Mundo de Janus - Irmandade de Coleira

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O Mundo de Janus

IGUALDADE DE TRATAMENTO ENTRE


IRMÃS(ÃOS) DE COLEIRA E CIÚME NO BDSM
Aprendi em minha vida que o fato de um tema ser recorrente em qualquer aspecto
nos deveria a levar a pensar não apenas sobre a questão da recorrência mas do próprio
"fenômeno" que se observa.
Nos últimos dias, vi um tema para discussão em uma comunidade do Orkut e outra
em um outro local que versavam, cada um a seu modo, sobre a questão da irmandade de
coleira e suas consequências.
A primeira, dava conta da "desigualdade" de tratamento das submissas em um
harém e o outro discorria acerca do "ciúme" em uma relação D/s. Fico aqui pensando,
sinceramente, qual são as concepções que permeiam tais impressões e tais dúvidas? Como
ambas concepções encaixam-se dentro do contexto da irmandade de coleira? Comecemos
pela primeira questão.
Feliz ou infelizmente, muitos resistem em aceitar o óbvio: o nosso meio é tudo
menos democrático, ao contrário, é hierarquizado, com instâncias bem definidas e que
deveriam ser observadas rigorosamente a bem do relacionamento nas bases que se
concebem dentro do BDSM, ou seja, quem manda, manda e quem obedece, obedece e
porque quer/deve/tem necessidade de fazê-lo, escolhe-se a razão.
Colocado assim, parece que há um vácuo no relacionamento Top/bottom e, ao meu
ver, existe mesmo, cabendo a cada Dominante preenchê-lo da forma mais conveniente que
encontrar dentro de um contexto onde a alimentação da submissão é a idolatria do que
domina por parte de quem é dominado.
Pode parecer esdrúxulo falar nisso mas se o "encanto" se quebra, não há hipótese
em manter-se a relação onde deve haver, mesmo que não enunciada, uma boa razão para se
submeter, uma razão íntima e pessoal constantemente "testada" no decorrer da servidão.
Apesar de teoricamente ser uma iniciativa unilateral do Top trazer mais um Bottom
para a relação, é evidente ser de bom alvitre que se ouça as percepções do bottom sem
querer dizer, absolutamente, que a decisão final seja condicionada pela "aceitação" ou não da
situação, afinal, como já tive a oportunidade de escrever em outros momentos, a devolução
da coleira não é apenas uma possibilidade mas uma realidade da qual não se deve abrir mão
em qualquer circunstância.
É evidente que esse é um equilíbrio delicado ao qual deve-se dar muita atenção. Na
fase que dominava mais "amiúde" fui classificado como "Dominador romântico" por ter
algumas objeções à irmandade de coleira, principalmente pela percepção de que existem
apenas duas condições possíveis: onde há uma convergência da percepção da viabilidade da
irmandade entre os envolvidos ou então de um processo desgastante de uma sutil
"sabotagem" que deve ser controlada pelo Top com mão de ferro, se necessário.
Estatisticamente, mesmo sem uma amostra tão significativa assim, o que vejo é que
na maioria dos casos o que ocorre é a segunda hipótese, normalmente gerando uma série de
disputas que acabam por tornar a experiência amarga para o bottom preterido.
O Mundo de Janus
Será que o Top consegue dedicar a "mesma" quantidade de atenção à um bottom e
a outro? Talvez sim, talvez não, sendo muito maior a hipótese de "não" ser a resposta na
maioria dos casos sendo que nesse processo são utilizadas as "armas" mais variadas
possíveis, atingindo o quase inimaginável.
O que desejo fazer claro é que a habilidade do Top quando surgem esses conflitos
deve ser extrema e sua vontade deverá prevalecer, independentemente de quais questões
estejam colocadas. Aos bottoms, cabe a percepção de que nem mesmo pais e mães, ao
menos os que tem coragem de assumir, não têm condições de dispensar o mesmo
percentual de atenção a mais de um filho(a), além, de por uma questão de empatia (e fato
que deveria ser assumido com tranquilidade) sentem-se mais próximos de um ou outro filho
sem com isso queira-se dizer que não dedique amor, atenção e cuidado a todos.
Esse raciocínio, ao meu ver, pode ser aplicado perfeitamente quando se instala o
"canil": por necessidade, por vontade ou qualquer outra razão, o Top dedicará sua atenção
prioritária ou desigual para quem desejar e isso não pode sequer ser questionado já que é
um ato de vontade livre de quem pode ter essa capacidade de deliberar.
Em resumo: caberá ao bottom decidir se é suportável a convivência nas condições
desejadas pelo Dominante e ao Dono/Dona a vontade de seguir dispondo dos serviços de
seu bottom nas condições enunciadas e sem quaisquer posturas inadequadas.
Quanto ao ciúme, permito-me uma abordagem extremamente pessoal: ciúme é para
relações baunilhas onde a questão da posse não está claramente enunciada, onde há uma
aura até falsa de igualdade entre os parceiros, gêneros ou qualquer outra classificação.
No nosso meio a questão da posse está claramente definida e deve ser respeitada
pelos demais que convivem com o Top e seu(sua) bottom. A questão pode ser colocada
simples e claramente: qualquer assédio ao bottom de quem quer seja é um desrespeito e
deve ser repelido enquanto tal.
Uma distinção clara deve ser feita entre assédio e admiração. Eu mesmo devo
confessar que admiro diversas submissas e escravas mas que essa admiração é sempre
ditada nas bases do respeito primeiramente pela submissa e depois por seu Top. Nessas
bases, a admiração é um elemento de orgulho para qualquer Dominante já que demonstra a
qualidade do domínio, a força da personalidade daquele(a) que nos serve.
Esse texto prenuncia algumas linhas de discussão ao qual, como sempre, esse blog
está aberto.
Saudações BDSMistas!

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