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Universidade Politcnica

A POLITCNICA
Escola Superior Aberta

GUIA DE ESTUDO
Direitos Reais
Curso de Cincias Jurdicas
(4 Semestre)

Moambique

FICHA TCNICA

Maputo, Setembro de 2014

Srie de Guias de Estudo para o Curso de Cincias


Juridicas (Ensino a Distncia).

Todos os direitos reservados Universidade Politcnica

Ttulo: Guia de Estudo de Direitos Reais


Edio: 1

Organizao e Edio
Escola Superior Aberta (ESA)

Elaborao
Elsa Roia Alfai (Contedo)
Elsa Roia Alfai (Reviso Textual)

UNIDADES TEMTICAS
APRESENTAO ...................................................................................... 1
TEMA DA UNIDADE: MBITO DOS DIREITOS REAIS ............................. 2
TEMA DA UNIDADE: TEORIA GERAL DOS DIREITOS REAIS ................ 7
TEMA DA UNIDADE: CLASSIFICAO E TIPOLOGIA DOS DIREITOS
REAIS ...................................................................................................... 24
TEMA DA UNIDADE: VICISSITUDES DOS DIREITOS REAIS ................ 34
TEMA DA UNIDADE: POSSE .................................................................. 40
TEMA DA UNIDADE: DIREITO DE PROPRIEDADE ............................... 56
TEMA DA UNIDADE: DIREITO DE USO E PROVEITAMENTO DA TERRA
................................................................................................................. 92

Curso de Cincias Jurdicas Direitos Reais Semestre 4

APRESENTAO
Caro(a) estudante
Est nas suas mos o Guia de Estudo da disciplina de Direitos Reais que
integra a grelha curricular do Curso de Licenciatura em Cincias Jurdicas
oferecido pela Universidade Politcnica na modalidade de Educao a
Distncia.
Este guia tem por finalidade orientar os seus estudos individuais neste
semestre do curso. Ao estudar a disciplina de Direitos Reais, voc ir
compreender a essncia destes direitos incidindo a abordagem dos
Direitos Reais de gozo, de garantia e de aquisio e ir conhecer e aplicar
aos casos prcticos o contedo e defesa dos Direitos Reais conforme
realidade moambicana.
Este Guia de Estudo contempla textos introdutrios para situar o assunto
que ser estudado os objectivos especficos a serem alcanados ao
trmino de cada unidade temtica, a indicao de textos como leituras
obrigatrias que voc deve realizar as diversas actividades que favorecem
a compreenso dos textos lidos e a chave de correco das actividades
que lhe permite verificar se voc est a compreender o que est a estudar.
Vai tambm encontrar no guia a indicao de leituras complementares, isto
, indicaes de outros textos, livros e materiais relacionados ao tema em
estudo, para ampliar as suas possibilidades de reflectir, investigar e
dialogar sobre aspectos do seu interesse.
Esta a nossa proposta para o estudo de cada disciplina deste curso. Ao
receb-la, sinta-se como um actor que se apropria de um texto para
expressar a sua inteligncia, sensibilidade e emoo, pois voc tambm
o(a) autor(a) no processo da sua formao em Gesto de Recursos
humanos. Os seus estudos individuais, a partir destes guias, nos
conduziro a muitos dilogos e a novos encontros.
A equipa de professores que se dedicou elaborao, adaptao e
organizao deste guia sente-se honrada em te-lo como interlocutor(a) em
constantes dilogos motivados por um interesse comum a educao de
pessoas e a melhoria contnua dos negcios, base para o aumento do
emprego e renda no pas.
Seja muito bemvindo(a) ao nosso convvio.
A Equipa da ESA

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Curso de Cincias Jurdicas Direitos Reais Semestre 4

UNIDADE TEMTICA 1

MBITO DOS DIREITOS REAIS


Elaborado por: Elsa Alfai

OBJECTIVOS
No fim desta unidade voce dever ser capaz de:

Compreender a noo dos Direitos Reais, tendo em conta as


teorias clssica e moderna;
Proceder ao enquadramento dos Direitos Reais nos ramos do
direito civil;
Distinguir os Direitos Reais de outros ramos de direito.

ABORDAGEM DOS CONTEDOS DA UNIDADE


1. Noo dos Direitos Reais
a) Posio Moderna e Posio Clssica
Segundo Penha Gonalves, existem duas posies defendidas pela
doutrina referentes a noo de Direitos Reais (DR), a posio clssica e
posio moderna.
Os defensores da posio clssica, afirmam que existem DR sempre que
existe uma coisa, nos direitos de propriedade, hipoteca, servido, usufruto
e outros, existe uma coisa, e esta est ligada a um direito.
Segundo a doutrina clssica, DR o poder directo e imediato sobre uma
coisa.
Distinguindo os DRs dos direitos de crdito, a posio clssica, defende
por um lado, que DR o direito que se exerce directamente sobre uma
coisa. A pessoa pode retirar vantagens materiais sobre a coisa consoante
o tipo de direito a ser abordado, existindo sempre a relao coisa -pessoa.
Por outro lado, o Direito de crdito (DC), o poder que algum dispe de
exigir a outrem uma prestao, exige-se aqui uma prestao de um facto
positivo ou negativo ou seja facere ou non facere. Este direito no se dirige

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a uma coisa, mas a uma prestao. A exigncia feita dirigida ao


comportamento do devedor.
Face a grande importncia que era dado ao direito adjectivo, esta distino
D.R e D.C, consubstancia - se no que se chamavam: action in rem e action
in personam, que significam aces dirigidas s coisas e aces dirigidas
s pessoas.
A posio clssica sobre crticas, sendo a primeira que argumenta que a
definio que se faz dos D.C no clara, podendo criar dvidas pois, os
clssicos ao referirem que o D.C dirige-se apenas prestao discutvel.
Entendem os clssicos, que o que se exige do devedor no s o seu
comportamento, o que satisfaz o credor a coisa que neste caso obtida
atravs de uma prestao. O credor serve-se da prestao para exigir o
bem.
Assim sendo, para os crticos a esta posio, no existe diferenas entre
D.R e D.C, porque ambos incidem sobre uma coisa.
A segunda crtica, refere-se noo dos D.R apresentada pela posio
clssicapoder directo e imediato sobre uma coisa.
Entendem os crticos, que a noo no suficiente para apresentar o
contedo dos D.R. Justificam-se dizendo que encontramos em certos
direitos reais como o caso do usufruto onde este poder exercido com
maior fora diferentemente de outros.
Acrescentam que ter um poder directo e imediato sobre uma coisa, a
faculdade que algum dispe de afastar que qualquer um intervenha sobre
a coisa, o titular do direito impe uma absteno dos outros sujeitos
praticarem actos lesivos coisa.
A ltima crtica apresentada, refere-se ao facto da coisa nunca poder ser
um sujeito passivo numa relao jurdica, mas na definio apresentada
pelos clssicos, assim acontece uma vez que temos por um lado um
sujeito activo que a pessoa, e por outro a coisa ocupando o lugar de
sujeito passivo.
A situao assim colocada, contraria a ideia de que os sujeitos passivos de
uma relao jurdica devem ser homens e o direito visa regular as relaes
entre os homens. O direito o meio de resoluo dos conflitos que surjam
quando as pessoas usam as coisas. um fenmeno social, existe quando
existe sociedade. Todo e qualquer direito pressupem relaes entre
pessoas.
Porque esta Teoria foi alvo de muitas crticas comearam a surgir novas
teorias que apresentaram uma definio dos D.R confrontados com os
D.C., assim surge a posio moderna.
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Uma teoria que faz parte da Posio Moderna, a Teoria Personalista,


sendo um dos seus defensores Planiol, esta teoria defende que o D.R no
uma relao direito-coisa, mas sim uma relao entre um sujeito e outros
sujeitos. o direito de exigir que os outros abstenham-se de praticarem
certos actos que prejudiquem o titular do D.R. Existe aqui uma obrigao
geral enquanto que no D.C existe um dever que recai sobre o devedor.
Antunes Varela um dos defensores da Posio Moderna e mais tarde
Oliveira Ascenso.
Entende-se aqui, que enquanto que nos D.C existe uma relao
obrigacional, existe um dever, o D.R absoluto, o titular do direito tem o
poder de exigir um dever geral de respeito ao seu direito de que deriva
uma obrigao passiva universal, este tem um poder de facto sobre a
coisa.
Oliveira Asceno defende que o D.R existe fora da relao, a sua fonte,
que atribui algo como pertencendo a uma pessoa e as restantes tem o
dever de respeitar esta atribuio feita.
Entendem tambm que um direito isolado, absoluto porque no depende
de uma relao, tambm um direito inerente, a pessoa est sempre
ligada a coisa por fora do direito independentemente das vicissitudes
jurdicas ou materiais que ocorram.
Oliveira Ascenso define os D.R como um direito absoluto, inerente a uma
coisa e funcionalmente dirigido a afectao desta aos interesses do
sujeito. Acolhemos a definio de Oliveira Ascenso.
absoluto, porque funda-se numa funo autnoma, independente,
oponvel a toda a gente, enquanto que o D.C j no oponvel a toda a
gente, existe aqui o dever geral de respeito.
inerente pois o direito incide sobre uma coisa, dando a prerrogativa do
seu titular de exerc-lo, opondo-o aos demais sujeitos da ordem jurdica,
verificando-se aqui a obrigao passiva universal.
Do conceito dos direitos reais, depreende-se ainda que estes direitos
devem ser funcionais, o seu titular deve retirar-lhes uma utilidade. Neste
caso, justifica-se a existncia da figura do no uso, prevista no artigo 298
do Cdigo Civil, como causa de extino dos direitos reais, que n ao se
aplica ao direito de propriedade.

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2. mbito de aplicao e sentido dos D.R


Da classificao quadripartida das relaes jurdicas do Direito Civil, feita
pela Pandentstica Alem, constituem-se os ramos de direito, fazendo
parte deles o direito das coisas.
O D.R insere-se nas disciplinas do Direito Civil Patrimonial, insere-se no
conjunto de normas que regulam os fins econmicos das pessoas, normas
que tutelam os interesses das pessoas avaliveis em dinheiro.
No direito civil, temos tambm os direitos no patrimoniais que constituem
os direitos pessoais, dentre eles enquadram o direito da famlia e a
regulao dos direitos de personalidade. Estes direitos, no regulam a
troca de bens, no fazem parte dos direitos patrimoniais mas sim, direitos
pessoais.
Distinguindo os direitos reais dos direitos das obrigaes, importa referir
que os direitos das obrigaes visam disciplinar a dinmica patrimonial,
enquanto que os D.R visam regular a esttica patrimonial.

Leituras Obrigatrias
A leitura dos textos indicados, a seguir, de fundamental importncia para
a compreenso de nossos estudos e para a realizao das actividades
propostas para esta primeira unidade de estudo. Portanto, no deixe de
estud-los.

Texto 1
- Moreira, lvaro e Fraga Carlos; Direitos Reais; Livraria Almedina;
Coimbra; 1971. Pgs 19-42.

Texto 2
- Gonalves, Augusto da Penha; Curso de Direitos Reais; 2 Edio;
Lisboa; 1993. Pgs 19-72.

Leituras Complementares

Texto 1
- Jos de Oliveira Asceno; Direito Civil Reais; 3Edio; Coimbra Editora;
1993. Pgs 38-55, 598-638.

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Actividades
A seguir, esto as actividades correspondentes a esta primeira unidade.
Resolva os exerccios propostos em cada uma e verifique se acertou,
conferindo a sua resposta na Chave de Correco no final do presente
Guia de Estudo.

Actividade 1
Leia o texto de Augusto da Penha Gonalves, referenciado como Texto
obrigatrio 2, e identifique:
1.1 As principais diferenas entre os direitos reais e direitos de crdito;
1.2 A principal diferena entre a tese moderna e tese clssica.

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UNIDADE TEMTICA 2
TEORIA GERAL DOS DIREITOS REAIS
Elaborado por: Elsa Alfai

OBJECTIVOS
No fim desta unidade voce dever ser capaz de:
Conhecer o obejceto dos Direitos Reais, indidindo sobre a noao de
coisa e sua classificao;
Identifciar as princiapis caractersticas dos Direitos Reais, com
particular incidencia sobre a publicidade;
Conhecer os principios reguladores da constituio e vida dos
Direitos Reais.

ABORDAGEM DOS CONTEDOS DA UNIDADE


1. Noo de coisa
Nos termos do artigo 202 do Cdigo Civil (C.C), Coisa tudo aquilo que
pode ser objecto de uma relao jurdica.
Podemos encontrar trs sentidos para definio de coisa:
a) Amplo - onde a coisa aqui entendida como tudo aquilo que pode
ser pensado ainda que no tenha existncia fsica;
b) Fsico - onde coisa tudo aquilo que tem existncia corprea ou
que pode ser captada pelos sentidos;
c) Jurdico - entende-se por coisa tudo aquilo que no tendo
personalidade jurdica, tem individualidade/autonomia, utilidade e
susceptvel de apropriao.
Entende-se que existe a necessidade de delimitar o conceito de coisa, na
medida em que, nos termos apresentados pelo artigo 202 CC, esta pode
incluir outras realidades jurdicas que no constituem os direitos reais.
2. Classificao de coisa
As coisas classificam-se em corpreas, sendo aquelas que tem existncia
fsica (coisas materiais) ou que so susceptveis de apreenso pelos
sentidos (coisas imateriais) e incorpreas que so criaes do intelecto,
no tem existncia fsica, podendo ser bens intelectuais ou imateriais.

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As corpreas materiais, podem ser mveis ou imveis, sendo descritas no


artigo 204 CC, as coisas imveis e por excluso de partes as coisas
mveis so reguladas no artigo 205 CC.
A distino entre coisas mveis e imveis, a que maior destaque tem
sido dada na medida em que temos D.R que somente incidem sobre
coisas mveis, Ex. penhor e outros que incidem apenas sobre imveis Ex.
Hipoteca, servides. tambm sobre as coisas mveis e imveis que
incidem o direito de propriedade que o direito real de gozo mais amplo.
Por sua vez, os prdios rsticos e urbanos, tem partes integrantes e
componentes.
Entende-se por parte integrante as coisas mveis por natureza que foram
unidas ou afixadas com carcter de permanncia a um prdio rstico ou
urbano, para lhe aumentar as suas utilidades conservando ainda a sua
individualidade.
Entende-se por partes componentes, as coisas mveis, que se diferem das
partes integrantes, pois as mesmas fazem parte de um prdio e sem elas o
mesmo no estaria completo, no satisfazendo o seu fim.
Temos no cdigo outras classificaes de coisas, a saber:
-

Coisas fungveis e infungveis artigo 207 C.C


Coisas consumveis e no consumveis artigo 208 C.C
Coisas divisveis e no divisveis artigo 209 C.C
Coisas presentes e futuras artigo 211 C.C

3. Objecto dos D.R


Parte da doutrina entende que os D.R incidem sobre coisas certas,
determinadas e individualizadas, sendo estas as coisas corpreas mveis
ou imveis.
Chega-se a concluso acima referida, da anlise ao disposto no n1 do
artigo 408 do CC, que se exige a coisa determinada como objecto da
constituio ou transferncia dos D.R por mero efeito do contrato e do
artigo 1302 do CC de prev o objecto do direito de propriedade, como
sendo as coisas corpreas mveis ou imveis.
Os defensores desta ideia, alargam o objecto do direito de propriedade,
como sendo o objecto dos outros direitos reais, na medida em que o direito
de propriedade o direito real mais amplo que existe.
Importa realar que a tese da corporalidade do objecto dos D.R acolhida
com algumas reservas por certos autores, como o caso de Penha
Gonalves que entende que os D.R tambm podem incidir sobre coisas
incorpreas.
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Penha, exemplifica apresentando o caso do usufruto que incide sobre a


herana no n4 do artigo 2030 do CC. Sendo a herana uma
universalidade de direitos (coisa incorprea), incide sobre ela um direito
real de gozo que o usufruto, contrariando de certo modo a tese da
corporalidade do objecto dos DR. Contudo, apresar desta excepo o
mesmo autor reconhece que a tese dominante a da corporalidade do
objecto dos D.R.
Concluindo, de acolher a tese da corporalidade do objecto dos D.R na
medida que ao no delimitarmos o seu objecto, poderamos deparar-nos
com situaes cuja defesa seria difcil, e ainda, atendendo a natureza
patrimonial deste direito, um objecto certo, determinado como o a coisa
corprea mvel ou imvel, maior facilidade se ter na regulao da sua
situao jurdica e defesa pelo seu titular. Fica tambm facilitado o
exerccio da sequela e prevalncia, que so caractersticas dos D.R.

4. Caractersticas dos Direitos Reais


a) Eficcia absoluta. Noo e Manifestaes
Entende-se nesta caracterstica que os D.R so eficazes erga omnes, o
que se traduz na atribuio ao seu titular do poder de os exercer em face
aos outros sujeitos da ordem jurdica.
devido a caracterstica absolutidade que os D.R esto sujeitos ao
princpio da tipicidade, regulado no artigo 1306 CC. A sujeio dos D.R ao
princpio da tipicidade, por fora da absolutidade, justifica-se pelos
seguintes factos:
-

Estes direitos devem ser respeitados por todos para isso


necessrio que todos os conheam e isto s possvel se estes
direitos forem tipificados.
Para que se verifique a proteco absoluta do D.R s possvel se
houver proteco do ordenamento jurdico.
A eficcia absoluta cria restries a liberdade de aco de todas as
outras pessoas e estes direitos, que criam restries liberdade
das pessoas, apenas existem quando consagrados na Lei.

de referir, que enquanto que os direitos reais tem eficcia absoluta, os


direitos de crdito tem eficcia relativa, na medida que apenas produzem
efeitos entre as partes, e em relao a terceiros estes produziro efeitos
quando constarem da lei - artigo 406, n2 CC.

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b) Inerncia
Entende-se como sendo a ligao existente entre a coisa ao seu titular. Os
D.R de gozo conferem ao seu titular um certo domnio sobre o bem, este
domnio manifestado pela oponibilidade erga omnes.
Em relao aos restantes D.R, talvez no seja correcto referir que existe
inerncia. Esta caracterstica consequncia da eficcia absoluta dos D.R,
a coisa adere ao seu titular. uma caracterstica exclusiva dos D.R.
c) Sequela ou seguimento: manifestao e excepes
entendido como o direito de perseguio. uma manifestao da
inerncia na medida em que se a pessoa titular de um certo direito, pode
persegu-lo onde quer que este se encontre.
por causa da sequela que as relaes jurdicas reais so dotadas do
direito de perseguio. Porque o titular do direito exerce o domnio sobre a
coisa, este pode persegui-la, mesmo que esta esteja na esfera jurdica de
outrem.
Como manifestaes da sequela temos o que se verifica com a aco de
reivindicao, um dos meios de defesa da propriedade, regulado no artigo
1311 CC. Com o exerccio desta aco, pode o titular do direito exigir
judicialmente a restituio do seu bem de qualquer possuidor ou detentor
da coisa.
Existe tambm manifestao da sequela com o exerccio das aces
possessrias reguladas no artigo 1278 CC, com o exerccio da aco de
preferncia regulada no artigo 1410 CC.
Excepo sequela
O registo uma excepo a sequela na medida em que num caso que se
verifica uma dupla alienao de um bem, o 1 adquirente que no registou
no pode perseguir o seu bem pois existe registo anterior.
Ex: A, proprietrio de um imvel vende-o a B, que no regista a aquisio,
a falta de registo pode ser corrigida (Artigos 81, 82, 226 CRP). No entanto,
A vende o mesmo imvel a C que regista. A falta de registo conduz a que o
acto seja considerado ineficaz em relao a terceiros.
No presente caso estamos em face de uma dupla alienao e embora B
tenha adquirido o bem em 1 lugar, este no pode reivindicar o imvel junto
a C porque no tendo registado o imvel a sua aquisio inoponvel a
terceiro que tenha registado em primeiro lugar (n1, Artigo 7 CRP), o
registo de C trava a sequela que B queira efectuar.

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d) Prevalncia ou preferncia: manifestaes e excepes


uma das principais caractersticas dos D.R, que se traduz na situao
dos D.R prevalecerem quer sobre os D.C, quer sobre os D.R constitudos
posteriormente sobre a mesma coisa e que se revelam incompatveis com
o D.R.
Esta caracterstica, uma emanao da absolutidade dos D.R, o 1 titular
do D.R pode opor o seu direito aos restantes que tenham adquirido
posteriormente.
Assim, se existirem vrios D.R sobre uma mesma coisa, exemplo: se
constiturem vrios direitos de propriedade sobre um mesmo prdio
derivados de uma dupla alienao, prevalece o primeiramente constitudo,
esta a formulao clssica de prevalncia.
Parte da doutrina defende que a prevalncia no uma caracterstica de
todos os D.R, dentre os defensores desta ideia consta Oliveira Ascenso
(O.A), entendem que esta uma caracterstica mais evidente nos direitos
reais de garantia dirimindo os conflitos que possam existir naqueles
direitos. Nos D.R de gozo, no evidente a existncia da prevalncia.
No caso de dupla alienao de um bem, esta no cria uma situao de
conflito de direitos segundo este autor, o que existe aqui um direito e um
no direito, a segunda venda efectuada por A, uma venda de bens
alheios (artigo 892CC), pois o bem j no lhe pertencia quando o vendeu a
B (isto vale no caso de B ter tambm um registo vlido em relao a C,
pois caso no tenha registo sabemos o que acontece nos termos do artigo
7 CRP).
A, no pode transmitir um direito que no possui, por isso que alguns
autores refutam a ideia de que nos D.R de gozo h prevalncia, no existe
conflito para se dirimir.
Esta ideia clara, e em parte aceite pela doutrina, mas no est isenta de
crticas.
Mota Pinto, um dos crticos refere que O.A excedeu-se na sua posio,
pois, a tese por si defendida nega por completo a prevalncia como
caracterstica dos DR de gozo.
Mota Pinto, entende que temos prevalncia nos casos em que o direito
mais antigo prevalece sobre o posteriormente constitudo, o anteriormente
registado prevalece sobre o posteriormente registado. Para este autor, isto
que prevalncia. Na dupla alienao, existe manifestao clara da
prevalncia.

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Temos outro exemplo da prevalncia, em relao ao usufruto-artigo 1441


CC- este direito pode ser constitudo em favor de uma ou mais pessoas
desde que os seus direitos existam ao tempo em que o direito do primeiro
usufruturio se torne efectivo. Vigora aqui o princpio da prioridade
temporal e este o corolrio da prevalncia como caracterstica dos D.R,
embora tenha excepes no caso da propriedade artigo 892 CC.
Excepes a prevalncia
1 O registo uma excepo, no caso da venda de coisa sujeita a registo,
o sujeito que no regista o bem , 1 adquirente no goza da prevalncia
face ao 2 adquirente que regista, isto porque os actos sujeitos a registo
mas no registados so inopunveis em relao a terceiros.
2 Privilgios creditrios imobilirios (artigos 733 e 744 CC), estes so D.R
de garantia 1 , estes so oponveis a terceiros - Artigo 751 preferem a
hipoteca, consignao de rendimentos e ao direito de reteno
anteriormente constitudos. Aqui existe uma excepo a prevalncia pois
com os restantes privilgios creditrios assim no acontece.
Esta caracterstica no exclusiva dos DR, pois os D.C tambm gozam
dela.
Exemplos:
1 Direito de preferncia Artigo 407 CC- Incompatibilidade entre direitos
pessoais de gozo funciona aqui o Princpio da Prioridade temporal, este
que a consagrao da prevalncia sobre um direito pessoal. Entende-se
aqui, que constituindo-se sobre a mesma coisa vrios direitos
incompatveis entre si a pessoas diferentes, prevalece o mais antigo.
2Previlgios creditrios mobilirios gerais-artigos 736 e 737 CC estes
preferem em relao aos credores comuns-art 737, so garantia especial
das obrigaes.
Segundo o artigo 749 CC, estes privilgios no valem contra terceiros, no
so oponveis a terceiros. Aqui, o Estado tem preferncia em relao a
qualquer crdito comum-artigo 736CC. Temos aqui uma situao de uma
garantia geral das obrigaes que prevalece sobre D.R garantia.
E neste caso, dever a prevalncia permanecer como caracterstica
exclusiva dos DRs sabendo que os privilgios creditrios mobilirios gerais
1

A regulao dos privilgios creditrios consta nos artigos 733 e seguintes estes so
garantias gerais das obrigaes e classificam-se em mobilirios e imobilirios. Os
mobilirios podem ser gerais ou especiais e os imobilirios so sempre especiais. Os
privilgios creditrios mobilirios especiais e os imobilirios so DR de garantia, j os
mobilirios gerais, j no. Estes no esto sujeitos a registo como a hipoteca, so legais pois
a lei que atribui a sua eficcia.
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Curso de Cincias Jurdicas Direitos Reais Semestre 4

que no so DR de garantia prevalecem? Entendemos que no, esta no


uma caracterstica exclusiva dos D.R.

e) Publicidade
i. Noo e tipo
o acto de dar a conhecer ao pblico a existncia de um direito. Esta
caracterstica no exclusiva dos DR na medida em que podemos
encontr-la nos direitos civis, onde temos o registo civil, existe tambm o
registo comercial e em relao aos direitos de autor - existe registo da
propriedade intelectual.
Menezes Cordeiro diz que esta uma caracterstica tendencial, existe nos
D.R mas no sempre. O autor defende esta ideia partindo do princpio de
que h casos que existe o direito real e no existe publicidade, Ex1: posse
oculta (artigo 1258 CC- definio inferida da definio de posse pblica artigo 1262). Ex2: servides no aparentes-n2, art. 1548 CC. Nestes
casos, estamos em face de direitos reais sem que exista publicidade.
ii. Tipos de publicidade
Considera-se que existem dois tipos de publicidade: a publicidade
expontnea- no caso do exerccio da posse (regulada nos artigos 1251 e
seguintes CC) e a publicidade racionalizada ou provocada, que dada
pelo registo (Cdigo do Registo Predial-Decreto Lei n47 611 de 27 de
Fevereiro de 1968).

Publicidade racionalizada. O Registo predial


O registo uma das formas de publicidade. Contudo, como referimos no
s o registo serve para dar esta presuno da existncia do direito, mas
tambm a posse que atravs do seu exerccio presumimos a titularidade
do direito -artigo 1268-n1 CC.
No caso de termos duas presunes, uma fundada na posse e a outra no
registo, a posse sempre mais forte que o registo se este no existir. Ex.
se tivermos uma posse efectiva e o registo o que ganha a posse se esta
for anterior ao incio da posse-artigo 1268 CC.
Assim, a presuno de titularidade da posse s afastada se o registo for
anterior a posse, no caso de existir um registo e a posse na mesma poca,
ganha a presuno fundada na posse isto se depreende do n1 artigo 1268
CC.
Havendo concorrncia de duas presunes fundadas em registo, a
prioridade dos direitos inscritos determinada pelo nmero de ordem das
apresentaes-artigo 8 CRP.
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Curso de Cincias Jurdicas Direitos Reais Semestre 4

Registo
O registo foi criado para dar segurana ao trfico jurdico. Este serve para
publicitar a coisa que est em causa. Podemos ter o registo predial como
tambm o de bens mveis (automveis, aeronaves e navios).
Funo do registo predial
Artigo 1, CRP- este tem por funo dar publicidade aos direitos inerentes
as coisas imveis. O que se publicita so os direitos e no as coisas, o
registo demonstra o direito que incide sobre a coisa.
Situaes sujeitas a registo-Artigos 2 e 3 CRP
Registam-se situaes jurdicas, Ex: regista-se a hipoteca, noutros casos
regista-se aparentemente factos, aqui a lei usa o termo facto de forma
incorrecta, o que est sujeito a registo a situao jurdica decorrente do
facto- o que se regista a propriedade. O registo tem por objecto uma
situao jurdica e no situao de facto.
iii. Princpios do registo
Princpio da instncia
Artigo 4 CRP- Este princpio assenta na ideia de que o registo efectuado
a requerimento dos interessados. O registo deve ser feito a pedido das
partes e no oficiosamente.
Princpio da legalidade-Artigo 5 CRP
um princpio comum a todas as autoridades do Estado, entende-se aqui
que o conservador deve defender o respeito pela lei, ele no deve permitir
registos ilegais. Quando h invalidade formal do negcio, o registo deve
ser identificado.
O conservador tem a obrigao de verificar a regularidade dos actos
requeridos, a validade do ttulo, a legitimidade das partes, a capacidade
das partes face aos ttulos recebidos.
O conservador deve recusar os actos requeridos nos casos previstos no
artigo 243 CRP, pode registar provisoriamente em caso de dvidas artigo
244 CRP dispondo as partes de recurso contencioso artigo 248 CRP e
reclamao hierrquica artigo 260 CRP caso o seu registo seja rejeitado.
Princpio da obrigatoriedade-artigo 14 CRP
Entende-se que para que o registo seja obrigatrio, necessrio que
exista uma sano caso aquele no se efectue. Ex: nulidade.
As partes tem a obrigao de registar porque sofrero consequncias
negativas, sendo uma delas o facto de sujeitarem-se a situao de ser
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inscrito um novo direito de uma outra pessoa sobre a coisa, podendo ficar
com a coisa por fora do artigo 7 CRP.
No caso de bens imveis, o negcio a celebrado est sujeito a escritura
pblica-artigo 875CC, deve existir registo implicitamente e entende-se que
existe aqui a obrigatoriedade do registo caso contrrio considera-se o
negcio nulo, no nosso entender esta que a emanao da
obrigatoriedade do registo.
Princpio do trato sucessivo-artigo 13 CRP
Este princpio visa estabelecer um nexo entre a primeira inscrio existente
sobre o bem e a ltima, ou seja entre os vrios sujeitos que detm poder
sobre a coisa.
Como emanao deste princpio, temos a situao de quando
pretendermos registar um imvel a nosso favor, necessrio que o mesmo
esteja registado em nome do vendedor do mesmo. A pessoa deve garantir
ou assegurar-se que o alienante est inscrito no registo.
O artigo 218 CRP, regula o suprimento do trato sucessivo, atravs da
justificao judicial, material ou administrativa de domnio do Estado-artigo
222 CRP.
Princpio da prioridade-artigo 9 CRP, n1.
ideia central deste princpio o facto do direito em primeiro lugar inscrito
prevalecer sobre os outros que na mesma data de registo lhe seguem.
Quanto as hipotecas, sendo estas registadas na mesma data, a prioridade
temporal no relevante valendo todas elas valem ao mesmo tempo.
Porm para que se efectue o pagamento necessrio que se considere o
valor do crdito havendo uma diviso do produto da venda tendo em
ateno o crdito. Artigo 9, n2 CRP,
Princpio da tipicidade
Os factos sujeitos a registo esto tipificados, a lei enumera-os -Artigo 2 e 3
do CRP. No entanto, a taxatividade reporta-se exclusivamente ao objecto
da inscrio. Os factos sujeitos a registo no se encontram previstos na lei
de forma explcita. Entende-se assim que no existe uma tipicidade
taxativa que directamente delimita os factos a registar podendo ser
depreendida da enumerao dos artigos 2 e 3 do CRP.

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iv. Efeitos do registo


Efeito presuntivo
Defende este princpio, que o registo definitivo constitui presuno de que
o direito existe - artigo 8 CRP, o registo faz f pblica sendo com base
nesta ideia que os sujeitos oneram direitos e os terceiros os adquirem.
As limitantes da f pblica do registo so a usucapio (um dos modos de
aquisio dos DR de gozo pela posse), o facto deste poder ser cancelado
artigo 12 CRP, o facto de ser declarado nulo-artigo 83 CRP ou pode
conter uma inexactido- e) artigo 83CRP ou uma irregularidade- artigo 82
CRP.
Efeito consolidativo - artigo 7 CRP
Entende-se aqui, que o registo produz efeitos em relao a qualquer
terceiro, quando registamos o nosso direito em primeiro lugar, se o
adquirimos a ttulo oneroso e se estamos de boa f. O registo serve para
consolidar a posio do titular do direito.
Entende-se aqui, que o registo de um direito de que se titular garante o
direito a oponibilidade face a terceiros, pois, o direito real no registado
encontra-se numa situao de pendncia.
Contudo, de realar que existem situaes que no carecem de ser
registadas para produzirem efeitos em relao a terceiros, o caso das
servides aparentes e a aquisio fundada em usucapio, estas figuras
prevalecem sobre a publicidade atendendo as especificidades da lei para
caso da usucapio.
Efeito Constitutivo
O registo tem este efeito quando um elemento integrante do facto
constitutivo do direito real, ou seja, sem registo no h direito, o direito no
produz efeitos at mesmo entre as partes. Ex: hipoteca - n2, artigo 6 CRP.
O efeito constitutivo do registo consequncia da caracterstica da eficcia
absoluta do registo.
Efeito enunciativo
um efeito da publicidade pura. A aquisio dos D.R por usucapio podese opor a terceiros mesmo que esta no seja registada - n1, artigo 7 CRP.
Neste caso a inscrio do registo no acrescenta em nada a funo
substantiva, nem acrescenta na questo de publicidade.

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Efeito atribuitivo
O efeito atributivo do registo, o que tem criado mais divergncias na
doutrina quanto ao seu entendimento, na medida em que no so
unnimes as posies acerca de quem poder beneficiar-se ou no deste
efeito.
Este efeito consiste na situao do registo atribuir certo direito a um
terceiro que tenha efectuado um registo anterior. O terceiro vencer por
fora do registo, embora existam certas limitaes.
No direito positivo, encontramos a base da aquisio de direitos reais em
benefcio de um terceiro por via do registo em trs artigos: artigo 291 CC,
artigo 85 conjugado com o 83 CRP e o artigo 7 CRP, que se referem a
nulidade substantiva, nulidade registral e a incompleio do registo,
respectivamente. da interpretao destes preceitos que est a origem
das divergncias doutrinrias.
Porque este efeito trata da aquisio
saber quem sero os terceiros aqui
apresentado por Manuel Domingos de
pessoas que do mesmo autor ou
incompatveis sobre o mesmo prdio.

de direitos pelo terceiro, importa


referidos. Adoptando o conceito
Andrade, terceiros so todas as
transmitente adquirem direitos

Artigo 291 CC Nulidade substantiva


Refere-se a nulidade de um negcio jurdico derivada de vcio de vontade,
ou outra causa que afecta a substncia, o contedo de um negcio.
Suponhamos que A vende um bem a B, este regista, e por sua vez B
vende o mesmo bem a C que tambm regista a sua aquisio. Supe-se
ainda que o negcio entre A e B est enfermado de um vcio de vontade. C,
neste caso, um terceiro que est de boa f e adquiriu a ttulo oneroso o
seu bem.
A aquisio de C padece de ilegitimidade do alienante (neste caso B), pois
este adquiriu o seu direito de forma invlida, por causa do vcio da vontade.
No caso acima, regra geral, o n1 do artigo 291 CC dispe que o terceiro
de boa f (vide conceito de terceiro de boa f, n3 artigo 291 CC), que
adquire o bem a ttulo oneroso e regista o seu direito antes do registo da
aco de declarao de anulao ou nulidade do negcio que deriva o
direito do alienante.
Assim, para a invocao do artigo 291 CC so necessrios certos
requisitos especficos a serem preenchidos pelo terceiro:
1 Estar de boa f -vide conceito de terceiro de boa f, n3 artigo 291 CC;
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2 Adquirir o bem a ttulo oneroso;


3 Ter um direito registado em primeiro lugar;
4 Ter um direito incompatvel;
5 A aco de declarao de anulao ou nulidade do negcio entre que
deriva o direito do alienante.
O n2 do artigo 291 CC prev uma particularidade para a prevalncia dos
direitos de terceiro, a aco deve ser proposta e registada dentro de 3
anos posteriores a concluso do negcio. No exemplo acima, uma vez
declarada a nulidade do 1 negcio (A-B), invalida-se os negcios
subsequentes a este (B-C, etc).
Nos termos do referido n2 artigo 291 C.C, a aco de anulao ou
nulidade do negcio (A-B) pode vir a anular a aquisio do direito pelo
terceiro (C), prevalecendo aqui o direito de quem interpe a aco em seu
favor, caso esta prossiga.
H uma excepo ao reconhecimento do direito do terceiro, nos termos do
n2 do artigo 291 afastando a aquisio pelo registo aqui afastada,
caso da aco de declarao de anulao ou nulidade do negcio entre
que deriva o direito do alienante (B), deve ser proposta e registada dentro
de 3 anos posteriores a concluso do negcio (A-B).
Caso a parte interessada no proponha a aco de anulao ou nulidade
dentro do prazo estipulado, o terceiro adquire direitos por via do registo,
vigorando aqui o efeito atribuitivo do registo.
Artigo
85
conjugado
com
Inexactido/nulidade do registo

83

CRP

Nos termos do artigo 85 do CRP, a nulidade do registo no prejudica os


direitos adquiridos a ttulo oneroso, por terceiro de boa f e que estiver
registado data em que a aco de declarao de nulidade for registada.
Neste caso, suponhamos que que A regista o imvel Y na conservatria do
registo predial, e por sua vez B regista o mesmo bem na mesma
conservatria o bem Y no entanto vendido a C que tambm regista a sua
aquisio.
Supondo-se que nos termos do artigo 83 do CRP o registo de B est
enfermado de um vcio em venha a ser declarado nulo. Neste caso, o C,
um terceiro que est de boa f, adquiriu o bem Y a ttulo oneroso e
registou sem conhecer a situao de B.
Nos termos do artigo 85 do CRP, o registo efectuado por C vinca, pois este
est de boa f e registou o seu direito antes que fosse declarada e
registada a nulidade do registo efectuada por B.
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Oliveira Asceno, defende que o n2 do artigo 291 CC estabelece o prazo


de trs anos para aquisio de direito pelo terceiro e este artigo aplicado
por analogia para o artigo 85 CRP que no exige um limite temporal.
O autor defende a aplicao analgica daquele preceito legal
argumentando que a nulidade registral muito mais importante que a
nulidade substantiva, e para que esta ltima funcione a favor do terceiro,
impe-se a passagem de trs anos tal exigncia tambm feita para a
nulidade registral.
Mota Pinto tambm entende que existe uma aplicao subsidiria do prazo
do n2 do artigo 291 CC.
Artigo 7 CRP Incompleio do registo
Este artigo defende o efeito atribuitivo do registo por excelncia, na medida
em que os direitos de quem regista em primeiro lugar sempre prevalecem.
Neste caso, recorrendo ao disposto no artigo 9 do CRP, querm regista em
primeiro lugar os seus direitos prevalecem, execptuando as situaes
constantes no mesmo artigo 7 que se refere a usucapio e outras.
Defende-se aqui que nos casos de dupla alienao (Ex: A vende o mesmo
bem a B e C), existe uma aquisio do bem por parte do C por via do
registo, o que se chama de aquisio tabular.
Pressupe-se que a exigncia dos requisitos da onerosidade e da boa f
no so muito rigorosos nos termos do artigo 7 do CRP, tal como nos
artigos 85 CRP e 291 CC.
Mas pressupondo o objectivo do direito, salvaguardar os sujeitos
envolvidos nas transies jurdicas especialmente os de boa f,
entendemos que os requisitos da boa f e onerosidade devem ser
acautelados.
Relao registo posse (usucapio)
Para abordagem desta parte da nossa matria, importa saber que a
usucapio uma das formas de aquisio de alguns D.R de gozo. Os
elementos da usucapio so: posse de certo bem, decurso de certo tempo
- artigo 1294 seg. CC, deve existir tambm vontade, inteno por parte do
possuidor de adquirir o direito sobre o bem. Estes elementos devem se
verificar cumulativamente.
A usucapio a base de toda a ordem imobiliria. Num conflito entre a
usucapio e o registo, regra geral a posse vence nos termos do artigo
1268 n1 CC. Contudo, necessrio que a posse seja mais antiga, para
que no seja prejudicada pelo registo.

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Vejamos o seguinte exemplo:


Ex: A titular de um prdio no registado. Anos depois B invoca um ttulo
falso, tem registo e vende o bem a C que est de boa f.
O direito de C de nada vale se A invocar a usucapio por consequncia de
uma posse iniciada antes do registo ser efectuado e desde que para tal
tenha decorrido o prazo exigido por lei nos artigos 1294 e Seg. do CC.
Neste caso, o registo perde face a usucapio.
A posse faz presumir a existncia de um direito, este o efeito presuntivo
da posse. Quanto ao efeito presuntivo do registo vide -artigo 8 Cdigo do
Registo Predial.
Contudo, necessrio reter, que caso o registo seja anterior a posse que
d lugar a usucapio, prevalece o registo - n1 artigo 1268 CC.

5. Princpios regulamentadores da constituio e vida dos D.R


a) Princpio da especialidade
Consiste em os D.R terem por objecto coisas certas, determinadas e
individualizadas. No entanto, o facto dos D.R incidirem sobre coisas certas,
determinadas e individualizadas, no impede que se constituam D.R sobre
coisas compostas artigo 206 CC ou universalidade de direitos, exemplo o
usufruto sobre a herana (n4 do Artigo 2030 CC), porque estas so
tambm individualizadas, certas e determinadas.
b) Princpio da transmissibilidade
Regra geral, os D.R so transmissveis inter vivos e mortis causa, tal como
os outros direitos patrimoniais. Esta caracterstica traduz-se assim na
alienabilidade dos D.R.
Algumas excepes:
Usufruto artigo 1439, 1443 CC- um direito temporrio que
no pode exceder a vida do usufruturio, no pode ser
transmitido mortis causa mais alienvel inter vivos-artigo
1444 CC pode ser trespassado a terceiro devendo durar
pelo perodo inicialmente constitudo e se o sujeito que
trespassa o usufruto falece, este extingue-se artigo 1441
CC.
Direito de uso e habitao-artigo 1484 CC - consiste na
situao de um sujeito servir-se de certa coisa alheia e
retirar os seus frutos na medida das suas necessidades e
da sua famlia.

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O direito de uso e habitao intransmissvel, no pode


transmitir-se, face as suas caractersticas o bem s pode ser
usado pelo usurio na medida das suas necessidades e da
sua famlia -artigo 1488 CC.
As
partes
tambm
podem
convencionar
a
intransmissibilidade de determinado direito real.
c) Princpio da Elasticidade
O direito de propriedade o D.R mais amplo e sobre ele recaem outros
direitos denominados D.R menores ou limitados tais como o usufruto,
superfcie, servides e uso e habitao.
Aps a constituio dos D.R menores sobre a propriedade, o titular deste
direito no pode exercer todos os poderes que lhe so conferidos, a
propriedade encolhe-se ao seu limite nfimo. Extinguindo-se o D.R menor,
o D.R mais vasto volta a normalidade, funciona a teoria da elasticidade.
d) Princpio da Tipicidade
Tambm conhecido por princpio numerus clausus. Entende-se aqui que
no podem existir D.R seno aqueles que constam na lei artigo 1306 CC.
Este princpio como vimos anteriormente corolrio da absolutidade como
caracterstica dos D.R.
e) Princpio da publicidade
Defende-se que a constituio ou transferncia dos D.R, deve ser de
conhecimento geral, visando proteger as pessoas no trfico jurdico. Em
relao as coisas imveis ou mveis sujeitas a registo temos o registo, que
tem como fim dar publicidade dos factos jurdicos que podem recair sobre
as mesmas.
f) Princpio da consensualidade
Este princpio vale em relao aos negcios consensuais, em que as
partes acordam os termos do contrato. Baseando-se no n1 do Artigo 408
CC, entende-se que nos contratos consensuais, a constituio e
transferncia de direitos reais produzem-se por mero efeito.

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Leituras Obrigatrias
A leitura dos textos indicados, a seguir, de fundamental importncia para
a compreenso de nossos estudos e para a realizao das actividades
propostas para esta primeira unidade de estudo. Portanto, no deixe de
estud-los.

Texto 1
-

Augusto da Penha Gonalves, Direitos Reais, 2 Edio, Lisboa,


1993. Pgs 73-82.

Texto 2
-

Manuel Domingos de Andrade, Teoria Geral da Relao Jurdica,


Vol. 1, Coimbra, 1997. Pgs 187-295.

Texto 3
-

Rui Pinto, Direitos Reais de Moambique, Vol1, Faculdade de


Direito da UEM, Maputo, 2001. Pgs 57-88.

Leituras Complementares
A leitura dos textos indicados, a seguir, de fundamental importncia para
a compreenso de nossos estudos e para a realizao das actividades
propostas para esta primeira unidade de estudo. Portanto, no deixe de
estud-los.

Texto 1
-

Jos de Oliveira Asceno, Direitos Civis Reais, pg 333-386.

Actividades
A seguir, esto as actividades correspondentes a esta primeira unidade.
Resolva os exerccios propostos em cada uma e verifique se acertou,
conferindo a sua resposta na Chave de Correco no final do presente
Guia de Estudo.

Actividade 1
Leitura do texto
Leia as pginas 73 a 82 de Augusto da Penha Gonalves, 1993, indicada
como uma das obras de leitura obrigatria. Em seguida leia a obra de Rui
Pinto pginas 23 a 76.
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1.1 Aps a leitura dos textos identifique as principais diferenas entre as


caractersticas absolutidade e sequela;
1.2 Identifique as diferenas das manifestaes do efeito atribuitivo na
caracterstica publicidade;

Actividade 2
Resolva as seguintes hipteses prticas:
2.1

Suponha que A residente na Cidade de Maputo, titular de um


imvel sito na Av. 24 de Julho, na mesma Cidade e pretende
alien-lo a B. Visando legalizar a situao apresentada, B constata
que A ainda no tinha registado o bem a seu favor, pois tinha
apenas celebrado a escritura pblica. Quid juris tendo em ateno
os princpios do registo.

2.2

Suponha que por acordo entre A e B, o imvel acima


mencionado chega a ser alienado de A para B, sem que se efectue
o registo, ou seja, B aquire o imvel pela simples celebrao de
escritura pblica e no regista o bem, e por sua vez, A volta a
alienar o mesmo imvel imediatamente a C, um terceiro, que nada
sabia da situao entre A e B que regista o bem a seu favor. B
descobre a situao.
Que direitos C pode alegar a seu favor, tendo em conta a situao
apresentada?

2.3

Antnia vendeu uma moradia a David e este no procedeu ao


registo da mesma, apesar de dispor da respectiva certido de
escritura pblica, pois na mesma semana, concretamente no dia
12 de Janeiro de 1982, teve de ausentar-se do Pas. Entretanto,
Antnia permaneceu no imvel at 2006 e julgado que como David
tivesse morrido vendeu a moradia a Carlos, que procedeu, de
imediato, o respectivo registo. Entretanto, veio agora, David,
propor uma aco para declarao de nulidade do negcio entre
Antnia e Carlos, bem como o cancelamento do registo. Quid iuris?

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UNIDADE TEMTICA 3

CLASSIFICAO E TIPOLOGIA DOS DIREITOS REAIS


Elaborado por: Elsa Alfai

OBJECTIVOS
No fim desta unidade voce dever ser capaz de:
Conhecer a classificao dos Direitos Reais e as situaes cuja
qualificao controvertida ou duvidosa;
Identificar os diferentes tipos de Direitos Reais.

ABORDAGEM DOS CONTEDOS DA UNIDADE


1. Classificao dos Direitos Reais
a) Direitos Reais de proteco provisria e Direitos Reais de
proteco definitiva
Os direitos reais de proteco provisria, so aqueles cuja proteco
afastada por um direito cuja proteco definitiva. Ex. A proteco da
posse afastada se por ventura o proprietrio do bem em litgio reivindiclo.
b) Direitos Reais plenos e Direitos Reais limitados
Temos a referir que a propriedade um tpico D.R pleno, o seu titular tem
o direito de usar, fruir e dispor de certo bem, o D.R que contm poderes
que podemos designar de universais.
Por outro lado, temos os D.R limitados aqueles que a possibilidade de
exercer certos poderes sobre a coisa encontra-se limitada, Ex. servides,
uso e habitao, usufruto.
Oliveira Ascenso, distingue estes direitos entre D.R de gozo menores e
D.R de gozo mximo - Artigo 1305 CC.

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c) Direito reais de gozo, direito real de garantia e direito real


de aquisio
i.

Direitos reais de gozo

So aqueles que desempenham a funo de permitir o desfrute da coisa


que se traduz num conjunto de faculdades artigo 1305 CC- poder de usar
que implica utilizao da coisa para satisfao das necessidades, poder de
fruio implica retirada e utilizao das necessidades peridicas dadas
pela coisa poder de disposio sentido jurdico entendemos por venda,
alienao, em sentido fsico o poder de transformao da coisa.
No nosso direito temos como D.R de gozo a propriedade, o usufruto, o uso
e habitao, a superfcie, as servides prediais, habitao peridica. H
quem entende que o direito de uso e aproveitamento da terra tambm
um tpico D.R de gozo.
ii.

Direitos reais de garantia

Tem uma funo acessria, subordinada a um direito de crdito. Estes


direitos permitem assegurar o cumprimento de crdito porque do ao
credor uma posio de privilgio sobre o patrimnio do devedor ou terceiro.
So D.R de garantia: o penhor, a hipoteca, os privilgios creditrios
imobilirios e os mobilirios especiais, direito de reteno e a consignao
de rendimentos.
iii.

Direitos reais de aquisio

Tem como funo, permitir a entrada na esfera jurdica de certa pessoa de


um direito de gozo. entendido como direito de reserva. Destacam-se
dois destes direitos: contrato promessa com eficcia real (Artigo 413 CC) e
pacto de preferncia com eficcia real (Artigo 421 CC).
d) Direitos reais de titularidade singular e de titularidade
plural (contitularidade)
So direitos de titularidade singular, aqueles que so ser exercidos por um
titular, temos aqui o caso do direito de uso e habitao (artigo 1484 CC)
em que o titular serve-se de certa coisa na medida das suas necessidades
e da sua famlia, sendo por isso um direito intransmissvel.
Por outro lado, temos os direitos de titularidade plural que podem ter vrios
titulares de um nico direito, o caso da compropriedade (artigo 1403 CC),
a propriedade horizontal (artigo 1414 CC), composse (artigo 1286 CC),
dentre outros.

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e) Direitos Reais autnomos e Direitos Reais subordinados


So D.R autnomos aqueles que existem por si, no dependem de outros,
Ex. direito de propriedade, em que o seu titular para exerc-lo no est em
dependncia de nenhum outro sujeito.
Por outro lado, os D.R subordinados como o caso do usufruto, uso e
habitao, superfcie e servides, hipoteca, tem na sua base o direito de
propriedade, encontrando-se subordinados a este direito, embora tenham
a sua individualidade.
f) Direitos Reais Simples e Direitos Reais complexos
Os D R simples so aqueles que no cabem diversas figuras de direitos
subjectivos. Ex. penhor.
Nos D.R complexos existe combinao de situaes jurdicas todas na
titularidade do mesmo sujeito, podendo ser colectivos (onde cada um dos
direitos reais mantm a sua identidade) ou compostos (os diversos direitos
reais perdem a sua autonomia e do lugar a um DR unitrio com
caractersticas prprias. Ex. condomnio na propriedade horizontal).

2. TIPOLOGIA DOS DIREITOS REAIS


a) Tipos de Direitos Reais de Garantia
Definimos os DR de garantia como todos aqueles que conferem ao credor
o direito de ser pago preferencialmente sobre todos os outros credores
comuns, sendo estes direitos acessrios dos DR.
So D.R de garantia: o penhor - Artigo 666 seg. CC, a hipoteca - Artigo
686 CC, os privilgios creditrios imobilirios - Artigo 743 seg CC e os
mobilirios especiais artigo 738 seg CC, direito de reteno artigo 754
seg CC e a consignao de rendimentos - artigo 656 seg. CC.
i.

Penhor

Noo artigo 666 C.C - o direito conferido ao credor de ser pago


preferencialmente sobre o valor de certa coisa mvel ou pelo valor de
crditos ou outros direitos no susceptveis de hipoteca pertencentes ao
devedor ou terceiro.
Classificam-se em penhor de coisas quando consiste na entrega de uma
coisa mvel e penhor de direitos (artigos 669 e 679 CC respectivamente).

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ii.

Hipoteca

Noo artigo 686 CC- o direito conferido ao credor de ser pago


preferencialmente pelo valor de certas coisas imveis ou equiparadas
pertencentes ao devedor ou terceiro, isto desde que os restantes credores
no gozem de privilgio especial ou prioridade de registo.
Para que a hipoteca seja eficaz, ela deve ser registada, caso contrrio
mesmo entre as partes no produz efeitos - Artigo 687 CC- Vide alnea m)
e q), n1, Artigo 2 do CRP.
As hipotecas classificam-se em: legais quando resultam da lei - Artigo 704
e seg CC, judiciais quando resultam de sentena judicial - Artigo 710 seg
CC, voluntrias resultam da vontade das partes - Artigo 712 seg CC.
Objecto da hipoteca - Artigo 688 C.C.

iii.

Privilgios creditrios imobilirios e mobilirios


especiais

Noo artigo 733 conjugado com o artigo 743 e 738 CC - a faculdade


que a lei, tendo em conta o tipo de crdito, concede a certos credores,
independentemente de registo, de serem pagos preferencialmente em
relao a outros. So privilgios conferidos por lei para assegurar o
pagamento de certos crditos identificados pela lei. Atende-se aqui a
natureza do crdito em causa.

iv.

Direito de reteno

Noo - Artigo 754 C.C- a faculdade conferida ao devedor que disponha


de certo crdito em relao ao credor de reter certa coisa que esteja
obrigado a entreg-lo. As situaes que se verifica o direito de reteno
constam no artigo 755 do C.C as que se exclui este direito constam do
artigo 756 CC.
v.

Consignao de rendimentos

Noo artigo 656 CC consiste em o cumprimento da obrigao seja ela


condicional ou futura ser garantido pela consignao de rendimentos de
certos bens imveis ou de certos bens mveis sujeitos a registo. Apenas o
sujeito que pode dispor dos rendimentos que pode consign-los - Artigo
657 CC.
Podem ser constitudas de forma voluntria (resulta de negcio ou
testamento) ou judicialmente (quando resulta de deciso judicial) - artigo
658 CC e deve ser registada -Artigo 660 CC.

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Curso de Cincias Jurdicas Direitos Reais Semestre 4

b) Alguns tipos de D.R de Aquisio


Referimos que estes direitos conferem ao seu titular a possibilidade de
adquirir certo D.R de gozo. Temos trs situaes de D.R de aquisio:
-

D.R que tem como fim a aquisio da coisa (inclui-se aqui o pacto
de preferncia com eficcia real e o contrato promessa com
eficcia real);
D.R que tem como fim a aquisio de parte ou produto da coisa
(direitos reais sobre explorao mineira);
D.R que tem como fim a aquisio de coisa relacionada (concesso
de pesca e de caa).

Quanto aos D.R de aquisio, que tem como fim a aquisio de uma coisa,
temos o pacto de preferncia com eficcia real e contrato promessa com
eficcia real.
i.

Pacto de Preferncia com eficcia real

A noo de direito de preferncia consta do artigo 414 CC- uma


conveno pela qual algum assume a obrigao de dar preferncia a
outrem na venda de determinada coisa. A falta de cumprimento deste
pacto acarreta responsabilidades do devedor - artigos 798, 406 n2 CC.
Este pode ser tambm legal (artigos 1380, 1409, 1501, 1523, 1535, 1555 e
2130 CC ou convencional (artigo 421 CC). Podem as partes atribuir a este
direito de preferncia convencional a eficcia real nos termos do artigo 421
CC.
Interessa-nos na nossa disciplina a situao em que este pacto recair
sobre bens imveis ou mveis sujeitos a registo, quando for celebrado por
escritura pblica e estiver registado nos termos da alnea g), n1 do artigo
2 do CRP, as partes atribuirem-no eficcia real.
Em caso de no cumprimento do pacto com eficcia real, aplicam-se as
regras constantes no artigo 1410 do CC, com as necessrias adaptaes.
Este preceito legal regula a aco de preferncia cujo fim principal
destruir o contrato de alienao em relao a terceiros.
ii.

Contrato Promessa com Eficcia Real - Artigo 413 CC

Noo de Contrato Promessa consta do artigo 410 CC- a conveno


pela qual uma parte se obriga a celebrar certo contrato. A falta de
cumprimento do contrato promessa tem as seguintes sanes:
- Caso tenha havido sinal, pode-se exigir a devoluo do dobro do sinal
nos termos do artigo 442, n2 CC;
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Curso de Cincias Jurdicas Direitos Reais Semestre 4

- No havendo sinal, pode-se requerer-se a execuo especfica do


contrato promessa que deve ser proferida por sentena, artigo 830 CC;
- Se existe eficcia real, o adquirente pode ir buscar o bem onde quer que
este esteja caso tenha sido alienado pelo promitente vendedor.
As partes podem atribuir eficcia real promessa de alienao ou
onerao de bens imveis ou mveis sujeitos a registo, quando estes
constarem de escritura pblica e serem registadas nos termos da alnea g),
n1 do artigo 2 do CRP.

3. SITUAES DE QUALIFICAO
CONTROVERTIDA

REAL

DUVIDOSA

OU

a) Direito do Locatrio
A determinao da sua natureza jurdica tem criado grandes divises na
doutrina. Questiona-se se este um direito de crdito ou DR.
Parte da doutrina defende que este direito tem a natureza creditcia na
medida em que:
O locatrio no tem poder directo e imediato sobre a coisa, uma
vez que este apenas pode exercer os seus direitos por intermdio
do locador.
O locatrio no pode adquirir o seu direito pela usucapio,
principalmente quando se trata de arrendamento para habitao.
A regulao da locao consta da parte geral das obrigaes e no
na parte do direito das coisas.
Existem prestaes recprocas onde temos por um lado a
obrigao de pagar a renda ou aluguer e por outro temos a
obrigao de garantir o gozo da coisa locada.
Outra parte da doutrina (um dos defensores o Oliveira Ascenso)
sustenta a natureza realstica deste direito. Os fundamentos apresentados
por esta posio so os seguintes:
Temos neste direito a sequela que se manifesta no artigo 1057 CC
em que apesar do direito do locador ter se transmitido ao novo
locador recai a obrigao de respeitar a posio do anterior
locatrio e os direitos existentes sobre o bem. De acordo com este
preceito legal, o locatrio pode continuar a exercer os seus direito,
sendo a sua posio eficaz face ao novo locador.
O nosso Cdigo Civil, no seu artigo 1037, n2 faculta ao locatrio
meios de defesa possessrios. Entende-se que atravs destes
meios de defesa, o locatrio pode opor o seu direito face a qualquer
terceiro, sendo esta uma manifestao da absolutidade.
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Curso de Cincias Jurdicas Direitos Reais Semestre 4

Defende-se que em relao ao direito do locatrio existe a


inerncia, uma vez que existe no s um aproveitamento directo do
prdio como tambm o locatrio exerce o seu direito directamente
sobre a coisa locada, este direito exercido de forma plena e
soberana.
A ideia de que este no um D.R porque o locatrio apenas exerce
o seu direito por intermdio do locador tambm no vinca uma vez
que, os outros D.R tais como usufruto, uso e habitao, superfcie,
servides, sempre temos um proprietrio que est na base destes
direitos reais limitados.
Refutam tambm a ideia de que o facto do direito do locatrio ser
regulado na parte das obrigaes este tem natureza creditcia na
medida em que os D.R de garantia tambm encontram-se
regulados na parte geral das obrigaes, e nem por isso deixam de
ser D.R.
Entendemos que este um direito de natureza especial, na medida em
que encontramos elementos de natureza realstica como o caso da
oponibilidade erga omnes, apesar de se conhecer a existncia de alguns
traos dos direitos de natureza obrigacional ao existir neste direito uma
relao de cooperao entre o locador e o locatrio.
b) nus reais
So definidos como o direito de obter uma prestao peridica geralmente
pecuniria que grava de forma especial e directa um bem imvel em
termos do seu titular ser responsvel por ela.
-

Havendo transmisses sucessivas sobre o imvel sobre o qual


recai o nus, a obrigao de efectuar certa prestao que ficou
gravada sobre o bem tambm se transfere acompanhando o
imvel, esta fica ligada ao imvel. Temos aqui uma situao de
sequela.
Entende-se que encontramos nesta figura a oponibilidade erga
omnes, como uma das caractersticas na medida que o beneficirio
do nus pode opor o seu direito face a qualquer novo titular do
imvel.
Entende-se tambm que existe inerncia ao prdio que suporta o
correspondente encargo.
Os nus esto sujeitos ao princpio da tipicidade no existem seno
nos casos expressos na lei.

Exemplo de nus reais: apangio do cnjuge sobrevivo - Artigos 422 e 424


da Lei N 10/2004 de 25 de Agosto, Lei de Famlia Outro exemplo o
constante no Artigo 959 n1 in fine do C.C conjugado com a alnea x), n1
artigo 2 CRP - reserva do direito de dispor de coisa determinada.

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Curso de Cincias Jurdicas Direitos Reais Semestre 4

Face aos traos caractersticos desta figura defende-se que estes so D.R.
Alguns autores tentam qualific-los como D.R de garantia, entendendo que
so semelhantes aos privilgios creditrios imobilirios, posio que
afastada na medida em que segundo Oliveira Ascenso, para que os nus
sejam considerados D.R tal como os privilgios creditrios seria necessrio
que a lei assim os qualificasse e no o caso.
Outros autores classificam os como D.R de gozo entendendo que existe
aqui o gozo do prdio onerado, uma vez que existe uma absteno do
titular do prdio onerado. Refuta-se esta posio na medida em que no
existe aqui o uso e fruio da coisa onerada, o que existe aqui uma
colaborao do outro sujeito para que exista a prestao pecuniria.
Concluindo, entende-se que pelas caractersticas desta figura temos por
um lado uma relao de natureza obrigacional e por outro um D.R,
transformando esta figura num direito autnomo, de natureza hbrida.

Leituras Obrigatrias
A leitura dos textos indicados, a seguir, de fundamental importncia para
a compreenso de nossos estudos e para a realizao das actividades
propostas para esta primeira unidade de estudo. Portanto, no deixe de
estud-los.

Texto 1
-

Jos de Oliveira Asceno, Direitos Civis Reais, Pg 164-189, 545594.

Texto 2
-

Rui Pinto, Direitos Reais de Moambique, Almedina. 2006. Pgs 93119.

Leituras Complementares
Texto 1
-

Augusto da Penha Gonalves, Op cit, Pgs, 144-154, 207 a 212.

Texto 2
-

lvaro Moreira e Carlos Fraga, Op Cit, Pg 95-171.

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Texto 3
-

Manuel Henrique Mesquita, Obrigaes Reais e nus Reais, Pgs


397-471.

Actividades
A seguir, esto as actividades correspondentes a esta primeira unidade.
Resolva os exerccios propostos em cada uma e verifique se acertou,
conferindo a sua resposta na Chave de Correco no final do presente
Guia de Estudo.

Actividade 1
Leitura do texto
- Leia Jos de Oliveira Asceno, Pg 164-189, 586-594, indicado como
leitura obrigatria e identifique os principais tipos de Direitos Reais de gozo
e identifique as principais diferenas.

Actividade 2
A seguir resolva as seguintes hipteses:
2.1 Suponha que A, titular de um estabelecimento comercial X. sito na Av.
Samora Machel, na Cidade de Maputo. Em Abril de 2004, A contrai
um emprstimo no Banco Maputo, sendo que como garantia o mesmo
solicitou a indicao de um bem. A, aponta o imvel X para o efeito,
tendo sido registada uma hipoteca a favor daquele Banco em Maio de
2004.
Sucede porm que A no consegue cumprir com as suas obrigaes
perante o Banco Maputo sendo que este pretende executar a referida
hipoteca.
Constata-se ainda, que A tinha contrado dvidas com B e C no valor de
600.000,00 Meticais e 400.000,00 Meticais, respectivamente, sendo
que como garantia tinha concedido em hipoteca o mesmo imvel X, e
as mesmas tinhas sido registadas em Maro de 2002 e Junho de 2003,
respectivamente.
Poder o Banco Maputo executar a hipoteca. Que direitos so podem
ser invocados pelas outras partes. Quid Juris.

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Curso de Cincias Jurdicas Direitos Reais Semestre 4

2.2 Suponha que A, igualmente no pagou o imposto sobre rendimentos


referentes ao ano de 2005, referentes a explorao do seu
estabelecimento comercial localizado na Av. da Maguiguana, na
Cidade de Maputo, totalizando a dvida o valor de 500.000,00 Meticais.
A notificado pela Direco Nacional de Impostos para proceder ao
pagamento dos valores em dvida sob pena de cominao legal. Quid
juris tendo em conta as dvidas anteriormente contradas.
2.3 Suponha que E, pretende adquirir de F uma moageira pertencente ao
mesmo. Visando obter garantias de que a venda se efectuaria, as
partes celebraram um contrato promessa da aquisio da mesma.
Estamos aqui perante um direito real legalmente constitudo? Justifique.
2.4 Suponha que contrariamente a celebrao do contrato promessa, E e F
celebram um pacto segundo o qual, F era obrigado a fazer a oferta da
venda da moageira a E antes de fazer a qualquer outro sujeito.
Contudo, F tendo uma melhor oferta de G, decidiu vender a moageira a
este. Poder E invocar direitos reais violados? Justifique.

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UNIDADE TEMTICA 4
VICISSITUDES DOS DIREITS REAIS
Elaborado por: Elsa Alfai

OBJECTIVOS
No fim desta unidade voce dever ser capaz de:
Conhecer os modos de aquisio, modificao e extino dos
Direitos Reais.
Conhecer os efeitos das viscissitudes dos Direitos Reais.

ABORDAGEM DOS CONTEDOS DA UNIDADE


1. Aquisio dos direitos reais
Pode dar-se a aquisio dos DRs por via originria (usucapio, ocupao,
acesso - unio ou especificao, aquisio tabular - registo), onde a
pessoa adquire o direito ex novo), e podem adquirir-se estes direitos
tambm pela chamada aquisio derivada (contrato, sucesso).
A aquisio derivada de um direito pode ser translativa quando existe a
transmisso do direito passando este de uma esfera jurdica para outra,
existindo a mudana da titularidade do direito ou constitutiva quando sobre
o direito real maior se constitui um direito real menor, respectivamente.
So factos jurdicos que podem ter eficcia aquisitiva dos DR: a) o negcio
jurdico bilateral (contrato) ou unilateral (testamento)- Artigos 1440, 1490,
1528, 1547 CC, b) a usucapio - Artigos 1316, 1417, n1, 1440, 1528, 1547,
n1 CC, c) a lei- Artigos 1550, 704, 733, 754 CC, d) acto judicial - Artigo
658 CC.
Aquisio da posse - Artigo 1263 CC- prtica reiterada de actos com
publicidade, tradio material ou simblica da coisa, efectuada pelo
anterior possuidor, constituto possessrio, inverso do ttulo da posse.
Aquisio da propriedade d-se nos termos do artigo 1316 CC- por
contrato, sucesso, usucapio, ocupao, acesso e demais modos
previstos na lei- o caso do registo funcionando aqui o efeito atributivo do
registo.
Artigo 1440 CC- Constituio do usufruto, Artigo 1485 CC- Constituio do
direito de uso e habitao, Artigo 1528 CC- Constituio do direito de
superfcie, Artigo 1547 CC- Constituio das servides prediais.

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Curso de Cincias Jurdicas Direitos Reais Semestre 4

Em relao a acesso e a ocupao, a doutrina refere que aquelas figuras


so modos especficos de aquisio do direito de propriedade, no
funcionando para os restantes direitos reais.
H quem entende que no caso da acesso, esta comum a todos os
direitos reais de gozo. Enquanto que a ocupao s existe para a
propriedade como defende a doutrina dominante.
Abordaremos mais adiante a ocupao - Artigos 1318 e seguintes CC e a
acesso Artigos 1325 e seguintes CC, quando falarmos das formas de
aquisio da propriedade.

2. Modificao dos Direitos Reais


A modificao dos direitos pode ser subjectiva, quando existe a mudana
do titular do direito, operando pela via da transmisso. Neste caso, o direito
real reconstitui-se ao passar para outro titular.
Pode tambm ser objectiva, quando uma vez constitudo o DR, os poderes
jurdicos que integram o seu contedo normativo sofrem alteraes sem
que o direito perca a sua identidade. o que se passa quando sobre o
direito de propriedade incide outro direito real menor (usufruto, servido,
superfcie, etc).
Quando se constitui um direito real, temos um ttulo, este consiste numa
srie de factos que determinam o direito na sua realidade concreta, ou seja,
onde o direito retira a sua configurao.
Assim, so ttulos, todos os factos jurdicos atravs dos quais se podem
constituir direitos reais: o contrato, a ocupao, o achamento, a
acesso, a aquisio por via de registo, a sucesso por morte, o
testamento. importante termos presente a noo de ttulo, pois, a
possibilidade de modificao existe quando o ttulo um contrato.
A lei faz referncia a possibilidade de modificao do ttulo compropriedade -artigo 1406, n1 CC, podem as partes modificar o
contedo.
Outras situaes que se faz a enunciao dos ttulos constitutivos dos
direitos reais: Artigos 1419- Modificao do ttulo constitutivo da
compropriedade, Artigo 1445 CC- Ttulo constitutivo do usufruto, Artigo
1485 CC- Ttulo constitutivo do uso e habitao, Artigo 1530 CC- Ttulo
constitutivo da superfcie, Artigo 1564 CC- Ttulo constitutivo das servides.
A transmissibilidade dos direitos reais consta do Artigo 1305 CC ao referir
se que o proprietrio goza de modo exclusivo o direito de .........
disposio das coisas que lhe pertencem.

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Curso de Cincias Jurdicas Direitos Reais Semestre 4

A transmissibilidade dos DR sofre alguns limites:


1 Limite - quando se verifica a transmisso dos DR, no se deve alterar o
seu contedo, o seu objecto mediato, os poderes e das obrigaes que
derivam do direito real, excepto nos casos previstos na lei, vigorando aqui
a regra da no modificabilidade - Artigo 1306 CC. No entanto, luz da
definio do direito de usufruto, possvel modificar o contedo deste
direito.
2 Limite deve ser respeitada a ligao do direito a coisa- inerncia, no
se pode conceber que o mesmo direito real de usufruto incide sobre um
outro bem. Cada direito real corresponde a uma coisa. Ex: se o usufruto
incide sobre um talho, s sobre esse talho que se muda a coisa.
Em todo o caso, s possvel modificar o contedo dos direitos quando a
lei assim o permitir.

3. Extino dos direitos reais


O DR extingue-se quando este deixa de existir na esfera jurdica do seu
titular para ingressar noutra esfera jurdica extino relativa ou quando este
deixa de existir no mundo do direito, extinguindo-se objectivamente,
deixando de existir como realidade jurdica autnoma - extino absoluta.

So causas gerais de extino dos direitos reais: a expropriao por


utilidade pblica, perda total da coisa, renncia, impossibilidade definitiva
de exerccio, confuso, no uso, decurso do prazo estipulado para o seu
exerccio, usucapio libertatis.
a) Expropriao
A expropriao uma causa de extino do direito de propriedade ou
superfcie, que so DR. Para o Estado, esta uma causa de aquisio
originria do direito de propriedade - Artigo 86 CRM, 1308 CC, 1536, n1 f)
CC, mas para o titular do direito uma causa de extino do seu direito.
A expropriao s tem lugar quando existe um interesse que justifique a
utilidade pblica. D lugar a justa indemnizao-artigo 1310 CC.
Pode acontecer que haja reverso na expropriao a coisa que era para
ser expropriada acaba por no ser, voltando a mesma para o seu o antigo
proprietrio. Apesar da pessoa ter perdido temporariamente a propriedade,
pode reav-la quando os fins para que a coisa estava destinada no se
realizam. A expropriao incide sobre bens imveis.

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Curso de Cincias Jurdicas Direitos Reais Semestre 4

Tambm se fala da requisio temporria de certo bem- Artigo 1309 CC.


O Estado pode usar uma coisa que seja do particular quer seja mvel ou
imvel - isto requisio.
b) Perda total da coisa
Esta consiste na destruio fsica ou material da coisa ou nos casos em
que ela colocada for a do comrcio jurdico. Podem extinguir-se por
perda da coisa: a posse - Artigo 1267, n1, b), usufruto- Artigo 1476 n1, d),
uso e habitao - Artigo 1490 CC, superfcie- Artigo 1536, n1 e).
Entende-se que o direito de propriedade tambm se extingue com a perda
da coisa bem como os direitos reais de garantia - Artigos 644 CC, 677, 730,
c), 752, 761 CC.
c) Renncia
H renncia quando o titular abdica do seu direito. Ex: Artigos 731, 664,
677, 752, 761 a) CC- direitos reais de garantia, n1 Artigo 1267, d) CCPosse, Artigo 1476, n1 e) e Artigo 1490 CC- usufruto e uso e habitao,
Artigo 1569, n1, d) CC servides prediais, Artigo 1318 CC- direito de
propriedade de coisa mvel que se verifica o abandono da coisa res
derelictio.
No caso de imveis, alguns autores entendem que estes so
irrenunciveis, pois a lei no prev a renncia de coisa imvel, mas outros
ainda entendem que no caso do artigo 1345 CC, prev-se que o imvel
sem dono conhecido considerado patrimnio do Estado e este encontrase nesta situao porque verificou-se uma renncia.
A renncia deve ser formalizada por escritura pblica- Artigo 89 Cdigo de
registo e notariado e est sujeita a registo Artigo 2, n1, y) CRP.
d) Confuso
Existe confuso quando a titularidade do DR menor e do DR mais amplo
convergem no mesmo titular. Esta, uma causa extintiva dos DR limitados.
Ex: Artigos 1476, n1, b), 1536, n1, d), 1569, n1, a) CC.
e) Impossibilidade definitiva de exerccio
Oliveira Ascenso tem a seguinte posio: a no utilizao de uma coisa
pelo seu titular em razo de um facto que a impossibilita desde que dure
mais de 20 anos, implica a extino dos respectivos direitos. Segundo este
autor, no faz sentido um direito manter-se sem realizar a sua funo. Ex:
um talho que est a beira do rio, se o rio corre sobre o talho, se
decorrem 20 anos a pessoa perde o direito de uso do talho - artigo 1536,
n1,e) CC. Acontece uma situao superveniente que impossibilita o titular
do direito de exerc-lo.

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Curso de Cincias Jurdicas Direitos Reais Semestre 4

f) No uso
Consiste no no exerccio de um direito por perodo prolongado. O no uso
uma causa de extino dos direitos reais, nos casos especialmente
previstos na lei nos termos do Artigo 298, n3 CC. Ex: usufruto, Artigo 1476,
n1, c) CC, Artigo 1569, n1, b) CC- servides prediais.
g) Usucapio libertatis
Consiste na desonerao do direito real menor imposta pelo titular do
direito real maior. Teremos neste caso um titular de um direito real menor
que no utiliza a coisa porque impossibilitado pelo titular do direito real
maior. Ex: o proprietrio do prdio serviente impede o proprietrio do
prdio dominante de exercer a servido.
Em relao a servido, prev o Artigo 1574 CC que o proprietrio do
prdio serviente ope-se ao exerccio da servido constituindo isto a
usucapio libertatis. A doutrina entende que esta uma causa de extino
de todos os direitos reais menores, no apenas da servido.

Leituras Obrigatrias
A leitura dos textos indicados, a seguir, de fundamental importncia para
a compreenso de nossos estudos e para a realizao das actividades
propostas para esta primeira unidade de estudo. Portanto, no deixe de
estud-los.

Texto 1
-

Augusto da Penha Gonalves. Op Cit, Pgs 213-229.

Leituras Complementares
-

Jos de Oliveira Asceno, Op Cit Pg 390-417.

Actividades
A seguir, esto as actividades correspondentes a esta primeira unidade.
Resolva os exerccios propostos em cada uma e verifique se acertou,
conferindo a sua resposta na Chave de Correco no final do presente
Guia de Estudo.

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Actividade 1
Resolva os seguintes casos prticos:
1.1. A, tem direitos sobre uma vivenda sita ao longo da Estrada Nacional
N1. Uma deciso do Governo leva a reassentar as famlias em outro
local pois pretende-se alargar a N1 para melhoria do trafego. Que
direitos so assistidos a A e demais famlias abrangidas.
1.2. Suponha que A tem direitos obre um terreno sito no Bairro Luis Cabral
na Cidade de Maputo e constitui servido de passagem a favor de B.
Durante 20 anos impede que B passe pelo referido terreno. Quid Juris.

1.3. Suponha que B que tem direito de propriedade sobre 4 imoveis,


decide deixa-los para os seus filhos. Poder faze-lo?

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UNIDADE TEMTICA 5

POSSE
Elaborado por: Elsa Alfai

OBJECTIVOS
No fim desta unidade voce dever ser capaz de:
Nomear o conceito de posse e destrin-lo dos principais direitos
reais;
Nomear o conceito e caractersticas dos elementos da posse
(corpus e animus);
Distrinar as teses desenvolvidas sobre a estrutura da posse;
Descrever as situaes sobre o qual no possvel o exerccio da
posse
Descrever e identificar as diferenas entre os diversos modos de
aquisio da posse;
Ser capaz de descrever as consequncias da existncia de cada
uma das espcies da posse;
Ser capaz de demonstrar as diferenas dos efeitos da posse dos
restantes direitos reais.

ABORDAGEM DOS CONTEDOS DA UNIDADE


1- Noo da posse
Muitas vezes, pode-se ter dificuldades de destrinar a posse da
propriedade. Estas dificuldades de destrina, podem estar associadas a
manifestao destas figuras que juridicamente tem significados e regimes
diferenciados, da a importncia de efectuar o estudo da posse e ainda da
figura da simples deteno.
No Cdigo Civil, encontra-se a regulao do instituto possessrio dos
artigos 1251 a 1301 C.C.
No artigo 1251 C.C, define-se a posse como sendo o poder que se
manifesta quando algum actua por forma correspondente ao exerccio do
direito de propriedade ou de outro direito real.
Pode-se assim depreender que a actuao correspondente posse, se
assemelha ao exerccio da propriedade ou de outro direito real, a nosso
entender melhor se enquadram os DR de gozo.
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Curso de Cincias Jurdicas Direitos Reais Semestre 4

Daquela definio, retira-se o objecto da posse: todas as coisas que


podem ser objecto do direito de propriedade ou de outro direito real de
gozo, coisas essas que so corpreas materiais.
Excluem-se as coisas do domnio pblico, pois estas no podem ser
objecto de direito privado conforme dispe o Artigo 202 n2 C.C.
Encontram-se tambm excludos do domnio da posse, os direitos reais de
garantia e os direitos reais de aquisio facto que pode estar associado a
natureza daqueles direitos.

2- Elementos e Estrutura da posse


Antes de se abordar a estrutura da posse, fundamental que se conheam
os seus elementos.
Podemos assim encontrar 2 elementos da posse: o corpus e o animus.
O corpus, entendido como sendo o exerccio de poderes de facto sobre a
coisa, o elemento material, objectivo da posse, reconhecvel a nvel
externo.
O animus a inteno de agir como titular do direito de propriedade, o
elemento psicolgico da posse. uma atitude do possuidor, expressa
atravs do seu comportamento intencional por referncia coisa.
O animus pode ser domini, quando se tem inteno de adquirir o direito de
propriedade, animus sibi habendi quando se tem inteno de adquirir um
direito real limitado, ou animus possiendi, que interesse nesta nossa
abordagem, se traduz na manifestao da vontade de possuir certo bem,
esta ltima modalidade a que mais nos interessa.
A estrutura da posse abordada tendo em conta os elementos acima
referidos, a partir dos quais a doutrina desenvolveu duas teses para a sua
determinao, nomeadamente: a concepo subjectiva, defendida por
Savigni e a concepo objectiva, defendida por Ihering.
a) Concepo Objectiva
Segundo esta concepo defendida por Ihering, para que exista a posse,
basta a simples existncia do corpus. No h posse sempre que o sujeito
manifesta a inteno dela no existir ou nos casos expressamente
previstos na lei.
Para Ihering, a defesa da posse, prende-se no s com a paz pblica
como defende a posio de Savigni, mas tambm com a defesa implcita
do direito a que ela corresponde seja ele propriedade, usufruto, superfcie,
servido, etc.

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Curso de Cincias Jurdicas Direitos Reais Semestre 4

Entende-se aqui, que o possuidor deve partida ser protegido pois, se


assim no fosse, seramos conduzidos a situaes deste ter que provar o
seu direito em relao ao bem e o mesmo deveriam fazer os transmitentes
deste direito, remetendo-nos assim na situao de uma probatio diablica.
Entende-se que uma vez protegida a posse, facilmente a propriedade ou o
direito real que est por detrs desta fica protegido.
b) Concepo Subjectiva
uma posio defendida por Savigni, os defensores da mesma
argumentam que para que exista posse no basta apenas a existncia do
elemento material corpus, necessria a presena do animus.
Assim, s h posse quando existe reunio do corpus e do animus. No
existindo estes dois elementos ou a falta de um deles conduz a no
existncia da posse.
Contudo, os defensores da tese objectiva questionam como possvel
provar a existncia da vontade que requerida como elemento
fundamental da existncia da posse? Ao que respondido dizendo que a
vontade inferida do teor da actuao do possuidor, a natureza da
causa aparente que ele faz presumir.
Para Savigni, a tutela da posse tem como fim a paz pblica pois, se no
protegemos o possuidor, conduziramos as pessoas a fazerem a auto
defesa dos seus direitos, e sabe-se que a justia pelas prprias mos
proibida pelo direito. Assim, segundo a tese subjectiva, a tutela da posse
evita a desordem e anarquia.
c) Posio adoptada no direito positivo
Entende-se que o nosso direito positivo acolhe maioritariamente a posio
subjectiva encontrando-se a mesma consagrada fortemente na alnea a)
do 1253 C.C.
Justifica-se que a alnea a), do Artigo 1253 C.C consagra a tese subjectiva
na medida em que, de acordo com este preceito legal, para que no exista
posse, mas deteno, a pessoa age sem inteno de ser beneficiria deste
direito.
O Art. 1253 C.C, nas suas restantes alneas, ilustra outras situaes que
no existe a posse, conduzindo-as situao de simples deteno, sendo
elas: aproveitamento da tolerncia do titular do direito, os que agem como
representantes ou mandatrios do possuidor ou seja, todos que agem em
nome alheio. Nestes casos apontados como de mera deteno, existe o
corpus mas no o animus.

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3- Fundamento da tutela jurdica da posse


a)Defesa da paz pblica
Este fundamento avanado por Savigni, refere que a defesa da posse
evita a auto tutela de direitos, pois, o facto da pessoa deter certo bem e
explor-lo, no caso de sentir-se ameaada, pode ser conduzido a fazer a
auto defesa. Evita-se a desordem e anarquia na sociedade no que toca ao
domnio dos bens.
b) Dificuldade de prova do direito definitivo
um fundamento apresentado por Ihering que defende que ao proteger-se
a posse, facilita-se a proteco dos verdadeiros titulares dos direitos
definitivos. Evitam-se situaes dos titulares de direito serem obrigados a
provar a todo o momento os seus direitos (probatio diablica).
Pela defesa da posse, facultado ao possuidor a sua manuteno na
posse excepto quando aparece o verdadeiro titular do direito reivindicado.
c) Valor econmico da posse
Entende-se que ao possuir certo bem e explor-lo, a pessoa est a
desempenhar um papel relevante para a economia. Existe na base desta
explorao um certo interesse econmico que carece de proteco, facto
que conduz a defesa da posse.

4-Modos de aquisio da posse-Artigo 1263 C.C


A aquisio da posse pode ser originria (apossamento, inverso do ttulo
da posse) ou derivada (tradio e constituto possessrio).
4.1 Modos de aquisio originria
a) Apossamento
Segundo a alnea a) do Artigo 1263 C.C- o apossamento consiste na
prtica reiterada, com publicidade, de actos materiais correspondentes ao
exerccio do direito de propriedade ou outro direito real de gozo.
A primeira manifestao do apossamento, a emposse que consiste na
apreenso fsica da coisa. necessria aqui a prova da data em que
comeou a prtica, com publicidade de actos materiais referidos para se
dar como iniciada a posse.

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b) Inverso do ttulo da posse


Consta na alena d) do Artigo 1263 C.C, conjugado com o artigo 1265 C.Cesta figura verifica-se quando o mero possuidor (detentor) passa a ser
possuidor.
A inverso do ttulo da posse de 2 tipos:
Por oposio do detentor do direito contra aquele em cujo
nome possuia.
Por acto de terceiro capaz de transferir a posse.
Na inverso do ttulo da posse, a posse inicia no momento em que a
oposio do detentor conhecida pelo possuidor ou na data da prctica do
acto de terceiro a que se refere a parte final do artigo 1265 C.C.

4.2 Modos de aquisio derivada da posse


a) Tradio
A tradio um dos modos de aquisio da posse. Esta, pode ser material,
quando consiste na entrega da coisa ou simblica quando consiste na
entrega de algo que representa a coisa.
Uma figura existente na tradio a chamada traditio brevi manum. A
traditio brevi manum - tradio de mo curta, consiste na situao em que
se aliena uma coisa a algum que j detentora da mesma, no sendo
necessria a entrega presencial da coisa. Neste caso, basta o contrato
para que haja tradio da posse.
Na tradio, a posse inicia na data em que teve lugar a celebrao do
contrato acompanhada da tradio material ou simblica da coisa.
b) Constituto possessrio
tambm um dos modos de aquisio da posse, regulado nos Artigos
1263 alnea c) e 1264 todos do C.C.
O constituto possessrio pode dar-se por duas modalidades:
No n 1 do artigo 1264 C.C, temos a situao em que um possuidor causal
transmite a posse, mas que por acordo com o novo possuidor, novo
adquirente da posse, aquele continua a deter a coisa possuda.
No n2 do artigo 1264 C.C, o possuidor causal transmite o seu bem a
terceiro, mas a coisa transmitida continua com a pessoa que a detinha,
pessoa esta que no o anterior possuidor. Ex. A vende a sua casa a B,

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mas a casa est arrendada a C, um terceiro. O contrato de arrendamento


mantm-se.
No constituto possessrio, a posse inicia na data em que ocorreu o
negcio translativo referido no artigo 1264 C.C.

c) Sucesso na posse
A doutrina entende que uma forma de aquisio derivada da posse que
se encontra consagrada no artigo 1255 C.C.
Neste caso, os herdeiros ficam na posse dos bens do possuidor desde o
momento da morte deste. A posse s se transmite quando se aceita a
herana, no h aqui uma interrupo da posse nem alterao das suas
caractersticas. A aceitao da herana tem efeitos retroactivos.

5. Caracteres da posse
a) Posse titulada e Posse no titulada
Artigo 1259 C.C- diz-se titulada a posse fundada num modo legtimo de
adquirir, independentemente, quer do direito do transmitente, quer da
validade substancial do negcio jurdico.
Todo e qualquer negcio que seja idneo para provocar a transmisso de
um direito atribui o ttulo posse. No importam os vcios substantivos que
o negcio acarreta que levam a anulabilidade do negcio, a posse
mantm-se titulada, o que se entende na ltima parte do n1 do artigo
1259 C.C.
No entanto, exceptua-se o vcio de forma que leva a nulidade do negcio,
neste caso, a posse no titulada.
b)Posse de boa f e Posse de m f
de boa f a posse que ao adquir-la o possuidor ignorava que lesava
direito de outrem- Artigo 1260 n1 C.C.
Esta uma distino importante para efeitos da contagem dos prazos da
usucapio, sendo os mesmos mais curtos na situao de boa f - artigos
1294, 1295, 1296, 1299 C.C.
O possuidor de boa f beneficia de vantagens quanto aos frutos- n1 Artigo
1270 C.C.
importante reter que, quem tem uma posse titulada est de boa f e
quem adquire a posse com violncia est de m f.
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c)Posse pacfica e posse violenta


pacfica, a posse adquirida sem violncia e violenta a posse adquirida
pelo uso da coao fsica ou moral que se encontram definidas nos artigos
246 e 255 C.C- Artigo 1261 C.C.
Para efeitos da usucapio, a posse violenta no pode ser invocada e
considerada de m f mesmo quando titulada - n 3 artigo 1260 C.C e
artigo 1297 C.C.
d) Posse pblica e Posse oculta
pblica a posse que se exerce de modo a ser conhecida por pelos
interessados, Artigo 1262 C.C. Contrape-se a este tipo de posse, a oculta.
Para efeitos da contagem dos prazos da usucapio esta uma distino
importante. No caso da posse oculta, os prazos s comea a contar desde
que esta se torne pblica -Artigo 1297 C.C.

6. Efeitos da posse
a) Presuno da titularidade do direito - Valor probatrio da
posse
regulada no Artigo 1268 C.C. Presume-se aqui que quem est na posse
de uma coisa, titular do direito correspondente aos actos materiais que
se praticam sobre ela. Se um sujeito invoca direito de propriedade sobre
certo bem, cabe a ele a prova da propriedade.
Vimos que o registo tambm faz presumir a titularidade do direito. Estas
duas presunes (fundadas no registo e na posse) so ilidveis. O
afastamento de uma ou outra presuno feito nos termos do Artigo 1268
C.C.
Depreende-se da leitura do n1 do artigo 1268 C.C, que no caso de existir
uma presuno fundada no registo e outra na posse, prevalece a mais
antiga entre as duas.
No caso das duas presunes serem fundadas no registo, funciona o
princpio da prioridade do registo - n2 Artigo 1268 C.C e Artigo 9 CRP.
b) Direitos do possuidor em relao aos frutos
Os direitos do possuidor so regulados no Artigo 1270 C.C.
O possuidor de boa f faz seus os frutos naturais e civis percebidos at a
data em que souber que est a lesar os direitos de outrem - n 1 artigo
1270 C.C - para noo de frutos vide artigo 212 C.C.

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O possuidor de boa f, tem ainda o direito aos frutos pendentes que a


coisa produziu at cessar a boa f, caso tenha efectuado despesas de
cultura ou sementeira, cultura ou matrias primas - n2, artigo 1270 C.C.
Este possuidor tem tambm o direito a ser indemnizado caso tenha
efectuado alienao dos frutos antes da colheita e quando tiver cessado a
sua boa f, neste caso, a alienao subsiste e o produto da colheita
pertence ao titular do direito- n3 artigo 1270 C.C.
O possuidor de m-f deve restituir os frutos que a coisa produziu at ao
termo da posse e responde alm disso pelo valor daqueles que um
proprietrio diligente poderia ter produzido - artigo 1271 C.C.
c) Direitos do possuidor quanto as benfeitorias
Artigo 1273 CC Ex vi artigo 216 C.C.
Regime das benfeitorias varia consoante dois factores:
1 Aparecimento do proprietrio.
2 Necessidade de evitar o enriquecimento sem causa do proprietrio.
Artigo 473 C.C, n 1Artigo 1273 C.C.
Assim,
Tanto o possuidor de boa ou de m-f tem o direito de ser
indemnizados caso tenham realizado benfeitorias necessrias;
Tanto o possuidor de boa e de m-f tem o direito de levantar as
benfeitorias teis, desde que o faa sem prejuzo da coisa. Quando do
levantamento da benfeitoria til resultar prejuzos para a coisa,
segundo o n2 artigo 1273, impe-se ao proprietrio o dever de
indemnizar o possuidor no valor das benfeitorias teis calculadas
segundo as regras de enriquecimento sem causa - Artigo 473 e ss do
C.C.
S o possuidor de boa f pode levantar as benfeitorias volupturias
que haja realizado, desde que o faa sem destruio da coisa. Se do
levantamento das benfeitorias volupturias resultar destruio da coisa,
o possuidor de boa f no pode levant-las nem ser indemnizado no
valor delas n1 artigo 1275 C.C.
O possuidor de m f, perde em qualquer caso as benfeitorias
volupturias que tenha realizado n.2 artigo 1275 C.C.

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d) Usucapio. Posse como criadora de direitos


Entende-se que este um dos efeitos da posse mais importantes regulado
nos artigos 1287 e seguintes do Cdigo Civil.
Noo
Nos termos do artigo 1287 C.C, entende-se por usucapio, a aquisio de
um direito por efeito da posse do direito de propriedade ou de outro direito
real mantida por um certo lapso de tempo.
Assim, so requisitos da usucapio:
Existncia de posse;
Decurso de certo lapso de tempo legalmente previsto;
Inteno de usucapir por parte do possuidor (a aquisio de um
direito pela usucapio no automtica, tem que ser invocada
judicial ou extra judicialmente).
Direitos usucapveis
Da definio constante no artigo 1287 C.C, infere-se que s podem ser
adquiridos por usucapio os direitos reais de gozo. Os direitos reais de
aquisio e de garantia no so usucapveis.
Todavia, existem duas situaes de D.R de gozo que no podem ser
adquiridos por usucapio, que se encontram previstos no artigo 1293 C.C,
sendo eles:
As servides prediais no aparentes- n1 Artigo 1293 C.C
conjugado com o n1 artigo 1548 C.C.
Os direitos de uso e de habitao.
As servides no aparentes, no podem ser adquiridas por usucapio
porque nelas a posse oculta e a posse oculta no serve para esta figura,
vide Artigo 1297 C.C.
O direito de uso e habitao, constitui-se para uma certa pessoa e em
funo das suas necessidades, ou seja, tem um carcter pessoal, da a
excluso da usucapio como meio para sua aquisio.
A usucapio em casos de simples deteno ou posse precria
Nos termos do artigo 1290 C.C, a simples deteno ou posse precria, no
tem como efeito a usucapio a menos que acontea uma inverso do ttulo
da posse constante nos artigos 1263 d) C.C conjugado com o artigo 1265
C.C.
Neste caso, o prazo para contagem da usucapio comea a contar desde
a data da ocorrncia da inverso do ttulo da posse.

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Usucapio no caso de posse violenta ou oculta


Aplica-se o artigo 1297 C.C, aqui, os prazos da usucapio comeam a
contar desde a data que cessa a violncia ou que a posse oculta se torna
pblica.
Usucapio no caso de mera posse
Aplica-se o disposto no artigo 1295 C.C. No caso do possuidor ter uma
posse pblica, pacfica, exercida durante um perodo mnimo de 5 anos e
registada tendo por base uma sentena transitada em julgado nos termos
do artigo 2, n1, alnea f) CRP, os prazos so mais curtos consoante esteja
de boa ou de m f.
Prazos da usucapio
Nos termos dos artigos 1294 e seguintes do C.C, os prazos variam
consoante estejamos perante uma posse sobre bens imveis, mveis
sujeitos a registo ou mveis no sujeitos a registo.
Face ao tipo de bens, os prazos tambm variam consoante esteja os
perante posse titulada ou no titulada, de boa ou m f, no caso de se
exigir o registo do ttulo perante o registo ou no.
Legitimidade para invocar a usucapio
Tem legitimidade nos termos do artigos 1289 C.C e 1292 C.C que remete
para artigos 303 e seguintes C.C, o interessado ou seu representante,
tratando-se de um incapaz o Ministrio Pblico.

7. Defesa da posse ou Contencioso possessrio


Os meios de defesa da posse podem ser judiciais ou extrajudiciais.
Nos meios judiciais temos as chamadas aces possessrias que so
meios de defesa gerais, sendo eles as aces de preveno, restituio e
manuteno da posse, por outro lado temos as aces especiais de
embargos de 3, restituio provisria da posse.
Nos meios extrajudiciais, temos a aco directa.
a) Meios de defesa gerais
Como meios de defesa gerais temos as aces de preveno, manuteno
e restituio da posse.

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i.

Aco de preveno da posse

Regulada no artigo 1276 C.C- dirigida contra a ameaa criadora de um


acto lesivo a posse.
Na aco de preveno de posse, existe um justo receio de perturbao
ou de esbulho da posse.
ii. Aco de manuteno da posse
Regulada no artigo 1278 C.C, neste caso a causa de pedir a perturbao,
uma vez que a pessoa perturbada no exerccio da sua posse. O autor da
aco continua como possuidor efectivo.
iii. Aco de restituio da posse
Regulada no artigo 1278 C.C, um meio de defesa da posse que usado
quando a coisa possuda for retirada do possuidor. Neste caso, o
possuidor perde a posse efectiva da coisa por esbulho, que pode ser
violento ou pacfico. Esta aco visa obter a restituio da posse de que se
foi privada.
iv. Prazos para propor a aco de manuteno e restituio da posse
Temos o prazo de um ano, para propor as aces de manuteno e de
restituio da posse, prazo este que comea a contar desde o facto da
turbao ou esbulho, ou desde o momento que se teve conhecimento do
esbulho quando este praticado s ocultas, a chamada posse de um
ano e um dia.
No caso de a posse no ter a durao de um ano, o possuidor s
mantido ou restitudo contra quem tiver melhor posse. melhor posse a
titulada, na falta de ttulo a mais antiga, se tiverem igual antiguidade a
posse actual- artigos 1282, 1278, n1, d) 1267 C.C.
v. Quem pode propor as aces de manuteno e restituio da
posse?
Legitimidade para propor a aco de manuteno da posse: o perturbado
ou os herdeiros deste contra o perturbador- n1 artigo 1281 C.C.
Legitimidade para propor a aco de restituio da posse: o esbulhado,
seus herdeiros, no s contra o esbulhador ou seus herdeiros, mas contra
terceiros que tenham conhecimento do esbulho e se encontrem na posse
da coisa. - n2 Artigo 1281 C.C. Quando o terceiro est de boa f, no se
pode propor uma aco de restituio da posse.
Tratando-se de um possuidor causal, ao fim de um ano, no se pode
instaurar uma aco possessria mas sim, uma aco de reivindicao
(aco petitria) que prevista no artigo 1311 C.C, um meio geral de
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defesa do direito de propriedade que se aplica por fora do artigo 1315 aos
restantes direitos reais, esta aco imprescritvel nos termos do artigo
1313 C.C. A causa de pedir neste caso ser o direito de propriedade ou
outro direito real invocado.

b) Meios especiais de defesa da posse


i. Embargos de terceiro
um meio usado por quem lesado na sua posse, por acto judicial
(penhora, arresto, arrolamento, posse judicial, despejo) ou outro acto que
no implique a apreenso de bens em processo de falncia ou insolvncia.
O sujeito que usa esta aco, reage contra a ofensa que o acto judicial
provoca, fazendo restituir-se da sua posse - Artigo 1285 C.C, Artigo 1037
CPC.
O embargo pode ser deduzido embora a diligncia ainda no tenha sido
ordenada, neste caso tem um fim preventivo. No caso da diligncia ter sido
consumada o embargo repressivo Artigo 1037 e seguintes CPC.
ii. Restituio provisria da posse em caso de esbulho violento
uma providncia cautelar regulada no artigo 393 CPC, e a que se refere
o artigo 1279 C.C.
Neste caso, protege-se o possuidor contra uma privao violenta da posse.
Tratando-se de uma providncia cautelar, esta se mantm desde que seja
intentada a aco definitiva dentro de 30 dias contados da data da
notificao do despacho que ordena a providncia requerida - alnea a),
n1 artigo 382 CPC.
c) Meios extra judiciais
Aco Directa
Pode o possuidor usar da aco directa para defender a sua posse usando
a fora e autoridade quando tais actos sejam indispensveis a defesa do
seu direito e no seja possvel recorrer as entidades competentes, mas isto
dentro dos limites da lei - Artigos 336 e artigo 1277 C.C.
Com a legtima defesa a pessoa afasta qualquer agresso actual e
contrria lei - Artigo 337 CC, Artigo 1277 C.C.
7. Natureza da posse
Existem opinies divergentes na doutrina acerca da natureza jurdica da
posse. Uns entendem que a posse uma situao de facto, no existe

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aqui qualquer poder jurdico ou qualquer direito subjectivo. A tutela da


posse visa a proteco desta situao de facto.
Outros entendem que a posse uma situao jurdica subjectiva,
qualificvel como direito subjectivo.
A doutrina dominante, entende que a posse uma situao jurdica activa,
uma realidade factual. Os efeitos jurdicos a que a lei lhe atribui,
conferem-lhe a sua proteco. Esta situao factual influi sobre a
existncia da posse.
No nosso direito positivo, existe uma posio dupla. Por um lado a posse
um direito, sendo que as aces possessrias visam a defesa de um
direito - assim qualificam a posse os artigos 46 C.C, 1263 C.C, 1266 C.C,
1267 C.C. Por outro lado, a posse entendida como uma situao de facto
- artigos 1251 C.C, n2 artigo 1252 C.C.
Acolhemos a posio que defende que a posse uma situao jurdica.
um D.R de natureza provisria pois a sua proteco provisria. Podemos
encontrar na posse as caractersticas absolutidade, inerncia.

Leituras Obrigatrias
A leitura dos textos indicados, a seguir, de fundamental importncia para
a compreenso de nossos estudos e para a realizao das actividades
propostas para esta primeira unidade de estudo. Portanto, no deixe de
estud-los.

Texto 1
-

Augusto da Penha Gonalves. Op Cit, Pgs 231-316.

Leituras Complementares
Texto 1
-

Jos de Oliveira Asceno, Op Cit Pg 59-132; 483-487.

Texto 2
-

Rui Pinto, Direitos Reais de Moambique, Almedina. 2006. Pgs.


487-595.

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Actividades
A seguir, esto as actividades correspondentes a esta primeira unidade.
Resolva os exerccios propostos em cada uma e verifique se acertou,
conferindo a sua resposta na Chave de Correco no final do presente
Guia de Estudo.

Actividade 1
Leia o Augusto da Penha Gonalves, referenciado como Texto obrigatrio
paginas 213 a 229 e identifique as principais diferenas entre a posse e os
direitos reais de gozo.

Actividade 2
Resolva as seguintes hipteses praticas:
2.1 Certo dia, Ezequiel, aparece junto a Xavier (Alfaiate) propondo um
negcio. Tratava-se da venda de uma mquina de costura que se
encontrava com Xavier que tinha sido deixada por Cristina sua amiga para
uso na sua profisso de Alfaiate.
Apresentando algumas facturas passadas durante a aquisio da mquina,
Ezequiel alega ser proprietrio do bem e justifica-se que o deixara por
acaso com Cristina, sua prima, para guard-la at que um dia necessitasse.
Xavier, perante estes factos e porque lhe interessava a compra da
mquina, adquire-a e informa imediatamente a Cristina da transao feita.
Constata-se porm, que Cristina intrigada, adverte que Ezequiel no
passava de um primo seu bbado que tudo fazia para obter algum dinheiro,
como se constata no presente caso e que recorrerria a justia para soluo
do letgio pois queria a mquina de volta. Quid Juris!
2.2 Abreu recebeu de seu amigo Incio um computador para guard-lo at
que o mesmo voltasse dos Estados Unidos. Depois do seu regresso,
Incio dirige-se Abreu solicitando a devoluo do computador ao que o
mesmo responde que no seria possvel pois durante a ausncia daquele
o mesmo avariou e as despesas que ele efectuou com as avarias eram de
longe superiores, da que o computador era automaticamente seu.
Tendo em conta a matria leccionada, que figura se encontra aqui prevista?
2.3 Antnio encontra numa secretria da biblioteca da Escola de Cincias
Jurdicas e Sociais, um Cdigo Civil. Pegando no achado, leva para sua
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casa. Durante as aulas de direitos reais, usa o cdigo para consulta. Mas
coinscidentemente durante a semana em que Antnio, achou o cdigo
aparece uma colega de turma queixando-se do desaparecimento de um
cdigo, na biblioteca. Antnio comea a evitar o uso do cdigo na sala de
aulas aps o anncio do desaparecimento, mesmo quando solicitado
constantemente pela professora para proceder a leitura de alguns artigos
durante as aulas. Quid Juris.
2.4 Durante algumas semanas, Elisa rega, retira ervas daninhas, colhe
alguns legumes da horta de sua prima Marta, pois a mesma tinha se
ausentado para Manhia.
Verificando o facto, os vizinhos de Marta perguntaram o que se passava
tendo Marta respondido que a sua prima, antes da sua partida, tinha lhe
pedido que fizesse aquilo.
Atendendo que Elisa actuava como se de uma proprietria se tratasse,
poder a mesma invocar a existncia da posse?
2.5 Antnio, titular do direito de propriedade sobre um imvel, celebra com
Beato um contrato de compra e venda.
Devido a questes pessoais, pede que continue a habitar no mesmo
imvel at encontrar a curto prazo outra residncia. Beato pretende saber
de si se poder concordar com a situao proposta por Antnio sem que
os seus direitos fiquem prejudicados. O que lhe aconselharia?
2.6 Ao passar repetidamente pela Av. Eduardo Mondlane na Cidade de
Maputo, Ana apercebe-se de que uma determinada vivenda se encontrava
desabitada. Feitas as devidas averiguaes descobre, que os proprietrios
residiam no estrangeiro por longos anos e que muito provavelmente no
voltaram a Moambique.
Perante isto, em 1979 Ana instala-se na casa com a toda a sua famlia.
Passados quatro anos, e julgando confirmadas as informaes de que os
proprietrios no voltariam, Ana aumenta diversas divises casa e
constroi um murro usando cimento que retirara de um armazm vizinho.
Porque o seu filho mais velho acabava de se casar, e no tinha residncia
prpria, em 1990 Ana mudou-se com o resto da famlia para uma
dependncia construda por si num terreno sito no Bairro do Sial na Matola
que lhe tinha sido concedido o direito de uso e aproveitamento da terra.
Quando os proprietrios regressaram a Moambique, contrariando as
expectativas de Ana, depararam com a ocupao da casa, que se
prolongava h 20 anos, o filho de Ana comunicou me a inteno
daqueles o despejarem da casa, facto que levou a mesma a voltar a morar
na casa. Certo dia, interpelada pelos proprietrios, Ana recusou-se a
abandon-la.
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a) Como devem actuar os proprietrios para que a sua casa seja


desocupada? No caso da casa ter que ser desocupada, ter
Ana o direito a ser reembolsada das despesas efectuadas?
b) Suponha agora que os proprietrios no pretendendo resolver
directamente a questo com Ana, alienam a vivenda a Custdia.
Que meios poderia esta utilizar para que a casa fosse
desocupada?
c) Suponha ainda que a situao tinha os seguintes contornos: os
proprietrios haviam emprestado a casa a Ana pelo tempo que
se encontrassem ausentes e, aps o seu regresso, esta se
recusa a sair. Como os mesmos devero actuar?

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UNIDADE TEMTICA 6

DIREITO DE PROPRIEDADE
Elaborado por: Elsa Alfai

OBJECTIVOS
No fim desta unidade voce dever ser capaz de:
Conhecer a esncia do Direito de Propriedade e seu fundamento
constitucional;
Conhecer o conteudo do direito de propriedade, as principais
caracteristicas e modos de aquisio;
Identificar os meios de defesa da propriedade;
Conhecer as especies de propriedade;
Conhecer os direitos reais menores dependentes da propriedade.

ABORDAGEM DOS CONTEDOS DA UNIDADE


6.1 Abordagem do direito de propriedade
a) Fundamento constitucional do direito de propriedade
Desde 1975, a relevncia e importncia deste direito merece a sua
consagrao constitucional.
Consideramos assim fundamental, apresentar os vrios tipos de
propriedade consagrados pelas constituies que vigoraram em
Moambique.
A Constituio de 1975 consagrava trs tipos de propriedade: a
propriedade do Estado que se encontrava regulada nos artigos 8 e 10, a
propriedade privada regulada no artigo 13 e a propriedade pessoal artigo
13.
Nos termos do artigo 10 da referida Constituio, a propriedade do Estado
gozava de proteco especial e nos termos do artigo 13 da mesma
Constituio, a propriedade privada no podia ser usada em detrimento
dos interesses fixados na Constituio.
A Constituio de 1990, previa a existncia de quatro tipos de propriedade
que eram encontradas no n2 artigo 41: a Propriedade do Estado que
inclua a propriedade sobre os recursos situados no solo e no subsolo, nas
guas interiores, no mar territorial na plataforma continental, na zona
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econmica exclusiva e ainda a propriedade da terra, a Propriedade


cooperativa - constituda pelos bens e unidades de produo possudas e
geridas pelos cooperativistas em obedincia aos princpios das
cooperativas, a Propriedade mista- resultante da combinao das
participaes do Estado e participaes de agentes econmicos privados,
a Propriedade privada.
Na Constituio em vigor, no artigo 82, consagra-se o direito de
propriedade.
No artigo 99, consagra-se os sectores de propriedade dos meios de
produo defendendo-se que existem trs sectores de propriedade dos
meios de produo:
- Sector pblico cuja propriedade e gesto pertence ao Estado;
-Sector privado, cuja propriedade ou gesto pertence as pessoas
singulares ou colectivas privadas;
- Sector cooperativo e social que compreende os meios de produo
comunitrios, meios de produo destinados a explorao colectiva por
trabalhadores e os meios de produo possudos e geridos por pessoas
colectivas sem carcter lucrativo.
O artigo 98 consagra a propriedade do Estado e domnio pblico e no
artigo 109, prev-se a propriedade sobre a terra.
b) Essncia do Direito de Propriedade
Abordaremos duas teorias em torno da essncia do direito de propriedade,
sendo elas: a teoria do domnio, que se designa tambm por teoria do
senhorio e a teoria da pertena.
i.

Teoria do domnio

uma teoria quantitativa que defende que o direito de propriedade o


mais vasto direito sobre uma coisa.
Oliveira Asceno ope-se a esta teoria referindo que, dizer que o direito
de propriedade o mais vasto direito sobre uma coisa desconhecer a
existncia de limitaes ao direito de propriedade.
Menezes Cordeiro ope-se igualmente a Teoria do Domnio dizendo que o
direito de propriedade no o mais vasto direito sobre uma coisa.
Segundo este autor, o direito de usufruto comporta poderes mais vastos
que os que comporta o direito de propriedade. Carvalho Fernandes que se
ope a tese de Menezes Cordeiro afirma que, o direito de usufruto no
possui poderes mais vastos que o direito de propriedade e pelos
seguintes motivos:

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1 Porque os poderes de gozo do usufruturio so deslocados do direito de


propriedade;
2 Porque o usufruturio deve respeitar a forma da coisa, a substncia da
coisa e o seu fim econmico e deve ainda actuar com a diligncia de um
bonus pater familias nos termos dos artigos 1439 e 1446 CC.
Concordamos com a posio defendida por Carvalho Fernandes pois a
partir dela sustentamos a existncia dos direitos reais limitados.
So defensores da Teoria do domnio entre outros autores: Guilherme
Moreira, Pires Lima e Mota Pinto.
ii.

Teoria da Pertena

uma teoria qualitativa, defende que no direito de propriedade verifica-se


uma ligao muito ntima de certa coisa uma pessoa e essa ligao
ntima que constitui a essncia da propriedade.
Oliveira Asceno, critica a teoria da pertena dizendo que difcil
distinguir a existncia dessa ligao ntima de certa coisa uma pessoa e
a inerncia que tambm a ligao da pessoa coisa, esta que
caracterstica de todos os direitos reais e conclui dizendo que a
propriedade o direito real que outorga a universalidade dos poderes que
coisa se podem referir.
Diz ainda Oliveira Asceno que no direito de propriedade, os poderes
no so atribudos individualmente, a lei dita critrios de atribuio de
modo a englobar todos os poderes que implicitamente caibam no uso,
fruio e disposio da coisa. J no direito de usufruto, h uma atribuio
individual dos poderes que coisa se podem referir.
O limite geral de qualquer direito subjectivo (como o caso do direito de
propriedade) a lei. Deve-se usar, fruir ou gozar da coisa dentro dos
limites da lei, nisto que consiste a propriedade. O usufruto e os direitos
reais menores no so parte do direito de propriedade. H uma permisso
normativa a certos poderes que somados do um direito real menor.
O direito de propriedade uma permisso normativa genrica no
especfica. A propriedade um direito pleno e exclusivo. exclusivo
porque no deriva de outro direito, e sobre ela no recai outro direito, no
caso de existir uma complexidade de titulares sobre o direito de
propriedade teramos a compropriedade que diferente do direito de
propriedade.
Em relao ao uso, a lei fala impropriamente do termo direitos quando
quer referir-se a faculdade no artigo 1305 CC. Isto traduziria-se em
faculdades de usar, fruir e dispor.

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Usar e fruir na propriedade so manifestaes de um direito universal


enquanto que no usufruto so manifestaes mais importantes do direito
de propriedade mais no so as nicas.
Concluindo, entende-se que o proprietrio goza dos poderes de uso,
fruio e disposio e o proprietrio goza de uma universalidade de
poderes que a coisa referir. por causa desta qualidade dos poderes de
que goza o proprietrio que funciona o princpio da elasticidade.
c)

Noo de propriedade

A doutrina entende que no existe uma definio do direito de propriedade


que esgote a sua essncia. Entende-se que o contedo do direito de
propriedade, no o mesmo nas diversas situaes que ele existe. Ex:
pode incidir sobre a propriedade um direito real menor, neste caso o
contedo da propriedade diferente ao de outro titular que tem a
propriedade sem incidncia de um direito real menor.
A doutrina procurou definir o direito de propriedade pelas diversas
faculdades que integram o seu contedo: gozo pleno dos direitos de uso,
fruio e disposio da coisa.
O uso e fruio refere-se ao aproveitamento das utilidades proporcionadas
pela coisa (frutos naturais ou civis - Artigo 212, n2 CC).
A faculdade de dispor, consiste no poder de actuar sobre a substncia da
coisa modificando-a, transformando-a ou destruindo-a total ou
parcialmente.
No entanto, o gozo destas faculdades est sujeito a determinados limites
legais Artigo 334 C.C, que regula o abuso de direito e devem-se respeitar
as restries impostas pela lei, restries que podem ser do interesse
colectivo (de direito pblico) ou no interesse de certos particulares (de
direito privado).
d) Caractersticas do Direito de propriedade
i.

Contedo do direito de propriedade

No Artigo 1305 CC, encontramos reguladas as faculdades de uso, fruio


e disposio que j nos referimos anteriormente a propsito da tipologia
dos direitos, especificamente nos direitos reais de gozo.
ii.

Poderes indeterminados

O proprietrio goza de poderes indeterminados sobre a coisa, goza de


modo pleno os seus direitos desde que respeite os limites da lei e as
restries de direito pblico ou privado.

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iii.

Tipicidade

No se podem constituir, com carcter real, restries ao direito de


propriedade ou de figuras parcelares deste, excepto nos casos previsto na
lei - Artigo 1306 CC- Esta regra aplicvel a todos os direitos reais de
gozo.
iv.

Elasticidade

Decorre do princpio da elasticidade dos D.R que defende que o direito de


propriedade est na base dos direitos reais menores. No entanto, podem
constituir-se D.R menores sobre a propriedade e neste caso ela encolhese ao seu limite nfimo. Uma vez extinguidos os D.R menores, a
propriedade volta a sua normalidade.
v.

Direito Perptuo

O direito de propriedade no se extingue pelo no uso, o no uso, como


causa de extino de um direito, aplica-se aos casos especialmente
previstos na lei - n3 Artigo 298 C.C. O Artigo 1313 C.C regula a
imprescritibilidade da aco de reivindicao pelo decurso do tempo.
A propriedade um direito ilimitado, dura enquanto a coisa existir, mas
pode constituir-se a propriedade temporria, Ex: propriedade superficiria Artigos 1307 C.C e 1524 C.C. Pode tambm existir a propriedade resolvel
(a propriedade que est sujeita a condio resolutiva)-Artigo 1307 C.C.

e) Objecto do Direito de Propriedade


Nos termos do Artigo 1302 C.C, s podem ser objecto do direito de
propriedade as coisas corpreas mveis e imveis constantes nos Artigos
204 e 205 C.C.
Ressalva-se que o artigo 1303 C.C, sujeita a propriedade ao direito do
autor e a propriedade industrial que so coisas incorpreas imateriais.

f) Modos de aquisio do direito de propriedade


A propriedade adquire-se por contrato, sucesso por morte, usucapio,
ocupao, acesso e demais modos previstos na lei -Artigo 1318 C.C.
Destes modos de aquisio da propriedade, a doutrina distingue os modos
de aquisio originria da derivada.
So modos de aquisio originria do direito de propriedade a ocupao, a
usucapio e a acesso. So modos de aquisio derivada todos os demais
modos.

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i.

Modos especficos da aquisio do direito de propriedade


Ocupao

Podem adquirir-se por ocupao os animais e as coisas mveis que nunca


tiveram dono (res nullios) ou que foram abandonadas (res derelictae),
perdidas ou escondidas pelos seus proprietrios Artigo 1318 C.C.
As coisas que nunca tiveram dono so as res nullius e as abandonadas
so res derelictae.
As coisas imveis no podem ser adquiridas por ocupao, quando em
relao as mesmas no se conhece o proprietrio, consideram-se
propriedade do Estado - Artigo 1345 C.C.
Se a coisa estiver perdida, refere o artigo 1323 C.C que se aplique o
regime do achamento, devendo se restituir a coisa achada caso se saiba a
quem pertence, caso no, deve-se colocar um anncio do achado ou
avisar as autoridades competentes. Se a coisa no for reclamada dentro
do prazo de um ano a contar da data do anncio a coisa pertence ao
achador, neste caso h aquisio da propriedade por ocupao.
Quando que existe a ocupao e o achamento?
Em geral relativo, acham-se as coisas que foram perdidas e ocupam-se
as coisas que no tem dono ou nunca tiveram.
Antunes Varela, da opinio que devem considerar-se como perdidas
todas as coisas que no se sabe se foram abandonadas ou apenas
perdidas pelo dono, a no ser que partida ns saibamos que a coisa foi
abandonada, caso saibamos podemos ficar com a coisa por ocupao em
todos os casos a coisa foi achada funciona aqui o regime do achamento.
Antunes Varela defende que o regime de achamento mais frequente que
o da ocupao.
Quanto aos tesouros, o seu regime vem regulado no artigo 1324 C.C.
Entende-se que estes no so coisas que foram perdidas nem
abandonadas, so coisas escondidas.
Se sobermos que a coisa est l a mais de 20 anos o regime o do n1,
artigo 1324 C.C.
Se a coisa for mais recente devemos pr um anncio nos termos de
achamento-n2 Artigo 1324 C.C.
Quer a ocupao, quer o achamento no funcionam de forma automtica,
so modos de aquisio do direito de propriedade originria.

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Capacidade necessria para se adquirir a propriedade pela


ocupao.

Regra geral, qualquer pessoa ainda que no tenha o uso da razo pode
tornar-se proprietrio pela ocupao.

Acesso
Regulada nos artigos 1325 e seguintes C.C diz-se que h acesso quando
uma coisa que propriedade de algum se une ou incorpora a outra que
no lhe pertencia, ou seja, consiste na unio de duas coisas pertencentes
a pessoas diferentes.
Estas coisas que se unem esto ligadas de tal forma que no podem ser
separadas, porque caso sejam causam prejuzo a coisa.
A lei possibilita a uma das duas pessoas envolvidas a aquisio da
propriedade sobre toda a coisa nova transformada ou unida.
Tipos de acesso
As modalidades de acesso constam no artigo 1326 do C.C, entende-se
que esta pose ser natural ou industrial - artigo 1326 C.C
A acesso natural pode se aluvio ou avulso e a industrial pode ser
mobiliria (unio ou confuso de boa ou de m f e a especificao de boa
ou de m f) ou imobiliria.
Momento de aquisio da propriedade - Artigo 1317 C.C
Quanto a acesso, no funciona de forma automtica, ela implica uma
manifestao de vontade da pessoa que pretende adquirir um direito pela
sua invocao. A ocupao automtica e pode ser afastada por vontade
do titular do direito.
Acesso natural - artigo 1327 C.C
Consiste na situao de sempre que por efeito da natureza for adicionada
a uma coisa um bem, pertence ao dono da coisa tudo o que a esta
acrescer por efeito da natureza.
Aluvio - um fenmeno lento de deposio de areia, troncos em terreno
alheio Artigo 1328 CC.
Avulso - h uma coligao sbita, repentina. O dono das coisas que
vierem arrogados tem o direito de exigir que as coisas lhe sejam entregues
desde que no passem seis meses - Artigo 1329 CC.

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Oliveira Ascenso diz que a acesso natural no verdadeiramente um


modo de aquisio do direito de propriedade, uma forma de modificar o
objecto de direito real. Acontece geralmente a mesma coisa com o aluvio.
O objecto engorda, modifica-se.
Contudo, a aplicao destes preceitos legais deve ter em conta o
preceituado no artigo 3 da Lei de Terras de Moambique e no artigo 109 e
110 e da Constituio da Repblica de Moambique em vigor que prev
que a terra propriedade do Estado e que sobre ela incide o direito de uso
e aproveitamento da terra.
Assim, o que se acrescentar sobre um terreno onde existe o uso e
aproveitamento da terra, pertence ao titular do direito de uso e
aproveitamento da terra ou ao Estado.
Acesso industrial
A acesso industrial consiste na ligao de coisas que pertencem a
pessoas diferentes, ela resulta da actividade humana de um facto
voluntrio, um modo de aquisio da propriedade. Esta pode ser
mobiliria e imobiliria.
Acesso industrial mobiliria
- Unio ou confuso
A lei refere que esta consiste numa unio/confuso de objectos
pertencentes a sujeitos diferentes, podendo a unio/confuso ser de boa
ou m f.
No direito romano distinguia-se a unio da confuso. A confuso era uma
fuso de duas coisas diferentes e na unio as coisas esto ligadas de
modo que no se podem separar uma das outras sem o detrimento, no se
consegue distinguir o que de quem.
A lei no faz distino entre unio ou confuso, o tratamento para as
situaes de boa ou m f encontram-se reguladas nos artigos 1333 a
1335 do C.C.
-

Especificao

Artigo 1336 C.C - Especificao de boa f. Consiste na situao aplicao


de um trabalho pessoal num objecto pertencente a outro sujeito. Ex:
modifica-se um pedao de madeira fazendo uma caixa.
Se o escultor actua de boa f, fica com a coisa, se actua de m f, perde a
coisa. O dono no obrigado a indemnizar se a caixa for de valor menor
ao da madeira. Se for tem o dever de indemnizar.
Artigo 1338 CC - Casos de especificao

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Acesso industrial imobiliria

A aplicao do disposto nos artigos 1339 a 1343 C.C, dever ser feita com
a conjugao dos artigos 3 da Lei de Terras e do artigo 109 e 110 da
Constituio da Repblica em vigor.
Assim, entenda-se que em todos os casos que se d a acesso, a mesma
a favor do titular do direito de uso e aproveitamento da terra ou a favor
do Estado de acordo com a interpretao da Lei de terras e a Constituio
da Repblica.
Artigo 1339 C.C - obras sementeiras, plantaes feitas com materiais
alheios, neste caso a pessoa que as fazer (Estado ou titular do direito de
uso e aproveitamento da terra) fica com os materiais pagando o valor delas
e uma indemnizao se houver lugar.
Oliveira Ascenso entende que s quando se paga certo valor que se
ficam com as sementes e que se utilizaram, no automtico o
funcionamento deste artigo 1339 CC.
O Artigo 1340 C.C, aplica-se as obras, sementeiras feitas em terreno
alheio de boa f.
O Artigo 1341 C.C, aplica-se a obras sementeiras ou plantaes feitas em
terreno alheio de m f.
Temos um princpio latino que defende o seguinte: em caso de termos a
propriedade sobre um terreno, e sobre ele construirmos uma casa,
funciona o princpio solo ganha superfcie, ou seja o valor do terreno
maior que o da casa. Este princpio latino denominado solo ganha
superfcie, tambm conhecido por princpio a superfcie cede perante o
solo. Para os latinos em qualquer situao o proprietrio do solo vence.
No nosso direito este princpio no aplicado de forma ilimitada.
necessrio verificar se o sujeito que realiza as obras est de boa ou m f.
Entende-se que funciona no nosso direito o critrio da mais valia.
Nos termos do n1 do artigo 1340 C.C, no caso de se verificar a acesso
naqueles moldes, o princpio latino no se aplica. Pois a pessoa que
constri algo sobre o terreno, adquire a propriedade do mesmo se com as
obras que ele efectuar adicionar o valor que este tinha, pagando claro o
valor correspondente ao proprietrio do solo. o funcionamento do critrio
da mais valia. A superfcie vence.
No n3 do artigo 1340 C.C, o proprietrio do solo ou titular do direito de uso
e aproveitamento da terra adquire tudo que foi construdo sobre a
superfcie do mesmo, caso as obras feitas sejam de menor valor,
indemnizando o sujeito que efectuou as referidas obras pelo valor delas.
Neste caso, pode-se dizer que se aplica o princpio latino.
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No caso de m f, aplicam-se as regras do artigo 1341 C.C pode-se dizer


que funciona aqui o princpio latino pois a superfcie perde, perante o solo.
g) Defesa judicial e extra judicial do direito de propriedade
Aces petitrias so aquelas que visam a defesa do direito do proprietrio,
so diferentes das aces possessrias.
i.

Aco de reivindicao

Tambm conhecida por rei reivindicatio. O autor desta aco invoca o ttulo
de propriedade de certa coisa na posse de outrem, pretende que seja
reconhecido judicialmente o seu direito, o possuidor ou detentor
(demandado) deve ser condenado a restitu-la.
Artigo 1311 C.C, Caractersticas desta aco
1- uma aco real, visa a tutela de um D.R;
2- uma aco de condenao, o reivindicante requer o seu direito e
a condenao do demandado a efectuar aquela restituio;
3- uma aco imprescritvel - Artigo 1313, pode o proprietrio propla a todo o tempo, uma vez que o direito no se extingue pelo no
uso salvo disposio legal -Artigo 298, n1 CC.
4- uma aco sujeita a registo nos termos da alnea a) do artigo 3
do CRP;
5- O fundamento da pretenso do autor assenta na sua qualidade de
proprietrio da coisa reivindicada e no em qualquer outro ttulo;
Cabe ao reivindicante o nus de prova da titularidade e aqui so dois os
pedidos que integram e caracterizam a sua reivindicao:
O reconhecimento do direito de propriedade
Restituio da coisa
Causa de pedir
A causa de pedir o facto jurdico de que deriva o direito de propriedade.
No caso de aquisio derivada, necessrio provar que o direito j existia
no transmitente, o que levaria a probatio diablica aqui temos as
presunes legais- Artigo 1268, n1 CC e Artigo 8 CRP.
Se a aco de reivindicao tem por objecto a restituio da coisa, no
pode o possuidor ou detentor, julgada a aco procedente, recusar se a
entregar a coisa, n2, Artigo 1311 CC. Pode o demandado deixar de
proceder a restituio. Ex: por fora do direito de reteno - Artigo 1754,
n4 do artigo 1323 CC.
Sendo uma aco real, a aco de reivindicao est sujeita a registo Artigo 3, a) CRP, pois s assim produz efeitos em relao a terceiros.

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n3 Artigo 25, CRP- Aces fundadas em direitos sujeitos a registo


obrigatrio - o registo aqui provisrio - a) Artigo 179 CRP.
ii.

Aco negatria

Visava facultar o proprietrio a possibilidade de repelir qualquer pretenso


de servido. O mbito de aplicao desta pretenso tambm abrangia
outros direitos reais menores e todos os actos que fossem perturbadores
do integral e pleno exerccio das faculdades de gozo.
Esta aco tem algumas caractersticas da aco de reivindicao - Ex:
quanto a imprescritibilidade. No tem finalidade recuperatria. O
proprietrio apenas repele as pretenses do terceiro e ordena a cessao
dos actos perturbadores. So aces sujeitas a registo tal como as aces
de reivindicao.
Cabe tambm ao autor fazer prova do direito de propriedade. O nus de
prova recai sobre o demandado que deve provar a existncia do bem e
direito sobre a coisa - Artigo 343 CC.
iii.

Aco declaratria ou de simples apreciao

Visa obter o reconhecimento judicial do direito do proprietrio cujo direito


esteja a ser contestado ou posto em dvida - Artigo 4, n2, a) CPC.
Quando a referida incerteza refere-se a prdios confinantes, o proprietrio
pode nos termos do artigo 1053 CPC lanar mo a aco de demarcao
- Artigo 1053 CPC, uma aco de natureza real e imprescritvel - Artigo
1355 C.C.
iv.

Aco de demarcao

resultante do conflito de vizinhana - Artigo 1353 C.C- Pode o


proprietrio obrigar os donos dos prdios confinantes a concorrerem para a
demarcao das extremidades entre o seu prdio e os deles. uma aco
imprescritvel - Artigo 1355 C.C, excepto se houver usucapio.
Meios extrajudiciais
Aco directa
Artigo 1314 CC- permitido ao proprietrio o uso da fora quando esta
seja indispensvel, para defesa do seu direito de propriedade. Os termos
da aplicao da aco directa constam do Artigo 336 CC.
h) Propriedade sobre imveis: sua localizao na lei
Este tipo de propriedade abrange os prdios rsticos e urbanos Artigo
204 C.C, definio de prdio rstico e urbano, o espao areo
correspondente a superfcie, o subsolo ou tudo que nele se contm e no
esteja desintegrado no domnio da lei ou negcio jurdico.
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Exceptuam-se aqui os bens que no pertencem ao proprietrio do terreno


por integrar o domnio pblico como jazigos minerais, guas mineiro
medicinais, embora a explorao destas se d preferncia ao proprietrio.
Limites - Artigo 202, n2 C.C, Artigo 1344, n2 C.C. Ex: o proprietrio no
pode impedir o trfego areo pois no existe aqui nenhum interesse de o
impedir.
i.

Inexistncia de res nullios

Para a propriedade sobre os imveis no existe a res nullius. A res nullius


d-se quando o imvel fica vacante por se ter abandonado o direito sobre
ele. Estas coisas sem dono so consideradas patrimnio do Estado Artigo 1345 C.C.
A propriedade sobre imveis confere determinados direitos tais como
demarcao, tapagem, construo ou plantao de rvores e arbustosestes direitos constituem tem limitaes do direito de propriedade.
j) Limitaes dos poderes do proprietrio
As limitaes aos poderes do proprietrio podem ser de direito pblico ou
de direito privado.
k) Restries de Direito Pblico
Resultam da legislao avulsa e referem-se a interesses pblicos tais
como: telecomunicaes, construo por motivo de defesa nacional,
higiene e salubridade, fins histricos e artsticos, expropriao, etc.
i.

Expropriao

Expropriao - tambm uma restrio de interesse pblico- Artigo 86


CRM, 1308 CC, Artigo 1310 C.C.
a aquisio originria do direito de propriedade a favor do Estado sobre
bens imveis fundada no interesse pblico. Artigo 1310, 1308 CC, a
expropriao excepcional -Artigo 86 CRM - a expropriao s tem lugar
quando existe um interesse que justifique a utilidade pblica. D lugar a
justa indemnizao - artigo 1310 CC, quer o proprietrio quer o titular de
um direito real menor tem direito a indemnizao.
ii. Restries de interesse particular
Derivam das relaes de vizinhana. Nestes casos, existe proximidade
entre prdios, o proprietrio no livre de fazer o que poderia se tivesse
as faculdades de usar, fruir e dispor do bem.
Exemplos:

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Artigo 1346 CC-Proibio de emisso de fumos, fuligem, vapores,


cheiros, calor, rudos e trepidaes que importem prejuzos no uso
do imvel;
Artigo 1347 CC- Instalaes prejudiciais;
Artigo 1348 CC- Escavaes;
Artigo 1349 CC- Passagem forada momentnea neste caso o
proprietrio obrigado a conceder a passagem momentnea ao
vizinho que dela precisar;
Artigo 1351 CC- Os prdios inferiores esto sujeitos a receber
guas que naturalmente decorrem dos prdios superiores, assim,
como terra ou entulhos;
Artigo 1360 n1 e 2 CC Abertura de janelas, portas ou obras
semelhantes (o intervalo deve ser de 1metro e meio em relao ao
prdio vizinho);
Artigo 1366 CC- plantao de rvores e arbustos at a linha
divisria dos prdios;
Artigo 1370 CC- paredes e muros de meao, deve existir
comunho forada dos mesmos;

As restries aqui apresentadas apresentadas podem extinguir-se


negcio jurdico- constituio de servido.

por

Propriedade das guas- Artigo 1385 seguintes CC- as guas podem ser
pblicas ou privadas- o direito civil estuda o regime das guas particulares
e dos direitos adquiridos por particulares sobre as guas pblicas.

6.2 Propriedades Especiais


a) COMPROPRIEDADE
i.

Noo e fontes de constituio da compropriedade

A noo da compropriedade consta do artigo 1403 C.C. Nos termos


daquele preceito legal, existe compropriedade quando duas ou mais
pessoas so simultaneamente titulares do direito de propriedade sobre a
mesma coisa. Os direitos dos consortes so qualitativamente iguais
embora possam ser quantitativamente diferentes.
A comunho de quaisquer outros direitos so aplicveis as regras da
compropriedade, sem prejuzo ao disposto especialmente para cada um
dos direitos-Artigo 1404 C.C Ex: contitularidade entre herdeiros, composse
artigo 1286 C.C, usufruto simultneo artigo 1441 C.C.

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ii. Fonte de constituio da compropriedade


Vontade privada, o negcio jurdico o modo mais
frequente de constituio da compropriedade - Artigo 1403,
n2 C.C que se refere ao ttulo constitutivo da
compropriedade.
A lei pode em certos casos operar como fonte directa de
constituio da compropriedade. Ex: no caso do tesouro,
este pertence ao achador e ao proprietrio- n1 do Artigo
1324, C.C. No caso das presunes legalmente
estabelecidas, existe constituio da compropriedade- Artigo
1371 C.C.
iii. Natureza Jurdica da compropriedade, a posio
jurdica do comproprietrio
Vrias so as discusses doutrinrias acerca da natureza jurdica da
compropriedade.
Mas a teoria acolhida pela a maior parte da doutrina a Teoria das quotas
ideais que defende que a compropriedade resulta da coexistncia dos
direitos de cada um dos consortes.
Sobre uma quota ideal ou intelectual do objecto da compropriedade, cada
um dos comproprietrios tem o direito a uma fraco, a uma quota ideal
no especificada do objecto.
Alguns doutrinadores criticam esta teoria dizendo que o conceito de quota
ideal no claro, mas, apesar disso, esta teoria que justifica a alienao
da quota direito conferido ao comproprietrio no artigo 1408, n1 do CC.
Posio do comproprietrio
A disciplina jurdica da compropriedade visa tutelar e compatibilizar ordens
de interesses diferentes reportados pessoa do comproprietrio. 1 Visa
tutelar interesses colectivos a que correspondem poderes que s podem
ser exercidos pelo comproprietrio em conjunto com os outros. 2
Interesses prprios do comproprietrio individualmente considerado e
correlativos que podem ser exercido de modo autnomo embora dentro
dos limites da sua quota- Artigo 1405 CC.
A quota aqui, a medida ou limite do aproveitamento da coisa objecto da
comunho e dos correspondentes encargos.
A posio jurdica do comproprietrio, o direito do comproprietrio se
configura como uma situao jurdico-legal de contedo complexo. O
comproprietrio participa na titularidade de um nico direito de propriedade
sobre a coisa comum e correlativas faculdades de aproveitamento e
encargos em proporo da sua quota no sentido indicado.
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iv. Direitos e encargos do comproprietrio


Direitos do comproprietrio
Uso da coisa comum
O comproprietrio pode usar integralmente a coisa comum-Artigo 1406
C.C.
Limites:
O uso deve conformar-se com o fim a que a coisa se destina ou
pode ser destinada segundo a sua natureza. Neste caso, o
comproprietrio no pode usar a coisa comum alterando o seu
destino ou a sua natureza, no pode impedir que os demais
contitulares exeram, tambm a faculdade de uso da coisa comum.
O comproprietrio deve se conter no uso da coisa evitando a
coliso de direitos- Artigo 335, n1.
O uso pelo comproprietrio no pode privar o exerccio de igual
direito por parte dos demais comproprietrios.
Participao da gesto da coisa comum
Quanto a administrao da coisa comum - Artigo 1407 CC e 985 CC- todos
os comproprietrios tem igual poder para administrar a coisa e as
deliberaes so tomadas por maioria legal- no havendo maioria, o
comproprietrio pode obter o suprimento da deliberao recorrendo ao
tribunal que julgar segundo juzos de equidade.
Alienao ou onerao da quota
Artigo 1408, n1 e 3 C.C- O comproprietrio pode dispor da sua quota na
comunho ou parte dela ficando o acto de disposio sujeito a forma
legalmente exigida para disposio da prpria coisa (tratando-se bem
imvel ou mvel sujeito a registo exige-se escritura pblica).
Dispor da quota alienar, onerar-Artigo 1408, n1, 1306 C.C- As clusulas
restritivas do poder de disposio- Artigo 1306 n1 C.C. O comproprietrio
pode dispor da sua quota na comunho, a alienao de uma parte
especificada comum s pode ser validamente efectuada com
consentimento dos restantes consortes constitui um acto de disposio ou
onerao de coisa alheia, por isso nulo por fora do artigo 892 C.C
podendo ser convalidado-Artigo 895 C.C.

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Direito de exigir diviso da coisa comum


Artigo 1412, n1 C.C- os comproprietrios no esto obrigados a
permanecer na indiviso, podem assim exigir a diviso da coisa comum
pondo termo a compropriedade.
Este um direito imprescritvel, irrenuncivel.
Se a coisa for indivisvel, ter que se recorrer a deciso do valor por
adjudicao ou venda- Artigo 1160 CPC. Se o direito de exigir diviso no
for renunciado, pode o seu exerccio ser limitado.
Podem estabelecer-se clusulas de indiviso que tem a durao de 5 anos.
Esta uma excepo do princpio de que ningum obrigado a
permanecer indiviso. Estas clusulas so renovveis por igual perodo.
Caso contrrio, a indiviso por mais de 5 anos contrria a lei e nula.
O pacto vincular a quem aceitar, mas podem as partes atribuir-lhe
eficcia real neste caso, a clusula de indiviso deve ser registada, para
ser eficaz em relao a terceiros, no caso de se tratar de compropriedade
de coisas mveis sujeitas a registo ou imveis - n3 Artigo 1412 C.C.
Artigo 1413 C.C- Modos de afectuar a diviso: amigvel ou judicial. Feita a
diviso cada compropreitrio passa a ser titular singular e exclusivo do
direito de propriedade sobre a parte especificada ou individualizada da
coisa.
Direito de reivindicar a coisa
Encontra-se consagrado no artigo 1405 do C.C, qualquer consorte pode
reivindicar os seus direitos perante um terceiro.
Encargos do comproprietrio
Este deve contribuir em proporo da sua quota para as despesas
necessrias conservao da coisa-Artigo 1411 C.C. Ex: benfeitorias
necessrias.
Contudo, o comproprietrio pode renunciar o direito exonerando-se do
encargo - Artigo 1411, n1 C.C. A renncia um negcio unilateral, sujeito
a forma prescrita para a doao e tem por efeito o alargamento das quotas
dos restantes consortes funcionando aqui o princpio da ElasticidadeArtigo 1411, n3 C.C.
Actos que podem ser praticados isoladamente por um dos consortes
- Artigo 1406 C.C- Cada um dos consortes pode usar a coisa comum.
No havendo acordo sobre o seu uso, deve empreg-la para o fim
a que ela se destina no privando os outros consortes no uso da
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coisa. No havendo acordo, cada consorte deve usar a coisa


dentro dos limites legais.
Artigo 1408 C.C- Pode cada um dos consortes dispor da sua quota
na comunho ou parte dela.
Pode onerar a sua quota - Artigo 689, n1 C.C dando contudo
preferncia aos restantes consortes - Artigo 1409, 1410 C.C.
No pode isoladamente alienar ou onerar uma parte especificada
da coisa comum
Pode isoladamente exercer a aco de reivindicao da coisa
comum em relao a terceiro que a possua indevidamente -Artigo
1405, n2 C.C.

Actos que devem ser praticados pela maioria


Nos termos do artigo 1407 C.C que remete ao Artigo 985 C.C que regula a
administrao do contrato de sociedade, a administrao da coisa
pertence a todos os scios ou apenas a alguns deles. Caso no haja
conveno, todos podem administrar a coisa tendo poderes iguais.
Cabe a maioria contestar sobre um acto de administrao. A maioria tem
que ser determinada de acordo com o valor das quotas, necessrio que
ela represente pelo menos metade do valor total das quotas.
No caso de se efectuarem benfeitorias necessrias todos os
comproprietrios em proporo das suas quotas devem contribuir para a
conservao da coisa, numa obrigao inerente ao seu direito. O
comproprietrio apenas se exime deste encargo quando renuncia o seu
direito, mas esta renncia s ser vlida quando consentida pelos
restantes consortes - Artigo 1411 C.C.
Actos que exigem unanimidade
Artigo 1408 C.C, a disposio e onerao da quota exige consentimento
de todos os consortes ou comproprietrios.
Artigo 1024 n2 C.C- arrendamento de prdio indiviso exige consentimento
de todos os consortes. Os comproprietrios podem dar o seu
consentimento mais tarde, este ser vlido.

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b) Propriedade Horizontal
i.

Noo descritiva da Propriedade Horizontal. Sua


natureza jurdica

Artigo 1414 e seg. C.C


Para que exista propriedade horizontal (P.H), necessrio que tenhamos
como base um edifcio (prdio urbano) dividido em fraces ou partes que
se dividem em duas categorias.
As partes que so fraces autnomas objecto do direito de
propriedade exclusiva de cada um dos condminos.
Temos as partes comuns que pertencendo em compropriedade a
todos os condminos, tem uma funo complementar e
instrumental, visam tornar operativas as fraces autnomas.

ii.

Requisitos da fraco autnoma - Artigo


1414 e 1415 C.C seguintes

Para que existam as fraces autnomas, estas devem:


Constituir uma unidade independente Artigo 1414 C.C
individualizada no conjunto do edifcio do qual parte componente;
Ocupar um espao prprio distinto do espao ocupado pelas
outras fraces;
Estar isoladas em relao as restantes fraces;
Ter acesso prprio para a via pblica ligando-se directamente
parte comum.
Artigo 13 e 16 Dec. 17/2013 de 26 de Abril regula as responsabilidades
das fraces autnomas.

iii.

Partes comuns - Artigo 1421 C.C, Artigo 8


Dec. 17/2013 de 26 de Abril

As partes comuns constantes no n1 e 2 do artigo 8 do Dec. 17/2013 de 26


de Abril conjugado com o n1 artigo 1421 C.C, so imperativas no
podendo ser modificadas sem acordo unnime dos condminos enquanto
que as constantes no n4 do Artigo 8 do Dec. 17/2013 de 26 de Abril
conjugado com o n2 do artigo 1421, so facultativas podendo ser
modificadas constando tal facto no ttulo constitutivo Artigo 1419 C.C.
Constituio do condomnio - Artigo 6 Dec. 17/2013 de 26 de Abril. O ttulo
constitutivo do condomnio pode ser modificado n1 artigo 1419 CC.

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iv.

Natureza jurdica

Existem nesta figura uma srie de direitos convergentes, uma vez que
temos por um lado as fraces autnomas que so propriedades
exclusivas dos condminos e temos por outro lado a compropriedade das
partes comuns.
Entende a maior parte da doutrina que trata-se aqui de uma propriedade
com caractersticas especiais.
v.

Constituio da PH

Nos termos do artigo 1417 C.C, a PH pode ser constituda por negcio
jurdico, usucapio ou deciso judicial proferida em aco de diviso da
coisa comum - Artigo 1526 C.C.
O negcio jurdico que se refere o artigo 1417 C.C, deve ser formalizado
por escritura pblica e sujeito a registo alnea d) n1 Artigo 2, CRP. O
Artigo 1419 C.C, fixa o contedo da escritura de constituio, determina-se
que se especifiquem as partes do edifcio correspondentes as fraces
autnomas.
Requisitos para constituio artigo 6 Dec. 17/2013 de 26 de Abril.
As normas do artigo 1414 e artigo 1415 C.C so obrigatrias o seu
incumprimento leva a nulidade total do negcio constitutivo - Artigo 1416
n1 C.C- o prdio fica sujeito a compropriedade cabendo a cada um dos
condminos a quota correspondente a sua fraco - legitimidade para
arguir nulidade - n2 artigo 1416 C.C.
O ttulo constitutivo da PH pode ser modificado por escritura pblica ou por
acordo de todos os condminos - Artigo 1419 C.C.
A constituio da PH por usucapio pressupe a existncia da posse e o
decurso de certo prazo fixado por lei - Artigo 1287 e seg C.C. A usucapio,
conduz a aquisio originria daquele direito.
Por fim, pode-se adquirir a PH por deciso judicial em aco de diviso da
coisa comum ou em processo de inventrio. Para que a diviso seja
decretada, necessrio que os requisitos dos artigos 1414 e 1415 C.C se
preencham.
vi.

Administrao das partes comuns

Artigo 30 segs do Dec. 17/2013 de 26 de Abril. Em relao a


compropriedade das partes comuns, a sua administrao feita pela
Assembleia dos Condminos, um rgo colegial que pode delegar parte
das suas funes a uma Comisso de Moradores - Artigo 27 do Dec.
17/2013 de 26 de Abril.

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Pode a administrao das partes comuns tambm ser feita por um


Administrador, um rgo singular. As condies para a sua nomeao
constam do Artigo 31 e 34 Dec. 17/2013 de 26 de Abril, as suas funes
constam do artigo 35 do Dec. 17/2013.
Na gesto do condomnio, entre outros aspectos deve-se ter em
ateno o seguinte:
-

Deveres dos condminos - Artigo 16 do Dec. 17/2013 de 26 de


Abril;
Responsabilidades do condmino Estado - artigo 43 do Dec.
17/2013;
Resoluo de litgios - artigos 42, 45 do Dec. 17/2013, importa aqui
referir que caso o litgio no seja solucionado pela assembleia de
condminos pode intentar-se uma aco judicial contra o
condmino infractor;
Multas e penalidades - artigo 47 Dec. 17/2013;
Existncia de um Fundo Comum de reserva - artigo 23 Dec.
17/2013 de 26 de Abril;
Pagamento de quotas, formas de pagamento e falta de pagamento
artigo 24 a 26 Dec. 17/2013 de 26 de Abril;
Existncia de um seguro do edifcio contra incndios - artigo 28 Dec.
17/2013 de 26 de Abril;
Realizao de despesas constantes no artigo 19 Dec. 17/2013 de
26 de Abril asseguradas pelo fundo comum de reserva.

2- Extino da compropriedade
A compropriedade extingue-se por:
-

Negcio jurdico - Cada comproprietrio pode adquirir as quotas


dos outros comproprietrios ou de todos, adquirindo deste modo a
propriedade exclusiva da coisa.
Extino especial - Artigo 1412 e 1413 CC. Extino por fora da
diviso da coisa comum - ningum obrigado a permanecer na
indiviso.

6.3 Usufruto
a) Noo de usufruto
A noo do usufruto consta do artigo 1439 do C.C. Esta figura tem as suas
razes histricas no direito romano.
O usufruto implica uma dissociao entre a propriedade da coisa e o seu
desfrute ou gozo.

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No direito romano, o usufruto sempre teve muita relevncia no s nas


relaes familiares como tambm fora delas. Esta figura, era entendida
como a possibilidade que o proprietrio tinha de fazer frutificar os seus
bens, assegurando a sua produtividade sem no entanto perder os seus
direitos sobre o bem uma vez que ao constituir-se este direito criavam-se
dificuldades circulao de bens por ele onerados e trazia complexidades.
Actualmente, os sujeitos tem usado outros instrumentos legais menos
complexos para procederem a frutificao dos seus direitos, possibilitando
os terceiros o uso de coisas alheias. Contudo, a sua regulao e
conhecimento do direito do usufruto relevante.
b) Natureza jurdica do usufruto
O usufruto um D.R de gozo, limitado. O Artigo 1439 C.C, define-o como o
direito de usar temporria e plenamente coisa ou direito alheio, sem
alterar a sua forma ou substncia.
Pode-se depreender da definio apresentada, que os traos especficos
deste direito so os seguintes:
Gozo da coisa ou direito alheio;
Gozo pleno mas temporrio;
Inalterabilidade pelo usufruturio do objecto do seu direito
Pelas suas caractersticas, podemos ver que este direito distingue-se de
outras figuras jurdicas semelhantes, como o caso do direito do locatrio,
do comodatrio ou servido predial.
O gozo da coisa neste caso, faculta ao usufruturio o direito de us-la
(fazendo o aproveitamento das utilidades por ela proporcionadas), e fru-la
(fazer seus os frutos naturais ou civis por ela produzidos - Vide artigo 212
C.C).
O gozo pleno, desde que o usufruturio no altere a forma ou substncia
da coisa usufruda.
Da conjugao dos artigos 1439, 1446 e n2 do artigo 1450 todos do C.C,
entende-se que o usufruturio obrigado a respeitar a utilizao
econmica a que a coisa estava afecta data da constituio do usufruto,
salvo estipulao em contrrio.
Quanto a temporariedade do usufruto, de acordo com a nossa lei, a sua
durao varia conforme este tenha sido constitudo a favor de pessoa
singular ou colectiva.
No caso de ter sido constitudo a favor de pessoa singular, este direito dura
enquanto o usufruturio viver, exceptuando-se os casos que ocorrer o
termo do prazo fixado para sua durao.

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No caso deste ter sido constitudo a favor de um a pessoa colectiva, este


direito no deve exceder o limite mximo de 30 anos (artigos 1443 e 2258
in fine C.C).
No caso ter sido constitudo um usufruto conjunto, este durar at a morte
do ltimo usufruturio sobrevivente (Artigo 1442 C.C). necessrio ter em
ateno o artigo 1477 C.C.
c) Constituio do direito de usufruto
O direito em anlise pode constituir-se por contrato, testamento, usucapio
e disposio da lei.
Os contratos que aqui se referem podem ser onerosos ou gratuitos, tpicos
ou atpicos desde que conduzam a constituio de D.R.
Ainda quanto ao contrato, a doutrina entende que nesta modalidade dois
modos de constituio do usufruto: a) per translatitionem quando
proprietrio de raz constitui o usufruto a favor de terceiros mas mantm a
nua propriedade consigo, pode tambm constituir-se o usufruto b) per
dedutionem quando o proprietrio aliena o seu direito a outrem mantendose como usufruturio.
Quanto a usucapio, este direito pode ser adquirido por usucapio nos
termos do artigo 1287 C.C (remete-se ao que se referiu a propsito da
usucapio).
Com a constituio do usufruto, existe a incidncia de direitos sobre coisa
alheia, ou seja temos aqui um concurso de dois direitos de contedos
diferentes sobre a mesma coisa: o direito de usufruto e o direito de
propriedade.
assim necessrio analisar o modo de coexistncia destes dois direitos na
medida em que como podemos ver, o direito de usufruto absorve os
poderes e todo o valor do direito de propriedade, da que a doutrina lhe
chama por nua propriedade ou propriedade de raz.
d) Caractersticas do usufruto
i. Temporariedade
Podemos retirar a temporariedade do usufruto da sua noo- Artigo 1439
C.C. Este direito no pode exceder a vida do usufruturio no caso de ter
sido constitudo a favor de pessoa singular e no pode exceder 30 anos se
tiver sido constitudo a favor de pessoa colectiva - Artigos 1443, 2258 C.C.

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ii.

Plenitude de gozo do objecto. Alienabilidade


do usufruto, ausncia de especial; limitao
pelo fim

O usufruturio pode gozar a coisa, trespass-la ou oner-la - artigo 1444


C.C, mas no deve alterar a forma ou substncia da coisa usufruda,
devendo tambm respeitar a utilizao econmica a que a coisa estava
afecta data da constituio do usufruto, salvo estipulao em contrrio Artigos 1439 C.C, 1446 e n2, 1450 C.C.
iii. Princpio da conservao da forma e substncia
Artigo 1439 C.C - acautelam-se aqui os direitos do proprietrio, o
usufruturio no pode alterar a forma e substncia da coisa.
e) Usufruto sobre direitos
O artigo 1439 C.C prev que o usufruto incide sobre coisas (corpreas) e
tambm sobre direitos, constituindo estes objecto do usufruto. Na maior
parte dos casos, o usufruto incide sobre coisas mas pode incidir sobre
direitos de crditos, participaes sociais, direitos de autor, etc. Vide o n1,
artigo 1539 C.C.
Em relao aos direitos no reais, pode tambm existir o usufruto de
crditos, o usufruto neste caso constitudo tendo como base uma relao
creditria.
O usufruturio - credor goza de autonomia em relao ao credor comum
da referida relao - entende-se aqui, que para este tipo de usufruto aplicase por analogia as regras do n2 artigo 681 C.C, neste caso o usufruto s
ficar constitudo quando for notificado ao devedor do crdito. O acto
constitutivo do usufruto deve ser registado, isto nos termos da alnea b),
n1, Artigo 2 CRP, garantido a publicidade, a oponibilidade a terceiros.
So usufrutos de crditos os previstos nos artigos: 1463 CC- usufruto de
rendas vitalcias em que o usufruturio tem direito a receber as rendas
contractualmente fixadas enquanto durar o usufruto, artigo 1467 CCusufruto de ttulos de participao e Artigo 1464 CC- usufruto de capitais
postos a juro ou investidos em ttulos de crditos, corolrio do artigo
1439 CC e 212 ns 1 e 2 CC- os capitais s podem ser levantados ou
investidos por acordo do proprietrio e o usufruturio, ou por suprimento
judicial do consentimento de qualquer deles quando recusado.
O usufruto pode ser constitudo sobre universalidade de direitos (herana e
estabelecimento comercial). O patrimnio hereditrio pode ser objecto de
usufruto - Artigo 2030, n4 C.C. Entende-se tambm que sobre o
estabelecimento comercial pode-se constituir usufruto. Cabe ao
usufruturio o poder de gesto do patrimnio por ele usufrudo devendo
praticar todos os actos para manuteno do negcio e garantir o
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cumprimento da obrigao de restituio a que est adistrito - artigo 1483


C.C.
f) Usufruto simultneo e sucessivo: direito de acrescer
Nos termos do artigo 1441 C.C, permitida a constituio de usufruto
simultneo e sucessivo. Neste caso, pode o usufruto ser constitudo a
favor de vrias pessoas ao mesmo tempo.
Temos no caso do usufruto simultneo, uma situao de contitularidade Artigo 1404 C.C.
J no caso do usufruto sucessivo, os diversos titulares ordenados no
mesmo ttulo constitutivo segundo certa sequncia, exercem o seu direito
sucessivamente. Cada titular inicia o exerccio do seu direito quando se
extingue o exerccio do direito do direito daquele que este precedeu. O
direito de todos os usufruturios provm do ttulo constitutivo.
Os direitos dos usufruturios neste caso (usufruto simultneo e sucessivo),
s podem ser constitudos desde que existam ao tempo em que o direito
do primeiro usufruturio se torne efectivo - Artigo 1441 C.C.
g) Usufruto de coisas com regime especial
Pode constituir-se o usufruto sobre coisas com regime especial o caso
de:
Usufruto de coisas consumveis - artigo 1451 CC;
Usufruto de coisas deteriorveis - artigo 1452 CC;
Usufruto de rvores e arbustos - artigo 1453 CC
Usufruto de matas e rvores de corte - artigo 1455 CC;
Usufruto de plantas de viveiros - artigo 1456 CC;
Usufruto de universalidade de animais - artigo 1452 CC;
Usufruto sobre dinheiro e capitais levantados - artigo 1464
CC.
Faremos apenas a abordagem do usufruto de coisas consumveis,
deteriorveis e sobre universalidade de animais.
h) Usufruto de coisas consumveis
Regulado no artigo 1451 C.C, no importam a transferncia do direito de
propriedade para o usufruturio. No caso do usufruturio alienar ou servirse da coisa deve restituir o seu valor findo o usufruto ou dever entregar
coisas do mesmo gnero, qualidade ou quantidade.
Da interpretao do n2 artigo 1451 C.C, pode-se concluir que:
-

O risco de perecimento das coisas usufrudas por caso fortuito ou


de fora maior ficam sob responsabilidade do proprietrio;

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O proprietrio deve reivindicar as coisas ou parte delas no caso da


morte do usufruturio;
Os credores do usufruturio no podem penhorar a coisa usufruda
em caso de execuo movida contra ele.

Cabe ao usufruturio:
-

A restituio da coisa findo o usufruto;


Caso no seja possvel a restituio, dever proceder a entrega do
valor da coisa ou de coisa do mesmo gnero, qualidade ou
quantidade.
i. Usufruto de coisas deteriorveis

Regulado no artigo 1452 C.C, importam a depreciao do seu valor


econmico.
Cabe ao usufruturio:
-

A obrigao de restituir a coisa findo o usufruto, devendo entregar a


coisa como ela se encontrar;
Se o usufruturio usou a coisa at que esta perdesse todo o seu
valor, cabe a ele responder pelo valor que estas tinham data da
constituio do usufruto;
Caso o usufruturio tenha agido com dolo na depreciao do valor
da coisa, cabe a ele proceder a entrega da coisa no estado em que
esta se encontra e indemnizar o proprietrio pelos prejuzos
causados.

j)Usufruto de universalidades de animais


Regulado no artigo 1462 C.C conjugado com os artigo 206, 212, n3 C.C.
Entende-se que, os animais individualmente considerados so havidos
como coisas perecveis, mais quando integrados na universalidade
necessrio assegurar a conservao do seu valor econmico.
com base nesta ideia que se o usufruturio perde um animal da
universalidade, devemos substitu - lo com as crias que vo nascendo. As
crias que estejam a mais so consideradas frutos.
Cabe ao usufruturio:
-

Substituir a cria perdida pelas crias que vo nascendo ou outra


nova, as restantes crias que constituiro excedente e sero
consideradas frutos;
Entregar as cabeas existentes caso as outras se percam na sua
totalidade ou em parte por caso fortuito sem ainda terem produzido
crias para as substiturem;

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Responsabilizar-se pelos despojos dos animais caso se tenha


aproveitado deles.
k) Usufruto de direitos
-

Casos de usufrutos de crditos:


-

Usufruto de rendas vitalcias - artigo 1463 C.C conjugado com o


artigo 1238 C.C- entende-se que este um direito de crdito;
Usufruto de ttulos de participao - artigo 1467 C.C;
Usufruto de capitais postos a juros ou investidos em ttulos de
crditos - artigo 1464 C.C, vide artigo 212 n1 e 2 C.C - conceito de
frutos civis.

Os exemplos de universalidades de direitos so a herana e o


estabelecimento comercial.
No caso de constituir-se usufruto sobre patrimnio hereditrio, o
usufruturio neste caso qualificado como legatrio. Neste caso cabe ao
usufruturio o dever de gesto (como um bonus pater famlias) do
patrimnio por ele usufrudo.
l) Direitos do usufruturio
Constam no artigos 1446 e seguintes C.C:
-

Usar, fruir e administrar a coisa ou o direito como um bonus pater


familias - artigo 1446 C.C;
Praticar os actos de administrao respeitando o destino
econmico da coisa artigo 1446 C.C;
Direitos quanto as benfeitorias realizadas sobre a coisa, artigo 1450
C.C que remete para o 1273 C.C;
Direitos quanto aos tesouros-artigo 1461C.C que remete para o
artigo 1324 C.C;
Direito a prmios e outras utilidades aleatrias - artigo 1466 C.C;
Direitos quanto aos ttulos de participao - artigo 1467 C.C.

m) Obrigaes do usufruturio
Reguladas nos artigos 1468 e seguintes C.C.
n) Extino do usufruto
Artigo 1476 C.C- Constituem causas de extino do usufruto:
a.
b.
c.
d.
e.
f.
g.

A morte;
O decurso de tempo;
A confuso;
O no uso;
A perda;
A renncia
A restituio da coisa.

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6.4 Direito de Uso e Habitao


a) Noo artigo- Artigo 1484 C.C
Da noo constante no perceito legal acima citado, podemos inferir que
nela constam as limitaes do direito de uso e habitao.
Uma vez constitudo, este direito deve ser exercido de acordo com o
regulado no ttulo constitutivo- artigo 1485 C.C.
Constituio, extino e regime- Artigo 1485 C.C conjugado com os artigos
1440 e alnea b) do 1293, 1476 todos do C.C(este direito no pode ser
adquirido por usucapio).
Limitaes do usurio:
6.5 Usar a coisa alheia (mvel ou imvel) e consumir os seus frutos na
medida das suas necessidades e da sua famlia.
Quando o direito de uso tem por objecto uma casa para morada, chama-se
direito de habitao, neste caso o direito do usurio traduz-se no direito
deste habitar na casa.

Pode tambm este direito ser constitudo sobre prdio rstico, mas
tambm deve ser limitado as necessidades do seu titular ou da sua famlia.
Os limites a que o usurio est sujeito, distinguem o direito de uso e
habitao do usufruto. Estes limites restringem o contedo deste direito
que no usufruto tais limitaes no existem.
As necessidades pessoais a que se refere o artigo 1484 C.C, so fixadas
de acordo com o Artigo 1486 C.C. Deve ter se em conta a situao social
do usurio.
Artigo 1487 C.C- Fixa o mbito da famlia.
Artigo 1489 C.C- Obrigaes inerentes ao uso e habitao
b) Intransmissibilidade do direito
Este direito distingue-se tambm do usufruto na medida em que no pode
ser trespassado, locado ou onerado - artigo 1488 C.C, facto que no
acontece com o usufruto - artigo 1444 C.C.

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c) As normas do usufruto como normas suplectivas.


Limitao pela natureza daqueles direitos
O direito de uso e habitao e o usufruto, so direitos com muitas
semelhanas da que as normas do usufruto so aplicveis
subsidiariamente ao direito de uso e habitao desde que se conformem
com a natureza deste ltimo direito - artigo 1490 C.C.
d) Defesa do usufruto e do direito de uso e habitao
De acordo com a remisso feita pelo artigo 1315 C.C, o usufruturio e o
usurio podem usar da aco de reivindicao regulada no Artigo 1311
C.C para a defesa do seu direito, podem tambm usar a aco de simples
apreciao.
Podem tambm os possuidores que exercem reiteradamente actos
materiais com publicidade correpondentes ao exerccio do direito de
usufruto e do uso e habitao usar das aces possessrias para a defesa
da sua posse.
6.5 Servides prediais
a) Noo de servido predial
De acordo com o artigo 1543 C.C, podemos definir a servido predial como
um D.R com o contedo de possibilitar o gozo de certas utilidades de um
prdio em benefcio de outro prdio.
Existe neste direito a imposio de um encargo certo prdio, existe uma
relao de serventia entre prdios. Deve entender-se que constitui-se uma
servido quando os prdios em questo pertencem a donos diferentes.
Podemos encontrar aqui dois prdios: o que beneficia da servido e que
detm uma servido activa que se chama dominante e o onerado com a
servido que se chama serviente, este detm uma servido passiva. A
nossa lei impe que estes prdios sejam ser vizinhos.
Uma vez constituda, a servido limita os poderes do proprietrio ou do
titular do direito real que se encontra a gozar o prdio. No caso da
propriedade, com a constituio da servido o titular deste direito no tem
o uso exclusivo do seu direito, o proprietrio do prdio serviente deve uslo compartilhando com o proprietrio do prdio dominante.
b) Natureza jurdica e Contedo
Entende-se que este um D.R, na medida em que temos a inerncia que
uma caracterstica exclusiva dos DR. um D.R de gozo e limitado.
Quanto ao seu contedo, o proprietrio do prdio dominante no pode
servir-se de todas as utilidades do prdio serviente at esgotar o contedo

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deste. necessrio que no ttulo constitutivo da servido, se determinem


que utilidades estaro disponveis.
O Artigo 1544 C.C, define o contedo das servides. Assim, as partes
podem determinar que utilidades estaro sujeitas servido, o destinatrio
das utilidades do prdio serviente o prdio dominante, e no o seu
proprietrio.
Por este motivo, se entende que este direito intransmissvel, uma vez
que a servido no est onerada ao seu proprietrio, mas ao prdio, no
existem servides pessoais.
c) Caractersticas das servides
i. Inseparatibilidade
Artigo 1545 C.C- as servides no podem ser separadas dos prdios a que
pertencem, activa ou passivamente. com base neste facto que se
justifica a inerncia passiva que recai sobre o prdio serviente e a activa
que recai sobre o prdio dominante.
A inerncia activa caracterstica tpica das servides. Com esta
caracterstica, no possvel desligar a servido do prdio a favor da qual
foi constituda para lig-la a prdio diferente.
No caso do n2 artigo 1545 C.C, verifica-se aqui uma converso legal, pois
constitui-se uma nova servido e extino da antiga.
A inseparatibilidade das servides corolrio do princpio de que as
utilidades do prdio serviente devem ser gozadas atravs do prdio
dominante.
O artigo 1545 C.C dispe o princpio da inseparatibilidade das servides, e
estar sujeito as restries impostas por lei.- n2 artigo 1567 C.C, n1,
artigo 1568 C.C.
ii. Indivisibilidade
Artigo 1546 C.C- decorre deste perceito que mesmo que se divida o prdio
serviente, o titular do prdio dominante tem direito de usar a parte que lhe
cabia como servido. Do mesmo modo, caso se divida o prdio dominante,
caber a cada consorte do prdio dominante o exerccio da servido que
lhe caiba, sem contudo alterar a servido.
A diviso de um prdio no conduz a multiplicao de servides. Mais uma
vez encontramos a explicao da inerncia da servido ao prdio.
iii. Atipicidade do contedo
O seu contedo atpico, podendo ser objecto da servido quaisquer
utilidades, tanto futuras como eventuais-artigo 1544 C.C, devendo excluirse aqui as servides pessoais.
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As servides podem no traduzir uma vantagem econmica mais apenas


traduzir-se numa mera comodidade.
iv. Ligao objectiva da servido
Desta caracterstica decorre que no existem servides pessoais. As
servides incidem somente sobre um prdio em benefcio de outro prdio,
e no sobre o titular do prdio.

d) Constituio das servides


Artigo 1547, n1 C.C- As servides podem ser constitudas por contrato,
testamento, usucapio, destinao do pai de famlia e sentena judicial.
i.

Constituio das servides por usucapio

No caso da usucapio, as servides aparentes podem constituir-se por


usucapio, as no aparentes j no, porque estas suscitam dificuldades no
seu entendimento, na medida em que estas so confundidas com os actos
de mera tolerncia do proprietrio do prdio serviente, pois no se revelam
por sinais visveis - artigos 1293, b); 1548, n1 C.C.
ii. Constituio das servides por destinao do pai de famlia
Quanto a destinao do pai de famlia, nos termos do artigo 1549 C.C
podemos retirar os seguintes elementos:
Existncia de um estado de facto que se traduz numa relao de
serventia, estvel, de servio til entre dois prdios ambos do
mesmo dono ou entre fraces de um s prdio, isto decorre do
artigo 1543 C.C, pois aqui exige-se uma situao de serventia e
no de servido, a serventia que conduzir a constituio da
servido;
Presena de sinais visveis e permanentes num destes prdios ou
em ambos que revelem serventia. A existncia de serventia
deduzida dos sinais que se apresentem no prdio;
Separao dos prdios em termos de deixarem de pertencer ao
mesmo dono.
necessrio ressalvar que embora se preencham estes requisitos
exigidos por lei constantes no artigo 1549 C.C, caso o documento que
formaliza a separao dos prdios refira que outra coisa acontecer em
relao a servido, como o caso de se alienar certo prdio livre de
quaisquer nus ou encargos, no se constituir a servido por destinao
do pai de famlia.

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iii. Constituio das servides por sentena judicial


Artigo 1547, n2 C.C- Podem constituir-se servides legais por sentena
judicial. A servido legal o direito potestativo de constituir coercivamente
uma servido sobre prdio alheio mediante o pagamento de uma
indemnizao. o caso dos artigos 1550 a 1563 C.C.
O art. 1550 C.C regula as servides legais de passagem a favor de prdio
encravado. As partes podem por vontade prpria constituir servides de
passagem.
No caso de prdio encravado, o titular deste prdio pode constituir
servido de forma coerciva. A este propsito, pode tambm constituir-se
servido de passagem para o aproveitamento de guas- artigo 1556 C.C.
Para alm das servides de passagem temos as servides de guasartigos 1557 e seguintes C.C:
-

Aproveitamento de gua para fins agrcolas-artigo 1558 C.C;


Servido legal de presa uma forma de servido de guas-artigo
1559 C.C;
Servido legal de presa no caso particular do aproveitamento de
guas pblicas-artigo 1560 C.C;
Servido legal de aqueduto- tambm uma forma de servido legal
de guas-artigo 1561 C.C;
Servido legal de aqueduto no caso especfico de aproveitamento
de guas pblicas- artigo 1562 C.C;
Servido legal de escoamento-artigo 1563 C.C.

e) Classificao das servides prediais


As servides classificam-se em:
Voluntrias ou legais. Como referimos anteriormente, as legais
so constitudas coercivamente mediante o pagamento de uma
indemnizao e a voluntria a que resulta do acordo das partes.
Positivas, negativas e desvinculativas-so positivas quando se
traduzem na permisso de prtica de actos sobre o prdio serviente;
Ex: servido de passagem; as negativas impem uma absteno
ao dono do prdio serviente. Ex: servido de vistas; as
desvinculativas as que libertam o prdio dominante de uma
restrio legal a que esteja sujeito. Ex: proibio de emisso de
fumos fuligem sobre prdio alheio.

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f) Exerccio das servides prediais


A regulao do exerccio da servido consta do artigo 1564 e seguintes do
C.C. O ttulo constitutivo que determina o exerccio da servido e na falta
deste observa-se o disposto nos artigos 1565 e seguintes C.C.
g) Mudana das servides prediais
Artigo 1568 n1 C.C- o proprietrio do prdio serviente pode mudar a
servido para outro local, desde que o faa sem prejudicar os interesses
do proprietrio do prdio dominante. A mudana ser por conta do
proprietrio do prdio serviente e pode ser feita para prdio de terceiro
desde que este consinta.
Por sua vez, o proprietrio de prdio dominante pode tambm mudar a
servido para local diferente ou para prdio de terceiro desde que consinta
na mudana e se responsabilize pelas despesas desta-n2, artigo 1568
C.C.
Podem as partes alterar o modo e o tempo de exerccio da servido desde
que obedeam as condies dos ns 1 e 2 artigo 1568 do C.C
(responsabilidade pelos prejuzos).
h) Extino das servides
Artigo 1569 C.C- as servides extinguem-se por:
-

Confuso;
No uso durante 20 anos;
Usucapio libertatis-artigo 1574 C.C;
Renncia no requer a aceitao do prdio serviente e decurso do
prazo.

Remete-se o estudo destas formas de extino das servides para a


matria leccionada na parte geral a propsito da extino dos D.R.
-

Em relao a desnecessidade, que tambm uma causa de


extino das servides regulada no artigo 1569, n2 C.C, temos a
referir que pode o proprietrio do prdio serviente requerer a
extino das servides constitudas por usucapio, desde que
estas se mostrem desnecessrias ao proprietrio do prdio
dominante. S podem existir encargos sobre certo prdio, desde
que estes sejam necessrios. Aplica-se o disposto neste artigo s
servides legais- artigo 1569, n3 C.C.
A remisso judicial tambm uma causa de extino das
servides constantes nos artigos 1557 e 1558 C.C. A remisso no
pode ser exigida antes de decorridos 10 anos sobre a constituio
da servido- n4 artigo 1569 C.C.

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i) Tutela do direito
No direito romano, a aco negatria, que visava repelir qualquer
preteno de servido, de certa forma reconhecia a existncia da servido
(mas esta no se encontra consagrada no nosso ordenamento jurdico
embora outros ordenamentos a consagrem).
No nosso direito, por fora do artigo 1315 C.C, aplica-se subsidiariamente
a aco de reivindicao com as necessrias correces s servides e a
todos os DR de gozo.
A defesa da posse de uma servido assegurada pelas aces
possessrias, excluindo-se neste caso a defesa das servides no
aparentes como dispe o artigo 1280 C.C.

Leituras Obrigatrias
A leitura dos textos indicados, a seguir, de fundamental importncia para
a compreenso de nossos estudos e para a realizao das actividades
propostas para esta primeira unidade de estudo. Portanto, no deixe de
estud-los.

Texto 1
-

Pires Lima e Antunes Varela, Cdigo Civil Anotado, Vol III,


artigos 1302 a 1402, 1403 a 1438 e 1484 a 1490.

Texto 2
- lvaro Moreira e Carlos Fraga, op cit, Pgs 350-416;

Leituras Complementares
Texto 1
-

Decreto n.17/2013, de 26 de Abril, aprova o Regulamento do


Regime Jurdico dos Condomnios.

Texto 2
-

Gonalves, Augusto da Penha; Curso de Direitos Reais; 2 Edio;


Lisboa; 1993. Pgs 317-409.

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Actividades
A seguir, esto as actividades correspondentes a esta primeira unidade.
Resolva os exerccios propostos em cada uma e verifique se acertou,
conferindo a sua resposta na Chave de Correco no final do presente
Guia de Estudo.

Actividade 1
Leitura do texto
Leia as anotaes ao Cdigo Civil Anotado por Pires Lima e Antunes
Varela nos artigos 1302 a 1490, e compreenda a doutrina em torno dos
preceitos legais relativos a propriedade.
Em seguida, leia as paginas 350 a 380 da obra lvaro Moreira e Carlos
Fraga e resolva as seguintes hipteses:

1.1 A, furta um televisor pertencente a B. posteriormente, troca a parte


frontal do mesmo, juntando-a a uma outra pertencente ao televisor que
furtou de C, e posteriomente vende o televisor no mercado do Estrela na
Cidade de Maputo.
Certo dia, ao passar pelo referido mercado, B descobre que o televisor que
se encontrava a venda era o que lhe tinha sido furtado h semanas atrs.
A, alega que adquiriu a propriedade do televisor por acesso. Ser
possvel? Justifique.
1.2 Joaquina andando pela praia Costa do Sol encontra um colar de
perolas. Certo dia foi convidada a uma festa na casa de seu amigo Samuel,
aparecendo Fausto como um dos convidados.
Fausto reconhece o colar usado por Joaquina como o que pertencera a
sua av e que tinha perdido a mais de dois anos na mesma praia onde
Joaquina o encontrou. Quid Juris.
1.3 Em Abril de 2000 Arlindo, Cndida, Juvncio, Xadreque, decidem
constituir um condomnio no seu prdio sito na Av. Siad Barre, Maputo,
cabendo a cada um a propriedade de um apartamento no referido prdio
com os seguintes valores: Arlindo 700.000,00 Mt, Cndida, 650.000,00 Mt,
Juvncio, 650.000,00 Mt, Xadreque, 700.000,00 Mt. Os 4 acordam que
Juvncio seria o administrador do prdio.
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Cndida tinha um salo de cabeleleiro na parte que lhe cabia para


estacionamento da sua viatura tendo sido devidamente autorizada pelos
vizinhos.
Em Maio de 2000, quando os 4 vizinhos decidem celebrar a escritura
pblica para constituio do condomnio, constata-se que no se
preenchiam os requisitos legais para constituio daquele direito tendo se
transformado o imvel em compropriedade cabendo a Arlindo, Cndida,
Juvncio e Xadreque 26%, 24%, 24% e 26%, respectivamente.
Em Outubro de 2001, Arlindo que tinha 3 sobrinhos, decide constituir a
favor dos mesmos o direito de usufruto sobre o seu apartamento tendo se
enfatizado no acto da constituio do direito que duraria 15 anos, todos
exerceriam o direito ao mesmo tempo mas que o proprietrio (Arlindo)
poderia alienar o seu imvel quando necessitasse.
Em Abril de 2005, um dos sobrinhos de Arlindo decide viver fora do pas,
declarando que o gozo da sua quota parte no apartamento cabia aos
irmos. Outro sobrinho, no mesmo ms (Abril de 2005) decide ceder como
hipoteca ao Banco W a parte que lhe cabia, mediante um emprstimo
para incio do seu negcio devendo tal hipoteca continuar at Dezembro
de 2016.
Em Junho de 2005, os vizinhos de Cndida, representados por Xadreque
reivindicam que sendo Cndida, proprietria do salo de cabelelerio,
usando quantidades elevadas de energia e gua, deveria arcar com mais
para a reparao da bomba de gua avariada.
Cndida protesta argumentando que tinha a mesma quota que Xadreque
da que no seria possvel satisfazer o pedido dos vizinhos, pois ao se
aceite que a mesma abrisse o salo nada tinha sido estipulado.
Cndida informa ainda que no suportaria a despesa nem que para isso
tivesse que vender o imvel a Faustino, pois sentia-se desconfortada com
a presso dos vizinhos. A venda a Faustino concretiza-se e Agosto de
2005.
Quid Juris.
1.4 Eugnio, proprietrio de um imvel sito na Av. 25 de Setembro em
Nampula. Por contrato celebrado a Julho de 1991, Eugnio constitui o
direito de usufruto a favor de Palmira com a durao de 15 anos
mantendo-se Eugnio como proprietrio do imvel.
Palmira realiza obras para mudana da canalizao da cozinha que
criavam problemas de infiltrao no imvel. Palmira que estava a adquirir
um automvel decide em Maro de 1998 constituir hipoteca sobre o
referido apartamento.

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Em Agosto de 2000 aparece Vigrio que invocando existncia de uma


hipoteca sobre o mesmo imvel pertencente a Eugnio reivindica direitos.
Palmira nada diz a Eugnio partindo do princpio de que cabia a Vigrio
apresentar as questes que o inquietavam ao proprietrio.
Eugnio, que se encontrava doente, em Setembro de 2001 decide por
testamento, que Mateus e Filipe, seus sobrinhos, poderiam ficar com a
casa aps a sua morte.
Eugnio falece no dia 14 de Abril de 2005. No dia 25 de Abril de 2005,
Mateus, dirigindo-se Palmira, exige a devoluo do imvel, mas aquela
recusa-se fundamentando que era protegida pelo contrato celebrado com
Eugnio.
Em Agosto 2005, aparece Feliciano filho de Eugnio que clarifica que a
casa do seu pai jamais seria de Mateus e Filipe, mas que aqueles no
entendidos em matrias jurdicas confundiram o direito de usufruto com a
propriedade e que tinha sido faseado no ttulo constitutivo como o imvel
seria usado sendo que Filipe apenas moraria no mesmo aps a morte de
Mateus.
Porque Mateus e Filipe se opunham as reivindicaes de Feliciano, este
decide interpor uma aco judicial contra aqueles. Palmira por sua vez
invoca os seus direitos e decide ainda reivindicar pelas despesas feitas
com a manuteno do imvel. Quid Juris.

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UNIDADE TEMTICA 7

DIREITO DE USO E PROVEITAMENTO DA TERRA


Elaborado por: Elsa Alfai

OBJECTIVOS
No fim desta unidade voce dever ser capaz de:
Conhecer os modos de aquisio do direito do uso e
aproveitamento da terra;
Conhecer o contedo do uso e aproveitamento da terra;
Identificar os meios de exerccio, transmissibilidade e extino do
direito do uso e aproveitamento da terra

ABORDAGEM DOS CONTEDOS DA UNIDADE


1. Introduo
Em Moambique, a existncia e regulao do direito de uso e
aproveitamento da terra (DUAT) tem proteco constitucional nos artigos
109 n2 e 110 da CRM em vigor.
A regulao do uso da terra, tambm regulada na Lei especial, Lei de
Terras (LT) Lei n 19/97 de 1 de Outubro e respectivo Regulamento da Lei
de Terras (RLT) Decreto 66/98 de 8 de Dezembro.
2. Noo
A noo deste direito consta no n2 do artigo 1, da LT.
3. Aquisio
Os modos de aquisio deste direito constam do artigo 12 da LT e artigo 9
e seguintes do RLT.
Assim, este direito pode ser adquirido por:
-

Ocupao segundo prticas costumeiras que no contrariem a


Constituio da Repblica, ocupao esta feita por comunidades
locais e pessoas singulares.
Ocupao de boa f por mais de 10 anos, desde que sejam feita
por pessoas singulares nacionais.
Autorizao de um pedido solicitado por pessoas singulares ou
colectivas.
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Competncias para proceder a autorizao


A autorizao deste direito depende da existncia de cobertura da rea
solicitada por plano de urbanizao ou no.
Se a rea se encontrar coberta por um plano de urbanizao, desde que
essa rea tenha um servio pblico de cadastro, competente o
Presidente do Concelho Municipal ou o Administrador de Distrito - artigo
23 LT.
Se a rea no se encontrar coberta por um plano de urbanizao, o
Governador Provincial, o Ministro da Agricultura e o Conselho de Ministros
que do a autorizao consoante a dimenso da rea - artigo 22 LT.
A localizao do terreno, sua dimenso, finalidade do uso influem na
fixao das taxas devidas pelo uso e aproveitamento - artigo 47 RLT.
Estas taxas podem ser devidas pela autorizao ou podem ser anuais artigo 41 RLT e artigo 28, n1, alnea a) LT.
4. Prazos
Para o exerccio de actividades econmicas, o prazo de 50 anos
renovveis, se o uso no se destinar ao exerccio de actividades
econmicas no existe sujeio a prazos - artigo 17 LT.
5. Procedimento para titulao do direito
O procedimento para titulao varia consoante o tipo de aquisio do
direito.
Se a aquisio deu-se pela via formal, aplica-se o estipulado no artigo 24
do RLT. Se a aquisio deu-se pela via costumeira ou de boa f, aplica-se
o estipulado no artigo 35 e 34 do RLT.
6.Transmisso
Nos termos do artigo 16 LT e artigo 16 RLT, o direito de uso e
aproveitamento da terra transmissvel intervivos e mortis causa.
7. Extino do direito
As formas de extino deste direito constam no artigo 18 da LT e artigo 19
do RLT, sendo elas:
-

No cumprimento do plano de explorao ou projecto de


investimento no calendrio previamente estabelecido;
Revogao do uso e aproveitamento por motivos de interesse
pblico (procedida de justa indemnizao ou compensao);
Termo do prazo ou sua renovao
Renncia.

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8.Defesa do direito
A resoluo de conflitos de terra feita pelo foro judicial moambicano
aplicam-se subsidiariamente as normas referentes defesa da
propriedade nos termos do artigo 1315 do C.C.

Leituras Obrigatrias
A leitura dos textos indicados, a seguir, de fundamental importncia para
a compreenso de nossos estudos e para a realizao das actividades
propostas para esta primeira unidade de estudo. Portanto, no deixe de
estud-los.

Texto 1
-

Lei n 19/97 de 1 de Outubro- Lei de Terras;


Decreto n 66/98 de 8 de Dezembro- Regulamento da Lei de Terras

Actividades
A seguir, esto as actividades correspondentes a esta primeira unidade.
Resolva os exerccios propostos em cada uma e verifique se acertou,
conferindo a sua resposta na Chave de Correco no final do presente
Guia de Estudo.

Actividade 1
Leitura do texto
Leia atentamente os artigos 10 a 12 da Lei de terra sobre os modos de
aquisio do direito de uso e aproveitamento da terra e resolva as
hipteses abaixo:
1.1 A, titular do direito de uso e aproveitamento da terra sobre certo terreno
em Marracuene, decide construir uma vivenda. Porque no tinha material
para o fazer, decide retirar pouco a pouco do armazm de B, seu patro,
alguns blocos, chapas, sacos de cimento, para alm de outro material.
B descobre. Quid juris.

1.2 A titular do direito do uso e aproveitamento da terra sobre um talho


sito na Cidad da Beira, decide construir uma dependencia no mesmo.
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Porque constatou que o talho ao lado do seu se encontrava vazio,


prolongou a construo sobre o referido espaco. Quid juris.

1.3 Antonio pretende adquirir o direito de de uso e aproveitamento da terra


de um talho sito na Cidade de Quelimane.
Antes da sua aquisio pretende saber de si, quais os procedimentos para
a sua regularizao tendo em conta que o referido espao econtram-se
machambas de residentes da Comunidade X.
Antnio pretende ainda saber de si se, uma vez adquirido os direito de uso
e aproveitamento da terra sobre o referido talhao, se podera transmiti-lom
por herana aos seus filhos. Quid juris.

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CHAVE DE CORRECO DAS ACTIVIDADES

UNIDADE TEMTICA 1 MBITO DOS DIREITOS


REAIS
Actividade 1
1.1.

Alguns aspectos que poder mencionar na sua resposta:

os direitos reais so direitos absolutos, podem ser oponveis a


quaisquer terceiros sem estarem dependentes de uma relao,
enquanto que os direitos de credito so direitos relativos;
a principal incidncia dos direitos reais so as coisas, enquanto que
os direitos de credito indiciem sobre uma prestao;
1.2 A principal diferena entre a tese moderna e tese clssica
a tese clssica defende que nos direitos reais existe uma relao
entre coisa e pessoas, enquanto que a tesse moderna enfatiza que
os direitos reais so aqueles que se exercem nas relaes entre
pessoas, assentando-se na teoria personalista.

UNIDADE TEMTICA 2
DIREITOS REAIS

TEORIA GERAL

DOS

Actividade 1
1.1 Alguns aspectos que poder mencionar na sua resposta:
A absolutidade consiste no poder de opor o direito real perante
quaisquer sujeitos da ordem jurdica impondo uma obrigao
passiva universal enquanto que,
a sequela, o poder que o titular do direito real tem de
perseguir o seu direito onde quer que este se encontre;
1.2 Alguns aspectos que poder mencionar na sua resposta:
as manifestaes do efeito atribuitivo na caracterstica publicidade
consistem num terceiro, de boa f, que adquiriu a titulo oneroso um
bem adquirir direitos pelo facto de ter registado em primeiro lugar,
como so os casos dos artigos 291 CC, 83 conjugado com artigo
85 do CRP e artigo 7 do CRP.

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Actividade 2
2.1 Alguns aspectos que poder mencionar na sua resposta:
Considerar o princpio do trato sucessivo previsto no artigo 13
do CRP de modo a acautelar a legitimidade do alienante, ou seja, A
deveria registar o seu bem;
Respeitar o principio da instancia de modo que o pedido de registo
seja efectuado pelas partes interessadas, neste caso, havendo falta
do registo de A, este deveria requer-lo.

2.1 Alguns aspectos que poder mencionar na sua resposta:


B ao no registar o seu direito viola o principio do trato
sucessivo previsto no artigo 13 do CRP e ainda os artigos 14 e 2 do
CRP;
O A pratica uma dupla alienao ao alienar um bem
duplamente;
O C pode invocar o efeito atribuitivo do registo com as suas
consequncias legais.

2.1 Alguns aspectos que poder mencionar na sua resposta:


David ao no registar o seu direito viola o principio do trato
sucessivo previsto no artigo 13 do CRP e ainda os artigos 14 e 2 do
CRP;
Antnia pratica uma dupla alienao ao alienar um bem
duplamente;
Nos termos do n.2 do artigo 291 do CC, a aco de
declarao de nulidade do negcio entre Antnia e Carlos deve ser
interposta e registada dentro de 03 anos contados desde a data
que David teve conhecimento do negcio entre Antnia e Carlosvide efeito atribuitivo do registo.

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UNIDADE TEMTICA 3 CLASSIFICAO


TIPOLOGIA DOS DIREITOS REAIS

Actividade 1
Alguns aspectos que poder mencionar na sua resposta:
Os direitos reais de gozo proporcionam ao seu titular o gozo da
coisa, podendo usar fruir dispor da mesma;
Os direitos reais de garantia visam garantir o cumprimento de uma
prestao, so direitos acessrios;
Os direitos de aquisio preparam o seu titular para a aquisio de
uma coisa.

Actividade 2
2.1 Alguns aspectos que poder mencionar na sua resposta:
A hipoteca prevalece sobre os demais direitos de garantia
constitudos sobre o mesmo bem;
Tendo em conta o n.2 do artigo 9 do CRP, as hipotecas so
consideradas em funo da natureza do crdito e no em funo
da prioridade do registo.
Se por hiptese o valor da hipoteca do Banco Maputo for maior que
os demais valores, ser pago prioritariamente o Banco Maputo;
Mas se as hipotecas a favor de B e C forem superiores, sero estas
pagas em primeiro lugar.
Assim as outras partes podem recorrer ao disposto do n.2 do artigo
9 do CRP.
2.2Alguns aspectos que poder mencionar na sua resposta:
Neste caso, prevalecem os impostos devidos ao Estado, pois nos
termos do artigo 744 do CC, os privilgios creditrios imobilirios,
que so direitos reais de garantia, uma vez existentes prevalecem
sobre os demais direitos de garantia mesmo que anteriormente
constitudos.
2.3Alguns aspectos que poder mencionar na sua resposta:
importante acautelar em que consiste a aquisio, se se trata de
aquisio de maquinaria, bens cuja aquisio no exige registo, ou
se se trata de aquisio do estabelecimento e maquinaria para
funcionamento da moageira.
Assim, na primeira hiptese estaramos perante um contrato
promessa, que uma fonte geral das obrigaes previsto no artigo
410 do CC, enquanto que na segunda hipotese poderamos estar
perante um contrato promessa com eficcia real por se tratar de
bens imoveis, sujeitos a registo, mas que a sua aquisio deve ser

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Curso de Cincias Jurdicas Direitos Reais Semestre 4

celebrada por escritura pblica e registados, preenchendo os


requisitos do artigo 413 do CC.
2.4 Alguns aspectos que poder mencionar na sua resposta:
Seria importante igualmente acautelar se consiste na aquisio, se
se trata de um pacto para aquisio de maquinaria, bens cuja
aquisio no exige registo, ou se se trata de aquisio do
estabelecimento.
Caso se verificasse a segunda parte, existiria aaqui a violao do
artigo 421 do CC e sendo o pacto de preferncia co eficcia real
um direito real de aquisio, o E pode invocar direitos sim.

UNIDADE TEMTICA 4 VISCISSITUDES DOS


DIREITOS REAIS

Actividade 1
1.1 Alguns aspectos que poder mencionar na sua resposta:
Neste caso estamos perante a figura da expropriao por
utilidade pblica que um das causas de extino dos direitos
reais prevista no artigo 86 da CRM e 1308 do CC;
O A tem direito de ser indemnizado pela extino dos seus
direitos sobre a vivenda nos termos do artigo 1310 do CC.
1.2.

Alguns aspectos que poder mencionar na sua resposta:


Neste caso estamos perante a figura da usucapio libertatis que
uma das causas de extino dos direitos reais.

1.3.

Alguns aspectos que poder mencionar na sua resposta:


Neste caso estamos perante uma modificao subjectiva dos
direitos reais, em que o seu contedo mantem-se mais mudamse os titulares, neste caso passando a ser seus filhos.

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UNIDADE TEMTICA 5 POSSE

Actividade 1
1.1.

Alguns aspectos que poder mencionar na sua resposta:


A posse e uma situao jurdica provisria os direitos reais de
gozo so definitivos;
A posse existe enquanto no for convencida a titularidade do
direito, a propriedade prevalece sobre a posse em caso de
conflito;
A posse um situao juridicamente tutelada, a propriedade e
demais direitos reais so direitos.

Actividade 2
2.1 Alguns aspectos que poder mencionar na sua resposta:
Xavier antes de haver a transmisso da posse era mero detentor
nos termos da alnea c) artigo 1253 CC e Cristina era possuidora
nos termos do artigo 1251 CC(tinha corpus e animus);
Cristina exercia a sua posse por intermrdio de Xavier n.1 do
artigo 1252 CC;
Neste caso estamos perante uma perda da posse nos termos da
alnea d) do n.1 do artigo 1267 CC por parte de Crsitina;
Temos ainda a aquisio da posse por Xavier por inverso do titulo
da posse por acto de terceiro (Ezequiel) capaz de transferir a
posse;
Cristina pode dentro de 1 anos a contar da data que perdeu a sua
posse recorrer judicialmente para obter a restituio da sua posse.
2.2.Alguns aspectos que poder mencionar na sua resposta:
Abreu era mero detentor e Incio possuidor(tinha animus e corpus);
Incio exercia a sua posse por intermdio de Abreu n.1 do artigo
1252 CC;

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Neste caso estamos perante inverso do titulo da posse por


oposio do detentor (Abreu) contra aquele em cujo nome possuda
(Incio);
Quanto as avarias, se Abreu efectuou benfeitorias deveria ser
ressarcido nos termo do artigo 1273 CC, dependendo do tipo das
benfeitorias.
2.3Alguns aspectos que poder mencionar na sua resposta:
Neste caso estamos perante um dos modos de aquisio de posse
por Antnio pelo apossamento alnea a) artigo 1263 CC;
Contudo, Antnio no exerce os seus direitos de forma a ser
conhecida pelos interessados, pois, apesar de ter corpus o
exerccio dos seus direitos dos verdadeiros interessados, posse
oculta - artigo 1262 CC.
2.4Alguns aspectos que poder mencionar na sua resposta:
Elisa detentora alnea c), artigo 1253 C.C e a Marta possuidora
que exerce os seus direitos por intermdio de Elisa n.1 artigo
1252 C.C.
Elisa sendo mera detentora no tinha posse, por isso no poder
invocar a existncia desta situao de facto.
2.5 Alguns aspectos que poder mencionar na sua resposta:
Antnio possuidor e proprietrio sobre o imvel e perde a sua
posse pela cedncia, alinea a),n.1 artigo 1267 CC;
Antnio cede a sua posse a Beato que a adquire pelo constituto
possessrio, n.1 do artigo 1264 CC;
Beato passa a ser novo possuidor e proprietrio do imvel pode sim
aceitar a proposta.
2.6 Alguns aspectos que poder mencionar na sua resposta:
Em 1979 Ana apossa-se de um imvel adquirindo a posse pelo
apossamento alnea a), artigo 1263 CC, tem corpus e animus;
A posse de Ana que inicia em 1279 era publica(artigo 1262 CC), de
boa f (tomou diligncias de que noa lesava direitos de outrem
n1 artigo 1260), pacifica (artigo 1261 CC)
Ana fez benfeitorias teis no imvel beneficia dos direitos previstos
no artigo 1273 CC;
O filho de Ana mero detentor apartir de 1990, pois tem corpus
mas no o animus artigo 1253 alnea c) CC;
Os proprietrios gozam dos meios de defesa da propriedade que
so imprescritveis e mais eficazes que os meios de defesa da
posse- n.1 do artigo 1268CC, pois estes ltimos;
No caso em apreo, seria interposta a aco de restituio da
posse, artigo 1278 CC, caducam se forem interposta dentro de 1
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Curso de Cincias Jurdicas Direitos Reais Semestre 4

ano a contar da data do conhecimento do esbulho praticado por


Ana artigo 1282 CC e aqueles tem legitimidade de interpor esta
aco n.2 artigo 1281 CC, ou seja deve ser interposta at 1980;
Alnea a) - Caso Ana saia do imvel tem os direitos previstos no
artigo 1273 para as benfeitorias uteis;
Alnea b) - Custdia passa a ser nova possuidora desde a nova
data de aquisio, os direitos de Custodia foram constitudos a
posterior aos da Ana, no prevalecem, esta uma posse nova, os
direitos de Ana vincariam, invocando a figura da usucapio
artigos1287, 1296 CC. A sua posse dura mais de 15 anos.
Alnea c) - Neste caso estaramos perante uma inverso do titulo
da posse por oposio do detentor contra aquele cujo nome
possua, artigo 1265 CC, e aqui a posse de Ana iniciaria na data da
oposio poderiam os proprietrios interpor ou a aco de
restituio da posse no prazo de 1 ano desde que tomaram
conhecimento da oposio ou usar os meios e defesa da
propriedade que so imprescritveis- artigos 1278, 1281, 1282 e
1311 do CC.

UNIDADE TEMTICA 6 DIREITO DE PROPRIEDADE


Actividade 1
1.1 Alguns aspectos que poder mencionar na sua resposta:
Neste caso estamos perante a acesso industrial mobiliaria na
modalidade de unio de m f sendo as consequncias as
previstas no artigo 1334 CC.
1.2 Alguns aspectos que poder mencionar na sua resposta:
No presente caso estamos perante a figura da ocupao e
especificamente foi achada uma coisa perdida, funcionado o regime
do artigo 1323 CC.
1.3 Alguns aspectos que poder mencionar na sua resposta:
Na presente hiptese, estamos perante o direito de propriedade
horizontal e da compropriedade, regulados nos artigo 1403 e
seguintes do CC e artigos 1414 e seguintes do CC e Decreto n
17/2013 de 26 de Abril.
Como prev o artigo 1416 CC, no havendo requisitos para
constituio da Propriedade horizontal, sujeita-se o prdio ao
regime da compropriedade devendo haver uma individualizao
das fraces pelas partes- artigo 1418 CC.

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Curso de Cincias Jurdicas Direitos Reais Semestre 4

Assim,
Arlindo,
Cndida,
Juvncio
e
Xadreque,
so
comproprietrios, no que respeita a gesto das partes comuns, mas
devem respeitar a individualizao das fraces de cada parte.
legtimo que Candido estabelea usufruto a favor dos seus
sobrinhos. Este um direito real de gozo limitado previsto no artigo
1439 e seguintes do CC. Neste caso, estamos perante um usufruto
simultneo, constitudo per translatitionem. Os sobrinhos de Arlindo
devem exercer o seu sireito ao mesmo tempo ficando o proprietrio
de raiz com o usufruto.
Extinguindo-se o direito de usufruto de um dos sobrinhos o mesmo
reverte aos demais, funcionando o principio de elasticidade a favor
dos demais. O outro sobrinho de Arlindo pode nos termos do artigo
1444, constituir hipoteca a favor do Banco W, significando isto uma
onerao a terceiro. Ressalvar que a hipoteca a favor do Banco W,
no pode durar para alm do perodo de durao do usufruto do
sobrinho de Arlindo. Assim a Hipoteca a favor do Banco W dever
ser estabelecida at Outubro de 2016.
Quem fora nomeado como Administrador do prdio o Sr. Juvncio
e no o Xadreque, esta nomeao de um administrador legal
conforme dispe o artigo 31 do Decreto n 17/2013 de 26 de Abril,
as suas funes constam do artigo 35 do Decreto n 17/2013 de 26
de Abril.
Para a responsabilizao das dvidas referentes a conservao e
administrao do prdio, prev o n1 do artigo 1411 CC, que as
partes devem responsabilizar-se pelas benfeitorias necessrias que
hajam lugar, mas isto na proporo das suas quotas.
necessrio verificar se Cndida, tinha assumido estes encargos
de modo a saber se os mesmos so a si imputadas. Caso Cndida
queira abdicar dos encargos, pode renunciar o seu direito a favor
dos demais isto se no tinha assumido o compromisso de
responsabilizar-se pelas despesas - n2 do artigo 1411 CC.
Quanto a venda efectuada pela Cndida, necessrio frisar que
sujeitando-se o prdio ao regime da compropriedade, nos termos
do artigo 1409 a mesma deve ser feita mediante o respeito ao
direito de preferncia sob pena de incorrer no disposto do artigo
1410 CC, aco de preferncia.
Havendo sujeio ao regime da propriedade horizontal com
individualizao das fraces autnomas, cada parte pode alienar a
sua fraco sem que para isso necessite de consentimento dos
demais.

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Havendo dificuldades de reconhecimento dos direitos das partes,


poder ser interposta uma aco de simples apreciao.
1.4 Alguns aspectos que poder mencionar na sua resposta:
No presente caso estamos perante o direito de usufruto, este
que um direito real de gozo, limitado.
Eugnio, proprietrio do imvel, constituindo o direito de
usufruto por contrato, per constituionem com a durao de 15
anos de Julho de 1991 a Julho de 2006 artigo 1439 CC.
Palmira realiza reparaes ordinrias no imvel, segundo prev
o n1 do artigo 1472 CC, cabe ao usufruturio efectuar as
benfeitorias necessrias que tiverem lugar.
Na qualidade de usufruturia, Palmira pode constituir hipoteca
sobre o apartamento,onerando o imvel se nada di acordado
em contrrio, tal possvel nos termos do n1 do artigo 1444
CC, mas referir que a hipoteca no pode durar para alm da
sua vida ou prazo que tenha sido fixado para exerccio do seu
direito.
Como usufruturia, cabia a Palmira avisar a Eugnio das
pretenses de Vigrio, conforme dispe o artigo 1475 CC, se
ela no o fizer dever acarretar os danos causados pelo Vigrio
com a sua atitude.
Os direitos de Palmira devero ser respeitados, pois o seu
contrato vigora at Junho de 2006, caso no haja inteno em
contrrio.
necessrio clarificar se o que fora constitudo a favor de
Mateus e Filipe usufruto ou compropriedade. Sendo
compropriedade, legtima a constituio daquele direito,
passando Mateus e Filipe aps a morte de Eugnio a
comproprietrios do imvel e mentendo-se Palmira como
comprorietria.
No sendo compropriedade, teramos aqui um usufruto
sucessivo, permitido nos termos do artigo 1441 CC, sendo
Feliciando como herdeiro, proprietrio Mateus e Filipe
usufruturrios, mas devendo-se se respeitar os direitos de
Palmira, j usufruturia. Para este caso Feliciano dever provar
as suas alegaes.
legtima reivindicao de Palmira quanto aos seus direitos,
pois ainda vigoravam, mas quanto as despesas, se as mesmas

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eram ordinrias, dever suport-las nos termos do artigo 1472


CC.

UNIDADE TEMTICA 7
DIREITO DE USO E
APROVEITAMENTO DA TERRA

Actividade 1
Alguns aspectos que poder mencionar na sua resposta:
So modos de aquisio do uso e aproveitamento da terra os
previstos no artigo 12 da Lei de Terras ocupao por pessoas
singulares e pelas comunidades locais, segundo asnormas e
prticas costumeiras no que no contrariem a Constituio;
b) ocupao por pessoas singulares nacionais que, de boa f,
estejam a utilizar a terra h pelo menos dez anos;
c) autorizao do pedido apresentado por pessoas singulares ou
colectivas na forma estabelecida na presente Lei.

Actividade 2
2.1 Alguns aspectos que poder mencionar na sua resposta:
Neste caso estamos perante uma acesso industrial imobiliria, um
modo de aquisio do direito de propriedade, na modalidade de
obras feitas de m com materiais alheios sendo as consequncias
as previstas no artigo 1339 CC.
2.2 Alguns aspectos que poder mencionar na sua resposta:
Neste caso estamos perante uma situao que deve recorrer-se ao
direito de demarcao artigo 1353 CC, podendo se interpor a
aco de demarcao que delimitar as extremas. um modo de
defesa da propriedade que se aplica ao direiro de uso e
aproveitamento da tetra
No se aplica o artigo 1343 CC acesso industrial imobiliria, pois o
uso e aproveitamento da terra nhao se adquire nestes moldes.
2.3 Alguns aspectos que poder mencionar na sua resposta:
Neste caso deve se proceder a consultas as comunidades
existentes nos termos da legislao sobre terras;
O procedimento para titulao varia consoante o tipo de aquisio
do direito. Se a aquisio deu-se pela via formal, aplica-se o
estipulado no artigo 24 do RLT. Se a aquisio deu-se pela via
costumeira ou de boa f, aplica-se o estipulado no artigo 35 e 34 do
RLT.
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