10 Livros Que Eu Gostaria de Ter Escrito - Revista Bula
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10 Livros Que Eu Gostaria de Ter Escrito - Revista Bula
No se trata aqui, como o ttulo deixa claro, dos melhores livros que j li ou daqueles que me transformaram. Essas seriam outras listas, talvez com poucos elementos de interseo com esta. Trata-se sim daqueles livros que me fizeram comentar, com inveja: Putz, eu queria ter escrito isso. Tambm no so livros monumentais (do tipo Grande Serto: Veredas, A Montanha Mgica e Os Sertes), sobre os quais poder-se-ia fundar uma lngua, uma nao, uma gerao, ou todas essas coisas de uma s vez. Essas obras parecem o fruto de uma vida de trabalho de almas gigantescas cujo tom extrapola os limites do nosso diapaso. Nesses casos, no h lugar para a inveja da escrita, apenas um misto de temor e respeito diante do tamanho da tarefa que se obrou. Pelo contrrio, a escrita destes aqui parece clere e a leitura, comezinha. Como se o escritor, mestre em seu ofcio, tivesse aceitado uma encomenda e nela investido algo de sua arte, mas sem que para isso canalizasse todas as suas foras e mesmo a sua vida. claro que essa impresso apenas uma iluso construda com esmero, como quando o virtuose executa uma pea difcil, que lhe exige grande ateno e habilidade, e todavia o seu corpo e a expresso da sua face querem nos convencer de que o seu trabalho feito sem esforo e que a pea no foi ensaiada dezenas de vezes, como sempre acontece nesses casos. Olhando a lista, percebo que a forma romance prevalece mas as narrativas so, em geral, curtas. H dois apanhados de contos (Fices e Feliz Ano Novo) e trs outros textos que poderiam ser lidos em um par de horas (Memorial de Aires, Corao das Trevas, O Dezoito Brumrio). As obras de maior flego podem ser lidas em um fim de semana chuvoso, com folga para o cochilo depois do almoo (O Nome da Rosa, O Grande Gatsby, O Queijo e os Vermes, O Cu que nos Protege, O Evangelho Segundo Jesus Cristo). A fico a norma, afrontada apenas duas vezes: A anlise quase jornalstica de Karl Marx sobre o golpe de Lus Bonaparte e a reconstituio de Carlo Ginzburg do processo de inquisio contra Domenico Scandella, um moleiro italiano que viveu no sculo16. Essa preponderncia
http://www.revistabula.com/posts/listas/10-livros-que-eu-gostaria-de-ter-escrito[28/11/2012 16:31:50]
da fico no deixa de ser curiosa pois para cada livro desses que percorri durante os meus vinte e poucos anos de leitura adulta, havia uns cinco ou seis que no poderiam ser classificados como obras de fico. Curiosa tambm a presena de inmeros ttulos que j foram adaptados para o cinema: O Grande Gatsby foi filmado vrias vezes, a mais famosa por Jack Clayton (1974), com roteiro de Francis Ford Coppola; Corao das Trevas j virou at game e inspirou Apocalipse Now (1979), dirigido pelo mesmo Coppola; O Nome da Rosa foi dirigido por Jean-Jacques Anaud (1986), com roteiro adaptado por Andrew Birkin; O Cu que nos Protege foi dirigido por Bernardo Bertolucci (1990), com adaptao de roteiro de Mark Peploe e a fotografia estonteante de Vittorio Storaro. Alm desses, alguns dos itens da lista parecem gritar por um lugar nas telas: Certos contos de Feliz Ano Novo parecem feitos sob medida para o ritmo pulp de Quentin Tarantino e Memorial de Aires poderia muito bem ser dirigido pelo Clint Eastwood de As Pontes de Madison. Apenas seria difcil encontrar algum produtor com coragem suficiente para bancar a filmagem de O Evangelho. Eis a lista (a ordem de apresentao respeita o tempo de cada leitura: Os livros que li primeiro aparecem antes daqueles que li depois):
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Meu primeiro contato com a obra de Umberto Eco foi no incio dos anos 1990. Na poca, eu era um leitor voraz e estudante aplicado e um dia tomei emprestado na biblioteca da UERJ os livros Obra Aberta e Apocalpticos e Integrados. Embora me recorde as teses de cada um, lembro que a leitura deles no me causou maior impacto. Mas um dia o Lus Fernando (meu amigo, por onde andars?) me emprestou o VHS de O Nome da Rosa, dirigido por Bertolucci e estrelado por Sean Connery. Qual no foi a minha surpresa quando descobri que aquela erudita trama sherlockiana, passada em um mosteiro medieval, regada a sexo, heresia e inquisio, era baseada em um romance daquele semilogo italiano?
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