O Personalismo (Emmanuel Mounier)
O Personalismo (Emmanuel Mounier)
O Personalismo (Emmanuel Mounier)
Na verdade, o Personalismo de Mounier tem muito a ver com a sua própria existência
e ao seu engajamento sociopolítico. Toda a sua vivência pessoal, ela extravasa-se
e, como uma reflexão, ela acaba se tornando filosofia. Isso, na verdade é um
paradoxo porque se exige da filosofia um certo afastamento das singularidades
pessoais e Mounier não estava preocupado em ter uma atitude de um filósofo
profissional.
Ele acaba abandonando a carreira universitária e vai lançar, em 1932, uma revista
chamada "Espirit", que foi porta-voz de um movimento de jovens inconformados com o
estado das coisas e com a atitude que a velha geração estava tomando. Essa revista
enfrentou muitas adversidades, desde o aspecto financeiro à acusação de modernismo
e de comunismo. Mounier acabou rompendo com muita gente pela incompreensão do
movimento.
A busca de Mounier era pelo testemunho da VERDADE, em qualquer circunstância, seja
ela qual fosse. Sem acomodações nem a particularismos políticos. Sua pretensão era
o quê? Era o fundamento de um verdadeiro HUMANISMO NOVO, ele queria descobrir
VALORES HUMANOS UNIVERSAIS.
Toda a obra de Mounier revela sua vida. Seu pensamento nada mais é do que a
vontade de comunicar a própria existência pessoal. Mas o que torna esse homem de
fibra é realmente um mistério. Sua honestidade, sua autenticidade diante dos
acontecimentos, sua generosidade, seu amor pelos homens, sua força de vontade,
fizeram dele um líder, um profeta.
Mounier era um autêntico cristão, nasceu num ambiente cristão e foi FIEL A SUA FÉ
ATÉ A MORTE. Mas ele idealizava um Cristianismo mais despojado, mais aberto aos
outros, mais de acolhimento, de coisas a proteger e não a impor. Por isso, muitas
vezes, foi incompreendido.
QUESTÕES:
Personalismo x Cristianismo (Corpo / Espírito)
Personalismo x Marxismo (Ser Social)
Personalismo x Existencialismo (Nós / Eu)
Se as impurezas vinham do corpo e não da alma, Mounier vinha e dizia que o homem é
corpo e espírito, juntos. Ele trabalha o homem com os pés no chão, sem abrir mão
da existência de Deus. As relações entre o Cristianismo e o Personalismo assim
como o Personalismo, o Existencialismo e o Marxismo sempre exigiram muitos
esclarecimentos dele.
Ele se aproxima do MARXISMO porque resgata o homem como ser social, ser terrestre
social. E também quando fala da personalização da natureza, que nada mais é do que
a humanização do mundo através do trabalho, proposta por Marx. O homem se vê homem
no seu trabalho. Mounier é marxista nesse aspecto. A PRAXIS é fator fundamental
no seu Personalismo.
A maior parte das obras publicadas sobre o Personalismo de Mounier enfoca mais as
posições político-sociais que ele engendrou e os seus discípulos de hoje estão
mais preocupados com o valor do seu testemunho para a construção da história
humana.
Mounier é kierkegaardiano na sua luta contra o sistema. Kierkegaard, um filósofo
dinamarquês percursor do Existencialismo, também não estava preocupado em
filosofar e sim em dizer o que ele pensava.
O homem é o único ser que transcende a sua natureza. Essa questão ontológica é que
o torna único. Só ele é capaz de transformar, de amar, de ser livre, de usar a sua
determinação pra superar qualquer obstáculo.
Mounier não quer definir o homem. Qualquer tentativa de definir, explicar o homem,
o diminui, o fragmenta e o homem é TOTALIDADE. E a existência da pessoa é uma
existência dialética, ela não se prende a um dado definitivo.
Existir para o homem é mais do que desenvolver uma essencialidade, é submeter-se
a tudo, a construir com o mundo e com o outro.
Eu só poderia dizer que existo à medida em que existo para os outros. Eu sou eu
porque convivo com você. Você se torna uma pessoa no sentido em que você percebe
as coisas. Você se conhece e conhece aos outros, não é só uma questão de empatia.
É uma sociedade englobante (eu, convivendo com vocês, em Santos, nessa sala de
aula, no dia de hoje).
Mounier faz uma crítica a quem julga o homem ou subjetivamente (de dentro pra
fora) ou objetivamente (de fora pra dentro). O homem não se divide.
Que fique claro também que existe uma distinção entre o Personalismo, que está
preocupado com o NÓS e o Existencialismo, preocupado com o EU.
Individualizar (pressupõe uma separação do EU e VOCÊ) e Personalizar (é resgatar a
própria pessoa, com a própria experiência. Ela não é restrita, ela se estende a
todos). O individualismo é herança de uma sociedade burguesa, que faz o homem
olhar só para o seu umbigo, ao passo que o Personalismo, é COLETIVISMO, é
conhecer-se, é constrir-se, dando-se! O Personalismo diz que Ser é Amor, mas não
se ama sozinho.
GLOSSÁRIO