Williams, Tennessee - Fala Comigo Doce Como A Chuva
Williams, Tennessee - Fala Comigo Doce Como A Chuva
Williams, Tennessee - Fala Comigo Doce Como A Chuva
vez me enfiaram numa lata de lixo, em um beco e eu acordei com cortes e queimaduras no meu
corpo. Gente m abusa de voc quando voc est inconsciente. Quando eu acordei estava
despido numa banheira cheia de cubos de gelo que derretiam. Eu me arrastei pra fora da
banheira, fui para a sala e algum estava saindo pela outra porta quando eu entrei e, eu abri a
porta e ouvi a porta de um elevador fechando e vi as portas de um corredor de hotel. A TV estava
ligada e havia um disco tocando ao mesmo tempo; a sala estava cheia de carrinhos de ch
carregados de coisas da copa, presuntos inteiros, perus inteiros, sanduches de trs andares j
velhos e ficando duros, e garrafas, garrafas e mais garrafas de todos os tipos de bebidas que
ainda nem tinham sido abertas, e baldes de gelo derretendo... Algum fechou uma porta quando
eu entrei... (A mulher bebe gua). Quando eu entrei algum estava saindo. Eu ouvi a porta de um
elevador fechar... (A mulher pousa o copo). Tudo espalhado pelo cho daquele quarto perto do rio,
coisas, roupas por todo lado... (A mulher se assusta quando pombos passam voando pela janela
aberta.) Soutiens! Calcinhas! Camisas, gravatas, meias - e outras coisas...
MULHER (baixinho): Roupas?
HOMEM: Sim, todo tipo de coisas pessoais e vidro quebrado e mveis derrubados, como
se estivesse acontecendo uma briga do tipo vale-tudo na rua e a polcia tivesse dado uma batida
policial.
MULHER: Oh.
HOMEM: Deve ter havido violncia naquele - lugar...
MULHER: E voc estava - ?
HOMEM: Na banheira - gelado...
MULHER: Oh...
HOMEM: E eu me recordo de pegar o telefone para perguntar o nome do hotel, mas no
me lembro se eles me disseram ou no. Me d um gole de gua. (Os dois se levantam e se
encontram no meio do quarto. O copo passado de um para o outro com seriedade. Ele comea
a bochechar olhando fixamente para ela, e cruza para cuspir a gua pela janela. Depois ele volta
ao centro do quarto e devolve o copo para ela. Ela toma um pouco de gua. Ele coloca os dedos
de modo carinhoso sobre o longo pescoo dela.) Agora recitei a ladainha de minhas tristezas.
(Pausa: o bandolim ouvido). O que voc tem para me contar? Diga-me um pouco do que est se
passando dentro do - (Os dedos dele passam sobre a testa e os olhos dela. Ela fecha os olhos e
levanta a mo no ar como se fosse toc-lo. Ele pega a mo e examina de cima pra baixo, depois
beija os dedos dela apertando-os contra seus lbios. Quando ele solta os dedos, ela toca seu
peito magro e liso como de uma criana e depois toca seus lbios. Ele levanta a mo e deixa que
seus dedos deslizem pelo pescoo dela e pela abertura do quimono enquanto o bandolim toca
com mais fora. Ela se volta para ele e se encosta nele curvando o pescoo sobre os ombros dele
e ele corre os dedos pela curva do pescoo dela e diz -) Faz tanto tempo que no estamos juntos
a no ser como dois estranhos vivendo juntos. Vamos nos reencontrar e talvez no ficaremos
mais perdidos. Fala comigo! Eu estive perdido! Eu pensei em voc muitas vezes porm no podia
lhe telefonar, meu bem. Pensei em voc o tempo todo mas no podia telefonar. O que eu poderia
dizer se telefonasse? Poderia dizer, estou perdido? Perdido nesta cidade? Jogado de um lado
para o outro entre o povo como um carto postal sujo? - E depois de desligar o telefone... Eu
estou perdido nesta - cidade...
MULHER: A nica coisa que botei na boca desde que voc saiu foi gua! (Ela diz isto
quase que alegre sorrindo. O Homem a abraa com desespero com um grito suave e chocado.) Nada a no ser caf instantneo at que acabou e gua. (Ela ri convulsivamente).
HOMEM: Voc pode falar comigo, bem? Voc pode falar comigo agora!
MULHER: Sim!
HOMEM: Ento fala comigo como se fosse a chuva e me deixa ouvir, me deixa deitar aqui
e - ouvir... (Ele cai pra trs atravessado na cama, vira-se sobre o estmago com um brao caindo
do lado da cama e s vezes batendo um ritmo no cho com os dedos da mo fechada. O
bandolim continua.) Faz tanto tempo - que no nos entendemos. Agora me conta as coisas. O que
voc tem pensado em silncio? - Enquanto eu era jogado de um lado para outro nesta cidade
como se fosse um carto postal sujo... Me conta, fala comigo como se fosse a chuva e eu ficarei
deitado aqui e ouvirei.
MULHER: Eu HOMEM: Voc tem que falar, necessrio! Eu preciso saber, por isso fala comigo como a
chuva e eu ficarei deitado aqui e ouvirei, eu ficarei deitado aqui e -
coisa que haja alm do princpio do espao... (Ela senta novamente sem muita firmeza perto da
janela.) Ento sairei e andarei pela calada. Andarei sozinha e serei empurrada pelo vento e
ficarei pequenina, pequenina.
HOMEM: Amorzinho. Vem para a cama
MULHER: Pequena, pequena, pequena e mais pequenina e pequenina! (Ele atravessa o
quarto indo em sua direo e a levanta fora.) At que finalmente no teria mais corpo e o
vento viesse me tomar em seus braos brancos e refrescantes para sempre, e me levasse
embora!
HOMEM: (ele aperta a boca contra o pescoo dela.) Vem para a cama comigo!
MULHER: Quero ir embora, quero ir embora! (Ele a solta e ela volta ao centro do quarto
soluando descontroladamente. Ela senta na cama. Ele suspira e se debrua na janela, as luzes
piscando alm dele, a chuva caindo mais forte. A mulher treme de frio e cruza os braos contra o
peito. Seus soluos morrem mas ela respira com dificuldade. A luz pisca e ouve-se o vento frio. O
homem continua debruado na janela. Finalmente ela fala com ele suavemente -) Volta para a
cama. Volta para a cama, meu bem... (Ele vira o rosto para ela com uma expresso perdida e -)
A CORTINA CAI.