Os novos estudos do corpo para repensar

metodologias de pesquisa
Christine Greiner
*
Resumo: Nunca se falou tanto em pesquisa no Brasil. Para alm dos muros das
universidades, a pesquisa tem aparecido frequentemente nas falas de artistas,
estudiosos da cultura e da comunicao. No entanto, Boaventura de Souza Santos
observou um paradoxo. Se nesta primeira dcada do novo milnio ! tanto para
pesquisar e criticar, por que se tornou to dif"cil produzir uma teoria cr"tica# $e
al%uma forma, essa inda%ao reverbera entre n&s no Brasil, no apenas entre
acadmicos e cr"ticos de arte, mas entre os pr&prios artistas, no sentido de
compreender melor a potncia transformadora daquilo que efmero por natureza.
Palavras-chave: 'rte. Pensamento cr"tico. (femeridade. Pol"tica.
New studies of the body to re-think research methodologies
Abstract:
No)ada*s it as been tal+ed a lot about researc in Brazil. Be*ond te
)alls of universities, researc as appeared frequentl* on te artists, speec, culture
and communication scolars. -o)ever, Boaventura de Souza Santos as observed
a paradox. .f tis first decade of te ne) millennium tere is so muc to researc and
critique )* as it become so difficult to produce a critical teor*# Someo), tis
question resonates amon% us in Brazil, not onl* amon% scolars and art critics, but
amon% te artists temselves in order to better understand te transformin% po)er of
)ic is epemeral in nature.
Keywords
/ 'rt. 0ritical tin+in%. (pemeralit*. Polic*.
Nuevos estudios de el cuerpo repensar las metodologas de
investigacin
Resumen: Nunca se abl& tanto de investi%aci&n en Brasil. 1!s all! de los muros
de las universidades, la investi%aci&n a aparecido con frecuencia en los labios de
los artistas, los estudiosos de la cultura * la comunicaci&n. Sin embar%o, Boaventura
de Souza Santos observ& una parado2a. Si esta primera dcada del nuevo milenio,
a* tanto para la investi%aci&n * la cr"tica que se a vuelto tan dif"cil producir una
teor"a cr"tica# $e al%una manera, esta pre%unta resuena con nosotros en Brasil, no
s&lo entre los estudiosos * cr"ticos de arte, sino tambin entre los propios artistas
*
0ristine 3reiner professora no $epartamento de 4in%ua%ens do 0orpo da Pontif"cia
5niversidade 0at&lica de So Paulo. (nsina no Pro%rama de (studos P&s63raduados em
0omunicao e Semi&tica e na %raduao em 0omunicao das 'rtes do 0orpo. 0oordena o
0entro de (studos 7rientais e diri%e a coleo Leituras do Corpo, da editora 'nnablume. 8
autora do livro corpo! pistas para estudos indisciplinares 9:;;<=, entre outros de arti%os
publicados no Brasil e no (xterior.
5niversidade de 0axias do Sul >
con el fin de comprender me2or el poder de transformaci&n de lo que es ef"mera por
naturaleza.
Palabras clave: 'rt. 4o ef"mero. (l pensamiento cr"tico. 4a pol"tica.
Introduo
O tempo da arte, o tempo da pesquisa e suas aes polticas
Nunca se falou tanto em pesquisa no Brasil. Para alm dos
muros das universidades, a pesquisa tem aparecido frequentemente
nas falas de artistas, estudiosos da cultura e da comunicao. No
entanto, em seu livro " crtica da ra#$o indolente! contra o
desperdcio da e%peri&ncia 9:;;;=, o professor da 5niversidade de
0oimbra, Boaventura de Souza Santos, observou um paradoxo. Se
nesta primeira dcada do novo milnio ! tanto para pesquisar e
criticar, por que se tornou to dif"cil produzir uma teoria cr"tica# $e
al%uma forma, essa inda%ao reverbera entre n&s no Brasil e, por
isso, vale a pena discuti6la.
?eoria cr"tica para Santos seria toda teoria que no reduz a
realidade ao que existe, mas cria um campo de possibilidades e
avalia a natureza e o @mbito das alternativas Aquilo que est!
empiricamente dado. (sse pode ser um ponto de partida para refletir
sobre a relao teoria e pr!tica e a natureza do que se confi%ura
como uma pesquisa que, a meu ver, deveria ser indissoci!vel de um
teor anal"tico e cr"tico nascido de uma inquietao e no de
pressupostos 2! estabilizados.
Nos anos B;, quando comearam a ser usados os termos ps-
modernidade e ps-moderno, tratava6se de um sentido bem6
localizado, ou se2a, voltado ao reconecimento da exausto de
paradi%mas cient"ficos apoiados em modelos de racionalidade, que
distin%uiam su2eito e ob2eto, natureza e cultura. ' concepo de
realidade dominada pelo mecanicismo determinista e de verdade,
como representao ob2etiva da realidade, 2! avia sido
questionadas anteriormente, mas ainda parecia insistir no @mbito do
senso comum e mesmo em outras inst@ncias da sociedade. 't
ento, parecia evidente a separao entre conecimento cient"fico e
todas as outras formas de conecimento.
2 DO CORPO: Cincias e Artes, Caxias do Sul, v. 1, n. 1, jul./dez. 2011
' partir de >CC;, a crise do capitalismo e do socialismo no 4este
europeu tornou o conceito de p&s6moderno mais amplo, com
repercussDes pol"tico6sociais para alm dos critrios de sequncia
temporal, que costumavam ter, na Se%unda 3uerra 1undial, a
referncia mais importante. $e fato, discutir p&s6modernidade s&
tina sentido nas sociedades em que a modernidade avia se
concretizado. 'final, a p&s6modernidade avia sido concebida como
uma cr"tica A razo moderna, mas, para culturas nas quais sequer
avia uma formulao clara e bem6demarcada temporalmente,
acerca da modernidade, essa nomeao confi%urava6se como uma
armadila, transformando a ideia de emancipao da sociedade em
uma nova opresso social. 7s valores modernos de liberdade,
i%ualdade e solidariedade continuam fundamentais at o2e, mas foi
preciso inventar uma emancipao social que contemplasse o que
Santos identifica como Euma epistemolo%ia do SulF, entendendo o sul
como uma met!fora para o sofrimento umano causado pelo
capitalismo, cu2a ur%ncia maior seria ir alm da teoria cr"tica
produzida pelo Norte e sua respectiva pr!xis social e pol"tica.
' perspectiva p&s6colonial, que sur%e mais recentemente, parte
da ideia de que a partir das mar%ens ou das periferias, as estruturas
de poder e de saber comeam a se tornar mais vis"veis. $a" o
interesse de autores como Santos 9:;;;= e outros 9B-'B-', :;;GH
1'I?.N6B'IB(I7, :;;GH '3'1B(N, :;;C=, em vislumbrarem uma nova
perspectiva de %eopol"tica do conecimento, capaz de questionar
quem produz o conecimento, em que contexto e para quem.
Para tanto, a estrat%ia seria propor uma pluralidade de pro2etos
coletivos articulados de modo no ier!rquico e a partir de
procedimentos de traduo, que devem necessariamente substituir a
noo de qualquer teoria %eral de transformao social. 7 problema
apostar nessa viso sistmica, estando dentro de modos de
or%anizao vinculados a dispositivos de poder 2! estabilizados,
como o caso, por exemplo, das instituiDes de ensino.
'o invs do fim da pol"tica, Santos 9:;;;= aposta na criao de
sub2etividades trans%ressivas pela promoo da passa%em da ao
conformista A ao rebelde. ' questo que me parece pertinente
neste momento como tornar a pesquisa uma possibilidade de
pensamentoJao rebelde, de modo a intervir na experincia de
5niversidade de 0axias do Sul G
desadequao das teorias que erdamos e que insistimos em
adaptar A realidade social que est! diante de n&s.
(star"amos condenados A contin%ncia de viver a nossa
experincia sempre no reverso da experincia dos outros# 7u
mimetizando a ima%em que os outros fazem de n&s, como
dia%nosticou Baba 9:;;G=#
7 brilante ensaio de 3ior%io '%amben, E7 que um
dispositivo#F, publicado ori%inalmente em :;;K e recm6traduzido
para o portu%us, retoma e amplia o conceito estudado por 1icel
Loucault, que reconece o dispositivo como fundamental para se
compreender toda e qualquer ao pol"tica, uma vez que poderia ser
relacionado a qualquer coisa que tena de al%um modo a capacidade
de Ecapturar, orientar, determinar, interceptar, modelar, controlar e
asse%urar os %estos, as condutas, as opiniDes e os discursos dos
seres viventesF. 9:;;C, p. M;=.
'ssim, os dispositivos no estariam apenas em prisDes,
manicNmios, escolas, f!bricas e confession!rios, mas poderiam ser
identificados na forma de caneta, a%ricultura, filosofia, ci%arro,
nave%ao, telefones celulares, computadores, lin%ua%em, dentre
outros. Para '%amben 9:;;K=, existiriam apenas duas classes/ os
seres viventes e os dispositivos. 7s su2eitos resultariam da relao
corpo a corpo entre um e outro e seriam o lu%ar dos mOltiplos
processos de sub2etivao. 8 importante notar que '%amben 9:;;K=
no fala em uma sub2etividade, mas em processos de sub2etivao e,
finalmente, em profanaDes que seriam as operaDes co%nitivas,
capazes de deslocar aquilo que est! no @mbito do sa%rado para o
uso comum.
Profanar os dispositivos seria, portanto, a forma de intervir nos
processos de sub2etivao. 'firma '%amben.
' ist&ria dos omens no nada mais que um incessante corpo6a6
corpo com os dispositivos que eles mesmos produziram e antes de
qualquer outro, a lin%ua%em PQR. 5ma sub2etividade produz6se onde
o ser vivo ao encontrar a lin%ua%em e pondo6se nela em 2o%o sem
reservas, exibe em um %esto a pr&pria irredutibilidade a ela. 9:;;K,
p. SG=.
4 DO CORPO: Cincias e Artes, Caxias do Sul, v. 1, n. 1, jul./dez. 2011
!ecis"es metodol#gicas
Redefinindo pontos de partida
' partir dessa viso complexa proposta por '%amben e Santos,
podemos inda%ar se a formulao te&rica est! sempre
inevitavelmente atrelada A lin%ua%em. -omi Baba dedica todo um
cap"tulo de seu livro local da cultura 9:;;G= para tratar
especificamente do que identifica como o Ecompromisso com a
teoriaF. (le explica que existe uma pressuposio inicial de que a
teoria se2a uma lin%ua%em da elite, daqueles que so privile%iados. 8
como se ouvesse al%o como uma Eteoria puraF, e que essa fosse
suspensa das exi%ncias de seus contextos espec"ficos. Por isso,
Baba cama a ateno para a proliferao de binarismos,
desdobrados a partir do binNmio cl!ssico da teoria6pr!tica como, por
exemplo/ teoria6pol"ticaH opressor6oprimidoH centro6periferiaH ima%em
ne%ativa6ima%em positiva.
Nesse contexto, o eu e o outro podem ser muitos. 7s que sabem
e os que no sabem, os que sabem na teoria, os que sabem na
pr!tica, os que sabem ! mais tempo, os que comearam a saber.
'ssim, seria um sinal de maturidade pol"tica aceitar que a2a muitas
formas de escrita pol"tica, cu2os diferentes efeitos so obscurecidos
quando se distin%ue entre o te&rico e o ativista, ou entre o fil&sofo, o
cientista e o artista. 1as esse reconecimento nem sempre
evidente. (ntre o panfleto utilizado por %revistas e o arti%o
especulativo sobre a teoria da ideolo%ia, a diferena est! nas
qualidades operacionais. 'mbos so formas de discurso e produzem
seus ob2etos de referncia.
No entanto, o panfleto tem um prop&sito explanat&rio, preso a
um acontecimento, e o arti%o volta6se mais aos princ"pios pol"ticos
estabelecidos em que se baseia o direito A %reve. 's teorias tambm
no parecem se manter dentro de seus passaportes. Baba afirma
que procura transitar pelas mar%ens deslizantes do deslocamento
cultural, que tornam confuso qualquer sentido profundo ou autntico
de cultura nacional ou de intelectual or%@nico, uma vez que o
ibridismo cultural e ist&rico do mundo p&s6colonial tomado como
ponto de partida. Na relao arte, filosofia e cincia ! tambm uma
tendncia %eneralizada para ierarquizar os conecimentos, como se
5niversidade de 0axias do Sul <
no ouvesse um compartilamento de saberes, mas uma disciplina
que validasse e 2ustificasse a outra.
1ais do que nunca, torna6se pertinente inda%ar que tensDes e
ambivalncias marcam o lu%ar eni%m!tico de onde fala a teoria. '
lin%ua%em da cr"tica parece tanto mais eficiente quando no mantm
separados os termos do senor e do escravo, do mercantilista e do
marxista, do cientista e do artista, mas A medida que ultrapassa as
bases da oposio dadas e abre espaos de traduo. 7 desafio
est!, portanto, no reconecimento de que se trata mais de uma
ne%ociao com o outro do que de uma ne%ao ou submisso.
?oda ist&ria, observa Baba, transferncia de sentidos.
?odo ob2etivo constru"do sob uma perspectiva que ele mesmo
rasura porque o ob2eto de estudo est! sempre em relao ao outro.
(le ser! sempre deslocado no ato cr"tico que en%endra. ENo !
comunidade ou massa de pessoas cu2a istoricidade emita os sinais
corretosFH por isso, todos os %estos de ne%ociao e de traduo
precisam ser sempre questionadores. ' questo formulada que vai
apontar o lu%ar das diferenas, como um dispositivo disciplinar ou um
processo de mediao. $a" a necessidade de se pensar na presena
de um terceiro espao como condio necess!ria para a articulao
da diferena cultural. 7 que Baba cama de entre-lugar evita a
pol"tica de polaridade.
8 poss"vel encontrar uma familiaridade entre o entre-lugar
discutido por Baba e o que 1artin6Barbero cama de media'$o.
Se o entre-lugar funciona como uma mediao entre culturas, a
media'$o tambm pode ser pensada no pr&prio @mbito do cotidiano.
Se%undo 1artin6Barbero, Epensar o acontecimento como pr!xis exi%e
ir alm das formas para entrever as mediaDes que reli%am a palavra
A ao e constituem as caves para o processo de liberaoF. 9:;;G,
p. :>=.
An$lise e discusso
3ostaria de propor, para aprofundar um pouco mais essas
noDes de mediao e processos de traduo entre teoria e pr!tica,
palavra e ao, que ser! preciso enfrentar outro tipo de binarismo
formulado antes de todos. ?rata6se do binarismo corpoJmente e que
est! absolutamente relacionado a um problema caracter"stico da
6 DO CORPO: Cincias e Artes, Caxias do Sul, v. 1, n. 1, jul./dez. 2011
existncia umana/ as pessoas querem que sua vida se2a
si%nificativa, e esta uma vontade e uma necessidade que permeia
toda e qualquer ao pol"tica.
7 fil&sofo 1ar+ Tonson 9:;;B= explica que esse dese2o de
si%nificar to forte que poss"vel que se arrisque a pr&pria vida
buscando dar um sentido As experincias, testemunar a nossa
existncia. ' questo que nos interessa neste momento que o
si%nificado sempre corporal. 7u se2a, discutir sua natureza
corp&rea pode ser uma forma de romper o binNmio corpoJmente que,
por sua vez, fundamenta as relaDes ier!rquicas entre teoria e
pr!tica.
7 fil&sofo pra%matista Ton $e)e* salientava que no averia
como refletir seriamente sobre o si%nificado da vida e o pensamento,
sem estudar a esttica. 'pesar disso, a esttica foi tratada por muitos
pensadores como al%o de menor import@ncia, sem qualquer relao
com a co%nio e a natureza da mente. Se%undo Tonson, as ideias
que levavam a esse tipo de concluso eram/
a= a mente desincorporadaH
b= o pensamento transcende o sentimentoH
c= os sentimentos no so parte do si%nificado e do
conecimentoH
d= a esttica concerne a assuntos de mero %osto sub2etivoH
e= a arte um luxo e no uma condio para o florescimento da
umanidade.
'o contr!rio disso, Tonson dir! que a arte 9e no apenas a
pol"tica= fundamental para acessar, criticar e transformar
si%nificados e valores, estabelecendo uma conexo visceral com o
mundo. 8 importante esclarecer que significado, para Tonson,
mais do que palavras e mais profundo do que conceitos, e o que
camamos de mente e de corpo no so duas inst@ncias separadas,
mas aspectos de um Onico processo or%@nico. Por isso, si%nificado,
pensamento e lin%ua%em emer%em das dimensDes estticas da
atividade corporal. $entre as dimensDes estticas mais importantes,
esto as qualidades, as ima%ens, os padrDes de processos sens&rio6
motores e as emoDes.
-! uma proliferao de dualidades que permeiam a dicotomia
corpoJmente. So elas/ co%nioJemoo, fatoJvalor,
conecimentoJima%inao, pensamentoJsentimento. So tambm
5niversidade de 0axias do Sul K
muitas as implicaDes filos&ficas a partir dessas constataDes, e a
primeira parece bastante &bvia/ no ! uma separao radical entre
mente e corpo. 's pessoas no so uma mente e um corpo. '
pessoa certo tipo de or%anismo incorporado.
No entanto, importante observar que o corpo no
enclausurado em si mesmo, est! sempre intera%indo com aspectos
do ambiente 9f"sico e cultural= em um processo de troca de
experincias. 7 que camamos, portanto, de corpo e mente, so
aspectos abstratos do fluxo or%anismoJambiente, uma vez que
or%anismo envolve corpo e mente inseparavelmente. Se ! qualquer
problema funcional nessa relao, perdemos a capacidade de
experimentar.
' noo de que o si%nificado est! enraizado na nossa
experincia corporal si%nifica reconecer que tanto a capacidade
ima%inativa como a conceitual so absolutamente dependentes dos
processos sens&rio6motores. 7 que camamos de razo no nem
uma coisa concreta nem abstrata, mas processos encarnados, a
partir dos quais nossas experincias so exploradas, criticadas e
transformadas em questDes.
' razo tambm no deve ser caracterizada como um fato ou
capacidade pr6dada. ' ima%inao est! de tal maneira atada aos
processos corporais, que se torna criadora e transformadora o tempo
todo de nossas experincias. ' emer%ncia dos novos si%nificados
no um mila%re, mas, novas possibilidades conectivas de padrDes
preexistentes, qualidades e sentimentos.
Se%undo Tonson, no se trata, portanto, de buscar os
si%nificados para o corpo, mas de entender como o corpo si%nifica.
Uida e movimento so sempre estritamente conectados. 7
movimento uma das condiDes para sentirmos como o mundo e
quem somos, sendo, portanto, um dos principais modos como
aprendemos a si%nificar.
No que se refere aos prim&rdios da cr"tica, arrisco su%erir que
tudo comea com uma inquietao corporal. ?anto Villiam Tames
como 0arles Sanders Peirce pontuaram que a experincia da
esitao de al%um est! sempre amparada por uma tenso
corporal, al%um tipo de restrio. 7 corpo no acompana a dOvida
ele a dOvida. 7 si%nificado da dOvida, precisamente a experincia
corporal que sente o bloqueio do fluxo da experincia em direo a
8 DO CORPO: Cincias e Artes, Caxias do Sul, v. 1, n. 1, jul./dez. 2011
novos pensamentos, sentimentos e experincias. 8 provavelmente
da" que emer%e o princ"pio da pesquisa e da experincia viva.
's formulaDes filos&ficas que embasaram e deram uma
descrio importante da experincia viva foram, como 2! bem6
sabido, a fenomenolo%ia europeia 9francesa e alem com 1erleau6
Pont*, principalmente, depois com -eide%%er e -usserl= e o
pra%matismo americano. Num se%undo momento, so as cincias
co%nitivas que vm nos a2udar a compreender isso a partir de
estudos da percepo, da empatia e da conscincia. No entanto, o
si%nificado ainda em %rande parte considerado um fenNmeno
lin%u"stico, uma questo de palavras e sentenas. Poucos
pesquisadores iniciam seus pro2etos com uma discusso sobre como
experimentamos e compreendemos a arte a no ser a partir da
analo%ia entre arte e lin%ua%em. (ntretanto, a esttica poderia ser
trazida para o centro do si%nificado do omem, uma vez que no
apenas uma teoria da arte, mas deve ser vista de maneira mais
ampla, como uma possibilidade de estudo de como o omem cria e
experimenta si%nificados. 7 processo de incorporar esses
si%nificados na arte so os mesmos que tornam o si%nificado
lin%u"stico poss"vel, mas no se sub2u%am a eles.
?ais propostas, que vm sendo formuladas por pesquisadores
de diferentes !reas do conecimento, a2udam a compreender
al%umas das principais questDes envolvidas nos processos de
pesquisa, como aqueles mencionados anteriormente/ os mOltiplos
tipos de binarismos e os problemas de traduo. 7 primeiro passo
poderia ser traar uma estrat%ia indisciplinar de estudos, em que as
fronteiras entre disciplinas 2! estabilizadas fossem repensadas em
funo de novos modos de or%anizao de pro2etosJprocessos como
sistemas, cu2o foco estivesse voltado para as mediaDes ao invs
das compartimentaDes abituais, impre%nadas, no raramente,
pelas re%ras da empre%abilidade e da arro%@ncia.
(ste ser! o nosso desafio futuro/ lidar com o que o fil&sofo
Tuliano Pessana aponta como necess!rio e intranspon"vel.
Sustentar a dor do mundo, passar do est!%io +af+iano para o est!%io
ativo da denOncia. ?entar deslocar o omem que ainda est! fixado
como sub2etividade e vontade. 4embr!6lo do arrebatamento. 8 isso o
camino de mi%rao, do voltar para casa. 9:;;C, p. BS=.
5niversidade de 0axias do Sul C
Re%er&ncias
'3'1B(N, 3ior%io. (rofana')es* ?rad. de Selvino T. 'ssmann. So Paulo/
Boitempo, :;;K.
WWWWWW. +ue , o contempor-neo e outros ensaios. 0apec&/ 5nicapec&, :;;C.
B-'B-', -omi. local da cultura. Belo -orizonte/ (d. da 5L13, :;;G.
3I(.N(I, 0ristine. corpo/ pistas para estudos indisciplinares. So Paulo/
'nnablume, :;;<.
T7-NS7N, 1ax. .he meaning of the body. 0ica%o/ ?e 5niversit* 0ica%o Press,
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4atinoamericana de Sociocultura * 0omunicaci&n. Bo%ot!/ Norma, :;;G.
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S'N?7S, Boaventura de Souza. " crtica da ra#$o indolente/ contra o desperd"cio
da experincia. So Paulo/ 0ortez, :;;;.
Iecebido em :; de novembro de :;>;.
'provado em :< de maio de :;>>.
10 DO CORPO: Cincias e Artes, Caxias do Sul, v. 1, n. 1, jul./dez. 2011
5niversidade de 0axias do Sul >>