Vicente Salles, Gama Malcher

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SALLES, Vicente.

Maestro Gama Malcher: a figura humana e artstica do compositor


paraense. Belm: UFPA/SECULT, 2005.

Nascido em Belm do Par a 2 de novembro de 1853. Filho e mdico Jos da Gama Malcher
e de Ana Cndida da Gama Malcher.
Sua me tocava piano. Interessou-se pela msica pela influncia da me, ainda pequeno.
No Rio de Janeiro continuo seus estudos em Piano.
Seu pai desejava form-lo em engenheiro. Com 17 anos foi mandado por seu pai para a
Amrica do Norte, para cursar engenharia na universidade de Le Haye, Pensilvnia. Viveu
seis anos nessa universidade sem definir sua carreira. (p.13)
Posteriormente seu pai concorda na satisfao da vocao de Malcher.
Em 1876, partiu para Gnova, preparando-se para ingressar no conservatrio de Milo.
Em Milo Gama Malcher tornou-se amigo de Carlos Gomes e frequentador assduo da Villa
Braslia (em Lecco, casa de Carlos Gomes).
Presenciou a consagrao de Maria Tudor, no Scala, na Itlia. (registro do prprio Carlos
Gomes em carta ao Visconde de Taunay, datada em 09/04/1879)
Com o enorme sucesso de Il Guarany, em 9 de agosto de 1880, fundou-se a Associao Lrica
Paraense, a qual tinha o objetivo de patrocinar a vinda de companhias lricas e a gerenciar
espetculos do gnero. (p.14)
2 GAMA MALCHER TRAZ CARLOS GOMES AO PAR
Marlcher permaneceu 6 anos em Milo. 1882 considerou-se apto a exercer a vida profissional
como msico.
Viu a possibilidade de trabalhar com Henrique Bernardi, maior divulgador da msica de
Gomes. Com essa oportunidade quis demonstrar a Carlos Gomes seu apreo e admirao
incluindo a pera Salvator Rosa (1874) de Carlos Gomes, no repertrio da companhia, e
convidou o compositor para assistir, no Par, a temporada em 1882.
As primeiras apresentaes da companhia lrica trazida pela Associao Lrica Paraense,
foram realizadas durante trs meses em Recife no teatro Santa Isabel. Em rcita de gala da
pera Salvator Rosa, foram libertadas duas crianas escravas.
Ver discurso de Tobias Barreto sobre o acontecimento
Aos 28 anos de idade, portanto, Gama Malcher tornou-se responsvel por esse grande
empreendimento: trouxe da Itlia a mais perfeita companhia lrica at ento contratada para
fazer a praa de Belm e desincumbiu-se satisfatoriamente da honrosa misso de trazer com
ela o mais talentoso msico brasileiro, Antnio Carlos Gomes. (p.16)
Abolio Carlos Gomes X Gama Malcher
Como Carlos Gomes, Gama Malcher tambm se envolveu na campanha abolicionista e
decidiu abordar o tema da luta do negro pela sua liberdade. Ligou-se s vertentes manicas
maus progressistas na propaganda da repblica. Em 1883 voltou a recidir em carter
permanente em Milo. Obteve do poeta Vincenzo Valle libreto extrado do Bug-Jargal, de
Victor Hugo, e iniciou a composio de sua primeira pera, que concluiu em 1885. (p. 25)
confirmar a data com os estudos de Pscoa.
Na mesma poca Carlos Gomes tambm estava com um argumento escrito por Alfredo de
Taunay, que narrava uma rebelio de escravos, porm, o poeta italiano Rodolfo Paravinici,
mudou tal argumento para a revolta indgina, para acompanhar o sucesso dO Guarani.
Intrigas entre Gama Malcher e Carlos Gomes.
Fatos semelhantes, como a residncia em Milo e temticas opersticas parecidas agravavam
as intrigas que permeavam os nomes de Gama Malcher e outros msicos brasileiros que
viviam em Milo contra Carlos Gomes. Conforme queixas apresentadas em cartas de Taunay,
tais msicos acusavam Gomes de ambicioso e que procurava impedir o sucesso dos outros
brasileiros na Itlia.
Gomes referia-se a eles como invejosos.
Gomes atribuiu a intriga entre ele e Malcher coincidncia do argumento e do ttulo da pera
em que ambos, na ocasio, estavam escrevendo. Lo schiavo. Gama Malcher, mais cordato,
usou do ttulo original do romance de Victor Ugo, Bug-Jargal. (p.25)
Em1884 admiradores de Carlos Gomes pediram-lhe a composio de uma pea para
comemorar a libertao de todos os escravos na provncia e ele produziu a marcha popular Ao
Cear livre.
Carlos Gomes trabalhou o argumento do Visconde de Taunay. Afirmou ele que o ttulo (Lo
Schiavo) foi por ns ambos inventado no Hotel de Frana, no Rio de Janeiro, em 8 de
novembro de 1880. Mas seu escravo, na concepo de Taunay, na Itlia, na concepo do
libretista Rodolfo Paravicini, se transformou no ndio Iber. E ao lado dos europeus,
personagens da trama, s entram guerreiros indginas. (p.26 e 27)
J o libreto da pera de Gama Malcher, elaborado por Vincenzo Valle, baseia-se no
conhecido romance Bug-Jargal, de Victor Ugo, ao na ilha de So Domingos e conta a
histria do heri negro apaixonado pela senhora branca, pela qual morre depois de chefiar
uma revolta de escravos negros.
Concluda desde 1885, Gama Malcher tentou obter patrocnio para a apresentao num teatro
italiano, mas no conseguiu. Tentou inclusive motivar o mecenas Pedro II [...] oferecendo-lhe
um concerto no salo de inverno do Grande Hotel de Milo, onde o monarca se hospedara.
Em 8 de maio de 1888, fora realizada a homenagem a Pedro II, organizada por Gama
Malcher, oportunidade de se redimir e se reaproximar de Carlos Gomes. Nessa ocasio, foram
apresentadas partes das peras de Gama Malcher Bug-Jargal e de Carlos Gomes Lo schiavo.

Em 1888, sai uma matria na revista Il teatro Illustrato, de Milo, publicado por W. Esta d
destaque, dentre outros dois nomes brasileiros, ao msico Gama Malcher, que dedicara um
lbum de composies imperatriz do Brasil mais uma insinuao para obter a graa
imperial para o seu Bug-Jargal? (p.32)
[...] Permaneceu em Milo, com recursos prprios, e ali concluiu a construo da pera Bug-
Jargal. (p.46)
Proclamada a Repblica, prestigiado no novo regime, reativou a Associao Lrica Paraense e
obteve em maro de 1890, do governo de Justo Leite Chermont, a subveno de 30:000$000
para contratar nova empresa e realizar a temporada mais ruidosa desde os tempos da
monarquia, a cargo da Companhia Lrica Franco-Italiana, que depois excursionou pelo Brasil
com o nome de Empresa Gonalves Leal & C. (p. 46)
A temporada lrica de 1890, com pera italianas, era a primeira do regime republicano. Trazia
de volta Gama Malcher e reinaugurava o Teatro da Paz [...] (p.47)
Havia grandes novidades, algumas muito gratas, como a estreia, finalmente, da pera Bug-
Jargal, do maestro paraense Gama Malcher; [...] (p.47)
Gama Malcher teve ento a oportunidade de ensaiar e dirigir a sua discutida pera Bug-
Jargal, motivo do rompimento com Carlos Gomes.
Trata-se de melodrama ele assim o classificou ambicioso. Segundo a crtica, cheio de
altos e baixos. Possui, entretanto, pginas inspiradas, como a cano e dueto final do 1 ato, a
ria de Irma no 2, a ria de Bug-Jargal no 3.
Deu-se a estreia no Teatro da Paz na noite de 17 de setembro de 1890. (p.51)
Na p. 52 h o nome dos cantores da pera Bug-J argal.
Gama malcher imitou de certa forma o esquema de Il Guarany, de Carlos Gomes, o da pera-
ballo, introduzindo no quarto ato uma cena de danas tpicas. Mas vejam s: no se trata de
danas do Caribe, embora faa meno da chiba; trata-se de autntico carimbo! No palco,
surgiram figurantes portando tambores de carimb e gamb, instrumentos tpicos do Par.
verdade que tudo feito conforme o padro europeu. (p.52)

11 Gama Malcher leva pera do Par a So Paulo e Rio de Janeiro
Embalado pelo sucesso, Gama Malcher firmou contrato com o empresrio Lcio Gonalves,
um dos scios da Casa Apollo (msicas e pianos) de So Paulo, propondo-se a viajar pelo pas
e a estacionar na capital paulista e no Rio de Janeiro.
Sobre a pera Bug-J argal
Os crticos, de modo geral, afirmaram que a msica deixava transparecer influncias de
Wagner, Verdi e Massenet. Portanto, estranha mistura de escolas e tendncias, com o
condimento ainda mais curioso de melodias de danas folclricas da Amaznia. (p.53)
O libreto de Vicenzo Valle no pode ser considerado capolavoro. palavroso, descuidado,
oferesendo ao compositor situaes dramticas inverossmeis e artificiais. Parte da crtica
atribuda a Gama Malcher deve ser creditada, portanto, ao libretista. Auando o acusam, por
exemplo, de ter sobrecarregado demais o papel de Bug-Jargal, nenhuma culpa certamente
cabe ao compositor. Ele teria que alter-lo aqui e ali para obter efeitos musicais imaginados.
(p.54)

So Paulo Aplaude Gama Malcher
A estreia do Bug-Jargal aconteceu para os paulistanos na noite de 30/12/1890, no Teatro So
Jos, pelo mesmo elenco que realizou a estreia no Teatro da Paz, provocando opinies
contraditrias, algumas benvolas, outras bastante severas. (p. 57 e 58)
O Correio Paulistano tambm fez uma minuciosa anlise da pera.
Homenageado pela A plateia n 133, publicou um retrato de G.M na primeira pgina,
desenhado por Arajo Guerra, seguido do comentrio:
A Platia presta homenagem ao distinto autor do Bug-Jargal, publicando
seu retrato.
Gama Malcher se ainda no inundou o mundo com a forma de suas
composies musicais e com seu nome, pelo menos j bem conhecido
como maestro de esfera superior.
Prova isso a ltima pera que ele acaba de dar publicidade O Bug-Jargal.
Conquanto haja alguns senes nessa partitura, ainda assim tem ela os trs
primeiros atos que so realmente primorosos pela originalidade da msica,
naturalmente adaptada ao meio em que gira a ao da pera.
um trabalho j modelado nos modernos preseitos da escola musical e que
necessariamente h de, no correr das representaes, ser uma partitura de
estmulo nacional.
Do mais, a companhia lrica deu-nos esta semana Ruy Blas, com regular
desempenho, e Bug-Jargal em benefcio de seu autor.
Foi talvez a noite de mais felicidade para os artistas, cantando o Bug-Jargal
com muitos aplausos.
A festa artstica de Gama Malcher foi brilhantssima.
Teve o ilustre maestro muitas felicitaes, e as merece pelos documentos
que nos mostra com seu talento de professor.
Felicitando-o, envio aos artistas de sua companhia um bravo pelo brilahnte
desempenho que souberam das ltima representao do Bug-Jargal.
(P.58-59)

Ver os estudos de Joo Bosco Assis de Luca
Ver o correio Paulistano de 1890 e A Platia n 133 de 1890.

13 Transtornos de Gama Malcher no Rio de Janeiro
Aproximando-se de fevereiro de 1891, o dia da promulgao da Constituio Federal,
a Casa Apollo quis aproveitar a ocasio e a festa que se realizaria no Rio de Janeiro,
contratando por intermdio do escritor e empresrio Mcio Teixeira a explorao do antigo
teatro D. Pedro II, propriedade do comendador Bartolomeu, agora na Repblica denomiado
Teatro Lrico.
A data, 3 de maro, era expressiva e foi anunciada a presena do presidente e
proclamador da repblica, marechal Deodoro da Fonseca, ao espetculo de gala que se daria
com a pera de Gama Malcher, regncia do autor. (p.61)

A crtica carioca no verificou a importncia do trabalho de Malcher em levar para os
palcos 3 peras de compositores brasileiros: Bug-Jargal(Gama Malcher), Carmosina (Joo
Gomes de Arajo) Moema (Francisco de Assis Pacheco).

Tudo parecia correr bem no Rio de Janeiro, quando o proprietrio do Teatro Lrico,
comendador Bartolomeu, mandou sequestrar, por falta de pagamento do teatro, todo o
patrimnio da companhia, at mesmo a mala em que o autor do Bug-Jargal tinha guardado a
partitura [...]. (p.63)
A perda incluiu a prpria partitura da pera. No decurso dos prximos 30 anos, tudo
far para recuper-la ou saber do seu paradeiro, at mesmo pelo intermdio dos nossos
representantes polticos, sem nada conseguir. (p.67)
(NOTA DO AUTOR: Assim ficou o compositor paraense sem a partitura de sua Bug-Jargal,
da qual, para serem ouvidos alguns trechos na sua festa de despedida, em 1920, teve de recapitular
tudo de memria. Ento guardava ele os manuscritos de Yara, representada em 1895, e duas pera
inditas, Idlio e Seminarista. Hoje as duas ltimas esto extraviadas, enquanto o primeiro trabalho
cnico que julgou perdido est salvo graas ao arresto do comendador Bartolomeu -, encontrando-se
a partitura na musicoteca da Escola de Msica da Universidade Federal do Rio de Janeiro, sob o
n3270. Yara encontra-se bem preservada na Fundao Carlos Gomes em Belm do Par.)

Nas rcitas de apresentao de Bug-Jargal, Gama Malcher fez distribuir folheto
impresso na tipografia de O Democrata, Par, 16p. contendo descrio pormenorizada do
texto. (p.67-68)


IMPRENSA
Texto publicado em A provncia do Par, Belm, nas edies domingueiras de 17/09/1895,
24/09/1985, 01/10/1985 e 08/10/1985. (Vicente Salles)
Carlos Gomes trabalhou argumento de Alfredo de Taunay, afirmando que o ttulo foi ppor
ns ambos (ele e Taunay) inventado no Hotel de Frana, no Rio de Janeiro, em 8 de
novembro de 1880. Mas seu escravo que era negro, na concepo de Taunay, na Itlia, na
concepo do libretista Rodolfo Paravicini, se transformou no ndio Iber. E ao lado dos
europeus na trama, s entram guerreiros indgenas. J o libreto de Gama Malcher, elaborado
pelo poeta Vincenzo Valle, baseia-se no conhecido romance de Bug-Jargal, de Victor Hugo,
cuja ao se passa na ilha de So Domingos [...]. Era, pois, uma pera engajada no
movimento da abolio da escravatura negra. Alis esse tambm teria sido o pensamento do
Visconde de Taunay, abusivamente modificado na Europa, o que o deixou desapontado.
(p.176)

Os crticos [da pera Bug-Jargal], de modo geral, afirmaram que a msicadeixava
transparecer influncias de Wagner, Verdi e Massenet. Portanto, estranha mistura de escolas e
tendncias, com o condimento ainda mais curioso de melodias de danas folclricas da
Amaznia. (p.179)

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