
Sim, porque é assim que a gente se sente pronto.
Quantas pessoas estariam jogando golf hoje se elas não tivessem pegado
num taco?
O meu conselho para você, iniciante, é o seguinte: siga uma cota rígida de
piadas que você deve escrever diariamente, e não desanime. Não há
nenhuma necessidade de criar uma cota super puxada, se você for muito
afoito você pode acabar sendo desumano com você mesmo. Vá devagar.
Comece com alguma coisa tipo três piadas por dia, ou dez piadas por
semana, mas se mantenha fiel.
Depois, com o tempo, você vai, sem querer, aumentar a sua cota.
Você só terá a ganhar se você criar um programa próprio e segui-lo
constantemente e religiosamente.
Você lembra do nosso tenista iniciante que jogava tênis por uma hora,
todos os dias? No final do ano, ele não terá se tornado um Guga, ou um
jogador de torneios internacionais, e nem tão pouco um jogador de um
clube, mas ele estará rebatendo a boa com maior eficácia.
Mesmo que ele ainda cometa erros, ele terá desenvolvido uma
autoconfiança maior, o que irá ajudá-lo a corrigir seus erros.
Eu já joguei com pessoas que fazem praticamente tudo errado, exceto
perder.
Você tem de procurar se aprimorar com a repetição.
63 Comedy Writing
Obviamente, o curso para a otimização é uma combinação de estudo e
prática. Com esta mistura, você com certeza tem grandes chances de se
aperfeiçoar.
Contudo, estudo e treinamento, sem prática, não vale de nada.
Adquirindo Confiança.
Se você já escreveu alguma vez isto é prova o suficiente de que você pode
escrever novamente.
Cada vez que você fizer um exercício ou tarefa, você encontrará duas ou
três coisas que lhe darão muito prazer.
Você, talvez, não fique 100% feliz com o resultado, mas você, com
certeza, encontrará alguma coisa lá que lhe deixará excitado e surpreso.
Voltando ao meu esporte favorito, o tênis ira me ajudar a lhe explicar
melhor. Eu já joguei com pessoas que não estavam indo muito bem naquele
dia em particular, mas quando eles conseguiam uma boa jogada, diziam a si
mesmos: “Esta jogada valeu pelo jogo todo.” São estes momentos pequenos
e maravilhosos que fazem com que você acredite no que você faz.
Assim que você começar a escrever, você se deparará com tarefas e ou
exercícios que você pode achar, a principio, impossíveis de serem
alcançados. Mas, mesmo assim, você deve persistir e completá-las. Assim,
da próxima vez que você se deparar com alguma tarefa que você possa
achar impossível, esta tarefa ou exercício não lhe parecerá tão
ameaçadora como da primeira vez, porque você já passou por esta
sensação antes e chegou até o fim.
Muitas vezes, me pediram para escrever sobre coisas as quais eu não
achava a menor graça, ou com um tempo muito curto para prepará-las.
Mas, porque eu já havia me deparado com este tipo de adversidade antes –
e consegui superá-la – eu sento na máquina e faço meu trabalho.
64 Comedy Writing
Eu mantenho este cartaz no meu escritório para eu poder me lembrar
sempre de que há um longo caminho a ser percorrido entre uma idéia e sua
execução.
É facil dizer, ”Eu quero escrever a maior música da minha vida.”
O difícil é transmiti-la para o papel.
Todo os escritores descobrem as suas inadequações bem cedo em suas
carreiras.
William Sarayon disse uma vez: “Você escreve uma peça de sucesso da
mesma forma que você escreve um fracasso.”
Talvez Robert Benchley tenha se expressado melhor quando ele disse, “Eu
levei quinze anos para descobrir que eu não tinha nenhum talento para
escrever, mas eu não conseguia desistir por que eu já tinha ficado famoso
demais como escritor.”
Haverá estilos aos quais você se sentirá mais adequado e outros em que
você terá mais trabalho durante sua execução.
Alguns dos seus trabalhos serão considerados excelentes; outros
simplesmente, adequados. Mas, você só saberá qual é qual escrevendo.
Você também ira descobrir qual dos estilos ou tipos você prefere e quais
você abomina. Você tomará consciência das suas habilidades e quais delas
você precisa praticar mais para melhorar.
66 Comedy Writing
O publico será sempre o mestre da comédia, mas você pode se tornar
expert em saber o que eles gostam e querem.
Formas de Piadas.
Novos tópicos.
67 Comedy Writing
Por exemplo, enquanto o então presidente do momento, Ronald Reagan,
estava no hospital se recuperando da uma tentativa de assassinato,
pediram para que a gente escrevesse alguma coisa a este respeito. Não é
necessário dizer que era um tópico um tanto quanto delicado, você não
quer criar alguma coisa que possa ser
interpretada como uma piada de mau gosto. Então, a primeira pergunta é
“Como eu posso escrever sobre isso?” “Que tipo de abordagem eu devo
dar?”
Alguns sugeriram escrever sobre o desconforto que o presidente poderia
estar tendo, internado em um hospital.
Alguns sugeriram fazer piadas sobre as coisas que Ronald Reagan havia
dito enquanto ele estava hospitalizado.
Ronald Reagan não tem feito nada no hospital, além de contar piadas.
A teoria é de que a bala deve ter atravessado Steve Martin antes de
atingi-lo.
Estilos diferentes.
Inspiração.
69 Comedy Writing
Assistir aos jogos me dava vontade de jogar. Assim, quando você lê ou vê
comédia de boa qualidade, o mesmo pode acontecer, você pode ficar
inspirado em fazer o mesmo.
Estes grandes comediantes com quem a gente se deleita podem
acrescentar alguma coisa ao seu trabalho. Eles lhe instigam a trabalhar
mais e melhor.
Um dos escritores que escreve para o Bob Hope me confessou, um dia, que
quando ele está com bloqueio, ele assiste a algumas fitas antigas do Bob
Hope, por algum tempo. Daí, ele diz que, quando ele volta para a máquina,
ele sente um novo vigor em escrever.
Agora, como eu havia prometido no inicio deste capitulo, nós vamos
começar a escrever.
Pegue papel, lápis e vamos em frente.
70 Comedy Writing
Exercisios.
71 Comedy Writing
No capitulo três discutimos várias habilidades da escrita cômica.
Muitas delas estavam envolvidas na preparação do seu trabalho.
Quando chegamos na hora de realmente escrever, três habilidades são as
mais importantes.
Reconhecimento
Visualização e o imaginário
Facilidade com as palavras
Relações e ironia.
Como já sabemos, a maioria das piadas é formada por uma relação entre
duas idéias. É a combinação destas duas idéias que geram humor. Algumas
idéias são bem similares, algumas são bem diferentes.
Algumas parecem ser diferentes, mas são, na verdade, a mesma e vice
versa. O humorista habilidoso irá descobrir este relacionamento, esta
combinação de idéias.
A visualização e o imaginário.
A maioria das piadas são pequenas fotos. Isto é, com as palavras criamos
uma imagem na cabeça de quem nos ouve. O ridículo, ou, o exagero
distorce a verdade e cria humor.
Eu já trabalhei com vários clientes que não gostam de trabalhar com
piadas que dependam exclusivamente do jogo de palavras. Eles as
consideram menos engraçadas porque este tipo de piada não cria uma
imagem na mente do publico, por isso, na maioria das vezes, não são piadas
hilárias – elas podem ser inteligentes mas não são engraçadas. O humor é
muito subjetivo. Algumas pessoas adoram uma piada ou história e outras,
simplesmente, podem detesta-las porque a imagem criada varia de pessoa
para pessoa. A piada para quem a escuta não é uma coleção de palavras
juntas mas, sim, a cena que é formada na mente dela. Um uso adequado de
palavras ira criar uma imagem forte, mas é a imagem e ela unicamente, que
ira carregar o humor.
Escritores para a tevê, freqüentemente, discutem a relação tevê versus
rádio. Programas de rádio costumam rodar por anos e anos,
comparado com os programas de tevê, que geralmente duram cinco ou seis
anos, dependendo da sua popularidade. Uma das teorias para este
fenômeno é que o radio esta constantemente se adaptando ao gosto do
ouvinte. Os programas, na sua grande maioria, não mudaram, quem mudou
foi o ouvinte.
Não há cenários, não há rostos. Tudo existe somente na mente do ouvinte.
Cada pessoa cria uma imagem para aquela voz na sua mente. Se o ouvinte
73 Comedy Writing
muda de preferência, ele também muda a imagem que ele cria. Com a
televisão não se pode fazer isso.
A mente pode ser extremamente elástica, o que é uma coisa bastante
positiva para o humorista. Nossa mente aceita facilmente o exagero, a
distorção e o impossível.
Tente se lembrar de algum sonho que você já teve, no seu sonho você vaga
por lugares sem o menor problema. Pessoas mudam, repentinamente, na
sua frente e se tornam outras pessoas ou coisas.
A situação pode beirar ou chegar ao bizarro, mesmo assim, durante o seu
sonho, o seu intelecto aceita o que esta ocorrendo sem questioná-lo.
Muitas vezes, quando eu, ou outros escritores, escrevemos esquetes nós
pedimos para o comediante fazer algum movimento estranho. Mas, quando
chegamos para o ensaio, vemos que os movimentos pedidos são fisicamente
impossíveis de serem feitos – por exemplo: um homem de um braço só ter
que sacar a sua espada, enquanto segura o seu adversário pelo pescoço.
Bem, resta saber com o que ele deverá sacar da sua espada.
Ainda assim, na mente do escritor, este tipo de movimento é
perfeitamente viável. Os humoristas devem usar esta flexibilidade da
mente a seu favor e não contra ele.
Abaixo, você verá algumas linhas que eu criei para uma rotina sobre a
sogra fictícia de Phyllis Diller.
Durante a atuação, Phyllis costuma chamá-la de Moby Dick.
Uma vez ele veio nos visitar e eu não queria que ela ficasse
74 Comedy Writing
conosco em casa.
Eu fiz uma reserva num hotel pra ela.
Quartos 13, 14 e 15.
Os humoristas usam esta técnica quando levam o seu público a pensar que
a piada toma uma direção, mas ele a leva a uma outra, surpreendendo
totalmente as pessoas e, assim, fazendo-as rir.
A comédia depende do inesperado. Se lembre, que ninguém gosta de ouvir
uma piada que ele ou ela já conhece.
75 Comedy Writing
Eu já vi piadas esquematizadas desta maneira.
Sua mente toma uma direção, mas a conclusão te leva a uma nova direção,
completamente oposta.
76 Comedy Writing
Facilidade com as palavras.
Grande parte das piadas é formada por palavras; elas são o meio do qual
utilizamos para transportar as nossas idéias.
A gestos engraçados e expressão facial também ajudam numa piada,
contudo, a maioria das piadas são transferidas aos outros pelas palavras.
As palavras contêm um jogo próprio. Norm Crosby constrói performances
hilárias somente com o mau uso das palavras. Um dos exemplos de que eu
mais gosto foi empregado num dia em que eu e um amigo jogávamos tênis
contra uma outra dupla, que estava acabando com a gente. Ele se vira para
mim e diz:
‘Bom , acho que nós os botamos bem onde eles queriam que estivéssemos.’
Samuel Goldwyn, da Goldwyn Mayer, era mestre em construir este tipo de
frases.
Eu acho que todos nós sabemos o que ele quis dizer com: “Um contrato
oral não vale nem o papel onde ele esta escrito.”
Piadas baseadas em trocadilho, ou jogo de palavras, caíram em desuso por
acharem que elas são a forma mais baixa de se fazer humor. Mas não é
verdade, algumas delas podem ser bem engraçadas.
Eu sei que eu já disse que não as acho engraçadas e você não precisa
começar a voltar as páginas para saber onde foi que eu disse. Foi quando
falávamos de visualização e o imaginário.
O que eu disse, então, e sustento, é que piadas que dependem tão somente
de jogo de palavras não são engraçadas porque não criam uma imagem. Mas
nem sempre é assim.
Bob Hope, uma vez, fez uma piada com jogo de palavras que é um exemplo
disso.
Era época de natal e, em todos os Jornais, havia sido publicada uma noticia
em que Ronald Reagan mostrava seu descontentamento com o seu, então,
secretário das finanças, Mr. David Stockman (que eu tomo a liberdade de
traduzir por Sr. David Meiasdehomem). Que era assim: “Ronald Reagan já
está pronto para o natal. Suas Meiasdehomem estão penduradas na lareira
com muito carinho.” O jogo de palavras também o leva a criar a imagem do
sr. Stockman pendurado na lareira do presidente e, é justamente aí que
está a graça.
Wood Allen também é mestre neste tipo de piada.
Ele tem uma que não só é um clássico, mas também lhe valeu um processo
judicial.
Havia sido publicada uma história de que uma das suas ex-esposas havia
sido molestada.
77 Comedy Writing
Allen disse: “Ela diz que foi violada. Conhecendo minha ex-mulher acho que
ela deve ter irritado o moço do violão.”
Tente. Pense numa ou duas palavras e quase imediatamente você poderá
encontrar um outro significado para elas.
Tome uma palavra comum como “casa”. Quando você a lê você
automaticamente visualiza o seu significado. Mas será?
Qual dos significados eu pretendia dar a palavra?
uma moradia
um bordel
um teatro cheio
Exercício 1
78 Comedy Writing
Segundo passo: Datilografe ou imprima estas piadas num pedaço de papel
e as analise. Coloque perto de cada uma o que você acha que faz com que
elas sejam engraçadas e que forma elas usam.
Elas são piadas de palavras, ou elas te fazem rir por que criam uma
imagem engraçada na sua memória? Ou ambos? Você não precisa ser
técnico, tudo o que você tem a fazer é dizer porquê você gosta de cada
uma delas.
Exercício 2
Primeiro passo: Faça uma lista de 10 adjetivos que você acredita que
possam servir para escrever comédia. Estes adjetivos deveriam ser
palavras simples e usuais.
79 Comedy Writing
Este exercício é uma forma de praticar ou descobrir a relação entre
palavras e fatos. Ele lhe ajudará a achar palavras ou frases que possam
substituir outras palavras, ou frases menos óbvias.
Algumas piadas, ou são muito óbvias, ou muito diretas. Estas gags podem
ser melhoradas com o uso de outras palavras ou frases que carregam um
significado implícito.
Talvez, fosse uma boa idéia você dar uma olhadinha na sua lista de 50
piadas agora de novo e ver quantas piadas na sua lista empregam este
recurso.
Você se lembra das piadas da Phyllis Diller sobre sua sogra, Moby Dick?
Ela é uma mulher tão grande que, quando ela está de branco a gente
pode ver filmes nela.
Neste caso, uma idéia relativa cria a piada, o significado das palavras esta
implícito. Esta piada ficaria menos engraçada se houvéssemos
dito que a sogra se parece com uma tela de cinema.
Muitas vezes, podemos recorrer ao simbolismo para substituir
completamente o significado de uma frase ou palavra.
80 Comedy Writing
Exercício 3
Primeiro passo: Junte pelo menos 30 fotos com cenas não muito
corriqueiras. Elas podem ser fotos de bebês interessantes,
filmes, fotos estranhas como naquelas revistas de fotografia, ou
qualquer outra fonte que você ache aproveitável. As fotos não
podem ser comuns, então, eu não recomendaria fotos do seu
álbum de família, a menos que você tenha uma família mais
estranha que a minha.
Exercício 4
Segundo Passo: Crie suas próprias frases para cada um dos balões. Não
se limite a uma frase para cada um deles, crie várias.
81 Comedy Writing
Este exercício é bastante parecido com o exercício 3, exceto que neste
caso, você não pode fugir da ação que está no desenho.
Não importa o quanto o cartoon seja bom, não existe nenhuma garantia de
que as frases que foram dadas sejam as únicas, ou as melhores. Você pode
parafrasear as frases originais, melhorando o uso das palavras ou até
mesmo criar um novo ângulo para uma piada. As suas frases podem até
não ter nada em comum com as originais. Não se limite. Este exercício lhe
ensinará uma lição valiosa, a de não desistir. A tira foi criada, comprada e
impressa no jornal ou revista, a tendência é acreditar que elas não podem
ser melhoradas. Continue tentando. Você poderá se surpreender.
O importante é resistir a tentação de se render.
Muitas vezes nos deparamos com tópicos em que não vemos a menor graça.
Mas, se você persistir, você acabará encontrando.
Exercisio 5
Você pode escolher fotos, recortes de jornal, ou, até mesmo, desenhar
seus personagens, se você assim quiser.
Por exemplo, digamos que eu tenha escolhido uma foto com dois pretzels
nela. Um deles, com mostarda espalhada por cima e, o outro, sem nada.
Você poderia dizer: ‘Você é uma garota legal Maple. O único problema é a
sua maquiagem.’
Outro exemplo: Colei duas frutas juntas. Um pêssego perto de uma
ameixa. A ameixa poderia dizer ao pêssego: ‘Eu não me importo que já
estamos super atrasados, mas você não vai sair de casa sem se barbear
antes.’
Em um outro exemplo, poderia usar coisas relacionadas ao ato de fumar e
seus acessórios. Digamos que tenho sete cigarros em fila, um deles é uma
bituca amassada. Você poderia escrever:
‘Okay, qual de vocês passou dos limites ontem á noite?’
Em outro exemplo, eu usei formas geométricas.
82 Comedy Writing
‘Tubo bem, Orville. Os convidados já se foram. Pode parar de fingir que é
um abajur.’
Este exercício é parecido com os anteriores. A diferença é que você
começa do nada. A princípio, parece ser um exercício difícil mas, se você
se por a faze-lo e aceitar e procurar outras pessoas para ajuda-lo, você
descobrirá que não é tão difícil assim.
Comece, eu te garanto que é mais divertido do que parece.
Exercisio 6
Terceiro passo: Trate cada um dos seus tópicos e comentários como uma
preparação para a uma “punchline” (um desfecho). Crie frases para cada
situação.Você não precisa, necessariamente, criar uma única punchline (um
único desfecho) para cada tópico, não se limite. No final, você terá uma
série de piadas.
Exemplo: “O preço dos selos está 20 centavos mais caro a partir de hoje.
Eu só tenho uma saída. Vou criar uma corrente para mandar meus cartões
de natal este ano.”
83 Comedy Writing
“As agências do correio explicaram que o custo adicional era para
melhorar a eficiência dos nossos correios. Bobagem. A melhor maneira de
aumentar a eficiência dos correios é enviar aos carteiros os seus
cheques.”
Este exercício lhe irá ajudar a analisar e criar piadas para os seus tópicos.
Também lhe ajudará a ver como algumas piadas são formadas.
Exercício 7
Primeiro passo: Faça uma lista que contenha 50 substantivos. Você pode
extrapolar por que estes substantivos lhe servirão para criar piadas
gráficas. Você vai querer escolher os substantivos mais engraçados que
você possa pensar.
Segundo passo: Divida a sua lista em dois grupos. A primeira deve conter
20 substantivos e a outra 30.
Exemplo:
1. Bolo de frutas
2. Caminhão de lixo
3. Purificador de ar
4. Bode, etc.
Este é um exercício difícil, que lhe ensinará que escrever comédia nem
sempre é moleza. Mais importante que isso, este exercício lhe mostrará
que uma piada é feita com duas idéias separadas, e a combinação destas
idéias é que criará a graça.
Este exercício exigirá uma concentração maior da sua parte.
Mais tarde você verá que este exercício lhe foi crucial quando você
estiver escrevendo monólogos. Quando escrevemos monólogos, temos de
encontrar uma frase para mudar de um tópico ou sub tópico para outro. E
este elemento de junção será muito mais interessante se for uma piada.
84 Comedy Writing
O valor dos monólogos.
85 Comedy Writing
No capitulo 7 discutimos a piada como sendo o bloco principal na
construção do humor, assim como o tijolo é o da construção.
Contudo, ninguém consegue viver em um tijolo. Um tijolo tem que se unir a
outros tantos para criar uma estrutura. A mesma verdade se aplica à
comédia.
Piadas têm que se unir com continuidade e estrutura na criação de um
trabalho humorístico. E a isto chamamos de monólogos.
Tijolos ou pedras sozinhos não constroem catedrais – mas tente construir
uma sem eles. Mesmo os melhores tijolos não nos atraem se estiverem,
simplesmente, empilhados em um terreno baldio, mas se estiverem
organizados elegantemente na forma de uma estrutura nos parecerão mais
belos. Da mesma maneira, gags bem escritas, magistralmente fundidas em
uma rotina cômica, geram mais risos.
Certamente, piadas soltas de uma linha, tem o seu lugar.
Já falamos das revistas, cartões de aniversário, natal, etc.
No próximo capítulo, escreveremos algumas piadas, mas eu sugiro que você
as escreva dentro de um monólogo, ao invés de escrever piadas isoladas.
Deixe-nos pensar porque será mais vantajoso para você escrever
monólogos. Você deveria estar criando um portfólio (repertório) com o seu
trabalho. A oportunidade pode bater à sua porta a qualquer momento e ela
não vai ficar esperando você produzir material suficiente para seduzi-la
enquanto ela espera.
Eu já trabalhei com muitos escritores novatos, como já mencionei antes,
meu primeiro conselho é o de escrever uma cota diária, ou semanal de
piadas. Contudo, eu sei que muitos poucos seguem este meu conselho.
Quando eu recebo alguma ligação de algum produtor procurando por novos
escritores, eu não consigo encontrar um só que eu possa indicar - eu ainda
não os vi produzirem material suficiente para provarem o seu talento e
eles quase nunca tem material algum para mostrarem aos produtores.
É por isso que um portifólio é de suma importância: você tem de ter
alguma coisa palpável para mostrar para eles. Porém, quando você estiver
formando seu portifolio, leve em consideração que monólogos têm um valor
maior, não importando o quanto as suas piadas isoladas são boas.
Eu, sinceramente, não consigo ler um bando de piadas isoladas de uma só
vez. E não acredito que alguém consiga ler um livro de capa a capa cheio
delas. Piadas isoladas cansam o leitor.
Piadas isoladas também sofrem, quando comparadas a outras piadas suas.
As melhores fazem com que o resto pareça ruim.
Voltemos a analogia do bloco de construção. Ninguém olha uma estrutura
completamente construída e critica um tijolo em particular. Nossos olhos
86 Comedy Writing
vêem a construção acabada e só, então, passamos a julgar os seus
componentes em relação ao todo.
1- Eu adoro trabalhar com comédia por que é uma das poucas coisas que
consigo fazer melhor que a minha mulher.
2- É verdade. É horrível estar casado com alguém que é inteligente,
criativa e com tantas habilidades, mas ela tem seus defeitos também.
Como naquela vez que em que ela foi para o hospital para ter nosso
quarto filho e eu fiquei em casa cuidando dos outros três. Ela sabia
que ia ficar ausente por seis dias e deixou pratos limpos só para cinco
dias.
3- A casa estava um desastre aéreo e ela ia ficar muito chateada quando
chegasse, por isso eu tive uma idéia brilhante para amenizar as coisas.
Eu pedi para as crianças fazerem um cartaz enorme e escreverem:
“Bem vinda, Mamãe.” E penduramos o cartaz onde costumava ser a
sala de jantar.
4- Mas minha mulher está sempre me dizendo o quanto eu só atrapalho.
Às vezes a gente está se arrumando para sair, eu ofereço minha
ajuda para vestir as crianças e ela me diz: “Não estou com muita
pressa para você ajudar.”
5- Portanto, no dia que ela estava para chegar, eu revolvi tomar aquela
tarefa como um desafio. Eu disse para a minha filha mais nova que eu
ia dar banho e vesti-la com uma rapidez que ela nunca havia visto. Eu
levei ela para o banheiro e disse a ela que tudo ia ser como em um
jogo. Quando eu lhe desse o sinal, ela deveria levantar os dois braços,
então eu tiraria a roupa dela e a colocaria na banheira. Enchi a
banheira, testei para ver se estava no ponto e disse, ‘Okay”. Ela
colocou os braços para cima, e eu arranquei em um único puxão, o seu
vestido, e as calcinhas dela, peguei ela no colo e coloquei na banheira.
E disse, com orgulho, da minha proeza. E aí querida, a mamãe já tinha
88 Comedy Writing
feito isso tão rápido assim? Ela me respondeu: “Não, mas a mamãe
tira os sapatos e meias primeiro.”
6- Eu não passei por um completo idiota, como tive que comprar sapatos
novos para ela.
Eu gosto desta construção mas, contudo, eu ainda acho que eu poderia ter
criado um set up melhor e com piadas mais simples.
Porque, assim, a minha grande piada teria sido bem mais simples e concisa.
Um monólogo é feito de forma a ser lido ou ouvido no seu todo. Ele precisa
ser interessante o suficiente para manter o público cativado. Portanto,
você deve incorporar um justo número de variedades em cada parte.
Embora as piadas de uma tenham (são) essencialmente a mesma forma,
você ainda assim deve inventar maneiras diferentes de usá-la.
Por exemplo: ”Meu cunhado e tão preguiçoso que….”
Talvez você consiga escrever umas 15 variações para esta piada, mas você
não conseguirá criar uma rotina onde todas as piadas comecem com “meu
cunhado é tão preguiçoso que….”
Você pode inventar outras do tipo:
92 Comedy Writing
Se preparando para
escrever.
93 Comedy Writing
Eu já li uma vez que pesadelos frustrantes são bem comuns na minha
profissão. Pilotos de aeronaves já me confessaram que eles
freqüentemente sonham com a decolagem. Minutos depois de decolarem,
eles já se deparam com milhões de obstáculos como, por exemplo, fios de
alta tensão e prédios residenciais, pontes, etc.
Quando eu me comprometi a me tornar um escritor profissional, eu
costumava ter um mesmo sonho quase que todas às noites.
Eu sonhava que estava em um evento importante e era chamado ao palco
para entreter a multidão. Eu andava até o microfone sob os aplausos,
sentido uma fagulha de excitação crescendo dentro de mim. E, logo que a
platéia terminava os aplausos e eu me encontrava no centro do palco, eu
não sabia o que dizer. Eu não conseguia pensar em nenhuma piada, rima, ou
charada …nem mesmo uma simples canção que eu pudesse cantar. Tudo o
que eu podia fazer é ficar lá, de pé, mudo e desejar que alguma mágica
pudesse acontecer e fazer com que eu desaparecesse dali.
A preparação é essencial para se escrever comédia. Alguns comediantes
são mestres na improvisação, mas eles não se apóiam na improvisação o
tempo todo, eles têm um material que lhes serve de suporte. Eu gostaria
de viajar com você no processo de escrever uma piada do início ao fim.
Naturalmente, a descrição de um pensamento leva mais tempo do que o ato
de pensar.
Seja paciente. É como se lêssemos as instruções de um novo jogo:
As regras parecem complicadas e leva um tempo para entendê-las.
Mas, uma vez que damos inicio ao jogo, as regras ficam mais fáceis, óbvias
e claras. A mesma coisa acontece quando escrevemos.
Voe comigo algumas vezes nesta jornada e logo, logo, você estará pilotando
a aeronave sozinho e muito mais rápido. Gostaria de relembra-los de que
há dois processos de pensamento quando escrevemos uma gag. Um é quase
instantâneo. Idéias e pensamentos rolam pela nossa mente como se
fossemos um computador.
O outro é mais tedioso e estudado. Digamos que é um sistema de pesquisa
acirrado. Eu devo admitir que este processo é lento e monótono, por
vezes, o que faz com que alguns escritores queiram partir direto para a
escrita. Nós já dissemos aqui e volto a dizer, que muitos novatos se
cansam e desistem de passar pelo processo de preparação dos tópicos e
das suas piadas. Eu recomendo que você seja mais assíduo na preparação
do seu trabalho, pelo menos no início. Escreva todas as suas idéias antes,
não elimine este processo. Com o tempo, você poderá até abolir eu reduzir
alguns passos na sua preparação e passar a faze-las mentalmente. Você irá
aprender a trabalhar mais rapidamente – executar algumas das suas
rotinas mentalmente e rapidamente – e conseguirá chegar as suas piadas
94 Comedy Writing
em menos tempo. Mas, no começo, eu não acredito que isto seja viável. Até
hoje, quando meus deadlines (prazos de entrega) permitem, eu costumo
preparar o material para os meus monólogos antes de, verdadeiramente,
escreve-los. Com isso, eu sempre melhoro a quantidade e a qualidade do
meu trabalho. Vic Braden, uma autoridade no tênis, me disse que, quando
criança, ele costumava imaginar-se jogando a Copa Davis de Tênis, cercado
pelos melhores técnicos, que lhe transmitiam informações cruciais sobre
suas jogadas, lhe passando recomendações valiosíssimas quando ao seu
plano de jogo. Ele costumava assistir a todos os campeonatos e sempre,
quando o técnico se aproximava de seu jogador para dizer alguma coisa,
ele imaginava que tipo de segredos ele, o jogador, poderia estar
recebendo naquele momento. “Dobre os joelhos.”, Mantenha a cabeça
baixa.’’ Mas o único segredo a ser passado para eles era “Esteja bem
preparado e mantenha os fundamentos do jogo em prática.”
Chega dos meus sermões. Você esta pronto para começar a trabalhar.
Você já está com o lápis apontado, ou tem uma máquina de escrever,
computador, ou laptop por perto.
Então, voltemos ao meu pesadelo. Era um pesadelo porque eu não tinha
nada a dizer. Seu primeiro passo, antes de começarmos, é achar alguma
coisa a respeito da qual você quer escrever.
Escolha um tópico.
Você deve escolher um assunto, algum assunto que lhe ajude a mostrar
toda a sua esperteza e espirituosidade. Qual?
Este assunto pode ser qualquer um: acontecimentos corriqueiros e atuais,
vida em família, ironias sociais, algo fantástico, qualquer coisa. Você,
simplesmente, precisa de alguma coisa para botar naquela página em
branco. Onde você consegue este tópico? De qualquer e de todos os
lugares possíveis, imaginados ou nunca imaginados. Você pode ter lido algo
irônico no jornal de hoje. Folheie as revistas à caça de algo que possa
interessar o seu humor. Você pode estar passando por um momento ou
acontecimento que você gostaria de satirizar. Ouça a conversa dos outros.
Se você tem alguém pagando pelas piadas, geralmente, ele ou ela escolhe o
assunto, mas isto é bom porque você estará recebendo um cheque pelo seu
trabalho. Mas, se você está livre para escolher os seus próprios assuntos,
seja bonzinho consigo mesmo e escolha algo que possa facilitar o seu
trabalho.
Tenho certeza que você tem um assunto que lhe inspira. Eu, geralmente,
gosto de escrever sobre coisas que me irritam. Uma vez eu estava
dirigindo meu carro e, ao mesmo tempo, sonhando com tópicos para
95 Comedy Writing
escrever. O meu modo de dirigir deve, com certeza, ter irritado o
motorista que estava logo atrás de mim.
Ele buzinava a cada 30 segundos. Aquilo começou a me irritar bastante e,
por isso, eu escrevi um monólogo inteiro sobre isto.
Escrever comédia também pode ser terapêutico.
Deste ponto em diante, estaremos trabalhando, passo a passo, na
construção do seu próprio monólogo. Neste exato momento, seria
prudente que você não fosse tão ambicioso.
Escolha um assunto sobre o qual você tem certeza que possa ser
engraçado.
Associação livre.
Agora que você já escolheu o seu tópico, permita que sua mente considere
toda e qualquer coisa que você possa relacionar ao seu assunto. Não tente
ser engraçado neste momento. Você está, simplesmente, se suprindo de
informações para poder compor seu texto. Você também não deveria
tentar ser, particularmente, seletivo. Você não deve julgar os itens que
aparecem na sua cabeça, simplesmente, escreva-os. Alguns lhe poderão ser
úteis quando você for compor seu monologo, outros não.
Deixe sua mente fluir livremente.
Como exemplo, suponhamos que eu tenha escolhido escrever sobre pessoas
que possuem cães. Minha lista de associações livres pode acabar, mais ou
menos, assim:
Isto é tudo que (...) para ser feito neste passo. Você deve tentar escrever
todas as associações possíveis. Mesmo quando você achar que já tem um
numero suficiente delas, force a sua mente mais um pouco, sempre existe
uma, duas ou três associações escondidas lá. Explore o máximo. Uma piada
é a junção de duas idéias. Geralmente, nós temos um ponto de vista e uma
idéia que está ligada a ele. Esta lista pode lhe oferecer ambos, mas vamos
partir do principio que temos uma única parte da piada.
96 Comedy Writing
O processo de escrever uma piada é encontrar a outra idéia que se unirá a
primeira.
Para ilustrar, suponhamos que eu não goste de cachorros por que eles
fazem xixi nos tapetes. Como posso dizer isto de uma forma engraçada?
Eu posso, rapidamente, olhar a minha lista de tópicos na procura por uma
relação de idéias. Tentemos ‘narizes molhados’.
‘Eu e este cão temos algo em comum. Ele tem um nariz molhado e eu um
tapete igualmente molhado.’
‘Este cão faz tanto xixi nos tapetes que quando eu chego, ao invés dos
chinelos, ele me traz as galochas.’
Sem uma lista a que você possa se referir, estas gags, provavelmentea
teriam me tomado muito mais tempo para escrever, isto é, se elas
chegassem a surgir na minha cabeça.
Depois que você permitiu a sua mente andar livremente pelas idéias
relacionadas ao seu tópico, e após tê-las listado, uma a uma, você deve
estimular o seu cérebro um pouco mais e encontrar outras que possam
servir na construção da sua piada.
Este passo é, na verdade, a padronização das suas associações livres. Ele é
mais organizado. Faça uma lista de pessoas, lugares, coisas,
acontecimentos, palavras, clichês, e frases que são similares ou
relacionadas ao assunto da sua escolha e uma lista das mesmas categorias
que são opostas ao assunto da sua escolha.
Você pode criar um formulário padrão para poder sempre utiliza-lo. No
meu exemplo que se segue, eu listei apenas alguns itens que eu posso
escrever em cada categoria. Sua lista deveria ser muito mais extensa.
Trabalhe e pense até você conseguir um número considerável de idéias
para cada divisão. Alguns tópicos serão mais fáceis de serem analisados,
97 Comedy Writing
que outros. Eu recomendaria você ter, pelo menos, sete itens em cada
seção.
Os benefícios que você alcançará com este esquema na sua escrita são
exatamente os mesmos que a associação livre lhe dá.
A vantagem desta lista é que ela ajuda a sua mente a se concentrar em
áreas específicas. Quando canalizamos nossos pensamentos, as nossas
mentes se tornam muito mais produtivas. Quanto mais idéias você tem
para trabalhar, melhores serão as piadas que você criará.
Seu primeiro processo foi associar livremente as suas idéias a um tópico.
Quando você chegou ao fim da primeira lista, você imaginou que havia
conseguido relacionar tudo o que você podia pensar a respeito do seu
tópico. Então, nós categorizamos nosso pensamento. Nós as organizamos
um pouco mais e pedimos a você para elaborar mais idéias ao seu tópico.
Tanto as idéias diretamente relativas a ele quanto indiscutivelmente
opostas a ele. A sua segunda lista deveria conter um numero maior de
98 Comedy Writing
itens que a primeira. Vários deles serão réplicas da primeira, outros
tantos serão itens novos.
Quando organizamos nossos pensamentos e objetivos, nossos esforços,
nós podemos ser capazes de encontrar outras tantas associações sobre
um tópico, que já achávamos explorado ao máximo.
Tudo que você fez de diferente no segundo projeto foi canalizar os seus
pensamentos. Ao invés de pensar em uma associação, você pensou sobre
qualquer COISA que estivesse relacionada, qualquer LUGAR que estivesse
relacionado e assim por diante.
Deveria ser aparente para você agora que a preparação para executar o
seu trabalho realmente funciona.
Confie em mim. Estamos prestes a começar a escrever nossas piadas. Já
deveríamos estar lá. Mas a razão pela qual eu ainda protelei o seu inicio
com estas últimas explicações foi tornar o seu trabalho mais rápido.
Esta é a boa noticia, a má noticia é que ainda temos mais um procedimento
ao qual eu quero me ater antes de entrarmos na parte divertida de
escrever.
Subdividindo os tópicos.
Mas, a inspiração só, não será capaz de fazer todo o seu trabalho e é
quando você precisará extraí-las da sua mente. A seguir, você encontrará
algumas técnicas que poderão lhe ajudar.
Faça perguntas.
Uma vez que você tem uma frase factual, como você a trata?
Você a investiga. Explora outras áreas. Por que isto aconteceu?
Quem mais é afetado por estes acontecimentos? Quem ficaria satisfeito
com ele? Quem ficaria irritado com ele? Qual seria o passo lógico a
seguir? Não há limite para as suas perguntas. E, qualquer uma das suas
perguntas, pode levá-lo a punchline, ou desfecho que você procura.
Às vezes, nossas perguntas nos podem dar uma abordagem ou ângulo
totalmente novo para um tópico.
Quando houve aquele terrível terremoto em Los Angeles, por exemplo, eu
tentei criar rotinas partindo das minhas perguntas tipo: Quanta terra se
moveu? Eu estava com medo? Mas aí, eu comecei a pensar como aquele
terremoto poderia ter afetado as estrelas que moram na cidade.
O terremoto deixou Jimmy Stweart com tanto medo que ele parou de
gagejar? Ele repartiu o cabelo de Glen Campbell? Como ele afetou Raquel
Welch e seus peitos?? E assim por diante.
Há uma outra história que eu gostaria de usar como ilustração.
Uma cliente me ligou pedindo que eu criasse alguma coisa para o seu show
em Las Vegas. Ela havia deslocado o ombro e teria de fazer o show com o
braço engessado. O publico, com certeza, ficaria intrigado com aquele
gesso, portanto, nós precisávamos de alguma coisa que explicasse,
rapidamente, o que aconteceu.
A primeira coisa que eu perguntei foi: Que tipo de situação bizarra
poderia ter acarretado o acidente dela?
Aqui esta:
Exagere e distorça.
‘Eu tenho um amigo tão flácido que, quando ele se levanta, seus pés
desaparecem.
Outro dia ele estava atravessando a rua e foi atropelado por um Fusca. Ele
acham que não houve nenhum dano sério.
Mas ainda não conseguiram encontrar o motorista do fusca.
A maioria das piadas acima são distorções. Mas você pode conseguir
algumas risadas com o exagero também.
Tente escrever uma piada sobre o ex presidente Jerry Ford sem tocar no
seu esporte favorito, o golf.
Bancários falam de cheques. E usam um bando de denominações estranhas.
Você pode tirar proveito disso.
Ha inúmeros slogans e frases comuns a todas as pessoas. A maioria dos
slogans de comerciais podem ser usados em gags.
Durante uma festa numa empresa de bebidas de nome PNB, eu criei uma
piada que usa siglas como fórmula.
Eu disse: “Me pediram para informá-los que o nome desta empresa mudou.
De agora em diante e, principalmente esta noite, PNB quer dizer “Por
favor Não Bebam.”
Por exemplo, suponhamos que você tenha estas duas piadas juntas:
‘Eu tenho um amigo tão preguisoso, que ele só sai de casa para assitir
a um jogo no estádio depois do hino nacional, para não ter que ficar
de pé”.
“Eu tenho um amigo que é tão preguiçoso, que ele se casou com uma
mulher grávida.”
‘Eu tenho um amigo tão preguisoso, que ele só sai de casa para assitir
a um jogo no estádio depois do hino nacional, para não ter que ficar
de pé.’
‘Ele chegou até se casar com uma mulher grávida.’
‘Eu tenho um amigo tão preguiçoso, que ele só sai de casa para
assistir a um jogo depois do hino nacional, para não ter que ficar de
pé. Ele é tão doente, que se casou com uma mulher grávida para se
poupar do esforço.’
Isto se tornará bastante aparente quando você reler o seu mais novo
monologo.
Você também tomará consciência dos buracos que possa haver na sua
rotina. Você encontrará lugares onde você sente que deveria haver alguma
gag, mas não há. Por exemplo, suponhamos que você esteja apresentando
uma rotina cômica sobre seu amigo preguiçoso, e a maioria das suas piadas
gira em torno dos hábitos que ele tem em casa, exceto uma delas, que se
refere a sua preguiça no trabalho. Isto fará com que você acrescente
algumas linhas, que leve a esta piada. Aqui não se trata do simples fato de
refrasea-la. Você terá de voltar à sua máquina de escrever e criar algumas
linhas adicionais.
Talvez, você sinta isso mais freqüentemente quando for passar de um
subtópico para outro. Você pode achar a mudança de tópicos um tanto
abrupta. Bob Hope é reconhecido pelas transições de um tópico a outro.
Ele simplesmente diz, “Hey, e aqueles políticos, huh?” Henny Young quase
cria uma nova rotina para juntar os seus subtópicos.
A melhor maneira de se fazer esta transição é encontrar uma gag que
junte um elemento nos dois subtópicos, um elemento que misture o
subtópico que você esta deixando com aquele que você está entrando.
Como exemplo, voltemos a minha rotina sobre “ter um cão”.
Um subtópico era a respeito de como ele era grande e, um outro, era
sobre seu costume de morder as pessoas. Após ter feito várias piadas a
respeito do seu tamanho eu poderia dizer:
Para que fique mais claro, examinemos parte de uma rotina cômica.
Partindo de um rascunho, ao produto final. Discutindo a razão de como ele
está organizado e algumas mudanças que teremos de fazer durante o
processo.
Aqui estão as gags como elas foram escritas pela primeira vez:
4. Esta é a única estrada do país que você pode cruzar, do começo ao fim,
sem deixar a área do acidente.
“Eu tive uma viagem prazeirosa outro dia pela B.R. 7 ou a B.R. da Morte. E
uma viagem prazeirosa na B.R. 7 significa você completar o seu percurso
no mesmo carro em que você começou.
Eu sempre sei quando estou chegando perto dela porque a minha estatua
da Nossa Senhora sai do painel e se esconde no porta luvas.
Ela é a única estrada do mundo em que você pode ir de ponta a ponta, sem
deixar a área de acidentes.
Agora, só nos resta criar uma linha de transição para o nosso próximo
subtópico. Suponhamos que nosso próximo subtópico seja a respeito dos
problemas que os motoristas enfrentam com a polícia. Então, deveríamos
inventar uma linha sobre as rodovias, mas que também incluísse a polícia.
Poderia ser alguma coisa assim:
Esta piada está dizendo que as minhas malas estavam sempre se perdendo.
Isto está implícito nela. Todos na platéia sabem exatamente o que o meu
desfecho para a piada diz.
Todo mundo é capaz de entender esta piada, mesmo que seu autor não
tenha mencionado qualquer incidente na sala, na cozinha, ou qualquer
outro canto da casa.
122 Comedy Writing
O maior problema nas piadas verborrágicas é que elas, geralmente,
entregam o desfecho antes que você chegue ao seu final. O público
antecipa qual será o desfecho.
Às vezes, no entanto, você encontrará piadas onde o desfecho (punchline)
lhe pedirá uma preparação (set up) mais longo.
Embora você tente e tente mais uma vez, você não conseguirá diminuir o
número de palavras. Quando isto acontece, você tem duas opções:
A) Se certifique que o desfecho (punchline) que você entrega merece
toda esta construção. B) Divida a construção em piadas pequenas e
mais suaves. Neste caso, você terá que enxertar mais piadas para que
a sua rotina cômica se desenrole com desenvoltura. Como exemplo,
tomemos uma piada que já havíamos analisado no capitulo 9. É uma boa
gag, mas a sua construção é um pouco confusa e longa demais.
Existem palavras demais até chegar ao seu desfecho (punchline), mas elas
são necessárias para explicar o tipo de humor a que ela se refere.
Contudo, vamos pensar em como poderíamos passar pela introdução desta
piada com gags menores.
Parece que conseguimos umas risadas aqui, além de informar que eles
estão casados por 28 anos.
“Mas, ele ainda tem muito amor por ela quase na mesma proporção
que ele ama os seus drinks.”
Acabamos de informa-los que ele gosta de beber.
“Quando ele toma uma a mais, a primeira coisa que ele faz é tirar os
óculos. Já que ele não consegue enxergar mesmo, por que usa-los.”
Reflita a Verdade.
E o público se divertia.
“Eu não sei por que estou sendo tão engraçado com vocês.
Vocês todos entraram de graça.”
George Carlin faz a mesma coisa com as palavras. Ele adora analisa-las e
brincar com as idiossincrasias da nossa língua.
Ele, basicamente, está lidando com a verdade das palavras. Ele as vê no
seu sentido literal, o que a maioria de nós não faz.
A maioria das nossas expressões idiomáticas tem dois significados, o
literal e aquele implícito pelo seu uso comum. Geralmente, nos atemos ao
seu significado comum e esquecemos o seu significado literal.
“As aeromoças nos pedem: por favor, subam no avião agora. Muito
obrigado, mas eu preferiria entrar nele”
Uma outra piada que ele costumava fazer sobre aeronaves era.
Eu ouvi outro comediante fazer quase a mesma coisa quando ele disse que
nós temos o costume de substituir tempo por distância.
A sua própria verdade pode ser exagerada ou distorcida. Você não precisa
se limitar em refletir os fatos, brinque com a verdade o quanto você
quiser, vá ao extremo com ela contanto que você a mantenha reconhecível.
É verdade que a inflação esta terrível, mas ainda não chegamos ao ponto
de comprarmos carne como compramos um carro ou casa. Contudo, nós
distorcemos esta realidade até o limite do ridículo; mas o publico ainda é
capaz de reconhece-la.
Relaxe a tensão.
“Os donos deste lugar são um pai e seu filho e, às vezes, podemos vê-los
andando por entre as mesas (o que era a pura verdade). Eles estão
analisando minha atuação. Eu vou mostrar para vocês como eles são
baratos. Primeiro, vem o pai que sai daquele escritório lá do fundo com um
charutão na boca e dá umas voltinhas por ai e depois volta para o seu
escritório. Em seguida, vem o filho, também com um charutão na boca e dá
umas voltas por ai. É o mesmo charuto.”
Choque.
Ataque autoridades.
“Quando eu cheguei aqui hoje, fui recepcionado por vários dos seus
chefes. Mas um deles me chamou mais a atenção pelo seu problema de
flatulência”
“Todos nós gostamos do tipo de chefe que sabemos quando está por
perto.”
“Ele não só é o chefe mais fedido da área como também é o único que tem
uma boa desculpa para isso.”
Usando estas sugestões e um pouco de bom senso você poderá criar humor
ofensivo sem realmente ofender ninguém. Mas um bom conselho é: Se você
não está certo sobre a reação que este tipo de piada irá causar, não a use.
Voltemos aos nossos atalhos.
Envolva a platéia.
Seu público se divertirá mais com seu humor se você os fizer parte dele.
Se você conseguir localizar o seu poder cômico ele multiplicará o seu
conteúdo humorístico. Os membros da platéia sentirão que eles estão
dividindo o placo com você. Um palestrante amigo meu quase sempre
começa as suas palestras dizendo:
“Seu chairman (ele menciona o nome) me constatou para vir aqui dar esta
palestra. E eu aceitei a chamada a cobrar com prazer.”
Você acaba de criar humor com alguém da própria platéia. E, com certeza,
você conseguirá algumas risadas.
Ao invés de começar alguma piada com “dois caras estavam descendo a
rua quando,” descubra o nome de alguém da platéia, que se encaixa na sua
história. Você também pode tornar as suas piadas mais localizadas usando
nomes de lugares que estão naquela área, bairros, restaurantes, oa lugar
de encontro dos namorados, etc.
Todas estas artimanhas fazem com que o público fique mais próximo do
seu material cômico. Mesmo que você não tenha todos estes
conhecimentos a respeito do seu público, você ainda pode traze-los para
dentro da sua rotina cômica.
Slappy White costumava contar uma história que ilustra este ponto,
perfeitamente.
134 Comedy Writing
“Eu acabei de ler no Readers Digest que um, em cada quatro americanos,
sofre de algum problema mental. Uau! Pense só nisso… um em cada quatro.
Você não precisa acreditar em mim, mas prove você mesmo. Aqui está o
que eu quero que vocês façam. Pensem em três dos seus amigos.”
A carpintaria é uma ciência exata. Ela pode ser criativa, mas ela é sempre
exata. Se você pegar uma fita métrica e medir a distância entre um ponto
A e B, você terá o tamanho do pedaço de madeira que você terá de cortar
para que ele se encaixe em um determinado espaço. A comédia é
diferente. Você não pode determinar o tempo que uma pausa deveria ter,
ou qual a inflexão que deveria ser usada na voz por um humorista.
É uma operação instintiva. Quase sempre quando eu converso com os
escritores e atores cômicos, eu costumo fazer estas duas perguntas:
Sugiro que você pense bem sobre estas perguntas e chegue a alguma
resposta antes de continuarmos.
Naturalmente que existem definições técnicas e práticas do que é uma
piada, mas a minha definição caseira de uma piada é prática:
Uma piada é tudo aquilo que faz com que as pessoas riem.
Pode ser uma série de palavras, um olhar, um movimento de ombros, até
mesmo um momento de silêncio – mas se estas coisas fazem as pessoas
rirem, então, é uma piada.
Eu trabalhei para o “The Jim Nabors Hour” por dois anos e uma das
melhores gargalhadas que eu me lembro veio de Ronnie Shell, que fazia o
personagem do inebriante inquilino; ele disse a Frank Sutton para que ele
fechasse os olhos porque ele tinha um presente de aniversário para ele.
Frank fechou os olhos e todos no palco olharam para ver o que Ronnie lhe
daria. Ronnie fez uma pequena pausa e depois deu de ombros como que
dizendo, “Eu não tenho nada.” É difícil de acreditar só contando, mas
aquela cena foi hilária e obteve uma tremenda resposta da platéia. Aquilo
foi uma piada quer ela se enquadre na definição da palavra ou, não.
137 Comedy Writing
E agora a resposta para a segunda pergunta: O que todo comediante tem
em comum?
Comediantes e qualquer outro tipo de artista que usa o palco como seu
meio de comunicação tem o público como um fator comum, não há outra
maneira. Todo artista precisa de um. Algumas pessoas podem argumentar
que um cineasta não tem uma multidão ao seu lado na sala de edição ou que
um autor escreve seu livro sozinho.
É verdade, mas um filme e um livro são feitos para um público.
Um dia alguém irá ver o filme ou ler o livro. Ninguém escreveria um livro
para não ser lido, ou produziria um filme para não ser visto. As respostas
para estas perguntas são importantes porque elas nos levam ao público.
Uma piada faz as pessoas rirem. O publico é o ser supremo da comédia. O
publico é extremamente importante para o humor porque ele se torna
parte dele. Não existe humor até que pessoas sejam envolvidas. Você já
ouviu a pergunta: “Se uma árvore cair na floresta e não existir ninguém
por perto para ouvir a sua queda, ela fará algum barulho?”
Eu não sei. O que eu sei, contudo, é que se você contar uma piada e não
houver risadas, ela não é uma piada. Não existe humor real até que o
esforço do comediante seja pago com uma gargalhada.
Um comediante, uma vez, me disse o quanto ele invejava os cantores e
cantoras. Ele achava que a vida deles era fácil – eles podiam cantar a
mesma música inúmeras vezes, e eles tinham acesso aos grandes
escritores no mundo, de graça. Até mesmo um novato poderia cantar Cole
Porter ou Jerome Kern. Mas, onde um comediante jovem vai encontrar
material cômico de primeira?
O mesmo comediante costumava dizer que, mesmo que um cantor não
cante tão bem uma canção, no final dela ele poderá ser aplaudido. Mas, se
um comediante conta uma piada ruim, ele não vai conseguir fazer ninguém
rir – muito pelo contrário.
O público não precisa participar de uma canção, o cantor pode cantar do
jeito que ele bem entende, o público pode conversar sentados às suas
mesas e, quando eles percebem que a música chega ao fim, eles
simplesmente aplaudem, educadamente. Naturalmente que existem
cantores que pedem a participação do público e os envolvem no seu show.
Eles são grandes homens do entretenimento. Todavia, um comediante
precisa da atenção do público. O público tem de ouvi-los e as gargalhadas
obtidas tem de ser espontâneas, do contrário, elas não valem nada para
ele.
O verdadeiro humor só acontece com a parceria do público.
Infelizmente, muitos escritores e performers se esquecem disto.
O que se adapta.
“Um homem perguntou a um político por que ele era um Republicano e ele
respondeu, dizendo, “Meu Pai era um Republicano, assim como o meu avô.
Se você mudar os partidos você terá uma piada que funciona para qualquer
tipo de grupo político.
Você não esta tomando nenhum partido você, simplesmente, está
brincando com eles.
Aqui está um outro exemplo disto. Suponhamos que a Companhia Alfa é um
dos maiores competidores da Companhia Beta. Você pode contar esta
piada para o pessoal da Alfa.
“Um homem muito rico queria que seus três filhos tivessem seus próprios
negócios. Assim, ele perguntou para o seu filho mais velho o que ele queria.
O rapaz disse que queria uma companhia de petróleo, então, o homem lhe
comprou a Exxon. O segundo filho, um pouco mais novo, disse que gostava
de cinema, assim o homem lhe deu a M.G.M. O terceiro filho, e o mais novo
de todos, disse que gostava de fazer nada e o homem lhe comprou a
Companhia Beta”.
Isto pode lhe parecer estúpido, mas é tão óbvio que geralmente não lhe
damos atenção. Para a sua piada funcionar, seu público precisa saber do
que você esta falando.
Uma premissa.
Assim como o passo inicial na construção de uma piada é ter o que dizer, o
passo inicial de um esquete é ter algum tipo de mensagem a ser dita. Pode
lhe parecer evidente de mais mas muitos escritores profissionais se
esquecem disso. Muitas vezes, idéias que são lançadas para um esquete
não são o que eu chamo de premissa mas, simplesmente, lugares ou
figurinos. O escritor chefe ouve coisas do tipo: “Vamos colocar o cara
vestido de cowboy. Vai ser hilário!”
Estamos falando de um figurino. O comediante pode ser um excelente
comediante mas, mesmo que você o vista de cowboy e o coloque na frente
de uma câmera, ele terá de fazer e dizer alguma coisa. Alguns escritores
sugerem: “Vamos colocar a Carol Burnett no balcão de reclamações de uma
loja de departamentos e será magnífico.” Isto é só um lugar. Com quem ela
estará lidando lá, e como ela ira se comportar?
Qualquer coisa que pareça conter alguma coisa louca, exagerada, etc., não
é o suficiente para servir de premissa. Esta loucura, exagero, ou seja lá o
que for, tem de ser programado e dirigido.
Deve haver uma razão para isto acontecer. Ela terá de conter ímpetos
que se desenvolvam de forma ordenada e progressiva.
Se você colocar um xerife ameaçado de ser linchado pelos habitantes de
uma cidadezinha, que esta tentando fugir de carroça com um cocheiro e
cavalos mais vagarosos que um leão marinho, então, você tem um início. Se
você colocar Carol Burnett na fila de um balcão de reclamações de uma
loja de departamentos com outros fregueses, não menos irritados, e se o
primeiro da fila for o marido dela que quer o divórcio, você tem o início de
um esquete.
Você tem uma premissa. Uma premissa é uma ou duas linhas que lhe dá a
idéia do que um esquete pode ser. Um jogador de cassino que tem de
ganhar de um gangster em um jogo de pôquer se não ele morre, me diz
mais que vestir um cara de cow-boy. Cada um dos esquetes que você
começa a escrever deve ser descrito ou explicado em uma, ou, duas linhas
e esta descrição tem de ser e / ou parecer interessante e sustentável. Se
você conseguir esta proeza, então, você já tem um começo ou seja uma:
premissa.
Ao escrever um esquete, você deve conseguir a sua premissa rapidamente,
e ela deveria ser entregue quase como um desfecho (punchline). Ela
151 Comedy Writing
deveria ser concisa, clara e explicar o que, sobre o que o seu esquete será.
É o que nós chamamos de ‘Fator OO-OU’
É aquele ponto no esquete em que a ação vem acontecendo normalmente e,
então, você acrescenta uma ou dias linhas que fazem com que o público
diga: ‘OO-OU! O que eles vão fazer agora?’
Você poderia ver este exemplo, quase que graficamente, em todos os
episódios de “I Love Lucy.” Em quase todos eles, você conseguia visualizar
o exato momento em que os tele espectadores diziam ‘OO-OU’. Isto é o
que deveria acontecer em um esquete.
Para lhe mostrar melhor o que eu quero dizer, deixe me, rapidamente, lhe
contar sobre alguns esquetes que fizemos para o show de Carol Burnett.
Em uma das histórias, nós tínhamos Harvey Korman fazendo o papel do
marido recém saído da cadeia, sob condicional. No início do esquete, eles
estão sentados na mesa de um bar, esperando para serem atendidos.
Neste momento, o público já sabe sobre a condição do marido e também
sabe que, se ele fizer qualquer coisa que possa lhe incriminar, ele volta
para a prisão e não sairá mais de lá até que sua pena seja cumprida.
É, então, que Carol se vira para um garçom enorme e com cara de poucos
amigos e grita: ‘Ei cabeça gorda! Você chama isso de um Dry Martini?’ E
então o publico pensa: “OO-OU, o cara está ferrado agora.”
Em outro episódio, nós tínhamos Carol sendo recepcionada por amigos,
após ter passado algum tempo no hospital se recuperando de um problema
emocional. Ela assistia todas as novelas e vivia a vida dos personagens
como se eles realmente existissem. Mas, agora, ela está totalmente
curada da sua loucura. E, assim que ela diz: “Eu não me importo mais se o
Roberto vai se casar com a Vanda”, uma amiga lhe diz:”Roberto esta
morto.” Os olhos de Carol se esbugalhavam de terror e todos pensavam:
“OO-OU, vai começar tudo de novo.”
No show de Bill Cosby, uma vez colocamos Peter Sellers e Lily Tomlin
sentados um, ao lado do outro, em um avião. O piloto anuncia que o avião
está em pane. Após alguma histeria, Sellers se virava calmamente para Lily
e lhe perguntava se ela estava sentada no lugar certo. “Que diferença faz
isso numa hora destas?”
E Sellers respondia “É que eu estou vendo toda a sua vida se passando bem
em frente dos meus olhos.” O público imediatamente dizia: ‘OO-OU, que
situação embaraçosa para ela.’ Em qualquer uma das esquetes que você
compor deve haver este momento e ele deve vir logo no início. Novamente,
existem exceções. Em um dos mais fantásticos esquetes no show de Carol,
nós tínhamos uma família inteira se despedindo de um parente no
aeroporto. Eles falavam sobre os bons momentos que passaram juntos
durante a sua visita e como era difícil dizer adeus novamente. Todos se
152 Comedy Writing
despendem dele emocionadamente, quando pelos alto falantes (speakers)
você ouve dizer que, infelizmente, o vôo sofrerá um pequeno atraso. Após
alguns minutos, todos se despedem novamente e, novamente, é anunciado
um novo atraso.
E assim até que aquela despedida se torna a mais descarada lavação de
roupa suja. Neste caso, nossa premissa ficou escondida por algum tempo e
foi sendo revelada gradativamente. Mas, mesmo assim, o público sabia do
que se tratava aquele esquete, desde o principio. E mais importante que
isso, aquele esquete era sobre uma coisa, ele tinha um início. Ele tinha
uma premissa.
Algumas complicações.
Uma vez que a sua premissa já foi posta adiante, você deve fazer alguma
coisa acontecer. Se sua premissa foi apresentada como uma situação
difícil, ou embaraçosa, o público vai querer tentar resolver o problema
para você. Se você colocou a sua premissa como um objetivo a ser
alcançado, você deverá, então, criar alguns problemas para que ele seja,
realmente, alcançado. Naturalmente que você não deve criar uma premissa
e logo, em seguida, pular direto para o final. Você vai precisar de alguma
ação. Às vezes, a sua ação poderá ser episódica, ou seja, uma série de
piadas, uma atrás da outra. Uma vez, fizemos um esquete onde Tim
Conway e Harvey Korman eram soldados revolucionários, cercados pelos
inimigos. Tudo o que eles tinham para combate-los era um único canhão
com uma única bala. Harvey propunha a Tim que ele iria atrair os inimigos
para uma área aberta e, então, ele dispararia o canhão neles. Então,
Harvey sai e atrai a atenção dos inimigos mas, para a surpresa de Tim, ele
não consegue colocar a bala no canhão por que ela parece ser maior que a
boca do canhão. Exausto e um pouco debilitado, Harvey volta a cena e
consegue colocar a bala para, novamente, sair para a sua tarefa de atrair o
inimigo. Desta vez, o Tim tenta limpar a boca do canhão mas acaba
perdendo a escova. Depois, ele não tinha o fósforo para acender o pavio,
logo em seguida, ele deixa o canhão baixar e a bala sai da sua boca e rola
para longe, e assim por diante.
Uma vez, duplicamos esta premissa em um outro esquete. Ken Berry era
um cavaleiro da Infantaria, junto numa cabana com Conway. Eles estavam
cercados por índios. Ken atrairia os índios enquanto Tim acendia o pavio
de um barril de pólvora e atingiria os índios, fazendo com que o barril
rolasse morro abaixo. Quando Ken estava em perigo, Ken descobre que o
barril é grande demais para passar pela porta da cabana. O esquete seguia
assim, de forma episódica. A ação pode se desenvolver naturalmente. No
153 Comedy Writing
caso da família se despedindo no aeroporto, a ação se desenvolvia de
tristeza a impaciência, então, de discussões acirradas para safanões, para,
finalmente, se voltar ao adeus cheio de emoção e amor. A ação pode ser
quase que qualquer evento que você invente.
O importante é que a sua premissa seja forte o suficiente para sustenta-
la.
Em um outro show da Carol Burnett, nós conseguimos criar uma premissa
bastante intrigante. A premissa era que dois cavalheiros estavam de
férias no Havaí. Um deles havia perdido dez dólares e ficava o tempo todo
reclamando do incidente. O outro tentava levantar o seu moral dizendo
que era ridículo ele se importar com míseros dez dólares durante umas
férias caras daquelas. E o outro dizia: “É facil para você falar isso porque
não foi você que perdeu os dez dólares.” Aí o segundo cavalheiro pega dez
dólares da sua carteira e coloca fogo na nota. “Pronto, agora nós dois
perdemos dez dólares. Então, vamos esquecer tudo isso e nos divertir.
O primeiro, então, recobra o seu humor e, feliz, começa a se divertir com
as férias quando ele vai pegar o seu maço de cigarros e descobre que a
nota de dez dólares, que ele pensava ter perdido, estava o tempo todo lá
no bolso junto com os cigarros. E ele se vira para o segundo e diz. “Olha,
achei os meus dez dólares.”
A maioria dos escritores amou aquela premissa. Mas o consenso geral dizia
que não havia mais aonde ir depois que o outro descobriu que não perdera
o dinheiro. Aquele esquete estava terminado. Era difícil para aquela
premissa sustentar um número de ações suficiente para manter o
desenvolvimento do esquete.
Contudo, os escritores gostaram tanto do começo que resolveram gastar
mais algumas horas em cima daquela idéia, antes de abandona-la por
completo. Com o tempo, nós conseguimos achar uma maneira de progredir
naturalmente com aquela premissa e conseguimos criar um esquete
bastante agradável.
Eu resolvi imprimir este esquete no final deste capítulo. Assim, você
poderá ver como um esquete é escrito e a forma que ele deveria assumir
no papel. Isto nos serviu de lição. Quando uma premissa é boa, devemos
nos ater a ela um pouco mais e ver se, realmente, não existe qualquer
possibilidade para ela.
Aqui vai uma dica de como você deve abordar uma premissa: resolva o
problema imediato e procure alguma complicação na resolução do
problema. Então, solucione-o mas ache um outro problema que aquela
solução pode causar. (E continue assim, até o final.)