Idoso Ua1 Mod1

Fazer download em pdf ou txt
Fazer download em pdf ou txt
Você está na página 1de 8

1.

Percepes sobre a velhice

Sara Nigri Goldman Vicente de Paula Faleiros

Olhe para si mesmo, para seus pais, seus avs e seus filhos, sobrinhos, vizinhos, amigos. Como voc percebe os mais velhos? Responda ao teste que segue e veja como est a sua percepo das pessoas idosas.

Percepes em relao pessoa idosa


Marque a seguir as afirmativas segundo a sua percepo em relao ao idoso. Quanto mais verdadeira for a afirmao, maior deve ser o nmero que voc vai marcar na escala de 5 a 0. No final do teste, some os nmeros marcados e coloque o resultado no quadrado indicado (em caso de dvida, fale com o seu tutor).

23

ENVELHECIMENTO

SADE

DA

PESSOA IDOSA

Em sua opinio, as pessoas idosas:


1. 2. 3. 4. 5. 6. 7. 8. 9. 10. 11. 12. 13. 14. 15. 16. 17. 18. 19. 20. Do muita importncia religio. So mais inquietas do que os jovens. Vivem de suas lembranas. So mais sensveis do que os outros. Esperam que seus filhos se ocupem delas continuamente. Repetem sempre as mesmas coisas. So capazes de se adaptar mudana. Tm uma sade frgil. Tm medo do futuro. So ricas ou esto bem financeiramente. Esto muito mais sujeitas a serem vtimas da criminalidade do que o jovem. A aposentadoria provoca nelas problemas de sade e acelera o processo de morte. Passam o seu tempo jogar cartas, damas, domin ou bingo. Preocupam-se pouco com sua aparncia. Sofrem de solido. So teimosas e chatas. Representam um peso econmico para as outras geraes. Tm tendncia a se intrometer nos assuntos alheios. So menos capazes de aprender. No tm interesse ou capacidade para a vida sexual. 5 5 5 5 5 5 5 5 5 5 5 5 5 5 5 5 5 5 5 5 4 4 4 4 4 4 4 4 4 4 4 4 4 4 4 4 4 4 4 4 3 3 3 3 3 3 3 3 3 3 3 3 3 3 3 3 3 3 3 3 2 2 2 2 2 2 2 2 2 2 2 2 2 2 2 2 2 2 2 2 1 1 1 1 1 1 1 1 1 1 1 1 1 1 1 1 1 1 1 1 0 0 0 0 0 0 0 0 0 0 0 0 0 0 0 0 0 0 0 0

Fonte: Denise Dub (2006).

Total:

Interpretao do resultado Quanto mais elevado for o escore, mais elevada a adeso aos esteretipos negativos. Entre 75 e 100, sua adeso aos esteretipos negativos elevada. Entre 50 e 75, voc ainda tem tendncia a ver a pessoa idosa de forma estereotipada. Entre 25 e 50, voc se mantm no limiar dos esteretipos. De 0 a 25, voc tem uma percepo menos estereotipada da pessoa idosa.

24

Percepes sobre a velhice

Atividade 1 Responda s seguintes perguntas e envie ao tutor. a) O que significa ser velho para voc? Justifique. b) Comente o resultado de seu teste. c) Faa um levantamento dos preconceitos relativos pessoa idosa, perguntando aos seus familiares, amigos e colegas de trabalho o que ser velho? Compare os resultados de sua pesquisa com as afirmaes do teste de percepo. d) Escreva o que voc entende por preconceito. e) Procure, em duas fontes, a definio de preconceito, citando-as.

As condies e contradies da velhice: o que ser velho aqui e agora?


Leia com ateno a seguinte histria de vida sobre Dona Joana na Vila Brasil, no Brasil e no Mundo. Dona Joana mora numa casa na rua Sergipe n. 10, adquirida com muito esforo. Tem 66 anos, parda, viva, trabalhadora autnoma (doceira), tem o ensino fundamental. O celular seu instrumento de trabalho para atender clientes. Recebe penso de um salrio mnimo, que mal d para viver. Mora com o filho Tiago, de 24 anos, dependente qumico e envolvido com o trfico de drogas. Em casa, tambm est de passagem, como diz h dois anos, a filha Telma, de 32 anos, me solteira de uma menina de sete anos chamada Carla. Telma trabalhava como caixa de banco, ficou desempregada quando aumentaram o nmero de caixas eletrnicos. Joana freqenta a igreja, todos os domingos, onde encontra vrias conhecidas de sua idade e mesmo mais idosas.
Para refletir Veja em sua famlia e ao seu redor histrias parecidas de Dona Joana. Voc pode procurar tambm entrevistas com idosos em jornais, revistas ou na internet. Os contextos e realidades do envelhecimento so idnticos? Seria correto dizer que o envelhecimento uma realidade nica para todos?

Leia tambm: Riqueza e misria do trabalho no Brasil, de Ricardo Antunes (Org.), 2006. Os livros de Laura Tavares (2003) O desastre social; e de Reinaldo Gonalves (2003) O n econmico podem ajudar a refletir sobre as novas condies sociais do envelhecimento. O ltimo captulo do livro A poltica social do estado capitalista, de Vicente de Paula Faleiros (2001), trata do neoliberalismo.

25

ENVELHECIMENTO

SADE

DA

PESSOA IDOSA

Atividade 2 a) Responda s seguintes questes e envie para o tutor. Que mudanas na economia e na sociedade, que afetam a histria de Joana, voc pode destacar?

Quanto ao desemprego de Telma: cite as causas e as conseqncias e proponha mecanismos de enfrentamento.


na relao familiar?

Em sua opinio, qual o impacto do envolvimento de Tiago com as drogas

Monte um genograma ou rvore familiar de Dona Joana, conforme o Caderno de ateno bsica Envelhecimento e sade da pessoa idosa volume 19, pgina 171. Voc percebe alguma diferena entre o envelhecimento que ocorre em rea urbana e rea rural? Justifique sua resposta.
b) Participe do frum que ser organizado pelo seu tutor.

Envelhecimento, velhice e sua multidimensionalidade


No captulo Gesto por sujeito/idade, do livro Desafios do envelhecimento, vez, sentido e voz (FALEIROS; LOUREIRO, 2006), Faleiros e Rebouas destacam as diferenas entre envelhecimento passivo e envelhecimento participativo. O envelhecimento passivo, segundo os autores, pode ser visto tanto biolgica quanto socialmente e est centrado na falta ou na perda de adaptao ou capacidade. O envelhecimento biolgico foi pontuado como perda de capacidade de adaptao por Leme e Silva (2002) para quem [...] a velhice carrega consigo uma queda geral (sic) da capacidade de adaptao, seja pela incapacidade de aceitar ou administrar situaes de mudanas ou catstrofes, como de mudanas de ambiente. Assim, alm de se olhar para a improdutividade, olha-se a velhice pelo ngulo da incapacidade ou inadaptao. Do ponto de vista social, Sluzki considera a velhice uma desconstruo da rede social e do interesse em refaz-la:

26

Percepes sobre a velhice

[...] medida que se envelhece, a rede pessoal social sofre mais perdas ao mesmo tempo em que as oportunidades de substituio para estas perdas se reduzem drasticamente. Alm disso, os esforos que preciso despender para manter uma conduta social ativa so maiores, a dificuldade para se mobilizar e para se mover maior, e a acuidade sensorial reduzida, o que diminui as habilidades e, em longo prazo, o interesse em expandir a rede [...] Com o desaparecimento de vnculos com pessoas da mesma gerao, desaparece boa parte dos apoios da histria pessoal [...] Parte da experincia de depresso que parece se instalar em muitos velhos de maneira opressiva emana da solido e da conseqente perda de papis (SLUZKI, 1997, p. 117-118).

Neste sentido, a velhice traria uma trplice perda: a do trabalho, a da sade e a da rede social, devendo-se trat-la como gesto das perdas, com compensaes para uma pequena renda, um consolo para a falta de renda, medicamentos ou abrigo. Em contraposio ao conceito de velhice como gesto de perdas, propomos que a velhice seja vista como uma relao biopsicossocial, que envolve as trajetrias individuais, familiares, sociais e culturais ao longo do tempo de vida, num entrecruzamento de trabalho/no trabalho; reproduo/infertilidade; normas e papis de utilidade/inutilidade, defasagem/sabedoria, de isolamento/integrao, perdas e ganhos, e de condies de exerccio da autonomia/dependncia, e de projetos pessoais. Assim, a velhice no uma categoria homognea para todos e nem um processo de via nica, situando-se nas transies contraditrias das mudanas demogrfica, social, cultural e epidemiolgica de cada povo. A seguir, apresentamos o conceito de velhice em trs diferentes ticas.

27

ENVELHECIMENTO

SADE

DA

PESSOA IDOSA

Quadro 1 - Conceito de velhice


Sara Goldman (2003,p.71), no livro Universidade para Terceira Idade: uma lio de cidadania O envelhecimento como um processo complexo que ocorre em cada pessoa, individualmente, mas condicionado a fatores sociais, culturais e histricos, que vo rebater na sociedade como um todo, envolvendo os idosos e as vrias geraes. Por seu carter multifacetado, o envelhecimento abarca mltiplas abordagens: fsicas, emocionais, psicolgicas, sociais, econmicas, polticas, ideolgicas, culturais, histricas, dentre outras. A conjuntura marca as diversas formas de viver e de conhecer o envelhecimento, assim como as determinaes culturais tomam formas diferenciadas no tempo e no espao. Outro diferencial se refere posio de classe social que os indivduos ocupam. Guita Debert (2007), no texto Trs questes sobre a terceira idade Simone de Beauvoir (1990, p.8) em seu livro A Velhice

A chamada terceira idade e os movimentos que se organizam em torno dela indicam mudanas radicais no envelhecimento, que deixa de ser compreendido como decadncia fsica, perda de papis sociais e retraimento. O nmero de programas para a terceira idade no pas - como os grupos de convivncia, as escolas abertas e as universidades - cresceu de maneira impressionante. Neles, as etapas mais avanadas da vida so consideradas momentos propcios para novas conquistas, guiadas pela busca do prazer e da satisfao pessoal. As experincias vividas e os saberes acumulados so ganhos que oferecem oportunidades de realizar projetos abandonados em outras pocas e estabelecer relaes mais profcuas com o mundo dos mais jovens e dos mais velhos. Encorajando a busca da auto-expresso e a explorao de identidades de um modo que era exclusivo da juventude, esse movimento est abrindo espaos para que a experincia de envelhecimento possa ser vivida de maneira inovadora. Contudo o nosso entusiasmo com a terceira idade e o sucesso desse movimento no podem impedir o reconhecimento da precariedade dos mecanismos de que a sociedade brasileira dispe para lidar com a velhice avanada, com as situaes de abandono e de dependncia, com a perda das habilidades cognitivas, fsicas e emocionais que acompanham o avano da idade.

Para a sociedade, a velhice aparece como uma espcie de segredo vergonhoso, do qual indecente falar (...). Com relao s pessoas idosas, essa sociedade no apenas culpada, mas criminosa. Abrigada por trs dos mitos da expanso e da abundncia, trata os velhos como prias. (1990:8).

Atividade 3 Responda o que se pede e envie para o tutor.


Assista ao filme argentino Conversando com mame que trata da relao delicada entre pais e filhos, no momento atual do neoliberalismo, globalizao, quando um filho desempregado tenta que sua me lhe ceda o apartamento em que vive, e quando descobre quem sua me idosa. Disponvel nas locadoras.

a) Apresentamos concepes diferenciadas de velhice e envelhecimento. Com qual (quais) voc mais se identificou? Por qu? b) Lembrando-se da frase de Gabriel Garcia Mrquez: La edad no es la que uno tiene sin la que uno siente ou seja A idade no a que a gente tem, mas a que a gente sente. (GARCIA MRQUEZ, 2004, p.61):

Entreviste duas pessoas idosas, de sexo diferente, que residam no territrio onde voc atua, obedecendo ao seguinte roteiro: idade, sexo; com quem mora?; independente fisicamente?; participa de atividades sociais?; o senhor ou a senhora se sente velho? por qu? Comente as duas entrevistas luz dos conceitos apresentados. Envie para o tutor (entrevista e comentrios). Participe do frum que o tutor ir organizar sobre as entrevistas.

28

Percepes sobre a velhice

Para refletir Leia e reflita sobre o poema A vida, de Mario Quintana, cujos versos iniciais apresentamos a seguir. Voc pode acessar este poema na ntegra, na pgina eletrnica http://www.amoremversoeprosa.com/imortais/156avida. htm ou no livro Poesias (QUINTANA, 1977). A vida Mario Quintana A vida so deveres que ns trouxemos pra fazer em casa Quando se v, j so seis horas! Quando se v, j terminou o ano... Quando se v, passaram-se 50 anos! [...]
Fonte: Mario Quintana (1997).

Referncias
BEAUVOIR, Simone de. A velhice. Rio de Janeiro: Nova Fronteira, 1990. BRASIL. Ministrio da Sade. Envelhecimento e sade da pessoa idosa. Braslia, 2006.p.171. (Caderno de ateno bsica, 19). DEBERT, Guita. Trs questes sobre a terceira idade. Disponvel em: <http://www.deidade.com.br/ entrevistas.html>. Acesso em: 24 abr. 2007. DUB, Denise. Humaniser la vieillesse. Traduo: Vicente Faleiros. Qubec: Editions MultiMondes, 2006. FALEIROS, V. P. Os conselhos do idoso: controle social e democracia participativa. In: FALEIROS, V. P. (Org.); LOUREIRO, A. M. L. (Org.). Desafios do envelhecimento: vez, sentido e voz. Braslia: Universa, 2006.v.1, p. 87-110. ______. A poltica social do estado capitalista. 10.ed. So Paulo: Cortez, 2007. ______; REBOUAS, M. Gesto social por sujeito/idade na velhice. In: FALEIROS, V. P. (Org.); LOUREIRO, A. M. L. (Org.). Desafios do envelhecimento: vez, sentido e voz. Braslia: Universa, 2006. v. 1, p. 111138. GARCA MRQUEZ, Gabriel. Memria de minhas putas tristes. Buenos Aires: Sudamericana, 2004. GOLDMAN, Sara. Universidade para terceira idade: uma lio de cidadania. [S.l.]: Elgica, 2003. p. 71.

29

LEME, L. E. G.; SILVA, P. S. C. P. O idoso e a famlia. In: PAPALEO NETTO, M. Gerontologia: a velhice e o envelhecimento em viso globalizada. So Paulo: Atheneu, 2002. p.92-97. QUINTANA, Mario. Poesias. Porto Alegre: Ed. Globo, 1977. SLUZKI, C. E. A rede social na prtica sistmica: alternativas teraputicas. So Paulo: Casa do Psiclogo, 1997.

30

Você também pode gostar