Por Que Somos Contra A União de Punks Com Skinheads2 - Atualizado
Por Que Somos Contra A União de Punks Com Skinheads2 - Atualizado
Por Que Somos Contra A União de Punks Com Skinheads2 - Atualizado
Tem surgido nos ltimos tempos uma nova onda de infiltrao de skinheads na cena punk/libertria, justificada pela proposta de uma suposta unio anti-fascista. Alguns/mas defendem essa unio, outr@s so contra, e outr@s ainda preferem no se posicionar por motivos diversos. Mas de toda forma tem sido comum atualmente a presena de skinheads que se dizem anti-fascistas em parte dos eventos e atividades punks e libertrias. E isso sem que existam maiores questionamentos sobre as consequncias que esta unio pode trazer (e j est trazendo) para as cenas e movimentaes como um todo. Aqui trazemos apenas alguns pontos discusso, que muito ampla para que se possa escrever algo mais completo em um espao to reduzido, mas esperamos com isso gerar algumas reflexes a respeito do assunto, buscando no ser simplistas apesar do pouco espao. Como este material foi inicialmente escrito baseado na realidade de So Paulo, muitos dos casos aqui citados se referem a esta localidade, mas tem ocorrido problemas semelhantes, em diferentes nveis, em muitos outros lugares. Uma lista de contatos dos grupos que assinam este material segue na ltima pgina, se quiser continuar este debate entre em contato!
SECTARISMO? PRECONCEITO?
As pessoas que de alguma forma se opem a esta unio tem sido frequentemente taxadas de sectrias, preconceituosas, ou coisas do tipo, parando a discusso por a e esvaziando qualquer possibilidade de debate na cena punk e nas diversas movimentaes libertrias. importante lembrar que este debate no se resume a ser a favor ou ento ser sectri@, o que seria logo de cara uma imposio absurda de que tod@s aceitem isso sem qualquer discusso. Sectarismo algo muito mais amplo do que se negar a trabalhar com um grupo especfico baseado em determinados argumentos, e reduzir o termo a isto no faz o menor sentido. Este debate envolve posicionamentos, experincias, vises e questes diversas polticas, histricas, culturais, etc. Vamos colocar aqui algumas delas resumidamente, buscando contribuir com um debate que pouco feito de uma forma mais profunda. Como dissemos, na maior parte das vezes a discusso morre assim que as acusaes de sectarismo so feitas, como forma de barrar tais reflexes. Buscamos com nossos projetos, eventos e produes uma movimentao punk/anarquista/libertria viva e ativa, coerente, crtica e questionadora, e que se une e sempre se uniu com grupos diversos, desde que esta unio seja possvel, sincera e com respeito mtuo. E frente a esta atual realidade de infiltrao dos skinheads, consideramos mais do que necessria uma discusso mais aprofundada entre punks e libertri@s, o que de forma alguma sectarismo, mas sim um posicionamento baseado em coerncia com nossas idias e realidade. Como dizem @s companheir@s da Organizao Anarcopunk de Lima/Peru, No somos sectri@s e nem autoritri@s, s buscamos respeitar nossas posies, organizao e objetivos de luta.
Paki-Bashing imigrantes
espancamentos
de
Muitos foram os grupos que se tornaram alvos do estilo skinhead de violncia. Como escreve Craig OHara em A Filosofia do Punk Mais do Que Barulho, esses skins originais da Inglaterra no comeo dos anos 60 no eram contra negros, mas ainda estavam manchados de racismo. Ainda nos anos 60, em uma Inglaterra marcada por forte imigrao, eram frequentes os espancamentos de imigrantes paquistanes@s, rabes e asitic@s protagonizados por skinheads. Um dos
argumentos era o de que estes roubavam seus empregos (curiosamente o mesmo argumento usado por skinheads neonazis para espancar migrantes nordestin@s no Brasil). Estas agresses eram conhecidas como Paki Bashing, e tidas pelos skinheads quase como um esporte. possvel encontrar menes ao paki-bashing em letras de bandas de skinhead reggae da poca, como Claudette and the Corporation, em Skinhead A Bash Them. Com o tempo formaram-se inclusive organizaes anti-paquistanes@s como a Anti-Paki League (Liga Anti-Paquistans) formada pela gangue skinhead Tilbury Skins nos anos 70. O problema chegou a se tornar pauta de conversaes entre os governos britnico e paquistans, tendo ocorrido manifestaes de rua de imigrantes contra os espancamentos, o que demonstra a gravidade dos mesmos. Paki era o termo pejorativo usado para nomear paquistanes@s, mas tod@s @s imigrantes rabes e asitic@s eram tambm includ@s pelos skinheads sob este termo, e tod@s el@s eram alvos de sua violncia.
A Gr-Bretanha tomou conhecimento do termo paki-bashing pela primeira vez na ltima quarta-feira. Um grupo de skinheads se gabava pela TV de ter espancado imigrantes de cor na Zona Leste de Londres, por pura diverso. (Jornal Sunday Mirror, 1969)
Em meio a essa conjuntura de imigrao, existiam tambm na poltica institucional representaes fortes desta xenofobia. Enoch Powell (do Partido Conservador), por exemplo, fez um discurso em 1968 dizendo que a Inglaterra seria banhada por rios de sangue caso a imigrao africana e asitica no fosse detida. Esse discurso considerado por muit@s como grande impulsionador para os espancamentos de imigrantes, e Rivers of Blood se tornaria mais tarde inclusive ttulo para msica de uma banda skinhead nazista. Segundo o skinhead George Marshall (Esprito de 69 A Bblia do Skinhead), Enoch Powell teria tido skinheads em sua guarda pessoal. Ocorreram igualmente, no decorrer da histria, espancamentos de imigrantes de origem africana, asitica ou hispnica protagonizados por skinheads nos EUA, e de outros grupos tnicos como turcos, marroquinos e muulmanos em outras localidades, com lgicas de ao e argumentos muito semelhantes. Contra-argumentos e justificativas Um argumento muito usado quando se entra neste debate a justificativa de que seria impossvel que os espancamentos de imigrantes na Inglaterra dos anos 60 fossem expresses de racismo, j que se tratava de duas raas diferentes unidas nestas aes. Consideramos este argumento absurdo e sem qualquer fundamento: trata-
se de uma clara tentativa de tirar o peso que aquelas aes tiveram e tm na realidade. O racismo e xenofobia presentes nestes espancamentos so claros, e no porque no existia um dio generalizado a todos os grupos tnicos no-brancos e no-ingleses que se pode argumentar que no existia racismo ou xenofobia em tais aes. Estes imigrantes falavam ingls com dificuldade (quando falavam) e no estavam integrados cultura inglesa, tendo costumes muito diferentes. Em um estudo de caso sobre a prtica do paki-bashing em uma regio inglesa, o pesquisador Geoff Pearson descreve esta viso negativa d@ estrangeir@, que se construa a partir da seguinte idia: () eles falam uma lngua diferente, comem comida peculiar que no cheira como a nossa comida, e se voltam a si mesmos. Para um grupo to pautado em profundo orgulho patriota como o skinhead, estas diferenas culturais reforavam ainda mais os argumentos para os espancamentos. Em Subculture: the meaning of style, o socilogo Dick Hebdige complementa: Menos facilmente assimilveis do que @s imigrantes caribenhos no acolhimento da comunidade, nitidamente diferenciad@s no apenas por caractersticas raciais, mas por rituais religiosos, costumes alimentares e sistemas de valores que encorajavam deferncia, frugalidade e lucro, @s Paquistanes@s foram escolhid@s para as atenes brutais de skinheads, tanto brancos quanto negros.
Outro argumento comumente utilizado o de que seria uma minoria que tinha essas atitudes ou que no se pode saber ao certo qual o nmero de pessoas envolvidas nestes casos. Mas uma mnima olhada para registros escritos dos prprios skinheads da poca e mesmo artigos e pesquisas acadmicas realizadas sobre este momento histrico deixam clara a gravidade, frequncia e amplitude desses espancamentos. Em 25 de maio de 1970, por exemplo, o New York Times noticiou que no dia anterior, vrias centenas de imigrantes paquistanes@s marcharam at a residncia do primeiro ministro ingls Wilson para pedir proteo dos ataques de skinheads. Esse tipo de manifestao com certeza no aconteceria se os espancamentos protagonizados por skinheads fossem realmente casos isolados. Fag Bashing homofobia e
Outro ponto j presente neste momento a homofobia por meio dos constantes espancamentos de homossexuais, conhecidos como fag bashing, ou de homens que os skinheads simplesmente julgassem ter aparncia feminina. Assim como ainda acontece nos dias de hoje, homossexuais eram vtimas frequentes desta intolerncia e violncia gratuita. Estes espancamentos geralmente aconteciam com participao de um grande nmero de skinheads, que atacavam em grupos grandes vtimas sozinhas. Eram muito comuns as notcias em jornais sobre espancamentos em banheiros pblicos e outros locais semelhantes, onde skinheads
espancavam homens que julgassem ser homossexuais. Um artigo do professor de criminologia Mark S. Hamm fala sobre essa questo. Se uma das vtimas dos skinheads eram os estudantes de classe mdia e alta da London School of Economics e Cambridge, entre seus novos alvos estavam os homossexuais. Segundo ele, A definio operacional de queer pelos skinheads parece ter se estendido a todos os homens que por seus padres pareciam estranhos. Desta forma, espancar homens que considerassem estar fora dos padres de masculinidade se tornou mais uma das prticas intolerantes dos skinheads. Violncia gratuita e intolerante @s hippies, considerad@s suj@s e parasitas, eram tambm alvos frequentes desta violncia. O skinhead George Marshall relata em seu livro que (...) Os Pakis eram mais um inimigo que os skins acrescentavam lista que j inclua hippies, gays, tarados em geral, Greasers e outros que aparentemente estivessem do lado errado da vida. Neste sentido, encontramos referncias sobre agresses a deficientes fsic@s, estupros em estdios, dentre outros. H inclusive referncias sobre situaes em que, em princpios dos anos 70 em algumas reas de Londres, skinheads tivessem a prtica comum de andar em blocos ocupando toda a largura da rua, bloqueando tod@s aquel@s que viessem na direo oposta. Poderamos citar aqui diversos pontos sobre a histria, e mesmo trechos maiores de textos e relatos da poca, mas este espao seria pouco para isso. Para quem tiver interesse em pesquisar a respeito, existem textos e livros, alguns deles escritos pelos prprios skinheads que viveram a poca, que falam sobre a forte presena de
patriotismo, machismo, violncia e espancamentos de imigrantes e homossexuais como algo inerente ao skinhead desde sua origem, e mesmo sobre prticas semelhantes em outros momentos histricos. Existe tambm uma grande produo de pesquisas acadmicas em ingls sobre o assunto. Tenses entre branc@s e negr@s As prprias tenses entre skinheads brancos e negros surgem muito antes da influncia da National Front, quando em plenos anos 70 as msicas de reggae passaram a tratar de questes negras, frica, libertao e sensibilizao d@s negr@s. O que ficou conhecido como Grande Guerra do Reggae, fez com que a partir dos primeiros anos da dcada os skinheads passassem a se afastar cada vez mais da cultura negra e do reggae jamaicano, tornando o skinhead reggae algo muito distante de tudo isso. Em uma edio do Journal of Social History, o historiador Timothy Brown fala um pouco sobre o contexto em que o skinhead passava naquele momento, e relata um conflito em um clube londrino neste perodo que muito significativo: Em 1970, (...) a lua de mel ocasionada pela paixo dos skinheads pela msica foi dando lugar a disputas territoriais entre garotos negros e brancos pelo controle dos principais clubes. Mais importante, em 1971, o reggae estava mudando, abrandando e adotando novos temas. Sob a influencia do Rastafarianismo, a msica comea a tratar de noes msticas da frica e libertao negra que pouco tinha a ver com a msica de festa que o reggae tinha sido. Combinado com o esprito crescente do orgulho negro exemplificado pela msica de Bob e Mrcia Young, Gifted and Black a mudana em foco comea a fazer da msica menos agradvel para jovens brancos aficionados do skinhead reggae. Em um emblemtico exemplo, jovens
skinheads responderam ao tocar de Young, gifted and black [Jovem, Talentoso e Negro] cortando os alto-falantes do clube e lanando seus corpos violentamente para gritar jovem, talentoso e branco!. O livro Paint House, que aborda a trajetria de uma das primeiras gangues de skinheads inglesas, formada em 1968, cita que os skinheads que a integravam j listavam judeus/judias, paquistanes@s, hippies e mesmo jovens negr@s na categoria do que chamavam de pessoas nas nossas costas. Neste livro, escrito por Susie Daniel e Pete McGuire, um dos membros da gangue fala que pelas costas, os jovens negros com quem crescemos juntos, iro pegar nossas garotas e trabalhos, acrescentando que o problema , eles pensam que so to bons quanto ns. H referncias dos prprios skinheads da gangue contando com orgulho sobre os espancamentos de paquistaneses que fizeram, e um outro dilogo publicado neste livro j coloca em questo o preconceito racial e xenofobia entre os skinheads desta que uma das primeiras gangues: - Ns queremos domnio branco, queremos supremacia branca, certo? - No, queremos uma Inglaterra branca. Voc quer um escravo negro? - No, eu s quero que eles vo para casa. Podemos perceber uma relao dos skinheads com a cultura jamaicana e negra muito mais pautada em uma ocidentalizao europia de uma cultura afro, e no uma postura de se deixar influenciar pelos valores e caractersticas da mesma.
A respeito desta convivncia entre brancos e negros no meio skinhead, o socilogo Dick Hebdige reflete sobre como esta aliana entre brancos e negros era precria e provisria, com contnuos pontos de conflito, e brigas pelas garotas brancas. Para ele, foi somente colocando bodes expiatrios em outros grupos como homossexuais, hippies e imigrantes asitic@s que este conflito pode ser adiado: Mais notavelmente, o pakibashing pode ser lido como uma manobra de deslocamento por meio da qual o medo e a ansiedade produzidas pela identificao limitada com um grupo negro se transformou em agresso e dirigida contra outra comunidade negra. Skinheads, conservadorismo e tendncias de direita Todas as posturas, idias e aes que surgem como caractersticas do skinhead em seu incio nos mostram uma ntida tendncia para as idias da extrema direita. Em alguns dos estudos que citamos neste texto, pesquisador@s falam exatamente sobre os valores prprios desta cultura, vendo-as tambm como tendncias claramente conservadoras. Clarke e Jefferson, por exemplo, apontam estes valores nas prticas skinheads: O puritanismo cristalizado em oposio aos greasers e hippies hedonistas, e o chauvinismo no queer bashing e paki bashing, que podiam incluir qualquer homem que no fosse masculino o suficiente e pessoas de pele escura semelhantes a imigrantes paquistaneses, Para o historiador Timothy Brown, A subcultura skinhead possua, portanto, um potencial de direita, um potencial que veio tona durante seu revival no fim dos anos 70 e incio dos 80. Declnio econmico,
escassez de trabalhos, e aumento da imigrao intensificaram as latentes atitudes racistas e de direita na sociedade britnica durante os anos 70 e 80, e os skinheads refletiram estes preconceitos de forma exagerada. Com sua reputao para violncia e vises patriotas-nacionalistas, skinheads foram vistos como alvo particularmente atrativo para recrutamento pela direita radical. A National Front renovou seus esforos para ganhar o apoio da juventude de classe operria, fundando a Young National Front em fins de 1977. O abertamente nazista British Movement fez o mesmo, e com nfase nos combates de rua, foi particularmente atrativa para os skinheads. No podemos esquecer que outros grupos da juventude tambm foram alvo destas tentativas de cooptao, inclusive grupos punks, mas foi no meio skinhead que essas tentativas tiveram um xito mais expressivo, tornando-se um dos maiores focos de recrutamentos de militantes para grupos da extrema-direita como a National Front e o
British Movement. H que se pensar tambm que, para alm da cooptao por parte de partidos e grupos de extrema-direita, existiu de fato uma parcela significativa de skinheads que realmente se identificavam com este conservadorismo nacionalista e se uniram a estes partidos por encontrar no fascismo institucional a radicalizao de idias que estavam presentes em seu cotidiano desde o incio. No afirmamos que o skinhead em sua origem tinha o fascismo ou o nazismo como ideologia definida. Porm, diversas das prticas e posturas aqui citadas se encaixem dentro dos valores comuns extrema-direita, o que demonstra que o subsequente envolvimento com o nazi-fascismo foi consequncia direta de tais prticas, costumes e formas de pensar. Para alm disso, no necessrio que se tenha o fascismo como ideologia definida pra que seja possvel que um grupo tenha prticas de carter fascista. Acreditamos que buscar no passado uma desculpa para afirmar que skinheads no so isso ou aquilo s demonstra uma clara tentativa de revisionismo histrico, j que o prprio passado demonstra traos diversos de conservadorismo e intolerncia que no podem ser esquecidos ou apagados.
original, que os skinheads nazi-fascistas so uma minoria dentro da cena skinhead. Mais uma vez relembramos que uma breve passada pelo histrico do skinhead no mundo ir nos mostrar um nmero gritante de casos de agresso, assassinatos, violncia e ataques em diversos lugares. No se trata de olhar apenas para as apelativas matrias da imprensa miditica, mas para pesquisas, relatrios, documentrios, relatos de punks e militantes de movimentos sociais, e dos prprios skinheads que estiveram ali. Um nmero e uma histria que demonstram o peso que tais indivduos nazi-fascistas tiveram nesta dita cena. Discordamos de que sejam uma minoria, e importante lembrar que nos ltimos anos tm crescido novamente a
quantidade de aes intolerantes protagonizadas por estes grupos de extrema-direta. Vemos neste argumento mais uma forma de tentar minimizar o problema. Se o objetivo com todos estes argumentos era mostrar que nem todos os skinheads so fascistas, o que se consegue criar uma iluso para a sociedade de que quase no existem skinheads de extrema direita, e que se pode ficar tranquil@ porque todos os skinheads verdadeiros so antifascistas. E assim skinheads supostamente verdadeiros e falsos andam pelas ruas com seu mesmo visual e suas mesmas caractersticas culturais, todos eles protegidos pelas iluses criadas com tais argumentos.
envolvidos no Oi! e nestes skinheads, que para alm de toda a cultura de briga e virilidade masculina que frequentemente destrua as gigs e eventos, tinham um forte discurso de culto as tradies, machismo e orgulho posio de operrio, enquanto @s peace-punks defendiam a destruio das classes, questionando este orgulho de serem explorad@s. So exatamente estes valores que vemos prevalecer at os dias de hoje nas msicas e prticas de grupos que se reivindicam como Oi!, e que para ns nada
tem a ver com o punk enquanto expresso contra-cultural. O Oi!, inicialmente apenas uma gria cockney com significado de saudao, foi o nome dado pelo jornalista Gary Bushell, a partir de uma msica da banda Cockney Rejects. Bushell odiava a cena Peace-punk que se desenvolvia na poca em torno de perspectivas anarquistas, igualdade entre gneros, anti-racismo e intenso questionamento poltico e social. @s chamava pejorativamente de hippies anarquistas, e utilizava-se da revista Sounds para atacar constantemente as atividades do Crass e da Dial House, comunidade onde viviam. No entanto, algumas ofertas vieram da cena Oi!, que no tiveram sucesso: Jimmy Pursey, da Sham 69, tentou formalizar um contrato com a banda Crass, informando que poderia inclu-los no Pacote de Pursey e fazer o marketing da revoluo, dizendo que nunca conseguiriam sem ele. A proposta foi negada, mas esse fato denuncia ainda a forma como os expoentes da cena Oi! tratavam tudo isso. Foi atravs da mesma revista Sounds, em 1980, que Bushell deu nome ao que seria o Oi!. Ali escreveu uma srie de conceitos sobre um novo punk, e apontava vrias bandas como representantes desse novo esprito. Tambm lanou diversas coletneas Oi! dos anos 80, com bandas que no geral falavam sobre violncia para passar o dia, esmagar nariz de hippies, hooliganismo, culto aos msculos e orgulho operrio, como a Last Resort, que em uma de suas msicas fala: "Eu estava andando pelas ruas com meus amigos, procurando um pouco de violncia para passar o tempo, ns encontramos esse hippie idiota e ele tentou fugir, mas eu o soquei no nariz s para passar o dia..."
Falando sobre o Oi! na revista Sounds, Bushell define: "A mentalidade essencialmente masculina, apesar de algumas garotas estarem envolvidas. basicamente o que John McVicar chamou de machismo...O machismo definido corretamente algo sobre honra, lealdade, fora e resistncia...O tipo de idia que me atinge como um ideal muito mais prefervel ao bunda-mole introspectivo defendido pelos hippies" Outra citao sobre o Oi! tambm bastante esclarecedora sobre qual sua mentalidade: Oi! rocknroll, cerveja, sexo, frequentar gigs, tirar um sarro, puxar briga. a nossa vida, nosso show, nosso mundo, nossa filosofia. (Garry Johnson, poeta e Oi!) Com o passar do tempo as gigs de bandas Oi! foram se tornando com cada vez mais frequncia palco para as brigas e demonstraes de fora protagonizadas pelos skinheads, tornando a existncia de muitas delas quase insustentvel. O skinhead George Marshall relata este momento, em situaes onde podemos perceber que o punk tambm vai se tornando alvo da violncia intolerante dos skinheads, e que podem ser encontradas em inmeros outros relatos: Na hora de acusar, todos os dedos apontavam na direo do skinhead, no sem motivo. Em se tratando de violncia nas gigs de punks, eram sempre os skins que comeavam a treta, e, se no comeavam, acabavam. Isso no quer dizer que todos os skins estivessem a fim de detonar a msica pela qual haviam pago ingresso para curtir, mas era um problema crnico que se tornava insustentvel. Sempre havia um suposto skin partindo pra ignorncia se o vizinho no tivesse o mesmo coturno, suspensrio, cor ou distintivo na roupa. De repente, virou passatempo praticar a malhao do punk (...) Um ou outro
quebra pau poderia ter sido controlado ou contornado. Mas a violncia orquestrada em nome da poltica era algo bem mais srio. A questo que grande parte dos skinheads que curtiam o som da Sham e de outras bandas Oi! apoiava o National Front e o British Movement, duas organizaes de extrema-direita cuja militncia j tinha crescido bastante quela poca. Em um artigo sobre a relao entre a cena skinhead e a msica de carter nazista, o historiador Thimothy Brown fala sobre as relaes que o surgimento do Oi! possibilitou dentro da cena skinhead para o surgimento de um estilo musical de extrema direita, citando alguns acontecimentos relevantes para entendermos este momento: Um evento chave para estabelecer a notoriedade da cena skinhead, e que representou a articulao simblica entre o gnero musical e subcultura, violncia e racismo, a to falada Southhall riot, de julho de 1981. A revolta aconteceu em uma gig na Hambrough Tavern, na predominantemente asitica Southhall, subrbio oeste de Londres. Southall era a principal rea de imigrao asitica e tambm um forte alvo das provocaes da National Front. Southall havia sido anteriormente (abril de 1979) palco para dias de confrontos entre a polcia e a juventude asitica aps o ativista anti-racista Blair Peach ter sido assassinado durante uma manifestao contra uma marcha da National Front. O alegado fracasso das autoridades para investigar adequadamente o assassinato de Peach deixou um legado de indignao que foi exacerbado pelos frequentes incidentes de Paki-bashing. Com apresentaes de trs conhecidas bandas Oi!, The Business, The Last Resort e The 4 Skins, a gig foi vista como a gota dgua pelos jovens asiticos locais, que acabaram com a apresentao queimando o lugar. Um grande nmero de skinheads foi
preso na confuso que se seguiu, e a imprensa se mexeu rapidamente para estigmatizar toda a cena skinhead como baluarte da extrema direita, apesar do fato da National Front no ter nenhum envolvimento direto com a gig. O pnico moral resultante foi impulsionado pelo receio pblico sobre o segundo de dois lbuns de coletnea Oi! lanados pela revista Sounds sob o estmulo do jornalista Gary Bushell. O primeiro, Oi! The Album, ajudou a lanar o movimento Oi! em novembro de 1980. O segundo lbum, lanado apenas alguns meses depois da revolta de Southhall, tinha como ttulo o trocadilho infeliz Strength Through Oi! (uma brincadeira com o nome da organizao da era-Nazi Strength Through Joy). O lbum tambm destaca em sua capa uma fotografia de Nicky Crane, um conhecido skinhead que tambm foi organizador do British Movement em Kent. O lbum no foi financiado pela extrema direita, nem as bandas ali representadas eram necessariamente de direita, mas as conotaes direitistas do ttulo e arte da capa, levadas em conjunto com a violncia em Southhall e os resultantes acusaes de fascismo skinhead na imprensa, solidificaram a reputao de direita da cena skinhead e da msica Oi!. Ao prever, pela primeira vez, um foco musical para o skinhead que era branco isto , no tinha nada a ver com a presena de imigrao caribenha e mnima conexo com as razes musicais negras o Oi! concedeu um foco musical para novas vises da identidade skinhead. (...)
Conferindo uma expresso musical identidade skinhead que era exclusivamente branca (e, diferente do punk e ska, quase exclusivamente masculina), e em primeiro plano a violncia como pilar do estilo de vida operrio, o Oi! concedeu um ponto de entrada para uma nova marca do rock de extrema-direita. Conforme o Oi! passa a ser associado com msica branca, a relao entre causa e efeito foi revertida: para alm de skinheads adotarem as crenas direitistas e expresslas nas msicas, msicos com crenas direitistas comearam a adotar a cena skinhead branca, masculina, violenta e patriota como campo para se expressarem. Estes msicos trouxeram novas influncias musicais ao Oi!, criando uma forma hbrida de skinhead rock que mantm sua filiao com a cena muito depois de ter deixado qualquer semelhana com o som street punk do qual o Oi! se desenvolveu. Se, por um lado, parte dos integrantes destas bandas tentaram a todo custo no serem colocadas como fascistas, seja buscando participar de eventos contra o racismo ou por meio de artigos de Bushell na revista Sounds, fato que esta associao foi se tornando cada vez mais forte, sobretudo pelas prticas e valores envolvidos nesta cena. Embora na maior parte das vezes o argumento seja de que tudo isto foi apenas uma deturpao da mdia, h diversos fatos que esto a, contados pelas prprias pessoas que viveram a poca, e que trazem mais uma vez a tona valores conservadores que no compartilhamos de forma alguma.
Mudando de lado
Temos visto uma presena significativa de ex-Carecas, ex-nazistas e ex-pilantras que de hora para outra comeam a se dizer antifascistas, muitas vezes aps algum tipo de discusso ou problema com seus antigos grupos. Pessoas que durante anos cultivaram sua intolerncia e a colocaram em prtica por meio de extrema violncia, e que de um dia para o outro dizem ter mudado radicalmente e se tornado antifascistas ou libertri@s. H ainda aquel@s que se assumem como Trads (Skinheds Tradicionais), unicamente para ter passe livre em todos os rols, sempre priorizando a dita cultura skinhead acima de tudo, reivindicando o dito skinhead original (pautado em tudo aquilo que descrevemos anteriormente) e muitas vezes reivindicando que no se envolvem com questes polticas o que no fim das contas mera desculpa pra no justificar suas aes e o envolvimento que acabam tendo com todos os tipos de skinheads, mesmo carecas nacionalistas ou nazis. O argumento para esta aceitao to fcil de skinheads que h pouco andavam e defendiam grupos nazi-fascistas quase sempre de que as pessoas mudam e evoluem!. Sim, as pessoas mudam constantemente e isso fato. Entretanto existe uma diferena entre acreditar na mudana das pessoas e ser ingnu@. tudo muito cmodo no? Difcil encarar todas estas mudanas repentinas como mudanas sinceras, e se assume um risco muito grande ao fazer isto. E fato que em diversos casos em localidades diferentes do Brasil, estes supostos skinheads anti-fascistas pouco tempo depois entraram para as fileiras dos skinheads nazis, e isso tem sido uma constante historicamente. Aconteceu em So Paulo, aconteceu em Porto Alegre, e em diversos outros lugares. Em Braslia, por exemplo, h alguns anos atrs uma grande quantidade de indivduos que reivindicavam o Oi! e buscaram se envolver na cena libertria pouco depois j estavam com carecas e nazis, partindo do Oi! como forma de aproximao. E vem acontecendo novamente com essa nova onda de skinheads anti-fascistas. Logo, a existncia de confiana em uma unio com estes grupos se torna ainda mais difcil. A questo aqui no unicamente a migrao de um grupo para outro, o que no fundo algo que se faz presente em diversos meios. Para alm desta constante migrao, o problema a se pensar e que salta aos olhos a fcil aceitao que existe deste tipo de caso neste meio skinhead dito anti-fascista, e que deixa clara a inexistncia de posicionamentos polticos concretos. Fora todo o risco que se tem ao aceitar isso sem maiores questionamentos, o que podemos perceber uma motivao explicitamente ganguista nestas mudanas
repentinas. Ontem fulan@ batia no grupo X, hoje bate no grupo Y: os alvos mudaram, mas talvez as posturas e valores no. Geralmente a forma de provar ao novo grupo que realmente mudou, sair no rol e bater em algum nazi. Mas isso realmente prova que uma pessoa anti-fascista? Ou s uma forma de mostrar servio? Isso tudo s explicita mais uma vez um antifascismo que transformado em ganguismo puro e simples, apenas mais um rol de treta sem qualquer vnculo real com as lutas sociais e polticas. E neste ponto entra mais uma questo importante, que diz respeito aos valores que
estas pessoas esto trazendo para a cena. fcil se autodenominar tal coisa e at sair na mo ou fazer coisas para mostrar servio ao novo grupo. Mas o que mais estas pessoas esto trazendo? E tudo aquilo de conservador que o skinhead carrega culturalmente consigo no vem junto neste mesmo pacote? A atualidade nos mostra que sim, pois muitos destes valores que foram
descritos como inerentes ao skinhead em sua cultura se mostram constantemente reproduzidos por esta nova e confusa gerao de skinheads. Nos ltimos tempos tem sido visvel em situaes diversas at mesmo expresses de nacionalismo vindas de skinheads ditos anti-fascistas, argumentos de que usar a bandeira do estado de So Paulo algo positivo e revolucionrio, bandas oi! supostamente anti-fascistas expressando todo o seu machismo dizendo que a burguesia serve para fazer filhas gostosas ou cantando que adoram buceta, churrasco e cerveja, reivindicaes de uma cena apoltica, ligaes com bandas que pregam o orgulho htero, e por a vai. At uma onda skunk ressurgiu das cinzas, carregando consigo @s punks desavisad@s. Num dia skinheads ostentam uma faixa com um smbolo com uma bandeira do Brasil, no outro pintam por cima da bandeira como se tudo estivesse resolvido. Garotas foram intimidadas e ameaadas em plena Marcha das Vadias de 2012 em So Paulo por skinheads antifascistas, pelo simples fato de terem se negado a receber seu panfleto. E casos semelhantes de tentativas de intimidar e ameaar tm sido constantes. Tem sido comum tambm o afastamento de diversas pessoas libertrias dos eventos e atividades punks, que por sentirem imenso mal-estar com a presena de skinheads e tudo o que isso acarreta, optam por no ir mais a determinados espaos ou participar de certas atividades. Enfim, so todos frutos desta aceitao do skinhead na cena punk e nos espaos libertrios que ocorre sem grandes contestaes.
Muitos destes relatos deixam claro tambm que a questo em diversas localidades muito mais de tolerncia do que de aceitao e unio. Existem bandas e grupos de diversos pases que igualmente se opuseram a esta unio, que se negam a tocar com bandas oi! ou skinheads, que falam a respeito disso em suas letras, ou grupos e indivduos que deixam clara sua negativa em realizar trabalhos conjuntos. No negamos aqui que existe presena de skinheads que se dizem anti-fascistas em atividades do meio libertrio em outros lugares, mas dizer que l fora h um consenso em relao a isso e que todas as pessoas aceitam seria uma mentira. E como dissemos, em muitos casos esta presena skinhead se d com inmeros dos problemas j apresentados. Outra questo a se pensar na realidade que existe em cada lugar, e que propicia determinadas coisas ou no. Fato que a realidade no Brasil muito especfica em relao a skinheads desde que estes surgiram por aqui, e tentar mudar esta histria apagando tudo o que existiu antes e que segue ainda existindo uma prtica que beira o absurdo!