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PERIGOSAS NACIONAIS

PERIGOSAS ACHERON
PERIGOSAS NACIONAIS

Copyright 2018 ©Carlie Ferrer


Todos os direitos reservados. Nenhuma parte desta
obra pode ser utilizada ou reproduzida sob quaisquer meios
existentes sem autorização da autora. A violação dos direitos
autorais é crime estabelecido na lei n° 9.610/98, punido pelo
artigo 184 do Código Penal.
Esta é uma obra de ficção, sendo assim criados pela
autora, as regras de luta livre exibidas, assim como ambientes
e personagens.

CAPA
Arte: Mirella Santana
http://mirellasantana.com.br/
Imagens: ©Shutterstock

DIAGRAMAÇÃO
Carlie Ferrer
Imagens: ©Shutterstock/Freepik

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Introdução
— Era uma vez, uma doce e solitária garota,
perdida na cidade grande em busca do seu próprio
caminho. Ela não tinha nome, nem um passado que
pudesse ser compartilhado, e nem a esperança de
um futuro. Seus dias se resumiam a conservar sua
fama, que ganhara por pura sorte, já que era
péssima praticando a profissão que lhe garantia seu
sustento. Seus maiores medos se resumiam a três
coisas. A terceira: que sua farsa fosse descoberta
tirando assim todos os seus clientes e qualquer
possibilidade de manter-se na grande maçã onde
tentava viver. A segunda: que seu passado fosse
descoberto. Fora muito difícil para ela enterrá-lo, e
se qualquer pessoa o trouxesse à tona, não restaria a
ela um futuro para se preocupar. E a primeira,
aquela coisa que ela mais temia no mundo, era
apaixonar-se por Stephen Ryan.
— Ah, cale a boca, Brin e me deixa dormir!
Tenho que acordar cedo! — ralha Tyler, meu
colega de quarto, irritado.
— Você está estragando o que pode ser um
novo clássico dos cinemas, sou a nova Julia

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Roberts e ele, o novo Richard Gere.


A luz é acesa na minha cara e fecho meus
olhos por reflexo. Quando os abro, Tyler me encara
irritado, estende a mão em câmera lenta e
choramingo quando vejo seu dedo indicador se
estender em minha direção. Lá vem a bordoada.
— Primeiro, você não seria a Vivian, já que é
mais rodada do que pratinho de micro-ondas.
Segundo, o Ryan não é seu cliente, não deseja ser
seu cliente, nem tem qualquer interesse sexual por
você. Aquele cara é gay! Você devia dizer isso ao
pai dele, pegar o dinheiro antes que cortem nossa
internet, e seguir sua vida. E terceiro... — Ele faz
aquela pausa dramática que indica que vai pegar
leve. — Baby, olhe para você, é apenas uma
menina muito perdida. Você não tem nada, Brin,
não tem ninguém além de mim. Não tem família ou
um passado para compartilhar com ele. Às vezes
tenho a impressão que nem você mesma se lembra
mais de quem é. Antes de se apaixonar pelo seu
“não cliente” gay e gostoso pra caralho, devia se
apaixonar pela garotinha que foi um dia, que sabia
seu nome e suas origens. Devia reencontrá-la, para
depois buscar outra pessoa.
Suspiro exasperada e o encaro de volta:
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— Ele tem dez gominhos.


— Dez? Você tem certeza? Ah, meu pai, me
deixa sozinho com ele por dois minutos e te passo o
atestado de homossexualidade dele...
Tyler se empolga e não para de falar sobre o
jeito como Stephen o olhou quando esteve aqui, o
jeito que sorriu para ele e tudo o que ele acha que
indica que tem alguma chance com Stephen. Sorrio
e aceno, mas nem presto atenção na sua baboseira
empolgada, só me lembro daqueles olhos castanhos
fixos nos meus hoje cedo, quando ele me fez tocar
todo seu abdome, para deixar minha mão descansar
em seu peito, onde seu coração batia. E me disse
com aquela voz rouca e deliciosa que me daria
aquilo se eu quisesse.
Ele me daria seu coração.
Eu fui contratada para testar seu pênis.
E na verdade eu quero absolutamente tudo
dele.
— Estou perdida — choramingo escondendo
a cabeça debaixo do travesseiro, interrompendo o
falatório de Tyler.
— Amor, aceite o quanto antes, você não vai
ter um romance com Stephen Ryan.
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— Você não sabe um terço do que nós


passamos — defendo minha doce ilusão.
— Ah, é? Você anda me escondendo o ouro?
Então por que não me conta?
Num segundo tudo me vem à mente, desde
aquela manhã semanas antes, quando um cliente
desconhecido marcou um horário.

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Capítulo 1
Brin
Apesar dos vários clientes a quem já atendi,
um frio na barriga antes de encontrar um deles, é
algo que simplesmente não consigo evitar.
Trabalho com diversos tipos de pessoas, e pessoas
são sempre imprevisíveis. Aprendi há muito tempo
que não se conhece alguém de maneira alguma pela
aparência, pelo que ela diz ser e nem mesmo pelo
que falam dela. Você conhece alguém através das
suas escolhas. E nesta parte, bem, eu sou sempre
surpreendida. Como o cara que apareceu com uma
cobra e me pediu para deixá-la à espreita, nos
observando. Tínhamos que fazer devagar porque
um movimento brusco, e ela nos picaria. Claro que
isso não funcionou para mim, sou medrosa mesmo,
admito. Eu fui a responsável pelo movimento
brusco: gritei e pulei da cama em desespero. E isso
acabou com o estranho cliente sendo a vítima da
cobra, que só depois descobri não ser venenosa,
graças a Deus.
Adicionei esse cliente à minha lista de não
atender nunca mais.
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Por pessoas como ele, que estou aqui nervosa


e contando até vinte antes de entrar no famoso café
mais caro de Nova York. Que espécie de homem
chama uma garota de programa para um café onde
todos poderiam vê-los? Mesmo assim, me rendo à
sua mensagem enigmática e promissora e adentro o
café caríssimo. Observo os clientes do local em
busca do meu futuro cliente, torcendo que não seja
um velho asqueroso, nem um assassino, um
sequestrador, nem assaltante. Deus sabe como foi
difícil comprar as coisas do pequeno apartamento
onde realizo meus serviços. Se eu for roubada,
jamais conseguirei repor tudo o que tem lá. Mas as
pessoas neste lugar são distintas, elegantes, com
porte altivo e falam muito baixo. Seus olhares caem
sobre mim e se desviam com total indiferença.
Pessoas ricas.
Olho mais uma vez a mensagem do
misterioso cliente em busca de alguma informação
de quem ele é.

Querida Brin,
Preciso dos seus serviços com o máximo de
urgência e sigilo. Isso exigirá de você que se
concentre em apenas um cliente, mas prometo
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pagar em dobro pelo dinheiro que perderá com


os clientes que deixará de atender.
Caso esteja interessada, encontre-me no
endereço abaixo às onze horas desta terça.
Prometo que valerá à pena.

É isso. Nenhuma dica de quem é o homem


sigiloso. Observo mais uma vez os clientes e sento-
me em uma mesa, pego o cardápio oferecido por
um garçom extremamente bonito e quase engasgo
com o ar ao ver o preço das coisas ali. Não me
atreveria a pedir sequer uma água num lugar como
este. Vejo os olhos do garçom pousarem por tempo
demais no decote que estou usando, e deixo o
cardápio sobre a mesa para ser sincera.
— Não vou pedir nada, estou esperando um
cliente.
Sua expressão passa de assustada e surpresa
para empolgada. Um sorriso surge em seus belos
lábios quando se afasta. Pouco depois, retorna com
um cappuccino coberto de creme e o coloca diante
de mim.
— Por conta da casa para a moça tão bonita.
Sorrio em agradecimento. Se eu fosse boa no
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meu trabalho, sairia de graça com esse cara. Mas


bem, não preciso perder mais uma foda porque sou
ruim de cama.
Da maneira mais sexy que consigo, passeio a
língua nos lábios e provo o belo cappuccino ciente
do olhar atento do garçom gato, e merda! Está
quente! Pelando! Disfarço minha careta e um
sorriso quadrado cobre o xingamento que quase
escapole da minha boca. Engasgo um pouco, sinto
que nunca mais terei paladar na vida, mas fico
orgulhosa de mim mesma pelo belo teatro. Estou
fingindo há tanto tempo que me tornei mestre em
nunca mostrar o que estou sentindo.
Uma mão pousa no meu ombro e no susto,
cuspo o café quente para fora. Não dava para
engolir como estava, preferi queimar a língua, do
que a garganta. Mas agora, bem, lá se foi minha
foda.
— Brin Vega? Sou Donald Ryan, eu te enviei
a mensagem. Você está bem?
Faço um positivo com o polegar, porque o
café quente parece ter alcançado minhas vias nasais
e temo nem mesmo ter voz neste momento. O
homem é um coroa bem-apessoado. Usa uma roupa
feita sob medida, com certeza bem cara. Tem o
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porte de um chefe, alguém que está acostumado a


dar ordens e se fazer ser obedecido. Não esboça
qualquer sorriso nem demonstra o mínimo de
simpatia ao se dirigir a mim.
— Ouvi falar que você é a melhor no que faz,
por isso a chamei até aqui — diz sucinto.
E tenho que esconder minha cara de surpresa.
Eu? Melhor no que faço? De repente me pergunto o
que será que ele acha que eu faço, porque sexo com
certeza não faço bem.
— Claro! Sou a melhor! Do que o senhor
precisa? Uma fantasia a ser realizada? Algum
fetiche macabro? Uma ajuda para fazer seu
chefinho aí subir?
Ele faz uma cara horrorizada e irritada e
percebo que passei dos limites.
— O serviço não é para mim, é para o meu
filho. Preciso que você faça um test drive — diz
baixinho, olhando para os lados para certificar-se
que não estamos sendo ouvidos.
Então ele pensa que eu sou o quê? Uma
manobrista? Mecânica? Motorista particular? Isso
explica porque pensou que eu fosse boa de cama,
ele me confundiu.

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— Senhor Ryan, o senhor está me


confundido com outra pessoa. Eu sequer sei dirigir.
Mas, se algum dia precisar de sexo, pode entrar em
contato comigo de novo — esclareço sentida por
não receber mais a quantia que ele prometeu.
— Você não entendeu, sei que é uma garota
de programa, seu primeiro cliente foi Anthony Hall,
há dois anos. Você tem uma página com vários
depoimentos na internet.
— Eu tenho? — Ele me encara confuso e
trato de corrigir meu deslize. — Claro que tenho!
Merda! Isso não pode ser coisa boa! Quem
cria uma página para falar bem de uma garota de
programa ruim de cama?
— O meu filho mais velho tem me causado
certa preocupação. — Parece tenso ao dizer a
última palavra, observa mais uma vez o ambiente e
se debruça sobre a mesa aproximando ao máximo
seu rosto do meu. Faço o mesmo para ouvi-lo
quando praticamente sussurra. — Ele é frutinha.
Esta é uma maneira estranha de se referir a
um filho gay e preciso segurar uma risada.
— Neste caso, o senhor deveria contratar um
homem, eu não faço milagres.

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Ele volta para seu lugar encarando-me com


decepção. Será que ele esperava mesmo um
milagre?
— Ele não se assumiu, jura de pés juntos que
é macho, até arranjou uma namoradinha há
algumas semanas, mas o relacionamento terminou
tão logo começou. Nunca o vi com mulher
nenhuma. Ele luta num clube clandestino de luta
livre. Acha que não sei disso, mas sei. É parrudo,
cheio de tatuagens, tem muito dinheiro, era para
viver cercado de belas mulheres, e nunca é visto
com nenhuma.
Isso! Um cliente confuso é meu tipo
preferido de cliente. Foi assim que toda essa
história começou. Eu não teria que transar para
fazer meu trabalho. Teria apenas que bancar a
psicóloga dele. Faço minha melhor pose séria,
apesar da mancha de café no meu sobretudo, e
começo meu show:
— O senhor já tentou falar com ele sobre
suas dúvidas? É apenas uma preocupação genuína
de pai, ele não vai se zangar.
— Claro que já! Não recorreria a uma garota
de programa se isso tivesse funcionado! Tenho um
possível sócio que tem uma filha lindíssima, ela
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está na idade do meu filho. Estão vindo da França


para cá em dois meses, meu sonho é que meu filho
e a filha dele se entendam. Só que não posso
apresentá-lo a ela se ele não gostar da coisa, você
entende? Preciso de uma certeza de que ele é
mesmo frutinha.
— Entendo. O senhor não quer que eu o cure,
quer que eu o defina.
— Quero que faça o test drive, que o leve
para a cama, o faça transar com você e me diga
depois o resultado.
— E se ele for mesmo gay?
Ele gagueja, gagueja e não diz nada. Abre a
carteira e tira algumas notas jogando-as sobre a
mesa.
— Para pagar o seu café. Apesar que você
não parece tê-lo ingerido. Comece o quanto antes o
seu trabalho, você tem um mês para leva-lo para a
cama.
— Não preciso de tanto tempo.
— Tenha certeza quando for me dar uma
resposta.
— Pode acreditar em mim, se seu filho for
mesmo gay sou a pessoa indicada para atestar isso.
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Eu tenho uma espécie de gayômetro.


Ele assente e se levanta, mas diz baixinho ao
passar por mim:
— Eu não tenho problemas em manter nada
aqui de pé.
Então ele se vai e pego as notas que jogou
sobre a mesa.
— Trezentos dólares para um café?
Imediatamente, olho o preço do cappuccino
no cardápio e respiro aliviada ao perceber que nem
chega perto disso. Mas como foi presente, não
importa se fiz feio com o calor da bebida depois,
não irei pagar. Levanto minha cabeça fingindo
indiferença ao garçom que agora ri da minha cara, e
saio rebolando para que ele veja o que está
perdendo.
Ainda bem que ele não sabe que não está
perdendo nada.

Recebo pouco depois as informações sobre o


meu cliente frutinha, resolvi apelidá-lo assim, já
que é assim que o próprio pai se refere a ele.

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NOME: STEHEN RYAN


IDADE: 22 ANOS
HOBBIES: LUTA LIVRE EM UM CLUBE
CLANDESTINO CHAMADO LUCK. ATUAL
CAMPEÃO MUNDIAL.
LUGARES QUE FREQUENTA:
FACULDADE, CLUBE LUCK, BARES,
DANCETERIAS, BIBLIOTECA.
COISAS QUE GOSTA DE FAZER:
MALHAR, LUTAR, TIRAR FOTOS E LER.
FATO CURIOSO: NUNCA TEVE UMA
NAMORADA

Fato curioso: ele estuda na mesma faculdade


que eu, o que complica um bocado meu plano de
sedução. Ele com certeza sabe que sou garota de
programa, todos na faculdade sabem, deixam isso
claro todos os dias. Eu ia fingir ser uma garota
puritana e virgem muito curiosa sobre sexo. Isso
sempre funciona com esses caras. Agora preciso de
um plano novo. Observando as coisas que gosta de
fazer me ocorre uma imagem antecipada do
indeciso Stephen, um rapaz nerd, que vive com
uma câmera pendurada no pescoço, tem tatuagens
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desconexas com frases rebeldes e sem sentido, e


paga para ser sempre o vencedor do tal clube de
luta.
Sim, este é o perfil dele. E se um campeão,
tatuado e rico não consegue pegar mulheres, é
porque é no mínimo estranho. Não apenas na
aparência, mas no jeito de ser. Ser gay não faria
com que elas adivinhassem e não o cercassem, por
conta do dinheiro dele. Alguma coisa nele não bate.
— Quem é que gosta de ler e de bater em
pessoas? — pergunto confusa e Tyler responde:
— Você não sabe quais tipos de livros ele lê,
bebê.
— O que demais se pode ler na biblioteca da
faculdade?
Ele fica horrorizado com minha pergunta e
balança a cabeça de forma negativa.
— Você não conhece a sessão proibida, que
vergonha, Brin! Que vergonha!
E por mais que eu insista, o maldito do meu
colega de quarto vai dormir sem dizer onde é a tal
sessão proibida.
— Ok, acho que estou com um pouco de
medo do frutinha agora.
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Rapidamente, começo meu trabalho. Porque


sou uma excelente profissional, e não porque o pai
dele já me mandou três mensagens perguntando se
me aproximei do alvo. Fico de plantão na minha
moto super discreta em frente ao prédio onde ele
mora, e como recebo o modelo e placa do carro
dele pelo celular, fica fácil segui-lo quando ele sai
do estacionamento do prédio.
Ele dirige até uma lanchonete ótima que não
fica muito distante da faculdade. Desacelero a moto
para vê-lo descer do carro e depois procurar um
lugar para parar. É uma lanchonete, nada me
impede de almoçar besteiras lá.
Mas o que acontece quando ele sai do carro,
eu não teria previsto nem em um milhão de
hipóteses. Eu esperava o estranho nerd e
assustador, que gosta de ler e bater em pessoas, e
assusta as mulheres ao ponto de não se
aproximarem dele. O imaginava como alto demais,
e desproporcional aos braços musculosos, devido
ao excesso de bombas que toma, e com aquelas
tatuagens desconexas. Mas, o que desce do carro é
um deus grego alto, moreno, forte, lindo, bem
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vestido, com incríveis tatuagens e um jeito de


andar, movendo aquela bunda linda de um lado ao
outro, que me faz esquecer quem sou. Num
segundo, abro a boca completamente embasbacada
com o que estou vendo, e no outro, bato com a
moto no hidrante e caio rodopiando pelo chão.
— Merda!
Plano de observá-lo discretamente falhou
com toda certeza!
Ele me encara preocupado, mas alguns caras
aparecem para me ajudar e ele segue seu caminho.
Não tenho tempo de ver se machuquei, pois, ele sai
a pé da lanchonete, e meio mancando, com um
sapato só e com cotovelos ardidos, o sigo o mais
discretamente possível. Ele se encontra com uma
mulher. Ela é muito bonita, e não me é estranha.
Acho que estuda na mesma faculdade que a gente.
Eles conversam e vejo sua expressão de dor, ela
está terminando com ele. Meu coração se
compadece de seu sofrimento, com toda
imaginação que tenho, já que nunca amei ninguém
e não faço ideia do quanto isso dói. E penso que ela
só pode ser louca por dispensar um homem tão
bonito como ele.
Então me dou conta que errei apenas na
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aparência, ele com certeza é assustador e este é o


motivo de estar levando um pé na bunda. Logo,
Colin Hanson aparece, o conheço porque cursamos
uma matéria juntos. Ele é sempre falador,
esquentadinho e terrivelmente safado. Eu gosto
dele. É uma das poucas pessoas que não me olha
como se eu fosse lixo na nossa sala. Os dois se
enfrentam pela garota e fico nas nuvens. O que essa
menina tem para esses dois deuses brigarem por
ela?
Stephen se afasta e o sigo, praguejando o
quanto ele anda rápido, e ao olhar para baixo, noto
que estou sangrando em algum lugar abaixo do
joelho. E acabo perdendo meu alvo de vista.
Enquanto testo se a moto ainda está funcionando e
agradeço aos céus por estar, e me dirijo ao pronto
socorro, mudo o apelido com o qual irei chamar
meu cliente. Nada de frutinha, ele agora será o
suculento. Pelo tanto que me fez salivar.

No dia seguinte, recuperada e de cabeça


erguida, aguardo meu cliente nas penumbras. Sobre
a minha moto, com uma jaqueta de couro
descolada, e botas cano alto, abaixo de um short
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curtíssimo, sinto-me a própria detetive sexy. Vejo


quando meu garoto chega, cumprimenta algumas
pessoas e entra.
Pronto! Lá se foi minha observação.
— Que merda eu estava pensando? Que ele ia
ficar aqui do lado de fora a noite toda? Caralho!
Terei que entrar no clube. Se são os caras da
faculdade que frequentam este lugar, já posso
imaginar como serei recebida. Respiro fundo, dou
um passo para fora da penumbra, e a palhaçada
começa:
— Olha só, Brin Vega! Sem cliente hoje,
delícia?
— Brin, você está uma tentação com esta
roupa. Se me disser que vai fazer promoção hoje,
eu te contrato.
— Ei, Brin, estou sem moedas no bolso, você
aceita uma rola dura como pagamento?
No começo eu respondia cada um desses
babacas. No começo, eu me defendia para todos,
para quem quer que ousasse falar assim comigo.
Até que percebi que eu me defendia de mim
mesma. Porque eu atacava a mim mesma quando
permitia que esse tipo de babaquice me
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incomodasse, então deixei de prestar atenção,


deixei de me importar. Ainda sorrindo, entro de
cabeça erguida no clube e os deixo falando
sozinhos.
Há um imenso corredor com várias fotos de
lutadores lindos, musculosos e suados. E ao final,
em destaque, a foto dele. Paro embasbacada
observando a perfeição dos traços de seu rosto, e
cada detalhe do seu corpo. E não consigo ver
abaixo do seu peitoral definido porque alguém está
parado ali, observando-o. Tento me esconder como
uma louca ao ver que é o próprio Stephen, mas
estou em um corredor e não há nada que possa
fazer. Ele olha para trás, franze o cenho ao me ver,
e paro de tentar entrar na parede para erguer a
cabeça e seguir em direção ao interior do clube,
como se não estivesse ali por ele.
Passo por ele que não me diz nada, e quando
olho disfarçadamente para trás, ele está saindo do
clube. Sem ter de fato entrado. Volto correndo pelo
corredor, mas ele já se misturou entre a multidão de
pessoas que fica ali fora, e não o vejo mais.
Confusa, pergunto ao segurança da entrada se ele
não vai lutar hoje e ele diz que Stephen foi
eliminado do campeonato por Colin Hanson.
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Sinto pena dele, perder a coroa e a garota


para o mesmo cara não deve ter sido nada fácil. A
vida dele neste momento não deve estar nada fácil,
e eu ainda vou cair de paraquedas só para fazer um
test drive. Bem, eu poderia consolá-lo, sem que isso
fosse parte de um trabalho. Geralmente eu me dou
bem com pessoas em sofrimento.
— A quem você quer enganar, Brin? Você
seria só mais uma decepção na vida dele.
Derrotada, pego minha moto irada e me dirijo
a padaria mais próxima, compro um bom e
delicioso pote de sorvete, e vou afogar minha
segunda tentativa de investigação fracassada no
doce.
Mas agora mais do que nunca, estou curiosa
para conhecer melhor Stephen Ryan.

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Capítulo 2
Stephen
Leio pela terceira vez a mesma frase até
aceitar que não vou mesmo conseguir ler este livro.
O jogo sobre a mesa irritado e não me dirijo à
minha próxima aula. Talvez não queira mais fazer
direito. Não estou ansioso para defender culpados.
Não estou nada satisfeito por um futuro onde
tratarei de divórcios. Não quero ter que brigar por
direitos de trabalhadores mal pagos e vê-los perder,
mesmo estando certos, porque estas empresas são
as que movimentam a capital do país. Não, não
quero. Nada em direito me atrai. Sei que não é
apenas isso que um advogado faz, estou focando
nas coisas ruins, coisas que tanto vejo acontecer nas
firmas do meu pai, que é o lugar onde vou passar o
resto da minha vida quando concluir isso. Devia ter
concluído meu curso de fotografia, ao invés de ter
decidido ser um bom filho e trancado meu sonho
para realizar o do meu pai. Assim como devia ter
ficado na minha, esperando a pessoa certa cair de
paraquedas na minha vida, ao invés de procurar me
apaixonar pela melhor amiga do meu maior
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inimigo.
Caitlin partiu meu coração. E isso tem um
significado muito maior do que aparenta.
Decidido a salvar pelo menos o dia de hoje,
saio da faculdade e sigo para o Central Park. Este é
o lugar preferido da Caitlin, mas não é por ela que
estou aqui hoje. É por mim. Observo as pessoas à
minha volta, mães brincando cansadas com seus
filhos, crianças correndo e fazendo novas amizades,
casais apaixonados se pegando. Tiro a câmera da
mochila e começo a fotografar. Passo a manhã toda
fotografando até que me dou por satisfeito e volto
para casa.
Gosto de avaliar as pessoas nas fotos que tiro.
Fico horas imaginando a vida de cada uma delas, o
que faz para viver, o que gosta, o que pensava no
momento da foto. São pessoas aleatórias que sequer
sabiam que estavam sendo fotografadas, e isso é o
que mais gosto. Passeando pelos rostos de cada
pessoa capturada, um em especial me chama
atenção. É a garota que caiu de moto. Ela também
estava no Luck na outra noite. Aproximo seu rosto
na tela e noto que olha diretamente para a câmera,
diretamente para mim. Por algum motivo, nesses
últimos dias, este foi o terceiro lugar em que eu
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estava e ela também estava. A terceira vez que a


pego olhando para mim. Não pode ser apenas
coincidência. Ela não me é estranha, mas não
consigo me lembrar de onde a conheço.
Após analisar os rostos e pessoas, as poses e
flagras, e todo o cenário que as compõe, certifico
que ainda não encontrei a foto, aquela que vai me
fazer correr atrás do que realmente quero e sair de
vez de debaixo das asas do meu pai. Essas fotos
estão boas, mas não são nada além de fotos. Não há
nada especial nelas.

Como o bom filho que tento ser, volto para a


faculdade. A verdade é que minhas noites sem o
Luck têm sido uma enorme merda. Ainda vou lá,
claro, é como minha segunda casa. Mas não é a
mesma coisa ver os caras lutarem, e saber que você
é o próximo. Não há nada como saber que aquele
lutador que acabou de esmagar um oponente será
seu próximo oponente. Não há nada como avaliar
um lutador em ação, conhecer seus golpes,
identificar suas fraquezas e criar todo um plano de
ataque para vencê-lo. Meu tédio assistindo o
campeonato agora que não faço mais parte dele, me
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mostrou o quanto sou um péssimo expectador.


A sensação de que não estou sozinho está
comigo desde que botei os pés na faculdade esta
manhã, e apenas foi se intensificando com o passar
das horas. No momento, eu quase poderia jurar que
alguém caminha ao meu lado. Paro no corredor
vazio e olho para todos os lados, e apesar do
perfume forte e a respiração que posso jurar ter
ouvido, estou sozinho.
— Jesus? — tento, mas não obtenho resposta.
Se não é espiritual, tenho um perseguidor.
Nos meus dias de rei do Luck, isso não seria tão
anormal, principalmente com um campeonato
mundial em curso, pessoas são capazes das mais
variadas loucuras para alcançarem um objetivo, e
vigiar um lutador é uma das coisas mais comuns
nesse meio.
O horário das aulas termina, as pessoas
começam a aparecer aos montes no corredor, e por
hora não poderei descobrir quem está
acompanhando meus passos escondido nas
sombras. Finalmente um novo passatempo:
descobrir quem anda me seguindo e porquê. Dou-
me conta que Caitlin está passando por mim
quando o perfume dela me atinge e sou puxado
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bruscamente de volta às lembranças de momentos


tão bons que passei ao lado dela. Olho em seus
olhos grandes e ela os desvia, abaixa a cabeça e não
me dirige a palavra. Ela fez sua escolha: Colin
Hanson, e ele aparentemente não respeita as
escolhas dela, já que não podemos ser amigos.
De que adianta ser o cara bonzinho se foi
com o malvado que ela ficou no final das contas?
Ao fechar a porta do meu armário flagro ao
longe um par de olhos castanhos fixos em mim. Os
encaro de volta e a garota que tem aparecido em
toda parte onde estou, os desvia imediatamente.
Como fez no clube, quando tentou entrar nas
paredes para que eu não a visse, ela quase entra em
seu armário. Caminho até ela decidido a saber
porque ela está em tantos lugares em que estou e
qual seu problema comigo, mas quando chego ao
local onde estava, ela sumiu. Dou dois soquinhos
na porta de seu armário e digo alto o bastante para
que ela ouça caso esteja realmente ali dentro:
— Espero que não tenha conseguido entrar
aí, vai ser bem complicado sair depois,
principalmente quando sua chave está com um
desconhecido.
Tiro a chave do armário e a levo comigo. Ela
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vai parar de ficar me observando ao longe e vai


finalmente aproximar-se de mim. Porém, quando
coloco os pés para fora da faculdade o barulho de
uma Kawasaki ronronando atrai diversos olhares e
a garota de olhos castanhos passa sobre ela, os
cabelos ao vento, a calça colada ao corpo e suas
botas altas. Não era ela me observando no corredor.
— Quem será que eu tranquei no armário?
Acho que estou mesmo ficando louco.

Sempre que algum frequentador do Luck me


encontra na rua, vem me falar sobre o campeonato
e do quanto todo mudo tem certeza que Colin
Hanson será o campeão. Eu não duvido nada.
Parece que este é o ano dele, o momento dele, já
que tem vencido tudo o que almeja. E isso me faz
ter ainda menos vontade de ir ao Luck. Então tenho
minhas noites livres para... não fazer nada.
De saco cheio de olhar para o teto e sem
ideias para criar vidas para as pessoas das minhas
fotos. Foco em uma única pessoa. A garota da
moto. Recorto seu rosto da minha foto e o busco na
internet. Logo, aparece um resultado para minha
pesquisa. Seu nome é Brin Vega. Ela tem um site.
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As fotos passam diante de mim e não sei


definir minha reação diante delas. A garota é
realmente bonita! E sabe ser sexy, não posso negar.
Tem um sorriso encantador e gírias que nunca ouvi
falar. Na descrição de seu site há coisas como:
especialista em beijo grego, bondage e roleplay. Os
comentários são de seus clientes, a maioria deles,
citando o quanto ela é apertada e fogosa. Fico por
horas vendo suas fotos, depoimentos, e descrição e
fico fascinado por sua grande jogada. Ela é uma
garota de programa, isso fica bem claro em seu site,
apesar de não ser dito em momento algum, assim
como não há preço de seus serviços, eles não são
expostos. São apenas pessoas falando sobre o quão
boa de cama uma mulher é, sem deixar explícito
que ela cobra por este serviço. E o principal, em
seu site não há absolutamente nada sobre ela. Não
tem seu nome, apenas um pseudônimo: Brin Vega.
Não tem sua idade, local onde trabalha, um número
de telefone, nada. Qualquer desavisado poderia
pensar que ela é apenas uma mulher muito boa de
cama que teve vários parceiros. Ou uma viciada em
sexo.
E tenho quase certeza de que não é ela quem
faz as postagens neste site, já que sempre é citada
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na terceira pessoa. Começo a me perguntar como


seus clientes entram em contato com ela, quando
vejo a janela de contato. A abro curioso, e me dou
conta da merda que estou fazendo.
— Vai conversar com garotas de programa,
agora, Ryan? E vai dizer o que para ela?
Fecho tudo, desligo o note, e vou dormir mais
cedo.

Por algum tempo, a sensação de ter alguém


me seguindo some, o que alimenta minha teoria de
que era alguém do clube, que não sabia que eu já
havia sido eliminado e com certeza descobriu. E é
quando estou na biblioteca que a vejo: a garota da
moto. Ela me observa escondida atrás de uma
estante, seus cabelos castanhos denunciando sua
localização. A observo de volta e como esperado,
ela some. Mudo de mesa e vou para a mais distante
possível da que estava. Espero alguns minutos e lá
está, o cabelo castanho esvoaçante, denunciando a
pessoa escondida atrás da enorme estante de livros.
Penso em dar um flagra nessa perseguidora, e
quando ela nota que estou indo em sua direção,
tenta correr, mas acaba esbarrando em uma garota
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que entrava com a amiga, derrubando as coisas de


ambas.
— Presta atenção por onde anda, sua puta! —
uma das garotas diz com raiva.
— Passa a noite acordada com os namorados
alheios e na manhã seguinte não consegue nem
mesmo decidir que direção seguir.
Ela não responde, de cabeça baixa, junta suas
coisas e quando está se levantando, uma das garotas
bate a mão em seus livros e caem todos ao chão.
Aproximo-me no mesmo instante e me ajoelho
diante dela, ajudando com suas coisas. Ela para e
me observa curiosa. A ajudo a se levantar e verifico
suas pernas em busca de algum machucado.
— Belas pernas — me pego dizendo de
repente.
— Obrigada.
— Você está bem?
Ela assente ainda avaliando-me e a garota em
quem ela esbarrou, segura meu braço enquanto me
diz com todo desdém quem é a pessoa a quem
estou ajudando. Ela me conhece, embora eu não
consiga me lembrar de já ter falado com ela.
— Stephen, não precisa ajudá-la. É só uma
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garota de programa — explica com uma careta


direcionada a Brin.
Com um sorriso cínico no rosto, a bela garota
de programa diante de nós responde a morena que
ainda mantem sua mão em meu braço.
— Qual é mesmo o nome do seu namorado,
Erin? É Connor, certo? Você devia se preocupar
mais com o que ele anda fazendo, e menos com o
que eu ando fazendo.
— O que você quer dizer? — a garota
pergunta quase gaguejando. — Fique longe do meu
namorado — grita amedrontada e afasta-se dali.
— E eu pensando que você era uma donzela
em perigo.
Ela solta uma gargalhada que me faz rir
também. É um sorriso sincero, divertido e com um
quê de ironia.
— Seu sorriso já era lindo nas fotos, mas
pessoalmente, uau! É de tirar o fôlego — comento.
Ela fica séria de repente. Seu sorriso lindo
desparecendo e um pequeno vincado surge em sua
testa enquanto me avalia dos pés à cabeça.
— Sou uma donzela em perigo — diz pouco
depois com tamanha verdade, que se eu não a
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tivesse visto acabar com a morena minutos atrás,


acreditaria piamente nela.
— Por que você está me seguindo? —
pergunto.
— Porque você é estranho.
— Não era essa a resposta que eu esperava,
eu acho.
— Onde você viu fotos minhas? — pergunta.
— No seu site. Aquele que não foi você
quem fez.
— Como você sabe que não fui eu?
— É minha vez de perguntar. Por que você
acha que sou estranho?
Ela dá de ombros como se fosse a coisa mais
óbvia do mundo, mas vejo que cora levemente ao
responder:
— Você é o cara mais bonito que eu já vi e
mesmo assim está sempre sozinho. Alguma coisa
errada você tem. Só fiquei curiosa.
Sorrio divertindo-me com sua afirmação.
— Conseguiu algo nas suas tentativas
fracassadas de me vigiar?
Ela assente e avalia meu corpo dos pés à
cabeça com o lábio inferior preso entre os dentes, o
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que inevitavelmente prende minha atenção por


tempo demais, antes de responder.
— Um joelho ralado e um arranhão na lataria
da minha moto.
— Sinto muito por isso.
— Por que você está sendo legal? Sou uma
garota de programa, eu não dormi com os
namorados delas, deveria, mas não o fiz. Porém,
ainda assim recebo para fazer sexo.
— As pessoas não são legais com você, não
é? — observo e ela dá de ombros.
— Por que deveriam ser? Todas acham que
eu dormi com os namorados delas. Todos acham
que eu dormi com os amigos deles.
— Você faz sexo, isso não é nada demais.
Todas essas pessoas muito provavelmente fazem.
— No fim das contas, elas querem aprender o
que sei. E eles querem testar o que sei. É nessa
imaginação que acabo sendo odiada. Não que eu
me importe, mas se você preferir, posso começar a
me importar. Não vou ligar se você me defender
uma vez ou outra.
— Recado anotado.
Ela sorri e se afasta, pego minhas coisas e
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rapidamente a sigo. Ela caminha de cabeça erguida,


mesmo recebendo olhares tortos das pessoas por
ponde passa. Rebola bastante ao caminhar o que
atrai todo tipo de atenção, não é algo exagerado, ela
sabe ser provocante. Caminha até sua moto, aquela
que a grande maioria dos caras aqui queriam ter, e
de repente, olha para trás.
— Por que você está me seguindo? —
pergunta preocupada.
— Porque você é diferente — respondo
imitando a resposta que meu deu quando fiz a
mesma pergunta.
Um sorriso tímido surge em seu rosto e diz
em seguida:
— E por que você acha que sou diferente?
— Porque você diz se envolver com gente
demais, e mesmo assim está sempre sozinha.
Alguma coisa errada você tem. Só estou curioso.
Ela exibe aquele sorriso deslumbrante e sobe
na moto, e antes de colocar o capacete, me olha
com o lábio inferior preso entre os dentes por
alguns segundos e diz:
— Vamos ver quem descobre a coisa errada
do outro primeiro. Mas não vá se apaixonar por
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mim ao descobrir a minha.


— Prometo tentar.
Ela coloca o capacete e arranca com a moto.
E preciso admitir que adorei conhecer Brin Vega.

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Capítulo 3
Brin
Um filme romântico bobo passa pela décima
vez e mesmo assim sou incapaz de mudar de canal.
Gosto de rever filmes que já assisti muitas vezes,
testo minha memória assim, o quanto decorei das
falas. Há filmes em que já sei de cor todas as falas,
e os adoro por isso. Somos amigos íntimos. Mas
desta vez não estou prestando atenção às falas, não
saberia nem mesmo dizer qual é o nome do filme.
Meus pensamentos, geralmente livres, se
encontram todos aprisionados ao mesmo tema:
Stephen Ryan.
Ele foi legal comigo. Ele é legal. E tão
bonito! E me parece errado não contar a ele porque
comecei a segui-lo de verdade. Quando foi que me
tornei uma dessas garotas que se preocupa em fazer
o certo, nem eu mesma sei dizer.
A pipoca no balde no meio das minhas pernas
esfriou há muito tempo, e seu cheiro começa a
enjoar meu estômago. Sentindo-me uma farsante
solitária, choro com ela, contando os segundos para

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Tyler chegar e eu ter alguém com quem dividir


minha ladainha.
— Cinco, quatro, três, dois... Tyler! — grito
empolgada tão logo a porta é aberta. — Eu conheci
Stephen Ryan, ele me pegou vigiando-o, você
estava certo, não sou boa com essa coisa de espiã.
E ele foi gentil comigo! Um homem bonito foi
gentil comigo! Você consegue acreditar nisso?
Ele joga sua bolsa no chão, em seu gesto
automático de toda noite, bagunça seu cabelo
descolorido e estende as mãos para frear meu
falatório.
— Querida, vá devagar com isso, meu
cérebro não está em sua melhor performance esta
noite. É perfeitamente normal que ele tenha sido
gentil com você se ele for gay. Os gays são as
melhores pessoas do mundo, vivo dizendo isso,
mas vou repetir. Gays são vida! Essa pipoca está no
meio das suas pernas há quanto tempo?
— Você não entende! — choramingo. — Por
que não tenho uma melhor amiga mulher?
— Sabrine Vega! Assim você me ofende!
Sou mais mulher do que você, querida!
— Eu não quero mentir para ele. Ele foi legal

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comigo, quis me defender, não me julgou, não me


repudiou, foi gentil e amável. E eu não pude ser
sincera quando ele me perguntou porque eu o
estava seguindo. Isso é um saco!
Pego o balde de pipoca e o viro sobre a
cabeça na vã tentativa de me esconder da vida, e o
banho de sal e pipoca que recebo não serve de nada
para melhorar meu estado de espírito.
— Brin! Este era o último pacote de pipoca?
— Tyler pergunta horrorizado, em seguida, ouço
seus passos afastando-se e com a mesma rapidez,
aproximando-se de novo. — Sabrine! Você
desperdiçou o último pacote de pipoca, sua quenga
desnaturada!
Ele se ajoelha no sofá diante de mim e
começa a catar as pipocas frias, tira o balde da
minha cabeça, dá umas batidinhas nele e as joga ali
dentro, comendo algumas no processo.
— Desde quando você é do time das garotas
boas? — pergunta de repente quando eu já
começava a pensar que ele sequer havia me ouvido.
— Eu não sou.
— Então minta para o gato, leve-o para a
cama e faça o test drive. Depois, pegue o dinheiro e

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pague a internet, vão cortar na semana que vem.


— Essa conta é sua! Você é quem deveria
não deixá-la atrasar!
— Eu sei, mas não ando por aí vendendo meu
corpo, logo, você paga.
— Você tem um trabalho de carteira
assinada, sua bicha exploradora!
— Ah, meu Deus! Em que mundo você vive?
Desde quando quem trabalha tem dinheiro, Brin?
Ou você faz o seu serviço e paga a conta, ou me
responde uma pergunta com toda sua sinceridade e
eu pago a conta — propõe arqueando apenas uma
sobrancelha.
— Escolho o desafio.
Ele larga o balde de pipoca no chão e fixa
seus olhos puxados nos meus, o brilho neles é o
indício de que eu deveria ter aceitado pagar a conta
sem reclamar.
— Qual é o seu nome verdadeiro?
Sorrio. Não desvio meus olhos dos seus e sou
firme na resposta. Minto há tanto tempo que tudo o
que repito se tornou uma verdade.
— Sabrine Vega. A conta é sua.
— Este não é seu nome! Sua quenga
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trapaceira!
— É o meu nome, Tyler, olha a minha
identidade. Olhe a minha certidão. Você perdeu!
Ele se levanta irritado com o dedo em riste na
minha cara enquanto o presenteio com minha risada
diabólica da vitória.
— A conta é sua!
A distração foi muito bem-vinda, porém,
quando ele se afasta irritado, volto a me questionar.
Eu sei que vou seguir com isso, mesmo porque
estou curiosa sobre a masculinidade de Stephen
Ryan, mas será que tenho mesmo que mentir para
ele?

E aqui estou eu, na noite seguinte, após não


encontrá-lo na faculdade pela manhã, na porta do
clube de luta dele. Desta vez não estou no meu
estilo detetive sexy, sou apenas eu. Ou seja, roupa
curta, decotada e meu adorado batom vermelho.
Não vim de moto na esperança de ganhar uma
carona para a casa. Respiro fundo e ergo a cabeça
quando passo pelos babacas da faculdade, parados
na porta do clube falando obscenidades sobre as

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mulheres que estão por ali, que ficam se exibindo


para eles como se fosse um grande prêmio tê-los
falando delas. Claro que quando passo, toda a
atenção se volta para mim.
— Olha só, Brin Vega, o trabalho não anda
fácil, não é? Está tendo muitas noites de folga!
Sorrio para o idiota que nem sei o nome e
tento passar por ele, que segura meu braço.
— Não vai socializar? Achei que a garota de
programa fosse aproveitar a folga para garantir seus
futuros clientes, então devia tratá-los com cortesia.
Assim, não terá tantas noites livres para passear por
aí.
Sorrio ainda mais ao tentar tirar meu braço de
sua mão.
— Ah, querido, eu vou sim socializar, mas
não com você! Sou garota de programa mesmo,
mas com você eu não dormiria nem recebendo pra
isso. Se enxerga, fofo!
Os caras zombam dele que me solta de uma
vez e entro finalmente no clube. Uma mão segura
meu braço de novo, e preparo o soco, quando vejo
que é Stephen.
— Belo show, estranha — diz com um
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sorriso de lado.
— Ainda sou uma donzela em perigo —
garanto.
— Você veio até aqui para me ver, certo?
Faço uma careta.
— Que convencido, senhor Ryan! — Ele
cruza os braços enquanto aguarda por minha
resposta e a contragosto, porque seus olhos verdes
estão cravados demais em mim, acabo dizendo a
verdade. — Por acaso, eu vim sim.
— Então vem comigo, vamos para outro
lugar.
Opa que o suculento de gay não tem nada!
Deduzo animada e cedo demais. Ele me guia até
seu carro e abre a porta para eu entrar. Por um
momento me sinto a própria Julia Roberts e até me
pergunto porque não pintei meu cabelo de
vermelho. Já começo a imaginar onde ele vai me
levar, não espero que seja nenhum restaurante legal
ou caro. Claro que não! Onde um homem levaria
uma garota como eu? Algum motel legal e caro,
talvez? Ele parece legal. Talvez eu tenha sorte,
afinal de contas. Olho para seu semblante calmo ao
meu lado em seu carro e sou invadida pelos meus

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questionamentos. Não preciso exatamente transar


com ele, certo? Ele é legal demais comigo, ainda
mais me levando até um motel legal e caro. Se o
pau dele ficar duro, pronto! Ele não é gay. Mesmo
porque se eu tiver mesmo que fazer o test drive,
tudo vai acabar em pizza: eu comendo pizza na
minha humilde residência, sozinha contando
segundos até o Tyler chegar para eu chorar no
ombro dele.
Por que tenho que ser tão ruim na cama? Por
que não consigo aprender?
Contudo, todo meu questionamento é
interrompido quando ele para o carro perto de um
beco escuro e decido que ele merece sim, ter o pior
sexo da vida dele para aprender a não ser pão duro.
— Isso é sério? Um beco? Você quer me
comer aqui? — pergunto desaminada e
desapontada.
Ele dá um pulo engraçado no banco e quase
gagueja ao me responder.
— De onde você tirou isso? Brin, se eu dei a
impressão ao convidá-la para outro lugar comigo,
de que queria... Eu não a trouxe aqui para... transar
com você, está louca? — conclui de olhos

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arregalados após gaguejar muito.


— Então o que viemos fazer aqui?
— Achei que você quisesse me ver lutar.
Ele sai do carro e antes que eu possa voltar a
mim e fazer o mesmo, dá a volta, abre a minha
porta e me estende a mão.
— Julia Roberts jamais viria até esse beco —
resmungo.
— O quê? — pergunta confuso, mas dou de
ombros e ele deixa para lá.
Segura minha mão ao me guiar até o beco
escuro, e percebo com estranheza e uma espantosa
sensação de satisfação, que nunca andei de mãos
dadas com alguém antes. E meu momento moça de
família com o namoradinho é interrompido quando
entramos no tal beco, e é aí que vejo os outros
caras. Homens fortes demais, com as caras
machucadas, expressões assassinas e prontos para
combate. É uma pequena rua sem saída, um espaço
entre dois armazéns que chamam de beco. As fitas
amarelas usadas geralmente pela polícia para isolar
a cena de um crime, demarcam o ringue, e dois
homens ensanguentados parecem prestes a se matar
lá dentro.

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Lembro-me então que Stephen Ryan não é


tão legal quanto parece. Ele é o cara que gosta de
ler e de bater em pessoas. Tem algum distúrbio.
— Stephen, acho que não quero ver você
morrer.
— Você não vai me ver nem mesmo sair
machucado, pode acreditar.
— Desculpe, não estou duvidando dos seus
talentos, mas olha o tamanho desses caras e olha o
seu. Não estou te tirando, você é gostoso e tal, mas
eles dão uns três de você.
— Isso não tem a ver com músculos, Brin,
tem a ver com cérebro.
O som de um nariz sendo quebrado me faz
fechar os olhos em agonia.
— Isso me pareceu totalmente a ver com
músculos. Acho melhor irmos para outro lugar,
qualquer outro lugar.
Ele apenas sorri e quando o grandalhão é
anunciado o campeão, Stephen ultrapassa as linhas
amarelas e nada tira de mim essa sensação de que
estou prestes a ver um crime ser cometido já dentro
das linhas amarelas que isolam uma cena de crime.
Isso deve ser algo inédito, e com certeza nada
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agradável.
O oponente dele é chamado de Trovão, é
mais baixo que ele, porém bem mais musculoso.
Stephen é musculoso estilo sarado e gostoso, e esse
cara, seu oponente, estilo bizarro e assustador.
Duvido que ainda consiga enxergar o próprio pênis
no meio de tantos músculos em suas coxas.
— Confia em mim — Stephen pede baixinho
e dá uma piscadela antes de um sino soar e a luta
começar.
Percebo rapidamente as regras da luta: não há
regras. O Trovão tenta acertar perto demais do
pênis de Stephen e me desespero.
— Por favor, o pênis não. Quebra a cara dele,
mas não mexa no pênis! — peço baixinho quase
como uma prece.
E sem muito esforço, com sua total
concentração em seu oponente, Stephen consegue
desviar de quase todos os golpes de Trovão, como
se estivesse prevendo-os. E consegue acertá-lo
sempre que faz isso. Começo a entender porque
Stephen vence lutas com o cérebro, ele entende o
adversário, memoriza os golpes deles e os evita. E
percebe com grande facilidade suas fraquezas,

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usando-as sem piedade. Ele atinge em cheio o


oponente e se transforma em uma máquina sexy de
bater. Começo a torcer por ele fervorosamente, não
me importando com os olhares atravessados que
recebo das montanhas ali presentes. Stephen é
demais!
Ele é anunciado o vencedor, o sino
pendurado numa janela de um armazém, soa três
vezes indicando um campeão, e Stephen me olha
enquanto comemoro nem um pouco contida, com
um sorriso que não consigo decifrar. Assistimos
mais algumas lutas que são pancadaria pura, mas
entendo que ele quer estudar os outros lutadores
para vencê-los depois. E quando meu estômago
ronca mais alto do que os golpes desferidos no
ringue improvisado, ele tira as mãos dos bolsos e
parece completamente sem graça ao se dirigir a
mim.
— Você está com fome, quer comer alguma
coisa?
— Ah, eu gostaria disso. Pode ser um podrão.
— Um o quê? — pergunta confuso com um
meio sorriso puxado de lado em seu belo rosto.
— O cachorro quente gigante da esquina da

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faculdade.
— Na verdade, pensei em levá-la a um lugar
mais reservado, se não se importar.
Por que será que ele está corando?
— Tudo bem, sou toda sua, leve-me onde
quiser.

Mais uma vez, ao parar o carro, ele dá a volta


e abre a porta para mim. Também fez isso quando
fui entrar em seu carro. Desço desconfiada de seu
cavalheirismo, pensando se homens hoje em dia
ainda são capazes disso, ou isso é um indício de seu
lado afeminado, quando sou obrigada a interromper
minha indagação mental ao me dar conta do lugar
onde ele está me levando.
— Você está de sacanagem! — Mal posso
esconder minha empolgação. Vou comer pela
primeira, e provavelmente única, vez na vida no
DeStefano´s, o melhor e mais caro restaurante da
cidade. — Como conseguiu reservar uma mesa
aqui?
— Minha família é amiga do dono, não
precisamos de reserva — responde sem se gabar

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por isso, apenas sanando minha curiosidade. —


Você sabe, o melhor restaurante para a garota que
defendeu tão veementemente meu pau.
— Ah, merda! Eu fiz isso alto demais?
— Você estava praticamente gritando isso.
— Sinto muito. Ou não. Pelo menos ele não
acertou seu pênis.
Ele cora levemente, mas ri enquanto me guia
até uma mesa.
Durante meu treinamento para ser uma nova
pessoa em um novo país, tive diversas aulas de
etiqueta. Nunca tive a chance de usá-las, afinal de
contas, fui deixada às minguas num país novo e
com o que ganho jamais poderia frequentar lugares
que exigissem mais do que mastigar de boca
fechada. Estou mais do que satisfeita em colocar a
Brin fina em ação.
Tão logo nossa entrada é servida, Stephen
pergunta:
— De onde você é? Ouvi dizer que não é
americana.
Desvio meus olhos dos seus e respondo
calma e precisamente:
— Espanha.
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— Sempre quis conhecer a Espanha. Eu sou


daqui mesmo. Tenho uma proposta para te fazer,
vou te contar as coisas que ouvi sobre você e você
me diz o que é verdade ou não — diz com um
sorriso cafajeste em seu rosto que ainda não tinha
visto nele e preciso forçar a comida a passar pela
garganta que parece apertada de repente.
— Tudo bem, solte sua imaginação e dê o seu
melhor.
— Você cresceu nas ruas, num bairro pobre e
por isso sabe autodefesa.
Mastigo vagarosamente enquanto ele espera
minha resposta, divertindo-se com meu teatro.
— Sim, cresci nas ruas. E não, não é por isso
que sei me defender. Agora é minha vez. É verdade
que você apostou a virgindade da sua ex com o
melhor amigo dela?
Vejo um vislumbre da dor que passa por seus
olhos, mas logo ele disfarça e nega com a cabeça.
— Não. Mas não fui exatamente o melhor
namorado para defendê-la quando os idiotas do
clube começaram com essa aposta. Minha vez.
Concordo e ele pensa um pouco, pergunta no
momento exato em que o garçom se aproxima com
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os pratos principais e quase os derruba diante da


pergunta dele.
— Como você se tornou garota de programa?
Disfarçamos nossos risos da cara do garçom,
que afasta-se rapidamente e só então sorrimos
abertamente.
— Sinto muito por isso — desculpa-se. — Eu
não o vi aproximar-se.
— Tudo bem, não escondo o que sou. Mas a
verdade sobre isso o decepcionaria. Qual foi a
história que você ouviu?
— Nenhuma, na verdade. Parece que de
repente você já era garota de programa. Mas tenho
uma teoria. Você era boa demais nisso, e péssima
em lidar com seus patrões, então decidiu abrir seu
próprio negócio.
— Gostei da sua ideia, irei adotá-la. E eu não
sou uma pessoa difícil de lidar, apenas para que
isso fique bem claro.
Ele sorri com desconfiança, provocando-me.
E tenho uma vontade repentina de provar para ele o
quanto sou fácil de lidar.
— No seu site diz que você recebeu uma
proposta de um milionário pervertido e foi sua
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acompanhante por alguns meses, até que se cansou


e decidiu usar o que aprendeu para ganhar dinheiro.
— Ah, esse site. Bem, não fui eu quem o fez
e sequer já o visitei. Mas entre a ideia dele e a sua,
a dele vence. Irei adotar a história que já está sendo
contada lá, tenho certeza que você não se importa.
Me senti até uma dessas acompanhantes de luxo.
Ele não gosta do meu comentário, percebo o
incômodo que toma seu rosto e passo para a
próxima pergunta.
— Quantas namoradas você já teve?
— Nenhuma, na verdade. Eu namorei a
Caitlin, mas ela não considerou nosso
relacionamento assim. Então estou zerado nessa
lista. — Ele não parece envergonhado nem
apreensivo por confessar que nunca teve uma
namorada, o que é realmente comprometedor. —
Em qual cidade você nasceu?
— Bariloche — respondo sem pensar muito,
ainda confusa sobre um homem bonito como ele
nunca ter tido uma namorada, além da garota que o
deixou pelo melhor amigo, cuja virgindade,
aparentemente ele não tirou.
— Você não é da Espanha? Bariloche fica na

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Argentina.
— Sério? Terei que consultar um mapa da
próxima vez. Minha vez, qual seu tipo preferido de
mulher?
Ele olha diretamente em meus olhos ao
responder:
— Virgens.
Meu choque inicial me faz prender o ar, até
que ele ri alto, de dobrar seu corpo sobre a mesa e
encher seus olhos. E eu não consigo achar a mesma
graça.
— Sua cara foi impagável — diz gabando-se.
— Não tenho um tipo preferido de mulher. Mas se
tenho que escolher uma palavra, eu diria
interessante.
— Isso é muito vago. Pessoas sempre são
interessantes, se não por uma coisa, são por outra
— reclamo.
— Você é muito interessante, Brin Vega —
diz de repente enquanto prova a sobremesa e sinto
meu ar falhar por um segundo. Quero dar uma
resposta à altura, que o faça perder o ar por mim,
mas não consigo pensar em nada. A maneira como
me olha e o sorriso tímido que exibe antes de voltar
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sua atenção para a sobremesa em sua taça, como se


não tivesse dito nada demais, me mostram o quanto
ele é capaz de me abalar.
Mas nenhuma resposta me vem à mente, e
após começar uma frase que não sei como terminar,
me sinto sem graça diante de seu olhar tão bonito.
— Eu... obrigada.
Ah meu Deus, desde quando puta cora? O
que há de errado comigo?
Quando saímos do restaurante, o vento frio
me faz cruzar os braços na vã tentativa de proteger
meu corpo pouco coberto, e ele percebe isso. Toca
meu braço com gentileza e tira seu casaco
passando-o por meus ombros.
— Quase uma coberta para você — brinca
sobre a diferença de tamanho entre nós.
Quando vou abrir a porta de seu carro, ele se
aproxima para abri-la para mim, e neste instante em
que nossos corpos quase se tocam, em que ele se
abaixa para destravar a porta e abri-la, seguro sua
cabeça e levo meus lábios em direção aos seus.
Posso imaginar a sensação de tocar aqueles lábios
tão perfeitamente desenhados, e isso fica apenas na
imaginação, pois ele segura minhas mãos,

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afastando-me.
Sinto-me extremamente confusa. Havia todo
um clima entre a gente no restaurante, quando ele
disse que eu sou o tipo de mulher que ele gosta,
quando me deu seu casaco e abriu a porta para
mim. Esse clima existiu desde o momento em que
me chamou para sair do Luck com ele e decidiu
que eu merecia jantar em um restaurante caro e
legal. Então por que está me recusando agora?
— Brin — sussurra meu nome abaixando a
cabeça e percebo sua dificuldade em encontrar
palavras para me dar um fora.
— Tudo bem, Stephen, me desculpe. Eu
entendi tudo errado. Vou pra casa agora.
Viro-me de costas e mal dou um passo
quando ele fala:
— Você é incrivelmente linda, e tem o
sorriso mais gostoso e bonito que eu já vi.
Olho para ele esperando a conclusão de sua
declaração. Completamente perdida sobre o que
virá a seguir.
— Você é engraçada e forte, e sabe ser sexy
como eu nunca vi antes. Até seu jeito de comer é
sensual. A maneira como se move, como fala e
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como prende seu lábio nos dentes quando está


pensativa. Você exala sensualidade. Mas não quero
ser mais um dos seus clientes. Não estou
interessado em você assim. Você apareceu em um
momento em que eu preciso realmente de você.
Mas se quiser ficar perto de mim, se quiser levar
essa amizade adiante, tem que ser nesses termos.
Somos apenas amigos, Brin.
Não consigo responder. Como ele pode ser
tão fofo me dando um fora desses?
— Está tudo bem? — pergunta preocupado
tocando meu braço de maneira carinhosa e afasto-
me meio aérea.
— Espera, me dá um tempo. Nunca levei um
fora tão gentil na vida, não sei como agir.
Geralmente quando se leva um fora a gente quer
bater na pessoa, mas você foi tão legal e fofo que
só quero beijá-lo antes de ir embora. Não um beijo
roubado, como tentei agora pouco, um beijo
mesmo, e que você me desse para não dizer que te
agarrei depois.
Ele sorri timidamente e decido parar de
bancar a magoada na frente dele. Ele não me quer,
essa coisa de test drive não vai rolar.

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— Eu vou andando. Boa noite, Stephen.


Dou três passos antes de sua mão cobrir a
minha e ele me puxar, girando-me em direção ao
seu corpo. Suas mãos seguram meu rosto e seus
olhos estão fixos nos meus. Minha respiração
começa a falhar miseravelmente.
— Você me pediu um beijo. Não gosto de
deixar uma garota esperando.
Então sua boca toma a minha lentamente,
seus lábios desenhando-se nos meus, movendo-os
devagar. Sua língua pede passagem e domina a
minha com doçura. Encosto meu corpo ao seu
incapaz de manter-me de pé, quando seu braço
rodeia meu corpo e me aquece. Seu beijo é intenso,
lento, delicioso, uma verdadeira tortura. Eu poderia
ficar a noite toda presa em seus braços, colada à sua
boca, mas gentilmente ele interrompe o beijo. E de
repente quero chorar.
Faço um gesto suave com a cabeça em
agradecimento por atender o meu pedido e me
seguro para não sair correndo. Viro-me a passos
largos para longe dele.
— Ei, espere! Eu a levo até sua casa — ouço-
o dizer enquanto me afasto.

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— Não quero que saiba onde moro. Valeu.


E assim acaba minha história com Stephen
Ryan. O que vou dizer ao pai dele? Não faço a
menor ideia.

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Capítulo 4
Stephen
A luz do sol penetra aos poucos pela janela
aberta e ainda não preguei os olhos. Desde o beijo
em Brin há algo rondando cada pensamento meu,
algo que não consigo definir entre boa ou má ideia.
Se uma coisa ficou clara para mim na noite passada
foi que gosto da companhia dela. Ela é divertida,
misteriosa e muito interessante. Achei que
estivéssemos caminhando para uma amizade
improvável, mas duradoura, quando de repente ela
tentou me beijar. E agora, analisando as coisas que
eu disse, percebo que posso ter, sem a menor
intenção, dado em cima dela. Dizendo que ela é
meu tipo preferido de mulher, por exemplo.
Dar um fora nela não foi uma tarefa fácil,
nunca é. Principalmente porque ela cravou aqueles
olhos castanhos brilhantes nos meus, e é muito fácil
perder-me neles enquanto tento desvendá-la.
Interagir com a Brin é como adivinhar uma
fotografia ambulante. Não sei nada sobre ela, e
tampouco saberei por ela, já que nunca consigo
identificar quando responde uma verdade e quando
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está brincando. Pensei mesmo que ela ficaria


chateada, que me puniria de alguma maneira, ou
insistiria para que passássemos a noite juntos, mas
a reação dela me tirou do eixo. Nenhuma mulher
nunca reagiu assim. E quando ela disse com toda
aquela verdade, sendo transparente pela primeira
vez, que queria que eu a beijasse, pensei que não
custaria atender seu pedido com um beijo inocente.
Apenas para que ela não ficasse tão chateada, e não
me odiasse, impedindo assim qualquer
possibilidade de sermos amigos.
E desde então não consigo tirar o beijo
inocente da cabeça. Assim como não consigo me
desvencilhar dessa ideia, que não sei se é boa ou
ruim, mas que não deixa minha mente. Brin Vega
pode estar apaixonada por mim. Isso surgiu pelo
fato de ela ter me seguido por dias, apenas
observando-me, e por conta de suas reações na
noite passada. Quando achou que havia um clima
entre nós, tentou me beijar. Quando dei o fora,
ficou realmente sentida. E quando a beijei,
correspondeu com toda doçura e paixão que apenas
uma pessoa perdidamente apaixonada poderia
mostrar em um beijo. E é isso o que mais me faz
pensar que seus sentimentos por mim vão além de
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curiosidade. Ela se entregou a mim naquele beijo,


perdeu-se em mim, por um segundo precisei
ampará-la. E fugiu de mim em seguida, deixando-
me nessa dúvida se a verei novamente.
Por fim, desisto de tentar dormir e acesso seu
site pelo celular. Vejo as mesmas fotos, reparo bem
a que tem seu lindo sorriso, é engraçado como
agora sei que ele é ainda mais lindo pessoalmente.
E só então reparo o aviso discreto na janela de
contato.
Temporariamente indisponível.
Ela não está aceitando clientes por um
período de tempo? E se não recebê-los, do que irá
viver? Indo contra qualquer senso, envio uma
mensagem em sua janela de contato. Ela não criou
o site e não o acessa, mas com certeza vê as
mensagens já que é por ele que marca com seus
clientes.

Para: [email protected]
De: [email protected]
Brin, só quero saber se está tudo bem.

Aguardo sua resposta, mas ela não está


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online. Uma hora depois não tenho uma resposta e


vencido pelo cansaço, consigo cochilar um pouco.

Ela não apareceu na faculdade hoje e não


tenho qualquer notícia dela, então devo seguir em
frente e aceitar que ela fez o que achei que faria,
me puniu pelo fora. Bem, eu fiz o que pude, fui o
mais cuidadoso possível, não vou mais me
preocupar com Brin Vega.
Decidido, encontro Johnny, um amigo que
lutava comigo no Luck, na saída e antes que possa
impedir, me vejo perguntando:
— Você sabe onde mora a Brin Vega?
Ele me encara atônito e desconfiado.
— Por que você quer o endereço de uma
garota de programa?
— Não para o que você está pensando —
respondo enquanto ele grita sua dedução do meu
pedido, atraindo os ouvidos curiosos dos alunos por
perto.
— Você quer aprender umas coisinhas para
dar conta das garotas do clube, não é? Eu sabia que
esse dia chegaria.

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Com um sorriso estampado em seu rosto, o


cara que provavelmente é o único amigo que tenho,
me envia o endereço da Brin pelo celular. E seguro
a pergunta que não quer calar: por que ele sabe
onde ela mora?

O prédio fica no centro da cidade, numa rua


comercial e movimentada, um edifício bonito, e
logo tenho a impressão de que não deve ser dos
mais baratos. A recepcionista é solícita, e o
ambiente ali dentro possui uma decoração clássica,
diria até refinada. Se parece bastante com um lugar
onde minha mãe, a rainha das frescuras, se
hospedaria.
— Sabrine Vega não se encontra no
momento, senhor, sinto muito — informa a
recepcionista após digitar alucinadamente em seu
computador por alguns segundos.
— Você sabe quando ela volta?
— Na verdade, ela não aparece aqui há
alguns dias. Não acho que vá aparecer pelo resto da
semana.
Agradeço e me despeço completamente

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confuso. Se não está em sua própria casa, onde


poderia estar? Ela não me disse se conhecia alguém
na cidade, se tem algum parente aqui. Bem, na
verdade não me disse quase nada sobre ela. E
percebo que caso ela não apareça mais na
faculdade, provavelmente não voltarei a vê-la. Essa
constatação me faz sentir um incômodo estranho na
boca do estômago.

Esse incômodo não ameniza quando chego ao


beco e observo os primeiros combatentes da noite.
Agora, transformou-se em uma sensação de vazio,
como se algo estivesse faltando nesse cenário
violento. Sou chamado ao “ringue” improvisado
para enfrentar Loretto, um italiano de quase dois
metros extremamente violento. A luta é agitada,
muito difícil, apanho um bocado porque ele é
rápido demais e só o vi lutar uma vez. Não
consegui definir sua fraqueza e demoro um pouco a
fazê-lo. Principalmente porque minha mente ronda
os arredores, do lado de fora da fita amarela, em
busca de uma torcida animada demais que possa
desconcentrar meu oponente, aquela torcida
fervorosa que impediria o que acabou de acontecer,
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ele me atingiu em cheio nas bolas. A dor


excruciante me impede de reagir, ou me defender,
mas não sou mais atingido porque o juiz da noite
está finalizando a luta e dando a mim como o
vencedor. O motivo é que há uma única regra no
Campeonato Sanguinário do Beco: é proibido
atingir a região íntima do oponente. Loretto
quebrou esta regra bem ciente que seria
desclassificado, e tenho certeza que o fez para
ajudar aquele que será meu próximo oponente, Yuri
Mattos, mais conhecido como El matador. O
brutamontes brasileiro é o atual campeão do
campeonato.
Enquanto observo seu sorriso debochado em
minha direção e a ameaça em seu olhar, sorrio de
volta devolvendo sua confiança, eu sei muito bem o
que ele vai passar quando nos enfrentarmos, e sei
porque acabei de passar por isso. Irei vê-lo como o
meu reflexo, sendo o grande campeão e perdendo
isso de repente, porque eu irei vencê-lo.
Porém, para isso, preciso daquela torcida
fervorosa protetora do meu pênis. Preciso encontrar
a Brin.

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Enquanto a bolsa de gelo alivia a dor no meu


pênis, entro no site dela e abro a janela de
mensagem. Antes que possa me arrepender, envio:

Para: [email protected]
De: [email protected]
Brin, preciso do seu endereço. Temos que
conversar, é muito importante.

Espero alguns minutos e no momento em que


pego meu celular para contatar o melhor detetive
que conheço, recebo uma resposta.

Para: [email protected]
De: [email protected]
Não tenho tempo para palavras. Quero
saber o que vai fazer se vier aqui, e não o que vai
dizer.

Demoro alguns segundos para entender que


ela realmente está dando em cima de mim depois
da última noite em que a vi e daquele fora que
claramente a magoou. Meio incerto se está jogando
comigo, ou realmente se fazendo de desentendida,
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respondo apenas:

Para: [email protected]
De: [email protected]
O que você quer que eu faça?
Logo, a resposta.

Para: [email protected]
De: [email protected]
Você realmente não consegue pensar em
nada que queira fazer comigo? Eu consigo fazer
uma lista em menos de trinta segundos de tudo o
que quero fazer com você.

Será que ela bebeu? Ou será que é assim que


ela é de verdade?

Para: [email protected]
De: [email protected]
Por que não está atendendo seus clientes
esta semana?

Para: [email protected]
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De: [email protected]
Também tenho direito a dar um tempo de
vez em quando. Principalmente, quando meu
corpo só pede por um único homem. E ele quer o
meu endereço para conversar. Não chega a ser
irônico?

Para: [email protected]
De: [email protected]
Você suspendeu os seus serviços por minha
causa?

Para: [email protected]
De: [email protected]
Suspendi porque quero apenas você.

Para: [email protected]
De: [email protected]
Você está apaixonada por mim, Brin?

Para: [email protected]
De: [email protected]
Jamais afirmo isso antes de conhecer
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intimamente um homem. Estou nua e entediada.


Não estou afim de conversar. Se quiser o meu
endereço vai ter que me deixar fazer o teste para
saber se estou ou não apaixonada por você.

Para: [email protected]
De: [email protected]
Eu quero o seu endereço.

Rapidamente, o endereço do prédio onde


estive mais cedo aparece na minha tela. E percebo
então que não é lá que ela mora de verdade.

Para: [email protected]
De: [email protected]
NÃO É ESSE ENDEREÇO.
QUERO O SEU ENDEREÇO.

Para: [email protected]
De: [email protected]
Não passo esse endereço para ninguém. Se
vier até aqui, vai ter que fazer valer a pena,
Stephen.

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Para: [email protected]
De: [email protected]
ME PASSA O SEU ENDEREÇO!

A mensagem seguinte contém um endereço


no bairro de Bronxdale, no Bronx. Hoje em dia não
é mais tão perigoso lá, os turistas já o incluem em
sua rota de viagem, e é com certeza o distrito onde
mais se falam diferentes línguas em Nova York. O
lugar perfeito para uma pessoa nascida em outro
país se esconder. Me certifico de que conseguirei
andar normalmente após retirar a bolsa de gelo,
troco rapidamente de roupa e vou encontrá-la.

Observo escondido nas sombras e confiro o


número do prédio pela sexta vez. Sei que está tarde
e eu não deveria estar aqui, se usasse o juízo iria
embora agora mesmo. Afinal de contas, é apenas
uma garota. Alguém que deu em cima de mim, e se
magoou em seguida. Infelizmente essa lista só
cresce. Porem há algo nela, em todo mistério que a
cerca, que me faz querer desvendá-la. E não
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consigo arredar os pés daqui enquanto me decido


entre bater na sua porta e encontrá-la nua, ou ir
embora de vez. Minha decisão é tomada pelo
destino quando ela dobra a esquina rindo alto
demais com um cara. Eles conversam em espanhol
e andam de braços cruzados. Não consigo vê-lo de
onde estou, mas a vejo.
E ela não está nua esperando por mim.
Sorrio nas sombras quando penso em todo o
joguinho que com certeza está acostumada a fazer.
Os dois entram e espero uns quinze minutos antes
de ir atrás dela.

Ela parece em pânico ao abrir a porta e me


encontrar ali. Com certeza não foi ela quem passou
seu endereço. Isso se confirma quando finalmente
sua voz sai por sua boca escancarada.
— Como você conseguiu este endereço?
Dou de ombros e entro mesmo sem ser
convidado, não dando tempo para que ela me
mande ir embora.
— Você está bem? — pergunto olhando em
seus olhos castanhos brilhantes.

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— Sim, por que não estaria?


— Porque sumiu da faculdade.
— Estou dando um tempo, descansando um
pouco.
— Ouvi falar. Não tem trabalhado também,
não é?
Ela parece desconfortável com o rumo da
conversa e trato de mudá-lo.
— Não era você na janela de bate-papo do
seu site me respondendo mais cedo, não é?
Sua expressão confusa já responde por si só
minha pergunta.
— Não, por quê?
— Porque acho que prometi transar com
alguém. Quem quer que esteja respondendo o bate-
papo no seu site.
A surpresa toma seu semblante e sua postura
muda, um sorriso divertido muito mal disfarçado
surge em seu rosto.
— Neste caso, sim, era eu. Você prometeu
transar comigo. Podemos fazer isso agora mesmo,
só teremos que ir para outro lugar bem perto daqui
— diz com sua voz doce e baixa, e percebo seu
jogo de sedução.
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— Quer me levar para o Royal? O hotel onde


você atende seus clientes?
— Eu não o chamo assim. E você não é um
cliente. Pode me levar para um motel, se preferir,
mas me leve em um caro. Nunca entrei em um —
rapidamente sua postura muda e ela parece
totalmente sem graça ao tentar remediar o que
acabou de confessar. — Quer dizer, já estive em
muitos. Mas não em um que me fizesse querer
voltar.
— Por que você está dando um tempo, Brin?
— pergunto sério analisando sua resposta através
de seu rosto, mas ele permanece impassível
enquanto responde.
— Stephen, Stephen, sempre curioso. Pessoas
se cansam. Até mesmo garotas de programa se
cansam. Eu só tirei uns dias, não é o fim do mundo.
— Tirou uns dias para não me ver mais?
Você não está interessada na minha amizade?
Ela suspira exasperada e pega minha mão,
levando-me até seu quarto. Ao contrário do que
poderia imaginar, seu quarto é simples, bem
feminino, com uma cama de solteiro e roupas
espalhadas por todo lado. Apesar da bagunça

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colorida e da enorme quantidade de luzes


espalhadas pela mesa, cabeceira e estantes, ele é
aconchegante.
— Por que você está aqui, Stephen? Eu
entendi mal a nossa interação, dei em cima de você
e você me deu um fora. Não somos amigos e não
seremos. Não entendo o que está fazendo aqui. Por
que se deu ao trabalho?
Eu gostaria de responder essa pergunta, mas é
uma resposta que também estou buscando. Apenas
seguro suas mãos nas minhas e faço a pergunta que
tem martelado em minha mente desde o nosso
beijo:
— Brin, você está apaixonada por mim?
Ela se assusta com minha pergunta, solta suas
mãos das minhas e não responde. Imagino que vá
dizer não, que estou viajando ou me achando
demais, e irei embora sem saber se ela disse a
verdade, porque essa é ela. Nunca sei dizer o
quanto de verdade há em suas palavras.
Porém, para minha surpresa, ela olha em
meus olhos e apesar de claramente abalada e com
medo, responde:
— Sim. Apenas uma obra do acaso. Isso não

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te dá o direito de vir até a minha casa quando estou


dando um tempo de tudo para esquecer você.
Quase posso sentir o quanto a estou
machucando e tenho vontade de abraçá-la e
ampará-la. Justo eu, querendo proteger a única
mulher no mundo que não precisa de nenhum tipo
de proteção.
— Brin, não era pra isso ser assim. Eu sinto
muito se dei a impressão errada quando nos
conhecemos e conforme fomos nos envolvendo, eu
não queria que você sofresse.
— Pode parar! — pede estendendo as mãos.
— Não me venha com outro fora fofo e gentil, não
quero passar mais uma noite me esforçando para
odiá-lo. Você não deveria ter vindo aqui.
Num impulso, a prendo em meus braços não
permitindo que se afaste quando tenta, num
primeiro momento. Por fim, ela sossega ali e me
abraça de volta. Seu cabelo macio roça meu queixo
e não tenho a menor intenção de deixá-la ir tão
cedo. É apenas agradável estar assim com ela.
— Eu não pensei que você se apaixonaria por
mim, Stephen. Isso jamais passou pela minha
cabeça. Acha que não sei me colocar no meu lugar?

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Eu sou uma prostituta, e você um ricaço filhinho de


papai com um futuro brilhante pela frente.
Sou obrigado a afastá-la para olhar em seus
olhos e garantir que ela acredite no que vou dizer.
— Você acha que isso me impediria? Brin,
você é linda, é inteligente e divertida, tem todo esse
mistério e consegue me deixar ávido por desvendá-
la como nada mais. Se eu pudesse me apaixonar
por alguém agora, essa pessoa seria você. E o
motivo pelo qual não posso corresponder o que
sente não tem nada a ver com o que você faz para
viver, e sim com o quanto fui magoado e ainda não
me recuperei. Eu sou o covarde, e não você a
garota errada.
Ela se afasta de mim de repente, como se eu a
tivesse ferido com minhas palavras. Leva as mãos à
cabeça e respira fundo antes de pousar seus olhos
sobre os meus novamente e admitir sua verdade:
— Eu não estou apaixonada por você, sinto
muito, eu menti.
Por um momento, acho que ela está tentando
se livrar de mais um fora “fofo”, mas ela continua:
— Eu não sou capaz de me apaixonar,
simplesmente não me envolvo com as pessoas

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assim, eu nunca amei ninguém, Stephen. E com


certeza não amo você.
— Então por que você disse que sim? Por
que todo aquele teatro de estar magoada na outra
noite?
— Porque eu quero levá-lo pra cama.
Fico tão chocado que não consigo ter
qualquer reação.
— Você é lindo, tá legal? É obscenamente
lindo! Tem todos esses gominhos e é o cara mais
legal com quem já falei, que não me trata como se
eu fosse uma mercadoria. Eu pensei que poderia ter
uma noite com você por prazer, porque quero
transar com alguém que gosto, sem que isso
envolva dinheiro ou qualquer tipo de pagamento. E
todo mundo sabe o que sou, então ninguém mais
vai ver isso como sair para uma transa casual com
uma garota qualquer, vai ser sempre transar de
graça com a garota de programa. Eu decidi parar
com isso quando você foi o cara mais fofo do
mundo na outra noite, mas aí você aparece aqui
ainda mais fofo e lindo e merda! Estou quase
derretida por você! Você deduziu isso e eu só entrei
na onda. Sinto muito.

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— Você é inacreditável!
Há um resquício de raiva em mim por sua
confissão, algo similar a frustração por tê-la
interpretado tão erroneamente. Mas no minuto
seguinte a assimilar tudo o que disse, estou rindo.
Porque apesar do quão ridículo tudo isso possa
parecer, eu a entendo perfeitamente. Eu sou o
babaca que está sempre sozinho porque todas as
garotas que se aproximam de mim enxergam
apenas o sobrenome do meu pai, ou o status de
campeão do Luck.
— Acho que não vamos ser amigos —
admito por fim.
— Não vamos. Você não tem que se
preocupar com meus sentimentos, eu não os tenho.
Mas, se um dia você quiser alguém aleatório para
uma transa casual, este é o meu endereço.
— Boa sorte com isso. Tomara que você
encontre alguém.
Ela não diz nada e deixo seu quarto, e seu
apartamento. Enquanto dirijo de volta à cidade, não
consigo deixar de sentir esse incômodo por não ser
o objeto dos sentimentos dela. Essa frustração por
ela não ser nada do que pensei que seria. E esse

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fascínio em desvendar todo esse mistério que a


cerca.

Não me dou ao trabalho de acender a luz


quando chego em casa, tiro a roupa jogando-a ao
chão e quando caio com tudo na cama, braços me
cercam e pernas enormes prendem as minhas.
Consigo me desvencilhar com muito custo e acendo
rapidamente a luz. Ali está Mary, a melhor amiga
da minha irmã.
— Mary, por favor vista-se. Eu já te pedi
para não entrar no meu quarto desse jeito.
— Stephen — pede com sua voz anasalada
— eu estava entediada.
— Eu não sou algum tipo de distração.
— Ah, você é! A distração perfeita!
Ela vem em minha direção e me afasto.
Tenho um enorme cuidado com o que digo a ela, já
que ao contrário das garotas do clube, Mary me
conhece desde sempre e seus sentimentos por mim
vão além do desejo, ou da carteira do meu pai. Eu
até tentei me envolver com ela uma vez, mas ela
não me pareceu interessante.

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— Mary, sei que haverá alguém em algum


lugar que a achará a pessoa mais legal do mundo,
mas este não serei eu. Isso entre a gente não vai
rolar e eu gostaria que você entendesse isso e
respeitasse a minha decisão.
Se eu esperava que ela fosse ficar triste ou
algo do tipo, não é o que acontece quando um
sorriso enorme surge em seu rosto e ela diz com
toda convicção, como se estivesse aceitando um
desafio:
— Vou te vencer pelo cansaço.
Aponto para a porta e pego sua roupa jogada
ao chão para cobri-la. Ela a veste o mais lentamente
possível, e quando abro a porta para que ela saia,
dou de cara com meu pai.
— Isso não é o que você está pensando —
garanto.
Ele olha de mim para Mary sendo expulsa e
diz num movimento negativo com a cabeça:
— Infelizmente.

Não vejo Brin Vega embora saiba que ela


voltou à faculdade. Por curiosidade apenas,

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vasculho seu site e confirmo que seus serviços


ainda estão suspensos. Começo a me perguntar por
que será que ela não quer mais trabalhar, mas deixo
isso para lá, assim como todo esse fascínio que ela
causa em mim.
A vejo então quando estou a caminho do
Luck à noite, ela caminha pela calçada com um
fone enorme no ouvido, rebolando feito uma louca
e cantando alto. Arrancando olhares estranhos dos
pedestres e não se importando nem um pouco com
isso. Diminuo a velocidade do carro apenas para
observá-la entrar em um mercado. Sai pouco depois
e seu fone descansa em seu pescoço. Espero que
sua moto esteja estacionada em algum lugar, mas
ela pede um táxi. E por algum motivo me pego
seguindo o carro. Apenas para me certificar que ela
vai chegar bem em casa.
Ela salta na esquina de seu prédio e tão logo
o carro some, alguém aparece do nada na sua
frente, assustando-a. O homem é muito alto e,
apesar de não ser forte, é mais forte do que ela. Ele
a arrasta até um beco e estaciono rapidamente o
carro para ajudá-la. Corro ao encontro deles e
observo o que ele diz enquanto segura o braço dela
com força.
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— Você me deixou na mão, Brin! Por que


você fez isso?
— Bruce, você está me machucando! Não me
faça quebrar seu nariz! Eu só desmarquei, não vou
atender por um tempo. Estou de férias!
— Tire férias depois que cumprir o seu
horário comigo.
— Eu não posso.
— Você não quer! — ele grita e me preparo
para intervir, mas Brin responde com a voz calma,
na tentativa de acalmá-lo:
— Um cliente me pagou para ser exclusiva
dele por um tempo. Por mais que adore nossos
encontros, eu não posso encontrá-lo mais. Tudo
bem? Você pode me soltar agora?
Penso que ele vai ceder, mas ele a pega pelo
outro braço também, derrubando sua sacola.
— Se eu não falar com você, com quem vou
falar?
— Sei lá, contrate a merda de uma psicóloga,
agora tira essas mãos gigantes de mim ou vou
mesmo quebrar a sua cara!
Tudo acontece muito rápido a partir daí. O
grandão tenta arrastá-la enquanto ela luta para se
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soltar. Aproximo-me dele e o acerto por traz, dando


a Brin liberdade para acertá-lo. Mas, no momento
em que ela se solta com sua fúria direcionada ao
agressor, sirenes são ouvidas e ela trava. Não há
outra palavra para descrever o que acontece. Ela
simplesmente para com as mãos no ar, os olhos
parados como se não estivesse acordada, tenho a
impressão que sequer respira. O agressor foge, mas
não posso segui-lo, preciso ajudá-la.
— Brin! Ei, o que houve? Brin!
Tento sacudi-la, mas ela parece não me ouvir.
Pego sua sacola do chão, a pego no colo e corro
com ela até meu carro. Ela parece nem se dar conta
do momento em que a coloco no carro, seus olhos
castanhos ainda vidrados, focados em nada e ela
não responde minhas chamadas.
— Eu vou tirá-la daqui. Vai ficar tudo bem.
Arranco com o carro e não faço ideia de para
onde levá-la.

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Capítulo 5
Brin
As luzes, a sirene, um monte de policiais, o
corpo coberto de sangue. Tudo me vem à mente de
novo. É sempre assim. Sempre volto a ser a
garotinha fugindo, com medo da polícia, tentando
me esconder. Sempre me transformo na mulher
sem alma quando ouço as malditas sirenes.
— Brin! Fale comigo! Ei, responda! — a voz
de alguém chamando meu nome me tira aos poucos
do meu transe, e é como se meus olhos estivessem
fechados e eu os abrisse devagar. Começo a ver aos
poucos as coisas à minha volta. Percebo que não
faço a mínima ideia de onde estou. A última coisa
que me lembro é o idiota paranoico do Bruce
tentando me arrastar até seu carro. — Ei, você está
bem?
A voz doce de Stephen me faz levantar em
um pulo. Observo bem onde estou e o local grande
demais para um quarto, muito bem equipado, uma
coleção de câmeras e vários livros indica que estou
em seu quarto.

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— Estou no seu quarto? Na sua casa? —


pergunto em pânico e ele assente como se não fosse
nada demais. — Por que você me trouxe para cá?
Ao invés de responder, ele se aproxima
devagar e com as mãos nos meus ombros, me guia
de volta a cama, onde me faz sentar. Me serve um
copo de água, e embora eu não sinta sede, pego de
sua mão. Ele se senta ao meu lado e enfim
responde:
— Um cara a estava ameaçando, aproximei-
me para ajudá-la, então a polícia apareceu e você
travou completamente. Você entrou em transe,
Brin, era como se nem estivesse ali.
— Não foi bem assim.
— Foi exatamente assim. Você sequer se deu
conta de quando a peguei nos braços e a coloquei
no meu carro, acho que nem se viu entrando na
minha casa. O que aconteceu com você?
— Eu apenas me assustei. Não foi nada
demais. Obrigada pela ajuda, mas preciso ir
embora.
Levanto-me e ele faz o mesmo, segura minha
mão e vejo a preocupação na maneira como me
olha.

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— Fica mais um pouco — pede. — Vamos


conversar. Você não parecia com medo do cara
maluco, Brin, você teve medo da polícia. Mas foi
muito além de um medo qualquer, por que você
não divide isso comigo? O que aconteceu para que
você reagisse assim? É algo no seu passado?
Até acho fofo a maneira com que ele se
preocupa comigo, mas não vou mesmo falar do
meu passado com ele. Principalmente dessa parte.
Na verdade, não poderia falar sobre isso nem se
quisesse, e realmente não quero! E ainda há o
pânico de o pai dele ver-me aqui, ele está me
ligando há três dias e estou ignorando-o no melhor
estilo “não quero atender”. Vai ficar furioso se me
vir aqui e pode estragar tudo.
— Eu não deveria estar na sua casa, Stephen
e realmente não quero falar sobre isso. Agradeço
sua ajuda, de verdade, você é legal. Mas eu já disse,
meu interesse em você é outro. Não quero e não
vou ser sua amiga. Eu preciso ir agora.
Ele assente cabisbaixo e me pergunto por um
segundo o que estou fazendo. Tenho um serviço
para cumprir e será muito mais fácil realizá-lo se eu
ficar aqui com ele, no quarto dele, tão perto dele.
Eu poderia inventar uma história qualquer que
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justificasse minha crise de pânico, e fazê-lo


aproximar-se de mim. Sim, eu poderia. Mas
olhando seus olhos verdes preocupados, e a
confiança que depositou em mim ao trazer-me para
dentro do seu quarto, percebo que não irei fazê-lo.
— Ai, Brin, se continuar sendo certinha
nunca vai transar com esse cara — ralho comigo
mesma.
Ele sorri da minha divagação.
— Você está bem longe de ser certinha, na
verdade. Está mais para mentirosa e sedutora.
— Você quase me ofende desse jeito.
— Por que você não conversa comigo? Não
precisa dizer o que não sentir vontade. Pode falar
do seu cliente agressivo e maluco, da sua dança
engraçada pelas ruas de Nova York. Pode falar do
que quiser.
— Ei, você estava me seguindo?
— Apenas observando.
— Por que você quer tanto que eu fique?
— Porque não quero deixá-la sozinha hoje.
Vamos ser amigos só esta noite, tudo bem? Você
fica, se acalma, conversamos um pouco e a hora em
que quiser ir embora, eu a levo até sua casa.
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— Nada de sexo? — pergunto desanimada e


ele abre um enorme sorriso ao confirmar.
— Nada de sexo.
Agora eu deveria ir embora, afinal de contas
colocar-me na posição de sua amiga de
confidências não vai me ajudar em nada a levá-lo
para a cama, pelo contrário. Ele começa a me
enxergar como amiga e jamais vai me enxergar
como outra coisa. Se é que ele enxerga alguma
mulher como outra coisa. Ele quer que eu fique
para conversarmos e garantiu que não vai ter sexo.
Que tipo de homem quer passar a noite com uma
garota de programa sem transar com ela? Tirando
quase todos os meus clientes, claro. Mas isso
porque eles fazem o teste primeiro e percebem que
sou péssima nisso e muito boa de lábia.
Aqueles olhos tão verdes me pedem
silenciosamente que eu fique, sua mão grande e
quente segura a minha e brinca com meus dedos.
Seu perfume está por todo quarto, e eu não sei
porque estou reparando nisso, mas mesmo sabendo
que ficar vai atrapalhar meus planos de seduzi-lo,
me pego assentindo. Querendo apenas por esta
noite ter alguém com quem conversar, alguém que
vá se preocupar comigo e me mimar um pouco.
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Alguém que não quer me ver nua e que não vai me


pagar pela conversa depois.
— Eu fico, se você me trouxer um chocolate
quente e prometer que ninguém da sua família vai
saber que estou aqui.
— Um segundo e vou providenciar isso —
promete e abre a porta, mas volta para atrás e pede:
— Por favor, não fuja.
— Eu não vou. Prometo.
Ele assente e vai buscar o chocolate e meu
coração dá um salto no peito assuntando-me.
— Nem pense nisso! Você nunca fez isso por
ninguém e não vai começar agora! Stephen Ryan é
objeto proibido para você, entendeu? Ele só vai
adentrar o órgão lá embaixo — explico para meu
coração desinformado.

Pouco depois, ele reaparece com duas xícaras


fumegantes de chocolate quente. Em seu sorriso
sincero, vejo a satisfação por eu ter aceitado ficar e
me pergunto por que será que ele se importa tanto!
Pego a xícara de sua mão sentindo-me sem graça
pela maneira como ele me olha, aquele olhar

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intenso, questionador, insistente. Afasto-me dele


numa tentativa de não começar a falar como uma
maluca sobre toda a minha vida, e observando as
várias fotografias em seu quarto, acabo esbarrando
no notebook que acende, revelando uma foto
gigante minha numa lingerie preta e vermelha.
— Onde você conseguiu essa foto? —
pergunto assustada.
Sorrindo, ele se aproxima e rola a tela,
mostrando então o meu tão falado site. Abro a boca
conforme as minhas fotos vão passando pela tela,
onde pareço um mulherão.
— Uau! Quem quer tenha editado isso, é
realmente muito bom! — admito confusa.
— Você é muito mais bonita pessoalmente
— Stephen diz de maneira casual, e desvia os olhos
dos meus para puxar a cadeira para mim.
Sento-me ali e finalmente conheço meu site.
Vejo as fotos, a descrição e os depoimentos. Sinto
aquele medo na boca do estômago nessa parte, até
posso imaginar o que meus clientes, que não foram
muitos, falaram de mim. Começo a ler já me
preparando para defender-me quando vejo que os
depoimentos são bons. São ótimos, na verdade! E

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claro, a maioria desses nomes aqui eu nunca ouvi


falar, são fakes.
— Meus clientes reais jamais postariam esses
depoimentos — comento achando graça.
— Por que não?
Ops!
— Porque são muito reservados.
— Eles devem usar nomes fakes.
— É, devem usar — concordo para não
entregar meu segredo.
Abro a janela de bate-papo e rio alto,
controlando-me em seguida para que ninguém
saiba que estou escondida no quarto dele.
— Sexy Brin Vega? Que coisa brega! — É aí
que vejo o e-mail dele. — Ah, meu Deus! O seu e-
mail é Steph? Tipo apelido de Stephanie?
Ele apenas sorri achando graça da minha cara
de pânico e nega com a cabeça.
— Steph, tipo Stephen encurtado porque já
tinha alguém usando o Stephen.
Ok, isso não ficou muito bonito, e se ele nem
demonstrou qualquer vergonha por seu e-mail
feminino, acho que devo me preocupar. É aí que
vejo a conversa que ele teve “comigo” pelo site e
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apesar de achar graça do quão pra frente “eu” fui,


achei fofo o jeito como ele se preocupou comigo.
— Então você achou que eu estava nua
esperando por você e correu até a minha casa? Vai
ver você não é tão difícil quanto parece, Ryan.
Ele apenas sorri e afasta-se sentando sobre
sua cama. Dá duas batidas ao seu lado indicando
que eu me sente ali e prontamente obedeço.
— Quem era o cara ameaçando você? —
pergunta com toda sua atenção voltada à xícara de
chocolate quente em sua mão.
— Um cliente insatisfeito porque desmarquei
o horário de hoje.
Observo bem seu rosto em busca da
reprovação, careta, cara de nojo ou qualquer coisa
assim, mas não há qualquer alteração em sua
expressão.
— Ele costuma ser agressivo?
Se eu fosse ser sincera diria que ele é
lunático. Completamente maluco e a única pessoa
com quem fala provavelmente sou eu. E sim, ele
me paga para conversarmos. Infelizmente para
minha moral sexual, ele não é o único. Todos os
que me procuram de novo, o fazem apenas para
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conversarmos. Aqueles com quem transo nunca


voltam.
— Ele costuma ser viciado por sexo — minto
descaradamente e me arrependo quando seu olhar
de lado pousa em mim. Então decido tentar não
mentir mais esta noite.
— Você disse a ele que um cliente a pagou
para ser exclusiva dele nesses dias. Isso é verdade?
Noto o desconforto em seu tom de voz, que
não é maior do que o meu por falar nisso. O que eu
poderia responder se este cliente é o pai dele?
— Não é mentira — digo apenas.
— E você vai ser exclusiva dele por quanto
tempo?
— Não sei, depende.
Ele se vira na cama de frente para mim e vejo
a confusão em seu rosto.
— Depende do que?
— Do grau de satisfação dele, eu acho.
— E ele não é perigoso?
— Eu espero que não.
— Você se dá conta do quanto se arrisca
fazendo isso? Não estou falando da sua profissão
em si, mas de ser exclusiva de um cara que nem
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conhece. Você sai com ele? Vai até sua casa?


Como isso funciona?
Será que dá pra gente parar de falar desse
cliente que por acaso é seu pai, e desse cara que
por acaso é você?
— Sim, já fui até a casa dele, ele é legal e não
parece perigoso, é controverso e muito bonito. E
não quero ficar falando de trabalho agora.
— Bonito! Os seus clientes então são
bonitos?
— Não, você acabou de ver o Bruce, ele é
bizarro. Esse por acaso é bonito e ou você está
caçoando da minha cara, ou está incomodado com
isso.
— Nenhuma das duas coisas — responde
virando-se pra frente novamente e voltando a beber
seu chocolate e faço o mesmo. — Tenho uma
proposta para te fazer — diz pouco depois,
levantando-se e depositando a xícara sobre a mesa.
Seus olhos mal pousam sobre mim e já estou
quase tirando a roupa.
— Me surpreenda — desafio na minha
melhor voz sexy e ele sorri. Estou começando a
odiar esses sorrisinhos.
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— Vamos fazer assim, você me diz qual é a


sua coisa estranha, aquela que ninguém mais sabe e
eu te digo qual é a minha.
— Uau! Você me surpreendeu, mas não foi
de uma maneira positiva, portanto tire esse
sorrisinho contido da cara! Eu esperava mais algo
relacionado a sexo.
— A minha coisa tem a ver com sexo.
— Merda! Por que me disse isso? Agora vou
querer saber!
Qual pode ser o segredo dele relacionado a
sexo? Será que vai me contar que é gay? Ah, meu
Deus! Não sei se estou preparada para isso. Estou
prestes a dizer sim, apenas para descobrir de uma
vez por todas sua opção sexual, quando me lembro
que a minha coisa estranha também é relacionada a
sexo. E é vergonhosa. E definitivamente vai fazer
com que ele nunca me veja como uma possível
parceira de cama. Começo então a negar com a
cabeça, mas quero tanto saber a coisa dele!
O que posso inventar tão em cima da hora?
— Está em dúvida? Vou colocar um desafio
para ajudá-la a decidir. Quem perder paga o jantar
amanhã.

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Ele está me convidando para sair? Sim, ele


está! Acalme-se, Brin, isso não valerá de nada se o
segredo dele for sua homossexualidade.
— É que a minha coisa é vergonhosa. E
humilhante. E bizarra. Você nunca mais vai me
olhar do mesmo jeito se souber. Sem falar que se
isso vazar, minha carreira estará acabada.
Ele ri da maneira como me refiro a minha
profissão, mas estende as mãos deixando claro que
não está julgando.
— A sua coisa estranha não pode ser mais
estranha do que a minha de maneira nenhuma,
Brin.
O que posso dizer para que me conte o
segredo dele, sem ter que revelar o meu? Começo
então a montar a maior história do século para
contar a ele, algo como choro toda vez que gozo
porque no passado...
— Não minta. Estou propondo que um
conheça o outro de uma forma como ninguém mais
fez. Vou te contar meu maior segredo, espero que
faça o mesmo, de verdade — diz olhando em meus
olhos e sou derrotada por eles.
— Nada do que dissermos aqui poderá sair

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daqui. Isso tem que ser uma promessa.


Ele finge cuspir na mão e a estende a mim,
mas sou mais direta.
— Selo meus acordos com um beijo.
Antes que ele possa processar, seguro seu
rosto e o beijo, lançando-me sobre ele, que
corresponde. Seu corpo cai de costas na cama e
seus braços rodeiam minha cintura enquanto
aproveito a sensação gostosa de estar sobre seu
corpo forte, em seus braços fortes, beijando sua
boca do meu jeito desesperado, totalmente oposto
ao jeito dele, tão calmo e intenso.
Quando nossos lábios se afastam, ele ri. Não
aquele sorrisinho contido e provocador de quem vai
estragar meus planos, mas um sorriso sincero e
divertido.
— Eu devia ter previsto isso — diz
colocando uma mecha do meu cabelo atrás da
minha orelha e enrolando-o em seu dedo no
processo.
Como ele não me pede para sair, permaneço
sobre ele, sentindo seus músculos sob a minha
barriga, minhas pernas ao redor de seu quadril,
meus seios pressionados em seu peito. Nos

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olhamos em silêncio por um momento, até que ele


diz, enquanto ainda acaricia meu cabelo:
— Eu sou virgem.
Exibo um sorrisinho contido, tipo o dele, não
achando graça de sua brincadeira, mas ele me olha
nos olhos, em seu rosto não há qualquer indício de
que esteja brincando.
— Você está brincando, não está?
Ele nega com a cabeça. Então começo a rir,
um riso nervoso e nada sexy.
— Você tem que estar brincando. Não pode
ser virgem, você é adulto, e lutador, e gostoso. Vive
cercado de mulheres. Você é gay?
— Se fosse esse o problema eu poderia ter
perdido minha virgindade com um homem, não
acha?
— Então é assexuado? Desculpe, eu só não
entendo.
Saio de cima dele porque de repente me sinto
suja tentando transar com um homem que por
algum motivo bizarro é virgem. Ele é virgem!
Ele se senta ao meu lado e não consigo olhar
em seus olhos, tamanho choque estou sentindo.
— Por quê? — pergunto.
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— A vida toda eu fui cercado de todo tipo de


atenção feminina. As amantes do meu pai achando
que poderiam ser minha nova mãe, depois, as
garotas na escola que eram todas iguais, infantis
demais, ou adultas demais. Enfim, eu não
conseguia manter meu interesse por nenhuma delas
por tempo suficiente. O tempo passou, eu cresci,
parei de seguir meu pai em tudo e não vejo mais as
amantes dele, mas as garotas, essas eu vejo sempre.
Na faculdade, na empresa do meu pai e,
principalmente, no clube. E sempre que alguém me
interessa e tento conhecer melhor, é a mesma coisa,
Brin. Sexo, dinheiro, status. As da empresa veem
em mim o herdeiro daquilo tudo. As da faculdade,
alguém que poderá dar a elas status, além de
carona. E as do clube, veem um pedaço de carne
que deve trepar com elas de todas as maneiras.
Ninguém se importou em perguntar o meu hobby
favorito ao invés do tamanho do meu pênis.
Ele sorri entristecido e sorrio também.
— Sinto muito, mas entre essas duas
perguntas eu iria direto para o tamanho do seu
pênis.
Ele ri alto e um pouco da tensão daquela
confissão se esvai.
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— O que exatamente você está esperando,


Stephen? A garota certa? Uma que vá amá-lo? Uma
princesa de contos de fadas, dessas virgens,
boazinhas e tal?
Ele me encara por um momento e nesses
segundos prendo minha respiração, temendo que
ele diga que é exatamente o que espera, o que me
riscará totalmente da lista de pretendentes para a
primeira vez dele.
— Estou esperando uma garota interessante
— responde com aquela merda de sorrisinho e
acerto uma almofada nele.
— Não comece com isso se não vai terminar
— ameaço com o dedo em sua cara e ele apenas ri.
— Espero a garota que vai fazer meu coração
bater antes do meu pênis ficar de pé.
— Você só vai perder sua virgindade com
alguém que amar? — Ele assente e sinto vontade de
bater nele. — Isso é arcaico! Você não sabe se ama
alguém até ver como é a afinidade com essa pessoa
na cama! Vocês têm que se completar em tudo,
como você vai saber se não testar?
— Por que está tão irritada? — pergunta
confuso e só então me dou conta que estou

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gritando.
— Não estou irritada é que isso é... isso é...
— Não consigo pronunciar a quantidade de
palavras que me vem à mente, entre coisa de
mulherzinha, gay, ridículo, covarde, e por fim,
apenas uma permanece porque é como realmente
vejo essa decisão dele. — Isso é muito fofo!
Merda! Imagina a garota que conseguir conquistar
você, se der certo, ela vai saber que a vida toda
você só pertenceu a ela. Se não der, vai saber que
não importa o que aconteça entre vocês e quanto
tempo passe, você nunca irá esquecê-la. Você não
pode fazer isso! É crueldade com garotas comuns
como eu, que nunca serão essa garota perfeita que
você procura!
— Você pode ser qualquer coisa, Brin, mas
comum não é uma delas.
A contragosto, ainda mantendo minha careta,
como quem não quer nada, pergunto:
— Então eu tenho uma chance?
Ele ri alto como resposta, e nunca um homem
rir quando você diz que quer transar com ele é uma
coisa boa.
— Você é um grosso, Stephen Ryan! Eu vou

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embora.
Antes que eu alcance a maçaneta da porta, ele
me segura pelo braço.
— Não vai, não. Está pensando que vai fugir?
Eu te contei meu maior segredo, é sua vez,
espertinha.
Merda! Ele já não vai transar comigo porque
não serei eu a garota perfeita dele. Se ainda souber
que sou ruim de cama é que não vai mesmo! Que
homem vai querer sua primeira vez com uma
mulher incapaz de sentir?
Derrotada, aponto para a cama dele e
pergunto no meu tom choroso:
— Posso me deitar?
— Pode fazer o que quiser, sinta-se em casa,
Brin. Você vai passar a noite aqui, você aceitou,
lembra?
Assinto e tiro minha roupa. Mal termino de
tirar a blusa, ele segura minhas mãos.
— O que está fazendo?
— Ficando à vontade, eu nunca durmo de
roupa.
Ele resmunga alguma coisa que não escuto e
se vira de costas enquanto fico apenas de lingerie.
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Jogo-me sobre sua cama e confesso:


— Quando eu era mais nova, desligaram o
meu botão de sentimentos.
Há o silêncio e quando o encaro, ele avalia
meu corpo. Totalmente sem graça por ser pego no
flagra, senta-se perto da minha cabeça, cobrindo-
me com sua jaqueta que estava sobre a cama.
— Virgem! — recrimino seu gesto.
— Você precisa ser mais específica quanto a
isso. Tem a ver com o que você disse sobre nunca
se apaixonar? Porque não entendo como isso
poderia prejudicá-la.
— Vou especificar. Eu não tenho
sentimentos. Não amo ninguém, não me apaixono,
não sinto prazer — digo a última coisa devagar e
vejo seu cenho franzir quando termino. — Quando
eu faço sexo, não sinto nada. Não consigo sentir.
Eu já vi vídeos, li matérias, tentei de tudo, mas não
sinto. Eu não sei o que é ter prazer, e por mais que
tenha aprendido a dar prazer, eles sempre sentem
que não me envolvo, que não me entrego. Há
sempre a mesma reclamação, eu sou frígida. Por
isso eles nunca voltam.
— Não é verdade, o Bruce voltou, não é?

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— Ele me paga para conversar com ele —


confesso envergonhada.
Ele parece em choque, tanto quanto eu fiquei
quando ele disse que era virgem.
— E você é uma garota de programa! Que
grande farsa é você, Brin — provoca com um
sorriso, bagunçando meu cabelo.
— Ah, tá! Falou o bad boy tatuado que nunca
dormiu com mulher nenhuma! Você sim é uma
farsa!
— Sexo não é a minha profissão — continua
provocando.
— Você tem sexo estampado nesse corpo
malhado e nessa cara de mau! Nem vem! Você
acha que sua torcida feminina nas lutas torce por
você porque é inteligente? Quando olho para você
vejo um pedaço de carne ambulante que deveria
trepar comigo de todas as maneiras! — provoco de
volta.
— Cala essa boca! — repreende puxando-me
para seus braços e acariciando meu cabelo. — Você
não é frigida, e não há absolutamente nada de
errado com você, Brin. E eu sei disso porque
quando nos beijamos na outra noite, você se

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entregou a mim, se perdeu nos meus braços e


demonstrou uma paixão e doçura que alguém
incapaz de sentir jamais demonstraria. E esta noite,
você está puro fogo! Deixou isso bem claro com
aquele beijo.
— Você só está sendo legal! Porque você é
muito legal e eu odeio isso! Odeio você! Você é o
cara bonzinho e eu sou a menina má que tenta
seduzi-lo, estamos fazendo tudo errado.
— No final das contas, você ficou tão irritada
com a minha escolha quando está buscando
exatamente o mesmo que eu. — O encaro curiosa e
pronta para desmentir que eu me pareço com ele
em alguma coisa, qualquer que seja ela, nós não
podíamos ser mais diferentes. — Você está
esperando aquele que vai fazê-la sentir aqui. —
Coloca a mão levemente entre meus seios, onde
meu coração bate. — Para depois sentir lá embaixo.
Deito a cabeça em seu colo refletindo sobre
suas palavras e me sentindo pela primeira vez na
vida, uma boa garota. Mas essa boa garota não dura
dez segundos, porque tão logo me dou conta de que
ele não está horrorizado com o meu segredo, sento-
me diante dele e pergunto com olhos esperançosos:
— Então você não desistiu de transar
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comigo? Ainda tenho alguma chance?


De novo, aquele sorrisinho idiota.
— Eu nunca tive a intenção de transar com
você, Brin.
Sorrio, enquanto me levanto e vejo seus olhos
passeando por todo meu corpo seminu. Caminho
devagar até seu closet e pego um cobertor, quando
o encaro, ele me olha de volta, seu rosto está
vermelho e sua jaqueta agora descansa sobre suas
pernas, cobrindo sua ereção.
— Nunca teve a intenção de transar comigo,
e mesmo assim tem o meu site aberto no seu
notebook. Continue mentindo para si mesmo,
Steph.
Deito-me sem esperar sua resposta, já é muito
tarde e estou morrendo de sono. Sinto quando ele
sai da cama e a passos lentos, abre a porta, então o
chamo:
— Onde você vai?
— Dormir no quarto de hóspedes.
Assinto, mas mesmo assim peço:
— Fica aqui comigo, só um pouco.
Ele pensa um pouco, antes de fechar a porta e
subir na cama, deitando-se ao meu lado. Olho seu
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rosto tão bonito, e o acaricio, devolvendo o carinho


que fez em mim mais cedo.
— Estamos sozinhos no seu quarto, na sua
cama e eu estou quase sem roupa. Tem certeza que
vai me deixar dormir? — sussurro apenas para
provocá-lo, arrancando um sorriso dele.
— Ah, essa diabinha soprando no meu
ouvido. O que faço com ela? — sussurra de volta,
depositando um beijo terno no canto da minha
boca, fazendo-me arrepiar dos pés à cabeça.
— Você deveria ouvi-la — sugiro.
— Nunca é a melhor opção. Durma, Brin —
pede, e sinto seu corpo tão perto do meu, seu beijo
casto ainda reverberando em cada terminação
nervosa do meu corpo, e quero tanto beijá-lo, mas
ele pede de novo: — durma, Brin, por favor.
E apenas desta vez escolho atender seu
pedido. Só porque ele foi tão legal comigo, só
porque continua sendo a melhor pessoa quando
espero que ele vá ser como todas as outras. Só
porque consegui senti-lo com esse beijo, essa noite
toda, e não foi só nas minhas terminações nervosas.
Apenas porque isso me assusta, eu obedeço, fecho
meus olhos sentindo sua respiração no meu cabelo,

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e durmo.

Acordo de manhã e tento sair de fininho, mas


mal abro a porta, dou-me conta do tamanho do
apartamento onde estamos, e do risco de dar de
cara com o pai dele. Volto para trás e o sacudo.
— Stephen, você precisa me tirar daqui.
Stephen!
Ele resmunga um pouco e ao abrir os olhos e
me ver ali, abre um sorriso lindo que quase me faz
derreter.
— Tudo bem, eu vou levá-la.
— Não! Não quero que ninguém da sua casa
me veja aqui, apenas me tire daqui.
— Um segundo, senhorita farsante, eu já vou
levá-la — diz entrando no banheiro e sou obrigada
a esperar.
Ele sai de lá com os cabelos molhados,
vestido e terrivelmente lindo com essa cara de
sono!
— Tão bonito, e virgem! — lamento
fazendo-o rir.
Ele observa o corredor antes de me dar o
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sinal para que o siga, e no melhor estilo


namoradinhos adolescentes saindo escondido,
vamos quase na ponta dos pés até a porta. Uma
operação quase bem-sucedida, mas somos
interrompidos por um mini-Stephen. Um garotinho
de grandes olhos verdes, com os mesmos lábios
desenhados dele, de uns dez anos.
— Olá, você é a namorada do meu irmão? —
pergunta esperançoso.
— Não, meu bem. Sou só a garota de
programa dele.
— Brin! — Stephen repreende tirando-me
dali o mais depressa possível.

Às onze da manhã, adentro o café mais caro


de Nova York de novo, uma coisa tenho que
admitir, os homens da família Ryan sabem onde
levar uma mulher. Nunca economizam. Donald
Ryan me aguarda com sua cara de poucos amigos e
sento-me o mais discretamente possível de frente
para ele.
— Então? — pergunta sem nem mesmo me
desejar bom dia.
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Penso que ele deve ter descoberto minha


noite no quarto de seu filho, mas sou o mais
discreta possível, para evitar a bronca.
— Seu filho não é gay, senhor Ryan.
Um meio sorriso surge em seu rosto, mas
posso ver a empolgação em seus olhos.
— Então você fez o test drive?
— Não foi preciso. Nós ficamos amigos, eu
posso garantir ao senhor, ele não é gay.
Seu sorriso some e a empolgação em seus
olhos é substituída por raiva. Ele segura meu braço
por sobre a mesa e diz em um tom ameaçador:
— Eu não a estou pagando para se tornar
amiguinha do meu filho e aparecer aqui com
achismos. Eu te pedi claramente que fizesse uma
coisa e não aceito menos do que essa coisa!
— Você está me machucando — alerto e ele
me solta, olhando em volta a reação das pessoas.
— Faça o que foi paga para fazer, garota!
Com uma enorme dor no coração, pego os
trezentos dólares que ele deixou sobre a mesa em
nosso primeiro encontro e os estendo a ele. Foi o
único dinheiro que ele me deu.
— Não vou ir pra cama com seu filho. Eu
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desisto desse trabalho, pegue o seu dinheiro de


volta, e procure outra pessoa para isso.
Ele sorri, um sorriso que faz gelar minha
alma. Não faz qualquer menção de pegar o dinheiro
estendido, mas diante seu olhar assustador, eu
mesma recolho minha mão, controlando-me para
não tremer.
— Você vai terminar o serviço que foi
contratada para fazer, Sabrine. Ou eu vou garantir
que nunca mais faça serviço algum! E eu quero
uma prova de que você realmente o fez, a sua
palavra apenas, não me basta!
Engulo em seco e tento enfrentá-lo.
— O senhor não pode vir aqui e...
— Você é uma garotinha de rua
insignificante que sequer usa seu nome verdadeiro.
Pise na bola comigo e sua verdadeira identidade
será revelada, garotinha. Tem uma pessoa que
adoraria descobrir onde você está. — Ele se levanta
enquanto eu mal consigo respirar. — Está avisada,
faça o seu melhor.
Ele se vai e só então avisto o envelope que
deixou sobre a mesa. Dentro dele há mais
quinhentos dólares. Pego o cardápio da cafeteria e

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chamo o garçom, peço o que tem de mais caro. E


começo a pensar num jeito de seduzir Stephen
Ryan.

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Capítulo 6
Stephen
Ao voltar para casa depois de deixar Brin no
apartamento dela, ao qual fui desconvidado a
entrar, ainda chego a tempo para o café da manhã
em família. Lanço meu olhar suplicante de irmão
mais velho a Seth, meu irmão caçula, mas devia
saber que ele não manteria a língua na boca. Como
em todas as manhãs, Serena não toma café
conosco, está sempre ocupada com alguma amiga,
em algum lugar. Minha mãe está absorta ao que
acontece ao seu redor e meu pai mantém sua pose
de pai de família, enquanto me lança olhares
questionadores. Esses olhares vivem em seu rosto
quando o direciona a mim.
E como em todas as manhãs, ninguém fala
nada à mesa. É apenas por este motivo que não
penso em matar o pequeno Seth, quando ele dá com
a língua nos dentes.
— O Stephen estava com uma garota no
quarto dele.
Espero a reprimenda de mamãe, a senhora

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careta, mas ela não vem. Ao invés disso, ela e papai


me olham com nítida surpresa.
— Não sabia que estava namorando de novo,
filho — ela comenta finalmente.
— E não estou. Era apenas uma amiga.
— Era a garota do programa dele —
completa Seth levando um chute na canela por
debaixo da mesa, enquanto mamãe engasga com
seu chá.
— Ele está brincando. Nem sabe o que é uma
garota do programa — imito seu erro para tentar
amenizar a situação.
Minha mãe encara meu pai esperando que ele
tome as rédeas da situação, mas sua cara não está
das melhores.
— Não quero esse tipo de pessoa
frequentando a minha casa, se quer trazer suas
namoradas para o seu quarto, faça. Espero que faça
isso já há alguns anos, mas não essas profissionais.
— Não foi nada disso que aconteceu. Era
apenas uma amiga que precisou de ajuda e a
convidei a passar a noite aqui. Ela foi embora de
manhã e eu dormi no quarto de hóspedes — minto.
— Stephen, por que você... — meu pai para
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de falar e levanta-se irritado.


— Por que eu o quê? Termina a sua
pergunta!
— Não é nada, perdi a fome.
— Sempre a mesma história, sempre começa
com alguma pergunta e não a conclui.
Mas ele já se foi e não adianta a cara que faço
para minha mãe, pois ela me ignora e finge que
nada daquilo aconteceu. Há algum tempo sinto que
meu pai tem algo engasgado para falar comigo,
algo que não consegue dizer. E se ele, o mestre em
criticar a vida alheia, não encontra coragem de
dizer, deve ser mesmo algo muito grave.

Não vejo Brin na faculdade esta manhã, e


depois do episódio de ontem à noite, do seu medo
repentino de policiais e sua confissão sobre terem
desligado seu botão de sentimentos quando era
criança, descobrir a história dela passou de mera
curiosidade para uma necessidade. Ela não é uma
garota qualquer, é alguém com quem me importo, e
uma vez que aceitei isso, preciso achar um meio de
ajudá-la. Ignoro a voz lá no fundo da minha mente,

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a voz do meu juízo, como diria minha avó, aquela


que a gente ouve baixinho e decide ignorar, que
está me lembrando com um alarme o quanto ela me
enlouqueceu na noite passada, e que eu deveria
mesmo me manter longe dela, e ligo para Dylan,
um detetive sem escrúpulos, mas muito bom no que
faz. Ele vai descobrir toda a história de Brin para
mim, e assim poderei ajudá-la. Além de seu
passado, peço que descubra também algo que está
me deixando com uma pulga atrás da orelha desde
ontem, quem é o tal cliente bonito que está pagando
para tê-la exclusivamente para ele. Não é para
invadir sua privacidade, é apenas para ter certeza
que ele não será perigoso para ela.
Passo mais uma tarde no Central Park
fotografando estranhos, lugares, paisagens, em
busca da foto que me fará perseguir esse grande
desejo, e mais uma vez ela não vem. Ao analisar as
imagens do dia assim que chego em casa, percebo
que a grande maioria focada nelas são mulheres,
com altura e cabelos parecidos com o da Brin.
Porque aquela diabinha não sai da minha cabeça.
Ela é como um enigma, tão forte e decidida, nunca
pensei que a veria realmente como a donzela em
perigo, como a vi ontem. E quando ela me pediu
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que ficasse mais um pouco, para que ela dormisse,


foi a primeira vez em que me pediu ajuda. E ajudá-
la fez-me sentir vivo de novo, animado. Não quero
nunca mais vê-la como ontem, como uma casca
vazia, o medo estampado em seus olhos, não vou
permitir isso.
Esse fascínio que sinto por ela, e por tudo
relacionado a ela tem uma explicação para mim,
estou evitando a dor que o meu coração deveria
estar sentindo, estou desviando minha atenção da
única garota por quem me apaixonei, e que me
trocou por outro. Pensei que demoraria para que
algo, ou alguém prendesse minha atenção de novo,
mas não preciso de qualquer esforço quando é a
Brin, tudo nela importa, tudo nela atrai. É como um
ímã para problemas, é imprevisível e sedutora e
mesmo assim, não consigo me afastar dela.
E me pego contando as horas para buscá-la
para nosso jantar.

Toco a campainha e quem abre a porta é um


homem, ele é japonês, tem os cabelos loiros, é
jovem e me avalia dos pés à cabeça com um sorriso

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de lado.
— Stephen Ryan, certo? — pergunta
arrastando meu nome, e, apesar do medo que
começa a me tomar, aceito seu convite para entrar.
— A Brin está?
— Está quase chegando, foi se encontrar com
alguém. Ela sabia que você viria hoje?
— Saberia, se tivesse me dado o número do
telefone dela.
— Essa é minha Brin, sempre tão reservada.
— Ah, você é namorado dela?
Ele me encara sério por um momento, depois
cai na gargalhada.
— E desde quando quenga tem namorado,
garoto? E não, não sou cliente dela também.
Apenas seu colega de apartamento. Tyler, ao seu
dispor. — Ele me estende a mão para que eu a
beije, como se fosse uma donzela e preciso me
segurar para não rir quando a aperto ao invés de
beijá-la e sua expressão se transforma em
decepção.
A porta abre e Brin aparece, seu rosto
vermelho e seus cabelos uma bagunça. Parece
surpresa por me ver ali, mas sorri.
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— Espero que o Ty não o tenha traumatizado


muito.
— Foi uma companhia agradável.
Ela pega minha mão e me leva até seu quarto,
tira a roupa na minha frente e me viro de costas.
— O que você quer aqui, Stephen?
— Nós temos um jantar, você não lembra?
— Está falando da aposta?
Assinto e me arrisco a olhá-la e ela está de
lingerie, então me viro de novo, sentindo o
desconforto conhecido na calça.
— Não sei porque está de costas se já me viu
assim ontem.
Não respondo e ela aparece na minha frente,
ainda de lingerie, avaliando meu rosto em busca de
algo. Um ímã para problemas, e como um bobo
caio em sua armadilha, admirando cada centímetro
do seu corpo, quando meus olhos pousam em seu
rosto, um sorriso satisfeito se estende ali.
— Você vai ter que se acostumar a me ver
sem roupa — diz enquanto pega algo para vestir.
— Não posso imaginar porquê.
— Tenho certeza que pode. Mas bem, não
definimos quem perdeu ontem. Quem vai pagar o
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jantar? Estou perguntando porque se for eu, vamos


de podrão.
Sorrio e nego com a cabeça
— Nós empatamos. Nossas coisas estranhas
são bizarras na mesma quantidade — decido e ela
me encara com incredulidade. Franze a testa e
aproxima-se de mim, não aceitando minha
sentença.
— Você é um homem rico, lindo, tatuado,
lutador e virgem.
— Você é uma garota de programa que não
gosta de sexo.
Ela me encara por mais uns segundos, então
cede. Seu rosto se suaviza, sua postura relaxa e ela
dá de ombros.
— Tem razão, somos mesmo estranhos. Mas
você é o rico, você paga o jantar.
Espero ela terminar de se vestir, e quando
estamos de saída, ela me estende um capacete. E
em seu rosto há a expressão de desafio.
— Não vou subir na moto com você, Brin,
você não vai aguentar meu peso.
— Que bobagem! Já viu a minha moto? Não
vou deixá-lo cair, donzelinha, não precisa ter medo.
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— Está frio, por que não vamos no meu carro


hoje?
— Você paga a comida, eu banco o
transporte. Se formos no seu carro vamos comer
podrão.
O que é que eu estou fazendo? Penso ao
pegar o capacete de sua mão e seguir atrás dela
escada abaixo. Com maestria, ela empina a bunda,
lançando-me um olhar provocador e sobe na moto,
então dá dois tapinhas para que eu suba atrás dela.
— Eu até vou subir na sua moto, mas se a
gente cair, você vai ter que ir à luta no Beco
comigo amanhã.
— Não vamos cair, e eu vou à luta com você.
Agora suba.
Subo na moto, coloco o capacete e ouço sua
instrução.
— Agarre-se a mim, querido. Você não está
fazendo isso direito.
Rio alto de sua provocação e mando que ela
acelere essa coisa, segurando onde é mais seguro, e
com certeza não é no corpo lindo e pequeno dela.

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Brin para diante de um pub movimentado e


recebemos olhares atravessados quando descemos
da moto. Percebo que ela ergue a cabeça, não se
importando com os olhares que recebe, mas parece
incomodada quando esses olhares se dirigem a
mim. Enquanto procuro uma mesa no lugar cheio,
ela muda de ideia.
— Talvez devêssemos ir para um lugar mais
calmo, o que acha?
— Acho que encontrei uma mesa, este lugar
é ótimo, nós dois adoramos e não há a menor
necessidade de sairmos daqui.
— Você não precisa bancar o herói, eles são
idiotas, mas você não tem que perder sua noite se
aborrecendo com isso.
— Não me aborrece. E não vamos embora. Já
a vi enfrentar coisas piores do que meia dúzia de
caras idiotas. Está arregando agora?
Ela nega e vai na frente até a mesa
desocupada.
Por quinze minutos sou obrigado a ouvi-la
cantando a música que toca no ambiente, com sua
voz desafinada e sua dança estranha na cadeira. Por
quinze minutos, fico apenas observando-a ser ela,

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com seu jeito maluco, suas manias, sem medo do


que vão pensar. Passando vergonha e não se
importando com isso. Rindo para mim como uma
menina fazendo arte. Pego meu celular e bato uma
foto dela, que se assusta.
— O que está fazendo?
— Apenas eternizando o momento.
— Eu havia me esquecido que você é o
maluco das fotos. Tem trezentas câmeras no seu
quarto.
— Lembranças podem ser esquecidas, os
bons momentos precisam ser registrados. E então?
Você estava com seu cliente exclusivo quando
cheguei à sua casa? Ele não vai ficar irritado por
você estar comigo? — pergunto como quem não
quer nada e ela sorri.
Olha para mim com um sorriso satisfeito no
rosto ao invés de responder. Quando o faz, passeia
os dedos pela minha mão sobre a mesa e usa seu
tom baixo e provocante.
— Meu acordo com ele não me proíbe de sair
com outros caras, proíbe de transar com eles. Não
sabia que essa era sua pretensão esta noite.
— A diabinha ataca novamente — brinco
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segurando sua mão, e levando-a aos meus lábios,


deposito um beijo leve e a pouso de novo sobre a
mesa.
— Eu não estava com ele, apenas para que
saiba. Estava com outra pessoa.
— Quebrando seu acordo? Como aceitaria
fazer comigo?
— Você é o único homem por quem eu
quebraria qualquer tipo de acordo — responde
prontamente e parece arrepender-se disso em
seguida. Seu rosto cora e ela desvia o olhar,
focando-o no garçom que se aproxima com nosso
lanche.
— Como você conheceu seu colega de
apartamento? — pergunto para quebrar a tensão
que ainda está em seu rosto.
— Ele marcou um horário, disse que tinha
gostos peculiares. Chegou ao meu local de trabalho
com as malas, e nem parou para reparar em mim,
como a maioria dos clientes. Então tentei seduzi-lo,
fazê-lo entrar no clima. Ele disse que só tinha um
pedido a me fazer, queria ser meu cafetão. Eu dei
um soco nele, depois nós rimos, aceitamos que não
sou uma puta barata que tem chefe, e ele foi morar

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comigo porque não tinha para onde ir.


Estou rindo de sua maneira estranha de fazer
amizades, é tão fácil rir com ela! Quando meu
telefone toca e vejo o nome de Dylan na tela, de
repente parece que estou mentindo para ela. Ele me
pede permissão para viajar para investigar melhor o
passado dela e autorizo. Encerro a ligação e no
momento em que meus olhos pousam nela de novo,
consigo ver o vislumbre da preocupação em seu
rosto. Algo a atormenta. Assim que nota que a
estou observando, aquele sorriso lindo volta, como
se a angústia que vi segundos atrás nunca tivesse
estado ali.
— Como você conseguiu uma Kawasaki? —
pergunto para fazê-la falar, quem sabe algo do que
diz é verdade?
— Ganhei de um cliente — diz, mas desvia o
olhar no final da frase e sei que é mentira.
— É mesmo? Ele ficou assim tão satisfeito
com sua performance, mesmo você não gostando
de sexo?
Ela sorri da minha provocação, e alcanço
meu objetivo de desviar seus pensamentos do que
quer que a esteja incomodando.

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— Primeiro, — diz estendendo o dedo — eu


sou uma ótima atriz! E segundo, eu nunca disse que
não sei dar prazer a um homem. Sou profissional,
Stephen, se sentimentos não forem uma exigência,
faço o resto muito bem!
A maneira como ela fala com seus olhos
fixos nos meus, faz aquele incômodo voltar a
apertar minha calça, e dou um jeito de pedirmos a
sobremesa para que eu possa levar essa garota
provocadora para sua casa, e deixá-la quietinha lá.
Antes que ela foda de vez com o que resta do meu
juízo.

Ao chegar em casa, me deparo com um


problema: uma ereção que não cede. De volta aos
meus tempos de adolescente, vou tomar um longo
banho, onde alivio o tesão que se acumulou desde a
noite de ontem e me dou conta que me aproximar
de Brin é um perigo. E enquanto minha mão aperta
meu pau, subindo e descendo por toda sua
extensão, é a imagem dela que me vem à cabeça.
Aquele sorriso lindo, aquele corpo tentador naquela
lingerie sexy, e sobre o meu corpo enquanto nos
beijávamos e todo fogo que senti em seus lábios. E
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por mais que eu já tenha desejado outras mulheres


antes, por mais que tenha sentido vontade de
transar com apenas uma, admito com um certo
receio que nenhuma jamais me excitou como a
Brin.

Na noite seguinte, ela aparece na hora


marcada, usa uma blusa decotada demais e uma
calça que abraça seu quadril e pernas. Todos os
brutamontes neste beco a desejam. Ela sorri para
cada um deles e para diante de mim, seus lábios
grossos cobertos de vermelho, e seus olhos
castanhos destacados pela maquiagem que fez.
— Sabe, Stephen, estou curiosa para
esclarecer uma dúvida — diz ao invés de
cumprimentar-me. — O que você fez com a ereção
que senti cutucando minha bunda na moto do pub
até lá em casa ontem?
Ela está perto demais de mim para sussurrar
essa pergunta em meu ouvido e sinto seu perfume
me atingindo. Parece que meus banhos de agora em
diante serão todos longos.
— Usei como um lembrete do quanto você é

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perigosa, diabinha.
Ela solta uma gargalhada deliciosa e se afasta
porque a luta da noite já vai começar. Hoje sou
apenas expectador. Quero ver os lutadores,
conhecê-los, antecipá-los.
— Ei, eu já não vi você naquele clubinho de
luta? — pergunta um dos lutadores, que nunca
havia visto aqui antes.
— Não frequento nenhum clube de luta —
respondo.
Ele me avalia por um momento e percebo que
a atenção de todos os caras se volta para mim.
— Até parece que um daqueles modelinhos
daquele clube de merda iria sobreviver a isso aqui!
— diz outro com uma careta.
— Esses babacas do Luck estão muito
ocupados no campeonato de merda deles agora.
Não se atreveriam a aparecer por essas bandas,
espero por isso desde que o idiota do Thor me
expulsou de lá, anos atrás. Se eu vir qualquer um
deles por aqui, farei questão de mandar um recado
para o chefe na cara do intruso — diz Adrian, o
organizador das lutas, o chefe, como o chamam.
Olho para Brin e nem preciso dizer nada, ela
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entendeu minha omissão, entendeu minha mentira.


Assistimos as duas lutas da noite e quando abro a
porta do meu carro para ela, sinto que ela pensa em
não entrar. O beco não é longe da casa dela, de
forma que ela pode tranquilamente ir a pé.
— Eu sei que você é quase uma ninja e pode
se virar sozinha, mas gostaria que entrasse no meu
carro e me deixasse levá-la até sua casa.
— Sempre cavalheiro, senhor Ryan. Quero
ver quando vai deixar isso de lado e se tornar o
safado.
— Você não quer de verdade isso, homem
safado você encontra em qualquer pub.
Ela ri daquele jeito que adoro e entra no
carro, não sem antes passar por mim encostando
cada parte possível do seu corpo ao meu, como se
não tivesse mais espaço entre mim e a porta.
Estaciono em frente sua casa e ela se vira no
banco, olhando em meus olhos.
— Esse jogo que você está fazendo, é muito
perigoso, Stephen. Uma hora ou outra eles vão
descobrir quem você é. E de onde veio. Por que
está se arriscando assim?
— Eu precisava de uma distração. O Luck
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não é mais a minha casa. Eu precisava de outra.


— O ambiente no beco está longe de ser
familiar ou sequer seguro.
— Eu sei. É apenas um desafio, algo para
ocupar minhas noites. Acabo aprendendo mais
também. Assim que acabar o campeonato deles e
eu vencê-lo, não voltarei mais lá.
Sua expressão preocupada não suaviza e ela
segura minha mão, fala de um jeito tão doce que
quase não acredito que é ela mesmo quem está
falando:
— Não gosto que se arrisque assim. Podemos
encontrar qualquer outra distração para você, e nem
estou falando de sexo.
Acaricio seu cabelo achando graça do seu
jeito preocupado, do medo que vejo em seus olhos
por mim.
— Vamos ver, me dá uma ideia de algo que
me distraia.
Ela nem precisa pensar muito antes de ter
uma ideia.
— Você podia fazer uma sessão de fotos
comigo. Para eu atualizar aquele site que ainda não
sei quem fez.
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— Uma sessão de fotos? Com você apenas de


lingerie?
Ela assente animada e nego com a cabeça.
— Nem pensar! Prefiro apanhar dos
brutamontes do beco.
Ela suspira exageradamente e abre a porta do
carro para ir embora, mas antes, me olha com
desdém fingido e diz:
— Desse tamanho, lotado de músculos e
ainda assim tão medroso! Boa noite, Steph.
E com essa provocação, ela deixa o carro.
No segundo seguinte meu celular toca e
atendo Dylan.
— Stephen, estou em Lincoln. Os registros
que encontrei sobre sua garota diziam que ela
nasceu aqui, filha de dois fazendeiros que se
mudaram do Alabama para cá. Olha, eu vim
pessoalmente verificar e preciso dizer que toda a
história dela é cheia de contradições. Em sua
certidão de nascimento que estou enviando para
você, consta que nasceu em 1997, em Lincoln,
Nebraska, filha de Adam e Tess Green.
— Ela me disse que não é americana, fala
espanhol fluente, pensei que fosse da Espanha,
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Argentina, ou qualquer outro lugar da América do


Sul.
— Então, o nome dela completo na certidão
de nascimento é Sabrine Vega. Apenas isso. Quem
registraria a filha sem o sobrenome dos pais?
— Pensei que Vega fosse alguma espécie de
pseudônimo.
— Mas não é. Estranhei este fato e por isso
resolvi dar um pulinho até aqui. Localizei os pais
dela, e há registros que eles tiveram mesmo uma
filha na data de nascimento da Sabrine, cujo nome
era Emily Green.
— Por que ela mudaria de nome?
— Estou investigando isso. O mais estranho é
que fui ao bairro onde seus pais moravam quando
ela nasceu, eles viveram lá por quinze anos e
ninguém a quem perguntei reconheceu sua garota
nas fotos que mostrei. Todos se lembram dos
Green, e ninguém se lembra que eles tinham uma
filha. Preferi não falar diretamente com os pais
dela, se eles tiverem contato com a filha, isso
poderia denunciá-lo.
— Não, é melhor mesmo não envolvê-los
nisso. Dylan, você verificou se há algum registro de

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óbito em nome de Emily Green?


— Claro que sim! Não há. Para todos os
efeitos a sua garota é na verdade, Emily Green.
Mas fica ainda mais estranho, Stephen. Não há
registros de uma Emily Green em nenhuma escola
da região, nem das regiões próximas, ou em
qualquer hospital e também não há número de
seguro social.
— Você pesquisou por Sabrine Vega?
— Sim. É aí que fica mais estranho ainda,
Sabrine Vega formou-se no colegial em Valência,
na Espanha. Mas averiguando melhor os anos em
que passou lá, vendo os álbuns de anuário desses
anos, da escola e colegial onde consta que ela
estudou, não há nada dela. As únicas provas
concretas que encontrei de uma instituição de
ensino frequentada por ela, foi a faculdade onde
vocês estudam hoje. Ela faz psicologia, está quase
no quarto período.
— Então ela mudou de nome e depois
mudou-se sem os pais para a Espanha? O que pode
ter ocasionado isso?
— Não faço a menor ideia. Não há indícios
de qualquer escândalo ou tragédia envolvendo os

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Green, nem ninguém próximo a eles. Estava


pensando em ir daqui direto para Valência, se você
concordar, para procurar mais informações.
— Claro! Faça isso! Faça o que achar preciso
e me mantenha informado.
— Tudo bem, confesso que estou bastante
curioso para desvendar o passado da sua garota.
— Somos dois. Dylan, só mais uma coisa.
Você viu os Green? Eles se parecem com ela?
— Sim, os vi e vi também fotos deles de
várias comemorações na comunidade. E não,
Stephen, não se parecem em nada. É só um palpite,
mas acho que Sabrine Vega e Emily Green não são
a mesma pessoa. Resta saber então onde está Emily
Green e quem é de verdade Sabrine Vega.
— Faça isso, descubra tudo isso. Vá para
onde for preciso, faça o que for necessário, mas
descubra a verdade sobre as duas.
Encerro a ligação e sinto um aperto no peito
ao olhar para a janela do apartamento da Brin, ou
Emily, seja qual for o nome dela. Sinto que há
muito mais nisso do que uma mudança de nome.
— Quem é você, Brin Vega?

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Capítulo 7
Brin
A porta é aberta e levo um susto ao dar de
cara com Tyler no centro da sala, avaliando-me
com surpresa e descrença.
— O que aconteceu? Por que você não estava
contando os segundos para eu chegar?
Suspiro tentando amenizar esse aperto que
sinto no peito desde que o pai do Stephen deixou
claro que sabe a verdade sobre o meu passado,
desde que disse que aquele infeliz adoraria saber
onde estou. Decidi a ir para a cama com Stephen e
fazer o serviço ao qual fui contratada para fazer,
mas então teve aquele jantar, e a noite de hoje. E
tudo parece fora dos eixos de novo.
— Brin, você está calada a tempo demais,
estou ficando preocupado! O que aquele deus grego
fez com você?
Essa deve ser a primeira vez que falo sério
com Tyler sobre alguma coisa.
— Ty, eu tenho um dilema moral.
Ele fica sério por um tempo, depois cai na
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risada, como se eu tivesse contado alguma piada


muito boa.
— Dilema moral! Desde quando você tem
moral, quenga? — brinca, mas ao perceber que
estou falando sério, senta-se sobre a mesinha de
centro da pequena sala e segura minhas mãos. —
Sabrine o que está havendo com você? Não a estou
reconhecendo mais! Nunca imaginei que a ouviria
dizer as palavras dilema e moral juntas. Ainda mais
referindo-se a si própria.
— Não quero mentir para ele. Não quero
levá-lo pra cama só porque o pai dele mandou, eu
não quero!
— Então não faça — diz avaliando-me com
uma expressão estranha.
— Eu tentei, mas o pai dele sabe demais
sobre mim e me ameaçou.
Ele se levanta rapidamente, deixando minhas
mãos no ar e levando as dele exageradamente até a
têmpora.
— Eu sabia! Você é algum tipo de criminosa!
— Não viaja, Tyler!
— Fofa, não viaje você. Olhe bem nesses
olhinhos lindos e puxados e preste atenção. Você
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está se apaixonando por Stephen Ryan e esta não é


você. A Brin que eu conheço não tem sentimentos.
E sabe por que ela age assim? Porque há algo que
precisa muito esconder e se envolver com alguém
pode pôr tudo a perder. Você está disposta a
arriscar esse segredo que não consegue contar nem
mesmo para o seu melhor amigo, por um cara que
não vai ficar com você?
Nego com a cabeça, e sinto as lágrimas
rolando por meus olhos. As seco imediatamente e
começo a entrar em pânico. Nem me lembro
quando foi a última vez em que chorei, eu não sou
assim. Nada me abala a ponto de ferir.
— Não estou me apaixonando por ele — digo
após pensar bastante no assunto. — Ele é muito
legal e gentil. Acho que é a melhor pessoa que já
conheci e eu só não queria ter que levá-lo para a
cama, isso é especial para ele, e não quero tirar
isso.
— Então por que está chorando?
— Porque estou me sentindo uma prostituta!
— Mas é isso o que você é! E você nunca se
importou com isso. Parece que tem andado demais
com um cara que não se lembra do que você é, mas

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você deve se lembrar, Brin!


— Como eu poderia me esquecer? Eu não
ligo para homens casados que me pagam para
terem fora o que já tem em casa. Não ligo para
esses garotos idiotas que acham que por estarem
pagando podem me humilhar e tratar como querem,
nada disso me incomoda, porque é a vida deles, a
consciência deles, eu só faço o meu trabalho! Mas
com o Stephen não é assim, ele não procurou por
mim, ele não é um homem casado em busca de
aventuras, nem um playboyzinho que quer
humilhar alguém. Ele é bom! E não ter o poder de
escolher não magoá-lo me mata! Porque eu vou
receber para feri-lo. Só porque o pai dele é um
babaca que não conversa com o próprio filho!
Agora sim, me senti um objeto que faz tudo por um
preço certo.
— O que você pretende fazer?
— A merda do meu trabalho! Não é pelo
dinheiro, é pelo silêncio do idiota do pai dele! E
mesmo assim vou ser a prostitua que sou e em troca
de alguma coisa, vou levar Stephen Ryan para a
cama! Ele vai me odiar, Tyler. Quando isso acabar,
ele vai me odiar.
— Ah, minha deusa menina, como pode ser
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tão cega? — Ele se joga ao meu lado e me


aconchego em seus braços. — Por que nós não
fugimos? Vamos embora, outra cidade, outro
estado, outro país. Você conhece a Espanha, certo?
Por que não vamos para lá? Assim você não vê
mais Stephen Ryan e toda a família malvada dele.
O encaro de volta pensando seriamente nessa
possiblidade. Começar do zero de novo, talvez um
nome novo, um visual novo, uma história nova. Eu
já fiz isso antes. Já fiz isso tantas vezes que não
terei qualquer dificuldade.
Mas então me vem à mente Donald Ryan e
suas malditas palavras naquele café.
“Há alguém que adoraria saber onde você
está.”
E se ele contar para esse alguém onde estive,
ele estará há um passo de me encontrar, e tudo o
que fiz para chegar até aqui livre dele, não terá
valido de nada.
— Não podemos ir embora, mas obrigada por
oferecer-se para ir comigo. Eu só tenho que fazer o
meu trabalho. Tenho que fazê-lo o quanto antes,
quanto mais tempo passar com Stephen Ryan, mais
o conhecerei e mais difícil isso se tornará. Vou

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transar com ele até o final da semana, vou fazer


com que seja gravado e esfregar o vídeo na cara do
pai dele. Então poderemos ir embora. O que acha?
— Precisa ser para um país novo ou podemos
ir só para um estado novo? Sempre quis conhecer
Miami! Podemos ir para a Flórida?
— Claro! Vamos para a Flórida! Miami será
ótimo! Sol, mar, gente nova.
— E sua faculdade?
— Irei trancá-la. Começo outra lá, talvez.
Talvez seja apenas a garota de programa que sou.
Chegando lá a gente decide.
Ele assente animado e me sinto feliz por não
ter que recomeçar tudo sozinha pela primeira vez.

Não vejo Stephen durante a manhã, quando


tranco a faculdade e tento não me sentir triste por
mais uma vez encerrar algo pela metade. Um dia
conseguirei concluir alguma coisa. Não há quase
aluno nenhum aqui, mas vejo a ex namorada de
Stephen conversando com seu atual namorado, e é
tão nítida a paixão dos dois! Pelo jeito como se
olham, como se tocam, pela maneira harmônica
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como se movem um em volta do outro, como dois


ímãs. Stephen nunca teve realmente uma chance
com ela, e me sinto triste que tenha demorado tanto
a escolher alguém para amar e este alguém seja a
única pessoa no mundo que não pode corresponder
aos sentimentos dele.
Encontro Tyler saindo para seu emprego
numa rede de supermercados enorme e ele diz
animado que vai pedir as contas. Lembro-me então
de algo que vem rondando a minha cabeça desde
que visitei o meu famoso site, no quarto de
Stephen.
— Ty, você por acaso sabe sobre um site que
fizeram para mim?
— Um site? Não, você o mencionou algumas
vezes, mas não procurei saber.
— Estranho. Tem informações sobre mim,
oferece os meus serviços de uma maneira sutil e
tem apenas depoimentos bons de clientes que nunca
tive.
— Tem certeza que esse site é seu e não da
verdadeira Brin Vega?
— São as minhas fotos com aquele conjunto
de lingerie preta e vermelha, lembra? Estou

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perguntando porque nunca divulguei tais fotos.


Apenas você e eu as vimos.
— Quem quer que tenha feito seu site, deve
ter hackeado seu computador e pegado as fotos.
— Hum, o interessante é que sempre me
aparecem clientes e nunca os pergunto onde
conseguiram meu número.
— Provavelmente um cliente passa para
outro.
— Claro! Porque todos adoram transar com
uma mulher que não se permite ser beijada e não
sente nada quando é tocada. Penso que conseguem
meu contato através do site.
— Quenga, não estou entendendo o porquê
deste interrogatório. Não sou eu o responsável pelo
seu site.
— Que bom! Porque isso me parece coisa de
cafetão, e eu não trabalho assim.
Ele resmunga algo que não compreendo e vai
para seu trabalho e eu continuo com a pulga atrás
da orelha. Pois, se não é o Tyler quem administra
esse site, quem mais pode ser? Quem teria acesso a
informações sobre mim e se daria ao trabalho de
criar uma história, e inventar depoimentos tão
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bons? Pelo visto irei embora sem desvendar isso.

Encontro Stephen na noite seguinte, em


frente ao Luck, com seu olhar de cão perdido em
uma direção. Imagino que a dor em seu rosto seja o
reflexo da coroa que perdeu, do lugar que até
poucos dias era sua casa, e agora é mais como o
reino do seu grande inimigo. Contudo, quando me
aproximo para brincar sobre seu momento
melancólico, noto que o que ele olha com tanta
saudade não é o clube em si, é ela. Caitlin está
parada na entrada, claro que estaria, é a final do
campeonato e o namorado dela provavelmente vai
ser o campeão. Ela procura por alguém entre a
multidão de pessoas que espera para entrar,
totalmente absorta ao belo e gentil homem babando
por ela do outro lado da calçada. E isso me irrita de
uma maneira que tenho vontade de segurá-lo pelos
cabelos e bater sua cabeça em seu carro até que ele
entenda que não precisa disso. Que é maravilhoso e
pode ter a mulher que quiser.
Está aí algo que nunca vou compreender, esse
tipo de paixão.

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Aproximo-me e paro ao seu lado, reparo que


seus olhos não se desviam da ex em minha direção
e isso me irrita ainda mais.
— Pelo visto, descobriu mesmo o seu tipo
preferido de mulher, não é? As que não te dão bola.
Um sorriso surge em seu rosto e ele avalia
meu visual sem pressa alguma, prendendo os olhos
por um tempo maior no decote enorme da blusa.
— Já que tocou no assunto com tanta
sutileza, devo confessar que na verdade descobri
sim. Gosto de mulheres que não tentam me levar
pra cama.
Abro um sorriso nada amigável e estendo o
dedo do meio para ele, que ri alto, levando-me para
seus braços em seguida. Ele me mantém presa em
seu corpo e me pergunto se está tentando fazer
ciúmes na Caitlin, então entendo que mesmo que
seja isso, não irei me afastar agora. Não até que ele
mesmo o faça.
— Eu queria te fazer uma pergunta e queria
muito que fosse totalmente sincera na resposta —
diz em meu ouvido e tento não demonstrar os
arrepios que sua voz rouca causou em meu corpo.
— Não posso prometer isso.

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— Se não quiser dizer a verdade, então não


responda, tudo bem? — Concordo e ele pergunta:
— Por que você veio para os Estados Unidos?
Em dez segundos crio toda uma história para
contar a ele que irá instigá-lo, mas quando abro a
boca, acaba saindo a mais pura verdade.
— Porque eu precisava recomeçar. Não
estava segura onde estava.
— E onde você estava?
Afasto-me de seu corpo e observo a multidão,
e ele entende o meu silêncio como resposta.
— Tudo bem. Só mais uma pergunta então.
Você está segura agora?
Nego devagar com a cabeça.
— Estava até conhecer você.
— O que isso quer dizer?
— Você disse que queria fazer uma pergunta,
Stephen, isso virou um interrogatório?
Somos interrompidos por dois homens muito
fortes, com cara de malvados. Eles conversam algo
com Stephen e aproximo-me para prestar atenção.
— Então você vai permitir que o Hanson
fique com o cinturão? Fala sério, Ryan. Só estamos
te fazendo uma pergunta, não custa responder.
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— Por mim que ele perca a final e todas as


outras lutas que tiver na vida. Mas não sou amigo
dele, não há nada que possa dizer para ajudá-los.
Franz pode vencê-lo sozinho, não precisam roubar.
A luta é livre, confiem no seu homem — responde
Stephen.
— Qual é, Hanson, ele tem que ter um ponto
fraco. Você já o derrotou inúmeras vezes, qual é?
— insiste o que tem uma cicatriz bizarra.
— Se eu soubesse não teria permitido que de
todos os lutadores deste campeonato, justo ele me
eliminasse. Eu já disse, Dirk, não posso ajudá-los.
— Você está defendendo o cara que roubou
sua garota! — acusa o modelinho que até então
estava calado.
— Estou defendendo meu clube. Não gosto
do Hanson, mas não vou prejudicar o clube todo
por isso. Sinto muito.
Os brutamontes alemães olham de um para
outro e um deles pergunta como quem não quer
nada:
— E a garota? A que você perdeu pra ele, ela
virá hoje?
Stephen parece realmente incomodado com a
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pergunta e responde:
— Claro que sim! Ele jamais lutaria sem ela!
— Esses idiotas apaixonados — o cara
chamado Dirk comenta e percebo algo diferente em
seu olhar, uma excitação pela informação que
acabou de receber. — Quem é a garota?
— Por que vocês querem saber? — pergunto
interrompendo a resposta de Stephen.
— Estamos curiosos, afinal de contas dois
dos campeões deste lugar brigaram por ela. Só
estamos intrigados. O que será que ela tem de
mais?
Absolutamente nada! Penso em responder,
mas dou de ombros e Stephen os avalia
desconfiado.
— É uma mulher sensacional, a Caitlin. Se
falassem com ela por cinco minutos entenderiam o
que ela tem de mais. Está parada li, perto da
entrada — diz e aponta o dedo para onde Caitlin
está.
Eles avaliam, mas há muita gente e ao
contrário de Stephen, não a localizam com tanta
facilidade. E eu posso sentir a dor dele, o pesar por
estar mostrando a eles a garota do Colin, a garota
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que deveria estar aqui com ele. Penso que eles


querem falar com ela, provocá-la dizendo que vão
derrotar seu namorado, coisas assim.
— Nos leve até ela, Ryan, vamos avisar a
primeira dama que ela vai perder seu posto esta
noite, junto com o namoradinho dela.
Stephen engole em seco, e olha para mim, um
pedido mudo que eu faça isso para que ele não
tenha que fazer.
— Vou esbarrar nela, vocês saberão quem é.
Mas isso é apenas brincadeira, certo? Provocações.
Se a ofenderem de alguma maneira...
— Vocês não vão querer me ver irritado! —
Stephen ameaça lançando a eles um olhar quase
assassino. — Se ela se queixar de qualquer coisa
que vocês digam a ela, se falarem atravessado ou
forem grossos de alguma maneira, acabo com
vocês. Não pensem nem por um segundo que uma
derrota foi o suficiente para me parar, porque foi
justamente o contrário. Tenho mais sede de sangue
do que nunca!
Eles concordam garantindo que jamais fariam
mal à mulher de outro lutador, que vão apenas
brincar com ela, ali na entrada mesmo, e Stephen

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poderá ver tudo de onde está. Assim, para que


Stephen não pareça fraco diante de seus colegas de
campeonato ao não conseguir se aproximar de uma
mulher que o deixou, para que ele não tenha que
provar algo a si mesmo, indo até ela e
intensificando a dor que já sente caso ela não queira
falar com ele, eu mesma o faço. Aproximo-me de
Caitlin Ross, e ela se vira, derrubando meu celular
no chão, e desculpa-se sem seguida.
— Caitlin? Tudo bem? — A voz de Stephen
atrás de mim me prova que ele não resistiu a
aproximar-se dela, e isso me incomoda de uma
maneira que nem sei explicar. — Esta é Brin Vega,
minha amiga.
Caitlin sorri para mim, meio desconfiada e
devolvo o mesmo sorriso forçado. Desejo boa sorte
ao namorado dela e saio dali, porque não tenho
cabeça para mais nada essa noite. Não quero ver
um homem como ele se humilhando para ter um
segundo da atenção dela.
Para minha surpresa, tão logo me afasto, ele
me alcança e segura meu braço.
— Você está bem? Por que saiu andando
assim?

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— Ah, não sabia que você queria uma plateia


para ver sua adorada Caitlin te dando atenção.
Ele sorri, um sorriso tenso enquanto seus
olhos passeiam pela multidão, com certeza em
busca dela de novo e volto a andar, ainda mais
irritada. Preciso urgente de um chocolate. Ou um
sorvete. Ou os dois.
— Você será a namorada terrivelmente
ciumenta de alguém — diz segurando meu braço e
me puxando de volta à multidão.
— Eu não quero voltar para o clube! Me
deixa ir embora! Você não precisa da sua amiga por
perto para falar com o amor da sua vida, me solta!
— Como você queria que eu a apresentasse,
Brin? — pergunta confuso e dou de ombros,
soltando-me dele e fazendo-o parar.
— Sua futura foda. Sua garota de programa.
Qualquer merda, menos sua amiga! Idiota!
Ele não está prestando atenção em mim,
porque procura preocupado por alguém. Por fim,
decide dividir comigo sua desconfiança.
— Você está vendo a Caitlin?
Olho em volta, mas ela não está mais onde
estava.
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— Deve ter entrado.


— As amigas dela estão do lado de fora
procurando por ela. Alguma coisa está errada.
Corremos até a entrada e nos dividimos ente
a multidão, procurando por ela, mas nem sinal da
garota perfeita do Stephen. Entramos no clube e
olhamos entre as pessoas, as amigas dela já
entraram, a luta está parada enquanto Colin, seu
namorado, a chama pelo microfone. Como Stephen
disse, ele não vai lutar sem ela.
— Stephen, eles a levaram — digo em voz
alta o que não queríamos admitir, porque se fizerem
alguma coisa com ela, a culpa será nossa.
Ele tenta falar com alguns dos amigos dele,
lutadores do clube, pedindo ajuda para encontrá-la,
mas ninguém para para ouvi-lo, ninguém quer
perder a final do campeonato. Stephen então corre
até o ringue, e sei que passa por cima de todo seu
orgulho ao chamar por Colin, seu maior inimigo, o
cara que tirou a garota de seus sonhos dele. Fala
alguma coisa com Colin, que desce do ringue com
sua cara de poucos amigos. Aproximo-me para
ouvir Stephen falando:
— Você precisa vir comigo, eu não vou dar

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conta sozinho, são pelo menos seis caras.


Ele vai atrás dela. Colin responde algo e os
dois discutem, mas rapidamente, saem do clube e
Colin é desclassificado do campeonato por
abandonar o ringue. No fim das contas, Stephen
conseguiu uma vingança que nem queria, nem
planejou e da qual claramente está arrependido.
Consigo segui-los, por mais rápidos que eles
sejam. E antes de entrarmos no carro de Stephen,
seguro sua mão e pergunto preocupada:
— Tem certeza que quer fazer isso? É
arriscado demais! Vocês estão em dois, Stephen,
por favor não vá.
— Eu preciso ir, Brin. A culpa disso é minha,
se eles a machucarem, a culpa terá sido minha.
Sinto muito, eu fiz a merda e preciso corrigi-la
antes que seja tarde. — Assim, ele entra no carro e
entro logo atrás dele. Torcendo para que consigam
resgatá-la antes que a machuquem. E que não
machuquem Stephen nesse processo.
Chegamos ao local onde Stephen acha que a
estão mantendo e ele não permite que eu saia do
carro. Por mais que saiba me defender, não quer
que eu enfrente os perigosos lutadores alemães. Até

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tento ir assim mesmo, nunca fui de receber ordens,


mas entendo que serei uma distração para ele lá
dentro. E eles vão sozinhos, dois homens apenas,
contra no mínimo seis.
Parada ali, vendo-o sumir para dentro do
enorme galpão, assusto-me ao me dar conta que
isso está doendo. A reação de Stephen esta noite, o
amor dele por ela, o quanto é capaz de se arriscar
por ela sem pensar duas vezes, tudo isso me
machuca. Talvez seja porque nunca serei eu essa
garota para ele. A que ele ama com tal intensidade,
a que faria o impossível para proteger. Nunca serei
essa garota para ninguém.
Alguns minutos depois, Colin sai carregando
Caitlin e Stephen vem logo atrás. A polícia não vai
demorar a aparecer e não posso estar aqui. Desço
do carro e não vou ao seu encontro, ele estará muito
ocupado cuidando dela, orbitando à sua volta, e não
sou obrigada a ver mais disso esta noite. Atravesso
a estrada e pego carona com um carro que se
aproxima.
Decido ir para casa, talvez precise de uns dias
sem vê-lo, talvez precise de alguém que possa
seduzi-lo no meu lugar. Preciso de qualquer
solução que não me obrigue a vê-lo novamente.
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Não quero que esses sentimentos estranhos que


estão surgindo por causa dele, se desenvolvam.
Preciso pará-los agora mesmo!
Os caras com quem peguei carona são dois
idiotas da faculdade e um lutador, aparentemente,
do clube alemão, pelo menos um deles não está
envolvido no sequestro da Caitlin, e um dos
babacas, que faz uma aula comigo, diz:
— Já está indo para sua esquina, Brin? Quer
que a deixemos lá?
Sem nem mesmo olhá-lo, apenas respondo:
— Não, ela está emprestada para sua
namorada. Não é longe daqui, se procurar um
pouco, tenho certeza que a encontra.
Os caras riem e ele para o carro e me manda
descer, ainda bem que já está perto. Vou a pé pra
casa e aproveito o vento e o ar frio para pensar um
pouco.

Já passa das duas da manhã e não consigo


pregar os olhos, meu celular ainda não possui
nenhuma chamada perdida, ou qualquer mensagem
dele. Eu não sei se ele está bem. Por muitas vezes
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penso em enviar uma mensagem e saber como está,


mas desisto. Não somos amigos, não devo me
preocupar. Mas me preocupo.
Puxo meu cabelo, mordo o dedão do pé,
arranco o esmalte da unha com os dentes, e nada
me acalma, nada tira essa sensação de angústia.
Abro a janela para que o vento frio me congele de
uma vez por todas, quando vejo parado do outro
lado da rua, o carro dele. É o carro do Stephen.
Confiro de novo em meu celular que não há
qualquer mensagem ou chamada, visto um roupão
qualquer e vou ao seu encontro.

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Capítulo 8
Stephen
Pergunto-me mais uma vez o que caralho
estou fazendo aqui. Por que vim para a casa dela?
O que eu estava pensando? Que ela estaria
acordada à minha espera para me ver acabado
como estou agora?
Eu corrigi meu erro. Sabia onde eles
estariam, chegamos a tempo de algo mais grave
acontecer e a libertamos. E ela se arriscou por ele.
Caitlin foi até ele quando ele parecia fora de
controle, e o amor dos dois era tão nítido, que não
havia mais nada que eu pudesse fazer ali. Ele não
vai pisar na bola com ela, e isso deveria me
enlouquecer, ao invés de me deixar tão
conformado!
A porta do meu carro abre e Brin senta-se ao
meu lado. Sua expressão cansada entrega que não
dormiu nada.
— O que está fazendo parado aqui? —
pergunta.
— Criando coragem para ir embora.
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— Por que você não me ligou? Por que não


disse que estava aqui embaixo? Eu teria descido
antes, está aqui há muito tempo?
Nego com a cabeça e sorrio para ela,
analisando com graça seu roupão felpudo.
— Não me olha assim, peguei a primeira
coisa que vi no armário. Você está bem?
— A Caitlin está bem, machucou-se pouco,
eles não a feriram. O Colin a levou para um
hospital.
— Que bom. Mas não foi o que perguntei.
Aponto para ela o machucado em meu rosto e
levanto minha camisa, mostrando os cortes na
barriga.
— Isso está feio. E também não foi o que
perguntei.
— Não estou bem, Brin. E também não sei o
que vim fazer aqui. Desculpe incomodá-la a esta
bora. Eu vou pra casa.
Ela me encara com uma expressão estranha,
como se eu a tivesse ferido. Suspira enquanto leva
as mãos à cabeça e murmura algo para si mesma,
algo como “não faça isso com você”. Estou prestes
a perguntar se está bem, quando seus olhos pousam
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nos meus, decididos, e ela diz:


— Não, você veio até aqui por um motivo,
porque não quer enfrentar o que está sentindo
sozinho. Venha comigo, fique aqui esta noite, eu
vou cuidar de você. E não estou falando de sexo,
infelizmente. A não ser que você queira, claro.
Sorrio. E acabo aceitando seu convite, porque
ela consegue fazer isso, consegue me fazer rir,
consegue me distrair como ninguém mais.

Ela me pede para esperar em seu quarto


enquanto junta coisas pela pequena cozinha de seu
apartamento. Pouco depois, aparece com algodão,
água e algum remédio. Os deposita sobre a cama e
sai novamente, retorna então com uma bacia com
água quente e algumas folhas verdes. Deposita a
bacia no chão, perto da cama, prende seu cabelo em
um coque engraçado e me empurra contra a cama.
Abaixa-se diante de mim, apoiando suas
mãos em minhas coxas, perto demais de onde não
deveria. Lança-me seu olhar malicioso e tira meus
sapatos, surpreendendo-me. Deixo que faça o que
quer, para ver até onde vai, e ela os coloca na água

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quente.
— Isso vai ajudar você a relaxar. Parece
muito tenso — explica.
Assinto, meus olhos presos a ela, da
massagem leve que faz nos meus pés com toda
paciência, ao sorrisinho travesso quando foca seus
olhos por tempo demais no volume na minha calça
e morde o lábio. Fazendo-me rir sem graça.
— Quer a massagem só nos pés? — provoca.
— Acho que assim é mais seguro.
Ela dá de ombros e se levanta.
— Onde você se machucou? Nós vamos
brincar de médico.
Sorrio de seu tom malicioso e sua fala de
duplo sentido e tiro a camisa, para que ela veja o
hematoma no meu abdômen, onde fui chutado. E
ao invés de analisar o machucado, ela analisa meu
corpo, abre um pouco do zíper do imenso roupão
felpudo que usa, como se sentisse calor.
— Você deveria ser pecado — comenta
baixinho.
— O quê?
Ela se ajoelha na cama e vem em direção a
minha barriga, seus olhos fixos na direção do meu
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pau e meu corpo todo fica tenso esperando seu


próximo passo, mas ao contrário do que pensei que
faria, ela passa o algodão levemente sobre o
hematoma ali presente. Respiro aliviado e ela solta
uma gargalhada.
— Como você é... — Busca a palavra e ri
ainda mais ao encontrá-la — virgem!
— Isso foi uma ofensa? — pergunto
divertido e ela nega com a cabeça, suspirando em
seguida.
Pega o remédio sobre o colchão e volta a
aproximar-se demais, deixando-me tenso e ansioso.
Enquanto passa o remédio vagarosamente ali,
pergunta:
— Você percebe quando uma mulher está
excitada por você, Stephen?
Usa uma voz doce, baixa, seus olhos se
focam nos meus, provocando-me.
— Sim, Brin, eu sei.
— Que bom! — diz levantando-se de
repente, fazendo-me prender o ar esperando seu
próximo passo, mas ela apenas se afasta, rindo. —
Nunca estive com um virgem antes.
— É, dá para ver que está se divertindo.
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Sorrindo, ela sobe na cama de joelhos,


mantendo uma perna entre as minhas, perto demais
de mim.
— O que o está incomodando? Por que
parece tão perdido? — pergunta de repente.
— Acho que sou como você, não tenho
sentimentos.
— Não consigo imaginar porque você
pensaria algo assim.
— Porque eu amo a Caitlin, tenho essa
certeza, não é? Mas a vi com ele, a maneira como
se conectaram e se entenderam, esse amor entre
eles e isso não feriu. Eu sei que ela pertence a ele,
nunca será diferente, é esse tipo de sentimento pra
vida toda, sabe?
Tensa, ela nega com a cabeça, seus olhos
focados apenas no machucado que cuida.
— Nunca ouvi falar desse tipo de coisa.
— Eu aceitei isso, Brin. Apenas aceitei que
ela é dele. E não deveria. Se eu a amo, deveria
continuar sofrendo por ela. Deveria continuar
sentindo sua falta. Deveria estar morrendo aos
poucos por ver o quanto eles se amam. Por que não
é assim? Será que meus sentimentos serão assim?
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Vou amar tanto em um dia, e nada no outro?


Ela desvia seus olhos para os meus, seu
cenho franzido em um gesto de negativa.
— Você não é assim. Você é doce e tão
lindo! É gentil, engraçado, inteligente. Você é o
único homem no mundo que esperaria a pessoa
certa, a hora certa, para se entregar, porque quando
o fizer, vai se entregar por inteiro. — Seus olhos
avaliam os meus enquanto ela limpa o machucado
no meu rosto. — Você é maravilhoso, Stephen, não
precisa sofrer por alguém que não o quer. A mulher
que você escolher, seja ela quem for, terá ganhando
na loteria da vida. Lembre-se disso, e se amar
alguém que pense diferente, então desligue o
sentimento porque ela não irá merecê-lo.
Seus olhos pousam nos meus de novo e vejo
a verdade neles. Um dos raros momentos em que
ela está sendo ela, sem joguinhos ou mentiras.
Nossos olhares ficam presos por alguns segundos,
quando ela desvia o seu, molhando o algodão com
o remédio que trouxe.
Volta a passar gentilmente o algodão por meu
rosto, suas pernas entre as minhas, seu corpo
colado ao meu, descanso minhas mãos em suas
coxas. E assim, com um roupão felpudo que na luz
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percebo ser o Sullivan de Monstros S.A., com um


coque engraçado no cabelo e seu rosto tão perto do
meu, percebo que Brin Vega é a coisa mais bela
que já vi. Sem tirar os olhos dela, subo minhas
mãos vagarosamente por seu corpo, pelo roupão
felpudo que me faz rir, mas que não me impede de
sentir suas curvas. Meu passeio termina em suas
mãos, que estavam no meu rosto. As afasto, as
beijo levemente e as deixo para trazer seu rosto de
encontro ao meu.
Meus lábios tocam os seus pedindo
passagem, e ela corresponde com seu fogo, cerco
seu corpo com os braços, prendendo-a ainda mais a
mim. Ela abaixa devagar, sentando sobre minha
perna, sinto a pressão de seus seios através da
pelúcia de seu roupão. E quando sinto que vou me
perder nesse beijo, ela vira o rosto de repente
interrompendo a deliciosa conexão que há entre
nós.
Rapidamente, levanta-se do meu colo e se
afasta. Mantém a cabeça baixa e ouço sua
respiração acelerada.
— Você vai ficar bom logo — diz referindo-
se aos machucados que tão delicadamente limpou.
— Obrigado, Brin. Você quer que eu vá
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embora?
— Não, você deveria ficar, está muito tarde e
não é seguro sair a esta hora. Você pode dormir na
minha cama.
Avalio sua cama de solteiro, pequena demais
para nós dois. Pequena demais até mesmo para
mim.
— E onde você vai dormir? — pergunto e
finalmente seu rosto se vira na direção do meu
desde que interrompeu o beijo, um sorriso quase
diabólico surge ali e começo a pensar que estarei
mais seguro se for embora.
Ela caminha devagar em minha direção e
passeia sua mão por meu peito e barriga,
contornado os músculos e tatuagens, com um
sorriso malicioso, de um jeito que quase me faz
puxá-la agora mesmo para essa cama pequena.
— Vou dormir aqui. Nesse colchão duro —
sussurra a última frase descendo com as unhas por
minha barriga e tocando meu pau por sobre a calça.
— Brin! — alerto tão logo percebo o quão
perto estou de ceder. Perto como nunca estive
antes.
Não sei o que ela faz comigo, é essa sintonia
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estranha, essa conexão gostosa, o jeito como fala


comigo e me toca, sua gentileza tanto quanto sua
paixão, tudo nela me atrai, tudo nela me excita,
tudo nela arrisca aquilo em que acreditei por tantos
anos. Será que vale a pena esperar o amor quando a
tentação diante de mim me parece tão prazerosa?
Afasto-me de suas mãos perigosas e com um
sorriso lindo de satisfação ela estende a coberta
para que eu me deite. O faço com os olhos
pregados nela, esperando o momento em que vai
tirar a roupa, já que não dorme vestida, e então irei
embora de sua casa a essa hora da madrugada,
porque há um limite para o quanto posso resistir a
ela. Contudo, para minha surpresa, ela sobe na
cama ainda com o roupão.
— Onde você vai dormir, Brin?
— Eu já disse, em você. Deite-se e fique
quietinho, vai! Não gosto de colchões que falam.
Deito-me enquanto uma voz na minha mente
me pergunta o que estou fazendo. Ela apaga a luz,
mas deixa o abajur aceso e deita-se realmente sobre
mim. Suas pernas entrelaçadas nas minhas, seu
rosto descansa em meu peito e seu corpo belo e
pequeno se encaixa perfeitamente sobre o meu.

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— Não vai dormir sem roupa esta noite? —


pergunto.
— Não me provoque, Stephen. Estou
tentando ser boazinha com você.
— Você não está conseguido, apenas para
que saiba. Você é uma diabinha, Brin, má demais
para ser boa. Mesmo que de vez em quando.
Ela ri e seu sorriso reverbera em meu peito.
— Você não me conhece, querido. Posso ter
mais faces do que imagina.
— Eu adoraria conhecer cada uma delas —
constato após pensar em um pouco.
Ela não responde, não ri, não tem qualquer
reação e pouco depois, acabo dormindo.

Acordo com o sol forte lá fora, com certeza


perdi a hora de ir para a faculdade. Brin não está ao
meu lado e imagino que já deva ter ido. Observo
seu quarto e suas coisas. Apesar das muitas luzes e
pôsteres, de ser tão a cara dela, não há nada dela.
Nenhuma foto, diploma, frase, nada. Ela poderia ir
embora agora mesmo e dizer que nunca esteve
neste lugar, e seria difícil provar o contrário. O que

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aconteceu em sua vida que a fez desistir de usar o


nome dos pais, ir embora e voltar seja de onde for,
a transformou em alguém que não quer ser de
verdade alguém. Ela vive como uma sombra.
Caminho pelo pequeno apartamento e a vejo
na cozinha, ela está de costas, conversando com seu
amigo, paro no corredor e escuto o que estão
dizendo.
— Entrei lá para perguntar se você queria
rachar uma pizza comigo na madrugada, e vocês
dois estavam no maior amasso — diz empolgado.
— Rolou sexo?
— Foi só um beijo, Ty.
— Ele te deu o fora, não é? Eu já disse, esse
cara é gay, está aqui por minha causa, não por sua.
— Vai sonhando que você teria um homem
como ele, bicha! — ela diz rindo e ele se faz de
indignado.
— Olha quem fala! Como se você fosse ter,
quenga!
Acabo rindo da interação interessante entre
os dois.
— O que aconteceu ontem, Sabrine? Por que
está com essa cara?
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— Essa cara linda? É a minha cara — ela


brinca, mas ele permanece sério, olhando
diretamente para seu rosto.
— Essa cara de dor. É por que ele te deu
outro fora fofo?
Começo a me sentir culpado quando ela nega
com a cabeça, aliviando-me. Mas então, o que diz
depois acaba comigo.
— Fui eu que interrompi o beijo, não ele. E
antes que você me venha com sua bronca
dramática, eu fiz isso porque não sou a merda do
estepe dele! Não era comigo que ele queria estar
naquele quarto, não era dos meus cuidados que ele
precisava. Se a gente tivesse transado, ótimo! Seria
só sexo, nada demais. Mas aquele beijo não foi
isso, não foi uma coisa qualquer, e não vou fazer
isso comigo. Ele ama alguém, a viu com outro,
estava ferido. Eu não sou algum tipo de curativo.
Volto para seu quarto tentando entender a
merda da angústia que está em meu peito agora,
tentando assimilar que a usei desse jeito, para suprir
a dor por outra. E me dou conta que não foi o que
aconteceu, eu não estava pensando na Caitlin, eu
mal pensei nela desde que a Brin invadiu meu carro
com seu roupão felpudo. Foi ela. Foi o sorriso dela,
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o calor dela, a maneira como cuidou de mim, como


me provocou se divertindo com a minha cara, foi
esse conjunto todo que me fez querer beijá-la. E eu
queria continuar beijando-a por toda noite, o teria
feito se ela não tivesse se afastado. É inaceitável
que algo que foi tão bom para mim, tenha um
significado tão diferente para ela! Um estepe!
Como ela pode pensar que seria o estepe de
alguém?
A confusão que toma minha mente me faz
querer ir embora o quanto antes. Calço meu sapato,
procuro a chave do carro, encontro o casaco que
emprestei a ela na outra noite e decido ir. Ao
aproximar-me dela, acabo ouvindo a pergunta que
Tyler faz da cozinha.
— Você trancou a sua faculdade?
— Sim! Fiz isso ontem, já pediu demissão?
— pergunta distraída.
— Por que você trancou sua faculdade, Brin?
— pergunto quando seus olhos assustados pousam
em mim.
— Você acordou, bela adormecida! Eu não
quis acordá-lo você parecia cansado. Espero que
não se importe em perder um dia de aula.

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— Não me importo, mas por que você


trancou a faculdade?
Tyler passa por nós e pega sua bolsa, nos
avalia com uma careta e despede-se:
— Eu vou indo, boa sorte, Brin. Tchau,
delícia! Pode pegar meu telefone com ela.
— Obrigado, Tyler.
Sorrindo, ele se vai e Brin aproveita para
afastar-se de mim.
— Brin, por favor me responda.
— Eu vou me mudar, Stephen.
— O quê? Para onde?
— Prefiro que você não saiba.
— Vai fazer isso por minha causa? Você está
fugindo de mim?
Começo a sentir um desespero que não sei
explicar, meu coração acelera feito um louco e o ar
parece de repente mais pesado.
— Não. Não tem a ver com você.
— Então por quê? Por que está indo embora
e desistindo de tudo? Você precisa de ajuda? Eu
posso ajudá-la.
— Não é isso! — Ela se vira de costas ao
explicar — é o meu cliente.
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— Aquele que a quer com exclusividade?


Ela assente, olha em meus olhos ao
continuar.
— Eu vou me mudar com ele. Ele está
pagando, é um dinheiro alto, não tenho escolha.
Sua resposta é como um chute na boca do
estômago, é amarga e dói pra caralho! Tanto que
me sinto desnorteado por um momento.
— Você não precisa disso — digo segurando
a raiva que quer me tomar.
— É, eu preciso. É o que eu faço para viver,
nunca escondi isso de você.
— Ok. Eu vou embora, obrigado por tudo,
Brin. Por ontem à noite — digo mal conseguindo
olhar em seu rosto.
— Disponha.
Ando até a porta e a abro, mas tenho
necessidade de fazer uma coisa. Volto até ela, a
puxo para meus braços e a prendo junto ao meu
corpo.
— Você não é a merda de um estepe, Brin.
Nunca mais pense isso sobre si mesma. O homem
que você escolher, o que a fizer deixar essa vida e
ficar só com ele por escolha própria, vai ganhar na
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loteria da vida duas vezes. Você é valiosa demais!


Mesmo que não se dê conta do quanto!
Ela não diz nada e é difícil tirar meus baços
dela, é difícil, deixá-la ir. Acabo fazendo porque
não dá para evitar, seus olhos estão cheios e ela
segura o casaco que recuperei em seu quarto.
— Você não vai levar isso, ainda não te
devolvi.
Devolvo o casaco a ela e a vejo abraçá-lo
quando finalmente passo pela porta e a fecho atrás
de mim. E rezo que essa não tenha sido a última
vez que a vi, ainda não estou pronto para despedir-
me dela.

Thor me liga quando estou indo embora e


dou uma passada no Luck, ele precisa da minha
versão do que aconteceu na noite de ontem, para
que a desclassificação injusta do Colin seja
desfeita. Justo eu, indo à minha antiga casa apenas
para ajudar meu inimigo. O encontro com Caitlin, e
ela tem um curativo na cabeça, o que indica que se
machucou mais sério do que eu havia imaginado. A
culpa que sinto por tê-la ferido reflete em seus

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olhos quando olha nos meus.


— Eu disse a eles que você não lutaria sem a
sua garota — confesso a Colin. — Não achei que
eles fossem usar a informação para sequestrá-la.
Eles me perguntaram qual o seu ponto fraco e eu
disse que ela era o seu calcanhar de Aquiles.
Depois, eu mostrei a eles quem ela era. Pedi a Brin
que esbarrasse nela. Achei que eles fossem ficar de
olho, algo assim. Se eu tivesse imaginado que eles
pegariam a Caitlin...
Sou interrompido quando Colin me acerta em
cheio. Está irado, fora de controle e tem toda razão
para isso. Sinto o segundo golpe, o terceiro e não
me defendo porque mereço.
— Seu filho da puta! Se chegar perto dela de
novo, se você falar o nome dela de novo eu mato
você! Eu mato você, Ryan, está me ouvindo? — ele
grita descontrolado.
Olho para Caitlin por um segundo, tentando
acalmá-lo, e entendo que não haverá sequer uma
amizade entre nós, nunca haverá. Não porque eu vá
amá-la para sempre e isso seria difícil, e sim porque
ela o ama e ele não sabe dividi-la com ninguém. E
com certeza não o faria comigo. Não posso julgá-
lo. Eu a feri, o prejudiquei, e se fosse eu em seu
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lugar, também cuidaria do que é precioso para


mim.
— Não vou, não vou chegar perto dela de
novo — garanto, ciente que minha história com
Caitlin se encerra ali, ciente que apesar da culpa
que sinto por tê-la ferido de alguma forma, o fim
desse ciclo machuca menos do que deveria.
Colin é imediatamente dispensado do
campeonato por ter me agredido, desrespeitando a
principal regra do clube de luta do Thor. Ele deve
escolher outro lutador para lutar a final, que será
disputada novamente com justiça, em seu lugar. A
escolha óbvia seria eu, sou tão bom quanto ele, com
certeza o melhor daqui para vencer o clube alemão.
E por um segundo penso em ficar calado e deixar
que ele fique com a garota e eu, com minha coroa
de volta. Mas não seria justo.
— Ele não está desclassificado. A regra do
clube é clara, ele não poderia agredir outro lutador
aqui dentro, ela não diz nada sobre brigas entre
lutadores e visitantes — comunico e quando sou
questionado por ser lutador do clube, minto: —
Não mais. Eu decidi me afastar do clube e pedi o
desligamento. Não sou mais um lutador do Luck,
portanto, Colin Hanson ainda é elegível para
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disputar a final do campeonato. Ele não quebrou


nenhuma regra.
O melhor amigo do Colin, Luke Evans, me
acoberta nessa mentira, garantindo que eu havia
pedido meu desligamento há alguns dias. Os
alemães sabem que estamos mentindo, mas não têm
como provar, e assim Colin Hanson irá disputar a
final do campeonato esta noite. E eu, estou fora do
Luck por algum tempo, até que a poeira baixe, pois,
o cinturão que ele vai ganhar ainda pode ser
revogado se os alemães provarem que menti. Olho
para Thor que me agradece silenciosamente pelo
sacrifício e não preciso olhar Caitlin uma última
vez para ver a gratidão em seus olhos. Eu não a
mereço.

Uma tarde inteira lançando bolas de meia no


teto do meu quarto, com os pensamentos mais
desordenados do que já me lembro de terem estado
um dia, apenas provam que em algum momento do
caminho que sigo, eu me perdi. Em algum
momento aceitei calado as ordens do meu pai, indo
contra minha vontade para agradá-lo. Em algum
momento apenas deixei de amar a pessoa que
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pensei amar e tive que ir contra meu orgulho para


corrigir meus erros com ela. Em algum momento a
bela garota de programa que tem me tirado o sono
transformou-se em muito mais do que uma
companhia interessante. Neste momento, não estou
satisfeito com o Stephen que vejo no reflexo do
espelho. Como se uma peça faltasse para que um
grande quebra-cabeças fizesse sentido e pudesse ser
finalmente montado. E não consigo entender qual é.
Já que a única coisa que me anima é a bela garota
que está indo embora com alguém por dinheiro.

Encontro Johnny em um pub já com os


pedidos sobre a mesa.
— Cara, vamos nos embebedar, bem melhor
do que ficarmos aqui pensando no idiota do Hanson
conquistando o seu título esta noite. Não
precisamos disso.
— Tenho um problema maior do que esse,
Johnny.
Conto a ele minha confusão desde ontem à
noite até agora, que estou fora do Luck para ajudar
Colin, que penso que meus sentimentos não são tão

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verdadeiros quanto pensava que seriam, que estou


fascinado pela garota de programa que acaba de
decidir seu caminho em direção totalmente oposta
ao meu. E de todas as merdas que desabafei sobre
ele, sua boca está escancarada apenas pela última
delas.
— Caralho! Você se apaixonou por uma
garota de programa?
— Não foi o que eu disse.
— É o que está na sua cara. Você já parou
para pensar como seria isso? Você andaria com ela
na faculdade e todos os caras te diriam que já
comeram ela. Você seria ciumento e paranoico,
cada vez que o telefone dela tocasse, sem saber se é
algum antigo cliente. Para começar, você teria que
sustentá-la, porque você não vai aceitar sua garota
dormindo com outros por dinheiro.
Ele começa a virar as doses conforme conta
todo meu destino terrível caso assuma algo com
Brin Vega.
— Johnny, não seja babaca. Não vamos
namorar, não estou apaixonado. Não vou usar essa
palavra em vão novamente. Estou interessado nela.
Muito fascinado por ela, vamos colocar assim.

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— Vai acabar tudo na mesma merda, cara.


Tantas mulheres te dando mole, por que ela?
— Por que não ela? Você a conhece? Já
conversou com ela?
— Se você perguntar isso pra qualquer outro
imbecil da faculdade ele vai dizer que a conhece
intimamente e que fez mais do que conversar com
ela.
— A sua namorada já dormiu com outros
caras antes de você, Johnny. Inclusive da
faculdade, e eles podem te parar para te dizer que já
dormiram com ela. Você pode dizer ao Colton que
já dormiu com a namorada dele antes de eles se
conhecerem. E daí? Este é um país livre, você
dorme com quem quer dormir se isso não
desrespeita ninguém. Está dizendo então que tenho
que namorar apenas garotas virgens e santas?
— Você andaria de mãos dadas com ela na
faculdade? Teria coragem disso?
— Sim, eu andaria de cabeça erguida, porque
eu teria a namorada mais linda, divertida e
inteligente daquele lugar. O passado dela não me
incomoda em nada. Não deveria incomodar mais
ninguém.

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— Você está muito ferrado, cara — decreta


virando mais duas doses de tequila, já que não
toquei na minha.
Quinze minutos depois, ele está totalmente
bêbado e gritando:
— Sua vida está uma merda, cara. Tô
chorando por você.
Lágrimas saem de seus olhos e seguro para
não rir.
— Não precisa, Johnny, valeu. Não está tão
ruim assim.
— Está sim, seu pai é do mal, você perdeu
sua coroa pra merda do Hanson, e sua garota é
prostituta.
— Não fale assim dela, Johnny, venha, vou te
levar para casa.
Consigo arrastá-lo até meu carro, e tenho que
ouvi-lo o caminho até sua casa chorando no meu
ombro pela minha vida bagunçada. Preciso mesmo
dar um jeito nela.

Quando chego ao beco, pronto para fazer dali


minha distração, noto que os caras não estão
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preparados para lutar. Adrian, o chefão da porra


toda ali, me diz animado seus planos da noite.
— Vamos ao Luck esta noite, Ryan. Vamos
ver a final e ver aquele lutador de merda do Thor
ser derrotado pelo brutamontes alemão.
— Não acho que seja uma boa ideia, e se o
Thor não os deixar entrar?
Os caras riem alto e zombam.
— O espetáculo é aberto ao público. Ele não
pode nos impedir.
— Achei que vocês não quisessem contato
com ninguém daquele clubinho de merda — tento.
— Não queríamos. Mas o Thor está tirando
com a minha cara. Apareceu aqui todo nervosinho
para dizer que não vai permitir que eu tire um dos
filhos dele. Como se algum modelinho daquele
boteco que ele chama de clube de luta fosse pisar
no meu beco!
Como o Thor descobriu que estou lutando
aqui, não faço ideia. Mas Adrian ir até ele e
descobrir isso, seria realmente péssimo. Eu perderia
minha última distração.
— Você não vem? Não quer ver a cara dos
idiotas de lá?
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Todos me encaram e não tenho saída.


— Claro! Só estou esperando uma garota.
— Nos vemos lá então, Ryan.
Ligo para Brin assim que eles se afastam, por
algum motivo estou ansioso enquanto chama e ela
não atende. Temo que não vá atender, que já tenha
ido embora, ou que não queira mais falar comigo. E
no quinto toque ela atende. Sorrio como um bobo
ao ouvir sua voz.
— Sexy Brin Vega falando, o que você quer,
Steph?
— Estou precisando dos seus serviços.
Há o silêncio e em seguida um grito agudo
muito alto.
— Ah, meu Deus, estou sonhando! Só me
dizer onde está, querido. Irei agora mesmo!
Estou rindo como um bobo com sua
empolgação, rindo como se meu amigo não tivesse
acabado de tomar um porre por causa da minha
vida bagunçada. Rindo como se não houvesse nada
mais no mundo me incomodando.
— Na verdade, preciso do outro tipo de
serviço. O de mentirosa profissional.
— Acho que estou ofendida — diz um tempo
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depois.
— Não, você não está. É a melhor mentirosa
que conheço — provoco.
— Sinto que você está tentando me ofender,
mas você disse a palavra melhor, então me
comprou. Do que você precisa? Uma historinha
erótica de ninar?
— Da garota de programa ruim de cama?
— Ah, cale essa boca seu virgem! O que
você quer?
— Os brutamontes do beco estão indo ver a
final do campeonato no Luck.
— Putz! Acho que você vai se foder hoje.
— Estou falando sério, Brin, de alguma
forma o Thor descobriu que estou lutando aqui,
veio falar com o Adrian. Ele não sabe que o lutador
de quem o Thor falou, era eu. Precisamos impedir
que descubra.
— Ok, isso é péssimo. Vão matar você se
descobrirem e não estou afim de defendê-lo hoje.
Nos encontramos lá então, tudo bem?
Vou ter mesmo que pisar lá de novo? Para
ver o Colin ser campeão, ainda por cima? Meu
silêncio é o bastante para que ela perceba, do outro
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lado da linha, minha relutância.


— Stephen, eu sei que este é o último lugar
onde você quer estar na noite de hoje. Mas você
quis brincar com o perigo, precisa evitar que algo
pior aconteça. Não vai ser tão ruim, eu vou com
você. Prometo que se ficar muito difícil eu o
distraio.
— Brin, eu realmente adoro você! Não queria
que fosse embora.
— Você vai ficar bem sem mim. Nos vemos
lá. — Ela desliga rapidamente e saber que ao
menos irei vê-la mais uma vez, torna minha ida ao
Luck menos difícil.

Avisto Brin tão logo chego em frente ao


Luck, usa uma calça de couro, uma blusa colada e
decotada, com os cabelos soltos e seu batom
vermelho. Está linda! Sorrio para ela que toca meu
rosto horrorizada.
— O que aconteceu com a sua cara?
— Colin.
— Aquele filho de uma mãe! — Ela se vira
irritada para entrar no clube e a seguro com
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facilidade, erguendo-a pela cintura e a levando para


o outro lado da rua. — Me deixa bater nele!
— Eu deixo, mas vou surtar se ele encostar a
mão em você, e levando em conta o seu tamanho e
o dele, é melhor você ficar aqui quietinha comigo.
A gritaria que ouvimos em seguida indica
que Colin venceu a luta. Acabou, ele é o campeão
mundial no meu lugar.
— Não temos muito tempo, Stephen — Brin
me lembra brincando com meus dedos na tentativa
de me dar força.
Seguro sua mão e entramos no clube,
cercados por olhares tortos e surpresos das pessoas
presentes. Cochichos e caretas. Brin parece se
encolher pela primeira vez diante desses olhares, e
eu não faço o mesmo. Que pensem o que quiserem
pensar.
Há uma comoção por algo que Colin fez a
Caitlin, avisto Adrian indo na direção de Thor, que
já o encara irritado. E então tudo acontece muito
rápido. Policiais entram no clube, as pessoas
começam a correr quando o primeiro tiro é
disparado. As sirenes soam alto lá fora, com certeza
há muitos carros de polícia. O lugar está lotado, é

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difícil andar, e com as pessoas correndo, acabo me


separando da Brin. Procuro por ela entre a bagunça
que se segue, e a vejo parada. Totalmente parada
apertando seus braços como se estivesse em pânico.
Consigo chegar até ela, e quando a toco, ela grita e
tenta me acertar.
Seus olhos não se focam em mim e por mais
que tente dizer a ela que sou eu, ela não vai me
ouvir com o barulho de pessoas gritando, correndo
e derrubando as coisas. Seguro seu rosto tentando
acalmá-la, mas ela está desesperada, grita como se
eu a estivesse ferindo. A pego pela cintura
novamente para tirá-la dali, mesmo sob seus
protestos. Percebo que meu gesto a desespera ainda
mais. Ela pensa que está sendo levada por um
deles, grita por socorro e chora. E só quero chegar à
saída e tirá-la daqui.
Tenho que colocá-la no chão, porque vamos
sair pela janela do escritório do Thor e preciso subir
para puxá-la, já que ela não faz nada além de gritar.
Mas, no momento em que a coloco no chão, as
pessoas a levam, no segundo que levo para abrir a
janela, ela some. Procuro por ela como um louco,
até que fico na mira de um policial. Corro até a sala
do Thor e saio rapidamente pela janela, indo de
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volta a entrada do clube para resgatá-la. Nem posso


imaginar o que ela está sentindo agora, o pânico
que deve estar tomando-a sozinha no meio daquela
multidão.
— Bryan, você viu a Brin? — pergunto a um
lutador que corre com o rosto sangrando.
— Ela saiu, cara. Se manda daqui! — ele
garante, mas sinto que não é verdade. Ela estava em
pânico, a menos que alguém a tenha segurado e
guiado, ela não tem como ter saído.
Confiro a multidão de pessoas correndo na
rua, a polícia cercou todo o quarteirão, há tantos
carros que será muito difícil que todos os lutadores
clandestinos escapem. Não vejo qualquer sinal dela
e volto em direção ao clube. Sou parado por Colin,
ele carrega Caitlin nas costas e parece tão em
pânico quanto eu.
— O que está fazendo? Está cheio de
policiais aí, tem que ir para o outro lado — avisa
alarmado.
— A Sabrine não saiu de lá. Preciso
encontrá-la.
Ele segura meu braço e grita de novo:
— Você não pode voltar lá, está maluco? Ela
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é mulher, não vai ser acusada como lutadora e além


do mais, ela sabe se virar muito bem, cresceu nas
ruas, você sabe disso.
— Não, cara, você não entende! Ela estava lá
por minha causa! Ela trava quando vê policiais, é
uma espécie de pânico, não sei explicar, mas ela
tem crises. São muitos policiais, ela estava logo
atrás de mim, começou a ter crises, eu a carreguei
até uma saída, mas havia muita gente, nos
perdemos. Me disseram que ela havia saído e
estava procurando por ela, mas ela não saiu. Eu
sinto que não. Preciso encontrá-la.
Ele solta meu braço, mas entra na minha
frente, me impedindo.
— Ryan, se você for pego seu pai te mata.
Todo mundo sabe do punho de ferro com que você
e sua irmã são criados. Peça qualquer outra pessoa
para ir até lá procurar por ela, mas não volte lá.
Quem mais iria até lá por ela? Quem mais ela
tem além de mim?
— Eu vou! Eu volto lá e procuro por ela. Eles
não estão parando nem agredindo mulheres. Vou
correr menos risco do que você — Carolina, a
brasileira, esposa do Dustin, um ex lutador do clube

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e atual treinador do Colin, diz.


Seu marido imediatamente tenta impedi-la e
eu só estou esperando que o Hanson se distraia para
ir eu mesmo atrás dela. Mas então, Caitlin desce de
suas costas e diz que irá ajudar a amiga a encontrar
Brin. Apesar do medo em seus olhos, Colin nem
tenta impedi-la. Elas bolam um plano rapidamente,
e por mais que eu sinta que eu é quem deveria ir até
lá, as meninas somem na multidão de pessoas
enquanto Colin e Dustin, aqueles que considerei
meus inimigos por tantos anos, me obrigam a ficar
nas sombras, escondido da polícia, esperando por
elas.
— Obrigado. A vocês dois. Sei que não é
fácil deixá-las voltarem lá. E eu não sou
exatamente amigo de vocês, então, obrigado de
verdade — digo.
— A Brin não tem culpa de nenhuma das
nossas merdas, é só uma garota — Dustin diz
dando duas batidinhas no meu ombro, como sinal
de paz.
O tempo passa, ouvimos mais tiros e nada
das meninas. Temo que Caitlin e Carolina se
machuquem nessa busca. Temo que a Brin as
machuque. Ela sabe lutar, estava fora de controle,
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não vai saber quem são as meninas, que estão ali


para ajudá-la. Como elas vão se aproximar dela?
— Elas estão demorando demais! Eu é que
deveria ter ido, a Sabrine não vai vir com elas! Eu
vou até lá!
Sou impedido por Colin, que mais uma vez
me segura, tento lutar contra ele para que me solte,
mas ele grita:
— Elas já foram, já se arriscaram por você,
você não vai sair daqui. Esfria essa cabeça e reza,
elas vão voltar!
Tento me acalmar, tento vê-las entre a
multidão que corre. Os policiais não param
nenhuma mulher, apenas homens e isso dá a elas
uma chance de escaparem. Dustin também está
nervoso, por fim decide ir atrás da esposa e as
meninas, quando as avistamos. Caitlin e Carolina
praticamente carregam Brin no colo. Enquanto
algumas amigas da Caitlin parecem machucadas ao
lado delas. Corro até Brin e a pego dos braços das
meninas. Ela está naquele estado em que seus olhos
não se focam em nada, chora e treme. Começa a
pedir que eu não a machuque. Mal vejo o que
acontece a partir do momento em que a pego nos
meus braços, mas no minuto seguinte, estou no
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carro do Dustin, Colin está dirigindo com Caitlin ao


seu lado. As amigas da Caitlin, estão do meu lado e
Sabrine no meu colo.
Ela não me deixa tocá-la, chorando quando
tento fazê-lo e tento trazê-la de volta.
— Ei, Sabrine, olhe para mim. Sabrine, volte.
Estou aqui, está tudo bem. Vamos cuidar de você
agora! Brin, volte! Diabinha, você tem que vencer
isso, vença esse medo, não tem ninguém mais aqui,
somos seus amigos — falo em seu ouvido,
prendendo seu rosto em meu peito, tentando
acalmá-la. — Brin, volte para mim! Volte!
Ela começa a gritar ainda mais alto, tenta me
acertar e se soltar, Mackenzie, uma das amigas da
Caitlin me ajuda a segurá-la e pouco depois ela
para. Fica totalmente parada e começa a chorar.
Quando seus olhos pousam nos meus, me
reconhecem e ela se joga em meu peito. A aperto
imediatamente, e vejo Colin observando a cena
pelo retrovisor.
— Ela voltou — digo a ele que assente e a
mantenho presa em meus baços até que chegamos
ao hospital.
Ela tenta andar, e não quer ser consultada,

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mas parece machucada e nada bem. A pego no colo


e a convenço a entrar, ao menos para que eu fique
tranquilo, pois estou me sentindo muito culpado.
Ela aceita a contragosto e percebo que minha meta
a partir daqui será cuidar dela. Para que ela nunca
passe algo parecido de novo.

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Capítulo 9
Brin
Estou entediada e sentindo-me bem. Tenho
uma luxação no pé que não é nada demais, um
machucado bobo no cotovelo, porque parece que
caí, e não acho que nada disso seja motivo para me
manter presa neste lugar, quando poderia estar na
minha casa, na minha cama, sendo mimada por
esse deus grego que não quer sair de perto de mim.
Um enfermeiro magricela passa pela quarta
vez no corredor em frente à minha porta, ele
desacelera o passo e me observa, e quando nota que
estou olhando, sai apressado. Até que finalmente
ele entra para tirar o acesso do meu braço.
— Você me conhece? — pergunto e o sinto
tremer levemente.
— Não, senhorita.
— Então por que está passando para lá e para
cá olhando pra mim? Há alguma coisa errada na
minha cara?
— Não senhorita, absolutamente nada.
Seguro sua mão quando ele pressiona o
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algodão no meu braço e exijo:


— Me fala o que está acontecendo!
— Desculpe, é que a senhorita se parece
com... deixa para lá.
— Com uma garota de programa conhecida?
Ele fica branco de repente, e assente, tingindo
então seu rosto moreno de vermelho.
— Eu sou ela, prazer, Brin Vega. Não me
lembro de você, então de onde você me conhece?
— Eu visito o seu site. Com frequência. Com
muita frequência. Você é linda. Com todo respeito.
— Ah, obrigada! — Solto a mão do rapaz e
Stephen aparece com coisas de comer finalmente.
— Mas você deveria sair mais, conhecer garotas de
verdade e parar de se tocar com as minhas fotos.
Ele ri nervoso e Stephen parece prestes a
pular sobre mim para cobrir a minha boca.
— Você está confortável, senhorita Brin?
Precisa de alguma coisa? — o enfermeiro
magricela oferece ajeitando meus travesseiros.
— Sim, se você puder pedir ao médico que
venha me dar alta, eu agradeço muito.
— Claro! Agora mesmo!
Ele sai apressado e encaro um Stephen
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completamente confuso. Abro um sorriso contente


ao me dar conta de uma coisa inédita na minha
vida.
— Foi a primeira vez que fui bem tratada por
ser puta.
— Não fale assim, Brin. Não refira a si
mesma com esta palavra. Eu te trouxe algo para
comer.
Ele me estende batatas fritas e quero beijar
sua boca em agradecimento. Senta-se ao meu lado
após me entregar e não me faço de rogada ao comer
feito a esfomeada que sou neste momento.
— Isso está muito bom! — digo lambendo os
dedos e o vejo sorrir.
— Você precisa falar sobre o que aconteceu,
Brin — pede baixinho, e escolho ignorá-lo. —
Você tem que falar com alguém!
— Não foi nada demais, eu apenas me
assustei, não gosto de multidão.
— Foi demais sim! Você gritava como se eu
a estivesse ferindo, não me deixou tocá-la, a Caitlin
a encontrou caída no chão, em tempo de ser
pisoteada no meio daquela confusão, você chorou
muito, pediu por socorro. Pelo menos me diz como
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posso ajudá-la.
Olho para os olhos verdes tão preocupados e
pela primeira vez na vida tenho vontade de falar
sobre esse passado. Essa parte da minha vida da
qual nunca falei, a que tento sequer pensar, uma
garotinha assustada que nem existe mais, eu a
enterrei, e nunca quis revivê-la até este momento.
Até ter alguém tão disposto a me ajudar com isso.
O que você está fazendo, Brin? Vocês não
vão ser os melhores amigos. Você tem um trabalho
que precisa ser feito, irá cumpri-lo se quiser
continuar viva, não irá vê-lo quando ele descobrir
a verdade e odiá-la. Não se aproxime dele desse
jeito ou tudo será mais difícil.
— Eu não quero falar sobre isso.
— Você precisa falar com alguém. Precisa
dividir isso.
— Não! Não preciso. Eu cresci nas ruas,
alguns policiais foram malvados comigo uma vez, e
fiquei com uma espécie de trauma. Não é nada
demais. Por que não falamos de você?
Ele parece derrotado, lança-me seu olhar
cansado, mas não insiste.
— O que mais quer saber sobre mim?
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— Como está se sentindo? Por tudo o que


aconteceu nesses últimos dias. Pela Caitlin. Eu
sinto muito que você tenha que ter pedido a ajuda
dela para me resgatar, imagino o quanto isso deve
ter sido difícil.
Ele segura minha mão e levanta-se da
cadeira, sentando-se na cama comigo. Não a deixa
ao responder:
— O que foi difícil para mim, Brin, e acho
que foi a coisa mais difícil que já fiz na vida, foi
não ter ido eu mesmo até você para ajudá-la.
— Você não tinha que...
— Sim, eu tinha! Você estava lá por minha
causa. E ainda que não estivesse, eu teria que
protegê-la. Essa é a minha nova distração.
Ele abre aquele sorriso tímido, de derreter o
coração, e quando o meu coração fácil dá um pulo
em contentamento diante do seu olhar, sinto o
pânico tomar minha mente. Tento tirar minha mão
da sua, mas ele não deixa. Ao invés disso, deita sua
cabeça sobre a minha barriga e beija levemente
minha mão.
Brin, tire-o daí, tire-o daí, tire-o daí.
E, ao invés de ouvir meu juízo, acaricio seu
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cabelo macio, adorando a sensação de tê-lo tão


próximo.
— Não vá embora — pede de repente.
— Eu preciso ir.
— Não, não precisa. — Ele levanta a cabeça,
olhando em meus olhos. — Quanto ele ofereceu
para que você vá? Seja o quanto for, eu cubro. Te
pago em dobro o que ele prometeu para que você
fique.
O ar falha por um segundo, meu coração pula
descompassado feito um louco e engulo em seco
antes de ignorar o que ele disse e brincar sobre isso.
— Você quer me pagar? Quer que eu seja
exclusiva sua? Porque eu faço isso com você de
graça, não precisa me dar nada.
Ele sorri, percebendo que estou evitando o
emocional de sua proposta.
— Fica, vai. Fica comigo — pede lançando
aquele olhar tão verde e tão intenso sobre mim!
— Stephen, pare com isso! Não me iluda
desse jeito! Se você vai transar comigo finalmente,
eu mando o meu cliente pra China e fico com você.
Mas, se você quer pagar pela minha companhia
apenas, nada feito.
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— Por que não se você só está nisso pelo


dinheiro? Ou você sente alguma coisa a mais por
esse cliente? Você gosta dele? Por isso está indo
embora?
— Eu gosto de você. Por isso estou indo
embora. Essa minha obsessão pelo seu corpo lindo
está me enlouquecendo, já que você não cede —
brinco para mascarar a frase que me escapou. — Se
a gente pudesse ser amigos que fazem sexo de vez
em quando, não teria dinheiro no mundo que me
faria ir para longe de você. Mas, se você vai
continuar me cozinhando, não há dinheiro no
mundo que me faça ficar.
Ele ri abertamente. Seus olhos brilhantes
focados nos meus.
— Você é uma bela chantagista, senhorita
Vega.
— Meus adjetivos só estão aumentando, não
é? Mentirosa, sedutora, má e agora chantagista.
— Porque você está escolhendo ignorar
quando eu disse que é linda, divertida, inteligente,
forte, interessante e todas essas coisas que você
sabe que é.
Ele suspende seu corpo, e aproxima o rosto

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do meu. Cercando-me com seus braços apoiados no


colchão.
— Sinto muito por tê-la ferido. Prometo
nunca mais fazer isso.
E antes que eu possa dizer que ele não fez
nada, seus lábios pousam nos meus, do jeito lento e
intenso dele. Aquela deliciosa tortura quando sua
língua invade minha boca, fazendo meu corpo todo
reagir. E mais cedo do que gostaria somos
interrompidos pela chegada do médico, que
finalmente veio me liberar.

Stephen cantarola enquanto dirige seu carro,


e me seguro para não dormir ao seu lado, mas o
sono me vence e acordo apenas quando ele me
ergue do banco, entrando comigo em seu prédio.
— O que está fazendo? Eu não moro aqui.
— Não vou deixá-la sozinha esta noite.
— Não ficarei, o Tyler deve estar em casa,
me leva pra minha casa, por favor.
— Ele não vai cuidar de você como eu vou,
Brin.
Suspiro profundamente, fazendo-o rir.
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— Você e essas suas promessas de duplo


sentido. Eu quero ir pra casa, não me sinto bem
ficando na sua, não quero que sua família me veja.
— Não verão. Sairemos escondidos quando
todos tiverem saído pela manhã, e a não ser que
você traumatize meu irmão de novo, não teremos
problema algum.
Sou vencida por seus braços fortes me
sustentando, seu olhar moleque me desafiando e
aquela boca linda perto demais da minha.

Deposita-me com cuidado em sua cama,


como se eu fosse quebrável. Já são quase três da
manhã e percebo o quanto está cansado. Levanto-
me e entro em seu closet, enquanto ele se joga na
cama, observando-me. Passo por suas camisas
penduradas, seu cheiro solto pelo ar, e toco os
tecidos finos.
— Uau! Só camisas caras aqui!
Escolho uma de um time qualquer, e quando
tiro minha roupa, ele se senta na cama.
— O que você está fazendo? — pergunta
alarmado.
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— Nada. Vou apenas vestir algo mais


confortável para dormir, por que, não pode?
— Pode, Brin. Vá em frente, fiquem bem à
vontade.
Faço uma careta para a ironia em sua voz e
visto a camisa, rindo do resultado. Apareço diante
dele com a camisa vermelha que me serviria de
vestido.
— Olha isso, pareço uma criança na sua
camisa gigante.
Ele ri, pega uma câmera da cabeceira de sua
cama e bate uma foto minha. Faço poses e mais
poses, mantendo aquele sorriso gostoso em seu
rosto. Volto até o closet e escolho uma camisa
social e uma gravata.
— O que você acha da Brin social?
Dou uma voltinha exibindo-me e ele ri alto,
enquanto os flashes da câmera continuam
disparando sobre mim. Fixo meus olhos nos seus e
abro a camisa devagar, e percebo o momento em
que começa a ficar tenso, ao notar que não há nada
além da sua camisa gigante, a gravata e minha
lingerie. O sorriso gostoso sumindo, o brilho em
seus olhos surgindo.

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— Não vai fotografar agora? — provoco


quando estou com a camisa completamente aberta,
e a imensa gravata descansando sobre a minha
barriga, perto da calcinha que estou usando.
Ele dispara uma foto e não diz nada. Seus
olhos percorrem preguiçosamente meu corpo.
Volto para dentro do closet e encontro uma
blusa feminina. Com uma cara surpresa a estendo
diante dele, que ri.
— Você está mentindo para mim todo esse
tempo, senhor Ryan?
— E se eu estiver?
— Vou parar de respeitar sua castidade, abrir
sua calça e colocar seu pau todinho na boca. Então
vou chupar você para que nunca esqueça que não
deve mentir para Brin Vega.
Ele engole em seco e mexe-se desconfortável
na cama.
— Não estou mentindo e essa blusa deve ser
da Serena. Provavelmente e escondi para irritá-la e
esqueci-me de devolver depois.
Lanço meu olhar desconfiado a ele, mas volto
para o closet.
— O seu pé não está doendo com tanto
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exercício? Por que você não fica quietinha aqui na


cama enquanto eu tomo um banho? — sugere.
— Não estou sentindo dor.
Pego um boné dele e o coloco com a aba para
trás, visto uma regata branca, das que ele usa com
frequência, e tiro o sutiã, deixando meus seios
praticamente à mostra. Apareço diante dele apenas
com a camisa e calcinha, e o brilho em seus olhos
aumenta.
— Olha como esta regata fica em mim!
Quase como os vestidos que uso — digo dando
uma volta e estendendo os braços para que ele veja
a lateral da blusa, que pega quase todo meu dorso e
meu seio fica exposto.
— Brin — pede com a voz baixa, mais grave
do que de costume. — Venha para a cama e fique
quieta, por favor.
— Ok — concordo, aproximo-me da cama e
deito sobre ele, que larga a câmera para o lado e
segura minha cabeça.
— O que você está fazendo, Brin?
Ele tem a visão completa dos meus seios
agora, através da gola larga demais para mim, fixa
seus olhos ali e vejo o fogo neles quando torna a
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olhar meu rosto. Sei que ele vai me impedir, mas


mesmo assim tento. Passeio meus lábios por seu
rosto, sentindo sua barba por fazer, causando-me
arrepios deliciosos por todo corpo. Mordo seu
queixo devagar, e seu lábio inferior. Ele não se
mexe, seus olhos estão fixos em mim e suas mãos
seguram meus cabelos.
Devagar, para que ele não fuja, passo minha
perna por seu corpo, sentando-me sobre ele, e sinto
sua ereção dura e forte através da calça que usa.
Não consigo controlar o gemido que me escapa e
me movimento sobre ela, sentindo algo que nunca
senti antes. Num segundo, fecho meus olhos
aproveitando a sensação, e no seguinte, suas mãos
tomam meu quadril e ele me gira na cama sem
qualquer gentileza ou cuidado, seu corpo cobre o
meu e sua boca toma a minha com voracidade. Sua
língua envolvendo a minha com intensidade e sua
mão passeia por meu corpo, toca minha coxa
apertando as pontas dos dedos por ela, vai subindo
até alcançar meu seio, onde seus dedos passeiam
pela lateral, levando-me à loucura.
Sua boca desce pelo meu pescoço e ele puxa
a blusa para baixo sem o menor cuidado, junta
meus seios expostos pela gola e sua boca toma cada
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um deles, sugando os mamilos intumescidos,


fazendo-me gemer alto, uma necessidade quase
tangível de mais daquilo. Seus dentes passeiam por
meus seios, apertando de leve pouco antes de sua
língua sugar-me de novo e me contorço em
desespero para abrir sua calça. E quando o faço, ele
deixa meus seios e segura minhas mãos,
prendendo-as ao lado da minha cabeça. Deita seu
corpo sobre o meu, e enterra a cabeça em meu
pescoço.
— Merda, Brin, por que você faz isso
comigo?
— Stephen, por favor não pare —
choramingo em desalento.
— Eu não posso, minha diabinha linda.
Temos que ir mais devagar com isso.
Devagar? Mais devagar do que já estamos
indo? Ele quer me matar!
Seu corpo deixa o meu e resmungo,
choramingando enquanto ele se afasta e entra no
banheiro. E eu fico aqui pensando, tentando
entender se isso é bom ou ruim, isso que ele me fez
sentir. Se esse desejo, os arrepios, o prazer que
senti pela primeira vez, são indícios de que estou

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me curando, ou de que estou ficando ainda mais


doente.
Tiro a regata amassada e entro em seu closet,
o barulho do chuveiro atraindo minha atenção. Eu
não deveria insistir quando ele não pode fazer isso.
Mas preciso tanto que ele me beije de novo, só
mais um pouco. Sigo até o banheiro e noto que ele
está de costas, a água escorre por seu corpo
másculo e usa uma cueca preta.
— Você toma banho de cueca? — pergunto
abrindo o box e entrando debaixo da água com ele.
Um sorriso surge em seu rosto quando ele
percebe que estou apenas de calcinha.
— Eu sabia que você viria — explica com a
voz rouca.
— Stephen...
— Brin, por favor. Você é linda demais, é
gostosa demais, é uma tentação com a qual não
posso lidar agora. Não me faça ir contra um ideal
que tenho mantido por tanto tempo, só porque não
sou capaz de controlar meu corpo perto de você.
Assinto, compreendendo que eu não fui
aquela que fez seu coração sentir antes do pênis.
Fui direto pelo melhor caminho, e não é o que ele
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quer.
— Eu senti tudo o que você fez comigo,
Stephen. Cada toque, seu beijo, sua língua, o
quanto foi bom quando você me tocou, eu senti
tudo.
Ele me encara e não diz nada, sua expressão
tão impassível que é impossível decifrá-lo. Ele não
vai ceder, não sei por que ainda estou aqui
insistindo.
— Acho que eu preciso ir embora, e
descobrir se eu não fantasiei tudo isso.
Não digo como pretendo descobrir isso, mas
fica claro. Tenho que transar com alguém diferente
dele, talvez um cliente desses que está sempre
disponível quando preciso de uma graninha, só para
saber se o que eu senti foi apenas com ele. Se com
o toque de outro homem, também terei prazer. Eu
sei que não fantasiei e esta é a verdade eu estou
ocultando dele, o meu medo não é ter fantasiado, e
sim descobrir que apenas ele é capaz de me fazer
sentir desse jeito.
Dou um passo para sair de dentro do box,
quando ele me impede, fechando a porta do box.
— Você quer sentir? — pergunta

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aproximando a boca da minha e assinto.


Ele me prende em seus braços e sua boca
toma a minha com a mesma paixão, domínio e
intensidade. Sinto seu peito forte pressionando
meus seios, minha barriga desliza por todo seu
abdome quando ele me suspende, apoiando-me em
seus braços fortes, beijando-me com ainda mais
intensidade. Sua boca toma meu seio com uma
mordida que me faz gritar e suga em seguida,
fazendo-me desmanchar. Ele me coloca no chão e
vira-me de costas para ele, sua boca passeando pelo
meu pescoço enquanto suas mãos percorrem todo o
meu corpo. Ele me faz curvar um pouco para frente
e sua mão alcança o meio das minhas pernas.
Pressionando sem piedade, enquanto dá leves
mordidas por meu ombro e costas.
Preciso apoiar-me à parede com as mãos para
não cair ali mesmo, sua ereção pressiona minha
bunda através da cueca e quando ele me penetra
com dois dedos, gozo pela primeira vez, gritando
alto seu nome, perdendo totalmente as forças,
compreendendo porque as pessoas pagam para ter
essa sensação. É incrível!
Quando consigo me acalmar, achando que
meu coração vai saltar pela boca a qualquer
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momento, ele gira meu corpo e me abraça. Beija-


me docemente e diz:
— Isso é tudo o que posso te dar agora,
diabinha. E por favor, não faça mais isso comigo.
Assinto, e ele me deixa aos poucos,
conferindo se conseguirei me manter em minhas
próprias pernas, antes de sair do box e deixar-me
sozinha no enorme banheiro.
— O que você está fazendo, Brin? O que está
fazendo? — pergunto a mim mesma.

Quando saio do banho o dia já está claro lá


fora, visto a roupa que estava usando sem falar
nada com ele. Ele já está vestido, deitado sobre a
cama apenas observando-me.
— É melhor eu ir embora. Obrigada por
cuidar de mim, Stephen, obrigada por tudo.
Ele entende do que estou falando.
— Não há o que agradecer, Brin. Eu vou
levá-la até sua casa.
— Não precisa. Eu vou de táxi.
Abro a porta enquanto ele corre para vestir
um casaco e achar as chaves do carro e ando a
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passos rápidos para sair antes que ele me alcance.


Porém, ao entrar na sala de estar do apartamento,
encontro Donald Ryan, que me olha como se eu
fosse um ladrão pego no flagra em sua casa.
— O que você está fazendo aqui?
— Não grita, o Stephen vai ouvir.
— Eu não estou pagando você para
frequentar a minha casa e virar amiguinha do meu
filho! Você não tem direito de entrar na minha
casa, não confunda as coisas, garota! Você recebe
para transar no seu local de trabalho, jamais deve
pensar que pode perambular por uma casa de
família como se tivesse o direito de fazer isso, sua
prostitutazinha de merda!
— Pai! O que pensa que está fazendo? —
Stephen aparece atrás de mim e me pergunto o
quanto do que o seu pai gritou, ele ouviu. — Eu a
convidei, ela veio comigo e não aceito que a trate
com tanto desrespeito.
— Você não está na sua casa para decidir
como alguém deve ser tratado, e devia ter vergonha
por colocar uma garota como ela sob o mesmo teto
da sua família! Onde está com a cabeça, Stephen?
Stephen não responde, e antes que tudo piore,

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passo correndo pela porta. Poucas vezes me senti


tão humilhada como agora. Poucas foram as vezes
em que deixei que esse tipo de desrespeito me
atingisse, mas não posso evitar quando é o pai do
único homem que me fez sentir alguma coisa. Não
posso evitar quando fica tão claro que jamais teria
qualquer futuro com ele, em hipótese alguma, nem
mesmo como uma amizade. E o que mais me
preocupa além do quanto fui humilhada diante dele,
é que ele tenha descoberto a grande manipuladora
que sou. O objeto que sou vendendo-me assim ao
pai dele.
Pego um táxi aos prantos e chego a minha
casa direto para minha cama. Onde depois de tantos
anos mantendo-me forte, desabo e me permito
chorar.

Quando acordo, meus olhos inchados tornam


minha cara uma bagunça nada agradável, há sete
chamadas não atendidas de Stephen e desligo o
celular para evitar atendê-lo. Encontro Tyler
almoçando na cozinha, ele me observa e não diz
nada sobre meu estado deplorável.

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— Vou querer saber o que houve com você?


— pergunta um tempo depois.
— Não. Não deveria estar no trabalho?
— Qual, quenga? O que eu pedi conta porque
vamos para Miami?
Sento-me diante dele e roubo bacon em seu
prato.
— Sobre isso, acha que poderíamos adiar um
pouco? Ir embora mais pra frente?
Ele larga o garfo e me observa atento,
buscando decifrar meu pedido, então trato de
manter minha expressão a mais neutra possível.
— Por que quer adiar isso?
— Porque eu ainda não dormi com Stephen
Ryan. Você sabe, nosso acordo. Eu durmo com ele
e vamos embora. Ainda não fiz isso.
— Ainda há tempo.
— Acho que vou demorar mais do que havia
previsto.
— Brin, você está apaixonada por ele! —
acusa.
— Claro que não! Eu não tenho sentimentos,
Ty, você sabe disso! E quando eu tiver, vou
começar sentindo prazer, não amor. Não sou tão
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burra!
Ele parece aceitar minha resposta e começo
imediatamente a repetir para mim mesma que não
estou apaixonada por ele. Repetir como faço com
todas as mentiras que acabam se tornando verdade,
na esperança que esta também se torne, porque
estou mesmo me apaixonando por ele, e este seria o
pior castigo que eu poderia infringir a mim mesma.

Quando alguém bate na porta com pressa,


caminho devagar para atendê-la temendo ser
Stephen, temendo que me acuse por ter ouvido a
gritaria de seu pai, temendo que eu dê com a língua
nos dentes e confesse que gosto mais dele do que
deveria. Tyler é quem abre a porta ao ver que não
irei fazê-lo, e Donald Ryan entra em minha casa
furioso, olhando em volta com nítido desagrado.
— Você já fez a sua parte no nosso acordo?
— Ainda não, mas não está longe de
acontecer.
— Ótimo! Você tem duas semanas! Faça o
quanto antes, me prove que fez e então suma da
vida do meu filho. Vocês não vão ser amigos, não
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vão ser nem mesmo colegas. Se eu souber que você


se aproximou dele de novo, acabo com você.
Assinto, segurando-me para não voar sobre
ele e acertar essa cara arrogante.
— Vou dar a você mais dinheiro do que
pretendia, quero que pegue suas coisas e suma
deste país. Vá para um novo, comece uma vida
nova, com um novo nome, você já está acostumada
a fazer isso.
Assinto novamente, deixando que ele pense
que vou agir conforme a vontade dele em tudo. Ele
me lança mais um olhar de desprezo antes de sair
da minha casa com a mesma arrogância com que
entrou.
Tyler olha para mim parada ali, bancando a
forte e diz:
— Eu sei que ele é lindo e gentil com você,
mas você pode ter isso com alguém que não vá te
trazer tanto sofrimento. Apenas escute meu
conselho, Sabrine. Stephen Ryan não é para você,
ele não pode ser.
— Eu entendi. Obrigada, Ty.
Começo a repetir isso para mim mesma, pra
ver se se torna mais uma verdade.
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Capítulo 10
Stephen
A tarde se arrasta e as pessoas à minha volta
não têm a menor graça. Desligo a câmera irritado,
nem mesmo a geralmente bela Bow Bridge tem
graça hoje. Ligo mais uma vez para ela, mas dessa
vez o celular vai direto para a caixa postal. Ela deve
tê-lo desligado, e o fez para não falar comigo. O
quanto deve estar envergonhada e humilhada pela
maneira rude e indesculpável como meu pai a
tratou, nem consigo imaginar. Por várias vezes no
dia de hoje, pensei em ir até ela, fazê-la conversar
comigo, pedir perdão por meu pai. Mas entendi que
talvez não seja a hora certa para isso, que ela pode
precisar de um tempo para que as palavras cruéis
do meu pai saiam de sua cabeça.
Enquanto vejo uma pedra deslizar sobre a
água antes de afundar, começo a imaginar um
futuro onde ela e eu estamos juntos, e percebo o
quão impossível ele seria. O quanto nós dois
teríamos que nos sacrificar a cada dia por um
relacionamento. Por que mesmo estou pensando em
um relacionamento com ela?
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Ligo mais uma vez e ainda está na caixa


postal.
Recebo um chamado de Thor, e por mais que
o Luck seja o último lugar onde quero estar, vou até
lá. Todos os que estão livres já estão lá quando
chego, Colin me observa e aproximo-me dele, para
agradecer a ajuda com Brin.
— Valeu, Hanson, pela ajuda com ela.
Espero um dia retribuir o favor.
— Está tudo bem, cara. Tudo acabou bem.
Estendo a mão a ele, apenas um gesto de
gratidão pela ajuda, e ele retribui.
— Eu sou o principal agora. O mundo está no
eixo de novo — provoca, arrancando risadas dos
lutadores presentes, que não são muitos.
— Ah, cale a boca, Hanson. Espere até o
próximo campeonato.
— Estou contando com isso, Ryan.
Thor nos dá o recado que nos reuniu aqui
para dar, sobre sua viagem com sua garota. O
descanso que há anos não tira, e seus planos de
reabrir o clube. Num lugar novo, um clube novo e
que conta com todos nós quando o fizer. Depois
que todos se despedem, ele me chama num canto. E
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sei que vai me dar uma bronca pelo beco.


— Como você está com tudo isso, Thor?
— Estou bem, apenas me preparando para
recomeçar. Tentando tirar meus meninos da prisão,
contabilizando o prejuízo. Eu queria falar com
você, agradecer por não ter entregado o Colin.
— Não precisa agradecer. Parece que é
minha sina ajudá-lo agora. Vou enviar dois dos
nossos melhores advogados até você, para ajudá-lo
com isso de libertar os lutadores que estão detidos.
Ele assente e olha para Colin, ao longe, então
de volta para mim.
— O universo tem maneiras estranhas de nos
aproximar das pessoas que devem ficar em nossas
vidas, Stephen. Pense nisso. E serei muito grato por
sua ajuda com os meninos.
— Prefiro nem pensar nisso. Ele não vai ficar
na minha vida.
— Stephen, o que está fazendo lutando no
beco? Há um motivo para isso ser tão escondido e
proibido, pessoas já morreram neste campeonato,
aquelas fitas de cena de crime não estão ali por
enfeite. Você não precisa disso, filho. Estou
pedindo que desista dessa loucura e não tenha mais
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qualquer contato com Adrian Hughes.


— Eu estou bem, Thor, não há com o que se
preocupar. Faça sua viagem tranquilo e me ligue
quando encontrar um lugar novo, faço questão de
continuar no seu time.
— Stephen, é chamado de Campeonato
Sanguinário por um motivo específico. Você não
está mentindo para jovens de bem que procuram
uma distração, ou que precisam do dinheiro. Está
lidando com ex presidiários, fugitivos, homens do
tráfico, assassinos de aluguel. Não sei como você
fez para entrar, mas dê um jeito de sair. Não vou
viajar enquanto não me disser que desistiu dessa
loucura.
— Tudo bem. Ok! Se é tão importante para
você, não vou mais ao beco.
O sorriso em seu rosto é contido, como se
soubesse que estou mentindo, mas apreciasse
minha tentativa de deixa-lo melhor.
— Esse é meu garoto. Viajarei em paz, então.
Enquanto eu não volto, se cuida, filho. E cuida da
Brin, aquela garota precisa muito de você.
— O que sabe sobre ela? Como você a
conhece?

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Ele parece surpreso por minha reação, e sorri


enquanto me responde:
— Não fui cliente dela, nem nada parecido,
não há motivos para seu tom enciumado. Moramos
no mesmo bairro, e você pode não acreditar, mas
aquela menina consertou a minha moto uma noite,
quando eu estava parado na chuva.
— Eu acredito.
— Ela é extraordinária, e muito divertida.
Não me lembro de já ter rido tanto quanto ri de sua
conversa com a minha moto.
Isso é tão a cara da Brin que me pego rindo
também.
— Até logo, filho.
— Até mais, e parabéns pela garota.
Fico feliz que ele não esteja tão abalado por
ter perdido seu lugar preferido, seu segundo lar, e
ter que recomeçar do zero. E apesar de sua
preocupação exagerada por conta dessa rixa que
tem com Adrian desde que deixaram de ser amigos,
quando eram mais jovens, não vou desistir do
campeonato. Eu conquistei meu lugar ali, vou
vencer e provar para ele que sou mais forte do que
pensa.
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Volto para a casa do meu pai, já que ele fez


tanta questão de deixar isso claro. Passo direto pela
mesa onde eles jantam, não respondo quando ele
me dirige a palavra e tranco a porta do quarto para
não ser incomodado. Não adianta muito, já que ele
bate na porta minutos depois.
— Stephen, quando parar de ser criança
venha falar comigo. Anthony e sua filha chegam na
semana que vem. Você precisa buscá-los no
aeroporto e acomodá-los aqui em casa. Conto com
você para isso.
Não respondo, mas não pretendo fazer isso.
Descarrego as fotos da câmera no notebook e
as fotos de Brin vão passando uma por uma diante
de mim. Cada pose, cada roupa minha, cada
momento da noite de ontem com ela. Até que uma
imagem na pequena tela me faz perder o ar. Uma
imagem faz meu coração se apertar, meu estômago
se agitar e aquela certeza que busquei por tantos
anos tomar-me por completo.
É o sorriso dela, seu cabelo bagunçado, seu
rosto perfeito, seu corpo sexy e pequeno na minha

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regata. É ela, e esse sorriso. A foto que eu tanto


procurei.
Fecho o notebook e começo a juntar minhas
câmeras, colocando-as com cuidado dentro das
bolsas. Em seguida, junto minhas roupas, apenas
algumas, as que vou usar nos próximos dias. Pego
minhas coisas de higiene no banheiro, e entrar ali
me faz lembrar dela. A maneira como gemeu meu
nome quando gozou na minha mão, como me pediu
com aqueles olhos lindos que a fizesse sentir de
novo. Como doeu imaginá-la saindo daqui para ir
sentir prazer com outro homem. Como foi
indescritível ser eu a dar prazer a ela, poder
controlar o que seu corpo sentia, o quanto ela se
entregava, se eu soubesse que seria assim...
— O que você está pensando, Stephen?
Duas batidas na porta me tiram das
lembranças deliciosas dela, e a voz a minha mãe
chama do outro lado. Abro a porta, torcendo para
que não seja um truque, e que ela não esteja com
meu pai ao seu lado querendo dar-me mais uma
lição do que posso ou não fazer na casa dele.
Mas ela está sozinha, entra em meu quarto e
fecho a porta em seguida. Ela observa minhas
malas sobre a cama, abre a de roupas e olha as
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peças que peguei, fazendo um movimento negativo


com a cabeça. Então entra em meu closet e separa
as peças de roupa que acha que devo levar, fazendo
milagrosamente com que todas caibam na pequena
mala.
— Seu pai não tinha o direito de tratar sua
amiga daquele jeito, e menos ainda de desrespeitá-
lo daquela maneira, e eu sinto muito que tenha
chegado a isso.
— O que você sabe sobre a minha amiga? —
pergunto para ter certeza que ela sabe a profissão
de Brin e mesmo assim a está defendendo.
— Tudo! Acho que sei mais sobre ela do que
você. E seu pai não tinha esse direito. Se ela é
importante para você, deveria ser sempre bem-
vinda aqui.
Ela me lança seu olhar questionador e
confirmo.
— Ela é muito importante para mim.
— Se não fosse, você não estaria indo
embora.
— Mamãe, eu...
— Você está certo. Conheço um apartamento
ótimo que você pode alugar a qualquer hora, em
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um lugar bom, um apart-hotel. É pequeno, mas


arejado e tem uma vista magnífica, você vai adorar.
— Por que a senhora conhece este lugar?
— Porque já o aluguei algumas vezes,
quando pensava em sair de casa. Mas nunca tive
coragem de levar as malas que cheguei a fazer e
sair daqui.
Seguro sua mão interrompendo sua vistoria
em minhas malas.
— Mãe, a senhora pode vir comigo. Não tem
que ficar aqui.
— Não deixaria sua irmã nas mãos dele. Não
que eu vá fazer alguma coisa para ajudá-la, mas
talvez um dia, eu faça. Talvez ela precise de mim e
eu finalmente saia deste torpor que as traições do
seu pai me colocaram, e seja a mãe que ela merece.
— A senhora é uma boa mãe.
— Não, filho. Eu não sou.
— Nenhuma outra teria aceitado criar o Seth,
e tratá-lo como se fosse seu.
— Ele não tem culpa do pai que tem. Se eu
conseguir com que ele seja um homem bom como
você, e não um sem caráter como o pai dele, terei
cumprido minha missão com ele. Se cuide, meu
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filho. A hora em que você precisar, estarei aqui.


— Obrigado, mãe.
Esta foi a conversa mais longa e com certeza
a mais íntima que tive com a minha mãe depois que
me tornei adulto. E voltar a abraçá-la enquanto ela
me apoia em alguma decisão difícil, é exatamente o
que eu precisava agora.
Quando estou saindo, Seth me encara
curioso, e ao perceber minhas malas, sua expressão
triste parte meu coração.
— Por que você vai embora?
— Vou para bem perto, você pode ir me
visitar quando quiser.
— Então me leva com você.
— Não posso agora, mas prometo vê-lo
sempre, tudo bem?
Ele me abraça e retribuo seu carinho.
Serena aproxima-se em seguida, observando
minhas malas com um quê de inveja e um sorriso
no rosto.
— Finalmente você se libertou. Eu iria com
você, mas quem vai defender a mamãe?
— Esta é sua função agora.
— Como se você já a tivesse executado, seu
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cuzão.
Ela me abraça e deseja boa sorte e diferente
do que achei que aconteceria, não sinto medo
quando cruzo a porta da casa em que fui criado,
para viver algo novo, algo meu, algo sozinho.

Observo o prédio onde Brin mora pela


segunda hora seguida, e nem sinal dela. Vejo
apenas Tyler saindo, Tyler entrando, com sacolas
diferentes como se estivesse planejando uma festa.
Penso em bater em sua porta, mas se ela sequer
atende o celular é porque não quer me ver. Ligo
para Johnny em busca de um conselho sobre como
devo agir agora. Conto por alto sobre o que
aconteceu na minha casa e ele ri, por dois minutos
inteiros, ri alto da minha cara.
— Que merda, cara! Estamos falando de uma
garota de programa, vá até o site dela, agende um
horário e problema resolvido.
— Não fale assim dela, se você vai ficar com
esse tipo de babaquice...
— Calma! A porra é séria mesmo se está
disposto a terminar nossa relação de anos para ficar
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com ela — zomba.


— Johnny, você é o pior amigo do mundo!
— Ok, desculpe. Você ama uma puta,
desculpe! Não consigo não rir. Já pensou quando
tiverem filhos? Do que serão chamados?
Desligo o telefone irritado e ele me liga em
seguida.
— Foi mal, Stephen, ok. Vamos falar sério
agora, como se ela fosse uma mulher normal. Não
vá até a porta dela agora, ela está se sentindo
humilhada, você só vai fazer com que ela se
esconda de você.
— Já se passaram dias e nem sinal dela!
Preciso vê-la, o que faço? Sem piadas! — peço
assim que ele começa a rir.
— Continue ligando, quando ela começar a
melhorar vai ligar o celular, vai ver suas chamadas,
mande mensagens dizendo a ela como se sente, ela
irá lê-las. E ela mesma irá procurar por você
quando for a hora, ou pelo menos vai deixar o
celular ligado quando você ligar uma hora dessas.
— Merda! A que ponto a minha vida chegou
quando estou ouvindo conselhos sábios de você? —
lamento.
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— A sua vida está mesmo me dando pena,


amigo. Boa sorte com sua garota — faz uma pausa
e sussurra apressadamente antes de desligar — de
programa!

Por três longos dias, fico sozinho no meu


novo apartamento tentando organizar as coisas. Por
três longas noites, sonho com ela. É estranho como
a falta que ela faz dói, se a conheço a tão pouco
tempo! É estranho que tenhamos tido tão poucos
momentos, e mesmo assim, sejam esses os
momentos mais intensos e reais da minha vida. Os
momentos que me fazem sentir tanta falta dela!
Nossa situação já estava complicada o bastante
depois daquela noite, depois de eu quase perder a
cabeça com ela. Já seria difícil estar perto dela sem
tocá-la, sem desejá-la. Meu pai não tinha que piorar
tudo.

Acordo uma manhã para ir à faculdade, de


saco cheio de tudo! Sair de casa não me animou
como eu acreditei que faria. É bom não ouvir os

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gritos do meu pai a manhã toda, ou no final de cada


dia, mas aqui não há nada. As coisas ainda não
estão no eixo. Olho mais uma vez a foto dela na
tela do meu notebook, e tento ligar de novo.
Dessa vez o celular chama. Chama três vezes
e alguém atende.
— Brin?
— Stephen Suculento Ryan, como vai?
— Ah, oi Tyler. Como ela está?
— Você consegue imaginar a bosta de uma
vaca no campo, sendo pisoteada por uma manada
de cavalos grossos, e em seguida amassada pelas
rodas gigantes de um trator? Ela está pior do que
isso. Você, amigo, estragou nossa viagem para
Miami! Apesar de ser tão lindo, às vezes eu te
odeio.
— O que eu posso fazer para ajudá-la?
— Boa sorte para você! Estou a semana toda
tentando de tudo! Nada a faz sair daquela cama
onde resolveu morar. Não é como se você pudesse
descobrir por acaso que hoje é o aniversário dela e
pudesse levá-la a algum lugar legal, tratá-la como a
mulher incrível que ela é e fazê-la entender que seu
pai só é idiota mesmo e não há nada de errado com
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ela.
Sorrio.
— Como eu faço para que ela venha ao meu
encontro? Se eu for buscá-la, ela não vem.
— Me diz que alguma coisa trágica
aconteceu na sua vida para ativar a mania de cuidar
dos outros dela. Aquela ali não consegue ver
alguém em sofrimento, ela é muito boa com
pessoas assim — diz ele.
— Tudo bem, você consegue colocar o
celular no viva voz perto dela?
— Com certeza! Dê o seu melhor!
Ouço passos, uma porta sendo aberta e ele a
chamando, ela responde irritada e ele me dá o sinal:
— Apenas escute isso, sua quenga egoísta!
— Brin — faço minha melhor voz de choro
— eu briguei com meu pai, ele me colocou para
fora de casa, estou em um hotel, sozinho. Nunca
estive sozinho antes, não sei cozinhar nada. O que
faço?
Há o silêncio como resposta e começo a
temer que não tenha funcionado, quando sua voz
baixa e desconfiada diz:
— Você pode sair para comer ou pode pedir
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alguma coisa pelo aplicativo.


— Não tenho ânimo para nada, Brin. Nunca
estive tão sozinho! Eu queria muito vê-la. Posso ir
até aí?
— Não! Melhor não, eu... — Há novamente o
silêncio quando finalmente ela se dá por vencida.
— Me mande o seu endereço, eu irei até você.
Me controlo para não comemorar com ela na
linha e envio o endereço por mensagem.

Não há como dar um jeito na bagunça do


meu apartamento antes que ela chegue. Enfio as
roupas de volta nas malas, só que não estão
cabendo, então as jogo dentro do closet e
amaldiçoo essa merda sem porta. Penduro um
lençol qualquer com fitas adesivas para que ela não
veja o cômodo, e enfio tudo ali. Ligo para o
restaurante mais próximo, que é realmente
excelente e faço um pedido mais do que especial.
Tomo um banho, e me sinto nervoso como
um adolescente antes de seu primeiro encontro
quando a campainha soa. Visto correndo uma blusa
qualquer para abrir a porta para ela.

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Seu cabelo está solto, em ondas bagunçadas,


seus olhos estão cansados, assim como seu rosto. E
pela primeira vez ela não usa uma roupa sexy ou
curta. Usa uma calça jeans, tênis e um moletom
gigante que só pode ser do Tyler, pelo excesso de
brilhos e rosa.
— Uau! Você está linda! — brinco.
— Vá pro inferno! Então agora você mora na
Times Square! Que triste a sua vida!
Ela me avalia dos pés à cabeça e um meio
sorriso surge em seu rosto quando seus olhos
pousam em meus cabelos molhados.
— Você sabe provocar uma garota.
Ela olha em volta admirando o lugar e a vista.
E é tão bom tê-la perto de novo e sentir seu
perfume! De repente tenho uma necessidade de
tocar seu cabelo, enrolá-lo nos dedos como fiz
algumas vezes. Aproximo-me devagar para não
assustá-la e o toco, e não é suficiente. Ela me
encara confusa e deixo que minhas mãos passeiem
pela extensão de seus braços, segurando suas mãos
e beijando carinhosamente sua testa.
— Senti muito a sua falta — confesso.
— Você não me parece depressivo.
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— Acho que estou andando demais com uma


mentirosa profissional.
Ela se afasta com um sorriso no rosto.
— Você mentiu para mim? O certíssimo
príncipe encantado mentiu? Não acredito!
— Eu não menti, só distorci as coisas. Saí
mesmo da casa do meu pai, você está na minha
casa. Mas o fiz por vontade própria.
— Que legal! Só que não conta se o seu papai
vai manter você aqui.
— Ah, Brin! Me magoa a forma como você
me subestima, garota! Eu não dependo do dinheiro
do meu pai. Tenho muito dinheiro, ganhei com as
lutas no Luck, você pode não acreditar, mas socar
caras dá dinheiro.
— Eu acredito. Mas dá dinheiro para bancar
isso aqui?
— Claro! Ainda mais quando fui o único
herdeiro do meu falecido padrinho.
— É claro que foi! Ricos sempre atraem
dinheiro. Se eu tivesse um padrinho, e ele morresse,
provavelmente eu teria que fugir porque os
credores dele iriam atrás de mim para cobrar suas
dívidas.
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Sorrio, mas olho em seus olhos para que ela


entenda o que vou dizer:
— Eu tenho como pagar para que você fique,
Brin. Você não tem que ir para Miami com ele.
Ela não parece feliz com minha proposta,
apenas suspira, não deixando transparecer o que
sentiu, como sempre.
— O Tyler é um linguarudo! Eu não quero o
seu dinheiro, Stephen.
— Tudo bem. Esquece tudo o que eu disse
desde que entrou aqui. Presta atenção nisso, eu saí
de casa e não tenho um centavo para bancar isso
aqui, agora que não trabalho mais na firma do meu
pai. Estou pensando em vender meu corpo para
conseguir dinheiro. — O sorriso dela é o indício de
que estou indo pelo caminho certo. — Você estaria
interessada em ser minha primeira cliente?
— Não sei não, você quer se manter na
Times Square e estamos falando de um rapaz
virgem. Não sei se vai valer o preço.
— A minha virgindade faz de mim uma
raridade, querida.
— Provavelmente você é o único com esse
mérito no mundo todo.
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— Sem contar que sou lindo. Tenho todos


esses músculos, tatuagens e um pau acima da
média.
Ela ri alto, e eu estava com tanta saudade de
seu sorriso, que não me previno para o que faz a
seguir.
Aproxima-se de mim com aquele sorriso
lindo, prende seu lábio inferior nos dentes e enche
sua mão com meu pênis.
— Hum, talvez valha a pena pagar o preço.
Isso parece promissor.
— Você sabe o que sentiu com meus dedos,
Brin. Espere até provar o resto.
Ela pisca os olhos aturdida e tira a mão do
meu pênis, dando um passo atrás, seu rosto
mostrando irritação.
— Eu realmente odeio você, Stephen Ryan.
Então passa por mim direto até meu quarto,
onde observa minha cama de casal, a mesa no canto
com o notebook, alguns livros que já espalhei por
ali e minhas câmeras, expostas em uma prateleira.
Estou prestes a chamá-la de volta à sala, quando ela
puxa o lençol expondo meu closet muito
bagunçado.
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Um sorriso imenso surge em seu rosto.


— Eu sabia! Estava tudo organizado demais
para um homem que acabou de se mudar.
Ela entra no closet e começa a tirar as roupas
das minhas malas e pendurá-las separando-as por
tipo e depois por cores. Observo de braços cruzados
enquanto ela as arruma, como se fizesse isso todos
os dias, como se fosse íntima das minhas coisas e
soubesse exatamente como as guardo.
— Você entrou no meu closet antigo uma vez
e sabe onde fica cada coisa da maneira que gosto de
colocar?
— Fazer o quê? Minha memória é ótima!
— Você não tem que fazer isso, Brin. De
qualquer forma, está fazendo muito bem e muito
rápido. Poderia ganhar a vida sendo diarista ao
invés de garota de programa — provoco e ela ri.
— Meu nome do meio é preguiça. Fazer sexo
quase não dá trabalho — responde provocando-me
de volta. — Só estou fazendo agora porque quero te
levar pra cama, não se acostume.
— Você pretende me vencer pelo cansaço?
— brinco, lembrando-me das palavras de Mary
sempre que entrava nua no meu quarto.
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Como resposta tenho primeiro sua risada, e


um olhar malicioso por meu corpo todo.
— Jamais teria paciência para isso. Eu vou
fazê-lo mudar de ideia. Quando você menos
esperar, estará me comendo no seu banheiro novo e
gritando meu nome enquanto goza dentro de mim.
Meu pau se agita na bermuda e preciso ajeitá-
lo na cueca, quando sou salvo de sua provocação e
meu desejo de levá-la para a merda do banheiro
pelo som da campainha.
— Você convidou mais alguém? Não quis
ficar sozinho comigo? — brinca.
— Não. Vou ver quem é, continue o seu
trabalho.
Os entregadores entram com a comida que
pedi, e por último com o pequeno e belo bolo.
Colocam tudo na mesa que deixei propositalmente
no meio da sala, acendo as velas, diminuo as luzes,
ligo uma música gostosa no celular e espero por
ela. Não passa muito tempo até que ela venha ver
porque estou demorando, se depara com o jantar, as
velas e eu em um canto segurando um bolo e
parece confusa.
— É o seu aniversário?

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— Não, Brin, é o seu. Hoje é dia doze.


— Ah, claro!
Sua reação deixa claro que a data de
nascimento em sua certidão não é a verdadeira data
em que ela nasceu. E que desde que se tornou Brin
Vega, parece que nunca comemorou um
aniversário.
— Há quanto tempo você não comemora esta
data?
— Para ser sincera, eu nunca me lembrei
desta data.
— Então venha soprar seu bolo e fazer o seu
pedido.
— Você fez tudo isso por mim? — pergunta
observando o jantar sobre a mesa.
— É claro! O melhor aniversário do mundo
para a garota mais interessante do universo.
Seus olhos estão cheios quando os pousa nos
meus, e seu sorriso lindo me faz perder o fôlego.
Ela aproxima-se e fecha os olhos, pensa um pouco
e faz seu pedido em voz alta.
— Que Stephen Ryan pare de drama e transe
comigo.
Sorrio enquanto ela sopra a vela e enfia um
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dedo no bolo levando-o à boca e gemendo


satisfeita.
— Meu Deus! Isso está maravilhoso.
— Primeiro o jantar, bandida.
Guardo o bolo e arrasto a cadeira para que ela
se sente, a sirvo de tudo o que sei que ela gosta. Ela
não tira aquele sorriso lindo do rosto e ele me faz
rir também, como um reflexo, como se fosse
contagioso.
— Você não queria falar comigo nesses
últimos dias, é pelo que o meu pai te fez? —
pergunto enquanto ela come. É sempre mais fácil
fazer perguntas a ela quando está comendo, mesmo
que ela invente histórias e desculpas, as responde.
O que não acontece geralmente, quando diz apenas
que não quer falar sobre o assunto.
— Não. Estou acostumada a esse tipo de
humilhação.
A dor em meu peito me faz querer abraçá-la
agora mesmo, e ela continua:
— Eu não sinto as coisas há muito tempo,
Stephen, quando são relacionadas a pessoas. Não
sinto falta de ninguém, não sinto vontade de estar
com alguém, não sinto quando me tocam, não
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como deveria. Não há esse lado emocional de um


relacionamento, qualquer que seja ele, em mim. E
de repente, eu conto as horas para te ver, fico
ansiosa em como você vai agir comigo e perco o ar
quando você me olha de certas maneiras e com as
coisas que diz. E então você me toca, e eu me perco
totalmente em você, e essa não sou eu. Eu fugi de
você porque tive medo, porque preciso voltar a ser
eu, a não precisar de ninguém assim. Agora venho
até aqui porque me importo com você mais do que
deveria, e você me emociona com esse jantar e um
bolo, e juro que estou me segurando para não ir
embora correndo antes que seja tarde demais.
— Vem aqui! — peço afastando a cadeira
para dar espaço a ela, e a confusão em seu rosto é
nítida, até que estendo minha mão e ela a toca. A
guio então para perto de mim, trazendo-a até meu
colo, onde ela se encaixa perfeitamente.
— Fica aqui comigo esta noite — peço
colocando seu cabelo macio atrás de sua orelha.
— Você não ouviu nada do que eu disse —
responde suspirando.
— Ouvi tudo o que disse, cada palavra.
Dificilmente irei me esquecer delas. Fica comigo,
Brin.
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Ela não responde, mas me abraça, deitando a


cabeça em meu ombro e é tão bom tê-la assim, que
algo em meu peito vibra, uma espécie de
comemoração, quase um agradecimento.
— Só se a gente puder comer o bolo agora —
ela concorda levantando-se, impedindo
propositalmente que eu a beije.
— Seu pedido é uma ordem.
— Nas horas certas você não diz isso —
brinca.
Comemos o delicioso bolo como dois
selvagens, sem usarmos pratos, ou talheres,
cortando os pedaços com a pequena faca, e
levando-os direto à boca. Ela está tão concentrada
nesse exercício, e entendo que não quer olhar para
mim, não quer pensar em como se sente estando ao
meu lado e não posso julgá-la, pois, também está
sendo confuso para mim. Não a vejo de forma
diferente do que via em nossas primeiras conversas,
e mesmo assim, de alguma forma, ela é tudo em
que tenho pensado, tudo o que tenho sentido e a
única capaz de me fazer ficar bem. Como se todo o
sentido dos meus dias se concentrasse nela. De
repente, e nem tão de repente.

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Como eu não vi isso antes? Naquela primeira


conversa divertida, no primeiro beijo, na primeira
vez em que me deixou louco a ponto de precisar de
uma hora de banho frio. Como é possível que ela
seja a mesma Brin de sempre para mim, e ainda
assim tão diferente agora?
Estou distraído em meus pensamentos e ela
passa o dedo cheio de bolo pela minha cara,
deslizando até minha boca para depois leva-lo à
própria boca com uma cara surpresa.
— Ops! Desvio de percurso não planejado —
explica-se.
— Entendo perfeitamente — digo enchendo
meu dedo de chantilly. — Acontece com todo
mundo!
Passo o dedo em seu queixo e desço, sujando
seu pescoço onde meu dedo alcança.
Ela abre a boca fazendo-se de horrorizada, e
não dou tempo para que fuja, arrasto sua cadeira de
encontro à minha, mantendo-a o mais perto
possível de mim.
— Não se preocupe, Brin. Eu sujei, eu limpo.
Lambo seu queixo descendo por seu pescoço
e sinto seu choque inicial, quando seu corpo trava,
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para em seguida ela levantar a cabeça dando-me


acesso ao seu pescoço, onde beijo, mordisco e ouço
seu gemido gostoso e baixinho. Minha boca toma a
sua e ela corresponde daquele jeito apaixonado e
quente. Puxo o zíper do moletom que usa, descendo
minha boca até o caminho entre seus seios, e
quando o faço, ela foge. Afasta a cadeira de repente
e noto seu rosto vermelho e a respiração acelerada.
Só que não posso deixá-la ir agora. Preciso
de mais dela, mais desse toque gostoso, de seus
gemidos baixinhos e da maneira como se entrega a
mim. Mais do que sinto quando ela está em meus
braços.
— O que você quer de mim, Brin? —
pergunto olhando em seus olhos.
— Você. Dentro de mim. Fazendo-me sentir
de novo.
Assinto e conforme me aproximo, ela se
afasta. Parece temer o que farei ao tocá-la, tanto
quanto deseja que eu o faça. Acelero o passo e a
pego, passando suas pernas por meu quadril, a levo
direto para meu quarto, depositando-a sobre a
cama.
— O que você vai fazer? — pergunta

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alarmada e ansiosa.
— Te dar o seu presente de aniversário. Você
me pediu uma coisa, e eu não gosto de deixar uma
garota esperando.
Ela apenas assente, e abro o zíper de seu
moletom devagar, revelando aos poucos sua pele
macia, o sutiã vermelho em perfeito contraste com
a pele branca, e o volume de seus seios
pressionados para cima. Abro seu sutiã com
facilidade e admiro o quão linda ela é. E finalmente
a toco de novo, finalmente a tenho em minha boca,
seu mamilo intumescido em minha língua, e
enquanto o sugo com todo o desejo e descontrole
que ela me faz sentir, amo a sensação do quanto ela
se contorce e chama meu nome. Amo seus dedos
passeando por meus cabelos, mantendo-me ainda
mais perto dela. Desço meus lábios e língua por sua
barriga, mordiscando de leve conforme abro sua
calça e a tiro.
Quando me afasto para tirar sua roupa, o que
vejo em seu olhar, a entrega, desejo, paixão ali, é
exatamente o que eu busquei a vida toda.
Exatamente os sentimentos que eu queria ver. E o
que ela me faz sentir é muito mais do que eu
esperei sentir.
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— O que você quer de mim, Brin? —


pergunto de novo, meu corpo pairando sobre seu
corpo nu, minha voz rouca, mal contendo o desejo
que sinto e o quanto espero que ela diga o que
quero ouvir.
— Você — diz com dificuldade — dentro de
mim, agora, por favor!
Resposta errada, minha diabinha linda! Mas
você vai chegar lá.
— Não me deixe esperando — pede quando
não me movo por alguns segundos, observando-a.
— Nunca, meu bem. Jamais a deixarei
esperando.
Pressiono minha língua em sua barriga e
deslizo por ela, até alcançar onde ela me deseja. A
toco gentilmente ali, apreciando o gosto da sua
excitação, movendo minha língua com lentidão,
fazendo-a choramingar pedindo por mais. É apenas
comigo que ela sente assim, e isso é o que me faz ir
mais devagar ainda, quero que ela sinta muito mais.
Quero que me sinta muito mais!
Passo meus braços por baixo de suas pernas e
suspendo seu quadril, deixando sua boceta molhada
à altura da minha boca, onde me delicio, sugando

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com força, penetrando-a com a língua, sentindo-a


se contorcer. Ela tenta levantar as pernas, mas estão
bem presas por meus braços, tenta me fazer afastar
quando o prazer se torna quase insuportável, mas
não diminuo o ritmo. Penetrando-a com a língua,
alternando entre chupá-la e mordiscá-la, nunca
pensei que seria tão fácil fazer isso, que seria tão
bom!
Quando ela goza, gritando meu nome e
puxando meu cabelo, presencio mais uma vez a
coisa mais linda do mundo. Não vejo a hora de tê-la
por completo, de ouvi-la dizendo que também está
apaixonada por mim.

Ela sai do banheiro com uma camisa minha,


está sem sutiã e desconfio que sem calcinha
também, apenas para provocar-me. Joga-se ao meu
lado na cama com um sorriso moleque no rosto.
— Esse foi seu presente de aniversário? A
sua língua era a parte sua que estaria dentro de
mim.
Confirmo e ela ri.
— Não era o que eu queria, mas não posso
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dizer que foi ruim. — Seus olhos castanhos pousam


nos meus e ela começa a rir.
— Seja sincera, sua pequena mentirosa.
— Foi muito bom! Você não parece
inexperiente. Acho que posso te sustentar na Times
Square.
— Você gostou da minha nova casa?
Ela assente, mas noto certa preocupação em
seu rosto, e logo ela divide comigo o que a
incomoda.
— Eu sinto muito que tenha brigado com seu
pai e saído de casa, sinto-me culpada por isso.
— Você é a responsável por isso sim, mas
não é uma coisa ruim. Você só tem me feito bem,
desde que caiu de paraquedas como uma lunática
perseguidora na minha vida.
— Não! — Pede emburrada cobrindo o rosto
com um travesseiro. — Não comece a ser fofo,
gosto mais do Stephen querendo não ser virgem.
Então agora posso vir aqui sem ter que sair às
escondidas pela manhã? — brinca.
Você poderia morar aqui, se quisesse, minha
diabinha.
— Esta é minha casa, Brin. Você sempre será
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bem-vinda aqui, em qualquer dia, a qualquer hora.


E cada vez que passar por aquela porta, será tratada
como a mulher maravilhosa que você é. Eu te
prometo isso.
— Não! — choraminga de novo. — Você
precisa parar de me tratar como se eu fosse uma
coisa boa, um presente ou algo precioso.
— É melhor você se acostumar, porque para
a garota mais interessante do mundo, não tenho
menos do que toda atenção e cuidado para oferecer.
Ela tira o travesseiro da cara e me olha
irritada, então joga o travesseiro para o lado e pula
sobre mim, beijando-me com docilidade, de um
jeito que não é característico dela.
— Eu não sou fofa, Stephen. Quando você é
fofo assim comigo, eu só penso em foder com você
— confessa em minha boca.
— Isso é extremamente fofo para os seus
padrões — provoco.
— Me abraça — pede manhosa pela primeira
vez e prontamente atendo.
A prendo em meus braços, girando nossos
corpos para que fiquemos de frente um para o
outro, ela totalmente encaixada no meu corpo. Sua
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blusa sobe com o movimento e quando minha mão


desce por suas costas, toca sua bunda nua.
— Você não está usando calcinha, Brin. Sua
pequena provocadora.
Beijo seu rosto e sua boca, e a faço dormir
com carícias antes que eu perca totalmente a
cabeça.

Estou tão certo do que sinto por ela, que


deixá-la ir embora é quase um sacrifício. Descemos
até uma cafeteria próxima para tomar café, e
enquanto faço nossos pedidos, noto Simon um
lutador do clube alemão que eu não sabia que ainda
estava por aqui, aproximar-se dela. Ele diz alguma
coisa que a faz corar, e sorrir sem graça. Ela me
lança um olhar preocupado, e em seguida ele lhe
entrega um papel. Aproximo-me devagar e ouço o
final do que diz a ela.
— Nos vemos em breve, princesa — então
afasta-se e ela fica em choque com o papel na mão.
Neste papel, há um número, penso ser de
algum telefone, ou algo assim, até que minha ficha
vai caindo aos poucos.
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— O que ele queria, Brin? — pergunto


entredentes tentando manter a calma.
— Me oferecer isso, para passar uma semana
com ele.
O valor é extremamente alto e tento decifrar
por sua expressão se irá aceitá-lo. Preciso colocar
rapidamente as xícaras sobre a bancada, pois a
raiva que sinto parece que vai extrapolar a qualquer
momento.
— E o que você disse?
— É absurdo isso, é um valor alto demais! Eu
nem deveria... Por que ele está fazendo isso? Quem
paga esta quantia por sexo?
— Não é só por sexo, você não percebe o que
as pessoas à sua volta sentem por você, não é?
— O que você quer dizer?
— Se você quer aceitar, se vai mudar a sua
vida todo esse dinheiro, vá em frente.
Ela abaixa a cabeça e não vejo mais seu
rosto.
— E aí devo esquecer que você existe, certo?
Porque você não vai andar por aí com uma
prostituta.
— Não, você tem o meu endereço e tem a
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chave da minha casa. A coloquei no seu molho de


chaves. Pode voltar a hora que quiser, Brin.
Quando passar pela minha porta, será tratada
apenas como a mulher maravilhosa que é, nada
mais do que isso.
Ela me encara surpresa e noto que seus olhos
estão cheios.
— Mas, se te importa saber, isso vai me ferir,
muito. Mais do que posso explicar — confesso
lutando para manter meus ciúmes dentro de mim,
para esconder a vontade que tenho de levá-la de
volta para minha casa e mantê-la presa lá até que
esse maldito turista vá embora. Mas esta decisão
cabe somente a ela. E eu não irei julgá-la por tomá-
la.
Ela amassa o papel e o joga na lixeira.
— Eu não vou. Não vou ferir você por nada
nesse mundo.
Quero tanto dizer a ela o quanto estou
apaixonado, e pedir que vá morar comigo, que me
deixe cuidar dela como ela merece. Mas sei que irei
assustá-la, ela começou a sentir agora, tem tantos
segredos em seu passado e não sei o que a impede
de dividi-los comigo. Ainda é cedo demais para

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torná-la inteiramente minha.


Tomamos nosso café em silêncio e me divido
entre a vontade de beijá-la por desistir de algo que
a ajudaria apenas para não me ferir. E a pergunta
que não some da minha mente, se deveria parar isso
agora, afastar-me o quanto antes e orientá-la a
aceitar essa proposta. Esta será minha vida com ela.
Será que essa coisa nova e inédita que estou
sentindo é forte o bastante para suportar isso?

Assim que a deixo em sua casa, ainda com


um clima desconhecido e tenso entre nós após o
ocorrido na cafeteria, meu celular toca e o nome de
Dylan aparece na tela.
— Stephen, tenho novidades. Mas não sei se
são boas ou ruins.
— Diga.
— Um contato meu no FBI conseguiu
informações sobre Emily Green, ele também nos
orientou a não pesquisar mais. Disse que isso vai
muito além do que podemos imaginar e que se
prosseguirmos, vamos esbarrar em uma ordem do
governo.
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— Do governo? Dos Estados Unidos?


— Sim. Stephen o meu contato é meu irmão.
Ele fez o que pedi, mas não me deu tudo o que
descobriu, jamais o faria. Me disse algo básico, que
me ajudou a chegar a outro lugar, e pareceu
bastante assustado ao fazê-lo.
— O que você descobriu, Dylan? O que ele te
disse?
— Ele me deu uma coisa apenas, uma foto de
uma adolescente. Ela estudou em Valencia, nos
mesmos anos e instituições em que a Sabrine
estudou. Concluí que fossem da mesma turma, e
algumas pessoas a reconheceram da foto que
mostrei. Seu nome era Theresa Vega.
— Vega? Como o sobrenome que a Brin usa.
— Sim, e Theresa penso que pode ser uma
referência a Tess Green, que seria sua verdadeira
mãe. Estou te enviando uma foto dos Green, e uma
foto da garota. Ela se parece muito com eles.
— Então Theresa Vega é a verdadeira Emily
Green.
— Acredito que sim.
— O que a Sabrine tem a ver com ela? Por
que o nome dos pais dela estão na certidão da Brin?
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Eram irmãs?
— Os Green não tiveram duas filhas. Eles
tiveram apenas a Emily. As pessoas que
reconheceram a garota na foto, não reconheceram a
Brin, o que quer dizer que não estudaram juntas.
Mas no ano em que Theresa Vega formou-se no
nono ano, Sabrine estava na cidade. Uma pessoa a
reconheceu. Uma senhora de idade de um abrigo
para menores. Disse que ela esteve neste abrigo por
quase um ano, as datas que deu batem com o
período em que a Theresa estudou aqui. E ela
reconheceu a foto que mostrei de Theresa, disse
que este era o nome dela e que ia ver a sua garota
de vez em quando.
— Então elas se conheciam. Temos algo com
o que trabalhar, certo?
— Sim, mas é aí que fica mais estranho.
Sabrine permaneceu no abrigo com o nome de
Emaline Fontes. E segundo seu cadastro no local,
ela nasceu no Rio de Janeiro, Brasil.
— Brasil? Será que Emaline é o verdadeiro
nome dela?
— Difícil, já que Emaline Fontes foi
assassinada dois meses depois que a Brin fugiu do

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abrigo. E Theresa Vega foi embora para o Brasil.


Isso está cada vez mais confuso. De alguma
forma, ela conheceu Emily Green, que usava o
nome de Theresa Vega. As duas tinham alguma
ligação, então Emaline é assassinada e Theresa
foge. Como ela veio parar nos Estados Unidos? E
por que usa o nome dos pais da Emily?
— Estou indo para o Brasil. Vou procurar por
Theresa Vega, e pesquisar sobre Emaline Fontes.
— Faça isso. Vou te transferir algum dinheiro
para ajudar com os custos até encerrarmos esse
trabalho.
Encerro a ligação e penso em ir até Brin e
contar toda a verdade, dizer a ela que mandei
investigá-la e fazê-la falar sobre o que aconteceu.
Chego a descer do carro, mas desisto no meio do
caminho, ela não vai falar. E ainda vai ficar furiosa
comigo por ter invadido assim sua privacidade.
Ainda não é dessa vez que vou descobrir quem
realmente é Brin Vega.

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Capítulo 11
Brin
— Você está ficando maluca, Brin? Recusar
uma quantia obscena dessas! Amor, se ele me
oferecesse metade disso não teria buraco no meu
corpo que eu não daria pra ele. Se eu fosse seu
cafetão, estaria a ponto de matá-la agora!
— Só que você não é meu cafetão. E não
posso fazer isso, você sabe do meu acordo com o
pai do Stephen.
Tyler me encara com as sobrancelhas
arqueadas e sua melhor cara de bosta.
— É isso o que a está impedindo? Tem
certeza? Por que esse acordo acaba no final de
semana, ou com você recebendo a bolada e ficando
livre, ou com nós dois fugindo do que quer que ele
vá expor sobre o seu passado! Você pode combinar
com o gato alemão para semana que vem!
— Ty, acorda! Não estamos em um filme!
Quando que um homem como ele vai simplesmente
me oferecer um valor desses por uma semana de
sexo?
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Ele anda até mim e me segura pelos ombros,


sacudindo-me em seguida.
— Acorda você, garota! Não queria ser a
Vivian? Ter seu dia de “Uma linda mulher”? O seu
Edward não é Stephen Ryan, é este alemão gostoso
e rico que está disposto a pagar um valor tão alto
por você! Exatamente como no filme! Vai jogar seu
dia de Julia Roberts fora desse jeito?
Penso no que ele disse, é muito dinheiro, um
cara aparentemente legal, tudo o que sonhei. E
então me lembro da cara de Stephen quando me
disse que isso o feriria, e me sinto fraca por não
poder feri-lo com isso, se irei feri-lo muito mais até
o final de semana. Será que ele vai me odiar menos
se eu atender seu pedido?

Quando a noite chega, Stephen ainda não me


procurou, e não sei se eu deveria dar esse primeiro
passo e fazê-lo eu mesma. Não depois do clima
estranho que ficou entre nós após o alemão ter
esfregado na cara dele o que faço para viver. Sei
que o que o afetou não foi o risco de eu dormir por
dinheiro com um adversário de luta dele, e sim que

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isso é o que eu faço. Isso é o que ele me verá fazer


se estiver comigo. Começo a pensar em outras
opções, o que poderia fazer sem que tivesse que ter
vínculos empregatícios? Não posso mais deixar
rastros, paguei caro pela última vez em que o fiz.
Fico alguns minutos com o telefone na mão,
mas acabo me acovardando e não ligo para ele.

Na manhã seguinte, sinto-me estranha ao


olhar o celular e não ver nada dele. Começo a
pensar com certo pesar, que ele desistiu do que
quer que estivesse planejando para nós dois.
Desistiu após presenciar alguém tentando me
comprar, algo tão corriqueiro para mim que
esqueço o quanto soa absurdo para outras pessoas.
E revivendo nossa noite juntos, tudo o que ele fez e
falou, só encontro essa explicação para seu sumiço.
Penso em ir até a casa dele, e no impulso,
deixo o medo de lado e faço isso, afinal de contas,
ele me deu uma chave. Porém, assim que desço do
táxi o avisto com uma mulher. Os dois conversam
animados e entram no carro dele. Ela é alta, linda,
os cabelos cacheados e volumosos, a pele negra e

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um corpo escultural. Anda tão elegantemente sobre


aquele salto que me sinto uma idiota com essa
sandália de dedos no pé. Peço ao taxista que espere
enquanto o observo abrir a porta de seu carro para
ela, exatamente como faz comigo. Como deve fazer
para todas.
Irritada, principalmente comigo mesma por
ter me permitido envolver com ele emocionalmente
o bastante para sentir ciúmes, entro no táxi, apago
seu número e mensagens do meu celular e tento
controlar essa vontade absurda de quebrar coisas.
Ao menos sei que não irei dar o braço a torcer e
ligar para ele, já que não sei seu número de cor e o
deletei totalmente do meu celular.
E se ele nunca mais vier atrás de mim?
— Ah, moço, como minha vida é vazia! —
resmungo com o motorista que me olha pelo
retrovisor com um sorriso.
— Não deveria, é jovem e linda, tem toda
uma vida pela frente e muito tempo para enchê-la
daquilo que mais gosta.
— O que eu mais gosto não está nem aí para
mim. E o que me dá atenção não é o que eu quero.
Estou me sentindo uma adolescente desses

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romances com triângulo amoroso, sabe? Esse tipo


de triângulo que só acontece na cabeça da
protagonista porque na verdade ambos estão
cagando para ela? Pois é, essa sou eu, Brin Vega,
protagonista solitária de um romance sem final
feliz.
Ele ri alto, e tenta controlar-se quando lanço
minha cara de mágoa em sua direção.
— Você ainda tem tempo de mudar o seu
final.
— Não tenho meios.
— Encontre.
Estou prestes a responder quando vejo algo
que chama minha atenção e dou um grito pedindo
que o motorista pare o carro. Ele se assusta tanto
que freia o carro na mesma hora, e desço apressada
ao avistar Caitlin Ross, o amor da vida do Stephen,
sendo levada por um homem. Aproximo-me dele
por trás e pulo sobre suas costas.
— Corre, Caitlin, entra no carro — grito.
— Mas e você?
— Eu sei me virar, fui criada nas ruas. Saia
daqui!
Ela corre até o carro e o acerto com um chute
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no pênis antes que ele me acerte. O segurança do


prédio em frente vem em meu socorro e o homem
misterioso desaparece, não vejo para onde foi.
Eu não tenho o número da Caitlin nem
qualquer contato dela, ou do Colin, ou de quem
quer que seja. Poderia pedir ao Stephen, mesmo
que isso vá mandá-lo imediatamente em defesa de
sua ex, mas ao rolar a tela de contatos no meu
celular dou-me conta que contém apenas um
número ali: o do Tyler. O que me lembra que excluí
Stephen.
— Isso, vida! Parabéns! Quando sou forte e
tomo uma atitude você bate com ela na minha cara!
Sem saber o que fazer e preocupada com a
Caitlin, sento-me na calçada e espero que ela
apareça.

Não demora para que ela volte, parece


totalmente sem rumo e me diz meio tremendo que
Colin foi preso. Mais uma vez, me puno
mentalmente por ter excluído o número de Stephen,
mas Caitlin o tem e ligamos para ele do celular
dela. Percebo certo pânico misturado a ansiedade

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que sinto enquanto o celular chama, o pânico é por


medo de ele atender a chamada dela com todo amor
em sua voz. E a ansiedade é que eu não esteja
fantasiando totalmente a relação que quase temos e
assim sendo, ele vai atender o telefone como se
fosse qualquer pessoa ligando.
— Oi, Caitlin — sua voz é normal e quase
grito em comemoração, o que seria péssimo devido
ao estado catatônico de Caitlin ao meu lado no táxi
que pegamos.
— Stephen, é a Brin. Precisamos da sua
ajuda.
Conto por alto o que houve e marcamos de
nos encontrar na empresa do pai dele, aquela em
que ele não trabalha mais, para que um amigo dele
advogado possa nos ajudar. No caminho, tento
acalmar a Caitlin, dizer que tudo dará certo,
enquanto me pergunto se apesar do quanto me
importo com Stephen, seria um dia capaz de amar
com a intensidade com que ela ama o Colin.
Para nossa sorte, Stephen estava conversando
justamente com o agressor da Caitlin quando
chegamos à empresa, e acabamos envolvendo-o em
toda a história. Colin está preso injustamente e pela
maneira como Stephen olha para Caitlin, prevejo
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antes que ele diga, que irá ajudá-los. Vai ajudar


mais uma vez Colin Hanson por causa de Caitlin
Ross.

Deixamos Caitlin em casa após eles


combinarem de irem juntos até a prisão falar com
Colin, chamaram mais algumas pessoas, incluindo
um advogado muito bom. Eu claro, fui excluída
dessa porque não entendo nada de direito e não
poderia ajudá-los. Ajudamos Caitlin a sair do carro
e ir até a porta de seu apartamento, e sei que ela vai
ficar bem porque a determinação que vejo em seus
olhos fará com que ela seja forte pelo homem que
ama. Quando nos despedimos, do nada, ela me
abraça:
— Obrigada por tudo, Brin. Fico feliz que
todo esse inferno tenha servido ao menos para que
eu ganhe uma amiga nova.
Amiga. Só tive uma amiga na vida, e ela
pagou caro por isso. Mas essa foi outra vida, sou
outra pessoa agora, a protagonista solitária, não
posso recusar amizades. Não são muitas as pessoas
que querem ter qualquer tipo de relação comigo

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quando esta não inclui sexo ou dinheiro.


— Pode contar comigo, Caitlin. Vai ficar
tudo bem.

Apesar de eu dizer que não fazia a menor


questão, Stephen está me levando em casa. Minha
língua coça para perguntar quem era a beldade com
ele mais cedo, mas deixo que meu orgulho fale
mais alto e decido continuar curiosa.
— Você está bem com tudo isso? —
pergunto. — Ajudar o Colin a se ver livre e com a
Caitlin.
— Não ficaria feliz por vê-lo preso
injustamente.
— Não foi isso o que perguntei, mas não
precisa responder se não quiser.
Ele sorri, olha para mim pelo canto do olho e
para o carro em frente o meu prédio.
— Estou bem com isso, Brin. É a coisa certa,
que os dois sejam muito felizes. Eles me ajudaram
quando precisei, ela resgatou você, não custa
devolver o favor.
Assinto, meu humor melhorando bastante por
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ele estar em contato com ela apenas por minha


causa. Ou será que estou sendo a desculpa perfeita
para uma reaproximação dos dois?
— Você fala outra língua além de inglês? —
pergunta de repente, mudando totalmente o rumo
da conversa.
— Sim, espanhol.
Ele me encara esperando por mais alguma
resposta que não faço ideia qual seja.
— Você fala português? — pergunta
especificamente e preciso me lembrar de respirar
após alguns segundos.
— Por quê? Inglês e espanhol não estão bons
o bastante para você? — tento brincar para
disfarçar o quanto sua pergunta me incomodou.
— Uma turista me encomendou uma sessão
de fotos, mas ela é de Portugal e não entendo nada
do que diz, o inglês dela é péssimo. Acha que
poderia ajudar-me?
Quase cantarolo alto pelo alívio que sinto.
— Claro! Para sua sorte, falo português. Me
mostra o que ela te mandou e traduzo para você.
— Que bom! Mas não estou com o e-mail
dela aqui agora, eu te mando, pode ser?
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Não entendo porque ele não pode olhá-lo em


seu celular, mas apenas assinto. Ele sai do carro
para abrir a porta para mim, e infelizmente só
percebo o que vai fazer quando já é tarde demais
para que eu mesma a abra, então travo a porta por
dentro, impedindo seu gesto de gentileza. Stephen
franze o cenho e bate no vidro para que eu a
destrave, mas finjo não ver. Ele então dá volta e
entra de novo no carro, sua expressão totalmente
confusa.
— O que houve, Brin? — pergunta
preocupado e destravo a porta com os olhos fixos
nele, abrindo-a sem seguida.
— Não preciso que abra a porta para mim.
Dispenso sua gentileza.
Ele sorri, achando graça da minha cena.
— Posso saber porque? Até ontem você
amava a minha gentileza.
— Eu não sou qualquer pessoa, Stephen, não
quero ser tratada como você trata qualquer pessoa.
Saio do carro e como previ, ele vem atrás de
mim. Segura minha mão antes que eu passe pela
portaria do prédio.
— O que acontece nessa sua cabecinha, Brin?
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Isso é por causa da Caitlin? Porque abri a porta


para ela mais cedo?
— Para ela, para sua amiga elegante que você
levou para conhecer seu apartamento. Para
qualquer mulher que você trate com essa gentileza,
com esse papinho furado de ser virgem, sei bem
como isso funciona.
— E como isso funciona? — pergunta
achando graça.
— Você aparece todo lindo e divertido, com
toda essa elegância e cuidados, com esse papinho
de esperar a garota certa para fazer sexo. A mulher
fica toda encantada, toda iludida achando que vai
ser sua primeira, bem apaixonadinha, e aí você joga
seu balde de água fria na pobre coitada.
O sorriso que se estende de orelha a orelha
em seu rosto não é nem de longe a reação que eu
queria dele. Não há nada de explicação de quem era
a mulher, nada de dizer que apenas eu sei sobre sua
virgindade. Há apenas esse sorriso debochado, esse
sorriso que odeio.
— Não sabia que você estava apaixonadinha
por mim, mas é muito bom mesmo saber. Se você
quiser fazer alguma coisa mais tarde, me liga.

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Fecho o portão mantendo-o do lado de fora e


digo:
— Adoraria, mas excluí seu contato do meu
celular.
Ao invés de ficar chateado, ou ao menos
surpreso, ele fica feliz. Seu sorriso se estende ainda
mais e o filho de uma mãe tem a audácia de
mandar-me um beijo antes de dar as costas e entrar
em seu carro.
Pouco depois, chega uma mensagem dele:

Ela não viu meu apartamento, nos


encontramos na delicatessen que tem abaixo,
lembra-se? E é amiga do meu pai, não minha.
Não apague mais o meu número, vou querer
saber como você o salvou na sua agenda. O seu
nome aqui está como diabinha.

Não respondo, mas o salvo de novo na


agenda e volto a ter dois contatos no meu telefone,
Tyler e Suculento.

À noite, decido parar de bancar a pirracenta,


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e mesmo tão incerta sobre como agir, e até mesmo


como sentir as coisas que ele me faz sentir, decido
procurá-lo, apenas porque sinto falta de estar perto
dele. De falar com ele, vê-lo provocar-me ou
provocá-lo. Não consigo tirar a sensação de que
estou cometendo um erro, que deveria me
resguardar mais quando subo na moto. E mesmo
ciente disso, ainda assim escolho me arriscar,
porque por ele parece valer a pena. Porque não
saberei se vale, caso não tente.
Estaciono em frente o seu novo edifício, e
assim que tiro o capacete, avisto Donald Ryan
saindo do prédio. Sua cara não parece das melhores
ao me reconhecer e vem a passos largos até mim.
— Então você frequenta a casa dele —
observa a contragosto.
— Acho que foi para este fim que ele se
mudou para cá.
— É bom mesmo que venha, o seu prazo está
acabando.
Engulo em seco, eu havia me esquecido
totalmente sobre esse maldito prazo.
— Você está se enrolando, Sabrine. O fez
sair da própria casa. Você tem três dias, faça o test

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drive e faça-o voltar para casa.


— Isso não depende de mim, foi escolha
dele.
— Não interessa! Obviamente ele se importa
com sua opinião, então convença-o a voltar para
casa.
— Esse não era o nosso acordo — reclamo.
— Agora é. Três dias.
Ela sai andando em sua arrogância, como se
fosse mesmo o dono do mundo, capaz de controlar
as pessoas apenas com sua vontade.

Giro a chave na fechadura devagar, temendo


por um momento o que irei encontrar atrás da
porta. Uma música alta toma todo o ambiente e
avisto Stephen deitado no chão da sala, o braço
cobrindo os olhos, não sei dizer se está dormindo
ou apenas se recuperando de uma conversa difícil
com seu pai. Aproximo-me devagar e chamo por
ele, mas ele não me ouve. Abaixo o som e ele tira o
braço do rosto, sorrindo quando me ver.
— Então você salvou meu número —
comenta satisfeito.
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— Quis te fazer esse favor. Está tudo bem?


Ele assente, mas seu sorriso gostoso some.
Tiro os sapatos e jogo a bolsa para o lado,
depositando-me ao seu lado no chão, deito-me
recostada ao sofá e bato em minhas pernas para que
ele coloque a cabeça no meu colo. Rapidamente ele
o faz.
Acaricio seu cabelo enquanto tento fazê-lo
falar.
— O que houve? Vi seu pai saindo do prédio,
foi uma conversa difícil?
Ele tira uma das minhas mãos de seu cabelo e
mantem em seu peito, sua mão grande cobrindo-a,
protegendo-a. Seu coração batendo sob meu toque.
— Não gostaria de falar sobre isso.
— Não precisa, então. Mas se você achar que
colocar para fora irá ajudá-lo, eu estou aqui.
Ele me olha com um sorriso de admiração e
meu coração dá aquele salto em contentamento.
— Eu amo que você seja assim — diz.
— Você precisa ser mais específico —
brinco.
— Carinhosa, preocupada, atenciosa e tão
doce!
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— Você não está me vendo como sou de


verdade — digo com tristeza.
— Se você soubesse o bem que me faz,
jamais diria tal coisa.
— Se eu te faço tão bem, por que não divide
comigo o que o está afligindo? É o seu pai? Ele não
deve ter ficado nada feliz por você estar aqui, não
é?
Sinto um aperto no peito e não consigo dizer
a ele que deveria voltar para casa, como seu pai me
mandou fazer. Respiro fundo e me preparo para
fazê-lo quando ele decide se abrir.
— Não, nem um pouco. Mas isso não vem de
agora, minha relação com meu pai desandou há
muito tempo, infelizmente não acho que possa ser
recuperada. Quando eu era mais novo, ele era o
meu herói, eu sonhava em ser como ele. Até que
descobri os casos que ele tinha. Ele me levou para
conhecer algumas daquelas mulheres, dizendo que
eu também faria isso quando tivesse a minha
família, que era uma coisa normal. Conforme fui
crescendo, fui entendendo a dimensão do segredo
que ele escolheu para dividir comigo, e esse
segredo tornou-se um fardo. Eu já não conseguia
olhar para a cara da minha mãe, porque sentia que a
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estava enganando.
— Sinto muito que tenha passado por isso —
digo, e o que não digo em voz alta é: “Seu pai é do
mal!”
Ele aperta minha mão antes de continuar, e
aperto a sua de volta, encorajando-o.
— Um dia, eu não aguentei mais, tinha doze
anos na época, contei tudo a minha mãe. Pensei que
eles fossem se separar, e nós ficaríamos com ela e
seríamos mais felizes sem meu pai. Mas não foi o
que aconteceu, ela aceitou calada, perdoou mesmo
que ele nem tenha se preocupado em desculpar-se.
E deixou de ser ela, tornou-se fria e triste, sempre
triste. Por anos carreguei essa culpa, por anos
pensei que a culpa fosse minha.
— Mas nunca foi sua. Você era uma criança
e seu pai não tinha o direito de acabar com sua
família desse jeito. É por isso que você espera essa
mulher certa para transar?
— Em parte, sim. Se uma mulher não
consegue me conquistar de verdade, não acho que
valha a pena entregar-me a ela. Não quero ser como
ele, buscando prazer em diferentes mulheres, não se
contentando com nenhuma delas. Quero amar

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alguém, ser apenas dessa pessoa com tudo de mim.


— O que mostra o quão maravilhoso você é.
Poderia facilmente ter seguido os passos dele, os
conselhos dele e ser só mais um como tantos
outros, mas você escolheu ser você. Eu o adoro
tanto por isso!
Não vou dizer a ele que deve voltar para a
casa, ele não deve. Deve seguir seu caminho, seus
próprios sonhos, ser livre.
Ele se levanta do meu colo e deposita um
beijo preguiçoso nos meus lábios. Acaricia meu
cabelo com gentileza, antes de bater em suas pernas
e me pedir que deite. Obedeço prontamente, e ele
começa a acariciar meu cabelo.
— Agora é sua vez.
— Minha vez de quê?
— Nosso acordo de sempre, eu contei algo
sobre mim, conte-me algo sobre você.
— O que você quer saber?
Ele pensa por um tempo no que quer me
perguntar, por fim diz:
— Como você se tornou garota de programa?
Mas conte-me a verdade, se não puder fazê-lo, não
responda.
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Respiro fundo e decido dizer a verdade. O


máximo possível da verdade até que eu o leve para
a cama e acabe com tudo. Penso se o que vou dizer
poderia dar a ele alguma pista sobre meu passado
enterrado, mas acredito que não. Não é como se ele
estivesse cavando sobre isso, de toda forma.
— Tudo bem. — Fecho meus olhos enquanto
seus dedos acariciam meu cabelo e sinto-me no
divã do psicólogo mais gostoso do mundo todo. —
Foi um engano. Quando eu me mudei para cá, há
dois anos, precisava de uma nova identidade.
Escolhi este nome e sobrenome por terem
significados importantes para mim, e me passei por
universitária para conseguir uma vaga em uma
fraternidade, porque não tinha onde morar.
Acontece que Sabrine Vega é o nome de uma
conhecida garota de programa de Nova York, que
foi embora um ano antes de eu me mudar para cá.
Ela era tipo uma lenda, todos foram seus clientes,
mas ninguém sabe dizer como ela é. Um aluno
ligou as coisas, o meu nome, o tipo de roupa que eu
usava, e me ofereceu dinheiro uma noite para
dormir com ele.
Há o silêncio e abro um olho para ver seu
rosto, há um sorriso nele.
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— Por que será que isso é tão a sua cara? —


comenta divertido. — Assumir sem querer a
identidade de alguém, e esse alguém ser uma garota
de programa.
— Não para por aí — advirto. — Este garoto,
Anthony, me fez essa proposta e resolvi aceitá-la
porque precisava muito do dinheiro. Mas ele só
queria fazer ciúmes em sua namorada que o estava
esnobando, passamos a noite conversando nus na
cama e dei uns bons conselhos a ele. Ele foi embora
sendo um amigo. Mas, resolveu assim mesmo fazer
ciúmes na namorada e espalhou por todo campus
que eu era garota de programa e das boas. Então,
no dia seguinte, outro aluno me procurou, depois
outro e assim por diante. Eu te avisei, a verdadeira
história o decepcionaria.
— Na verdade, ela me deixou intrigado.
Como você decidiu que é ruim de cama?
— Quando eu tive que transar com o
primeiro garoto na minha vida. Foi quando me
mudei para a Espanha, eu estava na rua, com frio e
fome e tinha apenas uma mochila com o dinheiro
que havia recebido e poucas peças de roupa. Fui
assaltada na primeira noite e me levaram tudo.
Perambulando, fui parar em um barzinho qualquer,
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e o atendente, um moleque de dezoito anos, se


compadeceu da minha história e me ofereceu
abrigo em um quartinho em cima do bar. Só que
havia um preço para essa estadia, e o paguei porque
não sabia o que estava fazendo. E bem, não senti
nada. Quer dizer, eu senti o ato em si, e mais nada.
Não foi bom nem ruim, nem prazeroso ou doloroso.
Não foi nada.
— O que aconteceu depois? Quantos anos
você tinha? Onde morava antes de se mudar para a
Espanha?
— Quantas perguntas! Eu tinha quatorze
anos, no dia seguinte encontrei o moleque que
havia me assaltado e recuperei minha bolsa com
minhas coisas dando uma surra nele, infelizmente
não tinha mais o dinheiro. E...
Não posso dizer a ele. Estaria entregando
demais. Sento-me e olho em seus olhos verdes
curiosos, acaricio seu rosto e tento ser sincera:
— Não posso dizer mais nada, Stephen, sinto
muito. Se eu pudesse dividir isso com alguém, o
faria com você, com toda certeza, mas não posso.
Ele me leva para seu peito e beija minha
testa.

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— Tudo bem, adorei conhecê-la melhor. Por


que você saiu do campus?
— O que você acha? Fui expulsa. Ninguém
queria conviver com uma prostituta na fraternidade.
Mas aí eu já tinha juntado uma mixaria para alugar
o local onde moro hoje.
— E aí você atendeu muito mais clientes para
alugar um apartamento no Royal, certo?
— Então, sobre isso, ele pertence a
verdadeira prostituta Sabrine Vega. Um dia quem
sabe, ela vai aparecer e me processar por assumir
sua vida e sua casa, mas confio que ela foi embora
com um milionário pervertido e nunca mais vai
colocar os pés em Nova York.
Ele ri e me beija. Sem qualquer julgamento
ou crítica pela vida “fácil” que escolhi seguir. Sem
mais perguntas sobre meu passado secreto. Apenas
aquele olhar quente, o beijo gostoso, o abraço
aconchegante. É tão fácil perder-me nele que nem
percebo até que meu coração esteja totalmente no
ar, flutuando apaixonado por sua órbita. É tão bom
estar com ele que penso que a qualquer momento
isso será tirado de mim, porque é bom demais para
ser meu.

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Lembro-me então das ameaças de seu pai e


tento pesar numa balança moral o que seria pior,
que ele soubesse o meu acordo com o pai dele, ou o
meu passado. E entendo sem sombra de dúvidas
que meu passado jamais poderia ser revelado.
Preciso abrir mão dele, e cumprir o acordo com seu
pai para manter-me em segurança.
Enfio meus dedos em seu cabelo e aprofundo
os beijos leves que me dá, nossas línguas se
embalando em uma dança deliciosa. Passo minhas
pernas em volta de seu corpo e ele me prende a ele
com seus braços fortes, enquanto me esfrego sobre
seu pau, sentindo-o enrijecer sob mim. Desço meus
beijos por sua barba por fazer e seu pescoço, ele
geme, totalmente entregue a mim. Tiro sua camisa,
admirando seu corpo lindo, as tatuagens que
também beijo, o calor de sua pele, seus braços nus
à minha volta! Como eu poderia não amá-lo?
Sinto seu pau duro, e afasto-me, abrindo o
zíper de sua calça sob seu olhar atento. Espero que
ele vá me impedir, mas além do desejo em seus
olhos há aquele sorriso idiota. Ele vai me impedir
na hora mais errada possível. Mesmo assim tento.
Apenas para senti-lo um pouco que seja. Seguro
seu pau duro e o acaricio devagar, Stephen fecha os
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olhos e geme, e não parece prestes a me


interromper quando levo minha boca até sua
ereção. Saboreando a pele macia no membro rijo,
sentindo-o alcançar minha garganta sem que eu
consiga colocá-lo todo na boca. Minha mão se
movimenta sobre ele depressa, enquanto minha
boca o saboreia, ele segura meus cabelos e pede
que eu não pare. Como se eu fosse capaz disso.
Observo seu rosto tão lindo, os olhos fechados, a
boca aberta em puro prazer e sou eu que estou
dando isso a ele.
Num segundo sinto-me no paraíso, tendo-o
sob mim, rendido assim, pedindo por mais. E no
seguinte, a campainha toca, e ele parece se assustar
tanto, que me afasta e se levanta antes que eu me dê
conta do que aconteceu.
— Não devíamos ter feito isso — diz com a
respiração pesada e um sorriso travesso. — Não
assim. Você me tira o juízo, garota.
Ele me ajuda a levantar e arrumar meu cabelo
enquanto a campainha insistente soa e ele se
recompõe. O volume em sua calça não dá para ser
disfarçado. Ele deposita um beijo na minha boca e
diz:
— Vamos continuar com isso já, já. Mas do
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jeito certo.
Não faço ideia do que ele quer dizer, do que
seria jeito certo para ele, mas me acomodo em sua
poltrona para esperá-lo dispensar quem quer que
seja o infeliz que nos interrompeu. É aí que ela
entra, a mulher elegante que estava com ele mais
cedo. Que ele disse ser amiga de seu pai.
Ela o abraça e olha diretamente para sua
ereção, então olha para mim com desdém. Mas
aproxima-se e me estende a mão, fazendo-se de
educada.
— Você é Sabrine Vega, certo?
Assinto tocando sua mão macia demais e isso
me irrita.
— Sou Rebecca Thornton. Amiga do
Stephen. Nossos pais sempre disseram que a gente
ia se casar um dia — diz com um sorriso de aviso
para mim e sorrio de volta.
— Pais e seus grandes enganos. Quem pode
culpá-los por serem tão idiotas?
Seu sorrisinho falso some e Stephen me lança
seu olhar de aviso para frear minha língua.
— Um amigo meu estava interessado em
você, Sabrine. Dei o endereço do seu site para que
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ele contrate seus serviços.


— Rebecca! — Stephen ralha, mas me
levanto arrumando os seios tortos no sutiã pelos
movimentos que fazia com Stephen.
— Que gentileza a sua, Rebecca querida!
Mas já fiquei rica vendendo meu corpo, não faço
mais isso por dinheiro. Estou pedindo aos meus fãs
que por favor, parem de me divulgar. Não é mais
necessário. Agora eu só transo com os homens
gostosos e ricos que encontro carentes por aí.
Lanço um olhar para Stephen que tenta
conter um sorriso, e outro para a bela negra que
parece ter engolido um bolo de pelos, tamanha
dificuldade tem ao engolir em seco. Pego minha
bolsa e meu casaco, e saio dali, já que Stephen não
irá se livrar dela tão cedo. Vou esperar por sua
ligação para continuarmos de onde paramos.

Mas a ligação não vem naquele dia, e fico me


perguntando se ele cuidou daquela ereção com ela,
ao invés de mim. E fico extremamente sentida com
a possibilidade de não ser a primeira na cama dele,
nem a única.

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— Você não vai ser a única, sua idiota! Pare


já com isso! — ralho a mim mesma, como se fosse
adiantar alguma coisa saber o quão burra estou
sendo, quando está claro que mesmo ciente disso,
vou continuar sendo burra com ele.

No final do dia, ligo para ele, já que não me


procura. Penso muito antes de fazê-lo, mas não
somos apenas amigos, o jeito como ele me olha e
me beija, como me entende e toca. Ele sente algo
mais, ao menos uma atração. Estamos a um passo
de ele desistir de perder sua virgindade com a
garota perfeita para então perdê-la comigo. Meus
pensamentos começam a seguir o rumo de quais
profissões eu poderia ter sem vínculo empregatício
que pudessem me sustentar caso isso entre nós dê
certo. Mesmo sabendo que nunca vai dar certo.
Ele atende no sexto toque, quando já pensava
que não o faria, e ouço o barulho dos carros
passando ao fundo.
— Oi, onde você está? — pergunto sentindo
meu peito se agitar ao ouvir sua voz.
— Chegando ao beco, está tudo bem?

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— Por que você está aí?


— O Campeonato Sanguinário do Beco, da
qual estou participando, lembra-se?
Desligo o telefone sentindo-me uma idiota.
— E você pesquisando o que mais poderia
fazer na vida para estar com ele, sua idiota!
E como ser pouco idiota é bobagem, assumo
meu manto da idiotice e vou até o beco, ver se
coloco um pouco de juízo na cabeça perdida de
Stephen Ryan. O que está havendo comigo para
tirar alguém do mau caminho, eu não faço a menor
a ideia.

Dois lutadores se matam no ringue e respiro


aliviada por não ser Stephen, ele está em um canto,
analisando a luta com seus olhos de campeão,
pegando tudo que é possível sobre seu próximo
adversário.
O chamo até um canto e falo o mais baixo
possível:
— Achei que você não fosse mais vir até
aqui.
Ele parece confuso com minha irritação.
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— Estou quase vencendo este campeonato,


por que não viria até aqui?
— Stephen! Depois do que o Thor te disse.
— Fala baixo! — ralha afastando-se ainda
mais comigo.
— No Luck você recebia pelas apostas, sei
que ganhava um bom dinheiro. Mas neste beco?
Por que está fazendo isso? O que você vai ganhar?
Ele aponta para algo pichado no muro, e ali
há a quantia que o campeonato vale, quinhentos mil
dólares.
— Tudo isso? De onde vem esse dinheiro se
não tem um público para pagar as apostas? —
pergunto surpresa.
Ele coloca as mãos nos bolsos como se fosse
me confessar algo terrível.
— Você não vai querer saber. Os lutadores
daqui não são pessoas boas, Brin. Não estão do
lado da lei.
Quase sinto meu queixo tocar o chão,
tamanho o meu choque.
— E você é a merda de um advogado! O que
pensa que está fazendo compactuando com algo
como isto? Você não é assim, você é bom e correto.
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Por que está fazendo isso?


Ele abaixa a cabeça, procurando uma
resposta que não encontra, mas que eu soube desde
a primeira vez em que ele me trouxe até aqui.
— Porque você quer ser ele. Quer mostrar a
Caitlin que pode ser errado, o cara mau, como o
Colin. Quer competir porque ela preferiu o cara
mau ao bonzinho, aproveitar-se que ela está
sozinha agora, não é? Isso é tão ridículo!
Isso me magoa de tantas maneiras que nem
sei começar a entender.
— Não é por isso. Eu precisava de uma
distração, nada mais fazia sentido e isso me ajudou.
— Eu estou aqui. Não sou distração o
suficiente para você?
— Sim, Brin. Você é mais do que suficiente
para mim, não questione isso. — Ele tenta me
abraçar, mas me afasto. Não quero que perceba que
está me magoando. — Só preciso terminar o que
comecei, depois que vencer este campeonato, juro
que nunca mais piso aqui.
— Depois que você tiver uma coroa de novo
para mostrar a ela?
— Não tem a ver com ela. Pode ter tido no
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começo, você está certa. É assombroso como


consegue me decifrar enquanto eu não sei quase
nada sobre você. Mas não é mais o motivo, eu
realmente não me importo mais. É pela adrenalina,
pela emoção. Você não entenderia...
— Ryan, sua vez! — seu oponente chama e
ele me lança um último olhar antes de ir.
O oponente dele, um ruivo grande demais e
muito forte, sorri para mim e diz:
— Ei, coisa linda! Vou tentar não acertar o
pênis do seu namorado.
— Ah, você pode quebrá-lo, se quiser. Quem
sabe assim ele não aprenda uma lição?
Stephen ri junto com os caras que zombam
dele.
— O prejuízo será seu esta noite, querida! —
provoca.
Ele quer brincar comigo, me iludir, quebrar o
clima pesado, quer que eu ria e brinque e deixe
tudo bem. Estou a ponto de virar as costas e ir
embora, quando noto seu olhar fixo no meu,
aguardando minha reação. Ele precisa disso,
precisa saber que vou ficar e torcer por ele.
E eu deveria virar as costas e ir embora agora
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mesmo, mas como a idiota que sou, dou de ombros,


a contragosto, cedendo.
— Tenta não machucar muito, por favor. Ele
está apenas me iludindo, mas vou dar um voto de
confiança.
Ele sorri, aquele sorriso lindo e aliviado e me
agradece com um gesto de cabeça. E então a luta
começa.

Stephen a vence com dificuldade, foi atingido


algumas vezes e há sangue escorrendo de sua boca.
Mas guardo no bolso meu impulso de cuidar dele e
vou embora, ouvindo ao fundo o sino soar três
vezes, indicando que ele é o campeão. E durante
todo o caminho até minha casa, sinto aquele aperto
no peito, meus olhos ardem e parece que vou
sufocar. Será que estou ficando gripada? Eu nunca
fico doente! Olho para o apartamento onde moro e
vejo a sombra de Tyler dançando feito louco pela
janela, há mais alguém com ele e não vou ser a
colega de apartamento chata que vai estragar o
clima deles com sua primeira gripe sofrida.
Pego a moto na garagem e vou para minha

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segunda casa. Cumprimento os recepcionistas


quando entro, são sempre legais comigo, eles
pensam que a verdadeira prostituta Sabrine passou
seu legado a mim. Entro no meu local de trabalho,
abandonado há semanas e jogo-me sobre a enorme
e confortável cama.
— Por que mesmo você não mora aqui, Brin?
Ah é, porque você tem medo de ser assassinada
durante a noite pela verdadeira dona deste lugar.
Enfio minha cabeça debaixo do travesseiro e
tento fazer a dor passar, esse incômodo no peito, e
então grito abafando minha voz pelo travesseiro.
Por que isso tem que doer? Mal acredito quando
lágrimas correm livres pelos meus olhos. Que
merda estou fazendo? Não tenho qualquer direito
de estar magoada com ele. Preciso adulá-lo, e levá-
lo para a cama e então sumir no mundo depois. Não
pode mais ser Miami, porque o linguarudo do Ty
deu com a línguas nos dentes. Talvez possamos ir
para o Texas, ele iria odiar isso, e vai ser bom para
ensiná-lo a não compartilhar nossos segredos.
O telefone toca e a recepcionista diz que há
alguém lá embaixo querendo falar comigo. Lavo
meu rosto para disfarçar minha vida ruim, e desço
para encontrar Simon, o alemão que me fez a
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proposta.
— Oi Brin, desculpe vir sem avisar. A
interrompi?
— Não, eu estava sozinha. O que você quer?
— Saber se pensou na minha proposta. Você
não me ligou, então decidi vir até aqui.
Seus olhos percorrem todo meu corpo com
malícia, e não consigo esquecer essa sensação de
que algo está errado.
— É muito dinheiro, Simon. Muito para uma
garota de programa com quem você nunca dormiu.
— Ouvi maravilhas sobre você. Inclusive que
não atende mais por conta do Ryan. Só quero te
colocar na ativa de novo.
— Então é por isso que está insistindo assim?
Porque quer esfregar na cara dele que o venceu em
algo? Que tirou a prostituta particular dele de sua
cama?
— É algo assim, mas não me referiria a você
desse jeito, Brin. Sim, você me chamou a atenção
por estar com ele, e este é um dos motivos porque
quero tanto tê-la. E o outro motivo é que você é
realmente linda. E sabe o que faz.
Abro um imenso sorriso.
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— É, eu sei o que faço, isso não posso negar.


Portanto, vá embora, Simon. Não aceito sua
proposta, não vou voltar à ativa e nunca vamos
transar.
Uma vozinha lá no fundo da minha mente,
aquela menina má que eu era até semanas atrás,
chora copiosamente pela quantia enorme que estou
abrindo mão.
— Brin, eu...
— O que está acontecendo aqui? — a voz de
Stephen o interrompe e consigo controlar meu
coração quando ele encara Simon a ponto de pular
sobre ele. — Ela já disse que não aceita sua
proposta, vá embora Simon e não se aproxime dela
de novo.
— Todo mundo tem um preço, Stephen — o
alemão diz antes de me lançar um último olhar e ir
andando.
E faço o mesmo, caminho até o elevador e
aperto. Noto Stephen ao meu lado, mas não falo
nada com ele. Subimos em silêncio e assim que
entro no meu quarto, ele fecha a porta atrás de mim
e segura meu braço, virando com cuidado meu
corpo em sua direção.

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— Por que ele estava aqui?


— Não tenho que te dar qualquer satisfação.
— Você sabe que não é o que estou pedindo.
Eu só preciso entender, saber em que terreno estou
pisando antes de correr por ele.
— Quer saber o quê? Se vou continuar sendo
puta caso você transe comigo?
— Não fale assim!
— Você não tem direito de me cobrar nada
quando me trata como se eu fosse suficiente para
você enquanto ainda tenta reconquistar sua ex!
Você é um mentiroso!
As lágrimas correm livre por meu rosto, e
fico tão irritada por estar sendo fraca, que preciso
bater nele. Avanço sobre ele acertando-o com socos
e tapas, e facilmente ele me segura enquanto bato
em seu peito. Prende meus braços sobre seu peito,
seus olhos fixos nos meus e me debato para soltar-
me.
— Fica calma, ei, fica calma! — pede antes
de soltar minhas mãos, passar os braços pelo meu
corpo e prender-me a ele, sua boca alcançando a
minha, calando-me e acalmando-me ao mesmo
tempo em que me faz pegar fogo.
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Seu beijo não é terno e calmo, é voraz e o


desejo tanto, que isso chega a doer. Ele me guia
devagar até minha cama, espero ansiosa que me
jogue sobre ela e que finalmente terminemos o que
começamos, mas ele para ali, afasta nossas bocas
mantendo nossos corpos colados. Sua respiração
acelerada em meu rosto conforme beija todo ele.
— Não estava tentando impressionar
ninguém, porque a única que quero é você. E você
se impressiona com outras coisas, como alguém
abrindo a porta, andando de mãos dadas, ou
levando-a para jantar — diz com a voz rouca e
observo que o corte em sua boca está limpo. Ele
deve ter passado em alguma farmácia antes de me
procurar.
— Por favor, não minta mais para mim,
Stephen. Você não é cego, sei que percebe o quanto
estou envolvida e isso não é bom para nenhum de
nós dois.
— O que você quer de mim, Brin?
— Quero você! Quero seu pau dentro de mim
agora, quero acabar logo com isso antes que fique
louca.
Ele assente, pega minhas mãos e as leva aos

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lábios, beijando-as carinhosamente.


— Você quer isso, Brin? — pergunta guiando
minha mão e a pressionando em sua ereção que
pulsa sob meu toque. Sobe minha mão devagar por
seu abdome, deixando-me sentir cada um dos seus
gominhos e a rigidez do seu corpo, e para em seu
peito, onde sinto seu coração bater acelerado. —
Então primeiro pegue isso.
Como eu queria pegar isso para mim e
guardá-lo comigo para sempre! Como eu queria ser
essa pessoa que ele espera.
— Eu nunca serei a mulher perfeita que você
espera — observo sentindo o peso das minhas
palavras enquanto seu coração pulsa sob meu
toque.
— Você é a mulher que espero. Qualquer
outra que quiser isso, terá que ser como você. Estou
mais do que disposto a entregar isso para você,
Brin. Você só precisa pedir.
— O que isso quer dizer? — pergunto
olhando em seus olhos, sentindo meu coração
falhar enquanto o dele se acelera.
— Que vou te dar tudo o que você quiser de
mim, mas só o darei se realmente quiser tudo em

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mim. Você fez meu coração reagir ao mesmo


tempo em que o meu pênis. — Sorri, e sorrio de
volta, sentindo meus olhos voltarem a se encher. —
Mas não quero só sexo com você. Se você me
quiser assim, por inteiro, serei todo seu. Pense bem
sobre isso, Brin, pense muito bem. Você sabe que
não terá volta a sua decisão.
Assinto e ele deposita um beijo doce em
minha boca antes de passar pela porta e a fechar
atrás de si. E de repente não sei como reagir. Não
sei se quero que ele sinta o mesmo por mim, se caio
de joelhos em agradecimento pelo primeiro e maior
presente que ganhei da vida, ou se pulo da janela
deste quarto porque não posso ficar com ele. O pai
dele jamais permitiria isso. Ele vai me entregar e
não haverá uma história de amor com ele se eu
estiver morta.
— O que eu vou fazer?

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Capítulo 12
Stephen
— E aí, cara? Vai à festa no Campus hoje?
— Johnny pergunta do outro lado da linha. —
Devia ir, levar sua garota. Ver como vai ser sua
vida social se ficar com ela.
— Estarei mais preocupado com minha vida
sexual, pode ter certeza.
— Ih! O cara está mesmo apaixonado! Tudo
bem, seu porra! Pegue sua garota e leve aquela
bundinha linda para a festa. Você precisa se
divertir, está se tornando uma cópia da sua mãe,
preso em casa o dia todo.
Não confirmo, mas penso na hipótese de sair
com ela, para nos divertimos um pouco,
dançarmos, bebermos algo e quem sabe
conversarmos mais sobre o seu passado. Depois do
que me confessou, pensei em contar ao Dylan que
ela tinha quatorze anos quando chegou à Espanha,
que provavelmente foi parar no abrigo depois de ter
suas coisas roubadas e que algum funcionário de
um bar local se aproveitou dela, e poderia ajudar

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com alguma informação, além claro, de garantir


que a cara dele fosse quebrada para aprender a não
se aproveitar de meninas perdidas. Mas então, com
o celular na mão e pensando nela, sinto-me como
se a estivesse traindo ao fazer isso. Ela me contou o
que podia, e disse que não podia dizer mais nada.
Talvez haja algo em seu passado que seja doloroso
demais para que fale, e eu não devia descobrir isso
por conta própria, indo contra sua vontade.
Ainda estou com o celular na mão, me
decidindo entre ligar ou não para Dylan, quando a
campainha soa. Não tenho controle sobre meu ar,
mesmo sabendo que ela tem a chave e
provavelmente entraria com seu jeito atrevido, abro
a porta na esperança de que tenha vindo me dizer
que já pensou no que eu disse, e quer isso tanto
quanto eu.
Mas quando abro a porta, é Rebecca quem
me estende um belo sorriso, entrando mesmo sem
ser convidada.
— Oi, fiquei sabendo que vai ter uma festa
hoje, no Campus da sua faculdade. Poderíamos ir
juntos, o que acha?
— Agradeço o convite, Rebecca mas já
convidei outra pessoa.
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Seu sorriso some e sua expressão se torna


preocupada, quase horrorizada.
— Você não está pensando em levar Brin
Vega como sua acompanhante a uma festa da
faculdade, não é?
— Sim, não vejo nenhum problema nisso.
— Stephen, você está perdendo o juízo! Isso
seria péssimo para a imagem do seu pai! De toda
sua família! Andar por aí com uma garota de
programa é...
Estendo minha mão e ela se cala, lançando-
me seu olhar acusador.
— Não estou pagando pela companhia dela,
logo, não estarei acompanhado de uma garota de
programa. Ela vai como minha amiga, talvez, se eu
tiver sorte, como minha namorada. E é isso o que
ela será.
— O seu pai jamais aceitaria uma coisa
dessas!
— Não estou pedindo a permissão dele.
— Stephen! Abra os olhos! Você mesmo a
viu admitir que está se divertindo com você por ser
rico! Ela é como uma sereia e você está caindo no
canto amaldiçoado dela.
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Sorrio, lembrando-me do quão afrontosa Brin


pode ser quando se sente humilhada. Nem foi
preciso que eu a defendesse, ela saiu por cima,
pisando com tudo sobre Rebecca e seu preconceito.
— Ela só estava te provocando, Becca. Você
foi desnecessariamente mesquinha com ela.
Ela se faz de ofendida e pega sua bolsa, que
havia depositado sobre a mesa.
— Não sou obrigada a ficar aqui ouvindo um
insulto desses!
— Não foi minha intenção ofendê-la — digo
abrindo a porta para que ela saia.
— Bem, neste caso aceito seu pedido de
desculpas — diz animada depositando a bolsa de
volta sobre a mesa e sentando-se em seguida. —
Você tem algo gelado para beber aqui?
É, a tarde vai ser longa.

Bato em sua porta já vestido e Tyler é quem a


abre. Observa-me atentamente dos pés à cabeça e
lambe os lábios, fazendo-me rir.
— A Brin não está, mas estou todinho aqui
por você.
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— Agradeço, Tyler, mas você sabe que horas


ela volta?
— Você tem certeza que quer esperar por
ela? Sou bem menos complicado, não há segredos
no meu passado e não estou apaixonado por você,
quer dizer, ainda não, posso me apaixonar se
quiser.
— Sinto muito, Tyler, mas você não faz o
meu gênero preferido.
— Detesto héteros! — reclama. — Brin! Seu
cara está aqui!
Sorrio ao me dar conta de que ela está em
casa, e mais ainda quando me dou conta do que
Tyler disse, quando quis ser o oposto de Brin.
— Espera! Você quis dizer que ela está
apaixonada por mim?
Ele leva o dedo à boca pedindo-me silêncio
no instante em que Brin aparece, e me lança uma
piscadela, confirmando minha pergunta. Brin tem o
cabelo preso por um lápis, em um coque frouxo, já
que boa parte dele está solto sobre seus braços. Usa
uma blusa gigante da princesa Lea e
aparentemente, nada por baixo.
— Olá, e uau! Onde você vai vestido assim?
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Está delicioso!
— Que bom que gostou, Brin, minha
intenção foi mesmo seduzi-la.
— Você conseguiu. O que quer aqui?
— Convidá-la para ir a uma festa comigo.
— Festa? No campus? De jeito nenhum!
— Qual é, vem comigo! Quer mesmo me
deixar sozinho a noite toda?
— Você já é bem crescido, é bem grande
mesmo, sabe se virar — brinca e noto o tom de
malícia e provocação em sua voz.
— Ia convidá-la a dormir comigo depois da
festa.
Ela me encara pensativa, mas nega com a
cabeça.
— Você é muito bom de barganha, devo
admitir. Mas não vou a uma festa no local onde fui
expulsa por ser puta. E você não deveria querer ser
visto comigo neste local.
— É a sua chance de esfregar na cara das
garotas que te expulsaram que o crime compensa.
Ela ri alto, aquela gargalhada gostosa e tão
linda. Aquela que capturei e me fez ver um novo
sentido em tudo. A que faz meu peito se aquecer e
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minha vontade de abraçá-la crescer a ponto de eu


não conseguir impedir. Aproximo-me e a cubro
com meus braços, enterrando minha cabeça em seu
pescoço, e ela corresponde, deitando seu rosto em
meu peito, sua risada cessando aos poucos.
— Eu adoraria chegar lá com um homem
lindo, rico e cobiçado como você a tiracolo e calar
a boca daquelas idiotas, mas não posso fazer isso
com você. Eu já estou acostumada com os olhares
atravessados e as provocações, mas você não tem
que passar por isso, Stephen.
— Estou aqui, preso a você, te dizendo que
não me importo. Só me importa ter você ao meu
lado durante essa noite, durante a noite toda. Se
você não estiver gostando, a gente vem embora. E
não vou permitir que nenhum babaca faça qualquer
comentário depreciativo sobre você, sei que você
sabe se virar muito bem com as mulheres, então
não vejo por que não deveríamos ir juntos.
Ela se afasta e me observa com o cenho
franzido. Solta seu cabelo e começa a refazer o
coque, desviando seu olhar do meu enquanto
pergunta:
— Ir juntos tipo namoradinhos? É isso o que
você está falando?
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— É exatamente o que estou falando.


Ela sorri.
— Você não tem o menor juízo. Preciso de
um tempo para me vestir.
— Eu vou também! — Tyler grita de repente.
— Eu já ia de todo jeito, mas chegar lá no seu carro
vai ser muito bom para a minha reputação.
Concordo e ele vai se vestir. Enquanto
espero, vou até o quarto onde Brin se troca, e a vejo
apenas de calcinha, observando desaminada suas
roupas.
— Não sei o que vestir. Tudo o que tenho é
material de trabalho. São curtas demais, decotadas
demais.
— Não são como você gosta? Você só as usa
para manter sua pose de garota sexy de programa?
— Não, são como eu gosto. Adoro essas
roupas, mas não vou aparecer numa festa da
faculdade ao seu lado, trajando isso — diz
estendendo o vestido vermelho curtíssimo que
segura.
— Você ficaria linda usando um saco de
batatas, Brin. Se gosta dessas roupas, deveria usá-
las.
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Ela suspira olhando-me de um jeito doce e


diz baixinho em seguida:
— Como você dificulta a minha vida, Ryan.
Tira o vestido vermelho da frente do seu
corpo, revelando seus seios lindos. Sem o menor
pudor, procura por outra roupa e encontra, alguma
coisa brilhante e curta que não consigo reparar
porque meus olhos estão cravados em seus seios, e
me vem à mente a maneira como ela me tocou, as
coisas que sua boca fez comigo, o som de como ela
geme quando goza e só consigo pensar em encurtar
nossa noite levando-a direto até minha casa.
Num impulso, tiro o vestido de sua mão
jogando-o sobre a cama, seguro seu rosto e a beijo.
Tenho tanta fome dela que meu beijo é quase bruto,
tamanho desespero sinto em tê-la. Minha língua
domina a sua completamente, meus braços descem
por seu corpo seminu e a rodeiam, prendendo-a a
mim. Sinto seus mamilos intumescidos através da
blusa que uso e mesmo sabendo que estou a um
passo de perder completamente a razão, não me
afasto. Não posso. Interrompo o beijo descendo
minha boca por seu queixo e pescoço, mordiscando
sua orelha, sussurro em seu ouvido:
— Você é deliciosa, minha pequena
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provocadora.
E ela está tão entregue a mim, ao meu toque e
meu corpo que não posso simplesmente afastar-me.
É quando um barulho alto nos assusta e Tyler diz
decepcionado:
— Você não é gay mesmo, não é? Vou
superar. Mas vocês não vão se pegar agora, temos
uma festa para ir. Sabrine, pare de ser quenga e
vista-se!
Completamente sem graça, enquanto ela
apenas ri, afasto-me e tento ajeitar meu pau na
calça. Tento não olhar para ela enquanto veste o
vestido brilhante e colado demais. Vou até sua
geladeira tomar algo gelado e quando ela deixa o
quarto, tem uma maquiagem leve no rosto, ao
contrário de como faz normalmente. E não poderia
estar mais perfeita. Seus longos cabelos caem em
ondas bagunçadas, cobrindo suas costas nuas.
— Então? Muito quenga para ir à festa? —
pergunta com um sorriso.
— Você está absolutamente maravilhosa —
digo babando e ela vem até mim e me abraça. É
como um agradecimento, um sinal do carinho que
nutre por mim, um gesto que me diz tanto sobre ela

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e tem um significado tão grande!

Tyler faz questão de ser visto comigo assim


que chegamos ao Campus, mas some em seguida,
deixando-nos a sós. Pego a mão de Brin que não
parece aprovar meu gesto, mas não faz nada para
impedi-lo. E conforme ela previu, por onde
passamos, recebemos os olhares de espanto, os
cochichos, as caras torcidas.
— Chamaríamos menos atenção se você
andasse com a mão na minha bunda, ao invés de na
minha mão — comenta e tenho que admitir que é
bem possível.
— Olha aí, Stephen Ryan! Precisou pagar por
companhia esta noite? — Brandon, um babaca que
tem algumas aulas comigo, diz recebendo risadas
de seus amigos.
Solto a mão de Brin e o pego pela camisa.
Não vou atingi-lo, quero apenas assustá-lo, e a
todos os que assistem para que entendam que não
vou tolerar nenhum tipo de comentário sobre ela.
— Ela está comigo agora, é a minha
namorada e tem minha proteção. Se você ou
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qualquer um desses babacas abrirem a boca para


falar dela de novo, vão ficar sem dentes. Fui claro?
— Dou um soquinho leve em seu rosto, o bastante
para doer, mas não para machucar e ele assente.
— Com certeza!
Pego novamente a mão de Brin e até espero
por seu comentário engraçadinho sobre como eles
tremeram, mas ele não vem. Ela permanece calada
e pela primeira vez a vejo andar de cabeça baixa.
— Ei, está tudo bem? Você quer ir embora?
Ela sorri para mim e nega com a cabeça e por
mais que sua expressão seja neutra, posso ver em
seus olhos que algo a está incomodando. Disposto a
fazer desta, uma noite boa para ela, a levo direto
para a pista de dança, fazendo-a rir com minha
dança desengonçada, mantendo-a sempre em meus
braços e o máximo possível concentrada em mim,
para que não tenha que lidar com os olhares
atravessados das mulheres à nossa volta. Funciona
por um bom tempo, ela sorri, dança comigo,
esquece onde estamos. Até que uma mão toca meu
ombro e vejo Rebecca ali.
— Stephen, que bom encontrá-lo. Dança essa
comigo?

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Ela lança um olhar a Brin avaliando-a dos pés


à cabeça e antes que eu possa dizer a Becca que
estou acompanhado, Brin diz que vai beber alguma
coisa e se afasta.
Dou uma desculpa qualquer a Becca e
procuro por ela. A avisto próximo as bebidas,
cercada de algumas colegas da faculdade. Consigo
ouvir o que estão dizendo assim que me aproximo o
bastante.
— Seja qual for o golpe que você usou para
fisgar Stephen Ryan, uma hora vai acabar e ele vai
cair em si que estava andando por aí com uma puta
qualquer.
Brin continua bebendo seu drinque como se
não estivesse ouvindo nada. Ao terminar, levanta a
mão pedindo um momento, e arrota ali, no meio da
festa, deixando as colegas horrorizadas. Olha para
elas com um sorriso doce e diz:
— Não sou uma puta qualquer, querida! Sou
a puta que o seu namorado deseja ter na cama, já
que não para de me mandar mensagens. E a puta
que está desfilando com o homem que nenhuma de
vocês foi capaz de conquistar, então quando forem
falar de mim, por favor, digam a puta mais foda
dessa porra!
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Ela se vira para sair, mas volta o olhar para as


meninas e diz:
— Ah, e cuidado com os namoradinhos de
vocês. Não custa nada ficar de olho. Não sou a
única puta nessa festa e as outras não serão
boazinhas como eu. Boa noite, meninas!
Por muito tempo me perguntei se ela
realmente não se importava com certas maldades
que ouvia das pessoas, ou se fingia tão bem e as
ignorava ou as detonava para disfarçar o quanto se
incomodava. Mas esta noite, vendo-a sair
rebolando em seu vestido curto e seu salto alto,
após acabar com essas garotas malvadas, tenho
certeza que às vezes, Brin Vega se diverte ao ser
provocada, porque adora deixar as pessoas com as
caras que essas meninas estão agora.
A vigio de longe por alguns minutos, apenas
para ter certeza de que nenhum engraçadinho irá
ofendê-la, mas eles apenas a olham, a desejam,
babam por ela. E eu sou o filho da puta com sorte o
bastante para levar essa deliciosa e atrevida mulher
para casa esta noite. Aproximo-me dela pronto para
abraçá-la e levá-la a mais uma dança onde seu
corpo ficará grudado no meu, quando Becca surge
novamente na minha frente.
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— O que você está fazendo, Stephen? Você


viu a roupa que ela está usando? É como um
acessório erótico ao seu lado, a discrepância entre
vocês chega a ser incômoda! Você realmente acha
que isso tem futuro ou está apenas provocando seu
pai?
— Rebecca, isso realmente não é da sua
conta, assim como as roupas que ela usa ou o que
faz. Peço por favor que não se meta.
— Adoraria, mas somos amigos e não posso
ficar calada quando o seu nome está indo para o
buraco, onde o dela já está. Você está mesmo
pronto para abrir mão dos seus amigos, do convívio
com seus colegas de faculdade apenas para manter
ao seu lado uma pessoa que vai deixá-lo e dormir
com outro quando alguém for mais interessante
para ela do que você? Vai se tornar um pária, como
ela. Ninguém mais o levará a sério, e nem vou
começar a citar o quanto uma notícia dessas
poderia prejudicar a firma do seu pai. Se não o faz
por você, o faça por sua família, pelo patrimônio
que você está ameaçando ao desfilar com uma
garota como ela, afaste-se antes que seja tarde
demais, Stephen.
Estendo as mãos para que ela se cale, não
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gosto de ser grosso com uma mulher, mas Rebecca


Thornton realmente me tira do sério! Porém, antes
que eu possa respondê-la, meus olhos pousam em
Brin. Ela está perto o bastante para ter ouvido tudo
o que a megera ao meu lado disse, e pela expressão
em seu rosto, dessa vez isso a atingiu.
Aproxima-se de mim ao ver que a notei ali, e
Rebecca mal espera ela chegar perto de mim para
abrir a boca:
— O meu amigo ligou para você, Sabrine?
Eu passei o seu contato. Atenda-o bem, ele é uma
pessoa bem relacionada, com certeza irá indicá-la
para outros amigos que procuram por uma
profissional do sexo.
— Rebecca! — ralho, mas Brin se defende
sozinha.
Ela faz uma expressão confusa, e sentida.
Então diz a Rebecca com sua voz mais doce:
— Ah, eu sinto muito por isso, realmente não
transo mais por dinheiro. Se o seu amigo entrou em
contato, eu nem vou ficar sabendo, mas agradeça a
ele por mim o interesse. E diga que infelizmente,
ele vai ter que se contentar com amadoras como
você. O lado bom para ele, é que geralmente elas

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saem de graça.
Rebecca dá um passo na direção de Brin, mas
entro na frente, segurando a mão de Brin, que está
realmente irritada, pelo tanto que aperta meus
dedos.
— Rebecca, eu gostaria que você não falasse
mais comigo. O que você fez, a pessoa que tem
mostrado ser, não é o tipo de atitude, ou de caráter
que espero de um amigo.
Ela fica tão boquiaberta quanto Brin, que
volta a si para pedir-me para irmos embora.

Assim que entramos no carro, ela pede:


— Será que pode me levar para minha casa?
— Claro, mas por quê? Achei que fosse
dormir comigo hoje.
— Acho melhor não. A noite de hoje me deu
algumas coisas em que pensar, só quero ir pra casa,
tudo bem para você?
Concordo, mas tenho essa sensação de que as
coisas em que ela precisa pensar não são boas, a
julgar pelo fracasso que foi nossa interação na festa
com outras pessoas. Quando paro o carro em frente
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o seu prédio, deixo uma coisa clara para ela:


— Eu não me importo com o que as pessoas
pensam, Brin, passei tempo demais cuidando para
ser o que esperavam que eu fosse. Até que entendi
que não preciso da aprovação de ninguém.
— Vai jogar todo esse esforço fora andando
comigo.
— Foi esforço jogado fora, foi tempo jogado
fora, independentemente de eu andar ou não com
você. Estou tentando fazer apenas o que gosto de
fazer, e estar com você está no topo dessa lista.
Ela sorri, aquele sorriso doce e acaricia meu
rosto.
— Você é bom demais para mim, Stephen —
diz abrindo a porta do carro e saindo em seguida.
Desço atrás dela e a chamo:
— Mas?
Ela me olha confusa, e minha garganta aperta
porque sei que há um mas.
— Eu sou bom para você e mesmo assim está
indo para sua casa ao invés da minha. Tem que
haver um mas.
Vejo a dúvida em seus olhos, o quanto luta
para não falar. Aproximo-me dela, parando o mais
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próximo possível. Onde posso sentir seu perfume,


onde posso beijá-la a qualquer momento.
— Seja sincera, Brin — peço quando ela abre
a boca ciente de que vai contar uma mentira, e meu
pedido a faz calar-se de novo e seus olhos
suplicantes pousam nos meus quando responde.
— Mas estou perdidamente apaixonada por
você.
— Você está brincando comigo de novo? —
pergunto temeroso de que esteja.
Ela nega com a cabeça, um sorriso nervoso
no rosto e segura minha mão.
— Eu preciso de um tempo para colocar
minha cabeça no lugar. Há muito mais do que o que
sinto em jogo, é mais difícil do que parece. Eu só
preciso deitar a cabeça no meu travesseiro esta
noite e colocar meus pensamentos em ordem, não
poderei fazer isso na sua casa porque quando eu te
vejo cada pensamento meu é voltado para você.
Você entende?
Assinto. Sou incapaz de pronunciar qualquer
coisa porque o que estou sentindo parece prestes a
explodir. Minha respiração está pesada e rápida
demais, ao mesmo tempo. Minhas pernas estão

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bambas, sinto uma alegria que nem sei mensurar e


um amor que quase me assustaria, se não fosse tão
maravilhoso. E não consigo abrir a boca para
respondê-la, porque vou pedir que vá para casa
comigo, que more comigo e passe cada segundo de
cada dia seu ao meu lado, e entendo que ela precisa
desse tempo para se habituar. Eu também precisei
quando me vi apaixonado por ela. Espero que o
amor dela seja como o meu, e que mesmo após
pensar em tudo o que há contra nós, decida que
nada mais importa além do que sentimos.
Ela entra em seu prédio e fecha o portão, e
vou para a casa com esse sorriso estampado no
rosto. Essa alegria genuína que nem me deixa
dormir, essa saudade imediata que me faz fica
admirando sua foto. Esse amor, que é melhor do
que tudo o que sempre esperei, que é imprevisível e
sempre surpreendente.
E quando o dia amanhece, vou até a
faculdade corrigir um erro. Trocar meu curso para o
que realmente quero fazer.
Volto para a casa, esperando que esse tempo
que ela precisa não seja muito e aguardo por meu
pai, porque tenho certeza que ele virá.

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Ele chega logo após seu horário de almoço.


Reconheço suas batidas na porta. As mesmas
constantes no meu quarto para criticar-me por algo.
A abro e sua expressão não é das melhores, como
sempre. Como fez na primeira vez em que esteve
aqui, ele avalia o lugar com desaprovação e faz um
gesto negativo de cabeça ao se dirigir a mim,
levando os dedos à têmpora, como se estivesse
realmente esgotado.
— Você trancou a faculdade. — Não é uma
pergunta e sim, uma acusação. — Por que você fez
isso?
— Pai, você sabe que direito nunca foi o que
eu quis fazer. Minha paixão é pela fotografia, só
estou corrigindo um erro.
Ele ri com deboche, olhando-me como se eu
fosse um completo idiota.
— Você não vai conseguir viver bem tirando
fotos, Stephen!
— Depende do que você chama de viver
bem. Dinheiro não é tudo e eu já tenho o suficiente.
Prefiro fazer o que gosto.
— Você já faz o que gosta! Suas lutas
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naquele clube clandestino. Você não se cansa de


sujar o nome dessa família?
Eu sempre desconfiei que ele sabia sobre o
Luck, desde que cheguei com a cara arrebentada e
ele não perguntou absolutamente nada.
— Não gosto de apenas uma coisa na vida,
pai. O nome da sua família não deveria importar
mais do que a felicidade dela, e você foi quem o
manchou ao ter tantos casos fora. Não venha me
acusar de algo cuja responsabilidade é toda sua.
Ele reage como se eu o tivesse atingido, seu
rosto atingindo um tom vermelho e sua voz não
contém mais nada da falsa calma com que falava
antes.
— Você trancou a faculdade, saiu do serviço,
saiu de casa e agora me acusa! O que pensa que
está fazendo com a sua vida? Onde pretende chegar
com isso?
— Estou tentando descobrir o meu caminho,
o que quero fazer, o que gosto de fazer.
— Você está fazendo tudo errado, Stephen!
Nunca vai chegar onde cheguei se viver de paixão!
— É exatamente o que quero evitar. Não
quero ser você, não há em mim orgulho pela pessoa
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que você é. E é muito difícil para mim dizer isso,


mas a imagem de pai que eu tinha de você morreu
quando você levou um garoto de oito anos para
conhecer suas amantes! Não sei onde você estava
com a cabeça! Mas não sinto que tenho qualquer
obrigação com uma família que de verdade nunca
existiu!
Espero por sua reprimenda, suas acusações,
mas nada vem. Ele me encara e o que vejo é raiva,
decepção, nunca vai assumir a culpa por seus erros.
— Você não é bem-vindo na minha casa
enquanto estiver agindo assim. E se eu perder a
parceria com Anthony Thornton pela maneira como
tem tratado a filha dele, vou garantir que você sinta
cada dia o meu fracasso, Stephen.
Nem respondo mais, esse homem egoísta e
vingativo, interesseiro e cruel não é o pai que um
dia acreditei que fosse. É alguém a quem devo
guardar de exemplo do que não devo jamais ser.
Ele bate a porta ao sair e choro pela última vez por
causa do meu pai.

Hoje é a final do campeonato do beco. Por

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um momento, penso em não ir, atender o pedido de


Brin para que ela entenda que não há nada do que
senti um dia pela Caitlin em mim. Mas o meu lado
competitivo, meu lado lutador, não me deixa ficar
em casa, penso em ligar para Brin para que vá
comigo, mas ela poderia dar uma desculpa qualquer
e não quero desrespeitar seu tempo.
Tampouco pretendo lutar sem minha torcida
fervorosa.
Quando chego à sua casa, encontro com
Tyler saindo com alguns amigos, ele está bêbado e
abre um enorme sorriso ao me ver subindo as
escadas. Aponta o dedo para mim e com a voz
alterada, praticamente gritando, diz:
— Acho muito legal que você tenha se
apaixonado por uma puta, cara. Muito legal! Vai
dar uma vida boa pra ela. Legal demais! Ninguém
mais iria amá-la. Você é mesmo legal.
— Valeu, Tyler — digo aproveitando a porta
aberta para entrar.
Sem chamar por ela, caminho devagar até seu
quarto, abro a porta e quase sou atingido por um
dardo afiado, que passa raspando minha orelha.
— Stephen! Merda! Você quer morrer?

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Ela se levanta da cama onde estava


praticamente jogada atirando dardos. Fecho a porta
enquanto ela analisa se machucou minha orelha e
aproveito sua proximidade para beijar seu pescoço,
e subir até sua boca, onde deposito um beijo leve,
temendo sua reação. Mas ela me abraça e
aprofunda o beijo, e a prendo em meus braços,
saboreando seu gosto, seu cheio e seu calor.
Só então olho para trás e percebo que o alvo
de seus dardos é uma foto de Rebecca Thornton
colada à porta. Ela dá de ombros quando lanço meu
olhar de reprimenda e afasta-se.
— O que você quer aqui?
— Hoje é a final do campeonato do beco. E
eu não vou disputá-la sem a minha garota torcendo
fervorosamente por mim. Você estava certa, estou
fazendo isso para impressionar uma garota, tenho
tudo planejado para deixá-la de boca aberta esta
noite. Mas, não poderei fazer isso se ela não estiver
presente, não é?
Ela sorri, e quando reparo bem seu rosto,
noto que andou chorando. Dá a volta pelo quarto
fingindo pensar até que finalmente diz:
— O que vou ganhar com isso?

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— Vai ganhar o que você quiser, Brin,


qualquer coisa. O que você me pedir, eu faço. Se
você quiser a lua agora mesmo, dou um jeito de
pegá-la para você, só venha comigo.
Ela assente, olhando-me com tanto amor que
quero beijá-la e possui-la agora mesmo. Talvez eu
não precise de uma nova coroa, afinal de contas, só
precise dessa menina sedutora e imprevisível para
sentir-me completo. Ando até ela que estende as
mãos afastando-me.
— Nem pensar, se você me tocar não
sairemos daqui hoje. E este não é o lugar certo para
fazermos isso. Vou me trocar rapidinho.
Concordo e espero do lado de fora, porque
vê-la seminua mais uma vez com certeza acabaria
com meu tão testado autocontrole.

Há mais lutadores do que o normal esta noite,


tochas acesas foram colocadas nos quatro cantos
das fitas que cercam o ringue improvisado. Meu
oponente, Jordan Hughes, é o filho do Adrian. E
segundo toda a torcida esta noite, é o favorito para
ficar com o título que tirei do El matador. Ele não

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me cumprimenta com cortesia, seu olhar em minha


direção é ameaçador, e me faz rir. A luta de hoje
será a mais difícil e a melhor que já enfrentei na
vida.
O sino soa anunciando o início da luta e
apesar dos gritos de vários desses brutamontes, é o
dela que escuto, torcendo fervorosamente por mim.
Sou atingido logo de cara, mas já vi esse cara lutar
três vezes, peguei o bastante dele para derrotá-lo.
Não sem muito esforço. O sangue escorrendo por
meu rosto não me impede de acertá-lo em seguida,
a cada golpe que me atinge, três o atingem de volta.
Ele é mais forte do que eu, mas sou mais técnico do
que ele. A final é um round único, quem vencer,
venceu.
Há um zumbido em meu ouvido, e meu corpo
todo dói, mas meu gás não diminui por um segundo
sequer, enquanto ele parece estar se cansando. Por
fim, consigo derrubá-lo. Aqui não funciona assim,
ele precisa apagar, preciso acertá-lo na cabeça,
mesmo achando isso algo tão desonroso. Ele não
consegue se levantar e encaro Adrian, o juiz da
final.
— Tenho mesmo que apagá-lo?
— Faça o que tem que fazer, Ryan! —
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responde de má vontade.
Preparo o golpe que irá desmaiá-lo, quando
sou surpreendido por ele, ele tem uma faca, escapo
por pouco de ser atingido nas costas, apenas porque
Brin grita e consigo desviar. Ele tenta se levantar
com a faca em riste, dou-me conta de que o juiz
não irá impedi-lo nem desclassificá-lo por isso, e
preciso me virar sozinho.
Ele segura meu pé e corta minha perna, mas
não consegue cravar a faca, os gritos desesperados
de Brin aumentam e quando olho em sua direção,
dois brutamontes a seguram, ela deve ter tentado
invadir o ringue. Antes que um deles a machuque
iniciando assim uma nova luta, acerto meu outro pé
na mão de Jordan, lançando a faca longe, e em
seguida, lanço-me sobre ele prendendo seu pescoço
com os braços, levando-o ao desmaio.
O sino soa três vezes, sou declarado o
campeão, mesmo não conseguindo me levantar do
chão. Brin se joga sobre mim aos prantos. Entre rir
e chorar, beija meu rosto machucado e faço um
esforço do caralho para levantar meus braços e
abraçá-la.
Pouco depois, Jordan está de pé, olhando-me
com sua expressão assassina. A mesma que está na
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cara da grande maioria dos expectadores de hoje.


Ele aponta o dedo para mim quando recebo o
cheque e o cinturão e ameaça:
— Isso não vai ficar assim, seu playboy!
Você vai pagar caro por ter tirado a minha vitória.
— Foi uma luta justa, ao menos da minha
parte, você só precisa aceitar, não há mais nada que
possa fazer.
Brin me afasta dele, pedindo que eu não o
provoque e me leva até meu carro. Dessa vez, é ela
quem abre a porta para mim e me ajuda a entrar.
Ela é quem assume o volante, meio nervosa, olha
para mim todo quebrado ao seu lado e diz:
— Eu não sei dirigir muito bem. Não passei
na prova de direção.
Sorrio.
— De o seu melhor, diabinha.
— Ok.
Ela arranca com o carro e passo os vinte
minutos seguintes sentindo minha alma fora do
corpo.

Ela me ajuda a entrar em casa, e me leva


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direto para o banheiro. A beijo quando a água


quente molha sua roupa, colando-a ao seu corpo
lindo, e ela tem todo cuidado e paciência ao lavar
meus ferimentos, acariciar meu rosto e depositar
beijos suaves por todo meu corpo. A quero tanto,
que chega a doer essa urgência que tenho dela. A
prendo em meus braços por um tempo, sentindo
seus seios pressionados em mim, seu corpo
moldado ao meu, a beijo com paixão e desejo, a
sinto desmanchar em meus braços. Ficamos nesse
clima gostoso por longos minutos, até que ela
desliga a água e me seca do jeito dela, entre
carinhos, beijos e provocações. Me guia até a cama
e deita-se comigo completamente nua. A cubro
com meu corpo e não consigo parar de beijá-la.
— Amanhã, meu amor. Você está muito
cansado hoje — diz.
Meu peito derrete pela maneira como ela me
chama.
— Amanhã você vai comigo a um lugar.
Você me prometeu uma distração caso eu deixasse
o beco, e eu não vou mais lá.
Ela pensa um pouco e se lembra do que estou
falando.

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— Você vai tirar minhas fotos! Tudo bem! O


que devo vestir?
— Leve todo o seu figurino, minha princesa.
Vamos ter uma noite longa.
Me deito então sobre seus seios, meus braços
à sua volta, suas pernas à minha volta, e dormimos.

Na noite seguinte, estou ansioso esperando


por ela. Queria buscá-la, mas ela disse que viria de
moto. Mandei o endereço por mensagem e espero
ansioso que a campainha soe. Três batidas leves na
porta fazem meu peito se agitar como um louco e a
encontro com um sobretudo longo, e uma bolsa
enorme de roupas em seu ombro. A pego para
ajudá-la e ela observa curiosa o enorme galpão.
— Onde exatamente estamos?
— No meu novo estúdio de fotografia.
Tranquei a faculdade de direito, vou seguir minha
vocação.
Seu sorriso é tão lindo e ela pula em meus
braços. Derrubando sua bolsa.
— Fico tão feliz em ouvir isso! Você vai ser
um sucesso fotografando, eu não disse que ricos
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atraem dinheiro? Em breve será o mais renomado


fotógrafo da atualidade.
— Vá se vestir, diabinha. Já tenho tudo
preparado.
O cenário que montei para ela consiste em
uma cama box forrada por lençóis de seda, posso
imaginá-la linda e sexy sobre esta cama, e como
essas fotos ficarão perfeitas no meu quarto, já que
se tudo der certo, ela vai morar comigo a partir
desta noite e não vai mais precisar atualizar seu
site.
Ela surge com um roupão e parece nervosa ao
aproximar-se da cama e avaliar todo o cenário.
— Você caprichou!
— O melhor para a garota que tentou invadir
um ringue e lutar com um brutamontes armado para
me defender.
— Você devia mesmo valorizar essa garota
— brinca.
— Eu valorizo. Ela não faz ideia do quanto.
Ela sorri, vou para trás da câmera e brinco.
— Faça seu melhor, diabinha.
Então ela tira o roupão, lançando-o ao chão e
está completamente nua. Tão linda que mal consigo
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me mover. Aproxima-se da cama e me observa,


como um convite. Disparo uma foto, duas, e no
segundo seguinte arranco minha camisa e a pego
nos braços, beijando-a em desespero. Tocando cada
centímetro de seu corpo lindo e macio. Minha boca
desce por seu pescoço e não consigo ser delicado.
Tenho fome dela, necessidade de tê-la, sou um
desesperado neste momento. A deito sobre a cama
e tiro a calça, tocando meu pau rijo em sua boceta
molhada através da cueca. Minha boca alcança seus
seios e ela grita quando os sugo com força, quando
minha mão alcança seu clitóris e o pressiona sem
piedade. Quando necessito ouvi-la gemendo tão
desesperada por isso quanto eu. Deixo seus seios
para beijá-la, e ela me empurra de leve, giro nossos
corpos sobre a cama e ela monta sobre mim,
rebolando sobre meu pau, quero que ela tire minha
cueca, que toque onde preciso tanto dela! Ela
interrompe nosso beijo e olha em meus olhos. Além
do desejo nítido neles, há um certo pânico.
— O que foi, princesa? — pergunto
preocupado e ela diz, os olhos nos meus, a voz
baixa e uma expressão que me assusta:
— Não posso fazer isso. Eu te amo, não
posso fazer isso com você.
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Rapidamente, seu corpo sai de cima do meu e


não consigo entender o que aconteceu. Levanto-me
e a seguro, apertando-a em meus braços.
— O que houve? Eu fiz alguma coisa errada?
Eu a feri de alguma maneira?
Ela nega com a cabeça e quando se afasta,
está chorando.
— Brin, o que foi? Pode me falar, seja o que
for vou resolver para você. Você nunca mais vai
chorar, minha menina. Conte para mim.
— Seu pai... — ela gagueja e não consegue
falar.
— O que meu pai fez? O que ele fez com
você? — começo a sentir a raiva me dominando, se
ele a tiver machucado...
— Ele me pagou para dormir com você e
descobrir se você é ou não gay.
Penso que ela está brincando, e ela continua.
— Ele me procurou há um tempo, me
ofereceu uma quantia absurda para fazer o test
drive com você. Foi por isso que comecei a segui-
lo, e ele é a pessoa que me pediu exclusividade,
você é o cliente que deve ser o único. Assim que o
conheci e vi o quão maravilhoso era, disse a ele que
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não faria mais isso, que você não era gay e não
queria mais, mas ele não me deixou desistir. Ele
descobriu coisas sobre o meu passado, coisas que
não podem vir à tona e me ameaçou. Ele me pediu
uma prova de que cumpri minha parte do nosso
acordo e meu prazo para entregá-la se encerrou
ontem.
Ela me encara e não sei o que dizer, não
consigo reagir. Enquanto processo tudo o que está
dizendo e vejo as coisas se encaixarem.
— Eu me apaixonei por você de verdade.
Eu... não posso fazer isso. Sinto muito, Stephen.
Ela tenta aproximar-se de mim, mas me
afasto.
— Você sente muito? Sente, Brin? Eu sempre
soube que era uma mentirosa profissional, nas
nunca pensei que chegaria a isso!
— Eu tentei ao máximo não mentir para
você, se parar pra pensar e perceber tudo o que
disse, vai ver que...
— Que você é uma prostitua safada e
mentirosa! Que se vende por qualquer dinheiro!
Não só seu corpo, você vende o seu caráter. Você é
inacreditável! Deve ter rido muito da minha cara,

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não é? O idiota virgem que caiu na sua lábia.


— Não foi assim.
— Saia daqui, Sabrine! Pegue suas ciosas e
suma da minha vida!
Ela assente, entra para o banheiro o posso
ouvir seu choro. E me odeio por ter caído na dela, e
mais ainda por querer tanto consolá-la conforme
seu choro aumenta. E por mais mentirosa que ela
seja, sei que esse choro não é falso. Invado o
banheiro a ajudo a vestir-se. Junto suas coisas em
sua bolsa e a guio com cuidado até a porta.
— Você está em condições de pilotar sua
moto?
— Tanto faz! Você não vai me levar até
minha casa, bancando o bonzinho agora! Me dá
minha bolsa!
— Você não tem direito de estar brava
comigo! Não tem direito de se magoar pelo que eu
disse.
— Eu não ligo para nada do que disse! Eu
mereci! — grita na minha cara. — Eu ligo para o
jeito como está me olhando, como se eu fosse uma
prostituta barata e idiota por ter me apaixonado por
você.
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— Não é o que você é? — pergunto


arrependendo-me em seguida e seu olhar ferido
pousa no meu, enquanto ela assente devagar. —
Desculpe Brin, não quero o seu amor agora. Não
quero nada que tenha se iniciado com uma mentira,
é melhor você ir embora.
Ela pega a bolsa da minha mão e bate a porta
ao sair. E dói tanto o que estou sentindo, que tudo o
que faço é jogar-me sobre a cama, a que quase
presenciou nosso ato de amor e paixão, e agora
presencia meu desalento por perder assim aquilo
que fazia todo o resto ter sentido.

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Capítulo 13
Brin
Há três longos dias estou deitada sobre esta
cama, levantando-me apenas o extremamente
necessário, olhando este teto e vendo os mesmos
canais pornô. Não posso voltar para minha casa
porque Donald Ryan está atrás de mim. É por este
motivo que meu celular está desligado, e a recepção
tem ordens de não dizer a ninguém que estou aqui.
Há três dias não tenho qualquer notícia dele, não
que fosse ter se estivesse em casa e com o celular
ligado, de toda forma. Ele, provavelmente, nunca
mais olhará pra minha cara. E cada vez que fecho
os olhos só consigo ver a decepção naqueles lindos
olhos verdes quando eu disse a verdade.
Sento-me na cama e olho a atriz pornô
fingindo sentir prazer na tela. Converso com ela
como se fôssemos amigas intimas.
— E aí, colega? Está difícil esse fingimento,
não é? Imagine a minha situação! O fato de eu ter
dito a verdade ao invés de ter transado com o
homem que amo, pegado a bolada do pai dele e

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ficado com ele depois como se nada tivesse


acontecido, não serve pra nada. Dane-se se a puta
foi sincera antes que fosse tarde demais. Dane-se se
eu não permiti que uma crença dele fosse destruída
ao ter sua primeira vez com uma mentirosa como
eu, sabe o que recebi em troca? Uma jogada na cara
da grande puta barata que sou.
A mulher geme e me aborreço.
— Não me olha com essa cara, duvido que
tenha recebido muito para fazer esse filminho mal
produzido com esse pau que só está duro à base de
remédios! Você também é uma puta barata! Somos
irmãs. Ah, meu Deus!
O telefone do quarto toca, e Amy, da
recepção diz com a voz amedrontada:
— Sabrine tem um senhor aqui que deseja
vê-la. Eu disse que você não estava, mas ele falou
com nosso gerente e ele ordenou que entrássemos
em contato com você. Você vai descer ou ele pode
subir?
Engulo em seco porque sei quem é um único
senhor que poderia fazer um gerente temer a ponto
de passar por cima de uma hóspede.
— Eu já estou descendo, Amy, obrigada.

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Não me preocupo em vestir-me


adequadamente para recebê-lo, coloco apenas um
roupão por cima da camisola sexy demais, mas que
faz parte do figurino do meu trabalho, e desço.
Tenho tanto medo dele, que o recebo na portaria do
hotel, na rua, para que ele não tente me agredir nem
nada assim. Até mesmo suas ameaças serão menos
assustadoras se estivermos em público, na rua,
assim espero.
Ele me encara dos pés à cabeça com desdém,
sua expressão irritada indica que demorou um
pouco a conseguir falar comigo e fico feliz por tê-lo
feito ter trabalho.
— Aí está você, pensou mesmo que poderia
se esconder de mim, Sabrine?
— É, eu pensei. Funcionou por alguns dias,
não foi?
— Você cumpriu a sua parte do acordo?
Claro que não cumpriu! É uma incompetente, ao
invés de levá-lo para a cama, você ferrou com a
vida dele! O fez sair de casa, do trabalho e agora
até mesmo da faculdade. Eu não ordenei a você que
o fizesse reconsiderar e voltar para casa?
— Pode ser uma surpresa para você, mas seu

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filho não é mais uma criança manipulável. Ele fez


as escolhas dele, e a você só resta respeitá-las.
Ele se aproxima de mim com a mão
estendida, mas para antes que me toque, ciente dos
olhares à nossa volta. Sorrio, provocando-o.
— Você acha que pode me desafiar? Acha
que a paixonite idiota do meu filho irá protegê-la?
Logo ele irá perceber que você não passa de uma
prostitua e não vale a pena!
— Você está atrasado, Ryan. Ele já percebeu,
e não, não fui para a cama com ele, porque não foi
preciso. Ele não é gay, não quis a filha chata do seu
amigo porque ela é uma idiota! Eu fiz o meu
trabalho, posso garantir com absoluta certeza que
ele não é homossexual.
— Eu te pedi uma prova, sua palavra de
mentirosa não basta.
— Isso já é problema seu.
— Não, Sabrine. É problema seu. Sabe uma
coisa curiosa que me aconteceu na semana
passada? Naquele dia em que ordenei a você que
fizesse meu filho voltar para casa, conheci uma
pessoa muito interessante. Um certo general
Padilha. Falei sobre uma garotinha mentirosa que

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ganha a vida se prostituindo em Nova York com


um nome falso, e ele ficou muito interessado em
conhecê-la. O que será que ele quer com você?
Sinto minhas pernas tremerem, mas não
permito que minha cabeça abaixe diante desse ser
odioso.
— Faça o que quiser fazer — digo dando as
costas a ele para ir embora.
Preciso ir embora o quanto antes daqui.
— Você não vai mais se aproximar do meu
filho! — grita, mas o ignoro, até que ele diz a
próxima ameaça. — Se eu souber que você sequer
disse o nome dele, vou entregá-la de bandeja para o
general! E não estou brincando, Emaline!
Travo totalmente onde estou e não olho para
ele porque não permitirei que ele veja o pânico que
sinto agora.
— Emaline está morta! — respondo
entredentes.
— Talvez o general não pense assim.
Padilha é um babaca, poderia estar cara a
cara comigo e ainda assim eu o enganaria, a não ser
que tudo fosse exposto. Que eu não tivesse mais
qualquer proteção e ele soubesse exatamente quem
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sou. Aí eu não teria a menor chance. A passos


rápidos, entro no prédio e sequer escuto o que Amy
diz enquanto subo desesperada até meu quarto.
Pego uma bolsa e junto o máximo de coisas que
consigo. Preciso sumir daqui e não posso levar
Tyler. Terei que deixá-lo, não vou arriscar a vida
dele. Alguém bate na porta, mas não quero atender,
não quero ver ninguém, eu preciso ir embora.
As batidas na porta se intensificam, e a abro
apenas para parar quem está insistindo tanto. E dou
de cara com ele: Stephen. Ele parece péssimo,
abatido e muito cansado. Deixo que ele entre sem
dizer nada, porque não sei o que poderia dizer. Ele
observa o lugar com olhos curiosos, até que
pousam sobre a bolsa e todas as roupas sobre a
cama. Vai até elas, as toca, observa a bolsa e diz,
ainda sem olhar para mim:
— Quanto dinheiro você arrancou dele? Do
meu pai. Foi muito dinheiro?
— Eu não cumpri a minha parte, então não.
Não arranquei mais do que uns trocados pelos cafés
que ele pagou.
— Vai viajar?
— Eu vou embora.

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— Para Miami, com o Tyler?


— Não, para outro país. Sozinha.
— Vai chegar lá, adotar outra identidade e
enganar outro trouxa que tratá-la com respeito?
— Provavelmente adotarei outra identidade,
você está certo. Mas jamais vou me envolver com
alguém de novo. É um erro que não vou cometer
duas vezes.
Vejo seus punhos se fecharem e concluo
minha resposta.
— Já que não sou verdadeira o bastante para
ser confiável a alguém. Não me arrependo de amar
você, Stephen. Mas me arrependo de todo o resto.
Ele não diz nada por um tempo, de costas
para mim, observando as roupas sobre a cama.
Fecho a porta e sinto-me extremamente animada
por tê-lo aqui. Mesmo que tenha vindo me acusar,
mesmo que tenha vindo apenas para me dizer o
quão mentirosa sou, ele está aqui. Ele procurou por
mim. Talvez, no fundo, esteja me perdoando e não
vá me odiar para sempre. Saber disso tornaria meus
dias menos solitários, não importa onde estivesse.
— Você está com medo? — pergunta e não
entendo exatamente sobre o que está falando.
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Mesmo assim é algo que posso responder sem que


ele saiba a profundidade da maldade de seu pai.
— De tudo. Aquela Brin forte que você tanto
elogiou, não existe agora.
— Ele não irá feri-la Sabrine, eu não vou
permitir. — Ele olha para mim e sinto uma vontade
tão grande de pular em seus braços, que preciso
abraçar a mim mesma como um lembrete que não
posso fazer isso. — Eu irei protegê-la.
— Você quer me proteger de quem?
— Do meu pai. Eu ouvi toda a conversa de
vocês lá embaixo. Ele a ameaçou, você ficou em
pânico, não sei quem é esse general que ele citou,
ou o que ele sabe sobre o seu passado, mas não irá
machucá-la. Ninguém vai. Não vou permitir.
Sinto tantas coisas ao mesmo tempo que se
torna difícil respirar. Entre ele ter ouvido meu
verdadeiro nome, mesmo não tendo ideia do que se
trata, ter ouvido sobre Padilha, que também não
deve de maneira alguma ser procurado, e ter ouvido
o monstro que o pai dele realmente é, não sei o que
me assusta mais.
— Eu sinto muito pelo seu pai, não queria
que você soubesse.

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— O monstro covarde que ele é? Que paga


uma prostituta para dormir com seu filho e a
ameaça para mantê-la longe dele depois? Não me
surpreendeu. Você fugindo dele com tanto medo,
isso sim me surpreende.
Abaixo a cabeça e dou de ombros, a tensão
entre nós deixando-me cada vez mais com saudade
dele.
— Além de mentirosa, agora sou covarde. O
que você veio fazer aqui, Stephen?
Ele me avalia por um tempo, tira o celular do
bolso e o posiciona sobre a penteadeira,
direcionado para a cama.
— Ele te pediu uma prova? Vamos dar essa
prova a ele. — Ele me encara, aproxima-se da cama
e ordena: — Venha, Brin Vega, faça o seu trabalho.
Cumpra sua parte no acordo.
O choque que sinto é tanto que nem consigo
reagir enquanto ele tira a camisa, quase me fazendo
chorar pelo quanto o desejo, e pelo quanto sua
atitude me machuca.
— Venha, você não me quer mais? Onde está
todo aquele fogo, as provocações, o desejo que
quase podia ser tocado? Você desistiu, Brin? —

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grita a última frase e abaixo a cabeça. — Venha


aqui, tira sua roupa e transe comigo.
— Vá embora, Stephen. Vá para sua casa e
não volte aqui.
Ele se aproxima de mim irritado, há tanta dor
em seus olhos e sinto-me um lixo por estar
causando isso a ele.
— Agora você quer me proteger? Agora,
Brin? Depois de me enganar quer cuidar de mim?
— É! Porque eu amo você! Pode me xingar
do que for, pode ficar com raiva, pode me odiar se
quiser, eu mereço. Mas eu amo você e não vou
dormir com você por mágoa ou qualquer tipo de
vingança. Então pegue toda essa sua raiva e vá
embora!
— Você é uma hipócrita! — ele grita.
— Ótimo! Então o que veio fazer aqui? —
grito de volta.
— Terminar o que você começou semanas
atrás, porque não suporto mais ficar longe de você!
Eu preciso ter você. Não importa se a odeio agora,
nem a maneira como você mentiu pra mim, eu só
preciso ter você — sua voz é baixa, seus olhos
estão sobre mim com todo aquele desejo e nem
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espero que ele termine de falar antes de me lançar


em seus braços e sua boca tomar a minha com
sofreguidão.
Ele me levanta em seus braços e passo
minhas pernas por seu corpo, prendendo-me a ele
enquanto nossas línguas se completam numa dança
deliciosa. Ele me guia até a cama, deitando-se
sobre mim e toco seu corpo com saudade, meus
dedos passeando entre seus músculos, subindo por
seu peitoral e descendo por seus braços. Nossas
bocas se afastam e ele beija minha barriga através
da camisola, suas mãos tocam minhas pernas,
entram por baixo do tecido de seda e vão subindo,
levando com elas a camisola, desnudando-me
diante do seu olhar apaixonado. O ajudo a tirar o
roupão e a camisola e abro desesperada sua calça
enquanto suas mãos passeiam por meu corpo nu e
sua boca alcança meu seio, sugando meu mamilo
com força, brincando com seus dentes em minha
pele, causando-me arrepios deliciosos.
Ele tira a calça assim que a abro e sua ereção
aponta firme para mim. A toco e acaricio, com
verdadeira adoração. Ele geme, enfiando os dedos
por meus cabelos e levo seu pau a boca, saboreando
sua extensão, chupando com todo desejo que tenho,
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tocando-o com desespero.


— Ah, Brin, não pare! — pede com a voz
rouca e sugo com mais força, sentindo-o pulsar em
minha boca.
Ele me afasta um tempo depois, sua boca
toma a minha com o mesmo desespero, seu corpo
cai sobre o meu e enquanto sua boca me toma, seu
pau passeia por minha coxa. Pego a camisinha no
criado ao lado da cama, abro o pacote com o dente,
e a estendo por toda sua extensão sob seu olhar
atento. Então volto a me deitar e olho naqueles
olhos verdes turvos pelo desejo. Ele devolve o
olhar enquanto me penetra devagar. É a primeira
vez que sinto isso de verdade, a primeira vez que é
tão bom ser preenchida, a cada centímetro. Gemo
chamando seu nome e ele faz o mesmo, gemendo
alto quando está todo dentro de mim. Contorço-me
sob seu corpo, e ele se move devagar. Saindo de
dentro de mim e entrando de novo, conhecendo
cada sensação, junto comigo. Adoro a sensação do
seu corpo sobre o meu, seus braços à minha volta,
seu calor me aquecendo e seu pau me preenchendo
tão gentilmente.
Então ele acelera, geme alto quando mete
com força, mais rápido, apoio meus pés em sua
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bunda durinha e o sinto com tudo dentro de mim.


De novo e de novo. Atingindo um ponto meu que
me faz perder a razão. Gira nossos corpos e monto
sobre ele, apoio minhas mãos em seu peito, sinto
seu coração logo abaixo do meu toque, e nossa
conexão não é quebrada quando sento sobre sua
ereção, sentindo-o ir ainda mais fundo. Me movo
devagar uma vez, duas, e acelero o movimento
incapaz de me conter. Eu não quero que isso acabe
nunca, e ainda assim preciso que acabe, preciso
chegar nesse lugar com ele. Nossos corpos estão
suando, suas mãos apertam meus seios enquanto
cavalgo sobre ele, e quando parece que não vou
aguentar mais, rebolo sobre seu pau duro, sentindo-
o alargar-me, completar-me como nunca foi antes.
Ele goza, gritando meu nome e cravando os dedos
em meu corpo, prendendo-me a ele e guiando meus
movimentos finais, quando sinto de novo aquilo
que só ele me faz sentir.
Caio sobre seu peito, ainda incapaz de me
afastar, e sua respiração acelerada está sobre minha
cabeça. Ele acaricia minhas costas e beija o alto da
minha cabeça. Apoio o queixo nas mãos e o encaro,
ele me olha de volta, com um sorriso bobo.
— Você está bem? — pergunto.
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— Eu não poderia estar melhor. Toma um


banho comigo?
Assinto animada e o levo até o banheiro do
quarto. Nos beijamos como dois namorados
apaixonados e dormimos juntinhos, nus e nunca fui
tão feliz na vida.

Quando acordo, o sol forte ilumina todo o


quarto e Stephen não está mais. Não me dou ao
trabalho de procurar por ele, sei que foi embora.
Sobre a penteadeira há o seu celular e um bilhete.
Corro até ele e diz:

Entregue o vídeo ao meu pai, pegue seu


dinheiro e se cuide. Você estará segura. Fique bem,
Sabrine Vega, deliciosa diabinha.

Deixo que as lágrimas caiam sobre o papel ao


me dar conta que foi apenas isso. Uma noite, sua
primeira vez, minha parte no acordo. Pego o
aparelho e dou play no vídeo, jogando-me sobre a
cama que ainda tem seu cheiro, nosso cheiro. E fico
por horas vendo-nos juntos, excitada e saudosa, e
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triste por saber que jamais sentirei algo tão pleno de


novo.

Quando a tarde chega, preciso falar com


alguém. Sair um pouco, extravasar a angústia que
sinto. Não me atrevi a ligar para ele porque seu
recado foi claro o bastante. Foi sua boa ação
comigo. O fato de ele não me odiar mais e de eu ter
sido sua primeira, deveria deixar-me mais feliz.
Não importa quantas mulheres ele tenha depois, eu
fui a primeira. Ele jamais vai me esquecer. E
mesmo assim, não consigo ficar bem. Eu sempre
imaginei que ele seria um amante carinhoso,
cuidadoso e apaixonado, e por mais que minha
imaginação receba medalhas em certos momentos,
ela não passou nem perto do que senti nos braços
dele. Vou levar isso comigo para sempre.
Visto uma roupa qualquer, observo bem a rua
para me certificar de que Padilha não está por ali,
caso o pai dele tenha cumprido a ameaça e chamo
um táxi. Desço em frente ao prédio onde Caitlin
mora, não sei porque vim parar aqui. Ela disse que
éramos amigas. Será que ela falaria comigo? Será
que me julgaria por ter mentido para o ex dela? Foi
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uma péssima ideia ter vindo aqui.


Viro-me para chamar um táxi, quando ouço a
voz de Colin chamando por mim:
— Brin? Está tudo bem?
— Ei, Colin, tudo bem. Claro! Eu só queria
falar com a Caitlin, ela está?
— Sim, está lá em cima. Você sabe do Ryan?
Thor está abrindo um lugar novo, estamos todos
ajudando na reforma, mas ninguém consegue falar
com ele.
— Eu não o vejo mais, sinto muito. Mas
posso dar a você o endereço dele, acho que vai
fazer bem para ele ajudar vocês. Por favor, o
procure.
Ele assente e passo o endereço de Stephen,
sentindo-me feliz por ele ter algo para distrai-lo, e
fazê-lo esquecer de mim. Ele me diz qual andar e
apartamento moram, e subo, ainda incerta sobre o
que estou fazendo, ainda temendo o julgamento que
sei que vou receber da minha provável amiga.

Caitlin parece surpresa ao abrir a porta e me


sinto totalmente sem graça, pronta para sair
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correndo e ir embora. Mas cheguei até aqui, vou


manter minha cara de tacho e fazer o que vim fazer:
choramingar.
— O Colin me deixou subir.
— Tudo bem, entra, Brin. Está tudo bem?
Suspiro, jogo-me sobre seu sofá e aponto
para que ela se sente de frente para mim. Confusa,
ela obedece, então olho em seus olhos e choro:
— Eu perdi o Stephen. Me ajuda, Caitlin,
isso está doendo! — fungo descontrolada e ela me
estende um lencinho, e então, com a voz anasalada
e chorosa, conto tudo a ela e espero por seu
julgamento.
Mas ele não vem.
Abro meus olhos após todo meu relato e ela
me olha preocupada.
— Eu sinto muito que tenha passado por tudo
isso, Brin. Mas se tem algo que aprendi é que
quando é pra ser, não importa os percalços no
caminho, simplesmente será. Você o ama, e ele
claramente sente o mesmo. Você precisava ver o
desespero dele quando você se perdeu aquela noite
no Luck. Só não desista. Ele pode precisar de um
tempo para assimilar as coisas, mas se foi te
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procurar é porque é difícil para ele ficar longe de


você. Ele vai fazer de novo.
— Você acha?
— Tenho certeza.
— Bem, eu não poderia julgá-lo por ir
embora de manhã sem avisar, se ele me procurar de
novo, estarei esperando por ele. Só que eu nunca
me senti assim, e não quero me deixar de lado por
amor nenhum. Eu não quero amá-lo a ponto de me
humilhar pelo perdão dele, por mais que precise
disso, há algum limite para o que posso fazer? Para
o quanto posso ir até ele sem que ele entenda que o
amo mais do que a mim mesma?
— Você vai amá-lo mais do que a si mesma,
Brin. E ele vai saber disso independente do que
você faça, porque ele também se sentirá assim.
Essa é a pegadinha no amor. Não há um limite para
nada, nem uma linha separando uma coisa da outra.
Enquanto você sentir vontade de ir até ele, vá. O
que achar que vale a pena ser feito por ele, faça.
Acredite, é melhor arrepender-se do quanto se
esforçou do que lamentar-se pelo que deveria ter
feito.
Assinto, guardando suas palavras. Decidida a

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ir procurá-lo. Assim que eu tiver coragem.


— Já sei, vamos animar você. Que tal uma
tarde de pipoca e filme entre meninas?
— Ah, eu adoro pipoca, eu curtiria isso.
Poderíamos assistir Uma linda mulher? — Ela ri da
escolha, mas concorda. — Você vai chamar mais
alguém?
— Só a Mackie, ela já estava vindo para cá.
Você vai gostar dela, acho que isso também irá
animá-la. Ela está com problemas no coração, e em
outras partes, eu acho.
— Ela não vai se importar por eu estar aqui?
Nem todo mundo é tão legal quando você, Caitlin.
Eu sou garota de programa.
— E daí? Ela não vai se importar.
Mackie chega logo depois, e abre um sorriso
ao me ver acabada estirada no tapete da sala. Deita-
se ao meu lado e diz:
— Que bom que você está aqui! Um ombro a
mais para eu chorar e dar um descanso a minha
amiga feliz no amor. Preciso de alguém em
sofrimento para desabafar.
— Neste caso, pode desabafar. Você não vai
achar alguém mais em sofrimento do que eu —
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garanto.
— Estou apaixonada pelo meu ginecologista.
Ele acabou de se separar de uma mulher louca.
— Se ele está solteiro, qual é o problema?
Ela olha para minha cara e começa a chorar.
— Ela é louca! Está me deixando louca
também!
— Não chora, o que podemos fazer para
ajudá-la?
Caitlin surge com ideias, eu tenho ideias,
Mackie recusa todas elas e passamos horas
divertidas vendo filmes, comendo pipoca e
invejando a vida amorosa perfeita da Caitlin.

Volto para o hotel porque não quero colocar


Tyler em perigo indo para casa. Mas ligo para ele e
explico por alto:
— O pai do Stephen está puto comigo, viado.
Ele descobriu coisas sobre o meu passado e se eu
voltar para casa, estarei colocando você em perigo.
— Ah, Brin, minha quenga preferida! Sempre
soube que esse mistério no seu passado envolvia
um crime. Eu já te disse isso. Estou ainda mais
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curioso! Mas temos um problema, a internet foi


cortada.
— Vou tentar conseguir algum dinheiro e
mandá-lo a você, tudo bem?
— Tudo bem. E o Stephen? Como está com
essa história toda?
— Mal e me odiando, claro. E ah, há algo
que não comentei com você. Ele não é gay, nem
um pouco, e é muito bem-dotado.
— O quê? Você dormiu com ele? Me conta
isso direito, sua quenga malvada!
E após falar por meia hora no telefone com
Tyler, não me sinto tão sozinha. Tenho um amigo
para todas as horas, duas amigas maluquinhas, que
se encaixam perfeitamente na minha vida muito
maluca. E vai doer ir embora. Mas tenho que fazê-
lo. Só estou esperando um dia mais, só para ver se
ele vai me procurar, só para decidir se devo me
despedir dele. Amanhã à noite eu vou embora.
Olho mais uma vez o vídeo de nós dois juntos e o
guardo na bolsa de viagem, é algo que nunca mais
quero deixar de ver.

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Estou vendo um filme pornô repetido, já


estou decorando as falas desses filmes também, já
que é tudo o que posso assistir aqui, quando alguém
bate na porta. Antes que eu possa levantar, bate de
novo, e mais uma vez, e de novo. Com pressa, e
claramente irritado. Aproximo-me da porta com
medo e preparada para acertar Padilha caso seja ele,
mas é Stephen. Ele entra no quarto como um
furacão, olhando para todos os lados.
— Com quem você está aqui?
— O quê?
— Quem está com você, Brin? Você voltou a
receber clientes? Está com um deles agora?
— Não estou com ninguém, você ficou
maluco?
— Eu ouvi! — Um gemido exageradamente
alto soa na televisão e ele olha a tela boquiaberto.
— É um canal pornô. É o único que tenho
dinheiro para pagar aqui.
Ele então ri. Avalia-me com algo nos olhos e
penso que pode ouvir o quanto meu coração está
batendo enlouquecido por vê-lo.
— Por que você está aqui? Fui até sua casa e
o Tyler disse que você continuava aqui no
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matadouro.
— Eu não chamo este lugar assim. O chamo
de ganha-pão.
Ele faz uma careta engraçada.
— Acho que prefiro chamá-lo de matadouro.
Você entregou o vídeo ao meu pai e pediu o seu
dinheiro?
— Não, e não vou fazer isso. Mas também
não vou devolvê-lo a você.
— Não precisa. Eu o tenho, mandei para meu
outro número esta manhã.
— Pouco antes de você sair de fininho e
deixar um bilhete de despedida?
— Sim, pouco antes disso.
— O que você quer aqui, Stephen?
Ele parece sem graça, coça a cabeça
desviando seu olhar e percebo que está corando. E
fica tão lindo envergonhado!
— Eu não consigo apenas esquecer o que
você fez e deixar de sentir essa mágoa — confessa.
— Eu sei.
— Acho melhor eu ir embora — diz abrindo
a porta, mas não posso deixar que vá tão rápido.
— Você veio até aqui apenas para me dizer
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que não vai me desculpar?


— Não. — Ele fecha a porta e olha para mim,
completamente sem graça. — Eu vim porque você
me viciou nisso.
— Nisso o quê? Sexo?
Ele fica ainda mais vermelho e não consigo
segurar um sorriso.
— Eu só preciso ter você de novo, só mais
uma vez, depois vou sumir da sua vida. Brin, eu
preciso...
Ele não precisa terminar de falar, tiro a
camisola que usava e no segundo seguinte suas
mãos me puxam de encontro ao seu corpo e sua
boca toma a minha.
Caitlin estava certa. Ele também está
apaixonado por mim.

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Capítulo14
Stephen
Ela está nua diante de mim de novo, e tudo o
que quero é tê-la mais uma vez. É uma necessidade.
Como um viciado, a puxo para meus braços,
beijando-a com toda paixão que ela desperta em
mim. Todo esse sentimento que queria tanto não ter
por ela. Amo a forma como seu corpo pequeno e
curvilíneo se encaixa ao meu, como ela se entrega a
mim quando a abraço e como me olha com olhos
turvos e apaixonados desse jeito.
Ela se afasta e desabotoa minha camisa
devagar, seus olhos em mim e um sorriso travesso
que adoro ver nela. Prende seu lábio nos dentes e
mordisco de leve o lábio superior, fazendo-a rir só
para morder o inferior, prendê-lo em meus dentes,
como sempre quis fazer. Respiro seu cheiro
enquanto ela tira minha roupa, sinto o calor do seu
corpo, e como é bom tê-la assim, tão perto!
Ela passa a mão por toda extensão do meu
pau enquanto tira a última peça de roupa, e
finalmente estamos os dois nus. E então ela pula

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nos meus braços e a beijo enquanto a carrego até a


cama, a deposito com cuidado e deixo seus lábios
para beijar cada centímetro de seu corpo. Passeio
minha língua por seus seios, sua barriga, até
alcançar mais embaixo. A sinto tremer sob mim
enquanto minha língua tira dela tudo o que quero,
cada gota de seu prazer, cada gemido que lhe
escapa, até que grita meu nome em meu tom
preferido, perdida no que faço com ela, totalmente
entregue a mim. Recupera-se e pega uma
camisinha, a observo estendê-la por minha ereção e
seu toque me faz arder ainda mais em desejo.
Ela praticamente pula sobre mim quando a
beijo, se encaixa perfeitamente em meu pau e a
preencho devagar, seu gemido escapa em minha
boca, meus braços estão à sua volta, não posso
permitir que se afaste nem um pouco de mim. Seus
seios se esfregam deliciosamente contra meu peito
enquanto a guio para cima e para baixo. Meu pau a
preenche e ela o aceita, o acaricia e o liberta, como
uma dança deliciosa na qual estou viciado.
Rolamos na cama e fico por cima dela, sua perna
está sobre meu ombro e consigo ir ainda mais
fundo, seguro suas mãos premendo-a a mim para
entrar mais forte, mais rápido. Ela geme alto, diz
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coisas desconexas, e chama meu nome. Não posso


aguentar mais, é tão bom que quase se torna
insuportável. A levanto rapidamente, ficando
ajoelhado na cama e encaixando-a sobre minhas
pernas. Ela me abraça, rebola do seu jeito gostoso e
perco o controle junto com ela, perdendo-me
totalmente em tudo o que ela me faz sentir.
Descarto a camisinha e deito-me ao seu lado.
Ela nos cobre e se aconchega a mim, ronronando
como uma gatinha manhosa.
— Estou muito feliz por você ter vindo —
diz.
Não sou capaz de dizer nada, porque também
estou feliz por estar aqui com ela, estava
enlouquecendo de tanto desejo e saudade. Mas sei
que não deveria, que deveria deixá-la ir, superá-la,
seguir com minha história sem ela. Achar outra
coisa que concentre o sentido dos meus dias
bagunçados. Apenas a aperto mais forte, beijo sua
cabeça e adormecemos.

Quando estou saindo o dia ainda nem nasceu,


ela senta na cama sonolenta e confusa. Mais linda,

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impossível.
— Por que você tem que ir tão cedo?
— Tenho algumas coisas para fazer.
— Ou não quer ser visto saindo do meu
quarto.
— Eu provavelmente fui visto entrando, por
que me importaria em ser visto saindo?
— Você podia ficar um pouco mais, dormir
mais um pouco. O dia ainda nem nasceu. Fica mais.
— Eu não posso. Obrigado pela noite, Brin.
— Você volta essa noite?
— Não. Se cuida.
Pelo menos espero muito que não.

Cada canto da minha nova casa tem algo


dela. O mesmo acontece com meu estúdio, com
minhas roupas e até este aparelho celular novo,
porque deixei o meu com ela. Penso nela o dia
todo, penso tanto que perco a noção do tempo, de
onde estou, do que estou fazendo. Sinto falta da
ansiedade de saber que a encontraria à noite, de
imaginar o que ela vestiria, se me diria alguma
verdade sobre seu passado. Eu nem imaginava que
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ela não era sincera nem mesmo com o presente.


A campainha soa e acho que já é noite, abro
para encontrar Caitlin, parada ali.
Ela entra, senta-se e fala a coisa mais
impossível que imaginei que falaria:
— Você está sendo um babaca com a Brin!
— Minha expressão deve ter entregado a confusão
em que me encontro, já que ela explica. — Sim, eu
sei de tudo, somos amigas. E eu imagino o quanto
dói ser enganado pela pessoa que você ama, mas
Stephen, você já parou para se colocar no lugar
dela?
— É Caitlin, eu já fiz isso. Já entendi que ela
não tinha que negar o pedido do meu pai porque é o
trabalho dela e que ficou sem saída depois. E eu
entendo, mas ela percebeu quando fomos nos
envolvendo cada vez mais, percebeu quando dei a
chave do meu apartamento para ela, e teve tantas
oportunidades de me dizer a verdade, Caitlin!
Tantas!
— Ela usou uma dessas oportunidades, não
usou?
— Tarde demais.
— Antes de ser tarde demais. Olha, eu não
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estou aqui para dizer o que você deve fazer, longe


de mim. Mas eu sofri por muitos anos por amar
alguém em silêncio, por pensar demais nos defeitos
e nos meus medos, ao invés de pensar no que
poderia acontecer se desse certo. Eu perdi tantos
anos e me arrependo tanto, Stephen! Tudo podia ter
sido diferente. A dor que eu teria evitado se tivesse
sido corajosa! Não siga meus passos. É tão claro
que você a ama! Ela está arrependida, você devia
tentar perdoá-la.
— Estou tentando. Acredite, Caitlin, eu
queria que isso não doesse tanto. Queria poder
entender o que ela fez e deixar para lá, porque estou
mesmo enlouquecendo sem ela, mas não consigo.
Não é tão fácil. Esquecer um erro é mais difícil do
que recordar de um acerto.
— Mas você não está fazendo isso para ficar
com ela. Quer perdoá-la para não carregar mágoas,
apenas — percebe.
— Eu vou esquecê-la, você é a prova viva de
que vou.
— E você vai ser bem mais feliz quando
conseguir isso, não é?
— Nesse momento, não consigo me imaginar

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em qualquer cenário em que esteja feliz.


Exceto, dentro dela.
— Só pensa direito, Stephen. Ela te ama. E
está aprendendo. Você vai errar um dia também, e
vai precisar de um perdão que não está dando
agora.
— O Colin apareceu aqui ontem, para me
chamar para ajudar na reforma do novo Luck. Foi
legal da parte dele.
— Foi um pedido da Brin. O Colin vai
ajudar, mas não vai fazer parte do Luck nos
próximos dois anos. O clube vai precisar de um rei,
você deveria voltar.
— Por que não?
— Ele vai para Vegas no final do ano, vai
começar a treinar com um treinador profissional e
tudo. Vai disputar o UFC no ano que vem.
— Isso é muito bom, Caitlin! Vai torná-lo
mundialmente conhecido.
— Eu sei.
— E você nessa história?
— Eu vou com ele, claro! Até lá vai dar
tempo da minha mãe se habituar com a minha irmã
mais nova, ela não vai precisar de tanta ajuda como
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agora. Após este período na faculdade, irei trancá-


la, e depois transferi-la para lá.
— Ele merece, e você também. Estou feliz
por vocês.

Desde que a Caitlin foi embora, só consigo


pensar na Brin. Na parte de me colocar no lugar
dela que ainda não havia pensado. Aquela parte que
se apaixonou por mim. O bastante para impedir que
dormíssemos juntos sem que eu soubesse toda a
verdade. Que está enfrentando o medo de ter seu
passado tão obscuro exposto só para não me ferir
mais.
Pensar em seu passado me faz lembrar de
Dylan que não me dá notícias há dias. Tento ligar
para ele pela milésima vez e ele não atende. Algo
me diz que alguma coisa não está certa. Ligo então
para o irmão dele. E o aviso que Dylan sumiu
investigando o caso que ele pediu para não
investigarmos, e ele me promete que vai encontrá-
lo.
Mais uma vez, não consigo dormir, mais uma
vez, a sinto em cada parte do meu corpo, e só

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consigo pensar nela. Troco de roupa no meio da


noite, pego o carro e saio como um desesperado.
Paro em frente ao hotel onde ela está, e me
pergunto o que estou fazendo. Onde estou com a
cabeça? Eu vou subir, e faremos amor. A terei de
novo, me sentirei bobo de tão feliz de novo, e na
manhã seguinte irei embora antes que o sol nasça.
E terei que deixá-la com aquele olhar decepcionado
de novo por estar sendo um covarde.
Eu a amo tanto! Seria tão mais fácil se
pudesse simplesmente perdoá-la. Se pudesse
esquecer tudo e começarmos de onde paramos
antes daquela noite. Eu a convidaria para ir morar
comigo, e a amaria todos os dias. Mas não consigo.
Sinto que ela vai mentir de novo, sinto que ela
precisa sofrer como eu. Mesmo não querendo feri-
la de maneira nenhuma. Essa confusão é o bastante
para me fazer arrancar com o carro e ir embora sem
entrar. Mas fico a noite toda em claro rolando na
cama sentindo falta dela, amaldiçoando-me por ter
sido um bundão e não ter entrado.

Estou no meu quarto editando umas fotos


quando a porta é aberta. Brin está aqui. Usou a
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chave que ainda tem para entrar. Ela olha as fotos


das várias pessoas aleatórias na minha tela e
aproxima-se.
— Eu conheço esse cara — diz apontando
para um jovem sentado no banco rindo para uma
criança logo adiante. — É meu vizinho, ele tinha
uma mulher, eram muito felizes, até que ela mentiu
para ele. Eles romperam, foi horrível. Então ela se
arrependeu e começou a correr atrás dele pedindo
desculpa, mas ele nunca a desculpou.
— Ele parece bem feliz na foto — observo.
— Ela morreu dois anos depois e ele nunca
se perdoou por não ter ouvido seu coração. Cuida
sozinho do filho deles, e finge sorri sempre que o
filho o olha, porque a criança está se tornando um
reflexo da tristeza dele.
Sinto-me tocado com sua história. Mas
quando olho em seus olhos castanhos, não vejo
qualquer tristeza ali.
— Isso é sério?
— Não. Nunca o vi antes. Mas conheço essa
garota aqui. — Aponta para uma mulher que se
parece com ela, porque continuo fotografando
pessoas que me lembram dela. — Ela só se

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apaixonou uma vez na vida, e foi aquele tipo de


amor que a faria desistir de tudo. Só que ela tinha
um segredo e se o revelasse, poderia colocar em
perigo esse cara que ela amava, e ela teve tanto
medo, que isso a tornou fraca, e ela acabou ferindo-
o por medo de ter seu segredo revelado.
A observo e seus olhos tristes estão fixos na
foto.
— E agora? O que ela vai fazer?
— Implorar, se for preciso, pelo perdão dele.
E caso ele não possa perdoá-la, então ela irá
embora.
— Ela vai fugir?
— Não, ela vai afastar o perigo dele. No fim
das contas, ela fez o certo e o segredo dela foi
exposto, e ela não vai ficar por perto esperando que
ele a perdoe um dia enquanto arrisca a vida dele
para isso. E sim, ela vai fugir, porque é difícil
demais estar tão perto dele e saber que nunca mais
irá tê-lo.
O aperto que sinto no peito ao imaginá-la
indo embora, amedrontada e sozinha, quase me faz
abraçá-la e pedir que fique.
— Ele pode protegê-la, mesmo não estando
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com ela.
— Não, ele não pode. Mas obrigada por
tentar. Os seguranças que você contratou, mesmo
odiando-me. Valeu.
— Eu não odeio você, Brin.
— Então até quando vai me punir?
— Eu não estou punindo você.
— Não? Você me procura quando quer,
sequer atende quando ligo, vai embora na manhã
seguinte e eu nunca sei se irá voltar. Então passo o
dia na esperança que você apareça, na esperança
que seja diferente dessa vez. Que você me olhe
como olhava antes, que me perdoe e você faz isso.
Você é você de novo. E me trata como se eu fosse
tudo para você, e na manhã seguinte, volto a ser a
garota de programa que você deixa na cama porque
não confia nela o bastante para tentar.
Levanto-me e aproximo-me dela, que se
afasta, mantendo a cabeça baixa.
— É assim que você está se sentindo? Acha
que a estou usando?
— E não está? Por que você me procura?
Porque quer transar comigo e nada mais. Você nem
conversa mais comigo. E não estou reclamando do
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sexo, você é muito bom nisso e nossa conexão é


deliciosa, mas de todo o resto.
Quero tanto abraçá-la e dizer que a procuro
porque não suporto ficar longe dela. Mas isso
implicaria em pedir que ela fique comigo, e há essa
merda dessa mágoa no fundo da minha alma da
qual não consigo me livrar. Por que isso não vai
simplesmente embora? Volto a me sentar,
decidindo não abraçá-la.
— Você não tem que abrir a porta para min,
Brin. Se está se sentindo mal com isso, não a abra.
Eu entenderei e irei embora.
O olhar que ela me lança é tão sofrido, que
me arrependo imediatamente do que disse, e ela
assente, concordando com o que pedi. Tira a chave
do meu apartamento do seu molho de chaves e a
deposita sobre a mesa do computador. Deixa sua
bolsa cair ao chão e ajoelha-se se encaixando entre
as minhas pernas. Olha nos meus olhos enquanto se
aproxima e permito que o faça. Acaricio seu cabelo
e rosto, e ela fecha os olhos com meu toque.
— Me perdoa. Eu não sou boa com essa coisa
de sentimentos, mas sei ouvir muito bem o que meu
coração pede. E ele pede você. Então eu vim te
pedir que me perdoe e fique comigo, apesar do que
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fiz. Eu sinto tanto por tê-lo ferido, você não faz


ideia do quanto! Nunca mais farei nada parecido
com isso, se você me der uma chance.
Seguro seu rosto em minhas mãos e digo a
ela a verdade:
— Brin, eu queria muito fazer isso, de
verdade! Porque ficar longe de você está acabando
comigo. Mas não consigo perdoar ainda, há essa
mágoa dentro de mim que não sei como curar.
— Então me deixa curá-la para você.
— Não funciona assim.
— Então você nem vai tentar? Eu sei que
você teria que passar por cima de muita coisa para
ficar comigo, Stephen. Pelo que sou. E pelo que te
fiz. Mas uma amiga disse que quando é para ser,
não importa os percalços no caminho,
simplesmente será. E eu amo você de verdade. E
sei que você sente alguma coisa por mim. Stephen,
por favor...
— Não faz isso comigo, diabinha.
Encosto minha testa na sua, e ela se afasta um
tempo depois. Levanta-se e olha o quadro na
parede. A foto dela que mandei emoldurar.
— Isso está aí pelo meu trabalho apenas —
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minto. — Não é por ser você.


— Bem, eu fiz o que meu coração pediu e
futuramente, quando pensar em você, o que
provavelmente acontecerá todo dia, não terei
arrependimentos. Porque eu pedi perdão, eu te disse
o que sentia sem qualquer medo, eu tentei. Não vou
tentar mais. Espero que fique bem, Stephen.
— Você vai embora?
— Isso não é mais da sua conta. Mas faça
isso, continue aí fingindo para si mesmo que não
me ama. Continue olhando para minha foto na sua
parede enquanto tenta se convencer de que só a
mantem por ser um trabalho seu. Faça melhor, há
outras garotas de programa no Royal, vá até lá,
durma com qualquer uma delas, com todas elas,
veja se será a mesma coisa. Nunca mais vai ser a
mesma coisa para você, porque você não vai achar
alguém que o ame desse jeito, mas tenta a sorte
assim mesmo.
Ela tira da sua bolsa o meu celular, que
contém nosso vídeo e o joga sobre a cama. Pendura
sua bolsa no ombro, ajeita os seios na blusa e vai
embora, rebolando em seu salto, de cabeça erguida.
Por mais que esteja destruída. Porque essa é
Sabrine Vega.
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E durante todo o dia fico com essa sensação


de que estou cometendo uma enorme burrada. De
que se alguém pode curar esta mágoa, esse alguém
é ela, e estou sendo orgulhoso por não admitir isso
e não permitir que ela cure o dano que causou.
Pego o celular pela sexta vez e vejo de novo aquele
vídeo, e de novo, e de novo. Eu não preciso dormir
com outra mulher para saber que não será a mesma
coisa. Eu sei que não será.

Entrar na casa dos meus pais de novo é


diferente do que havia imaginado. Pensei que
sentiria algo como nostalgia, ou a sensação
deliciosa de liberdade. Mas na verdade eu não sinto
nada. Além da raiva e decepção constantes por meu
pai. Os encontro na sala de casa, milagrosamente,
Serena também está. Seth me abraça ao me ver e
diz que sente minha falta, e mamãe também me
abraça, feliz pela visita.
— Pai, podemos conversar?
Ele me olha de volta com o mesmo olhar
acusatório de sempre e me segue até seu escritório.
Mal fecha a porta e já faço meu pedido:

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— Você precisa manter o segredo de Sabrine


Vega, seja qual for ele.
Ele me avalia decepcionado, e senta-se
imponente sobre sua mesa.
— Você ficaria surpreso em saber que não sei
qual é o segredo dela.
— Então com o que a estava chantageando?
— Eu não estava, ela fez o que fez apenas
pelo dinheiro.
Fecho os olhos e busco calma, apesar de sua
mentira deslavada, pois preciso dos seus favores.
— Eu o ouvi ameaçá-la na porta do Royal.
Você a chamou por um nome e disse que a
entregou a um general que está atrás dela. Quero
que desfaça isso. Você precisa protegê-la.
Ele ri, sequer se sente envergonhado por ser
pego em sua mentira.
— Como se eu fosse me importar em
defender uma prostituta.
— Mas se importou o bastante para pagar a
ela para dormir comigo, não se importou?
— E nem isso ela fez. Apenas ferrou com sua
mente, com sua vida e ainda o faz pensar que o
vilão da história sou eu.
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Abaixo a cabeça cansado demais de insistir


em tentar encontrar algo de bom nele. Algo como
senso ou empatia.
— Você é desde sempre o grande vilão da
minha vida, pai. Mas estou aqui humildemente
pedindo que você a proteja.
— Eu não vou fazer isso, então se é tudo o
que quer, vá embora.
— Estou disposto a fazer o que o senhor
quiser em troca da proteção dela.
Sua atenção está toda em mim, como
imaginei. Um sorriso vitorioso surge em seu rosto e
ele tamborila os dedos sobre o tampo de sua mesa
enquanto canta vitória.
— Você vai voltar para a casa, para a
faculdade e para a empresa. E vai passar mais
tempo com Rebecca Thornton.
— Tudo bem. Mas só o farei depois de ter
certeza que ela está segura.
— Você é tão fraco que se apaixonou pela
prostituta e sequer deitou-se com ela. Eu adoraria
tê-lo de novo sob o meu comando, mas não há nada
que possa fazer pela garota de programa. Não sei
qual é o passado dela, apenas que este homem a
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estava procurando e ela, aparentemente, fugia dele.


Ela pisou na bola comigo e eu a entreguei. O que
acontece com ela agora é escolha dele, não minha.
— Você não se sente nem um pouco
culpado? Se ela foge dele é porque algo está errado,
ela pode estar em perigo!
— Não é problema meu!
— Eu não acredito que...
— Faça o que ele está pedindo, Donald —
minha mãe ordena entrando no escritório. —
Proteja a garota ou vou expor cada um dos seus
casos. Você não vai poder manter a pose de família
perfeita que tanto presa, nem seus clientes tão
tradicionais se souberem que o Seth é, na verdade,
seu filho fora do casamento, e não seu sobrinho
como o apresentou.
Meu pai perde toda a cor e pela primeira vez
o vejo olhar minha mãe com o mínimo de respeito.
A contragosto, os olhos ainda fixos nela, pega o
telefone e liga para alguém, pedindo a essa pessoa
informações sobre as últimas ações de um Gilberto
Padilha. Ele ordena à pessoa do outro lado da linha
que o impeça de aproximar-se de Sabrine o
máximo possível e o avise qualquer mudança ou

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atitude dele em reação a ela.


— Os homens dele já estão na cidade. Isso é
tudo o que posso fazer, garantir que o próprio não
se aproxime dela. Quanto a ele contratar alguém
para isto, não há nada que eu possa fazer para
impedir. Este é um país livre.
Agradeço a minha mãe pela ajuda e vou ao
encontro dela. Se os homens desse homem de quem
ela tanto foge já estão na cidade, ela pode estar
correndo perigo.

Quando estaciono em frente ao Royal, recebo


uma ligação. É Michael, irmão de Dylan.
— Stephen, meu irmão está desaparecido. Ele
chegou ao Brasil, foi visto em um hotel onde se
hospedou no Rio de Janeiro e há dois dias não é
visto mais. Estou indo para lá e o governo
brasileiro está tomando as devidas precauções. Não
se preocupe com a garota, ela tem proteção,
ninguém irá feri-la, mas se o seu nome apareceu
alguma vez na investigação feita pelo meu irmão,
sugiro que contrate seguranças.
— Farei isso. Por favor, mantenha-me
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informado sobre qualquer notícia do Dylan.


— Na próxima vez em que eu der um
conselho, por favor escutem — é tudo o que diz
antes de desligar na minha cara.
E rezo que nada tenha acontecido ao Dylan,
pois seria culpa minha também.

Subo apressado ao seu encontro e bato na


porta. Ao invés de abri-la, Brin pergunta quem é.
— Sou eu, Brin, por favor, abra.
Ela não responde, tampouco abre a porta.
Posso sentir seu perfume e só preciso abraçá-la,
saber que está bem, ver com meus próprios olhos
que sim.
— Vá embora, Stephen — grita de volta.
— Você está bem?
— Estou ótima. Só não vou mais abrir a
porta. Vá embora.
Me lembro da conversa que tivemos mais
cedo, do quanto ela pediu que eu reconsiderasse e
ficasse com ela, de quando fui idiota o bastante
para dizer que ela não precisava abrir a porta se
estava se sentindo usada por mim. É assim que ela
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se sente, e não vai abrir a porta.


— Brin, por favor. Eu sei que fui um idiota,
mas preciso vê-la. Preciso saber que está bem.
— Estou bem. Você não precisa me ver. Vá
embora.
Toco a porta como se pudesse tocá-la, seu
cheiro é tão presente no ar, que quase a sinto ao
meu lado.
— Brin, por favor. Vamos conversar,
prometo que não vou usá-la. Não a farei sentir-se
assim nunca mais.
— Não quero mais falar, Stephen. Nós já
conversamos, eu já te pedi que mudasse de ideia e
você foi bem claro em sua resposta. Não há o que
ser dito. Sou uma puta mentirosa e você é um
covarde! Vá embora!
— Eu sou mesmo, sou a merda de um
covarde orgulhoso e babaca, mas por favor, Brin,
me deixa apenas ver você. Eu só preciso te abraçar,
preciso falar com você, é muito importante.
Ela fica em silêncio e tenho a esperança que
vá abrir a porta, mas ela não o faz. Nem responde.
— Brin! Abra a porta!
— Eu não vou abrir, não posso mais fazer
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isso. Por favor, vá embora.


Soco a parede ao lado da porta e me recosto
sobre ela, não posso ir embora assim. Não sem vê-
la, não sem dizer a ela a verdade sobre como me
sinto por ela, sobre como sempre me senti.
Saio dali derrotado, e percebo que não posso
apenas desistir. Ela vai acabar indo embora, está
sofrendo tanto quanto eu, não posso mais prolongar
isso. Dou a volta pelo prédio até encontrar a escada
de incêndio, e subo por ela, o mais rápido possível,
apressado para vê-la. A janela está fechada e Brin
está sentada no chão, recostada a porta, de onde
acabei de sair.
Bato na janela e ela se assusta ao me ver,
levanta-se devagar, seus olhos tristes sobre mim.
Não faz qualquer menção de abrir a janela.
— Brin, abre! — Ela não se move e me
encosto à janela, olho em seus olhos ao perguntar:
— O que você quer de mim, Brin?
Vejo o brilho em seus olhos, e ela dispara a
falar sem sequer pensar antes:
— O seu amor, sua lealdade, sua gentileza,
seu carinho, seu respeito, sua amizade, o seu
prazer. Quero suas confissões, seus medos, seus

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méritos, seus dias e noites, e seus sonhos, os seus


defeitos, seus pensamentos e sentimentos, a sua
felicidade. Quero o seu perdão, e seu pedido de
desculpas. Eu, quero você, todo você.
Quero tanto abraçá-la que estou a ponto de
quebrar essa maldita janela que me separa dela.
— Abre, amor. Me deixa entrar, vou dar tudo
isso a você, apenas abra.
Ela demora um segundo, mas se move, gira a
tranca e abre a janela, deixando-me passar. Não
olha em meus olhos e parece tão cansada quanto
eu.
— Eu amo você, Brin. Me desculpa se fui tão
idiota, e por cada palavra ou gesto meu que a
feriram. Eu prometo que vou recompensá-la por
tudo.
Ela me olha confusa. Seus olhos brilham e
percebo que está segurando o choro.
— Eu te amo. Estou aqui para dar a você
tudo o que pediu, e muito mais. Vou te dar tudo de
mim, Brin, sempre. Você sabe, não posso deixar
minha garota esperando.
Ela sorri. Um sorriso tímido no início, mas
que se expande por seu rosto lindo e pula em meus
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braços.
— Você fez igual o Edward com Vivian —
diz emocionada.
Não faço ideia do que está falando, mas beijo
todo seu rosto sentindo-me finalmente em paz de
novo. Como pode ter sido tão rápido para ela fazer
tudo sumir assim? Afundo meu rosto em seu
pescoço, beijo sua pele macia e a aperto mais em
meus braços.
— Faz amor comigo, minha menina — peço
em seu ouvido e ela sorri.
— Faço, mas vai te custar caro.
— Eu pago o preço que for. Pago para
sempre se for necessário, mas preciso ter você
agora.
Ela me beija, eu me perco nela e nada do que
está acontecendo lá fora importa.

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Capítulo 15
Brin
Quando ele me suspende do chão e me apoio
em seu peito, passando meus braços por seu
pescoço, sentindo seu cabelo macio sob meu toque,
mal posso acreditar que esteja mesmo vivendo isso.
Esta tarde jurei a mim mesma que não me
entregaria mais a Stephen Ryan, e não me
permitiria ser usada por ele, por mais que fosse tão
bom enquanto ele estava. Porque não queria sentir
mais aquela dor de quando ele ia embora pela
manhã. Ao tomar esta decisão, tinha absoluta
certeza que seria impossível executá-la. Que no
momento em que ele batesse na minha porta, eu
cederia, a abriria e me jogaria em seus braços.
Fiquei muito orgulhosa de mim mesma por
não ter feito isso. Eu resisti. Bravamente. Até o
momento em que ele foi meu Edward de Uma linda
mulher, subindo pelas escadas e me perguntou o
que eu queria dele. Aí virei a Brin apaixonada,
derretida e só faltou eu dizer que queria até a cueca
que ela está usando. Mas foi bom ser sincera, pra
variar. Porque ele mostrou isso de volta. E não me
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lembro de já ter me sentido tão feliz assim na vida.


Em nenhuma delas. Finalmente me encontrei.
Ele me deposita sobre a cama e tira sua roupa
rapidamente. Espero, observando-o atentamente
para que tire a minha também. Ele sorri ao perceber
meu pedido silencioso. Seu corpo másculo e nu
paira sobre o meu conforme me beija devagar, suas
mãos subindo por minhas coxas, apertando cada
centímetro da pele com as pontas dos dedos. Sinto-
o encaixar-se entre minhas pernas e sua ereção
tocar minha coxa conforme suas mãos vão subindo
por meu corpo. Elas param em meus seios, ele os
aperta, brincando com meus mamilos, e não
consigo conter um gemido.
Sentir isso é algo indescritível, sentir seu
corpo sobre o meu, ir além de sentir seu peso, mas
os arrepios que cada toque me causa, a sensação
deliciosa da sua língua me tocando, e a melhor
sensação do mundo, quando ele me preenche, e
consigo sentir cada centímetro de seu pau me
penetrando, consigo sentir o prazer de forma
tangível, intensa e verdadeira. E nunca poderei
agradecê-lo o suficiente por me fazer sentir tudo
isso.
Sua boca toma meu seio através da camisola
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fina, como uma provocação, desce por sua extensão


até a área descoberta da barriga, e seus dentes me
arranham ali. Ele sobe a camisola por meu corpo
devagar, enquanto sua boca segue o percurso,
lambendo e mordendo por onde passa. Me apoio
em meus braços para ajudá-lo a tirá-la, delirando
sob seu toque, sob sua boca tirando tudo de mim,
sob sua gentileza e cuidado. Ele me beija com
paixão, seu corpo pesado caindo sobre o meu, meus
seios colados ao seu peitoral, e sua mão invade
minha calcinha, tocando-me com a mesma paixão
com que sua língua toca a minha, envolvendo-me
em uma névoa de prazer.
Grito em sua boca quando seus dedos me
preenchem e se movimentam sem piedade, quando
alcançam algo em mim que me faz perder
totalmente o controle, é tão bom que quase torna-se
insuportável, e não posso afastar-me porque estou
presa por suas pernas, por seu corpo. Ele se afasta
de repente e tira minha calcinha com pressa, e o
empurro sobre a cama porque amo estar sobre ele.
Amo ver seus olhos anuviados pelo desejo, sua
boca aberta enquanto geme, suas mãos grandes
apertando meu quadril, guiando-me para cima e
para baixo sobre seu pau duro. Amo apoiar-me em
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seu peito e sentir seu coração batendo sob meus


dedos. Ele me prende em seus braços por um
tempo, beijando-me com sua paixão, até que
finalmente me preenche. Sento sobre sua ereção e
preciso de uns segundos para apreciar a sensação
tão boa. Movimento-me devagar, nossos olhos se
encontram na nossa conexão gostosa, suas mãos
apertam minha bunda e aceleram meus
movimentos.
Sinto-o todo dentro de mim, preenchendo
cada espaço, abrindo-me mais para ele, e me
movimento mais rápido, sua mão passeia por meu
corpo e a guio até meu clitóris, ele entende e o
pressiona sem dó, e já não consigo manter meus
olhos abertos. Grito em desalento quando todo meu
corpo sente e ele se senta rapidamente, amparando-
me e guiando meu quadril, tornando o prazer tão
intenso e longo que quase não posso suportá-lo. E
grita em seguida, gozando dentro de mim,
apertando-me ao seu corpo com força, movendo-
me devagar sobre seu pau. Crava os dentes no meu
ombro, em uma mordida leve e gostosa e me beija
com amor quando se recupera. Caindo de costas na
cama e me levando junto.
— Eu a machuquei? — pergunta preocupado,
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sua voz mal passa de um sussurro rouco, referindo-


se ao quanto me apertou em seus braços e a sua
mordida deliciosa.
— Não mesmo. Onde você aprendeu isso?
Ele sorri, uma risada gostosa no meu ouvido.
— Andei vendo uns filminhos.
— Não acredito — zombo. — Um
virgenzinho bem safado, você.
— Você acha mesmo que eu ia levar uma
mulher experiente como você pra cama sem ter uns
truques na manga? — brinca de volta.
— A mulher experiente aqui agradece.
Ele me olha de um jeito tão doce, que se eu já
não tivesse me derretido totalmente gozando sobre
seu pau, me derreteria agora
— Só não consigo me controlar perto de
você, sempre quero tê-la mais perto, parece que
nunca é o bastante, parece que sempre tenho que
abraçá-la mais forte, penetrá-la mais fundo, mantê-
la colada a mim para que não se vá.
— E é por isso que isso é tão bom! Que é tão
intenso e completo. Por causa dessa nossa
necessidade de estar mais perto.
Ele me beija de novo, rola na cama e puxa a
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coberta do pé da cama para cima de nossos corpos


cansados, me enrolo nele enquanto sinto sua
respiração se acalmar e rezo que ele esteja
exatamente aqui quando eu acordar de manhã.

Abro os olhos sentindo-me satisfeita e


protegida. Estou tão aquecida que poderia dormir
mais um pouco. Lembro-me então da noite anterior
e sinto meu peito se encher junto aos meus olhos
quando vejo que ele está aqui. Embolado em mim,
cobrindo todo meu corpo, exatamente como
dormimos. Seu cheiro gostoso preenche o ar e sua
respiração em meu ouvido é como a melhor música
do mundo. Curto um pouco mais dessa sensação
tão gostosa, e resmungo comigo mesma por estar
me tornando uma tonta sentimental e apaixonada
que suspira até pelas respirações do cara.
Quem te viu, quem te vê, Brin.
Quando o sol brilha forte lá fora, consigo me
desvencilhar dele e tomo um banho rápido. Vou
pedir um café da manhã caprichado e levar na cama
para ele, para que ele veja o quanto é bom acordar
ao meu lado e nunca mais vá embora pela manhã.

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Mas meus planos são interrompidos quando ele se


junta a mim no banho. Seu corpo forte encostando-
se ao meu, seus braços me rodeiam e me levam de
encontro a ele, suas mãos brincam em meus seios e
sua boca passeia por meu pescoço e ombro.
— Bom dia, senhor Ryan. Finalmente
resolveu ficar para o café?
— Não tive escolha, estou faminto.
Sua mão desce por minha barriga e giro em
seus braços para abraçá-lo. A água quente corre por
nossos corpos unidos e seus braços estão à minha
volta, protegendo-me de tudo lá fora. Ele me beija
do seu jeito lento e intenso e tão logo sua boca
deixa a minha, beijo seu queixo, rindo de sua barba
por fazer causando cócegas em meus lábios. Beijo
seu pescoço, estou na porta dos pés para isso e ele
ri da minha tentativa, abaixando-se um pouco para
ajudar-me. Meus lábios passeiam por seu peitoral
definido, minha língua saboreando o gosto de sua
pele na água quente, tomando o líquido que escorre
por seus gominhos enquanto lambo cada um deles.
Apoio minhas mãos em sua bunda durinha e
ajoelho-me diante dele, levando seu pau à boca,
beijando-o com todo desejo que ele me desperta,
sentindo-o crescer com meus beijos, preenchendo
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minha boca aos poucos. Ele geme meu nome


enquanto sugo tudo dele, até que me levanta de
repente, suspendendo-me do chão como se eu não
pesasse mais do que algumas gramas. Apoio
minhas pernas em seus braços, enquanto suas mãos
me guiam para cima e para baixo e seu pau me
preenche aos poucos. Aumentando o ritmo
lentamente, fazendo-me gritar seu nome em
desespero. Meus seios se esfregam por seu
abdômen e gozo rapidamente, enquanto ele me
movimenta mais alguma vezes, antes de afundar a
cabeça em meu pescoço, e o beijo enquanto ele me
apoia na parede e se perde em mim.

Tomamos café na cama, enquanto todas as


dúvidas que não me atrevi a pensar ontem tomam
minha cabeça. Acaricio seu rosto lindo e relaxado e
temo assustá-lo jogando a verdade desse jeito,
enquanto torço que ela não o faça desistir.
— Como vai ser agora?
Ele me olha confuso e beija minha mão que
acaricia seu rosto.
— Vou tirar você deste hotel, e mantê-la

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presa na minha cama, na minha casa pelo resto da


sua vida.
— Isso seria delicioso, mas você sabe do que
estou falando. Vamos ficar juntos?
Ele parece horrorizado e um pouco da tensão
que sinto se esvai com sua expressão engraçada.
— Você tem alguma dúvida disso?
— Stephen, todo mundo sabe que sou garota
de programa. Como você acha que será tratado se
for visto comigo?
— Vou me importar mais em como vou me
sentir andando com você, e isso posso te responder
com toda certeza, Brin. Me sentirei excitado
quarenta e oito horas por dia, e também o homem
mais feliz do universo.
— Você é fofo e safado, como pode ser as
duas coisas?
— Vem morar comigo — pede de repente.
Olho seus olhos amedrontados e entendo que
o que ele quer é que eu deixe essa vida. Ainda não
encontrei o que posso fazer para me manter sem
isso, mas não pretendia dormir com mais ninguém
a partir do momento em que fui dele.
— Não estou pedindo que deixe sua
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profissão, só que viva comigo. Que durma e acorde


comigo.
— Você está dizendo que posso continuar
transando por dinheiro mesmo estando com você?
— pergunto sentindo-me um pouco assustada.
— Não. Estou dizendo que quero que vá
morar comigo, quero dar a você tudo o que merece
e você não precisa se preocupar com absolutamente
nada. Eu não gosto nem de imaginar outro homem
tocando você, mesmo que você não sinta, mais
alguém vendo-a nua, nem nada assim. Acho que eu
morreria um pouco a cada vez que você saísse para
atender um cliente.
— Então por que está me dizendo que posso
fazer isso?
— Porque não sou seu dono. Se é o que você
quer fazer, vou respeitar sua decisão.
— E quando eu voltar pra casa após atender
um cliente, vai me tratar como o quê?
— Como a mulher que amo e admiro acima
de tudo.
Será que estou sonhando com isso? Ele não
pode ser real.
Ele segura minha mão e me olha com olhos
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suplicantes ao dizer:
— É você quem deve decidir o seu destino,
ninguém mais. Mas se me permite dar a você uma
opção, venha morar comigo, deixe-me tratá-la
como a princesa que é, deixe-me cuidar de você
como você merece.
— Stephen, eu te amo tanto que isso me
assusta. E você é tão perfeito pra mim que me
assusta também. E eu não pretendia dormir com
mais ninguém depois de ser sua, isso nem passou
pela minha cabeça.
O alívio que vejo em seu rosto chega a ser
engraçado.
— Mas isso é o que fui até agora, é disso que
as pessoas vão se lembrar. Então se vamos fazer
isso, tem que me deixar resguardar você, me deixar
cuidar de você, como vou deixar que faça comigo.
— O que isso quer dizer?
— Não vamos ser vistos juntos em público.
Ele ri alto, e nega imediatamente com a
cabeça.
— De jeito nenhum! Já fomos vistos juntos
muitas vezes, todo mundo sabe que estamos juntos.
— Todo mundo acha que você é meu cliente.
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— E eu não quero este título. Quero ser o seu


namorado, seu marido, o pai dos seus filhos, mas
não seu cliente.
— Quem vai te levar a sério se você estiver
com uma garota de programa? Mesmo que
convertida?
— Não me importo.
— Eu me importo! Quando do nada as
pessoas descobriram o que eu fazia para viver, todo
mundo começou a me olhar torto. Ninguém amis
quis ser minha amiga, ninguém queria andar
comigo e as piadas no começo me machucavam
muito. Você não vai passar por isso.
— Brin, eu sou mais forte do que você pensa.
Juro que não me importo com nada disso.
— Você diz isso agora, mas passar por isso é
outra história. Não vou impor isso a você.
— O que você quer, então? Que namoremos
escondidos, como dois adolescentes de famílias
inimigas só porque as pessoas não vão entender o
que sentimos?
— Parece idiota com você falando assim —
resmungo.
— Porque é idiota. Não vou fazer isso. Eu te
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amo, todo mundo pode saber disso, e não ligo para


o que pensam.
Suspiro exasperada e deito-me de costas na
cama, lamentando seu destino iminente.
— Ah, Stephen! Você vai ter que ser muito
macho para aguentar isso. Seu pai nem vai
acreditar.
Ele sorri, pula sobre mim e seu celular toca.

Troco de roupa enquanto ele fala com alguém


e noto o momento exato em que seus ombros ficam
tensos, ele me lança um olhar preocupado,
responde o mínimo possível e sei que alguma coisa
está muito errada. Sento-me e espero que ele
encerre a ligação e venha até mim, me contar o que
houve. É exatamente o que ele faz. Senta-se na
cama, de frente para mim, e diz:
— Tenho algo para confessar. Eu invadi sua
privacidade há algumas semanas.
— O que quer dizer com isso?
— Depois da noite em que você travou perto
da sua casa por causa da polícia, eu contratei um
detetive para investigar seu passado. Para entender
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porque você reage assim e poder ajudá-la.


— Você o quê? — Sinto-me em pânico
conforme vou compreendendo o risco que correu
ao fazer isso. — Você não tinha o direito de fazer
isso!
— Eu sei, você não faz ideia do quanto estou
arrependido.
— Arrependido? Você está arrependido! Isso
deve ser o bastante não é mesmo? Porque eu
quando eu menti para você, fui tratada como uma
prostituta barata, mas você mentir para mim é
bonito, não é? Só queria me proteger! — Levanto-
me irritada e perdida sobre como agir a partir de
agora.
— Não, Brin, não é. Você tem todo o direito
de estar puta comigo, tem todo o direito de não
querer mais olhar pra minha cara, eu pisei na bola e
muito feio.
— Sabe o que mais me dói? Não é por você
ter invadido minha privacidade e mandado
investigarem a minha vida, mas não ter me contado
isso depois. Você podia me perguntar qualquer
coisa, e tinha que aceitar que a minha resposta
bastasse porque é a minha vida!

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Ele abaixa a cabeça, sente-se tão arrependido


e eu me sinto decepcionada com ele. Criei esta
imagem de que ele é tão perfeito e ver que não é
este o caso é desolador. E também me faz ver que
não sou de fato tão inferior a ele assim. Um pouco
dessa sensação que me acompanhava de que ele era
bom demais para mim, se perde. Ele também errou
comigo, também mentiu para mim. Somos dois
grandes mentirosos.
— O que você descobriu? — pergunto
finalmente.
— Quase nada, na verdade. Sobre os Green, a
filha deles que pode ou não ser você, um período
em que esteve num abrigo em Valencia, e através
do meu pai que alguém chamado Padilha está atrás
de você. Nada que ligue essas informações.
— Que bom! Você não está correndo perigo,
neste caso. Quem mais sabe? E o detetive que você
contratou?
— Ele foi para o Brasil investigar, e ficou
desaparecido por alguns dias.
Minha pressão cai de repente e sinto-me
bamba, Stephen rapidamente me ampara, sentando-
se comigo sobre a cama e depositando-me em seu

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colo.
— Ele está morto?
— Não, ele foi encontrado. O irmão dele me
ligou agora, ele está bem. Por que você perguntou
isso? O que há no seu passado de tão perigoso?
— Não vou dizer isso a você, você não podia
ter mexido com isso, você não faz ideia do quanto
acabou de ferrar com todos esses planos bobos que
fizemos a manhã toda.
Saio de seu colo sentindo-me desolada pela
vida que sei que serei obrigada a abandonar, justo
agora que me encontrei.
— Brin, me perdoa. Eu prometo que nunca
mais farei algo assim de novo. Eu prometo
recompensá-la. Sei que não fui o melhor dos
homens com você quando precisou do meu perdão,
mas por favor, me puna com o que for preciso, mas
me perdoa.
Olho em seus olhos cheios e arrependidos, e
se tudo se resumisse a eu perdoá-lo seria tão fácil!
Mas ele me colocou em perigo, e a todos a quem
conheço, e terei que entrar em contato com o meu
agente no governo e torcer que ele não me mande
para outro país, com outro nome, porque tenho

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certeza que é o que vai acontecer.


Penso seriamente em não comunicar nada,
não dizer a ele o que aconteceu, fingir que ainda
estou segura, mas seria um egoísmo tão grande
arriscar vidas e toda uma operação por causa do
amor que sinto por esse babaca!
Por que isso tinha que acontecer? Por quê?
As lágrimas correm soltas por meu rosto e ele
me abraça, tentando amparar-me, pedindo perdão.
E nem posso dizer a ele que irei embora, que terei
que deixá-lo, que isso vai acabar comigo.

Preciso de um pouco de ar e peço a ele que


me deixe sozinha. Assim que ele deixa o hotel, saio
também, para ver Tyler. Irei dar a ele algum
dinheiro e pedir que vá para Miami sozinho.
Apenas para o caso de Padilha ou qualquer um
ligado a ele saber onde estive morando nesse
último ano.
Chego a minha casa e o notebook de Tyler
está ligado sobre a mesa. Chamo por ele, e percebo
que está no banho, é aí que reparo o que há na tela.
O meu famoso site. Sento-me ali e rolo a tela vendo
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as fotos, a descrição criativa e os depoimentos.


Então vejo o nome de Leon Harris, ele foi meu
cliente. Um dos piores que tive, odiou-me por
minha frieza e porque não o deixei tocar-me.
O depoimento dele diz exatamente isso, o
quanto sou fria, e fresca. Abaixo, há o depoimento
de Harry Mason, ele diz que apenas conversamos
porque sou muito melhor de lábia do que de cama.
E muitos outros o seguem. Meus verdadeiros
clientes, os verdadeiros depoimentos. Estou pasma
lendo tudo quando um apito soa na tela e uma
janela de bate-papo abre. Um homem que nunca vi
na vida pergunta quando voltarei a atender. Fecho a
janela e abro as outras, as “minhas” conversas com
Stephen, e abaixo, “minhas” conversas com a
grande maioria dos clientes que já atendi.
Combinando programas, oferecendo-me, como se
fosse eu. Como se fosse meu cafetão.
Minha ficha cai quando Tyler aparece na
sala, ainda enrolado na toalha e em pânico.
— Sabrine, eu posso explicar.
— Você criou esse site?
— Eu a estava ajudando! Direcionando
clientes até você, cuidando para que os

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depoimentos não entrassem, mas a internet foi


cortada e fiquei uma semana sem conseguir excluir
os depoimentos verdadeiros, eles se acumularam.
— Você tem ideia do que fez?
— Eu a ajudei.
— Não! Não ajudou! Todo mundo descobriu
o que sou por causa dessa merda de site! Eu fui
expulsa do campus, fui rechaçada e julgada por
causa dele, e você sabia disso! Você sabia de tudo e
não me disse que era você o responsável por isso!
— Não foi essa a minha intenção. Eu queria
ajudá-la, direcionei os clientes até você, apenas. Os
mantive curiosos sobre você com o site.
— E o que você ganhou com isso? O que
ganhou sendo a porra do meu cafetão?
— Nada! Eu não recebia nada, você pode ver
pelas conversas. Eles negociavam o preço com
você, eu apenas passava seu contato e os
encorajava. Eu só queria ajudá-la.
— Vocês são todos mentirosos e idiotas!
Querer me ajudar não justifica esse monte de
mentiras! Vocês são todos iguais!
Sinto uma raiva tão grande que nem sei
começar a mensurar. Meu telefone toca e penso ser
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Stephen, já que não tenho seu número novo salvo


na agenda e atendo com a raiva que estou sentindo,
mas a voz do outro lado da linha me faz congelar. É
Max, o agente responsável pela minha segurança.
— Sabrine, onde você está?
— Em casa, o que houve?
— Os homens de Padilha foram vistos
rondando seu bairro, estou enviando um carro para
buscá-la e ao seu colega de apartamento. Vocês vão
ficar aqui até que decidamos o que fazer. O que ele
sabe sobre você?
— Nada, ele não sabe absolutamente nada.
Mas temos que conversar, Max. Há alguém que
sabe bastante sobre mim.
— Eu sei, Dylan Scott, um detetive. Ele é
irmão de um amigo meu, foi sequestrado no Brasil
pelos homens do Conrad, nós o resgatamos, mas
ele disse demais sobre você. Padilha sabe quem
você é, Sabrine. Sabe a aparência que tem agora, o
nome que usa e onde vive.
— Me encontra no Royal para conversarmos.
Não precisa me buscar, tenho dois seguranças, vou
mandá-los com meu amigo para outro lugar.
— Tudo bem. Mas vou mandar alguém assim
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mesmo, apenas para ficar de olho. Eu sinto muito,


Sabrine. Você precisa ir embora.
— Eu sei.
Ele encerra a ligação e encaro um Tyler
atento e preocupado.
— Ei, quenga, o que houve? Por que está
com essa cara?
— Eu preciso que você junte todas as suas
coisas e vá para Miami, Tyler. Ou para qualquer
outro lugar longe daqui. Vou te dar dinheiro para
isso, você não pode falar para ninguém onde está
indo, nem poderá se despedir.
— Tem a ver com seu passado?
Assinto e digo com a voz baixa:
— Sinto muito.
— Não sinta, a única pessoa que valeria a
pena uma despedida seria você, e é a única de quem
vou sentir falta.
Ele me abraça, seu corpo frio pelo banho
interrompido. Essa é provavelmente a última vez
que o verei, e sua toalha cai estragando todo o
momento.
— Ah, Ty, vá se vestir!
— Olha bem aqui enquanto pode a verdade
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sobre essa falsa lenda do tamanho do pênis do meu


povo.
Sorrio e dou de ombros.
— Dá para o gasto.
— Sua invejosa!
— Vá se vestir, a partir de agora você terá
dois seguranças o seguindo para todo o lado, seja
para onde você for.
Seus olhos puxados brilham e ele fica muito
animado de repente.
— Dois seguranças gatos?
— Dois seguranças enormes.
— Ah, meu Pai! Meus preferidos. Já vou me
vestir e juntar minhas coisas.
Ele se afasta empolgado e me despeço do
lugar onde mais senti como uma casa. Emily o teria
adorado.

Sento-me em um banco no Central Park e


observo as pessoas, a paisagem, o barulho de carros
e pedestres, sinto o vento frio em meu rosto
enquanto busco coragem de dizer a Stephen que
preciso ir embora.
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Despedir-me dele será provavelmente a coisa


mais difícil que terei que fazer na vida. Mais difícil,
até do que foi despedir-me de Emily, porque nunca
pensei que teríamos uma vida longa mesmo, mas
com ele cheguei a acreditar que ficaria para sempre.
Ele se senta ao meu lado de repente, e me
olha com seu jeito preocupado
— Como você me achou?
— O Tyler me ligou. Os seguranças que
contratei disseram que você os mandou irem com
ele para fora do estado, pensei que havia algo
errado.
Deito em seu peito e ele me abraça. Beija o
alto da minha cabeça e procuro coragem para dizer
que estou indo embora. Mas o quão vago isso
seria? Dizer ao homem que amo, com quem fiz
planos esta manhã que estou indo embora apenas.
Sem qualquer motivo ou explicação, porque eu não
poderia dá-las. Não sem colocá-lo em perigo
também. Então apenas fico ali no seu abraço,
memorizando esta sensação para nunca mais
esquecê-la.
— O que a está incomodando? É sobre o que
fiz?

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Nego com a cabeça e digo que não é nada,


mas ele insiste:
— Por mais misteriosa que você seja, a
conheço o suficiente para saber que algo está
errado, Brin. E você está segurando isso apenas
para si mesma, ao invés de dividir comigo. Vamos
ter uma vida inteira juntos, você precisa aprender a
dividir-se mais. Abrir-se mais. Me deixar fazer
parte de tudo o que acontece com você.
— Eu estou bem, você faz parte de tudo o
que importa.
Ele me afasta de seu peito e resmungo porque
não estou pronta ainda para deixá-lo, não
memorizei o bastante a sensação de seus braços
fortes à minha volta, e seu cheiro tão bom.
— Por que não conta o que aconteceu no seu
passado? Me deixa ajudá-la.
— Eu não posso, Stephen. Se pudesse, eu o
faria.
— Tudo bem, então me diz apenas quem
você é. Não precisa falar sobre mais ninguém, me
fale apenas de você.
Pego sua mão e coloco em meu peito, para
que ele sinta meu coração.
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— Esta sou eu, esta é quem eu quero ser. A


sua Sabrine, nesta vida, nesta cidade, neste
momento. Eu nunca fui tão eu antes. Será que quem
eu fui no passado importa tanto assim para você? A
pessoa que sou de verdade, a que sou agora, com
você, a sua pessoa, não é o bastante?
Ele assente, apertando de volta minha mão.
— É mais do que suficiente. Não precisa me
dizer nada, Brin, só me peça ajuda sempre que
precisar de mim.
— Eu te amo — digo a ele, e espero muito
que ele não duvide disse depois que eu o deixar.
— Eu te amo ainda mais.
— Então me leva para comer um podrão.
Não tenho um centavo no bolso.
— Eu te levo onde você quiser, amor.

O cachorro quente brasileiro na esquina da


faculdade está lotado, como sempre. Ele fica bem
localizado, em frente a um pub que também vive
cheio. Os olhares que recebemos assim que
chegamos, aqueles acusadores, e incrédulos, me
fazem prestar atenção o tempo todo nele, para
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captar o que está sentindo, o quão incomodado está.


Não é como se fôssemos mesmo ter uma vida
inteira pela frente, onde ele teria que se habituar a
isso. É apenas para que eu saiba que ele se
habituaria, que se acostumaria a ser sempre julgado
por estar comigo.
O atendente sorri para mim, ele sempre me
trata com toda atenção, porque acabo gastando todo
meu dinheiro com ele.
— O de sempre, Sabrine?
— Capricha, Nelson. Meu amigo aqui ainda
não provou o podrão.
Ele realmente capricha, nos estende um prato
com o típico cachorro quente brasileiro, um pão
enorme, duas salsichas, e tudo o que um cachorro
quente de verdade tem direito. Como frango,
bacon, ovo de codorna, batata palha, vinagrete,
purê, bolonhesa, carne moída, queijo e uva passa. É
tão grande que é difícil comer. Ao contrário dos
cachorros quentes daqui, que consistem em um pão
magro, uma salsicha e mostarda. Stephen olha para
o prato diante de si e ri.
— Por que não estou surpreso que este seja o
famoso podrão?

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— Culinária brasileira, querido. Você vai


amar.
Ele prova e aprova, e rio de sua cara
engraçada e do quanto se suja ao tentar comer o
pão gigante.
— Americanos! — provoco. — Veja e
aprenda a comer isso direito como uma brasileira.
Noto sua expressão surpresa por eu ter
confessado meu país de origem, e como o podrão
como uma lady, arrancando sua risada gostosa.
Quando terminamos, ele diz satisfeito:
— Mais uma coisa em que você me viciou,
sua diabinha.
— Só te vicio nas coisas boas da vida. Você
deveria mesmo querer se casar comigo.
Ele sorri, enfia a mão no bolso da calça e tira
de lá um anel, levanta-se da cadeira e se ajoelha
diante de mim, entendendo-o. Atraindo a atenção
de todos os universitários ali presentes.
— O que você está fazendo?
— Sabrine Vega, minha adorável diabinha,
você foi a recompensa que recebi da vida pelo
quanto esperei pela mulher perfeita, e é mais
perfeita do que eu poderia ter pedido. E não me
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importa seu passado, eu vou curar cada ferida


deixada por ele. Vou te ajudar a enfrentar seus
medos e construir com você cada um dos seus
sonhos, eu vou cuidar de você, como você tem feito
comigo, e vou amá-la sempre, a cada dia. Eu amo
você, e sei que posso parecer louco, precipitado e
até desesperado, mas não ligo. Só preciso que você
diga sim. Que seja minha para sempre. Casa
comigo, Brin.
Em cada sonho, plano e possíveis destinos
que um dia imaginei, eu jamais, em nenhum
momento, pensei que viveria algo assim. Que teria
alguém como ele, que me amasse desse jeito e
estivesse mesmo disposto a tudo para ficar comigo.
Não preciso olhar em volta para os rostos dessas
pessoas, nem saber se estão surpresas, horrorizadas
ou felizes. Só preciso olhar o rosto dele. E o que
vejo ali é o amor e a esperança de ficar comigo. E
foda-se o que o resto do mundo acha disso.
Lanço-me em seus braços, rindo como uma
boba enquanto ele coloca o anel no meu dedo.
— Eu adoraria me casar com você, nem te
respondi, e você já está colocando esse anel aqui.
— Nem foi preciso palavra alguma, o seu
sorriso foi a resposta.
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— Eu te amo tanto! Stephen, eu vou te amar


para sempre. Não importa o que aconteça, vou
amá-lo para sempre!
Ele me abraça de volta, me levanta em seus
braços brincando sobre o meu peso ter dobrado
após o podrão, e vamos para sua casa, para sua
cama, finalmente. Onde fazemos amor a noite
inteira, e me permito esquecer do resto do mundo e
de tudo o que está para despencar sobre minha
cabeça, e acreditar ao menos por esta noite, que
esta é minha vida. E será sempre a minha vida.
Porque isso também conta, eternizar
momentos que você sabe que irão acabar, apenas
para que durem mais do que deveriam, também é
um jeito de colher felicidade.

Mas o dia amanhece, meu celular toca sem


parar, finalizo a carta que estou deixando para ele.
Aquela onde disse tudo sobre mim, apenas, não
sobre o que me está me fazendo fugir. Onde disse o
quanto o amo para que ele nunca se esqueça. Não
pego nada além do celular dele onde nosso vídeo
está salvo, o anel que nunca mais vou tirar do dedo,

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e uma de suas câmeras, para me lembrar dele. E


vou ao encontro de Max, tentar convencê-lo que
não é tão ruim quanto parece, e que vou ficar aqui
com o homem da minha vida.
Porém, quando entro em seu carro, e vejo sua
expressão, entendo que nada disso será possível.
Esta é minha vida, e não posso deixar que o
sacrifício de Emily tenha sido em vão.
— Eu sinto muito, Emaline — diz resignado.
— Sabrine, meu nome é Sabrine.
Ele me estende a minha nova identidade,
lacrada no envelope pardo, a abro devagar, apenas
ele e eu podemos saber quem serei a partir de
agora. As passagens em nome da nova eu estão ali,
com um novo destino: Austrália. A partir de agora
sou Jennifer Walker, australiana.
— Max, ele não veio, Padilha não está aqui,
tem certeza que precisamos fazer isso?
— Ele não veio, Sabrine. Padilha foi morto
no resgate de Dylan Scott, mas isso não a deixou de
alguma forma, segura, pelo contrário. Eles querem
vingança. Conrad quer.
— Ele está preso! Não tem que querer mais
nada! Até quando vou viver fugindo?
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— Eu sinto muito! De verdade! Por você e


pela Emily. Não pense nisso, pense em todas as
vidas que vocês duas salvaram.
— Menos as nossas.
Aperto o anel em meu dedo, desejando que
um milagre aconteça, que Conrad e toda sua
gangue idiota morram, que qualquer coisa aconteça
para me deixar segura o bastante para ser eu.
O carro freia de repente e uma moto está
atravessada na nossa frente, foi o que obrigou o
motorista a frear. É a minha moto, Stephen está
sobre ela. Sem o capacete, muito assustado e
confuso. Saio do carro e ele vem em meu encontro.
— O que você está fazendo? Onde está indo?
Está indo embora? — pergunta em desespero.
— Sabrine, volte para o carro! Se disser
alguma coisa sabe o que teremos que fazer com seu
amigo. Não faça isso com ele, entre!
Se eu disser alguma coisa, ele também terá
que sumir. Como Tyler.
— Não vá, Brin. O que quer se esteja
enfrentando, vamos enfrentar juntos, não faça isso.
— Isso é maior do que você, Stephen, maior
do que nós. Eu só estaria colocando-o em perigo.
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— Eu não ligo. Volte comigo, vamos dar um


jeito. Você precisa ir embora? Eu vou com você.
Vamos para onde você quiser, mas fique.
— Sabrine, entre neste carro agora mesmo!
— ordena Max.
E sinto muito pelos anos em que ele tem me
protegido, por tudo o que posso estragar sendo
egoísta, é como ele disse, eu já salvei muitas vidas,
não a da minha melhor amiga, mas preciso salvar a
minha. Se Conrad tiver que me achar, irá fazê-lo
em um lugar ou outro, só não quero ser a casca
vazia que era quando ele me encontrar. Não quero
morrer sem ter vivido.
— Sinto muito, Max.
— Não faça isso. Você está colocando a vida
dele em risco.
— Ele sabe se cuidar.
Estendo a ele o envelope com a nova vida
que estou abrindo mão, a nova eu que não serei.
— Sabrine, o governo não irá protegê-la se
você desacatar uma ordem assim.
— Não ligo. Estou abrindo mão do programa.
Obrigada pelos anos em que cuidou de mim e da
Emily. Mas não preciso mais da sua proteção.
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— Emaline não faça isso — pede baixinho.


O abraço rapidamente, nunca tivemos esse
tipo de interação, mesmo ele cuidando de mim há
tanto tempo. Acabou se tornando como uma figura
paterna distante para mim. Alguém a quem posso
recorrer sempre que as coisas apertam.
— Meu nome é Sabrine. Adeus, Max.
Abraço Stephen escolhendo a ele e indo
contra tudo o que segui a vida toda, subo na moto e
mando que ele suba atrás de mim.
— Segure-se em mim, querido.
— Nem pensar, você não aguenta meu peso.
— Sempre uma donzela.
— Cale a boca e dirija essa coisa. Isso é
horrível. Você deveria ter um carro.

Ele me serve uma taça de um vinho doce e


delicioso, e a viro de uma vez porque não acredito
que vou mesmo falar sobre isso. Olho pela janela
mais uma vez e ele pega minha mão, afastando-me
dali.
— Estamos seguros. Tem muitos seguranças
lá fora, relaxe.
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Assinto, e deixo que ele me leve até a cama.


Para desviar o assunto que realmente não quero
falar, fico de joelhos e o beijo, passo minhas pernas
sobre as suas, sentando em seu colo, enquanto
minhas mãos tentam abrir o zíper da sua calça, mas
ele impede.
— Agora não, diabinha. Estou louco para ter
você de novo, mas preciso saber o que devo fazer
para protegê-la primeiro.
Derrotada, saio de seu colo e me levanto.
Estou tensa demais para ficar sentada. Eu pedi tanto
por um milagre e ele ter me visto saindo, ter me
seguido, pegado minha moto e alcançado o carro
pilotando mal como ele pilota, só pode ser o
milagre que esperei. Não que isso me pareça
alguma solução, afinal de contas, agora não apenas
eu estou em perigo, ele também. E apesar do medo
que sinto de machucá-lo, estou em paz por estar
com ele.
Ele me olha ansioso e não tenho mais como
adiar isso. Olho em seus olhos ao explicar o que
estava fazendo em um carro desconhecido, fugindo
com um homem desconhecido.
— Eu estava no programa de proteção à
testemunhas do governo dos Estados Unidos.
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Ele assimila o que falei e pergunta:


— Por quê? Por que você precisou entrar
para o programa?
Respiro fundo mais uma vez, e pela primeira
vez na vida, vou contar tudo.

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Capítulo 16
Stephen
Posso sentir seu medo pela maneira inquieta
como anda de um lado ao outro ao começar a
contar sua história. Posso sentir que nunca fez isso
antes, está tremendo e mal consegue pronunciar em
voz alta o final de cada frase. E também tenho um
pouco desse pânico em mim. De quando a vi saindo
às escondidas, entrando num carro estranho e indo
embora com alguém. Acho que nunca senti tanto
medo na vida.
— Fala, amor. Estou aqui com você —
encorajo.
— Minha mãe nasceu no Uruguai. Ela foi
sequestrada por uma quadrilha que traficava
meninas e as vendia. Essa quadrilha era enorme e
tinha gente importante de vários países. Ela foi
levada ao Brasil, onde ficou em cativeiro, sendo
abusada e agredida. Por algum motivo não a
venderam, e ela me teve alguns anos depois. E foi
morta quando eu tinha quatro anos. Eu fiquei solta
nas ruas em uma comunidade no Rio de Janeiro.

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Não lembro qual era o meu nome, ela me chamava


por algum apelido, mas por mais que tente, não
consigo me lembrar. Mas me disseram o nome dela
uma vez. Era Sabrina. Eu tinha uma boneca velha
de pano com este nome para não me esquecer do
nome dela.
Quero abraçá-la para confortá-la. Quero que
pare de falar e não se lembre mais desse passado
que tenta esquecer. Mas permaneço nessa cama
vendo-a abrir-se pela primeira vez. Vigiando
quando será necessário intervir e interrompê-la,
quando ela estará machucada demais para falar.
— Eu vivia de ajuda dos moradores da
comunidade, alguém sempre me dava algo de
comer, uma roupa velha, abrigo quando chovia. O
tempo foi passando e eu me tornei a menina sem
nome mais esperta daquela região. Comecei a
roubar para comer. Era rápida e esperta demais. Até
que um dia, eu tinha oito anos, encontrei uma
garota perdida. Ela não falava minha língua, e só
sabia chorar. Entendi apenas o seu nome, Emily. Eu
a protegi, dividia com ela o que conseguia para
comer, o que conseguia para dormir. Ficamos uma
semana correndo pelos becos da favela, pensando
que nossa vida seria boa. Nos comunicando da
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forma que dava, em espanhol, porque era a língua


que ela sabia falar um pouco além do inglês, e eu
entendia o suficiente por causa da minha mãe.
Ela me disse que estava a passeio com sua
família na Argentina e uns homens a pegaram. Ela
fugiu e ficou perdida, e nem tínhamos a noção de
que estes homens poderiam estar por perto, que
deveríamos pedir ajuda a alguém. Até que um dia,
ela viu um policial na comunidade, e sem falar
comigo, ou eu a teria alertado que eles não eram de
confiança, pediu a ajuda dele. Ele a pegou pela
mão, a colocou na viatura, ligou a maldita sirene e
a levou embora. Eu fiquei escondida, com medo de
ser pega e de ser levada também.
Pensei que talvez ele pudesse ajudá-la. As
lembranças que tinha de homens como ele, homens
armados, uniformizados, eram dos homens que
agrediam e abusavam da minha mãe. Eu sabia que
eles não eram bons. Umas semanas depois,
perambulando pela comunidade, vi um lugar
conhecido. Uma casa grande, com um portão azul
que me era familiar. Passei pelo portão, dei a volta
pela casa cuidando para não ser vista, e vi as
meninas. Muitas crianças acorrentadas num quarto,
entre elas, a Emily. Eu não podia entrar lá e
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resgatá-la, não podia pedir ajuda, não podia fazer


nada. Fiquei por semanas entrando lá às escondidas
para dizer a ela que ia dar um jeito, que ia ajudá-la.
Levando coisas para ela e as outras crianças
comerem. Tive que roubar ainda mais para isso. E
acabei sendo pega por uma ONG e levada a um
abrigo para menores. Lá conheci uma senhora
bondosa e contei a ela o que havia visto, falei sobre
as meninas acorrentadas. Pedi que não chamasse a
polícia, e ela não acreditou em mim.
Então eu fugia de vez em quando, voltava ao
local, Emily ainda estava lá. Fiquei semanas
observando, decorando os rostos, os nomes que
chamavam, eu estava aprendendo a ler no abrigo.
Comecei a anotar os nomes dos homens que
entravam e saíam, das crianças que eles diziam, os
dias, os movimentos. Eu os vigiava, como uma
obsessão. Comecei a entender que eles sempre
levavam embora as meninas que estavam do lado
direito do quarto, as que alimentavam mais, as que
podiam tomar banho e tinham seus cabelos
penteados. E no dia que a Emily foi para esse
grupo, eu sabia que ela ia embora.
Foi ela quem me deu um nome. Disse que era
um nome parecido com o dela, Emaline. Para que
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fôssemos como irmãs.


Ela para de falar e sirvo mais vinho, ela o
toma de uma vez, e continua.
— Entreguei meu caderno a senhora Carmen,
a mulher que tomava conta das crianças no abrigo,
e ela achou que ele tinha detalhes demais para a
fantasia de uma criança. Não podíamos chamar a
polícia, então ela ligou para embaixada americana
no Rio de Janeiro e denunciou o paradeiro de Emily
Green. Eles estouraram o cativeiro e a libertaram.
Assim como todas as crianças que estavam lá.
Prenderam muitos homens, alguns policiais, e com
o caderninho que eu havia feito, pegaram meus
depoimentos, me fizeram reconhecer cada um dos
policiais que participavam da operação. Claro, o
choque maior foi quando reconheci o Padilha, ele
era general do exército brasileiro. Negou até a
morte, a única prova contra ele era a palavra de
uma criança de rua. Nenhum dos policiais o
entregou, nenhuma das meninas sequestradas o viu.
Mas eu o vi. Tinha certeza que ele fazia parte e
queria provar.
Fui colocada junto com as crianças brasileiras
no Provita, o programa de proteção à testemunhas
brasileiro, ele ainda nem era um programa oficial
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do governo, e tinha muitas falhas. Me mandaram


para o México, e perdi o contato com a Emily, só
sabia que ela estava bem. Uns anos depois, eu tinha
doze anos, morava em um orfanato com o nome de
Emaline Fontes, um homem apareceu procurando
por mim. Era Ernest Conrad, um general do
exército americano, ele queria minha ajuda para
identificar os americanos que participavam do
esquema de tráfico. Ele me explicou que esse
esquema era muito antigo, que seus criadores já
haviam morrido e foi ganhando cada vez mais a
polícia e forças armadas brasileiras, uruguaias,
argentinas e americanas. Todos no mesmo
esquema. Prometi ajuda-lo, feliz por isso. Ele me
disse que Emily estava morando na Espanha. E me
prometeu que me deixaria vê-la um dia. Só que era
mentira. Ele me fez entregar todos os nomes e
rostos que eu sabia, e mandou matar-me depois.
Pelas conversas que ouvi entre eles, falavam em
inglês e eu estava aprendendo a língua, entendi que
ele, Conrad, era o cabeça de tudo. Um general do
exército americano, comandava todo o esquema de
tráfico de meninas, nos quatro países. E tinha
muitos aliados.
Ele me devolveu ao orfanato para não
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levantar suspeitas, com a promessa de que me


ajudaria, pensando que eu não sabia o que
planejavam, então fugi. Encontrei o agente
responsável pela minha proteção, e com as
informações novas que eu tinha, fui mandada para
o programa de proteção a testemunhas americano.
Conseguiram provar a culpa dele no esquema e ele
foi preso. Pensei que viveria em paz depois disso,
um a um os homens dele foram caindo. País a país
o esquema foi se desfazendo. Fui mandada para a
Suíça pelo programa novo, mas não me adaptei, e
me deixaram então ficar perto da Emily, me
mandaram para a Espanha. Ela era Theresa Vega na
época. E eu cometi o erro de desobedecer a
identidade nova que havia recebido e me registrar
no abrigo como Emaline Fontes. Foi meu jeito de
ajudar a Emily a me encontrar. E ela encontrou, nos
víamos sempre, nos tornamos inseparáveis. Até que
Padilha nos encontrou. Nunca conseguiram ligá-lo
a nada relacionado ao tráfico, ele não caiu, tinha
muitos contatos, inclusive com todos que queriam
vingar a queda de Conrad.
Ele começou a me perseguir, mas lembrava-
se de mim como a menina de 9 anos que era
quando entrei para o Provita. Acabou chegando à
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Emily primeiro, estávamos juntas, eu me escondi e


fiquei esperando-a dizer onde eu estava. Mas ao
invés disso, ela se assumiu com Emaline Fontes,
para me salvar. Eles a mataram. A mataram no meu
lugar, pensando que estavam silenciando a mim. Eu
estava escondida, vieram as sirenes, pensei que nos
ajudariam, mas não deu tempo, ela já estava morta!
Eu contei cada segundo daquele barulho infernal
até nos encontrarem e não chegaram a tempo. A
culpa foi minha.
A abraço e tento acalmá-la. Digo eu ela não
precisa falar mais nada, tudo está claro agora. O
quanto ela sofreu. Tudo pelo que passou.
— A culpa não foi sua, foi dele, Brin. Nada
disso é culpa sua.
— Os pais dela quiseram me conhecer
quando vim para cá, há dois anos. Mas como eu
diria a eles que ela morreu por minha causa?
— Não diga isso, tudo o que você fez teve
uma consequência enorme, Brin. Você salvou
tantas vidas! E tantas mais que seriam perdidas por
eles. Você deve se orgulhar do quão corajosa foi,
da heroína que é, não se culpe jamais. Até mesmo
os pais da Emily sabem disso. Tenho certeza que
eles não a culpam, você foi vê-los?
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— Não tive coragem. Como eu olharia para


eles? A morte de Emily finalmente derrubou o
Padilha, ele foi preso. Mas conseguiu fugir há uns
anos, por isso fui realocada para cá. Estava
procurando por mim, e seu pai disse a ele onde eu
estava. Ele está morto, Stephen, ele pegou o seu
amigo detetive, e morreu no resgate dele.
— Eu sei, Michael me deu essa notícia.
Dylan está bem, está voltando para casa. Muitos
dos que sobraram fiéis a eles foram presos ou
mortos nesse resgate.
— Mas eu não estou segura. Por isso estava
indo embora, ia receber uma nova identidade em
um novo país pelo programa, porque os homens
dele estão aqui, eles estão furiosos por sua morte.
Eles vão me encontrar, Stephen.
— Não, eles não vão. Nós vamos embora.
Tudo bem? Você está bem protegida, temos muitos
seguranças, vamos dar um jeito. Não vou deixá-la
sozinha.
A abraço para que entenda que irei cuidar
dela. Que irei com ela a qualquer lugar.
— Ainda dá tempo. Ainda posso ligar para o
Max e entrar para o programa e não colocar a sua

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vida em risco — pede.


— De jeito nenhum! Você já viveu sozinha e
fugindo por tempo demais. Vamos dar um jeito
nisso, tenho contatos, Brin. Vamos garantir que
homem por homem ligado ao Padilha caia. Em
breve você não correrá qualquer risco. Eu te
prometo.

Passamos uma semana inteira em casa, rindo,


conversando, nos provocando, fazendo amor. Não
há mais o medo em sua expressão, o anel que dei
forte alto em seu dedo e nos damos tão bem
morando juntos que parece mentira. Ela é sempre
tão divertida e sexy e a cada dia me apaixono mais
por ela. Numa tarde, após algumas ligações,
descubro que duas pessoas estão coincidentemente
em Nova York. Tomando todo o cuidado para que
eles também estejam em segurança, os convido
para almoçar.
Brin fica curiosa ao ver-me arrumando a
mesa e o restaurante entregando a comida.
— Quem vem aqui hoje?
— Você já vai saber. Espero muito que goste.
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— Deve estar falando da Caitlin e a Mackie


então, porque desde que o Tyler foi embora, não
gosto de mais ninguém além de vocês três nesta
cidade.
Apenas sorrio, e não dou qualquer dica sobre
quem vem almoçar conosco, e sua expressão
desconfiada me faz rir.
— Me fala quem está vindo — pede.
— Você já vai saber.
— Sabe que mais tarde vou me vingar por
você me deixar curiosa, não sabe?
— Amor, eu amo as suas vinganças.
— Stephen Ryan, você, definitivamente, não
tem medo do perigo!
Apesar de suas ameaças fofas e sexuais, não
dou qualquer dica sobre quem está prestes a chegar,
mas no fundo do peito temo sua reação, temo estar,
mais uma vez, invadindo sua privacidade na
tentativa de ajudá-la. Porém, agora é tarde demais e
espero mesmo que ela se sinta melhor depois desse
almoço.
Na hora marcada, a campainha soa, Brin me
lança um sorriso travesso, convencida de que as
convidadas são Caitlin e Mackenzie, e abre a porta
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animada, encontrando ali Adam e Tess Green. Ela


demora um pouco a reconhecê-los, e quando o faz,
dá um passo para trás, aturdida.
— Oi, Sabrine, tudo bem? — Tess diz,
tentando aproximar-se dela. — Nós queríamos
muito conhecê-la.
Brin não responde, nem tem qualquer reação.
Seus olhos estão cheios e ela parece prestes a
perder o ar. A abraço por trás, amparando-a e
dando a ela coragem, incentivando-a a responder.
— Ninguém a está julgando, amor. Eles
querem vê-la. Falar com você — explico.
— Julgando? Não, nós viemos agradecer! —
Adam diz, claramente emocionado. — Você salvou
a nossa filha.
Brin nega com a cabeça e suas lágrimas
molham minhas mãos.
— Não, não salvei, ela morreu por minha
causa.
— Não, Sabrine. Ela teria morrido naquele
cativeiro, e você sabe bem pelo que ela teria
passado, ainda tão nova! Seria uma morte horrível!
Nós nunca a encontraríamos de novo. Mas graças a
você nós a vimos de novo. A vimos muitas vezes, a
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vimos crescer, se apaixonar, e falar tanto da melhor


amiga a quem ela considerava sua irmã! Graças a
você ela teve muito mais da vida. Infelizmente não
foi o bastante, mas ela morreu de maneira honrada,
salvando a vida da irmã dela, tenha certeza que não
haveria maneira melhor para ela de partir — Tess
diz, seus olhos também se derramam.
— Vocês não me odeiam? — Brin pergunta
baixinho, ainda incrédula sobre as palavras de Tess.
— De jeito nenhum! Nós amamos você,
Sabrine. É como a filha que nos restou. A sua vida
é como a extensão da dela, jamais teríamos
qualquer sentimento diferente de amor e gratidão
por você! Há muitos anos queremos conhecê-la,
menina. Há muitos anos queremos te dar um
abraço.
Solto Brin para que Tess a alcance, e ela se
deixa cair nos braços da mulher pequena e
carinhosa, Adam a abraça também, acariciando seu
cabelo, dizendo que tudo vai ficar bem. E quando
ela olha para mim, há aquele olhar de gratidão,
aquela leveza pelo peso da culpa que está sendo
retirado dos seus ombros. Tess dá a ela uma boneca
de pano, pequena e aparentemente, velha.
— Queríamos que ficasse com isso. Estava
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com ela na Espanha, ela a levava para todo lugar.


Era sua boneca preferida. Ela dizia muito em dá-la
a você, porque você tinha uma boneca descosturada
da sua mãe.
Brin pega a boneca a abraça.
— Emma, eu me lembro dela. A Emily me
falou muito sobre esta boneca — diz emocionada.
Almoçamos juntos e Tess e Adam contam a
Brin muitas aventuras de Emily, mostram fotos,
coisas, perguntam sobre ela, sobre seus gostos. E
vejo o laço que criam ali. Um laço que vai durar
para sempre. Brin nunca mais estará sozinha.

Estou finalizando uma sessão de fotos em


meu estúdio, quando recebo uma mensagem do
Thor. Ele me pede que vá urgente até um endereço,
pois precisa da minha ajuda. Envio uma mensagem
a Brin explicando porque vou me atrasar e vou ao
seu encontro. Ao chegar, percebo que caí numa
armadilha. Os lutadores do beco estão ali, é um
armazém abandonado no Bronx. Pego o celular e
vejo a mensagem de Brin dizendo que é uma
armadilha. Não sei como ela pode saber disso, mas

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o celular é arrancado da minha mão e Jordan


aproxima-se com um sorriso no rosto. Atrás dele,
dois lutadores carregam o meu quadro, o de
campeão que ficava na entrada do Luck.
Não faço ideia de como descobriram quem
sou, menos ainda de como encontraram este
quadro, que pensei ter se perdido no dia da
confusão no clube.
— Onde está o Thor — pergunto procurando
por ele, porque a mensagem veio de seu número.
— Comendo a namorada nova dele, imagino.
Mas ele não faz ideia que vai perder um dos seus
queridos filhos esta noite.
— Eu não faço mais parte do Luck. Não fazia
quando comecei a lutar no beco.
Ele nega com a cabeça, nada convencido com
a minha mentira.
— Você foi desclassificado por Colin
Hanson, dois dias depois de se inscrever no
campeonato do beco. Você ia lutar aqui e lá se não
tivesse sido eliminado. E ainda era sua casa, já que
atende tão prontamente um chamado do papai.
— O clube nem existe mais, foi destruído, os
lutadores foram presos, vocês tiveram sua
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vingança.
— Jamais permitiríamos que um de vocês
ficasse com nosso título e com nosso dinheiro.
— Eu devolvo o dinheiro a vocês, sequer
toquei nele.
— Claro que não! Você não precisa disso,
não é? É um playboyzinho filho da puta, podre de
rico e mentiroso! Achou que poderia nos enganar?
Que poderia entrar aqui como quem não quer nada
e vencer nosso campeonato para entregar isso ao
Thor?
— É, na verdade, ele achou e fez — a voz de
Colin me surpreende e sou atingido em cheio em
seguida, Colin também está lutando com eles, são
muitos, batem muito bem, e não lutam limpo.
De repente, ouço um grito e Brin acerta um
deles com um bastão. Ela manobra muito bem a
coisa, acabando sozinha com o brutamontes. Aí
tudo muda de figura. Se eles colocarem as mãos
nela...
Como um louco, luto no nível deles,
acertando-os em cheio, onde mais dói, derrubando-
os um a um, ficando apenas Jordan, intacto,
esperando por mim. Não esmoreço diante dele

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também, foda-se a dor que estou sentindo ou quão


cansado estou, ele me derruba e me atinge num
primeiro momento, mas me recupero rapidamente,
atingindo-o em seguida. Lutamos por alguns
minutos, e não sei dizer qual cara está pior, o seu
rosto transforma-se em uma mancha de sangue. É
aí que ele puxa a faca, é o único jeito que ele
conhece de lutar.
— Isso de novo não! — ouço Brin dizer
pouco antes de acertar o bastão na mão dele,
arranco a faca de sua mão e ele pega Brin pelo
cabelo, mantendo um braço ao redor do pescoço
dela.
— Se você a machucar...
— Vai fazer o quê? Devolva-me a faca,
coloque-a no chão e a chute para mim, ou vou
quebrar o pescoço da sua putinha.
Jogo a faca no chão e a empurro com o pé. E
assim que ele se abaixa para pegá-la, Brin o acerta
com um chute, segura seu baço e se lança no ar,
levando-o com ela. O barulho do osso sendo
quebrado é nítido. Recupero a faca e Colin, todo
quebrado, chama a polícia.
— Valeu, cara — digo a ele quando já

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estamos longe dali, depois de sairmos correndo.


— Tudo por um amigo.
Batemos nossas mãos selando uma amizade
que a vida inteira juguei impossível, e Brin me
conta animada como foi bom bater em uns caras e
sua vontade de ser lutadora.
— Nem pensar!
— Você não pode me proibir.
— Não vou, irei persuadi-la.
— Vai ter que barganhar muito, porque estou
realmente empolgada.
— Sua empolgação vai passar quando a
adrenalina ceder e você sentir dores por todo o
corpo.
— Acho que não.
— Vem aqui, Brin!
— Não vou beijar sua cara torta.
— Vai sim, me beija logo, diabinha!
Ela abre um sorriso lindo ao me beijar com
seu fogo, e por mais que tudo em meu corpo doa, a
prendo em meus braços e agradeço aos céus por ela
não ter se ferido.
— E eu pensando que você era uma donzela
em perigo.
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— Você é a donzela da relação, amor, já


devia saber disso — provoca.
A puxo de novo para meus braços, suspendo-
a do chão, e prometo mostrar a ela a grande donzela
que sou.

Dois meses depois...


Hoje é o dia da inauguração do clube novo do
Thor, ele se chama Asgard, e pelo visto será ainda
mais famoso do que o Luck. Embora tenha ajudado
na reforma do lugar adquirido por ele, não quis
estar presente esta noite. Não é mais a minha casa.
Por mais que a minha relação com Colin tenha
melhorado, não é a mesma coisa estar lá. Tenho
preferido a paz da minha casa, com ela.
Há duas semanas, o último homem de
Padilha foi identificado e preso. A ajuda de Dylan
foi essencial para identificá-los um por um. E Brin
pode andar tranquila pelas ruas de nova York de
novo. Neste momento, ela está em seu antigo
apartamento, foi receber Tyler, que está de volta a
Nova York. Ela me liga e diz animada:

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— Você não vai acreditar! Lembra do meu


site? Acesse-o e divirta-se. Já estou indo pra casa,
quer que eu leve um podrão?
— Melhor, porque você não traz essa bunda
linda até aqui e vamos juntos ao podrão?
— Tudo bem, arrume-se donzela, estou
chegando.
Abro meu perfil pelo celular e uma foto de
Serena me chama atenção. Ela e Mary se beijando
na boca, é a foto de seu perfil. Mal posso esperar
para saber como papai vai reagir a isso. Não nos
falamos mais desde aquele dia em que ele se negou
a ajudar a mim e a Brin. Mas vejo meus irmãos
com frequência, mesmo assim, o anúncio de Serena
me pegou de surpresa. Esta foi a primeira vez que
eu quis estar em casa de novo, apenas para ver a
cara dele quando vir isso.
Então vou ao site de Brin, ele está desde
aquela época nos favoritos no meu navegador. E
agora não é mais dela, é do Tyler. Fotos dele em
várias posições passam pela tela, e embora eu
preferiria não ter visto isso, sou obrigado a rir de
sua descrição e dos seus serviços de garoto de
programa. Ele está assumindo o lugar da Brin, e só
posso imaginar que todos esses depoimentos
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satisfeitos sejam falsos.

Arrumo-me rapidamente e espero por ela.


Mas se passam trinta minutos, quarenta e nada dela
chegar. Ela está de moto, não é tão longe assim.
Penso que Tyler pode tê-la prendido mais tempo lá,
e ligo para ele. Mas ele me diz que ela saiu há
muito tempo. Passa uma hora e nem sinal dela.
Tento ligar, mas seu celular só cai na caixa postal.
Vou até o podrão me certificar de que ela não
decidiu passar lá ela mesma e me fazer alguma
surpresa, mas Nelson diz que ela não apareceu por
lá. Ligo para Caitlin e Mackenzie, mas ninguém
sabe dela, estão todas no Asgard.
Quando meu celular toca, penso ser ela, mas
é Dylan.
— E aí, cara?
— Stephen, a Brin está com você?
— Não, por quê?
Antes mesmo de ele falar, sinto que alguma
coisa está errada.
— Eu o vi esta tarde, no Bronx. Não fazia
ideia de que ele também estava aqui em Nova
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York, ele vai pegá-la. Vá para perto da Sabrine e a


mantenha dentro de casa, já avisei ao Michael,
estão indo atrás dele.
— Ele quem? De quem está falando?
— O coronel Afonso, o companheiro do
Padilha. Não sei o que está fazendo aqui, mas se
está rondando o Bronx, não deve ser por intenção
de agradecer sua garota pela morte do marido dele.
— Merda!
Tento ligar para ela de novo, e novamente e
caixa postal. Enquanto corro contra o tempo, chego
ao Asgard, muitos lutadores de lá são do Bronx.
Começo a perguntar por ela, com a ajuda de Caitlin
e Mackenzie, até que um deles reconhece a foto
que mostro do tal Afonso, enviada por Dylan e me
diz onde ele está hospedado. Em uma pensão barata
do Bronx.
— Eu preciso de ajuda! — digo. — Preciso
salvar minha noiva. Não espero que nenhum de
vocês perca a abertura do clube, mas...
— Cala a boca, Ryan, vamos pegar sua
garota — Thor diz e ordena que sua namorada
feche o clube, todos os lutadores se levantam e me
seguem.

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Colin vai ao meu lado dizendo que tudo dará


certo, eles não deixam que as meninas venham,
apesar do protesto fervoroso delas. Chegamos ao
local onde ele pode estar com minha garota.
Rapidamente, os homens se dividem, e um deles
identifica a janela onde ele está, aviso o local a
Michel, o FBI está a caminho, mas não posso
arriscar. Ela deveria estar no programa de proteção
a testemunhas, bem longe deste lugar, e não está
por minha causa, preciso salvá-la.
Subo pela escada de incêndio enquanto Thor
e Colin entram pela frente. Somos cuidadosos para
não sermos vistos. Brin está acorrentada em um
canto no chão, exatamente como disse que as
meninas sequestradas ficavam e lamento que tenha
que ver esta cena de novo, que tenha que estar nela.
Ele aponta a arma para a testa dela, não consigo
ouvir o que diz, mas noto o desespero nos olhos
dela. Não tenho tempo. Se eu fizer qualquer
barulho e assustá-lo, ele pode disparar. Se Colin e
Thor fizerem qualquer barulho do lado de fora da
porta, ele vai disparar. E não tenho como avisá-los
para pararem onde estão, porque ela está na mira
dele. A janela está fechada e não há um meio de eu
entrar sem assustá-lo. Brin fecha os olhos, como se
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sua hora tivesse chegado e ela não quisesse vê-la, e


não tenho mais tempo.
É aí que uma luz vermelha surge na cabeça
do infeliz e ele cai ao chão. Quebro a janela e entro,
chegando a Brin, vejo o sangue escorrendo do
maldito coronel. O FBI chegou a tempo.
— Está tudo bem, ei, está tudo bem. Estou
aqui. Acabou, Brin, tudo acabou.
Ela abre os olhos e chora, Colin e Thor
entram no quarto e veem que tudo acabou bem.
— Bem-vindo de volta à família, filho —
Thor diz, deixando claro que não tenho escolha,
não que eu fosse mesmo manter-me longe de
Asgard depois da ajuda que a minha família me deu
esta noite.
Tudo acabou bem.

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Ep í logo
Brin
Dez anos depois...
— Liam, se você jogar o Louis na piscina de novo eu
vou te colocar de castigo! — Caitlin grita pela
décima vez e rimos.
As coisas estão tão boas quanto poderiam
estar. Estamos na nossa casa, e nossos amigos estão
aqui para comemorar o aniversário de cinco anos
de nossa filha, Emma. Tyler brinca com as crianças
vestido de palhaço, ele se tornou há alguns anos
acompanhante de luxo de um milionário pervertido.
Nunca vimos esse homem, mas Tyler tem tudo do
bom e do melhor e a vida que sempre pediu a Deus.
Stephen e Colin jogam sinuca enquanto as
crianças correm em volta deles, Carter e Daisy,
irmãos de Colin e Caitlin estão cuidando da
churrasqueira, e Seth e sua namorada conversam
animados com eles. Apesar de estar acompanhado e
de Daisy estar com seu futuro namorado, vejo os
olhares safados que Seth lança a ela. Sempre soube

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que o dócil irmão de Stephen se revelaria um sem


vergonha. O alerto com o olhar de que está fazendo
feio, mas Daysi “acidentalmente” o queima com o
garfo quente da churrasqueira e acho que ele
entendeu o recado.
Stephen e o pai dele não têm ainda uma boa
relação, mas o velho é apaixonado por Emma,
tratando-a como sua menina dos olhos. Os dois
voltaram a conversar assim que Serena assumiu ser
bissexual e foi morar com sua namorada, Mary.
Donald ficou tão arrasado que foi parar no hospital.
Pouco depois, Megan o deixou, e sua fachada
desmoronou completamente. Um filho bastardo
para criar, uma filha lésbica e um filho casado com
uma prostituta. Esse era o mantra dele em todas as
reuniões de família. Megan casou-se de novo com
um lutador do Asgard, vinte anos mais jovem que
ela, e a julgar pelo brilho diário de sua pele, o
porto-riquenho é caliente.
Tess e Adam deram a Emma uma boneca
linda, que ela pôs o nome de Tessa, em homenagem
a avó, por quem é fascinada. Desde o almoço
organizado por Stephen, não perdemos mais o
contato, e eles me tratam como se eu fosse mesmo
filha deles. E a Emma, como se fosse sua própria
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neta.
Para desespero de Stephen e sorte da nossa
filha, ela puxou a mim no gênio. Sempre feliz, nada
a atinge, faz amizade muito rápido e fala pelos
cotovelos. Também adora ter contato com pessoas
em sofrimento. É mesmo minha filha.
Mackie e eu estamos falando sobre termos
mais filhos, quando Emma surge chorando direto
para o colo do seu pai. Stephen adula nossa
garotinha, curioso sobre o que a fez chorar, e
gaguejando a pequena diz:
— Pa-pai e-le me be-bei-joiu.
Opa!
— O quê? Quem beijou você? — Stephen já
está atingindo seu tom vermelho, e corro para perto
dele na tentativa de acalmá-lo.
Emma aponta para Louis, depois para Liam,
e parece confusa.
— Um deles, não sei quem foi.
— Qual de vocês dois, moleques, beijou a
minha filha? — dirige-se irritado aos gêmeos
Hanson.
— Fala sério, cara. São crianças — alerta
Colin defendendo seus filhos.
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— Então ensine as suas crianças a não


beijarem a minha garotinha. Ela é um bebê!
— Eles são da mesma idade! Sua garotinha
com certeza gostou da brincadeira.
— Como você se atreve?
Os dois ficam discutindo enquanto as
crianças já estão brincando juntas, como se nada
tivesse acontecido.
— E lá se foi a trégua — comento
desanimada.
— Durou até tempo demais. Eu jurava que
eles brigariam quando o Stephen venceu o
campeonato de Asgard e o Colin voltou de Vegas
— Caitlin observa.
— É verdade. Daqui a pouco eles fazem as
pazes de novo.
— E vão brigar de novo em poucos anos
porque meus filhos estão apaixonados pela sua filha
— Caitlin diz rindo.
Abro um sorriso e encaro o meu marido, esse
homem maravilhoso que morre de ciúmes da nossa
pequena.
— Minha pequena terá sorte, então. Vamos
apostar quem derrota quem?
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— Vamos! Mas primeiro vamos comer?


— Sim! O tempero de churrasco do Carter é
maravilhoso!
Lanço uma piscadela para Stephen, ele sorri
docemente para mim e não poderíamos ser mais
felizes do que somos a cada dia.
Bendito seja o test drive.

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Promoção!!!!
Você que chegou até aqui com Stephen e
Brin, quer saber o que acontece depois com Louis,
Liam e Emma? É muito fácil! Quer ganhar um kit
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Sua opinião é muito importante para mim!
Por isso, avaliando Test drive na Amazon, basta
enviar o print da avaliação com o seu endereço para
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A história de Louis, Liam e Emma será
contada em um conto, e você pode recebê-lo
gratuitamente no seu kindle! Para participar dessa
promoção, além de seguir os passos citados acima,
será necessário ter uma conta no kindle, e seguir as
orientações que passarei por e-mail para que eu
possa enviar o e-book diretamente para você!
Os kits serão enviados logo após a bienal. E o
e-book em setembro!

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Dedicatória
Este livro é dedicado a alguém que me
acompanha sempre, que me apoia e incentiva a
cada novo trabalho, que está sempre presente com
todo seu carinho! Nadia Nnsmach, obrigada por
tudo sempre!

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Agradecimentos
Agradeço primeiramente a Deus, por cada
prece atendida, cada milagre realizado e cada sonho
novo que me permite viver.
A minha família pelo apoio incondicional em
todas as horas. Amo vocês!
A Maria Rosa Morais, amiga, você foi a
primeira pessoa a ler este livro. Obrigada pelo seu
amor, carinho, apoio e amizade a cada dia, a cada
momento. E ao nosso príncipe Rafael, obrigada por
deixar a mamãe ajudar a titia, anjinho.
A Danielle e Rayane, porque não sei o que
seria da minha vida sem suas loucuras e amizade
sempre!
A Ellen, por cada dia, cada palavra, todo
apoio e amizade, obrigada sempre, minha amiga!
A Bia Tomaz, minha diva e pessoinha
aleatória, obrigada por cada dia! Todo sucesso
sempre, amiga!
A Míddian Meireles, por ser meu anjo nesses
dias, por todo seu apoio e amizade sempre! Conte
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sempre comigo, minha amiga!


A Ellah Castro, obrigada por cada dia em que
me faz rir e me dá todo seu apoio! Te adoro demais
da conta, vaquinha!
A Cleidi Alcântara, amiga linda, ser de luz,
obrigada por seu carinho sempre! O mundo precisa
tanto de mais pessoas como você, amiga. E Paulo,
moziiiii, continua cuidando dela! rs
Amanda Lopes, gringa, obrigada sempre!
A Tatiana Pinheiro e Aline Mendes, mesmo
que não nos falemos todos os dias, ou toda semana,
saber que tenho vocês na minha vida a torna muitas
vezes mais bela!
Às minhas meninas mais amadas, Alinne
Leite, Thais Martins, Tatiane e Eliane, Laís Pereira,
Ana Paula Vilar, Emanuela Dias e Larissa Lorrane.
A essas vaquinhas que sempre estão ali por
mim, que me animam e escutam minhas lindas
músicas, o meu obrigada a cada dia! Posso sumir
de vez em quando, aparecer quase nunca, mas sei
que vocês estão ali, e isso é o que me faz seguir em
frente! Muito obrigada Drika, Jennifer, Sarinha,
Kamila, Danny, Jheniffer, Mony, Adriana Dutra,
Duda, Nessah, Flavia, Emilene, Rosa, Carla,

PERIGOSAS ACHERON
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Danielle, Nay e Joseania, Alexandra, Aysha, Emily,


Jessica, Taty, Fabiana e Lilian.
A vocês, que me dão apoio sempre, seja pelo
Facebook, Instagram ou Wattpad, que animam a
postar coisas e criar cada vez mais coisas, obrigada
sempre, muitas desde sempre, e espero que todas
para sempre! Shirley Nonato, Erika Will, Nathalia
Mattos, Thay Braz, Rozzy Lima, Sheyla Mesquita,
Rosiane Conrado, Elaine Mendes, Maria Augusta,
Mariazinha Franco, Camila Lima, Regiane Valim,
Suelem Xavier, Juliana Cardoso, Joice Gums,
Michelle Souza, Amanda Souza, Gleice Souza,
Vick Duque, Luanna Esther, Ale Bernardo, Ana
Carolina Nadu, Alessandra Regina, Ericarla
Carvalho, Cynthia Barreto, Carem Daniela,
Luciana Ramos, Carlet Garcias, Brenda Amorim,
Jurema Andrade, Dirce Americo, Mya Nogueira,
Adriana Rodrigues, Walquiria Quaresma, Jaysa
Silva, Christiane Aparecida, Thays Silveira,
Silvana Aparecida, Thami Silva, Anna Rodrigues,
Dine Bessa, Fernanda Maria, Luzhya S. Moura,
Tayná Andrade, Andressa Fernandes, Mary Souza,
Jôsi Mafra, Jis Rocha, Cristina Marreira, Fernanda
Costa, Juliana Gaspar, Adriana Rodrigues, Eliane
Ely, Diana Camelo, Jess Trajano, Amanda Cessel,
PERIGOSAS ACHERON
PERIGOSAS NACIONAIS

Gabrielle Ferreira, Francieli Rocha, Pri Alcantara,


Brenda Mycaelle, Enedir Pontes, Marcela Silva,
Costaar... Sei que não consigo me lembrar de todas
vocês assim, mas quero deixar meu obrigada a cada
comentário, curtida, voto, compartilhamento,
indicação, leitura, avaliação! Obrigada sempre!
A meus colegas de profissão, que admiro e
que me servem sempre de exemplo, Mia Klein,
Lety Friederich, Cristina Melo, Priscila Tigre,
Debora Gomes, Alc Alves, Ali Graciotte, Willer
Jones.
A Mirella Santana pela capa linda e por sua
atenção e profissionalismo.
A Bianca Patacho, Aline Silva, Vanessa
Fiorio e Gracielle Rattes, agora e sempre! E aos
meus parceiros e incentivadores Livros do coração,
Lunáticas por romance, Shippa esse livro, Blog
Literalmente Rosa, Morgana das fadas e Luiza
Literárias.
A você que chegou até aqui, muito obrigada!

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Conheça outros livros da


série
Um grande problema
Carolina recebeu o trabalho de faculdade
mais difícil da sua vida!
É um trabalho sobre profissões modernas, então por
que justo ela tinha que ficar com o tema muso
fitness? Qualquer garota se mataria para estar em
seu lugar, menos ela, uma garota acima do peso.
Mas, se ela pensou que estar entre tantos sarados
viciados em academia, fosse seu maior problema,
não estava contando com Jake Dustin.
O muso americano é o único disponível para
ajudá-la, porém, ele é convencido, grosso, mal-
humorado e mais gostoso do que um homem
deveria ser! E ela precisa segui-lo, conhecê-lo e
ainda por cima, exaltá-lo em seu trabalho.

Mas, sua chegada ao Brasil parece estar


enlouquecendo-o, não só pelo passado escondido
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ali, não só pelas lembranças que insistem em


atormentá-lo, mas, principalmente, pela garota
atrevida e linda que parece odiá-lo. E que ele quer
ter em sua cama de qualquer jeito.

Ele a vê de uma forma que ninguém nunca viu. Ela


mexe com ele onde ninguém nunca mexeu. E a
única certeza para ambos, é que eles se meteram
em um quente, delicioso e grande problema!

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Minha melhor amiga,


virgem
A virgem e o devasso #1
Colin Hanson não tem muitas coisas boas na
vida, pagando por um grande erro de seu passado, e
preso em seu mundo de lutas e sexo, tem em sua
melhor amiga, Caitlin Ross, a única coisa boa de
que precisa. Morando juntos e unidos desde
crianças, ele ainda a vê como a garotinha de
aparelho que ele sempre precisou defender. Porém,
tudo muda quando em uma noite de bebedeira,
Caitlin revela ser virgem. E o pior: escolhe justo
Stephen Ryan, o pior inimigo de Colin, para ser o
seu primeiro.

Ao vê-la envolver-se com o homem que sempre o


derrota, Colin está disposto a tudo para que Caitlin
não cometa esse erro, e fará o impossível para que
ela perceba que ele, seu melhor amigo, é a escolha
perfeita. Mas, tudo se complica quando no meio de
seu joguinho de sedução, percebe que o que sente

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por Caitlin vai muito além do desejo de ser o


primeiro em sua cama.

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Meu melhor amigo,


devasso
A virgem e o devasso #2
Caitlin Ross está encrencada. Apaixonada
desde sempre por seu melhor amigo, Colin Hanson,
luta durante anos para esconder esse sentimento tão
fundo, de forma que nem o sinta mais. Porém, ele a
deseja, e após uma noite mágica de sexo, ela não
sabe o que fazer para garantir que ele nunca mais
precise tocar em outra mulher.
Ela sabe que ele não é do tipo que se
apaixona, e menos ainda, que tem apenas uma
mulher. Mas, ele é o amor de sua vida e ela não
pode mais negar isso a si mesma.

Disposta a tudo para fazê-lo se apaixonar por


ela, Caitlin faz o impossível para seduzi-lo todos os
dias. O que ela não contava é que a redenção de um
devasso pudesse metê-la em tantas confusões. Pois,
cada plano perfeito que cria, acaba dando errado
por seu jeito atrapalhado, e o jeito imprevisível de

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Colin, que sabe enlouquecê-la como ninguém.


Será que a
doce menina conseguirá conquistar o maior
devasso que já conheceu?

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E-mail
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