Praticas Sexuais Perversas

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PRÁTICAS SEXUAIS DITAS “PERVERSAS”: DESVIANTES OU DIREITO À

DIFERENÇA?

in Revista Terapia Sexual – Clínica – Pesquisa e Aspectos Psicossocias, Vol. VI, 1, 34-52.

(Trabalho apresentado no 16th World Congress “Sexuality and Human Development: From
Discourse to Action” 10-14 March, 2003 Havana, Cuba)

Autora: Maria Cristina Martins, Psicóloga Clínica e Especialista em Sexualidade Humana –


Unicamp – Campinas – SP – BRASIL
E-mail: [email protected]

Co-autor: Paulo Roberto Ceccarelli, Psicólogo, Psicanalista, PhD em Psicopatologia e Psicanálise


por Paris VII, Paris – França; Professor na Graduação e Pós-graduação do Dep. De Psicologia
da Pontifícia Universidade Católica de Minas Gerais – BRASIL

E-mail: [email protected]
Homepage: www.ceccarelli.psc.br

INTRODUÇÃO
A Internet tornou-se mais um veiculo onde pessoas, de forma ocasional ou rotineira, podem
desfrutar e realizar fantasias e desejos muitas vezes inconfessáveis e frustrados em seus
relacionamentos amorosos e sexuais, de forma segura e anônima sem que suas identidades reais
sejam reveladas. Da mesma forma, a Internet propicia oportunidades para que homens e mulheres,
independente de orientação sexual, estado civil, idade e com distintas preferências sexuais, possam
tornar concreto no mundo “real”, um contato iniciado e mantido através da comunicação on-line
(Martins & Grassi, 2001). Partindo-se da premissa que a definição de “normalidade” é histórica e
culturalmente construída, conceitos como “normal”, “saudável” e “patológico” estão sendo
questionados por todos os profissionais que se interessam pelo estudo e compreensão da
sexualidade humana. As inúmeras manifestações da sexualidade humana, assim como as mais
variadas buscas de prazer, confirmam uma vez mais que no ser humano a sexualidade não está
vinculada à procriação.

A dinâmica da sexualidade humana – o que leva um sujeito a ter a sexualidade que tem – vem
sendo objeto de estudo desde a Antiguidade sem que um consenso tenha sido alcançado, o que têm
levado à busca de novos paradigmas para compreender os comportamentos sexuais ditos
“desviantes”. Uma das razões que dificulta a compreensão dos interesses sexuais não convencionais
1
é que o paradigma sexual tradicional, baseado na psicologia, psiquiatria como também na opinião
popular, assume que a procriação é a mais importante função biológica (Fog, 1992). A maioria dos
dados coletados e estudados sobre comportamentos ditos “desviantes” foram baseados em casos
considerados patológicos. Tais estudos foram feitos sob a ótica médica forense, ou tendo como
referência pessoas que procuravam tratamento psiquiátrico e/ou psicológico por suas preferências
sexuais “desviarem” do comportamento sexual “normal” (Ceccarelli, 2000). Este último entendido
como o relacionamento sexual heterossexual, finalizado com a penetração genital e com o intuito de
procriar. Certas práticas sexuais ditas “desviantes” como o Sadismo e o Masoquismo Sexual, como
também o Fetichismo são categorizados como “parafilias” e comportamentos disfuncionais pelo
Manual Diagnóstico e Estatístico de Transtornos Mentais – 4a Edição (1995) da Associação
Americana de Psiquiatria (APA) e pela Classificação Estatística Internacional de Doenças e
Problemas Relacionados à Saúde –10th Revisão (1999) da Organização Mundial da Saúde, o que
tem gerado muitos debates em relação ao seu critério diagnóstico, com o qual muitos profissionais
que se interessam pelo estudo das práticas sexuais “alternativas”, não concordam.

O objetivo do presente estudo é explorar a sexualidade humana nas suas mais diversas variações
como o BDSM ( Bondage/Disciplina, Dominação/Submissão, Sadismo/Masoquismo) ou SM e
Fetichismo, através de um questionário on-line enviado à um grupo de pessoas que se descrevem
como praticantes de BDSM e Fetichismo e que tem na Internet o seu referencial para a troca e
procura de informações, assim como para a procura de parceiros que partilham das mesmas
fantasias sexuais.

Este estudo não tem a intenção de incentivar ou condenar a escolha de práticas sexuais, mas
explorar a diversidade da sexualidade humana adulta de um grupo de pessoas dentro do contexto da
sociedade brasileira contemporânea.

MÉTODO
Um e-mail foi enviado às várias listas de discussão e classificados postados em websites dirigidos
aos praticantes de BDSM consensual e Fetichismo do Brasil e que utilizam a Internet como um
meio para a troca e obtenção de informações e contatos com pessoas que partilham das mesmas
fantasias sexuais. Explicou-se o caráter exploratório do estudo, o qual seria basicamente conduzido
por e-mail, onde a identidade real dos participantes seria preservada. Os interessados deveriam ter
mais de 18 anos de idade, não importando sua orientação sexual e estado civil. Aos voluntários foi
pedido que entrassem em contato replicando ao e-mail enviado. Cento e onze pessoas de vários
2
estados brasileiros manifestarem interesse em participar. Foi-lhes enviado, então, um questionário
abordando questões como: o que os levava a usar a Internet; quais as práticas sexuais em que
estavam envolvidos; como e quando se interessaram por atividades sexuais consideradas
“diferentes” e como se sentiam em relação a ter prazer com práticas consideradas não
convencionais.
Informações sobre a idade, formação religiosa, sexo, estado civil, nível de escolaridade, e
orientação sexual, também foram objeto de interesse para a pesquisa. Não foi objetivo do presente
estudo, estabelecer critérios diagnósticos da amostra pesquisada nem tampouco descrever em
detalhes as práticas sexuais não convencionais.

REVISÃO
Apesar da crescente evolução observada ao longo dos anos nas ciências humanas e nas áreas
tecnológica e científica, a sexualidade ainda é objeto de muita especulação, preconceitos e tabus. Se
observarmos as diversas reações da atualidade frente às manifestações sexuais, veremos o quanto
tais reações permanecem imutáveis ao longo da história. Embora a “revolução sexual” dos anos
sessenta e os inúmeros movimentos objetivando o reconhecimento dos direitos humanos, sobretudo
os feministas, tenham mudado o cenário social, a sexualidade continua sendo um enigma para o ser
humano e objeto de muitas discussões desde a Antiguidade.

No séc. V, a partir dos grandes Padres da Igreja – Agostinho, Jerônimo e Tomás de Aquino, o
cristianismo passa a vincular sexualidade e procriação: o exemplo inquestionável a seguir é a vida
“naturalmente heterossexual” dos animais. Toda prática sexual que escapasse a esta norma traria o
chamado “estigma negativo do prazer”. Surge a partir de então, uma forma de moralidade que é
essencialmente uma moralidade sexual. As práticas “contra a natureza” – consideradas atentado ao
pudor, aos bons costumes, e à opinião pública – acarretam severas sanções para que o “normal” seja
mantido. Entretanto, a história assim o mostra, tal objetivo nunca foi alcançado: a sexualidade
sempre escapou a toda e qualquer tentativa de normatização (Ceccarelli, 2000).

Na segunda metade do século XIX aparece o discurso psiquiátrico contemporâneo que, marcado
pela mesma visão moralista, dá continuidade às posições teológicas e jurídicas, trazendo para a
ordem médica o que, até então, era do jurídico. Os grandes psicopatólogos da época, dentre eles,
Havellock-Ellis (1888) e Kraftt-Ebing (1890), classificaram e etiquetaram as práticas sexuais que
escapavam aos ditames morais. Traçou-se um minucioso inventário das sexualidades ditas
desviantes, onde novas formas de práticas sexuais, que utilizam o outro para a obtenção de prazer e
3
a finalidade natural da sexualidade – a procriação – é subvertida, são criadas: homossexualismo,
voyeurismo, exibicionismo, sadismo, masoquismo, juntando-se à infindável nosografia psiquiátrica
da época. É também nesta época que termos que, mais tarde, tornaram-se clássicos, são aí
introduzidos: perversão (1882, Charcot e Magna), narcisismo (1888, Havellock-Ellis), auto-
erotismo (1899, Havellock-Ellis), sadismo e masoquismo (1890, Krafft-Ebbing) [Ceccarelli, 2000].

No final do Séc. XIX, e de forma ainda mais contundente no início do XX, Sigmund Freud em seu
texto mais importante sobre a sexualidade, os “Três Ensaios sobre a Teoria da Sexualidade”
publicado em 1905, sustenta que subordinar a sexualidade à função reprodutora é “um critério
demasiadamente limitado”. Na perspectiva freudiana, a sexualidade é contra a natureza, ou seja, em
se tratando de sexualidade, não existe uma “natureza humana”. (Ceccarelli, 2000).

Joyce McDougall e o conceito de “Neo-Sexualidade”


A autora contemporânea Joyce McDougall (1997) fez uma importante e inovadora leitura crítica de
Freud em relação à perversão. Segundo a perspectiva teórica desta autora, a palavra “perversão”,
denota uma conotação depreciativa e em direção ao mal, já que nunca se ouve que alguém foi
“pervertido” para o bem. A autora sustenta que além da implicação moralista no uso vernacular da
palavra, o atual padrão de classificações psiquiátricas e psicanalíticas é igualmente questionável. Ao
se rotular e diagnosticar alguém como “neurótico”, “psicótico”, “psicossomático” ou “perverso”,
não se leva em consideração as inumeráveis variações de estrutura psíquica de cada categoria
clínica, perdendo-se de vista o aspecto mais notável aspecto dos seres humanos em sua estrutura
genética, que é a sua “singularidade” (McDougall, 1997, p 186). Em relação às chamadas
sexualidades perversas como o fetichismo e as práticas sadomasoquistas, constata que as mesmas
acontecem na qualidade de jogos eróticos nas atividades sexuais de adultos não-perversos, sejam
estes heterossexuais ou homossexuais, sendo que tais práticas não despertam conflito, pois não são
experienciadas como compulsivas ou como condições exclusivas para o prazer sexual. Já os adultos
heterossexuais e homossexuais que só tem roteiros eróticos fetichistas ou sadomasoquistas, para os
quais essas práticas sexuais são a única via de acesso às relações sexuais, deve-se tomar o cuidado
quanto a desejar que essas pessoas percam essas versões heterodoxas de desejo, simplesmente
porque podem ser consideradas sintomáticas. Ao invés de “perversão”, McDougall (1997, p 188)
prefere nomeá-las como “neo-sexualidades”. Segundo a autora, o termo “perversão” seria mais
apropriado “como um rótulo para atos em que um indivíduo impõe desejos e condições pessoais a
alguém que não deseja ser incluído naquele roteiro sexual (como no caso do estupro, do voyeurismo

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e do exibicionismo) ou seduz um indivíduo não-responsável (como uma criança ou um adulto
mentalmente perturbado”).[McDougall, 1997, p 192].

Os Manuais de Saúde Mental e o Projeto ReviseF65


Svein Skeid é um dos responsáveis pelo projeto ReviseF65 ou Projeto CID (www.revisef65.org), o
qual tem como objetivo através de um website e um grupo de discussões na Internet de mobilizar
grupos SM/Couro/Fetichista e profissionais da área da saúde mental mundial, com o intuito de
retirar o diagnóstico psiquiátrico (“parafilias”) do Fetichismo, Transvestismo e Sadomasoquismo,
da Classificação Estatística Internacional das Doenças e Problemas de Saúde
(www.revisef65.org/ICD10.html), publicada pela Organização Mundial da Saúde (OMS). O
diagnóstico de “parafilia” pode servir como justificativa à estigmatização e violência contra as
minorias sexuais. Vários relatos de violência contra praticantes do Sadomasoquismo e Fetichismo,
podem ser encontrados no website do ReviseF65 (www.revisef65.org). A U.S Leather Leadership
Conference relata que de trinta a cinqüenta por cento da população SM sofre discriminação,
violência ou perseguição devido a sua orientação sexual. O Projeto CID (ICD) afirma “que
estigmatizar minorias através de diagnóstico de sua orientação sexual é tão desrespeitoso como
discriminar pessoas por sua raça, etnia ou religião (www.desejosecreto.com.br/revisef65.html).
Trata-se sem dúvida de uma proposta legítima em defesa dos direitos humanos das minorias
sexuais.

Países como a Dinamarca, em consonância com as necessidades e direitos legítimos das minorias
sexuais, retirou totalmente o diagnóstico de sadomasoquismo em 1995 de seus manuais de saúde.

O Manual Diagnóstico e Estatístico dos Transtornos Mentais-4a.Edição (DSM-IV, 1995, pp 495),


também classifica o Fetichismo, o Sadismo e o Masoquismo Sexual como “parafilias”, onde além
de ter fantasias e impulsos sexuais, recorrentes e intensos ou comportamentos envolvendo tais
práticas (Critério A), essas fantasias, impulsos sexuais ou comportamentos devem causar
sofrimento clinicamente significativo ou prejuízo no funcionamento social ou ocupacional ou em
outras áreas importantes da vida do indivíduo (Critério B).[DSM-IV, 1995, p 495]. Caso o Critério
B não seja atendido, as variantes sexuais acima não são consideradas patológicas ou sintomáticas,
configurando-se apenas uma variação da sexualidade humana adulta.

5
Devido à falta de informação, desconhecimento do que se tratam as práticas eróticas consensuais,
seus praticantes são erroneamente confundidos com vítimas ou perpetradores de atos coercitivos de
violência e abuso sexual.

Conceitos e Práticas BDSM


As práticas sadomasoquistas consensuais e fetichistas não são facilmente definidas, pois abrangem
um leque de comportamentos onde muitos dos praticantes não apreciam todos os papéis e
atividades, estando a descrição detalhada de cada prática BDSM e fetichista, fora do âmbito do
presente estudo. Focaremos, no entanto, os termos mais gerais.

O termo “BDSM’, que se refere ao universo sadomasoquista como um todo, envolve todos os seus
aspectos – dominação, submissão, bondage, disciplina, sadismo e masoquismo, enquanto “SM”
significa “sadomasoquismo” (Paschoal, 2002, p 14). Entretanto, a relação entre os dois termos é
análoga à distinção entre os termos “homossexual” e “gay” (Moser, 1996, p 24).

Segundo a perspectiva teórica deste autor, “Dominação e Submissão (DS), implica na transferência
deliberada do controle psicológico e sexual de um parceiro para o outro, sem que haja
necessariamente, elementos de dor física ou humilhação. O termo “Bondage e Disciplina”, “B&D”
ou B/D, refere-se às práticas sexuais com variados tipos de imobilização ou restrição física,
enquanto “Disciplina” indica a representação de fantasias que se relacionam à punição/castigo,
como por ex, a fantasia “professor/estudante”. “Humilhação” refere-se às cenas de “role-play” nas
quais o parceiro dominante detém o controle do poder sobre o parceiro submisso, infligindo e
ritualizando torturas psicológicas, como insultos verbais de conotação sexual. Em relação aos
termos “sadista” e “masoquista”, existe uma conotação mais fisiológica, de natureza sexual, onde as
pessoas experimentam sensações de prazer ao dar e/ou receber cuidadosamente controladas
sensações de dor, como no caso de levar chineladas ou chicotadas (Moser, 1996, p 25). Já a palavra
“leather” é usada na comunidade sadomasoquista por gays e lésbicas (Moser, 1996, p 63).

Outros comportamentos também geralmente incluídos na prática sadomasoquista são o “age-play”,


um fetiche no qual exige-se que o parceiro atue como tendo uma idade diferente, algumas vezes
mais velho ou mais novo (representando um bebê, por ex.); a feminização forçada ou voluntária dos
submissos masculinos que vestem saltos altos, cintas-ligas e vestimentas femininas (crossdressing)
e também jogos sexuais que envolvem urinas e excrementos. Paschoal (2002, p 16) sustenta que
“cada um desses conceitos tem aspectos pessoais, individuais e únicos, tais como as pessoas que os
6
praticam…Cada um é livre para escolher qual deles prefere e como prefere….Não há como seguir
os vários conceitos de forma literal, já que a criatividade humana e as liberdades individuais são o
que há de mais precioso no ser humano”.

Com a mesma criatividade, a comunidade BDSM criou o termo “baunilha” (“vanilha”), para se
referir às práticas sexuais convencionais que não envolvem nenhum componente SM (Scott, 1997, p
3). A tríade “Sanidade, Segurança e Consensualidade” (Brame G, Brame W & Jacobs, 1993, p 49) é
considerada uma norma básica das práticas não convencionais consensuais e jamais pode ser
ignorada ou negligenciada. Paschoal (2002, p 22) afirma que a não existência de qualquer um dos
aspectos SSC, torna toda e qualquer relação BDSM totalmente inviável.

Por “Consensualidade”, Moser (1996, p 31), entende o acordo voluntário firmado entre os
participantes do jogo erótico, no qual os limites de cada participante são honrados. Esclarece que,
não se pode chamar o abuso doméstico que ocorre entre um casal de SM, pois o SM é consensual e
o abuso imposto a um parceiro não é. Podemos usar como exemplo o intercurso sexual e o estupro,
onde o primeiro é consentido e o segundo é imposto sob coação. Portanto, a diferença entre o
sadomasoquismo e a verdadeira violência, encontra-se no consentimento informado (“informed
consent”) [Moser, 1996, p31]. A “Sanidade” refere-se à conscientização do que os participantes
estão fazendo numa cena SM: trata-se de uma fantasia e que não corresponde à realidade. Certas
práticas BDSM implicam em riscos consideráveis. Nesse sentido, o conhecimento do parceiro, o
estabelecimento de limites e saber os riscos inerentes a cada prática, são fatores importantíssimos
para que o jogo erótico BDSM seja seguro e prazeroso. Vale dizer também, que segurança engloba
também algumas proibições. Como é extremamente importante que se tenha completa consciência
sobre o que se está fazendo, o uso do álcool e de qualquer tipo de droga é severamente
desaconselhado antes ou durante a cena ou jogo BDSM (Paschoal, 2002, p 27). Caso algum limite
físico ou psicológico seja ultrapassado, o uso da “safeword” ou “palavra de segurança” restabelece
os limites da segurança física e emocional dos participantes e o jogo é imediatamente
interrompido.(Paschoal, 2002, p 25).

Segundo Brame, G, Brame, W & Jacobs (1993, p 358), a origem da palavra fetish vêm da palavra
em português feitiço e consta que foi usada pela primeira vez por exploradores portugueses do séc.
XV para descrever figuras sagradas. No seu sentido antropológico o fetiche está ligado à artefatos
sagrados investidos de poderes espirituais. Para os fetichistas, o fetiche erótico é o próprio símbolo
do divino, podendo excitar e mesmo induzir os seus devotos ao êxtase. Exemplos de fetiches
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eróticos são encontrados naqueles que admiram um par de sapatos, ao invés do pé que o veste; ou
então o próprio pé é considerado extremamente excitante, em detrimento do corpo humano como
um todo. Todos os seres humanos são fetichistas em algum grau. Na cultura brasileira, as nádegas
são objeto de adoração nacional, enquanto na cultura americana, há uma extrema valorização dos
seios. Na China, um pé feminino pequeno é extremamente sexy. Isso demonstra que diferentes
culturas elegem seus próprios fetiches. Como Paschoal (2002, p 68) muito bem ilustra, “um fetiche
seria uma preferência específica dentro de um universo de possibilidades…o BDSM está mais para
uma fantasia repleta de fetiches. Assim como um masoquista prefere (ou tem o fetiche de) receber
dor, ou ser torturado exclusivamente com cordas; ou com velas; ou com gelo; ou com todas as
alternativas; ou com nenhuma delas. O sádico prefere ( ou tem o fetiche de ) causar dor. Tudo são
fetiches”.

No tocante à realidade brasileira, a Internet tornou-se um poderoso veículo para a procura de


informações e contatos de pessoas que se interessam pelas práticas eróticas sadomasoquistas e
fetichistas, contribuindo largamente para a formação de uma subcultura “virtual” de minorias
sexuais. O movimento BDSM brasileiro encontra-se num estágio embrionário, mas crescente, com
centenas de websites (vide www.associacaobdsm.com.br) e listas de discussões
(www.yahoo.com.br e www.msn.com.br), na tentativa de se formar um movimento agregador que
proporcione reconhecimento, visibilidade e contatos fora da realidade “virtual”, seguindo uma
tendência internacional proposta pela organização americana “The National Coalition for Sexual
Freedom” (NCSF) que luta para garantir direitos iguais nas áreas legal, política e social para os
adultos que estão engajados na práticas de expressões sexuais alternativas. Segundo os artigos sobre
SM disponibilizados em seu website (www.ncsfreedom.org.), a NCSF esclarece que o
Sadomasoquismo não é abuso nem violência doméstica, sendo este último “um padrão de
comportamento intencional de intimidação com o objetivo de coagir ou isolar o outro parceiro sem
o seu consentimento” (www.ncsfreedom.org/what.htm), opostamente ao que ocorre nas práticas
BDSM, onde os parceiros envolvidos concordam sobre tudo o que vai acontecer no jogo erótico,
além de serem pessoas muito bem informadas sobre as possíveis conseqüências na troca erótica do
jogo de poder. Esclarece ainda que a violência doméstica pode ocorrer em qualquer grupo de
pessoas, inclusive entre os que praticam SM, mas com a diferença de que dentro da comunidade
sadomasoquista, a violência doméstica não é perdoada e suas vítimas e abusadores são encorajados
a procurar ajuda especializada.

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Dados quantitativos da amostra pesquisada (n
= 111) %

Masculino 93,7

Sexo Feminino 6,3

18-25 18,9

26-35 41.4

36-45 30.6

46-55 8.1

Idade +55 0.9

Heterossexuais 84,7

Bissexuais 9,9

Orientação Sexual Gays 5,4

Casados 31,5

Solteiros 52,3

Estado Civil Separados/Divorciados 16,2

Nível Secundário 16,2

Nível Universitário Completo 70,3

Escolaridade Pós-Graduados 13,5

Católica 53,2

Protestante 2,7

Espírita 12,6

Religião Agnóstico 5,4

9
Ateu 5,4

Nenhuma 14,4

Outras 6,3

Dominação/ Sadismo 32,4

Submissão/Masoquismo 43,3

Switchers (“role reversal”) 15,3

Crossdressing 1,8

Pedolatria 4,5

Práticas Outras 2,7

Sim 36,1

Não 25,2

Participação da parceira Sem parceira fixa 38,7

Como podemos perceber na tabela 1, a grande maioria da amostra total (n =111), é composta de
heterossexuais, mas cabe a observação de que apenas sete (6,3%) respondentes são do sexo
feminino, sendo quatro (4) oficialmente casadas e três (3) solteiras. O número de pessoas com
parcerias que possuem e praticam as mesmas fantasias sexuais, (36,1%), foi maior do que o
esperado. Interessante salientar que, nas práticas sexuais envolvendo a Submissão e o Masoquismo
(43,3%), apenas seis (6), são mulheres e heterossexuais, enquanto que o restante do grupo pertence
ao sexo masculino independente de orientação sexual. A religião católica (53,2%) é a que tem o
maior número de seguidores. O nível de escolaridade mostra-se elevado, sendo que 70,3% dos
respondentes têm curso superior completo e 13,5% são pós-graduados.

CONCLUSÃO
Abaixo citaremos recortes de alguns relatos para ilustrar a parte qualitativa do estudo, onde os
respondentes falam a respeito de como se sentem em relação às suas vivências sexuais e aos tópicos
que foram abordados no questionário por eles respondido.
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-SS, pós-graduado, fetichista, 35 anos, casado: “Quando tinha aproximadamente 5 anos, lembro-me
que tinha tesão em vestir camisolas de cetim, gostava de urinar nelas e sentir o cheiro da urina por
vários dias…..Desde criança percebi que tinha desejos “diferentes”, mas só fui entender de fato que
esses fetiches não são uma “aberração da natureza”, há uns três anos com o advento da
Internet….na net, vi, conversei e sei que tem gente com os mesmos gostos”.

– S, administrador de empresas, masoquista, 34 anos, casado, lembra: “Tinha uma brincadeira de


policia e ladrão onde as meninas eram sempre da polícia e os meninos ladrões. As meninas corriam,
pegavam e prendiam os meninos. Lembro que quando eu era preso sempre pedia para ser amarrado,
pois senão fugiria, assim fui sem perceber desenvolvendo meu instinto de submissão ao sexo
feminino…Uma fantasia que me marcou muito na infância e na adolescência foi a figura da
“Mulher Gato” do seriado Batman…..hoje ao rever com olhos mais experientes dá para perceber
uma explicita citação fetichista. A Mulher Gato era linda, aquela roupa em látex, bem justa e colada
ao corpo…sempre que capturava os heróis , eles eram amarrados e ficavam aos pés dela …sempre
era mostrado a Mulher Gato em seu esconderijo sentada em uma cadeira tipo trono em um pedestal
e seus ajudantes ficavam sentados no chão aos seus pés…às vezes ela dava um jeito de pisar em um
ajudante…fetiche puro”.

-Fbond, importador, fetichista bondagista, 31 anos, casado, lembra: “Levo o bondage e o fetichismo
extremamente a sério, não sou adepto de nada que provoque dor, mas gosta da sedução aliada à
bondage, cinta-liga, roupas insinuantes (mas não vulgares), sou culto….descobri que era fetichista
aos 8 anos de idade assistindo um filme do Jerry Lewis e hoje tenho um acervo com mais de 150
fitas do gênero….Considero-me uma pessoa extremamente amiga, por isso acho um absurdo
comparações que coloquem um fetichista na casa dos “anormais”. Talvez até haja casos assim, mas
não se trata da grande maioria”.

-Al Z, dominador, pós-graduado em análise de sistemas, 38 anos, casado, relata: “Desde pequeno eu
apreciava quando via cenas em que apareciam mulheres presas, amarradas ou surradas
(normalmente em filmes), mesmo desconhecendo totalmente o sexo… acho que era
instintivo…..Despertei totalmente para minhas fantasias há uns cinco ou seis anos atrás quando
entrei acidentalmente num site …na época eu tinha 32 ou 33 anos e esse fato mudou totalmente a
minha vida…O bondage e o spanking ( bumbum feminino), me excitam bastante e também outras
formas de dominação física e psicológica, como por exemplo, transformar a parceira em uma
cadelinha colocando correia e correntinha guia….Meu relacionamento com minha esposa é do tipo
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“padronizado”, ou seja, segundo ditam as regras religiosas e sociais para um casamento…Ela não
sabe das minhas incursões no mundo virtual, nem tampouco que procuro alguém para realizar
minhas fantasias no “real”. Sinto-me uma pessoa absolutamente normal….O que penso é que a
sociedade é quem realmente tem medo de admitir que quem gosta de BDSM ( dentro do contexto
erótico, é claro), é um ser humano normal. As pessoas buscam sempre viver cada vez com mais
tesão e o BDSM é apenas mais uma forma alternativa de alcança-lo plenamente. …Nunca abri o
livro da minha vida tanto assim como estou fazendo com você, mas me sinto muito bem, porque
isso estava me sufocando demais”.

-J, analista de sistemas, submisso, 32 anos, solteiro: “Sinto-me perfeitamente normal e até porque
não privilegiado, por saber explorar a minha sexualidade de uma forma diferenciada e muito mais
intensa do que a maioria das pessoas. Fico muito feliz por ter capacidade suficiente em entender o
meu fetiche e tirar proveito dele de forma sadia, segura e muito peculiar”.

-N, assistente administrativa, bondagista, 26 anos, solteira: “Gosto de ser amarrada e imobilizada
completamente, me sentir completamente vulnerável nas mãos do meu parceiro, mas não ficar
passiva e sim relutar em estar amarrada, como se estivesse sendo obrigada a estar naquela situação,
não aceitar passivamente que o outro me amarre, mas “fugir”, tentar me soltar, mas acabar sendo
“vencida” pela força e técnica do meu parceiro…a privação dos sentidos como a visão e a
fala….assim os mesmos ficam ainda mais aguçados, mas não saber o que a pessoa vai fazer é uma
excitação sem igual… estar amordaçada é uma sensação incrível… Juntar tudo isso é uma sensação
inexplicável … Sinceramente, me sinto mais normal do que as outras pessoas, eu me sinto
assumida. Acho que o que não é normal é as pessoas se podarem, ou mesmo viverem um
relacionamento de aparências e procurarem fora do relacionamento a realização de suas
fantasias…acredito que uma pessoa será completamente feliz quando procurar um relacionamento
que lhe complete no todo… difícil, mas acho que mais difícil ainda é viver duas vidas…em uma
delas você vai encenar… A sociedade em que vivemos é hipócrita… todos têm suas fantasias, mas
para se encaixar no padrão “normal”, ninguém se assume e ainda critica e se escandaliza coma
opção do próximo. Acredito que cada um é dono da sua vida e não tem que dar satisfação para
ninguém do que gosta ou deixa de gostar dentro de quatro paredes, ou melhor, acho que devemos
ser livres para vivenciar nossas fantasias e outras coisas cotidianas também, é claro, respeitando o
limite e espaço do outro. Para mim o BDSM é uma forma de prazer, é um mundo vasto com muitas
ramificações e cada pessoa escolhe dentro dessas a que lhe dá prazer …eu escolhi a minha e não me

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incomoda o fato da sociedade não aceitar ou me achar uma aberração… eu me sinto mais normal
que todos, pois sou sincera comigo mesma, me assumo e me aceito assim e isso me faz feliz …”.

– M.H, dentista, crossdresser, submissa, 39 anos, casado: “Sou casada e minha esposa participa de
tudo e me domina há mais de um ano…Como você pode perceber sou uma crossdresser submissa e
como tal me porto. Sou uma sissy da minha esposa. Me visto sempre que posso feminina, tenho
todos os afazeres da casa e sou uma mulher para minha esposa. Sou totalmente passiva e ela é ativa
….freqüentemente apanho e sou humilhada, o que adoro…fui descobrir que o que eu sentia e fazia
estava em total sintonia com o universo BDSM, mais ou menos aos 18 anos. Mas sem saber que era
uma postura BDSM, desde que me conheço por gente …aos 6 ou 7 anos de idade…Adorava brincar
de casinha com meus primos e primas e sempre eu era a empregadinha, sempre trabalhando e
humilhada. Este era o papel que eu escolhia. Isto me dava prazer e no meu ponto de vista encaixa
no BDSM…Aos 10 anos gozei a primeira vez quando pus uma saia de uma tia…gozei sem ao
menos me tocar. Desde então sempre fui fora dos padrões, mas aos 16 anos notei que era
“diferente”. Seria eu gay? Mas como ser gay se não me interessava e nunca me interessei por
homens? Mas se não era gay, por que me fantasiava no papel feminino? …As pessoas infelizmente
vivem num padrão proposto hipócritamente por esta sociedade machista e repressora em que
vivemos.”

– ZZ, assistente de faturamento, podólatra submisso, 34 anos, casado: “O meu relacionamento com
minha esposa é o melhor possível em todos os sentidos. Ela sabe de minha atração por pezinhos,
tanto é que começou a trata-los bem melhor e de vez em quando, quando transamos, ela me dá umas
boas chineladas e eu gosto muito. Desde que não prejudique física ou emocionalmente ninguém e
ambos estejam de acordo, vale tudo na prática sexual entre um casal. Sobre como a sociedade vê e
julga os meus atos, isso para mim não tem a mínima relevância”.

-JP, advogado, sádico, 38 anos, casado: “Sinto-me um privilegiado por ter certos interesses sexuais
diferentes da maioria das pessoas e sempre conseguir realizá-los. O BDSM é muito complexo, pois
existem diferentes níveis de SM e me incluo em um intermediário…algumas práticas me soam
indigestas, como por exemplo a coprofagia, humilhação em público, perfurações, cortes ou
queimaduras, mas como diz o ditado, “ se feito com o consentimento de ambos o problema é
deles…”.

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Podemos sugerir que as pessoas que fizeram parte da amostra pesquisada, longe de representar a
totalidade de indivíduos com práticas sexuais não convencionais na sociedade brasileira, sentem-se
em sintonia com suas diversas preferências sexuais, as quais são experienciadas como prazeirosas ,
sentindo-se também privilegiadas por terem uma sexualidade “diferenciada ” daqueles que vêem no
sexo e nos papéis convencionais , a única forma de expressão para o amor, intimidade e para a
realização de suas fantasias sexuais. Não podemos afirmar pelos dados colhidos e relatados, que os
praticantes de BDSM e Fetichismo que participaram desse estudo, possam ser chamados de
“parafílicos”. Preferimos descreve-los como praticantes esclarecidos, bem informados, e
conscientes daquilo que consideramos como variações na expressão da complexa sexualidade
humana adulta.

É muito clara a importância do uso da Internet na formação de uma subcultura BDSM consensual
no Brasil, não só para a comunicação, obtenção de informações entre praticantes afins, mas também
como um mecanismo de inclusão social, reunindo milhares de pessoas que compartilham das
mesmas fantasias e práticas sexuais não convencionais. Esse estudo foi possível, justamente pela
facilidade de acesso, anonimato e a facilidade que a Internet proporciona para todos os seus
usuários. Cooper et al (2000, p 6), sustenta que a Internet oferece a oportunidade para a formação de
comunidades virtuais, onde indivíduos isolados e discriminados, como por exemplo, gays e
lésbicas, podem se comunicar entre si sobre assuntos sexuais que sejam de interesse dessa
comunidade.

Ao se darem conta do número de pessoas “iguais”, a sensação de isolamento e de ser “diferente”


diminui ou desaparece e um novo sentido de “pertinência” (“belonging”) e identidade surge para
aqueles que, anteriormente ao advento da Internet, sentiam-se “anormais” e “fora do padrão” por
não terem com quem compartilhar e dividir seus anseios e suas fantasias devido ao preconceito e
estigma em relação a tudo o que se desvia da “norma” ou “padrão”. Podemos sugerir que a Internet
pode servir como um “salva-vidas” virtual” , pois ao dar aos praticantes de BDSM, fetichismo e
outras minorias sexuais, a oportunidade de “sair do armário”, proporciona um ambiente onde não há
repressão, preconceito e onde tudo é possível no mundo da fantasia, dando também a oportunidade
para que essas fantasias saiam da “virtualidade” e possam ser concretizadas no mundo “real”.
Segundo Bader (2002, p 259), o porque de algumas pessoas “atuarem” ( “act out”) suas fantasias e
outras não, não encontra uma resposta fácil. Ainda segundo a perspectiva teórica deste autor, é mais

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fácil compreender porque uma pessoa desenvolve determinada fantasia ou prática sexual, mas
raramente pode-se afirmar o porquê ela “atuou” ou simplesmente a manteve a nível de fantasia.

O mundo tem passado por mudanças tecnológicas quase impossíveis de serem acompanhadas na
área da concepção da vida humana: o bebê de “proveta” e a inseminação artificial são práticas
corriqueiras antes impossíveis de serem imaginadas e concretizadas, como o é agora, a
possibilidade da clonagem de seres humanos em laboratórios. O novo assusta, provoca medos e
inseguranças e sentimentos de desproteção. Mas é inegável que mudanças nas mentalidades estão a
caminho nesse novo milênio. A tradição judaico-cristã que forma a base religiosa da sociedade
brasileira há séculos, mostra-se anacrônica perante os fatos mencionados e pelo o que ainda está por
vir. A tão propagada vida “naturalmente heterossexual” dos animais, que serviu como justificativa
para o encarceramento do desejo sexual e do prazer pela instituições religiosas, começa a cair por
terra com as últimas pesquisas científicas sobre a vida sexual dos animais, as quais demonstram que
as “práticas contra a natureza”, são parte também da sexualidade animal:
www.subversions.com/french/pages/science/animals.html.

Para onde vamos, já que os conceitos e normas psico-sociais, religiosas e culturais, que definiam a
noção de “normalidade” , não mais se aplicam à sociedade pluralista que se nos apresenta? A nossa
tradicional ética sexual seguida há centenas de anos, não mais se adequai às mudanças sócio-
culturais e aos novos desafios do Século XXI. Vivemos numa sociedade plural, onde começam a se
tornar visíveis as mais diversas expressões da sexualidade humana adulta, as quais querem ser
aceitas, reconhecidas e legitimizadas. Expressões sexuais que demonstram maturidade, respeito e
consciência entre aqueles que as praticam. Cabe salientar que, por se sentirem confortáveis e em
egossintonia com suas práticas sexuais, tenha sido este o motivo que tenha levado esses indivíduos
a participarem desse estudo A linha que separa as práticas consensuais BDSM e as práticas sexuais
ditas “perversas” “é muito tênue. Mas é importante que se saiba distinguir umas das outras.

E com base nesta distinção, o presente estudo demonstrou que, apesar de limitado no seu alcance, é
um direito humano legítimo ser “diferente” da maioria e consequentemente, ter essa “diferença”
respeitada e aceita pelos demais.

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REFERÊNCIAS
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www.subversions.com/french/pages/science/animals.html

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