Ava 2 Ciência Política e Teoria Do Estado
Ava 2 Ciência Política e Teoria Do Estado
Ava 2 Ciência Política e Teoria Do Estado
ESTADO E SOBERANIA
Caio Benevides Pedra
Iniciar
OLÁ!
Esta nova unidade busca apresentar alguns dos grandes pensadores da Ciência
Política e do Estado. O material é uma referência do conteúdo básico da
disciplina, então é essencial a leitura de outras fontes de pesquisa. A leitura
deve ser realizada pensando o contexto histórico e as transformações
sociais.
Traremos elementos teóricos e práticos do surgimento do Estado e da sua
relação com o poder. Nos tópicos sobre a separação de poderes, os regimes
políticos e as formas de Estado, trazemos a possibilidade de comparar o
conteúdo com as informações e notícias atuais. Sugerimos, inclusive, que o
leitor pense o mundo atual a partir dos conceitos debatidos.
Bons estudos!
Assista aí
Pág. 1
fundamento religioso operava na ordem de uma ideologia que compunha o
paradigma destes tempos, principalmente na Idade Média.
Por esse contexto, os teólogos assumiram um papel de destaque na teoria
filosófica, política e social. Estes, por sua vez, escreveram que todo poder vem de
Deus (omnis potestas a Deo).
Teólogos como Belarmino e Santo Tomás de Aquino fundamentaram a soberania
no poder divino, mas ressaltavam que este poder passava pelo povo. Para Santo
Tomás de Aquino, o modo como a soberania se externaliza e é usada são formas
de manifestação do Homem, mas é Deus quem confere o poder soberano. Assim,
para o autor, quando os homens ultrapassam os limites e os princípios divinos,
eles são injustos, o que nos permite dizer que, apesar de haver alguém que
exerce o poder soberano, quem traz as regras e a legitimidade é um poder divino,
de tal forma que há um parâmetro para analisar se o poder tem sido exercido
conforme a vontade e as leis divinas. A síntese do pensamento de Santo Tomás
de Aquino é expressada como: Omnis potestas a Deo per populum – Todo poder
vem de Deus pelo povo.
Para compreender este ponto, é importante saber que, dentre os diversos teóricos
que explicavam a Soberania como um poder advindo de Deus, cada um possuía
sua análise, tendo complexidades e nuances diferentes que não cabem a este
estudo aprofundar. Destacamos, inclusive, que Azambuja menciona autores que,
ao trazerem o elemento do povo para a questão da soberania, já o fizeram em
razão das aspirações democráticas.
―A teoria do direito divino providencial, cujos mais ilustres intérpretes modernamente
foram De Maistre e Bonald, ensinava que Deus não intervém diretamente para indicar a
pessoa que deve exercer o poder, mas indiretamente, pela direção providencial dos
acontecimentos humanos. É, pois, uma doutrina semelhante à de Santo Tomás.‖
(AZAMBUJA, 2008, p. 77).
Pág. 3
finalidade do Estado e do direito natural, as leis de sucessão ao trono, os tratados
que o Soberano pactuasse (em razão do princípio pacta sunt servanda) e o
consentimento dos estamentos.
A importância da teoria de Bodin, principalmente para superação do feudalismo, é
indiscutível. No entanto, por outro lado, o fortalecimento do âmbito internacional e
dos tratados é justamente um dos elementos que possibilitou que os Estados
exercessem sua soberania com mais estabilidade política, como será visto a partir
da Paz de Westphalia e a teorização do Estado moderno.
Assim, antes de o ser humano viver em uma sociedade com regras, estruturada
em algum arranjo racional, ele teria vivido na natureza, de forma primitiva e
apenas em busca da sobrevivência.
Deste modelo de supor como ocorreu a evolução da humanidade é que foram
criadas as teorias contratualistas, que foi descrita por alguns autores. A partir de
agora, vamos entender um pouco melhor quem são eles e quais suas principais
características.
Pág. 4
O Estado seria, portanto, uma abdicação da liberdade total do ser humano, por
isso um mal, um monstro, o Leviatã.
Utilizando-se da imagem bíblica do monstro marinho Leviatã, descreve [Hobbes] o
Estado, significativamente, como o ente que assimila organicamente todos os integrantes
da sociedade política: ―uma pessoa de cujos atos uma grande multidão, mediante pactos
recíprocos uns com os outros, foi instituída por cada um como autora, de modo a ela
poder usar a força e os recursos todos da maneira que entender conveniente, para
assegurar a paz. (RANIERI, 2019, p. 258).
Pág. 5
governar a sociedade seria pela democracia, só sendo admitido um monarca caso
haja um legislativo.
Destacamos, inclusive, que apesar da notoriedade de Montesquieu e sua teoria
sobre os três poderes e os respectivos órgãos, John Locke em sua defesa pela
democracia já distinguia os poderes, com destaque para a função do legislativo.
Assim, o homem abre mão de parte da sua liberdade por meio de um contrato
social, que terá um poder político que é a vontade geral. Sobra a cada indivíduo
uma parcela da soberania, e por isso a necessidade de uma maioria para a
manutenção do Estado.
As leis trazem, portanto, a vontade geral e o conteúdo das normas deste
contrato social que funda e mantém o Estado. Mario Lúcio Quintão Soares
(2011) destaca que o homem abre mão da sua liberdade natural e, em
contrapartida, recebe a liberdade civil.
Outro importante ponto para a compreensão do Estado segundo Rousseau é
compreender que só há a soberania popular quando os governados e os
governantes possuem convergência e uma consequente ação estatal que respeite
a vontade do povo: a democracia (SOARES, 2011).
Pág. 6
Clique para abrir a imagem no tamanho original
Fonte: Lisa-S, Shutterstock, 2020
Pág. 7
“O Legislativo:
como vontade geral do Estado, deve ser confiado aos representantes do povo e a uma
assembleia de nobres, retratando o pluralismo político do parlamento. Este, como órgão
representativo da comunidade política, deve ser dotado de competência para criar leis
por um tempo ou para sempre, e corrigir ou anular aquelas que foram feiras, e, ainda,
servir de obstáculo às eventuais arbitrariedades perpetradas pelo monarca‖ (SOARES,
2011, p. 66-67);
“O Federativo:
como poder executivo das coisas atreladas ao direito das gentes, deve ser conferido ao
príncipe ou magistrado, encarregado de fazer a paz ou a guerra, exercer o direito de
legação, instaurar a segurança e prevenir invasões estrangeiras‖ (SOARES, 2011, p. 66-
67);
“O Executivo:
como executivo da vontade geral do Estado ou daquelas coisas que dependem do
governo civil, deve ser outorgado a um monarca inviolável, rodeado de ministros
responsáveis, incumbidos da execução das leis. O poder de julgar os crimes e decidir
sobre querelas entre os particulares deve ser exercido por pessoas tiradas do meio do
povo, em certos momentos do ano, de maneira prescrita na lei, para formar um tribunal
que só dure o tempo necessário que a necessidade requer‖. (SOARES, 2011, p. 66-67).
Nina Ranieri (2019), aponta que no estudo das leis dos governos e na tentativa de
garantir a liberdade de se fazer aquilo que a lei permite, essa separação de
poderes proposta por Montesquieu visa limitar e moderar o poder do Estado.
Dessa forma, se cada um dos poderes for independente, com a possibilidade de
frear os abusos do outro, teríamos uma organização estatal racionalmente
limitada.
A autora aponta como Montesquieu centrava seu pensamento em uma
supremacia do parlamento britânico, com a fórmula King in the Parliament¸ que
busca exatamente desconcentrar o poder, para que ele não ficasse acumulado
em uma única mão. Daí a necessidade de funções dividas, harmoniosamente,
sem haver usurpação. Os poderes seriam separados e complementares.
Em síntese, o avanço teórico de Montesquieu é pensar a divisão das funções
estatais também em órgãos. Cada órgão teria uma das três funções do poder
estatal, o que, para a época, trazia um modelo racional de superar o absolutismo
centralizador.
Em uma análise mais criteriosa e científica, devemos alertar que o mais adequado
não é considerar uma divisão dos poderes, uma vez que o poder político é uno,
Pág. 8
indivisível e indelegável. Mas, há uma divisão de funções entre órgãos
autônomos, independentes e harmônicos.
Nesse modelo de divisão de funções, três órgãos acabaram por receber o nome
de poderes, cada um com suas funções precípuas.
As constituições norte americanas e francesas, do final do século XVIII, tiveram
grande influência deste pensamento orgânico da separação das competências
dos poderes. Era um movimento em que além do pensamento federalista, havia
também o discurso sobre a limitação do Estado e seu controle, como alguns
artigos escritos por James Madison e Thomas Jefferson.
Manoel Gonçalves Ferreira Filho (2015) destaca que a divisão funcional dos
poderes nas democracias ocidentais não foi fruto de uma genialidade de um
teórico inspirado, mas o resultado da prática do constitucionalismo inglês que
consagrou o Bill of Rights de 1689. Neste sentido, podemos destacar também o
empirismo federalista norte americano.
O conceito de checks and balances está preconizado na Constituição norte
americana, logo nos três primeiros artigos. Sugerimos a consulta do documento,
para a melhor compreensão deste arranjo, em que os papéis estão bem
delimitados, inclusive com mecanismos de controle, como o julgamento de
impeachment do Presidente dos Estados Unidos, que será presidido pelo
Presidente da Suprema Corte e julgado pelos senadores.
Assim, com a teoria de Montesquieu atualizada nos tempos atuais, podemos dizer
que temos o Poder Legislativo, Poder Executivo e o Poder Judiciário.
O poder legislativo tem como razão de ser a representação da população e,
quando for caso, dos entes federados para criar e extinguir leis, bem como
fiscalizar as ações do poder executivo para o cumprimento fiel da legislação.
O poder executivo, assim, tem a competência de executar as leis, políticas
públicas, serviços públicos e as atividades decorrentes da administração da
máquina estatal, sendo, por isso, chamada também de função administrativa.
Por sua vez, o poder judiciário tem a competência de analisar a lei nos casos
concretos quando provocado, resolvendo os conflitos de interesses existentes na
sociedade, para que todas as pessoas, inclusive o estado, sejam compelidas a
obedecer a legislação.
Podemos assim, sintetizar a divisão entre as competências típicas dos órgãos
estatais:
Pág. 9
estatais. Isso ocorreu porque, apesar de cada órgão ter sua competência
justificada em um sistema que traz equilíbrio para o Estado, a prática exige que
algumas funções sejam exercidas, excepcionalmente, por aquele que
originalmente não teria tal competência.
Como visto, se a separação funcional e orgânica dos poderes se dá para evitar o
abuso e a concentração de poderes em um só órgão, a teoria estatal criou
mecanismos de fiscalização e responsabilização dos poderes estatais, o que
Pedro Lenza (2019) chama de desenho institucional dos freios e contrapesos.
Destacamos que este desenho institucional variará conforme cada ordenamento
jurídico, se mencionamos os três primeiros artigos da Constituição norte
americana como exemplo, em nosso ordenamento este arranjo é feito em
diversos artigos. Pedro Lenza destaque os seguintes:
Pág. 10
se a lei não for promulgada dentro de 48 horas pelo
Presidente da República (Executivo), nos casos
art. 66, § 7º: dos §§ 3º e 5º, o Presidente do Senado (Legislativo)
a promulgará, e, se este não o fizer em igual prazo, caberá
ao Vice-Presidente do Senado (Legislativo) fazê-lo;
Pág. 11
a eles a garantia de gerirem seu patrimônio e suas atividades internas, uma
consequência é que eles terão de gerir os servidores públicos que lá trabalham,
executar os contratos de compra e prestação de serviço, realizar licitações, dentre
várias outras atividades consideradas administrativas.
É importante perceber que essas atividades serão unicamente no âmbito de cada
um dos dois poderes mencionados e para a fiel execução das suas atividades
finalísticas (típicas) e, portanto, trata-se apenas de meio necessário para seu
funcionamento.
Assista aí
Pág. 12
democráticos que possibilitam à população participar da instância política
do Estado.
Pág. 13
O Estado que adota tal regime não admite conceitos que estejam fora da máquina
estatal e, por isso, aniquilam a subjetividade e a identidade dos indivíduos.
Suas ações só poderiam ser aquelas autorizadas pelo poder Soberano.
Apesar dessa oposição ao modelo filosófico liberal, Azambuja (2008) anota
que na perspectiva política não há uma identificação com as teorias, sendo
possível encontrarmos estados totalitários com ideias socialistas, como a União
Soviética, ou modelos capitalistas como na Itália Fascista.
Como forma de demonização ideológica, esses regimes políticos utilizam
do discurso nacionalista, em busca de identidade popular que coadune com a
ideia de povo, em que as pessoas convirjam para esse bem comum que o Estado
simbolizaria e materializaria.
Apesar de ter semelhanças práticas entre Estados liberais e o Estado autoritário
(autoritarismo), eles não se confundem, pois a ideia de oposição política não
existe em nenhuma medida no totalitarismo que, como o nome indica, tem tudo
sob o domínio do governante ou seu partido.
Os clássicos exemplos de Estados totalitários, que foram responsáveis por
anularem direitos individuais e colocarem o Estado sempre acima do indivíduo,
foram a Alemanha nazista, a Itália fascista e a União Soviética.
Recomendamos ao estudante que se aprofunde sobre o tema, que é de grande
relevância no momento político atual e, assim, possa formar sua opinião enquanto
cidadão crítico. Sugerimos a leitura do livro literário 1984, de George Orwell, e da
obra política As origens do totalitarismo, de Hannah Arendt.
Pág. 14
se há mais ou menos centralização, é possível ampliar ou reduzir a proximidade
daqueles que governam com os cidadãos, o que variará muito em relação à
extensão territorial do país, a quantidade da população e o arranjo adotado.
Sobre as formas de Estado, Ranieri afirma:
―Um Estado pode adotar diferentes formas de organização política e administrativa,
conforme o grau de descentralização territorial do poder entre os entes que o compõem.
Essa descentralização é denominada vertical, posto que, em qualquer hipótese,
promoverá a repartição de competências entre a entidade central e as periféricas,
dotando-as ou não de autonomia política.‖ (Ranieri, 2019, p. 145).
Assista aí
4.3 Estados federados
O termo federação possui sinônimo de união, aliança, cooperação. Um Estado
federado, por sua vez, surge do pacto de entre outros estados (que geralmente
serão chamados de estados-membros) que decidem perder sua soberania em
favor da União Federal. Há, portanto, o surgimento de um novo Estado.
Geralmente, a formação deste estado federado se dá pela Constituição, que
instrumentaliza a criação da União a partir desse movimento político dos estados-
membros.
Azambuja (2008) aponta que uma das características do federalismo é que a
união tem a intenção de ser perpétua, razão pela qual os estados-membros não
terão direito a sair do Estado, ou seja, não há no estado federado o direito de
secessão.
No Estado federado, da perspectiva da União, ocorre uma descentralização
política, que é a distribuição de competências de editar normas entre os entes
federados.
A origem histórica do federalismo remete às treze colônias inglesas nos Estados
Unidos da América: Era uma confederação que se reuniu (confederados da
Filadélfia) e decidiu abdicar da soberania, constituindo um Estado. A
representação inicial foi feita por embaixadores e a manutenção, por Senadores.
Destaca-se que este movimento de primeiro haver uma confederação, para em
seguida formarem a união, é chamado de Movimento Centrípeto, uma vez que a
soberania sai dos extremos para se aglutinar no centro, a União.
Pág. 16
Retomando os conceitos, visualizamos que há um arranjo para a atribuição das
competências de forma vertical, que vai centralizar com mais ou menos força,
conforme cada caso.
De uma síntese do que as referências aqui citadas mencionam, podemos afirmar
que para a formação do federalismo são necessários alguns requisitos:
Constituição
há a necessidade de um liame normativo comum, geralmente realizado pelas
Constituições.
Autonomia
os entes federados têm de possuir autonomia, que pode variar em graus. Essa
autonomia está ligada à administração interna e à amplitude da possibilidade de
fazer leis. Não se confunde com Soberania, que só o Estado tem.
Manifestação da vontade dos entes federados
Os entes federados devem manifestar favoravelmente à federação. Isso
geralmente se dá com o Senado, que é composto por representantes dos
estados-membros.
Auto-organização em Constituições
Os estados-membros também devem ter a possibilidade de organização própria,
o que geralmente se dá por meio de constituições.
Por outro lado, há características comuns para a manutenção da federação:
a) Rigidez Constitucional: esse elemento traz a impossibilidade constitucional de
alterações quanto ao sistema federal.
b) Um órgão de controle concentrado de leis que garanta que não haja
interferência nas autonomias federativas.
4.4 Confederações
As confederações surgem de um tratado entre cada Estado, e deste tratado não
surge um Estado novo, não há uma soberania única e por isso não é forma de
estado, apesar de ser comum ver autores colocarem as confederações nesta
classificação de Estados complexos.
Os Estados permanecem cada um com sua soberania, independentes, e pactuam
em prol de objetivos comuns, geralmente ligados à paz e questões comerciais. E,
por se formar a partir de um tratado, há na confederação o direito de secessão.
Historicamente, registra-se que as treze colônias inglesas da América firmaram
uma Confederação (1781), que logo em seguida se transformou em federação,
assim como na Suíça e na Alemanha.
Hoje a União Europeia pode ser considerada como um novo modelo de
confederação, em que há o compartilhamento de elementos que relativizam a
soberania dos estados por meio de um tratado, a moeda comum e regras de
entrada e saída mais flexíveis entre os cidadãos dos países membros.
Pág. 17
Compreender essa posição crítica sobre o fato de as confederações não serem
formas de Estado pode ser considerado um diferencial do estudante,
principalmente em sua fundamentação, pois demonstrará que domina os
elementos que compõem um Estado e suas formas de organização. Ademais,
aprofundar-se sobre a organização da União Europeia é necessário para aqueles
que querem dominar a disciplina na atualidade.
Dessa forma, podemos afirmar que estes Estados regionais possuem unidades
que possuem alguma liberdade normativa, geralmente exercida por conselhos, e
estão entre Estados unitários e os federados.
Na Itália há 20 regiões autônomas, que a Constituição estabelece uma autonomia
peculiar, tendo, portanto, mais poderes políticos que em estados unitários, mas
sem uma autonomia total como os entes federados.
Pág. 19
b) Representação de todos Estados na formação da federação: O Brasil
adota o sistema bicameral, o que significa dizer que os legisladores federais são
os deputados federais, representantes do povo, e os senadores, que são
representantes dos estados-membros.
Importante perceber que é no Senado que há equilíbrio quantitativo na
representação legislativa. Cada estado possui três representantes no Senado,
independentemente do tamanho da sua população, e os senadores fazem o papel
contínuo de confirmarem a posição do seu estado nos interesses federados.
III – Auto Constituição e Organização: O art. 25 da Constituição Federal traz
que os Estados-membros serão organizados e regidos por suas próprias
Constituições.
E, apesar do debate teórico sobre a real natureza da Lei Orgânica Municipal na
Constituição Federal de 1988, sendo que o STF se posiciona no sentido de não
compreendê-la como uma Constituição, é nítido que a Constituição Federal deu à
Lei Orgânica, por meio do art. 29, o status de um instrumento jurídico-político para
a auto organização dos Municípios.
Dessa forma, percebemos que os Estados e Municípios possuem o poder político
de auto organizarem, com o enquadramento prático na teoria do federalismo.
IV – Rigidez Constitucional: O inciso I do § 4º do art. 60 da Constituição Federal
coloca o federalismo como cláusula pétrea, consagra, assim, o aspecto teórico da
rigidez constitucional e a ausência do direito de recessão. Dessa forma, nenhuma
alteração da constituição por Emenda à Constituição poderá tentar abolir a forma
federativa de governo que nosso país adotou.
V – Órgão de controle de leis que violem o pacto federativo: O STJ possui
atribuições que buscam evitar a quebra do pacto federativo e a ausência de
isonomia da aplicação das normas por entes federativos através de dos tribunais
de justiça, conforme se vê no inciso III do art. 105 da Constituição Federal.
Por outra via, o STF tem a possibilidade de realizar o controle das cláusulas que
tentem abolir a forma federativa, bem como atos e leis que negam a aplicação de
normas federais, conforme inciso III do art. 102 da CF.
Os dois tribunais superiores exercem, portanto, uma função importante na
manutenção da forma federativa por meio da atuação do poder judiciário, caso o
legislativo extrapole suas funções ou os órgãos do judiciário estadual.
VI – Intervenção federal: Os mecanismos de intervenção federal que servem
para garantir a própria forma federativa devem ser exceção e utilizados em último
caso. Ou seja, se por um lado deve ser evitada qualquer interferência de um ente
federado em outro, por outro lado em algumas circunstâncias é essa intervenção
que permitirá a estabilidade jurídica e social para que o federalismo não seja
rompido.
Assim, o art. 34 da CF/88 traz as hipóteses em que é possível a intervenção da
União nos Estados-membros e Distrito Federal:
Art. 34. A União não intervirá nos Estados nem no Distrito Federal, exceto para:
I - manter a integridade nacional;
II - repelir invasão estrangeira ou de uma unidade da Federação em outra;
III - pôr termo a grave comprometimento da ordem pública;
Pág. 20
IV - garantir o livre exercício de qualquer dos Poderes nas unidades da Federação;
V - reorganizar as finanças da unidade da Federação que:
a) suspender o pagamento da dívida fundada por mais de dois anos consecutivos, salvo
motivo de força maior;
b) deixar de entregar aos Municípios receitas tributárias fixadas nesta Constituição,
dentro dos prazos estabelecidos em lei;
VI - prover a execução de lei federal, ordem ou decisão judicial;
VII - assegurar a observância dos seguintes princípios constitucionais:
a) forma republicana, sistema representativo e regime democrático;
b) direitos da pessoa humana;
c) autonomia municipal;
d) prestação de contas da administração pública, direta e indireta.
e) aplicação do mínimo exigido da receita resultante de impostos estaduais,
compreendida a proveniente de transferências, na manutenção e desenvolvimento do
ensino e nas ações e serviços públicos de saúde. (Redação dada pela Emenda
Constitucional nº 29, de 2000)
Pág. 21
É ISSO AÍ!
Nesta unidade, você teve a oportunidade de:
conhecer sobre algumas teorias que justificam a soberania estatal e explicam
como esse poder é exercido pelo Estado.
entender a respeito da separação orgânica dos poderes, teoria de
Montesquieu que até hoje influencia grandemente os Estados ocidentais e que
sempre é tema das questões jurídicas em nossa realidade.
verificar que o Estado pode exercer sua soberania de forma democrática e
autoritária, certo de que, com a nova ordem internacional em que vivemos, a
democracia é um valor fundamental dos cidadãos, razão esta pela qual
voltaremos ao assunto de forma mais aprofundada na próxima unidade.
analisar as formas de Estado, com uma ênfase maior nos Estados unitários e
federados, pois compreendem a maior incidência de organização presente no
mundo hoje.
compreender que o Brasil se insere no modelo de Estado Federado, inclusive
com a particularidade de termos Municípios com autonomia de auto-
organização.
REFERÊNCIAS
AZAMBUJA, D. Teoria geral do Estado. 4ª ed. São Paulo: Globo, 2008
BERNARDES, J. T.; FERREIRA, O. A. V. A.. Direito Constitucional: Tomo I –
Teoria da constituição. 9ª ed. Salvador: Editora juspodivm, 2019.
FERREIRA FILHO, M. G. Curso de direito constitucional. 40 ª ed. São Paulo:
Saraiva, 2015.
MALUF, S. Teoria geral do estado. Atualização prof. Miguel Alfredo Malufe Neto.
29ª ed. São Paulo: Saraiva, 2009.
RANIERI, N. Teoria do Estado: do estado de direito ao estado democrático
de direito. 2ª ed. Barueri: Manole, 2019.
SOARES, M. L. Q. Teoria do Estado: novos paradigmas em face da
globalização. 4ª ed. São Paulo: Atlas, 2011.
TEMER, M. Elementos de direito constitucional. 21ª ed. São Paulo: Malheiros,
2006.
Pág. 22