UNIVERSIDADE FEDERAL DE UBERLNDIA

FACULDADE DE DIREITO PROF. JACY DE ASSIS

EPISTEMOLOGIA E METODOLOGIA JURDICA
RESUMO: A CINCIA DO DIREITO
TERCIO SAMPAIO FERRAZ JR.




ISABELLA OLIVEIRA MOURA
Turma 67 2 perodo












Uberlndia, MG
Maio, 2014
RESUMO: A CINCIA DO DIREITO
TERCIO SAMPAIO FERRAZ JR.


Ao longo da obra Tercio Sampaio faz uma srie de classificaes acerca do que a
Cincia do Direito. O autor a examina como teoria da norma, teoria da interpretao e como
teoria da deciso. Alm disso, o livro constitudo de seis captulos, onde o autor expe tanto
esse campo terico quanto o panorama histrico da Cincia do Direito.
A primeira preocupao do autor no texto a conceituao e a problematizao da
Cincia do Direito. O que essa cincia? Qual o carter cientfico do direito? Existe mesmo
um carter cientfico? Como ordenar os problemas dessa cientificidade? Desse modo, a
inteno principal dessa obra no resolver completamente essas dvidas, mas sim, indagar
sobre o conhecimento de quem aplica o direito e apontar caminhos para sua aplicao.
A Cincia do Direito conhece e/ou estabelece normas para o comportamento, afirma o
autor inicialmente; e seu carter cientfico se d na sistematicidade dos conhecimentos, isto ,
ideias que foram metodicamente obtidas e comprovadas. Essa sistematicidade , portanto,
caraterstica fundamental para a cientificidade.
Nesse sentido, a Cincia do Direito teria a funo de interpretar textos tendo em vista
uma finalidade prtica. E esta finalidade se daria a partir de tarefas interpretativas. Ou seja, a
Cincia do Direito no possuiria apenas o carter compreensivo de um texto, mas tambm
determinaria a fora e o alcance dos problemas, colocando assim, o texto em presena com os
problemas atuais.
Conforme essas orientaes, Tercio procura analisar e exprimir: a) o sentido de cincia
da Cincia do Direito; b) a particularidade de seu objeto; c) a especificidade de seu mtodo; e
d) a distino entre Cincia do Direito e outras cincias. Para isso, o autor faz inicialmente um
panorama histrico da Cincia do Direito desde a Jurisprudncia Romana, passando pelos
Glosadores, pelos Jusnaturalistas da Era Moderna, pela Escola Histrica e pelo Positivismo,
at o sculo XX.
De acordo com a Jurisprudncia Romana, a cincia jurdica nos coloca diante de um
problema de cientificidade do direito. Segundo essa perspectiva, a cincia jurdica possui a
problemtica da chamada cincia prtica, que faz referncia ao saber que no apenas
contempla, mas tambm age. Desse modo, torna o direito motivo para diversas tentativas de
reformas.
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TERCIO SAMPAIO FERRAZ JR.


Os Glosadores, em sua poca, acreditavam que a cincia jurdica se assumia como
uma cincia dogmtica do direito, denominada por eles de dogmtica jurdica, uma cincia
onde se sobressaa como processo de conhecimento, a interpretao de propsitos. Esse
pensamento por muito tempo dominou a Cincia do Direito sem que houvesse nenhuma
oposio, at quando irrompeu a primeira crtica ao ponto de vista, vinda dos Jusnaturalistas
da Era Moderna.
Estes alegavam, sobretudo, que a Cincia do Direito que foi classificada pelos
Glosadores no possua uma sistematicidade. Esse conceito de sistema permitia, segundo eles,
que o direito que at ento era posto como uma estrutura fechada recebesse um carter lgico.
Desse modo, o direito passava a possuir um carter metodolgico, ordenado.
Aps a perspectiva Jusnaturalista Moderna, surge tambm o ponto de vista da Escola
Histrica. Esta teve grande importncia pelo fato de expor sobre o carter cientfico da
Cincia do Direito. Isto , estabeleceu uma relao entre as suas pesquisas histricas e a
Cincia do Direito, uma juno entre Direito e Histria. Porm, a cincia jurdica da Escola,
revelou-se distorcida e se reduziu a conjuntos de proposies, abrindo portas ao chamado
pandectismo.
Essa ditadura metodolgica, segundo Sampaio, tomou em seu progresso uma
natureza positivista. O Positivismo jurdico no era apenas uma pesquisa e tendncia
cientfica, mas tambm possua uma ligao preciso de segurana da burguesia. Dessa
maneira, a sistematizao e a teorizao da experincia jurdica desencadeariam na
autolimitao da Cincia do Direito, estabelecendo assim, uma lei positiva que fundaria a
chamada estatalidade do direito.
No sculo XX, de acordo com o autor, as preocupaes metodolgicas s se
acentuaram. A cincia jurdica ao produzir uma ordenao sistemtica, passou a trabalhar com
conceitos variados e isto fez com que Hans Kelsen propusesse uma teoria acerca dessa
multiplicidade: a Teoria Pura do Direito. Esta possuiria ento, um aspecto reduzido a normas
e relaes entre normas.
Contudo, Tercio conclui que ainda assim, esta anlise no possui uma viso ordenada
do que se poderia denominar de Cincia do Direito. E por isso, continua seu estudo traando
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TERCIO SAMPAIO FERRAZ JR.


um caminho acerca do direito positivo e sua positivao, alm tambm da questo da
decidibilidade e dos modelos da Cincia do Direito.
Acerca do direito positivo, o autor esclarece que por ser um direito que admite ser
mudado por decises, acaba vinculando certa insegurana; porm essa positivao tambm
pode significar uma condio importante j que se adequa melhor a nossa realidade de
constante mutao. Sampaio conclui, portanto, que essa positivao o cenrio onde se move
a Cincia do Direito moderna. Essa que faz com o que o direito positivo no seja nico
objeto na cincia jurdica, condicionando tambm as suas determinaes e seus mtodos.
Ao abarcar a questo da decidibilidade, Tercio designa a Cincia do Direito como
sendo tecnolgica, ou seja, alm de possuir problemas de relevncia terica, tambm possuiria
problemas de relevncia prtica. Isto , a Cincia do Direito caracterizar-se-ia, pelas suas
condies prprias de tomada de decises, transformando o problema central do pensamento
jurdico na decidibilidade de conflitos (legislativos, administrativos, judiciais, etc).
De acordo com Sampaio, existem trs modelos da Cincia do Direito. O primeiro
deles o analtico, que em suma, encara a decidibilidade como relaes hipotticas, buscando
assim uma sistematizao de regras para obter resultados possveis (carter formalista). O
segundo modelo pode ser chamado de hermenutico e assume de maneira interpretativa, um
carter compreensivo do comportamento humano. O terceiro modelo o emprico, este encara
o ser humano como dotado de funes e, portanto, se identificaria como sendo um sistema
explicativo do comportamento humano, no entanto, guiado por normas.
A partir destes trs modelos, Tercio Sampaio expe diferentes modos de como a
Cincia do Direito pode ser encarada enquanto pensamento tecnolgico. Para isso, ele se vale
de trs modelos tericos: a teoria da norma, a teoria da interpretao e a teoria da deciso
jurdica.
O primeiro modelo (teoria da norma) vincula-se a uma tica sistematizadora e
classificatria de normas e conceitos. Conforme se guiam pelas aes humanas, as normas
constituem imperativos concretos ou abstratos. A norma para Sampaio uma relao entre
vontades, sendo assim, imperativos (positivo/negativo obrigaes/proibies).
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TERCIO SAMPAIO FERRAZ JR.


Dessa forma, o autor atinge o modelo analtico da Cincia Jurdica, que faz meno ao
comportamento humano de poder cumprir ou descumprir as normas jurdicas. A principal
preocupao desse modelo separar as normas jurdicas das outras normas em geral, como
por exemplo, as religiosas, as morais, etc.
Tercio tambm explana sobre a questo da validade da norma, que de acordo com ele,
no sentido constitucional denominada de vigncia, e no sentido ftico, nomeada de
eficcia. As duas, no entanto, possuem significados diferentes. A norma vigente quando
depois de certo perodo de tempo comea a ser aplicada, enquanto que a norma eficaz
aquela que respeita os requisitos estabelecidos pela lei durante sua aplicao.
Nesse sentido, percebe-se que o agrupamento de normas e regras diferentes d origem
a um ordenamento jurdico como uma unidade, como um conjunto.
J o segundo modelo (teoria da interpretao) preocupa-se menos com a organizao e
muito mais com o sentido das normas, tendo em vista a elaborao de regras e princpios
interpretativos. Essa interpretao significa, portanto, a insero da norma na totalidade do
sistema. Inicialmente, Sampaio ressalta como recente a perspectiva de Cincia do Direito
como uma cincia hermenutica e cita as principais tcnicas de interpretao. Dentre estas,
encontra-se a interpretao gramatical, a sistemtica, a histrica e a lgica.
Na interpretao gramatical temos uma busca pelo sentido da lei no prprio
vocabulrio; na sistemtica busca-se um sentido global, uma unio de normas como uma
nica unidade; na histrica tenta-se atingir, segundo o autor, seu sentido gentico, ou seja,
desde a formao da lei at sua promulgao e seu papel a ser cumprido na sociedade; e por
fim, na interpretao lgica se visa o aspecto proposicional, isto , o que foi proposto pela
norma, o seu sentido e alcance.
Esses mtodos interpretativos visam uma finalidade prtica, e por isso, na concepo
de Tercio, no basta ao jurista apenas conhecer a norma, mas tambm ter em vista suas
condies de aplicabilidade. Dessa forma, com essa multiplicidade de tcnicas interpretativas,
a hermenutica jurdica visa criar condies e meios para resolver conflitos sociais com o
mnimo de perturbao na sociedade.
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TERCIO SAMPAIO FERRAZ JR.


O autor tambm cita o problema da integrao do direito, que de acordo com ele, se d
pela distino da prtica legislativa, executiva e judiciria. Nesse sentido, percebe-se que h
desconfiana quanto legitimidade do intrprete da norma; pois pode haver tanto a
possibilidade de este compreender alm do previsto, configurando novos atos normativos,
quanto de no prever corretamente o contexto da norma, realizando assim uma interpretao
insatisfatria.
Dessa maneira, Tercio evidencia que o problema de integrao das normas nos leva a
um novo modelo da cincia jurdica. A decidibilidade, nesse momento, passa a ser analisada
pelo autor segundo a teoria da deciso jurdica. Esse terceiro modelo (teoria da deciso) se
constitui em uma teoria baseada na tecnologia do controle de comportamento mediante os
atos normativos.
Logo, o autor faz uma reflexo acerca do que seria uma deciso judicial, chegando
concluso de que esta no um mero ato de escolha, e sim um ato que visa tornar grandes e
pequenas incompatibilidades indecidveis em algo decdivel, possvel. Portanto, compreende-
se que uma deciso jurdica advm de conflitos jurdicos.
Para Sampaio, a possibilidade de uma teoria jurdica do direito enquanto um sistema
de controle de comportamento nos impe a uma reinterpretao de noo de sistema jurdico,
isto , deixa-se de lado o sistema jurdico como um simples conjunto de normas e instituies
e passa a consider-lo como um fenmeno de partes em comunicao.
O desenvolvimento da cincia jurdica como sistema de controle do comportamento ,
portanto, uma concepo ampliada do problema de deciso, pois visa no direito certos
momentos de domnio, caracterizados pela possibilidade de decises capazes de promover,
autorizar, proibir certas reaes. Nessa perspectiva, o panorama inicial no necessariamente
a norma ou o ordenamento, mas sim, os conflitos sociais referidos a estas normas.
Assim, Tercio Sampaio, complementa que a mera tcnica jurdica que corresponde
atividade jurisdicional no sentido amplo o trabalho dos advogados, juzes, promotores, etc
um dado importante, mas no a prpria cincia. Esta se d como uma atividade que tem
em vista o problema da decidibilidade, e no de uma deciso concreta. Essa decidibilidade, de
acordo com Tercio, um problema e no uma soluo, uma questo aberta e no um critrio
fechado.