Carlos Kater
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Com a Lei n11.769 (que torna obrigatria a introduo de contedos musicais nas salas de aula), estamos hoje sendo convidados a participar no de um simples momento de cumprimento de um dispositivo legal, mas, muito alm... temos a perspectiva de um novo movimento da educao musical (forma particular de aceleramento e intensificao de realizaes, entendimentos e convices) capaz de propiciar processos e resultados valiosos para uma Educao Musical que se pretenda viva, brasileira, contempornea. Agora avanamos mais um pouco... no lugar de uma Msica na Escola, as Msicas das Escolas. Uma abordagem de campo ampliado, integrando ao processo educativo procedimentos criativos a fim de trazer tona e dar voz expresso pessoal dos alunos, engajando-os em seus prprios aprendizados e formao. Ou seja, fazer emergir no espao fsico de cada instituio seu espao expressivo e seu espao relacional, no mbito dos quais sero promovidas novas modalidades de dilogo.5 No conjunto, essas expresses sero harmonizadas e contraponteadas na interao com o educador 6, representando falas de culturas em ao, vozes de indivduos que passam a ser escutadas, permitindo-lhes, assim, revalorizarem-se na pessoa que so (aumento da autoestima e sociabilidade). Msica musical, criada e criativa, resultado de concepes e prticas musicais ldicas fundamentadas em processos ampliados que em vez de o exerccio da repetio e dos fazeres mimticos, preponderantemente reprodutivos compreendem o arranjo, a adaptao, parfrase, variao, improvisao, reconstruo e a criao musical propriamente dita, concebida pelos prprios alunos. Oportunizar novas percepes de si e do outro atravs de um meio potente como a msica, significa intensificar qualitativamente a dimenso formadora e a dinmica social das escolas, sobretudo nos grandes centros como So Paulo, to carentes de aes educativas criativas e humanizadoras.
A ttulo de concluso
Em outras palavras, no vale repetir as experincias de circunstncias passadas sem a observao e a ateno cuidadosa das realidades presentes. Assim, no se trata de recorrer a modelos conceituais ou didtico-pedaggicos de fortes tendncias tcnica e terica, diretiva e unidirecional, com insuficiente espao de flexibilidade e integrao, nem a modelos vivencial-artsticos preponderantemente prticos, com frgeis referenciais tericos e de apoio, com exclusividade. Nossa poca nos convida ao exerccio, no mais do ou, substitutivo e excludente, mas do e, colaborativo e integrador, estabelecido, porm, com critrio e criatividade. Dai esperarmos que a msica na escola to reivindicada no se confunda com um fazer musical pedagogicamente descompromissado, de lazer e passatempo, nem que a educao musical seja aprisionada pela educao artstica e confundida com histria da msica ou outras estrias de nomes e datas. 7 As escolas so espaos de formao nos quais estimulada a produo de conhecimentos; os alunos, alm de representantes sensveis e inteligentes de estados musicais, so potenciais muito mais ricos do que imaginamos, que merecem ser conhecidos e desenvolvidos com conscincia e respeito desde onde se encontram, a fim de tomarem contato com algo essencial em si prprios at na relao com a vida, cumprindo assim seu papel na sociedade.8
5 Desta forma, e ao mesmo tempo, se evidenciariam tambm, no seu dia a dia, potenciais talentos adormecidos, ignorados, desapercebidos, que em momento oportuno e, em situao adequada, poderiam ser melhor trabalhados ou encaminhados a instncias de formao adequadas, pois no se busca aqui garimpar talentos em vista de prossionalizao. 6 Que assume aqui tambm o papel de orientador, problematizador, instigador, facilitador do conhecimento. 7 Mesmo que haja aportes de contribuio para o processo de conhecimento, este deslizamento insatisfatrio face ao valor profundamente formador e renovador que a msica atravs da criao oferece para a educao. 8 Observamos aqui, embora de passagem, a necessidade fundamental de cursos de formao continuada para os educadores responsveis pela conduo destes processos, visto seu papel decisivo para o sucesso desta, e de qualquer outra, proposta de educao musical. E isto imprescindvel no apenas porque o contingente atual em condies de participar desse despertar das msicas das escolas no atenda quantitativamente expectativa da demanda. Sociedades complexas, de mudanas rpidas e intensas como as nossas, demandam prossionais em processo constante de atualizao. Espera-se que todos os que utilizam a msica como meio de desenvolvimento pessoal e de interveno social criem conexes viveis entre a realidade presente e objetiva (a realidade real que no senso comum se manifesta) e suas dimenses potenciais e latentes (a realidade ideal, desejada ou necessria, isto , seu vir a ser), dimenso prpria das criaes e msicas compostas.
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Referncias bibliogrficas
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