Causos de RH 2
Causos de RH 2
Causos de RH 2
Gratuita
Comunidade de
Recursos
Humanos
“CAUSOS” DE RH
São eles que alimentam nossas vidas! O próprio livro já é, por si só, um
“causo” a parte, e por que não dizer um “case”?! Não se trata de um livro qualquer,
religião, formação, segmentos, regiões, gênero, estrato social, etc., porém com um
ingredientes não bastassem para que o “livro causo” se tornasse um “case”, temos
ainda o grande diferencial de esse livro ter sido gestado em um ambiente, onde os
menos céticos diriam um, não menos lacônico, sem chance. Estou me referindo ao
cidadãos e profissionais!
absolutamente insípidas. Aliás, pensando bem, é só por eles que dedicamos nossas
vidas à “causa” RH. Essa missão que, embora algumas vezes tenhamos a tentação
de considerar inglória, se torna muito gratificante quando lemos alguns dos casos
Cada “causo” é único na sua essência, como as cores da cartela de tintas, porém,
seu sentimento de forma ideal. Da mesma forma, somente o conjunto dos “causos”
pode transmitir ao leitor a riqueza da função RH. São os diferentes matizes, as cores
puras e as combinações de cores que dão o tom do dia-a-dia das empresas, sejam
Casos, causos, cases... sempre nos remetem a uma causa. Mas o que é, ou
o que realmente significa a palavra causa para cada um dos profissionais de RH?
Motivo, razão, raiz, demanda judicial, início etc. Cada uma achará o significado que
no momento lhe fará mais sentido... De minha parte, gostaria que todos a
Boa leitura a todos, parabéns aos idealizadores desse grande projeto. Espero
que este livro seja uma fonte de inspiração para toda nossa comunidade de RH, no
Paraná e no Brasil!
Sônia Gurgel
Presidente ABRH-PR
Gestão 2007-2009
SUMÁRIO
4 – Ceará ----------------------------------------------------------------------------------------- 13
9 – Aparências ----------------------------------------------------------------------------------- 28
12 – HiláRHio ------------------------------------------------------------------------------------ 38
13 – De repente, o RH ------------------------------------------------------------------------ 44
14 – Eu chego lá -------------------------------------------------------------------------------- 46
- Boa-tarde, Antônio.
educado.
- Boa tarde Sr. Zequinha. Como está o senhor neste maravilhoso dia de sol?
- Bati o carro.
- Então o senhor não precisa ser demitido, precisa de algum dinheiro para
- Em torno de R$ 2.000,00.
- Certo. Vamos entrar em contato com o banco que trabalhamos, adiantar seu
naquele momento. Fiquei intrigado, ele parecia não acreditar que seria tudo tão
para consertar os carros, já conversamos sobre outra solução. Pense bem, ficará
desempregado?
contas.
No dia seguinte, lá estava o senhor Zequinha novamente. Sem deixar que ele
- Sr. Zequinha, tenho uma excelente notícia, vamos conseguir resolver todos
Ele pareceu apático, não entendi. Eu estava radiante e ele com o mesmo olhar de
dois dias antes. Convidei-o para uma conversa particular e ele prontamente aceitou.
Foi então que ele citou outros problemas financeiros. Como sou economista
Panasonic?
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- Realmente, algo “indispensável”. Acrescento a máquina de lavar, também
veículo.
em sua residência existiam filhos que gostavam de usufruir, porém, não entendiam a
necessidade de pagar contas. A solução foi mais simples do que parecia até então:
Ele feliz por usufruir de seu veículo e mais ainda por saber que a solução de seu
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O verbo voa. O escrito fica.
talentosa. Ela conhece - ainda está viva - vários dos sistemas de folha de
Depois de algum tempo trabalhando juntos, logrei êxito na seleção para uma
profissional.
justa causa, para que eu pudesse sacar meu FGTS. A empresa concordou, desde
menos eu pensava.
Quatro ou cinco meses depois de minha saída daquela empresa, com todos
Aí, conversando com um amigo de meu antigo emprego, soube que, depois
de minha saída houve várias rescisões, mais de quinze. Inclusive da própria Heloísa.
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haviam feito acordo para receber o FGTS e devolver os quarenta por cento da multa
funcionários.
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As empresas estão dispostas a promover qualidade de vida no trabalho?
profissionais voluntários.
O fato é que nas duas situações o programa só existe graças à boa vontade
desenvolver o trabalho sem que haja qualquer investimento financeiro por parte das
empresas.
Projetos e atividades para que o programa continue existindo. Porém não pode
pode ser apenas de algumas pessoas, mas sim da alta gestão da empresa.
Qualidade de vida deve fazer parte do planejamento estratégico das empresas que
pretendem fazer parte da lista das melhores empresas para se trabalhar, ou seja,
Não se pode fazer muita coisa, ou quase nada, sem investimentos. Você até
investir.
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O que tenho visto é que a participação dos empregados, após algum tempo,
passa a ser por obrigação e não por prazer, por interesse. E por um simples motivo:
Não há continuidade nas ações. Está-se sempre iniciando alguma coisa, mas não se
Então o que deveria ser algo prazeroso passa a ser motivo de estresse e
frustração.
de vida no trabalho.
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CEARÁ
monta toda a estrutura de ferro em uma obra. Mas o Ceará é “o” armador.
- Se for pra fazer pouca coisa, fico na minha terra fazendo nada. E assim ele
fazia. Tinha mais de dez registros da mesma construtora na Carteira. Acabava uma
- Se não tem outra grande pode me mandar embora. Só volto quando tiver. E
eu o chamava quando tinha obra grande. Ele ia embora pro sertão, e ficava lá,
esperando eu chamar. Era chamar e ele vinha no prazo certinho. Mas tinha que ser
pública. Quem trabalhou com obra pública sabe bem o que é isso. E atrasou o
- Vem pra cá que está tudo parado. Os caras farão greve enquanto não
E lá fui eu. Única mulher na empresa e tinha que encarar 80 peões de obra.
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Coloquei meu capacete branco e fiquei na porta do container, ouvindo
milhares de reclamações, lamentações. Cada um tinha sua razão, mas eu não tinha
o que fazer. Enquanto não recebesse da prefeitura, não poderia fazer nada.
Dou uma olhada e não vejo o Ceará. Procurar e vejo ele lá no canteiro,
- Então vem comigo explicar pra eles porque você continua trabalhando.
- Eu não tô parado como vocês, porque acho que vocês estão errados. Não
sabem nada do lugar onde trabalham. Já pensaram o que vai acontecer se a obra
não sair? Nem cesta básica vão receber. Eu trabalho aqui faz mais de 10 anos. Já
passei muita coisa aqui. Sempre volto. E sempre que me chamarem eu tô aqui.
Sabe por quê? Preciso trabalhar, tenho família e gosto daqui. Ficar aí de braço
cruzado só vai atrasar mais o pagamento. Vocês pensam com a barriga e com
carnê. Voltem a trabalhar que ela vai dar um jeito. Não vai Rossana? Eu não sabia
Quanto aos salários, a diretoria fez um empréstimo, juros altíssimos, mas sem
casa e tudo voltou ao ritmo normal. O Ceará mais uma vez foi pra terra dele. E
voltou mais uma, duas vezes. Era só ter obra de dar gosto de ver.
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“Seu CLT”
da empresa.
Fique à vontade, disse a gerente. Pode ligar para “seu contador”, pois está
disse:
- Não vou assinar, pois “meu contador” afirmou que está errado. Vocês não
receber o aviso prévio, ainda mais por que estava a completar seu período de
experiência. A gerente, percebendo que o tal contador parecia não entender bem de
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“A Rita levou meu sorriso...”
Rita era uma das mais antigas dos 18 atendentes daquele hospital. Servidora
pública há quase 20 anos, sempre na mesma atividade. Muitos passaram por aquele
Como não podia deixar de ser, a repetição de uma mesma atividade por tanto tempo
foi minando a motivação inicial de Rita. Não bastasse isso, a paciência foi se
exaurindo, até que o menor dos problemas provocava nela uma explosão
erroneamente por muitos, como era o caso dos chefes de Rita, permitia a ela
era problema, pois ela sempre chegava atrasada e, como era de se esperar, sempre
tinha algo de urgente para resolver fora do hospital, o que “justificava” suas saídas
corretivas ao problema.
do RH. Curioso é que nesse novo ambiente, longe das longas e intermináveis filas,
da pressão do público com os quais convivia todos os dias, Rita relaxava (ou seria
Rita renovou o ânimo, afinal, menos um dissabor, agora já não precisava olhar nos
Rita, e nova alternativa foi ofertada. Mesclar o posto de trabalho de Rita, ora
diretamente com o público, ora por telefone. Adiciona-se que sempre era submetida
inferno zodiacal, ofereceu-nos o seguinte espetáculo, por volta das 10h da manhã no
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suas estações telefônicas, sob o pretexto de que ela, Rita, era capaz de, sozinha,
atender à demanda: bloqueou sua estação de trabalho para que nenhuma ligação
telefônica fosse atendida por ela. Momento de descanso que aproveitou para
várias reclamações dos usuários que não conseguiam sequer falar com a central de
para pedir a Rita que cobrisse o posto de trabalho na área de atendimento direto ao
desleixadamente para o local. Lá chegando, atendeu um, dois, três clientes e, como
- Muito menos eu. Disse Rita, exaltada e batendo com as mãos no peito.
- Ô moça, dá um jeitinho aí, vai. “To” há quase uma hora nesta fila, peguei
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- Dane-se! Eu é que não tenho nenhuma obrigação de saber. Encerrou
abruptamente o diálogo.
ele, que o tal sistema permitia a marcação pelo número de prontuário, pelo nome e
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Você sabe com quem está falando?
pois se casou aos vinte anos, com a esposa no quinto mês de gravidez, Nilson
levava a vida na flauta. Filho único de uma família bem estruturada financeiramente,
dádiva de poder gastar seu salário como bem quisesse, nas farras e todas as
futilidades que, apesar de muitas vezes serem consideradas supérfluas, dão muito
prazer.
Nilson foi admitido primeiro, por ter obtido melhor classificação na seleção de
que participaram.
Pedro sentiu uma pontinha de inveja quando Nilson o informou que fora
convocado.
Felizmente o tempo para a inveja frutificar foi curto, pois exatos quinze dias
opostos no corredor do segundo andar da nova empresa. Nilson foi lotado no setor
de infra-estrutura.
contar piadas desde aquelas de salão até as mais pesadas. Sem saber, Gregório
- Cara, tô fulminado!
- O que houve?
- Vacilei!??
- Novidade...
A ligação caiu. Cinco segundos depois o telefone voltou a tocar. Claro que só
- Sabe como atendi ao telefone? Assim: Fala boneca. E sabe quem era? O
superintendente.
- Putz!
Educadamente ele disse o que queria. Anotei tudo. Pediu para ser
forma como atendi à ligação não foi adequada e fugia aos padrões da empresa.
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Tentei explicar, mas ele desligou. E sabe o que é pior? Hoje à tarde é o
- Tudo bem?
- Beleza. Entra.
- Assistindo a um filme.
- Como assim?
É que eu estou com uma baita dor de barriga e preciso usar seu banheiro.
Mas é melhor que vocês saiam e só retornem daqui a meia hora, que a coisa vai ser
feia.
padaria.
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No caminho de volta encontraram-se com Nilson, que vinha em seu carro na
direção deles. Parou, conversou amenidades, contou que agora estava trabalhando
concurso público. Pediu desculpas por não poder demorar daquela vez.
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Ação ou omissão – tudo tem conseqüência
nessa instituição foi uma conquista árdua, que exigiu além de conhecimento em
minha cidade natal, Fortaleza, para fazer a prova escrita em São Luís. Até aí tudo
bem, pois são cidades próximas. O sacrifício veio depois, quando, aprovada, tive de
viajar até Brasília para a entrevista. Se fosse eliminada voltaria para Fortaleza e a
prova prática. Por mais que no edital do processo seletivo estivesse estampado que
ela se materializa. Assim, parti para Brasília, com pouco dinheiro no bolso, 12
ficar, pois não há lugar nesse mundo que não tenha pelo menos um cearense. Para
minha sorte, essa conterrânea era conhecida de uma tia e me hospedou durante
uma semana, pois fui aprovada na entrevista e também na prova prática. Tudo isso
meses de treinamento, que na verdade era a última fase do processo seletivo. Pela
primeira vez na vida, aos 25 anos ficaria longe de minha família, em uma cidade
nordestino de ser, com gente receptiva e que, no primeiro encontro, relata a vida
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Em dezembro, outra dívida: comprei nova passagem aérea, em 6 parcelas.
Desta vez sabia que não ficaria tão apertada, pois já contaria com a bolsa, num valor
instalava nesses dias, a umidade do ar, quase sempre tão baixa em Brasília,
elevava-se a patamares nunca vistos: Chorava por quase duas horas seguidas.
graves, mas bastante delicadas. Atuávamos com essas crianças para que não
perdessem o vínculo com a vida escolar, já que o período de internação era longo,
com um baita aumento. Quitei as passagens aéreas, separei algum para minhas
equipe era composta por pessoas bem legais e a supervisão estava a cargo de uma
mim e meus familiares. Em São Luís, a 30 minutos de de vôo para Fortaleza, minha
aflição era o supervisor. Um ser vil e desprezível. Falso, incompetente e que, para
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se manter como supervisor travestia-se naquela figura tão comum em qualquer
todo solícito, paciente, corrigia os desvios, enfim, jamais imaginaria que por trás
daquela persona, habitava alguém tão dissimulado. Até aqui pouco falei do RH, não
a mim veio para São Luís. Esse colega, que até então eu só conhecia de vista,
estava de passagem por São Luís, para treinar uma nova empregada contratada
para o RH de lá.
Fui surpreendida com um bilhete desse colega que me foi entregue por ele
mesmo, no qual estava escrito: “preciso falar com você hoje à noite sem falta”.
Pensei tratar-se de uma cantada, o que não seria nada mau. Entretanto, a conversa
nada tinha a ver com cantadas. Era, sim, um alerta. Ele me descreveu o que estava
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Desesperei-me. Por outro lado tinha um aliado. Esse colega, agora promovido
gente, conseguiu contornar o problema. Com muito jeito, nas entrelinhas de uma
amigo agora promovido a marido, está lá na sala, tentando convencer nossa filha de
quatro anos a comer arroz com brócolis, dizendo a ela que faz crescer e ficar forte.
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Aparências
trânsito nos órgãos federais e do Distrito Federal, pois a empresa prestava serviços
um rapaz muito “alinhado”, vestido num terno “super luxuoso”, e nos apresentou
funcionários do setor. O currículo dele era muito bom, falava dois idiomas, havia
Conquistou tanta confiança do Presidente que passou a participar até dos eventos
particulares dele. Cada final de semana era uma história diferente: jantares,
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O celular era o principal instrumento de trabalho dele, ou ele acreditava que
fosse. Parecia uma pessoa super-importante no meio político, cada hora era um
diretor de algum lugar que ligava pra ele e sempre participava de almoços de
negócios.
Eu não tinha muita experiência na área, afinal de contas era meu primeiro
emprego. Porém, percebi que havia algo de estranho com esse Gerente. Tão pouco
para a empresa, voltava com algumas “comprinhas” para casa dele também. E mais:
dizia que já tinha conversado com o Diretor e que seria tudo descontado no
contracheque. Interessante é que ele já era tão íntimo do Diretor, que o cartão de
crédito que ele utilizava para fazer as compras, dele e da empresa, era o cartão
empresarial, com permissão dos diretores. Coisa igual, eu nunca havia visto.
questão que a loja entrasse em contato com a empresa para se certificar de que ele
Afinal, as coisas começaram a parecer estranhas não só pra mim, mas para
Um belo dia, o Gerente recebeu uma ligação e disse que teria que ir passar
uns dias com a família, ainda residindo em Salvador, e que depois viria de mudança
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definitiva para Brasília com toda a família. Conversou com o diretor, que concedeu
esses dias a ele. A viagem foi autorizada e a compra das passagens também. O
RH. Coincidentemente, ele também não estava satisfeito com certas atitudes desse
gerente.
Passados dois dias, o diretor me chamou, disse que não estava conseguindo
falar com o Gerente de RH e perguntou se ele havia deixado outro número para
contato. Respondi a ele que os únicos números que tínhamos eram os constantes
do seu currículo. Ele me pediu que fosse buscá-lo, então. Ligamos várias vezes e
ninguém atendeu.
A data marcada para o retorno do gerente chegou, mas ele não apareceu na
empresa.
Por fim, várias empresas começaram a nos procurar e diziam estar com
consecutivas, inclusive com o cartão de visitas que ele havia deixado nas lojas.
“suposto gerente”.
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Faria tudo de novo
me ajudar?
desempregado.
Quando fui levar na obra seu primeiro pagamento, ele abriu aquele sorriso
- Vou dar entrada numa geladeira. Eu quero uma azul. Lá em casa não tem.
Vou poder fazer despesa e ter carne em casa. Até cervejinha. A senhora vai
domingo lá em casa? Vou fazer uma costela. Infelizmente não fui. Que
arrependimento!
mas sobreviveu. Estava em casa, o hospital super lotado. O médico disse que não
tinha o que fazer, que ele estava bem, só o tempo poderia trazer resultados.
Henrique não enxergava nada, nem falava direito, mas pensava, escutava e
do mundo. Estranhei. Daí veio a explicação. Sua esposa disse que ele balbuciava
que queria que eu fosse lá, que precisava me explicar. Estávamos conversando na
madeira.. Chorando. Emocionado. Falando sem parar coisas que eu não entendia.
Mas a esposa traduzia. Henrique reconheceu minha voz, e dizia que estava naquele
momento rezando e pedindo a Deus que eu aparecesse, que ele queria falar
médico. A empresa deu tudo que ele precisava, arcou com toda medicação e
alimentação.
E toda semana eu ia lá, conversar com meu novo amigo. Foi inevitável que
básicas e docinhos pras crianças. Ficava horas conversando com ele e a esposa.
fisioterapia.
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Ele ansioso por sarar e voltar a trabalhar.
Nós sabíamos que isto não aconteceria. A seqüela foi grande. Nunca mais
voltou ao normal. Entretanto, jamais deixamos que ele percebesse isto. A esposa
Ele foi aposentado por invalidez. Não teria mais como trabalhar, mas já
Dois anos depois saí da empresa, mas ganhei um amigo, uma amiga e alguns
sobrinhos. Às vezes eles aparecem em minha casa, vêm me visitar, mesmo depois
de seis anos do ocorrido. E é para mim uma festa sentir o amor com que me trazem
uma flor de um jardim qualquer, ou uma fruta arrancada do pé, no quintal de algum
vizinho.
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Enfeitando pavão
todos os candidatos. Principalmente para quem acredita que se saiu bem durante as
provas.
à realização das provas daquele concurso, pois continuava embalada nos estudos.
decisão que lhe furtava quase totalmente o tempo para qualquer outra atividade que
não fosse estudar, estudar e estudar. Ainda mais neste momento de final de curso.
sempre uma pontinha de dúvida, ansiedade pelo resultado definitivo. Sabe como é:
resultado final.
instituição realizadora do concurso, mas ainda não havia sido liberado o resultado
caiu. Droga! Pensou. Mesmo assim voltou a olhar para a tela do monitor, com o olho
que ainda enxergava. Seu nome estava lá, estampado: nº de inscrição 9589 –
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Alessandra Ramírez, 9,86 (1). Primeira colocada! O cansaço até desapareceu,
tamanha era a excitação de Alessandra. Empurrou a cadeira com rodinhas para trás,
acendeu as luzes do quarto para tentar encontrar a lente de contato que caíra e
Nesse dia, depois das apresentações percebeu que alguns candidatos cochichavam
respeito, pois não bastasse ela ter sido a primeira colocada entre os psicólogos, foi
Alessandra conversou com a titular daquela gerência e soube que seria lotada na
colegas.
Seu “batismo” seria integrar um grupo de trabalho que tinha como principal
quadro total daquela organização: 15% do total de empregados. Isso sem considerar
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Durante o primeiro mês Alessandra empenhou-se arduamente. Trouxe para o
grupo artigos para discussão; eminentes palestrantes; outros não tão conhecidos,
imprimiu vida e novo ritmo ao grupo, tendo sido reconhecida pelos antigos membros.
Alessandra começou a acreditar que o trabalho renderia bons frutos. Mesmo ciente
de que aquele mal não tem cura, sabia que o grupo, à medida que fortalecesse o
vigésimo quinto aniversário. Aquele ano havia sido muito positivo. Ótimos resultados
ambiente.
Alessandra, já integrada, dizia que aquela festa era em comemoração aos dois
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momento adentra ao restaurante um exército de garçons servindo wiskies 12 anos
ambiente. Uma carta fora do baralho. Como num flash, relembrou todo o trabalho
até então desenvolvido no apoio aos colegas de seu grupo de trabalho, todos eles
desprezo...
Alessandra procurou por sua chefe. Contou-lhe que não se sentia bem. A palidez de
seu rosto não deixava dúvidas. Vá para casa descansar. Amanhã tudo volta ao
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HiláRHio
gabava-se de sua cidade não saber o que era seca. Cresceu sem muita noção de
ajuda de custo que sua “irmã marajá” fornecia-lhe mensalmente. Registre-se que a
Valcir sacaneava todos os demais colegas do RH. De tudo fazia troça. Aos
participavam todos contra ele. O objetivo era unir forças para retribuir as
alguns pontos fracos. Um deles era a estatura. Media 1,60m. Outro: na juventude
cultivara uma grande cabeleira, tratada com muito afinco. Hoje era quase
apesar de brincar constantemente com os outros, não era muito receptivo quando o
alvo das brincadeiras era ele. Perdeu a esportiva várias vezes, o que incentivava a
sarcásticos.
Resistência descobriu que ele estava com uma prestação vencida em uma loja. Um
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funcionário da loja ligou no trabalho, mas, para grande azar do Valcir, ele gozava
detalhadamente.
Resistência. É óbvio que tão preciosa informação demandava uma ação imediata.
casa do Valcir. Infelizmente, ou felizmente, ele havia saído. Para não perder o
Valcir.
- É a esposa dele.
- Sheila.
ligando para seu esposo para lembrá-lo que a prestação de junho relativa à
geladeira adquirida nesta loja, está com mais de 20 dias de atraso. Gostaríamos de
alertá-lo que, ficando com duas prestações em atraso, nossa loja terá que
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problemas para vocês. Claro que não queremos tomar esta medida e por isso
engano?
- Eu acho que é um engano. Vou falar com o “Cicinho”, mas vou logo
adiantando que ele é muito bravo. Se for um erro de vocês eu tenho até medo do
- Peça a seu marido que entre em contato conosco ainda hoje, para
- Assim que ele chegar eu falo e ele liga. Qual é mesmo o seu nome?
agüentava mais de vontade de rir. Sobretudo pela informação sobre a brabeza que a
uma grande faixa branca. Juntos decoraram todo RH para receber Valcir, no dia
seguinte. Como bandeirolas de São João as várias páginas dos encartes foram
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Lá vem o Valcir. Estaciona o carro que também é da irmã marajá, mas que
ele usa e abusa. Cumprimenta um e outro pelo hall de entrada do prédio. Entra no
elevador e vai soltando seus comentários infames. Caminha pelo corredor até a
última sala da direita. Abre a porta. Vê a decoração e, sem ler, acha que é uma
tomado por um ataque de fúria. Destrói aquele trabalho coletivo, xinga todo mundo,
incalculável.
Mais tarde souberam que seu destino havia sido a sala do chefe
O chefe, a par de toda a trama, buscou acalmá-lo. Pediu que relevasse. Que
bom tempo e persuadiu o Valcir a encarar com superioridade o fato daquele dia.
Que também tirasse proveito e refletisse sobre o porquê daquela atitude dos colegas
do RH.
Assim ele fez. Retornou à sala, já com aquela cara sacana que lhe era
sinal e, no momento de pedir explicações, mostrasse a ele o sinal que seria retirado,
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Essa atitude era posteriormente corrigida, quando se acalmava e procurava a
incomodava.
na própria boca e a abriu para que Valcir constatasse o problema sobre o qual iria
falar. Pra piorar a situação Guedes permanecia com a bocarra escancarada e com a
podia tirar a mão da boca, pois havia sido possível constatar a existência do
segredou a Pedro, colega de RH, sua dificuldade em lidar com situações como
lembrando que isso acontece em todos os tipos de trabalho e coisa e tal. Pedro
esboçou um leve sorriso. Valcir, doído com esse sorriso, perguntou qual era a graça.
Pedro, em voz baixa, quase inaudível alertou Valcir que se preparasse para o
Altair, conhecido como Alicate, pelo formado de suas pernas. Certamente iria
conversar com o Valcir para saber o valor das parcelas que pagaria em decorrência
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de sua última utilização do plano de saúde. E o recente procedimento ao qual havia
se submetido era nada mais nada menos que uma cirurgia de hemorróidas. Pedro
se afastou para não presenciar o momento em que Alicate fosse mostrar a Valcir o
resultado da cirurgia.
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De repente, o RH
Estava ótimo para alguém que havia finalizado apenas ensino médio, em
busca de uma fonte de renda a fim de pagar a faculdade. Receber salário, plano de
oportunidade para não perder. Com certeza sua vida iria mudar, e certamente para
melhor. Evoluir.
- Sou sim.
- Vou te levar.
- Obrigada.
de seleção a vaga descrita era para o setor de caixa, mas que não haveria problema
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nenhum em começar a trabalhar na área de RH. A Coordenadora desculpou-se e
ocorrido um equívoco, pois uma outra pessoa, que seria contratada para o RH, não
compareceu. A vaga ficou para mim. Assim começa minha história no RH. Não se
Esse foi o meu primeiro emprego, numa empresa grande, não muito bem
certamente estava delineado o meu caminho. Quando comecei não sabia nada de
nada. Na segunda semana tinha alguma idéia e depois de quase seis anos já me
outras profissionais que têm a ver com a vida das pessoas dentro das organizações.
De certa forma os gestores têm um pouco de cada uma dessas e outras coisas na
Eu, que queria estudar Geografia para lecionar, acabei no curso de Recursos
Humanos. Muitas vezes nossos projetos não acontecem como planejamos, mas aí é
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Eu chego lá
Bem, vou contar um episódio que me fez ver que coragem e ousadia, valem à
pena.
encarregada, fazendo faculdade, mas estudante ainda, quis mostrar pra mim que eu
deveria ficar lá, que era protegida, que estava segura. Mas, teimosa e persistente, lá
Lá fui eu, com a cara e a coragem levar meu “curriculum vitae”, lido e relido e
De cara me falaram que tinha que ter curso superior e davam preferência
passo.
Chegou o grande dia. Lá fui eu, morrendo de medo. Nem dormi naquela noite.
Nunca tinha feito um teste para um emprego, muito menos para uma empresa que
tinha nada menos que 83 lojas espalhadas no país. Era uma vaga de supervisora de
pessoal, ligada diretamente a diretoria no Rio de Janeiro. Que pavor! Mas eu fui.
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O teste se resumia no cálculo de uma folha de pagamento, uma rescisão, e
as guias de INSS e FGTS (naquela época a gente fazia cálculo na unha, tinha q
computador).
Resultado: Fui admitida, fui trabalhar no Rio de Janeiro. Meu filho tinha 1 ano,
eu vinha aos finais de semana. Ficava em hotel. Foi assim até inaugurar a loja
alguns meses depois. Meu marido me apoiou, meio a contragosto, mas era uma
vitória.
Fiquei ali algum tempo, até que me convidaram a fazer auditoria nas lojas
- Valeu, muito.
Superei-me, provei que eu podia! Mesmo sem a faculdade e sem a pós eu fiz
e fui a melhor!
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Recrutamento e Seleção - com brinco ou sem brinco?
hoje estou com 53. Naquela época o RH era estritamente operacional, vinculado a
benefícios.
Minha contratação havia sido feita por uma agência de empregos, a qual me
empresa.
mudaram?). Portanto, examinei meu banco de currículos, avaliei CTPSs, fiz algumas
estratégico, seleção por competências... He... He... He... isso ainda não existia, ao
menos no Brasil).
uma reunião de todas as chefias junto ao Diretor Regional. Nessa reunião, meu
“Chefe” (Chefe ???, mas quem tem chefe é índio....), foi questionado, segundo ele,
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em tom de chacota (ainda se usa esse termo ?) pelo “Chefe” do setor onde o
- “Poxa, agora o DP ‘tá’ mandando o pessoal vir trabalhar de brinco? Qualquer dia
cabeça não havia motivo não contratá-lo, visto ele ter sido o melhor da seleção que
da empresa. Pintando unhas e tirando cutículas, comentou que o filho, que já estava
a algum tempo procurando emprego, havia conseguido trabalho e estava muito feliz.
Falou o nome da empresa para a “patroa”. A patroa comentou com o marido. Este
Regional ligou para o meu Chefe e falou da ligação que havia recebido.
perguntei:
- O que houve?
- Gabriel (esse era meu ”nome de guerra”), esse “cara” é colado com o dono
da empresa. Pelo amor de Deus, cancela a demissão e retorna com ele o mais
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Eu não podia falar nada, pois a minha “batata” estivera “assando” por alguns
pra caramba! Ele então falou: “é o brinco Gabriel?” Eu balancei a cabeça em sinal
afirmativo. Ele imediatamente tirou e falou: “a partir de hoje eu só vou usar lá fora”.
Olhei para cima (como trocando um olhar com Deus), peguei a pasta e a
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Caminhos cruzados
No início era São Paulo, de onde meus pais partiram para Fortaleza e
Algum tempo depois, mais uma vez, dissemos adeus a São Paulo, rumo ao
Desta vez, entretanto, um tio meu, bastante experiente no ramo nos ajudou.
Finalmente nos estabilizamos, tanto no local, quanto com o negócio, que deu
certo. Pude, então, fazer a faculdade de administração. Graças a Deus, hoje sou
formado.
estudos.
Paula não traficava, porém, a convivência com aquele grupo, fez com que
começasse a consumir desde bebidas alcoólicas até drogas pesadas. Com o passar
gestação, durante uma incursão policial, o pai de seu filho foi morto.
Este fato foi um duro golpe em Paula, que também não poderia contar com
Rio de Janeiro.
além da conta por ela. Ainda não mencionei, mas Paula sempre se destacou por
Paula passou a ser acompanhante assídua desse senhor, que com o tempo,
quis exclusividade e adquiriu um belo apartamento para que Paula morasse com o
filho.
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ocorreu em relação aos demais alunos, que riam dela por nunca responder
faculdade.
as quais se relacionou em diferentes fases da vida, até que chegou a mim, fazendo
contato.
toda a trajetória da sua vida e ao final pediu-me ajuda e conselhos para a sua
formação acadêmica.
Esses cursos são preparatórios para concursos. Mesmo ela tendo condições
de bancar cursos top de linha, sugeri um pré-vestibular social para formar a base e
pública. Vi o brilho nos olhos de Paula pela satisfação e gratidão a uma pessoa que
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