Capítulo Iii - A Liderança
Capítulo Iii - A Liderança
Capítulo Iii - A Liderança
A LIDERANA
Da liderana gesto
A Liderana
humanos
em
particular.
Ainda
que
investigao
seja
136
A Liderana
Na medida em que se registam inmeras teorias e modelos de liderana, a nossa
opo de anlise recaiu nos modelos que se tm evidenciado nos ltimos tempos em
torno da questo da liderana organizacional.
Consequncia das mltiplas abordagens e das perspetivas adotadas pelos
investigadores, assistimos a uma profuso de definies do conceito de liderana. Bass
(1990) assegura que existem tantas definies quantas as pessoas que definiram o
conceito, logo, encontrar uma definio consensual e paradigmtica (Cunha et al., 2003)
no tem sido possvel. Com efeito, com o aparecimento das Cincias Sociais, por volta
do sculo XIX, a temtica da liderana perdeu parte significativa da sua aura misteriosa
e enigmtica (Jesuno, 1996).
A Liderana
Etimologicamente, lder e liderana so termos de introduo recente no lxico
portugus oriundos do ingls leader e leadership; traduzem a ideia, respetivamente, de
guia virtual e qualidade ou funo de lder.
Na lngua portuguesa, estes conceitos esto profundamente ligados arte de
comando, mas, obviamente, a tnica nesta literatura de inspirao poltica e militar
posta nos aspetos biogrficos do lder enquanto ator que dirige um processo e no na
liderana propriamente dita. O advento das cincias sociais, em particular, da sociologia
e da psicologia, possibilitou alargar esta viso algo restrita da liderana.
Neves (2001) considera que os mltiplos estudos sobre a temtica tm mostrado
a liderana como caraterstica da personalidade, como forma indutora de obedincia,
como exerccio de influncia ou outros comportamentos especficos, como meio de
persuaso, como relao de poder, como meio de alcanar objetivos ou como uma
combinao de mltiplos fatores.
A proliferao de estudos tericos, empricos e experimentais na rea da
liderana possibilitou o aclaramento do conceito de liderana sem, no entanto,
chegarmos a definies consensuais e definitivas. Importa no esquecer que as
definies de liderana devem ser entendidas no contexto cientfico e temporal em que
foram produzidas.
Perante esta realidade complexa e multivariada, a liderana dever ser analisada
sob diversos ngulos enfatizando distintas variveis contingenciais (situacionais) no se
restringindo apenas ao tipo de subordinados e situao de trabalho. Assim, na definio
de liderana, devero ser tidas em conta variveis como a configurao organizacional,
o ciclo de vida das organizaes ou as culturas organizacionais e nacionais
diferenciadas.
Face a esta multiplicidade e complexidade de estudos, como definir, ento,
liderana? Sem sermos exaustivos, procuraremos, ento, apresentar algumas definies
que julgamos mais representativas.
Antes da 2. Guerra Mundial, a liderana era definida de acordo com as
caratersticas de personalidade do lder dos Magos. A seleo natural dos lderes
resolvia os problemas da eficcia. Mais tarde, a abordagem comportamental entendeu a
liderana de acordo com os comportamentos suscetveis de distinguir os lderes dos no
lderes. A aposta na formao dos lderes respondia naturalmente aos problemas de
eficcia organizacional.
138
A Liderana
Em quase todas as definies se encontra implcita a ideia de que um ou mais
sujeitos de um grupo podem ser encarados como lderes e que estes indivduos diferem
em certos traos dos restantes membros do grupo (aos quais chamamos subordinados ou
seguidores), o que por sua vez implica uma estrutura grupal hierrquica.
Um grupo muito significativo de definies assume a liderana como um
processo interativo entre os membros do grupo, composto por lderes e seguidores com
uma orientao definida para determinados objetivos.
Da vasta panplia existente na literatura organizacional, selecionmos cinco
definies cuja leitura conjunta nos permitir compreender os principais enfoques das
teorias que desenvolveremos seguidamente.
Tannenbaum et al (1970) descrevem a liderana como uma influncia
interpessoal efetuada num determinado contexto e conduzida atravs do processo de
comunicao humana com a inteno de alcanar um ou vrios objetivos especficos.
Por seu turno, Hersey e Blanchard (1988) consideram a liderana como o
processo de influenciar as atividades de um membro ou grupo com o propsito de deles
conseguir esforos que permitam atingir metas numa determinada situao. Relacionase, ento, algo que funo do lder, dos seguidores ou subordinados e de outras
variveis situacionais.
Yukl (1994) define liderana como um processo de influncia que implica a
interpretao dos acontecimentos pelos seguidores, a eleio dos objetivos para a
organizao ou grupo, a organizao das atividades para alcanar os objetivos, a
motivao e empenho dos seguidores para atingir os objetivos, a manuteno das
relaes de colaborao e do esprito de equipa e a angariao de apoio e cooperao de
sujeitos exteriores ao grupo ou organizao.
Syroit (1996) apresenta a liderana como um conjunto de atividades exercidas
por um sujeito detentor de uma posio hierarquicamente superior, direcionadas para a
conduo e orientao das atividades dos outros sujeitos, com o propsito de atingir
eficazmente o objetivo do grupo.
A definio proposta pela equipa Global Leadership and Organizational
Behavior Effectiveness (GLOBE), embora primando pela simplicidade, sublinha a
competncia de um sujeito para influenciar, motivar e habilitar os outros sujeitos a
contriburem para aumentar a eficcia e o sucesso das organizaes a que pertencem.
(House et al, 1999).
139
A Liderana
Na verdade, este conjunto de definies encerra um conjunto de ideias
transversais que percorrem o conceito de liderana, nomeadamente no que respeita
existncia de lderes e liderados ou seguidores que aceitam o primeiro, ajudando-o a
definir as suas posies permitindo ao mesmo tempo que o processo da liderana se
operacionalize. Acresce, ainda, a distribuio desigual de poder entre os lderes e os
restantes indivduos da organizao, fator a usar para influenciar as condutas dos
seguidores.
Aliado ao conceito de liderana, encontramos outras noes associadas e que
nos parecem ser relevantes para a economia deste trabalho. Assim, termos como
influncia, poder e autoridade esto em perfeita sintonia com as questes relativas
liderana.
Na verdade, a essncia da liderana passa pela influncia que exercida sob os
seguidores. Rego (1997) apresenta a influncia como um processo transacional no qual
um indivduo ou grupo atua com o propsito de modificar o comportamento de um
outro sujeito ou grupo num determinado sentido. A eficcia do lder est intimamente
ligada com a sua capacidade de influenciar no s os seguidores como tambm os pares
ou os agentes externos.
Com efeito, a capacidade de influncia advm no s das bases de poder que o
lder possui, como tambm da forma como as operacionaliza. O mesmo autor, de modo
muito simples, define poder como a capacidade potencial para influenciar os outros
(Rego, 1997). Esta capacidade advm de vrias fontes de poder e exercida atravs da
adoo de estratgias de influncia. De acordo com Yulk (1994), existem diversas
fontes de poder (cf. Quadro 12).
Poder de posio
Poder pessoal
Poder poltico
Caractersticas
Autoridade formal
Controlo sobre os recursos e recompensas
Controlo sobre os castigos
Controlo sobre a informao
Controlo do meio
Experincia
Amizade/lealdade
Carisma
Controlo sobre os processos de deciso
Coligaes
Cooptao
Institucionalizao
140
A Liderana
A este propsito, Rego apresenta uma recolha interessante de definies de
poder (cf. Quadro 13) produzidas por diversos autores.
Definio
Russel, 1938
Perrow, 1986
French, 1956
Dawson, 1986
Bernoux, 1986
Dalhl, 1957
Kanter, 1977
Mintzberg, 1989
Finkelstein, 1992
Greiner e Schein, 1988
Yulk, 1989
Por sua vez, o poder e autoridade so conceitos divergentes. Se o poder pode ser
entendido como a capacidade para exercer influncia, a autoridade traduz, to-s, o
poder que advm da ocupao de uma dada posio na organizao. Isto , os detentores
de autoridade detm poder, no entanto, os detentores de poder no possuem,
forosamente, autoridade.
Efetivamente, liderana e poder so processos de influncia, a ligao entre os
dois conceitos assenta na influncia e a sua distino reside na ao. Enquanto o poder
a influncia em potncia, a liderana envolve o exerccio real do poder. A liderana no
deixa, portanto, de ser um fenmeno de poder.
Apesar do desconforto provocado pela diversidade de definies ou pontos de
vista, a liderana continua a despertar uma contnua reflexo por parte dos
investigadores, nomeadamente, no que respeita liderana eficaz.
141
A Liderana
Tal como a conceo de liderana, a liderana eficaz oferece, tambm, uma
multiplicidade de definies em parte devido aos critrios que permitem medir a
eficcia. Em causa esto aspetos como a performance do grupo, a sua sobrevivncia ou
crescimento, a atitude dos seguidores, a contribuio do lder para a coeso, motivao
dos membros, soluo de problemas, a capacidade de sobrevivncia s crises ou os
lucros obtidos.
1.1.
Da liderana gesto
142
A Liderana
Quadro 14 Gestores e lderes (adaptado de Rego, 1998:28)
Gestores
Lderes
Rendem-se situao.
Administram.
Questionam-se sobre o como e o quando.
Tm perspetivas a curto prazo.
Imitam.
As competncias de gesto podem ser
ensinadas/aprendidas.
Liderana
Na linha de Rost e Smiht, Kotter (1992) partilha da ideia que faz divergir os dois
termos embora os considere a ambos como distintos e complexos sistemas de ao.
Cada sistema apresenta as suas prprias funes e atividades peculiares, por isso, os
dois so indispensveis num ambiente organizacional complexo e instvel. Nesta tica,
a gesto existe para fazer frente complexidade e a liderana para dar resposta
mudana. Sem uma gesto equilibrada, as organizaes tendem a ficar caticas, por
isso, o ideal seria aliar uma forte aliana a uma forte gesto, usando uma para equilibrar
a outra.
difcil encontrar um indivduo excelente nas duas reas na medida em que a
liderana implica formar e manter um compromisso com uma viso bem definida, gerir
a mudana de maneira a melhorar a organizao, criar e gerir uma equipa de grande
143
A Liderana
rendimento, inspirar, motivar e influenciar o grupo, liderar atravs do exemplo e
assumir a responsabilidade. Por sua vez, a gesto abrange o pensamento e o
planeamento estratgicos, debrua-se sobre a forma de rentabilizar as capacidades do
grupo, com a delegao, apreciao e desenvolvimento, com os recursos financeiros, as
comunicaes e monitorizaes, com a avaliao do desempenho e consequentemente
com a apresentao dos resultados (Earley, 2002). Porm, este autor reconhece que,
apesar das grandes dissemelhanas, tanto a liderana como a gesto se sobrepem e so
essenciais para o sucesso das organizaes (idem) (cf. Quadro 16).
Os lderes
submetem-se.
controlam o contexto.
administram.
inovam.
mantm.
desenvolvem.
perguntam o qu e porqu.
Contudo, certos autores como Yulk (1994), House e Aditya (1997:445) advogam
a possibilidade dos gestores se tornarem lderes e vice-versa na medida em que o
binmio de criao artificial e estereotipada. Os gestores transformam-se em lderes
no momento em que propiciam viso, direo, estratgia e inspirao s organizaes e
respetivos atores. Rowe (2001) advoga esta hiptese e, nesta perspetiva, prope um
modelo triangular cujos vrtices apontam para as lideranas gestionria, visionria e
estratgica. Assim, o papel de gestor e o papel de lder coexistem no vrtice da liderana
estratgica (cf. Quadro 17). O lder gestionrio apela segurana financeira a longo
prazo, garante a ordem, no considera as inovaes que podem reformar a organizao.
A viso, o sonho, a emoo e a criatividade no fazem parte dos seus planos. Ao
contrrio, o lder visionrio investe a viabilidade da organizao a longo prazo. Estimula
a mudana, a inovao e a criatividade. O realismo e a frieza, imprescindveis para
garantir a continuidade da organizao a curto prazo no so considerados.
Harmoniosamente, o lder estratgico coordena estas duas vertentes da liderana. Alia
144
A Liderana
os atributos do gestor com os de lder, viabilizando deste modo a organizao a longo
prazo sem penhorar a segurana financeira a curto prazo.
Quadro 17 A liderana estratgica: a harmonizao das lideranas visionria e gestionria
(adaptado de Rowe, 2001)
Liderana gestionria
reativo, elege uma atitude passiva perante os objetivos (estes radicam mais na necessidade do que
em desejos ou sonhos).
Rev-se como conservador e estabilizador da ordem existente.
Relaciona-se com os indivduos de acordo com os seus papis no processo de tomada de deciso.
Envolve-se em situaes e contextos caractersticos das atividades quotidianas.
Decide excecionalmente recorrendo aos valores.
Guia-se para os comportamentos de curto prazo e baixo custo, atento ao desempenho financeiro.
As escolhas que faz so motivadas pelo ambiente interno e externo.
Recorre ao pensamento linear.
proativo, influencia os membros da organizao sobre o que desejvel, possvel e necessrio.
Liderana visionria
No teme o risco.
Lida com as pessoas emptica e intuitivamente.
Trabalha na organizao mas no pertence organizao.
Orienta-se para o desenvolvimento das pessoas e com o futuro da organizao. Acredita no elevado
desempenho das pessoas.
Decide frequentemente com base em valores.
Orienta-se para a inovao, o capital humano e o fomento de uma cultura que assegure a
Liderana estratgica
145
A Liderana
Nas organizaes do mundo moderno, gestores e lderes so peas fundamentais:
a liderana deve ser temperada com gesto (com o intuito conferir realismo e
estabilidade ao sonho/viso) e a gesto condimentada com liderana (com o propsito
de evitar a estagnao e prosperar a longo prazo). Sempre que no possvel conciliar
num mesmo indivduo as duas funes, necessrio assegurar a dupla liderana
(Cunha, 2000; Rego e Cunha, 2003).
Aceitando a premissa que gestores e lderes so componentes imprescindveis no
puzzle das organizaes modernas, parece-nos que a figura-sntese proposta por Pina e
Cunha (2000) traduz a ideia da complementaridade das duas noes em estudo (cf.
Figura 4).
Figura 4 Um ensaio visual para a compreenso das distines liderana-gesto e lderesgestores (adaptado de Pina e Cunha, 2000:273)
146
A Liderana
Figura 5 Cadeia ilustrativa entre as relaes entre a atividade do lder e os resultados
organizacionais (adaptado de Yulk:1994:7)
A Liderana
realizar o trabalho. Por outro lado, indiretamente o lder pode promover a mudana da
cultura organizacional, incrementar a longo prazo capacidades e competncias dos
seguidores, apostar nas alteraes tecnolgicas utilizadas nos diversos procedimentos,
gizar mudanas ao nvel da estratgia e da estrutura morfolgica da organizao.
2.
148
A Liderana
O Quadro 18, adaptado a partir de Bryman (1992), procura fazer uma sntese sobre
a evoluo temporal das vrias perspetivas que traduzem, de certo modo, as tendncias
dos estudos sobre a liderana.
Quadro 18 Tendncias no estudo da liderana (adaptado de Bryman, 1992)
Perodo
Perspetiva
Traos da personalidade
Comportamentos do lder
Caracterizao
Abordagem
situacional/contingencial
Novas abordagens da
liderana (liderana carismtica,
transformacional, transacional)
2.1.
A liderana um atributo
inato.
A eficcia da liderana est
relacionada com o tipo de
comportamento do lder.
A eficcia da liderana
influenciada pelo contexto.
A liderana est dependente da
viso do lder.
A teoria do grande homem foi defendida, por volta de 1910, por Carlyle. Segundo o autor, os grandes
149
A Liderana
mais comummente aceites passam pela inteligncia superior, criatividade, eloquncia,
autoestima, estabilidade emocional, o nvel de energia, intuio, poder de persuaso.
Com efeito, um lder eficaz capaz de inspirar confiana, ser inteligente, percetivo e
decisivo perante os subordinados. Visto que nem todos os sujeitos eram possuidores
destas qualidades inatas, estveis e distintivas apenas os que as detivessem poderiam ser
considerados potencialmente lderes e tidos como heris. Assim, no sendo possvel a
formao, a teoria dos traos privilegia a seleo dos lderes. Contudo, a teoria de traos
da personalidade apresentava determinados aspetos frgeis que acabariam por ser
contestados ao verificar-se que os traos de personalidade so escassamente preditores
da eficcia dos lderes (Jesuno, 1996:53).
Da profuso de pesquisas resultou uma pluralidade de traos e competncias no
coincidentes entre si e que acabaram por pr em causa esta teoria na medida em que a
presena de um conjunto de traos num individuo no preditor de sucesso. Aps a
reviso de inmeros estudos sobre liderana feita por Stogdill (1948), o autor conclui
que um lder dotado de determinados traos pode ser eficaz num contexto mas ineficaz
noutro. Por outro lado, lderes distintos dotados com diferentes traos podem ser bem
sucedidos no mesmo contexto.
Apesar do abalo provocado pelos estudos de Stogdill (1948), a teoria dos traos
continuou a merecer aplicao nomeadamente na seleo de novos lderes e novos
traos continuaram a ser identificados. Porm, em 1974, Stogdil2 (1974) fez a reviso de
163 estudos e apontou novos traos e competncias com incidncia no desempenho da
liderana (cf. Quadro 19). Neste trabalho, o autor defende que os indivduos possuidores
de determinados traos tm mais hipteses de serem lderes eficazes do que os sujeitos
que deles carecem, contudo tal no lhe garante automaticamente a eficcia. Na verdade,
a relevncia dos diferentes traos parece estar dependente do contexto.
Bass and Stogdill Handbook of Leadership (Stogdill, 1974) uma das mais famosas obras sobre
liderana, nela aparecem compilados os dados mais relevantes sobre modelos, investigaes e aplicaes
prticas da liderana.
150
A Liderana
Quadro 19 Traos e competncias mais vulgares nos lderes eficazes (Adaptado de Yulk, 1989,
1994)
Traos
Competncias
Adaptabilidade ao contexto
Inteligente
Criativo
Afirmativo
Diplomtico
Cooperativo
Eloquente
Decisivo
Organizado
Enrgico
Persuasivo
Persistente
Autoestima
Capaz de absorver o stress
Desejoso de assumir responsabilidades
A ttulo de exemplo, no estudo levado a cabo por Kirkpatrick e Locke (1996) so referenciados seis
traos de personalidade (motivao, desejo de liderar, honestidade e integridade, confiana, capacidade
cognitiva para interpretar informao, conhecimento da tarefa) que marcam a diferena entre os
indivduos lderes e os no-lderes. Contudo, reconhecida a possibilidade dos traos serem aprendidos e
aperfeioados com o intuito de potenciar a eficcia dos lderes. Este ponto de vista, demarca-se, ento, da
teoria inicial que postulava o facto dos traos serem inatos e as falhas de carter no poderem ser
corrigidas.
151
A Liderana
foi equacionado que o lder dotado de traos de liderana permanentemente lder
durante todas as ocasies e em qualquer situao.
As reaes adversas perante esta teoria de liderana vo, certamente, dar origem
a um novo modelo mais centrado na crtica aos traos mantendo todavia a crena na
possibilidade de identificar o lder universal (Jesuno, 1996: 55).
2.2.
A Liderana
e punies. Por sua vez, o lder democrtico encorajava e motivava os membros do
grupo a tomarem decises descrevendo em traos largos as etapas genricas para atingir
os objetivos e metas delineados e quais os procedimentos opcionais. Ao grupo era
permitido formar equipas de trabalho e o lder encarregava-se de distribuir crticas e
elogios com rigor e objetividade. Finalmente, o lder liberal definia-se pela sua atitude
no participante nas tarefas e atividades realizadas, mantendo-se afastado e indiferente
permitindo ao grupo agir como bem entendesse (cf. Quadro 20).
Quadro 20 Os trs estilos de liderana (adaptado White e Lippitt)
Liderana autocrtica
O lder estabelece as
diretrizes sem participao do
grupo.
O
lder
dominador
personaliza os elogios e
crticas ao trabalho de cada
um.
Liderana democrtica
Liderana liberal
As linhas gerais so
discutidas e definidas pelo
grupo, estimulado e auxiliado
pelo lder.
O grupo delineia as medidas
e as tcnicas para atingir o
alvo, pedindo aconselhamento
tcnico ao lder quando
necessrio.
Este
prope
alternativas ao grupo e as
tarefas a realizar resultam de
intenso debate.
A diviso de tarefas tarefa
do prprio grupo e cada
individuo livre de escolher o
seu parceiro de trabalho.
O lder procura ser tambm
um membro da equipa, sem
encarregar-se substancialmente
das tarefas. objetivo e nas
crticas e elogios limitam-se
apenas aos factos.
A interveno do lder
mnima, existindo liberdade
completa nas decises grupais
ou individuais.
A participao do lder no
debate restrita dado que
apresenta apenas os materiais
ao grupo, esclarecendo que
poderia fornecer informaes
desde que as solicitassem.
A diviso de tarefas e a
escolha dos parceiros fica a
cargo do grupo. O lder no
participante.
O lder no procura avaliar
ou regular a execuo de
tarefas. Quando questionado, o
lder comenta as atividades do
grupo.
A Liderana
Segundo Chiavenato (1993), sobre estes estudos foi possvel concluir que em
determinadas situaes, a liderana autocrtica tem efeitos positivos e funciona quando
os demais estilos fracassam; noutras situaes, a liderana democrtica resulta quando
os demais estilos falham e, finalmente, a liderana liberal supera os restantes estilos em
certas ocasies.
Na verdade, o lder no seu quotidiano deve aplicar os trs estilos de liderana,
consoante a circunstncia, os membros da organizao e as tarefas em execuo.
Qualquer lder manda cumprir ordens, consulta os subordinados antes de tomar
decises, sugere tarefas aos subordinados. A principal dificuldade da liderana reside
em adequar o estilo situao, aos subordinados e s tarefas a serem realizadas.
Dos mltiplos programas de pesquisa realizados no mbito desta perspetiva
destacam-se os realizados nas Universidades de Michigan e de Ohio. Quer num caso
quer no outro, remontam aos estudos pioneiros sobre estilos de liderana
protagonizados por Lewin (1939), Lippit e White (1952,1960). Os investigadores da
Universidade de Michigan referiram a existncia de duas categorias de comportamento:
a primeira orientada para as tarefas (nvel em que o lder define e operacionaliza-se os
seus afazeres e os dos seguidores, com a finalidade de atingir os objetivos) e a segunda
orientada para as pessoas/relacionamento (nvel em que o lder atua de modo cordial e
colaborante, se interessa pelos seguidores e o seu bem-estar). Os lderes com
comportamento direcionado para a tarefa preocupam-se, primordialmente, com a
superviso e cumprimento da tarefa por parte dos subordinados; executar a tarefa mais
importante do que o crescimento e a satisfao dos indivduos com os quais trabalha.
Por sua vez, os lderes orientados para as pessoas atingem maior sucesso no que respeita
produtividade e satisfao no trabalho na medida em que fomentam relaes amistosas
e o cumprimento das tarefas produto do clima interno.
A abordagem de Likert (1961,1967) paradigmtica desta linha ao perspetivar
quatro sistemas de liderana tpicos conhecidos por sistema 1: autocrtico explorador;
sistema
2:
autocrtico
benevolente;
sistema
3:
consultivo
sistema
4:
A Liderana
definio de metas, objetivos e processos de controlo serem tomados pelos lderes,
existe j alguma delegao nos subordinados intermdios. No sistema 3, a interao e a
comunicao ascendente e descendente moderadas promovem valores como a confiana
entre os lderes e os subordinados. No sistema 4, a confiana nos subordinados total
por parte dos lderes ao ponto de muitas decises poderem ser partilhadas. A
comunicao horizontal (entre pares) e a comunicao vertical (ascendente e
descendente) facilitam o inter-relacionamento na organizao. A participao e
envolvimento na vida organizacional motivam os subordinados a aumentar os lucros, a
estabelecer objetivos e a melhorar os mtodos para os alcanar. A vertente formal e a
vertente informal da organizao esto em sintonia de modo que todas as foras dentro
da organizao se esforam para alcanar os mesmos objetivos declarados.
Figura 6 Os sistemas de liderana/eficcia da organizao (adaptado Likert, 1967)
155
A Liderana
foi considerada inconsistente por no ter em conta a situao: com efeito, diferentes
tipos de situao exigem distintos estilos de liderana.
Os estudos liderados pela Universidade de Ohio tiveram, tambm, como
objetivo central elencar estilos comportamentais da liderana eficaz a partir da anlise
fatorial de questionrios, da observao direta e sem pressupostos tericos. Destacamos
o modelo de Blake e Mouton (1964), popularizado como grelha gerencial. Este modelo
pretende avaliar a preocupao do lder face aos indivduos e s tarefas resultando cinco
estilos essenciais (cf. Figura 7). Esta grelha de dupla entrada sustentada por dois eixos,
um que reproduz o grau de ateno orientado para as pessoas e outro dirigido para as
tarefas/produo, ambos graduados de 1 a 9; o cruzamento dos dois eixos gera os cinco
principais estilos de liderana, identificados em funo da orientao para pessoas ou
para as tarefas. Naturalmente, o estilo 9.94 o estilo mais eficaz na medida em que
enfatiza simultaneamente a orientao para as pessoas e para as tarefas e, por esse
motivo, cada lder deve situar o seu desempenho na grelha com o intuito de melhorar e
atingir o ponto ideal.
Figura 7 O modelo da grelha gerencial (Adaptado de Blake e Mouton, 1964)
Segundo a grelha de gesto gerencial (Blake e Mouton, 1964), no estilo 1.9., gesto tipo simptico, a
ateno s necessidades de relacionamento satisfatrio das pessoas promove um ambiente e ritmo
organizacionais de trabalho cordiais; no estilo 9.9., gesto tipo integrador, a execuo de tarefas parte de
pessoas ativamente envolvidas: as relaes de confiana e o respeito nascem dos objetivos comuns aos
membros da organizao; no estilo 5.5., gesto tipo intermdio, a necessidade de concluir um trabalho e a
manuteno da motivao dos indivduos num grau satisfatrio so perfeitamente compatveis; no estilo
1.1., gesto tipo anmica, o exerccio de um esforo mnimo para levar a cabo o trabalho necessrio e
apropriado para manter os indivduos na organizao; no estilo 9.1., gesto tipo autocrtico, a realizao
da tarefa possvel sem que o elemento humano interfira grandemente.
156
A Liderana
2.3.
A Liderana
nova abordagem consegue isolar a varivel situao e catapult-la como elemento
catalisador de uma liderana eficaz.
As teorias situacionais podem ser enquadradas de acordo com duas
subcategorias: numa primeira subcategoria, o comportamento do lder tido como uma
varivel dependente da situao dado que existem certos fatores que determinam o
modo como os lderes atuam: o nvel hierrquico, a dimenso da organizao, a
dependncia de outras organizaes, as situaes de crise, o estdio de maturidade da
organizao, as expetativas dos superiores, pares e seguidores, os procedimentos
burocrticos, as politicas organizacionais, a (in)existncia de recursos; na segunda
subcategoria, os diferentes padres de comportamento ou traos so avocados como
indispensveis liderana eficaz em diferentes situaes.
Neste mbito evidenciam-se mltiplos estudos dos quais se destacam a teoria
caminho-objetivos, a teoria dos substitutos de liderana, o modelo situacional de Hersey
e Blanchard (1988), a teoria da contingncia de Fiedler (1970), o modelo das ligaes
mltiplas de Yulk (1971,1994), o modelo normativo de Vroom e Yetton (1973) e a
teoria dos recursos cognitivos (Fiedler, 1986). Centrar-nos-emos, apenas, em trs dos
modelos mais significativos: o modelo de Hersey e Blanchard (1969, 1988), na teoria da
contingncia de Fiedler (1970) e no modelo das ligaes mltiplas de Yulk (1971,
1994).
Enquadrada nesta abordagem, a teoria da liderana situacional de Hersey
Blanchard (1969, 1988), tambm, conhecida como teoria dos ciclos de vida, baseada
substancialmente nos estudos formulados pela Universidade de Ohio, advoga que o
comportamento e a forma de atuao do lder depende do grau de maturidade 5 dos
seguidores e medida que este evolui, alterar-se-, tambm, o tipo de liderana6 a
5
Rego define maturidade como conhecimento, experincia, e capacidade, assim como confiana,
empenhamento e motivao para a realizao de uma determinada tarefa, no sendo perspetivada como
caracterstica pessoal, ou trao de personalidade, mas sim como algo que tem a ver com uma tarefa
especfica (Rego, 199:302). A maturidade pode, ento, dividir-se em duas componentes distintas: a
maturidade no trabalho a realizar e que refere os aspetos mais tcnicos das tarefas, exprimindo-se pela
competncia e conhecimentos que os indivduos tm sobre aquilo que devem fazer e a maturidade
psicolgica que simboliza os sentimentos de autoconfiana e abertura para aceitar a responsabilidade pela
concretizao das funes designadas.
A maturidade no trabalho pode ser avaliada numa escala de quatro intervalos: M1: pouca maturidade;
M2: alguma maturidade; M3: bastante maturidade; M4: muita maturidade.
A maturidade psicolgica tambm pode ser avaliada numa escala com quatro intervalos: 1: raramente;
2: s vezes; 3: frequentemente; 4: geralmente.
6
Segundo Hersey e Blanchard (1969, 1988) podemos distinguir quatro estilos especficos de liderana:
S1 dirigir, dar ordens (alta orientao para a tarefa e baixo relacionamento na medida em que o lder
define as funes e informa os seguidores sobre as tarefas, quando e como realiz-las, a nfase posta no
comportamento diretivo; S2 persuadir, vender (alta orientao para as tarefas e alto rendimento com as
158
A Liderana
aplicar (cf. Quadro 21). Este modelo, virado essencialmente para a formao dos
lderes, para alm de avaliar o estdio de maturidade do indivduo, refere que o lder
deve, tambm, avaliar o nvel de maturidade do grupo na medida em que os membros
que o compem interagem na mesma rea de trabalho.
Assim, perante os quatro nveis de maturidade identificados pelos autores, o
lder deve aplicar quatro estilos de liderana diferenciados: a) face a sujeitos de baixa
maturidade (M1), o lder deve dar ordens, dirigir, especificar (S1); b) os indivduos que
no sabem e no querem assumir responsabilidades (M2), o lder deve vender a soluo
para o problema, persuadindo-os (S2); c) os colaboradores que sabem mas no querem
assumir as responsabilidades (M3) devem ser estimulados e chamados a participar na
tomada de decises (S3); d) sempre que os subordinados sabem e esto dispostos a
assumir responsabilidades (M4), o lder deve delegar (S4).
Conforme se pode observar pela figura abaixo, sempre que os colaboradores
assumem elevados graus de maturidade, o lder diminui o controlo sobre as tarefas,
diminuindo, tambm, o comportamento de relacionamento. Desde que ajustado ao grau
de maturidade dos subordinados, qualquer dos estilos pode revelar eficcia. Para os
autores no h one best way, ou seja um estilo universal, eficaz em todas as situaes,
o que no acontecia por exemplo em Blake e Mouton7 (1964).
pessoas) o lder apresenta um comportamento diretivo e de apoio aos seguidores de modo que as tarefas
possam ser realizadas de acordo com a definio e estruturao delineada; S3 participar (baixa nfase na
estruturao das tarefas e alto nvel de relacionamento com as pessoas) A tomada de deciso
partilhada, embora o lder encarne o papel principal enquanto facilitador e comunicador; S4 delegar
(baixa nfase na estruturao das tarefas e baixo nvel de relacionamento com as pessoas) o apoio
fornecido pelo lder aos colaboradores mnimo na medida em que estes so capazes de desenvolver o se
trabalho e possuem elevados nveis de motivao para atingir as metas solicitadas.
7
Na senda da grelha gerencial de Blake e Mouton (1964), os quatros estilos de liderana propostos por
Hersey e Blanchard (1969, 1988) revelar-se-iam todos relativamente ineficazes em comparao com o
nico estilo verdadeiramente eficaz, o estilo 9.9.
159
A Liderana
M2
M3
No capaz e no quer
incapaz de assumir
capaz de assumir
assumir
responsabilidades,
vontade de assumir
responsabilidades e,
responsabilidades ou
responsabilidades ou
simultaneamente tem
inseguro
confiana
inseguro
vontade ou confiana
No empenhado
nem competente
Estilo E1
(diretivo)
Dar ordens
Guiar
Dirigir
Estabelecer
Faculta normas
especficas e
superviso rgida,
diz o que fazer,
quando e como
Baixa
empenhado mas
incompetente
Estilo E2
(persuasivo)
Vender
Explicar
Colaborar
Comprometer
empenhado e
competente
Elevado
No empenhado
mas competente
Estilo E3
(participativo)
Participar
Encorajar
Colaborar
Comprometer
Partilha ideias,
debate, apoia,
facilita, fomenta a
participao na
tomada de decises
Baixa
Delega as
responsabilidades
na tomada de
decises e na sua
implementao
Baixa
Elevado
Elevado
Baixa
RES
DOS
COLABORADO-
M1
NIVEIS DE
MATURIDADE
Componente de
tarefa do lder
Componente de
relacionamento do
lder
Elevado
Explana as
decises e clarifica;
debate, explica o
porqu
M4
Estilo E4
(delegativo)
Delegar
Observar
Monitorizar
160
A Liderana
indivduos para trabalharem no problema, invocando a criatividade e a inovao e
delegando autoridade e responsabilidade.
Em resultado de vrios estudos realizados por Jesuno (1996) em aes de
formao de lderes portugueses, o estilo de liderana dominante em Portugal o estilo
S1-S2 e depois o estilo S2-S3, estando este ltimo associado a um maior grau de
eficcia. O estilo S4 bastante mais raro de encontrar junto dos lderes portugueses,
sinal de uma maior dificuldade em delegar.
Se o modelo de Hersey e Blanchard (1969,1988) defende que o lder deve alterar
o comportamento em funo da situao (flexibilidade comportamental), o modelo
avanado por Fiedler (1970) advoga que a eficcia do lder resulta da seleo da pessoa
certa para determinada situao, ou ento, atravs da produo de mudanas sobre a
situao de maneira a adequ-la ao lder. O lder, na perspetiva de Hersey e Blanchard
(1969,1988) deve aprender a reconhecer as situaes e a adotar os comportamentos a
elas ajustados. J na perspetiva de Fiedler (1970), o lder deve aprender a reconhecer-se
a si prprio e a praticar uma certa engenharia situacional.
O modelo de Fiedler (1970) um dos mais representativos desta teoria. O autor
defende que a prpria situao molda a relao entre os traos do lder (estilo do lder) e
o desempenho do grupo: a eficcia do lder resulta dos seus atributos (orientao para o
relacionamento ou orientao para a tarefa) e o controlo que possui da situao (grau
favorvel da situao). O sucesso dos sujeitos na tomada de deciso depende da
anuncia entre o modo como trabalham com os membros do grupo e o tipo de funes
que tm que desempenhar. Desta forma, os lderes mais orientados para as tarefas so
mais eficazes em situaes de elevado ou baixo controlo do que os orientados para o
relacionamento. Por sua vez, os lderes orientados para o relacionamento so mais
eficazes em ocasies de controlo moderado (cf. Figura 8)
161
A Liderana
Figura 8 O modelo contingencial de Fiedler (Adaptado de Fiedler, 1970)
A Liderana
estas duas reas condicionada por um conjunto de fatores importantes, as variveis
intermdias (os esforos dos membros da organizao; capacidades dos subordinados e
clareza do papel; organizao do trabalho; colaborao e esprito de equipa; recursos e
apoio e coordenao externa). A eficcia resulta, ento, da conjuno de todas as
variveis. Cada varivel interage com todas as outras e uma falha na engrenagem pode
pr em causa a eficcia organizacional.
No que respeita s variveis situacionais, estas podem interferir no processo em
trs situaes distintas: numa fase inicial, neutralizando as aes do lder sobre as
variveis intermdias se, por exemplo, as tarefas a executar pelos colaboradores forem
repetitivas e rotineiras diminuindo, assim, a relevncia do fator cooperao e coeso.
Em segundo lugar, independentemente das aes do lder sobre as variveis
intermdias, existem vrios aspetos da situao que as determinam. So disso exemplo:
o esforo dos colaboradores ser mais relevante se a organizao possuir um sistema de
reconhecimento do mrito que atribua as recompensas ao mrito; a qualificao maior
ou menor dos indivduos estar dependente do facto de a organizao poder ou no
pagar salrios elevados compatveis com as funes a realizar; a colaborao e o
esprito de equipa so determinados pelas caractersticas do grupo ou pelo sistema de
recompensas. Finalmente, acresce que alguns aspetos da situao relativos realizao
de mudanas e reao aos problemas so limitativos para o lder: este pode ver o seu
comportamento limitado por imposies legais ao pretender agir disciplinarmente sobre
os subordinados ou ao ver a neutralizao das suas aes protagonizada por sindicatos
fortes.
Na enunciao deste modelo, Yulk (1971, 1994) equaciona duas grandes asseres
gerais: por um lado, se o lder atuar no sentido de minorar lacunas ao nvel das variveis
intermdias, a eficcia organizacional dever a curto prazo ser mais facilmente
atingvel; por outro, se o lder atuar no sentido de tornar a situao mais propcia (linha
tracejada na Figura 11), a eficcia da unidade organizacional ser maior a longo prazo.
Ainda que sejam reconhecidas vrias virtudes ao modelo das ligaes mltiplas,
ele enforma vrias fragilidades, nomeadamente, por no explicar a forma como os
comportamentos de liderana interagem entre si para produzir resultados sobre as
variveis intermdias e por no particularizar as relaes entre as variveis situacionais.
Ainda que existam diferenas significativas entre os modelos que acabmos de
elencar, alguns aspetos so comummente considerados por todas as propostas. Em
primeiro lugar, a aceitao de que os comportamentos de quem lidera podem estar
163
A Liderana
centrados tanto na execuo das tarefas como nas relaes entre os membros do grupo
parece ser um pressuposto vlido para explicar o facto de alguns lderes serem mais
eficazes do que outros que tendem a centrar-se apenas numa rea. Em segundo lugar, h
a registar a centralizao da liderana na figura do lder, partindo-se da premissa que
este fator seria determinante para influenciar a satisfao dos atores organizacionais e
controlar a performance dos colaboradores.
Os estudos levados a cabo sobre esta proposta revelam uma moderada
aceitabilidade do modelo na medida em que so identificadas algumas fragilidades no
s quanto elaborao de instrumentos de avaliao8 para medir o grau motivacional do
lder mas tambm no que respeita avaliao da situao9 (Ferreira, 2001).
Importa, ainda, referir que se as teorias sobre as quais nos temos vindo a debruar
pretenderam ultrapassar a construo de um modelo universal pronto-a-vestir
aplicvel a todas as situaes, acabaram por postular um one best way para uma
determinada situao.
3.
A nova liderana
Fiedler utilizou a escala LPC (Least Prefered Coworker) para medir o grau de orientao motivacional
do lder (orientao para as tarefas ou para o relacionamento).
9
As variveis situacionais so complexas, difceis de avaliar e nem sempre fcil balizar a qualidade das
relaes lder-seguidores, nem o nvel de estruturao da tarefa ou o poder de posio que o lder detm.
164
A Liderana
realidade organizacional atravs da articulao entre uma viso e os valores que lhe
servem e base.
Por esta altura os psiclogos organizacionais viram na cultura organizacional e na
mudana cultural peas estruturantes do sucesso organizacional. Os trabalhos de Schein
(1988, 1990) demonstraram a relao dual entre a cultura e liderana. De acordo com o
autor, os lderes fazem a cultura e so altamente influenciados pela mesma. Na verdade,
os lderes enquanto criadores da cultura carecem de capacidades e competncias muito
especficas como a persistncia, a pacincia ou a confiana emocional. Os lderes,
detentores de uma viso, devero no ter a capacidade de a transmitir aos seus
colaboradores mas tambm de a fazer cumprir.
Esta alterao de paradigma funda-se na perspetiva cultural10 das organizaes que
faz depender o sucesso das organizaes de uma cultura organizacional forte e de
valores partilhados entre todos os colaboradores. A funo basilar da liderana reside,
ento, ao nvel da manipulao da cultura (Schein, 1990).
A corroborar esta linha de pensamento, Costa (1998) acrescenta que
a questo da liderana passa, assim, a fazer parte integrante dos estudos sobre a cultura
organizacional tendo vindo, concomitantemente, a dar-se uma deslocao significativa das
concees tradicionais da liderana (ligada aos modelos racionais e burocrticos) para um
novo entendimento do papel do lder mais ligado s questes culturais e simblicas e aos
processos de influncia Costa (1998:133).
Por sua vez, Reto e Lopes (s/d) ao identificarem liderana e influncia, atribuem
ao lder, enquanto gestor da cultura e do simblico organizacional, trs dimenses
essenciais
que exigem dele a a criao de uma viso que permita dotar a empresa de uma identidade;
a ancoragem desta viso no sistema de normas e valores maioritariamente partilhadas na
organizao; a personificao da identidade do grupo e da prpria viso (Reto e Lopes,
s/d: 77).
165
A Liderana
imbudos de uma viso que procura dotar a organizao de uma identidade, devero
centrar a sua ao na criao e gesto da cultura da organizao, recorrendo
manipulao de valores, rituais, cerimnias, histrias, heris, mitos e outros artefactos
simblicos com o intuito de fomentar nos seguidores um sentido de pertena, uma
identidade e uma mobilizao coletivas.
A viso organizacional de que temos vindo a falar consiste, basicamente, numa
imagem ideal do futuro da organizao pensada estrategicamente e respetivos caminhos
de acesso. Obviamente, exige o envolvimento de todos os atores da organizao,
aliados estratgicos do lder.
Foi j um pouco nesta perspetiva que surgiu o movimento vulgarmente conhecido
como Nova Liderana no qual se destaca a liderana carismtica de House (1977), a
liderana transformacional de Bass (1985) e Burns (1978), a teoria atribucuional da
liderana carismtica de Conger e Kanungo (1987) e as teorias da liderana visionria
(Bennis e Nanus (1985). Transversal a estas propostas encontramos o interesse pelo
estudo de lderes histricos e gestores de vrias organizaes que conseguiram obter
resultados excelentes mesmo em contextos de crise e de grande concorrncia quer
interna quer externa. Na verdade, os lderes carismticos suscitam fortes sentimentos
perante os seguidores sejam eles de atrao ou de rejeio e levam-nos a implementar
grandes esforos com o fito de corresponderem aos seus desafios e solicitaes.
A Liderana
manifestadas pelo lder. Consiste numa espcie de ingrediente mgico da boa liderana
(Rego e Cunha, 2003). O carisma acaba por ser o resultado do processo de interao
entre o lder e os seus seguidores. Parece, contudo, evidente que certos traos do lder,
como a autoestima, as profundas convices, a eloquncia, a estabilidade ou o instinto
tendem a aumentar-lhe o carisma. O prprio contexto organizacional pode potenciar
todos estes efeitos e catapultar o lder como fator altamente agregador das necessidades
dos colaboradores. Na verdade,
o processo pelo qual os lderes carismticos geram entusiasmo e empatia nos seguidores
no claro, mas uma componente importante a articulao de uma viso apelativa que
toca, consciente ou inconscientemente, nas necessidades, valores e sentimentos dos
seguidores. Os apelos emocionais so realados com o uso de smbolos, metforas e
representao de eventos dramticos, e podem ser complementados com a persuaso
racional, visando convencer os seguidores de que a sua estratgia para alcanar as metas
partilhadas vivel e eficaz (Yulk, 1994:341).
167
A Liderana
Traos da
personalidade do lder
Fatores
Comportamento do
lder
Condies
facilitadoras
168
A Liderana
um enorme desenvolvimento na compreenso da liderana carismtica ao defini-la
como um fenmeno atribucional: os seguidores observam certos comportamentos no
lder
atribuem-lhe
determinadas
qualidades
carismticas.
Os
traos,
os
A Liderana
carismticos pelos seguidores. Nesta tica, Conger e Kanungo (1987) definem a
liderana como um processo que implica a mudana dos atores organizacionais de um
determinado estado para outro nvel de desenvolvimento tendo como fundamento a
viso do prprio lder (imagem mental projetada pelo lder para evocar o futuro da
organizao e dos seus agentes).
O processo de implementao da liderana carismtica consubstanciado em trs
fases distintas e referem-se aos comportamentos do lder, ao processo de influncia
protagonizado pelo lder e s condies facilitadoras. O Quadro 23 procura ilustrar a
integrao da proposta de Conger e Kanungo (1987) e Conger (1989).
Quadro 23 Fatores explicativos da liderana carismtica (Adaptado de Conger e Kanungo
(1987) e Conger (1989)
Tipos de Fatores
Comportamentos do
lder
Processo de influncia
Condies
facilitadoras
Fatores
Extremeza da viso
Riscos pessoais elevados
Uso de meios no-convencionais
Avaliao apurada da situao
Viso atrativa e alcanvel
Assertividade e preocupao com as necessidades dos seguidores
Uso do poder pessoal
Comportamento exemplar, empreendedor e elitista
Agente de mudanas radicais
A Liderana
A criao da expresso liderana transformacional atribuda a Burns (1978) e
pretende traduzir a liderana praticada pelos lderes que impulsionam grandes
mudanas nas unidades organizacionais, deixando marcas profundas e duradouras. Este
modelo teve por base a compreenso dos processos subjacentes ao relacionamento entre
o lder e os seguidores que se demarcasse das explicaes aliceradas na estruturao
das tarefas ou na considerao individual.
Os lderes transformacionais induzem, acima de tudo, os seguidores a
ultrapassarem os seus prprios interesses estimulando profundamente o seu
empenhamento e compromisso em prol dos desgnios da organizao. Estes lderes,
instigadores da mudana e dotados de elevados nveis de moralidade e de motivao,
desenvolvem a conscincia dos seguidores invocando a ideais como a justia, a
igualdade, o humanitarismo, a liberdade ou a paz e repelindo veementemente
sentimentos bsicos como o medo, a ganncia, o dio e a inveja.
A liderana autenticamente transformacional, impregnada de preocupaes de
natureza tica, considerada enquanto padro de liderana motivando desempenhos
elevados dos atores organizacionais e grandes transformaes nas organizaes (Cunha
e Rego, 2005) A sua caracterizao est sucintamente explanada no Quadro 24.
Quadro 24 Como atua o lder autenticamente transformacional (Cunha e Rego, 200:35)
Actuao do lder autenticamente transformacional
Orienta a sua necessidade de poder para
ticos.
Focaliza-se
no
desenvolvimento
dos
nos
seguidores.
Ajuda-os
serem
mais
competentes e bem-sucedidos.
Trata cada seguidor como indivduo.
171
A Liderana
Inspiracional
Estimulao intelectual
A Liderana
que ambos os lderes provocam profundas emoes nos seguidores e induzem-nos a
identificarem-se com o lder. Os lderes carismticos existem em maior nmero nas
organizaes enquanto os transformacionais rareiam.
Os estudos pioneiros de Burns (1978) sobre a liderana transformacional foram,
como acabmos de ver, retomados por Bass (1985) que distinguiu liderana
transformacional de liderana transacional. Enquanto a primeira determinada em
funo dos seguidores que so motivados a sentir confiana, admirao, lealdade e
respeito pelo lder estando disponveis a executar tarefas extraordinrias; a segunda,
implica um sistema de recompensas atribudas aos seguidores em funo do seu grau de
obedincia. O lder transformacional serve-se de trs vias distintas para lograr os seus
intentos ao tornar os seguidores mais conscientes da relevncia dos objetivos
organizacionais, ao induzi-los a exceder os seus autointeresses em proveito quer do
grupo quer da organizao ou, ainda, ao ativar as suas necessidades a patamares de
elevada ordem. J os lderes transacionais identificam as necessidades e desejos dos
seus seguidores, explicando-lhes como podem alcan-las em troca da realizao das
tarefas e do desempenho. A liderana transformacional , muitas vezes, equacionada
com o prprio conceito de liderana e a liderana transacional com o conceito de
gesto.
Ao admitir diferenas entre os dois modelos, Bass no se ope sua
complementaridade na medida em que o lder pode utilizar ambas em situaes
distintas ou em simultneo como complemento uma da outra. No entanto, a liderana
transformacional mais adequada em perodos de fundao ou de mudana da
organizao; a liderana transacional, por sua vez, mais compatvel com perodos de
evoluo lenta e ambientes favorveis. consensual a noo de que o lder mais eficaz
transformacional e transacional na medida em que a liderana transformacional
aumenta a eficcia transacional embora no a substitua.
Na atualidade, so, tradicionalmente, atribudas quatro componentes quer
liderana transformacional quer liderana transacional (cf. Quadro 26). Estas
componentes surgiram como resultado da anlise dos dados recolhidos com a primeira
verso do Multifactor Leadership Questionnare (MLQ), agrupados em duas grandes
categorias, designadas por liderana ativa e liderana passiva (Bass e Avoilo, 1993).
Apesar desta dualidade, todas as componentes apresentam uma relevncia intrnseca em
termos concetuais.
173
A Liderana
Quadro 26 Componentes da liderana transformacional e da transacional (adaptado de
Bass, 1985, 1995)
TRANSACIONAL
TRANSFORMACIONAL
Tipos
Componentes
Explicao
Influncia idealizada
Liderana inspiradora
Estimulao intelectual
Considerao individual
Recompensa contingente
174
A Liderana
seguidos dos comportamentos de reforo contingente, da interveno em crise (ativa e
depois passiva) e, em ltimo lugar, o laissez faire (Avoilo e Bass, 1993).
Regressando ideia de que o carisma no uma pea imprescindvel para a
liderana transformacional, Bennis e Nanus (1985), a partir dos estudos que efetuaram,
defendem que poucos lderes, dentro do conjunto de lderes, apresentam um perfil em
conformidade com o esteretipo comum do lder carismtico. Contudo, os referidos
estudos permitiram-lhes definir com maior rigor trs vetores que descrevem a natureza
da liderana transformacional eficaz.
Em primeiro lugar, os autores assinalam a viso do lder fundamentada no que
deseja para o futuro da organizao que lidera e que resulta da articulao ajustada das
opinies e ideias recolhidas a partir de uma rede de contactos formais e informais,
internos e externos. A viso eficaz dever ser, simultaneamente, adequada ao tempo,
organizao e a todos os atores organizacionais. Em segundo lugar, o lder partilha a
sua viso da organizao com todos colaboradores, de modo a que a estrutura, o
processo de gesto e a cultura da organizao se vejam profundamente impregnados
dessa viso. A viso dever ser permanentemente reforada
atravs
dos
A Liderana
direo a seguir, ser agente instigador da mudana, ser porta-voz e comportar-se como
um treinador. De modo a facilitar a sua misso, a comunicao com os colaboradores
deve ser permanente de modo que as vrias equipas criadas possam operacionalizar as
estratgias desenhadas e cumprir os desgnios inerentes viso do lder (cf. Figura 11).
Figura 11 Desenho da liderana visionria (adaptado de Nanus, 1992)
11
176
A Liderana
correcto de compreender, pensar e sentir, em relao a esses problemas (Schein,
1984:3).
A Liderana
para ser ensinado e aprendido pelos novos membros como a forma certa de perceber,
compreender, pensar, considerar e sentir a organizao. A este propsito, Sanches
(1992) salienta que
(Sanches, 1992:45-46).
Os valores constituem na perspetiva de Schein um nvel intermdio na cultura
organizacional. So os valores comuns que moldam o carter essencial da organizao e
lhes conferem um sentido de identidade. Quando os atores organizacionais conhecem os
princpios e valores que a organizao defende e abraa e se identificam com eles,
mais provvel que o seu comportamento organizacional seja coerente com esses valores.
Cada membro da organizao sentir-se- parte integrante da organizao e atribuir
significado e relevncia realidade organizacional. A este propsito, lembremo-nos do
sucesso das empresas japonesas onde existia uma consistncia interna de determinados
valores partilhados como a intimidade, a confiana, a cooperao, o trabalho em equipa
e a igualdade. Cada ator organizacional encarado atendendo sua complexidade,
como um todo e no apenas como um agente de trabalho, gera-se na organizao uma
atmosfera de igualdade, uma comunidade de pares e iguais, trabalhando para finalidades
consideradas comuns (Sanches, 1991:54). A conceo de cooperao ope-se, desta
forma, hierarquia formal defendida pelas teorias burocrticas da organizao.
Os artefactos e criaes ou normas partilhadas constituem elementos capitais,
mediante os quais se constri a cultura organizacional. So uma componente
essencialmente concreta e mais observvel do que os valores. So, sobretudo,
manifestaes informais, por isso, no escritas das dinmicas organizacionais.
Funcionam como orientaes comportamentais, guias de anlise para compreender os
aspetos culturais da vida das organizaes. As normas revelam-se atravs de relatos,
178
A Liderana
cerimnias, smbolos e marcam o que essencial para a organizao e, por esse motivo,
so relatadas aos novos membros de modo a operacionalizar a socializao.
Na verdade, a cultura permite aos colaboradores compreender o ambiente e
determinar o modus faciendi, minimizando, assim, a inquietao, a ambiguidade e a
agitao. Serve de pilar norteador do quotidiano, evitando o recurso a ordens e
regulamentos, proporcionando apoio constante na tomada de deciso face resoluo de
problemas. Quer no momento da fundao quer em pocas conturbadas, o lder pode
(re)criar a cultura organizacional. Para o efeito, tem ao seu alcance mecanismos
primrios e outros secundrios. Os mecanismos primrios possibilitam ao lder aduzir as
suas concees na vida diria das suas organizaes (cf. Quadro 28). So divisveis em
seis categorias.
Ateno
Reaes a crises
e incidentes
crticos
Afetao de
recompensas e
status
Modelao de
papis
Afetao de
recursos
escassos
Critrios de
promoo,
admisso e
despedimento
Explicao
O lder difunde as suas prioridades, valores e interesses quando elege determinados
assuntos para questionar, medir, comentar, elogiar ou criticar. Esta fase acontece
durante a monitorizao e planeamento das atividades.
O lder detm elevada capacidade para transmitir valores e assunes mesmo que a
sobrevivncia organizacional esteja ameaada, a insubordinao impere, os
acontecimentos ameaadores surjam, as normas sejam confusas ou desafiadoras.
O lder valoriza ou penaliza os membros da organizao que aprendem atravs das
suas prprias experincias. A natureza do comportamento recompensado e punido, as
prprias punies e recompensas veiculam sempre mensagens.
O lder transmite valores atravs das suas prprias aes, sobretudo as que denotam
lealdade, autossacrifcio e esprito de servio.
O lder utiliza critrios na afetao de recursos escassos e isso revela os seus
princpios de eficcia que influenciam os objetivos, os meios de alcan-los e os
processos de gesto empregues.
O lder utiliza critrios de recrutamento, seleo, promoo, reformas antecipadas e
despedimentos que comunicam valores.
179
A Liderana
Quadro 29 Mecanismos secundrios suscetveis de influenciarem a cultura (adaptado de Schein,
1990a) e Yulk, 1994)
Mecanismos
Explicao
O desenho da estrutura organizacional influenciado no s por assunes acerca
Desenho da
das relaes internas ou por teorias implcitas de gesto mas tambm pelos requisitos
estrutura
organizacional
Desenho de
sistemas e
procedimentos
Ritos e rituais
Desenho de
espaos fsicos
Histrias,
lendas e mitos
Declaraes
formais
condutas similares.
O desenho dos espaos fsicos compatvel com os valores da organizao: por
exemplo, espaos abertos evidenciam abertura da organizao aos colaboradores.
As histrias sobre pessoas e eventos importantes para a organizao so suscetveis
de transmitir valores e assunes aos colaboradores.
As declaraes pblicas de valores, credos escritos, cdigos e filosofias servem os
propsitos do lder enquanto mecanismos complementares.
180
A Liderana
Quadro 30 Papel simblico do lder (adaptado de Deal e Peterson, 2007:199)
Papel do lder
Historiador
Co de guarda
Caractersticas
Procura entender o passado normativo e social da organizao.
Analisa e procura as normas, valores e crenas que enformam a cultura atual
da organizao.
Visionrio
Trabalha com outros lderes e com a comunidade para definir um futuro para
a organizao.
Smbolo
Oleiro
Poeta
Ator
Curandeiro
181
A Liderana
Quadro 31 As cinco disciplinas de Senge (adaptado de Senge, 2002)
Disciplinas
Domnio pessoal
Modelos mentais
Explicao
Exige um conhecimento profundo do caminho a seguir, com esprito de
abertura e postura criativa.
Aquisio de ideias prprias, pressupostos profundos baseados em valores,
princpios e capacidade de compreender os outros.
Construo de uma
viso compartilhada
Aprendizagem em
equipa
Pensamento sistmico
(a quinta disciplina)
12
Estes contributos tericos situam-se, por exemplo, ao nvel da delegao de competncias ou ao nvel
da liderana carismtica que considera os seguidores como material inflamvel.
182
A Liderana
atravs da cultura organizacional na construo, promoo e desenvolvimento da
qualidade total.
Figura 12 Liderana e Qualidade Total (adaptado de Waldman, 1993)
A pessoa permanece na
Caracterizao
organizao porque
Afectivo
Normativo
Instrumental
13
183
A Liderana
Os colaboradores com fortes vnculos afetivos e normativos so, na verdade, os
que mais cooperam para o desempenho dos grupos e da organizao. Na verdade, este
tipo de colaboradores exteriorizam atitudes mais favorveis perante a mudana,
apresentam um desempenho individual superior no evidenciando sinais de negligncia
ou abandono organizacional. Ao contrrio, os colaboradores de tipo instrumental
adotam um registo menos favorvel.
Na
base
do
desempenho
organizacional
dos
colaboradores
esto,
184
A Liderana
4.
Mudana
Voluntria
Mudana
forada
185
A Liderana
Em qualquer dos casos, o lder desempenha um papel primordial na conduo
das mudanas. Um aspeto relevante para uma liderana da mudana bem sucedida
consiste em construir uma cultura dentro da organizao que fomente a aprendizagem
por parte dos colaboradores, dos grupos e da organizao como um todo.
Partindo do pressuposto de que todos os modelos de liderana podem representar
um valor acrescentado para eliminar o lado negativo das experincias, a conjugao da
observao da experincia, da exposio a modelos eficazes, da pesquisa e da
introspeo que sustenta o verdadeiro desenvolvimento de uma liderana eficaz. A
liderana atua como um processo de transformao que liberta o potencial que cada ator
organizacional detm, em vez de ser um acordo contratual ou transacional, onde as
pessoas apenas agem para conquistar recompensas pessoais, financeiras ou de outro
cariz. A primeira parte do processo que todas as organizaes devem levar a cabo
consiste numa mudana comportamental completa que atinja todos os colaboradores. O
objetivo pretende definir uma panplia de valores que coloque o comportamento
humano no cerne da cultura e se torne catalizador para encorajar a liderana a todos os
nveis da organizao.
Contudo. a mudana no se opera de modo imediato na medida em que constitui
uma alterao profunda nos valores e convices de cada individuo. Hooper e Potter
(2003) referem que a adaptao mudana exige que os indivduos ultrapassem quatro
estdios: negao; resistncia; explorao; compromisso (cf. Figura 14).
Figura 14 As quatro fases bsicas de resposta mudana (Adaptado de Hooper e Potter, 2003)
186
A Liderana
A maior parte das organizaes atravessa este percurso enquanto procura
interiorizar aquilo que lhes esto a pedir para fazer. ao mesmo tempo um processo
interno e externo. A princpio, os atores organizacionais tentam ignorar o problema na
iluso que ele desaparecer. Trata-se da externalizao da mudana. Todavia, medida
que o processo progride, os atores vo, pouco a pouco, internalizando a mudana visto
que percebem a mudana como uma ameaa crescente. Todo o processo
inevitavelmente moroso e essa morosidade permite-lhes compreender os benefcios da
mudana.
Por outro lado, a mudana exige inovao e formas atualizadas de trabalho. As
organizaes procuram, constantemente, novas ideias, mtodos e procedimentos para
obterem melhores resultados dos colaboradores. Este facto requer um nvel de energia e
entrega no interior da organizao que carece de uma forte base de sustentao durante
o perodo de transio (cf. Figura 15). Neste percurso, o papel da liderana ao lidar com
a inovao no pode ser relegado para um plano secundrio na medida em que a gesto
do processo da mudana exige antecipao e flexibilidade. Este caminho demorado no
exequvel seno com atrasos, retrocessos e pequenos avanos recorrendo sempre
comunicao aberta como forma de assegurar a confiana, a nfase no trabalho de
equipa. A delegao de poderes, acompanhada pela partilha de valores, apoia a
sustentabilidade da mudana.
Figura 15 A anatomia da inovao (adaptado de Hooper e Potter, 2003)
187
A Liderana
Importa, tambm, realar que a liderana da mudana bem-sucedida situa-se a
nvel individual. Na verdade, um lder focado na ideia de implementar uma mudana
eficaz deve procurar compreender a forma como os colaboradores encaram o mundo,
que lugar pensam ocupar nele e como se enquadram no seio da organizao. Para alm
de tentar mudar comportamentos ou criar um ambiente diferente, o lder encontra a
nvel da identidade, crenas e valores a chave da mudana para influenciar os
indivduos. O lder dever, simultaneamente, operar tendo em conta o ambiente, o
comportamento, a cultura, a capacidade, as crenas, valores e identidade.
Quer o sistema empresarial quer o sistema educativo vivem em constante
perodo de mudana como consequncia de mltiplas reengenharias, fuses ou
aquisies. O sucesso destas novas organizaes advm da transformao da cultura,
isto , mudar a forma de agir no seio da organizao. A reculturao a chave para uma
liderana eficaz e consiste na ativao e aprofundamento dos objetivos morais
188
A Liderana
Basicamente, cabe ao lder fomentar uma maior capacidade dentro da organizao para
conseguir melhores resultados.
Na verdade, o objetivo da liderana numa cultura de mudana no prev colocar
sujeitos modificados num ambiente inalterado, o que obviamente, implica que o lder
tenha que agir tambm para alterar o contexto e novas prticas possam resultar no
sucesso pretendido. Para alm dos investimentos em formao e tecnologia, as
organizaes carecem de investir na partilha e na criao de conhecimento. Esta
partilha de conhecimento s se efetiva em organizaes que detenham uma tradio ao
nvel das culturas colaborativas. Criar prticas de partilha de conhecimento um opo
credvel de criao de culturas colaborativas, ou seja, a organizao deve assumir a
responsabilidade de dar e receber conhecimento proporcionando aos atores
organizacionais incentivos e oportunidades para o cumprir.
Retomando a ideia inicial que abriu este captulo, a liderana um pilar
essencial para o funcionamento das organizaes formadas por sujeitos que aspiram
alcanar metas e objetivos comuns ainda que possuam interesses pessoais diversos. O
lder corporiza as normas e valores que unem os seguidores e d continuidade ao grupo.
No entender de Alvarez (2001), os lderes mais fascinantes
189
A Liderana
tudo o que os lderes fazem seja criar estratgias ou mobilizar equipas para a
aco o sucesso depende da forma como o fazem e em tudo o que os lderes fazem.
Mesmo que faam correctamente todas as outras coisas, se os lderes falharem na
tarefa fundamental de encaminhar as emoes na direco certa, nada do que fizerem
funcionar bem, ou, pelo menos, no funcionaria to bem como podia ou devia
(Goleman et al, 2003:24).
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