Resenha Sobre o Filme Vermelho Como o Céu
Resenha Sobre o Filme Vermelho Como o Céu
Resenha Sobre o Filme Vermelho Como o Céu
, com direo de Cristiano Bortone, roteiro: Paolo Sassanelli, Cristiano Bortone E Monica Zapelli, cuja produo ocorreu na Itlia, no ano de 2006. Confesso que antes de iniciar o filme muito imaginei sobre a abordagem deste. Seria um filme sobre algum que superou algum tipo de transtorno obsessivo, ou outro tipo de sofrimento mental, como em Mente Brilhante (Esquisofrenia), ou mesmo de algum que no havia superado devido o preconceito da famlia, da sociedade, ou seja, por falta de apoio adequado, de uma abordagem adequada a sua situao? Seria este um drama com final feliz previsvel, ou trgico com o mesmo fim? Durante os primeiros minutos, aps ter o conhecimento de que o personagem principal sofreria um acidente com consequncias para sua viso, e que este seria enviado para um internato para crianas cegas, com regras duras, e com um destino previsvel (ser um tecelo, ou apenas o que conseguisse ser e no o que desejasse), tentei entender qual a ligao do mesmo com nosso mdulo de Sade Mental. O filme fabuloso, e apresenta a histria de um garoto determinado, Mirco, capaz de enfrentar sua nova situao, e suas limitaes, de aprender com seus pares (como no caso do som do vento junto a janela), e de influenciar os que esto ao seu redor devido a sua criatividade, como no caso do trabalho sobre as estaes, gravado e editado a partir de sua obstinao e capacidade autoditada de manipular o gravador. Ele foi capaz de utilizando uma situao adversa (castigo imposto por brigar com um de seus colegas de internato) em uma grande oportunidade exploratria e inspiratria para o cumprimento de suas obrigaes (no caso o trabalho sobre as estaes). Este garoto, portanto, enfrenta o estigma de que garotos cegos no teriam um futuro outro, a no ser o que o governo, e o internato onde estava, haviam traado. Enfrentou
os medos impostos pelo diretor, conquistou a amizade do padre professor, e no apenas isto, mas, influenciando os garotos de sua sala, fez com que outros pudessem superar os seus medos, seus limites, e se maravilhassem com o que a imaginao, e a vivencia sem as barreiras impostas pelos outros, podia lhes dar: a liberdade dos conceitos, ou prconceitos sociais e legais, que pudessem lhes aprisionar no que lhes havia sido destinado a ser: refns de sua infortuna. As cenas de Mirco pedalando uma bicicleta, apesar de toda a sua limitao visual, e a ida deste e de seus amigos ao cinema, utilizando os outros sentidos para acompanharem o filme, so fabulosas, e inspirativas. certo que os pais de Mirco j no aceitavam a realidade imposta, mas no tinham a sua fora, ao ponto de pensarem em tir-lo do Internato para estar com a famlia, e no fazerem, deixando-o sob a tutela do Estado. certo que, por fim, Mirco e seus amigos, dentre eles sua namoradinha, filha da zeladora do Internato, conseguem vencer as imposies do diretor, tambm cego (e que foi alm do que ele mesmo acredita ser o limite para os garotos de sua instituio) e ao invs da pea bblica de fim de ano, apresentam a pea que construram escondidos e com o apoio da namorada de Mirco e do Padre professor. certo que a cena dos pais com os olhos vendados na apresentao, desafiando-os a desenvolver outros sentidos, e mais que isto, a buscarem ver a realidade apresentada alm do que os olhos podem ver (aqui segundo os conceitos pr-concebidos, inflexveis, rotineiros, sem portas para outras possibilidades), sendo para cada um de ns, um filme inspirativo para a vida e a forma como encaramos a realidade de pessoas com limitaes que no possumos, mas, nem por isto, inferiores, menos capazes. Buscando analisar o nexo do filme com nosso mdulo, aps muito pensar e ler sobre os marcos da Sade Mental no Brasil, e a visita no CAPS II de Taguatinga (onde ouvimos
relatos fantsticos da Enfermeira Chefe, Dra. Maria), acredito que a grande valia do filme se deu, relacionado ao contedo da faculdade, que as limitaes impostas momentaneamente, ou permanentemente, pela enfermidade mental dos pacientes que buscam o SUS, e os preconceitos j existentes sobre a loucura, no devem direcionar nossa assistncia, pois, afinal, muitas vezes, como pudemos ouvir na vista tcnica no CAPS II, o que falta a algumas pessoas com transtornos mentais so pessoas que consigam enxergar mais do que o problema de sade que se apresenta, e as potencialidades que estes possuem e que muitas vezes ficam escondidas atrs do nos da sociedade, das barreiras a estes impostas, do isolamento social, como nos manicmios de outrora, e na viso no do ser humano com um transtorno possvel a todos, e plausvel de cuidado, e que necessitam de confiana e de envolvimento para conseguirem superar suas limitaes pessoais. Desta forma, acredito que o filme foi oportuno, e espero que os outros que seguem (alguns j conhecidos), consigam nos inspirar a reflexo criativa e crtica da realidade presente na Sade Mental desenvolvida no SUS.