Arrecadação Tributária Sobre Produtos Agrícolas Brasileiros

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ARRECADAO TRIBUTRIA SOBRE PRODUTOS AGRCOLAS BRASILEIROS

Joelsio Jos Lazzarotto1 Antnio Carlos Roessing2 RESUMO O setor agroindustrial brasileiro tem grande relevncia para o desenvolvimento do Pas. Isso porque, entre outras coisas, contribui significativamente para a formao do produto interno bruto (PIB) e para a gerao de empregos e grande parte das divisas nacionais. Dada a importncia para a formao do PIB, esse setor tambm responde por expressiva parcela das receitas tributrias do Brasil. Partindo desses aspectos, foi elaborado este trabalho, cuja proposta est voltada, principalmente, realizao de estimativas e discusses sobre a contribuio de alguns dos principais produtos agrcolas para a arrecadao tributria nacional. Para realizar as estimativas, foram utilizados dados de rea, produo e preos da safra agrcola 2002/03, considerando nove importantes produtos agrcolas brasileiros: soja, milho, cana-de-acar, arroz, caf, feijo, trigo, caroo de algodo e sorgo. Com esses dados, foram obtidos os valores brutos da produo de cada um dos produtos. Sobre esses valores, estimaram-se as receitas tributrias de apenas cinco tributos, que, neste trabalho, incidiram, uma nica vez, sobre a produo e a industrializao: imposto sobre operaes relativas circulao de bens e servios - ICMS, programa de integrao social do trabalhador - PIS, contribuio para o financiamento da seguridade social - Cofins, contribuio provisria sobre movimentaes financeiras - CPMF e contribuio especial para a seguridade social rural CESSR. Para calcular o ICMS, o PIS e a Cofins, foram consideradas somente as quantidades de produtos destinadas industrializao no mercado interno, pois esses tributos no incidem sobre a matria-prima exportada por pessoas fsicas. Assumindo a ausncia de sonegao e a comercializao total da produo resultante dos produtos agrcolas avaliados, estimou-se arrecadao tributria ao redor de US$3,5 bilhes. Entre esses produtos verificou-se a ocorrncia de significativas diferenas nas arrecadaes, devido s variaes nas reas exploradas, nos nveis tecnolgicos empregados, nas quantidades de produes destinadas aos mercados interno e externo, nas alquotas estaduais do ICMS e nos preos pagos aos produtores. Palavras-chave: tributos; setor agroindustrial; produo agrcola 1. INTRODUO O sistema tributrio pode ser analisado sob inmeros aspectos, como o da eficincia, da distribuio de renda, do bem-estar social, da seletividade e da uniformidade. Na teoria, esse sistema consiste em um conjunto de regras aplicado sobre o sistema econmico de determinado pas. O grande desafio com essas regras a determinao de um modelo impositivo que abranja, com a neutralidade desejada e a menor distoro possvel, toda a amplitude da organizao econmica, retirando recursos na quantidade necessria para o financiamento do setor pblico. Contudo, essa no tarefa fcil, pois envolve decises dinmicas e sistemticas sobre os conflitos bsicos da tributao (Condicionantes..., 2003).
1

Pesquisador da Embrapa Soja - Caixa Postal 231. CEP: 86001-970. Fone: (43) 3371-6253. E-mail: [email protected]. Londrina - PR. 2 Pesquisador da Embrapa Soja - Caixa Postal 231. CEP: 86001-970. Fone: (43) 3371-6265. E-mail: [email protected]. Londrina - PR.

Apesar de, em geral, ocorrerem grandes problemas e conflitos sociais e econmicos relacionados ao sistema tributrio, por meio dele que os governos podem viabilizar os seus projetos. Seguindo esse pressuposto, e sem ter a preocupao central em discutir as distores que ocorrem no sistema em questo, foi elaborado este trabalho, cuja proposta est voltada, principalmente, discusso da contribuio do setor agrcola na arrecadao de tributos. Assim, considerando alguns dos principais produtos agrcolas brasileiros, foram feitas estimativas e discusses relacionadas, principalmente, com a arrecadao tributria proveniente desses produtos e as diferenas estaduais e regionais nas exploraes agrcolas e nas receitas tributrias decorrentes delas. Com esses procedimentos, buscou-se gerar informaes e promover discusses relacionadas importncia da agricultura na arrecadao tributria, tendo em vista que ela faz parte do setor responsvel por grande parte das divisas geradas para o Pas. Alm disso, com os resultados alcanados, pode-se tambm contribuir para a compreenso do por qu ocorrem grandes diferenas de desenvolvimento entre as vrias regies do Brasil. Para atingir os objetivos, este trabalho foi estruturado em cinco sees principais, includa a seo introdutria. A seo dois, baseada em estudos bibliogrficos, de grande importncia para que o leitor, alm de se familiarizar com aspectos bsicos que facilitam a compreenso de como este trabalho foi realizado, tenha uma viso sinttica das principais caractersticas da tributao incidente sobre o setor agroindustrial brasileiro. Na seo trs, so apresentados os principais procedimentos metodolgicos e as fontes dos dados utilizados para estimar e discutir a arrecadao tributria sobre nove produtos agrcolas brasileiros: soja, milho (safra e safrinha), cana-de-acar, arroz, caf, feijo (1a e 2a safras), trigo, caroo de algodo e sorgo. Na seo quatro, so efetuadas as principais discusses referentes s arrecadaes tributrias, decorrentes das produes dos diferentes produtos agrcolas estudados, nos estados e nas regies do Pas. Por fim, na seo cinco, so apresentadas as principais consideraes finais deste estudo. 2. TRIBUTAO NO SETOR AGROINDUSTRIAL BRASILEIRO O sistema tributrio brasileiro tem uma srie de vcios que se consolidaram com o tempo. Ele encerra impostos em cascata, que se acumulam ao longo das cadeias produtivas agroindustriais. Nas fases de produo, transformao e distribuio, o bem taxado com diversos tributos (Reforma..., 1999; Tributao..., 2003a). Nesse sentido, conforme estudo da Associao Brasileira das Indstrias de Alimentao - ABIA (Tributao..., 2003b), no Brasil incidem 44 tributos sobre os alimentos. Essa incidncia acaba representando cerca de 34,7% do preo ao consumidor final. Na mdia dos Estados Unidos, esse valor de apenas cerca de 7%. Alm disso, constata-se que a expressiva incidncia de tributos nas cadeias produtivas agroindustriais faz com que grande parte das famlias brasileiras tenha significativa parcela da sua renda gasta com alimentos. Enquanto nos Estados Unidos as famlias de menor renda utilizam 1,9% dos seus rendimentos para pagar tributos incidentes sobre os alimentos, no Brasil esse valor, para as famlias mais carentes, de cerca de 10,5% (ABIA e POF/IBGE, citados por Tributao..., 2003b). A incidncia tributria no setor agroindustrial brasileiro a mais elevada dentre os pases do Mercosul e da Unio Europia. Enquanto na Argentina a alquota modal de 11% e, na Unio Europia, varia de 1% a 6 %, no Brasil pode chegar a 20%. Essa alta carga tributria existente entre as cadeias agroindustriais nacionais, segundo Braga (citado por Brugnaro et al., 2003), contribui para a existncia de enorme mercado informal. Isso se transforma em grande obstculo modernizao das atividades produtivas, comerciais e financeiras, representando, portanto, empecilho para o aumento da competitividade nacional. Adicionalmente, a tolerncia para com mercados informais, caracterizados por sonegao e

clandestinidade, perpetua o ciclo vicioso da falta de competitividade e do subdesenvolvimento. Em termos especficos, dentre os tributos mais importantes que incidem sobre os alimentos no Brasil, destacam-se trs: imposto sobre operaes relativas circulao de bens e servios - ICMS, o programa de integrao social do trabalhador - PIS e a contribuio para o financiamento da seguridade social - Cofins. Eles respondem pela grande parcela da carga tributria dos alimentos e, juntamente com outras contribuies, em que merece destaque a CPMF (contribuio provisria sobre movimentaes financeiras), ocasionam efeitos alocativos e distributivos negativos na agricultura brasileira (Tributao..., 2003a). O ICMS o tributo com maior peso no valor dos produtos alimentcios (Tributao..., 2003a; Reforma..., 1999). Ele recolhido pelos estados, que repassam pequena parcela para os municpios. Cada estado tem sua prpria legislao, havendo, assim, alquotas, prazos de recolhimento e exigncias de documentao diferentes para cada unidade da federao (Reforma..., 1999). Portanto, no mbito geral, a taxao do ICMS bastante complexa, devido existncia de mltiplas alquotas impostas sobre vrios produtos agrcolas e insumos e interpretao e aplicabilidade das leis que regem o assunto (Sousa et al., 2002). Quanto ao PIS e Cofins, eles constituem tributos que incidem sobre as vendas dos produtos agropecurios, caso o produtor seja pessoa jurdica. Esses tributos oneram significativamente os referidos produtos, pois passam a incidir nas etapas posteriores sua produo. As etapas de transformao e de comercializao, que so feitas por empresas organizadas na forma de pessoa jurdica, vo se constituir em fator gerador dos mesmos. Assim, os alimentos, em virtude da incidncia dos referidos tributos passar a ocorrer de maneira cumulativa, tm considerveis aumentos nos seus preos (Tributao..., 2003a). Para compreender o impacto que os tributos exercem no preo final dos alimentos, devem-se analisar os mecanismos e a tributao incidentes sobre as etapas da cadeia produtiva. Nessa perspectiva, constata-se que o produto agropecurio taxado tanto na produo quanto na comercializao, o que contribui para o aumento do custo de produo. Seguindo essa linha de pensamento e referindo-se soja brasileira, a LMC International (empresa de consultoria agrcola), com base nos custos mdios da produo sojcola da CONAB para a safra 2000/01, concluiu que, na mdia, os custos combinados do ICMS, do PIS e da Cofins representaram 8,9%, 8,8%, 8,5% e 7,5%, respectivamente, do custo total dos sojicultores do Mato Grosso, do Mato Grosso do Sul, de Gois e do Paran. Essas taxaes esto embutidas nos preos dos insumos, das mquinas e dos equipamentos agrcolas (Programa..., 2002). No ano de 1998, a carga fiscal estimada sobre os principais insumos agrcolas indicou que um valor entre 4% e 5% do valor da produo agrcola estaria sendo destinado ao pagamento do ICMS, do PIS e da Cofins, contribuindo, assim, para a reduo da rentabilidade do setor (Tributao..., 2003a). No caso especfico dos tratores agrcolas, a participao da tributao no preo final , de acordo com Micheletto (2003), da ordem de 16,4%. Enquanto nos Estados Unidos a carga tributria de um veculo de passeio de apenas 6,6%, no Brasil se taxa em mais do que o dobro um bem de capital, essencial para a atividade rural. Alm das taxaes incidentes sobre o processo produtivo, na comercializao incide um valor de 2%, que corresponde contribuio especial para a seguridade social rural CESSR. Esse valor, embora recolhido pelo adquirente ou consignatrio, acaba reduzindo o valor recebido pelo produtor rural (Programa..., 2002). Quanto industrializao, diferentemente de outros pases, uma indstria brasileira, na venda de soja para outra indstria, tem sua operao comercial onerada em mais de 4% devido s incidncias do PIS, da Cofins e da CPMF. Alm disso, muitas vezes os processadores, visando evitar a incidncia do ICMS, compram matria-prima em regies mais distantes, mas na mesma unidade da federao da fbrica, ao invs de comprar em cidades

prximas, no estado vizinho (Programa..., 2002). Ainda referente indstria, no Brasil, as esmagadoras de gros recolhem tributos em cascata que, somados, podem chegar a 16% da operao, para um setor que trabalha com margens estreitas, da ordem de 3% (Soja..., 2003). Em relao ao mercado externo, a Lei Complementar n. 87, de 13 de setembro de 1996 (Lei Kandir), desonerou da cobrana do ICMS as exportaes de produtos primrios e industrializados semi-elaborados. Isso provocou, em especial, no complexo nacional de soja, significativo aumento nas exportaes. Entretanto, em decorrncia do desequilbrio tributrio da indstria, o incremento dos embarques concentrou-se na soja em gro, ou seja, exportada de forma in natura (Reforma..., 1999; Micheletto, 2002; Programa..., 2002). Nessa perspectiva, Lazzarotto et al. (2003) estimaram que, entre 2000 e 2003, cerca de 53% das exportaes totais do complexo soja brasileiro foram na forma de gros. 3. ASPECTOS METODOLGICOS Com base nas consideraes tericas discutidas na seo dois, definiu-se grande parte dos procedimentos metodolgicos empregados para a consecuo deste trabalho. Visando discutir esses procedimentos, nesta seo so feitas algumas consideraes principais. Para realizar as estimativas de arrecadao tributria, foram utilizados dados de rea e de produo, da safra agrcola de 2002/03, de nove importantes produtos agrcolas explorados em todos os estados brasileiros: soja, milho (safra e safrinha), cana-de-acar, arroz, caf, feijo (1a e 2a safras), trigo, caroo de algodo e sorgo. As reas exploradas e as produes obtidas por esses produtos esto no apndice (Quadros 8 e 9). As fontes de dados relativas a essas duas variveis foram o sexto levantamento da Companhia Nacional de Abastecimento CONAB, realizado em agosto de 2003, e o banco de dados agregados do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatstica - IBGE. O valor referente quantidade produzida de cada produto estudado foi multiplicado pelo seu preo de venda (Quadro 1), obtendo, desse modo, o valor bruto da produo agrcola (VBP). O somatrio do VBP de todos os produtos estudados resultou num valor que foi em torno de 83,1% do PIB agrcola total, estimado para o ano de 2003 em cerca de 27,2 bilhes de dlares (PIB..., 2003). QUADRO 1 - Preos dos produtos agrcolas e alquotas do ICMS nos estados brasileiros.
U. F. Acre Amap Amazonas Par Tocantins Rondnia Roraima Maranho Piau Bahia Cear Rio Grande do Norte Paraba Pernambuco Alagoas Sergipe Paran Santa Catarina Soja 156,28 156,28 156,28 156,28 163,72 156,28 156,28 183,57 179,60 Milho 104,35 104,35 104,35 104,35 104,35 104,35 104,35 119,36 119,36 119,36 139,19 119,36 119,36 119,36 119,36 119,36 104,35 102,02 Cana 6,50 6,50 6,50 6,50 6,50 6,50 6,50 6,50 6,50 6,50 6,50 6,50 6,50 6,50 Produtos agrcolas (US$/t) Arroz Caf Feijo Trigo 151,32 587,95 540,78 151,32 540,78 151,32 540,78 151,32 587,95 540,78 151,32 540,78 151,32 587,95 540,78 154,76 540,78 151,32 540,78 151,32 540,78 151,32 587,95 540,78 151,32 587,95 540,78 151,32 540,78 151,32 540,78 151,32 587,95 540,78 151,32 151,32 186,05 710,47 389,46 164,00 145,83 396,90 164,00 Algodo 370,69 370,69 370,69 409,35 370,69 370,69 370,69 370,69 370,69 388,69 1

Sorgo 69,68 69,68 69,68 69,68 79,52 -

ICMS (%) 17 17 12 17 7 12 12 12 12 7 17 17 17 17 17 17 12 12

Rio Grande do Sul Minas Gerais So Paulo Esprito Santo Rio de Janeiro Mato Grosso Mato Grosso do Sul Gois Distrito Federal
1

179,60 163,72 183,57 163,72 171,17 138,92 148,84

92,02 109,36 119,86 114,61 114,69 104,35 104,35 104,35 104,35

6,50 6,50 6,50 6,50 6,50 6,50 6,50 6,50 6,50

148,81 163,72 163,72 163,72 163,72 131,47 163,72 151,32 151,32

710,47 710,47 587,95 710,47 587,95 587,95 587,95 587,95

357,21 545,74 545,74 545,74 545,74 545,74 545,74 545,74 545,74

155,00 189,00 189,00 189,00 189,00 189,00

368,69 399,35 370,69 368,69 388,69 388,69

79,52 79,52 79,52 69,68 69,68 69,68 69,68

12 12 18 12 18 17 7 12 17

Preo do caroo de algodo. Fonte: Preos...(2003) e Cotaes (2003).

Sobre o VBP de cada produto, foram feitas estimativas de arrecadao tributria. Para tanto, estimaram-se apenas os valores de cinco importantes tributos, que incidiram, uma nica vez, sobre a produo e a industrializao (Quadro 2). Portanto, para viabilizar a realizao deste trabalho, no foi considerado o efeito cascata de tributos, que incidem em todas as etapas da cadeia produtiva. QUADRO 2 - Tributos incidentes sobre a produo e a industrializao de produtos agrcolas.
Tributo Incidncia calculada CPMF Produo agrcola CESSR Produo agrcola ICMS Produo agrcola destinada ao mercado interno PIS Produo agrcola industrializada no mercado interno Cofins Produo agrcola industrializada no mercado interno 1 Ver Quadro 1. Fonte: Programa (2002), Tributao (2003a) e Tributao (2003b). Alquota (%) 0,38 2,00 Varivel1 0,62 3,00

Para calcular o ICMS, o PIS e a Cofins, foram consideradas somente as quantidades de produtos destinadas industrializao no mercado interno (Quadro 3). Isso porque esses tributos no incidem sobre a matria-prima exportada por pessoas fsicas (direto do produtor rural para o mercado externo). Alm disso, para facilitar os clculos desses tributos na indstria de transformao, tomou-se como base o valor bruto da produo agrcola, ou seja, no foram considerados os preos efetivos praticados na indstria. Isso faz com que os valores estimados de arrecadao, em geral, estejam subestimados, uma vez que no foram consideradas as margens atribudas pelo setor industrial. QUADRO 3 - Montantes das exportaes de matrias-primas brasileiras, referentes apenas produo primria.
Produto Soja Milho Cana-de-acar Arroz Caf Feijo Trigo Algodo Sorgo Fonte: Conab (2003) e Preos...(2003). Exportao (%) 39,5 7,3 0,0 0,2 60,4 0,07 0,0 18,5 0,0

Em termos gerais, tambm relevante ressaltar que, entre os diferentes produtos agrcolas e os estados brasileiros, ocorrem certas variaes particulares, em relao arrecadao tributria, que no esto consideradas neste trabalho: diferentes alquotas, isenes, consumo no prprio estabelecimento agrcola etc. Portanto, no trabalho estimou-se o potencial de arrecadao tributria, considerando a mesma situao para todos os produtos, ou

seja, mesmas alquotas dentro dos estados e como se todas as suas produes fossem comercializadas, sem sonegao, para os mercados interno e/ou externo. Mesmo com as particularidades referidas, e tendo em vista a gama de tributos que, apesar de incidirem sobre os alimentos, no foram calculados, com base nas estimativas obtidas, podem ser feitas importantes inferncias sobre a contribuio da agricultura para as receitas tributrias do Brasil.

4. ARRECADAES TRIBUTRIAS SOBRE A PRODUO AGRCOLA As discusses efetuadas nesta seo esto divididas em cinco partes: 1) contribuio dos diferentes produtos agrcolas nas receitas tributrias estadual e regional; 2) arrecadaes estadual e regional, por unidade de rea, dos diferentes produtos agrcolas; 3) contribuio dos diferentes tributos nas arrecadaes tributrias estadual e regional; 4) sntese regional do valor bruto da produo e da receita tributria; e 5) sntese do valor da produo e da arrecadao por produto agrcola. 4.1. Arrecadaes tributrias estadual e regional por produtos agrcolas Analisando os dados apresentados no Quadro 4, podem ser verificadas diferenas regionais importantes em termos de produtos que contriburam para a arrecadao tributria. Isso, de certo modo, evidencia que existem grandes diversidades e diferenas nas exploraes agrcolas regionais. Na Norte, o arroz, o milho safra3 e o feijo 2a safra4 foram, em ordem decrescente, os produtos que mais contriburam para a arrecadao tributria. Na Nordeste, a cana-de-acar, seguida do milho safra e do feijo 2a safra, representaram os produtos agrcolas mais relevantes para a receita tributria. A Regio Sul teve, nas culturas da soja, do milho safra e do arroz, as maiores arrecadaes tributrias. Na Sudeste, a cana-de-acar, o milho safra e o caf foram os destaques principais. Por sua vez, na Centro-Oeste, as culturas da soja e do milho, tanto safra quanto safrinha, foram as que mais contriburam para a arrecadao regional. Quando observados os dados constantes nos Quadros 4 e 9, possvel ainda verificar que alguns produtos agrcolas, que foram os que mais contriburam para a arrecadao tributria de certas regies, so produzidos, sobretudo, em outras regies brasileiras. Isso deve-se a vrios fatores, tais como diferentes sistemas e nveis tecnolgicos de produo, tradio estadual e/ou regional, caractersticas e incentivos regionais. Nessa perspectiva, temse o arroz como interessante exemplo. Esse produto, que foi o que mais contribuiu para a

As principais diferenas do milho safrinha para o safra so: enquanto este explorado entre o fim de setembro e o ms de janeiro, aquele tem sua explorao entre fevereiro e comeo de maro; os agricultores, em geral, usam menos fertilizantes por considerarem que o risco de frustrao da produo maior; da regio central do Paran em direo ao sul do Brasil no recomendado o cultivo, pois h grandes riscos de geadas; a produtividade, em geral, menor por causa de interferncias climticas e de diferenas nos nveis tecnolgicos empregados; o milho safrinha, comumente, explorado aps as colheitas da soja e/ou do milho safra. 4 O feijo 1 safra corresponde safra das guas, onde a maioria dos estados da federao estabeleceu recomendaes baseadas na melhor poca de cultivo desse produto, visando adequar o desenvolvimento das plantas ao perodo que melhor satisfaa suas necessidades hdricas e, como conseqncia, diminua o risco de insucesso da cultura. A Regio Sul destaca-se como a principal produtora do feijo 1 safra. Por outro lado, o feijo 2 safra corresponde safra da seca que, pelo fato de apresentar a maior rea de cultivo desse gro, tem maior contribuio na produo nacional de feijo. A explorao, que mais expressiva na Regio Nordeste, apresenta alta variabilidade de pocas de cultivo devido grande abrangncia geogrfica. Essas pocas tambm so dependentes do grau de disponibilidade de gua para suprir as necessidades das plantas nas diversas fases de desenvolvimento (Conab, 2003; Feijo, 2003).

arrecadao da Regio Norte, produzido, em maior parte, na Regio Sul (56,8%), onde representou a terceira atividade mais importante em termos de arrecadao. Observando o Quadro 4, verifica-se, tambm, que o arroz e o milho so produtos que fazem parte da economia de todos os estados brasileiros. Por sua vez, o feijo somente no produzido nos estados de Alagoas e do Sergipe. Por outro lado, o trigo, devido sobretudo s exigncias climticas do sistema produtivo, tem sua explorao limitada a estados das regies Sul, Sudeste e Centro-Oeste.

QUADRO 4 - Valores de arrecadao tributria por produtos agrcolas1 nos estados e nas regies do Brasil (em mil US$).
U.F. AC AP AM PA TO RO RR N. MA PI BA CE RN PB PE AL SE N.E. PR SC RS S. MG SP ES RJ S.E. MT MS GO DF C.O. Brasil
1

Soja 0 0 100 1.026 5.199 2.090 414 8.829 13.802 5.700 21.420 0 0 0 0 0 0 40.921 236.590 15.695 204.684 456.969 44.631 48.455 0 0 93.086 318.604 61.501 104.541 2.647 487.294

Milho 1 Milho 2 1.077 27 276 12.018 2.025 3.116 751 19.290 8.335 5.781 16.093 22.422 1.857 4.123 3.584 2.081 3.415 67.690 143.217 72.835 81.967 298.019 96.013 93.791 2.800 568 193.171 18.265 8.682 43.678 3.432 74.058 0 0 0 0 0 0 0 0 0 0 3.709 0 0 0 0 0 0 3.709 94.451 0 0 94.451 2.207 28.578 0 0 30.785 58.412 27.717 17.624 597 104.349

Cana 0 0 394 550 133 0 0 1.077 2.017 467 3.820 2.582 4.628 8.278 26.399 37.381 1.608 87.180 35.897 796 1.320 38.012 24.284 348.981 4.454 11.164 388.882 20.272 7.664 14.212 0 42.147

Arroz 1.174 125 631 18.190 8.351 3.377 2.503 34.351 20.303 5.376 572 4.089 278 459 570 1.341 1.942 34.928 6.031 27.338 125.579 158.948 5.637 4.059 235 333 10.265 38.925 5.049 6.031 3 50.008 288.500

Caf 192 0 0 1.153 0 6.345 0 7.691 0 0 5.343 124 0 0 99 0 0 5.567 8.544 0 0 8.544 91.794 43.493 26.832 1.189 163.309 1.823 89 292 50 2.254

Feijo 1 Feijo 2 0 0 0 0 98 0 0 98 0 0 10.448 0 0 0 0 0 0 10.448 29.461 9.211 6.342 45.013 22.384 11.925 874 367 35.549 289 177 8.551 2.434 11.450 994 50 428 8.378 1.230 4.105 49 15.234 2.860 6.294 0 24.898 4.947 10.454 5.544 0 0 54.997 12.982 4.034 2.384 19.400 18.712 9.712 1.698 327 30.450 1.969 1.468 5.753 88 9.278

Trigo 0 0 0 0 0 0 0 0 0 0 0 0 0 0 0 0 0 0 79.365 4.162 53.398 136.925 1.024 4.749 0 0 5.773 0 4.204 2.466 239 6.909

Algodo 0 0 0 0 147 0 0 147 397 168 7.716 576 576 583 149 341 0 10.507 2.636 0 0 2.636 2.973 7.999 0 0 10.972 46.877 4.059 10.936 358 62.230 86.491

Sorgo 0 0 0 0 0 0 0 0 0 0 734 264 122 0 112 0 0 1.232 74 0 962 1.036 2.599 4.002 0 0 6.601 4.465 1.656 6.522 204 12.847

Total 3.438 202 1.829 41.317 17.182 19.033 3.717 86.717 47.715 23.786 69.854 54.954 12.408 23.896 36.457 41.144 6.965 317.179 649.248 134.071 476.635 1.259.954 312.258 605.745 36.893 13.949 968.844 509.901 122.266 220.607 10.051 862.824

1.087.099 652.229 233.294 557.299

187.365 102.559

129.359 149.607

21.716 3.495.519

Milhos 1 e 2 correspondem, respectivamente, aos milhos safra e safrinha; feijes 1 e 2 respectivamente, os feijes de 1a e 2a safras. Fonte: Estimativas realizadas pelos autores.

representam,

Ainda em relao aos produtos agrcolas estudados, com base nos dados do Quadro 4, so feitas algumas consideraes. Sobre a soja, ela se destacou na Regio Centro-Oeste, especialmente nos estados do Mato Grosso e de Gois, uma vez que foi responsvel por

56,4% da arrecadao regional estimada. No Sul, ela tambm teve grande participao (respondeu por 36,3% da arrecadao regional), sobretudo nos estados do Paran e Rio Grande do Sul. Essas duas regies foram responsveis por cerca de 86,9% da receita tributria proveniente da soja brasileira. Mato Grosso foi o principal destaque, uma vez que 25,1% e 29,3%, respectivamente, da produo e da arrecadao da soja brasileira resultaram desse estado. A cultura do milho, que explorada tanto na safra de vero quanto na safrinha, contribuiu significativamente para a arrecadao tributria nacional. O milho safra teve destaque principal na Sul, seguida da Sudeste. Juntas, essas regies responderam por cerca de 75,3% da arrecadao nacional proveniente dessa explorao. O Paran foi o principal estado, tendo em vista que 23,4% e 22,0%, respectivamente, da produo e da arrecadao do milho safra do Pas provieram dessa unidade da federao. O milho safrinha, que no perodo em estudo apresentou produtividade mdia nacional de apenas 0,8% menor que a do milho safra, constitui explorao com grandes possibilidades de expanso, especialmente por ocorrer em seguida colheita da safra regular de vero. Atualmente, ela importante, sobretudo, para a economia do Estado do Paran e das regies Centro-Oeste e Sudeste. Isso porque esse estado, juntamente com as referidas regies, responderam por cerca de 98,4% da receita de tributos provenientes dessa explorao. O Paran foi o principal destaque, respondendo por 42,6% e 40,5%, respectivamente, da produo e da arrecadao do milho safrinha do Pas. Os dados de arrecadao tributria resultantes da explorao da cana-de-acar permitem evidenciar que, historicamente, essa cultura tem prevalecido nas regies Sudeste e Nordeste. Isso porque esse produto, dentre todos os analisados, foi o que mais contribuiu para as receitas tributrias estimadas para ambas as regies. A Regio Sudeste foi a principal exploradora da cana-de-acar, respondendo, assim, por cerca de 69,8% de toda a arrecadao nacional proveniente dessa cultura. Entretanto, a Nordeste participou com 15,6%. So Paulo foi o principal destaque, com 58,2% e 62,6%, respectivamente, da produo e da arrecadao de cana-de-acar do Brasil. Em relao ao arroz, a maior parte da arrecadao ficou concentrada na Regio Sul. Essa regio, que produziu cerca de 56,8% do arroz brasileiro, arrecadou em torno de 55,1% dos tributos nacionais decorrentes desse produto. Rio Grande do Sul foi o principal estado, contribuindo com 43,5% e 45,0%, respectivamente, da produo e da arrecadao do arroz nacional. O caf uma cultura predominante na Regio Sudeste. Essa predominncia deve-se, em grande parte, a questes histricas do desenvolvimento nacional, que definiram os estados de Minas Gerais, do Esprito Santo e de So Paulo como os grandes produtores. Essa regio respondeu por cerca de 87,2% da arrecadao brasileira proveniente do caf. Minas Gerais foi o principal destaque, tendo em vista que 48,9% e 49,0%, respectivamente, da produo e da arrecadao de caf nacional resultaram desse estado. Quanto ao feijo 1a safra, com exceo da Norte, nas demais regies brasileiras constitui-se em importante produto da economia regional. O destaque ficou para a Regio Sul, que respondeu por aproximadamente 43,9% da arrecadao total dessa cultura. Paran foi o principal estado, respondendo por 33,9% e 28,7%, respectivamente, da produo e da arrecadao do feijo 1a safra do Pas. Por sua vez, o feijo 2a safra, apesar de apresentar produtividade mdia nacional em torno de 33,9% menor que a do feijo 1a safra, resultou em um valor de arrecadao tributria ao redor de 26,1% superior. Essa superioridade deveu-se, principalmente, ao fato de a rea explorada com feijo 2a safra ter sido em torno de 48,3% superior do feijo 1a safra. O feijo 2a safra, presente em praticamente todos os estados brasileiros, teve explorao mais expressiva na Regio Nordeste, que foi responsvel por 36,7% e 42,5%, respectivamente, da

produo e da arrecadao nacional provenientes desse produto. Cear foi o principal destaque, pois 15,9% e 19,2%, respectivamente, da produo e da arrecadao do feijo 2a safra originaram-se desse estado. Na explorao tritcola, destacou-se a Regio Sul, onde foram arrecadados ao redor de 91,5% dos tributos decorrentes do trigo brasileiro. Essa ampla participao da Sul deveu-se ao fato de a regio ter respondido por 92,5% da produo tritcola do Pas. O Paran foi o principal estado, tendo em vista que 52,4% e 53,0%, respectivamente, da produo e da arrecadao de trigo do Brasil foram provenientes dessa unidade da federao. A produo de caroo de algodo ficou concentrada na Regio Centro-Oeste, que arrecadou em torno de 71,9% do total de tributos brasileiros provenientes dessa explorao. Mato Grosso foi o destaque, com 48,3% e 54,2%, respectivamente, da produo e da arrecadao provenientes desse produto. O cultivo de sorgo tambm predominou na Centro-Oeste, que foi responsvel por cerca de 59,1% da arrecadao nacional dessa cultura. Gois foi o principal estado, com 33,1% e 30,0%, respectivamente, da produo e da arrecadao do sorgo nacional. A anlise global dos dados apresentados no Quadro 4 evidencia significativas diferenas na economia agrcola das regies e dos estados brasileiros. Adicionalmente, podese constatar que no eixo regional centro-sul, formado pelas regies Sul, Sudeste e CentroOeste, em relao ao eixo norte-nordeste, representado pelas regies Norte e Nordeste, tem-se maior desenvolvimento do setor agrcola. Isso porque esto concentradas as maiores produes e, por conseguinte, arrecadaes tributrias dos produtos estudados, com exceo do feijo 2a safra. O eixo centro-sul foi responsvel por arrecadar em torno de 95,4%, 86,7%, 98,4%, 84,2%, 76,0%, 92,9%, 89,7%, 100%, 87,7% e 94,3%, respectivamente, das receitas estimadas com soja, milho safra, milho safrinha, cana-de-acar, arroz, caf, feijo 1a safra, trigo, algodo e sorgo. 4.2. Arrecadao tributria por hectare As grandes diferenas observadas na produo e na arrecadao entre os estados e as regies do Brasil, deveram-se, alm das significativas diferenas nas reas agrcolas exploradas, s marcantes variaes nas produtividades fsicas, nos preos dos produtos e nas alquotas do ICMS entre os estados. Nessa perspectiva, utilizando os dados constantes nos Quadros 1, 4, 8 e 9, so feitas, tambm, algumas inferncias relativas influncia dessas variveis nas arrecadaes tributrias por unidade de rea das regies e dos estados brasileiros. As maiores arrecadaes por hectare de soja, milhos safra e safrinha, cana-de-acar, caf, trigo e sorgo foram verificadas na Regio Sudeste. Em relao soja, nessa regio, foram arrecadados em torno de US$63,2/ha. A maior arrecadao, em relao s outras regies, deveu-se aos melhores preos e maior alquota do ICMS (18%) no Estado de So Paulo. Em termos de produtividade sojcola, a regio com melhor resultado foi a Centro-Oeste (2.924 kg/ha). Na Regio Nordeste, em conseqncia da baixa produtividade da soja (2.077 kg/ha), foi verificada a menor receita tributria por unidade de rea (US$33,0). Quanto aos milhos safra e safrinha, na Sudeste arrecadaram-se, respectivamente, US$93,7/ha e US$85,2/ha. Essas maiores arrecadaes foram determinadas, tambm, pelos melhores preos e pelas maiores alquotas do ICMS nos estados de So Paulo e do Rio de Janeiro. Quando analisado sob a ptica da produtividade, a Regio Centro-Oeste apresentou o melhor resultado produtivo do milho safra: 5.185 kg/ha. Por outro lado, a maior produtividade regional do milho safrinha foi verificada no Sul: 4.000 kg/ha. A regio com menores resultados foi a Nordeste, pois apresentou as piores produtividades nessas duas exploraes: apenas 1.161 kg/ha de milho safra e 780 kg/ha de milho safrinha, que resultaram em arrecadaes, respectivamente, de US$26,1/ha e US$11,7/ha.

Devido s diferenas de resultados tcnicos entre as duas safras de milho assinaladas, constataram-se entre elas grandes diferenas de arrecadao por unidade de rea. Assim, por exemplo, a arrecadao de milho safra em relao ao milho safrinha foi da ordem de 10,0% e 123,1% maior, respectivamente, nas regies Sudeste e Nordeste. Na cana-de-acar, foi estimada na Regio Sudeste a maior arrecadao por hectare (US$119,0), que pode ser atribuda s maiores alquotas do ICMS dos estados de So Paulo e do Rio de Janeiro e maior produtividade regional (78,1 t/ha). Na Regio Nordeste, em conseqncia da baixa produtividade dessa cultura (apenas 49,9 t/ha), foram arrecadados somente US$78,9/ha. Em relao ao caf, na Sudeste, devido aos maiores preos e s maiores produtividade regional (1.424,5 kg/ha) e alquotas do ICMS, foi onde mais se arrecadou por unidade de rea (US$88,9). Por outro lado, a Regio Norte foi a que menos arrecadou (US$40,7/ha), tendo em vista que apresentou a menor produtividade (781,5 kg/ha). Quanto ao trigo, na Sudeste foram arrecadados em torno de US$105,7/ha. Essa maior arrecadao, em comparao com as demais regies, foi devido, principalmente, aos melhores preos e maior produtividade observada em Minas Gerais (4.300 kg/ha). Dentre as regies produtoras, a Regio Sul, em funo da menor produtividade de trigo (2.108 kg/ha), foi a que apresentou a menor arrecadao por hectare (US$60,8). O sorgo tambm teve maior receita por hectare na Sudeste (US$41,2). Essa superioridade em relao s outras regies deveu-se, sobretudo, alta alquota do ICMS para o Estado de So Paulo e maior produtividade regional: 2.440 kg/ha. Por outro lado, das regies produtoras, a que menos arrecadou foi a Nordeste (US$16,3/ha), em funo da baixa produtividade (1.481 kg/ha). Analisando o caso do arroz, pode-se constatar que a Regio Sul, pelo fato de apresentar a maior produtividade mdia (5.039 kg/ha), obteve a maior receita tributria por unidade de rea (US$135,3). A Regio Nordeste, que apresentou a menor produtividade (1.651 kg/ha), foi a que menos arrecadou por hectare (US$47,6/ha). Para as exploraes de feijo 1a safra, feijo 2a safra e caroo de algodo, os maiores valores de arrecadao por unidade de rea foram obtidos na Regio Centro-Oeste. Especificamente em relao ao feijo 1a safra e ao feijo 2a safra, na Centro-Oeste, as receitas tributrias por hectare foram, respectivamente, da ordem de US$188,6 e US$118,6. O alto valor estimado para o feijo 1a safra foi atribudo, sobretudo, maior produtividade fsica mdia (1.834 kg/ha). Por outro lado, o melhor desempenho para o feijo 2a safra deveu-se, principalmente, aos melhores preos em relao queles praticados na Regio Sul, onde se verificou a maior produtividade (1.276 kg/ha). A regio com menor arrecadao nessas duas exploraes foi a Nordeste (US$26,0/ha e US$40,7/ha, respectivamente, para a 1a e 2a safras), tendo em vista que apresentou as menores produtividades regionais. Por fim, a Regio Centro-Oeste, pelo fato de apresentar a maior produtividade mdia de caroo de algodo (2.154 kg/ha), teve tambm a maior receita tributria por unidade de rea desse produto (US$141,0). Por sua vez, a Regio Norte, devido menor alquota do ICMS (7%) incidente no Estado de Tocantins, foi a que menos arrecadou (US$61,30/ha). Do ponto de vista da produtividade, a Nordeste foi a regio com menor desempenho na produo de caroo de algodo (1.223 kg/ha). Tomando, novamente, como perspectiva analtica os eixos centro-sul e norte-nordeste, pode-se verificar, tambm, expressivas diferenas na arrecadao tributria por unidade de rea quando comparados esses dois eixos. No centro-sul, pelo fato de os sistemas de produo agrcola apresentarem produtividades fsicas muito superiores quelas observadas nos sistemas do norte-nordeste, as receitas tributrias por hectare foram significativamente maiores. Nesse sentido, os tributos arrecadados por hectare com soja, milho safra, milho safrinha, cana-de-acar, arroz, caf, feijo 1a safra, feijo 2a safra, algodo e sorgo foram, no

centro-sul, respectivamente, da ordem de 77,6%, 208,6%, 506,8%, 43,2%, 110,9%, 98,9%, 250,6%, 126,0%, 113,2% e 104,3% maiores que os estimados para o eixo norte-nordeste. 4.3. Arrecadaes tributrias estadual e regional por tributo Analisando as receitas tributrias estimadas, tambm foram constatadas, entre as regies e os estados brasileiros, grandes variaes nos valores monetrios dos cinco tributos estudados. Essas variaes resultaram, principalmente, de cinco fatores: 1) a composio e a importncia das atividades agrcolas exploradas em cada unidade da federao; 2) os nveis tecnolgicos empregados nessas atividades, pois eles tm grandes reflexos nos desempenhos produtivos; 3) as dimenses das reas exploradas com os produtos agrcolas; 4) os preos pagos aos produtores; e 5) as variaes, entre os estados, na alquota do ICMS incidente sobre os produtos agrcolas. Partindo desses pontos, e com base na anlise dos dados dispostos no Quadro 5, so feitas algumas consideraes mais relevantes a respeito da arrecadao tributria qualitativa, ou seja, dos tributos individuais. Em relao CPMF, constatou-se que ela contribuiu com 2,5% da arrecadao tributria total (ATT) estimada. Na perspectiva da unidade de rea, tambm constatou-se que, no Brasil, para cada hectare agrcola explorado, foi arrecadado ao redor de US$1,7 com a CPMF. Alm disso, entre os estados, houve grandes variaes. Essa arrecadao, por exemplo, foi em Roraima cerca de 271% maior que no Amap, pois esses estados arrecadaram, respectivamente, US$0,70/ha e US$2,60/ha. Sobre a CESSR, ela contribuiu com 12,9% da ATT. A mdia de arrecadao brasileira desse tributo foi da ordem de US$9,1/ha. Tambm verificaram-se expressivas variaes na arrecadao da CESSR por unidade de rea. Nesse sentido, em Roraima, a receita com CESSR por hectare (US$13,5) foi ao redor de 286% maior que a estimada para o Amap (US$3,5). Os estados com as maiores arrecadaes da CPMF e da CESSR foram, em ordem decrescente, Paran, Rio Grande do Sul, Mato Grosso, So Paulo e Minas Gerais. Quanto ao ICMS, ele contribuiu com 67,3% da ATT. Com base nesse dado, fcil concluir que, dos tributos estudados, o ICMS , de maneira destacada, o mais importante em volume de arrecadao. Quando comparado com o valor total da Cofins, que apresentou a segunda maior receita, o valor total do ICMS foi ao redor de 4,4 vezes maior. Essa grande arrecadao de ICMS, de certa forma, permite compreender o porqu da resistncia que certos governantes estaduais tm quando mencionadas, na reforma tributria, alteraes na forma de cobrana e diminuies na alquota desse imposto. Por outro lado, possibilita entender, tambm, alguns determinantes das grandes desigualdades de desenvolvimento que ocorrem entre as regies brasileiras. A maior arrecadao do ICMS, de acordo com os dados apresentados no Quadro 5, ocorreu no Estado de So Paulo (19,2% do ICMS total), seguido pelos estados do Paran, do Mato Grosso, do Rio Grande do Sul e de Minas Gerais. Por sua vez, o ICMS arrecadado no Amap, em relao ao valor total desse tributo, foi nfimo (apenas 0,006% do total). Alm disso, entre os estados, observaram-se acentuadas variaes na arrecadao do ICMS por hectare. Verificou-se, por exemplo, que, em So Paulo, foram arrecadados em torno de 497% a mais do que na Bahia, pois nesses estados as receitas do ICMS por unidade de rea foram, respectivamente, de US$88,4/ha e US$14,8/ha. Na mdia brasileira, estimou-se arrecadao de US$46,7 por hectare agrcola estudado.

QUADRO 5 - Valores de arrecadao dos distintos tributos nos estados e nas regies do Brasil.
U.F. AC AP AM PA TO RO RR N. MA PI BA CE RN PB PE AL SE N.E. PR SC RS S. MG SP ES RJ S.E. MT MS GO DF C.O. Brasil 61,8 3,4 40,1 728,9 579,5 577,0 84,2 2.075,0 1.173,5 574,1 2.569,3 938,6 209,1 401,6 609,0 683,3 119,1 7.277,5 16.858,7 3.108,2 12.436,0 32.402,9 9.370,6 10.998,4 1.406,8 244,0 22.019,9 11.588,3 4.521,2 5.946,4 196,9 22.252,8 86.028,0 CPMF Mil US$ US$/ha 0,8 0,7 1,1 1,1 1,5 1,4 2,6 1,3 1,0 0,7 1,1 0,7 0,8 0,8 0,7 1,3 0,8 0,9 1,9 2,1 1,7 1,9 2,3 2,2 2,1 1,3 2,2 1,8 1,8 1,7 2,1 1,8 1,7 CESSR Mil US$ 325,5 17,7 211,3 3.836,6 3.050,1 3.036,8 443,1 10.921,0 6.176,1 3.021,4 13.522,5 4.939,9 1.100,6 2.113,8 3.205,2 3.596,5 626,7 38.302,7 88.730,2 16.359,1 65.452,4 170.541,6 49.319,1 57.886,4 7.404,3 1.284,1 115.894,0 60.991,0 23.795,9 31.296,9 1.036,1 117.119,9 452.779,2 US$/ha 4,4 3,5 5,9 5,6 7,8 7,2 13,5 6,6 5,0 3,9 5,6 3,5 4,0 4,2 3,9 6,7 4,4 4,7 10,2 10,9 9,1 9,8 12,0 11,5 11,0 6,7 11,6 9,4 9,4 8,8 11,3 9,3 9,1 ICMS Mil US$ 2.514,8 148,9 1.212,2 30.299,1 8.932,6 11.846,1 2.450,4 57.404,1 31.010,5 15.511,1 35.436,4 40.460,3 9.150,2 17.627,4 26.912,2 30.392,2 5.127,0 211.627,4 417.663,6 88.043,7 306.335,7 812.043,0 194.802,5 446.969,4 21.574,0 10.340,9 673.686,8 360.546,5 61.924,9 140.868,1 7.269,8 570.609,2 2.325.370,6 US$/ha 33,8 29,2 33,6 43,9 22,9 28,1 74,7 34,8 25,1 20,2 14,8 28,4 33,3 35,1 32,6 57,0 36,3 26,1 47,9 58,9 42,6 46,7 47,5 88,4 32,0 54,1 67,2 55,8 24,6 39,4 79,4 45,1 46,7 91,7 5,4 62,6 1.105,0 791,2 612,0 126,6 2.794,6 1.602,2 801,4 3.138,7 1.475,6 333,7 642,9 981,5 1.108,4 187,0 10.271,4 21.579,3 4.548,9 15.827,3 41.955,6 10.064,8 15.395,6 1.114,7 356,2 26.931,3 13.149,3 5.484,8 7.278,2 265,1 26.177,4 108.130,3 PIS Mil US$ US$/ha 1,2 1,1 1,7 1,6 2,0 1,5 3,9 1,7 1,3 1,0 1,3 1,0 1,2 1,3 1,2 2,1 1,3 1,3 2,5 3,0 2,2 2,4 2,5 3,0 1,7 1,9 2,7 2,0 2,2 2,0 2,9 2,1 2,2 COFINS Mil US$ 443,8 26,3 303,1 5.346,9 3.828,3 2.961,5 612,6 13.522,4 7.752,6 3.877,8 15.187,0 7.140,1 1.614,7 3.110,7 4.749,2 5.363,3 904,8 49.700,3 104.415,9 22.010,9 76.583,9 203.010,8 48.700,6 74.494,9 5.393,5 1.723,5 130.312,5 63.625,9 26.539,2 35.217,0 1.282,9 126.665,0 523.211,0 US$/ha 6,0 5,2 8,4 7,7 9,8 7,0 18,7 8,2 6,3 5,0 6,3 5,0 5,9 6,2 5,8 10,1 6,4 6,1 12,0 14,7 10,6 11,7 11,9 14,7 8,0 9,0 13,0 9,8 10,5 9,9 14,0 10,0 10,5

Fonte: Estimativas realizadas pelos autores.

Sobre o PIS, o mesmo contribuiu com 3,1% da ATT estimada. Na mdia brasileira, foram arrecadados ao redor de US$2,2/ha agrcola, havendo, no entanto, grandes variaes entre os estados. Enquanto em Roraima arrecadaram-se cerca de US$3,9 por hectare com o PIS, no Piau, esse valor foi de apenas US$1,0. Isso fez com que, nesse estado, a arrecadao em questo fosse cerca de 74,4% menor que a estimada para Roraima.

Por fim, a Cofins representou o segundo tributo com maior arrecadao, uma vez que foi responsvel por 15,0% da ATT. Entre os estados brasileiros, tambm ocorreram acentuadas variaes na arrecadao da Cofins por unidade de rea. Isso porque enquanto na mdia brasileira foram arrecadados ao redor de US$10,5/ha, no Cear, por exemplo, arrecadaram-se apenas US$5,0/ha, que foi em torno de 73,3% menor que o estimado para o Estado de Roraima (US$18,7/ha). Em termos de valores totais estimados do PIS e da Cofins, verificou-se que os estados do Paran, do Rio Grande do Sul, de So Paulo, do Mato Grosso e de Minas Gerais foram, em ordem decrescente, os que mais arrecadaram. Por outro lado, para todos os cinco tributos estudados, pde-se observar que os estados que menos arrecadaram foram, em ordem crescente, Amap, Amazonas, Acre, Roraima e Sergipe. Analisando o Quadro 5 sob a perspectiva regional, pode-se verificar que, dos valores relativos aos tributos estudados, a Regio Sul foi a que mais arrecadou em cada tributo especfico. Isso explicado, em grande parte, pela trajetria histrica que contribuiu para o amplo desenvolvimento regional e pelas grandes aptido e explorao de vrias atividades agrcolas, com alto nvel tecnolgico, que tm grande relevncia para a economia do Pas. Apesar disso, quando analisada a arrecadao tributria por hectare dos distintos tributos, constatou-se que a Regio Sudeste apresentou maiores valores que os observados na Sul. Nesse sentido, na Sudeste, foram arrecadados a mais, por unidade de rea, cerca de 15,8%, 18,4%, 43,9%, 12,5% e 11,1%, respectivamente, da CPMF, da CESSR, do ICMS, do PIS e da Cofins. Essas diferenas, foram resultantes, sobretudo, das diferenas nas atividades agrcolas predominantes em cada regio, dos preos pagos aos agricultores e das maiores alquotas do ICMS praticadas na Regio Sudeste. Por outro lado, para os cinco tributos estudados, a Regio Norte foi a que menos arrecadou. Contudo, essa menor receita tributria no foi devido a problemas de produtividade, mas ao fato de que essa regio, em relao s demais do Brasil, apresentou a menor rea explorada com a agricultura. Essa rea foi de apenas 3,3% da rea agrcola nacional avaliada neste trabalho. Por outro lado, na anlise da arrecadao por hectare, constatou-se que, na Norte, foram arrecadados significativamente mais tributos que na Nordeste, que, em conseqncia das baixas produtividades dos produtos estudados, teve as menores receitas tributrias por unidade de rea. Na Nordeste, as arrecadaes, por hectare, da CPMF, da CESSR, do ICMS, do PIS e da Cofins foram, respectivamente, em torno de 47,1%, 48,4%, 44,1%, 40,9% e 41,9% menores que as mdias brasileiras. Em relao aos produtos agrcolas estudados, com base na anlise dos dados, verificou-se que a soja, o milho safra e a cana-de-acar foram os que mais contriburam para a arrecadao total dos cinco tributos. Para o total arrecadado com a CPMF e a CESSR, a soja, o milho safra e a cana-de-acar contriburam, respectivamente, com 38,8%, 16,3% e 11,0%. Para o ICMS, as participaes da soja, do milho safra e da cana-de-acar foram, respectivamente, de 29,5%, 18,9% e 17,5%. Por fim, para o somatrio das receitas com PIS e Cofins, a soja, o milho safra e a cana-de-acar representaram, respectivamente, 30,5%, 19,7% e 14,3%. Em termos de arrecadao da CPMF e da CESSR por hectare, o caf, o algodo e o arroz foram os produtos que mais arrecadaram. Para o ICMS, o PIS e a Cofins, as maiores arrecadaes por unidade de rea foram provenientes do algodo, da cana-de-acar e do arroz. Especialmente em relao ao caf e soja, importante destacar que esses produtos apresentaram baixa receita por hectare do ICMS, do PIS e da Cofins porque grande parte das suas produes foi exportada na forma de gros, graas Lei Kandir, que beneficia a exportao da matria-prima no industrializada.

4.4. Sntese regional do valor bruto da produo e da arrecadao tributria Com base nos dados apresentados no Quadro 6, podem-se fazer algumas consideraes sintticas relativas aos valores da produo agrcola e da arrecadao tributria nas regies do Brasil. A Regio Sul, que mais contribuiu para a formao do VBP estudado (37,7%), foi a que apresentou a maior receita tributria. Essa receita foi da ordem de 1,26 bilho de dlares, que correspondeu a cerca de 36,0% do total arrecadado no Brasil com os produtos estudados. Assim, nessa regio, para cada US$1,00 de VBP, foi estimada arrecadao ao redor de US$0,15. Analisando os dados do Quadro 6 sob a perspectiva de unidade de rea, constata-se que a Regio Sudeste supera a Regio Sul. Isso porque na Sudeste, que teve o maior VBP/ha (US$578,4), foram arrecadados em torno de US$96,7/ha, que foi em torno de 33,6% maior que na Sul. Assim, na Sudeste, para cada US$1,00 de VBP, foi estimada receita tributria da ordem de US$0,17. QUADRO 6 - Dados regionais sobre rea e valores da produo e da arrecadao tributria agrcola.
Regio rea (mil ha) VBP (mil US$) VBP/ha (US$) VAT (mil US$) VAT/ha (US$) Norte 1.651,7 546.048,7 330,6 86.717,1 52,5 Nordeste 8.103,8 1.915.134,2 236,3 317.179,3 39,1 Sul 17.406,7 8.527.082,4 489,9 1.259.953,9 72,4 Sudeste 10.018,8 5.794.697,7 578,4 968.844,4 96,7 Centro-Oeste 12.647,3 5.855.994,9 463,0 862.824,3 68,2 Brasil 49.828,3 22.638.957,9 454,3 3.495.519,0 70,2 Fonte: Estimativas realizadas pelos autores.

A regio com os menores VBP e VAT (valor da arrecadao tributria) foi a Norte. Nessa regio, o VBP e o VAT representaram, respectivamente, apenas 2,4% e 2,5% dos valores estimados para o Brasil. Porm, em termos de unidade de rea, a Regio Nordeste, em conseqncia de problemas tcnicos, que refletiram nas baixas produtividades agrcolas, foi a que apresentou os menores valores de VBP/ha e VAT/ha. O VBP/ha e o VAT/ha da Nordeste foram, respectivamente, cerca de 48,0% e 44,3% menores que as mdias nacionais. Quando analisados comparativamente, os eixos regionais centro-sul e norte-nordeste apresentam diferenas expressivas no desenvolvimento da agricultura. O eixo centro-sul, que participou com 80,4% da rea agrcola estudada, contribuiu com 89,1% e 88,4%, respectivamente, do VBP e do VAT brasileiros. Alm disso, pde-se constatar que no centrosul, o VBP/ha e VAT/ha foram, respectivamente, da ordem de 99,6% e 86,5% maiores que os observados no norte-nordeste (Quadro 6). 4.5. Sntese do valor da produo e da arrecadao por produto agrcola Quando analisados os valores da produo e da arrecadao tributria dos produtos agrcolas estudados, constatou-se a existncia de grandes diferenas entre esses produtos. Nessa perspectiva, a soja, o milho safra e a cana-de-acar, pelo fato de ocuparem as maiores reas agrcolas, foram, em ordem decrescente, os produtos que apresentaram os maiores VBP e VAT. A soja, o milho safra e a cana-de-acar contriburam, respectivamente, com 38,8%, 16,3%, e 11,0% do VBP estudado, que foi estimado em cerca de US$22,6 bilhes. Por outro lado, os referidos produtos participaram, respectivamente, com 31,1%, 18,7% e 15,9% do VAT, que foi estimado em US$3,5 bilhes (Quadro 7). Em especial, com o caf e a soja, pode-se verificar que tiveram maior participao para a formao do VBP do que para o VAT do Pas. Desse modo, se por um lado o caf e a soja tiveram, respectivamente, o primeiro e o quarto maiores VBP/ha, por outro eles apresentaram, respectivamente, somente o quarto e o dcimo maiores VAT/ha. Isso evidencia,

novamente, o efeito da Lei Kandir sobre esses produtos. Assim, esses dois produtos tiveram as menores relaes entre VAT/VBP. Enquanto para a soja essa relao foi da ordem de 0,12, para o caf foi ao redor de 0,09. Por outro lado, as maiores relaes entre VAT/VBP foram observadas na cana-de-acar (0,22) e no feijo 2a safra (0,20), cujas produes foram destinadas industrializao no mercado interno. Na mdia brasileira, para cada US$1,00 dlar de VBP, foi observado retorno, na forma de tributos, da ordem de US$0,15. QUADRO 7 - Valores brutos de produo e de arrecadao tributria de distintos produtos agrcolas.
Produto VBP (mil US$) Soja 8.791.920,3 Milho safra 3.697.522,5 Cana 2.497.905,6 Arroz 1.548.190,3 Caf 2.085.673,3 Milho safrinha 1.336.888,3 Trigo 833.249,6 Feijo 2a safra 641.645,9 Feijo 1a safra 572.671,8 Algodo 519.338,0 Sorgo 113.952,2 BRASIL 22.638.957,9 Fonte: Estimativas realizadas pelos prprios autores. VBP/ha (US$) 475,9 381,9 473,8 485,4 900,8 376,3 345,0 306,8 406,2 706,5 165,1 454,3 VAT (mil US$) VAT/ha (US$) 1.087.099,4 58,8 652.229,1 67,4 557.299,5 105,7 288.500,4 90,5 187.364,6 80,9 233.294,0 65,7 149.607,3 61,9 129.358,9 61,8 102.558,7 72,7 86.491,2 117,7 21.716,0 31,5 3.495.519,0 70,2

5. CONSIDERAES FINAIS Analisando de maneira sinttica os dados discutidos ao longo deste trabalho, so feitas algumas consideraes finais mais relevantes acerca da arrecadao tributria sobre os produtos agrcolas estudados. Inicialmente, pode-se verificar que, entre esses produtos, ocorrem significativas diferenas nas arrecadaes devido, sobretudo, s variaes nas reas exploradas, nos nveis tecnolgicos empregados, nas quantidades de produes destinadas aos mercados interno e externo, nas alquotas estaduais do ICMS e nos preos pagos aos produtores. Os trs produtos que apresentaram as maiores arrecadaes foram, em ordem decrescente, a soja, o milho e a cana-de-acar. Em termos de unidade de rea, os produtos que resultaram nas maiores arrecadaes foram, em ordem decrescente, o algodo, a cana-deacar e o arroz. Entre os estados e as regies do Pas constataram-se, tambm, relevantes diferenas nas receitas tributrias decorrentes das exploraes agrcolas. Enquanto os estados do Paran, de So Paulo e do Mato Grosso apresentaram as maiores receitas, os estados do Amap, do Amazonas e de Roraima tiveram os menores valores de arrecadao tributria. Esses resultados estaduais contriburam para evidenciar que as regies Sul, Sudeste e Centro-Oeste, em funo de apresentar grande desenvolvimento do setor agrcola, foram, em ordem decrescente, as que mais arrecadaram. Por outro lado, a Norte, pelo fato de possuir a menor rea explorada com agricultura, obteve a menor receita tributria sobre os produtos agrcolas estudados. Sob a perspectiva de receita por hectare, os estados com valores mais expressivos foram So Paulo, Roraima e Distrito Federal. Em termos globais, assumindo a ausncia de sonegao e a comercializao total da produo resultante dos produtos agrcolas avaliados, na safra 2002/03, estimou-se arrecadao tributria ao redor de US$3,5 bilhes. importante mencionar que esse valor derivado, em sua maioria, da produo primria, tendo em vista que, neste estudo, considerou-se apenas parcialmente a etapa de industrializao. Ainda referente a esse valor,

pode-se verificar que ele, apesar de representar volume significativo de arrecadao tributria proveniente do setor agrcola, tem participao de somente cerca de 2,2% na formao do total arrecadado com tributos no Brasil. Isso porque a arrecadao total estimada para o Pas, em 2002, foi da ordem de US$162,3 bilhes (Carga..., 2003). Isso significa que o valor da tributao proveniente das produes de alguns dos principais produtos agrcolas representa apenas a ponta do iceberg do total arrecadado a montante e a jusante da cadeia produtiva. interessante ressaltar que, mesmo considerando a incidncia de apenas uma nica vez de cinco tributos brasileiros, houve expressiva arrecadao tributria sobre os nove produtos agrcolas estudados. Isso porque com base nas estimativas realizadas, obteve-se valor de receita tributria correspondente a cerca de 15% do valor bruto total da produo agrcola desses produtos. Esse valor de receita sugere que os tributos sobre os alimentos, caso fossem considerados os 44 tributos incidentes sobre eles, so responsveis por, pelo menos, um quarto do preo final da maioria dos alimentos brasileiros. Isso se justifica, pois, para chegar ao valor de 15% de receita tributria em relao ao VBP, no foram considerados o efeito em cascata dos tributos e a incidncia da maior parte deles, em todas as etapas das cadeias produtivas dos produtos estudados. Assim, apesar de os produtos agroindustriais terem importante contribuio para as receitas tributrias da Unio, dos estados e dos municpios brasileiros, constata-se tambm, que fundamental reduzir alquotas e fazer ajustes na forma de incidncia dos tributos. Essas modificaes devem ser processadas no sentido de aumentar, sobretudo, o poder de compra das famlias de baixa renda, que poderiam adquirir mais alimentos e/ou buscar produtos com melhores qualidades nutricionais e sanitrias. Essas mudanas na carga tributria so justificadas com base em um simples e relevante determinante econmico, muitas vezes esquecido pelos governantes: gastando menos com produtos essenciais, as pessoas podero despender parte da renda para consumir bens e servios de outros setores e, desse modo, alm de permitir a compensao de parte das arrecadaes perdidas, possibilitaro a gerao de novos postos de trabalho. 6. REFERNCIAS BIBLIOGRFICAS BANCO de dados agregados. Disponvel em: <http://www.sidra.ibge.gov.br/bda>. Acesso em: 28 ago. 2003. BRUGNARO, R.; BEL FILHO, E. D.; BACHA, C. J. C. Avaliao da arrecadao e da sonegao de impostos na agropecuria brasileira. In: CONGRESSO BRASILEIRO DE ECONOMIA E SOCIOLOGIA RURAL, 41., 2003, Juiz de Fora. Anais..., Juiz de Fora: SOBER, 2003. 1 CD-ROM. CARGA tributria global: estimativa para 2002. Informe-se, n.54, abr. 2003. 8p. Disponvel em: <http://www.federativo.bndes.gov.br/bf_bancos/estudos/e0002105.pdf>. Acesso em: 10 set. 2003. CONAB. Previso e acompanhamento da safra 2002/2003: sexto levantamento, ago./2003. Disponvel em: <http://www.conab.gov.br>. Acesso em: 25 ago. 2003. CONDICIONANTES e perspectivas da tributao no Brasil. Disponvel em: <http://www.receita.fazenda.gov.br/Historico/EstTributarios/topicosespeciais/Condicionantes. htm>. Acesso em: 26 set. 2003. COTAES. Disponvel em: <http://www.agricultura.gov.br/>. Acesso em: 19 jun. 2003. FEIJO. Disponvel em: <http://www.cnpaf.embrapa.br/>. Acesso em: 14 out. 2003. LAZZAROTTO, J. J.; ROESSING, A. C.; SILVA, J. F. V.; MELLO, H. C. Retornos econmicos da pesquisa agrcola: o caso da cultivar de soja BRSMT Pintado resistente ao

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APNDICE QUADRO 8 - rea explorada com produtos agrcolas nos estados e nas regies do Brasil (em mil hectares).
U. F. AC AP AM PA TO RO RR N. MA PI BA CE RN PB PE AL SE N.E. PR SC RS S. MG SP ES RJ S.E. MT MS GO DF C.O. Brasil Soja 0,0 0,0 2,1 15,5 148,1 37,8 8,0 211,5 274,0 116,3 850,4 0,0 0,0 0,0 0,0 0,0 0,0 1.240,7 3.611,3 255,8 3.593,7 7.460,8 862,8 609,6 0,0 0,0 1.472,4 4.469,7 1.406,8 2.170,5 43,2 8.090,2 18.475,6 Milho 1 31,4 1,5 10,9 300,0 69,0 96,0 8,9 517,7 360,2 282,8 479,5 713,7 106,4 178,5 285,2 78,0 110,9 2.595,2 1.453,6 848,6 1.408,9 3.711,1 1.239,9 758,7 52,7 9,7 2.061,0 175,5 119,4 476,5 25,2 796,6 9.681,6 Milho 2 0,0 0,0 0,0 0,0 0,0 0,0 0,0 0,0 0,0 0,0 317,8 0,0 0,0 0,0 0,0 0,0 0,0 317,8 1.342,1 0,0 0,0 1.342,1 29,2 332,3 0,0 0,0 361,5 703,8 582,5 238,5 6,4 1.531,2 3.552,6 Cana 0,0 0,0 5,4 5,3 2,8 0,0 0,0 13,5 28,2 7,6 80,3 34,0 49,0 106,2 349,2 433,6 17,5 1.105,6 369,7 17,1 33,0 419,8 304,5 2.745,3 59,0 160,3 3.269,1 190,4 123,7 149,5 0,0 463,6 5.271,5 Arroz 24,7 2,8 12,4 271,3 154,9 60,9 15,0 542,0 497,8 141,2 17,4 42,8 2,8 7,9 3,2 7,0 13,0 733,1 69,4 145,0 960,4 1.174,8 89,1 37,8 3,3 2,9 133,1 444,7 49,5 112,0 0,1 606,3 3.189,3 Caf 4,5 0,0 0,0 19,5 0,0 165,0 0,0 189,0 0,0 0,0 103,0 7,5 0,0 0,0 5,1 0,0 0,0 115,6 128,0 0,0 0,0 128,0 1.070,0 225,0 529,0 12,5 1.836,5 36,9 2,5 6,0 0,8 46,2 2.315,3 Feijo 1 0,0 0,0 0,0 0,0 2,7 0,0 0,0 2,7 0,0 0,0 401,9 0,0 0,0 0,0 0,0 0,0 0,0 401,9 412,3 106,2 121,9 640,4 217,1 72,3 12,0 2,9 304,3 2,7 2,3 47,1 8,6 60,7 1.410,0 Feijo 2 13,8 0,8 5,3 79,3 10,7 62,1 0,9 172,9 70,0 212,1 0,0 607,1 92,6 197,9 171,6 0,0 0,0 1.351,3 134,3 47,1 37,1 218,5 173,3 76,1 18,4 3,0 270,8 18,6 18,8 40,4 0,4 78,2 2.091,7 Trigo 0,0 0,0 0,0 0,0 0,0 0,0 0,0 0,0 0,0 0,0 0,0 0,0 0,0 0,0 0,0 0,0 0,0 0,0 1.168,9 74,2 1.007,3 2.250,4 7,0 47,6 0,0 0,0 54,6 0,0 92,5 16,8 1,2 110,5 2.415,5 Algodo Sorgo 0,0 0,0 0,0 0,0 2,4 0,0 0,0 2,4 3,3 9,8 86,3 14,0 20,5 12,3 6,2 14,6 0,0 167,0 29,3 0,0 0,0 29,3 35,2 59,9 0,0 0,0 95,1 300,3 43,6 95,4 2,0 441,3 735,1 0,0 0,0 0,0 0,0 0,0 0,0 0,0 0,0 0,0 0,0 60,0 7,5 3,8 0,0 4,4 0,0 0,0 75,7 1,5 0,0 30,0 31,5 70,4 90,0 0,0 0,0 160,4 123,8 76,5 218,5 3,7 422,5 690,1 Total 74,4 5,1 36,1 690,9 390,6 421,8 32,8 1.651,7 1.233,5 769,8 2.396,6 1.426,6 275,1 502,8 824,9 533,2 141,4 8.103,8 8.720,4 1.494,0 7.192,3 17.406,7 4.098,5 5.054,6 674,4 191,3 10.018,8 6.466,4 2.518,1 3.571,2 91,6 12.647,3 49.828,3

Fonte: Conab (2003) e Banco...(2003).

QUADRO 9 - Produes agrcolas nos estados e nas regies do Brasil (em mil toneladas).
U. F. AC AP AM PA TO RO RR N. MA PI BA CE RN PB PE AL SE N.E. PR SC RS S. MG SP ES RJ S.E. MT MS GO DF C.O. Brasil Soja 0,0 0,0 5,4 44,2 377,7 113,0 22,4 562,7 712,4 308,2 1.556,2 0,0 0,0 0,0 0,0 0,0 0,0 2.576,8 10.891,7 738,5 9.631,1 21.261,3 2.303,7 1.706,9 0,0 0,0 4.010,6 13.096,2 4.079,7 6.359,6 119,7 23.655,2 52.066,6 Milho 1 48,0 1,2 15,7 535,8 158,7 177,1 42,7 979,2 414,2 287,3 1.102,9 749,4 72,4 160,7 139,7 81,1 133,1 3.140,8 8.140,2 4.234,5 5.283,4 17.658,1 5.207,6 3.490,0 144,9 22,1 8.864,6 814,3 680,6 2.482,6 153,0 4.130,5 34.773,2 Milho 2 0,0 0,0 0,0 0,0 0,0 0,0 0,0 0,0 0,0 0,0 254,2 0,0 0,0 0,0 0,0 0,0 0,0 254,2 5.368,4 0,0 0,0 5.368,4 119,7 1.063,4 0,0 0,0 1.183,1 2.604,1 2.172,7 1.001,7 26,6 5.805,1 12.610,8 Cana 0,0 0,0 337,1 367,9 157,0 0,0 0,0 862,0 1.724,2 399,2 4.520,7 1.727,0 3.095,8 5.537,4 17.658,0 25.004,0 1.075,4 60.741,7 30.681,0 680,0 1.128,0 32.489,0 20.755,2 223.706,0 3.806,6 7.156,3 255.424,1 13.559,6 9.070,0 12.146,7 0,0 34.776,3 384.293,2 Arroz 33,8 3,6 23,2 523,6 425,2 124,2 90,0 1.223,6 746,7 197,7 29,1 117,7 8,0 13,2 16,4 38,6 55,9 1.223,3 180,4 1.043,3 4.696,4 5.920,1 191,6 103,5 8,0 8,5 311,6 1.289,6 237,6 221,8 0,1 1.749,1 10.427,7 Caf 3,1 0,0 0,0 18,6 0,0 126,0 0,0 147,7 0,0 0,0 138,0 2,0 0,0 0,0 1,6 0,0 0,0 141,6 140,4 0,0 0,0 140,4 1.508,4 559,5 532,8 15,3 2.616,0 29,4 2,3 5,8 0,8 38,3 3.084,0 Feijo 1 0,0 0,0 0,0 0,0 1,4 0,0 0,0 1,4 0,0 0,0 148,7 0,0 0,0 0,0 0,0 0,0 0,0 148,7 420,5 129,0 98,7 648,2 228,0 91,1 8,9 2,8 330,8 2,3 2,5 87,1 19,4 111,3 1.240,4 Feijo 2 8,0 0,4 4,4 67,4 17,5 42,2 0,5 140,4 29,4 64,7 0,0 200,3 39,8 84,1 44,6 0,0 0,0 462,9 185,3 56,5 37,1 278,9 190,6 74,2 17,3 2,5 284,6 15,7 20,7 58,6 0,7 95,7 1.262,5 Trigo 0,0 0,0 0,0 0,0 0,0 0,0 0,0 0,0 0,0 0,0 0,0 0,0 0,0 0,0 0,0 0,0 0,0 0,0 2.688,5 141,0 1.913,9 4.743,4 30,1 104,7 0,0 0,0 134,8 0,0 171,1 72,5 5,5 249,1 5.127,3 Algodo 0,0 0,0 0,0 0,0 3,6 0,0 0,0 3,6 7,1 3,0 170,9 8,1 8,1 8,2 2,1 4,8 0,0 212,3 44,9 0,0 0,0 44,9 53,4 100,2 0,0 0,0 153,6 659,5 99,8 186,3 4,8 950,4 1.364,8 Sorgo 0,0 0,0 0,0 0,0 0,0 0,0 0,0 0,0 0,0 0,0 81,0 16,5 7,6 0,0 7,0 0,0 0,0 112,1 5,2 0,0 67,2 72,4 181,6 209,7 0,0 0,0 391,3 278,6 182,8 520,0 12,7 994,1 1.569,9 Total 92,9 5,2 385,8 1.557,9 1.141,1 591,2 155,6 3.929,8 3.634,0 1.260,1 7.944,0 2.821,0 3.231,7 5.803,6 17.869,4 25.128,5 1.264,4 68.956,7 58.725,8 7.022,8 22.855,8 88.604,4 30.198,2 230.822,5 4.518,5 7.199,4 272.738,6 32.356,6 16.719,8 23.142,7 343,3 72.562,4 506.791,9

Fonte: Conab (2003) e Banco...(2003).

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