Análise Económica e Financeira - Um Caso de Estudo Do Setor Da Construção PDF
Análise Económica e Financeira - Um Caso de Estudo Do Setor Da Construção PDF
Análise Económica e Financeira - Um Caso de Estudo Do Setor Da Construção PDF
Rute Abreu
Professora Coordenadora, ESTG-IPG, [email protected]
Ftima David
Professora Adjunta, UDI-IPG, [email protected]
Susana Augusto
Estudante de Mestrado em Gesto da ESTG-IPG, [email protected]
AGRADECIMENTO
As autoras agradecem aos revisores desta investigao os comentrios, bem como ao Prof. Doutor Jos Angel Lopez Perez
(Universidad de Sevilla, Espaa) o apoio demonstrado.
A segunda autora agradece o financiamento desta investigao atravs
dos Fundos Nacionais da FCT Fundao para a Cincia e a
Tecnologia no mbito do projecto Ref: PEst-OE/EGE/UI4056/2011.
Resumo
No atual contexto de crise financeira ganha importncia a realizao de anlises econmicas e
financeiras de empresas com vista a determinar as suas competncias, capacidades e
potencialidades para que sejam adotadas estratgias competitivas. Essas anlises, na vertente
econmica e financeira, respeitam decomposio do desempenho econmico e da solidez
financeira, sendo que para isso deve observar-se a situao macroeconmica do setor, a
estrutura de ativos (no correntes e correntes), a estrutura financeira (capital prprio e
passivo), a composio dos resultados e, ainda, um diagnstico atravs de rcios
identificadores do posicionamento estratgico da empresa.
Metodologicamente, aps a reviso de literatura seguiu-se, para alm da recolha, anlise e o
tratamento dos dados, a subsequente apresentao dos resultados. Com recurso ao estudo de
caso (Yin, 2008), especificamente de uma empresa do setor da construo, foi desenvolvida
uma anlise exploratria longitudinal considerando, por um lado, a fundamentao conceptual
do Sistema de Normalizao Contabilstica e o relato financeiro aplicvel ao setor e, por outro
lado, a divulgao atravs dos Relatrios de Gesto e Prestao de Contas, dos exerccios
econmicos de 2005 a 2010, do estudo de caso.
Os resultados evidenciam que, ao nvel da solidez financeira, a empresa apresenta um
significativo aumento dos gastos financeiros, bem como das dificuldades na cobrana, que
acarretam, consequentemente, debilidades por via do elevado endividamento. Ao nvel do
desempenho econmico, a empresa tem dificuldades em dinamizar o setor de vendas, dada a
recesso no investimento da construo e obras pblicas, levando ao aumento dos gastos
operacionais e ineficincia em termos de produtividade (dos fatores de produo e dos
meios econmicos), bem como a uma ineficcia de resultados que afeta a rendibilidade e,
naturalmente, a sua sustentabilidade futura.
Palavras-chave: Anlise Econmica, Anlise Financeira, Setor da Construo, Portugal.
rea Temtica: Relato Financeiro
Metodologia: Case / Field Study
INTRODUO
No atual contexto de crise financeira ganha importncia a realizao de anlises econmicas e
financeiras de empresas com vista a determinar as suas competncias, capacidades e
potencialidades para que sejam adotadas estratgias competitivas. No entanto, h que ter em
conta que as sociedades no so estticas no tempo, pelo que a anlise econmicofinanceira de um determinado perodo, pressupe um conjunto de consideraes sobre as
expetativas e decises de gesto que podero influenciar a sua compreenso (Encarnao,
2009: 65).
Assim, procede-se a uma anlise econmica e financeira de uma empresa no cotada do setor
da construo sedeada em Portugal, sendo que atravs da anlise do seu desempenho avalia-se
o impacto da crise financeira, pese embora as limitaes que qualquer generalizao pode
comportar (Van Horne, 2005; Gozem et al., 2008). Para Gil (1989: 166), a anlise tem como
objetivo organizar e sumariar os dados, de forma tal que possibilitem o fornecimento de
respostas, ao problema proposto para investigao. J a interpretao tem como objetivo a
procura do sentido mais amplo das respostas, o que feito mediante ligao a outros
conhecimentos, anteriormente obtidos.
Decorrente do facto de que a crise financeira afetou a maioria das empresas, em geral, e de
modo mais intenso o setor da construo civil e obras pblicas, em particular (BP, 2013a), tal
implicou que a presente investigao tivesse tido como opo um caso de estudo deste setor,
porque segundo o INCI (2013: 31) o sector da construo, habitualmente um sector
sensvel e que funciona como barmetro da economia nacional, acabou por sentir os efeitos
da crise. Sem dvida que as empresas e as famlias portuguesas, quer em termos de edifcios,
quer em termos de infraestruturas, tm usufrudo de investimentos em construes de
qualidade, com segurana e durabilidade, num quadro de novos sistemas e desafios na rea da
engenharia civil (BP, 2011), contudo todo este processo evolutivo tem gastos, que devem ser
balanceados com os respetivos rendimentos, para que possam ser gerados resultados.
Nestes termos, esta investigao assenta num estudo de caso do referido setor econmico,
tendo por base uma anlise exploratria longitudinal das demonstraes financeiras dos
exerccios econmicos de 2005 a 2010, bem como toda a informao constante nos Relatrios
de Gesto e Prestao de Contas no mesmo perodo. Assim, seguiu-se a metodologia de Yin
(2008), ao justificar-se, pela sua especificidade, a utilizao cientfica de diferentes relatrios
3
anuais, representando a realidade que se pretende estudar, de forma a testar a aplicao dos
conceitos tericos. Por conseguinte, o ano de 2010 justifica-se por ser o exerccio econmico
mais recente com dados disponveis e definitivos. Enquanto o ano de 2005 satisfaz o requisito
de recolha de informao para um perodo de, segundo Martins (2007), no mnimo, cinco
anos o que permitir analisar a evoluo da empresa.
Na execuo da metodologia e na prossecuo dos objetivos propostos, a presente
investigao estrutura-se em trs pontos. No primeiro ponto efetua-se a contextualizao do
relato financeiro em Portugal suportado na respetiva normalizao contabilstica, no
descurando os antecedentes do Sistema de Normalizao Contabilstica (SNC), para
fundamentar a aplicao das normas contabilsticas e modelos das demonstraes financeiras,
de forma a possibilitar a comparabilidade do relatrio de gesto e prestao de contas em
todos os anos do perodo em anlise. No segundo ponto apresenta-se o enquadramento
macroeconmico, quer a nvel internacional, quer a nvel nacional, no perodo 2005-2010,
tomando por referncia o setor da construo, dado o forte impacto que a crise financeira
registou no mesmo. No terceiro ponto desenvolve-se o estudo de caso relativo a uma empresa
do setor da construo civil e obras pblicas, que permitir avaliar o impacto da crise
financeira no desempenho da mesma. Por ltimo, apresentam-se algumas consideraes
finais, com referncia aos pontos fortes e fracos do desempenho da empresa em anlise; e das
oportunidades e ameaas do desempenho externo da mesma, de modo a apresentar sugestes
e recomendaes, cumprindo critrios de economia, eficincia e eficcia no quadro das
polticas econmicas e financeiras sustentveis.
procedimentos
divulgaes
exigidos
nas
correspondentes
normas
ao
exposto,
possvel
identificar
quatro
fases
no
processo
de
decorreu, entre 1992 e 2005, centrando-se nas Diretrizes Contabilsticas (DC) e Interpretaes
Tcnicas (IT) por parte da CNC e aproximao do sistema de prticas e princpios
contabilsticos portugus s NIC. A quarta, e ltima fase, ocorreu entre 2005 e a atualidade,
contemplando-se o novo modelo de normalizao contabilstica nacional.
Na medida em que o POC era omisso em relao Estrutura Conceptual (EC) e que esta era
de extrema importncia para os utilizadores da informao financeira, pois a globalizao
associada s necessidades de informao econmico-financeira das entidades que agem nos
mercados constitui, nos dias de hoje, factor bastante para justificar a necessidade da
regulamentao contabilstica (Grenha et al., 2009: 73), o Aviso n 15652/2009, de 7 de
setembro (MFAP, 2009b) integrado no SNC, veio preencher essa omisso, ao apresentar um
documento autnomo, que tem por objetivo apresentar a EC do SNC.
Em presena de uma EC pretende-se: ajudar os preparadores das demonstraes financeiras
na aplicao das NCRF e no tratamento de tpicos que ainda tenham de constituir assunto de
uma dessas Normas; ajudar a formar opinio sobre a aderncia das demonstraes financeiras
s NCRF; ajudar os utentes na interpretao da informao contida nas demonstraes
financeiras preparadas; proporcionar, aos que estejam interessados no trabalho da CNC,
informao acerca da sua abordagem formulao das NCRF.
Tua Pereda (1996) considera que a EC uma interpretao da teoria geral da contabilidade,
mediante a qual se estabelecem, atravs de um itinerrio lgico dedutivo, os fundamentos
tericos em que se apoia a informao financeira. De acordo com o mesmo autor, a atual
perspetiva da EC deve dar resposta a determinadas questes como sejam: as necessidades dos
utilizadores; os objetivos da informao financeira; os requisitos ou qualidades que deve
cumprir a informao financeira para satisfazer tais necessidades e objetivos; e a maneira
como dos pontos anteriores se deduzem questes, tais como os elementos das demonstraes
financeiras, seu reconhecimento e valorizao.
Embora aceitando a designao de itinerrio lgico-dedutivo, necessrio compreender
que a deduo utilizada nas estruturas conceptuais, que um tipo de deduo a que Tua
Pereda (1997) chama de semntica, ao no existirem regras que possam conduzir a uma
nica soluo, no sendo por isso possvel chegar a concluses categricas. Na verdade, a
deduo semntica permite apenas que se assegure um mnimo de congruncia, mas sendo
7
sempre possvel chegar a diversas solues, todas elas congruentes, o que d origem a um
problema de seleo entre alternativas (Tua Pereda, 1997; Storey e Storey, 1998), pese
embora no se espere que a estrutura conceptual fornea automaticamente respostas prontas,
nicas e obviamente lgicas para complexos problemas de relato financeiro.
Por conseguinte, a normalizao contabilstica nacional dever aproximar-se, tanto quanto
possvel, dos novos padres comunitrios, por forma a proporcionar ao nosso pas o
alinhamento com as directivas e regulamentos em matria contabilstica da UE, sem ignorar,
porm, as caractersticas e necessidades especficas do tecido empresarial portugus
(MFAP, 2009a: 4376). Dado que no foram descurados os antecedentes da contextualizao
da normalizao contabilstica em Portugal, no ponto dois ser apresentado o enquadramento
macroeconmico, quer a nvel internacional, quer a nvel nacional, no perodo 2005-2010, no
setor da construo civil e obras pblicas para que possam ser diagnosticados os problemas e
encontradas solues para a empresa objeto de estudo (Vieiro e Maquieira, 2010).
UE
Taxa de Desemprego
2005 2006 2007 2008 2009 2010 2005 2006 2007 2008 2009 2010 2005 2006 2007 2008 2009
2010
1,5
2,9
2,8
1,0
-4,0
2,0
2,3
2,2
2,3
3,7
1,0
2,1
8,7
7,9
7,2
7,0
9,1
9,7
Zona Euro
1,4
2,6
2,6
0,6
-3,9
1,9
2,3
2,2
2,1
3,3
0,2
1,6
8,6
7,8
7,4
7,5
9,4
10,1
Alemanha
0,8
2,4
2,5
1,2
-4,8
3,6
2,0
1,8
2,3
2,8
0,2
2,2
9,5
8,4
8,4
7,2
7,6
5,9
Frana
1,5
2,2
1,9
0,3
-2,3
1,5
2,0
1,9
1,6
3,2
0,1
1,7
9,6
9,0
8,3
7,4
9,1
9,7
Reino Unido
1,6
2,7
3,1
0,5
-4,8
1,8
2,4
2,3
2,3
3,6
2,1
3,3
4,6
5,3
5,0
5,7
8,0
8,0
Espanha
3,4
3,8
3,8
0,9
-3,6
-0,1
3,6
3,6
2,8
4,1
-0,4
2,0
9,2
8,6
8,3
11,3
18,1
21,7
Itlia
0,2
1,7
1,5
-0,1
-4,8
1,5
2,2
2,2
2,0
3,5
0,7
1,6
7,7
7,1
6,1
6,8
7,6
8,4
Rssia
5,5
6,8
7,0
5,6
-9,0
4,0
12,8
9,0
8,0
14,1
11,7
6,9
nd
nd
nd
nd
nd
6,6
China
9,0
10,6
11,2
9,6
8,7
10,4
3,0
2,2
5,7
5,9
-1,1
3,3
nd
nd
nd
nd
nd
4,1
India
7,1
8,0
8,9
7,3
5,6
10,1
3,9
5,0
4,9
9,1
7,8
12,1
nd
nd
nd
nd
nd
nd
Japo
2,5
2,8
2,1
-1,2
-5,3
4,0
-0,2
0,3
0,0
1,4
-1,2
-0,7
4,5
4,2
3,9
4,0
5,2
4,6
EUA
3,5
3,3
2,2
0,4
-2,5
3,0
3,3
3,3
2,8
3,8
-0,4
1,6
5,1
4,6
4,6
5,8
9,2
9,0
Brasil
3,3
3,1
4,4
5,1
-0,4
7,6
6,8
3,0
4,0
5,9
4,2
5,0
nd
nd
nd
nd
nd
6,0
Em termos de resultados do Quadro 1 e face ao Produto Interno Bruto (PIB) verifica-se que
em 2005 a economia mundial foi liderada pela Rssia, China e ndia com valores iguais e
superiores a 3,5%. Paralelamente, a atividade econmica nos EUA atingiu 3,5% impulsionada
pelo dinamismo do consumo e do investimento privado, embora com uma desacelerao no
ritmo de crescimento das exportaes. De referir que, o ano de 2005 foi tambm marcado por
aspetos menos positivos, como a persistncia de desequilbrios macroeconmicos associados
aos elevados dfices externo e do setor pblico nos EUA, o progresso lento na consolidao
oramental de algumas das economias da zona Euro e a fraca implementao das reformas
estruturais na UE (CGD, 2006).
Em 2006, o PIB evoluiu ligeiramente acima do ritmo observado em 2005, devido
intensificao e acelerao das trocas comerciais, praticadas na economia asitica, em
especial na China e na ndia. A sia, excluindo o Japo, e os pases da Europa Central e de
Leste que aderiram UE em Maio de 2004, foram as regies de maior crescimento em 2005,
com taxas superiores a 7% (IMF, 2010), tendo a China e a ndia progredido, respetivamente
9% e 7,1%, continuando com grande dinamismo em 2006, com o PIB a crescer a uma taxa
igual e superior a 8%. Este desempenho global foi particularmente positivo, tendo em ateno
9
11
2005
2006
2007
2008
2009
2010
2005
2006
2007
2008
2009
2010
Consumo Privado
1,6
2,1
1,9
0,8
-1,7
1,0
1,4
1,7
1,4
0,4
-1,0
0,9
Consumo Pblico
1,2
2,0
2,1
2,2
2,0
0,7
1,2
2,0
2,2
2,0
2,0
0,5
2,3
6,0
5,5
-0,3
-11,4
-0,3
2,2
4,9
-0,4
-10,7
-0,5
Procura Interna
1,6
3,0
3,0
0,7
nd
1,5
1,5
2,6
2,5
0,6
nd
1,1
Exportaes
3,9
8,9
4,7
1,6
-13,8
10,8
3,8
7,9
5,9
1,0
-14,2
11,3
Importaes
4,2
8,9
4,4
1,4
-13,4
9,8
4,6
7,7
5,0
1,1
-12,5
9,6
12
desemprego um motivo de preocupao para a recuperao econmica. Todos os Estadosmembros viram agravadas as suas taxas, registando-se os valores mais elevados na Espanha
(18%), Estnia (13,8%) e Litunia (13,6%) e os efeitos da recuperao econmica no se
fizeram ainda sentir ao nvel do mercado de trabalho. A taxa de desemprego mdia aumentou
de 6,4% em 2009 para 10% em 2010, sendo o nvel mais elevado desde 1998. Tambm neste
aspeto, a Alemanha se destacou pela positiva, j que terminou o ano com a taxa no nvel mais
baixo desde a reunificao.
Quadro 3. Principais ndices da economia portuguesa, 2005-2010
Taxa de variao (em %)
2005
2006
2007
2008
2009
2010
0,5
1,2
1,9
0,0
-2,5
1,4
2,1
3,0
2,4
2,7
-0,9
1,4
Consumo Privado
2,1
1,2
1,2 =
1,8
-1,0
2,0
Consumo Pblico
2,0
-0,2
0,0
1,1
3,4
3,2
-3,1
-3,1 =
2,6
-1,8
-11,6
-4,8
Procura Interna
0,8
0,1
1,2
1,2 =
-2,9
0,8
Exportaes
1,6
9,3
7,0
-0,3
-11,6
8,7
Importaes
2,2
4,3
4,1
2,8
-10,6
5,3
Rcios
2005
2006
2007
2008
2009
2010
Taxa de desemprego
7,6
7,7
8,0
7,6
9,5
10,8
-8,1
-7,6
-8,2
-11,1
-10,1
-8,9
-6,0
-3,9
-2,6
-2,7
-9,3
-7,3
64,0
67,4
64,4
65,3
76,1
82,1
Gesto e Prestao de Contas foram elaborados de acordo com o POC, pelo que houve a
necessidade de fazer a sua transposio para o normativo legal vigente presente data, ou
seja, o SNC. Porm, o exerccio econmico de 2010 foi produzido no mbito do SNC e, deste
modo, estavam reunidas as condies para que se verificasse a comparabilidade das
demonstraes financeiras.
Assim, tendo por base as demonstraes financeiras do perodo 2005-2010, bem como toda a
informao constante nos Relatrios de Gesto e Prestao de Contas da empresa no mesmo
perodo, procedeu-se a uma anlise econmica e financeira. Com esta anlise, avaliou-se
retrospetivamente a empresa, quais as suas potencialidades, as suas foras competitivas e as
suas capacidades, de forma a conceber um julgamento correto e seguro da sua real situao.
Segundo Franco (1992: 93), as principais demonstraes contbeis so exposies sintticas
dos componentes patrimoniais e de suas variaes, a elas recorremos quando desejamos
conhecer os diferentes aspetos da situao patrimonial e suas variaes. Tambm Iudcibus
(1995) confirma que o relacionamento entre os vrios itens do Balano e das restantes
demonstraes financeiras de grande interesse para os stakeholders, em geral.
Segundo Robinson et al. (2009), o balano evidencia a posio financeira da empresa,
refletindo o que ela possui (conjunto de bens e direitos) e o que deve a terceiros (conjunto das
obrigaes), em determinado momento. Assim, o Balano um documento que espelha a
situao patrimonial de uma determinada entidade, em determinada data (Neves, 2002).
Neste contexto, o Balano da empresa encontra-se refletido no Quadro 4, no qual se verifica
que os maiores investimentos em ativos no correntes foram realizados, em 2008, no
montante de 1.450.298,00 e, em 2010 no valor de 849.079,00, sendo que esses aumentos
dizem respeito aquisio de equipamento bsico e de transporte. Assim, confirma-se que
empresa tem vindo, ao longo dos anos, a investir, na sua maioria, em ativos fixos tangveis, de
modo a dotar a sua atividade das condies necessrias laborao.
Os investimentos realizados em ativos correntes registaram um peso excessivo da rubrica de
Clientes, quer face ao prprio ativo corrente, quer face ao ativo total, evidenciando
dificuldades da empresa em receber dos seus clientes. Neste mbito, importa destacar a
questo dos enormes atrasos nos pagamentos das obras pblicas que inclusive deu origem a
diversas estratgias de correo (INCI, 2013). Tambm o acrscimo de 2.442.321,00 dos
15
direitos sobre Outras contas a receber no ano de 2010, pode estar intimamente ligado ao
incremento da atividade operacional da empresa, por via da diminuio dos inventrios.
Quadro 4. Balano da empresa, 2005-2010
2005
2006
2007
2008
2009
2010
Ativo
Ativo no corrente:
Ativos fixos tangveis
3.081.903,49
3.554.406,18
Ativos intangveis
3.524.142,33
4.974.440,05
85.507,48
42.757,92
5.066.556,82
5.915.635,03
91.381,49
54.500,00
54.500,00
69.510,00
13.596,29
14.782,13
36.856,10
23.670,02
114.863,53
3.095.499,78
3.569.188,31
3.646.505,91
5.095.367,99
5.235.920,35
Inventrios
3.016.638,03
1.829.936,06
2.297.545,46
3.050.374,05
1.130.145,37
705.808,02
Clientes
5.526.308,71
4.964.986,29
6.950.728,18
5.481.393,08
6.188.859,05
7.106.586,44
303.463,77
39.189,76
532.952,80
437.498,95
710.001,13
203.619,58
24.575,75
38.638,86
13.455,71
64.103,91
2.506.424,89
Diferimentos
1.260.005,86
2.151.727,80
2.649.619,72
2.202.953,94
1.887.630,90
148.121,92
2.292.153,91
2.515.665,56
1.858.034,81
1.023.230,47
1.058.922,35
810.909,57
12.423.146,03
11.540.144,33
14.290.880,97
12.208.906,20
11.039.662,71
11.481.470,42
15.518.645,81
15.109.332,64
17.937.386,88
17.304.274,19
16.275.583,06
17.557.996,94
2.283.113,00
2.283.113,00
2.283.113,00
2.283.113,00
2.283.113,00
2.283.113,00
7.481,97
7.481,97
7.481,97
7.481,97
7.481,97
7.481,97
47.376,23
59.290,30
67.038,77
71.266,22
80.542,22
93.013,28
6.076.526,52
Ativo corrente:
Adiantamento a fornecedores
Estado e outros entes pblicos
Outras contas a receber
Total Ativo
2.000,00
239.778,58
239.778,58
386.999,52
386.999,52
386.999,52
386.999,52
Resultados transitados
881.343,24
1.107.710,58
1.107.710,58
1.188.032,19
617.415,39
-390.437,19
Excedentes de revalorizao
Resultado lquido do perodo
Total Capital Prprio
745.942,02
745.942,02
745.942,02
745.942,02
745.942,02
1.683.255,46
4.205.035,04
4.443.316,45
4.598.285,86
4.682.834,92
4.121.494,12
4.063.426,04
238.281,41
154.969,41
84.549,06
185.528,68
249.421,19
53.407,52
4.443.316,45
4.598.285,86
4.682.834,92
4.868.363,60
4.370.915,31
4.116.833,56
Passivo
Passivo no corrente:
Financiamentos obtidos
1.627.403,00
465.870,47
1.156.284,00
1.773.529,40
2.509.652,96
5.123.062,28
500.368,91
918.847,79
585.453,61
379.960,67
882.388,03
324.587,87
803.319,29
1.320.959,24
1.223.697,84
226.263,63
2.931.091,20
2.705.677,50
2.965.435,45
2.379.753,70
3.392.040,99
5.447.650,15
6.697.657,39
5.545.949,78
7.431.839,05
5.388.888,24
6.556.054,16
5.550.523,01
96.254,47
265.811,40
142.950,92
177.721,08
164.103,62
140.857,70
Financiamentos obtidos
320.005,17
525.381,76
504.487,22
2.108.799,80
1.101.825,44
450.000,00
667.882,07
1.111.715,72
1.194.765,63
1.908.103,35
200.516,44
836.096,38
Diferimentos
362.439,06
356.510,62
1.015.073,69
472.644,42
490.127,10
288.217,31
8.144.238,16
7.805.369,28
10.289.116,51
10.056.156,89
8.512.626,76
7.993.513,23
Total Passivo
11.075.329,36
10.511.046,78
13.254.551,96
12.435.910,59
11.904.667,75
13.441.163,38
15.518.645,81
15.109.332,64
17.937.386,88
17.304.274,19
16.275.583,06
17.557.996,94
Passivo corrente:
Fornecedores
Adiantamento de clientes
Estado e outros entes pblicos
727.818,83
16
2005
71,37%
28,63%
40,12%
60,25%
2006
69,57%
30,43%
43,75%
62,96%
2007
73,89%
26,11%
35,33%
61,23%
2008
71,87%
28,13%
39,15%
67,17%
2009
73,14%
26,86%
36,72%
56,30%
2010
76,55%
23,45%
30,63%
43,04%
A atestar a situao crtica em que a empresa se encontra est o rcio Solvabilidade, o qual
decrescente, refletindo um elevado risco para os credores da empresa, uma vez que se
encontra abaixo dos 41,0% (Nabais e Nabais, 2011). Assim, os capitais prprios no so
17
suficientes para fazer face aos compromissos da empresa, ou seja, as dvidas de terceiros a
mdio/longo prazo.
Quadro 6. Principais equilbrios financeiros da empresa, 2005-2010
2005
2006
2007
2008
2009
2010
Fundo de Maneio
Tesouraria Liquida
-42.903,09
360.909,57
2005
1,43
1,05
0,29
2006
1,26
1,01
0,34
2007
1,26
1,01
0,20
2008
1,04
0,73
0,11
2009
1,14
1,00
0,13
2010
1,47
1,38
0,11
18
Uma vez analisada a solidez financeira da empresa, no perodo 2005-2010, importa observar o
desempenho econmico, no mesmo perodo, o qual, segundo Costa e Alves (2013), medido
pela soma algbrica entre os rendimentos e os gastos, evidenciados na Demostrao de
Resultados. Para Neves (1995: 44), a demonstrao de resultados lquidos evidencia a
formao dos resultados (...) num determinado perodo (entre dois balanos)... avalia-se,
atravs dele, a rendibilidade das vendas, a rendibilidade dos capitais investidos
representados no balano, em suma, a eficincia econmica. Tambm para Bastardo e
Gomes (1996: 101), o balano e a demonstrao de resultados so os documentos de sntese
mais importantes e que melhor reflectem a situao de uma empresa; sobre estes que incide
uma boa parte do esforo de avaliao, o que compreensvel uma vez que estes documentos
reflectem a verdadeira situao patrimonial da empresa e a formao dos lucros.
Quadro 8. Demonstrao de Resultados da empresa, 2005-2010
2005
15.591.767,37
2006
15.978.557,98
2008
14.293.241,98
2009
23.650.374,92
2010
15.706.370,91
45.644,75
125.393,27
24.018,10
36.594,78
31.120,96
102.268,11
1.175.710,25
(1.226.254,96)
444.471,78
459.740,47
(1.823.861,90)
176.295,02
924.819,73
31.551,29
134.921,86
(5.258.544,12)
(3.907.024,89)
(4.933.063,39)
(4.438.618,55)
(4.693.893,49)
(3.649.838,10)
2007
20.774.229,13
(8.155.370,66)
(8.398.680,52)
(11.883.142,32)
(6.834.647,67)
(12.266.960,20)
(9.791.503,92)
(2.402.132,39)
(2.490.972,64)
(3.292.231,05)
(3.953.920,83)
(3.988.424,99)
(3.222.531,09)
515.280,34
1.256.738,87
677.046,04
948.328,66
854.267,36
1.815.725,65
(149.102,80)
(149.479,98)
(952.787,22)
(144.298,81)
(232.825,41)
(237.406,40)
1.443.001,26
1.086.901,96
1.047.412,77
1.285.765,94
1.632.495,69
801.383,66
(1.228.378,59)
(850.304,42)
(802.917,14)
(779.681,83)
(841.717,45)
(596.392,23)
214.622,67
236.597,54
244.495,63
506.084,11
790.778,24
204.991,43
450.771,42
(427.112,68)
549.047,55
(630.675,68)
346.073,90
(506.020,47)
276.459,08
(597.014,51)
188.426,05
(729.783,10)
547.927,24
(699.511,15)
238.281,41
154.969,41
84.549,06
185.528,68
249.421,19
53.407,52
238.281,41
154.969,41
84.549,06
185.528,68
249.421,19
53.407,52
19
2005
2006
2007
2008
2009
2010
27.059.158,68 15.186.360,65 26.494.781,79 23.086.617,78 ########### ###########
-42,38%
5,22%
-21,59%
-38,09%
32,13%
-44,16%
18,61
15,75
21,65
10,64
7,40
20,79
0,90
1,53
2,89
2,73
3,17
3,84
16,76
24,05
62,60
29,02
23,47
79,79
18.334.250,19 17.728.170,64 23.201.132,36 16.938.576,95 ########### ###########
Para alm de todas as dificuldades da solidez financeira, conclui-se que o risco econmico da
empresa est a aumentar, como se confirma pelo aumento do Ponto Crtico (Quadro 9), o
qual, em alguns anos, por ser superior ao volume de negcios gera Margens de Segurana
negativas, bem como pelo aumento do Grau Econmico de Alavanca (GEA), particularmente
no ano 2010. Similar concluso pode ser retirada em relao ao risco financeiro, uma vez que
o Grau Financeiro de Alavanca (GFA) e o Ponto Morto Financeiro (PMF) so cada vez mais
elevados, or via do peso dos gastos financeiros suportados com os financiamentos obtidos.
Quadro 10. Rcios de produtividade da empresa, 2005-2010
Inventrios
Mo de obra
Ativo total
Ativo no corrente
2005
2,97
6,49
1,00
5,04
2006
4,09
6,41
1,06
4,48
2007
4,21
6,31
1,16
5,70
2008
3,22
3,61
0,83
2,81
2009
5,04
5,93
1,45
4,52
2010
4,30
4,87
0,89
2,58
20
2005
1,53%
1,54%
5,36%
2006
0,97%
1,03%
3,37%
2007
0,41%
0,47%
1,81%
2008
1,30%
1,07%
3,81%
2009
1,05%
1,53%
5,71%
2010
0,34%
0,30%
1,30%
Tambm por via dos resultados positivos, a empresa apresenta rcios de rendibilidade sempre
positivos (Quadro 11), embora com tendncia decrescente. Por exemplo, a rendibilidade
financeira mede a eficincia com que os capitais prprios esto a ser utilizados e apresenta
uma capacidade cada vez menor da empresa em gerar lucros a partir do capital prprio
investido ascendendo apenas a 1,3% no ano 2010.
Em suma, os ganhos a alcanar deveriam assentar na rendibilidade da capacidade instalada
atravs da dinamizao do vertente comercial, numa forma competitiva e com aumento do
volume de negcios, da diminuio dos gastos de funcionamento, nomeadamente no que
respeita aos Fornecimentos e servios externos, possivelmente em resultado de
subcontrataes excessivas e logo com subsequentes transferncias internas, reduzindo-se o
nvel de risco, mas exigindo alteraes profundas s estratgias para diminuir a exposio do
investidor e, deste modo, encontrar limites para a sua prpria proteo (Brealey e Myers,
2007).
4. CONSIDERAES FINAIS
Esta investigao subdividiu-se em duas partes. A primeira parte implicou uma reviso da
literatura, nomeadamente sobre o Sistema de Normalizao Contabilstica, em geral, e sobre a
temtica do relato financeiro de empresas, em particular. A segunda parte correspondeu a uma
anlise exploratria longitudinal de uma empresa no cotada do setor da construo sedeada
em Portugal, com vista a avaliar a evoluo futura, dado o atual contexto de crise financeira.
Quanto aos resultados obtidos da anlise econmica e financeira, os mesmos confirmam um
cenrio complexo face realidade existente, que nem sempre justificam as estratgias e
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