EXPOSIÇÃO DE FACTOS Por R. R. KALLEY
EXPOSIÇÃO DE FACTOS Por R. R. KALLEY
EXPOSIÇÃO DE FACTOS Por R. R. KALLEY
por
R. R. KALLEY, M.D. & C.
RELATIVOS AGRESSO CONTRA OS PROTESTANTES
NA ILHA DA MADEIRA
LISBOA, Tipographia Luso-britnica de W. T. Wood, 28
Rua direita das Janelas Verdes, 28
1875
EXPOSIO DE FACTOS
Eu digo a verdade em Cristo, no minto, dando-me
testemunho a minha conscincia.
Aos Romanos,IX,
1.
Havendo sido publicado no dia 25 de Fevereiro prximo
passado um oficio dirigido em data de 15 do mesmo ms da
parte do Administrador do Concelho a S. Ex. o Governador
Civil do Distrito, relativo ao Dr. Roberto Kalley, sbdito
britnico (Documento n. 1) e tendo aquele ofcio sido
subsequentemente seguido de um Edital (Documento
n. 4) de Sua Ex. o Governador Civil em data de 17 de
Maro corrente, censurando em termos fortes a conduta do
Dr. Kalley, o mesmo Dr.Kalley julga que o seu carcter
pessoal exige que ele publique a seguinte Exposio.
O mtodo mais claro que tem a seguir , na sua opinio,
expor primeiro as medidas que o Governo tem julgado a
propsito tomar.
I. No dia 16 de Janeiro passado recebeu o Dr. Kalley um
aviso verbal de S. Ex. por meio do Administrador do
Concelho, ordenando-lhe que no falasse a sbditos
portugueses acerca de assuntos religiosos sob pena de ser
processado. O Dr. Kalley pediu que se lhe fizesse o aviso
por escrito, e que se lhe declarasse sobre que lei se
basearia o processo. pois que ele ignorava que tivesse
transgredido as leis em ponto algum. A nica resposta que
recebeu foi tambm verbal: Cale a boca, ou ser
Despacho.
No h lugar a procedimento Criminal vista do
Requerimento do Ministrio Pblico, e D. fique no Cartrio
do respectivo Escrivo. Funchal Ocidental, 23 do Maro do
1843.Coelho.
2. Auto.
A matria deste auto a mesma doutro sobre que j dei
a minha opinio; por isso se servir V. S. ordenar que se
junte este quele e se lhe d o mesmo destino, distribuindose quando ainda o no esteja.-Funchal Ocidental, 29 de
Maro de 1843.-Jos Jlio Rodrigues.
Despacho.
Na forma requerida pelo Ministrio Publico.-Funchal
Ocidental, 30 de Maro de 1843.- Coelho
No obstante esta deciso, a Polcia postou-se de novo na
porta do Dr. Kalley no dia 2 do corrente, e intimou a todas
as pessoas portuguesas, incluindo dois servos seus, e o
portador de uma carta, para que no entrassem.
Funchal, 5 de Abril de 1843.
Documento. N. 1.
Administrao do Concelho do Funchal2. Repartio.
- Il.mo. e Exm. Sr. - Tendo-se pronunciado fortemente a
opinio pblica contra o Dr. Roberto Reid Kalley, Mdico e
sbdito britnico, por ter ultimamente ousado pregar entre
ns contra a Religio Catlica Apostlica Romana, pediu
esse estrangeiro por via do seu Cnsul, que se desse
proteco sua casa para afastar dela qualquer insulto.
Tem sido desde ento guardada a residncia do Dr. Kalley
de dia e de noite por gente da Polcia com reforo de
patrulhas militares noite; e protegido assim, continua os
seus sermes aos rsticos e incautos que tem sabido atrair;
parecendo portanto que se empenha em procurar e
Documento n. 2
Joo Chrysostomo Ferreira Uzel, Administrador do
Concelho do Funchal, Provncia da Madeira, &c. Em virtude
das ordens que recebi do Exm. Governador Civil deste
Distrito em Ofcio expedido pela 2. repartio, L. 5, N.
351, mando ao Oficial de Diligncias desta Administrao,
Bernardino Roiz Pereira, que intime ao Dr. em Medicina
Roberto Reid Kalley, da Nao britnica, morador no
caminho do Monte, freguesia de S. Luzia, para que no
continue a admitir em sua casa reunies de sbditos
portugueses, nem a dirigir-lhes prticas, palestras ou
discursos sobre matrias religiosas em sua dita casa, ou
fora dela. O que cumpra. Funchal, 16 de Maro de 1843.
Eu, Joo Accioly de Noronha, Escrivo da Administrao, o
escrevi. Joo Chrysostomo Ferreira Uzel. Bernardino
Roiz Pereira, Oficial de Diligncias.
Documento n. 3
RESPOSTA (Traduo.)
Senhor. Tenho a honra de acusar a recepo da cpia de
uma ordem de V. S. em data de 16 de Maro corrente, que
diz expedida em conformidade com as determinaes de S.
Ex. o Governador Civil do Distrito; pela qual, se bem a
entendo, me proibido 1. admitir na minha casa reunies
de sbditos portugueses; e 2. dirigir a sbditos
portugueses prticas, palestras ou discursos sobro matrias
religiosas, ou em minha casa ou fora dela. Enquanto
primeira parte da ordem, peo licena, com todo o respeito,
para perguntar de que fonte deriva S. Ex. a autoridade
para me proibir receber na minha casa a quem eu quiser?
Tenho examinado o Tratado ultimamente concludo entre o
Governo portugus e o de S. M. britnica, assim como a
Constituio, ora em fora neste pais, e no me possvel
descobrir, nem em um, nem em outra, o menor direito para
uma tal proibio. Enquanto segunda parte da ordem, em
primeiro lugar julgo ter jus a fazer igual pergunta;
porquanto me parece que, suposto eu pudesse vir a ser
merecedor de castigo, se infringisse as leis (o que no sei
que tenha feito at agora), todavia enquanto as no