Rodada Doha, Chegamos Muito Perto, Mas Não Chegamos Lá

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Agosto 2008 Vol.4 No.

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ISSN: 1813-4378

Pontes
ENTRE O COMRCIO E O DESENVOLVIMENTO SUSTENTVEL

1 Rodada Doha: chegamos muito perto, mas no chegamos l... 3 TRIPS: daqui para onde? 5 Servios educacionais no GATS: desafios para o Brasil Umberto Celli Junior 7 Bens e Servios Ambientais no Brasil Ceclia Hsner e Shigeo Shiki 9 Liberalizao Comercial, Emprego e Reduo da Pobreza: resultados indiretos e questionados Viviane Ventura-Dias 11 Polticas pblicas para a exportao de investimentos nos BRICs 12 Novos atores para o desenvolvimento sustentvel: as instituies financeiras 14 Biocombustveis e sustentabilidade: a certificao a resposta? 17 A apreciao das exportaes agrcolas brasileiras: novo impulso Rodada do Desenvolvimento Thalis Ryan de Andrade

Rodada Doha: chegamos muito perto, mas no chegamos l...


Pela terceira vez consecutiva, uma reunio ministerial da Rodada Doha da OMC, que tinha como objetivo alcanar um acordo sobre modalidades de agricultura e acesso a mercado de bens no-agrcolas (NAMA, sigla em ingls), terminou em fracasso.
Aps o colapso de 29 de julho, virtualmente impossvel que os ministros concluam um acordo de Doha em um futuro prximo. O futuro das novas negociaes comerciais multilaterais bastante incerto, principalmente devido s eleies que ocorrem nos Estados Unidos da Amrica (EUA), em novembro prximo, e na ndia, em 2009. Outro fator que agrega incerteza a falta de clareza quanto aos interesses polticos dos EUA de dar ou no continuidade aos acordos da OMC, seja por parte do Congresso seja da nova administrao presidencial. Alcanar um acordo neste ano deveria ter sido mais fcil que nos dois anos anteriores, pois os progressos alcanados pelos negociadores desde setembro passado deram aos Membros da OMC uma idia mais clara dos ganhos a serem alcanados com as complexas negociaes agrcolas. Um retrospecto da mini-ministerial mostra que possvel que o elemento de maior surpresa no tenha sido o colapso, mas sim o quo perto os ministros chegaram de um acordo. Segundo Pascal Lamy, Diretor Geral da OMC, os negociadores solucionaram, durante nove dias de duras negociaes, por volta de 85% dos impasses sobre modalidades, que incluem frmulas e nmeros para os futuros limites tarifrios e de subsdios. Chegou-se a um acordo para dezoito dos vinte temas relacionados a agricultura e NAMA. Divergncias relativas a medidas de salvaguarda especial (SSM, sigla em ingls), entretanto, persistiram, e o tema algodo no foi abordado para infelicidade dos africanos, que sofrem com os efeitos dos subsdios ao algodo estadunidense. O grupo de potncias comerciais G-7 (Austrlia, Brasil, China, UE, ndia, Japo e EUA) tambm no foi capaz de acordar um nvel mnimo para o qual o SSM entraria em vigor. Os EUA mantiveram-se firmes em sua posio de 40% de aumento do volume de importaes, afirmando que esse era o valor mais baixo que poderiam aceitar para SSM que excedesse os nveis tarifrios consolidados. China e ndia, de outro lado, insistiram que o limite de 40% era muito alto para assegurar que agricultores no fossem prejudicados pelo aumento de importaes agrcolas subsidiadas provenientes de pases desenvolvidos (PDs) e pediram que as salvaguardas mais altas fossem utilizadas a

Voc sabia?
Que entre 1947 e 1998 foram concludos 12 acordos multilaterais de comrcio, ao passo que entre 1999 e 2008 no houve nenhum? A OMC, entretanto, no esteve parada durante esses ltimos anos... Fatos bsicos da OMC desde 2008: Nmero de disputas: 378 (245 s na ltima dcada) Ascenso de novos Membros: 21 Desde 2007, os 12 novos Membros representam cerca de US$ 1,4 trilhes em importaes (um dcimo das importaes mundiais), tendo tais pases triplicado o volume de suas importaes em 2000. Os trs primeiros anos da OMC foram de intensivas negociaes: Concluso do Acordo sobre Tecnologia da Informao em 1996: eliminao de tarifas para computadores e semicondutores Concluso dos Acordos sobre Servios Financeiros e Telecomunicaes Bsicas em 1997: primeiras investigaes sobre o comrcio de servios; e Compromisso de ciberespao livre de tarifas em 1998: emails e transferncia de dados. Desde ento no houve mais acordos multilaterais...
Fonte: Progressive Policy Institute

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Espa o ab e r t o

Pontes Agosto 2008 Vol.4 No.4

Editorial
Estimado(a) leitor(a), A Equipe Pontes tem o prazer de apresentar-lhes o novo formato da publicao Pontes entre o Comrcio e o Desenvolvimento Sustentvel. Alm de mudanas visuais, a nova configurao da revista apresenta uma seo que traz publicaes recentes sobre comrcio e desenvolvimento sustentvel de relevncia para a regio. A edio de agosto de 2008 apresenta uma anlise sobre o fracasso das negociaes da Rodada Doha da OMC em julho passado, assim como um quadro dedicado Medida de Salvaguarda Especial tema que levou a mini-ministerial ao fracasso em julho. A seo intitulada OMC em foco traz, ainda, um editorial sobre a situao atual das negociaes sobre TRIPs na OMC. Alm disso, o presente nmero conta com dois artigos sobre servios no Brasil: um dedicado anlise de servios educacionais, assinado por Umberto Celli; e outro sobre servios e bens ambientais, de autoria de Ceclia Hanser e Shigeo Shiki. H trs artigos que compem a seo seguinte, intitulada Outros temas multilaterais: o primeiro versa sobre a relao entre comrcio internacional e pobreza, artigo de autoria de Viviane Ventura-Dias. O segundo faz uma anlise sobre investimentos externos diretos com origem nos pases BRICs; e o terceiro avalia os novos atores para o desenvolvimento sustentvel: as instituies financeiras. O sexto artigo que compe a srie sobre biocombustveis trata dos entraves e oportunidades relacionados certificao dessa fonte energtica. Por fim, Thalis Ryan de Andrade traa uma anlise sobre as oportunidades que se abrem ao Brasil no contexto de alta no preo dos alimentos. Esperamos que o contedo e a configurao desta edio da publicao Pontes entre o Comrcio e o Desenvolvimento Sustentvel lhes agradem. Colocamo-nos disposio para eventuais sugestes e comentrios. Encorajamos nossos leitores a consultar tambm nossa publicao quinzenal (Pontes Quinzenal) e a visitar o novo site do ICTSD: www.ictsd.org Atenciosamente, Equipe Pontes

partir de um volume de importao de 10% ou 15%. Diversos pases em desenvolvimento (PEDs), inclusive os membros do G-33, apresentaram propostas similares. Susan Schwab, Representante Comercial dos EUA, afirmou, por sua vez, que um limite muito baixo poderia significar um retrocesso em relao a dcadas de liberalizao comercial. Oficiais indianos rebateram a afirmao dizendo que a possibilidade de mal uso de SSM muita baixa. Os PEDs dificilmente imporiam medidas de salvaguarda sobre alimentos cujos preos esto em alta.

Posies e opinies sobre o insucesso da Rodada


As primeiras reaes dos governos ao colapso da mini-ministerial no foram caracterizadas pelas acusaes que marcaram colapsos similares no passado. EUA e ndia restringiram suas acusaes mtuas apenas questo da intransigncia em relao a SSM. A UE indicou ter tentado balancear cortes a seus subsdios agrcolas com acesso aos mercados industriais e de servios de PEDs, apesar de no tocar em acesso a seus mercados agrcolas (conforme pretendiam os EUA). Apesar dessas disputas menores, todos concordaram com o fato de que um acordo esteve muito prximo de concretizar-se. Somente o futuro dir se os Membros conseguiro dar seqncia s negociaes, partindo do ponto de onde estavam antes do colapso. Apesar de diversos pedidos para que se retenha o que foi colocado na mesa de negociaes em Genebra, verdade que os governos no esto obrigados a cumprir os compromissos apresentados durante a ministerial. O risco , portanto, que, apesar do no questionamento enftico pelos Membros, a Rodada perca fora nos prximos meses. No se deve perder de vista que diversos PEDs nunca estiveram convencidos da necessidade de uma nova rodada de negociaes comerciais e somente concordaram com o lanamento da Rodada Doha aps os ataques terroristas de 11 de setembro de 2001, quando ajustou-se que uma rodada para o desenvolvimento ajudaria a balancear certas regras comerciais multilaterais. Outro ponto sensvel que interesses da prpria UE na Rodada Doha diminuram, na medida em que temas como regras para investimentos externos e polticas de concorrncia saram da mesa de negociao devido a objees de PEDs. As opinies dos especialistas tocam em questes um tanto sistmicas sobre os compromissos e o gerenciamento do comrcio internacional. Patrick Messerlin, professor de Economia do Institut dEtudes Politiques de Paris, por exemplo, afirma que, sem os compromissos objetivados para essa Rodada, PEDs como Brasil e ndia podem dobrar ou at triplicar suas tarifas industriais sem sofrer penalidades. Por isso, acredita que consolidar as tarifas nos atuais nveis aplicados (que so baixos) asseguraria que no sejam elevadas, por exemplo, de 12 a 30% nos PEDs. Messerlin ressaltou que o maior valor da Rodada Doha seria, assim, o de prevenir um retrocesso comercial, especialmente no caso de uma sria crise econmica global.

Prximos passos: qual o futuro do comrcio internacional multilateral?


A atual mudana no equilbrio h at pouco tempo existente entre as principais potncias econmicas globais alterou o processo de desenvolvimento das regras comerciais. Segundo Sandra Polaski, do Carnegie Endowment for International Peace, o fato das negociaes terem fracassado por conta de uma disputa em SSM confirma que os sete anos de negociao coincidiram com o rpido crescimento de China, ndia e demais economias emergentes como importantes exportadores, mercados de importao e negociadores de peso. Tais pases passaram a exigir que temas que afetem seu desenvolvimento sejam levados em considerao. Qualquer acordo alcanado ser substancialmente diferente do regime comercial atual, o que conseqentemente significar um melhor negcio para os PEDs, na opinio de Sandra Polaski. importante ressaltar, entretanto, que os PEDs possuem interesses comercias distintos, evidenciados durante a mini-ministerial em julho passado. O Brasil, por exemplo, concordou com os limites de SSM propostos por Pascal Lamy, ao passo que os demais pases do G-20, como China e ndia, no compartilharam desse posicionamento. Ao serem questionados sobre uma possvel separao do G-20 por essa e outras divergncias, o Ministro das Relaes Exteriores do Brasil, Celso Amorim, e o Ministro de Comrcio da ndia, Kamal Nath, ressaltaram que o G-20 formado em 2003 como um grupo de PEDs formalmente opostos proposta conjunta sobre agricultura de EUA e UE nunca teve uma posio comum relativa a parmetros para SSM. O que esses lderes celebram o fato de as regras comerciais no serem mais elaboradas somente pelos pases ricos; as posies de PEDs passam a ter cada vez mais influncia no processo negocial .
Traduo e adaptao de artigo originalmente publicado em Bridges Weekly Trade News Digest vol. 12, n. 27, 07 ago. 2008.

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O MC em foco

O Mecanismo de Salvaguarda Especial


Muitos atribuem o colapso da mini-ministerial de julho passado ao impasse em relao ao Mecanismo de Salvaguarda Especial (SSM, sigla em ingls) sob o qual pases em desenvolvimento (PEDs) poderiam aumentar temporariamente suas tarifas de importao com o objetivo de proteger seus agricultores de queda nos preos agrcolas e importaes massivas repentinas. Durante a ministerial, Pascal Lamy, Diretor Geral da OMC, props que as tarifas excedessem os atuais limites tarifrios consolidados somente se o nvel de importao aumentasse mais de 40% em relao mdia dos trs anos anteriores. Nestes casos, os PEDs poderiam ultrapassar seus limites consolidados em at 15%. No caso das salvaguardas, s seria possvel que estas excedessem tais limites em apenas 2.5% das linhas tarifrias do ano em questo. Pases como China, Costa do Marfim e Filipinas os quais apresentam tarifas consolidadas baixas e um grande nmero de produtos especiais constituem exemplos de Membros que provavelmente precisaro impor medidas de salvaguarda que excedem os limites tarifrios consolidados. No entanto, os Estados Unidos da Amrica (EUA), expressaram preocupao em relao ao fato de que o SSM poderia permitir que pases como a China aumentassem drasticamente as tarifas de alguns produtos por exemplo, as tarifas para a soja, atualmente consolidadas em 3%, poderiam passar a 18% com base na proposta de Lamy. Apesar de ser tambm um grande exportador de produtos agrcolas, o Brasil no se posicionou contra a proposta de Lamy - como fizeram ndia e China -, pois o alto protecionismo das salvaguardas agrcolas seria prejudicial s suas exportaes agrcolas. Um estudo que examina historicamente a freqncia de aumentos repentinos de importao em seis pases (Indonsia, China, Filipinas, Equador, Senegal, e Ilhas Fiji), concluiu que os volumes de importao excederam as mdias dos trs anos precedentes em apenas 20% dos casos, e somente em 10% das ocorrncias, as importaes excederam a mdia em 40%. Se esta anlise histrica aplicar-se a outros pases, a proposta de SSM feita por Lamy seria acessvel em somente metade de todos os casos de aumento repentino das importaes. Para os exportadores, somente um SSM atrelado ao volume de importaes restringiria o acesso a mercado. Atrelado a preos agrcolas, o SSM imporia tarifas adicionais equivalentes a apenas 85% da queda de preo. Sob tal cenrio, os produtos importados continuariam mais baratos que os produtos nacionais e seguiriam refletindo a demanda.

TRIPS: daqui para onde?


Questes concernentes aos direitos de propriedade intelectual no foram a causa do fracasso das negociaes da Conferncia mini-ministerial da OMC, ocorrida em julho deste ano. Contudo, as negociaes de alto nvel a respeito do TRIPs representaram a primeira tentativa sria de discutir aspectos controversos em matria de propriedade intelectual durante a Rodada Doha. Se as negociaes chegarem ao fim, o futuro das discusses sobre TRIPs devem seguir o plano sugerido pelo mediador da mini-ministerial, Jonas Gahr Stre, mas tal expectativa certamente no garante uma soluo rpida em um futuro prximo.
Trs tpicos da pauta tm bloqueado as negociaes de propriedade intelectual (PI) desde o lanamento da Rodada Doha em 2001: (i) a extenso das fortes protees atualmente conferidas a aguardentes e vinhos para todos os produtos vinculados a indicaes geogrficas (IGs); (ii) a obrigatoriedade de que os pedidos de patentes revelem a origem de qualquer recurso gentico e/ou associado a conhecimentos tradicionais de suas invenes; e (iii) a criao de um registro especial de IGs para ...uma coalizo vinhos e aguardentes. Todas essas so questes indita entre PDs que se encontram na e PEDs anunciou agenda de discusses h algum tempo. concordar em

Na Conferncia miniincluir o tema PI no ministerial em Genebra, o Diretor-Geral da OMC, processo horizontal Pascal Lamy, delegou a da Rodada Doha. tarefa de desenrolar essas questes ao Ministro das Relaes Exteriores da Noruega, Jonas Gahr Stre. O chanceler esperava incentivar os Membros a intensificar as discusses relativas ao Acordo sobre Aspectos dos Direitos de Propriedade Intelectual Relacionados ao Comrcio (TRIPs, sigla em ingls) como parte de um acordo sobre modalidades. Ao longo dos 10 dias do evento, Stre convocou diversas consultas informais, nas quais foram discutidos elementos especficos para um acordo mais abrangente. A impresso geral foi de avano nessas negociaes.

Momento anterior
Nos meses que antecederam Conferncia, temas relacionados a TRIPs progrediram substancialmente. Em 26 de maio, uma coalizo indita entre pases desenvolvidos (PDs) e pases em desenvolvimento (PEDs) anunciou concordar em incluir o tema PI no processo horizontal da Rodada Doha. O grupo defendeu a incluso dos trs tpicos controversos no pacote single undertaking da Rodada. Apoiada por novos Membros, a coalizo enviou um esboo sobre modalidades que detalhava os parmetros-chave para as negociaes dos textos finais correspondentes a cada questo.

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A coalizo liderada por Brasil, Unio Europia (UE), ndia e Sua incluiu mais de 100 Membros da OMC. A proposta apresentada pelo grupo, contudo, no obteve apoio de todos. Austrlia, Canad, Chile, Mxico, Nova Zelndia, Coria do Sul, Taiwan e Estados Unidos da Amrica (EUA) apresentaram fortes objees e rejeitaram o chamado paralelismo artificial entre as trs questes de PI. Para esses pases, cada um dos tpicos de TRIPs possui seus prprios termos de referncia, bem como suas prprias peculiaridades. Alm disso, acrescentaram que os interesses de cada Membro a respeito do contedo e que possveis resultados para cada questo variaro consideravelmente. Como exemplo, apontaram as IGs, sobre as quais mesmo quanto os objetivos mais bsicos h fortes divergncias. Esse grupo de resistncia tambm sustentou que a incluso de PI nas negociaes horizontais sobre modalidades dos setores industrial e agrcola consistiria em considervel obstculo ao avano das negociaes da Rodada.

o atual nvel de proteo adicional estabelecido pelo acordo TRIPs a vinhos e aguardentes. A postura adotada por UE e seus aliados tem mostrado ser crescentemente oposta de pases como Argentina, Austrlia, Canad, Chile, Coria e EUA, uma vez que muitos produtos vinculados a IGs possuem nomes genricos em todo o mundo. Conforme apontado pelo Professor Frederick M. Abbot (ver http://ictsd.net/i/ publications/16949/), para os EUA, a extenso de maior proteo a demais produtos agrcolas (e outros produtos noagrcolas) consistiria numa tarefa rdua. A indstria local de alimentos, por exemplo, consideraria a extenso geogrfica problemtica, j que os restaurantes freqentemente utilizam nomenclaturas geogrficas para seus produtos. Dado esse complexo pano de fundo, o Ministro Stre abordou a extenso das IGs de forma cautelosa. O componente primrio do pacote de modalidades proposto inclua o reconhecimento de trs fatores: (i) a relevncia econmica e jurdica da extenso da proteo para alm de vinhos e aguardentes; (ii) a contnua necessidade de melhor compreenso de suas implicaes; e (iii) a necessidade de definir um programa de trabalho que ponderasse as diferentes vises dos participantes. A respeito desse ltimo ponto, potenciais problemas incluem a cobertura que TRIPs concede (relativa a IGs) a outros produtos que no vinho e aguardentes; as implicaes legais da extenso das IGs para os detentores de marcas registradas (ou outros sinais de identificao); os efeitos sobre produtos no originrios das localidades protegidas nos mercados de terceiros pases; e a aplicao das excees existentes para vinhos e aguardentes a outros produtos.

Stre: tentativas para romper o impasse


Dentre as trs questes, o registro de vinhos e aguardentes provou ser a menos trabalhosa ao chanceler noruegus, em decorrncia do amplo consenso acerca da existncia de um mandato, no seio do acordo TRIPs, para negociar a questo. Nessa agenda, a ateno voltou-se para a criao de um sistema multilateral de notificao e registro de IGs para vinhos e aguardentes passveis de proteo. Tal mandato foi, de fato, confirmado pela Declarao Ministerial de Doha, em 2001. Os temas que prevaleceram nas discusses informais foram a distino entre o registro e a extenso de IGs e a relao entre TRIPs e a Conveno de Biodiversidade (CBD).

Historicamente, os principais pontos de divergncia A exigncia da revelao de origem concentram-se na participao no registro, bem como suas Negociar a exigncia de revelao de origem na Rodada Doha conseqncias e efeitos legais. Membros como a UE desejam tem sido uma reivindicao de cerca de 100 PEDs, entre os que todos os demais participem do registro. Nesse sentido, quais Brasil e China. Esses pases consideram a exigncia Bruxelas defende a exigncia de que os pases consultem a necessria para prevenir a concesso de patentes que utilizam base ao tomar decises a respeito de registro, proteo de recursos biolgicos ou conhecimentos tradicionais sem o marcas e IGs, de acordo com leis nacionais. Outros Membros reconhecimento e compensao adequados. Defende-se como Argentina, Austrlia, Canad e EUA sugerem, que prevenir a biopirataria importante para garantir uma entretanto, que a participao no relao de complementaridade entre o sistema seja voluntria e que os Membros Acordo TRIPs e a CBD, os dois diplomas garantam a incluso de disposies nos mais importantes sobre o tema. Durante procedimentos para consulta prvia o longo processo de negociaes da ... os principais base de dados para decises relativas Rodada, UE e Sua mantm-se neutras, proteo de vinhos e aguardentes. mas simpatizam com o conceito de pontos de divergnrevelao de origem, ainda que no por Diante desse quadro, Stre assumiu cia concentram-se meio de uma reforma de TRIPs. a delicada misso de questionar se

na participao no o registro deveria ser considerado Dado tal panorama, Stre buscou chegar pelas autoridades nacionais quando a algum tipo de consenso. As modalidades registro, bem como da tomada de decises sobre IGs, bem apresentadas propunham que os Membros suas conseqncias e como se as negociaes deveriam reconhecessem, antes de mais nada, tratar da necessidade de enxergar as certos parmetros que guiassem futuros efeitos legais. informao contidas no registro e a trabalhos sobre a relao entre TRIPs e possvel natureza genrica do produto CBD e estabelecessem um programa de como requisito primordial. No que tange trabalho para tais negociaes. participao, os Membros tambm Questes especficas que ainda necessitam ser trabalhadas foram convidados a considerar se a adeso mais ampla incluem: (i) como evitar a concesso de patentes que ao registro deveria ser condicionada a um entendimento utilizem recursos genticos sem a devida revelao; sobre as conseqncias legais do registro e ao tratamento (ii) como guiar os regimes nacionais a adequarem-se ao conferido pela legislao domstica a tais conseqncias. O consentimento previamente informado, bem como ao tratamento especial e diferenciado a PEDs e pases de menor acesso e compartilhamento de benefcios sob termos desenvolvimento relativo (PMDRs) tambm integrou a pauta. mutuamente acordados; (iii) como munir os escritrios de
Extenso de IGs
Alinhado posio longamente defendida por UE, Sua e alguns PEDs, o esboo sobre modalidades apresentado pela grande coalizo na Conferncia estenderia a todos os produtos patentes das informaes necessrias patenteabilidade dessas reas; e (iv) como preservar o sistema de patentes como fomentador de inovao.

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O MC em foco

Servios educacionais no GATS: desafios para o Brasil


Umberto Celli Junior*
O artigo contextualiza a temtica dos servios educacionais prestados pelo setor pblico sob a regulamentao do GATS. Analisa-se aqui a questo se esses servios poderiam ou no estar sujeitos a regras de liberalizao comercial ou vistos sob uma perspectiva mercantilista, com enfoque no caso do Brasil e de como o pas tem apresentado suas propostas de liberalizao nas Rodadas de negociao da OMC.
O Acordo Geral sobre Comrcio de Servios (GATS, sigla em ingls) aplica-se a todas as medidas adotadas pelos Membros da OMC que afetem o comrcio de servios. So medidas de governos e autoridades centrais, regionais e locais, bem como de rgos no-governamentais no exerccio de poderes delegados, editadas em forma de lei, regulamento, regra, procedimento ou deciso administrativa, entre outras. Em geral, elas envolvem a compra, o pagamento ou a utilizao de um servio que um Membro deseja ver oferecido ao pblico em geral, o que envolve a presena, inclusive comercial, de pessoas oriundas de um Estado Membro no territrio de outro. No caso dos servios educacionais, a questo ainda mais sensvel. No h dvidas de que o investimento na educao seja o maior instrumento de incluso social e de desenvolvimento econmico de um pas. No pode, pois, o Estado eximir-se da responsabilidade de garantir o acesso universal educao com qualidade sobretudo bsica que, no Brasil formada pela educao infantil, ensino fundamental e ensino mdio.2 Quanto ao ensino superior, cabe ao Estado criar um sistema educacional que assegure igualdade de oportunidades de acesso s universidades pblicas e que seja capaz de fomentar a pesquisa e o avano tecnolgico, dentre outros objetivos.

O que se observa, no entanto, que Apesar de a expresso medidas que em muitos pases, por variadas razes, Fora do alcance afetem o comrcio de servios no o Estado deixou de desempenhar ou ter sido definida no GATS, costuma-se no tem sido capaz de desempenhar ou da abrangncia interpret-la de forma bastante ampla de modo eficiente essa funo. Isso do GATS esto os ser- abriu espao para o ingresso de vrias e extensiva. Assim, em princpio, todas as medidas governamentais relacionadas entidades privadas no mercado, muitas vios prestados (...) ao comrcio de servios estariam das quais passaram a fornecer educao no exerccio da virtualmente abrangidas por esse bsica de melhor qualidade e maiores acordo. Tanto que, no caso European oportunidades de acesso ao ensino autoridade Communities Regime for Importation, superior. H, assim, uma convivncia Sale and Distribution of Bananas, o rgo governamental. no setor de educao entre servios de Apelao da OMC afirmou no haver prestados no exerccio da autoridade nada nos artigos relativos s medidas governamental (entidades pblicas sem que afetem o comrcio de servios que pudesse sugerir uma finalidade lucrativa) e entidades privadas que operam em bases interpretao restritiva da aplicao do GATS.1 comerciais. So exatamente os servios educacionais prestados Fora do alcance ou da abrangncia do GATS esto os servios por estas ltimas que podem ser objeto de liberalizao nos prestados, em qualquer setor ou modo, no exerccio da termos do GATS. autoridade governamental. Ou seja, servios que no sejam prestados em bases comerciais (i.e., cuja prestao no tem o lucro como objetivo), nem em concorrncia com um ou mais prestador de servio. Dentre eles, figuram servios pblicos, tais como os servios do corpo de bombeiros, seguridade social, polcia e operaes de bancos centrais. Contudo, muitos servios prestados no exerccio da autoridade governamental, como os de educao e sade, so tambm prestados por entidades privadas, ou at mesmo apenas por elas, o que coloca tais servios no mbito do GATS. No mbito do Mercosul, o assunto suscita controvrsias entre especialistas; afinal, so servios de provimento obrigatrio pelo Estado e constituem direito fundamental da populao. Por essa razo, argumenta-se que no poderiam estar sujeitos a regras de liberalizao comercial ou vistos sob uma perspectiva mercantilista incompatvel com objetivos de incluso social. Algumas anlises formuladas por acadmicos no Brasil e na Argentina chegam a sugerir que o enquadramento desses setores como passveis de liberalizao comercial levaria, no limite, sua descaracterizao como servios de carter e domnio essencialmente pblicos, esvaziando a funo do Estado como seu principal provedor e garantidor de seu acesso universal. Os servios educacionais no GATS encontram-se subdivididos em cinco subsetores: 1. educao primria; 2. educao secundria; 3. educao superior; 4. educao para adultos; e 5. outros servios relacionados educao.3 Em face do impacto social do setor, os avanos nas negociaes para a liberalizao do mercado tm sido modestos. Na atual Rodada Doha de negociaes comerciais multilaterais, Membros com posies mais ofensivas, tais como Nova Zelndia, Austrlia e Estados Unidos da Amrica (EUA), tm concentrado suas solicitaes de acesso a mercados predominantemente em subsetores de educao superior. Recentemente, em pedido plurilateral formulado por Austrlia, China-Taiwan, Malsia, EUA e Nova Zelndia e coordenado por este ltimo4, Brasil e Argentina foram solicitados a apresentar ofertas de acesso ao mercado de servios de ensino tcnico e profissional ps-segundo grau e de servios de ensino destinados obteno de ttulo universitrio ou equivalente.

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Os demandantes pleitearam a apresentao de ofertas e de compromissos em todos os modos de prestao. Para os modos 1 (servios transfronteirios e.g., educao longa distncia) e 2 (consumo no exterior e.g, remoo de barreiras para validao de ttulos), os demandantes solicitaram a inscrio de compromissos sem restrio de acesso a mercado e tratamento nacional. Para o modo 3 (presena comercial e.g. estabelecimento de campi de suas Universidades nos Membros demandados), a inscrio de compromissos sem restrio de acesso a mercado e tratamento nacional ou a inscrio temporria relativa participao acionria estrangeira em entidades privadas nacionais. Finalmente, para o modo 4 (movimento temporrio de pessoas fsicas), foram demandados compromissos que permitissem a entrada de pessoas fsicas na rea de educao, sem especificao de alguma categoria em particular. No coincidentemente, Austrlia, Nova Zelndia e EUA esto entre os maiores demandantes do setor, at pelo fato de serem pases de lngua inglesa, o que facilita a difuso de material didtico e das atividades de seus professores. O Brasil no assumiu compromissos em servios educacionais na Rodada Uruguai nem apresentou ofertas na atual Rodada Doha. Apesar disso, seu mercado de servios no ensino superior relativamente aberto. No existem restries participao de capital estrangeiro nas entidades privadas de ensino superior e grupos estrangeiros tm adquirido participao acionria em muitas dessas instituies. O ensino superior privado apresentou um crescimento de 184% nos ltimos dez anos em nmero de instituies, o que fez com que a oferta de vagas aumentasse mais que a demanda. A concorrncia acirrada tem levado algumas instituies de menor porte a encerrarem suas atividades, ao passo que grandes grupos ficam cada vez mais fortalecidos. A educao superior j a terceira rea de maior nmero de fuses e aquisies no pas. Impulsionados pela venda de suas aes na Bolsa de Valores, grandes grupos universitrios adquiriram trinta instituies de ensino superior somente no primeiro semestre de 2008. Mais de 50% das aes das universidades disponveis na Bolsa de Valores foram compradas por investidores estrangeiros. Esse movimento deve ser analisado sob dois aspectos: o primeiro, O Brasil no positivo, que o aporte de investimentos, assumiu principalmente compromissos estrangeiros, estimula a concorrncia no setor, em servios o que pode levar a um aprimoramento na educacionais busca por um ensino na Rodada Uruguai de melhor qualidade. Alm disso, o fato de nem apresentou os grupos estrangeiros ofertas na atual possurem universidades em vrios continentes Rodada Doha. facilita o intercmbio de estudantes, aos quais, muitas vezes, oferecida a possibilidade de cursarem disciplinas fora de seu pas com equivalncia de crditos. O segundo aspecto, negativo, que a educao corre o risco de ser vista como mero negcio (mercantilismo) e que as instituies privadas, especialmente as de capital aberto, passem a oferecer cursos que no estejam em sintonia com as necessidades da sociedade brasileira.

Em qualquer desses cenrios ou aspectos, fundamental o exerccio do controle das atividades dessas entidades privadas pela autoridade competente que, no Brasil, o Ministrio da Educao e Cultura (MEC). Devem essas instituies cumprir rigorosamente as diretrizes e bases da educao nacional contidas na Lei de Diretrizes e Base para atender s necessidades do Um dos grandes pas. Por outro lado, a convivncia e, desafios para o porque no dizer, concorrncia, com Brasil , portanto, entidades privadas, continuar a investir deve servir de estmulo para que o Estado maciamente nas invista cada vez mais universidades nas universidades pblicas, injetando pblicas... recursos para a realizao de pesquisas de interesse para o desenvolvimento econmico e social do pas. Asseguradas essas condies, seria perfeitamente plausvel assumir compromissos de liberalizao no GATS, especialmente no modo 3, at porque, conforme visto, no existem restries participao de capital estrangeiro em entidades privadas de ensino superior. Universidades brasileiras, pblicas ou privadas, poderiam, assim, estabelecer campi em outros pases, especialmente na Amrica do Sul, o que incrementaria o processo de integrao cultural. No modo 1, poderiam tambm ser assumidos alguns compromissos, j que existe uma demanda interna muito grande por cursos de educao distncia ou no presenciais. Por fim, no modo 4, professores e pesquisadores poderiam ter maior facilidade de acesso de trabalho em universidades estrangeiras com a inscrio no GATS de alguns compromissos. Um dos grandes desafios para o Brasil , portanto, continuar a investir maciamente nas universidades pblicas com o objetivo de aprimorar sua capacidade de desenvolver pesquisas que possam colaborar com o desenvolvimento econmico, social e tecnolgico do pas e, ao mesmo tempo, permitir a expanso equilibrada do setor privado, inclusive o estrangeiro. Entende-se, portanto, que o Brasil j estaria apto a dar, progressivamente, os primeiros passos rumo consolidao dessa abertura no mbito do GATS, com nfase, conforme salientado, no modo 3.
* Professor de Direito Internacional da Universidade de So Paulo. Coordenador do Projeto de Pesquisa Negociaes Comerciais em Servios e Polticas de Desenvolvimento: interesse brasileiro, polticas pblicas e incluso social, financiado pela Fundao de Amparo Pesquisa do Estado de So Paulo FAPESP.
1

Relatrio do rgo de Apelao. WT/DS27, par. 200. Disponvel em: http://www.wto.org/english/tratop_e/dispu_e/find_dispu_cases_e.htm, acesso em 29/01/2008. Lei de Diretrizes e Base (Lei no. 9.394, de 20/12/96). A LDB divide o setor educacional em dois grandes sub-setores: (i) educao bsica, formada pela educao infantil, ensino fundamental e ensino mdio; e (ii) educao superior. Diviso realizada com base na Provisional Central Product Classification, da ONU. Vale notar que, no formato plurilateral, o pedido o mesmo para os Membros que o formulam. O Membro denominado coordenador encarrega-se de apresent-lo aos demandados.

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O MC em foco

Bens e Servios Ambientais no Brasil


Ceclia Hsner* e Shigeo Shiki**
O presente artigo pretende apresentar as diferentes abordagens sobre bens e servios ambientais (BSAs) no mbito da OMC, suas definies e controvrsias e sobre o posicionamento do Brasil frente ao tema nos ltimos anos.
A discusso do comrcio de BSAs encontra um mandato claro na Declarao Ministerial de Doha (OMC) de 2001, cujo pargrafo 31.iii aponta para a reduo ou eliminao de barreiras tarifrias e no tarifrias. O foro especialmente criado para tratar deste tema o Comit de Comrcio e Meio Ambiente (CTE). Alm do pargrafo 31, o CTE tambm se ocupa dos pargrafos 32 (efeitos ambientais sobre o acesso a mercados, TRIPS e rotulagem ambiental), 33 (assistncia tcnica) e 51 (aspectos ambientais e desenvolvimentistas das negociaes comerciais) da Declarao. No obstante, existe uma dificuldade em avanar sobre o tema da liberalizao comercial de BSAs devido diviso de tarefas, que foi distribuda em trs instncias negociadoras na OMC: 1. O Grupo de Negociao em Acesso a Mercados de Produtos No-Agrcolas (NAMA, sigla em ingls), encarregado da liberalizao de bens ambientais; 2. O Comit de Comrcio e Meio Ambiente Sesso Especial (CTE-SS, sigla em ingls), encarregado de discutir as definies de bens ambientais; e 3. A Sesso Especial do Conselho para o Comrcio de Servios (CTS-SS, sigla em ingls), responsvel pela discusso da liberalizao de servios ambientais. O CTE tem a funo de instruir o Grupo Negociador de NAMA, oferecendo uma lista de bens ambientais ainda no existentes como tal ou seja, definindo o que pode ser considerado um bem ambiental. As negociaes de servios ambientais, por sua vez, so realizadas nos mesmos moldes que os demais servios, isto , com base na demanda e oferta de listas pelos Membros da OMC. Existe apenas uma recomendao para que as duas negociaes (de bens e servios) avancem conjuntamente, uma vez que a lista utilizada pelos pases da Organizao para a Cooperao e o Desenvolvimento Econmico (OCDE) trata os BSAs como um nico tema sob a epgrafe de indstria ambiental. Enfoque de lista (bottom-up ou list-driven approach) defende a elaborao de uma lista de bens ambientais, mesmo sem critrios previamente estabelecidos; Enfoque de projeto (environmental project approach) defende a liberalizao temporria de BSAs especificados em projetos ambientais, elaborados segundo critrios definidos pelo CTE-SS e com o aval de autoridades nacionais designadas. Esta proposta foi apresentada pela ndia em 2005, por quem foi reformulada e reapresentada posteriormente, e foi subscrita pela Argentina quando da crtica sobre a sua temporariedade e complexidade de operacionalizao. As abordagens de negociao no CTE-SS partiram da oferta dos pases desenvolvidos (PDs), que apresentaram os conceitos que embasam as listas da OCDE e da Cooperao Econmica siaPacfico (APEC, sigla em ingls). Tais conceitos incluem bens de tecnologias fim de tubo, conhecidas por ter como objetivo remediar os impactos gerados por indstrias poluidoras e no contemplar tecnologias de preveno. As listas da OCDE e da APEC podem ser classificadas em trs grupos: (i) manejo de poluio; (ii) tecnologias e produtos mais limpos (bens mais eficientes no uso de recursos do que as alternativas j existentes); e (iii) bens que contribuem para o manejo sustentvel de recursos florestais, pesqueiros ou agrcolas. Os servios ambientais, por sua vez, j contam com um reconhecimento na OMC desde 1991, sendo classificados segundo o Acordo Geral de Comrcio de Servios (GATS, sigla em ingls) por meio de uma Lista de Classificao Setorial de Servios (W/120) baseada na classificao de produtos das Naes Unidas. A classificao da OMC apenas indica os tipos de servios e no chega a ser uma lista exaustiva nem definitiva; baseia-se, sobretudo, no grau de contaminao ou poluio. A classificao abrange quatro setores relacionados infra-estrutura de: (i) tratamento de guas residuais ou esgoto; (ii) tratamento e disposio de resduos; (iii) saneamento e similares; e (iv) outros setores relacionados proteo ambiental. A maior limitao da classificao da OMC que esta no representa o estado atual das indstrias ambientais, ao considerar unicamente o controle da poluio e no contemplar servios de preveno. Ademais, existe sobreposio nas classificaes de servios ambientais com outros setores de servios do GATS (como a educao), alm de outros que se encontram inseridos na classificao de setores profissionais do GATS (tais como servios de engenharia, inspeo e auditoria).

Definies e Classificaes
Bens e servios ambientais uma classificao especial que surgiu para incrementar e incentivar o uso e o comrcio internacional de tais bens, a partir do momento em que poderiam ser beneficiados com vantagens tarifrias e no tarifrias (restries ambientais e sanitrias). Os bens ambientais ainda no contam com uma classificao especfica, o seu comrcio deve se enquadrar no Acordo Geral de Comrcio de Bens do Acordo Geral de Tarifas e Comrcio (GATT, sigla em ingls), sob a classificao do Sistema Harmonizado de Nomenclatura Alfandegria (SH). Ainda no existe consenso sobre a forma a ser adotada para classificar os bens como ambientais, o que se deve aos diferentes interesses dos pases e organizaes envolvidas nas negociaes comerciais. As principais abordagens sobre esta discusso no mbito do CTE-SS encontram-se em torno dos seguintes pontos: Enfoque conceitual (top-down approach) defende a relevncia do estabelecimento de critrios precisos antes que seja criada uma lista de bens ambientais;

Os diversos interesses na definio de BSAs


Estudos realizados pela OCDE em 2005 apontam para o crescimento mundial do comrcio de bens ambientais a uma taxa trs vezes maior que a mdia mundial de todos os bens nos anos 1990. Outro dado relevante que 90% deste mercado dominado por PDs. Isso coloca a negociao comercial de BSAs no cerne do embate negocial do mandato de Doha, que se arrasta desde seu incio devido a divergncias de interesses econmicos de PDs em contraponto queles dos pases em desenvolvimento (PEDs). Se por um lado os PDs desejam

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OM C e m f o c o

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ampliar seus mercados; de outro, os PEDs e os pases de menor desenvolvimento relativo (PMDRs) buscam proteger suas indstrias menos competitivas e reivindicam maior abertura para os bens agrcolas. O fracasso das negociaes da Rodada Doha em julho de 2008 mostra um dado novo no que se refere geometria negocial, que no mais se conforma com padres do tipo Norte-Sul ou G-20 contra PDs. Alm disso, o estabelecimento da China como potncia industrial mundial e dos interesses da ndia no competitivo setor de servios quebraram a sintonia geopoltica dos BRICS (bloco de pases constitudos por Brasil, Rssia, ndia e China) A proposta brasileira enquanto fora negociadora seria () que cada homognea. A dificuldade de acordos em foro pas poderia ofertar multilateral, no entanto, pode forar as atenes bens no agrcolas para aos acordos bilaterais ou agrcolas que e reviver discusses como a negociaes Mercosulconsiderasse Unio Europia, paralisada contribuir para o espera de um acordo multilateral que oferecesse meio ambiente as bases para uma retomada das negociaes. Com isso, as negociaes em bens ambientais avanam com base em propostas polarizadas pela abordagem bottom-up ou de listas elaboradas por pases como os Estados Unidas da Amrica (EUA), Unio Europia (UE), Nova Zelndia, Sua e Coria do Sul, entre outros. Uma das ltimas propostas partiu dos EUA e da UE e pretendia reduzir a lista a 43 produtos, de acordo com relatrio do Banco Mundial (2008) de bens amigveis ao clima (climate friendly). Isso mostra uma tentativa de sair do impasse ao centrar as discusses em bens com forte apelo ambiental (mudanas climticas). O Brasil reclama, entretanto, que a excluso do etanol daquela lista seria o grande entrave para sua aceitao da proposta apresentada por EUA-UE. A proposta brasileira seria, ento, para que se formasse uma cesta de ofertas, em que cada pas poderia ofertar bens no agrcolas ou agrcolas que considerasse contribuir para o meio ambiente e, a partir desta relao, os demais pases poderiam examinar quais dos bens elencados comprometeriam seus interesses de desenvolvimento.

preferveis (EPPs, sigla em ingls). Os EPPs contextualizao de bens ambientais realizada pela Conferncia das Naes Unidas para o Comrcio e o Desenvolvimento (UNCTAD, sigla em ingls) so produtos que causam menos dano ambiental em algum estgio de seu ciclo de vida se comparados a produtos alternativos que cumprem a mesma funo, ou seja, produtos cuja produo e venda trazem benefcios ao meio ambiente. Em outubro de 2007, o Brasil submeteu, ento, outra proposta OMC (JOB (07)/146), com o intuito de contribuir para a discusso sobre bens ambientais no mbito da Rodada Doha, em relao a barreiras tarifrias e no-tarifrias. A proposta argumenta que a liberalizao comercial de bens ambientais no deve objetivar o aumento das vendas destes produtos, mas sim promover a participao dos PEDs neste comrcio, de forma a lhes garantir um real benefcio ambiental. Nesse sentido, deveria se ter em considerao no apenas as diferenas de desenvolvimento entre os pases e suas necessidades scioeconmicas, mas, sobretudo, o apoio ao desenvolvimento de indstrias locais que contemplem padres de consumo sustentveis. Tais bens ambientais abarcariam, assim, os produtos agrcolas no includos nas listas tradicionais de BSAs (em especial, os bicombustveis). Neste rol, o Brasil tambm pretende incluir produtos orgnicos e, para evitar crticas devido ao uso de critrio baseado em seus mtodos e processos de produo, recomenda que a regulao de padres tcnicos seja feita por outro organismo multilateral: a Organizao das Naes Unidas para a Agricultura e Alimentao (FAO, sigla em ingls). A proposta brasileira tambm menciona a importncia de promover e facilitar a transferncia de tecnologia entre PDs e PEDs para tecnologias limpas e ambientais, por meio de concesses tarifrias. No tocante classificao de servios ambientais estabelecida pela OMC, o posicionamento brasileiro por ora de cautela. Para alm do seu questionamento especfico sobre a sua adequao realidade do atual mercado global, teme-se que qualquer reviso mais completa possa repercutir nas negociaes de outras categorias de servios.

Consideraes Finais: o Brasil e a definio de BSAs


A classificao da OCDE aquela mundialmente mais utilizada at o momento; no entanto, a tendncia na OMC em focar o tema em uma cesta de ofertas de produtos e tecnologias amigveis ao clima. De qualquer forma, o desafio continua sendo a insero de produtos agrcolas (como o etanol e os produtos orgnicos) na lista de bens ambientais reconhecidos como tais pelo sistema multilateral de comrcio. Urge, portanto, a necessidade de avanar neste tema no Brasil, a partir de debates entre os diferentes atores e setores envolvidos e que isso venha acompanhado de uma maior participao destes no mercado nacional e internacional. Sugere-se, nesse sentido, a criao de um sistema integrado de incentivo a BSAs no Brasil que incorpore as seguintes aes: (i) atuao governamental (marco regulatrio e incentivos fiscais); (ii) atuao dos centros de pesquisa e desenvolvimento voltados inovao; (iii) atuao do setor Industrial (maior envolvimento de micro, pequenas e mdias empresas); e (iv) atuao do terceiro setor, para o fomento ao consumo sustentvel.
* Biloga, mestranda do Mestrado Profissional em Propriedade Intelectual e Inovao do Instituto Nacional de Propriedade Industrial INPI e consultora do Instituto Idias sobre o Plano Estratgico em Negcios Ambientais Amigveis com o Clima, no Esprito Santo. ** Professor titular doutor do Instituto de Economia da Universidade Federal de Uberlndia e Gerente de Projeto do Departamento de Economia e Meio Ambiente do Ministrio do Meio Ambiente.

O posicionamento oficial do Brasil


A primeira proposta negociadora do Brasil no CTE-SS foi em 2005 (TN/TE/W/59) e buscou chamar a ateno para o fato de a Rodada Doha ter como marca a agenda do desenvolvimento e o tratamento especial e diferenciado dispensado a PEDs. A partir dessa constatao, o Brasil sustentou que tais pases devem poder exercer seu direito de proteger os setores mais dbeis (em geral, o setor industrial) e reclamar maior abertura em setores mais competitivos (como o agrcola). Com este argumento de fundo, o Brasil defendeu uma abordagem conceitual dos bens ambientais, com vistas a proteger o mercado nacional de alguns bens que aparecem nas listas submetidas CTE-SS, tal como a lista da OCDE da qual fazem parte setores com elevada proteo tarifria (como a indstria de celulose, mquinas e equipamentos mecnicos e eltricos) e, em especfico, o setor automotivo. O Brasil tambm no aderiu proposta apresentada pela ndia na poca centrada na abordagem de projeto por considerar que o enfoque voltado a pases importadores de BSAs no favoreceria o seu comrcio particularmente, o qual possui um grande potencial no comrcio de produtos ambientalmente

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Liberalizao Comercial, Emprego e Reduo da Pobreza: resultados indiretos e questionados


Viviane Ventura-Dias*
A relao entre liberalizao comercial e as demais variveis (mencionadas no ttulo deste artigo) mais complexa do que os enunciados da teoria liberal preconizam. Suas conseqncias podem afetar questes distributivas na sociedade em geral, que dependem de polticas que as antevejam e no apenas as solucionem a posteriori, tal como tem ocorrido. O artigo analisa em mais detalhes as questes relacionadas liberalizao do comrcio e distribuio de renda.
O comrcio constitui o componente mais visvel do movimento global que integrou as economias nacionais por meio de fluxos de bens e servios, incluindo servios culturais, de capital e tecnologia. Desde as primeiras civilizaes mercantis, conforme demonstrado por Irwin Douglas, o comrcio provoca reaes ambguas, de atrao pelos evidentes benefcios de acesso a outras culturas e a produtos no disponveis no pas, mas tambm de hostilidade por outros efeitos secundrios morais e materiais sobre a economia interna.1 Em tempos modernos, permanece a mesma ambigidade entre consumidores, trabalhadores e empresrios, ampliada por um discurso simplificador sobre a liberalizao do comrcio, que insiste em uma relao linear e positiva entre liberalizao comercial, expanso do comrcio, crescimento econmico, emprego e renda. Foi necessria quase uma dcada de evidncias empricas a demonstrar o contrrio para que instituies multilaterais de desenvolvimento, como o Banco Mundial, aceitassem que a relao entre liberalizao comercial e as demais variveis complexa e no necessariamente positiva. O caso mais emblemtico na Amrica Latina o Mxico, onde a liberalizao comercial teve incio na segunda metade dos anos 1980 e a total liberalizao dos mercados de capitais, bens e servios foi realizado, desde 1994, ao longo da implementao do Tratado de Livre Comrcio da Amrica do Norte (NAFTA, sigla em ingls), com Estados Unidos da Amrica (EUA) e Canad. Em 1985, as exportaes mexicanas alcanavam um valor similar s do Brasil (cerca de US$ 26,8 bilhes2). Em 2002, aumentaram para mais de US$ 66 bilhes, quando as exportaes brasileiras foram de pouco mais de US$ 55 bilhes. Entretanto, o sucesso comercial mexicano, por diversas razes, no se transferiu para a economia em termos de taxas elevadas de crescimento, como ocorreu no Chile durante toda a dcada de 1990, e muito menos para os indicadores sociais.3 De forma similar, o Brasil iniciou seu processo de liberalizao comercial em 1988, acelerado em 1990-1992 devido forte reduo tarifria e eliminao de medidas administrativas. No houve, no entanto, expanso significativa do comrcio ou da economia; isto ocorreu mais de uma dcada depois. Estudos do Instituto de Pesquisas Econmicas Aplicadas (IPEA) demonstram que a resposta ausncia de crescimento das exportaes deveria ser encontrada no conjunto de polticas macroeconmicas aplicadas, nas conseqncias cambiais das polticas monetrias e nas relaes mais complexas e imediatas entre liberalizao comercial, expanso comercial e expanso econmica. A literatura sobre comrcio internacional reconhece que a liberalizao comercial provoca no s ganhos como danos, mas, dado o seu carter esttico e as restries de suas hipteses de base, o tratamento dado aos aspectos normativos do comrcio pela teoria econmica no adequado para interpretar os resultados distributivos. O fator tempo tem um papel muito importante nas conseqncias distributivas do comrcio, que no consegue ser captado pelo instrumental analtico econmico.4 Conforme demonstrado pela experincia brasileira recente, os benefcios e os custos da abertura comercial e da integrao da economia aos mercados internacionais so de natureza distinta. Por um lado, a experincia latino-americana, em geral, e a brasileira, em particular, mostram que os custos de ajuste a novas condies de concorrncia no mercado interno no se distribuem eqitativamente entre os agentes econmicos e sociais. Tanto uns como outros tendem a concentrar-se em alguns setores econmicos e categorias de trabalhadores. Os custos de uma maior exposio da economia local concorrncia de produtos importados so sentidos em um perodo curto, enquanto os benefcios derivados da expanso do comrcio necessitam de um prazo mais longo, assim como de condies especficas, para que os efeitos multiplicadores sejam sentidos sobre a economia, o emprego e o salrio. Os benefcios da expanso do comrcio e as conseqncias de mercados mais abertos para o consumo e o investimento s se disseminam na sociedade com o passar do tempo, observadas condies de concorrncia nos mercados de bens, de capitais e do trabalho. importante entender que o impacto da abertura ao comrcio sobre o emprego e a renda interna, e conseqentemente, sobre a pobreza, indireto. Em outras palavras, no se pode acusar o aumento de importaes, por si s, de incidir diretamente sobre a renda dos trabalhadores. Embora esse aumento culmine em um efeito sobre a renda do trabalhador, o primeiro efeito da liberalizao comercial d-se sobre os preos dos produtos exportados e importados, que devero ajustarse aos preos internacionais. Dessa maneira, se um produto fabricado internamente e protegido por tarifas elevadas no sofria a concorrncia de um similar importado, com a abertura comercial, seu preo deve ajustar-se ao preo internacional, aumentando ou diminuindo, a depender do caso. a mudana nos preos relativos dos produtos que incide nos preos da mo-de-obra e no emprego. Isto quer dizer que o efeito do comrcio sobre o emprego, a renda e a pobreza depender de um fator crucial: do funcionamento dos canais de transmisso dos preos pela economia, ou seja, que os mercados existam e neles predomine uma concorrncia perfeita. Em termos macroeconmicos, o comrcio impacta sobre a qualidade da vida das pessoas devido a efeitos sobre a taxa e o padro de crescimento econmico agregado e

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Ou tr o s te ma s m ult i la t era i s

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suas flutuaes, ainda que as relaes entre o comrcio e o crescimento econmico continuem a ser um tema controverso. Permanece a dvida sobre se o comrcio um motor de crescimento ou se o crescimento econmico que promove o crescimento do comrcio.

Um maior crescimento econmico est associado gerao de empregos, embora as caractersticas da economia global incidam sobre a natureza da demanda dos empregadores pela mo-de-obra local. No caso do Brasil, por exemplo, vrios Desta forma, pode-se dizer que a relao entre o comrcio e estudos do IPEA mostraram que durante os anos 90, houve um o aumento ou reduo da pobreza intermediada pelo que aumento do grau de qualificao da mo-de-obra no pas que ocorre no mercado de trabalho e nos padres de consumo. O revelou transformaes na oferta do trabalho, mas tambm efeito dos novos preos sobre os nveis de pobreza depender mudanas estruturais na curva da demanda. Isso quer dizer que de se as famlias pobres forem consumidoras ou produtoras no apenas a escolaridade mdia dos trabalhadores elevou- lquidas do produto que teve o seu preo alterado e dos canais se, mas que uma escolaridade maior passou a ser requerida de distribuio da mudana de preo a tais consumidores/ pelos empregadores. Alguns desses estudos concluram que a produtores. A literatura econmica mais recente destaca que liberalizao comercial (nas circunstncias em que se deu no uma liberalizao que favorea a reduo da pobreza deve Brasil) impactou de forma negativa os trabalhadores pouco estar acompanhada de polticas pblicas de apoio integrao qualificados e de baixa escolaridade. Ou seja, a abertura da populao mais pobre principalmente da populao comercial deveria favorecer a criao de empregos compatveis rural s instituies de mercado. Entre os mecanismos com as caractersticas da maioria das propostos incluem-se: (i) canais para pessoas que se dispem a trabalhar. uma distribuio eficiente que assegure No entanto, ao incio da liberalizao que os agricultores mais pobres recebam No Brasil, os efeitos comercial, durante o governo Collor, os benefcios dos novos incentivos e observados no emessa maioria que no terminou a escola tenham acesso aos insumos mais baratos; primria e constitui uma mo-de-obra (ii) acesso a capital fsico, humano e prego industrial no no qualificada s conseguiu emprego social para permitir respostas de oferta no setor informal, sem os benefcios efetivas; e (iii) redes de segurana para corroboram as proposociais, j que os empregos no setor proteger as pessoas que podem ser sies da teoria tradi- levadas pobreza em conseqncia da formal exigem uma escolaridade maior para que os produtos nacionais possam liberalizao comercial. cional de comrcio... competir no mercado externo. Portanto, mais que desenhar a posteriori No Brasil, portanto, os efeitos observados no emprego industrial no corroboram as proposies da teoria tradicional de comrcio, que predizem ganhos para o trabalho no qualificado, abundante no pas. Ao contrrio, a evidncia emprica favorece as hipteses do componente tecnolgico do comrcio. Isto quer dizer que a concorrncia internacional, induzida pela reduo de tarifas e conseqente reduo dos preos dos produtos importados, conduz reduo de custos e ao aumento da produtividade. A importao de bens de capital e bens intermedirios altera os coeficientes de produo e a prpria estrutura de demanda do trabalho. Embora o pas continue abundante em trabalho no qualificado, a tecnologia incorporada em mquinas importadas no est vinculada dotao especfica de fatores do pas importador, mas observa uma lgica de concorrncia global. Esses resultados no foram ainda suficientemente pesquisados, principalmente no que tange tecnologia incorporada nos bens de capital importados e seu impacto na demanda por mo-de-obra qualificada. H evidncias de que a integrao econmica expe as economias nacionais aos ciclos positivos e negativos da economia internacional. Como pode ser verificado no caso da atual crise de alimentos e do custo do petrleo, o aumento da demanda, em uma parte do mundo, por alimentos e outros produtos primrios transferido para os preos internacionais de tais produtos, provocando uma elevao de preos da qual as economias individuais no podem fugir. Em outras palavras, um efeito secundrio da integrao econmica uma maior exposio das economias aos movimentos internacionais de preos, o que se traduz em maior incerteza e insegurana. Na ausncia de polticas compensatrias para os grupos mais vulnerveis da populao, os aumentos de preos podem ser catastrficos, na medida em que tais grupos gastam a maior parte de sua renda em alimentao. A liberalizao comercial pode, assim, alterar a natureza polticas compensatrias para aliviar os custos de ajuste de uma parte da populao, trata-se de reconhecer ex-ante os efeitos distributivos que as polticas comerciais tero para homens e mulheres em um contexto de desigualdade de oportunidades e de resultados, e de incluir objetivos redistributivos junto ao objetivo de eficincia, no desenho e execuo das polticas pblicas. Na prtica, no o que acontece. Os governos, quando pressionados, continuam a desenhar e executar polticas compensatrias. Nos EUA, por exemplo, desde a Lei Comercial de 1974, todas a legislao que outorga poderes ao presidente para negociar liberalizao comercial acompanhada de disposies referentes assistncia para o ajuste dos trabalhadores s novas condies de concorrncia nos mercados.5

do risco e da incerteza que as famlias pobres enfrentam, ao remover a proteo produo agrcola, por exemplo, e submeter unidades produtivas vulnerveis a choques externos. A capacidade de lidar com o risco e a incerteza da integrao econmica depender da criao, pelos governos, de redes de proteo social e de programas de transferncia de recursos. o caso da Bolsa-Familia, por exemplo, embora no tenha sido criado com este propsito.

* Membro do Comit Diretor da Rede Latino-Americana de Comrcio (LATN), pesquisadora internacional independente e professora colaboradora do Curso de Ps-Graduao em Direito da Universidade Federal de Santa Catarina.
1

Irwin Douglas (1996) discorre sobre a evoluo de idias opostas sobre o livre comrcio, por um lado, e da regulamentao do mesmo, por outro, desde os primeiros textos gregos e romanos at os nossos tempos. As exportaes brasileiras em 1985 foram de 25,6 bilhes de dlares. No estou fazendo uma avaliao dos efeitos do NAFTA sobre a economia mexicana; apenas me referindo ausncia de uma relao direta entre expanso do comrcio e o crescimento da economia. A teoria econmica no considera os efeitos dinmicos de um fato econmicosocial, que se desenvolvem no tempo. Os instrumentos analticos disponveis permitem o estudo em distintos momentos de equilbrio, mas no permitem a anlise de uma passagem de equilbrio para outro. No Chile, por exemplo, a ratificao do acordo de livre comrcio com os Estados Unidos pelo congresso chileno foi precedida pela aprovao do aumento de um ponto percentual do imposto ao valor agregado (IVA) para compensar a perda de recursos fiscais necessrios aos programas sociais. No caso dos pases centro-americanos, principalmente a Costa Rica, est em discusso uma agenda de reformas e programas complementares para reduzir os custos econmicos e sociais decorrentes do Acordo Centro-Americano de Livre Comercio com os Estados Unidos (CAFTA, sigla em ingls).

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Polticas pblicas para a exportao de investimentos nos BRICs


A exportao de capital por pases emergentes, como os BRICs, tem aumentado sensivelmente nos ltimos anos, o que contraria o histrico do tradicional fluxo de capital no sentido Norte-Sul. Esse novo fenmeno est balizado por razes diferentes em cada um dos BRICs. Traam-se aqui alguns dados e uma breve descrio das polticas adotadas por cada um desses pases.
A integrao internacional do processo produtivo por meio da internacionalizao das empresas constitui, hoje, o ncleo da economia global. Neste contexto, estabelecer estratgias para favorecer o processo de internacionalizao empresarial tornouse comportamento corrente entre os Estados desenvolvidos e em desenvolvimento. Seu principal objetivo o fortalecimento de suas economias por meio da transformao de suas empresas em grandes grupos transnacionais, dotados de maior competitividade global. Em tal processo, ocupam hoje posio de destaque os pases emergentes que compem o chamado grupo dos BRICs - Brasil, Rssia, ndia e China -, uma vez que experimentam, nos ltimos anos, crescimento vertiginoso do volume de investimentos que efetuam no exterior1. e extrao mineral e esto localizados nos pases da Unio Europia, nos Estados Unidos da Amrica (EUA) e nos pases da Comunidade dos Estados Independentes. Muito diferente a situao da ndia e da China, que esto no espectro oposto da promoo dos investimentos.

Os exemplos da China e da ndia


Nesta esteira, China e ndia tm conscientemente adotado polticas pr-ativas de incentivo aos investimentos de suas empresas no exterior, com o objetivo de criar empresas globais e competitivas. Ambos experimentaram um momento de mudana na orientao de suas polticas, ao passarem da restrio promoo dos investimentos. No caso indiano, distingue-se claramente o perodo 1974-1991 do perodo subseqente. No perodo ps-1991, houve uma mudana do eixo dos investimentos, retirando o seu foco da cooperao sul-sul, para volt-lo competitividade global. Deste modo, os investimentos indianos passam a ter como pases destinatrios os pases desenvolvidos (PDs), como uma forma de conquistar abertura de mercados, ganhos tecnolgicos e adquirir marcas registradas. Como fruto de tal poltica, empresas indianas tm constantemente participando de fuses e aquisies em PDs como exemplifica a compra das automotivas inglesas Jaguar e Land Rover pelo Grupo Tata. Na China, as maiores mudanas vieram com a adoo da estratgia Go global, de 2000. Adotada pelo governo, sua meta proporcionar o desenvolvimento, at 2010, de 30 a 50 empresas chinesas internacionalmente competitivas. Para tanto, no so poupados esforos para atingir os objetivos declarados de: desenvolver o comrcio e a manufatura de bens no exterior; intensificar atividades em pases produtores de recursos naturais; promover o comrcio de servios e, em especial, de servios de engenharia no exterior; intensificar a cooperao agrcola internacional; promover internacionalmente o desenvolvimento da cincia, tecnologia e a capacitao de talentos. A Amrica Latina tem inclusive recebido especial ateno dos investidores chineses, sobretudo no setor primrio (extrao mineral).

Alguns dados
Ainda que os nmeros sobre os investimentos diretos estrangeiros (IEDs) realizados pelos BRICs indiquem uma participao de apenas 30% no total dos IEDs oriundos de pases emergentes, tais investimentos vm crescendo de forma acentuada nos anos recentes. Tomando-se isoladamente o Brasil, possvel verificar que, entre 1992 e 2002, seus investimentos no exterior aumentaram mais de 70 vezes, enquanto os investimentos recebidos pelo pas cresceram apenas 41%. Os IEDs de empresas brasileiras alcanaram um estoque total de US$55 bilhes em 2003 fazendo do Brasil o quinto maior detentor de IED nos mercados emergentes (aps Hong Kong, Singapura, Rssia e Taiwan). Foram US$249 milhes investidos naquele ano, subindo para US$ 2,5 bilhes em 20052. A Amrica Latina o principal destino dos investimentos brasileiros, no que diz respeito a projetos greenfield (projetos iniciados do zero, sem aproveitar estruturas preexistentes) e fuses e aquisies. Os setores de maior destaque so os investimentos no setor tercirio (servios financeiros, especialmente) e no setor primrio (petrleo e minerao). Nmeros no menos impressionantes so demonstrados pelos demais BRICs. A Rssia acumulou em 2005 mais de US$120 bilhes de IED no exterior, dos quais mais de US$13 bilhes foram efetuados apenas naquele ano o que a consolidou como maior investidor externo entre os BRICs. A China conta com US$ 46 bilhes, sendo US$11 bilhes efetuados em 2005, e a ndia acumulou US$ 9,5 bilhes, sendo US$ 1,3 bilho em 2005. Embora seja o maior investidor estrangeiro do grupo dos BRICs, a Rssia no tem uma poltica especfica para favorecer investimentos no exterior. Ao contrrio, o pas adota uma postura restritiva aos investimentos no exterior, motivada por suspeitas de fuga de capitais. Tal fato pode ser explicado por circunstncias que lhe so peculiares: afirma-se que, diferentemente dos outros BRICs, a principal motivao para a internacionalizao das empresas russas a necessidade de fugir das regulaes excessivas e do ambiente no-favorvel para negcios no pas. Assim, o governo russo adotou controles de capital, alm da exigncia de aprovao do seu banco central para quaisquer investimentos superiores a US$10 milhes. Os investimentos russos concentram-se nos setores de energia

O caso do Brasil
No Brasil, ainda no se pode dizer que existam movimentos coordenados para a definio de uma estratgia nacional visando a internacionalizao de empresas, como ocorre com ndia e China. As autoridades brasileiras tm demonstrado, entretanto, um crescente e inequvoco interesse em atingir tal meta. Iniciativas tm sido tomadas por diferentes rgos governamentais, como o Ministrio das Relaes Exteriores (MRE), o Ministrio do Desenvolvimento, Indstria e Comrcio Internacional (MDIC), a Casa Civil e o Banco Nacional de Desenvolvimento Econmico e Social (BNDES). Um recente trabalho de Sennes e Mendes3 expe algumas frentes importantes para atuao do governo brasileiro, na promoo dos IEDs. A primeira delas diz respeito liberalizao das restries impostas ao envio de IED ao exterior. Em segundo

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lugar, so mencionados os acordos internacionais para regular a proteo de investimentos4, evitar a bitributao5 e garantia de investimentos6. Em terceiro lugar, esto os servios de fornecimento de informaes e assistncia tcnica s empresas nacionais. Outros dois mecanismos relevantes so os seguros de crdito exportao e o financiamento espeOs BRICs ainda tm cfico para promover a das uma expanso modesta internacionalizao empresas nacionais.

na internacionalizao de seus investimentos comparativamente a outros emergentes

Quanto aos trs ltimos mecanismos, destacam-se os papis da Seguradora Brasileira de Crdito Exportao (SBCE), do Departamento de Promoo Comercial do MRE e da Agncia para a Promoo de Exportaes e Investimentos (APEX), e do BNDES. A SBCE, desde 1997, busca proteger investidores brasileiros de riscos polticos, comerciais, bem como outros riscos extraordinrios, relacionados com as operaes de exportao. O MRE utiliza sua rede de embaixadas e consulados brasileiros no exterior para o oferecimento de informaes a empresas brasileiras que procuram investir no exterior, por vezes facilitando o contato entre tais empresas e firmas prestadoras de servios in loco. Na atuao da APEX, destacam-se as atividades de seu centro de informao, em matria de prospeco de mercados, e de seus centros de distribuio, que so escritrios localizados no exterior, com o fim de fornecer apoio logstico a empresas brasileiras que iniciam atividades em outros pases. O BNDES, por fim, teve seus estatutos recentemente alterados para incluir entre suas atividades o financiamento direto e indireto de empresas brasileiras em projetos de IED, o que vem acontecendo de forma crescente.

Novos atores para o desenvolvimento sustentvel: as instituies financeiras


O papel das instituies financeiras na promoo do desenvolvimento sustentvel ganhou flego, ao longo dos anos, com prticas de algumas instituies multilaterais, lideradas pelo Grupo do Banco Mundial. Hoje, novos atores internacionais e de promoo de polticas domsticas assumem um importncia crescente nesse contexto. O artigo apresenta esse histrico internacional a fim de contribuir para a compreenso dos novos instrumentos de promoo da proteo do meioambiente.
Uma resoluo recentemente adotada pelo Conselho Monetrio Nacional (CMN)1 condiciona o acesso a financiamentos comprovao da regularidade ambiental de propriedades rurais situadas na Amaznia Legal. Alvo de crticas e elogios, tal normativa o exemplo perfeito da prtica mundialmente adotada de vincular desenvolvimento sustentvel a mecanismos financeiros, o que, sob determinado aspecto, transforma as instituies financeiras envolvidas em agentes de promoo do desenvolvimento sustentvel. A idia tambm coincide com um dos eixos do atual Plano Amaznia Sustentvel, que vislumbra na criao de um novo padro regional de financiamento um poderoso instrumento de ordenamento e de promoo da sustentabilidade ambiental2. A associao entre financiamento e proteo ambiental no , portanto, uma criao brasileira. H dcadas, os bancos multilaterais de desenvolvimento (BMDs) vm tratando do dilema da necessidade de conciliao entre desenvolvimento econmico e proteo ambiental e o termo desenvolvimento sustentvel visto como um novo paradigma, que sintetiza preocupaes econmicas, ambientais e sociais. Convencidos da necessidade de incluir tais preocupaes em suas linhas de atuao, os BMDs enfrentaram, inicialmente, um problema de carter legal: no h meno explcita ao desenvolvimento sustentvel em seus textos constitutivos como um valor a ser perseguido. Mais do que isso, esses documentos geralmente probem a interferncia em assuntos polticos internos dos Estados, impondo que as decises destas entidades sejam exclusivamente guiadas por consideraes de cunho econmico. Mesmo diante da dvida quanto legalidade de suas aes, na prtica, a maioria dos BMDs comearam a integrar consideraes de desenvolvimento sustentvel em seus processos decisrio e em suas atividades de emprstimo a pases em desenvolvimento (PEDs), sobretudo nos anos que se seguiram Conferncia das Naes Unidas para o Meio Ambiente e o Desenvolvimento (ECO-92). Isso pode ter ocorrido tanto pela adaptao dos bancos s novas necessidades de seus membros, quanto pelas presses exercidas pelas mudanas de polticas pblicas internacionais.

Notas finais
H uma percepo generalizada de que o impacto da internacionalizao de investimentos positivo ao pas investidor, por gerar ganhos de competitividade que fortalecem as empresas, tornando-as mais resistentes a choques internacionais e revertendo positivamente sobre a economia nacional como um todo. Os BRICs ainda tm uma expanso modesta na internacionalizao de seus investimentos comparativamente a outros emergentes (como os Tigres Asiticos), mas que tem crescido nos ltimos anos. Neste quadro, apesar de iniciativas recentes, nota-se ainda uma timidez nas polticas brasileiras, em franco contraste com a objetividade das polticas de ndia e China, concorrentes potenciais em oportunidades de expanso de seus investimentos.
1

Dentre alguns estudos sobre os investimentos dos BRICs, apontam-se: Sauvant, Karl. New sources of FDI: The BRICs, Outward FDI from Brazil, Russia, India and China; UNCTAD, World Investment Report, 2006; Aykut, Dilek e Goldstein, Andrea. Developing country multinationals: South-south investment comes of age. OECD Working Paper n. 257, dez. 2006. UNCTAD, World Investment Report, 2006, Disponvel em <http://www. unctad.org >. Acesso em 21 ago. 08. Sennes, Ricardo e Mendes, Ricardo. Public Policies and Brazilian Multinationals (2008) (mmeo). O Brasil conta com 14 tratados bilaterais de investimentos assinados, assim como 2 protocolos no mbito do Mercosul (de Colonia e de Buenos Aires), pendentes de ratificao pelo Congresso Nacional. Existem atualmente 23 acordos desta natureza em vigncia, sendo que um acordo com os EUA est em negociao Destaca-se aqui o Convnio sobre os Crditos Recprocos, adotado nos anos 80 sob os auspcios da ALADI, com vistas a garantir o crdito no comrcio intra-regional.

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O u t ros t em as m u l t il at e rais

A dvida inicial foi, aos poucos, sendo desfeita diante da crescente visibilidade das implicaes normativas do desenvolvimento sustentvel. A ampla aceitao do conceito exerceu forte influncia na interpretao dos bancos acerca do que viriam a constituir atividades polticas. A internacionalizao de algumas decises relativas ao meioambiente tornou-se menos propcia a ensejar crticas de violao de assuntos polticos internos, at mesmo porque o conceito evolui, modificando-se ao longo dos anos. Alm disso, os prprios PEDs no mais podem demonstrar desprezo por consideraes scio-ambientais, uma vez que esto legalmente comprometidos a adotar uma conduta pr-ativa na concretizao do desenvolvimento sustentvel, como apresentado em mais detalhe a seguir. Formou-se, assim, um consenso na comunidade bancria internacional, no sentido de que os bancos esto autorizados a levar em considerao fatores no-econmicos na concesso de emprstimos, na medida em que se considere que tais fatores apresentam ramificaes econmicas diretas.

e confirmam o papel central dos BMDs no processo de desenvolvimento sustentvel, bem como a mudana universalmente aceita no paradigma do desenvolvimento, de que este necessariamente reflete o modo de funcionamento e os propsitos destas instituies. O desenvolvimento de parmetros ambientais para a atuao de instituies financeiras foi provavelmente o avano mais importante da proteo ao meio-ambiente nas ltimas dcadas. Atualmente, existem parmetros ambientais e sociais aplicados em praticamente todas as fontes de financiamentos internacionais, como os BMDs, as agncias de crdito e de seguro s exportaes e at mesmo diversos bancos comerciais privados. Tais instituies estabeleceram seus prprios parmetros ambientais, frequentemente com referncias cruzadas em relao aos parmetros umas das outras. Nesse sentido, pode-se at mesmo falar em uma harmonizao de tais parmetros, diante da conveniente existncia de um parmetro uniforme e da presso de grupos interconectados da sociedade civil.

O Banco Mundial comeou a desenvolver suas polticas de desenvolvimento sustentvel como forma de responder s No que tange ao desenvolvimento sustentvel, especificamente, crticas a projetos de infra-estrutura realizados nas dcadas entendeu-se que os BMDs tm mais do que uma faculdade, de 1970 e 1980. O que ficou evidente nas manifestaes contra mas uma verdadeira obrigao de a construo da represa de Sardar promov-lo em suas atividades. A origem Sadovar, na ndia e o apoio ao programa de tal obrigao pode ser depreendida de Polonoroeste, na Amaznia brasileira, diversos fatores. Em primeiro lugar, devepor exemplo. Estabeleceram-se, O desenvolvimento se considerar que os BMDs so organizaes ento, parmetros de ao conhecidos internacionais e, como tal, so dotados de de parmetros como polticas de segurana direitos e obrigaes. Quanto aos tratados (safeguard policies), que repousam ambientais (...) ambientais multilaterais, ainda que os BMDs essencialmente sobre trs pontos no lhes sejam partes por no estarem, centrais: (i) a avaliao de impactos foi provavelmente o em princpio, a eles vinculados, todos ambientais anteriores aos projetos; (ii) avano mais os BMDs determinam seu cumprimento o fornecimento de reparao material quando parte o Estado tomador de pelos prejuzos sofridos pelas pessoas importante da emprstimos. Isto ocorre porque tais afetadas pelos projetos; e (iii) a instituies foram dotadas de um papel proteo ao garantia, a tais pessoas, do direito de amplo e universalmente reconhecido na questionar a conformidade de medidas meio-ambiente nas promoo do desenvolvimento sustentvel, adotadas com as diretrizes do banco, um mandato que traz a responsabilidade perante um rgo com competncias ltimas dcadas. de promover ativamente os objetivos investigativas. Foram justamente estas dos conceitos normativos internacionais polticas do Banco Mundial as que mais pertinentes matria. profundamente influenciaram a criao Tal responsabilidade demonstrada em documentos como a de normas semelhantes nas demais instituies financeiras Declarao de Estocolmo de 19723, que confere s organizaes internacionais dentre as quais o Banco Interamericano de internacionais um papel coordenado, eficiente e dinmico Desenvolvimento (BID). na proteo do meio ambiente; ou ento a resoluo da Assemblia-Geral das Naes Unidas, que determina que o Novos atores: as agncias de crdito s Banco Mundial e outras instituies internacionais de mbito exportaes e bancos privados financeiro e de ajuda ao desenvolvimento reportem suas Alm dos BMDs, deve ser mencionada a experincia das atividades Comisso de Desenvolvimento Sustentvel, rgo agncias de crdito s exportaes (ACEs). As ACEs so encarregado de acompanhar a implementao da Agenda 214. entidades geralmente formadas por capital estatal, que tm Desde ento, a meno s responsabilidades das instituies como objetivo fornecer emprstimos, garantias e seguros aos financeiras internacionais em matria de desenvolvimento investidores de um determinado pas, quando em operaes sustentvel tornou-se tema comum em instrumentos no exterior. Tomadas em conjunto, so a maior fonte pblica internacionais de importncia. Um exemplo o Programa de financiamento em PEDs, tendo o Brasil como um dos para a implementao da Agenda 21, que encoraja os BMDs principais receptores de seus recursos. Apesar de sua grande a fortalecer seus compromissos de apoio ao investimento importncia, poucas ACEs dispunham de polticas ambientais em PEDs de uma maneira que promova, a uma s vez, o ao final da dcada de 1990, o que motivou a mobilizao de crescimento econmico, o desenvolvimento social e a proteo uma grande campanha por sua adoo por parte de entidades ao meio-ambiente5. da sociedade civil.

Desenvolvimento sustentvel e os BMDs

O que estes documentos evidenciam uma evoluo nas expectativas depositadas pela comunidade internacional sobre os BMDs, para que persigam objetivos de desenvolvimento sustentvel como parte de suas atividades quotidianas de concesso de emprstimos. So documentos que reconhecem

Tal iniciativa resultou na elaborao de um acordo, no mbito da Organizao para a Cooperao e o Desenvolvimento Econmico (OCDE)6, que estabeleceu linhas de ao ambiental uniformes para as ACEs, tomando por base a experincia dos BMDs. Como conseqncia, atualmente todas as ACEs dos pases membros da

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OCDE esto vinculadas a um conjunto de polticas ambientais, muitas vezes similar aos padres ambientais do Banco Mundial. Aps a adoo de normas ambientais pelos BMDs e pelas ACEs, a prxima grande fonte de financiamento a receber regulamentao ambiental foram os bancos comerciais privados. Isso ocorreu em 2003, com a adoo dos Princpios do ...a promoo do Equador7, parmetros desenvolvimento sociais e ambientais diretamente relacionados sustentvel tem sido aos Performance transformada em Standards da Corporao Financeira Internacional verdadeiro impera(CFI, parte do Grupo tivo de competitido Banco Mundial). Seu aspecto principal so as vidade nos projetos exigncias em termos de financiamento de avaliao de impacto internacional. ambiental, segundo as quais os projetos de maior risco devero demonstrar, por meio de um estudo de impacto ambiental, que esto em conformidade com a legislao ambiental do pas que recebe os investimentos, com os Performance Standards da CFI e com adicionais regras scio-ambientais especficas ao tipo de empreendimento. Tais princpios j foram adotados por 40 dos principais bancos comerciais do mundo8, cobrindo mais de 80% da atividade de project finance.

Biocombustveis e sustentabilidade: a certificao a resposta?


Cada vez mais, a definio de patamares mnimos de mistura de biocombustveis constitui objeto de disputas entre grupos desenvolvimentistas e ambientalistas. Esses ltimos argumentam que as conseqncias dessa fonte energtica ainda so desconhecidas. Alm disso, argumentam que a produo de biocombustveis , em parte, responsvel pelo aumento no preo dos alimentos, encoraja a converso de florestas em monoculturas e conduz explorao de trabalhadores em pases em desenvolvimento (PEDs). A certificao sustentvel emerge, nesse contexto, como uma forma de monitoramento da produo de biocombustveis, com vistas a evitar que atividades prejudiciais ao meio-ambiente e sociedade sejam incorporadas a seu processo produtivo.
Esse artigo traz um pouco do contexto da temtica, com a indicao da abordagem desse assunto por alguns pases e grupos importantes e as polticas que definem os critrios de controle adequados, e, em seguida, apresenta os comentrios de especialistas a respeito.

Concluso
A mudana no paradigma do desenvolvimento, trazida pela aceitao universal do conceito de desenvolvimento sustentvel, trouxe mudanas no funcionamento e nos propsitos das instituies financeiras, transformando-as em aliadas na luta pela proteo ambiental. Os mecanismos de proteo criados por essa mudana provem ganhos em termos de efetividade na proteo do meio ambiente e do ambiente social envolvido. Isso estimula o condicionamento das instituies financeiras em demonstrar bons resultados tambm nas esferas social e ambiental, insuficientes os meros benefcios econmicos de seus emprstimos. Neste contexto, observa-se a proliferao de critrios ambientais objetivos, que, para alm dos BMDs, tm influenciado at mesmo a atuao voluntria das instituies financeiras privadas. Podese inferir, assim que, de obrigao jurdica e moral, a promoo do desenvolvimento sustentvel tem sido transformada em verdadeiro imperativo de competitividade nos projetos de financiamento internacional.
1

Contextualizao da temtica
Dentre os diversos esforos nacionais e internacionais voltados ao desenvolvimento de um corpo de critrios sobre o tema, destaca-se o Grupo de Discusso Global sobre Biocombustveis Sustentveis. Esta iniciativa rene atores de diferentes grupos de interesse, com o propsito de definir princpios e critrios comuns para que a produo dessa fonte energtica seja sustentvel. Tal Grupo de Discusso props os seguintes princpios ambientais e sociais aos quais deve obedecer a produo de biocombustveis, dentre eles: contribuir para a reduo nas emisses de gases de efeito estufa; no prejudicar a qualidade da terra e da gua, a vida animal ou as reas com alto valor de preservao; resguardar os direitos humanos, notadamente os trabalhistas; contribuir para o desenvolvimento de comunidades locais, rurais e indgenas; e no prejudicar a segurana alimentar. Os princpios do Grupo de Discusso refletem as exigncias mundiais apresentadas aos governos que colocam gradualmente em prtica o uso de biocombustveis. O Parlamento da Unio Europia (UE), por exemplo, est considerando a implementao de um patamar obrigatrio de 10% de mistura aos combustveis de transporte, a partir de 2020. Os Estados Unidos da Amrica (EUA), no mesmo sentido, aprovaram a Lei de Independncia e Segurana Energtica de 20071, que estabelece a meta de produo de biocombustveis em 36 bilhes de gales a partir de 2022 para uso no setor de transportes. As exigncias europias, particularmente, constituram objeto de debate no Brasil. Em meados de 2007, a declarao do

Resoluo n. 3.545 do Conselho Monetrio Nacional. Disponvel em: <https:// www3.bcb.gov.br/normativo/detalharNormativo.do?N=108019002&method= detalharNormativo>. Acesso em: 23 jun. 08. Plano Amaznia Sustentvel: cenrios propostos para um novo desenvolvimento regional. Disponvel em: <http://www.mma.gov.br/ estruturas/sca/_arquivos/resumo_pas.pdf>. Acesso em: 23 jun. 08. Declarao de Estocolmo, 16 de junho de 1972, princpio 25, 11 ILM 1416 (1972). Res. 47/191, UN GAOR, 47a Sess., Sup. N. 49, Vol. 1, p. 141, para. 23. Programme for the further implementation of Agenda 21. GA Res. S-19/2, Annex (June 28, 1997), 36 ILM 1639 (1997). OECD, Recommendation on Common Approaches on the Environment and Officially Supported Export Credits, OECD Doc C(2003)236, 18 dez. 2003. Princpios do Equador. Disponvel em: <http://www.equator-principles. com>. Acesso em: 23 jun. 08. No Brasil, dentre as principais entidades bancrias que participam da iniciativa esto o Banco do Brasil, Bradesco, Ita e Unibanco.

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A nl ises regionais

interesse europeu em comercializar biodiesel e etanol brasileiro veio acompanhada de uma srie de exigncias com o objetivo de comprovar a sustentabilidade desses biocombustveis brasileiros. As lideranas polticas europias declararam, na poca, que havia impedimentos tcnicos importao do biodiesel quanto a, por exemplo, parmetros de viscosidade e densidade. Isso suscitou, no Brasil, a necessidade de uma certificao de qualidade do produto em conformidade com os padres internacionais. Apesar dos esforos de padronizao dos critrios de sustentabilidade, o cenrio observado atualmente caracterizase pela multiplicidade de critrios, os quais podem ser exigidos por pases isoladamente, blocos de pases, ou mesmo importadores. preocupante, nesse sentido, a possibilidade de que muitos desses critrios fomentem a prtica de barreiras comerciais, razo principal pela qual o debate foi recentemente introduzido no mbito da OMC.

commodities agrcolas; e cabe Academia Nacional de Cincias a elaborao de um estudo sobre as indstrias relacionadas produo de bens agrcolas, alm de desenvolver opes de polticas com vistas reduo dos impactos negativos sobre matrias-primas de origem agrcola e condies tcnicas de produo no setor. preciso que o Grupo do Projeto rena informaes a respeito do uso da terra e de alteraes nos preos dos alimentos na regio produtora. Desenvolvimento scio-econmico: os efeitos sobre o desenvolvimento scio-econmico so complexos e dependem de uma srie de fatores. A CE deve relatar a disponibilidade de gneros alimentcios nos pases exportadores, a capacidade dos PEDs de arcar com os custos de determinado gnero alimentcio e questes mais amplas relacionadas a desenvolvimento; alm de propor medidas corretivas. De acordo com a legislao dos EUA, ao determinar os prazos e os patamares de mistura obrigatrios, o Administrador deve coordenar a elaborao de uma anlise acerca dos impactos da produo e do uso de combustveis renovveis sobre a gerao de empregos e o desenvolvimento econmico rural. O Grupo do Projeto exige uma contribuio positiva da produo economia local.

Polticas de destaque quanto ao tema


Apresentam-se, abaixo, alguns critrios que esto sendo debatidos por aqueles envolvidos na elaborao de balizas para a produo de biocombustveis, dentre os quais se destacam a Comisso Europia (CE), os EUA e o Grupo do Projeto de Produo Sustentvel de Biomassa2 (Grupo do Projeto), coordenado pela Holanda: Reduo na emisso de gases de efeito estufa: a proposta da CE exige uma reduo mnima de 35% nas emisses. Os EUA, por sua vez, definem uma meta de reduo de ao menos 20% para biocombustveis; de 50%, para biocombustveis avanados e biodiesel feito a partir de biomassa; e, de 60%, para combustveis celulsicos3. O Grupo do Projeto demandaria uma reduo de 30%, a qual aumentaria para 80 ou 90% na prxima dcada, com o desenvolvimento de novas tecnologias e a melhoria da produo agrcola.

A opinio dos especialistas


Complementarmente, indicao das polticas aplicadas sobre critrios para promoo e avaliao da sustentabilidade na produo de biocombustveis, a seguir so apresentados alguns comentrios sobre o tema por dois especialistas internacionais: Adrian Bebb, Coordenador da Campanha de agro-combustveis da Friends of the Earth (FOE, sigla em ingls), Europa; e Marcelo Moreira, pesquisador do Instituto de Estudos do Comrcio e Negociaes Internacionais (ICONE), no Brasil. 1) Quais so as principais vantagens e desvantagens dos critrios de sustentabilidade para os biocombustveis?

Adrian Bebb: Pesquisas da FOE revelam que a nica forma de Preservao, biodiversidade e proteo ambiental: a CE tornar a produo [de biocombustveis] sustentvel controlar recomenda a proibio do uso de matrias-primas cultivadas o nvel da demanda por meio de patamares de mistura em terras de grande biodiversidade e fertilidade. Segundo a obrigatrios. Nenhum critrio de sustentabilidade pesquisado posio de alguns pases europeus, seria necessrio, ainda, o trata dessa temtica, o que compromete sua credibilidade e uso de matrias-primas produzidas no mbito domstico para joga em favor do argumento de que os biocombustveis no que os critrios ambientais da UE de boas prticas agrcolas passam de grandes negcios travestidos de intenes verdes. fossem cumpridos. Os EUA, por outro lado, exigem que o Um bom exemplo disso o Grupo de Discusso sobre Soja Responsvel, dominada por empresas que Administrador da Agncia de Proteo possuem controle substantivo do mercado Ambiental (EPA, sigla em ingls) considere Apesar dos esforos internacional de soja, mas que no esto os impactos ambientais ao determinar os interessadas na reduo da produo prazos das metas (por exemplo, 2022). de padronizao dos de soja a nveis mais sustentveis. Uma O Grupo do Projeto exige que alguns critrios de sustensegunda crtica importante diz respeito elementos da produo sejam adaptados incapacidade de a certificao resolver para que cumpram as regulamentaes tabilidade, o cenrio questes indiretas, tais como aumentar o ambientais locais e nacionais, bem como observado atualmente preo ou o deslocamento de commodities. para que implementem aes voltadas A expanso de cultivos com o objetivo de ao fortalecimento da biodiversidade e caracteriza-se pela atender novas demandas substitui o uso proteo de solo, gua e ar. prvio da terra, independentemente se multiplicidade de Direitos humanos e trabalhistas, essa nativa, usada para a pecuria ou preservao da terra e gua: o Grupo do critrios agricultura. Essa ltima , normalmente, Projeto exige que a produo contribua deslocada para outra regio e constitui para o bem-estar dos funcionrios e uma das maiores preocupaes com relao produo de agroda populao local por meio do cumprimento de princpios combustveis (ou qualquer outra expanso significativa de um internacionais. Nesse sentido, defende-se o resguardo de cultivo de commodity). A nova plantao poderia ser certificada direitos trabalhistas e de propriedade. como sustentvel, mas se ocasionou o deslocamento de Segurana alimentar: A proposta da CE sugere o monitoramento outras atividades agrcolas para reas sensveis, ento isso faz das alteraes no preo dos commodities e seus efeitos sobre de qualquer certificao um esforo em vo. Isso uma das a segurana alimentar, alm de propor aes corretivas, caso principais falhas, e sua resoluo improvvel por meio da necessrio. Sob a legislao estadunidense, o Administrador da certificao. A FOE preocupa-se, portanto, com a possibilidade EPA deve conduzir uma anlise acerca dos impactos da produo de as pessoas comprarem produtos com o certificado de e do uso de combustveis renovveis sobre o preo e a oferta de sustentabilidade, quando, de fato, no o caso.

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Marcelo Moreira: Quando o etanol foi implementado no Brasil (na dcada de 70), o objetivo central era garantir o abastecimento nacional de combustvel, de modo que as estruturas de sustentabilidade foram desenvolvidas com a finalidade de controlar principalmente as emisses gasosas e lquidas. Atualmente, h questes mais amplas relativas sustentabilidade que preocupam o setor. Os selos de sustentabilidade esto sendo estudados por duas agncias do governo brasileiro e pelo setor privado. No entanto, identificar os critrios que garantam os benefcios ambientais no uma tarefa fcil, inclusive no que diz respeito aos sistemas de rastreabilidade. Exige-se, por exemplo, que o biodiesel apresente um selo verde com padres ambientais e sociais (especificando a regio de origem e a famlia de agricultores produtora), para que seja vendido no mercado pblico de distribuio de combustveis do Brasil. As crticas a essa medida apontam para a inviabilidade de redues significativas nas emisses de gases de efeito estufa em um sistema de produo baseado na produo familiar4. 2. Como a certificao afetaria o equilbrio entre os biocombustveis de produo domstica e estrangeira e as matrias-primas para a sua produo? Adrian Bebb: A certificao que a UE est desenvolvendo estabelece um patamar de reduo nas emisses de gases de efeito estufa particularmente baixo (35%). Uma reduo maior de tais emisses apesar de ser melhor para o clima, excluiria grande parte dos biocombustveis europeus, que geralmente possuem um rendimento energtico baixo. Marcelo Moreira: O Brasil possui uma longa experincia na produo e no consumo de biocombustveis, de forma que no preciso import-los. No que diz respeito ao etanol, o pas dispe de uma tecnologia de ponta, altamente desenvolvida em termos de custos, mas tambm de aspectos sustentveis, como rendimento em litros por hectare, equilbrio energtico e reduo nas emisses de gases de efeito estufa. Portanto, se a produo sustentvel fosse abordada como deve ser (e no como justificativa para imposio de barreiras comerciais), os exportadores brasileiros seriam beneficiados. Quanto ao biodiesel, o consumo em larga escala poder implicar alguns ajustes nas exigncias para a obteno do selo. 3. Na sua opinio, os critrios de sustentabilidade dos biocombustveis so compatveis com as regras da OMC? Em caso negativo, h formas alternativas de garantir uma produo sustentvel de biocombustveis nacionais em conformidade com as obrigaes definidas por tal organizao? Adrian Bebb: A FOE no realizou pesquisas sobre a compatibilidade entre a estrutura do Reino Unido (a nica estrutura nacional atualmente em vigor) e a OMC. No entanto, o que fica claro que muitos pases, particularmente aqueles da UE, parecem temer a OMC e, por conseguinte, pretendem implementar critrios fracos de sustentabilidade (especialmente em relao aos aspectos sociais). Existe, assim, uma tendncia em fundar-se mais em estruturas de adeso voluntria com processos de acompanhamento obrigatrios uma estrutura que a FOE considere frgil e inaceitvel. Marcelo Moreira: O cumprimento das exigncias da OMC uma questo que precisa ser tratada com cautela. Dependendo do formato em que so apresentadas, as exigncias de sustentabilidade impostas pelos pases importadores podem constituir uma preocupao, e tais exigncias podem ser desafiadas pelas regras da OMC. Posso nomear ao menos oito iniciativas que buscam, atualmente, definir aspectos de sustentabilidade para os biocombustveis, e no fcil prever que tipo de critrios os importadores iro reconhecer e

implementar. Se os EUA, a UE e outros pases esto realmente interessados em sustentabilidade, possvel argumentar que o Brasil est no caminho certo. A questo-chave : as exigncias de sustentabilidade sero de fato necessrias para atingir as metas de sustentabilidade, ou elas simplesmente iro se transformar em barreiras ao comrcio? A harmonizao entre diferentes estruturas de certificao outro tema difcil de tratar, uma vez que h diversas iniciativas e o mercado de certificao ainda novo. 4. Na sua opinio, a produo e uso em larga escala de biocombustveis sero uma realidade? Qual papel o comrcio desempenharia nesse cenrio? Adrian Bebb: Gostemos ou no, a produo em larga escala j uma realidade, com expanses previstas para atender ao mercado europeu, principalmente a partir do Hemisfrio Sul. No entanto, a crescente ateno crise global dos alimentos e o papel que os biocombustveis desempenham no recrudescimento dessa situao fizeram com que os governos e a CE revisassem suas polticas. No haver terra agrcola suficiente (e tampouco gua) para a produo de alimento e combustvel para uma populao crescente, principalmente se as previses sobre as mudanas climticas se confirmarem. Algumas decises difceis tero de ser tomadas, e improvvel que os agrocombustveis sejam favorecidos. Algum nvel de produo de biocombustveis, principalmente a partir de materiais residuais (como o leo vegetal), deve ser possvel, mas a sua definio ser bastante controvertida e certamente abaixo da meta de 10% proposta. Marcelo Moreira: Sob a perspectiva brasileira, os biocombustveis constituem uma parte permanente da matriz energtica nacional, o que tambm pode contribuir para a criao de um mercado global de biocombustvel, desde que os pases-chave estejam ativos em sua produo. Sabe-se que, no caso do etanol base de cana-de-acar, os pases que oferecem as melhores condies so PEDs e pases de menor desenvolvimento relativo, notadamente na Amrica Latina, no Caribe e na frica. Como os pases desenvolvidos so os maiores consumidores de petrleo e possuem severas restries quanto rea para produo de matria-prima para biocombustveis, o comrcio internacional assume um papel muito importante. Ele pode permitir os melhores padres de produo e, ao mesmo tempo, fornecer incentivos para o desenvolvimento em tecnologia e infra-estrutura, assim como gerao de renda nos pases mais pobres. Os fluxos significativos de comrcio, com a produo diversificada por meio da commoditizao de biocombustveis, gerariam condies para o estabelecimento de um abastecimento seguro.
Traduo, adaptao e complementao de artigo originalmente publicado em Bridges Trade BioRes Review vol. 2, n. 4 mai. 2008.
1

O contedo da Energy Independence and Security Act 2007 pode ser acessado em: <http://www.whitehouse.gov/news/releases/2007/12/20071219-1. html>. Acesso em: 19 ago. 2008. Um dos documentos elaborados pelo Grupo est disponvel em: <http://j. delavegal.googlepages.com/BiomassProduction.pdf>. Acesso em: 19 ago. 2008. A crescente especializao na produo de biocombustveis fez com que novas categorias fossem criadas, a exemplo dos biocombustveis celulsicos. Estes pertencem ao grupo dos biocombustveis de segunda gerao (celulsicos, lenho-celulsicos e micro-algas) e so produzidos a partir de biomassa no alimentar, tais como restos de plantas. Trata-se de uma fonte energtica que concorre em menor medida com a alimentao humana e animal e, no contexto das acusaes de que a produo de biocombustveis prejudica a segurana alimentar, tem recebido crescente ateno na rea de Pesquisa e Desenvolvimento. Nota do editor: Para mais informaes sobre o Selo Combustvel Social, ver Pontes Bimestral Vol. 4, No. 1, disponvel em: <http://ictsd.net/downloads/ pontes/pontes4-1.pdf>. Acesso em 19 ago. 2008.

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A nl ises regionais

A apreciao das exportaes agrcolas brasileiras: novo impulso Rodada do Desenvolvimento


Thalis Ryan de Andrade*
A teoria de que os preos dos bens agrcolas esto em constante defasagem em relao aos bens industriais merece reviso em tempos de inflao mundial dos alimentos. Dados da pauta exportadora nacional revelam reverso desta tendncia com o recente aquecimento da demanda mundial por bens agrcolas. Trata-se de fator conjuntural que pode dar continuidade s discusses da Rodada Doha, facultando-lhe xito.
No passado, a idia de que os pases deveriam especializarse na produo de bens de acordo com a dotao de fatores de produo mais abundantes foi rotulada como discurso em favor da manuteno da dependncia dos pases em desenvolvimento (PEDs) em relao aos pases desenvolvidos (PDs). Em outras palavras, os pases que no detinham capital como fator abundante deveriam adquirir bens industrializados de PDs, exportando, em contrapartida, produtos primrios. Desta forma, seria mantida uma espcie de subordinao tecnolgica e hegemonia do comrcio internacional, em razo das exportaes de bens industriais (de alto valor agregado) somarem muito mais balana comercial de seus exportadores. Todavia, este argumento que ainda constitui um dos principais fatores do abismo entre PDs e PEDs parece hoje ter virado em favor dos interesses desses ltimos. Isso porque houve um aumento expressivo da demanda mundial por bens agrcolas, incrementando sobremaneira o preo desses no mercado internacional. Trata-se de uma oportunidade para que o Brasil barganhe a continuao e o desfecho da atual Rodada Doha de negociaes comerciais multilaterais. Aproveitar-se desta situao permite melhores condies para uma liberalizao do comrcio internacional mais justa, ainda que por motivo inusitado. naes. Todavia, muitos censuraram o modelo clssico sob o argumento de que ele acolhe uma ideologia de dependncia do ento chamado terceiro mundo em relao ao primeiro mundo. Em outras palavras, a crtica era no sentido de que PEDs dotados de grandes fronteiras agrcolas estavam fadados produo de bens primrios, ao passo que PDs dotados de capital produziriam bens industrializados. Apesar da contestao, o sistema de trocas internacionais baseado na especializao da produo prevaleceu de modo que a pauta exportadora de cada nao est, em grande medida, vinculada ao fator de produo mais abundante em cada pas. No modelo brasileiro, a vasta rea cultivvel o fator de produo mais abundante, o que dota o pas de grande eficincia neste setor. O grande volume de exportao de bens agrcolas, somado aos demais setores, garante ao pas, no entanto, no mais do que 1,17% das exportaes mundiais1. Por outro lado, este nmero pode melhorar, uma vez que o aumento exponencial da populao mundial e a conseqente demanda por alimentos (principalmente em pases emergentes como China e ndia) tm ocasionado excesso de procura por bens agrcolas em face de sua atual oferta. Tal desequilbrio entre demanda e oferta desencadeou uma inflao dos alimentos em escala mundial, relativizando a premissa de que apenas as exportaes de produtos industrializados incrementam efetivamente a pauta exportadora de um pas.

O modelo exportador brasileiro e o paradigma do alto valor agregado


Prevalece ainda hoje a idia de que o custo de produo reduzido conforme o pas se especializa na produo do bem que demanda utilizao mais intensiva de seu fator de produo abundante. Por decorrncia, os pases no produzem tudo o que consomem e isso refora a importncia do comrcio entre Tabela 1 EXPORTAO BRASILEIRA FATOR AGREGADO JANEIRO/JUNHO 2008/2007 - US$ MILHES FOB Jan/Jun 2008 BSICOS (agrcolas) INDUSTRIALIZADOS (total) Semi-manufaturados Manufaturados Op. Especiais TOTAL
Fonte: MDIC/SECEX

A inflao de alimentos e o ganho das exportaes brasileiras


O ambiente de incertezas e prejuzos que se formou para a balana comercial brasileira foi fortemente influenciado pela perda de competitividade em funo da forte depreciao do

Jan/Jun 2007 22.379 49.359 10.186 39.173 1.476 73.214

Var. % 2008/2007 44,2 14,8 20,7 13,2 66,5 24,8

Part. % 2008 35,6 62,0 13,5 48,5 2,7 100,0

Part. % 2007 30,6 67,4 13,9 53,5 2,0 100,0

32.004 56.203 12.198 44.005 2.438 90.645

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Tabela 2 EXPORTAO BRASILEIRA POR FATOR AGREGADO JANEIRO/JUNHO 2008/2007 - US$ MILHES FOB Bsicos Minrio de Ferro Soja em Gro Petrleo em bruto Carne de Frango Farelo de Soja Carne Bovina Caf em gro Fumo em folhas Milho em gros Carne suna Demais TOTAL
Fonte: MDIC/SECEX

Var. % 2008/2007 30,9 71,1 58,3 47,1 56,3 10,5 12,9 23,3 30,1 29,0 63,6 44,2

Part. % 2008 6,9 6,4 6,0 3,1 2,3 2,1 2,0 1,2 0,7 0,7 3,9 35,3

Part. % 2007 6,6 4,6 4,8 2,6 1,8 2,4 2,2 1,2 0,7 0,7 3,0 30,6

dlar frente ao real. Com cotao correspondente a menos da metade do valor em 1999, a moeda estadunidense reduziu os lucros dos exportadores e quebrou diversos setores brasileiros. Alm disso, a queda incrementou em mais da metade (51,8%) o valor das importaes em comparao ao mesmo perodo janeiro a junho de 2007. Poucos acreditavam que o comrcio exterior brasileiro fosse uma slida via de mo dupla. A expresso auto-explicativa, pois em tempos de perda de competitividade cambial com conseqente elevao das importaes verificou-se tambm um aumento das exportaes, de modo a alcanar recentemente o maior fluxo comercial da histria do pas2. Trata-se de uma virada de mesa protagonizada pelo agronegcio brasileiro, que se valeu do aumento da demanda mundial por alimentos e da presso sobre as cotaes de commodities nas bolsas de valores internacionais e consolidou generosos aumentos para os valores das exportaes de produtos primrios. Dados comerciais recentes j exteriorizam os reflexos desta nova conjuntura, conforme indicado a seguir. A elevao dos preos dos produtos bsicos foi to expressiva que o aumento nas exportaes praticamente dobrou (44,2%) em relao aos produtos industrializados, cujo aumento relativo foi de 14,8%. Isso porque o acrscimo no preo dos produtos bsicos exportados pelo Brasil fez com que as vendas para o exterior continuassem crescendo, mesmo frente depreciao do cmbio. Constatou-se que, no 1 semestre de 2008, o Brasil exportou menor volume, porm com preos maiores. Alm disso, essa nova tendncia na corrente de comrcio impeliu o governo brasileiro a aumentar a meta de toda pauta de exportaes em 2008 de US$ 180 bilhes para US$ 190 bilhes. O quadro a seguir refora que, no primeiro semestre deste ano, as exportaes de produtos bsicos (agrcolas) ampliaram a margem de ganhos (Tabela 2) No mesmo sentido, dados preliminares da Fundao Centro de Estudos do Comrcio Exterior (FUNCEX) comprovam que

os preos dos produtos bsicos sofreram variao percentual quase duas vezes maior que a dos produtos industrializados: Tabela 3 Preo Exportao Total Bsicos Semi-manufaturados Manufaturados
Fonte: FUNCEX. Elaborado pelo MDIC

Quantum - 1,6% 0,9% - 0,9% -3,9%

25,3% 39,9% 21,0% 16,6%

Tal pujana no crescimento das exportaes agrcolas brasileiras tambm se sobressai quando comparada a indicadores internacionais. Segundo dados da OMC, a taxa anual de crescimento das exportaes agrcolas brasileiras encontra-se entre os lderes do ranking de grandes exportadores. Tabela 4 Posio exportadora/Pases (1) UE (2) EUA (3) Canad (4) Brasil (5) China (6) Austrlia (7) Argentina
Fonte: OMC

Crescimento (1996/2006) 3,4% 1,4% 2,8% 9,4% 8,4% 2,8% 4,5%

anual

entre

Desta maneira, a atual conjuntura de inflao dos alimentos e a posio do Brasil colocam o pas em destaque no comrcio internacional. Apesar do recente fracasso na tentativa de um acordo na Rodada Doha, o cenrio permanece favorvel para

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PONTES tem por fim reforar a capacidade dos agentes na rea de comrcio internacional e desenvolvimento sustentvel, por meio da disponibilizao de informaes e anlises relevantes para uma reflexo mais aprofundada sobre esses temas. tambm um instrumento de comunicao e de gerao de idias que pretende influenciar todos aqueles envolvidos nos processos de formulao de polticas pblicas e de estratgias para as negociaes internacionais. PONTES foi publicado pelo Centro Internacional para o Comrcio e o Desenvolvimento Sustentvel (ICTSD) e pela Escola de Direito de So Paulo da Fundao Getulio Vargas (DireitoGV). Comit Editorial Maximiliano Chab Michelle Ratton Sanchez Editoras Mnica Steffen Guise Rosina Adriana Verdier Equipe Manuela Trindade Viana Daniela Helena Oliveira Godoy Leonardo Margonato Ribeiro Lima ICTSD Diretor executivo: Ricardo Melndez-Ortiz 7, chemin de Balexert 1219, Genebra, Sua [email protected] www.ictsd.org DireitoGV Diretor Geral: Ary Oswaldo Mattos Filho Rua Rocha, 233 - 8 andar Bela Vista 01330-000, So Paulo- SP, Brasil [email protected] www.direitogv.com.br As opinies expressadas nos artigos assinados em PONTES so exclusivamente dos autores e no refletem necessariamente as opinies do ICTSD, da DireitoGV ou das instituies por eles representadas.

que o Brasil insista na reduo dos subsdios agricultura. Isso beneficiaria sua produo e a de todos os pases agrcolas integrantes da coalizo do G-20. Acredita-se que s a eliminao definitiva desta distoro poderia efetivamente fazer valerem os objetivos da Rodada Doha.

O momento do agronegcio brasileiro no exterior


Conforme analisado, a privilegiada posio ostentada pelo Brasil como exportador mundial representa uma base consistente para que o pas continue a insistir na reduo dos subsdios agrcolas concedidos pelos Estados Unidos da Amrica (EUA) e pela Unio Europia (UE). Como fundamento para tal, figura o fato de que a concesso de recursos por tais parceiros comerciais a seus agricultores soterra a eficincia competitiva agrcola brasileira e de demais pases agroexportadores. Essa uma medida de apoio domstico que no pode mais prevalecer em um ambiente de comrcio internacional que busca a eficincia na alocao dos fatores de produo. Conforme j destacado por Andr Nassar, do Instituto de Estudos do Comrcio e Negociaes Internacionais (ICONE), a manuteno das prticas protecionistas pode encarecer ainda mais os commodities para a populao dos EUA e da Europa3, estendendo-se s naes pobres que dependem imensamente dos alimentos importados. Alm disso, os subsdios so claros atestados de ineficincia da produo agrcola nos EUA e na UE. Sustentar pequenas propriedades com ajuda governamental estimula a manuteno dessa ineficincia, o que inibe maior acesso a mercados para agroexportadores eficientes como o Brasil e dificulta maiores ganhos de escala para a produo de alimentos. A eficincia produtiva em funo da reduo nos preos dos alimentos deve permanecer na pauta das negociaes multilaterais, pois, embora os acordos bilaterais representem uma alternativa em curto prazo, o impasse no comrcio multilateral continua a sufocar a verdadeira concepo de desenvolvimento idealizada quando do lanamento da Rodada Doha, em 2001. Somente um acordo entre os 153 Membros da OMC pode oferecer condies aos pases mais pobres para beneficiarem-se da reduo nos preos dos alimentos proporcionada pela eficincia agrcola.

A necessidade de continuar negociando no mbito multilateral


A idia de que a especializao em produtos agrcolas (de baixo valor agregado) levaria a um progressivo distanciamento econmico entre os pases agroexportadores e os exportadores de bens de capital deve, portanto, ser analisada sob um novo prisma e merece ajustes em tempos de inflao mundial de alimentos. Isso porque a presente conjuntura refora o valor da pauta exportadora dos PEDs, robustecendo a posio econmica de pases eficientes no setor da agricultura, a exemplo do Brasil. Em meio a tais preocupaes, os recentes indicadores de exportaes revelam, num curto espao de tempo, uma efetiva apreciao dos produtos agrcolas brasileiros. Embora este aumento da pauta exportadora seja conseqncia da prpria inflao dos alimentos e no decorrncia de um aumento de competitividade exportadora em si a presso inflacionria mundial refora a necessidade de que os EUA e a UE reduzam seus subsdios agrcolas. Desta forma, seriam minimizados os efeitos da inflao dos alimentos para todos os Membros da OMC, em especial os pases mais pobres, porquanto a eficiente agricultura brasileira ganharia espao nestes grandes mercados consumidores. Sem entrar no aspecto das negociaes sobre acesso a mercados, o aspecto positivo que se vislumbra que consumidores que demandam produtos agrcolas subsidiados e produzidos em pequena escala passem a buscar nos pases agroexportadores (em especial no Brasil) bens agrcolas a menores custos. Conseqentemente, a participao nas exportaes mundiais seria redistribuda de forma mais eqitativa. Assim sendo, o Brasil tem, neste momento, a responsabilidade de retomar a questo na mesa de negociaes da OMC sob este novo enfoque. Esta uma oportunidade para que as grandes potncias redirecionem o comrcio internacional conforme a necessidade de reduo das desigualdades, ainda que esta vontade seja provocada essencialmente por fatores conjunturais e inflacionrios.
* Mestrando em Direito (rea de Relaes Internacionais) pela Universidade Federal de Santa Catarina e Especialista em Comrcio Internacional e Investimentos pela Universidade de Buenos Aires.
1 2

De acordo com dados da OMC. Em 23 de julho de 2008, foram registrados novos recordes histricos para exportaes (US$ 20.453 bilhes, com mdia diria de US$ 889,3 milhes) importaes (US$ 17.149 bilhes, com mdia diria de US$ 745,6 milhes). Tais desempenhos resultaram na maior corrente de comrcio mensal da histria econmica do pas: US$ 37.602 bilhes. Dados do MDIC/SECEX. Disponvel em: <www.desenvolvimento.gov.br>. Acesso em: 1 ago. 2008. NASSAR, Andr. Anurio Exame 2008-2009. Ed. Abril, 2008, p. 51.

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ENTRE O COMRCIO E O DESENVOLVIMENTO SUSTENTVEL

EVENTOS
SETEMBRO
01 02 Consulta Pblica - Poltica Nacional de Mudanas Climticas, Fundao Getlio Vargas, So Paulo, Brasil Mercosul - I Reunio do Grupo Ad Hoc para uma Poltica Comum sobre Pneus, inclusive reformados e usados, Montevidu, Uruguai CEPAL - Seminrio Estratgia de sustentabilidade financeira de reas protegidas na Amrica do Sul TNC/ PNUD, Santiago, Chile CEBRI - Seminrio 10 Anos CEBRI: Desafios da Poltica Externa Brasileira, Rio de Janeiro, Brasil.

PUBLICAES
Costos comerciales y fundamentos econmicos de la Iniciativa para la Integracin de la Infraestructura Regional Suramericana (IIRSA), Mauricio Mesquita Moreira In Revista Integracin & Comercio, No. 28 (jan-jun 2008), <http://www.iadb.org/intal/ aplicaciones/uploads/publicaciones/e_INTAL_IYC_28_2008_ MesquitaMoreira.pdf>. Food situation in Latin America In Hunger Observatory. FAO, mai-jun. 2008, <http://www.rlc.fao.org/iniciativa/pdf/bolobs1_ en.pdf>. Capacity development: empowering people and institutions 2008. UNDP, jun. 2008, <http://www.undp.org/publications/ annualreport2008/pdf/IAR2008_ENG_low.pdf>. Tribunal Permanente de Revisin y Estado de Derecho en el MERCOSUR. Alejandro Perotti. Ed. Marcial Pons Fundacin Konrad Adenauer, Madrid, Barcelona, Buenos Aires, 2008. National Policy responses to high food prices In Economic and Social Perspectives - Brief 1. FAO, jul. 2008, <ftp://ftp.fao.org/ docrep/fao/010/aj113e/aj113e00.pdf>. UE: energa y transporte en cifras libreta estadstica 2007/2008. Comisin Europea, Direccin General para la Energa y Transporte. Jul. 2008. <http://www.ibce.org.bo/documentos/ ue_energy_report.pdf>. World Patent Report - A Statistical Review on Worldwide Patent Activity. WIPO, 6 ago. 2008, <http://www.wipo.int/ipstats/en/ statistics/patents/>. World Trade Report 2008: trade in a globalizing world. WTO, 15 jul. 2008, <http://www.wto.org/english/res_e/reser_e/wtr08_e. htm>. UNCTAD Handbook of statistics 2008. UNCTAD, 29 jul. 2008, <http://www.unctad.org/Templates/webflyer.asp?docid=10193&in tItemID=2068&lang=1>. A poltica das polticas pblicas progresso econmico e social na Amrica Latina, relatrio 2006. Ernesto Stein, Mariano Tommasi, Koldo Echebarra, Eduardo Lora, Mark Payne (eds.), ago. 2008, <http://www.iadb.org/publications/index. cfm?language=Portuguese>. Acesso a medicamentos e propriedade intelectual no Brasil: reflexes e estratgias da sociedade civil. Gabriela Costa Chaves, Marcela Fogaa Vieira e Renata Reis In Sur Revista Internacional de Direitos Humanos, Ano 5, No. 8 (jun. 2008), <http://www. surjournal.org/conteudos/pdf/8/chaves.pdf>. A regulamentao da Propriedade no setor de gs natural na Bolvia: impactos para o desenvolvimento?. Andr Corra, Michelle Ratton Sanchez. Working Paper No. 23, Artigos (Working Papers) DIREITO GV (jun. 2008), <http://www.direitogv.com.br/ AppData/Publication/WP23.pdf>. Winning at the WTO: the Development of a Trade Policy Community Within Brazil. Barbara Rosenberg, Gregory Shaffer, Michelle Ratton. Working Paper No. 22, Artigos (Working Papers) DIREITO GV (jun. 2008), <http://www.direitogv.com.br/AppData/ Publication/WP22.pdf>. O Brasil na Amrica do Sul: promovendo a integrao e a cooperao regionais. Relatrio Final da Fora-Tarefa, CEBRI e CINDES (jul. 2008), http://www.cindesbrasil.org/index. php?option=com_docman&task=cat_view&gid=57&Itemid=47&limit =10&limitstart=0&order=name&dir=DESC&lang=8.

02-04 III Frum de Alto Nvel de Accra sobre Efetividade Assistencial, Accra, Gana 03-04 INTAL - Seminrio sobre Unies Aduaneiras: Experincias Prticas na Amrica Central, a Unio Europia e outros Esquemas de Integrao na Amrica Latina, Santo Domingo, Repblica Dominicana 04 Mercosul - Reunio do Grupo de Integrao Produtiva, Braslia, Brasil CEPAL - Crise Alimentar e Energtica: Oportunidades e Desafios para Amrica Latina e Caribe, Santiago, Chile

10-11 Mercosul Reunio do Subgrupo de Trabalho n 9 Energia 12 16 Mercosul Reunio do Grupo de Macroeconmico, Rio de Janeiro, Brasil Monitoramento

Mercosul Reunio do Grupo de Alto Nvel para Reforma Institucional (GANRI), Braslia, Brasil

18-19 OMC Reunio do Comit sobre Acordos Regionais de Comrcio, Genebra, Sua 21-23 Conferncia Conjunta sobre Arbitragem Internacional, Hotel Renaissance, So Paulo, Brasil 24-25 OMC - Public Forum, Genebra, Sua 29-30 Mercosul Reunio Mercosul-Rssia, Moscou, Rssia

OUTUBRO
03 OMC Reunio do Grupo de Trabalho sobre Empreendimentos Comerciais Estatais, Genebra, Sua

06-10 5 Curso sobre Comrcio e Negociaes Internacionais para Jornalistas, Braslia, Brasil 07-10 INTAL - Seminrio sobre Facilitao do Comrcio para pases da Amrica Latina, Santiago, Chile 08-09 OMC - Reunio do Comit sobre Medidas Sanitrias e Fitossanitrias, Genebra, Sua 09-10 Reunio da Comisso Intergovernamental sobre Poltica de Medicamentos, Rio de Janeiro, Brasil 13 FMI/BIRD Reunio Anual do Conselho de Governantes, Washington, EUA

14-16 Mercosul - LXXVI Reunio do Comit de Cooperao Tcnica, Montevidu, Uruguai 28-29 OMC - Reunio do Conselho sobre Medidas Sanitrias e Fitossanitrias, Genebra, Sua 28-30 INTAL - Seminrio regional sobre Comrcio e meioambiente para pases da Amrica Latina, Buenos Aires, Argentina

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