A Quantificação Do Dano Moral Resultante de Acidentes de Trabalho No Ordenamento Jurídico Moçambicano

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Escola Superior de Economia e Gestão

A Quantificação do Dano Moral Resultante de Acidentes de Trabalho no Ordenamento


Jurídico Moçambicano

Sérgio Alfredo Macore

Pemba, 2020
Escola Superior de Economia e Gestão

Curso de Licenciatura em Direito

A quantificação do dano moral resultante de acidentes de trabalho no ordenamento


jurídico moçambicano

Sérgio Alfredo Macore

Monografia Científica Apresentada a Escola


superior de Economia e Gestão, Para a
Obtenção do Grau Académico de Licenciatura
em Direito.

Supervisor:
Supervisor: Dr. Bogaio Nhancalaza

Pemba 2020
DECLARAÇÃO DE HONRA

Para os devidos efeitos, eu Nelson Rodrigues, declaro que o presente trabalho para
obtenção do Grau académico de Licenciatura, é da minha exclusiva autoria com a colaboração
do meu supervisor, o Mestre Paulino Jone e nunca foi antes publicado em nenhuma outra
instituição de ensino académico.

Por ser verdade, subscrevemo-nos:

Pemba, ao ______ de Junho 2020

O Autor
____________________________________________
(Sérgio Alfredo Macore)

O Supervisor

______________________________________________
(Supervisor:)

I
DEDICATÓRIA

À minha esposa.

II
AGRADECIMENTOS

Em primeiríssimo lugar, tenho que agradecer ao Senhor todo-poderoso e Pai do universo “Deus”
pela bênção que me deu até hoje para que chegasse até este nível académico.

Por fim, é de referir que o presente trabalho é produto do empenho de todos que directa ou
indirectamente estiveram envolvidos para o bom sucesso do mesmo.

Obrigado!

EPIGRAFE

III
“Se o dinheiro for a sua esperança de independência, você jamais a terá. A única segurança
verdadeira consiste numa reserva de sabedoria, de experiência e de competência.”

(Henry Ford)

LISTA DE ABREVIATURAS

IV
AT Acidente no Trabalho
CC Conselho Constitucional
CCM Código Civil Moçambicano
DCM Direito Civil Moçambicano
DM Dano Moral
OJ Ordenamento Jurídico
PRC Pressupostos da Responsabilidade Civil
RC Responsabilidade Civil

RESUMO

O Ordenamento Jurídico nos dias que corre, e em sociedades cada vez mais urbanizadas, como é
o caso de Moçambique, os acidentes de trabalho constituem uma realidade inegável. Estes
resultam dos mais diversos motivos, tais como, a inexistência de condições de trabalho para o
exercício de certas actividades, o incumprimento culposo das normas de funcionamento de uma
determinada actividade. Porém, na medida em que o regime jurídico dos acidentes de trabalho

V
em Moçambique encontra – se amparado pela Lei do Trabalho e o Decreto nº62/2013 de 4 de
Dezembro, que aprova o Regime Jurídico dos Acidentes de Trabalho e Doenças Profissionais,
por outro lado, se repercute no meandro do Direito das Obrigações que é um ramo de Direito
Civil comum, uma vez que o dano moral é uma das especialidades da responsabilidade civil. O
sentido básico, inferido é o de possibilidade de responder por alguma coisa. Essa possibilidade
pode, pelo menos, ser entendida em dois sentidos, ético e fáctico. Em sentido ético, a
responsabilidade civil é a imputabilidade, a uma pessoa, de determinado facto. Em sentido
fáctico, responsabilidade traduz a sujeitabilidade de algo às consequências derivadas de
determinada ocorrência. Neste trabalho, foi entendida a responsabilidade patrimonial, os direitos
patrimoniais das pessoas por sujeitarem-se às consequências do inacatamento das normas
obrigacionais. Contudo, o Código Civil trata de duas responsabilidades, a contratual e a
extracontratual. A primeira regula o cumprimento, as formas e efeitos das obrigações. A segunda
corresponde a responsabilidade por factos ilícitos, pelo risco e por factos lícitos danosos.

Palavra-Chave: Danos Morais. Ordenamento Jurídico Moçambicano. Código Civil.

ÍNDICE

DECLARAÇÃO DE HONRA.........................................................................................................I
DEDICATÓRIA.............................................................................................................................II
AGRADECIMENTOS..................................................................................................................III
EPIGRAFE....................................................................................................................................IV
LISTA DE ABREVIATURAS.......................................................................................................V

VI
RESUMO......................................................................................................................................VI
CAPITULO I – ENQUADRAMENTO DO TRABALHO.............................................................1
1.1.Introdução................................................................................................................................1
1.2.Problema...................................................................................................................................2
1.3.Hipóteses...................................................................................................................................2
1.4.Justificativas.............................................................................................................................2
1.5.Objectivos da pesquisa............................................................................................................3
1.5.1.Objectivo geral........................................................................................................................3
1.5.2.Objectivos específicos............................................................................................................3
1.6.Estrutura do trabalho..............................................................................................................3
CAPÍTULO II: QUADRO TÉORICO............................................................................................4
2.1. Noção de responsabilidade civil.............................................................................................4
2.2. Origem e evolução histórica Da Responsabilidade civil......................................................6
2.3. Pressupostos da responsabilidade Civil................................................................................7
2.3.1. Facto voluntário do lesante....................................................................................................7
2.3.2.Ilicitude do acto......................................................................................................................8
2.3.3. Culpa ou imputação do facto ao agente.................................................................................9
2.3.4. Dano ou prejuízo..................................................................................................................10
2.3.4. Nexo causal entre o facto e o dano......................................................................................10
2.4. Conceito de acidente de trabalho........................................................................................11
2.5. Características essenciais do acidente de trabalho............................................................13
2.6. Acidentes de Trabalho..........................................................................................................14
2.6.1. Acidente de Trabalho...........................................................................................................14
2.6.2. Conceito de acidente de trabalho.........................................................................................14
2.7. Características essenciais do acidente de trabalho............................................................16
2.7. Requisitos do acidente de trabalho.....................................................................................18
2.8. Descaracterização do Acidente de Trabalho......................................................................20
2.81.Exclusão, redução ou agravamento por acidente de trabalho................................................20
2.9.Causas de descaracterização.................................................................................................21
CAPÍTULO III: METODOLOGIA DA PESQUISA....................................................................31
3.1. Pesquisa quanto a abordagem.............................................................................................31
3.2. Pesquisa quanto aos objectivos............................................................................................31
3.3. Pesquisa quanto aos Procedimentos Metodológicos..........................................................31
3.4. Instrumentos e Procedimentos de colecta de dados da pesquisa......................................32
3.5. Estratégia de análise e interpretação de dados..................................................................32
3.6. Estratégia da Interpretação.................................................................................................32
CAPITULO IV: APRESENTAÇÃO, ANÁLISE E DISCUSSÃO DOS RESULTADOS...........33
5.1. Discricionariedade judicial na quantificação do dano moral resultante de acidentes de
trabalho.........................................................................................................................................33

VII
5.2. O dever de indemnizar o trabalhador por danos morais decorrentes do acidente do
trabalho.........................................................................................................................................34
CAPITULO V: CONSIDERAÇÕES FINAIS...............................................................................37
6.1. Conclusão...............................................................................................................................37
6.2.Recomendações......................................................................................................................39
Bibliografias..................................................................................................................................40

VIII
CAPITULO I – ENQUADRAMENTO DO TRABALHO

1.1.Introdução

A presente monografia subordina – se a seguinte temática: A quantificação do dano moral


resultante de acidentes de trabalho no ordenamento jurídico moçambicano. Como se sabe,
nos dias que correm, e em sociedades cada vez mais urbanizadas, como é o caso de
Moçambique, os acidentes de trabalho constituem uma realidade inegável. Estes resultam dos
mais diversos motivos, tais como, a inexistência de condições de trabalho para o exercício de
certas actividades, o incumprimento culposo das normas de funcionamento de uma determinada
actividade, tanto pelo trabalhador como pelo empregador, entre outros, portanto, esta pesquisa
tem como a seguinte questão de partida: quais são as formas de quantificação do dano moral do
trabalhador resultante de acidentes de trabalho no ordenamento jurídico moçambicano?

De forma geral, pretendemos analisar o problema da quantificação do dano moral no direito


civil no ordenamento jurídico moçambicano, outrossim, pretendemos especificamente analisar os
limites do poder discricionário do juiz no âmbito da quantificação do dano moral, analisar o
dever de imdemnizar o trabalhador decorrente do acidente do trabalho.

A escolha deste tema assenta em determinadas razões, razões essas que influenciaram a
escolha do tema, para aprofundar o estudo do acidente de trabalho, os danos causados pelos
trabalhadores habitualmente, assim como, a forma em que se configura a responsabilidade civil
do empregador no acidente de trabalho, em tais casos normalmente pelas incessantes discussões
doutrinárias e jurisprudenciais que tal tema suscita

O trabalhador, sendo a parte mais fraca, necessita de uma protecção caso venha ocorrer algum
infortúnio no ambiente laboral, tal protecção se condensa na responsabilidade civil da empresa,
nos casos de acidentes do trabalho. A conquista de uma maior protecção nas relações laborais
para a classe mais fraca, à dos empregados, actualmente se depara com uma tendência de
desaceleração, devido ao grande aumento do mercado capitalista interno e externo do país e da
constante busca pelo aumento dos lucros pelas empresas e empregadores, objectivando o
domínio do mercado na sua área de actuação.

1
A pesquisa em destaque é qualitativa pelo facto, de apresentar dados sobre uma realidade (a
quantificação do dano moral resultante de acidentes de trabalho), e o pesquisador como elemento
chave apenas vai descrever e interpretar o fenómeno como advoga que pesquisa qualitativa é
aquela que consiste na interpretação dos fenómenos e atribuição de significados.

1.2.Problema

Pelas situações constantes dos acidentes de trabalho emergidos no âmbito laboral, na qual muitas
vezes o trabalhador sofre a lesão em sua esfera jurídica e que maioritariamente não tem tido um
reparo satisfatório, no seio disto, urge a indignação no seguinte sentido:

 Em que medida é quantificado o dano moral do trabalhador que resulta de


acidentes de trabalho no ordenamento jurídico moçambicano?

1.3.Hipóteses

Hipótese 1: O dano moral é quantificado na medida do dano originado pelo acidente do trabalho
através da análise da consequência resultante do tal evento.

Hipótese 2: Abnega-se a existência de uma fórmula para a quantificação do dano moral, sucede
que ao aplicador da Lei é lhe sujeito o poder discricionário a cada situação a que lhe é submetida.

1.4.Justificativas

A escolha deste tema assenta em determinadas razões, razões essas que influenciaram a
escolha do tema, para aprofundar o estudo do acidente de trabalho, os danos causados pelos
trabalhadores habitualmente, assim como, a forma em que se configura a responsabilidade civil
do empregador no acidente de trabalho, em tais casos normalmente pelas incessantes discussões
doutrinárias e jurisprudenciais que tal tema suscita.

Pretendemos contribuir para o debate em torno da protecção e efectivação jurisdicional dos


direitos do trabalhador no que concerne aos acidentes de trabalho, bem como a necessidade da
sua divulgação junto da sociedade civil, o seu interesse dogmático ou científico.

2
Assim, este estudo vai contribuir na identificação dos sujeitos, sobre que recai a
responsabilidade pelos danos neste caso, bem como a medida desta responsabilidade em termos
de valores indemnizatórios.

1.5.Objectivos da pesquisa

1.5.1.Objectivo geral

 Analisar o problema da quantificação do dano moral no direito civil no ordenamento


jurídico moçambicano.

1.5.2.Objectivos específicos

 Analisar os limites do poder discricionário do juiz no âmbito da quantificação do dano


moral;
 Analisar as principais causas de acidente de trabalho.
 Identificar quando é que se configura o acidente de trabalho.
 Determinar a responsabilidade civil do empregador face ao dano moral resultante dos
acidentes de trabalho.

1.6.Estrutura do trabalho

A presente pesquisa apresenta-se com cinco (5) capítulos estruturados da seguinte forma: No
primeiro capítulo é apresentada o enquadramento do trabalho, onde evidenciamos a introdução,
problema, justificativas e os objectivos do trabalho.

No segundo capítulo encontramos o quadro teórico e a revisão de literatura. O terceiro capítulo é


reservado à metodologia da pesquisa. O quarto capítulo é reservado à apresentação do objecto de
estudo e interpretação dos resultados obtidos como base em entrevistas.

Por último, temos a conclusão, onde constam as recomendações que se puderam tirar com a
pesquisa, as referências bibliográficas utilizadas na elaboração do trabalho.

3
CAPÍTULO II: QUADRO TÉORICO

2.1. Noção de responsabilidade civil

De um modo geral, o termo responsabilidade civil tem, em Direito, ricos e variados


significados. O sentido básico, inferido, aliás, da próxima expressão, é o de possibilidade de
responder por alguma coisa1. Essa possibilidade pode, pelo menos, ser entendida em dois
sentidos, ético e fáctico.

Em sentido ético, a responsabilidade civil é a imputabilidade, a uma pessoa, de determinado


facto. Em sentido fáctico, responsabilidade traduz a sujeitabilidade de algo às consequências
derivadas de determinada ocorrência. Neste último sentido deve ser entendida a responsabilidade
patrimonial, os direitos patrimoniais das pessoas sujeitam-se às consequências do inacatamento
das normas obrigacionais.

O Código Civil trata de duas responsabilidades, a contratual e a extracontratual. A primeira


regula o cumprimento, as formas e efeitos das obrigações. A segunda corresponde a
responsabilidade por factos ilícitos, pelo risco e por factos lícitos danosos.

Muitos doutrinadores criticam este modelo dualista, quando concluem que os efeitos do dano
serão os mesmos, seja ele oriundo de um contrato preexistente ou não. O modelo dualista,
porém, apresenta o elemento prova como diferença primordial nas duas espécies de
responsabilidade, o que reforça o tratamento adoptado.

Citando o ónus da prova como principal diferença entre as espécies de responsabilidade


esclarece que se a responsabilidade é contratual, fica o credor obrigado simplesmente a
demonstrar que a prestação não foi cumprida, eximindo-se o devedor da reparação do dano, neste
caso, somente se provar a ocorrência de alguma das excludentes da responsabilidade admitidas
legalmente, como a culpa exclusiva da vítima, o caso fortuito ou força maior, ou seja, sua culpa é
presumida; mas se a responsabilidade é extracontratual, o lesado fica incumbido de provar que
da conduta do agente foi causado um dano e que este agente agiu com culpa2.

1
VARELA, João de Matos Antunes, Das Obrigações em Geral, Vol.I, 10ª Edição, Coimbra, Almedina, 1996, p.
496.
2
GONÇALVES, Carlos Roberto, Direito Civil brasileiro: responsabilidade civil, 6.ed. São Paulo: Saraiva, 2011.

4
A diferença primordial entre a responsabilidade contratual e a responsabilidade
extracontratual reside na existência ou não de um ajuste firmado entre o agente causador do dano
e o agente lesado.

A fonte da responsabilidade contratual reside em uma obrigação prevista em contrato prévio


que fora violada ou inadimplida. Vale destacar que este contrato firmado entre as partes pode ser
expresso ou tácito, conforme se constata no caso da pessoa que sobe transporte colectivo,
surgindo para a empresa de transporte, a obrigação implícita de conduzir o passageiro, sã e salvo
até o seu destino; trata-se de um contrato tácito de adesão.

A responsabilidade extracontratual por sua vez, nasce com o descumprimento de um dever ou


norma legal ou como muitos ponderam, descumprimento de um “dever geral”. Não se verifica aí
nenhum vínculo jurídico existente entre o agente causador do dano e a vítima ao tempo da
prática do ato danoso.

Segundo MENEZES CORDEIRO3, a responsabilidade civil consistirá numa situação jurídica


em que se encontra uma pessoa que, por força de uma determinada ocorrência, vê formar-se na
sua esfera jurídica um dever de indemnizar outrem, cominado pelo Direito. Portanto, a
responsabilidade civil é um dos princípios orientadores do Direito Civil moderno e consiste na
obrigação de reparar um dano ou prejuízo causado a outrem4.

Trata-se, portanto, de uma obrigação que nasce directamente da lei pois, diferentemente das
outras fontes das obrigações, as obrigações emergentes da responsabilidade civil derivam da
própria lei na medida em que é ela que obriga ao agente a reparar o dano causado ao lesado,
sendo deste modo ineficaz a pura vontade das partes.

O regime jurídico da responsabilidade civil varia conforme as espécies dela decorrente, ou


seja, a responsabilidade civil extra-contratual encontra-se (basicamente) regulado no art. 483, do
CC, a contratual nas disposições que regulam o incumprimento das obrigações, art. 799, número
1 do CC, e, finalmente reparação de danos no art. 564, número 1 das modalidades da obrigação.

3
CORDEIRO, Menezes, Direito das Obrigações, Vol. II, Associação Académica da Faculdade de Direito da
Universidade de Lisboa, 1980, p.258.
4
COSTA, Mário Júlio de Almeida, Direito das Obrigações, 6ª Edição, Almedina, Coimbra, 1994, p.103.

5
2.2. Origem e evolução histórica Da Responsabilidade civil

Deste modo, é de todo necessário proceder uma breve abordagem histórica deste instituto, no
que se refere a sua origem histórica e evolução ao longo do tempo.

A responsabilidade civil, por sua vez, teve origem no direito romano, tendo nascido misturada
com a responsabilidade criminal, com a ideia de vingança privada, como previa a Lei das XII
Tábuas. Posteriormente, com o advento da Lex Aquilia, foi introduzido o elemento subjectivo
culpa, sendo a pena proporcional ao dano causado como meio de reparação. Assim surgiu o
termo responsabilidade aquiliana, que refere-se a responsabilidade subjectiva, prevendo a
necessidade do elemento culpa para que o agente causador do dano tenha o dever de repará-lo5.

Desde já importa dizer que inicialmente não havia uma clara distinção entre os diferentes tipos
de responsabilidade, nomeadamente, a civil, criminal, moral, administrativa e outras.

Antes da existência dos Estados modernos, existiam estruturas sociais organizadas


politicamente sobre o comando de líderes reconhecidos e legitimados pelos respectivos povos.
Nestas estruturas, quando alguém transgredia as regras locais, o lesado tinha faculdade de puni-
lo, tal como refere ALMEIDA COSTA, quando o indivíduo sofre um dano na sua esfera jurídica,
sem uma causa justificativa, ele gozava de um direito subjectivo a vingança. Era um direito
reconhecido a vítima, que consistia no meio natural da reparação do dano causado a vitima e
simultaneamente a punição do seu autor6.

Porém esta punição nem sempre era proporcional ao dano sofrido, pelo facto de tratar-se de
uma reacção quase instintiva contra o mal sofrido, baseada na causalidade material entre a acção
humana violadora da ordem jurídica e o dano, sem tomar em conta a intenção do agente. Em
suma, era uma responsabilidade civil eminente objectiva.

Com o andar dos tempos, os homens passaram a exigir a presença do Estado na punição dos
delitos, cabendo a este fixar o montante das indemnizações pecuniárias e obrigar os ofendidos a

5
GONÇALVES, Carlos Roberto, Direito civil brasileiro: responsabilidade civil, 6.ed. São Paulo: Saraiva, 2011 p.
240
6
COSTA, Mário Júlio de Almeida, Noções Fundamentais do Direito Civil, Almedina, Coimbra, 5ª Edição 2009, p.
102.

6
aceitá-las. Começava deste modo, o instituto da responsabilidade civil consagrado nos códigos
modernos, e que constitui na actualidade uma das mais importantes fontes obrigacionais.

2.3. Pressupostos da responsabilidade Civil

Independente da posição doutrinária quanto à natureza jurídica da responsabilidade civil, é


certo que a responsabilidade civil surge com a ocorrência de um dano, e sua finalidade é reparar
o dano patrimonial e compensar o dano extra-patrimonial. Imperioso se faz então discorrer sobre
os elementos da responsabilidade civil, quais sejam: a conduta a ilicitude, o dano ou prejuízo, o
nexo causal e a culpa, estando esta última, para a responsabilidade objectiva, implícita, ou seja,
desnecessária se faz a prova de sua existência. Considerando a espécie responsabilidade
objectiva, o elemento culpa passou a ser tratado pela doutrina como elemento acidental devido à
falta de generalidade.

2.3.1. Facto voluntário do lesante

Factos voluntários ou actos jurídicos são os factos resultantes de uma vontade humana e tidos
pela ordem jurídica como manifestações de vontade e em maior ou menor medida segundo o
conteúdo dessas volições7.

O facto jurídico humano surge como o primeiro pressuposto da responsabilidade civil, pelo
facto deste ser dominável pela vontade humana.

Este pressuposto visa excluir os factos naturais produtores de danos, pelo facto de estes não
dependerem da vontade humana e serem objectivamente incontroláveis. Ex: casos de força maior
ou circunstâncias fortuitas invencíveis tais como ciclone, inundações, etc.

O facto jurídico pode ser intencional quando o agente causador queira e reveja o resultado
danoso, não intencional ou meramente culposo, quando o agente falte simplesmente os deveres
de diligência, mas não pretendia o resultado danoso, comissivos, quando o facto danoso for
praticado por uma acção positiva facere e omissivos quando são praticados por uma acção
negativa, non facere conforme dispõem os artigos, 483 e 486 do CC respectivamente.

7
PEREIRA, Neves, Introdução ao Direito e às Obrigações, Almedina, Coimbra 1992, p. 234.

7
2.3.2.Ilicitude do acto

A ilicitude consiste na infracção de um dever jurídico, 8 em outras palavras, a ilicitude é a


contrariedade do acto com a ordem jurídica globalmente considerada.

Portanto age ilicitamente aquele que viola os direitos absolutos de outrem ou as obrigações
emergentes de um contrato ou mesmo o indivíduo que dolosa ou culposamente viola uma norma
destinada a tutela de interesse alheio (direitos subjectivos), quando não esteja coberto de
nenhuma causa de exclusão de ilicitude.

No entender de ANTUNES VARELA9, a ilicitude verifica-se pela ocorrência alternativa


de uma das situações prevista no art. 483 número 1, nomeadamente a violação de um direito de
outrem ou de uma disposição legal destinada a protecção de interesse alheios. Entende este
doutrinário que estará compreendido neste preceito a violação dos direitos subjectivos,
concretamente os absolutos10.

Na segunda situação avulta que, paralelamente a violação (directa) do direito subjectivo a


ilicitude pode manifestar-se pela violação das normas que visam tutelar interesses alheios; esta
protecção de interesses normalmente ocorre mediata.

A protecção a que nos referimos devem estar entre os fins usados pela norma e, por fim,
o dano havido deve enquadrar-se nos limites da protecção pretendida. No tocante a figura da
ilicitude como pressuposto para a compleição dos requisitos das responsabilidades civil, impõe-
se nos afirmar que tal não se verificará caso ao lado da prática do facto, concorra uma causa
excluídora da ilicitude ou que justifique o facto praticado.

2.3.3. Culpa ou imputação do facto ao agente

Diz – se imputável a pessoa com capacidade natural para prever os efeitos e medir o valor
dos actos que pratica11. E para a responsabilização não basta que a pessoa seja imputável é
necessário que esta tenha agido com culpa e a culpa exprime um juízo de responsabilidade

8
COSTA, Mário Júlio de Almeida, Direito das Obrigações, 6ª Edição, Almedina, Coimbra1994, p. 469.
9
VARELA, J. M. Antunes, das Obrigações em geral, 9ª Edição, Almedina 1996, Vol. I, p. 524
10
Estes correspondem a faculdade de um titular do direito poder exigir de todos que se abstenham de praticar actos
que possam perturbar o gozo do referido direito.
11
VARELA, J. M. Antunes, das Obrigações em geral, 9ª Edição, Almedina 1996, Vol. I, P. 583.

8
pessoal da conduta do agente; o lesante, em face das circunstâncias específicas do caso devia e
podia ter agido de outro modo. É um juízo que assenta no nexo existente entre o facto praticado e
a vontade do lesante12.

Este requisito afasta a responsabilidade civil decorrente de actos danosos praticados pelos
inimputáveis13. Relativamente a imputabilidade importa referir que o art. 488 do CC necessita,
para existência desta, que o agente tenha o discernimento e a necessária capacidade de
entendimento, para o efeito, por presunção (em certos casos elidível, como os artigos 491 do
CC), consagra que os menores de 7 anos e interditos por anomalia psíquica são inimputáveis.

A culpa consistirá numa ligação psicológica entre a vontade e o facto verificado, que de
imediato terá como efeito um juízo de censura pelo facto de o agente ter agido ilicitamente
quando podia e devia ter agido de modo diverso. A culpa pode revestir nas modalidades de dolo
ou negligência (também conhecida como mera culpa)14.

A negligência consiste numa omissão de deveres de cuidado, onde o agente prevê o


resultado como possível, porém, por incúria, imprudência ou imperícia não toma as medidas
necessariamente adequadas para evitá-lo (negligência consciente); ou quando o agente, não
prevendo o resultado danoso, mas podendo prevê-lo, não actua cautelosamente a fim de evita-lo
(negligência inconsciente)15.

No dolo, como escreve ALMEIDA COSTA, caberão elemento volitivo, que consiste no
facto de o agente praticar o acto com o querer ou intenção malévola de produzi-lo e, a posterior,
aceitar os resultados decorrentes desta pratica, e o elemento intelectual consiste no conhecimento

12
Idem, p. 587.
13
Assim considera-se imputáveis os interditos por anomalia psíquica, os menores de 7 anos ou aqueles que no
momento da pratica do acto não tinham capacidade para querer ou entender, nos termos do art. 488.
14
A extrema relevância em estudar separadamente o dolo da negligencia: em direito criminal a utilidade prática
desta distinção assenta no facto de a presença de um ou de outro poder mudar a qualificação do tipo penal. Pelo que
em direito civil, a qualificação da responsabilidade civil por factos ilícitos mantêm-se, tanto como o dolo (eventual)
ou negligência (consciente), ou seja, a lei, art. 483 número 1, do CC, simplesmente “apraz-se” com a presença do
dolo ou mera culpa, contudo, a relevância em examina-los separadamente decorre do facto de afixação do quantum
da indemnização depender, quanto ao agente, de todas as circunstâncias que envolveram a pratica do facto dito
concretamente quando se verifique a mera culpa, tal como reza o art. 494 do CC, o montante da indemnização pode
ser reduzido caso o agente tenha praticado do facto sob égide de uma omissão de deveres de cuidados.
15
ANA, Prata. Ob. Cit. p. 357.

9
das circunstâncias objectivas que envolvem a pratica do acto. Aqui, o agente representará todo
iter factual, inclusivamente o resultado16.

2.3.4. Dano ou prejuízo

Dano ou prejuízo é toda ofensa de bens ou interesses alheios protegidos pela ordem
jurídica17. O dano é o pressuposto fundamental da responsabilidade civil. É com base no dano e
na sua extensão, que se fixa o montante de indemnização, realizando-se a finalidade da
responsabilidade civil: a reparação ou reintegração da lesão.

Os danos classificam-se em várias modalidades, a saber:

 Danos emergentes, aqueles que decorrem da violação de um direito, ou seja,


emergem a partir do momento da constituição da obrigação de indemnizar.
 Lucros cessantes, são os benefícios que o lesado deixou de ganhar em virtude da
ocorrência do dano.
 Danos patrimoniais, aqueles que para além de serem susceptíveis de avaliação
pecuniária repercutem-se directamente do património do ofendido.
 Danos não patrimoniais, os que não são passíveis de avaliação pecuniária ou em
somas de dinheiro.

2.3.4. Nexo causal entre o facto e o dano

Para além do facto e o do dano, é necessário que entre estes dois elementos exista uma
ligação, um facto constitua a causa do dano. ALMEIDA COSTA apresenta o nexo de
causalidade como a ligação que se estabelece entre o facto praticado pelo agente e o dano sofrido
pela vítima.

O nexo de casualidade é um elemento crucial na medida em que, ainda que haja dano
causado por indivíduo, se não existe o nexo entre o facto e o dano, não se poderá falar de
responsabilidade civil. Este pressuposto, está consagrado no número 1 do art. 483 CC,
estabelecendo que o agente está adstrito a indemnizar pelos danos resultantes da violação. Para

16
O dolo pode assumir as modalidades de dolo directo, necessário e eventual.
17
COSTA, Mário Júlio de Almeida – Direito das Obrigações, 6ª Edição, Almedina, Coimbra1994, p. 542.

10
tal, deverão ser estudadas certas teorias, do seu exame se inferirá se há ou não a ralação entre o
facto e o dano, de entre elas cumpre destacar a da causalidade adequada.

Ao abrigo da teoria retro – aludida, em matéria da responsabilidade civil deverá ser


cominado a alguém o dever de indemnizar se a sua conduta, analisada abstractamente, sob óptica
de um bom pai de família e atendendo as regras gerais da vida, pudesse ou devesse reputar-se
com idónea para causar um dano, isto numa perspectiva prognose póstuma (a posterior). Aqui,
como refere MENEZES LEITÃO, podem, também, concorrer circunstâncias anormais desde que
recognoscíveis ou cognoscíveis pelo agente. O regime jurídico do nexo causal no CC encontra-se
no art. 563, segundo o qual a obrigação de indemnização só existe em relação aos danos que o
lesado provavelmente não teria sofrido se não fosse a lesão18.

2.4. Conceito de acidente de trabalho

A noção geral de acidente leva a ideia de algo intimamente ligado à desgraça, à fatalidade, a
acontecimentos fortuitos e até mesmo anormais, os quais resultam em consequências
desagradáveis, muitas vezes de ordem material. Se afecta pessoas se converte em um acidente
humano, e, se for em razão do trabalho, interessam as regras de infortunística laboral.19

Hertz Costa chama a atenção para o nexo de causa e efeito do infortúnio, ou seja,
acontecimento que surge comummente no ambiente de trabalho ou em razão da execução dele”,
como também para a sua prejudicialidade, seja ela psíquica ou física, como características
essenciais do acidente de trabalho.20

Neste aspecto é necessário destacar que não há uniformidade de posição entre os


legisladores dos diferentes países, porque se de um lado uns fornecem uma definição legal de
acidente de trabalho, outros limitam se a fornecer critérios que julgam adequados para se aferir o
que seja acidente de trabalho.

O legislador dos países que fornecem o conceito de acidente de trabalho, fá-lo em nome da
certeza e segurança jurídica, obstando-se deste modo a interpretações diversas sobre os mesmos

18
MENEZES, Leitão. Ob. Cit. P. 326
19
HERTZ, Jacinto Costa, Manual de acidente do trabalho, 3ª Edição, Curitiba: Juruá, 2009. p. 75.
20
Idem, pp. 78 – 81.

11
factos, que nalguns casos poderiam prejudicar principalmente o trabalhador, como parte
vulnerável na relação jurídico-laboral.

O legislador moçambicano assumiu uma posição eclética na medida em que estabelece uma
definição de acidente de trabalho no nº.1 do artigo 222 da LT, mas nas alíneas do nº2, do mesmo
preceito legal, procede a uma enumeração de outras situações reputadas pelo legislador como
configurando o acidente de trabalho (alguns autores consideram isso de extensão do conceito do
conceito que vem no nº1)

Etimologicamente, o termo acidente de trabalho provem do latim accidens (cadere ad), que
significa, o acontecimento não intencionalmente provocado, de carácter anormal e inesperado,
gerador de consequências danosas, o acidente de trabalho é o sinistro sofrido, por um trabalhador
por conta de outrem, durante ou por causa do seu trabalhador de que resulte lesão ou doença
legalmente tipificada.

Na doutrina e particularmente em medicina legal define-se acidente de trabalho como sendo


aquele que ocorre pelo exercício de uma actividade ao serviço ou empresa, ou ainda no exercício
do trabalho dos segurados especiais, provocando lesão corporal ou perturbação funcional que
causa a morte, perda ou redução de capacidade de trabalho permanente ou temporariamente.
Considera-se igualmente acidente de trabalho o que ocorre no percurso da residência para o
trabalho, ou deste para aquela. Independentemente do meio de transporte e desde que não tenha
havido alterações relevantes do itinerário para o cumprimento de interesse pessoais (acidente de
trajecto ou in itinere) sendo que esta situação não se aplica a legislação laboral moçambicana.

Na ordem jurídica interna há duas abordagens. A primeira, em que se define n º, 1 do artigo


222 da LT, o que entende se por acidente de trabalho. Com efeito, neste preceito considera-se
acidente de trabalho o sinistro que se verifica, no local de trabalho e durante o trabalho, desde
que produza directa ou indirectamente, no trabalhador subordinado lesão corporal, perturbação
funcional ou doença de que resulte a morte ou redução na capacidade de trabalho ou ganho.

A segunda corresponde a indicação de outras situações compreendidas na definição


constante do nº.1 do artigo 222 da LT, que constituem uma extensão do conceito de acidente de
trabalho. Tais situações têm a particularidade de os eventos lesivos por vezes não ocorrerem

12
dentro da empresa, nem durante a prestação de trabalho e muito menos, no tempo normal de
trabalho. O legislador procurou deste modo salvaguardar os interesses do trabalhador através da
extensão do conceito de acidente de trabalho para essas situações jurídicas do trabalhador em
relação ao empregador ou a realização de uma prestação pelo trabalhador da qual poderá resultar
benefício económico para a entidade patronal.

2.5. Características essenciais do acidente de trabalho

A caracterização de acidentes de trabalho está longe de ser completa e correcta. Vejamos


porquê:

Desde logo, em torno da causa exterior21 levantam-se inúmeras dúvidas como a de saber se a
origem da lesão tinha que resultar de uma acção directa sobre o corpo humano ou se bastava uma
acção indirecta, se tinha que actuar de forma violenta ou se podia insinuar-se sem violência22.

O acontecimento exterior é, portanto, um critério cuja verificação é extremamente variável e


relativa.

Coloca-se uma outra dúvida, deve esta ser física ou pode uma causa moral estar na origem de
um acidente. A doutrina divide-se na resposta a esta questão. Por um lado, CUNHA
GONÇALVES23 afirma que não, embora reconheça que qualquer uma dessas causas possa
causar forte perturbação mental ou agravar doença latente24.

21
Segundo FAUSTO DE COMPADRI/PIERO GUALTIEROTTI (L’Assicrazione Obbligatoria contro Gli Infortuni
sul Lavoro e le Malattie Professionali, Seconda Edizione, Giuffrè Editore, Milano 1999, p. 188), “A causa violenta é
representada por um facto externo que ocorre rapidamente e da qual depende ou deriva a lesão”. Os referidos autores
dizem ser necessário e suficiente, para ser qualificado como causa exterior, o dano verificado no organismo do
trabalhador, operando ab estrinseco através de uma acção determinada e concentrada no tempo, enquanto defendem
não serem indispensáveis os requisitos da subitaneidade ou da imprevisibilidade do facto lesivo. Após análise desta
característica, definem, em suma, a “causa violenta” enquanto “um facto, uma acção, uma força exterior, rápida e
intensa, que é proveniente do trabalho e é causa eficiente do dano…”.
22
“O seguro cobre todos os casos de acidentes devidos a causa violenta durante o tempo de trabalho, da qual derive
a morte ou uma incapacidade permanente para trabalhar, absoluta ou parcial, ou uma incapacidade temporária
absoluta que importe uma suspensão do trabalho por mais de três dias” (GIULIANO MAZZONI, Manuale di
Diritto del Lavoro, volumen secondo, sesta edizione, Giuffrè Editore, Milano, 1990, p. 71). Para o citado autor
italiano, são três os elementos essenciais: a (1) causa violenta, (2) o evento danoso, ocorrido (3) durante a prestação
do trabalho.
23
CUNHA GONÇALVES, Responsabilidade Civil pelos Acidentes de Trabalho e Doenças Profissionais, Coimbra
Editora, Coimbra, 1939, p.31.
24
VAN GOSSUM (ob. cit., p. 24) indica como exemplo de causa exterior “A força exercida pelo trabalhador
enquanto utiliza o seu próprio corpo como uma alavanca para realizar um movimento”.

13
2.6. Acidentes de Trabalho

2.6.1. Acidente de Trabalho

2.6.2. Conceito de acidente de trabalho

A noção geral de acidente leva a ideia de algo intimamente ligado à desgraça, à


fatalidade, a acontecimentos fortuitos e até mesmo anormais, os quais resultam em
consequências desagradáveis, muitas vezes de ordem material. Se afecta pessoas se converte em
um acidente humano, e, se for em razão do trabalho, interessam as regras de infortunística
laboral.25

Hertz Costa chama a atenção para o nexo de causa e efeito do infortúnio, ou seja,
acontecimento que surge comummente no ambiente de trabalho ou em razão da execução dele,
como também para a sua prejudicialidade, seja ela psíquica ou física, como características
essenciais do acidente de trabalho.26

Neste aspecto é necessário destacar que não há uniformidade de posição entre os


legisladores dos diferentes países, porque se de um lado uns fornecem uma definição legal de
acidente de trabalho, outros limitam se a fornecer critérios que julgam adequados para se aferir o
que seja acidente de trabalho.

O legislador moçambicano assumiu uma posição eclética na medida em que estabelece uma
definição de acidente de trabalho no nº.1 do artigo 222 da LT, mas nas alíneas do nº2, do mesmo
preceito legal, procede a uma enumeração de outras situações reputadas pelo legislador como
configurando o acidente de trabalho (alguns autores consideram isso de extensão do conceito do
conceito que vem no nº1).

Etimologicamente, o termo acidente de trabalho provem do latim accidens (cadere ad), que
significa, o acontecimento não intencionalmente provocado, de carácter anormal e inesperado,
gerador de consequências danosas, o acidente de trabalho é o sinistro sofrido, por um trabalhador
por conta de outrem, durante ou por causa do seu trabalhador de que resulte lesão ou doença
legalmente tipificada.

25
HERTZ, Jacinto Costa. Manual de acidente do trabalho. 3ª Edição, Curitiba: Juruá, 2009. p. 75.
26
Idem. pp. 78,81.

14
Na doutrina e particularmente em medicina legal define-se acidente de trabalho como sendo
aquele que ocorre pelo exercício de uma actividade ao serviço ou empresa, ou ainda no exercício
do trabalho dos segurados especiais, provocando lesão corporal ou perturbação funcional que
causa a morte, perda ou redução de capacidade de trabalho permanente ou temporariamente.

Considera – se igualmente acidente de trabalho o que ocorre no percurso da residência para o


trabalho, ou deste para aquela. Independentemente do meio de transporte e desde que não tenha
havido alterações relevantes do itinerário para o cumprimento de interesse pessoais (acidente de
trajecto ou in itinere) sendo que esta situação não se aplica a legislação laboral moçambicana.

Na ordem jurídica interna há duas abordagens. A primeira, em que se define n º, 1 do artigo


222 da LT, o que entende se por acidente de trabalho. Com efeito, neste preceito considera-se
acidente de trabalho o sinistro que se verifica, no local de trabalho e durante o trabalho, desde
que produza directa ou indirectamente, no trabalhador subordinado lesão corporal, perturbação
funcional ou doença de que resulte a morte ou redução na capacidade de trabalho ou ganho.

A segunda corresponde a indicação de outras situações compreendidas na definição constante


do nº.1 do artigo 222 da LT, que constituem uma extensão do conceito de acidente de trabalho.
Tais situações têm a particularidade de os eventos lesivos por vezes não ocorrerem dentro da
empresa, nem durante a prestação de trabalho e muito menos, no tempo normal de trabalho.

O legislador procurou deste modo salvaguardar os interesses do trabalhador através da


extensão do conceito de acidente de trabalho para essas situações jurídicas do trabalhador em
relação ao empregador ou a realização de uma prestação pelo trabalhador da qual poderá resultar
benefício económico para a entidade patronal.

2.7. Características essenciais do acidente de trabalho

A caracterização de acidentes de trabalho está longe de ser completa e correcta. Vejamos


porquê:

15
Desde logo, em torno da causa exterior 27 levantam-se inúmeras dúvidas como a de saber
se a origem da lesão tinha que resultar de uma acção directa sobre o corpo humano ou se bastava
uma acção indirecta, se tinha que actuar de forma violenta ou se podia insinuar-se sem
violência28.

O acontecimento exterior é, portanto, um critério cuja verificação é extremamente


variável e relativa.

Coloca-se uma outra dúvida, deve esta ser física ou pode uma causa moral estar na origem de
um acidente. A doutrina divide-se na resposta a esta questão. Por um lado, CUNHA
GONÇALVES29 afirma que não, embora reconheça que qualquer uma dessas causas possa
causar forte perturbação mental ou agravar doença latente30.

Temos assim que a causa do acidente não tem, obrigatoriamente de ser exterior, podendo,
pelo contrário, advir do próprio organismo do trabalhador, como é o caso do surgimento de um
edema pulmonar, insuficiência cardíaca, lombalgia ou até o stress. Esta causa pode também advir
de um factor macrobiótico ou viral que penetre no organismo humano, determinando a alteração
do equilíbrio anatomico-fisiologico do trabalhador.

Desta forma, a causa do acidente, exterior ou intrínseca ao organismo do trabalhador,


pode surgir de factor biológico, humano, natural ou relacionado com o ambiente físico do local
de trabalho (queda de um fardo de palha num celeiro na cabeça do trabalhador que o deixa

27
FAUSTO DE COMPADRI/PIERO GUALTIEROTTI (L’Assicrazione Obbligatoria contro Gli Infortuni sul
Lavoro e le Malattie Professionali, Seconda Edizione, Giuffrè Editore, Milano 1999, p. 188), “A causa violenta é
representada por um facto externo que ocorre rapidamente e da qual depende ou deriva a lesão”. Os referidos autores
dizem ser necessário e suficiente, para ser qualificado como causa exterior, o dano verificado no organismo do
trabalhador, operando ab estrinseco através de uma acção determinada e concentrada no tempo, enquanto defendem
não serem indispensáveis os requisitos da subitaneidade ou da imprevisibilidade do facto lesivo. Após análise desta
característica, definem, em suma, a “causa violenta” enquanto “um facto, uma acção, uma força exterior, rápida e
intensa, que é proveniente do trabalho e é causa eficiente do dano…”.
28
“O seguro cobre todos os casos de acidentes devidos a causa violenta durante o tempo de trabalho, da qual derive
a morte ou uma incapacidade permanente para trabalhar, absoluta ou parcial, ou uma incapacidade temporária
absoluta que importe uma suspensão do trabalho por mais de três dias” (GIULIANO MAZZONI, Manuale di
Diritto del Lavoro, volumen secondo, sesta edizione, Giuffrè Editore, Milano, 1990, p. 71). Para o citado autor
italiano, são três os elementos essenciais: a (1) causa violenta, (2) o evento danoso, ocorrido (3) durante a prestação
do trabalho.
29
CUNHA GONÇALVES, Responsabilidade Civil pelos Acidentes de Trabalho e Doenças Profissionais, Coimbra
Editora, Coimbra, 1939, p.31.
30
VAN GOSSUM (ob. cit., p. 24) indica como exemplo de causa exterior “A força exercida pelo trabalhador
enquanto utiliza o seu próprio corpo como uma alavanca para realizar um movimento”.

16
paraplégico, uma alteração brusca da temperatura de um frigorífico de um talho, adequada a
provocar uma alteração do organismo do trabalhador), certo é que integrem o risco específico da
actividade laboral ou um risco genérico agravado31.

Como escreveu VICTOR RIBEIRO32 para que se desencadeie o dispositivo legal


reparatório, torna-se necessário que alguma coisa aconteça no plano das coisas sensíveis. Algo
que seja, enfim, uma condição ou causa próxima da produção do dano indemnizável; tudo o que
é susceptível de alterar o equilíbrio anterior; tudo quanto viole esse equilíbrio, quer seja uma
explosão, quer seja uma emanação de gás tóxico, um golpe de frio ou calor, ou mesmo uma
situação particularmente angustiante, ou de trabalho excessivo que faça, por exemplo,
desencadear um ataque cardíaco ou uma perturbação mental33.

A característica da subitaneidade possibilita localizar o acidente no tempo, até ao minuto,


mesmo que a lesão corporal se manifeste muito mais tarde, permitindo distinguir o acidente da
doença profissional, caracterizada esta última por uma evolução lenta. Contudo, existem zonas
cinzentas em que a subitaneidade é difícil de se verificar, como acontece nas situações de acção
contínua de um instrumento de trabalho ou do agravamento de uma predisposição patológica ou
das afecções patogénicas contraídas por razão do trabalho34.

Para CUNHA GONÇALVES35, a subitaneidade do facto, com os seus dois elementos a


imprevisão e a limitação de tempo, é característica essencial do acidente, pois não pode ser assim
designada uma lesão que, embora produzida durante o trabalho, foi lenta e progressiva. Ainda
que a lesão possa agravar-se pouco a pouco a causa é que será, sempre, súbita: golpe, queda,
hérnia, queimadura, pancada, explosão, entalação, etc.

31
No mesmo sentido, a doutrina italiana: “deve tratar-se de um risco “específico” do trabalho ou, pelo menos, de um
risco genérico agravado do trabalho em si mesmo e e não de um risco genérico que recaia sobre o operário como
sobre um qualquer cidadão” (FAUSTO DE COMPADRI/PIERO GUALTIEROTTI, Ob. Cit., p. 191).
32
Acidentes de Trabalho. Reflexões e Notas Práticas, Rei dos Livros Editor, Lisboa, 1984, pp. 208 a 210.
33
No Ac. de 10.09.2007 do TRP (Acidentes de Trabalho – Jurisprudência, 2000-2007, Colectânea de Jurisprudência
Edições, 2008, pp. 158 a 162) considerou-se que uma intensa pressão psicológica poderia enquadrar-se nas
“situações particularmente angustiantes” por se tratar de um exemplo de uma acção directa, actuando insidiosamente
e que se insinuara sem violência. No caso em concreto a intensa pressão psicológica teria sido provocada pela
alteração do posto de trabalho do trabalhador, contudo, não se provou o nexo de causalidade.
34
De que são exemplo a surdez de uma telefonista ocasionada pelo uso contínuo de auscultadores com acção
continuada sobre as membranas dos tímpanos ou o calo do escrivão resultante de sucessivos microtraumatismos.
35
Apud ALEGRE, ob. cit., p. 38.

17
Conforme CALLERI36, é possível configurar o acidente do trabalho os seguintes requisitos
imprescindíveis à sua caracterização: “existência de um dano (lesão, perturbação funcional,
morte), incapacidade laborativa (temporária ou permanente total ou parcial), e nexo causal
(relação causa e efeito entre o trabalho e o infortúnio).

2.7. Requisitos do acidente de trabalho

Em traços gerais, o regime dos acidentes de trabalho, tutelado pelo Decreto nº 62/2013 de
04 de Dezembro, regula a reparação dos danos emergentes do sinistro na pessoa do lesado,
estipulando as situações em que a mesma deva ser concedida.

Assim, o responsável pela reparação e demais encargos decorrentes do acidente de


trabalho, bem como pela manutenção do posto de trabalho, nos termos previstos na lei, é (a
pessoa singular ou colectiva de direito privado ou de direito público não abrangida por lei
especial, ou seja), o empregador. Por seu turno, o beneficiário dessa responsabilidade, da
reparação dos danos emergentes do acidente de trabalho, é o trabalhador lesado ou o sinistrado e
os seus familiares.

Assim, o acidente de trabalho corresponde a uma determinada situação jurídica,


legalmente definida e geradora de responsabilidade do empregador e note-se que só é
considerado acidente de trabalho aquele evento que corresponder à definição legal.

Os requisitos do acidente de trabalho são vários e dependem muito da natureza do trabalho


e do local onde este é prestado. Para que um acto consubstancie acidente de trabalho é preciso
que haja a verificação cumulativa dos seguintes requisitos: que haja entre vítima e o empregador
uma relação ou contrato de trabalho; que o facto ocorra no local e durante o tempo de trabalho;
que se traduza numa lesão ao trabalhador.

Pode-se, no entanto, destacar duas características básicas do acidente do trabalho que são, o
nexo de casualidade e a prejudicialidade. Para que se configure o acidente de trabalho, este tem
que ocorrer pelo exercício do trabalho a serviço da empresa, segundo BORGES 37 tem que haver

CALLERI, Carla, Auxilio a doença acidentaria reflexos no contrato de trabalho, São Paulo, LTr., 2007, p. 48
36

37
BORGES, Rodrigo Trezza, Acidente de Trabalho. Jus Navigandi, Teresina, ano 8, n. 261, 25 mar. 2004.
Disponível em http:/jus2.uol.com.br/doutrina/texto.asp?id-4990>. Acesso em 22 de Março de 2016 as 19h.

18
casualidade para que haja infortúnio do trabalho. Para isso, a causa do acidente ou doença tem
que ter relação com o trabalho, tem que ser no exercício da actividade para que se tenha
relevância jurídica. O empregado que sofre acidente dentro do ambiente do trabalho ou no
trajecto (o acidente de trajecto está previsto na LT na sua alínea a) do número 2 do art 222).

Quanto à prejudicialidade, significa que o acidente do trabalho precisa ter produzido um dano
corporal físico ou psíquico ao trabalhador, o que será determinado através de análises completa,
independentemente da sua reintegração ao emprego, vislumbrando estabelecer não apenas os
danos físicos e ou psicológicos, como também as consequências económicas e sociais na vida do
trabalhador.

A título de exemplo, temos a inexistência de condições de trabalho para o exercício de certas


actividades, o incumprimento culposo ou doloso das normas de funcionamento de uma
determinada actividade, tanto pelo trabalhador como pelo empregador, entre outras.

Existem portanto factores pessoas tais como a capacidade física ou fisiológica, mental ou
psicológica inadequada para a prestação de certo trabalho, a falta de conhecimentos ou de
habilidades, a baixa motivação entre outros. Existem também as causas inerentes ao ambiente de
trabalho entendido como um todo rodeia o trabalhador e no qual se integram também as
características pessoas do trabalhador.

2.8. Descaracterização do Acidente de Trabalho

2.81.Exclusão, redução ou agravamento por acidente de trabalho

A exclusão, redução ou agravamento por acidente de trabalho seria, teoricamente, possível


através de uma de duas vias. Por via negocial ou devido a causas imputáveis à vítima ou ao
empregador, a força maior ou de acto de terceiro.

Logo, a exclusão ou redução das responsabilidades terão, obrigatoriamente, de resultar da


lei, e apenas a hipótese da exclusão da responsabilidade por acidente de trabalho que
dedicaremos esta parte do nosso estudo, concretamente, a hipótese de descaracterização de
acidente de trabalho.

19
A entidade responsável só está desobrigada da reparação dos danos nas situações
expressamente previstas na lei, enunciadas na última parte do artigo 16 do Decreto nº 62/2013 de
4 de Dezembro. A epígrafe da alínea d) número 1 do artigo 223 da actual Lei do Trabalho refere-
se à descaracterização do acidente, conceito que foi eliminado no Código do Trabalho português,
por se entender que nessas situações não deixa de existir um acidente de trabalho, somente
existem circunstâncias ligadas ao comportamento do trabalhador ou à força da natureza que
afastam a obrigação de reparação.

Assim, o empregador não tem de indemnizar os danos de acidente que for dolosamente
provocado pelo sinistrado ou provier de seu acto ou omissão, que importe violação, sem causa
justificativa, das condições de segurança estabelecidas pelo empregador ou previstas na lei,
provier exclusivamente de negligência grosseira do sinistrado.

Resultar da privação permanente ou acidental do uso da razão do sinistrado, nos termos


do C.C, salvo se tal privação derivar da própria prestação do trabalho, for independente da
vontade do sinistrado ou se o empregador ou o seu representante, conhecendo o estado do
sinistrado, consentir na prestação. Provier de motivo de força maior.

No primeiro caso prevêem-se as situações em que o acidente se deveu à intenção dolosa


do trabalhador, tendo este não só tido a intenção de praticar o acto determinante do acidente
como também querido as suas consequências nocivas. Teoricamente, situam-se aqui as situações
de auto – mutilação e os actos de sabotagem provocados pelo trabalhador motivados pela
intenção de prejudicar o empregador.

Muito importante em termos das obrigações de cumprimento das prescrições de higiene e


segurança na execução do seu trabalho, é a previsão da situação em que o acidente se deveu ao
incumprimento pelo trabalhador, sem causa justificativa, das normas de segurança estabelecidas
pelo empregador e pela lei. Esta violação, se não tiver uma justificação que seja atendível
judicialmente, importa a situação de sinistro não indemnizável.

Ainda, para que se considere relevante a negligência para o efeito de descaracterizar o


acidente, é necessário que o comportamento do trabalhador não se configure como uma actuação

20
que traduz uma habitualidade ao perigo, na situação em que, pela repetição do comportamento,
pela experiência profissional, o trabalhador se conforma com uma conduta menos previdente.

Sendo a negligência grosseira um facto impeditivo do direito de reparação que cabe ao


trabalhador, necessário se torna que ela seja alegada e comprovada pelo empregador para o
desonerar da obrigação de reparar. Também se considera que a situação de privação do uso da
razão pode excluir o dever de reparar, mas sempre se refere que esse facto será irrelevante, em
qualquer destas circunstâncias.

Se a privação do uso da razão derivar da própria prestação do trabalho (por exemplo,


síncopes provenientes da absorção de gases tóxicos emanados de substâncias manipuladas pelo
trabalhador, vertigens provocadas pela execução de trabalhos em lugares elevados), se a privação
do uso da razão for independente da vontade do sinistrado (nomeadamente por ataque
epiléptico), se conhecendo o estado do trabalhador, o empregador ou seu representante, ainda
assim, consentiu na continuidade da prestação do trabalho.

2.9.Causas de descaracterização
Faça – mos por agora, uma análise das circunstâncias enunciadas nos artigos 11 do Decreto
nº 62/2013 de 4 de Dezembro conjugado com 223 da LT, excepcionam o direito à reparação dos
danos provenientes do acidente de trabalho.

O empregador não está obrigado a indemnizar o acidente que for intencionalmente


provocado pelo próprio sinistrado; resultar de negligência indesculpável do sinistrado, por acto
ou omissão de ordens expressas, recebidas de pessoas a quem estiver profissionalmente
subordinada; resultar de actos da vítima que diminuam as condições de segurança estabelecidas
pelo empregador ou exigidas pela natureza particular do trabalho, for consequências das ofensas
corporais voluntarias excepto se estas tiverem relação imediata com outro acidente ou vítima as
tiver sofrido a natureza das funções que desempenha; advier da privação do uso da razão do
sinistrado.

Permanente ou ocasional, excepto se a privava derivar da própria prestação do trabalho ou se


o empregador, conhecendo o estado do sinistrado consentir na prestação; provier de caso de

21
força maior, salvo se constituir risco normal da profissão ou se produzir durante a execução do
serviço expressamente ordenado pelo empregador, em condições de perigo manifesto.

A verificação das circunstâncias previstas no presente artigo não dispensa os empregadores a


obrigação da prestação dos primeiros socorros aos trabalhadores sinistrados e do seu transporte
para uma unidade sanitária.38

A) Dolo do Sinistrado
A al. a) do número 1 do artigo 11 do Decreto nº 62/2013 de 4 de Dezembro, prevê o
acidente que for dolosamente provocado pelo sinistrado ou provier de seu acto ou omissão, que
importe violação, sem causa justificativa, das condições de segurança estabelecidas pelo
empregador ou previstas na lei.

Refere – se, assim, a dois subtipos de circunstâncias:

O primeiro, acidente dolosamente provocado pelo sinistrado39, é aquele em que este


pratica não só o acto determinante do acidente, mas em que também deseja ou se conforma com
todas as consequências.40

A este propósito escreveu CUNHA GONÇALVES que o dolo ou a culpa intencional


consiste não só em ter provocado o acto determinante do acidente, mas ainda em ter querido as
suas consequências nocivas41.

A provocação intencional pode dar-se em dois casos a saber, primeiro quando o operário
se mutila; segundo, quando procede com malevolência. Esta segunda hipótese verifica-se em
todos os casos de sabotagem, por exemplo, inutilização de uma engrenagem, rotura da correia ou
dum cabo de tracção ou de elevação, etc., preparadas para lesar o patrão ou matar algum chefe ou
companheiro, mas que atingem o próprio criminoso.
38
REPÚBLICA DE MOÇAMBIQUE, Decreto nº 62/2013 de 4 de Dezembro, in boletim da Republica, I serie,
Maputo
39
No mesmo sentido, em comentário à lei francesa em vigor à época, DELARUWIÈRE e NAMECHE (ob. cit., p.
90) diziam que “A falha intencional da vítima exclui a aplicação da lei”.
40
É legítimo questionar se para a própria vítima/autor ocorre um acidente, se considerar que este é, por definição,
um acontecimento causal, fortuito, imprevisto e inesperado. Contudo, esta questão é desprovida de interesse prático
já que a própria lei, como já concluímos, considera estas situações acidentes de trabalho, embora exclua o direito à
sua reparação.
41
Responsabilidade Civil por Acidentes…cit., p. 183.

22
Este, além de ter responsabilidade civil e penal, não poderá exigir indemnização e nem
sequer terá direito a tratamento à custa da entidade patronal ou empregadora. Com igual razão,
em caso de morte, não terão direito a qualquer pensão”, nem os sucessores nem o causador
voluntário do acidente.

A noção de dolo utilizada nesta primeira situação é muito próxima do conceito de dolo do
direito penal.42 Exige-se, assim, a consciência do acto determinante do evento e das suas
consequências, assim como a vontade de o praticar. 43 Ou seja, o resultado, mais do que previsto,
deve ser intencional.

É evidente a diferença entre a figura jurídica culpa indesculpável da lei francesa e o dolo
e a culpa grave da doutrina clássica, situando aquela entre o dolo – positiva intenção de causar o
dano e a culpa grave, falta de cuidado ou diligência própria da generalidade dos homens ainda os
menos cuidadosos ou menos diligentes”.

E em termos de conclusão, somos de referir que os actos da vítima que descaracterizam o


acidente são as imprudências e temeridades inúteis, indesculpáveis, mas voluntárias, embora não
intencionais que constituem a falta indesculpável do direito francês.

O dano pode ser dirigido directamente ao próprio trabalhador (suicídio ou auto-


mutilação), como consequência de uma acção primordialmente dirigida a terceiro (empregador,
companheiro de trabalho ou outro).

Como ALEGRE, também nós julgamos duvidoso qual o grau de consciência do acto
exigido, sendo que para o autor parece não dever ser exigível a representação na totalidade das
circunstâncias do acto e suas consequências danosas, bastando-se com algumas e, sobretudo,
com a vontade de as produzir44.

42
MARIA ADELAIDE DOMINGOS, Guião sobre Acidentes de Trabalho, CEJ, XXVII Curso Normal de
Formação de Magistrados, Lisboa, 2008, p. 19;
43
TAIPA DE CARVALHO, Direito Penal – Parte Geral. Teoria Geral Do Crime, Volume II, Publicações
Universidade Católica, Porto, 2004, p. 127
44
TAIPA DE CARVALHO, Direito Penal – Parte Geral. Teoria Geral Do Crime, Volume II, Publicações
Universidade Católica, Porto, 2004, p. 127, p. 60.

23
Assim, segundo AVELINO BRAGA45 doloso é, portanto, todo o acidente
intencionalmente provocado pela vítima, que previamente aceitou as suas consequências nocivas
para obter a respectiva reparação, ou por simples maldade em vista a prejudicar o patrão ou o
companheiro.

A este respeito, é bastante elucidativa a seguinte passagem de SACHET 46 “Por intenção


deve entender-se, não só a vontade de realizar o acto que provoca o acidente, mas ainda o facto
de querer a reparação que é a sua natural consequência.

Agindo desta forma, o trabalhador sinistrado perde o direito a qualquer reparação, sem
prejuízo de poder responder civilmente e criminalmente pela sua conduta.

B) Violação Injustificada das Condições de Segurança


A segunda situação consiste no acidente que provier de acto ou omissão do sinistrado,
que importe violação, sem causa justificativa, das condições de segurança estabelecidas pelo
empregador ou pela lei47. Aqui, atribui-se ao sinistrado uma espécie de culpa qualificada. Devem
verificar-se cumulativamente as seguintes circunstâncias, que enunciamos sumariamente, para
que não haja direito à reparação:

Que sejam voluntariamente violadas as condições de segurança, exigindo-se, aqui, a


intencionalidade48 ou dolo, na prática ou omissão, o que exclui as chamadas culpa leves”
(inadvertência, imperícia, distracção). Um exemplo de comportamento do trabalhador que não
constitui culpa, é a infracção cometida num impulso instintivo e altruísta ou no intuito de
beneficiar o patrão, embora sem êxito, como o operário que, vendo um colega ser arrastado por
uma engrenagem, que vai triturá-lo, atira-se à correia de transmissão para lhe suspender o
movimento, sendo vítima do seu acto.

45
Idem, p. 216, p. 60
46
Apud AVELINO BRAGA, ob. cit., p. 216.
47
PAULA QUINTAS, Manual de Direito da Segurança Higiene e Saúde no Trabalho, Almedina, Coimbra, 2006,
p.67
48
. PAULA QUINTAS, Manual de Direito da Segurança Higiene e Saúde no Trabalho, Almedina, Coimbra, 2006,
p.67

24
Não estamos tão certos quanto à segunda parte deste pressuposto, podemos interpretar
este preceito no sentido de que, o acto ou omissão do sinistrado pode ser doloso ou meramente
negligente, não excluindo, por isso, as culpas leves.

Contudo, é interessante o conceito de imprudência natural ou imprudência profissional


utilizada por uma corrente jurisprudencial espanhola do início do século XX 49, tida como uma
imprudência não culposa, esperável do trabalhador, é aquela em que o trabalhador de depara
com um perigo previsível e enfrenta-o com a confiança de o poder evitar 50. Este tipo de
imprudência (que comporta um duplo requisito, a habitualidade (objectivo) e confiança
(subjectivo)) é considerado não lícita e não culposa e encontra-se incluída na zona do risco
laboral.

Parece – nos razoável que, quando se verifique este tipo de condutas, algo frequentes, o
direito à reparação do acidente de trabalho daí emergente, não deve ser excluído. De facto,
subsiste aqui uma questão sensível e complexa de tomar posição, quando analisada na realidade
de todos os dias, de todos os trabalhadores.

Em termos objectivos diria que se o empregador impôs certas condições de segurança ou


relembrou as previstas na lei aos seus trabalhadores, alertando para o perigo de certos
comportamentos contrários a elas, não seria justo que suportasse a seu cargo a reparação de um
acidente que fez tudo o que tinha a seu alcance para precaver.

Assim, a responsabilidade do empregador seria excluída quando a actos negligentes e


dolosos violadores de regras de segurança do trabalhador. Todavia, é preciso refrear a rigidez no
julgamento de cada caso, na realidade do dia-a-dia laboral existem esquecimentos e desleixos
fruto de um certo relaxamento e da insensibilidade que o trabalhador adquire ao perigo rotineiro.

Anos seguidos a executar as mesmas tarefas proporcionam algum conforto e confiança e


conduzem a um comportamento não tão escrupuloso no cumprimento das regras de segurança.
Para além disso, actualmente, esse tipo de regras existe em tal avultado número, que o seu
cumprimento chega mesmo a conflituar com a execução da actividade laboral. Julgamos, pois, e
recorrendo à velha máxima de que “errar é humano”, que devemos temperar esta regra com
49
Idem, p. 67
50
Ibidem, p. 67

25
alguma compreensão e condescendência, a violação de uma das inúmeras regras de segurança
por um acto meramente negligente do trabalhador é normal, frequente e passível de acontecer a
qualquer trabalhador.

Assim, concluímos, que o acto ou omissão negligente violador de uma regra de


segurança, do qual emerja um acidente, não deve excluir o direito à reparação a cargo do
empregador51.

Que a violação das condições de segurança sejam sem causa justificativa (do ponto de
vista do trabalhador)52, o que passa pelo claro conhecimento do perigo que possa resultar do acto
ou omissão.53 Se o trabalhador é vítima de um acidente por ter praticado um acto que vai contra
as ordens expressas do empregador ou se deixa de praticar um acto que este ordenou, rebela-se
contra a autoridade da entidade patronal e, assim, suprime o fundamento jurídico da
responsabilidade desta.

De facto, se o trabalhador, conhecendo (ou devendo conhecer) as condições de segurança


vigentes na empresa, as viola conscientemente e, por força disso, sofre um acidente de trabalho,
não é de exigir a negligência grosseira para excluir a responsabilidade do empregador.

O acidente deve ser consequência necessária do acto ou omissão do sinistrado. O


confronto desta alínea com o n.º 1 do art. 11 do Decreto 62/2013 de 4 de Dezembro, mostra
desaparecimento da referência a acto ou omissão da vítima contra ordens expressas e
propositadamente infringidas. Daqui parece dever concluir-se que a desobediência às ordens
patronais não descaracteriza, em princípio, o acidente dela resultante, mas apenas se as ordens se
referirem directamente à observância das condições de segurança do trabalho.

51
No mesmo sentido, CRUZ DE CARVALHO (ob. cit., p. 43) refere que a “imprevidência do trabalhador está
indissoluvelmente, integrada na própria essência da prestação do trabalho, sempre e previsivelmente inerente à
ocorrência dos acidentes dessa natureza (….)”. A este propósito pronunciou-se o TRC (Ac. de 17.11.1999, CJ, Ano
XXIV, T. V, 1999, p. 160), “Em muitos dos sinistros laborais é a experiência profissional que leva os trabalhadores
mais experimentados a descurarem a segurança e a facilitarem os procedimentos. É aí que se impõe aos
empregadores o especial dever de vigilância das condições de prestação do trabalho e a imposição do cumprimento
pelos seus subordinados de todas as normas de segurança vigentes”.
52
Na Lei n.º 1942 dizia-se “diminuição das condições de segurança do trabalho” e condições “exigidas pela natureza
particular do trabalho”.
53
Um exemplo desta situação é aquele em que o condutor de um comboio inicia a marcha com o sinal vermelho,
impeditivo de avançar, e for chocar com outra composição que estava parada na mesma linha e nessa colisão sofrer
lesões causadoras de incapacidade, verifica-se um comportamento grave e temerário daquele condutor do qual
resulta a descaracterização do acidente (Ac. do TRC, de 28.11.1996, CJ, Ano XXI, T. V, 1996, p. 70).

26
Este requisito determina a necessidade de verificação do nexo de causalidade entre a
violação da regra de segurança e o evento que causou a morte ou o dano na pessoa do sinistrado.

C) Negligência Grosseira
A alínea b) do n.º 1 do art. 223 da LT menciona falta grave e indesculpável da vítima
como causa de exclusão do direito à reparação. Assim como nos diplomas anteriores, o
legislador continua a exigir que o acto descaracterizador o acidente tenha resultado
exclusivamente da negligência grosseira, isto é, pelo que havendo concurso de culpas, com o
empregador ou com colegas de trabalho, não é afastada a responsabilidade54. Ao exigir a
exclusividade da actuação grosseira do trabalhador, o legislador “deixa sem resposta a questão de
saber se o direito à reparação se mantém (e em que termos) na hipótese de aquele ter concorrido
gravemente para o seu dano (p. ex.: a entidade patronal não se opõe à utilização de uma máquina
perigosa, que o próprio trabalhador conhece mal) 55.

Já JOÃO NUNO CALVÃO DA SILVA, parece admitir o concurso da culpa da vítima


com a culpa ou o risco da entidade patronal, salvo quando acidente provenha única e
exclusivamente do dolo ou falta de zelo indesculpável do trabalhador. Assim, sempre que se
verifique este concurso de culpas, o autor defende que deve o juiz ponderar as culpas (ou risco,
no caso do empregador) de ambas as partes na situação concreta56.

Para o autor, para afirmação do tipo de ilícito negligente, tem de existir entre a acção e o
resultado uma relação de adequação, ou seja, é necessário que o resultado possa ser
objectivamente imputado à acção descuidadamente praticada.

Quanto à culpa negligente, o mesmo define-a como uma “atitude ético-pessoal de


descuido ou leviandade do agente face ao bem jurídico lesado ou posto em perigo pela acção
praticada sem o cuidado exigível.

54
JOSÉ, De Castro Santos, Acidentes de Trabalho e Doenças Profissionais – Nova Legislação Anotada, Quid
Juris, Lisboa, 2000, p. 19.
55
BRANDÃO PROENÇA, ob. cit., p. 254. Para uma análise mais aprofundada sobre este tema consultar SABRINA
BELLUMAT, Responsabilità dell’imprenditore e concorso di colpa del lavoratore in Materia di Danno da
Infortunio, Rivista Italiana di Diritto del Lavoro, Anno XXIV, Parte Seconda, 2005, pp. 103 e ss.
56
Segurança e Saúde no Trabalho – Responsabilidade Civil do Empregador por Actos Próprios em Caso de
Acidente de Trabalho, http//www.oa.pt consultado em 05.02.2018, 17h.

27
A decisão sobre a existência ou não de negligência grosseira depende, naturalmente, das
circunstâncias concretas do caso, relativas ao facto praticado e ao autor da conduta. Contudo, sob
pena de se tratar de uma decisão pura e simplesmente discricionária, dever ter-se em conta
alguns factores que podem fundamentar um tal juízo de negligência grosseira, são eles: a
especial relevância do bem jurídico lesado ou posto em perigo, ou seja, o forte risco e
probabilidade de produção do resultado, o especial dever de cuidado, considerando a profissão
do sinistrado e a posição que ocupa dentro da empresa.

Ficam, também, de fora os casos em que o acidente se ficou a dever a um comportamento


temerário resultante da habitualidade a perigo do trabalho, da confiança na experiência
profissional ou dos usos da profissão. Com esta exclusão “pretende-se proteger o trabalhador até
onde os riscos próprios da simples execução do trabalho o justificam, protecção essa que se
estende à diminuição progressiva da prudência e previdência normais do trabalhador, a qual
provém do contacto habitual e quotidiano com os riscos e perigos da sua actividade, que o levam
ao esquecimento mecânico e, por vezes, instantâneo dos cuidados a observar na execução do
trabalho.

Tem – se discutido na jurisprudência se esta negligência grosseira é apreciada, tendo em


conta a diligência particular da vítima, ou em abstracto, segundo um padrão geral de conduta.
Conclui-se que a doutrina e a jurisprudência são unânimes em entender que a culpa nestes casos
deve ser apreciada não em relação a um tipo abstracto de comportamento, mas em concreto,
casuisticamente, em relação a cada caso particular57.

A que se refere esta apreciação em concreto, defendida pela jurisprudência, acabando por
responder que a interpretação mais correcta é aquela que aprecia a actuação grosseira do
trabalhador em função de um padrão de referência, tipificado na elementar diligência usada pela
generalidade das pessoas para precaver a ocorrência de acidentes.

57
JOSÉ, De Castro Santos, Acidentes de Trabalho e Doenças Profissionais – Nova Legislação Anotada, Quid
Juris, Lisboa, 2000, p. 20.

28
D) Privação do Uso da Razão
Também o número 1 al. e) do art. 11 do Decreto nº62/2013 de 4 de Dezembro, fora
diferenças de pormenor, apresenta uma redacção igual à que tinha na lei anterior, estabelecendo a
exclusão da reparação em caso de acidente que resulte da privação do uso da razão do sinistrado.

Esclarece a lei que a privação da razão pode ser permanente ou acidental, remetendo,
implicitamente, a qualificação de uma e de outra para a lei civil. Desta forma, em princípio, a
privação permanente o uso da razão faz parte do grupo das chamadas anomalias psíquicas, e
pode ser considerada grave, dando lugar a interdição ou menos grave e dar lugar a inabilitação.

Seja qual for o tipo de privação do uso da razão que esteja na origem do acidente, este,
ainda assim, será reparado, desde que ocorra uma das seguintes circunstâncias:

Que tal privação derive da própria prestação de trabalho (ex.: perda de sentidos por intoxicação
dos produtos manuseados), imagine-se uma intoxicação causada por manuseio de gás no
exercício da actividade que provoca reacções descontroladas por parte do trabalhador58;

Ou que tal privação seja independente da vontade do sinistrado 59, por exemplo, no caso
de doença. Há que fazer aqui uma distinção se a possibilidade de ocorrer essa falta do uso da
razão era do conhecimento do trabalhador, importa determinar se ele tomou as precauções
necessárias, nomeadamente avisando o empregador e os colegas de trabalho dessa
eventualidade60. Assim, se o trabalhador conhecia a doença e não tomou as precauções
adequadas, a responsabilidade do empregador deverá ficar excluída;

Ou que o empregador ou o seu representante, conhecendo o estado do sinistrado,


consentir na prestação (ex: embriaguez, consumo de substâncias estupefacientes). Assim, se a

58
Assim, se o trabalhador cai e sofre um acidente porque estava sob o efeito de álcool, não tem direito à reparação,
já se a queda acontecer durante a pisagem manual de uva num lagar, verificando-se que estava alcoolizado por
inalação dos vapores da uva, tem direito a reparação.
59
Segundo CRUZ DE CARVALHO (ob. cit. p. 44) a inclusão desta alínea, restringiu, na prática, esta hipótese de
descaracterização, já que, salvo erro, só os casos de embriaguez ou de uso de estupefacientes, é que são causados por
acto voluntário da vítima. Este autor explica ainda que, no relatório da proposta governamental justifica-se tal
restrição dizendo-se que “parece, na realidade, injusto indemnizar o acidente quando este é atribuído
conscientemente ao sinistrado (sem culpa grave), e não proceder do mesmo modo quando o sinistrado seja, por
exemplo, consequência de um acesso súbito de loucura (hipótese em que não há culpa da vítima na lesão sofrida e
portanto mais se justifica o direito à protecção legal) ”.
60
Direito do Trabalho…cit., p. 881.

29
entidade patronal, conhecendo a possibilidade de o trabalhador ficar privado do uso da razão,
mesmo assim o encarrega de determinada actividade, mantém-se o direito à reparação.

Da análise desta situação, conclui ROMANO MARTINEZ 61, com bastante razoabilidade,
que o empregador que contrata trabalhadores interditos ou inabilitados, deve atribuir-lhes tarefas
compatíveis com a sua deficiência ou incapacidade, de forma a evitar a ocorrência de acidentes
de trabalho.

Da mesma forma, um empregador que incumbir um trabalhador com incapacidade


acidental (ex.: embriaguez) de tarefas incompatíveis com o seu estado será responsável pelos
acidentes de trabalho que advenham da falta do uso da razão por parte do trabalhador.

CAPÍTULO III: METODOLOGIA DA PESQUISA

Neste capítulo está reservado para a descrição das metodologias usadas durante a
efectivação da pesquisa, assim como do campo e o tempo em que decorreu a pesquisa.

O interesse por este capítulo em qualquer estudo científico é pela sua pertinência na
localização e condução exacta da pesquisa, evitando desta feita a perdição da finalidade e desvio
de objectivos preconizados.

A pesquisa é desenvolvida mediante o concurso dos conhecimentos disponíveis e a


utilização cuidadosa de métodos, técnicas e outros procedimentos científicos.62

3.1. Pesquisa quanto a abordagem

A pesquisa em destaque é qualitativa pelo facto, de apresentar dados sobre uma realidade
(a quantificação do dano moral resultante de acidentes de trabalho), e o pesquisador como
elemento chave apenas vai descrever e interpretar o fenómeno como advoga que pesquisa
qualitativa é aquela que consiste na interpretação dos fenómenos e atribuição de significados63.

3.2. Pesquisa quanto aos objectivos

61
Direito do Trabalho…cit., p. 882.
62
GIL, Carlos António, Como Elaborar Projecto de Pesquisa, 4ᵃ Edição, São Paulo, Atlas S .A. 2002 Pag.17
63
SILVA, Da Lúcia Edna, Metodologia da Pesquisa e Elaboração de Dissertação, 3ᵃ Edição, 2001, Pag. 20

30
Quanto aos objectivos a presente pesquisa é qualitativa, pela natureza do próprio
fenómeno que permite descrição exaustiva e detalhada.

3.3. Pesquisa quanto aos Procedimentos Metodológicos

O problema em estudo nesta pesquisa, surgiu mediante várias abordagens sobre o dano
moral e os acidentes de Trabalho, em face da existência de situações desta natureza que
encontram – se situadas em debates doutrinários, a presente pesquisa é bibliográfica, visto que
pesquisa bibliográfica é aquela que, é desenvolvida com base em material já elaborado,
constituído principalmente de livros e artigos científicos.

3.4. Instrumentos e Procedimentos de colecta de dados da pesquisa

A apresentação dos instrumentos e procedimentos de colecta e interpretação de dados nas


pesquisas científicas variam consoante o tipo, a classificação e a natureza das mesmas. Conforme
o que foi apresentado acima sobre os procedimentos metodológicos, esta pesquisa por ser
bibliográfica a metodologia que será aplicada para a obtenção das informações foi em primeiro
lugar a identificação das obras e publicações periódicas sobre o tema, em seguida procedeu-se a
leitura a diversos níveis (leitura selectiva, interpretativa e analítica).

Tendo em conta que neste trabalho as fontes bibliográficas dominarão bastante, depois da
leitura cuidada e pormenorizada e selecção dos itens relevantes, isto é, matéria relevante para
este trabalho, que a informação aparecesse com maior propriedade o autor vai se basear com
maior incidência na leitura analítica da informação colectada. Instrumento de recolha de dados:
recolha de informação através da leitura, ou revisão bibliográfica.

3.5. Estratégia de análise e interpretação de dados

O conteúdo foi analisado na base de várias obras publicadas e a legislação pertinente,


análise de conteúdo e categorização dos aspectos que constituem o problema (assentes nos
objectivos específicos) e faremos a confrontação das hipóteses com a informação recolhida.

31
3.6. Estratégia da Interpretação

A análise e interpretação dos dados construímos a partir das informações obtidas nas
obras seleccionadas, conforme a metodologia proposta e baseada no referencial teórico desta
pesquisa. Assim, nos itens que podem compor a análise explicativa das soluções, os dados
obtidos apresentamos em categorias conceituais, devendo sempre vir exemplificados com as
afirmações dos autores, seleccionadas como pertinentes ao tema/conceito em questão, portanto,
Os dados recolhidos estão organizados através das seguintes categorias: Discricionariedade
judicial na quantificação do dano moral resultante de acidentes de trabalho e o dever de
indemnizar o trabalhador por danos morais decorrentes do acidente do trabalho.

CAPITULO IV: APRESENTAÇÃO, ANÁLISE E DISCUSSÃO DOS RESULTADOS

5.1. Discricionariedade judicial na quantificação do dano moral resultante de acidentes de


trabalho

A reparação dos danos extrapatrimoniais, no que se refere a quantificação da


indemnização correspondente, é actualmente, um dos problemas mais delicados da prática
forense, em face da dificuldade de fixação de critérios objectivos para o seu arbitramento. Assim,
faz – se necessária a utilização do princípio da discricionariedade, que permite que o Juiz exerça
sua missão da melhor forma possível de acordo com as circunstâncias do caso concreto.

    Em torno dessa constatação, sobressai o princípio da discricionariedade, que, permite que o
juiz tenha, no mais amplo espectro do exercício de sua missão, o poder para conceder ou não a
medida liminar, para julgar no estado ou permitir a instrução, para fixar os pontos controvertidos
da causa, para determinar, de ofício, a realização de mais provas. Em suma, o magistrado tem
liberdade para se convencer, em um sentido ou no seu antípoda, quanto ao pleito que lhe foi
submetido.

    Porém, alguns doutrinadores não compreendem a discricionariedade como um poder


atribuído em abstracto, mas um modo de disciplinar juridicamente a actividade em questão, ou
seja, é o limiar de liberdade conferida pela lei ao Juiz a fim de que este cumpra o dever de
integrar com sua vontade ou juízo a norma jurídica, diante do caso concreto, segundo critérios
subjectivos próprios, a fim de dar satisfação aos objectivos consagrados no sistema legal.

32
Embora sejam muitos os factores a considerar para a fixação da satisfação compensatória
por danos morais, é principalmente com base na gravidade da lesão que o juiz decide se o dano
deve ser reparado. Algumas noções excessivamente fluidas são frequentemente invocadas nas
decisões: atenção à realidade da vida, bom senso, regras da experiência, moderação,
proporcionalidade, prudência, lógica do razoável, limites do razoável.

O procedimento de fixação do valor da indemnização dos danos morais pressupõe o


esgotamento da discussão sobre o an debeatur, ou seja, exige – se que esteja incontroverso o
dever de reparar pecuniariamente a violação dos direitos da personalidade da vítima. Nessa fase,
não comporta estabelecer qualquer discussão sobre a possibilidade de compensar a dor da vítima
com dinheiro ou invocar a incerteza do rol aberto dos direitos da personalidade, ou reinventar
uma causa excludente de ilicitude, ou qualquer outra tese de defesa quanto à existência da
obrigação de reparar o dano experimentado pela vítima.

  Observe-se que o Código Civil Moçambicano, acolhe também a responsabilidade civil


objectiva nas hipóteses em que se identifica a exploração de actividade de risco. Portanto, a
partir da vigência do Código Civil, a regra geral da responsabilidade civil subjectiva sofre um
abrandamento em virtude da disciplina das actividades de risco, submetendo-as à
responsabilidade objectiva.

5.2. O dever de indemnizar o trabalhador por danos morais decorrentes do acidente do


trabalho.

Por dano moral entende – se o dano que atinge os atributos da personalidade, como
imagem, bom nome, a qualidade ou condição de ser de uma pessoa, a intimidade e a privacidade.
Para o dano patrimonial há a reparação, para o dano à personalidade, há o regime de
compensação.

Os direitos da personalidade são direitos fundamentais previstos na CRM concretamente


no artigo 40° em conjugação com o artigo 70 e 483 do CC. São, portanto, direitos do homem,

33
competindo ao Estado o dever de defendê-los. Os direitos da personalidade são aqueles sem os
quais todos os outros direitos subjectivos perderiam o interesse. Nesse sentido, enquadram – se
os direitos à honra, ao nome, à intimidade, à privacidade e à liberdade e estão englobados no
direito à dignidade, esta que é a base de todos os valores.

O direito ao dano moral reside no fato de que ninguém deve prejudicar o próximo. E,
continua o doutrinador sustentando que o conceito de culpa é alargado, não mais se amoldando à
imprudência, negligência e imperícia. O vasto campo da responsabilidade extra negocial transita
na esfera da culpa implícita ou evidente.

A origem do dano moral pode se dar em diversas vertentes, porém, as que nos interessam
discutir são as provenientes do acidente de trânsito. O simples dano material do veículo, sem
qualquer outro dano decorrente, será ressarcido por meio do pagamento ao prejuízo sofrido em
sua ordem material, sendo que dificilmente alcançará a ordem moral.

O acidente que causar danos físicos na vítima terá grande probabilidade de criar um dano
moral proveniente da repercussão do enorme abalo certamente causado na vida do acidentado. O
acidentado que tiver danos físicos sofrerá dano em sua imagem de cidadão, trabalhador,
provedor de sustento, que tem uma rotina com deveres a cumprir.  

O abalo de ficar em recuperação decorrente de lesões seguramente afectará a honra e a


imagem da vítima, sendo quase certo o dano moral decorrente desse facto. Outros prejuízos
também não são excluídos, como o dano estético e o lucro cessante, quando pertinentes.

Neste contexto, o dano moral tem protecção constitucional e civil, sendo direito à honra e
demais direitos da personalidade agrupados em integridade física (direito à vida) e direito à
integridade moral (direito à honra, direito à liberdade).  

O dano moral ocorre na hipótese de morte do ente querido. A morte, logicamente,


acarreta o direito de pleitear a compensação devida pelos danos morais e também reparação dos
demais danos sofridos. O dano deverá ser apurado de acordo com o caso concreto e com os
legítimos beneficiários.

34
O princípio maior, conforme já tratamos aqui, é alcançar a reparação integral pelos danos
suportados pela vítima. Neste afã, a doutrina diverge sobre a possibilidade de danos extra
patrimoniais sofridos pela própria vítima como dano morte.

É possível a indemnização nesses moldes e, portanto, aplicável ao direito moçambicano a


solução do direito português. Naquele ordenamento, art.496, alínea 3 assim determinou: no caso
de morte, podem ser atendidos não só os danos não patrimoniais sofridos pela vítima, como os
sofridos pelas pessoas com direito a indemnização.

A perda do direito à vida é, em si mesma, passível de reparação pecuniária e que o direito


a essa reparação se integra no património da vítima e se transmite consequentemente aos seus
herdeiros.

Somente haverá obrigação de indemnizar se houver dano. Não se admitem danos


hipotéticos, sendo certo que haverá obrigação de reparar o efectivo prejuízo da vítima; não basta
apenas nexo causal e conduta ilícita; necessário se faz, portanto, o dano.

Havendo um dano patrimonial, há uma diminuição da totalidade dos bens úteis que se
encontram a disposição de determinada pessoa, devendo, portanto, ser reparado. Um dos critérios
para valorar o dano é o estado anterior ao fato gerador do prejuízo e o momento posterior, no
estado em que se encontra a coisa. O intuito é sempre restituir ao status quo ante.

35
CAPITULO V: CONSIDERAÇÕES FINAIS

6.1. Conclusão

Os trabalhadores são as vítimas pessoais mais transparentes dos acidentes do trabalho.


Esses acidentes são identificados visualmente por um simples curativo num dedo ou até por uma
parte do corpo engessada ou quando não ocorre o óbito cuja evidência é inquestionável.

Assim, o dano moral no nosso ordenamento jurídico torna – se indiscutível, é indemnizável,


restando a discussão da mensuração do dano moral, em como, do conceito amplo dos direitos de
personalidade, pois este abrange muitas hipóteses que devem ser analisadas caso a caso. O dano
moral, é aquela lesão a direitos extra patrimoniais da pessoa, que viola a honra, dignidade, a
imagem e outros direitos da personalidade da pessoa humana.

O dano mora laboral, é aquele ocorrido no âmbito do contrato de trabalho, em razão de


sua existência, devendo existir o nexo de causalidade entre o empregado e o empregador,
normalmente aquele lesado.

Embora sejam muitos os factores a considerar para a fixação da satisfação compensatória


por danos morais, é principalmente com base na gravidade da lesão que o juiz decide se o dano
deve ser reparado. Algumas noções excessivamente fluidas são frequentemente invocadas nas
decisões: atenção à realidade da vida, bom senso, regras da experiência, moderação,
proporcionalidade, prudência, lógica do razoável, limites do razoável.

O princípio maior, conforme já tratamos aqui, é alcançar a reparação integral pelos danos
suportados pela vítima. Neste afã, a doutrina diverge sobre a possibilidade de danos extra
patrimoniais sofridos pela própria vítima como dano morte.

36
É possível a indemnização nesses moldes e, portanto, aplicável ao direito moçambicano a
solução do direito português. Naquele ordenamento, art.496, alínea 3 assim determinou: no caso
de morte, podem ser atendidos não só os danos não patrimoniais sofridos pela vítima, como os
sofridos pelas pessoas com direito a indemnização.

A perda do direito à vida é, em si mesma, passível de reparação pecuniária e que o direito


a essa reparação se integra no património da vítima e se transmite consequentemente aos seus
herdeiros.

Somente haverá obrigação de indemnizar se houver dano. Não se admitem danos


hipotéticos, sendo certo que haverá obrigação de reparar o efectivo prejuízo da vítima; não basta
apenas nexo causal e conduta ilícita; necessário se faz, portanto, o dano.

O princípio maior, conforme já tratamos aqui, é alcançar a reparação integral pelos danos
suportados pela vítima. Neste afã, a doutrina diverge sobre a possibilidade de danos extra
patrimoniais sofridos pela própria vítima como dano morte.

É possível a indemnização nesses moldes e, portanto, aplicável ao direito moçambicano a


solução do direito português. Naquele ordenamento, art.496, alínea 3 assim determinou: no caso
de morte, podem ser atendidos não só os danos não patrimoniais sofridos pela vítima, como os
sofridos pelas pessoas com direito a indemnização.

A perda do direito à vida é, em si mesma, passível de reparação pecuniária e que o direito


a essa reparação se integra no património da vítima e se transmite consequentemente aos seus
herdeiros.

37
6.2.Recomendações

Em atenção a análise feita em torno da discussão dos dados obtidos a luz do marco teórico e
legislativo atinente ao nosso tema, com vista a melhoria do ponto de partida da nossa pesquisa,
cumpre – nos sugerir o seguinte:
 É importante identificar e legislar critérios legais capazes de disciplinar justamente a
quantificação da compensação do dano moral decorrente de acidente do trabalho que
provocam a redução da capacidade laborativa e não só;

 E como sugestão complementar da cima referenciada, é preciso que exista um


investimento nas empresas, quanto a higiene, segurança no trabalho pois assim sendo
contribuirá significativamente na segurança da actividade laboral;

38
Bibliografias

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Faculdade de Direito da Universidade de Lisboa.
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em 22 de Março de 2016 as 19h.

39
11. TAIPA, De Carvalho, Direito Penal – Parte Geral. Teoria Geral Do Crime, Volume II,
Publicações Universidade Católica, Porto, 2004.

12. QUINTAS, Manual de Direito da Segurança Higiene e Saúde no Trabalho, Almedina,


Coimbra, 2006.
13. JOSÉ, De Castro Santos, (Acidentes de Trabalho e Doenças Profissionais – Nova
Legislação Anotada, Quid Juris, Lisboa, 2000.

14. BRANDÃO, Proença, Responsabilità dell’imprenditore e concorso di colpa del


lavoratore in Materia di Danno da Infortunio, Rivista Italiana di Diritto del Lavoro, Anno
XXIV, Parte Seconda, 2005, pp. 103.

15. GIL, Carlos António, Como Elaborar Projecto de Pesquisa, 4ᵃ Edição, São Paulo, Atlas
S.A. 2002.

16. SILVA, Da Lúcia Edna, Metodologia da Pesquisa e Elaboração de Dissertação, 3ᵃ


Edição, 2001.

17. MARIA, Adelaide Domingos, Guião sobre Acidentes de Trabalho, CEJ, XXVII Curso
Normal de Formação de Magistrados, Lisboa, 2008.

Legislações

a) REPÚBLICA DE MOÇAMBIQUE, Constituição da República de Moçambique,


Imprensa Nacional de Moçambique, Maputo, 2004.
b) Código Civil de Moçambique de 1966, Plural Editores, Maputo.

c) Lei n°23/2007, de 1 de Agosto (Aprova a Lei do Trabalho).

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APÊNDICES

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