Os Efeitos Psicológicos Da Prática Do Ritual Maçônico
Os Efeitos Psicológicos Da Prática Do Ritual Maçônico
Os Efeitos Psicológicos Da Prática Do Ritual Maçônico
Abstract
This paper aims to conduct a comparative analysis of Jungian psychology with Masonic symbolism, more specifically with the symbols contained in a Lodge of the Ancient and Accepted Scottish Rite and its ritual practices, in addition to observing the psychological effects of the practice
of ritualistic on the practitioners of that masonic rite.
Keywords Jungian psychology, symbology, Freemasonry.
Rafhael Guimares Mestre Maom, membro da GLMEES; e Maom do Real Arco, filiado ao SGCMRAB. Alm de pertencer a outras Ordens Iniciticas, ministra cursos e palestras sobre Cabala, Astrologia e Tar.
Introduo
A definio mais comum de Maonaria a
de que Maonaria um belo sistema de moralidade velado em alegoria e ilustrado por smbolos (ZELDIS, 2011). Isso j diz muito sobre a instituio e seu modo de ensino e aprendizagem,
que ocorre por meio de rituais repletos de alegorias e expresses simblicas. No entanto, entre o
desdobramento do ritual e o comportamento
moral de seus praticantes h um mecanismo psicolgico que no pode ser ignorado e cuja compreenso pode colaborar um melhor entendimento da razo da Maonaria atrair ao longo dos
sculos o interesse de tantos distintos homens e
a ira de to perigosos inimigos, como os nazistas, papas e o Comintern Comit Comunista
Internacional (ROBERTS, 1969).
ao do inconsciente de uma camada mais profunda, que chamou de Inconsciente Coletivo, que
so formas ou imagens de natureza coletiva que
se manifestam praticamente em todo o mundo
como constituintes dos mitos e, ao mesmo tempo, como produtos individuais de origem inconsciente, que influenciam toda nossa psique (JUNG,
2011c).
Ao contrrio da escola freudiana, que afirma que os mitos esto profundamente enraizados dentro de um complexo do inconsciente, para Jung, a origem atemporal dos mitos reside
dentro de uma estrutura formal do inconsciente
coletivo. Torna-se assim uma diferena considervel para Freud, que nunca reconheceu a autonomia congnita da mente e do inconsciente,
enquanto que, para Jung havia uma dimenso
coletiva inata e com autonomia energtica.
O conceito adotado nesta obra de smbolo o da Psicologia Junguiana, que difere do conceito semitico de smbolo institudo
por Ferdinand de Saussure, pai da lingustica, bem como tambm difere parcialmente de certas anlises Psicanalticas de Freud.
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outra viso dos arqutipos, que se encontra centrada nos trs arqutipos relativos ao chamado
Complexo de dipo, que, por suas caractersticas peculiares, possui proximidades com a antropologia e com a lingustica, ao passo que a viso
apresentada neste artigo, Junguiana, possui proximidades com os conceitos do Inconsciente Coletivo sustentados pelo socilogo francs mile
Durkheim, um dos pais da Sociologia Moderna,
onde em sua obra o define como o conjunto de
crenas e sentimentos autnomos de uma sociedade (DURKHEIM, 2004). Suas teorias tambm
Essas afirmaes precedentes necessitam influenciaram Freud, mas com devido efeito,
de um exemplo hipottico: O amor da me para acham-se proficuamente delineadas nas obras de
com seu filho jamais seria compreendido por pa- Jung.
lavras ou descries objetivas, como nmeros ou
letras. Em vez disso, podemos, ao invs de escre- O Templo Manico do Rito Escocs e a Psiver sobre tal amor, apenas apresentar o conheci- que Humana
do smbolo do corao. Deste modo, mesmo que
Os maons so unanimes em dizer que o
parcialmente, a noo que teremos a respeito do
Templo
Manico simblico, e como j vimos,
amor de uma me para com seu filho, ser muito
mais prxima do que as expressadas por meras o smbolo muito mais do que mera ornamentao artstica para representar algo (JUNG, 2012).
palavras (JUNG, 2011d).
Importante registrar que o templo manico no
As mitologias e sentimentos so comu- uma rplica do Templo de Salomo, se no
mente manifestados por meio de smbolos e apenas simbolicamente inspirado no Templo de
gestos. Do mesmo modo, a Maonaria atua atra- Salomo, mas contendo muitas outras influnvs da ritualstica das suas iniciaes e instru- cias, de acordo com o Rito adotado (ISMAIL,
es. Os smbolos e gestos atuam como um ca- 2012). No caso do presente estudo, refere-se a
talizador de sentimentos de seus praticantes um templo do Rito Escocs Antigo e Aceito.
atravs do mito trabalhado pelo grupo-cultura
Portanto, toda a ornamentao e diviso
(CAMPBELL, 2008). O avano moral que a Maodo
templo
no fruto do acaso, a comear pela
naria proporciona a seus adeptos , alm de
consciente, educativo e tico, tambm um refor- Sala dos Passos Perdidos, mais adiante o trio, a
Cmara ou Caverna de Reflexes, e finalmente o
o psicolgico.
Templo em si. Todos estes compartimentos so
A diferena crucial entre smbolo e arqu- estgios h muito tempo utilizados para separar
tipo que o primeiro pode ser visto e em alguns o sagrado do profano (VAN GUENNEP, 2011).
casos tambm tocado e sentido, ao passo que o
Nesse contexto, o ritual tem por objetivo a
segundo pode ser apenas sentido, e mesmo asrealizao
da passagem de um estado de conscisim, somente por intermdio do primeiro. Portanto, para que haja smbolos, deve antes haver ncia para outro, estados esses chamados maoarqutipos, pois aqueles so a manifestao des- nicamente de profano e sagrado, e em ltima
tes em menor escala (JUNG, 2011d; JUNG, 2012). anlise, o templo com suas divises simboliza o
Contrariamente a esta teoria junguiana agora estado de conscincia em que nos encontramos.
apresentada, observamos na psicanlise de Freud Desta forma, o templo em si representa um esta O termo templo manico comumente usado nos ritos manicos de origem latina. Os de origem anglo-saxnica costumam
chamar o local de reunies de Sala da Loja.
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Manico
e da Anima.
ros e Mestres, onde se encontra o chamado TroDesta forma, Boaz e Jaquim, representam no de Salomo e que possui estampado o olho
Anima e Animus, e a consecuo entre ambas que tudo v no Rito Escocs Antigo e Aceito.
colunas representa o Casamento Alqumico, a
Assim como o inconsciente coletivo distotalidade do ser, ou seja, o Equilbrio Perfeito, o pe da pr-formao psquica da psique (JUNG,
Mestre. Aquele que caminha com tal unio, anda 1978), o direcionamento dos trabalhos vem do
pelo caminho ou cmara do meio (CAMPBELL, Oriente da Loja, alm de que as informaes ori2008), no nosso caso, o Mestre Maom.
ginais da Loja, presentes na carta constitutiva,
tambm se localizam na regio do slio.
Nvel 3 Inconsciente Coletivo: Slio do Ori-
ente
Concluses
Em sntese, a mitologia pode ser entendida, sob a tica da Psicologia Junguiana, como
um sonho coletivo, sintomtico dos impulsos arquetpicos existentes no interior das camadas
profundas da psique humana (JUNG, 1978), ou,
numa viso religiosa, como a revelao de Deus
aos seus filhos. Tanto a mitologia como os seus
smbolos so metforas reveladoras do destino
do homem e nas diversas culturas so retratadas
Referncias Bibliogrficas
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