Apostila - Pedologia e Hidrografia
Apostila - Pedologia e Hidrografia
Apostila - Pedologia e Hidrografia
SUMRIO
1. APRESENTAO ................................................................................................. 2
2. PEDOLOGIA ......................................................................................................... 4 2.1. UM POUCO DA HISTRIA DOS ESTUDOS DO SOLO ................................. 6 2.2. CARACTERIZAO GERAL DO SOLO ....................................................... 10 2.3. A FORMAO DO SOLO ............................................................................. 12 2.4. CRITRIOS DE ANLISE PARA DESCRIO DO SOLO ........................... 14 2.4.1. PROFUNDIDADE E A ESPESSURA ............................................................ 15 2.4.2. COR ............................................................................................................... 19 2.4.3. GRANULOMETRIA E TEXTURA .................................................................. 20 2.4.4. ESTRUTURA ................................................................................................. 21 2.4.5. CONSISTNCIA ............................................................................................ 22 2.4.6. CEROSIDADE ............................................................................................... 23 2.4.7. SUPERFCIES DE COMPRESSO .............................................................. 23 2.4.8. SUPERFCIES DE FRICO ........................................................................ 24 2.4.9. SUPERFCIES FOSCAS ............................................................................... 24 2.4.10. CIMENTAO ............................................................................................... 24 2.4.11. COESO ........................................................................................................ 24 2.4.12. EFLORESCNCIAS ...................................................................................... 25 2.4.13. NDULOS E CONCREES MINERAIS ..................................................... 25 2.5. CLASSIFICAO DO SOLO ......................................................................... 25 2.5.1. LATOSSOLOS ............................................................................................... 26 2.5.2. PODZLICOS ............................................................................................... 27 2.5.3. PODZOL ........................................................................................................ 28 2.5.4. BRUNIZNS OU SOLO DE PRADARIA ....................................................... 29 2.5.5. BRUNO NO CLCIDO ................................................................................ 30 2.5.6. DESRTICO .................................................................................................. 31 2.5.7. TUNDRA ........................................................................................................ 32 2.5.8. HIDROMRFICO .......................................................................................... 33 2.5.9. HALOMRFICO ............................................................................................ 34 3. HIDROLOGIA ...................................................................................................... 35 3.1. BACIAS HIDROGRFICAS ........................................................................... 36 3.2. ANLISE DA INFLUNCIA DESSES FATORES SOBRE AS VAZES ....... 39 4. BIBLIOGRAFIA ................................................................................................... 39
Desde o incio da histria da raa humana, quando ainda ramos apenas caadores e coletores de alimentos, o solo era visto como alguma coisa abaixo da superfcie onde, sobre ele, era possvel se locomover e obter inmeras espcies vegetais e animais destinados alimentao. Alm disso, era palco de fornecimento de matria-prima para construo de abrigos e ferramentas. A partir dessa perspectiva restrita e limitada do solo, pouca coisa se conhecia dele, seno aquele conhecimento necessrio para a sobrevivncia do homem primitivo. Nessa fase de evoluo do homem sobre a terra, o solo era visto e interpretado como um nico ambiente imutvel e fixo, do qual era possvel extrair alimento, abrigo e ferramentas, necessrias para a manuteno da vida daqueles homens. Posteriormente, quando passou da condio de nmade para sedentrio, o homem comeou a dar mais importncia s caractersticas daquela parte da superfcie terrestre, para suprir a aquela mesma demanda por sobrevivncia alimentar. Na condio de sedentrio, o homem continuava precisando suprir a sua demanda alimentar que, a partir de ento, era necessrio ampliar / melhorar o conhecimento do solo onde ocupava. Portanto, essa preocupao em dar mais importncia ao conhecimento do solo, estava relacionada diretamente possibilidade de melhoria da produo agrcola para suprimento de suas necessidades bsicas por alimento, abrigo, confeco de tecidos com o uso de fibras vegetais e de ferramentas. Assim, o solo passou a ser visto como um lugar onde se podia lanar uma semente num determinado perodo do ano que, posteriormente dali sairiam algumas plantas que poderiam ser utilizada para os diferentes fins. Segundo Lepsch (1993, p. 07), entendimento de solo, ..., to antigo como a prpria agricultura em si. (grifo nosso) Alm do prprio solo como um ambiente fornecedor de matrias-primas para serem utilizadas no processo produtivo artesanal e industrial, outro elemento que ocupa lugar de destaque para a sobrevivncia, a gua disponvel para consumo de diferentes formas.
Basicamente, o planeta Terra considerado um grande sistema ativo, composto de grande complexidade entre as partes suas partes constituintes e que formam em conjunto a biosfera. Essas partes formadoras da biosfera, tambm so conhecidas constituem-se como a hidrosfera, a atmosfera, a litosfera e a pedosfera, que esto interligados, como exemplificados na Figura 01.
Especificamente em relao pedosfera, esta parte da biosfera pode ser comparada a uma camada que cobre as regies emersas naturais, respondendo pela dinmica natural de interconexo entre a atmosfera e a ao do homem, com as camadas geolgicas do nosso planeta. A palavra pedologia originria do grego, significando naquele idioma, o que conhecemos por solo ou terra. Portanto, pedologia o nome dado ao estudo dos solos no seu ambiente natural.
Segundo o IBGE (2007, op. cit., p. 29), a classificao de solos no Brasil tem sido priorizada em detrimento da necessidade de conhecimento de suas caractersticas para serem aplicadas na produo agrcola e construo civil, prioritariamente. A classificao pedolgica nacional vigente consiste numa evoluo do antigo sistema americano,
2.1.
Embora as primeiras civilizaes agrcolas no tivessem deixado registros histricos para se saber com certeza quais eram os conceitos que tinham sobre o solo, todo conhecimento atual sobre esse tema daquele perodo, vem sendo reunido em pesquisas arqueolgicas que permitem constatar que, desde o incio da agricultura, o homem aprendeu que determinadas terras eram mais produtivas que outras e algumas eram (...) encharcadas, arenosas ou endurecidas para que pudessem ser cultivadas. (LEPSCH, 1993. p. 07) Segundo o mesmo autor2, os primeiros documentos deixados pelas civilizaes agrcolas indicam (...) que as terras costumavam ser diferenciadas segundo sua produtividade, refletindo um grau de conhecimento do solo como sendo um meio para o desenvolvimento das plantas.
LEPSCH, Igo F. Solos: formao e conservao. 5 edio. So Paulo: Melhoramentos. 1993. p. 07.
FIGURA 02: Pintura temtica descoberta por arquelogos, registrando o trabalhobraal agrcola, executado numa plancie aluvial (Fonte: LEPSCH, 1993).
Entre os antigos romanos, vrios escritores deixaram documentos que mencionam classificaes de terras e descrevem os meios para a obteno das melhores colheitas, misturando a camada arvel cinza de madeira e esterco de animais. Com base nas informaes sobre o histrico de conhecimento do solo, LEPSCH3, destaca que h dois mil anos atrs, o agrnomo Columela (...), faz vrias menes ao conceito de solo, naquela poca, associando a cor do solo com sua fertilidade, indicando que quanto mais escuro, mais frtil era, associando essa cor escura presena de substncias orgnicas ali presentes e que hoje, as conhecemos como hmus.
LEPSCH, Igo F. Solos: formao e conservao. 5 edio. So Paulo: Melhoramentos. 1993. p. 09.
Realizando outra pesquisa semelhante na regio de Moscou, Dokoutchaiev pode fazer comparaes entre os diferentes tipos de solos existentes entre essas duas regies (Ucrnia e Moscou), quando constatou que os solos dessas duas regies eram compostos por camadas horizontais que iniciavam
Segundo o IBGE (2009), em 1971, o Departamento Nacional da Produo Mineral (DNPM), preocupado com os recursos naturais da Amaznia, desenvolveu um projeto de sensoriamento remoto dessa regio utilizando radares. Sua designao inicial, Radar da Amaznia, deu origem sigla RADAM. A partir de 1976, o projeto RADAM teve sua atuao estendida para todo o territrio nacional com a denominao Projeto RADAMBRASIL, e concluiu o seu trabalho em 38 volumes (quatro ainda no publicados), estando todo o Territrio Nacional, dotado de mapas exploratrios de solos na escala 1:1.000.000, que tambm podem ser consultados no acervo bibliogrfico da Universidade Santo Amaro (UNISA) 2.2. CARACTERIZAO GERAL DO SOLO
A paisagem a imagem da ao combinada dos fatores de formao do solo, tais como o relevo, os organismos, o material de origem, o clima, ao longo do tempo, como j foi escrito mais acima. O solo o meio natural onde crescem as plantas, que o homem pode utilizar como alimento, construo de abrigo, vestimentas e ferramentas, entre outras. Por isso, muito importante conhecer a distribuio dos solos, alm de sua gnese. Fazendo uma breve anlise do processo do ciclo de vida de uma planta qualquer, tem-se a geminao da semente, o crescimento das razes que vo penetrando no solo, proporcionando no apenas o seu suporte mecnico, mas extraindo dele a gua e os nutrientes de que precisa, juntamente com o oxignio, gs carbnico, luz solar e calor, proporcionam as condies adequadas para o crescimento desses vegetais. Nesse processo de utilizao do solo para se manter viva, as plantas retiram dele treze elementos essenciais e que so agrupados em macronutrientes e micronutrientes, como mostrado na Figura 04, apresentada a seguir.
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FIGURA 04: Macronutrientes e micronutrientes existentes no solo para uso da comunidade vegetal. (Fonte: LEPSCH, 1993)
Ou seja, todos estes elementos tm que estar presentes no solo na quantidade adequada para que possam ser devidamente utilizados pelas plantas e, quando isso ocorre, o solo considerado frtil, ou quimicamente rico. Portanto..., se algum desses nutrientes estiver em quantidades insuficientes para o crescimento da planta, isso ser uma condicionante negativa para o seu desenvolvimento adequado, mesmo que receba gua suficiente para se hidratar.
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As rochas da litosfera, quando expostas atmosfera, ficam submetidas ao direta do calor e da gua das chuvas, provocando inmeros processos de modificao dos aspectos fsicos dos minerais ali presentes. A esse processo, d-se o nome de intemperismo, que um fenmeno natural, responsvel pela formao do solo. Ou seja, o solo, que dinmico, forma-se pela ao dos processos pedogenticos (intemperismo que acontece no prprio solo). Com o intemperismo, as rochas se transformam em um material frivel, no qual surgem as plantas e pequenos animais, cujos restos vo se decompondo e formando o hmus. As argilas tambm se formam concomitantemente com esses processos e as guas que se infiltram no terreno podem arrast-las, fazendo com que desloquem de uma profundidade para outras. Assim, pouco a pouco..., sob a ao de um conjunto de fenmenos biolgicos, fsicos e qumicos, o solo comea a se formar, organizando-se em camadas de aspecto e constituio diferentes, aproximadamente paralelas superfcie, que so denominadas de horizontes, como pode ser observado na Figura 05.
FIGURA 05: Perfil pedolgico utilizado para anlise do solo, com horizontes delimitados.
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FIGURA 06: Modelo de um perfil pedolgico utilizado para anlise do solo, onde esto identificados os horizontes O, A, B e C. (Fonte: LEPSCH, 1993)
O horizonte identificado pela letra O corresponde primeira camada pedolgica que est mais prxima da atmosfera e do nosso contato. Devido a esta situao de proximidade com a superfcie, a camada pedolgica que tem maior contato com a matria orgnica lanada sobre ele, desde galhos de rvores, a qualquer outra matria orgnica ali lanada. Em relao ao horizonte A, essa camada a camada mineral mais prxima da superfcie e sua principal caracterstica o acmulo de matria orgnica
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A descrio do solo no campo compreende o registro das suas caractersticas, atravs do estudo e do exame do seu perfil em seu meio natural. A descrio completa do solo deve incluir a delimitao dos horizontes, com identificao e registro das caractersticas morfolgicas de cada um individualmente, caracterizando a transio entre os horizontes identificados, sua profundidade, sua espessura, sua cor, sua textura, a estrutura, sua consistncia e cerosidade, apresentadas a seguir. Antes de se iniciar o detalhamento de cada um dos parmetros utilizados, cabe observar que toda descrio desses parmetros foi compilada da obra de LEPSCH4, em devido riqueza ilustrativa das figuras apresentadas na sua obra, juntamente com dados disponibilizados pelo IBGE (2009). Somente aps essa descrio visual, procede-se a coleta de amostras.
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Em alguns solos, a profundidade dos limites dos horizontes ou camadas, varia dentro do mesmo perfil. Deve-se ento registrar a profundidade e espessura verificadas na parte do perfil que mais comum ou representativa no local do exame. A profundidade do limite inferior de um horizonte coincide com a do limite superior do horizonte subjacente. Aps a separao dos horizontes ou camadas (Figura 07), efetua-se a medida de suas profundidades e espessuras de acordo com os seguintes critrios: A profundidade obtida colocando-se uma fita mtrica ou trena na posio vertical, fazendo-se coincidir o zero da mesma com a parte superior do horizonte ou camada superficial do solo e fazendo-se a leitura de cima para baixo a partir da marca zero. Para cada um dos horizontes ou camadas, anota-se ento a medida observada nos seus limites superior e inferior. No caso de horizontes ou camadas com limites de transio ondulada ou irregular, anota-se o valor mdio, conforme exemplos abaixo. A espessura por sua vez, deve ser anotada ao final da descrio morfolgica, sempre que se tratar de horizontes ou camadas com transio ondulada, irregular ou quebrada e deve conter as espessuras dos limites mximos e mnimos.
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FIGURA 07: Exemplo de tomada de profundidades e espessuras para solos com transio plana e ondulada. (Fonte: LEPSCH, 1993)
Para caso de horizontes ou camadas apresentando transio ondulada ou irregular em seus limites superior e inferior, e em razo disto, com profundidades variveis em cada um deles, registra-se para as profundidades o valor mdio e para a espessura, adota-se os valores mnimos e mximos, considerando-se ambos os limites (Figura 08).
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FIGURA 08: Exemplo de tomada de profundidades e espessuras para solos com mais de um horizonte ou camada apresentando transio ondulada ou irregular. (Fonte: LEPSCH, 1993)
Em horizontes com limites complexos (Figura 09), como por exemplo, transio descontnua ou quebrada, deve-se registrar o fato no campo.
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FIGURA 09: Exemplo de tomada de profundidades e espessuras para solos com transio descontnua ou quebrada, entre horizontes ou camadas. (Fonte: LEPSCH, 1993)
Para o caso de horizonte com transio descontnua ou quebrada (Figura 10), ocorrendo disperso dentro de outros horizontes (lamelas, por exemplo).
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FIGURA 10: Exemplo de tomada de profundidades e espessuraspara solos com ocorrncia de lamelas. (Fonte: LEPSCH, 1993)
2.4.2.
COR
As cores dos solos so mais convenientemente definidas por meio de comparao. Normalmente se utiliza para determinao de cores de solos, parte da coleo de cores do livro Munsell (Munsell book of color). As principais ou mais comuns edies do Munsell soil color charts, contm sete cartas (correspondentes a sete notaes de matiz) que somam 199 padres de cores, organizados com base na varivel matiz, valor e croma, apresentados na forma de caderno ou caderneta. As notaes de matiz em nmero de sete, so representadas pelos smbolos 10R, 2,5YR, 5YR, 7,5YR, 10YR, 2,5Y e 5Y, que so formados pelas iniciais em ingls das cores que entram em sua composio, como listado a seguir. R = red (vermelho);
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Essas iniciais so precedidas de algarismos arbicos de 0 a 10, organizados a intervalos de 2,5 unidades que indicam a maior ou a menor participao do branco ou do preto (claridade ou escurecimento) em relao a uma escala neutra (acromtica) e variam de 0 a 10. A notao zero corresponde ao preto absoluto e o dez (10), ao branco absoluto. As notaes de cromas indicam o grau de saturao pela cor espectral, onde o croma zero corresponde a cores absolutamente acromticas (branco, preto e cinzento) e na sua representao a notao de matiz substituda pela letra N de neutra. Em sntese, os cadernos ou cadernetas de cores para solos, contm comumente sete cartas ou cartes de cores, correspondentes a sete notaes de matiz, sendo cada uma delas constituda de duas pginas, ambas contendo o respectivo smbolo em sua parte superior.
2.4.3.
GRANULOMETRIA E TEXTURA
Os termos granulometria ou composio granulomtrica so empregados quando se faz referncia ao conjunto de todas as fraes ou partculas do solo, incluindo desde as mais finas de natureza coloidal (argilas), at as mais grosseiras (calhaus e cascalhos). A granulometria ou textura refere-se proporo de argila, silte e areia do solo. Dessas fraes, a argila a que possui maior superfcie especfica e de natureza coloidal com alta reteno de ctions e adsoro de fsforo (Figura 11).
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A frao argila representa a maior parte da fase slida do solo e constituda de uma gama variada de minerais (minerais de argila). O termo textura empregado especificamente para a composio granulomtrica da terra fina do solo. A textura no campo avaliada em amostra de solo molhada, atravs de sensao de tato, esfregando-se a amostra entre os dedos aps amassada e homogeneizada. A areia d sensao de atrito, o silte de sedosidade e a argila, de plasticidade e pegajosidade. 2.4.4. ESTRUTURA
o modo de arranjamento das partculas primrias do solo, formando ou no agregados, separados por superfcies de fraqueza. A estrutura do solo (Figura 12) analisada e caracterizada sob diferentes pontos de vista, que encerram dois segmentos distintos, denominados macro e microestrutura. O primeiro (macroestrutura), rotineiramente empregado como instrumento de caracterizao e diagnose de solos na rea de pedologia, enquanto o segundo tem emprego mais limitado e/ou especfico e discernvel apenas com o auxlio de instrumentos e tcnicas especiais. Na caracterizao dos tipos de estrutura as seguintes situaes podem ocorrer: Ausncia de agregao das partculas, quando o material se apresenta em partculas individualizadas, sem coeso entre si. Neste caso, a estrutura deve ser registrada como gros simples;
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2.4.5.
CONSISTNCIA
Termo usado para designar as manifestaes das foras fsicas de coeso e adeso verificadas no solo, conforme variao dos teores de umidade. A terminologia para a consistncia inclui especificaes distintas para a descrio em trs estados de umidade padronizados: solo seco, solo mido e solo molhado. A consistncia do solo quando seco e mido (dureza e friabilidade, respectivamente) deve ser avaliada em material no desagregado;
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Para avaliar a consistncia, deve-se selecionar um torro seco e comprimi-lo entre o polegar e o indicador. 2.4.6. CEROSIDADE
So concentraes de material inorgnico, na forma de preenchimento de poros ou de revestimentos de unidades estruturais (agregados), ou de partculas de fraes grosseiras (gros de areia, por exemplo), que se apresentam em nvel macro-morfolgico com aspecto lustroso e brilho graxo e em nvel micro-morfolgico com manifestao de anisotropia tica. Podem ser resultantes de iluviao de argilas e/ou intemperizao de alguns minerais com formao de argilas in situ. Incluem-se nesta condio, todas as ocorrncias em suas diversas formas de expresso (clay skins, shiny peds, cutans, etc.) e tambm feies mais ou menos brilhantes, verificadas na superfcie dos agregados, que no constituem revestimentos. Em suma, apresentam-se tanto como revestimentos com aspecto lustroso e brilho graxo, similar cera derretida e escorrida, revestindo unidades estruturais ou partculas primrias, quanto em superfcies brilhantes. Em ambos os casos, podem ser observados com maior facilidade com o auxlio de lupas de pelo menos 10x de aumento, por observao direta na superfcie dos elementos ou nas arestas das sees produzidas quando so quebrados. Deve estar presente em diferentes faces das unidades estruturais e no exclusivamente nas faces verticais. 2.4.7. SUPERFCIES DE COMPRESSO
So superfcies alisadas, virtualmente sem estriamento, proveniente de compresso na massa do solo em decorrncia de expanso do material, podendo apresentar certo brilho quando midas ou molhadas. Constituem feies mais comuns em solos de textura argilosa ou muito argilosa, cujo elevado contedo de argila ocasiona expansibilidade por ao de hidratao, sendo que as superfcies no tm orientao preferencial inclinada em relao ao prumo do perfil e normalmente no apresentam essa disposio.
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Superfcies alisadas e lustrosas apresentando, na maioria das vezes, um estriamento marcante que produzido pelo deslizamento e atrito da massa do solo, causado por movimentao devido forte expanso do material argiloso quando reumedecido. So superfcies tipicamente inclinadas em relao ao prumo do perfil. 2.4.9. SUPERFCIES FOSCAS
Constituem superfcies ou revestimentos muito tnues e pouco ntidos, que no podem ser identificados como cerosidade, apresentando normalmente pouco contraste entre a parte externa revestida e a matriz sob esse revestimento. Tal revestimento inclui tambm filmes de matria orgnica infiltrada e mangans, revestimentos enegrecidos que podem ser resultantes de translocao, podendo apresentar nesse caso, forte contraste entre a parte revestida e a matriz capeada e sua nitidez ser maior do que nos casos de revestimentos de argilas. Quando presentes no solo devem ter seu registro feito aps a descrio da estrutura. 2.4.10. CIMENTAO
Refere-se consistncia quebradia e dura do material do solo, ocasionada por qualquer agente cimentante que no seja mineral de argila, tais como: carbonato de clcio, slica, xido ou sais de ferro ou alumnio. A presena de agentes cimentantes faz com que os torres no se desmanchem em gua, como acontece com materiais endurecidos sem agentes cimentantes. A ocorrncia de cimentao responsvel pela existncia de vrios horizontes endurecidos denominados genericamente horizontes ps. 2.4.11. COESO
Refere-se atuao de foras existentes entre as partculas do solo, que fazem com que os horizontes minerais sub-superficiais dos solos sejam duros, muito duros ou mesmo, extremamente duros, quando secos e friveis quando midos.
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So concentraes de sais cristalinos na superfcie do terreno, que se formam nos perodos secos em locais onde a evaporao maior que a precipitao pluviomtrica, mais comumente nas regies de clima semi-rido. Os sais se movimentam para a superfcie por ascenso capilar, onde se concentram aps evaporao da gua e se cristalizam. Costumam ocorrer tambm em fendas, em pequenos barrancos e nas superfcies dos elementos estruturais, na forma de revestimentos, crostas ou bolsas. Estes sais muitas vezes tm forma pulverulenta (p de giz) e alguns podem ser identificados pelo sabor salgado (NaCl). Dentre os principais representantes esto o cloreto de sdio, os sulfatos de clcio, magnsio e sdio e mais raramente o carbonato de clcio. 2.4.13. NDULOS E CONCREES MINERAIS
So formaes endurecidas ou pelo menos mais endurecidas que a matriz do solo, facilmente destacveis desta, com formato e dimenses variadas e origem na maioria das vezes indefinida. Concrees distinguem-se dos ndulos pela organizao interna, isto , concrees so camadas concntricas facilmente perceptveis, enquanto que os ndulos carecem de uma organizao interna. A descrio deve incluir informaes sobre quantidade, tamanho, dureza, forma, cor e natureza dos ndulos e concrees. 2.5. CLASSIFICAO DO SOLO
A classificao do solo um procedimento tcnico que tem como objetivo primeiro, associar esse conhecimento s demandas humanas para a obteno
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2.5.1.
Os latossolos so de cor avermelhada, alaranjada ou amarelada, normalmente muito profundos e com grande porosidade e pouca diferenciao entre os horizontes, tornando a identificao desses horizontes mais difcil. Quase sempre, a nica diferena notvel nos perfis um pequeno escurecimento da camada superficial ocasionado pelo acmulo de matria orgnica, advinda de restos de vegetao ali presente. Os latossolos so encontrados preferencialmente em regies midas e quentes. Da serem encontrados em regies de clima tropical. So solos j estveis, intemperizados e antigos (Figura 13).
26
2.5.2.
PODZLICOS
Os podzlicos so tpicos de regies florestais de clima mido, com perfis bem desenvolvidos, profundidade mediana (de 1,5 a 2,0 metros), moderadamente intemperizado. Seus horizontes so bem marcados. O horizonte O pouco espesso, sendo que muitas vezes nem existe. E, logo abaixo do A, existe outro horizonte, classificado de E, que indica que a argila existente ali, migrou para o horizonte mais baixo (Figura 14).
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2.5.3.
PODZOL
So solos que possuem uma cumulao iluvial de xido de ferro e hmus no horizonte B. Eles ocorrem em regies de clima temperado ou frio, sob a vegetao de pinheiros, onde se desenvolvem com textura arenosa. Da mesma fora como os podzlicos, os podzis possuem um horizonte B de acumulao de produtos advindos do horizonte A (Figura 15).
28
2.5.4.
Esse tipo de solo pouco espesso, geralmente no ultrapassando um metro de profundidade. No muito intemperizado e possui como caracterstica marcante, seu horizonte O, bem marcado (escuro). Esse solo encontrado geralmente nas regies submidas, onde existe umidade suficiente para manter a vegetao de gramnea, mas no tanto (Figura 16).
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2.5.5.
BRUNO NO CLCIDO
Esse tipo de solo moderadamente raso (50 a 100 cm de profundidade) das regies de transio entre florestas e campinas que apresentam horizontes superficiais de colorao bruna (marrom), no muito escuro e que se torna endurecido quando se torna endurecido quando seco (Figura 17).
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FIGURA 17: Perfil pedolgico de um solo bruno no clcido. (Fonte: LEPSCH, 1993)
2.5.6.
DESRTICO
So solos bastante secos, pouco intemperizados que ocorrem nas regies ridas do globo terrestre, ocupando cerca de 35% da superfcie. Os solos desrticos apresentam comumente um horizonte superficial arenoso, pouco espesso e recoberto por um manto de pedras e cascalhos (Figura 18).
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2.5.7.
TUNDRA
Esse tipo de solo ocupa as terras que cercam o oceano rtico e as partes altas mais meridionais da Amrica do Sul. reas onde as variaes estacionais so extremas e onde existe uma vegetao caracterstica qual referida tambm pelo mesmo nome (Figura 19).
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2.5.8.
HIDROMRFICO
Solos hidromrficos so os que se desenvolvem sob a influncia de lenol fretico alto e, portanto, esto na maior parte do tempo, saturados com gua. Esta condio ocorre comumente em regies de clima mido, em reas com topografia plana, nas encostas imediatamente adjacentes aos rios e lagos ou nas depresses fechadas. Existem dois tipos principais de solos hidromrficos: os orgnicos e os minerais (Figura 20).
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2.5.9.
HALOMRFICO
Estes solos apresentam como caractersticas comuns, uma concentrao elevada de sais solveis e/ou de sdio trocvel. Eles ocorrem nos locais mais baixos de relevo, nas regies ridas e semiridas e em reas prximas ao mar (Figura 21).
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3.
HIDROLOGIA
A hidrografia uma cincia que pesquisa a gua da superfcie da Terra, que um elemento fsicos que compe a paisagem terrestre, que interliga diferentes fenmenos dinamizados entre a atmosfera e a litosfera, interferindo na diferentes formas de vida. Destacadamente, o Brasil tem um dos maiores complexos hidrogrficos do mundo, composto por rios de grandes extenses, grandes larguras e grandes profundidades. Alguns rios, apresentam grandes quedas dgua e no podem ser aproveitados para o transporte fluvial, enquanto de outros no apresentarem cachoeiras e saltos em seu percurso, podendo ser aproveitados para esse tipo de atividade para o escoamento da produo industrial por onde passa.
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Para o estudo da hidrografia, as bacias hidrogrficas um dos principais assuntos que devem ser priorizados. Basicamente, uma bacia hidrogrfica limitada por elevaes topogrficas que drenam a precipitao para cotas topogrficas mais baixas, que drenada para outra regio ou mesmo reservada para uso de forma geral. Dessa forma, entre duas bacias hidrogrficas, tm-se os divisores de gua que correspondem a algum tipo de escultura geomorfolgica (montanhas, por exemplo) que compartimenta as guas precipitadas para duas bacias distintas, como pode ser observado na Figura 23, a seguir.
FIGURA 22: Modelo esquemtico de um divisor de guas (tringulo verde), dividindo as chuvas precipitada sobre ele (seta preta), para duas bacias hidrogrficas distintas (A e B).
Essa situao configura-se como as guas da chuva sendo separadas pelos divisores de gua que vo percorre diferentes crregos e rios em bacias hidrogrficas distintas.
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E
FIGURA 23: Exemplo de classificao das ordens de um curso dgua em um sistema hidrogrfico.
Outra maneira de classificar os cursos dgua a constncia do escoamento, podendo apresentar trs caractersticas distintas. So elas: Rios perenes: so rios e crregos que contm gua durante todo o tempo, o lenol subterrneo mantm uma alimentao contnua e no desce nunca abaixo do leito do curso dgua, mesmo durante as secas mais severas. Rios intermitentes: so rios e crregos que escoam durante as estaes de chuvas e secam nas de estiagem; Rios efmeros: so rios e crregos que existem apenas durante ou imediatamente aps os perodos de precipitao e s transportam escoamento superficial.
Muitos rios possuem sees dos trs tipos, dependendo da variao da estrutura geolgica ao longo de seu curso, o que torna difcil catalogao destes rios por tipo.
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A descarga anual cresce de montante para jusante medida que cresce a rea da bacia hidrogrfica. Em uma dada seo, as variaes das vazes instantneas so tanto maiores quanto menor a rea da bacia hidrogrfica. As vazes mximas instantneas em uma seo dependero de precipitaes tanto mais intensas quanto menor for a rea da bacia hidrogrfica: para as bacias de pequena rea, as precipitaes causadoras das vazes mximas tm grande intensidade e pequena durao; para as bacias de rea elevada, as precipitaes tero menor intensidade e maior durao. Para uma mesma rea de contribuio, as variaes das vazes instantneas sero tanto maiores e dependero tanto mais das chuvas de alta intensidade quanto: maior for a declividade do terreno; menores forem as depresses retentoras de gua; mais retilneo for o traado e maior a declividade do curso de gua; menor for a quantidade de gua infiltrada; menor for a rea coberta por vegetao. O coeficiente de deflvio relativo a uma dada precipitao ser tanto maior quanto menores forem as capacidades de infiltrao e os volumes de gua interceptados pela vegetao e obstculos ou retidos nas depresses do terreno. O coeficiente de deflvio relativo a um longo intervalo de tempo depende principalmente das perdas por infiltrao, evaporao e transpirao.
4.
BIBLIOGRAFIA
IBGE. Manual Tcnico de Geocincia nmero 04: Manual tcnico de pedologia, Coordenao de Recursos Naturais e Estudos Ambientais,- 2. ed. , 2007. LEPSCH, Igo F. Solos: formao e conservao. 5 edio. So Paulo: Melhoramentos. 1993.
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