Resende 2009
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RESUMO: O modelo epistemolgico adotado em uma pesquisa precisa ajudar a produzir conhecimentos acerca dos componentes ontolgicos do mundo social, de acordo com a verso da ontologia considerada para a pesquisa. Por isso em uma pesquisa necessrio haver correspondncia entre as perspectivas ontolgica e epistemolgica. A verso de ADC de Fairclough est ligada ontologia da vida social desenvolvida no Realismo Crtico. Esse dilogo tem implicaes ontolgicas e epistemolgicas. PALAVRAS-CHAVE: Anlise de Discurso Crtica, Realismo Crtico, Epistemologia Theoretical and epistemological reflections on Critical Discourse Analysis ABSTRACT: The epistemological model adopted in a research project must help to produce knowledge on the ontologic components of the social world, according to the version of ontology considered in the research. Thats why coherence between ontology and epistemology is required. Faircloughs CDA version establishes an interdisciplinary relation with Critical Realism. This dialogue brings both ontological and epistemological consequences. KEYWORDS: Critical Discourse Analysis, Critical Realism, Epistemology
POLIFONIA
CUIAB
EDUFMT
N 17
P. 125-140
2009
iSSn 0104-687X
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das prticas implicam que os recursos e constrangimentos das estruturas sociais tambm incidem sobre a estruturao do potencial semitico, e essa estruturao tem efeito na configurao dos eventos discursivos. Assim como discursos contextualmente localizados podem ser explicados em termos causais, podem tambm ser identificados como tendo poderes causais em eventos. isso o que justifica a perspectiva de relao dialtica entre linguagem e sociedade, reivindicada pela ADC e nem sempre claramente formulada.
necessrio, portanto, quando se fala em ADC, que se defina com clareza de que ADC se fala3. Minhas reflexes aqui esto voltadas para a ADC desenvolvida por Fairclough. E a verso de ADC de Fairclough est ligada ontologia da vida social desenvolvida no Realismo Crtico. A relao entre a ADC e o RC j aparece em Discourse in late modernity (CHOULIARAKI; FAIRCLOUGH, 1999), mas em Analysing discourse que Fairclough (2003) deixa suficientemente clara sua filiao ao RC:
A perspectiva social em que me baseio realista, baseada em uma ontologia realista: tanto eventos sociais concretos como estruturas abstratas, assim como as menos abs3 Opto pela traduo Anlise de Discurso Crtica para Critical Discourse Analysis, em lugar de Anlise Crtica do Discurso. Justifico minha escolha pela tradio histrica dos estudos discursivos no Brasil, consolidados com o rtulo anlise de discurso. Tome-se como mais um argumento este diretamente ligado traduo do termo em si o texto de van Dijk (1996), em que ambas as formas aparecem: Critical Discourse Analysis (p. 84) e Critical Analysis of Discourses (p. 102). Parece-me coerente traduzir a primeira por Anlise de Discurso Crtica e a segunda por anlise crtica de discursos. Para uma reflexo mais detida sobre isso, ver Magalhes (2005).
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tratas prticas sociais so parte da realidade. Podemos fazer uma distino entre o potencial e o realizado o que possvel devido natureza (constrangimentos e possibilidades) de estruturas sociais e prticas, e o que acontece de fato. Ambos precisam ser distinguidos do emprico, o que sabemos sobre a realidade. [...] A realidade (o potencial, o realizado) no pode ser reduzida a nosso conhecimento sobre ela, que contingente, mutvel e parcial (FAIRCLOUGH, 2003, p. 14, grifos meus).
Nessa citao, Fairclough faz referncia estratificao da realidade social nos estratos potencial, realizado e emprico, proposta por Bhaskar (1989)4. Ao nvel do potencial, correspondem os objetos sociais com suas estruturas e poderes gerativos; o realizado diz respeito ao modo como objetos sociais so configurados em um contexto; e o estrato emprico refere-se ao que podemos observar dos objetos sociais, suas estruturas e poderes gerativos e do modo como se configuram em um contexto. Distinguir entre potencial e realizado significa reivindicar um status de realidade para as estruturas sociais que, embora no sejam diretamente observveis, podem ser conhecidas por seus efeitos em eventos. Nesse sentido, Bhaskar e Lawson (1998, p. 5) afirmam que:
[...] realidade constituda no apenas de experincias e do curso de eventos realizados, mas tambm de estruturas, poderes, mecanismos e tendncias de aspectos da realidade que geram e facilitam eventos realizados que ns podemos (ou no) experienciar.
O emprico, por sua vez, definido como o domnio da experincia, da observao, aquilo que ns efetivamente observamos dos efeitos das estruturas, das potencialidades
4 Bhaskar (1989) utiliza os termos real, actual e empirical para se referir aos trs estratos da realidade. Quanto ao nvel do que Bhaskar designa real, preferi utilizar a nomenclatura potencial, conforme adaptao de Fairclough (2003). Isso porque entendo que, por um lado, potencial designa com maior clareza o que se entende pelo estrato da realidade relacionado aos poderes dos objetos sociais, potencialmente ativados em eventos realizados e, por outro lado, porque a designao desse estrato como real pode levar a uma interpretao de que os dois outros estratos seriam menos reais, sentido no pretendido na teoria. Quanto ao nvel do actual, a despeito de haver tradues como atual, considero essa traduo equivocada porque atual em portugus no carrega o mesmo significado de actual em ingls, que se refere ao que se atualiza de fato em um dado evento. Por isso preferi a traduo por realizado. Essas tradues so mantidas nas citaes de originais em ingls.
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e das realizaes. Por isso emprico define-se como categoria epistemolgica, enquanto o potencial e o realizado so categorias ontolgicas. A respeito dessa distino, Sayer (2000a) nos ensina que nossa capacidade de observar efeitos e aes sociais no esgota o que poderia existir ou de fato existe, ou seja, o emprico no correspondente nem ao potencial nem ao realizado, embora a observao possa nos ensinar sobre o que se realiza e sobre o que se poderia realizar. Ao contrrio de uma abordagem realista ingnua, que consideraria o que existe como equivalente ao que poderia existir, e o objeto emprico como separado de nosso conhecimento sobre ele, Bhaskar (1989) prope uma ontologia estratificada do mundo social. O domnio do potencial referese ao que quer que exista, [...] independentemente de ser um objeto emprico para ns e de termos uma compreenso adequada de sua natureza (SAYER, 2000b, p. 9). O potencial refere-se tambm s estruturas internas e poderes causais dos elementos sociais, isto , capacidade de se comportarem de maneiras particulares, suas tendncias e suscetibilidades a certas mudanas. O emprico, por fim, definido como o domnio da experincia, da observao; aquilo que ns efetivamente observamos dos efeitos das estruturas, das potencialidades e das realizaes. Assim a diferena do RC em relao a um realismo emprico que nossa capacidade de observar efeitos e aes sociais no esgota o que poderia existir ou de fato existe, ou seja, o emprico no correspondente nem ao potencial nem ao realizado, embora a observao possa nos ensinar sobre o que se realiza e sobre o que se poderia realizar o acesso ao potencial e ao realizado por meio da observao contingente: no impossvel, mas tambm no garantido (SAYER, 2000b).
nunca acabado o que realizado em um dado momento dependente de que poderes causais so ativados. A centralidade do conceito de prticas decorrente do tipo de relao estabelecida entre estruturas sociais e a atividade social. Em suas atividades na sociedade, as pessoas realizam uma dupla funo: [...] elas no devem fazer apenas produtos sociais, mas produzir tambm as condies da produo de produtos sociais, isto , reproduzir (ou, em maior ou menor grau, transformar) as estruturas que governam suas atividades substantivas de produo (BHASKAR, 1998, p. 218). Isso significa que as estruturas sociais so tambm resultado da ao social e, portanto, so tambm possveis objetos de transformao. Uma perspectiva das estruturas sociais como objetos reais e como produtos sociais indispensvel cincia crtica, pois de outro modo no h como propor a possibilidade de mudana social. Estrutura sociais, ento, existem em funo das atividades que governam. Mas a relao entre estrutura e ao no dialtica, e sim transformacional, isto , [...] no constituem dois momentos de um mesmo processo (BHASKAR, 1998, p. 214). Dizer que no constituem dois momentos de um mesmo processo significa dizer que no so simultneas, que h uma assimetria entre esses dois elementos, pois as estruturas so sempre prvias ao. As sociedades so sempre prvias aos indivduos, que nunca a criam, apenas a reproduzem ou transformam. Assim como as estruturas sociais so concebidas como coero da atividade, devem tambm ser concebidas como recurso para a atividade, o que implica o carter recursivo da vida social: agentes reproduzem e transformam as estruturas que utilizam (e que os constrangem) em suas atividades. A Figura 1, a seguir, ilustra o modelo transformacional de Bhaskar:
Figura 1 Modelo transformacional da atividade social
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De acordo com esse modelo, a sociedade, por um lado, sempre prov as condies necessrias e indispensveis para a ao intencional humana e, por outro lado, s existe nas aes humanas, que sempre utilizam alguma forma preeexistente de ordem social. A concepo realista crtica da relao entre estrutura e ao, ento, enfatiza que as estruturas sociais so condio necessria e preexistente agncia intencional, mas tambm que elas existem apenas em virtude da agncia. As estruturas so tanto a condio (sincrnica) quanto o resultado (diacrnico) da ao social. Que recursos e constrangimentos presentes nas estruturas sociais so produto da ao (j que no h estrutura sem ao, segundo Bhaskar) no significa que estruturas e aes possam ser colapsadas uma na outra (SAYER, 2000b). Assim o modelo transformacional, quando reivindica a assimetria entre estrutura e ao social, est focalizando a historicidade da mudana social, incluindo tanto os recursos e os constrangimentos para a ao quanto a transformao das estruturas sociais no tempo. Toda atividade social pressupe condies estruturais sincrnicas e possui um potencial para transformar diacronicamente essas mesmas condies. A Figura 2 ilustra essa relao assimtrica entre estrutura e ao:
Figura 2 Relao sicrnica/diacrnica entre estrutura e ao
Essa assimetria implica tambm que a relao entre estrutura e ao no de equivalentes, o que aponta a necessidade de entidades intermedirias. Essas entidades mediadoras da relao entre estrutura e ao so as prticas sociais.
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aes sociais, prticas, posies e relaes sociais, eventos, identidades, ideologias, discursos, textos. Essa ontologia coerente com a discusso de Chouliaraki e Fairclough (1999) acerca do continuum entre estruturas, prticas e eventos. Estruturas sociais so entidades abstratas que definem um potencial, um conjunto de possibilidades para a realizao de eventos. Mas a relao entre o que estruturalmente possvel e o que acontece de fato no simples, pois eventos no so efeitos diretos de estruturas: a relao entre eles mediada por entidades organizacionais intermedirias, as prticas sociais (FAIRCLOUGH, 2003, p. 23). Assim pode-se dizer que estruturas, prticas e eventos esto em um continuum de abstrao/concretude.
Figura 3 Prticas sociais como conceito mediador entre estrutura e ao
Em termos especificamente discursivos, pode-se dizer que, ao nvel de abstrao da estrutura, correspondem os sistemas lingusticos (incluindo tanto o lxico e a gramtica quanto o sistema ideacional e o sistema interpessoal) e, ao nvel de concretude do evento, correspondem os textos produzidos em interaes (FAIRCLOUGH, 2000). O que do potencial dos sistemas lingusticos ser ativado no evento discursivo depende da configurao de (redes de) prticas de que o momento discursivo parte, ou seja, a instanciao do potencial semitico organizada nas prticas sociais. Ao nvel das prticas, ento, corresponde a categoria organizacional intermediria da ordem do discurso:
[...] em termos do Realismo Crtico, a lacuna entre o potencial dos sistemas semiticos e as facetas semiticas de eventos realizados tamanha que outra estrutura
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precisa ser proposta em um nvel mais baixo de abstrao, isto , mais perto do concreto (FAIRCLOUGH, JESSOP; SAYER, 2002, p. 9).
Assim como a relao entre o potencial presente nas estruturas sociais e a concretizao de eventos mediada pelas prticas sociais, tambm a relao entre o potencial dos sistemas lingusticos e os textos produzidos em eventos discursivos mediada pelas ordens do discurso que se referem a permanncias relativas de aspectos discursivos em prticas sociais especficas. Estabelecidas as conexes entre os conceitos de estrutura e sistema lingustico, prtica social e ordem do discurso, evento social e texto, a relao entre a estruturao da sociedade e a estruturao de seu potencial semitico/discursivo pode ser ilutrada como sugere a Figura 4, a seguir:
Figura 4 Organizao social do potencial semitico
Na Figura 4, as categorias intermedirias de prtica social e de ordem do discurso aparecem ligadas porque a estruturao do potencial discursivo somente pode ser estudada e entendida em relao a prticas sociais especficas: as prticas sociais, ligadas a campos especficos da atividade social, organizam e articulam, de modos relativamente estveis, o potencial discursivo disponvel para eventos discursivos nas atividades inerentes a essas mesmas prticas. A configurao de elementos discursivos em textos depende, portanto, das prticas sociais articuladas, por isso as duas categorias intermedirias de prticas sociais e de ordens do discurso explicam a relao entre linguagem e sociedade. Assim como eventos podem criativamente confrontar as expectativas presentes em prticas sociais estruturadas e, ento, produzir mudana social, tambm textos como eventos discursivos contextualizados podem transgredir a ordem do discurso, produzindo transformaes na relao entre gneros, discursos e estilos.
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A mudana no momento discursivo de prticas tanto efeito de mudanas sociais mais amplas como pode ter efeito na estruturao social. ADC interessam tanto os modos como prticas sociais conformam ordens do discurso quanto os modos como mudanas articulatrias em ordens do discurso ligadas a prticas especficas podem configurar mudanas tambm em seus aspectos no-discursivos. A relao entre prticas sociais e ordens do discurso e o foco na estruturao social das prticas implicam que os recursos e constrangimentos das estruturas sociais tambm incidem sobre a estruturao do potencial semitico, e essa estruturao tem efeito na configurao dos eventos discursivos. Assim como discursos contextualmente localizados podem ser explicados em termos causais, podem tambm ser identificados como tendo poderes causais em eventos. isso o que justifica a perspectiva de relao dialtica entre linguagem e sociedade, reivindicada pela ADC e nem sempre claramente formulada. Por um lado, aspectos discursivos de prticas sociais podem ter efeitos causais na sociedade; podem, por exemplo, legitimar certos modos de ao ou ser utilizadas como base para construes identitrias. Por outro lado, a colonizao de diferentes prticas sociais por certas representaes discursivas e sua presena em diferentes tipos de texto e a configurao de ordens do discurso em prticas particulares so tambm resultados de poderes causais, no sentido de que a organizao dos elementos discursivos em prticas socialmente estruturada.
5. Implicaes epistemolgicas
Como vimos, o que se realiza em eventos e o que podemos observar do mundo social no esgotam o que existe, uma vez que h poderes causais subjacentes s estruturas. Isso no significa que no seja possvel gerar conhecimento sobre aquilo que no podemos, diretamente, observar, j que podemos, com base no conhecimento sobre as prticas, fazer abstraes sobre os poderes causais ativados/ bloqueados em um dado evento. Se a vida social um sistema aberto, aquilo que acontece no esgota o que poderia ter acontecido, pois pode haver poderes causais latentes. A abordagem realista das estru135
turas sociais e da relao transformacional entre estrutura e ao justifica a existncia da cincia crtica que cr que sua prtica terica possa resultar na superao de questes problemticas. Essa perspectiva se alinha com a ADC, em sua perspectiva como prtica terica crtica. O Modelo Transformacional da Atividade Social garante que, apesar do constrangimento das atividades pelas estruturas, essa restrio sempre parcial, no sentido de que h possibilidades para a mudana social. Em termos epistemolgicos, isso significa que possvel propor projetos de pesquisa emancipatrios, capazes de revelar: (a) uma necessidade; (b) algum obstculo impedindo a realizao dessa necessidade; (c) alguns meios para a remoo desse obstculo (COLLIER, 1994, p. 183). Tendo em vista a figura que ilustra, em termos ontolgicos, o modelo transformacional da relao estrutura/ao (BHASKAR, 1998, p. 217, Figura 1), posso propor a Figura 5, a seguir, como uma ilustrao da implicao epistemolgica desse modelo transformacional para pesquisas sociais:
Figura 5 - Implicao epistemolgica do modelo transformacional da atividade social
Assim pesquisas comprometidas com a mudana social podem se basear epistemologicamente no Modelo Transformacional da Atividade Social de Bhaskar (1989), visando identificar necessidades no-satisfeitas de atores sociais envolvidos nas prticas estudadas, mecanismos que possivelmente bloqueiem a satisfao dessas necessidades, em termos das estruturaes sociais, e modos potenciais para a superao desses mecanismos e, ento, de transformao dos aspectos estruturais considerados problemticos. Nas palavras de Collier (1994, p. 182), [...] a cincia social no
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leva em conta apenas as crenas e suas relaes causais com as estruturas, ela tambm revela necessidades humanas, suas frustraes e as relaes entre essas necessidades e essas frustraes e a estrutura social. Esse modelo serve de inspirao ao enquadre para ADC proposto por Chouliaraki e Fairclough (1999), notadamente nas etapas em que a autora e o autor sugerem que se identifiquem, em relao ao problema social parcialmente discursivo estudado, obstculos para serem superados, a funo do problema na prtica e possveis modos de se ultrapassarem os obstculos. Sobre a relao entre o enquadre para ADC de Chouliaraki e Fairclough e o RC, veja tambm Ramalho (2006) e Papa (2008).
plementar a ADC com anlises mais concretas-complexas dos domnios extradiscursivos, assim como Wodak (2003) insiste que o trabalho de campo desejvel para se explorar o objeto da investigao e como condio prvia para trabalhos de anlise. Mas Blommaert (2005, p. 233) vai alm. Compartilho sua opinio quando sugere o carter central da contextualizao para pesquisas discursivas e prope a etnografia como meio para tanto:
Precisamos desenvolver uma abordagem ampla da linguagem na sociedade, em que a contextualizao do discurso seja um elemento central. Se tomamos contexto seriamente, ento precisamos investig-lo seriamente. Isso significa que precisamos adotar um registro ecltico de abordagens e mtodos capaz de captar a complexidade do discurso como local de desigualdade. Para isso a etnografia central: uma perspectiva da linguagem como intrinsecamente ligada a contexto e atividade humana.
Para anlises discursivas lograrem crticas explanatrias, indispensvel um conhecimento contextual capaz de possibilitar o estabelecimento das relaes entre representaes discursivas e prticas sociais. Isso endossa a relao desejvel entre ADC e etnografia. Pesquisas em ADC costumam recorrer a uma ontologia complexa que entra em descompasso com metodologias, por vezes, incapazes de responder a essa complexidade de relao entre linguagem e sociedade. No basta identificar desejos, motivaes e mesmo aes de atores sociais em relao a um objetivo de mudana social, porque a efetividade dos projetos pessoais/institucionais depende dos modos como se relacionam com contingncias contextuais, com as possibilidades apresentadas nos contextos em que sua atividade social se desenrola. Isso justifica explanaes causais: o que h nos contextos pesquisados que permite ou bloqueia o sucesso de uma ao intencional?
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