Estudo Traça Relações Entre Microestrutura e Propriedades Mecânicas em Aços Estruturais

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ESTUDO TRAA RELAES ENTRE MICROESTRUTURA E

PROPRIEDADES MECNICAS EM AOS ESTRUTURAIS


Antonio Augusto Gorni
Analista de Processos da Gerncia de Suporte Tcnico da Laminao a Quente da
Companhia Siderrgica Paulista COSIPA
Editor Tcnico das Revistas Corte e Conformao de Metais e Plstico Industrial

Trabalho apresentado no 5 Congresso de Corte e Conformao de Metais,


Aranda Eventos, So Paulo, Outubro de 2009.

RESUMO
H uma relao bastante significativa entre as microestruturas e propriedades mecnicas dos
aos, particularmente os do tipo estrutural. A compreenso e quantificao dos efeitos microestruturais sobre as propriedades mecnicas o caminho para o desenvolvimento de produtos cada
vez mais otimizados. Dessa forma pode-se atender de maneira cada vez mais econmica aos requisitos cada vez mais severos impostos pelos seus usurios.

- INTRODUO
As enormes presses econmicas, ambientais e polticas que caracterizam o mundo moderno refletem-se na rea dos materiais numa busca constante por alternativas que ofeream baixo custo, boas propriedades de engenharia, construo leve e fcil manufatura. Portanto, no
toa que nas ltimas dcadas verificou-se uma progressiva aplicao de conceitos metalrgicos na
concepo e processamento das ligas metlicas no sentido de se otimizar esses materiais e garantir sua posio privilegiada como materiais de engenharia, em especial na indstria automobilstica, cuja enorme escala garantia de alta lucratividade.
A otimizao de ligas metlicas particularmente aos, tema deste trabalho requer um
conhecimento aprofundado sobre seus mecanismos microestruturais de endurecimento. O princpio bsico por trs desses mecanismos consiste em dificultar ao mximo a mobilidade das discordncias presentes na estrutura cristalina do metal, j que so justamente esses defeitos que
fazem com que a resistncia mecnica dos materiais reais seja menos de 10% do valor que seria
teoricamente possvel.
A resistncia mecnica de um ao estrutural corresponde somatria das contribuies dos
diversos mecanismos de endurecimento atuantes em sua microestrutura. Os principais tipos so
[1]:
-

Resistncia bsica dos tomos de ferro;

Endurecimento por soluo slida proporcionado pelos elementos de liga solubilizados


(C, N, P, Mn, Si, Cr, Mo, etc.);

Endurecimento por refino do tamanho de gro;

Endurecimento por precipitao de compostos intermetlicos;

Endurecimento por segunda fase.

Endurecimento por discordncias.

A contribuio desses mecanismos de endurecimento varia conforme o tipo de ao considerado. Todos eles elevam as propriedades mecnicas determinadas sob condies estticas, ou
seja, as que so medidas sob baixas velocidades de deformao, como o caso dos limites de
escoamento e resistncia, levantados atravs de ensaios de trao. Infelizmente, a maioria dos
mecanismos de endurecimento tende a degradar as propriedades mecnicas determinadas sob
condies dinmicas, ou seja, as medidas sob altas velocidades de deformao, como a tenacidade ou capacidade que o material tem para resistir nucleao e avano de uma trinca por exemplo, a energia absorvida durante um ensaio de impacto Charpy ou a temperatura de transio
entre fratura dctil e frgil.
O endurecimento por soluo slida decorre da presena de tomos de elementos de liga
solubilizados no reticulado do elemento solvente no caso, o Fe. Com exceo do P, todos os
demais provocam dilatao no reticulado. A intensidade de seu efeito no endurecimento funo
dos seguintes fatores:
-

Diferena de tamanho entre os tomos de soluto e o de solvente;

Perturbaes na estrutura eletrnica, que podem estar presentes em termos da diferena


no mdulo de cisalhamento entre o soluto e solvente;

Concentrao do soluto.
3

Do ponto de vista prtico o efeito do endurecimento por soluo slida diretamente proporcional ao teor em peso do soluto. A tabela 1 mostra o efeito de endurecimento por soluo
slida de diversos elementos de liga comumente presentes no ao.
Elemento
Fator
[MPa/% peso]

Sn

Cu

Mo

Cr

Ni

680

124

39

12

-31

Tabela 1: Coeficientes de endurecimento por soluo slida para vrios elementos de liga normalmente presentes nos aos [1].
O endurecimento por refino de tamanho de gro tg quantificado pela j consagrada
equao de Hall-Petch, sendo proporcional ao inverso da raiz quadrada do dimetro mdio dos
gros:

tg

ktg
d

onde kTG uma constante que depende da liga e d seu tamanho de gro.
Este o nico mecanismo de endurecimento que aumenta tanto a resistncia mecnica como a tenacidade dos metais. Por esse motivo o refino de gro geralmente o primeiro mecanismo de endurecimento cogitado ao se definir processos metalrgicos de conformao e tratamento trmico de aos estruturais.
O endurecimento por precipitao ppt muito comum nos aos microligados, em funo das partculas extremamente finas que se precipitam na ferrita durante o resfriamento lento
desses aos aps laminao a quente ou tratamento trmico. A intensidade desse endurecimento
depende das caractersticas das partculas precipitadas, tais como resistncia mecnica, estrutura,
espaamento, tamanho, formato e distribuio. Ele pode ser quantificado a partir do modelo de
Ashby-Orowan:
ppt

5,9 X p
x

ln( 4000 x )

onde PPT o endurecimento por precipitao, Xp a frao de precipitados na microestrutura


e x o dimetro mdio do intercepto planar dos precipitados. Esta frmula deixa claro que o
endurecimento por precipitao diretamente proporcional quantidade dos precipitados e inversamente proporcional ao seu dimetro. Sua aplicao prtica restrita, j que nos aos microligados os precipitados que aumentam a dureza somente podem ser detectados atravs de microscopia eletrnica de transmisso, cuja complexidade dificulta muito a obteno das grandes
massas de dados necessrias para o ajuste estatstico das equaes experimentais.
O endurecimento por segunda fase decorre da presena de mais de uma fase ou constituinte na microestrutura do ao como a perlita, por exemplo. No caso especfico de uma microestrutura ferrtico-perltica a resistncia mecnica pode ser calculada em funo da lei de misturas:

y X 1f / 3 yf (1 X 1f / 3 ) yp
onde y o limite de escoamento do ao, Xf a frao de ferrita, yf o limite de escoamento da
ferrita e yp o limite de escoamento da perlita.

O endurecimento por discordncias disc ocorre, por exemplo, em aos microligados que
contenham constituintes formados sob temperaturas relativamente baixas como, por exemplo,
ferrita acicular ou bainita. A ferrita acicular, ao contrrio da poligonal, contm discordncias em
sua estrutura que aumentam sua resistncia mecnica. O efeito de endurecimento diretamente
proporcional raiz quadrada da densidade de discordncias presente na microestrutura:
disc kdisc

onde kdisc uma constante que depende da liga.


Eventualmente esse tipo de endurecimento pode ocorrer na prpria ferrita poligonal que originalmente est isenta de discordncias. Por exemplo, em determinados aos a transformao
da austenita d origem grandes fraes de ferrita poligonal formada sob temperaturas relativamente altas. Contudo, a ferrita rejeitada durante essa transformao se concentra numa pequena
frao de austenita remanescente, que assim ganha temperabilidade e se estabiliza momentaneamente. Dessa forma ela s ir se transformar posteriormente, sob temperaturas relativamente
baixas, formando constituintes aciculares, como ferrita acicular, bainita ou mesmo martensita. O
volume desses constituintes significativamente maior em relao austenita que lhes deu origem. Isso gera tenses de compresso na matriz de ferrita poligonal j existente, deformando-a
localmente e gerando discordncias na mesma, as quais tambm exercem efeito endurecedor.

- RELAES QUANTITATIVAS ENTRE PROPRIEDADES MECNICAS, MICROESTRUTURA E COMPOSIO QUIMICA DOS AOS ESTRUTURAIS
Sero expostas a seguir diversas equaes disponveis na literatura que aplicaram os
princpios descritos acima para permitir o clculo de propriedades mecnicas em funo dos parmetros microestruturais e da composio qumica para vrios tipos de ao estrutural. Na maioria dos casos so apresentadas equaes para clculo dos limites de escoamento e de resistncia;
equaes para clculo de parmetros ligados ductilidade e tenacidade so um pouco mais raras.

. Aos Doces ao C-Mn para Estampagem [2]

YS 53.9 32.3 Mn 83.2 Si 354.2

N sol

TS 294.1 27.7 Mn 83.2 Si 2.85 Pearl

17.4
d
7.7
d

d
15.4
370 120 C 23.1 Mn 116 Si 554 P 143 Sn 1509 N sol
d
d

unif 0.28 0.20 C 0.25 Mn 0.044 Si 0.039 Sn 1.2 N sol

tot 1.40 2.90 C 0.20 Mn 0.16 Si 2.2 S 3.9 P 0.25 Sn

50% ITT 19 44 Si 700

N sol 2.2 Pearl

0.017
d

11.5
d
5

Y 12.32 19250 N sol 162 Mn 462 O

Notao:
YS: Limite de Escoamento a 0,2% de Deformao [MPa]
TS: Limite de Resistncia [MPa]
d/d: Coeficiente de Encruamento a 0,2% de Deformao [1/MPa]
unif: Alongamento Uniforme, Expresso como Deformao Real
tot: Alongamento Total, Expresso como Deformao Real
Pearl: Frao de Perlita na Microestrutura [%]
50% ITT: Temperatura de Transio para 50% de Fratura Dctil [C]
Y: Envelhecimento Aps 10 Dias sob Temperatura Ambiente [MPa]
d: Tamanho de Gro [mm]
Este conjunto de equaes foi desenvolvido por Pickering para aos destinados estampagem profunda, com teor de C entre 0,08 e 0,12%. interessante notar que a equao para
clculo do limite de escoamento leva em conta o endurecimento por soluo slida dos elementos de liga; o efeito do N solvel expresso pela raiz quadrada de seu teor. A contribuio do
tamanho de gro includa atravs de um termo similar equao de Hall-Petch. J a equao
do limite de resistncia no leva em conta o efeito do N, mas inclui o da frao de perlita multiplicado por um fator constante. Em ambos os casos o efeito do Si foi superior ao do Mn. Os
mesmos efeitos foram includos no clculo do coeficiente de encruamento, levando em conta
maior nmero de elementos de liga, com destaque para o papel do N solvel e P.
Os elementos de liga tenderam a reduzir a ductilidade dos aos ao C-Mn, exceto o Mn,
Si e Sn no caso do alongamento total. O efeito do refino de gro sobre a ductilidade tambm foi
positivo para esse parmetro. J a tenacidade no favorecida pela presena de Si, N solvel e
perlita mas, como j era esperado, promovida pelo refino de gro.

. Aos ao C-Mn com Microestrutura Ferrtico-Perltica [3]

YS 246 4.15 Pearl 44.6 Mn 138 Si 923 P 169 Sn 3754 N sol

14.9
d

TS 492 3.38 Pearl 246 Mn 277 Si 2616 S 723 P 246 Cr 6616 N sol

44.6
d

d
15.4
385 1.39 Pearl 111 Si 462 P 152 Sn 1369 N sol
d
d

unif 0.27 0.016 Pearl 0.015 Mn 0.040 Si 0.043 Sn 1.0 N sol

tot 1,30 0.020 Pearl 0.30 Mn 0.20 Si 3.4 S 4.4 P 0.29 Sn


Ttrans 43 1.5 Pearl 37 Mn

0.015
d

6.2
d
6

Notao:
. YS: Limite de Escoamento a 0,2% de Deformao [MPa]
. TS: Limite de Resistncia [MPa]
. d/d: Coeficiente de Encruamento a 0,2% de Deformao [1/MPa]
. unif: Alongamento Uniforme, Expresso como Deformao Real
. tot: Alongamento Total, Expresso como Deformao Real
. Pearl: Frao de Perlita na Microestrutura [%]
. Ttrans: Temperatura de Transio Dctil-Frgil [C]
. d: Tamanho de Gro [mm]
Este conjunto de equaes, tambm de autoria de Pickering, foi desenvolvido para aos
estruturais com at 0,25% C, sendo bastante similares s deduzidas para o ao doce visto no tpico anterior. A nica discrepncia ficou por conta dos efeitos contraditrios da frao de perlita
sobre o limite de escoamento e o de resistncia.

. Aos Microligados [4]

YS 0 37 Mn 83 Si 2918 N sol

15.1
d

ppt

Notao:
YS: Limite de Escoamento a 0,2% de Deformao [MPa]
0: Tenso de Frico [MPa]
d: Tamanho de Gro [mm]
ppt: Endurecimento por Precipitao para Aos com Nb, Ti e/ou V [MPa].
Este modelo, tambm proposto por Pickering, apresenta algumas diferenas em relao
aos dois j vistos anteriormente. Em primeiro lugar, ele inclui um termo de tenso de frico 0
que, na verdade, serve para incluir na equao o efeito do processamento do material, conforme
mostra a tabela II. Alm disso, a equao permite a incorporao da contribuio do endurecimento por soluo slida de outros elementos de liga dissolvidos na ferrita, cujos fatores de multiplicao encontram-se na tabela III. interessante notar que o Cr o nico elemento neste caso
que apresentou efeito negativo sob este aspecto.
Uma vez que se trata de ao microligado esta equao inclui a contribuio do endurecimento por precipitao interfsica na ferrita, ppt, similar ao modelo de Ashby-Orowan:

ppt

5.9

f
x

ln
4
2
.
5

10

Contudo, tendo-se em vista a difcil determinao quantitativa dos parmetros necessrios ao clculo da equao de Ashby-Orowan, Pickering props que o endurecimento por precipitao fosse calculado atravs da simples multiplicao dos teores dos elementos de micro-liga
por fatores especficos B. A tabela IV mostra faixas sugeridas para esses fatores em funo do
precipitado envolvido. Por sinal, esta abordagem emprica bastante comum, ainda que restrinja
bastante a aplicabilidade do modelo matemtico, uma vez que geralmente ela determinada sob
condies muito especficas de processamento.

0
[MPa]
Mdia
70
Resfriado ao Ar
88
Super-Envelhecido 62
Condio

Tabela II: Valores de tenso de frico 0 para determinao do limite de escoamento para aos
microligados [4].

Fator
Elemento [MPa/% peso]
Ni
33
Cr
-30
P
680
Cu
38
Mo
11
Sn
120
C
5000
N
5000
Tabela III: Valores dos fatores de multiplicao para clculo do efeito de endurecimento por soluo slida de elementos solubilizados na ferrita para determinao da resistncia
mecnica de aos microligados [4].

Liga e
Bmn
Bmx
Precipitado
[MPa/% peso] [MPa/% peso]
V como V4C3
500
1000
V como VN
1500
3000
Nb como Nb(CN)
1500
3000
Ti como TiC
1500
3000

Faixa
[% peso]
0,00 ~ 0,15
0,00 ~ 0,06
0,00 ~ 0,05
0,03 ~ 0,18

Tabela IV: Valores dos fatores de multiplicao B para clculo do efeito de endurecimento por
precipitao proporcionado por elementos de micro-liga [4].

. Aos Microligados [5]

YS 62.6 26.1 Mn 60.2 Si 759.0 P 212.9 Cu 3286.0 N sol

19.7
d

ppt

TS 164.9 634.7 C 53.6 Mn 99.7 Si 651.9 P 472.6 Ni 3339.4 N sol

11.0
d

ppt

ppt 57 log CR 700 V 7800 N sol 19

Notao:
YS: Limite de Escoamento a 0,2% de Deformao [MPa]
8

TS: Limite de Resistncia [MPa]


d: Tamanho de Gro [mm]
ppt: Endurecimento por Precipitao para Aos ao V [MPa].
CR: Taxa de Resfriamento [C/s]
Este conjunto de equaes, proposto por Hodgson & Gibbs [5], especfico para aos
microligados ao V. O destaque aqui a equao emprica para clculo do endurecimento por
precipitao de VN, ppt, em funo no s dos teores de V e N, como tambm da velocidade
de resfriamento do laminado aps a laminao a quente.

. Aos Bifsicos [6,7]


YS 203 855

1
L

TS 266 548

f
1
1741
L
d

d
386 590
d

1
1722
L

aunif 32 64

f
d

1
L

Notao:
LE: Limite de Escoamento a 0,2% de Deformao [MPa]
LR: Limite de Resistncia [MPa]
d/d: Coeficiente de Encruamento no Alongamento Uniforme [1/MPa]
aunif: Alongamento Uniforme [%]
L: Caminho Livre Ferrtico Mdio [m]
f: Frao Volumtrica Mdia de Martensita [%]
d: Dimetro Mdio das Ilhas de Martensita [m]
Os aos bifsicos foram desenvolvidos a partir da dcada de 1970 com o objetivo de aliar alta resistncia mecnica com boa estampabilidade. Eles apresentam uma microestrutura
peculiar, constituda de uma matriz de 80 a 85% de ferrita poligonal macia mais 15 a 20% de
martensita dura. As tenses de compresso induzidas na matriz de ferrita pelas ilhas de martensita facilitam o fluxo do material durante a deformao plstica, reduzindo o valor do limite de
escoamento e eliminando o patamar. medida em que a deformao plstica progride a restrio
ao fluxo de material imposta pelas ilhas de martensita proporciona um encruamento significativo
ao material, resultando num componente estampado com alta resistncia mecnica.
Essa abordagem microestrutural possui correlaes interessantes com as propriedades
mecnicas obtidas, as quais diferem um pouco do que normalmente se verifica nos aos comuns
ferrtico-perlticos. Em primeiro lugar, a relao de Hall-Petch ligeiramente diferente no caso
dos aos bifsicos: o caminho livre disponvel para as discordncias delimitado pelos contornos
ferrita-martensita e no mais pelos contornos de gro ferrticos [8]. Assim sendo, a equao de
9

Hall-Petch continua vlida, s que o valor do tamanho de gro d deve ser substitudo pela distncia livre ferrtica mdia L. A diferena entre esses dois parmetros microestruturais pode ser
vista na figura 1. exatamente o que se v na equao para clculo do limite de escoamento [7].
O clculo do limite de resistncia para o caso dos aos bifsicos tambm deve levar em
conta o encruamento ou endurecimento por discordncias disc que ocorre no material. Foi
constatado que esse encruamento pode ser expresso atravs do modelo de Ashby [9,10],

disc k

f
d

onde k uma constante emprica. Ou seja, o encruamento de um ao bifsico proporcional


raiz quadrada da frao de martensita presente na microestrutura e ao inverso de seu tamanho de
gro. Como se pode observar, a equao proposta para o clculo do limite de resistncia leva em
conta a relao de Hall-Petch usando a distncia livre ferrtica mdia e o modelo de Ashby.

Figura 1: Representao esquemtica do tamanho de gro ferrtico (d) e da distncia livre ferrtica mdia (L) numa microestrutura bifsica [7].
interessante notar que o coeficiente de encruamento tambm pode ser calculado por
uma equao com formato semelhante ao usado para o limite de resistncia. Por sua vez, o alongamento uniforme inversamente proporcional ao caminho livre ferrtico mdio.

. Aos de Baixo C com Ferrita Acicular ou Bainita


YS 88 37 Mn 83 Si 2900 N sol

15.1
dL

disc ppt

TS 246 1900 C 230 (Mn Cr ) 185 Mo 90 W 125 Ni 65 Cu 385 (V Ti)


ITT 19 44 Si 700 N sol 0.26 ( disc ppt )

11.5
d

Notao:
10

YS: Limite de Escoamento para 0,2% de Deformao Real [MPa]


TS: Limite de Resistncia [MPa]
ITT: Temperatura de Transio para 50% de Fratura Dctil [C]
dL: Tamanho de Ripa para a Ferrita Acicular ou Bainita [mm]
d: Espaamento Mdio entre Contornos de Alto ngulo (Pacote ou Antigos Contornos
de Gro Austenticos)
Mais uma vez o endurecimento por precipitao ppt pode ser calculado pelo modelo
de Ashby-Orowan, expresso pela frmula

ppt

5.9

f
x

ln
4
2.5 10

Mas a novidade neste caso o termo que expressa o endurecimento por discordncias
disc, cuja frmula geral
disc b

onde uma constante emprica, o mdulo de cisalhamento, b o vetor de Burgers e a


densidade de discordncias expressa em linhas por cm. A determinao experimental dos parmetros necessrios para o clculo dessa expresso difcil, tendo sido propostas equaes empricas alternativas. Uma delas a de Pickering [4]:
disc 1.2 103

disc 8 104

e outra foi proposta por Keh [11]:

. Aos Ferrtico-Perlticos com Mdio C [4-12]

17.4
YS 3 f 35 58 Mn
1
d

TS 3 f 246 1140

N sol

3.8
f 178

S0

18.2
1
d

63 Si 42 N sol

3.5
f 720

S0

97 Si

d
15.4
385 1.386 Pearl 111 Si 462 P 152 Sn 1371 N sol
d
d

11.5
ITT f 46
1 f
d

5.6 13.3

3.48 10 6
335
S0
p

t 48.7 Si 762 N sol

Notao:
11

YS: Limite de Escoamento a 0,2% de Deformao [MPa]


TS: Limite de Resistncia [MPa]
d/d: Coeficiente de Encruamento a 0,2% de Deformao [1/MPa]
ITT: Temperatura de Transio para Fratura 50% Dctil [C]
f: Frao Volumtrica Mdia de Ferrita
d: Tamanho de Gro Mdio da Ferrita [mm]
S0: Espaamento Lamelar Mdio da Perlita [mm]
p: Tamanho da Colnia de Perlita [mm]
Pearl: Frao de Perlita na Microestrutura [%]
t: Espessura da Lamela de Carbonetos Perlticos [mm]
A frao de perlita presente na microestrutura proporcional ao teor de C. No presente
caso, um ao com mdio teor de C, j se faz necessrio aplicar a lei da mistura de fases para se
levar adequadamente em conta o endurecimento proporcionado pela perlita. interessante notar
que tanto o limite de escoamento como o de resistncia da perlita so expressos por uma lei similar de Hall-Petch, onde o tamanho de gro substitudo pelo espaamento entre as lamelas desse constituinte. Deve-se destacar tambm o efeito deletrio da espessura da lamela de carbonetos
perlticos sobre a tenacidade do material, uma vez que a temperatura de transio dctil-frgil
proporcional ao valor desse parmetro microestrutural.

- CONCLUSO
Como se pode observar, j foram desenvolvidas diversas equaes empricas para o clculo de propriedades mecnicas a partir da composio qumica e parmetros microestruturais
observados em aos estruturais. Contudo, sua aplicabilidade a casos especficos no totalmente
garantida, j que inmeros detalhes associados ao processamento do material podem alterar aspectos sutis da estrutura cristalina do material e prejudicar a preciso dessas equaes. Alm
disso, a determinao experimental dos parmetros microestruturais quantitativos requer procedimentos algo demorados e eventualmente complexos considerando nossa realidade industrial.
Ainda assim, essas equaes so muito importantes para se entender os principais fatores que
afetam o desempenho desses aos e para definir o rumo dos desenvolvimentos a serem feitos
para se obter materiais cada vez mais otimizados.

- REFERNCIAS BIBLIOGRFICAS
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12

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Steel Institute, 210, Dec. 1972, 916-930.

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CURRCULO DO AUTOR

Engenheiro de Materiais pela Universidade Federal de So Carlos, 1981


Mestre em Engenharia Metalrgica pela Escola Politcnica da USP, 1990
Doutor em Engenharia Mecnica pela Universidade Estadual de Campinas, 2001
Analista de Processos da Companhia Siderrgica Paulista desde 1982
Editor Tcnico das Revistas Plstico Industrial (desde 1998) e Corte e Conformao de Metais
(desde 2005), da Aranda Editora; participao no Corpo Editorial da Revista Tecnologia em Metalurgia e Materiais, da Associao Brasileira de Metalurgia, Materiais e Minerao (desde 2009)
Autor de mais de 190 trabalhos tcnicos publicados no Brasil e exterior, nas reas de aciaria,
fundio, laminao a quente, tratamentos trmicos, polmeros, modelamento matemtico e inteligncia artificial
4 patentes concedidas na rea de laminao a quente
Prmios da Associao Brasileira de Metalurgia e Materiais (ABM): COSIPA (1992, 1996), Luiz Dumont Villares (1997 e 1999), Paulo Lobo Peanha (1999), Usina Presidente Vargas (2000)
Outros Prmios (ligados rea de patentes): Prmio Talento Brasileiro, Fase Estadual (1994 e
1998); Prmio Estadual FIESP de Conservao e Uso Racional de Energia (1998); Prmio Governador do Estado (1999).
Home Page: www.gorni.eng.br

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