Retrato de Portugal
Retrato de Portugal
Retrato de Portugal
PORTUGAL
RETRATO DE
PORTUGAL
Factos e acontecimentos
Sumrio
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Prefcio
7
Apresentao
10
Introduo
12
O Estado
21
Sociedade
A sociedade
43
O territrio
80
A lngua portuguesa
101
A comunicao social
114
O desporto
170
O ambiente
181
A economia
203
A educao
227
Cultura
O patrimnio cultural
249
A literatura
264
A arquitectura
275
As artes visuais
285
As artes do espectculo
297
O cinema
314
Design e moda
321
Bibliografias
337
Autores
345
Crditos fotogrficos
351
5
Sumrio
Prefcio
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Estado, empresas e cidados. A Europa imps-nos uma emulao saudvel. Puxou por ns.
Obrigou-nos comparao e competio com sociedades abertas e dinmicas.
A nossa condio de pas perifrico, em relao ao centro poltico e econmico da UE
(que se deslocou para leste), obriga-nos, por outro lado, a estar presentes em todos os ncleos de vanguarda da integrao europeia. Trata-se de um imperativo estratgico: estar no
centro da deciso europeia, participar, mold-la na medida das nossas capacidades e
dos nossos interesses e beneficiar da mudana. Este objectivo tem sido plenamente alcanado.
Ao contrrio dos habituais profetas da desgraa nacional, orgulho-me dos resultados
que alcanmos em apenas duas dcadas.
A nossa identidade colectiva sai sempre reforada quando submetida ao confronto aberto. Encaro com confiana o futuro de um povo que singrou no mar vasto e desconhecido, e
que construiu a histria de uma nao que caminha para os seus nove sculos, e cuja lngua falada por 240 milhes de pessoas no mundo (a terceira da Europa ocidental, a seguir
ao ingls e ao espanhol, e bem frente do francs e do alemo).
O crescimento e a vitalidade da lngua portuguesa, nos seus vrios sotaques (aucarado, crioulo e continental), em termos de nmero de falantes, de obras publicadas, de contedos na Internet, de palavra musicada, etc., garantem a perenidade da nossa cultura e
identidade, j no exclusivamente portuguesa, mas como membro de uma famlia maior, resultado dos nossos laos miscigenados, que nos asseguram uma identidade prpria num
mundo cada vez mais padronizado e compressor das especificidades culturais. Que melhor
homenagem poderia ser feita a Cames, verdadeiro fundador da lngua e arauto da sua vocao universalista?
A Europa tambm ganhou com a adeso de Portugal: no apenas a mera extenso do
mercado interno, no apenas a adio de mais dez milhes de consumidores para os produtos dos outros pases da UE. A Europa reencontrou-se com um pas que apresentou a Europa a muitas partes do mundo e que, em virtude do peso da sua histria e da sua cultura,
, entre os pases de semelhante dimenso, um dos muito poucos que se podem afirmar como um actor global.
A integrao europeia teve um impacto muito significativo na nossa poltica externa.
Mudou, desde logo, os hbitos de uma diplomacia que era puramente defensiva e orientada para a preservao do regime de ento e do imprio colonial.
Alterou profundamente a nossa relao com Espanha. Ao tempo de Salazar e Franco,
entre Portugal e Espanha no havia praticamente nem estradas nem pontes. Os dois ditadores apoiaram-se mutuamente em momentos-chave (sobretudo quando os respectivos regimes estiveram em perigo, face ao desenrolar do conflito mundial), mas suspeitavam profundamente um do outro, mantendo-se fiis tradio de desconfiana secular. Hoje Portugal
e Espanha so parceiros incontornveis na UE. As nossas economias esto profundamente
interligadas e abriram-se novas perspectivas para o reforo da cooperao, no apenas no
plano bilateral mas tambm no plano externo (por exemplo na Amrica Latina e no Magrebe), com benefcios mtuos cada vez mais evidentes.
A Europa amplificou o nosso poder de influncia no mundo. Sem um Portugal plenamente integrado na Europa, muito provavelmente no teria havido autodeterminao do povo de
Timor Leste (nem tampouco a UE poderia ter tido uma palavra a dizer num processo que,
no obstante as dificuldades actuais, ficar registado como um caso de sucesso na histria
das Naes Unidas).
A nossa adeso ajudou-nos a restabelecer os laos com os parceiros africanos, depois
8
Prefcio
9
Prefcio
Apresentao
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Dentro deste esprito, o enorme sucesso e interesse suscitados por uma obra lanada
aquando da Exposio Universal de Hannover Portugal 2000 levaram-nos agora sua
actualizao e reedio. O grande xito assentou na forma como apresentava a outros povos e naes e relembrava aos prprios portugueses as nossas especificidades histricas e culturais e as frmulas encontradas para se organizar e reger a vida em sociedade.
Tratou-se duma pea de referncia, ensastica, informativa e didctica, fruto dum repto
lanado a Antnio Reis, historiador e reconhecido especialista do sculo XX em Portugal, para coordenar uma obra voltada para o exterior, em que a anlise da evoluo da sociedade
portuguesa, da sua economia e das suas instituies seria complementada por uma panormica do renascimento cultural ocorrido desde 1974 at ento o retrato deste pas em mudana no ltimo quartel do sculo XX.
Como parmetros temporais para essa anlise, impunha-se proceder de forma adequada a uma sntese desse percurso. Aos autores de cada captulo, especialistas e investigadores universitrios de alto mrito, pediu-se a concentrao em dois momentos-chave desta
metamorfose: o 25 de Abril e o final do milnio, em que o pas investe decididamente na formao e na educao, no desenvolvimento de novas competncias e no crescente acesso
aos domnios mais elevados do conhecimento.
Durante este perodo verificaram-se em Portugal extraordinrias evolues e mudanas
de incontornveis efeitos, consequncia do reencontro nacional com a liberdade e a democracia, e duma nova atitude comunicante, participativa e empenhada no dilogo internacional, igualmente e naturalmente marcadas pela adeso Unio Europeia, em 1986. Numa
poca de grandes alteraes escala planetria, tratou-se de um ciclo de impetuosa transformao a nvel do territrio nacional, dos seus habitantes e todos os grandes sectores,
desde o econmico ao cultural, aqui com manifestas e inovadoras frmulas criativas da
arquitectura ao cinema, da literatura cincia, da msica s artes plsticas e performativas.
10
Apresentao
Retomado o projecto, apresenta-se agora uma viso das ltimas trs dcadas. Mais uma
vez, e tambm pela necessidade da actualizao da obra, se prova a permanente evoluo
do pas, as novas coordenadas, os novos dilogos, parceiros, inspiraes e esperanas.
O peso especfico da lngua portuguesa, expresso oficial de 200 milhes de habitantes
do planeta mas tambm lngua de trabalho e de cincia em fruns internacionais, o xito e
reconhecimento extramuros de autores e artistas de inspirao contempornea e as exposies em instituies de renome nas principais capitais mundiais so demonstraes do interesse e da importncia da defesa e promoo duma imagem de Portugal antigo e moderno, pioneiro duma globalizao que agora se implementa.
Esperamos, pois, que esta obra renovada contribua para um melhor conhecimento de
Portugal e dos seus valores e que, atravs dela, se demonstre com impacto e dignidade o
seu trajecto no rumo da expresso, da democratizao, da defesa dos direitos humanos,
das novas tecnologias e meios de comunicao, das energias renovveis e das preocupaes ambientais, indubitavelmente traados pelo sculo XX para um novo milnio e, esperamos, um Novo Mundo.
Ao Prof. Antnio Reis e a todos os que colaboraram neste trabalho o meu reconhecimento, bem como Misso para a Presidncia Portuguesa do Conselho da Unio Europeia, que
em boa hora o integrou nos seus projectos especiais.
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Apresentao
Introduo
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Antnio Reis
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Introduo
sociedade portuguesa. O trauma das guerras coloniais fora, afinal, mais forte. E o potencial trauma do fim do ciclo de mais de
cinco sculos de imprio ver-se-ia, ento,
facilmente sublimado pelo empenhamento
na transio democrtica com todos os
seus conflitos ideolgicos, primeiro, na
construo de um destino europeu, com a
integrao na Comunidade Europeia, depois.
No ter sido esta a ltima e derradeira
confirmao do que houve de onrico e ficcional na aventura imperial dos Portugueses, como Eduardo Loureno tem vindo a
acentuar? Uma aventura imperial que, afinal de contas, raros e modestos sinais exteriores de poder produziu no seu territrio
europeu e na sua prpria capital. Onde
est a monumentalidade de Lisboa comparada com a das sedes de outros imprios europeus? A sua majestade reside
mais nesse seu magnfico esturio, como
que a impelir-nos para o mar Atlntico, do
que nos seus edifcios, de onde se destacam mais os mosteiros do que os palcios. Tal como no resto do pas, como
mostram os casos de Mafra e Tomar. Sintomaticamente, como se o imprio estivesse sempre fora de ns e fosse da ordem
do milagre...
Regressado a si prprio e reencontrado
com a liberdade, Portugal lanou-se nos
braos da Europa, com o entusiasmo e
o frenesi de quem procurava recuperar o
tempo perdido nessa espcie de fuga de si
prprio e dos tempos do isolamento salazarista e das guerras coloniais. Como que
dando razo, com um sculo de atraso, ao
programa das Conferncias do Casino dos
intelectuais da Gerao de 70 e, com meio
sculo de atraso, aos apelos dos intelectuais seareiros. Foi a sua reconciliao
com o esprito de abertura que, em Quatrocentos, o lanou na aventura das descobertas, mas que, em Novecentos, acabara
por fech-lo numa redoma de vidro imune
aos novos tempos, aps sculos de oscila15
Introduo
17
Introduo
O Estado
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O Estado
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Antnio Reis
por ceder aplicao das regras de legitimao e funcionamento de uma democracia representativa, com a consequente introduo das modificaes adequadas ao
carcter o mais abrangente possvel prprio de uma Lei Fundamental.
Combinando a preocupao demoliberal na fundamentao da soberania e
na organizao do poder poltico com a
preocupao igualitria e solidarista na
definio das responsabilidades do Estado, a Constituio de 1976, com a ajuda
das sucessivas revises que a aliviaram
de uma retrica ideolgica demasiado datada, revelou-se apta a estabelecer o quadro institucional mais adequado para a
aplicao de um projecto democrtico de
vida colectiva, com a flexibilidade de meios
necessria para se adaptar evoluo histrica.
21
O Estado
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Retrato de Portugal
hoje pacfica na sociedade portuguesa e para todas as foras polticas representadas no Parlamento a definio de Portugal como uma Repblica soberana,
baseada na dignidade da pessoa humana
e na vontade popular e empenhada na
construo de uma sociedade livre, justa e
solidria (artigo 1.o), bem como a definio da Repblica Portuguesa como um
Estado de direito democrtico, baseado na
soberania popular, no pluralismo de expresso e organizao poltica democrticas, no respeito e na garantia de efectivao dos direitos e liberdades fundamentais
e na separao e interdependncia de poderes, visando a realizao da democracia
econmica, social e cultural e o aprofundamento da democracia participativa (artigo 2.o). A articulao entre o estabelecimento das regras formais de organizao
do poder democrtico e a definio de objectivos programticos mnimos no exerccio desse mesmo poder uma imagem de
marca da Constituio Portuguesa, que faz
dela uma das mais longas do mundo (296
artigos).
Com efeito, num Portugal sado em
1974 de uma longa ditadura conservadora
e opressiva, a elaborao da Constituio
no podia ficar confinada consagrao
de uma carta de direitos, liberdades e garantias e redaco das linhas gerais de
um sistema de funcionamento democrtico
dos rgos de soberania. Teria tambm de
dar resposta s prementes expectativas e
anseios de mudana social, que esmagadoramente se fizeram sentir, numa dimenso popular que extravasava da redutora
expresso utpica com que eram encarnados em sectores minoritrios. Graas aos
sbios equilbrios que os deputados constituintes souberam gerar, tanto no respeitante
ao controlo recproco dos diferentes poderes, como no respeitante ao modelo econmico-social, foi possvel dar a resposta justa aos anseios da sociedade portuguesa,
prevenindo tentativas de involuo antide22
O Estado
mocrtica e criando um clima de progressiva paz social propcio resoluo negociada dos conflitos.
Consolidadas as instituies representativas, reorganizada a vida econmica e
garantidos os direitos fundamentais dos
trabalhadores, ficou aberto o caminho, na
dcada de 80, a duas revises constitucionais, as quais, sem empobrecerem ou
violarem os princpios fundamentais da
Constituio de 1976, mais no fizeram do
que dispensar algumas vlvulas de segurana do sistema ento montado, numa
salutar confirmao da maturidade democrtica do regime institudo por fora da
revoluo de 25 de Abril de 1974. Com
efeito, tanto a aceitao de um rgo de
soberania poltico-militar como o Conselho
da Revoluo, at 1982, como a aposta
num forte sector pblico da economia, at
1989, longe de se revelarem como resultantes de princpios imutveis da arquitectura institucional do Estado ou da organizao econmica da sociedade, funcionaram
antes como benficas e teis almofadas de
proteco de uma democracia cujo parto
no foi fcil.
Em termos jurdico-constitucionais, o
perodo que decorre entre a aprovao da
Constituio de 1976 e a reviso constitucional de 1982 deve, no entanto, ser considerado como um perodo de transio,
durante o qual vigorou o regime de dupla
legitimidade dos rgos do poder poltico
estabelecido na Plataforma de Acordo
Constitucional celebrada em 26 de Fevereiro de 1976 entre o Movimento das Foras Armadas e os principais partidos polticos. Um regime em que se combinava a
legitimidade democrtica dos rgos
emergentes do sufrgio popular (Assembleia da Repblica e presidente da Repblica) com a legitimidade revolucionria do
Conselho da Revoluo. Por seu lado,
com a reviso constitucional de 1989 eliminou-se o equvoco que subsistia entre o
que deveria ser entendido como baliza
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O Estado
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Retrato de Portugal
A organizao
do poder poltico
e a forma de governo
Na organizao do poder poltico, submetida ao princpio da separao, equilbrio e
controlo recproco dos poderes, consagrou-se uma forma de governo semipresidencialista ou, mais rigorosamente e sobretudo a
partir da reviso de 1982, parlamentarista
com correctivo presidencial (cf. Vitorino,
1994).
O presidente da Repblica, eleito por
sufrgio universal e directo para um mandato de cinco anos, sem que seja admitida
a reeleio para um terceiro mandato consecutivo, tem o poder de dissoluo do
Parlamento unicameral (Assembleia da Repblica, composta por 230 deputados eleitos em 20 crculos eleitorais de acordo com
o sistema de representao proporcional e
o mtodo da mdia mais alta de Hondt na
converso dos votos em nmero de mandatos) e de demitir o governo, neste caso
apenas quando tal se torne necessrio
para assegurar o regular funcionamento
das instituies democrticas (artigo
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O Estado
195.o, n.o 2). Tem ainda o poder de submeter a referendo questes de relevante interesse nacional, mediante proposta da Assembleia da Repblica ou do governo em
matrias das respectivas competncias
(artigos 134.o e 115.o), bem como o direito
de veto sobre diplomas emanados da Assembleia da Repblica, ainda que esta
possa ultrapassar o veto presidencial confirmando o seu voto por maioria absoluta
ou de dois teros, conforme as matrias
em causa (artigo 136.o). Por seu lado, o governo, chefiado por um primeiro-ministro,
que nomeado pelo presidente da Repblica, ouvidos os partidos representados
na Assembleia e tendo em conta os resultados eleitorais, responsvel perante o
presidente da Repblica e a Assembleia
da Repblica (artigos 187.o e 190.o). A rejeio do programa do governo pela Assembleia da Repblica, a no aprovao
de uma moo de confiana ou a aprovao de uma moo de censura por maioria
absoluta dos deputados em efectividade
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Retrato de Portugal
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O Estado
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O Estado
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O Estado
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Retrato de Portugal
O sistema partidrio,
as eleies
e a participao poltica
Para a consolidao e estabilizao do
sistema democrtico muito contribuiu a
continuidade quer do sistema de foras
partidrias, quer do sistema eleitoral, que
se revelou apto a garantir a alternncia no
poder e a formao de governos de legislatura.
Com efeito, apenas nas eleies de
1985 uma nova fora poltica conseguiu
pr em causa, por um curto perodo, a hierarquia habitual do xadrez partidrio: o Partido Renovador Democrtico (PRD), constitudo em torno da figura do presidente
Ramalho Eanes, que obteve ento 18 %
dos votos, custa fundamentalmente do
PS, tendo cado nas eleies seguintes, em
1987, para os 5 % e desaparecido depois
do mapa parlamentar. De resto, o sistema
eleitoral proporcional e a lei em vigor, que
no contm nenhuma clusula-barreira em
termos percentuais, tm permitido ocasionalmente a eleio de deputados em re28
O Estado
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O Estado
25-04-1976
PPD 73
PS 74
AD 121
PS 107
CDS 42
APU 47
PCP 40
UDP 1
PSD 7
UDP 1
05-10-1980
25-04-1983
06-10-1985
PPD-PSD 75
FRS 71
AD 126
PRD 45
PS 57
PS 101
APU 44
PPD-PSD
88
APU 38
APU 41
CDS 30
CDS 22
UDP 1
PPD/PSD
8
19-07-1987
PS 60
01-10-1995
06-10-1991
PPD-PSD 148
PPD-PSD 135
PS 72
PPD-PSD 88
PS 112
CDU 31
CDS-PP 15
PCP/PEV 17
PRD 7
CDS 4
17-03-2002
10-10-1999
PPD-PSD 81
PS 96
PS 115
PCP/PEV
17
CDS-PP
15
BE 2
PCP/
/PEV
15
CDS 5
PSN 1
20-02-2005
PPD-PSD 105
PPD-PSD 75
PS 121
CDS-PP 14
PCP/PEV
12
BE 3
PCP/PEV 14
CDS-PP
12
BE 8
29
O Estado
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Retrato de Portugal
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50
40
30
20
10
PE'94
AR'95
PR'96
AL'97
60
AC - Assembleia Constituinte
AR - Assembleia da Repblica
PR - Presidncia da Repblica
AL - Autrquicas
R - Referendo
PE - Parlamento Europeu
PE'89
AL'89
PR'91
AR'91
AL'93
70
AC'75
AR'76
PR'76
AL'76
AR'79
AL'79
AR'80
PR'80
AL'82
AR'83
AR'85
AL'85
PR'86-1
PR'86-2
AR'87
PE'87
80
AR'99
PR'01
AL'01
AR'02
PE'04
AR'05
AL'05
PR'06
R. FEV'07
R. JUN'98
R. NOV'98
PE'99
O Estado
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Retrato de Portugal
Manifestao, em 1999, sob a forma de cordo humano, a favor da interveno das tropas
da ONU em Timor Leste, em resultado dos violentos confrontos que tiveram lugar na
sequncia do referendo acerca da independncia daquele territrio.
32
O Estado
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O Estado
O sistema judicial
Abolidos os tribunais especiais e garantida
a independncia dos juzes na sequncia
da implantao do regime democrtico, a
Constituio consagrou uma organizao
judicial, assente em vrios tipos de tribunais, e um estatuto prprio para os magistrados.
Assim, para alm do Tribunal Constitucional, criado com a reviso constitucional
de 1982 e que herdou as funes de fiscalizao da constitucionalidade das leis, at
ento atribudas ao Conselho da Revoluo, foram definidas trs categorias de tribunais: o Supremo Tribunal de Justia e os
tribunais judiciais de primeira e de segunda instncia; o Supremo Tribunal Administrativo e os demais tribunais administrativos
e fiscais; e o Tribunal de Contas. Os primeiros so os tribunais comuns em mat-
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Retrato de Portugal
As Foras Armadas
Com a reviso constitucional de 1982, que
extinguiu o Conselho da Revoluo e ps
fim ao sistema de autogoverno em que se
encontravam desde a revoluo de 25 de
Abril de 1974, as Foras Armadas passaram a estar integralmente subordinadas ao
poder poltico democrtico. A eleio do
primeiro presidente da Repblica civil em
1986 veio, por seu turno, reforar no plano
simblico essa dependncia, aproximando-as ainda mais do estatuto que as caracteriza nas democracias ocidentais.
A lei e a prtica poltica dominante
preocuparam-se, entretanto, em salvaguardar a iseno e o apartidarismo da instituio militar, conferindo-lhe ainda um
aprecivel grau de autonomia no plano estritamente organizativo, no mbito de um
modelo constitucional e legal de controlo
poltico que corresponsabiliza equilibradamente o presidente da Repblica, o governo e a Assembleia da Repblica (cf. Vitorino, 1998).
Assim, o presidente da Repblica, que
exerce por inerncia o cargo de comandante supremo das Foras Armadas, nomeia e exonera os principais chefes militares (chefe do Estado-Maior-General das
Foras Armadas e chefes dos estados-maiores do Exrcito, da Armada e da Fora Area), sempre sob proposta do governo. A partir de 1995, a escolha dos nomes
propostos pelo governo deixou de estar
condicionada por uma lista prvia de trs
nomes seleccionados pela prpria instituio militar, que passou a desempenhar
um papel meramente consultivo. A Assembleia da Repblica detm, por sua vez,
vastas competncias legislativas no domnio
da defesa nacional, definio dos deveres
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O Estado
dela decorrentes e bases gerais da organizao, do funcionamento, do reequipamento e da disciplina das Foras Armadas, para
alm de tudo o que diga respeito s restries ao exerccio de direitos por militares,
em nome do estrito apartidarismo dos seus
membros. Por via dos seus poderes oramentais e da competncia para aprovar as
chamadas leis de programao militar, que
fixam o montante e a distribuio dos investimentos em equipamento, exerce igualmente uma importante responsabilidade de controlo da instituio. Por ltimo, existe ainda,
com dignidade constitucional e funes
consultivas, o Conselho Superior de Defesa
Nacional, presidido pelo presidente da Repblica e integrando o primeiro-ministro, alguns ministros, dois deputados, os presidentes dos governos regionais dos Aores
e da Madeira e os chefes militares.
A reconverso de umas Foras Armadas
empenhadas ao longo de mais de uma dcada numa guerra colonial em trs frentes e
chamadas depois a desempenhar um delicado papel de conduo da transio para
um regime democrtico acabou por se processar num ambiente de tranquilidade e
sem sobressaltos. A plena integrao de
Portugal no concerto das democracias europeias, reforada pela adeso Comunidade Europeia, e a alterao do cenrio
geostratgico contriburam igualmente para
a progressiva diminuio do seu peso especfico interno. Mas se eliminaram quaisquer
tentaes de envolvimento das Foras Armadas em misses de segurana interna,
fora das situaes de excepo do estado
de guerra ou dos estados de stio e de
emergncia, reforaram, em compensao,
a sua importncia como instrumento da diplomacia e da poltica externa portuguesa
num mundo em que, aps a queda do imprio sovitico, as misses internacionais
de paz se tornam cada vez mais frequentes.
A reviso constitucional de 1997 reflectiu
esse facto ao incluir um novo nmero no actual artigo 275.o, que explicitamente lhes
atribui a incumbncia de satisfazer os compromissos internacionais do Estado portugus no mbito militar e participar em misses humanitrias e de paz assumidas
pelas organizaes internacionais de que
Portugal faa parte. As Foras Armadas portuguesas participaram ou participam, deste
modo, em misses da Organizao das Naes Unidas (ONU) em Angola, Moambique, Lbano, Timor Leste e Sara Ocidental, e
em misses da NATO (North Atlantic Treaty
Organization, Organizao do Tratado do
Atlntico Norte OTAN) ou da UE na Bsnia-Herzegovina, no Kosovo, no Afeganisto
e Repblica do Congo. Em finais de 1999 integraram tambm a Interfet fora internacional que, com mandato do Conselho de
Segurana da ONU, interveio em Timor Leste para pr termo violncia desencadeada
pelo Exrcito indonsio e as milcias locais
contra a populao, que em referendo se
Soldados portugueses integrados numa
fora da NATO em misso na
Bsnia-Herzegovina (1996).
35
O Estado
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Retrato de Portugal
36
O Estado
seu tempo drasticamente reduzido para oito meses no Exrcito, sendo quase integralmente substitudo pelo voluntariado nos
restantes ramos. A partir da reviso constitucional de 1997, deixou de ser uma obrigatoriedade constitucional, passando a lei
a regular as suas formas. Em 2003 foi integralmente substitudo pelo regime de voluntariado profissionalizado.
As relaes
com os estados lusfonos
No contexto da poltica externa e das relaes internacionais do Estado portugus
assumem particular relevo os laos privilegiados de amizade e cooperao com os
pases de lngua portuguesa, a que se refere o artigo 7.o da Constituio.
As feridas das guerras coloniais deram
rapidamente lugar a sentimentos de ligao afectiva e cultural e de respeito mtuo
com os povos das ex-colnias africanas,
traduzidos numa poltica de cooperao
e solidariedade a vrios ttulos exemplar e
que recolhe o apoio de todos os quadrantes partidrios portugueses. O regresso de
Portugal sua matriz europeia foi, assim,
acompanhado por uma redefinio da sua
vocao extra-europeia, no desempenho
de um papel de ajuda diplomtica, econmica e cultural que hoje reclamado de
Cabo Verde a Timor Leste.
A constituio em 1997 da Comunidade
dos Pases de Lngua Portuguesa (CPLP)
representou simultaneamente o coroamento
de um processo de normalizao e aprofundamento das relaes com os novos estados de lngua oficial portuguesa e o Brasil e
o ponto de partida para iniciativas conjuntas
no plano poltico, econmico e cultural, no
respeito pelas instituies democrticas e
pelos direitos humanos, que contribuam
igualmente para a afirmao desta comunidade no sistema internacional.
Neste contexto assume ainda particular
importncia o apoio que tem vindo a ser
% % % % % % % % % % % % % % % % % % % % % %
% % % % % % % % % % % % % % % % % % % % % %
O Estado
unificao poltica, se tm visto progressivamente lateralizados pelas prprias caractersticas e exigncias do processo de
deciso comunitrio e pelo inevitvel alargamento do mbito de matrias objecto do
ordenamento jurdico comunitrio. Sem esquecer o crescente peso da tecnoburocracia administrativa nacional, que se reporta
muitas vezes directamente Comisso Europeia e sua estrutura administrativa, assim contribuindo tambm para a relativa
perda de poder dos rgos de soberania
enquanto tal (cf. Vitorino, 1994).
A conscincia das inevitveis limitaes
de soberania postuladas pela crescente integrao europeia no s no inibe como
estimula uma interveno mais activa do
Estado portugus nas instituies comunitrias, onde se vem batendo por solues
que, beneficiando a Unio Europeia no seu
conjunto, se repercutem igualmente de forma positiva no desenvolvimento da sociedade portuguesa e na salvaguarda dos interesses nacionais. Foi este o esprito que
presidiu negociao da Agenda 2000,
onde, apesar das dificuldades de uma conjuntura restritiva, foi possvel garantir a continuidade de importantes ajudas estruturais
at 2006, no mbito do III Quadro Comunitrio de Apoio. E foi este tambm o esprito
que conduziu aprovao de um novo arti37
O Estado
% % % % % % % % % % % % % % % % % % % % % %
% % % % % % % % % % % % % % % % % % % % % %
Retrato de Portugal
Os desafios do futuro
imediato
O Estado de direito democrtico possui hoje em Portugal uma solidez nunca antes
atingida no passado.
38
O Estado
% % % % % % % % % % % % % % % % % % % % % %
% % % % % % % % % % % % % % % % % % % % % %
O Estado
39
O Estado
Sociedade
% % % % % % % % % % % % % % % % % % % % % % % % % % % % % % % % % % % % % % % % % % % %
A sociedade
O territrio
A lngua portuguesa
A comunicao social
A sociedade do conhecimento
e da informao
O desporto
A sociedade
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% % % % % % % % % % % % % % % % % % % % % %
% % % % % % % % % % % % % % % % % % % % % %
Retrato de Portugal
O Pavilho da Utopia, palco de inmeros espectculos e uma das principais atraces durante
a Expo 98, agora designado Pavilho Atlntico.
Evolues demogrficas
e recomposies sociais
Os processos de recomposio social pelos
quais a populao portuguesa tem vindo a
passar desdobram-se em diversas dimen44
Sociedade
% % % % % % % % % % % % % % % % % % % % % %
% % % % % % % % % % % % % % % % % % % % % %
A sociedade
de natalidade e um perfil demogrfico caracterizado por uma pirmide etria de base larga e topo afilado. As condies de vida muito difceis, s quais na altura se
vinha ainda somar o recrutamento militar
em massa dos jovens do sexo masculino,
enviados pelo regime de ento para as foras armadas da Guerra Colonial, tudo foi
contribuindo para que essa populao se
envolvesse em intensos movimentos migratrios. Procurava, assim, vias de acesso a
vida melhor, quer na emigrao para a Europa mais desenvolvida sobretudo para
Frana e para a Alemanha , quer nas migraes internas para as principais cidades, muito em especial para as reas em
industrializao de Lisboa e do Porto.
A obteno de emprego na indstria ou
nos servios pessoais, por um lado, e o
acesso maior escolarizao dos filhos,
por outro, foram dois dos vectores dinamizadores, ou, pelo menos, duas das consequncias decisivas destes movimentos populacionais. Com elas veio a insero em
modos de vida urbanos e o comeo de outros processos fundamentais: uma significativa mudana dos valores sociais prevalecentes e dos comportamentos a eles
associados, bem como alteraes globais
de tendncias, envolvendo o decrscimo
da natalidade e a diminuio da dimenso
dos agregados domsticos, com as respectivas implicaes sociodemogrficas e
socioculturais, ou ainda a acelerao sem
precedentes da concentrao da populao numa estreita faixa urbanizada do litoral do pas, com a correspondente desertificao gradual do resto do territrio.
Alguns destes processos esto em curso at hoje. Outros sofreram inflexes.
Quanto evoluo da estrutura demogrfica, a tendncia de fundo para um
progressivo duplo envelhecimento da populao, na base e no topo, ou seja,
para a diminuio da proporo de jovens
e para o aumento da taxa de idosos (ver
quadro da p. 47).
As consequncias so multifacetadas
tal como j anteriormente tinha acontecido, ou est em plena manifestao, de um
modo mais geral, no conjunto dos pases
europeus , em aspectos como os das
mudanas nos padres de consumo, nos
sistemas de valores ou nas relaes intergeracionais, ou ainda como os das implicaes nas polticas de educao, de segurana e de assistncia social. Voltar-se-,
adiante, a algumas destas questes.
Pelo seu lado, a evoluo oscilante do
peso relativo da faixa intermdia dos adultos primeiro decrescente, depois em
crescimento acentuado e, mais recentemente, em quase estacionaridade s se
compreende tendo em conta a conjugao
das tendncias continuadas para a diminuio das taxas de natalidade e de mortalidade com os movimentos migratrios globais. Na dcada de 60 e na primeira
metade da dcada de 70, aos fluxos emigratrios de intensidade mxima sucede
um abrandamento a que se articula, na segunda metade da dcada de 70, o regresso de parte dos emigrantes europeus e, sobretudo, o retorno de muitos dos antigos
residentes nas ex-colnias, depois do derrube da ditadura e da sua institucionalizao como pases independentes.
A partir da dcada de 80 aumenta o volume
da recepo a imigrados, em particular provenientes desses novos pases africanos.
Progressivamente, vai-se-lhes juntando um
forte contingente de brasileiros e de imigrados vindos de pases do Leste europeu.
No plano geogrfico, a progressiva desertificao do interior rural continua a
acentuar-se, acompanhada da concentrao da populao na faixa litoral urbana,
muito em especial nas reas metropolitanas de Lisboa e do Porto, ou, mais recentemente, tambm em algumas cidades prximas daquelas (Setbal, Leiria, Aveiro,
Braga) e na regio turstica do Algarve. Estas assimetrias regionais so, alis, fonte
de importantes problemas de desenvolvi45
Sociedade
% % % % % % % % % % % % % % % % % % % % % %
% % % % % % % % % % % % % % % % % % % % % %
Retrato de Portugal
46
Sociedade
% % % % % % % % % % % % % % % % % % % % % %
% % % % % % % % % % % % % % % % % % % % % %
A sociedade
1960
1970
1981
1991
2001
29,2
62,8
8,0
28,4
61,9
9,7
25,5
63,1
11,4
20,6
66,0
13,4
16,0
67,6
16,4
Taxa de analfabetismo
33,1
25,6
18,6
11,0
9,0
3,9
3,3
92,8
6,4
5,5
88,1
12,8
12,7
74,5
1,7
29,5
3,5
43,6
5,8
45,0
11,8
55,0
23,9
55,2
37,5
63,8
13,0
39,4
62,1
19,0
42,5
53,3
29,0
44,6
54,3
35,5
48,2
54,8
42,0
43,6
28,9
27,5
31,7
32,3
36,0
19,7
38,7
41,6
11,2
37,4
51,4
5,0
35,1
59,9
6,0
2,6
3,8
14,1
14,6
30,6
28,3
3,0
4,9
7,3
15,2
19,4
34,0
16,2
4,4
7,9
7,2
11,3
26,0
36,0
7,2
8,5
11,7
8,5
6,2
27,1
34,3
3,7
11,9
16,7
4,8
2,2
32,3
30,3
1,8
% % % % % % % % % % % % % % % % % % % % % %
% % % % % % % % % % % % % % % % % % % % % %
Retrato de Portugal
% % % % % % % % % % % % % % % % % % % % % %
% % % % % % % % % % % % % % % % % % % % % %
A sociedade
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% % % % % % % % % % % % % % % % % % % % % %
Retrato de Portugal
Estruturas familiares
e situao das mulheres
Em Portugal, nos ltimos trinta a quarenta
anos, tal como aconteceu nos restantes pases da UE e na maioria dos pases ocidentais, verificaram-se mudanas significativas
nos indicadores demogrficos referentes
aos comportamentos familiares: desceram
as taxas de natalidade e da nupcialidade,
diminuiu a dimenso mdia dos grupos domsticos e a percentagem de famlias complexas; em contrapartida, aumentou a taxa
de divrcio, subiram os nascimentos fora do
casamento, aumentaram os agregados de
pessoas ss (ver quadro da p. 51). A par
destas transformaes, a subida da taxa de
actividade feminina e, sobretudo, a crescente participao de mes com filhos pequenos no mercado de trabalho, com bvios impactes directos na vida familiar, foi
tambm extremamente ntida.
A configurao resultante dos indicadores referidos permite reconhecer, em termos gerais, que Portugal acompanhou os
outros pases europeus no sentido global
das transformaes ocorridas, mas no
deixa de manter alguma especificidade dado que partiu para o mesmo movimento
de patamares diferentes e conheceu ritmos
de transformao eles prprios particulares. Antes ainda de situar comparativamente Portugal no contexto internacional, vale a
pena, de forma genrica, caracterizar as
mudanas referidas.
Porque descem a natalidade e a nupcialidade? Porque aumentam o divrcio e os
nascimentos fora do casamento? Porque
crescente o nmero de mulheres que trabalha fora de casa e se quer manter nessa si50
Sociedade
% % % % % % % % % % % % % % % % % % % % % %
% % % % % % % % % % % % % % % % % % % % % %
A sociedade
carar numa perspectiva ritualista e pragmtica (Almeida et al., 1998; Torres, 2002).
Numa palavra, e ao contrrio do que numa
primeira fase de surgimento destas mudanas se pretendeu fazer crer com a ideia de
crise da famlia, o que declinou foram apenas as configuraes familiares e os valores de carcter mais tradicionalista.
So estas tendncias gerais no plano
dos valores que contribuem para explicar a
transformao dos indicadores demogrficos que se verificou em toda a Europa. Mas
se o movimento foi na mesma direco, os
pases partiram de diferentes patamares.
O indicador demogrfico em maior convergncia em toda a UE provavelmente o ndice sinttico de fecundidade, ou a descendncia mdia, j que se situa sempre abaixo
da reposio das geraes. Contudo, mesmo aqui se verificam variaes sensveis, registando os pases nrdicos valores para os
ndices sintticos de fecundidade acima dos
pases da Europa do Sul.
Que especificidades apresenta Portugal, nos aspectos focados, em relao aos
outros pases europeus? Como nos distinguimos? Em que nos aproximamos? Em
Portugal, tal como no resto da Europa do
1970
1981
1991
1999
2004
3,2
3,0
2,1
1,6
1,5
1,4
7,8
9,4
7,8
7,3
6,9
4,7
0,1
0,1
0,7
1,1
1,8
2,2
Taxa de
divrcio3
Casamentos catlicos
90,7
86,6
74,6
72,0
66,4
57,1
9,5
7,3
9,5
15,6
20,8
29,1
3,8
3,7
3,4
3,1
2,8*
11,5
12,9
15,5
15,4
13,9
10,4
complexas5
2,8**
Nmero de filhos por mulher em idade fecunda 15/49 anos; 2 Casamentos 1000/pop. mdia; 3 Divrcios 1000/
/pop. mdia; 4 Total de nados-vivos nascidos fora do casamento por 100 nados-vivos; 5 Os critrios para a definio deste tipo de famlias pode ser encontrado em Almeida, Guerreiro, Lobo, Torres e Wall (1998: 49).
* Recenseamento de 1991.
**Recenseamento de 2001.
Fontes: INE, Estatsticas Demogrficas, 2004; recenseamentos da populao de 1981, 1991 e 2001; Almeida,
Costa e Machado, 1994; Torres, 1996; Almeida, Guerreiro, Lobo, Torres e Wall, 1998; Aboim, 2003.
51
Sociedade
% % % % % % % % % % % % % % % % % % % % % %
% % % % % % % % % % % % % % % % % % % % % %
Retrato de Portugal
que a que mais se casa, menos se coabita, menos filhos h fora do casamento,
mais se pratica o casamento catlico e menores so os valores do divrcio. Em Lisboa e Vale do Tejo, bem como no Algarve e
um pouco menos no Alentejo, so sempre
mais elevados do que no Norte e Centro os
valores que apontam para perspectivas
menos tradicionalistas.
Apesar de estas serem diferenas que
permanecem ao longo das ltimas dcadas, a verdade que o sentido global das
transformaes o mesmo. Isto , tambm
no Norte e no Centro tendem a descer indicadores como o casamento catlico, a
nupcialidade e a natalidade, e a subir os
nascimentos fora do casamento e o divrcio. Os valores so porm consistentemente inferiores aos das regies do Sul, com
excepo, para alguns deles, da regio do
Grande Porto.
Estas diferenas no impedem a notvel convergncia de opinies que se verifica a nvel nacional quando analisamos as
respostas a inquritos sobre a famlia, a
conjugalidade, o divrcio e outros aspec-
Taxa bruta
de
natalidade
29,1
4,7
2,2
10,4
3,7
4,6
2,2
10,3
2,1
19,5
5,2
1,9
10,2
60,7
2,8
24,2
4,6
2,0
9,2
Lisboa e Vale
do Tejo
47,2
6,1
41,4
4,3
2,7
11,5
Alentejo
49,4
4,7
34,7
3,8
1,8
9,2
Algarve
37,6
7,3
45,8
3,9
2,4
11,7
R. A. Aores
23,7
1,9
20,4
6,2
2,6
12,5
R. A. Madeira
38,6
2,3
25,2
6,0
2,5
12,2
NUTS II
Casamentos
catlicos
Em unio
de facto*
Portugal
57,1
3,7
Continente
58,8
Norte
68,0
Centro
52
Sociedade
% % % % % % % % % % % % % % % % % % % % % %
% % % % % % % % % % % % % % % % % % % % % %
A sociedade
tos relacionados como, por exemplo, a simetria entre homens e mulheres na famlia
e no trabalho. possvel que mais do que
serem modernos, muitos portugueses gostem da ideia da modernidade, deixando
claramente para trs as prticas correspondentes. Por exemplo, em relao diviso das tarefas domsticas e dos cuidados
com os filhos, os homens portugueses esto entre aqueles que menos nelas participam com as mulheres mas so, simultaneamente, dos que mais consideram que
estas podem e devem trabalhar fora de casa em paridade com os homens.
E quanto situao das mulheres? Como se viu atrs, a evoluo da participao
das mulheres no mercado de emprego
muito significativa em Portugal (ver quadro
da p. 47). Comparando os dados do recenseamento de 1981 com os de 2001 conclui-se pela existncia de mais 900 000
mulheres com actividade econmica em
2001 havendo, em contrapartida, apenas
mais 90 000 homens do que h vinte anos
atrs (Torres, 2004). Esta espectacular progresso feminina no mercado de trabalho
traduz-se na presena muito significativa
de mulheres em vrias categorias socioprofissionais, das menos qualificadas s
mais qualificadas1. Quanto s ltimas, de
resto, verifica-se que h mesmo hoje mais
mulheres quadros mdios e superiores do
que homens2. No pode no entanto deixar
de se sublinhar, em simultneo, a forte concentrao de mulheres em sectores de menor qualificao.
Esta grande proximidade entre os sexos
quanto presena no mercado de trabalho
1 Os nmeros absolutos so concludentes: em 1981
havia 2 649 000 homens activos passando em 2001
para 2 742 000, enquanto as mulheres activas eram
1 377 000 em 1981 e passam para 2 248 000 em 2001.
2 Quanto aos quadros mdios e superiores em 2001
as mulheres constituam um contingente de 456 140,
enquanto os homens atingiam os 450 180. Desagregando as categorias chega-se concluso de que
esta diferena no se alimenta fundamentalmente
dos quadros mdios mas, sobretudo, dos quadros
superiores e dos grupos profissionais mais qualificados (Torres, 2004).
traduz-se no facto de a diferena entre homens e mulheres perante a actividade econmica, o que habitualmente se designa
por segregao ocupacional, ser das menores da Europa a 15 e a 25. Portugal aproxima-se aqui, novamente, dos pases nrdicos e agora tambm de alguns dos
parceiros europeus mais recentes da Europa a 25. Em 2004, a diferena quanto
participao directa na actividade econmica entre homens e mulheres na Sucia,
na Finlndia e na Dinamarca situava-se
sempre abaixo ou na zona dos 10 %
(7,7 %, 9 % e 10 %, respectivamente) e em
Portugal subia para 15 %, tal como na Hungria, e para um pouco menos (14 %) na Estnia. Mas tais diferenas em pases como
a Espanha, Itlia ou Grcia atingiam nos
trs pases do Sul os 23 %.
claro que as distines entre homens
e mulheres perante o mercado de trabalho
no se resumem proporo quantitativa
das respectivas participaes. A discriminao feminina no emprego est relacionada com a insero das mulheres em certas
actividades e ocupaes, em geral menos
qualificadas, e em sectores de actividade
globalmente mais mal remunerados. Mesmo
quando ocupam lugares mais qualificados
tendem a no ocupar os lugares de topo
dessas carreiras, pelo efeito que se tem
chamado de tecto de vidro. A esta discriminao esto associados factores ideolgicos, como aqueles que contribuem para
que se atribua s mulheres, mesmo quando
trabalham fora de casa, situao da grande
maioria, o essencial das responsabilidades
familiares. Assim, as diferenas de remunerao entre os sexos, embora se tenham esbatido sobretudo a partir dos anos 80, so
ainda significativas. No caso portugus as
mulheres, em 1994, ganhavam apenas cerca de 72,6 % do salrio dos homens em
profisses manuais e 70,1 % em profisses
no manuais. Em 2000, as mulheres tinham
remuneraes base que eram apenas
77,6 % das masculinas, assinalando assim
53
Sociedade
% % % % % % % % % % % % % % % % % % % % % %
% % % % % % % % % % % % % % % % % % % % % %
Retrato de Portugal
uma fraca progresso3. Dados de inquritos nacionais revelam tambm que mesmo
para nveis de escolaridade semelhantes
(ensino bsico e secundrio) os homens,
em termos de remunerao mdia lquida
mensal, situam-se no escalo de rendimento imediatamente acima do das mulheres,
auferindo entre 375 e 750 euros, enquanto
a maioria destas se concentra no grupo de
rendimentos at aos 375 euros4 (Torres et
al., 2004). Comparando a nossa realidade
com a de outros pases da Europa quanto
s diferenas salariais entre homens e mulheres verificamos que em 2000 a nossa diferena se situava, como j se referiu, nos
22,4 % mas esse valor era inferior na Hungria (19,5 %), na Espanha (18,5 %), na Finlndia (17,8 %), na Frana (16,4 %) e na
Noruega (14,5 %)5.
A particularidade mais relevante da fora de trabalho feminina portuguesa em relao s congneres europeias, em todo o
caso, o facto de o trabalho ser basicamente a tempo completo e o facto de as
mes com filhos pequenos no abandonarem a actividade laboral. Portugal era assim o pas da UE a 15 em que as mes de
filhos pequenos e as mulheres de forma
global trabalhavam mais horas. Trata-se de
uma situao que, como existem fracos
apoios em termos de equipamentos pblicos e cada vez menos se pode contar com
o recurso aos familiares para tomar em permanncia conta das crianas, se traduz em
sobrecarga financeira para as famlias ou
em ms solues socioeducativas, como
se conclui em estudos recentes (Torres e
3
54
Sociedade
% % % % % % % % % % % % % % % % % % % % % %
% % % % % % % % % % % % % % % % % % % % % %
A sociedade
10
20
Ensino bsico
30
40
50
Ensino secundrio
60
70
80
90
100
Fonte: TORRES, Anlia, Vida Conjugal e Trabalho, Oeiras, Celta Editora, 2004.
tente em 2001 parece confirmar esta tendncia que se esboava no incio dos anos
90. Em primeiro lugar, Portugal (51,7 %)
surge logo a seguir Itlia (51,8 %) sendo
estes os nicos pases da Europa a 15 em
que se verifica ligeira supremacia das mulheres doutoradas relativamente aos homens, embora na Europa a 25 a Litunia
(52,5 %) e a Estnia (51,7 %) ultrapassem
ligeiramente estes valores. Em segundo
lugar, interessante verificar a distribuio das doutoradas por reas cientficas.
Aqui Portugal destaca-se claramente de
todos os outros pases da Europa a 25
quase sempre por ser o pas em que as
mulheres tm uma participao mais elevada em reas de formao habitualmente
mais masculinizadas. Assim, para valores
registados em 2001, em cincia, matemticas e computao Portugal tem uma
percentagem de mulheres doutoradas de
49,8, quando a mdia da Europa dos 15
de 35,7 %, em engenharia e construo, 39,1 %, quando a mdia de
20,6 %, e em cincias sociais, gesto e
direito, 46,1 %, quando a mdia 39,3 %
(European Comission, 2003).
55
Sociedade
% % % % % % % % % % % % % % % % % % % % % %
% % % % % % % % % % % % % % % % % % % % % %
Retrato de Portugal
Esta tendncia vinha j, de resto, a esboar-se tambm nos anos 80, e explica-se tambm pela falta enorme de quadros
na cincia que o crescimento universitrio
e a mudana poltica em 1974 vieram revelar (Amncio, 2003). Embora tambm se
verifique que h predominncia de mulheres nos recursos humanos em cincia e
tecnologia (mais de 70 %) e mesmo no nmero de investigadores, a verdade que
quando se trata de lugares de senioridade
acadmica, eles so basicamente ocupados pelos homens. Em Portugal a percentagem de mulheres que ocupa este tipo de
lugares atinge apenas os 23,9 %, sendo,
ainda assim, a mais elevada da Europa dos
15, onde a mdia de 15,2 % (European
Comission, 2003).
Como explicao para a existncia em
Portugal de mais mulheres em lugares habitualmente mais ocupados por homens
tm sido apontados factores da histria recente. Entre eles, como se referiu, a Guerra
Colonial (1961-1974), que, mobilizando os
jovens do sexo masculino, abriu para as
Jornada no Parlamento sobre participao
feminina na poltica.
56
Sociedade
% % % % % % % % % % % % % % % % % % % % % %
% % % % % % % % % % % % % % % % % % % % % %
A sociedade
Migraes e minorias
Portugal tem sido, do ponto de vista migratrio, um pas de todos os fluxos. Para alm
das migraes internas, de fixao virtualmente definitiva, que, sobretudo nos anos
60 e 70, levaram extrema litoralizao do
pas, h a registar, no plano externo, quatro
importantes movimentos de populao: emigrao, retorno das ex-colnias, regresso
de emigrantes e imigrao. excepo do
segundo, todos eles so fluxos em aberto.
A emigrao acompanha a histria portuguesa como um dos seus factores estruturais. Ela foi contnua e numericamente
significativa at meados da dcada de 50,
em que se procurava principalmente destinos no europeus Brasil, Estados Unidos da Amrica (EUA), Venezuela , e co-
% % % % % % % % % % % % % % % % % % % % % %
% % % % % % % % % % % % % % % % % % % % % %
Retrato de Portugal
% % % % % % % % % % % % % % % % % % % % % %
% % % % % % % % % % % % % % % % % % % % % %
A sociedade
da pouco estudados, em termos econmicos, sociais e culturais. Dois aspectos merecem ser destacados, desse ponto de vista.
Um o facto de, tanto quanto se sabe,
os pontos a que se regressa serem frequentemente aqueles de onde se partiu. Se
esse movimento est longe de ser suficiente para inverter o processo de desertificao e desvitalizao que afectou as zonas
interiores do pas, ele concorre, tal como j
acontecera com o retorno das ex-colnias,
para lhe atenuar os efeitos.
O segundo tem a ver com as idades
dos emigrantes que regressam e com o
modo como se d a sua reinsero na sociedade e na economia. A par daqueles
que s voltam depois de reformados, outros regressam ainda em idade activa, e
trazem descendentes menores de idade,
minorando, portanto, o envelhecimento populacional das respectivas reas de residncia, e trazendo efeitos locais positivos
em termos econmicos e de recomposio
socioprofissional (Amaro, 1985).
59
Sociedade
% % % % % % % % % % % % % % % % % % % % % %
% % % % % % % % % % % % % % % % % % % % % %
Retrato de Portugal
% % % % % % % % % % % % % % % % % % % % % %
% % % % % % % % % % % % % % % % % % % % % %
A sociedade
% % % % % % % % % % % % % % % % % % % % % %
% % % % % % % % % % % % % % % % % % % % % %
Retrato de Portugal
% % % % % % % % % % % % % % % % % % % % % %
% % % % % % % % % % % % % % % % % % % % % %
A sociedade
63
Sociedade
% % % % % % % % % % % % % % % % % % % % % %
% % % % % % % % % % % % % % % % % % % % % %
Retrato de Portugal
tias e Leal, 2005; Machado, no prelo). Embora muitos desses jovens conheam
insucesso e abandono escolar, a sua situao no substancialmente diferente da
dos jovens autctones de idntica condio social.
Claramente pior, em termos escolares e
profissionais, esto os jovens ciganos. Por
sua vez, os filhos dos indianos portugueses
tm, maioritariamente, desempenhos escolares acima da mdia nacional e parecem
conseguir encontrar nas pequenas e mdias actividades empresariais das suas famlias uma insero profissional relativamente desafogada.
J do lado cultural, enquanto os jovens
indianos e ciganos, por razes diferentes,
no parecem afastar-se muito dos seus pais,
no que toca ao fechamento das sociabilidades, os das minorias africanas tm sociabilidades intertnicas fortes, que fazem mesmo
com que a auto-designao por origens nacionais, muito importante na gerao dos
seus ascendentes, v perdendo sentido.
O futuro das minorias imigrantes joga-se tambm, finalmente, no plano poltico.
A situao de desfavorecimento de muitos
dos seus membros significa, actualmente,
vulnerabilidade excluso social e dfice
de cidadania. H, no entanto, processos
de sinal contrrio, que no deixaro de
contribuir para alterar tal situao. Deles
so exemplo os efeitos correctores das polticas sociais, a extenso a muitos imigrantes do direito de votar e ser eleitos localmente, o acesso hoje menos difcil
nacionalidade portuguesa por parte dos
seus filhos ou ainda a crescente interveno pblica do associativismo imigrante.
Polticas, instituies
e parceiros sociais
Um dos aspectos mais salientes dos processos de transformao da sociedade
portuguesa nas ltimas dcadas prende-se
com a criao e desenvolvimento de um
64
Sociedade
% % % % % % % % % % % % % % % % % % % % % %
% % % % % % % % % % % % % % % % % % % % % %
A sociedade
% % % % % % % % % % % % % % % % % % % % % %
% % % % % % % % % % % % % % % % % % % % % %
Retrato de Portugal
66
Sociedade
% % % % % % % % % % % % % % % % % % % % % %
% % % % % % % % % % % % % % % % % % % % % %
A sociedade
1993
Blgica
9,6
8,1
2827
Repblica Checa
7,5
6,7
Dinamarca
8,8
Finlndia
7,4
8,3
1993
2003
1601
16,6
1298
760
2763
1763
2118
1430
2003
1993
17,4
3,9
3,4
21,9
19,4
3,5
9,8
8,5
2,9
16
12,3
2,6
2,1
2,9
a
2,6
10,1
9,4
2903
1878
20,9
17,5
3,4
3,2
Alemanha
11,1
9,9
2996
1988
14,6
13,2
3,4
2,9
Grcia
9,9
8,8
2011
1077
16
16,6
4,4
Hungria
7,8
7,7
1115
638
27,6
28,4
3,2
2,9
Irlanda
7,3
2386
1039
11
10,7
2,6
2,0
Itlia
8,4
2258
1529
22,1
20,2
4,1
3,8
Luxemburgo
6,1
6,2
3190
1891
11,6
2,7
2,1
Holanda
9,8
8,6
2976
1701
11,4
11
3,1
2,6
Polnia
6,0
5,9
677
378
2,5
2,2
Portugal
9,6
7,3
1797
881
23,4
25,6
3,3
2,9
Eslovquia
5,9
777
38,5
Espanha
7,7
7,5
1835
1089
21,8
19,2
Sucia
9,2
7,7
EUA
15
8,6
1993
Mdicos/1000
habitantes
Frana
Reino Unido
2003
Despesas
farmacuticas
(% do total das
despesas de sade)
2594
1644
6,9
2231
13,2
5635
12,2
3,8
3,1
3,2
2,5
13,1
10,9
3,3
1232
15,8
14,8
2,2
3357
12,9
8,6
2,3
2,7
1,7
1,9
67
Sociedade
% % % % % % % % % % % % % % % % % % % % % %
% % % % % % % % % % % % % % % % % % % % % %
Retrato de Portugal
UE25
25 (s)
15 (s)
UE15
25 (s)
15 (s)
Blgica
29 (b)
15 (b)
Repblica Checa
21
Dinamarca
32 (b)
12 (b)
Alemanha
23
15
Estnia
25
18
Grcia
24 (b)
21 (b)
Espanha
22
19
Frana
24
12
Irlanda
36 (b)
21 (b)
Itlia
Chipre
20
15
Letnia
24
16
Litunia
23
15
23 (b)
10 (b)
17
12
Holanda
23 (p)
12 (p)
ustria
24 (b)
13 (b)
Polnia
31
17
Portugal
26 (p)
19 (p)
Eslovnia
16
10
Eslovquia
28
21
Finlndia
28
11
Luxemburgo
Hungria
Malta
Sucia
Reino Unido
29
18
Fonte: Eurostat.
1. Taxa de pobreza antes das transferncias sociais,
calculada como 60 % do rendimento mediano.
2. Taxa de pobreza depois das transferncias sociais, calculada como 60 % do rendimento mediano.
(:) no disponvel; (s) estimativas do Eurostat; (b) quebra nas sries; (p) valor provisrio.
68
Sociedade
% % % % % % % % % % % % % % % % % % % % % %
% % % % % % % % % % % % % % % % % % % % % %
A sociedade
1996
1998
2000
2001
2002
2003
UE25
26,9
27,1
27,4
28,0
UE15
28,4
28,4
27,5
27,2
27,5
27,7
28,3
Blgica
28,7
28,6
27,6
26,8
27,7
28,8
29,7
Repblica Checa
17,6
18,6
19,6
19,5
20,2
20,1
Dinamarca
32,5
31,2
30,0
28,9
29,2
29,9
30,9
Alemanha
27,7
29,4
28,9
29,3
29,3
29,9
30,2
Estnia
14,4
13,6
13,2
13,4
Grcia
22,1
22,9
24,2
26,3
27,0
26,4
26,3
Espanha
22,8
21,9
20,6
19,6
19,4
19,6
19,7
Frana
30,2
30,6
30,0
29,3
29,5
30,2
30,9
Irlanda
19,7
17,6
15,2
14,1
15,0
15,9
16,5
Itlia
26,0
24,8
25,0
25,2
25,6
26,1
26,4
Chipre
15,2
16,4
Letnia
15,3
14,3
13,8
13,4
Litunia
Luxemburgo
15,8
14,7
14,1
13,6
22,9
24,1
21,7
20,3
21,3
22,6
23,8
Hungria
19,8
19,8
20,7
21,4
Malta
18,8
18,9
16,9
17,7
18,0
18,5
Holanda
31,7
30,1
28,4
27,4
26,5
27,6
28,1
ustria
28,9
28,8
28,4
28,3
28,6
29,2
29,5
Polnia
20,1
21,5
21,9
21,6
Portugal
21,3
20,4
21,2
21,7
22,8
23,7
24,3
Eslovnia
24,0
24,8
24,9
25,3
25,2
24,6
Eslovquia
19,8
20,2
19,5
19,1
19,2
18,4
33,8
31,4
26,9
25,3
25,5
26,2
26,9
Finlndia
Sucia
36,8
33,8
32,2
31,0
31,5
32,5
33,5
Reino Unido
28,6
28,0
26,9
27,0
27,5
26,4
26,7
Fonte: Eurostat, Statistics in Focus, Population and Social Conditions, 14/2006, ESSPROS.
(:) no disponvel.
69
Sociedade
% % % % % % % % % % % % % % % % % % % % % %
% % % % % % % % % % % % % % % % % % % % % %
Retrato de Portugal
pregadores, o qual tem vindo a integrar diversos subsistemas especiais que foram
sobrevivendo, e que assegura aos beneficirios (trabalhadores por conta de outrem
e trabalhadores independentes) e aos seus
familiares a cobertura dos riscos tpicos
dos modelos de proteco europeus: velhice, sobrevivncia, apoio famlia, doena,
desemprego, invalidez, morte, entre outros.
Por outro lado, subsidiado atravs do Oramento de Estado, o sistema de solidariedade assegura um conjunto de direitos quer a
pessoas que no contriburam, na maior
parte dos casos dada a inexistncia de esquemas de proteco a elas dirigidos enquanto foram activas ( o caso das penses sociais criadas a seguir revoluo
de 1974), quer a pessoas e famlias de baixos rendimentos ( o caso do Rendimento
Social de Insero, que veio substituir as
prestaes casusticas e dependentes da
disponibilidade oramental que caracterizava a assistncia social antes de 1996).
O sistema de solidariedade nacional
envolve ainda a aco social, nomeadamente o enquadramento de servios prestados em equipamentos sociais, incluindo
o apoio econmico queles que funcionam
numa lgica no lucrativa de solidariedade, com base em associaes como as Misericrdias ou outras instituies particulares de solidariedade social, as quais gerem
cerca de 90 % da oferta pblica de equipa-
Velhice
Sobrevivncia
Total
Dezembro Dezembro Taxa Dezembro Dezembro Taxa Dezembro Dezembro Taxa Dezembro Dezembro Mdia
2001
2004
1/
2001
2004
1/
2001
2004
1/
2001
2004
Mdia
Mdia
Mdia
Regime geral
291 271
277 120
-1,6
RESSAA
19 296
13 161
-12,0
318 679
R. no cont.
46 777
48 434
1,2
54 750
357 344
338 715
-1,8
Total
4,5
519 164
542 387
1,5
2,9
259 036
-6,7
92 334
81 666
-4,0
430 309
353 863
-6,3
71 584
9,3
3 320
2 057
-14,7
104 847
122 075
5,2
2,6
614 818
626 110
0,6
1,5
Fonte: Relatrio Nacional de Estratgia (Centro Nacional de Penses). 1/ Taxa anual mdia entre Dezembro de
2001 e Dezembro de 2004.
70
Sociedade
% % % % % % % % % % % % % % % % % % % % % %
% % % % % % % % % % % % % % % % % % % % % %
A sociedade
% % % % % % % % % % % % % % % % % % % % % %
% % % % % % % % % % % % % % % % % % % % % %
Retrato de Portugal
% % % % % % % % % % % % % % % % % % % % % %
% % % % % % % % % % % % % % % % % % % % % %
A sociedade
no com os servios de educao, das finanas para desenvolver o que as polticas fiscais podem ter de estmulo ao
emprego , da sade, da promoo da
igualdade de oportunidades entre homens
e mulheres, da economia, entre outros, para mudar em profundidade a face do pas.
Este programa implica, naturalmente,
1999a00
2000
2001a00
2002a00
2003a00
UE25
61,9
62,4
62,8
62,8
62,9
UE15
60,1
62,5
63,4
64,0
64,2
64,3
Blgica
56,1
59,3
60,5
59,9
59,9
59,6
65,6
65,0
65,0
65,4
64,7
Dinamarca
73,4
76,0
76,3
76,2
75,9
75,1
Alemanha
Repblica Checa
64,6
65,2
65,6
65,8
65,4
65,0
Estnia
61,5
60,4
61,0
62,0
62,9
Grcia
54,7
55,9
56,5
56,3
57,5
58,7
Espanha
46,9
53,8
56,3
57,8
58,5
59,8
Frana
59,5
60,9
62,1
62,8
63,0
63,3
Irlanda
54,4
63,3
65,2
65,8
65,5
65,5
Itlia
51,0
52,7
53,7
54,8
55,5
56,1
Chipre
65,7
67,8
68,6
69,2
Letnia
58,8
57,5
58,6
60,4
61,8
Litunia
61,7
59,1
57,5
59,9
61,1
Luxemburgo
58,7
61,7
62,7
63,1
63,4
62,2
Hungria
55,6
56,3
56,2
56,2
57,0
Malta
54,2
54,3
54,4
54,2
Holanda
64,7
71,7
72,9
74,1
74,4
73,6
ustria
68,8
68,6
68,5
68,5
68,7
68,9
Polnia
57,6
55,0
53,4
51,5
51,2
Portugal
63,7
67,4
68,4
69,0
68,8
68,1
Eslovnia
62,2
62,8
63,8
63,4
62,6
Eslovquia
58,1
56,8
56,8
56,8
57,7
61,6
66,4
67,2
68,1
68,1
67,7
Finlndia
Sucia
70,9
71,7
73,0
74,0
73,6
72,9
Reino Unido
68,5
71,0
71,2
71,4
71,3
71,5
(:) no disponvel.
73
Sociedade
% % % % % % % % % % % % % % % % % % % % % %
% % % % % % % % % % % % % % % % % % % % % %
Retrato de Portugal
uma participao activa dos parceiros sociais, actores centrais neste campo. Existem em Portugal cerca de 331 sindicatos,
26 federaes sindicais, 39 unies sindicais e cinco confederaes sindicais, das
quais duas (a Confederao Geral dos Trabalhadores Portugueses-Intersindical Na-
Taxa de desemprego na UE
1995
2000
2001
2002
2003
2004
UE25
8,6
8,4
8,8
9,0
9,1
UE15
10,1
7,7
7,3
7,6
8,0
8,1
9,7
6,9
6,6
7,5
8,2
8,4
8,7
8,0
7,3
7,8
8,3
Dinamarca
6,7
4,3
4,5
4,6
5,4
5,5
Alemanha
8,0
7,2
7,4
8,2
9,0
9,5
12,8
12,4
10,3
10,0
9,7
Blgica
Repblica Checa
Estnia
Grcia
9,2
11,3
10,8
10,3
9,7
10,5
Espanha
18,4
11,1
10,3
11,1
11,1
10,6
Frana
11,1
9,1
8,4
8,9
9,5
9,6
Irlanda
12,3
4,3
4,0
4,5
4,7
4,5
Itlia
11,2
10,1
9,1
8,6
8,4
8,0
Chipre
4,9
3,8
3,6
4,1
4,6
Letnia
13,7
12,9
12,2
10,5
10,4
Litunia
Luxemburgo
Hungria
Malta
16,4
16,5
13,5
12,4
11,4
2,9
2,3
2,1
2,8
3,7
5,1
6,4
5,7
5,8
5,9
6,1
6,7
7,6
7,5
7,6
7,4
Holanda
6,6
2,8
2,2
2,8
3,7
4,6
ustria
3,9
3,6
3,6
4,2
4,3
4,8
Polnia
16,1
18,2
19,9
19,6
19,0
Portugal
7,3
4,0
4,0
5,0
6,3
6,7
Eslovnia
6,7
6,2
6,3
6,7
6,3
Eslovquia
18,8
19,3
18,7
17,6
18,2
Finlndia
15,4
9,8
9,1
9,1
9,0
8,8
Sucia
8,8
5,6
4,9
4,9
5,6
6,3
Reino Unido
8,5
5,4
5,0
5,1
4,9
4,7
74
Sociedade
% % % % % % % % % % % % % % % % % % % % % %
% % % % % % % % % % % % % % % % % % % % % %
A sociedade
% % % % % % % % % % % % % % % % % % % % % %
% % % % % % % % % % % % % % % % % % % % % %
Retrato de Portugal
% % % % % % % % % % % % % % % % % % % % % %
% % % % % % % % % % % % % % % % % % % % % %
A sociedade
Manifestao anti-racista.
% % % % % % % % % % % % % % % % % % % % % %
% % % % % % % % % % % % % % % % % % % % % %
Retrato de Portugal
% % % % % % % % % % % % % % % % % % % % % %
% % % % % % % % % % % % % % % % % % % % % %
A sociedade
rer, ao contrrio do que alguns profetas recorrentemente afirmam. O que vai estando
claramente mudado o modo como a elas
se recorre.
Tais ideologias costumavam, alm de
serem tomadas por reciprocamente exclusivas, ser adoptadas ou rejeitadas em bloco. Era-se catlico ou no. Era-se marxista
ou no. Hoje a tendncia vai no sentido de
cada cidado, cada grupo, reivindicar autonomia na escolha, na combinao e na
gesto de elementos do campo simblico,
independentemente da respectiva origem
e em funo do que cada um julga til e
adequado.
Esta prevalncia do por medida, esta rejeio do pronto-a-pensar, constitui
assim mais um dos valores que parecem
afirmar-se e difundir-se entre os Portugueses.
79
Sociedade
O territrio
% % % % % % % % % % % % % % % % % % % % % % % % % % % % % % % % % % % % %
Apresentao
80
Sociedade
Migraes e povoamento:
a polarizao territorial
Da emigrao s migraes internas:
a dupla dispora dos Portugueses
Portugal sempre foi um pas de migrantes,
tomando este sempre num ciclo significativamente amplo, nomeadamente, desde
o incio da poca moderna. Realmente,
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do governo central. Deste modo, aquela dimenso passa a integrar, pelo menos enquanto inteno poltica, os projectos, os
programas e as propostas, independentemente dos respectivos domnios sectoriais
ou temticos. A par desta progressiva assuno territorial, uma outra componente
ir determinar a presente conjuntura comunitria, de modo indelvel reportamo-nos ao domnio disciplinar e tcnico-poltico do ambiente.
Realmente, de modo progressivo e atravs de um processo moroso, muitas vezes
conflitual, mas apontando para uma necessria compatibilidade entre aquelas duas
componentes, desde finais dos anos 80,
mas sobretudo ao longo da dcada seguinte, o ordenamento do territrio tem vindo a
confrontar-se com o necessrio e correspondente equilbrio ambiental. A sucessiva integrao, no quadro institucional portugus,
das directivas comunitrias consagrando
aquela inelutvel compatibilidade acabou
por ter, mau grado as presumidas contradies econmicas, um claro efeito pedaggico e, nessa medida, acabou por determinar uma postura politicamente irrecusvel!
No quadro estrito do ordenamento do
territrio, o referido perodo correspondeu
a uma conjuntura de afirmao de diversas
figuras de planeamento territorial, de acordo com a escala de referncia, mas tambm em funo de objectivos mais especficos. De resto, a experincia dos planos
directores municipais, ainda que na sua
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Retrato de Portugal
Interioridade e
litoralizao: uma nova
ordem territorial?
Uma ocupao litoralmente atlntica
possvel partir de uma constatao, relativamente consensual em relao a vrios
autores, que poderamos sintetizar dando
conta de um pas litoralmente ocupado,
com uma condio territorial assimtrica,
desequilibrada e invertebrada! Constata-se, portanto, que Portugal um pas litoralmente (e literalmente) encostado ao
Atlntico. Tendo atingido os dez milhes de
habitantes, apresenta, contudo, uma ocupao demogrfica profundamente assimtrica. Com efeito, grande parte da populao do continente distribui-se ao longo
da costa atlntica (ocidente e sul do pas),
na qual os dois nicos espaos metropolitanos (Lisboa e Porto) concentram mais de
40 % daqueles residentes. Por outro lado, a
ocupao territorial dos Aores e da Madeira segue, igualmente, aquela lgica de
litoralizao atlntica, em que as principais cidades e vilas urbanas, quase to-
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efectivamente, boa parte dos quais ligada ao incremento, sobretudo nas duas ltimas dcadas, de pequenas e mdias empresas, Em todo o caso, aquele perfil
contribui decisivamente para que o peso
global das classes mdias, de insero
predominantemente urbana, seja hoje um
dos traos mais marcantes da estrutura de
classes em Portugal (Machado e Costa,
1998: 36). Isto , a sociedade portuguesa
no s reforou a sua implantao territorial em determinadas zonas da sua orla
costeira, como se transformou, maioritariamente (65 % da populao activa) em populao terciria, de colarinhos brancos, sendo que um quarto do total da
populao activa tem funes de direco
e de enquadramento! Curiosamente, a um
perfil de uma populao activa precocemente terciarizada parece corresponder
um outro perfil de um territrio supostamente urbanizado!
Trata-se, portanto, de um territrio bastante contrastado. E, no entanto, como dissemos atrs, o pas teve mudanas significativas sobretudo a partir dos anos 80.
Observemos, ento, a diferenciao regional que ao longo desse perodo se foi cristalizando, nomeadamente a partir de um
estudo governamental (cf. MPAT, 1993),
que embora j um pouco longnquo no
deixou de ilustrar uma imagem assimtrica
e polarizada do continente portugus e
que, deixando marcas profundas no respectivo territrio, tarda a ser superada.
A partir de um conjunto de indicadores,
tanto de desempenho econmico (rendimento per capita, emprego, produtividade
industrial e consumo privado), como ao nvel dos factores estruturais (stock de infra-estruturas, recursos humanos, estrutura
produtiva e condies de vida), para os
anos 1981, 1986 e 1991, aquele estudo
construiu um ndice sinttico, a partir do
qual possvel retirar concluses sobre o
desenvolvimento das disparidades regionais (op. cit., 165-172).
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Retrato de Portugal
componentes e, nesse caso, talvez fosse possvel concluir, por exemplo, at que
ponto o referido stock de infra-estruturas, nomeadamente as estruturas virias
(vd. ponto seguinte), no acabou por constituir, ao fim e ao cabo, o indicador discriminante daquela diminuio das disparidades regionais!
Como noutro momento dissemos, parece inegvel que Portugal atravessou, desde os anos 80, um importante processo de
mudana, sendo, contudo, muito desiguais
os sectores, as dimenses e o alcance
desse mesmo processo. Em todo o caso,
uma tal mudana tendeu a acentuar-se,
precisamente, nos lugares onde uma importante dinmica de desenvolvimento
econmico, social e cultural j se encontrava em curso e da que a litoralizao do
pas se tenha vindo a acentuar, mau grado
alguns (bons) exemplos em certas zonas
do interior.
Um indicador mais recente, agora de
natureza dominantemente qualitativa, decorrente da avaliao da qualidade de vida nos municpios do Continente [cf. Ferro (coord.), 2004], permite uma leitura
territorial mais desagregada e mais especfica, mas que no parece contrariar as observaes anteriores. Uma tal avaliao, tipificada entre as posies extremas de
maioritariamente favorvel e maiorita-
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O territrio
riamente desfavorvel, mostra como, tambm a este nvel, a maior parte dos municpios situados no litoral do continente se
posiciona naquele tipo de melhor qualidade de vida. Com uma posio anloga,
so referenciados, igualmente, conjuntos
de municpios dispersos pelo interior do
pas, na generalidade em espaos polarizados pelos centros urbanos que, nas
duas ltimas dcadas, tm vindo a ter um
protagonismo social e cultural significativo
(como a situao de vora e, em parte, o
caso de Viseu). No extremo oposto, maioritariamente desfavorvel, situa-se a generalidade dos municpios raianos e do interior mais profundo, mas tambm de
modo muito acentuado em largas manchas
no Centro e no Sul do territrio continental.
Em todo o caso, o estudo que estamos seguindo sublinha que perfis de qualidade
de vida idnticos podem associar-se a
contextos socioeconmicos e territoriais
distintos e que, sob muitos aspectos,
aqueles perfis reflectem, sobretudo, processos de natureza estrutural e de escala
supralocal (dinmicas demogrficas, perfis
de especializao econmica, etc.) (op.
cit.: 56). Mas sobre estes tpicos, caracterizando a situao actual do pas, no quadro das suas assimetrias territoriais e dos
respectivos processos de diferenciao
econmica e social, haveremos de regressar adiante, precisamente no ponto que encerra a abordagem deste texto.
Das (infra-)estruturas ao
(re)ordenamento do territrio?
possvel constatar uma estreita articulao entre, por um lado, o sistema de transportes, entendido como as infra-estruturas,
os modos de transportes, os operadores e
os utentes e, por outro, a organizao do
territrio, no s na localizao das cidades, sua forma e distribuio espacial, mas
tambm nas relaes que se estabelecem
entre aqueles aglomerados urbanos. E se
at h pouco tempo a implantao das in-
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Retrato de Portugal
Bragana
Viana do
Castelo
Braga
Vila Real
Porto
Vila Nova
de Foz Ca
Viseu
Aveiro
Guarda
Covilh
Castelo Branco
Leiria
Santarm
Portalegre
Ponte de Sor
Lisboa
Setbal
Sines
vora
Beja
Vila Real
de Santo Antnio
Portimo
Faro
Fonte: CP.
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O territrio
quela lgica dominante. Na regio metropolitana do Porto, para alm de as deslocaes dirias serem de natureza mais extensiva, elas repercutem-se, assim, num
territrio mais vasto. De registar que esta
regio teve um processo de crescimento
Congestionamento de trfego no acesso
a Lisboa.
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Retrato de Portugal
Itinerrio Principal
Itinerrio Complementar
Estrada Nacional
Estrada Regional
Estrada Municipal
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encontra, no final da dcada de 90, espacialmente mais desequilibrado, a geografia das dinmicas territoriais observadas
registam, igualmente, um pas socialmente menos heterogneo (Ferro, op. cit.).
Como parece evidente, a presente proposta de redes de cidades no constitui,
s por si, uma panaceia para resolver as
assimetrias e os desequilbrios territoriais.
Realmente, o que aquela proposta pressupe uma lgica diferente de ordenar o
territrio, procurando contrariar algumas
das inrcias pesadas nas formas de ocupao desse mesmo territrio. Em ltima
instncia, as questes em debate jogam,
sobretudo, com a criao ou reconverso
de diversas polaridades urbanas e metropolitanas num sistema em rede, de modo
que, em simultneo, possam vir a assumir
uma centralidade territorial e uma condio
urbana, isto , um estatuto pleno de cidade
e uma qualidade efectiva de urbanidade.
A lngua portuguesa
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Ivo Castro
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pico, por seu lado, formado por uma vastido de terras planas e secas, pouco
habitadas fora de cidades dispersas, onde
a influncia do ar ameno do Mediterrneo
cortada por ameaas de um deserto que
no anda longe. A ocupao deste espao
por colonos vindos do Norte, no dia seguinte conquista militar crist, constituiu um
mecanismo essencial para a construo
do Estado. Sem esses colonos, que se
aculturaram rapidamente em zonas de interesse estratgico, no teria sido possvel
assegurar com eficcia a manuteno da
linha de cidades, vilas e castelos que serviram de guarda fronteira e a mantiveram em bom estado de conservao. No
de esquecer que a fronteira que separa
Portugal de Espanha poderia ter tido um
percurso muito diverso, se os planos de
Afonso Henriques, o rei fundador, tivessem sido coroados de xito pela conquista de Sevilha e das terras andaluzas que
se lhe seguem para sudeste; ou, inversamente, se Afonso X de Castela e Leo tivesse podido dar alguma substncia ao ttulo de rei dos Algarves, que sempre
usou com orgulho.
O facto de o Sul do pas ter sido repovoado a partir do Norte e basicamente por
portugueses, embora com uma quota de
colonos estrangeiros, grandemente responsvel pela coeso interna da nao.
Mas tambm est na origem do conflito
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A lngua portuguesa
Quer isto dizer que, no pequeno rectngulo portugus, habita uma sociedade que
facilmente se distingue dentro do mosaico
ibrico, mas que, no seu interior, no absolutamente homognea, antes retira a sua
coeso e a sua personalidade das energias desenvolvidas por tenses tectnicas
que o confronto norte-sul desprende. Na
segunda metade do sculo XX, o gegrafo
Orlando Ribeiro desenvolveu a teoria dos
dois Portugais um dominado pelo Mediterrneo e outro, a norte, subdividido entre
a influncia do Atlntico e a influncia da
meseta ibrica. Num pas que despertou
tarde para a modernidade, no surpreender que esta repartio seja to vlida para os tempos da fundao da nao e do
Estado, como para a poca em que se lanaram os Descobrimentos, como ainda
para os anos finais do governo de Oliveira
Salazar. E est longe de ter perdido a validade nos dias de hoje em muitos dos seus
aspectos; mas no d conta do movimento
migratrio de abandono do campo, que se
tem generalizado no Norte: as populaes
rurais concentram-se nas cidades interiores ou, mais ainda, deslocam-se para o litoral, onde comeam a surgir megalpoles,
ainda que reduzida escala do pas. Assim, afirma-se um novo tipo de contraste,
entre interior e beira-mar, materializado numa larga frente costeira, fortemente urbanizada, onde se concentra a populao e a
vida activa, frente essa que comea no litoral minhoto e segue para sul marcada por
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Retrato de Portugal
A Reconquista portuguesa
Bragana
Braga
Porto
Lamego
Viseu
Seia
Coimbra
Idanha
Leiria
Tomar
Santarm
Lisboa
Badajoz
vora
Olivena
Alccer
Beja
Serpa
Aroche
Aracena
Mrtola
Silves
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A lngua portuguesa
Os dialectos portugueses
(Lus Filipe Lindley Cintra)
Viana
do
Castelo
Vila Real
Braga
Bragana
Porto
Viseu
Aveiro
Guarda
Coimbra
Castelo Branco
Leiria
Santarm
Portalegre
Lisboa
vora
Setbal
Beja
Faro
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Retrato de Portugal
grafadas s, e sibilantes predorsais grafadas c, ou z (servo/cervo, passo/pao, coser/cozer); nos dialectos do centro e sul,
aqueles traos foram abandonados: ou
monotonga para e i para (ou mantm-se como i, na regio de Lisboa), tch funde-se com x (pelo que chvena e xcara
comeam pelo mesmo som x), as apicais
so substitudas pelas predorsais (passo=pao), em final de slaba o s torna-se
palatal (pastos soa paxtux). Estas mudanas comeam a manifestar-se no Sul do
pas pelo sculo XVI e avanam progressivamente para norte, mas ainda hoje no
eliminaram as formas antigas, que subsistem em Trs-os-Montes, Alto Minho e Beira
Alta, ou seja, nas terras interiores (mas o
Norte atlntico j acolheu a maior parte
das inovaes). O portugus moderno, na
sua face falada, o resultado da generalizao das mudanas ocorridas no Sul,
que, depois de assumidas pela norma-padro, aproximadamente definida como
as variedades oral e escrita usadas pelos
portugueses educados e pelos meios de
comunicao, facilmente penetram nos
ambientes urbanos do litoral, mesmo os
setentrionais.
Graficamente, temos uma lngua nascida no Norte, que avana para sul medida
que o territrio cresce e os povos se deslocam; que se adapta e transforma nos novos territrios; que reflui para a sua origem
e a moderniza. quase perfeita esta adequao entre lngua, sociedade e territrio,
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Sociedade
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A lngua portuguesa
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Retrato de Portugal
tes do verbo (lhe disse), posio que depois foi substituda pela posposta, ou nclise ( disse-lhe ). Esta mudana afectou
apenas o portugus europeu (PE), enquanto o portugus brasileiro (PB) conservou a
prclise tradicional. Surgiu assim um dos
grandes traos distintivos entre as duas variantes da lngua.
Outros traos de gramtica, facilmente
sentidos por quem faa um pouco de
comparatismo, so: a) quando o objecto
directo um pronome da 3.a p., o PB usa a
sua forma tnica (Vi ele ontem na rua), enquanto o PE usa a forma tona (Vi-o ontem
na rua); b) embora a frase de sujeito no
expresso Iremos todos ao cinema amanh
seja possvel tanto no PE como no PB, este
Crioulos de base portuguesa: frica
3 4 5
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1
3
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A lngua portuguesa
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6
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9
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Crioulos indo-portugueses
1 Diu*
2 Damo
3 Bombaim*
4 Chaul* e Kortal
5 Goa*
6 Mangalor*
7 Cananor*, Tellicherry e Mah*
8 Cochim* e Vaipim*
9 Quilom*
10 Costa do Coromandel*
11 Costa de Bengala*
12 Sri-Lanka (Ceilo)
Crioulos malaio-portugueses
13 Kuala Lumpur*
14 Malaca
Papi Kristang
15 Singapura*
16 Java* (Batvia e Tugu)
17 Flores* (Larantuka)
18 Timor Leste* (Bildau)
19 Ternate*, Ambom* e Macassar*
20
21
13
14
15
Crioulos sino-portugueses
20 Hong Kong*
Macasta
21 Macau*
19
16
17
18
*Extinto ou em extino.
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Retrato de Portugal
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A lngua portuguesa
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Sociedade
A comunicao
social
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A imprensa
voluo histrica
e estrutura do mercado
Apesar do desenvolvimento cultural
e cientfico registado nos sculos XV e XVI e
da rpida introduo da imprensa no pas
(1487), as primeiras publicaes peridicas editadas em Portugal, ainda no sculo XVII (Gazeta, Mercrio Portugus), tiveram existncia limitada, por se destinarem,
sobretudo, a apoiar o esforo de guerra
inerente restaurao da independncia
nacional e aos confrontos militares com a
vizinha Espanha (1640-1668).
Seria preciso esperar at 1809 para se
assistir ao aparecimento do primeiro jornal
dirio, publicado em Lisboa. Nesta cidade
chegariam a editar-se, em 1820, cinco quoA Gazeta, uma das primeiras publicaes
peridicas portuguesas, que dava conta
dos sucessos das lutas da Restaurao,
em 1641.
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Sociedade
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A comunicao social
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Retrato de Portugal
lao: ela representa apenas 1/4 dos jornais e revistas distribudos em Portugal.
Cabe aqui assinalar que o Estado mantm, desde fins dos anos 70, um sistema
de apoios imprensa regional, assente,
fundamentalmente, na comparticipao do
pagamento da sua expedio postal e na
atribuio de incentivos iniciativa empresarial e ao desenvolvimento multimdia, assim como qualificao dos recursos humanos e investigao (estendendo-se,
nalguns casos, s rdios locais).
Agncia noticiosa
Remonta a meados dos anos 40 do sculo
transacto a criao, em Portugal, das primeiras agncias de notcias.
Existe, a partir de Fevereiro de 1987,
uma nica empresa de vocao nacional e
internacional a Lusa , com importante
presena editorial e fotogrfica nos contedos das publicaes de informao geral.
Nela se renem, sob a forma de sociedade
comercial, capitais pblicos (dominantes) e
privados (oriundos dos rgos de comunicao social, que so, naturalmente, os
principais clientes da agncia).
Um contrato de prestao do servio
pblico disciplina as relaes entre o Estado e a agncia noticiosa, tanto no que respeita delimitao das obrigaes por
esta assumidas, em termos de cobertura
noticiosa, quer no que se refere s contrapartidas financeiras que, a esse ttulo, lhe
so devidas (17 665 935 euros, em 2005).
A Lusa dispe de uma rede de delegaes e correspondentes que cobre todo o
mundo da lusofonia, por forma a favorecer
os fluxos informativos entre os pases e comunidades de lngua portuguesa.
Est sujeita ao regime jurdico aplicvel
s empresas jornalsticas, tal como estabelecido pela Lei de Imprensa.
Consumo
Portugal apresenta reduzido ndice de leitura dos jornais dirios, espelhado nos ele-
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A comunicao social
Quadro legal
Ao longo da sua histria, os peridicos portugueses conheceram diversos momentos
de fortes restries liberdade de informao. Embora os perodos mais gravosos
tenham coincidido com a longa noite da
Inquisio e do Estado Novo (o regime autoritrio de Salazar e Caetano), o prprio
liberalismo e a I Repblica no foram capazes de erguer edifcios jurdicos aptos
sustentao de uma imprensa livre e independente.
Deve-se ao 25 de Abril de 1974 o estabelecimento de um modelo consolidado de
respeito pelas liberdades de expresso e
informao, ambas com vigoroso assento
na Constituio de 1976 (ainda hoje vigente, embora com diversos ajustamentos).
O actual regime jurdico do sector jornalstico alicera-se no Estatuto do Jornalista (Lei
n.o 1/99) e na Lei de Imprensa (Lei n.o 2/99),
ambos de 13 de Janeiro de 1999.
O primeiro destes diplomas define o
enquadramento normativo da profisso,
assegurando-lhe nveis de proteco dos
mais elevados na Europa ilustrados por
um amplo direito de acesso s fontes de informao, pelo respeito da clusula de
conscincia e do sigilo profissional, pela
proteco da liberdade de expresso dos
jornalistas e pela sua participao na orientao editorial dos respectivos rgos de
comunicao social.
O acesso actividade jornalstica est
condicionado emisso de ttulo profissional prprio, da competncia de uma comis-
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Retrato de Portugal
A rdio
Evoluo do sector
Data dos anos 30 o incio da actividade das
principais estaes radiofnicas portuguesas: o Rdio Clube Portugus (RCP) (1931),
privado, a Emissora Nacional (EN) (1935),
pblica, e a Rdio Renascena (RR) (1936),
ligada Igreja Catlica.
J antes, porm, tinham sido instaladas,
sobretudo em Lisboa, diversas outras rdios, de pequena dimenso, recenseadas
em nmero de 28 entre 1914 e 1939. Projectos eminentemente pessoais, dependendo do voluntarismo dos seus fundadores, mais do que de verdadeiras estruturas
profissionalizadas, parte destas estaes
acabou por ficar pelo caminho que outras
percorreram at hoje.
Desde cedo o Estado chamou a si o
controlo primeiro directo, depois por
desconcentrao de poderes de um
operador radiofnico (a EN), incumbido,
ainda em 1931, de explorar as virtualidades do novo medium, tanto nas suas vertentes informativas e recreativas como no
seu potencial propagandstico.
Em 1974, aquando do Movimento dos
Capites, o sector apresentava-se oligopo118
Sociedade
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A comunicao social
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Retrato de Portugal
torna-se patente uma progressiva presena das rdios no ciberespao, quer na produo de sites de natureza informativa ou
recreativa, quer na simples difuso online,
com a possibilidade de download para disco e pesquisa por assunto.
Consumo e audincias
Apesar do rpido crescimento inicial
seis vezes, entre 1933 e 1940 do parque
de receptores, em Portugal, e da inegvel
popularidade granjeada por algumas das
estaes, certo que o consumo da rdio
nunca conseguiu opor-se eficazmente ao
advento do seu concorrente televisivo.
Mesmo assim, o tempo mdio dirio de
escuta, por adulto, manteve-se relativamente estabilizado entre 1994 (195 minutos) e
2002 (191 minutos), sem revelar excessivo
desgaste perante a multiplicao da oferta
de programas de televiso no s dos
canais hertzianos terrestres, mas tambm
dos recebidos por satlite ou por cabo.
Em termos gerais, pode dizer-se que a
RR ocupa o primeiro lugar na hierarquia das
audincias, com valores que superam o
consumo conjunto de todas as rdios locais.
Em moldes mais segmentados, a Marktest (empresa de estudos de audincia) refere os seguintes valores de share, para o
primeiro trimestre de 2006, no tocante s
estaes de maior audio:
120
Sociedade
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% % % % % % % % % % % % % % % % % % % % % %
A comunicao social
Quadro legal
Adoptado, na sua verso inicial, em 1988
(Lei n.o 87/88, de 30 de Julho), e revisto em
1997 (Lei n.o 2/97, de 18 de Janeiro) e 2001
(Lei n.o 4/2001, de 23 de Fevereiro), o regime jurdico da radiodifuso sonora submete o acesso actividade a uma licena atribuda, mediante concurso pblico, pela
Entidade Reguladora para a Comunicao
Social (ERC), a principal instncia reguladora do sector.
No enunciado dos fins da radiodifuso
sonora, a lei confere particular ateno aos
casos do servio pblico especialmente
sujeito observncia do pluralismo interno
e difuso de programas formativos ou
destinados a pblicos minoritrios e das
estaes de cobertura local ou regional,
concebidas como instrumento de afirmao e preservao das diferentes identidades que compem o todo nacional.
Ocupa-se, ainda, da salvaguarda das liberdades de expresso e informao, das
exigncias mnimas de programao prpria e da defesa da cultura nacional de
que a utilizao da lngua portuguesa instrumento determinante.
A publicidade difundida atravs da rdio (nos seus aspectos qualitativos e quan-
A televiso
Evoluo histrica
Tal como ocorreu noutros pases, a investigao e a experimentao televisiva tiveram diversos cultores em Portugal, ainda
antes do incio das emisses regulares. Entre os seus pioneiros contam-se nomes como os de Adriano de Paiva (em finais do
sculo XIX), Ablio Nunes dos Santos e lvaro de Oliveira (estes nos anos 30-40).
a partir de 1955, com a criao da
Rdio Televiso Portuguesa, SARL (RTP),
que se acelera o processo de lanamento
da televiso portuguesa, que haveria de
121
Sociedade
% % % % % % % % % % % % % % % % % % % % % %
% % % % % % % % % % % % % % % % % % % % % %
Retrato de Portugal
122
Sociedade
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A comunicao social
Os logtipos dos quatro canais televisivos portugueses: RTP 1, canal 2, SIC e TVI.
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% % % % % % % % % % % % % % % % % % % % % %
Retrato de Portugal
dados da Marktest). De acordo com a mesma empresa de estudos de mercado e audincia, o share conjunto do vdeo e dos
canais prprios do cabo atingia j, em Setembro de 2006, os 14,2 por cento.
Os canais mais populares so, aqui, os
consagrados ao desporto, cinema ou documentrio.
Quadro legal
semelhana das transformaes democrticas ocorridas na disciplina jurdica dos
restantes media, tambm a televiso ficou a
dever revoluo de 25 de Abril de 1974
a garantia das liberdades fundamentais.
Contudo, a RTP, no plano factual e tambm
normativo, foi alvo de acusaes vrias, atinentes sua alegada dependncia do poder poltico, questo esta que no est ainda
completamente resolvida.
At 1990, prevaleceu, em Portugal, um
modelo monopolista, em que o Estado,
atravs da RTP, detinha o exclusivo da
actividade televisiva. Nesse mesmo ano,
porm, a lei ordinria veio consagrar a passagem a um regime dualista, no qual coexistem operadores privados/comerciais e a
concessionria do servio pblico.
evoluo registada no pas no foi estranha, por certo, a adeso portuguesa
ento Comunidade Econmica Europeia
(CEE), em 1986, como j no o havia sido,
antes disso, a admisso no Conselho da
Europa (CE).
De facto, toda a regulao portuguesa
da televiso largamente tributria dos
princpios e regras dimanados daquelas organizaes internacionais, por muito que
Portugal se tenha antecipado, nalguns domnios (por exemplo, a disciplina da publicidade ou do exerccio dos chamados direitos exclusivos), normalizao europeia,
ou mantenha nveis de proteco jurdica do
jornalismo superiores aos da generalidade
dos estados-membros do CE.
A conhecida directiva Televiso sem
Fronteiras (directiva 89/552/CEE, de 3 de
% % % % % % % % % % % % % % % % % % % % % %
% % % % % % % % % % % % % % % % % % % % % %
A comunicao social
Outubro de 1989) foi transposta para o direito interno portugus logo em 1990, tal
como a sua reviso de 1997 (directiva 97/
/36/CE, de 30 de Junho) teve pronto acolhimento nas Leis da Televiso de 1998
(Lei n.o 31-A/98, de 14 de Julho) e 2003
(Lei n.o 32/2003, de 22 de Agosto, actualmente em vigor), assim como no Cdigo da
Publicidade (Decreto-Lei n.o 330/90, de
23 de Outubro, na verso do Decreto-Lei
n.o 275/98, de 9 de Setembro).
So estes, pois, os diplomas moduladores do direito portugus da televiso, que se
caracteriza, na sua formulao legal, por elevados graus de tutela da liberdade de programao e dos direitos dos consumidores.
O acesso actividade faz-se mediante licena, precedida de concurso pblico,
quando o operador se sirva da transmisso
hertziana terrestre, ou atravs de simples licena, no caso da televiso por satlite ou
por cabo. Como corolrio da desgovernamentalizao do sector, incumbe ERC a
autoridade administrativa independente para
os media a atribuio destes ttulos, vlidos por perodos de 15 anos. Os candidatos devem possuir um capital mnimo de
1 000 000 euros, para os canais temticos,
ou 5 000 000 euros, para os generalistas.
No existem, hoje, quaisquer restries
ao investimento na televiso, em funo da
nacionalidade dos capitais envolvidos (ainda que no comunitrios), o que no pode
deixar de ser entendido como reflexo da integrao europeia em que Portugal est
envolvido. Tambm no existem regras
especficas antitrust aplicando-se actividade o regime geral de defesa da concorrncia , muito embora o legislador
portugus se tenha preocupado em assegurar a transparncia da propriedade dos
operadores.
No presente estdio legislativo, apenas
os canais de cobertura nacional se encontram regulados; as condies de exerccio
da televiso de mbito local ou regional foram remetidas, pela lei, para diploma pr-
prio (ainda por adoptar), com inteno claramente dilatria da explorao desses
novos mercados.
Nos termos da lei, a liberdade de expresso do pensamento atravs da televiso integra o direito fundamental dos cidados a uma informao livre e pluralista,
no podendo os poderes pblicos, salvo
os tribunais, impedir, condicionar ou impor a difuso de quaisquer programas.
A soberania assim reconhecida aos canais
televisivos est somente condicionada pelos limites usuais nos estados democrticos, nomeadamente a proteco da dignidade da pessoa humana e a preveno do
crime. Tal como a normao europeia
tanto da Unio Europeia (UE) como do
CE , a lei portuguesa exige uma rigorosa
identificao dos programas susceptveis
de afectar os pblicos mais vulnerveis, remetendo para horrio nocturno, posterior
s 23h, a sua difuso.
Ainda antes da introduo, no espao
comunitrio, de normas reguladoras do
exerccio de direitos exclusivos, j Portugal
procurara acautelar, na legislao de 1990,
o direito do pblico informao. A actual
Lei da Televiso retoma esse mesmo objectivo, desenvolvendo-o agora a partir
dos princpios introduzidos, em 1997, na
directiva TSF. Dada a popularidade usufruda pelo desporto, entre os telespectadores portugueses como, alis, nos
demais estados-membros , a lista de
eventos que no podem ser transmitidos
exclusivamente em canais de acesso condicionado essencialmente composta de
acontecimentos inseridos nas grandes
competies desportivas, nacionais e estrangeiras.
Em matria de difuso de obras audiovisuais, as regras vigentes procuram assegurar a defesa da programao criativa
originariamente produzida em lngua portuguesa (que deve ocupar um mnimo de
15 % do tempo de emisso de cada operador), tal como a transmisso maioritria, em
125
Sociedade
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Retrato de Portugal
Os novos media
Embora a televiso por cabo e por satlite
seja uma relativa novidade tecnolgica para
os Portugueses, nos servios audiovisuais
da anunciada sociedade de informao que
se podem descortinar, tambm em Portugal,
os grandes suportes mediticos do futuro.
Entre eles, a comunicao online assenta sobretudo na Internet, apesar de alguns progressos feitos pelo cabo, no domnio do video-on-demand.
De acordo com elementos divulgados pelo Instituto Nacional de Estatstica (INE), relativos ao primeiro trimestre de 2005, 42,5 % dos
% % % % % % % % % % % % % % % % % % % % % %
% % % % % % % % % % % % % % % % % % % % % %
A comunicao social
agregados domsticos dispunham de computador pessoal, e 19 % de acesso Internet; a percentagem de ligaes em banda
larga representa 63 % do total nacional.
O acesso assegurado por um conjunto de 15 fornecedores, devidamente habilitados.
entre os homens com menos de 24
anos que se encontram os principais consumidores. Vinte e cinco por cento dos
utentes da Internet usa-a quase diariamente, com uma mdia de consumo dirio entre 30 a 60 minutos.
Os mais importantes jornais portugueses esto disponveis na Internet, em edio electrnica, no que so seguidos por
um j significativo nmero de outros rgos
de comunicao social (incluindo ttulos da
imprensa regional). Comearam, entretanto, a surgir alguns exemplos de publicaes apenas editadas na Internet, viradas
para segmentos particulares do pblico,
com apetncia de informao especializada (como a econmica).
O alargamento Internet dos servios
disponveis, em pleno processo de convergncia da comunicao de massas, da informtica e das telecomunicaes, criou
novas dinmicas no sector audiovisual,
particularmente complexas do ponto de
vista da regulao e do dimensionamento
dos grupos econmicos.
Entre elas, conta-se o advento de vrios
canais televisivos tambm disponveis
atravs do acesso por ADSL de mbito
autrquico, que se vo posicionando como
verdadeiros precursores da televiso local,
num cenrio legislativo que vem pecando
pelo conservadorismo.
Expoentes deste mesmo fenmeno so,
ainda, os servios online surgidos, nos ltimos anos, em redes electrnicas instaladas, em espaos circunscritos, pelas grandes empresas de transportes (em especial
o metropolitano), ou de natureza primordialmente empresarial/institucional (farmcias, hospitais, gasolineiras...).
A publicidade
A distribuio do investimento publicitrio
pelos diferentes media revela, em Portugal,
um manifesto ascendente da televiso, cuja quota de mercado subiu 10 % entre 1992
e 1995, como resposta ao aparecimento
dos novos canais SIC e TVI.
Decorridos onze anos, a significativa multiplicao dos servios de programas disponveis em Portugal, por via dos diferentes suportes de distribuio, tinha elevado a quota
da televiso para 70,8 % (um valor particularmente elevado no contexto comunitrio),
deixando a larga distncia os demais meios
a imprensa com 17,8 %, o outdoor com
6,7 %, a rdio com 4,4 % e o cinema
com 0,4 % (dados da Marktest, reportados
aos meses de Janeiro a Agosto de 2006).
Os nmeros revelam a elasticidade do
mercado e a sua margem de progresso:
em 1997 ano a que se reportam os ltimos elementos publicados pelo OEA , o
total de investimento em publicidade atingiu 698 milhes de euros, sugerindo um
crescimento de 70 % para os valores previsivelmente atingidos no final de 1999.
Quando referido ao produto interno bruto (PIB) portugus, aquele montante corresponde a 0,83 %, valor que ocupa o segundo lugar no ranking comunitrio, logo a
seguir aos 0,93 % do Reino Unido.
O regime legal da comunicao publicitria est inserido no chamado Cdigo da
Publicidade, aprovado pelo Decreto-Lei
n.o 330/90, de 23 de Outubro, com as altera127
Sociedade
% % % % % % % % % % % % % % % % % % % % % %
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Retrato de Portugal
Os grupos econmicos
Com a devoluo iniciativa privada da
maior parte dos rgos de comunicao
absorvidos pelo Estado em 1975, o tecido
empresarial dos media portugueses ganhou uma plasticidade renovada.
Apesar da estreiteza do mercado, os
grupos econmicos nele constitudos apresentam j uma dinmica aprecivel, at
porque aberta a sinergias de mbito internacional.
So quatro os grupos dominantes: Controlinveste, Impresa, Media Capital e Cofina, ainda que controlando segmentos distintos da comunicao social.
O primeiro, criado por Joaquim Oliveira,
detm uma quota maioritria dos jornais
dirios, para alm de uma estao radiofnica de referncia (a TSF).
O grupo Impresa, do antigo primeiro-ministro Pinto Balsemo, tem forte presena
no mercado dos semanrios e da imprensa
especializada, sendo tambm titular de vrios canais televisivos, entre os quais um
de grande audincia (a SIC).
O grupo Media Capital, maioritariamente detido pelos espanhis da Prisa, controla um leque diversificado de rgos de
comunicao, da imprensa rdio e televiso (a TVI), com boas performances sobretudo nos dois ltimos sectores.
O grupo Cofina, liderado pelo empresrio Paulo Fernandes, revela maior implantao na rea da grande imprensa, generalista e temtica.
A presena de investimentos estrangeiros na comunicao social portuguesa vem-se tornando, alis, uma tendncia relativa-
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A comunicao social
es acaba de tornar pblica uma proposta de lei sobre a concentrao dos media,
com o intuito primacial de prevenir a constituio de situaes de posio dominante,
susceptveis de proporcionarem a emergncia de prticas violadoras da diversidade e da concorrncia.
Os rgos reguladores
O regime autoritrio e censrio vigente no
pas at 1974 inibiu a emergncia de estruturas geis de aplicao da deontologia
profissional, susceptveis de oporem interveno compulsiva do Estado os valores
da auto-regulao.
Com o restabelecimento da democracia,
a tica jornalstica cuja observncia assegurada pelo Conselho Deontolgico do
sindicato passou a assumir o seu prprio
papel na disciplina normativa do sector,
precedendo outras esferas de aco em
particular a administrativa e a judicial.
129
Sociedade
% % % % % % % % % % % % % % % % % % % % % %
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Retrato de Portugal
130
Sociedade
A sociedade
do conhecimento
e da informao
% % % % % % % % % % % % % % % % % % % % % % % % % % % % % % % % % % % % %
Lus Magalhes
Maria de Lurdes Rodrigues
% % % % % % % % % % % % % % % % % % % % % %
% % % % % % % % % % % % % % % % % % % % % %
Retrato de Portugal
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% % % % % % % % % % % % % % % % % % % % % %
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% % % % % % % % % % % % % % % % % % % % % %
Retrato de Portugal
Cincia e Tecnologia (1987-1990) desempenhou um papel determinante, tendo marcado uma nova atitude em relao s oportunidades de constituio de novas equipas de
projecto submetidas a concurso nacional,
bem como a adopo de um sistema de
avaliao aberta e transparente. tambm
desta altura o incio programado do desenvolvimento de reas cientficas como a astronomia e astrofsica, a biologia molecular,
a biotecnologia, as tecnologias de informao e comunicao, a cincia e engenharia
de materiais.
Desde ento os principais instrumentos
de aco estratgica tm sido os programas operacionais inseridos no I, II e III
Quadro Comunitrio de Apoio: Programa
CIENCIA (1990-1993), Programa PRAXIS XXI
(1994-1999), Programa Operacional Cincia, Tecnologia e Inovao / Cincia e Inovao (2000-2006) e Programa Operacional Sociedade da Informao / Sociedade
do Conhecimento (2000-2006). Estes dois
ltimos programas previram praticamente a
duplicao de recursos financeiros para
a C&T em relao ao perodo anterior do
Quadro Comunitrio de Apoio.
de notar, contudo, que o processo de
desenvolvimento e crescimento que se observa principalmente ao longo dos ltimos
vinte anos no foi sempre regular, revelando o sistema alguma permeabilidade a oscilaes de conjuntura e a hesitaes polticas.
Para os prximos anos, a iniciativa Compromisso com a Cincia para o Futuro de
Portugal lanada em Maro de 2006 prev,
entre outros aspectos, o reforo do oramento pblico de C&T para 2007 com 250
milhes de euros mais do que em 2006
(aumento de 77 % do financiamento competitivo do sistema de C&T pela Fundao
para a Cincia e a Tecnologia FCT), a
contratao de pelo menos 1000 novos
doutorados at 2009, o aumento em 60 %
do nmero de novas bolsas de doutoramento e ps-doutoramento.
% % % % % % % % % % % % % % % % % % % % % %
% % % % % % % % % % % % % % % % % % % % % %
Portugal na Europa
e aberto ao mundo:
1995 a 2002
9 000
6 000
3 000
2005
2004
2003
2002
2001
2000
1999
1998
1997
1996
1995
1994
1993
1992
1991
1990
1989
135
Sociedade
% % % % % % % % % % % % % % % % % % % % % %
% % % % % % % % % % % % % % % % % % % % % %
Retrato de Portugal
1990
%
1992
%
1995
%
1997
%
1999
%
2001
%
Empresas
67 016 25
Estado
90 214 33
96 533 25 105 714 22 124 313 27 130 682 24 198 846 28 173 954 21
Ens. superior
92 608 34 136 690 36 205 542 43 170 429 37 216 070 40 274 562 38 307 238 36
IPSFL
22 846
TOTAL
47 088 13
62 811 13
69 068 15
71 676 13
76 783 11
90 363 11
272 684 100 379 362 100 477 780 100 460 037 100 539 626 100 711 591 100 838 163 100
Fonte: OCT, Principais Indicadores de Cincia e Tecnologia em Portugal, 1988-1995; Sumrios Estatsticos,
IPCTN, 1997, 2001.
136
Sociedade
% % % % % % % % % % % % % % % % % % % % % %
% % % % % % % % % % % % % % % % % % % % % %
1988
1,4
0,41
1990
1,6
0,51
1992
2,0
0,61
1995
2,4
0,57
1997
2,8
0,62
1999
3,1
0,76
2001
3,4
0,85
2003
3,7
0,78
Fonte: OCES, Potencial Cientfico e Tecnolgico Nacional: 1982-2001: Duas Dcadas de Evoluo do Esforo
em I&D em Portugal, 2003; OCES, Sumrios Estatsticos: IPCTN 03, 2006.
sos humanos afectos a actividades de investigao, tanto investigadores como tcnicos (Eurostat, 2006).
O esforo realizado para a recuperao
deste atraso visvel em primeiro lugar no
acentuado crescimento das dotaes pblicas para C&T no perodo 1995-2001,
em particular o crescimento do oramento
da principal agncia financiadora do sistema, que passa, a preos constantes de
2003, de 100 milhes de euros em 1995
(Junta Nacional de Investigao Cientfica
e Tecnolgica JNICT), para 300 milhes
de euros em 2002 (FCT). Uma parte substancial destas verbas canalizada para o
financiamento directo das instituies e
unidades de I&D, para programas de formao avanada em C&T e para o apoio
de programas, projectos e outras actividades de I&D (OCT, 1998).
A distribuio de recursos financeiros
por sector de execuo mostra que em
1997 a despesa de I&D nas empresas era
apenas de 22 % do total, contra cerca de
50 % na UE e 60 % na OCDE. Contudo, a
despesa de I&D nas empresas, entre
137
Sociedade
% % % % % % % % % % % % % % % % % % % % % %
% % % % % % % % % % % % % % % % % % % % % %
Retrato de Portugal
120 000
100 000
80 000
60 000
40 000
20 000
0
1988
1990
1992
1994
1996
1998
(*) Secretaria de Estado da Cincia e Tecnologia at 1995, Ministrio da Cincia e da Tecnologia de 1995 a
2000.
Fonte: OCT, Dotaes Oramentais, 1986-1999.
2,20 %
1,80 %
1,40 %
1,00 %
1988 1989 1990 1991 1992 1993 1994 1995 1996 1997 1998 1999 2000 2001 2002
138
Sociedade
% % % % % % % % % % % % % % % % % % % % % %
% % % % % % % % % % % % % % % % % % % % % %
280
210
140
70
0
1995
1996
1997
1998
1999
2000
2001
2002
* Grfico construdo com base nos oramentos da principal agncia financiadora do sistema de C&T: JNICT at
1997, FCT de 1997 a 2002, a que foi acrescido o oramento do Instituto de Cooperao Cientfica e Tecnolgica
Internacional (ICCTI).
Fonte: Grandes Opes do Plano, 1995-2002.
139
Sociedade
% % % % % % % % % % % % % % % % % % % % % %
% % % % % % % % % % % % % % % % % % % % % %
Retrato de Portugal
1991
1992
1993
1994
1995
1996
1997
1998
1999
2000
2001
329
392
436
509
541
573
668
788
879
1071
1123
1382
Life Sciences
230
242
298
353
426
511
513
628
699
854
835
894
Clinical Medicine
75
104
125
135
168
207
181
271
274
352
351
356
98
103
168
156
209
258
272
317
388
424
468
550
160
152
184
180
218
271
340
349
416
510
549
555
26
24
50
47
50
61
92
52
72
85
163
110
24
19
19
34
18
28
22
22
37
44
32
925
1040
1279
1398
1645
1899
2093
2427
2749
3333
3533
3878
48
55
70
145
238
316
310
391
445
490
576
508
973
1095
1349
1543
1883
2215
2403
2818
3194
3823
4109
4386
Artigo
735
844
945
1088
1333
1555
1906
2164
2293
2709
3047
3214
Artigo em actas
97
107
140
205
213
257
229
300
434
548
473
601
Nota
62
45
82
125
103
Recenso
16
17
27
23
40
32
38
54
79
79
Outras
74
92
167
167
183
276
227
321
430
511
510
488
[1] Subtotal
[2] Publicaes no classificadas
68
140
Sociedade
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des com recursos humanos mais qualificados e em sectores de actividade tecnologicamente avanados.
Produo cientfica
A produo cientfica referenciada internacionalmente, ou seja, os trabalhos de
investigadores de instituies cientficas
portuguesas publicados em revistas de reconhecido mrito internacional, um importante indicador do desempenho dos
sistemas cientficos.
A produtividade cientfica nacional tem
crescido significativamente. No perodo
1990-1995, Portugal foi o primeiro pas da
UE em crescimento do nmero de publicaes cientficas referenciadas no Science
Citation Index ( SCI ) um crescimento
anual mdio de 12 %, triplo da OCDE e
mais que duplo da UE (OCDE, 1999). Enquanto o nmero de investigadores em
Portugal duplicou de 1988 para 1997, o
nmero de publicaes referenciadas no
SCI mais que triplicou, na verdade foi 3,5
vezes superior (OCT, 1999b). No perodo
1995-1999, Portugal voltou a ser o primeiro pas da UE em crescimento do nmero
de publicaes cientficas referenciadas
ao SCI, com um crescimento anual mdio
de 16 %, mais de cinco vezes e meia superior mdia da UE15 e mais do dobro
do pas com o segundo maior valor. Neste
4000
3500
3000
2500
2000
1500
1000
500
0
1990
1991
1992
1993
1994
1995 1996
1997
1998
1999
2000
2001
Fonte: Institute for Scientific Information, National Citation Report for Portugal, 1990-2002.
141
Sociedade
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Retrato de Portugal
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de informao sobre o seu estado e tendncias e para apoio definio da poltica cientfica e tecnolgica;
recuperao do atraso no lanamento
das fundaes para a sociedade da informao, atravs da generalizao das
acessibilidades e competncias bsicas
na populao, do desenvolvimento das
cincias e tecnologias da informao e da
comunicao, do estmulo disponibilizao de contedos na Internet.
A observao dos volumes financeiros
investidos no perodo referido nos programas de formao avanada, no reforo das
instituies cientficas, no apoio a projectos
de investigao cientfica e desenvolvimento tecnolgico, no alargamento da participao portuguesa em organizaes cientficas intergovernamentais, na promoo da
cultura e da educao cientfica so talvez
a expresso mais evidente da importncia
que se atribui a estas componentes do desenvolvimento cientfico e da vontade poltica de centrar nelas o esforo para vencer o
atraso cientfico.
Aumento dos recursos humanos com
elevadas qualificaes cientficas
Entre 1994 e 2002 foram financiadas 11 950
bolsas de formao avanada, das quais
2670 de mestrado e 5900 de doutoramento.
Do total das bolsas de doutoramento concedidas, 46 % foram para doutoramentos
no estrangeiro, correspondendo ao objectivo de continuar a estimular uma contribuio significativa de doutoramentos nas melhores universidades estrangeiras, como
factor de internacionalizao, relacionamento directo com as redes cientficas internacionais e de importao de prticas
diferentes na nossa sociedade.
Avaliao, qualidade, rigor e
transparncia
Os sistemas de avaliao so de importncia central para a qualidade, internacionalizao e funcionamento geral dos sistemas
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Sociedade
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Retrato de Portugal
cientficos. Visam sempre a tomada de decises relativamente optimizao dos recursos financeiros, racionalizao ou
reforma das instituies, ao aumento da
produtividade e qualidade da produo e
da actividade cientfica.
Como vimos, a partir de 1964 os programas de avaliao do sistema cientfico nacional e das polticas governamentais, monitorizados pela OCDE, foram decisivos
para o arranque do desenvolvimento cientfico do pas.
De novo, a partir de 1996 foi desencadeada uma profunda mudana do sistema
de avaliao, considerando que esta um
elemento essencial para o desenvolvimento do sistema cientfico e tecnolgico
nacional e uma garantia da sua qualidade. Tal mudana, desencadeada pela
FCT, consistiu basicamente na reviso,
clarificao e divulgao dos procedimentos de avaliao de instituies cientficas, de projectos de investigao e
de candidaturas a bolsas. A avaliao de
projectos e instituies apoia-se essencialmente em painis de avaliadores
maioritariamente compostos por cientistas
de instituies estrangeiras; e envolvem a
interaco directa entre proponentes e
avaliadores em sesses de apresentao
pblica das candidaturas de projectos ou
unidades de investigao. Outro aspecto
importante foi a incluso nos critrios de
avaliao da qualidade dos resultados
de projectos financiados anteriormente
em que a equipa participou e da contribuio dos projectos para a integrao de
novos investigadores.
Assim, foi concretizado um processo de
avaliao coerente e transparente, cuja
qualidade reconhecida pela comunidade
cientfica nacional e sublinhada internacionalmente, o que permitiu encetar um modelo regular e responsvel de financiamento
de I&D, conferindo condies de estabilidade e responsabilizao s instituies
de investigao.
144
Sociedade
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Foi constatado um elevado potencial para uma actividade cientfica de grande qualidade internacional, ainda que entravado
por alguns factores. Em primeiro lugar, deficincias estruturais na organizao e
constituio das unidades, atribuveis a polticas anteriores de financiamento que privilegiavam a dimenso e a insero em
certas reas prioritrias, em detrimento da
qualidade e dos resultados da investigao. Em segundo lugar, dificuldades de
compatibilizao da actividade cientfica
com a actual organizao do ensino universitrio, nomeadamente a exgua disponibilidade de tempo dos docentes para a investigao resultante de cargas lectivas
excessivas, a falta de apoio administrativo
e tcnico e a rigidez nas contrataes de
recursos humanos.
Reforo e qualificao das instituies
cientficas
O Programa de Financiamento Plurianual
de Unidades de I&D, talvez o mais importante programa de reforo das instituies
cientficas, passou a disponibilizar financiamentos de base e programtico definidos
na sequncia de avaliao internacional
peridica. Integram o programa cerca de
335 unidades de todas as reas do conhecimento. O montante global de financiamento do programa aumentou significativamente no perodo 1995-2002: passou
de 7,5 milhes de euros em 1995 e 1996
para 20 milhes de euros em 1997, 28 milhes de euros em 1999, 30 milhes de euros em 2000 e 35 milhes de euros em
2001 (OCT, 2002).
Alm de dotar as unidades de recursos
financeiros para o seu funcionamento, este
programa tem servido de estmulo para a
reorganizao interna e orientao programtica das instituies, o reforo da sua
autonomia e capacidade de captao de
fundos no exterior do sistema, e das condies para gerao de emprego cientfico,
na sequncia das recomendaes resul-
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Retrato de Portugal
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oportunidades de aprendizagem e socializao que a escola proporciona, era a varivel que mais explicava os diferentes nveis de conhecimento cientfico, bem como
as representaes e atitudes perante a
cincia; o conhecimento, em particular,
distinguia-se por um dfice quase total de
ensino experimental das cincias e por
uma reduzida afirmao do ensino tecnolgico.
Segundo os resultados do inqurito internacional de caracterizao dos nveis
de desempenho dos alunos (de 9 e 13
anos), os desempenhos mdios das crianas portuguesas, tanto em matemtica
como em cincias, eram particularmente
fracos, embora tivessem apresentado melhores resultados os alunos que afirmavam
realizar ou assistir a experincias na sala
de aula.
No que respeita a outras oportunidades
de contacto com o mundo da cincia e da
tecnologia, registava-se a escassez de museus, revistas de divulgao, programas
149
Sociedade
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Retrato de Portugal
de televiso e rdio, etc., sejam eles destinados populao adulta ou mais jovem.
Foi lanado em Junho de 1996 o Programa Cincia Viva, que elegeu como princpios orientadores a importncia da escola
e do ensino experimental das cincias na
formao da cultura cientfica e tecnolgica.
A poltica de difuso da cultura cientfica
e tecnolgica em Portugal envolveu duas
dimenses: os jovens como alvo e o envolvimento de instituies cientficas como estratgia para a promoo da qualidade. Isto , o envolvimento dos cientistas e das
instituies cientficas nas vrias iniciativas,
e a importao, para esta linha de interveno, dos mecanismos de concurso, avaliao independente, acompanhamento e
apresentao pblica de resultados, prticas que so h longa data seguidas pelas
instituies cientficas.
Foram quatro os instrumentos fundamentais de aco do Programa Cincia Viva:
um programa Cincia Viva na Escola de apoio e financiamento de projectos para o desenvolvimento do ensino
experimental das cincias, com o envolvimento da comunidade cientfica e educativa. Entre 1996 e 2001 foram realizados cinco concursos anuais, de que resultaram
cerca de 3120 projectos, abrangendo mais
de 2000 escolas, 5000 professores e meio
milho de jovens (cerca de 40 % de toda a
populao escolar correspondente), o que
representou um investimento de 24 milhes
de euros (OCT, 2002);
o programa de Geminao Escolas-Instituies Cientficas, para realizao de
actividades conjuntas e disponibilizao
de apoio tcnico e cientfico, que consagra
uma perspectiva de colaborao regular e
partilha de recursos e conhecimentos entre
escolas e instituies cientficas;
uma rede nacional de centros Cincia
Viva, concebidos como espaos interactivos de divulgao cientfica para a populao em geral, mas tambm como platafor150
Sociedade
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22
1997
1998
12
Japo
23
63
Frana
Holanda
72
Blgica
72
75
ustria
87
Reino Unido
Itlia
84
Sucia
91
Nova Zelndia
94
89
Estados Unidos
94
95
Finlndia
90
Noruega
98
30
Portugal
100
69
Irlanda
100
100
100
Dinamarca
0
20
40
60
80
100
153
Sociedade
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Retrato de Portugal
cidados pudessem usufruir dos benefcios das novas TIC, como factor de integrao social e de melhoria da respectiva
qualidade de vida. Alm de outras medidas
foi determinado que as direces-gerais,
servios equiparados e os institutos pblicos disponibilizem a sua informao na Internet de forma a que a mesma possa ser
acedida, efectivamente, pelos cidados
com necessidades especiais.
Assim, Portugal colocou-se na vanguarda
das preocupaes com a acessibilidade
de cidados com necessidades especiais
s modernas TIC, liderando a nvel europeu
as iniciativas nesta matria.
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Retrato de Portugal
Planeamento do desenvolvimento
cientfico e tecnolgico para 2000-2006
A preparao do Livro Branco do Desenvolvimento Cientfico e Tecnolgico Portugus
(2000-2006), em particular os documentos
e anlises elaborados na sequncia das
avaliaes de instituies cientficas e
tecnolgicas, as discusses e debates em
variadas sesses organizadas em vrios
pontos do pas e o debate suscitado no
Forum Permanente da Poltica Cientfica e
Tecnolgica, desde Julho de 1998, permitiram uma participao alargada da comunidade cientfica e tecnolgica e de outros
agentes sociais e econmicos na identificao das necessidades e oportunidades
de desenvolvimento cientfico e tecnolgico no futuro prximo. Os resultados deste processo de planeamento e consulta
vieram a integrar o Plano de Desenvolvimento Regional para 2000-2006 e propostas para o novo Quadro Comunitrio de
Apoio.
O Programa Cincia, Tecnologia e Inovao e o Programa Sociedade da Informao visaram responder aos pontos levantados no processo descrito definindo
os instrumentos de aco para desenvolver as condies do florescimento da sociedade do conhecimento e da informao.
De um ponto de vista financeiro, corresponderam a mais do que duplicar para o
perodo 2000-2006 as dotaes que estiveram disponveis em 1994-1999.
O Programa Operacional Cincia, Tecnologia e Inovao (em 2004 designado Programa Operacional Cincia e Inovao) teve como orientao estratgica de mdio
prazo vencer o atraso cientfico do pas,
aproximando-o da mdia dos pases da
UE. Para alm do aprofundamento das linhas de aco desenvolvidas e aplicadas
de 1995 a 1999 e descritas na seco anterior, foram previstos novos aspectos que
se indicam a seguir.
formar, qualificar e criar emprego
cientfico, promovendo uma slida base de
156
Sociedade
qualificao, a criao de emprego cientfico, a insero de doutorados nas empresas e nas instituies cientficas e tecnolgicas e o reforo das lideranas cientficas.
Pretendem-se atingir os nveis mdios europeus de qualificao cientfica ampliando
e consolidando a dinmica de crescimento
dos ltimos anos;
criar uma rede moderna e coerente de
instituies cientficas, atravs do desenvolvimento de uma rede coerente de instituies de C&T, devidamente articuladas
entre si e com o tecido social e econmico,
e embebidas nas redes europeias de C&T.
Destaca-se neste contexto a criao da rede de laboratrios associados, o lanamento da Biblioteca Nacional de C&T em
Rede [em 2003 designada Biblioteca do
Conhecimento Online (b-on)] e a previso
de redes de Observao e Monitorizao,
suportadas por laboratrios de referncia,
especialmente no domnio do controlo ambiental e da sade pblica;
estimular a cooperao entre instituies de I&D e empresas e criar uma rede de centros de valorizao dos resultados da investigao cientfica, reforando
o impacte da investigao em consrcio
entre empresas e instituies cientficas
com a abertura de concursos orientados,
nomeadamente com o lanamento de programas intersectoriais de carcter estruturante e maior alcance estratgico. Criar
uma rede de centros de valorizao, junto
s instituies cientficas ligadas ao ensino
superior, com uma forma organizativa ligeira e permitindo uma melhor cobertura do
espao nacional. Apoiar a integrao das
oportunidades de I&D nos grandes programas de investimento pblico;
pr a tecnologia no mapa da cultura:
Como Se Fazem as Coisas? Promover a
cincia para todos, no mbito do Programa
Cincia Viva, a iniciativa Como Se Fazem
as Coisas? estimular, de forma organizada escala nacional, visitas guiadas s
empresas e outras instituies tecnolgi-
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Retrato de Portugal
A sociedade
da informao
e a cincia e a
tecnologia no perodo
2002-2005
No mbito do Programa Operacional Sociedade da Informao (POSI) foi lanado
em 2001 o concurso pblico para a generalizao do Programa Cidades Digitais, e
criados os primeiros espaos Internet pblicos, que ainda hoje so um dos mais importantes meios de acesso Internet em
Portugal. Tambm em 2001 foi aprovado o
decreto-lei que criou o Diploma de Competncias Bsicas em Tecnologias de Informao, e a Comisso Interministerial para
a Sociedade de Informao lanou um
concurso para avaliao dos stios na Internet de organismos integrados na administrao directa e indirecta do Estado. Muito
em especial, todas as escolas do pas estavam ligadas Internet no final de 2001.
Em Novembro de 2002 foi estabelecida a
Unidade de Misso Inovao Conhecimento (UMIC) para definir e orientar as polticas
da Sociedade de Informao e Governo
Electrnico em Portugal. O seu plano de
aco, aprovado em Junho de 2003, estava assente em sete pilares de actuao: i)
uma sociedade da informao para todos;
ii) novas capacidades; iii) qualidade e eficincia dos servios pblicos; iv) melhor cidadania; v) sade ao alcance de todos; vi)
novas formas de criar valor econmico; e
vii) contedos atractivos.
A UMIC apresentou a Iniciativa Nacional
para a Banda Larga em Agosto de 2003.
158
Sociedade
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Cincia, tecnologia,
sociedade da informao
e qualificao de
recursos humanos no
centro da estratgia
poltica
No mbito das eleies legislativas de
2005 foi proposto um ambicioso Plano Tecnolgico com as seguintes linhas de orientao: convocar Portugal para a sociedade
da informao, imprimir um novo impulso
inovao empresarial, vencer o atraso
cientfico e tecnolgico e qualificar os recursos humanos.
No final de Julho de 2005 foi lanada a
iniciativa Ligar Portugal, que estabelece as
orientaes gerais para as polticas de promoo da sociedade da informao em
Portugal com o horizonte de 2010, e responde aos desafios colocados pela iniciativa da Comisso Europeia i2010 Sociedade de Informao Europeia para o
Crescimento e Emprego. Os seus objectivos gerais incluem: promover uma cidadania moderna, garantir a competitividade
do mercado nacional de telecomunicaes, assegurar a transparncia da administrao pblica, promover a utilizao
crescente das TIC pelo tecido empresarial, assegurar o desenvolvimento de
novas empresas de base tecnolgica, estimular o desenvolvimento cientfico e tecnolgico.
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Sociedade
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Retrato de Portugal
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Retrato de Portugal
em Abril de 2006 foi lanada a Iniciativa Nacional GRID. Presentemente esto ligados em GRID mais de 2000 computadores, estando previsto o seu alargamento
para 5000 a breve trecho. A FCT abriu um
concurso pblico para projectos no mbito
desta iniciativa;
foi assegurada a adaptao para Portugal das Licenas Creative Commons que
permitem a partilha aberta de conhecimento e obras pelos seus autores de uma forma simples, eficaz e muito flexvel, disponibilizando um conjunto de licenas-padro
que garantem proteco e liberdade, com
alguns direitos reservados. A verso portuguesa destas licenas foi lanada a 13 de
Novembro de 2006;
foi iniciado em meados de 2005 o projecto de desenvolvimento do carto do cidado com o objectivo de comear a ser
disponibilizado em 2007, permitindo a Portugal integrar o grupo dos primeiros pases
da UE a disponibilizarem um carto de
identificao electrnico e ser um dos pases com mais servios desmaterializados
que utilizam este tipo de cartes;
o passaporte electrnico portugus foi
disponibilizado em 28 de Agosto de 2006,
depois de o respectivo projecto ter sido iniciado apenas no 2.o trimestre de 2005, permitindo a Portugal recuperar o atraso a
ponto de ser o 11.o pas da UE a emitir passaportes electrnicos;
o Sistema de Certificao Electrnica
do Estado foi criado em Junho de 2006, na
sequncia de um processo iniciado em Novembro de 2005, com o objectivo de assegurar a emisso e gesto de assinaturas
electrnicas na administrao pblica, assegurando o funcionamento de uma infra-estrutura de chaves pblicas (PKI Public
Key Infrastructure) prpria, o que, alm de
outras aplicaes, vai permitir a desmaterializao completa do processo legislativo;
em Junho de 2006 foi substituda a
publicao do Dirio da Repblica em papel pela sua publicao electrnica, facili162
Sociedade
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Retrato de Portugal
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Retrato de Portugal
O desafio de ultrapassar
os obstculos no caminho
da sociedade do
conhecimento
Portugal poder dispor em 2010 de um sistema cientfico de dimenso equivalente
mdia dos pases da UE em recursos hu-
Fonte: OCT/OCES. Dotaes oramentais da JNICT at 1997, da FCT de 1998 a 2007, a que foram acrescidas
as dotaes oramentais do ICCTI de 1998 a 2002 e do GRICES de 2003 a 2006 (as funes de cooperao internacional em C&T passaram da JNICT para o ICCTI em 1997, transitaram deste para o GRICES em 2003 e para a FCT em 2007).
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Sociedade
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Retrato de Portugal
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Sociedade
O desporto
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Ildio Trindade
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Sociedade
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O desporto
Contra os desportistas
de bancada
Quando se d o 25 de Abril faltam trs jornadas para o final do campeonato, o Sporting tem mais um ponto que o Benfica, mais
dois que o Setbal e mais trs que o Futebol Clube do Porto. E mantm o avano at
final. So muitos os milhares de apoiantes
sportinguistas que festejam no seu estdio
o ttulo de campeo nacional, mas muitos
outros milhares tero estado na mesma altura em manifestaes, comcios, reunies
de esclarecimento, plenrios sindicais, a
viver os primeiros dias de liberdade.
Aqueles tempos so de mobilizao poltica, que afasta gente dos clubes e das
bancadas.
171
Sociedade
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Retrato de Portugal
Portugal, destino
desportivo
No final de Dezembro de 1985, quando os
contabilistas se desdobravam na assistncia a seminrios para dominarem as regras da aplicao de um novo imposto, o
IVA, que passaria a vigorar no dia 1 de Janeiro seguinte, com a entrada de Portugal
na Comunidade Econmica Europeia
(CEE) , renem-se em Coimbra os presidentes dos 16 clubes da primeira diviso
do Campeonato Nacional de Futebol. Objectivo: criar uma associao dos clubes
profissionais portugueses.
A associao l se formou. E no essencial serviu de alavanca Liga, que hoje
responsvel pela organizao dos campeonatos profissionais. As grandes mudanas no futebol internacional estavam a
chegar.
As transmisses televisivas trazem dinheiro ao futebol na mesma proporo que
afastam espectadores das bancadas.
O acrdo Bosman, do Tribunal Europeu,
consagra a liberdade contratual dos profissionais do desporto e cria a influente clas-
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O desporto
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Retrato de Portugal
A euforia do Euro 2004: milhares de apoiantes sadam a seleco nacional por onde quer que
ela passe.
A euforia do Europeu
Poucos acontecimentos tero mobilizado
tanto a ateno dos Portugueses como o
i.
Campeonato Europeu de Futebol de 2004 4
Oito estdios novos e dois recuperados
serviram de palco a uma competio que
recebeu elogios organizativos de todos os
quadrantes e propiciou momentos de
exemplar convvio entre os adeptos dos 16
pases finalistas.
Lus Figo, antigo capito e nmero 7 da
seleco nacional.
174
Sociedade
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O desporto
Cristiano Ronaldo disputa a posse da bola com Georgios Seitaridis durante a final
Portugal-Grcia do Euro 2004.
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Sociedade
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Retrato de Portugal
Chegada de veleiros ao porto de Lisboa para participar na apresentao da Tall Ships Race 2006.
176
Sociedade
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O desporto
177
Sociedade
O ambiente
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O ambiente
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Viriato Soromenho-Marques
181
O ambiente
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Retrato de Portugal
182
O ambiente
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O ambiente
floresta de laurissilva, que a UNESCO (United Nations Educational, Scientific and Cultural Organization, Organizao das Naes Unidas para a Educao, Cincia e
Cultura) classificou em Dezembro de 1999
como de interesse mundial. A laurissilva
madeirense, composta por espcies como
o til, vinhtico, loureiros e os raros cedros,
uma relquia viva de uma floresta outrora
dominante numa vasta zona que se estendia a grande parte da Europa meridional.
Com as alteraes climticas, nomeadamente, a sucesso de perodos glaciares,
esta flora resistiu apenas na regio macaronsia (Quintal, 1999: 16).
No que concerne ao povo, talvez se
possa afirmar que a mais marcante caracterstica da identidade cultural portuguesa
reside, por um lado, na antiguidade do povoamento do seu territrio continental matricial, e no profundo cruzamento de povos
e etnias, desde os Celtas e os Iberos, aos
Romanos, Germanos (em particular, os
Suevos), rabes, e todos os outros povos
183
O ambiente
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Retrato de Portugal
da modernidade, com o seu cortejo de revolues industriais, que marcaram a ascenso da vaga de destruio e alterao
dos ecossistemas planetrios que caracteriza a histria dos ltimos dois sculos.
Em relao poltica de conservao
da natureza, salienta-se o trabalho pioneiro
das personalidades, quase todas provenientes do meio acadmico e cientfico,
Conscincia ambiental
e sociedade em Portugal
Portugal no foi pioneiro da conscincia
ambiental, porque tambm no foi pioneiro
As regies de Portugal
2
8
1
10
3
4
9
3
6
11
12
13
16
14
17
19
15
13
21
18
20
22
23
Limite entre o Norte e o Sul
Limite entre as reas atlntica e transmontana
Outros limites importantes determinados pelo relevo ou pela natureza das rochas
Limite entre reas pertencentes ao mesmo conjunto de paisagens
184
O ambiente
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O ambiente
que em 1948 fundaram a Liga para a Proteco da Natureza (LPN). Um pouco antes, destaque-se o excelente estudo de
Francisco Flores, que, num ensaio publicado em 1939 pela Revista Agronmica, faz o
balano, possvel na altura, das doutrinas e
polticas de conservao da natureza escala internacional (Flores, 1939).
185
O ambiente
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Retrato de Portugal
186
O ambiente
O governo de Marcelo Caetano, isolado na cena internacional devido sua poltica colonial, levou a srio o convite. Portugal far-se-ia representar por amplas e
qualificadas delegaes, tanto na Conferncia de Estocolmo, como nas diversas
reunies preparatrias entretanto realizadas. No mbito da preparao da referida
conferncia foi, igualmente, redigido o primeiro relatrio sobre o estado do ambiente, que seria publicado tambm no ano de
1971.
H um quarto de sculo, Portugal seguia a tendncia mundial para a criao de
estruturas que progressivamente tornariam
o ambiente num horizonte integrador de
polticas pblicas, anteriormente omissas
ou fragmentadas por outros organismos
executivos. No entanto, a semelhana da
realidade portuguesa com a de outros pases da Organizao para a Cooperao e
Desenvolvimento Econmico (OCDE) no
era isenta de limites claros e fundamentais.
Enquanto a criao de estruturas polticas
na rea do ambiente por parte de governos
como o dos EUA, da Sucia, da Alemanha,
etc., era o resultado de uma dcada de
movimentaes cvicas e democrticas intensas, realizadas ao longo dos anos 60, a
criao da Comisso Nacional do Ambiente, em Portugal, resultava dominantemente
no de uma presso endgena irreprimvel
da sociedade civil cuja capacidade de
expresso democrtica estava bloqueada
pela longa letargia de uma ditadura policial
repressiva , mas era o efeito, inversamente, de uma reaco a um impulso externo.
Outro momento capital da presena
do impulso externo, com tudo o que
tem de implicaes positivas e negativas,
ocorre no estudo da integrao portuguesa na ento Comunidade Europeia. Algumas das condies polticas fundamentais para se poder falar de uma poltica de
ambiente j existiam nos anos 70, logo
aps a revoluo de Abril, nomeadamen-
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O ambiente
O estado do ambiente
em Portugal: breve viso
de conjunto
Apesar do declnio de alguns indicadores
econmicos nos ltimos anos, Portugal tem
conhecido taxas de crescimento muito elevadas, no apenas desde a entrada na Comunidade Europeia, mas no decurso de
um longo perodo iniciado uma dcada antes da revoluo de 1974: os indicadores
econmicos e sociais provam-no amplamente (Barreto, 1996). O impacte ambiental desse crescimento deve ser meditado
com prudncia.
Esse crescimento tem sido conseguido
custa de uma alta intensidade energtica, com um excessivo consumo de matrias-primas no processo de transformao
industrial, custa tambm da produo
de elevadas quantidades de resduos,
mesmo de resduos perigosos, para no
falarmos do crescimento exponencial de
resduos slidos urbanos, onde Portugal
apresenta uma das situaes mais crticas
no quadro da OCDE. Isso significa que o
aumento do produto interno bruto portugus est a ser conseguido, comparativamente com a mdia dos outros pases da
UE ou da OCDE, custa de um maior desperdcio de energia, tanto na produo
como, e sobretudo, nos transportes, e
atravs de uma mais acentuada presso
sobre os recursos e matrias-primas, com
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Retrato de Portugal
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Retrato de Portugal
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O ambiente
191
O ambiente
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Retrato de Portugal
Fontes: MARN, Instituto da gua, Recursos Hdricos de Portugal Continental e Sua Utilizao, vol. 1, Lisboa,
1995; Direco-Geral do Ambiente, Relatrio sobre o Estado do Ambiente, 1998; Instituto do Ambiente, Relatrio
do Estado do Ambiente, 2004.
Litoral e oceanos
Com a maior ZEE da Europa, pela conjugao entre a sua vasta linha de costa continental e a extensa rea ocenica correspondente aos arquiplagos dos Aores e
Madeira, Portugal tem todas as condies
fsicas e naturais para ser o pas europeu
onde uma viso integrada da gesto do litoral e dos oceanos mais se justificaria inteiramente.
Passemos em revista algumas das principais caractersticas do estado do ambiente neste domnio:
Portugal tem no seu litoral zonas particularmente sensveis, protegidas por convenes internacionais, como a de Ramsar
para a salvaguarda das zonas hmidas.
Destacam-se, de norte para sul, a ria de
Aveiro, os esturios do Tejo e do Sado e a
ria Formosa;
o litoral portugus particularmente
vulnervel poluio por hidrocarbonetos,
devido travessia diria de centenas de
petroleiros. Um dos doze maiores derrames da histria ocorreu na costa portu-
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O ambiente
DA
193
O ambiente
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Retrato de Portugal
positivo o facto de ter sido atribuda a Portugal, no mbito da UE, a Agncia Europeia para a Segurana Martima, que, infelizmente, continua sem ter instalaes
adequadas ao seu pleno funcionamento.
O ar
Apesar da exposio das reas mais densamente povoadas de Portugal aos ventos
ocenicos, o pas apresenta algumas reas
crticas em matria de poluio atmosfrica. O aumento da urbanizao e o grande
incremento do transporte rodovirio esto
entre as causas principais para a degradao da qualidade do ar na Europa e em
Portugal.
As reas mais sensveis, s quais correspondem as estaes de uma rede de
medio da qualidade de ar, que se deve
considerar insuficiente, so as reas urbanas, em particular Lisboa e Porto, e algumas zonas industriais, como o caso de
Barreiro-Seixal, Estarreja e Sines. A rede
de medio da qualidade do ar est a cargo
das comisses de coordenao e desenvolvimento regional (CCDR), e o resultado
do tratamento da informao traduz-se na
produo do ndice da qualidade do ar
194
O ambiente
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O ambiente
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Retrato de Portugal
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O ambiente
es climticas, seriam muito graves, contando-se entre elas: a) mais desertificao; b) mais incndios; c) mais fenmenos
extremos (tal foi o caso da onda de calor
de Julho-Agosto de 2003, que ter causado, s em Portugal, um excesso de cerca
de 2000 mortes; d) propagao de vectores de doenas hoje consideradas extintas ou controladas (como o caso da malria).
Concluses
e perspectivas
Em sntese, apesar dos passos institucionais positivos j levados a cabo nas polticas pblicas de ambiente, Portugal continua a manifestar grandes dificuldades em
enfrentar as maiores ameaas ambientais,
em particular as que se prendem com cinco domnios fundamentais: a) contribuio
para as alteraes climticas; b) eroso
costeira e desertificao; c) perda de biodiversidade; d) expanso descontrolada
da rea construda; e) excessivo desperdcio de gua nos usos urbano e agrcola.
Para se poder inverter esta situao,
poderemos reduzir a cinco as grandes
prioridades de longo prazo da poltica ambiental portuguesa:
197
O ambiente
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Retrato de Portugal
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O ambiente
199
O ambiente
A economia
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A economia
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A evoluo econmica
do 25 de Abril adeso
CEE
Quando se d a revoluo de Abril de 1974
a economia portuguesa encontra-se em
profundo desequilbrio (Amaral, 1999).
O crescimento econmico das duas dcadas anteriores tinha sido, certo, muito rpido, tendo o produto interno bruto (PIB)
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Retrato de Portugal
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A economia
A reduo da emigrao em meados dos anos 70 mostrou at que ponto esse factor social era
fundamental para a economia portuguesa.
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Retrato de Portugal
Vista em perspectiva, no entanto, a queda foi inferior ao que as dificuldades poderiam fazer prever. Isso s foi possvel devido a um aumento grande do dfice com o
exterior, tendo a taxa de cobertura das importaes pelas exportaes, agravada
pela perda das exportaes para as antigas colnias, descido de 60 % em 1973
para 41 % em 1976. Foi no entanto possvel, durante algum tempo, sustentar este
desequilbrio com o exterior utilizando as
reservas de ouro e divisas acumuladas
desde a dcada de 60 e recorrendo ao endividamento no exterior.
No entanto, rapidamente se estava chegando aos limites das possibilidades de financiar os dfices crescentes da balana
de transaces correntes (8,2 % do PIB em
1976 e 9,2 % em 1977). Alguma coisa teria
de ser feita para reduzir decisivamente o
dfice.
Assim, logo em Fevereiro de 1977 o governo decidiu desvalorizar 15 % o escudo
(Lopes, 1996) para tentar incentivar as exportaes, ao mesmo tempo que reforava
algumas restries s importaes e impunha um tecto salarial tambm de 15 por
cento. Simultaneamente, para evitar consequncias sociais demasiado negativas, institua-se um cabaz de compras de produtos
essenciais a preos subsidiados.
Entretanto, o crescimento econmico
tinha voltado a ser positivo em 1976 e em
1977, muito sustentado pelo aumento da
despesa pblica. Este crescimento no
induzido pelas exportaes acabava, porm, por agravar o dfice externo em virtude do aumento que provocava nas importaes de matrias-primas e de bens
de consumo.
Confrontadas com o nvel excessivo de
dfice externo, que a desvalorizao do
escudo em Fevereiro de 1977 no conseguira inflectir, as autoridades intensificaram
negociaes com o Fundo Monetrio Internacional (FMI) com vista obteno de um
acordo para um programa de estabilizao
206
A economia
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A economia
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Retrato de Portugal
208
A economia
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A economia
Da adeso CEE
poltica de convergncia
(1986-1990)
A adeso de Portugal CEE coincide com
a adeso da Espanha e praticamente simultnea tambm da entrada em vigor do
Acto nico Europeu. Ambas estas coincidncias vo ter grandes consequncias
sobre a evoluo da economia portuguesa,
embora a segunda, na sua maior parte, se
faa sentir apenas depois de 1990.
Quando da adeso, Portugal tinha j
uma larga experincia de condies de livre comrcio na Europa. Membro fundador
da EFTA em 1960 (onde, contudo, gozava
de um regime especial), tinha assinado em
1972 um acordo comercial com a CEE.
E embora durante o perodo mais aflitivo de
desequilbrio externo tivesse aumentado algumas das suas barreiras ao comrcio, introduzindo uma sobretaxa importao e
restries quantitativas, pode dizer-se que
em relao aos pases comunitrios Portugal era uma economia relativamente aberta
(Mateus, 1998). A CEE era, alis, j na altura, o principal destino das exportaes portuguesas. A adeso implicou o abatimento
das restries ainda existentes e a adopo da pauta exterior comum, o que se realizou dentro do calendrio previsto sem
consequncias de maior.
J no que respeita s relaes com Espanha se verificou um impacte muito significativo. Embora vizinhos, os pases ibricos
constituam duas economias praticamente
de costas voltadas. Assim, ainda em 1985
as exportaes portuguesas para Espanha
no ultrapassavam 4 % do total. Com a
adeso simultnea dos dois pases tudo se
modificou. Abateram-se as barreiras comerciais e rapidamente a Espanha passou
a ser o principal fornecedor de Portugal e o
seu segundo maior cliente, a seguir Alemanha (na actualidade, j a Espanha o
pas nosso maior cliente). A adeso trouxe,
assim, um impacte imediato positivo na
criao de comrcio entre os dois pases.
O segundo impacte imediato de grande
importncia foi o dos fundos estruturais.
A entrada de fundos estruturais desde
1986, a que se seguiu a respectiva dupli209
A economia
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Retrato de Portugal
para Espanha), ambos com taxas de crescimento anual prximas dos 10 por cento.
A inflao anual, embora ainda elevada
(11 % na mdia dos cinco anos) foi muito
inferior mdia do perodo anterior (superior a 20 %), e o dfice do sector pblico
no excedeu em nenhum ano os 8 % do
PIB contra uma mdia superior a 10 % nos
cinco anos anteriores. As taxas de escolarizao a partir do 8.o ano de escolaridade
aumentaram muito significativamente,
com especial relevncia para o ensino superior, que registou um aumento de 40 %
no nmero de alunos entre 1986 e 1990.
O investimento pblico em vias de comunicao teve um grande impulso e os
indicadores sociais melhoraram substancialmente, registando, por exemplo, a
mortalidade infantil uma diminuio de
17,8 por mil em 1985 para 10,9 por mil em
1990 (INE, 1992).
O crescimento continuava assente basicamente na indstria (esta apoiada por um
programa especial financiado pela Comunidade Europeia, o Programa Estratgico
de Dinamizao e Modernizao da Indstria Portuguesa PEDIP), na construo
civil (em resposta ao investimento pblico)
e no turismo, enquanto a agricultura revelava dificuldades de adaptao poltica
agrcola comum, apesar de tambm
apoiada num programa especial comunitrio para Portugal, o PEDAP, para alm
de receber os apoios gerais do Fundo Europeu de Orientao e Garantia Agrcola
(FEOGA).
Novos grupos econmicos se foram sedimentando em torno da grande distribuio, da construo civil e de alguns sectores industriais. No entanto, e apesar da
instalao de novos bancos privados, o
sector financeiro continuava a ser maioritariamente pblico, uma vez que as privatizaes s se realizariam nos anos 90.
O impacte dos fundos estruturais comunitrios tornou-se sensvel no s nos respectivos sectores como tambm a nvel
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A economia
Da poltica de
convergncia moeda
nica (1991-1998)
No foi a adeso moeda nica o nico
factor condicionante da poltica macroeconmica neste perodo. Em consequncia
da realizao do mercado interno estabelecido pelo Acto nico Europeu de 1987,
Portugal, tal como todos os restantes pases da ento CEE, tinha-se comprometido
a liberalizar os movimentos de pessoas,
bens, servios e capitais. A liberalizao
de mercadorias no foi especialmente importante dada a longa tradio de comrcio
livre a que j fizemos referncia, embora tenham sido eliminadas algumas barreiras
que ainda persistiam.
Como se disse, o impacte mais importante em termos de comrcio externo tinha
sido o resultante das relaes com a Espa211
A economia
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Retrato de Portugal
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A economia
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Retrato de Portugal
2005
Consumo privado
65,0
65,2
Consumo pblico
10,9
21,1
Investimento
33,0
22,3
Exportaes
18,7
28,6
Importaes (-)
27,6
37,3
PIB
100
100
J quanto reduo do dfice do sector pblico, ela revelou-se ao princpio surpreendentemente difcil. Ainda em 1993 o
dfice rondava os 7 % do PIB e s em
1997 se cumpriu o critrio dos 3 por cento.
A reduo ficou a dever-se, em grande
parte, diminuio dos encargos da dvida pblica, reduo derivada directamen-
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A economia
te da reduo da taxa de juro proporcionada pela reduo da inflao e indirectamente pela reduo do stock de dvida
pblica em resultado das receitas das privatizaes, comeadas em 1989 mas aceleradas desde 1995, que foram na sua
maior parte aplicadas na reduo da dvida pblica.
Outro factor de reduo do dfice foi o
aumento de cobrana de impostos, sensvel principalmente a partir de 1996 e resultado da melhoria da situao econmica e
das medidas tomadas de combate evaso fiscal.
Em 1998 constatava-se que, indubitavelmente, a poltica de convergncia,
prosseguida desde 1990 por dois governos sucessivos de base partidria diferente
(dirigidos por Cavaco Silva, primeiro, e Antnio Guterres, depois), tinha sido um xito
face finalidade pretendida. E, por isso, a
economia portuguesa, contrariando o que,
no incio, tinha sido a previso de muitos,
foi admitida em 1998 na moeda nica sem
que fossem levantados obstculos a essa
admisso.
No entanto, os custos associados poltica de convergncia foram tambm muito
elevados.
A estabilizao da taxa de cmbio do
escudo quando a inflao interna era muito
superior dos pases nossos parceiros ou
concorrentes comerciais levou a uma perda de competitividade das empresas portuguesas face ao exterior. Isso traduziu-se
numa desacelerao pronunciada do crescimento das exportaes e tambm na penetrao facilitada no mercado portugus
de produtos estrangeiros, principalmente
oriundos de Espanha, eliminando alguma
produo interna.
Verificou-se, assim, imediatamente,
uma desacelerao ou mesmo quebra da
produo de bens transaccionveis com o
exterior, em particular da indstria e agricultura.
Por outro lado, devido estabilizao
da taxa de cmbio numa situao de inflao interna, os preos dos bens transaccionveis cresceram muito menos que os
preos dos bens protegidos da concorrncia externa, incentivando assim as actividades no afectadas por esta, ligadas ao
mercado interno, em prejuzo das outras,
com consequncias importantes, no imediato e a prazo, sobre o agravamento do
dfice da balana comercial.
Sem surpresa, face ao grau de abertura
da economia portuguesa, o crescimento
global desacelerou fortemente em 1991-1998 relativamente ao perodo de 1986-1990. A taxa mdia de crescimento anual
do PIB entre 1991 e 1998 foi apenas de
2,6 %, pouco superior mdia comunitria
(2 %) e pouco superior tambm taxa do
perodo entre 1974 e 1985 (2,2 %), em que
o pas tinha enfrentado dificuldades de toda a ordem.
Taxas de crescimento
mdio anual (%)
PIB Emprego Produtividade
(vol.)
(vol.)
1974-1985
2,2
-0,4
2,6
1986-1990
5,5
1,1
4,4
1991-1998
2,6
0,3
2,3
1999-2005
1,5
0,8
0,7
% % % % % % % % % % % % % % % % % % % % % %
% % % % % % % % % % % % % % % % % % % % % %
Retrato de Portugal
% % % % % % % % % % % % % % % % % % % % % %
% % % % % % % % % % % % % % % % % % % % % %
A economia
A Autoeuropa, fbrica de veculos automveis instalada em Portugal pela Ford e pela Volkswagen.
217
A economia
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Retrato de Portugal
Balano e perspectivas
Ao entrar na moeda nica, a economia portuguesa enfrentou uma situao indita,
tanto ao nvel interno como internacional.
A nvel internacional, a globalizao da
economia, assente na globalizao financeira, no poder crescente das empresas
transnacionais e em novos impulsos liberalizao do comrcio mundial, com a entrada em fora da China e tambm da ndia
nesse comrcio, criou um ambiente competitivo mais difcil mas, ao mesmo tempo,
gerador de novas oportunidades. Neste tipo de ambiente, a reduzida dimenso econmica torna-se muitas vezes uma condio adversa, principalmente quando se
verifica um movimento geral de fuses e
aquisies de alguns gigantes empresariais.
Mas tambm verdade que alguns dos
grupos econmicos portugueses se tm
mostrado, nos ltimos tempos, bastante dinmicos a nvel internacional, chegando
por vezes a atingir um peso significativo
em alguns produtos dos respectivos sectores de actividade.
% % % % % % % % % % % % % % % % % % % % % %
% % % % % % % % % % % % % % % % % % % % % %
A economia
O sector das telecomunicaes um dos que mais se modernizou nos ltimos anos.
Edifcio PT-TMN.
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% % % % % % % % % % % % % % % % % % % % % %
Retrato de Portugal
2003
Agricultura e pesca
12
Indstria e energia
29
20
Construo
11
Servios
49
69
% % % % % % % % % % % % % % % % % % % % % %
% % % % % % % % % % % % % % % % % % % % % %
A economia
6,9
1986-1990
6,1
1991-1998
5,9
1999-2005
5,4
Fontes: European Economy, suplemento A, Outono/1999; Banco de Portugal, Relatrio de 2005 [para
1999-2005].
12,2
5,8
3,0
Fontes: European Economy, suplemento A, Outono/1999; Banco de Portugal Relatrio de 2005 [para
1999-2005].
2004
Primrio
24,2
12,0
Secundrio
35,8
31,1
Tercirio
40,0
56,8
Total
100
100
221
A economia
% % % % % % % % % % % % % % % % % % % % % %
% % % % % % % % % % % % % % % % % % % % % %
Retrato de Portugal
A economia soube adaptar-se a impactes exgenos negativos como os dos choques petrolferos e dos efeitos da descolonizao, sem quedas insuportveis do
nvel de vida nem aumentos incomportveis do desemprego, embora tenham sido
os salrios reais a suportar o essencial dos
ajustamentos. Tem tido, contudo, muito
mais dificuldade em adaptar-se ao choque
global actual.
O processo de reduo da inflao, necessrio para aderir moeda nica, conseguiu plenamente os seus objectivos.
A adeso CEE foi um sucesso e o pas
soube aproveitar bem os fundos comunitrios que foram postos sua disposio,
em particular no que respeita s infra-estruturas. Em especial a construo de
estradas permitiu uma grande reduo do
tempo dos transportes terrestres, contribuindo para a maior comunicao entre regies e para menores custos de transporte.
No entanto, neste incio de sculo so
tambm visveis desequilbrios importantes:
A sociedade portuguesa aprofundou o
seu dualismo entre as novas geraes,
com alto nvel de escolaridade e com fcil
acesso informtica, e os mais idosos, de
relativamente fraco nvel de instruo, com
uma taxa de analfabetismo ainda elevada.
Outro dualismo, que se foi aprofundando ao longo do tempo, o relativo ao agravamento da desertificao econmica e
demogrfica do interior face ao litoral
e principalmente s reas metropolitanas.
Nem a actuao geralmente dinmica do
poder local democrtico criado depois
do 25 de Abril nem as novas vias de comunicao tm sido suficientes para contrariar este processo.
Em particular o sector agrcola continua
a evidenciar baixos nveis de produtividade/homem e a empregar uma proporo
ainda elevada (11,6 %) do total do emprego. Esta mo-de-obra relativamente idosa e apresenta um nvel de instruo inferior mdia nacional, sendo dificilmente
222
A economia
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% % % % % % % % % % % % % % % % % % % % % %
A economia
Importaes
Agrcolas e alimentares
8,8
12,0
Energia
4,3
14,7
10,5
13,6
Qumicos
Txteis, peles e couro
5,4
4,2
9,1
4,2
12,6
3,4
Vesturio e calado
Minrios e metais
9,0
9,2
Mquinas e aparelhos
18,7
19,9
14,0
12,5
Outros
Total
7,8
6,2
100
100
223
A economia
A educao
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A educao
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educao constitui a primeira prioridade das polticas pblicas. Tal exigncia resulta da conscincia de
que o atraso acumulado ao longo de dcadas s poder ser superado com um esforo redobrado do Estado e da sociedade na
qualificao das pessoas como factor de
dignificao, de eficincia e de equidade.
O desenvolvimento da educao e da
formao das pessoas, o progresso nas
qualificaes dos cidados e a aposta nas
pessoas exigem um forte compromisso da
sociedade. Trata-se de compreender, antes do mais, que a educao e a formao
das pessoas constituem os modos de
transformar as atitudes e os comportamentos sociais e humanos no sentido de estabelecer uma relao fecunda e criadora na
sociedade e com a natureza, colocando os
escassos recursos disponveis e os frutos
do progresso ao servio da sociedade e
das pessoas.
A sociedade do conhecimento e da
aprendizagem est a constituir-se num processo que obriga: melhoria de qualidade
da educao bsica, na lgica da criao
de uma cultura de iniciativa, de responsabilidade e de cidadania activa; expanso e
diversificao da formao inicial dos jovens com a criao de um ensino secundrio que prepare melhor para a vida activa,
apostando na qualificao, na relevncia
das formaes, na produtividade e elevada
empregabilidade das novas geraes;
promoo de uma autntica aprendizagem
ao longo da vida, na lgica da educao
permanente e do reconhecimento das
aprendizagens adquiridas, bem como
227
A educao
% % % % % % % % % % % % % % % % % % % % % %
% % % % % % % % % % % % % % % % % % % % % %
Retrato de Portugal
250 000
200 000
150 000
100 000
50 000
2006-07
2000-01
1994-95
1986-87
1977-78
228
A educao
Taxa de analfabetismo
(10 e mais anos)
Ano
Taxa
1991
11,0
2001
9,0
% % % % % % % % % % % % % % % % % % % % % %
% % % % % % % % % % % % % % % % % % % % % %
A educao
Escolarizao e
qualificao
Verifiquemos, atravs de alguns indicadores, a evoluo ocorrida nos anos 90 no sistema educativo portugus, que justificou um
forte investimento traduzido no crescimento
de 1 % do peso das despesas da educao
Pr-escolar
1. ciclo
2. ciclo
3. ciclo
Secundrio
Superior
80
70
60
50
40
30
20
2003-04
2004-05
2001-02
2002-03
1998-99
1999-00
2000-01
1994-95
1995-96
1996-97
1997-98
1992-93
1993-94
1990-91
1991-92
1989-90
1988-89
1986-87
1987-88
1982-83
1983-84
1984-85
1985-86
1981-82
1978-79
1979-80
1980-81
1977-78
10
229
A educao
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Retrato de Portugal
do de se situar no ensino bsico para se situar no ensino secundrio. O facto de os ndices de insucesso escolar e do abandono
se terem reduzido significativamente no ensino bsico (as taxas de reteno e de desistncia registaram em 1996-1997 o valor
de 15,2 %, contra 13 % em 2002-2003) e de
o ensino secundrio registar agora as maiores taxas relativas de insucesso e abandono
(35,7 % em 1996-1997 contra 33,7 % em
2002-2003) determina que este nvel de ensino e a faixa etria 15-18 anos sejam hoje
considerados estratgicos e prioritrios.
Para esta evoluo positiva contriburam a consolidao da escolaridade obrigatria de nove anos, as concepes e
aplicaes de programas interministeriais
contra o insucesso e o crescente peso dos
servios na economia portuguesa, correspondendo ao incremento de 12 % do peso
relativo do sector tercirio de 1985 e 1997
(42,4 % para 54,9 %) e reduo do sector
primrio de 10 % (de 23,8 % para 13,5 %,
nos mesmos perodos), que determinou
uma maior importncia da questo das
competncias e capacidades da populao activa e das responsabilidades do sistema educativo, em especial do ensino secundrio.
Actualmente, continuam a ser reas de
particular vulnerabilidade da situao educativa portuguesa: a sada de jovens do
sistema sem preparao ou qualificao
profissional; a estrutura de habilitaes da
populao caracterizada pela existncia
de 80 % dos activos com formao at aos
nove anos de escolaridade, com inexpressiva representao das formaes secundrias ou de qualificao profissional de
nvel III; a produtividade dos activos portugueses ser de apenas 66 % do valor mdio
da produtividade do espao da Unio Europeia (UE); uma convergncia menos acelerada em Portugal do que nos restantes
pases da coeso, no que respeita proporo de empregados com formaes superiores, apesar da evoluo muito rpida
230
A educao
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A educao
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Retrato de Portugal
O sistema educativo
Em Portugal, o sistema educativo compreende a educao pr-escolar, a educao escolar e a educao extra-escolar.
A educao pr-escolar
A educao pr-escolar a primeira etapa
da educao bsica, complementar da aco educativa da famlia, e destina-se s
crianas com idades compreendidas entre
os trs anos e a idade de ingresso no ensino bsico. Segundo a LBSE (Lei n.o 46/86,
de 14 de Outubro, alterada pela Lei n.o 115/
/1997, de 19 de Setembro, e pela Lei n.o 49/
/2005, de 30 de Agosto), a rede da educao pr-escolar constituda por instituies prprias, de iniciativa do poder
232
A educao
central, regional ou local e de outras entidades, colectivas ou individuais, designadamente associaes de pais e moradores, organizaes cvicas e confessionais,
organizaes sindicais e de empresa e de
instituies de solidariedade social
(art.o 5.o, n.o 5). A frequncia deste nvel
de educao facultativa, no reconhecimento de que famlia cabe um papel essencial no processo da educao pr-escolar (art.o 5.o, n.o 8) ainda que o
Estado apoie as instituies integradas na
rede pblica.
A Lei-Quadro da Educao Pr-Escolar
(Lei n.o 5/97, de 10 de Fevereiro) estipula a
complementaridade com a aco educativa da famlia e o favorecimento da formao e do desenvolvimento equilibrado da
criana, tendo em vista a plena insero
na sociedade como ser autnomo, livre e
solidrio. Compete ao Estado contribuir
activamente para a universalizao da
oferta da educao pr-escolar.
Por estabelecimento de educao pr-escolar entende-se a instituio que presta servios vocacionados para o desenvolvimento da criana, proporcionando
actividades educativas e actividades de
apoio famlia. Cabe aos pais e encarregados de educao participar na direco
dos estabelecimentos, desenvolver uma relao de cooperao com agentes educativos numa perspectiva formativa, dar parecer sobre o horrio de funcionamento e
participar, em regime de voluntariado e sob
a orientao da direco pedaggica da
instituio, em actividades educativas de
animao e atendimento. Por seu turno, cabe ao Estado criar uma rede pblica de
educao pr-escolar, generalizando a
oferta dos respectivos servios de acordo
com as necessidades, apoiar a criao de
estabelecimentos de educao pr-escolar
por outras entidades da sociedade civil,
definir as normas gerais a que obedece o
subsistema e prestar apoio s zonas carenciadas. A participao das autarquias e a
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A educao
233
A educao
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Retrato de Portugal
234
A educao
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A educao
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Retrato de Portugal
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A educao
A administrao e a gesto dos estabelecimentos de ensino orienta-se por princpios de democraticidade e de participao
de todos os implicados no processo educativo. A direco de cada estabelecimento ou agrupamento de estabelecimentos
dos ensinos bsico e secundrio assegurada por rgos prprios com representantes eleitos de professores, alunos e pessoal no docente. Segundo a lei em vigor,
a participao dos alunos circunscreve-se
ao ensino secundrio.
Em lugar de um modelo nico de gesto, adoptou-se uma matriz flexvel, a partir
da ideia de que a escola, enquanto centro
das polticas educativas, tem [...] de construir a sua autonomia a partir da comunidade em que se insere, dos seus problemas e
potencialidades, contando com uma nova
atitude de administrao central, regional e
local, que possibilite uma melhor resposta
aos desafios da mudana (Decreto-Lei
n.o 115-A, de 4 de Maio) prevendo-se
designadamente a celebrao de contratos de autonomia, que visam reforar o
autogoverno e a responsabilizao nos estabelecimentos educativos.
A LBSE instituiu ainda o Conselho Nacional de Educao, com funes consultivas
relativamente poltica de ensino, estando
nele representadas, alm da Assembleia da
Repblica, foras sociais, culturais e econmicas na procura de consensos alargados na rea da educao.
O Estado reconhece ainda um estatuto
especial ao ensino particular e cooperativo como uma expresso concreta da
liberdade de aprender e ensinar e do direito da famlia a orientar a educao dos
filhos (art.o 57.o, n.o 1, da LBSE). Quando
os estabelecimentos de ensino particular
e cooperativo adoptem planos e programas prprios, o seu reconhecimento carece de anlise, caso a caso, considerando
a qualidade dos respectivos currculos e
as condies pedaggicas da sua aplicao. O Estado fiscaliza e apoia, dentro
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Retrato de Portugal
proliferao de provas a que os candidatos venham a submeter-se; carcter nacional do processo de candidatura matrcula e inscrio nos estabelecimentos de
ensino superior pblico, sem prejuzo da
realizao, em casos devidamente fundamentados, de concursos de natureza local; e a realizao das operaes da candidatura pelos servios da administrao
central e regional da educao (art.o 12.o
da LBSE).
Dentro do respeito dos princpios indicados, o processo de avaliao da capacidade para a frequncia, bem como o de
seleco e seriao dos candidatos ao ingresso em cada curso e estabelecimento
de ensino superior da competncia desses mesmos estabelecimentos.
Cabe ao Estado, alm da criao de
condies de igualdade de oportunidades, assegurar progressivamente a eliminao de restries quantitativas de carcter global no acesso ao ensino superior
(numerus clausus) e estabelecer as condies para que os cursos existentes e a
criar correspondam globalmente s necessidades sociais de formao e qualificao, s aspiraes individuais e ele-
238
A educao
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A educao
escolas superiores especializadas nos domnios da tecnologia, das artes e da educao, entre outros. As universidades podem ser constitudas por escolas, institutos
ou faculdades diferenciados por departamentos e por outras unidades, podendo integrar escolas superiores do ensino politcnico. As escolas do ensino politcnico
podem ser associadas em unidades mais
amplas, segundo critrios de interesse regional e/ou da natureza das escolas.
A articulao entre o ensino superior e a
investigao cientfica especialmente
posta em destaque no sistema portugus.
Assim, a LBSE prev que nas instituies
de ensino superior sero criadas as condies para a formao de investigao
cientfica e para a realizao de actividades de investigao e desenvolvimento
(art.o 18.o, n.o 2). Deste modo, atribuda
ao Estado a competncia para incentivar
a colaborao entre as entidades pblicas,
privadas e cooperativas, no sentido de fomentar o desenvolvimento da cincia, da
tecnologia e da cultura tendo particularmente em vista os interesses da colectividade (art.o 18.o, n.o 5).
239
A educao
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Retrato de Portugal
240
A educao
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A educao
Universidade de Aveiro.
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Retrato de Portugal
(professores, restantes docentes, investigadores, estudantes e funcionrios), existindo paridade entre docentes e estudantes eleitos e equilbrio na representao
das unidades orgnicas independentemente da sua dimenso; a estes acrescem
os membros por inerncia (p. ex., reitor, vice-reitores, presidentes dos rgos de
gesto das unidades orgnicas e os rgos de governo dos estabelecimentos integrados, presidentes das associaes de
estudantes). A Assembleia da Universidade discute e apura os estatutos da universidade e suas alteraes, elege o reitor e decide sobre a sua substituio. O reitor
eleito para um mandato de quatro anos pela Assembleia da Universidade, por escrutnio secreto, de entre os professores catedrticos de nomeao definitiva, nos
termos estabelecidos pelos estatutos de
cada universidade. O ministro s pode recusar a nomeao do reitor com base em
vcio de forma do processo eleitoral. Os vice-reitores so nomeados pelo reitor. Este
representa e dirige a universidade, propondo, designadamente, velando pela observncia das leis e dos regulamentos e
superintendendo na gesto acadmica,
administrativa e financeira.
O Senado Universitrio aprova, entre
outras medidas, as linhas gerais de orientao da universidade, os projectos oramentais, os relatrios e as contas bem como a criao, suspenso e extino de
cursos, estabelecimentos e estruturas da
universidade; exerce ainda o poder disciplinar e fixa o valor das propinas a pagar
pelos alunos. A composio do Senado
Universitrio definida pelos estatutos de
cada universidade, devendo a representao dos diversos corpos respeitar regras
aplicveis Assembleia da Universidade.
O Conselho Administrativo tem a seu
cargo a gesto administrativa, patrimonial
e financeira e composto pelo reitor, por
um vice-reitor, pelo administrador ou pelo
funcionrio administrativo de categoria
242
A educao
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A educao
O financiamento do ensino superior baseia-se numa relao triangular Estado-instituio-alunos e no pagamento de uma
propina de valor moderado anual, o que
define o Estado como o principal financiador da componente educativa. Os fundos
canalizados pelo Oramento de Estado so
orientados para as actividades educativas e
de investigao. As instituies dispem
ainda de receitas prprias que decorrem
de contratos de prestao de servios que
celebrem.
Desde 1994 existe uma frmula acordada com as instituies para determinar o
oramento de funcionamento, que trouxe
maior transparncia e equidade na distribuio do financiamento pelas instituies.
A legislao sobre financiamento introduziu
a possibilidade da celebrao de contratos-programa e de desenvolvimento entre o
Estado e as instituies de ensino, dando
um passo importante no sentido da programao plurianual das escolas bem como
medidas significativas no sentido de consagrar a flexibilizao da gesto financeira
e administrativa, o que permitiu a consolidao da autonomia universitria.
243
A educao
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Retrato de Portugal
A aco social escolar no ensino superior registou um incremento muito significativo nos ltimos anos. A partir de 1999
foi introduzido um sistema de emprstimos
aos estudantes, com o objectivo de possibilitar a sua autonomizao financeira. Este instrumento, aplicvel aos estudantes
carenciados e com aproveitamento escolar, destina-se, numa primeira fase, aos
alunos dos ltimos anos dos cursos de licenciatura, prevendo-se um posterior alargamento.
A evoluo do ensino superior foi dominada no final dos anos 80 pela forte expanso da iniciativa particular e cooperativa. Entre 1987 e 1992, o nmero de vagas
do ensino superior pblico aumentou cerca de 40 % enquanto as vagas do privado
aumentaram 250 por cento. Em 1995 a introduo de exames obrigatrios para
concluso do ensino secundrio fez diminuir os candidatos nos anos seguintes.
A partir de 1996 a procura do ensino superior passou a ser menor do que as vagas
oferecidas conjuntamente pelos ensinos
pblico e privado.
A reduo do nmero de candidatos
conjugada com o crescimento das vagas
do ensino superior pblico introduziu uma
reduo da importncia relativa do sector
privado, que representa actualmente cerca
de um tero do total de alunos.
Em suma, o sistema pblico de ensino
superior, compreendendo as instituies
sob tutela exclusiva do Ministrio da Cincia, Tecnologia e Ensino Superior, bem como outras tuteladas conjuntamente com
outros ministrios, constitudo por 49 instituies: 14 universidades, cinco instituies universitrias no integradas, 15
institutos politcnicos e 15 escolas politcnicas no integradas. O sistema privado,
por seu lado, compreende 103 instituies:
14 universidades (onde se inclui a Universidade Catlica Portuguesa), 33 escolas universitrias no integradas em universidades, dois institutos politcnicos e 54 escolas
244
A educao
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A educao
criao de instrumentos econmicos e monetrios, mas com a sua consolidao atravs de mais e melhor formao das pessoas
que livremente circulam e que do o melhor
de si ao projecto comum que estamos a
construir. E preocupante verificar que na
UE se acumulam atrasos que importa ultrapassar. A livre circulao das pessoas obriga a uma maior qualidade dos sistemas de
ensino, ao incentivo convergncia entre
eles e ao reconhecimento mtuo de diplomas e formaes. Eis porque a dimenso
europeia na educao ter uma importncia
245
A educao
Cultura
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O patrimnio cultural
A literatura
A arquitectura
As artes visuais
As artes do espectculo
O cinema
Design e moda
O patrimnio cultural
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m Portugal, o processo de construo da ideia de patrimnio, enquanto legado das geraes passadas indispensvel para preservar a
memria e cimentar a identidade nacional,
no foi muito diferente do observvel um
pouco por toda a Europa, sobretudo a partir do Renascimento. Andr de Resende
(1500?-1573), erasmista e esprito cosmopolita perseguido pela Inquisio, foi um
precursor dos estudos arqueolgicos (De
antiquitatibus Lusitaniae). Quase dois sculos mais tarde, no reinado de D. Joo V,
sob o impulso da ento recm-criada Academia Real de Histria Portuguesa Eclesistica e Secular, o decreto rgio de 13
de Agosto de 1721 prefiguraria a primeira
legislao portuguesa de proteco do
patrimnio cultural, essencialmente na sua
componente arqueolgica. Ainda no sculo XVIII constituram-se coleces particulares na Universidade de Coimbra, na Academia das Cincias, no Pao da Ajuda e,
249
Cultura
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Retrato de Portugal
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O patrimnio cultural
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Retrato de Portugal
O Arquivo Nacional da Torre do Tombo, que alberga toda a documentao histrica oficial
portuguesa.
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O patrimnio cultural
253
Cultura
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Retrato de Portugal
Maria da Vitria (na Batalha). Por outro lado, o Museu do Azulejo foi autonomizado
em relao ao Museu de Arte Antiga, de
forma a potenciar condignamente a crescente importncia do seu recheio. Este
museu, instalado no quinhentista Convento
da Madre de Deus (Lisboa), contm um
dos mais valiosos e originais acervos do
patrimnio artstico portugus, que permite
seguir a histria do azulejo at aos nossos
dias, ilustrada por muitos espcimes de diversos padres e tcnicas, assim como admirar magnficos painis recuperados de
igrejas desaparecidas ou de outras origens. Alis, o prprio convento e a sua
igreja so repositrios de azulejaria dos sculos XVII, XVIII e XIX.
Oportunas foram tambm as medidas tomadas, ou pelo menos iniciadas, na rea
fundamental da conservao e restauro, como a reformulao do quadro de pessoal e
a redefinio da orgnica do Instituto de Jos de Figueiredo, a elaborao de protocolos com outros servios para formar tcnicos, e outras concernentes carreira dos
profissionais dessa rea. Este instituto, fundado em 1936 pelo crtico de arte e antigo
director do Museu de Arte Antiga que lhe
deu o nome, a mais qualificada instituio
nacional nos domnios da conservao e
restauro, da investigao e da formao, o
interlocutor credenciado dos seus congneres a nvel internacional e de instituies como a UNESCO (United Nations Educational,
Scientific and Cultural Organization, Organizao das Naes Unidas para a Educao,
Cincia e Cultura) e o Conselho da Europa.
Passou a designar-se Instituto Portugus de
Conservao e Restauro at ser integrado
num novo organismo em 2006.
De referir que, neste mesmo contexto, o
Estado interveio de forma a que a Fundao Ricardo Esprito Santo, instituio criada em 1953 e dedicada especialmente ao
estudo e defesa das artes decorativas, pudesse superar a grave crise financeira com
que se deparava. O que aconteceu man-
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O patrimnio cultural
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Retrato de Portugal
256
Cultura
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O patrimnio cultural
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Retrato de Portugal
258
Cultura
sculo XVIII at ao XX e pintura dos sculos XVIII e XIX); o Museu Machado de Castro
(Coimbra, assente sobre um dos mais monumentais criptoprticos conhecidos do
mundo romano, destacando-se, das suas
valiosas coleces, a de escultura, com
peas que vo da Idade Mdia ao Renascimento). Entre outros museus e monumentos nacionais onde h intervenes em curso, esto tambm o Museu dos Coches
(instalado, desde a sua fundao, em
1905, no antigo picadeiro do Palcio de
Belm), que rene uma rara e preciosa coleco de carruagens e outras viaturas dos
sculos XVII ao XX (existe uma extenso deste museu no Palcio Ducal de Vila Viosa),
e o magnfico Convento de Cristo, em Tomar, cuja irradiao internacional aumentaria ao tornar-se cenrio de grande parte do
romance de Umberto Eco O Pndulo de
Foucault.
Refira-se, tambm, a abertura de novos
museus nacionais, como o Museu do Traje
(inaugurado em 1977 e premiado pelo Conselho da Europa no ano seguinte) e o Museu do Teatro (1985), ambos em Lisboa.
Mais recentemente (1999), num outro quadro institucional, fruto da colaborao entre
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O patrimnio cultural
259
Cultura
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Retrato de Portugal
260
Cultura
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O patrimnio cultural
414 conjuntos e estando, uma parte substancial delas, nas coleces dos museus
Nacional de Arqueologia, de Arte Antiga e
Machado de Castro.
Um acontecimento como a descoberta
das gravuras pr-histricas no vale do Ca,
que deu origem a vivas polmicas que ultrapassaram fronteiras, obrigou o poder
poltico a opes de grande significado
cultural, a uma actuao mais expedita e
sensibilizou a sociedade civil em geral para
a importncia da cultura enquanto factor
de desenvolvimento. Em Foz Ca foi criado
um parque abrangendo a rea onde se
concentram ncleos diversificados de arte
rupestre, h visitas guiadas e est prevista
a criao de um museu, apesar de no se
terem concretizado algumas expectativas
mais ambiciosas quanto ao afluxo de visitantes e ao impacte dessa descoberta na
regio.
Diversos aspectos ilustram uma evoluo positiva na relao do pas e dos poderes com o patrimnio, como o ter-se
consolidado, nos ltimos anos, o acompanhamento arqueolgico na elaborao
dos planos directores municipais, e o observar-se um crescente investimento na
renovao dos museus das autarquias,
fundaes, associaes, universidades,
ou at a criao de outros novos. Actualmente j ultrapassam as duas centenas os
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Retrato de Portugal
que lhes cabe na sensibilizao e consciencializao das novas geraes em relao riqueza patrimonial do seu pas.
Facto que contribui, certamente, para que
cresa de ano para ano o nmero de visitantes dos museus (3,8 milhes em 1984,
8,97 milhes em 2004, segundo o INE) assim como de monumentos e stios (1,8 milhes em 1995, 2,7 milhes em 1998, segundo o ltimo apuramento do INE).
Nesta linha se situa a evoluo do associativismo dedicado temtica do patrimnio, em sentido lato, sustentado no sentido
cvico de cidados organizados, infelizmente nem sempre devidamente incentivados e apoiados. possvel estimar em
cerca de centena e meia as associaes
existentes a nvel nacional, havendo algumas a destacar pelo seu pioneirismo, como
a Comisso de Vigilncia do Castelo de
Santa Maria da Feira, activa desde 1909
(se bem que s com estatutos publicados
em 1982), cujos membros, residentes na
localidade, zelam por esse monumento
que a embeleza. Releve-se, ainda, o significado do aparecimento em vrios museus
de grupos de amigos, por vezes bastante
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O patrimnio cultural
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Cultura
A literatura
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Fernando Pessoa
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Cultura
Eugnio de Andrade
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A literatura
David Mouro-Ferreira
Natlia Correia
Alexandre ONeill
E assim chegamos aos anos 60, perodo em que possvel identificar trs grandes linhas na poesia portuguesa: uma delas configura-se na luta poltica (sobretudo
estudantil) contra o regime de Salazar.
Nesta tendncia (muitas vezes musicada
atravs de canes de protesto) salientam-se as obras de Manuel Alegre e Fernando
Assis Pacheco o primeiro mais clssico
e o segundo mais auto-irnico; a segunda
corrente (poesia experimental) proclamava a necessidade de uma pesquisa lingustica a nvel fontico, morfo-sintctico
ou mesmo grfico, na linha da poesia concreta brasileira (casos de Ana Hatherly,
E. M. Melo e Castro ou Alberto Pimenta); finalmente, avultaram as propostas agrupadas sob o conjunto de plaquettes Poesia-61, influenciadas pelas obras de Sophia,
Eugnio de Andrade e por outro autor ainda muito prolfico nos nossos dias, Antnio
Ramos Rosa, cuja poesia corresponde a
uma potica e se define por uma constante
interrogao das relaes entre o real e a
linguagem. Deste modo, a atitude dos poetas de 61 (Gasto Cruz, Fiama Hasse Pais
Brando, a j malograda Luiza Neto Jorge,
alm de Casimiro de Brito e Maria Teresa
Horta) atribua grande nfase linguagem
e caracterizava-se por uma desconfiana
perante as convenes de um subjectivismo na altura sentido como demasiado sentimental.
Este pendor para a rarefaco do sentido no subsistiu na escrita dos poetas de
265
Cultura
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Retrato de Portugal
Ruy Belo
Al Berto
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A literatura
ferente a que encara a poesia como reaco satrica sociedade, utilizando um humor e uma ironia por vezes prximos do
nonsense vejam-se os casos de Jorge
de Sousa Braga, em que essa vertente humorstica se alia a uma certa dose de ternura, ou de Adlia Lopes, cuja poesia joga
com a sabotagem de alguns valores tradicionais, desconstruindo-os de um modo
perversamente infantil.
A diversidade destes nomes no esgota, no entanto, um panorama potico onde
ressaltam autores to diferentes como Manuel Gusmo (com o seu discurso tenso e
por vezes quase orquestral), Carlos Poas
Falco, Jorge Fazenda Loureno, Antnio
Manuel Pires Cabral, Eduardo Guerra Carneiro, Gil de Carvalho, Teresa Rita Lopes,
Ins Loureno, Rosa Alice Branco, Laureano Silveira, Antnio Cabrita, Antnio Mega
Ferreira, Francisco Jos Viegas, Jaime Rocha ou as recentes revelaes de uma novssima gerao que surgiu em fora j no
dealbar do sculo XXI. Um fenmeno recente e interessante talvez consequncia da
mudana de milnio consistiu na publicao de diversas antologias, de que saliento apenas duas, alis motivando alguma polmica: Anos 90 e agora, vinda a
lume em 2001 pela mo de Jorge Reis-S,
e Poetas sem Qualidades, editada pelo
poeta Manuel de Freitas em 2002. Uma
tentativa de sistematizao foi, enfim, levada a cabo em 2002 por Jos Ricardo
Nunes tambm ele um autor da mesma
gerao no ensaio 9 Poetas para o Sculo XXI, em que dedica captulos individualizados a Lus Quintais, Paulo Jos
Miranda, Pedro Mexia, Joo Lus Barreto
Guimares, Carlos Bessa, Rui Pires Cabral,
Jorge Gomes Miranda, Daniel Faria e Jos
Tolentino Mendona.
No domnio da prosa narrativa, um dos
dados curiosos da situao portuguesa
corresponde ao nmero de poetas que se
deixam seduzir pela fico, alcanando
por vezes excelentes resultados. Desde os
267
Cultura
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Retrato de Portugal
Vitorino Nemsio
Jorge de Sena
Agustina Bessa-Lus
Talvez menos inovadores quanto estrutura, mas sem dvida fascinantes e detentores de grande lucidez quanto natureza humana e s foras que a movem,
so os romances de uma figura central
dos nossos dias, Agustina Bessa Lus.
Atrada por atmosferas e personagens magistralmente recriadas por uma escrita
aberta ao segredo que parece mov-las
entre os fios das enigmticas histrias em
que se enredam, os livros de Agustina so
portadores de um sopro irracional, expresso numa linguagem que tece sabiamente
a sua teia sem fim, ao sabor de fulguraes da memria e da imaginao, que se
desdobram em luminosos aforismos,
cheios de um Witz muito especial, um esprito que observa o lado trgico mas tambm irrisrio das relaes afectivas e das
paixes que comandam os actos decisivos das personagens.
Num plano diferente se colocaram os livros de Verglio Ferreira, que, partindo das
preocupaes existencialistas dos anos
50, encontrou o seu caminho graas a uma
escrita por onde perpassa a angstia universal e metafsica de que falava Hermann Broch. A situao-limite das suas
obras coloca-nos perante a vida e a morte,
perante o monlogo de um homem no limiar dessa evidncia, face a face consigo
mesmo. Num mundo desertado por Deus
(que faz sentir a sua ausncia), o refgio
dos protagonistas de Verglio Ferreira reside na fora de um amor capaz de resistir a
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A literatura
Verglio Ferreira
tudo, fora do tempo e do espao, na eternidade de uma memria onde surgem idealizadas as imagens de mulheres sempre um
tanto irreais ou inacessveis, mas por isso
mesmo projectadas num horizonte que resgata o conjunto da existncia.
Tambm oriundo dos anos 50, Urbano
Tavares Rodrigues encontra-se no cruzamento das influncias da filosofia existencialista e da orientao marxista que moldou a sua viso do mundo, mesclando na
sua obra pulses erticas e polticas, enquanto Augusto Abelaira explorou as circunstncias da vida quotidiana graas a
um subtil humor e a um sentido reflexivo
muito ldico e acutilante, problematizando
algumas grandes questes contemporneas. Ainda no mbito desta gerao, devem apontar-se duas autoras importantes
a partir dos anos 50: Maria Judite de Carvalho, com a sua arte pessoalssima para
dar conta de um universo feminino em que
melancolicamente se saboreia um sofrimento ntimo, discreto, quase silencioso; e
Fernanda Botelho, mais voltada para o exterior e para uma anlise por vezes implacvel de certas mscaras ou hipocrisias
sociais.
Um dos maiores escritores da segunda
metade do sculo XX foi Jos Cardoso Pires. Detentor de uma escrita contida e cirrgica, avessa ao derrame sentimental e
profuso de adjectivos, Cardoso Pires foi
influenciado pelo dinamismo de alguma
narrativa norte-americana e soube aliar, de
modo indito entre ns, uma tcnica desenvolta da montagem e da elaborao romanesca com uma boa noo dos dilogos a uma fulgurante capacidade para
retratar com fino sentido de humor certos
comportamentos ou mudanas sociais das
ltimas dcadas, com destaque para uma
acerba crtica do marialvismo portugus.
Num terreno no muito afastado se situou a obra prematuramente interrompida
de Nuno Bragana: dando-nos um roteiro
das expectativas, medos, entusiasmos ou
conflitos de uma gerao marcada pelo
questionar do catolicismo, o romance A Noite e o Riso (1969) subsistiu como um sinal
da poca atravessada pelo pas pouco antes do 25 de Abril.
Tendo-se revelado h vrias dcadas
como poeta, dramaturgo e ficcionista, Jos
Saramago constitui um caso parte na novelstica contempornea, culminado com o
Prmio Nobel da Literatura em 1998. Foi
sobretudo a partir de 1982, com Memorial
do Convento, que a sua escrita ganhou um
impulso decisivo, espraiando-se segundo
uma linha de subverso dos dados histricos, num processo em que personagens
aparentemente comuns adquirem papis
ou poderes relevantes e em que os pontos
de vista do narrador se fundem com os
dessas personagens, por vezes carregadas de um estranho magnetismo. Os romances de Saramago partem geralmente
de ideias originais e muito imaginativas em
que a verosimilhana realista flutua at
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Cultura
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Retrato de Portugal
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A literatura
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Retrato de Portugal
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A literatura
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Retrato de Portugal
inspirao subtilmente queirosiana de Fernando Venncio, a frtil imaginao romanesca de Catarina Fonseca ou ainda muitos outros nomes que tm contribudo para
alargar a riqueza e a diversidade da actual
literatura portuguesa, por vezes no apenas no domnio da fico narrativa, como
Maria de Ftima Borges, Antnio Cabrita, F.
Cabral Martins, Lus Carmelo, Ernesto Rodrigues, Jos Dinis Fidalgo, Laura Gil, Ana
Nobre de Gusmo, Alberto Oliveira Pinto,
Jos Antnio Saraiva, Miguel Viqueira, Antnio Vieira, Leonel Brim, Leonor Xavier,
Fernando Fonseca Santos, Isabel Cristina
Pires, Antnio Manuel Venda, Miguel Ramalho Santos, Maria Joo Lehning, Rui Miguel Saramago, Jos Pinto Carneiro, Dris
Graa Dias, Manuel Jorge Marmelo, Rodrigo Guedes de Carvalho, Domingos Amaral,
Joo Rosas, Patrcia Reis, etc.
No havendo espao para abordar o
ensasmo literrio no qual destacaria,
apesar de tudo, nomes como os de Eduar-
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Cultura
Gonalo M. Tavares
A arquitectura
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partir do processo de transio democrtica de 1974-1976, pode dizer-se que a arquitectura portuguesa foi dos campos da actividade nacional
que soube traduzir ou reflectir de modo
claro e intenso a nova abertura de Portugal
ao exterior num contraste, esse sim, culturalmente revolucionrio, com a situao do meio sculo anterior.
De facto, nesta rea com vastas implicaes polticas e sociais, foram inmeras as
novas tendncias e as transformaes profundas que se operaram e acentuaram j
na dcada de 80 com o percorrer de renovados caminhos e plurais reas (e geografias) de actuao, com a crescente diversidade de linguagens plsticas, com o gradual
internacionalismo dos autores e suas obras,
e ainda com as inovadoras e criativas atitudes perante o espao, a cidade e o territrio.
Falar do ps-25 de Abril de 1974 implica referir em primeiro lugar o original processo de autoconstruo de habitao colectiva para os grupos mais pobres da
sociedade, apoiado pelos novos governos
desejadamente socialistas, e conhecido
em Portugal como Operaes das Brigadas SAAL.
Seguindo as tendncias arquitectnicas
contemporneas, sejam as de cariz neo-racionalista/rossiano (Porto: So Vtor, por
Siza Vieira; Lisboa: Quinta do Bacalhau,
por Manuel Vicente; Quinta das Fonsecas,
por Hestnes Ferreira) ou as de expresso
neovernacular (Alto do Moinho, Alfragide,
por Silva Dias; Antas, no Porto, por Pedro
Ramalho), ou mesmo de procura mais contextualista/territorial (em Setbal, por Gonalo Byrne), todas estas aces de fundo
social-colectivista, mtodos poltico-socio-
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Cultura
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Retrato de Portugal
logistas e preocupao antropolgico-culturalista marcaram, ao menos simbolicamente, um tempo de mudana, entre 1974
e 1976. Abortado em 1976-1977 pela nova
directriz poltica anticomunista, a experincia SAAL compensou em parte a classe
dos arquitectos pela crise profunda de falta
de trabalho e desemprego que se seguiu a
1974, e foi uma experincia nica no renovar da relao com a construo, o cliente
e a cidade.
No final da dcada de 70 e incios da
de 80, depois do regresso macio de muitos profissionais de arquitectura das ex-colnias africanas, uma nova frente de
actividade arquitectnica despontou no Extremo Oriente, com a retoma da actividade
econmica e desenvolvimentista da China,
sediada no territrio sob a secular administrao portuguesa de Macau.
E, do lado de c dos oceanos, em escala mais reduzida, uma crescente actividade edificatria, sobretudo dos equipamenEdifcio dos correios em Santa Marta de
Penaguio, Vila Real de Trs-os-Montes.
Projecto do grupo Pioledo, 1984-1985.
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Cultura
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A arquitectura
A fase de ingresso
na Unio Europeia,
depois de 1985-1986
A arquitectura portuguesa desta fase, descobrindo novos caminhos com sentido
aberto, operando em reas e geografias
to diversas, e possuindo um potencial criativo multifacetado e dinmico, foi singrando
ao longo dos anos 80, mas com especial ritmo depois dos meados da dcada. Os
anos de 1985-1986 (o tempo da integrao
europeia, com Espanha) marcam de facto
um relanamento da actividade urbana e
construtiva, e um paralelo caminho para o
reincio da liderana cultural e profissional
das cidades maiores de Lisboa e Porto, no
campo da arquitectura e do urbanismo. Por
um lado, as correntes estticas do ps-modernismo tinham ento plena aceitao,
sobretudo nos autores da capital; e, por outro, a maturidade da escola de arquitectura
moderna no Porto foi ganhando um estatuto
internacional de nvel europeu.
Em Lisboa, 1985 foi o ano das Amoreiras, primeiro centro comercial de iconografia arrojadamente ps-moderna, cujo
sucesso financeiro e popular ajudou a veicular aquela nova linguagem arquitectnica
(por Toms Taveira, 1980-1985). Com Lus
Cunha floresceu um gosto ps-moderno de
cunho original e pessoal, que atingiu o melhor resultado na nova Igreja da Portela
(1982-1992). Refira-se tambm a nova Mesquita de Lisboa, de seguro desenho neover-
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Retrato de Portugal
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A arquitectura
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Pousada da Flor da Rosa, Crato. por Joo Lus Carrilho da Graa, 1990.
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A arquitectura
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Retrato de Portugal
Os primeiros anos
do sculo XXI
Nesta perspectiva, e em relao aos temas
provindos do final do sculo XX, constata-se, olhando para os anos de 2001-2006, a
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Cultura
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A arquitectura
com: Ins Lobo (auditrios da Universidade dos Aores), Joo Mendes Ribeiro
(Centro de Artes Visuais de Coimbra), Pedro Costa e Clia Gomes (Biblioteca da
Universidade dos Aores), Promontrio
Arquitectos (conjuntos habitacionais no
Parque das Naes, Lisboa), Paulo David
(Casa das Mudas/Centro de Artes na Calheta, Madeira), Bernardo Rodrigues (casa
em So Miguel, Aores) e Ins Vieira da
Silva e Miguel Vieira (Gruta das Torres, Pico, Aores).
Termine-se esta resenha apenas indicativa mesmo assim significativa de um
processo de produo arquitectnica reno-
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Cultura
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As artes visuais
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Anos 70
Aspecto da exposio Alternativa Zero, Galeria Nacional de Arte Moderna. Lisboa, 1977. Em
primeiro plano Uma Floresta para os Teus Sonhos, de Alberto Carneiro.
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Cultura
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Retrato de Portugal
Anos 80
A segunda data desta histria 1983/1984.
Coincide com as ondas de choque da exposio Depois do Modernismo (Lisboa, Sociedade Nacional de Belas-Artes), onde,
sem clara conscincia geracional (so mais
os nomes do passado que os do futuro), mas pela primeira vez, artes visuais e
arquitectura, moda e msica, dana e teatro
ou design se reuniam numa iniciativa global
mobilizadora de pblicos vastos num contexto cultural e socialmente activo. O meio
lisboeta tambm o do Porto adoptam
um modelo prximo da movida madrilena,
286
Cultura
onde o final do franquismo provocara generalizado frenesi criativo: um discurso eufrico, superficial e veloz mas tambm angustiado, intenso e marcante. Os modos de
expresso exacerbaram-se, seguindo sensibilidades internacionais (transvanguardia
italiana ou novos expressionismos alemo e
americano) e buscando um genius locci
(por exemplo, Graa Morais) que, afinal, se
revelou intil perante a afirmao do poder
criativo das autorias individuais.
Alguns artistas vindos dos anos 40 (Jlio Pomar e Antnio Dacosta) ou dos 60
coincidem com o esprito dos tempos ou
mantm a independncia que lhes confere
mais-valias ticas e perenidade esttica.
Pomar renovou, em figurao luxuriante, alguns mitos culturais nacionais; Dacosta (falecido em 1990) renovou o seu surrealismo
em temticas mticas e narrativas. Um mesmo papel desempenhou Joaquim Rodrigo
(falecido em 1997), que, desde 60, desenvolvia mitografias pessoais segundo um
primitivismo formal que a nova dcada
recuperou. Confirmou-se a visibilidade (finali , em
mente internacional) de Paula Rego 4
Londres desde os anos 50, em delirantes figuraes narrativas cobrindo inquietantes
universos pessoais e femininos. Tambm
importa considerar Alberto Carneiro, que,
da relao estreita com a land art, regressa
ao trabalho directo sobre a madeira nunca se afastando de uma viso ecolgica,
poltica e potica de espiritualidade zen; a
continuidade conceptual da pintura monocromtica de ngelo de Sousa (com
obra s revista em profundidade em retrospectivas dos anos 2000); as pesquisas lumnicas de Jorge Martins, entre Paris e Nova Iorque (revisto em exposies dos anos
90 e 2000); a profunda pesquisa de Antnio Sena, autonomizando a escrita como
pintura (em dimenso diversa da determinante poesia visual de Ana Hatherly); a radicalizao neofigurativa de Antnio Areal
(falecido em 1978); a assumpo dos auto-retratos fotogrficos, pintados e desenha-
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As artes visuais
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Retrato de Portugal
Visita do antigo primeiro-ministro Antnio Guterres Feira ARCO, em Madrid, em 1998, ano em
que Portugal foi pas convidado. patente o papel da feira madrilena para as galerias nacionais.
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As artes visuais
Anos 90
A esperana poltica inicial dos anos 90
(desabamento do Leste e fim da Guerra
Fria) desagua numa instabilidade a que a
sida (consciencializada em meados de 80)
acrescentou um medo universal. Os artistas voltam a pr em causa as linguagens
tradicionais (reavaliando Duchamp e os
anos 70), os fundamentos do mercado e da
sociedade capitalista (revivalismo do situacionismo de Guy Dbord), substituindo os
valores subjectivos dominantes por atitudes
de anlise sociolgica e poltica. A data
inaugural simblica da dcada o ano de
1993, quando se realizou em Serralves (sob
comissariado de Fernando Pernes, director,
e Miguel von Haffe Perez) a exposio Imagens para os Anos 90, que, apesar da indefinio de poticos, apresentava alguns dos
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Cultura
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Retrato de Portugal
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Cultura
ainda fundado um Museu de Arte Contempornea havia j um projecto em funcionamento (Casa de Serralves, Porto, s concretizado em 1999) e a Fundao Calouste
Gulbenkian (FCG) tinha criado j (1984) o
seu Centro de Arte Moderna (CAM, dirigido
por Sommer Ribeiro). Apesar de a direco
governamental da cultura (Santana Lopes)
ter malbaratado nos ltimos anos do cava-
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As artes visuais
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Retrato de Portugal
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As artes visuais
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Retrato de Portugal
Anos 2000
O pendor sociolgico da maioria dos jovens
surgidos nos primeiros anos da dcada de
90 originou obras onde predominam as instalaes mixed media, utilizao preferencial da fotografia, do vdeo e das tecnologias
electrnicas com mais raro recurso Internet e performance. Destacaram-se Miguel
Palma, Paulo Mendes, Joo Tabarra, Maas
de Carvalho, Miguel Leal, Andr Sousa, Cristina Mateus, Fernando Jos Pereira (revelados em redor da referida exposio de
1993), ou mais novos, Nuno Ramalho, Santos Maia ou Susana Mendes da Silva, cuja
obra tem vindo a complexificar as relaes
com o corpo feminino e o espao habitacional. Joo Louro avanou para uma complexa reflexo em torno da linguagem articulando pensamento verbal erudito com solues
grficas e visuais de cultura de massas.
Muitos outros desenvolvem reas autnomas relativamente a essas preocupaes: conceitos musicais derivados, em simultneo, de John Cage e do rock n roll,
assumem a instalao multimdia e a performance (Joo Paulo Feliciano, Olaio ou
Tudela, j referidos). Outros, mais jovens
(Rui Toscano, Rui Valrio, Carlos Roque ou
Ricardo Jacinto), exploram de modo igualmente complexo relaes entre som, linguagem e espao arquitectnico, podendo
usar o desenho nos seus temas urbanos
ou mantm-se mais performativos e puramente musicais (Rui Toral ou Adriana S).
Por outro lado, h percursos profundamente reflexivos, gerados num vazio de representao e/ou de pura validao da aco performativa, como o de Francisco
i , cuja obra firma uma densidade
Tropa 4
plstica e filosfica, raras na arte portuguesa. O tema das instalaes deve ser seguido em Suzanne Themlitz, suas personagens,
jardins e narrativas fericas e perturbado-
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As artes visuais
ras; Joo Pedro Vale, seus cenrios e figuras de onrica e desconcertante ironia
kitsch; ou Carlos Bunga, capaz de convocar (desde um zero absoluto) todas as referncias que a arquitectura pode conter.
Outros percursos independentes alguns vindos de 80 seguram pontas
soltas da dcada ou referidas a outras
tradies. Temos um notvel grupo de
escultoras: Gabriela Albergaria trabalha a
escultura como paisagem ficcionada; Fernanda Fragateiro intervm na arquitectura
como meio de integrao arte-vida; Leonor
Antunes desenvolve meios de reflexo da
arquitectura sobre si mesma; ngela Ferreira concentra-se no estudo formal e ideolgico de espaos reais (histrica, esttica
e socialmente significativos); Patrcia Garrido gere a escultura como corpo do seu
prprio corpo fsico e social; ou Joana Vasconcelos, num equilbrio tenso entre ludicidade kitsch e crtica do gosto. Miguel ngelo Rocha, finalmente, faz uma escultura
(e um desenho) onde corpo, arquitectura/
/construo e paisagem no so separveis. Mais novos, Hugo Canoilas, Sancho
Silva, Andr Guedes, Vasco Costa, Gonalo Barreiros ou, ainda mais recentemente,
Ins Botelho exploram tambm temas de
arquitectura e espao. Xana, surgido como
contraponto anti-intelectual nos anos 80,
opta em definitivo pela coincidncia matissiana cor-forma, cruzando a pintura com a
escultura-instalao.
i e Jos Jacinto, com a
J Jos Loureiro 4
profunda explorao de todas as possibilidades da abstraco, da forma, do gesto e
da cor, Manuel Botelho, Gil Heitor Corteso,
Joo Jacinto, Manuel Gantes, Ftima Mendona, Sofia Areal e Ana Vidigal, explorando
novas possibilidades da figurao e/ou da
narratividade, ou Jos Loureno e Manuel
Caeiro continuam, renovam ou revelam o
seu trabalho reenviando-nos para uma provada continuidade da produo pictrica.
O desenho, revelao subterrnea da
dcada anterior, surgira historicamente sus-
Concluso provisria
(2006)
Sem rupturas de conjunto ainda perceptveis e reduzida a dominante poltica e sociolgica dos anos 90, a produo portu295
Cultura
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Retrato de Portugal
A exposio Dilogos de Vanguarda, do Centro de Arte Moderna Jos de Azeredo Perdigo, foi
um marco no panorama cultural de 2006.
As artes
do espectculo
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Retrato de Portugal
ordem democrtica constitucional ps-revolucionria a Fundao Calouste Gulbenkian (FCG), cujo peso no panorama
portugus das artes performativas e cujas
caractersticas institucionais nicas justificam uma abordagem separada. A nomeao de Lus Pereira Leal para a direco
do Servio de Msica, em 1976, traduzir-se- gradualmente numa concentrao
crescente de meios no reforo da temporada de concertos da FCG, convertida cada vez mais na espinha dorsal da prpria
internacionalizao da vida musical portuguesa. A solidez financeira da instituio e
a credibilidade da sua programao artstica convertem-na no elo portugus por
excelncia da rede europeia de circulao
de msica erudita, capaz de atrair e fixar a
colaborao regular dos maiores nomes
do panorama musical internacional, de
Pierre Boulez a Maurizio Pollini, de Alfred
Brendel a Gustav Leonhardt e de Mstislav
Rostropovitch a Anne-Sophie von Otter, ao
mesmo tempo que constitui a plataforma
de apresentao constante dos principais
intrpretes portugueses de projeco internacional, como os pianistas Sequeira
Costa e Maria Joo Pires ou o violinista
Gerardo Ribeiro.
A programao geral da temporada de
msica da FCG manter-se- relativamente
estvel no seu padro essencial, apesar
de alteraes ocasionais nos formatos das
sries e ciclos apresentados. Assim, a
partir de 1977 o repertrio posterior Segunda Guerra Mundial ser concentrado
num ciclo anual, os Encontros Gulbenkian
de Msica Contempornea, e a partir de
1980 o mesmo suceder com o repertrio
pr-romntico, apresentado nas Jornadas
Gulbenkian de Msica Antiga. Em 2004
ambos os ciclos so integrados na programao regular da temporada, ao longo do
ano. No que respeita msica contempornea, para l da vinda regular a Portugal
de intrpretes e compositores (Boulez,
Stockhausen, Xenakis, Cage) de primeiro
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As artes do espectculo
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As artes do espectculo
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Retrato de Portugal
cionais de alto nvel mais evidenciam algumas das suas limitaes tcnicas, a CNB
aborda ocasionalmente um repertrio de
vertente esttica mais contempornea (William Forsyth, Anne Thrse de Keersmaeker), sobretudo sob a direco de Salavisa.
O apoio mecentico da EDP ao longo da
ltima dcada tem-se revelado fundamental para a sua subsistncia e para a sua importante actividade de digresso por todo
o pas.
Igualmente acidentado tem sido o percurso orgnico do TNSC. Repartio pblica tutelada pelos ministrios da Educao
e das Finanas, desde a sua reabertura na
dcada de 40, esse ainda o seu estatuto
em 1974, quando se d a sada de Joo de
Freitas Branco do cargo de director, para
ocupar funes governativas, deixando
nessas funes o crtico musical Joo
Paes. Este prosseguir e expandir as principais linhas de orientao lanadas pelo
seu antecessor, em particular a diversificao e actualizao do repertrio (em 1979,
por exemplo, o TNSC ser um dos primeiros teatros mundiais a apresentar a verso
integral da Lulu de Alban Berg, completada
por Friedrich Cehra, logo aps a estreia parisiense regida por Pierre Boulez) e a procura de uma maior coerncia na respectiva
concepo msico-teatral. O novo director
investe igualmente de forma decisiva em
dotar o TNSC de uma estrutura residente
de produo, atravs da aquisio de uma
orquestra prpria (pela integrao da Orquestra Filarmnica de Lisboa), da profissionalizao e qualificao graduais do
seu coro, e da constituio de um ncleo
residente de cantores solistas. Esta poltica
permite que, a par da temporada internacional tradicional, o TNSC passe a ter uma
componente significativa de produo prpria e uma actividade relevante de descentralizao at ento nunca realizada. Em
1980, por fim, o teatro adoptar o novo perfil jurdico de empresa pblica, tornando
mais fcil a maleabilidade indispensvel
302
Cultura
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As artes do espectculo
moribundas por um novo quadro institucional, a chamada Rgie Cooperativa Sinfonia, participada pelo Estado central, pela
televiso e rdio pblicas e pelas autarquias de Lisboa, Porto e Braga, qual
cometida a misso de constituir dois novos
agrupamentos sinfnicos, um na capital e o
outro no Porto. por este ltimo que se inicia a tarefa da Rgie, com o estabelecimento da Orquestra do Porto, sob a direco do maestro ingls Jan Latham-Koenig,
a partir de um processo de seleco rigorosa dos instrumentistas participantes e da
aplicao de uma tabela salarial muito
mais favorvel, conduzindo a uma formao de qualidade artstica incontestada.
Chega a projectar-se para um futuro prximo a sua expanso a uma formao plenamente sinfnica e a constituio de um coro profissional que com ela colabore, ao
mesmo tempo que se anuncia a inteno
de avanar em breve com idntico projecto
em Lisboa.
Em 1993, no entanto, depois de cortes
oramentais significativos desde 1990, o
novo secretrio de Estado, Pedro Santana
Lopes, decidir liquidar a Rgie, e converter a Orquestra do Porto num projecto de
303
Cultura
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Retrato de Portugal
contornos institucionais indefinidos (Orquestra Clssica do Porto), com instrumentistas contratados em moldes precrios e mediante salrios muito mais baixos
do que os iniciais. Latham-Koenig afastado e o nvel geral das contrataes de
maestros e solistas convidados baixa
igualmente de forma acelerada. S em
1997 o agrupamento se converter em instituto pblico, sob a designao de Orquestra Nacional do Porto (ONP), dotado
de estabilidade institucional e financeira,
vindo depois em 2001, no quadro dos projectos artsticos do Porto 2001 Capital
Europeia da Cultura, a ser expandido a
uma dimenso sinfnica. A crise financeira dos ltimos anos tem impedido, porm,
uma verdadeira programao plurianual
altura do potencial artstico desta formao. Est prevista para breve a integrao
da ONP na estrutura da nova Casa da Msica, como orquestra residente e pilar da
programao desta sala.
A antiga Orquestra Sinfnica da Radiodifuso Portuguesa, extinta em simultneo
com a sua congnere do Porto, no chegar
a ser substituda por um novo agrupamento. Em 1993, ao estabelecer a Fundao de
So Carlos, a SEC prefere reestruturar a
antiga orquestra do teatro, sob a designao de Orquestra Sinfnica Portuguesa
(OSP) e atribuir-lhe a funo cumulativa de
suporte da temporada de pera e de protagonista de uma temporada sinfnica. Apesar do bom nvel artstico do agrupamento
esta acumulao revela-se excessiva para
garantir uma oferta sinfnica de suficiente
regularidade, j que a actividade extra-opertica da OSP se tem de subordinar
aos intervalos da preparao das produes do TNSC.
O Estado lana ainda, em 1992, um
programa de constituio de orquestras regionais mediante concurso pblico dos
projectos interessados e a celebrao de
acordos entre o Estado central e as autarquias proponentes. A inteno anunciada
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Cultura
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As artes do espectculo
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Cultura
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Retrato de Portugal
cional Carlos Alberto), que funcionara sobretudo durante duas dcadas como sala
de concertos.
Por outro lado, o projecto de alojar a
Presidncia portuguesa da Unio Europeia em 1992 num novo edifcio especialmente concebido para esse fim conduz
em 1988 ideia, na vigncia de Teresa
Gouveia como secretria de Estado da
Cultura, da respectiva converso posterior
num espao cultural de usos mltiplos
o Centro Cultural de Belm (CCB) dotado de um centro de espectculos com
uma sala de 1500 lugares e de uma sala-estdio polivalente, ambas destinadas s
artes performativas. O complexo gerido
por uma fundao de direito privado maioritariamente financiada pelo Estado, cuja
estrutura interna foi sendo alterada ao longo dos anos. Na gesto cultural do CCB
sucedem-se Maria Jos Stock, Miguel Lobo Antunes, Francisco Motta Veiga e Antnio Mega Ferreira. A ocupao intensiva
do auditrio principal pelas actividades
econmicas igualmente acolhidas pelo
CCB e o seu aluguer frequente a produtores de espectculos privados tornam, contudo, difcil a afirmao de uma linha de
programao identitria da prpria insti-
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As artes do espectculo
tuio, apesar do importante impulso lanado nesse sentido por Lobo Antunes.
Particular impacte tem entre 2000 e 2006 a
promoo da Festa da Msica, rplica lisboeta das Folles Journes organizadas
em Nantes pelo programador Ren Martin,
que concentram em trs dias intensos
de programao de msica erudita mais
de 40 000 espectadores. Mas de igual
destaque se reveste o programa educativo para as reas do espectculo, da responsabilidade de Madalena Vitorino.
A expanso
da vida artstica
O sector do teatro d no perodo revolucionrio de 1974-1975 um considervel salto
em frente na sua dinmica e na sua prpria
dimenso, com a institucionalizao de alguns dos grupos independentes fundados
anteriormente o Teatro Estdio de Lisboa, de Luzia Maria Martins (1964), o Teatro Experimental de Cascais, de Carlos
Avilez (1965), o Grupo Quatro, de Joo
Concerto de violino tocado por crianas, no Centro Cultural de Belm durante a Festa da
Msica de 2006.
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Cultura
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Retrato de Portugal
que em 1990 se fundir com o Centro Cultural de vora para formar o Centro Dramtico de vora (CENDREV); em Setbal
o Teatro de Animao de Setbal. Na Malaposta uma associao de municpios da
periferia de Lisboa, a Amascultura, estabelece um centro de produo teatral permanente. Por ltimo, multiplicam-se os
projectos pontuais de produo teatral e
desenha-se um novo perfil de carreira para criadores no associados a uma estrutura de produo fixa, como o caso de
Ricardo Pais at sua nomeao para o
TNDM e TNSJ.
Por ltimo, na dcada de 90 emergem
os projectos de uma nova gerao de artistas e criadores formados pelas vrias escolas profissionais e/ou superiores de Lisboa,
Porto, Cascais e vora: o caso do Olho,
em Lisboa, ou do Teatro Bruto e de As
Boas Raparigas Vo para o Cu, no Porto,
entre muitos outros. E multiplicam-se tambm os produtores e actores free lancers
interessados numa maior viabilizao de
projectos teatrais espordicos, margem
da organizao tradicional em companhias
permanentes (alguns deles, como Miguel
Guilherme, Jos Pedro Gomes, Antnio
Feio, Ricardo Carrio ou Francisco Lus,
celebrizados entretanto junto do pblico
A participao de actores de teatro em sries televisivas pode gerar novos pblicos para o
teatro. Miguel Guilherme em Conta-me Como Foi (2007).
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Cultura
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As artes do espectculo
Um crescimento surpreendente o da
Nova Dana portuguesa a partir do incio
dos anos 80, desde uma Olga Roriz, consagrada pela sua passagem pelo Ballet
Gulbenkian, a um Rui Horta, que, aps criar
em 1979 o Grupo Experimental de Dana
Jazz, lana em 1984 o projecto mais ambicioso da Companhia de Dana de Lisboa,
ou ainda Companhia de Dana Contempornea de Setbal com que Graa Bessa
e Antnio Rodrigues criam simultaneamente a primeira companhia de dana da descentralizao e uma das mais competentes
escolas de formao de bailarinos do pas.
O fenmeno expande-se com os projectos
de Paula Massano, Joo Fiadeiro, Clara
Andermatt, Margarida Bettencourt, Vera
Mantero, Paulo Ribeiro, Joana Providncia,
Madalena Vitorino, ou, j na gerao seguinte, Francisco Camacho ou Aldara Bizarro, que conquistam uma aceitao nacional e internacional generalizada.
Para esta afirmao decisiva em termos institucionais, depois do papel fundador do ACARTE, a programao da Culturgest, empresa de produo e gesto
cultural criada em 1993 por Rui Vilar na
nova sede de Lisboa da Caixa Geral de
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Cultura
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Retrato de Portugal
As polticas culturais do
Estado e as artes
performativas
O apoio do Estado aos criadores independentes no sector das artes performativas
confiado primordialmente, no perodo de
1974-1975, s vrias divises disciplinares
(msica, teatro, dana) da Direco-Geral
da Aco Cultural, na SEC, e nessa ou noutras direces-gerais equivalentes no seio
da mesma SEC se mantm de forma quase
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As artes do espectculo
inalterada at s reformas de Santana Lopes, nos incios da dcada de 1990. Opta-se ento por confiar a gesto desses
apoios aos organismos centrais aos quais
entregue agora a administrao da produo artstica do sector pblico nas mesmas disciplinas artsticas (o teatro no IAC,
que administra os teatros nacionais, a dana no Instituto Portugus do Bailado e da
Dana, responsvel pela CNB, e a msica
na Fundao de So Carlos, que tutela o
teatro nacional de pera). Em 1995 o governo socialista de Antnio Guterres, ao recriar o Ministrio da Cultura, prev partida a criao de um Instituto Portugus das
Artes do Espectculo (IPAE), para cuja comisso instaladora transita desde logo a
gesto dos apoios nestes domnios, e essa
responsabilidade passar em 2003 para o
respectivo sucessor orgnico, o actual Instituto das Artes, resultante da fuso do IPAE
com o Instituto de Arte Contempornea.
De 1974 a 1990 as polticas de apoio
governamentais para este sector mantm-se no essencial inalteradas em relao s
linhas de fundo definidas ainda no perodo
de constituio da SEC, apesar das flutuaes ideolgicas dos sucessivos governos provisrios e constitucionais (designadamente na inflexo patrimonialista
predominante das opes de investimento
cultural dos governos mais conservadores, em desfavor do apoio criao artstica actual favorecida pela esquerda). A par
com algumas linhas estruturantes no plano
da encomenda aos autores e da edio,
h uma verba reduzida para apoios aos
agentes culturais no terreno, que distribuda segundo critrios que esses sim
vo variando, ora procurando fixar
metas no plano dos contedos e da intensidade da programao ora insistindo antes no factor da capacidade de gerar
audincias.
Na viragem para os anos 90, no entanto, torna-se evidente que o prprio crescimento da massa crtica da produo arts-
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Retrato de Portugal
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Cultura
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As artes do espectculo
perfil orgnico das instituies que integram o sector pblico de produo artstica continua a oscilar-se pendularmente
entre solues estatizantes fortemente burocratizadas e alternativas utpicas do foro
privado, em ambos os casos geralmente
improvisadas, como se estas mudanas ingnuas e improvisadas de estatuto trouxessem consigo, por si s, o remdio para
os problemas de um subfinanciamento galopante e desestruturador de qualquer poltica cultural sria.
A soluo do problema no pode deixar
de vir a passar pela verdadeira assuno da
desejada e tantas vezes apregoada
centralidade programtica da cultura, no
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Cultura
O cinema
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Cultura
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O cinema
cional. Desde o incio dos anos 90 conseguir a proeza de dirigir pelo menos uma
longa-metragem em cada ano, com acesso
a elencos com vedetas internacionais (Catherine Deneuve, John Malkovich, Irene Papas, Marcello Mastroianni, Marisa Paredes,
Michel Piccoli, Lima Duarte...). No momento em que escrevo, prestes a completar 98
anos de idade, acaba de estrear, no Festival de Veneza e logo a seguir nas salas por
toda a Itlia, Belle Toujours. A sua filmografia tem uma estatura que largamente sobreleva a de qualquer outro cineasta portugus, seja pela quantidade de obras, seja
pela fulgurncia com que continua a surpreender-nos, a apostar numa modernidade que no conhece regras seno as que
ele prprio assume. Aps 1982 tentar o
impossvel (pr em filme a integralidade do
texto de Claudel, quase sete horas de durao para Le Soulier de Satin, 1985) e o
inslito (uma pera expressamente escrita
para cinema Os Canibais, 1988), o intimismo teatral (Mon Cas, 1986) e a grande
saga histrica (Non ou a V Glria de Mandar , 1990), o romanesco ( Vale Abrao ,
1993), o pcaro (A Caixa, 1994) e o confessional ( Porto da Minha Infncia , 2001),
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Cultura
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Retrato de Portugal
de Cannes de 1999, seco Un Certain Regard). Mas esse alter-ego empurrou-o para
um territrio de crise. Depois de desistir de
pr em cinema um texto de Sade e do momento de pnico criativo materializado em
Branca de Neve (2000), a partir do texto de
Robert Walser, volta a filmar-se a si prprio
nesse filme testamental e agnico que se
chamou Vai-e-Vem, rodado quando Csar
Monteiro se sabia condenado por doena
do foro oncolgico. Quando o filme estreou
na Seleco Oficial do Festival de Cannes, em Maio de 2003 j o realizador havia falecido, provocando um vazio no cinema portugus impossvel de preencher.
Como todos os gnios, Joo Csar Monteiro no deixou descendncia, apenas uma
obra impressionantemente singular e apaixonante.
Tambm da gerao do cinema novo, Paulo Rocha teve, aps 1974, carreira
assaz agitada. Demorou oito anos a erguer
A Ilha dos Amores (1982), largo e ambicioso fresco sobre um escritor portugus em
voluntrio exlio nipnico Wenceslau de
Moraes (1854-1929) , a que se seguiu
uma parbola de cariz poltico (O Desejado
Joo Csar Monteiro.
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O cinema
A estes nomes h
que juntar um conjunto aprecivel de realizadores com obra
feita e reconhecida,
como Joo Botelho,
Joo Mrio Grilo, Jos
lvaro Morais (1943-2004), Alberto Seixas
Santos, Fernando Lopes, Jos Fonseca e
Costa, Antnio Pedro
Vasconcelos, Pedro
Paulo Rocha.
Costa, Lus Filipe
Rocha ou Joo Canijo, alguns deles alvo
tambm de reconhecimento internacional
(citemos apenas, a ttulo de exemplo, a retrospectiva dedicada a Joo Botelho em
Bergamo, em 1996).
Um dos elementos que permaneceu na
ordem do dia nos ltimos 25 anos foi a
questo da legitimao. A maior parte dos
cineastas continuou a praticar o cinema como uma produo artstica, sem preocupaes de carcter comercial, alicerada nas
boas razes da impossibilidade de um cinema que se rentabilizasse nas salas. Mas
sempre houve um outro grupo de realizadores que insistiu que o ganho de audincia era a melhor forma de legitimar uma
produo de cinema fundada sobre financiamentos pblicos. E, episodicamente,
conseguiram-se alguns xitos: Kilas, o Mau
da Fita de Jos Fonseca e Costa (1980),
com 121 269 espectadores, inaugurou o
que parecia ser uma viragem; A Vida Bela!? de Lus Galvo Teles (1981), Os Abismos da Meia-Noite de Antnio de Macedo
(1983) ou O Querido Lils de Artur Semedo
(1987) ultrapassaram tambm a marca dos
100 000 espectadores; a euforia chegaria
com O Lugar do Morto de A. P. Vasconcelos (1984), que obteve mais de 300 000 bilhetes vendidos e constituiu, data, o
maior xito de sempre do cinema portugus. Mas esse perodo foi sol de pouca
dura. No princpio dos anos 90, era o desa317
Cultura
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Retrato de Portugal
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O cinema
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Retrato de Portugal
Ano
Longas-metragens
de fico
estreadas em sala
Telefilmes
estreados
(RTP e SIC)
2000
11
11
2001
11
2002
13
2003
15
2004
15
2005
11
O futuro prximo pode esperar-se positivo. H uma nova leva de realizadores a fazer caminho. Elenquemos os nomes de
Sandro Aguilar, Miguel Gomes, Raquel
Freire, Marco Martins, Teresa Prata, Tiago
Guedes, Frederico Serra, Ftima Ribeiro,
Lus Fonseca e, sobretudo, Edgar Pra,
i , JoaCatarina Ruivo, Margarida Cardoso 4
quim Sapinho, Jeanne Waltz, Maria de Medeiros, Antnio Ferreira, Srgio Trfaut,
320
Cultura
Joo Pedro Rodrigues ou Ins de Medeiros. Assim haja condies de produo para tanta e to florescente gente. E h uma
diversidade de modos de praticar cinema
que se augura capaz de resistir s foras
homogeneizantes que, um pouco por todo
o mundo, tendem a fazer do audiovisual,
em geral, e do cinema, em particular, uma
espcie de fast food narrativo.
A grande questo que permanece em
aberto a do financiamento, agora que
uma nova Lei de Arte Cinematogrfica e do
Audiovisual (de 2004) se arrasta h mais
de dois anos sem regulamentao, mostrando que esta no uma prioridade poltica. Essa lei prev que o actual modelo dominante de financiamento estatal se altere,
merc da entrada dos operadores de televiso (hertziana e por cabo) num fundo de
que se espera uma abertura de portas. Essa a grande interrogao do presente
e dela depende grande parte do futuro do
cinema portugus.
Design e moda
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321
Cultura
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Retrato de Portugal
Daciano da Costa foi a figura preponderante da 1.a gerao de designers portugueses: criou interiores de espaos pblicos (Reitoria da Universidade de Lisboa,
1960-1961; Teatro Villaret, 1964-1965; Biblioteca Nacional de Lisboa, 1965-1968;
etc.) e privados (Vestbulo, Grande Auditrio, Biblioteca, Refeitrio e Bar da Fundao
Calouste Gulbenkian, 1966-1969; Hotel Madeira Hilton, 1970-1971; hotis Altis e Penta,
1971-1975) derrogando a habitual colagem decorativa a favor do entendimento do
design como prolongamento da prpria arquitectura e, sobretudo, as primeiras linhas seriadas de mobilirio de trabalho e de
escritrio (Linha Cortez, 1962; Linha Prestgio, 1962; Linha Dfi, 1971; Linha LNEC/CB,
1971, produo Longra). O seu trabalho foi
marcado por uma pesquisa formal racionalista, de herana bauhausiana mas receptiva s propostas da Escola de Ulm e, particularmente, de Toms Maldonado e Max
Bill, atenta s insuficincias do panorama industrial coevo e ao desafio criativo e social
da sua ultrapassagem aliada, desde os
anos 80, a uma redescoberta (ps-moderna) do humor, do inesperado e de algumas
tradies ancestrais das artes decorativas
Cadeira empilhvel da autoria
de Sena da Silva.
322
Cultura
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Design e moda
Os arquitectos
e o design: dos anos 80
ao fim do sculo
Desde os anos 50, alis, o arquitecto Siza
Vieira (n. 1933) praticou exemplarmente a
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Retrato de Portugal
e que Siza Vieira prosseguiu noutros objectos, de candeeiros a fechos e puxadores de porta, cinzeiros, jarras, solitrios,
fruteiras, acessrios de banho, espelhos,
faqueiros, clices de porto, servios de
ch o que no impediu que nas clebres Cmoda 1 (1985) e Cmoda 2 (1990),
editadas pela Fago, o arquitecto revisitasse, depurando-a, a memria dos antigos
contadores. Frequente nos arquitectos e
designers formados na Escola do Porto,
encontramos a esttica neomoderna do
despojamento e do rigor racionalista em figuras tambm nossas conhecidas como
Fernando Tvora (1923-2005), j de uma
gerao anterior, tanto na sua arquitectura
como no design (Mesa de Abas, edio
Fago), onde procedeu a novos entendimentos das tcnicas e materiais tradicionais, seno mesmo das formas antigas,
em depurada revisitao do passado
(cadeiras desenhadas para a Casa Primo
Madeira, 1980-1987); em Eduardo Souto
de Moura (n. 1952), que a estendeu ao design de equipamentos (Candeeiro de Mesa, 1988), com risco de sbrios objectos
de magnficas propores (Mesas Srie 3,
edio Jos Filipe & Filho, 1993; Mesa Mesotta 1, 1997, edio DDI) e tambm de interiores (Companhia de Seguros Real,
vora, 1992-1993), com pontual irrupo
de humor (Candeeiro de Mesa Piu-Piu, c.
1997, edio Loja da Atalaia e DDI); em
Adalberto Dias (n. 1953), que tambm explora a diversidade dos materiais (Maple,
edio Fago; candeeiro de secretria Cartola, 1991, edio Carvalho Baptista), enveredando por uma linha asctica (Cadeira (e Mesa) para Computador Ria, 1995,
edio Mobapec) que origina singulares
solues funcionais (Cadeira de Auditrio
Vai e Vem, 1996, edio Mobapec); e, sobretudo, em Jos Manuel Carvalho Arajo
(n. 1961), arquitecto portuense e tambm
designer da empresa familiar (linha Arpa,
1989-1993, edio Carvalho Arajo), interessado na depurao racional (Cadeira
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Cultura
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Design e moda
Manuel Reis
e o novo design
Este perodo conheceu, contudo, a suplantao da simples dicotomia modernismo/ps-modernismo atravs de um considervel
nmero de factores. Ainda na dcada de
80 assinalou-se, alis, uma nova fase da
economia portuguesa (desde 1985), marcada pela adeso do pas CEE (1986),
pela estabilidade poltica assegurada por
um governo de maiorias parlamentares absolutas e pela importante melhoria no nvel
de vida (desde 1986), assinalando um perodo de evidente prosperidade entre 1985
e o comeo dos anos 90.
A reduo do intervencionismo do Estado, o reforo da actuao das foras de
mercado, o optimismo e as melhorias no
consumo privado estiveram, naturalmente,
ligadas expanso da produo e ao interesse renascido pelo design em Portugal
embora o design portugus continuasse
a assinalar uma especificidade notria, fruto dos difceis condicionalismos anteriores
e da persistncia das rotinas industriais e
tecnolgicas associados, paradoxal e singularmente, ao desejo contnuo de acerto
com o panorama internacional. Na verdade, como falar de sociedade de consumo
num pas onde tanto tardou o modelo capitalista e onde a abundncia foi recente e
relativa, de ps-modernismo numa sociedade onde o prprio modernismo teve uma
expresso limitada, ou de era ps-industrial num meio onde a indstria jamais atingiu a expresso de grandes corporaes?
Verdadeiro desafio para os designers portugueses, tais condicionantes foram, porm, por eles suplantadas, em virtude do
seu talento criativo, da postura profissional
adoptada e da inerente qualidade do seu
trabalho, de relevncia internacionalmente
reconhecida. Ao longo deste perodo, mo325
Cultura
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Retrato de Portugal
bretudo, com a abertura, em 1982, do icnico Bar Frgil, com as suas decoraes-instalaes de grande impacto plstico
periodicamente renovadas, na criao de
ambientes inovadores por artistas visuais
(Pedro Cabrita Reis, Francisco Rocha) permitiu reunir e concentrar uma elite de, entre
outros, criadores, arquitectos, artistas visuais, msicos, designers grficos, de
equipamento e moda, professores universitrios, joalheiros, jornalistas, cineastas, DJ,
manequins e fotgrafos e, entre 1985 e
1995, Manuel Reis promoveu um movimento cultural sem paralelo no pas, determinou
um impacto considervel na renovao
cosmopolita do gosto e dos hbitos e promoveu, ainda, a recuperao e vivncia de
uma zona urbana (o Bairro Alto), de outro
modo irremediavelmente degradada.
Na 2.a gerao, destaca-se a personalidade de Pedro Silva Dias (n. 1963), com
trabalho desenvolvido nas reas da arquitectura de interiores, grafismo, design industrial, sinaltica e cenografia. A quase
totalidade das peas que desenhou, de
acerto internacional, constituem j verdadeiros cones (Cadeira Mitsuhirato, 1987;
Mvel Igor, 1991, ed. Loja da Atalaia).
O seu trabalho caracteriza-se pela extrema
sofisticao de formas (Cadeira Mitsuhirato, 1987; Mvel Igor, 1991, ed. Loja da Atalaia), a par de uma vertente sempre funcional, em solues de grande simplicidade
formal (Nichos e Cabines para instalao
de telefones pblicos da Portugal Telecom,
1997-1998; Bloco sanitrio integrado IESSE, 2003, produo M.A.), que chega a
uma leveza desmaterializada (Cadeira Baccarat, edio Loja da Atalaia, 1996) ou de
escultrica vocao minimal (Cadeira Alcatifa, edio Altamira, 2001; Cadeira DeLux,
Loja da Atalaia/M.U., 2004; Cadeira Laminar, 2004, ed./prod. M.U.).
A qualidade artesanal tambm se
encontra no trabalho de Filipe Alarco
(n. 1963), que desenvolve projectos de design industrial, design de mobilirio, design
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Design e moda
urbano, design de produto, iluminao, cermica, vidro e cristal, bem como interiores
de apuro minimal (Loja ModaLisboaDesign,
2000; Mercearia DeliDeLux, 2004), tambm
desmaterializado em luz e transparncias
(Loja/Galeria Atlantis Crystal, 2000). O seu
design de cermicas (Prmio Nacional de
Design do Centro Portugus de Design,
1992) apresenta grande apuro formal e funcional, de pontual vertente reciclada (Prato
Domin, edio Hand Matters, 1999) e
sempre de grande delicadeza, evidente
tambm no domnio dos metais (Peas de
Secretria Bend, edio Hand Matters,
1995). O arquitecto Fernando Sanchez Salvador (n. 1953) revisitou o passado em certas obras (Cadeira Atalaia, edio Loja da
Atalaia, 1988) e explorou a tradio artesanal (Mvel TR, edio do designer), revelando a preferncia por formas amplas e
espacialmente impositivas, lineares e simultaneamente escultricas (aparador Entremuros, 1988; poltrona Onda, 1990, ambos
editados por Loja da Atalaia), de acentuado
rigor, cuja linguagem estendeu a outras peas (Candeeiro Candlesemtom, prottipo,
1999). J a obra da arquitecta Margarida
Grcio Nunes (n. 1953) alia a qualidade artesanal ao contraste de materiais, numa
pesquisa rigorosa que se assume como
metfora da era industrial. De formas estruturadas (Estante PapAorda, pea nica,
1992), os seus mveis e objectos associam
diferentes materiais (Jarras Maria Pia e Maria da Fonte, edio Loja da Atalaia, 1988),
num conjunto de acentuada unidade formal
e cromtica (Candeeiro Fresta de Luz), demonstrando requintado acerto na prossecuo de uma obra global caracteristicamente contempornea. Noutra vertente
formal encontra-se o trabalho dos designers Lusa Coder e Jos Russel (n. 1953),
criadores, em 1987, do Grupo Infraces,
que desenvolve projectos no campo do
mobilirio, objectos e joalharia, bem como
de reciclagem de mveis perdidos. O fabrico das suas peas semi-artesanal e
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Retrato de Portugal
joalharia foi tambm renovada, num processo que se iniciou em 1963 com Alberto
Gordillo (n. 1943) e Kukas (n. 1928), pioneiros da joalharia moderna que repudiaram o historicismo e o folclorismo dominantes, desenvolvendo, respectivamente,
uma pesquisa formal neobarroca, ou um
rigor formal crescentemente depurado.
Igualmente importante foi o contributo pioneiro do escultor Jos Aurlio (n. 1938),
que, entre as dcadas de 60 e 70, criou
jias onde aliou metais preciosos e gemas
a materiais no-convencionais. Novo impulso nasceu em 1977 com a vinda para Portugal das joalheiras Tereza Seabra (n. 1944) e
Alexandra Serpa Pimentel (n. 1954), respectivamente dos EUA e Inglaterra, onde
receberam formao no mbito do Movimento Internacional da Nova Joalharia.
A sua prtica profissional, reforada pela
docncia de Tereza Seabra no AR.CO
(desde 1978), revelou a proposta de uma
produo marcada pela quebra de entendimentos e prticas tradicionais e pelo repdio da vertente comercial, aliada
receptividade a processos especficos de
outras reas (pintura, escultura, cermica,
txteis) e explorao de novas tcnicas,
materiais e formas. A criao da galeria de
jias Artefacto 3 (1984) pelas joalheiras referidas e pelo discpulo Pedro Cruz (n. 1960)
iniciou o processo de divulgao da nova
joalharia.
No AR.CO ensinou tambm (1982-1988)
Filomeno Pereira de Sousa, autor de escultricas jias de materiais no-tradicionais
que, em 1988-1989, inaugurou a galeria-escola de formao de joalheiros Contacto
Directo. Desde ento, de ambas as escolas
saram novas geraes de joalheiros, no
contexto de um verdadeiro movimento da
moderna joalharia portuguesa, como Paula
Crespo (n. 1947), Marlia Maria Mira
(n. 1962), Lus Moreira (n. 1964) e Cristina
Filipe (n. 1965). A actividade das escultoras/joalheiras Ana Silva e Sousa (n. 1953)
e da portuense Ana Fernandes (n. 1945)
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Design e moda
Do ateli Protodesign
ao sculo XXI
Factores positivos foram ainda a afirmao
do Centro Portugus de Design (1990), na
ligao e estmulo, sempre insuficientes,
entre o design e a indstria portuguesa,
bem como a divulgao regular do design
portugus em exposies internacionais
promovidas pelo ICEP/Investimentos, Comrcio e Turismo de Portugal.
Do lado das exposies, se a exposio Design Lisboa 94 se assemelhou a
uma mostra comercial na sua procura exacerbada de estabelecimento dos necessrios vnculos com a indstria e pugnou pela
ausncia de esprito crtico e de reflexo
terica, devem assinalar-se as exposies
internacionais Manufacturas-Criao Portu329
Cultura
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Design e moda
objectos do quotidiano (Copo Duplo, prottipo, 1999; Bloco de Notas Furo, edio
ModaLisboa Design, 2001).
Francisco Providncia (n. 1961) autor
de projectos de design de comunicao,
muitos deles dotados de fina ironia e sentido de humor (Cartaz Cigadania, proposta
recusada pelo Governo Civil de Braga) ou
de grande eficcia comunicacional (Imagem Corporativa da Cmara Municipal de
Guimares, 1999; Tapumes Porto 2001) ,
bem como de equipamento para instituies, empresas comerciais e industriais.
Entre este, avultam as cadeiras Delicatessen (edio Julcar/Stira, 1997) e Natura
(edio In-teis, 1998), a mesa Natura
(edio Julcar, 1998) e o mobilirio infantil
para biblioteca Liber (edio Julcar, 2001),
cuja simplicidade formal ilustra uma potica minimalista na medida em que a forma
se reduz sua menor expresso, de acordo com um programa pessoal de eco-design que evidencia uma aproximao
economia da natureza.
No domnio do design grfico, a 2.a gerao marcada pela figura tutelar de
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Cultura
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Design e moda
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Retrato de Portugal
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Design e moda
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Bibliografias
Autores
Alexandra Castro. Investigadora e membro da direco do Centro de Estudos Territoriais, centro de investigao associado ao ISCTE. Tem desenvolvido vrias investigaes sobre a comunidade cigana, os imigrantes de Leste, os espaos pblicos e o
ambiente urbano. Actualmente doutoranda do Programa Internacional de Doutoramento em Antropologia Urbana entre o ISCTE e a Universidade Rovira i Virgili, desenvolvendo um projecto centrado na relao dos ciganos com o territrio e o espao de
habitat. Em 1999, concluiu o mestrado em Sociologia do Territrio. Foi assistente convidada do curso de Sociologia da Universidade Lusfona, do mestrado Cidade, Territrio
e Requalificao e tcnica superior do Instituto da Segurana Social.
Anlia Maria Cardoso Torres (n. 1954). Doutorada em Sociologia. Professora no
Departamento de Sociologia do ISCTE. Investigadora no CIES, centro associado do
ISCTE. Ex-presidente da Associao Portuguesa de Sociologia (2002-2006). Membro
do Executive Commitee e do Publications Commitee da ESA, European Sociological
Association e do Editorial Board da revista European Societies. Investiga, dirigindo e
participando em equipas nacionais e internacionais, em reas como famlia, casamento, divrcio, gnero, crianas, excluso social, jovens e consumos de drogas. autora
de diversos livros e artigos cientficos publicados em Portugal e no estrangeiro.
Antnio Firmino da Costa (n. 1950). Doutorado em Sociologia. Professor do Departamento de Sociologia do ISCTE. Investigador e presidente do Conselho Cientfico
do CIES-ISCTE. Coordenador do Programa de Doutoramento em Sociologia do ISCTE.
Membro fundador da Associao Portuguesa de Sociologia. reas de investigao:
classes sociais e desigualdades; identidades culturais e estilos de vida urbanos; literacia e competncias; cincia e sociedade; educao e ensino superior. Autor de diversos livros e artigos de revistas cientficas, publicados em Portugal e no estrangeiro.
Antnio Reis (n. 1948). Professor de Histria Contempornea, presidente do Departamento de Histria e vice-presidente do Instituto de Histria Contempornea da Faculdade de Cincias Sociais e Humanas da Universidade Nova de Lisboa. Foi secretrio
de Estado da Cultura em 1978 e director-adjunto da revista Finisterra desde 1988.
Principais obras publicadas: Portugal Contemporneo (1820-1995), 6 vols. (direco e
co-autoria), 1990-1993; Portugal: 20 Anos de Democracia (coordenao e co-autoria),
1994; Portugal Ano(s) 2000 (coordenao e co-autoria), 2000; Raul Proena: Biografia
de Um Intelectual Poltico Republicano, 2 vols., 2003.
Fernando Lus Machado (n. 1959). Doutorado em Sociologia. Professor auxiliar do
Departamento de Sociologia do ISCTE. Presidente e investigador do CIES, centro associado do ISCTE. Trabalhos de investigao nas seguintes reas: classes sociais e estratificao; migraes e etnicidade; excluso social; educao; cincia. Autor e co-autor de livros e artigos, nacionais e estrangeiros.
Fernando (Alberto) Pereira Marques (n. 1948). Doutor de Estado em Sociologia
pela Universidade de Amiens (Frana), professor catedrtico convidado na Universidade Lusfona de Humanidades e Tecnologias (Lisboa) e investigador no Instituto de
Histria Contempornea da Universidade Nova de Lisboa. Deputado Assembleia da
Repblica, durante as VI e VII Legislaturas, foi presidente da Subcomisso de Cultura e
345
Autores
membro da Comisso de Cultura e de Educao da Assembleia Parlamentar do Conselho da Europa. Tem vrias obras publicadas e director-adjunto das revistas Finisterra e Res Publica.
Fernando Pinto do Amaral (n. Lisboa, 1960). Escritor e professor universitrio, frequentou a Faculdade de Medicina, mas licenciou-se e concluiu o mestrado e o doutoramento na rea das literaturas romnicas, sendo professor da Faculdade de Letras de
Lisboa. Publicou cinco livros de poesia (Acdia, 1990; A Escada de Jacob, 1993; s
Cegas, 1997; Poesia Reunida, 2000, Pena Suspensa, 2004), dois de ensaio (O Mosaico
Fluido, 1991; Na rbita de Saturno, 1992) e traduziu As Flores do Mal de Baudelaire,
os Poemas Saturnianos de Verlaine e toda a poesia de Jorge Luis Borges. Publicou o
lbum 100 Livros Portugueses do Sculo XX (Instituto Cames, 2002) e o livro de contos rea de Servio e Outras Histrias de Amor (2006). Foi comissrio da exposio
100 Livros do Sculo (CCB, 1998), bem como das participaes de Portugal na Feira
do Livro de Frankfurt (1998 e 1999), no Salo do Livro de Genebra (2001) e na Liber de
Barcelona (2002). Recebeu diversos prmios literrios e colabora regularmente como
crtico em diversas publicaes.
Guilherme dOliveira Martins (n. 1952). Licenciado e mestre em Direito. Foi secretrio de Estado da Administrao Educativa (1995-1999), ministro da Educao
(1999-2000), ministro da Presidncia (2000-2002) e ministro das Finanas (2001-2002).
Foi presidente da SEDES. presidente do Tribunal de Contas e presidente do Centro
Nacional de Cultura. Professor universitrio. Autor de diversas obras, entre as quais:
Oliveira Martins: Uma Biografia (1986); Ministrio das Finanas: Subsdios para a Sua
Histria no Bicentenrio da Secretaria de Estado dos Negcios da Fazenda (1988); Escola de Cidados (1992); O Enigma Europeu (1994); Educao ou Barbrie? (1999);
O Novo Tratado Constitucional Europeu (2004).
Ildio Trindade (n. 1953). jornalista dos quadros da RDP desde Junho de 1985,
acompanhando para esta rdio temas relacionados com a Defesa, tendo feito o Curso
de Segurana e Defesa para Jornalistas do Instituto da Defesa Nacional. Frequenta actualmente o Curso de Auditores de Defesa Nacional do citado instituto. Comeou a sua
carreira como jornalista desportivo no dirio A Luta, tendo passado pelos jornais Mundo Desportivo, O Golo e Off-Side, de que foi um dos fundadores. Foi assessor do secretrio de Estado do Desporto do governo do Bloco Central, adjunto do secretrio de
Estado do Desporto do XIII Governo Constitucional e adjunto do secretrio de Estado
da Defesa Nacional do XIV Governo Constitucional. Foi director para as actividades
amadoras (1988-1989) e vice-presidente administrativo (1990-1993) do Sport Lisboa e
Benfica e membro da Comisso Executiva da Candidatura de Portugal Organizao
do Campeonato da Europa de Futebol de 2004, o Euro 2004. Recebeu o Prmio Olmpico de Jornalismo (1977) atribudo pelo Comit Olmpico de Portugal pela reportagem
dos Jogos de Montral e foi eleito O Dirigente do Ano (1992) do S. L. Benfica pelo
jornal do clube.
Ivo Castro (n. 1945). Professor catedrtico da Faculdade de Letras da Universidade
de Lisboa, onde ensina Histria da Lngua Portuguesa e Crtica Textual. Dirige desde
1988 a Equipa Pessoa, constituda pelo Ministrio da Cultura para publicar a edio
crtica de Fernando Pessoa (15 vols. publicados at 2006 pela Imprensa Nacional-Casa da Moeda). Livros publicados: A Demanda da Ortografia Portuguesa, com
I. Duarte e I. Leiria (1987); Editar Pessoa (1990); Curso de Histria da Lngua Portuguesa, com R. Marquilhas e L. Acosta, (1991); Introduo Histria do Portugus (2004,
2.a ed. 2006). Edies: O Manuscrito de O Guardador de Rebanhos de Alberto Caeiro, (1986); Poemas de Fernando Pessoa: 1921-1930 (2001); Poemas de Fernando Pessoa: 1931-1933 (2004); Camilo Castelo Branco, Amor de Perdio (2006).
346
Autores
Joo Ferreira de Almeida (n. 1941). Doutorado e agregado em Sociologia. Professor catedrtico. Membro fundador e primeiro presidente da Associao Portuguesa de
Sociologia. Editor da revista Portuguese Journal of Social Science. Investigao em
reas como: valores e representaes sociais; classes sociais e mobilidade; espaos
rurais e ambiente; excluso social; juventude e universidade. Autor de diversas publicaes (livros e artigos) em Portugal e no estrangeiro.
Joo Lima Pinharanda (n. Moambique, 1957). Mestrado em Histria da Arte
(1985). Director de programao do Museu de Arte Contempornea de Elvas-Coleco
Antnio Cachola (desde 2006). Presidente da seco portuguesa da AICA (Associao
Internacional de Crticos de Arte) (trinio 2004-2007). Professor auxiliar do Departamento de Arquitectura da Universidade Autnoma de Lisboa (desde 1998). Colaborador
permanente do JL: Jornal de Letras, Artes e Ideias (1984-1990). Responsvel pela seco de artes, no jornal Pblico (1990-1998), onde se mantm como colaborador. Paralelamente, numerosas colaboraes em jornais de mbito generalista e revistas especializadas nacionais e internacionais. Responsvel por numerosas exposies em
Portugal e no estrangeiro. Autor de numerosos textos historiogrficos sobre arte e artistas portugueses.
Jorge Leito Ramos (n. 1952). Licenciado em Engenharia Electrotcnica pelo Instituto Superior Tcnico (Lisboa) em 1975. Professor efectivo do ensino secundrio (Escola Secundria Marqus de Pombal, em Lisboa), na rea da Electrotecnia e Electrnica. Iniciou a actividade profissional, como crtico de cinema, em 1975 no Expresso,
tendo-a exercido, com continuidade, na imprensa (Jornal Novo, 1975-1976, Dirio de
Lisboa, 1976-1988), para alm de colaboraes na RTP e RDP. Em 1980 estende o
seu campo de anlise crtica de televiso (Expresso, 1980-1983 e 1987-1999, Se7e,
1983-1986, TSF, 1993). colaborador permanente, desde 1988, na rea da crtica de
cinema do Expresso. Especialista em cinema portugus, fez parte da equipa responsvel pelas fichas dos cineastas portugueses na edio portuguesa do Dicionrio dos Cineastas de Georges Sadoul (ed. Livros Horizonte, Lisboa, 1980), foi responsvel pela
entrada referente ao cinema militante portugus em Cinemas dAvant-Garde (ed. Papyrus, Paris, 1980), colaborou em Portogallo: Cinema Novo e Oltre... a cura de Augusto
M. Seabra (Marsilio Editori, Venezia, 1988), em Lisboa a 24 Imagens, org. Manuel Costa e Silva (Caminho, Lisboa, 1994), escreveu o artigo O cinema salazarista para a
Histria de Portugal, direco de Joo Medina (ed. Ediclube, 1993), elaborou uma histria breve do cinema portugus para a obra colectiva Os Anos do Cinema (publicada
em fascculos pelo Expresso, em 1995), escreveu o artigo referente a esse tema na
obra colectiva Portugal: Anos 2000 (Crculo de Leitores, 2000), a convite do Comissariado de Portugal para a Expo 2000 Hannover e no Dicionrio Temtico da Lusofonia
(Texto Editores, 2005), e publicou Dicionrio do Cinema Portugus: 1962-1988 (Caminho, 1989) e Dicionrio do Cinema Portugus: 1989-2003 (Caminho, 2005).
Jos Manuel Fernandes (n. Lisboa, 1953). Arquitecto pela Escola de Belas-Artes
de Lisboa, 1977. Doutorado em Histria de Arquitectura pela Faculdade de Arquitectura de Lisboa, 1993, e seu professor agregado em 1999. Director do Departamento de
Arquitectura da Universidade Autnoma de Lisboa, em 1998-2000. Director do Instituto
de Arte Contempornea do Ministrio da Cultura em 2001-2003. Investiga, escreve e
publica regularmente sobre temas de arquitectura e urbanismo. Das obras mais recentes destaca-se Arquitectos do Sculo XX, Lisboa, 2006.
Lus Manuel Antunes Capucha (n. 1957). Doutorado em Sociologia. Professor do
Departamento de Sociologia do ISCTE (Lisboa). Investigador do Centro de Investigao e Estudos de Sociologia (CIES/ISCTE). Director-geral da Inovao e Desenvolvimento Curricular no Ministrio da Educao. Entre 1998 e 2001 foi director-geral do
347
Autores
Rui Vieira Nery (n. Lisboa, 1957). Licenciado em Histria pela Faculdade de Letras
de Lisboa e doutorado em Musicologia pela Universidade do Texas em Austin, actualmente professor associado do Departamento de Artes da Universidade de vora e
director-adjunto do Servio de Msica da Fundao Calouste Gulbenkian, desenvolvendo ainda uma actividade intensa como investigador e conferencista, tanto em Portugal como em diversos pases europeus, nos EUA e no Brasil. Desempenhou entre
1995 e 1997 o cargo de secretrio de Estado da Cultura, com a tutela do sector das
Artes do Espectculo. Em 2003 foi condecorado com a Comenda da Ordem do Infante
D. Henrique por servios prestados ao estudo da cultura portuguesa.
Viriato Soromenho-Marques (n. Setbal, 1957). Professor catedrtico da Universidade de Lisboa. Activista ambiental desde 1978. Foi presidente nacional da Quercus
de 1992 a 1995. Foi membro do Conselho de Imprensa (1985-1987) e do Conselho
Econmico e Social (1992-1996). actualmente membro do Conselho Nacional do Ambiente e Desenvolvimento Sustentvel e foi vice-presidente da Rede Europeia de Conselhos do Ambiente e Desenvolvimento Sustentvel (EEAC), entre 2001 e 2006. Orientou dezenas de cursos breves e proferiu centenas de conferncias em Portugal e
dezanove outros pases. Publicou cerca de trs centenas de estudos, abordando temas filosficos, poltico-estratgicos e ambientais. grande oficial da Ordem do Infante D. Henrique.
Vtor Matias Ferreira. Professor catedrtico de Sociologia (aposentado) do ISCTE.
Foi coordenador e docente do mestrado Cidade, Territrio e Requalificao do Departamento de Sociologia do ISCTE. Coordenou um programa Erasmus/Scrates (mobilidade europeia de docentes e de estudantes), no campo disciplinar da sociologia (urbana e rural, do trabalho e da poltica). actualmente coordenador de investigao no
Centro de Estudos Territoriais do ISCTE, de que foi co-fundador, e cuja revista Cidades: Comunidades e Territrios dirigiu durante alguns anos. De uma vasta produo
editorial destacam-se os trabalhos mais recentes: Lisboa: De Capital do Imprio a Centro da Metrpole (1986); Lisboa: A Metrpole e o Rio (coord.) (1997); A Cidade da Expo 98 (em colaborao com Francesco Indovina) (1999), Fascnio da Cidade: Memria
e Projecto da Urbanidade (2004). Refira-se, entre outras, a sua participao com artigos nas obras Portugal na Transio do Milnio, Urban Landscape Dynamics, Do Mundo
da Imaginao Imaginao do Mundo, Atlas Histrico de Ciudades Europeas (co-autoria), Urbanidade e Patrimnio, Un Futuro Amico: Sostenibilit ed Equit, Lisboa/Lisbonne, Novas Formas de Mobilizao Popular, Em Trnsito, Nuovo Lessico Urbano.
Tem artigos publicados, entre outras referncias, em diversas revistas da sua especialidade.
349
Autores
Crditos fotogrficos
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Crditos fotogrficos
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Breve Retrato de Portugal